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As 4 + 1 Condições da análise
Cap. 1 - As funções das entrevistas preliminares
2º - A função diagnóstica
4 Na neurose, o Complexo de Édipo, diz-nos Freud, é vítima de um naufrágio, que equivale à amnésia
histérica. O neurótico não se recorda do que aconteceu em sua infância - amnésia infantil, mas a
estrutura edipiana se presentifica no sintoma. Um exemplo é a idéia obsessiva do Homem dos Ratos,
formulada na frase: “se eu vejo uma mulher nua, meu pai deve morrer”. O recalque da representação
do desejo da morte do pai retorna no simbólico sob a forma de sintoma: a idéia obsessiva, expressa
nessa frase, denota sua estrutura edípica, ou seja, a proibição, conectada ao pai, de ver uma mulher nua.
O sintoma fornece, assim, um acesso à organização simbólica que representa o sujeito.
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10 Outra maneira de interpretar o texto freudiano é considerar que, para Freud, há uma contra-indicação
da psicanálise para psicóticos. Em Lacan, há algumas indicações que apontam no mínimo para uma
prudência, embora ele deixe a cargo de cada analista a resolução de aceitar ou não o psicótico em
análise. “Acontece de aceitarmos pré-psicóticos em análise, e sabemos no que isso vai dar - vai dar em
psicótico.”8 Pois a análise, como lugar de tomada da palavra, pode desencadear uma psicose até então
não declarada. Encontramos, entretanto, indicações de outro tipo. “A paranóia, quero dizer a psicose, é
para Freud absolutamente fundamental. A psicose é aquilo diante do que um analista não deve, em caso
algum, recuar.”9 Nesses casos, podemos interpretar que, diante de uma psicose já desencadeada, não
haveria por que o analista não acolher a demanda de análise desse sujeito. Lacan dá outras indicações
sobre a estrutura da transferência do psicótico que mostram, no mínimo, que sua posição não é a de
contra-indicação.10
11 Quanto à questão mais geral do diagnóstico, Lacan chega a dizer: “existem tipos de sintomas, existe
uma clínica. Só que ela é anterior ao discurso analítico e se o discurso analítico traz uma luz à clínica,
isto é seguro, mas não é certo.”11 Que clínica existe antes do discurso analítico senão a clínica
psiquiátrica? É a esta que Lacan vai recorrer, servindo-se, por exemplo, do conceito de automatismo
mental para o diagnóstico psicanalítico da psicose, que encontra seu fundamento na lógica do
significante.
12 A clínica a partir do discurso analítico é, portanto, algo a ser construído. Nessa clínica, só há um tipo
clínico possível de ser afirmado, a histeria: “que os tipos clínicos resultam da estrutura, eis o que se
pode escrever, ainda que não sem hesitação. Só há certeza a só é transmissível para o discurso
histeria.”12 A transmissibilidade em análise sempre foi uma preocupação para Lacan. É o que aparece
sob a forma do matema, cuja etimologia nos indica significar aquilo que se aprende, o que se ensina. O
único tipo clínico transmissível ao nível de uma conceituação formal é a histeria. Apesar disso, Lacan
nunca deixou, ao longo de todo o seu ensino, de tentar situar os outros tipos clínicos a partir da
experiência analítica.
13 Nas entrevistas preliminares, é importante, então, no que diz respeito à direção da análise, ultrapassar o
plano das estruturas clínicas (psicose, neurose, perversão) para se chegar ao plano dos tipos clínicos
(histeria - obsessão), ainda que “não sem hesitação”, para que o analista possa estabelecer a estratégia
da direção da análise sem a qual ela fica desgovernada.
14 A base da estratégia do analista na direção da análise se refere à transferência,13 à qual o diagnóstico
deve estar correlacionado.
15 Dado que o analista será convocado a ocupar na transferência o lugar do Outro do sujeito a quem são
dirigidas suas demandas, é importante detectar nesse trabalho prévio a modalidade da relação do sujeito
com o Outro.
16 Para o obsessivo, o Outro goza, como ilustra no caso do Homem dos Ratos a figura do capitão cruel
que traz à cena, com seu relato do suplício dos ratos, um gozo terrível e mortificador. Esse Outro do
obsessivo é patente no personagem do Pai da horda primitiva do mito de Totem a Tabu, que é, como
diz Lacan, um mito de obsessivo. Trata-se de um Outro detentor de gozo, que impede seu acesso ao
sujeito. É um Outro a quern nada falta e que não deve, portanto, desejar - o obsessivo anula o desejo do
Outro. É nesse lugar do Outro que ele se instala, marcando seu desejo pela impossibilidade. Trata-se de
um Outro que comanda, legifera e c vigia constantemente. A fantasia do obsessivo traz a marca do
impossível desvanecimento do sujeito para escapar do Outro.14
17 Na tentativa de dominar o gozo do Outro para que este não emerja, o obsessivo não só anula seu desejo
como tenta preencher todas as lacunas com significantes para barrar esse gozo: ele não pára de pensar,
duvidar, calcular, contar. Ao situar o Outro como mestre e senhor, o obsessivo fica na posição de
escravo, trabalhando e se esforçando em enganar o senhor pela demonstração das boas intenções
manifestadas em seu trabalho.15 Contudo, ele mesmo se tapeia ao acreditar que é “seu trabalho que lhe
deva dar o acesso ao gozo”.16 O mito do senhor e do escravo é para Lacan um mito do obsessivo.
18 Encontramos na clínica do obsessivo a conjugação no Outro de dois; significantes: o pai e a morte,
denotando a articulação da lei com o assassinato do pai na constituição da dívida simbólica. Isto
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