INDICAÇÃO/IDENTIFICAÇÃO DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO
NO CONTEXTO DA DIVERSIDADE ESCOLAR
MARIA TEREZA COCCIA
RESUMO
Este trabalho tem a finalidade de discutir com os professores de sala regular,
de sala de recursos, equipe pedagógica e equipe diretiva, a identificação de características de altas habilidades/superdotação (AH/SD) dos alunos do Colégio Estadual Rui Barbosa – EFMP, bem como as formas mais adequadas de atendimento dos mesmos. Isso só será possível por meio de espaços de aprendizagem com palestras e grupos de estudos, realizados no contexto das escolas, que possibilitarão aos professores momentos de capacitação e principalmente de reflexão, tratando especificamente da identificação e do reconhecimento das necessidades de estudantes com AH/SD, tendo por objetivo aproximar as discussões referentes à temática em destaque. Para tanto, o olhar frente ao processo de inclusão requer do profissional da educação a construção de uma percepção multirreferencial.
A relevância na indicação/identificação dos alunos com possibilidade de
Altas Habilidades/Superdotação - AH/SD se justifica quando observamos crianças sendo diagnosticadas e até mesmo, medicadas erroneamente, com transtorno afetivo bipolar, transtorno do déficit de atenção, transtorno desafiador e de oposição, depressão, ansiedade, transtorno obsessivo- compulsivo, e tantas outras patologias ligadas aos aspectos cognitivos por exemplo. A identificação das AH/SD é importante, pois assim, os alunos terão mais chances de desenvolver suas potencialidades, dentro das áreas escolares e da vida diária. É muito comum as escolas exigirem laudos e pareceres de médicos na busca pela indicação/identificação destes alunos transferindo sua responsabilidade para a área da saúde e não raro, encontrarmos crianças com AH/SD sendo equivocadamente diagnosticadas e medicadas sem necessidade. Pesquisadores da área estão preocupados ao ver um elevado número de alunos com AH/SD sendo diagnosticados erroneamente e medicados como hiperativos, devido ao fato de os sintomas terem uma grande semelhança com as características de AH/SD. De acordo com Perez (2003, 240-241):
Na escola, os alunos com altas habilidades produtivo-criativos,
portanto, dificilmente são identificados como Pessoas com Altas Habilidades, posto que seus interesses não sejam contemplados pelo currículo do ensino regular e a tendência à dispersão e, portanto, a falta de rendimento, o desempenho muitas vezes aquém do da média de alunos em algumas disciplinas e a falta de elementos que permitam avaliar suas habilidades, muitas vezes, fazem que eles sejam encaminhados aos serviços de orientação educacional já rotulado como alunos dispersivos, com dificuldades de aprendizagem, hiperativos, com déficit de atenção ou desvios de comportamento.
Durante os anos que a pesquisadora atuou com educação especial
teve a oportunidade de perceber que os educadores têm grande parcela de culpa nisso, pois, na maioria das vezes, sem formação adequada, reclamam de atitudes e comportamentos desses alunos até que alguém resolve tomar uma atitude, encaminhando tais alunos para a área da saúde, que muitas vezes culmina no tal diagnóstico errôneo. Faz-se necessário destacar dois pontos importantes: a formação dos professores sobre o tema, para que possam reconhecer os elementos indicativos das AH/SD buscando observar com atenção os alunos no sentido de, quem sabe, ajudar na indicação/identificação dos alunos com tais características; e o direcionamento do trabalho com projetos educacionais na escola, como forma de criar possibilidades aos alunos de exercerem seus talentos e desenvolverem suas habilidades. É importante salientar que os alunos com AH/SD são sujeitos da educação especial como confirma a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº 9394/96 em seus artigos 58, 59 e 60, e não somente aqueles com deficiência intelectual, auditiva, visual ou física (BRASIL, 1996). O contexto educacional atual tem frequentemente debatido a necessidade de a escola ser um espaço inclusivo, que respeita as diferenças e oportuniza o aprendizado a todos, conferindo-lhes capacidade de aprender e desenvolver seus potenciais. Observa-se que quando se fala em inclusão, seja nas escolas ou nas universidades, a concepção que se faz é, em quase sua totalidade, de alunos com deficiência intelectual, física, auditiva entre outras. O tema AH/SD parece, para muitos, não fazer parte deste universo. Embora no âmbito escolar esse debate venha acontecendo, o mesmo não se verifica na formação de professores, especificamente nos cursos de licenciatura. Advindo da desinformação sobre o assunto, observa-se que os professores nem mesmo sabem que os termos “altas habilidades” e “superdotação” têm o mesmo significado. Os professores não estão capacitados para indicar/identificar alunos com características de AH/SD por falta de formação, seja ela inicial ou continuada. Com isso, os mitos que cercam o imaginário destes professores sobre tais alunos nos levam a pensar, baseados no senso comum, que as crianças com AH/SD se constituem em um grupo homogêneo que possui um QI – Quociente de inteligência elevado e que tem desempenho brilhante em todas as áreas do conhecimento, o que é um equívoco. O que se observa é um distanciamento entre a fantasia criada pelos mitos e a realidade acerca desses indivíduos. O professor, ao ser capacitado, deixará as fantasias que rondam suas mentes a despeito desses indivíduos e passará a compreender o universo dos superdotados observando e identificando suas características, oportunizando- lhes uma prática pedagógica diversificada com: autenticidade, criatividade, espontaneidade, confiança, experiência, segurança e equilíbrio emocional, coerência nas atitudes, sentido de auto renovação e atualização constantes, entusiasmo pela aprendizagem e flexibilidades às situações diferentes, a fim de desenvolver suas potencialidades e ajudá-los a se tornarem adultos equilibrados e saudáveis. Segundo Freitas, PÉREZ, (2010, p. 5).
É necessário deixar de ser mero executor de currículos e programas
predeterminados, para se transformar em responsável pela escolha de atividades, conteúdos ou experiências mais adequadas ao desenvolvimento das capacidades fundamentais dos seus alunos, tendo em conta o nível e as necessidades deles. Para tanto, é necessário conhecer as características individuais dos alunos com altas habilidades/superdotação e as diferentes formas de manifestação de suas singularidades por meio de observações que lhe permita identificar as preferências e facilidades de cada um, assim como suas limitações.
É necessária a conscientização de toda a comunidade escolar da
relevância da observação das características para a identificação dos alunos com AH/SD, pois será graças a ela que será possível instituir uma ação pedagógica apropriada às necessidades educacionais, sociais e emocionais destes alunos, dentro dos ambientes escolares. Sabe-se que indicar/identificar e estimular crianças com este potencial tem se constituído em um desafio que poderá ser amenizado quando os profissionais da educação obtiverem nos cursos de formação inicial e continuada o conhecimento que proporcione a eles maior criticidade, reflexão e melhores condições de concretizar o procedimento bifásico de indicação-identificação desses alunos. Diante de todos estes fatos, o objetivo deste trabalho do PDE foi instigar o professor a refletir criticamente acerca da sua prática, bem como buscar formação e conhecimento a respeito das características e se permitir um olhar atento ao processo de reconhecimento do aluno com indicativos de AH/SD, bem como promover práticas pedagógicas diversificadas e inclusivas de ensino, que determinarão a qualidade de interação e o aprendizado do aluno no ambiente escolar.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Souza (2013), foi no século XX que se iniciaram os
trabalhos para se quantificar os atributos referentes a inteligência, com as pesquisas de Alfred Binet, que desenvolveu a primeira escala que media o desenvolvimento infantil. Foi a partir destes trabalhos que os conceitos de superdotação foram ampliados e incluíram a criatividade e o pensamento divergente, a solução de problemas e tomada de decisão como escores para conceituar a superdotação e não somente o QI. Em 1995, a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e de Desportos instituiu as Diretrizes Gerais para atendimento Educacional aos Alunos Portadores de Altas habilidades/Superdotação e talentos, a qual traz uma definição para os termos:
Altas habilidades referem-se aos comportamentos observados e/ou
relatados que confirmam a expressão de 'traços consistentemente superiores' em relação a uma média (por exemplo: idade, produção ou série escolar) em qualquer campo do saber ou do fazer. Deve-se entender por 'traços' as formas consistentes, ou seja, aquelas que permanecem com frequência e duração no repertório dos comportamentos da pessoa, de forma a poderem ser registradas em épocas diferentes e situações semelhantes. (BRASIL, 1995, p. 13).
É importante destacar que essa definição engloba os
comportamentos/traços acima da média, quando observados e comparados aos demais, aliados à permanência e duração destes. Nesse mesmo documento, o MEC (BRASIL, 1995, p. 14-15) aponta seis tipos de superdotação: intelectual, social, acadêmico, criativo, psicomotricinestésico e talentos especiais. A este respeito, Gardner (2009) salienta que, para testar estas inteligências o teste de QI não é válido, pois testam apenas a parte linguística e lógico matemático, e o ser humano não é dotado apenas destas habilidades. Dentro deste contexto, há teóricos da psicologia que acreditam que a inteligência não está relacionada à compreensão da criatividade, o caráter ou a sabedoria, mas sim à capacidade de planejar, resolver problemas, raciocinar, compreender ideias e linguagens e aprender. No mesmo ano em que o MEC lança o referencial 1995, Gardner propõe a existência de Sete Inteligências, que deveriam ser consideradas ao avaliar um indivíduo, as Inteligências Múltiplas, dentre as quais: lógico- matemática, linguística, musical, corporal-cenestésica, espacial, interpessoal e intrapessoal. Para chegar a esta teoria, Gardner realizou vários estudos em diferentes áreas:
As informações disponíveis sobre o desenvolvimento normal e o
desenvolvimento do indivíduo talentoso; estudos sobre populações prodígios, idiotas, sábios, crianças autistas, crianças com dificuldade de aprendizagem; dados sobre a evolução da cognição; considerações culturais comparadas sobre a cognição; estudos psicométricos; estudos de treinamento psicológico e principalmente análise da perda das capacidades cognitivas nas condições de lesão cerebral. Foram consideradas inteligências genuínas apenas a inteligência candidata que satisfaziam todos ou, pelo menos, a maioria dos critérios acima. Além disso, cada inteligência deveria ter uma operação nuclear ou um conjunto de operações identificáveis e deveria também ser capaz de ser codificada em um sistema de símbolos. (GARDNER, 1995, p. 21-22).
É importante destacar que nem todos os alunos superdotados
apresentam as mesmas características. Portanto, a identificação destes indivíduos requer uma observação continua e cautelosa sobre o interesse dos educandos em determinadas áreas assim como seu comportamento com relação as mesmas (BARBOSA, 2014). A mesma autora citada acima faz referências a vários autores que disponibilizam alguns instrumentos que podem auxiliar os professores a identificar os alunos superdotados, tais como:
As Escalas de Renzulli - SCRBSS (RENZULLI, 2001); a lista de
Características dos Estudantes Superdotados/Talentosos (METTRAU, 2001); a Lista de Características de Altas Habilidades (GUENTHER, 2000), além da observação contínua do professor, pautada em leituras na área de altas habilidades, uma vez que “... Gagné demonstra que os professores são perfeitamente capazes para detectar sinais de talento nas crianças, o que vem a ser confirmado por outros estudos” (BARBOSA, 2014, p. 34).
É importante ressaltar que os testes psicológicos só poderão ser
executados por psicólogos, não cabendo aos professores sua aplicação, mas a observação constante de seus alunos e o encaminhamento para realizar tais testes. Para auxiliar os educadores na identificação dos alunos com altas habilidades/superdotação, uma opção é o Modelo do Anel de Renzulli e Mönks (METTRAU, 2000).
Modelo Triádico de Rezulli & Mönks
Fonte Barbosa (2014, p. 40)
De acordo com a ilustração acima, cada anel apresenta no seu interior
uma característica específica, sendo o primeiro concernente ao envolvimento com a tarefa, que se refere ao comprometimento do educando com aquilo que ele faz, fazendo-o com afinco e dedicação, em razão da constância de suas ações; o segundo diz respeito à(s) habilidade(s) acima da média, expressa(s) pelo educando, de tal modo, que este se destaca dos demais; o terceiro anel é o da criatividade, que ressalta o fato de que o produto criado pelo indivíduo foge à regra, por apresentar características de expressiva criatividade, sendo esta tomada como algo diferente e único. A expressão de seus talentos é vista e reconhecida, socialmente, nas pontas do triângulo equilátero, onde se lê, no vértice esquerdo, colégio, no direito, companheiros e no inferior, família (METTRAU, 2000). Após a identificação dos alunos com AH/SD, é importante que estes sejam bem acolhidos pela instituição de ensino que frequentam e sejam encaminhados para serviços especializados que potencializarão seus talentos, pois a sua permanência é garantida por lei. A LDB nº 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, dispõe em seu artigo 59, inciso I, que os sistemas de ensino assegurarão a esses alunos, “currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades” (BRASIL, 1996, p. 44). Isto significa que as escolas deverão atender a todos os alunos, apresentem eles deficiência intelectual ou altas habilidades/superdotação. Também a respeito do atendimento a esta clientela, a Resolução CNE/CEB Nº. 02/2001, artigo 3º, a educação especial, modalidade da educação escolar, é compreendida como um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica. (BRASIL, 2001, p. 01). De acordo com o endereço eletrônico http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?cont eudo=666, que corresponde ao portal Dia a Dia Educação, do Governo do Paraná, os atendimentos a estes alunos deverão ser ofertados pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná/Departamento de Educação Especial, aos alunos com Altas Habilidades/Superdotação no Ensino Regular da seguinte maneira: Classe Comum – além do currículo previsto para série de frequência do aluno, poderá ser realizado enriquecimento e ou aprofundamento curricular e, quando necessário, a aceleração para conclusão de escolaridade em menor tempo. Sala de Recursos – Ensino Fundamental e Médio – é um serviço de apoio especializado de natureza pedagógica, que suplementa o atendimento educacional realizado nas classes comuns do Ensino Fundamental, em contra turno. Sala de Recursos Multifuncional para Altas Habilidades/Superdotação do Tipo I - A Sala de Recursos Multifuncional - Tipo I para Altas Habilidades/Superdotação é um espaço organizado com materiais didático-pedagógicos, equipamentos e profissional (is) especializado (s) onde é ofertado o atendimento educacional especializado que visa atender às necessidades educacionais dos alunos público-alvo da Educação Especial na Rede Pública de Ensino. NAAH/S – Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação – é um serviço de apoio especializado, realizado em parceria entre a Secretaria de Educação Especial do MEC e a Secretaria de Estado da Educação/Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional, destinado a oferecer suporte aos sistemas de ensino no atendimento às necessidades educacionais especiais, visando implementar as políticas públicas de inclusão. (DIA A DIA EDUCAÇÃO, 2016, s/p). Mas infelizmente e apesar de toda a legislação que ampara esta clientela, poucas são as iniciativas para seu atendimento para que suas potencialidades sejam desenvolvidas como deveriam, pois, Cupertino (2008) ressalta que a educação desses alunos não pode ser deixada ao acaso, uma vez que deve ser condizente com suas características, além de exigir sistematização e coerência. “Sem estímulo, essa pessoa pode desprezar seu potencial elevado e apresentar frustração e inadequação ao meio” (CUPERTINO, 2008, p. 13). A autora faz referências a Landau (2002) que afirma que a criança com AH/SD é como qualquer outra, tendo o seu talento como o único diferencial. É um engano pensarmos que esses indivíduos têm recursos suficientes para sempre desenvolverem sozinhos suas habilidades. Alunos com altas habilidades/superdotação necessitam de uma variedade de experiências de aprendizagem enriquecedoras que estimulem seu potencial (CUPERTINO, 2008, p. 51). Diante disto é importante que os professores fiquem atentos a seus alunos para que possam identificar e assim proporcionar uma educação de qualidade para todos.
ANALISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Este artigo é o resultado do Programa de Desenvolvimento
Educacional PDE - 2016, que aconteceu no Colégio Estadual Rui Barbosa na cidade de Jacarezinho, junto ao corpo docente do referido estabelecimento de ensino. A finalidade deste trabalho foi fazer do ambiente escolar um espaço de discussão que gere informações e conhecimento sobre AH/SD, capacitando os professores para que juntos com a equipe pedagógica possam identificar alunos com indicadores de AH/SD. Bem como apontar, aos docentes, possibilidades de atendimentos aos superdotados, para potencializar o desenvolvimento desses alunos de forma a não desperdiçar esse elevado potencial ao longo de sua vida acadêmica. Pretende-se, assim, conscientizar os professores sobre a importância da identificação dos alunos com indicativos de AH/SD, não para rotulá-los simplesmente, mas reconhecê-los como pertencentes à modalidade de ensino de educação especial e a necessidade de atendimento especializado. Como primeira atividade, buscou-se explanar os conhecimentos prévios que os participantes tinham a respeito do assunto, com a apresentação do trabalho pela professora Maria Tereza Coccia, com o tema “O papel do Professor na Identificação e Atendimento ao Aluno com AH/SD: Uma Discussão Pertinente”, para posteriormente intervir, com palestras e atividades que pudessem agregar mais informações para um trabalho de qualidade com os alunos com AH/SD. Tal provocação foi realizada, pois está claro que as necessidades deste alunado é diferente dos alunos ditos “comuns”, cabendo ao professor reconhecer e trabalhar as diferenças, é necessário que todos tenham uma mesma relação na sala de aula e não se sintam diferentes. Mas para que isto ocorra de modo significativo, é necessário que os professores sejam capacitados numa formação que inclua conhecimentos que possam auxiliar a prática, visando à inclusão de alunos com Altas Habilidades/Superdotação, bem como oportunizar a permanência do aluno em turmas do ensino regular. Conforme Alencar (2001, p. 147):
Um aspecto que tem sido foco de muita atenção é a formação do
professor. Este, sem sombra de dúvida, tem um papel da maior importância, tanto para a descoberta e reconhecimento das potencialidades de cada aluno como para a provisão de condições favoráveis a este desenvolvimento. Sobretudo o professor que se propõe atuar diretamente com alunos que se destacam por suas habilidades superiores necessita de uma preparação especializada.
A segunda proposta de trabalho foi a leitura e aprofundamento do tema
identificação e atendimento ao aluno com indicativo de AH/SD por meio do artigo “Do Unidimensional ao Multidimensional na Identificação de Indivíduos com Altas Habilidades” de autoria de Delpretto et al (2007), que relata um estudo de caso sobre o assunto e também as intervenções sobre o mesmo. Este fato é importante, pois segundo Merlo (2008) devem ocorrer mudanças para a inclusão dos alunos com AH/SD, e que se faz necessário a criação de estratégias inclusivas como a reelaboração do projeto político- pedagógico das escolas e o processo de formação e qualificação do educador. Assim, a inclusão deve começar na conscientização do próprio educador, para uma melhor efetivação da prática de ensino e aprendizagem, objetivando uma escola aberta à diversidade, possibilitando o desenvolvimento integral do educando. De acordo com Rodrigues (2005, p. 7), o processo de inclusão pode ser entendido como reconhecimento e respeito das diferentes identidades dos alunos e uma cultura institucional que aproveita estas diferentes identidades para o benefício da educação de todos. Por outras palavras, é uma educação para todos [...]. A terceira atividade proposta aos educadores foi que os mesmos assistissem ao filme “Como Estrelas na Terra”, que descreve muito bem a situação dos alunos com AH/SD nas escolas, e posterior debate com os professores. A quarta atividade foi uma palestra com a professora mestre Marcilene Bacelar do Nascimento “Atendimento ao aluno com AH/SD na sala de recursos multifuncional”. Tanto a atividade 3 como a 4 tinham como objetivo responder a vários questionamentos que os professores participantes do projeto tinham, pois o assunto da inclusão dos alunos com AH/SD ainda traz muitas controvérsias, sendo que os docentes que atuam no ensino comum, não se sentem preparados para atender a estes alunos, pois acreditam que é necessário que também sejam superdotados para realizar este atendimento. Por meio do filme, os professores puderam perceber que este medo não é realidade, e a palestra ajudou-os a entender que são capazes de ensinar e promover o desenvolvimento integral destes alunos. A educação deve buscar o desenvolvimento integral dos sujeitos envolvidos cultural e socialmente no processo educativo. Nas palavras de Rocha (2005, p. 35), o processo de desenvolvimento do sujeito está “inextricavelmente ligado às relações sociais em que se insere”. Tratando do processo de internalização, comenta que:
No jogo das inter-relações, o sujeito gradualmente incorpora, como
seus, os recursos usados por sua cultura; internalizando-os, modifica seus processos psicológicos, podendo estruturá-los de maneira qualitativamente diferente. Os instrumentos e a palavra, que operam nas relações interpessoais, passam a ser dominados e manejados pelo sujeito de forma mais independente, adquirindo a capacidade de regular seu próprio comportamento e seus próprios processos psicológicos (ROCHA, 2005, p. 35 – 36).
Para que este desenvolvimento aconteça de maneira mais concreta, os
professores devem buscar por estratégias, metodologias que ampliem os horizontes destes alunos. Uma opção são os grupos de enriquecimento, que proporcionam aos envolvidos nas situações de aprendizagem, que de acordo com Renzulli apud Alencar (2001, p. 137):
“[...] desafiadoras, auto-seletivas e baseadas em problemas reais,
além de favorecer o conhecimento avançado em uma área específica, estimular o desenvolvimento de habilidades superiores de pensamento e encorajar a aplicação destas em situações criativas e produtivas”. Este trabalho de enriquecimento foi o que aconteceu na segunda parte do trabalho, onde os professores participantes do projeto tiveram a oportunidade de após identificar os possíveis alunos com AH/SD, ofertar atividades de enriquecimento curricular para promover o desenvolvimento integral dos alunos. Desta forma, um dos requisitos necessários ao professor é não parar no tempo. Precisa fazer de sua vida um cultivo, se atualizar e articular o conhecimento com a realidade. Não precisa ser superdotado ou perito em todas as áreas do currículo. É preciso alta competência na área em que ensina para que possa conduzir as investigações. Mas, sobretudo, ser flexível e aberto a novas experiências (SAKAGUTI; BOLSANELLO, 2009). Não parece ser necessário que o professor de crianças bem-dotadas seja, ele mesmo, uma pessoa excepcionalmente capaz, mas é evidente que ele deve demonstrar e cultivar interesse por esse tipo de trabalho, alargar sua visão sobre a problemática da dotação e talento humano, esclarecer sua própria posição e valores em relação à área, e sobretudo aprender, estudar, adquirir o conhecimento necessário para melhor se desincumbir de sua tarefa (FREEMAN & GUENTHER, 2000, p.147). A quarta e a quinta proposta de trabalho foram a leitura e reflexão do artigo “O papel do professor junto ao aluno com Altas Habilidades” de autoria de Rech e Freitas (2005); e palestra com a equipe do NAAH/S de Londrina “Identificação e Atendimento Educacional Especializado ao Estudante com AH/SD”. Estas atividades tiveram como finalidade motivar os professores a desenvolverem o trabalho com estes sujeitos que necessitam e muito da intervenção adequada para que possam se desenvolver em todas as suas potencialidades. Para trabalhar com este alunado é preciso estar motivado. É se encantar por aquilo que faz. É ter o que Renzulli chama de “romance com a disciplina”. Sobre isto, Alencar comenta:
O professor é considerado o componente mais importante. Aqueles
que contribuem de forma mais efetiva para o desenvolvimento de habilidades criativas de seus alunos caracterizam-se pelo domínio da disciplina sob sua responsabilidade, grande entusiasmo e mesmo paixão pela sua área de conhecimento (denominado “romance com a disciplina” pelo autor), além do uso de práticas pedagógicas diversificadas em sala de aula, utilizando, por exemplo, discussão em grupo, aulas expositivas, estudos dirigidos, jogos e exercícios, filmes para ilustrar tópicos abordados e outras estratégias que ajudam a despertar e assegurar o interesse do aluno pelo conteúdo ministrado (ALENCAR, 2007, p.22).
Desse modo, a participação do professor e da escola é de fundamental
importância, como já explicitado, tanto no processo de identificação dos alunos com Altas Habilidades/Superdotação, como na estimulação de suas potencialidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a realização das atividades do PDE – Programa de
Desenvolvimento Educacional junto aos professores, para que estes pudessem compreender a importância de se identificar os alunos que apresentam Superdotação/Altas Habilidades. A partir do momento que os docentes compreendem que estes alunos estão presentes em nossas escolas e que é possível trabalhar com eles sem que os professores sejam superdotados, muitos paradigmas são quebrados, pois ainda existe este medo. Os alunos com AH/SD apresentam necessidades educativas diferentes daquelas apresentadas pelos alunos ditos “normais”, e cabe aos professores reconhecer e trabalhar com estas diferenças. Portanto, faz-se necessário que os docentes tenham uma formação apropriada para que possam exercer este papel com segurança. Um aspecto que deve ser foco de muita atenção é a formação do professor. Este, sem sombra de dúvida, tem um papel da maior importância, tanto para a descoberta e reconhecimento das potencialidades de cada aluno como para a provisão de condições favoráveis a este desenvolvimento. Sobretudo o professor que se propõe atuar diretamente com alunos que se destacam por suas habilidades superiores, necessita de uma preparação especializada. Uma educação sintonizada é de grande relevância, segundo as necessidades cada vez mais urgentes e dinâmicas dos alunos que estão inseridos em um mundo competitivo e em constante transformação, deste modo, o papel do professor diante do aluno com necessidades educacionais especiais torna-se cada vez mais complexo. Discutir o papel que os professores devem exercer dentro da educação inclusiva não é coisa nova, mas, definir a posição dele diante de novas ideias e, principalmente, diante da grande diversidade de alunos, torna-se uma questão fundamental para o sucesso e permanência dos alunos com Altas Habilidades/Superdotação em sala de aula regular.
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