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EXPEDIENTE SUMÁRIO

Revista LBC
Revista da Literatura
Barra-Cordense

Fundador: EDITORIAL...........................................2
Nonato Silva

Ano I
Nº 34
HOMENAGEM
maio 2019 Ÿ Barra do Corda, 184 Anos -
Periodicidade: Francisco Brito..............................4
Trimestral
Ÿ Minha Barra - Tâmara Maria Pinto
Editor Responsável:
Kissyan Castro
Oliveira...........................................6
Ÿ Barra do Corda e seus 184 anos -
Diagramação:
Kissyan Castro Kissyan Castro...............................9
Fotos:
Acervo e Internet COLABORAÇÕES
Envio de textos para seleção: Ÿ O Relógio da Matriz - Francisca
revistadaliteraturabc@gmail.com
Alencar de Oliveira......................15
Ÿ O vendedor na feira - Álvaro
Apoio Institucional: Braga.............................................17
Ÿ Texto Inútil/Quero ser leve -
Ricardo Milhomem .....................20
Ÿ A Caminho do Trabalho - Sarleane
Brito..............................................22
ABCL - Academia Barra-Cordense de Letras
Reconhecida de utilidade pública pela Lei POESIAS
Municipal nº 03/95 Ÿ Raízes (O Canto da Cauanã) -
CNPJ: 00.823.518/0001-91
Eduardo Queiroz Galvão.............24
Rua Luís Domingues, nº 431 - Centro Barra do
Corda (MA)
Ÿ Quais Eram os Sonhos de Minha
Fone: (99) 3643-0312
e-mail: academiabarra-
Mãe/Inércia - Marinete Moura da
cordensedeletras@hotmail.com Silva Lobo.....................................30
Ÿ Professor Nonato Silva - Assis
Os artigos de opinião são de inteira Soares...........................................35
responsabilidade dos colaboradores, não
expressando necessariamente o Ÿ (E)noitece/Soneto de Confete -
pensamento da revista LBC Silvio Oliveira...............................39
Editorial

184 anos
de
Barra do Corda
O artista é aquele ser que descobre que as
coisas não são apenas o que aparentam; é aquele que,
com sua sensibilidade inerente, consegue captar o
instante de nudez das coisas; é aquele que entende o
idioma da mudez, o que ouve vozes e delas se apro-
xima, no dizer de Rilke, como o primeiro homem, e
então passa a dizer o que “vê, e vivencia, e ama, e
perde”; é aquele que, através de um processo alquí-
mico, metamórfico, consegue iluminar o lugar-
comum, a linguagem chula, os episódios banais do dia a
dia, de modo a nos comover, nos tocar ainda. Enfim, é
no artista que a própria dor se transfigura e vira beleza
estética.
Isso quer dizer que, para o artista, a natureza
não tem sentido, somos nós que lhe atribuímos
significados diversos através das linguagens. A ex-
pressão das coisas, por si só, não é arte, apenas faz
parte do processo. Logo, a arte implica elaboração
consciente. Nesse aspecto, podemos afirmar que nem
todos são capazes de realizar uma obra artística.
No entanto, na sociedade capitalista e consu-
mista em que vivemos, o que temos observado é que
2
Editorial
tudo tende a se transformar em mercadoria. O que
chamam de “arte de massa”, na verdade é a banali-
zação dela. Ela a vulgarizou e continua abrindo portas
para uma enxurrada incontida de indivíduos despro-
vidos de genuíno talento. Pois na massificação, o que a
“arte” ganha em motricidade, perde em encanto, em
magia. A condição mercantil da arte levanta sérias
dúvidas sobre o seu caráter geracional. Tal condição
tem se tornado um estorvo para as autênticas criações
artísticas, que precisam de uma força descomunal que
as transcendam, de forma que possam atingir os
paladares ainda não contaminados por essa anti-arte.
Outro extremo é a elitização da arte, que por se recusar
a absorver aquilo que lhe parece adverso, condena
muitos artistas ao ostracismo permanente, pois se
nega a ser porosa como a “arte de massa”, que de arte
mesmo nada possui.
Em face da situação presente, constitui a Revista
LBC um libelo de equilíbrio e resistência cultural, a fim
de que não pereçam os valores da terra de Melo Uchoa
que, agora com seus 184 anos de existência (impor-
tante efeméride celebrada neste número), mostra-se
ainda robusta e promissora, pois ainda que a sede de
lucro – que é a mola propulsora dessa banalização da
arte – enseje e até justifique a concepção artística, não
será capaz de obliterar a verdadeira Arte, que procura
criar um mundo permanente, um mundo da fantasia,
que passa a viver fora do artista e a sobreviver a ele. E
só porque é intangível é eterno.
3
Homenagem

184 anosde
Barra do Corda
Francisco Brito de Carvalho
Jornalista e poeta, membro da Academia
Barra-Cordense de Letras

BARRA DO CORDA, 184 ANOS

N o próximo dia 03 de maio, o município de


Barra do Corda completa 184 anos de fundação. Não é
uma data cheia nem cronológica, muito menos no que
tange ao progresso da cidade. Mas, como filho da terra
banhada por dois rios caudalosos, circundada por
matas verdejantes e muitos poetas, meu privilégio vai
além ser de ser barra-cordense.
No Poema Sujo, Ferreira Gullar faz um jogo de
comparações nos versos: “O homem está na cidade/como
uma coisa está em outra/e a cidade está no homem/que está
em outra cidade”.
O poeta usa apropriadamente os termos “cida-
de” e “homem” numa analogia antropológica solitária
4
Homenagem
unindo um ao outro como laços indesatáveis (que não
se separam).
Assim, vejo-me, nessa circunstancial andança
pelo mundo afora. O curioso ao longo dos pesados anos
e, embora conheçamos vários lugares muito melhores
e mais aprazíveis à vista, no entanto, quando se trata
de nosso colo materno, o coração não abre mais
espaços para pulsar por outros amores efêmeros.
Ao caminhar para a ducentésima idade, almejo
para minha Barra, no modo sui generis do gentílico
cordino, que realmente no descortinar do presente
século, os gestores, e aí eu os coloco numa bandeja
única: prefeito, secretários, vereadores, professores,
aqueles que representam o povo e o patrimônio da
cidade, que promovam verdadeiramente educação,
saúde, moradia, infraestrutura e joguem para escan-
teio os velhos e surrados discursos de uma boa falácia.
Porque somente assim, como filhos da Barra
poderemos bradar em alto e uníssono que valeu a pena
ter esperança para vivenciarmos a qualidade dos
serviços prestados à população com vida digna e bem-
estar social.
E, por último, espero pela enésima vez que a
Câmara de Vereadores cordina, honre o nome de seu
fundador, Manuel Rodrigues de Melo Uchôa. Pres-
tando-lhe devidas homenagens. Pelo menos, um busto
já nos basta!

5
Homenagem
Homenagem

184 anosde
Barra do Corda
Tâmara Maria Pinto Oliveira
Poetisa e membro da Academia
Barra-Cordense de Letras

MINHA BARRA

F alar de minha cidade é emocionante, como


dizem meus amigos, sou barrista ao extremo, falo com
o coração, com a alma.
Nasci aqui e sou apaixonada por esta cidade
encravada num vale aos pés do morro do Calvário,
ladeada por dois lindos rios... e lindas cachoeiras.
Quando acordo pela manhã com o sol entrando
pela janela, iluminando meu mundo tão pequeno,
porém aconchegante, lembro-me do meu sonho...
Ter uma casa... uma casa bem grande, com
janelas largas, portas largas, espaços grandes para
garantir bastante ventilação, claridade, com um
jardim e um pomar, tudo muito aconchegante.
Não foi só um sonho...
6
Homenagem
O sol entrando por todos os lados, até nas frestas
e o verde em toda parte, com poucos moradores na
vizinhança, têm-se a sensação de paz e serenidade.
As pessoas se cumprimentam, conhecem-se
pelo nome, não são um número como na cidade
grande, somos pessoas, temos fisionomia, persona-
lidade, amigos, vizinhos, companheiros, conhecidos,
colegas e até irmãos de fé.
Amo o verde de nossas matas, amo o sol que
nasce luminoso toda a manhã e brilha até ao entar-
decer, num céu azul, um azul que de tão azul nos fere os
olhos, nos queima a pele.
Amo nossos rios com suas águas límpidas e
mornas, e sua pureza sem igual. Amo esse sobe e desce
da ladeira do Mororó, a vizinha que senta à porta à
espreita de tudo. Amo esse povo tão simples! Tão
meigo, tão receptivo, que sempre aceita com olhar
benevolente o novo morador que vem morar ao lado
de sua porta.
Sinto-me como uma menina ainda, cheia de
esperança, respirando um ar sem monóxido de car-
bono, tomando água sem cloro, vendo um sol de
verdade, sem a cortina de fumaça da poluição das
cidades grandes.
Ah, minha Barra... terra onde nasci... cheia de
morros, sol escaldante, rios, riachos, ilhas, cachoeiras
e verde, muito verde que estende-se até onde nosso
olhar não consegue alcançar, uma igrejinha no alto,
cercada de cipreste protegendo a todos.
Minha Barra... te entreguei meu coração. Gos-
7
Homenagem

taria de escrever-te mil versos, muitos versos todos os


dias, a cada amanhecer, a cada anoitecer, e mandar
compô-los em músicas, sinfonias que cantassem a tua
beleza para sempre, para que as gerações futuras
venham a saber que vivemos num lugar como esse, que
por certo não será o mesmo daqui há algum tempo. Já
percebemos, pois, os benefícios e malefícios do pro-
gresso, tais como a cultura, a facilidade do comércio,
mas, também, a poluição, a criminalidade, a falsidade,
a angústia, o desespero, o medo, as fantasias e os so-
nhos. Mas, por enquanto, minha Barra, apesar dos teus
184 anos, ainda és uma criança, repleta de ingenui-
dade, escondida entre as matas, cheia de esperança, de
alegrias e de sonhos de um novo alvorecer.
Aqui estou... Aqui ficarei... e aqui viverei...

8
Homenagem
184 anos de
Barra do Corda
Kissyan Castro
Poeta, pesquisador e membro da
Academia Barra-Cordense de Letras

BARRA DO CORDA E SEUS 184 ANOS

B arra do Corda tem a nobre dádiva de fazer


vir à luz este dia – 03 de maio – tal qual uma oferenda de
cheiro suave sobre o alto do Calvário, sem qualquer
estereótipo ou repetição ritualística. Pois aqui, nesta
cidade, cada dia nasce outro, insuspeitado, belo e
único.
Hoje Barra do Corda completa 184 anos. Não é
mais uma menina. Apesar do inquebrantável
saudosismo que constitui a própria essência de nossa
gente. Um passado riquíssimo que persiste e que
aprendemos a amar sem quaisquer contornos ou
próteses que pudessem justificá-lo.
A propósito, quando eu era menino lembro-me
9
Homenagem

que Barra do Corda era para mim apenas a rua Rio


Xingu – meu microcosmo – onde cresci, com sua
constelação de moleques empinando “suro”, soltando
traques e pega-moleques, e as mães com cipós em riste,
gritando: “passa pra dentro, menino!” As fofocas
passavam de casa em casa sem nenhum transtorno,
despontavam junto à manhã com as galinhas ainda a
ciscar no quintal. E eu, brincando na rua de peteca,
enquanto mamãe preparava o almoço. Dona “Nega”, a
professora, congregava as crianças em sua casa para
auscultar nosso desempenho na carta de ABC. Quando
errávamos recebíamos, de mãos espalmadas, o castigo
da “Madalena” – como era chamada a palmatória.
Brincávamos de cai-no-poço, da pata e de esconde-
esconde. Quando não havia asfalto podíamos “comer
peixe” enfiando o triângulo (que não tinha esse
formato) na areia, depois das chuvas. Costumávamos
pegar “bicuda” nas carroças que transitavam
desajeitadas por ruas dantes nuas. A rua era nosso
mundo, onde vivíamos sem sobressaltos. A chegada do
circo, no entanto, causa-me uma mescla de alegria e
medo. Medo porque fazia-me lembrar do dia em que
um palhaço, atado a uma enorme perna de pau,
atravessara a rua, enquanto eu voltava da quitanda do
Seu Zezé levando um “mercado” de manteiga.
Assombrei-me, pois para mim era como um gigante
prestes a me pisotear.
De repente acordei e vi-me noutra cidade.

10
Homenagem
Dilatada, robusta e promissora. Barra do Corda
cresceu. O asfalto encobriu com seu negrume aqueles
idos saudosos. Contudo, ainda podemos ouvir o seu
latejo a embriagar-nos de vertigem. Esses tempos não
estão mortos, coexistem no presente, respiram
conosco, crescem com o tempo.
Sim à Barra do Corda de Olímpio Cruz, subli-
mada e elevada a mito em seus fragrantes versos,
enriquecendo nosso imaginário, viscerando o orgulho
de ser cordino. Ainda que no presente reclame ela
vozes outras, novos mitos insurjam e reivindiquem
novas manifestações artísticas, novas formas de dizê-
la, de iluminá-la.
Barra do Corda está em cada passo que transita
na rua e que nela repercute. A brisa soprando nos
bambus, o sol tateando o mármore da Matriz, a
azáfama do tráfego matutino, as diversas vozes que
dela ecoam vão compondo o que há de cordino em cada
um de nós. Estamos em cada um de seus odores, em
cada uma de suas frutas, de seus semáforos, de seus
rios, compondo a sinfonia de suas águas. Somos seus
múltiplos barulhos. Barra do Corda não é singular, é
plural. Somamos às dela as nossas vozes, e assim nasce
o cordino desse diálogo, como neste poema que
compus há tempos:

Até ao barro me Barra


esta Corda onde moro.

11
Homenagem

Tudo me acorda
e mearinha nesta Barra,
até o barro.

Assim segue o rio. Assim seguimos molhados e


embalados nos úmidos braços desse “Rio Conjugal”.
Nossas angústias nele mergulhadas vão escrevendo
suas gotas, avolumando suas águas. Pois não há dor tão
funda que não possamos entregar ao rio. Tens alguma
inquietude?... O rio leva! Não consegues esquecer as
duras palavras que o atingiram?... O rio leva! Mas não
confidencie nada de imediato ao Mearim. O Mearim é
um velho austero que de tanto ouvir rumores, turvou-
se. Contudo, podes depositar tuas dores pacificamente
junto ao Corda, cuja virilidade desata qualquer
problema. Destarte, o Corda corre e vai dizer baixinho
ao Mearim – porque ambos não guardam segredo – as
coisas que não conseguiríamos contar sem turvar
ainda mais as suas águas. As árvores que se debruçam
às suas margens vão ouvindo nossas conversas. Até
mesmo os pássaros, ao pousar em seus galhos, ficam a
par de tudo. O rio quer passar... reféns, passamos.

“nunca fui
de pronunciar rio

preferi antes
o minuto de silêncio

12
Homenagem
sempre dei asa
à pausa
tudo o que digo
cabe só
no meu umbigo

rio é passar
performance do espaço
quando o tempo
é puro aço

o rio passa
eu passeio

ainda passará
quando eu for
passarinho”

O rio abriga nossas vozes e afagos; nossa in-


fância, nossa família e nossos amores. O Corda é mais
que a corda que nos ata à Barra. Viver aqui é não ter
subterfúgios; é acordar e ver o Corda mearinhado ao
Mearim.

“e este rio metido


no meu gasto mensal
no meu pé de meia
na minha meia verdade

13
Homenagem

metido
na minha cara a tapa
no meu preço a prazo
no meu saldo devedor
no meu queima total

e agora fervendo
na gema
do meu poema”

Barra do Corda pequena. Barra do Corda que-


rida. Barra do Corda pequena demais para em seu bojo
conter-nos, que o coração cordino é enorme e não
pulsa em qualquer peito. Mas que outra maneira existe
para mantermo-nos unidos, seguros, senão estrei-
tando esse amorável abraço com o qual nos acalentam
os rios Corda e Mearim? Porque a luta da cidade é
braba, e estar longe da Barra é que é, de fato, uma
barra.
Parabéns, Barra do Corda, pelos seus 184 anos!

14
Colaborações
184 anos de
Barra do Corda
Francisca Alencar de Oliveira
Poetisa e cronista, mora
em Barra do Corda

O RELÓGIO DA MATRIZ

D esde que aqui cheguei te conheci. Pergun-


tei a alguém: Por que ele toca uma pancada e depois as
horas? Recebi a resposta, uma pancada representa
meia hora.
Daí para cá, venho recebendo os serviços
gratuitos.
Elogio a tua imparcialidade e pontualidade,
estás sempre a trabalhar, tocas igualmente para todos:
horas alegres e tristes, horas alvissareiras, chegadas e
.
partidas. Todos os momentos merecem o mesmo
toque.
Quantas vezes ao acordar, dentro da noite, logo
escuto o soar das horas avisando-me em que momento
estou, se posso dormir mais um pouco ou se é hora de
15
Colaborações

madrugar para orar.


Grande amigo, assim como és meu amigo, és
também amigo de todos que se orientam por ti.
O que temos em comum? Caminhamos obede-
cendo ao tempo; tu, ao redor de ti mesmo, sempre
voltando para o mesmo lugar; eu, em linha reta, porém
permanecendo onde moro, até o dia em que receberei
do Senhor do tempo a ordem de chegada em outro
lugar. Então soará a hora da nossa despedida, quando
te agradecerei os serviços prestados, pois lá não
ouvirei mais o teu soar imparcial para todos os mo-
mentos.

16
Colaborações
184 anos de
Barra do Corda
Álvaro Braga
Arquivista, historiador e membro da
Academia Barra-Cordense de Letras

O VENDEDOR NA FEIRA

E m 1978 chegou um vendedor ambulante na


velha Praça Getúlio Vargas, centro de Barra do Corda.
Fiz uma pesquisa sobre os fatos. Olha a lábia do sujeito:
“Era uma manhã de sábado, por volta das 7h:00,
quando um cearense, vendedor ambulante, chegado
de Pedreiras, deitou um pano vermelho no chão da
praça Getúlio Vargas, na calçada em frente ao edifício
Machado, abriu um velho saco e ali colocou alguns
produtos para vender, como óleo de tartaruga da
Amazônia, óleo de puraqué, banha do bôto-cor-de-
rosa, óleo de baleia, banha de cobra cascavel e pomada
de aruanã.
Depois de colocar no chão os seus produtos
extra-vagantes, o vendedor retirou de suas tralhas
17
Colaborações

uma mala de madeira fechada, o que atraiu a


curiosidade dos passantes.
Logo ele começou a anunciar os seus produtos e
atrair a atenção das pessoas que passavam e vinham do
mercado.
Em torno dele formou-se uma aglomeração,
fascinados pela voz do ambulante que prometia curas
milagrosas com suas pomadas e óleos de peixes e
répteis.
Com sua voz potente de experimentado ven-
dedor, calejado pela vida, ele prometia curar: bico-de-
papagaio, frieira, olho-gordo, antraz, fimose, unheiro,
coceira, curuba, mordida de cachorro-doido, cobreiro,
chulé, unha encravada, dor-de-corno, liseira, piolho,
hemorróida-de-botão, lombriga, bicho-de-pé, asma,
calo seco, verruga, chifre, tosse braba, caspa, pira, dor
no “estambo”e engasgo com espinha de traíra.
Um gaiato perguntou se ele curava barriga d'água
e ele respondeu rápido:
- É minha especialidade!
Percebendo que a manhã ia ser das mais
lucrativas, ele abriu a mala de madeira. Nela estava
enrodilhada uma grande jibóia malhada, de mais de
um metro, que logo tratou de levantar a cabeça, para
susto dos curiosos.
O vendedor falava para a multidão:
– Podem passar a mão nela que é mansa, não tem
problema!
E continuava a anunciar e a vender seus pro-
18
Colaborações
dutos: Uma pomada para o senhor, um pote para
aquela senhora. Quem vai querer mais? O produto é
garantido!
E a lábia do sujeito era grande:
- Moça bonita não paga, mas também não leva!
Quem quer mais, olha, olha!
E as pessoas compraram quase todo o estoque de
pomadas e vidros de óleo do sujeito, apesar da origem e
eficácia duvidosa.”
Assim era a Barra naqueles tempos. Todo dia
tinha uma novidade para alegrar o povo.

19
Colaborações

184 anos de
Barra do Corda
Ricardo Milhomem
Cronista, compõe o Colégio de Literatos
Cursa Licenciatura em Letras pela UEMA

TEXTO INÚTIL

N ão quero ser útil para muita coisa, nem


fazer outras tantas, tipo: ser atraente, estacionar
carros, medir a altura de um prédio ou encontrar o
valor de "X". Prefiro ser útil para amigos que precisam
de companhia nos fins de semana, para quem precisa
aprender a andar de bicicleta, para ser pista de pouso
de borboletas (especialmente para aquelas amare-
linhas).
Eu quero ser importantíssimo (de verdade).
Fazer coisas que possam mudar a minha utilidade.
Quero ser tão simples quanto um beija-flor: magro,
leve, rápido e encantador (além de poder voar – Voar
deve ser ótimo). Quero ser tão importante que eu nem
precise ser útil. Quando se pode fazer alguma coisa, as
20
Colaborações
pessoas apreciam mais a nossa utilidade do que a nossa
importância.
Quero que o mundo aprenda o valor de não olhar
para o que tem em nossas mãos, mas que apenas vejam
as nossas mãos abertas, soltas, e que em algum
momento elas se apertem. Quero que o mundo seja um
lugar de ser inútil. E qualquer um pode entender como
quiser. Eu quero ser poeta.

QUERO SER LEVE

Quero ser leve para as pessoas que convivem


comigo, do tipo que alegra o outro sem dizer nada, só
por ser uma boa pessoa. Acho que essa é minha maior
ambição. Quero ter sonhos bobos, como de ser
astronauta, dizer pra todo mundo que vou ser e
acreditar em mim. Um dia desses quero riscar o
caminho das formigas e me divertir vendo elas
conversarem com suas anteninhas que algum
desocupado destruiu a estrada invisível e me sentir
mal por ser um bobo. De vez em quando quero banhar
na chuva, numa quarta-feira ou num sábado, e ficar
com os lábios roxinhos do frio que a chuva dá. Quero o
que posso fazer porque seria idiotice ficar desejando
coisas impossíveis. É que facilmente sou desses idiotas
que desejam ser rico de dinheiro, mas logo esqueço.
Quero mesmo é ser leve, do tipo que ama de verdade e
que tem reciprocidade das pessoas mais importantes.
Qualquer dia desses eu escrevo um poema.
21
Colaborações

184 anosde
Barra do Corda
Sarleane Brito
Cursa Licenciatura em Letras pela UEMA
mora em Barra do Corda

A CAMINHO DO TRABALHO

S ão sete da manhã. Passando mais uma vez


pelas ruas de sempre, de repente desacelero e observo
o homem do gás passar por mim apressado como
sempre, então começo a prestar atenção em cada
pessoa que vejo.
No rapaz fardado sentado na calçada do super-
mercado esperando a hora de começar o trabalho.
No frentista do posto de gasolina atarefado para
conseguir atender todos os clientes ao mesmo tempo.
Na criança à espera do ônibus escolar, nos
funcionários da padaria.
Um pouco mais à frente vejo o rapaz da casa de
material de construção varrendo e organizando a
frente da loja, como sempre faz todos os dias.
22
Colaborações
Mais à frente as mães e os pais deixando os filhos
na creche e fico imaginando na quantidade de pessoas
envolvidas no funcionamento da creche, o porteiro, o
zelador, a professora, o diretor, os secretários, as tias
da merenda.
Como seria Barra do Corda se o homem do gás
parasse de correr, e os funcionários das lojas não
trabalhassem mais, nem o frentista do posto, nem os
padeiros, o motorista do ônibus, o pessoal da creche.
Então me dou conta que são essas pessoas que
movimentam Barra do Corda, são essas pessoas que
fazem Barra do Corda.
Obrigada, gente de nossa gente, são vocês que
fazem Barra do Corda acontecer.

Ai!!! Cheguei atrasada no trabalho. Entro de


fininho e... vamos lá minha gente porque hoje ainda é
terça-feira.

23
Poesias

184 anos
de
Barra do Corda
Eduardo Queiroz Galvão
Poeta, membro do Serviço Exterior
Brasileiro e da ABCL

RAÍZES
(O Canto da Cauanã)

Barra do Corda amanheceu graciosa, acordada pelos


sinos da matriz. O Rio Corda acaricia a cidade no
amanhecer encurvando-se sobre ela em abraço
sensual

desejando o encontro com o seu par. Vem das serras,


deslisou entre florestas e campos abertos, circulando
montanhas, saltitante gracioso sobre as pedras.

O Mearim, o provedor, de águas piscosas, discreto,


passa lento entre os povoados, margeado pelas roças;
os animais e o povo são por ele abastecidos em
comunhão da vida; na ilha dos amores, no apronto
para longa caminhada, flutua altaneiro, com graça
24
Poesias
desce para encontrar com o Corda e em barra se
abraçam, companheiros, e juntos em um só corpo

deslizam juvenis, auxiliando e provendo até o mar. Na


apoteose, se diluem amalgamado no mundo líquido
para nova viagem. O Mearim e o Corda retornam para
novos ciclos de vida.

II

Sinto fascinação pelo mundo fantástico no qual sou


parte, nele as minhas raízes penetraram profundo,
acetadas na terra amada depois da chegada

de Mello Uchoa. Ele chegou através das águas súbitas


do Capim e no entardecer, ao canto da Cauanã,
proferiu prece, com joelhos na terra, ao grande
Ka'a'zar, cuidador das florestas,

em sussurros sibilantes e no tom suave do farfalhar


das folhas altas, pela majestade e beleza da terra
virgem, vestida com o colorido de flores de minha
magia.

III

Ouço o cadenciado da madeira dos tamancos nas


pedras das calçadas da rua do Giz, passos apressados
25
Poesias

nos afazeres rotineiros do dia a dia, do amanhecer ao


pôr do sol,

dos habitantes no seio acolhedor, dependentes dos


rios, das roças e dos padres. Santos padres que a todos
acolhem no aprisco da madre igreja, para o alimento
da alma e do corpo.

Na distância, as autoridades, sempre distantes, com


abandono nos trataram, indiferentes à morte ou à vida
de pobres diabos, quedavam sem saúde, na carência
suprida pelos capuchinhos,

esforçaram-se eles pela luz espiritual, o saber das


primeiras letras, da educação básica. Ó benditos,
santos a quem tanto devemos! Eles vieram de outras
terras, distantes, trazendo o amor devotado.

IV

Mello Uchoa, Felix Ribeiro, os guias e Lázaro, viram na


curva do rio um abraço à terra virgem, a vegetação,
densa mata, a barra dos rios em carinhosa união

das águas frias cristalinas e as levemente mais quentes,


de cor mais turvas. Elas não se mesclam no princípio da
união de feliz entendimento, a consumação se dar
depois da curva.
No regozijo debaixo da sapucaieira, alegria plena, na
26
Poesias
data da fundação, em três de maio, no ano da graça de
mil oitocentos e trinta e cinco, estava fundada o berço
de meus antepassados

Queiroz e Galvão. Eles no seio virgem se embrenharam,


desvirginaram a terra bruta, conviveram com a beleza
singular das itaipavas, das cachoeiras. Terras das
tribos guajajara e canela,

harmonia da fauna e flora, da caça e pesca. As tribos


felizes donas das terras, conjunção milenar de água e
terra e vidas na cadeia alimentar. Os homens estranhos
se aproximaram, alterando o equilíbrio

da vida simples do povo aborígene, povo floresta, povo


rio, da simetria, elegância da natureza. Os estranhos
demarcaram, desenharam as ruas, derrubaram a mata,
trouxeram animais alienistas de outras bandas,

de muito longe. A lenta penetração no corpo virgem,


na sagacidade tomaram posse, construíram casa,
trouxeram seu Deus, e o impuseram a todos eles.
Criaram foro e estabeleceram a suas Leis.

Ó Ka'a'zar, deus das terras virgens e floresta,


permitistes a defloração do seio puro? Houveram as
doenças que dizimou tantos em poucos dias,
houve o crime bárbaro do extermínio da cultura do
povo livre.

27
Poesias

Ouço os sinos alegres da manhã de maio. Ó sons


queridos! Me acompanha a vida inteira; dos dias das
quermesses, da ave maria no pôr do sol; ó triste e
saudosos! No sinal de morte dos irmãos

que partiam para Deus. Ó Santa Igreja, que todos


acolhem, muito dá a troco de nada. Ó Frei Marcelino,
de Milão, que tudo deu a nossa terra, inclusive a vida. Ó
santo amado! Deixou o seu nome

gravado na terra dura, da ingratidão dos pecadores. Ó


santas, mestras, mestras que davam o pouco que
tinham no suor da labuta pela educação, na cidade ou
na roça, tão dedicadas abrindo os olhos para o alfabeto,

iluminando o caminho da ignorância, retirou-nos da


solidão. Ó cidade! Cidade amada, os teus filhos não
souberam construir as oportunidades. Me destes
muito, a infância alegre, a riqueza na vida simples, o
alimento.

Oh franciscanas! Madres e mestras santas, respei-


táveis, esteio da virtude de gerações de moças felizes e
honestas, devotadas aos maridos, à família, ao
matrimônio e aos filhos.

28
Poesias
VI

Do moro do calvário, a Santa Cruz de Barra do Corda


repousa nos braços do rio Corda e do Mearim. Cidade
provincial, resiste sob a proteção da igreja edificada,
mãe zelosa,

ela vigia, escuta e aconselha, imponente Matriz. Tu és o


coração, no centro esquerdo da cidade, tu és o meu
coração cheio de saudade, tua voz ecoa silenciosa, é o
meu guia de vida inteira.

Ó Barra do Corda dos tempos idos; tu, ó mãe carinhosa,


os rios e as selvas, as colinas e as cachoeiras, tu deste
teu corpo e nele nascemos amados por ti. Não há outro

caminho. Como suas águas, ó Barra do Corda, que passa


e passa, deslizamos juntos para o oceano único, a
Potência Sagrada, ela nos acolherá para novos ciclos da
vida eterna, ó Mãe amada!

29
Poesias

184 anosde
Barra do Corda
Marinete Moura
Poetisa, professora, pedagoga e membro
da Academia Barra-Cordense de Letras

QUAIS ERAM OS SONHOS


DE MINHA MÃE?

Durante a madrugada acordei inesperadamente


e me veio uma interrogação:
Quais eram os sonhos de minha mãe?
Ao acordar demorei para reconhecer
o lugar onde estava.
Por um momento pensei que estava
na minha antiga casa.... Eu estava sonhando!
No sonho eu conversava com minha mãe...
Entre gestos e sorrisos, eu me perguntava:
Quais eram os sonhos da minha mãe?
Acordei com uma grande angustia,
com a lembrança do sorriso de minha mãe
30
Poesias
E tentando lembrar quais eram os seus sonhos!
A pergunta me tirou o sono, então busquei
no espelho da memória
momentos que me ajudassem a lembrar
dos sonhos de minha mãe...
O que era uma simples interrogação, passou a ser
um conflito dentro de mim...
Então, eu não sabia quais eram os sonhos
de minha mãe?
Eu era filha única e quase sempre
éramos só nós duas em casa...
Desde cedo, percebi as dificuldades
presentes em nossas vidas
que ela disfarçava com gestos, ternuras e sorrisos...
Os primeiros raios de sol anunciavam
um lindo amanhecer,
enquanto eu continuava a procurar
pelas lembranças de minha mãe...
De seu olhar terno, de seu sorriso meigo,
de sua fisionomia sofrida,
de suas palavras e expressões que denotavam
grande sabedoria!
Mas quais eram os sonhos de minha mãe?
Das profundezas da memória me vinham
histórias da minha infância:
Quando eu corria para os braços dela
nos momentos de desespero,
do medo da chuva, das crises de sonambulismo,
dos pesadelos,
das noites de insônia nas quais, quase dormindo,
31
Poesias

ela velava minhas fantasias...


Dia após dia, ela me construiu um mundo cor-de-rosa!

Mas quais eram os sonhos de minha mãe?


O dia seguia em sua árdua rotina
e a pergunta ainda insistente ...
Enquanto buscava por respostas,
as lembranças de minha mãe
ressurgiam do espelho da memória ...
Recordações dos almoços e jantares servidos
do carinho, do afago, das lições de vida,
dos conselhos amorosos, da vigília aos namoros!

Mas quais eram os sonhos de minha mãe?


Eu buscava incessantemente por essa resposta,
enquanto as lembranças me inundavam
os olhos de lágrimas...
A imagem das noites escuras
quando contávamos as estrelas
trouxe-me a sensação de nostalgia
e aumentou dentro de mim a angústia
por não me lembrar quais eram
os sonhos de minha mãe!

No final da tarde, resolvi ir até a rua em que morava,


visitar minha antiga casa que já não era a mesma...
Minha mãe não estava mais lá
para falar-me de seus sonhos,
partira há anos para a eternidade infinita!
Aquela estranha visita nada adiantou...
32
Poesias
Então fui até seu túmulo,
onde repousa sua memória terrena,
Entre orações e reflexões
eu lhe perguntava sobre seus sonhos!

Mas quais eram os sonhos de minha mãe?


Voltei sem encontrar respostas...
Já era noite quando cheguei em casa...
Minha filha me recebeu com um abraço
E, enquanto jogava o seu sorriso no meu,
a resposta que eu buscava se revelou aos meus olhos
em forma de uma outra pergunta:
Quais são os meus sonhos?
O grande segredo foi desvendado nesse instante:
Meus sonhos se materializavam na menina
que naquele momento simbolizava meus filhos,
que representam o melhor de mim...
Meus sonhos se resumem na felicidade deles!
Essa era a síntese dos sonhos de minha mãe!

Quais eram os sonhos de minha mãe?


Eu era a personificação de todos
os sonhos de minha mãe,
a continuidade de sua existência...
A minha felicidade era a felicidade dela,
os meus sonhos eram os seus sonhos...
Eu não nasci dela, eu nasci pra ela
e ela foi a mãe que Deus escolheu pra mim!
Naquele momento mágico,
tudo fez sentido na minha busca...
33
Poesias

Minha pequenina tocou o meu rosto,


Abriu-me um sorriso que se confundia com o meu...
Então, sussurrando baixinho,
como se buscasse desvendar um grande mistério,
perguntou-me: “Mãe, quais são os seus sonhos?”
Nesse momento, mais do que nunca,
eu compreendi os sonhos de minha mãe!

INÉRCIA

Tenho em mim todos os sonhos de uma vida inteira...


Janelas que não ousei abrir
Mistérios incessantes no desafio do devir
De um mundo inacessível para onde foram
Todas as emoções
Com o destino a delinear novos caminhos!
Hoje, estou vencida na imensidão
De sonhos que não realizei
Falhei em muitas coisas, acertei em algumas...
A dinâmica da vida nos mostra a inércia
Diante das coisas que não podemos conquistar
E a angustia pelo que não podemos olvidar...
Ficaram em mim todas as lembranças vividas
De tudo que poderia ser e não foi!
De uma vida inteira numa espera sem fim,
Que desaguou num oceano sereno
De desventuras e ilusões perdidas!

34 a
Poesias
184 anos de
Barra do Corda
Assis Soares
Poeta, cordelista e membro da
Academia Barra-Cordense de Letras

PROFESSOR NONATO SILVA

(1)

O dom da inspiração
Se agrega em minha memória,
Falar sobre fol-clo-ris-ta
É enaltecer uma história;
Ainda hoje perdura
A beleza da Cultura
De um voz positiva;
De um Cidadão Coerente
35
Poesias

Aquele vulto decente,


Professor Nonato Silva.
(2)

Mil novecentos e dezoito,


Data comemorativa,
Dia treze de agosto
Nascia Nonato Silva;
Trazendo pro povo pobre
Todo sentimento nobre
De um ilustre cidadão
Que está distanciado,
Morreu, deixou um legado
À Princesa do Sertão.

(3)

Por força da vocação


Naqueles tempos passados
Subiu todos os degraus
Dos colégios renomados;
Com saudade que transborda
Deixou a Barra do Corda
Na sua iniciativa;
Procurou um Seminário,
Estudou pra ser vigário
O Doutor Nonato Silva.

36
Poesias
(4)

Seu trabalho espontâneo


Feito de boa vontade
Nos lembra a capacidade
Do nosso contemporâneo;
Pra nós que somos confrades
A lembrança nos invade,
Vem o silêncio e nos priva;
Chora a Barra do Corda,
Com a saudade que transborda
do Padre Nonato Silva.

(5)

Aqui em Barra do Corda


Trilhou diversos caminhos,
Adorava ouvir cantar
Os saudosos passarinhos;
Amava festa de gado,
Frequentava o serrado
Admirando a beleza!
Sentia com emoção
Os odores do Sertão
Doado da Natureza.

37
Poesias

(6)

Peço desculpas aos confrades,


Eu não sou capaz de expor
Nestas minhas poesias
O valor desse escritor;
Ele era competente,
Um cidadão coerente
Com toda sua altivez;
Eu também desde menino
Sou o poeta cordino
Para cantar pra vocês.

38
Poesias
184 anos
de
Barra do Corda
Silvio Oliveira
Poeta, compõe o Colégio de Literatos
Cursa Licenciatura em Letras pela UEMA

(E)NOITECE

Ocupo as noites de lembranças


E as palavras de lamento.
Visualizo um destino podre
Onde reina o mal sentimento.
Meus olhos chovem.
O tempo de completa justiça
Padece em carne viva
E não chega. Não chega.
Armas, castas, cartazes e gritos...
Onde está a sanidade
Dos donos dessa pós-verdade
Que deixa os povos aflitos?
Um coração morre na madrugada.
Sofrer ainda não é inopção.
Tem corpos jogados
39
Poesias

Nos passos contados


Da beira da estrada.
Tenho certeza das coisas
Que, por angústia, coleciono.
Tenho medo das pessoas
Das suas raivas e sonhos.
Pois pelo que vejo do mundo,
Vão transformar tudo em nada.

SONETO DE CONFETE
Escrevo, agora, essas reminiscências
Por solidão de quem-mais-amo.
Declaro a interna ausência
Do amor que, por vezes, conclamo.

Sonhei, em mim,
O amar mais-livre em verso
Preso, agora, assim,
Até o meu amor contesto.

E o que, por hora, foge


Entre os dedos do destino
Fez-se parte-minha ao partir

Se, por morrer, agora


Recordar-se, em desatino,
É só a dor real do fim-do-que-sentir.
40

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