Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
1
Governança, Compliance e Cidadania - Ed. 2019
22. O PAPEL DA CULTURA ORGANIZACIONAL NA IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE
COMPLIANCE NA ÁREA DE INFRAESTRUTURA DA ODEBRECHT ENGENHARIA E
CONSTRUÇÃO
1.Introdução
A Lei 12.846/13 é também conhecida como Lei Anticorrupção brasileira, está fundamentada na
Lei Americana sobre Práticas de Corrupção no Exterior dos Estados Unidos – Foreign Corrupt
Practices Act (FCPA) , publicada em 1977, prenunciadora na prevenção e repressão aos atos
corruptos.
A Lei Anticorrupção brasileira responsabiliza as pessoas jurídicas por atos lesivos cometidos
contra a Administração Pública, nacional ou estrangeira, independentemente de sua forma ou
modelo societário, que praticarem atos de corrupção (suborno, pagamento de propina, fraude em
processo licitatório público) contra agentes públicos, nacionais ou estrangeiros, mesmo que não
ocorra relação direta de seus representantes legais ou proprietários.
A fim de regulamentar a Lei 12.846/13, foi publicado, no ano de 2015, o Decreto 8.420/15 de
acordo com as recomendações feitas em 2014 pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE).
[...] programa de integridade consiste, no âmbito de uma pessoa jurídica, no conjunto de mecanismos
e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e na
aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar
desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública, nacional ou
estrangeira.
O programa de compliance pode ser definido como um conjunto de diretrizes que a organização
deve implantar e praticar para que suas atividades sejam exercidas em conformidade com a Lei
12.846/13.
Dessa forma, este texto discute quais aspectos da cultura organizacional podem facilitar a
implantação do sistema de conformidade na Odebrecht Engenharia e Construção, conforme o
Decreto 8.420/15.
Os aspectos da cultura serão analisados de acordo com os níveis apresentados por Schein
(2009): artefatos, crenças e valores expostos, e suposições básicas, tendo-se como pano de fundo
para análise a Teoria Institucional, em sua vertente denominada Nova Sociologia Institucional
(NSI).
2.Referencial teórico
Apresenta-se, a seguir, uma breve discussão sobre os temas que subsidiam a análise da
implantação do sistema de compliance na OEC: considerações sobre a teoria institucional, sobre
cultura organizacional, sobre governança corporativa e sobre os programas de compliance.
Pilar
Classificado por
Base de
Utilidade Obrigação social concessão Percepção
conformidade
compartilhada
Crenças comuns
Regras Leis Certificação
Indicadores Lógicas de ação
Sanções Confiabilidade
compartilhadas
Compreensível
Base de Sancionada Governada
Reconhecível
legitimidade legalmente moralmente
Culturalmente apoiada
2.2.Cultura Organizacional
Não existe uma definição padrão para o conceito de cultura organizacional, mas sim diversas
definições, de diferentes autores e de diferentes áreas de conhecimento. Neste estudo adota-se a
definição dada por Schein 9 , na qual cultura se constitui como “[...] o clima e as práticas que as
organizações desenvolvem ao lidar com pessoas, ou os valores expostos e o credo de uma
organização”. O autor propõe que os elementos da cultura organizacional sejam analisados em
três níveis: (i) artefatos; (ii) crenças e valores expostos; e (iii) suposições básicas.
O segundo nível de análise da cultura organizacional está na identificação das crenças e dos
valores e são as razões pelas quais os indivíduos agem. Na organização, as crenças e valores ditam
o que é considerado como certo ou errado. 11
Frequentemente a cultura organizacional é descrita como sendo forte, todavia, essa força vem
do senso de compartilhamento, da estabilidade estrutural dos seus pressupostos, garantindo um
senso de identidade aos que estão imersos naquela cultura; vem da profundidade com que seus
pressupostos estão enraizados nos aspectos inconscientes das pessoas; vem da integração de todos
os seus aspectos em um paradigma maior. 15 Esse enraizamento mostra a dificuldade de se mudar
uma cultura em curtos espaços de tempo. 16 Ou seja, assim como é difícil instalar novas crenças e
valores, também é difícil abandonar aquilo que está arraigado dentro de uma unidade social.
2.3.Governança Corporativa
O COSO define o controle interno como um processo conduzido pela estrutura de governança,
administração e outros profissionais da entidade, sendo desenvolvido para proporcionar
segurança razoável com respeito à realização dos objetivos relacionados a operações, divulgação e
conformidade. Os componentes da ERM apresentam semelhança à estruturação de um programa
de compliance , pois estabelecem cinco grupos de atuação: (i) o ambiente de controle; (ii) a
avaliação de riscos; (iii) as atividades de controle; (iv) a informação e a comunicação; e (v) o
monitoramento.
Os programas de compliance atuam como se fossem um braço dos órgãos reguladores junto à
organização, buscando preservar a boa imagem, a reputação e o respeito às normas e controles, na
busca da conformidade. Apresentam-se como um instrumento de gestão e aconselhamento que faz
parte da estrutura organizacional, podendo ter obrigações estatutárias, como o combate à lavagem
de dinheiro e à gestão do risco operacional. 25
[...] é algo organizado, composto de diversos componentes, que interage com outros componentes de
outros processos e outros temas, algo que depende de uma estrutura mais complexa que inclui pessoas,
processos, sistemas eletrônicos, documentos, ações e ideias.
Deve-se entender que, nos programas de compliance , a conformidade não está atrelada apenas
à legislação, mas também à forma ética com que a organização interage com todos envolvidos de
sua cadeia produtiva (integrantes, fornecedores, clientes etc.).
Além disso, conforme ressalta Blok 27 , existem diferentes modelos de conformidade, sendo eles
estruturados para assegurar vários aspectos, como normas trabalhistas, regulação tributária,
regulação ambiental, direitos do consumidor, entre outros.
Segundo a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) e a Associação Brasileira dos Bancos
Internacionais (ABBI), citadas por Blok 30 ,
[...] faz-se mister o comprometimento da alta administração, sendo parte integrante e fundamental da
cultura organizacional, contando com o comprometimento de todos os funcionários, uma vez que todos
são responsáveis pelo fiel cumprimento do compliance .
O centro da figura é composto pelo elemento conformidade (operação), descrito por Blok 31
como a área operacional da organização que tem como uma de suas atividades o gerenciamento
dos riscos por meio da implantação, avaliação e monitoramento dos controles internos por meio
do programa de compliance .
3.Procedimentos metodológicos
Yin 34 evidencia seis fontes para coleta de dados em um estudo de caso: documentos, registros
em arquivo, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos.
Considerando os objetivos deste estudo, foram utilizadas duas fontes baseadas no modelo de Yin 35
, sendo elas: registros em arquivos relacionados à cultura e às ações de conformidade, e
documentos de domínio público, com recorte temporal do ano de 2017, ano subsequente à
assinatura do acordo de leniência da empresa com o Ministério Público Federal.
O recorte temporal do ano de 2017 foi utilizado como base para analisar o papel da cultura
organizacional na implantação do sistema de conformidade: i) após assinatura do acordo de
leniência da organização com o Ministério Público Federal (MPF); ii) reformulação no sistema de
conformidade da organização a fim de atender as exigências do mercado.
Os dados foram analisados utilizando-se a análise de conteúdo, descrita por Bardin 36 como um
conjunto de recursos metodológicos que facilita a análise de dados reunidos na área das ciências
sociais e humanas. A análise de conteúdo pode ser classificada em dois grupos: método e técnicas.
O primeiro grupo subdivide-se em três componentes: codificação, categorização e inferência; o
segundo é composto pela análise categorial, análise de avaliação, análise da enunciação, análise
proposicional do discurso, análise da expressão e a análise das relações.
Apresenta-se no Quadro 3 o esquema de análise adotado neste estudo. Ele compreende três
vertentes: Teoria Institucional, cultura organizacional e compliance . Pode-se observar que os
pilares da Teoria Institucional servirão de base para a análise dos níveis da cultura organizacional
e do tripé das ações de compliance.
Os aspectos normativos da Teoria Institucional servirão de base para a análise dos artefatos da
cultura organizacional e das normas de conformidade, no nível de compliance, por estarem
relacionados ao comportamento considerado adequado moralmente pela sociedade.
Destaca-se que os níveis de análise da cultura organizacional são aqueles apresentados por
Schein 37 ; a análise do programa de compliance se baseia na estrutura apresentada por Blok 38 ,
denominada tripé do compliance (vide Figura 1), acrescida da Lei Anticorrupção brasileira,
12.846/13, e do Decreto 8.420/15.
Teoria Institucional
Pilares da Teoria
Regulador Normativo Cognitivo-Cultural
Institucional
Crenças comuns;
Regras; leis e Certificação;
Indicadores lógicas de ação
sanções confiabilidade
compartilhadas
Compreensível;
Sancionada Governada
Base de legitimidade reconhecível;
legalmente moralmente
Culturalmente apoiada
Cultura Organizacional
Crenças e valores
Níveis da cultura Não se aplica Artefatos expostos; Suposições
básicas
Compliance
Lei
Anticorrupção Estado de adesão;
Tripé 12.846/13; Conformidade
Gestão ética dos negócios
Decreto 8.420/15
Fonte: elaborado pelas autoras.
A Odebrecht foi escolhida para este estudo tendo em vista sua importância no cenário nacional
e internacional, pela existência de uma cultura organizacional regulamentada formalmente em
livros sob o título Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO), escritos por Norberto Odebrecht,
fundador da empresa. Os preceitos da TEO são amplamente divulgados a todos os colaboradores e
apresentam os valores, crenças e suposições básicas que norteiam o sistema de gestão da
Odebrecht.
Foi fundada em 1944, em Salvador, pelo engenheiro Norberto Odebrecht, com o propósito de
desenvolvimento de projetos de engenharia e construção no estado da Bahia. No ano de 1954,
tornou-se uma sociedade anônima e passou a denominar-se Construtora Norberto Odebrecht S.A.
(CNO). Em 1961, iniciou sua ampliação geográfica pelo Nordeste com a abertura de uma filial em
Recife. A partir de 1969, expandiu-se também para o Sudeste. Iniciou a sua internacionalização em
1979, assinando os primeiros contratos fora do Brasil, e no mesmo ano principiou a diversificação
de seus negócios com a criação da Odebrecht Perfurações Ltda. Expandiu sua atuação no ramo de
engenharia e construção devido à incorporação da Companhia Brasileira de Projetos e Obras
(CBPO) em 1980.
A holding Odebrecht S.A. foi criada em 1981 para o direcionamento dos negócios e preservação
de sua cultura e princípios. Em 1991, seu fundador, Norberto Odebrecht, passou a integrar a
presidência do conselho de administração, transferindo a presidência da organização para o seu
filho Emílio Odebrecht. Em 1998, Norberto transferiu a presidência do conselho para seu filho
Emílio, passando a cuidar da Fundação Odebrecht. No ano de 2009, Marcelo Odebrecht, filho de
Emílio, assumiu a presidência da organização.
A diversificação dos negócios da empresa se deu a partir dos anos 2000, com a criação da
Braskem em 2002, da Odebrecht Óleo e Gás em 2006; em 2007 foram criadas as empresas
Odebrecht Agroindustrial e Odebrecht realizações Imobiliárias; em 2010, a Odebrecht Transport;
em 2011, a Odebrecht Defesa e Tecnologia e, em 2012, a Odebrecht Properties .
A cultura organizacional da Odebrecht foi nomeada pelo seu fundador como Tecnologia
Empresarial Odebrecht (TEO), considerada uma metodologia que aponta as premissas básicas para
a organização. Foi assim denominada, em 1968, quando Norberto Odebrecht percebeu que suas
crenças e valores, aprendidos com seus pais ainda na infância (família de origem alemã),
orientavam essa disciplina intelectual.
A cultura da Odebrecht foi originada a partir dos princípios da igreja luterana, baseados no
servir aos semelhantes, na humildade, na disciplina e no trabalho, aprendidos por Norberto por
intermédio de seus pais e pelo pastor da igreja luterana que a família Odebrecht fazia parte. 40
De acordo com Odebrecht, 41
[...] a Tecnologia Empresarial consiste, antes de tudo, na arte de que se serve o empresário para
coordenar e integrar seus liderados, alçando e superando resultados previamente estabelecidos, com
determinados padrões de qualidade , em prazos e a custos também determinados.
A afirmação de Dias 42 , na qual a cultura de uma organização não nasce com ela, mas vai se
formando e consolidando até estabelecer uma identidade única reconhecida por seus integrantes e
pela sociedade, é coerente com a ideia da formação da cultura da Odebrecht que se consolidou
vinte e quatro anos após o início da organização.
A fim de não perder a disseminação de sua cultura devido à sua expansão geográfica, em 1984,
a Odebrecht criou em seu edifício sede, em Salvador, o Núcleo da Cultura Odebrecht (NCO), onde é
possível conhecer a cultura e a história da organização por meio de fotografias, vídeos,
documentos, mensagens, medalhas, troféus e outros elementos. O acervo também pode ser
acessado por meio da versão online disponível no site da organização.
Beyer e Trice 43 , citados por Fleury e Fischer 44 , afirmam que para criar e manter uma cultura,
suas percepções, normas e seus valores devem ser afirmados e comunicados aos integrantes da
organização de forma concreta. Tais normas e valores são descritos na TEO como os princípios
fundamentais, conceitos essenciais e critérios que norteiam de modo ético a condução dos
negócios da Organização Odebrecht.
O Quadro 4 apresenta a análise dos níveis da cultura da Odebrecht. Conjuntamente será feita a
análise da cultura organizacional de do compliance com base nos pilares da teoria institucional.
· Liderança
· Espirito de servir
· Espírito empresarial
Os artefatos são descritos por Schein 48 como algo visível através do grupo, relacionado a
características como linguagem, estilo e comunicação dos integrantes da organização. Neste estudo
encontrou-se três elementos: descentralização, delegação planejada e liderança.
4.3.1.A descentralização
[...] a vitalidade presente e futura da Organização Odebrecht reside na Pequena Empresa , enxuta , ágil ,
flexível , adaptada às necessidades do Cliente e ligada por laços federativos à Grande Empresa. 51
Desta forma, destaca-se a importância da comunicação em toda a organização para que todos
os integrantes possam praticar as mesmas ações, principalmente nesse período de implantação do
sistema de conformidade.
O item 4 da Política da Odebrecht S.A. sobre Conformidade com Atuação Ética, Íntegra e
Transparente é denominado comunicação e capacitação, pelo qual se observa o compromisso que
os integrantes possuem na disseminação da atuação ética, íntegra e transparente, em especial a
liderança na capacitação e acompanhamento de sua equipe. Ressalta, ainda, que os integrantes
devem conhecer e atuar de acordo com a política de conformidade da organização, além de
participarem das atividades de capacitação sobre conformidade que sejam realizadas em seu
ambiente de trabalho.
4.3.2.Delegação planejada
Segundo a Tecnologia Organizacional Odebrecht, a delegação planejada tem como base a
confiança no ser humano, processo pelo qual o líder delega aos seus liderados as tarefas a serem
executadas, porém de forma planejada com acompanhamento e avaliação constante, objetivando
o desenvolvimento da equipe como profissional e ser humano.
4.3.3.A liderança
A liderança possui um importante papel na organização, pois, por meio dela, é possível
influenciar e engajar as pessoas no desenvolvimento de suas atividades, conforme evidencia
Vergara, 52 a liderança demanda humildade para aprender a lidar com pessoas, a fim de mobilizá-
las a alcançarem as metas da organização.
É tarefa indelegável do líder devotar tempo, presença, experiência e exemplo ao liderado, para que
este seja apoiado e tenha seu desempenho acompanhado, avaliado e julgado na prática da tecnologia
empresarial Odebrecht. 54
O item 1.5 da Política da Odebrecht S.A. sobre Conformidade com Atuação Ética, Íntegra e
Transparente, denominado líderes na organização, orienta os líderes sobre a responsabilidade que
possuem de atuar de forma ética, íntegra e transparente, sendo exemplo para seus liderados.
Nesse item elencam-se as seguintes condutas que os líderes devem adotar: influenciar seus
liderados pelo exemplo; implementar e garantir a prática do sistema de conformidade em seu
ambiente de atuação; e assegurar que seus liderados estejam participando das atividades de
capacitação sobre conformidade realizadas em seu ambiente de trabalho.
Por meio da análise da cultura da Odebrecht no nível dos artefatos, identificou-se os seguintes
processos organizacionais relacionados às ações de compliance que estão sendo implantadas,
conforme descritos anteriormente: a comunicação em todos os níveis organizacionais, de acordo
com seu modelo de descentralização; a delegação planejada das atividades dos liderados e dos
compromissos com a conduta ética, íntegra e transparente; e a liderança como papel fundamental
na implementação, execução e acompanhamento das práticas do sistema de conformidade.
Na TEO é sinalizado que o ato mais nobre de um ser humano é o servir ao seu semelhante, ou
seja, trabalhar em favor de algo ou alguém. Também é destacado, na TEO, que o espírito de servir
é essencial na organização, devendo ser exercitado em benefício do cliente.
[...] o espírito de servir traduz-se no compromisso de gerar riquezas cada vez melhores e maiores para
os Clientes, para as Comunidades e, em particular, para os Usuários finais dos serviços e bens produzidos
pela Organização Odebrecht, bem como para os Acionistas e para seus Integrantes. 55
Na visão exposta na TEO, acredita-se ser improvável que alguém exerça o espírito de servir sem
possuir humildade e simplicidade, uma vez que os três princípios prosseguem juntos.
[...] devem permanecer a humildade e a simplicidade dos Integrantes da Organização, vez que essas
virtudes são indissociáveis dos que têm o dever e o prazer de servir. [...] é preciso combater quaisquer
manifestações de “arrogância” e de “prepotência”, tão comuns aos que se deixam aprisionar na
“armadilha do sucesso”. 56
De acordo com a TEO, o espírito empresarial é constituído pelo espírito de servir, pela
humildade e a simplicidade, acrescidos da busca pela geração de resultados.
O Ser Humano dotado do espírito empresarial , além de disposto a dar de si, em prol de seu
Semelhante, deve estar comprometido com a permanente criação de melhores e maiores riquezas, em
prazos e a custos adequados, para poder continuar a servir, sempre e melhor. 57
Por meio da análise da cultura da Odebrecht no nível das crenças e valores expostos,
identificou-se as seguintes crenças e valores percebidos na Tecnologia Empresarial Odebrecht
(TEO) que dão suporte à implantação do sistema de conformidade da organização, conforme
descritos anteriormente: o espírito de servir; a humildade e a simplicidade; e o espírito
empresarial, que devem estar instituídos na liderança e disseminados por ela junto ao sistema de
conformidade, na organização.
Com essa frase, na TEO deseja-se expressar que, independente das mudanças organizacionais
ocorridas e que virão a acontecer, as crenças e valores da organização permanecem inalteradas,
sendo a base que nunca muda.
Outra suposição básica encontrada foi “a busca pelo que é o certo para a organização”, expressa
na TEO que todos devam estar dispostos a “ influenciar e a ser influenciado , na busca de o que é o
certo para todos”. 59 A organização deve trabalhar de acordo com o que é o certo – as crenças e
valores expostos na TEO e nas políticas internas, que incluem o sistema de conformidade da
organização.
Por meio da análise da cultura da Odebrecht no nível das suposições básicas, identificou-se as
seguintes suposições relacionadas ao sistema de conformidade, de acordo com o Decreto 8.420/15,
conforme descritos anteriormente: no mundo moral, como no mundo físico, tudo muda sobre uma
base que não muda nunca, tal frase associa-se aos incisos II e III do art. 42 do Decreto 8.420/15, que
estabelecem como parâmetros para um programa de conformidade eficaz padrões de conduta,
código de ética, políticas e procedimentos de integridade aplicáveis a todos os integrantes,
fornecedores, clientes e demais agentes da organização, sendo esses padrões inalterados
independentemente das mudanças que venham a ocorrer na organização. Além da frase:
influenciar e ser influenciado, na busca de o que é o certo para todos, que afirma a importância de
todos os integrantes na implantação do Programa de Integridade, descrito no capítulo IV do
Decreto 8.420/15.
Por meio da Figura 2 é possível fazer a associação entre o sistema de conformidade da OEC e o
Programa de Integridade descrito no capítulo IV do Decreto 8.420/15, sendo o sistema da
organização composto por dez elementos: (i) governança e conformidade; (ii) políticas e demais
orientações; (iii) avaliação de riscos e controles; (iv) comunicação e capacitação; (v) conformidade
de terceiros; (vi) engajamento em ações coletivas; (vii) gestão do canal de linha de ética; (viii)
monitoramento de riscos e controles; (ix) remediar riscos e fortalecer controles; e (v) medidas
disciplinares.
As definições contidas nesta Política são desdobramentos dos Princípios e dos Conceitos da TEO.
Foram concebidas com o propósito de orientar o comportamento e as relações internas e externas dos
Integrantes da Organização, independentemente das suas atribuições e responsabilidades, em conjunto e
de forma integrada com as demais Políticas da Organização. 60
5.Considerações finais
Por meio deste estudo, observa-se a cultura organizacional como um elemento facilitador na
implantação do programa de compliance , pois quaisquer alterações nos procedimentos da
empresa causam reflexo direto nas atividades dos integrantes, necessitando da criação de
mecanismos internos que favoreçam a disposição dos integrantes da organização a adotarem as
novas práticas. Afinal, as organizações são compostas por seres humanos, que garantem a
implantação e operacionalização dos sistemas, podendo a cultura já implantada ser utilizada para
minimizar a resistência e motivar a cooperação dos integrantes.
Por meio deste estudo, é possível afirmar que a cultura organizacional da OEC esteja passando
pela fase de declínio, devido a reestruturação que a organização está vivenciando, só não se sabe
se ela sobreviverá. Assim, questiona-se se os artefatos culturais encontrados nesse estudo
(liderança, descentralização e a delegação planejada) permanecem inalterados e se conseguirão
permanecer como base para o sistema de conformidade, dado que o esquema de corrupção,
denominado internamente na organização como área de projetos estruturados, estava restrito às
lideranças que ocupavam cargos de alto nível hierárquico na organização. Afinal, a
descentralização da delegação foi sido citada em alguns acordos de delação premiada como
“responsável” por alguns atos de corrupção cometidos na pequena empresa, pois as decisões
estavam sob gestão da equipe destinada a esse projeto, ou seja, delegada e descentralizada.
Ressalta-se que a Odebrecht está sob nova liderança após a prisão de seu presidente, Marcelo
Odebrecht, ocorrida em junho de 2015. Portanto, sugere-se que novas pesquisas acadêmicas sejam
efetuadas com a inclusão de uma etapa de pesquisa com a aplicação de questionário com os
integrantes a fim de identificar o clima organizacional e captar a percepção dos mesmos a respeito
da reestruturação e das adequações da empresa após a implantação do sistema de conformidade e
dos escândalos de corrupção derivados da Operação Lava Jato. Além de verificar a etapa de vida
que a cultura está inserida, se sobreviverá após a estruturação e quais os impactos decorrentes
desse processo.
6.Referências
ASSI, M. Controles internos e cultura organizacional : como consolidar a confiança na gestão dos
negócios. 2. ed. São Paulo: Saint Paul Editora, 2014.
BEYER, J.; TRICE, H. How an organization´s rites reveal it´s culture. Organizational Dynamics,
1986.
DIAS, R. Cultura organizacional : construção, consolidação e mudanças . São Paulo: Atlas, 2013.
DIPP, G.; CASTILHO, M. L. V. Comentários sobre a Lei Anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2016.
FERRARI, M. A. Relações públicas contemporâneas: a cultura e os valores organizacionais como
fundamentos para a estratégia da comunicação. In: KUNSCH, M. M. K. (Org.). Relações públicas :
histórias, teorias e estratégias nas organizações contemporâneas . São Paulo: Saraiva, 2009.
FLEURY, M. T. L.; FISCHER, R. M. (Coord.). Cultura e o poder nas organizações . 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2012.
FREITAS, M. E. de. Cultura organizacional : evolução e crítica. São Paulo: Cengage Learning,
2009.
FREZATTI, F.; ROCHA, W.; NASCIMENTO, A. R. do; JUNQUEIRA, E. Controle Gerencial : uma
abordagem da contabilidade gerencial no contexto econômico, comportamental e sociológico. São
Paulo: Atlas, 2009.
KPMG. Seção 404 da Lei Sarbanes – Oxley: certificação dos controles internos pela
administração. Disponível em:
[www.kpmg.com.br/publicacoes/advisory/ras/r_c/SOX_404_perguntas_frequentes(2).pdf]. Acesso
em: 30.11.2016.
MANZI, V. A. Compliance no Brasil : consolidação e perspectivas. São Paulo: Saint Paul Editora,
2008.
ODEBRECHT, N. Sobreviver, crescer e perpetuar : tecnologia empresarial Odebrecht. 11. ed. rev.
Salvador: Odebrecht, 2011. v. 1.
SCHEIN, E. H. Guia de sobrevivência da cultura corporativa . Rio de Janeiro: José Olympio, 2001.
SCOTT, R. W. Institutions and organizations . 2. ed. Thousand Oaks: Sage Publications, 2001.
SEC. A resource guide to the U.S. foreign corrupt practices act . Disponível em:
[www.sec.gov/spotlight/fcpa/fcpa-resource-guide.pdf]. Acesso em: 01.12.2016.
SILVEIRA, A. M. da. Governança: Reflexão necessária. Revista Capital aberto [online], São Paulo,
ano 10, n. 118, p. 56-57, jun. 2013. Disponível em: [capitalaberto.com.br/digital/?pageflip_id=118].
Acesso em: 03.03.2018.
NOTAS DE RODAPÉ
1
SCOTT , 2001.
SCHEIN , 2009.
10
SCHEIN , 2009.
11
FERRARI, 2009.
12
SCHEIN, 2009.
13
FREITAS, 1999.
14
ASSI, 2014.
15
SCHEIN, 2009.
16
CESAR, 2016.
17
SILVEIRA, 2010
18
19
SILVEIRA, 2013.
20
21
MELO; VASCONCELOS, 2017. p. 20.
22
Comitê formado em 1985, por cinco associações profissionais privadas com sede nos Estados Unidos: a
American Accounting Association (AAA), o Instituto Americano de Contabilistas Públicos (AICPA), Financial
Executives International (FEI), o Instituto de Auditores Internos (IIA) e o Instituto de Contabilistas
Gerenciais (IMA), com o objetivo de fornecer liderança de pensamento por meio do desenvolvimento de
quadros e orientações sobre gerenciamento de riscos corporativos, controle interno e dissuasão da fraude.
23
Lei Sarbanes – Oxley (SOX) sancionada pelo Congresso dos Estados Unidos, em 2002, a fim de normatizar a
implantação de sistemas internos eficazes e melhoria nos processos de forma regulamentada nas
companhias com ações cotadas na Bolsa de Valores dos EUA, americanas ou não.
24
25
MANZI, 2008.
26
27
28
BLOK, 2017.
29
BLOK, 2017.
30
BLOK, 2017. p. 4.
31
BLOK, 2017.
32
GIL, 2009.
33
YIN, 2006.
34
Idem.
35
YIN, 2006.
36
BARDIN, 2010.
37
SCHEIN, 2009.
38
BLOK, 2017.
39
40
41
42
DIAS, 2013.
43
44
45
46
47
SCHEIN, 2009.
48
SCHEIN, 2009.
49
50
51
52
VERGARA, 2016.
53
54
56
57
58
59
60
ODEBRECHT, 2018. p. 7.
61
ODEBRECHT, 2018.
62
BLOK, 2017.
63
64
SCHEIN, 2001.
65