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22/06/2019 Sobre o amor em "O paraíso são os outros"

PSICOLOGIA, SEXUALIDADE E GÊNERO

June 18, 2019

SOBRE O AMOR EM "O PARAÍSO SÃO OS OUTROS"


Capa do livro “O paraíso são os outros” de Valter Hugo Mae

         Quem convive com crianças, convive com perguntas. Algumas perguntas tão fofas, outras bem
divertidas, outras que respondemos quase que no automático, outras que nos confundem, por
serem complicadas, por nos embaraçarem. Entre as interrogações, estão aquelas que não sabemos
as respostas, inclusive aquelas em que a inquietação de não entender persistiu nos acompanhando
vida afora.

         “Por que as pessoas adultas beijam na boca? Eu posso beijar na boca?”, “O que é namorar?”, “Em
que idade poderei casar?”, “É verdade que para fazer bebês as pessoas precisam car peladas?”, “Por
que algumas pessoas adultas dormem no mesmo quarto?”, “Quando duas pessoas andam de mãos
dadas, são namoradas?”, “Menina pode namorar menina?”, “Você ama seu marido? Seu marido te
ama? Como alguém sabe que ama alguém?”.

         Quando eu era criança, amor me parecia ser o que fazia as pessoas serem felizes para sempre
nos contos de fadas. Me parecia algo mágico, que fazia a vida dar certo, acreditava que haveria uma
pessoa certa que faria então a vida dar certo, que então, ao encontrá-la, com certeza seria feliz.
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22/06/2019 Sobre o amor em "O paraíso são os outros"

Posso lembrar de algumas histórias, de algumas novelas, de algumas músicas, de alguns casais
felizes de lmes. Mas, entre minhas inspirações para a crença no amor feliz para todo o sempre,
considero que uma marcante in uência foi um álbum de gurinhas:

                Gostaria de voltar no tempo e poder dizer para mim mesma, criança, que o amor pode ser
muito bonito e muito gostoso, mas não precisa ser a única coisa bonita e gostosa que vivemos, nem
aquela que “estará em tudo”, nos enchendo de certezas e nos fazendo esquecer do mundo a nossa
volta. O amor pode enriquecer nosso olhar para o mundo, para as diferentes experiências que
vivemos, para as diferentes relações que temos, seria muito ruim se amar fosse o que nos afasta e o
que nos faz deixar de pensar no que nos importamos.

         Diria também que “estar amarrados” deve ser muito chato, que amar não é para ser algo que
prende, algo que restringe nosso espaço e nossos movimentos, mas que é muito bom poder se
sentir livre e escolher estar com alguém que também se sente livre e que escolhe estar conosco.
Posse, exigências, cobranças são confundidas com o que é amar, mas nossa, como atrapalham o
amor.

         Diria, ainda, que não é preciso “ter certeza”, ou ao menos a certeza do para sempre, a certeza
do destino, a nal, logo ao viver eu perceberei que o futuro pode ser mais confuso mas também mais
interessante do que algo determinado e pronto em que nos encaixaremos. Muitas coisas não
teremos certeza, mas se sentimos que nos faz bem, se sentimos que é especial estar com alguém,
quem sabe pode ser amor, não como algo que está ali, um destino esperando para ser revelado, mas
como algo que as duas pessoas podem criar juntas.

                Sim, muitas vezes amor é mistério, muitas vezes amor é enigma, muitas vezes amar
surpreende. Não seria explicar a mim mesma criança o que é amor o que eu pretendo, a nal,
explicar como? – mas tentar aliviar o peso que tem essa mensagem que se repete tanto, tanto, tanto
– de que no amor haveria um modelo certo, um modelo único, um modelo pronto e de nido
cabendo a nós nos esforçarmos para nos encaixarmos nele.

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22/06/2019 Sobre o amor em "O paraíso são os outros"

         En m, falei um pouco sobre o que eu gostaria de dizer para mim mesma quando criança, mas o
que eu gostaria mesmo, mesmo, mesmo, era poder voltar no tempo e entregar um livro
embrulhadinho pra presente, poder me ver pequenininha lendo-o. Foi uma delícia lê-lo adulta, o
jeito delicado que traz os encantos e as muitas possibilidades do amor, valorizando as possibilidades
em que nos sentimos bem, em que cultivamos o que faz bem reciprocamente. O nome do livro é “O
paraíso são os outros”, do escritor português Valter Hugo Mae.

         O livro é narrado a partir do ponto de vista de uma criança, que fala sobre o amor, que fala do
costume de reparar em casais. Casais de pessoas, casais de pássaros, de coelhos, de elefantes, de
gol nhos, de vários animais.

         Entre as concepções sobre o amor narradas pela protagonista, está a fala de sua mãe, de que o
amor constrói, que a construção requer trabalho, mas é um trabalho bom: “Gostarmos de alguém,
mesmo quando estamos parados durante o tempo de dormir, é como fazer prédios ou cozinhar para
mesas de mil lugares”. Em outro momento, diz: “Já aprendi. O amor é um sentimento que não se
obedece nem se garante. Precisa de sorte e, depois, de empenho. Precisa de respeito (...)”.

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22/06/2019 Sobre o amor em "O paraíso são os outros"

         Casais são pessoas que vivem perto, são pessoas que se tornam família, mas não eram família
antes. Como as pessoas que eram desconhecidas passam a ser conhecidas e seguem a vontade de se
conhecerem e se aproximarem mais, é um mistério. Ainda que não saibamos como será encontrar
alguém que amaremos, a protagonista diz: “Eu fui bem avisada: a pessoa que um dia amarei haverá
de estar em algum lugar entretida com a sua vida, como eu”.

                A compreensão de que, quando amamos, a experiência de amar é a experiência de que as


pessoas que amamos são como paraísos é trazida em alguns trechos de muita sensibilidade, cuidado
e beleza, em que a importância de romper com relacionamentos que fazem sofrer é trazida:

“Os casais formam-se para serem o paraíso. Ou assim devia ser. Há casais que vivem no inferno, mas
isso está errado. Pertencer a um casal precisa ser uma coisa boa. Eu, quando for adulta e encontrar
quem vou amar, quero ser feliz. Não vou sequer ter paciência para quem me impedir. Precisamos
saber fugir de toda maldade antes que deixemos de saber fugir. (...).
A minha tia viveu com meu antigo tio até o dia em que ele lhe bateu. Depois, fez a mala e foi
procurar apaixonar-se outra vez. Quem bate é burro e estúpido. A polícia deve prender.
Ela casou novamente. O meu novo tio é brincalhão. A minha tia até cou mais bonita. Não sei o que
lhe deu”.

         Que bonito pensar no amor como o que leva as pessoas a serem mais bonitas, a se sentirem
mais bonitas, a viverem vidas mais bonitas. Por isso amei este livro tão bonito. Recomendo também
este vídeo, em que ele é lido com diferentes sotaques.

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Labels: Amor, Livros infantis, Prevenção e enfrentamento às violências

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