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Indígena da etnia Baré, com povo que vive ao longo do Médio Rio Negro, onde se estabeleceu após
migração compulsória devido contato com não-indígenas. Etnia possui história marcada por violência
e a exploração do trabalho extrativista. Biomédica, Mestre em Bioantropologia, Doutoranda em
Bioantropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Pará.
A identificação com o tema abordado é dada pelo pertencimento étnico e formação profissional.
fica atrás de outros países, devido à falta da real integração entre a arqueologia e a antropologia
praticada no Brasil, especialmente em contextos arqueológicos onde artefatos são descobertos
(GASPAR NETO, 2017).
A primeira pesquisa da associação da bioantropologia e com arqueologia no Brasil, data
da década de 1970. Nesse período, 15% dos trabalhos publicados em arqueologia já eram sobre
remanescentes humanos (GASPAR NETO, 2017; SOUZA, 2019). Nos últimos anos, a
crescente produção científica e a contribuição técnicas e metodológica da bioarqueologia vem
comprovando o interesse por esta ciência, tendo entre seus objetivos o conhecimento do
processo saúde e doença das populações humanas do passado (SANTOS, COIMBRA Jr.,
1994). Segundo Souza (2011) uma das características inovadoras da bioarqueologia é que,
deixando os limites dos laboratórios, seu trabalho começa em campo, nas escavações
arqueológicas na busca de artefatos.
A aplicabilidade da bioarqueologia e antropologia pode ser observada nos estudos
relacionados aos povos indígenas no Brasil. Em 1940, investigações de povos indígenas,
Sambaquis e Guajajara-Tenetehara, já eram realizadas no Museu Nacional. O médico,
anatomista e dentista Pedro Estevam de Lima dedicou 16 anos investigando povos indígenas,
com estudos da antropometria e sobre a saúde indígena, sendo um dos primeiros a exumar
indígenas de seus cemitérios para fins científicos. Entre suas observações, foi identificada
relação da saúde com as práticas culturais, tais como a mutilação dentária (SOUZA, 2011).
Νas últimas décadas a região amazônica sofreu grandes transformações sociais,
econômicas e ambientais, principalmente devido os projetos de desenvolvimento econômico
ocorridos a partir de 1970 (PALMQUIST et al., 2019). As populações nativas foram impactadas
pelo fluxo migratório e complicações ambientais e sanitárias oriundos dessas mudanças. O povo
indígena teve sérias consequências, tais como redução demográfica, epidemias de doenças
infecciosas, comprometimento nutricional, comprometimento das atividades de subsistência e
modificação dos padrões de mobilidade (SANTOS, COIMBRA Jr., 1994).
Além dessas mudanças, o contato de grupos indígenas com outros povos também pode
gerar transformações culturais e fazer desaparecer manifestações artísticas, como dos
sepultamentos, assim como favorecer o surgimento de formas de expressões distintas da
original. Estudos mostram que tais contatos ocorreram em vários momentos na história do
Brasil, como no período da colonização e no período da ditadura militar, e em várias partes do
território nacional, sendo comprovados pela arqueologia através da presença de artefatos de
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diferentes grupos, que também diferem das informações relacionadas a cronologia dos sítios
investigados (SILVA, CARVALHO, QUEIROZ, 2014).
A compreensão das mudanças culturais é um fator importante para o entendimento do
processo saúde e doença dos povos indígenas, pois a doença é um fenômeno experiencial e suas
manifestações dependem de fatores culturais, sociais e psicológicos, que atuam
simultaneamente com o processo psicobiológico. Isso ocorre, pois, a saúde e a doença estão
inseridas em um sistema médico determinado pela cultura. Quando um sujeito não segue as
regras sociais e rituais prescritas pelo seu grupo, ele se expõe a forças sobrenaturais que podem
favorecer o desenvolvimento de doenças. Isso mostra que a bioantropologia tem importante
atuação na análise sistemática do impacto do contato dos povos indígenas com outros povos
(FERREIRA, 1997).
Assim, percebe-se o quando análise da cultura das populações indígenas é necessária
nas ciências humanas pós-modernas. Segundo Calcagno (2004) em seu estudo sobre a
manutenção da antropologia biológica, essa necessidade foi identificada pela arqueologia e pela
biologia, que juntas, através da bioarqueologia passaram a compreender melhor as questões
significativas relacionadas à adaptação de populações remanescentes, enxergando na cultura
uma força ambiental que afeta e interage com a adaptação biológica.
A bioarqueologia consegue trabalhar em uma grande variedade de assuntos, tais como
o corpo, gênero, violência, etnia, atividades e paisagens sagradas, além de outros temas como
nutrição, ecologia, linguagem, cognição, tecnologia e morte, comuns a outras áreas.
(CALCAGNO, 2004).
Como por exemplo na ecologia comportamental humana, determinados processos
culturais e naturais podem afetar a padronização de restos arqueobotânicos, sendo objeto de
estudo de outras ciências, através de técnicas como a biologia molecular (sequenciamento de
terceira geração) que auxiliam no entendimento de costumes e práticas, tais como caça e coleta,
transições para agricultura, gestão de riscos agrícolas e localização de assentamentos de povos
antigos (MARSTON, WARINNER, GUEDES, 2014; WALES, ANDERSEN, CAPPELLINI,
2014).
O estudo das mudanças físicas da paisagem pode fornecer indicações de manipulação
humana das comunidades de plantas, assim como a análise de solos e uma variedade de registros
ambientais diferentes. Ressalta-se a importância dos marcadores não-arqueobotânicos, a
modificação física da paisagem sob a forma de relocação de solo e rochas, fornece evidência
arqueológica clara em vários ambientes diferentes. A modificação física da paisagem também
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fornece a mais claras evidências até o momento para os esforços feitos por sociedades de
pequena escala (SMITH, 2014).
A zooarqueologia também investiga elementos que auxiliam no esclarecimento de
circunstancias vividas por povos remanescente, como os indígenas, pois as alterações na fauna
possuem propriedades que não mudam ao longo de longos períodos de tempo, o que pode
elucidar a relação de uma população especifica com os animais, esclarecendo elementos
culturais e sociais dos mesmos. Estudar o presente para compreender o passado é o foco da
zooarqueologia, e isso depende de se supor que existam algumas propriedades temporalmente
invariantes dos corpos animais que fazem parte de um determinado ambiente (GIFFORD-
GONZALEZ, 2018).
Estudos em conjunto com outros desenvolvidos por biólogos, primatólogos,
geneticistas, paleoantropólogos, arqueólogos e bioantropólogos vêm contribuindo fortemente
para elucidar os limites culturais e históricos no que diz respeito ao sexo, sexualidade e gênero,
nas práticas sociais humanas. Essa temática foi levantada no estudo Fabiano de Gontijo e
Denise Schaan (2017), intitulado “Sexualidade e Teoria Queer” que relata que pesquisas
recentes apontam que sistema colonial brasileiro teria minimizado a sexualidade, de indígena,
quilombolas, escravos africanos e camponeses, a pensar de estudos anteriores relatarem a
hipersexualização na formação da nação, relacionada a violência sexual cometidas contra
mulheres negras e indígenas neste mesmo período histórico. Essa diferença, mostra que as
expressões da diversidade sexual e de gênero como frutos de relações históricas podem ser
objetos de estudo da bioarqueologia.
Esses modelos de pesquisas multidisciplinares podem ser realizados em parceria com
as comunidades indígenas, pois assim conseguem ter mais relevâncias para bioarqueólogos,
pois, por exemplo, os restos mortais humanos são fonte valiosa de informação que também
podem ser usadas pelos próprios nativos. Segundo Martin et al. (2013) em seu estudo sobre
bioarqueologia, com uma abordagem integrada para trabalhar com restos humanos, a
compreensão da adaptação e a resistência bioarqueológica, favorece o alcance de metas, tais
como saber como viveu e morreu populações humanas sem nenhum escrito registro existente,
além dos restos humanos.
Para a bioarqueologia, os dados referentes a saúde são muito importantes, pois
demonstram resultados relacionados a mudança do estilo de vida, tecnologias e de cuidados de
saúde, além de favorecer o entendimento de todo processo evolutivo da população estudada.
Para isso é necessários estudos que abordem a arqueologia da recuperação, análise de
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REFERÊNCIAS
LARSEN, Clark Spencer. Bioarchaeology. Interpreting behavior from the human skeleton.
2 ed. Cambridge: Cambridge University Press. 2015.
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NEVES, Eduardo Góes. Existe algo que possa chamar a arqueologia brasileira? Estudos
Avançados, v. 29, n. 83, p. 7-17, 2015.
SANTOS, Ricardo V. COIMBRA JR., Carlos E. A. Saúde e povos indígenas. Rio de Janeiro:
Editora FIOCRUZ, 1994. 251 p.
SILVA, Jaciara Andrade. CARVALHO, Olivia Alexandre de. QUEIROZ, Albérico Nogueira
de. A cultura material associada a Sepultamentos no Brasil: arqueologia dos adornos. CLIO
Arqueológico. v. 29, n.1, p. 45-81, 2014.
SMITH, Bruce D. Documenting Human Niche Construction in the Archaeological Record. In:
MARSTON, John M. WARINNER, Christina. GUEDES, Jade d’Alpoim. Method and Theory
in Paleoethnobotany. Boulder: University Press of Colorado, 2014.
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