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Introdução
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pessoas questionamentos e reflexões em relação a seus preconceitos
e dogmas, assunto este que se encontra desamparado pela legislação
e marginalizado socialmente. O tema vem sendo discutido por
psicólogos, por operadores do direito e pela sociedade em geral.
Sabe-se que, de acordo com o universo jurídico, não existem leis
e nem declarações que proíbam a adoção por casais homoafetivos.
A homoafetividade durante muito tempo se configurou como
pecado, crime e já foi até considerada doença, pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), e ainda hoje, o preconceito em relação
aos casais homoafetivos se faz muito presente em nossa sociedade,
que em parceria com o Estado tem o dever de promover o respeito
à diversidade de orientação sexual (RIOS, 2001).
De acordo com Uziel (2009), na atualidade, os modelos de
família estão mais diversificados. A família nuclear constitui-se
ainda como modelo de família majoritário, porém, a realidade é que
cada vez mais tem surgido novos arranjos familiares. Faz-se, então
necessário ressignificar os modelos familiares abrangendo suas novas
modalidades de relacionamentos, em especial a família formada por
casais homoafetivos, com ou sem filhos, que vem tentando ocupar
seu espaço e lutando para ter seus direitos assegurados. Deste modo,
a sociedade passa por mudanças e cabe ao Direito e a Psicologia
entre outras áreas, acompanhá-las visando a proporcionar um maior
suporte ao indivíduo e a essas novas famílias.
A procura dos casais homoafetivos por seus direitos vem se
efetivando pelo mundo e, em alguns países, a adoção de crianças
por eles já é realidade. Entretanto, a adoção realizada por casais
homoafetivos é vista de maneira preconceituosa pela maioria das
pessoas, que vêm neste tipo de união uma anormalidade que poderia
atrapalhar, influenciar de forma negativa a formação e a educação
das crianças, que tenderia para a homossexualidade. (COSTA, 2004).
Muitos se questionam em relação ao posterior sofrimento psíquico
de uma criança adotada por um casal homoafetivo. É mais justo
as crianças ficarem em orfanatos, marginalizadas, do que terem
a possibilidade de fazer parte de uma família homoafetiva? Essa
possibilidade negada, muitas vezes, faz com que essas crianças
tenham uma vida destituída de cuidados individualizados, atenção,
carinho, amor, conforto, afeto, dentre outros, tão necessários para
seu desenvolvimento.
Os relacionamentos entre casais homoafetivos até os dias de hoje,
são considerados como ofensa a moral e aos bons comportamentos
permitidos pela sociedade. Quando se fala em adoção por casais
homoafetivos, eles na maioria das vezes são vistos, como se
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fossem incapazes de educar, de ter e dar afeto a uma criança.
Consequentemente, essa visão conservadora e preconceituosa
influencia as decisões do legislador, pois a moral da sociedade é
predominantemente embasada por valores religiosos, sendo que
a Igreja se pronuncia de forma rígida contra a união de casais do
mesmo sexo. (UZIEL, 2009).
O presente artigo se propõe a investigar o discurso da psicologia
em relação à temática, pois do ponto de vista da adoção, seja
por família homoafetiva ou heteroafetiva, deve-se pensar
prioritariamente no que se apresenta como o melhor para a criança
e não se balizar por preconceitos e uma moral conservadora. De
forma específica, objetiva-se também discutir opiniões de estudiosos
da psicologia sobre homoafetividade, conhecer as repercussões
sobre o desenvolvimento da criança nesse contexto e expor as
consequências dos mitos e preconceitos da sociedade em relação a
adoção. Almeja-se com este artigo, contribuir na formação de uma
sociedade menos preconceituosa, mais tolerante ao diferente e
servir como um alerta aos psicólogos, no sentido de se prepararem
para acolher esse tipo de demanda que tem chegado cada vez mais
as famílias, consultórios, creches, escolas, dentre outros.
Este estudo constitui-se como uma revisão bibliográfica,
abrangendo o período de 1990 a 2009, que de acordo com Gil
(2002), é constituída por produções já existentes como livros,
teses, periódicos e artigos, se apresentando como um tipo de
pesquisa vantajosa, pois propicia uma visão global dos assuntos
estudados. O artigo contempla levantamento e análise de pesquisas
e artigos relacionados à adoção de crianças por casais homoafetivos.
Comparações e contribuições sobre as perspectivas do Direito e
da Psicologia foram identificadas e exploradas, objetivando um
conhecimento mais amplo. Em seguida, procedeu-se a uma filtragem
e análise das pesquisas, visando um maior aproveitamento das
informações.
Os seguintes tópicos serão abordados neste artigo: uma discussão
acerca da adoção; família homoafetiva e o direito a adoção; e
psicologia e adoção por casais homoafetivos. Importante situar
os casais homoafetivos como um novo arranjo de modelo familiar,
admitindo seu entendimento como complexo e atribuindo um caráter
de visibilidade a esta nova configuração. Foram abordados também
aspectos jurídicos envolvidos no processo de adoção, enfatizando
que a orientação sexual do candidato a adoção não se constitui
como fator decisivo ou impeditivo para a adoção. Por fim, se fez
uma apresentação de pesquisas acerca da visão da psicologia sobre
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o tema, em que se confirmou que a criação de crianças por pais
homoafetivos não traz danos ao desenvolvimento das crianças, mas
que a sociedade terá um papel importante na inserção destas, sem
preconceitos e dogmas.
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inexiste naturalmente” (WALD apud DINIZ, 2008). Corroborando
com este conceito, tem-se Cruz, Maciel e Ramirez (2005, p. 122),
os quais definem que “a adoção consiste basicamente no fato de
uma pessoa assumir legalmente como filho (a), uma criança ou
adolescente nascido de outra pessoa”. Já na área da Psicologia,
a adoção é caracterizada por Levinzon (2006, p. 25), como sendo
o “estabelecimento de relações parentais entre pessoas que não
estão ligadas por vínculos biológicos diretos”, possibilitando a essas
crianças fazerem parte de uma família, em que as relações parentais
são predominantemente marcadas pelos laços afetivos. Para Solon
(2006), a adoção se constitui como mais uma possibilidade para
assegurar o desenvolvimento da criança que não possui os cuidados
adequados de sua família biológica. Santos, Raspantini, Silva e
Escrivão (2003, p.2) acrescentam que “a adoção se fundamenta
na premissa de que a integração a uma nova família possibilita à
criança reconstruir sua identidade a partir do estabelecimento de
novas configurações parentais”, garantindo seu direito de ser criado
e educado no seio familiar.
Percebe-se que há diferenças de foco no que concerne aos
conceitos de adoção da Psicologia e do Direito, pois os estudiosos
do Direito focalizam mais a adoção como algo que é exceção à
Biologia, sendo apenas um contrato, um simbolismo jurídico. Em
contrapartida, a Psicologia a entende como uma constituição, uma
formação familiar que apresenta como base segura o afeto e, uma
oportunidade de realização e desenvolvimento tanto para a criança
quanto para a família adotante.
É preciso que os futuros pais adotivos saibam distinguir o que
os levam a pensar em adotar, visando uma melhor elaboração
psicológica, pois de acordo com Levinzon (2006), os diferentes
motivos que levam um casal a adotar podem repercutir no
relacionamento com a criança adotada em virtude dos pensamentos
conscientes e fantasias inconscientes. A autora ainda acrescenta a
necessidade dos pais desejarem os filhos, para que estes sintam-
se bem acolhidos, desejados e não se sintam como estranhos e
inferiores nessa nova dinâmica familiar.
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marcada por angústia, ansiedade, frustração, dentre outros. A autora
alerta em relação às questões burocráticas, pois estas podem ser
desgastantes tanto para os pais, quanto para a criança. Contudo,
deve-se ponderar a necessidade dos pais e das crianças em confronto
com a realidade desafiadora que os profissionais envolvidos no
processo de adoção vivenciam, pois o processo requer muita atenção
e responsabilidade, visando a evitar uma adoção feita de forma
pouco criteriosa, que poderá causar sérias consequências tanto para
a criança, quanto para a família. (LEVINZON, 2004).
Em relação à proteção da criança, a adoção se apresenta como
uma das possibilidades, porém Solon (2006, p.147) alerta que:
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parte constituinte do binômio família e criança. E a Psicologia
vem também tentando resgatar a necessidade de se considerar e
respeitar a vontade da criança, disponibilizando oportunidade para
que esta possa opinar diante da situação.
De acordo com Solon (2006), a família se apresenta como a opção
mais saudável para o desenvolvimento da criança, pois permanecer
por muito tempo em instituições de abrigo é considerado pela
autora como prejudicial ao processo. Por mais que, em algumas
instituições a criança tenha afeto e cuidados, não substitui o que uma
família, que é a melhor mediadora entre o indivíduo e a sociedade,
normalmente teria a oferecer como amor, carinho, atenção,
cuidados individualizados e um sentimento maior de pertença,
contribuindo mais positivamente para seu desenvolvimento sadio.
Futino e Martins (2006) enfatizam as consequências da
permanência das crianças nos abrigos a espera de adoção:
A estada em instituições deveria ser passageira, mas não são
incomuns os adolescentes que cresceram nestes locais. Estes
recebem tratamento de funcionários que, mesmo que dedicados,
acabam se limitando a cumprir apenas a função de abrigar,
oferecendo serviços pouco individualizados e submetendo os
abrigados à carência material e emocional (FUTINO; MARTINS,
2006, p.10).
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Futino e Martins (2006) acreditam que a burocracia é o fator
preponderante no que concerne ao processo adotivo. É necessário
e válido assegurar o cumprimento dos requisitos necessários para
adotar, mas que nem sempre convencem, como é o caso dos casais
homoafetivos.
Família homoafetiva e o direito a adoção
Durante muito tempo a família foi constituída por união civil e
religiosa entre homens e mulheres, tendo como objetivo principal a
procriação. Em virtude das formas de desenvolvimento e organização
da sociedade, houve modificação na formação da família, que não
mais precisa ser unicamente constituída através da instituição
do casamento. Sendo assim, o conceito de família se ampliou,
possibilitando novas formas de configurações familiares. De acordo
com Uziel (2009), a nomenclatura sexual do casal, como semelhante
ou diferente, não se constitui como característica fundamental, pois
os vínculos parentais estão se efetivando independentemente do
caráter da procriação, como acontece em relação a adoção, que tem
uma compreensão que vai mais além do que a questão biológica.
A emergência de novos arranjos familiares, neste contexto
de transformações e novos significados, convida a enfatizar as
relações homoafetivas concedendo-lhes caráter de visibilidade.
Araújo e colaboradores (2007) ressaltam que está acontecendo
a ampliação do que era denominado família. Alertam que essas
mudanças não devem ser interpretadas como efeitos de uma
crise na família e sim como evolução da sociedade. A cada dia, a
definição de família se apresenta como tarefa difícil, em virtude
da complexidade e multiplicidade dos fatores sociais envolvidos.
Neste sentido, a família assume representatividade e significado
único para cada indivíduo e é a partir dele que, como profissionais,
nos posicionaremos diante da família, objeto de estudo, reflexão
e atuação profissional.
As famílias plurais devem ser respeitadas e reconhecidas, tendo
seus aspectos psíquicos e afetivos considerados. Já que “os casais
homoafetivos se auto definem como famílias e exigem não apenas
o direito à cidadania a nível individual, mas também o direito à
constituição de famílias enquanto sujeitos sociais” (MELLO apud
ARAÚJO et al., 2007), os quais possuem o direito e a responsabilidade
pela criação, educação de seus filhos biológicos ou adotivos, pois a
sua sexualidade se encontra no campo da individualidade não sendo
empecilho para constituição de família.
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Diversas áreas estão imbricadas, influenciando e sendo
influenciadas umas pelas outras no que concerne a união entre
pessoas do mesmo sexo. São instâncias de aspectos jurídico,
psicológico, familiar, religioso, social e cultural (VALLE et al., 2009).
Constitui-se, deste modo, a possibilidade da interdisciplinaridade,
uma visão mais ampla, em virtude de olhares diferenciados, sem
favorecer uma área ou outra, objetivando o que elas têm a contribuir
em relação ao assunto. Mas, nesse caso, tem-se muitas divergências,
o que é natural, pois o tema é polêmico e a influência da religião
contra a homoafetividade acalora ainda mais as discussões.
De acordo com Silva (apud DINIZ, 2008), a homossexualidade é
definida como:
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Rios (2001) analisa que, nas disputas judiciais envolvendo a
questão, os profissionais têm utilizado variados argumentos contra a
possibilidade de adoção por casais homossexuais, tais como: perigo
potencial da criança sofrer violência sexual, o risco de tendenciar a
opção sexual da criança, a incapacidade de homossexuais serem bons
pais e a possível dificuldade de inserção social da criança em virtude
da orientação sexual do adotante. São premissas discriminatórias
e segregacionistas, sem fundamento racional, tendo em vista a
compreensão contemporânea a respeito da homossexualidade. É
neste sentido que Rios (2001, p. 139) esclarece:
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O termo homoparentalidade teve origem na França e sua função
tornou-se necessária para realizar a adaptação às novas formas
de configuração da família (SILVA apud CONSELHO FEDERAL DE
PSICOLOGIA, 2008). As uniões homoafetivas não assumem caráter
de novidade na sociedade e, mesmo assim, as pessoas pertencentes
a esse grupo são vítimas de discriminação em todos os aspectos,
pela maioria da sociedade, incluindo também a justiça, que muitas
vezes se omite não garantindo seus direitos, como acontece no caso
da adoção. Antes era visto como um assunto tabu, mas está sendo
discutido na atualidade, de modo que possui visibilidade em todos
os âmbitos, tais como consultórios, escolas, trabalho, dentre outros,
fazendo parte da vida social e familiar de muitos.
De acordo com Futino e Martins (2006), a orientação sexual dos
candidatos a adoção não se enquadra como requisito investigado
nas avaliações psicológicas e não deve se constituir em vantagem
ou desvantagem para se alcançar a mesma. A avaliação psicológica
para os casos de adoção envolve várias técnicas, dentre elas:
entrevistas, testes psicométricos, projetivos, hora do jogo
diagnóstica e instrumentos lúdicos. As autoras esclarecem que ao
longo do processo o que mais importa é o desejo e a necessidade
do estabelecimento de novos laços pela criança.
Segundo Fernández e Vilar (apud FUTINO; MARTINS, 2006, p.
9), a Associação Americana de Psiquiatras, a Associação aAmericana
de Psicólogos, a Associação Americana de Pediatras, a Associação
Psicanalítica Americana e a Academia Americana de Pediatras, já
se posicionaram e afirmam que “pais homossexuais são capazes de
proporcionar ambientes saudáveis e protetores aos seus filhos – cujo
desenvolvimento é similar ao de crianças criadas por heterossexuais
nos âmbitos emocional, cognitivo, social e sexual” e alertam para
o diálogo com as crianças, o que favorecerá um desenvolvimento
saudável. Não se encontram, portanto, desvantagens em relação
aos filhos de homoafetivos quando comparados aos filhos de
heteroafetivos, constatando-se que o ambiente familiar homoafetivo
não prejudicaria o seu desenvolvimento psicossocial.
Apesar de existirem poucas pesquisas referentes ao processo de
socialização e desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças
adotadas por casais homoafetivos, a maioria da sociedade insiste em
estigmatizar essas crianças, afirmando que apresentarão problemas
em sua socialização. Poderão sim apresentar esse problema, não
por conviverem com pais homoafetivos, mas por estarem em
uma sociedade excludente e com visão estereotipada em relação
ao assunto. Vale ressaltar a importância que é atribuída a uma
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pesquisa realizada nos Estados Unidos, que se apresenta como um
desacordo aos preconceitos vigentes, pois de acordo com Kevin
(apud RIOS, 2001, p. 142) obteve resultados os quais apontam que
“o desenvolvimento individual e a integração das crianças na sua
comunidade não apresentou diferenças significativas de dificuldades
relevantes advindas da criação por pais homoafetivos”.
Futino e Martins (2006) aportam informações sobre as pesquisas
realizadas por González (2005) e Tarnovski (2002) com crianças
criadas por casais homoafetivos, em que os resultados obtidos
mostram semelhanças em nível de desenvolvimento social e
cognitivo esperado por crianças criadas por casais heteroafetivos. Os
autores também apontam a rede social e de apoio como facilitadores
na criação e adequação dessas crianças à sociedade (GONZÁLEZ,
2005; TARNOVSKI apud FUTINO; MARTINS, 2006).
Ricketts e Achtenberg (1989) constatam nos seus estudos sobre
casos de adoção homoafetiva,que não importa como essa família é
formada e sim sua dinâmica, sua forma de funcionar e de viver. Já
Patterson (1997), investiga a influência de pais e mães homoafetivos
em relação ao desenvolvimento social, pessoal e identidade sexual
de seus filhos adotivos ou biológicos. Seus resultados apontam para
uma compatibilidade em relação a autoestima e desenvolvimento
social e pessoal das crianças criadas por casais heteroafetivos
(RICKETTS; ACHTENBERG, 1989; PATTERSON apud COSTA, 2004).
Deve-se ponderar que, casais homoafetivos não são nem mais
qualificados nem menos para cuidar de uma criança, o que importa
é o respeito, a responsabilidade, harmonia e o amor existente nessa
família. Essas pesquisas realizadas nos Estados Unidos corroboram
com a ideia de que as crianças criadas por casais homoafetivos
não têm seu desenvolvimento prejudicado e que estão sujeitas a
problemas como qualquer outra criança criada por outras pessoas,
sendo que a orientação sexual dos pais independe do papel exercido
por eles. O fato de possuir duas mães ou dois pais não representa
uma tendência a homoafetividade para a criança, pois se fosse
assim, os filhos de pais e mães solteiras teriam sua orientação sexual
direcionada a homoafetividade, em virtude da ausência de uma das
figuras. Não existe, dessa forma, um determinismo psíquico, pois
cada ser humano é único.
Costa (2004) pontua que a formação da sexualidade se constitui
de forma preponderante por características psíquicas individuais,
muitas vezes involuntárias, do que por características advindas do
ambiente externo. Sendo assim, não se tem dados contundentes
de que a ausência de modelo familiar heterossexual determine a
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orientação sexual do filho.
Apesar de serem encontrados estudos apontando o sucesso na
criação de crianças por famílias homoafetivas e constatarem que isso
em nada prejudica o desenvolvimento destas, muitas pessoas ainda
questionam a capacidade dos homoafetivos em disponibilizar para
a criança um ambiente sadio, favorável ao seu desenvolvimento; a
orientação sexual dos pais não determinará o tipo da qualidade de
parentalidade exercida por estes. Quanto mais se discrimina esse
grupo e se procrastina a conquista de seus direitos, mais as crianças
que continuam “institucionalizadas” serão prejudicadas.
Araújo e Oliveira (2008) realizaram uma pesquisa no município
de João Pessoa, que teve como intenção avaliar através de
questionários, o nível da representação social da adoção
homoafetiva por estudantes concluintes dos cursos de Psicologia e
Direito. A pesquisa contou com a participação de 104 estudantes,
sendo 51 do curso de Direito e 53 do curso de Psicologia, de ambos
os sexos. Nessa pesquisa, os autores utilizaram como base a Teoria
das Representações Sociais, e de acordo com eles:
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chefiadas por pares homoafetivos não provoca distúrbio algum nos
seus aspectos psicossociais, afetivos e cognitivos quando comparados
aqueles das crianças que possuem pais heteroafetivos”.
No entanto, as representações sociais desses universitários
concluintes, refletem o pensamento de muitas pessoas, que possuem
uma visão preconceituosa, que se passa de geração a geração, sem
a necessária reflexão sobre o assunto. Esta reprodução acontece
sem ao menos utilizarem as respectivas áreas de conhecimento para
o amadurecimento das ideias, ou se embasarem em argumentos
científicos. Corroborando com esta concepção, uma pesquisa
realizada em Minas Gerais por Costa (apud ARAÚJO e OLIVEIRA,
2008), apresenta como resultados que 93% dos homoafetivos
entrevistados disseram não acreditar na influência da orientação
dos pais no delineamento da orientação dos filhos e 94% afirmaram
que o contato e a criação deles não prejudica o desenvolvimento,
pois muitos relataram participar da educação ou até mesmo serem
os responsáveis pela criação de algumas crianças.
Os resultados dessa pesquisa com os estudantes concluintes
das áreas de Psicologia e Direito, servem como um alerta, pois o
esperado era justamente o contrário, por terem acesso a informações
e maiores possibilidades de lidar com esse tipo de demanda. No
entanto, os seus valores conservadores poderão interferir em suas
práticas. Pode-se supor também que a falta de discussão, informação
e divulgação acerca dessa temática pode ter contribuído para estes
resultados. Deste modo, se faz importante uma reavaliação das
posturas desses futuros profissionais.
Poucos são os estudos que consideram a opinião dos homoafetivos
e das crianças sobre a adoção. De acordo com a pesquisa de opinião
realizada em Juiz de Fora por Costa (2004), foram preenchidos 65
questionários, sendo 29 do sexo feminino e 36 do sexo masculino, 52
com parceiros fixos e 13 sem, desses, 25 moram com os parceiros.
Nessa pesquisa, 87,69% dos participantes discordaram em relação
a adoção ser indeferida em virtude da orientação sexual dos
candidatos, enquanto que 93,85% foram a favor da concessão a
adoção. A autora destacou que “o mais interessante foi que quase a
totalidade, 94,12% dos que conhecem algum homossexual que tenha
adotado ou tenha tido uma criança sob sua responsabilidade acredita
que isso não tenha sido prejudicial a esta” (p. 61) e 93,8% afirmaram
que a orientação sexual dos pais não interfere na escolha do filho.
O destaque dessa pesquisa foi, também, a questão da vontade
de adotar dos homoafetivos (66,15%), contra apenas 17, 24% que
não aceitariam adotar. Percebe-se assim, o desejo dos homoafetivos
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em constituírem família e uma oportunidade para muitas crianças
que estão a espera de uma família, pois a maioria dos homoafetivos
que participaram da pesquisa, se candidatariam a adotar, mas em
virtude da barreira do preconceito tão enraizado socialmente, esse
futuro pode tardar a chegar.
Considerações finais
Ao discutir-se o tema da adoção homoafetiva, não se teve o
intuito de esgotar o assunto, pois este é amplo e possibilita diferentes
narrativas que devem ser ponderadas e respeitadas. O objetivo
central na elaboração deste estudo foi incitar questionamentos e
contribuir para ampliar as reflexões, tendo como base de dados
pesquisas nas áreas da Psicologia e do Direito.
É importante ressaltar que a adoção homoafetiva é legalmente
possível, haja visto que a família substituta deve estar inserida
nos requisitos estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, o qual não exige uma orientação sexual específica
aos casais candidatos a adoção. Quando for regularizada e aceita
a adoção por casais homoafetivos, o problema de muitas crianças
“institucionalizadas” a espera da oportunidade de fazer parte de
uma família será amenizado.
Pode-se constatar a partir dos achados, que não existe modelo
de perfeição de família para adotar; o que deve ser ponderado é
seu grau de motivação em criar, oferecer amor, atenção, ambiente
saudável, um lar e tudo que for necessário a uma criança que muitas
vezes foi negligenciada, abandonada.
É direito do cidadão a constituição de família, assim sendo, para
que esse direito seja assegurado aos casais homoafetivos, é preciso
que se considere o que se apresenta como o melhor para a criança
e não se balizar por preconceitos e mitos sem fundamento.
Sabe-se que a homoafetividade ou heteroafetividade dos pais não
se constitui como fator principal para o bem estar da criança, pois
nem todos homoafetivos ou heteroafetivos estão aptos a adotar, já
que cada indivíduo tem suas particularidades e características que
precisam ser avaliadas visando o que se apresenta como o melhor
interesse para a criança. Foi percebido que, para a criança, conviver
com o homoafetivo se constitui em uma maior possibilidade de
desenvolvimento do respeito e tolerância às diferenças individuais,
características estas muito valiosas para vida em sociedade.
Pôde-se verificar a escassez em relação a pesquisas na área de
Psicologia sobre adoção homoafetiva. Muitas vezes estes estudos
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eram enraizados numa perspectiva prescritiva e as informações
repetitivas, e foi percebido também a carência de pesquisas sob o
ponto de vista da criança em relação ao processo adotivo, pois esta
se apresenta como parte principal do processo.
Foi constatado também que a maioria dos estudos referentes à
adoção não abordam, não aprofundam a questão dos pais e mães
que por algum motivo entregaram seu filho à adoção, motivo este
que muitas vezes está ligado a condição social.
Para ocorrer uma melhoria no sistema jurídico no que concerne a
adoção de crianças por casais homoafetivos, se faz necessário uma
mudança na sociedade em geral e nos governantes, pois é preciso se
eximir dos julgamentos de valor, do conservadorismo, do preconceito
para que se possa entender que um casal homoafetivo tem potencial
de criar e educar uma criança como qualquer casal heteroafetivo.
Foi percebido a partir dos achados também que, alguns juristas
já entendem a necessidade de se legalizar a questão da adoção
homoafetiva. No entanto, o principal obstáculo é o preconceito
social. Já os estudos psicológicos concluíram que a orientação sexual
em nada influencia a qualidade da parentalidade. Sendo assim,
os psicólogos apresentaram uma posição menos influenciada pelo
preconceito em relação a temática, exceto a pesquisa realizada com
os universitários concluintes dos cursos de Direito e Psicologia, na
qual parecem ter evidenciado acentuado preconceito.
Diante do exposto, a adoção de crianças por casais homoafetivos
não se apresenta como fator prejudicial ao desenvolvimento
saudável da criança, pois assim como os casais heteroafetivos, os
homoafetivos possuem condições de cuidar, educar e fornecer o
que preciso for ao filho.
Contudo, vale ressaltar a carência e a importância de estudos na
área da Psicologia em relação ao assunto, e que este estudo possa
incentivar alguns profissionais na realização de novas pesquisas e a
refletir sobre a atuação enquanto agente de mudanças.
REFERÊNCIAS
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ARAÚJO, Ludgleydson, Fernandes; OLIVEIRA, Josevânia, Silva, Cruz.
A adoção de crianças no contexto da homoparentalidade. Arquivos
Brasileiros de Psicologia, v.60, n.3, 2008. América do Norte. Disponível
em: http://146.164.3.26/seer/lab19/ojs2/index.php/ojs2/article/
view/285/275. Acesso em: 01 jan. 2011.
— 48 —
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar Projetos
de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002
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