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Fundamentos de Análise de Projetos de Investimento

Research · January 2019

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Ricardo Goulart Serra


Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado
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FUNDAMENTOS DE ANÁLISE DE PROJETOS DE INVESTIMENTO
Ricardo Goulart Serra
FECAP e Insper

Esta versão: 02 de janeiro de 2019

O objetivo deste texto é aplicar os conceitos de fluxo de caixa descontado para a análise de
projetos de investimento (para mais detalhes e explicações a respeito da construção do fluxo
de caixa e da estimação do custo de capital, veja Serra, R.G.; & Wickert, M. (2014). Valuation:
Guia Fundamental, São Paulo: Atlas).

Um projeto de investimento pode ser, por exemplo: o lançamento de um produto novo, a


compra de um sistema integrado de gestão empresarial, a troca de uma máquina, a entrada
em um mercado novo ou região nova etc. Normalmente, estes projetos são iniciativas da
empresa e não do acionista. Portanto, normalmente, a avaliação de projetos de investimentos
por fluxo de caixa descontado dá-se pela abordagem dos investidores (também chamada de
operacional, da (parte operacional da) empresa, da firma, entre outras nomenclaturas).
Logicamente, é possível analisar projetos por fluxo de caixa descontado pela abordagem dos
acionistas, mas ela é menos utilizada (uma grande aplicação da abordagem dos acionistas em
análise de projetos por fluxo de caixa descontado é a análise de project finance, quando se
analisa, por exemplo, uma linha de transmissão, uma estrada, um porto, uma distribuidora de
gás etc.).

Ferramentas de Análise

Duas ferramentas muito usuais (entre outras) para a análise de viabilidade de projetos de
investimento são: (1) o valor presente líquido (VPL) e (2) a taxa interna de retorno (TIR). Nesta
seção, considera-se que o fluxo de caixa já foi calculado e o custo de capital já foi estimado
(mais a frente no presente texto, tais valores serão construídos). No presente texto, os termos
custo de capital, custo de oportunidade ou taxa de desconto serão considerados sinônimos.

Valor Presente Líquido (VPL)

O valor presente líquido é obtido por meio da soma dos valores presentes de cada um dos
fluxos de caixa. Ele representa o valor presente dos fluxos de caixa futuros, líquido do
investimento inicial (na data 0), conforme Figura 1.
Figura 1 – Valor Presente Líquido. Exemplo de projeto com 3 anos. Elaborada pelo autor.

FC1 FC2 FC3

1 2 3
FC0

Em que FCj é o fluxo de caixa do período (ano ou outra periodicidade) j e i é o custo de capital
(na mesma periodicidade do fluxo de caixa, por exemplo, anual).

Suponha um investimento inicial de $ 100 (FC0) e os fluxos de caixa anuais de $ 30,0, $ 70,0 e
$ 25,0, para os anos 1 a 3 respectivamente. Considerando o custo de capital de 10,0% a.a., o
valor presente líquido é $ 3,9.

O objetivo do VPL é verificar se o projeto conseguirá repagar o principal acrescido dos juros ao
longo de sua vida útil. Portanto, pense que no ano 0, ao tomar o dinheiro da tesouraria da
empresa (e por isso a abordagem é dos investidores ou da empresa) para aportar no projeto, o
gestor do projeto constitui um saldo devedor (com a tesouraria) de $ 100,0. No final do
primeiro ano ele estará devendo, para a tesouraria, os $ 100,0 originais acrescidos de juros de
10,0%, portanto, $ 110,0. Porém, no final do primeiro ano, o gestor devolve, para a tesouraria,
os $ 30,0 gerados pelo projeto (FC1), e com isso: (a) paga os juros de $ 10,0 (10,0% de $ 100,0)
e (b) amortiza os demais $ 20, portanto, passando a dever, para a tesouraria, $ 80,0 (saldo
devedor atualizado). Repetindo o pensamento (mecânica) pelos 3 anos de vida do projeto,
verifica-se que, ao final do projeto, o saldo final é credor em $ 5,2 (conforme a Tabela 1), ou
seja, o projeto se paga (devolve o principal acrescido dos juros ao longo de sua vida útil) e
ainda sobra dinheiro (no caso, $ 5,2).

Tabela 1 – Dinâmica Interna do Valor Presente Líquido, em R$. Custo de Capital de 10,0%.
Elaborada pelo autor.
Ano (A) Fluxo de Caixa (B) Juros (C) Amortização (D) Saldo
0 (100,0)
1 30,0 10,0 20,0 (80,0)
2 70,0 8,0 62,0 (18,0)
3 25,0 1,8 23,2 5,2

Obs.: Coluna A = fluxo de caixa do projeto (para os anos 1 a 3); Coluna B = -(D)t-1 x custo de capital;
Coluna C = (A) - (B) e Coluna D = (D)t-1 + (C).

Note que, no final do projeto (ano 3), o saldo (coluna D da Tabela 1) é positivo em $ 5,2,
equivalente a $ 3,9 na data 0 (5,2/(1+10%)3) – que corresponde ao VPL do projeto. Logo, (1) se
sobra dinheiro ao final do projeto (valor positivo na última linha da coluna D e,
consequentemente, VPL também positivo), significa que o projeto gera fluxo de caixa
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suficiente para (a) devolver o principal ($ 100,0) acrescido dos juros e (b) produzir superávit.
Portanto, o projeto deve ser aceito. (2) Se o saldo no final do projeto é zero
(consequentemente, VPL igualmente zero), também significa que o projeto se paga (devolve o
principal acrescido dos juros), porém, sem sobra de caixa. Como o custo de capital embute o
risco do projeto, significa que ele deve ser feito (considerando que o mundo não tenha
restrição de capital). (3) Se o saldo no final do projeto é negativo (consequentemente, VPL
também negativo), significa que o projeto não consegue devolver o principal investido
remunerado dos juros e, portanto, não se paga (gera um déficit) e não deve ser aceito. Logo,
(i) caso VPL>=0 (cenários 1 e 2), o projeto deve ser aceito (o projeto se paga, sobrando ou não
dinheiro) e (ii) caso o VPL<0 (cenário 3), o projeto deve ser rejeitado (o projeto não se paga).

Taxa Interna de Retorno (TIR)

A taxa interna de retorno é a taxa de desconto que, aplicada para trazer a valor presente o
fluxo de caixa do projeto, produz VPL igual a zero. A TIR do projeto analisado no item anterior
(-100,0; 30,0; 70,0 e 25,0) é 12,22%. A Figura 2 mostra o VPL (eixo Y) para diversos cenários de
taxa de desconto (eixo X). O ponto onde a curva cruza o eixo X é a TIR do projeto (taxa de
desconto que produz VPL zero).

Figura 2 – Valor Presente Líquido (VPL) x Taxa de Desconto (Taxa). Elaborada pelo autor.

30,0
Valor Presente Líquido

Taxa VPL
20,0
0,0% 25,0
2,5% 19,1 10,0
5,0% 13,7
7,5% 8,6 0,0
10,0%

12,5%

15,0%

17,5%
0,0%

2,5%

5,0%

7,5%

10,0% 3,9
12,5% (0,5) -10,0
15,0% (4,5) -20,0
17,5% (8,4) Taxa de Desconto

Obs.: Considerando o fluxo de caixa anual: -100;0; 30,0; 70,0 e 25,0 (para anos 0 a 3, respectivamente).

A título de comparação, a Tabela 2 replica a Tabela 1, porém considerando que o custo de


capital seja 12,22% (a própria TIR). Note que, ao final do projeto, na coluna D (saldo), tem-se o
saldo zero (é o que se espera quando o custo de capital é a própria TIR).

Tabela 2 – Dinâmica Interna do Valor Presente Líquido, em R$. Custo de capital de 12,22% –
igual a TIR do projeto. Elaborada pelo autor.
Ano (A) Fluxo de Caixa (B) Juros (C) Amortização (D) Saldo
0 (100,0)
1 30,0 12,2 17,8 (82,2)
2 70,0 10,1 59,9 (22,3)
3 25,0 2,7 22,3 0,0

Obs.: Coluna A = fluxo de caixa do projeto (para os anos 1 a 3); Coluna B = -(D)t-1 x custo de capital;
Coluna C = (A) - (B) e Coluna D = (D)t-1 + (C).

Serra, R. G. (2019). Fundamentos de Análise de Projetos de Investimento. Disponível em 3


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Note que, para o cenário em que o custo de capital é menor do que a TIR, pagar-se-á menos
juros sobre o saldo devedor (comparativamente à Tabela 2), sobrando mais dinheiro para
amortização, sendo possível repagar o principal mais rápido (o que também contribui para o
menor pagamento de juros). Sendo assim, ao final do projeto, sobrará um saldo positivo,
cenário em que o projeto deve ser aceito. Para o cenário em que o custo de capital é maior do
que a TIR, ocorrerá o inverso, mais juros, menos principal amortizado, e o saldo final será
negativo, cenário em que o projeto deve ser rejeitado.

Para projetos que tenham fluxo(s) negativo(s) no início (ano 0 e eventualmente anos iniciais
subsequentes), uma inversão de sinal e fluxo(s) positivo(s) após a inversão de sinal (até o final
do projeto) – que chamaremos de projetos tradicionais, o critério de decisão a partir da
utilização da TIR é (a) caso a TIR>=CC (correspondente aos cenários 1 e 2 do item VPL), o
projeto deve ser aceito (pois o capital investido no projeto é remunerado a uma taxa – TIR –
maior ou igual ao custo de capital) e (b) caso a TIR<CC (correspondente ao cenário 3 do item
VPL), o projeto deve ser rejeitado (pois o capital é remunerado a uma taxa – TIR – menor do
que o custo de capital, não se pagando). Nos casos de projetos tradicionais (contexto do
presente texto), tanto o VPL como a TIR aprovarão(rejeitarão) os mesmos projetos.

Problemas da TIR

A TIR é uma das ferramentas de análise de viabilidade de projetos de investimento mais


utilizadas no mundo, principalmente porque existe restrição de capital (caso não existisse
restrição de capital, ou seja, o capital fosse ilimitado – situação em que há mais capital do que
projetos, bastaria o VPL para a tomada de decisão). Não é o objetivo do presente texto
discutir: (i) a existência ou não de restrição de capital e a relevância da TIR nem (ii) os
problemas da TIR, que são: (1) múltiplas TIR’s (potencialmente presente em fluxos com mais
de uma inversão de sinal – nos projetos tradicionais há apenas uma inversão de sinal e,
portanto, apenas uma TIR), (2) reinvestimento à própria TIR e (3) escolha entre projetos
excludentes, quando a aplicação da TIR "pura" e sobre os projetos em análise pode não ser
conveniente. Algumas soluções seriam utilizar (a) a TIR-modificada ou TIR-M (para mitigar os
problemas 1 e 2) ou (b) o projeto incremental (para mitigar o problema 3).

Abordagem dos Investidores

Conforme comentado anteriormente, a abordagem adotada para a análise de projetos de


investimento no presente texto é a abordagem dos investidores (operacional). Tal opção
emerge do fato de que é a empresa que "patrocina" o projeto, ou seja, é ela – e não o
acionista dela – que lança um produto novo, compra um software, troca uma máquina, entra
em um mercado novo ou região nova etc.

Portanto, devemos estimar o custo de capital e construir o fluxo de caixa dos investidores
(operacional ou da (parte operacional da) empresa).

Serra, R. G. (2019). Fundamentos de Análise de Projetos de Investimento. Disponível em 4


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Custo de Capital

O gestor do projeto pega dinheiro com a tesouraria da empresa para financiar o projeto e a
empresa, por sua vez, capta dinheiro por meio de credores e acionistas (Figura 3).

Figura 3 – Visão de uma empresa. Elaborada pelo autor.


"Ativo" "Passivo"
Credores (D, de Debt)
Empresa
Acionistas (E, de Equity)

Portanto, nesta abordagem, o custo de capital é o custo de capital da empresa ou WACC


(weighted average cost of capital). Supondo dois grupos de fornecedores de capital (credores
e acionistas), o WACC é o custo de capital médio ponderado considerando (1) o peso (ou
representatividade) de cada grupo de fornecedor de capital no conjunto do capital da empresa
(o capital todo) e (2) o custo de capital de cada grupo de fornecedor de capital. (1) Os pesos
são: (i) D/(D+E) para os credores, ou seja, montante de dívida (D) relativamente ao capital todo
(D+E) e (ii) E/(D+E) para os acionistas, ou seja, montante de equity (E) relativamente ao capital
todo (D+E). (2) Os custos são: (i) custo de dívida líquido do benefício fiscal (rd x (1-t)) para os
credores e (ii) custo de capital dos acionistas (re) calculado, normalmente, pelo CAPM (capital
asset pricing model), por exemplo: re = rf + pp + beta x pm (definições abaixo, adaptado para o
contexto brasileiro). Dependendo das premissas adotadas, o prêmio-país (que não faz parte da
definição original do CAPM) pode ser dispensado. O WACC é calculado conforme a Equação 1.

Equação 1

Em que WACC é o custo de capital médio ponderado, D é o montante de dívida, E é o


montante de equity, rd é o custo da dívida (bruto), t é a alíquota de imposto de renda, rf é a
taxa livre de risco, pp é o prêmio (pelo risco) país, beta é a medida de risco e pm é o prêmio
(pelo risco) de mercado. Idealmente, todos esses parâmetros devem ser parâmetros de
mercado – inclusive o D e o E, que seriam o valor de mercado da dívida e o valor de mercado
do patrimônio líquido (equity value), respectivamente.

A Figura 4 apresenta graficamente a mesma ideia.

Figura 4 – WACC. Elaborada pelo autor.

Peso Custo

Credores D/(D+E) X rd x (1 - t)

Acionistas E/(D+E) X rf + pp + β x pm

Serra, R. G. (2019). Fundamentos de Análise de Projetos de Investimento. Disponível em 5


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Fluxo de Caixa

Na abordagem dos investidores, o fluxo de caixa é calculado a partir de informações da DRE e


de ajustes posteriores. Na DRE, o último valor que é dos investidores é o resultado operacional
(depois há a divisão entre credores – despesa financeira, e acionista – lucro líquido). Portanto,
o resultado operacional é o primeiro item do fluxo de caixa para os investidores. Abate-se o
imposto operacional, que é recalculado a partir do próprio resultado operacional, ou seja,
multiplicando-o pela alíquota de imposto de renda corporativo (t). O imposto operacional é
diferente do imposto que está na DRE e não considera o benefício fiscal da despesa financeira
(que, é considerado no custo de capital ao calcular o custo de dívida líquido do benefício fiscal
– quando não houver benefício fiscal (por exemplo, a empresa esteja no regime tributário de
lucro presumido), trabalha-se com a parcela do imposto que seja caixa). A combinação do
resultado operacional menos o imposto operacional resulta no ROL (resultado operacional
líquido), NOPAT (net operating profit after taxes), NOPLAT (net operating profit less adjusted
taxes) ou lucro líquido desalavancado, entre outros nomes utilizados. Pode ser entendido
como sendo a "geração interna de caixa do projeto", com ressalvas. Para saber qual parcela do
resultado operacional líquido o projeto pode "devolver" para a empresa (que, por sua vez,
distribuiria para os investidores – credores e acionistas), é preciso considerar alguns ajustes. O
primeiro ajuste feito é somar de volta a depreciação e a amortização do período, pois não são
despesas caixa (no momento em que ocorrem) e estão consideradas no resultado operacional
líquido (ou seja, é preciso expurgar seus efeitos considerados no resultado operacional).
Posteriormente, é necessário considerar o investimento necessário no projeto, tanto nos
ativos fixos quanto no capital de giro líquido, afinal, um projeto (bem como uma empresa) é
constituído desses dois grupos de ativos, que devem ser "cuidados" ao longo da vida útil do
projeto. O investimento em ativos fixos, normalmente, é uma premissa que depende de outras
definições e é conhecido como CAPEX (capital expenditures). O investimento em capital de giro
líquido é calculado pela diferença entre o capital de giro líquido inicial e o capital de giro
líquido final. Sendo assim, o fluxo de caixa dos investidores (ou, como também pode ser
referido: operacional, da empresa, da firma etc.) é calculado como:

Equação 2

Em que Fluxo de Caixa é o fluxo de caixa para os investidores, R. Oper. é o resultado


operacional, Imp. Oper. é o imposto operacional, Deprec. e Amort. são a depreciação e a
amortização, CAPEX é o investimento em ativos fixos e Inv. CGL é o investimento em capital de
giro líquido.

O item mais delicado desse cálculo, estando tudo projetado, é o Inv. CGL (investimento em
capital de giro líquido). Conforme antecipado, é calculado como a diferença entre o capital de
giro líquido inicial (CGLi) e o capital de giro líquido final (CGLf), conforme a Figura 5:

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Figura 5 – Investimento em Capital de Giro Líquido (Inv G C L), calculado subtraindo do Capital
de Giro Líquidofinal (C G Lf) o Capital de Giro Líquidoinicial (C G Li). Elaborada pelo autor.

C G Li C G Lf Inv C G L

Cada capital de giro líquido, tanto o inicial quanto o final, é calculado subtraindo-se, do ativo
do capital de giro, o passivo do capital de giro. As contas que costumam ser consideradas
como ativos e passivos do capital de giro líquido estão expostas na Figura 6:

Figura 6 – Contas do capital de giro líquido – lista não exaustiva. Elaborada pelo autor.
Ativo Passivo
Caixa Operacional
Contas a Pagar
Contas a Receber
Impostos a Pagar
Estoque
Salários e Encargos a Pagar
Impostos a Compensar

Verifica-se, na Figura 6, que são consideradas – via de regra, para efeito de capital de giro
líquido, tanto no ativo quanto no passivo, apenas as contas operacionais, não sendo
considerada nenhuma conta financeira.

Fluxo de Caixa do Último Ano do Projeto

Normalmente, considera-se que um projeto é finito, ou seja, tem começo, meio e fim (como
tudo, há exceções). Neste sentido, ao término do projeto, a empresa não precisará mais dos
ativos dedicados ao projeto, quer sejam os (1) ativos fixos, quer seja o (2) capital de giro
líquido.

Portanto, (1) os ativos fixos podem ser vendidos ao final do projeto e o valor líquido (do
imposto de renda relativo ao ganho de capital) proveniente desta venda deve compor o fluxo
de caixa do projeto. Deve-se considerar este ajuste diretamente no fluxo de caixa e não na
DRE, até porque o resultado proveniente desta venda e o caixa resultante desta venda serão
bastante diferentes. Suponha que um ativo fixo (por exemplo, uma máquina) seja vendido
pelo seu valor contábil líquido, o resultado seria zero e o caixa seria o valor pelo qual o ativo
fixo foi vendido (considerando uma venda a vista). Este ajuste pode ser feito, no fluxo de caixa,
diretamente na linha relativa aos ativos fixos (CAPEX) ou em uma linha nova a ser utilizada
exclusivamente para considerar estas vendas (desimobilizações). O imposto de renda deve ser
calculado a partir do ganho de capital, que, reforça-se, não corresponde ao valor integral do
caixa. Note que se, inadvertidamente, o valor referente a esta venda de ativo fixo for
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considerado no Resultado Operacional, posteriormente, na dinâmica da análise, será cobrado
um imposto sobre o valor integral da venda e não apenas sobre o ganho de capital.

Nesta mesma linha de raciocínio, pode-se considerar também (2) a "venda" (ou, como é
tratada, volta) do capital de giro líquido, pois, ao final do projeto: (a) o caixa operacional será
"desbloqueado", (b) o contas a receber será recebido, (c) o estoque (que foi projetado para o
último ano, considerando que será vendido) também se converterá em caixa, (d) o contas a
pagar será pago, (e) os salários e encargos a pagar serão pagos bem como (f) os impostos a
pagar. Em resumo, o capital de giro líquido no período seguinte ao término do projeto ("n+1")
será igual a zero. Portanto, considerando que (a) o capital de giro líquido "final" (no ano "n+1",
ano seguinte ao final do projeto) é zero e (b) o capital de giro líquido "inicial" (no ano "n", ou
seja, no final do projeto) é o Capital de Giro Líquido do último ano do projeto (CGLn), tem-se o
último investimento em capital de giro líquido a ser considerado igual a -CGLn (final - inicial, ou
seja, 0 - CGLn), que no fluxo de caixa entra como: -(-CLGn), uma vez que no fluxo de caixa
considera-se "-"investimento em capital de giro líquido. Portanto, via de regra, deve-se somar
o CGLn no fluxo de caixa, o que equivale a sua volta ou a sua "venda", tal como se fez com a
venda dos ativos fixos. A Figura 7 representa (1) a venda dos ativos fixos e (2) a volta do capital
de giro líquido.

Figura 7 – Ajuste no fluxo de caixa ao término do projeto (considerando que ele seja finito),
composto de (1) venda dos ativos fixos e (2) volta do capital de giro líquido. Elaborada pelo
autor.
Ano n Ano n+1
(2)
CGLn 0
AFn 0
(1)

Obs.: O movimento (1) representa a venda dos Ativos Fixos do projeto no último ano do mesmo (AFn) e
o movimento (2) representa a volta do Capital de Giro Líquido do projeto no último ano do mesmo
(CGLn). Ano n é o último ano de operação do projeto e ano n+1 é o ano imediatamente seguinte,
quando o projeto é descontinuado e seus ativos (CGLn – capital de giro líquido no ano n, e AFn – ativos
fixos no ano n) podem ser desinvestidos.

Na hipótese de o projeto ser perene, pode-se considerar uma perpetuidade ao invés da venda
dos ativos fixos e da volta do capital de giro líquido. Não é o escopo do presente texto revisar
perpetuidades.

Exemplo

A AlGaSe S.A., fabricante de bicicletas, está analisando lançar um triciclo comemorativo de 50


anos de aniversário da empresa (que não compete com nenhum dos seus atuais produtos) – o
Projeto Triciclo Comemorativo. O triciclo será comercializado apenas durante os próximos 3
anos (um ano antes, o próprio ano do aniversário de 50 anos e o ano seguinte). A empresa
estima (a) investimento em construção das instalações, aquisição de terreno, máquinas e
equipamentos totalizando $ 100,0 mil no ano 0 (único investimento em ativos fixos que
acontecerá durante a vida útil do projeto), (b) investimento em capital de giro líquido de $ 5,1
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mil no ano 0 e (c) gastos com estudos (mercadológico e de engenharia, neste caso, com
detalhamento do layout da nova planta etc.) de $ 12,0 mil no ano 0. As demonstrações
financeiras projetadas para os três anos de vida do projeto estão apresentadas na Tabela 3.
Estima-se que a empresa venderá, ao término do projeto, o ativo fixo pelo seu valor contábil
líquido. A venda do ativo fixo e a volta do capital de giro líquido acontecerão no primeiro mês
do ano 4, portanto, por simplicidade, consideraremo-nas no próprio ano 3. A AlGaSe tem
25,0% de dívida (D/(D+E)) a um custo de 13,0%, uma alíquota de imposto de 40,0% e o beta de
suas ações é 1,6. Considere que os parâmetros gerais para o CAPM são rf = 7,0% e pm = 5,0%
(por simplicidade e construção das premissas, não será usado um prêmio pelo risco-país).
Sabe-se que o Resultado Operacional da AlGaSe (no conjunto da empresa e no mesmo CNPJ
em que o projeto será desenvolvido) atualmente é de $ 990,0 mil.

Tabela 3 – Demonstrações Financeiras do Projeto Triciclo Comemorativo, em R$ mil. Elaborada


pelo autor.
a
Balanço Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3
Caixa Operacional 3,0 3,9 3,2
Contas a Receber 8,3 10,8 9,2
Estoque 4,2 5,4 4,6
Ativo Fixo Bruto 100,0 100,0 100,0
(-) Deprec. Acum. (10,0) (20,0) (30,0)

Contas a Pagar 2,1 2,7 2,3


Sal. e Enc. a Pagar 1,4 1,8 1,5
Imposto a Pagar 2,0 2,6 2,2

Demonstrativo de Resultadosa Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3


Vendas Líquidas 100,0 130,0 110,0
(-) Custo do Produto Vendido (50,0) (65,0) (55,0)
(-) Despesas Operacionais (12,0)b (17,0) (19,0) (18,0)
(-) Depreciação (10,0) (10,0) (10,0)
(=) Resultado Operacional (12,0) 23,0 36,0 27,0

Obs.: (a) considera apenas a parte operacional do balanço e da DRE. (b) refere-se ao gasto estimado
com estudos, em $ 12,0 mil, no ano 0, que será despesado (e não ativado).

Cálculo do WACC (Figura 8) = 13,2% a.a.

Figura 8 – WACC da AlGaSe S.A.. Elaborada pelo autor.

Peso Custo WACC


D/(D+E) rd x (1 - t)
Credores X 13,0% x (1-40%) 1,95%
25,0%
7,8%
+
E/(D+E) rf + β x pm
Acionistas X 7,0% + 1,6 x 5,0% 11,25%
75,0%
15,0%
13,20%

Serra, R. G. (2019). Fundamentos de Análise de Projetos de Investimento. Disponível em 9


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Cálculo do fluxo de caixa (Tabela 4). O item mais delicado é o investimento no capital de giro
líquido, que é calculado como a variação de capital de giro líquido de um ano para o outro.
Portanto, vamos calcular o capital de giro líquido para todos os anos, considerando a
estimativa de investimento de $ 5,1 mil no ano 0 (indicada no enunciado). Posteriormente,
vamos calcular o investimento em capital de giro líquido e o fluxo de caixa para os investidores
dos anos projetados (ano 1 a ano 3).

Tabela 4 – Investimento em Capital de Giro Líquido e Fluxo de Caixa para os Investidores do


Projeto Triciclo Comemorativo, em R$ mil. Elaborada pelo autor.

Capital de Giro Líquido Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3


(+) Caixa Operacional 3,0 3,9 3,2
(+) Contas a Receber 8,3 10,8 9,2
(+) Estoque 4,2 5,4 4,6
(=) Capital de Giro: Ativo 15,5 20,1 17,0

(-) Contas a Pagar 2,1 2,7 2,3


(-) Sal. e Enc. a Pagar 1,4 1,8 1,5
(-) Imposto a Pagar 2,0 2,6 2,2
(=) Capital de Giro: Passivo 5,5 7,1 6,0

(=) Capital de Giro Líquido (A-P) 5,1 10,0 13,0 11,0

(=) Invest. em CGL (Final - Inicial) 5,1a 4,9 3,0 (2,0)b

Fluxo de Caixa Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3


(+) Resultado Operacional (12,0) 23,0 36,0 27,0
(-) Imposto Operacional 4,8 (9,2) (14,4) (10,8)
(+) Depreciação e Amortização 10,0 10,0 10,0
(-) CAPEX (100,0) 70,0c
(-) Invest. em Capital Giro Líq. (5,1) (4,9) (3,0) 13,0d
(=) Fluxo de Caixa p/ Invest. (112,3) 18,9 28,6 109,2

Obs.: (a) refere-se ao investimento em capital de giro líquido no ano 0. (b) refere-se ao desinvestimento
de $ 2,0 mil (uma vez que o capital de giro líquido diminuiu de $ 13,0 no ano 2 para $ 11,0 no ano 3).
(c) refere-se à venda do ativo fixo pelo seu valor contábil líquido, equivalente ao investimento inicial de
$ 100,0 menos a depreciação acumulada de $ 30,0 (3 x $ 10,0) ou conforme indicado no ano 3 da Tabela
3. (d) refere-se ao (i) desinvestimento de $ 2,0 no ano 3, (ii) acrescido do desinvestimento de $ 11,0
(volta do capital de giro líquido, equivalente ao próprio CGLn).

Note que o fluxo de caixa da Tabela 4 considera, no ano 3, a venda dos ativos fixos por $ 70
mil, equivalente ao seu valor contábil líquido e a volta do capital de giro líquido ($ 11,0 que foi
somado ao (des)investimento no capital de giro líquido do ano 3 de $ 2,0).

Cálculo do VPL (Figura 9) = $ 2,0 mil.

Serra, R. G. (2019). Fundamentos de Análise de Projetos de Investimento. Disponível em 10


https://www.researchgate.net/publication/330089230_Fundamentos_de_Analise_de_Projetos_de_Investimento
Figura 9 – Fluxo de Caixa Descontado do Projeto Triciclo Comemorativo, em R$ mil. O WACC
foi calculado em 13,2% a.a.. Elaborada pelo autor.

18,9 28,6 70,0 +11,0

0 + 28,2

1 2 3
112,3

+ + +
+ + + +

Obs.: desconsiderando a venda do ativo fixo ($ 70.0) e a volta do capital de giro líquido ($ 11,0), o fluxo
de caixa do ano 3 é $ 28,2 (27,0 - 10,8 + 10,0 - 0,0 + 2,0, respectivamente R. Oper. - Imp. Oper. +
Deprec. e Amort. - CAPEX - Inv. CGL).

Portanto, o Valor Presente Líquido do Projeto Triciclo Comemorativo é $ 2,0 mil e a sua TIR é
14,0%. Como o VPL é positivo e a TIR é maior do que o custo de capital, o projeto deve ser
aceito.

Tributos

No fluxo de caixa da Tabela 4, consideramos um imposto operacional positivo no ano 0. Não


fosse por ele, o projeto teria VPL negativo (-2,8 mil) e TIR (12,1%) menor do que o custo de
capital e deveria ser rejeitado (considerando a sua simples exclusão da análise)!

É claro que, nas situações em que o projeto apresenta resultado operacional positivo, ele
pagará imposto operacional (negativo no fluxo de caixa), mas é estranho que, quando o
projeto apresenta resultado operacional negativo, seja considerado que ele receberá o valor
relativo ao imposto operacional (positivo no fluxo de caixa). Esta abordagem é correta?
Resposta: depende.

Situação 1: o projeto é desenvolvido em uma empresa (ou, um CNPJ) que tenha, sem o
projeto, resultado operacional tributável superior ao resultado operacional negativo que o
projeto apresenta. Como a tributação é por CNPJ e não por projeto (ou unidade de negócio), a
empresa pagará menos imposto de renda caso faça o projeto pois, neste caso, o conjunto
(empresa + projeto) oferecerá para o governo uma base tributária menor relativamente
àquela que apresentaria sem o projeto. Esta economia fiscal é proporcionada pelo projeto e,
portanto, deve entrar na análise de viabilidade do projeto. No nosso exemplo, a empresa tem
$ 990,0 mil de resultado operacional (mesmo CNPJ em que o projeto será desenvolvido,
segundo o enunciado), que estamos supondo ser tributável. Caso a empresa não faça o
projeto, pagará imposto (desconsiderando o benefício fiscal do endividamento) equivalente a
40% deste valor, ou seja, $ 396,0 mil. Caso a empresa faça o projeto, oferecerá como base
tributária para o pagamento de impostos (igualmente desconsiderando o benefício fiscal do

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endividamento) o valor de $ 978 mil (990,0 - 12,0), o que resultará em um pagamento de
$ 391,2 mil de imposto. A diferença ($ 396,0 mil versus $ 391,2 mil) refere-se a uma economia
fiscal de $ 4,8 mil, proporcionada pelo projeto e que deve ser levada em consideração na
análise do mesmo. Portanto, caso a empresa consiga aproveitar o benefício fiscal do projeto
no próprio ano por abatimento do imposto que pagaria sem o projeto, o valor positivo de
imposto operacional deve ser considerado na análise no próprio ano em que este benefício é
gerado (é o caso do Projeto Triciclo Comemorativo).

Situação 2: a empresa não consegue aproveitar o benefício fiscal no próprio ano (no caso de a
empresa não ter resultado operacional tributável no CNPJ em que o projeto se encontra, por
ser: (a) no conjunto das atividades do CNPJ, deficitária – considerando inclusive as despesas
financeiras líquidas, adições e exclusões do LALUR ou (b) um CNPJ dedicado exclusivamente ao
projeto). Nestes casos, o imposto operacional "positivo" deve ser retirado da análise no ano 0
e a empresa terá direito a um crédito fiscal que poderá ser aproveitado por abatimento de
impostos a serem pagos no futuro, de acordo com regras tributárias específicas. Por exemplo,
atualmente, pode-se abater, com créditos fiscais, até 30% do imposto de renda do período.
Sendo assim, suponha que tenhamos constituído o crédito fiscal de $ 4,8 mil, no ano 0, este
poderia ser parcialmente utilizado para abater o imposto de renda do ano 1 de $ 9,2 mil – seria
permitido abater 30% de $ 9,2 mil, ou seja, $ 2,76 mil, portanto, sendo efetivamente pago
$ 6,44 mil de imposto de renda no ano 1 e mantendo o saldo de $ 2,04 mil de crédito fiscal,
equivalente aos $ 4,8 mil originais menos $ 2,76 mil de aproveitamento por abatimento do
imposto de renda do ano 1 e assim sucessivamente até o seu aproveitamento integral.

Detalhes Importantes em Avaliação de Projetos

Além do detalhe do tratamento fiscal, vamos enfatizar outros dois detalhes importantes para
serem considerados na construção do fluxo de caixa:

Custos Incorridos e não Recuperáveis

Suponha que, na qualidade de analista de investimentos responsável pela avaliação do Projeto


Triciclo Comemorativo, você resolveu investigar as informações a respeito do projeto e
descobriu que "esqueceram" de te informar que já foram gastos, em estudos mercadológicos
preliminares (e antigos, ou seja, sem validade para o momento atual do mercado), o
equivalente a $ 5,0 mil em valores de hoje. Caso fossem inseridos na análise, o projeto tornar-
se-ia inviável (Tabela 5).

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Tabela 5 – Fluxo de Caixa para os Investidores do Projeto Triciclo Comemorativo, considerando
despesas adicionais de $ 5,0 mil no ano 0, em R$ mil. Elaborada pelo autor.

Fluxo de Caixa Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3


(+) Resultado Operacional (17,0)a 23,0 36,0 27,0
(-) Imposto Operacional 6,8 (9,2) (14,4) (10,8)
(+) Depreciação e Amortização 10,0 10,0 10,0
(-) CAPEX (100,0) 70,0
(-) Invest. em Capital Giro Líq. (5,1) (4,9) (3,0) 13,0
(=) Fluxo de Caixa p/ Invest. (115,3) 18,9 28,6 109,2

Valor Presente Líquido (1,0)


TIR 12,8%

Obs.: (a) considera os $ 12,0 mil originais acrescidos dos $ 5,0 mil "descobertos".

A discussão a ser feita é se estes valores ($ 5,0 mil), incorridos e irrecuperáveis (o estudo
anterior já foi jogado no lixo), devem entrar na análise. Verifique que, se incluídos na análise,
indicariam que, caso o projeto seja feito, o valor presente líquido (resultado) será negativo em
$ 1,0 mil. Por outro lado, caso o projeto não seja feito, o resultado será de $ 5,0 -$ 2,0 (relativo
ao benefício fiscal dos $ 5,0 mil das despesas nos estudos antigos), ou seja, um resultado
negativo de $ 3,0 mil. Logicamente, é melhor perder $ 1 mil do que perder $ 3 mil, ou seja, é
melhor fazer o projeto. No entanto, olhando para o VPL negativo, tomar-se-ia a decisão errada
(sendo negativo, a decisão seria não fazer).

Portanto, para efeito de análise de decisão de investimento, os custos incorridos e não


recuperáveis não devem compor a análise (são os chamados sunk costs). Neste caso, nem a
despesa de $ 5,0 mil incorrida nem o benefício fiscal derivado dela devem compor a análise.

Portanto, a análise permanece indicando para a realização do projeto (VPL de $ 2,0 mil
conforme Tabela 4 e Figura 9).

Custos Incorridos e Recuperáveis

Nas suas investigações, você também descobriu que, dentro do investimento em ativos fixos
(CAPEX) de $ 100,0 mil no ano 0 (referentes à construção das instalações, aquisição de terreno,
máquinas e equipamentos), $ 50,0 mil referem-se à compra do terreno. No entanto, o terreno
já é de propriedade da empresa, está ocioso e tem um valor de mercado (coincidentemente
igual ao valor contábil) de $ 50,0 mil.

Diferentemente do item anterior, dos custos incorridos e não recuperáveis, o terreno tem um
valor de recuperação (ou seja, é recuperável) e, portanto, deve ser considerado na análise pelo
valor de recuperação. Supondo (apenas para explorar este conceito) que o terreno tivesse sido
adquirido por $ 70,0 mil, considerando o valor de mercado atual de $ 50,0 mil, ele deveria
compor a análise pelo seu valor de recuperação ($ 50,0 mil), sendo os $ 20,0 mil adicionais
considerados como custos incorridos e não recuperáveis (e, portanto, não devendo compor a
análise).

Portanto, após estas novas descobertas, continuamos aprovando o projeto considerando seu
VPL de $ 2,0 mil (embasados pela análise da Tabela 4 e da Figura 9).
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Temas Adicionais

Nota-se que a avaliação de projetos requer a construção do resultado operacional do mesmo,


ponto de partida para a elaboração do fluxo de caixa dos investidores (operacional). Na
construção do resultado operacional (e na elaboração do fluxo de caixa), os itens a serem
considerados são os itens marginais. Por exemplo, a mão de obra adicional demandada pelo
Projeto Triciclo Comemorativo deve compor (como de fato está compondo) o custo/despesa
operacional do projeto, por se tratar de um custo/despesa marginal.

Neste sentido, um projeto de investimento em um equipamento que gerará economia de


custo/despesa operacional, deve considerar como "receita do projeto" a "economia de
custo/despesa proporcionada pelo mesmo". Na elaboração do resultado operacional do
projeto, dever-se-ia considerar, além da "receita", os custos e despesas adicionais que o
funcionamento do equipamento demandam, sua depreciação etc. No fluxo de caixa, quaisquer
necessidades advindas das mudanças nas contas de capital de giro líquido também deveriam
ser consideradas, entre outras.

Esta ideia é inerente a própria dinâmica da análise. Analisamos se o VPL do projeto é positivo
ou negativo, aceitando ou rejeitando o projeto. Não analisamos se o VPL da empresa com o
projeto é maior/menor do que o VPL da empresa sem o projeto. Caso o VPL da empresa com o
projeto seja maior do que o VPL da empresa sem o projeto, o VPL "marginal" (do projeto) será
positivo! E vice-versa! É o que de fato fazemos, olhar o VPL "marginal" ou do projeto.

Na Tabela 6, pode-se verificar: (i) na coluna Empresa, a DRE, o capital de giro líquido (CGL) e o
fluxo de caixa da empresa sem determinado projeto e (ii) na coluna Empresa + Projeto, a DRE,
o capital de giro líquido (CGL) e o fluxo de caixa da empresa com determinado projeto. A
(iii) coluna Projeto indica a DRE, o capital de giro líquido (CGL) e o fluxo de caixa do projeto,
com os efeitos marginais. Neste exemplo, o projeto é de implantação de um equipamento que
economiza certos custos, porém, acrescenta novos custos e uma necessidade adicional de
estoque.

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Tabela 6 – DRE, Capital de Giro Líquido (CGL) e Fluxo de Caixa da Empresa (sozinha), da
Empresa + Projeto (combinados) e do Projeto (sozinho), em R$ mil. Elaborada pelo autor.
a
DRE Empresa Empresa + Projeto Projeto
Vendas Líquidas 100,00 100,00 0,00
(-) Custos/Despesas "Economizados" (20,00) 0,00 20,00
(-) Custos/Despesas "Adicionais" (5,00) (5,00)
(-) Custos/Despesas "Remanescentes" (30,00) (30,00) 0,00
(-) Depreciação "Atual" (15,00) (15,00) 0,00
(-) Depreciação "Adicional" (7,00) (7,00)
Resultado Operacional 35,00 43,00 8,00

a
Capital de Giro Líquido (CGL) Empresa Empresa + Projeto Projeto
Estoque "Atual" Inicial 3,00 3,00 0,00
Demais Contas CGL "Atuais" Iniciais 6,10 6,10 0,00
(=) CGL Inicial 9,10 9,10 0,00

Estoque "Atual" Final 3,30 3,30 0,00


Demais Contas CGL "Atuais" Finais 6,70 6,70 0,00
Estoque "Adicional" Final 0,20 0,20
(=) CGL Final 10,00 10,20 0,20

Investimento em CGL (final - inicial) 0,90 1,10 0,20

Fluxo de Caixa Empresa Empresa + Projeto Projetoa


(+) Resultado Operacional 35,00 43,00 8,00
(-) Imposto Operacionalb (14,00) (17,20) (3,20)
(+) Depreciação e Amortização 15,00 22,00 7,00
(-) CAPEXc (7,00) (8,00) (1,00)
(-) Invest. em Capital Giro Líq. (0,90) (1,10) (0,20)
(=) Fluxo de Caixa p/ Invest. 28,10 38,70 10,60

Obs.: (a) a coluna Projeto equivale à diferença entre (i) a coluna Empresa + Projeto e (ii) a coluna
Empresa. (b) considera uma alíquota de imposto de 40,0%. (c) o CAPEX representa o CAPEX em um ano
"normal", suponha-se, CAPEX de manutenção. Não se está construindo o fluxo de caixa do ano 0 do
projeto, no qual dever-se-ia ver representado o investimento no equipamento sendo analisado para
implantação.

Por fim, no caso de a empresa analisar um novo produto que venha a "canibalizar" algum
produto existente, esta perda de receita por "morte" antecipada do produto antigo deve
compor o fluxo de caixa do projeto como custos e despesas.

Principais Diferenças entre Avaliação de Empresa e Avaliação de Projeto

O objetivo de avaliação de empresa é precificar a empresa em questão. Supõe-se, como regra,


que a empresa já existe e que será perene. Neste sentido, quer-se obter o preço do conjunto
de ativos existentes, composto de capital de giro líquido (CGL0) e ativos fixos (AF0). Portanto,
projeta-se o fluxo de caixa, a partir do ano 1 (inclusive) e considera-se, no último ano de
projeção, um valor residual (normalmente calculado por meio de uma perpetuidade), valor

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https://www.researchgate.net/publication/330089230_Fundamentos_de_Analise_de_Projetos_de_Investimento
residual este que é o preço atribuído ao conjunto de ativos existentes (CGLn e AFn), que
continuará operando. Veja mais detalhes em outras obras (Serra, R.G. (2018). Fundamentos de
Valuation, working paper; Serra, R.G.; & Wickert, M. (2014). Valuation: Guia Fundamental, São
Paulo: Atlas).

O objetivo de avaliação de projeto é verificar a sua viabilidade econômico-financeira. Supõe-


se, como regra, que o projeto não existe e que será finito (tem começo, meio e fim). Neste
sentido, quer-se identificar se vale a pena constituir o conjunto de ativos necessários para a
implementação do projeto, composto de capital de giro líquido (CGL0) e ativos fixos (AF0).
Portanto, projeta-se o fluxo de caixa, a partir do ano 0 (inclusive, que inclui o investimento em
CGL0 e em AF0) e considera-se, no último ano de projeção, que o conjunto de ativos existentes
será desinvestido (CGLn e AFn), pois o projeto encerrar-se-á.

Duas principais diferenças da avaliação de projeto em relação à avaliação de empresa são:


(1) existência de um fluxo de caixa no ano 0 (FC0), necessário para constituir a base de ativos
para o projeto (que, no caso de avaliação de empresa, por considerar que a empresa já existe,
a base de ativos já está constituída, não requerendo investimento inicial – FC0) e (2) a
atribuição do valor residual (no ano "n" ou posterior) para o conjunto de ativos existentes no
final da projeção (CGLn e AFn), que será desinvestido, considerando que (i) os ativos fixos
serão vendidos (por um valor razoável que pode ser considerado, a princípio, seu valor
contábil líquido) e (ii) o capital de giro líquido "volta" (que, no caso de avaliação de empresa,
por considerá-la perene, considera-se que este conjunto de ativos continuará operando e
gerando fluxo de caixa, precificados por meio, por exemplo, de uma perpetuidade).

A Figura 10 sintetiza as duas análises (Painel (a) para Avaliação de Empresa e Painel (b) para
Avaliação de Projeto).

Serra, R. G. (2019). Fundamentos de Análise de Projetos de Investimento. Disponível em 16


https://www.researchgate.net/publication/330089230_Fundamentos_de_Analise_de_Projetos_de_Investimento
Figura 10 – Fluxo de Caixa. Painel (a): Avaliação de Empresa e Painel (b): Avaliação de Projeto.
Elaborada pelo autor.
Painel (a): Avaliação de Empresa
Perpn
FC1 FC2 +
FCn
...

0 1 2 n

FCn+1
Ano 0 Ano n
CGL0 CGLn
...
AF0 AFn
n+1
[já existentes] [continuarão operando]

Painel (b): Avaliação de Projeto


Venda do AFn
+
FC1 FC2 Volta do CGLn
+
0 ... FCn

1 2 n
FC0

Ano 0 Ano n Ano n+1


CGL0 CGLn 0
AF0 AFn 0

[a serem constituídos] [serão desinvestidos]

Obs.: Painel (a): Avaliação de Empresa. Como os ativos (CGL 0 e AF0) já existem, não há necessidade de
investimento no ano 0 (FC0). No ano "n", a empresa continuará em atividade e, portanto, os ativos
(CGLn e AFn) continuarão operando e gerando fluxo de caixa perenemente, logo, seu valor é atribuído
por meio de, por exemplo, uma perpetuidade. Desta forma, considera-se no fluxo de caixa a Perpn. O
objetivo desta análise é precificar, por fluxo de caixa descontado, os ativos constituintes da empresa no
ano 0 (CGL0 e AF0). Para tanto, calcula-se o valor presente do fluxo de caixa. Painel (b). Avaliação de
Projeto. Como os ativos (CGL0 e AF0) não existem, é necessário considerar um investimento inicial (FC0)
para constituí-los. No ano "n", o projeto termina e, portanto, a empresa pode desinvestir os ativos
alocados ao projeto (CGLn e AFn), que provavelmente serão "zerados" no ano seguinte ("n+1"). Desta
forma, considera-se no fluxo de caixa a Venda do AFn e a Volta do CGLn (podem ser considerados no
ano seguinte, "n+1", caso esta premissa reflita melhor a realidade de um determinado projeto). O
objetivo desta análise é identificar, por fluxo de caixa descontado, se vale a pena (é econômico-
financeiramente viável) constituir os ativos necessários para desenvolver o projeto, no ano 0 (CGL 0 e
AF0). Para tanto, calcula-se o valor presente líquido do fluxo de caixa (valor presente líquido do
investimento inicial).

Serra, R. G. (2019). Fundamentos de Análise de Projetos de Investimento. Disponível em 17


https://www.researchgate.net/publication/330089230_Fundamentos_de_Analise_de_Projetos_de_Investimento
Referências

Serra, R.G. (2018). Fundamentos de Valuation (working paper), disponível em


https://www.researchgate.net/publication/328199050_Fundamentos_de_Valuation.

Serra, R.G.; & Wickert, M. (2014). Valuation: Guia Fundamental, São Paulo: Atlas.

Serra, R. G. (2019). Fundamentos de Análise de Projetos de Investimento. Disponível em 18


https://www.researchgate.net/publication/330089230_Fundamentos_de_Analise_de_Projetos_de_Investimento

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