Вы находитесь на странице: 1из 78

SAMIRA KAUCHAKJE

DIREITOS SOCIAIS: SOLIDARIEDADE, EXPRESSÃO JURÍDICA E


VALORES POLÍTICOS DE VEREADORES EM CURITIBA

Curitiba

DEZEMBRO/2009
SAMIRA KAUCHAKJE

DIREITOS SOCIAIS: SOLIDARIEDADE, EXPRESSÃO JURÍDICA E


VALORES POLÍTICOS DE VEREADORES EM CURITIBA

Monografia apresentada ao curso de Ciências


Sociais da Universidade Federal do Paraná
como requisito parcial para a obtenção do título
de Bacharel em Ciências Sociais.

Orientador:
Prof. Dr. Renato Monseff Perissinotto.

Curitiba

DEZEMBRO/2009

1
Dedicatória

À Mariana, filha querida

Há 21 anos presente em minha vida


Há 21 anos um presente em minha vida

2
AGRADECIMENTOS

Agradeço

A uma inexplicável felicidade que teima em me acompanhar.

Aos colegas do Programa de Pós – Graduação em Gestão Urbana - PUCPR que


estranharam, mas sorriram quando decidi redirecionar, do início, minha formação
acadêmica.

Aos colegas Lindomar Boneti e Sandra Mattar do Curso de Licenciatura em Sociologia


– PUCPR, sociólogos cuja competência sempre me estimulou e que manifestaram gentil
apoio.

Aos professores e, em outros círculos colegas, do Curso de Ciências Sociais da UFPR.


De todos que foram meus professores fui aluna não só por conta do vínculo formal, mas
porque aprendi sempre. Alguns eu destaco por ter convivido mais em sala de aula ou
grupo de pesquisa, conversado mais, acenado mais nos corredores: professores Alfio
Brandenburg, Pedro Bodê, Dimas Floriani, Emerson U. Cervi, Paulo Roberto N. Costa e
Ricardo Costa de Oliveira.

Ao Prof. Nelson Rosário de Souza pela participação em minha banca de defesa.

A Profa. Luciana Fernandes Veiga pela co-orientação interessada. Por causa disso e de
suas aulas a realização das entrevistas foi, em grande parte, exitosa.

Ao Prof. Renato Monseff Perissinotto que pelas suas aulas confirmou minha preferência
pela área da ciência política, nesse sentido, orientou-me mesmo antes de ser meu
orientador.

Aos meus colegas de curso - alunos do Curso de Ciências Sociais da UFPR pela
convivência em sala de aula. Entre eles cito Hugo Loss e Rafael.

Aos alunos de iniciação científica Paulo Roberto R. Hannesch (bolsista PIBIC), Simone
de Cássia S. da Silva e Sabrina Lissa F. L. Leme (curso de Licenciatura em Sociologia –
PUCPR) pela colaboração na realização das entrevistas. Quando vocês se formarem
farão muita falta.

À aluna e bolsista PIBIC Talita Nascimento porque é rara.

À Mariana porque é uma pessoa admirável e pelo respeito que tem pelas minhas
decisões que, afinal, acabam por afetá-la.

Ao Otavio porque trouxe um encantamento a mais no caminho escolhido. E porque me


traz sempre uma música para cantar: “É só pensar em você que muda o dia!”

3
SUMÁRIO

Resumo

Lista de tabelas e quadros


Introdução 1

1. Estado Social e direitos sociais interpretados como expressões do princípio da 6


solidariedade constitucional
1.1 Direitos sociais: dimensão dos direitos humanos e dos direitos fundamentais 6
1.2 Solidariedade e direitos sociais 10
1.2.1 Solidariedade: uma aproximação 11
1.2.2 Campo da solidariedade referida aos direitos sociais: classificação experimental 16
1.3 Marcos históricos do Estado Social 21

28
2. Direitos Sociais no Brasil: expressão jurídica e valores políticos
2.1 Parlamentares da Câmara Municipal de Curitiba (2009-2012) 28
2.2 Estado Social no Brasil e valores políticos dos vereadores de Curitiba 31
2.3 Constituição Federal e valores políticos dos vereadores de Curitiba sobre direitos sociais 42
52

Conclusão
Referências 54
Anexo 1 – Roteiro da entrevista 61

4
Lista de ilustrações

Tabela 1. Faixa etária de vereadores de Curitiba (2009 - 2012) 30


30
Tabela 2. Escolaridade de vereadores de Curitiba (2009 - 2012)
31
Tabela 3 Partidos Políticos de vereadores de Curitiba (2009 - 2012)
36
Tabela 4. Opinião de vereadores de Curitiba (2009 - 2012) sobre prog. de transferência de
renda em relação à ineficiência econômica do Estado
36
Tabela 5. Opinião de vereadores de Curitiba (2009-12): prog. de transferência de renda
prejudicam os mais competentes
37
Tabela 6. Opinião de vereadores de Curitiba (2009-12): beneficiário de prog. de
transferência de renda se acomoda e não quer trabalhar
38
Tabela 7. Opinião de vereadores de Curitiba (2009 - 2012) sobre se prog. de
transferência de renda deveriam estar incorporados na legislação
Tabela 8. Número de vereadores de Curitiba (2009 - 2012) - que realiza atividades sociais 39

Quadro 1 – Direitos Sociais, artigos da Constituição Federal de 1988 e leis referentes 42


44
Tabela 9. Direitos sociais - o art.6º CF88 - reconhecidos pelos vereadores de Curitiba
(2009 - 2012)
46
Tabela 10. Destaques dos vereadores de Curitiba - gestão 2009-2012 - sobre legislação e
política social
46
Tabela 11. Número de vereadores de Curitiba (ou seu grupo) (2009-2012) que apresentou
propostas sobre matéria social
47
Tabela 12. Responsabilidade em implementar políticas/prog. Sociais segundo vereadores
de Curitiba (2009-2012)
48
Tabela 13. Púbico-alvo de políticas sociais segundo os vereadores de Curitiba - gestão
2009-2012
Quadro 2 – Objetivos e público-alvo de setores da política social 49

5
RESUMO

A monografia trata dos valores políticos dos vereadores de Curitiba (2009-2012) sobre
direitos sociais em relação aos artigos da Constituição Federal de 1988. Os principais
objetivos são: discutir a compatibilidade entre esses valores políticos e sua expressão
jurídica e, também, relacionar valores políticos dos parlamentares com aspectos da
legislação social, da política social e da cultura política brasileira. A coleta de dados foi
realizada por meio de entrevistas com 35 dos 38 vereadores. Os dados sistematizados
foram descritos estabelecendo um diálogo com a literatura selecionada. Foi realizada
uma classificação experimental das formas de solidariedade referidas aos direitos
sociais para contribuir com a compreensão dos pontos levantados. Os resultados
demonstraram que os valores políticos dos parlamentares municipais em Curitiba são
parcialmente compatíveis com a sua expressão jurídica, isto é, se foi possível verificar
congruência em termos do conhecimento dos direitos, setores da política social e sobre
responsabilidade do Estado, o mesmo não foi constatado nos resultados, por exemplo,
sobre público-alvo das políticas sociais e na realização de atividades públicas de
atendimento social direto à população. Salientou-se, também, que essa conclusão deverá
ser aprofundada por meio de análises futuras dos resultados da pesquisa.

6
INTRODUÇÃO
Os direitos sociais constituem uma área de pesquisa ligada aos estudos sobre
política social, legislação social, Estado, cidadania e, também, sobre cultura política
entre outros temas correlatos. Nessa monografia exploro a relação entre expressão
jurídica dos direitos sociais, sentidos de solidariedade e valores políticos em especial da
elite parlamentar que participa do processo decisório no âmbito da política pública e de
proposições relativas à matéria social.

1.1 OBJETO E PROBLEMA


O objeto de pesquisa refere-se aos valores políticos dos vereadores de Curitiba
(2009-2012) sobre direitos sociais em relação à artigos da Constituição Federal de
1988-CF88 e a aspectos que caracterizam o Estado Social brasileiro.
Os artigos sobre direitos sociais na CF88 estão sendo consideradas como a
expressão jurídica dos direitos sociais. Da mesma maneira que os direitos sociais são
expressões do princípio da solidariedade constitucional, conforme Fabio K. Comparato.
Os parlamentares municipais foram vistos como um setor da elite que possui valores
partilhados com a sociedade geral, mas que devido à sua inserção e treino nas
instituições político-partidárias acabam por adquirir e expressar valores próximos às
concepções legais sobre direitos sociais. Essa dupla posição é favorável para a discussão
sobre a cultura da dádiva e da benesse que permeia e inibi a efetivação dos direitos
sociais e da política social no Brasil. Tal cultura política sustenta relações assimétricas e
a profunda desigualdade e negação da cidadania pela subalternização e empobrecimento
de parte substancial da população.
O problema de investigação é a compatibilidade entre valores políticos dos
vereadores sobre direitos sociais e os artigos da CF88 que tratam desses direitos. Mas
não se trata de uma questão aos moldes de “é compatível ou não”, pois a intenção é
esclarecer aspectos daquela compatibilidade investigada a partir da apreensão dos traços
do Estado Social e da cultura política brasileira. Este problema tem os seguintes
desdobramentos:
a) considerando que direitos sociais são expressões do princípio da
solidariedade aludida na CF88, questiona-se qual a forma de solidariedade relativa aos
direitos sociais no Brasil?
b) quais são os valores políticos dos vereadores de Curitiba sobre direitos
sociais?

7
c) haveria conformidade entre os valores políticos desses agentes em relação ao
que a literatura aponta sobre a cultura política do brasileiro, ou seja, frágil noção de
direitos sociais e acentuada noção de dádiva e benesse?
d) os valores políticos sobre direitos sociais dos vereadores estão em
conformidade com os princípios expressos em sua expressão jurídica - CF 88?

1.2. HIPÓTESE
O pressuposto é que os valores políticos dos vereadores têm algum grau de
compatibilidade com a expressão jurídica dos direitos sociais, por conta de sua óbvia
inserção nas instituições políticas como membro da classe política. Todavia, é esperado
que entre os vereadores os valores políticos sobre direitos sociais partilhem, de algum
modo, da cultura política brasileira sobre direitos, isto é, uma cultura da dádiva e da
responsabilidade filantrópica das elites caracterizada por relações assimétricas e sem o
parâmetro dos direitos de cidadania.

1.3. JUSTIFICATIVA
O processo de tomada de decisão que envolve a legislação social e a formulação
de políticas sociais tem como um dos agentes centrais os parlamentares. Na ação
legislativa sobre matéria social estão sendo considerados e regulamentados direitos,
bem como, recursos do orçamento público são alocados e a relação entre Estado,
mercado e sociedade civil é normatizada. Nos projetos de lei de iniciativa do legislativo
e proposições votadas são tramitados, também, valores sobre direitos que irão balizar as
relações sociais e, ao mesmo tempo, são pertinentes a estas relações.
Discutir os valores políticos dos parlamentares sobre direitos sociais em relação
às características do Estado Social, à cultura política e cidadania e à expressão jurídica
desses direitos, pode contribuir para elucidar o processo decisório e o conteúdo da
política social e de matérias de conteúdo social..
Portanto, do ponto de vista do objeto e problema propostos, a pesquisa se
justifica pela importância dos parlamentares na legislação, na formulação de políticas e
veiculação de valores no campo dos direitos sociais, no caso dos vereadores, na esfera
local.

1.4. OBJETIVOS

8
Discutir a compatibilidade entre valores políticos dos vereadores sobre direitos
sociais e sua expressão jurídica nos artigos da Constituição Federal de 1988.
Identificar valores políticos dos vereadores sobre direitos sociais e relacioná-los
com aspectos da legislação e da política social.
Relacionar valores políticos dos parlamentares com traços da cultura política
brasileira sobre direitos e cidadania.

1.5. METODOLOGIA
Tendo em vista os objetivos foram selecionados autores para estabelecer a
relação entre os seguintes pontos e duplas: direitos sociais e expressão jurídica, política
social e Estado Social, cultura política (em especial de elites) sobre direitos sociais e
solidariedade relativa ao tema. Como é de se esperar e até desejável para
aprofundamento temático, a maioria dos autores selecionados aprofunda mais um desses
pontos e duplas e menos a relação entre todos eles. Além disso, a seleção de autores foi
errática sem critério de linhagens teórico-metodológicas.
Portanto, realizei uma articulação tentativa, isto é, exploratória e de aproximação
como base inicial para futuro aprofundamento. Baseado na bibliografia sobre direitos
sociais e sobre cultura política foi elaborado o roteiro da entrevista (anexo 1). Nem
todos dados das entrevistas forma trabalhados na monografia, mas servirão para
pesquisas futuras. Nessa monografia foram utilizados alguns resultados de questões
fechadas e nenhuma das abertas. Isso devido a dois fatores: tempo disponível e diante
disso, escolha de questões que pudessem ser esclarecidas pela discussão teórica
realizada, evitando, assim, apresentar dados que não pudessem ser descritos em relação
àquela discussão. Observo que se optou por uma expectativa modesta de apresentar e
descrever os dados ao invés de análise e interpretação.
Elaborei, também, uma classificação de solidariedade como meio de
operacionalizar um dos princípios fundamentais da CF88 (Art. 3º Constituem objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa
e solidária). Essa classificação levou em conta o aspecto jurídico dos agentes envolvidos
em atividades ligadas às áreas dos direitos sociais (basicamente se são públicos ou
privados e relações que estabelecem), a abrangência da solidariedade manifesta
(familiar, étnica, comunitária, nacional e internacional, por exemplo) e, sobretudo, a
congruência, ou não, com a noção de direitos. A classificação opera como uma espécie
de medidor da compatibilidade com a noção de direitos sociais que pode ser nula até

9
plena. Todavia, nessa monografia a intenção foi mais de elaborar tal classificação do
que utilizá-la na análise de dados da pesquisa, porém caso se mostre interessante e
viável, poderá ser aplicada em futuras análises dos resultados da pesquisa aqui iniciada.

1.5.1 Sujeitos da pesquisa: vereadores de Curitiba (2009-2012)


Do total de 38 vereadores foram entrevistados 35, portanto, pode-se dizer que em
termos estatísticos não é mais uma amostra, mas praticamente todo o universo. A
importância das elites na formulação de políticas, em particular dos parlamentares é
anunciada no capítulo 2 junto à apresentação de um perfil geral dos vereadores
entrevistados em termos de idade, escolaridade e partido político.

1.5.2 Instrumento de coleta de dados


Entrevista com 47 questões fechadas, a maioria desdobrada em abertas, divididas nos
seguintes blocos: partido político e associativismo, valores políticos, identificação social
e econômica.

1.5.3 Recursos para sistematização e tratamento quantitativo dos dados


Uso do programa SPSS. Foram rodadas as freqüências e cruzamentos das respostas.
Nessa monografia serão apresentados alguns resultados relativos à freqüência que em
relação à discussão empreendida foram suficientes. Pretendo, no desenvolvimento
futuro da pesquisa, desenvolver a habilidade para o uso do SPSS e, sobretudo, para as
interpretações estatísticas como auxiliares às análises teóricas.

1.5.4 Recursos para descrever e discutir os dados


Estratégia de diálogo com a literatura trabalhada para atribuição de significado teórico-
descritivo aos dados quantitativos

A monografia esta dividida em dois capítulos.


O capítulo 1 aborda os direitos sociais e o Estado Social a partir de características e
aspectos históricos. Discute algumas concepções esparsas de solidariedade e apresenta
uma classificação experimental que operacionaliza este princípio da CF88 focalizando a
solidariedade referida aos direitos sociais. Nessa classificação está embutida a noção de
gradação entre formas de solidariedades mais distantes da concepção de direitos sociais
até as cosmopolitistas que ultrapassam solidariedades calcadas nos Estados delimitados,

10
passando pela solidariedade afeita aos Estados Social e aos direitos sociais em seu
interior.
No capítulo 2 são discutidos marcos e características do Estado Social e da política
social no Brasil, bem como traços da cultura política sobre direitos e cidadania. Estes
aspectos são ilustrados pelos resultados da pesquisa sobre valores políticos dos
vereadores de Curitiba sobre direitos sociais. Ao mesmo tempo que os resultados da
pesquisa ilustram a discussão teórica, esta fornece elementos ou indícios explicativos
para os resultados apresentados.

11
1. Estado social e Direitos sociais interpretados como expressões do princípio da
solidariedade constitucional
Esse capítulo tem o objetivo de sintetizar marcos históricos gerais dos direitos
sociais e do Estado Social1, sem particularizar o Brasil. Para compensar o fato desses
itens serem sobejamente conhecidos lancei mão de três expedientes. Um deles foi o
próprio arranjo desses marcos que, mesmo que repetindo, elege, omite, ressalta aspectos
de interesse para a monografia e ignora outros, de acordo com o meu conhecimento
sobre o tema. Outra estratégia utilizada foi de apontar, ainda que apenas de passagem e
superficialmente, discussões teóricas, que podem ser desdobradas em estudos futuros,
como a da dimensão social dos direitos humanos (no âmbito internacional) e, também,
da questão da justiciabilidade dos direitos sociais advinda de sua inclusão no rol dos
direitos fundamentais. Indiquei, também, que a opção em tratar política social, no
singular, e não usar o termo políticas sociais que remetem a seus setores (educação,
assistência social, etc.) suscita debates teórico-metodológicas sobre Estado Social a
serem aprofundados. Como último expediente, arrisquei uma inovação e elaborei uma
classificação experimental de solidariedade (referida aos direitos sociais) que apresentei
entre os dois pontos sintetizados no capítulo.

1.1 Direitos Sociais: dimensão dos direitos humanos e dos direitos fundamentais
Desde pelo menos o século XVIII, na maioria das sociedades ocidentais capitalistas
(ou em outras comunidades políticas sob sua influência ou domínio), os direitos sociais têm
sido objeto de medidas legais e de implementação de políticas estatais e, também, de
declarações e pactos entre países membros de organizações internacionais.
A controvertida cronologia dos direitos com base da experiência de países centrais do
capitalismo na Europa, indica que os primeiros direitos foram os civis e os direitos
políticos, seguidos dos sociais e, por último dos novos ou de últimas gerações
(MARSHALL, 1967; BOBBIO, 1992).
Os direitos civis (cujo marco é o século XVIII e as aquisições revolucionárias liberais
da burguesia) são os direitos individuais relativos à vida e às liberdades tais como: vida,
propriedade e liberdades econômica, de expressão e pensamento, de associação, de ir e vir e

1
Trechos desses itens foram publicados em Kauchakje (2005) e Kauchakje e Ultramari (2008), por
exemplo.

12
de religião. Os direitos políticos (consagrados a partir do século XIX) se referem à formação e
associação em partidos e direitos de escolher e concorrer para a ocupação de cargos políticos.
No final do século XIX e primeira metade do século XX as lutas dos trabalhadores,
sob inspiração socialista, ou para a inclusão desses no consumo e, também, as medidas para
socialização dos custos da reprodução social dos trabalhadores provocam a afirmação dos
direitos sociais, cujo núcleo inicial era saúde, assistência e previdência, ampliado para
habitação e educação. Atualmente, algumas interpretações consideram lazer, cultura,
transporte e segurança pública no rol dos direitos sociais e outras excluem o trabalho, por
exemplo (DRAIBE, 1989; BEHRING, BOSCHETTI, 2007). Particularmente, considero que
os direitos sociais centrais são: educação, saúde, habitação, assistência social, previdência
social, trabalho e segurança alimentar e nutricional.
Na segunda metade do século XX, movimentos sociais de apelo cultural mais que
classista - os novos movimentos sociais (OFFE, 1996; SCHERER-WARREN, 2006),
inseriram na agenda pública os chamados direitos de últimas gerações,ou seja, relacionados
ao gênero, livre orientação sexual, diversidade cultural, faixa etária, etnias, desenvolvimento,
ambiente, entre outras temáticas correlatas.
As gerações e a cronologia geral dos direitos sugerem que direitos são fenômenos
históricos, mas, por outro lado, dão a idéia equivocada de que em todas as sociedades
ocorreriam num mesmo padrão cumulativo e de forma escalonada. Entretanto, não há uma
linearidade de desenvolvimento ou evolução previsível. A depender da dinâmica da realidade
pode haver regressões em relação à direitos já consolidados ou, mesmo, direitos que numa
sociedade são compreendidos e garantidos com tal em outra são desconsiderados ou
considerados em desacordo com sua formação social e cultural. No Brasil, por exemplo,
diferente de sociedades do capitalismo central europeu, os direitos sociais foram um dos
primeiros a serem assegurados pelo Estado republicano e nos períodos de ditadura, com as
regressões nos direitos políticos e civis, os direitos sociais foram mantidos ou mesmo
expandidos (CARVALHO, 2001) ainda que com distorções no financiamento e baixa
capacidade redistributiva, bem como, insuficiência na cobertura e abrangência (SANTOS,
1993; DRAIBE, 1993).
Ademais, embora diferentes entre si os direitos são articulados, como demonstra o
exemplo do direito civis à vida e à liberdade de expressão que ficam comprometidos ou
inviáveis sem os direitos sociais ligados à renda, saúde e educação, por exemplo. Para
Carvalho (2001, p. 10) se “os direitos civis garantem a vida em sociedade, se os direitos
políticos garantem a participação no governo da sociedade, os direitos sociais garantem a

13
participação na riqueza coletiva.” Sendo assim, é preferível tratar das dimensões dos direitos
(dimensão, civil, política, social etc.).
Mas, tal articulação está longe de significar que são compatíveis teoricamente, nos
campos ideológicos assim como, no plano da legislação e implementação de políticas e das
lutas sociais (BOOBIO, 1992). Por exemplo para alguns agentes sociais a sustentação de
direitos liberais na escala da economia (civis) não tem rebatimento nos direitos liberais no
âmbito dos costumes (direitos das últimas gerações); no plano ideológico direitos às
liberdades (civis) conflituam com direitos de matriz socializante (sociais); no aspecto teórico
direitos que são ampliados conforme amplia a ação positiva-interventiva do Estado (sociais)
são de natureza antagônica em relação aos direitos cuja maior intervenção estatal significa
mais inibição de sua plena característica (liberdades nos direitos civis) 2.
Apesar dos aspectos teóricos e contextuais, para as sociedades que vivenciaram
os “ecos da Marselhesa”3 e experimentaram movimentos sociais por liberdades e
seguranças socioeconômicas, os direitos adquiriram caráter universal4. Não é demais
frisar que essas dinâmicas foram influenciadas pelas lutas por igualdade
socioeconômica, mas são bem diferentes delas, uma vez que a possibilidade da referida
igualdade ultrapassa os limites de políticas públicas direcionadas pelos direitos, por
mais abrangentes que sejam, em sociedades de desigualdade fundamentada no modo de
produção. Para Marx (1987, p. 41-43) tais direitos advindos da revolução burguesa, são
direitos resguardados ao homem “como uma mônada isolada, dobrada sobre si mesma (...). A
liberdade é o direito a essa dissociação, o direito do indivíduo delimitado, limitado a si
mesmo.” O direito à propriedade “é o direito de desfrutar de seu patrimônio e dele dispor
arbitrariamente, sem atender aos demais homens, independentemente da sociedade, é o direito
do interesse pessoal.” O direito à igualdade “nada mais é senão a igualdade da liberté”. De
acordo com esse argumento o direito à igualdade da liberdade é uma ficção jurídica por conta
da subjugação e da compulsoridade do trabalho assalariado daqueles que não têm a

2
O reconhecimento dos direitos sociais “requer uma intervenção ativa do Estado, que não é requerida
pela proteção dos direitos de liberdade, produzindo aquela organização dos serviços públicos de onde
nasceu até mesmo uma nova forma de Estado, o Estado social. Enquanto dos direitos de liberdade
nascem contra o superpoder do Estado – portanto, com o objetivo de limitar o poder – os direitos
sociais exigem, para sua realização prática, ou seja, para a passagem da declaração puramente verbal à
sua proteção efetiva, precisamente o contrário...” (BOBBIO, 1992, p. 72)
3
Em alusão ao livro de Hobsbawm (1996) sobre a Revolução Francesa e suas repercussões em grande
parte do mundo.”
4
Consolidados de forma mais ou menos abrangente nas constituições de cada pais e na Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, posteriormente, na Declaração dos Direitos Humanos de
1948.

14
propriedade nem a posse dos meios de produção. A crítica marxiana aponta o escopo dos
direitos pertinentes e conseqüentes da revolução burguesa – a emancipação política que não
livra amplas parcelas da população do jugo da necessidade e de seu par o trabalho alienado.
No século XX, setores de esquerda criticaram especificamente os movimentos populares por
direitos sociais e serviços públicos decorrentes (escola, habitação social, unidades de saúde e
assistência social, entre outros) como tirando o foco de lutas sociais revolucionárias,
outros setores da esquerda, todavia, os consideraram como contribuindo com elas
(DOIMO, 1995).
De toda maneira, as experiências do período entre duas grandes guerras
mundiais ( entrecortadas pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929 e
pela depressão), o posterior crescimento econômico e pleno emprego, fomentaram a
adesão à proteção e ampliação dos direitos sociais nos Estados e internacionalmente.
Assim, os direitos sociais na primeira metade dos 1900 se firmaram nas legislações
nacionais, na Declaração dos Direitos Humanos em 19485 e, um pouco mais tarde, no
Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966, sendo hoje considerados
no âmbito internacional como uma dimensão dos direitos humanos (o que traz
conseqüências nas relações e sistema internacional) e no âmbito de alguns Estados
como parte dos direitos fundamentais, o que insere a questão da justiciabilidade dos
direitos sociais.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 – CF88 integra os direitos sociais nos
rol dos princípios e direitos fundamentais, ou seja, na condição de cláusula pétrea de
inadiável para execução. Essa inovação constitucional coloca os direitos sociais no
mesmo patamar que outros fundamentais, já consagrados, como o direito à propriedade,
e traz a discussão sobre como os direitos sociais seriam, efetivamente, reclamáveis
judicialmente. A questão da justiciabilidade dos direitos sociais é pertinente sobretudo à
área de Direito (PIOVESAN, VIEIRA, 2006; SARLET, 2005), no entanto, também
está sugerida em estudos sobre cultura política e democracia (MOISES, 2005). Como

5
Na Declaração dos Direitos humanos são afirmados direitos de dimensão social, tais como nos
seguintes artigos que declara que todo homem tem direito 22 - à segurança social ...; 23 - ao trabalho, à
livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
desemprego; 24 - direito a repouso e lazer...; 25 - a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua
família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços
sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice
ou outros casos de perda de meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle; 26 - à
instrução...; 27 - de participar livremente da vida cultural da comunidade... (Disponível em
http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm)

15
lembra Telles (2000, p. 139) se a garantia dos direitos “passa pela ordem legal e
institucional, depende, sobretudo de uma cultura pública democrática que se abra ao
reconhecimento da legitimidade dos conflitos e dos direitos demandados como
exigência de cidadania”.
A forma particular que os direitos sociais estão inseridos nas instituições, na
legislação e na cultura política de cada sociedade (e, também, internacionalmente)
acaba por expressar diferentes solidariedades conforme será descrito no próximo item.

1.2 Solidariedade e direitos sociais


O conjunto da legislação e política referidas aos direitos sociais, ao longo de um
processo de modificação das instituições do Estado de Direito, configuraram o Estado
Social Tal Estado e seus elementos constitutivos (em especial, legislação social e
política social) expressam e conformam uma forma particular de solidariedade – a
solidariedade estatal-pública. A opção por essa denominação, ao invés de utilizar termos
mais difundidos como sistemas (políticas) de proteção social ou segurança e seguridade
social (DRAIBE, 2002; CASTEL, 2005), se deve aos seguintes fatores:
Primeiro, porque fora da literatura especializada sobre Estado de Bem Estar,
proteção social é confundida com uma de suas vertentes, a da assistência social6.
Segundo, porque segurança social, não raro, é associada a contribuições diretas
(seguros) para o financiamento e acesso às políticas e aos programas sociais e, por sua
vez, a concepção de seguridade está restrita a três setores da política social (assistência
social, previdência social e saúde). Terceiro, porque consta entre os princípios
fundamentais7 da Constituição brasileira de 888, entre os direitos sociais são tidos como
“expressões do princípio fundamental da solidariedade”9 (COMPARATO, 2001, p. 10).
Finalmente, porque os complementos – estatal-pública – indicam a solidariedade
expressa no provimento de serviços ligados ao rol de direitos sociais garantidos em lei,
o que faz a distinção com outras instâncias de solidariedade (grupal, étnica, nacional,

6
Aliás, a própria lei orgânica da assistência social - LOAS - e o plano nacional desta política no Brasil
favorecem esta imprecisão ao nomearem, ao meu ver equivocadamente, os eixos da assistência social
como proteção social básica e proteção social especial.
7
Conforme Comparato (2001, p. 10) os princípios constitucionais situam-se “no ápice da pirâmide
normativa”
8
CF88 - Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma
sociedade livre, justa e solidária.
9
O princípio da solidariedade na CF88 está implicado, também, nas relações econômicas, entre os entes
da federação e nas relações internacionais, mas, para a monografia é suficiente tão somente sua
articulação com os direitos sociais.

16
em meio a tantas outras) e formas de solidariedade (cívica, filantrópica, por exemplo)
que também participam da proteção social. Portanto, o sistema público da solidariedade
é relativo à garantia legal dos direitos sociais e ao provimento público de serviços e
equipamentos sociais. Porém, uma sociedade e, mesmo, o conjunto de legislação e da
política que expressa essa solidariedade estatal-pública são perpassados por outras
solidariedades de base diversa (familiar, étnica, comunitária, de classe, filantrópica,
nacional, transnacional, etc.). Isso justifica estender a atenção e tentar organizar o
campo10 da solidariedade no âmbito dos direitos sociais que inclui o sistema estatal-
público, mas repito, não se esgota nele.
Com esse objetivo pretendo explorar alguns sentidos teóricos e elaborar uma
classificação experimental da solidariedade referida aos direitos sociais.

1.2.1 Solidariedade: uma aproximação


Abordagens sobre solidariedade têm uma forte carga normativa. Tenho a
intenção de evitar essa perspectiva e aproximar-me de uma abordagem descritiva com
destaques de autores da ciência política ou com ligação mais estreita com ela, como:
Reis (Elisa) (1995), Reis (Fábio) (2008), Santos (1993), Carvalho (1997), Putnam
(2000) e Bourdieu (1999). Todavia, esses destaques serão realizados sem preocupação
com confrontação e alinhamento de correntes teóricas ou de cronologia, enfim, sem um
trabalho de diálogo qualificado com os autores, mas apenas com o intuito de pontuar
entendimentos teóricos sobre solidariedade.
A etimologia da palavra solidariedade, pode ser buscada no “conceito romano-
legal in solidum significa o dever para com o todo, a responsabilidade geral, a culpa
coletiva, a obrigação solidária: obligatio in solidum.” Outras duas fontes são: “1) a idéia
de unidade pagã-republicana (do grego homonoia e do latim concordia) e amizade civil
(do grego philia e do latim amicitia), e 2) a idéia bíblico-cristã de fraternidade
(fraternitas) e amor ao próximo (caritas)”. (WESTPHAL, 2008, p. 44-45)
A noção da unidade e obrigação têm relação com a de dádiva compreendida
como prática social que permite a formação de laços de afinidade, rivalidade e a

10
O campo, assim como sugerido por Bourdieu, possui certa autonomia e regras próprias nas quais os
agentes se posicionam, com desiguais recursos (capital), de forma relacional entre si e em
correspondência com o espaço social mais amplo. Quer dizer, num campo os agentes se “enfrentam,
com meios e fins diferenciados conforme sua posição na estrutura do campo de forças, contribuindo
assim para a conservação ou a transformação de sua estrutura”. (BOURDIEU, 1996, p. 50)

17
circulação de bens e prestígio. Esse “sistema das prestações totais, de clã a clã – aquele
no qual indivíduos e grupos trocam tudo entre si – constitui o mais antigo sistema de
economia e de direito” (MAUSS, 2003, p. 299). Dar e retribuir são obrigações
universais particularizadas em cada contexto social. Um exemplo seria a legislação e
políticas sociais que se consolidavam no início do século XX em países como França,
Alemanha e na Grã-Bretanha.
Toda nossa legislação de previdência social [...] inspira-se no
seguinte princípio: o trabalhador deu sua vida e seu trabalho à
coletividade, de um lado, a seus patrões de outro, e, se ele deve
colaborar na obra da previdência, os que se beneficiaram de
seus serviços não estão quites em relação a ele com o
pagamento do salário, o próprio Estado, que representa a
comunidade, devendo-lhe, com a contribuição dos patrões e de
mesmo, uma certa seguridade em vida, contra o desemprego, a
doença, a velhice e a morte. (MAUSS, 2003, p. 296)

Para Durkkeim (1983) divisão de trabalho social participa do princípio geral da


reciprocidade. A desigualdade de acessos e aquisições engendrada em seu interior não é
questionável, mas sim, a divisão anômica do trabalho, sem regulamentação e educação
moral (consciência da interdependência dos trabalhos e seus produtos) que quebra
aquele princípio geral. Na perspectiva marxista a divisão social do trabalho é fonte de
alienação não apenas em relação ao produto do trabalho, mas, também, à própria vida.
Nessa divisão, que se fundamenta nas posições antagônicas, irreconciliáveis, das classes
sociais – a luta de classes -, não há “troca” entre trabalho – salário, mas, sim, exploração
e expropriação. No modo de produção capitalista a “força de trabalho é pois uma
mercadoria que o seu proprietário, o operário assalariado, vende ao capital. [...] Ele,
nem sequer considera o trabalho como parte da sua vida, é antes um sacrifício da sua
vida”. (MARX, 1982, p. 10).
Seja como for, a “troca de dádivas não exclui o interesse” e, também, pressupõe
a “produção de desigualdades...”. Além disso, a “solidariedade gerada pela dádiva não
pode ser sem sacrifício”. (LANNA, 2000, p. 193). Para Fabio W. Reis (2008, p. 161) a
noção da “solidariedade contida na referência ao compartilhamento comum” é própria
do nacionalismo que, no limite, exige o “sacrifício da própria vida”. Esta noção é parte
da tradição republicana, seja pelo viés da “liberdade dos antigos” (exigência de
disponibilidade de tempo e recursos para a participação direta nos assuntos do Estado),
seja, mais recentemente, por meio do civismo (que requer interesse pelas questões
públicas e associativismo).

18
Carvalho (2001, p. 12) lembra que a própria constituição da cidadania é parte da
formação e lealdade a um Estado-nação. Em alguns países o Estado teve maior
importância na construção da cidadania, como é o caso do Brasil, em outros os direitos
se deveram mais aos agentes sociais. (CARVALHO, 2001). No Brasil, a solidariedade
nacional foi forjada sob o patrocínio do Estado, principalmente, via
desenvolvimentismo e modernização (no período varguista e décadas de 1950-60)
sustentados pelo incremento da industrialização e por meio da estrutura coorporativa
coordenada pelo Estado. (COSTA, 1998; BOSCHI, 2004 DINIZ, 1991).
Numa sociedade com grave desigualdade a ampliação de direitos propagada
como concessão do Estado desfavorece a generalização da confiança mútua e do
associativismo (REIS, 1995). Por sua vez, favorece o clientelismo que dá forma à
cultura da dádiva onde o “pedir, para além do obedecer, que faz parte do cerne da
cultura política da dádiva, implica necessariamente um provedor forte” (SALES, 1994,
p.7). O clientelismo, em particular, é um modo de “trocas entre atores de poder
desigual”. Entre atores políticos “envolve concessão de benefícios públicos, na forma
de empregos, benefícios fiscais, isenções, em troca de apoio político, sobretudo na
forma de voto”; entre políticos e pessoas empobrecidas é baseado na distribuição de
benefício e “favor” em troca de voto e fidelidade (CARVALHO, 1997, p. 6).
Elisa Reis (1995) chama a atenção para o ambiente de baixa confiança mútua e
de frágil proteção social pública no Brasil que explica, entre nós, o fenômeno do
familismo amoral definido por Banfield (1958, p 10) como incapacidade das pessoas,
numa localidade, agirem em conjunto visando o bem comum ou, mesmo, qualquer fim
que transcende o interesse material, imediato da família nuclear. Tal “incapacidade”,
entretanto, longe de ser característica subjetiva-individual, está objetivamente ligada à
relação viciosa entre instituições (condicionadas pelas condições históricas de sua
emergência) pouco eficientes e democráticas com atitudes culturais de baixa confiança e
colaboração (PUTNAM, 2000, p. 190). Por isso, entendo familismo amoral como
relativo à solidariedade particularista, na qual o parâmetro dos direitos não baliza as
relações sociais e políticas.
Enquanto Elisa Reis (1995) salientou uma forma vertical de constituição da
solidariedade geral (nacional), num contexto de profundas desigualdades e com
conseqüências deletérias para a solidariedade cívica, outros autores irão argumentar que,
em outros contextos, a ação da organização estatal contribui para a efetivação e avanço
da cidadania. Segundo Fabio W. Reis (2008, p. 167) para a superação da desigualdade é

19
importante o nacionalismo que sustente a “ação do Estado para a administração
econômica e social no plano nacional” e, também, a “solidariedade que a ação do
11
Estado requer” . No Brasil, a CF88 explicita o “princípio da solidariedade, que
conduz à obrigatória participação proporcional de todos, no ônus cívico de contribuir,
pecuniariamente, para o custeio das atividades estatais” (COMPARATO, 2001, p. 9).
No interior de Estados nação, ultrapassar solidariedades específicas/parciais
(étnica, religiosa, por exemplo) em direção a compromissos de cunho geral-estatal tem
favorecido expansão da cidadania. Tendo em vista os casos empíricos nos EUA (das
identidades étnico-religiosa dos WASP - White Anglo-Saxon Protestant ou dos negros),
Parsons (1965, p. 01 e 24) afirma que a inclusão e compromissos dos membros com as
estruturas maiores, e entre si, não significa o abandono das menores, mas, sim que essas
diminuem seu poder sobre as pessoas, lembrando que o “consenso que sustenta a sua
integração política” deve-se à solidariedade ao sistema total12. Esse sistema é que seria
“o foco das lealdades que não precisam, e de fato não podem, ser absolutas, mas que
requerem alta prioridade entre as lealdades a que se obrigam os membros”.
Por sua vez, a afirmação e reconhecimento públicos de identidades e direitos
específicos (tais como de negros, povos indígenas, nacionalidades minoritárias) e,
também, daqueles que transcendem os Estados delimitados têm se mostrado
compatíveis e enriquecido a própria cidadania. Por outro lado, o fortalecimento de
solidariedades concorrentes podem fragilizar a responsabilidade e os direitos comuns no
sistema público-estatal (ABRAHAM, 2002).
Para um quadro mais complexo, cabe notar que as solidariedades arraigadas em
Estados e nacionalidades singulares têm se mostrado uma parcialidade diante do sistema
internacional e dos direitos humanos. Num ideário de sociedade global Calhoun (2002)
questiona sobre os tipos de identidade e solidariedade com potencial de integrar grande
parte da população e produzir compromisso mútuo, tal como foi capaz o nacionalismo,
porém sem assumir suas tendências de exclusão externa e rejeição interna de diferenças.

11
Nessa afirmação está implícita a questão do planejamento social articulada com a da legitimidade
(que inclui tributos) do Estado. Mas, não haveria aqui razão para retomar a literatura sobre planificação
social (MANNHEIM, 1972; FURTADO, 1999, por exemplo), suas conseqüências históricas no Estado de
Bem Estar e nos Estados centralizadores/autoritários de direita ou esquerda.
12
Para Parsons (1976) o sistema total é estruturado pelos sistemas: social (relativo ao modo de
organização dos elementos que estruturam o processo interativo), de personalidade dos atores
individuais e cultural

20
Para Marx13 a solidariedade de classe ultrapassa outras parciais, inclusive a
nacional e seus sistemas de direitos, pois nas “diversas lutas nacionais dos proletários
eles acentuam e fazem valer os interesses comuns, independentes da nacionalidade...”
(MARX, ENGELS, 1988, p. 71). No entanto, a posição objetiva das duas classes
fundamentais (identificadas pela propriedade e posse, ou não, dos meios de produção)
seria o indutor necessário, mas não suficiente da solidariedade de classe e ação
conjunta. Isto é, dessa posição objetiva não resulta, diretamente, consciência de seus
interesses e cooperação no interior de cada uma das classes. Nas relações de trabalho os
trabalhadores são impelidos à concorrência entre si pela necessidade da venda da força
de trabalho “quando um se vende mais barato do que o outro” ou ainda “quando um
executa o trabalho de cinco, dez, vinte”, concorrência que é intensificada com o avanço
da tecnologia e perda de postos de trabalhos. (MARX, 1982, p. 167). A solidariedade
entre trabalhadores seria um processo forjado nos processos de lutas sociais. Ademais, a
identidade de interesses dos burgueses, e entre esses e o Estado, foi confrontada por
Marx em O 18 Brumário de Luís Bonaparte que evidencia a disputa entre a frações da
burguesia. (MARX, 1978)
Em Bourdieu classe social é definida como as posições semelhantes que os
indivíduos ocupam no espaço social. Perissinotto (2007, p. 100) esclarece que essa
posição objetiva não se traduz, necessariamente na formação de “um ator coletivo
consciente de seus interesses”, mas gera “apenas ‘probabilidades’ de que as atitudes, os
interesses, as práticas e a tomada de posição dos indivíduos sejam semelhantes”.
Todavia, posições e predisposições partilhadas, em algum grau, podem ser o substrato
de laços de lealdade e de solidariedade social ampla que permitem explicar
[...]que a ordem estabelecida, com suas relações de dominação,
seus direitos e suas imunidades, seus privilégios e suas
injustiças, salvo uns poucos acidentes históricos, perpetue-se
apesar de tudo tão facilmente, e que condições de existência das
mais intoleráveis possam permanentemente ser vistas como
aceitáveis ou até mesmo como naturais” (Bourdieu, 1999, p.7).

Esse elenco errático de autores dá a idéia da ambigüidade da noção de


solidareidade e mostra a necessidade futura de estabelecer critérios e estratégias
metodológicas no tratamento da bibliografia para a delimitação conceitual do termo que
tem, a depender das correntes teóricas, sentidos complementares ou incompatíveis.

13
Faço a ressalva que a noção de solidariedade não é a mais apropriada, ou mesmo utilizada, nos
trechos que vou sublinhar, todavia, permitem reflexões diretas sobre esta temática.

21
Para esse subitem é suficiente ressaltar que, inescapavelmente, solidariedade
remete às práticas de reciprocidade; formas de pensar e sentir em conjunto; comunidade
de sentidos; sentimento de identidade e pertencimento experimentados pelos indivíduos
como membros de agrupamentos vários que, inclusive podem ser concorrenciais
(solidariedade de base transnacional, nacional, de classe, étnica, familiar, por exemplo).
A partir dessa compreensão genérica o próximo subitem apresentará uma
classificação experimental do campo da solidariedade referida aos direitos sociais. É
uma classificação que busca operacionalizar um dos princípios fundamentais da CF88
(art.3º-I)

1.2.2 Campo da solidariedade referida aos direitos sociais: classificação experimental14


Na atualidade, o campo da solidariedade referida aos direitos sociais é
constituído pela trama de prestações e serviços sociais implementados pelas políticas
públicas estatais, organizações privadas, religiosas, voluntariado e, também, acionadas
nos laços de proximidade familiar e de vizinhança. É um campo saturado por diversas e
associadas manifestações de solidariedade: desde as atualizações das chamadas formas
pré–modernas, até as contemporâneas de maior inovação como a transnacional,
passando por aquelas emergiram e se consolidaram junto ao Estado-nação. Nesse
campo, a expressão “referida aos direitos sociais” alude ao princípio constitucional e
pretende operar noções que sugerem, basicamente, o grau de adesão, compatibilidade ou
congruência com a concepção geral de direitos sociais (ou cidadania na dimensão
social).
Algumas características dessas formas de solidariedade são elucidadas por meio
de uma classificação que leve em conta o aspecto jurídico dos agentes envolvidos
(basicamente se são públicos ou privados e relações que estabelecem), sua abrangência
(familiar, étnica, comunitária, nacional e internacional, por exemplo) e, sobretudo, a
congruência, ou não, com a noção dos direitos sociais (compatibilidade que pode ser
nula até plena). Com isso classifica-se as formas de solidariedade social em: estatal-
pública, cívica-protetiva, particularista pessoalizada, filantrópica, cosmopolitista e inter-
estatalista.
Solidariedade estatal-pública

14
Essa, como qualquer classificação, organiza e reduz a diversidade empírica em conjuntos amplos por
afinidade de elementos que são próprios ao fenômeno definido, elementos esses que o pesquisador
elege como significativos, nesse caso, agentes, abrangência e proximidade com a noção de direito social.

22
Essa forma de solidariedade é identificada quando, num determinado território, as
atividades e prestações sociais são, predominantemente, de provisão estatal,
direcionadas pela legislação social com o registro dos direitos e da impessoalidade de
cidadania15. Por isso, encontram-se referencias na literatura sobre solidariedade estatal,
que considero imprecisas, pois, o princípio público de políticas e programas sociais
pode ser assegurado mesmo quando organizações da sociedade civil são partícipes.
Entretanto, para isso, as condições são tanto da predominância da provisão estatal,
quanto do caráter das organizações da sociedade civil de prestações de serviços16, as
quais, nesse caso, seriam aquelas que conjugam a concepção de direitos. Tais
organizações são opostas à uma versão benevolente de um “terceiro setor” que “passa
por cima das clivagens de classe, da diversidade dos projetos políticos, dos conflitos
sociais” (RAICHELLIS, 2006, p. 24), que busca os recursos do Estado num processo de
refilantropização da questão social e, que é imbuído por “éticas particularistas do
mundo privado das relações pessoais que, ao serem projetadas na esfera pública, repõem
a hierarquia entre pessoas no lugar em que deveria existir a igualdade entre indivíduos”
(TELLES, 2000, p. 85). Portanto, no âmbito da política social classifico de
solidariedade estatal-pública a manifesta por agentes (predominantemente estatais, mas
não exclusivamente) que rompem “com a linguagem da caridade para substituí–la por
uma política da solidariedade baseada no pertencimento de todos a um espaço político”
(LAVILLE, 2008, p. 23) balizada nos direitos sociais. Essa forma de solidariedade pode
transcender a delimitação territorial dos Estados e abranger o sistema internacional,
nesse caso, denominei de solidariedade inter-estatalista, descrita mais adiante.
Solidariedade cívica-protetiva
Uma forma de solidariedade que é expressa no associativismo (movimentos sociais,
ONGs, cooperativas e arranjos socioeconômicos solidários, conselhos, associações de
bairro e profissionais, por exemplo). Embora, o conjunto de organizações sociais que
realizam atividades sociais e prestam serviços possam coincidir com algumas de caráter
filantrópico (cujo aspecto geral é da hierarquia a ser discutida mais adiante), o sentido

15
Essa característica de impessoalidade e garantia de direitos, como própria do Estado, é valida para a
classificação geral, mas, não para análises históricas em que podem comparecer, e comparecem,
clientelismo como uso da política social e de benefícios sociais como recurso político, transfigurando
direitos em benesses.
16
Formalmente apenas o Estado pode ser considerado organização pública (de direito público), outras
são de direito privado, mesmo quando desenvolvem atividades de interesse público, tais como as ONGs.
(SIMÕES, 2007)

23
da solidariedade cívica é de horizontalidade, comprometimento e ajuda mútua. Essa
forma de solidariedade tem sido chamada de sociedade protetora (para diferenciar de
proteção social estatal) e pode ser de tendência regressiva em termos de deslegitimação
do Estado Social mas, também, pode aprofundar a cidadania social. Nesse último caso
há um arranjo em que “ao mesmo tempo em que reforçam-se certos núcleos estatizados
e nacionalmente articulados do Bem Estar Social (...) reforçam-se também as formas
descentralizadas e realizadas basicamente por organizações voluntárias, não
governamentais” (DRAIBE, 1993, p. 48). É importante o elemento da confiança entre
seus membros e desses para com as instituições políticas, que tem dupla face: uma do
capital social cujo padrão de relacionamento estabelecido ao longo da história tenha
sido favorável aos laços de confiança (PUTNAM, 2000; BOURDIEU, 1998); outra da
cultura cívica que requer engajamento e ativismo político combinados com confiança
nas instituições e classe política, aproximando-se de uma certa divisão de trabalho
schumpeteriana17 entre os políticos e demais cidadãos (ALMOND, VERBA, 1989).
Portanto, tais agentes podem fazer parte do círculo de voluntariado ou de ONGs
profissionalizadas com o objetivo de estabelecer parceria com o Estado, mas nessa
aproximação público-privado “o Estado seria também o catalisador de inúmeros
circuitos de reciprocidade (...). Aqui, trata-se da reaproximação entre o social e o
político, ou da repolitização dos laços sociais, ligando-os aos direitos sociais e à
cidadania” (ZALAUR, 1997, p. 10). Portanto, o caráter cívico é resguardado nos
arranjos de programas e atividades sociais ofertados com o parâmetros públicos, vale
repetir, distantes da benevolência ou de vínculos de proximidades defensivos em relação
ao Estado e outros grupos sociais, característicos das solidariedades classificadas como
particularista ou filantrópica (descritas abaixo). Classifico como solidariedade cívica
aquela presente, predominantemente, no âmbito do associativismo e de agentes
relativamente autônomos em relação ao Estado e baseados na co-responsabilidade
cidadã.
Solidariedade particularista pessoalizada18

17
Schumpeter (1984) argumenta que a camada política é produto de um processo seletivo rigoroso,
pois aqueles que dispõem a disputar o voto do eleitor inseriram-se em organizações e experiências que
acabam por torná-los aptos para a carreira política.
18
Refiro-me ao “padrão pessoalizante de relações sociais”, que “fornece ao indivíduo uma rede de
relações subsidiárias fundada em laços de solidariedade pessoais e dotada de uma forte referência de
identidade grupal.” (CANIELLO, 2003, p. 25). O “termo pessoalizada” é para diferenciar de outros
particularismos. Por exemplo, pode ser considerado um particularismo a solidariedade assentada

24
Esse modo de solidariedade particularista é restritiva aos laços e redes pessoais
(territoriais ou não) e defensiva (de desconfiança dos que estão fora do círculo de
fidelidade pessoal) típica do período pré-moderno, de sociedades tradicionais, mas,
também, da atualidade em locais em que a ausência ou insuficiência de políticas
públicas impele para a busca e a aquisição de seguranças sociais (bens materiais,
acolhimento, serviços assistências, de saúde, entre outros) por meio, sobretudo, de laços
de filiação pessoalizada. Nessa situação laços de lealdade e confiança mútua não
ultrapassam os círculos familiares, de vizinhança, da vila e sua comunidade eclesial,
conforme a noção de familismo amoral a que se referiam Banfield (1958) e Putnam
(2000). Além disso, o interesse pelas questões públicas é baixo e, quando há, seu
objetivo é obter ganhos privados. Tem-se, então as condições desfavoráveis para as
solidariedades cívica e pública, mas, favorável às práticas clientelísticas.
Solidariedade social filantrópica
Manifesta nas atividades e serviços sociais com caráter caritativo e de
donativos, realizados por organizações não governamentais, empresas, voluntariado e
igrejas e, também, por agentes ligados ao estado (membros do legislativo que
distorcidamente realizem atividades assistenciais e, também, do executivo que
desconsiderem os direitos na justificação e implementação de programas sociais, por
exemplo). No geral, são ações, com baixo ou nenhum alcance redistributivo, voltadas
para pessoas emprobrecidas, em situação de indigência ou discriminação. Na relação
dos agentes e organizações com o beneficiário, esse é destituído da condição de cidadão
e estigmatizado como “excluído”, “carente” e outras figuras próprias de um coletivo que
não reconhece relações mediadas por garantias públicas. Assim, a justiça se transforma
em caridade e os direitos em ajuda (TELLES, p. 101). A característica da relação é de
“doação sem reciprocidade, que só permite, como única volta, uma gratidão sem
limites” e que cria “uma dívida que não pode nunca ser honrada pelos beneficiários.”
(LAVILLE, 2008, p. 23). É o sistema da dádiva, cujo motivo, pela qual hierarquias são
estabelecidas, pois dar “é manifestar superioridade, é ser mais, mais elevado, magister;
aceitar sem retribuir, ou sem retribuir mais, é subordinar-se, tornar-se cliente e servidor,
ser pequeno, ficar mais abaixo (minister)” (MAUSS, 2003, p. 305). Portanto, onde se
reconhece essa forma de solidariedade – filantrópica - observa-se o clientelismo, o

primordialmente no Estado-nação. Além disso, a pessoalidade também pode contribuir para entender
fenômenos de redes de lealdades pessoais (embora não face a face) formadas com o suporte das
tecnologias da comunicação e informação – basicamente a internet.

25
consentimento com a promoção e manutenção de relações assimétricas, hierarquias e
com a desigualdades no acesso à riqueza social (renda, cultura, recursos naturais etc.) no
interior de cada país e, também, na comunidade internacional.
Solidariedade cosmopolitista
Forma de solidariedade expressa por agentes e atividades sociais, no plano
internacional, (ONGs, movimentos sociais, igrejas e fórum sociais, por exemplo) que
manifestam compromissos com o direito internacional dos direitos humanos. Essa
solidariedade transcende as comunidades políticas territorialmente delimitadas e
soberanas, o que significa a admissão de normas, intervenções e sanções internacionais
em relação ao respeito e à responsabilidade com as dimensões civil, política, social e
ambiental dos direitos humanos. Agentes e ações que manifestam a solidariedade
cosmopolita desafiam e colocam problemas para a questão da soberania do Estado e são
desafiados pelo questionamento sobre se os direitos humanos seriam patrimônio da
humanidade ou de uma parte dela, especificamente ocidental. De toda forma, os termos
gerais que motivam tais agentes é que, em se tratando de direitos humanos, a
legitimidade da comunidade política delimitada não pode seguir sendo o critério para a
exclusão de seres humanos das garantias internacionais (VILLA, 2008), isto é, direitos
humanos são aqueles considerados inerentes aos seres humanos, tão só por serem
humanos “independentemente de vinculação a um determinado Estado” (ABREU,
2007, p. 5).
Solidariedade inter-estatalista19
Forma de solidariedade que resulta da combinação das características da solidariedade
cosmopolitista com as da solidariedade estatal-pública descritas anteriormente. Nessa
combinação os agentes estatais, organizações internacionais e ONGs, entre outros
ressaltam a importância da demarcação dos “limites entre a ordem jurídica internacional
e a dos Estados nacionais”, sendo assim, “os direitos humanos podem ter caráter moral
ou, no máximo, quase-jurídico.” (KOERNER, 2002, p. 98). Especificamente, a
solidariedade inter-estatalista é expressa pela colaboração e incentivo para que os
parâmetros dos direitos humanos sejam incorporados na legislação social e na
implementação de políticas públicas sociais e econômicas em cada país, resguardada a
soberania dos Estados.

19
Concordo com Koerner (2002, p. 96) que prefere “a expressão estatalismo a estatismo para evitar a
conotação de intervenção do Estado na economia ou sociedade [...]. a discussão remete às relações
Estado-ordem internacional e não Estado-economia/sociedade.

26
De maneira geral, no Brasil, hoje, o campo da solidariedade referida aos direitos
sociais tem a seguinte configuração: enraizamento da solidariedade particularista
pessoalizada; permanência de uma solidariedade de tipo filantrópica (benevolência de
elites); manifestações de solidariedade cívica-protetiva (que podem ser afetadas pelas
classificações acima) (REIS 1995; SALES, 1994); posicionamento constitucional pela
solidariedade inter-estatalista20; formação de redes nas quais a solidariedade
comospolistista está presente (SCHERER-WARREN, 2006) e; consolidada
solidariedade estatal-pública (DRAIBE, 1993) perpassadas pelos formatos anteriores.
O próximo subitem irá apresentar algumas características e marcos históricos da
do Estado Social que consolida a solidariedade social estatal-pública. Em seguida, no
capítulo 2 será discutido o Estado Social no Brasil, tendo em vista resultados de
pesquisa sobre valores políticos de parlamentares municipais sobre direitos sociais.

1.3 Marcos históricos do Estado Social


Draibe (1993, p. 1) afirma que no Brasil não existe uma tradição de pesquisas
científicas sobre a “social policy”, sendo comum estudos que tratam de políticas sociais
(no plural) setoriais: política de saúde, política de previdência, política educacional, etc.
alinhados com os direitos sociais e com a divisão na administração pública. Mas tratar
de polícia social é uma escolha metodológica que permite capturar histórica e
analiticamente o padrão de intervenção social do Estado. Em concordância com a autora
trato da política social como uma política pública específica cujas características
integrais elucidam aspectos do Estado de Bem Estar Social ou Estado Social. Nesse
item será registrado um desses aspectos - o itinerário histórico.
A partir da definição de política pública como ação e direção do governo sobre
matérias específicas, mais precisamente, como o que o governo pode, deve e decide
fazer ou não fazer de acordo com parâmetros da legislação (SOUZA, 2006; FARIA,
2003), então, pode-se entender que política social é assim definida no que diz respeito à
matéria social. Todavia, na literatura não é inequívoco quais são os setores da política
social. Existe certo consenso sobre as políticas envolvidas na noção geral de Estado

20
CF88 - Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios: I- independência nacional; II- prevalência dos direitos humanos; III-
autodeterminação dos povos;IV- não-intervenção...

27
Social: previdência, saúde e assistência social21, além de educação e habitação. Mas, há
controvérsias sobre se trabalho, emprego e renda seriam setores da política social ou da
política econômica e, também, se os setores de esporte e lazer, segurança pública e
cultura estão ou não incorporados. Esse último, tem sido visto como um outro conjunto,
tal como sugere o Pacto dos Direitos humanos econômicos, culturais e sociais de 1966
(ampliado para os ambientais – DHESCAs).
A legislação e a política social que se firmaram nas sociedades industrializadas
da América e da Europa Ocidental a) têm antecedentes remotos na antiguidade e na
idade média, b) foram incorporadas num sistema público burocrático-legal no período
de moderno, c) constituíram o Estado Social após a segunda grande guerra, e d)
sofreram alterações recentes.
a) antecedentes
Os antecedentes encontram-se na ajuda mútua prestadas aos membros de uma
comunidade que se reconhecem como iguais e com compromissos de lealdade, com
exclusão, pela indiferença ou hostilidade, a todos os demais. Tais medidas protetivas
expressam, sobretudo, uma solidariedade particularista pessoalizada.
No entanto, também na atualidade comunidades sociais e políticas,
territorializadas ou não (famílias, associações profissionais, grupos étnicos, nações,
Estados, organizações internacionais e supranacionais) desenvolvem dinâmicas e
círculos móveis e sobrepostos de inclusão/exclusão de seus membros dos recursos
materiais, naturais e culturais (para o caso dos laços primários ou de comunidades e
coletivos mais ou menos amplos) e, também, das políticas públicas (para o caso dos
Estados e organizações supranacionais tal como a União Européia). Nesse processo,
efetiva-se uma seleção, que pode culminar em indiferença, abandono, expulsão ou
assassinato de pessoas e coletividades inteiras, baseada em critérios de elegibilidade
(vale repetir em círculos móveis e sobrepostos) tais como etnia, nacionalidade, religião,
deficiência, orientação sexual, sexo feminino no caso de recém-nascidos, idade,
incapacitados ou excluídos do trabalho, enfim, baseada atributos físicos,
comportamentais, culturais e de classe, os quais individualmente ou articulados
configuram atributos não reconhecidos como pertencentes ao agrupamento ou
considerados inviáveis ou, ainda, para ameaçadores a sobrevivência pessoal e

21
Os três setores da seguridade social, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico - OCDE e CF88. http://www.oecd.org/home/0,3305,en_2649_201185_1_1_1_1_1,00.html

28
estabilidade social. Nesses círculos de inclusão/exclusão que vai da indiferença até
assassinatos, manifestas solidariedades desde particularistas até as inter-estatalistas.
No período medievo, as medidas de proteção mútua de proximidade foram
incrementadas, por um lado, por ações da Igreja Católica e de pessoas inspiradas no
princípio da caridade cristã e, de outro, pela proteção e obrigações mútuas no sistema
feudal que ligava o servo ao senhor por meio do contrato do costume e, às vezes,
firmado em cartório. Tem-se, portanto, as formas de solidariedade particularista
pessoalizada em junção com a filantrópica de caráter confessional, bem como um germe
do que seria uma solidariedade estatal.
Essa última forma de solidariedade fica mais nítida na alta idade média e no
renascimento, quando inicia o complemento estatal desse esquema de proteção e
compromissos mútuos e, ao mesmo tempo, de manutenção de desigualdade e
subalternidades, por meio de medidas legislativas com forte acento na repressão e
obrigatoriedade do trabalho (MARX, 1983; CASTEL, 2001). Mais exatamente, no final
do século XV e no século XVI algumas normas inglesas, que associaram regulação do
trabalho e caridade, contribuíram para o avanço do capitalismo e para a forma que
Revolução Industrial tomou22. As transformações econômicas que levaram a expulsão e
expropriação da base fundiária dos homens do campo tiveram sua correspondência
posterior em “leis grotescas e terroristas numa disciplina necessária ao sistema de
trabalho assalariado, por meio do açoite, do ferro em brasa e da tortura” (MARX, 1983,
p. 277).
Nos séculos seguintes, na medida que a importância da Igreja na condução da
vida moral e política vai se esmaecendo na nova ordem social e que os laços de
pertencimento primário se esgarçam com o advento do trabalho nas cidades e modo de
vida referente, vai sendo engendrado um sistema estatal de política social que incorpora
e controla as atividades de ajuda mútua de iniciativa de familiares, igrejas e corporações
profissionais, por exemplo, que a despeito disso, continuam existindo, ou até mesmo, a
depender da localidade, sendo centrais.

22
Dentre estas regulamentações Marx (1983, p. 275) relata que pelo estatuto de 1547 se alguém se
recusava a trabalhar, deveria ser condenado a se tornar escravo da pessoa que o denunciou como vadio,
além disso, pessoas vadiando há mais de três dias seriam levados a sua terra natal, marcado com ferro
em brasa no peito com a letra V e postos para trabalhar, os filhos dos “vagabundos” podiam ser
tomados e mantidos como aprendizes (em caso de fuga, tornavam-se escravos), e os pobres deveriam
ser empregados pela comunidade em troca de comida e bebida; em 1572 e 1597 ficou estabelecido que
esmoleiros sem licença e com mais de 14 anos seriam açoitados e teriam a orelha marcada a ferro e os
jovens com mais de 18 anos reincidentes seriam executados.

29
b) incorporação no sistema burocrático-legal do Estado Moderno
No período moderno o Estado assume de forma ampliada, e com a nova
característica da racionalidade burocrático-legal, a combinação das políticas
assistenciais para o trabalhador pobre e pessoas sem trabalho (desde que tais prestações
sociais fossem provisórias e com benefício mínimos para não desestimular a busca e
permanência no emprego) com as de regulamentação trabalhista (redução de jornada,
fixação de melhores ambientes e salários, regulação do trabalho infantil, férias), bem
como juntando-as com outras políticas também relativas ao mundo do trabalho urbano:
habitação no sentido principal de deslocamento do trabalhador dos centros das cidades,
retirando-os de cortiços densos e insalubres para os moradores, também, do em torno;
educação, especialmente para o mercado de trabalho; saúde, com foco nas epidemias
devidas às condições de vida insalubres e aglomerações urbanas; e previdência social.
Observa-se que são medidas diante da questão social que se manifesta como
concentração de pessoas destituídas de autonomia e segurança material nas cidades,
pauperismo e rompimento de vínculo comunitário e familiar. A questão social emerge
também nas revoltas e resistências dos trabalhadores.
Em períodos anteriores e “por toda parte” existiram políticas estatais de
prestações sociais “no sentido de garantir, na medida do habitual, o sustento” (WEBER,
1999, p. 520), mas é a partir do final do século XVIII e no XIX que políticas sociais,
ainda fragmentadas e residuais, serão incorporadas na estrutura burocrático-legal do
Estado23 (inclusive o traço geral da impessoalidade e meritocracia para o acesso aos
benefícios sociais). São medidas no interior das mudanças do Estado Moderno para o
Estado de Direito que complementam a forma de solidariedade estatal-pública, mas,
ainda não têm o alcance de um sistema de política social que promova mudanças
substanciais na configuração do Estado.
c) Estado Social
No século XX a política social firma-se na administração pública de vários
Estados capitalistas, com pessoal especializado e recursos materiais e financeiros
específicos. Educação, saúde, assistência social, entre outros setores considerados como
direitos sociais ou necessidades sociais inseriram-se em elementos do Estado como
fiscalidade/tributação, legislação e políticas públicas, provocando, portanto, alterações,

23
São emblemáticos nesse movimento de inflexão o Plano Bismarck – 1883 na Alemanha; a Política do
New Deal e o Social Security Act- em 1935 nos EUA; e o Relatório Beveridge – 1942 na Inglaterra.

30
desde do interior, em sua própria formatação, sendo, agora denominado de Estado
Social – uma versão típica da solidariedade estatal-pública.
No final dos anos 1920 a experiência da crise do capitalismo e, após a segunda
Guerra Mundial (em especial, entre 1940 e meados dos 70), a expansão econômica
aliada a empregos que fortaleceram, também, as lutas trabalhistas forneceram as bases
de legitimação da intervenção econômica do Estado com políticas de cunho
keynesiano24. Tais recursos econômicos e políticos constituíram o Estado Social
caracterizado pela legislação e política social em torno, principalmente dos setores do
trabalho, educação, saúde, previdência social, assistência social, habitação e
transferência/auxilio de renda.
O surgimento de Estado Social é uma forma de controlar o jogo de forças no
mercado e as organizações de trabalhadores e conflito de classes (OFFE, 1984), mas,
também, está relacionado a outras perspectivas em disputa pela direção social e política.
Quer dizer, a política social foi justificada pela necessidade de manutenção da ordem
social e econômica; implementação da caridade e da ajuda pública (não raro em
comunhão com o primeiro argumento); condição para socialização do custo da
reprodução da força do trabalho e vínculo virtuoso com a política econômica de
dinamização do consumo. Foi, também, objeto de lutas de movimentos trabalhista e
socialista frente ao Estado de Direito liberal em sociedades capitalistas.
Condições estruturais e institucionais, bem como, relações e recursos de poder
entre agentes em disputa no âmbito do processo decisório da política social suscitaram
em cada país diferentes modelos de Estado Social, os quais, até a década de 1980, foram
delimitados da seguinte forma (DRAIBE, 1989; ESPING-ANDERSEN, 1991):
Estado de Bem Estar Social residual ou liberal que complementa, por meio da política
social, as falhas no acesso individual aos bens mercadorizados (habitação, previdência,
saúde, especialmente) e as atividades protetivas da família e de organizações da
sociedade civil. O acesso à política social depende mais da comprovação de pobreza do
que da condição de cidadão.
Estado de Bem Estar Social meritocrático-particularista (de tipo corporativo ou
clientelista) ou conservador está fundado na capacidade contributiva do trabalhador. O
acesso à política social segue a relação trabalho/salário-contribuição-benefício e inclui

24
“Políticas econômicas de intervenção anticíclica (crises cíclicas do capitalismo) e políticas sociais
redistributivas de bens e recursos sociais”. (ANDERSON, 1995, p. 2)

31
prestações sociais compensatórias para atender aqueles com renda muito baixa ou que
não foram inseridos no mercado de trabalho. No tipo corporativo o vínculo com a
posição e ou corporação ocupacional é acentuado; no tipo clientelista a ênfase é nas
políticas sociais como recurso de poder para o governo, parlamentares e partidos. O
acesso à política social dependa mais da condição de trabalhador do que de cidadão.
Estado de Bem Estar Social institucional redistributivista ou social democrata
constituídos em sociedades em que há o consentimento com forte tributação do
trabalho, do consumo e do capital para financiamento da política social de caráter
universalizante, especialmente, nos setores da educação, saúde, previdência social e
assistência social/transferência de renda. O acesso à política social é vinculado aos
direitos de cidadania.
Nesses modelos está uma idéia de gradação do mais mercadorizado até o mais
universalista (do residual ao institucional-redistributivista).
d) recentes alterações
A partir do final dos anos 1970 até o final do século XX os diferentes formatos
de Estado Social foram impactados pela reestruturação produtiva, globalização
financeira e sua contra-face de desemprego de longa duração25 ou perda permanente de
postos de trabalho com proteção e regulação da legislação trabalhista, o que, por sua
vez, aumentou a demanda por provisões sociais públicas. Nessas décadas competiram
entre si duas tendências na política social. A primeira foi de questionamento do
estatismo na área social. Essa tendência também se bifurca: por um lado, instituições
financeiras, do centro do gerenciamento capitalista apregovam a regressão de políticas
estatais de corte social e o incentivo à parceria com a sociedade civil, especialmente
com o chamado terceiro setor, sob orientação de dois princípios do liberalismo radical:
“a responsabilidade pública reduzida a políticas para grupos pobres (...) e a
responsabilidade estritamente individual, em que as pessoas são estimuladas a assumir
os seguros contra os riscos sociais...” (DRAIBE, 2003, p. 1). Por outro lado, a
reivindicação de maior autonomia e participação da sociedade civil26 perante um Estado
supostamente agigantado que deveria ser reduzido. A segunda grande tendência

25
Desemprego por 08 meses ou mais (POCHMANN, 2002).
26
Nessa premissa parece haver uma relação direta entre Estado forte com capacidade de
regulamentação e implementação de políticas econômica e social e sociedade fraca e vice e versa.
Premissa que a pesquisa de Putnam (2000, p. 186) contradiz ao demonstrar que “o capital social,
corporificado em sistemas horizontais de participação cívica, favorece o desempenho do governo e da
economia, e não o oposto: sociedade forte, economia forte; sociedade forte, Estado forte.”

32
apostava no fortalecimento do Estado Social com a participação da sociedade civil para
o planejamento, implementação, controle de políticas e do acesso aos serviços sociais.
Já no final dos anos 1990 e década seguinte o prestígio e influência das
concepções neoliberais arrefeceram diante da exclusão social, do confronto com
movimentos sociais organizados internacionalmente (ANDERSON, 1995) e da crise
econômica do período. A perda de impacto deveu-se, também, à resistência das
instituições referidas à política social que demonstraram robustez27 para condicionar as
opções disponíveis de mudança retroativa, sendo que no início de 2000 foi constatada,
em diversos países, a permanência não apenas das mesmas instituições, mas também
dos mesmos modelos de Estado Social dos anos anteriores (DRAIBE, 2003).
A despeito disso, é possível observar um fator de fundo que desafia os padrões
do Estado Social consolidados: o declínio da sociedade salarial nos moldes de meados
do século XX (CASTEL, 2001) que incide sobre um dos sustentáculos tradicionais do
financiamento do Estado Social e sobre o critério principal para o acesso aos benefícios
previdenciários. No entanto, cabe notar, essa é uma constatação assentada nas normas e
relações exploratórias de trabalho vigentes (como as jornadas diárias extensas e
intensas, para citar uma), em concordância com um Estado Social apoiado nelas que
tem como um dos eixos medidas de proteção e garantia de renda míninas àqueles que
“inevitavelmente” estariam excluídos do mercado de trabalho – com as implicações que
o termo e a dinâmica de mercado carregam. Outra perspectiva parte do princípio de que
o atual estágio de desenvolvimento econômico-tecnológico possibilita a liberação do
trabalho “de tal forma que todos e todas possam trabalhar, mas trabalhar cada vez
menos, sem perda do rendimento real” (GORZ, 1990, p. 219).
Sendo assim, considero que uma das possibilidades de um Estado Social em
formação é do estabelecimento do elo entre a garantia de renda e a do trabalho como
bens sociais e socializados, portanto, acrescento, não se trata nem de uma renda mínima,
nem de qualquer trabalho ou sob qualquer condição mas de participação na riqueza
social.

27
Concordo que não “só os indivíduos ou grupos que têm força relevante influenciam as políticas
públicas, mas também as regras formais e informais que regem as instituições.” (SOUZA, 2006, p. 39) As
instituições “influenciam os resultados porque moldam a identidade, o poder e a estratégia dos atores.
Além disso, as instituições presentes são a cristalização das opções passadas, isto é “as instituições têm
inércia e “robustez”. Portanto corporificam trajetórias históricas...”. (PUTNAM, 2000, p. 23)

33
Esse movimento histórico e tendências estão presentes nos Estados de Bem Estar
Social específicos de cada sociedade em que essa formação faz sentido. Sendo assim, as
características do Estado Social brasileiro são forjadas nessa dinâmica geral e pelos
particulares elementos estruturais, institucionais e culturais. No próximo capítulo serão
discutidos aspectos do Estado Social no Brasil e os direitos sociais em sua expressão
jurídica e nos valores políticos das elites, em especial, dos vereadores em Curitiba.

34
2. Direitos Sociais no Brasil: expressão jurídica e valores políticos
Esse capítulo discorre sobre direitos sociais no Brasil com o interesse em sua
expressão jurídica (representada pela CF88) e nos valores políticos. Junto a isso trata de
algumas características sobre o histórico do Estado Social brasileiro e apresenta
resultados da pesquisa sobre valores políticos de vereadores de Curitiba sobre direitos
sociais. O problema de tratar da esfera nacional e ilustrar com atores locais (subcultura)
foi contornado pelo conteúdo da entrevista centrado nos direitos e legislação social que
são abrangentes. Considerando o número de páginas de uma monografia de graduação,
pode parecer demais a proposta anunciada a ser cumprida num único capítulo - e é.
Mas, observo que elaborei o capítulo com os seguintes norteadores: primeiro o item
sobre o Estado Social no Brasil foi redigido de maneira a tratar sinteticamente dos
marcos e debates mais importantes apontados na literatura selecionada; segundo, escolhi
apenas algumas questões fechadas das entrevistas, sendo que as tabelas correspondentes
foram inseridas de maneira ilustrativa e descritiva, sem empreender análise. Aliás, a
análise exigiria um conhecimento maior sobre cultura política e teoria das elites do que
tenho nesse momento. Dessa forma, o tratamento das outras questões fechadas do
roteiro da entrevista e abertas e, também, o estudo e aprimoramento do conhecimento
teórico sobre os temas de base serão realizados na continuidade dessa pesquisa na pós-
graduação.
Antes de iniciar o capítulo lembro que os aspectos metodológicos da pesquisa
foram tratados na introdução.

2.1 Parlamentares da Câmara Municipal de Curitiba (2009-2012)


Elites são entendidas como pessoas que ocupam postos de comando e cargos de
destaque nas principais instituições de uma sociedade (MILLS, 1981). Estudos sobre
valores das elites no Brasil seguem essa concepção ampla como é o caso de Reis (2000,
p. 5) que enfatiza as posições de poder das elites nos processos decisórios e argumenta
que não se pode desconsiderar seu papel central na “formulação e implementação de
políticas sociais”; e de Cheibub e Lima (1996, p.87) que apontam que as elites política,
da administração pública, empresarial e sindical são “considerados estratégicos pela
capacidade de apoio ou de oposição na superação de dilemas econômicos, políticos e
sociais no Brasil.”

35
Entre os setores da elite política os parlamentares são centrais no processo de
tomada de decisão no âmbito da legislação e políticas públicas. A despeito da
preponderância do Executivo e taxa de sucesso de suas iniciativas legislativas (TOMIO,
2007; FIGUEIREDO, LIMONGI, 2006), estudos mostram que o legislativo tem
importância destacada nas iniciativas próprias e modificando ou fazendo modificar (por
antecipação da rejeição, por exemplo) propostas do Executivo (DINIZ, 2005).
A união, os estados e municípios têm diferentes competências no âmbito da
legislação social e da formulação de políticas sociais. Para a esfera municipal, a
competência para legislar sobre matéria social é mais restrita e residual (no sentido do
escopo e abrangência de proposições sociais provenientes do legislativo municipal)
considerando que as políticas sociais como educação, saúde, assistência social, entre
outras, são caracterizadas por legislação social ordenadora de sistema único nacional e
descentralizado (ARRETCHE, 2000; DRAIBE, 1997; SOUZA, 2004).
Em contrapartida, nos municípios os parlamentares deliberam sobre proposições
sociais direcionados a interesses e grupos sociais delimitados localmente. Além disso, é
uma prática comum entre vereadores a realização pessoal de ações sociais e o
atendimento de demandas pontuais que podem estabelecer vínculos de lealdade e de
apadrinhamento e reforçar a perspectiva da dádiva e do favor na cultura política
brasileira.
Nos projetos de lei e proposições são tramitados, também, valores políticos. Em
particular, na ação legislativa sobre matéria social estão sendo considerados e
regulamentados direitos, bem como, recursos do orçamento público são alocados,
relação entre Estado e sociedade civil é normatizada e oportunidades de acesso a
recursos e bens para a população ou o foco em grupos específicos são estabelecidos. Por
isso a importância em estudar os valores políticos dos vereadores sobre direitos sociais.
Em Curitiba a Câmara dos Vereadores tem 38 parlamentares (2009-2012) desses
foram entrevistados28 35. O Perfil em relação a idade, escolaridade e filiação partidária
é o seguinte:

28
Entrevistas realizadas com a contribuição de Talita Nascimento, Paulo Roberto R. Hannesch, Simone
de Cássia S. da Silva e Sabrina Lissa F. L. Leme, aluno(a)s do Curso de Sociologia da PUCPR, sendo os dois
primeiros bolsistas PIBIC. Todas as tabelas do capítulo foram elaboradas tendo por base as freqüências e
testes gerados no programa SPSS por Talita Nascimento que, por sua vez foi instruída, a nosso pedido,
pelo Prof. Sergio Aparecido. Manifesto a todos o meu agradecimento.

36
Quase 70% dos vereadores estão na idade29 adulta e desses a maioria (48,6%)
tem entre 40 e 54 anos (tabela 1).

Tabela 1. Faixa etária de vereadores de Curitiba (2009-2012)


Faixa etária Frequency Percent
ADULTO JOVEM (a) 21-29 2 5,7
ADULTO JOVEM (b) 30-39 5 14,3
ADULTO (a) 40-54 17 48,6
ADULTO (b) 55-64 7 20,0
IDOSO (a) 65-74 3 8,6
IDOSO (b) 75 + 1 2,9
Total 35 100,0
Fonte: a autora

Mais da metade (62,9%) dos vereadores tem ensino superior completo ou pós-
graduação e a outra metade possui ensino médio ou superior incompleto e apenas um
deles o médio incompleto (1)30 (tabela 2)

Tabela 2. Escolaridade de vereadores de Curitiba (2009-2012)


Nível de
escolaridade Frequency Percent
BAIXA 1 2,9
MÉDIA 12 34,3
ALTA 22 62,9
Total 35 100,0
Fonte: a autora

A distribuição partidária dos parlamentares demonstra que inclinação para a


posição partidária de centro – direita na Câmara dos Vereadores de Curitiba. Ademais,
se PSDB, DEM e PMDB forem considerados juntos pode-se afirmar que pouco mais da
metade (54,3%) é partido de quadros. Na tipologia de Duverger (1982) os partidos de
quadros são aqueles que não possuem laços regulares e estáveis com os filiados e não
visam em número elevado deles, mas sim reunir notáveis/pessoas ilustres tanto com
objetivo de que possam financiar suas campanhas quanto a lhes fornecer prestígio. Sua

29
Divisão por faixa etária adaptado da Secretaria Especial para Assuntos Estratégicos. Disponível em
http://www.seae.pr.gov.br/modules/noticias/print.php?storyid=4770
30
Detalhamento da classificação de escolaridade no modelo da entrevista - anexo 1.

37
base social é a grande ou pequena burguesia. No geral, formam-se a partir de comitês ou
bancadas parlamentares e têm renovação é excepcional. Os partidos de massas (um
exemplo entre os grandes partidos brasileiros é o PT, com modificações recentes), por
sua vez, estabelecem laços regulares e estáveis com os seus filiados, buscam um grande
número deles como base de financiamento, e preocupam-se com sua formação política.
(tabela 3).

Tabela 3 Partidos Políticos de vereadores de Curitiba (2009-2012)


Partidos Políticos Frequency Percent
DEM - Democratas 3 8,6
PDT – Partido Democrático Trabalhista 3 8,6
PMDB - Partido do Movimento Democrático 2 5,7
Brasileiro
PP – Partido Progressista 1 2,9
PPS - Partido Popular Socialista 2 5,7
PRP - Partido Republicano Progressista 1 2,9
PSB - Partido Socialista Brasileiro 3 8,6
PSC - Partido Social Cristão 1 2,9
PSDB – Partido da Social Democracia 14 40,0
Brasileira
PSL - Partido Social Liberal 1 2,9
PT – Partido dos Trabalhadores 3 8,6
PV – Partido Verde 1 2,9
Total 35 100,0
Fonte: a autora

No desdobramento dessa pesquisa esses dados e outros resultantes da entrevista


serão cruzados e aplicados testes estatísticos, mas por enquanto, servem para fornecer
um perfil geral dos vereadores cujos valores ilustrarão as discussões dos próximos itens.

2.2 Estado Social no Brasil e valores políticos de vereadores de Curitiba


Tratar de Estado Social no Brasil, mesmo na literatura especializada, causa certo
estranhamento que Draibe (1993) explica pela concepção de bem estar inerente aos
compromissos desse Estado contraposta às condições de desigualdade e exclusão social
nesse país. No entanto, desde pelo menos os anos 1930 a legislação e a política social se
inscrevem num sistema de bem estar social estatal com características próprias. A
autora comenta que aquele desconforto deriva mais da concepção de Estado Social

38
fixada no modelo de social – democrata/nórdico que, supostamente, deveríamos ou
seriamos incapazes de alcançar, do que de pesquisas sobre as características estruturais
do caso brasileiro as quais, vale frisar, apesar de específicas, retém os elementos gerais
da intervenção social de Estados capitalistas. Acompanhar o processo histórico
contribui para compreender as particularidades da política social brasileira.
Até 1822 ainda não se falava dos direitos sociais, “pois a assistência social
estava a cargo da Igreja e de particulares” (CARVALHO, 2001, p. 24 e 53). Durante a
Primeira República a política social era fragmentada, mas há indícios da emergência da
solidariedade estatal-pública com a instituição em 1918 do Departamento Nacional do
Trabalho a fim de regulamentar a organização do trabalho no Brasil; e em 1920 do
Departamento Nacional de Saúde responsável por serviços e campanhas para o controle
de doenças. Outro exemplo é a Lei Eloy Chaves de 1923 marco inicial da Previdência
Social, que cria a Caixa de Aposentadoria e Pensão dos Ferroviários, cujo modelo
espalhou-se para outras categorias profissionais.
Esse esboço de Estado Social surge para regular a organização dos trabalhadores
dos setores modernos e da burocracia e tem relação com as primeiras mobilizações dos
trabalhadores. Isso é acentuado na década de 1930, o marco dos direitos e da política
social no Brasil, isto é, do particular Estado Social. Os direitos sociais e a política
social foram fortalecidos e expandidos nos períodos do governo da era Vargas,
especialmente no Estado Novo, e durante a ditadura militar, ou seja, concomitantemente
à redução ou supressão de alguns direitos civis e políticos. Nesses períodos os principais
ciclos foram entre 1930-1943 e 1966-1971, o que, segundo Draibe (1993, p. 19) ,
“parece referendar a tese das ações preventivas da elite e da busca de formas de
legitimação via política social”. A formação do Estado Social brasileiro ocorre no bojo
do projeto de modernização desenvolvimentista que desloca as oligarquias, com a
ascensão – como ator político - da nova oligarquia urbana industrial. O próprio
corporativismo compreendido como organização e regulação da representação dos
trabalhadores e dos empregadores, sob a mediação do Estado como árbitro, tem esse
sentido modernizador das relações de trabalho capitalista (BOSCHI, DINIZ, 1991;
COSTA, 1998). Todavia, é de se notar que as primeiras medidas de legislação social
têm acento sobre o trabalhador urbano, deixando intactas a falta do constrangimento
legal e as reciprocidades subalternas nas relações de trabalho no meio rural de interesse
das oligarquias rurais detentoras de forte poder político.

39
Os primeiros 15 anos de Vargas, nos quais foi sucessivamente chefe de um
governo provisório, presidente eleito indiretamente e ditador, representam, de fato, a
inauguração do Estado Social brasileiro que teve sua legitimidade forjada no
populismo31. A produção legislativa do período é significativa, por exemplo: em 1930
foi criado o Departamento Nacional de Saúde (DNS) do Ministério da Educação e
Saúde Pública, a CF34 institui a competência do Estado para regular relações de
trabalho, determina a criação do salário mínimo (adotado em 1940), a jornada de
trabalho de 8 horas diárias e a criação da Justiça do Trabalho (efetivada em 1941). Entre
1938-45 o Departamento Nacional de Saúde foi reestruturado de acordo com as
diretrizes de centralização político-administrativa da Reforma Administrativa do
período. Em 1943, as leis trabalhistas e sindicais do período são compiladas –
Consolidação das Leis do Trabalho/ CLT. Nesse ano também, foram criados os
Tribunais do Trabalho. No decorrer do período a previdência social foi estatizada, sendo
que a União passou a participar das contribuições. Dessa maneira, a principal
característica da produção legislativa do período é a de centralização de recursos e de
instrumentos institucionais e administrativos no executivo federal, sobretudo nas áreas
do trabalho, saúde e educação.
Nos anos democráticos de 1945-64, as medidas legislativas e políticas
expandem–se nos setores da assistência social e habitação no mesmo padrão de
seletividade para o ingresso dos beneficiários, centralização e relação entre direitos de
cidadania e trabalho, dito de outro modo, reconhecimento do cidadão condicionado a
sua identidade de trabalhador (carteira de trabalho assinada) (SANTOS, 1979).
Algumas mudanças substanciais são implementadas nas duas primeiras décadas
da ditadura militar quando o Estado Social adquire o caráter tecnocrático32, de aparente
assepsia do jogo político, que regula e organiza administrativa e financeiramente um
sistema estatal público das políticas de saúde, educação, assistência social e habitação,
bem como, previdenciária a fim de ultrapassar a fragmentação na política social e

31
No populismo o governante é confundido com o próprio Estado (CODATO, 2004) e pressupõe apoio e
mobilização das massas populares desorganizadas e organizadas sob a direção e controle central da
estrutura estatal.
32
A tecnocracia ressalta o poder pelo saber profissional especializado e competência técnica,
“apolítico”. Na vigência da ditadura militar o estilo tecnocrático de gestão da economia “reforçou a
concepção acerca da validade da supremacia da abordagem técnica na formulação das políticas públicas
[...]. A valorização do saber técnico e da racionalidade da ordem econômica, aspectos considerados
intrinsecamente superiores à racionalidade da instância política, conduziriam a uma visão asséptica da
administração pública, percebida como campo de competência exclusiva de uma elite acima do
questionamento da sociedade ou da classe política.” (DINIZ, 2001, p. 17 )

40
ampliar a cobertura naqueles setores do núcleo base do Estado Social. Em 1966 a
política previdenciária é unificada com a criação do Instituto Nacional de Previdência
Social - INPS, e é estabelecido o fim da estabilidade do emprego e criado o Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço- FGTS cujos recursos sustentavam o Banco Nacional de
Habitação – BNH. Em 1971 o trabalhador rural é incorporado no sistema previdenciário
com a criação do Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural –
FUNRURAL, nos dois anos seguintes são incorporados os empregados domésticos e
autônomos. Nos anos 1970, o ensino básico, sob responsabilidade do Estado, foi
estendido para 08 anos. Entretanto, a ampliação da cobertura nos setores nucleares foi,
no mínimo, paralela ao fato que amplas parcelas da população incluíam-se em
programas assistenciais devido à pobreza.
Pela cronologia inglesa clássica de Marshall (1967), são os direitos civis e
políticos consolidados que fomentam as condições para a cidadania social, a despeito
dessa necessidade de ordem cronológica poder ser questionada teoricamente e na
história das sociedades; faz sentido a crítica de Carvalho (2001) sobre os efeitos da
introdução autoritária-populista dos direitos sociais no Brasil e depois sua consolidação
e ampliação na ditadura militar. O modo de operar a política social nas ditaduras
modelou o Estado Social brasileiro, bem como a cultura política referente, porque se “os
direitos sociais foram implantados em períodos ditatoriais, em que o Legislativo ou
estava fechado ou era apenas decorativo, cria-se a imagem, para o grosso da população,
da centralidade do Executivo”. Mas essa valorização do Executivo e sua contraface a
desvalorização do Legislativo (CARVALHO, 2001, p. 221-222) não é algo do passado
e ainda hoje, num estável ciclo democrático, caracteriza a cultura política brasileira,
conforme demonstrado por pesquisa recente de Moisés e Meneguello (2008)
No período militar foi consolidado o Estado Social definido como de caráter
meritocrático particularista-clientelista com aspectos corporativos (DRAIBE, 1993,
FIORI, 1997). Meritocrático por causa da seleção para participar do sistema dependente
da capacidade contributiva, posição no mercado de trabalho e salário (insuficiência ou
previsão de renda, para o caso de programas assistenciais), particularista por conta
dessa elegibilidade condicionada, o que leva à fragmentação de políticas diferentes
destinadas a grupos sociais específicos. Nesse âmbito, o gasto social é regressivo,
baseado na contribuição do trabalhador e no gasto público residual, com o agravante
desse gasto público ser financiado por um sistema tributário regressivo que onera mais
os trabalhadores formais. Clientelista em razão do uso da política e de programas

41
sociais como recurso político do governo, de parlamentares e partidos. O aspecto
corporativo se deve ao peso da articulação entre Estado e corporações de trabalhadores
e empregadores na direção e delimitação do escopo da política social, mais do que das
lutas sociais.
Em meados de 1980 o padrão brasileiro do Estado Social sofreu modificações
em direção a um sistema nacional mais integrado institucionalmente e menos seletivo
quanto aos beneficiários, que será delineado no novo ciclo democrático e com a CF88.
O texto da CF88 quebrou o padrão do Estado Social brasileiro, avançando na garantia
dos direitos sociais inseridos no rol dos direitos fundamentais como clàusula pétrea. O
direcionamento para a provisão pública e universalização também faz parte da quebra
de padrão, uma vez que foi suavizado o vínculo contributivo direto na estrutura de
financiamento e oferta de serviços e benefícios sociais.
Destaco mais duas mudanças: na administração pública e participação e na
noção de garantia de renda. A primeira trata do reordenamento institucional do sistema
da política social com descentralização combinada com manutenção de um sistema
nacional de políticas públicas setoriais (como saúde, educação e assistência social) e, da
abertura de canais e instrumentos de participação social no processo deliberativo dessas
políticas – como os conselhos. Tais inovações, no entanto, não são uma panacéia, seja
porque a descentralização pode desconsiderar as desigualdades locais, seja porque as
leis que regulamentam os artigos constitucionais foram elaboradas num ambiente
favorável ao neoliberalismo, ou ainda, porque a cultura e a história institucional fazem
perdurar elementos do modelo recentemente anterior do sistema da política social
(DRAIBE, 2003; ARRETCHE, 2000. SOUZA, 2004). A segunda mudança é a
introdução do seguro-desemprego e de programas de transferência monetária direta tais
como o Benefício de Prestação Continuada - BPC (para idosos e pessoas com
deficiência em famílias abaixo da linha da pobreza), cuja concepção ampla é de garantia
de renda independente do trabalho. Isso significa uma inflexão, tendo em vista a
resistência, nos meios políticos e sociais, em aceitar políticas de garantia de renda e,
também, o padrão tradicional recente na política social brasileira de elegibilidade pelo
aspecto contributivo direto e inserção no mercado de trabalho. Padrão e resistência de
viés conservador que desconsideram a clivagem de classe nas políticas públicas
(MARQUES, BICHIR, 2001; LOJKINE, 1981) por meio de recursos estatais alocados
para a manutenção e otimização das condições e modo de vida das classes de renda

42
média e alta e da ausência ou insuficiência de políticas publicas nos espaços e
necessidades das classes de renda baixa, aprofundando as privações pela renda.
Os vereadores de Curitiba, por exemplo, foram questionados33 sobre programas
de transferência de renda (bolsa-família, renda mínima, por exemplo). No que diz
respeito a uma suposta relação entre programas de transferência de renda e ineficiência
econômica do Estado, 11,4% disse ser desfavorável a esses programas que deveriam ser
evitados. Entre os favoráveis a tais programas a despeito de provocarem ineficiência do
Estado, a menor parte (17,1%) aderiu à justificativa de ativação da economia local e a
maioria (71,4%) considera os programas necessários diante das carências sociais.
(tabela 4)

Tabela 4. Opinião de vereadores de Curitiba (2009-12) sobre prog. de transferência de


renda em relação à ineficiência econômica do Estado
Prog. Transf. Renda e Ineficiência econômica Frequen
Percent
do Estado cy
Em geral provocam a ineficiência econômica do
4 11,4
Estado e devem ser evitadas
São necessárias para atender carências sociais,
mesmo que provoquem ineficiência econômica 25 71,4
do Estado
São necessárias porque ativam a economia
local, mesmo que provoquem ineficiência 6 17,1
econômica do Estado
Total 35 100,0
Fonte: a autora

Sobre a questão que se programas de transferência de renda prejudicam os mais


competentes, 80% dos vereadores discordou. Observo que entre eles, 60% discorda
totalmente que isso possa ocorrer e a maioria dos que concordam (11,4%) escolheram a
opção em parte, os convictos de que programas de transferência de renda prejudicam os
mais competentes foram 5,7%. (tabela 5)

Tabela 5. Opinião de vereadores de Curitiba (2009-12): prog. de transferência de renda


prejudicam os mais competentes
Prog. Transf. Renda
prejudicam os +
competentes Frequency Percent

33
O roteiro da entrevista prevê questões abertas para explicações e justificativas (anexo 1), mas que
nesse momento da monografia não serão consideradas.

43
Discorda totalmente 21 60,0
Discorda em parte 7 20,0
Concorda em parte 4 11,4
Concorda totalmente 2 5,7
Não respondeu 1 2,9
Total 35 100,0
Fonte: a autora

Apesar disso, quando questionados sobre sua concordância ou não com noção
de que beneficiários de programas de transferência de renda tendem a se acomodar
(“encostar no Estado”) e a não querer trabalhar, as respostas tiveram um padrão
diferente das tabelas 4 e 5, ou seja, mais de 60% concorda que isto possa ocorrer (34,3%
totalmente e 31,4 e parte), cerca de 30% discorda (22,6% em parte e 8,6% totalmente).
Portanto, entre os que não têm dúvida (concordando ou discordando) a maioria
concorda totalmente (34,3) com a afirmação sobre efeitos de acomodação e desestímulo
para o trabalho advindos de programas de transferência de renda. (tabela 6)
Isso remete às protoformas da política social do final do século XVIII e no XIX
cujas medidas destinadas às camadas empobrecidas deveriam ser provisórias e mínimas
para competir com a busca e aceitação de qualquer trabalho. Remete também ao modelo
residual, com centralidade nas aquisições sociais pela via do mercado e ao modelo
meritocrático que liga benefícios sociais à inserção e posição ocupacional, conforme
discutido no capítulo 1. Nesse sentido, pode-se dizer que aquelas protoformas e os
modelos, que a literatura registra como superados no âmbito da legislação social
brasileira, não o foram entre legisladores de Curitiba.

Tabela 6. Opinião de vereadores de Curitiba (2009-12): beneficiário de prog. de


transferência de renda se acomoda e não quer trabalhar
Beneficiário de Prog. Transf.
Renda se acomoda, não quer Frequenc
trabalhar y Percent
Discorda totalmente 3 8,6
Discorda em parte 8 22,9
Concorda em parte 11 31,4
Concorda totalmente 12 34,3
Não respondeu 1 2,9
Total 35 100,0
Fonte: a autora

44
Pelas razões acima não causa estranheza que, também, mais de 60% dos
parlamentares discordam (totalmente, 42,9%, em parte 22,9%) que programas de
transferência de renda sejam incorporados na legislação (assim como o é o BPC, por
exemplo). A não inscrição na legislação significa que os programas se afastam do
conjunto dos direitos de cidadania e são colocados a cargo da concessão de governos.
Todavia, pela distribuição das respostas, pode ser válida a interpretação, a ser
investigada qualitativamente, que entre concordar em parte e discordar em parte há
alguns pontos em comum. Nesse caso, a tabela 7 demonstraria que cerca de 42,9% dos
vereadores discordam totalmente que programas desse tipo sejam inseridas na legislação
social, e para 37,2% alguma parte ou de alguma forma a concepção de transferência de
renda poderia ser incorporada.

Tabela 7. Opinião de vereadores de Curitiba (2009-12) sobre se prog. de transferência


de renda deveriam estar incorporados na legislação
Prog. Transf. Renda deveriam
ser incorporados na legislação Frequency Percent
Discorda totalmente 15 42,9
Discorda em parte 8 22,9
Concorda em parte 5 14,3
Concorda totalmente 7 20,0
Total 35 100,0
Fonte: a autora

É possível que os valores políticos dos vereadores de Curitiba sobre políticas de


garantia de renda não estejam apenas expressando concepções anteriores aos anos 1980
no âmbito da legislação, mas, também, a perspectiva neoliberal que logrou ser
hegemônica nos processos de tomada de decisão sobre política social nos anos 1990.
Ainda mais se observarmos a composição partidária da Câmara dos Vereadores de
Curitiba (tabela 3) onde comparecem partidos com peso numérico (por exemplo, PSDB)
que lideraram nacionalmente as propostas de políticas e programas sociais alinhados
com as diretrizes de instituições internacionais de fomento (FMI, BIRD e BID34) e
justificada pela “tese de que o país seria “ingovernável” com a nova Constituição”
(FAGNANI, 2005, p. 551). As estratégias para utilizadas para a não efetivar os
preceitos constitucionais foram desde adiamento da legislação complementar até

34
FMI – Fundo Monetário Internacional, BIRD - Banco Internacional para a Reconstrução e o
Desenvolvimento e BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento.

45
interpretações restritivas dos artigos por ocasião da sua regulamentação. Quer dizer, foi
nos anos 1990 que transitaram “um número grande de leis alterando ou acrescentando
artigos da CLT e regulamentando a Constituição de 88” (LIMONGI, FIGUEIREDO,
1995, p 5) justamente num ambiente “hostil para a cidadania recém conquistada”
(FAGNANI, 2005, p. 395).
Dentre as medidas de alinhamento se enquadra na Reforma do Estado que, para
o caso da política social, iria regulamentar, de forma a incentivar, as parcerias público-
privado e a priorização de políticas segmentadas, residuais e focalizadas em setores
pobres e miseráveis da população. A justificativa propagada era do tamanho e
ineficiência do Estado. Abranches (1989), Santos (1993) e Draibe (2002), em diferentes
discussões, fornecem indícios que, ao contrário do veiculado, na área social o problema
não era tanto com o volume dos gastos sociais (que podia ser equiparado a economias
de capitalismo desenvolvido, embora neles a questão social fosse menos grave), mas
sim com esse total gasto em relação ao profundo e amplo quadro de desigualdade e
pobreza no Brasil, bem como com a forma que se gastava no sentido do baixo impacto
redistributivo e uso clientelístico da política social.
Tal aspecto é importante para refletir sobre qual seria o caráter da inclusão de
atividades e prestações sociais nas atividades públicas de parlamentares de Curitiba.
entre eles 88,6% alegam que realizam alguma atividade social como parte das suas
práticas como vereador. (tabela 8)

Tabela 8. Número de vereadores de Curitiba (2009-2012) que realiza atividades sociais

Realiza atividade social Frequency Percent


Não 4 11,4
Sim 31 88,6
Total 35 100,0
Fonte: a autora

Esse movimento regressivo é chamado de contra-reforma tendo como referência


às reformas progressistas no campo da política social dos anos 1980 impulsionadas
pelos “setores da oposição ao regime militar, no bojo do processo político mais amplo
da reorganização da sociedade civil e da restauração do Estado Democrático de
Direito”. A contra-reforma orientava a política social menos pela concepção de Estado
Social é mais pela de “Estado Mínimo”; menos pela universalização e prestação estatal

46
direta dos serviços sociais e mais pela focalização, “Estado Regulador” e privatização
(FAGNANI (2005, p. 542-543). Concomitantemente movimentos como o “Movimento
Sanitário e dos defensores da Lei Orgânica da Assistência Social” e, também, setores
organizados em torno da área da educação, diminuíram o alcance das investidas
neoliberalizantes e lograram a adoção de medidas em conformidade com os princípios
da CF88” (FAGNANI, 2005). Com esse caráter de tensão entre duas orientações foram
aprovadas as LOS – Lei Orgânica da Saúde (1990), LOAS – Lei Orgânica da
Assistência Social (1993) e a LDB – Lei de Diretrizes e Bases (1996) e os; Plano de
Custeio da Previdência e Plano de Benefícios da Previdência.
De meados dos anos 1990 até os recentes 2000 a prioridade governamental é
para implementação de programas de assistência social focados nas camadas sociais
empobrecidas ou em situação miséria e em programas de transferência monetária. Esse
é um dos aspectos criticados do governo Fernando Henrique Cardoso, cujo carro-chefe
foi os “Programa Comunidade Solidária” e “Bolsa – Escola”. Junto a eles foram
implementados programas previstos constitucionalmente como o BPC, bem como o
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Esse é também o teor da crítica à
política social do governo Lula representada pelo “Programa Fome Zero” articulado a
ao programa “Bolsa-Família”.
Boito Jr. (2007) argumenta que programas sociais focalizados na população de
baixa renda, ao invés das políticas sociais universais, acabam por incidir sobre a
capacidade e qualidade de atendimento dos serviços previdenciários, de saúde e
educação, por exemplo. Situação que impulsiona parte da classe média baixa e as
classes com rendimento superiores a buscarem tais bens no mercado, fortalecendo,
assim, uma burguesia de serviços, às vezes, articulada com o setor financeiro nacional e
internacional, como é o caso exemplar da previdência privada alojada nos bancos.
Nesse aspecto da fração do setor empresarial favorecida pelas políticas
governamentais Diniz (2006) esclarece as diferenças entre os governos FHC e Lula. No
período FHC, a Reforma do Estado rompeu com o corporativismo aos moldes do
período do nacional-desenvolvimentista e afrouxou a intervenção do Estado nas áreas
das políticas econômica e social, o que esteve alinhado a medidas de favorecimento do
setor empresarial ligado ao capital financeiro internacional. No primeiro período do
governo Lula, embora sejam mantidas a política macroeconômica e a hegemonia do
capital financeiro, há a implementação de políticas econômicas que contemplam

47
objetivos de desenvolvimento e o setor do empresariado vinculado ao capital produtivo
nacional.
De toda forma, Boito Jr. (2005, p. 54) considera que nos dois governos a
priorização de políticas compensatórias por meio de programas de transferência
monetária está alinhada com o “discurso ideológico neoliberal que estigmatiza os
direitos sociais como privilégios.”
Para Draibe (2003, p. 11), entretanto, programas de enfrentamento da pobreza
não precisam ser implementados “em detrimento dos programas sociais universais,
especialmente os de educação e saúde”. Sobretudo em sociedades muito desiguais a
seletividade ou focalização (com distribuição de benefícios na proporção inversa das
carências) no interior de programas universais pode “reduzir as chances da reprodução
da desigualdade sob o manto de programas universais”. Em outras palavras, arranjos no
interior de políticas universais que priorizem a destinação de recursos e serviços para
grupos mais vulneráveis pela idade, deficiência, pobreza e discriminação, por exemplo,
podem ter impacto redistributivo. É o que a autora chamou de “mescla virtuosa entre
programas universais e programas focalizados”. (DRAIBE, 2002, p. 8)
Neri (2007, 2007, p.58-59) sustenta que nos primeiros anos de 2000, as políticas
compensatórias e programas sociais destinados aos grupos mais empobrecidos
promoveram a diminuição da desigualdade de renda, especialmente pelo aumento de
renda nos estratos inferiores da pirâmide de renda: no período de 2001-2003 houve
perda de renda, mas “essas perdas foram menos pronunciadas para os de mais baixa
renda (-0,3%), contra -4,1% ao ano, dos mais ricos”. Entre 2003 a 2005, o crescimento
anual total de 4,8% foi assim distribuído: os “mais pobres foram os que mais ganharam,
com acréscimos anuais de 8,4% na renda (contra 3,7% do décimo mais rico e 4,9% do
grupo intermediário).
Todavia, parece ainda ser necessário ultrapassar o patamar argumentativo e de
pesquisas isoladas para empreender comparações e projeções. Isso porque uma das
questões centrais a elucidar é sobre o alcance de políticas compensatórias nos ambientes
em que políticas econômica, fundiária e fiscal interligadas à política social, incluindo a
do trabalho têm baixa capacidade de alteração no modo de apropriação e distribuição
dos recursos da riqueza (material, cultural e natural). Quer dizer, onde são frágeis as
articulações e alterações citadas, como no Brasil, é necessário aprofundar investigações
sobre o quanto e se políticas compensatórias e focalizadas podem contribuir para
“desuniversalizar” a pobreza (FAGNANI, 2005) e modificar o padrão histórico que

48
define cidadania “como privilégio de classe” (TELLES, 2000, p. 90; CARVALHO,
2001). Ainda que deva avançar na revisão dos estudos já realizados sobre esse tema,
considero medidas sociais compensatórias, assim como medidas de reconhecimento
(ações afirmativas de diferenças e identidades) (KRISCHKE, 2003), como recurso
suplementar no interior da política social em articulação com outras políticas
direcionadas para a distribuição e redistribuição da riqueza em contexto de ampla e
profunda desigualdade35.

Em termos formais, as políticas públicas num Estado Social são orientadas pela
legislação pertinente aos direitos sociais. O próximo item se atém a esses direitos
inscritos na CF88 relacionando-os com a cultura política e com os resultados da
pesquisa sobre valores políticos dos vereadores de Curitiba sobre direitos sociais.

2.3 Constituição Federal e valores políticos dos vereadores de Curitiba sobre


direitos sociais
Não há consenso interpretativo e valorativo sobre direitos sociais e os setores da
política social que variam no interior de uma mesma sociedade e entre elas. Mesmo no
âmbito da expressão jurídica dos direitos sociais cabem interpretações fundadas em
valores políticos.
No caso brasileiro os direitos sociais estão elencados no artigo 6º da CF88:
educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à
maternidade e à infância, assistência aos desamparados. Direitos e áreas sociais são
tratados em outros artigos e capítulos da Constituição, por exemplo, no Título VIII - Da
Ordem Social tem-se: seguridade social (saúde, previdência social e assistência social);
educação; esporte e lazer; cultura; família, criança, adolescente e idoso, entre outros.
(quadro 1)

Quadro 1 – Direitos Sociais, artigos da Constituição Federal de 1988 e leis


referentes
DIREITOS CF88 Lei
SOCIAIS

Saúde Art. 196 a 200 Lei Orgânica da Saúde – LOS (Lei n.


8.080/1990)

35
O coeficiente de gini mede a desigualdade de renda, sendo que o coeficiente brasileiro de 0,544
(número de 2008/divulgação 2009) coloca o país entre os piores em termos dessa medida.

49
Previdência Social Art. 201-202 Lei n.8213/1991
Assistência Social Art. 203-204 Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS
(Lei n. 8.742/1993).
Transferência de Art. 203 LOAS – Art 20
Renda:
BPC
Transferência de Art. 3º e 6º Portaria n° 2.917/2000 e LOAS
Renda:
PETI
Transferência de Art 3º e 6º Lei no 10.836/2004 e LOAS
Renda:
Bolsa Família
Educação Art. 205 a 214 Lei de Diretrizes e Bases - LDB (Lei n.
9.394/96)
Habitação de Art. 183, 187 e Lei sobre habitação de interesse social (Lei n.
Interesse Social 191 11.124/2005 – SNHIS)
Segurança Art. 200, 208 e Lei do Sistema Nacional de Segurança
Alimentar e 227 Alimentar e Nutricional - LOSAN (Lei n.
Nutricional 11.346/2006)
Da Família, da Art. 226 a 230 LOAS; Estatuto da Criança e do Adolescente -
Criança, do ECA (Lei n. 8.069/1990.); Estatuto do Idoso
Adolescente e do (Lei n. 10.741/2003)
Idoso
Elaborado pela autora Fonte: Constituição Federal de 1988 e Legislação social

Apesar das possibilidades interpretativas e valorativas, ao menos as áreas do


artigo 6º da CF88 são explicitas e sua inclusão como direitos fundamentais36, também.
Todavia, há uma diferença entre valores e crenças sobre o objeto -direitos sociais - que
podem levar a não reconhecê-los nem considerá-los nas práticas sociais e relações
políticas e o desconhecimento37 sobre eles.
Telles (2000) enfatiza que entre os brasileiros a maior tragédia não é a ausência
de direitos sociais, que em boa medida estão legalmente garantidos, mas a ausência da
noção de se ter direitos. Essa falta de noção traz como conseqüência que os direitos não
são reclamados ou exigidos entre os que estão em situação de subjugação e destituição
das condições para o seu exercício e, de outro modo, o estabelecimento de relações
assimétricas e hierárquicas entre elites e “carentes”. Entre as elites brasileiras há uma
cultura de responsabilidade benevolente (REIS, 1995) amalgamada na atitude de

36
A questão da justiciabilidade dos direitos sociais foi mencionada no capítulo 1.
37
A violação ou negação dos direitos sociais dos cidadãos possui implicações legais.

50
“suplicação vertical” a que alude Putnam (2000, p. 124) que tem como corolário o
clientelismo.
Para Carvalho (2001) e Sales (1994) esse padrão histórico que está arraigado na
cultura política e tem suas raízes na escravidão e subordinação do trabalhador a um
senhor de terras e gentes. Na formação histórica brasileira nem o senhor, nem o homem
“livre” empobrecido, nem o escravo eram cidadãos, o primeiro por que se colocava
acima da lei e os últimos por estarem abaixo dela e sob o mando e proteção daquele.
(CARVALHO, 2001, p.53)
Os direitos sociais elencados no art.6º da CF88 são indicados pela maioria dos
vereadores de Curitiba quando solicitado que apontassem numa lista de áreas quais
seriam direitos ou não (tabela 9). Quando as respostas nulas são eliminadas os
resultados são os seguintes: todos os vereadores consideram a saúde um direito social;
97% reconhecem educação e previdência social entre esses direitos; 94% o trabalho;
91% a moradia e; 82% a assistência social. É significativo que os primeiros fazem parte
de uma tradição na política social (descrita no capítulo 1) que vincula política social ao
mundo do trabalho, incluindo a educação. A assistência social comumente, não é
reconhecida como tal, mas entendida como caridade e benesse dado o peso daquela
tradição, entretanto, embora em menor número em relação aos demais, 77,1% dos
parlamentares indicaram a assistência social entre os direitos.

Tabela 9. Direitos sociais - o art.6º CF88 - reconhecidos pelos vereadores de Curitiba


(2009-2012)

Direitos sociais art.6º Sim Não NR RN total


CF88 N % N % N % N % N %
Educação 32 91,4 1 2,9 0 0 2 5,7 35 100,0
saúde, 33 94,3 0 0 0 0 2 5,7 35 100,0
Trabalho 31 88,8 2 5,7 0 0 2 5,7 35 100,0
Moradia 30 85,7 3 8,6 0 0 2 5,7 35 100,0
Previdência 32 91,4 1 2,9 0 0 2 5,7 35 100,0
assistência social (inclui 17,
27 77,1 6 0 0 2 5,7 35 100,0
assistência aos desamp.) 1
Fonte: a autora NR – Não respondeu RN – Resposta nula

A partir da discussão de Telles (2000), Reis, (2005) Carvalho (2001) e Sales


(1994) sobre aspectos da cultura política brasileira sobre direitos e cidadania, os dados

51
da tabela 9 podem demonstrar que, por um lado, a maioria dos vereadores em Curitiba
não partilha dos valores políticos sobre direitos sociais de outros setores das elites e da
população em geral, no aspecto de conhecer maioria deles. Mas por, outro lado, é
preciso questionar sobre se o reconhecem efetivamente como tais em suas atividades
públicas. Somente a indicação verbal é insuficiente para conclusões. Isto é, a inserção
institucional dos vereadores, o aprendizado nas organizações políticas como os partidos,
destaca-os como classe política no sentido de Schumpeter (1984) com o conhecimento
das normas, do jogo político e de suas matérias. Nesse sentido, não necessariamente os
valores orientam o comportamento. Uma indicação é que enquanto o conhecimento
sobre direitos é alto, a porcentagem de vereadores que (declaram) realizar atendimento
social à população, também é. Esses atendimentos e prestações sociais, pelas suas
características, fragilizam a concepção de direitos e podem vir a fortalecer traços da
cultura da benesse e o clientelismo mencionados. Na tabela 8, anterior, nota-se que
quase 90% dos vereadores em Curitiba colocam os atendimentos sociais entre suas
atividades públicas. Se essa declaração for correta, quer dizer, se realmente esse
percentual de vereadores realiza as atividades mencionadas, então seu comportamento
denota que eles conhecem quais são os direitos sociais, mas não têm ações compatíveis
em pelo menos uma de suas atividades públicas. E indica que os vereadores manifestam
em seus valores a solidariedade estatal-pública em conjunto com a solidariedade
filantrópica. Uma futura análise apurada dos resultados da entrevista poderá esclarecer
qual dessas tendências impera ou se o mix produz um tipo híbrido com características
próprias.
Sobre o conhecimento dos direitos sociais é pertinente lembrar que é diferente o
conhecimento especializado e as tarefas e responsabilidade do político, quer dizer, dele
é exigido qualidades para participação no poder que são diferentes do exigido por
funcionários e assessores políticos (WEBER, 1999, 566) cujo conhecimento
especializado é vital para a burocracia da administração pública, no primeiro caso, e
para assessorar decisões e declarações públicas, no segundo. Tendo isso em vista, a
utilidade em identificar entre parlamentares um conhecimento/desconhecimento de
assuntos ou temas de matérias legislativas, sobretudo, aquelas balizadas na legislação
pode ser um parâmetro para deduzir a coerência e/ou o conteúdo de valores declarados
sobre a questão (ou exemplo banal é sobre valores que denotam “compromisso com o
social” e um desconhecimento da legislação e da política sobre o tema).

52
Nesse sentido de indicativos, foi solicitado, aos vereadores para destacar
(citando) algum(s) artigo da CF88 e, também leis, políticas e programas sociais sobre
matéria social nas três esferas de governo38 (tabela 10). Com maior freqüência (88,6%)
os vereadores destacaram políticas e programas sociais da esfera municipal, seguidas
pelas federais (85,7)39, a mesma distribuição ocorre quanto a leis sociais (a mesma
porcentagem, 68,6%, dos vereadores fizeram destaques para as esferas municipal e
federal). De toda forma os parlamentares municipais entrevistados estão mais atentos à
programas e projetos do que à legislação social que, a princípio, teriam relação com
iniciativas legislativas de matéria social no município.

Tabela 10. Destaques dos vereadores de Curitiba (2009-2012) sobre legislação e


política social
Destaque para leis e Sim Não Total
política/prog. social n % n % n %
Matéria social na CF88 23 65,7 12 34,3 35 100,
0
Lei (social) – federal 24 68,6 11 31,4 35 100,
0
Pol/programa social – federal 30 85,7 5 14,3 35 100,
0
Lei (social) âmbito estadual 18 51,4 17 48,6 35 100,
0
Pol/programa social – estadual 22 62,9 13 37,1 35 100,
0
Lei (social) – municipal 24 68,6 11 31,4 35 100,
0
Pol/programa social – municipal 31 88,6 4 11,4 35 100,
0
Fonte: a autora

38
A análise dessa questão tem que levar em conta sua imprecisão dada as disputas políticas, pois como
declarou um entrevistado, pode ser preferível não citar nenhuma medida que coloque em destaque o
adversário político, em que esfera for.
39
Esse é um dado interessante para analisar a descentralização da política social que privilegia as esferas
federal e municipal.

53
Iniciativas legislativas em matéria social, na forma de propostas e projetos,
foram apresentadas por 85,7% dos vereadores (ou por seu partido e grupo político)40.
(tabela 11).

Tabela 11. Número de vereadores de Curitiba, ou seu grupo, (2009-2012) que


apresentou propostas sobre matéria social
Propostas sobre Frequenc
matéria social y Percent
Não 4 11,4
Sim 30 85,7
NR 1 2,9
Total 35 100,0
Fonte: a autora
Outra questão foi sobre quem é responsável pela provisão e implementação de
políticas e programas sociais. Para 74,3% dos vereadores a principal responsabilidade é
do Estado partilhada com a sociedade civil (ONGs, entre outras) e para 14,3% dos
parlamentares a responsabilidade é exclusiva do Estado, o que demonstra uma tendência
na Câmara dos Vereadores de reforçar o papel do Estado na matéria social (isso vai ao
encontro, também, da tabela 11 sobre o número de iniciativas legislativas na área).
(tabela 12)

Tabela 12. Responsabilidade em implementar políticas/prog. Sociais segundo


vereadores de Curitiba (2009-2012)
Só Só Soc. Ambos NR total
Estado Civil Principal Principal
Estado soc.civil
N % n % n % n % n %
5 14,3 0 0 26 74,3 2 5,7 2 35 100,
0
Fonte: a autora

40
No tratamento das questões qualitativas poderão ser elencados quais temas sociais foram
contemplados. Limongi e Figueiredo (1995), por exemplo, incluem no rol de matéria social os direitos
civis, proteção do consumidor, alterações nos códigos civil e penal e regulamentação de profissões, o
que é questionável.

54
Os números das respostas dos vereadores mostram coerência com a CF88 e leis
sociais que expressam o princípio da provisão pública e da complementaridade do setor
privado. Nos exemplos a seguir destaquei artigos que tratam da questão:
Saúde
 provisão pública estatal
CF88 - Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas...
LOS - Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
 complementaridade do setor privado
CF88 - Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao
Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e
controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também,
por pessoa física ou jurídica de direito privado.
LOS - Título II - § 2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde
(SUS), em caráter complementar.
Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura
assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS)
poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada.

Previdência Social
CF88 -Art. 201. A previdência social (...) de caráter contributivo e de filiação
obrigatória...
 complementaridade do setor privado
CF88 - Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e
organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será
facultativo...
§ 3º É vedado o aporte de recursos a entidade de previdência privada pela União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações, empresas públicas,
sociedades de economia mista e outras entidades públicas...

Assistência Social
 provisão pública estatal e complementaridade do setor privado
LOAS - Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é (…)
realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da
sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.
Art. 5º. III - primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de
assistência social em cada esfera do governo...
Art. 9º O funcionamento das entidades e organizações de assistência social depende de
prévia inscrição no respectivo Conselho Municipal de Assistência Social, ou no
Conselho de Assistência Social do Distrito Federal conforme o caso.
Art. 10. A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal podem celebrar
convênios com entidades e organizações de assistência social....

Educação

 provisão pública estatal


CF88 - Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família...

55
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I -
ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita
para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria.
 complementaridade do setor privado
CF88 - Art. 206: III – (...) coexistência de instituições públicas e privadas de ensino
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I -
cumprimento das normas gerais da educação nacional; II - autorização e avaliação de
qualidade pelo Poder Público.
Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser
dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas...
LDB - Art. 3º: V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

Habitação

 provisão pública estatal


Lei SNHIS - Art. 2º Fica instituído o Sistema Nacional de Habitação de Interesse
Social – SNHIS, com o objetivo de: II – implementar políticas e programas de
investimentos e subsídios, promovendo e viabilizando o acesso à habitação voltada à
população de menor renda;
Art. 7º Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS (recursos do Estado)
 complementaridade do setor privado
Lei SNHIS - Art. 5º Integram o SNHIS: VII – fundações, sociedades, sindicatos,
associações comunitárias, cooperativas habitacionais e quaisquer outras entidades
privadas que desempenhem atividades na área habitacional, afins ou complementares...

Segurança alimentar e nutricional


 provisão pública estatal
LOSAN - Art. 2º A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano (...)
devendo o poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para
promover e garantir…
 complementaridade do setor privado
LOSAN
Art. 7º A consecução do direito humano à alimentação adequada e da segurança
alimentar e nutricional da população (...) por um conjunto de órgãos e entidades da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e pelas instituições privadas,
com ou sem fins lucrativos...

Para detalhar a coerência entre valores políticos dos vereadores com a expressão
jurídica dos direitos sociais foi questionado sobre alguns setores da política social em
relação ao público-alvo. Educação é o setor que quase todos os vereadores (com
exceção de um) consideram como uma das políticas sociais universais, seguida da saúde
e trabalho (85,7% cada). Por sua vez as menos universais são em: habitação e segurança
alimentar e nutricional (68,6% cada), assistência social (51,4%) e transferência de renda
(40%). (tabela 13)
Tabela 13. Púbico-alvo de políticas sociais segundo vereadores de Curitiba (2009-2012)
Público – alvo e setores Toda pop. Grupos total
da política social sociais

56
específicos
n % n % n %
1.saúde 30 85,7 5 14,3 35 100,0
2.educação 34 97,1 1 2,9 35 100,0

3.assistência social 18 51,4 17 48,6 35 100,0


4.previdência social27 77,1 8 22,9 35 100,0
5.habitação 24 68,6 11 31,4 35 100,0
6.trabalho 30 85,7 5 14,3 35 100,0
7.segurança 24 68,6 11 31,4 35 100,0
alimentar
8. transferência de renda14 40,0 20 57,1 34* 97,1
Fonte: a autora *NS

De acordo com CF88 e leis pertinentes são políticas sociais universais: saúde,
educação, assistência social (a todos que dela necessitarem) e segurança alimentar.
Porém os demais setores que fazem parte do rol dos direitos sociais também devem ser
garantidos a todos os grupos sociais a que se destinam. Nessa questão os vereadores
expressaram seus valores sobre cada um dos direitos e setores da política social para
estabelecer quem seria o público-alvo, isso fica evidente para os casos da assistência
social e da segurança alimentar e nutricional. Em quase todos os setores da política
social, inclusive nas universais, a legislação privilegia pessoas e grupos sociais
empobrecidos, mulheres, crianças, adolescentes e idosos. (quadro 2)
Quadro 2 – Objetivos e público-alvo de setores da política social
Setores da OBJETIVOS PÚBLICO-ALVO
Política
Social
Saúde CF88 art.196 – redução do risco de doença e de outros CF88 art. 196 - direito
agravos; acesso universal e igualitário às ações e de todos.
serviços para sua promoção, proteção e recuperação. LOS art 2º - direito
LOS art 2º - garantir às pessoas e à coletividade fundamental do ser
condições de bem-estar físico, mental e social. humano
Previdência CF88 art. 201 – cobertura dos eventos de doença, CF88 art. 201 –
Social invalidez, morte e idade avançada; proteção à basicamente pessoas
maternidade, especialmente à gestante; proteção ao que contribuem
trabalhador em situação de desemprego involuntário; (contributiva)
salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes
dos segurados de baixa renda; pensão por morte do
segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou
companheiro e dependentes
Lei 8.213/1991 art. 1º - assegurar aos seus beneficiários
meios indispensáveis de manutenção, por motivo de
incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada,
tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte
daqueles de quem dependiam economicamente.

57
Assistência CF88 art.203 e LOAS art.2º - proteção à família, à art.203 da CF88 e art
Social maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; 2º da LOAS – quem
amparo às crianças e adolescentes carentes; promoção da necessitar.
integração ao mercado de trabalho; habilitação e Destaque: famílias,
reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e crianças, adolescentes,
promoção de sua integração à vida comunitária; garantia idosos, pessoas com
de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa deficiência, pessoas e
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não famílias em situação de
possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê- pobreza
la provida por sua família.
LOAS art.1º e 2º - prover os mínimos sociais; garantir o
atendimento às necessidades básicas; enfrentamento da
pobreza; provimento de condições para atender
contingências sociais e à universalização dos direitos
sociais.
Transferência CF88 art.203 e LOAS art.2º - garantia de um salário art.203 da CF88 art.
de Renda: mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de 2ºda LOAS - pessoa
BPC deficiência e ao idoso que comprovem não possuir portadora de deficiência
meios de prover à própria manutenção ou de tê-la e ao idoso em situação
provida por sua família. de extrema pobreza (em
famílias com renda per
capita de até ¼ salário
mínimo)
Transferência Portaria n° 2.917/2000 – erradicar o trabalho infantil Portaria n° 2.917/2000
de Renda: nas atividades perigosas, insalubres, penosas ou - famílias com renda per
PETI degradantes nas zonas urbana e rural; possibilitar o capita de até 1/2 salário
acesso, a permanência e o bom desempenho de crianças mínimo, com crianças e
e adolescentes na escola; implantar atividades adolescentes de 7 a 14
complementares à escola / Jornada Ampliada; conceder anos trabalhando em
uma complementação mensal de renda/ Bolsa às atividades consideradas
famílias; proporcionar apoio e orientação às famílias perigosas, insalubres,
beneficiadas; e promover programas e projetos de penosas ou degradantes.
qualificação profissional e de geração de trabalho e
renda junto às famílias.
Transferência Lei no 10.836/2004 - transferência de renda para Lei no 10.836/2004 -
de Renda: famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, com famílias com renda
Bolsa renda mensal de até R$ 120,00 por pessoa. Os valores mensal de até R$
Família pagos: de R$20,00 a R$182,00, de acordo com a renda 120,00 por pessoa.
mensal por pessoa da família e o número de crianças e Destaque: famílias com
adolescentes até 17 anos. crianças e adolescentes
até 17 anos.
Educação CF88 art.205 e LDB art 2º e 4º - pleno desenvolvimento CF88 art.205 e LDB art
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e 5º - a educação é
sua qualificação para o trabalho; garantia de: ensino direito de todos
fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada,
inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não
tiveram acesso na idade própria; progressiva
universalização do ensino médio gratuito; atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência
(...) atendimento ao educando, no ensino fundamental,

58
através de programas suplementares de material
didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à
saúde.

Habitação de Lei do SNHIS art.2º – viabilizar para a população de Lei do SNHIS art.2º e
Interesse menor renda o acesso à terra urbanizada e à habitação art.4º - população de
Social digna e sustentável. menor renda.
Destaque: quotas para
idosos, deficientes e
famílias chefiadas por
mulheres.
Segurança LOSAN art.2 e 4º º- garantir a segurança alimentar e LOSAN art.1º - direito
Alimentar e nutricional da população; acesso regular e permanente a humano.
Nutricional alimentos de qualidade, em quantidade suficiente (...) Destaque: populações
tendo como base práticas alimentares promotoras de em situação de
saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam vulnerabilidade social
ambiental, cultural, econômica e socialmente
sustentáveis; ampliação das condições de acesso aos
alimentos por meio da produção, em especial da
agricultura tradicional e familiar, do processamento, da
industrialização, da comercialização, incluindo-se os
acordos internacionais, do abastecimento e da
distribuição dos alimentos, incluindo-se a água, bem
como da geração de emprego e da redistribuição da
renda; a conservação da biodiversidade e a utilização
sustentável dos recursos; garantia da qualidade
biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos
alimentos, bem como seu aproveitamento, estimulando
práticas alimentares e estilos de vida saudáveis que
respeitem a diversidade étnica e racial e cultural da
população; produção de conhecimento e o acesso à
informação.
Família CF88 art.226 – assegurar a assistência à família na CF88 art.226 e LOAS
pessoa de cada um dos que a integram art.2º – famílias
LOAS art. 2º a proteção à família, à maternidade -
Criança, CF88 art.227 - assegurar à criança e ao adolescente, com CF88 art. 227 e LOAS
Adolescente absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à art.2º - criança e
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à adolescente
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à Destaque: - carentes e
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a com deficiência
salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão; atendimento
especializado para os portadores de deficiência física,
sensorial ou mental...
LOAS - Art. 2º - proteção à infância, à adolescência;

59
amparo às crianças e adolescentes carentes.
Idoso CF88 art. 230 - amparar as pessoas idosas, assegurando CF88 art.230 e LOAS
sua participação na comunidade, defendendo sua art.2º – idosos
dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida; Destaque LOAS:
aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a situação de extrema
gratuidade dos transportes coletivos urbanos. pobreza
LOAS art. 2º - a proteção à velhice; garantia de 1 (um)
salário mínimo de benefício mensal ao idoso que
comprove não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família.
Elaborado pela autora - Fonte: Constituição Federal de 1988 e leis específicas

As discussões e dados apresentados demonstram que os parlamentares podem


expressar valores sobre direitos sociais que são pertinentes ao seu treino no processo
político-partidário e que os distanciam da cultura política brasileira caracterizada pela
concepção da dádiva e benesses e os aproximavam da expressão jurídica dos direitos
sociais. No entanto, alguns valores expressos (por exemplo, sobre universalidade nos
setores da política social e sobre a valorização em desenvolver atividades e prestar
serviços sociais) já deixam antever que esse distanciamento precisa ser questionado e
melhor investigado. Para avançar na pesquisa, além de completar a sistematização das
questões da entrevista e analisá-las será preciso dar um próximo passo metodológico
que é o de investigar os correlatos comportamentais dos valores políticos dos
vereadores sobre direitos sociais, ou seja, discutir os valores como orientadores do
comportamento. Isso poderá ser realizado por meio da análise de proposições e projetos
de leis apresentados e votados por esses vereadores. Enfim, como atesta Putnam (2000)
há uma relação entre valores e comportamentos, porém, não como uma unidade
inequívoca, mas como correlação complexa a ser apreendida em estudos particulares no
campo da cultura política.

60
Conclusão

O desenvolvimento da monografia, norteado pelo problema, questões centrais e


objetivos, forneceu condições para concluir que os valores políticos dos vereadores de
Curitiba (2009-2012) sobre direitos sociais são parcialmente compatíveis com a sua
expressão jurídica nos artigos da CF88 e leis referentes.
Com isso quero dizer que se foi possível verificar congruência entre valores e
expressão jurídica em termos do conhecimento dos direitos, setores da política social e
sobre responsabilidade do Estado, o mesmo não foi constatado nos resultados sobre
público-alvo e na inclusão, em suas atividades públicas como vereador, do atendimento
social direito à população, por exemplo.
A partir da discussão empreendida nos capítulos um e dois considerei que essa
compatibilidade parcial manifesta uma forma de solidariedade que combina as
solidariedades estatal-pública e a filantrópica (que, aliás, conceitualmente são
incompatíveis). Ademais, a abordagem sobre as características da cultura política dos
brasileiros sobre direitos e cidadania que incide sobre a legislação e política social,
portanto, em aspectos do Estado Social brasileiro, também forneceram elementos
esclarecedores. Dessa maneira, é possível que os parlamentares partilhem dessa cultura
política, que em termos das elites se expressa pela filantropia, e da elite política em
particular, pode estabelecer relações de caráter clientelísta.
Para refletir sobre os valores manifestos em proximidade com a legislação social
foi considerado que os parlamentares são membros da classe política com inserções nas
instituições políticas e, portanto, incorporam suas normas, regras e valores. Foi
lembrado, também, que para aprofundar uma discussão iniciada sobre o conhecimento
dos parlamentares sobre a legislação e política social será importante levar em conta a
diferença entre um saber especializado e as características do político, conforme
explicitado por Weber.
No início da elaboração da monografia, ao tratar do problema central, indiquei
que considerava pertinente ao tema identificar a forma particular de solidariedade no
Brasil. A reflexão e tentativa de resposta teve por base, primeiro o aspecto formal de
que os direitos sociais são expressões do princípio da solidariedade constitucional e,
segundo o debate teórico sobre a cultura política da dádiva no Brasil. A partir da
elaboração de uma classificação experimental assumi que a forma geral da solidariedade
relativa aos direitos sociais no Brasil teria a seguinte configuração: enraizamento da

61
solidariedade particularista pessoalizada; permanência de uma solidariedade de tipo
filantrópica (benevolência de elites); manifestações de solidariedade cívica-protetiva
(que podem ser afetadas pelas classificações acima); posicionamento constitucional pela
solidariedade inter-estatalista; formação de redes nas quais a solidariedade
comospolistista está presente e; consolidada solidariedade estatal-pública perpassadas
pelos formatos anteriores.

Todavia esses resultados da pesquisa e conclusões devem ser remetidos ao


desenho e opções metodológicas anunciadas na introdução, dessa maneira, deverão ser
aprofundados e comprovados com o desdobramento da pesquisa em duas direções: pela
sistematização das questões da entrevista que não foram trabalhadas nessa monografia,
especialmente as qualitativas e, análise de todos os resultados, bem como, pelo
desdobramento da pesquisa a ser realizado na pós-graduação focando os correlatos
comportamentais dos valores políticos dos vereadores de Curitiba sobre direitos sociais.

62
Referências

ABRAHAM, D. Citizenship Solidarity and Rights Individualism: On the Decline of National


Citizenship in the U.S., Germany, and Israel. UC San Diego: Center for Comparative
Immigration Studies. Working paper, n. 56, mai. 2002. Disponível em:
http://escholarship.org/uc/item/19f5w4c0. Acesso em: 15 out. 2009.

ABRANCHES, S. H. H. O leviatã anêmico: dilemas presentes e futuros da política social.


Planejamento e políticas públicas, Brasília, DF, n. 1, p. 7-32, 1989.

ABREU, N.M.C. Direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. Anais do Conselho


Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito, 2007. Disponível em:
http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Neide%20Maria%20Carvalho%20Abreu_Direi
tos%20Humanos%20e%20Teoria%20da%20Democracia.pdf. Acesso em 28 set 2009.

ALMOND, G. A.; VERBA, S. The civic culture: political attitudes and democracy in five
nations. Califórnia: Sage Publications, 1989.

ANDERSON, P. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, E. & GENTILI, P. (orgs.) Pós-


neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1995, pp. 09-23

ARRETCHE, M. Estado federativo e políticas sociais: determinantes da descentralização.


São Paulo: Fapesp/Revan, 2000.

BANFIELD, E. The Moral Basis of a Backward Society. Nova York, Free Press. 1958.
Disponível em: http://www.kevinrkosar.com/Edward-C-Banfield/Edward-C-Banfield-Moral-
Basis-of-a-Backward-Society.pdf. Acesso em: 18 jan 2009.

BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez,
2007.

BOBBIO, N. A Era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

BOITO JR., A. A burguesia no Governo Lula. Crítica Marxista, Rio de Janeiro, Revan, n. 21,
p. 52-76, nov. 2005.

___________. Estado e burguesia no capitalismo neoliberal. Sociologia e Política, 28, pp 57-


74, jun 2007.

BOSCHI, R. Instituições Políticas, Reformas Estruturais e Cidadania: Dilemas da Democracia


no Brasil. Observatório Político Sul-Americano, 2004. Disponível em
http://observatorio.iuperj.br/pdfs/4_artigos_TextodoRenatoBoschi.pdf. Acesso e 05 jun. 2008.

BOSCHI, R. R. e DINIZ, E. O corporativismo na construção do espaço público. In: Boschi, R.


R. (org.). Corporativismo e desigualdade: a construção do espaço público. Rio de Janeiro:
Rio Fundo, 1991.

BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.

____________. Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes, 1998.

____________. A dominação masculina. Rio de janeiro, Bertrand Brasil. 1999.

63
CALHOUN, C. Imagining solidarity: Cosmopolitanism, constitutional patriotism, and the
public sphere. Public Culture, 14 (1), pp. 147-171, Duke University Press, 2002. Disponível
em: http://preview.ssrc.org:8080/staff/calhoun/publications/ImaginingSolidarity.pdf. Acesso
em: 22 ago. 2009.

CANIELLO, M. O ethos sanjoanense: tradição e mudança em uma "cidade pequena". Mana,


Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, Apr. 2003. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
93132003000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 24 out. 2009.

CARVALHO, J. M. de. Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma Discussão Conceitual.


Dados, Rio de Janeiro, v. 40, n. 2, 1997 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-
52581997000200003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 19 out. 2009.

___________________. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileiro, 2001.

CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes,


2001.

__________. A Insegurança Social: o que é ser protegido? Petrópolis: Vozes, 2005.

CHEIBUB, Z. B. ; LIMA, M. R. S. . Instituições e Valores: As Dimensões da Democracia na


Visão da Elite Brasileira. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, n. 31, p. 83-110,
1996.

CODATO, E. . Personalismo político nos anos cinquenta. Revista de História Regional, Ponta
Grossa, v. 07, n. 01, p. 09-45, 2004.

COMPARATO, F. K. O papel do juiz na efetivação dos direitos humanos. Revista do Tribunal


Regional do Trabalho da 15ª Região, Campinas, São Paulo, n. 14, 2001. Disponível
em:<http://trt15.gov.br/escola_da_magistratura/Rev14Art5.pdf>. Acesso em: 4 nov. 2008.

COSTA, P. R. N. Democracia nos anos 50: burguesia comercial, corporativismo e


parlamento. São Paulo : Hucitec, 1998.

DAHL, R. Poliarquia: participação e oposição. São Paulo: Edusp, 1997.

DOIMO, A. M.. A vez e a voz do popular: movimentos sociais e participação político no


Brasil pós-70. Rio de Janeiro: Relume-Dumara: ANPOCS, 1995.

DINIZ, E. Globalização, reforma do estado e teoria democrática contemporânea. São Paulo em


Perspectiva. São Paulo, v. 15, n. 4, Dec. 2001. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
88392001000400003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 30 out. 2009.

___________. Empresários e Governo Lula: percepções e ação política entre 2002-2006. In:
Workshop Empresa, Empresários e Sociedade, O mundo empresarial e a questão social,
2006, Porto Alegre. Empresa, Empresários e Sociedade, O mundo empresarial e a questão
social, 2006.

64
DINIZ, S. Interações entre os poderes executivo e legislativo no processo decisório: avaliando
sucesso e fracasso presidencial. Dados, Jun 2005, vol.48, no.2, p.333-369.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-
52582005000200004&lng=en&nrm=iso

DRAIBE, S. Há tendências e tendências: com que Estado de Bem Estar Social haveremos de
conviver neste fim de século? Cadernos de Pesquisa NEPP, Unicamp, n.10, 1989.

__________. Welfare State no Brasil: características e perspectivas. NEPP, Caderno de


Pesquisa n. 08, 1993.

__________. Brasil: A Proteção social em tempos difíceis. Taller Inter-Regional Protección


Social en una Era Insegura: Un Intercambio Sur-Sur sobre Políticas Sociales Alternativas en
Respuesta a la Globalización, 2002, Santiago. Seminário Internacional Protección Social en
una Era Insegura, 2002.

__________. A política social no período FHC e o sistema de proteção social. Tempo Social.
São Paulo, v. 15, n. 2, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em 29 nov. 2007.

DURKHEIM, E. Da divisão social do trabalho. Coleção Os Pensadores.São Paulo: Abril


Cultural,1983.

DUVERGER, M.. Os partidos políticos. In Curso de Introdução à Ciência Política. Partidos


Políticos e Elites Políticas. Unidade V. DF:UNB, 1982

ESPING-ANDERSEN, G. As três economias políticas do “Welfare State”. Lua Nova, São


Paulo, n. 24, p. 85-116, 1991.

FAGNANI, E. Política social no Brasil (1964-2002): entre a cidadania e a caridade. 2005.


Tese (Doutorado em Economia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
Disponível em: http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000364931. Acesso em: 25 mar.
2009.

FARIA, C. A. P. de. Idéias, conhecimento e políticas públicas: um inventário sucinto das


principais vertentes analíticas recentes. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, v.
18, n. 51, Feb. 2003. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
69092003000100004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 30 de fev. 2009.

FIGUEIREDO, A. C.; LIMONGI, F. Mudança constitucional, desempenho do Legislativo e


consolidação institucional. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 1995. Disponível em:
http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_29/rbcs29_10.htm. Acesso em: 17 ago.
2009.

FIGUEIREDO, A. C.; LIMONGI, F. O poder de agenda na democracia brasileira: desempenho


do governo no presidencialismo pluripartidário. In SOARES, G.A.D.; RENNÓ, L. Reforma
política: lições da história recente. Rio de Janeiro: FGV, 2006

FIORI, J. L. Estado do Bem-Estar Social: Padrões e Crises. Instituto de Estudos Avançados.


1997. Disponível em: www.iea.usp.br/artigos. Acesso em: 30 nov. 2007.

FURTADO, C. O longo amanhecer: reflexões sobre a formação do Brasil. Rio de Janeiro:


Paz e Terra, 1999.

65
GORZ, A. Quem não tiver trabalho, também terá o que comer. Estudos Avançados, São Paulo,
v. 4, n. 10, Dec. 1990 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40141990000300012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 05 dez 2006.

HOBSBAWM, E. Ecos da Marselhesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

KAUCHAKJE, S. Cidadania e participação social: inclusão social no campo dos direitos a


igualdade e a diferença. In: SOUSA, Maria Antonia de; COSTA, Lucia, Cortes. A. de (Org.).
Sociedade e cidadania: desafios para o século XXI. Ponta Grossa: Editora da UEPG, 2005, p.
55-69.

KAUCHAKJE, S.; ULTRAMARI, C. Rede sociotécnica do direito à habitação e a configuração


do espaço em Curitiba. Cadernos Metrópole, v. 1, p. 63-76, 2007.

KOERNER, A. Ordem política e sujeito de direito no debate sobre direitos humanos. Lua
Nova, São Paulo, n. 57, 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64452002000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 23 set. 2009.

____________. O papel dos direitos humanos na política democrática: uma análise preliminar.
Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, v. 18, n. 53, Oct. 2003. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
69092003000300009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 07 Nov. 2009.

LANNA, M. Nota sobre Marcel Mauss e o ensaio sobre a dádiva. Revista Sociologia Política,
Curitiba, n. 14, June, pp. 173-194, 2000. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
44782000000100010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 13 jun. 2009.

LAVILLE, J. Do século 19 ao século 21: permanência e transformações da solidariedade em


economia. Katálysis, Florianópolis, v. 11, n. 1, June 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
49802008000100003&lng=en&nrm=iso>.Acesso em: 5 nov. 2009.

LOJKINE, J. O Estado capitalista e a questão urbana. São Paulo: Martins Fontes. 1981.

KRISCHKE, P. Governo lula: políticas de reconhecimento e de redistribuição. Cadernos de


Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas, nº 47 – Outubro de 2003. Disponível em:
http://www.cfh.ufsc.br/~dich/TextoCaderno47.pdf. Acesso em 01 out. 2009.

MANNHEIM, K. Liberdade, poder e planificação democrática. São Paulo: Mestre Jou, 1972.

MARQUES, E., BICHIR, R. Estado e espaço urbano: revisitando criticamente as explicações


correntes sobre as políticas urbanas. Revista de Sociologia e Política, 15. Curitiba, n. 16, June
2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
44782001000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 21 set. 2005.

MARSHALL, T. H. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.

MARX, K. Trabalho assalariado e capital. Obras Escolhidas. Lisboa: Editorial Avante, 1982.
Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1849/04/05.htm. Acesso em: 18 nov. 2009.

66
_________. A questão judaica. In Manuscritos Econômicos-filosóficos. Lisboa: Edições 70, 1989.

_________. O Capital. São Paulo: Abril, 1983.

MARX, K.; ENGELS, F. O manifesto do Partido Comunista. Brasiliense: São Paulo, 1988.

MAUSS, M. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.

MILLS, C W . A elite do poder. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

MOISES, J. A. Cidadania, confiança e instituições democráticas. Lua Nova, n.65, pp. 71-94. 2005.

MOISÉS, J. A.; MENEGUELLO, R. Com um olho no peixe...e outro no gato. A desconfiança dos
brasileiros nas instituições democráticas. Pesquisa FAPESP online, São Paulo, nov. 2008. Disponível
em: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3693&bd=1&pg=1. Acesso em: 07 jul.2009.

NERI, M.C. Pobreza e políticas sociais na década da redução da desigualdade. Nueva Sociedad. out.
2007, p. 53-75

OFFE, C. Problemas estruturais do Estado capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. 1984.

________. Partidos Políticos e nuevos movimientos sociales. Editorial Sistema - Coleccion Politeia,
1993.

PARSONS, T. El sistema social. Madrid: Revista de Occidente. 1976. Disponível em


http://members.lycos.co.uk/apuntesdesociologia/archivos/parsons1.pdf. Acesso em: 22 set. 2007.

___________. Cidadania plena para o americano negro? Um problema sociológico. Tradução: Luiz
Pereira. Disponível em http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_22/rbcs22_03.htm.
Acesso em: 12 nov 2009.

PERISSINOTTO, R. O 18 Brumário e a análise de classe contemporânea. Lua Nova, São Paulo, 71,
pp. 81-121, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64452007000200004&lng=en&nrm=iso> . Acesso em: 22 jul. 2009.

________________. Política e sociedade: por uma volta à Sociologia Política. Política & Sociedade,
v.3 , n.1, 2008..

POCHMANN, M. Desenvolvimento, trabalho e solidariedade: novos caminhos para a inclusão


social. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo e Cortez, 2002.

PIOVESAN, F.; VIEIRA, R.S. Justiciabilidade dos direitos sociais e econômicos no Brasil:
desafios e perspectivas. Araucária. Revista IberoAmericana de Filosofia, Política y
Humanidades, v. 8, n. 15, abril 2006. pp. 128-146.
http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/282/28281509.pdf. Acesso em: 02 ago 2009.

PUTNAM, R. D. Comunidade e Democracia: a experiência da Itália Moderna. Rio de


Janeiro: FGV, 2000.

RAICHELIS, R.Gestão pública e a questão social na grande cidade. Lua Nova, São Paulo, n.
69, 2006 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64452006000400003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em mai. 2009.

67
REIS, E. P. Desigualdade e solidariedade — uma releitura do “familismo amoral' de Banfield".
Revista Brasileira de Ciências Sociais, 29, ano X, pp. 35-48. Out. 1995.

REIS, E. P. Percepções da elite sobre e pobreza e desigualdade. Revista Brasileira de Ciências


Sociais, nº 42, p. 143-152, 2000.

REIS, F.W. Notas sobre nação e nacionalismo. Estudos Avançados. São Paulo, v. 22, n. 62,
pp. 161-169. Apr. 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40142008000100011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 14 ago. 2009.

REZENDE, M. J. de. Celso Furtado e Karl Mannheim: uma discussão acerca do papel dos
intelectuais nos processos de mudança social. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences,
2004. Disponível em
<http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/viewFile/1384/904>.
Acesso em 27 Jul 2008.

SALES, T. Raízes da desigualdade social na cultura política brasileira. Revista Brasileira de


Ciências Sociais, n.25, p.26-37, 1994

SANTOS, W. G. Cidadania e Justiça. Rio de Janeiro: Campus, 1979.

_____________. Mitologias institucionais brasileiras: do Leviatã paralítico ao Estado de


natureza. Estudos Avançados, São Paulo, v. 7, n. 17, Apr. 1993. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141993000100005. Acesso
em 02 ago 2009.

SARLET, I. W. A Eficácia do Direito Fundamental à Segurança Jurídica: dignidade da pessoa


humana, direitos fundamentais e proibição de retrocesso social no direito constitucional
brasileiro. Mundo Jurídico, 2005. Disponível em:
http://www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos/artigos.asp?codigo=54. Acesso em 16 set. 2009.

SCHERER-WARREN, Ilse. Das mobilizações às redes de movimentos sociais. Sociedade e


Estado, Brasília, v. 21, n. 1, Apr. 2006. disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
69922006000100007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 23 set 2008.

SCHUMPETER, J. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.

SIMÕES, C. Curso de Direito do Serviço Social. Biblioteca Básica de Serviço Social; v. 3.São
Paulo: Cortez, 2007.

SOUZA, C. Governos locais e gestão de políticas sociais universais. São Paulo em


Perspectiva, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 27-41, 2004

_________. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, n. 16, pp.
20-45, Dec. 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
45222006000200003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 02 Nov 2009.

TELLES, V. da S. Direitos Sociais: Afinal do que se trata. Belo Horizonte: UFMG, 2000.

68
TOMIO, F.R.de L. Competição eleitoral e coalizões legislativas estaduais: conexão entre as
arenas eleitoral e parlamentar nos estados. ANPOCS, 2007

VILLA, R.D. Segurança internacional e normatividade: é o liberalismo o elo perdido dos critical
securities studies? Lua Nova, São Paulo, n. 73, 2008 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64452008000100005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 24 out. 2009.

WEBER, M. Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva. Volume 2.


Brasília: Editora da UnB, 1999.

WESTPHAL, V. H. Diferentes matizes da idéia de solidariedade. Revista Katálisys.


Florianópolis. v. 11, n. 1, pp. 43-52 jan./jun. 2008. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
49802008000100004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 13 mar 2009.

ZALUAR, A. Exclusão e políticas públicas: dilemas teóricos e alternativas políticas. Revista


Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 12, n. 35, Oct. 1997 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
69091997000300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em mar. 2006.

69
Anexo 1

Entrevista– VEREADORES

Data: //
Nome do entrevistado:

I. Partido Político e associativismo


1. Partido do entrevistado:

2. Desde quando o sr.(a) está neste partido? R

3. O sr.(a) já foi filiado a outro(s) partido(s)?


1. Não 2. Sim Qual(is)? r

4. O Sr.(a) já foi vereador em outro período de gestão?


1. Não 2. Sim Qual período? de a

5. O(a) senhor (a) ocupa ou ocupou algum dos cargos de DIREÇÃO PARTIDÁRIA
MUNICIPAL que lerei a seguir em 2009 ou anteriormente?
1. Presidente (data): de a
2. 1º. Vice-presidente (data): de a
3. Secretário-geral (data): de a
4. Tesoureiro (data): de a
5. Líder de partido na Câmara Municipal (data): de a
6. Não ocupou nenhum desses cargos
7. NR

6. O Sr.(a) participa em alguma associação ou organização social, tais como:


1. sindicato (nome)
2. associações de bairro (nome)
3. conselho de política pública (nome)
4. outro tipo conselho (nome)
5. movimento social (nome)
6. ONG (nome)
7. atividade social voluntária (nome)
8. outro (nome)

7. Qual a motivação para o sr.(a) envolver-se nesta(s) associação(s)?

II – Valores políticos

8. A seu ver, qual é a principal responsabilidade do poder público?


Na esfera nacional - R.
Na esfera estadual – R.
Na esfera municipal –R.

9. Pode ser muito difícil escolher, mas, se o Sr.(a) tivesse que escolher entre manter a ordem;
respeitar a liberdade individual e garantir bem estar social, qual deveria ser a hierarquia de
responsabilidades do poder público em geral?

Ordem de Hierarquia (1,2,3) ( ) manter a ordem


1. muito importante, 2. média, 3. pouca

70
( ) respeitar a liberdade individual

( ) garantir bem estar social


9.1
Por quê em primeiro lugar:
Por quê – em segundo lugar:
Por quê – em terceiro lugar

10. Pode ser muito difícil escolher, mas, nas condições de hoje, se o Sr.(a) tivesse que escolher
entre segurança pública; proteger a liberdade de expressão e melhorar políticas sociais, qual é a
ordem de prioridades do poder público em geral hoje?

Ordem de Hierarquia (1,2,3) ( ) segurança pública


1. muito importante, 2. média, 3. pouca
( ) proteger a liberdade de expressão

( ) melhorar as políticas sociais

10.1
Por quê em primeiro lugar:
Por quê – em segundo lugar:
Por quê – em terceiro lugar

11. Qual tipo de governo o Sr.(a) acha que se preocupa mais em garantir o bem estar social da
população?
1. autoritário OU 2. democrático

11.1 - Por quê (sobre o que escolheu)?


Por quê não (sobre o que não escolheu)?

12. Qual tipo de Estado o Sr.(a) acha que se preocupa mais em garantir o bem estar social da
população?

1. liberal OU 2. social OU 3. socialista

12.1
Por quê (sobre o que escolheu)? R
Por quê não (sobre o que não escolheu)? R
Por quê não (sobre o que não escolheu)? R

13. O Sr.(a) concorda ou discorda da seguinte afirmação: “


sem hierarquias sociais, econômicas e políticas bem definidas nenhuma ordem se sustenta”
1. Discorda totalmente
2. Discorda em parte
3. Concorda em parte
4. Concorda totalmente
13.1 - Por quê?

14. O Sr.(a) concorda ou discorda da seguinte afirmação: a melhor sociedade é aquela em que
cada um sabe o seu devido lugar.
1. Discorda totalmente
2. Discorda em parte

71
3. Concorda em parte
4. Concorda totalmente
14.1 - Por quê?

• Dimensão legal e partidária


15. O Sr.(a) acha que o tema social está bem contemplado na Constituição Federal de 1988?
1. Não. 2. Sim.
15.1 - Por quê (não ou sim)?

16. Em termos de matéria social tem alguma parte da Constituição Federal de 1988 que o Sr.(a)
destaca?
1. Não 2. Sim Qual (is)
Por quê o Sr.(a) desta esta (s)?

17. Há alguma lei social no âmbito nacional que o Sr.(a) destaca?


1. Não 2. Sim Qual (is)
Por quê o Sr.(a) desta este (s)?

18. Há alguma lei social no âmbito estadual que o Sr.(a) destaca?


1. Não 2. Sim Qual (is)
Por quê o Sr.(a) desta esta (s)?

19. Há alguma lei social no âmbito municipal que o Sr.(a) destaca?


1. Não 2. Sim Qual (is)
Por quê o Sr.(a) desta esta (s)?

20.Tem algum(s) partido(s) que o Sr.(a) acredita que dê mais prioridade às propostas sociais?
Qual (is)?
1. Não 2. Sim Qual (is)
Por quê? Em que sentido?

21. Como os temas sociais se inserem em seu partido?


R.

21.1 - Eles têm relevância?


1. Não 2. Sim
Por quê (sim ou não)?

22. O Sr.(a), o seu partido ou grupo político já apresentou alguma proposta ou projeto de lei de
conteúdo social?
1. Não 2. Sim . Qual (is)

22.1 - Sobre o(s) projeto(s) citados, o Sr.(a) votou como?


1. a favor 2. contra
Por quê (a favor ou contra)?

23. O Sr.(a) tem intenção de apresentar algum novo projeto na matéria social?

1. Não 2. Sim. Qual?

23.1 - Por que este projeto é importante?

24. O Sr.(a), na condição de vereador, realiza alguma atividade social ou presta algum tipo de
serviço social à população?
1. Não 2. Sim. Qual?

72
24.1 - Para quem (grupo social)?
Onde?
Por que o Sr(a) realiza esta atividade social?

• dimensão político-administrativa

25. Tem alguma política ou programa social da esfera federal que o Sr./sra destacaria?
1. Não 2. Sim Qual (is)
Por quê esta (s) política(s) ou este(s) programa(s)
sociais lhe chama(m) a atenção?

26. Tem alguma política ou programa social da esfera estadual que o Sr./sra destacaria?
1. Não 2. Sim Qual (is)
Por quê esta (s) política(s) ou este(s) programa(s) sociais lhe
chama(m) a atenção?

27. Tem alguma política ou programa social da esfera municipal que o Sr./sra destacaria?
1. Não 2. Sim Qual (is)
Por quê esta (s) política(s) ou este(s) programa(s)
sociais lhe chama(m) a atenção?

28. Na área social da PMC qual (s) secretária(s) ou departamento(s) que o Sr. (a) destacaria? Por
quê (para cada secretaria ou departamento citado?
R.

• relação aos direitos sociais

29. Sobre a afirmação a seguir:


As políticas e direitos sociais são matéria dos políticos e de técnicos do governo. A grande
maioria da população não tem condições para influir nisto. O Sr.(a)
1. Discorda totalmente
2. Discorda em parte
3. Concorda em parte
4. Concorda totalmente
29.1 - Por quê?

30. Sobre a afirmação a seguir:


Os programas sociais são conquistas da população por meio de participação em movimentos
sociais, conselhos e outras formas de organização da sociedade civil. O Sr.(a)
1. Discorda totalmente
2. Discorda em parte
3. Concorda em parte
4. Concorda totalmente
30.1 - Por quê?

31. Em sua opinião, quem é o responsável pela implementação de políticas e ações sociais?
1. apenas o Estado
2. apenas a sociedade civil (neste caso destacar qual instância da sociedade civl):

( 1). ONG (5). comunidade/vizinhança


(2). empresas (6). familiares

73
(3). sindicatos (7). outros
(4). igrejas
3. ambos (neste caso escolher):
(1). prioritariamente o Estado
(2). prioritariamente a sociedade civil (destacar qual instância da sociedade civil):

( 1). ONG (5). comunidade/vizinhança


(2). empresas (6). familiares
(3). sindicatos (7). outros
(4). igrejas

31.1 - Por quê?

32. A seguir eu vou ler uma lista das áreas das políticas e programas sociais e eu gostaria que o
Sr.(a) me dissesse quem deveria ser responsável pela sua implementação?
Áreas de políticas e 1. Só 2. Só 3. Ambos Por quê?
programas sociais Estado sociedade civil

Qual (is) (1)Priorida (2)Prioridade


instância(s)?* de do da soc.civil*
Estado
1. saúde
2. educação
3. assistência social
4. previdência social
5. habitação
6. trabalho
7. segurança
alimentar
8. transferência de
renda
9. outro (citar)
* 1). ONG; (2). empresas; (3). sindicatos; (4). igrejas; (5).comunidade/vizinhança; (6).
familiares;
(7). outros

33. A seguir eu vou ler uma lista das áreas das políticas e programas sociais e eu gostaria que o
Sr.(a) me dissesse qual deles o Sr.(a) considera que deve ser destinados a todas as pessoas e
aqueles que devem ser destinados a públicos ou grupos sociais específicos?
Áreas de políticas e 1. Toda a 2. Grupos sociais Por quê?
programas sociais população específicos

Qual público, para quem?


8. saúde,
9. educação
10. assistência social
11. previdência social
12. habitação
13. trabalho
14. segurança alimentar
15. transferência de
renda
16. outro (citar)

74
34. Em sua opinião as políticas e programas sociais de distribuição de renda (bolsa-família,
renda mínima, por ex):
1. em geral provocam a ineficiência econômica do Estado e devem ser evitadas
2. são necessárias para atender carências sociais, mesmo que provoquem ineficiência
econômica do Estado
3. são necessárias porque ativam a economia local, mesmo que provoquem ineficiência
econômica do Estado

35. Sobre a afirmação a seguir:


As políticas e os programas sociais de distribuição de renda (bolsa-família, renda mínima, por
exemplo) prejudicam os mais competentes, por isso devem ser evitadas. O Sr.(a)
1. Discorda totalmente
2. Discorda em parte
3. Concorda em parte
4. Concorda totalmente
35.1 - Por quê?
36. Sobre a afirmação a seguir:
De modo geral quem recebe algum tipo de benefício e programa social tende a se acomodar (se
“encosta” no Estado) e, às vezes, nem quer mais trabalhar. O Sr.(a)
1. Discorda totalmente
2. Discorda em parte
3. Concorda em parte
4. Concorda totalmente
36.1 - Por quê?

37. Sobre a afirmação a seguir:


Programas de transferência de renda (bolsa-família, renda mínima, por exemplo) deveriam ser
incorporados na legislação social no Brasil, como direito de cidadania. O Sr.(a)
1. Discorda totalmente
2. Discorda em parte
3. Concorda em parte
4. Concorda totalmente
37.1 - Por quê?

38. Na lista a seguir, quais itens o senhor considera direitos sociais da população

1. previdência social 6. transferência de renda (Bolsa


Família,BPC, PETI, etc)
2. saúde 7. assistência social.
3. habitação 8. segurança alimentar
4. educação 9. outro (citar)
5. trabalho
Entre os que o Sr.(a) citou, quais são os principais?

III - Identificação social e econômica41

39. Sexo 1. mulher 2. homem


40. Idade42: anos

41
Todos os agrupamentos de dados foram baseados no Banco de Dados Agregados do IBGE. Disponível
em: http://www.sidra.ibge.gov.br/

75
I.ADULTO JOVEM II.ADULTO III. IDOSO
1. adulto jovem (a) 21-29 3. adulto (a) 40-54 5. idoso (a) 65-74
2. adulto jovem (b) 30-39 4. adulto (b) 55-64 6. idoso (b) 75 +

41. Local de moradia: Bairro

42. Antes de morar em Curitiba o Sr.(a) viveu em outra cidade?


1. Não 2. Sim - nome do município UF

42.1 - Nesta cidade morou na área


1. urbano 2. rural
43. Escolaridade:
I. BAIXA
1. Ensino fundamental incompleto
2. Ensino fundamental completo
3. Ensino médio incompleto
II. MÉDIA
4. Ensino médio completo
5. Ensino superior incompleto
III. ALTA
6. Ensino superior completo inclusive mestrado ou doutorado.

44. Qual sua religião?


1. Católica 8. Judaísmo
2. Evangélica - denominação: 9. Hinduísmo
3. Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos 10. Islamismo
Dias
4. Testemunhas de Jeová 11. Budismo
5. Espírita 12. Outras religiosidades
6. Umbanda 13. não possui
7. Candomblé 14. não respondeu

45. Além de vereador o Sr.(a) exerce outra atividade profissional?


1. Não 2. Sim Qual?

Ramo de atividade:
1. Agrícola 2. Indústria* 3. Comércio 4. Serviços**
*O ramo da indústria inclui: Indústria de transformação; Indústria da construção e outras
atividades industriais.
** O ramo de serviços inclui as seguintes atividades: Prestação de serviços; Serviços sociais;
Administração pública e outras atividades.

46. Antes de ser vereador sua faixa de renda mensal familiar era de:
I. BAIXA
1. até R$ 930,00 (até 2 salários mínimos).
II. MÉDIA
3. mais de R$ 930,00 a R$ 1.395,00 (mais de 2 a 3 salários mínimos)
4. mais de R$ 1.395,00 a R$2.325,00 (mais de 3 a 5 salários mínimos)
5. mais de R$2.325 a R$ 4.650,00 (mais de 5 a 10 salários mínimos)

42 Adaptado da Secretaria Especial para Assuntos Estratégicos. Disponível em


http://www.seae.pr.gov.br/modules/noticias/print.php?storyid=4770

76
III. ALTA
6. mais de R$ 4.650,00 a R$ 9.300,00 (mais de 10 a 20 salários mínimos)
7. mais de R$ 9.300,00 a R$ 13.950,00 (mais de 20 a 30 salários mínimos)
8. mais de R$ 13.950,00 a R$ 18.600,00 (mais de 30 a 40 salários mínimos)
9. mais R$ 18.600,00 (mais de 40 salários mínimos)
10. não respondeu

47. Atualmente a sua faixa de renda mensal familiar é de:


1. até 9.300,00 (até 20 salários mínimos)
2. mais de R$ 9.300,00 a R$ 13.950,00 (mais de 20 a 30 salários mínimos)
3. mais de R$ 13.950,00 a R$ 18.600,00 (mais de 30 a 40 salários mínimos)
4. mais R$ 18.600,00 (mais de 40 salários mínimos)

10. não respondeu

77

Вам также может понравиться