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Todos os dias A acende o forno de lenha que tem instalado na sua garagem para cozer o
pão que depois vende na pastelaria que mantém noutra localidade.
Tópicos de correcção:
Pressupostos:
- conduta activa de A
- nexo de causalidade por força da adequação da emissão de fumos para a produção dos
danos patrimoniais identificados; já não seria tão segura a afirmação relativamente aos
alegados danos na saúde do filho de C
De todo o modo, caberia ao A a prova da (eventual) falta de adequação
(causalidade adequada na vertente negativa)
Danos:
- danos emergentes (v.g. enegrecimento das paredes) e lucros cessantes (não antecipáveis
na hipótese)
- danos presentes (v.g. enegrecimento das paredes) e danos futuros (v.g. as despesas a
realizar para o tratamento da saúde do filho de C)
Tópicos de correcção:
Quem responderá pelos referidos danos nas três seguintes situações que devem ser
consideradas separadamente:
1ª: Ficou provado que a colisão se deveu ao facto de A ter sofrido um ataque cardíaco
enquanto conduzia;
Tópicos de correcção:
Trata-se de colisão de veículos provocada pelo risco de utilização associado ao uso dos
mesmos. De acordo com o 506º CC, a responsabilidade reparte-se na proporção do risco que
cada um dos detentores em causa tiver posto para a verificação da mesma.
2ª: Ficou provado que C estava sob o efeito do álcool no instante da colisão, situação aliás
frequente e do conhecimento da sociedade B;
Tópicos de correcção:
Por força do disposto no artigo 165º CC, existe uma espécie de relação de comissão entre
a sociedade B e C, seu funcionário.
Os requisitos exigidos pelo artigo 500º para a responsabilização do comitente pelos danos
causados pelo comissário estariam, em princípio, verificados:
1º relação de subordinação;
2º danos causados no exercício da função;
Em tal caso, a sociedade B teria depois direito de regresso contra C, caso lhe fosse exigido
o cumprimento da obrigação de indemnizar.
- por um lado, não se pode concluir automaticamente que o facto de C conduzir alcoolizado
é “causa adequada” à produção do dano concretamente verificado; o referido C sujeitar-se-á
certamente às consequências da contra-ordenação ou do crime ligado à condução sob efeito do
álcool, mas daí não se pode retirar de imediato que tem a obrigação de indemnizar pelos danos
causados no veículo de A – tudo dependeria do estabelecimento do nexo de causalidade, cuja
demonstração pertenceria ao lesado (A);
- por outro lado, caso a colisão fosse imputável a C, a sociedade B poderia responder não
a título de comitente mas como co-responsável (por factos ilícitos) pelo dano provando-se “culpa
in eligendo” ou “culpa in vigilando” (e existindo nexo de causalidade entre condução sob efeito
do álcool e o dano causado).
Tópicos de correcção:
3. A é veterinário e dono de algum gado. O seu vizinho B, também criador, teve os seus
animais infectados com carbúnculo, mas não tomou as medidas necessárias para impedir a
propagação da doença, nem sequer avisou A, de modo que vários animais deste foram afectados.
A administrou-lhes o tratamento adequado, mas, porque se tratava de uma estirpe rara e não
identificada da bactéria, esse tratamento veio a agravar a doença. A perdeu assim 50% do gado
infectado, quando as mortes não costumam exceder 30%, se for aplicado o tratamento devido.
Quid juris?
Tópicos de correcção:
Está-se perante um caso de responsabilidade subjectiva por factos ilícitos nos termos
gerais do artigo 483º/n.º 1 CC. Caberia, portanto, antes de mais, identificar os respectivos
pressupostos:
- acção/omissão;
- ilicitude;
- culpa,
- nexo de causalidade;
- dano.
os referidos deveres existiriam. Ora, como não foram cumpridos, existiria culpa.
Quanto ao nexo de causalidade, adoptando-o na sua vertente negativa (ou seja, como
afirmação de que ele se encontra estabelecido a menos que a ligação causa/efeito ocorra por
razões absolutamente extraordinárias, fora de qualquer controlo humano), o requisito estaria
igualmente preenchido (pois foi em virtude de o gado de B estar infectado que o de A também
ficou).
Por outro lado, não obstante a conduta de A ter contribuído para a maior dimensão do
dano, não se pode falar em culpa do lesado (artigo 570º CC) na medida em que a sua conduta
(tratamento inadequado dos animais) não é censurável. Os danos acrescidos sofridos por A são
ainda imputáveis à omissão negligente de B.
Quid juris?
Tópicos de correcção:
- ilicitude;
- culpa,
- nexo de causalidade;
- dano.
O ponto mais saliente seria, agora, a avaliação do terceiro requisito; e sob duas vertentes
possíveis – a existência de 1) presunção de culpa contra B e de 2) culpa do lesado (A).
No que respeita ao segundo aspecto, uma vez A entrou por um local para o qual B o não
tinha autorizado, haveria um comportamento censurável que lhe seria imputável e, portanto
haveria culpa do lesado. Ora, sucede que, havendo colisão entre culpa efectivamente provada (de
A) e culpa presumida (de B), esta cede sempre (artigo 570º/n.º 2 CC). Pelo que, assim sendo, o
dano seria exclusivamente imputável ao próprio lesado.
5. A contratou B para lhe construir uma vivenda. No decurso da obra tornou-se necessário
destruir uma rocha com explosivos. Para o efeito, B contratou uma empresa especializada (C). A
detonação daqueles causou danos (fissuras, telhas partidas, vidros estalados) na vivenda vizinha
pertencente a D.
Poderá D responsabilizar A, B ou C?
Tópicos de correcção:
C torna-se, assim, um auxiliar contratado por B. O devedor (B) executa os actos materiais
em que se cifra o adimplemento recorrendo ao apoio de terceiros que com ele cooperam. Pelos
danos que estes culposamente causem ao credor, é responsável o devedor como se tivesse sido ele
próprio a incumprir ou a cumprir defeituosamente. Nesta medida, quem responde é B, ainda que
C haja actuado com culpa (embora, se for o caso, este responda ante aquele, mas não diante de
A ou de D). Mas esta responsabilidade tem em vista apenas os danos contratuais (ou seja, os
danos causados a A).
Perante D, todavia, é C o único responsável na medida em que é ele quem, nos termos do
artigo 493º, n.º 2, desenvolve uma actividade perigosa (sendo indiferente que o faça em prédio
alheio). A menos que consiga elidir a presunção de culpa que contra si incide.
Quando circulava com o seu automóvel, B caiu com o veículo dentro da dita vala, o que
provocou a respetiva destruição.
Tópicos de correcção:
De harmonia com o disposto no artigo 486º, o dever de actuação pode resultar da lei ou
de negócio jurídico (no qual tanto se pode fundamentar um novo dever de actuação, como
transferir para outra pessoa um já existente). Não é de excluir, todavia, a possibilidade de o dever
de actuação surgir a partir de outras fontes. Designadamente, ao menos no âmbito do Direito
Privado, o dever geral de prevenção do perigo. É este precisamente o caso da hipótese: se o
caminho, embora privado, está aberto ao público, existe o dever de o respectivo proprietário
praticar os actos que se revelem indispensáveis à preservação dos direitos – pessoais e
patrimoniais – dos respectivos utentes.
Tópicos de correcção:
Enquanto o disposto no artigo 493º tem por objecto a responsabilidade daqueles sobre os
quais recai o dever de vigiar animais (entre outras coisas) seus ou alheios, o disposto no corrente
preceito dirige-se exclusivamente ao utente ou utilizador de qualquer animal. De facto, nesta
última disposição, estão em causa apenas os danos que “resultem do perigo especial que envolve
a sua utilização”. No caso de o utente haver incumbido alguém da vigilância dos animais, poderão
cumular-se as duas responsabilidades (a prevista no artigo 493º e a fixada no artigo 502º) perante
o terceiro lesado, caso o facto danoso provenha da presuntiva culpa do vigilante.
É responsável por tais danos quem no “seu próprio interesse” utilizar quaisquer animais.
Alcança-se, portanto, o proprietário, o usufrutuário, o usuário, o comodatário, o locatário, em
geral, o titular de qualquer direito pessoal de gozo, o possuidor, etc. É o caso de A a título de
proprietário.
– e porque o A é utente.
B, outro doente internado na mesma Clínica, agrediu-o com uma bengala, entre as 3 e as 4
da madrugada, no dia 2 de Dezembro, espancando-o na cabeça, costas e região lombar, causando-
lhe ferimentos em diversas partes do corpo, dores, pânico e sofrimentos psicológicos, sem que
alguém acorresse em seu socorro.
Provou-se que o agressor sofria de demência senil progressiva grave, com frequentes
alterações de comportamento e períodos de agressividade, que se agravaram após a intervenção
cirúrgica a que foi submetido em 30 de Novembro.
Tópicos de correcção:
– primeiro, a presunção contida no artigo 491º pode ser afastada não apenas por elisão
da presunção, mas também por demonstração da relevância negativa da causa virtual;
Tópicos de correcção:
Além disso, em princípio, estaria no exercício das suas funções (não há, pelo menos,
indícios do contrário).
O ajudante, porém, mesmo que fosse comissário, não o era para efeitos de condução do
veículo. Assim sendo, a presunção de culpa instituída pelo n.º 3 do artigo 503º, não funcionaria,
nem contra o A, nem contra o respectivo ajudante; e o disposto no artigo 500º também não teria
aplicação contra o ajudante porque ele estaria fora das suas funções. Por consequência, das duas,
uma:
– ou há culpa do ajudante, e é ele que responde, por si, nos termos gerais do n.º do artigo
483º;
Assim que saiu da esquadra, A sentou-se no referido automóvel, conduziu-o durante mais
dois quilómetros e acabou por embater num muro de um terreno pertencente a D. Ao local foi
chamada a PSP, tendo comparecido precisamente os mesmos agentes B e C.
Tópicos de correcção:
b) Para o caso de não estarem preenchidos ou para o caso de A não ter seguro que por ele
respondesse, D intentou acção também contra B e C. Poderiam estes ser responsabilizados?
Tópicos de correcção:
De harmonia com o disposto no artigo 486º, o dever de actuação pode resultar da lei ou
de negócio jurídico (no qual tanto se pode fundamentar um novo dever de actuação, como
transferir para outra pessoa um já existente). Segundo a doutrina, o dever de actuação pode
surgir, porém, a partir de outras fontes. Designadamente: a ingerência; a estreita relação vital;
os casos de protection of the vulnerable; e também, ao menos no âmbito do Direito Privado, o
unanimemente reconhecido dever geral de prevenção do perigo.
Tópicos de correcção:
Há dano quanto o ofendido, por causa da conduta alheia, fica em pior situação actual do
que aquela em que se encontraria caso ela não tivesse sido desencadeada (situação actual virtual
ou hipotética). Ora, se o terreno de D se encontrava “quase ao abandono”, quando E o decide
aproveitar para parque de automóveis não provoca com isso, em princípio, qualquer prejuízo.
Com efeito, D não fica em pior situação do que aquela em que se encontraria caso E não fizesse
o que fez. O que não quer dizer que E não se encontre obrigado a entregar ao D o lucro que
obteve. Deve certamente fazê-lo, mas não através da responsabilidade civil (antes pelo
enriquecimento sem causa).
Tópicos de correcção:
ii) Em alternativa, quando a obrigação não cumprida tiver por fonte um contrato
sinalagmático, a sua resolução com a consequente extinção do vínculo e com a (eventual)
obrigação de indemnizar pelo interesse negativo (artigo 801º/n.º 2, Cód.Civil). A reparação
destina-se aqui a (re)colocar o lesado na situação em que ele provavelmente se encontraria no
momento anterior à celebração do contrato (isto é, como se este jamais tivesse sido outorgado).
12. A, condutor de uma pick-up da empresa Resinas Ld.ª, estacionou-a num terreno com
forte inclinação para ir cortar algumas árvores. Depois de sair do carro, inesperadamente, o veículo
resvalou pela terra molhada indo entalar B (agricultor que se encontrava a colher os seus morangos)
contra uma árvore. Conduzido ao hospital, foi-lhe amputada de imediato uma perna, mas acabou
por falecer, uma semana depois, com uma infecção generalizada.
Tópicos de correcção:
Existiria uma relação de comissão entre A e Resinas Ld.ª. Haveria, portanto, uma
subordinação daquele perante esta.
Como se trata de comissão para condução de veículo automóvel, funciona contra A a
presunção de culpa que se retira do artigo 503º/n.º 3. Apesar de não se encontrar “ao volante”,
a pick-up está sob o seu controlo e ele está a exercer as suas funções. Portanto:
- não se refutando aquela presunção, A responderia perante B por factos ilícitos (a título
negligente) nos termos do artigo 483º/n.º 1 e a Resinas Ld.ª responderia pelo mesmo dano a título
de comitente nos termos do artigo 500º;
b) Provou-se que a pick-up deslizou por ter ocorrido um sismo que, embora de pequena
intensidade, foi o suficiente para provocar a deslocação da pick-up. Teria este facto alguma
relevância?
Tópicos de correcção:
A força maior ou caso fortuito “há-de ser um evento inevitável, isto é um acontecimento
que o devedor não pode obstar a que se produza e a cujos efeitos não se pode furtar, por se tratar
dum facto imprevisível (…); há-de ser ainda irresistível, o que significa que os efeitos dêle devem
ser insuperáveis para o devedor, ainda que êste, nos limites das suas fôrças e da diligência que
lhe é exigida, faça tudo para os impedir”. Acentua-se que para este efeito somente releva a força
maior não articulada com o desempenho do veículo. Ao invés, a que se encontrar ligada ao seu
funcionamento considera-se (ainda) compreendida nos riscos próprios de utilização. Um sismo é
força maior desde que se prove ser causa adequada à produção do dano.
13. A estava grávida de seis meses quando B, seu companheiro, descobriu que a criança
esperada não era sua. Fora de si, tentou que A abortasse, agredindo-a.
Tanto a mãe quanto o feto sofreram danos pessoais graves, mas a gravidez prosseguiu.
Quando A deu à luz, C nasceu com deformações que, no parecer dos médicos, seriam
consequência da agressão de B. Antónia, em seu próprio nome e em nome de C, propôs uma acção
de responsabilidade civil contra o agressor.
Tópicos de correcção:
- trata-se de um caso de wrongful birth: a criança nasceu com deformidades devido a uma
acção de terceiro; não cabe, todavia, dentro do modelo típico pois as deficiências de que ela
padece não são imputáveis a um erro médico
- os danos ressarcíveis tanto podem ser patrimoniais como pessoais (496º), por isso a mãe
poderia pedir compensação pelas deficiências físicas suas e do filho
b) Admita que a gravidez prosseguiu durante dois meses, mas o feto veio a morrer antes do
nascimento. Quid juris?
Tópicos de correcção:
- a diferença desta sub-hipótese para a anterior reside no facto de o feto não ter nascido
- para quem entenda que o nascituro tem personalidade, o não nascimento é irrelevante
- para quem mantenha o entendimento inverso, não tendo ocorrido o nascimento o pedido
de wrongful birth carece de fundamento
14. B faz pesca submarina num local autorizado.
Quando A passeava pelo local na sua mota de água, entrou na zona destinada à pesca
submarina. Por isso, acabou por acertar em B, provocando-lhe diversos ferimentos.
Tópicos de correcção:
- provavelmente a conduta de A não era censurável: ao não existir boia de marcação, ele
não actuou descuidadamente e, portanto, não haverá negligência da sua parte
- contudo, quem usa uma mota de água utiliza um instrumento perigoso por natureza pelo
que, nos termos do n.º 2 do artigo 493º, se presume a culpa de A – caber-lhe-ia, por isso, provar
que a sua conduta não era passível de reprovação
Tópicos de correcção:
- portanto, A responde pelos ferimentos causados pelo atropelamento mas não pelo braço
partido
15. A (mãe), por si e em representação do seu filho menor, instaurou acção contra um
centro de radiologia, o respectivo director clínico e a médica obstetra alegando essencialmente:
– que o filho nasceu com síndroma polimalformativo às trinta e oito semanas de gestação,
designadamente sem mãos nem braços, e com deformação dos pés, da língua, do nariz, das orelhas,
da mandíbula e do céu-da-boca;
Tópicos de correcção:
Uma wrongful birth action é intentada pela mãe e/ou pelo pai em seu próprio nome. Nela,
os progenitores alegam essencialmente terem perdido o direito de tomar uma decisão informada
sobre a manutenção da gravidez relativa a um filho marcado por defeitos congénitos,
eventualmente capazes até de provocar a respectiva morte à nascença (v.g. hérnia diafragmática
congénita). Por outras palavras, argumentam que caso lhes tivesse sido propiciado o devido
conhecimento, e não fora a falta de diligência médica, a mãe teria muito provavelmente decidido
realizar aborto eugénico. Em todo o caso, tendo, porém, ocorrido o nascimento de pessoa com
deformidades, pretendem agora ser compensados por se ter tornado necessário criar uma criança
deficiente. Nisto se cifra o respectivo dano. Na linguagem própria da responsabilidade civil, os
lesados serão, assim, os próprios pais e o direito infringido será o de ter filhos (ou, portanto, o de
não os ter) sãos e saudáveis.
Uma wrongful life action é proposta pelo filho, tipicamente (quando seja incapaz) por
intermédio dos pais em seu nome (nos termos gerais do artigo 1878º, n.º 1, Código Civil). Dado
que o lesado é a criança, eles actuam, portanto, como representantes (legais) e não em nome
próprio. Neste contexto, o autor sustenta (por si ou através do substituto), que, se não fosse a
negligência médica, os progenitores teriam presumivelmente recorrido à interrupção voluntária
da gravidez. O dano concretamente sofrido consiste, por isso, em ter que existir com uma
deficiência que jamais se produziria caso o nascimento não tivesse sobrevindo: é o chamado dano
de viver resultante da violação do apelidado “right not to be born”. A acção não apresentaria
especialidades de maior se o filho se limitasse a pedir compensação pecuniária para fazer frente,
durante o resto da sua vida, às despesas especiais que o seu estado de saúde demanda. Mas,
diferentemente, o que ele reclama é o ressarcimento pelo facto de ter de existir. O direito violado
será, assim (pese embora a discordância quanto a este ponto), o de não viver.
Tópicos de correcção:
No caso concreto:
a) A conduta lesiva consiste na actuação dos médicos consubstanciada na realização e
análise dos exames preordenados;
e) O dano ficou identificado na alínea anterior: wrongful birth e wrongful life, na medida
em que sejam viáveis.
Tópicos de correcção:
Ante a mãe a responsabilidade dos médicos é contratual. Ante o seu filho é extracontratual.
Em conformidade a obrigação de indemnizar é solidária nesta segunda situação (artigo 497º) e é
conjunta na primeira (artigo 513º/a contrario).
Na execução do troço foram usados explosivos para o desmonte dos maciços rochosos
existentes no local.
A utilização dos referidos explosivos, ao detonar, transmitiu vibrações às fundações das
casas pertencentes a C e a D situadas a cerca de cem metros. O que lhes causou oscilações,
vibrações das portas, janelas e estores e a queda de objectos das prateleiras e dos móveis.
− a fissuração de rebocos;
Tópicos de correcção:
Para que de um comitente se possa falar é necessário que exista um comissário e, por isso,
indispensável se torna também a presença de uma relação de comissão entre ambos.
Uma relação de comissão é um qualquer vínculo entre duas pessoas do qual resulte uma
subordinação daquele que é encarregado do exercício de uma função àquele que disso o
encarrega (artigo 500º, n.º 1). Quer dizer isto dizer que o comissário actua por conta e sob a
direcção do comitente. Juridicamente, tal subordinação pode traduzir-se num contrato de
trabalho, num contrato de mandato, numa relação familiar, etc.
Em segundo lugar, é necessário que o comissário tenha causado um dano a terceiro “no
exercício da função que lhe foi confiada” (artigo 500º, n.º 2, in fine), sendo irrelevante, no entanto,
se, em tal momento, estava a cumprir as instruções que, eventualmente, lhe tenham sido conferidas
ou se, ao invés, causou tal dano intencional ou negligentemente.
17. A foi detido por dois agentes da PSP (B e C) por conduzir o seu automóvel com uma
taxa de álcool no sangue superior à permitida. Na esquadra foi-lhe apreendida a carta de condução
que foi substituída por uma guia. Informaram-no ainda de que, em qualquer caso, não poderia
conduzir durante as doze horas seguintes.
Assim que saiu da esquadra, A sentou-se no referido automóvel, conduziu-o durante mais
dois quilómetros e acabou por embater num muro de um terreno pertencente a D. Ao local foi
chamada a PSP, tendo comparecido precisamente os mesmos agentes B e C.
Tópicos de correcção:
b) Para o caso de não estarem preenchidos ou para o caso de A não ter seguro que por ele
respondesse, D intentou acção também contra B e C. Poderiam estes ser responsabilizados?
Tópicos de correcção:
A questão situa-se no âmbito da responsabilidade delitual por omissão (artigo 486º).
De harmonia com o disposto no artigo 486º, o dever de actuação pode resultar da lei ou
de negócio jurídico (no qual tanto se pode fundamentar um novo dever de actuação, como
transferir para outra pessoa um já existente). Segundo a doutrina, o dever de actuação pode
surgir, porém, a partir de outras fontes. Designadamente: a ingerência; a estreita relação vital;
os casos de protection of the vulnerable; e também, ao menos no âmbito do Direito Privado, o
unanimemente reconhecido dever geral de prevenção do perigo.
Tópicos de correcção:
Há dano quanto o ofendido, por causa da conduta alheia, fica em pior situação actual do
que aquela em que se encontraria caso ela não tivesse sido desencadeada (situação actual virtual
ou hipotética). Ora, se o terreno de D se encontrava “quase ao abandono”, quando E o decide
aproveitar para parque de automóveis não provoca com isso, em princípio, qualquer prejuízo.
Com efeito, D não fica em pior situação do que aquela em que se encontraria caso E não fizesse
o que fez. O que não quer dizer que E não se encontre obrigado a entregar ao D o lucro que
obteve. Deve certamente fazê-lo, mas não através da responsabilidade civil (antes pelo
enriquecimento sem causa).
Tópicos de correcção:
ii) Em alternativa, quando a obrigação não cumprida tiver por fonte um contrato
sinalagmático, a sua resolução com a consequente extinção do vínculo e com a (eventual)
obrigação de indemnizar pelo interesse negativo (artigo 801º/n.º 2, Cód.Civil). A reparação
destina-se aqui a (re)colocar o lesado na situação em que ele provavelmente se encontraria no
momento anterior à celebração do contrato (isto é, como se este jamais tivesse sido outorgado).
19. A, condutor de uma pick-up da empresa Resinas Ld.ª, estacionou-a num terreno com
forte inclinação para ir cortar algumas árvores. Depois de sair do carro, inesperadamente, o veículo
resvalou pela terra molhada indo entalar B (agricultor que se encontrava a colher os seus morangos)
contra uma árvore. Conduzido ao hospital, foi-lhe amputada de imediato uma perna, mas acabou
por falecer, uma semana depois, com uma infecção generalizada.
Tópicos de correcção:
Existiria uma relação de comissão entre A e Resinas Ld.ª. Haveria, portanto, uma
subordinação daquele perante esta.
- não se refutando aquela presunção, A responderia perante B por factos ilícitos (a título
negligente) nos termos do artigo 483º/n.º 1 e a Resinas Ld.ª responderia pelo mesmo dano a título
de comitente nos termos do artigo 500º;
b) Provou-se que a pick-up deslizou por ter ocorrido um sismo que, embora de pequena
intensidade, foi o suficiente para provocar a deslocação da pick-up. Teria este facto alguma
relevância?
Tópicos de correcção:
A força maior ou caso fortuito “há-de ser um evento inevitável, isto é um acontecimento
que o devedor não pode obstar a que se produza e a cujos efeitos não se pode furtar, por se tratar
dum facto imprevisível (…); há-de ser ainda irresistível, o que significa que os efeitos dêle devem
ser insuperáveis para o devedor, ainda que êste, nos limites das suas fôrças e da diligência que
lhe é exigida, faça tudo para os impedir”. Acentua-se que para este efeito somente releva a força
maior não articulada com o desempenho do veículo. Ao invés, a que se encontrar ligada ao seu
funcionamento considera-se (ainda) compreendida nos riscos próprios de utilização. Um sismo é
força maior desde que se prove ser causa adequada à produção do dano.
20. – A é uma sociedade comercial que se dedica à fabricação e comercialização de moldes.
– Dentro deste período, A subcontratou trabalhos que poderia ter efetuado com a máquina,
no que despendeu € 21.000,00.
– A tinha dois trabalhadores afetos àquela máquina, os quais, após o seu bloqueio,
permaneceram inativos na empresa.
Tópicos de correcção:
A ser assim, por outro lado, os € 90.000 devidos por A fundam-se em outro contrato – o
de assistência técnica. Pelo que B não poderia invocar excepção de não cumprimento por falta de
reciprocidade entre a obrigação de entregar esta quantia e a obrigação de fornecer o código de
desbloqueio. Seriam obrigações emergentes de distintos contratos.
Não seria impossível, porém, que B invocasse direito de retenção. Os gastos com a
assistência são despesas feitas por causa da coisa. O que, nos termos do 754º, lhe conferiria
retenção.
2. Caso não tivesse, deveria responder por danos? A que título e quais?
Tópicos de correcção:
- de ter que pagar ao subcontratado pelas tarefas que ele próprio poderia ter
realizado se a máquina funcionasse;
21. A, ao entrar na água de um rio/albufeira, juntamente com os dois filhos menores (estes
em cima de um colchão de água), e caminhando sobre a crosta arenosa, foi avançando alguns
metros para “dentro” da albufeira, sempre afastando e aproximando de si o colchão onde estavam
os filhos. Ao recuar mais uma vez, desapareceu na água, afundando-se, vindo o seu cadáver a ser
recuperado, mais tarde, num lugar de profundidade superior à sua altura.
Tópicos de correcção:
Por outro lado, nos termos do artigo 570º, deve entender-se que a conduta de A é adequada
a, no mínimo, contribuir para o dano. Acresce que é culposa porque, para quem não sabia nadar,
revela descuido. O que serviria para atenuar a responsabilidade da EDP.
Tópicos de correcção:
A EDP deveria responder pelo menos por danos morais (496º) e, designadamente:
- pela morte de A;
- pelo seu sofrimento, caso se provasse que teve percepção do seu próprio decesso;
22. No dia 22.10.2011, pelas 08h:45, entre os quilómetros 48,350 e 48,400 da autoestrada
A1 ocorreu um acidente de viação em que intervieram os veículos Hyundai e Audi conduzidos,
respetivamente, por A e por B. Este fazia-o no desempenho das tarefas que lhe haviam sido
atribuídas enquanto trabalhador da sociedade C. Aquele tinha alugado o carro num rent-a-car.
Tópicos de correcção:
(i) Na falta de prova relativa à culpa dos intervenientes, presume-se a de B (503º, n.º 3)
dado que é comissário. Nesse caso, Este responderia por factos ilícitos e A responderia como
comitente, nos termos do artigo 500º, com direito de regresso (no pressuposto de não haver
também culpa da sua parte).
(ii) Se, eventualmente, esta presunção fosse ilidida, seria necessário saber se, do outro
lado, A actuou com culpa. Em caso afirmativo, responderia ele exclusivamente.
(iii) Se ela não se provasse, dever-se-ia avaliar a proporção de risco que cada um dos
veículos colocou para produção do dano. Pelo Audi responderia C a título de seu detentor (503º,
n.º 1). Pelo Hyundai responderia apenas A, para quem entenda que ele é o único interessado na
sua utilização; ou A e a rent-a-car, para quem entenda que, nestas circunstâncias, o interesse é
partilhado.
23. A e B, cada qual montado na sua mota de cross, ambas muito ruidosas, passaram a
grande velocidade por C que vagarosamente conduzia uma carruagem puxada a cavalo por um
caminho rural. Por causa disso, o animal assustou-se, fugiu e atirou-se para uma ravina lateral.
O incidente provocou uma lesão óssea na perna direita de C, bem como a destruição da
carruagem.
Tópicos de correcção:
(ii) ilícita: por violar o direito de C à integridade física e à propriedade sobre a carruagem
(iii) culposa: por revelar incúria resultante da violação do dever de cuidado que a
proximidade de A e de B com C lhes impunha
1.º: Haverá adequação da conduta ao dano? Poderá sustentar-se que o ruído das motas é
apto a determinar o resultado lesivo?
Certa conduta é causa de determinado dano sempre que este se apresente como sua
consequência normal ou típica. O que se deve avaliar por força da própria experiência ordinária,
segundo as regras conhecidas de relação entre causa e efeito (conditio sine qua non), num juízo
de prognose póstuma ou posterior.
É igualmente habitual salientar-se que as regras de experiência a que cabe atender são:
(i) primeiro, aquelas que decorrem do traquejo comum e que, por isso, devem ser
observadas pela generalidade das pessoas;
(ii) mas também, segundo, quando for caso disso, aquelas que derivarem de especiais
conhecimentos técnicos ou de outra ordem de que o autor seja porventura dotado.
Uma vez que, neste entendimento, somente existe causalidade atendível para efeitos de
responsabilização civil no que tange “aos danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se
não fosse a lesão” (artigo 563.º, Cód.Civil), isto significa também que, atendendo ao sentido
literal do preceito, inexistem obstáculos suscetíveis de atalhar o recurso ao reverse approach.
Torna-se exequível, por outras palavras, a adoção da teoria da adequação na sua chamada
formulação negativa. O que alarga potencialmente o respetivo campo de aplicação e, sobretudo,
simplifica o seu manuseamento.
(i) desde que a ação/inação imputável ao agente se tenha posto como sua conditio sine qua
non, o nexo de causalidade encontra-se instituído;
A conduta só não será assim causa do dano quando, tendo colocado uma condição para a
sua produção, ela não se tenha revelado decisiva para o efeito. Isto é, quando se trate, no fundo,
de consequências absolutamente imprevisíveis e/ou imponderáveis.
Será o caso da presente hipótese. Até prova do contrário, o cavalo assustou-se devido ao
ruído provocado pela utilização das motas. A destruição da carruagem e a lesão na perna de C
são danos atribuíveis às condutas de A e de B. Já, ao invés, a morte daquele não lhes é imputável.
Não é o acidente viário em si, que a provoca, mas a falta de insulinoterapia (ainda que
eventualmente ninguém por isso seja responsável, salvo o próprio C).
É o que sucede na hipótese. Quer A, quer B, puseram condições para a produção do dano.
Não se sabe exatamente qual dos dois o causou. Mas só eles o poderiam ter provocado. São,
portanto, solidariamente responsáveis como autores concorrentes.
b) Suponha, em alternativa, que no caminho por onde C passava se realizava um raid TT,
devidamente autorizado e sinalizado, no qual A e B eram participantes. Quid Juris?
Tópicos de correcção:
(ii) ela cumpra o but for test, mostrando-se a sua contribuição adequada à produção do
dano.
Por outro lado, a culpa de A e de B encontrar-se-ia presumida nos termos do artigo 493.º,
n.º 2, do Cód.Civil. Por terem causado danos a terceiro no desenvolvimento de uma atividade
perigosa pela índole dos instrumentos utilizados.
Ora, se, porventura, a culpa do autor do dano resultar da entrada em funcionamento de
alguma presunção legal – como sucedia em relação a A e a B –, a atuação censurável C
igualmente apta a gerá-lo excluiria a responsabilidade daqueles (artigo 570.º, n.º 2, Cód.Civil).
24. Cerca das 15:40 do dia 10/03/2010 ocorreu um acidente de viação na EN103, ao km
56,150, em que intervieram os veículos: 55-66-IZ, pesado de passageiros, propriedade de A, e 33-
44-DE, ligeiro de passageiros, propriedade de B. O acidente deveu-se ao facto de este último, ao
sair de um parque de estacionamento, não ter obedecido à paragem imposta por um sinal de STOP
aí existente.
Pelo que antecede, o veículo IZ apenas ficou reparado dois meses depois da data
inicialmente prevista. A exige agora, por isso, uma indemnização agravada.
Quid Juris?
Tópicos de correcção:
(i) “não aceita a prestação que lhe é oferecida nos termos legais”;
O preenchimento de cada uma das hipóteses – ou seja: a fixação dos termos em que o
credor devia ter recebido ou a determinação dos atos que devia ter praticado – faz-se atendendo
às regras que, para o caso concreto, forem ditadas pela aplicação do princípio da boa-fé (n.º 2
do artigo 762.º, Cód.Civil).
Quid Juris?
Tópicos de correcção:
A responsabilidade pelo risco fundada no disposto no artigo 503.º, n.º 1, do Cód.Civil não
desponta em alguma das seguintes três hipóteses (artigo 505.º, Cód.Civil):
(iii) quando o dano resultar “de causa de força maior estranha ao funcionamento do
veículo”, no pressuposto de ela ser adequada à sua produção.
(i) Uma relação de comissão é um qualquer vínculo entre duas pessoas do qual resulte
uma subordinação daquele que é incumbido do exercício de uma função àquele que disso o
encarrega (artigo 500.º, n.º 1, Cód.Civil). O comissário atua, por isso, por conta e sob a direção
do comitente. Tal sujeição pode traduzir-se, juridicamente, num contrato de trabalho, em certas
modalidades de prestação de serviços, numa relação familiar, etc.
(ii) Em segundo lugar, é indispensável que o comissário tenha causado algum dano a
terceiro “no exercício da função que lhe foi confiada” (artigo 500.º, n.º 2, in fine, Cód.Civil).
Sendo irrelevante se, em tal ocasião e contexto, estava a dar cumprimento às instruções que
eventualmente lhe haviam sido conferidas ou se causou tal dano intencional ou negligentemente.
(iii) Em terceiro lugar, é imprescindível ainda que sobre o comissário “recaia também a
obrigação de indemnizar” (artigo 500.º, n.º 1, in fine, Cód.Civil). Querendo isto dizer que a
responsabilidade do comitente supõe que, não fora a relação de comissão, o comissário
responderia exclusivamente pelo dano causado a terceiro. Para que o comitente se encontre
igualmente adstrito a indemnizar, torna-se fundamental, por isso, que os requisitos de alguma
espécie de responsabilidade civil estejam preenchidos contra o comissário. E, ao menos por regra,
que os referidos requisitos sejam os da responsabilidade aquiliana, ainda que se não afigure
inconcebível tratar-se de alguma modalidade de responsabilidade pelo risco ou por factos lícitos
em que o comissário, nessa qualidade, tenha incorrido. Pelo se v.g. este puder alegar estado de
necessidade ou culpa do lesado, o comitente disso tirará proveito imediato.
(i) Não sendo refutada a presunção instituída pelo n.º 3, entra em funcionamento o regime
geral da responsabilidade do comitente, ou seja, o regime instituído pelo referido artigo 500.º do
Cód.Civil. Pelo que o comissário (A) responderá por factos ilícitos culposos nos termos do artigo
483.º, n.º 1, do Cód.Civil (no pressuposto de as demais condições de responsabilização por este
enunciadas se encontrarem igualmente verificadas), e o comitente (B) responderá como garante,
com o competente direito de regresso (artigo 500.º, Cód.Civil).
Esta responsabilização adquire natureza solidária, nos termos dos artigos 499.º e 497.º do
Cód.Civil, já que nada impede que os devedores solidários respondam a diferentes títulos.
(ii) Ao invés, ilidida a presunção estabelecida pelo n.º 3 (mediante v.g. a demonstração da
existência de culpa do lesado – artigo 570.º, n.º 2, Cód.Civil), só o comitente (B) responderá nos
termos do n.º 1, a título de detentor do veículo, tornando irrelevante, por isso, a referida
qualidade. Tudo se passa como se inexistisse comissário.
Ilustração 1
10.000€.
Nos termos acordados, o preço seria pago 3 meses depois e a entrega da coisa efectuada 30
A pretende agora que C lhe entregue o carro, alegando que o contrato de compra e venda
Aspectos a considerar:
3. Da pretensão de A relativamente a C
874. O negócio é
lícito, física e legalmente possível, não contrário à ordem pública e aos bons costumes, tendo
280, 400.
A tinha legitimidade para alienar o automóvel, uma vez que era seu proprietário
892 a
contrario.
–
879/a), pelo que, tendo o
resolução do contrato
886.
408/1 e 879/a).
B tinha legitimidade para doar o carro a C, uma vez que era seu proprietário desde que
408/1 e 879/a).
A eficácia real da doação de coisa móvel, quando não tiver a forma escrita, exige a tradição da
independentemente deste aspecto, podemos concluir que houve tradição da coisa, uma vez
954/a).
Logo, o carro é de C.
3. Da pretensão de A relativamente a C
A pretensão de A não tem razão de ser: ele não pode exigir de C a restituição do automóvel,
uma vez que este é o titular do direito real de propriedade sobre o mesmo. O que ele tem é
um direito de crédito sobre B por falta do pagamento do preço, a exigir nos termos do art.
817º e não através da acção de reivindicação prevista no art. 1311º (aplicável apenas a direitos
reais).
Já não seria assim se o negócio entre A e B não tivesse produzido o efeito real de transferência
este não vigora em Portugal (ao contrário da França e outros ordenamentos jurídicos…)
Bastaria ao A, neste caso, fazer prova da sua propriedade para que o carro lhe devesse ser
posse do C.
Hipótese nº 2
possui 3 anéis consigo e decidiu doar um a B. Contudo, não ficou esclarecido entre as partes
Dois dias depois, antes que A procedesse à entrega do anel a B, o primeiro vendeu a C um
dos anéis que tinha na sua posse. B reclama que esse anel é seu e prepara-se para interpor
Aspectos a considerar:
2. Da modalidade da obrigação
4. Da pretensão de B
***
escrito (947). Logo, a presente doação só não será nula por vício de forma (220) se tiver sido
2. Da modalidade da obrigação
A obrigação é indeterminada, regendo nesta matéria as regras do art. 400. Mas será ela
genérica? Ou alternativa?
Não é modalidade de obrigações alternativas (543), uma vez que existe apenas uma e não
Não se oferece clara a distinção, mas a explicação do assistente relativamente aos cinco
quadros de Vieira da Silva é uma situação paralela e que este classificou como “o
brigação
genérica de género limitado”. Sendo assim, a transferência da propriedade do anel doado não
segue o regime do art. 408/1 (princípio da consensualidade), integrando-se antes numa das
excepções do nº 2 deste artigo, que manda aplicar o regime previsto nos artigos 539 e ss.
concentração da obrigação e esta dá-se com o cumprimento, cuja regra é a entrega da coisa
(540 e 541).
Não tendo sido entregue a B qualquer dos três anéis antes da venda de um deles a C, não se
esfera jurídica do doador (A). Logo, A não vendeu bens alheios, mas próprios, não se
540.
Mas já não poderia vender o terceiro, pois no momento em que vendesse o segundo o género
extinguir-se-ia ao ponto de restar apenas uma das coisas nele compreendidas (um anel) e este
ser o número exigido à satisfação do credor, considerando-se, neste caso, que se deu a
4. Da pretensão de B
B não tinha razão ao afirmar que o anel que o A vendeu a C era o seu, tanto mais que a escolha
cabia ao devedor (A) e a propriedade só transitava para a sua esfera jurídica com a
Hipótese nº 3
meses depois.
dívida.
Aspectos a considerar:
propriedade
409.
Sendo o preço pago, como o veio a ser, a reserva de propriedade a favor de A extingue-se, o
A questão que importa agora dilucidar é a de saber a partir de que momento se deve reportar
obrigação de B, se à data em que este celebrou o contrato com A. Ou seja, a pedra de toque é
saber se a eficácia real resultante do pagamento do preço, que põe fim à reserva de
II
Para Menezes Leitão, o que sucede é que B, comprador com reserva de propriedade, é titular
de um direito real de aquisição oponível a C, que adquiriu o direito depois dele. A eficácia real
dá-se apenas com o fim da reserva de propriedade e opera apenas para o futuro. Isto gera,
segundo o Prof. Coelho Vieira, um efeito inconveniente: quer B quer C tornam-se proprietários
Para o Prof. Coelho Vieira, pelo contrário, a verificação do evento de que depende a reserva de
sentido técnico (desde logo por não se tratar de facto futuro incerto
Este contrato é nulo por falta de legitimidade do vendedor (892), uma vez que quando A
vendeu a C já não era proprietário da coisa. Sendo o contrato nulo, nada foi transmitido da
esfera jurídica de A para C, tanto mais que nada havia para transmitir.
Uma vez que a resposta à primeira questão já foi dada, resta ver o que sucederia se a hipótese
da alínea b) se verificasse.
408/1 e 879/a
mas só depois
vendedor
892.
Hipótese nº 4
anos.
No contrato, as partes estipularam que o direito em causa, não obstante ter sido revogado
em 1977, se regularia pelo regime em vigor até essa altura.
b) Suponha agora que o direito de enfiteuse era admitido pelo ordenamento português, mas
Quid juris?
Aspectos a considerar:
Alínea a)
Alínea a)
(apontamentos da Marina)
Há conversão legal do negócio nos termos do art. 1306/1: o negócio é nulo como real, mas
Art. 1306/1
O Princípio da tipicidade dos direitos reais implica que as partes não possam criar
Prof. Menezes Cordeiro e Oliveira Ascensão defendem a sua qualificação como direito real,
com base na interpretação e não do legislador. Daí que possam ser qualificados como direitos
A interpretação do art. 1306 tem de ser feita ora restritivamente ora extensivamente.
(apontamentos do Renato)
Nulo como negócio real, subsiste como direito de crédito, ficando a ser regulado pelo regime
Alínea b)
O princípio da tipicidade (que abrange quer a escolha do direito real quer do seu conteúdo)
não assenta na escolha de um direito real não constante do catálogo. Cada direito real tem um
As partes não podem escolher um direito real e não estabelecer o seu conteúdo. As
Tem a ver com o tipo de direito real. As partes não podem estabelecer um negócio com
conteúdo diverso do tipo de direito real consagrado na lei. Princípio da tipicidade outra vez de
outra perspectiva. Respeito pelo conteúdo de aproveitamento da coisa de acordo com o tipo
de direito real.
Hipótese nº 5
A, proprietário e possuidor do automóvel X, foi vítima de furto praticado por B. Este, com o
Em Novembro de 2005, A vem a saber que o carro se encontra com D e pretende reavê-lo.
Aspectos a considerar:
1. Da figura da “posse vale título”
2. Do princípio da absolutidade
dos negócios jurídicos de que foi objecto, celebrados após o furto do mesmo. Isto sucede
assim porque em Portugal não vigora o princípio da posse vale título: caso contrário, C, que
adquiriu a posse de boa fé, poderia opor este princípio ao proprietário do automóvel.
princípio da causalidade.
Quer o contrato B
C quer o C