Simulado – 2019 – 3ª Série
Português - Ens. Médio
Prof.:____________________________
Nome: ___________________________
Leia o texto e, a seguir, responda as questões 1, 2, 3.
Pedágios da idade
Ana Paula Padrão
Ela não corresponde a nenhum dos estereótipos
de uma pessoa doente. Doença grave. Aquela que muita
gente não diz o nome. Tinha todos os motivos para raiva,
revolta, inconformismo. Afinal, é boa moça. Sempre fez
tudo que os médicos mandam. Não fuma. Consome
pouco álcool. Nunca se drogou. Faz exercícios físicos. Não
guarda rancor. Curte a vida. E é jovem, acaba de passar
dos 50 anos! Ainda assim, na hora do checkup, lá estava
o danado. Mieloma múltiplo. Um dos malvadões. A
medula enlouquece e começa a produzir plasmócitos em
excesso, o que pode provocar tumores nos ossos,
falência renal e inflamações no coração.
Acho que ela chorou um pouco no início. Não há
quem não se abale diante da notícia de um câncer.
Depois, focou toda sua energia em providências práticas
– verificar o que o plano de saúde pagaria, identificar o
melhor médico para a circunstância, estudar o
tratamento. Fez tudo isso em menos de duas semanas.
Desde então, o que mudou é que minha amiga anda com
a bolsa cheia de remédios, pois parte da quimioterapia é
via oral, e não desgruda de uma garrafa d’água: a
hidratação protege os rins. Outro dia me disse que
precisava sair para ajudar uma colega que estava com um
problemão. Não pude evitar o ar de espanto. Quem é que
tem um problemão? Morremos de rir juntas! “Eu não
tenho problema nenhum, quem tem é a minha medula e
ela vai ter que trabalhar duro para resolver! Já avisei que
a bagunça aqui dentro acabou! ”
Não vi nela nem um único momento de
autocomiseração. Não se trata de otimismo demais ou de
1
falta de informação sobre a própria saúde. Minha amiga
apenas não tem pena de si e não quer que tenham pena
dela. É um choque para os que chegam oferecendo
consolo. Espera-se de alguém doente que se deixe
abater, que fique triste, que chore muito e com tudo isso
construa uma cama quentinha para receber o medo e
suas consequências. Além disso, qualquer debilidade
preventiva atrai uma solidariedade reconfortante. O
sofrimento costuma ser garanti a de companhia. Quem
abandona um ser que sofre? Ela, porém, decidiu que não
seguirá o modelo coitadinha- de-mim-eu-tenho-câncer.
Está viva, trabalhando, divertindo-se e seguindo todas as
recomendações médicas para que a doença seja apenas
mais um dos “pedágios da idade”, como ela costuma
dizer.
A atitude positiva diante do infortúnio não é
comum, mas é ainda mais impactante porque estamos
falando de uma mulher. Jamais descreveria minha amiga
como uma pessoa frágil, mas certamente como alguém
de grande sensibilidade. Frágil e sensível são adjetivos
bem diferentes, tenho aprendido, e se escrevo esse texto
tentando me livrar de qualquer pieguice é para que ele
seja digno de sua protagonista. A coragem que ela
demonstra para enfrentar seu destino com tamanha
altivez me inspira a apreciar ainda mais a vida em seu
momento presente e planejar menos o futuro.
Tenho muito orgulho de minha amiga. Gosto, cada
vez mais, de quem faz a primeira piada sobre si mesmo,
de quem brinca com sua própria condição, de quem não
arrasta correntes. Ninguém escolhe os próprios
obstáculos, mas podemos decidir como atravessá-los:
carregando todo o peso do desafio ou pairando qual anjo
sobre eles.
Disponível em: https://istoe.com.br/373551_PEDAGIOS+DA+IDADE+/. Acesso em: 07 jan.
2019.
D7 Questão 1 –––––––––––––––––––––––––––◊
Assinale a alternativa que traz a tese do texto.
(A) “Ela não corresponde a nenhum dos estereótipos de
uma pessoa doente.”.
(B) “Não há quem não se abale diante da notícia de um
câncer.”.
(C) “Não se trata de otimismo demais ou de falta de
informação sobre a própria saúde.”.
(D) “A atitude positiva diante do infortúnio não é
comum.”.
(E) “Ninguém escolhe os próprios obstáculos, mas
podemos decidir como atravessá-los.”.
D14 Questão 2 –––––––––––––––––––––––––––◊
A frase do texto que mostra uma opinião é
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Português - Ens. Médio

(A) “Sempre fez tudo que os médicos mandam.”. perderam a noção do sentido da palavra”, comentou,
(B) “Outro dia me disse que precisava sair para ajudar quando perguntei por que tinha postado esse protesto/
uma colega.”. desabafo no Twitter. “Urgente não é mais urgente. Não
(C) “Não pude evitar o ar de espanto.”. tem mais significado nenhum.” Ele se referia tanto ao
urgente usado para anunciar notícias nada urgentes nos
(D) “Frágil e sensível são adjetivos bem diferentes, [...].”.
sites e nas redes sociais, quanto ao urgente que invade
(E) “Aquela que muita gente não diz o nome.”. nosso cotidiano, na forma de demanda tanto da vida
pessoal quanto da profissional. Depois disso, Gabriel
D2 Questão 3 –––––––––––––––––––––––––––◊ passou a postar uns “tuites” provocativos, do tipo:
O termo “ela” que inicia o texto, “Ela não corresponde “Urgente! Acordei” ou “Urgente: hoje é sexta-feira”.
a nenhum dos estereótipos de uma pessoa doente. ”, A provocação é muito precisa. Se há algo que se
refere-se à perdeu nessa época em que a tecnologia tornou possível
(A) doença grave. a todos alcançarem todos, a qualquer tempo, é o
(B) minha amiga. conceito de urgência. Vivemos ao mesmo tempo o
(C) muita gente. privilégio e a maldição de experimentarmos uma
transformação radical e muito, muito rápida em nosso
(D) sua energia.
ser/estar no mundo, com grande impacto na nossa
(E) boa moça.
relação com todos os outros. Como tudo o que é novo, é
previsível que nos atrapalhemos. E nos lambuzemos um
D16 Questão 4 –––––––––––––––––––––––––––◊ pouco, ou até bastante. Nessa nova configuração, parece
Leia o texto e responda. necessário resgatarmos alguns conceitos, para que o
nosso tempo não seja devorado por banalidades como se
fosse matéria ordinária. E talvez o mais urgente desses
conceitos seja mesmo o da urgência.
[...]
Que tipo de efeito terá sobre as novas gerações a
ideia de que não há limites para alcançar, ocupar e
consumir o tempo/corpo dos pais e amigos e mesmo de
desconhecidos? Assim como não há limites para ter o
próprio tempo/corpo alcançado, ocupado e consumido?
[...]
A grande perda é que, ao se considerar tudo
urgente, nada mais é urgente. Perde-se o sentido do que
Disponível em: https://blogterralivre.wordpress.com/category/meio-ambiente/. Acesso é prioritário em todas as dimensões do cotidiano. E viver
em: 14 fev. 2019.
é, de certo modo, um constante interrogar-se sobre o
A ironia do texto está no fato de que é importante para cada um. Ou, dito de outro modo,
(A) o homem desrespeitar a natureza. uma constante interrogação sobre para quem e para o
(B) o homem mandar cortar as árvores. quê damos nosso tempo, já que tempo não é dinheiro,
(C) o papel ser feito a partir da celulose das árvores. mas algo tremendamente mais valioso. Como disse o
(D) o homem mandar cortar as árvores para fazer o professor Antônio Candido, “tempo é o tecido das nossas
código florestal. vidas”.
(E) o empregado com a serra olhar de modo estranho Essa oferta 24 X 7 do nosso corpo simbólico para
para o outro homem. todos os outros – e às vezes para qualquer um – pode ter
um efeito bem devastador sobre a nossa existência. Um
que sequer é escutado, dado o tanto de barulho que há.
Leia o texto e responda as questões 5, 6 e 7. Falamos e ouvimos muito, mas de fato não sabemos se
dizemos algo e se escutamos algo. Ou se é apenas ruído
É urgente recuperar o sentido de urgência
Eliane Brum
para preencher um vazio que não pode ser preenchido
dessa maneira.
Dias atrás, Gabriel Prehn Britto, do blog “Gabriel
Será que não é este o nosso mal-estar?
quer viajar”, tuitou a seguinte frase: “Precisamos
Viver no tempo do outro – de todos e de qualquer
redefinir, com urgência, o significado de URGENTE”.
um – é uma tragédia contemporânea.
(Caixa alta, na internet, é grito.) “Parece que as pessoas
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Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/

noticia/2013/04/e-urgente-recuperar-o-sentido-de-urgencia.html. Acesso em: 10 fev.
Mendonça. Bem, agora quero saber: Qual é o seu nome?
2019. O empregado responde:
− Meu nome é João Amorzinho.
D7 Questão 5 –––––––––––––––––––––––––––◊ − Tá certo, João. Pode ir agora...
Qual alternativa traz a tese defendida pela autora do Disponível em: https://www.piadas.com.br/piadas/piadas-de-empregados/piada-do-
chefe-e-o-sobrenome-do-funcionario. Acesso em: 14 fev. 2019.
texto?
(A) Vivemos uma transformação radical.
O efeito de humor da piada fica evidente no momento
(B) A necessidade de resgatar o sentido de urgência. em que o
(C) É previsível que nos atrapalhemos com o novo. (A) novo funcionário usa um tom informal ao se
(D) Tempo não é dinheiro, mas é algo valioso. apresentar.
(E) Viver no tempo do outro é uma tragédia (B) chefe é mal-educado ao falar com o novo
contemporânea. funcionário.
(C) chefe é insistente em saber o nome completo do
novo funcionário.
D14 Questão 6 –––––––––––––––––––––––––––◊
(D) funcionário revela o seu nome completo.
De acordo com o texto, a opinião do blogueiro Gabriel
(E) chefe manda o funcionário voltar ao trabalho.
Prehn Britto, quanto à ideia de urgência, está presente
em
(A) “‘Urgente não é mais urgente. Não tem mais
significado nenhum’.” Leia o texto e responda as questões 9, 10 e 11.
(B) “Se há algo que se perdeu, é o conceito de urgência.”. SÃO BERNARDO
(C) “Essa oferta 24x7 do nosso corpo simbólico para [fragmento]
todos os outros [...].” Nove horas no relógio da sacristia.
(D) “[...] ao se considerar tudo urgente, nada mais é O Nordeste começou a soprar, e a porta bateu com
urgente.” fúria. Mergulhei os dedos nos cabelos.
− Que estás fazendo, peste?
(E) “Viver no tempo do outro (...) é uma tragédia
O cabrito fugiu.
contemporânea.”.
Nem sei quanto tempo estive ali, em pé. A minha
raiva se transformava em angústia, a angústia se
D16 Questão 7 –––––––––––––––––––––––––––◊ transformava em cansaço.
Ao tuitar “Urgente! Acordei” ou “Urgente: hoje é sexta- − Para quem era a carta?
feira”, a provocação de Gabriel pretende ser E olhava alternadamente Madalena e os santos do
(A) descabida. oratório. Os santos não sabiam, Madalena não quis
(B) mentirosa. responder.
(C) agressiva. O que me espantava era a tranquilidade que havia
(D) irônica. no rosto dela. Eu tinha chegado fervendo, projetando
matá-la. Podia viver com a autora de semelhante
(E) falsa.
maroteira?
À medida, porém, que as horas se passavam,
D16 Questão 8 –––––––––––––––––––––––––––◊ sentia-me cair num estado de perplexidade e covardia.
Leia o texto e responda. As imagens de gesso não se importavam com a
Empresa séria minha aflição. E Madalena tinha quase a impassibilidade
O gerente chama o empregado recém-admitido à delas. Por que estaria assim tão calma?
sua sala e inicia o diálogo: Afirmei a mim mesmo que matá-la era ação justa.
− Qual é o seu nome? Para que deixar viva mulher tão cheia de culpa? Quando
− João − responde o empregado. ela morresse, eu lhe perdoaria os defeitos.
− Olhe − explica o gerente − eu não sei em que As minhas mãos contraíam-se, moviam-se para
espelunca você trabalhou antes, mas aqui nós não ela, mas agora as contrações eram fracas e espaçadas.
chamamos as pessoas pelo seu primeiro nome. É muito − Fale, exclamei com voz mal segura.
familiar e pode levar à perda de autoridade. Eu só chamo − Para quê?
meus empregados pelo sobrenome: Ribeiro, Matos, − Há uma carta. Eu preciso saber, compreende?
Souza... Só. E quero que o senhor me chame de Sr.
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Meti a mão no bolso e apresentei-lhe a folha, já O narrador do texto é do tipo personagem; sua
amarrotada e suja. Madalena estendeu-a sobre a mesa, narrativa é em 1ª pessoa e fortemente marcada pela
examinou-a, afastou-a para um lado. subjetividade, pela emoção.
− Então? Essas características são melhor exemplificadas pela
− Já li. alternativa
A vela acabou-se. Acendi outra e fiquei com o (A) “Nove horas no relógio da sacristia.”.
fósforo entre os dedos até queimar-me. (B) “Madalena estendeu-a sobre a mesa, [...].”.
− Diga alguma coisa.
(C) “E olhava alternadamente Madalena e os santos do
Pareceu-me que havia ali um equívoco e que, se
oratório.”.
Madalena quisesse, tudo se esclareceria. O coração dava-
me coices desesperados, desejei doidamente convencer- (D) “O coração dava-me coices desesperados, [...].”.
me da inocência dela. (E) “E Madalena tinha quase a impassibilidade delas.”.
− Para quê? Murmurou Madalena. Há três anos
vivemos uma vida horrível. Quando procuramos
entender-nos, já temos a certeza de que acabamos D2 Questão 11 –––––––––––––––––––––––––◊
brigando. Em “...afastou-a para um lado.”, o termo “a”, que
− Mas a carta? aparece complementando o verbo, refere-se a
Madalena apanhou o papel, dobrou-o e entregou- (A) ela.
me: (B) carta.
− O resto está no escritório, na minha banca.
(C) folha.
Provavelmente esta folha voou para o jardim quando eu
escrevia. (D) mulher.
− A quem? (E) Madalena.
− Você verá. Está em cima da banca. Não é caso
para barulho. Você verá.
− Bem. D2 Questão 12 –––––––––––––––––––––––––◊
Respirei. Que fadiga! Leia o texto e responda.
− Você me perdoa os desgostos que lhe dei, Paulo?
Os animais vivem se mexendo
− Julgo que tive as minhas razões.
Há animais que não têm pernas, mas conseguem ir
− Não se trata disso. Perdoa?
pra frente, apertando o corpo contra o chão e dando um
Rosnei um monossílabo.
impulso.
− O que estragou tudo foi esse ciúme, Paulo.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 12.ed. São Paulo, Martins, 1970. p. 218-9.
A minhoca é comprida e fininha e, pra se mexer,
encolhe o corpo e depois o estica. Ao se mover dentro da
Nordeste: vento que sopra desse ponto. terra, faz furos que vão deixando a terra fofinha, já que é
Maroteira: velhacaria, malandrice, patifaria. bom para a agricultura.
Perplexidade: qualidade ou estado de quem está As cobras se movem mexendo uma parte do corpo
admirado, espantado, atônito. pra cá, parte pra lá, parte pra cá, parte pra lá ... como se
Impassibilidade: qualidade de impassível, indiferente à escrevessem várias vezes a letra S. O caracol vai soltando
dor ou à alegria. uma gosminha que o ajuda a se mover, deslizando aos
poucos.
D10 Questão 09 –––––––––––––––––––––––––◊ FERREIRA, Marina Baird. Os animais vivem se mexendo. In: O Aurélio com a turma da
Mônica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. p. 86. *Adaptado: Reforma Ortográfica.
Que fato deu início ao enredo desse fragmento?
(A) A carta que Madalena estava escrevendo. Na frase “O caracol vai soltando uma gosminha que o
(B) O relógio da sacristia ter marcado nove horas. ajuda a se mover...”, o termo “que” refere-se à/ao
(A) terra.
(C) O vento Nordeste começar a soprar.
(B) corpo.
(D) A porta ter batido com força. (C) caracol.
(E) O cabrito ter fugido. (D) minhoca.
(E) gosminha.
D10 Questão 10 –––––––––––––––––––––––––◊