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Créditos
Agradecimentos
Prefácio
Apresentação
Vocação
Definição do ramo de negócio
DEFINIÇÃO DO PONTO
Leiaute
ILUMINAÇÃO
SEQUÊNCIA DE MERCADORIAS
EXPOSIÇÃO DA MERCADORIA
Recursos financeiros e capital
FINANCIAMENTO BANCÁRIO
SÓCIOS
CAPITAL/DINHEIRO PRÓPRIO
Recursos humanos
PESSOAL
RECRUTAMENTO
TREINAMENTO
G10
TREINAMENTO GERENCIAL
REMUNERAÇÃO × COMISSÃO
TURNOVER
PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS
SAÚDE
SUCESSÃO E CARREIRA
REALIZAÇÃO PESSOAL E FELICIDADE
Vendas
GERENCIAMENTO DE VENDAS
EQUIPE DE VENDAS
VENDAS NOS EVENTOS
PROMOÇÃO
LIQUIDAÇÃO
Propaganda
A TV
O JORNAL
O RÁDIO
MALA-DIRETA
Logística
Informática
Margem
Era do conhecimento
É MELHOR NÃO FAZER UM BOM NEGÓCIO DO QUE FAZER
UM MAU
Compras
PÚBLICO-ALVO
MIX DE PRODUTOS
PORTFÓLIO DE PRODUTOS
FAIXA DE PREÇO
PARCERIA
SAZONALIDADE
PROGRAMAÇÃO
VARIEDADE × QUANTIDADE DE PRODUTOS
OS LIMITES DA VARIEDADE
NEGOCIAÇÃO
Outros fatores para a lucratividade
COMPETIÇÃO
APRENDER E DESAPRENDER
CÍRCULO VICIOSO
HORÁRIO DO COMÉRCIO
VENDAS COM ACRÉSCIMO E SEM ACRÉSCIMO
AGILIDADE NA COBRANÇA
ALUGUÉIS
CASE DA QUADRA UM
COMPRAS POR IMPULSO
CRIATIVIDADE
MOTOBOYS, VENDA COM ENTREGA
HORA EXTRA E OUTRAS QUESTÕES
TRABALHO INDIVIDUAL
UNIFORME
CONTABILIDADE
PESQUISA: OUVIR O CLIENTE
ASSISTÊNCIA AO CLIENTE PÓS - VENDA
ENTIDADES DE CLASSE
ATITUDES POSITIVAS
REINVENTAR E INOVAR
O CLIENTE
PASSEIO MATINAL
TERCEIRIZAÇÃO
ABSENTEÍSMO
INVENTÁRIO (FALTAS, PERDAS E ROUBOS)
Por que os varejos morrem
GIGANTISMO
VENDER BARATO
CUSTOS OPERACIONAIS
LUTA PELO PODER
CONSIGNAÇÃO
FOCO
EMPRÉSTIMO E ENDIVIDAMENTO
POSTURA
Considerações finais
Actividades Treinamento
ISBN : 9788502100527
CIP-BRASIL CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
G824v
Grazziotin, Gilson
Varejo lucrativo : como sobreviver em um mercado onde nada é estático / Gilson Grazziotin. - São Paulo : Saraiva, 2009.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-02-08390-5
1. Comércio varejista - Administração. 2. Motivação no trabalho. 3. Lucros. 4. Compras por atacado - Administração.
09-3314.
CDD: 658.87
CDU: 658.87
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
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Agradecimento especial
PARA PREFACIAR ESTE LIVRO escolhemos um empresário cujo
negócio tivesse algumas características semelhantes às da Grazziotin
explicitadas nesta publicação. Assim, procuramos alguém de uma empresa
com atuação regional, com forte cunho familiar, saudavelmente capitalizada
com recursos próprios, lucrativa e, entre outros aspectos mais, com claros
conceitos éticos em todos os níveis de atuação e valores humanos no que diz
respeito à relação com seus funcionários.
Inicialmente falamos com Marcelo Zaffari, amigo de longa data e diretor da
Cia. Zaffari, uma rede moderna e eficiente de supermercados e
hipermercados, com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Marcelo se
prontificou a prefaciar este livro, mas para tristeza nossa e do setor
empresarial gaúcho não teve a chance de fazê-lo por causa da doença que o
vitimou.
Diante desse fato, conversamos com Antonio Koerich, também amigo e
diretor da rede de Lojas Koerich, com sede em Florianópolis, em Santa
Catarina, que entendeu perfeitamente a situação e aceitou nosso convite de
bom grado para substituir Marcelo nessa tarefa que, para nós, é de grande
importância.
Com esse esclarecimento, deixamos expresso nosso agradecimento aos dois
colegas empresários, Marcelo e Antonio, pelo prestígio que nos concederam
ao se prontificar em colocar seus nomes neste livro que fala da experiência da
Grazziotin no varejo brasileiro, mas é, também, retrato da experiência de
muitos empresários de sucesso com os quais, ao longo dos anos, aprendemos
muito.
Prefácio
FLORIANÓPOLIS, DE BELÍSSIMAS PRAIAS e outros atrativos
turísticos, por certo conquistou também o amigo Gilson que, a cada
temporada de verão, elege esta cidade acolhedora para repousar e descansar
em merecidas férias.
Em cada uma dessas oportunidades temos o privilégio de recebê-lo para
troca de ideias e avaliação de nossas performances, já que nossa liberdade é
bastante ampla.
Conhecemos a empresa Grazziotin já de longos anos. Admiramos seu
processo de crescimento, atualização e continuidade como empresa familiar
que, de forma sábia, vem adotando um processo de desenvolvimento
eficiente.
Desfrutando da amizade do senhor Tranquilo Grazziotin, pai do Gilson,
conhecemos as raízes da empresa que, plantada com semente de qualidade em
terreno fértil, alcançou o sucesso.
Prefaciar o segundo livro do Gilson, já que o primeiro está na 5 edição e foi
a
pois tudo ficará apertado e difícil de trabalhar. Por outro lado, em uma peça
de 400m , além de o ambiente ficar vazio, o aluguel será caro, o custo da
2
iluminação será alto, enfim, tudo será relativo ao tamanho do lugar, embora o
negócio se encaixe perfeitamente em 200m . Outro aspecto a ser verificado é
2
qual a média de tamanho das lojas similares que existentem em outros pontos
da cidade e têm movimento. Qual é, por exemplo, o tamanho ideal de uma
farmácia? Ao se observar o tamanho das lojas já estabelecidas, será verificado
que com cerca de 100m já se pode montar uma farmácia. Agora, quem deseja
2
abrir um minimercado constatará que com 100m não conseguirá atuar, pois a
2
média de tamanho desse tipo de negócio é acima de 20m . Por quê? Pela
2
outros cem. Jamais me esqueço desta frase, que sigo, de Jorge Gerdau
Johannpeter: Temos de ser do tamanho em que somos rentáveis. O
empreendimento precisa ser do tamanho certo para dar lucro, não adianta
montar uma empresa grande que dê prejuízo, sempre é melhor ela ser pequena
e lucrativa.
O capital é a mola propulsora inicial do negócio, pois ideias todos têm, mas
chega uma hora em que é preciso dinheiro para fazer acontecer. Com enorme
frequência os empreendedores estão endividados. Por quê? Calcularam mal,
não puseram tudo no papel, não fizeram contabilidade, não definiram
previamente um orçamento para saber exatamente quanto deveriam gastar.
Um amigo montou um bom negócio e foi ser o diretor. Tinha gabinete
isolado, lugar para cafezinho, secretária, gerente de vendas, comprador.
Aquilo tudo não condizia com o tamanho do seu negócio, ele quis imitar o
que era feito quando trabalhava em nossa empresa. Esqueceu que tínhamos 30
anos de existência e toda uma estrutura já instalada. Ele não, estava apenas
começando.
Não pode ser assim, o negócio começa mesmo “na picareta”. Quando meu
pai começou com sua loja e eu depois, quando me juntei a ele, sempre fomos
meio franciscanos nas despesas, no modo de nos comportar. A Grazziotin é
um exemplo: nunca tivemos dívidas. Pelo que me lembro, só fizemos um
empréstimo, no BRDE, na década de 1970, para a construção do depósito
próximo ao nosso Centro Administrativo. Nossa teoria é a de ser sempre do
tamanho do nosso capital, do tamanho em que somos rentáveis. Tanto é que
em muitos momentos reduzimos o nosso tamanho. Houve uma circunstância
em que tínhamos 40 lojas Grazziotin e reduzimos para 26. Chegamos a ter 82
lojas Tottal e reduzimos para 50. Isso significa que há momentos em que se
faz necessário dar marcha a ré para ficar do tamanho que o mercado
possibilita ter resultados positivos. Não se trata de ser do tamanho que eu
quero; megalomania às vezes funciona, mas no geral não dá certo. A regra é
não dar um passo maior do que a perna.
Pode-se perguntar: qual o dinheiro mais caro, o do banco ou o próprio? Em
regra, a primeira resposta que vem à cabeça é que o empréstimo mais caro é o
dinheiro do banco, porque cobra juros altos. Mas, na realidade, o dinheiro
mais caro é o próprio, pois já é seu e esse é o que precisa ser mais bem
remunerado. Quem remunera o dinheiro do banco a 8% ao mês deve
remunerar ainda mais o seu próprio dinheiro. Afinal, ele não é de graça, deve
ter custado alguma coisa. Conheci um empresário que afirmava aos clientes
que o transporte não seria problema nas negociações, porque ele já tinha o
caminhão, ele era o motorista e, portanto, não haveria custo. Como não
haveria custo? Uma pessoa pode trabalhar de motorista de graça? O caminhão
não teve custo? O combustível que ele usa é de graça? Isso não pode
acontecer, negócio é coisa séria. A enorme quantidade de empresas que
fecham no primeiro ano de existência - segundo o Sebrae chegam a 60% do
total dos negócios abertos a cada ano - erra muito nesses pontos, são
empresários que não analisam os aspectos mínimos para garantir a
sobrevivência da empresa.
Na vida nada existe sem custo. Isso se aprende bem na China, na hora de
comprar, como o caso da camisa com um ou dois botões na manga. Quem
acha que a camisa fica melhor com dois botões vai pagar um cente de dólar a
mais. Isso mesmo! Se a camisa custa US$ 4,41 com um botão, com dois
botões ela custará US$ 4,42. Ou seja, tudo tem custo. O brasileiro não dá
valor ao seu trabalho. Tenho o exemplo do sapateiro que fez um pequeno
conserto em um sapato meu. Quando quis pagar pelo serviço, ele disse que
não custava nada. Como nada? Por mínimo que tenha feito, perdeu dez
minutos de seu tempo, gastou cola, usou seu equipamento, então não pode
dizer que não custou nada. E, invariavelmente, são pessoas pobres, não
conseguem se remunerar bem porque fazem isso achando que trazem o cliente
de volta. Mas o que traz o cliente de volta é serviço bem feito e preço justo.
Em resumo, um negócio pode ser iniciado com capital próprio, por meio de
uma sociedade com outras pessoas ou com dinheiro emprestado do banco. Em
minha opinião, o melhor é abrir com capital próprio: quem consegue fazer
dessa forma tem uma segurança maior para trabalhar. Só nunca pode esquecer
que aquele dinheiro é seu; se perdê-lo, não irá recuperá-lo com facilidade. Já
o banco, se o empreendedor não pagar a dívida, o prejuízo maior será dele.
Recursos humanos
PESSOAL
RECRUTAMENTO
TREINAMENTO
G10
TREINAMENTO GERENCIAL
REMUNERAÇÃO × COMISSÃO
TURNOVER
PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS
SAÚDE
SUCESSÃO E CARREIRA
REALIZAÇÃO PESSOAL E FELICIDADE
A GRAZZIOTIN DEFINIU OS PRINCÍPIOS que segue há muito tempo.
Algo primordial está claro em nosso primeiro princípio: O homem é o maior
valor da empresa. Pela participação torna-se agente na construção da
cultura da empresa (ver p. 293). Esse estatuto já tem cerca de 30 anos.
Continuamente debatemos nossos sete princípios com os funcionários. Em
uma semana trabalhamos o primeiro; depois de um mês, o segundo, e assim
por diante. São princípios que a gente incute na cabeça das pessoas.
O ser humano é fundamental tanto para quem lidera quanto para quem é
liderado. Na empresa, o maior recurso são as pessoas, não adianta tentar fugir
dessa realidade. O empresário que não tiver essa verdade presente em seu dia
a dia terá dificuldade para gerir seu negócio. Quando a loja está fechada, ela
não “faz” nada; as coisas acontecem apenas quando, pela manhã, alguém abre
sua porta e entra. Então, são as pessoas que fazem tudo mesmo e não o fazem
apenas por obrigação ou porque alguém está pagando. Só receber um salário
não resolve tudo. Notamos que às vezes os funcionários ganham o mesmo e
produzem diferente, há quem ganhe menos que alguns colegas e produz
melhor. A qualidade é gerada pelo ser humano em qualquer circunstância. Se
várias pessoas recebem os mesmos ingredientes e a mesma receita para fazer
um bolo, qual o resultado? Cada bolo sai diferente do outro. Alguns
conseguem fazer um bolo mais gostoso, outros nem tanto, apesar do esforço.
Existem características nas pessoas que as distinguem em relação aos
diferentes campos da atividade humana. Algumas pessoas, por exemplo, têm
aptidões a mais e outras a menos no campo do comércio. Em um negócio,
tudo isso é muito importante.
Quando fiz o curso de Administração, a sociologia era tida por grande parte
dos colegas como matéria desnecessária, mas eu sempre gostei de estudá-la,
sempre li e leio assuntos sobre pessoas. Quando fiz análise, também tive a
oportunidade de entender melhor a mim e aos outros. Permanentemente leio
sobre o comportamento humano.
Em uma empresa, o fator humano é primordial, daí o nosso primeiro
princípio ser o de o homem ser o maior valor, queiram ou não. É algo que
deve ser claro, transparente para todos verem, sentirem e viverem. Quando
inauguramos uma filial da Pormenos em Nonoai (RS), senti o quanto esse
princípio é uma verdade observando nossos funcionários, não só os antigos e
os regionais que estavam ajudando, mas também os recém-contratados, que
conhecera durante o treinamento. Eles vibram, realizam o trabalho com
vontade, e percebemos que o cliente sente prazer em falar com eles, pois
recebem atenção com simpatia. E isso não acontece apenas nas inaugurações:
esse é o dia a dia de quem trabalha com pessoas.
Na Grazziotin, criamos um departamento de Recursos Humanos quando
passamos a abrir filiais e ainda implantamos uma diretoria para o setor. Ainda
há empresas, inclusive grandes, que na área de Recursos Humanos têm
departamento de pessoal apenas para cumprir as exigências do fisco, controlar
pagamentos do INSS, fundo de garantia, realizar registros de salários, de
férias e efetuar os exames legais periódicos. Assim sendo, o departamento de
pessoal é só para cumprir a burocracia, fazer apenas a parte legal, que é
obrigação. Mas o importante mesmo na área de RH é propiciar o
desenvolvimento das pessoas, recrutar as pessoas certas e adequá-las às
atividades que vão desempenhar.
PESSOAL
Na Grazziotin a direção dos Recursos Humanos está dividida em três áreas.
Uma delas é a de pessoal, obrigada a existir para a parte legal, mas
direcionada também a contribuir para o desenvolvimento das pessoas. É a
área que leva a sério o aspecto de controlar o ponto. O ponto é importante
para o aspecto legal, numa reclamatória, quando o Ministério do Trabalho
fiscaliza, mas é ainda mais decisivo para a postura de comportamento das
pessoas, é um disciplinador. Se o funcionário bate o ponto depois do horário
de entrada, o Ministério, por exemplo, não dará atenção, pois se alguém chega
atrasado esse é um problema do patrão. Disciplinarmente, porém, dentro da
cultura empresarial de responsabilidade, bater o ponto fora de hora é errado,
significa estar dando mau exemplo. Um funcionário que entra às 8 horas e
recebe salário igual ao de quem chega às 8h15 vai se sentir traído. Assim,
essa área de nosso departamento de pessoal, além de fazer a parte legal,
direciona sua ação para criar uma cultura empresarial positiva, de efetivo
desenvolvimento das pessoas, de responsabilidade, de disciplina e de busca de
resultados.
Outro exemplo: não permitimos hora extra. Por que não? Porque vicia. Em
nossas empresas há algumas ocasiões em que a hora extra é necessária. Mas,
se o funcionário passa a fazer hora extra todos os dias, isso pode se
transformar em um vício. A despesa é maior em tudo, a começar pela
eletricidade. O funcionário “vicia” em fazer hora extra, porque depois que
incorpora ao salário o dinheiro que entra “a mais” - a hora extra paga 50% a
mais e, em alguns dissídios, pode chegar a 100% - ele não deseja mais perdê-
lo e faz extras mesmo que não precise. O que ocorre? Durante o horário
normal o sujeito vai retraindo, trabalha sem produção, mais devagar, para não
conseguir dar conta das tarefas do dia e “precisar” fazer hora extra. Vira um
ciclo vicioso indesejável, pois em certas questões é o ambiente que ajuda na
produtividade, que faz o comportamento. No livro O ponto do desequilíbrio , 1
partir para 800? Se uma loja já é ótimo, por que duas? É necessário ter
cuidado com esses impulsos. Uma pessoa solicitou minha opinião sobre abrir
ou não uma segunda loja na cidade vizinha. Aí perguntei se a sua atividade
dependia muito da presença dela dentro da loja. Diante da resposta afirmativa,
fiz ela ver que não poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo. Ela mesma
concluiu que não era importante abrir a filial, sendo melhor realmente
aprimorar sua loja atual.
Às vezes a falta da experiência ruim, de ter levado um tombo, leva a criar
problemas desnecessários. Como já levei alguns tropeços, aprendi bastante
como essas coisas funcionam. Todos os passos que se dão no comércio têm
que ser bem pensados, é bom fazer mentalmente uma simulação da
repercussão de cada atitude para melhor avaliar as novas situações. É incrível,
mas há pessoas teimosas que insistem, mesmo depois de errar. Um amigo
colocou uma filial em Erechim e não deu certo; mesmo assim resolveu abrir
outra que seria a melhor em Carazinho, só que escolheu o ponto errado. Ele
perdeu muito dinheiro porque não pensou bem quanto custaria se não desse
certo. Óbvio que as pessoas sempre pensam que tudo dará certo, mas é
preciso fazer cálculos para a eventualidade de dar errado. Há uma pergunta
que o lojista tem de se fazer: “Se der errado, tenho suporte para voltar atrás e
recomeçar?”
A ousadia é típica da política, em que há muita demanda e a
responsabilidade não é muito grande, nota-se que há muitas benesses
prometidas que depois não são concretizadas. Na área privada o exemplo
recente mundial é o que a área automobilística americana assumiu de passivo
previdenciário com os aposentados. O caso peculiar é o da GM que está
perdendo a liderança para a Toyota por causa de um erro: grandes sindicatos
dos aposentados obtiveram vantagens excepcionais como médico, dentista,
várias outras benesses e um bom dinheiro. É preciso lembrar que a
expectativa de vida é alta nos Estados Unidos. Pois bem, os últimos cálculos
apontaram que isso significa US$ 2 mil a mais de custo num automóvel
fabricado nesse país. Nesse contexto, os japoneses que perderam a 2ª Guerra
Mundial, que sofreram muito de 1945 para cá, cujo país é obrigado a importar
quase tudo o que consome e particularmente não tem igual encargo, chegaram
ao mercado americano com um carro menor, mais barato e menor consumo de
gasolina. Tudo isso tinha o carro, fora a qualidade, inserta nessa questão do
conhecimento, e a pulverização do conhecimento em toda a cadeia, coisa que
o americano não tinha, sempre foi de cima para baixo, embora a nova geração
de empresários tenha mudado. Na área automobilística, Detroit se sentia o
centro do mundo; os carros tinham cinco metros de comprimento, não
poupavam gasolina e os motores eram grandes. Nesse contexto, os japoneses
estão tomando conta, enquanto os americanos não sabem mais o que fazer
para competir.
Compras
PÚBLICO-ALVO
MIX DE PRODUTOS
PORTFÓLIO DE PRODUTOS
FAIXA DE PREÇO
PARCERIA
SAZONALIDADE
PROGRAMAÇÃO
VARIEDADE × QUANTIDADE DE PRODUTOS
OS LIMITES DA VARIEDADE
NEGOCIAÇÃO
A COMPRA, NA MINHA VISÃO, é tão importante que escrevi um livro a
esse respeito. Geralmente a compra é um tabu, todos se consideram o melhor
comprador, querem comprar pelo menor preço e vender pelo maior. O
interessante é que corriqueiramente o comprador só enxerga o exemplo de
quem está melhor e deseja chegar ao mesmo patamar. A compra é o início do
processo no negócio e é meio mistificadora. O importante é se policiar
constantemente para ser profissional e não um comprador emocional. Existem
coisas sutis a serem observadas, pois comprar significa poder. Além disso, é
bem mais fácil comprar do que vender, a compra só depende da pessoa e a
venda depende de o outro aceitar o que se deseja vender. Ela pode ser
enganadora, malandra, o endividamento do comerciante não acontece porque
ele vendeu mais, e sim porque comprou em demasia.
Para o ato de compra há certa compulsão, principalmente porque o
mercado está orientado para isso. Basta ver a quantidade de propaganda para
cada novo modelo de automóvel, existe todo um processo de incentivo ao
consumo dessa mercadoria. Lembre-se do aparato feito em cima das provas
da Fórmula 1 para vender uma Ferrari, que no caso aqui é um símbolo, pois o
que há é uma cadeia descendente que vai até o Fusca. Para quem nunca teve
um carro, o Fusca é a sua Ferrari. Criou-se um clima enorme em cima do
automóvel, um bem que em regra todos desejam porque dá status, permite
locomoção rápida, dá liberdade de movimento. De certa forma, isso ocorre
também com a roupa, pelo fascínio que criam as mulheres maravilhosas
desfilando num clima fantástico, em situações irreais, mexendo com o
imaginário das pessoas. Tudo envolve o ser humano e dá a propensão para
consumir. Quem analisa os produtos que vão para um carrinho num
supermercado fica impressionado, há quase só potes, só embalagens. Em
muitos casos a embalagem vende mais que o produto em si. O irônico é que
antigamente havia poucos produtos, e comia-se tão bem, talvez porque a mãe
cozinhasse com carinho. Antes o pão era feito em casa, havia dois ou três
tipos, mas hoje existe pão de todos os tipos.
O mundo está direcionado para esse consumismo, as crianças crescem com
esse tipo de direcionamento. Então, a compra tem essa mistificação, e como o
lojista é vulnerável a essa circunstância deve cuidar muito na hora de
comprar. O empresário que não se policia acaba sendo pego de surpresa, faz
compras influenciado pelo momento, não age de forma racional, adquire o
que não necessita ou compra demais, seja pela pressão da sociedade ou até
por certa vulnerabilidade humana.
Em alguns ramos é mais fácil comprar. Farmácia é um deles, os produtos
estão cadastrados e, à medida que saem, são repostos. A venda é a partir de
um receituário médico, não tem muito que inventar, embora tenha me
deparado, quando estive em Manaus no final de 2007, com uma farmácia que
vendia cerveja, refrigerante, comidas diferenciadas e até sorvete, nunca tinha
visto coisa igual. Em Cascavel uma farmácia vendia, entre outros produtos
que não medicamento e perfumaria, leite longa vida e carvão para churrasco.
Para a empresa ser lucrativa, precisa cuidar dos produtos com que trabalha.
Devem ser produtos que tenham rotatividade, rentabilidade, que integrem um
mix bem definido, produtos que o cliente compra e volta a comprar. A
austeridade na hora de comprar é fundamental e não tem disciplina acadêmica
que fale sobre isso, não conheço faculdade que ensine a comprar. Cursos de
vendas existem à vontade, eu inclusive já fui professor em um deles;
entretanto, de curso com uma matéria específica denominada “compra” nunca
ouvi falar. Há cursos sobre logística, sobre materiais, mas nada que diga como
comprar. Quando lancei meu livro A arte do varejo - O pulo do gato está na
compra, o retorno que tive foi de que se tratava de algo inédito, sem paralelo.
O empresário deve ter cautela ao comprar, deve se programar. Para isso há
uma série de fatores que precisam ser levados em consideração, como
abordaremos logo adiante. São eles: público—alvo, mix, sazonalidade,
parceria, faixa de preço, portfólio, entre outros. São regras básicas que podem
levar o empresário a ter certa disciplina na hora de pegar o seu dinheiro e
aplicar na aquisição de mercadorias. Depois de feita, a compra é irreversível:
o produto está dentro de casa e sem dúvida deverá ser vendido, mas essa
decisão não é mais do lojista, é do cliente. Comprar é decisão só do lojista,
porém vender é decisão que envolve a sua vontade e a do cliente. Por isso,
para tudo, é fácil comprar e difícil vender. Sempre comento que comprar
ações é fácil, mas vender é mais complicado e até depende do mercado.
Vender produtos como soja é uma arte, tudo depende do mercado
internacional, que é volátil. Vender sempre depende dos outros, comprar não.
A essência é a compreensão do lojista de que sua atitude precisa ser bem
pensada, bem organizada, bem programada, pois como já dissemos 50% do
lucro é a boa compra. Quem compra mal dificilmente consegue vender bem,
dificilmente terá lucratividade. O princípio do negócio é comprar bem.
PÚBLICO-ALVO
Quando o empresário define o público-alvo, sinaliza a quem venderá, para
onde deve se direcionar, ou seja, seu negócio estará definido em função desse
público: o ponto onde será a loja, o tipo de loja, de mobiliário e de
funcionário que será recrutado. O público-alvo determina praticamente toda a
loja, mas ele só é definitivo na hora em que o lojista for comprar. Quem
montou todo um negócio em função de um público na hora da compra deve
pensar nele. Quem se posiciona para trabalhar com um público de faixa de
renda mais alta, os produtos oferecidos têm que ser para esse tipo de cliente;
quem decide atuar para público feminino só poderá ter na loja produtos
femininos, não adianta inventar no momento de comprar, misturar outros
produtos internamente.
Então, a primeira regra básica na hora da compra é a de se ater ao público-
alvo. O lojista montou um modelo que deve ser seguido na hora da compra.
Quando for adquirir as mercadorias, ele deve ter em mente que está
comprando para as pessoas para as quais definiu que iria trabalhar.
MIX DE PRODUTOS
Para seu público-alvo o lojista deve definir um mix de produtos a ser ofertado.
Quem monta uma loja de calçados cujo público-alvo é de renda baixa tem de
definir com que segmento vai trabalhar: masculino ou feminino, infantil e/ou
bebê? Ou com todos? Quem vai trabalhar com o segmento masculino deverá
ter na loja modelos sociais, alguns mais clássicos. Terá de oferecer também o
tênis, o chinelo e a sandália. No início, o mix pode até ser em função do
discernimento do empresário, que às vezes pode buscar um soft ou alguma
empresa de consultoria. Mas é mais importante o próprio lojista ir
conhecendo seu negócio a partir da sua experiência e ir corrigindo, à medida
que as coisas acontecem. Por isso, o mix inicial é um, e o mix com o qual
continuará trabalhando será de acordo com aquilo que o cliente for
expressando.
O mix pode ser mais aberto ou mais fechado. Pode-se trabalhar com
variedade mais ampla ou mais fechada de mercadorias, depende da maneira
como o empresário deseja desenvolver seu negócio. Quem trabalha com
muita variedade corre o risco de ter muito saldo e não ter profundidade na
hora da venda, enquanto quem tem menor variedade trabalha com um mix de
maior profundidade, isto é, maior quantidade por tipo de produto.
Dependendo do setor, às vezes, é mais importante ter variedade; outras vezes,
profundidade é melhor, quem define é o lojista.
Há certas mercadorias, por exemplo, que as pessoas compram aos pares,
como é o caso de fronhas para travesseiros. Quem tiver na loja só modelos
diferentes não venderá a um casal. Mas também são produtos adquiridos
combinando, por isso às vezes é saudável fazer combinações dentro do mix:
lençol que combina com a fronha, que por sua vez tem o tamanho certo do
travesseiro; cortina que combina com a capa do sofá ou com o tapete. Ou seja,
para vender combinações, é preciso oferecê-las, isso também faz parte da
análise do mix. Portanto, ele pode ser mais complexo na medida em que o
empresário achar que essa complexidade é interessante em função do ramo
adotado e do público-alvo.
Há esquemas de mix mais simples e mais complicados. Para quem trabalha
com moda é um pouco mais complicado porque, em regra, o consumidor
masculino, por exemplo, vai querer a gravata que combina com a camisa, a
camisa combinando com a calça, a calça combinando com o sapato e este
com a meia. A mulher quer que a bolsa, os brincos e o colar combinem com a
roupa. Certas combinações geralmente devem ser oferecidas para poder
vender. Outros produtos não precisam disso porque vendem isoladamente.
Quem vende prego não precisa oferecer complementação de mix muito
efetiva, mas tem de ter os tamanhos procurados.
Essa é uma das razões, entre outras, de falarmos em vocação. Sem ela
dificilmente há habilidade, vontade e persistência para montar algo tão
complexo. A vocação é importante, quem a tem para lidar com sapato pode
ter certeza de que obterá sucesso. Sabe disso quem conheceu o Oldermes
Goelzer de Passo Fundo, dono de uma loja de calçado que dedicou sua vida
ao ramo. A questão da vocação na hora do mix é importante e uma das coisas
que dá a cara da loja. A identidade da loja é dada pelo mix. Às vezes achamos
que essa identidade é dada pela fachada, pela vitrina, pelos móveis internos,
mas não é. Tudo logo se torna comum, um prédio bonito chama a atenção no
início e rapidinho vira parte da paisagem, pouco aparece. A fachada da loja
perde-se, mas o mix não, é perene. Daí a necessidade de sempre atualizá-lo,
pois ele é a cara da loja, é o que leva os clientes a comprar. Se há uma padaria
que faz um tipo de pão de queijo diferente, por exemplo, a pessoa vai lá
atraída por ele, não pela fachada ou pela vitrina.
PORTFÓLIO DE PRODUTOS
Portfólio de produtos é uma técnica que aprendi e da qual gosto muito. Com
ele dividimos o que vendemos em cinco tipos de produtos: Interrogação,
Estrela, Caixa Registradora, Problema e Locomotiva . É um modo de o
lojista classificar seus produtos pelo desempenho em vendas.
Quando se compra um produto pela primeira vez, ele é uma interrogação e
só com o tempo se descobre se ele vende ou não. Por isso é preciso cuidado
na compra de produtos novos, é preciso fazer uma experiência, um
laboratório, comprar no início dez peças, por exemplo, e, se o resultado for
bom, aí sim adquirir maior quantidade. Um primo na Itália, que é vendedor
ambulante de calçados nas feiras livres oficiais, disse-me que para introduzir
um produto novo primeiro ele vai ao atacadista e compra um pouquinho de
cada um para ver qual tem melhor saída e somente depois do teste compra
direto da fábrica. Se ele que tem um caminhão para a venda ambulante faz
isso, por que nós aqui não devemos fazer? É uma fórmula de o empresário
não entrar em “fria”. Veja, quem compra cem peças que não vendem tem cem
problemas sérios; quem compra dez peças para experimentar e não vende tem
só dez problemas e isso, em regra, é suportável. Multiplique isso pela
quantidade de novidades que surgem pela quantidade de produtos que se
devem colocar na loja para ter uma ideia do tamanho do risco, que sempre
está presente.
Um produto interrogação, se funcionar bem, vira estrela. É algo que brilha,
que é bonito, que aparece bem. Estrela é o produto que começou a brilhar na
loja, começou a beliscar, a vender, está dando resultados, ou seja, já houve a
compra, ele foi vendido, foi reposto e continua vendendo na reposição.
Geralmente um produto estrela passa à categoria caixa registradora . É a
mercadoria que não pode mais faltar no ponto de venda, porque vende todos
os dias, está sempre vendendo, com margem cheia, e não tem mais o que
testar. É mercadoria que tem continuidade. Existem muitos produtos
conhecidíssimos que são caixa registradora há bastante tempo, como é o caso
da fita scotch e das pilhas para lanternas, que sempre é preciso ter na loja para
não deixar de vender. Para cada ramo de negócio é saudável identificar os
produtos caixa registradora e ampliá-los.
Por outro lado, qualquer produto pode se tornar problema. Pode ser um
interrogação que entrou na loja e não funcionou; ele automaticamente se
tornou um produto problema. Pode ter sido um produto estrela e até caixa
registradora, que com o tempo envelheceu, ou foi substituído por outro no
mercado, a moda ou o conceito mudaram e deixou de girar, tornando-se um
problema. Ele deve entrar em promoção ou liquidação para ser retirado da
loja e fazer dinheiro para comprar outro produto com mais chances de vender.
E, por fim, temos o produto locomotiva. Quando se fala em locomotiva,
pensa-se em algo que puxa os demais, na máquina que puxa os vagões.
Locomotiva, então, é o produto que traciona, que faz os demais andar. Usados
para promoção, para atrair clientes, em geral, são baratos, pois com eles
deseja-se agradar o maior número possível de pessoas, com o menor custo.
São produtos de alto consumo, que os clientes consomem rápido e tendem a
voltar a comprar e que invariavelmente existe uma quantidade enorme de
pessoas que precisam deles, pois realmente chamam os clientes. Exemplos
deles são as meias femininas e masculinas e os produtos de higiene e limpeza
de que as pessoas sempre estão precisando. Quando se faz campanha com
essas mercadorias, sempre há quantidade enorme de clientes comprando.
Deve haver equilíbrio desses produtos no portfólio. Deve existir um
número x de produtos interrogação, porque há necessidade de sempre estar
colocando novidades no ponto de venda, de estar experimentando, mas é
necessário cuidar para que não haja uma quantidade excessiva. Calcula-se que
uma loja bem inovadora tem entre 10 e 15% de produtos interrogação, e entre
50 e 70% de produtos estrela e caixa registradora. Uma quantidade razoável
de produtos problema fica em torno de 5%, nunca acima desse percentual, e é
preciso cuidados permanentes, porque facilmente, com qualquer descuido, o
índice chega a 10 ou 15%. E os locomotiva, em termos de número, devem ser
poucos, mas terão maior profundidade, quer dizer, haverá maior quantidade
por mercadoria. São produtos de baixo valor e alto consumo que precisam de
grande quantia para chamar a atenção e em geral estão em pilhas ou cestos
promocionais.
Cada produto tem uma finalidade, as negociações com os fornecedores, as
quantidades, o mix, as faixas de preço deverão ser proporcionais aos objetivos
de cada classe. Os locomotiva, por exemplo, deverão ser bem negociados para
que sejam competitivos nas promoções. Os caixa registradora, de
preferência, não deverão estar presentes em muitas outras lojas, pois quanto
menor a concorrência nesses produtos melhor será a sua remuneração; além
disso, uma escolha primorosa de fornecedores é necessária. Os produtos da
categoria problema exigem atenção permanente, precisam ser bem
visualizados para ser vendidos.
O portfólio é uma rica e imensa estratégia de negócio. Deve estar sempre
na cabeça do lojista, recebendo a atenção devida para o retorno com
lucratividade.
Os produtos podem, ainda, ser classificados como a, b e c. O próprio dono
pode definir os critérios para essa classificação ser de acordo com o seu
negócio e seus objetivos. Os produtos c, por exemplo, são aqueles pelos quais
o lojista não tem mais interesse e por algum motivo não deseja mais
comercializá-los. Os produtos a são aqueles a que se dispensará a maior
dedicação, ou seja, são os carros-chefes, não podem faltar na prateleira sob
pena de perder vendas, pois são os que também dão mais lucro. Eles poderão
ter, além da dedicação maior do lojista e dos vendedores, um estoque maior.
E, por fim, os produtos b são os intermediários, a que o lojista dedicará
atenção um pouco menor que a dada aos produtos a, que são prioritários.
Com uma classificação que atenda à sua estratégia, o lojista,
periodicamente, fará levantamentos para verificar como anda o estoque:
quanto percentualmente em reais há para cada classe, qual a quantidade de
itens de cada um, a área ocupada na loja, a margem de cada um e assim por
diante. Isso possibilita um gerenciamento mais eficaz. No código do produto,
o lojista pode diferenciar cada classe, por código ou por cor da etiqueta, para
visualização fácil de todos os funcionários e otimização de atitudes.
FAIXA DE PREÇO
A faixa de preço é parte da venda e tem influência significativa na compra
porque o lojista deve se adequar a ela. E quem define a faixa de preço?
Sempre é o cliente, isso é fundamental, é a base do processo. Não é o lojista
quem define, ele apenas pode determinar o público-alvo. Ele define se seu
público pertence às classes C e D, se são mulheres até 25 anos; ele pode ser
até mais específico - somente médicos, por exemplo; pode ser um público
mais aberto ou fechado; pode ser bem exclusivo, pois hoje o varejo tem de ser
segmentado para ser lucrativo, pois é difícil ter um negócio aberto e ser
melhor do que os outros. Após definir o público-alvo, o lojista até pode
determinar com quais produtos vai trabalhar e predefinir uma faixa de preço
para começar a trabalhar, mas quem irá direcionar para onde caminhar com os
preços será o cliente.
O lojista coloca três faixas de preço, a, b e c para determinada mercadoria,
em determinado segmento e, se o cliente der preferência à faixa b, essa é que
deverá ser ampliada. Se, porém, ele optar pela c, vamos supor que essa seja a
mais barata, estará sinalizando que deseja algo ainda mais barato. Com isso,
além de reforçar a faixa b, possivelmente o lojista terá de criar uma faixa d e
até, provavelmente, eliminar a faixa a, se ela não tiver performance
conveniente. Isso significa que o empresário deve seguir o caminho que o
cliente mostrar, o que até pode ser contra os objetivos iniciais do comerciante,
mas, veja bem, monta-se um comércio para ganhar dinheiro e não para ficar
satisfeito com aquilo que pensa. O objetivo de quem abre uma empresa é
servir seus clientes, mas se acha que aquilo que está acontecendo o violenta, o
que às vezes realmente ocorre, pode e deve trocar de ramo, de público-alvo.
Só não adianta querer empurrar ao consumidor o que ele não deseja comprar.
Existem processos interessantes em termos de faixa de preço. Às vezes,
para determinado produto principal, o cliente exige algo melhor, mas para os
acessórios não se importa tanto. Também pode acontecer o contrário, ou seja,
o produto principal pode ser mais simples, mas o acessório deve ser mais
valorizado. Há pessoas que compram um automóvel caro e nem colocam
acessórios, outras adquirem um veículo usado e o floreiam todo. Há quem
compre um carro de segunda mão e gaste quase mais dinheiro nos acessórios,
mas é o seu prazer. Isso quer dizer que as preferências dos consumidores são
versáteis, diferenciadas e, diante dessa difersificação, o lojista deve ficar
atento e ver para onde o seu negócio está caminhando. Vejamos o que ocorreu
na linha de brinquedos. O fabricante mais forte se chamava Estrela, empresa
que sempre teve o conceito de vender produtos mais elaborados, mais caros e
para isso veiculava mídias fantásticas. O que ocorria com esses produtos
caros? O varejista obrigava-se a se contentar com margens baixas, já que, pelo
fato de existir mídia ostensiva, todos ofereciam produtos da empresa e a
concorrência era grande, mas os consumidores queriam produtos Estrela. Mas
isso, de certo modo, era imposto de cima para baixo. Então, quando entraram
no mercado os brinquedos importados e os brinquedos mais baratos, a Estrela
perdeu mercado significativamente. Portanto, não adianta ir contra a maré,
querer criar um mercado diferente daquele que existe na realidade. Brinquedo
é para criança, presenteá-la com um produto que custa $ 10, $ 20 ou $ 30
reais não é importante para ela, pois o preço não lhe interessa. Ela só vai
verificar se o que ganhou é gostoso para brincar, se lhe dá satisfação.
Mais: na linha feminina, os brinquedos em regra são mais caros,
principalmente quando se trata de bonecas. Quem analisar verá que uma
boneca algumas vezes dura mais que uma geração. É comum a mãe passar
sua antiga boneca para a filha, porque as meninas são mais cuidadosas,
ajeitam e guardam com carinho esse brinquedo. Em compensação, o menino
destrói no segundo ou terceiro dia o que ganhou de Natal, de aniversário, ou
no dia da criança. Então não adianta querer vender-lhe produtos caros, o pai
sabe que a tendência é ele destruir o brinquedo no dia seguinte. Assim, quem
abrir uma loja de brinquedos deve ficar atento a essa peculiaridade, não
esquecendo que quem determina a faixa de preço é o consumidor, o mercado.
Não conheço segmento em que se possam direcionar as ações para aquilo que
o cliente não quer. Claro, existem alguns visionários que abrem negócios bem
diferentes e descobrem um mercado novo. Mas eles apenas descobrem esse
mercado novo.
A faixa de preço é apenas uma adequação do negócio ao mercado
consumidor que possibilita ao lojista ter maior rentabilidade, menos saldos
para liquidar, menos produtos parados envelhecendo na prateleira.
Antigamente essa questão estava mais centrada na sensibilidade do
empresário. O meu avô tinha loja e sabia qual tipo de tecido saía mais no
interior. O chitão era o que mais vendia, por servir para fazer calça para
trabalhar e lençol de cama. Sabia, também, que a casimira era de consumo
restrito, por ser mais cara e por servir para fazer terno para casamento ou
outra festa importante. Antes era a percepção do empresário que direcionava
o negócio, hoje há mecanismos mais fortes, há um sistema computadorizado
que permite fazer um trabalho mais científico: podem-se definir os produtos,
cadastrá-los classificá-los por faixa de preço e ir acompanhando o
desempenho das vendas. Na Grazziotin, temos um preço médio de venda, um
preço médio de custo e um preço médio do nosso estoque, que
acompanhamos. Verificamos, por exemplo, se o preço médio do estoque é
compatível com o preço médio pelo qual vendemos a mercadoria e isso só é
possível com um sistema de software. Nós criamos nosso sistema, mas
acredito que no mercado adquire-se algo semelhante com facilidade.
A cada dia a faixa de preço está mais presente, ela se torna mais
importante. Antigamente havia poucos produtos, a variedade de mercadorias à
disposição dos lojistas era pequena, mas hoje é enorme. Antes uma loja com 8
ou 10 mil itens satisfazia uma cidade, mas atualmente as cidades têm várias
lojas que possuem 8 ou 10 mil itens. Desse modo ficou mais importante,
agora, fazer esse trabalho. Antes essas coisas até cabiam na cabeça do seu
Valentin Grazziotin, meu avô, hoje só cabem na cabeça de um IBM.
PARCERIA
Recentemente foi noticiado que o Grupo Pão de Açúcar, um dos maiores
varejistas do país, está incentivando a parceria com seus fornecedores, algo
que nos dias de hoje está se tornando importante. Na área automobilística,
chega a acontecer de as montadoras - caso da GM em Gravataí, e da Ford em
Camaçari - preferirem que as empresas fornecedoras de peças e componentes
estejam ao redor da linha de montagem. Passou a fase de comprar uma peça a
mil quilômetros, agora é melhor que ela esteja ali, junto da fábrica, num
sistema novo, completo. Assim, a GM ou a Ford e seus sistemistas têm
integração forte para um objetivo ser alcançado: vender automóveis. Se faltar
peça numa fase, o carro não fica pronto; se alguém não tem o melhor
desempenho para obter o melhor produto pelo menor preço, vende menos
veículos. É um sistema de parceria completo. Esse é um exemplo, mas de
modo geral a parceria é algo importante em quase todos os setores da
atividade empresarial.
A internacionalização dos produtos e da economia e a facilidade do
comércio mundial tornam o jogo entre fabricante e varejista mais aberto.
Antes ficava difícil saber o preço das mercadorias, hoje é fácil, até porque as
moedas se relacionam e não há dificuldade para saber o preço do algodão, por
exemplo. Também é possível saber sem dificuldades, no caso de uma
camiseta, qual o processo de fabricação para chegar à malha e, inclusive,
descobrir o custo até chegar ao produto final.
Como é mais fácil chegar ao preço dos produtos, quase tudo fica
comoditizado, isto é, ao comprar camisetas do fabricante a ou b, o preço final
do produto será x, com variável muito pequena. Como o acesso ao melhor
maquinário barateou, está praticamente disponível a todos os industriais, a
questão da qualidade não é mais um diferencial tão grande quanto antes,
quando poucas empresas dominavam a tecnologia para fazer, por exemplo, a
melhor camiseta. Nos televisores, algumas peças são feitas pelos mesmos
fabricantes e somente as marcas dos aparelhos são diferentes. Quando alguém
descobre um novo modelo ou tecnologia, em regra, já vende aos demais
porque sabe que aquilo deve ser expandido ao máximo, uma vez que hoje a
durabilidade de uma inovação é pequena. Dessa forma, atualmente, tudo
facilita o estabelecimento de parcerias. Quando há mais conhecimento, o
diálogo entre lojista e fabricante fica mais objetivo, permitindo chegar a um
produto final em que eles e o consumidor ganham.
Trabalhando com um fornecedor hoje, outro amanhã, um terceiro depois de
amanhã, mesmo que consiga melhor preço, o lojista não consegue estabelecer
maior credibilidade e relação de confiança, porque o fornecedor não tem
segurança de quando voltará a vender de novo. Então, por que o fornecedor
vai se dar ao trabalho de fazer o máximo por esse tipo de cliente? Hoje em dia
muitas vezes é mais importante a relação de confiança que deve existir entre o
fornecedor e o varejista. A fidelidade existente entre os dois, a garantia da
entrega do produto, a garantia da oscilação da demanda que pode ser
absorvida pelo varejista e pelo fabricante ao mesmo tempo são importantes
porque isso dá ganho. Um fornecedor que entrega mil peças por mês, por
exemplo, já há quatro ou cinco anos a um lojista, não se importará se, em
determinado mês, ele comprar apenas 800 e em outro adquirir 1.200, pois a
média está mantida. O fabricante, na sua programação anual, registra que a
loja compra 12 mil peças por ano. Como há a sazonalidade, é importante que
o fornecedor aceite isso, no mês em que o lojista só compra 800 ele faz essa
entrega. Mas se no mês seguinte forem necessárias 1.200 peças, o que
significa 50% a mais, o fabricante também garante o pedido. Então, em geral,
o preço fica em posição secundária porque ele é, em muitas circunstâncias,
mais ou menos universal.
Para estabelecer a logística, também é importante um fornecedor parceiro e
constante, pois se o lojista descobre uma maneira como essa dos sistemistas
da indústria automobilística, em que as peças estão próximas da montadora,
pode baratear o processo. Numa loja como a Grazziotin, que tem 5 mil itens
em linha, talvez seja necessário ter 300 ou 400 fornecedores e, se existirem
parcerias com eles, haverá maior garantia de que receberá o produto certo, na
hora na quantidade certa, nas especificações corretas e pelo preço conveniado.
Para os fornecedores será fácil fazer seus orçamentos assim como haverá
facilidade para o varejista fazer o seu, de forma que haja fluxo permanente e
constante das mercadorias, chegando ao ponto de venda e dali até o cliente.
Parece tão simples, tão óbvio ser parceiro, mas justamente nisso é que está
o problema. Se o empresário não cuida, o que é óbvio não acontece, aí é que
vem o pulo do gato. Em 2007 o Pão de Açúcar falou em fazer parceria, algo
tão óbvio que nem devia ser falado. Devemos considerar que, na rotina diária,
há uma tendência à infidelidade, pois o lojista é muito assediado por
incontáveis fornecedores. Quantos estão de olho no empresário que é bom
cliente de uma fábrica e compra milhares de peças por mês, só pensando em
abocanhar o pedaço de mercado que ele representa? O assédio é sempre forte,
pois quando alguém surge para assediar em geral chega com vantagens
adicionais, nem que seja só para tirar o concorrente do jogo e depois tentar
reverter. Nesse sentido sabemos que há problemas sérios no varejo, inclusive
de propina, isto é, o vendedor oferece um dinheiro ao comprador para que
troque de fornecedor. Parece simples, mas não é; por isso, deve haver controle
rígido. Na Grazziotin só definimos as parcerias após analisar mensalmente o
que cada comprador adquiria de cada fornecedor. Quando não havia
sequência mensal ou pelo menos bimensal de compra de cada fornecedor,
questionávamos por que aquilo acontecia e, assim, passávamos a cortar os que
não apresentavam essa sequência. Sempre conto que, em uma reunião com
compradores, solicitei que cada um dissesse quem era seu parceiro principal.
Uma compradora disse quem era o seu, e por incrível que pareça fazia mais
de seis meses que não comprávamos dele. E as compras deveriam ser
mensais, porque havia um fluxo de venda mensal do produto.
Falamos muito em parceria, mas acaba-se não aprofundando o assunto, por
isso é importante que o lojista, no seu planejamento, já defina quem são seus
principais parceiros, sendo avaliados dentro das necessidades e peculiaridades
do negócio. Lembro que quando comecei na Grazziotin os meus parceiros não
eram os mesmos dos concorrentes e isso possibilitava ser bem diferenciado.
Comprava colchões da Vulcan, empresa do Rio de Janeiro, enquanto os
demais revendedores do Rio Grande do Sul compravam da Trorion ou da
Piraspuma, duas empresas de Porto Alegre. O que acontecia? Eu podia
argumentar ao meu cliente que meu produto era diferente e melhor do que
aquele da concorrência. Enquanto os demais varejistas brigavam por causa de
preço, não tínhamos esse problema por vender um produto exclusivo. O
pessoal da Vulcan era parceiro de tal forma que entregava cargas completas
em Passo Fundo, sem frete, e sempre dizia: “Qualquer tipo de abordagem, de
oferta que for feita, nos comunique. Se puder, a gente banca”. E sempre
bancaram.
Com geladeiras fizemos uma parceria inédita com a General Motors, num
momento em que se comercializavam as marcas Springer, Consul - muito
forte -, GE e Clímax, esta última um produto mais barato. Todos esses
produtos eram “queimados” no preço pelos varejistas regionais e ficávamos
vulneráveis, sem conseguir ganhar dinheiro com essas marcas. Daí
contatamos a GM, fabricante do refrigerador Frigidaire, marca forte e famosa,
uma das primeiras que vieram para o Brasil e que só era vendida nas suas
revendas de automóveis, nenhum varejo comercializava esse produto. Fui a
São Paulo e fizemos um acordo, uma programação anual, e a Grazziotin
tornou-se um dos maiores vendedores da Frigidaire do país, e o único fora de
uma revenda de carro. E o que ocorria no ponto de venda? Não tínhamos o
melhor preço, mas tínhamos um produto diferenciado, o que foi possível por
causa da parceria. Lembro que a parceria incluiu uma procuração para o
gerente da GM aceitar nossas duplicatas e descontar sem que fossem
remetidas a Passo Fundo e ser assinadas. Foi uma quebra de nossas normas,
mas acabou dando certo.
Há quem diga que a parceria se dá apenas entre empresas grandes, mas não
é verdade. Na Itália visitei a rede de lojas Coin, que tinha também a rede
Oviesse, que deu origem à nossa Pormenos. E eles perguntaram de quem
comprávamos a roupa comercializada em nossas lojas. Estranharam termos
fornecedores a mais de mil quilômetros de distância, pois eles compravam de
fornecedores que estavam próximos das sedes. Os empresários das
redondezas entregavam as mercadorias sem custo de frete no depósito e com
um detalhe interessante: se sobrasse algum produto, o fornecedor recebia de
volta no final da estação e comercializava-o nas feiras livres, muito comuns
na Europa. Eles tinham parcerias com pequenos fornecedores locais e nós
hoje praticamos isso, embora no Brasil tal procedimento ainda não é muito
comum, mesmo sendo um negócio que qualquer um pode fazer. É importante
levar em conta que às vezes o pequeno fornecedor é quem tem o menor custo,
faz no fundo do quintal, ele mesmo entrega e, se o varejista concentra em
poucos produtos a sua compra, fica excelente para o fabricante, pois não terá
tanta variação na produção. Desse modo, o fornecedor consegue ter alta
produtividade com baixo custo além de apresentar um produto diferenciado.
Um segredo da lucratividade do varejo é, então, aumentar as parcerias e
reduzir a variabilidade de fornecedores. Com essa atitude é possível ter menos
custos, melhor logística. Haverá menos saldos e o cliente tenderá a se
acostumar com os produtos e retornar. Há um detalhe aqui a ser observado: se
o lojista vende sempre mercadorias de determinada marca, o seu cliente se
acostuma e vai à loja adquiri-las. Caso troque de fornecedor e o produto seja
mais ou menos semelhante, não haverá problema, mas se o produto não
estiver no padrão a que o cliente estava acostumado poderá ocorrer
transtorno. Tivemos um exemplo forte nesse sentido no Rio Grande do Sul
quando o supermercado Big, do Grupo Sonae, comprou o Nacional, uma rede
local com lojas pelo interior. Dentro de sua estratégia, o Sonae começou a
comprar produtos de fornecedores de fora do estado, trazendo mercadoria
desconhecida dos consumidores, e, na medida em que o consumidor passou a
não encontrar erva-mate, farinha e outros produtos de marcas a que estava
acostumado, em muitas lojas, as vendas caíram pela metade, segundo
informações da época.
Não sei por que o brasileiro não tem esse espírito de parceria, esse espírito
da continuidade. Trocamos com facilidade, pois parece que sempre estamos
vendo do outro lado da cerca alguma coisa melhor do que a nossa, queremos
apenas vantagens imediatas sempre. Nem tudo é assim, certas coisas só dão
ganho após determinado período, após alguma perenidade. Há remédio, por
exemplo, que começa a fazer efeito apenas depois de alguns dias de uso. Em
geral, acho que até o ser humano tem a tendência a trocar muito. O Brasil não
tem como forte o conceito de parceria; acho que, como há muita
informalidade entre nós, tendemos a ficar descrentes. Quem é formal mostra
seus números e logo chega a uma conclusão. Assim, como acreditar em quem
não tem esses números? Creio que isso também influencia na dificuldade que
temos de fazer parcerias. Quando começamos a GZT, nossa importadora,
sempre insisti para fazermos parcerias, sempre batendo na tecla da prestação
de serviço, das necessidades dos clientes, sem discutir em demasia o preço.
Entretanto, sempre foi difícil. Agora, porém, parece que, no Brasil, fala-se
mais nisso, como é o caso de um grupo tão importante quanto o Pão de
Açúcar, anunciando que incentivará as parcerias.
A Grazziotin tem história nesse sentido, somos pioneiros em muitas coisas.
Fomos uma das primeiras lojas a praticar venda a crédito no estado, a ter
computador, a ter depósito centralizado de mercadorias, a criar um Centro de
Treinamento formal com gerente de Recursos Humanos e depois uma
diretoria, estamos entre as primeiras a abrir o capital - em 1978 - e a parceria
foi algo que começamos há 40 anos. Isso não era comum, as pessoas não
entendiam por que comprávamos só da Pozza e da Todeschini, por exemplo.
Por que só da Todeschini? Porque ligávamos de manhã pedindo um caminhão
de mercadorias, e ela desviava do comprador eventual e nos atendia. Fazia
isso porque comprávamos todos os anos, tínhamos programação de compra
anual.
Quem nos ensinou a fazer programação foi a GM. Foi interessante. Com as
geladeiras eu programava sempre para dois, três meses e um dia o
representante da General Motors disse-me que a fábrica funcionava o ano
inteiro e que a minha programação deveria ser anual. Estabeleceu quantidades
grandes e de início não gostei, mas ele ponderou: “Isso é o que estamos
objetivando. Se a Grazziotin não conseguir cumprir as metas, reformulamos,
mas pela situação existente vocês têm condições de comprar o que
definimos”. Gostei. No ano seguinte comecei a programar.
Ao representante da Arno, por exemplo, disse o que pretendia e pedi preço
melhor. O que aconteceu? Nunca impedimos que empresas de quem
comprávamos muito vendessem a outros, mas naturalmente ela desistia de
entregar mercadoria para quem comprasse muito pouco, a fim de não
atrapalhar nossas vendas e a ela própria, já que os outros varejistas atuavam
com várias marcas.
A Grazziotin tornara-se importante para o fornecedor e absorvia a quantia
programada para aquele mercado. A Elgin só vendia a nós, pois preenchíamos
a cota prevista para o Rio Grande. Os demais varejistas vendiam Vigorelli,
Singer. E o que ocorria? Passávamos a ideia de que a Elgin era a melhor, e em
poucos locais do Brasil acontecia isso, inclusive a líder de mercado era a
Vigorelli, que era mais agressiva, fazia mais propaganda.
Esse tipo de parceria é boa também para o fornecedor. Quando a venda da
Elgin caía, ela aumentava a verba de propaganda, treinava os vendedores,
inventávamos promoções. Numa época íamos ao interior com máquinas de
costura em cima de um caminhão e depois da missa fazíamos demonstração e
oferecíamos até cursos para agricultores. Vendemos milhares de máquinas
desse modo. Tínhamos condições excepcionais de prazo e transferíamos isso
ao cliente.
Outro exemplo: para quem tem frota de caminhões é bem melhor ter
veículos apenas de uma marca, como muitas vezes observamos. Em nossa
empresa agrícola só temos plantadeiras Semeato e nossos tratores são Valtra,
porque nossos funcionários já sabem como lidar com esses equipamentos, e é
mais fácil a assistência por parte dos mecânicos. Pratique parceria e terá mais
lucros.
SAZONALIDADE
A sazonalidade climática, que é a mais forte e mais importante, não depende
do empresário e sim de São Pedro. As necessidades das pessoas mudam
bastante da estação fria para a quente. No inverno, precisamos de lareira e
aquecedor; no verão, de ventilador e refrigerador. A sazonalidade de clima é
fundamental para a escolha do mix de produtos e para as parcerias, pois
quando o frio é intenso e o lojista precisa atender a maior demanda só vai
conseguir isso com seu parceiro.
A sazonalidade está dentro da programação de compra com vantagens e
desvantagens. Ela oferece maior oportunidade de venda: quando esfria vende
para o frio, quando esquenta vende para o calor. Mas é ainda um problema,
porque o lojista deve se preparar dentro de um orçamento de compra e de
venda bem ajustado para evitar muita sobra, caso não ocorra frio, por
exemplo.
Existe também o conceito de que, se o lojista repicar, repor o estoque, ele
terá problemas, isso é comum. No verão, por exemplo, se ocorre demanda
enorme por ventiladores porque o calor está forte e o dono faz nova aquisição
do produto para repetir as vendas, estas, em geral, não acontecem, ou seja, o
ventilador repicou e ficou para vender no outro ano. Muito comum, isso
aconteceu conosco no último verão apesar de toda nossa experiência. É
aquele ufanismo, porque já venderam mil unidades desejam vender mais mil,
o que não ocorre. Tanto é que agora decidimos: compramos ventiladores até o
dia 5 de dezembro, depois disso não mais, nem que seja preciso. Neste ano
não haverá repique porque está dentro do planejamento. Vamos aguardar se
isso será praticado ou não, porque quando chega a hora “H” as pessoas
esquecem. É difícil controlar a emoção e os compradores repetem o mesmo
erro.
A sazonalidade oferece oportunidades e problemas. O importante é saber
aproveitar ao máximo as oportunidades e para isso o lojista precisa entrar e
sair cedo. Entrar, por exemplo, com produto de inverno antes de a estação
começar e com grandes quantidades para aproveitar ao máximo o início da
estação fria, pois as pessoas estão motivadas e até ansiosas para comprar e
trocar alguns equipamentos, como o ar condicionado que já não funciona tão
bem. O lojista deve se preparar com antecedência para suprir a demanda
inicial, que é a hora em que vende com margem cheia, e essa primeira venda
de início de estação dá uma amostra da tendência do mercado no período. No
caso das roupas, ela sinaliza para a cor que será mais procurada, mostra se um
produto novo terá aceitação ou não. Quando o lojista consegue boa
sinalização no início da estação, até pode ampliar a venda de determinado
produto por meio de nova remessa, mas caso aconteça muito no final ou no
meio da estação não haverá tempo para isso, porque o inverno é curto. No
verão, o lojista consegue fazer isso melhor, só que há nuanças, ou seja, calor
módico até meados de dezembro e o alto verão a partir daí, até fevereiro. As
mercadorias que se vendem na primavera e no início do verão não são
exatamente as mesmas que serão vendidas no alto verão. Camiseta de manga
curta, por exemplo, vende muito no início da estação, mas no forte do calor
vai se vender mais camiseta regata. Em geral é mais tranquilo trabalhar o
verão do que o inverno, o período de calor é mais longo e mais certo,
enquanto o frio tem suas falhas.
É importante ter em mente que para um volume maior de vendas não se
pode ficar apenas com os produtos permanentes, aqueles que vendem todo
dia, no ano inteiro, pois eles não têm pico. Deve-se, então, saber aproveitar a
sazonalidade climática para elevar a lucratividade.
Além da climática existe a sazonalidade das festas, do calendário. O ano
começa com demanda alta de material escolar, depois vêm as compras de
carnaval, que no Rio Grande do Sul não são fortes mas nas cidades mais para
o Sudeste e Nordeste significam bastante em vendas. A seguir vem a Páscoa,
hoje sinônimo de chocolate e coelhinho, e no mesmo período acontece o dia
das mães, dois momentos de impulso de consumo. Depois vêm o dia dos
namorados e o dia dos pais. Para quem vende brinquedos, o dia da criança é o
primeiro grande momento do ano em vendas, situação que se repete depois,
no Natal. Por último, há o evento máximo do Natal que, no Brasil, tem uma
peculiaridade por causa do 13° salário. Aliás, podemos considerar o 13°
salário uma sazonalidade estrutural porque, na medida em que a pessoa
recebe o dobro no final do ano, ela tem a tendência de gastar três vezes mais.
Em geral as vendas de dezembro, em alguns ramos de negócio, são o dobro e
até o triplo de um mês normal. A sazonalidade do calendário requer bom
planejamento, bela logística, mix diferenciado, pois em cada momento há
necessidade de mercadorias diferentes. E o que vende mais no Natal? Em
geral produtos de menor preço, isso é uma tendência. Antes dava-se presente
apenas aos filhos, agora presenteia-se sogra, genro, afilhado, amigo. A pessoa
compra dez coisas na loja, solicita dez pacotes para presente e a fatura não é
tão alta.
A sazonalidade é uma dádiva para quem sabe aproveitá-la, inclusive
elevando a lucratividade, porém tem de haver preparação prévia com estudos,
análises e planejamento baseados nos anos anteriores e nos comportamentos
atuais que podem exigir mudanças pontuais. Há sempre o risco de sobras, o
que deve ser a maior preocupação do empresário.
PROGRAMAÇÃO
Falamos muito atualmente em planejamento familiar e isso não deixa de ser
uma programação, ou seja, o casal programa ter um ou dois filhos e conta
com a natureza para ajudar. Na empresa a natureza não ajuda, quem deve
fazer a programação são as pessoas e há necessidade forte de o empresário
trabalhar nela. Para quem tem parcerias e faz compras periódicas, pode ser
todo dia, como o caso da carne no supermercado. Pode ser toda semana ou
todo mês, precisa da programação, para que seus fornecedores se planejem e
garantam a entrega da mercadoria. No caso da carne para o mercado, o
frigorífico precisa da garantia de que a programação assumida com o
pecuarista permita o processo em que o abate da rês e a entrega da carne
tenham fluxo tranquilo.
Geralmente a empresa conhece sua venda anual, suas sazonalidades para
poder programar compra de médio e longo prazo. Quando o varejista faz isso,
o seu fornecedor também terá condições de realizar um programa semelhante
para aquisição da matéria-prima, adequação de equipamentos e, ao mesmo
tempo, fluxo financeiro. A programação é garantia de normalidade no
funcionamento da empresa, quem consegue fazê-la funciona melhor. Há
fornecedor, como é o caso da Grendene, que tem poder para exigi-la e quando
o lojista não programa não recebe a mercadoria. Como ela produz quantidade
x de chinelos que é alocada no Brasil e faz um programa de produção que tem
um ciclo de acordo com o verão, por isso precisa ter tudo bem ajustado.
Ainda mais que há variedade enorme de produtos. Imaginem, por exemplo, se
fosem 20 modelos em cinco tamanhos e em cinco cores para analisar, a
quantidade de produtos que precisaria ser produzido.
O lojista deve buscar fazer uma programação com o pequeno fornecedor,
pois este também necessita se programar. É complicado fazer o pedido de mil
peças num mês e no seguinte não comprar nada do pequeno. A programação
dá ao lojista mais segurança na hora de receber a mercadoria, o que é hoje
algo importante e também dá poder de negociação mais consistente. Além do
mais, a fábrica não tem apenas um cliente e a tendência é de ela dar
prioridade a quem tiver programação mais efetiva, a quem lhe dá prioridade.
Esse procedimento garante o abastecimento da loja e permite estabelecer um
plano de vendas consistente. Quem tem mercadoria de Páscoa fará boa
campanha se tiver boa programação com a fábrica de chocolate. Para quem
faz campanha de cama, mesa e banho, como a Grazziotin, é indispensável ter
fornecedores que tenham ideia do que ela precisará e em que período do ano.
Essa campanha é em agosto, mas três meses antes entra um pedido com
quantidade bem maior do que o normal de mercadorias, e os fornecedores
atendem. Se solicitássemos de uma hora para outra essa quantidade maior de
produtos, dificilmente seríamos atendidos.
A programação é parte da atividade empresarial. Na fábrica, está no aspecto
da produção; no varejo, na entrada do produto na hora em que o cliente pede.
Essas programações podem ser feitas inclusive de acordo com as
sazonalidades da empresa, estabelecendo entrada forte de mercadoria no
início da estação e mais devagar depois, ou até antecipando compras como
fazemos. Com as blusas básicas de malha para o inverno, a Grazziotin
programa para a GZT em março, abril, maio e junho e ela começa a fabricar a
partir de outubro, entrando em dezembro até janeiro, época em que as
malharias estão com menos serviço e se faz facção com preço diferenciado. A
programação da Grazziotin casa com a da GZT, a programação da GZT casa
com a do faccionista, cuja programação casa com a do fornecedor da matéria-
prima.
Sabemos que não há um hábito forte de fazer programação no Brasil, a
maioria dos empresários não faz, mas ela dá arremate à parceria. Programação
e parceria se complementam; em geral, quem tem parceiros programa, e uma
coisa quase se confunde com a outra. Acredito que o varejo, para ser
lucrativo, tem de ter um processo de parceria forte e um processo de
programação bem equacionado, pois sem isso corre-se o risco de não ter
determinada mercadoria na época que o lojista sabe que vende. A
rentabilidade do negócio vem do que se faz além do normal. Sabemos que até
o ponto de equilíbrio o negócio é zerado, o que se vende acima disso
possibilita uma alavancagem grande de lucro em função de que sobre aquilo
já não existe custo. Então, se a programação possibilita ganhos de 5 a 10% de
vendas, isso poderá representar 30 a 40% de lucro para o empresário. Como
defendemos que a boa compra é 50% da venda, ela envolve uma boa parceria
e uma boa programação.
VARIEDADE × QUANTIDADE DE PRODUTOS
É preciso considerar que, mesmo para a variedade, há um limite. Dentro do
mix, define-se que o setor de moda masculina, por exemplo, terá 200 itens,
cálculo que abrange modelos, cores e tamanhos. Para isso é necessário ter
espaço adequado na loja; caso contrário, a mercadoria não chama a atenção.
Assim, definir a variedade depende também da disponibilidade de espaço,
porque sem aparecer para o cliente o produto não tem muita função. A
variedade depende ainda do modelo da loja, quem atua apenas com moda
masculina poderá comprar uma variedade maior do que aquele que trabalha
com moda masculina, feminina e infantil.
Outro detalhe é que em uma loja especializada o consumidor tende a pensar
que lá encontrará tudo o que se relaciona com a segmentação da loja. Uma
loja que trabalha só com parafusos, por exemplo, proporciona ao consumidor
a visão de que ali encontrará todos os modelos dessa peça. Agora, uma loja
que vende outros produtos inclusive parafuso não dá essa ideia; para o
consumidor é um estabelecimento com variedade de produtos onde ele
encontrará somente alguns tipos de parafusos. O que ocorre? Quem precisa de
um parafuso no sábado à tarde, para determinada tarefa, vai ao supermercado
e encontra algum que irá satisfazê-lo. Mas se o serralheiro necessitar de um
parafuso específico terá de ir a uma loja especializada, onde provavelmente
encontrará o que deseja ou fará uma encomenda ao lojista, que achará um
modo de garantir o produto, por entender ser sua responsabilidade fornecer
essa mercadoria.
A variedade depende também do público-alvo. No caso da loja de
parafusos, por exemplo, o dono deve saber que existem serralherias,
marcenarias, fábricas, montadores e, em princípio, deverá ter em estoque
mercadorias para satisfazer a todos. Ele também pode se especializar em um
tipo específico de público.
O lojista não pode esquecer que para tudo há limite, a variedade deve ser
dimensionada para aquilo que lhe dá maior rentabilidade. Quando a variedade
é superposta, ou seja, quando dois produtos muito semelhantes compõem o
mix e um tira venda do outro, provavelmente será mais eficiente manter
apenas um. Há casos, por exemplo, de lojas de ferragens com 30 modelos de
alicate. Se esse comerciante trabalhasse com apenas 20 modelos,
possivelmente também preencheria as necessidades dos clientes, e os outros
dez modelos não seriam um peso no estoque. Às vezes o lojista quer ter
produtos de várias faixas de preços, mas seu público prefere determinada
faixa que se torna suficiente, tendo em vista que, no geral, a venda marginal
de uma faixa a mais dá prejuízo.
Quem fala em variedade tem de pensar também na quantidade. O que é
quantidade dentro da variedade? É o que permite não perder venda por falta
de mercadoria. O lojista deve ter quantidade suficiente de cada tipo de
produto que proporcione venda continuada sem rupturas. Em alguns produtos
é preciso ter a grade completa e estoque maior; em outros, menor quantidade
supre a loja com tranquilidade. Em geral, o produto de maior rotação nunca
pode faltar. Se faltar uma mercadoria específica, a loja deixará de vender uma
unidade, mas se faltar uma mercadoria genérica, que todo o mundo compra,
ela deixará de vender dez, 20 unidades.
No negócio é preciso definir a variedade e ao mesmo tempo a quantidade
dentro dessa variação. Hoje, por exemplo, um produto como a calça jeans
exige variedade. Como cada consumidor deseja uma calça diferente, é preciso
ter duas ou três peças de cada modelo. Em compensação, para as calças de
moletom, que é simples, o lojista pode comprar só três cores - preto, cinza e
bege -, mas na quantidade de 20 peças de cada cor. Às vezes a variedade é
inimiga da quantidade e vice-versa. Se a empresa tem foco mais apertado,
provavelmente a quantidade por produto é maior, mas se tiver foco mais
aberto a quantidade tende a ser menor, exceção dos carros-chefes, que
vendem mais. É possível ter uma loja de ferragens com 5 mil itens, mas para
os produtos que mais vendem, por exemplo, o prego 17 × 27, a quantidade
estocada será maior do que a do prego 25 × 72, cuja venda é eventual.
Variedade e quantidade é um jogo de xadrez que influi na rentabilidade. De
um lado, a otimização da variedade para ser uma loja de escolha do cliente
com quantidade de cada produto para não perder vendas; do outro, não deixar
sobrar um grande estoque, essa é a equação que o lojista deve fazer
permanentemente em busca da melhor rentabilidade possível. A visão sempre
é de melhores resultados em lucratividade.
Quantidade e variedade não são coisas estáticas, movem-se no tempo e nas
sazonalidades. Em termos de tempo, o lojista elimina determinado modelo
para introduzir outro, como também ocorre de um produto muito vendido
ontem não ter o mesmo desempenho hoje. Isso acontece porque o mundo e as
mercadorias evoluem. E, dentro do tempo, há a sazonalidade, quer dizer, a
variedade de ventiladores será muito maior no verão do que no inverno, assim
como a variedade de cobertores é maior no inverno do que no verão. Tudo
contribui para tornar o varejista um artista que, ao mesmo tempo, precisa
possuir elementos para a gestão. A informática está à disposição, ela dá
curvas, séries de demanda, gráficos que o lojista pode acompanhar com
antecedência para fazer acontecer. E aqui outra vez entra a programação, pois
tudo precisa ser devidamente planejado, e isso se torna uma equação
complexa, mas bonita, o que valoriza a atividade comercial.
Há ramos em que esse jogo é mais intenso, e em outros não. O ramo
farmacêutico, por exemplo, não é muito variável. Em determinada cidade é
possível saber o que os médicos estão receitando para poder ter maior
variedade naquilo que é mais receitado. O sistema de distribuição de
medicamentos é muito rápido, basta pedir pela manhã que à tarde está no
ponto de venda. Isso é muito diferente na área de alimentos e de confecções.
OS LIMITES DA VARIEDADE
Para tudo existem limites, para mais ou para menos. Se o cliente só encontra
na loja um modelo de camisa, como poderá escolher? Dois modelos, para
escolher, também é pouco. Cinco modelos já é razoável, dez modelos melhor
ainda para fazer uma escolha. Agora, se o lojista colocar 30 modelos,
complica, porque isso atrapalha o cliente em sua decisão sobre qual levar.
Assim, a variedade pode chegar a um ponto em que, em vez de estimular,
desestimula o consumidor. Portanto, na questão de variedade existe um limite
para estimular e um limite para inibir. Por isso, o equilíbrio da oferta de
variedade na quantia de modelos do produto é importante até sob o aspecto
psicológico, não apenas em termos mercantis. Há estudos que levam a essa
conclusão. Não estudei isso, mas na prática sabia havia bastante tempo, pois
quando comecei na Grazziotin trabalhávamos com todas as cores de tinta para
casas e apartamentos e fiz grande redução no número de cores. Daí passamos
a vender mais. Entre nós, não deram certo as máquinas que a Renner instalava
para oferecer qualquer tipo de cor.
Para o consumidor, psicologicamente é preciso que haja um equilíbrio, e o
tom desse equilíbrio é definido pelo bom senso do lojista que deve avaliar tal
questão constantemente para definir o que está faltando e o que está sobrando.
É importante ter consciência de que existe esse aspecto psicológico na hora de
uma escolha. A variedade do mix de cada produto é um exercício a ser
permanentemente testado, para que seja a melhor para a decisão do cliente.
Dentro das perspectivas da lucratividade esperada pelo lojista, um varejo
lucrativo é um somatório de atividades.
NEGOCIAÇÃO
Qualquer um deseja ser o melhor negociador do mundo, porque quando faz
um bom negócio fica orgulhoso. O que é um bom negócio num sistema de
parceria, numa visão de médio e longo prazo? A resposta é: tem de ser bom
para todos os envolvidos. Negociação boa para o lojista e para o fornecedor
deve ser também boa para o cliente: é o processo ganha-ganha. O processo
em que um ganha e outro perde tem vida curta e provavelmente o lojista não
conseguirá reposição. Quando apertamos em demasia o fornecedor, ou
forçamos uma negociação fora da média, facilmente verificamos que ele não
ficou satisfeito e no ano seguinte talvez nem nos procure mais, e isso significa
que podemos até perdê-lo. A questão é que se matarmos a galinha dos ovos de
ouro ela não mais fornecerá ovos. A ganância é uma inimiga dos negócios
que, para serem adequados, precisam de determinado equilíbrio. Quando as
coisas estão desequilibradas, não funcionam ou funcionam mal. Quem
encontra um produto barato demais numa loja fica se perguntando se aquilo é
legal, se é bom, já “que, quando a esmola é demais, o santo desconfia”, como
alerta a sabedoria popular.
Há que se ter certa normalidade a processo de negociação e o lojista deve
buscá-la, pensando no médio e longo prazo, pensando que deve ser algo que
tenha crédito e ajude a alcançar um bom desempenho. Não adianta fazer
negociações muito oscilantes, porque dificilmente quem está do outro lado é
trouxa. Ocorrem situações interessantes. É comum o lojista exigir que
determinados fornecedores deem grandes descontos: “Eu só compro se tiver
20% de desconto”. O fornecedor acaba aumentando a tabela em 30% e dá os
20% solicitados. Por isso é necessário bom senso.
É relevante não fazer nada apressado. Para negociar bem é aconselhável
dispensar algum tempo e conhecer o fornecedor, seu sistema de fabricação e
seu potencial. Não adianta pedir 150 dias de prazo a uma empresa que não
tem muito capital de giro, isso custa caro e acaba embutido no preço. Em
compensação, o prazo pode ser solicitado às empresas fortes, pois em regra o
custo de seu dinheiro é baixo. O conhecimento do parceiro de quem o
varejista compra é interessante para o desenvolvimento da negociação, tem de
ter jogo de cintura.
Pode ser vantajoso às vezes, na negociação, transferir ao fornecedor
atividades que para o lojista custariam muito caro, mas cujo custo é menor.
Dentro desse conceito, várias coisas podem ser feitas. Nós praticamos várias
delas: embalagens padronizadas, ou seja, compramos jeans em caixas de 36
peças de todos os fornecedores. As mercadorias vêm com a etiqueta de preço
de venda, as importadas da China já vêm com nosso código de barra. Antes
nós enviávamos aos fornecedores, por sedex, a etiqueta que imprimíamos em
Passo Fundo; como o custo ficou alto, acordamos que isso seria
providenciado pelo fornecedor. Podem-se também negociar produtos sem
frete ou com frete mais barato, pois pode ocorrer de o fornecedor estar num
local onde consegue transporte mais em conta. Tudo isso barateia o processo.
Importante: todas essas negociações estiveram sempre dentro do princípio do
ganha-ganha, pois os custos a mais que eventualmente os fornecedores têm
nós pagamos, mas essas especificações, para nosso sistema de logística, são
fundamentais.
A negociação envolve o conhecimento de toda a logística, de todo o
processo de vendas e de compras e, inclusive, muitas vezes, do processo de
fabricação do produto, como é feito no setor de facção. Negociação não é
simplesmente apertar o outro, embora isso aconteça, como descobri em São
Paulo, onde alguns fornecedores têm mais de uma tabela. Em alguns casos,
isso até pode ser compreensível, em função do tipo de negociação que é feita.
A negociação é um processo de interação humana, de empatia em que o
lojista deve descobrir fórmulas para baratear o preço de venda final, contanto
que haja o ganha-ganha. A negociação foi benfeita quando o produto
colocado na prateleira flui, vende bem, agrada ao consumidor e proporciona
lucro ao lojista.
Outros fatores para a lucratividade
COMPETIÇÃO
APRENDER E DESAPRENDER
CÍRCULO VICIOSO
HORÁRIO DO COMÉRCIO
VENDAS COM ACRÉSCIMO E SEM ACRÉSCIMO
AGILIDADE NA COBRANÇA
ALUGUÉIS
CASE DA QUADRA UM
COMPRAS POR IMPULSO
CRIATIVIDADE
MOTOBOYS, VENDA COM ENTREGA
HORA EXTRA E OUTRAS QUESTÕES
TRABALHO INDIVIDUAL
UNIFORME
CONTABILIDADE
PESQUISA: OUVIR O CLIENTE
ASSISTÊNCIA AO CLIENTE PÓS - VENDA
ENTIDADES DE CLASSE
ATITUDES POSITIVAS
REINVENTAR E INOVAR
O CLIENTE
PASSEIO MATINAL
TERCEIRIZAÇÃO
ABSENTEÍSMO
INVENTÁRIO (FALTAS, PERDAS E ROUBOS)
UM CONJUNTO DE OUTROS FATORES é decisivo para a lucratividade
no varejo. Nossa experiência acumulada no cotidiano da empresa, as
observações permanentes do mercado interno e externo, a postura de
inúmeros concorrentes e as informações teóricas mostraram-nos que muitas
outras atitudes que estão ao alcance de todos exercem influência significativa
no desempenho dos negócios. E, como consequência, isso tem reflexo na
lucratividade da empresa. Entretanto, nem sempre damos o devido valor a
esse conjunto de fatores e com isso deixamos de solucionar muitos dos
problemas que preocupam os empresários e, também, de melhorar o
faturamento em nossos negócios.
COMPETIÇÃO
São muitos os motivos que levam alguém a ter mais facilidade do que outros
para concretizar um negócio com eficiência e lucratividade. Desde cedo é
imperioso levar em consideração que a competição faz parte da vida, é um
processo natural competir para viver. Na floresta, uma árvore compete com
outra, quem corta o dedo deve tomar uma vacina antitetânica, porque um
micro-organismo pode competir com as defesas do organismo.
Todo e qualquer negócio, seja no setor do comércio, da indústria, da
agricultura ou de serviços, está inserto em um processo competitivo. Não
existe maneira diferente de enxergar seu negócio ou o mundo sem ser pelo
viés da competição. O que não pode acontecer nem deve ser tolerado é o
desrespeito às leis. Todos sabem que é muito difícil aceitar a realidade da
competição que se dá em todos os níveis. Um pai, por exemplo, tem
dificuldade de aceitar que um filho seja mais inteligente que o outro, que um
tenha mais sucesso que o outro, que um seja calmo e o outro, nervoso, mas é
assim. E no varejo não é diferente, a competição é diuturna razão pela qual o
empresário precisa ter uma visão clara dessa realidade.
APRENDER E DESAPRENDER
A frase “Mais sabe o diabo por ser velho que por ser diabo” (Mas sabe el
diablo por viejo que por diablo) de Martín Fierro é de muita sabedoria,
porque é a vida que nos ensina a ver. Que bom que é assim. Pior se fosse o
contrário, isto é, que fôssemos desaprendendo. Estou atento ao processo de
aprender e desaprender e fico me perguntando por que fazemos as coisas
certas durante um tempo e, de repente, deixamos de fazê-las. Por que
desaprendemos mais fácil do que aprendemos? Não sei ao certo o porquê.
Isso é praticamente praga, doença para o empresário. Não sei o que ocorre.
De repente, sem mais nem menos pessoas começam a desprezar a sintonia
fina, ou relaxam quando estão bem, acreditando que as coisas vão bem ao
natural, que não precisam mais se preocupar, se atualizar, se aprimorar e
acompanhar a evolução que permanentemente ocorre em tudo.
É comum ouvir as pessoas comentar que faziam algo que dava resultados
positivos e deixaram de fazer. Na Grazziotin, temos coisas fantásticas que
aconteceram, algumas até difíceis de acreditar. Nós desenvolvemos, por
exemplo, um produto chamado básica, um tipo de camiseta de malha, um
abrigo simples de manga longa que as mulheres usam muito no inverno.
Como vendia “adoidado”, isto é, vendia como água por ser um produto
barato, começamos a trabalhar com várias cores e com todos os tamanhos. O
nome básica diz tudo. Houve momentos em que vendemos 40 mil peças dela.
A básica era pão quente, era só colocar na loja bem exposta que ela parecia
voar. Pois bem, algum tempo depois, conferindo nossos controles,
constatamos que não estávamos mais vendendo a básica. O que aconteceu
com esse produto que não vendeu mais? E o mais interessante: éramos nós
que mandávamos fabricar as peças, comprávamos o fio e determinávamos a
quantia a ser feita, ou seja, o processo todo era nosso. Por incrível que pareça,
sem mais nem menos, desapareceu esse processo de dentro da empresa. Moral
da história: recomeçamos a comercializar a básica em nossas lojas e creio que
em 2007 vendemos mais de 50 mil peças. Quanto deixamos de vender sem
saber por quê? Como pôde acontecer isso na Grazziotin, empresa estruturada,
com todos os controles que possuímos e dos quais tanto nos orgulhamos?
Essa doença é mais forte do que imaginamos. O processo de aprender e
desaprender é fantástico. O livro A quinta disciplina discorre sobre esse
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assunto e por que isso acontece. O autor dá uma explicação científica: seria
algo que ocorre no próprio cérebro humano que se registra com frequência em
todas as atividades humanas. Sem um antídoto, a vacina é estar
permanentemente ligado nas questões da empresa. Como é fácil cair na
armadilha, tudo deve estar formalizado, bem estruturado, colocado no papel
para, de quando em quando, ser relido, pois, se ficar apenas na cabeça das
pessoas, há a tendência de ser tudo posto de lado.
E há um apêndice: se a pessoa crê num modelo errado, ele acaba dando
certo; se a pessoa não acredita no modelo certo, ele dá errado. Ou seja, a
pessoa insiste tanto em determinado negócio que ele acaba funcionando.
Analisando bem, o comunismo foi assim, ficaram 70 anos dizendo que aquilo
estava certo, e só depois deixaram de dizer que acabou.
Seria interessante se fizessem estudos antropológicos dentro deste tema:
como uma pessoa, sabendo que está errada, insiste tanto no erro. Às vezes,
acho que é porque o erro dá certo por um período. A pessoa acaba fazendo um
modelo para si, ela se satisfaz com ele e esforça-se tanto que o faz funcionar.
Nesse sentido, a Grazziotin tem exemplos impressionantes. Criamos um
cartão de crédito rotativo, desses que existem no mercado, como o Visa ou
Mastercard. Com ele, o usuário compra e parcela o pagamento. O cliente
sempre paga um percentual mínimo e toca seus gastos. Para nós esse cartão
era a alma do negócio, achávamos que era a coisa mais importante da
empresa. Como vendíamos com 45 dias de prazo para o primeiro pagamento,
o cliente sempre comprava no dia que permitia usufruir desse prazo; nossos
clientes compravam nos dias 21 e 26. E ainda, como o cliente recebia seu
salário no início do mês, sempre pagava a fatura do cartão no dia cinco ou
dez, e sempre conseguia os 45 dias. Assim, o nosso movimento era maior na
segunda quinzena do mês e, na empresa, acreditávamos que isso era o normal
do mercado. E não é! O normal do mercado é ter maior movimento na
primeira quinzena, quando as pessoas recebem seu dinheiro: quem recebe
gasta mais rápido.
Como tínhamos de emitir a fatura no dia do corte do cartão, sobrava um
prazo exíguo para esse documento chegar à casa do cliente a tempo de ele
pagar sem encargos. O sistema calcula até um dia de prazo de diferença, é
fácil com o computador. Só que o cliente não entendia esse procedimento de a
empresa calcular até um dia de atraso. Outro detalhe: trabalhávamos com um
público de faixa de renda baixa, de escolaridade baixa e, na maioria de
mulheres, que não dão muita atenção às questões financeiras. Com isso, cada
vez que tínhamos de explicar por que aquilo ocorria, era um trauma.
Apesar de tudo, insistíamos. Com o cartão, vendíamos muito bem, só que,
de repente, veio a inflação. Como dar 45 dias de prazo para o pagamento com
inflação de 30% ao mês? Era complicado, chegamos a ter em etiqueta na loja
produtos com o preço 60% acima do preço à vista para compensar a perda
motivada pela inflação, e ainda tínhamos prejuízo. Isso ocorria porque, em
cima dos 60% a mais, havia a inflação de 45 dias a 30% ao mês, a comissão
dos vendedores, o ICMS sobre tudo e, em alguns casos, o aluguel da loja,
pago sobre o faturamento. Quase falimos, mas acreditávamos que o cartão era
importante para o negócio. Até que um dia a casa caiu, concluímos que sem
mudança quebraríamos. Acabamos com o cartão e as vendas cresceram na
primeira quinzena do mês. Terminaram as confusões de ter de explicar ao
cliente os reajustes por causa de alguns dias de atraso. Fizemos um sistema de
carnê em que o cliente sabe exatamente quanto pagará.
Claro, tudo melhorou, mas levamos anos insistindo no cartão rotativo que
de certo modo até deu certo, pois a empresa sobreviveu. Por isso digo que
quem crê bastante numa coisa errada acaba se dando bem. Óbvio, a pessoa
não recebe o máximo pelo esforço e talvez seja necessário até esforço maior
para conseguir menos. Uso o exemplo como alerta sobre a necessidade de o
lojista se cuidar para não fazer a coisa errada, achando que é certa. Tal postura
é comum no comércio, nas pessoas, no modo de lidar com elas, na maneira de
fazer a teoria e a filosofia do seu negócio. São muitos os exemplos. Em Passo
Fundo, tem um empresário que não abre mão de fazer as coisas a seu modo,
acreditando que só ele sabe fazer. Aos filhos não deu chance, aos netos não
está dando oportunidade, e a firma está falindo.
O negócio é interação com o consumidor e com o mercado e se o lojista
tem interação aberta e livre, que possa receber o feedback e processá-lo para
ir aprimorando suas atividades, seu empreendimento vai se tornar cada vez
melhor e mais lucrativo. Se o lojista não faz isso, o negócio pode até dar
certo, só que a médio e longo prazo vai pagar um preço alto.
CÍRCULO VICIOSO
Há um raciocínio muito comum entre lojistas: “Para vender mais tem de
vender barato”. Mas para vender barato deve-se reduzir a margem. Os
italianos têm um bordão: “Se o pau é curto, quanto mais eu o corto mais curto
fica”. É a sabedoria popular que desprezamos, mas ao verificarmos mais a
fundo constatamos que na vida real acontece todo dia.
Chamo de círculo vicioso o fato de alguém insistir em demasia na coisa
errada, é um pouquinho diferente do conceito de desaprender. É a situação de
se insistir sempre em algo errado. O empresário, por exemplo, insiste na tese
de que vender barato aumenta seu volume de vendas e de que se aumentar o
volume de vendas ganhará mais. Raciocina sem olhar outros fatores que
acontecem paralelamente e passa a acreditar que, se existe algum problema, é
porque não faz esse trabalho benfeito, por isso realmente acha que precisa
vender mais ainda. E, para que isso aconteça, até baixa mais um pouco o
preço.
De repente, porém, surgem problemas, como atrasar o pagamento de
fornecedores por falta de dinheiro, e com isso ter de vender ainda mais para
poder honrar os compromissos. Só que, quanto mais vende, mais tem de
baixar um pouquinho sua margem, apertar sua rentabilidade e, por causa
disso, vender ainda mais; então ele amplia os pagamentos e vende até sem
cobrar juros no crediário. Assim, abre flancos vendendo, por exemplo, a quem
não paga, o que piora o negócio, e a solução que ainda crê correta é vender
mais ainda. Como não consegue vender tudo o que deseja na sua loja, abre
uma filial. Inicialmente esse novo ponto de venda dá um refresco, pois vende
sem custos a mais, a cobrança ainda não aconteceu nem é necessário pagar ao
fornecedor. Desse modo, continua acreditando que está certo esse processo de
aumentar as vendas. Mas logo as dificuldades voltam, pois, com duas lojas, o
problema ficou maior e a solução não é abrir mais uma filial, mas duas e, com
quatro lojas, inicialmente o refresco é maior. Tudo vai se repetindo e se
direciona para um ponto em que, por fim, explode. A isso chamo de círculo
vicioso.
Nesse sentido há inúmeros exemplos; há o caso do empresário de Porto
Alegre que quando estava falindo abriu oito ou dez lojas e explodiu mesmo. E
isso não acontece só com as lojas, é um processo que se dá também com
produtos. O raciocínio é semelhante.
Para vender mais que o concorrente, o lojista deve ofertar produtos com
preço menor, e o fornecedor negocia, dizendo que pode reduzir seu preço
unitário de venda se, em vez de dez, o comerciante adquirir 20 unidades de
determinado produto. Esse é um jogo do mercado. Então o fornecedor conclui
a venda, ganha o seu e, depois que já vendeu, o problema não é mais dele.
Assim, o círculo vicioso se dá em cima de um produto. Outro detalhe: um
lojista vende a mercadoria em três pagamentos e tem inadimplência de 3%.
Como precisa vender mais, amplia a forma de pagamento para cinco
prestações, só que a inadimplência passa para 4 ou 5%. Então, ele já pensa em
compensar os prejuízos oferecendo a possibilidade de pagar em oito
parcelas…
Há o caso de campanhas. Quando o lojista dá x% de desconto e não obtém
o que espera, em seguida faz outra promoção, dando o desconto x mais
alguma coisa. Podemos citar ainda as promoções no estilo “Cobrimos
qualquer oferta da concorrência”, que são antigas. Como exemplo cito o caso
do açúcar, nos anos 1960, quando a empresa Lago, Iaione quase dava o
produto, conforme relatou meu pai. Ele mesmo encaminhava seus clientes
para que comprassem açúcar nessa empresa porque não havia como concorrer
com esse tipo de promoção. A Lago, Iaione era uma empresa forte que
desapareceu por causa de promoções como esta: vender de qualquer jeito com
preço mais baixo do que o do concorrente.
O círculo vicioso acontece quando o empresário só pensa em faturar, em
fazer acontecer. É um tipo de megalomania, a pessoa quer crescer, expandir-
se sem levar em consideração o conjunto de variáveis indispensáveis para
fazê-lo com alguma segurança. Vimos isso também em Passo Fundo em
vários momentos diferentes e em diversos segmentos.
O círculo vicioso não se dá somente no sentido de querer vender sempre
cada vez mais barato. Dentro da empresa pode ocorrer de o empresário
caminhar em círculos. Às vezes o empresário pode enxergar o óbvio e se
sentir o inventor daquilo, acreditar que criou algo que os outros não
conseguem ver. E é sempre uma questão de “inchaço”. É o caso do
empresário que acha que sua empresa é boa porque tem 2 mil funcionários e
nunca vai concordar em reduzir para 1.900; pelo contrário, sua tendência é
aumentar cem. Acredita que é grande por ter muitos funcionários e se
vangloria disso. Em minha opinião temos de ter orgulho da produtividade por
empregado e da lucratividade do negócio.
A lucratividade vem da diferença entre o que o empresário gasta e o que
recebe, e nesse tal de círculo vicioso parece que é o contrário. O
endividamento no setor agrícola é um exemplo: o produtor vende cem
hectares no Sul e compra mil no Centro-Oeste e ainda sobra um dinheirinho.
No primeiro ano planta os mil hectares meio que açodado. Se dá um
probleminha e fica endividado, o que faz no ano seguinte? Acha uma maneira
de plantar 1.500 hectares. Se acontecer um problema novamente no ano
seguinte, acha que errou ao plantar só 1.500 hectares e planta 2.500. Ele age
quase como um jogador de pôquer, mas no comércio o blefe custa caro.
Negócio não é aposta, não é emoção: é racionalidade e sempre de olho no
conjunto, especialmente o lado financeiro. Conheci pessoas consideradas
visionárias que tinham até ideias exequíveis, mas depois quebraram por não
terem nenhum cuidado com o lado financeiro.
É importante a reflexão periódica sobre os objetivos da empresa. O lucro é
fundamental; logo, a ação deve ser com o espírito de aumentar a
lucratividade, mas se isso for deixado por conta das rotinas o lucro cai ou
desaparece ao natural.
HORÁRIO DO COMÉRCIO
Lutei muito para o comércio poder abrir sábado à tarde. Lutei contra tudo e
contra todos. Foi uma das maiores bandeiras que levantei como dirigente
sindical e empresário em Passo Fundo. Briguei com os sindicatos dos
empregados e dos patrões, colegas lojistas chegaram a fazer abaixo-assinado,
para que eu fechasse minha loja nesse horário. Eles achavam que não valia a
pena abrir.
Como, em algumas cidades, quem vendia produtos alimentícios podia abrir
sábado à tarde, passamos a vender feijão, arroz, farinha e erva-mate na rede
Pormenos. Mudamos o mix para poder trabalhar nesse horário. Em Passo
Fundo, como uma lei antiga dizia que quem tivesse lancheria dentro da loja
poderia abrir sábado à tarde, colocamos um departamento de lanches na
Grazziotin. Durante muito tempo, nesse horário, nós e os mercados abríamos,
enquanto o restante do comércio fechava. Na época, os supermercados já
trabalhavam com muitos dos produtos que a Grazziotin comercializava, como
bazar, roupas e utilidades, e se a loja ficasse fechada estaria perdendo vendas.
Em nossos dias, os supermercados começaram a focar sua ação nos produtos
alimentícios e de higiene e já estão bem mais especializados.
Em Passo Fundo, durante essa luta, apresentei a proposta para fechar na
segunda-feira de manhã, pois o pessoal estava arraigado no conceito de não
abrir no sábado à tarde, achando que aquela era hora do lazer. O lazer do
lojista deve ser na hora em que não há cliente na loja. Se o negócio é vender,
ele deve estar disponível quando o comprador está disponível. Muitos lojistas,
especialmente os pequenos que não delegam, que controlam tudo, realmente
ficam sobrecarregados. Tive um colega que tirava férias num mês e a esposa
em outro, sempre um ficava à frente do negócio. Isso praticamente é
escravidão. Nas férias, o pequeno comerciante italiano fecha a loja e deixa um
aviso na porta: Chiuso per lê ferie (Fechado para as férias). O horário da loja,
cada vez mais, precisa entender o comportamento do consumidor, hoje o
sábado é o melhor dia de venda. Sábado muitas atividades param: indústrias,
escritórios, consultórios médicos e de outros profissionais liberais não abrem.
A administração da Grazziotin não trabalha sábado, são cerca de 200 pessoas
disponíveis nesse dia para irem às compras porque durante a semana não têm
tempo, já que iniciam no trabalho às 8 horas e saem às 18 horas e muitas
ainda estudam à noite.
Antes se argumentava que o homem trabalhava e a mulher, que ficava em
casa, podia fazer compras em qualquer horário. Mas o que acontece hoje? A
mulher também trabalha. Na Grazziotin, 70% dos nossos colaboradores são
mulheres, creio que na Doux/Frangosul mais da metade dos funcionários é do
sexo feminino, o que significa que a mulher também está sem tempo para
comprar naquele espaço da semana chamado de horário normal de trabalho
das lojas. Assim, cada vez mais o sábado e agora até o domingo tornam-se
dias de compras. Em regra, o sábado vende duas vezes mais que um dia
normal. Então, a loja que não tem movimento no sábado praticamente fica in-
viável, porque é esse o dia que dá o diferencial de faturamento.
É preciso considerar, ainda, que hoje em dia a compra tem muito de lazer,
ela também é um ato de prazer. A compra não prazerosa não tem valor. Para
que trabalhar bastante, economizar o dinheirinho se depois não existir prazer
algum em gastá-lo? Em geral a compra tem se tornado uma atividade em
família, aos sábados e domingos. Cada vez mais se notam, nos supermercados
e nas lojas que conseguem abrir, famílias inteiras juntas, olhando vitrinas e
comprando. Inclusive as vendas de bebê e infantil têm incremento
significativo no domingo, quando as famílias saem para comprar.
Nem todos dão a importância devida ao horário de a loja funcionar e há
revolução grande nesse sentido. No Brasil, é algo mais recente em função dos
processos sindicais. Os sindicatos criaram uma bandeira com o horário de
funcionamento do comércio e ele se tornou uma luta reivindicatória
totalmente errada, tanto é que não durou demais. Se fosse correta, ela
perduraria. Por que foi errada? Porque, na medida em que se restringe o
horário de abertura da loja e ela não abre quando o consumidor deseja
comprar, as vendas diminuem e isso afeta o ganho do funcionário. Se ele é
comissionado, a redução é proporcional: quem tem salário fixo terá ganho
menor, pois quando o lojista reduz seu lucro por vender menos paga pior. É
óbvio, não há como ser diferente. Foi luta inglória dos sindicalistas que
assumiu conotação ideológica equivocada de esquerda, porque, em países
como a China, o comércio abre direto até nos domingos. A China, país
socialista por excelência, reconhece que se deve abrir a loja na hora em que o
cliente está disponível para comprar. Aqui, agora há inclusive uma lei federal
para abertura aos domingos, promulgada pelo governo Lula. Na Espanha, por
exemplo, onde estive recentemente, se discutia a possibilidade de o comércio
funcionar 24 horas tendo em vista os novos hábitos de consumo e o
incremento no turismo. A ampliação do horário de funcionamento passou a
ser também uma reivindicação dos trabalhadores - particularmente das
mulheres -, que reclamam por ter apenas um dia por semana para ir às
compras.
Apesar de tudo, há ainda ranços em algumas cidades, onde não se permite
abrir sábado à tarde. Erechim (RS) é um caso como muitos outros por aí. A
Prefeitura e a Câmara de Vereadores criaram uma lei que privilegia um
segmento empresarial da cidade, que é o shopping . Esse hipermercado tem
lojas com permissão para abrir todos os sábados à tarde, enquanto as lojas ao
lado, a cerca de 50 metros de distância, só têm permissão para abrir um
sábado por mês. A lei é bem clara, dá o privilégio ao hipermercado. Não
entendo como, num país cuja Constituição diz que deve haver equidade,
direitos iguais para todos, isso acontece. É o caso também de uma cidade
vizinha, em que o prefeito é empresário varejista: em sua cidade as lojas só
abrem um sábado por mês.
O horário do comércio está numa revolução constante em função
principalmente da diversidade das atividades humanas. Antigamente essas
atividades eram mais definidas e restritas, hoje não. Em cidades grandes,
como São Paulo, é preciso existir um supermercado aberto 24 horas, porque
grande número de pessoas trabalha de noite e é obrigado a dormir de dia. Em
regra, as pessoas saem do trabalho e vão comprar, comer, colocar gasolina no
carro. Em Passo Fundo, a Doux/Frangosul tem três turnos, e como as pessoas
que trabalham à noite precisam dormir de dia necessitam de um horário para
fazer suas compras. Quem ganha com as restrições são os shoppings e os
hipermercados, porque as questões de segurança os transformam em ilhas de
tranquilidade com estacionamento fácil e ar-condicionado, onde o consumidor
encontra concentrado um mix de lojas que oferece quase tudo. Os shoppings
beneficiam-se por terem horário diferenciado, ficando abertos até às 22 horas,
enquanto o comércio tradicional fecha às 19 horas. Assim, as lojas de
shopping têm no mínimo três horas a mais para funcionar, justo quando as
pessoas estão disponíveis para comprar. Esse é o grande diferencial do
hipermercado e do shopping.
Lembro que em Florianópolis as lojas não abriam sábado à tarde, embora
fosse uma uma cidade altamente turística. Não dava para entender, na capital
de Santa Catarina, as lojas fechadas enquanto na praia estavam abertas. Na
mesma cidade, havia dois comportamentos: nos balneários tudo funcionava
inclusive aos domingos, enquanto os supermercados da cidade fechavam às
três da tarde de sábado. Isso mudou tanto que atualmente Florianópolis tem
supermercados 24 horas e, com isso, quem ganhou foi o consumidor. A
racionalidade, o bem-estar e o razoável venceram, e existem vários processos
para conciliar tais atividades de modo a satisfazer a lei trabalhista que é bem
clara, estabelecendo os horários máximos e permitindo que o empresário
contrate pessoas para trabalhar por hora. Um negócio que funcione 12 horas,
por exemplo, dificilmente preencherá esse espaço só com um turno, mas pode
ter dois turnos de seis horas, duas equipes de seis horas de trabalho cada uma,
ou ainda uma equipe de oito e outra de quatro horas. O Brasil pratica pouco o
horário parcial de trabalho, embora existam pessoas com essa vontade, com
essa necessidade.
Ao encerrar uma palestra no Rio Grande do Sul em 2003, a embaixadora
mexicana Cecília Soto Gonzáles, dona de uma das maiores empresas de
construção civil do México, uma das figuras mais ricas do país, descendente
de índios e pobres, fez um apelo: “Os empresários devem possibilitar às
mulheres casadas e com filhos a chance de trabalhar meio turno, pois elas têm
essa necessidade”. As mulheres que de manhã cuidam da família, da comida e
da casa à tarde têm tempo disponível, que pode ser de quatro, cinco ou seis
horas, e podem trabalhar para possibilitar um acréscimo de renda. Há muito
tempo a Grazziotin tem esse processo de trabalho por hora: há pessoas que
trabalham oito, outras seis e algumas quatro horas, e outras que trabalham
somente às sextas-feiras e aos sábados porque, nesses dias de maior
movimento, precisamos de mais gente no atendimento.
Muitos descuidam desses detalhes. Na loja de um amigo, o gerente disse
que o movimento maior acontecia à tarde, quando faziam 70% das vendas.
Apesar disso, o número de funcionários era o mesmo do turno da manhã.
Nesse caso, o pessoal da manhã ficava ocioso e à tarde faltava gente. No
Brasil, o assunto foi tão debatido na imprensa que gerou reação negativa a
qualquer mudança; parece que o horário dos funcionários é algo sagrado, nele
não se deve mexer. Entretanto, o horário do funcionário do comércio não tem
diferença do horário do funcionário do hospital, que trabalha à noite, aos
sábados e aos domingos. No Natal também há pessoas trabalhando, e em
horários de 24 horas direto. Em postos de gasolina, farmácias e bares é a
mesma coisa. Então, por que a loja tradicional que vende roupa não pode ter
horário diferenciado?
É preciso considerar, inclusive, as diferenças regionais. O centro de Porto
Alegre, no final de semana, esvazia. Ali pouco adianta abrir a loja no
domingo. Entretanto, no bairro, já é possível fazer isso, pois é grande o
número de pessoas que durante a semana vivem no centro, mas no final de
semana ficam nos bairros. Assim, ao horário do comércio o empresário
precisa dar a máxima atenção, por ele ser fundamental na rentabilidade. Se
alguém muda o horário de trabalho e consegue acrescer 10, 15 ou 20% nas
vendas, é isso que será seu lucro marginal, porque 80 a 90% que fatura é para
pagar os custos fixos.
Cada tipo de negócio e de região tem suas próprias necessidades, quem
define o horário mais interessante, o horário ideal para o empresário abrir sua
loja são os seus clientes. Quem nota que na hora de fechar é que a loja está
cheia precisa ficar com ela mais tempo aberta. Quando abre pela manhã e ela
permanece longo tempo vazia, é sinal de que talvez não seja necessário abri-la
tão cedo. Se a loja abrir no domingo e sempre estiver cheia, será prova de que
as pessoas gostam de comprar naquele horário. É preciso ir fazendo esses
testes, bem como conscientizar os funcionários de que isso é importante e de
que eles precisam trabalhar com prazer. Assim, na hora do recrutamento, é
recomendável perguntar ao candidato ao emprego em qual turno prefere
trabalhar, pois não adianta recrutar alguém para trabalhar pela manhã se ele
deseja fazer isso à tarde ou à noite. Alguns estudam pela manhã e gostariam
de trabalhar à tarde, outros estudam à noite e preferem trabalhar de manhã.
Assim, na hora de recrutar, devem-se levar em conta também as preferências
das pessoas e depois, dentro dessas preferências, deve haver conscientização
plena da equipe da loja de que aquele horário é o mais importante para o
sucesso do negócio.
Temos experiências de que, em locais com restrição de horário, as lojas
ficam inviáveis porque o cliente prefere comprar em outro lugar. Em
Florianópolis, a loja Franco Giorgi, no centro, não deu certo, pois no sábado
de manhã essa área da cidade praticamente fica vazia, em razão de as
repartições públicas e os bancos fecharem e a população que ali circula ser
muito pequena. Assim nossa loja pagava um aluguel alto, até por ser o centro
da capital, mas trabalhava, na prática, apenas cinco dias por semana. Ela não
faturava ali porque a característica da rede Franco Giorgi é vender muito no
sábado, por causa de seu público-alvo. Em todos os locais, o melhor dia de
venda nessas lojas é sábado. O horário de funcionamento viabiliza ou in-
viabiliza um negócio. Facilmente se notam coisas curiosas, como é o caso da
Avenida Brasil em Passo Fundo, onde estão lojas que pagam fortunas de
aluguel, mas fecham às 18 horas enquanto as calçadas estão cheias de gente.
No Brasil ainda existem problemas relativos ao horário de funcionamento
das empresas, mas a situação está se modificando, principalmente nas
cidades-polo, como Passo Fundo. Quem vai aos nossos grandes
supermercados no final de semana encontra veículos das cidades vizinhas e
isso significa que as pessoas, independentemente da motivação, terminam por
fazer alguma compra. Curiosamente, apenas dois ou três mercados e a
Grazziotin abrem, o restante fecha aos domingos. Nós abrimos nossas lojas no
domingo à tarde por seis horas e, às vezes, isso é o suficiente para dar
movimento maior na loja do que uma segunda ou terça-feira.
VENDAS COM ACRÉSCIMO E SEM ACRÉSCIMO
O crediário já é um costume do consumidor, nas instituições, nos países. O
dinheiro, quando a gente empresta, sempre é barato, mas depois, na hora de
pagar, parece que é outra realidade. Em geral é assim: quando há muita oferta,
o preço cai; quando tem demanda maior, o preço aumenta.
O hábito de se endividar e comprar a prazo foi incutido na raça humana.
Entre os americanos, por exemplo, todas as compras são a prazo, compra-se a
casa para pagar em 25 anos, o carro para pagar em dez, e é por isso que dizem
que o endividamento per capita deles é o maior do mundo. Apesar de ganhar
salários mais altos, são endividados porque os custos e os juros são baixos. De
qualquer forma, porém, isso pode gerar problemas como ocorreu em 2007,
pois juros de 3% ao ano é uma coisa, mas quando passam para 6% estouram.
Não temos essa ideia porque aqui no Brasil os juros são de patamares
superiores, passam de 10 para 20%, 30%. Para os americanos, é diferente e
mesmo assim houve a crise no setor imobiliário porque, com crédito
abundante, as pessoas, em vez de construir uma casa de 200m , já construíam
2
de 400m , por causa dos juros baixíssimos. Então, com a alteração dos juros
2
vieram os problemas, pois para uma casa de US$ 200 mil 2% de juros são
US$ 4 mil e 4% já são US$ 8 mil.
O crediário alavanca as atividades econômicas, porém ele tem um custo
para o tomador e para o emprestador. Nos Estados Unidos, quem está
quebrando não são apenas os que tomaram os empréstimos, mas também
aqueles que emprestaram o dinheiro.
Nas lojas, o crédito também é uma alavanca de vendas. Nós, na Grazziotin,
sempre trabalhamos com crediário. Meu pai contava que durante uma
reunião, há cerca de 45 anos, ao dizer que passaria a vender a crédito, todos
foram contra, por acharem que era uma “furada”. Porém, mesmo contra todos,
meu pai manteve a decisão. Houve época em que oferecíamos fogão com
pagamento em 36 meses, os fornecedores também nos davam prazo para
aquisição de alguns produtos. Nós até tínhamos tabela: o valor em dez, 20 ou
em 36 pagamentos. Dependendo do cliente, da sua possibilidade de pagar a
prestação, ele fazia a compra. Há muitos e muitos anos trabalhamos com
crediário e tivemos dificuldades na época em que o abrimos em demasia,
especialmente durante a inauguração das novas lojas, até porque não havia
critério bem definido para conceder o crédito. Lembro que uma vez recuamos,
de uma hora para outra deixamos de vender em 24 parcelas para só vender em
12. Essa mudança fez com que as vendas caíssem 40%, mas logo as coisas
engrenaram novamente e deixamos de ter tanto prejuízo. Hoje, em nossas
vendas de roupa, os prazos não são tão longos, mas no Brasil já se fala em
vender automóveis em 84 meses, pois os juros caíram bastante e o
consumidor se atira às compras.
Para vender somente à vista é preciso ter um produto que os demais não
têm, obrigando o consumidor a comprar na loja. Mas diante da concorrência
forte o crédito tem de ser facilitado, e para isso existem duas formas: com ou
sem os juros embutidos.
Quando o preço tem os juros embutido, em geral o empresário anuncia um
número x de prestações sem entrada e sem acréscimo. Porém, é interessante
observar que hoje em dia a maioria dos clientes não acredita que não haja
acréscimo, em regra já acha que o preço foi aumentado. Essa é uma prática
que não tem a mesma credibilidade de antes, pois o cliente nota que do outro
lado da rua tem alguém vendendo o mesmo produto à vista mais barato. A
rede Grazziotin trabalha com três e até cinco prestações sem acréscimo em
certas promoções, e a partir disso cobramos acréscimo. Na Pormenos, na
Tottal e na Franco Giorgi praticamos preços à vista mais baixos e prestações
com acréscimo normal. Particularmente acho que a segunda opção é a mais
correta, pois é justo que o cliente que compra à vista consiga um preço mais
baixo e é justo que quem deseja parcelar pague um pouco mais porque há
custo mais alto para o lojista, isto é, o custo do dinheiro, da inadimplência e
da administração do crediário, o que não é tão fácil quanto parece.
Também se pratica muito a venda sem entrada ou com primeiro pagamento
em 30, 60 ou até 90 dias, nós praticamos isso e é claro que tem um custo para
o cliente. Mas funciona bem, muitos alegam que não podem comprar porque
já estão com carnê para o próximo mês e esse sistema facilita que eles levem
logo outra mercadoria, uma vez que sua primeira nova prestação será em 60
ou 90 dias. O que se constata é que as pessoas parecem ter compulsão por
comprar, é incrível e não sei o que as move a se endividarem. Para muitos
esse é o modus operandi da sua vida, acostumam-se, gostam e acham que esse
é o procedimento normal.
O lojista precisa ter um crediário organizado e é até possível que ele seja
terceirizado, por exemplo, com a administradora de um cartão de crédito, mas
nesse caso a parte do leão da Receita vai para quem administra. A diversidade
para vender a prazo é grande e o lojista precisa observar para saber como seu
cliente prefere. Em uma promoção o prazo pode ser dilatado, há quem abone
a última prestação para quem faz os pagamentos em dia. Quem vende a
crédito sempre terá problema de atrasos, o que exige um sistema de cobrança
e conta com a colaboração do Serviço de Proteção ao Crédito e do Serasa que
trancam a possibilidade de o inadimplente comprar em outros lugares. Hoje
esses dois órgãos são mais confiáveis, o sistema é integrado e é fácil bloquear
compras em todo o país. O interessante é que, como esses órgãos estão
negando crédito aos consumidores devedores de contas como de telefone e de
energia elétrica, calcula-se que cerca de 25% dos consumidores não
conseguem comprar a prazo por estarem bloqueados.
É imprescindível tratar muito bem quem compra a prazo. Na Grazziotin,
pelo sistema de marketing direto temos comunicação estreita com esses
clientes. Em nosso caso, com as vendas pequenas, de pouco valor em geral,
vamos ter rentabilidade com esse cliente depois da segunda compra. Na
primeira vez, há uma série de atitudes, de processos administrativos que
custam caro para encaixar o cliente no negócio, por isso é importante que
todo esse modelo, esse sistema de amarração sirva para trazê-lo de volta mais
vezes à loja. Por isso o crediário serve também para fazer uma administração
do cliente.
Outro detalhe: não é necessário restringir o cadastro apenas ao cliente que
compra a prazo, pode-se também cadastrar quem compra à vista. A pessoa
que compra com cartão de crédito pode ser considerada, um cliente à vista e
pode-se desenvolver um trabalho para fazer com que ela torne-se um
comprador a prazo. Quando o consumidor se torna um cliente a prazo, ele tem
ligação mais forte com o lojista e, se for uma compra por carnê, precisa voltar
à loja para pagar todos os meses. Cadastrar um cliente à vista tem o objetivo
de futuramente transformá-lo num comprador a prazo.
Trabalhar no comércio atual pressupõe trabalhar a prazo, hoje é difícil
sobreviver no varejo brasileiro sem um sistema de venda a prazo. Para
algumas pessoas, ter carnês para pagar é filosofia de vida. Quando
começamos a Pormenos, nossa intenção não era vender a prazo:
trabalharíamos com mercadorias de baixo custo e sem propaganda. Essa era a
filosofia que queríamos implantar. Conseguimos conquistar o objetivo de
vender barato. Há produtos que, por várias razões, chegam a ter preço 40%
menor do que o concorrente, mas tivemos de instituir a venda a prazo e fazer
propaganda, pois essas ações realmente alavancam o movimento. O crediário
dobrou as vendas na Pormenos. Na rede, hoje, 50% das vendas são a prazo.
Sem o crediário, as pessoas comprariam em outra loja, independentemente de
a Pormenos oferecer preços mais em conta.
AGILIDADE NA COBRANÇA
Quem chega primeiro à fonte bebe água limpa. Na cobrança é a mesma coisa.
Em geral as pessoas não devem apenas a uma loja, principalmente quando
estão com problema. Assim, quem chega primeiro recebe, por isso a cobrança
tem de ser ágil e muitas vezes até preventiva. Nós, por exemplo, selecionamos
os valores mais altos e ligamos para o cliente dias antes do prazo de
vencimento lembrando sobre o débito. Qualquer empresa pode fazer isso, ou
seja, acima de determinado valor que considere importante, educadamente
ligar para o cliente e lembrá-lo de que vai vencer a conta.
Com relação à cobrança, depois que vence o débito, quanto mais cedo o
lojista cobrar tanto melhor, porque mais fácil será para receber. Alguém
sempre passará na frente do lojista que espera demais para cobrar e, quando
isso ocorre, pode não sobrar para ele.
ALUGUÉIS
De modo geral, as empresas varejistas trabalham em prédios alugados, muitas
vezes com loja num shopping center - tendência mundial no varejo - onde
todos os espaços são alugados. E rotineiramente o aluguel significa um custo
alto, daí o porquê de em alguns shoppings a rotatividade chegar a 20 e 30%
ao ano. Tem até uma máxima que diz que “quem não sonega não dá certo
nesses locais”. Manter uma loja em shopping é tão caro que é preciso
sonegar: sonegar venda ou tributo. Os aluguéis realmente são caros pelo
volume de vendas realizadas e porque, em muitas cidades, poucas pessoas
investem em prédios na área central. No caso de Passo Fundo, cinco ou seis
investidores são donos de quase metade dos imóveis do centro.
Temos histórias longas sobre aluguéis e podemos dizer que o locador
sempre olha para o alto quando quer alugar, nunca pela média ou pelo mais
baixo, isto é, se um banco pagar x pelo imóvel, esse passará a ser o parâmetro
que ele usará para os lojistas. Desse modo os aluguéis vão se tornando altos e
muitas empresas não se dão conta de que os custos ficam acima da média,
encarecendo as mercadorias. No passado, marcava-se 30% em uma
mercadoria de baixo para cima e sobrava algum dinheiro, atualmente
precisamos marcar 50% de cima para baixo e às vezes não sobra nada, e um
dos vilões é o aluguel.
O varejista precisa tomar cuidado, pois depois que investe e se instala num
lugar acaba refém. Por isso deve analisar bem o proprietário, fazer um bom
contrato, de preferência longo, embora hoje, por lei, a partir do terceiro ano, o
locador possa fazer um ajuste judicialmente baseado na média da região. Se o
valor que ele recebe estiver defasado, ele pode pedir o reajuste (o contrário
também vale para o lojista). É complicado ir para a Justiça, o que notamos é
que o Judiciário tende a ir para o lado do proprietário, mesmo porque fica
fácil para o locador apresentar os aluguéis mais caros que existem na região,
pois esses todos conhecem e os que pagam as locações mais baixas ficam
quietos.
Existe ainda a questão das chamadas imobiliárias, empresas que se
proliferaram no país de modo intenso e procuram aumentar o valor dos
aluguéis, pois ganham 10% para gerir a locação. Na prática, há um
movimento para os aluguéis ficarem caros, principalmente na área mais nobre
da cidade que é limitada e onde existem os aventureiros que, apesar de tudo,
não se importam em pagar preço alto. Mas temos exemplos no mundo inteiro
de empresas de sucesso que nunca abriram suas lojas nos lugares nobres,
como o supermercado Aldi da Alemanha e a americana Wal-Mart, o maior
varejo do planeta que começou pelas cidades pequenas. Outro fator que eleva
os aluguéis é a sonegação. É grande a quantidade de locações informais,
porque o proprietário quer receber informalmente para não pagar imposto e o
lojista, que tem dinheiro sobrando por sonegar, também quer.
Nesse contexto, o melhor é conseguir ter dependências próprias. Muitas
vezes é mais vantajoso estar num lugar menos nobre, mas em prédio próprio,
do que estar em área nobre em prédio de terceiros, principalmente para quem
tem só uma loja. Quem tem rede de 200 lojas e perde uma ou duas ainda fica
com 198, o que também lhe dá maior poder de barganha, pois ele pode fechar
uma loja se quiser, e o locador sabe disso.
Ao lojista recomenda-se efetuar contratos bem-feitos, de preferência com
prazo longo e, principalmente, parcimônia nos investimentos, pois aplicará
num prédio que não é seu. Ao fazer melhorias que se agregam ao prédio, o
proprietário tem sua cobiça despertada. A maioria das nossas lojas está em
prédios alugados e, como prática, não ocupamos os melhores pontos da
cidade porque invariavelmente é muito caro. O Grupo Grazziotin pratica a
teoria de não estar na primeira zona - em uma ou outra cidade estamos na
zona nobre, pelo tempo que ali atuamos -, em razão disso nossos aluguéis são
mais módicos.
O aluguel é um encargo de todo mês. Não importa se o negócio vai bem ou
mal, se chove ou não, a cada 30 dias tem de ser pago, e é despesa que o lojista
não tem como gerir. A luz pode ser desligada, é possível redimensionar o
número de funcionários, pode-se gastar menos papel, tudo pode ser gerido,
menos o aluguel: ele é contratual. A gente sabe que, nas áreas mais nobres das
cidades e nos shopping centers , o aluguel é o vilão do lojista.
CASE DA QUADRA UM
Há conceitos comuns: o sol nasce para todos, ninguém é uma ilha, sozinhos
não somos ninguém. Creio que o comerciante deve e pode ter esse espírito.
Temos várias entidades de classe, algumas antigas. Eu mesmo fui presidente
da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sincomércio, ajudei a fundar e
presidi a Câmara de Indústria, Comércio, Agropecuária e Serviços de Passo
Fundo (Cicasp), precursora da reunião de setores de atividades econômicas
numa mesma entidade. Com isso quero dizer que sempre tive esse espírito
associativo, lidei muito com entidades de classe, inclusive em âmbito estadual
e nacional. Sempre tive o cuidado de separar as empresas de associativismo,
um complementando o outro. Acredito que aprendi muito na convivência com
os colegas. O importante é não inverter os interesses e desleixar do negócio,
pois muitas vezes o canto da sereia nos leva para caminhos sem volta, e quem
se penaliza é a empresa; logo, o equilíbrio nas ações é fundamental. E nesse
sentido tenho um case importante em Porto Alegre, do qual me orgulho e faço
questão de relatar.
A Rua Voluntários da Pátria, em Porto Alegre, sempre foi considerada uma
rua de prostituição, de submundo, principalmente à noite, embora tenha sido
essencialmente comercial. Ali, no passado, existiam os grandes atacados da
capital gaúcha. Onde está nossa filial era a União de Ferros, grande atacadista,
e a rua tinha uma característica: nela não passavam automóveis, só os ônibus.
O passeio público tinha um metro de largura e no meio da rua estavam os
trilhos dos bondes desativados. Nesse local, construímos um grande prédio de
7.500m , hoje transformado em um shopping pelo seu tamanho e arquitetura.
2
Ele ainda guarda obras do grande escultor Paulo Siqueira que são visitadas
por muita gente, inclusive por estudantes de arte.
Como o panorama dessa parte da cidade não era dos mais atraentes,
decidimos investir e criamos a Associação dos Lojistas da Voluntários da
Pátria (Quadra Um), da qual fui presidente. Por sugestão do publicitário
Norberto Bozzetti colocamos esse nome, Quadra Um, por sermos os pioneiros
nesse tipo de ação. Todas as quartas-feiras eu viajava a Porto Alegre para uma
reunião com dez ou 12 lojistas, entre os quais estava um grupo de palestinos,
o Banco Bamerindus, o mercado Dosul e o pessoal da Ughini, que tem loja
grande e antiga no local. Havia mensalidade proporcional ao tamanho de
fachada e ao potencial de pagamento de cada um e, com esse dinheiro e mais
recursos da Prefeitura, investimos numa ação pioneira em Porto Alegre. Uma
placa como marco ressalta o que foi feito na época do prefeito João Dib.
Modificamos a quadra de tal forma que triplicamos a largura dos passeios,
retiramos os trilhos dos bondes e modificamos o trânsito.
E houve repercussão: surgiram a Quadra Dois, a Quadra Três e a Quadra
Quatro, que vai até o mercado público de Porto Alegre. Uso esse exemplo
para ressaltar a importância da colaboração entre as pessoas e que pode
aglutinar os empresários. Isso foi possível porque os lojistas não consideraram
os outros comerciantes, ao redor, concorrentes. Eu dizia que, melhorando a
quadra, todos venderiam mais, podíamos ser concorrentes, mas dentro da
postura de todos crescerem. Esse sistema de cooperação não é comum. Meu
pai comentava que, quando os comerciantes se reuniam para combinar algo,
eles já saíam da sala pensando em como enganar o outro, mas creio que não
precisa ser assim, há lugar para todos. O cliente de um não é obrigatoriamente
o cliente de quem está no outro lado da rua, os públicos são diferentes. E,
mesmo que atuem com público idêntico, há gente para todos. Além disso,
quando alguém ao lado vai mal, a tendência é de o outro vizinho ficar com a
imagem de que aquilo não é coisa boa. Por que as pessoas vão à Nova York?
Porque é uma cidade bela, que cresceu. Coisa boa puxa coisa boa.
É importante haver as associações. Elas acontecem na área de material de
construção, na de joalheria e na varejista também, mas no geral nota-se que
isso ainda é incipiente. As pessoas preferem fazer comércio sozinhas, não
juntas. Há sempre querelas e oportunistas criando entidades para angariar
dinheiro e depois colocá-lo no bolso, e isso parece ressabiar a maioria dos
lojistas. Mas creio que tudo vai evoluir para algo positivo. Nos shoppings, as
associações acontecem como obrigação, mas na rua é raro. Agora os lojistas
da Rua Morom, em Passo Fundo, aglutinaram-se. No passado, na Avenida
Brasil, o Rigotto sempre fazia algo no Natal. No bairro São Cristóvão também
houve a tentativa de organização. O lojista precisa assumir o espírito
associativista para não perder para atividades mais organizadas como bancos,
governo ou até para a informalidade. Uso o exemplo de Porto Alegre para
conscientizar, mas reconheço que não foi simples, levou três ou quatro anos
para sensibilizar que era legítimo alguém sair de Passo Fundo e vender esse
peixe. Não foi simples convencer a Prefeitura nem fazer o projeto de
calçamento, esgoto, iluminação e água, tirar os paralelepípedos e colocar
asfalto, mudar a calçada de um para três metros de largura e construir
passarelas para demarcar a Quadra Um. Mas tudo foi providenciado por nós,
e até hoje esse melhoramento está presente. O que fazemos às vezes demora,
mas os benefícios podem ser duradouros ou permanentes. Alguém precisa
tomar a iniciativa, pois na maioria das vezes se ficarmos esperando pelos
outros nada acontece.
COMPRAS POR IMPULSO
Uma das situações que mais acontece no varejo é a compra por impulso.
Estudos indicam que provavelmente dois terços das compras são feitas por
impulso, ou seja, o sujeito vai a um lugar comprar determinada mercadoria e
leva outras adicionais. Tanto é assim que muitas pessoas, para não incorrer
nesse problema, vão ao supermercado com a lista certinha. Mesmo assim, no
decorrer do passeio entre as gôndolas, sempre encontram algo para comprar
que não estava previsto.
É muito usado esse modelo de apresentar a loja de forma que tenha uma
configuração para facilitar as compras de impulso. É um trabalho feito com
propriedade e entra muito no leiaute, na maneira de fazer promoções, de
apresentar os produtos e complementos e de expor, principalmente as
mercadorias de estação. A pessoa pode chegar na época da Páscoa e não ter
incluída na sua lista a compra de bacalhau, mas no supermercado, ao ver esse
produto bonito, decidir comprar. É comum o cliente entrar para comprar uma
calça e adquirir a camisa linda que encontrou, em muitos casos deixando a
calça que o levou para a loja.
A ideia das pessoas muda muito de acordo com o que enxergam, por isso
na loja é comum a pessoa dizer, ao ser abordada pelo vendedor, que está
apenas olhando. E não raro de repente ela está com uma mercadoria na mão e
vai ao caixa. Isso precisa ser estudado pois faz parte do marketing e do modo
de vender. A descoberta de como fazer isso acontecer é quase uma arte, há
pessoas que fazem com mais propriedade, há empresas que fazem melhor.
Mas é algo que pode ser praticado, estudado e avaliado, pois à medida que o
lojista capta o que acontece pode melhorar o sistema e continuar vendendo
mais.
Nesse sentido a vitrina é muito importante, é a parte da loja mais vista.
Muitos compram por causa do que está exposto. Estudos mostram ser grande
o número dos que compram por causa dela. Por isso a vitrina deve ser
montada com mercadorias que tenham bom estoque. A camisa a ser exposta
tem de estar em quantidade na loja, provavelmente muitos vão adquiri-la. E
essa quantidade não pode estar escondida, é preciso disponibilizar as
mercadorias que estão na vitrina de tal forma que o cliente as encontre com
facilidade.
Outra providência é antecipar estações e eventos. Produto escolar exposto
60 dias antes do início das aulas vende bem. Apesar de não terem ido à loja
para isso, ao vê-los muitas pessoas acabam comprando. Isso também acontece
na Páscoa, é grande o número dos que antecipam compras nessa data, pois
sabem que na última hora invariavelmente alguns produtos faltarão. O mesmo
se repete no Natal. Por isso deve haver antecipação na remessa de produtos
sazonais para a loja. No passado costumávamos remeter alguns produtos
natalinos, como enfeites, por exemplo, em 1° de dezembro e invariavelmente
ocorriam sobras. O que fazemos hoje? Enviamos essas mercadorias para a
loja no final de setembro. Assim as vendas em outubro são razoáveis e a
maior quantidade é vendida em novembro. Em dezembro, vende-se o que
sobra. É que as pessoas enxergam esses produtos e compram por impulso, em
outubro elas não vão a uma loja para adquirir enfeites natalinos, mas ao vê-los
expostos acabam comprando.
A compra por impulso é realidade, o lojista deve ter consciência dela.
Sendo assim, deve circular pela loja para sentir se as mercadorias incentivam
essa atitude em seus clientes e, caso sinta que não, deve rever seu modelo e
ensinar seus funcionários a fazer o mesmo, até porque tais impulsos são de
momento, isto é, se começa a chover, os guarda-chuvas devem estar na porta
da loja. É comum as pessoas comprarem um guarda-chuva simplesmente
porque o enxergaram. Por isso é que até durante o dia se faz necessário mudar
o leiaute do ponto de venda. Usam-se muito as pontas de gôndolas para expor
determinadas mercadorias, como é o caso dos supermercados com pilhas e
promoções do tipo “Compre um e leve outro grátis”, “Compre um perfume e
leve um sabonete”, sempre com o objetivo de motivar a pessoa a comprar.
Agora, até no balcão de carnes os produtos estão expostos.
Hoje é muito importante ter um excelente leiaute, um modelo de
apresentação de mercadorias para aproveitar ao máximo esse impulso da
pessoa. Mas há ainda o outro lado dessa realidade: o lojista também precisa se
policiar e não comprar por impulso. Nós temos de dar as condições para que o
consumidor compre por impulso; porém, se o lojista comprar por impulso,
isso se torna um perigo grande para seu negócio. Vender o que foi adquirido
nessa circunstância é difícil porque, em regra, são produtos com público-alvo
determinado e há o modelo da loja, o histórico do que vende e do que não
vende; logo, é necessário muito cuidado para não ser levado pela emoção, as
compras têm de ser feitas racionalmente. Notamos, porém, que não são
poucos os empresários que compram por impulso. Outro dia, conversando
com uma ex-funcionária que hoje tem comércio, ela disse: “cada vez mais
tenho de cuidar do pessoal que me oferta mercadorias que não devo comprar”.
E confirmou que a maioria dos seus colegas tem dificuldades porque não
consegue policiar-se em relação à compra por impulso. Foi ela quem sugeriu
que abordasse o assunto neste livro. “A falta de foco dos lojistas”, reiterou
ela, “é impressionante e isso ocorre com quem compra por impulso.”
CRIATIVIDADE
Tudo o que é bonito e funciona acaba sendo copiado. Procuramos copiar o
que os outros fazem de melhor. O importante não é apenas copiar, é
aconselhável sempre criar alguma coisa, inovar. Na medida em que alguém
inova, torna-se diferente dos demais e isso é saudável porque hoje é preciso
ter algum diferencial. Por que alguém vai a determinada loja se existem duas
iguais? Talvez porque uma talvez tenha algo diferente ou algo que satisfaça e
impressione melhor o cliente, que o atraia com mais intensidade do que a
outra. São coisas criadas ou possíveis de ser criadas pelo lojista, por isso a
criatividade é um fator que precisa ser desenvolvido. Ela não é apenas uma
coisa inata, um dom, como constatamos em gênios como Pelé ou Ayrton
Senna. Mas, mesmo os dois, com todo o talento, se não treinassem nem
tivessem bons técnicos e bons companheiros de equipe, possivelmente não
teriam atingido o mesmo desempenho. Assim, sem otimização das virtudes e
dos talentos que possui, uma pessoa talentosa corre o risco de desperdiçar
tudo.
No varejo é indispensável ser criativo, experimentar coisas diferentes,
observar se o que os outros fazem está dando certo e procurar fazer melhor
ainda. Muita coisa a gente aprende visitando permanentemente os varejos.
Recentemente, estive em Porto Alegre e vi uma campanha da C&A, que
não copiei, mas que me estimulou a fazer algo de outro modo e surpreender as
pessoas. Saber copiar também é criatividade. Criativo não é só aquele que
descobre coisas novas. O ferro, a roda, o fogo já foram descobertos, já têm
seus usos, mas ainda se pode melhorar o modelo da roda, as coisas evoluem a
todo instante. Então, o lojista tem que praticar e desenvolver isso em seus
funcionários. É um desenvolvimento que se começa a fazer dentro da loja,
pela própria atividade, porque para quem busca aperfeiçoar a renovação ela
acontece; para quem premia a inovação ela aparece. É por isso que o
empresário deve implantar um modelo inovador, estabelecer um jeito
diferente de fazer as coisas, e, nesse ponto, acredito que a Grazziotin tem tido
êxito. A Pormenos é uma loja que permanentemente modificamos,
redesenhamos, reorganizamos. Já vendemos até mercadorias perecíveis, hoje
em dia vendemos moda.
A criatividade ter muitas facetas. Pode ser no modo de expor a mercadoria,
de se dirigir ao cliente ou dentro do leiaute - na Grazziotin, na Pormenos e na
Tottal os caixas estão na frente, copiamos dos supermercados, mas existem
lojas que ainda não copiaram. Trazer o caixa para a frente foi inovação, é uma
criatividade que foi desenvolvida. Outros modos de inovar podem ser no
horário e na iluminação. Quando muda o horário em função do verão, o lojista
deve se adaptar a ele, mas há estabelecimentos que permanecem com o
horário antigo, fecham às 18 horas sem perceber que é a mesma coisa que as
17 horas de antes, sendo que muito cedo para fechar o comércio.
Há casos em que as pessoas não conseguem sair do seu trilho, da sua
rotina, e isso é um problema porque tudo envelhece, do ser humano à loja e à
sociedade. A história mostra povos que criam, povos que se deterioram e até
desaparecem após chegar ao topo. O ser humano tem potenciais que
permanentemente precisam ser desafiados para manter sua criatividade viva, e
é isso que dará um diferencial na hora da venda. O lojista que for criativo,
inovador, sem dúvida atrairá as pessoas, pois elas se movem pela novidade,
pela curiosidade, adoram coisas diferentes, até porque a rotina cansa. É assim
o mundo. Os políticos também precisam se renovar, vejam a governadora
Yeda Crusius: sua proposta de governar de uma maneira diferente venceu as
eleições.
MOTOBOYS, VENDA COM ENTREGA
Sempre surgem modos diferentes de vender e hoje a tele-entrega se expandiu,
está disseminada em todos os ramos, em todas as áreas. Antes era mais difícil
oferecer esse serviço, por causa dos custos. Gás, lanches, bebidas,
medicamentos, tudo o que alguém quiser será entregue em casa pelos
chamados motoboys. É um novo veículo de comunicação com o consumidor e
todos precisam estar atentos a ele. Na área de material de construção já está se
usando muito isso. Por exemplo, faltando três peças para completar um
serviço, quem não quer sair para comprar, por uma série de motivos,
simplesmente liga para a loja e em minutos tem seu pedido atendido. Hoje a
oficina mecânica que não tem a peça de que seu cliente precisa age com
rapidez e a providência chega logo. E, às vezes, a peça sai de um centro de
distribuição, viaja quilômetros e em poucas horas está na oficina. Isso é muito
prático, pois pela variedade de marcas e de modelos de carro que se
modificam anualmente é impossível ter na oficina um estoque de peças na
quantidade da demanda.
Esse modelo de um pedido feito por telefone para entrega da mercadoria
rapidamente deve ser cada vez mais observado com atenção pelos lojistas, por
ser uma comunicação ágil e com custos bem baixos. Se analisarmos bem, o
serviço dos motoboys tem custo baixo. Claro, não são em todos os ramos que
se pode utilizá-lo, mas é uma alternativa que cresce rapidamente. Certas
atividades se consolidaram a partir disso, como é o caso da Pastelaria do
Nestor, em Passo Fundo. No ramo da alimentação tipo fast-food, esse serviço
é dominante e já existem estabelecimentos que trabalham só com tele-entrega.
É algo novo em que o lojista também tem de pensar. Nós, na Grazziotin, não
o usamos muito, mas é um serviço que vem crescendo rápido e tem
possibilidade de crescer ainda mais.
HORA EXTRA E OUTRAS QUESTÕES
No Brasil, a hora extra tem várias conotações. Quando há desemprego é
considerada problema, pois estaria tirando a vaga de alguém; mas quando há
crescimento da demanda de algum produto as empresas a usam para
momentaneamente a atender. Se a demanda cai, a empresa deixa de utilizar a
hora extra; no caso de a demanda persistir, a empresa aumenta o quadro de
funcionários. Ela é uma espécie de amortecedor existente nas empresas em
relação às necessidades de mão de obra.
A experiência em nossa empresa mostrou que a hora extra, como já
dissemos, é um problema que pode viciar. E esse vício tem vários enfoques.
Quem faz hora extra em demasia é um funcionário de custo alto, pois
dependendo do sindicato e da negociação tem acréscimo mínimo no salário de
50%, podendo, em certos casos, ter um acréscimo de 100%, principalmente se
a hora extra for feita à noite ou em final de semana. Além disso, há um teto
máximo de duas horas extras por dia trabalhado e, se isso não for observado,
podem acontecer problemas com o Ministério do Trabalho.
Sou de opinião que o lojista deve ter muito critério porque a hora extra
também vicia. Quem faz hora extra sistematicamente tem seu ganho ampliado
e, no instante em que aumenta o salário, aumentam as despesas. É automático,
pois quem ganha mais procura gastar mais e até incorpora a despesa de tal
modo que não consegue sair dela facilmente, por exemplo comprando um
automóvel e assumindo prestações por quatro ou cinco anos.
Dessa forma, a pessoa jamais vai querer deixar de fazer hora extra. Forçará
de várias maneiras, até apelando para a “operação tartaruga” durante o
período normal de trabalho para poder alegar depois que ainda tem o que
fazer. E isso pode se tornar endêmico, ou seja, se um está fazendo, por que o
outro não pode fazer? Assim, quando a empresa se dá conta, tem um valor
extraordinário de horas extras a pagar e arca com um custo adicional.
Mas o problema mais sério que vejo não é apenas o custo maior, pois esse
pode, eventualmente, ser repassado ao consumidor. Na realidade ninguém
gosta de ver o outro trabalhar oito horas para ganhar x enquanto trabalha dez
horas e ganha o mesmo x. No início isso pode criar certa satisfação na pessoa
que está ganhando um pouco mais, mas depois pode se transformar em um
sentido quase de humilhação por trabalhar duas horas a mais para ganhar
quase o que o colega ganha. Com isso o moral da equipe começa a cair.
Parece engraçado, mas é verdade. Cria-se um mal-estar na empresa que mina
a saúde do ambiente, como se ela estivesse cometendo uma injustiça. O
funcionário começa a achar que o dono da loja é injusto, pois o faz trabalhar
dez horas para ganhar o mesmo salário que recebe o colega que trabalha oito
horas. Como o mercado é diverso e as pessoas se comunicam, esse sentimento
de “injustiça” pode ser disseminado facilmente na troca de informações entre
funcionários de lojas vizinhas. Quem faz horas extras parece que está sendo
injustiçado por ter de trabalhar mais do que o normal.
A hora extra deve ser usada somente para uma necessidade diferenciada,
como um final de semana ou uma festa. Nós nem aceitamos que se faça hora
extra, nós compensamos, pois pela lei se pode fazer a compensação na mesma
semana. Na Prefeitura de Passo Fundo, por exemplo, cada prefeito que entra
fala em eliminar a hora extra e não consegue. Por quê? Porque incorporou aos
hábitos das pessoas. Outro aspecto: meu pai dizia que todo o mundo é
obrigado a tirar férias, ele não aceitava comprar férias. Na opinião dele, a
pessoa até poderia não gozar as férias e ficar com o dinheiro, mas não ficaria
satisfeita. Hoje em dia é legalizado comprar um terço das férias, mas
procuramos não fazer isso porque achamos que o direito ao descanso deve ser
exercido; caso contrário, acontece o mesmo que ocorre com a hora extra.
Quem deseja ter um alto moral precisa estar dentro das coisas que são
razoáveis. Sempre que alguém confessa não ter tirado férias, afirma isso com
um sentido de perda, de sacrifício, insinuando que quem tira é privilegiado
em relação a ele que não usufruiu desse direito.
Apenas para complementar a postura da Grazziotin nessa área: não damos
vale nem deixamos fazer desconto em folha. O que ocorre com o vale? O
funcionário trabalha uma semana e pega um vale e assim por diante. Então,
no final do mês, ele recebe um salário equivalente ao vale de uma semana.
Nessa hora, por incrível que pareça, ele não se lembra dos vales que pegou e
lamenta por somente receber aquela quantia. Para ele, fica parecendo que seu
salário se resume àquilo que recebeu depois de descontar os três vales. Isso é
natural. E é mais um procedimento que vicia. Quem recebe por semana, por
quinzena ou por mês programa os gastos da mesma forma: semanal,
quinzenal ou mensal. Em regra, gasta à medida que ganha. Quem recebe
semanalmente tem até mais facilidade de gastar, pois não “precisa” poupar,
quer dizer, poupa apenas por uma semana, pois dali a sete dias receberá
novamente. Como essa pessoa faz um orçamento semanal, não aprende a
poupar. Quem ganha por mês precisa fazer um orçamento de tal forma que o
salário dure 30 dias e, com isso, cria o espírito de poupança. Sei que na África
do Sul os mineiros só recebem anualmente, trabalham durante o ano
recebendo comida e cama, enquanto o salário fica guardado. No fim do ano
recebem todo o dinheiro. As pessoas se habituam ao modo como são
treinadas, conforme vão vivendo. Não damos vale, a única coisa que fazemos
na Grazziotin é, diante de algum problema extemporâneo, como doenças ou
acidentes, encontrar uma forma de ajuda.
Outra prática negativa que muitos comerciantes adotam é oferecer desconto
em folha. Em nossa empresa não vendemos mercadoria nem deixamos outras
empresas oferecer serviços a funcionários descontando em folha, e a toda
hora recebemos propostas nesse sentido. O que ocorre? O mesmo relativo ao
vale. Quem recebe R$ 100,00 de salário e no holerite já desconta R$ 5,00 de
seguro, R$ 10,00 de prestação, R$ 5,00 de outra coisa qualquer, ao receber o
salário, acha que ganha R$ 80,00. Por mais que saiba que adquiriu coisas
descontando na folha, a realidade, para ele, é que recebeu apenas R$ 80,00.
As pessoas são vulneráveis e a vulnerabilidade na questão do vale e do
desconto em folha é danosa, prejudicial no que diz respeito às dificuldades
para viver financeiramente e segundo sua formação filosófica e cultural. E
essa forma de encarar as finanças será transmitida aos filhos, o que faz com
que no Brasil exista quantidade enorme de pessoas cadastradas no SPC. Tais
práticas fazem também as empresas ir mal, pois afetam o moral da equipe, as
pessoas ficam tristes. Não há como ficar alegre ao chegar ao fim do mês e não
receber todo o salário que, no geral, já é considerado baixo, aquém de suas
reais necessidades.
Na Grazziotin, não damos vale, não há desconto em folha nem hora extra
porque todas essas coisas se incorporam e criam problemas para as pessoas e
para a empresa. E, veja o nosso caso, estamos recebendo pelo sexto ano
consecutivo o título de melhor empresa em gestão de pessoas no Brasil, na
faixa de 1.001 a 2 mil funcionários, outorgado pelo jornal Valor Econômico.
As pessoas racionalmente preferem nosso modelo. Claro que também são
selecionadas as pessoas que têm esse tipo de comportamento. E sentimos que
a cada ano há menos funcionários da Grazziotin que devem no mercado, que
estão cadastrados no SPC ou atrasam pagamentos porque o clima e o modelo
que estamos montando é o da coerência, da poupança, é o modelo de ser
racional.
TRABALHO INDIVIDUAL
Uma máxima de expressão forte diz que o ser humano precisa ser respeitado
em sua individualidade. Com insistência destacamos os direitos individuais
das pessoas. No trabalho também é importante essa visão; sem praticar o
respeito pelo próximo, notamos que as pessoas se agrupam para trabalhar e
duas acabam fazendo o mesmo serviço. Uma vez, em Brasília, contei oito
microtratores cortando grama em apenas um canteiro. Fiquei imaginando que
para não bater um no outro os operadores tinham de fazer como no globo da
morte dos circos. Claro que o serviço fica pronto mais rápido se for feito por
oito pessoas ao mesmo tempo, só que a logística para deslocar essas máquinas
para o próximo canteiro é elaborada, demorando mais para concluir o
trabalho. Se cada microtrator assumisse desde logo um canteiro, talvez em
uma hora o trabalho estivesse concluído.
Quem coloca duas pessoas para trabalhar, uma dentro do buraco que está
sendo cavado e outra fora, faz um poço; se colocar oito não consegue, pois
serão quatro dentro e quatro fora se atrapalhando. A teoria do trabalho
individual está entre as coisas importantes do varejo e das empresas em geral.
Nós procuramos desenvolver um trabalho cuidadoso nesse sentido tentando
fazer com que as pessoas tenham funções individualizadas, ou seja, trabalhos
individuais, com cada uma fazendo determinado serviço. Se a loja precisa de
uma pessoa para fazer as conferências, haverá um funcionário para essa
tarefa. Nunca haverá dois realizando a mesma tarefa. Há quem diga que é
difícil que o serviço ande contando com apenas uma pessoa. Mas um carrinho
de mão é diferente de uma padiola justamente porque o primeiro precisa de
uma pessoa para ser útil, enquanto a padiola precisa de duas; mas é só colocar
uma roda na padiola para ela precisar de apenas uma pessoa para funcionar.
Em regra todas as atividades, se forem modificadas, ajustadas, permitem o
trabalho individual.
Quem trabalha desse modo valoriza o indivíduo, é possível avaliar - algo
que é mais difícil quando são dois na mesma tarefa. Mais: quando as pessoas
estão sozinhas, elas se concentram mais em suas atividades. Até podem,
eventualmente, estar pensando em outras coisas, mas dão bastante atenção ao
seu trabalho porque sabem que serão avaliadas. Quando estão juntas, as
pessoas conversam em demasia, dispersam a concentração e, depois, não há
como avaliar. Em um shopping de Florianópolis, entrei na loja de uma grande
rede de material esportivo e observei quatro funcionários conversando em um
grupo, adiante havia mais dois conversando e dois conduzindo um mesmo
carrinho de mercadorias. Tudo isso acontecia em uma metade da loja,
enquanto, na outra metade, não havia ninguém. Isso mostra que há a
tendência das pessoas em se agrupar e assim se dispersar do trabalho. A
produtividade aumenta muito quando o lojista define tarefas individuais. Em
alguns horários, nas lojas da rede Pormenos, há apenas quatro funcionários.
Se ficarem dois a dois conversando, na prática é como se a loja estivesse com
apenas dois. Isso é algo que nem todos sabem fazer. Parece simples, mas não
é. Vi que na China há muita gente trabalhando. Para fazer um crachá, por
exemplo, são necessárias seis pessoas, mas o incrível é que cada uma tem
uma função específica.
Na Grazziotin, chegamos a ter 2.700 funcionários quando tínhamos 70
lojas. É claro que hoje muitas atividades são terceirizadas, mas atualmente
temos 260 lojas e 2 mil funcionários. O trabalho individual é um modo de
aumentar a produtividade e valorizar as pessoas, e esse é um ponto importante
para contrapor quem diga que tal racionalização é coisa de “gringo pão-duro”.
Quem individualiza o trabalho consegue também valorizar individualmente a
pessoa. Em regra, onde há duas pessoas fazendo a mesma coisa, uma está
sobrando e pode ser dispensada. Desemprego? Não, produtividade. Hoje é
mais importante a produtividade do que o emprego: ela dá continuidade ao
país, querer empregar todo o mundo vira empreguismo.
UNIFORME
O Brasil é um país meio avesso ao uniforme, nem os padres usam batina.
Entre nós há certa ojeriza, enquanto em outros locais o uniforme é sinal de
status.
Quando estive no Japão, fiquei impressionado ao ver todos os alunos
uniformizados, inclusive com o cabelo cortado igual. Fui cercado por eles,
todos muito alegres, para uma fotografia, ocidentais são exóticos para eles.
Aqui no Brasil já houve esse costume. Quando estudei no Colégio Marista
Conceição de Passo Fundo, usava uniforme e particularmente acho que ele é
fundamental nas lojas e nas empresas em geral. Poucos dão atenção ao
uniforme, mas no nosso caso ele nos diferencia dos demais, identifica a
empresa e disciplina as pessoas. Há uma série de coisas significativas ligadas
ao uniforme. Quem chega a uma loja e não vê alguém uniformizado como
saberá quem são os atendentes? Quando os funcionários estão uniformizados,
o cliente sabe logo a quem se dirigir, principalmente se seu nome constar no
crachá.
A questão da disciplina é interessante. Na época da escola quem fazia uma
bobagem era facilmente identificado por causa do uniforme. Só pelo fato de
estar vinculado a um estabelecimento de ensino, o universo em busca dessa
identificação reduziria, e aí, fosse o indivíduo branco, baixinho, loiro e
corresse em determinada direção, não tinha como ele fugir de suas
responsabilidades. Claro que a função do uniforme não é identificar faltosos,
mas na realidade a pessoa sabe que pode ser identificada com facilidade e se
comporta melhor. Quando a gente tirava o uniforme, até ganhava uma
sensação de liberdade.
Uniformes, inclusive, podem ser caros para confeccionar. Na Grazziotin, há
muitos anos, o uniforme era criado por estilistas para tentarmos dissuadir a
ojeriza que existia em usá-los. Além disso, ele deveria ser especial e
diferenciado, já que vendíamos moda. Mesmo assim nunca funcionou direito,
metade gostava, metade, não. Com o tempo concluímos que o uniforme pode
ser simples, desde que seja bem característico para o vendedor se diferenciar
dos clientes da loja. No passado, alguns funcionários nossos tiravam o
uniforme antes de sair da empresa, após o expediente, pois não gostavam de
estar na rua com ele. Hoje, ao contrário, notamos que nosso pessoal tem
orgulho de usar o uniforme. A situação se inverteu, ou seja, o mundo vai
girando e os conceitos vão modificando. E o custo de uma camiseta e de uma
calça jeans, atualmente, é baixo. Creio que hoje é importante o uniforme já
fazer parte do custo de pessoal, pois vale o investimento.
No Centro Administrativo ocorria algo interessante quando novos
funcionários iniciavam o treinamento: os grupos circulavam sem saber quem
era da Tottal, da Pormenos, ou da Grazziotin. Hoje, quando o novo
funcionário chega, recebe o uniforme da rede em que atuará após o
treinamento e isso serve também para que os grupos se identifiquem e se
valorizem. Outra coisa que fazemos muito são os uniformes promocionais.
Quando ganhamos o prêmio nacional por Gestão de Pessoas, durante um mês
todos os funcionários vestiram uma camiseta diferente, específica de
divulgação desse evento. Durante uma campanha especial, procuramos ter um
uniforme diferenciado que a identifique logo, como um avental super-posto
quando estamos com promoção de cama, mesa e banho.
A pessoa que usa o uniforme de uma empresa sente-se mais integrada a ela.
Querendo ou não, incorpora o espírito da empresa. Quando veste o uniforme
de uma campanha, também incorpora o espírito dessa promoção. Quando se
analisa a pequena logomarca da Nike, semelhante a um bumerangue, no boné
de um tenista, por exemplo, há uma imediata valorização do esportista por ser
patrocinado por essa empresa.
Nós temos um case na empresa envolvendo a participação dos funcionários
e seus cônjuges em nossas convenções. No passado, os participantes
procuravam comprar ou fazer roupas novas para participar dessa atividade e,
como havia uma recepção na sexta-feira à noite e um baile no sábado, alguns
providenciavam roupas diferentes para cada um desses momentos e, claro,
isso acabava tendo um custo significativo para as pessoas. Diante disso, nós
sugerimos que os homens viessem de calças jeans e as mulheres de calça
legging ou saia, e passamos a dar as camisetas para usar nas convenções, uma
para a recepção e outra para o baile. Além disso, o clima que se cria na
convenção com todas as pessoas uniformizadas é especial, a gente sente que a
empresa é única, e isso é uma mensagem. Mais: a camiseta usada durante o
evento traz sempre o slogan que a empresa vai utilizar durante o ano seguinte
impresso, e isso gera a fermentação em torno do objetivo que desejamos
alcançar com ele.
CONTABILIDADE
Outra ferramenta eficaz para gerenciar o negócio é a contabilidade, algo que
remonta aos princípios da humanidade e nada mais é que um sistema usado
para organizar as contas, embora tenha o estigma de ser difícil. Não é difícil e
é fundamental, é algo similar ao orçamento familiar. No final do mês, a
pessoa registra o quanto entrou (salário) e o quanto saiu do caixa (luz, água,
telefone, colégio dos filhos, aluguel, supermercado, gasolina). Soma tudo e,
se faltar dinheiro, angustia, e é hora de rever as despesas. Para quem tem uma
receita líquida e certa - o salário - que até pode ser maior, embora nem sempre
seja possível, é saudável rever os gastos para prevenir-se contra a ciranda de
juros, pois aí tudo se complica.
Realmente a contabilidade é simples: de um lado, as despesas; de outro, as
receitas. Ela se torna difícil para quem deixa acumular muito tempo sem
fazer. Se o lojista, semanalmente, tem como prática fazer a soma das receitas
e das despesas e analisar o resultado, tudo se torna mais fácil e ele passa a
acompanhar sua atividade. Com o passar do tempo, para ter uma boa visão do
que está ocorrendo, é interessante fazer comparativos: ano sobre ano, mês
sobre o mesmo mês do ano anterior, mês sobre o último mês, ou ainda se
podem somar trimestres contra trimestres, semestres contra semestres. São
vários modos para comparar. Tenho case de amigos que estimulei a fazer a
contabilidade. “Onde estão os números?”, essa é a pergunta básica de quem
deseja ajudar nessa área. O negócio precisa ser traduzido em números. Com
os números, pode-se começar a montar um quebra-cabeça e ajustar as contas
de forma a direcionar o negócio. Claro, estamos falando muito simplesmente,
receita e despesa, mas podemos agrupar as despesas e as receitas. Há despesas
fixas e variáveis e dentro das receitas podemos avaliar os tipos de receitas.
Lembro um case local: analisando um restaurante, concluímos que a receita
entrava ao meio-dia e a despesa à noite. Então, não valia a pena abrir para o
jantar. Na medida em que foi eliminada a parte que dava muita despesa e
pouca receita, sobrou dinheiro. Coisa simples, mas difícil de detectar sem
olhar os números. Além de eliminar um foco de despesas, o restaurante criou
novas oportunidades, pois sem abrir sistematicamente à noite ficou livre para
fazer eventos especiais, com 30, 60 ou cem pessoas, e assim gerar receita,
tendo em vista o maior número de clientes.
Muitas empresas vão mal ou não conseguem melhores resultados por não
darem importância à contabilidade, ferramenta que tem o poder de direcionar
a empresa. Nas receitas, por exemplo, pode-se avaliar onde se consegue mais
rentabilidade. Pode ser por linha de produto, por produto, por horário: se a
loja vende bastante em determinado horário, pode-se melhorar o desempenho
nesse momento; se há um horário em que não se vende nada, pode-se até
fechá-la nesse meio-tempo. Há condições de adequar as despesas em função
do movimento de vendas. Se ele, por exemplo, é maior à tarde, não precisa
acender todas as luzes da loja pela manhã.
O Brasil deveria oferecer uma educação melhor desde o ensino
fundamental para ajudar as pessoas a pensar nisso desde pequenas. Hoje as
livrarias estão cheias de livros que ensinam a formar riquezas. Um deles conta
a história de dois pais : cada um dirigiu os filhos para rumos diferentes. O pai
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que dirigiu o filho para a concepção de poupar, de investir, o viu ficar rico;
aquele que não fez isso invariavelmente viu o filho ter pior desempenho, pois
as tentações são maiores para gastar do que para poupar. No comércio é a
mesma coisa, é grande o número de empresas que não têm contabilidade, ou
só têm aquela ajustada para satisfazer o fisco. Para isso contratam um
contabilista que vai recebendo os documentos e depois, dentro do prazo legal,
faz o fechamento. O prazo legal, dependendo do tipo de negócio, é uma vez
por ano e não é possível esperar tanto para acompanhar o que ocorre nele. Ele
deve ser acompanhado diária, semanal ou mensalmente. Para quem deseja
verificar um mês contra o outro é preciso emitir relatórios mensais.
Na Grazziotin, levamos muito a sério a questão da contabilidade e criamos
dois tipos. A legal, necessária para satisfazer as exigências de empresa de
capital aberto conforme a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e uma
contabilidade com índices utilizados para gerenciar o negócio. Nela podemos
utilizar um infindável número de índices, como o de venda por metro
quadrado, e nesse sentido pode-se descobrir, por exemplo, que determinado
metro quadrado vende três vezes mais do que outros. O que o lojista deve
fazer? Valorizar ou ampliar aquela área. Alguns supermercados fazem esse
controle inclusive por metro linear de prateleira, ou seja, o quanto vende cada
metro. Se o cliente está passando diante da prateleira e não está comprando,
algo está errado: o produto ou o apelo. É preciso avaliar. Quem tem
parâmetros, em termos de venda, para analisar toma medidas mais efetivas. É
possível analisar em termos de margem, ou seja, qual margem dá certo
produto e qual despesa decorre dele. Vender a lata de azeite, por ela não ter
muita embalagem, resulta em um índice de margem, mas se o produto é
vendido na fiambreria ele terá de ser cortado, pesado e embalado, há uma
série de atividades que incorporam seus custos e resultados.
Usamos um índice chamado linhas de venda. Cada produto é uma “linha” e
pelo tíquete a própria máquina dá a quantidade no final do dia, demonstrando
que foram vendidos tantas linhas e tantos produtos. É possível ver quantos
produtos saem por linha; se venderam 20 linhas e 30 produtos, cada linha
vendeu um produto e meio. Podemos também verificar a quantidade de itens
vendidos por cliente. Se averiguamos a venda de três itens por cliente,
podemos estabelecer como meta vender quatro produtos a cada um. Há
também como verificar as vendas de complementos, ou seja, se ao vender
uma calça também foram vendidos sapato, camisa e gravata. Se um colchão
foi vendido, será que o travesseiro também foi? Quando comecei na
Grazziotin, fazíamos um trabalho forte nesse sentido: para cada colchão
devíamos vender o travesseiro; a cada bicicleta, o farol; a cada rádio, a capa
de couro. O índice de venda de capa de rádio chegava a 80% e o de farol de
bicicleta era menor por ser um produto mais caro e nem todos utilizarem a
bicicleta à noite. Para o rádio, a capa era uma proteção, mas a margem dela,
um produto exclusivo, era superior à do rádio que todos os varejos vendiam.
Com esses índices podem-se estabelecer parâmetros e analisar ainda o
desempenho de vendedor a vendedor, ou loja a loja, e saber quem consegue
os melhores números. O mesmo pode ser feito por setor para verificar se um
vende duas peças por cliente e outro consegue vender três. Assim,
dependendo da margem e do valor do produto, é possível incentivar uma
coisa em detrimento de outra. É vital direcionar o negócio para onde os
indicadores dizem ser o melhor. Isso, na realidade, deve ser feito para tudo,
pois o mesmo ocorre quando se faz um exame para verificar o colesterol e os
triglicerídios e, se estão altos, é necessário apelar para medicamentos, mudar
a alimentação, enfim, é adotada uma série de atitudes para melhorar o
organismo. Com a empresa é a mesma coisa e essa atenção tem de ser
permanente.
Outro índice usado é quanto do estoque é pago pelo fornecedor. Quem tem
um giro rápido de mercadorias até consegue que todo o estoque seja pago
pelo fornecedor. Se não for assim, pode-se tentar um prazo maior que pague o
estoque, pois é menos capital de giro necessário para tocar o negócio. Desse
modo, usa-se essa parte do capital de giro para financiar a venda para o
cliente. Há um índice que informa a rotação do estoque, que está dividido por
grupo, subgrupo e até por produto. Às mercadorias que têm menor rotação é
preciso dar atenção diferenciada, e dentro do espírito do portfólio não se pode
deixar faltar o produto estrela, como também não adianta ter produto caixa
registradora e deixar faltar.
É preciso dar atenção a algo óbvio que às vezes não é conscientizado: o
giro do produto caixa registradora é muito rápido e o do produto problema,
muito lento; consequentemente, há a tendência de faltar o que vende bem e
sobrar o que vende pouco. Assim, sem definir que para o produto caixa
registradora é necessário ter dois meses de estoque na loja, é grande a
probabilidade de ele faltar. Outro parâmetro: a permanência máxima do
produto problema é de 180 dias, depois disso deve sair do negócio. O índice
de rotação do estoque é mensal e podemos pensar na permanência que é
índice anual. Para alguns produtos, há fases em que vendem mais. São os
sazonais que devem ser acompanhados dentro do ano para poder fazer a
média. Assim, todos os produtos, todos os setores e todos os grupos também
são acompanhados em termos de permanência.
Venda à vista e venda a prazo também é um índice, é importante saber o
percentual de cada uma, inclusive porque atualmente existe o uso intenso de
cartões de crédito. Algumas empresas pequenas não tinham contabilidade ou
sonegavam em demasia e ocorreu de a venda por cartão de crédito gerar um
faturamento maior do que a renda declarada ao fisco. Como alguém declara
faturamento de 20, se apenas com cartão de crédito recebeu 30? Essas
empresas tiveram problemas com o governo porque agora os cartões de
crédito são obrigados a fornecer ao fisco o somatório de venda. Quem tem
contabilidade e acompanha que os pagamentos com cartão de crédito
representam muito terá condições de adotar as medidas corretas.
Outro dado importante de análise é o custo da folha de pagamento sobre a
venda. Na folha tem de entrar tudo: salário, despesas com vale-transporte,
INSS, férias, fundo de garantia, possíveis demissões e até possíveis questões
trabalhistas. Assim, se o custo de pessoal é x, acompanham-se constantemente
os acontecimentos, podendo adotar a atitude que for conveniente. Na
Grazziotin, fazemos ainda o controle do turnover, que é o número de pessoas
que entram e saem da empresa no decorrer de determinado tempo para
verificar se estamos ou não recrutando bem os colaboradores. O turnover alto
pode sinalizar que a empresa está pagando mal, tratando os funcionários de
maneira errada ou, até mesmo, recrutando pessoas não compatíveis com o
negócio. Isso vale inclusive para as pequenas empresas que podem analisar
esse tipo de informação: “No ano passado saíram dois funcionários, neste ano
saíram quatro, o que está acontecendo?” O pequeno empresário até pode dizer
que guarda tudo na cabeça, mas acho que sempre vale a pena colocar no
papel. Os dados são importantes para análises e tudo pode ser justificado, mas
e se os funcionários se demitiram por atitudes equivocadas tomadas contra
eles? O dono precisa saber claramente dessas coisas.
A produtividade por hora também pode ser um índice. Fazemos esse
controle porque temos três tipos de carga horária: de quatro, seis e oito horas.
Achamos que a análise por hora trabalhada é ideal; assim quem trabalha
quatro horas deve produzir no mínimo a metade de quem cumpre oito horas.
Há também o índice relativo à cobrança no crediário: quanto foi vendido,
quanto proporcionou o acréscimo, qual foi a despesa, qual foi o resíduo,
quanto foi lançado em lucros e perdas. É uma série de coisas que envolvem
esse processo de venda a prazo. Sem parâmetros na área do crediário,
invariavelmente ocorrerão problemas sérios.
Não é simples administrar uma empresa, mas um software instalado no
computador do ponto de venda dá todos esses dados, é a maior barbada fazer
os registros e os controles. Antigamente tudo era feito na ponta do lápis. O
problema só surge para quem sonega informação, venda, imposto, porque terá
respostas distorcidas. Na maioria das vezes, sonegar é a pior decisão que um
empresário toma. Quem sonega tem dois problemas: o primeiro é que não terá
uma contabilidade de custos e de receitas para poder avaliar corretamente o
desempenho do seu negócio, o que significa futuras dificuldades para fazê-lo
andar melhor; e o segundo é o que fazer com o dinheiro sonegado.
Provavelmente esse dinheiro não poderá ser incorporado ao negócio, terá de
ser gasto.
Existem muitos outros índices: o número de negócios realizados, o número
de negócios a prazo, o valor médio de cada negócio e o valor médio de cada
negócio a prazo. E o que se constatará com esses índices? Que os negócios à
vista são, no geral, em maior número, mas de menor valor; os negócios a
prazo são em menor número, mas de maior valor. Com essa informação o
lojista deve transformar seu “cliente à vista” em um cliente que compra a
prazo, desde que tenha boa gestão no departamento de cobrança. Todas as
informações servem para fazer avaliações e tomar atitudes que melhorem o
negócio. Cada empresário pode criar seus próprios índices: quantos entram na
loja e saem com sacola, por exemplo; quantos entram por hora; quantos
clientes cada vendedor atende e a quantos vende. Há coisas aceitáveis. Se, por
exemplo, um vendedor atende cem pessoas e vende a 50% delas está bem,
mas se outro atende o mesmo número de pessoas e vende a apenas 20% algo
está errado. Isso pode ocorrer por uma série de razões, como não ter sido bem
treinado. Pode também lhe faltar técnica, e isso pode ser aprimorado para que
ele perca menos clientes.
A questão é que nem sempre um empresário tem muita paciência nem
muito gosto para fazer essas análises. Quem é mais voltado para as vendas é
diferente do contabilista que senta na cadeira, concentra-se e faz o seu
trabalho. Quem é de vendas prefere ficar na porta da loja, procurando
oportunidades.
Além de manter a contabilidade fiscal obrigatória, é importante que o
lojista tenha essa contabilidade para gerenciamento de custos. Os mesmos
índices da contabilidade fiscal podem ser utilizados na contabilidade
gerencial, ou pode-se criar seus próprios fatores, como o lojista achar mais
conveniente. Muitos não fazem porque não gostam de matemática e por a
contabilidade ter muito dela, mas não podemos esquecer que no mundo tudo é
matemática. A lucratividade da empresa passa pelo gerenciamento adequado e
otimizado das ações que podemos descobrir por meio dos índices e de seu
acompanhamento, tentando fazê-los coerentes com o negócio. Gestão é
acompanhar o negócio para torná-lo melhor, mais atrativo e adequado ao
mercado e ao seu cliente, tendo em vista aumentar o retorno sobre o trabalho
e o capital.
PESQUISA: OUVIR O CLIENTE
Tem-se a ideia de que pesquisar é complicado, que é preciso contratar um
instituto especializado. Para pesquisas mais complexas e amplas de temas
como participação no mercado, é necessário. O importante para o lojista é
pesquisar com seu cliente se as ações e a filosofia da loja estão agradando ou
não. Nesse sentido, fazer pesquisa é fácil. Em primeiro lugar, é preciso ser
bem pontual, específico. Pouco adiantará pesquisa muito aberta, uma ou duas
perguntas são suficientes, as quais podem ser feitas na hora em que o cliente
paga.
Em um supermercado que só vende à vista, presenciei o caixa perguntar ao
cliente qual era o CEP de sua residência e o digitar no sistema. No fim do dia,
ou no final do mês, a empresa tinha o endereço de seus compradores, pois
como sabemos as cidades são mapeadas pelo Código de Endereçamento
Postal de forma muito equilibrada. Com isso o supermercado pode, inclusive,
entregar a mala-direta diretamente para esses clientes. Ele também pode
mapear quais setores não estão frequentando a loja, embora tenham todas as
condições. É “barbada” saber o CEP dos clientes.
Ainda no caixa, pode-se perguntar ao cliente se ele encontrou tudo o que
procurava. Os mercados praticam isso, e dependendo do número de pessoas
que se manifestam é possível agregar novo produto no mix daquele ponto de
venda. Pode-se perguntar a idade, se tem ou não automóvel, por que veio
comprar na loja, saber se veio por causa da propaganda, por indicação de
amigo, pela vitrina, e isso é interessante porque há coisas às quais não se dá
importância e que têm repercussão no negócio. Na rede Franco Giorgi, por
exemplo, a vitrina é um vendedor fantástico, em compensação na Pormenos
quase não temos vitrina. Assim, dependendo do tipo de negócio, algo pode ser
importante ou não. Quem chega à conclusão de que a vitrina é importante,
terá de ter preocupação especial com ela. Na Pormenos, onde o fator maior de
venda é o preço, alguns pontos de venda nem têm vitrina.
A atitude de ouvir o cliente é ação empresarial que deve ser permanente.
Antigamente ela não era necessária porque não havia muita concorrência.
Hoje o lojista tem também a concorrência de quem está fora de seu ramo, pois
se o cliente compra um produto de outro segmento de mercado seu dinheiro
acaba. É preciso chegar à frente. Quem vende roupas deve fazer seu cliente
comprar menos de outras coisas para comprar os seus produtos, por isso é
recomendável entendê-lo.
A pesquisa pode ser feita com programação, dentro de um planejamento
anual, de acordo com datas ou eventos importantes, e depois confrontar os
números no decorrer do tempo. Um exemplo: no ano anterior a faixa de
público foi uma e agora mudou. Pode estar havendo migração e descobrir por
que isso acontece é importante. A migração ocorre por causa do mix, porque
as pessoas estão envelhecendo ou porque o bairro está mudando sua
configuração? O centro de Passo Fundo há 20 anos era totalmente diferente,
antes o número dos que moravam no centro era maior e nessa época não havia
hipermercado nem shopping center. As pesquisas anuais permitem
confrontação com os dados dos anos anteriores e vão mostrando um caminho
para seu negócio.
Pode-se também pesquisar para saber o que aconteceu no dia ou na semana.
Quando se coloca um novo produto à venda, pode-se perguntar se o cliente
gostou ou não. Em geral é recomendável fazer uma ou duas perguntas porque
é mais fácil de anotar e tabular e mais fácil para o cliente responder.
Precisamos considerar que o cliente, em geral, não tem tempo para pesquisas,
por isso o lojista, de maneira educada e simpática, deve fazer uma abordagem
rápida.
Quando falo desse tipo de pesquisa, lembro-me do aeroporto de Hong
Kong. Ali invariavelmente há uma pessoa pesquisando. No Brasil nunca vi
alguém fazer algo semelhante. Veja, com essa confusão toda em nossos
aeroportos, o que foi feito nesse sentido? Nossa missão não é servir bem o
cliente? Nesse caso, em geral, as respostas vêm de cima para baixo, vão
perguntar à Anac, ao ministro da Defesa, aos donos das companhias como
deve ser feito! E o cliente? Ele pode ter muitas respostas para superar entraves
e problemas. Em Hong Kong sempre há alguém perguntando a procedência, o
motivo da viagem, quanto gastou, se voltará. E fazem isso em várias línguas.
A pesquisa deveria ser incorporada na rotina do empresário. Quem se
detiver para verificar notará que dificilmente se faz pesquisa no Brasil, não
temos o hábito. Estamos acostumados a ouvir que os institutos fazem-na por
encomenda, mas não a colocam em prática em nossos negócios. Em matéria
de gestão pública, quantas vezes os administradores saíram para ouvir a
população sobre determinadas providências adotadas na cidade? Quanto custa
ao poder público fazer isso periodicamente? Até houve tentativas nesse
sentido, mas não foram sinceras, eram manipuladas, teatralizadas. A única
coisa que temos é o sufrágio a cada quatro anos.
É oportuno ressaltar: quem deve ouvir o cliente é quem tem o poder de
mudar, não adianta delegar a terceiros e ler um relatório de vez em quando. O
dono do negócio tem de participar desse processo. Invariavelmente nos finais
de semana, percorro as lojas, faço perguntas aos clientes. Observo e questiono
gerentes e funcionários, descobrindo coisas muito interessantes. Fico
impressionado pela riqueza das respostas que geralmente dão e pela
profundidade das mudanças que às vezes acontecem na empresa por conta
delas.
Há um case fantástico na loja da rede Tottal em Horizontina (RS). O ponto
e as instalações eram excelentes, mas a loja não ia bem. Diante disso
transformamos o ponto de venda em uma loja Pormenos, mantendo a mesma
equipe, com exceção do gerente que foi substituído, e as vendas estouraram.
Ao visitar Horizontina, perguntei a uma colaboradora por que a Pormenos
estava dando certo e a Tottal não dera. Ela respondeu: “Porque a Pormenos é
mais agressiva, fez um programa de inauguração mais elaborado, tem mais
publicidade”. A partir desse feedback a Tottal mudou, repassei ao diretor da
rede a informação e concluímos que aquilo era verdadeiro. Veja, dentro da
mesma empresa duas áreas faziam coisas diferentes e testamos a nova
sistemática ao abrir a filial da Tottal em Ibirubá (RS), inaugurando a loja
exatamente como a Pormenos fez em Horizontina, adaptado ao mix da Tottal.
O sucesso foi absoluto. A partir desse caso, várias lojas Tottal tiveram a
mesma atitude e sucesso idêntico. Comprovamos na prática que ouvir as
pessoas é imprescindível, não teríamos descoberto a situação ocorrida em
Horizontina sozinhos nem descoberto por meio da empresa. Daí a importância
de ouvir o cliente que, para mim, nesse caso era a vendedora que passara
pelas duas fases das duas lojas.
ASSISTÊNCIA AO CLIENTE PÓS - VENDA
Hoje, dentro do processo de venda, disseminou-se o que chamamos de pós-
venda, isto é, a verificação da satisfação do cliente. Cada vez mais sentimos
que o consumidor quer dar demonstrações de estar ou não satisfeito.
Em uma churrascaria podemos considerar que quando o cliente senta a
venda aconteceu, mas o gerente ou o dono sempre percorre as mesas para
saber se ele está satisfeito. O pós-venda é entrar em contato com o cliente
depois da compra para saber se ele ficou satisfeito. Não é oneroso nem
complicado e, claro, não precisa ser com todos os clientes, depende do tipo de
negócio. O lojista pode conversar com o cliente que é assíduo. Nós, na GZT,
realizamos o pós-venda com todos os clientes. Sempre que entregamos uma
mercadoria, ligamos para saber se tudo chegou bem e corretamente; temos um
pós-venda para cada cliente porque os valores das compras são altos. Para
quem vende miudezas é difícil fazer a pesquisa de pós-vendas com todos,
então ela é realizada por amostragem. Quando se trata de um produto mais
significativo, é importante o pós-venda, pois o maior divulgador do lojista é o
próprio cliente. Na pesquisa em que se pergunta como o cliente veio à loja,
muitas respostas vão ser: “Um amigo - ou alguém que já comprou - indicou”.
A venda é feita muito em função da cadeia de opiniões das pessoas, umas
contando às outras. Um cliente satisfeito provavelmente transmite com
intensidade seu contentamento, é o que chamamos de propaganda boca a
boca. Não se costuma dizer que a melhor propaganda é o boca a boca? Ela só
acontece em função da satisfação de quem comprou. Gosto de relatar um fato
que aconteceu comigo. Comprei um perfume para minha mulher na Dillard’s,
uma loja de departamentos nos Estados Unidos. Como ela estava usando
outro, não o abriu imediatamente. Cinco ou seis meses depois, ao abrir o
frasco, ele estava vazio. Não sei o que houve. Simplesmente fiz uma cópia do
tíquete de compra e mandei uma carta relatando o acontecido. Dois ou três
meses depois foi entregue uma caixa na empresa com um frasco daquele
perfume e um cartão da pessoa encarregada das relações com os clientes
pedindo desculpas pelo inconveniente.
Aqui no Brasil, é muito comum vermos nas lojas um cartaz com os
seguintes dizeres: “Não fazemos devolução ou trocas aos sábados”. Qualquer
obstáculo para impedir que o cliente tenha fluxo para uma reclamação ou
assistência para uma troca está criando uma parede entre lojista e consumidor.
O cartaz tem de dizer o contrário: “Trocamos a qualquer hora”. Em nossa
empresa, a ordem é: se o cliente volta e o problema é constatado, o produto é
trocado na hora. Já temos um acerto com o fornecedor; no caso de a
mercadoria ter defeito, ele troca. O que se nota é que as trocas e os problemas
são mínimos, mas eles devem ser bem resolvidos; caso contrário, ficam
grandes. Um cliente não satisfeito abre a boca mesmo. Não sei a estatística
exata, mas dizem que um cliente bem tratado fala da loja para três; um
maltratado fala para dez, para 20. Com a repercussão da atitude negativa é
muito maior do que a repercussão da atitude positiva, o lojista tem de praticar
atitudes positivas. A assistência ao cliente no pós-venda é muito importante
para fidelizar o consumidor. O cliente é fidelizado onde se sente bem, é bem
tratado e, diante de uma dificuldade, ela é sanada rapidamente. A troca,
muitas vezes, oportuniza a correção de eventuais problemas, como ocorreu
com as capas de sofá na sessão de cama e mesa. Pela quantidade de
devoluções descobrimos que o tamanho das capas que comercializávamos não
era adequado e colocamos outras alternativas à disposição dos clientes.
Em geral essas questões são de tamanho, de cor que desbotou. Quem
compra um carro não vai querer trocar por um novo se uma pequena peça
estragou. Já com um par de sapatos não tem o que fazer, é melhor dar logo um
novo ao cliente. Aconteceu comigo. Comprei dois pares: um preto e um
marrom da Kildare. Um dia começou a desmanchar a sola do sapato preto e
decidi usar o marrom, que apresentou o mesmo problema; mandei uma carta e
a empresa remeteu dois pares novos.
Esses procedimentos são relevantes, cliente bom compra várias vezes por
ano, durante anos. Já temos clientes com 300 compras cadastradas. Quanto
vale um cliente desses? Quando a pessoa compra uma vez só, dependendo do
negócio, o custo é alto em termos de crediário e outras despesas, incluindo o
custo de um vendedor exclusivo por um tempo para ajudá-la a percorrer a
loja, uma vez que não a conhece. Mas, na segunda compra, faz tudo sozinha,
na terceira vez já pega a mercadoria e vai direto ao caixa. A cada compra o
cliente tem menos custo para a loja. Por isso deve-se fazer tudo para mantê-lo,
para que se sinta incorporado ao negócio, o que inclui, muitas vezes, agir
sempre com transparência nas atitudes, não escondendo o jogo. Quando a
Grazziotin completou 50 anos não houve festa, fizemos um encarte mostrando
a empresa e contando como foi o seu início, montada por imigrantes vindos
da Itália. Falamos da nossa proposta e enviamos para os clientes, fornecedores
e funcionários. Comemoramos nosso aniversário junto com eles e a
repercussão foi fantástica.
O lojista tem de estar dentro da casa do consumidor como parte integrante
dele, algo que não se consegue de uma hora para outra, é uma conquista e
atitude permanente. Atualmente nossos gerentes fazem a propaganda no
rádio: é o gerente dizendo “Venha à nossa loja” e não um locutor dizendo “Vá
à Grazziotin”. É um modo diferente de chegar à casa do cliente. Essa
aproximação é importante. Em alguns casos a funcionária liga para o cliente
para informar sobre uma promoção, tratando-o pelo nome e identificando-se
como a pessoa da Tottal de quem ele já comprou. E isso funciona, são coisas
simpáticas que podem ser feitas no pós-venda.
ENTIDADES DE CLASSE
Já fui dirigente sindical em Passo Fundo, auxiliei a Federação do Comércio
em Porto Alegre e continuo notando que não há, entre as entidades que
englobam o varejo, posição uníssona nem uma identidade bem definida sobre
o que é importante para os empresários. A categoria, devemos reconhecer, é
muito diversificada, tem empresas grandes, médias e pequenas, são pequenas
sociedades individuais, sociedades anônimas, hipermercados, pequenos
mercadinhos e as tendas de frutas, o que complica ter uma postura de
unanimidade. Mas nota-se nas entidades representativas o apego a uma
espécie de cabide de status, as pessoas se eternizam nas diretorias. Isso não
configura um sistema democrático. A democracia não pode ser apenas
política, deve ser também classista. Em muitas cidades há dirigentes sindicais
que ocupam a diretoria há mais de dez anos e outros, há mais de 20! Como
tudo envelhece, essas organizações também ficam velhas.
E não há efetivamente a defesa da categoria naquilo que é mais expressivo.
Em Passo Fundo, há o exemplo do novo horário do comércio. Quando lutei
por ele, praticamente o sindicato foi contra, grande parte dos lojistas ficou
contrária a essa posição. Hoje nem se fala em fechar as lojas aos sábados à
tarde, tanto é que já existe um movimento para abri-las aos domingos. Apesar
dos esforços da federação, da confederação e até dos sindicatos, há
necessidade de melhorar a representatividade na defesa dos pontos que são
importantes para o empresário, para o setor. Quem analisa a área tributária
constata que a luta pela reforma existe, mas não é muito significativa, tanto é
assim que sempre perdemos.
Um sindicalista que hoje é senador da República, o Paulo Paim, numa
palestra em Passo Fundo disse: “Vocês não sabem a força que têm e vocês
não a usam”. É verdade, mas não sei dizer com certeza o porquê. Talvez
ocorra pelo espírito de concorrência, deixando de lado o espírito de que o sol
nasce para todos.
ATITUDES POSITIVAS
O varejo não é atitude única, é como um time de futebol que precisa de
goleiro, zagueiro, meio-campista e artilheiro. Claro, o gol ganha o jogo, mas
sem as demais posições funcionando bem o resultado final positivo não
ocorre. O treino não é só chutar a gol, os treinamentos envolvem também o
goleiro saber defender, o meio-de-campo saber lançar com precisão, o
responsável pela defesa saber marcar o adversário. No varejo é igual, não é
apenas uma atividade que garante um negócio mais lucrativo. Além da série
de procedimentos relatados, como gestão, estoque, logística, Recursos
Humanos, existem as medidas adotadas durante o ano que motivam as
pessoas, transmitem entusiasmo, melhoram a convivência e que podemos
denominar “atitudes positivas”. Algumas acontecem uma vez por ano e outras
com periodicidade maior.
Na Grazziotin, há uma série de ações que integram as atitudes positivas.
Algumas já foram citadas, mas há uma que reputo como fantástica nesse
sentido: a escolha do nosso slogan anual, feita há mais de 20 anos (p. 295).
Hoje, quem entra na empresa logo lê: O conhecimento transforma pessoas,
que é o slogan de 2009. Para chegarmos ao slogan anual estudamos o tema
que possa ser mais interessante. Em 2007, concluímos que para 2008 a ênfase
deveria ser em Recursos Humanos e surgiu a frase “As pessoas fazem a
diferença”. Com isso queríamos valorizar as pessoas e estimulá-las a se
valorizar, pois na medida em que alguém se valoriza participa e produz mais,
move-se com mais sabor e se realiza melhor como ser humano e como
profissional. O slogan de 2009 tem por objetivo incentivar a pessoa a se
transformar, a partir do conhecimento, nos aspectos humanos e profissionais.
A frase anual, também impressa em toda a nossa correspondência, é escolhida
por concurso interno que em geral recebe mais de 2 mil sugestões. O autor é
premiado na convenção anual.
Os sete princípios, elaborados há muito tempo, também têm essa
conotação. E o primeiro deles - O homem é o maior valor da empresa -
mostra que não é de hoje que batemos na tecla de valorizar o ser humano.
Descobri que fui influenciado por Peter Drucker, autor que sempre valorizou
as pessoas. Assim, por admirá-lo adotei sua postura na Grazziotin. Esses
princípios estão na minha sala, dentro de cada loja, e são vistos
permanentemente.
Outra ação positiva feita anualmente é a confraternização de final de ano.
Cada loja recebe uma verba e organiza uma festa reunindo funcionários e
familiares. Quando a empresa era pequena, fazíamos todos juntos, hoje não é
possível porque há lojas distantes 700 quilômetros. Na entrega da
Participação nos Resultados (PR) também fazemos festa em todas as lojas e
na administração, e é nesse momento que distribuímos 10% dos lucros a
todos. Tudo é feito no mesmo dia em que a diretoria recebe a gratificação e os
acionistas recebem os dividendos.
Todos os anos, em Passo Fundo, fazemos celebrações espirituais: uma
missa no Dia de Ação de Graças e outra no final de ano, por ocasião do Natal.
Isso não é comum no Brasil, mas cada vez mais sentimos que devemos
agradecer a Deus por tudo o que temos e essas missas acontecem no horário
do expediente. A passagem do Dia Internacional da Mulher é assinalada de
forma significativa, inclusive promovendo palestras de interesse do público
feminino. É outra forma de valorizar as funcionárias, que representam 70% do
nosso quadro de colaboradores.
Criamos o Mês da Amizade, que acontece em setembro, mês da primavera.
No portão da empresa as pessoas recebem bombons, são motivadas a ter
maior diálogo. Promovemos momentos de danças folclóricas e apresentações
do nosso coral, há um painel para recados, espalhamos cartazes nas lojas,
mostrando que deve existir amizade entre nós. Ainda em setembro
comemoramos a Semana Farroupilha, evento típico do Rio Grande do Sul. O
Centro Administrativo e algumas lojas fazem festa junina no dia de São João
com quentão, pipoca e outras comidas típicas.
Dispensamos atenção especial ao Centro Administrativo, que funciona
como o motor da empresa. Se ele demonstrar coesão, isso permeia entre as
lojas; se ele falhar, o resto falha; se é atendido por alguém que não presta
serviço de forma conveniente, toda a administração é avaliada
equivocadamente. É recomendável que o ambiente de Passo Fundo irradie
para toda a empresa um aspecto positivo de amizade, de união e de
compromisso. A cada trimestre reunimos gerentes da administração, chefes de
seção, gerentes regionais e até os gerentes de lojas para mostrar os resultados
do período em termos de despesas, vendas, progressos e dificuldades o que
está difícil. Nunca tentamos enganar. Quando as coisas vão bem, informamos;
quando vão mal, falamos claro. A transparência de mostrar ao funcionário a
realidade é significativa, pois se está tudo bem ele vai saborear; se está ruim,
vamo-nos esforçar. A dúvida é algo ruim, a mentira pior ainda. Anualmente
nos reunimos com o mesmo objetivo e há fatos difíceis de explicar, como foi
a perda de ação fiscal de enorme valor que durou dez anos. Em contrapartida,
três meses depois ganhamos uma maior, também decorrente de atitude
tomada no passado e que gerou divergência com o fisco.
Os líderes de G10 reúnem-se com programação especial em Passo Fundo
para avaliar e explicar o que estão fazendo. Os funcionários novos também
têm um encontro anual para conhecer melhor a empresa e realizar um diálogo
com a direção sobre seu trabalho. A cada dois meses, os gerentes de todas as
lojas se encontram no Centro Administrativo com as direções comercial,
administrativa e financeira e também com seus gerentes regionais. Antes isso
era mensal, mas agora um mês eles vão para o Centro e, no outro, os
compradores vão para as lojas. Isso já fica definido, com as datas, na
programação anual de RH (ver p. 296).
Outro evento é a convenção anual que reúne gerentes e também os
cônjuges. Para o encontro trazemos, ainda, pessoas que completam dez, 20,
30 e 40 anos de empresa para ser homenageadas, cada uma recebe um relógio.
É uma festa para mais de 600 pessoas e, ao contrário do passado, que tinha
também a conotação de trabalho, é um encontro de confraternização
encerrado com um jantar-baile. Também realizamos algumas ações singelas,
mas significativas, como enviar um álbum e uma cesta de café da manhã por
ocasião do nascimento de filho de funcionária e um jogo de panelas para
quem casou.
Essas atitudes vão se somando, vão integrando, não deixam as pessoas se
dispersar. E há iniciativas mais pontuais, como os campeonatos de futebol, de
bocha, de sinuca. São pequenas ações dentro dos nossos objetivos. Nosso
negócio é comprar e vender, para isso precisamos pensar na compra e na
venda, estar integrados, relacionados, entender o processo todo, saber o que
está acontecendo e, de vez em quando, devemo-nos reunir para recordarmos
que somos uma única tribo. Tais procedimentos que denominamos de atitudes
positivas ajudam a consolidar a empresa, cujo objetivo é, sempre, a
lucratividade.
REINVENTAR E INOVAR
É imprescindível reinventar o negócio de vez em quando. Ao natural tudo
envelhece. Por isso é preciso refazer, reciclar. Ao saber que um colega vendeu
menos no Natal do que em novembro, fiquei me perguntando como seria
possível. Mas, ao visitar as lojas, percebo que envelheceram. É recomendável
trabalhar sempre de modo que o negócio não sofra envelhecimento precoce,
pois os custos de refazer e reinventar podem se tornar inviáveis.
Assim, além de cuidar para que tudo tenha maior durabilidade, precisamos
reinventar. Nisso a Grazziotin até serve de parâmetro. Colegas e
consumidores comprovam que somos uma empresa que reinventa
constantemente. Iniciamos como atacado e fomos para o varejo. Quando se
intensificou a eletrificação, fomos para os eletrodomésticos e a seguir, pela
rentabilidade, também para a área de móveis. Quando as situações de
mercado se tornaram desfavoráveis, ingressamos no setor de modas.
Atualmente reinventamos e fazemos facção, considerada uma evolução na
área. Descentralizamos bastante, há mais ações locais das lojas.
Quem não reinventa acaba com um balcão velho e pessoal desatualizado. A
criação da Tottal, tirando o material de construção da Grazziotin, foi inovação
e o caminho que a nova loja trilhou, partindo para a manutenção da casa e se
transformando em loja de utilidades domésticas, é outra reinvenção. A
Pormenos começou com moda e bazar, vendeu produtos perecíveis para poder
abrir em horário diferenciado e agora é loja de roupa barata. Houve
reinvenção na Franco Giorgi, que iniciou com moda masculina clássica e hoje
é de moda totalmente esportiva. A Grazziotin está entre as primeiras a possuir
depósito central para recebimento das mercadorias antes de irem para o ponto
de venda, a maioria das empresas com filiais recebe o produto direto das
fábricas.
Antigamente a mercadoria ficava em gavetas, hoje está ao alcance da mão
do cliente; o preço ficava em uma tabela, agora está bem à vista; antes era
preciso pagar no caixa e depois pegar a mercadoria na expedição, hoje ele já a
retira no caixa; agora o crédito é ágil e o comprador decide o melhor dia para
pagar. A loja deve caminhar como o cliente quer, como o mundo caminha. A
reinvenção é permanente, mas não é feita abruptamente, de uma hora para
outra. É um processo que se acompanha enquanto vai acontecendo, e o lojista
vai mudando à medida que as coisas vão mudando. É difícil mudar de
repente.
Uma das reinvenções mais expressivas para a Grazziotin nos últimos dois
anos foi o modo de classificar as lojas que eram divididas em A, B, C e D, e
cada uma tinha uma cota de recebimento de mercadoria, ou seja, a loja que
vendia 5% de um produto recebia essa cota e a que representava 2% recebia
os 2%. Quando eliminamos a regra e a loja passou a pedir a mercadoria de
acordo com a venda, descobrimos que aquela que participava com 2% saltou
para 3%, o que antes era impossível, pois sempre repunha a mesma quantia.
No momento em que a loja deixa de ter estoque-padrão mínimo e recebe à
medida que vende, realmente ocorre uma revolução na empresa. Isso foi feito
meio que de cima para baixo, como uma “medida provisória”. Alguns
funcionários da direção se assustaram, duvidando que a loja soubesse pedir
mercadoria. Mudamos por entender que é a loja em sua localidade, com suas
especificidades, que melhor sabe o que melhor vende em São Francisco de
Assis (RS) ou em qualquer outro município, e essa filial em São Francisco
quase dobrou as vendas quando pôde fazer seus próprios pedidos.
Toda gestão na área de Recursos Humanos, treinamento, desenvolvimento
e motivação também é reinvenção, há um modo diferente de trabalhar e tratar
as pessoas. A Grazziotin sempre respeitou o ser humano, mas é necessário ir
além. O que importa é o valor dado pelo trabalho efetuado e a oportunidade
para fazer o que se considera apropriado dentro de determinada realidade. Por
isso temos exemplos fantásticos de atitudes diferenciadas, como uma loja
abrir às cinco da manhã para vender mais ou alguém descobrir um novo modo
de executar um procedimento que depois é adotado pelos demais. Há certa
autonomia para as pessoas liberarem a criatividade em benefício de todos.
Antes não era assim, o colaborador executava só o que era determinado,
sempre esperava uma ordem para atitudes mínimas.
A inovação e a reinvenção são questões-chave, pois o varejo sempre segue
a evolução humana, ele praticamente é a cultura do povo. Quer conhecer a
cultura de um povo? Entre num supermercado que logo descobrirá como
aquele povo vive. Logo, o incentivo para que as pessoas inovem em seu
ambiente de trabalho também é fundamental para o desempenho e a
lucratividade do negócio.
O CLIENTE
O cliente é o dono do negócio, tudo o que fazemos é em função dele. Assim,
devemos estar sempre atentos ao seu comportamento. E ainda hoje se ouve
dizer sobre algum lojista: “O sujeito compra para ele e não para o cliente”.
Claro que ele irá mal, pois o cliente é soberano. Observei a quantidade
enorme de sucos que há num supermercado. A pessoa entra e escolhe um,
todas as marcas estão lá e bem expostas, mas como cliente a pessoa é
soberana na hora de escolher. Outro exemplo: alguém caminha por uma
avenida e de repente escolhe uma loja para comprar sapato. Por mais que se
faça publicidade, que se baixe o preço, é esse alguém, passante, que, como
cliente, decide em que loja comprar, pois o que um lojista faz pelo cliente o
outro acabava fazendo.
Como agradar e trazer o cliente? O empresário deve se colocar no lugar do
consumidor, conversar com ele, entendê-lo. Para entender o cliente é
necessário conviver com ele, saber o que veste, como se comporta, em que
tipo de casa mora, de que produtos precisa, quais as mudanças em seu
comportamento. Ao passar em pontos de ônibus, observo ao máximo as
pessoas ali paradas, pois elas compram em minhas lojas. Falar com o cliente
não é só conversar, é interagir, observar, sentir as nuanças, saber o filme de
maior bilheteria do momento, a revista que vende mais, em que tipo de
eventos ele vai. Entender o cliente não é simples, porque ele é um ser
multifacetado, tem condutas diferenciadas de manhã, à tarde e à noite, age de
uma forma enquanto trabalha, quando joga futebol ou vai ao cinema, porque o
comportamento do ser humano é complexo. Quem despreza as observações
não acompanha o que se passa, não imagina levando em conta o negócio,
jamais vai entender o cliente. E se não o entende não será procurado por ele.
O lojista até pode ir bem em seu negócio, mas não vai melhor do que aquele
que entende a clientela.
Quando se fala em público-alvo, faixa etária, perfil socioeconômico, tudo
isso engloba um entendimento, o que pode ou não ser uma filosofia da
empresa. Algumas empresas desprezam o cliente e outras o respeitam, a gente
vê isso todo dia. Muitos negócios vão mal porque o dono não entendeu o
cliente. Por mais que o proprietário acredite que o cliente é o rei, pode ocorrer
de falhar em certos detalhes significativos, ou de o concorrente entender
melhor as aspirações dos consumidores e chegar na frente.
Não é de uma hora para outra que se consegue entender a clientela, é algo
que deve ser aprimorado gradativamente. O ser humano é complexo e, assim
como evoluem o automóvel, a biotecnologia, a informática, as armas de
guerra, ele, como consumidor, também muda seus hábitos. Mas sempre há
bolsões, isto é, o cliente pode ter um comportamento que é típico da origem
étnica da sua cidade. Em Três de Maio (RS), por exemplo, há muitos
descendentes de alemães; em Nova Prata (RS), a maioria das pessoas é de
origem italiana. As nuanças étnicas também estabelecem certos
comportamentos. Em cidades como Santa Cruz do Sul (RS), temos
dificuldades em vender a prazo. Ali as pessoas, para comprar a prazo, querem
primeiro conhecer o lojista.
Veja, a queda do Muro de Berlim mudou muitos comportamentos, os
produtos baratearam e a cabeça das pessoas mudou; a informática entrou no
dia a dia das pessoas e elas nunca mais foram as mesmas. As mudanças com o
celular foram grandes e até abocanharam um percentual da renda que antes
era usada em compras em uma loja. As mulheres só cortavam os cabelos,
depois passaram a pintá-lo, a seguir adotaram cores diferentes e agora estão
até “emendando” o cabelo. E tudo se reflete no comportamento da pessoa na
hora em que vai comprar. O lojista deve estar atento para que seu negócio
acompanhe as mudanças, para providenciar adaptações dentro do seu
planejamento, visando se manter no nível necessário e poder competir no
mercado de modo lucrativo.
PASSEIO MATINAL
Quando cheguei à empresa, a Grazziotin não tinha uma estrutura bem
definida de comando, meu pai e meus tios tocavam o negócio, mas não havia
ninguém dizendo “Façam isso”. Daí criei uma coordenadoria executiva e
passei a ser coordenador executivo da empresa. A partir do momento que
passamos a abrir filiais, foi necessário estabelecer normas de ação para
gerentes e funcionários. Fomos definindo o que cada um devia fazer em suas
rotinas e aí criei, entre outros, o passeio matinal.
Constatei que os gerentes quando chegavam às lojas iam direto para seus
lugares, seus birôs. Por conta disso, eles nem saberiam dizer se a loja estava
boa ou ruim.
Então, dessa circunstância nasceu o “passeio matinal”. Assim, ficou
determinado que a primeira atitude do gerente ao chegar à loja, antes de
entrar, é observar a fachada para avaliar como o cliente enxerga o local, ou
seja, se está bonito, se precisa de alguma limpeza ou de uma pintura. A
segunda atitude, ainda do lado de fora, é olhar a situação da vitrina, pode ter
um manequim pelado caído no chão ou algum outro elemento fora do lugar. A
seguir deve fazer uma checagem em tudo o que é inerente para o bom
funcionamento da loja, começando a verificação pela equipe: se os
funcionários estão uniformizados, se os rapazes estão bem barbeados, se os
sapatos estão limpos, se as moças estão com boa aparência. Posteriormente, o
gerente deve circular por toda a loja para verificar se as mercadorias estão
bem organizadas, conferir o escritório, passar no depósito e, na época
trabalhávamos com móveis e eletrodomésticos, verificar se o veículo de
entrega de mercadorias estava limpo e funcionando e se a situação das
entregas de mercadorias estava normal. Esse passeio matinal já incluiu
também uma inspeção no aspirador, muito usado na época, e uma passagem
pelos banheiros para verificar suas condições.
Com isso o gerente, ou o dono, faz um check-up geral, como um motorista
de caminhão faz uma vistoria em seu veículo antes de iniciar uma viagem.
Isso é algo que a grande maioria não faz. É como o gerente ou o dono
chegarem ao trabalho e irem direto para seu canto sem se dar conta da
importância de uma checagem geral permanente no negócio. É oportuno fazer
isso para que a loja, alguns minutos depois, comece a trabalhar azeitada e
perfeita. Ao tomar conhecimento da situação da loja todos os dias, o gerente
antecipa problemas, pois muitas vezes são pequenos detalhes que incomodam.
É bom sempre lembrar do caso do avião que caiu no Rio de Janeiro em 2008,
matando quatro pessoas porque, em vez de gasolina, foi abastecido com
querosene. E, conforme diz o manual da aeronave, o comandante deve sempre
assistir ao abastecimento. Nesse caso, porém, quem abasteceu foi o dono da
aeronave e não o comandante.
São pequenas coisas que, se não forem organizadas na loja, impedem seu
perfeito funcionamento. Como notamos, cada vez mais, a lucratividade é um
somatório de pequenas coisas. O passeio matinal é uma técnica simples bem
legal e gostosa de fazer. Entre nós ele se mantém como rotina capaz de
detectar situações inadequadas: ao observar que havia muito pó na loja, o
gerente justificou dizendo que o pó era da rua mas, ao conferir o aspirador,
constatamos que há muito não era usado, pois estava “empedrado”.
TERCEIRIZAÇÃO
Cada vez com maior intensidade o lojista precisa concentrar-se no ponto
principal do seu negócio, naquilo que é o âmago, o foco da sua atividade. O
industrial que deseja ser varejista tem dificuldade nessa área porque seu
pensamento, seu ideal é pegar a matéria-prima e transformá-la em um
produto; já o ideal do varejista é diferente. Assim, cada um precisa se dedicar
ao seu negócio, cada macaco no seu galho. Daí por que a terceirização foi
uma opção importante para nós.
Nós, da Grazziotin, temos uma experiência muito forte nesse sentido. No
passado o organograma da empresa era tão grande que não cabia numa folha
de ofício. A cada instante colocávamos um novo quadradinho referente à nova
atividade ou ao novo departamento. E ficávamos orgulhosos por ver o
organograma ficar cada vez maior demonstrando que nossa empresa tornava-
se grande, complexa e fazia de tudo. Hoje não existe mais o organograma,
agora está tudo na cabeça das pessoas, as responsabilidades de cada um estão
mais claras e fáceis de ser entendidas.
Outro detalhe: quando contratamos o serviço de terceiros, nós sabemos
exatamente qual é o custo; quando a própria empresa executa alguma tarefa,
parece que ela não tem custo, é quase impossível saber isso com exatidão.
Quem pega seu próprio carro e vai até a rodoviária levando um familiar fica
com a impressão de que aquilo não custou nada; quando a mesma pessoa
chama o táxi e paga R$ 15,00, ela até acha caro. É assim, tudo o que a gente
faz parece não ter custo, é difícil dimensioná-lo nos detalhes. Imaginem isso
numa empresa com várias atividades dessa natureza!
Ao longo dos anos deixamos de fazer uma enorme quantidade de tarefas,
ou terceiros passaram a fazê-las por nós, com o objetivo de nos concentrar
naquilo que é o foco da empresa varejista. Fechamos nossa marcenaria, que
exigia um gerente para tocá-la e chegou a ter 20 funcionários. Era uma
enorme estrutura apenas para reformar lojas ou montar um ponto novo.
Tínhamos grandes estoques na marcenaria e a cada ano novos equipamentos
eram exigidos. Pelo modo que ia, acho que se transformaria numa fábrica de
móveis. Imaginem a complicação nos aspectos trabalhista, de transporte, de
alimentação e no gerenciamento de funcionários que saíam de Passo Fundo
para reformar uma filial. Houve um momento em que havia quatro ou cinco
equipes trabalhando em locais diferentes. Simplesmente terminamos com
tudo e hoje há uma pessoa encarregada dos terceirizados que prestam esse
serviço à Grazziotin. E, em muitos casos, os terceirizados são da própria
cidade onde o serviço é necessário.
O mesmo aconteceu com uma tipografia que fazia de tudo e a cada ano, no
seu planejamento, o gerente pedia uma máquina melhor e mais gente. Agora
até brinco que, se tivesse continuado naquele ritmo, hoje estaria do tamanho
do jornal Zero Hora.
Tínhamos refeitório próprio com gerente e funcionários em nossa folha de
pagamento que chegou a servir cerca de 700 refeições. Contudo, eram muitas
as reclamações por causa da comida. Terceirizamos e passamos para uma
empresa especializada em alimentação a responsabilidade de administrá-lo.
Até as reclamações diminuíram, o que é compreensível, pois a empresa que
faz a comida é especialista e administra dezenas de outros refeitórios.
Quando trabalhávamos com eletrodomésticos, móveis e material de
construção, chegamos a ter uma frota de caminhões e uma equipe de
motoristas para o transporte de mercadorias do depósito para as lojas. Nessa
época, aconteciam coisas fantásticas: o motorista saía de casa cedo e a cinco
quilômetros de Passo Fundo parava para tomar um café da manhã. Lógico que
a nota vinha para a empresa pagar. Os motoristas nunca aceitavam levar
marmita nas viagens, preferindo restaurantes e churrascarias. Quando um
caminhão quebrava na estrada, o motorista ligava para que, de Passo Fundo,
tomássemos as providências. No final do ano, quando sempre há aumento no
volume de mercadorias, vinham as reclamações por fazerem hora extra ou
terem de trabalhar no domingo. Decidimos terceirizar a frota. Vendemos os
caminhões aos nossos motoristas, que nos pagaram os veículos com 30% do
valor do frete que cobravam da empresa, ou seja, ganharam os caminhões
(eles sempre agradecem esse negócio), e com eles ainda mantemos uma ótima
relação. Hoje eles não reclamam, tomam café da manhã antes de sair de casa
e carregam sua marmita porque é mais barato. Quando chega o final do ano,
ficam felizes com o aumento do volume de mercadorias, pois vão ganhar um
dinheiro a mais, e quando o caminhão quebra eles se viram rapidamente.
Antes era ruim para os dois lados, hoje é bom para ambos.
Já tínhamos um chefe de segurança quando terceirizamos essa atividade.
Era complicado para administrar até pela legislação, pois se o segurança
trabalha com uniforme a relação, inclusive salarial, é uma, sem uniforme é
outra. De repente, um guarda estava ganhando muito mais do que uma pessoa
que cumpria tarefas mais complexas e relevantes.
Tínhamos um setor de pesquisa com um gerente e quatro ou cinco
funcionários. Havia pastas e pastas com resultados de pesquisas que nem
sempre eram olhadas. Na época, inclusive, não fazíamos pesquisa para ver se
o cliente estava satisfeito, se era necessário mudar alguma coisa. Esse setor
estava mais preocupado em saber qual era a nossa participação no mercado.
Certo dia, diante de uma crise meio grande, cortamos mais um quadradinho
do nosso organograma e reduzimos esse gerente e sua equipe. Nós
continuamos fazendo pesquisas mais simplificadas para avaliar a satisfação de
nossos clientes. Quando necessitamos de uma pesquisa mais ampla e
especializada, contratamos uma empresa a cada um ou dois anos.
Também racionalizamos o serviço de limpeza nas lojas. Em cidades onde
temos três ou quatro lojas, é viável manter um funcionário para atender a
esses locais, mas quando é um lugar com apenas uma loja contratamos o
serviço. Em Passo Fundo, um amigo que tem apenas uma loja pequena
revelou que contratou horas de faxina e seu custo com a limpeza caiu para
menos da metade.
Cito tudo isso para reiterar que cada vez mais o lojista precisa focar no que
é o cerne de seu negócio, onde ele tem de ser melhor ou até ótimo, onde
precisa se especializar, porque pode ser justamente esse o ponto em que o
concorrente pode tirá-lo do jogo. Se a empresa tiver um belo refeitório e uma
loja mal organizada, não terá condições de competir com quem não tem um
belo refeitório, mas possui uma loja bem estruturada e focada, pois o lojista
não vende a comida consumida na empresa, vende mercadorias.
Temos ainda o exemplo forte na Grato, nossa fazenda na Bahia, onde
terceirizamos a colheita por causa do alto preço das colheitadeiras. Somente
os juros de três máquinas pelo Finame daria quase o valor que pagamos para
colher. Quais são as vantagens disso? Não precisamos ter operador. Como não
se contrata um de uma hora para outra em época de colheita, seria necessário
mantê-lo o ano inteiro. Mais, como ele trabalha só uma vez por ano, não tem
a habilidade do terceirizado que faz quatro colheitas anuais. Assim, evitamos
que máquinas caríssimas fiquem cerca de dez meses por ano paradas,
deteriorando-se. Agora não ficamos muito tempo parados quando quebra uma
máquina. Terceirizamos também o transporte interno na fazenda, pois nossos
caminhões sempre estavam com problemas nos momentos em que mais
precisávamos deles.
Com essas providências, na Grazziotin o organograma reduziu quase pela
metade. E o que está ocorrendo hoje em dia? Antes, em todo final de ano e
nas datas promocionais muito importantes tínhamos de recrutar alguns
funcionários temporários. Em dezembro, cerca de 300 pessoas eram
recrutadas; tínhamos de fazer o recrutamento, a seleção, a admissão, o
treinamento e, depois, a demissão, o que dava uma trabalheira danada.
Atualmente existe uma empresa que faz isso para nós, eliminando todos esses
problemas. Essa empresa nos possibilita contratar qualquer número de
pessoas pelo tempo que acharmos adequado.
Tudo isso mostra que é fundamental, atualmente, dedicar-se de verdade,
para competir naquilo que é o cerne do negócio e de onde vem o retorno, a
rentabilidade.
ABSENTEÍSMO
Dentro das medidas para evitar o absenteísmo, que em muitas empresas gera
transtornos graves, adotamos uma premiação especial. Anualmente dois
grupos de 12 pessoas, um de gerentes e outro de funcionários participam de
excursão a Brasília e à Bahia por conta da empresa. Em território baiano
nossa empresa possui uma fazenda com plantação de soja e milho e criação de
gado. Ali os excursionistas se divertem com a infraestrutura do local, além de
ficar contentes em conhecer outro empreendimento do Grupo Grazziotin e
também conhecer outra parte do Brasil. A escolha dos excursionistas é feita
por meio de um sorteio entre os que não tenham nenhuma falta no trabalho,
nenhuma advertência nem mais do que um atestado médico por ano.
Resultado: antes de ser adotado esse procedimento, o absenteísmo era maior,
havia uma média de 12 a 13 horas de falta por funcionário por ano e hoje está
em torno de seis a sete horas anuais. Além disso, as pessoas capricham com a
intenção de participar desse sorteio e já ocorreram até situações inusitadas
como a de um funcionário que não queria receber atestado médico para poder
participar desse sorteio.
INVENTÁRIO (FALTAS, PERDAS E ROUBOS)
É aconselhável que o lojista faça, no mínimo duas vezes por ano, um
inventário detalhado das mercadorias que possui para confrontar esses dados
com o relatório de estoque visando detectar perdas.
As perdas - sem os controles permanentes - podem afetar profundamente o
negócio e têm várias origens: seja por vencimento do prazo de validade,
deterioração de alguns produtos, quebra ou danificação, manuseio ou roubo.
Por isso é importante fazer levantamentos periódicos, pois eles dão ideia do
que está ocorrendo e permitem que o lojista adote medidas capazes de reduzir
os prejuízos.
Se o dono não toma providências para coibir esses danos, alguém o fará, ou
seja, roubará. Há várias maneiras de reduzir as perdas por furto. Entre elas
estão os sistemas de alarme magnético ou eletrônico, as câmeras de vídeo
com controle centralizado e os espelhos especiais.
Além disso, é importante o comprometimento dos funcionários nessa
rotina, pois quando eles se engajam aumenta a possibilidade de inibir o roubo.
Na Grazziotin premiamos os colaboradores com 5% do valor do furto que
eles impediram e, periodicamente, divulgamos circulares sobre o assunto para
que os cuidados não diminuam.
Por outro lado, é preciso que o dono também cuide, porque às vezes o
funcionário pode ser o maior ladrão dentro da empresa. Um empresário
italiano me disse que se faltar mais do que 2% de um produto o ladrão está
dentro de casa. Em Porto Alegre o dono de uma conhecida churrascaria que,
de uma hora para outra, começou a apresentar queda nos lucros desconfiou de
alguns funcionários e montou uma operação-surpresa no final do expediente.
Com um eficiente esquema de revista, constatou que era enorme a quantidade
de mercadorias que, em pequenas quantias, alguns funcionários roubavam
diariamente da empresa: bebidas caras, enlatados e carnes.
Atualmente muitas empresas têm sistema de controle para coibir os furtos,
como revistar bolsas e sacolas nos vestiários ou na porta de saída das fábricas
e lojas. Observar se o padrão de vida de um funcionário mudou bruscamente
para melhor em termos financeiros também pode ajudar nesse sentido.
É interessante destacar que existem alguns produtos que são mais visados
pelos ladrões. Nesses casos, o proprietário deve decidir se vale a pena ou não
continuar trabalhando com eles. A Grazziotin deixou de vender armas porque,
além de prejuízos financeiros causados pelos incontáveis roubos, se
incomodava com a polícia por causa da enorme burocracia para esse tipo de
ocorrência. Nós eliminamos também o alicate/cortador de unha do nosso mix
porque era um item com mais saída pelo furtado do que pelo caixa da loja.
CDs e pilhas também são produtos que exigem mais cuidados no ponto de
venda. Há, ainda, produtos que são commodities, como cimento e fios de
cobre, muito visados pelos ladrões.
O inventário deve ser feito com atenção especial, qualquer erro na
transcrição dos dados na planilha de controle pode produzir grandes
distorções. Pequenas confusões, como lançar três unidades em vez de três
caixas, podem comprometer a segurança do levantamento. Assim, de
preferência deve se fazer uma conferência do levantamento e depois cruzar
com o relatório do estoque para ver se há discrepância.
Para cada ramo de atividade comercial há um percentual aceitável de
perdas que será proporcional à margem de lucro e à rentabilidade. Numa
fruteria a perda é maior do que numa empresa que não possui produtos
perecíveis.
Não podemos esquecer que muitas empresas fecharam por defasagem no
estoque porque o roubo era sistemático. A perda é uma realidade, não há
empresa que não a tenha. O importante é o conhecimento e o controle por
parte do lojista, para que ele tenha índices compatíveis com a realidade do seu
negócio.
Por que os varejos morrem
GIGANTISMO
VENDER BARATO
CUSTOS OPERACIONAIS
LUTA PELO PODER
CONSIGNAÇÃO
FOCO
EMPRÉSTIMO E ENDIVIDAMENTO
POSTURA
O BRASIL TEM MUITAS HISTÓRIAS de falência de varejos. Ao analisar
com profundidade o problema, vemos que boa parte dos maiores varejistas
brasileiros quebrou. Houve uma fase, na época de inflação alta, que as
falências foram intensas. Por outro lado, alguns enriqueceram com a inflação.
Isso significa que a inflação não é exatamente a causa, é mais um ingrediente,
e o empresário que não consegue se organizar em relação a esses fatores
importantes na gestão terá realmente dificuldades maiores para trabalhar.
Assim há um problema de gestão nesse sentido, de como atuar em cada fase
da economia.
Entre as empresas que faliram ou foram vendidas por várias razões anotei
algumas que foram as maiores do Brasil, como Arapuã, Mesbla, Mappin,
Buri, G. Aronson, Casa Centro, Hermes Macedo, Disapel, Prosdócimo,
Eletroradiobrás, A Barateira, Paraíso, Lojas Hering, e entre as maiores do Rio
Grande do Sul estão Imcosul, J. H. Santos, Lojas Alfred, Guaspari, Soberana
dos Móveis, Madezzatti, Dosul, Ferragens Missioneira, Cambial, Centro Útil,
Importadora Comercial, Casa Masson, que foi a primeira a fazer crediário no
estado, e seu presidente, Jorge Frank Geyer, que foi quem desenvolveu o
lojismo no país, um dos maiores líderes do setor. Em Passo Fundo também
uma série de empresas desapareceu, entre elas: Cia. Lago Iaione, Casa
Sonora, Lojas Floriani, Lorde e Lady, Supermercado Rebechi, um dos
primeiros da cidade, e ainda uma rede de material de construção, outra de
farmácias e todas as revendas de veículos daquela época (Ford, GM, VW e
Willis). Inclusive a Grazziotin assumiu a Max Ávila, que era a maior atração
de Passo Fundo e da região no setor de comércio. Há uma quantidade enorme
de empresas varejistas que deixaram de funcionar. Recentemente, tivemos a
falência da rede americana Circuit City, a segunda maior empresa de
eletrônicos com cerca de 30 mil funcionários.
No varejo americano, a rede KMart foi muito maior que a Wal—Mart e
quase desapareceu. Em Miami, fui observar uma rede de lojas que queria usar
como exemplo para abrir nossa rede Tech Box. Quando cheguei ao shopping
e encontrei o ponto de venda vazio, com apenas meia dúzia de prateleiras com
alguma mercadoria, a atendente me informou que estavam fechando todas as
200 filiais. Era um modelo que trabalhava com acessórios para casa que, na
minha opinião, poderia ser seguido. Na primeira vez em que fui à Itália, estive
na rede Standa, a maior do país no varejo de roupas, com 400 pontos de
venda; em outras visitas ao país, não mais a vi. Na Espanha, visitei duas
redes: a Corte Inglês, o maior varejo espanhol, e a Galeria Preciados. Eram
concorrentes e trabalhavam uma ao lado da outra. A Corte Inglês cresceu e a
outra sumiu.
Como se vê, o varejo tem mortalidade grande. É verdade que o mesmo
acontece no setor industrial e na agricultura, mas tenho a impressão de que no
varejo a concorrência é maior. Em geral as dificuldades existentes para as
empresas são comuns, tanto para o comércio quanto para a indústria e
serviços, entretanto o varejo parece ser o que tem mais suscetibilidade. Como
entendo de varejo, falo sobre ele.
Por que as empresas quebram? São muitos os fatores que podem ocasionar
esse evento. O que me surpreendeu quando falei que abordaria este tema no
livro foi que todos me estimularam a exatamente fazer isso, pois às vezes não
adianta apenas falar do caminho certo, é saudável também dizer às pessoas
qual caminho elas não devem seguir.
GIGANTISMO
O primeiro fator que anotei que leva à quebradeira é o gigantismo. Há
empresas que querem crescer, crescer, se preocupam somente com o
crescimento e o tamanho da empresa, como se esse fosse seu único objetivo.
No meu ponto de vista, o crescimento deve ser decorrência da boa gestão. O
crescimento da empresa deve ser consequência de um modelo que tem
sustentabilidade e cresce gradativamente. Muitas desaparecem porque dão o
passo maior do que as pernas, dão a braçada maior do que os braços, como se
diz comumente. A obsessão pelo gigantismo gera problemas sérios. Certa vez,
numa reunião de empresários, um representante da Arapuã disse que tinha a
pretensão de duplicar o número de lojas em três anos - eram 300 e passariam
para 600 - e abrir no mínimo 500 franquias, embora eles não tivessem
nenhuma franquia até aquele momento. Então, a ideia dele era abrir mais 800
pontos de venda em três anos, tendo na ocasião menos da metade. A obsessão
pelo crescimento exacerbado desvirtua a cabeça do administrador, parece que
um modo de se valorizar como executivo é exagerar e sonhar.
O varejo não é como a indústria, em que o dono pode pôr a pasta embaixo
do braço e sair pelo país afora e até pelo exterior para vender seu produto. A
loja é diferente, o dono abre a porta e o cliente tem de ir até ela e entrar, e para
isso há limites de territorialidade, de distância, ou seja, o cliente não anda
mais do que determinado número de quilômetros para ir a um ponto de venda.
Desse modo, não adianta baixar o preço, fazer excesso de promoções.
Invariavelmente o gigantismo passa por isso. Essas empresas estão atentas
apenas ao faturamento. No Brasil classifica-se o varejo pelo faturamento. Já
os bancos ninguém sabe quanto faturam, mas sabe-se o que lucram. A
manchete no jornal econômico diz “O varejo fatura” e “O banco lucra”. Não
quero dizer que banco não quebra: muitos faliram e, nesses casos, foram
também problemas de gestão.
VENDER BARATO
Vender barato é uma das piores coisas que um varejista pode fazer sem
planejamento. Isso realmente atrai bastante, mas para vender barato é
necessário comprar barato e ter um custo barato. Porém, muitas pessoas
acreditam que vender barato significa apenas reduzir os preços. Há um
equívoco nesse conceito, pois vender barato é outra coisa. Para vender barato
é indispensável uma bela logística, uma ótima relação de parceria com
fornecedores, o aprimoramento constante na contenção dos custos e a procura
por produtos adequados. Apesar de tudo, há quem creia que vender barato é
apenas baixar o preço e ao querer fazer isso reduz sua margem… Há um
limite para reduzir o preço e quando se atinge o limite em que se começa a
perder dinheiro os problemas se agravam rapidamente. Muitos desconsideram
o custo variável que acompanha a venda. Isso não é prudente, pois cada venda
tem a sacola e a mão de obra, toda venda agrega custo e quando o
faturamento não paga o custo que se agrega ao aumento das vendas
simplesmente há prejuízo. Um ex-funcionário que montou loja confirmou:
quebrou por vender muito barato. Acontece que o barato dele foi só baixar
preço. A margem sempre precisa ser preservada. Empatando, o lojista perde,
pois seu concorrente ao lado está crescendo e toma seu lugar.
CUSTOS OPERACIONAIS
Outro procedimento que cria dificuldades é o descuido com os custos
operacionais. A maioria das empresas que vimos quebrar demonstrou
desprezo pela racionalização das despesas e então pagou aluguéis e salários
altos. Lembro-me de uma empresa industrial passo-fundense que fez grande
reformulação interna e seu executivo principal disse que haviam contratado
grandes executivos do Brasil inteiro para fazer parte da empresa, pagando os
maiores salários da região. Falou de um modo como se a coisa mais
importante daquela empresa fosse pagar os maiores salários do mercado.
Concordo que o empresário deve ter orgulho em pagar os maiores salários
desde que seja compatível com seu negócio. Ninguém tem prazer em pagar
pouco, o bom empresário deseja pagar ótimos salários aos seus funcionários,
só que isso deve ser compatível com a sua atividade, deve ter continuidade.
Não adianta pagar muito bem hoje e quebrar amanhã. Aí fica pior, pois todo o
mundo perde o emprego.
Outro aspecto: visitei empresas cujas instalações eram incompatíveis com
sua rentabilidade, ou seja, foram construídas em ambiente acima das
necessidades e do retorno daquela atividade. E, como tudo envelhece, investir
em uma instalação cara não é aconselhável. Lembro que a Grazziotin
trabalhava com ar-marinhos e, ao começar com moda, foi preciso colocar
num canto, atrás da escada, um espelho. Foi uma briga porque a maioria de
nós queria instalar um espelho bonito, grande. Eu também queria um espelho
grande e bonito, mas barato. Obrigaram-me a colocar um espelho de cristal.
Bem, no local hoje não há mais a escada, muito menos o espelho. Não adianta
pôr um espelho de cristal num lugar que, como se sabe, não irá durar a vida
toda. Num museu isso é possível porque ficará ali toda a vida. No varejo não,
porque hoje a loja é de um jeito, amanhã será de outro. O desprezo pelo custo
gera situações complicadas. Aluguéis, salários, instalações, enfim, tudo o que
envolve o negócio tem de ser compatível com a realidade dos custos, do
retorno que as vendas possibilitam.
LUTA PELO PODER
A disputa interna é outro fator que afeta a empresa e seu desempenho. A falta
de harmonia é um complicador. E daí brotam as veleidades humanas. As
pessoas não se contentam com o lugar onde estão, acham que são melhores do
que os outros, começam a disputar, inclusive desprezam, quando não
sabotam, a gestão da empresa, justamente para poder disputar. Muitas vezes
tais atitudes envolvem as famílias e quando a empresa é familiar isso piora,
porque envolve os parentes. Temos exemplos diários de as pessoas
confundirem a família com a empresa, afinal, não existe linha que separe uma
coisa da outra. Em nossa empresa, houve uma época em que cada um levava
para casa tudo que precisava para viver e ia fazendo uma espécie de conta
corrente. No final do ano, na hora do acerto, alguns haviam gastado mais e
outros menos; os que gastaram mais queriam ganhar mais, mas os que
gastaram menos também queriam ganhar mais. A empresa, porém, não podia
se basear no perdulário, tinha de se basear naquilo que era razoável. Aí meu
pai, que era o diretor, um dia determinou que a partir do mês seguinte cada
um pagaria no final do mês com o seu salário o que levasse para casa. Dali em
diante, para uns o salário era pouco e para outros sobrava para investir.
Há também as disputas societárias. Quando o contrato não é bem definido,
determinando claramente as funções, muitas vezes o que fica na cabeça de
cada um é diferente do que é na realidade. Quem participa de uma sociedade
deve colocar todas as condições no papel. Tudo precisa estar preto no branco
e o contrato deve deixar bem definido qual a função de cada um, os deveres,
as porcentagens. O contrato bem redigido ajuda a evitar as disputas por poder
ou por valores, é uma causa recorrente principalmente no setor varejista que é
muito suscetível a tal comportamento.
CONSIGNAÇÃO
A consignação de produtos, em minha opinião, é negativa para o varejo. No
Mappin, no seu auge, constatei que tudo era consignado. Um de seus fortes,
na teoria, era não ter custo de estoque. Na realidade o estoque até era
exagerado, havia balcões e mais balcões de relógios, todas as fábricas
consignavam seus produtos ao Mappin, achando que era só colocar lá dentro
que seria vendida. Mas como administrar uma empresa que embora devesse
ter um ou dois balcões de relógios tinha dez? E, além disso, só tinha produtos
de consignados? Na linha íntima feminina, a quantidade de mercadorias era
uma loucura e em faixas de preço geralmente muito altas para os clientes da
loja. A partir disso, o Mappin passou a ter um mix de produtos diferentes
daquilo que racional e comercialmente deveria. Tinha o mix em função de
quem consignasse, e desses a variedade e a quantidade eram exageradas,
enquanto em outras áreas não tinha quase nada. Isso começou a distorcer o
negócio e levou à perda de clientes, pois quem tem variedade e mix de
produtos incompatíveis com seu cliente, mas compatíveis com o fornecedor
que está consignando, provavelmente perderá a clientela. E o Mappin
desapareceu.
É por isso que a Grazziotin não aceita mercadoria consignada. A
mercadoria, para entrar na empresa, ser cadastrada e depois deixar o depósito
e ir para o ponto de venda, tem um custo e, se não conseguir vender, há
prejuízo. E, na realidade, o que o fornecedor vai consignar? Em regra, é
aquilo que está com dificuldade para vender, porque raramente alguém
consigna produtos de alta demanda. Então, a consignação é um artifício do
fornecedor, correto do ponto de vista dele, para tentar vender algo que não
está vendendo. Ninguém consigna aquilo que o lojista realmente deseja. Na
minha visão a consignação é um malefício que leva os varejos a ter
dificuldades, a quebrar.
FOCO
Outro fator que abala o desempenho do varejo, e sobre isso uma ex—
funcionária que virou lojista concorda, é a falta de foco. É comum o varejista
perder o foco do seu negócio porque a variedade de mercadorias e de linhas
que pode ter na loja é imensa e ele é muito assediado. Quanto mais potencial
tem o lojista, mais assediado ele será. Quem não deseja vender à Cia. Zaffari,
à Grazziotin, à Renner? Todos querem e, sem cuidados, a empresa acaba
comprando de quem não deve. A falta de planejamento, de definição de foco e
de público-alvo leva a esses equívocos. De repente, uma loja de material de
construção começa a oferecer produtos que nada têm que ver com seu ramo.
Note a quantidade de lojas de vários segmentos que somente anunciam
celulares distorcendo sua imagem. Lembro que a Cooperativa Tritícola de Ijuí
- a Cotrijuí, uma das maiores do Brasil - tinha até terminal marítimo para
exportação e frota própria de caminhões. Chegou a vender casaco de pele aos
agricultores. Pela falta de foco, associada ao gigantismo, a maioria das
cooperativas de produção quebrou.
A falta de definição do foco facilita esse comportamento que não se
restringe apenas aos produtos, mas se dá também na definição da faixa de
preços. O lojista quer trabalhar com produtos de A a Z e vender camisas de
R$ 10,00 a R$ 200,00 para tentar atender todos os públicos. Mas ele precisa
ter foco em determinado público-alvo e seu poder de compra. Não pode
querer atender a todos, o que é mais difícil atualmente com o varejo bastante
segmentado. Só que, se esse lojista não conseguir atender bem seu público,
alguém vai fazer um varejo mais focado e o cliente vai migrar. No varejo, a
migração é muito fácil e rápida.
EMPRÉSTIMO E ENDIVIDAMENTO
Dinheiro emprestado sempre envolve risco. Não se trata apenas de pegar o
dinheiro de terceiros. E muitos casos há necessidade, mas às vezes não se dá o
devido valor ao seu significado, fácil de pegar e de gastar. Dinheiro de
empréstimo mal investido é apenas custo, não dá retorno. Quando o dinheiro
é destinado para investimentos e tem determinada maturação, planejamento
de médio e longo prazo, a operação pode se tornar viável. Acontece que no
varejo não há muito modelo para isso, na indústria compra-se a máquina e ela
produz. O setor varejista tem de ter cuidado, pois são poucos os equipamentos
necessários para compra, a maioria dos investimentos é em mercadorias e
financiamentos. Fazer um empréstimo merece cuidados especiais, ainda mais
no Brasil em que o dinheiro emprestado sai caro, onde se diz que o banco dá
guarda-chuva quando há sol e o retira quando chove. Mais de um empresário
me confirmou que começou a ganhar dinheiro somente depois de sair dos
empréstimos bancários.
POSTURA
Outro fator prejudicial ao varejista é a falta de humildade. Por que o varejista
precisa ser humilde? Simplesmente porque depende dos outros. Um médico
até pode ser orgulhoso, ele tem a técnica, é o único a fazer determinados
procedimentos. O comerciante não, pois está sempre servindo as pessoas que
entram em sua loja. Há casos de varejistas que desapareceram por causa da
postura arrogante. O cliente chegava, entrava na loja, mas ele não atendia, ele
tripudiava. No varejo, servir as pessoas com carinho, com humildade, com
educação é a garantia de seu retorno. No comércio não existe apenas produto
bom, mercadoria barata, comida gostosa, a atenção que se dá é muito
importante e isso exige um comportamento de todos os funcionários, pois
pouco adianta o dono ser cortês e o atendente ser um “cavalo”. Ao treinar as
pessoas, devemos instruí-las sobre adotar o comportamento cordial, servir
com humildade e atenção, e para isso também é preciso definir o perfil para o
recrutamento.
Quando analisamos todas essas questões, podemos concluir que sozinhas
não quebram a empresa. Acontece que no geral elas não aparecem sozinhas.
Pense bem, a falta de humildade dá um pouquinho de gigantismo, pois quem
é autossuficiente não planeja e quem faz empréstimo no banco pode ser
perdulário. Ao analisar por que quebraram varejos líderes de mercado como o
Mappin e a Mesbla e por que faliu a Hermes Macedo, um dos maiores varejos
do Brasil, dá-se conta de que não foi por apenas um motivo, foram vários
fatores somados que levaram à falência. É comum, quando os primeiros
sintomas aparecem, o empresário desprezar os sinais, não ligar as antenas. Na
Grazziotin, tivemos algumas dificuldades, mas a cada obstáculo que surgia e
nos apavorava, buscávamos o que fazer para sair do caminho errado. Uma
vez, numa época difícil, demitimos pessoas, mas também vendemos a
escrivaninha, a cadeira, a máquina de escrever que usavam, vendemos tudo
para fazer dinheiro e sobreviver. Para cada época difícil, tínhamos uma reação
para melhorar, nunca desprezamos as dificuldades. Mas notamos que muitos
deixam correr, acham que é assim mesmo, que daqui a pouco as coisas
melhoram, acreditam que a culpa não é deles, mas do governo ou do
concorrente que vende quase de graça. Porque alguém vende de graça você
venderá também?
Em função da competição de preço, a Grazziotin mudou de ramo duas ou
três vezes. Vendíamos eletrodomésticos e móveis, mas ao constatar que as
cooperativas da região torravam mercadorias, que a Imcosul e a J. H. Santos
tinham vindo da capital para torrar mercadoria, concluímos que não valia a
pena comercializar tais produtos. Íamos empatar dinheiro, investir muito nos
clientes, vender a prazo longo, com inadimplência alta, sem margem alguma,
ou seja, atuar com prejuízo. Desistimos então de eletrodomésticos e móveis.
Recentemente desistimos de atuar com material de construção. Ao verificar
que mercadorias do setor eram vendidas em boa parte por informais, sem nota
fiscal, direto da fábrica por comissionados, que havia outros vendendo sem
preocupação com a margem, concluímos que trabalhar desse modo seria a
derrocada na rede de lojas Tottal e saímos do setor. Trabalhávamos com
cimento e constatamos que era fácil de roubar, que ocorriam perdas no
manuseio. A associação dos fabricantes usava seu poder para definir o preço,
exigir pagamento adiantado na demanda alta e, quando havia muito cimento
na praça, obrigava-nos a comprar mais e deixar o estoque muito tempo na
loja, chegando a empedrar. Diante disso, desistimos do cimento. O mesmo
ocorreu com o ferro de construção. Ao verificar o custo para dobrar, receber,
levar até o cliente e ainda enfrentar a concorrência de quem vendia sem
margem para fazer tráfego na loja, paramos de vender esse produto.
Éramos influenciados notadamente por pessoas de empresas fabricantes
que ressaltavam que seus produtos incentivavam outras vendas. Diziam que
quem comprasse ferro de construção compraria tudo na mesma loja. Havia
também a teoria de que quem comprasse cimento amianto para o telhado teria
uma relação de cliente fiel, teria comportamento idêntico de quem comprasse
cimento e voltaria à loja para comprar os acabamentos. Puro engano. Fiquei
desconfiado e após ser desafiado fiz um levantamento retroativo para verificar
se quem era cliente de certos produtos seria fiel aos acabamentos. O
resultado? Nada disso é verdade, o cliente é mais inteligente e compra o que
quer, onde quer, dependendo do atendimento e do preço. A fidelidade não é
por causa de uma única ação, mas por várias e depende do ramo, do tipo de
consumo, e cada consumidor é dono de suas ações. Estudá-las e avaliá-las é
fator de sucesso. Muitas empresas quebram porque acreditam que fazendo
certas concessões terão o cliente para sempre: engano. A empresa desaparece
antes de isso ocorrer. O empresário, para obter sucesso, deve usar com
cuidado estratégias ou ações duvidosas que podem dar resultado negativo,
porque muitas vezes ele não sobrevive para colher os frutos. E vender barato
é uma das estratégias mais usuais e letais.
Outro detalhe comum: o lojista ganha dez e gasta 20. Há quem abre uma
loja e logo em seguida compra o carro novo do último tipo e casa na praia,
frequenta clubes da alta, quando não, invariavelmente, quer sustentar alguns
luxos que consomem muito dinheiro. Esse também é um caminho que não dá
certo. Negócio é coisa séria, varejo é coisa séria.
O comerciante deve acompanhar o mercado, a gestão do negócio é em
função do que acontece fora da loja. A concorrência é um fato, ninguém tem
lugar garantido. Muitos falam em capitalismo selvagem, mas nisso também
há exageros, pois capitalismo é ter livre concorrência, competição. É
crescimento pela eficiência.
Considerações finais
O COMÉRCIO É UMA ATIVIDADE MILENAR bastante complexa que
pode ser gostosa se for lucrativa. Trata-se de atividade universal que, no seu
conjunto, busca atender a todos os gostos sempre respeitando o cliente porque
ele é o rei.
E, como as demais atividades de outros segmentos econômicos e tudo na
sociedade moderna, a empresa comercial somente terá sentido se cumprir
efetivamente sua função social. Em princípio, a empresa é uma entidade
jurídica criada com o objetivo de dar lucro, tudo o que ela faz gira em torno
da lucratividade. Sem isso ela desaparece, pois necessita ser otimizada, deve
crescer acompanhando o crescimento do mundo, que atualmente é de 3 a 4%
ao ano. Por isso precisa se modernizar, melhorar equipamentos e o salário das
pessoas. O combustível para esse crescimento é a lucratividade. Sem
acompanhar a velocidade das mudanças, a empresa não terá condições de
competir e provavelmente será alijada do mercado que hoje é mais
globalizado, isto é, além de todas as questões de gestão, ainda tem de lidar
com a concorrência dos produtos chineses, vietnamitas, europeus,
americanos. Assim, a primeira função social da empresa é cumprir com a
obrigação de dar lucro, sem isso ela morre, e todo um capital vira sucata e
deixa de produzir.
Outra função social importante da empresa é pagar seus funcionários. Não
apenas pagar, mas incentivar a produtividade pela participação nos lucros, que
hoje é uma prática bem disseminada: pagar o justo, acompanhando o
mercado. E justiça equivale a ter um estudo periódico de avaliação dos
funcionários, ou seja, aquele que se esforça precisa ser visto, valorizado.
A terceira função social da empresa é pagar os impostos. De acordo com
nossa Constituição, é dever do Estado, entre outros, dar a seus cidadãos
segurança, saúde e educação. E como isso é feito? Recolhendo os impostos.
Sempre digo que quem sonega não está tirando do Estado, mas da criança que
fica sem escola, das pessoas que não têm atendimento no posto de saúde e da
sociedade que não tem segurança. É preciso considerar, também, que o
imposto não é o empresário quem paga, ele apenas repassa. Imposto não
recolhido constitui-se, na prática, em apropriação indébita.
Outro aspecto é a dinâmica permanente da atividade comercial e para a
qual devemos estar atentos. No comércio nada é estático. Tenho 40 anos de
varejo e sinto que constantemente estou diante de incertezas e incógnitas e
que, para permanecer no mercado, sempre sou compelido a buscar as
novidades, as soluções para os problemas ou impasses que surgem e são
constantes.
Permanentemente estou me perguntando como posso melhorar e, pelos
slogans que a Grazziotin teve nesses últimos 20 anos, dá para notar que há
uma busca constante de aperfeiçoamento. O cliente, como a sociedade, evolui
e essa evolução requer mudanças de hábitos, de circulação de produtos e de
serviços. E é disso que o comércio vive: das mudanças. Elas podem até
incomodar por serem constantes e inesperadas, mas são o combustível que
move o consumo, e aí estamos nós, lojistas.
Sem mudanças não haveria novas necessidades, não existiria progresso
nem o processo de comercialização e nós perderíamos oportunidades de
crescimento. Então, à medida que o mundo se desenvolve, à medida que se
descobrem novidades, as indústrias criam novos produtos e, em decorrência,
novas necessidades surgem. É a oportunidade que se oferece a quem tem a
vocação de atender o cliente nessas demandas: o comerciante.
As possibilidades são variadas, centenas de modelos novos surgem a cada
dia, ontem foi o McDonald’s, hoje é a Starbucks e amanhã virão outros a
descobrir ou redescobrir como se atende o consumidor que gosta de
novidades. É preciso, porém, considerar também que os riscos são
proporcionais. Logo, a nossa atividade precisa ser, a cada dia, mais
profissional, mais complexa, e para isso é necessário aplicar-se mais, estudar
sempre. O propósito deste livro é uma contribuição a todas essas demandas
para sermos melhores.
Agradeço a Deus por minha experiência ter sido rica e prazerosa em todos
os aspectos, até nas dificuldades, pois agora, quando olho para trás, vejo que
muitas soluções de hoje foram as quedas e os tropeções de ontem. Dizem que
a água do rio tem nas cachoeiras o surgimento de novas energias. Acredito
que sim.
Espero que esta obra ajude a quem tem por objetivo ampliar seus
conhecimentos e, com essa ampliação, ter mais possibilidades de análise das
suas atitudes, de discernimento em suas decisões empresariais. Se contribuir
para isso, terei recompensada a minha dedicação a este trabalho, pois de sua
leitura pode-se gerar um empresário mais bem-sucedido e feliz.
Sra.Raquele Grazziotin e Sr.Valentin em 1948.
Família Sr. Valentim e Sra. Raquele.
Sr. Tranquilo Grazziotin
Brazão da família Grazziotin
Princípios Grazziotin
Hino Grazziotin
Prêmio 2008
Slogans das Campanhas de incentivo 2007 e 2008.
Campanha de incentivo 2009.
Campanhas internas anuais de incentivo (1987 a 2006).
Actividades Treinamento
Atividades de treinamento para gerentes
Calendário promocional Grazziotin
Calendário de promoções da rede Tottal
Calendário promocional Pormenos
Calendário promocional Franco Giorgi