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2019 - 02 - 07 PÁGINA RB-4.

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CPC em Foco - 2019
4. DEVERES DAS PARTES, DE SEUS PROCURADORES E DOS TERCEIROS

4. Deveres das partes, de seus procuradores e dos terceiros


Evaristo Aragão Santos1

1. Visão geral

A boa-fé (art. 5º) e a cooperação (art. 6º) são diretrizes fundamentais do NCPC. Imantam todo o
Código, norteando, na prática, a postura de todos aqueles que atuam no processo. Decorre daí o
dever de lealdade processual, tanto das partes entre si quanto do Estado-juiz.

Na verdade, tal dever espera-se não apenas das partes entre si ou delas com relação ao órgão
judicial. O NCPC (art. 77) deixa bem claro que os deveres de probidade e lealdade processuais
(desdobramentos da fórmula geral da boa-fé) se estendem a “todos aqueles que de qualquer forma
participem do processo”. Portanto, juiz, Ministério Público, conciliadores, mediadores, terceiros,
auxiliares da justiça, peritos etc.

Embora o NCPC registre avanços significativos quanto à disciplina da boa-fé no âmbito


processual, pode-se dizer que sua orientação nesse quesito ainda assim foi tímida e conservadora.
Havia espaço, a nosso sentir, para que se avançasse mais tanto no trato do ato atentatório à
dignidade da justiça (regular de maneira mais objetiva e contundente o próprio abuso do direito
de demandar, por exemplo) quanto no da litigância de má-fé (essa, praticamente, a reedição do
Código anterior, no que se refere às suas hipóteses de ocorrência).

Seja como for, o art. 77 enumera deveres de postura prescritos àqueles que atuam dentro do
processo. Faz isso de maneira exemplificativa, deixando clara, já no início do dispositivo, a
existência de outros deveres ao longo do Código. Em linhas gerais, são os seguintes ali fixados: a)
apresentar os fatos de maneira fidedigna; b) não formular manifestação destituída de fundamento;
c) não provocar a prática de atos processuais inúteis para atrapalhar a marcha processual; d)
cumprir com exatidão as decisões, não criando embaraços para atrapalhar sua efetivação; e)
declinar e manter atualizado o endereço para intimações; f) não praticar atentado (alteração
consciente do estado de fato ou de direito litigioso).

No rol desse dispositivo, a inobservância de duas dessas condutas (e não das demais) é
considerada ato atentatório à dignidade da justiça: o descumprimento das decisões judiciais e o
atentado. Aliás, vale registrar que a conduta para ser tida como atentatória (e daí sancionável
como tal) exige expressa previsão legal.2 Além disso, outra peculiaridade é que, ao praticá-la, o
sujeito atenta contra a própria jurisdição (numa versão próxima do que no direito anglo-saxão se
designa como contempt of court), sendo por isso sancionado com multa e tendo o próprio Estado (o
efetivo ofendido), em regra,3 como beneficiário dessa verba.

A situação é um pouco diferente na litigância de má-fé. Embora também se trate de conduta


típica (exigindo, portanto, previsão legal para ser caracterizada como tal), o ofendido, ali, é a parte
contrária, motivo pelo qual será então a beneficiária do produto da sanção, sem prejuízo do
ressarcimento dos prejuízos gerados pela postura ímproba.

Essa distinção é importante para compreender a disciplina e os desdobramentos do ato


atentatório e da litigância de má-fé com os contornos delineados pelo NCPC. Mais detalhes serão
analisados adiante.
Por ora e no geral, deve-se ter presente que o NCPC torna mais clara e precisa a redação a
legislação anterior, traz interessantes incrementos no que se refere à postura das partes dentro do
processo (por exemplo, vedação ao atentado), assim como nas sanções cabíveis tanto ao ato
atentatório quanto à litigância de má-fé.

1.1. Duas condutas a merecer alguma atenção: declinar e manter atualizado o endereço
para intimações e a proibição do atentado

Deve-se ter atenção, especialmente agora, na fase inicial de operação com o novo Código, para
com a exigência de que as partes e seus procuradores declinem nos autos, na primeira
oportunidade que lhes couber falar, o endereço no qual receberão intimações. Mais, porém, do
que simplesmente apresentar o endereço, essa informação deverá ser mantida atualizada. Isso
significa, em outras palavras, que a parte tem o ônus de comunicar ao juízo qualquer modificação
temporária ou definitiva relacionada com o local no qual poderá ser encontrada para receber
intimações (art. 77, inc. V).

O descuido, aí, pode custar caro. Privilegiando a celeridade e contando com o zelo e probidade
das partes, serão presumidas válidas as intimações dirigidas ao endereço constante dos autos, caso
lá sejam recebidas por terceiro (art. 274, parágrafo único). Essa mesma presunção é repetida na
execução forçada (art. 841, § 4º).

A segunda conduta refere-se à abstenção da prática do atentado. Em linhas muito gerais,


praticar atentado no processo significa adulterar (ou alterar ilicitamente) o estado de fato de bem
ou de direito envolvido no processo. Exemplos clássicos são a alteração de local ou elemento a ser
periciado ou, mesmo, do próprio bem material objeto da demanda. No CPC/1973, tal situação
ensejava a propositura da ação (cautelar) de atentado (art. 879 do CPC/1973). Agora a abstenção
dessa conduta é tratada como dever de qualquer participante do processo (não alterar ilicitamente
elementos do processo), cuja inobservância caracterizará ato atentatório à dignidade da justiça.
Sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais, o órgão judicial ainda determinará o
restabelecimento ao estado anterior, podendo proibir a parte implicada de falar nos autos até a
purgação do atentado (art. 77, § 7º).

2. Sobre o ato atentatório à dignidade da justiça

Atentar contra a dignidade da justiça é, na substância, atentar contra o próprio exercício da


jurisdição. As condutas para serem caracterizadas como tais, repita-se uma vez mais, exigem
previsão legal. No caso do art. 77, como dito anteriormente, a novidade fica por conta de duas,
classificadas pelo legislador como atentatórias (incs. IV e VI), embora o NCPC contemple também
várias outras.

Em termos de novidade do regime anterior, prevê-se, agora, a possibilidade de o órgão judicial


advertir a parte de que aquela determinada postura (ou comportamento) poderá caracterizar ato
atentatório e ser punida como tal. Essa advertência, porém, não é obrigatória. O ato pode ser
declarado como atentatório e sanções aplicadas de imediato, assim que o órgão judicial constate a
falta.4

A sanção comum é a multa. Outras podem ser aplicadas dependendo da conformação do caso
concreto (de natureza criminal, civil ou processual). A multa, porém, sempre terá lugar. Seu
montante, como regra, será equivalente a até 20% do valor atualizado da causa. Algo, diga-se de
passagem, idêntico ao regime anterior.

A novidade fica por conta das causas com valor irrisório ou inestimável. Para essas o critério de
fixação será o salário mínimo: o montante da penalidade poderá ser de até dez vezes o valor de
referência em vigor.

Caso não paga no prazo fixado pelo órgão judicial, a multa será exigível após o “trânsito em
julgado” da decisão que a fixou. Aqui um avanço: o CPC/1973 estipulava como marco para
exigibilidade da multa o trânsito em julgado da decisão final da causa (art. 14, parágrafo único).
Agora, como visto, continua sendo exigível após o trânsito em julgado, mas “da decisão que a
fixou” (art. 77, § 3º). Embora o texto não conte com a precisão desejável (ao mencionar o trânsito
em julgado, evoca a ideia de sentença e, portanto, solução final da causa), emerge da regra a
orientação de que a exigibilidade ocorrerá a partir da irrecorribilidade (ou imutabilidade) do
pronunciamento judicial (inclusive interlocutório) que a fixou.

O inadimplemento ensejará a inscrição em dívida ativa e o procedimento para cobrança será o


da execução fiscal (§ 3º do art. 77), pois o beneficiário do valor é o próprio Estado. A verba
auferida com a cobrança será destinada a algum fundo de modernização do Poder Judiciário (art.
77, § 3º c/c o art. 97).

O NCPC é ainda expresso ao tratar da possibilidade de cumulação dessa multa com outras. A
penalidade pelo ato atentatório poderá ser fixada independentemente da incidência daquela
cabível no cumprimento de sentença (art. 523, § 1º) ou de medida coercitiva pecuniária destinada
a forçar a satisfação de obrigações específicas (art. 536, § 1º). Embora louvável a intenção de
tornar mais clara essa situação, o dispositivo é redundante, pois o beneficiário dessas multas é a
parte (e não o Estado).

Por fim, inovação importante aparece timidamente redigida no último parágrafo do dispositivo
(§ 8º do art. 77). Torna expressa a impossibilidade de se compelir o representante judicial da parte
a cumprir a decisão. Embora num primeiro olhar possa parecer óbvia tal inviabilidade, não são
incomuns situações nas quais o representante legal de pessoa jurídica (diretores; dirigentes de
empresas públicas ou, mesmo, membro do Poder Executivo) é pessoalmente sancionado com
multa, mas objetivando obrigar a pessoa jurídica que representam a cumprir determinação
judicial. Portanto, referido dispositivo deixa claro ser a parte, e não seu representante, o eventual
destinatário de multa e outras medidas coercitivas. Evidentemente que tal distinção não afasta as
responsabilidades civil e criminal do representante. Não se trata de imunidade. O representante
responde pela ilicitude de condutas praticadas no exercício do mandato, ainda mais se destinadas
a atentar contra a Jurisdição. A regra apenas deixa claro caber à própria parte (e não ao seu
representante) o cumprimento de decisão judicial, motivo pelo qual é ela também a destinatária
natural das medidas coercitivas para fazê-lo.

3. Litigância de má-fé: o valor da multa e a fixação de indenização

As hipóteses de litigância de má-fé do art. 80 do NCPC são substancialmente idênticas às do art.


17 do regime processual revogado. Dois aspectos, porém, merecem destaque: o valor da multa e o
montante total da indenização pelos danos provocados pela má-fé.

Houve sensível majoração com relação à multa. No CPC/1973, essa sanção não poderia ser
superior a 1% do valor atualizado da causa. Agora, o ponto de partida já deverá ser algo superior a
esse percentual de 1%, podendo alcançar até 10% do valor corrigido da causa (art. 81). Além disso,
nas demandas cujo valor seja considerado irrisório ou inestimável, segue-se fórmula idêntica à do
ato atentatório: a multa poderá ser fixada em até dez vezes o valor do salário mínimo em vigor
(art. 81, § 2º).

Há novidade também na indenização. A litigância de má-fé gera danos para a parte contrária e
obriga seu causador a indenizá-los mesmo que se sagre vencedor da demanda. Tais prejuízos
podem ser indenizados e devem ser apurados nos próprios autos, sem necessidade de ajuizamento
de ação autônoma para tanto. Até aí, sem novidades.

A inovação surge, primeiramente, com relação à melhor redação da regra. No regime do


CPC/1973, doutrina e jurisprudência debatiam-se em torno do valor máximo da indenização5 e da
necessidade da efetiva ocorrência (e demonstração) dos prejuízos para fixá-la.6 Agora, a nosso
sentir, esse debate foi resolvido. Não há limitação para o valor.

Não há mais o limitador de 20% do regime anterior. Caso os danos possam ser quantificados de
plano, a indenização será fixada de imediato pelo órgão judicial, qualquer que seja seu valor. Caso
contrário, a quantificação ocorrerá mediante liquidação nos próprios autos (art. 81, § 3º).
Isso conduz à conclusão, a nosso ver, de que qualquer indenização, independentemente de seu
valor, exige a efetiva ocorrência de prejuízo. A sanção pela litigância de má-fé é a multa (entre 1%
e 10% do valor da causa). A reparação dos danos, por sua vez, aparece como um plus cumulável a
essa sanção. Seu objetivo, porém, é claramente distinto: tem caráter eminentemente reparatório.
Como não existe reparação sem prejuízos, no cenário da litigância de má-fé os danos precisam ser
demonstrados, sendo inviável a mera presunção de ocorrência.

NOTAS DE RODAPÉ
1

Todos os artigos citados no texto sem referência são do NCPC.

Como ocorre, por exemplo, na hipótese do art. 334, § 8º – não comparecimento injustificado na audiência
de conciliação. Aí a sanção será de até 2% da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, a ser
revertida em favor da União ou do Estado.

Apesar disso, o NCPC apresenta exceção a essa regra no processo de execução (art. 774). As condutas ali
são expressamente fixadas como atentatórias, mas a multa é revertida em proveito do exequente.

Cf. GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Breves comentários ao Código de Processo Civil. Coord. Teresa
Arruda Alvim Wambier et al. São Paulo: Ed. RT, 2015. p. 278; AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às
alterações do novo CPC. São Paulo: Ed. RT, 2015. p. 139.

“O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento firmado no sentido de que a indenização por litigância
de má-fé fixada pelo juiz, conforme previsão do art. 18, § 2º, do CPC/1973, deve observar o limite legal de
20% (vinte por cento) sobre o valor da causa” (STJ, AgRg no REsp 947.009/RS, 4ª T., rel. Min. Antonio Carlos
Ferreira, DJe 25.02.2013).

“É desnecessária a comprovação do prejuízo para que haja condenação ao pagamento da indenização


prevista no art. 18, caput e § 2º, do Código de Processo Civil de 1973, decorrente da litigância de má-fé”
(STJ, EREsp 1.133.262/ES, Corte Especial, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJ 04.08.2015).

© desta edição [2019]

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