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CONSULTA RÁPIDA
E96 Exame clínico [recurso eletrônico] : consulta rápida / [organizado
por] Elvino Barros, Galton de C. Albuquerque, Cleovaldo T.S.
Pinheiro e Mauro Antônio Czepielewski. – Dados eletrônicos. – 2.
ed. – Porto Alegre : Artmed, 2008.
CDU 616-017/.8
EXAME CLÍNICO
CONSULTA RÁPIDA
a
2 EDIÇÃO
Reimpressão
2004
© Artmed Editora S.A., 2004
SÃO PAULO
Av. Angélica, 1091 - Higienópolis
01227-100 São Paulo SP
Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
1
AUTORES
6
Lucia Campos Pellanda – Especialista em Pediatria e em Cardiologia Pediátrica.
Mestre em Cardiologia. Médica do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul
– Fundação Universitária de Cardiologia. Professora do Departamento de Saúde
Coletiva da FFFCMPA.
Luciano de Brito – Acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Pelotas. Estagiário voluntário do Serviço de Medicina Intensiva do HCPA.
Lucio Bakos – Professor titular do Departamento de Medicina Interna da Faculda-
de de Medicina da UFRGS. Chefe do Serviço de Dermatologia do HCPA. Doutor
em Dermatologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Luiz Edmundo Mazzoleni – Professor assistente dos Departamentos de Medicina
Interna das Faculdades de Medicina da UFRGS e da PUCRS. Mestre em Gastren-
terologia.
Luiz Felipe Gonçalves – Professor adjunto do Departamento de Medicina Interna
da Faculdade de Medicina da UFRGS. Chefe do Serviço de Nefrologia do HCPA.
Luiz Roberto Stigler Marczyk – Professor titular do Departamento de Cirurgia da
Faculdade de Medicina da UFRGS.
Márcia L.F. Chaves – Professora adjunta do Departamento de Medicina Interna da
Faculdade de Medicina da UFRGS. Doutora em Clínica Médica pela UFRGS.
Maria Helena Itaqui Lopes – Professora adjunta do Departamento de Medicina
Interna da Faculdade de Medicina da PUCRS. Doutora em Clínica Médica.
Mariza Machado Klück – Médica. Professora do Departamento de Medicina Social
da Faculdade de Medicina da UFRGS. Coordenadora da Comissão de Prontuários
do HCPA.
Mauro Antônio Czepielewski – Médico do Serviço de Endocrinologia do HCPA.
Professor adjunto do Programa de Pós-Graduação em Endocrinologia da Faculda-
de de Medicina da UFRGS. Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da UFRGS.
Doutor em Endocrinologia.
Max Brenner – Médico Internista do HCPA. Especialista em Reumatologia pela
UFRGS. Aluno do Programa de Ph.D. na North Shore Long Island Jewish Graduate
School of Molecular Medicine, USA.
Moacir Assein Arús – Professor adjunto do Departamento de Psiquiatria e Medicina
Legal da Faculdade de Medicina da UFRGS. Especialista em Cirurgia Geral pela
Associação Médica Brasileira e pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Médico legista
aposentado.
Orlando C. B. Wender – Professor adjunto do Departamento de Cirurgia da Faculda-
de de Medicina da UFRGS. Doutor em Medicina pela Universidade de Munique.
Otávio Bejzman Piltcher – Médico otorrinolaringologista do Serviço de Otorrinola-
ringologia do HCPA. Mestre e Doutor em Medicina pela Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo e pela University of Pittsburgh, USA.
7
Otávio Berwanger da Silva – Médico pesquisador do Centro de Pesquisa Clínica do
Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, SP. Revisor do Cochrane
Heart Group.
Rafael Netto – Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFRGS. Monitor do De-
partamento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da UFRGS.
Renato M. Bakos – Médico residente do Serviço de Dermatologia do HCPA.
Renato Seligman – Professor do Departamento de Medicina Interna da Faculdade
de Medicina da UFRGS. Especialista em Pneumologia. Regente da disciplina de
Introdução à Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRGS.
Ricardo M. Xavier – Professor adjunto do Departamento de Medicina Interna da
Faculdade de Medicina da UFRGS. Chefe do Serviço de Patologia Clínica do
HCPA.
Sandra Wajnberg – Especialista em Medicina Interna. Mestre em Nefrologia pela
UFRGS. Professora assistente do Departamento de Medicina Interna da Faculdade
de Medicina da UFRGS.
Sérgio Jobim Azevedo – Médico hematologista e oncologista. Professor do Departa-
mento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da UFRGS. Chefe do Serviço
de Oncologia do HCPA. Fellow do American College of Physicians.
Sérgio Kiwtko – Mestre e Doutor em Oftalmologia pela UNIFESP/EPM. Médico
oftalmologista do Serviço de Oftalmologia do HCPA. Ex-fellow em Córnea no
Doheny Eye Institute, University of Southern Califonia, Los Angeles, USA.
Sérgio Saldanha Menna Barreto – Professor titular do Departamento de Medicina
Interna da Faculdade de Medicina da UFRGS.
Sharbel Mahfuz Boustany – Cirurgião. Aluno do Curso de Pós-Graduação em Cirur-
gia da Faculdade de Medicina da UFRGS. Cirurgião vascular do Hospital Nossa
Senhora da Conceição.
Simão Levin Piltcher – Professor adjunto do Departamento de Oftalmologia e
Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFRGS. Chefe do Serviço de
Otorrinolaringologia do HCPA.
Tania Weber Furlanetto – Professora adjunta do Departamento de Medicina Interna
da Faculdade de Medicina da UFRGS. Doutora em Endocrinologia pela UNIFESP/
EPM. Pós-doutorado em Endocrinologia pela Northwestern University, Chicago,
USA.
Walter J. Koff – Professor titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de
Medicina da UFRGS. Chefe do Serviço de Urologia do HCPA.
8
AGRADECIMENTOS
9
1
PREFÁCIO À 2a EDIÇÃO
A medicina tem evoluído de maneira estrondosa nos últimos anos. Tanto a incorpo-
ração de novos equipamentos e procedimentos como as ferramentas da biologia
celular e molecular têm contribuído para um entendimento mais aprofundado e
rápido das doenças que atingem o homem. Entretanto, mesmo com todo esse
progresso, a entrevista médica e o exame físico continuam sendo as ferramentas
mais importantes de que dispomos para um adequado diagnóstico das patologias
apresentadas por nossos pacientes.
Estamos lançando a 2a edição do Exame clínico: consulta rápida, a qual
incorpora novos capítulos para oferecer ao médico e aos profissionais da saúde
uma visão prática mas completa dos múltiplos problemas que o mundo moderno
tem adicionado ao homem. Nesse sentido, os capítulos “Semiologia psiquiátrica”
e “Uso de drogas” são bastante atuais e necessários. O capítulo “Descrevendo a
entrevista médica, o exame físico e a lista de problemas” é destinado principalmen-
te aos estudantes de medicina, pois ensina a descrever de forma sistemática as
informações obtidas junto ao paciente. Também merecem destaque os capítulos
“Prontuário de pacientes: finalidades, preenchimento e questões éticas e legais”,
“Atestado de óbito” e “Atestados médicos”, que orientam sobre como preencher
corretamente esses formulários.
Nesta 2a edição, o leitor perceberá, ainda, um aprimoramento do projeto
gráfico e editorial, desenvolvidos com o objetivo de oferecer uma fonte de consulta
útil e agradável.
Os organizadores
1
PREFÁCIO DA 1a EDIÇÃO
Este manual tem como principal finalidade apresentar de forma simples e didática
as informações básicas para a realização de uma boa anamnese e exame físico. É
destinado aos estudantes de graduação e médicos não-especialistas. Apresenta
um capítulo inicial de anamnese e, posteriormente, aborda um roteiro para a
realização do exame físico nas várias especialidades médicas. Cada capítulo pro-
cura esclarecer controvérsias e apresentar informações práticas e úteis.
O propósito deste manual não é o de ser uma obra completa para o estudo
da semiologia, porém a sua utilização certamente se constituirá em uma fonte
prática, maleável e constante no esclarecimento de dúvidas na realização da
anamnese e do exame físico.
Os organizadores
1
SUMÁRIO
1 ANAMNESE ....................................................................................................... 19
Alessandro Finkelsztejn
Max Brenner
Beatriz de M. Albuquerque
Galton de C. Albuquerque
5 ECTOSCOPIA .................................................................................................... 71
Tania Weber Furlanetto
Beatriz Graeff Santos Seligman
16
20 DIAGNÓSTICO DOS DISTÚRBIOS DO SONO .................................................... 375
Denis Martinez
17
1
ANAMNESE
ALESSANDRO FINKELSZTEJN
MAX BRENNER
BEATRIZ DE M. ALBUQUERQUE
GALTON DE C. ALBUQUERQUE
pondida positivamente por pacientes com muitas outras patologias (como bron-
quite crônica, pneumonia, embolia pulmonar e insuficiência cardíaca conges-
tiva).
Perguntas com alta sensibilidade são especialmente úteis quando negativas,
pois permitem reduzir consideravelmente a chance de determinado diagnóstico.
Por exemplo, um paciente que nunca tem dor articular possui uma probabilidade
mínima de ter artrite reumatóide. Observações de alta especificidade são mais
úteis quando estão presentes, como as manchas de Koplik no sarampo e a erupção
da face em forma de asa de borboleta do lúpus eritematoso.
Como regra, as perguntas e/ou observações altamente sensíveis para deter-
minado diagnóstico são úteis para a exclusão do mesmo quando ausentes. Já as
perguntas e/ou observações altamente específicas são úteis para a confirmação
do diagnóstico quando presentes.
Cada resposta do paciente ou observação no exame físico permite ao médico/
estudante não apenas estimar a probabilidade de determinado diagnóstico, mas
também escolher que outras perguntas e manobras deve priorizar ou deixar em
segundo plano.
O contato com o paciente é repleto de informações visuais, auditivas e táteis
que são fundamentais para o raciocínio diagnóstico.
Sackett e colaboradores ensinam que, na prática, são utilizadas quatro estra-
tégias diagnósticas. A primeira, muito comum, é a de reconhecimento de um
20
padrão. É o reconhecimento instantâneo de que o paciente apresenta-se de acordo
com um padrão conhecido e previamente aprendido. O diagnóstico é geralmente
visual, mas pode ser reconhecido por qualquer outra ferramenta diagnóstica.
Exemplos não faltam: o diagnóstico visual da doença de Graves ou da síndrome
de Down; o diagnóstico auditivo de fenda palatina ou o diagnóstico por telefone
de hipotireoidismo pelo reconhecimento da voz rouca do mixedematoso; o diag-
nóstico de abuso de álcool ou de cetoacidose diabética pelo hálito com odor
característico. O diagnóstico pode também ser pelo tato, como quando se palpa
um gânglio pétreo e se reconhece o padrão de uma metástase.
A segunda estratégia é a da ramificação múltipla (algoritmo). O processo
evolui de acordo com caminhos preestabelecidos dependendo das respostas obti-
das até chegar-se ao diagnóstico. Em geral, o objetivo dos algoritmos é a triagem,
não o diagnóstico. É muito utilizado por paramédicos, mas muito pouco usado por
médicos, particularmente em situações de problemas incomuns.
A terceira, a história completa, é a técnica da exaustão, que muitos estudantes
imaginam ser o caminho correto para o diagnóstico, infelizmente, por ser uma
idéia difundida por muitos professores. É a estratégia dos novatos logo abandona-
da pelos mais experientes. Nas histórias completas costuma-se agrupar um grande
volume de dados, coletados seguindo-se modelos preestabelecidos, que geralmen-
te não representam informações clínicas relevantes.
Nesse ponto, é importante explicar a diferença entre dado e informação. Os
dados são apenas fatos, ou conjuntos de fatos, enquanto que as informações
implicam conhecimentos que dão aos primeiros um significado diferente de acordo
com a situação e com o conhecimento que se tem. Exemplificando: a pressão
arterial de 110/70 é um dado que, freqüentemente, traz consigo a informação
ANAMNESE
“pressão arterial normal”. Em outro contexto, no entanto, como no caso em que
o paciente relata ser hipertenso com pressão arterial habitualmente em torno de
160/100 e que vem à consulta por estar há uma semana evacuando fezes pretas,
brilhantes e malcheirosas, o dado pode ser o mesmo – PA de 110/70, mas a
informação contida é outra: “hipovolemia por hemorragia digestiva alta”.
Na estratégia da exaustão, o processo diagnóstico ocorre em duas etapas. Na
primeira, o médico/estudante reúne um amontoado de dados geralmente com
poucas informações clínicas. Na segunda, passa a peneirar os dados tentando
obter informações clínicas e um diagnóstico. A estratégia da exaustão é trágica
para as finanças do paciente, de seu plano de saúde ou do governo, quando
aplicada na solicitação de exames complementares. A chamada anamnese comple-
ta, a técnica da exaustão, não existe na prática diária. Os alunos de semiologia
devem aprendê-la e, depois, nunca mais utilizá-la.
Finalmente, a estratégia hipotético-dedutiva é a utilizada por quase todos os
clínicos na obtenção do diagnóstico.
Imagine a situação em que você é o plantonista do setor de emergência do
hospital, está no quarto dos médicos e atende o telefone. É a enfermeira quem
diz: “Chegou um homem de 56 anos com dor no peito e falta de ar”. Como é
relatado por Sackett e colaboradores, essa situação foi apresentada para cente-
nas de médicos e estudantes, e a reação foi uniforme. Logo após ouvir esse
fragmento de informação, reagiram praticamente de um mesmo modo. Primeiro,
21
estabeleceram um diagnóstico, começando com infarto do miocárdio e embolia
pulmonar e continuando com pneumotórax e outras situações de catástrofe in-
tratorácica. Alternativamente, iniciaram com opções de conduta: “baixe na UTI”,
“monitorize o paciente” e assim por diante.
A estratégia hipotético-dedutiva é a formulação que inicia com as primeiras
pistas sobre o problema do paciente e que inclui uma pequena lista de possibilida-
des diagnósticas. É seguida pela execução de ações clínicas (história e exame
físico) e paraclínicas (p. ex., raio X e laboratório) dirigidas pelas hipóteses levanta-
das, e que irão reduzir a lista de possibilidades e, finalmente, levar ao diagnóstico.
De onde surgem as hipóteses diagnósticas?
A melhor explicação é a de que as hipóteses vêm do reconhecimento de um
padrão que, ao invés de suscitar uma única possibilidade, propicia que se pense
em alguns diagnósticos com probabilidade muito alta.
Um grupo de investigadores gravou fitas de vídeo, ao acaso, de internistas e
médicos de família executando o exame clínico de pacientes programados com
diagnósticos de pericardite, úlcera duodenal, neuropatia periférica ou esclerose
múltipla. Os investigadores documentaram que a primeira hipótese diagnóstica
foi levantada pelos médicos em média 28 segundos após ouvirem a queixa princi-
pal (com variação de 11 segundos para o paciente com esclerose múltipla e de
até 55 segundos no caso de neuropatia periférica). A hipótese correta foi levantada
em uma média de seis minutos (menos de um minuto para esclerose múltipla e
menos de 90 segundos para o paciente com úlcera duodenal). Nesse estudo, os
clínicos acertaram o diagnóstico em 75% dos casos, tendo levantado uma média
de 5,5 hipóteses para cada exame clínico. Ao mesmo tempo em que pensaram
em uma curta lista de diagnósticos, os clínicos foram perguntando ou examinando
ANAMNESE
22
Para que se possa avançar no aperfeiçoamento dessa estratégia, é preciso
estudar dois aspectos do problema. Primeiro, é necessário estudar os modelos
que permitem reconhecer os padrões que fazem levantar as poucas hipóteses e
que dão início ao processo diagnóstico. Segundo, deve-se aperfeiçoar a seleção,
aquisição e interpretação das informações clínicas e paraclínicas que melhor levarão
ao diagnóstico correto.
ROTEIRO DA ANAMNESE
O roteiro da anamnese é uma forma padronizada de registrar a entrevista. No
entanto, não convém segui-lo exatamente na ordem proposta, uma vez que a
mesma não só é desnecessária para se atingir o objetivo (o diagnóstico correto),
como também prejudica a qualidade da entrevista e a relação médico/estudante-
paciente.
Acima de tudo, é indispensável saber ouvir. Deixar o paciente contar sua
história, da sua maneira. Uma boa anamnese inicia com a apresentação e o propó-
sito do entrevistador – por exemplo: “– Bom dia. Meu nome é Miguel, sou estu-
dante de medicina e atualmente estou acompanhando a equipe da Dra. Ângela.
Gostaria de conversar com o senhor durante uns 20 minutos para entender seus
problemas”. Nesse momento, pode-se falar qualquer coisa que sirva para des-
contrair o início da entrevista e deve-se observar se o paciente está confortável.
Inicie a entrevista propriamente dita com uma pergunta aberta. Dê tempo
para o paciente responder e assuma uma atitude de quem está ali para ouvir. Se
o paciente for reticente ou mesmo prolixo, não desista antes de umas quatro ou
cinco perguntas abertas. Passe a empregar perguntas mais focadas somente quan-
ANAMNESE
do você já tiver ouvido do paciente o suficiente para ter alguma idéia diagnóstica.
A anamnese (Quadro 1.1) deve identificar o paciente, definir claramente sua
queixa principal, detalhar como a queixa principal ocorreu e como evoluiu até o
momento da entrevista, e revisar outros sintomas que possam ter significância
clínica mas que, eventualmente, tenham sido esquecidos ou menos valorizados
(Quadro 1.2). Deve também revisar como foi o desenvolvimento, a ocorrência
de patologias prévias e o seu manejo; pesquisar a presença de sintomas ou
diagnósticos significativos na família ou no círculo social próximo; definir as condi-
ções sociais que favorecem ou desfavorecem o paciente ou modificam o risco e
o prognóstico das patologias em questão.
A queixa principal, formulada a partir das palavras da pessoa, indica quais os
motivos do paciente para a busca de auxílio médico, melhor respondendo à per-
gunta “por quê?”. Já o estímulo iatrotrópico consiste na razão pela qual o paciente
decidiu procurar o médico neste momento específico, respondendo melhor à
pergunta “por que agora?”.
DICAS DE SEMIOTÉCNICA
Q A anamnese ideal é aquela em que se faz uma pergunta e o paciente discorre
livremente sobre seus sintomas.
23
Quadro 1.1 Elementos básicos da anamnese
Q Identificação: nome, leito, registro, idade, estado civil, cor/grupo étnico, pro-
cedência, naturalidade (nacionalidade), profissão e religião.
Q Queixa principal (ou motivo da internação).
Q Estímulo iatrotrópico.
Q História da doença atual (tudo o que estiver relacionado à queixa principal):
características específicas da queixa, início e evolução, duração, localização dos
sintomas (e irradiações), relação com outros sintomas, relação com outros órgãos,
situações que aliviam os sintomas e situações que exacerbam os sintomas.
Q Revisão de sintomas (ver Quadro 1.2): geral e nutrição, pele, cabeça, olhos,
ouvidos, nariz e seios paranasais, boca e orofaringe, pescoço, mamas, sistemas
respiratório, circulatório, digestório, geniturinário, endócrino, musculoesque-
lético, nervoso e psiquismo.
Q História médica pregressa: doenças prévias, cirurgias e internações prévias, imuni-
zações, uso de drogas, alcoolismo, tabagismo, alergias, transfusões de sangue.
Q História familiar: perguntar, no mínimo, a respeito de diabete melito, hiperten-
são arterial sistêmica, tuberculose, câncer, asma, cardiopatia, morte súbita.
Q Perfil psicossocial: educação, estilo de vida, com quem mora, história sexual,
trabalho, condições de habitação, tabagismo, alcoolismo e uso de drogas ilícitas.
24
Quadro 1.2 Revisão de sintomas agrupados em sistemas
ANAMNESE
de laxantes, vômitos, hematêmese, náuseas, pirose, hábito intestinal normal e
alterações, hematoquezia, enterorragia, melena, fezes em fita, acolia.
Q Sistema geniturinário: noctúria, polaciúria, urgência, incontinência, ardência
miccional, hematúria, colúria, eliminação de cálculos, dor no flanco, lesões
genitais, infertilidade, história de DST. No homem: impotência, massas na
bolsa escrotal, diminuição da força do jato urinário. Na mulher: prurido vaginal,
corrimento, dispareunia, anticoncepção, menorragia, metrorragia, amenorréia,
gestações e abortamentos, menarca e menopausa.
Q Sistema endócrino: intolerância ao calor ou ao frio, alterações da espessura
dos cabelos, mixedema, retardo psicomotor (ou aceleração), polifagia, polidip-
sia, poliúria, retardo do crescimento, hirsutismo, virilização (mulheres).
Q Sistema musculoesquelético: fraqueza, artralgia, mialgia, dor à mobilização,
limitação do movimento, deformidades, traumatismos, cãibra.
Q Sistema nervoso e psiquismo: paralisia, parestesias, síncope, história de transtor-
nos circulatórios encefálicos, movimentos involuntários, amnésia, disfasia, alte-
ração da marcha, funções do ego (Quadro 1.3).
25
Quadro 1.3 Funções do ego (CASOMIAPeJuCoL)*
*As funções CASOMI estão mais associadas a síndromes cerebrais orgânicas, enquanto
as APeJuCoL estão mais relacionadas a transtornos psiquiátricos primários.
ANAMNESE
dor. Logo, seu objetivo principal não é receber um diagnóstico brilhante. Sob o
ponto de vista do médico, não há muita diferença: em primeiro lugar, o alívio da
dor; em segundo, a procura de sinais e sintomas de gravidade e/ou de alerta.
Nesse caso, o médico deve excluir patologias potencialmente letais e de rápida
evolução se não-tratadas adequadamente, como infarto do miocárdio, embolia
pulmonar e pneumonia. Ele irá pesquisar, portanto, a presença ou ausência de
sinais e sintomas sugestivos de tais patologias. No exemplo descrito, o médico
deverá pesquisar se há instabilidade hemodinâmica, febre ou alterações da ausculta
cardíaca ou respiratória. Em seguida, deverá solicitar os exames complementares
que auxiliam em alguns diagnósticos e na exclusão de patologias graves: raios X
de tórax, eletrocardiograma e hemograma. Confirmada alguma das patologias,
o médico iniciará o tratamento específico e julgará a necessidade de o paciente
permanecer internado. Deve-se enfatizar que é ideal que todo esse atendimento
ocorra em aproximadamente 20 minutos na primeira fase (antes da solicitação
de exames complementares) e em menos tempo ainda na segunda fase (interpre-
tação dos exames e tomada de decisão). Com a limitação de tempo, o médico de
serviços de emergência tem que focar sua atenção nas patologias graves e delegar
investigações mais demoradas para o atendimento ambulatorial ou hospitalar.
Com relação ao atendimento ambulatorial e ao atendimento do paciente inter-
nado, o médico dispõe de mais tempo para a tomada de decisões. Contudo, à
medida que o tempo disponível aumenta, cresce também a responsabilidade de
26
Quadro 1.4 Princípios éticos para o contato com o paciente
Fonte: Porto(1).
ANAMNESE
ambiente que se concentram os pacientes com maior número de sinais e sintomas,
pré-requisitos para a formação médica.
Assim, ficam demonstradas as principais diferenças entre os três modelos des-
critos. Portanto, o estudante de medicina precisa saber desde cedo que o tempo
de atendimento deve ser cada vez melhor aproveitado, tendo já em mente as
perguntas mais importantes em cada caso e os sinais que mais o ajudarão a
excluir os diagnósticos possíveis e, até mesmo, a diagnosticar a causa exata da
queixa do paciente. À medida que vão sendo atingindos níveis progressivamente
maiores de conhecimento teórico e prático, sempre respeitando os princípios
éticos (Quadro 1.4), deve-se buscar um atendimento cada vez mais dinâmico,
ágil e objetivo, dispensando perguntas e a procura de sinais clínicos que de nada
ajudarão no diagnóstico nem no tratamento em questão.
27
Coulehan J, Block M. A entrevista médica. Porto Alegre: Artmed; 1989.
Fletcher RH, Fletcher SW, Wagner EH. Epidemiologia clínica: elementos essenciais. 3. ed.
Porto Alegre: Artmed; 1996.
Neufeld VR, Norman GR, Feightner JW, Barrows HS. Clinical problem-solving by medical
students: a cross-sectional and longitudinal analysis. Med Ed 1981 Sep; 15(5):315-22.
Peterson MC, Holbrook JH, Hales DV, et al. Contributions of the history, physical examination,
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Sackett DL, Haynes RB, Guyatt GH, Tugwell P. Clinical epidemiology: a basic science for
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Sandler G. The importance of the history in the medical clinic and the cost of unnecessary
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Schmitt BP, Kushner MS, Wiener SL. The diagnostic usefulness of the history of the patient
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ANAMNESE
28
2
SEMIOLOGIA BASEADA
EM EVIDÊNCIAS
OTÁVIO BERWANGER DA SILVA
Livros-texto
Evidence-based physical diagnosis
Diagnostic strategies for comon medical problems
Evidence-based diagnosis
30
Tabela 2.2 Níveis de evidência para estudos transversais com enfoque
diagnóstico
onde o nível 1 é aquele de maior rigor científico, ou seja, menos exposto a erros
sistemáticos(4).
31
COMO INTERPRETAR OS RESULTADOS DAS EVIDÊNCIAS
SOBRE EXAME CLÍNICO?
Estudos sobre a história e exame físico geralmente apresentam seus resultados
de duas diferentes formas:
Q Desempenho diagnóstico individual
Q Escores de predição clínica
Achados semiológicos com likelihood ratios de altos valores (LR > 10) podem
confirmar a presença de uma doença, enquanto que achados com likelihood
ratios muito baixas (< 0,1) podem indicar que a doença é muito pouco provável.
Já likelihood ratios com valores em torno de 1 indicam que a presença ou ausência
do achado clínico não é suficiente para confirmar ou excluir a presença da doença.
As likelihood ratios também podem ser utilizadas para estimar a probabilidade
pós-teste da doença, ou seja, se o achado clínico está presente, qual a probabi-
lidade de o paciente ter a doença?
Por exemplo, imagine um paciente com suspeita clínica de broncopneumonia
(tosse, escarro purulento, febre, freqüência cardíaca de 110 bpm) que apresente
Doença
Presente C d c+d
32
estertores crepitantes e diminuição do murmúrio vesicular na ausculta pulmonar.
Qual o desempenho diagnóstico individual da presença de estertores crepitantes
e da diminuição do murmúrio para o diagnóstico de pneumonia em um paciente
com as características clínicas acima descritas?
Imagine que após a consulta no PubMed, a melhor evidência que encontramos
é uma revisão sistemática de estudos diagnósticos para achados de história e
exame físico em pneumonia. Baseados nos dados desse estudo, podemos estimar
que um paciente adulto com essas manifestações possui uma probabilidade pré-
teste de cerca de 20% de apresentar uma broncopneumonia, e o desempenho
diagnóstico de achados como estertores crepitantes e diminuição do murmúrio
vesicular possuem likelihood ratios (LR+) de 2,2 e 2, respectivamente. A partir
de um nomograma proposto por Fagan (demonstrado na Figura 2.2), pode-se
combinar a probabilidade pré-teste de pneumonia do nosso paciente com a LR+
de 2,2 para a presença de estertores crepitantes traçando uma linha (Figura 2.2,
linha pontilhada) que une o ponto correspondente à probabilidade pré-teste com
o ponto que representa o valor da LR + do achado clínico, conforme demonstrado
na Figura 2.2. Se agora formos avaliar o valor incremental diagnóstico proporciona-
do pela diminuição do murmúrio vesicular (LR+ de 2), partiremos de uma probabi-
lidade de 40% e não mais de 20%. Ou seja, ao utilizarmos testes múltiplos em
seqüência, a probabilidade pós-teste gerada pela utilização de um teste passa a
ser a probabilidade pré-teste para a utilização de um novo teste. Assim, se combi-
33
0,1 99
0,2
1.000
0,5 95
1 90
500
200 80
2
100
50 70
5 60
20
10 50
10 5 40
2 30
20
1 20
30
0,5
40
0,2 10
50
SEMIOLOGIA BASEADA EM EVIDÊNCIAS
0,1
60 5
0,05
70 0,02
80 0,01 2
0,005
0,002 1
90
95 0,5
500
0,2
99 0,1
34
Tabela 2.3 Escores de predição clínica
sempre que possível) quanto sob a forma de escores de predição clínica com
35
Exame físico
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR– (IC 95%)
Percussão do tórax
Macicez
(Consolidação/pneumonia) 3 (1,7 a 5,2) 0,8 (0,7 a 0,9)
(Derrame pleural volumoso) 18,6 (9,8 a 35,2) 0,04 (0 a 0,1)
Ausculta do tórax
Hiper-ressonância
(DPOC) 5,1 (1,7 a 15,6) 0,7 (0,5 a 1)
Diminuição do murmúrio vesicular
(Consolidação/pneumonia) 2,3 (1,9 a 2,8) 0,8 (0,7 a 0,9)
(Asma) 4,2 (1,9 a 9,5) 0,3 (0,1 a 0,6)
Estertores crepitantes
(Fibrose pulmonar) 5,9 (2 a 17,2,) 0,2 (0,1 a 0,5)
(Congestão pulmonar) 3,4 (1,6 a 7,2) 0,8 (0,6 a 1)
(Pneumonia) 2,0 (1,5 a 2,7) 0,8 (0,7 a 0,9)
Estertores crepitantes proto-inspiratórios
(DPOC Severo) 20,8 (3,0 a 142,2) 0,1 (0 a 0,4)
Referências bibliográficas
Holleman DR, Simel DL and Rennie D, editors Does the clinical examination predict airflow
SEMIOLOGIA BASEADA EM EVIDÊNCIAS
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Cardiologia
História
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR– (IC 95%)
Dor torácica
Típica com irradiação para membro 2,6 (1,4 a 6) Não-fornecido
superior E (IAM)
Típica com irradiação para ambos 7,1 (1,7 a 3,1) Não-fornecido
os membros (IAM)
Reproduzida pela palpação (IAM) 0,3 (0,2 a 0,4) Não-fornecido
Início súbito (dissecção de aorta)
Início súbito tipo “ excruciante “
(dissecção de aorta)
36
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR– (IC 95%)
Dispnéia
Desencadeada por esforços 1,25 Não-fornecido
(insuficiência cardíaca)
Ortopnéia (insuficiência cardíaca) 2,02 Não-fornecido
Dispnéia paroxística noturna 1,88 Não-fornecido
(insuficiência cardíaca)
Exame físico
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR– (IC 95%)
Palpação do ictus cordis
Desvio da linha hemiclavicular
(Cardiomegalia) 3,4 (1,6 a 7,3) 0,6 (0,5 a 0,8)
Diâmetro > 4 cm em decúbito lateral
esquerdo
(Insuficiência cardíaca) 4,7 (2,1 a 10,2) 0,4 (0,2 a 1)
Impulsão paraesternal esquerda
Aumento de VD 3,6 (1,4 a 9,8) 0,4 (0,2 a 0,7)
Segunda bulha (B2)
37
Referências bibliográficas
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Angiologia/cirurgia vascular
Exame físico
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR- (IC 95%)
Massa pulsátil e expansiva 12 (7,4 a 19,5) 0,72 (0,65 a 0,81)
(Aneurisma aorta abdominal)
SEMIOLOGIA BASEADA EM EVIDÊNCIAS
Referências bibliográficas
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38
Gastrenterologia
Exame físico
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR– (IC 95%)
Ausculta
Sopro em flancos (HAS renovascular) 4,8 (2,6 a 9) 0,7 (0,7 a 0,8)
RHA aumentados (obstrução intestinal) 5 (2,4 a 10.6) 0,6 (0,5 a 0,8)
Ruídos hidroaéreos diminuídos (peritonite) 2,2 (0,5 a 9,7) 0,8 (0,7 a 0,9)
Percussão
Macicez móvel (ascite) 1,8 (0,9 a 3,4) 0,3 (0,1 a 0,7)
Palpação
Hepatomegalia (causas diversas) 1,7 (1,4 a 2,1) 0,1 (0,4 a 0,7)
Esplenomegalia (causas diversas) 9,6 (5,7 a 16,3) 0,5 (0,5 a 0,7)
Vesícula palpável (neoplasia da 2,6 (1,5 a 4,6) 0,7 (0,6 a 0,9)
cabeça pâncreas)
Sinais de abdome agudo
Peristalse visível (vbstrução intestinal) 18,8 (4,3 a 81,9) 0,9 (0,9 a 1)
Sinal de Blumberg (Apendicite) 3,4 (1,6 a 7,2) 0,4 (0,2 a 0,7)
Rigidez abdominal (peritonite) 5,1 (2,1 a 12,2) 0,9 (0,8 a 1)
Sinal de Murphy (colecistite aguda) 2 (1,5 a 2,7) 0,2 (0 a 2,4)
Referências bibliográficas
McGee S. Evidence-based diagnosis.Philadelphia: WB Saunders; 2001.
Turnbull JM. Abdominal bruits: is listening for abdominal bruits useful in the evaluation of
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Trowbridge RL, Rutkowski NK, Shojania KG. Does this patient have acute cholecystitis?
JAMA 2002:287:2701-2710.
39
Neurologia
História/exame físico
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR- (IC 95%)
Tremor (doença de Parkinson) 1,3 (0,9 a 2) 0,60 (0,34 a 0,90)
Rigidez e bradicinesia 4,5 ( 2,9 a 7,1) 0,12 (0,03 a 0,45)
(doença de Parkinson)
Micrografia (doença de Parkinson) 2,8 (1,8 a 4,2) 0,44 (0,27 a 0,71)
Sinal focal de início abrupto (AIT) 6,6 a 11 0,36 a 0,54
(não-fornecido) (não-fornecido)
Referências bibliográficas
Goldstein LB. Matchar DB. The rational clinical examination. Clinical assessment of stroke.
JAMA Apr 1994; 271:1114-20.
Nefrologia/urologia
História
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR- (IC 95%)
SEMIOLOGIA BASEADA EM EVIDÊNCIAS
Exame físico
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR- (IC 95%)
Punho percussão lombar positiva 1,7 (1,1 a 2,5) 0,9 (0,8 a 1)
Referência bibliográfica
Bent S, Nallamothu BK, Simel DL, Fihn SD, Saint S. The rational clinical examination. Does
this woman have an acute uncomplicated urinary tract infection? JAMA 2002; 287:2701-
10.
40
Endocrinologia
Exame físico
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR- (IC 95%)
Taquicardia (hipertireodismo) 4,4 (3,8 a 5,1) 0,2 (0,1 a 0,3)
Pele quente e úmida (hipertireoidismo) 6,7 (5 a 9,1) 0,7 (não-fornecido)
Bócio palpável (hipertireoidismo) 2,3 (2,1 a 2,5) 0,1 (0,1 a 0,2)
Pele fria e seca (hipotireoidismo) 4,7 (3,1 a 7,1) 0,9 (0,8 a 0,9)
Bradicardia (hipotireoidismo) 4,1 (3,1 a 5,5) 0,8 (0,7 a 0,9)
Bócio (hipotireoidismo) 2,8 (2,3 a 3,4) 0,6 (0,6 a 0,7)
Madarose (hipotireoidismo) 1,9 (1,1 a 3,6) 0,8 (0,7 a 1)
Hipertensão (síndrome de Cushing) 2,3 (1,5 a 3,7) 0,8 (0,6 a 0,9)
Fácies em “lua cheia” 1,6 (1,1 a 2,5) 0,1 (0 a 0,9)
(síndrome de Cushing)
Obesidade central (síndrome de Cushing) 3 (2 a 4,4) 0,2 (0,1 a 0,3)
Referências bibliográficas
McGee S. Evidence-based diagnosis. Philadelphia: WB Saunders; 2001.
Exame físico
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR- (IC 95%)
Palpação das mamas (câncer de mama) 10,6 (5,8 a 19,2) 0,47 (0,40 a 0,56)
Referências bibliográficas
Bastian LA, Piscitelli JT. Is this patient pregnant? Can you reliably rule in or rule out early
pregnancy by clinical examination? JAMA 1997; 278:586-91.
Barton MB, Harris R, Fletcher SW. Does this patient have breast cancer? The screening
clinical breast examination: Should it be done? How? JAMA 1999; 282:1270-80.
41
Hematologia
Exame físico
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR- (IC 95%)
Palidez em múltiplos locais (anemia) 4,5 (3,1 a 6,6) 0,7 (0,6 a 0,8)
Palidez palmar (anemia) 2,5 (1,9 a 3,3) 0,5 (0,4 a 0,6)
Palidez facial (anemia) 3,8 (2,5 a 5,8) 0,6 (0,5 a 0,7)
Referência bibliográfica
McGee S. Evidence-based diagnosis.Philadelphia: WB Saunders; 2001.
Dermatologia
Exame físico
Achado clínico (diagnóstico) LR+ (IC 95%) LR- (IC 95%)
“ABCD” (melanoma) 46 (não- 0,02 (não-
fornecido) fornecido)
Referência bibliográfica
Whited JD, Grichnik JM. Does this patient have a mole or a melanoma? JAMA 1998; 279:
SEMIOLOGIA BASEADA EM EVIDÊNCIAS
696-701.
42
Idade Dor não-anginosa Angina atípica Angina típica
(anos) Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
30-39 5,2% 0,8% 21,8% 4,2% 69,7% 25,8%
40-49 14,1% 2,8% 46,1% 13,3% 87,3% 55,2%
50-59 21,5% 8,4% 58,9% 32,4% 92% 79,4%
60-69 28,1% 18,6% 67,1% 54,4% 94,3% 90,6%
Referência bibliográfica
Diamond GA, Forrester JS. Analysis of probability as an aid in the clinical diagnosis of coronary
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Em pneumologia
Probabilidade de tromboembolismo pulmonar (TEP)
Referência bibliográfica
Hoelleric VL, Wigton RS. Diagnosing pulmonary embolism using clinical findings. Arch Int
Med 1986; 146: 1699-704.
43
Em gastrenterologia
Probabilidade de úlcera péptica em pacientes com dispepsia com base na história
e no exame físico.
Referência bibliográfica
Spiegelhalter DJ, Crean GP, Hodeln R, Knill-Jones RP. Taking a calculated rik: predictive scoring
systems in dyspepsia. J Scand Gastroenterol 1987: 128 (Suppl): 152-160.
44
Em doença vascular periférica
Probabilidade de trombose venosa profunda (TVP).
Referência bibliográfica
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Em infectologia
Probabilidade de sinusite bacteriana.
45
Referência bibliográfica
Williams JW Jr, Simel DL. Does this patient have sinusitis? Diagnosing acute sinusitis by
history and physical examination JAMA 1993; 270:1242-6
Em neurologia
Probabilidade de demência multiinfarto (escore de isquemia de Hachinski)
Escore Diagnóstico
Maior ou igual a 5 Demência multiinfarto
Referência bibliográfica
Abscher JR, Sulzer Dl, Mahler ME, Fishman J. PC Analysis facilitates dementia diagnosis
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Em endocrinologia
Probabilidade de hipertireoidismo
Referência bibliográfica
Crooks J, Murray IPC, Wayne EJ. Statistical methods applied to the clinical diagnosis of
thyrotoxicosis. Q J Med 1959; 28: 211-34.
47
Probabilidade de hipotireoidismo
Achado clínico Presente (pontos) Ausente (pontos)
Diminuição de suor +6 -2
Pele seca +3 -6
Pele fria +3 -2
Intolerância ao frio +4 -5
Ganho de peso +1 -1
Constipação +2 -1
Rouquidão +5 -6
Parestesias +5 -4
Surdez +2 0
Lentidão de movimentos +11 -3
Espessamento de pele +7 -7
Edema periorbital +4 -2
FC < 75 bpm +4 -6
Hiporreflexia +15 -4
Referência bibliográfica
SEMIOLOGIA BASEADA EM EVIDÊNCIAS
Billewickz WZ, Chapman RS, Crooks J, et al. Statistical methods applied to the diagnosis of
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49
3
RACIOCÍNIO CLÍNICO
APLICADO AO DIAGNÓSTICO
RICARDO M. XAVIER
Dados da anamnese
Reconhecimento de padrões
Testagem de hipóteses
Hipótese de trabalho
52
apóia na semelhança de um grupo de achados com aqueles de uma entidade
clínica bem-definida. Poliartrite e rigidez matinal evocam a possibilidade de artrite
reumatóide, por exemplo, mesmo que possam existir outras doenças, talvez até
mais prevalentes, que tenham esses mesmos achados. A heurística de disponibili-
dade envolve familiaridade com uma entidade clínica, seja por experiência mar-
cante ou recente, seja por achados não-usuais. Esse tipo de heurística explica
fatos tais como a presteza com que um médico experiente reconhece uma doença
rara pertencente ao âmbito de sua especialidade.
Reconhecimento de padrões
Os especialistas, diante de situações familiares, geralmente não recorrem a
um raciocínio hipotético-dedutivo explícito, mas são capazes de diagnosticar de
maneira rápida, automática e precisa, com a mesma facilidade com que reconhe-
cem a face de um conhecido. Esse processo de reconhecimento de padrões diag-
nósticos explica a maior eficiência diagnóstica do médico experiente comparada
com a do novato. Os padrões são arquivados na memória e podem ser rapidamen-
te acessados. Além disso, em geral esses padrões diagnósticos são armazenados
em associação com condutas-padrão.
Existem várias teorias que tentam explicar como essa “experiência” é arquivada
na memória e tão prontamente acessada. Por muito tempo assumiu-se que a
Raciocínio causal
O raciocínio causal é um aspecto do processo diagnóstico baseado em relações
de causa-efeito entre variáveis clínicas. É uma função dos elementos anatômicos,
fisiológicos e bioquímicos do organismo e dos processos fisiopatológicos dos
mesmos. Por exemplo, diante de um paciente com hipocalemia, o médico pode
inicialmente levantar hipóteses diagnósticas mais comuns, como uso de diuréticos,
por meio de raciocínio heurístico. Mas, caso as hipóteses mais comuns sejam
afastadas, o médico poderá recorrer ao seu conhecimento de fisiologia renal
para identificar outras causas mais raras, como acidose tubular renal.
53
O raciocínio causal geralmente é mais empregado na fase final do refinamento
das hipóteses, na formulação de uma hipótese de trabalho, quando o médico
procura entender todos os problemas clínicos dentro de um modelo fisiopatológico
e testar a coerência do diagnóstico, ou seja, se as associações causa-efeito são
razoáveis e apropriadas.
54
base para a aplicação de tecnologias de informação de apoio à decisão
médica.
2. Evidencia deficiências na informação presente na literatura, indicando áreas
que devem ser melhor investigadas. Maior conhecimento das características
diagnósticas dos diversos achados de anamnese e exame clínico, bem como
do impacto dos exames complementares no desfecho clínico, são alguns
exemplos de áreas que urgentemente necessitam de mais estudos.
A hipótese de trabalho
A finalidade primordial do diagnóstico é oferecer ao médico informações sobre
as condições de saúde do paciente que o auxiliem na tomada de decisões clínicas,
tais como informar, educar e aconselhar o paciente, requisitar exames complemen-
tares, solicitar consultorias a outros médicos, prognosticar e indicar tratamentos.
Devido à usual complexidade e individualidade dos problemas de saúde (doença
sobreposta em uma individualidade biopsicossocial), raramente existe certeza
absoluta no diagnóstico, mesmo com o emprego das modernas tecnologias pro-
pedêuticas disponíveis. Portanto, o diagnóstico é uma inferência sobre o problema
de saúde do paciente. Deve ser considerado como uma “hipótese de trabalho”,
como um meio para a tomada de decisão relativa à promoção da saúde, e não
como um fim em si mesmo. Daí decorre que:
VERIFICAÇÃO DIAGNÓSTICA
Antes de um diagnóstico ser aceito como hipótese de trabalho, ele deve ser
submetido a um processo detalhado de validação, conhecido como verificação
diagnóstica. Esse processo faz uma checagem final dos achados do paciente contra
padrões conhecidos da(s) doença(s) em suspeita.
Diante da necessidade de tomar decisões em situações de incerteza diagnóstica,
alguns critérios são úteis para ajudar a decidir se uma determinada hipótese
diagnóstica se qualifica como hipótese de trabalho:
1. Prova da suficiência: uma hipótese é considerada suficiente (ou adequada)
quando ela explica todos os dados positivos relevantes.
2. Prova da coerência: quando os dados encontrados no paciente são consisten-
tes com os mecanismos fisiopatológicos. Nessa etapa, o modelo de raciocínio
causal é particularmente efetivo.
55
3. Prova da parcimônia: diz respeito à capacidade de a hipótese diagnóstica
oferecer a explanação mais simples possível para todos os dados do paciente.
É válida para manifestações que surgem em pessoas previamente hígidas,
mas algumas vezes mais de um diagnóstico será necessário para explicar
todos os achados, principalmente em pacientes com doenças crônicas.
4. Falsificação: pesquisa de achados que sejam claramente inconsistentes com
a hipótese.Várias hipóteses que permanecem ativas são confrontadas umas
com as outras.
5. Probabilidade da hipótese diagnóstica: a credibilidade de uma hipótese diag-
nóstica depende também da sua probabilidade. As hipóteses mais comuns
possuem maior probabilidade de serem verdadeiras do que as raras.
Mesmo após todos os esforços necessários e suficientes para identificar a
hipótese diagnóstica mais plausível, ainda permanecerá um grau considerável de
incerteza. Portanto é o julgamento do médico, englobando conhecimento técnico,
experiência e bom senso, avaliando risco-custo/benefício, que definirá quando
uma probabilidade encontra-se suficientemente verificada para servir de base
para as decisões de prognóstico e tratamento (Figura 3.2).
Número
de doenças Hipótese possível Hipótese
não-comprovada comprovada
56
Classificação dos erros cognitivos:
1. Falha na geração de hipóteses
2. Falha na formulação do contexto
3. Falha na coleta e no processamento de dados
a. Estimativa incorreta da prevalência da doença
b. Interpretação incorreta do resultado de um teste
c. Modelo causal falho
d. Supervalorização de axiomas clínicos
4. Falha na verificação
5. Erros “sem falhas” (ocorrem mesmo diante da atuação “perfeita” do médico)
Falhas no raciocínio clínico que provocam erros diagnósticos presumivelmente
são conseqüências de conhecimento inadequado, defeito no processamento das
informações ou uma combinação desses dois. Em alguns casos, a falha na geração
de hipóteses pode ser atribuída à interpretação imprópria das pistas clínicas, dificul-
dade em reconhecer as pistas que levantariam a hipótese de uma determinada
doença ou ausência de conhecimento para evocar a doença. Outro erro ocorre
quando um diagnóstico correto é eliminado mesmo quando os achados clínicos
são consistentes com o diagnóstico. Esse erro pode ser relacionado com expecta-
tivas excessivamente específicas para a doença. Nesses casos, o médico presu-
57
3. Distorções probabilísticas: estudos de teorias de tomada de decisão em situa-
ção de risco indicam que, principalmente diante de situações em que as
probabilidades não são precisamente conhecidas, há uma tendência
cognitiva de se aumentar o peso de eventos de baixa probabilidade e dimi-
nuir o peso de eventos de alta probabilidade.
4. Teoria do suporte: estimativas subjetivas de probabilidade de um evento são
influenciadas pelo grau do detalhamento de sua descrição. Descrições mais
explícitas geram estimativas maiores do que descrições mais resumidas.
Clinicamente, essa teoria prediz que descrições de casos mais longas e de-
talhadas receberão uma maior probabilidade subjetiva do que uma descrição
resumida, mesmo que se trate da mesma doença.
58
bem-sucedido, de aplicação desses métodos ao diagnóstico clínico. O uso
de razão de probabilidades para quantificar a força da evidência clínica e a
demonstração de como essa medida pode ser combinada com a prevalência
da doença para gerar uma probabilidade pós-teste seriam maneiras de se
enfatizar o papel dos dados no raciocínio clínico e encorajar os médicos a
confiar em seu julgamento para aplicação dos resultados dos estudos publi-
cados nos seus pacientes.
CONCLUSÕES
As pesquisas sobre o raciocínio clínico empregado na resolução de problemas
diagnósticos, apesar de todas as suas limitações, demonstraram que os médicos
experientes utilizam abordagens variadas, envolvendo processos de geração de
hipóteses diagnósticas em fases bastante precoces do encontro clínico, assim
como a formulação de um contexto a partir dessas hipóteses, que serve como
guia para a obtenção de informações adicionais que a confirmem ou refutem, e
estratégias finais de discriminação e validação das hipóteses mais prováveis. Para
a geração de hipóteses, o emprego de heurísticas e de reconhecimento de padrões
é eficiente e poderoso, mas também está correlacionado a distorções no julgamen-
to de probabilidades. Por isso, há a necessidade de que essas hipóteses sejam
59
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RACIOCÍNIO CLÍNICO APLICADO AO DIAGNÓSTICO
60
4
SINAIS VITAIS
BEATRIZ GRAEFF SANTOS SELIGMAN
RENATO SELIGMAN
SANDRA WAJNBERG
ELVINO BARROS
Os sinais vitais costumam ser apresentados como a parte inicial do exame físico,
já que fornecem informações primordiais das funções básicas do organismo. São
imprescindíveis para detecção e monitorização das condições de saúde e doença
de cada indivíduo.
Os sinais vitais monitorizados rotineiramente são:
Q Freqüência cardíaca
Q Temperatura corporal
Q Freqüência respiratória
Q Pressão arterial
FREQÜÊNCIA CARDÍACA
A freqüência cardíaca pode ser avaliada no início do exame físico ou junto com o
exame cardiovascular. Habitualmente, usam-se os pulsos radial, braquial ou ca-
rotídeo para tal verificação. Nas situações de rotina, quando não há alterações
nas características do ritmo ou variações de amplitude do pulso, a freqüência
cardíaca é verificada pela palpação do pulso radial.
Método
Q Fique de frente para o paciente.
Q Segure o punho do paciente com a mão livre (sem relógio, a mão direita do
paciente com a sua direita ou a mão esquerda do paciente com a sua esquer-
da). Mantenha-o confortável.
Q Comprima a artéria radial com seus dedos indicador e médio.
Q Verifique se o pulso está regular ou irregular.
Q Verifique o número de batimentos em 15 segundos e multiplique por 4 (se
o pulso estiver regular). Se irregular, verifique em 60 segundos no pulso
radial e confirme a freqüência cardíaca com a ausculta do precórdio com o
estetoscópio.
Interpretação
Os valores habituais para um adulto em repouso variam de 60 a 100 bati-
mentos por minuto (bpm) – crianças costumam apresentar freqüência cardíaca
mais elevada. A taquicardia é definida como freqüência cardíaca acima de 100
bpm. Pode ser encontrada em situações como ansiedade, febre, dor, hipertireoi-
dismo, anemia, exercício, inflamação, hipovolemia (acompanhada de hipotensão
postural), isquemia miocárdica, embolia pulmonar, ou choque, e associada ao
uso de álcool, nicotina ou drogas simpaticomiméticas. A taquicardia persistente
pode ser um sinal inicial de insuficiência cardíaca.
A bradicardia é definida como freqüência cardíaca inferior a 60 bpm. Pode
ser normal em indivíduos com bom condicionamento físico e atletas e durante o
sono, ou pode estar associada a medicamentos (betabloqueadores, clonidina,
propafenona, bloqueadores do canal do cálcio), hipotireoidismo, elevação da
pressão intracraniana, distúrbios do sistema de condução e hipotermia. Pode
acompanhar estados de vômitos e náusea.
Freqüência cardíaca
Q Normal (adultos): 60-100 bpm
Q Taquicardia: > 100 bpm
Q Bradicardia: < 60 bpm
TEMPERATURA
Febre e hipertermia
A temperatura do organismo é mantida em níveis normais apesar de uma
SINAIS VITAIS
62
a 37,2 e 37,7oC de temperatura oral, respectivamente), definindo o percentil 99
dos indivíduos saudáveis entre 18 e 40 anos.
Padrões de febre
A febre pode apresentar diferentes padrões, como contínua, remitente, inter-
mitente e recorrente.
Persistente ou contínua (Figura 4.1): elevação persistente da temperatura com
mínima variação. Por exemplo, febre tifóide.
41
39
Febre
Tax
persistente
37
SINAIS VITAIS
35
Dias
Remitente (Figura 4.2): flutuações diárias maiores que 2oC, sendo que a tempera-
tura não retorna aos níveis normais. Por exemplo, tuberculose, viroses, infecções
bacterianas, processos não-infecciosos.
41
39
Febre
Tax
remitente
37
35
dias
63
Intermitente (Figura 4.3): existe um exagero no ritmo circadiano normal. A
temperatura volta ao normal a cada dia, mas depois aumenta novamente. Quando
essa variação é muito grande, a febre é denominada séptica.
41
39
Tax
Febre
intermitente
37
35
dias
41
39
Febre
Tax
recorrente
37
35
dias
FREQÜÊNCIA RESPIRATÓRIA
Q A freqüência respiratória (FR) é mais acurada quando o paciente não percebe
que está sendo avaliado.
Q A freqüência pode ser aferida após a verificação do pulso ou durante a
realização do exame do sistema respiratório.
Q A FR no adulto varia de 12 a 20 movimentos respiratórios por minuto (mpm).
Q A taquipnéia é definida como FR maior que 20 mpm. Pode ser encontrada
em diversas situações, como hipoxemia, acidose, dor, ansiedade etc.
64
Q A bradipnéia é definida como FR menor que 12 mpm. Pode ser encontrada
em hipotermia, distúrbios do sono, acidentes vasculares cerebrais, tumores
cerebrais com aumento da pressão intracraniana, uso de anestésicos etc.
FR normal = 12 a 20 mpm
Taquipnéia = FR > 20 mpm
Bradipnéia = FR < 12 mpm
Padrões respiratórios
Respiração de Kussmaul (Figura 4.5): a respiração aumenta em freqüência e profun-
didade. É vista em estados de acidose metabólica, como na cetoacidose diabética,
nefropatias, intoxicação por medicamentos (salicilatos) etc.
SINAIS VITAIS
Respiração de Cheyne-Stokes (Figura 4.6): respiração irregular, que cessa totalmente
por cerca de 15 segundos, tornando-se depois perceptível, embora muito lenta,
em seguida pouco a pouco rápida e intensa e, depois, cessa gradativamente de
novo. Este período dura cerca de 1 minuto, com aproximadamente 30 mpm.
Pode ser encontrada em insuficiência cardíaca, tumores cerebrais, meningites,
intoxicações severas etc.
65
PRESSÃO ARTERIAL
A aferição correta da pressão arterial é fundamental na abordagem do paciente,
e alguns estudos clínicos têm demonstrado que eventualmente sua verificação
não é realizada de forma adequada.
Para a verificação dos sinais vitais de rotina, a pressão arterial é medida pelo
método indireto, utilizando-se a técnica auscultatória, com estetoscópio e esfig-
momanômetro aneróide ou de coluna de mercúrio. O aparelho aneróide deve
ser periodicamente calibrado e testado a cada seis meses. O paciente deve manter-
se em repouso por 20 minutos antes da medida, sem ter ingerido cafeína ou
fumado 30 minutos antes. O manguito deve envolver pelo menos 80% do braço
do paciente.
Em cada consulta, deverão ser realizadas pelo menos duas medidas da pressão
arterial, com intervalo de 1 a 2 minutos. Na primeira avaliação, as medições
devem ser realizadas em ambos os membros superiores. Havendo diferença entre
os níveis, considerar sempre o de maior pressão.
A seguir, são apresentados os cuidados durante o procedimento (Tabela 4.1),
as dimensões aceitáveis da bolsa de borracha para braços de diferentes tamanhos
(Tabela 4.2), os critérios diagnósticos e a classificação da PA em adultos acima de
18 anos (Tabela 4.3), de acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de
Hipertensão, disponíveis em www.sbh.org.br/download/diretrizes.
A posição recomendada para a medida da pressão arterial é a sentada, mas a
medida na posição ortostática deve ser feita na primeira avaliação do paciente,
bem como em idosos, diabéticos, portadores de disfunção autonômica, alcoolistas
e em pacientes usando anti-hipertensivos. Os pacientes hospitalizados sem condi-
SINAIS VITAIS
ção de mover-se para a verificação na posição sentada podem ter sua PA medida
na posição deitada – nesses casos, deve-se relatar a posição e o braço em que foi
verificada a PA no relatório do exame físico.
Situações especiais
Hipotensão postural
Com a mudança de decúbito, o sangue é represado nas extremidades e no
abdome, resultando em uma queda abrupta do retorno venoso. Com isso, o
débito cardíaco cai, e as respostas compensatórias são desencadeadas através
dos barorreceptores para estimular a atividade simpática: aumento da freqüência
cardíaca, contratilidade e resistência vascular sistêmica, visando a manter uma
PA estável no ortostatismo.
Definição de hipotensão postural
Q Queda de 20 mmHg na PA sistólica ou 10 mmHg na diastólica com a troca
da posição deitada para ortostática após três minutos.
Q Principais significados: hipovolemia, sangramento agudo, disfunção auto-
nômica, instabilidade hemodinâmica, drogas, entre outros.
Verificação da PA em crianças
Q Manguito: a largura deve corresponder a 40% da circunferência do braço
e o comprimento a 80 a 100% da circunferência do braço.
66
Tabela 4.1 Procedimento de medida da pressão arterial
1. Explicar o procedimento, orientar para que o paciente não fale e deixar que
mantenha-se relaxado por 5 a 10 minutos em ambiente calmo.
2. Atentar para que o paciente não esteja com a bexiga cheia, não tenha realizado
exercícios nos últimos 60 a 90 minutos, não mantenha as pernas cruzadas e
não tenha ingerido álcool, alimentos nem fumado nos últimos 30 minutos.
3. Observar o manguito: tamanho adequado ao braço do paciente, 2 a 3 cm da
fossa antecubital, centralizando a bolsa de borracha sobre a artéria braquial.
A largura da bolsa de borracha deve corresponder a 40% da circunferência
do braço, e o comprimento deve envolver pelo menos 80% do braço.
4. Manter o braço do paciente na altura do coração, livre de roupas, com a
palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeramente fletido.
5. Posicionar os olhos no mesmo nível da coluna de mercúrio ou do mostrador
do manômetro aneróide.
6. Palpar o pulso radial e inflar o manguito até o seu desaparecimento, para
estimar a pressão sistólica. Desinflar rapidamente e aguardar um minuto antes
de voltar a inflar.
7. Posicionar a campânula do estetoscópio suavemente sobre a artéria braquial,
na fossa antecubital, evitando a compressão excessiva.
8. Inflar rapidamente até 20 a 30 mmHg acima da PA sistólica. Proceder à defla-
ção, com velocidade constante de 2 a 4 mmHg/s. Após a identificação do
som que determina a PAS, aumentar a velocidade para 5 a 6 mmHg a fim de
evitar desconforto para o paciente.
9. Observar a pressão sistólica: determinada no primeiro som (fase I de
SINAIS VITAIS
Korotkoff), seguido de batidas regulares que se intensificam com o aumento
da velocidade de deflação. Pressão diastólica: determinada pelo desapareci-
mento do som (fase V). Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último
som para confirmar seu desaparecimento e depois desinflar completamente.
Quando os batimentos persistirem até o nível zero, definir a diastólica no
abafamento dos sons (fase IV), anotando PA sistólica/diastólica/zero.
10. Registrar: PA sistólica e diastólica, complementando com a posição do paciente,
o tamanho do manguito e o braço em que foi feita a medida. Não arredondar
os valores da pressão arterial para dígitos terminados em zero ou cinco.
11. Esperar 1 a 2 minutos antes de realizar novas medidas.
12. Informar ao paciente sobre os valores obtidos da pressão arterial e a possível
necessidade de acompanhamento.
Verificação da PA em idosos
Q É mais freqüente a lacuna auscultatória (desaparecimento dos sons na aus-
culta durante a deflação do manguito: pode subestimar a sistólica ou supe-
restimar a diastólica). Deve-se dar especial atenção ao cuidado de inflar o
manguito 20 a 30 mmHg após o desaparecimento do pulso e só então
desinflá-lo lentamente auscultando os sons de Korotkoff.
67
Tabela 4.2 Dimensões aceitáveis de bolsa de borracha para braços de
diferentes tamanhos
68
sistólicas entre 120-139 e diastólicas entre 80-89 são classificadas como pré-
hipertensão, devendo ser encorajadas mudanças de estilo de vida.
O valor mais alto de sistólica ou diastólica estabelece o estágio do quadro
hipertensivo. Quando as pressões sistólicas e diastólica situam-se em categorias
diferentes, a maior deve ser utilizada para a classificação do estágio.
Braunwald E, Zipes DP, Libby P. Heart Disease: a textbook of cardiovascular medicine. 6th ed.
Philadelphia: W.B. Saunders Company; 2001.
Thermoregulation and the pathogenesis of fever: an update. An N Y Acad Sci 1998; 856:76.
The seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation
and Treatment of High Blood Pressure: the JNC 7 report. JAMA. 2003 May 21; 289(19):
2560-72. Epub 2003 May 14. Erratum in: JAMA 2003 Jul 9; 290(2): 197.
Sites recomendados
Sociedade Brasileira de Hipertensão:
SINAIS VITAIS
www.sbh.org.br
69
5
ECTOSCOPIA
TANIA WEBER FURLANETTO
BEATRIZ GRAEFF SANTOS SELIGMAN
72
ROTEIRO DA ECTOSCOPIA
Estado geral do paciente
Serve para dar uma noção da gravidade da doença.
Classifica-se em estado geral bom, mau e regular.
Essa classificação é subjetiva: o estado geral bom descreve um paciente que
não apresenta sinais de sofrimento ou instabilidade, confortável ao narrar sua
história. Já o estado geral regular implica não estar bem em alguma área, embora
não haja instabilidade e sofrimentos maiores. Um exemplo é o indivíduo que não
aparenta palidez, cianose ou sinais de sofrimento respiratório, mas está claramente
emagrecido ou cansa ao falar. Um paciente em estado geral mau não tem condi-
ções de fornecer todos os dados, precisa interromper seu relato por fadiga extrema,
dispnéia, ou mesmo instabilidade hemodinâmica, ou está claramente muito debili-
tado. São critérios que variam muito de um examinador para outro, mas são
importantes porque atribuem um dado objetivo agregado pelo examinador aos
dados de história.
Nível de consciência
A alteração do nível de consciência (coma, estupor e sonolência) e a alteração
da consciência (alteração na capacidade de pensar coerentemente), isto é, com a
rapidez e a lucidez habituais, são problemas muito comuns.
A redução mais severa do nível de consciência e da resposta consciente é o
coma, um estado semelhante ao sono profundo, do qual o paciente não pode
ser acordado. No estado de estupor, o paciente pode ser acordado somente com
estímulo vigoroso e apresenta resposta motora para evitar desconforto. A sonolên-
ECTOSCOPIA
cia simula o sono leve e se caracteriza por acordar rápido e persistência do es-
tado de alerta por pequenos períodos. Uma vez que esses dados podem servir
como parâmetro de melhora/piora, é importante descrevê-los (estímulo versus
resposta, grau de confusão associado).
A confusão é o estado em que ocorre alteração da consciência causando
prejuízo das manifestações intelectuais dependentes da integração contínua dos
processos mentais. Há redução da compreensão, coerência e capacidade de racio-
cínio. A incapacidade de manter a atenção e a desorientação são os sinais externos
mais comuns. O paciente confuso, em geral, está retraído, não quer falar e está
inativo fisicamente. A confusão pode se acompanhar de agitação, alucinações,
tremor e ilusões, caracterizando o delírio.
Sinais de sofrimento: são avaliados pela respiração do paciente, pela sua expressão
facial, pelo seu grau de agitação. Caracterizam-se por taquipnéia, dificuldade
respiratória, ansiedade, dor, sudorese e agitação.
Fala e linguagem: avaliam-se as alterações da linguagem (verbal e não-verbal), o
timbre, o ritmo, a clareza e a espontaneidade da fala. Os traços característicos são
disfonia, afonia, dislalia, disartria, disfasia, afasia, taquilalia, bradilalia e verborréia.
Fácies típica: conjunto de características exibidas na face de um paciente que
podem sugerir um diagnóstico apenas pela inspeção. A fácies pode ser atípica
73
(normal, compósita), da síndrome nefrótica, leonina, lúpica, adenoidiana, par-
kinsoniana, basedowiana, mixedematosa, acromegálica, cushingóide e hutchin-
soniana, entre outras.
Deformidades e assimetrias: as assimetrias podem ser variações do normal ou po-
dem ocorrer como parte de síndromes genéticas ou doenças adquiridas. Suspeita-
se de síndrome genética quando tem um padrão familiar ou associação com
outras anormalidades. As deformidades em geral são progressivas.
Coloração da pele: o paciente pode apresentar palidez, hiperemia, albinismo (au-
sência de pigmentação melânica), hiperpigmentação (localizada ou generalizada)
e/ou cianose (central ou periférica). Nessa avaliação deve-se comparar o pacien-
te com ele mesmo.
Edema: o edema é o aumento clinicamente aparente no volume de líquido intersti-
cial. Deve-se observar se é generalizado (anasarca) ou localizado, sua intensida-
de e se há sinais de inflamação (dor, calor, rubor, hiperemia). O acúmulo de
líquido nas cavidades, como tórax e abdome, é considerado como forma especial
de edema.
Estado de hidratação: pode ser estimado pela umidade, elasticidade e turgor da
pele e das mucosas; fontanelas nas crianças e alterações oculares. Observar a
presença de desidratação e o grau, conforme a Tabela 5.1.
Estado de nutrição: até o término da puberdade, o estado de nutrição pode ser
avaliado pelo crescimento. Deve-se observar a presença de magreza/obesidade
(ver índice de massa corporal). O aspecto da pele, dos fâneros e do esqueleto pode
ECTOSCOPIA
informar sobre a falta de nutrientes específicos sem que haja desnutrição calórica.
Desenvolvimento físico: é avaliado pela medida do peso e da altura e pelo aspecto
geral do corpo (a musculatura e os caracteres sexuais secundários). Os dados
obtidos devem ser comparados com os valores normais para a idade e o sexo,
obtidos em população semelhante, levando-se em consideração, para a altura, o
potencial genético, isto é, a altura dos pais. Na avaliação do indivíduo até a
puberdade deve-se comparar, também, o indivíduo com ele mesmo, isto é, peso
e altura prévios, pois um indivíduo alto pode parar de crescer e, mesmo assim,
sua altura pode ser ainda normal. A redução ou ausência de crescimento pode
ser diagnosticada quando se compara o crescimento observado, num intervalo
de tempo, com o crescimento esperado para aquele indivíduo. O índice de massa
corporal, calculado pela fórmula peso (kg)/altura2 (m), permite uma estimativa
do conteúdo total de gordura do organismo em indivíduos que não estejam edema-
ciados ou com alterações importantes da quantidade de massa muscular. As pro-
porções corporais mudam com a idade e o estágio de desenvolvimento puberal.
Doenças que reduzem o crescimento longitudinal, como as disfunções congênitas
das cartilagens de conjugação (p.ex., acondro ou discondroplasias), associam-se a
membros inferiores e superiores curtos em relação ao tronco. Doenças associadas
à redução da maturação das cartilagens de conjugação, como hipo ou agonadismo,
se associam a membros inferiores e superiores longos em relação ao tronco.
74
Desenvolvimento sexual: o momento de início da puberdade e o tempo até com-
pletá-la são características herdadas que podem ser modificadas por fatores nu-
tricionais ou outros. Os estágios de Tanner dividem as transformações do corpo
humano durante a puberdade em cinco estágios. A confecção de tabelas com a
idade de indivíduos normais nos diferentes estágios permitiu uma avaliação mais
objetiva da normalidade da presença ou ausência de características puberais e da
harmonia entre elas. Permitiu também avaliar como está sendo a progressão
puberal em um indivíduo determinado.
Biótipo: conjunto de características morfológicas, com atenção para o ângulo de
Charpy. Pode ser brevilíneo, normolíneo e longilíneo.
Pode-se estimar o biótipo do paciente pela medida do ângulo de Charpy
(ângulo subcondral), formado pelos rebordos costais:
< 90 – longilíneo
= 90 – normolíneo
> 90 – brevilíneo
Musculatura: avaliar trofismo (massa muscular) e tônus (contração muscular). Ob-
servar se há hipertrofia, hipotrofia ou atrofia localizada ou generalizada. O tônus
pode ser normal, diminuído (hipotonia) ou aumentado (hipertonia).
Atitude e decúbito preferido: atitude é a posição adotada pelo paciente por como-
didade, hábito ou com o objetivo de aliviar algum sintoma. Somente têm valor
diagnóstico as atitudes inconscientes ou aquelas que trazem alívio de algum sinto-
ma. Se isso não for observado, a atitude é dita indiferente. Decúbito preferido é
aquele que se acompanha da melhora de algum sintoma. Observam-se decúbitos
ECTOSCOPIA
dorsais, ventrais, laterais; posição antálgica; atitudes voluntárias (ortopnéica, ge-
nupeitoral, parkinsoniana); atitudes involuntárias:
Passiva: o paciente não escolhe a posição de seu corpo.
Opistótono: o corpo do paciente torna-se arqueado, sendo, então, apoiado na
cabeça e nos calcanhares.
Emprostótono: o corpo do paciente forma concavidade voltada para diante.
Pleurostótono: o corpo do paciente se curva lateralmente.
Ortótono: atitude em que o tronco e os membros ficam rígidos, sem que haja
curvatura lateral, para trás ou para diante.
As posições acima ocorrem no tétano, na meningite e na raiva.
Movimentos involuntários: podem ser constantes ou periódicos. Observar se há
tremores, coréia, atetose, hemibalismo, mioclonias, asterixe, tiques, convulsões,
tetania, fasciculações.
Marcha: avaliar qualquer alteração, para a qual se dá o nome de disbasia. A marcha
pode ser hemiplégica ou ceifante, parkinsoniana, escarvante, espástica ou em
tesoura, atáxica.
75
Odores: observar os odores corporais, hálito (alcoólico, urêmico, cetônico, de
infecção pulmonar).
Observação: itens como fala e linguagem, musculatura, movimentos involuntários
e marcha, apesar de também fazerem parte da ectoscopia, são melhor avaliados
no exame neurológico.
Sinais vitais: ver Capítulo 25.
DICAS DE SEMIOTÉCNICA
Q Índice de massa corporal ou índice de Quetelet (IMC)
Q Peso (kg)/altura (m2)
Q Sobrepeso IMC > 25 kg/m2
Q Obesidade IMC > 27,8 kg/m2 (homens) e > 27,3 kg/m2 (mulheres)
Q Obesidade mórbida IMC > 31,1 kg/m2 (homens) e > 32,3 kg/m2 (mulheres)
Q Desnutrição no adulto IMC < 17 kg/m2
5.1).
SÍNDROMES
A síndrome é um conjunto de manifestações clínicas que caracterizam um esta-
do clínico. Em geral, o conjunto é identificado visualmente. Indivíduos não-apa-
rentados, quando afetados, se tornam muito semelhantes. Em geral, a presença
da anormalidade é identificada mesmo por leigos. Podem ser congênitas ou adqui-
ridas. Uma ou várias doenças podem, em alguns casos, causar uma mesma sín-
drome. A seguir, listamos as mais importantes, com seu mecanismo.
Q Síndrome de Down: trissomia do cromossomo 21.
Q Síndrome de Turner: anormalidade dos cromossomos sexuais.
Q Síndrome de Klinefelter: anormalidade dos cromossomos sexuais.
Q Síndrome de Marfan: anormalidade do colágeno.
Q Síndrome do lúpus eritematoso sistêmico: doença autoimune.
Q Doença de Graves: anormalidade auto-imune comprometendo especial-
mente a tireóide e o tecido periorbitário.
Q Mixedema: hipotireoidismo acentuado.
Q Acromegalia: secreção excessiva de hormônio de crescimento após a pu-
berdade.
Q Síndrome de Cushing: excesso de glicocorticóides, endógeno ou não.
76
Tabela 5.1 Graus de hidratação
ECTOSCOPIA
Pulso radial Presente, Presente, mais Débil ou ausente
ainda forte fraco, taquicardia
DeGowin EL, DeGowin, RL. Bedside diagnostic examination. 3rd ed. New York: MacMillan
Publishing Co.; 1976.
Tierney LM, McPhee SJ, Papadakis MA. Current medical diagnosis & treatment. 33rd. ed.
New York: Appleton & Lange; 1994.
77
6
EXAME DERMATOLÓGICO
LUCIO BAKOS
RENATO M. BAKOS
ROTEIRO DO EXAME
Luz adequada: o paciente deve ser examinado na presença de luz adequada, de
preferência a luz natural. Atualmente, em consultórios médicos, a luz branca
(fluorescente) é preferida dentre as artificiais, pois as de filamento tendem a
alterar as cores da pele.
Exame dermatológico: mesmo que o paciente tenha queixas de problemas derma-
tológicos em apenas uma determinada região, ou mostre apenas o local da altera-
ção, o exame dermatológico correto e adequado exige que toda a pele seja
examinada. É importante expor uma parte a ser examinada de cada vez, a fim de
preservar ao máximo a privacidade do paciente. O exame deve seguir o sentido
craniocaudal, estando o paciente em posição ortostática ou em decúbito dorsal.
Um exame dermatológico completo compreende a análise de todo o tegumento,
dos fâneros (pêlos e unhas), das mucosas visíveis, dos linfonodos e, no caso da
hanseníase, dos nervos palpáveis.
Mucosas e fâneros: a mucosa oral e a ocular devem ser examinadas rotineiramente,
assim como os fâneros (unhas e pêlos). A mucosa da genitália externa deverá ser
avaliada sempre que houver patologia que comprometa essa área.
Pele: o exame da pele compreende a inspeção das alterações cutâneas e, após, a
sua palpação, que fornece informações sobre a textura, a extensão das lesões, a
profundidade e a consistência das mesmas. Também são utilizadas manobras
complementares, como a diascopia e a curetagem metódica (ver “Dicas de se-
miotécnica”).
Linfonodos e nervos periféricos: as principais cadeias linfáticas palpáveis (axilares,
cervicais, epitrocleanas, inguinais, poplíteas) devem sempre ser examinadas, bem
como os nervos periféricos (ulnar, radial e fibular comum). Esses podem estar
espessados, como na hanseníase. Testar as sensibilidades algésica e térmica com-
pleta a avaliação.
Descrição, colocação da lesão elementar e achados adicionais: o primeiro passo é a
EXAME DERMATOLÓGICO
LESÕES ELEMENTARES
Entende-se por lesões elementares todas as alterações do tegumento determinadas
por fatores infecciosos, inflamatórios, tumorais, metabólicos, degenerativos, gené-
ticos, malformativos, etc., que possam caracterizar determinadas afecções. São
os elementos de leitura das afecções dermatológicas. Apresentamos a seguir a
classificação das lesões elementares em dermatologia e os termos comumente
aplicados para descrevê-las.
80
Mancha: alteração circunscrita da cor da pele, de tamanho maior que 0,5 cm de
diâmetro. As manchas e máculas podem ser pigmentares, vasculares ou purpúricas.
Pigmentares
Q Pigmento melânico
– Hipercromia: aumento da pigmentação. Por exemplo, sardas ou efélides.
– Hipocromia: diminuição da pigmentação. Por exemplo, hanseníase, piti-
ríase versicolor.
– Acromia: ausência de pigmentação. Por exemplo, vitiligo, piebaldismo.
Q Pigmentos anormais à pele
– Bilirrubina. Por exemplo, icterícia.
– Caroteno. Por exemplo, xantocromia.
Q Pigmentos exógenos
– Medicamentos. Por exemplo, ouro, prata, antimaláricos.
– Corantes. Por exemplo, tatuagens.
Vasculares: desaparecem após compressão ou diascopia.
Q Transitórias
– Eritema: vasodilatação. Por exemplo, doenças exantemáticas.
– Cianose (central ou periférica).
– Enantema: eritema nas mucosas. Por exemplo, faringites virais.
Q Permanentes
– Nervos vasculares: hiperplasia de vasos.
– Telangiectasias: dilatação de vasos terminais.
EXAME DERMATOLÓGICO
Purpúricas: não desaparecem pela compressão ou diascopia, pois trata-se de
hemácias extravasadas.
Q Petéquias: pontilhado hemorrágico. Por exemplo, discrasia sangüínea.
Q Víbices: hemorragias lineares.
Q Equimoses: grandes áreas hemorrágicas. Por exemplo, traumatismos.
81
Ceratose: modificação da espessura da pele por espessamento da camada córnea.
Por exemplo, calos, ceratoses genéticas.
Vegetação: lesões sólidas e salientes produzidas por hipertrofia das papilas dérmicas,
produzindo superfície imitando vegetal. Por exemplo, condilomas acuminados,
carcinomas epidermóides.
Verrucosidade: lesão elementar sólida produzida por hipertrofia das papilas dérmi-
cas acompanhada de hiperceratose. Por exemplo, verruga viral, ceratose seborreica.
Infiltração: aumento de espessura e consistência da pele, com diminuição da visibi-
lidade dos seus sulcos normais. Por exemplo, hanseníase virchowiana, mixedema.
Liquenificação: espessamento da pele, sem aderência aos planos profundos, com
maior visualização do quadriculado de seus sulcos naturais. Por exemplo, eczemas
crônicos.
Esclerose: aumento da espessura da pele e aderência aos planos profundos por
proliferação de colágeno. Por exemplo, esclerodermia.
Edema: aumento depressível da espessura da pele por acúmulo de líquido no
espaço intersticial. Por exemplo, insuficiência cardíaca congestiva.
Ponfo ou lesão urticada (urtica): lesão elementar edematosa, circunscrita, caracteri-
zada por sua fugacidade de evolução. Por exemplo, urticária.
EXAME DERMATOLÓGICO
82
Ulceração: perda circunscrita de epitélio, derma e/ou hipoderma, que deixa cicatriz
após a cura. Por exemplo, cancróide, úlcera de estase.
Fissura ou rágade: solução de continuidade linear, superficial ou profunda, não-
causada por instrumento cortante (mais freqüente no contorno dos orifícios natu-
rais ou em áreas de dobras). Por exemplo, queilite, sífilis congênita perioral.
Fístula: pertuito cutâneo tubular conectado com foco profundo de supuração ou
necrose, drenando essas substâncias para a superfície da pele. Por exemplo, tu-
berculose ganglionar, micoses profundas.
EXAME DERMATOLÓGICO
Escara ou esfacelo: lesão elementar secundária causada por necrose e mumificação
de pele. Diferencia-se semiologicamente da crosta hemática por poder ser remo-
vida somente com desbridamento. Por exemplo, úlcera de decúbito, gangrena
diabética.
Seqüelas
Atrofia: adelgaçamento da pele, que se torna fina, lisa, translúcida e facilmente
pregueável. Por exemplo, estrias.
Cicatriz: proliferação de tecido fibroso em local de tecido destruído por trauma
ou doença, podendo ser atrófica ou hipertrófica. Por exemplo, queimadura de
terceiro grau.
DIAGNÓSTICO TOPOGRÁFICO
Os diagnósticos citados serão explicados nos “Quadros sindrômicos”.
Unhas
Leuconíquia (manchas brancas nas unhas), paroníquia (inflamação periun-
gueal), coiloníquia (unhas em forma de colher por exposição a irritantes locais ou
anemia ferropriva, entre outros) onicólise (descolamento da unha do leito un-
gueal), onicodistrofia (anomalia morfológica), onicofagia (hábito de roer as unhas),
estrias de Beau (linhas ou sulcos transversais causados por infecções periungueais
83
e doença hepática ou renal), unhas de Mee (faixas transversais brancas relaciona-
das a envenenamento por arsênico e à doença sistêmica aguda), banqueteamento
digital (aumento do ângulo entre a base ungueal e a unha [ângulo de Levibond]
que normalmente é de 160º, ocorrendo principalmente por doença broncopul-
monar obstrutiva crônica, câncer de pulmão, abscesso pulmonar e cardiopatia
congênita), onicogrifose (unhas encurvadas, imitando garras), paquioníquia (lâmi-
na ungueal espessada) unhas em vidro de relógio (convexidade exagerada nos
dois sentidos), hemorragias lineares (estrias vermelhas paralelas ao maior eixo
dos dedos, relacionadas à endocardite bacteriana), petéquias (pontos hemorrá-
gicos relacionados a pequenos traumatismos ou à endocardite infecciosa), cianose,
telangiectasias (pequenos vasos sangüíneos superficiais dilatados na região pe-
riungueal, relacionados a doenças do colágeno), unhas em dedal (depressões
puntiformes na lâmina ungueal vistas na psoríase, também chamadas de pitting),
onicólise (descolamento da lâmina ungueal), onicorrexe (fragmentação da borda
livre da unha), melanoníquia (estrias enegrecidas nas unhas, podem significar
melanoma ou nevo melanocítico de matriz ungueal), psoríase.
Mãos
Fenômeno de Raynaud (fenômeno vascular periférico em que as porções distais
das mãos ou dos pés adquirem, nessa ordem, a coloração branca [por espasmo
arterial], azulada [por alteração da extração de oxigênio] e vermelha [por retor-
no do suprimento sangüíneo], podendo estar associado à artrite reumatóide, ao
lúpus eritematoso sistêmico, à esclerodermia e à dermatomiosite), xantomas (pla-
EXAME DERMATOLÓGICO
Antebraço e braço
Marcas de coçadura, tatuagens, marcas de injeções, dermatite atópica, líquen
plano, psoríase, hanseníase.
Axila
Dermatite de contato, escabiose, candidíase, eritrasma, psoríase invertida,
acantose nigricante.
84
Couro cabeludo e cabelos
Alopecias (perda de cabelos), pediculose, dermatite seborréica, psoríase, fo-
liculite, neoplasias.
Supercílios
Dermatite seborréica, madarose (hanseníase, hipotireoidismo), mucinose fo-
licular.
Pálpebras
Xantelasma (xantoma localizado na pálpebra, relacionado à doença coronária
[40 a 70%] e ao diabete melito), dermatite de contato, dermatomiosite (helio-
tropo), carcinoma basocelular, dermatite seborréica, ftiríase.
Orelhas
Hipertricose (crescimento de pêlos), dermatite de contato, psoríase, dermatite
seborréica, ceratose actínica, neoplasias.
Face
Fotossensibilidade (erupção cutânea causada por exposição à luz solar), rash
malar (área eritematosa em forma de asa de borboleta sobre a região malar e
dorso do nariz, classicamente vista no lúpus eritematoso), telangiectasias (dilata-
ções de vasos cutâneos superficiais por exposição solar, rosácea, doenças do
colágeno e por hepatopatia), cloasma (manchas acastanhadas nas regiões frontal,
EXAME DERMATOLÓGICO
malar e buço, freqüentes na gravidez e com o uso de pílulas anticoncepcionais),
neoplasias cutâneas, acne, rosácea, dermatite seborréica, ceratose actínica, nevos,
ceratose seborréica, melanoses solares, efélides, lentigos, dermatite de contato,
dermatite atópica, impetigo, herpes zoster, hanseníase, vitiligo.
Boca
Leucoplasia (lesão esbranquiçada que, ao contrário da candidíase oral, não
pode ser removida com a raspagem da mucosa, podendo ser causada por irritantes
crônicos [dentadura, tabagismo], displasia [lesão pré-malígna] ou carcinoma epi-
dermóide), língua geográfica (áreas vermelhas, lisas e desprovidas de papilas
sobre o dorso da língua, dando aspecto semelhante a um mapa, sendo de causa
desconhecida e de natureza benigna), herpes labial, aftas, candidíase, líquen plano,
lúpus eritematoso carcinoma epidermóide, leucoplasia pilosa, sarcoma de Kaposi,
pênfigo vulgar.
Pescoço
Acantose nigricante, acrocórdons, ceratose seborréica, nevos melanocíticos,
poiquilodermia de Civatte.
Tronco
Telangiectasias ou aranhas vasculares (encontradas na cirrose hepática), xan-
tomas, neurofibromas (tumores aparentemente sólidos, sésseis ou pedunculados,
85
localizados na pele ou ao longo dos nervos periféricos, sendo característicos de
neurofibromatose ou doença de von Recklinghausen), herpes zoster, escabiose,
pitiríase rósea, acne, pitiríase versicolor, eritemas anulares, psoríase, ceratose se-
borréica, nevos melanocíticos, melanoma, pênfigos.
Membros inferiores
Edema, linfedema (edema não-depressível em conseqüência de inflamação
dos vasos linfáticos, causando aumento de volume no membro envolvido, poden-
do ser causado por filaríase linfática), varizes (veias dilatadas e tortuosas), pioderma
gangrenoso, úlcera de estase, dermatite de estase, dermatite ocre, eritema nodoso,
eritema multiforme, necrobiose lipoídica, mixedema pré-tibial, psoríase, dermatite
atópica, erisipela, celulite.
Pés
Edema, fenômeno de Raynaud (idem mãos), verrugas, úlceras tróficas (localizam-
se em áreas com sensibilidade diminuída e que suportam grande carga de pressão,
EXAME DERMATOLÓGICO
Pêlos
Queda de pêlos (alopecia), alterações da implantação, hirsutismo (crescimento
excessivo de pêlos terminais ásperos e pretos, geralmente nas áreas andrógeno-
dependentes, podendo indicar neoplasia, doença endócrina, reações medicamen-
tosas ou variação funcional), hipertricose (crescimento dos pêlos em locais não
hormônio-dependentes).
DICAS DE SEMIOTÉCNICA
Vitropressão ou diascopia
É realizada pela compressão da pele com uma lâmina de vidro. Essa manobra
provoca isquemia, de modo que as manchas resultantes de vasodilatação ou
hiperplasia vascular esmaecem e se tornam pouco visíveis, o que não acontece
86
com as manchas pigmentares ou as ocasionadas por extravasamento de sangue
(púrpuras), que permanecem inalteradas.
Dermografismo
O atrito de lesão ou da pele normal é feito com a extremidade romba de um
objeto. No dermografismo, a fricção provoca a liberação de histamina, com produ-
ção de um ponfo urticariano acompanhando a linha de fricção. O sinal de Darier
consiste na produção de lesão urticada ao friccionar uma mácula ou pápula das
mastocitoses.
Sinal de Nikolsky
É o descolamento epidérmico provocado por fricção na pele dos pênfigos,
traduzindo o fenômeno da acantólise. O sinal de Asboe-Hansen consiste na exten-
são das bolhas já existentes pela pressão digital sobre a lateral das mesmas,
significando a mesma alteração histológica.
EXAME DERMATOLÓGICO
gem de lesão por camadas, há inicialmente a obtenção de pequenas escamas
brilhantes, furfuráceas (farinhentas) semelhantes à cera de vela raspada (sinal da
vela). Prosseguindo a curetagem, após a remoção de todas as camadas de escamas,
observa-se uma fina cutícula amarelada correspondente à epiderme adelgaçada
(membrana derradeira), que, removida pela cureta, põe à mostra gotículas de
sangue (sinal do orvalho sangüíneo ou de Auspitz).
Dermatoscopia
Também chamada de dermoscopia ou epiluminescência de superfície, permite
a melhor visualização de lesões pigmentares, colaborando no diagnóstico diferen-
cial. Consiste em um microscópio (aumento 10x) manual com uma fonte luminosa
acoplada. A aplicação de uma gota de óleo mineral ou gel entre a lente do micros-
cópio e a pele diminui o grau de refração da fonte luminosa e mostra as estruturas
na lesão até a derme reticular alta. Muito útil no diagnóstico diferencial entre as
lesões pigmentares melanocíticas e não-melanocíticas, benignas ou malignas.
SINAIS DE ALERTA
Cuidado: melanoma à vista!
Quando um nevo melanocítico preexistente ou uma lesão pigmentar de apare-
cimento recente for muito chamativo visualmente e apresentar as seguintes carac-
87
terísticas, deve ser investigado, pois pode tratar-se de um melanoma. É o ABCD
dos melanomas.
A– assimetria
B– bordas irregulares
C– cores variadas
D– diâmetro maior que 0,6 cm
HIV+ em potencial!
A candidíase oral e a esofágica, bem como a leucoplasia pilosa, são lesões
freqüentemente associadas à infecção pelo HIV. Outras infecções fúngicas e virais
(histoplasmose, ulcerações por herpes simples, herpes zoster recorrente) podem
ser marcadoras de imunodeficiência adquirida.
Eritrodermia
Quadro cutâneo em que toda a superfície da pele está eritematosa, acompa-
nhada de descamação lamelar difusa. As principais causas são a psoríase, os
eczemas atópico e seborréico e as reações alérgicas a fármacos, porém linfomas
T cutâneos podem estar associados a essa situação. Sempre há um desequilíbrio
das funções cutâneas, e o tratamento deve ser iniciado em ambiente hospitalar,
pela importância e dificuldade de manejo que apresentam.
QUADROS SINDRÔMICOS
EXAME DERMATOLÓGICO
Manchas discrômicas
Nevo melanocítico adquirido
Q distúrbio proliferativo benigno dos melanócitos;
Q a maioria surge entre 2 e 10 anos de idade, mas continuam a aparecer com
o decorrer do tempo; alguns tendem a desaparecer com a idade;
Q apresenta risco muito baixo de malignização;
Q os locais mais freqüentes de distribuição são as áreas de exposição solar de
lazer;
Q o aspecto clínico pode variar de liso a vegetante, e a coloração, de róseo a
marrom-escuro;
Q se negro, considerar diagnóstico diferencial com melanoma.
Sardas ou efélides
Q são lesões benignas que ocorrem após dano solar agudo, principalmente
na infância;
Q são pequenas máculas castanhas que escurecem com a exposição ao sol e
clareiam no inverno;
Q podem aparecer em qualquer área exposta à luz solar, muito prevalentes
na face.
88
Melanoma
Ver “Tumores cutâneos”.
Melasma ou cloasma
Q lesão cutânea originada, na maioria dos casos, por estímulo estrogênico e
pela ação da luz solar, ocorrendo quase exclusivamente em mulheres;
Q caracteriza-se por manchas hipercrômicas delimitadas, de bordas maldefinidas;
Q ocorre com mais freqüência durante a gestação e com o uso de anticoncep-
cionais orais;
Q distribui-se mais na face, principalmente nas regiões malares, na fronte, no
lábio superior, no dorso do nariz e no mento.
Pitiríase versicolor
Q é uma micose superficial causada pelo Pityrosporum orbiculare (Malassezia
furfur);
Q consiste em máculas de 2 a 3 mm de diâmetro, que podem estar isoladas ou
confluir formando extensas manchas hipocrômicas, acastanhadas ou erite-
matosas, recobertas por escamas lamelares finas que, à curetagem ou raspa-
gem, soltam-se em uma única lamela membranosa (sinal da “unhada”);
Q a região mais acometida é o tronco, em especial a cintura escapular;
Q o prurido é incomum.
Vitiligo
EXAME DERMATOLÓGICO
Q doença freqüentemente de caráter auto-imune, em que há destruição dos
melanócitos;
Q consiste de manchas acrômicas, redondas, ovais ou irregulares;
Q ocorre mais comumente ao redor dos orifícios (olhos, boca, genitais), sobre
saliências ósseas, nas áreas de intertrigo e nos locais expostos, na maioria
das vezes com distribuição simétrica;
Q pode estar associado a outras doenças auto-imunes (tireoidites, doença de
Addison, anemia perniciosa, diabete melito I, lúpus eritematoso, alopecia
areata).
Lesões tumorais
Carcinoma basocelular
Q forma mais comum de câncer de pele;
Q ocorre mais em indivíduos de pele clara, de meia-idade ou idosos, que
tenham tido exposição solar crônica, continuada ou de padrão intermitente
(“sol do veranista”);
Q placa ou nódulo de tecido acinzentado, translúcido (“perolado”), de tama-
nho variável, por vezes com telangiectasias na superfície; quando ulcerado,
apresenta bordas arredondadas e proeminentes, papulosas, sendo facilmen-
te sangrante;
Q aparece em superfícies expostas ao sol, especialmente na face, no nariz, no
pescoço, nos ombros e nas pernas;
89
Q raramente gera metástases, mas apresenta grande tendência à expansão
local;
Q são subdivididos histopatologicamente em nodulares, pigmentados, super-
ficiais, esclerodermiformes e infiltrativos. Os dois últimos são mais agressivos,
tendem a ter mais recidivas locais e, quando muito antigos, são os que
mais podem produzir metástases.
Carcinoma espinocelular
Q é a segunda forma mais comum de câncer da pele;
Q ocorre mais em indivíduos de pele clara e de olhos azuis, mais em homens,
com média de idade em torno de 60 anos;
Q é mais freqüente em pessoas de exposição solar crônica diária (“sol do
agricultor”);
Q geralmente inicia a partir de lesão precursora (ceratose actínica, leucoplasia,
radiodermite, fístulas e ulcerações crônicas, etc.);
Q caracterizado por lesões exofíticas papulonodulares com superfície escamosa
ou ulcerovegetantes;
Q ocorre em áreas expostas ao sol, especialmente na face, nas mãos e nos
braços;
Q é um tumor localmente invasivo, podendo ocorrer doença metástica, ge-
ralmente por via linfática, em casos de tumores primários extensos ou pou-
co diferenciados;
Q pode acometer a mucosa oral e genital.
EXAME DERMATOLÓGICO
Melanoma maligno
Q é um câncer da pele resultante da transformação maligna dos melanócitos,
sendo mais comum em pessoas de pele clara;
Q pode desenvolver-se a partir de lesões melanocíticas preexistentes ou de
melanócitos presentes na pele normal;
Q é classificado clínico-patologicamente em melanoma expansivo superficial,
melanoma nodular, melanoma tipo lentigo maligno e melanoma lentiginoso
acral;
Q sem tratamento, os melanomas progridem para doença metástica, causando
a morte do paciente;
Q todas as formas de melanoma, exceto o nodular, são caracterizadas por lesões
assimétricas, com bordas irregulares, cores variadas e diâmetro grande;
Q o melanoma nodular é caracterizado por um nódulo muito pigmentado e
com bordas bem-definidas;
Q é importante realizar a dermatoscopia em lesões suspeitas de melanoma.
Hemangioma congênito
Q é um crescimento anormal do tecido vascular cutâneo, associado ou não a
alterações dos capilares, sendo de causa desconhecida;
Q inicialmente as lesões são planas e rosadas, mas com o passar do tempo
tornam-se elevadas, com a cor variando do vermelho ao violáceo;
90
Q afetam com mais freqüência a cabeça;
Q em torno de 50% desses hemangiomas regridem até os cinco anos, 70%,
até os sete anos, e 90%, até os nove anos de idade.
Sarcoma de Kaposi
Q é um tumor maligno das células endoteliais dos vasos;
Q apresenta-se como máculas, pápulas, nódulos e placas de vermelhas a pur-
púreas;
Q a forma clássica ocorre em pacientes idosos, principalmente nas extremida-
des, progredindo lentamente;
EXAME DERMATOLÓGICO
Q nos pacientes imunocomprometidos, como os portadores da AIDS, ocorre
uma forma mais agressiva, altamente progressiva e fatal, afetando a pele e
também os órgãos internos;
Q geralmente, as lesões são assintomáticas, mas pode haver prurido, ardência,
hipersensibilidade e sangramento após traumatismos.
Ceratose seborréica
Q lesões benignas com aparecimento mais freqüente a partir da quarta déca-
da de vida;
Q freqüentemente as lesões são múltiplas e localizam-se na face, no pescoço,
no tronco e nos membros;
Q são pápulas castanho-claras a escuras, circunscritas, podendo formar peque-
nas placas verrucosas com escamas gordurosas.
Ceratoacantoma
Q tumor de crescimento rápido derivado de queratinócitos do folículo pilos-
sebáceo;
Q sua etiologia está possivelmente relacionada à exposição solar e a trauma-
tismos;
Q é uma tumoração com configuração “vulcânica”, com uma cratera central
preenchida por material córneo compactado;
Q geralmente é um tumor único e tende à regressão espontânea.
91
Lesões exantemáticas
Exantema súbito ou roséola infantil
Q doença viral da infância;
Q caracteriza-se por febre alta que desaparece subitamente em 3 a 4 dias
quando, então, surgem máculas e pápulas avermelhadas no tronco.
Eritema infeccioso
Q doença viral da infância, também chamada de quinta doença;
Q a região malar torna-se vermelha e brilhante; aparece erupção reticulada
rósea nos braços, nas pernas e no tronco;
Q pode haver febre, geralmente baixa.
Sarampo
Q doença exantemática viral da infância;
Q caracteriza-se por máculas, pápulas e placas avermelhadas que começam
na linha dos cabelos e ao redor das orelhas, espalhando-se posteriormente
pelo tronco;
Q acompanha febre alta e manchas de Koplik (pápulas brancas na mucosa
oral).
Rubéola
Q exantema viral que pode provocar problemas congênitos em recém-nascidos
de mães que contraíram a infecção durante a gestação;
EXAME DERMATOLÓGICO
Febre escarlatina
Q infecção por estreptococo do grupo A β-hemolítico;
Q exantema associado à infecção de vias aéreas superiores. Inicia em tronco e
no pescoço evoluindo para os membros; ao involuir, deixa descamação fina;
Q acompanha palidez perioral (fácies de Filatov), estriações hiperpigmentadas
em dobras (sinal de Pastia) e língua com coloração de “morango”.
92
Dermatite de contato
Q resulta do contato com um alergeno com o qual o paciente foi anterior-
mente sensibilizado ou de um irritante primário (p. ex., cáustico);
Q os principais agressores incluem a aroeira e os componentes dos perfumes,
dos cosméticos e das bijouterias (níquel e cromo);
Q é freqüentemente simétrica e localizada no local do contato;
Q caracteriza-se, na fase aguda, por uma erupção com eritema, com vesículas
ou com bolhas, geralmente pruriginosa, que evolui para escamas, crostas e
liquenificação quando crônica.
Dermatite de estase
Q lesão principalmente eczematosa que ocorre por incompetência venosa
dos membros inferiores, com aumento da pressão nos tecidos, edema, fi-
brose e obstruções arteriolar e linfática progressivas, com redução da oxi-
genação da pele do local;
Q a pele torna-se eritematosa e brilhante, evoluindo para hiperpigmentação
(hemossiderose – dermatite ocre), crises exsudativas de agudização e hi-
perceratose na doença crônica;
Q está associada a edema com cacifo, posterior dermatoesclerose e tendência
à ulceração.
Dermatite seborréica
Q lesão de pele bastante prevalente, de causa desconhecida, porém com com-
EXAME DERMATOLÓGICO
ponente familiar, que ocorre mais nos períodos neonatal e pós-puberal;
Q erupção eritemato-escamosa, por vezes untuosa ao tato, que acomete prin-
cipalmente áreas de concentração de glândulas sebáceas;
Q distribui-se no couro cabeludo, nos supercílios, na glabela, nas áreas para-
nasais, na região esternal e interescápulo-vertebral; por vezes acomete
áreas de grandes dobras, produzindo intertrigos;
Q possui variações sazonais e pode recrudescer, acompanhando as mudanças
de imunidade do portador.
Dermatite atópica
Q erupção eritemato-escamosa crônica; freqüentemente, há história pessoal
ou familiar de alergias, asma e rinite alérgica;
Q caracteriza-se por placas eritematosas, edemaciadas, acompanhadas de ve-
sículas que exsudam durante a fase aguda, e por pele seca, descamativa e
liquenificada na fase crônica;
Q inicia na face, na infância, mais tarde podendo afetar as superfícies flexoras
das extremidades (eczema de Besnier);
Q também se caracteriza por prurido intenso.
Líquen plano
Q erupção cutânea papuloescamosa, idiopática, havendo sugestões de que
possa ser auto-imune;
Q pode ser induzido por medicamentos;
93
Q apresenta ligação freqüente com os vírus das hepatites B e C;
Q caracteriza-se por pápulas brilhantes, violáceas e achatadas, podendo estar
acompanhadas de prurido e ser encimadas por finas linhas brancas (estrias
de Wickham); são discretamente escamosas;
Q ocorre mais freqüentemente nas áreas de flexão (punhos, antebraços e
tornozelos) e, também, na genitália, na mucosa oral (lesões brancas reticu-
ladas) e no couro cabeludo (nesse podendo causar alopecia cicatricial defini-
tiva);
Q em 10% dos casos há comprometimento ungueal;
Q há relatos de carcinoma epidermóide instalado em líquen plano erosivo da
mucosa oral.
Dermatomiosite
Q entidade clínica que ocorre quando a polimiosite (doença inflamatória dos
músculos esqueléticos, de causa desconhecida, caracterizada por fraqueza
proximal simétrica dos membros, pescoço e faringe) passa a apresentar
lesões cutâneas (ver também Capítulo 5);
Q caracteriza-se por eritema violáceo facial, algo telangiectásico, por vezes
com edema, principalmente nas pálpebras (heliotrópio);
Q eritema inespecífico em áreas fotossensíveis como face e pescoço pode ser
sinal da doença;
Q nas articulações interfalangianas das mãos e sobre os tendões extensores,
apresentam-se pápulas achatadas, violáceas, com centro atrófico (pápulas
EXAME DERMATOLÓGICO
Escabiose
Q lesão causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei variedade hominis;
94
Q as lesões mais características são micropápulas ou túneis (pápulas lineares
ou em forma de “S”), com uma microvesícula em uma extremidade (emi-
nência acariana);
Q as lesões geralmente estão escoriadas e cobertas por crostas; devido ao
intenso prurido causado pela afecção, as infecções secundárias nas lesões
são freqüentes;
Q os locais mais comuns das lesões são os interdígitos das mãos, a região dos
pilares axilares, as mamas, os flancos, a região periumbilical, a face interna
das coxas, as nádegas, o pênis e o escroto (nódulos pruriginosos caracte-
rísticos);
Q nas crianças pode acometer palmas e plantas;
Q as lesões poupam o pescoço e a face nos adultos;
Q em imunossuprimidos, ou quando estiver associada uma doença que blo-
queie o prurido, pode ocorrer uma forma clínica que envolve lesões crostosas
e ceratóticas (escabiose crostosa).
Eritema marginado
Q lesão cutânea que ocorre na febre reumática e que, na maioria das vezes,
está associada à cardite;
Q origina-se como máculas ou pápulas eritematosas e edematosas que se
estendem centrifugamente formando lesões anulares, principalmente no
tronco e nas axilas;
Q não há prurido nem induração.
EXAME DERMATOLÓGICO
Pitiríase rósea de Gibert
Q doença benigna, de causa desconhecida e involução espontânea em 4 a 6
semanas;
Q caracteriza-se por lesões ovaladas, eritematosas, edematosas, com “colari-
nho” de descamação central e bordas pouco elevadas, geralmente pouco
pruriginosas;
Q geralmente inicia-se com uma única lesão que precede de 7 a 14 dias as
demais (medalhão inicial, placa monitora, placa-mãe);
Q localiza-se principalmente no tórax e na raiz de membros; rara em extremi-
dades.
95
Q em imunossuprimidos, é significativo o acometimento difuso e múltiplo
das unhas, que ficam esbranquiçadas (onicomicose branca superficial).
Tinea cruris
Q micose superficial que acomete comumente homens após a puberdade,
sendo menos comum em mulheres;
Q apresenta-se por placas eritemato-escamosas bem-delimitadas, com maior
atividade nas bordas da lesão, onde se observam lesões vesicocrosticulares,
que evoluem centrifugamente; geralmente o centro da placa é mais poupado;
Q acomete a face interna da coxa até a região inguinal;
Q há prurido de moderado a intenso.
Sífilis secundária
Q é uma doença infecciosa causada pela transmissão sexual do Treponema
pallidum;
Q é caracterizada por surtos de máculas eritematosas ou pápulas vermelho-
acastanhadas na pele, sendo assintomáticas;
Q são localizadas no tronco e nas extremidades, nas palmas das mãos e nas
plantas dos pés;
Q dependendo do período evolutivo da infecção, também se encontram
pápulas ou placas erosadas na mucosa oral e genital;
Q aparecem de 4 a 8 semanas após o cancro duro (sífilis primária).
Psoríase
Q sua causa exata não é totalmente compreendida, mas apresenta componen-
te familiar;
Q a anormalidade básica é um aumento da população de células epidérmicas,
que se dividem muito rapidamente, associado a um processo inflamatório
dérmico;
96
Q manifesta-se por pápulas ou placas eritemato-escamosas, com escamas
branco-prateadas e de margens nítidas;
Q aparece classicamente nas áreas de extensão (cotovelos, joelhos e dorso),
podendo aparecer no couro cabeludo, nas mãos, nos pés e nas unhas ou
ser generalizada; a curetagem de Brocq é útil no seu diagnóstico;
Q se o acometimento for na matriz ungueal, ocorrem depressões puntiformes
nas unhas (unha em dedal); se o leito subungueal for acometido, há presença
do sinal da gota de óleo (onicólise).
Celulite e erisipela
Q a celulite é uma infecção do tecido subcutâneo causada principalmente
por estreptococos β-hemolíticos do grupo A, por S. aureus ou por ambos.
EXAME DERMATOLÓGICO
Em hospedeiros imunocomprometidos, o agente pode ser atípico;
Q a erisipela é uma forma mais superficial de infecção dermo-hipodérmica
também causada pelos estreptococos do grupo A e indistinguível clinicamen-
te da celulite;
Q geralmente o organismo penetra na pele por meio de uma picada ou fissura,
disseminando-se localmente;
Q manifestam-se por placa superficial eritematosa, edemaciada, endurecida
e quente, com bordas esmaecidas;
Q pode haver febre e calafrios, adenopatia regional, náuseas e vômitos.
Eritema multiforme
Q é uma forma de reação de hipersensibilidade da pele e das mucosas decor-
rente da administração de medicamentos ou de infecção subjacente, viral
ou bacteriana;
Q quando extensa e acometendo mucosas, pode configurar a síndrome de
Stevens-Johnson, podendo ser fatal;
Q caracteriza-se por lesões maculosas e papulosas, por vezes com vesículas e
bolhas no centro, tendendo a apresentar-se como placa eritematosa com
faixas circulares concêntricas de diversas tonalidades de eritema, até pur-
púrico, e bolha central, formando a clássica “lesão em alvo”;
Q atinge qualquer área do corpo, mas geralmente atinge mais as extremidades,
principalmente nas formas leves, ligadas ao vírus do herpes simples.
97
Lesões papulosas, nodulares, escleróticas e vegetantes
Molusco contagioso
Q infecção causada por poxvírus;
Q afeta principalmente crianças, mas essa infecção pode ser encontrada em
adultos jovens sexualmente ativos (transmissão por contato íntimo);
Q são pequenas pápulas (até 2 a 5 mm de diâmetro) firmes e convexas, róseas,
brancas ou acinzentadas e com umbilicação central (característica principal);
Q nas crianças, aparece no tronco, nas extremidades e na face; nos adultos,
ocorre nas regiões perigenital e perianal;
Q as lesões são assintomáticas.
Acantose nigricans
Q causa desconhecida;
Q associação com neoplasia (50%), diabete melito insulino-dependente, hiper
ou hipotireoidismo, acromegalia, doença de Cushing, ovários policísticos,
doença genética ou nenhuma patologia relacionada;
Q consiste de vegetações e verrucosidades, algumas filiformes, espessamento
e hiperpigmentação da pele de dobras;
Q localização mais freqüente nas dobras do pescoço, nas axilas e na região
inguinal.
Eritema nodoso
Q lesões cutâneas dolorosas que podem acompanhar leucemias, sarcoidose,
EXAME DERMATOLÓGICO
98
Mixedema pré-tibial
Q é um distúrbio de causa desconhecida, ocorrendo em 1 a 2% dos pacientes
com doença de Graves;
Q manifesta-se por pápulas, tubérculos, nódulos ou placas, infiltrados, de cor
castanho-amarelada e avermelhada;
Q localizam-se preferencialmente na metade inferior da perna;
Q o controle do hipertireoidismo associado não produz a involução dos nódu-
los.
Hanseníase
Q infecção crônica causada pelo Mycobacterium leprae, que envolve a pele,
os nervos superficiais, o nariz, a faringe, a laringe, os olhos e os testículos;
Q dependendo da reação do hospedeiro ao bacilo, pode gerar formas clínicas
distintas, que variam entre dois pólos: o virchowiano e o tuberculóide;
Q o primeiro tem lesões mais exuberantes pela falta de imunidade frente ao
bacilo, apresentando placas, manchas ou nódulos eritematosos difusos de
limites imprecisos que confluem, dando, na face, quando associados à ma-
darose, um aspecto característico (fáscies leonina); por infiltração neural
de bacilos e granulomas pode ter anestesia de extremidades (em “luvas e
botas”);
Q na tuberculóide, as lesões cutâneas são em menor número e formam placas
grosseiramente anulares, de limites precisos, bordas eritemato-papulosas
e centro poupado, com diminuição da sensibilidade, geralmente com 1 a
EXAME DERMATOLÓGICO
10 cm de diâmetro;
Q as placas tuberculóides geralmente se acompanham de uma mononeurite
hipertrófica dos nervos próximos às lesões, de diferentes intensidades, ha-
vendo uma assimetria de espessamento de nervos à palpação; nas formas
virchowianas, os nervos tendem a estar difusamente e até simetricamente
espessados;
Q a pesquisa da perda de sensibilidade térmica e algésica, tanto nas placas
específicas como nas extremidades dos membros, é mandatória; a tátil e a
profunda estão conservadas, podendo estar alteradas somente em casos
muito avançados da moléstia.
Neurofibromatose
Q doença caracterizada pela presença de neurofibromas múltiplos, que pode
ser herdada de forma autossômica dominante ou ser uma mutação nova;
Q os neurofibromas são tumores benignos da bainha dos nervos;
Q são pápulas, tubérculos ou nódulos, sésseis ou pedunculados, moles e car-
nosos, cor da pele ou acastanhados;
Q podem aparecer também manchas pigmentares tipo “café com leite” e
sardas axilares (sinal de Crowe) ou inguinais;
Q as manchas pigmentares geralmente estão presentes desde a infância; os
nódulos aparecem próximos à puberdade.
99
Necrobiose lipoídica
Q afecção rara, que aparece principalmente em mulheres;
Q cerca de 90% dos pacientes são portadores de diabete melito;
Q caracteriza-se por lesões numulares (em forma de moeda) ou placas de
centro amarelado e periferia purpúrica, com trajetos vasculares proeminen-
tes, visíveis facilmente através de uma epiderme atrófica;
Q as regiões pré-tibiais são as mais freqüentemente acometidas.
Leucoplasia pilosa
Q lesão causada pelo vírus de Epstein-Barr, podendo estar associada à infecção
pelo HIV;
Q também pode estar associada à antibioticoterapia ou ocorrer espontanea-
mente;
Q são lesões vegetantes, esbranquiçadas, alongadas, com disposição paralela,
nas laterais da língua, parecendo vilosidades ou nervuras lineares.
Herpes zoster
Q erupção causada pela reativação do vírus Varicela zoster;
Q geralmente, produz surto único;
Q são vesículas agrupadas em cacho sobre base eritematosa, progredindo para
erosões e crostas, em trajeto linear, acompanhando um nervo metamérico;
Q as lesões são geralmente dolorosas;
Q distribuem-se unilateralmente sobre o dermátomo afetado;
Q em paciente imunocomprometido, pode haver vesículas contralaterais ou
aberrantes;
Q pode deixar nevralgia persistente.
Impetigo
Q é uma infecção de pele altamente contagiosa, ocorrendo com mais fre-
qüência em crianças;
Q o impetigo bolhoso é mais caracteristicamente causado por S. aureus coa-
gulase-positivo, que produz uma toxina causadora de ruptura da pele;
Q o impetigo não-bolhoso é associado ao estreptococo do grupo A;
Q o impetigo bolhoso inicia com máculas eritematosas que resultam em vesí-
culas ou bolhas sobre a base eritematosa;
Q o impetigo não-bolhoso inicia com pequenas pústulas superficiais que logo
rompem, evoluindo para crostas castanho-douradas (crostas melicéricas);
100
Q os locais mais comuns de apresentação são a face, o pescoço e as extremida-
des.
Pênfigo vulgar
Q doença auto-imune, na qual anticorpos circulantes ligam-se à pele induzindo
a liberação de mediadores inflamatórios que produzem acantólise (perda
de adesão das células epidérmicas);
Q é um dos distúrbios dermatológicos que apresentam risco de vida;
Q caracteriza-se pela presença de vesículas, bolhas e erosões da pele e das
mucosas;
Q inicia com vesículas claras com base eritematosa e bolhas flácidas, que
posteriormente rompem, gerando erosões superficiais não-hemorrágicas;
Q o sinal de Nikolsky é positivo (ver “Dicas de semiotécnica”).
Dermatite herpetiforme
Q doença bolhosa causada por depósitos de IgA na derme papilar e associada
à doença celíaca (intolerância ao glúten) em 90% dos casos;
Q o prurido está presente;
Q são placas eritemato-edematosas, vesículas e bolhas agrupadas numa distri-
buição semelhante às lesões herpéticas, que surgem em surtos;
Q são simétricas e acometem principalmente face extensora de membros,
coxas, abdome, região lombossacral e tronco;
Q as lesões em cintura escapular, cotovelos, joelhos e nádegas são sugestivas;
EXAME DERMATOLÓGICO
Q as mucosas são pouco afetadas.
Varicela ou catapora
Q infecção altamente contagiosa, causada pelo vírus varicela zoster, sendo
encontrada principalmente na segunda infância;
Q são muitas máculas avermelhadas que, em pouco tempo, tornam-se papu-
losas, passam a ter uma vesícula no centro, que se transforma em pústula,
erosam e formam crostas;
Q é importante para o diagnóstico que sejam encontradas lesões em vários
desses estágios de evolução da doença, num mesmo momento;
Q acomete mais o tronco, a face e o couro cabeludo, assim como a mucosa
oral; as palmas das mãos e as plantas dos pés são pouco acometidas.
Lesões pustulosas
Acne vulgar
Q doença de pele mais comum, ocorrendo em 80% da população;
Q em geral, aparece na adolescência;
Q é uma doença dos condutos pilossebáceos, produzida por aumento de sebo
e queratina nesses condutos, colonizados pela bactéria anaeróbia
Propionibacterium acnes;
Q caracteriza-se por polimorfismo de lesões: comedões, pápulas, pústulas,
nódulos e cistos;
101
Q as áreas mais afetadas são a face, o tórax e o dorso, podendo acometer,
em casos graves, as extremidades, as nádegas e o couro cabeludo.
Foliculite
Q inflamação superficial envolvendo o folículo piloso;
Q resulta de fricção no local, agentes químicos, medicamentos ou infecção;
Q a infecção mais comum é por S. aureus;
Q caracteriza-se por pápulas e pústulas cercadas de eritema, freqüentemente
com um pêlo central;
Q ocorre em qualquer parte do corpo que tenha pêlos.
Pioderma gangrenoso
Q doença ulcerativa pouco comum, relacionada, em 50% dos casos, a uma
doença subjacente, como a doença intestinal inflamatória e artrite reuma-
tóide;
Q as lesões são provocadas por pequenos traumatismos na pele (reação patér-
gica);
Q caracteriza-se por bolhas de conteúdo purulento, com centro posteriormente
necroso, formando grandes ulcerações, com bordas violáceas inflamadas e
descoladas (subminadas);
Q a cultura das bolhas e pústulas não evidencia microrganismos.
Úlcera de decúbito
Q ocorre geralmente em pacientes debilitados ou comatosos muitas vezes
por insuficientes mudanças de decúbito;
Q surge nos locais de pressão contínua por interrupção do suprimento san-
güíneo para a pele;
102
Q as áreas mais afetadas são a pré-sacra, a escapular, as tuberosidades isquiá-
ticas e os calcanhares;
Q iniciam como máculas ou manchas vermelho-violáceas, que evoluem para
ulceração e necrose, muitas vezes evidenciada por escara negra na superfície,
podendo atingir grandes proporções.
EXAME DERMATOLÓGICO
Úlcera de insuficiência arterial
Q úlcera que surge quando há oclusão do suprimento sangüíneo arterial para
a pele, provocando a sua necrose, a não ser que haja circulação colateral
suficiente;
Q geralmente se desenvolve na face lateral de um membro inferior com supri-
mento arterial comprometido, sendo caracteristicamente dolorosa;
Q está associada a outros sinais físicos de doença arterial periférica, como
debilidade ou ausência dos pulsos, rubor e palidez dependentes da elevação,
retardo no enchimento capilar dos dedos e diminuição da temperatura
cutânea e do crescimento dos pêlos;
Q são úlceras pálidas com bordas bem-delineadas.
AGRADECIMENTOS
Os Drs. Josiane Crestani e Tiago Severo Garcia, na ocasião acadêmicos da Faculda-
de de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tiveram participação
fundamental na elaboração deste capítulo na 1a edição do livro Exame clínico:
consulta rápida, parte do qual consta na presente edição. A eles nosso agradeci-
mento pela valiosa contribuição.
103
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS
Bates B, Bickley, LS, Hoekelman RA. Phisical examination and history taking. 6. ed Philadelphia:
JB Lippincott; 1995.
Bechelli LM, Curban GV. Compêndio de dermatologia. 6. ed. São Paulo: Editora Atheneu;
1988.
Bennett JC, Plum F. Cecil textbook of medicine. 21st ed. Philadelphia: WB Saunders; 2000.
Bondi EE, Jegasothy B, Lazarus GS. Dermatologia: diagnóstico e tratamento. Porto Alegre:
Artmed; 1993.
Cucé LC, Neto CF. Manual de dermatologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2001.
Damjanov, I. Histopathology: a color atlas and textbook. Baltimore: Williams & Wilkins;
1996.
Duncan BB, Schidt MI, Giugliani ERJ. Medicina ambulatorial: condutas clínicas em atenção
primária. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 1996.
Isselbacher KJ, Braunwald E, Wilson JD, Martin JB, Fauci AS. Harrison’s principles of internal
medicine. 14th. ed. New York: McGraw-Hill; 2001.
Sampaio SAP, Rivitti EA. Dermatologia. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas; 2000.
Sites recomendados
Os sites a seguir oferecem imagens de lesões dermatológicas que podem
servir para ilustrar este capítulo.
EXAME DERMATOLÓGICO
www.dermis.net/index_e.htm
http://tray.dermatology.uiowa.edu/ImageBase.html
http://fm.mednet.ucla.edu/derm/search.cfm
http://www.medic.mie-u.ac.jp/derma/bilddb/diagnose/dg_a.htm
http://www.med.sc.edu:85/book/dermatolatlas.htm
A seguir, são indicados sites nos quais encontram-se informações sobre eventos
científicos, artigos médicos, linhas de conduta e profissionais da área de derma-
tologia.
http://www.gbm.org.br
http://www.aad.org
http://www.sbd.org.br
104
7
SEMIOLOGIA DA
CABEÇA E DO PESCOÇO
OTÁVIO BEJZMAN PILTCHER
SIMÃO LEVIN PILTCHER
ORELHA
Divide-se, classicamente a orelha em externa, média e interna. As principais quei-
xas são:
Q Dor
Q Prurido
Q Corrimento (supuração, otorréia)
Q Hipocausia
Q Zumbido
Q Tontura
Q Paralisia facial
Dor: deve ser esclarecido se é uni ou bilateral, espontânea ou provocada, pontual
ou difusa, com ou sem irradiação, história de cirurgia otológica ou plástica facial
recente, prática de natação, viagem aérea, traumatismo, associação com otorréia
e linfonodos.
A simples mobilização do pavilhão pode aumentar a dor, o que leva a supor
que o processo esteja localizado na orelha externa. A otoscopia, realizada com
delicadeza, deve mostrar, antes de visualizar a membrana timpânica, a presença
de alguma lesão no meato e no conduto auditivo externo (otite externa difusa,
otite externa circunscrita, otomicose, corpo estranho, hematomas, herpes ou
miringite bolhosa). Na membrana timpânica (MT), são observadas cor, transparên-
cia (translucidez), posição e mobilidade. A cor do tímpano normal varia entre
esbranquiçado, cinza-claro e gelo-creme. A transparência ou translucidez permite,
muitas vezes, visualizar as estruturas da orelha média (ossículos, janela redonda).
A posição varia de acordo com a patologia existente, podendo estar retraída ou
abaulada. A mobilidade pode ser comprovada realizando otoscopia pneumática
ou pedindo para o paciente fazer a manobra de Valsalva (pressão+) ou Toynbee
(pressão–) durante a otoscopia. A dor poderá ser atribuída a infecções ou infla-
mações da orelha média (otite média aguda, otite média crônica reagudizada,
barotrauma, perfurações traumáticas e tumores). Se o exame otológico não com-
provar causa local, deve-se buscar uma origem extra-auricular, tais como boca,
rinofaringe, orofaringe, hipofaringe, laringe, esôfago e articulação têmporo-
mandibular. A dor de origem não-otológica, reflexa, é causada pelo IX par craniano
(glossofaríngeo) ou ramo do V par (trigêmeo) quando é originária na boca, na
faringe ou na laringe. Na boca, deve-se examinar os dentes, especialmente os
inferiores e os sisos, o assoalho da boca (descartar cálculos salivares da glândula
submandibular) e aftas no vestíbulo bucal. Além da inspeção, pode-se palpar
(com luvas de procedimento) áreas suspeitas de neoplasia na base da língua,
região retromolar e tonsilas palatinas. A possibilidade de tumores na rinofaringe
como causa de dor aumenta se o paciente for adulto e ainda apresentar diminui-
ção de audição pela presença de efusão na orelha média em apenas uma das
SEMIOLOGIA DA CABEÇA E DO PESCOÇO
106
Q Cefaléia temporocipital homolateral
Q Dor profunda na orelha com paralisia do músculo reto externo
107
dos normais, sindrômicos, paralisados cerebrais e simuladores (indenizações traba-
lhistas, serviço militar etc.).
Zumbidos (acúfenos): podem ser classificados em subjetivos ou objetivos. Os ob-
jetivos são raros (contrações musculares, mioclonias, aneurisma da carótida). Os
subjetivos são referidos como chiado, apito, motor, cigarras etc. Pela história,
ficamos sabendo se o zumbido é contínuo ou intermitente, uni ou bilateral, ho-
locraniano, durante o dia ou só à noite, com ou sem sintomas associados (surdez,
tontura rotatória ou não, supuração) e doenças sistêmicas (HAS, diabete, ateros-
clerose, trauma cranioencefálico).
Vertigem: tontura ou vertigem? Os pacientes confundem e usam como sinônimos
e cabe ao médico, durante a anamnese, pedir que o paciente descreva, com suas
palavras ou gestos, a “sua tontura”. Quando se trata de vertigem ou tontura
rotatória, o paciente faz um gesto com a mão que caracteriza o movimento
rotatório (tudo roda, as paredes etc.). Com relação à tontura, ela é descrita com
dificuldade, indefinida (“parece que quase desmaio, escurece as vistas, acho que
vou cair, vazio na cabeça” etc.). A perda de consciência não é característica da
vertigem labiríntica, necessitando de avaliação do neurologista.
torna o exame dessa região anatômica obrigatório na rotina geral. Pacientes com
doenças da boca geralmente apresentam dor, sangramento, edema ou
tumorações, dificuldade para deglutir e/ou falar, corrimentos, halitose e distúr-
bios do paladar. Na anamnese, esclarecer se os sintomas são agudos ou crônicos,
a área atingida, a presença de sintomas ou doenças associadas locais ou sistêmicas,
história de trauma ou trabalho dentário recente, assim como o tipo de hábitos
(higiene oral, bebida alcoólica, fumo, alimentos etc.). Os últimos fatores têm
fundamental importância nas queixas de todo trato aerodigestivo, pelo aumento
significativo do risco de patologias malignas em pacientes tabagistas e/ou que
fazem uso de álcool, e/ou apresentam má higiene oral. O diagnóstico das patolo-
gias dessa região não deve ser relegado somente aos profissionais da saúde oral.
A faringe se divide em três partes: rinofaringe, orofaringe e hipofaringe. Os
sintomas referidos pelos pacientes, na faringe, são:
Q Dor (odinofagia)
Q Dificuldade para engolir (disfagia)
Q Halitose
Q Pigarro/secura/ardência
Sintomas na hipofaringe e na laringe:
Q Disfagia
Q Disfonia
Q Dispnéia
108
dos, estão relacionados a doenças sistêmicas (mononucleose, por exemplo). Palpar
as glândulas submandibulares, as parótidas e os linfonodos retro e infra-auriculares
e as articulações temporomandibular (abre e fecha a boca, clics, subluxação,
desencadeamento de dor), as cartilagens da laringe e glândula tireóide e sentir o
pulso das carótidas e subclávias. Descrever as características dos linfonodos: tama-
nho, sensibilidade, temperatura e mobilidade (fixo ou móvel). Nesse sentido,
linfoadenopatias com crescimento progressivo e/ou indolores e/ou sem caracterís-
ticas inflamatórias e/ou fixas aos planos profundos têm maior possibilidade de
estarem relacionadas a patologias malignas. Na história desses pacientes, a presen-
ça de disfonia e/ou disfagia e/ou dispnéia associadas ou não ao fumo e abuso de
álcool fecham um quadro muito sugestivo de uma patologia mais grave, que
merece um diagnóstico pronto e preciso. Nem toda massa cervical deve ser con-
siderada sinônimo de linfonodo. O diagnóstico diferencial inclui cistos de fenda
branquial, cisto tireoglosso, laringoceles, hemangiomas, linfangiomas, cistos
dermóides, cistos tímicos e divertículo de Zenker, sialoadenite aguda ou crônica,
além de alterações tireóideas. As linfoadenopatias de etiologia infecciosa podem
corresponder de processos inflamatórios comuns (reacionais) até processos crô-
nicos, com ou sem ulceração causadas por agentes como as micobactérias (es-
crófula, ou processos inflamatórios não-infecciosos, como na sarcoidose.
A seguir, com o auxílio de dois abaixadores de língua, afastam-se os lábios e
se examina o vestíbulo bucal, peças dentárias, desgastes, falhas, próteses, esco-
109
benignas são, hoje em dia, muito mais precisamente diagnosticadas pela qualidade
das imagens obtidas pelos endoscópios. O tratamento é feito com fonoterapia
com ou sem fonocirurgia.
110
Quadros sindrômicos otorrinolaringológicos
Otite externa
Problema clínico comum que afeta a orelha externa (o conduto auditivo e a
camada externa da membrana timpânica). Pode ter caráter agudo ou crônico.
Nos casos agudos, há história recente de exposição à água e/ou manipulação do
conduto. Nos casos crônicos, pode haver história de alergias cutâneas, exposição
a produtos irritativos e manipulação repetitiva.
Quadro clínico: dor, prurido e otorréia, hipoacusia (otite externa guda); prurido,
hipoacusia e dor (otite externa crônica).
Exame físico: hiperemia, edema, secreção, sensibilidade ao manuseio, inclusive
do pavilhão (aguda); hipertrofia da camada cutânea, descamação excessiva, acú-
mulo de secreção.
111
Quadro clínico: hipoacusia, zumbidos, plenitude auditiva e desequilíbrio. Não há
dor.
Exame físico: com a otoscopia identifica-se uma membrana timpânica (MT) opaca,
mais escurecida e opaca, com aumento da vascularização radial. Podem ser detec-
tados o nível hidro-aéreo ou bolhas. Nesse caso, costuma-se assumir que o quadro
está em resolução. Assim como na otite média aguda, essa patologia também
tem elevado percentual de resolução espontânea. Porém, pelas perdas auditivas
que induz, dependendo do tempo de duração (> 3 meses bilateral ou > 6 meses
unilateral), indica-se a colocação de tubos de ventilação (TV). Os resultados da
literatura não defendem o uso de rotina de antimicrobianos para essa entidade.
Mastoidite aguda
Determinada por uma osteíte das trabéculas ósseas da mastóide, constituindo
um empiema na apófise mastóide. Deve haver critérios para o diagnóstico correto
das mastoidites, pois na imagem todo processo de orelha médio também pode
acusar o acúmulo de secreções e edema nas células mastóideas.
Quadro clínico: dor espontânea à compressão, da ponta ou da borda posterior da
mastóide. Caso venha associado com uma otite média aguda, adicionam-se to-
dos os demais sintomas.
Exame físico: o meato pode apresentar-se abaulado em sua parede póstero-supe-
rior. O edema retroauricular acaba deslocando o pavilhão auditivo e apagando o
sulco da orelha. Em fases iniciais, o tratamento pode ser antibioticoterapia endo-
112
venosa, porém, na ausência de melhora nas primeiras 24 horas, está indicada a
mastoidectomia para drenagem do abscesso.
Vertigem
Quadro clínico: a vertigem pode se apresentar em forma de crises acompanhadas
de sinais neurovegetativos (suor, palidez, náuseas e/ou vômitos, palpitações e
aumento do zumbido, quando presente). Quando se trata de vertigem ou tontura
rotatória, o paciente faz um gesto com a mão que caracteriza o movimento
rotatório (tudo roda, as paredes etc.) ou descreve que tudo roda ou ele próprio
está rodando. Podem estar presentes sintomas auditivos como hipoacusia, zumbi-
do e plenitude aural. A perda de consciência não faz parte desse quadro, mas, se
presente, deve alertar para quadro neurológico.
Exame físico: o sinal característico da crise vertiginosa é a presença do nistagmo,
movimento rítmico e sincrônico dos olhos, com dois componentes, um rápido e
um lento, de fácil comprovação. Durante a realização do exame de cabeça e
pescoço, todos os pares cranianos devem ser observados e testados. A identificação
de alteração em mais de um par ou o tipo de alteração pode auxiliar muito no
diagnóstico e no alerta para quadros centrais (ver capítulo sobre exame neuroló-
gico).
Faringotonsilites
A maioria dos quadros é viral. Em relação à possibilidade de um quadro bac-
teriano, o agente necessariamente a ser descartado é o estreptococo do grupo A
β-hemolítico, pelas suas complicações locais (abcessos) e sistêmicas (febre reumá-
tica e glomerulonefrite). O diagnóstico diferencial entre os quadros virais e bac-
terianos é muitas vezes difícil e acaba determinando o uso indiscriminado de
antibióticos. O diagnóstico correto dessas moléstias infecciosas é importante em
termos de saúde pública pela crescente resistência bacteriana oriunda do uso
113
abusivo e desnecessário de antimicrobianos. O estreptococo β-hemolítico do
grupo A, pelas suas possíveis complicações não-supurativas (glomerulonefrite e
febre reumática) e supurativas (abscesso) com elevada morbimortalidade e con-
seqüências socioeconômicas, é o principal alvo no diagnóstico diferencial com
processos virais, significativamente mais prevalentes. Assim, no exame físico desses
pacientes, não só a orofaringe e o pescoço devem ser pesquisados, como a presen-
ça de alterações em toda a via aérea sugestivas de um processo viral (coriza,
tosse etc.). Mesmo diante de um paciente com os principais achados indicativos
de uma faringotonsilite por estreptococo, ou seja, tonsilas aumentadas,
hiperemiadas e com exudato branco, associada à presença de linfoadenopatia
jugulocarotídea dolorosa, febre elevada e odinofagia, menos de 30% dos casos
são realmente causados por esse agente. Essas informações indicam que, na
ausência desses achados clínicos, as chances de tratar-se de uma infecção bacte-
riana são ainda menores. Se associarmos essas informações ao fato de haver até
nove dias do início dos sintomas para que a instituição de tratamento antimicro-
biano seja adequada na prevenção da febre reumática, concluímos que, em caso
de dúvidas, pode ser solicitado o retorno do paciente em 48 horas para revisão
do exame físico. Se o julgamento do médico diante do quadro for favorável ao
tratamento com antimicrobianos, deve necessariamente optar-se pela penicilina
ou amoxicilina, já que a bactéria-alvo não apresenta resistência a essas drogas.
SEMIOLOGIA DA CABEÇA E DO PESCOÇO
Quadro clínico: dor (odinofagia); febre alta; mal-estar; calafrios; mialgias; artralgias;
linfoadenopatia dolorosa; ausência de sintomas virais; otalgia reflexa.
Exame físico: mucosa congesta, edemaciada, sobretudo em nível de tonsilas palati-
nas, exudato branco recobrindo as tonsilas; no caso de ocorrer eritema em tronco,
associado à presença de uma língua edemaciada, avermelhada (língua em fram-
boesa), caracterizaremos um quadro de febre escarlatina.
Herpangina
Quadro de muita dor (odinofagia) caracterizado pela presença de vesículas
sucedidas por ulcerações (aftas), desde o véu palatino, pilares amigdalianos e
parede posterior da faringe. Costuma haver sintomas virais nas demais regiões
das vias aéreas superiores. Os vírus Coxsackie A, B e ECHO são os principais
responsáveis.
Mononucleose infecciosa
Infecção causada pelo vírus Epstein-Barr, caracterizada por um início insidioso
de vários sintomas sistêmicos. Esses quadros costumam regredir após 2 a 4 sema-
nas. Não há indicação do uso de antimicrobianos para a patologia de base. A
utilização de amoxicilina pode desencadear rash cutâneo.
Sintomas: mal-estar, fadiga, febre persistente, cefaléia, náuseas, dor abdominal e
mialgias.
Sinais: aumento significativo das tonsilas palatinas com exudato, levando ao diag-
nóstico equivocado de uma faringotonsilite bacteriana; linfoadenopatia cervical
e/ou axilar; aumento do baço e do fígado.
114
Rinossinusite aguda
Distúrbio inflamatório do nariz e/ou seios paranasais causado por agentes
infecciosos virais, bacterianos ou fúngicos.
Quadro clínico: dor facial, cefaléia e febre; tosse, congestão nasal, fadiga e rinorréia
purulenta; hálito fétido.
Exame físico: mucosa nasal hiperemiada à rinoscopia anterior com possibilidade
de aumento de volume dos cornetos pelo edema; percussão sobre seios maxilares
e frontais pode gerar dor; presença de edema periorbitário tênue; na oroscopia,
pode haver secreção na parede posterior (gota pós-nasal).
A grande maioria dos casos de sinusite aguda costuma ocorrer como complica-
ção de uma infecção das vias aéreas superiores. A definição exata do tempo de
evolução do quadro (mais de 10 dias) e a ocorrência de recaídas (double sickening),
associadas à presença de secreção purulenta anterior ou gota pós-nasal e dor
nos dentes superiores, são os principais indicativos para o diagnóstico de rinossi-
nusite bacteriana. A verificação da velocidade de sedimentação globular e os
níveis de proteína C reativa também podem aumentar a acurácia do diagnóstico
(a presença de 3 dos 4 sinais e sintomas associados a um dos exames séricos
alterados permite uma sensibilidade de 61% e a uma especificidade de 81%).
Somente na presença de sinais de complicações de processos nasossinusais (celulite
Rinite alérgica
Processo decorrente do contato de um indivíduo atópico com alergenos ina-
latórios, levando a uma resposta inflamatória que determina aumento da per-
meabilidade capilar e transudação de fluidos na mucosa nasal.
Quadro clínico: espirros em salva que sobrevêm quando o paciente entra em contato
com os alergenos a que é sensível, ou quando se expõe a agentes físicos desenca-
deadores de hipersensibilidade; prurido nasal: pode estender-se da mucosa nasal à
mucosa conjuntival, nasofaríngea, da trompa de Eustáquio e até mesmo à pele do
lábio superior; coriza: de aspecto aquoso, podendo gotejar espontaneamente pelo
vestíbulo nasal; obstrução nasal: pelo aumento de volume dos cornetos. Acaba
ocorrendo respiração oral de suplência, com discutíveis alterações craniofaciais.
A intensidade dos sintomas citados pode variar em diferentes pacientes, sendo
necessário solicitar ao paciente que escalone os sintomas no sentido de definir o
melhor esquema terapêutico.
Exame físico: pode ser notado o surgimento de uma prega cutânea transversal
hiperemiada sobre o dorso nasal (saudação do alérgico); cornetos pálidos com
mucosa edemaciada; secreção hialina ou muóide nas fossas nasais.
Rinite vasomotora
Aumento da atividade parassimpática na altura das fossas nasais, sem eosi-
nofilia no muco nasal, com subseqüente vasodilatação e hipersecreção da mucosa.
115
O uso crônico de medicações nasais com vasoconstritores pode levar a um quadro
de rinite medicamentosa ou agravar o desequilíbrio nos casos de rinite vasomotora.
Quadro clínico: obstrução nasal rebelde, muitas vezes relacionada a variações de
temperatura e posição, ora em uma ora em outra narina, ou bilateral; rinorréia
serosa ou mesmo crises de espirros.
Exame físico: mucosa engurgitada, congesta, porém sem hiperemia e hipertrofia
de cornetos.
Epistaxe
A origem do sangue é, na grande maioria das vezes, da parte anterior do
septo, da chamada zona de Kiesselbach, um conglomerado de pequenos vasos
(veias e artérias) facilmente traumatizados pela unha do dedo introduzido no
nariz (mais comum), trauma craniofacial ou em pós-operatório de cirurgia na-
sossinusal. A hemostasia se faz por compressão, cauterização química ou elétrica
e, se necessário, tamponamento. A chamada epistaxe posterior exige uma investi-
gação clínica e um minucioso exame com ótica para localizar o ponto sangrante
e tentar a hemostasia com cautério elétrico. Uma vez não-localizada a origem do
sangue, o tratamento é, em primeiro lugar, o tamponamento de toda a fossa
nasal por vários dias. Atualmente deve ser considerada a alternativa de realizar-
se o tratamento cirúrgico para a ligadura endoscópica da artéria esfenopalatina
SEMIOLOGIA DA CABEÇA E DO PESCOÇO
116
Neoplasia de orofaringe: altamente metastática, pela rica drenagem linfática. Lo-
calmente determina odinofagia, otalgia reflexa, halitose e sangramento oral.
Neoplasias de hipofaringe: devido a sua localização, apresenta, em primeiro lugar,
odinofagia (dor à deglutição). Pode haver sangramento e otalgia reflexa. Depen-
dendo do tamanho, pode alterar as características da voz (hot potato voice).
Neoplasia de laringe: a maioria ocorre na região glótica (60%), causando disfonia
como primeiro e precoce sintoma. A metastatização é mais demorada pela pobre
vascularização linfática e pelo arcabouço cartilaginoso que retém a proliferação.
Por outro lado, dependendo do tempo de evolução e do tamanho adquirido,
desencadeia dispnéia importante. A região supraglótica vem em segundo lugar,
muito à frente das lesões da região subglótica. Pela falta de sintomas, pode apre-
sentar crescimento insidioso até um tamanho suficiente para causar odinofagia,
sensação de corpo estranho, sangramento, halitose e, mais tardiamente, disfagia
e otalgia reflexa. Na região subglótica o primeiro sintoma é a dispnéia. Nesse
tipo de lesão, metástases para linfonodos pré e paratraqueais ou mediastino pos-
terior podem ser mais precoces.
Linfomas: uma adenomegalia cervical pode ser o primeiro achado desse tipo de
doença. Por exemplo, o linfoma de Hodgkin, inicialmente apresenta-se apenas
nos linfonodos, progredindo na mesma cadeia linfonodal, por disseminação. Os
DICAS
Q Os achados de emagrecimento e astenia podem fazer parte do quadro de
qualquer neoplasia da cabeça e pescoço.
Q As neoplasias que mais comumente metastatizam para linfonodos cervicais
são pulmão, mama e trato gastrintestinal.
Q A opção por tratar as infecções das vias aéreas superiores está diretamente
relacionada à determinação do tempo de evolução e do número de regiões
atingidas pelo processo.
Q Paciente com quadro clínico de tonsilite bacteriana sem resposta ao trata-
mento antimicrobiano e apresentando linfadenopatia cervical e/ou sistêmica
deve levantar suspeita de mononucleose infecciosa.
Q Paciente com mononucleose que recebe tratamento com ampicilina/amoxi-
cilina pode apresentar rash cutâneo.
Q Na suspeita de mononucleose, deve-se evitar o uso de ampicilina/amoxici-
lina.
Q Não usar sulfametoxazol/trimetoprim na suspeita de tonsilite por estreptoco-
co do grupo A beta-hemolítico (a bactéria apresenta resistência a esse an-
tibiótico).
117
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS
Adams GL, Boies LR, Paparella MM. Otorrinolaringologia. Rio de Janeiro: Editora
Interamericana; 1979.
Alper, Myers, Eibiling. Decision making in Ear, Nose, and Throat Disorders. Philadelphia:
Editora W.B. Saunders; 2001.
Costa SS, Cruz OLM, Oliveira JAA. Otorrinolaringologia: Princípios e Prática. Porto Alegre:
Artmed Editora; 1994.
Rosenfeld MR, Bluestone CD. Evidence-based otitis media. Hamilton, Ontario: BC Decker
Inc.; 1999.
Sites recomendados
Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia (SBORL):
www.sborl.org.br
Periódicos
Archives Otolaryngology Head and Neck Surgery:
SEMIOLOGIA DA CABEÇA E DO PESCOÇO
http://archotol.ama-assn.org/cgi/content/full/129/3/285
Diversos
Guia de otorrinolaringologia na Internet:
www.bcm.tmc.edu/oto/others.html
118
8
EXAME DE FUNDO DE OLHO
RAFAEL NETTO
JOSÉ MIGUEL DORA
CAIO AUGUSTO SCOCCO
SÉRGIO KIWTKO
O exame do fundo de olho por meio da oftalmoscopia direta faz parte do exame
físico de rotina e tem por finalidade inspecionar as seguintes estruturas oculares:
câmara anterior, pupila, cristalino, retina, nervo óptico, mácula, artérias e veias.
Trata-se de um exame não-invasivo, que fornece informações clínicas importantes
para a avaliação de pacientes com doenças sistêmicas e oculares, podendo ser
realizado por qualquer médico treinado.
Para um adequado exame das estruturas do fundo de olho, a dilatação pupilar
deve ser realizada utilizando-se colírio midriático tópico (tropicamida 1% – Mydria-
cyl® 1%). Deve-se evitar o uso de atropina como cicloplégico pelo seu longo tempo
de ação (duas semanas). Antes da aplicação do colírio midriático, pode-se utilizar
anestésico tópico (cloridrato de proximetacaína 0,5% – Anestalcon®) para diminuir
a irritação. Nos pacientes internados, deve-se registrar no prontuário o uso do
colírio midriático para evitar interpretações precipitadas pela equipe assistente.
Apesar do temor de indução de glaucoma de ângulo agudo com o uso do
midriático, essa complicação é rara e pode ser evitada por meio de checagem de
contra-indicações para a dilatação e de vigilância de sintomas sugestivos do quadro
no período pós-exame. As contra-indicações devem ser investigadas por meio
da amamnese antes de se efetuar o procedimento. Os pacientes que realizaram
a dilatação pupilar prévia, sem intercorrências, até dois anos antes do exame,
podem ser submetidos ao procedimento sem maiores preocupações. A complica-
ção mais freqüente na realização da dilatação pupilar é a translocação de bactérias
de um paciente ao outro através do colírio. Portanto, se a ponta do frasco do
colírio tocar a mucosa ou a pele do paciente ou do examinador, o frasco deve ser
descartado. A dilatação pupilar no paciente em coma está, em princípio, contra-
indicada, uma vez que tanto o grau de dilatação como as respostas pupilares são
fundamentais à avaliação do comprometimento cerebral.
Entre as contra-indicações para a dilatação pupilar, citam-se:
Q História de glaucoma de ângulo agudo.
Q Câmara ocular anterior rasa, podendo ser avaliada com o uso do nipple
test (Figura 8.1).
Fonte de luz
Profunda Rasa
ANATOMIA OCULAR
EXAME DE FUNDO DE OLHO
TÉCNICA DO EXAME
O exame deve ser explicado ao paciente, alertando-o de que haverá diminuição
da acuidade visual e fotofobia por cerca de quatro horas após a realização do
exame.
Realização do exame
Q Investigar as contra-indicações para a dilatação pupilar.
Q Com o oftalmoscópio na mão direita, utilizando o olho direito, examinar o
olho direito do paciente. O olho esquerdo deve ser mantido aberto durante
o exame. Para examinar o olho esquerdo do paciente, o oftalmoscópio
deve ser sustentado com a mão esquerda, e o olho utilizado deve ser o
esquerdo. Inicialmente o exame com o olho não-dominante pode ser difícil,
entretanto deve ser treinado e aperfeiçoado dessa forma.
Q Instilar o colírio cerca de 30 minutos antes da realização do exame.
Q Providenciar ambiente escuro para a realização do exame.
Q Com o paciente sentado, posicioná-lo de modo que seus olhos fiquem na
altura dos olhos do examinador.
Q Instruir o paciente a olhar para um ponto a sua frente e manter o olhar
fixo.
120
Porção orbitária Porção tarsal
da pálpebra da pálpebra
Esclerótica Íris
Câmara anterior
(humor aquoso)
Fóvea
Córnea
Nervo
óptico
Íris
Papila
Retina
121
Q Incidir a luz do oftalmoscópio lateralmente ao olho para inspecionar câmara
anterior.
Q Iniciar o exame com o aparelho em 10 dioptrias, incidindo a luz do oftalmos-
cópio 15o lateralmente ao paciente a cerca de 30 cm de distância do olho.
Aproximar a luz do olho do paciente atentando para o reflexo vermelho.
Q Com o segundo dedo da mão que sustenta o oftalmoscópio, ajustar as
dioptrias à medida que se aproximar do paciente e iniciar a visualização do
fundo de olho.
Q Observar o fundo de olho por quadrantes, observando em cada um deles:
– veias e artérias: tamanho, entrecruzamentos, irregularidades, pulsação
venosa e tortuosidades;
– retina: pigmentação e presença de lesões;
– disco óptico: cor, margens e foco relativo à retina.
122
Quadro 8.1 Fundo de olho normal
Arteríolas Vênulas
Cor Vermelho-brilhante Escura
Espessura Menores (4/5 da espessura das veias)#
Aparência Listra central branca (reflexo luminoso) Homogênea
Pulsação Não-pulsáteis Pulsáteis*
ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS
Cristalino
Opacidades lenticulares (catarata) formam manchas negras no reflexo verme-
lho. A ausência do reflexo vermelho pode ocorrer por posicionamento inadequado
do oftalmoscópio, catarata e hemorragia vítrea. Descolamento de retina, retino-
blastoma e coriorretinite podem apresentar reflexo branco.
Retina
Exsudatos algodonosos: resultado de edema e espessamento das terminações ner-
vosas por infarto isquêmico. Possuem cor branca à acinzentada, com bordas
pouco definidas.
Exsudatos duros: pequenos focos branco-amarelados com bordas bem-definidas.
Formam-se a partir do acúmulo de lipídeos após exsudação vascular.
Manchas pigmentadas: secundárias a hemorragias antigas.
Manchas brancas/amareladas: depósitos de talco observados em usuários de drogas
intravenosas (metilfenidato).
123
Estrias angióides: linhas pigmentares radiais ao disco óptico. Indicam provavel-
mente degeneração de tecido elástico da retina.
Hemorragias
Derrames sub-retinianos: apresentam-se sob a forma de áreas escuras, elevadas,
simulando tumor melanótico.
Hemorragias mais superficiais: são lesões focais, de margens borradas e cor vermelha.
Microaneurismas: cor vermelha, bordas bem-definidas, não são reabsorvidos,
podendo ocorrer em grupos.
Hemorragias em chama de vela: ocorrem na camada nervosa da retina; cor verme-
lha, presença de estrias.
Hemorragia pré-retiniana: apresentam formato de meia-lua, com nível líquido na
porção superior.
Manchas de Roth: pequenos focos hemorrágicos com área clara central. São en-
contrados na endocardite bacteriana e na leucemia.
Entre as causas de hemorragia, destacam-se hipertensão, diabete, papiledema,
oclusão de vasos retinianos, HIV, lúpus, doença de Takayasu, macroglobulinemia,
leucemia, policitemia, anemia falciforme e sarcoidose.
Reflexo luminoso: as artérias possuem uma coluna branca central (reflexo luminoso).
EXAME DE FUNDO DE OLHO
Mácula
Edema macular acompanhado de outras alterações retinianas, como exsudatos
e hemorragias.
124
Disco óptico
Atrofia óptica: o disco óptico apresenta-se branco, com bordas e escavação fisio-
lógica bem-definidas. Na atrofia secundária à coriorretinite, o disco apresenta-se
amarelado e são comuns áreas hemorrágicas e pigmentadas.
QUADROS SINDRÔMICOS
Degeneração senil: pequenas manchas pigmentares próximas à mácula, que mostra
borramento das bordas.
Descolamento de retina: a retina descola a partir de buracos criados em sua estrutura
e o conseqüente preenchimento do espaço por líquido oriundo do vítreo. A retina
descolada projeta-se, fica pregueada e apresenta tremor ao movimento do olho.
Degeneração pigmentar: chamada retinose pigmentosa, com diminuição do calibre
dos vasos e hiperpigmentação da retina.
Oclusão arterial: associada à perda súbita de visão. Palidez da retina, estreitamento
arterial, veias sem pulsação. A palidez da isquemia retiniana permite a visualização
da mácula com uma mancha cor de cereja (cherry-red spot). Pode ocorrer na
sífilis, na febre reumática, na hepatite e na arterite temporal. Mais raramente
ocorre no lúpus, na anemia falciforme, na crioglobulinemia e na tromboangeíte
obliterante.
Oclusão venosa: não se associa à perda abrupta de visão. Distensão e tortuosidade
125
Quadro 8.2 Papiledema
RETINOPATIA HIPERTENSIVA
Lesões vasculares secundárias à hipertensão arterial também manifestam-se nos
vasos retinianos. A grande contribuição do exame de fundo de olho encontra-se
na possibilidade única de visão direta dos vasos sangüíneos, facilitando a detecção
de processos patológicos que podem ocorrer de forma sistêmica.
Os vasos retinianos, diferentemente do restante do organismo, não possuem
inervação autonômica, estando mais suscetíveis ao dano causado pela sobrecarga
pressórica. Entre as alterações arteriolares, o estreitamento vascular é um achado
precoce. Na fase crônica, a presença de tortuosidade aumentada, estreitamentos
focais ou generalizados e aumento do reflexo dorsal são indicativos de arterioloes-
clerose. Exsudatos algodonosos e transudatos periarteriolares (áreas esbranquiça-
das de tamanho variável) podem estar presentes. Entrecruzamentos patológicos
(entre artérias e veias) também são característicos, destacando-se deflexão da veia
pela arteríola, afilamento dos segmentos proximal e distal da vênula, represamento
e dilatação venosa. As lesões extravasculares correspondem às hemorragias em
chama de vela, ao edema da retina e aos depósitos lipídicos (exsudatos duros).
Existem pelo menos três classificações visando estadiar a retinopatia hiper-
tensiva de acordo com o dano causado pela doença ao olho: Keith-Wagner-
Baker (KW) (Quadro 8.3), Scheie e Gerome Gans (Quadro 8.4).
126
Quadro 8.3 Classificação de Keith-Wagner-Baker
RETINOPATIA DIABÉTICA
A retinopatia diabética é uma complicação microvascular da doença, que pode
ser identificada na avaliação clínica de rotina por meio do exame de fundo de
olho. O grau de descontrole metabólico e o tempo de evolução da doença são
fatores importantes no desenvolvimento das complicações oculares do diabete
melito (DM). O DM é a principal causa de cegueira adquirida em países desenvol-
vidos, podendo ser prevenido se identificado precocemente. A retinopatia diabéti-
ca é dividida em retinopatia diabética não-proliferativa (RDNP) e retinopatia
Alterações arterioloescleróticas
A0 Fundo de olho sem alterações arterioloescleróticas
A1 Arterioloesclerose discreta com aumento do reflexo dorsal,
irregularidade do calibre e entrecruzamentos patológicos
A2 Arterioloesclerose severa com arteríolas em fio de cobre e fio de prata
e acentuados fenômenos de entrecruzamento
A3 Os sinais anteriores acrescidos de oclusões venosas de ramo
Alterações hipertensivas
H0 Fundo de olho sem alterações hipertensivas
H1 Espasmos arteriolares focais e discreto edema da retina
H2 Os sinais citados acrescidos de hemorragia e exsudatos
H3 Os sinais citados acrescidos de edema de papila
127
Quadro 8.5 Retinopatia diabética
OLHO VERMELHO
A expressão “olho vermelho” caracteriza-se pela hiperemia da conjuntiva bulbar.
Sua origem, entretanto, pode estar relacionada ao acometimento da córnea, da
128
esclera, da íris, do corpo ciliar e da própria conjuntiva. O aumento de pressão
intra-ocular também pode ser causa de olho vermelho. A maioria dos casos de
olho vermelho é de caráter benigno, podendo ser diagnosticada e manejada em
nível de atenção primária (Quadros 8.6 e 8.7).
ACUIDADE VISUAL
Habitualmente, utilizam-se quadros especiais com letras em diversos tamanhos.
O mais conhecido é a o quadro de Snellen. O paciente é posicionado a 6 m do
quadro. Realiza-se o exame de cada olho separadamente, encobrindo o outro
com um cartão sem comprimi-lo. Solicita-se ao paciente que leia o quadro o mais
inferiormente possível. Se o paciente conseguir ler a linha 20/20, passa-se ao ou-
tro olho. Caso não consiga, será registrada a menor linha atingida. Os pacientes
que não conseguem enxergar as maiores linhas do quadro devem ser aproximados
do quadro, registrando-se a distância em que o exame foi executado. Os pacien-
tes que utilizam óculos para longe devem repetir o exame, registrando-se a visão
“sem correção” e “corrigida”. À beira do leito, pode-se utilizar cartões (semelhan-
tes ao quadro de Snellen e colocados a uma distância de 40 cm do paciente) para
a realização de um exame simplificado da acuidade visual (Figura 8.5).
F A X T D N H U P Z
129
EXAME DE FUNDO DE OLHO
130
Quadro 8.6 Olho vermelho
Hiperemia Difusa, mais Variável Difusa, Difusa, Localizada, Perifolicular; Focal Focal ou Difusa
evidente nos mais mais circunscrita bulbar difusa
fórnices evidente evidente difusa
ao redor ao redor
do limbo do limbo
Secreção Sim Não Pouca ou Ausente Ausente Presente Ausente Ausente Presente
ausente (se
infecciosa)
Pupila Normal Normal Miótica Dilatação Normal Normal Normal Miose na Miose na
moderada; presença presença
sem reação de uveíte de uveíte
à luz secundária secundária
continua...
Dor Ausente Presente Moderada Moderada Ausente Ausente Leve à Moderada Moderada
a severa moderada à severa à severa
± náuseas
e vômitos
Visão Íntegra Íntegra, Redução Muito Íntegra Íntegra Íntegra Pode estar Redução
se não leve à reduzida reduzida moderada
comprometer moderada à severa
eixo visual
Córnea Limpa, Pode estar Íntegra Opacificada Íntegra Ressecamento Clara Opacidade Opacificada
exceto nas lesada e microlesões periférica
adenoviroses
* Levantam-se os cílios superiores e inverte-se a pálpebra na sua porção média com a ajuda de um cotonete na busca do corpo estranho.
** Olho seco, conjuntivite viral, luz UV, lente de contato, bactérias, fungos, doenças auto-imunes.
131
EXAME DE FUNDO DE OLHO
Quadro 8.7 Conjuntivites viral, bacteriana e alérgica
secreção mucopurulenta,
cílios “colados” ao
acordar e quemose
Ocorre em neonatos
por contaminação no
canal do parto** #
LEUCOCORIAS
Entende-se por leucocoria a opalescência da área pupilar. As principais causas
são listadas a seguir.
Neoplasia
O retinoblastoma é um tumor maligno sólido intra-ocular, cuja manifestação
primária em 70% dos casos é a leucocoria. Possui maior incidência entre o nasci-
mento e os três anos de idade. É raro após os cinco anos. Em 25 a 30% das vezes
132
apresenta-se bilateralmente. O estrabismo como manifestação primária desse
tumor ocorre em 20% dos casos.
Hipoxia
A retinopatia do prematuro ocorre por lesão isquêmica da retina. A região
temporal da retina é especialmente sensível, pois completa seu desenvolvimento
apenas um mês após o nascimento. Os fetos submetidos a altas concentrações
de oxigênio também correm risco. Há descolamento da retina como conseqüência
da neovascularização e da tração vitreorretiniana. Freqüentemente é assimétrica.
Congênitas
A persistência do vítreo primário hiperplásico apresenta-se com leucocoria
unilateral. Associa-se a globo ocular de dimensões reduzidas e câmara anterior
bastante rasa. Opacidades parciais ou totais podem ser observadas no cristalino
após a dilatação pupilar. Além da opacidade, pode haver massa amorfa branco-
acinzentada aderida ao cristalino, o que contribui para a leucocoria.
Infecções
A toxocaríase ocular manifesta-se com alteração do estado geral (febre, ade-
nopatia, hepatoesplenomegalia, eosinofilia) associada a granuloma sub-retiniano
único ou massa inflamatória vítrea. A fisiopatologia inclui tração vitreorretiniana,
gliose e descolamento da retina.
Alterações do cristalino
O cristalino é uma estrutura biconvexa, avascular, incolor e quase completa-
mente transparente. Sua única função é focalizar os raios luminosos sobre a retina.
A catarata é a opacificação do cristalino, podendo-se apresentar em graus variados.
Sua fisiopatologia inclui edema, necrose e descontinuidade das fibras do cristalino.
As causas são variadas.
A maioria das cataratas é invisível ao observador casual até atingir o estado
avançado. O exame com auxílio do oftalmoscópio e a dilatação pupilar podem
ser úteis na detecção precoce das opacidades. Normalmente, o paciente queixa-
se de “visão borrada”. Pode haver desproporção entre o grau da catarata clinica-
mente observado e a redução na acuidade visual.
133
Quadro 8.8 Etiologia
2. Esteves JF. Olho vermelho. In: Duncan B. Medicina ambulatorial. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed; 1996. A 3a edição de Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas
em evidências foi publicada em março de 2004 pela Artmed Editora.
134
9
SISTEMA RESPIRATÓRIO
SÉRGIO SALDANHA MENNA BARRETO
ÂNGELA BEATRIZ JOHN
136
10 Máximo
8
Muito forte
7
5 Forte
4
Um pouco forte
3
Moderada
2 Leve
1 Muito leve
0 Sem falta de ar
SISTEMA RESPIRATÓRIO
anormal da profundidade e da freqüência da respiração, com aumento do volume-
minuto. Hipopnéia é a redução anormal da profundidade e da freqüência da
respiração. Hiperventilação é caracterizada por um aumento na quantidade de
ar que chega aos alvéolos, causando hipocapnia. Ortopnéia é a dispnéia que
surge em posição supina ou deitado – dispnéia em decúbito –, e o paciente senta
para obter alívio (ocorre principalmente na insuficiência cardíaca congestiva).
Platipnéia é a dispnéia que ocorre quando o paciente se encontra em ortostatismo
(sentado ou em pé), sendo observada em pacientes pós-pneumonectomia, com
cirrose hepática (shunts intrapulmonares), doenças neurológicas ou hipovolemia.
Trepopnéia é a dispnéia que aparece quando em determinado decúbito lateral,
sendo aliviada pelo decúbito lateral oposto (acontece nos pacientes com derrame
pleural, que preferem deitar sobre o lado acometido para liberar o lado sadio).
Dor torácica. As causas de dor torácica podem estar na própria parede do tórax,
nas pleuras, nos pulmões, no coração, no pericárdio, nos vasos, no mediastino,
no esôfago, no diafragma e em outros órgãos. Para determinar sua origem durante
a anamnese, é fundamental investigar todas as suas características semiológicas:
localização, irradiação, caráter ou qualidade, intensidade, duração, evolução, re-
lação com as funções orgânicas, fatores desencadeantes ou agravantes, fatores
que aliviam e manifestações concomitantes.
Dor torácica relacionada à patologia pulmonar geralmente resulta do envol-
vimento da parede torácica ou da pleura parietal, uma vez que essa região é
abundante em fibras nervosas. Nas pleurites costais, a dor costuma ser aguda,
137
intensa e em pontada (chamada dor pleurítica). A área em que a dor é sentida é
bem-delimitada, podendo o paciente cobri-la com a polpa de um dedo ou fazer
menção de agarrá-la sob as costelas com os dedos semifletidos. A dor aumenta
com a tosse e os movimentos inspiratórios profundos (a tendência do paciente é
reprimi-los). Na pleurite diafragmática periférica, a dor é sentida na área dos
nervos intercostais mais próximos; na pleurite diafragmática central, ela se localiza
no território inervado pelo frênico, incluindo o ombro. Pode até mesmo mimetizar
um quadro de abdome agudo. A dor no pneumotórax é súbita, aguda e intensa
(os pacientes costumam compará-la a uma punhalada), podendo ser acompanha-
da de dispnéia. Como as pneumonias bacterianas geralmente iniciam na porção
periférica dos lobos – onde o parênquima pulmonar está em estreito contato
com a pleura parietal –, as características da dor são as mesmas da pleurite. A
sensação dolorosa nas pneumonites intersticiais é de característica difusa, como
um desconforto, quase sempre de localização retroesternal, que se exacerba com
a tosse, que é seca. A origem da dor nesses casos é no interstício pulmonar. A dor
mediastínica, que surge principalmente nos tumores malignos da região, é uma
sensação dolorosa profunda, sem localização precisa, surda e maldefinida.
Epistaxe. A hemorragia nasal é uma manifestação comum em doenças de vias
aéreas superiores, sendo as mais freqüentes as de origem traumática e infecciosa.
Deve-se avaliar a freqüência dos episódios, verificar qual narina está envolvida e
pesquisar se o sangramento desce pela garganta (epistaxe posterior) ou se pelo
nariz (epistaxe anterior).
SISTEMA RESPIRATÓRIO
138
Tabela 9.2 Características do escarro e causas relacionadas
volume costuma ser menor, como acontece nas pneumonias, nos abscessos e no
infarto pulmonar.
As principais causas de hemoptise são tuberculose, bola fúngica, carcinoma
broncogênico, bronquiectasias, bronquite e tromboembolismo pulmonar. Muitas
outras condições, mais raras, também podem causar hemoptise.
Obstrução nasal. É um sintoma conseqüente ao edema da mucosa nasal e mani-
festação comum em rinites. Na investigação, devem ser procurados os fatores
desencadeantes, a duração e a severidade. Verificar outras manifestações de
SISTEMA RESPIRATÓRIO
alergias e história familiar de atopia.
Rouquidão. É a mudança do timbre da voz, por alteração nas cordas vocais. Deve
ser investigada sempre que for de longa duração, já que as formas agudas geral-
mente são virais, autolimitadas. As causas mais freqüentes de rouquidão são
tuberculose, micoses e neoplasias em cordas vocais, mas também podem ocorrer
por envolvimento do nervo recorrente esquerdo em seu trajeto intratorácico.
139
Secreção retrofaríngea ou gota posterior. A presença de secreção na parede posterior
da faringe aponta para a possibilidade de estar ocorrendo aspiração de material
das vias aéreas superiores para o trato respiratório inferior, como nas sinusopatias.
Se acompanhado de tosse crônica, sugere a presença de sinusobronquite.
Tiragem. É o aumento da retração nos espaços intercostais em conseqüência das
variações da pressão entre os folhetos pleurais durante as fases da respiração. Na
inspiração, a pressão intrapleural é negativa em relação à pressão atmosférica, fato
que é a causa de uma discreta retração dos espaços intercostais. A tiragem pode
ocorrer nas oclusões brônquicas (por tumor, corpo estranho ou broncoespasmo)
pela impossibilidade de o ar penetrar na árvore respiratória, aumentando a negati-
vidade intrapleural na inspiração e ocasionando uma depressão anormal dos espaços
intercostais. A localização da tiragem depende do nível e do local da obstrução.
Tosse. Consiste em uma inspiração rápida e profunda, seguida de fechamento da
glote e contração dos músculos expiratórios, principalmente o diafragma, termi-
nando com uma expiração forçada, após abertura súbita da glote. A tosse é um
mecanismo de defesa de grande importância para as vias aéreas, participando na
eliminação de secreções ali existentes. Ela resulta da estimulação de receptores
da mucosa das vias respiratórias, podendo também ser de origem central. Os
estímulos podem ser de natureza inflamatória (hiperemia, edema, secreções e
ulcerações), mecânica (poeira, corpo estranho, compressão por massas, alteração
na pressão pleural, como ocorre nos derrames pleurais e nas atelectasias), química
(gases irritativos) e térmica (frio ou calor excessivos).
SISTEMA RESPIRATÓRIO
As vias aferentes mediadas pelo vago partem das zonas tussígenas indo até o
bulbo. As vias eferentes dirigem-se do bulbo à glote e aos músculos expiratórios
e são formadas pelo nervo laríngeo inferior (recorrente), responsável pelo fecha-
mento da glote, pelo nervo frênico e pelos nervos que inervam os músculos
respiratórios, principalmente o diafragma.
Sua avaliação semiológica inclui as seguintes características: freqüência, ritmo,
intensidade, tonalidade, presença ou não de expectoração, relação com o decú-
bito e período em que predomina. De modo geral, podemos dividi-la em dois
tipos básicos: tosse seca e tosse produtiva. Dentre as causas mais comuns, desta-
cam-se a tosse crônica dos tabagistas, secundária a infecções (pneumonia, tu-
berculose etc.) ou inflamações (p. ex., asma, hiper-reatividade brônquica), após
intubação traqueal, relacionada à doença do refluxo gastresofágico ou sinusopa-
tias, por aspiração de corpo estranho, associada às doenças pulmonares intersti-
ciais (p. ex., fibrose pulmonar idiopática, sarcoidose, pneumonite de hiperssensi-
bilidade) e a causada por fármacos (p. ex., inibidores da ECA).
Quando muito intensa, a tosse pode até mesmo ocasionar fratura de arcos
costais, hérnias inguinais, pneumotórax, pneumomediastino ou incontinência
urinária.
Vômica. Consiste na eliminação geralmente brusca, através da glote, de quantidade
abundante de pus ou líquido de aspecto seroso ou mucóide. Suas causas mais
freqüentes são o abscesso pulmonar, o empiema, as mediastinites supuradas, o
abscesso subfrênico e a tuberculose.
140
ANATOMIA: ASPECTOS RELEVANTES
A fim de localizarmos e descrevermos de forma mais adequada os achados no
tórax respiratório, faremos, a seguir, uma breve revisão de aspectos importantes
da anatomia dessa região.
Pontos naturais de referência:
Q Ângulo manúbrio-esternal ou de Louis é o ponto de união do manúbrio
com o corpo esternal. Apresenta-se como um relevo transversal, que
continua, para ambos os lados, pelas segundas costelas. Encontra-se na
mesma altura da quarta vértebra torácica e corresponde à bifurcação da
traquéia e à parte mais alta da croça da aorta.
Q Ângulo costal-xifoideano ou de Charpy é formado pelo encontro dos relevos
costais no apêndice xifóide.
Q Articulação xifoesternal.
Q Vértebra proeminente: corresponde à sétima vértebra cervical ou à primeira
torácica, ou a ambas.
Q Ângulo superior da escápula: corresponde à segunda costela.
Q Ângulo inferior da escápula: corresponde ao sexto forame espinhoso/sétimo
corpo vertebral e ainda à sétima costela e ao sétimo espaço intercostal.
O ar é aquecido, filtrado e umidificado durante sua passagem no trato respira-
tório superior. Após passar a cartilagem cricóide da laringe, ele entra na traquéia.
Na altura da quarta ou quinta vértebra torácica, a traquéia bifurca-se em brônquios
principal direito e esquerdo. Esse, por sua vez, tem uma posição mais horizonta-
SISTEMA RESPIRATÓRIO
lizada por sua relação com o átrio esquerdo. O brônquio principal direito é mais
curto e mais retificado do que o esquerdo. O brônquio continua a subdividir-se
em brônquios menores e em bronquíolos dentro dos pulmões. Cada bronquíolo
termina em um ducto alveolar, do qual saem sacos alveolares. Estima-se que
existam mais de 300 milhões de alvéolos nos pulmões. Cada parede alveolar
contém fibras elásticas que permitem ao saco alveolar expandir-se com a inspiração
e contrair-se com a expiração por recolhimento elástico.
Os pulmões são subdivididos em lobos: superior, médio e inferior à direita, e
superior e inferior à esquerda. As cissuras ou fissuras interlobares estão situadas
entre os lobos pulmonares. Ambos os pulmões possuem cissura oblíqua, que
inicia no tórax anterior ao nível da sexta costela na linha hemiclavicular e estende-
se lateralmente até a décima terceira costela na linha axilar média, terminando
no tórax posterior na altura do processo espinhoso de T3. O lobo inferior direito
está localizado abaixo da cissura oblíqua direita, e o lobo médio é superior a essa.
O lobo inferior esquerdo está abaixo da cissura oblíqua esquerda, e o lobo superior
esquerdo, acima dela. A cissura horizontal está presente apenas à direita e separa
o lobo superior direito do lobo médio. Ela estende-se da quarta costela até a
borda esternal da quinta costela na linha axilar média. Os pulmões são envolvidos
pela pleura (folhetos visceral e parietal) e estendem-se superiormente 3 a 4 cm
acima das clavículas. A margem inferior dos pulmões alcança a sexta costela na
linha hemiclavicular; a oitava costela, na linha axilar média e entre T9 e T12
posteriormente. Essa variação é relacionada com a respiração. A presença do
fígado à direita torna o hemidiafragma direito levemente mais alto.
141
EXAME FÍSICO
O exame do tórax respiratório permite a aplicação de todas as técnicas semioló-
gicas: inspeção, palpação, percussão e ausculta.
Avaliação inicial
Devem ser inicialmente pesquisados os sinais de disfunção respiratória, indi-
cativos de condição grave e necessidade de intervenção imediata. Posteriormente,
o restante do exame do sistema respiratório pode ser realizado com tranqüilidade,
incluindo avaliação minuciosa da boca, da nasofaringe, do pescoço e do tórax.
Boca e nasofaringe
Q Cavidade oral (estado de conservação dos dentes e presença de halitose).
Q Amígdalas (hipertrofia, placas, outras alterações).
Q Existência de gota posterior.
Q Características da voz.
Q Mucosa nasal (secreção, desvio de septo, hipertrofia de cornetos).
Pescoço
Q Avaliar o posicionamento e a mobilidade da traquéia.
Q Avaliar os linfonodos.
Q Pesquisar nódulos e massas.
Q Avaliar pulso e pressão venosa jugulares (presença de turgência jugular).
Q Avaliar tiragem e abaulamentos.
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Mãos
Q Presença de baqueteamento digital (o achado mais precoce é a perda do
ângulo entre a unha e a falange terminal, podendo ocorrer em associação
com tumores malignos pulmonares, doenças supurativas crônicas e hepa-
topatias).
Q Cianose periférica.
Tórax
Inspeção
Tórax posterior (paciente sentado) e anterior (paciente em decúbito dorsal
ou reclinado).
O examinador deve ficar a aproximadamente dois metros de distância, para
poder ter uma visão panorâmica de todo o tórax, e somente então se aproximar
para pormenorizar determinada alteração em qualquer das faces anterior, posterior
e laterais.
Divide-se a expansão do tórax em estática e dinâmica. A inspeção estática
compreende a forma do tórax e a presença ou não de abaulamentos e depressões,
enquanto na inspeção dinâmica analisam-se o tipo respiratório, o ritmo e a fre-
qüência da respiração, a amplitude dos movimentos respiratórios, a presença ou
não de tiragem e a expansibilidade dos pulmões.
142
Inspeção estática
Formato do tórax e simetria. Nos adultos, o tórax normal apresenta relação entre
os diâmetros ântero-posterior e lateral (ou transverso) de 1:2 a 5:7. Não há
comparação com forma geométrica definida.
Q Formas do tórax
1. Tórax em tonel ou barril: associado ao envelhecimento normal ou ao
enfisema, decorrente da hiperinsuflação pulmonar. Freqüentemente, está
associado à cifose dorsal. A relação entre os diâmetros transverso e ân-
tero-posterior aproxima-se de 1:1.
2. Tórax em funil ou infundibiliforme (pectus excavatum): também chamado
de peito escavado. Caracteriza-se por depressão da porção inferior do
esterno até o apêndice xifóide, alteração que pode chegar na altura da
terceira costela. É uma deformidade congênita e usualmente de importân-
cia apenas estética. Às vezes, pode ocasionar sopros pela compressão
do coração e dos grandes vasos. Uma variante adquirida do tórax em
funil é o tórax de sapateiro, resultante da aplicação constante de seu
instrumento de trabalho contra a parte inferior do esterno, principalmente
o apêndice xifóide.
3. Tórax cariniforme ou pectus carinatum: também chamado de peito de
pomba. Há o deslocamento anterior do esterno, em forma de peito de
pomba ou quilha de navio, com aumento do diâmetro ântero-posterior.
O sulco de Harrison é freqüentemente encontrado nesses pacientes e
SISTEMA RESPIRATÓRIO
consiste em um sulco horizontal que aparece em cada lado do tórax,
acima da borda costal, em geral simetricamente, podendo ser mais acen-
tuado à direita. Ocorre pela retração das costelas, normalmente curvas,
mas que, em certas condições, se desencurvam na altura das articulações
costocondrais. O tórax cariniforme pode ser congênito ou adquirido (p.
ex., raquitismo, asma crônica e infecções respiratórias de repetição des-
de a infância).
4. Tórax piriforme: quando o tórax adquire a forma de pêra invertida, com
proeminência acentuada na parte superior do tórax, na altura da quarta
costela. A porção inferior está estreitada e achatada, dando um aspecto
de que o paciente está permanentemente inspirando. É encontrado em
asmáticos crônicos com crises desde a infância.
5. Tórax plano, achatado ou paralítico: percebe-se a diminuição do diâmetro
ântero-posterior, dando a impressão de que o paciente está permanen-
temente em expiração; é comum nos indivíduos longilíneos, com pre-
domínio da dimensão vertical. Pode ser visto em doenças consumptivas.
Inspeção dinâmica
Considerar:
Q Taquipnéia (freqüência respiratória ≥ 20 mpm em adultos).
Q Postura ortopnéica com o uso da musculatura acessória – em situações de
doença obstrutiva com hiperinsuflação pulmonar, o paciente assume a po-
143
sição sentada como preferencial, deslocando os ombros para a frente, para
aumentar a eficácia dos músculos inspiratórios acessórios que, em condições
normais, têm pequeno papel na respiração. Isso causa deslocamento dos
chamados pontos de ancoragem.
Q Pesquisa de dissincronia toracoabdominal ou respiração paradoxal (sinal
da gangorra) – traduz a presença de fadiga diafragmática. Em condições
normais, a inspiração acompanha-se de protusão tanto da parede anterior
do tórax quanto do abdome; em situações que resultam em fadiga dia-
fragmática, a flacidez do diafragma não só impede a sua contração como
permite o seu deslocamento cranial, o que leva a um retraimento da parede
abdominal.
Q Em pacientes com hiperinsuflação e retificação do diafragma, a contração
desse músculo aproxima as margens costais na inspiração, diferentemente
do afastamento das margens costais quando o diafragma está em forma
de cúpula (Figura 9.2).
Q Presença de tiragem – aumento da retração nos espaços intercostais.
Q Pesquisa do sinal de Lemos Torres – é um abaulamento expiratório localizado,
observado em um ou dois dos três últimos espaços intercostais na linha
axilar posterior e que indica derrame pleural. Deve-se pedir que o paciente
fique sentado e incidir um feixe de luz obliquamente na região correspon-
dente, sendo que o examinador deve ficar atrás do paciente; a contraprova
é obtida deitando-se o paciente no decúbito lateral oposto e observando o
desaparecimento do abaulamento; deve ser sempre realizada para diferen-
SISTEMA RESPIRATÓRIO
(b)
(c)
inspiração
expiração
144
ventilação na tentativa de eliminar o excesso de CO2 no sangue. Sua
freqüência pode ser lenta, normal ou rápida. Outras causas de respiração
profunda, porém rápida, são exercício, ansiedade, infarto, hipoxia e hi-
poglicemia.
2. Respiração de Cheyne-Stokes: a respiração aumenta e diminui de forma
cíclica, fazendo com que períodos de respiração profunda e hiperpnéia
alternem-se com períodos de apnéia. Crianças e pessoas idosas podem
apresentar esse padrão respiratório. Outras causas incluem insuficiência
cardíaca, insuficiência renal, depressão respiratória medicamentosa e lesão
cerebral diencefálica (gasping).
3. Respiração atáxica ou de Biot: caracteriza-se por uma irregularidade im-
previsível. As incursões respiratórias podem ser superficiais ou profundas
e pararem por curtos períodos. As causas incluem depressão respiratória
e lesão cerebral bulbar.
4. Respiração suspirada: a respiração intercalada por suspiros pode ser oca-
sionada por uma síndrome de hiperventilação, causa comum de dispnéia
e vertigem. Suspiros ocasionais são normais.
5. Respiração obstrutiva: é característica da doença pulmonar obstrutiva
crônica, na qual a respiração é prolongada em virtude da maior resistência
das vias aéreas. Se a freqüência respiratória aumenta, o paciente não
dispõe de tempo suficiente para uma expiração completa. O tórax
hiperexpande-se, causando o aprisionamento de ar, e a respiração torna-
se mais superficial e assim se mantém.
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Palpação
Q Identificar áreas de dor à palpação.
Q Avaliar as alterações observadas na inspeção.
Q Verificar a expansão respiratória (amplitude e simetria): o examinador co-
loca-se atrás do paciente, de pé ou sentado, e pousa ambas as mãos sobre
as regiões correspondentes aos ápices pulmonares e às bases pulmonares
posteriormente e então avalia, durante as incursões respiratórias, a ex-
pansibilidade do tórax.
Q Avaliar se existe frêmito: sensação vibratória tátil percebida na mão do
examinador colocada na parede torácica.
Q Avaliar a presença de frêmitos respiratórios (brônquico ou pleural) e
toracovocal.
Q Frêmito toracovocal: pode ser produzido pela voz do paciente (pedindo-
lhe para dizer lentamente uma palavra de tonalidade grave: 33, 3-3 ou 1-
2-3). Envolve a produção de voz, a condução do som pelas vias aéreas, a
transmissão pelo parênquima pulmonar e a modificação pela parede do
tórax, o que torna a interpretação da manobra complexa e pouco sensível,
mas de utilidade em alguns casos. Por exemplo, nas condições que
aumentam a densidade pulmonar, como as consolidações, aumentam a
transmissão do frêmito. Já a diminuição ou o desaparecimento do frêmito
toracovocal se relaciona a alguma anormalidade que impeça a transmissão
145
das ondas sonoras originadas na laringe, como ocorre no derrame pleural
ou no pneumotórax.
Percussão
Q Comparar um lado com o outro.
Q Estimar excursão diafragmática: atentar para o fato de que o plessímetro
(dedo que fica em contato com tórax) deve ser submetido sempre à mesma
pressão, e a parte em contato íntimo com o tórax deve ser sempre a última
falange e o mínimo possível da extremidade distal desse dedo, ou seja, na
menor extensão possível. Além disso, não se deve apoiar os outros dedos
ou o resto da mão sobre a região a percutir, pois servirão como abafadores
do som obtido. Convém iniciar a percussão do tórax pela face anterior,
indo de cima para baixo e golpeando, ora de um lado, ora de outro, em
pontos simétricos, comparando-os. Passa-se a seguir às regiões laterais.
Conclui-se o exame com a percussão da face posterior.
De forma geral, na maior parte da área pulmonar, espera-se encontrar
sonoridade ou som claro pulmonar. Nas áreas cardíaca e hepática têm-se
macicez; na esplênica, submacicez e, no espaço de Traube (região de pro-
jeção do fundo do estômago), timpanismo. Podem ser encontradas algu-
mas alterações, como hipersonoridade pulmonar (nota de percussão mais
alta e intensa, indicando aumento de ar nos alvéolos pulmonares, como
ocorre no enfisema pulmonar), submacicez e macicez (diminuição ou de-
saparecimento da sonoridade pulmonar, denotando redução ou inexistência
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Ausculta do tórax
Q Observar o tempo da fase expiratória da respiração.
Q Comparar as áreas simétricas dos pulmões (Figura 9.3).
Q Observar os ruídos respiratórios normais (Figura 9.4) e anormais (adventícios
e sopro tubário) (Figuras 9.5).
Sons respiratórios normais
1. Som tubular (traqueal, brônquico ou traqueobrônquico) normalmente au-
dível na traquéia e na projeção dos brônquios centrais, reflete o fluxo tur-
bulento do ar através dos brônquios principais. Tem o timbre rude e o tom
grave. A fase expiratória usualmente é maior do que a fase inspiratória,
existindo uma pausa entre elas.
2. Som broncovesicular: esse som é escutado sobre o primeiro e segundo
espaços intercostais do tórax anterior e, posteriormente, sobre o espaço
interescapular direito. Tanto a fase inspiratória quanto a expiratória têm
duração igual e não existe pausa entre elas. Os sons broncoalveolares são
146
1 2
1 2
4 3
4 3
5 6
5 6
8 7
8 7
9 10
9 10
12 11
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Figura 9.3 – Esquema da seqüência da ausculta pulmonar.
(Fotos gentilmente cedidas pelo Dr. Carlo Sasso Faccin, do Serviço de Radiologia do HCPA.)
Intensidade
Som Duração do som exp. Localização
Tubular Exp. > Ins. Alta/muito alta Zona de projeção das vias
(traqueo- aéreas centrais e da traquéia
brônquico)
147
Ruídos musculares ↔ Ruídos adventícios
Ruído de sopro na boca ou no nariz ↔ Respiração soprosa
Atrito de cabelo ↔ Ruídos adventícios
148
variante o chamado grasnido inspiratório (squawk), que consiste em um
sibilo inspiratório curto e é encontrado na fibrose pulmonar idiopática, na
asbestose e na pneumonia de hipersensibilidade.
Q Crepitantes bolhosos: o som bolhoso dos crepitantes grossos é produzido
quando ar passa pelas secreções nas vias aéreas mais calibrosas (traquéia e
brônquios). Os crepitantes grossos são auscultados em ambas as fases respi-
ratórias, enquanto os finos são identificados somente na inspiração. Ester-
tores auscultados durante a fase inicial da inspiração (proto-inspiratórios)
são indicativos de doença das vias aéreas (bronquite crônica, enfisema e
asma). Estertores auscultados durante a fase tardia da inspiração (teleins-
piratórios) são mais sugestivos de doenças do parênquima pulmonar (fi-
brose, pneumonite, pneumonia lobar ou intersticial) (Figura 9.6).
Q Sibilos: são ruídos contínuos provocados pelo fluxo rápido de ar através de
brônquios estreitados. Os sibilos tendem a ser agudos, quase musicais e de
maior intensidade, provenientes dos brônquios menores e bronquíolos. São
gerados pelo estreitamento difuso da árvore brônquica devido a broncoes-
pasmo e hipersecreção, o que lhes confere o caráter polifônico. São mais
freqüentemente auscultados na expiração. Na rotina médica, sibilos e/ou
aumento do tempo expiratório significam que está ocorrendo broncoes-
pasmo.
Q Roncos: os roncos são ressonantes, geralmente monofônicos e provenientes
dos brônquios maiores. O ronco é característico dos pacientes com bronquite
aguda e doença broncopulmonar obstrutiva crônica, com acúmulo de se-
SISTEMA RESPIRATÓRIO
creções devido à sua drenagem diminuída. Os roncos se acentuam duran-
te a inspiração e são menos proeminentes ou ausentes durante a expiração
(Figura 9.7).
149
Inspiração Expiração
Fluxo (L/min)
Volume (L)
CRF
Pleural
Q Atrito pleural: o atrito pleural é o som produzido pelo atrito das pleuras
inflamadas. Tende a ser um som áspero e dissonante, confinado geralmente
a uma pequena área da parede torácica. Pode ser auscultado tanto na
inspiração como na expiração; no entanto, às vezes está limitado à inspira-
ção. Quando isso ocorre, torna-se difícil distingui-lo dos estertores crepi-
tantes. Quando o atrito pleural desaparece, isso não se deve necessariamen-
te à resolução do processo inflamatório pleural, e sim ao derrame pleural
que se forma e separa as pleuras parietal e visceral.
Sopro tubário
Ocorre quando há plena consolidação pulmonar e se ausculta a respiração
brônquica em área que fisiologicamente deveria apresentar murmúrio vesicular.
Para tanto, o brônquio regional deve estar permeável para que o som possa ser
transmitido através do parênquima desaerado (por colapso ou consolidação),
formando meio adequado à sua transmissão (Figura 9.8).
É importante que se peça ao paciente para tossir, após o que se verifica a
persistência ou não de ruídos adventícios. Se persistirem, terão muito mais valor
porque poderão significar dano morfofuncional e não a simples presença de se-
creções em vias aéreas.
A Figura 9.9 resume os sons anormais.
150
Murmúrio vesicular
Respiração broncovesicular
Crepitações teleinspiratórias
Sopro tubário
Crepitações inspiratórias e expiratórias
Pleural Atrito
Sibilos
Adventícios
Pulmonares
Contínuos { Roncos
(= estertores)
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Sopro tubário
Ausculta da voz
Q Observar as características dos sons vocais sussurrados: a ausculta da voz
do paciente (pronunciando-se “33”)* pode trazer alguma contribuição,
uma vez que alterações pleuropulmonares podem mudar o padrão de trans-
missão do som.
Q Egofonia, broncofonia e pectorilóquia afônica: esses termos referem-se a
sinais auscultatórios que são ouvidos sobre áreas de consolidação pulmonar.
Sua patogênese se relaciona com o aumento da transmissão do som por
meio de locais de densidade aumentada por acúmulo alveolar de secreção
ou lesão expansiva sólida (tumor). A qualidade do som transmitido pelo
brônquio de grande calibre não se altera quando passa para a periferia por
*A palavra histórica é “trinte trois”, 33 em francês que foi escolhida por sua sonoridade
grave e nasal. Trinta e três em português não se aproxima dessas características. A melhor
alternativa seria: “tranco e trote”.
151
meio da área consolidada, pois seus componentes de timbre mais alto são
transmitidos com maior facilidade através de uma árvore brônquica aberta
circundada por tecido pulmonar isento de ar.
1. Egofonia: diz respeito à alteração da qualidade do som falado pelo pa-
ciente e auscultado sobre o tórax. A filtração alterada do som ( som do
balido de cabra) pode transformar os sons vocais usuais em um balido
nasal. O paciente é instruído a falar a letra “i”, mas, ao estetoscópio,
escutamos a letra “ei”.
2. Broncofonia: diz respeito à transmissão mais alta e clara do som do que
o habitual. Pode ser evidenciada quando pedimos ao paciente para dizer
uma frase enquanto o auscultamos (p. ex., noventa e nove). Sobre o
pulmão normal o som perde intensidade e se dissipa, sem conseguirmos
compreendê-lo. Sobre o pulmão consolidado, a frase dita pelo paciente
é compreendida distintamente e sem perder a clareza.
3. Pectorilóquia afônica: semelhante aos sons na broncofonia, diz respeito
aos sons sussurrados e baixos que são ouvidos mais altos e com melhor
clareza.
SITUAÇÕES ESPECIAIS
Em algumas situações específicas, há nuances na sistemática e na interpretação
dos achados do exame físico do sistema respiratório, sendo importante o reconhe-
cimento e a valorização de tais realidades.
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Idosos
Convém lembrar que o paciente idoso pode apresentar tórax em barril resul-
tante da perda da força das fibras musculares do tórax e do diafragma associada
à diminuição da elasticidade pulmonar. Ademais, mudanças esqueléticas da idade
tendem a acentuar a curvatura dorsal da coluna torácica, resultando em um
aumento do diâmetro ântero-posterior do tórax. O alvéolo torna-se menos elástico
e relativamente mais fibroso. Como conseqüência, ocorre uma diminuição da
capacidade vital e um aumento do volume residual, podendo surgir dispnéia aos
esforços. As mucosas geralmente se tornam mais secas. Há retenção de muco,
facilitando o crescimento bacteriano e predispondo a infecções respiratórias.
Gestantes
Em pacientes gestantes, sobretudo naquelas com gestação avançada, o volume
do abdome pode reduzir as incursões respiratórias, tornando a respiração discreta-
mente mais rápida e superficial e também dificultando a realização do exame
físico. Fatores mecânicos e bioquímicos, incluindo o aumento do útero e os níveis
elevados de progesterona circulante, interagem ocasionando mudanças na função
respiratória da gestante. Há um aumento do diâmetro transverso do tórax de
aproximadamente 2 cm e da circunferência torácica de 5 a 7 cm. Os níveis séricos
aumentados de progesterona atuam como estimulante respiratório, causando
aumento do volume corrente sem mudança significativa na freqüência respiratória.
152
Paciente em UTI
Devido à gravidade das condições clínicas de um paciente internado em UTI,
o exame físico deve ser mais objetivo e dirigido pela anamnese. A avaliação
clínica em geral não é acurada em sentido absoluto, mas objetiva prover uma
aproximação das condições do paciente. Nessa situação, deve ser valorizado,
por exemplo, o exame físico em paciente intubado ou narcotizado. As outras
medidas são avaliar as informações subjetivas obtidas junto ao médico assistente
e à enfermeira responsável; considerar o sensório do paciente, a cor e a tempe-
ratura da pele e verificar tanto o esforço respiratório através da eventual utilização
de musculatura acessória da respiração como a freqüência respiratória, que, se
maior que 30 mpm, alertará para a gravidade da situação. A maneira apropriada
de contar a freqüência respiratória é com o uso do estetoscópio, auscultando-se
cada respiração. A entrada de ar deve ser confirmada por palpação.
Abscesso pulmonar
Empregado clinicamente, o termo abscesso pulmonar designa uma infecção
com necrose do parênquima, em geral causada por bactérias. Os abscessos
pulmonares costumam ser únicos, mas pequenas lesões múltiplas podem ser oca-
sionalmente observadas. Numerosos pequenos abscessos restritos a uma determi-
SISTEMA RESPIRATÓRIO
nada região recebem o nome de pneumonia necrosante. Devido à patogênese
comum, esses dois termos e a denominação pneumonia por aspiração encontram-
se geralmente sobrepostos.
Etiologia. Os indivíduos com depressão do nível de consciência são os mais
suscetíveis à aspiração, a qual pode ser conseqüente ao abuso de álcool ou drogas,
convulsões, anestesia geral, doenças do SNC ou intubação endotraqueal. Precárias
condições de higiene oral aumentam o número de bactérias anaeróbias no con-
téudo aspirado, predispondo ao desenvolvimento do quadro.
Quadro clínico. Os pacientes com infecção pulmonar por bactérias anaeróbias
apresentam sintomas constitucionais, como mal-estar, perda de peso, febre, tosse
produtiva (com escarro fétido e purulento) e exame da cavidade oral, revelando
pobre higiene e presença de dentes sépticos.
Asma
Doença caracterizada por hiper-reatividade da traquéia e dos brônquios a
vários estímulos, manifesta-se por um estreitamento difuso das vias aéreas; a
severidade pode ser alterada espontaneamente ou em resposta ao tratamento.
As crises podem ocorrer espontaneamente ou em resposta a vários fatores de-
sencadeantes, como poeira, odores ou ar frio.
Quadro clínico. Dispnéia, tosse, sensação de aperto no peito e sibilância (no início,
em geral expiratória), principalmente pela manhã e à noite.
153
Exame físico. Os achados variam conforme o grau de severidade da crise asmática:
taquicardia, taquipnéia, prolongamento do tempo expiratório, sibilos difusos,
uso da musculatura acessória, retração intercostal. Sinais de crise asmática grave
incluem fadiga, pulso paradoxal, diaforese, murmúrio vesicular abolido com di-
minução dos sibilos e cianose.
Bronquiectasias
Dilatação anormal e permanente dos brônquios.
Etiologia:
Q Causas infecciosas: são as mais comuns em países em desenvolvimento.
Seqüelas de infecções: sarampo, pertussis, adenovírus, influenza, S. aureus,
Klebsiella, anaeróbios, tuberculose, fungos e outras infecções bacterianas.
Existem vários fatores que podem predispor ao desenvolvimento de infecções
recorrentes por esses germes (fibrose cística ou mucoviscidose, obstrução
brônquica por corpo estranho ou neoplasia, secreção impactada, compressão
extrínseca, deficiência de imunoglobulinas e distúrbios ciliares primários).
Q Causas não-infecciosas: inalação de gases tóxicos, defeito na cartilagem
brônquica, traquebroncomegalia, deficiência de alfa-1-antitripsina, atelec-
tasia e fibrose pulmonar.
Quadro clínico. Início insidioso ou abrupto após infecção respiratória aguda; geral-
mente se manifestada na infância; presença de fatores predisponentes (fibrose
cística, síndrome do cílio imóvel, estados de imunodeficiência); tosse com produção
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Carcinoma brônquico
Quadro clínico:
Q Manifestações decorrentes da localização da neoplasia
– Carcinoma brônquico central: tosse ou alteração no padrão da tosse,
escarros hemáticos, pneumonias de repetição e dispnéia.
– Carcinoma brônquico periférico: ausência de sintoma broncopulmonar
e dor (extensão para a parede torácica).
Q Manifestações decorrentes da extensão direta da neoplasia
– Para o mediastino: disfonia (invasão do nervo recorrente), síndrome
da veia cava superior (invasão de veia cava superior), dispnéia (inva-
são do nervo frênico ou traquéia) e arritmias (invasão do coração).
154
– Para a parede torácica: tumor de Pancoast (síndrome de Horner +
invasão plexo braquial + destruição de arcos costais) e dor contínua e
dolente.
– Para o diafragma: dor referida para o ombro e soluços.
Q Manifestações decorrentes de metástases
– Ganglionares: síndrome da veia cava superior, disfonia, disfagia, dispnéia
e massa supraclavicular palpável.
– Hemáticas: dor óssea, hepatomegalia e icterícia, perda motora, altera-
ções de conduta, convulsões e cefaléia.
Q Manifestações sistêmicas
– Astenia, anorexia, emagrecimento e febre.
Q Manifestações paraneoplásicas
– Osteoarticulares: baqueteamento digital, osteoartropatia hipertrófica
– Hormonais: secreção inapropriada de ADH, síndrome de Cushing, sín-
drome carcinóide e outras.
– Hematológicas e vasculares: trombocitose, tromboflebite migratória,
endocardite não-bacteriana, anemia.
– Cutâneas: acantose nigricante, penfigóide, dermatomiosite e esclero-
dermia.
– Neuromusculares: encefalopatia, degeneração cerebelar cortical, mie-
lopatia necrosante, neuropatias periféricas, síndrome miasteniforme e
síndrome de polimiosite.
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Derrame pleural
Acúmulo anormal de fluido no espaço pleural. Os principais tipos de derrame
pleural são transudatos, exsudatos, empiema, derrame pleural hemorrágico ou
hemotórax e derrame quiloso.
Quadro clínico. Varia de acordo com a extensão do acometimento. Pequenos derra-
mes (menos de 200 a 300 mL de fluido pleural) geralmente são assintomáticos.
Quando mais importantes, podem ser encontrados dispnéia, principalmente se
houver uma doença cardiopulmonar subjacente, tosse seca e dor pleurítica. Os
exsudatos costumam ser unilaterais e apresentam dor pleurítica. Os transudatos
geralmente são bilaterais, sem dor e com dispnéia (dependendo do volume).
Exame físico. Diminução do frêmito tátil; macicez à percussão; diminuição do
murmúrio vesicular na área afetada; em derrames muito extensos, que comprimam
o parênquima, pode ocorrer acentuação do murmúrio vesicular e egofonia; atrito
pleural à ausculta (indica processo inflamatório pleural).
155
responsável pelo sintoma. Em ausência de obstrução brônquica, é classificada
como bronquite crônica simples.
Enfisema. Indica um aumento anormal e permanente dos espaços aéreos distais
ao bronquíolo terminal, com a destruição de suas paredes na ausência de fibrose
evidente.
As duas condições clínicas supracitadas constituem a representação de quadros
típicos, menos freqüentemente observados na prática médica. A maioria dos
pacientes apresenta características de ambas as patologias, enfisematosa e
bronquítica, compartilhando alterações patológicas subjacentes e achados clínicos
dos dois quadros.
Embolia pulmonar
Impactação de algum tipo de material nos ramos do leito arterial pulmonar.
Etiologia. Trombos no sistema venoso profundo dos membros inferiores (95%
dos casos) e trombos originados no lado direito do coração, tumores que invadem
a circulação venosa (êmbolo tumoral), líquido amniótico, ar, gordura, medula
óssea e corpo estranho injetado na circulação.
Quadro clínico. Atentar para a presença de fatores de risco para trombose venosa,
como trauma (cirúrgico e não-cirúrgico), queimaduras, insuficiência cardíaca con-
gestiva, imobilização, malignidade, trombose venosa profunda prévia, gravidez,
uso de estrogênio (ACO e TRH) e idade superior a 50 anos; o início dos sintomas
SISTEMA RESPIRATÓRIO
é súbito, porém a embolia pode ser assintomática em até 40 a 60% dos casos;
pode haver grande discrepância entre a severidade da embolização e os sintomas.
Três padrões clínicos predominam na embolia pulmonar. Dispnéia súbita somente
com taquipnéia; dor torácica pleurítica súbita e dispnéia acompanhadas por sinais
de derrame pleural e consolidação e apreensão súbita; desconforto torácico e
dispnéia com achados de cor pulmonale agudo e hipotensão. Quando a embolia
é maciça, pode levar ao cor pulmonale agudo, com achados como galope ven-
tricular direito, impulsões ao longo da borda esternal esquerda, B2 hiperfonética,
distensão venosa jugular e desdobramento fixo de B2.
Pneumonias
Termo usado para indicar a inflamação das vias aéreas terminais, dos espaços
alveolares e do interstício, decorrente principalmente de infecções por vírus e
bactérias, porém podendo também ser causada por agentes não-infecciosos.
Tradicionalmente, as pneumonias comunitárias têm sido divididas naquelas ditas
de padrão pneumocócico (também chamadas de “típicas”) e não-pneumocócico
(ou “atípicas”); no entanto, muitas vezes essas síndromes podem sobrepor-se.
156
Quadro clínico. Início súbito de febre, tosse produtiva com escarro purulento e
dor torácica pleurítica.
Exame físico. São os sinais de consolidação pulmonar (macicez à percussão, frêmito
toracovocal aumentado, egofonia, sopro tubário e crepitantes à ausculta sobre a
região afetada).
Pneumonias nosocomiais
As pneumonias nosocomiais, por definição, são aquelas que ocorrem mais de
48 horas após a admissão no hospital. Constituem-se, muitas vezes, em um de-
safio diagnóstico, já que os achados característicos (infiltrado pulmonar, secreção
purulenta, febre e leucocitose) podem estar pouco claros ou até mesmo ausentes.
Pneumotórax
Acúmulo de ar no espaço pleural.
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Classificação:
Q Espontâneo: é aquele que ocorre sem antecedente de trauma torácico;
pode ser primário (quando ocorre em indivíduos sem pneumopatia) ou
secundário (quando ocorre em pessoas com doença pulmonar prévia).
Q Traumático: resulta de traumatismos torácicos penetrantes ou não-pene-
trantes.
Quadro clínico. Dor torácica no lado afetado, tosse e dispnéia, que em geral iniciam
abruptamente. O quadro pode variar de pouco significativo a dramático, depen-
dendo da extensão do pneumotórax. Caracteristicamente, os pacientes que são
acometidos por um pneumotórax espontâneo primário em geral são jovens, al-
tos, magros e fumantes. No pneumotórax espontâneo secundário, é comum o
paciente saber-se portador de alguma doença pulmonar, e o quadro pode ser
mais grave devido a sua baixa reserva funcional.
Exame físico. Observa-se tonalidade normal ou hipertimpânica à percussão, frêmito
toracovocal e sons sussurrados diminuídos ou ausentes; também são observados
murmúrio vesicular diminuído ou ausente e ausência de ruídos adventícios; pode
haver taquicardia associada.
157
Tuberculose
Pulmonar
Infecção crônica, causada geralmente pelo Mycobacterium tuberculosis, que
pode afetar vários órgãos, embora seja mais freqüente no pulmão. Fisiopatologi-
camente, é dividida em primária e pós-primária.
Q Tuberculose primária: condição que ocorre em uma pessoa não-infectada
previamente, com rápida disseminação de bacilos a outros órgãos e tecidos,
que ali permanecem quiescentes por período variável de tempo. Acomete
em geral crianças. História de contato com pessoas com tuberculose. Na
maioria das vezes é assintomática. Quando há sintomas, os principais são
tosse seca ou produtiva, chiado no peito, febre, astenia, anorexia e emagre-
cimento. Podem ocorrer complicações, como derrame pleural, doença miliar
e meningite.
Q Tuberculose pós-primária (reativação ou reinfecção): geralmente em adultos.
O início, na maior parte das vezes, é insidioso com fadiga, anorexia, emagre-
cimento, febre intermitente (vespertina) e sudorese noturna. Pode haver
tosse (seca ou produtiva) e até mesmo hemoptise.
Exame físico. As alterações no exame físico tipicamente são discretas e só podem
ser observadas na presença de doença extensa (crepitantes apicais e macicez à
percussão dos ápices).
Pleural
SISTEMA RESPIRATÓRIO
158
Tabela 9.4 Sinais típicos em alguns processos pleuropulmonares
Consolidação Normal Expans. ↓ — FTV ↑ Som maciço Sopro tubário Crepitações Broncofonia
pulmonar pectorilóquia
Bronquite Normal Normal — Normal Som claro Normal ou Roncos, sibilos Normal
pulmonar expiração ↑ bolhosos
Atelectasia Retração Expans. ↓ Para o lado FTV ↑ Som maciço ↓ ou ausência do Ausência de ↓ ou ausente
com obstrução localizada tiragem da lesão ou ausente murmúrio vesicular ruídos
Derrame Normal Expans. ↓ Para o lado FTV ↓ Som maciço ↓ ou ausência do Crepitantes ↓ ou ausente
pleural oposto ou ausente murmúrio vesicular às vezes
159
SISTEMA RESPIRATÓRIO
Tabela 9.5 Desempenho diagnóstico de sinais e sintomas individuais do
sistema respiratório (Otávio Berwanger da Silva)
Ausculta do tórax
Referências bibliográficas
III Consenso Brasileiro de Asma; Jornal de Pneumologia 2002; 28 (Suplemento 1).
Consenso Brasileiro de Pneumologia; Jornal de Pneumologia 1998; 24 (Suplemento 2).
McGee S. Evidence-Based Physical Exam. Philadelphia: WB Sauders Company, 2001.
Metlay JP, Kapoor WN, Fine MJ Does this patient have community-acquired pneumonia? Diagnosing
pneumonia by history and physical examination. JAMA 1997;278:1440-5.
Simel DL and Rennie D, eds Does the clinical examination predict airflow limitation? JAMA 1995;273:
313-19.
160
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS
Bates B. Propedêutica médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1990.
Catelli DH, Meine MH, Berger SV, Menna Barreto S. Exame do sistema respiratório. In:
Barros E, Albuquerque G, Pinheiro C, Czepielewski M, coordenadores. Exame clínico: con-
sulta rápida. Porto Alegre: Artmed; 1999. p.73-89.
Porto CC. Exame clínico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1996.
Seidel HM, Ball JW, Dains JE, Benedict GW. Mosby´s guide to physical examination. St.
Louis: Mosby Inc.; 1999.
Swartz MH. Textbook of physical diagnosis. Philadelphia: W.B. Saunders Company; 1998.
Sites recomendados
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT):
www.sbpt.org.br
Periódicos
SISTEMA RESPIRATÓRIO
American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine:
http://ajrccm.atsjournals.org/
Thorax:
www.thoraxjnl.com
Journal of Bronchology:
www.bronchology.com
Chest:
www.chestnet.org
The Lancet:
www.thelancet.com
161
Diversos
Atualização Médica:
www.atualizacaomedica.com/
Estudantes de Medicina:
www.medstudents.com.br
Pneumo Atual:
www.pneumoatual.com.br
SISTEMA RESPIRATÓRIO
162
10
EXAME DO SISTEMA
CARDIOVASCULAR
ANDRÉIA BIOLO
RAFAEL NETTO
JOSÉ MIGUEL DORA
CARÍSI ANNE POLANCZYK
164
– duração: início súbito, sem melhora
– fatores precipitantes: em geral em paciente com hipertensão arterial
sistêmica ou síndrome de Marfan
– fatores de alívio:dor mais intensa no início, diminuindo em intensidade
com o tempo
– manifestações associadas: sopro de insuficiência aórtica, assimetria de
pulsos e de pressão arterial, alterações neurológicas focais, derrame
pleural ou pericárdico
Palpitações
É a percepção desagradável de batimentos cardíacos vigorosos ou rápidos.
Pode ocorrer com sensação de que o coração parou de bater por um instante,
o que, em geral, representa a pausa compensatória após a ocorrência de extra-
sístoles, ou em ataques ou salvas, que podem ser de início e terminação rápida
ou gradual e com ritmo regular ou irregular, conforme a etiologia da arritmia.
Quando ocorre ao levantar-se da posição supina, sugere hipotensão postural.
Se ocorrer em mulheres de meia-idade, com calorões, pensar em síndrome
menopáusica.
Síncope
É a perda de consciência, causada mais comumente pela diminuição da per-
EXAME FÍSICO
O ambiente é de fundamental importância para que se possa realizar todos os
passos do exame com tranqüilidade. Deve-se preferir um local com o mínimo de
ruídos, em que se possa observar o paciente de corpo inteiro e realizar as manobras
físicas quando essas forem indicadas. Idealmente, o paciente deve ser examinado
165
em pelo menos três posições: sentado, em decúbito dorsal e em decúbito lateral
esquerdo.
ECTOSCOPIA
Deve-se estar atento para a atitude do paciente. Nos casos de angina pectoris
normalmente o paciente procura ficar em repouso. A inquietação e a busca de
posição mais confortável são típicas do infarto agudo do miocárdio. Pacientes
com insuficiência cardíaca evitam o decúbito dorsal para minimizar a dispnéia. O
padrão respiratório (dispnéia, respiração de Cheine-Stokes) também deve ser
observado.
A observação da face pode revelar mixedema periorbital, alertando para um
possível derrame pericárdico associado ao hipotireoidismo. O sinal de Musset
consiste na movimentação da cabeça em sincronia com a sístole ventricular, sendo
encontrado na insuficiência aórtica grave. O exame de fundo-de-olho oferece a
oportunidade de visualização dos vasos, permitindo a avaliação do dano vascular
secundário à hipertensão e ao diabete melito. As manchas de Roth (hemorragias
com centro branco) são encontradas no fundo-de-olho da endocardite bacteriana.
A inspeção da pele e das mucosas pode revelar cianose, que deve ser diferencia-
da em central e periférica. A cianose central é conseqüência de shunts arteriove-
nosos, sendo observada em indivíduos com extremidades aquecidas e perfusão
periférica adequada. A cianose periférica é conseqüência de vasoconstrição de
EXAME DO SISTEMA CARDIOVASCULAR
EXAME DO PESCOÇO
O exame do pescoço inclui a inspeção das veias jugulares e a palpação do pulsos
carotídeos (descrita a seguir). O grau de distensão das veias jugulares e as oscila-
ções observadas no pulso venoso fornecem dados hemodinâmicos importantes
na avaliação clínica. O paciente deve estar em decúbito dorsal com cabeceira em
45º e a cabeça levemente rotada para a esquerda (Figura 10.1). O exame das
veias da região cervical direita se justifica pela sua comunicação linear em relação
à cava superior e ao átrio direito. Apesar de a jugular interna estar encoberta
pelo músculo esternocleidomastoideo, sua pulsação transmite-se externamente,
sendo de fácil visualização.
A turgência jugular pode ser encontrada em casos de insuficiência cardíaca,
pericardite constritiva e tamponamento cardíaco. Pela inspeção, é possível também
fazer uma estimativa da pressão venosa central (PVC). Para tanto, localiza-se o
166
5 cm 5 cm 5 cm
menisco da coluna líquida da veia jugular externa e traça-se uma linha horizontal
até o manúbrio esternal. O átrio direito localiza-se a 5 cm do manúbrio. Assim, a
distância entre o manúbrio e a linha imaginária traçada a partir do menisco somada
a 5 fornece a pressão atrial aproximada em cm de água. A compressão da região
periumbilical por 10 a 30 segundos associada à distensão jugular sustentada
superior a 3 cm de água é conhecida como refluxo hepatojugular, tipicamente
encontrado em pacientes com insuficiência cardíaca direita e/ou esquerda ou
167
Pulso venoso a
y
c
y
x
Bulhas cardíacas
B1 B2 B1 B2
ECG
168
Quadro 10.1 Características dos diferentes tipos de pulsos arteriais
EXAME DO TÓRAX
Inspeção
À inspeção do tórax, deve-se visualizar o seu formato (pectus carinatum,
escavatum, cifoescoliose) e o padrão respiratório. A visualização dos vasos
superficiais na porção superior do tórax pode sugerir compressão da veia cava
169
superior. Já fluxo sangüíneo superficial no sentido cranial pode indicar obstrução
da cava inferior.
Algumas vezes, é possível observar as impulsões torácicas secundárias à movi-
mentação cardíaca. Deve-se observar as regiões apical, paraesternal esquerda,
segundo espaço intercostal direito e terceiro espaço intercostal esquerdo. Pulsa-
ções proeminentes nesses locais sugerem dilatações ventricular esquerda,
ventricular direita, aórtica e da artéria pulmonar, respectivamente.
Palpação
A palpação do precórdio adiciona uma série de informações à simples inspeção.
Idealmente, deve-se posicionar o paciente em decúbito dorsal, com cabeceira a
30º. A palpação da região apical deve utilizar toda a extensão dos dedos. As
demais regiões podem ser examinadas com a extremidade dos dedos. A palpação
simultânea do pulso carotídeo orienta a localização das impulsões no ciclo cardíaco.
A pulsação aórtica pode ser detectada junto à fúrcula esternal, alertando para
uma possível dilatação. Por fim, completa-se a palpação examinando-se novamen-
te a impulsão apical com o paciente em decúbito lateral esquerdo parcial.
A impulsão apical – ictus cordis – origina-se com o toque do coração à parede
torácica anterior no seu movimento anti-horário durante a sístole. Na porção
externa, o ictus é percebido medial e superiormente à intersecção da linha hemi-
clavicular e do quinto espaço intercostal esquerdos, apresentando diâmetro não-
EXAME DO SISTEMA CARDIOVASCULAR
Ausculta
A ausculta cardíaca deve ser orientada pelo conhecimento fisiológico do ciclo
cardíaco. Sua sistematização impede que se deixem de avaliar aspectos importan-
tes em relação aos sons cardíacos. Novamente, deve-se examinar o paciente em
pelo menos três posições distintas. A utilização de manobras específicas pode ser
aplicada, facilitando, em muitos casos, a detecção de ruídos inaudíveis ao exame
estático (ver item “Manobras”).
170
Na descrição das áreas auscultadas, deve-se evitar a denominação “foco” (p.
ex., foco aórtico, foco mitral etc.), pois isso pode gerar a falsa idéia de que, em se
auscultando um som num dos “focos”, o mesmo deve corresponder ao vaso ou
à valva que lhe dá nome. Inicialmente, quatro áreas devem ser auscultadas: região
apical (A), bordo esternal inferior esquerdo (BEIE), bordo esternal superior esquer-
do (BESE) e bordo esternal superior direito (BESD) (Figura 10.3). Na presença de
sopros, deve-se procurar se há irradiação para outras regiões: tórax direito, axila,
dorso, carótidas e fossa clavicular.
A maioria dos estetoscópios é provida de dois dispositivos de ausculta: o
diafragma, formado por uma membrana rígida, que transmite preferencialmente
os sons de alta de freqüência, e a campânula, sem membrana transmissora, que
facilita a ausculta dos sons de baixa freqüência. O posicionamento da campânula
deve ser feito de forma suave, apenas encostado à parede torácica, pois uma
pressão elevada transforma a própria pele em diafragma, impedindo a ausculta
dos sons de baixa freqüência. Os graus variados de compressão da campânula
podem ser utilizados na tentativa de elucidar sons de freqüências distintas.
Uma maneira lógica de iniciar a ausculta é pela região apical, passando sucessi-
vamente às outras áreas.
Região apical:
1. Identificar a primeira bulha (B1) e definir as suas características (compo-
nentes, intensidade). Auscultar o ritmo cardíaco.
Região apical
Bordo esternal
inferior esquerdo
(BEIE)
171
2. Auscultar sistematicamente, com avaliação do início, meio e fim da sístole.
3. Auscultar a segunda bulha (B2) e definir suas características.
4. Auscultar sistematicamente, com avaliação do início, meio e fim da diástole.
Em seguida passa-se às outras regiões precordiais, auscultando-se cada espaço
intercostal, de acordo com o esquema já mencionado.
Primeira bulha (B1): a primeira bulha é um som de alta freqüência gerado no
fechamento das valvas mitral e tricúspide, quando a pressão intraventricular supera
a pressão atrial na sístole. O ruído do fechamento mitral é mais intenso que o do
fechamento tricúspide, que costuma ser audível apenas no BESE (ou abaixo do
apêndice xifóide). O componente mitral pode ser auscultado em todo o precórdio.
Quando há bloqueio de ramo direito, os dois sons distanciam-se, ouvindo-se o
desdobramento da B1.
Sons sistólicos: a presença de estenose, valva bicúspide e dilatação do tronco
podem causar um ruído sistólico de alta freqüência tanto na aorta como na artéria
pulmonar. A presença de prótese mecânica aórtica associa-se a som metálico
característico no início da sístole. O som meso ou telessistólico corresponde ao
prolapso da valva mitral, conseqüente à protrusão dos folhetos mitrais no átrio
esquerdo durante a sístole. Esse som é melhor auscultado na região apical e tem
alta freqüência (click).
EXAME DO SISTEMA CARDIOVASCULAR
Segunda bulha (B2): a segunda bulha é um som de alta freqüência formado pelos
ruídos produzidos no fechamento das valvas aórtica e pulmonar. O componente
pulmonar é de menor intensidade, sendo, na maioria das vezes, restrito ao BESE.
O componente aórtico pode ser ouvido em todo o precórdio. A avaliação do
desdobramento da B2 é melhor realizada no BESE. Durante a inspiração, ocorre
um aumento da capacitância pulmonar, prolongando a sístole do VD e determinan-
do um “atraso” do componente pulmonar (P2) em relação ao aórtico (A2). Esse
desdobramento é dito fisiológico. No desdobramento persistente, é possível aus-
cultar os dois componentes durante todo o ciclo respiratório. O maior intervalo
entre os sons ocorre durante a inspiração, mantendo-se, portanto, o padrão fisio-
lógico. Por outro lado, no desdobramento fixo, a separação temporal entre os sons
é constante, não se observando alterações com a respiração. Finalmente, no des-
dobramento paradoxal auscultam-se os dois componentes apenas durante a ex-
piração. Nesse último caso, há “atraso” do componente A2, usualmente secundá-
rio a um bloqueio de ramo esquerdo. Quando não se distinguem os dois compo-
nentes de B2, freqüentemente P2 é inaudível. Estenose ou atresia (aórtica ou pul-
monar) também podem ser causa de abolição de um dos componentes da B2.
Sons diastólicos: a válvula mitral reumática causa um estalido de abertura no
início da diástole, que é auscultado na região apical com o diafragma. O mixoma
atrial e a prótese atrioventricular também causam ruídos no início da diástole. A
terceira bulha (B3) é um som mesodiastólico de baixa freqüência. Representa um
aumento da resistência à distensão longitudinal do ventrículo na fase de enchi-
mento rápido. Pode ser encontrado em crianças, adultos jovens ou em casos de
insuficiência cardíaca. É auscultado em região apical com o uso da campânula. O
172
decúbito lateral esquerdo facilita sua identificação. A inspiração e o aumento do
retorno venoso (elevação de membros inferiores) aumentam sua intensidade. A
quarta bulha (B4) é um som de baixa freqüência, pré-sistólico, correspondente à
sístole atrial frente a um ventrículo com alteração no relaxamento. Também deve
ser auscultado na região apical, utilizando-se a campânula, logo antes da B1.
Não costuma ser alterado pela inspiração. Pode ser encontrado em idosos, sendo
clássico do ventrículo em sofrimento (e, por isso, com déficit de relaxamento)
nos casos de angina instável ou infarto agudo do miocárdio.
Sopros cardíacos
O sopro é um ruído formado a partir do turbilhonamento do sangue ao
atravessar estruturas cardíacas. Normalmente tem duração maior que o som das
bulhas e dos ruídos anteriormente descritos. Sua freqüência varia de acordo com
o tipo de alteração presente.
Na avaliação de um sopro, deve-se, inicialmente, localizá-lo no ciclo cardíaco.
Os sopros dividem-se em proto, meso ou telessistólicos, de acordo com seu perío-
do de ocorrência. Os sopros sistólicos causados por insuficiência das válvulas
atrioventriculares (mitral e tricúspide) são caracteristicamente pansistólicos; os
sopros sistólicos em “crescendo-descrescendo” associam-se a sopros de ejeção
(como na estenose aórtica ou pulmonar). O mesmo vale para os sopros diastólicos,
em geral, decorrentes de insuficiência das válvulas sigmóides ou de estenose das
MANOBRAS
O exame cardiovascular é um processo dinâmico no qual a indução de alterações
hemodinâmicas por meio de manobras, modificações no posicionamento do pa-
ciente e administração de drogas ou em situações observadas deve ser utilizada
Grau Descrição
I Sopro audível somente após ausculta cuidadosa
II Sopro de intensidade média, audível imediatamente após
colocação do estetoscópio
III Sopro intenso, sem frêmito
IV Sopro intenso acompanhado de frêmito
V Sopro muito intenso, mas audível com estetoscópio junto ao tórax
VI Sopro audível com estetoscópio afastado do tórax
173
no diagnóstico diferencial. Todos os pacientes devem ser examinados em três
posições: decúbito dorsal, decúbito lateral esquerdo e sentado. Manobras adicio-
nais devem ser realizadas quando necessário no diagnóstico diferencial dos achados.
Inspiração
Execução: o paciente deve inspirar e expirar lentamente seguindo as orientações
do examinador.
Aplicação: na diferenciação entre os sons de câmaras direitas e esquerdas, o
aumento da intensidade de um som na inspiração sugere origem de câmara
direita.
Sentado
Execução: o paciente deve estar sentado e inclinado para a frente.
Aplicação: identificação de sopro de insuficiência aórtica e atrito pericárdico.
EXAME DO SISTEMA CARDIOVASCULAR
Valsalva
Execução: o paciente deve fazer contração abdominal sem ventilar por 20
segundos.
Aplicação: cerca de dois terços dos sopros da cardiomiopatia hipertrófica aumen-
tam com essa manobra. Na diferenciação entre os sopros de câmaras direitas e
esquerdas, ao retomar a ventilação normal após a manobra, o aumento da in-
tensidade de um sopro nas primeiras 1 a 2 ventilações sugere sopro de câmara
direita.
Ortostatismo
Execução: o paciente deve assumir posição ortostática abruptamente após realizar
agachamento por cerca de 30 segundos. Deve-se auscultar os primeiros 15 a 20
segundos.
174
Aplicação: aumento do sopro da cardiomiopatia hipertrófica e do prolapso mitral.
Diminuem a intensidade de sopros inocentes, a estenose aórtica e a comunica-
ção interventricular
Agachamento
Execução: o paciente, em ortostatismo, deve colocar-se na posição de cócoras.
Realiza-se a manobra com estetoscópio no tórax do paciente, devendo-se auscul-
tar as alterações logo após a manobra.
Aplicação: diminui o sopro da cardiomiopatia hipertrófica e aumentam os sopros
de insuficiência aórtica, a estenose aórtica, a insuficiência mitral e a comunicação
interventricular.
Handgrip
Execução: o paciente deve fazer a contração isométrica bilateral das mãos, mantendo
uma ventilação normal. Ausculta-se um minuto após a contração máxima.
Aplicação: os sopros de insuficiência aórtica, a insuficiência mitral e a comunica-
ção interventricular aumentam em intensidade, e o sopro da cardiomiopatia
hipertrófica diminui. O handgrip pode permitir a identificação de B3 e B4 previ-
amente não-identificadas.
Amil nitrito
Execução: o paciente inala uma ampola de amil nitrito. Ausculta-se por 15 a 30
segundos após a manobra.
Aplicação: aumentam a intensidade de sopros de estenose aórtica, a cardiomiopatia
hipertrófica, a estenose mitral e a insuficiência tricúspide. Diminuem os sopros
de insuficiência mitral e insuficiência aórtica.
Nitroglicerina
Execução: administra-se nitroglicerina ao paciente.
Aplicação: aumentam a intensidade de sopros de estenose aórtica, a cardiomiopatia
hipertrófica, a estenose mitral e a insuficiência tricúspide. Diminuem os sopros
de insuficiência mitral e a insuficiência aórtica.
Müeller
Execução: o paciente faz movimento inspiratório mantendo o nariz e a boca cerra-
dos (sem ventilar) por cerca de 10 segundos.
Aplicação: aumenta os sons originários da câmara direita.
175
Tabela 10.1 Diagnóstico diferencial de sopros sistólicos
Cardiomiopatia hipertrófica
Valsalva aumento 65 96 81 92
S–O diminuição 95 85 61 99
EPMI diminuição 85 91 71 96
Handgrip diminuição 85 75 46 95
Adaptada de Lembo N. Bedside diagnosis of systolic murmurs. NEJM 1988; 318: 1572-
8. S = sensibilidade; E = especificidade; VPP = valor preditivo positivo; VPN = valor
preditivo negativo; S – O = do agachamento ao ortostatismo; EPMI = elevação pas-
siva de membros inferiores; OAT = oclusão arterial transitória.
EXAME DO SISTEMA CARDIOVASCULAR
Pós-batimento prematuro
Interpretação: o sopro da estenose aórtica aumenta após um batimento prematuro.
QUADROS SINDRÔMICOS
Na descrição dos sintomas associados com os quadros sindrômicos a seguir, é
importante que se tenha em mente que a gravidade dos mesmos é produto do
grau de disfunção hemodinâmica acarretado pelo distúrbio, sua velocidade de
instalação e a função cardiopulmonar prévia do paciente.
Sopro inocente
Etiologias: sopro não-associado à anormalidade anatômica ou fisiológica detec-
tável.
Sintomas: assintomáticos.
Exame físico:
Q Ausculta: sopro mesossistólico em crescendo-decrescendo grau 1 a 2 audível
nos 2o a 4o espaços intercostais bordo esternal esquerdo, com pouca ou
nenhuma irradiação. Sem outras alterações no exame cardiovascular.
Sopro fisiológico
Etiologias: anemia, febre, exercício, gestação, hipertireoidismo e outras.
176
Sintomas: assintomáticos ou com sintomas do distúrbio de base.
Exame físico:
Q Palpação: ictus hiperdinâmico.
Q Ausculta: sopro mesossistólico em crescendo-decrescendo grau 1 a 3 audível
nos 2o a 4o espaços intercostais bordo esternal esquerdo, com pouca ou
nenhuma irradiação. Sem outras alterações no exame cardiovascular.
Estenose aórtica
Etiologias: degenerativa, febre reumática ou congênita.
Sintomas: os pacientes passam por um longo período assintomático. Apresen-
tam-se em torno da sexta década de vida com angina pectoris, síncope ou insu-
ficiência cardíaca.
Exame físico:
Q Inspeção: onda “a” venosa proeminente.
Q Palpação: pulso arterial parvus et tardus. Ictus sustentado, aumentado e
desviado para a esquerda. Frêmito palpável em segundo espaço intercostal
esquerdo com paciente sentado inclinado anteriormente em expiração total.
Q Ausculta: A2 variando de hipo à hiperfonese, P2 hiperfonética com desdo-
bramento paradoxal de B2 em casos graves, B4, click sistólico de abertura
da valva aórtica e sopro mesossistólico em crescendo e decrescendo em
BESD com irradiação para a região apical e carótidas. O fenômeno de Galla-
177
vardin pode ser percebido e corresponde à modificação da qualidade do
sopro (mais musical em ápice) ao longo do precórdio.
Insuficiência aórtica
Etiologias: degenerativa, endocardite, espondilite anquilosante, congênita, febre
reumática, Marfan, dissecção aórtica, sífilis e outras.
Sintomas: sintomas de insuficiência cardíaca.
Exame físico:
Q Inspeção: movimento da cabeça a cada batimento cardíaco (sinal de
Musset), pulsações sistólicas da úvula (sinal de Müller), pulsações capilares
percebidas ao transiluminar o dedo do paciente (sinal de Quincke) e pulsa-
ções arteriolares retinianas.
Q Palpação: pulso arterial amplo e rápido (pulso em martelo d’água ou pulso
de Corrigan). Ictus com dimensão aumentada, sustentado, hiperdinâmico
e desviado para a esquerda.
Q Ausculta: B1 e B2 hipofonéticas, podendo haver B3 e B4. Sopro protomeso-
diastólico em decrescendo mais audível com o paciente sentado inclinado
anteriormente em expiração total junto ao bordo esternal esquerdo 2o a 4o
espaços intercostais com irradiação para ápice e bordo esternal direito. O
sopro mesotelediastólico mitral audível em ápice (sopro de Austin Flint)
EXAME DO SISTEMA CARDIOVASCULAR
Estenose mitral
Etiologias: febre reumática e outras raras.
Sintomas: geralmente apresenta-se na 3a e 4a décadas com sintomas de insuficiên-
cia cardíaca. Pacientes podem apresentar hemoptise devido ao aumento na pressão
pulmonar, com conseqüente extravasamento de sangue para o pulmão, bem
como fenômenos tromboembólicos secundários à dilatação atrial. Rouquidão
devido à compressão do nervo laríngeo recorrente pelo átrio esquerdo dilatado
(Síndrome de Ortner) em alguns casos.
178
Exame físico:
Q Inspeção: turgência jugular. Pulso venoso com onda “a” proeminente em
pacientes com ritmo sinusal. Proeminente onda “v” ou “c-v” em pacien-
tes com fibrilação atrial.
Q Palpação: ictus cordis discreto. Pode haver frêmito palpável em região apical.
Q Ausculta: B1 hiperfonética, P2 hiperfonética, B4 em área de ventrículo
direito, click de abertura da válvula mitral seguido de sopro diastólico (rolar
diastólico) com reforço pré-sistólico audível com a campânula do estetos-
cópio em região apical e com paciente em decúbito lateral esquerdo, ge-
ralmente sem irradiação. Em geral, quanto mais longo o sopro, mais grave
a obstrução.
Insuficiência mitral
Etiologias: febre reumática, endocardite infecciosa, dilatação do anel valvar, trauma,
ruptura de cordoalha tendínea, disfunção do músculo papilar (cardiopatia isquê-
mica), necrose do músculo papilar (pós-IAM) e outras.
Sintomas: o paciente pode ser assintomático ou apresentar-se com insuficiência
cardíaca.
Exame físico:
Q Palpação: pode haver frêmito apical na IM crônica grave. Pulsos periféricos
Prolapso mitral
Etiologias: diversas patologias do aparato valvar mitral.
Sintomas: na maioria dos casos assintomático, entretanto pode apresentar sintomas
de insuficiência mitral.
Exame físico:
Q Ausculta: click mesossistólico seguido de sopro telessistólico em crescendo
em região apical. Os pacientes podem apresentar apenas click, apenas sopro
ou nenhum dos dois. Os achados podem variar em exames subseqüentes.
No prolapso com importante regurgitação mitral, os achados são os da
insuficiência mitral.
Estenose pulmonar
Etiologias: congênita e outras.
Sintomas: insuficiência cardíaca direita.
Exame físico:
Q Palpação: impulsões paraesternais direitas. Frêmito nos 2o e 3o espaços
intercostais direitos.
179
Q Ausculta: Hipofonese de B2. Pode haver B4 em BEIE. Sopro mesossistólico
em crescendo-decrescendo nos 2o e 3o espaços intercostais esquerdos.
Insuficiência pulmonar
Etiologias: dilatação do anel valvar primária ou secundária, endocardite e outras.
Sintomas: insuficiência cardíaca direita.
Exame físico:
Q Ausculta: P2 ausente na agenesia e hiperfonética em pacientes com hiper-
tensão pulmonar. Desdobramento amplo de B2, B3 e B4 junto ao bordo
paraesteral inferior esquerdo. Sopro holodiastólico em plateau ou decrescen-
do (sopro de Graham Steel) audível em BEIE.
Estenose tricúspide
Etiologias: febre reumática (acompanhada de acometimento mitral e aórtico não
isoladamente), congênita e outras.
Sintomas: insuficiência cardíaca direita.
Exame físico:
Q Inspeção: turgência jugular e com onda “a” ampla.
Q Palpação: frêmito palpável BEIE.
EXAME DO SISTEMA CARDIOVASCULAR
Insuficiência tricúspide
Etiologias: dilatação do anel valvar primária ou secundária, endocardite, febre
reumática e outras.
Sintomas: insuficiência cardíaca direita.
Exame físico:
Q Inspeção: caquexia, cianose e icterícia. A fibrilação atrial é freqüente. A
turgência jugular com onda “c-v” proeminente (onda “s”).
Q Palpação: o frêmito venoso em região cervical pode estar presente.
Q Ausculta: B3 em BEIE. Sopro holossistólico em plateau em BEIE com
irradiação para bordo esternal direito e que encobre P2. Sopro sistólico
venoso em região cervical.
Q Outros: fígado pulsátil.
Cardiomiopatia hipertrófica
Etiologia: não claramente identificada, mas em geral associada a alterações gené-
ticas específicas.
180
Sintomas: maioria assintomática. Naquelas que apresentam sintomas: dispnéia,
angina pectoris, fadiga, lipotimia e síncope, podendo a primeira manifestação
ser morte súbita.
Exame físico:
Q Inspeção: onda “a” venosa ampla.
Q Palpação: pulso carotídeo com aumento rápido (diferente da estenose aórtica).
Ictus desviado para a esquerda, podendo apresentar de 1 a 3 componentes.
Frêmito, se presente, palpável no quarto espaço intercostal esquerdo.
Q Ausculta: desdobramento de B2 (fisiológico ou paradoxal), B4, pode haver
B3, sopro mesossistólico em crescendo-decrescendo em ápice que pode
ter irradiação para axila e BESE, mas sem irradiação para o pescoço. Alguns
pacientes podem apresentar sopro de insuficiência mitral.
Comunicação interventricular
Etiologias: pós-IAM e congênita.
Sintomas: insuficiência cardíaca.
Exame físico:
Q Palpação: frêmito nos 3o a 5o espaços intercostais esquerdos.
Q Ausculta: sopro holossistólico em plateau em BEIE com irradiação ampla e
Comunicação interatrial
Etiologias: congênita.
Sintomas: fadiga e dispnéia aos esforços.
Exame físico:
Q Palpação: impulsões nos 3o a 5o espaços intercostais esquerdos, pulsação
pulmonar palpável.
Q Ausculta: B1 normal ou com desdobramento. B2 com desdobramento fixo.
Sopro mesossistólico em crescendo-decrescendo em BESE devido ao shunt
esquerda-direita e conseqüente aumento de fluxo na válvula pulmonar e
sopro mesodiastólico devido ao aumento de fluxo através da válvula tri-
cúspide.
Hipertensão pulmonar
Etiologias: primária, tromboembolia pulmonar e outras.
Sintomas: insuficiência cardíaca direita.
Exame físico:
Q Inspeção: turgência jugular com onda “a” ampla.
Q Palpação: impulso cardíaco em BEIE, pulsação pulmonar palpável. Pulsos
arteriais parvus.
181
Q Ausculta: P2 hiperfonética B3 e B4 em BEIE. As regurgitações pulmonar e
tricúspide podem estar presentes.
Pericardite
Etiologias: viral, urêmica, pós-operatória, causas reumatológicas.
Sintomas: dor retroesternal (ver Dor ou Desconfotro Torácico).
Exame físico:
Q Ausculta: o atrito pericárdico é um som de timbre alto, melhor audível com
o diafragma. Ocorre com a inflamação do saco pericárdico e tem três com-
ponentes: um sistólico e dois diastólicos (enchimento rápido e contração
atrial).
Braunwald E, Zipes DP, Liby, P. Heart disease: a textbook of cardiovascular medicine. 6th. ed.
Philadelphia: WB Saunders Company; 2001.
Freeman AL, Levine SA. The clinical significance of the systolic murmur: a study of 1000
consecutive non-cardiac cases. Ann Intern Med 1993;6: 1371.
Seidel HM, Ball JW, Dains JE, Benedict GW. Mosby’s guide to physical examination. 14th ed.
St. Louis: Mosby; 1999.
Willms JL, Schneiderman H, Algranati PS. Physical diagnosis: bedside evaluation of diagnosis
and function. Baltimore: Williams & Wilkins; 1994.
Sites recomendados
American College of Cardiology:
http://www.acc.org
182
11
SISTEMA DIGESTÓRIO
CARLOS FERNANDO DE MAGALHÃES FRANCESCONI
MARIA HELENA ITAQUI LOPES
LUIZ EDMUNDO MAZZOLENI
ANAMNESE
A correta coleta de informações permite a formulação do diagnóstico na maioria
dos casos.
Aspectos específicos da anamnese do paciente com queixas relacionadas ao
sistema digestório ou ao abdome necessitam de uma melhor exploração. Sem-
pre deverão ser valorizados os dados demográficos, epidemiológicos e genéti-
cos, além de sintomas específicos, como os vistos na Figura 11.1, onde se observa
uma correlação dos sintomas e sinais com os órgãos do sistema digestório em
que se originam.
“Cólica” biliar
Definição: dor de forte intensidade localizada em quadrante superior direito do
abdome com eventual irradiação para regiões lombar e escapular direitas e epi-
gástrio. Trata-se de uma denominação equivocada por tratar-se de uma dor contí-
Anamnese
Halitose
Xerostomia
Boca
Sialorréia
Aftas
Náusea
Disfagia Vômito
Odinofagia Dor
Regurgitação Esôfago Hematêmese
Pirose Melena
Eructação
Icterícia Diarréia
Prurido Fígado Esteatorréia
Colúria Disenteria
Hipocolia Estufamento
Encefalopatia Vesícula Pâncreas
hepática biliar
Constipação
Enterorragia
Flatulência
Apêndice Ânus
Colúria
Definição: é a coloração escura da urina em conseqüência da presença de pigmen-
tos biliares conjugados excretados pelos rins.
Significado clínico: é um achado precoce nas situações onde ocorre elevação da
bilirrubina sérica conjugada (direta). Não está presente em condições clínicas em
que apenas a bilirrubina não-conjugada (indireta) encontra-se elevada no soro.
Deve ser diferenciada de outras condições que causam escurecimento da urina,
184
tal como hematúria. O exame comum de urina permite a comprovação da presen-
ça de pigmentos biliares.
Constipação
Definição: diminuição da freqüência das evacuações ou aumento da consistência
das fezes, algumas vezes acompanhada da sensação de evacuação incompleta
ou da dificuldade para evacuar.
Significado clínico: na maioria das vezes traduz um distúrbio funcional colônico.
Outras causas:
Q lesões estenosantes colônicas malignas (carcinomas);
Q lesões estenosantes colônicas benignas (secundárias à diverticulite, colite
isquêmica ou actínica);
Q doenças do sistema nervoso central (Parkinson, acidentes vasculares is-
quêmicos, secção de medula);
Q doenças do sistema nervoso autônomo (diabete melito);
Q doenças do sistema nervoso periférico (aganglionose – Hirshprung e doença
de Chagas –, lesão de nervos pudendos);
Q doenças metabólicas (diabete melito, hipotireoidismo, hiperparatireoidismo
e outras doenças que provoquem hipercalcemia, pan-hipopituitarismo);
Q drogas (bloqueadores de canal de cálcio, nitratos, antidepressivos tricíclicos,
antiinflamatórios não-esteróides, opióides, anticolinérgicos);
Q gravidez;
Q doenças orificiais anais (fissuras, hemorróidas trombosadas, abscessos pe-
SISTEMA DIGESTÓRIO
rianais);
Q dieta inadequada em fibras;
Q distúrbios comportamentais (não-atendimento ao reflexo evacuatório, aver-
são a sanitários estranhos aos domiciliares);
Q anismo ou contração paradoxal do músculo puborretal e/ou elevador do ânus.
Diarréia
Definição: aumento do número de evacuações acompanhado de diminuição da
consistência das fezes. Alternativamente pode ser definida como aumento do
peso das fezes para mais de 300 g/dia.
Significado clínico:
Q presença de substâncias osmoticamente ativas no lúmen intestinal que po-
dem ter sido ingeridas (manitol, sorbitol, lactulose, hidróxido de magnésio,
entre outras) ou podem ser conseqüência de digestão inadequada (deficiên-
cia de dissacaridases, p. ex., lactase), decorrente de quadros mal-absortivos
(doença celíaca, supercrescimento bacteriano, linfoma intestinal, entre ou-
tros);
Q estímulo secretório produzindo secreção de eletrólitos e água para o lúmen
intestinal (infecções intestinais, ácidos graxos, ácidos biliares, hormônios
entre outros);
Q alteração da motilidade intestinal (intestino irritável, hipertireoidismo);
185
Q mista: neoplasia carcinóide e carcinoma (mais freqüentemente ceco e colo
ascendente), drogas (inibidores da recaptação da serotonina, quimioterá-
picos antineoplásicos), mucosite por drogas, ou secundária à doença en-
xerto-hospedeiro e síndrome da imunodeficiência adquirida.
Disenteria
Definição: evacuação diarréica de material piomucossanguinolento.
Significado clínico: geralmente quando em quadros agudos e se acompanhada de
dor abdominal com febre traduz colite por Shigella, Salmonella ou Escherichia
colienteroinvasiva. Em quadros de mais longa duração pode significar retocolite
ulcerativa inespecífica em atividade.
Disfagia
Definição: sensação de dificuldade de passagem do alimento da boca ao estômago.
SISTEMA DIGESTÓRIO
Dor abdominal
Definição: todos os quadros abdominais dolorosos, agudos ou crônicos, causados
por patologias ou distúrbios funcionais originados tanto de vísceras do sistema
digestório como de alterações patológicas ou funcionais de outros sistemas.
Significado clínico: os quadros dolorosos abdominais podem ser agudos, quando
são denominados de abdome agudo (clínicos ou cirúrgicos), ou crônicos.
As patologias não-digestivas que podem causar dor abdominal, tanto aguda
quanto crônica, são as seguintes: cardiológicas (infarto agudo do miocárdio, pe-
ricardites), respiratórias (pneumonias, patologias pleurais), metabólicas (porfirias,
186
cetoacidose diabética, uremia), neurológicas (Tabes dorsalis, lesões medulares),
intoxicações (chumbo), infecções (Herpes zoster), hematológicas (anemia falci-
forme) e ortopédicas (contusões, fraturas), dentre outras.
As patologias abdominais que causam dor podem ser divididas topografica-
mente, para auxiliar no diagnóstico diferencial, em epigástricas (patologias do
esôfago distal, estômago, duodeno, pâncreas, vias biliares e fígado), periumbilicais
(patologias do intestino delgado, apêndice) e hipogástricas (colos, ureteres, bexiga,
órgãos ginecológicos).
Os quadros de abdome agudo podem ser classificados como inflamatórios
(apendicite, diverticulite, pancreatite, colangite), obstrutivos (bridas, volvos), per-
furativos (úlcera péptica, divertículos, ferimentos), isquêmicos (isquemia mesen-
térica, colite isquêmica) e hemorrágicos (ruptura de vísceras e de aneurismas,
ferimentos).
Os quadros dolorosos crônicos podem ser de origem funcional (dispepsia
funcional, síndrome do intestino irritável) ou orgânica (neoplasias, patologia pép-
tica, isquemia). As orgânicas podem apresentar padrão intermitente, sugerindo
alterações na função (endometriose, porfiria), ou padrão contínuo, sugerindo
alterações fisiopatogênicas definidas (pancreatite crônica, neoplasias). O diagnós-
tico diferencial das múltiplas causas de quadros dolorosos abdominais costuma
ser desafiador e necessita da utilização de todos os recursos possíveis, iniciando
por adequada anamnese (tipo, local, cronologia, fatores associados, fatores de
melhora e piora, desencadeantes, sintomas associados, repercussão no estado
geral, ritmo, periodicidade, sintomas diurnos e/ou noturnos), utilizando todas as
SISTEMA DIGESTÓRIO
manobras necessárias do exame físico geral e abdominal (ver a seguir) e, finalmen-
te, usando racionalmente os recursos laboratoriais e complementares disponíveis.
Enterorragia
Definição: eliminação de sangue vivo pelo ânus. A hematoquezia é a evacuação
de sangue misturado às fezes.
Significado clínico: geralmente significa hemorragia digestiva de origem colônica.
Sangramentos altos (acima do ângulo de Treitz) de grande volume com trânsito
intestinal acelerado e, geralmente, com graves repercussões hemodinâmicas (hi-
potensão, choque) também podem se apresentar dessa forma. Causas colônicas:
Q lesões neoplásicas benignas (pólipos);
Q lesões neoplásicas malignas (carcinomas);
Q doença diverticular;
Q angiodisplasia;
Q doenças anais, como hemorróidas e fissuras.
Eructação
Definição: é a eliminação de ar pela boca.
Significado clínico: ocasionais eliminações de ar pela boca durante ou logo após
as refeições são normais. Ao contrário, pacientes que repetidamente apresentam
eructações aspiram ar para o esôfago antes de eliminá-lo, sendo que a maior
187
parte do ar aspirado não atinge o estômago. As principais causas para a eructação
patológica são estresse emocional e desconfortos abdominais e torácicos de qual-
quer causa, os quais parecem ser aliviados com a eructação, por mecanismos
desconhecidos. A maioria dos pacientes eructadores apresenta doenças funcionais
do tubo digestivo.
Estufamento abdominal
Definição: sensação subjetiva de aumento de pressão intra-abdominal, que pode
ser acompanhada ou não de distensão abdominal.
Significado clínico: dependente do contexto clínico. Se acompanhado de dor abdo-
minal, distensão abdominal, vômitos e cessação de eliminação de gases pelo
ânus, sugere quadro obstrutivo intestinal total ou parcial. Quando ocorre com
mais intensidade no período vespertino, ao longo de muito tempo e desacompa-
nhado de outros sintomas ou sinais clínicos relevantes, sugere fortemente distúrbio
funcional do sistema digestório, com mais freqüência síndrome do intestino irri-
tável se concomitantemente estiverem presentes alteração do hábito intestinal e
dor abdominal.
Flatulência
Definição: percepção subjetiva ou objetiva do aumento da eliminação de gases
pelo ânus.
Significado clínico: associado freqüentemente à dieta rica em fibras vegetais ou a
SISTEMA DIGESTÓRIO
Halitose
Definição: sensação subjetiva de odor desagradável que emana da boca percebido
pelo paciente e/ou circunstantes.
Significado clínico: em 90% dos casos, está relacionada a patologias otorrinola-
ringológicas (amigdalite, faringite, sinusite e outras) e da cavidade oral (língua
saburrosa, doença periodontal e outras). Muito raramente associa-se a causas
gastrenterológicas (neoplasias altas, quadros obstrutivos, refluxo gastresofágico
e ruminação). O ar expirado pode conter substâncias voláteis com odor forte
(álcool, hálito urêmico, cetótico, hepático, metabólitos de alimentos ingeridos).
Considerar causas infecciosas respiratórias baixas (abscessos pulmonares e bron-
quiectasias).
Hematêmese
Definição: é o vômito com sangue.
Significado clínico: é a manifestação de sangramento digestivo alto (acima do
ângulo de Treitz). Pode se apresentar com eliminação de sangue rutilante, indican-
do sangramento recente e geralmente mais grave, ou sangue escuro (em “borra
de café”), indicando que o sangue permaneceu mais tempo no estômago antes
188
de ser eliminado. A hematêmese deve ser diferenciada de sangramentos originá-
rios da boca ou das vias aéreas (dentários, epistaxe, hemoptise), que podem ser
eliminados com vômitos após terem sido deglutidos.
As causas mais comuns de hematêmese são as úlceras pépticas hemorrágicas
e as varizes de esôfago. Outras possibilidades etiológicas são as gastrites erosivas,
a síndrome de Mallory-Weiss (laceração esofágica por esforço de vômito), mal-
formações vasculares, tumores do trato digestório superior, esofagites severas e
sangramentos de origem hepática (hemobilia), pancreática ou de fístulas aorto-
entéricas.
A anamnese relacionada a todos esses potenciais fatores etiológicos deve ser
adequadamente obtida, e os sintomas relacionados à maior gravidade do qua-
dro hemorrágico devem ser definidos (volume e aspecto do sangue eliminado,
co-morbirdades, idade avançada, sintomas de perda importante de volume cir-
culatório como lipotimia).
Hipocolia
Definição: é a coloração esbranquiçada (descorada) das fezes, que se apresentam
com aspecto de “massa de vidraceiro”, decorrente da diminuição de pigmentos
biliares de origem desconhecida no conteúdo fecal.
Significado clínico: é a tradução da diminuição de pigmentos de origem biliar de
natureza ainda não-definida no trato gastrintestinal. Na sua manifestação mais
completa é chamada de acolia. Pode ocorrer em todas as situações clínicas onde
há obstrução do fluxo normal da bile para o intestino, como em:
SISTEMA DIGESTÓRIO
Q colestases hepatocelulares graves (intra-hepáticas), como nas hepatites vi-
rais, medicamentosas, ou outras condições que produzam obstrução dos
canalículos intra-hepáticos (cirrose biliar primária, colestase da gravidez);
Q colestases obstrutivas (extra-hepáticas), como nas obstruções benignas e
malignas das vias biliares (coledocolitíase, neoplasia de pâncreas e outras).
Icterícia
Definição: é a coloração amarelada da esclerótica, da conjuntiva e da pele, secundá-
ria à deposição de bilirrubina.
Significado clínico: é a manifestação clínica do aumento dos níveis séricos de bilir-
rubina. Níveis séricos maiores de 2,5 mg/dL costumam ser detectáveis na inspeção
de pacientes com pele clara. Deve ser diferenciada da coloração amarelada da
pele que ocorre em indivíduos com impregnação cutânea por caroteno (não há
elevação dos níveis de bilirrubina).
Pode ser secundária à produção exagerada de pigmentos biliares (hemólise, p.
ex., ou ocorrer em casos de defeitos na captação e conjugação do pigmento biliar
pelo fígado (p. ex., síndrome de Gilbert). Nessas duas condições, a bilirrubina que
está elevada é a indireta, ou não-conjugada que, por ser não-hidrossolúvel, fica
ligada à albumina e não é eliminada pelo rim (icterícia sem colúria).
O aumento da bilirrubina conjugada, que é hidrossolúvel e eliminada pelo
rim (colúria), é comum em doenças do parênquima hepático (hepatites, cirrose:
189
colestases hepatocelulares ou “intra-hepáticas”) e biliares (coledocolitíase, neo-
plasias de vias biliares/pâncreas: colestases obstrutivas ou “extra-hepáticas”). O
termo colestase é utilizado nos casos onde, além da dificuldade de eliminação da
bilirrubina, todo o conteúdo da bile (sais biliares, colesterol, bilirrubinas) não é
adequadamente eliminado.
A anamnese é de fundamental importância na diferenciação dessas diversas
causas de icterícia. A avaliação de exames hematológicos e das chamadas “provas
de função hepática”, além de exames de imagem, especialmente a ecografia
hepatobiliar (pode demonstrar dilatação da árvore biliar em casos de colestase
“obstrutiva”), geralmente é muito útil para o diagnóstico das icterícias.
Incontinência fecal
Definição: eliminação involuntária de fezes pelo ânus.
Significado clínico: pode estar associada, entre outras causas, a:
Q distúrbios psicogênicos;
Q distúrbios funcionais;
Q presença de fecaloma;
Q doenças neurológicas (acidente vascular cerebral, convulsões, lesões e sec-
ção de medula, neurites periféricas, entre outras);
Q lesão traumática dos esfincteres anais (pós-cirurgias orificiais ou pós-parto);
Q diarréias de grande volume;
Q carcinomas anais e retais;
Q diabete melito.
SISTEMA DIGESTÓRIO
Melena
Definição: é a eliminação anal de sangue digerido. Caracteriza-se por fezes de cor
preta, brilhantes e com odor característico.
Significado clínico: quase sempre é a manifestação de sangramento alto e pode
acompanhar quadros de hematêmese. Em casos de sangramentos menos volumo-
sos, com trânsito intestinal lento, pode ocorrer por patologias colônicas, especial-
mente do colo direito. As etiologias são as mesmas citadas como causa de hema-
têmese, adicionadas de algumas patologias do intestino delgado (sangramentos
por divertículos de Meckel) ou do intestino grosso (neoplasias, doença diverticular,
angiodisplasias dos colos).
Náusea
Definição: é um intenso desconforto (enjôo) que pode ou não preceder vômitos.
Significado clínico: as vias neurais envolvidas na náusea parecem ser as mesmas
do vômito, sendo que as estimulações menos intensas provocam náuseas, e as
mais intensas causam vômitos. Pode traduzir a presença de múltiplos distúrbios,
tais como estimulação labiríntica, alterações neurológicas, dor visceral, reações a
medicamentos, gravidez, infecções gastrintestinais ou sistêmicas, obstruções do
190
trato gastrintestinal, entre outros, ou apenas a conseqüência de repugnância por
alimentos, odores ou fatos estressantes.
Odinofagia
Definição: dor associada à deglutição.
Significado clínico: causada por infecções na orofaringe e no esôfago (Candida
albicans, citomegalovírus e herpes), esofagite actínica, esofagite péptica severa,
câncer e ingestão de cáusticos ou de comprimidos com pouca água.
Pêntade de Reynolds
Definição: hipotensão arterial e confusão mental em paciente portador de Tríade
de Charcot (ver a seguir).
Significado clínico: presença de sepse refratária secundária a processo infeccioso
em vias biliares.
Pirose
Definição: sensação de queimação ascendente retroesternal.
SISTEMA DIGESTÓRIO
Significado clínico: é o sintoma mais característico e predominante da doença do
refluxo gastresofágico. Em menos de 50% dos casos representa quadro de eso-
fagite e, com menor freqüência, o refluxo pode ocasionar complicações mais
graves, como o esôfago de Barrett e as estenoses esofágicas.
Proctalgia
Definição: dor sentida na região anal.
Significado clínico: nas suas formas agudas (proctalgia fugax) ou crônica sugere
distúrbio funcional da musculatura envolvida na continência evacuatória.
Regurgitação
Definição: é o retorno involuntário, sem esforço e desacompanhado de náusea,
do conteúdo alimentar deglutido.
Significado clínico: freqüentemente observado em pacientes portadores de acalasia.
Na situação clínica do refluxo gastresofágico, os pacientes podem referir regur-
gitação ácida.
Sinal de Blumberg
Definição: dor no ponto de McBurney à descompressão súbita.
Significado clínico: sugere irritação peritoneal, secundária à apendicite aguda.
191
Sinal de Cullen
Definição: presença de coloração azulada ao redor do umbigo.
Significado clínico: hemorragia retroperitoneal.
Sinal de Grey-Turner
Definição: presença de uma equimose não-traumática no abdome, localizada nos
flancos.
Significado clínico: pancreatite hemorrágica, estrangulamento intestinal, abscessos
com extravasamento de sangue.
Sinal de Joubert
Definição: desaparecimento da macicez hepática à percussão do hipocôndrio direito.
Significado clínico: pneumoperitônio.
Sinal de Murphy
Definição: a dor com parada brusca da inspiração, enquanto se coloca a mão
direita sob o gradil costal direito no ponto da borda lateral do músculo reto
abdominal ou enquanto se palpa a borda inferior do fígado (quando isso for
possível), constitui o sinal de Murphy positivo.
Significado clínico: colecistite aguda.
SISTEMA DIGESTÓRIO
Sinal do obturador
Definição: com o paciente em decúbito dorsal, o examinador flexiona a coxa
direita do paciente com o joelho fletido e rota o membro inferior interna e externa-
mente, sendo positivo quando ocorrer dor hipogástrica durante a manobra. A
flexão da coxa é essencial para obter-se o relaxamento do músculo psoas direito.
Significado clínico: sugere processo inflamatório adjacente ao músculo obturador,
mais freqüentemente na apendicite aguda rota.
Sinal do psoas
Definição: paciente colocado em decúbito lateral esquerdo, com a coxa direita
fletida refere dor em quadrante inferior direito do abdome quando a mesma é
estendida.
Significado clínico: sugere processo inflamatório intra-abdominal adjacente ao
músculo psoas, mais freqüentemente na apendicite aguda.
Sinal de Rovsing
Definição: dor no quadrante inferior direito durante compressão exercida no qua-
drante inferior esquerdo.
Significado clínico: sugere irritação peritoneal, mais freqüentemente apendicite
aguda e pelveperitonite.
192
Sinal do vasculejo
É produzido colocando-se o estetoscópio sobre a região epigástrica e promo-
vendo-se um movimento com a mão espalmada, semelhante a um chacoalhar
nessa região (vasculejo), onde se ausculta o deslocamento do líquido de estase
que fica no estômago.
Causa: quando detectável após um período de jejum de mais de 12 horas sinaliza
no sentido de um quadro de obstrução pilórica ou gastroparesia grave.
Tríade de Charcot
Definição: presença de “cólica” biliar juntamente com febre e icterícia.
Significado clínico: a febre geralmente em calafrios e a icterícia com colúria associa-
das a esse tipo de dor geralmente significam colangite bacteriana secundária à
coledocolitíase. Menos freqüentemente obstruções biliares por doenças malignas
ou benignas podem provocar esse quadro clínico.
Vômito
Definição: é a ejeção forçada de conteúdo do trato digestório superior, pela boca.
Significado clínico: é um importante sintoma, pois além de poder ser causado
pelos mesmos estímulos citados na náusea, pode provocar sérias conseqüências,
como pneumonia aspirativa, sangramento digestivo por laceração esofágica (sín-
drome de Mallory-Weiss), desidratação, desequilíbrio ácido-base e desnutrição.
SISTEMA DIGESTÓRIO
No diagnóstico diferencial das causas de náuseas e vômitos deverão ser estabele-
cidos, por meio da anamnese, a duração dos sintomas, a associação com possíveis
desencadeantes, a relação com as refeições, o conteúdo e o odor do vômito, a
presença de vômitos “em jato”e sintomas e sinais associados (febre, cefaléia,
alterações menstruais, entre outros). O vômito fecalóide geralmente representa
obstrução intestinal baixa e freqüentemente vem acompanhado de dor e distensão
abdominal. O vômito de estase é aquele no qual o paciente refere que vomita à
noite o ingerido pela manhã ou vomita pela manhã o que ingeriu na véspera.
Pode ser um evento isolado, principalmente em pacientes com náusea de longa
duração, ou pode se instalar de forma gradual e quase sistematicamente acom-
panhado de perda ponderal significativa e sinal do vasculejo ao exame físico.
Nesse cenário clínico, ele pode representar um distúrbio motor (gastroparesia
diabética) ou obstrução mecânica da região antropilórica (câncer ou obstrução
por doença péptica).
Tenesmo
Definição: dor espasmódica referida no períneo após uma evacuação diarréica ou
evacuação de sangue. Deve ser diferenciada de sensação de evacuação incomple-
ta, observada com alguma freqüência em pacientes constipados, que é uma sensa-
ção não-dolorosa.
Significado clínico: traduz na maioria das vezes proctite ou retite (bacteriana, viral
ou actínica), retocolite ulcerativa ou neoplasia retal.
193
EXAME FÍSICO DO ABDOME
O exame físico do abdome deve incluir inspeção, ausculta, percussão e palpação.
Antes da descrição do exame físico do abdome é importante observar os as-
pectos do exame físico geral que complementam os possíveis achados do abdo-
me, tais como postura (que poderá ser antálgica); fácies (de dor e as típicas de
quadros sindrômicos genéticos); cor da pele e mucosas (icterícia, palidez); turgor
cutâneo (estará diminuído em quadros de desidratação), aranhas vasculares; erite-
ma palmar; ginecomastia; rarefação de pêlos (quadros de hepatopatia crônica tipo
cirrose); contratura de Dupuytren (alcoolismo); sinais vitais (avaliação de hipotensão
postural, em caso de história de hemorragia digestiva ou de neuropatia autonômica).
Para localização e descrição das possíveis alterações no abdome, costuma-se
dividi-lo didaticamente em quatro quadrantes: superior direito, superior esquerdo,
inferior direito e inferior esquerdo, por meio de duas linhas imaginárias (vertical
e horizontal) que se cruzam na cicatriz umbilical. Ainda pode-se utilizar a divisão
em nove regiões, conforme a Figura 11.2.
INSPEÇÃO DO ABDOME
Técnica
O examinador coloca-se em pé, à direita do paciente, observando o seu abdome,
cuidando ainda que o exame seja realizado em ambiente com iluminação e aqueci-
mento adequados. O paciente deve estar em decúbito dorsal, com os membros
superiores estendidos ao longo do corpo, a cabeça apoiada em travesseiro baixo,
SISTEMA DIGESTÓRIO
Observações da inspeção
Q Simetria e forma do abdome (normal: plano; alterado: globoso, escavado,
avental, batráquio, abaulado, gravídico).
Epigástrio
Hipocôndrio D
Hipocôndrio E
Flanco D Mesogástrio/periumbilical
Flanco E
Hipogástrio
Figura 11.2 – Divisão do abdome em nove regiões, com suas respectivas nomenclaturas.
194
Q Cicatriz umbilical (normal: invertida; alterada: evertida, nos pacientes com
ascite volumosa, hérnias, grávidas).
Q Presença de cicatrizes (cirúrgicas, hipertróficas: quelóide).
Q Estrias (nacaradas: atróficas; purpúricas: da síndrome de Cushing).
Q Lesões dermatológicas e hiperpigmentação da linha alba.
Q Veias ingurgitadas (circulação colateral tipo cava inferior; circulação colateral
tipo porta, também chamada de “cabeça-de-medusa”).
Q Movimentos e pulsações: peristaltismo visível, pulsação da aorta (na região
epigástrica) e movimentos respiratórios.
Q Massas visíveis.
Q Sufusões hemorrágicas (petéquias, equimoses, sinais de Cullen e Grey-Turner).
Significado clínico
Alteração da forma abdominal e massas visíveis
O abdome poderá ter um contorno alterado como escavado, distendido
(globoso, batráquio) ou, ainda, ter uma massa com localização específica. Para
estimarmos a origem de uma massa visível, devemos lembrar a localização inter-
na dos órgãos em cada quadrante abdominal (Quadro 11.1).
Causas: ascite, obesidade, distensão gasosa ou funcional, podem causar distensão
abdominal generalizada; tumores, organomegalias e hérnia umbilical, podem
causar distensão nos locais afetados. Tumor ovariano, gravidez e distensão da
bexiga podem causar distensão dos quadrantes abdominais inferiores. Carcino-
SISTEMA DIGESTÓRIO
matose, cisto pancreático e dilatação gástrica aguda podem causar distensão dos
quadrantes abdominais superiores. O abdome escavado pode estar associado à
desnutrição e aos flancos abaulados (abdome em forma de batráquio) e sinaliza
para a presença de ascite.
195
Quadro 11.1 Estruturas abdominais por quadrantes
Direito Esquerdo
Superior
Fígado Fígado: lobo esquerdo
Vesícula biliar Baço
Piloro Estômago
Duodeno Pâncreas: corpo
Pâncreas: cabeça Supra-renal esquerda
Supra-renal direita Rim esquerdo: pólo superior
Rim direito: pólo superior Flexura esplênica
Flexura hepática Colo transverso: porção
Colo ascendente: porção Colo descendente: porção
Colo transverso: porção
Inferior
Rim direito: pólo inferior Rim esquerdo: pólo inferior
Ceco Colo sigmóide
Apêndice Colo descendente: porção
Colo ascendente: porção Ovário esquerdo
Ovário direito Trompa de Falópio esquerda
Trompa de Falópio direita Ureter esquerdo
Ureter direito Cordão espermático esquerdo
Cordão espermático direito Útero (se aumentado)
SISTEMA DIGESTÓRIO
Veias ingurgitadas
As veias da parede abdominal dificilmente são visíveis. Porém, as veias normais
podem ser identificadas de acordo com a espessura e coloração da pele. São
consideradas alteradas quando são tortuosas e fazem proeminência na parede
abdominal, constituindo a circulação colateral. Acima do umbigo, as veias superfi-
ciais do abdome drenam no sentido cranial, enquanto que abaixo do umbigo
drenam no sentido caudal. Quando uma veia superficial está ingurgitada, o sen-
tido de sua drenagem pode ser avaliado da seguinte forma: comprima a veia
com os indicadores unidos e afaste-os, com pressão contínua, até que fiquem
distantes cerca de 10 cm. Então, descomprima um dos lados e observe o tempo
de enchimento. Repita o procedimento e descomprima agora o outro lado. A
drenagem é feita no sentido do enchimento mais rápido.
Causas: obstrução da veia cava inferior (ocorre inversão do fluxo, que será cranial
nos quadrantes inferiores do abdome), obstrução da veia cava superior (ocorre
196
Colecistectomia
Histerectomia Laparotomia
Ressecção do colo
Herniorrafia
Apendicectomia
SISTEMA DIGESTÓRIO
197
fluxo caudal nos quadrantes superiores do abdome), obstrução da veia porta
(ocorre fluxo no sentido centrífugo em relação ao umbigo).
Peristaltismo visível
Decorre da contração das vísceras ocas abdominais, sendo percebido como
ondulações sob a pele. Poderá não ter significado clínico se a onda for fugaz e
em pessoas magras. No entanto, a percepção de um peristaltismo visível, acompa-
nhado de dor abdominal e borborigmos (ver a seguir em ausculta abdominal) é
muito sugestiva de suboclusão ou oclusão total intestinal.
Causas: obstrução do intestino delgado.
Pulsações visíveis
É possível perceber pulsações da aorta abdominal no epigástrio sem que as
mesmas tenham significado patológico. Devemos, no entanto, ficar atentos aos
casos em que a amplitude da pulsação estiver muito aumentada e tivermos na
ausculta a presença de um sopro. Massas localizadas sobre a aorta facilitam a
transmissão do pulso para a superfície.
Causas: aneurisma de aorta abdominal, hipertensão arterial, insuficiência aórtica,
hipertireoidismo, tumor sólido localizado sobre a aorta e aorta tortuosa.
AUSCULTA ABDOMINAL
Técnica
Realizada com o diafragma do estetoscópio, evitando atrito com a pele do
abdome. Auscultam-se os quatro quadrantes, sobre regiões de grandes vasos
(aorta, renais, ilíacas), sobre o fígado e sobre o baço (Figura 11.5). Na gravidez,
sobre o útero, deve-se auscultar com o Pinard.
Significado clínico
Ruídos hidroaéreos (RHA)
Assim como os borborigmos, decorrem dos movimentos peristálticos. Devem
ser ouvidos com o uso do estetoscópio. Normalmente são ouvidos com intervalos
198
Aorta abdominal
Fígado
Figura 11.5 – Áreas a serem auscultadas para pesquisa de sopros durante o exame do abdome.
SISTEMA DIGESTÓRIO
intestinal.
Borborigmos
São sons abdominais originários dos movimentos peristálticos e audíveis sem
uso do estetoscópio. Podem estar aumentados no início da obstrução intestinal e
na diarréia e diminuídos ou ausentes no íleo paralítico. O quadro de dor abdominal
aguda associado à distensão, aos borborigmos e à cirurgia abdominal prévia é
indicativo de obstrução do intestino delgado (síndrome de Koenig).
Sopros
Originam-se da passagem turbulenta do sangue por uma artéria dilatada,
estenosada ou tortuosa. Podem diminuir na inspiração e não se alteram quando
a área auscultada é pressionada com o estetoscópio.
Causas: na maioria das vezes os sopros são chamados de inocentes por não estarem
relacionados a qualquer doença abdominal; ruídos sobre o fígado sugerem carci-
noma hepático ou hepatite alcoólica (podem ser somente sistólicos ou sistólico-
diastólicos com acentuação na fase sistólica) e podem ocorrer após a realização
de punção biópsia hepática e também em pacientes que possuam intensa circula-
ção colateral (cirrose); estenose da aorta abdominal, da artéria renal, da artéria
ilíaca e carcinoma de pâncreas (são geralmente sistólico-diastólicos). As áreas de
ausculta abdominal na pesquisa de sopros são mostradas na Figura 11.5.
199
Atrito
É considerado um achado raro de ausculta, sendo que a sua presença indica
sempre uma anormalidade. Deve ser pesquisado sobre o fígado e o baço. Trata-
se de um som rangente, identificado no quadrante superior esquerdo e/ou direito,
variando com a respiração.
Causas: carcinoma hepático, peri-hepatite gonocócica, hepatite sifilítica, biópsia
hepática recente, abscesso hepático e infarto esplênico.
Sinal do vasculejo
Ver “Sinal do vasculejo”.
PERCUSSÃO ABDOMINAL
Técnica
A percussão do abdome tem como objetivos a avaliação de distensão abdomi-
nal gasosa, a presença de ascite e massas abdominais, a hepatimetria clínica e a
pesquisa de esplenomegalia. Ela deve ser realizada percutindo com o terceiro
dedo de uma das mãos sobre a falange média do terceiro dedo da outra mão,
que ficará fixada na parede abdominal.
Q timpanismo
Q macicez
Significado clínico
Timpanismo aumentado
Ocorre na distensão abdominal gasosa ou funcional (meteorismo, íleo adinâ-
mico, pneumoperitônio).
Macicez
Na pesquisa de ascite encontramos macicez nos flancos quando percutimos o
paciente em decúbito dorsal. Ao mudarmos para a posição de decúbito lateral
direito ou esquerdo, o local de macicez prévio torna-se timpânico, havendo uma
inversão entre os locais maciço e timpânico (macicez móvel). Acrescenta-se para
complementar a pesquisa de ascite, o sinal do piparote, que consiste em apoiar
as polpas digitais num flanco enquanto se faz um pequeno piparote no flanco
oposto, solicitando-se que o paciente, ou o próprio examinador, coloque a sua
mão em posição vertical na linha média, exercendo uma pequena pressão abdomi-
nal. Com isso, uma onda líquida se desloca linearmente, sendo percebida pelas
polpas digitais que estão apoiadas no abdome. As massas abdominais são maci-
ças à percussão.
200
Complementos da percussão abdominal
Hepatimetria
A hepatimetria normal está entre 6 e 14 cm, na linha hemiclavicular direita, e
4 a 8 cm na linha média esternal. O limite superior do fígado é delimitado por
percussão iniciando-se nos espaços intercostais, na linha hemiclavicular, no sentido
craniocaudal. Considera-se como limite superior o som submaciço à percussão.
O limite inferior é delimitado por palpação bimanual, sendo a esquerda colocada
na região látero-posterior do paciente com a finalidade de fixação do gradil costal,
enquanto a outra mão realiza a palpação iniciando pela região do flanco direito
em direção do rebordo costal, durante a inspiração profunda.
Pesquisa de esplenomegalia
A presença de macicez no espaço de Traube (espaço da bolha de ar gástrica
geralmente localizado no décimo espaço intercostal, sob a linha axilar média
esquerda) é um forte indicativo de esplenomegalia.
PALPAÇÃO ABDOMINAL
Técnica
O paciente deve ficar em decúbito dorsal, com travesseiro baixo e membros
superiores ao longo do corpo, numa atitude mais relaxada possível. O examinador
à direita do paciente usará sua mão espalmada sobre o abdome com movimentos
adequados, não vencendo defesas, buscando palpar os quatro quadrantes,
SISTEMA DIGESTÓRIO
preferentemente no sentido horário.
Essa etapa do exame abdominal está dividida em:
Q palpação superficial
Q palpação profunda
Palpação superficial
É útil na detecção de rigidez abdominal involuntária, que indica irritação pe-
ritoneal, podendo ser difusa (na peritonite generalizada) ou localizada (sobre
uma víscera inflamada). A rigidez abdominal involuntária difusa poderá ser de
graus variados até o chamado “abdome em tábua”, situação em que ocorre
uma contração involuntária e reflexa da musculatura abdominal devido à irritação
das terminações nervosas do peritônio parietal induzida por peritonite. A palpação
superficial pode detectar também massas abdominais superficiais ou profundas
(que sejam suficientemente grandes), hiperestesia cutânea (sobre uma área de
irritação peritoneal) e crepitações subcutâneas (indicam enfisema subcutâneo ou
gangrena gasosa). Uma manobra útil para determinar se uma massa abdominal
é superficial ou profunda é pedir para o paciente tossir. Se a massa deixar de ser
palpável enquanto o paciente tosse, ela provavelmente é profunda, já que a
contração dos músculos retos abdominais dificulta sua palpação. As soluções de
continuidade (hérnias) são palpadas nesse exame, sendo que as áreas umbilicais
e inguinais devem ser exploradas para essa possibilidade (Figura 11.6). A manobra
201
Região umbilical
Figura 11.6 – Regiões a serem exploradas para pesquisa de hérnias (umbilical, inguinais
direita e esquerda).
Hérnias abdominais
Resultam da protrusão de uma estrutura através de um ponto de solução de
continuidade da parede abdominal. Quando o conteúdo do saco herniário pode
ser facilmente recolocado em seu lugar, a hérnia é chamada de redutível; do
contrário, é chamada irredutível ou encarcerada. Quando o aporte sangüíneo
para o conteúdo herniário é interrompido, diz-se que a hérnia é estrangulada e
pode gangrenar rapidamente. As hérnias abdominais estão divididas em:
Q hérnias umbilicais;
Q hérnias incisionais: surgem na área adjacente a uma incisão cirúrgica, por
defeito da musculatura abdominal;
Q hérnias epigástricas (hérnias da linha alba): consistem na protrusão da gordu-
ra pré-peritoneal por entre as fibras musculares que se unem na linha alba.
A diástase dos retos abdominais não deve ser confundida com hérnia. Consiste
na separação dos músculos retos abdominais, com conseqüente saliência da linha
média quando há aumento da pressão intra-abdominal. A separação pode ser
palpável e não tem qualquer repercussão clínica.
Palpação profunda
A palpação profunda é usada para a detecção de massas abdominais, que
devem ser avaliadas quanto a sua localização, tamanho, forma, consistência,
202
superfície, sensibilidade, mobilidade e pulsatilidade. Por exemplo, uma massa
com consistência dura, superfície irregular e sem mobilidade sugere neoplasia;
uma massa no quadrante superior esquerdo poderá ser baço, rim esquerdo, pân-
creas ou colo; uma massa pulsátil sugere aneurisma de aorta abdominal. A de-
tecção de um aneurisma de aorta abdominal assintomático é muito importante,
já que a taxa de mortalidade em caso de ruptura é altíssima. Também algumas
vísceras podem ser palpadas, tais como fígado, baço, rins e colo sigmóide; even-
tualmente, globo vesical, vesícula biliar, útero e anexos. As situações em que
acontecem são descritas a seguir.
Palpação do fígado
A técnica fundamental para palpação do fígado está descrita anteriormente,
no item hepatimetria. Avalia-se o bordo (fino, rombo), a superfície (lisa, irregular),
a sensibilidade (não-doloroso, doloroso), a hepatimetria (normal, hepatomegalia)
e a consistência (elástica, endurecida, pétrea). A principal utilidade da palpação
do fígado está na definição das características de sua borda inferior, consistência
e sensibilidade. Por exemplo, um fígado de borda lisa e sensível sugere hepatite
aguda (o dolorimento à palpação do fígado só ocorrerá quando houver distensão
abrupta da cápsula de Glisson), congestão hepática venosa (na insuficiência cardía-
ca direita) ou abscesso hepático; um fígado de consistência dura e borda com
nódulo único sugere carcinoma hepatocelular; um fígado com múltiplos nódulos
palpáveis sugere cirrose, carcinoma metastásico ou cistos hepáticos, incluindo os
hidáticos. Na cirrose, o fígado pode ter consistência dura. A palpação de pulsação
na borda hepática inferior sugere regurgitação tricúspide ou pericardite constritiva.
SISTEMA DIGESTÓRIO
A hepatomegalia resulta de insuficiência cardíaca direita ou congestiva, hepa-
tite, neoplasia, cirrose (principalmente de etiologia alcoólica), linfoma, obstrução
portal, hemocromatose, trombose de veia hepática, leucemia linfocítica, amiloi-
dose e esquistossomose. No caso da cirrose, o volume hepático geralmente diminui
com a progressão da doença. Lembrar que o enfisema pulmonar pode dar uma
falsa impressão de hepatomegalia por rebaixamento do diafragma.
Palpação do baço
Utiliza-se a técnica bimanual para palpação do baço, em que a mão esquerda
do examinador é utilizada para fixação do gradil costal desse lado, e a mão direi-
ta buscar delicadamente palpar a víscera, iniciando do umbigo em diagonal esquer-
da até o rebordo costal. Para que esse órgão seja palpável, é preciso que alcance
pelo menos o dobro do seu tamanho.
Quando necessário, para esclarecer se o baço é ou não palpável, coloca-se o
paciente na posição de Schuster (decúbito lateral direito, membro inferior direito
estendido, membro inferior esquerdo flexionado, braço esquerdo sobre a cabeça),
conforme mostra a Figura 11.7.
203
Figura 11.7 – Técnica para palpação esplênica. (Cortesia de Roberto Barros.)
Palpação de sigmóide
Costuma ser facilmente palpável na região da fossa ilíaca esquerda, diferente-
mente do restante do intestino. Caso o paciente tenha dor à descompressão
súbita nesse local, deve ser contemplada a possibilidade diagnóstica do quadro
de diverticulite.
Palpação de bexiga
A bexiga não é freqüentemente palpável, porém nas retenções urinárias de
várias etiologias pode ocorrer a sua distensão (globo vesical).
204
EXAME FÍSICO DO ABDOME EM SITUAÇÕES ESPECIAIS
Idades extremas
A avaliação de dor abdominal por meio da anamnese e do exame físico é
difícil tanto em pacientes pediátricos como idosos, podendo as apresentações
das condições clínicas serem muito variáveis, necessitando um especialista expe-
riente para o procedimento diagnóstico. As principais causas de dor nas diferen-
tes idades podem ser vistas no Quadro 11.2.
É sempre importante lembrar que pacientes idosos podem se apresentar com
quadros clínicos muito graves, de localização abdominal, sem que o exame físico
demonstre anormalidades mais significativas.
Gravidez
O exame do abdome torna-se dificultado na medida do crescimento do útero
com o avanço da gravidez. O útero aumentado também pode modificar o padrão
de distribuição das reações inflamatórias intra-abdominais.
Causas comuns de dor abdominal aguda na gravidez: apendicite aguda, colecistite,
pielonefrite e problemas anexiais (torção ovariana e ruptura de cisto ovariano).
Imunodeprimidos
Nesta categoria estão os pacientes transplantados, em tratamento com qui-
mioterapia e aqueles com imunodeficiência congênita ou adquirida, como, por
exemplo, pacientes fazendo uso de corticosteróides. Tanto quanto os idosos,
SISTEMA DIGESTÓRIO
estes apresentam poucos sinais e sintomas, e mínimas manifestações sistêmicas
de peritonite.
Causas de dor abdominal aguda em imunodeprimidos: as comuns da população geral
(apendicite, colecistite) e as próprias dos imunodeprimidos (enterocolite neutro-
Causas de dor abdominal aguda no idoso: doenças do trato biliar, dor inespecífica,
malignidade, obstrução intestinal e hérnias encarceradas.
205
pênica, pancreatite por drogas, pneumatose intestinal, infecções por citomega-
lovírus e fúngicas).
PRINCIPAIS SÍNDROMES
Abdome agudo
Definição: refere-se geralmente a quadros de dor abdominal de forte intensidade,
com menos de 24 horas de duração. Freqüentemente a dor é associada a alguns
dos seguintes achados em grupo ou isoladamente: febre, náusea, vômito, ente-
rorragia, distensão abdominal, cessação de eliminação de gases pelo ânus e sinto-
mas urinários. Achados relevantes de exame físico (ver a seguir) com muita fre-
qüência estão presentes.
Significado clínico: nem sempre significam cirurgia de urgência. Pode ser a apre-
sentação clínica de:
Q quadros inflamatórios de estruturas do sistema digestório (apendicite, co-
lecistite, pancreatite, diverticulite, ileíte aguda, adenite mesentérica) ou do
sistema genital feminino (salpingite, torção de cistos ovarianos, gravidez
SISTEMA DIGESTÓRIO
Síndrome da ruminação
Definição: a regurgitação do alimento recentemente ingerido para a boca com
subseqüente remastigação e redeglutição.
Significado clínico: é um distúrbio funcional do sistema digestório encontrado
com mais freqüência em pacientes portadores de deficiência mental ou distúrbi-
os neuropsiquiátricos. Caracteristicamente os pacientes não apresentam náusea
e vômito, cessa o processo quando o material se torna mais ácido e ocorre na
206
ausência de refluxo gastresofágico, acalasia ou outro distúrbio motor primário
do tubo digestivo superior.
Síndrome dispéptica
Definição: dor ou desconforto referido em epigástrio.
Significado clínico: pode significar tanto um distúrbio funcional do aparelho diges-
tório como uma patologia orgânica, como doença do refluxo gastresofágico,
úlcera péptica, câncer gástrico, pancreatite crônica ou enfermidades das vias
biliares (Quadro 11.3).
SISTEMA DIGESTÓRIO
Encefalopatia hepática
Definição: quadro neuropsiquiátrico caracterizado por alterações comportamentais,
inversão do ritmo de sono, tremores, asterixis, confusão mental.
Significado clínico: pode se apresentar em hepatopatias graves (hepatite fulminan-
te, necrose hepática aguda por drogas ou da gravidez, cirrose – complicada por
hemorragia digestiva, infecções, desequilíbrio hidreletrolítico, uso de sedativos,
constipação, hepatocarcinoma, dieta com excesso de proteínas ou na fase final
da doença). A manifestação inicial da cirrose pode ocorrer por uma de suas des-
compensações por exemplo, hemorragia digestiva alta devido à presença de va-
rizes esofágicas ou encefalopatia portossistêmica.
As principais manifestações de encefalopatia hepática estão relacionadas no
Quadro 11.4.
Síndrome de má-absorção
Definição: presença de esteatorréia associada freqüentemente à perda de peso e
a manifestações de deficiências vitamínicas, como diminuição da visão noturna,
doenças ósseas (osteoporose e osteomalácia), petéquias e hematomas, cansaço,
fraqueza, cãibras e anemia. A esteatorréia consiste na evacuação de fezes diar-
réicas, com conteúdo de gordura aumentado, sendo percebida pelo paciente por
meio do odor desagradável e por partículas de gordura flutuando no vaso sanitário.
207
Quadro 11.3 Diagnóstico diferencial das dispepsias
Drogas
Etanol Ferro, cloreto de potássio
Aspirina, antiinflamatórios não-esteróides Niacina, gemfibrozil
Antibióticos (macrolídeos, metronidazol) Narcóticos
Quimioterápicos Colchicina
Teofilina Quinidina
Digital Estrógenos
SISTEMA DIGESTÓRIO
Corticosteróides Levodopa
Doenças sistêmicas
Diabete melito Insuficiência renal
Doenças da tireóide Isquemia coronariana
Hiperparatireoidismo Doenças neoplásicas
Gravidez (intra ou extra-abdominal)
Doenças do colágeno
*Controverso.
Modificado de McQuaid. Dyspepsia. In: Sleisenger MH, Fordtram JS. Gastrointestinal
and Liver Disease: Pathophysiology, Diagnosis, Management, 6th Edition, 1998.
Significado clínico: quadros mal-absortivos que podem ser de várias origens (doença
celíaca, supercrescimento bacteriano, linfoma intestinal, síndrome do intestino
curto, doença de Whipple, entre outros) ou específicos (ingestão de orlistat que,
por inibir a lipase intestinal, pode provocar esteatorréia e perda de peso).
208
Quadro 11.4 Encefalopatia hepática: níveis clínicos
Bennet JC, Plum F. Cecil textbook of medicine. 20.ed. Philadelphia: W.B. Saunders; 1996.
Chervu A, Clagett GP, Valentine RJ. Role of physical examination in detection of abdominal
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SISTEMA DIGESTÓRIO
Degowin RL Diagnostic examination. 6.ed. New York: McGraw-Hill; 1994.
Grendell JH, Mcquaid KR, Friedman SL. Current medical diagnosis & treatment in
gastroenterology. Stamford: Appleton & Lange; 1996.
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Sherlock S, Dooley J. Diseases of the liver and biliary system. 11th ed. Oxford: Blackwell;
2002.
Sleisenger MH, Fordtran JS. Gastrointestinal disease. 6th ed. Philadelphia: WB Saunders;
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Tierney LM Jr, Mcphee SJ, Papadakis MA. Current medical diagnosis & treatment. 36th ed.
Stamford: Appleton & Lange; 1997.
209
Williams JW Jr, Simel DL. The rational clinical examination. Does this patient have ascites?
How to divine fluid in the abdomen. JAMA 1992; 267(19):2645-48.
210
12
EXAME DAS MAMAS
E DO SISTEMA
GENITAL FEMININO
CARLOS HENRIQUE MENKE
JOSÉ GERALDO LOPES RAMOS
Hirsutismo
Q Distribuição androgênica dos pêlos na mulher.
Q Associação com acne, seborréia, alopecia.
Q Sinais de virilização: hipertrofia do clitóris, aumento do tônus muscular,
modificação do tom de voz. Pode ter galactorréia.
Prurido vulvar
Q Localização exata e extensão, presença de hemorróidas, verminoses, diarréia
ou incontinência esfincteriana, uso de substâncias químicas irritantes ou
antigênicas (desodorantes, sabonetes, lubrificantes, preservativos, produtos
de higiene feminina).
Q Inspeção da vulva com lupa ou colposcópio
Q Causas: craurose vulvar, icterícia obstrutiva, leucemia, doença de Hodgkin,
diabete melito (candidíase), hipovitaminose D, acloridria, infecção generali-
zada, dermatites, carcinoma vulvar, prurido idiopático (emocional).
Exame especular
Q Visualização das paredes vaginais e do colo do útero.
Q Coleta de secreção das paredes vaginais e do colo do útero (exame a fresco).
Q Inspeção da cérvice (forma do orifício, cor, visualização da mucosa cervical
e verificação de alterações).
Q Coleta de material da junção escamocolunar, com espátula (citopatológico
de colo uterino: exame de Papanicolau).
Q Teste de Schiller (com lugol).
Q Remoção do espéculo com inspeção das paredes vaginais.
Toque bimanual
Q Lubrificação das luvas com vaselina (dedos indicador e médio direitos).
Q Realização do toque vaginal bimanual:
212
– paciente virgem: realizar o toque com o dedo indicador direito (ou não
realizar essa manobra) somente em casos selecionados;
– palpação do útero (posição, tamanho, forma, consistência, mobilidade,
dor);
– palpação dos anexos, com a mão esquerda (tamanho, consistência, dor,
mobilidade).
Toque retovaginal
Q Palpação do útero e anexos.
Q Observar tônus, sensibilidade, presença de massas, volume e/ou compressão
do colo uterino na parede anterior do reto, presença de retocele e flacidez
muscular (principalmente em multíparas).
PRINCIPAIS SÍNDROMES
Doença mamária
Alterações funcionais benignas da mama
Q Dor mamária, nodularidade difusa ou localizada, geralmente é bilateral
(mas pode ser unilateral), dor/desconforto aumenta no período pré-mens-
Mastite aguda
Q Processo infeccioso de evolução favorável, causado por S. aureus, strepto-
coccus, colibacilo, gonococo ou anaeróbios.
Q História de fissuras no mamilo, aumento no volume da mama, unilateral,
com sinais de inflamação (dor, calor, rubor, tumefação), febre, mal-estar
geral, relacionada ao puerpério (2a a 3a semanas após o parto).
Q Diagnóstico diferencial: carcinoma de mama inflamatório.
Galactocele
Q Cavidade cística com leite ou resíduos.
Q Ocorre após término da lactação.
Q Exame das mamas: nódulo de consistência cística ou elástica, não-aderido
a planos superficiais ou profundos.
Ectasia ductal
Q Dilatação dos ductos subareolares.
Q Geralmente unilateral.
Q Massa dolorosa, com ou sem retração da pele periareolar.
Q Inversão do mamilo (30 a 40% dos casos).
Q Secreção papilar (20% dos casos).
Q Diagnóstico diferencial: carcinoma de mama.
213
Abscesso subareolar crônico recidivante
Q Formação de abscessos de repetição, com ruptura espontânea e fistulização
areolomamilar.
Q Pesquisar história de tabagismo, que é fator predisponente.
Lipoma
Q Nódulo de tecido adiposo encapsulado, bem-circunscrito, de consistência
amolecida e tamanho variável.
Câncer de mama
Q Anamnese:
– Antecedentes menstruais (menarca, menopausa).
– Antecedentes reprodutores (paridade, idade da 1a gestação).
– História familiar de câncer de mama (mãe e irmãs) e de patologias
benignas da mama.
– Uso prolongado de reposição hormonal.
– Sinais e sintomas: nódulo indolor, assimetria da mama, retração cutânea
ou da papila, endurecimentos, alterações de contorno, ulceração, edema,
infiltração, nódulos cutâneos satélites, dor contínua de forte intensidade
214
nas regiões lombossacra e cervical e nos membros inferiores (metástases
ósseas).
Q Exame físico:
– Exame completo das mamas.
– Palpação dos territórios ganglionares.
– Recomendar realização de auto-exame das mamas (Quadro 12.2) men-
salmente.
Q Diagnóstico diferencial: patologias benignas da mama.
Genitália feminina
Sangramento uterino anormal
Q Anamnese:
– Idade da paciente, início do sintoma, tipo de distúrbio menstrual.
– História menstrual, antecedentes gineco-obstétricos, tratamentos e
cirurgias prévias, anticoncepção (dispositivos intra-uterinos, anticoncep-
cionais orais), alteração de peso, uso de drogas, atividade física, estresse,
sintomas de hipertireoidismo, coagulopatias e doenças renal ou hepática
crônicas.
Q Exame físico:
215
Tabela 12.1 Definições relacionadas ao ciclo menstrual
216
Q Definir se há alto risco para cervicite (Tabela 12.3).
Q Exame ginecológico.
Q Exame microscópico da secreção vaginal.
Endometriose
Q É caracterizada pela presença de tecido endometrial proliferativo em locais
que não sejam a cavidade uterina. É um processo benigno, mas cresce,
infiltra-se e dissemina-se como nos processos malignos. Pode causar a
formação de aderências e fibrose. O diagóstico é realizado pela visualização
ou biópsia de tecido endometrial ectópico.
Q Pode ser assintomática ou ser causa de infertilidade, dor pélvica cíclica e
progressiva (piorando nos períodos pré-menstrual e menstrual) e dispareunia.
Q Exame físico: geralmente inexpressivo.
Q Toque vaginal: nodularidades nos ligamentos uterossacros e no fundo de
saco de Douglas.
Dismenorréia
Q Dor durante a menstruação.
Q A dor no período menstrual: definir se é primária ou secundária.
Parceiro com secreção uretral ou úlceras genitais OU dois ou mais dos seguintes:
Q Idade < 21 anos
Q Mulheres com vida sexual irregular ou com mais de um parceiro
Q Relacionamento com parceiro há mais de três meses
Q Mais de um parceiro nas últimas quatro semanas
217
Q Dismenorréia primária: dor em cólica, cíclica, que inicia algumas horas antes
da menstruação e desaparece no primeiro dia de fluxo; não há causa aparen-
te.
Q Dismenorréia secundária: dor mais intensa, que se estende até o final da
menstruação.
Q Causas: endometriose, miomatose uterina, obstrução ao fluxo menstrual,
adenomiose.
Q Exame ginecológico completo.
Abortamento
Corresponde ao término da gestação antes da 20a semana ou com peso fetal
menor que 500 g. Quando o abortamento é espontâneo, geralmente ele ocorre
1 a 3 semanas após a morte do embrião (Tabela 12.4).
Q Atraso menstrual: verificar se há comprovação de gestação por exames
complementares.
Q Data da última menstruação (DUM).
Q Dor suprapúbica.
Q Contrações.
Q Sangramento: pode estar presente em grande ou discreta quantidade ou
EXAME DAS MAMAS E DO SISTEMA GENITAL FEMININO
218
Tabela 12.4 Tipos de abortamento
219
Q Classificação da distopias genitais:
– 1o grau: a parede vaginal não chega ao intróito vaginal durante o esforço.
– 2o grau: chega ao intróito vaginal.
– 3o grau: ultrapassa o intróito vaginal.
Q Galactorréia:
– Saída espontânea ou não de leite pela glândula mamária fora do período
gestacional.
– Estados associados à hiperprolactinemia:
- Medicamentos: fenotiazida, haloperidol, loxapine, metadona, cimeti-
dine, metoclopramida, sulpiride, metildopa, isoniazida etc.;
- Hipotireoidismo;
- Síndrome dos ovários policísticos;
- Tumores gonadais;
- Tumores hipofisiários;
- Insuficiência renal;
- Insuficiência hepática;
- Trauma torácico.
DICAS
EXAME DAS MAMAS E DO SISTEMA GENITAL FEMININO
220
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS
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2001.
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Menke CH, Biazús JV, Xavier NL, Cavalheiro JÁ, Rabin EG, Bittelbrunn AC, et al. Rotinas em
mastologia. Porto Alegre: Artmed; 2000. p. 35-67.
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ambulatorial: condutas clínicas em atenção primária. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 1996.
Naud P. Doença inflamatória pélvica. In: Freitas F, Menke CH, Rivoire W, Passos EP, editores.
Rotinas em ginecologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2001. p. 134-42.
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Medicina ambulatorial: condutas clínicas em atenção primária. 2. ed. Porto Alegre: Artmed;
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Swartz MH. Semiologia: anamnese e exame físico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
1992.
221
13
EXAME DO
SISTEMA URINÁRIO
LUIZ FELIPE GONÇALVES
FRANCISCO JOSÉ VERÍSSIMO VERONESE
WALTER J. KOFF
ELVINO BARROS
Dor lombar
A dor lombar é um sintoma bastante freqüente e, quando relacionada à doença
renal, costuma ser unilateral, com localização no ângulo costovertebral e irradia-
ção para o hipocôndrio ou em direção ao ligamento inguinal ou genitália, ipsila-
teral. Esse tipo de dor com características de cólica (crescendo-decrescendo),
sem posição de alívio, e muitas vezes associada a náuseas, vômitos e hematúria‚
é chamada de cólica renal, sendo geralmente ocasionada pela passagem de um
cálculo. Menos freqüentemente pode ocorrer em conseqüência de hemorragia
em cisto renal ou por necrose de papila renal. A dor com essa localização, porém
sem características de cólica, que piora com os movimentos e alivia com o repouso,
associada a sintomas miccionais ou febre, sugere pielonefrite aguda (PNA). O
tumor renal é outra causa que deve ser considerada na avaliação de pacientes
com dor lombar.
Dor ureteral
É devida à obstrução e à distensão súbitas do ureter. Quando o terço proximal
do ureter é atingido, a dor se irradia para o testículo, pois envolve as terminações
nervosas de T11-L2. No terço médio, a dor é referida no ponto de McBurney,
EXAME DO SISTEMA URINÁRIO
Edema
Ocorre devido a um aumento no volume de líquido intersticial. Manifesta-se
por ganho de peso, face e extremidades inchadas, aumento na circunferência
abdominal ou depressão cutânea após pressão sobre a área afetada, denominada
de cacifo (p. ex., tornozelos, pré-tibial, região sacra). Quando ocasionado por
doenças renais, costuma ser generalizado, decorrente de proteinúria maciça ou
retenção hidrossalina e, geralmente, associa-se a outros sinais clínicos e labora-
toriais de doença renal.
Hematúria
A hematúria pode originar-se em qualquer ponto do trato urinário, desde o
glomérulo até a uretra distal. Pode ser macroscópica ou microscópica, com ou
sem a presença de sinais e sintomas associados, como dor, edema, HAS, sintomas
miccionais, febre, alterações no volume urinário, diminuição da função renal,
proteinúria ou outras anormalidades urinárias.
Quando macroscópica (visível a olho nu) e inicial (início da micção), sugere
patologia de uretra. No final da micção, alerta para a possibilidade de patologia
prostática ou vesical. Para que ocorra hematúria macroscópica, deve haver perda
224
de pelo menos 1 a 5 mL de sangue por litro de urina. A hematúria microscópica
(visível só com o auxílio do microscópio) é definida pela presença de quantidades
anormais de hemácias no exame do sedimento urinário ( > 2 hemácias por campo
de grande aumento, 400 vezes).
Noctúria/nictúria
Esses sintomas representam, respectivamente, a presença de micção noturna
ou maior freqüência de micções à noite. Geralmente estão associados a estados
poliúricos ou edematosos, situações em que o aumento da diurese leva à necessi-
dade de micção noturna. Quando a noctúria ou a nictúria não estão associadas a
elevações na diurese, sua presença levanta a suspeita de patologias que ocasionam
diminuição da capacidade vesical ou comprometem o esvaziamento vesical.
Oligúria
Caracteriza-se pela eliminação de um volume urinário abaixo da qual a carga
de resíduos metabólicos não pode ser excretada. Define-se oligúria como uma
diurese inferior a 400 mL/24 horas. A principal causa de oligúria é a insuficiência
renal aguda (IRA) ou a insuficiência renal crônica (IRC).
Poliúria
É o aumento do volume urinário, caracterizado por uma diurese superior a
3.000 mL/24h. Pode representar uma resposta fisiológica quando resulta de uma
ROTEIRO DE EXAME
O exame do sistema urinário é realizado junto com o exame do abdome (ver
Capítulo 11).
225
Percussão da bexiga: realizada nos pacientes com suspeita de obstrução urinária
baixa e conseqüentemente retenção urinária e presença de globo vesical.
Palpação dos rins. Os rins normalmente não são palpáveis. Durante o exame
físico sua palpação deve ser realizada bimanualmente, com uma das mãos transver-
salmente na região lombar, com a finalidade de projetar o rim para a frente, e a
outra apoiada ao nível do flanco, no sentido longitudinal (Figura 13.1).
No momento da inspiração profunda deve-se comprimir profundamente o qua-
drante superior logo abaixo do rebordo costal para sentir o pólo inferior do rim.
O aumento dos rins pode ser causado por hidronefrose, tumor ou cisto. Lem-
brar que o aumento bilateral sugere doença renal policística.
Paciente sentado
Com o paciente sentado no leito se realiza a punho-percussão lombar: a
positiva ocorre principalmente na pielonefrite aguda e na cólica renal. Além disso,
pode ocorrer também na presença de abscesso renal ou por um problema mus-
culoesquelético.
GENITÁLIA MASCULINA
Paciente deitado
Q Inspeção: avaliar as regiões inguinais, a distribuição dos pêlos, o pênis, a
bolsa escrotal e as regiões crurais.
EXAME DO SISTEMA URINÁRIO
Paciente em pé
Q Inspecionar o pênis.
Q Retrair o prepúcio (se não for circuncizado) e inspecionar a glande.
226
Q Inspecionar a posição, a forma e o calibre do meato uretral.
Q Palpar o pênis, os corpos cavernosos e a uretra (se houver secreção, ordenhá-
la e colocar em lâmina).
Q Inspecionar a bolsa escrotal (contorno, conteúdo).
Q Palpar os testículos (tamanho, forma e consistência e comparar ambos), o
epidídimo e os cordões espermáticos.
Q Utilizar a transiluminação sempre que a bolsa escrotal estiver aumentada.
Q Palpar os cordões espermáticos com a manobra de Valsalva (para localizar
varicocele uni ou bilateral).
TOQUE RETAL
Paciente em decúbio lateral esquerdo (quadril e joelhos flexionados)
ou posição genupeitoral
Q Inspeção das áreas sacrococcígea e perianal.
Q Toque retal: realizar com o dedo indicador; observando o tônus, verificar a
presença de dor, endurecimento, irregularidades ou nódulos no canal anal,
no reto e na próstata.
227
Q Exame da próstata: identificar os lobos laterais, o sulco mediano, o formato,
a consistência e a hipersensibilidade ao toque. Avaliar ainda o tamanho, a
mobilidade e a presença de nodularidades.
A consistência normal da próstata é semelhante àquela da eminência tenar
do polegar contraída (fibroelástica). O seu tamanho é estimado em 4 cm (duas
polpas digitais), e o seu volume, em 20 g. A presença de consistência pétrea ou
de nódulos sugere neoplasia e exige uma investigação complementar.
DICAS DE SEMIOTÉCNICA
Q Testículos: o esquerdo é mais baixo que o direito.
Q No exame da genitália masculina, as alterações que ocorrem na posição
ereta são importantes, pois as hérnias e a varicocele podem não ser aparentes
quando o paciente está em decúbito dorsal.
Q Prostatismo: termo utilizado para caracterizar sintomas do trato urinário
inferior, sejam eles obstrutivos (hesitação, alteração do jato urinário, gote-
jamento terminal, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga) ou
irritativos (urgência, polaciúria, noctúria e dor suprapúbica), que podem
estar associados a alterações na bexiga, próstata ou uretra.
228
Infecção do trato urinário (ITU)
Diz-se que há ITU quando, além da colonização bacteriana, os microrganismos
sediados no trato urinário se multiplicam, produzindo ou não manifestações clínicas
perceptíveis. O patógeno mais freqüente em ITU não-complicada e não-noso-
comial é a Escherichia coli, e a via de infecção principal é a ascentente.
São tipos de infecção urinária:
Q ITU baixa (não atinge o parênquima renal): produz sintomas irritativos,
como disúria, polaciúria, dor suprapúbica, ardência e urgência miccionais.
Q ITU alta (pielonefrite aguda): causa dor lombar com febre e calafrios, sen-
do a dor acentuada por punho-percussão lombar (sinal de Giordano).
Q ITU persistente: consiste na infecção pelo mesmo patógeno após o trata-
mento, devido à fonte persistente de infecção em contato com a urina ou
devido à terapêutica ineficaz.
Q Reinfecção: é assim denominada quando desaparece o agente infectante e
surge um novo agente etiológico, estando geralmente associada a alterações
nas defesas do hospedeiro.
229
Insuficiência renal crônica (IRC)
Caracteriza-se por um declínio progressivo e irreversível da taxa de filtração
glomerular. Pode ser definida pela presença de sinais e sintomas urêmicos com
evolução superior a três meses e redução estável da depuração da creatinina
endógena (DCE), e/ou evidência de rins diminuídos de volume, e/ou manifesta-
ções das complicações da uremia crônica (p. ex., anemia, osteodistrofia renal,
neuropatia periférica). Por vezes, é difícil o diagnóstico diferencial com IRA, haven-
do definição apenas durante a evolução do paciente.
A IRC pode ser classificada como leve, moderada ou severa. À medida que a
insuficiência renal se estabelece, há retenção de produtos nitrogenados, o que é
chamado de azotemia. A anamnese e o exame físico dos pacientes relacionam-
se com a gravidade do quadro e com os sistemas comprometidos. Normalmente,
o paciente não sabe da sua IRC até o momento em que a taxa de filtração
glomerular cai para menos de 15 mL/min e esteja instalada a síndrome urêmica.
No início os sintomas são discretos, de evolução insidiosa, podendo o paciente
tornar-se consciente do aparecimento dos mesmos apenas de modo retrospectivo.
As principais causas são diabete melito, glomerulonefrite crônica e nefroes-
clerose hipertensiva.
As queixas geralmente são cansaço e fraqueza, anorexia, náuseas, vômitos,
perda da libido e prurido. A poliúria e a noctúria indicam a incapacidade de
concentração de urina, e a oligúria, o estado terminal da insuficiência renal. A
hipertensão arterial está comumente presente na IRC.
EXAME DO SISTEMA URINÁRIO
Síndrome nefrítica
Caracteriza-se por surgimento agudo de hematúria, edema e hipertensão,
podendo estar acompanhada de perda de função renal. A forma mais comum é
a glomerulonefrite pós-estreptocócica associada à piodermite ou amigdalite em
crianças. A presença de cilindros hemáticos sela o diagnóstico. Pode ocorrer tam-
bém proteinúria, leucocitúria, outros cilindros urinários, hipocomplementemia,
mas não são fundamentais para o estabelecimento da síndrome.
Síndrome nefrótica
É definida pela presença de proteinúria maciça (> 3,5 g/24 h/1,73 m2 de
superfície corporal). Costuma acompanhar-se de hipoalbuminemia, edema e dis-
lipidemia. Podem ocorrer também outros achados clínicos como HAS e diminuição
da função renal, bem como outras alterações urinárias como hematúria, cilindrúria
e lipidúria. A principal causa de síndrome nefrótica em adultos é a nefropatia
diabética.
Quanto à etiologia, a síndrome nefrótica pode ser primária (mais comum;
associada a glomerulopatias idiopáticas) ou secundária (causada por doenças
sistêmicas, como lúpus eritematoso sistêmico, diabete melito, amiloidose, neo-
plasias e outras).
O principal achado clínico é o edema mole, frio e indolor, normalmente de
instalação insidiosa, acumulando-se nas áreas de menor resistência. Entretanto,
pode ser maciço, ocorrendo até mesmo ascite, derrame pleural e anasarca.
230
Os pacientes apresentam como complicações do estado nefrótico hipoalbu-
minemia, hiperlipidemia, lipidúria e hipercoagulabilidade.
Os pacientes nefróticos estão mais sujeitos a infecções devido à perda de
imunoglobulinas do tipo IgG na urina, o que favorece a infecção por germes
encapsulados, especialmente streptococcus pneumoniae, klebsiella e haemophilus.
Tubulopatias
Nessa síndrome estão incluídas as doenças císticas e as alterações seletivas na
função tubular, como acidose tubular renal, glicosúria e aminoacidúria. Os distúr-
bios mistos caracterizam a síndrome de Fanconi. Embora totalmente distintas
das tubulopatias propriamente ditas, as doenças císticas são aqui incluídas porque
sua formação relaciona-se com defeitos na tubulogênese. A mais importante e
mais prevalente é a doença policística do adulto, que se caracteriza por transmis-
são hereditária autossômica dominante, sendo uma causa freqüente de IRC. O
diagnóstico é feito por história familiar, aparecimento de massa abdominal e
presença de múltiplos cistos em exames de imagem.
As tubulopatias podem se manifestar por desidratação, hipovolemia e hipo-
natremia (nefropatia perdedora de sal), acidose hiperclorêmica com hipo ou hi-
percalemia, osteomalácia (acidose tubular renal) ou mesmo constituírem apenas
um achado laboratorial (glicosúria renal).
Urolitíase
SÍNDROMES UROLÓGICAS
Adenocarcinoma de próstata
É a neoplasia mais comum no homem. O diagnóstico precoce, que permite a
cura do tumor, é suspeitado a partir do exame rotineiro em paciente assintomático,
através do toque retal, que revela a presença de um nódulo endurecido na próstata
e pela realização da dosagem sérica periódica do antígeno prostático específico
(PSA). As manifestações clínicas da doença metastática são variáveis, podendo
apresentar dores ósseas e até mesmo insuficiência renal obstrutiva.
231
Criptorquidia
É a ausência do testículo na bolsa escrotal. Pode ser uni ou bilateral. Deve ser
diagnosticada logo após o nascimento, quando o reflexo cremastérico não é
significativo.
Epidimite aguda
Dor intensa de início súbito no escroto com irradiação ao longo do cordão
espermático. No início do quadro o epidídimo está aumentado e doloroso e pode
ser distinguido do testículo, mas após algumas horas torna-se uma massa única.
Pode apresentar febre e sintomas de uretrite (em jovens) ou prostatite (em adultos).
Fimose
Incapacidade de retração do prepúcio para expor a glande. Pode ser congênita
ou adquirida. Existe aderência balanoprepucial, mas, após o primeiro ano de
idade, geralmente, o prepúcio passa a ser retrátil. Se tal modificação não ocorrer,
pode ser necessária a circuncisão. A fimose adquirida é resultado de infecções
crônicas e recorrentes do prepúcio (balanites), freqüentes em pacientes diabéti-
cos. O tratamento também consiste na circuncisão.
Hidrocele
Coleção líquida dentro da túnica vaginal manifestando-se por aumento de
volume da bolsa escrotal com transiluminação positiva. Fazer o diagnóstico diferen-
EXAME DO SISTEMA URINÁRIO
Orquite
A parotidite epidêmica é a causa infecciosa mais comum. Ocorre dor de início
súbito, em geral 3 a 4 dias após o início de uma parotidite, com edema e eritema
no escroto, sem sintomas urinários e com febre que pode atingir 40°C. A orquite
pode estar associada à hidrocele.
Parafimose
Incapacidade de reduzir um prepúcio previamente retraído. Se a retração é
prolongada, há edema do prepúcio, dificultando ainda mais a mobilização do
prepúcio para cobrir a glande.
232
Priapismo
Ereção prolongada e dolorosa, normalmente não-associada à estimulação se-
xual. É uma emergência urológica e, caso não-revertida em poucas horas, causa
danos irreversíveis nos corpos cavernosos.
Tumores renais
Apresentam-se clinicamente por dor lombar e/ou massa abdominal. Podem
ser císticos ou sólidos, e o diagnóstico é realizado por meio de exames de imagem
como ecografia, urografia venosa, tomografia computadorizada e/ou ressonância
magnética.
Tumor de testículo
O sintoma mais comum é o aumento indolor do testículo. Antecedentes de
trauma, criptorquidia e atrofia testicular podem estar presentes. No exame físico,
a presença de um testículo endurecido, aumentado de volume e, na palpação, a
presença de áreas nodulares na superfície sugerem essa entidade.
Uropatia obstrutiva
São alterações estruturais ou funcionais do trato urinário, que impedem o
fluxo normal de urina. Podem causar diminuição da função renal (nefropatia
233
obstrutiva) e/ou dilatação do trato urinário (hidronefrose). Dependendo do local
de obstrução, pode ocorrer hidronefrose ou retenção urinária. A hidronefrose
refere-se à obstrução do sistema coletor renal com evidências de dilatação
pielocalicinal nos exames de imagem. Quando é bilateral, causa uma insuficiên-
cia renal aguda (pós-renal). A retenção urinária é ocasionada por obstáculo ou
incapacidade de eliminar a urina pela uretra, levando à distensão da bexiga.
O diagnóstico deve ser feito precocemente, uma vez que as conseqüências
da uropatia obstrutiva podem ser reversíveis, e a perda da função renal está
diretamente relacionada com o grau e com a duração da obstrução. As manifesta-
ções clínicas dependem da localização (trato urinário superior ou inferior, uni ou
bilateral), do grau (parcial ou completo) e da duração (aguda ou crônica) da
obstrução. A obstrução aguda completa pode causar insuficiência renal aguda; a
obstrução parcial crônica (hidronefrose crônica) pode ser assintomática ou causar
dor intermitente e sintomas associados à insuficiência renal, como noctúria e
poliúria (por incapacidade de concentrar a urina). São diversas as causas de obstru-
ção, sendo mais comum, no adulto, a estenose da uretra, a hiperplasia prostática,
a nefrolitíase e as neoplasias.
Varicocele
Consiste na dilatação do plexo pampiniforme acima do testículo. O lado esquer-
do é mais afetado. Ocorre em 10% dos homens jovens. O único sintoma pode
ser dor testicular. A manobra de Valsalva auxilia no exame físico.
EXAME DO SISTEMA URINÁRIO
DICAS
Q Os rins são órgãos retroperitoneais.
Q Os rins normalmente não são palpáveis.
Q Punho-percussão lombar positiva pode indicar pielonefrite ou cólica renal.
Q Rins aumentados na doença renal policística do adulto podem ser facil-
mente palpáveis.
Contiguglia SR, Mishell JL, Klein MH, Teiltelbaum I. Renal, electrolyte, blood-gas and acid-
base problems. In: Friedman HH, editor. Problem oriented medical diagnosis. 6. ed. New
York: Little, Brown and Company; 1996. p. 256-90.
234
Sites recomendados
Cybernephology:
http://www.cybernephrology.org
Nephrology Prevention:
http://www.nephroprevention.com
235
14
RETO E CANAL ANAL
HELOISA GUEDES MÜSSNICH
JOÃO FRANCISCO XAVIER MÜSSNICH
SINAIS E SINTOMAS
Os principais sinais e sintomas das doenças proctológicas são sangramento, dor
ou desconforto e tumoração local. Outros, não menos importantes, incluem pruri-
do, exsudação, alteração das fezes (quanto à freqüência ou consistência) ou no
mecanismo de evacuação (perda involuntária ou retenção).
Sintomas gerais também podem ocorrer, como febre, perda de peso, alteração
de apetite ou dor no baixo ventre ou irradiada para as costas e para os membros
inferiores.
RETO E CANAL ANAL
Sangramento
A perda de sangue pode variar quanto às características do sangue eliminado
– cor, freqüência e quantidade – e quanto a sua relação com a evacuação. O
sangramento pode ser vermelho vivo ou escuro, ou ainda em forma de melena –
sangue digerido. Pode ser de pequeno porte, como um pingo no papel higiênico,
ou em grande quantidade, em esguichos no vaso, ou em forma de enterorragia.
Poderá ocorrer ao final da evacuação, vir sobre as fezes ou misturado a elas, ou
ainda, vir sem conteúdo fecal.
Um sangramento indolor, que aparece logo após a evacuação, é característi-
co de hemorróidas internas; se a perda de sangue for mínima e seguida de dor
intensa é, mais presumivelmente, em decorrência de uma fissura anal. Uma hemor-
ragia que aparece ao final de uma evacuação e cede espontaneamente pode
indicar uma lesão anal. Se o sangue está mesclado com as fezes, deve-se pensar
em lesões mais altas, na ampola retal ou no colo (neoplasias benignas ou malig-
nas, colites, doença diverticular). A eliminação de sangue puro, sem conteúdo
fecal, é típica das formas graves de colite ou de lesões anais ou retais.
Causas de sangramento reconhecidas pelo exame proctológico:
Q Hemorróidas
Q Fissura anal
Q Escoriação da pele
Q Condiloma
Q Tumores anais ou retais
238
Q Prolapso retal (total ou mucoso)
Q Doença inflamatória perianal (Crohn ou proctite ulcerativa)
Q Pólipos
Q Malformação vascular
Q Úlcera solitária de reto
Q Trauma
Q Proctites (por radiação ou infecção)
Dor
A dor anal pode ser contínua ou intermitente, relacionada ou não ao ato de
evacuar. Pode apresentar-se como ardor, sensação de corpo estranho, pressão,
sensação de evacuação incompleta ou vontade constante de evacuar – tenesmo
retal. A dor que sucede o ato evacuatório e dura de minutos a horas, em geral
em ardência, é característica da fissura anal. Uma dor contínua, pulsátil, de poucos
dias de evolução e acompanhada de febre sugere abscesso perianal ou anorretal.
Se a dor se apresenta bruscamente, junto com o aparecimento de tumoração
perianal, sugere trombose ou congestão hemorroidária externa. A dor de começo
impreciso e vaga pode estar relacionada à neoplasia e, se for como um desconforto
ou sensação de corpo estranho, sugere uma papilite ou criptite. A dor que se
relaciona com tenesmo retal pode ser resultante de fecaloma, ou retite aguda,
ou neoplasia do canal anal ou de reto baixo.
Causas de dor reconhecidas pelo exame proctológico:
Q Trombose hemorroidária interna ou externa
Tumoração
A tumoração perianal pode ser de consistência variável e de aparecimento
súbito ou insidioso. Uma tumoração perianal de aparecimento agudo e acompa-
nhada de dor sugere trombose ou congestão hemorroidária externa. Se a apresen-
tação é subaguda, no curso de alguns dias, seguida de dor e febre, sugere processo
infeccioso – um abscesso perianal. As tumorações de crescimento lento podem
ser condilomas acuminados, mas devem levantar suspeita de carcinoma. Existe
ainda a tumoração decorrente da saída do reto de sua posição normal – o prolapso
retal – em que se observa a mucosa rósea exposta para fora do canal.
As tumorações retais são diagnosticadas pelo toque retal e pela endoscopia –
anuscopia e retossigmoidoscopia. Sua consistência orienta o diagnóstico: as mais
elásticas sugerem formações polipóides benignas, ou, quando têm flutuação,
239
um abcesso submucoso (às vezes, impossível de tocar devido à dor que causam).
As lesões pétreas, até ser provado o contrário, são características dos carcinomas.
Causas de tumoração reconhecidas pelo exame proctológico:
Q Tumoração da margem anal
– Aguda:
Trombose hemorroidária externa
Abscesso
– Crônica:
Condiloma
Plicomas anais
Carcinoma
Q Prolapso
– Hemorróidas
– Prolapso retal
– Tumores anais ou retais
– Papila anal hipertrófica
Prurido
O prurido é uma queixa freqüente que pode estar relacionada a um agente
causal ou ser a doença propriamente dita. Praticamente todas as afecções que
envolvam o canal anal podem causar prurido, desde infecções locais por fungos,
parasitas ou vírus (herpes e condiloma), até as erosões de pele, fissuras, hemor-
róidas, fístulas e qualquer condição que determine alteração da pele perianal e/
RETO E CANAL ANAL
240
Q Carcinoma
Q Diabete
Q Colestase
Q Linfoma
Q Idiopática
241
– Fecaloma (extravazamento – evacuação paradoxal)
– Incontinência fecal
Sintomas gerais
Os sintomas gerais vão variar de acordo com a natureza da afecção. Em casos
agudos de infecção ou inflamação intensa, febre e dor abdominal ou pélvica
com irradiação para os membros inferiores – em alguns casos – são os mais
comuns. No caso de doenças crônicas ou proliferativas (colites em fase não-
aguda ou neoplasias), a perda de peso e as alterações de apetite são mais fre-
qüentes.
Canal anal
O canal anal inicia-se na linha anorretal – porção distal do reto, na altura dos
músculos elevadores do ânus – e termina na linha anocutânea, junto à pele pe-
rianal, numa extensão aproximada de 4 cm. Funcionalmente, divide-se em três
partes: no terço superior, da linha anorretal até a linha pectínea, é revestido por
mucosa do tipo retal e apresenta receptores nervosos intramurais específicos
para identificar o estado do conteúdo intestinal (sólido, líquido ou gasoso); no
terço médio, de poucos milímetros, encontram-se as papilas e as criptas das
glândulas anais – é a linha pectínea propriamente dita, zona de transição do
epitélio cilíndrico da mucosa para o pavimentoso do anoderma; e no terço inferior,
abaixo da linha pectínea, está o anoderma, com intensa sensibilidade dolorosa,
que se estende até a linha anocutânea, separando o canal anal da pele perianal
(Figura 14.1).
242
Junção retossigmoideana
Reto
Válvulas de Houston
Músculo
puborretal
Linha pectínea
Canal anal
Esfincter
externo
Anoderma
Plexo hemorroidário
Esfincter interno
243
contraído, impede a entrada das fezes no canal anal, enquanto o esfincter anal
externo controla a defecação quando o canal anal já tem conteúdo em seu interior
– essa contração voluntária ocorre imediatamente após o relaxamento reflexo
do esfincter interno, quando o reto recebe o conteúdo fecal. Os corpos cavernosos
do canal anal são uma rede de arteríolas e vênulas – o plexo hemorroidário interno
e externo – localizados na camada submucosa do canal anal entre a linha anorretal
e a linha pectínea. São sustentados por fibras musculares do canal anal (músculo
de Treitz), que são uma continuação do esfincter anal interno. Essas estruturas
formam coxins vasculares que auxiliam na oclusão do canal anal, principalmente
para a contenção de conteúdo líquido e gasoso.
Exame proctológico
Realizado com paciente em decúbito lateral (geralmente esquerdo – posição
RETO E CANAL ANAL
Inspeção
Avalia-se a região sacrococcígea e perianal (avaliar urogenital quando necessá-
rio), observando-se alterações de cor ou consistência da pele, presença de saliên-
cias externas, protrusões ou prolapsos, capacidade de fechamento do canal anal
espontaneamente e ao comando, orifícios fistulosos (tanto perianais quanto sa-
Figura 14.2 – Posição genupeitoral. Exemplo dessa posição com o enfermo ajoelhado e com
o abdome fletido e o tórax apoiado sobre a mesa de exames.
244
Figura 14.3 – Posição de Sims. Esquema do paciente em decúbito lateral esquerdo.
Toque retal
Realizado com o dedo indicador, após palpação cuidadosa da região perianal.
Observa-se o tônus esfincteriano, dor, endurecimento, irregularidades ou nódulos.
Nos homens, pode-se realizar a palpação da próstata (ver Capítulo 13). Nas
mulheres, pode ser necessário realizar toque vaginal – antes ou simultaneamente
ao toque retal – para evidenciar alterações do septo retovaginal, como flacidez e
orifícios fistulosos (Figura 14.4).
Figura 14.4 – Toque retal. Esquema do dedo indicador do examinador e das estruturas
anorretais palpáveis. Modificada de Swartz1.
245
tindo visualização da mucosa do reto, sua coloração e a presença de estruturas
alteradas (papilas aumentadas de tamanho, orifícios fistulosos e mamilos hemor-
roidários internos, p.ex.).
Retossigmoidoscopia
Pode ser realizada na consulta de rotina ou após limpeza do reto com enemas.
O retossigmoidoscópio rígido é um tubo que varia de 15 a 30 cm, também contém
um mandril para sua introdução e permite visualização de toda a extensão do
reto e da porção distal do colo sigmóide – os de 30 cm – por meio da insuflação
de ar. Esse exame deve ser realizado por especialistas ou médicos treinados para
fazê-lo. Após introdução cuidadosa, observando qualquer resistência ou descon-
forto referido pelo paciente, o aparelho vai sendo retirado lentamente, examinan-
do-se as características anatômicas do reto (mucosa, vascularização e distensibi-
lidade), a presença de lesões, a presença de sangue, muco ou pus e as característi-
cas das fezes.
A investigação deverá prosseguir, especialmente por colonoscopia, na presença
dos seguintes achados:
Q perda de sangue misturado ou não às fezes;
Q teste positivo de sangue oculto nas fezes;
Q presença de pólipos ou alterações inflamatórias na mucosa examinada;
Q diarréia, constipação, dor ou distensão abdominais;
Q antecedentes pessoais ou familiares de neoplasias.
RETO E CANAL ANAL
246
Quadro 14.1 Quadro clínico e manejo terapêutico da doença (TS) Tecido de Sustentação
(TS)
Grau II + Exsudação Prolapso visível Fotocoagulação
Prurido na margem anal Ligadura elástica (HI)
(EI)
aos esforços, (Grau II)
retorno (CA)
(LP)
espontâneo
(HE)
(HI)
(LP)
(HE)
irredutível
(EI)
(CA)
(HI)
(Grau IV)
(LP)
(HE)
247
RETO E CANAL ANAL
Q gestação, trabalho de parto;
Q medicações tópicas (supositórios, enemas);
Q outros fatores sugeridos: menstruação, vida sedentária, esportes (hipismo,
ciclismo, musculação), profissões (piloto, motorista), álcool, condimentos;
Q hábito de ler durante a defecação (tempo).
Fissura anal
É uma espécie de corte que ocorre no anoderma. Mais comumente localizada
nas comissuras anterior e posterior do canal anal, devido à angulação anorretal.
Pode ser aguda ou crônica. O quadro clínico mais comum inclui história de cons-
tipação intestinal ou diarréia aguda, dor anal em ardência, durante ou após a
evacuação, sangramento vivo ao defecar (raro na fissura crônica) e tenesmo
(sensação de evacuação incompleta).
O diagnóstico é clínico, por meio de inspeção anal, afastando-se manualmente
as pregas anais. O toque retal e a anuscopia são úteis, principalmente nos casos
crônicos, em que evidenciam a presença de papilas hipertróficas no canal anal;
no entanto, em decorrência da dor que causam, às vezes é impossível realizá-los.
Criptite e papilite
Inflamações localizadas no canal anal, podendo causar dor em queimação,
breve, durante a defecação e prurido anal. São diagnosticadas por meio do to-
que retal e da anuscopia, revelando papilas aumentadas de tamanho e criptas
endurecidas ou inflamadas.
RETO E CANAL ANAL
Infecções anorretais
As proctites são infecções de reto (retites) que causam dor anorretal, secreção
anal mucopurulenta ou sangramento, tenesmo, constipação e inflamação da mu-
cosa retal. Os patógenos mais comuns são neisseria gonorrhoeae, chlamydia e
herpesvírus. A sífilis pode causar proctite, com aparecimento do cancro 2 a 6
semanas após intercurso anal. Deve-se fazer o diagnóstico diferencial com proctite
decorrente de trauma.
As proctocolites são as infecções envolvendo as proximidades do reto e o
colo. Os agentes etiológicos incluem os mesmos da proctite, mas, mais comu-
mente, deve-se a shigella, campylobacter ou amebíase. Há diarréia, dor abdominal
em cólica, febre e os sintomas de proctite. No diagnóstico diferencial, deve-se
considerar as colites inflamatórias (retocolite ulcerativa e doença de Crohn), gra-
nulomatosas e isquêmicas.
248
cação anormal e infectada, ocorre a formação, de tempos em tempos, de pus.
Por esse motivo, esse trajeto deve ser tratado cirurgicamente, com o intuito de
tornar essa área livre de contaminação e aberta, para desfazer aquele trajeto que
se formou. As fístulas podem ser de simples e superficiais a complexas e profun-
das. O envolvimento esfincteriano no processo é o fator mais importante do
manejo terapêutico-cirúrgico – devendo-se tomar muito cuidado no sentido de
evitar problemas de continência fecal.
Doença pilonidal
Ocorre na região sacrococcígea, pela formação de uma lesão cística contendo
pêlos em seu interior e, frequëntemente, tornando-se infectada. Pode ser aguda,
com a formação de um abcesso, ou crônica, com contaminação constante da
região.
Condiloma anal
São papilomas do grupo do HPV (vírus do papiloma humano) localizados na
pele da região perianal e no canal anal. Surgem em áreas úmidas, maceradas e
principalmente, na presença de secreções. Sua principal forma de transmissão é
sexual. Apresentam-se como lesões verrucosas, às vezes sangrantes, que causam
algum desconforto ou sangramento ao toque.
Prolapso retal
Ocorre enfraquecimento das estruturas de suporte da região anorretal, causan-
Incontinência anal
Pode ocorrer simultaneamente ao prolapso e muitas vezes não se pode estabe-
lecer qual a causa ou a conseqüência. Há uma diminuição ou ausência do tônus
do esfincter anal. É importante avaliar a presença de trauma cirúrgico (anorretal
ou obstétrico), distúrbios neurológicos, diarréia de qualquer etiologia ou, parado-
xalmente, impactação fecal.
A perda involuntária de fezes também pode ocorrer por desgaste da muscula-
tura do assoalho pélvico, por esforço evacuatório crônico ou trabalhos de parto
prolongados no passado. O diagnóstico pode ser firmado por exame físico, em
que se encontra um esfincter anal pouco reativo ou quase sem força de contração,
sendo confirmado por manometria anorretal. O grau de incontinência deve ser
quantificado em freqüência, situações de urgência evacuatória e conteúdo perdido
(gases, líquidos ou sólidos). Em alguns casos, o manejo dietético, o controle da
função intestinal e o reforço muscular são suficientes. Em outros, a correção
cirúrgica é a única alternativa.
249
Fecaloma ou impactação fecal
A retenção fecal pode ser insidiosa, em casos de constipação crônica de difícil
controle ou tumores obstrutivos, ou aguda (fecaloma). O diagnóstico é feito por
meio do toque retal, e o manejo é baseado na remoção manual do conteúdo
mais distal com complementação por meio de enemas evacuatórios – sempre
devendo ser realizados por pessoal treinado, para evitar rompimento da ampola
retal já distendida.
Estenose anal
É a redução da circunferência do canal anal. A estenose, ou estreitamento,
pode ser causada por lesão traumática que desnude o epitélio do canal anal (na
hemorroidectomia, p. ex.) ou por lesão inflamatória (linfogranuloma venéreo,
granuloma inguinal, doença de Crohn perianal). O quadro clínico inclui cons-
tipação, diminuição do calibre das fezes e dor à defecação. A estenose predispõe
ao aparecimento de fissuras, infecções e fístulas.
Tumores anorretais
Os tumores retais constituem aproximadamente 30% dos tumores colorretais.
O tipo histológico mais comum é o adenocarcinoma. Os tumores localizados nos
10 cm distais do reto são, na maior parte das vezes, detectáveis pelo toque retal,
sendo um diagnóstico exeqüível por qualquer profissional. A importância desse
fato está na possibilidade de diagnóstico precoce dessas lesões.
Os tumores de canal anal correspondem a 5% de todos os tumores colorretais,
RETO E CANAL ANAL
Orientações gerais
A manutenção de uma boa função intestinal e a realização de cuidados locais
adequados são fundamentais para o manejo das afecções anorretais. Em linhas
gerais, recomenda-se:
250
Q Ingerir líquidos em abundância (qualquer tipo de líquido é válido: chás,
sucos, refrigerantes, etc.). A dose mínima diária é de 2 L, podendo ser
distribuída em 3 copos por turno (9 copos/dia).
Q Incluir frutas e verduras na alimentação diária.
Q A ingestão de fibras em forma de grãos ou cereais deve ser sempre seguida
da ingestão de muitos líquidos para ter bom efeito, do contrário, poderá
resultar em fezes volumosas e ressequidas.
Q Procurar ter horários regulares de alimentação, respeitando a rotina de que
a função intestinal necessita.
Q Movimentar-se.
Q Atender à vontade de evacuar logo que possível – evitar esperar para mais
tarde.
Q Evitar o hábito de ler no banheiro (é melhor sentar-se no sofá).
Q Evitar usar papel higiênico – pelo menos quando estiver com algum sintoma
local. A higiene é mais efetiva e menos traumática quando realizada com
algodão umedecido ou água (desde que sem jato forte, evitando o sabonete
– reservá-lo para a hora do banho).
Q Na presença de sintomas locais é útil realizar banhos de assento, em imersão,
com água morna.
O tratamento clínico utilizado em grande parte dessas afecções inclui o uso
de pomadas, bojantes fecais associados ou não a laxativos, antiinflamatórios e
antibióticos. As afecções cirúrgicas têm tratamentos específicos que devem ser
realizados por um especialista ou profissional devidamente treinado.
Keighley M, Williams N. Surgery of the anus, rectum and colon. London: WB Saunders;
1993. vol 1.
Naud P. et al. Doenças sexualmente transmissíveis e Aids. Porto Alegre: Artmed; 1993.
Quilici FA, Reis Neto JA. Atlas de coloproctologia: do diagnóstico ao tratamento. São Paulo:
Lemos Editorial; 2000.
Schwarz SI, Shires GT, Spencer FC, Storer EH, editors. Princípios de cirurgia. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 1988.
251
Site recomendado
Sociedade Brasileira de Coloproctologia:
www.sbcp.org.br
RETO E CANAL ANAL
252
15
SEMIOLOGIA DO
SISTEMA LOCOMOTOR
CLAITON VIEGAS BRENOL
RICARDO M. XAVIER
254
das arteríolas pré-capilares), cianose (shunts arteriovenosos) e eritema (reversão
do vasoespasmo).
Fraqueza: é a incapacidade do movimento pela perda de força muscular. Pode ser
decorrente de doenças articulares de longa duração, miopatias ou neuropatias.
Nas miopatias inflamatórias, a fraqueza tem distribuição proximal.
Instabilidade: é o movimento articular além de seus planos normais, ocasionado
por lassidão ligamentar por inflamação ou trauma, alterações de superfícies ósseas
ou fraqueza muscular.
Limitação do movimento: manifestada por meio de incapacidade para tarefas do
cotidiano (p. ex., subir escadas, alimentar-se, vestir-se, pentear-se). Limitações
transitórias são causadas por espasmos musculares, sinovite, derrame articular,
corpos livres ou traumas intra-articulares, periartrites ou fibrose de estruturas
periarticulares. Limitações crônicas são decorrentes de anquilose articular, destrui-
ção da cartilagem ou subluxações.
Rigidez articular: é o desconforto ou a restrição ao iniciar o movimento após
períodos de repouso de pelo menos 1 a 2 horas. O sintoma é mais marcado após
o repouso noturno (rigidez matinal). Nos quadros inflamatórios, essa rigidez costu-
ma durar mais do que 45 minutos, enquanto, na ausência de inflamação, é fugaz
(menor que 30 minutos). Melhora com o aumento da temperatura, como com
duchas quentes.
ROTEIRO DO EXAME
O exame do sistema musculoesquelético é composto pelas seguintes etapas bási-
cas: inspeção, palpação e movimentação (passiva ou ativa). A seguir, é apresenta-
da, uma sugestão de exame físico de rastreamento para alterações ósseas,
articulares e musculares.
Paciente em pé
Q Observação da marcha: simetria, balanço de pernas e braços, apoio dos
pés (primeiro contato do calcanhar>carga>balanço>retirada do calcanhar).
255
Figura 15.1 – Sinal do impacto.
Paciente sentado
Q Testar articulação temporomandibular com abertura da boca e desvio ativo
da mandíbula de lado a lado.
Q Rotação, flexão e extensão ativas da coluna cervical (ângulo normal: 60-90o).
Q Rotação passiva da coluna dorsal (ângulo normal: 45-75o).
Q Elevação ativa dos membros superiores acima da cabeça.
Q Rotação externa e abdução ativas da articulação glenoumeral (“mãos atrás
da cabeça”).
Q Rotação interna e extensão ativas da articulação glenoumeral (“levar as
mãos ao ponto mais alto das costas”).
Q Flexão passiva dos cotovelos (ângulo normal: 145o).
Q Extensão passiva dos cotovelos (ângulo normal: 0o).
Q Flexão palmar e extensão dorsal passivas dos punhos (ângulo normal:
60-90o).
256
Q Flexão das articulações metacarpofalangeanas (MCFs), interfalangeanas
proximais (IFPs) e distais (IFDs): “fechar a mão”.
Q Extensão das MCFs, IFPs e IFDs: posicionar as mãos estendidas uma contra
a outra.
Paciente deitado
Q Abdução (ângulo normal: 25o) e adução (ângulo normal: 40o) passivas do
quadril.
Q Flexão passiva dos quadris (ângulo normal até 120o, dependendo da idade).
Q Com o quadril fletido a 90o, faz-se sua rotação passiva interna (ângulo
normal: 30o) e externa (ângulo normal: 60o).
Q Flexão passiva do joelho (até 130o); a extensão completa é observada pela
ausência de espaço entre a maca e a fossa poplítea.
Q Flexão (15o) e extensão (55o) passivas do tornozelo.
Q Eversão (20o) e inversão (35o) passivas subtalares.
Q Rotação passiva do antepé (35o).
Q Movimentação passiva das metatarsofalangeanas (MTFs), IFPs e IFDs.
A palpação e a inspeção de cada articulação devem ser feitas em seqüência,
juntamente com as manobras anteriormente citadas.
257
exercida pelo examinador. Dor ao exercer pressão sobre a fossa bicipital na face
anterior do úmero é indicativa de tendinite bicipital (Figura 15.2).
Teste de Finkelstein: é empregado na suspeita de tendinite de De Quervain e
consiste na preensão do polegar pela flexão dos demais dedos com o examinador
exercendo um desvio ulnar forçado do punho. O teste é positivo quando a dor
no processo estilóide piora, podendo irradiar-se ao longo do braço.
Teste de McMurray: indica a ruptura da porção posterior do menisco medial. É
composto das seguintes manobras executadas em decúbito dorsal: 1) flexão do
joelho, rotação interna e externa da tíbia; 2) rotação externa da tíbia com esforço
valgo sobre o joelho; 3) extensão lenta do joelho; se houver um estalido audível
ou palpável na linha articular medial, o teste é considerado positivo.
Teste de Compressão de Apley: serve para diagnosticar lesão meniscal. É realizado
em decúbito ventral com o joelho flexionado a 90°. Deve-se exercer uma compres-
são sobre a tíbia com posterior rotação externa e interna. Se houver lesão meniscal,
o paciente vai manifestar dor na linha articular lateral ou medial.
Teste de Lachman: testa-se a instabilidade do ligamento cruzado anterior com o
joelho flexionado a 20o com uma mão fixando o fêmur, e a outra, deslocando a
tíbia anteriormente.
SEMIOLOGIA DO SISTEMA LOCOMOTOR
DICAS DE SEMIOTÉCNICA
Métodos palpatórios de articulações individuais:
Q IFPs e IFDs devem ser palpadas pelo método bimanual, com os indicadores
e polegares do examinador pressionando as margens dorsal, palmar, lateral
e medial de cada articulação.
258
Q Punhos e MCFs podem ser palpados na face dorsal por ambos os polegares
do examinador.
Q Cotovelos fletidos a 70o podem ser palpados com o polegar entre o olécrano
e o epicôndilo lateral do paciente e o indicador na fossa antecubital.
Q Joelhos podem ser palpados por técnicas diversas de acordo com o tamanho
do derrame articular. Para pequenos volumes, deve ser feita uma ordenha
na sua porção lateral; após pressiona-se o espaço entre a patela e a articula-
ção, promovendo uma inchação contralateral. Para volumes maiores, uma
das mãos do examinador comprime a bolsa suprapatelar, adjacente ao pólo
superior da patela, enquanto o polegar e o indicador da outra mão sentem
a distensão capsular medial e lateral. Com grande quantidade de líquido
sinovial, é possível reproduzir o sinal do rechaço ou da tecla, com a com-
pressão ântero-posterior da patela contra o fêmur.
Registro do exame articular: pode ser feito utilizando abreviações dos nomes de
cada articulação (IFP, IFD, MCF, MTF, etc.), caracterizando o grau de tumefação,
sensibilidade e limitação de movimento, bem como alterações de temperatura e
cor. O emprego do esqueleto esquemático, assinalando as articulações anormais,
é outro método prático (Figura 15.3).
259
Movimento passivo versus ativo: nas periartrites, o paciente pode não referir dor
durante o movimento passivo conduzido pelo médico, mas durante determina-
dos planos do movimento ativo nos quais os tendões ou bursas acometidos são
exigidos. Na artrite, a dor tende a ocorrer em todos os planos do movimento
passivo ou ativo.
Expansibilidade torácica: é a diferença em centímetros entre a expiração e a inspira-
ção máximas no nível da linha mamária (normal: > 5 cm).
QUADROS SINDRÔMICOS
Síndromes articulares
Para classificar uma síndrome articular é necessária a obtenção de determinadas
informações por meio da anamnese. Devem ser estabelecidos a presença ou não
de inflamação, o tempo evolutivo da doença (aguda, subaguda ou crônica), o
tamanho das articulações acometidas (pequenas ou grandes), o número de articu-
lações acometidas (monoarticular – uma articulação; oligoarticular – até quatro
articulações; ou poliarticular) e o padrão de acometimento (progressivo ou
intermitente, migratório ou aditivo, simétrico ou assimétrico).
260
sorologia. O vírus da hepatite B também causa quadro semelhante acompanhado
de eritema urticariforme, antecedendo os sintomas hepáticos. O vírus da imuno-
deficiência humana está relacionado a artropatias, especialmente artrites reativas.
261
lores, são outros sinais mucocutâneos. Outras formas de atividade lúpica são
proteinúria, pleurite, pericardite, psicose, convulsões e anemia hemolítica. O LES
é mais comum em mulheres em idade fértil. O fator antinuclear (FAN) é positivo
em 95% dos casos.
Além da AR e do LES, outras doenças difusas do tecido conjuntivo (esclerose
sistêmica, dermato/polimiosite, síndrome de Sjögren, vasculites sistêmicas) podem
cursar com poliartralgias ou poliartrite em algum momento da evolução da doença.
Suas manifestações extra-articulares conduzem ao diagnóstico.
Esclerose sistêmica (ES): apresenta alterações clínicas decorrentes de fibrose vis-
ceral e cutânea. Costuma incidir em mulheres entre a 3ª e 5ª décadas. Mais de
90% dos pacientes apresentam fenômeno de Raynaud como manifestação preco-
ce. A esclerodermia precisa ser simétrica e proximal às MCFs e MTFs. Existem
duas formas de apresentação: difusa e limitada. Na forma difusa, o espessamento
e enduramento da pele acomete face, pescoço, tronco, membros superiores e
inferiores; a evolução da doença é rápida, logo após o início do Raynaud; e a
fibrose de órgãos internos é mais comum. Na forma limitada, a esclerodermia
poupa o tronco; Raynaud pode ser o único sinal de doença por até 10 anos de
evolução; e a doença visceral é menos comum. Outras manifestações cutâneas
da ES são manchas hiper e hipopigmentares “em sal e pimenta” (relacionada à
forma difusa), calcinose subcutânea, telangiectasias e prurido. Pirose e disfagia
apontam para dismotilidade esofágica. Fibrose e atrofia do trato gastrintestinal
SEMIOLOGIA DO SISTEMA LOCOMOTOR
262
volume episódico das glândulas salivares pode ser verificado. Anticorpos anti-Ro
(SS-A) e anti-La (SS-B) estão presentes em 70% dos pacientes.
Vasculites sistêmicas: são um grupo de doenças caracterizadas pela inflamação
das paredes de diversos tipos de vasos. Podem ser divididas conforme o acometi-
mento de grandes (aorta e seus maiores ramos), médios (artérias viscerais, como
renais, hepáticas, coronarianas e mesentéricas) ou pequenos vasos (vênulas, capi-
lares, arteríolas, ou ramos intraparenquimatosos distais às arteríolas). O quadro
clínico depende do calibre do vaso atingido e do órgão irrigado, porém febre,
atralgias, mialgias, anorexia, fadiga e emagrecimento são comuns. A vasculite
cutânea (p. ex., púrpura, livedo reticular) e a mononeurite múltipla são resultantes
de vasculite de pequenos vasos (Tabela 15.1).
263
Tabela 15.1 Classificação das vasculites sistêmicas
264
como olho vermelho, ardência e exudação, sugerem conjuntivite, enquanto dor
e fotofobia são complicações de uveíte anterior. A tríade de artrite, conjuntivite
e uretrite caracteriza a síndrome de Reiter. O tempo de duração dos sintomas é
de 3 meses a 1 ano na grande maioria dos pacientes. A evolução crônica ocorre
em 15 a 20% dos pacientes.
Artrite psoriásica: é uma complicação que ocorre em 5% dos pacientes com pso-
ríase. A doença dermatológica precede à articular em mais de 70% das vezes.
Ocasionalmente, as lesões são discretas, necessitando de um exame ectoscópico
minucioso. As alterações ungueais, como as “unhas em dedal”, estão associadas
ao desenvolvimento de artrite (ver Capítulo 6). História familiar de psoríase é
uma pista importante. São identificados três padrões distintos de acometimento
articular: mono ou oligoartrite com entesites em 30 a 50% (tipo artrite reativa),
poliartrite simétrica em 30 a 50% (tipo AR) e envolvimento axial em cerca de
5% (tipo EA). A poliartrite simétrica da AP pode ser diferenciada da AR pelo
acometimento freqüente das IFDs e pela dactilite. A sacroileíte é assimétrica e
pouco sintomática. A artrite mutilante ocorre em uma minoria, com osteólise de
ossos das mãos e dos pés. A destruição óssea provoca o encolhimento dos dedos
ou “dedos em telescópio”.
Artropatias associadas às doenças inflamatórias Intestinais: ocorrem em até 20%
dos pacientes com doença de Crohn ou colite ulcerativa (ver Capítulo 11). Os
Poliartropatias não-inflamatórias
Osteoartrose (OA): é causada pela degeneração progressiva da cartilagem articular
e neoformação óssea subcondral. Os idosos são mais acometidos, principalmente
os obesos. Os sintomas têm início gradual. A dor piora com o movimento e alivia
no repouso da articulação e existe rigidez protocinética ao iniciar movimentos.
As articulações mais atingidas, geralmente de maneira simétrica, são as IFDs,
IFPs, primeira carpometacarpiana, interapofisárias cervicais e lombares, primeira
MTF, joelhos e quadris. O acometimento de mais de três grupos articulares é
classificado como OA generalizada. Essa tem preferência por mulheres com história
familiar. O quadro costuma apresentar proliferação óssea das articulações IFDs
(nódulos de Heberden) e IFPs (nódulos de Bouchard). A OA erosiva é uma forma
mais agressiva de doença e é restrita às mãos, podendo manifestar-se com quadro
inflamatório mais exuberante. O diagnóstico diferencial com a mão reumatóide
é facilitado pelo acometimento das IFDs e da primeira carpometacarpiana, que
costumam ser poupadas na AR. O acometimento de articulações atípicas deve
lembrar outras causas de poliartropatia não-inflamatória: condrocalcinose, acro-
megalia, ocronose, hemocromatose.
265
Monoartrites agudas
A identificação de uma monoartrite aguda é indicação de punção articular
para afastar o diagnóstico de artrite séptica.
Artrite gotosa: é causa da grande maioria das monoartrites agudas. A gota apresenta
três fases clínicas: aguda, intercrítica e crônica. O início da doença dá-se em
homens por volta dos 30 anos e mulheres na pós-menopausa. A crise aguda
caracteriza-se por dor de início abrupto, lancinante, com aumento de volume
articular e eritema marcantes. É geralmente noturna, com fatores precipitantes
(trauma; ingestão excessiva de álcool, carne ou frutos do mar – ricos em purinas;
infecções; cirurgias; ou fámacos) associados ou não. A primeira metatarsofalan-
geana é atingida em metade das primeiras crises e em quase 90% dos casos ao
longo da evolução; seu acometimento é denominado de podagra. Outros sítios
preferenciais são os joelhos, tornozelos e pés. Na fase intercrítica, o paciente
permanece assintomático. Após 10 anos ou mais, surgem os tofos, caracterizando
a fase crônica. Os tofos são nódulos subcutâneos formados pela deposição de
cristais de monourato de sódio. Podem ocorrer nos pavilhões auditivos, bursas
olecraneanas, punhos, dedos das mãos, joelhos, antebraços e tendões de Aquiles.
Na gota tofácea crônica, a deposição de cristais intra-articulares causa destruição
e deformidades, gerando sintomas contínuos. O diagnóstico de gota é corroborado
por hiperuricemia e identificação de cristais no líquido sinovial. Deve ser feito o
diagnóstico diferencial com pseudogota, ocasionada por cristais de pirofosfato
SEMIOLOGIA DO SISTEMA LOCOMOTOR
266
é o teste de compressão de Apley. Em pacientes idosos com doença articular
degenerativa, o evento traumático pode não ser identificado. A ruptura do liga-
mento cruzado anterior é mais prevalente com relação ao posterior e ocorre
associada a uma rotação externa valga com o joelho flexionado ou rotação interna
em hiperextensão. Na ruptura completa, ocorre aumento de volume agudo por
hemorragia intra-articular. Nas lesões crônicas, o deslocamento articular anterior
é avaliado com os testes da Gaveta e de Lachman. A instabilidade rotatória ântero-
lateral do côndilo lateral da tíbia é o achado mais prevalente nas rupturas de
ligamento cruzado anterior. Pode ser reproduzida ao exame físico com o joelho
flexionado a 20o, sofrendo uma força valga, enquanto o pé é rotado internamente.
Após a extensão do joelho, pode ser notado um deslocamento anterior do côndilo
lateral da tíbia, que é acompanhado de um estalo.
Monoartrites crônicas
O diagnóstico diferencial das monoartrites crônicas é mais restrito. Situa-se
entre infecções insidiosas, corpos estranhos ou neoplasias. Dentre as infecções,
destacam-se a tuberculose, candidíase, coccidioidomicose e blastomicose. A pene-
tração de corpos estranhos em articulações superficiais, como mãos e pés, é
outra causa. Sempre deve ser investigada a hipótese de neoplasia, como a sino-
vite vilonodular pigmentada. O diagnóstico é feito por meio de artroscopia e
biópsia.
267
que se agrava ao descer ou subir escadas. É mais comum em mulheres
obesas.
Tendinites: é a inflamação do tendão, especialmente nos locais envolvidos por
bainhas sinoviais, caracterizando a tenossinovite. O fator desencadeante mais
relacionado é o trauma. O processo pode ser decorrente do uso repetido do
tendão sem condicionamento físico adequado, produzindo microtraumas que
levam à ruptura de fibras.
Q A maior causa de ombro doloroso é a inflamação do tendão do músculo
supra-espinhoso, que, juntamente com os tendões do infra-espinhoso, re-
dondo menor e subescapular, formam a bainha rotadora do ombro. Essas
estruturas participam da abdução (supra-espinhoso), rotação externa (infra-
espinhoso e redondo menor) e rotação interna (subescapular) do ombro. A
tendinite do supra-espinhoso costuma surgir entre a 4a e 5a décadas, secun-
dária a movimentos repetitivos. O paciente queixa-se de dor ao tentar
elevar o braço acima da cabeça. A dor é manifestada a partir de 70o até
120o; é o chamado arco doloroso.
Q A bursite subacromial aparece como processo associado à tendinite do su-
pra-espinhoso.
Q A tendinite calcificante do supra-espinhoso é decorrente do processo infla-
matório e cursa com sinais e sintomas semelhantes. A quantidade de depo-
SEMIOLOGIA DO SISTEMA LOCOMOTOR
268
Tabela 15.2 Sinais de alerta nas lombalgias
Q emagrecimento
Q febre
Q dor noturna
Q dor vertebral localizada
Q sinais de compressão radicular
Q idade acima dos 60 anos
269
Q O nervo ulnar, ao atravessar o túnel de Guion, pode ser comprimido,
gerando sintomas sensitivo-motores na face hipotenar, no quinto dedo e
na face ulnar do quarto dedo.
Q Na região inervada pelo femorocutâneo, pode ocorrer a meralgia paresté-
sica, entidade caracterizada por dor em queimação e hiperestesia na coxa
ântero-lateral que piora com a extensão e abdução.
Cistos sinoviais: são formações císticas periarticulares. O cisto aparentemente surge
após traumas ou extensão prolongada das articulações. O gânglio ou cisto sino-
vial do dorso do punho é freqüente e apresenta conteúdo gelatinoso. Os cistos
são mais comuns em pacientes com artrite reumatóide, osteoartrose ou instabili-
dade articular.
Contratura de Dupuytren: A contratura de Dupuytren é determinada pela fibrose
da fáscla palmar, geralmente no 4o e 5o dedos. Na maioria das vezes é indolor.
Embora de etiologia desconhecida, parece existir uma predisposição hereditária.
São descritas associações com outras condições, como o diabete melito e o alco-
olismo. O uso de drogas anticonvulsivantes também está implicado.
Metatarsalgias: A metatarsalgia é caracterizada por dor e/ou edema nas superfícies
plantares das articulações metatarsofalangeanas. Os sintomas são decorrentes
de uma variedade de situações clínicas e podem ocorrer isoladamente ou em
associação com doenças sistêmicas. A compressão do nervo plantar junto às
SEMIOLOGIA DO SISTEMA LOCOMOTOR
Síndromes generalizadas
Fibromialgia: é caracterizada por dor generalizada e por manifestações clínicas
gerais, como fadiga, distúrbios do sono, rigidez, intolerância ao exercício. Pode
vir acompanhada de distúrbios funcionais orgânicos, como síndrome do colo
irritável, palpitações e síndrome de Tietze, ou psiquiátricos, como perda de
memória e depressão. Para fins diagnósticos, é caracterizada pela presença de
dor, durante mais de três meses, nos quatro quadrantes do corpo e esqueleto
axial e reprodução de dor à palpação digital em pelo menos 11 dos 18 pontos
preestabelecidos nos critérios diagnósticos da doença (com pressão de 4 kg ou o
suficiente para empalidecer o leito ungueal do médico). Esses pontos estão loca-
lizados bilateralmente na inserção do músculo suboccipital, região cervical baixa
270
entre C5-7, borda superior do trapézio, origem do músculo supra-espinhoso
(acima da espinha escapular), segunda articulação costocondral, epicôndilo lateral,
quadrante superior lateral do glúteo, grande trocanter e porção medial do joelho.
Além dos pontos dolorosos, o exame físico é normal.
Polimialgia reumática: é uma síndrome dolorosa que acomete indivíduos acima
de 50 anos de idade, acompanhada de dramática rigidez matinal, envolvendo
cintura pélvica e escapular. Acompanha-se de elevada velocidade de sedimentação
globular (VSG), que não pode ser atribuída a outra doença sistêmica. A melhora
com doses baixas a moderadas de glicocorticóides é típica e reforça a hipótese
diagnóstica.
McCarty DJ. Arthritis and allied conditions: textbook of rheumatology. 13th. ed. Philadelphia:
Lea Febiger; 1997. p.2374.
Shoen RP, Moskowitz RW, Goldberg VW. Soft tissue rheumatic pain. 3rd. ed. Philadelphia:
Lippincott Williams & Wilkins; 1996. p.432.
Wolfe F, Snythe HA, Yunus MB, Bennett RM, Bombardier C, Goldenberg DL, et al. The ACR
1990 criteria for the classification of fibromyalgia. Report of the multicenter criteria committee.
Arthritis Rheum 1990; 33:160-172.
271
16
EXAME ORTOPÉDICO
LUIZ ROBERTO STIGLER MARCZYK
JOÃO L. ELLERA GOMES
274
Quadro 16.1 Avaliação da força muscular
EXAME ORTOPÉDICO
Observar contorno, presença ou não do “ombro em cabide”, atrofias, nive-
lamento relativo de um ombro em relação ao outro, comprimento do ombro,
direção da linha superior de cada ombro, uma em relação à outra, posição da
escápula, depressões, vermelhidões, tensão, calor, flutuação, consistência relativa
das massas musculares e estabilidade.
Exame dinâmico
Q Posição de função: a mais favorável é a de 70o de elevação por 60o de
abdução.
Q A posição neutra (de 0o) é aquela em que o braço está esticado e pendente
ao longo do corpo.
Q Elevação: deve ser pesquisada, preferentemente com o paciente em pé. A
elevação do braço para o alto, em qualquer dos meridianos, é considerada
como movimento de elevação. O número de graus é contado da posição
neutra de 0o até o limite possível de elevação do ombro.
Q Adução e abdução. Esses movimentos devem, de preferência, ser
pesquisados com o paciente em pé ou sentado. O braço é elevado à posi-
ção de 90o, e o movimento é pesquisado no paralelo equatorial. A adução
e a abdução são movimentos pesquisados essencialmente na posição hori-
zontal. A posição neutra do movimento é com o braço orientado para a
frente. Todo movimento horizontal para dentro é considerado como adução.
A partir da posição neutra, todo movimento feito em direção para fora é
considerado abdução.
275
Q Rotação interna e externa. Esses movimentos devem, preferentemente,
ser pesquisado com o paciente deitado ou sentado. O braço deve formar,
com o eixo do corpo, um ângulo de 90o, e o antebraço forma com o braço
um ângulo também de 90o. Essa é a posição neutra. Quando é imprimido
ao braço um movimento para trás, mede-se a rotação externa. Quando o
braço é movimentado para a frente, mede-se a rotação interna.
Cotovelo
A principal característica dessa articulação é dada pela particularidade das
relações de proximidade com o nervo cubital (ou ulnar), com o nervo mediano e
com a artéria branquial. O nervo cubital passa imediatamente atrás da epitróclea,
e a artéria branquial e o nervo mediano passam na frente da articulação.
Exame físico
Observar contorno, atrofia, presença de nódulos, depressões, vermelhidão,
sensibilidade, calor, flutuação e consistência das massas musculares.
Identificação de estruturas: por ser uma articulação com revestimento de
partes moles relativamente reduzido, pode-se palpar diversas formações anatô-
micas: na parte posterior, a fosseta olecraniana e o olécrano; lateralmente palpa-
se o epicôndilo; internamente, a epitróclea, a goteira do nervo cubital e o nervo
cubital.
Exame dinâmico
A posição neutra do cotovelo é aquela em que o eixo do braço está em con-
tinuação com o eixo do antebraço, isto é, com o cotovelo pendente ao longo do
EXAME ORTOPÉDICO
corpo.
Posição de função: 90o de flexão. Quanto ao grau de prono-supinação, o
ideal seria a posição intermediária. Excepcionalmente, para trabalhadores com
enxada, a supinação é melhor; para datilógrafos, a melhor posição seria a de
pronação.
Forçando a extensão para trás, pode existir um movimento chamado de hi-
perextensão, mais comum em mulheres e em crianças. O movimento de flexão é
decorrente do fechamento do cotovelo para fins de medição. Não tem movi-
mento de extensão.
Limitação de movimentos: por qualquer motivo, se o cotovelo perder o grau
normal de movimento. Por exemplo: se ele se movimenta de 30 a 135o, diz-se que
há uma contratura de flexão de 30o e que o cotovelo tem uma gama de movimen-
tos que vai de 30 a 135o. Houve, portanto, uma perda de 30o de extensão.
Punho
Exame estático
Identificação de estruturas: apófise estilóide do rádio, apófise estilóide do
cúbito, extremidade distal do rádio, apófise distal do cúbito, tendão do palmar
longo, o que pode ser pesquisado com oponência forte entre os dedos mínimo e
polegar. Colocar um contra o outro e, ao mesmo tempo, dobrar a mão em flexão,
contraindo fortemente toda a musculatura do antebraço.
276
Pode-se palpar, também, os tendões flexores superficiais dos dedos. Na face
anterior do lado radial pode ser palpada a artéria radial.
Observar se há ou não nódulos dolorosos e se são ou não móveis, segurando
os planos superficiais profundos. Existência ou não de depressões, vermelhidão,
desvio da mão do lado radial ou cubital, evidenciando a apófise estilóide.
Exame dinâmico
A posição neutra do punho é considerada quando o eixo da mão, que passa
pelo dedo médio, está em continuidade com o eixo do antebraço, tendo-se a
mão apoiada sobre um plano rígido.
A extensão do punho é também chamada de dorsoflexão, e a flexão é tam-
bém chamada de flexão palmar. Os desvios cubital e radial da mão podem ser
medidos com a mão apoiada sobre um plano.
Mão
A mão é um orgão que se caracteriza pela preensão, pinça e sensibilidade
tátil.
Identificação: alguns autores numeram os dedos de 1 a 5, sendo o primeiro
dedo o polegar; a partir do indicador até o mínimo os dedos tomam os números
de 2 a 5. Devemos evitar essa denominação, que pode dar margem à confusão,
chamando cada um dos dedos pelos seus nomes próprios: polegar, indicador,
médio, anular e mínimo.
Quanto às articulações digitais, alguns autores chamam a primeira articulação
de metacarpofalangiana, a articulação seguinte, entre a primeira e segunda fa-
EXAME ORTOPÉDICO
langes, de primeira articulação interfalangiana, e a articulação entre a segunda e
a terceira falanges, de segunda articulação interfalangiana distal. Preferimos, por
ser mais clara, a seguinte denominação: articulação digital proximal, que é a
articulação interfalangiana; articulação digital média, que é a articulação entre a
primeira e segunda falanges; articulação digital distal, que é a articulação entre a
segunda e a terceira falanges. O polegar tem apenas a articulação interfalangiana,
denominada digital proximal, e a articulação entre as falanges distal e proximal,
que se denomina de digital distal do polegar.
Identificação de estruturas: quando a mão é colocada em desvio cubital, pode-
se palpar, no fundo da tabaqueira anatômica, o escafóide. Nessa posição, o esca-
fóide é praticamente subcutâneo. Com a mão fechada, pode-se observar no
dorso da mão quatro nodosidades correspondentes às articulações digitais pró-
ximas. Pode-se verificar também, facilmente, articulações digitais média e digi-
tais distais. Na face palmar da mão, notamos a existência de linhas (o clássico
“M” da mão), cujo ramo superior corresponde às articulações digitais proximais,
e o ramo inferior, à articulação carpometacárpica do polegar, por meio da qual
existe o movimento de oponência.
Posição de função: quando um paciente se encontra sob anestesia profunda,
a mão assume uma certa posição que é denominada posição de função, isto é, o
polegar se coloca em oponência aos demais dedos. Os quatro últimos dedos
fletem-se ligeiramente, e o grau de flexão de um em relação ao outro é menor a
contar do indicador para o mínimo. Em outras palavras, o dedo indicador flete-se
277
menos, e gradativamente essa flexão vai aumentando até o quinto dedo, onde a
flexão é maior. Além dessa posição dos dedos existe uma ligeira flexão dorsal do
punho, com desvio cubital da mão. Essa posição pode ser obtida fazendo-se com
que a mão abrace o gargalo de uma garrafa. Esse recurso é usado em pronto-
socorro para obtenção da posição de função na mão.
Reconhecimento da integridade motora da mão: se colocarmos o indicador
em oponência, fletirmos dorsalmente o punho e imprimirmos, ao mesmo tempo,
movimento de lateralidade nos três últimos dedos, estaremos testando a um só
tempo os nervos mediano, cubital e radial. O nervo mediano é responsável pela
oponência indicador-polegar. O movimento de lateralidade entre os últimos dedos
é dado pela ação motora do nervo cubital; a manutenção do punho em flexão
dorsal é dada pela ação do nervo radial. Com essa simples manobra podemos ter
uma noção muito boa da integridade da inervação do sistema motor da mão.
Inervação sensitiva da mão: a sensibilidade do dedo mínimo e de metade do
anular depende do nervo cubital, e a sensibilidade da metade do dedo anelar e
dos dedos indicador e médio depende do nervo mediano. As secções desse ner-
vo poderão provocar distúrbios de sensibilidade nos territórios anteriormente
expostos.
Exame estático
Deve-se fazer inspeção e palpação e delas colher todos os dados possíveis, tais
como dores difusas ou localizadas, vermelhidão de pele, nódulos, flutuação, etc.
Exame dinâmico
A capacidade de flexionarmos fortemente os quatro últimos dedos (indica-
EXAME ORTOPÉDICO
dor, médio, anular e mínimo) e colocarmos suas polpas digitais em contato com
a articulação metacarpofalangiana respectiva dá-nos uma idéia conjunta da ca-
pacidade de flexão das articulações digitais distal e média. Com o auxílio de uma
régua, medimos a distância que separa a polpa digital das articulações metacar-
pofalangianas. Para avaliar o grau de flexão da articulação digital proximal, faz-
se a mesma manobra, porém colocando a polpa digital em contato com o talão
da mão, por meio de forte flexão da articulação digital proximal.
Os movimentos do polegar podem ser medidos por comparação do lado hígido
com o lado doente. Esse método, além da facilidade de aplicação, traz a qua-
lidade de estimular o paciente na observação de seus progressos.
Prova de função isolada dos flexores superficial e profundo dos dedos: se a
articulação interfalangiana distal puder ser ativamente fletida enquanto as articu-
lações digitais proximais estiverem estabilizadas, o tendão profundo está íntegro.
Se a articulação interfalangiana proximal puder ser fletida ativamente, enquanto
os dedos adjacentes estiverem seguros e estendidos, o tendão do flexor profundo
está íntegro.
Sistema extensor dos dedos: a musculatura intrínseca da mão tem, entre outras
finalidades, a de estabilização da extensão dos dedos. Sob a ação dessa musculatu-
ra intrínseca, a articulação digital proximal é fixada em extensão para que os
músculos flexores possam agir harmonicamente, e o dedo é dobrado da ponta
para a base. Esse é o mecanismo normal de flexão digital apoiado na estabilização
dada da musculatura intrínseca. Se o dedo se “enrola”, isto é, se o mecanismo
278
de flexão inicia-se na articulação digital proximal e termina na distal, há ausência
da ação estabilizadora dos músculos intrínsecos.
Membros inferiores
Coxofemoral
Caracteriza-se por ser uma articulação sobre a qual freqüentemente existem
queixas de dor e de limitação de movimentos.
Exame estático
Identificação de estruturas: na articulação coxofemoral, distinguir a espinha
ilíaca anterior superior e o grande trocanter.
Posição de função da coxofemoral. ligeira flexão de uns 10o, ligeira abdução
de 5o; isso corresponde, praticamente, a uma continuidade do eixo da coxa com
o do tronco.
Observar os contornos, se há ou não nódulos, formações salientes, depressões,
áreas de vermelhidão, dor à palpação, movimentação ativa e passiva ou edema.
Exame dinâmico
Movimentação da coxofemoral: o paciente deve ser examinado deitado com
paciente em maca, preferentemente rígida.
O exame da coxofemoral assume grande importância no exame dos cotos da
amputação: a boa ou má-adaptação de uma prótese depende da avaliação correta
das condições da coxofemoral e de sua musculatura.
Posição neutra: é conseguida com o paciente deitado, com os membros inferio-
EXAME ORTOPÉDICO
res estendidos.
Pesquisa da flexão: fletir a coxa oposta, isto é, o próprio paciente, com o
auxílio de ambas as mãos, e puxar a coxa fortemente contra o abdome. A posi-
ção neutra é aquela que se obtém com o paciente deitado sobre uma superfície
rígida. A flexão da coxofemoral é medida a partir dessa até o limite do máximo
de flexão da coxa em questão.
A flexão da coxa oposta tem por finalidade achatar a coluna lombar, fazendo
com que ela perca a lordose normal e colocando-a totalmente em contato com o
plano de apoio.
A limitação de flexão coxofemoral é expressa pela perda de graus em relação
à posição neutra.
Extensão: para se pesquisar a extensão da coxofemoral, o paciente deve dei-
tar na maca de barriga para baixo (decúbito ventral). A extensão é medida a
partir da posição neutra, fazendo-se com que o paciente movimente a articulação
coxofemoral no sentido de baixo para cima.
Abdução e adução: é pesquisada com o paciente deitado de costas. A abdução
propriamente dita é medida fazendo-se com que o paciente abra a perna – é o
ângulo formado entre a posição neutra e a posição de abertura máxima conse-
guida. Do mesmo modo, a abdução é pesquisada fazendo-se com que o paciente
passe a perna que está sendo pesquisada por cima da perna oposta. O ângulo é
medido a partir da posição neutra até a posição máxima de adução conseguida
pelo paciente.
279
Rotação: pode ser pesquisada em extensão e em flexão. Dessa pesquisa pode-
mos ter uma noção do estado de congruência entre a cabeça e o acetábulo.
Muitas vezes o movimento pode ser feito facilmente com a coxofemoral em
flexão e não pode ser feito em extensão por problemas de congruência.
Rotação em extensão: o paciente deve deitar, de barriga para cima (em decú-
bito dorsal), na ponta de uma mesa e com os joelhos pendentes e fletir a coxo-
femoral oposta para libertar o campo. A rotação é medida fazendo-se movimentos
na perna. A posição neutra é com o joelho pendente na vertical. O movimento
feito a partir da posição neutra, formando um ângulo para dentro, permite medir
a rotação externa.
Rotação em flexão: procede-se do mesmo modo, contudo, em vez do paciente
estar deitado, deverá estar sentado na ponta da mesa.
Sinal de Trendelenburg: deve ser pesquisado com o paciente em pé, de frente
para uma parede. Deve apoiar-se levemente com as mãos na parede. Em seguida,
o paciente deve apoiar-se no pé são. Nota-se que a bacia inclina-se contra a
coxofemoral de apoio. Quando o paciente apóia-se no membro inferior doente,
a bacia cai e se inclina para o lado doente. À essa queda (inclinação) para o lado
doente, chama-se de sinal de Trendelenburg positivo.
Joelho
Trata-se da articulação que possui o maior revestimento sinovial, além de ser
uma articulação muito solicitada e agredida, primeiro por estar no centro do
membro inferior e, segundo, porque tem que enfrentar dois princípios imperativos
contraditórios, ou seja, ter grande estabilidade em extensão e grande mobilidade
EXAME ORTOPÉDICO
280
Exame dinâmico
O joelho deve ser examinado com o paciente numa maca. A posição neutra
é considerada aquela em que o doente apóia a perna sobre a maca e, então, o
eixo da coxa estará em continuidade com o da perna.
O joelho tem, tipicamente, movimentos em dobradiça ou pêndulo. O seu
movimento natural é o de flexão e, em alguns casos, uns patológicos e outros
não, pode existir movimento de extensão, referido pelos ortopedistas como re-
curvatum ou hiperextensão.
Flexão: é medida a partir da posição neutra, até o limite de flexibilidade (flexão
máxima).
Limitação da extensão: no joelho que não chega à posição neutra, faltando
30o para a extensão completa, diz-se que há uma limitação da extensão de 30o,
ou seja, uma contratura de flexão de 30o, e os movimentos são contados a partir
desses 30o.
Pesquisa da hidroartrose: o paciente deve estar deitado numa maca com o
joelho em extensão. O examinador comprime com a mão esquerda o fundo do
saco supracondiliano e, em seguida, com a mão direita, faz movimentos súbitos
de compressão sobre a rótula. O examinador poderá notar um choque da rótula
contra as formações internas do joelho. Desse modo, pode concluir sobre a exis-
tência ou não de coleção líquida no joelho.
Sinal da gaveta: paciente deitado. Fletir o joelho e fixar o pé correspondente
sob o examinador, que deverá estar sentado na maca. A flexão do joelho deverá
ser de aproximadamente 90o. Com ambas as mãos o examinador imprime à
porção do joelho movimentos de vaivém. Se houver deslizamento para a frente:
EXAME ORTOPÉDICO
ruptura do ligamento cruzado anterior; se houver deslizamento para trás: ruptura
do ligamento cruzado posterior.
Sinal de Lachman: é feito de forma semelhante ao eixo no sinal da gaveta só
que com o joelho fletido a 30º. Se o deslocamento é anterior, lesão do cruzado
anterior.
Ligamento do joelho: pesquisa-se com o paciente deitado e com o joelho
passivamente esticado. O examinador força a abertura interna ou externa da
interlinha articular, fazendo de uma das mãos o ponto de apoio no côndilo e,
com a outra, procurando forçar a perna como se fosse um braço de alavanca.
Tornozelo
Identificação de estruturas: na face anterior, pode-se palpar o tendão do mús-
culo tibial anterior e do extensor comum dos dedos. Atrás do maléolo fibular,
pode-se palpar o tendão dos fibulares. Na face posterior, palpa-se o tendão de
Aquiles. Do lado tibial, isto é, do lado interno posteriormente ao maléolo tibial,
pode-se palpar os tendões dos músculos tibial posterior e flexor próprio do hálux.
Lateralmente encontra-se o maléolo fibular. Do lado interno, o maléolo tibial. O
maléolo fibular atinge em geral uma altura mais baixa que a do maléolo tibial. Na
face anterior, pode-se identificar a interlinha articular.
281
Exame estático
Observar os contornos, se há ou não abaulamento, se há ou não aparecimento
de nódulos, se há vermelhidão, mudança de temperatura, flutuação, etc.
Exame dinâmico
Posição neutra: é aquela em que o eixo do pé forma, com o da perna, um
ângulo reto.
Posição de função: a posição de função difere no homem e na mulher. No
homem, o ângulo reto parece a posição de função ideal. Na mulher, a posição de
função, pelo uso de salto alto, é em leve eqüino de 5o a 10o.
Movimentação: a flexão ou dorsoflexão é o movimento que o paciente faz
no sentido de colocar o pé em calcâneo, isto é, fecha o ângulo do pé em relação
à perna. O movimento de extensão é de abertura entre o ângulo do pé e da
perna (flexão plantar). Esse movimento coloca o pé na chamada posição de eqüino.
Pé
O pé é um órgão que se caracteriza por permitir apoio distal. Só compreende-
mos o valor desse apoio nas dificuldades de confecção de próteses para amputados
do membro inferior.
Exame estático
Identificação de estruturas: palpa-se, na parte posterior, o tendão de Aquiles
e a tuberosidade do calcâneo. Na parte anterior, o tendão do músculo extensor e
do tibial anterior. Na face externa, além do maléolo fibular, posteriormente a
esse, se pode identificar os tendões dos músculos fibulares longo e breve. Na
EXAME ORTOPÉDICO
282
comum dos artelhos. A extensão é dada pela ação conjunta do tibial anterior e
extensor comum dos dedos.
Segundo sistema (inversor e eversor). A inversão do pé é dada pela ação
conjunta dos músculos tibial posterior e tibial anterior. A eversão do pé é dada
pela ação conjunta dos músculos fibular curto e longo.
Terceiro sistema (prono-supinador): a supinação do pé é dada pela ação con-
junta dos músculos tibial anterior e flexor do hálux; e a pronação é dada pela
ação conjunta dos músculos extensor longo do hálux e fibular longo.
Movimentos do retropé (articulação subastragaliana): a posição neutra é quan-
do o eixo do retropé está em coincidência com o eixo da perna. Esse movimento
é pesquisado passivamente: quando se fecha o ângulo do lado tibial, diz-se que
o movimento é de inversão, e quando se fecha o ângulo do lado fibular, diz-se
que o movimento é de eversão.
Adução e abdução do pé: com uma das mãos o examinador fixa o retropé e,
com a outra, imprime movimento no sentido de fechar o ângulo para dentro;
esse movimento é de adução. Quando, ao contrário, se imprimem movimentos
fechando o ângulo para fora, diz-se que esse movimento é de abdução.
Movimentos globais do pé (pronação e supinação): se o paciente faz movimen-
to global do pé no sentido de voltar a planta para cima, esse movimento é chamado
de supinação; se imprime movimento no sentido de virar a planta do pé para
fora e para cima, esse movimento é de pronação.
Tanto a adução-abdução quanto a prono-supinação são medidas em porcenta-
gem em relação ao pé oposto.
Mensuração dos membros inferiores: é obtida com o auxílio de fita métrica e
EXAME ORTOPÉDICO
com o paciente em decúbito dorsal.
Comprimento real: mede-se da espinha ilíaca anterior superior à ponta do
maléolo interno. Isso dá idéia do comprimento real do membro.
Comprimento aparente: é medido do umbigo à ponta do maléolo tibial. Esse
método poderá demonstrar se há encurtamento decorrente de báscula da bacia.
Coluna vertebral
Dor: caracterizar o número de crises dolorosas, início lento ou insidioso, e
buscar os fatores desencadeantes: esforço físico, período de repouso no leito,
após cirurgia abdominal, após reumatismo, durante ou após a gestação.
Fatores que alteram a dor: verificar se o paciente acorda de manhã com dor,
se ela desaparece logo que se levanta, se por esse motivo usa colchão duro. Se
suas dores melhoram pelo simples afastamento das atividades rotineiras; se pioram
quando se põe longamente em pé, sentado ou quando se deita. Avaliar se os
esforços físicos pioram a dor.
Irradiação: verificar se as dores se irradiam para os membros inferiores, se
essa irradiação é permanente ou intermitente, se surge depois, ao mesmo tempo
ou antes das dores lombares aparecerem, e se o desconforto causado pela irradia-
ção é permanente ou intermitente.
Intercorrências: verificar se ultimamente teve variações significativas de peso,
se nas crises é obrigado a abandonar as atividades, se já sofreu alguma operação
283
na coluna, abdome, membros inferiores ou em outros lugares, e se é de seu
conhecimento a existência de alguma assimetria entre os diversos segmentos do
seu corpo, bem como se já recebeu algum tratamento ortopédico nos artelhos,
pés, joelhos e coxofemorais, isto é, na base de apoio.
Quanto ao tratamento: perguntar se analgésicos, relaxantes musculares, uso
geral de termo-terapia, uso constante de massagem, manipulações, ginásticas
especiais ou colete ortopédico produzem ou não efeitos satisfatórios ou nunca
fez uso desse tratamento. Se for do sexo feminino, perguntar se a paciente fez
ginástica de recuperação da parede abdominal após o parto.
Exame objetivo
Anotar a altura, o peso, o tipo morfológico e a qualidade dos membros infe-
riores do paciente.
Exame físico: se for do sexo masculino, o paciente deve vestir um calção, se for
do feminino, um maiô. Coloca-se o paciente em pé, de frente, e observa-se a
simetria dos ombros, da bacia e do ângulo toracobraquial. Com o paciente de
perfil, observar se a cabeça é lançada mais para a frente, para trás ou intermediária
e se a coluna cervical é em extensão, flexão ou intermediária; se a cifose dorsal é
acentuada, apagada ou intermediária, idem para a lordose lombar; se o tórax é
do tipo elevado, deprimido ou intermediário; se o abdome é do tipo protundido,
deprimido, pendular ou intermediário e, finalmente, se o tronco em conjunto é
lançado para a frente, para trás ou do tipo intermediário. Verificar a presença ou
não de hérnias ou eventrações abdominais. Verificar também se há algum déficit
funcional na base de apoio, tais como bursites, deformidades, alteração da mobi-
EXAME ORTOPÉDICO
284
um dos joelhos contra o abdome, com o fim de achatar a coluna lombar contra
a mesa. O médico pede que o paciente dobre fortemente a perna que está penden-
te, ao mesmo tempo que deve forçar a coxa contra a mesa. O médico anotará os
pontos em que surgem tensão. Se o joelho se colocar em extensão e o paciente
queixar-se de dores na face anterior da coxa, existe tensão no quadríceps. Se
tiver dores profundas na altura do quadril, existe tensão no músculo psoas.
Força muscular: a coluna é um verdadeiro mastro erguido na pelve, é mantido
pelos “tirantes musculares”. Desse modo, devemos avaliar a força muscular para
podermos ter noção da potência muscular e de seu efeito na coluna vertebral,
resultante do equilíbrio desses músculos. Devemos estudar então o músculo psoas,
os músculos abdominais, os glúteos e os paravertebrais.
Psoas: pede-se ao paciente que, deitado, levante um dos membros inferiores
esticados. Enquanto o médico, com uma das mãos, estabiliza a bacia do paciente,
com a outra mão procura oferecer resistência à coxa que está levantada. Assim,
o médico poderá avaliar a força do psoas.
Músculos abdominais: pede-se ao paciente que se deite em decúbito dorsal e
flexione ligeiramente as pernas. Essa flexão é para eliminar a ação do psoas.
Solicita-se ao paciente que coloque as mãos atrás da cabeça e faça um movimento
de sentar-se, enquanto o médico estabiliza as suas pernas. Sabemos que o peso
dos membros inferiores é maior que o peso do tronco, cabeça e membros superio-
res somados e, por isso, o paciente jamais sentar-se-ia na mesa sem o auxílio do
médico, a não ser que se sentasse num impulso. Se o paciente conseguir sentar-
se com as mãos atrás da cabeça, diz-se que os músculos abdominais funcionam
100%. Caso não consiga, pede-se a ele que cruze os braços na frente do corpo
EXAME ORTOPÉDICO
e, se conseguir sentar-se, diz-se que os músculos trabalham 80%. Se ainda não
conseguir sentar-se, manda-se que estique os braços e, se conseguir sentar-se,
diz-se que os músculos funcionam em 60% de sua capacidade total. O ato de
sentar-se, nas condições citadas, tem dois tempos principais: no primeiro tempo
o paciente tira o tronco da mesa pela contração dos abdominais e, no segundo
tempo, é completado pela ação do psoas e pelvitranstrocanterianos.
Músculos glúteos: pede-se ao paciente que fique de barriga para baixo. Com
uma das mãos o médico estabiliza a bacia, com a outra mão faz força contra a
coxa que o paciente vai erguendo sobre a mesa. Esse movimento deve ser pes-
quisado com o joelho fletido para eliminar a ação dos músculos isquiofemorais.
Músculos isquiofemorais: com o paciente de bruços e com a perna esticada,
pede-se que levante uma das coxas. Em seguida, com uma das mãos o examinador
estabiliza a bacia e com a outra faz a ação de alavanca na coxa.
Musculatura paravertebral: com o paciente em decúbito ventral e as mãos
esticadas ao longo do corpo, pede-se que levante o tronco. Com a mão contrária
àquela que estabiliza a bacia, o examinador empurra o tronco em direção à mesa,
para testar a força da musculatura em questão.
Exame radicular: com o auxílio de um cartão ou papel dobrado, o examinador
traça círculos ao longo da coxa e anota os distúrbios de sensibilidade que o pacien-
te, eventualmente, venha a ter: anestesia, hipoestesia ou hiperestesia.
285
Sinais especiais – sinal de Lasègue: paciente em decúbito dorsal. O médico
levanta um dos membros inferiores esticados. O Lasègue é positivo quando o
médico, olhando atentamente para a bacia do paciente, nota que, ao mesmo
tempo que o paciente sente dor, ele eleva a bacia do lado examinado, acima do
plano da mesa. O Lasègue só é positivo entre 30 e 70º. Não confundir dor no
ciático com distensão da musculatura isquiotibial. Para isso, o médico pede para
o paciente fletir a coxa oposta, puxando o joelho fortemente contra o abdome.
Se houver distensão dos isquiotibiais, o paciente não se queixará mais de dores.
PRINCIPAIS SÍNDROMES
Artrite: processo inflamatório ou infeccioso intra-articular. Quando ocorre a infec-
ção, é chamada de pioartrite, pois existe pus no interior da articulação.
Bursite: é um processo inflamatório ou infeccioso de uma bolsa sinovial que protege
um deslizamento de uma estrutura: tendão, fáscia, etc., contra uma saliência
óssea. As mais comuns ocorrem no ombro, cotovelo, joelho e quadril.
Cervicobraquilgia: dor na coluna vertebral que se irradia para um dos braços. É uma
das maiores causas de consulta, pode ser confundida com enfarto do miocárdio.
Condromalácia: amolecimento da cartilagem articular nos seus vários graus. É
mais conhecida na patela e se caracteriza por crepitação, desconforto e dor.
Pé cavo: exagero do arco plantar do pé. Geralmente doloroso e com calosidade
nos dedos que ficam em flexão. Ocorre muito em doenças neurológicas.
EXAME ORTOPÉDICO
Pé eqüino: pé em ponta, paciente caminha na ponta dos dedos. Ocorre muito nas
paralisias cerebral, infantil, etc.
Pé plano: é o pé com pouco ou nenhum arco longitudinal. Normalmente doloroso
e dificulta a utilização de sapatos normais. Calosidades na sola dos pés; chamado
“pé chato”.
Hiperlordose: aumento da lordose fisiológica da região lombossacra. Ocorre muito
por fraqueza dos músculos abdominais ou por alterações congênitas da coluna
lombossacra.
Osteoartrose: articulação desgastada, com diminuição da cartilagem articular. Pre-
sença de osteófitos, geodos e esclerose óssea, acompanhada de deformidades
articulares.
Osteocondrite: é um processo avascular em osso em crescimento, com placa epi-
fisária aberta. Muitas são chamadas de apofisites. As mais comuns são doença
de Legg-Perthes, Osgood-Schlatter, Sever e Hagund.
Osteomielite: infecção específica ou inespecífica de uma parte ou totalidade de
um osso. As específicas mais comuns são tuberculose, sífilis e brucelose, e as
inespecíficas são germes gram-positivos ou negativos.
286
Osteonecrose: é uma necrose avascular de uma parte do osso, normalmente nas
epífises. Ocorre na anemia falciforme e com uso de imunosupressores (corticóides).
Uso prolongado de corticoesteróides, doença dos “caixões” e alcoolismo crônico.
Osteoporose: fragilidade óssea por diminuição da matriz óssea. Facilita o surgi-
mentos de fraturas patológicas na coluna, quadril e punho.
Lombalgia: depois da cefaléia, é a maior causa de consulta médica; pode estar
associada com dor irradiada para os membros inferiores e é chamada de lom-
bociatalgia. Quando a dor é só no trajeto do ciático e não temos dor lombar,
usar-se o termo ciática.
Síndrome do túnel do carpo: aprisionamento do nervo mediano no seu próprio
túnel devido a processos traumáticos ou processos inflamatórios. A dor é forte e
se irradia para a palma da mão e dedos.
Sinovite: processo inflamatório da sinovial articular. Pode estar associado a processo
infeccioso nessa região e é chamado de pioartrite – infecção específica ou ines-
pecífica de uma articulação, com pus ou cáseo no seu interior.
Tenossinovite: processo inflamatório ou infeccioso da bainha tendinosa e da sinovial
adjacente. A mais comum é a doença de Quervain – tenosinovite do abdutor
longo do polegar e do extensor curto do polegar.
DICAS
EXAME ORTOPÉDICO
Q No exame ortopédico é importante a comparação com o lado oposto do
próprio paciente.
Q O ombro e o quadril são exemplos de articulação em junta universal.
Q Os desvios cubital e radial da mão podem ser medidos com a mão apoiada
sobre um plano.
Canale ST. Campbell’s operative orthopaedics. St. Louis: CV Mosby Co.; 1998.
Palmer AK, Werner FW, Murphy D, Glisson R. Funcional wrist motion: a biomechanical
study. J Hand Surg [Am] 1985; 10:39-46.
Rossi JA, Mistrorigo G. Ortopedia e traumatologia: conceitos básicos. São Paulo: EPU; 1984.
Sites recomendados
American Academy of Orthopaedics Surgeons:
http://www.aaos.org
287
Internacional Society of Arthoscopy, Knee Surgery and Orthopaedic Sports Medicine:
http://www.isakos.com
288
17
EXAME DO SISTEMA
VASCULAR PERIFÉRICO
ORLANDO C.B. WENDER
SHARBEL MAHFUZ BOUSTANY
SINAIS E SINTOMAS
Sinais e sintomas nas patologias arteriais
Sintomas:
Q Claudicação intermitente: sintoma patognomônico de doença arterial obs-
trutiva. É a dor que se desenvolve com o exercício e que alivia com o
repouso. Localiza-se usualmente nas panturrilhas, mas também pode ser
nas nádegas, coxas e pés.
Q Dor no repouso: é uma dor contínua, severa, que responde pouco aos anal-
gésicos.
Q Impotência erétil: associada aos quadros de oclusão aortoilíaca.
Q Esfriamento de extremidades: associado com a diminuição da perfusão do
membro.
Q Alteração da cor da pele: os pacientes com arteriopatia oclusiva referem fre-
qüentemente alterações da coloração da pele.
Q Sintomas neurológicos: parestesia, hipoestesia, anestesia, paresia e paralisia
estão associadas com as síndromes arteriais oclusivas agudas e são causadas
pela isquemia dos nervos periféricos.
Sinais:
Q Alteração da cor da pele: A ausência ou diminuição da perfusão periférica
torna a pele pálida. A isquemia dos tecidos induz a liberação de substâncias
vasodilatadoras que determinam aumento da perfusão através de colaterais
da pele, causando hiperemia local. Quando há retardo importante do fluxo
sangüíneo, há uma maior troca de O2 e CO2 entre os tecidos e as hemácias.
Assim, ocorre uma maior concentração de hemoglobina reduzida, transmi-
tindo à pele uma coloração azul-arroxeada chamada cianose.
Q Alteração de temperatura: deve-se usar o membro contralateral como parâ-
metro.
Q Massa pulsátil: pode corresponder à dilatação aneurismática de um segmento
arterial.
Q Diminução ou ausência de pulsos nas extremidades.
Q Alterações tróficas: na obstrução arterial crônica, pode haver atrofia muscular
do membro. A pele pode ser atrófica, seca ou descamativa. Há ausência ou
rarefação de pêlos no terço distal da perna. As unhas podem estar espessa-
das e quebradiças. Nos casos de isquemia avançada, pode haver a presen-
ça de úlceras isquêmicas ou gangrena.
290
Q Presença de fenômeno de Raynnaud (mudança progressiva de cor nos dedos
dos pés e das mãos por espasmo da microcirculação: palidez seguida de
cianose e após hiperemia).
Q Presença de atrofia muscular (resultado de isquemia crônica).
Q Paralisia muscular (isquemia avançada).
Ausculta
Q Deve ser realizada rotineiramente, em especial na aorta, ilíacas, femorais,
carótidas e subclávias.
Q A presença de sopro sistólico sugere estenose do vaso.
Q Nas fístulas arteriovenosas, ocorre sopro contínuo com reforço sistólico.
Palpação
Membros
Q Temperatura, comparando com o membro contralateral.
Q Pulsos femorais, poplíteos, tibiais posteriores, pediosos, axilares, braquiais,
radiais e ulnares, observando sua amplitude. A descrição clássica dos pulsos
usa escala de zero a quatro cruzes. Assim:
0+: ausência de pulso
1+: pulso quase imperceptível
291
Q Os idosos com cifoescoliose lombar podem apresentar uma aorta tortuosa
e desviada anteriormente, confundindo o examinador.
Q Dor à palpação de massa pulsátil sugere aneurisma de aorta roto, em ruptura
iminente, inflamatório ou infeccioso.
Q Os aneurismas de ilíaca são de difícil palpação.
Região cervical
Q Palpação de pulsos carotídeos e subclávios.
Q Presença de massa pulsátil pode ser atribuída a aneurisma ou tumor de
corpo carotídeo, mas, em geral, é determinada por artéria alongada e tortuo-
sa em idosos e hipertensos de longa data.
Testes específicos
Q Teste de Buerger: palidez à elevação a 45o e hiperemia ao abaixar o membro
indicam isquemia crônica.
Q Tempo de enchimento venoso: completa o teste anterior. Com o abaixamen-
to do membro, observa-se o tempo de enchimento que não deve ser supe-
rior a 10 segundos. Detecta presença de isquemia. Perde seu valor quando
há insuficiência venosa.
Q Tempo de enchimento capilar digital (menor do que três segundos indica
perfusão inadequada).
EXAME DO SISTEMA VASCULAR PERIFÉRICO
292
É mais comum em homens (2:1) e está relacionado com tabagismo, diabete,
HAS, hipercolesterolemia e outros fatores de risco para aterosclerose.
As alterações observadas nas extremidades podem ser: diminuição ou ausência
dos pulsos após o exercício ou no repouso, endurecimento das artérias à palpação,
palidez, diminuição de temperatura, sopro, hiperemia, atrofia da pele (brilhosa e
descamativa) e subcutâneo, perda de pêlos, espessamento das unhas e atrofia
muscular com perda de força.
Claudicação intermitente
É um sintoma patognomônico de oclusão arterial crônica. É mais comum nos
membros inferiores. Caracteriza-se por dor em queimação desencadeada pelo
exercício, geralmente na panturrilha, que alivia com o repouso. Pode ser descrita,
também, como cansaço, fadiga, fraqueza, cãibra, sensação de peso ou pressão.
O paciente apresenta diminuição ou ausência de pulsos proximais no segmento
sintomático. Os pulsos podem ser normais no repouso e diminuírem ou desapare-
cerem após o exercício. O comprometimento tende a ser bilateral, embora os
sintomas se manifestem com mais intensidade, usualmente, no membro com
menor rede de circulação colateral.
Um quadro clínico característico é determinado pela oclusão aortoilíaca e
caracteriza-se por claudicação de glúteo e coxas, impotência sexual e ausência
de pulsos femorais (Síndrome de Leriche). Na oclusão femoropoplítea, o pulso
Lesões tróficas
As lesões características são as úlceras e a gangrena.
As úlceras são dolorosas, localizadas em pontos de pressão ou trauma (pré-
tibial, face lateral do pé, calcâneo etc.), apresentam margem bem-delimitada
(em saca-bocado), com fundo pálido e sem tecido de granulação. Podem estar
associadas a necroses da pele (gangrena).
293
A gangrena ocorre geralmente nos pés (polpas dos pododáctilos ou áreas de
pressão). Pode ser seca, úmida (com infecção local) ou gasosa (quadro de evolução
rápida e catastrófica que pode levar ao óbito rapidamente).
Diagnóstico diferencial:
Q Úlcera venosa (ver abaixo).
Q Úlcera hipertensiva: dolorosa, mas com pulsos preservados, com tendência
à bilateralidade, associada com HAS.
Q Úlcera hematológica.
Q Úlcera neurotrófica.
294
O risco de ruptura está intimamente relacionado com o diâmetro do aneurisma.
Quando o diâmetro ultrapassa os 5 cm, o risco de ruptura torna-se maior que o
o risco da cirurgia (em pacientes com baixo risco cirúrgico).
Isquemia mesentérica
Isquemia mesentérica crônica (angina mesentérica)
Está relacionada com aterosclerose ostial dos vasos viscerais (tronco celíaco,
mesentéricas superior e inferior).
A principal característica é a dor abdominal difusa associada a refeições, que
aumenta de intensidade e regride em um período de 1 a 3 horas. O paciente
refere perda de peso e medo de ingerir alimentos devido à dor.
No exame físico, observa-se emagrecimento importante. O exame do abdome
permanece inalterado mesmo nos períodos de dor. A presença de sopro abdominal
é comum. Geralmente o paciente apresenta sintomas de aterosclerose periférica
em outros sítios (impotência, claudicação intermitente).
295
Colite isquêmica (isquemia colônica)
Quadro de isquemia que afeta exclusivamente o colo. É mais freqüente em
idosos. Pode ser uma complicação da cirurgia de correção de aneurisma de aorta.
O colo descendente, a flexura esplênica e a junção retossigmóide são as regiões
mais afetadas. Cerca de 20% dos pacientes com colite isquêmica apresentam
lesões potencialmente obstrutivas distais ao segmento isquêmico.
A principal característica é a dor abdominal no quadrante inferior esquerdo.
Pode ocorrer eliminação de sangue pelo reto dentro de 24 horas.
Síndrome compartimental
A síndrome compartimental ou de Volkmann é conseqüência de um aumento
na pressão dentro de um compartimento muscular que, inicialmente, ultrapassa
a pressão de drenagem venosa, colabando as veias. Assim, o compartimento
muscular passa a reter líquido e aumenta gradativamente a sua pressão até igualar
a pressão arterial, levando ao sofrimento isquêmico da musculatura. Pode ser
causada por trauma de tecidos moles, lesão de reperfusão pós-isquêmica e trom-
bose venosa.
Caracteriza-se por dor em repouso, à movimentação passiva do pé ou da
mão ou à palpação do compartimento. Ocorre diminuição progressiva da sensibi-
lidade e da motricidade distal, bem como do pulso. Na palpação do compartimen-
to, observa-se importante aumento da tensão.
EXAME DO SISTEMA VASCULAR PERIFÉRICO
296
do pé) e a dor à compressão dos músculos da panturrilha são pouco sensíveis e
específicos.
Na trombose iliacofemoral extensa, pode ocorrer edema importante com se-
qüestro de líquido, hipovolemia e palidez secundária do membro (phlegmasia
alba dolens). O quadro pode progredir para trombose distal do leito venoso,
provocando aumento do edema, cianose fixa, síndrome compartimental e sofri-
mento neurológico e arterial severo (phlegmasia cerúlea dolens).
As principais complicações da TVP são a embolia pulmonar e a síndrome pós-
flebítica.
Diagnóstico diferencial:
Q Tromboflebite superficial
Q Linfedema
Q Oclusão arterial aguda
Q Síndrome da pedrada (ruptura de veias musculares na panturrilha)
Q Cisto de Baker
Varizes
São veias superficiais dilatadas e tortuosas. Na sua grande maioria são de etiologia
primária (essencial), isto é, não são secundárias a outras patologias do sistema
venoso. As varizes secundárias têm como principal fator etiológico a TVP.
Síndrome pós-flebítica
É a principal complicação tardia da TVP. Caracteriza-se pela incompetência
valvular profunda e das veias perfurantes com refluxo do sistema profundo para
o superficial, com hipertensão venosa superficial.
A primeira manifestação é o edema na perna e no tornozelo. Com o decorrer
do tempo, aparecem outras alterações. A dermatite de estase é uma reação
eczematosa na região do maléolo medial. A dermatite ocre é o resultado do
tingimento da pele pela hemossiderina contida nos macrófagos após fagocita-
rem o sangue extravasado na região do tornozelo. A dermatolipoesclerose é o
adelgaçamento da pele e a substituição do subcutâneo por tecido fibroso devido
às alterações inflamatórias ocasionadas pela estase. As úlceras venosas são indo-
lores, planas, com bordas irregulares e fundo com tecido de granulação recoberto
por fibrina e se localizam na região supramaleolar interna.
DICAS
Q Massa pulsatil abdominal: pensar em aneurisma de aorta abdominal.
Q Sopro carotídeo: pensar em estenose de artéria carotídea.
297
Q Fibrilação atrial + dor aguda em membro inferior: pensar em embolia arte-
rial periférica.
Q Dor aguda na panturrilha + edema: pensar em trombose venosa profunda.
Maffei FHA, Lastória S, Yoshida WB, Rollo HÁ. Doenças vasculares periféricas. 3. ed. Rio de
Janeiro: MEDSI; 2002.
Sites recomendados
VascularWeb:
http://www.vascularweb.org
298
18
EXAME NEUROLÓGICO
LAURA BANNACH JARDIM
ESTADO MENTAL
O exame do estado mental começa com a observação de certas características
gerais, como o cuidado pessoal, o afeto (os sentimentos despertados no examina-
dor), a idade, a lateralidade, o nível de escolaridade e a ocupação.
As primeiras funções mentais a serem examinadas são a vigília (o nível de
EXAME NEUROLÓGICO
consciência) e a atenção, pois ambas são pré-requisitos para que as outras funções
mentais possam se expressar normalmente. Ou seja: dificuldades na realização
de cálculos, na nomeação de objetos ou na escrita não podem ser atribuídas a
disfunções corticais específicas se o paciente estiver desatento ou se o seu nível
de consciência estiver reduzido.
Vigília e atenção
Objetivo de avaliação
O nível de consciência está normalmente muito prejudicado quando há lesão
da formação reticular ascendente ou lesões bilaterais do tálamo ou dos hemisférios
cerebrais. As encefalopatias difusas metabólicas ou tóxicas também reduzem a
consciência por afetarem a função das estruturas mencionadas. Já as alterações
generalizadas da atenção são consideradas muitas vezes como anormalidades
inespecíficas, sugestivas de lesões encefálicas difusas, como os quadros de demên-
cia ou de encefalite, ou mesmo em distúrbios do humor (depressão).
300
Registro: descritivo, claro e direto. Exemplos:
Q “paciente comatoso, irresponsivo a qualquer estímulo”ou “comatoso, re-
tira o membro ao estímulo doloroso à esquerda (E) e à (D)”
Q “letárgico, acorda brevemente e vocaliza ao estímulo doloroso”, ou
Q “sonolento, permanece acordado brevemente enquanto houver estímulo
verbal”, ou
Q “alerta” – o que indica que a vigília e a atenção são normais.
Atenção
Observe se o paciente é capaz de permanecer focado em um assunto, se ele
resiste às distrações e mantém uma conversa coerente. Registre de forma descri-
tiva: “alerta mas desatento”, ou “coerente, mas distraindo-se facilmente”, ou
“incoerente, desatento”.
Teste: digit span:
Q recite uma seqüência de cinco números aleatórios, em baixa velocidade
(1/segundo);
Q faça o paciente repetir na mesma ordem.
EXAME NEUROLÓGICO
se o paciente consegue manter-se olhando para os olhos do examinador
enquanto tem seu campo visual examinado por ele. Se a distração acontecer,
faça o teste:
– solicite que o paciente protua a língua e a mantenha assim por no mínimo
20 segundos.
Atenção espacial: a atenção tem um componente espacial importante, que será
afetado de forma diferente se uma lesão hemisférica for à direita ou à esquerda.
Lesões do hemisfério direito atingirão a atenção espacial.
Teste de “cancelamento”:
Q apresente uma página branca com vários pequenas linhas distribuídas alea-
toriamente (como essa que apresentamos na Figura 18.1);
Q solicite ao paciente que trace, ele mesmo, uma única linha através de todos
os traços daquela página, interseccionando-os.
Extinção sensorial: um teste realizado no momento do exame da sensibilidade,
logo adiante (ver).
Interpretação: pessoas normais cruzarão todas as linhas-alvo da página. Já pacientes
com heminegligência deixarão de marcar algumas linhas de um dos lados da
página. Do mesmo modo, pessoas normais jamais extingüirão ou negligenciarão
estímulos táteis ou visuais de um lado, sistematicamente. A extinção localiza
uma lesão no hemisfério contralateral à mesma.
301
Figura 18.1 – Atenção visual.
Memória
O exame da memória visa identificar se há evidência de déficit com significa-
do clínico específico. Para isso, é preciso que tenhamos demonstrado que o pacien-
te está alerta, tem atenção normal e que não apresenta alterações na linguagem.
Somente nessas circunstâncias, os déficits de memória podem ser atribuídos a
uma disfunção dos lobos temporais mediais ou do diencéfalo medial.
A memória pode estar prejudicada nas mais diversas escalas de tempo. Se o
prejuízo é no registro e na recordação imediata (sem intervalo de tempo), trata-
se provavelmente de um déficit de atenção ou de uma afasia de repetição. Se a
EXAME NEUROLÓGICO
Testes
Testes de orientação
Q no tempo: peça cinco parâmetros de tempo: dia da semana, dia do mês,
mês, ano e estação do ano;
Q no espaço: peça cinco parâmetros de espaço: tipo de edifício no qual o
examinador e o doente se encontram (hotel, aeroporto ou hospital); andar,
quarto ou enfermaria; cidade, estado, país;
Q na pessoa: peça ao menos cinco parâmetros: nome, endereço, data de
nascimento, idade, ocupação, estado civil, etc.
302
Interpretação: déficits de orientação no tempo e na pessoa sugerem possíveis
déficits de memória recente. Desvalorizam-se achados menores, se o indivíduo
está internado há algum tempo, pois isso se explica pela perda dos parâmetros
rotineiros de orientação. Também um baixo nível de escolaridade prejudica o
entendimento das questões (especialmente as perguntas sobre estado e país).
Os déficits de orientação quanto à pessoa são mais graves – provavelmente apon-
tando para a existência de uma alteração de memória de maior duração e intensi-
dade (um quadro de demência estabelecido) ou de uma encefalopatia aguda,
difusa (quadro também chamado de delirium).
Testes de memória
Q apresente três palavras aleatórias ao indivíduo (sem que evoquem uma
única associação de idéias) e avise que você vai solicitá-las mais tarde;
Q peça que ele repita de imediato as três palavras – avaliando sua “memória
imediata”;
Q distraia o indivíduo por, no mínimo, 10 minutos. Alternativamente, pode-
se deixar esse passo para o final do EN. Peça então que o indivíduo repita
as três palavras. A recordação obtida entre 10 minutos e 3 horas desde o
aprendizado dá uma avaliação de sua “memória recente”;
Q memória remota: pergunte sobre informações sobre as quais você tenha
acesso por outros meios (dados de familiares, de prontuário médico etc.).
As experiências coletivas atestam uma memória remota somente se as res-
postas forem corretas (eleições, jogos ou datas importantes); de outra forma,
não há como garantirmos que o paciente devesse se recordar mesmo delas.
EXAME NEUROLÓGICO
Registro:
Memória imediata: ___/ 3
Memória recente: ___/ 3
Memória remota: descrever...
Interpretação: déficits de memória imediata indicam alterações de atenção ou,
talvez, uma afasia de repetição (uma desconexão entre os centros de Broca e de
Wernicke). No teste de memória recente, pessoas normais costumam acertar as
três palavras oferecidas. Se houver 2/3 recordações, o melhor é repetir o teste.
FUNÇÕES COGNITIVAS
Linguagem
A linguagem é a habilidade de expressar pensamentos por meio das palavras.
Embora seja um produto muito diferenciado de nossa motricidade, ela é muito
mais do que uma capacidade motora: a linguagem é o mecanismo pelo qual
fazemos aparecer nossa atividade simbólica interior. Como pensamentos e idéias
são expressados por símbolos auditivos, de símbolos gráficos e de símbolos mo-
tores (gestos e pantomimas), é melhor conceituar a linguagem como o meio
geral (verbal e motor) que um indivíduo tem para se expressar.
Entretanto, no EN-padrão, a investigação da linguagem concentra-se em dois
níveis:
303
Q na articulação das palavras, feita por meio do aparelho fonador;
Q na função lingüística propriamente dita.
Investigamos esses dois níveis para reconhecer se há lesões nos centros corticais
e subcorticais de percepção e de expressão da linguagem em doenças do hemisfé-
rio dominante ou se existem anomalias do movimento do aparelho articulador,
sejam elas decorrentes de um enfraquecimento do movimento voluntário (neu-
rônios motores inferiores ou superiores, miopatias, neuropatias), de sua coordena-
ção (cerebelo e suas vias), seja de sua aquisição no desenvolvimento do sujeito
(outras disfunções cerebrais).
A função lingüística
As afasias são os distúrbios adquiridos da linguagem (falada e escrita) causados
por lesões cerebrais.
Como se determina que um paciente está afásico? Certificando-se de que:
Q A linguagem pré-mórbida era normal.
Q A disfunção da linguagem não é simplesmente articulatória.
Q Não se está perante um paciente com distúrbios cognitivos gerais – sua
atenção, vigília e memória devem estar normais.
Satisfeitos esses três pré-requisitos, seis parâmetros de averiguação da lingua-
gem são então utilizados:
Q fala espontânea: observar a fluência, a velocidade e a abundância; observar
se há erros parafásicos, neologismos.
Q nomeação de objetos: pedir que o paciente dê nomes simples de certos
objetos, assim como nomes mais complicados.
Q compreensão auditiva: observar se o paciente compreende comandos sim-
ples, como “levante sua mão”, “olhe para o meu dedo” etc.
Q repetição: o paciente pode repetir palavras e frases que o examinador oferece?
Q leitura: solicitar que o paciente leia palavras e um parágrafo curto e testar
sua compreensão.
Q escrita: pedir que o paciente escreva seu nome e uma frase qualquer.
304
Diversos tipos de afasias podem ser provocados por lesões hemisféricas, princi-
palmente se atingirem o hemisfério dominante – no lobo frontal, provocando a
afasia motora ou de Broca; nos lobos temporal e parietal, ocasionando a afasia
sensorial ou de Wernicke; na sustância branca subcortical, ocasionando uma afasia
de condução; no tálamo e no caudato. As afasias mais comuns ou clássicas são
listadas a seguir.
Afasia motora ou de Broca
Causada por lesões que afetem a área de Broca (Figura 18.2).
Parâmetros e achados:
Q Fala espontânea: não-fluente, realizada com esforço, telegráfica.
Q Nomeação: prejudicada.
Q Compreensão auditiva: intacta.
Q Repetição: prejudicada.
Q Compreensão escrita: freqüentemente prejudicada.
Q Sinais associados: hemiparesia direita, hemi-hipoestesia direita, apraxia dos
membros esquerdos, depressão.
Q Localização: lobo frontal dominante (esquerdo).
Movimento dos
olhos e da cabeça
Área motora primária
EXAME NEUROLÓGICO
Broca Área sensitiva primária
Wernicke
Córtex visual
Audição
Córtex visual
305
Afasia de Wernicke
Causada por lesões que afetem a área de Wernicke (ver Figura 18.2).
Parâmetros e achados:
Q Fala espontânea: fluente, às vezes excessiva (logorréia), sem hesitação. O
conteúdo, porém, é feito de frases sem sentido. Há poucos substantivos e
verbos que façam sentido.
Q Nomeação: prejudicada, com parafasias bizarras.
Q Compreensão auditiva: muito prejudicada.
Q Repetição: prejudicada.
Q Compreensão da leitura: prejudicada, mas nem sempre no mesmo grau
que a compreensão auditiva.
Q Escrita: bem-formada, muitas vezes fluente, mas cheia de parafasias e de
frases sem sentido.
Q Sinais associados: freqüentemente ausentes, exceto pelos defeitos de campo
visual (quadrante superior direito).
Q Localização: temporal superior/parietal inferior esquerdo (ou o dominante).
Afasia de condução
Parâmetros e achados:
Q Fala espontânea: fluente mas hesitante, erros parafásicos, notados pelo
paciente, que os tenta corrigir.
Q Nomeação: variável.
Q Compreensão auditiva: intacta.
EXAME NEUROLÓGICO
306
Notas sobre a agrafia
A agrafia geralmente acompanha todas as síndromes afásicas e aléxicas. Ela é
tão constante nessas síndromes, que a sua análise pode ser vista como um método
de triagem para afasias leves e de apresentação muito sutil. Por outro lado, um
paciente “mudo” que é capaz de escrever não deve sofrer de uma afasia e sim
de uma grave disartria.
A escrita é um código de comunicação secundário, evolutivamente, em relação
à linguagem articulada. A escrita é muito recente e, embora o seu aparecimento
seja claramente um fenômeno histórico, seus circuitos cerebrais já têm topografias
bem-estabelecidas (ou seja, parece que a cultura já mudou a biologia).
A modalidade de escrita mais abrangente, na humanidade, é a escrita fonética,
onde um signo não tem nenhum conteúdo semântico. Um signo, nesse caso, só
representa um som. A escrita fonética evoluiu dos sistemas silábicos (pouco eco-
nômicos, pois deveria haver um signo para cada sílaba) e dos sistemas conso-
nânticos (nos quais o signo só representa a consoante), para o nosso código, que
usa tanto vogais como consoantes (o alfabeto grego do século IX a.C. é o primeiro
exemplo histórico).
A escrita é uma atividade analítica que supõe não somente a notação, por
signos gráficos, dos vocábulos da língua, mas ainda a decomposição desses vocá-
bulos em unidades elementares, em sons, que são transcritos cada um por uma
única letra.
Esses aspectos gerais sobre a escrita e o alfabeto foram mencionados para
que se possa entender por que, para a compreensão da linguagem escrita, o
EXAME NEUROLÓGICO
cérebro precisa evocar os fonemas correspondentes, ativando a região de Broca
(Figura 18.3).
4
Broca
Vias:
Q De 1-2: simultaneognosia da
palavra escrita (faz o formato
.. léxico)
3 ..... 1 Q De 2-3: dá o significado do escrito
..
2 ... Q De 3-4: transforma o grafema em
Wernicke ... fonema
Q De 4-3: do fonema, retorna ao
C. calcarino significado
Figura 18.3 – Circuito cerebral esquemático de leitura e de escrita. (1) Córtex visual primário
(2) Córtex occipitomesial. (3) Temporooccipital. (4) Frontal.
307
Se perdemos:
Q O córtex occipitomesial (2, na Figura 18.3), não reconhecemos visualmente
a palavra; entretanto, a executamos (escrevemos), mantemos a simbologia
acústica das letras (p. ex., soletrar) e reconhecemos eventualmente letras
isoladas na leitura.
Q O córtex temporooccipital (3, na Figura 18.3), podemos perder o significado
geral de qualquer palavra escrita.
Q O córtex frontal (4, na Figura 18.3), não transformamos a imagem da palavra
(grafema) em fonema, que, por sua vez, parece ser a chave para compreen-
dermos a informação seqüencial dada pela linguagem escrita.
Apraxia
As apraxias são os distúrbios da realização dos movimentos propositados e
deliberados, especialmente os movimentos que fazem parte de uma habilidade
aprendida. Nas apraxias não há paresia (fraqueza), ataxia, alteração do tônus,
hipercinesia ou alteração sensorial subjacente: o que acontece é que o “plano de
execução de um ato complexo está perturbado, e por isso os vários elementos
constitutivos do mesmo se desorganizam, ficando sua disposição temporoespacial
alterada” (Lefèvre) ou mesmo perdida.
Aparentemente, as apraxias são causadas por um déficit no planejamento
dos atos ou na sua conceitualização. Pode-se testar a apraxia de um indivíduo
pedindo para ele imitar a realização de uma tarefa complexa, usando comandos
assim: “Como você penteia o seu cabelo?”, “Imite o gesto de ligar um automóvel
EXAME NEUROLÓGICO
EQUILÍBRIO E MARCHA
As anormalidades da marcha podem ser causadas por déficits nos mais diferentes
sistemas de controle e de execução motora no SN: no cerebelo, no sistema vesti-
bular, no sistema piramidal, nos gânglios da base (extrapiramidais), nos lobos
frontais e nos sistemas proprioceptivos. Além disso, doenças dos nervos periféricos
e dos músculos também vão afetar a marcha de um modo muito particular. É por
308
isso que o exame da marcha é tido como um excelente “teste de triagem” para
as doenças neurológicas em geral – pois é sensível para um grande número delas.
Equilíbrio
Teste: solicite que o paciente fique de pé, imóvel, com os pés juntos (se possível),
primeiro com os olhos abertos e depois com os olhos fechados. Mantenha ambas
as situações por no mínimo 20 segundos cada.
O teste inclui:
Q observação apenas: se o paciente se mantiver bem-equilibrado apenas com
os olhos abertos e começar a oscilar (perigosamente) com os olhos fecha-
dos, diz-se que há sinal de Romberg;
Q uma prova de rechaço: na qual o examinador pode empurrar o individuo,
enquanto esse naturalmente oferece resistência para não cair. A interrupção
da força aplicada testa se o paciente é capaz de interromper a queda inercial
que aconteceria (na direção do observador, que com isso protege da queda
o seu paciente), por meio da contração imediata da musculatura antagônica.
Interpretação:
Q oscilações presentes apenas com os olhos fechados – sinal de Romberg –
indicam que a visão está corrigindo uma anomalia da informação sensorial
de origem vestibular (queda unilateral) ou proprioceptiva (queda para todas
as direções);
Q oscilações presentes mesmo com os olhos abertos sugerem ou uma lesão
EXAME NEUROLÓGICO
bastante aguda ou grave das estruturas acima mencionadas; ou mais prova-
velmente uma lesão cerebelar, que pode ser hemisférica (queda unilateral)
ou no vérmis (queda para todas as direções);
Q oscilações unilaterais poderão ser causadas por uma lesão vestibular ou de
hemisfério cerebelar. A distinção entre ambas as hipóteses pode ser feita
mudando-se a posição da cabeça do paciente no teste de equilíbrio de
olhos fechados. Na doença do hemisfério cerebelar, a mudança de posição
da cabeça não modifica o padrão de queda. Na doença vestibular, o lado
da queda deverá mudar;
Q a prova do rechaço, anteriormente citada acima, testa uma função cerebelar
chamada diadococinesia;
Q Atenção: lembre-se de que lesões em outras partes do SN, particularmente
as com função motora (déficits de força, lesões extrapiramidais etc.), po-
dem provocar desequilíbrio. Elas “prejudicam” a avaliação do equilíbrio,
em outras palavras, e devem ser interpretadas no contexto geral do EN.
Marcha
Testes:
Q marcha espontânea: observar o “ir e vir” de diversos passos do indivíduo,
se possível. Valorizar como ele gira 180º, como se dão seus movimentos
associados e se um dos membros inferiores se mantém por menos tempo
no solo do que o outro.
309
Q provas deficitárias: buscam revelar possíveis fraquezas para as quais a prova
da marcha foi pouco sensível. Entre elas, destacamos as mais comuns:
– caminhar na ponta dos pés;
– caminhar sobre os calcanhares e caminhar pé ante pé (em tandem), em
linha reta, desfazendo-se o polígono de sustentação.
Q atenção: se você suspeita de que haja dificuldade no caminhar do paciente,
mantenha-se perto dele, protegendo-o de quedas.
Interpretação: é difícil descrever as diferentes formas de caminhar. Algumas delas
seriam:
Q a espástica:
– unilateral: hemiparética, ou de Wernicke-Mann. Há uma postura persis-
tente em extensão do membro inferior e em flexão do membro superior;
– bilateral: em tesoura, paraparética (ambos os membros inferiores em
extensão e adução);
Q atáxica (com desequilíbrio):
– unilateral (quando se pensa em um distúrbio de hemisfério cerebelar ou
de um dos vestíbulos);
– bilateral: ebriosa, com quedas para ambos os lados e aumento do polí-
gono de sustentação;
Q parkinsoniana: em pequenos passos e sem movimentos associados em geral,
com um girar “robótico”;
Q neuropática, em pied tomband: incapacidade de realizar a extensão plantar,
com a conseqüente correção dada por uma excessiva flexão da perna sobre
EXAME NEUROLÓGICO
a coxa;
Q miopática ou anserina: incapacidade de fixar a cintura pélvica, com insta-
bilidade da mesma a cada passo;
Q apráxica, ou frontal: incapacidade de iniciar e de prosseguir a marcha na
ausência de qualquer déficit de força (observada nas provas de força).
COORDENAÇÃO
O exame da coordenação pretende revelar se essa função eminentemente cere-
belar está intacta. Os testes clínicos incluem as provas de dedo-nariz, de diado-
cocinesia e de rechaço, entre outras. Entretanto, a observação da coordenação
só é possível se a força e as sensações proprioceptiva e vestibular estiverem
intactas – assim, o observador deverá interpretar a razão da dificuldade na realiza-
ção desses testes no contexto de todo o EN. Alterações na coordenação dos
movimentos são chamadas de ataxia e podem ser vistas predominantemente
nos movimentos do eixo corporal (ataxia axial) ou em um ou mais dos membros
(ataxia apendicular).
A coordenação muscular é observável analiticamente por meio dos fenômenos
a seguir.
310
se aproxima de um alvo. Se há distúrbio nessa função, a extremidade do membro
pára antes de chegar no alvo (hipometria), e o objetivo é atingido após uma série
de abalos; ou o objetivo é “ultrapassado” (hipermetria) e o dedo fica “vagando”
ao redor. Esse “ir e vir”, lado a lado, da extremidade, pode assumir uma qualida-
de rítmica e então é chamado de tremor de intenção. (O tremor de intenção
eventualmente atinge mais a raiz do membro superior, dando como efeito um
tremor perpendicular à linha do movimento, que aumenta de amplitude na me-
dida em que o alvo se aproxima.)
Já a decomposição dos movimentos em seus fragmentos básicos é outro efeito
da incoordenação e é mais visível em manobras compostas que envolvam uma
mudança de postura de duas ou mais articulações. O movimento torna-se
desajeitado, ou “robótico”.
Testes:
Q dedo-nariz: deve-se pedir que o paciente estenda um dos braços para fora
e, com a ponta do dedo, atinja a ponta do seu nariz, algumas vezes, primeiro
de olhos abertos e depois de olhos fechados;
Q dedo-nariz-dedo: inclui-se na trajetória do teste anterior o dedo do próprio
examinador, que fica como um “segundo alvo”, apenas visual, além do
alvo proprioceptivo, que é o nariz. Atenção: essa prova não é exeqüível se
o paciente tiver algum déficit visual (perguntar para o paciente, pois alguns
poderão ter diplopia);
Q calcanhar-joelho: em decúbito dorsal, pede-se que o indivíduo acerte o
seu joelho com o calcanhar contralateral. Para tornar a prova mais precisa,
EXAME NEUROLÓGICO
pode-se definir o alvo com um dos dedos do examinador posto sobre o
joelho do paciente;
Q observar se na fala do paciente não há evidências de incoordenação. Altera-
ções cerebelares produzem um alentecimento e imprecisão da fala que
vamos chamar de disártricos; ou uma fala escandida, onde as palavras são
decompostas em suas sílabas, com perda do ritmo e da entonação próprios
da prosódia;
Q movimentos oculares anormais podem ocorrer, ficando atáxicos: o olhar
conjugado pode não mais conseguir acompanhar o movimento de um ob-
jeto (distúrbio no pursuit, ou acompanhamento); ou ainda pode não mais
conseguir fixar imediatamente o mesmo, oscilando ao seu redor antes da
fixação definitiva (ver essas alterações no exame do movimento ocular).
311
Testes:
Q diadococinesia: peça para o paciente alternar rapidamente as posições de
pronação e de supinação das mãos.
Q rebotes, entre outros:
– manobra de Stewart-Holmes: peça para o paciente flexionar seu ante-
braço e tentar puxar o antebraço do examinador em direção ao seu
peito. O examinar retira então bruscamente seu antebraço;
– o rechaço durante a prova de equilíbrio.
Interpretação da disdiadocinesia: pacientes atáxicos serão incapazes de manter
uma alternância rítmica, e o movimento apresentará alterações de amplitude e
de velocidade.
Interpretação de um rechaço positivo: em pessoas normais, a rápida contração da
musculatura extensora do antebraço freia o movimento do membro superior em
direção ao peito (rechaço negativo); em pessoas com alterações de hemisfério
cerebelar, o antebraço bate no peito do indivíduo. Atenção: não deixe de pro-
teger o peito do paciente, pois ele pode se machucar com a manobra.
EXAME DA MOTRICIDADE
Costuma-se denominar exame da motricidade a avaliação que se realiza a respeito
do trofismo, do tônus e da força musculares. Os primeiros dois aspectos são
investigados por meio da inspeção e da palpação. O último, entretanto, requer a
atividade voluntária do paciente, ou seja, o exame da força é, na verdade, o
EXAME NEUROLÓGICO
Trofismo
O exame do trofismo é realizado por meio da inspeção da massa muscular do
indivíduo. Os achados podem ser:
Atrofia muscular. A atrofia pode ser o resultado de:
Q desuso, como acontece quando o doente perde a capacidade de realizar
movimentos voluntários. Pela mesma razão, vê-se atrofia muscular em esta-
dos caquéticos;
Q doença do neurônio motor inferior (o que inclui o nervo periférico), quan-
do então ela é grave e associada a vários outros achados, nomeadamente
a fraqueza muscular, a hipotonia, a arreflexia e a presença de fasciculações;
312
Q doença da fibra muscular, em que também a atrofia poderá ser grave e
associada à fraqueza muscular.
O padrão de distribuição da atrofia, quando ela for grave, poderá ajudar na
determinação de sua causa. Assim, doenças da fibra muscular, como certas mio-
patias estruturais e certas distrofias musculares, costumam afetar predominante-
mente a musculatura proximal. As doenças dos nervos periféricos, por outro
lado, costumam causar atrofias musculares distais.
Hipertrofia muscular. Trata-se de um achado incomum, que freqüentemente identi-
fica a presença de uma distrofia muscular – em especial, daquelas ligadas ao X,
nas quais as panturrilhas são hipertróficas e simultaneamente fracas. Também se
vê hipertrofia nos casos de hiperatividade muscular, como acontece nas miotonias
congênitas.
Movimentos involuntários
Os movimentos involuntários também são examinados por meio da inspeção.
Os movimentos involuntários normais são aqueles movimentos associados,
sinergísticos a uma função propositada e à mímica em geral (especialmente a
facial). Assim, o oscilar dos braços de forma alternada enquanto caminhamos e a
série de movimentos de tronco e de braços, que acompanham o levantar-se da
posição sentada, são exemplos de movimentos involuntários associados conside-
rados normais.
Os movimentos involuntários podem ter as seguintes origens e/ou interpreta-
EXAME NEUROLÓGICO
ções:
Q Movimentos associados, sinergísticos:
– se presentes: estado normal;
– se ausentes: sugerem a presença de uma pouca inclinação do sujeito de
se movimentar. Esse achado é denominado de hipocinesia (ou bradici-
nesia) e é encontrado nas síndromes extrapiramidais (especialmente a
parkinsoniana);
– se exagerados: hipercinesias sugerem agitação psicomotora e quadros
de mania ou quadros extrapiramidais, como a acatisia e a síndrome das
pernas inquietas (restless leg syndrome).
Q Movimentos involuntários patológicos, extrapiramidais: encontrados nas
lesões dos núcleos da base. Entre eles, observamos:
– coréia: um movimento súbito, com ocorrência imprevisível, arrítmico,
proximal ou distal, mais irregular do que uma mioclonia. Quando afeta
a raiz dos membros, a força decorrente do tamanho do corpo muscular
envolvido no movimento coréico justifica que seja chamado de balismo;
– atetose: um movimento involuntário rítmico, mais lento, previsível, este-
reotipado, em geral de predomínio mais distal;
– distonia: uma postura anômala sustentada, seja em um grupo muscular
apendicular, seja axial; a postura mantida costuma ser aquela observada
no extremo de um movimento atetóide qualquer.
313
Q Tremores: os tremores têm causas fisiopatológicas bastante distintas entre
si, ao contrário do que se viu nos movimentos involuntários anormais citados
anteriormente, todos originados por lesões nos núcleos da base. São eles:
– tremor de repouso: em geral de baixa freqüência, grosseiro e de grande
amplitude, é o tremor de origem parkinsoniana. Esse tremor melhora
com a postura e o movimento voluntário;
– tremor postural: observado quando se pede ao paciente que mantenha
uma postura qualquer, como a prova de braços estendidos (BE), que se
faz durante o exame da força muscular. Esse é o chamado tremor essen-
cial;
– tremor de ação: é o que somente aparece no movimento deliberado e
mais no final do movimento, quando o membro se aproxima do alvo.
Esse tremor é melhor observado nas provas de coordenação citadas acima,
como a de dedo-nariz. O tremor de ação, na verdade, seria corresponden-
te a uma dismetria, e sua origem é cerebelar.
Q Movimentos paroxísticos: são os de origem convulsiva, devidos a uma ati-
vidade irritativa cortical. Conforme a crise convulsiva se generalize ou não,
podem ser acompanhados de perda de consciência. É claro que raríssimas
vezes as convulsões serão observadas em um exame neurológico. Entre
esse tipo de movimento, citamos:
– crises clônicas;
– crises tônicas;
– crises atônicas;
EXAME NEUROLÓGICO
– mioclonias.
Q Fasciculações: movimento de origem muscular (e não-neural); as fascicu-
lações são devidas a contrações de fibras musculares isoladas. Elas aconte-
cem quando essa fibra está desaferentada. No estado normal, nenhuma
fibra se contrai isoladamente, pois o potencial de ação originário de um
neurônio motor irá despolarizar, simultaneamente, várias outras fibras mus-
culares – a chamada unidade motora. Quando a fibra está desaferentada,
um estado de “abstinência” aparece e qualquer estímulo físico-químico
pode despolarizá-la. As fasciculações são exclusivamente vistas nas doenças
do neurônio motor inferior – tanto do corpo neuronal (no corno anterior
da medula) como, menos comumente, dos axônios (neuropatias).
Tônus
Testes de movimentação passiva:
Q solicite que o paciente relaxe sua musculatura;
Q procure registrar qual a resistência muscular ao movimento passivo, pri-
meiro do pescoço, fletindo e estendendo-o de forma delicada;
Q flexione e estenda o antebraço sobre o braço e depois rote o pulso;
Q flexione e estenda os joelhos e os tornozelos.
Interpretação:
Q Tônus normal: é o que se encontra quando há uma leve resistência à mo-
vimentação passiva.
314
Q Tônus aumentado:
– rigidez cérea, ou hipertonia plástica: é a hipertonia que aparece à movi-
mentação passiva de qualquer articulação, em qualquer direção (flexão
ou extensão, embora predomine na flexão). Essa é a hipertonia que apare-
ce no parkinsonismo. Diz-se que é cérea (de “cera”), pois há a tendência
de o membro permanecer um certo tempo na posição em que for abando-
nado pelo examinador;
• nos quadros de rigidez, pode aparecer o fenômeno da roda denteada,
no qual há uma variação rítmica na resistência, como se um tremor de
repouso se sobrepusesse;
– espasticidade, ou hipertonia espástica, na qual existe uma resistência
aumentada à movimentação passiva e que aparece nos músculos flexores
dos membros superiores e nos músculos extensores dos membros inferio-
res. Essa resistência à movimentação é mais perceptível se o movimento
aplicado for rápido. Se o examinador completar toda a extensão do mo-
vimento, poderá encontrar o “fenômeno do canivete”. A espasticidade
é um sinal exclusivo de lesão da via piramidal. Ela representa uma hiper-
tonia da musculatura antigravitacional, que se desenvolve pela liberação
de centros motores hierarquicamente inferiores e que parecem pretender
impedir quedas;
– paratonia ou Gegenhalten: é uma resistência variável à movimentação
passiva, que parece ser uma incapacidade de o paciente relaxar, a despeito
de múltiplas solicitações para que relaxe. A paratonia é comum em paci-
EXAME NEUROLÓGICO
entes idosos e também em doenças hemisféricas bilaterais (incluindo as
demências).
Q Tônus diminuído: mais difícil de se determinar, pois a hipotonia (e a hi-
perextensibilidade) pode ser um achado normal, especialmente em mulhe-
res jovens. A hipotonia patológica aparece:
– nas doenças cerebelares;
– nas coréias;
– nas neuropatias e miopatias e nos quadros hemisféricos infantis.
Força muscular
O exame da força muscular busca descobrir se a força do paciente está normal
(e não se o paciente é mais forte ou mais fraco que o examinador), o que quer
dizer que relacionamos sua força à sua idade, ao seu sexo e à sua compleição. Se
o examinador decidir pela presença de um déficit de força, isso deverá ser explica-
do pela existência de uma doença do sistema piramidal, do neurônio motor peri-
férico, da junção neuromuscular ou do músculo.
Manobras
Deficitárias: são aquelas nas quais solicitamos que o paciente sustente uma postura
em tudo contrária à postura piramidal. Em geral, solicitamos que ele mantenha a
posição por 60 segundos. Qualquer mudança ou interrupção pode então ser
registrada tanto na direção quanto no tempo. As provas deficitárias são:
315
Q Nos membros superiores, prova de braços estendidos (BE): colocam-se os
braços do paciente em extensão completa, para a frente, com as mãos em
supinação e os dedos em abdução. O paciente deve fechar os olhos, en-
quanto o examinador observa a sustentação da postura.
– lesões piramidais farão com que o paciente abandone a posição distal,
inicialmente, seguindo-se depois o aparecimento da fraqueza mais pro-
ximal (se houver). Assim, os dedos aduzem, a mão se prona e flete e o
antebraço se dobra sobre o braço;
– lesões miopáticas farão com que a fraqueza apareça de início mais pro-
ximalmente. O paciente poderá apresentar fraqueza inicial de seu deltóide
e peitoral, deixando cair o braço desde a raiz;
– aproveite para observar outros fenômenos que não somente a força:
note se há tremor postural, se há desvios dos braços para fora (nas doen-
ças vestibulares), se há impersistência motora ou se há movimentos in-
voluntários anormais.
Q Nos membros inferiores, existem as provas de:
– Mingazzini: uma postura equivalente ao BE, na qual pedimos que o pa-
ciente se deite em decúbito dorsal e sustente por 60 segundos os mem-
bros inferiores em flexão global (da coxa sobre o tronco, da perna sobre
a coxa e do pé sobre a perna). Novamente, se houver doença piramidal,
haverá uma tendência de o membro inferior retornar (ou nem ao menos
sair) à postura em extensão-adução, fazendo com que a perna se estenda;
– no caso de o doente apresentar uma fraqueza importante, que impeça
EXAME NEUROLÓGICO
sequer o início dessa prova, podemos permitir que o calcanhar seja apoia-
do sobre o leito (com o resto das articulações em flexão) e então observar
a sustentação dessa postura. Essa prova é chamada de Wartemberg;
– Barré, na qual a postura sustentada é oposta à anterior, pede-se que o
paciente se deite em decúbito ventral e então mantenha a perna fletida
em relação à coxa. Essa prova avalia a força dos músculos da loja posterior
da coxa.
Contra-resistência do examinador: são provas de força nas quais o paciente é instruí-
do a resistir à força aplicada pelo examinador ou a realizar movimentos contra a
resistência do examinador. Para sua realização:
Q teste uma variedade de músculos, mas em uma certa ordem (p. ex., de distal
para proximal), tanto nos membros superiores como nos inferiores. Por exem-
plo, nos membros superiores: a pinça do polegar com o indicador, os flexores
dos dedos, os interósseos, os extensores dos dedos, então os extensores e os
flexores do pulso, depois o bíceps e o tríceps e finalmente os deltóides;
Q solicite que o paciente exerça bastante força e imponha também força
suficiente, adequada ao sexo e à idade do paciente;
Q fixe a região proximal do membro, quando o movimento a ser examinado
é distal;
Q quando possível, teste simultaneamente à direita e à esquerda (como nos
interósseos e nos deltóides); sempre teste seqüencialmente à direita e à
esquerda (ou vice-versa).
316
Q Como registrar e interpretar. Há uma escala de força muito difundida, que a
gradua entre 0 e 5 pontos, e que pode ser aplicada tanto a cada músculo
examinado, como ao membro como um todo.
Uma maneira de se registrar a força, que é mais sintética e por vezes mais
informativa, é a descritiva. Por exemplo:
Q “há uma fraqueza proximal, simétrica e moderada, algo maior nos membros
inferiores do que nos superiores, acompanhada de uma força distal normal”:
descrição altamente sugestiva de uma miopatia;
Q “o tríceps direito está completamente paralisado, acompanhado de uma
fraqueza apenas moderada dos extensores dos dedos. O deltóide, o bí-
ceps, o braquirradial e a musculatura intrínseca da mão estão normais. As
outras três extremidades estão normais”: descrição de uma radiculopatia
C7 à direita;
Q “a força é normal nos braços. Nos membros inferiores, há uma importante
fraqueza, de predomínio distal e simétrica”: descreve uma paraparesia pira-
midal, que pode ter origem em uma lesão medular ou em outra, telencefá-
lica, parafoicial; e assim por diante.
Diferentes expressões de origem grega são utilizadas para sintetizar ainda
mais a graduação de força apresentada pelo paciente. São elas:
Q paresia: déficit de força não-completo;
Q plegia: déficit de força completo (grau 0, na escala).
EXAME NEUROLÓGICO
Esses radicais podem compor, por sua vez, as seguintes expressões:
Q hemiplegia, hemiparesia: quando a fraqueza ou a paralisia atingir um dos
lados do corpo, o que é altamente sugestivo de lesão da via piramidal
correspondente;
Graus de força
Zero Nenhuma contração muscular.
1 Movimento visível no músculo, mas nenhum
movimento obtido na articulação.
2 Movimento na articulação, mas não contra a
gravidade.
3 Movimento contra a gravidade, mas não contra
a resistência adicional.
4 Movimento contra a resistência, mas ainda não
completamente normal.
5 Força normal.
317
Q paraparesia, paraplegia: quando a fraqueza atinge os dois membros ho-
mólogos (as duas pernas, os dois braços).
As Tabelas 18.2 e 18.3 relacionam os diferentes testes de força contra a resis-
tência aos músculos, aos nervos e às raízes envolvidas.
Testes especiais
Destreza:
Q peça ao paciente para rapidamente bater, de forma alternada, o seu polegar
em cada um de seus demais dedos;
Q avalie a velocidade, se há interrupções ou mesmo abandono do teste;
Q esse teste não só avalia a destreza piramidal, mas também examina a pre-
sença ou não de uma bradicinesia – uma pouca inclinação de o paciente se
movimentar, encontrada nas síndromes extrapiramidais parkinsonianas.
Percussão muscular:
Q a estimulação mecânica (com o martelo) pode fazer com que os nervos e
as membranas musculares gerem potenciais de ação. Dessa forma, a percus-
são direta do músculo pode resultar em uma contração focal. Essa resposta
estará aumentada no músculo desnervado, no mixedema e em pacientes
com miotonia.
Relaxamento muscular:
Q peça para o paciente apertar os seus dedos com os dele, forçadamente,
por 5 a 10 segundos. Peça-lhe então para interromper a contração o mais
EXAME NEUROLÓGICO
REFLEXOS
Um reflexo é uma resposta adaptativa invariável à estimulação de um dos órgãos
dos sentidos. É qualquer ação realizada involuntariamente, em resposta a uma
aferência que chega a um centro nervoso e que, em decorrência disso, produz
uma eferência que põe em ação certas células, músculos ou órgãos.
Por causa disso, considera-se que a testagem dos reflexos seja a prova mais
objetiva do exame neurológico. Suas respostas não estão sob controle voluntário
e, embora alguns reflexos possam ser reforçados ou inibidos, não podem ser
objeto de simulação completa.
Os reflexos podem ser alterados tanto por lesões segmentares, que interrom-
pem diretamente o arco reflexo, como por lesões supra-segmentares que modifi-
quem as influências exercidas sobre a atividade reflexa.
318
Tabela 18.2 Testes de força do membro superior, seus músculos
e sua inervação
EXAME NEUROLÓGICO
Flexão das Flexor digitorum Nervo mediano C7, C8
interfalângicas profundus dos dedos
distais dos dedos 2 e 3 2e3
Flexão das Flexor digitorum Nervo ulnar C7, C8
interfalângicas profundus dos dedos
distais dos dedos 4 e 5 4e5
Flexão do punho Flexor carpi radialis Nervo mediano C6, C7
e abdução da mão
Flexão do punho Flexor carpi ulnaris Nervo ulnar C7,
e adução da mão C8, T1
Extensão do pulso Extensor carpi radialis Nervo radial C5, C6
e abdução da mão
Flexão do cotovelo Biceps, Brachialis Nervo C5, C6
(com o antebraço musculocutâneo
supinado)
Extensão do Triceps Nervo radial C6,
cotovelo C7, C8
Abdução do Deltoideus Nervo axilar C5, C6
braço no ombro
319
Tabela 18.3 Testes de força no membro inferior, seus músculos e sua inervação
peroneiro
profundo
Flexão plantar do pé Triceps surtar Nervo tibial S1, S2
(gastrocnemius, soleus)
Eversão do pé Peroneus longus, Nervo L5, S1
peroneus brevis peroneiro
superficial
Inversão do pé Tibialis posterior Nervo tibial L4, L5
320
Reflexos de estiramento muscular
Reflexos miotáticos fásicos ou reflexos tendinosos
São os reflexos mediados pelos receptores de estiramento muscular – os fusos
musculares, por axônios aferentes altamente mielinizados (IA) e pelos motoneu-
rônios alfa da medula espinal (Figura 18.4).
Sua elicitação se faz por meio da aplicação de um estiramento brusco ao
músculo, dado pela percussão de um tendão seu, ou do periósteo adjacente. É o
estiramento muscular que provoca o reflexo – que não passa de um encurta-
mento do músculo estudado.
Método: percussão com o martelo de borracha:
Q sempre fazer o reflexo da direita ser seguido pelo da esquerda (ou vice-
versa);
Q posicione o paciente de maneira que os membros estejam relaxados e em
posição simétrica;
Q na face, teste os reflexos glabelar, nasolabial e mentoniano;
Q nos membros superiores, teste os reflexos dos flexores dos dedos, o
estilorradial, o estilocubital, o bicipital e o tricipital. Se houver evidência de
hiper-reflexia, deve-se prosseguir e averiguar a presença do reflexo peitoral
e dos reflexos patológicos de Hoffmann e de Trömner (variantes do flexor
dos dedos);
Q nos membros inferiores, teste os reflexos patelar, aquileu e do adutor da
coxa.
EXAME NEUROLÓGICO
Q Como registrar: há um sistema de graduação em cruzes ou em números de
0 a 4 (ou 5):
0 = reflexo ausente
+ = diminuído
++ = normal
+++ = exaltado, mas não necessariamente patológico
++++ = marcadamente hiperativo, com clônus associado
Músculo
Fuso muscular
321
Muitos médicos registram os reflexos em um desenho esquemático, como o
apresentado na página a seguir (Figura 18.5).
Interpretação:
Q os reflexos miotáticos dos indivíduos normais podem ser ausentes (zero),
hipoativos (1+), ativos (2+) ou hiperativos (3+);
Q os reflexos assimétricos são sempre anormais;
Q os sinais de hiper-reflexia são o aumento da área reflexógena, a difusão da
resposta reflexa e o fenômeno do reflexo policinético (mais de uma con-
tração muscular em resposta a um estiramento apenas), além da própria
vivacidade da resposta (+++ ou mais). A presença de clônus, especialmente
o inesgotável, caracteriza o quadro como de hiper-reflexia máxima. O
clônus, por sua vez, é uma resposta anormal ao estiramento sustentado de
um músculo (note que o estiramento é diferente do realizado por meio da
percussão com o martelo, pois este último é fásico, enquanto o estiramento
que procura o clônus é sustentado). O normal é não haver resposta; o
anormal é que o estiramento sustentado provoque múltiplas contrações e
relaxamentos do músculo estudado;
Q a arreflexia deve ser interpretada à luz dos demais achados. A presença de
uma fraqueza muscular, de atrofia, de hipotonia ou de hipoestesias confirma
o achado como patológico.
Hipo ou arreflexia localizam a existência de lesão:
Q nos próprios músculos;
EXAME NEUROLÓGICO
++ ++
+ +
+ +
++ – – ++
Direita Esquerda
+ +
– –
+ +
Figura 18.5 – Como esquematizar os achados dos reflexos miotáticos fásicos.
322
Q lesões agudas, supras-segmentares, da via piramidal – o chamado “choque
medular”;
Q atenção: os indivíduos normais podem ter hiporreflexia ou mesmo arreflexia.
Ib Órgão de Golgi
Via piramidal
Ta/TI
EXAME NEUROLÓGICO
Fuso muscular
g
Músculo
Motoneurônio alfa
Medula
Motoneurônio
gama
Figura 18.6 – As influências da via piramidal e do motoneurônio gama sobre o fuso muscular.
323
Reflexos miotáticos tônicos
Também denominados de reflexos de fixação, são aqueles nos quais a con-
tração tônica muscular é produzida quando se coloca passivamente um segmento
do membro em determinada atitude, tendendo a fixar o segmento na posição
que lhe foi imposta. Em indivíduos normais, o mais comum é que esses reflexos
não sejam encontrados. Pesquisa-se principalmente na articulação do tornozelo,
realizando-se passivamente a dorsiflexão e a rotação interna do pé, de modo
progressivo e enérgico. Se o reflexo tônico estiver presente, os tendões do tibial
anterior ficarão salientes (e o músculo, contraído) e, uma vez abandonado o
membro, verifica-se que essa contração muscular se mantém por algum tempo.
Esse reflexo, chamado de Foix-Thévenard, apresenta-se eventualmente nas sín-
dromes parkinsonianas.
324
Resposta em extensão: em qualquer lesão da via piramidal, a perda de sua influência
sobre o padrão reflexo hierarquicamente inferior fará reaparecer a retirada em
extensão dos artelhos. Esse achado, em indivíduos com mais de 12 meses, é
chamado de sinal de Babinski.
Reflexos primitivos
Os pacientes com lesões frontais, em especial do córtex mesial (adjacente ao
soalho da fossa anterior), podem apresentar reflexos muito primitivos devido à
liberação da influência frontal sobre os mesmos.
Assim, em lactentes, espera-se e é fundamental que estejam presentes os
reflexos de sucção, dos “pontos cardeais” e o grasping. Esses reflexos desaparecem
a partir dos 30 a 60 dias de vida, sobrepondo-se aos mesmos a atividade voluntária,
que não é estereotipada e invariável como são os reflexos.
Nos pacientes com liberação frontal, podemos encontrar:
Q um reflexo nasolabial exaltado que, de certa forma, “recorda” a sucção de
um lactente;
Q o próprio reflexo de sucção;
Q o grasping: ao se estimular a palma da mão do doente, ele agarra o dedo
(ou o objeto estimulador) de forma forçada, estereotipada e involuntária.
Seria como o remanescente do grasping do recém-nascido;
Q o reflexo palmomentual, que aparentemente combina os dois anteriores:
ao se estimular a região hipotenar (e depois, também a tenar), observa-se
a contração homolateral do mento.
EXAME NEUROLÓGICO
Reflexos posturais e de endireitamento
Os reflexos posturais e de endireitamento fazem parte do arsenal de avaliação
do recém-nascido e do lactente. Não são investigados nos adultos, embora sejam
necessários a todo momento para o endireitamento do corpo, por exemplo, em
uma brusca interrupção da marcha ou em uma súbita mudança de direção do
caminhar.
Movimentos associados
Considera-se como um movimento associado todo aquele que acontece “se-
cundariamente” a um movimento voluntário, central e consciente. Os movimentos
associados são inconscientes e estariam na fronteira conceitual entre um reflexo
e um movimento involuntário.
Movimentos associados normais: são os chamados sinergismos, já mencionados
em “movimentos involuntários”.
Movimentos associados anormais: seriam as sincinesias. As sincinesias podem ocor-
rer tanto por uma liberação frontal como por uma lesão piramidal. Seriam sinci-
nesias os seguintes exemplos:
Q ao se solicitar a realização de um movimento novo, por exemplo, limitado
à extremidade dos membros, o indivíduo agrega ao mesmo movimentos
325
proximais correspondentes. Por exemplo, ao se pedir para o indivíduo abrir
e fechar as mãos alternadamente (enquanto abre a direita, fecha a mão
esquerda), o indivíduo além disso também estende o braço e o antebraço,
ao abrir os dedos, e aduz o braço e flexiona o antebraço, ao fechar os
dedos. Enquanto isso pode ser normal em crianças, não o é em adultos;
Q ao se solicitar a um paciente com uma hemiparesia piramidal, de predomínio
distal, que, por exemplo, tente forçadamente estender a planta de seu pé,
o paciente, embora não seja capaz de movimentar o pé, acaba por realizar
uma flexão da perna sobre a coxa e da coxa sobre o tronco, sem ter tido a
intenção de fazê-lo;
Q ou ainda, em um paciente hemiparético piramidal que é incapaz de estender
o antebraço do lado afetado (por causa da postura piramidal), observa-se
a extensão involuntária do mesmo durante um bocejo.
SENSIBILIDADE
As anormalidades da sensação podem ser expressas como uma queixa do paciente
EXAME NEUROLÓGICO
326
Tabela 18.4 Diferenças entre as paralisias do neurônio motor superior e
do neurônio motor inferior
EXAME NEUROLÓGICO
Via ascendente da dor e da temperatura
A dor e a temperatura são sensações originárias dos órgãos sensoriais da pele
e da mucosa e refletem a presença de agentes externos ou de mudanças no
ambiente. São percebidas por terminações sensoriais livres e transmitidas por
fibras pouco mielinizadas (Figura 18.7). O seu primeiro neurônio faz sinapse no
corno posterior da medula; o axônio do segundo neurônio cruza a medula (de-
cussa) e ascende até o tálamo pelo trato espinotalâmico lateral. A dor e a tempera-
tura são finalmente reconhecidas quando sua informação chega, do tálamo, até
a porção mais anterior do córtex parietal (somestésico).
327
Tabela 18.5 Diferenças clínicas entre as síndromes piramidal e parkinsoniana
328
Dos núcleos da rafe Para o tálamo
Trato espinotalâmico
EXAME NEUROLÓGICO
nisco medial do bulbo e sobe até o tálamo. Para acompanhar essa via, o
leitor pode se valer da figura apresentada para a via proprioceptiva, pois o
trajeto é o mesmo (Figura 18.8);
Q na segunda delas, o axônio faz sinapse no corno posterior da medula. O
segundo neurônio decussa e sobe pelo trato espinotalâmico ventral até o
tálamo. Para acompanhar essa trajetória, o leitor pode se valer da Figura
18.7, apresentada via da dor e da temperatura, pois são muito semelhantes.
Portanto, para a aferência das informações táteis, existe sobreposição e dupli-
cação de função nas vias entre a periferia e o córtex. Esse fenômeno, que deve
ter alguma explicação evolucionária, vai poder ser bem-apreciado na síndrome
de hemissecção da medula vertebral, apresentada a seguir.
329
Córtex
Tálamo
Bulbo
Gânglio da
raiz dorsal
Medula
Da periferia
EXAME NEUROLÓGICO
330
– realiza-se o teste. Quatro a cinco respostas, todas corretas, em cada
segmento distal são suficientes para demonstrar normalidade de sensação.
Se houver equívocos, o prudente é aumentar o número de estímulos,
para descartar desatenção e confirmar a presença de uma hipoestesia
tátil-algésica.
Testes de sensibilidade térmica:
Q obtêm-se dois copos de água – um com água gelada, outro com água quente;
Q apresenta-se ao doente o que se vai fazer, tocando sua pele com ambas as
alternativas – quente e fria;
Q pede-se que o paciente fique de olhos fechados;
Q novamente, toca-se de forma aleatória, ora com o copo quente, ora com o
frio, as quatro extremidades do indivíduo. Quatro ou cinco respostas, todas
certas, serão suficientes para demonstrar normalidade. Erros dificilmente
serão interpretados como desatenção;
Q alternativamente, pode-se usar dois objetos com condutância térmica dife-
rente: por exemplo, usar o cabo metálico de um martelo, que é “frio”, e o
cabo de uma caneta esferográfica, que é de matéria plástica e “quente”.
Testes de sensibilidade proprioceptiva:
Q Sensibilidade cineticopostural
– Realiza-se a movimentação passiva dos primeiros artelhos, evitando pres-
são informativa (segurar pela lateral) ou movimentos voluntários simultâ-
neos; pede-se, então, que o paciente identifique para qual direção se
EXAME NEUROLÓGICO
realizou o movimento. Quatro ou cinco acertos são suficientes para de-
monstrar normalidade. Novamente, se houver algum equívoco, deve-se
aumentar o número de testes (para, 10 vezes p. ex.,), para se confirmar
a redução da sensibilidade cineticopostural ou se demonstrar que foi
apenas desatenção.
– Outra forma de se testar é pedir que o paciente, de olhos fechados,
imite com um lado a postura que o examinador criou passivamente para
o lado examinado.
– Momentos anteriores do exame neurológico já poderão ter sido de-
monstradas alterações decorrentes de uma hipoestesia cineticopostural.
São elas:
manutenção de posturas (oscilações);
provas de marcha e de equilíbrio, que podem revelar a presença de
uma ataxia sensorial (decorrente de hipoestesia cineticopostural).
Q Sensibilidade vibratória. A sensibilidade vibratória é examinada por meio
da aplicação de estímulos vibratórios em proeminências ósseas ou em
articulações. O estímulo correto é o produzido por um diapasão de 128
Hz.
– Peça para o paciente fechar os olhos.
– Faça vibrar o diapasão.
– Aplique a extremidade do mesmo na articulação interfalângica do pri-
meiro artelho. Pergunte se o paciente está percebendo a vibração.
331
– Se o examinador duvidar da fidedignidade da resposta, pode interromper
a vibração (tocando os ramos do diapasão) e observar a reação do pacien-
te.
– Se o paciente sente o estímulo, é possível quantificar essa sensibilidade,
contando por quanto tempo o paciente sente a vibração, em segundos.
Embora haja pouca literatura a respeito, a que existe considera que o
limite inferior de normalidade seria o de 11 segundos na articulação
interfalângica do primeiro artelho. Assim, qualquer tempo igual ou maior
do que isso poderá ser considerado normal, desde que semelhante à
esquerda e à direita.
– Se o paciente não sente o estímulo vibratório, o examinador deve ir
apresentando-o em proeminências ósseas cada vez mais proximais: nos
maléolos tibiais, na face anterior da tíbia, na rótula ou na crista ilíaca.
– Como em toda a testagem sensorial, sempre se deve examinar a direita
seguida da esquerda (ou vice-versa).
Diagnósticos topográficos
Lesão de nervo periférico: todas as modalidades sensoriais estão perdidas ou al-
teradas na distribuição de um determinado nervo periférico. Para isso, deve-se
consultar os esquemas topográficos (Figura 18.9).
Polineuropatias, ou seja, neuropatias sistêmicas: condições nas quais um agente
patogênico busca o nervo periférico como órgão-alvo. Todos os nervos periféricos
podem ser atingidos. Entretanto, os mais longos são os mais propensos a apresen-
EXAME NEUROLÓGICO
332
Trigêmeo I
Grande auricular
Trigêmeo II
Trigêmeo III
Cut cervical (C2,3)
Supraclavicular (C3,4)
Axilar (C5-6)
Intercostobraquial (T2)
Radial (C5-T1)
Div. lat. do n. torácico
Ilio-hipogástrico (L1)
Lat. antibraquial cut. (C5-7)
Med. antibraquial cut. (C8, T1)
Genitofemoral
EXAME NEUROLÓGICO
Safenoso (L3-4)
Sural (S1-2)
Peroneiro superficial (L4)
333
C2
C2
C3
C3 C4
C5
C6
C4 C7
C8
C5 T1
T1 T2
T2 T3
T3 T4
T4 T5
T5 T6
T6 T7
T7 T8
C T9
T8 8 T10
T11
T9 T12
T10 C5 C7 L2
T1 L3
T11 L4
L5 L1
T12 S1
C6
L1 S2
S2 S3
C7
C8
L2 S2
L3 L5
S1
L4
L3
EXAME NEUROLÓGICO
L5
S1
L5
L4
S1
334
Para o tálamo
Dor e
temperatura
Trato espinotalâmico
EXAME NEUROLÓGICO
astereognosia só é possível se o paciente tiver intactas as sensações cutâneas
e proprioceptivas. Usa-se também a expressão morfognosia.
– Teste: peça para o paciente fechar os olhos. Depois, ofereça objetos
variados em cada mão, individualmente. O paciente não pode trocá-los
de mãos, pois se examinam os dois lobos parietais em separado. O exami-
nador deve cuidar para não informar qual é o objeto por meio de outras
aferências (auditivas, visuais, olfativas).
Cineticopostural
Via piramidal
Dor e temperatura
335
Q a barognosia: habilidade de reconhecer diferentes pesos; só é possível quan-
do a propriocepção (mais especificamente, as sensações de movimento e
de posição dos membros) estiver intacta.
Q a topognosia: é a habilidade de localizar a sensação tátil sobre o corpo.
– Teste: peça para o paciente, de olhos fechados, dizer onde você o está
tocando. Varie os estímulos de forma aleatória. Inclua, ao acaso, estímulos
simultâneos em áreas homólogas à direita e à esquerda (p. ex., toque os
dois ombros). O paciente deve reconhecer os dois toques. Se não reco-
nhecê-los, é porque tem:
Q a extinção sensorial: ou a perda da habilidade de perceber uma sensação
de um lado do corpo, quando idênticas áreas são estimuladas simultanea-
mente dos dois lados. O lado que extingue sugere que há uma lesão no
córtex parietal secundário contralateral, de outra forma silenciosa nos de-
mais aspectos do exame neurológico.
Q a grafestesia: é a habilidade de reconhecer as letras e os números escritos
na pele.
– Teste: escreva números na face supina do antebraço, ou na palma da
mão, e peça para o paciente reconhecê-los. Entre um e outro teste,
cuide de “apagar” resquícios do estímulo anterior. Em pessoas analfabe-
tas, use símbolos simples, como círculos e cruzes.
Q a discriminação espacial, ou entre dois pontos: é a distância a partir da qual
o paciente passa a discriminar dois estímulos aplicados simultaneamente.
A autotopagnosia ou somatotopagnosia é a perda da capacidade de identifi-
EXAME NEUROLÓGICO
Sobre o tálamo
O reconhecimento de sensações mais simples, como a dor ou a temperatura,
é realizado no tálamo. Os impulsos sensoriais que chegam à consciência, para
interpretação pelo córtex parietal, têm que primeiro passar pelo tálamo. Considera-
se que o tálamo seja o local onde se realiza a apreciação quantitativa da dor, do
calor, do frio e do contato pesado. Nele, esses impulsos sensoriais produziriam
uma forma mais rudimentar, acrítica, de consciência. Assim, uma lesão talâmica
pode causar a perda de diversas sensações corporais contralaterais.
Na síndrome talâmica de Dejerine e Roussy, há uma elevação do limiar de
todas as sensações contralaterais, sem uma real anestesia. Porém, todos os estímu-
336
los que chegam a ser efetivos resultam em sensações desagradáveis, semelhantes
à dor em queimação. Alternativamente, o lado com hipoestesia geral pode sofrer
de uma dor contínua, chamada de hiperpatia (também conhecida como anestesia
dolorosa). Em ambos os casos, o que parece haver é uma “liberação” talâmica
das influências corticais.
NERVOS CRANIANOS
Nervo olfatório (I)
Os nervos (ou bulbos) olfatórios situam-se logo acima da lâmina cribiforme
do etmóide. Não são propriamente nervos, pois sua localização é intracraniana.
Seus segundos neurônios dão origem a um trato que viaja imediatamente abaixo
da face inferior do lobo frontal, cujas fibras podem permanecer homolaterais ou
decussar na comissura anterior. O seu destino cortical é difuso e bilateral e inclui
a face medial dos hemisférios cerebrais, na parte inferior do giro do cíngulo, e os
hipocampos.
Como testar: idealmente com óleos e líquidos não-voláteis e que não estimulem a
gustação. Na falta desses estímulos, pode-se usar cigarros, pasta de dentes e
café. O teste é realizado em uma narina de cada vez. Considera-se um resultado
normal quando ao menos o odor é percebido, não havendo necessidade de identi-
ficação.
A ausência da olfação é chamada de anosmia.
Se houver anosmia bilateral, deve-se pensar em condição sistêmica, como
EXAME NEUROLÓGICO
anemia perniciosa, intoxicação por chumbo ou hiperestimulação prolongada (ta-
bagismo, uso de cocaína etc.).
Se ela for unilateral, podemos suspeitar de um processo expansivo no assoalho
da fossa anterior. Na síndrome de Foster-Kennedy, uma atrofia óptica se associa
à anosmia ipsilateral (indicando o lado do efeito de massa) e a um edema de
papila contralateral, decorrente da hipertensão intracraniana.
337
Q no corpo geniculado lateral, elas fazem sinapse (algumas indo ao mesen-
céfalo), onde se origina a radiação óptica (que passa pelo braço posterior
da cápsula interna). As fibras dos quadrantes superiores das retinas ficam
nas porções superiores da radiação e do córtex calcarino, e as fibras dos
quadrantes inferiores, nas porções inferiores das mesmas.
Exame clínico
Reflexos ópticos. Esses reflexos são comentados na seção seguinte. Para o exame
do II nervo, os reflexos fotomotores são importantes porque sua presença e norma-
lidade informam que a aferência é normal. Deve-se testar o fotomotor dos dois
lados da retina, em separado, especialmente quando já se identificou a presença
de uma hemianopsia.
E D
1
Hemicampo esquerdo Hemicampo direito
E D
2
EXAME NEUROLÓGICO
Alça de Meyer E D
Nervo óptico 1 3
2 3
Trato óptico
4
5 E D
Núcleo 4
geniculado
lateral
6 Radiação óptica
D E
5
V1
Pólos occipitais E D
6
338
Acuidade visual. O objetivo do exame da acuidade visual é o de detectar déficits
nas vias ópticas na retina, no nervo óptico e no encéfalo.
Q Teste:
– o paciente, se precisar, deve manter seus óculos;
– apresente um cartão de Snellen a 6 m do paciente (ou 20 pés), bem-
iluminado;
– teste cada olho em separado.
Registro: a acuidade atribuída é aquela da menor linha que o paciente
puder ler. O resultado normal é o da pessoa que pode ler, a 6 m (ou 20
pés), a linha designada para essa distância – a linha 20. Daí a expressão:
“visão 20/20” (em 20 pés, lê a linha 20). O numerador é a distância (20
pés – 6 m) e o denominador é a menor linha que foi lida.
Campos visuais. Examinam-se os campos visuais do paciente para determinar a
localização dos déficits visuais na via óptica (Figura 18.13). O método utilizado é
o da confrontação , no qual o campo visual do paciente sob investigação é compa-
rado ou com o do examinador, ou com um campo visual esperado. O campo
visual esperado tem um formato oval, com maior raio para as regiões temporais
e menor para as nasais. Deve-se examinar um olho de cada vez para se ter
informações sobre os segmentos pré-quiasmáticos.
Quando se examinam os campos visuais com os dois olhos abertos, está-se
examinando só o que acontece na via pós-quiasmática. Entretanto, essa parte
do exame (com ambos os olhos abertos) é importante, pois pode definir a pre-
EXAME NEUROLÓGICO
sença de uma extinção visual.
Q Teste:
– o examinador cobre um dos olhos do paciente e pede que ele fixe a
visão no seu nariz;
– o examinador deve ter certeza de que o paciente mantém a fixação
visual. Se isso não acontece, pode-se suspeitar de que o paciente tenha
impersistência motora (ver nas provas das funções corticais superiores);
– apresenta-se então um objeto (p. ex., o martelo), vindo de regiões onde
o paciente certamente não enxerga, em direção ao suposto campo visual
do mesmo (de fora para dentro). Pede-se que o paciente informe assim
que começar a enxergar o objeto;
– o examinador repete esse gesto nos quadrantes temporal superior,
temporal inferior, nasal superior e nasal inferior de cada olho. Com isso,
ele desenha aproximadamente o campo visual de seu paciente.
Q Teste:
– com ambos os olhos abertos, o paciente é instruído a fixar o olhar no
nariz do examinador;
– o examinador estende seus braços e vai apresentando dedos de forma
pausada, ora à direita, ora à esquerda. Pede-se que o paciente vá infor-
mando quantos dedos lhe são apresentados;
– de forma aleatória, o examinador apresenta um mesmo número de dedos
em ambos os lados. Se o paciente repetidas vezes ignorar um dos lados,
339
está-se perante o fenômeno de uma extinção visual. Esse achado identi-
fica a presença de uma lesão no córtex occipital secundário, contralateral
à extinção.
Q Interpretação: defeitos de campos visuais podem ser então detectados, de
acordo com a Figura 18.13. Entre eles, aparecem as hemianopsias (homô-
nimas – lesões 3 e 6 – e heterônimas – lesão 2), as quadrantanopsias (lesões
4 e 5) e os escotomas.
Fundoscopia. O exame do fundo do olho é um ponto fundamental do exame
clínico geral e do neurológico, em particular. Ele procura ver se há atrofia óptica
em pacientes com lesões crônicas do nervo óptico; papiledema em pacientes
com hipertensão intracraniana; escavações ópticas aumentadas em pacientes
com glaucoma; distúrbios vasculares relacionados a doenças sistêmicas como
hipertensão e diabete melito e retinopatias degenerativas.
Pupilas anormais:
Q miose: pupilas com menos de 2 mm;
Q midríase: pupilas com mais de 5 mm;
Q anisocoria: diferença grosseira de diâmetro entre ambas.
Interpretação. Há duas situações opostas que podem ser responsáveis por uma
anisocoria:
Q na síndrome de Horner, há uma paralisia do simpático, com conseqüente
miose (paralisia do dilatador da pupila), pseudoptose (paresia do músculo
tarsal superior) e enoftalmia (paralisia do músculo de Müller); além disso,
pode haver vasodilatação e anidrose ipsilaterais na face e conjuntiva;
Q nas lesões do III nervo, há uma midríase ipsilateral. A situação mais grave
que leva a esse tipo de lesão é a herniação do giro hipocampal através da
incisura do tentório, que acontece por um efeito de massa no hemisfério
correspondente. O seu achado identifica um quadro de urgência, no qual
medidas contra a hipertensão intracraniana devem ser tomadas sem demora.
Reflexos pupilares:
Q Fotomotor: é o reflexo que se obtém com o estímulo luminoso da pupila:
uma miose ipsilateral.
Q Consensual: o mesmo reflexo, observado no olho contralateral ao estímulo
luminoso.
340
Q E quanto ao estímulo: nos casos de hemianopsia homônima, o reflexo fo-
tomotor pode identificar se a lesão é anterior ou posterior ao núcleo geni-
culado lateral (NGL) (Figura 18.14). Para isso, estimulam-se ambos os la-
dos da retina, o lado que enxerga e o que não enxerga. Se o lado que não
enxerga ainda assim produz reflexo fotomotor, é porque a lesão é posterior
ao NGL, o que permitiu que ramos do nervo óptico chegassem íntegros até
o mesencéfalo e o núcleo do nervo oculomotor. Se não houver reflexo, é
porque provavelmente a lesão é anterior ao NGL. Nesse caso, costuma-se
denominar esse último achado de fenômeno hemianópico de Wernicke.
Q Reflexo de convergência e acomodação:
– solicita-se ao paciente que acompanhe um objeto (p. ex., o dedo ou a
lanterna do examinador) de uma posição distante para uma muito próxima,
medial ao seu rosto. Esse acompanhamento deverá provocar a convergên-
cia dos olhos e, sincineticamente, uma acomodação das pupilas (em miose);
– um achado positivo: se as pupilas não reagem à luz, mas reagem à acomo-
dação, diz-se tratarem-se de pupilas de Argyll Robertson.
Q Reflexo ciliospinal – é uma midríase reflexa à estimulação dolorosa. Pratica-
mente só utilizado no exame do paciente comatoso; esse reflexo é obtido
ao se apertar a face ou o trapézio. Ele testa o arco reflexo do V nervo
(pontino) até a eferência simpática cervical.
EXAME NEUROLÓGICO
Os três nervos da motricidade ocular extrínseca são examinados simultanea-
mente, pela simples razão de que o olhar é sempre um movimento conjugado.
Do movimento ocular tomam parte os seguintes nervos e estruturas associativas:
Núcleo de Edinger-Westphal
III nervo
Mesencéfalo
NGL
Nervo óptico
Área pré-tetal
341
Nervo oculomotor (III): originário de núcleos mesencefálicos com representação
complexa, esse nervo inerva os músculos extra-oculares reto superior, reto infe-
rior, reto medial, oblíquo inferior e elevador das pálpebras; sua porção parassim-
pática inerva o esfincter da pupila.
A paralisia completa desse nervo resulta em ptose, paralisia do olhar superior,
inferior e medial – ficando o olho em abdução, em repouso – e dilatação da
pupila. Entretanto, pode haver apenas uma perda parcial (uma paresia) de suas
funções, ou ainda, se a lesão for mesencefálica, pode haver o envolvimento de
somente parte de suas funções. A compressão desse nervo contra o tentório
resulta inicialmente em midríase (sinal tomado muitas vezes como evidência de
cone de pressão intracraniana – ver no exame da pupila, o achado de anisocoria).
Nervo troclear (IV): inerva o músculo oblíquo superior: esse músculo abaixa e rota
o olho, especialmente se ele estiver aduzido.
Nervo abducente (VI): inerva apenas o músculo reto lateral (daí o seu nome). Esse
nervo emerge da região anterior ao quarto ventrículo, até sair ventralmente na
junção da ponte com o bulbo. É o mais longo nervo intracraniano e por isso é
muito freqüentemente envolvido em processos patológicos.
Fascículo longitudinal medial (FLM): é um conjunto de conexões entre os três núcleos
de nervos, que tem como função coordenar o olhar e torná-lo conjugado. Devido
à função do FLM, não é possível a nenhum desses três nervos realizar uma ação
isolada da dos demais.
EXAME NEUROLÓGICO
Exame clínico
Pálpebras
Deve-se observar se o paciente é capaz de abri-las normalmente. (Os déficits
de força para fechá-las são estudados na seção sobre o nervo facial.)
Pode-se observar:
Q Pseudoptose – acontece na paralisia do simpático. É chamada de “pseudo”,
porque o paciente pode elevar a pálpebra por esforço voluntário.
342
Q Ptose – paralisia do elevador superior das pálpebras (inervado pelo III nervo),
que, em geral, tenta ser compensada por uma contração associada do mús-
culo frontal.
Movimentos oculares voluntários
O examinador deve observar movimentos sacádicos: os movimentos voluntá-
rios rápidos do olhar.
Depois, deve pedir ao paciente que acompanhe o seu dedo em movimentos
retos, contínuos e que vão cobrir toda a extensão vertical e horizontal possíveis.
Nesse caso, ele deverá observar:
Q o acompanhamento visual (pursuit)
Q a existência de paresias;
Q a existência de nistagmos (ver a seguir).
Interpretação:
Q os movimentos laterais devem ser plenos – ou seja, devem ocultar totalmen-
te a esclerótica sob a fenda palpebral;
Q o olhar vertical deve ser avaliado em graus (ângulo em relação ao horizonte).
Pessoas idosas costumam ter restrição do olhar vertical, mas não menos do
que 30o;
Q avalie a continuidade do movimento. Um movimento interrompido pode
indicar uma ataxia do olhar ou pode indicar que o acompanhamento visual
(do córtex occipital) está prejudicado e que o paciente está fazendo sacadas
para substituí-lo.
EXAME NEUROLÓGICO
Deve-se também realizar o cover test: quando um olho com um movimento
parético é coberto, ele se desvia para o lado oposto ao músculo afetado – ou
seja, o déficit se torna mais aparente.
Em uma paresia qualquer do olhar, haverá desvio correpondente do olho
afetado e mais desvio secundário e compensatório do olho são, com posturas
anômalas da cabeça. Se essas manobras não compensarem a não-conjugação
do olhar, haverá projeção errônea do campo de visão, com formação de uma
imagem dupla, ou diplopia. A diplopia tende a ficar maior (ou mais evidente)
quando os olhos se desviam mais e mais na direção do movimento parético.
Interpretação:
Q Paralisias isoladas: indicam lesão em um núcleo ou em um nervo craniano.
As lesões do III e do VI nervos são facilmente percebidas. Já as lesões do IV
não: não há desvio do globo ocular, mas apenas queixa de diplopia quando
se olha para baixo em adução.
Q Lesões supranucleares
– Lesão de zona 8: paresia ou apraxia do olhar contralateral. Sacadas preju-
dicadas.
– Lesão de zonas 18 e 19: síndrome de Balint (incapacidade de acompanhar
objetos, de fixá-los e de manter a atenção visual); acompanhamento
(pursuit) prejudicado.
343
– Síndrome de Parinaud: paresia do olhar para cima; na tentativa, aparece
nistagmo de convergência-retração (lesão pré-tectal).
– Oftalmoplegias internucleares: paralisia da adução de um olho, mais
paresia e nistagmo do olho abduzido ou vice-versa.
Movimentos oculares reflexos
Q Reflexo de fixação visual: é a tendência dos olhos de permanecerem dirigidos
aos objetos que estão sob a visão central. Com lesão do movimento voluntá-
rio do olhar (frontal), esse reflexo se torna exagerado. Por outro lado, indiví-
duos com ambliopia severa e precoce apresentam, movimentos circulares
grosseiros dos olhos, chamados de nistagmo por privação sensorial.
Q Reflexo vestibulooculógiro: é o desvio lateral ou nistagmo em resposta à
estimulação do labirinto ou à súbita modificação da postura da cabeça.
Esse teste é chamado de “cabeça” ou “olhos de boneca” e praticamente
só é realizado em pacientes não-cooperativos ou comatosos.
Nistagmos
Trata-se de uma oscilação involuntária, ou um tremor, do globo ocular. Ele
pode ser ou não rítmico, pode ser horizontal ou vertical, pendular ou circular;
pode ser conjugado ou não. O nistagmo é um achado freqüente nas doenças do
SNC, do olho e do ouvido interno. Mas também pode ser um fenômeno normal,
em certas circunstâncias, ou pode ser induzido como uma parte do exame neu-
rológico (o nistagmo optocinético).
Alguns dos nistagmos patológicos seriam os que se seguem:
Q Por privação sensorial: são os devidos às doenças do nervo óptico. O mais
EXAME NEUROLÓGICO
344
Figura 18.15 – Os ramos do nervo trigêmeo.
Como examinar
Exame sensorial: semelhante ao do resto do exame da sensibilidade. Deve-se
comparar os segmentos oftálmico, maxilar e mandibular.
Reflexos
EXAME NEUROLÓGICO
Q Miotáticos e primitivos:
– onde o V nervo participa só da aferência: nasolabial (ou de retração da
cabeça) e glabelar;
– onde todo o arco reflexo é mediado pelo V nervo: mentoniano.
Q Reflexo superficial, nociceptivo: o reflexo corneano: com a ponta de uma
gaze, o examinador toca a esclerótica do olho, tentando não provocar,
simultaneamente, o reflexo da ameaça visual. A resposta normal é consen-
sual, pois ambos os olhos irão se fechar. Esse reflexo pode tanto documentar
lesão sensitiva do trigêmeo como lesão motora do facial; ou ainda, docu-
mentar nível de lesão no comatoso.
345
Nas lesões do núcleo ou do próprio nervo facial, a paresia, ou paralisia facial,
será total (paresia facial periférica).
Como examinar
Reflexos
Q Miotático:
– reflexo glabelar: sua resposta se esgota rapidamente, em indivíduos nor-
mais. Um reflexo inesgotável, ou seja, exacerbado, é patológico e está
associado à liberação frontal.
Q Primitivos:
– reflexo nasolabial: ausente em indivíduos normais, ele é um reflexo primi-
tivo que esboça uma sucção (ler acima, na seção sobre reflexos);
– reflexo palmomentual: também ausente em indivíduos normais, é um
reflexo primitivo, provavelmente remanescente de uma combinação de
sucção com grasping dos bebês (ver a seção sobre “Reflexos”).
Q Nociceptivo:
– reflexo corneopalpebral: é um reflexo superficial, cuja aferência é dada
pelo V nervo, e a eferência, pelo VII. Sua realização está descrita na
seção sobre o trigêmeo.
Audição
Uma fraqueza do músculo estapédio faz com que o tímpano vibre excessiva-
mente, em baixas freqüências. Assim, perante um quadro de paralisia facial peri-
férica, o examinador pode perguntar ao paciente se ele tem queixa de uma hipe-
racusia homolateral, para tentar determinar o nível da lesão periférica (se antes
ou depois da saída do nervo estapédio).
346
Paladar
O exame do paladar pode auxiliar a determinar a altura de uma lesão perifé-
rica do nervo facial: se antes ou depois de a corda do tímpano se separar do VII
nervo. Esse ramo do facial traz a gustação dos dois terços anteriores da língua.
O examinador usa um cotonete umedecido em uma solução com sal ou com
açúcar, com o qual tocará ambas as metades anteriores da língua. Sem retraí-la
de volta à cavidade oral, o paciente deve identificar o sabor da solução.
EXAME NEUROLÓGICO
condução aérea termina junto com a óssea, deve haver um distúrbio de
condução do som (surdez de condução).
Q Teste de Weber – para se observar a simetria da sensibilidade acústica dos
dois ouvidos. Em um paciente com uma hipoacusia unilateral, o Weber
desvia para esse lado (o paciente ouvirá mais no lado “surdo”) nos distúrbios
de condução. O mesmo teste desvia para o lado sadio nos distúrbios neu-
rossensoriais.
– Observação: o diapasão de 126 Hz, usado para avaliar a sensibilidade
vibratória, produz um som muito grave, pouco adequado para esses
testes.
Teste da fricção dos dedos:
Q deixe suas mãos em cada lado do paciente, próximas aos ouvidos;
Q peça para o paciente fechar os olhos e avisar quando começa a ouvir algum
som;
Q esfregue seus dedos de um dos lados, de forma suave e depois progressiva,
até que o paciente refira o som;
Q repita o mesmo do outro lado.
347
Nervo acústico (VIII) – ramo vestibular
Equilíbrio (nervo vestibular)
O nervo vestibular tem origem no labirinto. Impulsos cinéticos (provocados
pelo movimento da cabeça) provenientes dos canais semicirculares estimulam,
por sua vez, respostas motoras que envolvem movimentos compensatórios para
manter o equilíbrio. Esses impulsos provenientes do labirinto dão informações
sobre a orientação da cabeça no espaço. Ou seja, o complexo vestibular serve,
como órgão sensorial, ao equilíbrio; por isso, seus achados patológicos serão
semelhantes aos achados do cerebelo (órgão motor do equilíbrio).
O sintoma mais característico da doença vestibular é a vertigem: trata-se de
uma sensação de movimento não correspondente à realidade, freqüentemente
acompanhada de desequilíbrio. A vertigem será provocada por uma assimetria
de tônus aferente entre os dois órgãos vestibulares. Assim, lesões irritativas do
labirinto vão provocar quedas para o lado contrário à lesão. Lesões ablativas vão
provocar quedas para o mesmo lado da lesão (Figura 18.16).
Os achados de lesão vestibular são encontrados durante o exame da marcha
e do equilíbrio estático, em manobras que busquem o desvio dos membros du-
rante a sustentação de posturas ou em movimentos com os olhos fechados. Em
todas as situações, a oclusão ocular (por retirar uma informação sensorial nor-
mal) piorará os achados objetivos (desvios), o mesmo não acontecendo com a
vertigem.
Testes:
EXAME NEUROLÓGICO
Q equilíbrio estático: uma lesão do ramo vestibular vai provocar queda unilateral;
Q marcha: a mesma lesão vai provocar desvios unilaterais de marcha;
Q prova de braços estendidos, com olhos fechados: pode provocar o desvio
de ambos os braços para um dos lados do corpo;
Q observar se há nistagmos.
Vestíbulo D Vestíbulo E
Sensação de Desvio
movimento: compensatório:
348
Para diferenciar as quedas unilaterais de origem vestibular das de origem
cerebelar, deve-se modificar a posição da cabeça em relação ao corpo, durante a
prova de equilíbrio estático: a mudança na direção da queda indica a sua origem
vestibular.
Reflexos onde o vestíbulo está envolvido:
Q reflexo vestibulooculógiro (“cabeça ou olhos de boneca”, prova calórica,
manobra de Nylen-Bárány, etc.): manifesto ou por desvio tônico ocular ou
por nistagmo.
EXAME NEUROLÓGICO
Testes:
Q examina-se uma de suas funções motoras, que é a elevação do palato
mole. Em uma lesão unilateral aguda, haverá fala nasalada, disfagia e re-
gurgitação para o nariz, por envolvimento do palato mole. Observar-se-á
o fenômeno da cortina, no palato mole. Para isso, pede-se que o paciente
emita um som vogal com a boca completamente aberta, tal que se possa
observar o movimento do palato mole;
Q com envolvimento do recorrente, haverá rouquidão;
Q no caso de haver uma suspeita de lesão do IX ou do X nervo, realiza-se o
reflexo do vômito (cuja eferência é vagal).
349
Teste: peça para o paciente protuir a língua, ora para a frente, ora para os lados.
Interpretação: observe se há atrofia, fasciculações ou desvios. Quando há lesão
unilateral do hipoglosso, ocorre desvio ipsilateral à lesão, ao ser protuída a língua.
REGISTRO
Foram apresentadas as diversas seções do exame neurológico, seguindo uma
das possíveis ordens de seu registro escrito posterior. É importante lembrar que a
sua execução não necessariamente deve seguir essa ordem. Para a comodidade
do paciente, o examinador muitas vezes opta por realizar as provas de acordo
com a postura do primeiro. Isto é, começa com as provas que necessitam de
ortostatismo (como a marcha e o equilíbrio estático), segue para os testes que
podem ser realizados com o paciente sentado e termina com as provas que neces-
sitam do decúbito.
No momento do registro, entretanto, a ordenação de acordo com as funções
examinadas é necessária e essencial para a tomada de decisões sobre o diagnóstico
topográfico.
Assim, o examinador vai registrar seus achados, por exemplo, de acordo com
a ordem apresentada a seguir, em um hipotético exame neurológico normal.
EXAME NEUROLÓGICO – um exemplo normal
Paciente: João Silva
Data: 28 de novembro de 2000
EXAME NEUROLÓGICO
350
– OF: normal
– tandem
OA (opcional):
OF (opcional):
Coordenação apendicular:
– metria
dedo-nariz: eumétrico
dedo-dedo: eumétrico
calcanhar-joelho: eumétrico
– diadococinesia MsSs: eudiadococinético
– provas de rechaço:
Stewart-Holmes: negativa
outras:
Tônus: eutônico (normal)
Trofismo: preservado
Movimentos involuntários:
– normais (movimentos associados, sinergísticos presentes)
– anormais:
extrapiramidais: não há
sincinesias: não há
convulsivos: não há
fasciculações: não há
Movimento voluntário – força
EXAME NEUROLÓGICO
– Provas deficitárias
BE: sustentou 60 segundos sem quedas
Mingazzini: sustentou 60 segundos sem quedas
– Contra-resistência: normal, grau V em todos os segmentos
Prova de bradicinesia: destreza normal
Reflexos miotáticos: os habituais no homúnculo (mas também peitorais e aduto-
res da coxa, se houver) – registre como a Figura 18.4
– os da face:
glabelar: esgotável
nasolabial: ausente
mentoniano: normal
há palmomentual? não
– outros anormais:
Hoffmann: não há
Trömner: não há
reação de Foix-Tévenard: não há
Reflexos superficiais:
– cutaneoplantar (ou seus sucedâneos): em flexão
– cutaneoabdominais: simétricos
Sensibilidade:
– modalidades sensoriais simples:
tátil: preservada
algésica: discriminação tátil-algésica normal
351
cineticopostural: normal
vibratória: 11 segundos em ambos os primeiros artelhos
térmica: normal
Sensibilidade:
– gnosias:
morfognosia: normal
grafestesia: normal
localização (há extinção?): normal
outras:
Pares:
– I:
– II:
campos visuais por confrontação: simétricos, normais
FO: papilas coradas, com bordo nasal borrado
acuidade visual: 20/20 (Snellen)
– III, IV, VI:
fotomotor e consensual:
assimetrias pupilares? Pupilas isocóricas e fotorreagentes
movimentos oculares extrínsecos:
acompanhamento: normal, homogêneo
sacadas: normais
há paresias? (descrever)
há nistagmos? (descrever)
EXAME NEUROLÓGICO
– V (sensibilidade): preservada
– VII (motricidade): preservada
– XI: normal
– XII: normal
Outras observações:
Diagnóstico sindrômico, ou topográfico (se houver)
1#
2#
352
Vários diagnósticos topográficos clássicos já foram mencionados anteriormente
neste texto, dentro dos segmentos correspondentes. O leitor pode retornar aos
mesmos nos itens diagnósticos topográficos das síndromes motoras clássicas e
diagnósticos topográficos das alterações de sensibilidade. Alterações combinadas
entre as vias longas (motoras ou sensoriais) e nervos cranianos costumam ser
encontradas em lesões de tronco cerebral. Nessa situação, é bom lembrar que a
altura do nervo craniano envolvido é a que costuma identificar melhor a topo-
grafia da lesão.
Por fim, três diagnósticos topográficos relacionados aos acidentes vasculares
cerebrais devem ser citados por sua importância epidemiológica. São aquelas
topografias devidas à irrigação arterial hemisférica.
EXAME NEUROLÓGICO
A obstrução do ramo pré-rolândico provoca, além de uma paresia facial central,
uma afasia de Broca. Já a obstrução dos ramos finais, destinados às áreas corticais
dos lobos parietal, occipital e temporal, se ocorrer no hemisfério dominante, vai
provocar alterações sensitivas corticais, ao lado de quadrantanopsia ou hemia-
nopsia contralateral e afasia de Wernicke, alexia, agrafia e apraxia, entre outras
funções corticais.
353
costumam ser a causa de tal síndrome são a esclerose lateral amiotrófica, no
adulto, e as atrofias musculares espinais tipos I (Werdnig-Hoffman), II e III, au-
tossômicas recessivas, na infância.
Síndrome do neurônio motor superior: ou síndrome piramidal, ou síndrome da para-
lisia espástica de origem central, essa síndrome está resumida nas Tabelas 18.4 e
18.5. Muitas variações serão possíveis na sua apresentação, dependendo da topo-
grafia da lesão:
Q Lesão subcortical: leva à paresia da mão ou do braço oposto (monoparesia),
podendo não haver grande hipertonia ou hiper-reflexia.
Q Lesão da cápsula interna: leva à hemiplegia espástica contralateral, freqüen-
temente associada à paralisia facial central do lado oposto e, eventualmente,
também do hipoglosso oposto.
Q Lesões de tronco cerebral: levarão a uma variedade de síndromes alternas.
Ou seja: síndromes nas associadas hemiplegia espástica contralateral (do
envolvimento do trato piramidal), um déficit homolateral de nervo craniano.
Por exemplo, uma lesão que atinja o pedúnculo cerebral esquerdo (na altura
do mesencéfalo) provocará uma síndrome piramidal à direita, associada a
uma paralisia do nervo oculomotor esquerdo – ou à assim chamada síndrome
de Weber.
Q Lesões medulares: levarão a uma hemi ou monoplegia espástica ipsilateral.
nesia), a rigidez cérea (ou hipertonia plástica) e o tremor de repouso. Sua causa
mais comum é a doença de Parkinson.
Síndrome hipotônico-hipercinética: é a síndrome devida às lesões do neo-estriado
ou à perda dos impulsos inibidores ali originados. O paciente apresenta um quadro
predominante de hipercinesia, que pode ser, mais especificamente, uma coréia,
uma atetose ou uma distonia, associadas a uma hipotonia muscular de fundo.
354
– com midríase ipsilateral à herniação. Depois, o pálido, a cápsula interna e o
tálamo do lado do efeito de pressão serão deslocados para baixo, herniando para
baixo do tentório. Nessas condições, o mesencéfalo sofre compressão intensa, a
qual leva o paciente ao coma. Uma série de complicações graves estará também
associada, como a lesão da via piramidal do pedúnculo comprimido aos infartos
hemorrágicos decorrentes da compressão do tronco ou dos ramos da artéria
cerebral posterior etc.
Rigidez descerebrada: a compressão do mesencéfalo bilateral produz, além da
inconsciência, espasmos tônicos (sustentados, portanto) que levam ao opistótono
(extensão cervical), extensão e rotação interna dos braços, com as mãos e os
dedos fletidos, e extensão e rotação interna dos membros inferiores. À palpação,
reconhece-se a presença de hipertonia.
Síndrome do encarceramento: (ou pseudocoma, ou o locked-in syndrome): é a
situação na qual não há distúrbio nenhum da consciência (ou do alerta, ou da
vigília), mas o paciente é incapaz de responder aos estímulos sensitivos ambientais.
Esse quadro em geral é devido a uma lesão da base da ponte, de tal forma que os
tratos sensitivos ascendentes, assim como o sistema reticular ascendente, são
poupados, enquanto todas as vias eferentes são interrompidas, impedindo o pa-
ciente de se expressar por meio da fala ou de qualquer movimento corporal.
Síndromes sensitivas: estão listadas no item sobre diagnósticos topográficos.
Síndrome meníngea aguda: é aquela decorrente de um processo inflamatório (em
EXAME NEUROLÓGICO
geral infeccioso – ou seja, uma meningite) da pia e da aracnóide. Nessa síndrome,
associam-se a cefaléia, a rigidez de nuca e os sinais de Kernig, uma flexão invo-
luntária do joelho quando o examinador tenta fletir a coxa sobre o tronco com a
perna mantida em extensão; (alternativamente, é a flexão involuntária do joelho
quando o examinador coloca a coxa em flexão sobre o tronco e depois tenta
estender a perna do paciente, na altura do joelho) e de Brudzinski (é o aparecimen-
to de uma flexão involuntária das coxas e das pernas, em resposta à extensão
passiva do pescoço do doente). Esses sinais surgem em decorrência da ativação
de reflexos protetores que encurtam a medula vertebral e a imobilizam. Isso
porque a extensão do pescoço e a flexão dos quadris e dos joelhos reduzem o
estiramento das estruturas espinais inflamadas. As manobras contrárias a essa
postura geral vão mostrar resistência em abandoná-la e dor.
Acidente vascular cerebral (AVC): é a síndrome decorrente de uma doença vascular
obstrutiva ou hemorrágica. Ela raramente passa desapercebida: trata-se de um
déficit neurológico focal, de início súbito, e não-convulsivo. Na sua forma mais
grave, o paciente tornar-se-á hemiplégico e comatoso; na suas variantes mais
leves, o déficit pode ser tão sutil que pode nem ser valorizado. O perfil temporal
dos acontecimentos é que caracterizará melhor a provável natureza do AVC.
Q Acidente vascular cerebral hemorrágico: o início do déficit é abrupto, e sua
instalação completa (a partir de onde o paciente não piora mais) se dá de
maneira contínua em uma questão de segundos, de minutos ou de horas.
355
Como o déficit é determinado pela presença de um coágulo, provavelmente
haverá efeito de massa também, com redução do nível de consciência e
risco de herniação (ver síndrome de herniação).
Q Acidente vascular cerebral isquêmico devido a uma embolia: o início também
é abrupto, e o déficit torna-se completo igualmente quase que de forma
instantânea (o paciente não piora no tempo). Não é incomum o paciente
melhorar de forma dramática horas depois devido à resolução ou à migra-
ção maior (mais distal) do coágulo.
Q Acidente vascular cerebral isquêmico devido a uma trombose: esses AVCs po-
dem ter um início súbito, mas são comparativamente mais lentos que os
anteriores e evoluem (pioram) durante minutos, horas, ou mesmo dias, às
vezes de forma saltatória. A melhora, se houver, será gradual e levará meses
para se dar, deixando consideráveis seqüelas.
Q Episódio isquêmico transitório: é um AVC isquêmico que regride completa-
mente, pois a circulação arterial é recobrada em tempo hábil. Os déficits,
nesse caso, duram menos de 24 horas.
DeJong RN. The neurologic examination. 6. ed. Cambridge: Harper & Row; 1984.
Jardim LB. Módulo de semiologia neurológica: roteiro sobre as principais síndromes neuro-
EXAME NEUROLÓGICO
Kirshner HS. Behavioral neurology: a practical approach. New York: Churchill Livingstone;
1986.
Tolosa APM, Canelas HM. Propedêutica neurológica. São Paulo: Sarvier; 1975.
Site recomendado
The Complete Neurological Examination:
http://www.medinfo.ufl.edu/year2/neuro/neuroexam
356
19
AVALIAÇÃO DO PACIENTE
COM ALTERAÇÃO DO NÍVEL
DE CONSCIÊNCIA: COMA
MÁRCIA L.F. CHAVES
*Em ordem descendente de gravidade. **Tanto estupor como coma são classificados
adicionalmente como superficial ou profundo.
O coma é o estado de perda completa da consciência, no qual o indivíduo
não pode ser despertado pelos estímulos usuais. É um estado de total ou quase
total irresponsividade ao meio. Não há movimentos voluntários, e as reações são
limitadas a reflexos elementares. No coma profundo, estímulos dolorosos, como
a compressão dos globos oculares ou o pinçamento da pele, não são capazes de
despertar o indivíduo. A sensibilidade e os reflexos corneanos podem estar ausen-
tes. As pupilas podem estar dilatadas ou contraídas e não apresentar resposta à
luz. Os reflexos de deglutição e tosse estão abolidos, fazendo com que o paciente
não seja capaz de deglutir água ou alimentos. Há também incontinência urinária.
À medida que o nível de consciência diminui, os reflexos miotáticos podem estar
aumentados e pode ocorrer o aparecimento de uma resposta extensora no reflexo
cutaneoplantar. Numa fase de maior profundidade do coma, pode-se observar a
abolição dos reflexos tendíneos e dos superficiais.
358
Q história de cefaléia, alteração de comportamento, convulsões ou déficits
neurológicos (sugestivos de processo expansivo intracraniano ou infecção
do sistema nervoso central);
Q posicionamento prévio do paciente e dos familiares em relação à doação
de órgãos.
COMA
metabólico para o de lesão estrutural intracraniana. Achados oculares e assimetria
postural, movimentos, tônus muscular ou reflexos são dicas importantes. A Tabela
19.3 resume o raciocínio básico para o diagnóstico diferencial entre as principais
categorias de combinação de evidências do exame neurológico e da análise do
líquido cefalorraquidiano (liquor) com as principais causas de alterações da cons-
ciência. A Tabela 19.4 resume as principais causas de alteração aguda da consciên-
cia, relacionando-as com dados da história, do exame físico e dos exames comple-
mentares (laboratório e imagem). Após a anamnese e a avaliação neurológica,
procura-se determinar os principais exames complementares que devem ser soli-
citados imediatamente, bem como a necessidade de consultoria neurocirúrgica.
Sempre que houver história de trauma, solicitar exame de imagem cerebral (p.
ex., TC de crânio) e a avaliação de um neurocirurgião. Caso não haja história de
trauma, a presença de sinais de irritação meningorradicular ou hipertensão intra-
craniana induz o médico a solicitar exame de imagem cerebral e, caso não haja
processo expansivo, realizar punção lombar (Tabela 19.4).
359
Tabela 19.2 Aspectos fundamentais do exame neurológico inicial do
paciente com alteração da consciência
360
Tabela 19.3 Diagnóstico diferencial das alterações da consciência
Apresentação Condições
Ausência de sinais neurológicos Intoxicações (álcool, barbitúricos,
focais ou de lateralização no exame narcóticos)
físico, ou de alteração citológica do Transtornos metabólicos (acidose
líquor diabética, uremia, coma hepático,
hipóxia, hipoglicemia,
doença de Addison – crise)
Infecção sistêmica grave com ou sem
septicemia
Choque circulatório de qualquer causa
Encefalopatia hipertensiva
Hipotermia ou hipertermia
Estado epiléptico
Irritação meníngea com aumento de Hemorragia subaracnóide por ruptura
leucócitos ou presença de sangue no de aneurisma, ocasionalmente
líquor, geralmente sem sinais focais ou trauma
de lateralização Meningite bacteriana aguda
Encefalite
Sinais focais ou de lateralização com Hemorragia cerebral
ou sem alterações do líquor (podem Trombose cerebral ou embolia com
ser subdividas em lesões supratentoriais isquemia e lesão cerebral secundária
e infratentoriais); TC ou RM de ou edema
encéfalo geralmente mostram Abscesso cerebral
COMA
alterações estruturais Hematoma epidural ou subdural com
contusão ou compressão cerebral
Tumor cerebral
Tromboflebite cerebral
361
COMA
362
Tabela 19.4 Causas comuns de alteração aguda do nível de consciência
AVC Idade > 40 anos; doença A assimetria facial é comum, sinais de TC ou RM mostram isquemia ou
cardiovascular conhecida ou disfunção do tronco cerebral, sinais focais hemorragia; se ausentes, PL
hipertensão; início súbito; (p. ex., hemiplegia), pupilas em diagnóstica está indicada
geralmente não causa coma agudo geral assimétricas e inativas
Epilepsia História de crises; início súbito com espasmos Sinais vitais geralmente normais, pupilas Eletroencefalograma (EEG)
rítmicos reativas; língua mordida (ou lesada por diagnóstico
episódios anteriores)
Hemorragia Cefaléia com início do tipo Rigidez de nuca, anormalidades de TC crânio positiva e/ou sangue no
subaracnóide “relâmpago” ou “pior já III ou IV nervo craniano; se início liquor
experimentada”, vômitos, perda súbito com coma, postura extensora
transitória da consciência vigorosa provável
QUAL É A PRÓXIMA ETAPA, APÓS SER REALIZADO O EXAME
FÍSICO GERAL E A AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA E TER-SE
INICIADO O PROCESSO DE DEFINIÇÃO DIAGNÓSTICA?
Deve-se, então, realizar a monitorização. É importante ressaltar que nas alterações
da consciência, bem como em qualquer situação de avaliação neurológica, o
exame é sucinto, objetivo e direcionado para os aspectos cruciais, pois o médico
precisa ser rápido, e o paciente não informa e não pode colaborar com inúmeros
aspectos geralmente avaliados no paciente com nível de consciência normal. A
Tabela 19.6 apresenta os principais exames que podem ser solicitados no caso de
paciente com alteração da consciência sem causa determinada. Após ter-se defini-
do quais os principais exames complementares que devem ser solicitados, deve-
se manter a monitorização neurológica de forma periódica, bem como reavaliar
as funções de maneira mais detalhada, caso necessário. A cada nova avaliação
neurológica, deve-se procurar responder às mesmas perguntas já descritas, pois
o estado de coma é muito dinâmico, podendo, em alguns casos, ter uma evolução
muito rápida. Daí a importância dessa “vigilância clínica”. Em caso de piora na
escala de Glasgow (Tabela 19.5), associada ou não a sinais de piora da hipertensão
intracraniana e/ou evidência de herniação, o médico deverá assumir uma conduta
mais agressiva de investigação ou indicar neurocirurgia. Em caso de suspeita de
morte cerebral, é importante o rápido diagnóstico, pois disso depende o sucesso
dos transplantes, caso o paciente seja doador de órgãos ou a família tenha concor-
dado em doá-los.
COMA
Tabela 19.5 Escala de coma de Glasglow
363
A Figura 19.1 apresenta o diagrama de decisões para o paciente em coma.
Avaliação dinâmica (seqüencial):
Q escala de Glasgow a cada duas horas (Tabela 19.5);
Q avaliação da integridade do tronco cerebral (nas Tabelas 19.7, 19.8 e 19.9,
e a seguir no item Sinais de ausência de função do tronco cerebral)
Correlação anatomopatológica:
Q pupilas: diâmetro, tamanho e simetria e reflexo fotomotor (Tabela 19.7);
Q movimentos oculares extrínsecos (manobra dos “olhos de boneca”/refle-
xo vestibulocular) (Tabelas 19.8 e 19.9);
Q resposta motora: movimentos espontâneos, tônus, reflexos miotáticos,
Babinski, preensão palmar, padrão de resposta à dor (Tabela 19.10).
Paciente em coma
Intubação
Acesso venoso
Cateter urinário
História
Exame de imagem
Rigidez Avaliação neurocirúrgica
Normal
Hemorragia Normal
Normal Anormal (assimétrico
ou com sinais de alteração
de tronco cerebral)
364
Tabela 19.6 Exames que podem ser solicitados para pacientes com nível
de consciência alterado (NCA) sem causa definida
COMA
sangue e/ou na urina
Provas de função Rotina/emergência
hepática
Provas de função Suspeita de Fácies grosseira, cabelo
tireóide hipotireoidismo seco, bradicardia
Níveis séricos de Se há droga específica Álcool >300 mg/dL
drogas implicada causa estupor
Carboxiemoglobina Suspeita de
intoxicação por
monóxido de carbono
Amônia Suspeita de insuficiência
hepática
Culturais Suspeita de infecção A meningite bacteriana
selecionados é uma causa de NCA
que exige antibiotico-
terapia imediata
365
Tabela 19.6 Exames que podem ser solicitados para pacientes com nível
de consciência alterado (NCA) sem causa definida (continuação)
Respostas normais/esperadas
Movimento da cabeça Resposta ocular conjugada
Para direita Para a esquerda
Para esquerda Para a direita
Em flexão Para cima
Em extensão Para baixo
366
Tabela 19.8 Tipos de pupilas (correlação anatomopatológica)
COMA
O diagnóstico de morte cerebral ou morte encefálica baseia-se no exame clínico
do paciente, enfatizando-se os sinais de ausência de função do tronco cerebral,
na morte encefálica (Tabela 19.11).
367
Tabela 19.10 Correlação anatomopatológica das respostas motoras
368
indivíduo, no entanto, o coração continua a bater, e as funções da medula espinal
podem se manter.
COMA
uma otoscopia para certificar-se de que não há perfuração timpânica e de que o
conduto auditivo externo está desobstruído. O exame consiste na estimulação
calórica com 10 a 20 mL de água fria (19 a 21o) ou com 5 a 10 mL de água
gelada (0 a 10o). Com a cabeceira do paciente elevada em 30o, instila-se a água
fria para entrar em contato com o tímpano. Antes da estimulação contralateral,
deve-se respeitar um intervalo de cinco minutos. Quando há integridade das
vias e do tronco cerebral, a resposta esperada é o desvio tônico conjugado dos
olhos para o lado no qual a água fria ou gelada foi instilada. Na morte encefálica,
isso não ocorre, pois não há atividade dos núcleos vestibulares no tronco cerebral
para permitir que o lado não-inibido pelo frio ative o movimento conjugado dos
olhos para o lado inibido, que recebeu o estímulo frio.
Apnéia: o teste de apnéia exige medida de gases sangüíneos (gasometria arterial).
É necessário uma PaCO2 de 60 mmHg para garantir um estímulo adequado no
centro respiratório. Também se sugere que o sangue arterial ou capilar deva
estar com pH < 7,28 no final do teste de apnéia. Os seguintes pré-requisitos são
recomendados: temperatura central preferentemente acima de 36,5oC (não deve
ser inferior a 32oC) para permitir elevação da PaCO2 (atenção: em pacientes cuja
temperatura corporal estiver abaixo do normal e nos retentores crônicos de dió-
xido de carbono, o teste de apnéia pode não ter valor); a pressão sangüínea
sistólica deve ser de 90 mmHg nos adultos e dentro dos limites normais para
369
Posição espontânea (sem estímulos)
Água fria
Água fria
Irreversibilidade
A cessação irreversível de funções cerebrais é determinada quando uma cau-
sa do coma é conhecida e é capaz de causar morte neuronal; a perda de funções
do tronco cerebral é total e constante ao longo do tempo; causas reversíveis de
disfunção cerebral foram excluídas, como intoxicação por fármacos (principalmen-
te barbitúricos, sedativos e hipnóticos), transtornos metabólicos tratáveis, hipo-
termia (temperatura menor do que 32,2oC), choque e disfunção muscular ou de
nervo periférico devido à doença ou a agente de bloqueio neuromuscular. Os
exames de imagem, em casos selecionados, podem ser de auxílio para documentar
uma causa estrutural e determinar a extensão da lesão anatômica.
370
Tabela 19.12 Padrões respiratórios anormais
COMA
rápidos e profundos que
ocorrem na cetoacidose
diabética (Kussmaul)
371
Sinais de herniação lateral:
Q midríase, ptose palpebral e déficit de adução do olho ipsilateral;
Q aprofundamento do coma;
Q hemiplegia ipsilateral.
DICAS
Q Sempre que o reflexo corneano, o do vômito e o oculocefálico estiverem
presentes, podemos considerar que há integridade do tronco cerebral. Nesse
caso, não é necessário – na maioria das vezes – testar o reflexo vestibulocular.
Q Sempre que houver resposta ocular não-conjugada, ou em direções não-
esperadas, ou ainda na ausência de resposta, devemos testar o reflexo
vestibulocular, pois ele é o mais fidedigno do estado do tronco cerebral.
DeJong R. The neurologic examination. 4th ed. Harper & Row; 1979. p. 689-98.
Malik K, Hess DC. Evaluating the comatose patient: rapid neurologic assessment is key to
appropriate management. Postgrad Med 2002 Feb;111(2):38-40, 43-6, 49-50.
Strub RL. Coma. In: Decition making in adult neurology. 2nd. ed. St. Louis: Mosby-Year
Book, Inc.; 1993. p.34-5.
Sites recomendados
Emergency Medicine (Coma):
http://www.vh.org
372
Stupor and Coma:
Capítulo 77, da seção 6 “Brain, spinal and nerve disorders” of The Merck Manual of Medical
Information-Home Edition:
http://www.merck.com/mrkshared/mmanual_home2/home.jsp
COMA
373
20
DIAGNÓSTICO DOS
DISTÚRBIOS DO SONO
DENIS MARTINEZ
Horário em que apaga a luz e inicia o processo de tentar dormir nos dias úteis
e de folga.
Latência ao sono, ou seja, tempo estimado até o início do sono.
Número de vezes que acorda durante a noite.
O que causa o acordar.
Horário em que acorda.
Tempo para voltar a dormir.
Horário de levantar.
Sensação ao levantar: disposto, sonolento, mais cansado que ao deitar.
Como passa o dia.
Freqüência de insônia na semana, mês ou ano.
Quais as medidas tomadas para aliviar o problema.
Por quanto tempo usou essas medidas.
Sonolência
Colher a história de um caso com sonolência pode ser difícil. Sonolência, em
vez de sintoma legítimo de doença orgânica, pode ser considerada sinônimo de
100%
80%
58%
60%
40% 37%
20% 16% 9%
0%
Insônia Ronco Pernas inquietas Apnéias
376
Levantar cansado ou sonolento
Acordar precoce
Roncar no sono
377
No caso de sonolência ao dirigir, o paciente relata, em geral, que pára em um
posto de gasolina e toma café, ou caminha em volta do veículo, finge examinar
os pneus. Ocasionalmente cochila sentado ou recostado no carro. Quem relata
ter adormecido ao volante uma vez tem chance duas vezes maior de ter sín-
drome das apnéias-hipopnéias obstrutivas do sono. Quem relata já ter adorme-
cido ao volante mais de cem vezes – o que não é tão raro como pode parecer –
tem chance 68 vezes maior.
Quando sente sono no trabalho, o paciente, em geral, levanta, finge buscar
informações, toma água ou café, conversa, lava o rosto. Em certas profissões, o
paciente pode tornar-se hiperativo para evitar a sonolência e tem até um desempe-
nho elogiado. Admitir que dorme ao volante ou no trabalho é um indício de
gravidade do caso.
Vários distúrbios do sono causam sonolência (Quadro 20.3). Usa-se, na maioria
dos estudos em que se necessita dados quantitativos, a escala de Epworth (Quadro
20.4), validada para quantificar a intensidade da sonolência diurna. Nos pacien-
tes que são sonolentos durante o dia e roncam intensamente, deve-se realizar
sempre polissonografia ou monitorização respiratória para descartar a síndrome
das apnéias-hipopnéias obstrutivas do sono, mesmo que sofram de alguma ou-
tra das doenças que causam sonolência.
Roncar no sono
DIAGNÓSTICO DOS DISTÚRBIOS DO SONO
378
Quadro 20.4 Escala de sonolência de Epworth
Utilize a seguinte escala para escolher o número mais apropriado para cada
situação:
0 = nenhuma chance de cochilar 1 = pequena chance de cochilar
2 = moderada chance de cochilar 3 = alta chance de cochilar
Chance de
Situação cochilar
Sentado, lendo
Assistindo à TV
Como passageiro de carro, trem ou ônibus viajando uma hora sem parar
TOTAL
Apnéias
Os sintomas que melhor predizem a existência de síndrome das apnéias-
hipopnéias obstrutivas do sono estão no Quadro 20.6. Alguns autores desenvol-
veram índices, baseados nos sintomas, da probabilidade de se encontrar apnéias.
O valor preditivo é razoável, mas não suficientemente alto para que se prescinda
de polissonografia na maioria dos casos. Para exemplos de questionários validados
379
Quadro 20.5 Dados a investigar na história de roncar
380
sinais de consciência em nenhum momento. Já no distúrbio por comportamento
em REM, a movimentação pode tanto ser elaborada, como arrumar uma mala, ou
desordenada, como correr por dentro de casa, fugindo de algo. A diferença é que,
nesse caso, o paciente relata um sonho que coincide com a ação desempenhada.
Nos quadros de terror noturno, ocorre intensa descarga autonômica, com
taquicardia, taquipnéia, sudorese, midríase e hipertonia muscular. O paciente
grita, senta na cama, mas não consegue acordar, não tem lembrança de sonho e
nem recorda do episódio no dia seguinte.
Na distonia paroxística noturna, o paciente apresenta movimentos balísticos,
córeo-atetóticos, estereotipados, que podem durar de segundos a uma hora. Ao
final do episódio, o paciente está coerente e retorna ao sono.
Na epilepsia sono-relacionada, devido ao efeito facilitatório do sono sobre a
atividade epiléptica, podem ocorrer convulsões de todos os tipos, mais provavel-
mente as do tipo grande mal. A epilepsia focal benigna da infância tem preferência
acentuada pelo período do sono. O sonambulismo e o terror noturno raramente
têm etiologia epiléptica.
No distúrbio de movimentos rítmicos, o paciente, em geral criança, pode
apresentar quatro estereotipias: bater a cabeça, rolar a cabeça, rolar o corpo e
balançar o corpo. Os movimentos surgem na vigília, antes do início do sono, e
podem se prolongar por uma hora ou mais até o surgimento do sono, persistindo
por alguns minutos nos estágios 1 e 2. Não tem relação com epilepsia e diferencia-
381
za-se, na perna, por extensão do hálux em combinação com flexão parcial do
tornozelo, joelho e, às vezes, quadril. O paciente queixa-se tanto de insônia,
com vários despertares por noite, como de sono não-reparador ou sonolência
diurna. As contrações observadas na vigília ou na transição para o sono não são
computadas.
Cataplexia
Constitui-se em perda súbita do tono de parte ou de toda a musculatura,
provocada por emoção. A consciência permanece lúcida, a memória se conserva
e a respiração está incólume durante o episódio, que pode durar de alguns segun-
dos a minutos. Quando leve, pode passar despercebida a observadores, mas o
paciente relata instabilidade postural, necessidade de sentar e dificuldade em
manter a cabeça ereta. O sintoma é patognomônico de narcolepsia.
Sonhos
Os sonhos, características fisiológicas do sono REM, tornam-se sintomas com
freqüência. Os pesadelos são sonhos longos, complicados, que se tornam cada
vez mais assustadores até provocarem o despertar. O medo ou a ansiedade nem
sempre se relacionam diretamente com o conteúdo do sonho, mas são elementos
essenciais ao diagnóstico. Raramente se observa a intensa descarga autonômica
presente no terror noturno. A paralisia do sono caracteriza-se por incapacidade
DIAGNÓSTICO DOS DISTÚRBIOS DO SONO
Morte noturna
Apesar de muito temida, principalmente por quem observa o paciente durante
apnéia, a morte durante o sono é rara em adultos com síndrome das apnéias-
hipopnéias obstrutivas do sono. Ela pode ocorrer nos lactentes com apnéia, apesar
de não ter sido possível documentar conclusivamente que a morte súbita do
lactente seja conseqüência de apnéia. Sabe-se que, em portadores de doenças
cardiovasculares e respiratórias, as mortes tendem a se concentrar entre as 5 e as
9 horas.
Hábitos
Deve-se obter uma descrição completa da rotina diária, nos dias de trabalho
e nos de folga. Enfatiza-se, principalmente, o uso de álcool, cafeína, fumo e
medicamentos; horários de deitar e levantar nos dias úteis e nas folgas revelam
padrões circadianos anômalos. Quanto ao consumo de álcool e cafeína, interessa,
não apenas a quantidade ingerida, mas também os horários de ingestão. O tabaco
torna-se fator de perturbação do sono dado o efeito estimulante da nicotina. Em
pacientes com depressão, níveis de consumo de cigarro mais elevados são associa-
dos à insônia terminal intensa e a maior consumo de café e álcool, levando a crer
que o paciente deprimido busque em drogas acessíveis alívio para seus sintomas.
382
É importante identificar, em tabagistas, o hábito de fumar durante a noite,
sempre que acorda. Além da relatada possibilidade de depressão, o autor observa
esse padrão em casos avançados de síndrome das apnéias-hipopnéias obstrutivas
do sono.
Histórico de tratamento
A história de tratamentos para distúrbio do sono deve incluir, além dos tran-
qüilizantes, hipnóticos ou estimulantes, todo o tipo de ajuda que o paciente
buscou para melhorar o sono, desde psicoterapias, chás, florais, homeopatias,
meditação, ioga, até álcool e drogas ilícitas.
383
Conhecer crenças e temores dos pacientes quanto à medicação é importante,
pois alguns podem ter aversão a determinado produto; se receberem tal prescri-
ção, podem abandonar o tratamento. O uso de medicação deve ser cuidadosa-
mente revisado e anotado para referência futura, pois os pacientes desenvolvem
repugnância a medicamentos usados sem resultado ou que causaram efeitos
colaterais.
Deve-se identificar, também, em quem usa hipnóticos, a existência de tolerân-
cia ou dependência.
Revisão de sistemas
Toda a revisão de sistemas, de qualquer especialidade médica, deve conter as
perguntas: “Você dorme bem?” e “Você passa o dia alerta e sem sono?”. Autores
sugerem que, se as respostas forem negativas, deve-se fornecer a todo paciente
um diário do sono, semelhante aos ilustrados nos Quadros 20.8 e 20.9, ou pedir-
lhe que, durante duas semanas, anote a cada manhã como passou a noite e ao
deitar como passou o dia, retornando para uma nova consulta sobre seu sono. É
fundamental dispor de tempo para a entrevista.
Considerando-se as causas de distúrbio do sono, revisam-se os sintomas das
causas médicas, por exemplo, asma, insuficiência cardíaca e refluxo gastresofágico.
Se o paciente dorme acompanhado, interroga-se o cônjuge sobre roncar intenso
e comportamentos anormais durante o sono, como episódios de confusão ou
DIAGNÓSTICO DOS DISTÚRBIOS DO SONO
384
A medida do perímetro cervical correlaciona-se bem com o índice de apnéias
e hipopnéias. Expressa, melhor que o peso corporal, a tendência dos pacientes
com apnéias do sono de depositar gordura na face e no pescoço. A laringe ante-
riorizada e certo grau de retrognatismo são achados comuns.
Mede-se a pressão arterial com o paciente sentado, no início e no fim da
consulta, registrando-se o menor valor. Em mais de 50% dos casos de síndrome
das apnéias-hipopnéias obstrutivas do sono, observa-se hipertensão arterial sis-
têmica.
Se disponível, a medida da saturação de oxigênio arterial durante a consulta
auxilia na detecção de hipoventilação alveolar, nos casos de síndrome de hipoven-
tilação-obesidade, e de hiperventilação, nos casos de ansiedade.
No exame da orofaringe, realizado com abaixador de língua e uma fonte de
luz, procura-se detectar anormalidades potencialmente envolvidas na obstrução
da via aérea superior. Na prática, vários achados anormais ocorrem no mesmo
paciente.
Faz-se o exame da arcada dentária no momento da faringoscopia. Observa-
se o estado dos dentes, procurando-se desgastes indicativos de bruxismo. Api-
nhamento dos dentes ou espaços entre eles demonstram má-oclusão. O mento
colocado posteriormente em relação ao plano vertical da face denota retrogna-
tismo. O incisivo superior deve estar no máximo 2 mm à frente do inferior. Nos
casos anormais, essa distância pode chegar a 15 mm. A mandíbula de pequenas
AVALIAÇÃO CLÍNICA
Segundo os Parâmetros de Prática da American Academy of Sleep Medicine
(AASM), publicados em 2000, na avaliação de distúrbios do sono, agregam-se à
entrevista do paciente, os seguintes instrumentos clínicos:
Q questionários auto-administrados;
Q entrevista do parceiro de cama;
Q diário do sono;
Q listas de verificação de sintomas;
Q testes psicológicos de triagem.
Entrevista
Como em toda a especialidade clínica, na medicina do sono o processo de
diagnóstico inicia na entrevista. A orientação da AASM é que todo profissional
da saúde deve incluir na entrevista perguntas sobre sono, principalmente para
mulheres e idosos. Para identificar a causa do distúrbio do sono, o relatório deter-
385
mina que a entrevista seja em profundidade, acompanhada de exame físico nos
casos com sintomas médicos.
Certos tópicos, essenciais no entendimento da queixa, servirão para a avaliação
e acompanhamento do quadro durante o processo terapêutico (ver quadros com
tópicos essenciais de cada sintoma).
Colhendo informações
A anamnese do sono segue o padrão de avaliação de qualquer outra doença:
Q Definir o problema do sono, ou seja, a queixa principal.
Q Avaliar a evolução do problema na história da doença atual.
Q Distinguir sintomas de distúrbios do sono e de outros diagnósticos médicos
ou psiquiátricos, isto é, exercitar o diagnostico diferencial.
Q Identificar distúrbios do sono na história familiar.
Q Avaliar o impacto da doença na vida do paciente.
Cronobiologia
Cronobiologia é o ramo da ciência que estuda a variação dos fenômenos
biológicos com o tempo, especialmente aqueles recorrentes, como os ciclos cir-
cadianos. Circadiano, de cerca de um dia, é o processo rítmico que ocorre no
organismo todos os dias mais ou menos à mesma hora, independentemente de
fatores externos.
O entendimento dos componentes cronobiológicos em distúrbios do sono
exige abordar os acontecimentos fora da hora da queixa. Por exemplo, alguém
que acorda às 4 horas da manhã e não volta a adormecer pode estar com depres-
são ou pode ter dormido oito horas de sono normal desde as 20 horas. O segundo
caso representa distúrbio de avanço da fase do sono, comum em idosos.
386
Interroga-se sobre fatos do dia anterior e do dia seguinte. O sono segue e
precede a vigília e é responsável pela qualidade dessa. As primeiras perguntas
para abordar a cronobiologia do sono são os horários de apagar a luz e de sair da
cama nos dias de trabalho e de folga. Deve ser enfocado o sono nas 24 horas e
nos sete dias da semana.
O parceiro de cama
Deve-se recomendar a presença na consulta de acompanhante capaz de acres-
centar informações sobre o sono do paciente.
O paciente com distúrbio durante o sono, por definição, está inconsciente.
No início da consulta, nega informações, alegando ignorar como dorme. Nessa
etapa, o acompanhante é fundamental.
O quarto de dormir é cercado de uma aura de privacidade a qual o paciente
demora permitir que seja invadida. Alguns se sentem traídos se, por exemplo, a
esposa revela ao médico detalhes de seu sono que nem eles conheciam.
Com persistência, o médico esclarece a finalidade das informações. Ao entender
que as queixas são sintomas legítimos de doença orgânica, com importância
médica, o paciente passa a participar. Relatar como dorme suscita intimidade,
ajuda a criar vínculo, importante no procedimento médico. Quando os pacientes
mudam o enfoque e colaboram, suas percepções são, às vezes, surpreendente-
mente acuradas.
Diário do sono
O diário do sono é uma ferramenta útil por registrar aspectos potencialmente
perturbadores do sono na rotina do paciente. Em geral, solicita-se ao paciente
que, durante duas semanas, o paciente registre no diário seus horários de deitar,
levantar, cochilos, sestas, horário e quantidade das refeições, uso de álcool, cafeína,
exercício, medicações e descrições da duração e da qualidade de sono de cada
dia. A análise dos dados contidos no diário revela o padrão do distúrbio.
Pode-se pedir ao paciente que anote em sua agenda algumas informações ou
simplesmente que mantenha um caderno na mesa de cabeceira e, ao levantar,
dê nota de 0 a 10 para o sono. O diário do Quadro 20.8 foi adaptado a partir de
um modelo do Center for Chronobiology, da Universidade de Toronto.
O paciente utiliza rotineiramente uma planilha simplificada onde registra da-
dos por um mês (Quadro 20.9).
O exemplo ilustra o roteiro da noite de sono, desde que deita até levantar, e
resume, numa nota de 0 a 10, como passou o dia.
387
Quadro 20.8 Como organizar o diário do sono
Exceções
Descreva detalhadamente no verso da página qualquer alteração ou situação
diferente que influencie o seu sono em um dia em especial (festa, doença,
trabalho).
DIÁRIO DO SONO
Nome: Data:
Primeira semana
Meia-noite Meia-dia
Hora 20 22 24 02 04 06 08 10 12 14 16 18
Atividades
Sono
Tempo total de sono ___ h Nota do sono (0-10) ___ Nota do dia (0-10) ___
388
Quadro 20.9 Exemplo de planilha diária para registro da qualidade do sono
parcialmente preenchida
Tempo Tempo
que Quantas Tempo Hora que Como
Hora levou Quantas vezes que do Hora Levantou dormiu passou
que para vezes foi ao ficou acordar que disposto? durante o dia
Dia deitou dormir acordou banheiro acordado precoce levantou (0-10) o dia (0-10)
23h30min
VIG
1–
SOL –
REM –
389
VIG –
1–
2–
SOL –
REM –
Figura 20.4 – Hipnograma de caso com acordar precoce. Observa-se que o acordar ocorre
após quatro horas de sono. O paciente percebe o sono REM entre as 5 e 6 horas apenas
como cochilos.
Actigrafia
A actigrafia consiste no registro do nível de atividade motora. Emprega a alta
correlação entre vigília e movimento para identificar os estados de sono e vigília.
A literatura mais abundante refere-se a aparelhos, chamados actígrafos ou actí-
metros, com formato de relógio de pulso, contendo um sensor de aceleração
que transforma movimento em sinal digital ao longo do tempo.
O uso de actígrafos é comum em pesquisa. Entretanto, ainda não conseguiu
lugar na rotina da medicina do sono para o diagnóstico, apesar de conclusões
favoráveis da AASM.
Os aparelhos são usados no pulso ou no tornozelo e registram gráfico de
atividade, colhido durante vários dias; do tempo de repouso, infere-se o tempo
de sono. A taxa de concordância entre actigrafia e polissonografia é superior a
90% em normais, mas se reduz em pacientes com insônia. O actígrafo de pulso
é capaz de diferenciar normais de insones, em crianças, adultos e idosos.
Oximetria
Para diagnóstico de síndrome das apnéias-hipopnéias obstrutivas do sono,
substituindo-se a polissonografia por testes como a oximetria, por exemplo, o
valor preditivo positivo é inferior ao obtido usando-se as queixas do paciente. A
390
relação custo-benefício pode ser frustrante. Em quase 50% das oximetrias conti-
nua dúvida sobre a presença ou ausência de síndrome das apnéias-hipopnéias
obstrutivas do sono, persistindo a necessidade da polissonografia.
Flemons WW, Whitelaw WA, Brant R, Remmers JE. Likelihood ratios for a sleep apnea
clinical prediction rule. Am J Respir Crit Care Med 1994;150:1279-85.
Johns MW. A new method for measuring daytime sleepiness: the Epworth sleepiness scale.
Sleep 1991; 14:540-5.
Johns MW. Reliability and factor analysis of the Epworth sleepiness scale. Sleep 1992; 15:
376-81.
391
Kump K, Whalen C, Tishler PV, Browner I, Ferrette V, Strohl KP, et al. Assessment of the
validity and utility of a sleep-symptom questionnaire. Am J Respir Crit Care Med
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Research 1996; 25:293.
Walters AS. Toward a better definition of the restless legs syndrome. The International Restless
Legs Syndrome Study Group. Mov Disord 1995;10:634-42.
DIAGNÓSTICO DOS DISTÚRBIOS DO SONO
392
21
USO DE DROGAS
HELENA M. T. BARROS
ELVINO BARROS
O uso de álcool e/ou outras drogas pode estar associado a inúmeros problemas
clínicos ou psiquiátricos. Além disso, álcool e outras drogas podem interagir com
diferentes medicamentos. Dessa forma, é necessário o diagnóstico do uso proble-
mático ou de dependência para que seja feito um encaminhamento ou interven-
ção. Por outro lado, em pacientes avaliados em estado de intoxicação, é necessário
o diagnóstico presuntivo da(s) droga(s) utilizada(s) para o planejamento de ações
imediatas.
A adição a álcool, tabaco e outras drogas é um distúrbio crônico com exacerba-
ções e remissões que seguem um padrão progressivo. As manifestações mais
importantes são a perda de controle sobre o uso da droga, com conseqüências
desastrosas.
Os médicos com freqüência falham no reconhecimento de problemas relacio-
nados ao uso de álcool ou outras drogas, principalmente em estágios mais preco-
ces. Mesmo no caso de haver reconhecimento de um problema relacionado ao
uso de álcool ou outras drogas, há baixa eficácia na intervenção. É possível reverter
a situação por meio de triagem sistemática, conhecimento sobre os recursos de
tratamento e intervenção breve para diminuir a resistência à modificação de com-
portamentos pelos usuários de drogas.
A triagem deve ser feita para todos os pacientes adolescentes, adultos e idosos
nas seguintes situações: em avaliações pós-quadros de intoxicação aguda ou no
caso de haver sintomatologia que pode ser devida ao uso de álcool ou tabaco,
em exames de saúde de rotina, e antes de prescrever medicamentos.
O médico generalista ou especialista em áreas clínicas, cirúrgicas, de adultos
ou crianças tem um papel importante no diagnóstico precoce e nas recomendações
conseqüentes porque a freqüência do uso de álcool e de tabaco é muito alta.
Mais do que 50% da população brasileira relata ter consumido tais drogas no
ano anterior à entrevista.
Nove a 10% da população brasileira acima de 12 anos são dependentes de
álcool, e outros 10% são dependentes de tabaco. São consumidores de risco ou
de uso problemático de álcool em torno de 32% da população, e mais de 12%
fazem uso diário de álcool.
O uso problemático ou abuso de álcool deve ser extensivamente investigado
em todos os pacientes, principalmente naqueles com queixas e diagnósticos na
esfera gastrintestinal, cardiovascular, acidente vascular cerebral, câncer, impotên-
cia, suspeita de síndrome alcoólica fetal e em eventos traumatológicos ou violentos.
O uso de tabaco deve ser investigado mais cuidadosamente em pacientes com
doenças cardíacas, vasculares, respiratórias, gastrintestinais e tumores, especial-
mente de pulmão. Alguns sinais e sintomas devem ser considerados suspeitos
para o uso de drogas, mesmo quando houver negativa por parte dos pacientes.
394
Quadro 21.1 Glossário de termos relacionados ao diagnóstico de uso de
drogas
USO DE DROGAS
Intoxicação É uma síndrome específica, reversível, e ocorre devido ao
uso recente de uma droga. Pode estar associada à
dependência. Drogas de abuso induzem alterações
comportamentais (beligerância, labilidade emocional,
dificuldade cognitiva e de julgamento) e físicas
imediatamente após o uso.
Tolerância É a necessidade de aumentar a dose para alcançar o mesmo
grau de efeito das primeiras experiências com aquela droga
ou a diminuição dos efeitos com o uso continuado da droga.
Em avaliações de rotina
Caracterizar o padrão de uso de álcool
Q Perguntar sobre uso de álcool para todos os pacientes:
– “Você bebe bebidas alcoólicas como cervejas, vinhos, cachaça ou licor?”
– “Em geral, em quantos dias de uma semana consome essas bebidas?”
395
– “Qual o número máximo de doses que consumiu de uma vez no último
mês?”
Q Perguntar aos que respondem afirmativamente sobre consumo de álcool:
– “Em média, em quantos dias da semana você bebe?”
– “No dia em que você bebe, quantas doses são consumidas?”
– “Qual o número máximo de doses que você usou em uma ocasião no
último mês?”
– “Já apresentou embriaguez em alguma ocasião?”
– “Já sofreu acidentes enquanto estava sob a ação do álcool?”
– “Tem história familiar de alcoolismo?”
Q Aplicar o CAGE para avaliar a dependência a álcool
(C) Alguma vez sentiu que deveria diminuir (cut down) a dose de bebida
ou parar de beber?
(A) As pessoas o aborrecem (annoyed) porque criticam o seu modo de
beber?
(G) Se sente culpado (guilty) pela maneira com que costuma beber?
(E) Costuma beber pela manhã (eye-opener) para diminuir nervosismo ou
a ressaca?
Nessa triagem se define o espectro do uso de álcool. Teremos indivíduos que
não consomem bebidas alcoólicas, os que consomem de forma a apresentar baixo
risco, os que consomem álcool e não apresentam problemas sociais, familiares
ou físicos até o presente momento, ou que já apresentam problemas, e aqueles
que são dependentes de bebidas alcoólicas. Portanto, a triagem envolve estabele-
cer o diagnóstico de intensidade/severidade do consumo de álcool, que pode ser:
USO DE DROGAS
396
uso de medicamentos, uso de tabaco, uso de drogas ilícitas. Nesses ca-
sos também é preciso perguntar sobre problemas interpessoais ou de
trabalho: “O beber já lhe causou algum problema com sua família, capa-
cidade de trabalho, acidentes ou lesões?”
Q Com sinais de dependência ao álcool:
– quando há 3 a 4 respostas positivas do CAGE no último ano e/ou um ou
mais sintomas de compulsão;
– falta de controle; alívio ao beber; tolerância; sinais de abstinência.
Nesses casos, as perguntas a seguir terão respostas positivas:
Q “Acontece de não conseguir parar de beber?”
Q “Toma mais doses do que antes para ficar ‘alto’?”
Q “Sente fortemente que precisa beber?” “Você muda seus planos para poder
beber?”
Q “Você está bebendo quantidades maiores de álcool que há algum tempo?”
Q “Você bebe pela manhã para diminuir tremores?”
USO DE DROGAS
risco, com consumo problema e os dependentes e advertir sobre conseqüências.
Nesses casos, será importante orientar o paciente mais intensamente para o ob-
jetivo de beber de baixo risco, ou a abstinência, e oferecer material educativo.
Discuta com o paciente sua preocupação sobre a condição médica, recomende
abstinência ou diminuição e, juntamente com o paciente, cheguem a um acordo
sobre um plano de ação para diminuir o risco ou problema. No caso de “bebedores
de risco” e “bebedores problema”, recomende limite de consumo baseado em
riscos de saúde, ou seja, oriente o paciente para estabelecer o objetivo de beber
de baixo risco. Ofereça material educativo para o paciente (que pode ser
encontrado em vários sites da internet). Para dependentes de álcool, é preciso
indicar a avaliação diagnóstica e o tratamento. Sempre será preciso envolver o
paciente na decisão e discutir serviços disponíveis para os tratamentos necessários,
inclusive marcar hora nesses serviços enquanto o paciente está no consultório,
em alguns casos específicos.
397
– “Quantas carteiras de cigarro ou unidades de charutos ou sacos de tabaco
para cachimbo você usou no último mês?”
Q Perguntar aos que respondem afirmativamente sobre consumo de tabaco:
– “Você está interessado em parar de fumar?”
– “Você já tentou parar de fumar antes?”. Se a resposta for positiva, pergun-
te: “O que aconteceu? Você já pensou em nova data para parar de fumar?”
Q Aplicar o questionário Fagerström para avaliar a dependência de tabaco
(Quadro 21.2).
Q Apontar/verificar problemas relacionados ao uso de tabaco:
– Fazer revisão da história médica para sintomas respiratórios como tosse,
broncoespasmo e sinais de enfisema, hipertensão, doença coronariana
ou cerebrovascular, úlceras pépticas, depressão, dor abdominal crônica,
disfunção sexual, uso de medicamentos, uso de álcool, uso de drogas
ilícitas.
Q Diversos grupos de pacientes podem ser caracterizados pelo grau de com-
prometimento da saúde ou pelo potencial de prevenção de problemas.
398
– Filhos de pais fumantes: bronquites, alergias e infecções respiratórias,
aumento da chance de os filhos fumarem quando os pais são fumantes.
– Adolescentes: hálito e dentes escuros, dor de garganta e tosse, infecções
respiratórias freqüentes, falta de ar, mau desempenho em atividades
desportivas, problemas relacionados aos custos do cigarro.
– Mulheres grávidas ou em idade gestacional: risco de aborto espontâneo
ou morte fetal, risco de imaturidade pulmonar do feto, risco de recém-
nascido de baixo peso ao nascer.
– Adultos assintomáticos: dentes e dedos escuros, cheiro característico nas
roupas e ambiente, duplicação do risco de doença cardíaca, risco seis
vezes maior de enfisema, risco 10 vezes maior de câncer de pulmão,
esperança de vida encurta em 5 a 8 anos, envelhecimento precoce, respi-
ração difícil e menor resistência ao esforço físico, gastos com o cigarro e
com tratamento de doenças associadas.
– Adultos sintomáticos: acrescentam-se infecções de vias aéreas, tosse,
doenças de gengivas, dispnéia, doenças pépticas, angina, claudicação,
osteoporose, impotência sexual.
USO DE DROGAS
antes da consulta.
Caso se caracterize o uso freqüente ou problemático de drogas, tente estimar
o grau de dependência ou o uso problemático de drogas. Vários questionários
estão disponíveis, mas devemos escolher aqueles mais curtos para a fase inicial
de investigação. Por exemplo:
Q Já lhe aconteceu de usar mais droga do que havia planejado?
Q O uso de droga interfere (chegar no horário, sair mais cedo, faltar, apre-
sentar menor eficiência) com o seu trabalho?
Q O seu uso de droga gera conflito com seus familiares?
Q Você se sente deprimido, culpado ou com remorso depois de usar droga?
Q Você consome a quantidade de droga que você tem a mão, até que o
estoque termine?
Q Você já pensou que teria sido melhor não ter usado a primeira dose de droga?
Q Você já apresentou algum problema de saúde (sangramentos nasais,
arritmias, dor no peito) por usar a droga?
Q Depois de usar a droga você já apresentou dificuldade para dormir ou
ficou muito sonolento para o que foi necessário usar outra droga ou bebi-
da alcoólica?
Q Você tem fissura (vontade incontrolável) por conseguir a droga?
Q Você tem ou já teve problemas financeiros pelo uso da droga?
Q Você já apresentou euforia antecipatória só de pensar em usar a droga?
399
Tabela 21.1 Controle de uso de drogas
Tem Esta
Usou Usou Usou Usou problemas é a
Não 1a2 3a9 10 a 20 mais de com a droga
usou vezes vezes vezes 20 vezes droga predileta
Anfetaminas
SEM RECEITA
Êxtase
Cocaína/crack
Maconha
Alucinógenos
Tranqüilizantes
SEM RECEITA
Codeína ou
opióides
Anabolizantes
SEM RECEITA
Inalantes/
solventes
USO DE DROGAS
OUTRAS
400
Q Você interage com pessoas diferentes do seu círculo social, com os quais
não conviveria habitualmente, para ter acesso à droga?
Q Já lhe aconteceu de roubar drogas ou dinheiro de amigos ou familares?
USO DE DROGAS
saúde. As alterações específicas se relacionam aos efeitos agudos (hematomas e
lesões punctórias na pele em mucosas pelo uso endovenoso), crônicos ou de
abstinência e são próprios de cada droga ou do grupo farmacológico ao qual
pertence a droga utilizada. A má nutrição e outras condições médicas gerais,
como infecções, acidentes de trabalho, acidentes de trânsito, ou traumatismos
por violência são resultados indiretos dos efeitos das drogas ou de sua forma de
uso.
401
Êxtase: semelhante aos anfetamínicos.
Inalantes: excitação inicial com euforia e agitação psicomotora seguida de inibição
gradativa da consciência, confusão, desorientação, psicose, síncope, tontura, per-
turbações auditivas e visuais, sonhos bizarros, convulsões, cefaléia, salivação,
náuseas e vômitos, dor abdominal em cólica, espirros, tosse, fotofobia, nistagmo,
diplopia, taquicardia, fibrilação ventricular, odor característico.
Maconha: Euforia, sedação, alteração da percepção, alucinações, delírios e idéias
paranóides, confusão mental, incoordenação, diminuição da velocidade de reação,
comprometimento da memória a curto prazo, euforia que pode progredir para
ansiedade, e, em até duas horas após o uso, ocorre apetite aumentado, boca
seca, hiperemia conjuntival e taquicardia.
Opióides: analgesia, sonolência, alterações de humor e confusão mental, náusea,
vômitos, constipação, hipotermia, depressão respiratória até parada respiratória,
em 5 a 10 minutos após uso EV, depressão do reflexo da tosse, vasodilatação
periférica com rubor e hiperemia cutânea, bradicardia, hipotensão postural e
pupilas mióticas não-reativas (exceto meperidina, que leva à dilatação das pupilas).
Tabaco: relaxamento muscular, aumento do estado de alerta, taquicardia, hiperten-
são, sudorese, náuseas, vômitos, aumento da concentração e memória, aumenta
o funcionamento do intestino, diminui apetite, ansiedade, irritabilidade, tensão,
salivação, dor abdominal, diarréia, cefaléia, tontura, fraqueza, tremor e palpitação.
USO DE DROGAS
402
Inalantes: palidez, odor característico, fala arrastada, reflexos lentos, alteração da
memória, insuficiência hepática, insuficiência renal, maior risco de infecções, tole-
rância e dependência.
Maconha: tosse crônica, sinusite, faringite, bronquite, enfisema, apatia, distúrbio
no senso crítico, de concentração e memória, perda do interesse pela aparência
pessoal, diminuição da imunidade, queda na fertilidade e disfunção erétil, tolerân-
cia e dependência.
Opióides: maior risco de infecções, tolerância, dependência e síndrome de abstinên-
cia, hematomas e lesões punctórias na pele ou nas mucosas pelo uso EV.
Tabaco: risco aumentado de câncer de pulmão, esôfago, pâncreas, rim e mama,
entre outros, cardiopatia isquêmica, infarto do miocárdio, bronquite crônica, hiper-
tensão arterial, hipersecreção gástrica, tolerância, dependência e síndrome de
abstinência.
USO DE DROGAS
drogas de curta duração de ação, ou em 5 a 10 dias para aquelas de ação prolon-
gada. A síndrome de abstinência pode ser longa. Risco de vida, com alterações
cardíacas e respiratórias, hiperatividade autonômica, sudorese, aumento da
freqüência respiratória, taquicardia, tremor, alucinações visuais, táteis e auditi-
vas, insônia de rebote, irritabilidade, agitação, ansiedade, quadros psicóticos,
crises convulsivas, distúrbio de consciência, aumento do reflexo de sobressalto,
aumento de reflexos profundos, hipotensão ortostática.
Cocaína (e anfetamínicos): depressão moderada à grave, sonhos perturbadores,
ideação paranóide, insônia ou hipersonia, ansiedade, irritabilidade, cansaço, au-
mento ou diminuição do apetite, agitação ou retardo psicomotor, fissura.
A síndrome de abstinência da cocaína ocorre em três fases: nas primeiras
horas a poucos dias após a última dose, iniciando com agitação, fissura, depres-
são, seguida de hipersonia intercalada por bulimia; da 2a à 10a semana da absti-
nência há anedonia, anergia, ansiedade e muita fissura; a fase de extinção dura
até um ano, quando o paciente é muito sensível à recaída pelo desenvolvimento
de muita fissura devido a pistas condicionadas.
Opióides: início em até um dia após a última dose para drogas de curta duração
de ação, como a morfina e heroína, com pico em 2 a 3 dias e duração de 7 a 10
dias. Ansiedade, irritabilidade, fissura, disforia, sem distúrbios de consciência,
lacrimejamento e rinorréia, bocejos, insônia, maior sensibilidade à dor, dores mus-
403
culares e articulares, sudorese, piloereção, midríase, náuseas, vômitos e diarréia,
desidratação, taquicardia, hipertensão, taquipnéia, movimentos musculares in-
voluntários, como mioscimias e chutes, hipertermia com “calorões” e surtos de
frio.
Tabaco: início em horas após o último cigarro, com pico em 24 horas e duração
de até 10 dias. Humor disfórico ou deprimido, insônia, irritabilidade, frustração,
inquietação, raiva, ansiedade, dificuldade de concentração, diminuição da fre-
qüência cardíaca e aumento de apetite o que leva a um aumento do peso corporal
em até seis meses de abstinência.
Bernstein CA, Ladds BJ, Maloney AS, Weiner ED. On call: psychiatry. Philadelphia: WB
Saunders; 1997.
Fleming M, Cotter F, Talboy E. Training physicians in techniques for alcohol screening and
brief intervention. Bethesda: National institute on Alcohol Abuse and Alcoholism; 1997.
Issacson JH, Schorling JB. Screening for alcohol problems in primary care. Med Clin N Am
1999; 83: 1547-63.
USO DE DROGAS
Miller N, Gold MS, Smith DE. Manual of therapeutics for addictions. New York: Wiley-Liss,
1997.
Sites recomendados
Serviço de Informações sobre Substâncias Psicoativas:
http://farmaco.fffcmpa.tche.br/sisp
INFOdrogas:
http://www.imesc.sp.gov.br/infodrog.htm
404
The International Nurses Society on Addictions:
www.intnsa.org
USO DE DROGAS
405
22
SEMIOLOGIA APLICADA ÀS
PRINCIPAIS SÍNDROMES
ENDÓCRINAS
JORGE DE FARIA MARASCHIN
MAURO ANTÔNIO CZEPIELEWSKI
SINAIS E SINTOMAS
Galactorréia: é a presença de secreção similar ao leite pelos mamilos, podendo ser
espontânea ou provocada. É normal num período de até seis meses após o nasci-
mento ou após o término da amamentação. Está presente freqüentemente em
mulheres com hiperprolactinemia, mas também pode acontecer em homens.
Poliúria: é o aumento do volume urinário, em geral maior do que 3 L/dia. Depen-
de diretamente do volume de líquido ingerido.
Emagrecimento: é a perda absoluta de peso. Devemos sempre distinguir se é vo-
luntária ou involuntária. Não existe valor absoluto ou percentual que defina a
perda de peso como patológica ou não – mais importante é caracterizar seu
início e progressão.
Estrias: decorrem do rápido aumento do volume da pele. É importante avaliar a
sua cor: avermelhadas (síndrome de Cushing) ou escurecidas (doença de Addison)
e a velocidade de aparecimento.
Obesidade: define-se como aumento da gordura corporal. Existem várias definições
de obesidade, no entanto a mais prática é a dada pelo índice de massa corporal
= peso (kg)/altura (m2). A classificação de obesidade é dada pela Tabela 22.1.
Tabela 22.1 Classificação de peso de acordo com o índice de massa
corporal (IMC)
Classe de
Classificação obesidade IMC (Kg/m2) Risco de doença
Baixo peso < 18,5 Aumentado
Normal 18,5-24,9 Normal
Sobrepeso 25-29,9 Aumentado
Obeso I 30-34,9 Alto
II 35-39,9 Muito alto
III > 40 Extremamente alto
EXAME FÍSICO
O exame físico já foi abordado em capítulos anteriores. Neste capítulo, ressaltamos
a importância de uma adequada avaliação da tireóide.
408
O exame da tireóide
A tireóide é uma glândula endócrina facilmente palpável, localiza-se na face
anterior do pescoço à frente da traquéia e cerca de uma polpa digital abaixo da
cartilagem tireóide. (Figura 22.1).
O exame físico da tireóide deve ser realizado com o paciente sentado com o
pescoço levemente estendido. O paciente deve ter um copo com água à sua
disposição. Primeiramente, observamos a movimentação da glândula para cima
e para baixo à deglutição de um gole de água, observando seu tamanho, mobili-
dade e presença ou não de nodulações. Após isso, a glândula deve ser palpada
anteriormente. Com o polegar devemos palpar gentilmente a glândula contra as
estruturas do pescoço, começando pela borda inferior de cada lobo lateral e
movendo o polegar para cima, observando-se nodularidades e consistência da
glândula e de cada nódulo (Figura 22.2). O terceiro passo é a palpação da glân-
dula por trás do paciente. Devemos usar o segundo, terceiro e quarto dedos de
cada mão, palpando-se os lobos laterais e o istmo em toda a sua extensão e
durante a deglutição (Figura 22.3).
Após a palpação da tireóide, quando a mesma encontra-se aumentada e há
suspeita de bócio mergulhante, compressão da traquéia ou das estruturas vascu-
lares do pescoço, os sinais de Maragnon e Penberton devem ser pesquisados.
409
Figura 22.2 – Palpação anterior da tireóide.
SEMIOLOGIA APLICADA ÀS PRINCIPAIS SÍND. ENDÓCRINAS
410
PRINCIPAIS SÍNDROMES
Acromegalia e gigantismo
Acontece quando há hipersecreção do hormônio do crescimento (GH) e deno-
mina-se de gigantismo (crescimento linear) quando acontece no período an-
terior ao fechamento das epífises de crescimento (usualmente antes do 14 anos)
e de acromegalia (crescimento exagerado de ossos e tecidos moles) quando a
hipersecreção acontece na vida adulta.
Na criança, o mais marcante é o aumento da velocidade de crescimento e o
hipogonadismo. No adulto, as alterações são insidiosas, não-notadas pelos pacien-
tes e familiares, e o diagnóstico só é realizado tardiamente pelo reconhecimento
de uma face acromegálica, quando o quadro clínico é evidente, e o tumor é
muito grande (macroadenoma de hipófise).
Na avaliação de um paciente com acromegalia, devem ser pesquisados os
dados de história que evidenciem o aumento das extremidades (mãos e pés),
como o número do sapato e a necessidade de aumento do diâmetro de anéis ou
alianças. A patologia está associada a alterações no sistema cardiovascular, aumen-
to da glicemia, sintomas osteoarticulares e compressão de nervos periféricos.
Como a maioria dos casos é de macroadenoma hipofisário, as manifestações
Baixa estatura
Para a baixa estatura (BE) não existe uma definição universalmente aceita.
Pode-se classificar como: (a) estatura abaixo do 3o percentil ou abaixo de 2 desvios-
padrão para a média; (b) velocidade de crescimento abaixo do percentil 25 ou
velocidade de crescimento (VC) menor que 5 cm/ano; (c) altura prevista menor
que a altura alvo.*
Deve ser avaliada por meio de história detalhada. Como foi o crescimento da
criança do nascimento até aquele momento, se houve parada ou desaceleração
do crescimento e quando isso aconteceu. Devem ser abordadas as condições da
gestação, condições do parto, peso ao nascimento, Apgar, história de doenças
crônicas e agudas graves na infância, necessidade de cirurgia e hospitalização e
*Altura-alvo: altura do pai mais altura da mãe + 13 cm (se menino) e – 13 cm (se menina)/2.
411
uso de drogas (principalmente glicocorticóides). A história e os hábitos alimentares
também devem ser abordados com detalhe à procura de erros alimentares ou
sinais de distúrbios digestivos que possam causar má-absorção. Dados sobre a
altura dos pais e familiares e desenvolvimento puberal também são importantes,
pois a maioria dos casos de baixa estatura é, na verdade, apenas variante da
normalidade e não-patológica.
No exame físico, os dados referentes ao crescimento e desenvolvimento pu-
beral devem ser coletados de modo correto. O peso (balança calibrada) e a altura
(em estadiômetro) do paciente (colocando-os nos respectivos gráficos de cresci-
mento), a altura dos pais, o cálculo da altura-alvo e as medidas das proporções
corporais (envergadura, segmento inferior e relação segmento superior e inferior)
devem ser avaliados, já que algumas patologias, como displasias esqueléticas,
doenças endócrinas e síndromes genéticas, podem ser detectadas com base nessas
medidas. Em meninas com baixa estatura e atraso puberal, procurar sempre estig-
mas da síndrome de Turner. Por fim, a avaliação do estágio puberal por meio dos
critérios estabelecidos por Tanner deve ser realizada.
Bócio
O aumento da tireóide é chamado de bócio quando pelo menos um dos
SEMIOLOGIA APLICADA ÀS PRINCIPAIS SÍND. ENDÓCRINAS
lobos da mesma for maior que a falange distal do primeiro dedo da mão da
pessoa sendo examinada. Ele pode ser difuso ou multinodular.
Sempre que abordamos um paciente com bócio, devemos averiguar se ele
apresenta sintomas de hiper ou hipotireoidismo (ver a seguir), quando surgiu o
bócio e como é sua evolução: apresenta aumento rápido ou lento, se existem
sintomas compressivos (dispnéia em decúbito, congestão facial e rouquidão), dor
e a procedência do paciente (Vem de área de deficiência de iodo?). A tireóide deve ser
examinada como descrito anteriormente, procurando saber se existem nódulos ou
não, suas características e se existem os sinais de Penberton e de Maragnon.
412
biológica ou a ambas. As alterações metabólicas decorrentes da DM causam
alterações fisiopatológicas em múltiplos sistemas do corpo, levando a danos,
principalmente à retina, ao rim, aos nervos periféricos e aos vasos sangüíneos.
O DM tipo 1 é uma doença de etiologia auto-imune que se manifesta, na
grande maioria dos casos, na infância ou na adolescência, mas pode acontecer
em qualquer faixa etária. Por caracterizar-se pela deficiência absoluta na secreção
de insulina, as manifestações da falta de insulina (catabólicas) são freqüentes e
marcadas. A história faz o diagnóstico em praticamente 100% dos casos. Os
pacientes apresentam-se freqüentemente com quadro de poucos dias ou semanas
de evolução com poliúria (enurese noturna), polifagia, emagrecimento, cansaço,
desidratação e fraqueza, e 20% procuram auxílio médico por cetoacidose diabética.
O DM tipo 2 é uma síndrome heterogênea complexa, em que predomina
estado de resistência à ação de insulina e obesidade (80% dos casos). É mais
comum em indivíduos de meia idade e idosos, mas com o crescente aumento
dos casos de sobrepeso e obesidade infantil, também acontece em crianças e
adultos jovens. O início do quadro é insidioso, em geral assintomático, e o paci-
ente pode ficar meses e, freqüentemente, anos sem o diagnóstico, até que as
manifestações relacionadas à hiperglicemia sejam evidentes. Dessa forma, a histó-
ria é fundamental. O paciente com DM 2 também pode apresentar poliúria,
Hiperprolactinemia
Acontece por aumento dos níveis séricos da prolactina. Os sinais e sintomas
clássicos de hiperprolactinemia, na mulher, são amenorréia/oligomenorréia, ga-
lactorréia e diminuição do volume das mamas. Deve sempre ser perguntado
também sobre o aparecimento de pêlos, bem como sobre libido e fertilidade.
Em homens, a galactorréia é incomum e geralmente o paciente se apresenta
em hipogonadismo, com diminuição da libido e dos pêlos. Em até 20% dos casos
(macroprolactinoma), pode haver cefaléia e alterações visuais. O exame neuroló-
gico completo e a pesquisa de campo visual por confrontação deve ser sempre
realizada.
Hipertireoidismo
Caracteriza-se pelo excesso de hormônios tireoidianos. Sua causa mais comum
é a doença de Graves.
413
Os hormônios tireoidianos são responsáveis pela regulação do metabolismo
corporal e, no seu excesso, há hipermetabolismo. Os pacientes queixam-se de
palpitações, nervosismo, cansaço, intolerância ao calor, emagrecimento com apeti-
te normal ou aumentado, agitação, ansiedade, tremores e sudorese excessiva. A
presença e a intensidade dos sintomas dependem da velocidade de instalação do
quadro, sua gravidade e seu tempo de evolução.
Nos casos de hipertireoidismo por doença de Graves, pode haver comprometi-
mento ocular com edema, hiperemia conjuntival, aumento do volume do globo
ocular e outras queixas visuais. A dermatopatia de Graves que se caracteriza por
um infiltrado pré-tibial endurecido e áspero, lembrando uma casca de laranja,
pode estar presente, mas é rara.
Semelhante a outras síndromes, o diagnóstico pode ser feito pela ectoscopia.
Os pacientes com Graves podem apresentar olhos “arregalados”e saltados, de-
vido à proptose e à retração palpebral, e bócio difuso. Ao exame detalhado do
olho, podemos notar paresia e paralisias da musculatura extrínseca ocular, diplopia,
sensação de corpo estranho e outros achados inflamatórios. Em geral, o paciente
encontra-se inquieto e agitado, tendo dificuldade de permanecer parado. A ti-
reóide encontra-se aumentada de modo difuso nos casos graves, pode ser notado
um frêmito à palpação dos lobos e sopro à ausculta. A pele em geral é quente e
SEMIOLOGIA APLICADA ÀS PRINCIPAIS SÍND. ENDÓCRINAS
Hipoglicemia
Acontece quando há redução dos níveis plasmáticos de glicose; na ausência
de sintomas, uma glicemia abaixo de 50 mg/dL é anormal.
O quadro clínico pode ser dividido em manifestações adrenérgicas e neuro-
glicopênicas. Os sintomas adrenérgicos, em geral, acontecem antes dos neuro-
glicopênicos e caracterizam-se por sudorese fria, taquicardia, calorões, tremor
de extremidades, ansiedade, náusea e palidez cutânea. Os sintomas neuroglico-
pênicos podem apresentar-se como cefaléia, visão turva, lentificação, parestesias,
fala arrastada e desconexa, coma e convulsões. Ao exame, é fundamental avaliar
bem o nível de consciência, exame neurológico completo, freqüência cardíaca e
temperatura corporal. Devemos sempre procurar uma causa para hipoglicemia,
devendo ser pesquisados história de alimentação, presença de diabete melito, uso
de drogas (principalmente insulina e sulfoniluréia), uso de álcool, história de doença
renal e presença de hipoglicemias freqüentes. Os pacientes diabéticos em uso de
insulina com hipoglicemias freqüentes ou uso de β-bloqueador têm limiar de sinto-
mas mais baixos e podem não ter sintomas adrenérgicos, apenas neuroglicopênicos.
Hipogonadismo
Decorre da falta de ação dos hormônios sexuais. Pode ter origem primária
(gonadal), secundária (hipofisária) ou terciária (hipotalâmica). As manifestações
clínicas decorrentes da falta de andrógenos dependem da intensidade e do período
414
da vida em que ela acontece. As manifestações podem variar de genitália ambígua
(primeiras 12 semanas de desenvolvimento fetal) à perda de caracteres sexuais
secundários e piora do estado geral na idade adulta.
Os aspectos abordados na anamnese e no exame físico variam conforme o
sexo e a idade.
Q Ao nascimento: é importante perguntar sobre o aspecto da genitália ao
nascimento, a presença de testículos na bolsa escrotal e o tamanho do
pênis; nas meninas, o aspecto dos grandes e pequenos lábios e do clitóris.
Q Infância: abordar o padrão de crescimento, o apetite e a disposição.
Q Puberal: a idade do início é mais precoce nas meninas (8-9 anos) e mais
tardia nos meninos (9-10 anos, em média), mas é considerada anormal se
não inicia antes dos 13 anos nas meninas e antes dos 14 em meninos.
Deve ser abordado o aparecimento dos caracteres sexuais secundários:
aumento de mamas, surgimento de pêlos pubianos e axilares, surgimento
e regularidade do ciclo menstrual, odor axilar androgênico e aumento do
volume testicular e do comprimento do pênis. A velocidade de crescimento
deve ser observada assim como as mudanças no comportamento e as altera-
ções de voz.
Q Adulta: A história menstrual deve ser sempre questionada, assim como
Hipotireoidismo
É definido como falta da ação do hormônio tireoidiano, e sua causa mais
comum é a tireoidite de Hashimoto.
A presença e a magnitude dos sintomas dos pacientes com hipotireoidismo
vão depender do grau de evolução da doença. Os sintomas mais comuns de
hipotireoidismo são cansaço excessivo, fraqueza, aumento de peso, intolerância
ao frio, cãibras, irregularidade menstrual, sonolência, constipação, parestesias,
inchaço e queda de cabelos. A procedência do paciente (Vem de área de deficiência
de iodo?), história de irradiação cervical, história familiar de problemas de tireóide
ou outras doenças auto-imunes e uso de drogas (p. ex., lítio) podem apontar
para etiologia do hipotireoidismo.
Quando examinamos um paciente com hipotireoidismo franco, podemos,
pela ectoscopia, identificá-lo: face caracterizada por edema facial, cabelo seco e
quebradiço e madarose (perda dos pêlos das sobrancelhas), dando a aparência
de uma face apática. Em situações de hipotireoidismo extremo, pode haver hi-
potermia, bradicardia, hipotensão, com pele fina, seca e enrugada e voz rouca,
arrastada e lenta. Um sinal clássico que pode estar presente é a lentificação da fase
de relaxamento do reflexo aquileu. Atualmente, com o diagnóstico precoce do
hipotireoidismo por screening, os quadros de hipotireoidismo severos são raros.
Hirsutismo
É definido como excesso de pêlos terminais em mulheres em regiões onde
habitualmente estariam ausentes. O hirsutismo só existe em mulheres. A virilização
415
pode acompanhar quadros de hirsutismo e se caracteriza por aumento da massa
muscular, alteração da voz, alopecia e hipertrofia de clitóris.
Deve ser caracterizado o início do quadro, o tempo de evolução, a área afe-
tada, a presença ou não de acne, a história de irregularidade menstrual, a história
familiar de hirsutismo, a etnia e a presença ou não de virilização concomitante.
Quadro de rápida evolução com hirsutismo severo e virilização sugere tumor
adrenal ou ovariano, já um quadro lento e progressivo de início logo após a
menarca com ciclos irregulares e anovulatórios sugere síndrome dos ovários po-
licísticos.
Ao exame, o mais importante, além da procura de sinais de virilização, acne e
seborréia, devemos realizar avaliação do hirsutismo por meio do escore de Ferri-
man. São atribuídas notas de 1 a 4 às áreas do corpo (Figura 22.4) de acordo
com a quantidade, distribuição e característica do pêlo de cada região. Um escore
maior que 8 faz o diagnóstico de hirsutismo.
Insuficiência adrenal
Acontece por deficiência na produção de corticóide pela glândula adrenal.
Ela pode ser primária (por destruição da adrenal – doença de Addison) ou secundá-
ria (deficiência de ACTH). A principal causa de insuficiência adrenal secundária é
SEMIOLOGIA APLICADA ÀS PRINCIPAIS SÍND. ENDÓCRINAS
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416
cicatrizes e zonas extensoras. Se possível, o aspecto atual do paciente deve ser
comparado com uma foto prévia, pois a hiperpigmentação pode ser leve e progres-
siva e nem sempre notada pelo paciente. A sua presença indica insuficiência
primária.
Em situações de estresse severo ou retirada de corticóide em pacientes com
diagnóstico prévio de insuficiência adrenal, pode haver insuficiência adrenal aguda
ou crise adrenal (addisoniana), com piora aguda dos sintomas de fraqueza, ano-
rexia, náuseas e vômitos, podendo levar ao coma, ao choque e à hipoglicemia.
No exame físico, uma inspeção detalhada deve ser realizada à procura de
hiperpigmentação nas mucosas e na pele (pregas palmares, leito ungueal, mamilos,
aréola e mucosa perianal e vaginal). É importante também notar sinais de desidra-
tação, como hipotensão postural, taquicardia e estado das mucosas. O exame
neurológico deve ser realizado com cuidado, uma vez que o paciente pode apre-
sentar sonolência, confusão, apatia e até coma.
Pan-hipopituitarismo
O pan-hipopituitarismo acontece quando há deficiência de dois ou mais hor-
mônios hipofisários
Devem ser procurados sinais e sintomas de deficiências hormonais específicas
Síndrome de Cushing
Caracteriza-se por excesso de cortisol, podendo ser iatrogênico ou por produ-
ção endógena. A causa mais comum é doença de Cushing (adenoma hipofisário
produtor de ACTH).
Os sintomas decorrem do excesso da produção de glicocorticóide, com au-
mento de peso, amenorréia, hipertensão, acne, seborréia, fragilidade capilar, in-
tolerância à glicose e/ou diabete melito. É fundamental detalhar o início do apa-
recimento dos sintomas, o tempo de evolução (rápida e agressiva fala a favor de
neoplasia ou secreção ectópica de ACTH, evolução lenta e arrastada, Cushing
adrenal ou doença de Cushing). Perguntar por sinais de hiperpigmentação que
sugerem produção ectópica de ACTH e virilização intensa que supõe carcinoma
de adrenal. O excesso de corticóide também pode induzir distúrbio psiquiátrico e
417
quadros de euforia, ansiedade e depressão, podendo ser essa a primeira manifes-
tação da doença.
A ectoscopia é muito reveladora e permite estabelecer o diagnóstico nos qua-
dros moderados a severos. É característica a face em lua cheia (arredondada),
pletora facial, acne, excesso de pêlos e estrias violáceas abdominais. A obesidade
é central, de tronco, poupando os membros superiores e inferiores; freqüente-
mente há deposição de gordura supraclavicular e presença de giba. Em quadros
graves, há miopatia pelo corticóide com fraqueza proximal, dificuldade de elevação
dos braços, principalmente contra-resistência, e dificuldade para subir escadas.
Larsen PR, Kronenberg HM, Melmed S, Polonsky KS. Williams textbook of endocrinology.
10th. ed. Philadelphia: Saunders; 2002.
Sites recomendados
Thyroid Disease Manager:
SEMIOLOGIA APLICADA ÀS PRINCIPAIS SÍND. ENDÓCRINAS
http://www.thyroidmanager.org
418
23
EXAMES ONCOLÓGICO
E HEMATOLÓGICO
DANIELA DORNELLES ROSA
SÉRGIO JOBIM DE AZEVEDO
HENRIQUE BITTENCOURT
SINAIS E SINTOMAS
Alerta para o câncer. Os chamados “sinais de alerta para o câncer”, promovidos
por entidades científicas para populações e campanhas contra o câncer, servem
de base para qualquer iniciante nessa área. A listagem, em linguagem leiga, serve
para a educação das pessoas e dos pacientes sob nossa responsabilidade (e nos
mantém alerta na revisão de sistemas). São eles:
Q perda de peso sem explicação (mesmo mantendo uma alimentação normal);
Q perda persistente de apetite (especialmente se estiver perdendo peso);
Q transpiração ou sudorese abundante e fora do habitual (diferente dos que
o cercam);
Q crescimento de caroços ou nódulos que não regridem;
Q presença de linfonodos (“ínguas”) não-dolorosos que não regridem;
Q surgimento ou mudança de cor ou tamanho de sinais de pele;
Q qualquer perda de sangue;
Q fezes negras e pastosas;
Q caroços, nódulos ou secreção dos mamilos (mulheres e homens);
Q sangramento vaginal em mulheres idosas ou fora do período menstrual;
Q dor ou dificuldade para engolir;
Q feridas na boca e garganta que não cicatrizam;
Q tosse nova ou alteração na tosse de fumantes e tossidores crônicos;
Q escarro com sangue.
Q carcinoma hepatocelular;
Q carcinoma de colo;
Q neoplasias hematológicas (linfomas de Hodgkin e não-hodgkinianos e
leucemias).
A presença de febre no transcurso dos tratamentos oncológicos com quimio-
terapia ou imunoterapia deve ser considerada infecciosa até que se prove o contrá-
rio, para segurança e adequado manejo dessas situações.
Fraqueza e cansaço. Fraqueza, cansaço, astenia e fadiga são queixas freqüentes
em pacientes portadores de neoplasia. Não são nem específicas nem sensíveis,
mas podem estar relacionadas à gravidade das neoplasias (são muito comuns em
tumores disseminados e avançados) ou podem ser a queixa inicial dos pacientes.
Perda de apetite e de peso, febre e sudorese são conhecidos como “sintomas
constitucionais”, podendo estar presentes em várias neoplasias. Esse grupo de
sintomas gerais deve ser “quantificado” pelo julgamento da capacidade do sin-
toma em interferir com as atividades usuais de deambulação, trabalho, auto-cui-
dado, higiene e alimentação, bem como da necessidade de repouso ou permanência
no leito durante o dia (avaliação de desempenho funcional do paciente).
As condições emocionais e de vida de cada paciente têm grande importância
na compreensão e interpretação dessas queixas. Quadros depressivos em várias
intensidades podem associar-se à fadiga, à exaustão, à desmotivação e ao desinte-
resse.
Anorexia e perda de peso. A perda de apetite e de peso sem uma explicação, ou a
perda de peso apesar da manutenção da ingestão alimentar usual, são sintomas
420
sugestivos de processo sistêmico capaz de comprometer a homeostasia do indiví-
duo. A documentação de pesos anteriores e o reconhecimento dos padrões ali-
mentares do paciente antes do momento atual é importante para o julgamento
clínico. As manifestações clínicas visuais de emagrecimento, caquexia, desnutrição
e perda de massa muscular são tardias e refletem estados avançados de doença.
No idoso, as causas mais comuns de perda involuntária de peso são depressão,
câncer (de pulmão e gastrintestinal) e doenças benignas gastrintestinais. Em adul-
tos, as causas mais comuns incluem diabete melito, hipertireoidismo, distúrbios
psiquiátricos e infecções, sendo as neoplasias manifestadas por outros sintomas.
Uma perda de 10% do peso corporal original tem significado de severidade
nas doenças oncológicas. A perda ponderal deve ser avaliada antes dos tratamen-
tos oncológicos. Essa perda de peso faz parte dos sintomas constitucionais de
algumas doenças oncológicas e tem significado prognóstico em linfomas.
Alterações do estado mental. Embora as causas mais comuns das alterações de
sensório não sejam de origem tumoral, uma série de manifestações clínicas e
neurológicas pode estar presente em pacientes portadores de neoplasias malig-
nas e deve ser lembrada no processo de diagnóstico diferencial.
As manifestações podem ser variadas, com estados confusionais, perda de
coerência, desorientação, julgamento inadequado, alterações de ânimo, desa-
tenção, alterações de percepção e fluxo mental inadequado, e podem estar asso-
EXAME FÍSICO
Avaliação de massa palpável
Mama
Nódulos mamários podem apresentar-se como lesões palpáveis ou como lesões
não-palpáveis visualizadas apenas na mamografia. Na presença desse achado, a
anamnese deve incluir:
421
Q como o nódulo foi diagnosticado (incidentalmente, no auto-exame de ma-
mas, no exame ginecológico ou na mamografia)
Q se foi percebido pela paciente, quando isso ocorreu
Q a presença de secreção mamilar associada
Q alterações no tamanho do nódulo
Q alterações relacionadas ao ciclo menstrual (cistos benignos podem ser mais
proeminentes no período pré-menstrual e regredir durante a fase folicular)
Deve-se perguntar se há história prévia de câncer ou biópsia de mama (princi-
palmente mostrando hiperplasia atípica), fatores de risco para câncer de mama
(idade, história familiar, idade da menarca, da primeira gestação e da menopausa
e uso de terapia de reposição hormonal).
Embora o câncer de mama usualmente não seja acompanhado de dor, ele
pode estar presente em até 15% dos casos.
O exame físico deve tentar diferenciar entre lesões benignas e malignas. Algu-
mas características que levam à suspeita de malignidade são a presença de lesão:
Q única;
Q endurecida;
Q imóvel;
Q com bordos irregulares;
Q com tamanho igual ou maior que 2 cm.
EXAMES ONCOLÓGICO E HEMATOLÓGICO
Próstata
O exame digital da próstata, realizado por meio do toque retal, pode detectar
tumores nas regiões posterior e laterais da glândula. Em torno de 25 a 35% das
neoplasias não são detectadas pelo exame físico por encontrarem-se em outros
locais da próstata ou por serem muito pequenas.
Qualquer homem com induração, assimetria ou nodularidade palpável na prós-
tata necessita de estudos diagnósticos adicionais para excluir câncer de próstata.
Testículos
O câncer de testículo é relativamente raro, ocorrendo mais freqüentemente
entre os 18 e 40 anos. Geralmente, apresenta-se como massa indolor descoberta
pelo paciente ou pelo médico, no exame físico; no entanto, tumores de células
germinativas com rápido crescimento podem apresentar-se com dor aguda na
bolsa escrotal, secundária à hemorragia ou ao infarto. No exame físico, as maligni-
dades testiculares geralmente são firmes e, em alguns casos, podem ser acompa-
nhadas de ginecomastia.
O diagnóstico de neoplasia maligna geralmente é realizado após exames de
imagem e orquiectomia, com exame anatomopatológico.
422
Linfonodos
Os linfonodos normais geralmente possuem menos de 1 cm de diâmetro e
tendem a ser maiores na adolescência do que na idade adulta. Normalmente são
palpáveis na região inguinal de indivíduos saudáveis devido à presença de infec-
ções e traumas crônicos nos membros inferiores. Também costumam ser palpá-
veis na região cervical após infecções da cabeça e do pescoço.
Quando a linfadenomegalia envolve apenas uma região, é chamada de locali-
zada e, quando acomete mais de uma região, é chamada generalizada.
A causa da linfadenomegalia geralmente é óbvia após anamnese e exame
físico completos. Em casos mais difíceis, são necessários testes laboratoriais e
biópsia, que é fundamental para o diagnóstico de doenças malignas.
A anamnese do paciente com linfadenomegalia deve incluir:
Q manifestações localizadas sugestivas de infecção ou malignidade;
Q exposições prévias a animais, alimentos malcozidos, viagens, comportamen-
tos de risco para a aquisição de infecções;
Q sintomas constitucionais, como febre, sudorese noturna ou perda de peso
sugestivas de tuberculose, linfoma ou outras malignidades;
Q uso de medicações que possam causar linfadenomegalias.
423
Sensibilidade. O aumento da sensibilidade sugere um crescimento rápido recente,
que ocasiona tensão sobre os receptores de dor existentes na cápsula dos linfo-
nodos. Isso ocorre tipicamente em processos inflamatórios, mas também pode
ser decorrente de hemorragia no interior do linfonodo, estímulo imunológico e
doenças malignas.
Causas de linfadenomegalia localizada:
Q cervical: mononucleose infecciosa, citomegalovirose, toxoplasmose, tuber-
culose, linfoma, câncer com sítio primário em cabeça e pescoço, infecções
estafilocócicas ou estreptocócicas, micobacteriose atípica, infecções por bar-
tonella henselae (agente da doença da arranhadura do gato), câncer me-
tastático;
Q supraclavicular direita: câncer no mediastino, pulmões ou esôfago;
Q supraclavicular esquerda (nódulo de Virchow): malignidades abdominais
(câncer de estômago, vesícula biliar, pâncreas, rins, testículos, ovários ou
próstata);
Q axilar: infecções, câncer de mama, câncer metastático de outros sítios, lin-
fomas;
Q epitroclear: infecções do antebraço, linfoma, sarcoidose, tularemia, sífilis
secundária;
Q inguinal: infecções dos membros inferiores, doenças sexualmente trans-
EXAMES ONCOLÓGICO E HEMATOLÓGICO
424
Q velocidade de instalação dos dois ítens mencionados;
Q capacidade compensatória dos sistemas respiratório e cardiovascular;
Q manifestações associadas da doença de base que deu origem à anemia.
Quais são os sintomas de anemia mais comuns que levam o paciente a procurar
um médico?
As queixas mais freqüentes são intolerância progressiva aos exercícios, dispnéia,
palpitações e palidez cutânea (muitas vezes notada por familiares ou amigos).
Os sintomas cardiorrespiratórios são os que predominam na maioria dos pa-
cientes com anemias moderadas e severas. Os sintomas inicialmente só são perce-
bidos em situações de exercício mais pesado ou de estresse, mas evoluem progres-
sivamente e acabam também sendo notados em atividades simples e até em
repouso. Quando a anemia se instala rapidamente, os sintomas que podem predo-
minar são intolerância aos exercícios, taquicardia, tonturas e hipotensão postural
e fadiga. Quando a instalação da anemia é lenta, pode-se observar dispnéia,
425
Vinson). Outra condição associada à anemia ferropriva crônica é a perversão do
apetite ou pica, manifestada principalmente por compulsão a comer terra (geo-
fagia) ou gelo (pagofagia), embora outras formas possam ser observadas. A pre-
sença de diarréia pode sugerir anemia perniciosa.
Quadros de hemólise intravascular aguda (como na hemoglobinúria paroxística
noturna) podem ter como sintomas a dor abdominal ou lombar de início súbito e
de forte intensidade, acompanhada de hemoglobinúria franca ou urina de colora-
ção escura.
Exame clínico
Aspectos gerais. O paciente com anemia pode ter atitude passiva. Depressão,
distúrbio de memória, alucinações, surtos maníacos e atitudes paranóides ou
esquizofrênicas podem ocorrer em pacientes com anemia perniciosa.
Pele, mucosas, fâneros e linfonodos. O achado mais comum é a presença de palidez
cutânea ou mucosa que, embora seja um sinal freqüente, muitas vezes não é
evidente.
Os cabelos progressivamente finos e com perda de brilho e o aparecimento
precoce de cabelos grisalhos podem sugerir anemia perniciosa. As unhas com a
redução do brilho, quebradiças e com forma côncava (coiloníquia) podem ser
vistas em quadros de anemia ferropriva de longa duração.
EXAMES ONCOLÓGICO E HEMATOLÓGICO
426
de longa duração. As dores ósseas à palpação, especialmente no esterno, podem
sugerir a presença de leucemia aguda ou mielóide crônica. As anemias de origem
nutricional (ferropriva, deficiência de folato ou de vitamina B12) podem estar
associadas à perda de massa muscular.
Exame neurológico
Os achados neurológicos estão freqüentemente associados à anemia pernicio-
sa. Em alguns casos, podem anteceder o diagnóstico de anemia e, raramente,
podem estar presentes sem o achado de anemia. Os sinais no exame físico são
variáveis, podendo ocorrer desde parestesias leves (alteração no tato, temperatura
e vibração) até hiporreflexia, sinal de Romberg, sinal de Babinski e ataxia.
Fundo de olho
As hemorragias retinianas, os exsudatos algodonosos ou duros e a tortuosidade
venosa podem ocorrer em cerca de 20% dos pacientes com anemia. O papiledema
pode ocorrer mais raramente.
Distúrbios da hemostasia
No organismo, há um sistema composto de proteínas (fatores de coagulação
e fibrinolíticos), plaquetas e componentes dos vasos sangüíneos (endotélio) que
conservam o volume sangüíneo dentro dos vasos, evitam que o sangue seja
Manifestações clínicas
Os pacientes muitas vezes têm a tendência a super ou subestimar as manifesta-
ções de sangramento, valorizando as alterações banais ou até normais (por exem-
plo, a presença de pequenas equimoses nos membros inferiores de mulheres e
de crianças pequenas, que é um achado normal) e negligenciando sintomas im-
portantes, como sangramentos menstruais abundantes.
A presença de petéquias e de equimoses espontâneas é a queixa mais caracte-
rística dos pacientes com distúrbio plaquetário ou vascular. Raramente é relatada
a presença de equimoses espontâneas em distúrbios da coagulação, embora isso
possa ocorrer. Por outro lado, o aparecimento de hematomas profundos e da
hemartrose (aumento de volume e dor em articulação, secundários a sangramento
427
intra-articular) espontâneos ou após pequeno trauma é uma queixa característica
de pacientes com distúrbio congênito da coagulação, especialmente em pacientes
com hemofilia A ou B.
Os sangramentos após trauma ou procedimento cirúrgico fornecem muitas
vezes informações essenciais para o diagnóstico dos distúrbios da hemostasia.
Uma das situações mais comuns encontradas é a extração dentária. Normalmente,
após uma extração de molar ou ciso espera-se que possa ocorrer sangramento
leve por até uma hora e, eventualmente, sangramentos de quantidade mínima
até dois dias após o procedimento. O sangramento após extração dentária que é
visto em pacientes com distúrbio plaquetário ocorre imediatamente após o pro-
cedimento, pode durar várias horas ou dias se não-tratado, tem volume pequeno
a médio e normalmente responde a medidas locais, como tamponamento e
vasoconstritores, por exemplo. Já os sangramentos após extração dentária que
ocorrem em pacientes com distúrbios da coagulação, especialmente naqueles
com doenças hereditárias como hemofilia, tendem a iniciar mais tardiamente. É
característico no paciente com hemofilia não ter o sangramento imediato, pois o
tampão plaquetário funciona; no entanto, costuma ocorrer sangramento tardio
abundante e persistente, apesar de medidas locais. Assim, dificilmente um paciente
com hemofilia, mesmo moderada, realizaria um procedimento dentário sem
apresentar os sintomas descritos acima. Uma outra característica dos pacientes
com distúrbios da coagulação é de não apresentarem sangramentos após peque-
EXAMES ONCOLÓGICO E HEMATOLÓGICO
nos cortes superficiais de pele, como no barbear com lâmina. Já o paciente com
distúrbio plaquetário sangra com extrema facilidade nessa mesma situação.
A metrorragia é um achado comum nas pacientes com distúrbios da hemos-
tasia, especialmente em desordens plaquetárias e doença de von Willebrand; em
alguns casos, pode ser a única manifestação de doença. Com alguma freqüência,
avaliamos mulheres com anemia ferropriva decorrente de perda menstrual que
tem, na verdade, doença de von Willebrand. Uma história de sangramentos in-
tracavitários (p. ex., hemorragia retroperitoneal) pode sugerir a presença de uma
desordem na coagulação. Já hemorragias no trato digestivo, como hematêmese
e melena, podem indicar distúrbio vascular primário, como a telangiectasia he-
morrágica hereditária. Já a presença de hemoptise é raramente associada a um
distúrbio da hemostasia. As hemorragias retinianas sugerem distúrbios plaquetá-
rios e são extremamente raras em pacientes com desordens da coagulação. He-
morragias no sistema nervoso central podem ocorrer em pacientes plaquetopê-
nicos ou nos pacientes com distúrbios de coagulação após pequeno trauma. Histó-
ria de dificuldade de cicatrização ou deiscência de sutura pode sugerir a presença
de deficiência de fator XIII ou desordem no fibrinogênio.
É importante coletar informações sobre o uso de medicações em pacientes
com suspeita de desordem da hemostasia. Existe uma série de medicações que
estão associadas à trombocitopenia, entre elas:
Q penicilina;
Q heparina;
Q vancomicina;
Q anfotericina B.
428
Outras drogas interferem na função plaquetária, como a aspirina, e podem
exacerbar algumas manifestações clínicas da doença de von Willebrand e hemo-
filia, por exemplo. O uso de anticoagulantes orais deve ser pesquisado.
A história familiar pode também fornecer pistas importantes para a diagnóstico
dos distúrbios da hemostasia. É importante caracterizar com precisão os achados
na família, pois alterações como hemorragia digestiva secundária a varizes
esofágicas ou sangramento vaginal secundário a miomas podem ser confundidos
com desordens primárias da hemostasia.
Exame físico
O achado característico de uma desordem plaquetária é a presença de peté-
quias, que são pequenas lesões purpúricas decorrentes de hemorragias capilares
que aparecem na pele, com diâmetro médio de 1 mm. Aparecem mais freqüen-
temente em membros inferiores, quadril ou em áreas de compressão (como na
cintura, pressionada usualmente por roupa de baixo). A quantidade de petéquias
é proporcional à quantidade de plaquetas presentes no hemograma, embora
ocorram variações de paciente para paciente. As crianças pequenas podem apre-
sentar petéquias na face após aumento na pressão venosa, como no choro. A
presença de diversas sufusões hemorrágicas de tamanho variado também ocorre
em paciente com desordens plaquetárias. É possível notar pequenas vesículas
hemorrágicas na cavidade oral em pacientes com trombocitopenia grave.
429
Tabela 23.1 Principais achados de distúrbios e desordens
430
tada por estridor) ou aumento da pressão intracraniana (com evolução do paciente
para torpor e convulsões, em alguns casos).
431
Quando o diagnóstico é precoce, o tratamento costuma ser efetivo em 90%
dos pacientes. O grau de disfunção neurológica presente antes do tratamento é
o principal fator preditor do desfecho; a deambulação pode ser preservada em
até 80% dos pacientes que se apresentam deambulando no momento do diagnós-
tico. Paraplegia, quadriplegia e perda do controle esfincteriano são conseqüências
potenciais de um diagnóstico tardio. Uma vez perdida, a função neurológica é
de difícil recuperação na maioria dos pacientes.
Metástases cerebrais
Metástases cerebrais desenvolvem-se em 10 a 30% dos pacientes, sendo
mais comumente encontradas na evolução do câncer de pulmão (50%), de mama
(15 a 20%) e de sítio primário oculto (10 a 15%), no melanoma (10%) e na
neoplasia de colo (5%). Alguns tumores malignos quase nunca metastatizam
para o parênquima cerebral, como os de esôfago, de orofaringe, de próstata e
de pele não-melanoma.
A maioria dos pacientes apresenta-se com disfunção neurológica progressi-
va, resultante de um tumor com crescimento gradual e edema associado, ou,
raramente, hidrocefalia obstrutiva. Aproximadamente 10 a 20% dos pacientes
apresentam convulsões; 5 a 10% apresentam acidente vascular cerebral devido
à embolização de células tumorais, invasão ou compressão de uma artéria pelo
tumor ou hemorragia no interior de uma metástase. Os tumores com particular
EXAMES ONCOLÓGICO E HEMATOLÓGICO
432
Q síndromes paraneoplásicas (degeneração cerebral subaguda, demência, en-
cefalite límbica, neurite óptica, leucoencefalopatia multifocal progressiva);
Q acidente cerebrovascular;
Q sepse.
Tamponamento cardíaco
No paciente com câncer, o tamponamento cardíaco pode ser de etiologia
não-neoplásica, pode ser a primeira manifestação de uma neoplasia maligna ou
pode significar progressão de uma doença maligna já conhecida. É necessário
diagnóstico rápido, uma vez que essa condição pode causar a morte do paciente.
Entre as diversas causas de tamponamento cardíaco estão tumores primários
do pericárdio (mesotelioma, sarcoma e teratoma) e, mais freqüentemente, tumo-
res metastáticos (de carcinoma de mama, pulmão, leucemia, linfoma, melanoma
e sarcoma de Kaposi).
Os sintomas são inespecíficos, incluindo dispnéia, dor torácica, tosse, disfonia,
náuseas, dor abdominal e ansiedade. O exame de escolha para o diagnóstico é a
ecocardiografia.
A síndrome de lise tumoral é uma emergência metabólica que deve ser anteci-
pada e prevenida. Geralmente, é encontrada após o início de quimioterapia para
as malignidades anteriormente citadas. Essa síndrome tem sido observada não
apenas após a administração de agentes altamente mielossupressivos, mas tam-
bém após a administração de drogas como interferon-α, tamoxifeno, cladribina
e metotrexato intratecal.
As conseqüências mais sérias da síndrome de lise tumoral são as arritmias
cardíacas e a insuficiência renal aguda. A hipocalcemia pode estar associada com
cãibras, arritmias cardíacas e tetania.
Hipercalcemia
A hipercalcemia é o distúrbio metabólico mais comum em pacientes com
câncer, com prevalência de 15 a 20 casos/100.000 indivíduos. A incidência varia
de acordo com a neoplasia, sendo mais freqüente no mieloma múltiplo e no
câncer de mama (em torno de 40%), intermediária no câncer de pulmão de
células não-pequenas e incomum nos carcinomas de colo, próstata e pulmão de
pequenas células.
433
A gravidade da apresentação clínica não está exclusivamente ligada ao grau
de elevação do cálcio; pacientes com elevações moderadas (12 a 13 mg/dL)
podem ficar obnubilados caso o aumento ocorra rapidamente. Por outro lado, os
pacientes com hipercalcemia de longo prazo (como no carcinoma de paratireóide)
conseguem tolerar elevações acima de 14 mg/dL com poucos sintomas.
Os principais sinais e sintomas iniciais são:
Q fadiga;
Q letargia;
Q constipação;
Q náuseas;
Q poliúria.
Nos estágios mais avançados, pode ocorrer torpor e coma.
Neutropenia febril
Uma das emergências oncológicas mais comuns é a febre, definida como
uma única medida de temperatura axilar de 38,3°C ou mais ou duas medidas de
38°C ou mais dentro de um período de 24 h, em paciente com neutropenia
(definida como menos de 500 neutrófilos/mm3). Os pacientes com câncer e neu-
tropenia possuem maior risco de infecções sitêmicas e podem evoluir rapidamente
para um quadro de sepse. Dessa forma, é fundamental o rápido reconhecimento
EXAMES ONCOLÓGICO E HEMATOLÓGICO
434
Síndromes paraneoplásicas
Além dos quadros neurológicos previamente citados, outro grupo de manifes-
tações e achados forma as chamadas síndromes paraneoplásicas, que são um
conjunto de sintomas, sinais e alterações laboratoriais causados indiretamente (a
distância) pelo câncer, não tendo relação direta com o tumor primário ou com
suas metástases. As manifestações clínicas dessas síndromes estão relacionadas
às anormalidades laboratoriais extremas que elas podem causar ou ao quadro
característico de uma síndrome passível de reconhecimento (p. ex., síndrome de
Cushing). A maioria dessas síndromes tem que ser reconhecida como de possível
etiologia neoplásica, já diagnosticada ou não.
Várias síndromes paraneoplásicas são causadas pela produção e secreção de
esteróides, aminas, peptídeos e proteínas de forma ectópica pelo tumor e que,
em circulação ou agindo localmente, geram quadros característicos.
Dessa forma, a produção ectópica de ACTH pode levar ao desenvolvimento
da síndrome de Cushing, com o quadro de hipertensão, obesidade central, estri-
as abdominais purpúricas, fraqueza e hiperglicemia. A produção ectópica de subs-
tâncias tipo hormônio da paratireóide (PTH) leva à hipercalcemia, com poliúria,
depleção de volume, alteração no eletrocardiograma e irritabilidade muscular,
entre outras manifestações. A secreção inapropriada de hormônio antidiurético
(SIADH) leva à hiponatremia, que pode ser assintomática ou, conforme a velocida-
de de instalação e severidade, causar desatenção, náuseas e vômitos, fadiga,
Cook AM, Lau TN, Tomlinson MJ, Vaidya M, Wakeley CJ, Goddard P. Magnetic resonance
imaging of the whole spine in suspected malignant spinal cord compression: impact on
management. Clin Oncol (R Coll Radiol) 1998;10(1):39-43.
De Vita V, Hellman S, Rosenberg S. Cancer: principles and practice of oncology. 6th ed.
Philadelphia: Lippincott Williams and Wilkins; 2001.
Hoffmann R, Benz JE, Shattil SJ, Furie B, Cohen HJ, Silberstein L. Hematology basic principles
and practice. 2nd ed. New York: Churchill Livingstone; 1995.
Lee GR, Foerster J, Lukens J, Paraskevas F, Greer JP, Rodgers GM. Wintrobe’s clinical
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435
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Sites recomendados
American Society of Clinical Oncology (ASCO):
http://www.asco.org
http://www.aspho.org
436
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC):
http://www.sboc.org.br/index.asp
Seminars in Hematology:
http://www2.us.elsevierhealth.com
Seminars in Oncology:
http://www2.us.elsevierhealth.com
The Oncologist:
http://theoncologist.alphamedpress.org
437
24
SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA
CLÁUDIO MARIA DA SILVA OSÓRIO
Uma nova seqüência para o roteiro do exame do estado mental, que acompa-
nha a hierarquia dos transtornos mentais da CID-10 e do DSM-IV, é a proposta
por Osório, 1991:
Consciência Afetividade
Atenção Humor*
Sensopercepção Pensamento
Orientação Juízo crítico
Memória Conduta
Inteligência Linguagem
No primeiro subgrupo, cujas iniciais formam CASOMI, estão as funções psí-
quicas geralmente comprometidas em síndromes cerebrais orgânicas, onde as
mais comuns e importantes, são delirium (síndrome de perturbação da consciência,
com alterações da atenção, senso-percepção e orientação complementares e
secundárias) e a demência (ou síndrome demencial, onde as alterações básicas
são as perdas ou déficits da memória e da inteligência). No segundo subgrupo
(AHPeJuCoL) avaliam-se as psicoses ou síndromes psicóticas (perturbações graves
*Neste capítulo adota-se nova mudança no EEM: a separação entre humor e afetividade
(Osório[1]).
440
da afetividade e do humor, pensamento e conduta, com perda do juízo crítico da
realidade) e as antigas “neuroses” ou “síndromes neuróticas” ou síndromes não-
psicóticas, onde também se alteram o pensamento (idéias obsessivas, fobias,
idéias hipocondríacas, etc.) e a afetividade (ansiedade), com juízo crítico da reali-
dade preservado e, em geral, alterações pouco significativas da conduta. As sín-
dromes de perturbação da conduta têm a ver com o modo de ser das pessoas,
são relacionadas aos transtornos de personalidade e comprometem, em primeiro
lugar, a conduta, seja por comportamento anti-social, seja por comportamento
compulsivo, evitativo/fóbico. A conduta se altera também em outras situações
clínicas.
As síndromes antigamente denominadas afetivas ou, contemporaneamente,
síndromes de perturbação do humor (síndromes depressivas e síndromes manía-
cas) apresentam os seus principais sintomas na tríade humor-pensamento-condu-
ta, geralmente, mas nem sempre, com uma coerência entre humor triste, idéias
depressivas, conduta diminuída ou euforia, idéias de grandeza e hiperatividade
(Quadro 24.2).
Há outras razões clínicas para colocar a afetividade em primeiro lugar, pois é
o exame dessa função, bem como o do humor, que poderá diferençar síndromes
clínicas com sintomas psicóticos graves na área do pensamento (idéias delirantes
de controle ou influência), que ocorrem tanto nos transtornos esquizofrênicos
quanto nos transtornos do humor com sintomas psicóticos (ver Spitzer[2] e Jami-
son[3]).
As psicoses também podem apresentar alterações na senso-percepção, mas
SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA
essas não ocorrem isoladamente. A presença dessas alterações ao lado de altera-
441
ções da consciência deve sugerir ao clínico a possibilidade de síndrome cerebral
orgânica.
Existem síndromes cerebrais orgânicas em que as funções perturbadas são o
humor (síndrome orgânica de perturbação do humor), o pensamento (síndrome
delirante orgânica) e a conduta (síndrome orgânica de perturbação da personali-
dade), mas as síndromes que incluem perturbações da consciência – caso do
delirium – requerem decisões médicas mais urgentes, como internação para cui-
dados intensivos. Por outro lado, a identificação de síndrome demencial é crucial
para muitas decisões médicas e legais.
Lembre-se de que, ao examinar as funções mentais, é importante – para fins
diagnósticos – identificar também os aspectos saudáveis em cada uma delas,
analogamente ao que se faz em outras áreas da medicina (p. ex., identificar
funções cardiovasculares alteradas e respiratórias preservadas).
442
Uma outra maneira de realizar a avaliação psicanalítica é por meio do Perfil
Psicodinâmico Karolinska. Muito diferente de um exame de estado mental – que
diz como a pessoa está – o que esses instrumentos permitem é a caracterização
de como a pessoa é do ponto de vista emocional. O valor desse diagnóstico para
a prática médica não-especializada está na avaliação da capacidade pessoal para
relações com intimidade e reciprocidade, para lidar com a dependência e com as
separações, bem como para avaliar a capacidade do paciente para lidar com
relações que envolvam controle ou dominação/submissão, questões que estarão
presentes em qualquer relação médico-paciente e em cada um de seus integrantes.
SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA
Q Diferenciação afetiva – experiência e expressão [experiência e expressão
emocional]
– Traços alexítimicos (alexitimia)
– Traços normopáticos (normopatia)
Q Corpo como fator de auto-estima [estima e corpo]
– Auto-imagem corporal/auto-estima
– Auto-imagem das funções do corpo e sua importância para a auto-estima
– Auto-imagem corporal atual/presente
Q Relações interpessoais – sexual [eros e emoções]
– Funcionamento/desempenho sexual
– Satisfação sexual
Q Impressão de sua própria significância social [expectativas emocionais]
– Consciência de pertencer ou “pertenencia”*
– Sentimento de ser necessário
– Acessibilidade a conselhos e ajuda
Q Formas de funcionamento mental e traços de caráter [estrutura emocional]
– (Nível de) organização da personalidade
*É um espanholismo.
443
Diagnóstico estrutural de Kernberg: nível de organização da personalidade
Q Identidade – integração do conceito do self (si mesmo) e de outros significa-
tivos (objetos)
– Qual é a experiência subjetiva do paciente, de si mesmo: sente-se “vazio”
ou não?
– Quais as suas auto-percepções – muito contraditórias ou não?
– Como são os seus comportamentos – muito contraditórios ou não?
– Como são as percepções do paciente quanto aos outros – muito contradi-
tórias? Empobrecidas?
– Qual a capacidade do paciente mostrar-se para o entrevistador – presen-
te? Ausente?
– Capacidade de mostrar interações significativas (do examinado) com os
outros para o entrevistador: presente? ausente?
– Existe dificuldade do examinador para empatizar com o examinado ou
com os seus objetos significativos (representações internalizadas das pes-
soas importantes) determinada pelas incapacidades anteriores, quando
ocorrerem?
Q Nível das operações defensivas
– Existe repressão ou outros mecanismos de defesa maduros?
– Há defesas primitivas: clivagem (dissociação) ou outros mecanismos asso-
ciados (formas primitivas de projeção, identificação projetiva , denegação,
controle onipotente, desvalorização)?
– Obs.: As defesas manifestam-se na análise da personalidade do exami-
SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA
444
Quadro 24.3 Uma comparação entre duas abordagens semiológicas
SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA
Humor Aparência do corpo
Pensamento Funções corporais e auto-imagem corporal
445
Q Atenção. Repetição de dígitos, vigilância, desatenção unilateral.
Q Linguagem:
– espontânea (sintaxe, vocabulário, capacidade de se expressar, parafasias);
– fluência verbal, compreensão de comandos, de perguntas. Solicitar repe-
tições de palavras e frases; avaliar capacidade de identificar e nomear;
leitura; escrita; soletrar.
Q Memória e orientação:
– Considerar memória verbal e visual. Memória imediata, recente e remota.
– Orientação pessoal, temporal e espacial. Capacidade para novas aprendi-
zagens.
– Memória visual. Aprendizagem por associação pareada.
Q Capacidade construcional. Reprodução de desenhos (estruturas geométricas,
espaciais).
Q Funções cognitivas mais altas. Fundo de informações, cálculo, interpreta-
ção de provérbios, semelhanças, completar séries conceptuais.
Q Funções corticais relacionadas
– Funções motoras integrativas complexas (praxias/apraxias, orientação/
desorientação direita/esquerda, esquema corporal, gnosias/agnosias,
orientação geográfica [mapas]).
– Avaliar negação e omissão (neglect). Testes do lobo frontal (desenhos
de linhas “gregas”); alternar mãos em seqüência. Considerar a competên-
cia lingüística do paciente.
SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA
446
gicos e avaliações psicanalíticas mais sofisticadas). Ambas são científicas
(Feinstein[8]).
Q Aceitar a heterogeneidade ou multiplicidade das abordagens teóricas na
psiquiatria e na psicanálise (“escolas”), reconhecendo semelhanças e dife-
renças e aproveitando suas forças. A pobreza está no reducionismo e na
uniformidade de pontos de vista, onde o poder crítico se debilita. É indis-
pensável não perder a capacidade de distinguir entre a realidade objetiva e
as descrições e representações da mesma. Assim se pode compreender,
criticamente, o “fogo cruzado” entre os fundamentalistas, religiosos ou
não, que pensam conhecer a verdade última, e os niilistas ou relativistas
descomprometidos, que pensam que ela nunca pode ser conhecida
(Nanda[9]; Fernández-Armesto[10]). As descrições ou representações da reali-
dade objetiva vão desde uma simples nota de internação hospitalar até as
explicações da genética molecular, passando, por exemplo, por uma resso-
nância magnética.
Q Reconhecer que os recursos terapêuticos do próprio terapeuta e os da me-
dicina ou psiquiatria influenciam no diagnóstico: a disponibilidade dos an-
tidepressivos não justifica receitá-los para todas as pessoas tristes. Diagnos-
ticar doenças complexas a partir de tabelinhas e listas de sintomas é inaceitá-
vel.
Q Admitir – intelectual e emocionalmente – a necessidade de reconsiderar ou
revisar os seus achados diagnósticos: você é uma pessoa trabalhando com
pessoas e usando instrumentos (técnicas, escalas, manuais, etc.) criados
SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA
por pessoas.
Q Usar questões abertas tanto no inicio na entrevista quanto no final. Não
siga o esquema rígido: abertas no início, fechadas no final (Strauss[11]).
Q Não deixar de dar um feedback para o paciente, sendo “misterioso”. Isso
irá assustá-lo ainda mais do que ele já está por estar sendo examinado do
ponto de vista psiquiátrico (Strauss[11]).
SÍNDROMES PSIQUIÁTRICAS
Em psiquiatria, falamos de sintomas, fenômenos, síndromes, transtornos e doen-
ças. Sintomas psiquiátricos são alterações, perturbações ou distúrbios das funções
psíquicas. Para que sejam considerados sintomas, são necessárias persistência,
intensidade, concomitância de outras alterações e determinadas circunstâncias
para a sua manifestação. Exemplos: humor triste (alteração do humor), delírio
(distúrbio do conteúdo do pensamento). Por sua vez, fenômeno refere-se à expe-
riência subjetiva de estar com o sintoma humor triste ou com o sintoma delírio.
Dois pacientes podem ter o mesmo sintoma: nunca o mesmo fenômeno – esse é
sempre singular, próprio de cada um.
Síndromes são conjuntos de sinais e sintomas de diferentes causas. A palavra
vem de raiz grega, correr juntos. Existem síndromes normais, como o luto normal,
com um conjunto de sintomas depressivos, ou a síndrome ansiosa normal. Quando
as síndromes são patológicas falamos de transtornos, com sofrimento maior, mais
duradouro e incapacidade significativa. Um transtorno é uma patologia psiquiátrica
447
Quadro 24.4 Síndromes psiquiátricas
Síndromes psicóticas
Delirante, paranóide, alucinatória, esquizofrenóide, de perturbação do humor,
maníaca, depressiva, depressivo-paranóide de personalização (às vezes não-
psicótica), hipocondríaca.
2. Spitzer RL et al. DSM-IV: casos clínicos. Porto Alegre: Artmed; 1996 [Caso “Alice Davis”,
Mensagens de Radar].
448
3. Jamison KR. Uma mente inquieta. São Paulo: Martins Fontes; 1996.
4. Mackinnon R, Yudofsky SC. Avaliação psiquiátrica na prática clínica. Porto Alegre: Artmed;
1988.
5. Osorio CMS. A consciência e a afetividade em primeiro lugar: vamos deixar de ser “locs”?
Trabalho para a disciplina de Semiologia Psiquiátrica do Curso de Medicina da UFRGS. Porto
Alegre, 1991/II [manuscrito não-publicado].
6. Weinryb RM, Rössel RJ. Karolinska psychodynamic profile. KAPP. Acta Psychiatrica
Scandinavica Suppl 1991; 363: 1-23.
7. Strub RL, Black FW. The mental status exam. In: Feinberg TE, Farah MJ, editors. Behavioral
neurology and neuropsychology. New York: McGraw-Hill, 1997. p.25-42.
11. Strauss G. The psychiatric interview, history, and mental status examination. In: Kaplan
HI, Sadock BJ, editors. Comprehensive textbook of psychiatry. 6th ed. Baltimore: Williams &
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SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS
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Artmed; 2002.
Bastos CL. Manual do exame psíquico; uma introdução prática à psicopatologia. 2.ed. Rio
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Sadock VA, editors. Kaplan & Sadock’s comprehensive textbook of psychiatry. 7th ed.
Philadelphia: Lippincott; 2000. p. 652-65.
Yager J, Gitlin M.J. Clinical manifestations of psychiatric disorders. In: Kaplan HI, Sadock BJ.
Comprehensive textbook of psychiatry/VI. 6th ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1995.
p.637-69.
449
25
DESCREVENDO
A ENTREVISTA MÉDICA,
O EXAME FÍSICO E A
LISTA DE PROBLEMAS
CLEOVALDO T.S. PINHEIRO
LUCIANO DE BRITO
ENTREVISTA MÉDICA
A anamnese
Médico: Bom dia! Meu nome é Dr. Luciano. Estou aqui para fazer seu atendi-
mento. O senhor, como se chama?
Paciente: Pedro.
Médico: Muito bem, Sr.Pedro.1 Em que posso ajudá-lo?2
Paciente: Vim consultar por causa de uma falta de ar e muito cansaço.
Médico: Entendo.1 Falta de ar e muito cansaço...?3
Paciente: É. O que incomodava mesmo era a falta de ar. Já não conseguia
dormir à noite.
Médico: Então me fale mais sobre essa falta de ar.4
Paciente: Ela no início começou fraca. Depois foi ficando mais forte e agora já
não me deixa dormir.
Médico: Quando ela começou?5
Paciente: Faz tempo...
Médico: Quanto tempo?5
Paciente: Muito tempo.
1
Facilitador verbal.
2
Pergunta aberta.
3
Espelho ou reflexão.
4
Pergunta aberta focada.
5
Pergunta de esclarecimento (fechada).
Médico: Semanas, meses, anos?1
Paciente: Ah. Faz uns cinco anos.
Médico: Como era no início?2
Paciente: Bem. No início, só dava quando eu fazia força ou caminhava rápido.
Notei que já não era mais o mesmo...
Médico: Entendo. Continue...3
Paciente: Coisa assim de caminhar uma quadra em passo rápido, depois passei
a ter falta de ar quando fazia coisas menores: varrer o pátio. Há cerca de
seis meses, comecei a ter umas crises à noite. Às vezes, tinha falta de ar,
mas levantava, ficava um pouco sentado e as coisas melhoravam. De três
meses para cá, tenho falta de ar para fazer quase tudo, até para escovar os
dentes, e já não consigo mais dormir se não for sentado.
Médico: Notou o aparecimento de mais alguma coisa junto com essa falta de
ar?2
Paciente: Cansaço. Estou sempre cansado. Já não tenho mais ânimo para nada.
Médico: Compreendo que o senhor deve estar passando por um momento
difícil, mas preciso algumas informações a mais.3 Algo mais o está incomo-
dando?2
Paciente: Inchume.
Médico: Inchume...?5
Paciente: É. Os meus tornozelos começaram a inchar nos últimos seis meses.
Agora fico inchado até os joelhos às vezes. Pela manhã, estou quase sem
inchaço, mas no fim do dia está tudo de novo. Ah! Quando tenho muita
falta de ar, noto que o meu peito ronca... ronca como se fosse o peito de
DESCREVENDO: ....
um gato.
Médico: Se entendi bem, o senhor começou com a falta de ar há cerca de cinco
anos; ainda pelo que entendi, ela é o que o senhor sente de mais importan-
te. No início, só a tinha aos grandes esforços. Após, ela se tornou mais intensa,
chegando a incomodá-lo quando está em repouso. Nesse período, o senhor
tem se sentido muito cansado e vem apresentando um inchaço progressivo
nos tornozelos e nas pernas. Nas crises mais fortes, tem um ronco no peito.6
É isso? Corrija-me se estiver errado ou acrescente se estiver faltando algo.
Paciente: Perfeito. É isso mesmo.
Médico: Quero lhe fazer algumas perguntas sobre sua saúde passada. Já teve
alguma doença ou fez algum tratamento no passado.7
Paciente: Sempre fui um homem de muita saúde. Nunca sentia nada. Era uma
mula para o trabalho. Só tinha um pouco de pressão.
1
Pergunta em menu.
2
Pergunta aberta.
3
Facilitador verbal.
4
Pergunta aberta.
5
Espelho ou reflexão.
6
Resumo.
7
Transição para a história mórbida pregressa.
452
Médico: Pressão...?1
Paciente: É. Pressão alta.
Médico: Fale-me sobre ela.2
Paciente: Há uns 15 anos, descobri que tinha pressão, mas não sentia nada.
Cheguei a fazer tratamento por um período com uns comprimidos que
não lembro o nome, mas ficava pior com a medicação e resolvi parar. Che-
guei a ter 23 por 14 de pressão. Estava na rua e vi um pessoal vendo
pressão. Tirei e eles ficaram apavorados. Mas eu sempre estava bem. Nunca
tive mais nada. Veja meu corpo, não tem uma cicatriz de bisturi.
Médico: Apresenta alguma intolerância ou alergia a medicamentos?3
Paciente: Não que eu saiba.
Médico: E na família?4
Paciente: Todo mundo tinha pressão alta. Meu pai, minha mãe. A mãe morreu
com 62 anos com derrame, e o pai teve infarto aos 47 e não resistiu. Sou o
mais velho de quatro irmãos. Todos têm pressão.
Médico: Mais alguma doença?
Paciente: Diabete... Minha mãe dizia ser diabética, mas nunca se tratou. Co-
mia muito.
Médico: E o senhor já fez algum exame de sangue?5
Paciente: Fiz. A glicose deu uns 130, mas já faz mais de um ano. O colesterol
é que era um pouco alto. Passava de 300.
Médico: Mais alguma coisa?
Paciente: Não, acho que é tudo.
Médico: Bem se lembrar de mais alguma coisa, voltamos a conversar sobre o
DESCREVENDO: ....
assunto. Agora quero saber algumas coisas sobre seus hábitos e sua vida.6
O senhor tem vícios?
Paciente: Fumo desde os 19 anos, mas não é muito: uma carteira por dia.
Bebo cerveja só nas festas e alguma coisa em fins de semana. Nunca fico
embriagado. E não tomo coisas mais fortes.
Médico: Quem mora com o senhor?7
1
Espelho ou reflexão.
2
Pergunta aberta focada.
3
Devem ser evitadas perguntas irrelevantes como doenças da infância ou vacinações em
pacientes idosos.
4
Transição para história familiar. Entende-se por família, familiares em primeiro grau de
consangüinidade; para doenças infectocontagiosas, os contatos familiares próximos.
5
Com a nova informação, o médico retorna da história familiar para a história mórbida
pregressa, pois apareceram dados novos.
6
O médico introduz a avaliação do perfil mesológico.
7
Nesta altura o médico já tem conhecimento do local onde mora o paciente por meio do
endereço, caso não tenha notícias do local, deve perguntar sobre condições gerais da habi-
tação se isso for relevante.
453
Paciente: Minha mulher e um filho solteiro. A filha já casou1.
Médico: Muito bem! Vou agora revisar algumas coisas para vermos se não
esquecemos de nada.2,3
Médico: Tem notado alguma alteração no peso?4
Paciente: Não. Tenho esse peso há muito tempo.
Médico: Notou aparecimento de febre?5
Paciente: Não.
Médico: Calafrios?
Paciente: Não.
Médico: Notou alteração do apetite, náuseas ou vômitos?6
Paciente: Não. (!?).
Médico: Alguma alteração do sono?
Paciente: Como já lhe disse: quando tenho falta de ar, não durmo direito.
Médico: Compreendo.7 Alguma alteração na pele?
Paciente: Não.
Médico: Algum nódulo ou caroço no corpo?
Paciente: Não.
Médico: Tem tido alguma alteração na cabeça?
Paciente: Não que me lembre.
Médico: Dor de cabeça?
Paciente: Muito raramente.8
DESCREVENDO: ....
1
Havendo relevância, deve ser perguntado pelas condições socioeconômicas da família, até
para estabelecer as possibilidades de aquisição de medicamentos. Convênios, etc., devem
ser avaliados. Perguntas de praxe, como se a casa é de alvenaria, se tem água e esgoto, só
devem ser realizadas em situações específicas e relevantes.
2
O médico introduz a revisão de sistemas.
3
As perguntas na revisão de sistemas devem versar sobre os principais sintomas/sinais dos
sistemas/aparelhos orgânicos. Devem ser realizadas como perguntas fechadas, tipo sim/
não. Em caso de uma resposta positiva, o entrevistador deve realizar uma mini-história no
modelo da história da doença atual, acima descrita, e só deve valorizar os dados que
mostrarem consistência e forem relevantes. Sugerimos que se faça uma sistematização topo-
gráfica das perguntas. Exemplo: o paciente revelou ser “tossidor crônico” com expectoração
mucóide na maioria dos dias de inverno há vários anos. A semiologica da tosse e do escarro
deve ser esmiuçada nesse ponto.
4
O entrevistador começa por aspectos mais gerais.
5
Observe que, nessa fase da entrevista, as perguntas devem ser fechadas, de preferência do
tipo sim/não.
6
Esse é um exemplo de pergunta complexa. Difere da pergunta em menu por tratar de
assuntos diferentes. O que o entrevistador quer saber primeiro? Se o paciente responder
sim, estará se referindo a quais sintomas perguntados? As perguntas complexas não devem
ser formuladas.
7
O entrevistador se repetiu numa pergunta que já havia explicitado anteriormente de forma
indireta, mas aproveitou o momento para ser empático usando um facilitador verbal.
8
Quando aparecerem sintomas ou queixas novas, o entrevistador deve testar sua relevância.
Se se mostrarem pouco importantes, esse dado não passará para o relatório.
454
Médico: Como assim?
Paciente: Às vezes, quando me incomodo, tenho um pouco de dor, mas é
como as outras pessoas. Nada importante.
Médico: Nos ouvidos? Alguma coisa?
Paciente: Não.
Médico: Tonturas?
Paciente: Não.
Médico: Perda da audição?
Paciente: Não.
Médico: Zumbidos?
Paciente: Não.
Médico: Nos olhos?
Paciente: Uso óculos para ler apenas.
Médico: Boca e garganta? Alguma coisa?
Paciente: Não.
Médico: Rouquidão?1
Paciente: Não.
Médico: Alguma lesão, como feridinhas, aftas, na boca ou na língua?2
Paciente: Não.
Médico: Alguma coisa no nariz?
Paciente: Nada.
Médico: Sangramentos?
Paciente: Não.
Médico: Coriza? Quero dizer, secreção?3
DESCREVENDO: ....
Paciente: Só quando fico resfriado.
Médico: Hum hum.4 E além das coisas que já me contou, sobre a respiração,
alguma coisa a mais?5
Paciente: Não lembro.
1
Apesar da primeira negativa, o médico insiste numa manifestação importante, uma vez
que câncer de laringe é uma ocorrência relativamente importante em homens maduros
fumantes.
2
Da mesma forma que na nota anterior, tumores de boca são ocorrências importantes em
fumantes, principalmente se alcoolistas.
3
O médico inicialmente usa uma palavra técnica, que o paciente não tem obrigação de
entender. Dando-se conta disso ele corrige, fazendo uma tradução do termo. Às vezes
torna-se necessário usar palavras mais simples para que o paciente entenda.
4
Facilitador mínimo.
5
Aqui o entrevistador troca o segmento a ser investigado. Como houve uma queixa, cuja
relevância não pareceu importante, ele utilizou um facilitador mínimo para mostrar que
ouviu e continuou. Ele poderia ter feito alguma observação tranqüilizadora, mas não a
julgou necessária.
455
Médico: Dor no peito ou no tórax?1
Paciente: Não. Mas tenho muita tosse ultimamente.
Médico: Explique melhor.
Paciente: Tenho tosse sempre. Mais no inverno. Antes era seca, mas agora
tem tido catarro, às vezes amarelado. Acho que é do cigarro.
Médico: Quando começou a tosse?
Paciente: Há muitos anos. Era seca no início, mas eu sempre a tinha. Depois
comecei com o catarro.
Médico: Essa tosse com escarro, o senhor a tem há muito tempo?
Paciente: Sim. Muito tempo. Há anos, mas mais no inverno.
Médico: E quando o senhor a tem no inverno ela ocorre na maioria dos dias?
Paciente: Sim. Ela vem sempre, todos os dias.2
Médico: Na digestão, algo a relatar?
Paciente: Não. Como bem. Tenho digestão normal.
Médico: Nunca teve dificuldade para engolir?
Paciente: Não.
Médico: Azia?
Paciente: Não.
Médico: E as evacuações?3
Paciente: São normais.
Médico: Nunca notou alterações nas fezes?
Paciente: Não.
Médico: E na urina?
Paciente: Nada, apenas tenho urinado menos. Urino mais à noite do que de
DESCREVENDO: ....
dia.
Médico: Como assim?
Paciente: Às vezes, passo quase todo o dia sem urinar, mas quando a noite
chega tenho que levantar e é uma cascata. Pela manhã estou desinchado.
Acho que urino todo e inchume durante a noite.4
1
As queixas do tórax respiratório e circulatório deveriam ser esmiuçadas na história da
doença atual (HDA), pois estão ou poderiam estar relacionadas com a doença atual, mas
nada impede de o entrevistador voltar, se tiver esquecido algo. No relatório, essas manifesta-
ções, quando relevantes, devem ser transcritas junto com a HDA.
2
O médico insiste na caracterização do sintoma para fechar um diagnóstico sindrômico, o
da bronquite crônica: “tosse produtiva na maioria dos dias, por pelo menos três meses
consecutivos, em dois ou mais anos seguidos”.
3
No Rio Grande do Sul, costuma-se usar a expressão “ir aos pés” ao se referir a evacuações.
No resto do país essa expressão é desconhecida. Portanto, o entrevistador deve saber se o
que ele pergunta é do linguajar do paciente.
4
O Paciente acaba de caracterizar nictúria, que é a inversão do padrão miccional. Urina-se
mais à noite, em termos volumétricos, do que de dia. A noctúria é o simples fato de urinar à
noite.
456
Médico: O senhor tem razão. É durante a noite que os inchumes são reabsor-
vidos e eliminados pelos rins.1
Médico: Não notou nenhuma dificuldade para urinar?
Paciente: Não.
Médico: E alguma coisa a respeito do sexo?
Paciente: Ih, doutor! Nisso ando muito mal. Já não sou mais homem. Depois
que as coisas pioraram não sinto vontade. Quando sinto, não consigo execu-
tar. Quase morro de falta de ar.
Médico: Mas quando sente, tem ereção?
Paciente: Tenho, mas não consigo “bombear”... A falta de ar é muita.
Médico: Entendo. Espero que as coisas melhorem quando arrumarmos a situ-
ação atual. Não me parece então que o senhor esteja impotente. Estou
certo?2
Paciente: Isso não. Mas tenho até medo de tentar.
Médico: E ao que parece isso o está incomodando muito. Vamos ter que dar
um jeito logo.2 Em algum momento nesse período conseguiu ejacular?
Paciente: Sim.
Médico: E foi tudo bem?3
Paciente: Acho que sim, não notei nada de especial.
Médico: Perda de consciência? Já teve?
Paciente: Não.
Médico: Convulsões, ataques?
Paciente: Não.
Médico: Notou alguma alteração na sua capacidade de concentração?
DESCREVENDO: ....
Paciente: Como assim?
Médico: Na capacidade de ficar atento a alguma coisa, em poder entender as
outras pessoas?
Paciente: Não.
Médico: Alguma alteração na sensibilidade?
Paciente: Não.
Médico: Nem nos pés?4
1
O médico mostra que prestou atenção na interpretação do paciente. Está atento. Corrigiria
uma interpretação errônea. Esse processo caracteriza os sentimentos de empatia. “Sei o que
o senhor está passando. Compreendo e vou ajudá-lo de alguma forma”.
2
Nessa etapa o entrevistador assume a posição do terapeuta empático. Participa do sofri-
mento do paciente entendendo suas preocupações e lhe dando apoio. O processo de tera-
pêutica começa com a compreensão dos sofrimentos do paciente.
3
Por se tratar de um paciente com uma possibilidade de ter diabete, o entrevistador se
permite a uma pergunta aberta focada nessa fase da entrevista. Justifica-se para excluir a
ejaculação retrógrada, que seria uma manifestação de neuropatia visceral da diabete ou
outras alterações eventuais.
4
O médico se torna mais específico, tentando excluir alteração da sensibilidade secundária
à neuropatia do diabético. Sua manifestação mais precoce é a perda da sensibilidade vibratória
nas extremidades inferiores, que será pesquisada no exame físico, mas que justifica essa
abordagem na revisão de sistemas.
457
Paciente: Não.
Médico: Alguma outra coisa que eu tenha esquecido ou que o senhor gostaria
de completar ou perguntar?
Paciente: Acho que não.
A entrevista termina com o médico permitindo ao paciente fazer as observações
adicionais que julgar pertinente. A seguir o médico anuncia o início dos proce-
dimentos de exame físico.
Médico: Muito bem. Podemos passar para o exame físico então. Caso o senhor
lembre de algo, podemos voltar ao assunto a qualquer momento.
O EXAME FÍSICO
A ectoscopia começa no momento da entrada do paciente na sala ou do médico
na enfermaria ou quarto. O paciente encontra-se sentado, em posição ortopnéica,
mostrando sinais claros e dificuldade respiratória. Sua expressão facial demonstra
sofrimento crônico, e o paciente está claramente emagrecido. Durante a
anamnese, o entrevistador nota que o paciente tem dificuldade para falar frases
demasiadamente longas sem se tornar ofegante.
O paciente é medido e pesado.
Paciente sentado
Com o paciente sentado, são verificados os sinais vitais.
É realizado o exame da cabeça, dos olhos, dos ouvidos, da boca e da garganta.
DESCREVENDO: ....
458
Segue-se o exame do abdome, cuja seqüência deve ser alterada: inspeção,
ausculta, percussão e palpação superficial e profunda.
Posterior ao exame do abdome, faz-se o exame da genitália externa, membros,
cadeias ganglionares dos membros e artérias/veias.
Nesse momento estaria justificado, quando indicado, o exame do ânus, prósta-
ta e reto. Nas mulheres o exame ginecológico é sempre referenciado a um especia-
lista.
Observação
Alguns exames, embora importantes para o diagnóstico de várias situações
clínicas, não são realizados de rotina. Entre eles incluem-se o exame neurológico,
fundoscopia etc. Esses exames devem ficar restritos para quando houver suspeita
de alguma doença específica. No caso específico deste paciente, seria justificável
a avaliação de um fundo de olho (fundoscopia), porque se trata de hipertenso e
porque apresenta suspeita de diabete, e porque o exame de sensibilidade (princi-
palmente a sensibilidade vibratória nas extremidades) e de reflexos.
Os complementos
Médico: Muito bem, Seu Pedro,1 já temos alguma explicação para seus ma-
les. Seu problema consiste em insuficiência cardíaca e é muito provável
que a pressão alta, o tabagismo, quem sabe, tenham alguma participação.
Claro que tudo isso iremos avaliar mais adequadamente com alguns exames
que iremos realizar.2 Posso responder a alguma dúvida?3
Paciente: Isso tem cura?
DESCREVENDO: ....
Médico: Tem tratamento. Trata-se de uma doença para qual o senhor deverá
fazer controle periódico e constante daqui para frente.
Paciente: Então não tem cura...
Médico: Mas tem tratamento e controle.4 Vou indicar-lhe uma internação hos-
pitalar. Então faremos a investigação completa que se faz necessária e ini-
ciaremos de pronto o seu tratamento. O senhor sentir-se-á melhor logo
em seguida. Nossa conversa não terminou. Vamos ter muito que conversar
nos próximos dias.5
1
É conveniente que durante toda a entrevista o médico chame o paciente pelo seu nome:
aproxima a relação.
2
É importante que o médico esclareça com a verdade. O paciente o procurou para isso.
Entretanto, no caso de acadêmicos em treinamento, esses detalhes devem ficar sob a res-
ponsabilidade do médico assistente e de sua equipe, embora o aluno seja questionado sobre
diagnóstico, tratamento e prognóstico, com freqüência.
3
O médico deve abrir a possibilidade de perguntas ao paciente.
4
O processo empático deve incluir sempre palavras de conforto e uma posição positiva,
embora sempre realística e verdadeira.
5
O encerramento sempre é feito com uma explicação do plano a ser seguido.
459
O documento (relatório)
Identificação: Pedro Silva, masculino, 52 anos, casado, aposentado do comércio
(caixa), católico (não-praticante), residente em Canoas (Rua Alfa, 234), nascido
e residente em Cambará do Sul até a idade de 14 anos. Responsável Sra. Maia
Silva (esposa). Telefone de contato: 32xxy345.
Queixa principal (QP): “Falta de ar”.1
História da Doença Atual (HDA): Há cinco anos apresenta dispnéia2 aos esforços
(grandes no início, como caminhada rapidamente na distância de um quarteirão).
O sintoma progrediu, apresentando-se cada vez mais a esforços menores até há
seis meses, quando passou a ter dispnéia paroxística noturna e ortopnéia. Há
três meses tem dispnéia aos mínimos esforços. Simultaneamente com o sintoma
da QP, tem apresentado cansaço constante e intenso. Relata o aparecimento de
edema de tornozelos há seis meses, que evoluiu a edema de pernas até os joelhos
nos últimos tempos. Durante as crises intensas de dispnéia, nota o aparecimento
de respiração estertorosa(“ronco no peito”)3 . Trata-se de paciente com história
de hipertensão arterial sistêmica, conhecida há 15 anos, já tendo apresentado
níveis pressóricos de 23/14 (sic). Nunca fez tratamento regular, nem relata sin-
tomas até os acontecimentos relatados na HDA. Pertence a uma família de hi-
pertensos. Já apresentou taxa de colesterol superior a 300 e de glicose maior que
130 (sic).4
História mórbida pregressa: Considerava-se pessoa sadia até os eventos relatados
na HDA. Nega passado cirúrgico. Não relata intolerâncias ou alergias a medica-
DESCREVENDO: ....
mentos.
História familiar: Pai hipertenso, falecido aos 47 anos de infarto (sic); mãe com
história de hipertensão e diabete (nunca tratada para a diabete) (sic). Faleceu aos
62 anos de derrame (sic). O paciente tem mais três irmãos, todos hipertensos.
História mesológica: Paciente de classe média baixa. Bem-informado sobre a do-
ença. Reside em localização de fácil recurso. Renda familiar de R$3.000,00 para
três pessoas. Estrutura familiar adequada. Tabagista desde os 15 anos de 20
cigarros por dia. Nega outros vícios.5
1
A queixa deve ser sempre um sinal ou sintoma e na QP deve ser expressa entre aspas,
conservando-se as palavras do paciente.
2
Uma vez convencido, durante a entrevista da natureza do sintoma descrito na QP, o médi-
co deve passar a utilizar o termo técnico.
3
As aspas no texto indicam as palavras do paciente.
4
Observe-se que dados da história mórbida pregressa foram deslocados para a HDA no
relatório devido à relevância da informação no quadro clínico do paciente.
5
Os dados mesológicos podem e devem ser atualizados à medida em que se conhece
melhor o paciente e sua família.
460
Revisão de Sistema (RS):1
Q Geral: Nada digno de nota (n.d.n.).
Q Cabeça, olhos, nariz orelhas e garganta: cefaléia tensional eventual.2 Usa
óculos para ler.
Q Tórax respiratório e circulatório: além das manifestações descritas na HDA
apresenta tosse de longa data, que atribui ao cigarro, que era inicialmente
seca. Atualmente tem tosse produtiva nos meses de inverno, por vários
anos seguidos. A tosse exacerbou com a doença atual.
Q Abdome: n.d.n3
Q Geniturinário: Nictúria, diminuição da libido por medo dos sintomas e por
diminuição da capacidade funcional. Nega impotência, sintomas de
prostatismo e alterações da ejaculação.
Q Neurológico: n.d.n.
Exame físico
Sinais vitais:
Q Altura: 1,76 m; peso: 62 kg; pressão arterial: 180/110 mmHg, pulso: 110
bpm; freqüência respiratória: 28 mpm; temperatura axilar: 36,8oC.
Ectoscopia:
Q Regular a mau-estado geral. Mostra-se emagrecido e com grande limita-
ção para caminhar. A face denota sofrimento crônico. Mucosas úmidas e
coradas, mas sem cianose.4
Q Lúcido, orientado, coerente e comunicativo.5 Coopera com o entrevistador.
DESCREVENDO: ....
Exame da cabeça:
Q Calvície. Sem alterações da pele e dos demais tegumentos.
1
Os dados aqui devem ser sumariamente descritos quando presentes e quando não-relacio-
nados com a situação atual.
2
No caso atual, o médico resolveu descrever esse sintoma, que na realidade é uma síndrome,
mas que, para o caso e provavelmente para o paciente, não tem a mínima importância no
momento e poderia ser suprimido.
3
Eventualmente o relator do exame pode descrever a negatividade de sinais ou sintomas
importantes que não tenham sido encontrados ou relatados; todavia essa técnica produz
relatórios muito extensos. O importante é avaliar adequadamente. Relata-se apenas os da-
dos positivos.
4
Embora a ausência de cianose seja um dado negativo, nesse caso a informação é importante
por se tratar de um achado que poderia estar presente por se tratar de uma disfunção
respiratória, mesmo que secundária a uma cardiopatia. O leitor deve ficar ciente de que o
achado não existia, mas que foi pesquisado.
5
Esses dados poderiam estar no exame neurológico na avaliação do estado de vigília, mas
com freqüência eles são deslocados para o início para que se tenha uma noção da confiabi-
lidade da história e dos dados colhidos. Quando o paciente não for capaz de informar, no
início do relatório deve constar essa observação com a fonte dos dados colhidos e sua
confiabilidade.
461
Olhos, ouvidos, nariz, boca e garganta:
Q Presença de pterígios bilateralmente. Usa óculos para ler. Pavilhão auricular
sem particularidades (sp). Otoscopia não-realizada. Nariz: aparente desvio
de septo. Boca sem lesões, algumas peças dentárias faltantes; demais dentes
em boas condições. Língua sp. Garganta sp. Cadeias ganglionares da cabeça
sp.
Q Cadeias retroauriculares com pequenos gânglios (grão de arroz)1 indolores,
elásticos, móveis sobre planos superficiais e profundos. Gânglios retroman-
dibulares palpáveis (grão de feijão)
Pescoço:
Q Forma e mobilidade sp. Sem rigidez de nuca. Tireóide sp. Cadeias ganglio-
nares sp.
Tórax respiratório:
Q Inspeção estática: Pele e demais tegumentos sp. Forma em barril, discreta
sifose dorsal. Sem outras alterações dignas de nota.
Q Inspeção dinâmica: Taquipnéico, ritmo respiratório sem alterações,2 Presença
de uso da musculatura acessória. Tiragem na fúrcula e em fossas subclavi-
culares e supraclaviculares.
Q Palpação: Frêmito toracovocal diminuído nas bases, mais intensamente na
base direita onde a ausência atinge meio hemitórax. Presença de frêmito
brônquico na porção anterior e superior do tórax.
Q Percussão: Som claro nos ápices anteriores, nas regiões axilar esquerda.
Macicez na metade inferior do hemitórax direito.
DESCREVENDO: ....
1
Pode-se fazer comparação com coisas de conhecimento corrente para especificar o tamanho.
2
O ritmo respiratório no adulto costuma ter certa irregularidade, mas que é completamente
diferente de padrões patológicos como o ritmo de Kussmaul, Cheyne-Stokes e outros.
462
sistólico, sem clicks, com epicentro em terceiro espaço intercostal direito,
irradiando-se bem para a fúrcula e para a ponta de ventrículo esquerdo,
sendo de natureza áspera e de intensidade de 3/6+.
Abdome:
Q Inspeção: Pele e subcutâneo sp. Diátese dos músculos retos abdominais.
Protrusão da cicatriz umbilical. Forma globosa, contrastando com o emagre-
cimento do paciente. Abaulamento no hipocôndrio direito.
Q Ausculta: Presença de ruídos hidroaéreos usuais. Ausência de sopros.
Q Percussão: Timpanismo gástrico, borda superior do fígado percutível no 9o
espaço intercostal direito e borda inferior a quatro dedos do rebordo costal
direito. Presença de sinal do piparote. Macicez variável nos flancos com a
troca de decúbito.
Q Palpação superficial: Abdome tenso. Hiperestesia no hipocôndrio direito.
Q Palpação profunda: Dor à palpação profunda no hipocôndrio direito, presen-
ça de fígado palpável quatro dedos abaixo do rebordo costal direito com
extensão total de 16 cm, com bordas lisas e rombas, consistência elástica.
Ausência de outras organomegalias palpáveis.
Geniturinário:
Q Genitais de desenvolvimento compatível com a idade. Pêlos pubianos sp.
Edema escrotal importante. Toque retal com próstata de tamanho normal
sem alterações na textura e consistência.1 Ausência de dor na punho per-
cussão lombar.
DESCREVENDO: ....
Membros:
Q Artérias periféricas com pulsos simétricos e palpáveis. Membros superiores
sp. Presença de varizes nos membros inferiores. Mancha hipercrômica na
porção distal interna da perna direita (dermatite ocre).2
Q Edema de membros inferiores, frio, depressível atingindo até a altura dos
joelhos. Sensibilidade preservada nas extremidades.
Exame neurológico resumido:
Q Vigil, sem alterações da percepção de si, do tempo e do espaço.
Q Motilidade preservada. Marcha normal. Sem déficits de força nas extremida-
des.
Q Sensibilidade s.p. Percebe a sensação vibratória nos dedos dos pés.
Q Reflexos tendinosos preservados, simétricos e de amplitude normal.
1
Antevendo a possibilidade do uso de diuréticos, o examinador completou o exame genital
com a avaliação da próstata.
2
Embora dermatite ocre se trate de um diagnóstico e não de um sinal/sintoma, justifica-se
sua descrição como diagnóstico quando óbvio.
463
LISTA DE PROBLEMAS INICIAL1
O relatório é sempre finalizado com uma lista de problemas e/ou uma lista de
hipóteses diagnósticas, sobre as quais será traçado um plano de abordagem de
investigação, de avaliação funcional e terapêutico.
Data de início / Data de término
#2. Insuficiência cardíaca congestiva.2
#3. Hipertensão arterial sistêmica.
#4. Tabagismo.
#5. Ascite (secundária a #2).3
#6. Derrame pleural extenso (secundário a #2).
#7. Bronquite crônica.
As hipóteses diagnósticas do examinador, ao terminar a entrevista, foram a
de insuficiência cardíaca global, hipertensão arterial sistêmica e tabagismo pesa-
do. A etiologia da insuficiência cardíaca, embora a hipertensão seja um partici-
pante ativo, não deve ser a única causa devido à intensa participação de insufici-
ência ventricular direita (denotada por ascite, edema de membros inferiores e
derrame pleural. Pelo tabagismo poder-se-ia pensar em um cor pulmonale crônico
associado a uma cardiopatia hipertensiva. O primeiro sendo causa de uma insufi-
ciência cardíaca direita e o segundo de uma insuficiência cardíaca esquerda. Outra
linha de raciocínio mais plausível seria a da presença de uma miocardiopatia
dilatada em paciente hipertenso. Essas considerações não vão na primeira lista
de problemas. Veja como ficou a segunda lista, após os exames complementares:
DESCREVENDO: ....
1
A lista de problemas inicial deverá ser completada pelo médico responsável pelo cuidado
do paciente de 24 a 48 horas após a feitura da primeira lista diante dos resultados e conclusões
dos exames complementares e da evolução do paciente.
2
Observe que os problemas listados iniciam com o número 2. O número 1 fica reservado
para problemas eventuais e transitórios e para as instruções gerais, como se explicará a
seguir.
3
Embora a ascite e o derrame pleural devam ser manifestações da insuficiência cardíaca,
eles mereceram a atenção como problemas isolados por necessitarem eventualmente de
uma abordagem especial.
464
Trabalhando com problemas
Uma vez concluída a entrevista e criada uma impressão geral sobre o paciente,
o entrevistador passará a trabalhar a lista de problemas, que facilitará todo o
manejo do paciente. Observe-se que o conceito de problema não passa necessa-
riamente pelo conceito de diagnóstico. Uma lista provisória é elaborada no mo-
mento da internação, e uma definitiva, 24 horas após.
Tradicionalmente fomos treinados a trabalhar com hipóteses diagnósticas; a
partir delas, pelo método científico, passamos a coletar dados para refutá-las.
Para um clínico mais experimentado, isso pode não ser uma dificuldade, pois a
qualidade de seu trabalho centraliza-se nos cuidados do paciente; todavia fre-
qüentemente essa abordagem pode trazer prejuízos, tais como:
Q Exagero na realização de exames;
Q Seqüência imprópria na realização de procedimentos;
Q Aumento do risco de iatrogenia e do custo da investigação;
Q Prolongamento do tempo de internação;
Q Risco de não tomar as medidas adequadas ao manejo do caso enquanto o
diagnóstico não ficar estabelecido.
O conceito de problema centra a visão do médico no paciente e não na doença,
e o trabalho sobre a solução do problema encoraja o pensamento lógico e o
planejamento da ação médica.
A formulação do problema
Deve ser baseada na coleta de dados (subjetivos e objetivos). A lista deve
DESCREVENDO: ....
incluir, em ordem numérica (não em ordem de importância), todos os problemas
do paciente: biológicos, psíquicos e sociais, derivados da observação, da interpre-
tação e da análise e síntese dos dados.
Exemplos:
#2. ortopnéia;
#3. edema de membros;
#4. hepatomegalia;
#5. diminuição do volume urinário;
#6. B3, turgência jugular;
465
#7. radiograma de tórax com inversão de fluxo. Todos esses sinais/sintomas
poderiam ser agrupados em um único item = insuficiência cardíaca, o que
evitaria uma profusão de problemas.
A não-compreensão do problema pode se tornar um problema: podemos
negligenciar um problema, para nós de menor importância, mas que pode estar
causando maior dificuldade ao paciente do que sua doença básica. Exemplos:
insônia, ansiedade etc.
Categorias de problemas
Q Diagnósticos definitivos. Por exemplo, insuficiência cardíaca congestiva.
Q Sintomas isolados ou agrupados. Por exemplo, dispnéia e tosse produtiva.
Q Estados fisiopatológicos que necessitem de abordagem especial. Por exem-
plo, arritmias cardíacas, convulsões.
Q Síndromes. Por exemplo, síndrome nefrótica.
Q Achados do exame físico. Por exemplo, presença de terceira bulha
Q Achados de exames complementares. Por exemplo, hipercolesterolemia,
DESCREVENDO: ....
infiltrado pulmonar.
Q Problemas psicológicos e psiquiátricos. Por exemplo, comportamento
esquizóide.
Q Problemas sociodemográficos. Por exemplo, mãe solteira, divórcio, droga-
dição.
Os problemas podem ser (i) ativos e (ii) inativos. Ativos quando demandarem
manejo, mesmo quando compensados (diabete melito, insuficiência cardíaca,
hipertensão arterial sistêmica [HAS]); inativos quando já resolvidos, mas que
podem apresentar algum tipo de repercussão no presente ou no futuro (tuber-
culose, hérnia operada, neoplasia considerada curada – nesses casos podemos
ter algum tipo de envolvimento. A tuberculose pode ser reativada pelo uso de
drogas ou estados de imunossupressão; a cirurgia de hérnia pode estar envolvida
em maior risco de obstrução intestinal, e a neoplasia pode não estar tão curada
como imaginada). Na lista devem constar apenas os problemas ativos; os inativos
devem ser registrados em separado.
Se um diagnóstico apresenta várias manifestações importantes que mereçam
abordagens especiais ou em separado, essas devem ser registradas separadamente.
Por exemplo:
#2. Cardiopatia isquêmica com insuficiência cardíaca.
#3. Taquicardia ventricular.
#4. Lesão de tronco de coronária esquerda de 80%.
466
Problema Data de Início Data de término
#2. Tosse produtiva 23/05/96
#3. Febre 23/05/93
#4. Perda de peso 23/05/93
DESCREVENDO: ....
desaparece, apenas não há mais necessidade de evoluí-lo. Por exemplo, um pa-
ciente interna com tosse produtiva, febre e perda de peso. No primeiro momen-
to, a lista de problemas ficaria como a da Figura 25.1.
No dia 25 do mesmo mês estabelece-se o diagnóstico de tuberculose e a lista
é atualizada da forma que se segue na Figura 25.2.
Após essa data, todas as abordagens referentes aos problemas relacionados à
tuberculose serão enfocadas no problema #2. A atualização da lista de proble-
mas é obrigação do médico responsável pelo paciente
Infelizmente o sistema de trabalho baseado em problemas tem caído em desu-
so, embora seja muito prático na abordagem dos pacientes. O fato se deve à
informatização dos sistemas e, principalmente, à falta de treinamento médico.
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468
26
PRONTUÁRIO DE
PACIENTES: FINALIDADES,
PREENCHIMENTO E
QUESTÕES ÉTICAS E
LEGAIS
MARIZA MACHADO KLÜCK
JOSÉ RICARDO GUIMARÃES
HISTÓRIA
Encontramos notícias da existência de registro médico desde a Antigüidade. Co-
nhecemos informações a respeito de pacientes e moléstias datadas do ano 4500
a.C. Relatórios, feitos em 3000 a.C., mencionam informações sobre a medicina
praticada no Egito. No século V a.C., Hipócrates, o “pai da medicina”, procurou
abandonar as velhas teorias da medicina sacerdotal, encarando-a com zelo cientí-
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
470
Apollinius estava doente por um longo período sem estar confinado ao leito. Apresenta-
va distensão abdominal e dor contínua de longa data na região do fígado; apresentou
ainda durante esse período icterícia e flatulência; sua tez ficou pálida. Após jantar e
beber em excesso, Apollonius ficou febril e recolheu-se ao leito. Tendo bebido copiosa-
mente leite, fervido e cru, tanto de cabra como de ovelha, e adotando uma dieta
absolutamente ruim, sofreu muito. Havia exacerbações da febre, e praticamente nada
do alimento ingerido era evacuado, a urina era rala e em pequeno volume. Não conse-
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
guia dormir. Uma penosa distensão, muita sede, um resmungar delirante... Aproximada-
mente quatorze dias após adoecer, seguindo um episódio de calafrios, apresentou
febre; delírios severos, gritos, mal-estar, muita desorientação seguidos de calma; neste
momento entrou em coma. Sobre o vigésimo quarto dia, confortável; em outros aspec-
tos sem alterações, mas tinha intervalos de lucidez. Sobre o trigésimo dia, febre aguda,
diarréia copiosa; desorientação, extremidades frias, não falava nada. Trigésimo quarto
dia: morte.
Figura 26.1 – Descrição de uma evolução clínica (Apolônio) por Hipócrates 2.600 anos atrás.
(Reproduzida de Handbook of Medical Informatics, J.H. van Bemmel.)
471
clínicas de forma adequada, como condição para recebimento das subvenções
públicas. O III Congresso Nacional de Hospitais, em julho de 1961, deu desta-
que especial à discussão sobre o tema. Atualmente, é exigência do Programa
Brasileiro de Acreditação Hospitalar a existência de prontuários completos, com
informações de qualidade e disponíveis nas áreas assistenciais para certificação
dos hospitais.
Há 30 anos, o médico de família detinha, muitas vezes em sua memória, as
informações referentes aos seus pacientes. Hoje, a medicina moderna exige o
trabalho em equipe, aumentando a importância de um correto registro com con-
sultas rápidas e eficientes. O prontuário do paciente é chamado, ainda hoje, de
prontuário médico na maior parte dos hospitais do país. No entanto, em nível
internacional, essa abordagem está se modificando para uma visão que parte do
usuário, provedor de todas as informações constantes no prontuário e principal
beneficiário dessas. Por outro lado, o paciente é assistido por uma equipe de
profissionais de múltiplas áreas. Portanto, o adjetivo “médico” empregado para
os prontuários não parece refletir adequadamente a situação e, por esse motivo,
está sendo progressivamente chamado de “prontuário do paciente”.
472
Q Dados de identificação: são informações cadastrais necessárias para comu-
nicação do HCPA com seus pacientes, familiares ou responsáveis bem como
para a elaboração de trabalhos científicos e levantamentos epidemiológicos
de sua clientela. Esses dados são colhidos por pessoal administrativo do
Hospital, cabendo aos profissionais da equipe de saúde alertar o SAME no
caso de verificação de erros ou incorreções nessas informações.
Q Lista de problemas: é uma síntese dos problemas atuais e ativos ou passados
do paciente e destina-se a fornecer uma visão geral da situação clínica do
paciente e permitir a integração da equipe multidisciplinar. Deve ser elabora-
da em ordem numérica crescente e com o menor grau de abstração possível.
Podem ser incluídos na lista: sinais ou sintomas, diagnósticos, perturbações
fisiológicas, emocionais, síndromes, achados morfológicos e sinais ou anor-
malidades laboratoriais.
Internação
Q Anamnese e exame físico: são os dados obtidos pela história e exame físico
do paciente na sua admissão, organizados de maneira convencional e com-
pletados pela hipótese(s) diagnóstica(s) e plano(s) inicial(ais).
Q Anamnese de enfermagem: são os dados obtidos pela história e exame
físico de enfermagem realizados na admissão do paciente, segundo formu-
lário próprio de cada unidade de internação.
Q Resultados de exames: são os resultados dos exames complementares im-
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
pressos individulamente ou apresentados no formato de tabelas, que são
impressas no momento da alta do paciente ou periodicamente nos casos
de internações prolongadas.
Q Laudos de exames: é o conjunto de laudos descritivos de exames cujos
resultados não são numéricos. (p. ex., radiologia, ecografia, espirometria,
eletrocardiografia).
Q Prescrição médica: é o registro de todas as medidas necessárias ao tratamen-
to do paciente, como cuidados gerais, prescrições medicamentosas, medidas
de reabilitação, fisioterapia, dietas, medidas educacionais e manejo
ambiental e familiar, elaborada diariamente e assinada pelo médico.
Q Notas de evolução: é o registro cronológico das informações obtidas do
paciente, de seus familiares, da enfermagem ou de outros informantes sobre
seu estado ou sua evolução clínica. Devem ficar claras as razões para conti-
nuar ou alterar as condutas diagnósticas ou terapêuticas, assim como o
planejamento do seguimento do atendimento.
Q Sumário de transferência: é recomendada a realização desse documento
no momento da transferência do paciente para outra unidade de internação
ou para outro hospital, onde outras equipes médicas ou especialidades
passarão a participar do seu tratamento. É o caso de pacientes transferidos,
por exemplo, das unidades de internação comum às unidades de tratamento
intensivo ou vice-versa. Deve conter uma síntese da situação clínica do
paciente até o momento da transferência, as razões que a motivaram e o
planejamento terapêutico a partir de então.
473
Q Sumário de alta: é uma síntese do atendimento prestado ao paciente durante
o período de internação e inclui dados de identificação, diagnósticos, proce-
dimentos diagnósticos e terapêuticos, consultorias, evolução, condições
de alta e plano pós-alta.
Q Sumário de óbito: é uma síntese do atendimento prestado ao paciente que
foi a óbito durante o período de internação. Inclui dados de identificação,
diagnósticos, procedimentos diagnósticos e terapêuticos, consultorias, evo-
lução, causas do óbito classificadas pelo CID-10 e usando a mesma lógica
do atestado de óbito.
Q Documentos diversos específicos: ficha anestésica, descrição cirúrgica, lau-
dos de consultoria, registro obstétrico e exame do recém-nascido, identifica-
ção do recém-nascido, registros de quimioterapia, radioterapia, hemodiálise
etc., tural (feminino e masculino) e curva de crescimento do recém-nasci-
do de baixo peso.
Ambulatório
Na subdivisão do prontuário referente aos atendimentos ambulatoriais deverão
constar os seguintes documentos:
Q Anamnese e exame físico: informações coletadas na primeira consulta am-
bulatorial em cada especialidade no hospital.
Q Notas de evolução: registro cronológico das consultas ambulatoriais nas
diversas especialidades.
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
Hospital-dia
Os documentos do prontuário dessa subdivisão referem-se ao atendimento
realizado no regime de hospital-dia. Esses documentos são os mesmos do ambula-
tório e obedecem às mesmas regras.
Emergência
Nessa subdivisão do prontuário localizam-se os documentos produzidos duran-
te os atendimentos no setor de emergência. Devem constar os mesmos documen-
tos da internação nos casos de pacientes que tenham permanecido nesse setor
474
por um período maior do que 24 horas. Além desses, encontraremos dois docu-
mentos específicos desse setor, que são o boletim de atendimento na emergên-
cia e a evolução da emergência.
CTI
Nessa subdivisão localizam-se os documentos produzidos durante internações
nas unidades de tratamento intensivo de adultos, pediátrica e neonatal. Esses
documentos são os mesmos de uma internação em outras unidades.
PREENCHIMENTO DO PRONTUÁRIO
O adequado preenchimento do prontuário garante a qualidade da assistência, a
facilidade da recuperação de informações para a pesquisa, a comunicação entre
profissionais e a documentação legal do atendimento prestado. Portanto, é do
interesse de todos os profissionais que atuam no hospital zelar pela sua qualidade.
Os registros feitos em qualquer tipo de documento do prontuário devem ser
devidamente identificados, sendo obrigatórios a assinatura do profissional respon-
sável, seu nome legível, número do seu registro profissional e data.
Todos os registros no prontuário devem ser feitos de forma legível, com caneta
de tinta azul-escura ou preta. Não é permitido o uso de carbono, de canetas com
tinta de outras cores, com ponta porosa ou marcadores, pois os registros feitos
com essas não são legíveis em cópias solicitadas por pacientes ou por autoridades
legais.
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
Deve ser evitada a rasura ou a destruição de documentos do prontuário bem
como a colocação de observações em documentos preexistentes, como laudos
de exames ou de consultorias. Se forem verificados erros ou enganos, esses devem
ser apontados e corrigidos em um registro posterior, que faça referência aos
problemas encontrados. Rasuras invalidam os documentos como prova processual.
A preservação do sigilo e da privacidade das informações sobre o paciente é
dever e responsabilidade de todos os envolvidos na assistência, e o não-cumpri-
mento dessa determinação se caracteriza como infração ética e legal. O acesso a
essas informações só pode ser permitido a pessoas autorizadas. Não são permiti-
das a reprodução, utilização e divulgação de documentos de prontuário para
qualquer fim sem a autorização expressa do paciente ou responsável legal.
O preenchimento dos diferentes documentos do prontuário deve seguir a
seguinte orientação.
Dados de identificação
Os dados de identificação contêm as informações cadastrais básicas dos pacien-
tes do hospital, essenciais para o contato com o paciente, familiar ou responsável,
a elaboração de trabalhos científicos e a análise dos dados epidemiológicos e
podem ser colhidos por auxiliares administrativos.
Lista de problemas
O que é problema? Problema é tudo o que necessita de cuidado ou solução
pela equipe de saúde.
475
A lista de problemas tem por finalidade expressar de uma forma sintética os
diferentes problemas do paciente. A lista deve fornecer uma visão abrangente
dos problemas do paciente, físicos, mentais ou sociais, sejam eles ativos (presen-
tes), passados ou resolvidos. Facilita a síntese, comunicação e a integração entre
os vários profissionais e diferentes especialidades. É a primeira folha após os
dados de identificação do prontuário. As instruções para seu preenchimento são
as seguintes:
Q O profissional de saúde, após realização da anamnese e do exame físico
completo, organiza a lista de problemas, dando um número para cada pro-
blema, seja ativo ou passado.
Q Nas reconsultas ambulatoriais ou durante o período de internação a lista
de problemas dever ser atualizada na medida em que evolui o quadro clíni-
co do paciente.
Q Os problemas devem ser formulados com a menor abstração possível e em
nível de certeza máxima. Há quatro níveis de problemas de saúde:
– sintomas ou sinais (p. ex., dor no peito, nódulo de mama);
– achado laboratorial anormal (p. ex., ECG alterado, hemograma alterado);
– alteração físico-patológica (p. ex., insuficiência cardíaca congestiva);
– diagnóstico: cirrose nutricional, diabete melito tipo I.
Q Os problemas psiquiátricos e sociais devem ser listados de forma a comunicar
claramente a situação (p. ex., depressão, ansiedade, desemprego, promiscui-
dade habitacional). Termos não-técnicos podem ser usados (p. ex., chora
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
476
nóstico na lista imediatamente abaixo do problema esclarecido e datando
adequadamente. O título inicial poderá ser riscado com um traço ou usan-
do uma seta para indicar a alteração.
Exemplo:
— 1# dor abdominal 10/12/1994
apendicite aguda 11/12/1994
ou
1# dor abdominal 10/12/1994
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
passados ao lado do primeiro título resolvido. Entretanto, o pós-operatório
de um procedimento cirúrgico, até que esteja completamente resolvido,
deve ser listado como um problema ativo.
Q Quando surgir um problema novo, esse deverá ser acrescentado à lista e
datado de acordo. Também, quando resolvido, o problema deverá ser data-
do. Uma lista mantida atualizada refletirá com exatidão o estado do paciente.
Q A lista de problemas original não deve nunca ser retirada da pasta, nem
inutilizada. Caso existam alterações, essas deverão ter justificativa nas notas
clínicas, e a lista original deverá ficar no prontuário como índice dos pro-
blemas até a data da mudança.
Prescrição
A prescrição é a implementação das medidas terapêuticas e educacionais,
consultorias, dietas, cuidados, hemoterapia, ordenadas pelo médico, para pacien-
tes internados ou em regime de hospital-dia.
A prescrição deve ser impressa e assinada pelo médico.
477
Notas de evolução – internação
As anotações sobre a evolução do paciente devem conter os seguintes itens:
Q S (Subjetivo): informações do paciente sobre seus sintomas, alterações em
seu estado geral.
Q O (Objetivo): novos achados do exame físico, parâmetros de controle,
como peso e balanço hídrico, temperatura, pulso e alterações dos exames
laboratoriais e estado geral etc.
Q I (Impressão): é uma avaliação crítica e sintética dos dados subjetivos e
objetivos. Pode incluir aspectos diagnósticos terapêuticos e prognósticos,
tais como dor abdominal sugestiva de colecistite aguda, boa resposta à
antibioticoterapia, boa evolução após o início do corticosteróide, quadro
clínico sugere progressão na neoplasia etc.
Q C (Conduta): medidas a serem implementadas no sentido de elucidação
diagnóstica ou planejamento terapêutico. Por exemplo: solicitação de novos
exames, opiniões de consultores, alteração de esquema de antibioticotera-
pia, intervenção de cuidados a ser implementada, orientações para educação
para saúde.
A evolução pode fazer referência à lista de problemas mencionando o respec-
tivo número e deve ser redigida sempre que o paciente é atendido por algum
membro da equipe, podendo existir mais de uma anotação no dia. Deve constar
data, hora e carimbo (ou nome por extenso) com assinatura do profissional respon-
sável pelos registros.
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
Exemplo:
12/12/94, 8 h
S. – paciente em primeiro dia de pós-operatório de apendicectomia. Queixan-
do-se de dor moderada localizada na incisão cirúrgica, relacionada principal-
mente à mobilização no leito. A dor alivia com o uso de Petidina na dose
prescrita, por um período de aproximadamente duas horas. Refere ter apre-
sentado dois episódios de vômitos biliosos durante a noite. Agora, sem
náuseas ou vômitos. Não conseguiu dormir durante a noite devido à dor.
Anorético. Referindo tosse produtiva, expectoração hialina.
O – Balanço hídrico no pós-operatório: + 300 mL.
Temperatura 37ºC; TA: 130/80 mmHg; FC: 85 bpm.
(descrição do exame físico)
I – Boa evolução pós-operatória.
C – Manter hidratação por via parenteral até a tarde, quando deverá ser
iniciada via oral com líquidos.
– Analgesia com petidina pelo menos até amanhã.
– Estimular deambulação e mobilização fora do leito.
– Suspender antibióticos profiláticos.
– Manter restante da prescrição.
478
de registro deve ser cronológica, independentemente do local de consulta. Assim,
com o seu manuseio é possível o acesso a todas as consultas realizadas nas diver-
sas especialidades na ordem em que aconteceram.
No cabeçalho de cada consulta deve ser registrada a especialidade e a equipe
responsáveis por aquela consulta e a data da mesma. Ao final, deve ser assinada
e carimbada pelo profissional responsável, ficando claro o seu nome e número
de registro profissional.
A organização e o registro da consulta devem obedecer à mesma lógica da
evolução de pacientes internados. Deve organizar-se em subjetivo, objetivo, im-
pressão e conduta.
Sumário de alta
O sumário de alta é o documento do prontuário que obrigatoriamente deve
integrar o prontuário de pacientes que foram internados. Deve conter o motivo
da internação, os diagnósticos secundários, as hipóteses diagnósticas, a terapêutica
instituída e a evolução do estado do paciente e dos exames realizados. Além
disso, deve deixar claro, aos profissionais que continuarem o acompanhamento,
o planejamento terapêutico após alta. O sumário de alta deve ser um documento
completo e abrangente, mas também objetivo, conciso e direto.
Sugere-se que o sumário de alta contenha os seguintes elementos:
Q Identificação: são apresentados os dados de identificação do paciente e a
relação de equipes e especialidades responsáveis pelo atendimento ao longo
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
da internação.
Q Motivo da alta:
Q Diagnósticos: são apresentados os diagnósticos na internação, diagnóstico
principal da alta e diagnósticos secundários. Para cada um deles o sistema
oferece uma pesquisa em uma tabela do Código Internacional de Doenças
versão 10 (CID-10).
Q Evolução: a evolução é um dos itens mais importantes do sumário de alta.
O AGH oferece um campo de texto livre onde cabe ao médico, de forma
completa, sucinta e objetiva, descrever os aspectos clínicos da internação,
diagnósticos e condutas terapêuticas.
Q Plano pós-alta: o sistema permite ao médico programar a realização de
exames após a alta e emitir solicitação de agendamento de reconsulta am-
bulatorial.
Q Condições do paciente na alta: o médico deve informar as condições do
paciente no momento da alta (curado, melhorado, inalterado).
Sumário de óbito
O sumário do óbito deve ser realizado para todos os óbitos de pacientes
internados, em substituição à nota de alta. Deve ser uma síntese das informações
geradas durante a internação, como motivo da internação, diagnósticos, medidas
diagnósticas e terapêuticas. Deve haver um preocupação em descrever as razões
que levaram ao óbito.
479
Na sua maior parte, o sumário de óbito é igual ao de alta. É constituído por:
Q Identificação: vide sumário de alta.
Q Diagnósticos: vide sumário de alta.
Q Procedimentos terapêuticos: vide sumário de alta.
Q Evolução: vide sumário de alta.
Q Informações do óbito: o médico deverá informar a causa direta do óbito,
as causas antecedentes que produziram a causa da morte e as outras condi-
ções patológicas que contribuíram para a morte.
pensável.
Em 2002, o Conselho Federal de Medicina criou a Câmara Técnica de Infor-
mática em Saúde, encarregada de discutir os aspectos técnicos e legais do prontuá-
rio eletrônico e propor medidas que viabilizem sua utilização. A Resolução no
1.639/2002(3) aprova as normas técnicas para o uso de sistemas informatizados,
deixando em aberto as exigências para sua certificação legal, que deverão ser
elaboradas por um grupo de trabalho formado por representantes do CFM e da
Sociedade Brasileira de Informática em Saúde. O uso de suporte eletrônico para
guarda e disponibilização dos registros de prontuário já é de uso corrente em
vários hospitais brasileiros e deve ser incentivado desde que se garanta o respeito
à segurança e ao sigilo e privacidade das informações. A eliminação do prontuário
em papel ainda não está regularizada e, portanto, ainda é exigida a guarda de
cópias impressas dos documentos essenciais.
O suporte legal existente para a utilização de sistemas de registro eletrônicos
é a Resolução CFM 1.639/2002(3), que decidiu:
Art. 1o – Aprovar as “Normas Técnicas para o Uso de Sistemas Informatizados
para a Guarda e Manuseio do Prontuário Médico”, anexas à esta resolução,
possibilitando a elaboração e o arquivamento do prontuário em meio ele-
trônico.
Art. 2o – Estabelecer a guarda permanente para os prontuários médicos arqui-
vados eletronicamente em meio óptico ou magnético e microfilmados.
Art. 5o – Autorizar, no caso de emprego da microfilmagem, a eliminação do
suporte de papel dos prontuários microfilmados, de acordo com os procedi-
480
mentos previstos na legislação arquivística em vigor (Lei nº 5.433/68 e Decreto
nº 1.799/96), após análise obrigatória da Comissão Permanente de Avaliação
de Documentos da unidade médico-hospitalar geradora do arquivo.
Art. 6o – Autorizar, no caso de digitalização dos prontuários, a eliminação do
suporte de papel dos mesmos, desde que a forma de armazenamento dos
documentos digitalizados obedeça à norma específica de digitalização conti-
da no anexo desta resolução e após análise obrigatória da Comissão Perma-
nente de Avaliação de Documentos da unidade médico-hospitalar geradora
do arquivo.
Art. 7o – O Conselho Federal de Medicina e a Sociedade Brasileira de Infor-
mática em Saúde (SBIS), mediante convênio específico, expedirão, quando
solicitados, a certificação dos sistemas para guarda e manuseio de prontuá-
rios eletrônicos que estejam de acordo com as normas técnicas especificadas
no anexo a esta resolução.
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
Cópia de segurança: deverá ser feita cópia de segurança dos dados do prontuário
pelo menos a cada 24 horas. Recomenda-se que o sistema de informação utilizado
possua a funcionalidade de forçar a realização do processo de cópia de segurança
diariamente.
Bancos de dados: os dados do prontuário deverão ser armazenados em sistema
que assegure, pelo menos, as seguintes características:
Q compartilhamento dos dados;
Q independência entre dados e programas;
Q mecanismos para garantir a integridade, controle de conformidade e vali-
dação dos dados;
Q controle da estrutura física e lógica;
Q linguagem para a definição e manipulação de dados (SQL – Standard Query
Language);
Q funções de auditoria e recuperação dos dados.
481
da sua responsabilidade desde que o profissional administrativo esteja inse-
rindo esses dados por intermédio de sua senha de acesso;
Q a senha de acesso será delegada e controlada pela senha do médico a
quem o profissional administrativo está subordinado;
Q deve constar da trilha de auditoria quem entrou com a informação;
Q todos os funcionários de áreas administrativas e técnicas que, de alguma
forma, tiverem acesso aos dados do prontuário deverão assinar um termo
de confidencialidade e não-divulgação, em conformidade com a Norma
ISO/IEC no 17.799.
Autenticação: o sistema de informação deverá ser capaz de identificar cada usuário
por meio de algum método de autenticação. Em se tratando de sistemas de uso
local, no qual não haverá transmissão da informação para outra instituição, é
obrigatória a utilização de senhas. As senhas deverão ser de no mínimo cinco
caracteres, compostos por letras e números. Trocas periódicas das senhas deverão
ser exigidas pelo sistema no período máximo de 60 (sessenta) dias. Em hipótese
alguma o profissional poderá fornecer a sua senha a outro usuário, conforme
preconiza a Norma ISO/IEC no 17.799. O sistema de informações deve possibilitar
a criação de perfis de usuários que permita o controle de processos do sistema.
Auditoria: o sistema de informações deverá possuir registro (log) de eventos, con-
forme prevê a Norma ISO/IEC no 17.799.
Transmissão de dados: para a transmissão remota de dados identificados do pron-
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
482
e para assegurar ao médico e ao paciente o atendimento de todos os seus direitos
e deveres. O cumprimento das questões referentes ao conteúdo completo e de
qualidade, aos prazos de armazenamento e, principalmente, ao sigilo, privacidade
e segurança das informações dos prontuários, é um compromisso legal e ético
assumido por todos os médicos e é o seu principal argumento de defesa quando
necessário. Os principais tópicos abordados na legislação brasileira são os que
seguem.
Finalidades: o prontuário é documento valioso para o paciente, para o médico
que o assiste e para as instituições de saúde, bem como para o ensino, a pesquisa
e os serviços públicos de saúde, além de instrumento de defesa legal. (Resolução
no CFM 1.638/2002)
Obrigatoriedade: O registro de qualquer atendimento prestado ao paciente por
profissional de saúde, em instituição hospitalar, unidade de saúde ou consultó-
rio, deve ser feito em prontuário. Segundo o Código de Ética Médica, em seu
Artigo 69, “é vedado ao médico deixar de elaborar o prontuário de cada paciente”.
Conteúdo: devem constar obrigatoriamente no prontuário os dados de identificação
do paciente, anamnese, exame físico, resultados de exames, hipóteses diagnós-
ticas, diagnóstico(s) definitivo(s), tratamento realizado, evolução diária, procedi-
mentos realizados. (Resolução CFM no 1.638/2002, Artigo 5º.)
Qualidade do registro: nos prontuários em papel é obrigatória a legibilidade da
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
letra do profissional que atendeu o paciente, bem como a identificação de todos
os profissionais prestadores do atendimento. São também obrigatórios a assinatura
e o respectivo número do CRM. (Resolução CFM no 1638, Artigo 5º.)
Prazos: sendo o prontuário um documento de importância fundamental para o
atendimento continuado ao paciente, dever-se-ia supor que o mesmo fosse manti-
do durante toda a vida do indivíduo e mais ainda considerando seu interesse
para a pesquisa científica. No entanto, existem imperativos de limites de área
física de armazenamento e dificuldades de organização de um acervo infinito. O
CFM determina, através do Artigo 4º da Resolução no 1.639/2002, que o pron-
tuário em papel seja armazenado por um período mínimo de 20 anos, conside-
rando como data-base o último comparecimento do paciente, mantendo-se a
informação em outro meio qualquer por prazos não-especificados. Os registros
eletrônicos devem ser mantidos indefinidamente.
Responsabilidades: a responsabilidade pelo prontuário cabe ao médico assistente
e aos demais profissionais que compartilham o atendimento, à hierarquia médica
da instituição, às chefias médicas e ao diretor clínico. É obrigatória a existência
de uma comissão de prontuários nas instituições onde se presta assistência médica,
que deve ser criada por designação da direção ou por outro meio, devendo ser
coordenada por um médico. (Resolução CFM no 1.638 Artigos 3º e 4º.)
Sigilo: desde Hipócrates a guarda do sigilo é reconhecida como dever ético, valor
moral que, embora extremamente relevante, não é absoluto, já que sua quebra
pode se fazer necessária para proteger a saúde e o bem-estar do paciente ou por
483
interesses maiores da sociedade. Essa obrigação não deve ser atendida apenas
de forma passiva, não revelando as informações, mas também ativamente, preser-
vando os registros do acesso por pessoas não-autorizadas. A exigência da manu-
tenção do sigilo das informações obtidas por profissional de saúde a partir de ato
assistencial é uma garantia para o profissional e para o paciente. Dessa forma,
haverá uma relação de confiança mútua que permitirá ao paciente o relato de
suas queixas e antecedentes e, ao médico, o registro adequado dos mesmos.
O sigilo médico é garantido por legislação bastante rigorosa:
Q Código Penal, Artigo 154: criminaliza a ação de revelar a alguém, sem
justa causa, segredo de que teve ciência em razão da função de ministério,
ofício ou profissão e cuja revelação possa produzir dano a outrem – pena
de 3 meses a 1 ano.
Q Código Civil, Artigo 144: ninguém pode ser obrigado a depor de fatos a
cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar segredo.
Q Código de Processo Penal, Artigo 207: são proibidas de depor as pessoas
que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devem guardar
segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu
testemunho.
Q Código de Processo Civil, Artigo 406, inciso II: a testemunha não é obrigada
a depor de fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo.
Q Código de Ética Médica, Artigo 11: o médico deve manter sigilo quanto às
informações confidenciais de que tiver conhecimento no desempenho de
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
suas funções.
Q Código de Ética Médica, Capítulo IX: é vedado ao médico:
Art. 102 – Revelar o fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício
de sua profissão, salvo por justa causa, dever legal ou autorização ex-
pressa do paciente.
Parágrafo único – Permanece essa proibição:
– Mesmo que o fato seja de conhecimento público ou que o paciente
tenha falecido.
– Quando do depoimento como testemunha. Nessa hipótese, o médico
comparecerá perante a autoridade e declarará seu impedimento.
Art. 103 – Revelar segredo profissional referente a paciente menor de idade,
inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha
capacidade de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus próprios
meios para solucioná-lo, salvo quando a não-revelação possa acarretar
danos ao paciente.
Art. 104 – Fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou
suas fotografias em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos
médicos em programas de rádio, televisão ou cinema, e em artigos, entre-
vistas ou reportagens em jornais, revistas ou outras publicações legais.
Art. 105 – Revelar informações confidenciais obtidas quando do exame
médico de trabalhadores inclusive por exigência dos dirigentes de empre-
sas ou instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos emprega-
dos ou da comunidade.
484
Art. 106 – Prestar a empresas seguradoras qualquer informação sobre as
circunstâncias da morte de paciente seu, além daquelas contidas no pró-
prio atestado de óbito, salvo por expressa autorização do responsável
legal ou sucessor.
Art. 107 – Deixar de orientar seus auxiliares e de zelar para que respeitem
o segredo profissional a que estão obrigados por lei.
Art. 108 – Facilitar manuseio e conhecimento dos prontuários, papeletas e
demais folhas de observações médicas sujeitas ao segredo profissional,
por pessoas não obrigadas ao mesmo compromisso.
Art. 109 – Deixar de guardar o segredo profissional na cobrança de honorá-
rios por meio judicial ou extrajudicial.
Esse sigilo somente pode ser quebrado na existência de justa causa, devendo
haver um sólido entendimento por parte do médico de que a manutenção do
sigilo irá provocar danos graves a outros ou ao próprio paciente. Exemplo típico
de justa causa é a comunicação de evidências de maus tratos ou abusos praticados
contra menores sem o consentimento de seus pais ou responsáveis. Esse sigilo
também pode ser quebrado pelo próprio médico para uso de informações conti-
das no prontuário em sua defesa.
Consulta a prontuários: os prontuários podem ser consultados pelos profissionais
da equipe assistencial do paciente e da instituição, por médicos peritos judiciais
ou de seguradoras, por auditores de convênios médicos e por pesquisadores
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
autorizados pela administração do hospital ou por comitês de pesquisa. Outras
pessoas externas à instituição, mesmo sendo médicos, somente poderão consultar
o prontuário com a autorização do paciente ou responsável legal. Suporte legal:
Resolução CFM no 1.641/012(4)/, Parecer CFM no 02/94(5), Revogada pela Resolu-
ção CFM 1.614/2001, Resolução CFM no 1.614/2001(6), Processo-consulta CFM
no 5150/95(7), Processo-consulta CFM no 1.242/89(8), Processo-consulta CFM
no 4.842/93(9).
Cópia de documentos do prontuário: o fornecimento de cópias de documentos do
prontuário somente pode ser feito ao paciente ou mediante sua autorização ex-
pressa, que se recomenda seja arquivada na pasta. Mesmo mediante solicitação
judicial, cabe à comissão de prontuários decidir baseada nos interesses do pa-
ciente. Estas solicitações somente devem ser atendidas em processos em que o
prontuário será usado como prova a favor do paciente ou em situações de “justa
causa”. O médico e o hospital podem fazer cópias do prontuário para uso em
sua defesa.
Suporte legal: Resolução CFM no 1.605/2000(10):
Art. 1o – o médico não pode, sem o consentimento do paciente, revelar o
conteúdo do prontuário ou da ficha médica.
Art. 2o – nos casos do artigo 269 do Código Penal, em que a comunicação de
doença é compulsória, o dever do médico restringe-se exclusivamente a
comunicar tal fato à autoridade competente, sendo proibida a remessa do
prontuário médico do paciente.
485
Art. 3o – na investigação da hipótese de cometimento de crime o médico está
impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a processo criminal.
Art. 4o – se, na instrução de processo criminal, for requisitada, por autoridade
judiciária competente, a apresentação do conteúdo do prontuário ou da
ficha médica, o médico disponibilizará os documentos ao perito nomeado
pelo juiz, para que neles seja realizada perícia restrita aos fatos em ques-
tionamento.
Art. 5o – se houver autorização expressa do paciente, tanto na solicitação
como em documento diverso, o médico poderá encaminhar a ficha ou o
prontuário médico diretamente à autoridade requisitante.
Art. 6o – o médico deverá fornecer cópia da ficha ou do prontuário médico
desde que solicitado pelo paciente ou requisitado pelos Conselhos Federal
ou Regional de Medicina.
Art. 7o – para sua defesa judicial, o médico poderá apresentar a ficha ou o
prontuário médico à autoridade competente, solicitando que a matéria seja
mantida em segredo de justiça.
Art. 8o – nos casos não-previstos nesta resolução, e sempre que houver conflito
no tocante à remessa ou não dos documentos à autoridade requisitante, o
médico deverá consultar o Conselho de Medicina, onde mantém sua inscri-
ção, quanto ao procedimento a ser adotado.
DICAS
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
CONCLUSÕES
O prontuário do paciente é um documento de importância fundamental para
garantir a qualidade da assistência continuada ao paciente, do ensino e da pesquisa
e para assegurar ao médico e ao paciente o atendimento de todos os seus direitos
e deveres. O cumprimento das questões referentes ao conteúdo completo e de
qualidade, aos prazos de armazenamento e, principalmente, ao sigilo, à privacida-
de e à segurança das informações dos prontuários, é um compromisso legal e
486
ético assumido por todos os médicos e é o seu principal argumento de defesa
quando necessário.
PRONTUÁRIO DE PACIENTES
auditor e das empresas de auditoria médica nos Conselhos de Medicina. Revoga-se a Reso-
lução CFM n. 1.466/96[online]. Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/
cfm/2001/1614_2001.htm.
10. Conselho Federal de Medicina. Resolução n.1605(2000). O médico não pode, sem o
consentimento do paciente, revelar o conteúdo do prontuário ou ficha médica. Revoga-se a
Resolução CFM nº 999/80[online]. Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/
resolucoes/cfm/2000/1605_2000.htm.
Ginneken AM. The structure of data in medical records. In: van Bemmel JH, McCray AT,
editors. Yearbook of Medical Informatics. Sttutgart: Schattauer; 1995. p.61-70.
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Klück MM, Guimarães JR. Questões éticas e legais do prontuário de paciente: da teoria à
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RN: Sociedade Brasileira de Informática em Saúde; 2002.
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do Prontuário do Paciente, versão 3, outubro de 2002.
488
27
ATESTADO DE ÓBITO
MOACIR ASSEIN ARÚS
LUCIA CAMPOS PELLANDA
HISTÓRICO
Até o final do século XIX, o atestado de óbito era fornecido com modelos dife-
rentes existentes em cada país, fato que prejudicava a elaboração e comparação
de estatísticas de saúde.
Em 1925, a Organização de Saúde da Liga das Nações propôs um modelo
único de atestado de óbito para a declaração de morte. Em 1958, a Conferência
Internacional de Revisão e Classificação aprovou a sexta revisão da classificação
estatística internacional de doenças e adotou esse modelo como modelo interna-
cional de atestado de óbito, que passou a ser usado por quase todos os países do
mundo a partir de 1950. Estava, assim, uniformizada a anotação das causas de
morte. Esse modelo, com pequenas modificações, é utilizado até hoje.
No Brasil, o atestado de óbito já foi fornecido em receituários médicos ou em
papéis timbrados dos hospitais, sem obedecer a qualquer padronização. A partir
de 1950 houve a publicação de folhetos, artigos e livros com a finalidade de
educar e orientar os médicos quanto ao preenchimento correto do novo formulá-
rio, incluindo a publicação de Lincoln de Freitas Filho em 1956, denominada “O
clínico e a bioestatística”.
O modelo internacional de atestado de óbito foi implantado em todos os
estados do Brasil em 1950, porém não seguia sendo um modelo uniforme: os
formatos e as cores do documento eram diferentes de estado para estado, assim
como o número de vias a serem preenchidas.
Uma “declaração de óbito” padronizada para todo o país foi adotada em
1976, pelo Ministério da Saúde, que criou o Subsistema de Informações sobre
Mortalidade – SIM. A declaração de óbito segue o modelo internacional quanto
às causas de morte e uniformiza a forma de registrar todos os demais tipos de
informação. O subsistema de informações sobre mortalidade compatibiliza os
dados e permite a sua comparação em âmbito nacional, daí advindo maior raciona-
lização das atividades baseadas nas informações obtidas.
ATESTADO DE ÓBITO
490
República Federativa do Brasil
Ministério da Saúde
1a VIA - SECRETARIA DE SAÚDE
Declaração de Óbito N
o
5658297
1 Cartório Código 2 Registro 3 Data
Cartório
I
4 Município 5 UF 6 Cemitério
II
15 Idade 16 Sexo 17 Raça/cor
Anos completos Menores de 1 ano Ignorado
14 Data de nascimento Meses Dias Horas Minutos M - Masc. F - Fem. 1 - Branca 2 - Preta 3 - Amarela
I - Ignorado 4 - Parda 5 - Indígena
18 Estado Civil 19 Escolaridade (Em anos de estudos concluídos) 20 Ocupação habitual e ramo de atividade
( se aposentado, colocar a ocupação habitual anterior)
1 - Solteiro 2 - Casado 3 - Viúvo
1 - Nenhuma 2 - De 1 a 3 3 - De 4 a 7 Código
4 - Separado 5 - União 9 - Ignorado
Judicialmente consensual 4 - De 8 a 11 5 - 12 e mais 9 - Ignorado
III
23 Bairro/Distrito Código 24 Município de Residência Código 25 UF
28 Endereço da ocorrência, se fora do estabelecimento ou da residência (Rua, praça, avenida, etc.) Número Complemento 29 CEP
IV
V 37 Duração da gestação (Em semanas) 38 Tipo de Gravidez 39 Tipo de Parto 40 Morte em relação ao parto
1 - Menos de 22 2 - De 22 a 27 1 - Única 1 - Vaginal
1 - Antes 2 - Durante 3 - Depois 9 - Ignorado
3 - De 28 a 31 4 - De 32 a 36 2 - Dupla
2 - Cesáreo 41 Peso ao nascer 42 Num. da Declar. de Nascidos Vivos
5 - De 37 a 41 6 - 42 e mais 3 - Tripla e mais
ATESTADO DE ÓBITO
9 - Ignorado 9 - Ignorada 9 - Ignorada Gramas
49
CAUSAS DA MORTE ANOTE SOMENTE UM DIAGNÓSTICO POR LINHA Tempo aproximado
entre o início da
PARTE I doença e a morte CID
Doença ou estado mórbido que causou diretamente a
morte a
CAUSAS ANTECEDENTES Devido ou como conseqüência de:
VI Estados mórbidos, se existirem, que produziram a
causa acima registrada, mencionando-se em último b
lugar a causa básica.
Devido ou como conseqüência de:
PARTE II
Outras condições significativas que contribuiram
para a morte, e que não entraram, porém, na
cadeia acima
NOME.
61 Declarante 62 Testemunhas
CRM:
S/ Médico
Localid.
IX DATA:
ASS. DO FUNC.:
491
complicação que levou à morte, e não a forma da morte (parada respiratória,
parada cardíaca).
Parte II, onde devem ser informadas outras condições significativas que contri-
buíram para a morte e que não entraram, porém, na cadeia acima.
A codificação das partes I e II de acordo com a CID é realizada por técnicos da
Equipe de Informação da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde da Secretaria
Municipal de Saúde. Assim, as áreas sombreadas à direita de cada alínea não
devem ser preenchidas pelo médico.
CASOS CLÍNICOS
Caso 1
O caso clínico ilustrativo descrito a seguir foi publicado no documento “Decla-
ração de óbito” da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre:
A Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre recebeu para codificação
uma declaração de óbito com a causa básica “septicemia”. Como a septicemia
tem sempre um fator gerador, procurou-se o médico que preencheu a declaração
de óbito para esclarecer sobre a cadeia de eventos que levaram à septicemia. A
partir das informações fornecidas pelo médico, encontrou-se um quadro de
peritonite provocado por um câncer de colo transverso. Com essas informações,
foi possível estabelecer a seguinte seqüência:
Parte I
ATESTADO DE ÓBITO
Linha a) _______________
Linha b) septicemia (causa terminal ou imediata)
Linha c) peritonite (complicações)
Linha d) câncer de colo transverso (causa básica do óbito)
Parte II
_____________________
Caso 2
Suponha-se um caso de desprendimento prematuro da placenta, com hemor-
ragia intensa e choque hipovolêmico da mãe. A criança nasceu prematura, vindo
a falecer mais tarde por complicações dessa condição.
Parte I
Linha a) hemorragia intraventricular
Linha b) doença da membrana hialina
Linha c) prematuridade
Linha d) desprendimento prematuro da placenta (causa básica do óbito)
Parte II
Persistência do canal arterial
Nesse caso, se não for informada a ocorrência do desprendimento prematuro
da placenta, não terá sido informada a causa básica de morte.
492
PREENCHIMENTO EM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
Quem deve preencher o atestado de óbito?
Em caso de morte natural, o atestado de óbito deve ser preenchido pelo
médico que vinha prestando assistência à pessoa que morreu. O médico não
deve atestar o óbito de pessoas a quem não tenha prestado assistência ou em
casos em que não for possível firmar diagnóstico. Entretanto, quando o médico
trabalha como plantonista em uma instituição com registros clínicos adequados,
e dispõe de todos os dados sobre a patologia e o tratamento do paciente, pode
assinar o atestado de óbito de um paciente cujo médico assistente não seja encon-
trado. No caso de falecimento dentro das instalações de uma UTI, cabe ao médico
plantonista da UTI o fornecimento do atestado de óbito (Parecer CFM no 9/
85[3]).
ATESTADO DE ÓBITO
ou desconhecida, mesmo que súbita. Na Resolução CFM no 1.290/89, são
definidas a morte violenta e a morte suspeita:
“Artigo 4º– No caso de morte violenta ou suspeita é vedado ao médico assisten-
te atestar o óbito, o que caberá ao médico legalmente autorizado.
Parágrafo 1º – Entende-se por morte violenta aquela que resultante de uma
ação exógena e lesiva, mesmo tardiamente.
Parágrafo 2º – Entende-se por morte suspeita aquela que decorre de morte
inesperada e sem causa evidente.”
Nos casos de morte violenta, deve-se colocar como causa básica (linha d) as
causas antecedentes que provocaram as lesões: “Atropelamento”, “Queda de
andaime no trabalho”, “Agressão por arma de fogo” etc.?
Há controvérsia entre os autores. Alguns acreditam que não, pois esses são
fatos que dependem da conclusão da peça processual. A autoridade competente
pode solicitar esclarecimentos sobre o caso, por meio de uma consulta médico-
legal. Já outros autores acreditam que esse é um procedimento normal. De qual-
quer forma, no item VIII da declaração de óbito, que se refere às causas exter-
nas, está a solução para essa questão, pois devem ser assinaladas as “prováveis
circunstâncias de morte não-natural”, com referência ao fato de se tratarem de
informações de caráter estritamente epidemiológico.
493
O médico que vinha assistindo o doente no hospital tem obrigação de fornecer
atestado se o óbito ocorrer fora do ambiente hospitalar?
Sim. O fato de o óbito ocorrer fora do ambiente hospitalar não desobriga o
médico de emitir o atestado de óbito, a não ser que exista suspeita de morte
violenta, conforme preconiza o Artigo 115 do Código de Ética Médica e o Parecer
CRM-PR de 10/4/89.
O atestado de óbito pode ser preenchido por outras pessoas que não o médico?
O preenchimento do atestado de óbito é um ato preferencialmente médico.
Não é um dever absoluto do médico por que a própria lei estabelece que, na
ausência de médico, duas pessoas idôneas podem ser nomeadas para que verifi-
quem a morte de uma pessoa (Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973[5] com
as corrigendas da Lei nº 6.216, de 30 de junho de 1975).
494
É possível alterar o atestado de óbito, em virtude de nele constar Aids como
causa da morte? (Consulta no 6.897/94 – CREMESP)
A colocação de Aids como causa de morte está correta, pois o médico o faz
cumprindo seu dever legal. Conforme dispõe o Artigo 102, caput, do Código de
Ética Médica, é vedado ao médico: “Revelar fato de que tenha conhecimento
em virtude do exercício de sua profissão, salvo por justa causa, dever legal ou
autorização expressa do paciente”. Assim, tratando-se de dever legal, não é
possível alterar o diagnóstico no atestado de óbito.
DICAS
Q Morte natural sem assistência médica: encaminhe o cadáver ao serviço de
Verificação de Óbitos ou ao Instituto Médico Legal.
ATESTADO DE ÓBITO
Q Morte natural com assistência médica: o médico assistente ou seu substituto
deve fornecer a declaração de óbito.
Q Morte violenta ou suspeita: encaminhe o cadáver ao Instituto Médico Legal.
Q Só forneça a declaração de óbito se confirmar a morte pessoalmente.
Q Lembrar que o médico é responsável por todas as informações contidas na
declaração de óbito (Resolução no 1.601/2000[6] CFM). Assim:
– não assinar declaração de óbito em branco;
– não deixar declarações previamente assinadas;
– ao assinar a declaração de óbito, verificar se os itens de identificação
foram devida e corretamente preenchidos.
495
4. Conselho Federal de Medicina. Processo-consulta n. 2.478(2001). Responsabilidade pela
emissão do atestado de óbito em serviços de atendimento pré-hospitalar [online]. Disponí-
vel em: http://www.portalmedico.org.br/pareceres/cfm/2003/4_2003.htm.
5. Brasil. Registros públicos. Lei n. 6.015 (31 de dezembro de 1973). São Paulo: Atlas; 1976.
França G.V. Medicina legal. 5.ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara-Koogan; 1998.
Laurenti R, Jorge MH. O atestado de óbito. 2. ed. São Paulo: Centro Brasileiro de Classifica-
ção das Doenças; 1994. (Série Divulgação)
Viola A. Poderemos ter um conhecimento exato do mundo que nos cerca? AE notícias
[periódico online]. Disponível em: http://:www.saude.pr.gov.br
Sites recomendados
ATESTADO DE ÓBITO
UNIFESP Virtual:
http://www.virtual.epm.br
496
28
ATESTADOS MÉDICOS
MOACIR ASSEIN ARÚS
LUCIA CAMPOS PELLANDA
cer atestado médico com o diagnóstico. No caso de a solicitação ser feita pelo
paciente ou seu representante legal, essa concordância deverá estar expressa no
documento”.)
Assim, se o diagnóstico foi solicitado pelo paciente, recomenda-se escrever,
no verso do atestado, um texto semelhante ao que se segue, solicitando que o
paciente assine:
“Declaro que a explicitação do diagnóstico no documento é de meu interesse
e foi por mim solicitada.
Local, data e assinatura”.
498
Quadro 28.1 Expressões usadas no texto do atestado
Expressão Observações
“O paciente não apresenta sinais Essa expressão evita que o médico se
e sintomas de _________ ao comprometa além do momento
presente exame.” presente. Evitar expressões como “é
portador de________” e “não deve
realizar atividades de
_______________”, pois esses fatos
podem sofrer alterações no futuro.
“Atendi ao Sr. João da Silva que É importante distinguir, no atestado,
apresentava história de...” queixa de sinal detectado ao exame
físico.
“Atesto, para fins escolares, Se o médico é especialista e não realizou
que ___________ não apresenta exame do sistema músculoesquelético,
contra-indicações cardiovasculares por exemplo, deve explicitar no
para a realização de atividade física atestado apenas aquilo sobre o qual
adequada para a sua faixa etária.” realizou a investigação. Além disso, a
expressão “adequada para a faixa
etária” evita que o atestado seja
utilizado para outras atividades para as
quais o médico não tenha sido
informado.
ATESTADOS MÉDICOS
“....compareceu à consulta Muitas vezes, os pais pedem atestado
acompanhado de sua mãe, em seu nome ao acompanhar a criança.
Sra.________.” O atestado deve ser para o paciente,
citando-se o nome do acompanhante,
se necessário.
“Atesto, para fins de dispensa no Recomenda-se explicitar a finalidade do
trabalho e a pedido do paciente, atestado e a pedido de quem ele foi
que examinei o Sr.___________, elaborado. Nos casos de afastamento
constatando que o mesmo deve das atividades usuais, recomenda-se
permanecer afastado de suas especificar o período adequado.
atividades profissionais por um
período mínimo de dois dias.”
499
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS
Arbenz GO. Medicina legal e antropologia forense. Rio de Janeiro: Atheneu; 1988.
França GV. Comentários ao código de ética médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Koogan;2000.
França GV. Medicina legal. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 1995.
Laurenti R, Jorge MHM. O atestado de óbito. 2. ed. São Paulo: Centro Brasileiro de Classi-
ficação das Doenças; 1987. p. 51.
Silveira MH, Laurenti R. Os eventos vitais: aspectos de seus registros. Rev Saúde Públ
1973;7:37-50.
Xavier EF Filho. Rotina médico-legal. Porto Alegre: Sagra DC-Luzzato; 1992. p. 210.
ATESTADOS MÉDICOS
500
1
ÍNDICE
502
doença inflamatória pélvica 217 papilite 125
endometriose 217 retinopatia diabética 127-128
incontinência urinária 218-220 RDNP 127-128
prolapsos genitais 218-220 RDP 128
sangramento uterino anormal 215 retinopatia hipertensiva 126-127
secreção vaginal 215-217 técnica do exame 120-122
roteiro 212-213 Exame dermatológico 79-104
exame especular 212 diagnóstico topográfico 83-86
paciente deitada 212 antebraço 84
paciente sentada 212 axila 84
posição de litotomia 212 boca 85
toque bimanual 212-213 braço 84
toque retovaginal 213 cabelos 85
sinais e sintomas 211-212 couro cabeludo 85
dor pélvica 211 difusas pelo tegumento 86
hirsutismo 211 face 85
prurido vulvar 212 mãos 84
tumores benignos da mama 214-215 membros inferiores 86
Exame de fundo de olho 119-134 orelhas 85
acuidade visual 129-132 pálpebras 85
alterações patológicas 123-125 pêlos 86
cristalino 123 pés 86
hemorragias 124 pescoço 85
mácula 124-125 região anogenital 86
retina 123-124 região inguinal 86
anatomia ocular 120 supercílios 85
fundo de olho e AIDS 128 tronco 85-86
coriorretinite por taxoplasma 128 unhas 83-84
retinite por citomegalovírus 128 dicas de semiotécnica 86-87
retinite por varicela zoster 128 curetagem metódica de Brocq 87
retinopatia 128 dermografismo 87
fundo de olho normal 122-123 dermatoscopia 87
leucocorias 132-134 diascopia. Ver vitropressão
alterações do cristalino 133-134 fenômeno de Köbner 87
congênitas 133 isomorfismo. Ver fenômeno de
hipoxia 133 Köbner
infecções 133 sinal de Nikolsky 87
neoplasia 132-133 vitropressão 86-87
vascular 133 lesões elementares 80-83
localização das lesões 122 caducas 83
olho vermelho 128-129 com conteúdo líquido 82
quadros sindrômicos 125-126 por alteração da cor da pele 80-81
cicatriz de fotocoagulação a laser 125 por solução de continuidade 82-83
degeneração pigmentar 125 seqüelas 83
degeneração senil 125 sólidas 81-82
descolamento de retina 125 quadros sindrômicos 88-103
lipemia retiniana 125 lesões eritematosas e eritemato-
oclusão arterial 125 escamosas 92-97
oclusão venosa 125 lesões erosadas e ulceradas 102-103
papiledema 125-126 lesões exantemáticas 92
503
lesões papulosas, nodulares, criptite e papilite 248
escleróticas e vegetantes doença pilonidal 249
98-100 estenose anal 250
lesões pustolosas 101-102 fecaloma ou impactação fecal 250
lesões tumorais 89-91 fissura anal 248
lesões urticadas e edematosas 97 hemorróidas 246-248
lesões vesiculosas e bolhosas incontinência anal 249
100-101 infecções anorretais 248
manchas discrômicas 88-89 prolapso retal 249
roteiro 79-80 tumores anorretais 250
descrição, colocação da lesão e Exame do sistema cardiovascular 163-182
achados adicionais 80 ectoscopia 166
linfonodos e nervos periféricos 80 exame do pescoço 166-168
locais comuns das doenças 80 exame do tórax 169-173
mucosas e fâneros 80 agachamento 175
pele 80 amil nitrito 175
sinais de alerta 87-88 ausculta 170-173
eritrodermia 88 decúbito lateral esquerdo 174
HIV 88 elevação passiva de membros
melanoma 87-88 inferiores 174
Exame do sistema genital feminino. Ver exame físico 165-166
Exame das mamas e do sistema genital handgrip 175
feminino inspeção 169-170
Exame do canal anal. Ver Exame do reto e inspiração 174
canal anal manobras 173-176
Exame do reto e canal anal 237-251 Müeller 175-176
anatomofisiologia 242-244 nitroglicerina 175
canal anal 242 oclusão arterial transitória 175
mecanismo da continência fecal ortostatismo 174-175
242-244 palpação 170
reto 242 pós-batimento prematuro 176
roteiro do exame 244-246 sentado 174
anuscopia 245-246 sopros cardíacos 173
exame abdominal 244 Valsalva 174
exame proctológico 244 palpação dos pulsos 168-169
inspeção 244-245 pressão arterial 169
retossigmoidoscopia 246 quadros sindrômicos 176-182
toque retal 245 cardiomiopatia hipertrófica 180-181
sinais e sintomas 238-242 comunicação interatrial 181
alteração das fezes 241 comunicação interventricular 181
alteração do mecanismo de estenose aórtica 177-178
evacuação 241-242 estenose mitral 178-179
dor 239 estenose pulmonar 179-180
prurido 240-241 estenose tricúspide 180
sangramento 238-239 hipertensão pulmonar 181-182
sintomas gerais 242 insuficiência cardíaca direita 177
tumoração 239-240 insuficiência cardíaca esquerda 177
síndromes mais comuns 246-251 insuficiência mitral 179
abscessos e fístulas anorretais insuficiência pulmonar 180
248-249 insuficiência tricúspide 180
condiloma anal 249 pericardite 182
504
prolapso mitral 179 pirose 191
sopro fisiológico 176-177 proctalgia 191
sopro inocente 176 regurgitação 191
sinais e sintomas 163-165 sinal de Blumberg 191
dispnéia 163-164 sinal de Cullen 192
dor ou desconforto torácico 164-165 sinal de Grey-Turner 192
palpitações 165 sinal de Joubert 192
síncope 165 sinal de Murphy 192
Exame do sistema digestório 183-210 sinal de Rovsing 192
anamnese 183 sinal do obturador 192
ausculta 198-200 sinal do psoas 192
exame físico 194 sinal do vasculejo 193
exame físico e situações especiais 205-206 tenesmo 193
gravidez 205 tríade de Charcot 193
idades extremas 205 vômito 193
imunodeprimidos 205-206 Exame do sistema respiratório 135-162
pacientes com secção de medula 206 anatomia 141
inspeção 194-198 exame físico 142-152
palpação 201-204 boca 142
percussão 200-201 mãos 143
principais síndromes 206-209 nasofaringe 142
abdome agudo 206 pescoço 142
encefalopatia hepática 207 tórax 143-152
intestino irritável 207 sinais e sintomas 135-140
má absorção 207-209 chiado no peito 135
ruminação 206-207 cianose 135-136
síndrome dispéptica 207 coriza 136
sinais e sintomas 183-193 cornagem 136
aftas 183 dispnéia 136-137
“cólica” biliar 183-184 dor torácica 137-138
colúria 184-185 epistaxe 138
constipação 185 expectoração 138
diarréia 185-186 hemoptise 138-139
diástase dos retos abdominais 186 obstrução nasal 139
disenteria 186 rouquidão 139
disfagia 186 secreção retrofaríngea 140
dor abdominal 186-187 tiragem 140
enterorragia 187 tosse 140
eructação 187-188 vômica 140
estufamento abdominal 188 síndromes pleuropulmonares 153-160
flatulência 188 abscesso pulmonar 153
halitose 188 asma 153-156
hematêmese 188-189 bronquiectasias 156
hipocolia 189 carcinoma brônquico 156-157
icterícia 189-190 derrame pleural 157
incontinância fecal 190 doença pulmonar obstrutiva
melena 190 crônica 158
náusea 190-191 embolia pulmonar 158
nódulo de Sister Mary Joseph 191 pneumonias 158-159
odinofagia 191 pneumotórax 159
pêntade de Reynolds 191 tuberculose 160
505
situações especiais 152-153 tumores renais 233
idosos 152 uropatia obstrutiva 233-234
gestantes 152-153 varicocele 234
paciente em UTI 153 toque retal 227-228
Exame do sistema urinário 223-235 Exame do sistema vascular periférico
dicas de semiotécnica 228 289-298
genitália masculina 226-227 dicas 297-298
hérnias femorais 227 quadros sindrômicos arteriais 292-296
hérnias inguinais 227 aneurisma de aorta abdominal
investigação de hérnias 227 294-295
roteiro do exame 225-226 claudicação intermitente 293
sinais e sintomas 223-225 dissecção aguda de aorta 295
anúria 223 dor isquêmica em repouso 293
disúria 223-224 isquemia mesentérica 295
dor lombar 224 lesões tróficas 293-294
dor ureteral 224 oclusão arterial aguda 294
edema 224 oclusão arterial crônica 292-293
hematúria 224-225 síndrome compartimental 296
noctúria/nictúria 225 quadros sindrômicos venosos 296-297
oligúria 225 síndrome pós-flebítica 297
polaciúria 223-224 tromboflebite superficial 296
poliúria 225 trombose venosa profunda 296-297
retenção e incontinência urinária 225 varizes 297
urgência 223-224 roteiro do exame físico 290-292
síndromes nefrológicas 228-231 ausculta 291
anormalidades urinárias inspeção 290-291
assintomáticas 228 palpação 291-292
hipertensão arterial sistêmica 228 testes específicos 292
infecção do trato urinário 229 sinais e sintomas 289-290
insuficiência renal aguda 229 alteração da cor da pele 289-290
insuficiência renal crônica 230 alteração da temperatura 290
síndrome nefrítica 230 alterações tróficas 290
síndrome nefrótica 230-231 aumento de temperatura 290
tubulopatias 231 claudicação intermitente 289
urolitíase 231 dermatite ocre 290
síndromes urológicas 231-234 dermatolipoesclerose 290
adenocarcinoma de próstata 231 diminuição ou ausência de pulsos
criptorquidia 232 nas extremidades 290
epidimite aguda 232 dor 290
fimose 232 dor no repouso 289
hidrocele 232 edema 290
hiperplasia prostática benigna 232 empastamento muscular 290
orquite 232 esfriamento de extremidades 289
parafimose 232 hiperemia 290
priapismo 233 impotência erétil 289
prostatite aguda bacteriana 233 lesões tróficas 290
prostatite crônica bacteriana 233 massa pulsátil 290
torção do testículo sobre o cordão prurido 290
espermático 233 sintomas neurológicos 289
tumor de testículo 233 varizes 290
506
Exame hematológico. Ver Exame movimentos associados 325-326
oncológico e hematológico posturais e de endireitamento 325
Exame físico 458-463 primitivos 325
complementos 459 superficiais ou cutâneos 324-325
exame físico 461-463 síndromes motoras clássicas 326-350
paciente em posição supina 458-459 Exame oncológico e hematológico 419-438
paciente sentado 458 exame físico 421-424
relatório 460-461 avaliação de massa palpável 421-424
Exame neurológico 189-202 quadros sindrômicos e problemas
atitude 300 424-435
coordenação 310-312 anemia 424-427
alternância de movimentos compressão da medula espinal
antagônicos 311-312 431-432
metria e composição dos distúrbios da hemostasia 427-429
movimentos 310-311 distúrbios dos leucócitos 429
diagnóstico topográfico 352-353 hipercalcemia 433-434
topografia de artéria cerebral metástases cerebrais 432-433
média 353 neutropenia febril 434
topografia de artéria cerebral síndrome de compressão da veia
anterior 353 cava superior 429-431
topografia de artéria cerebral síndrome de lise tumoral 433
posterior 353 síndromes paraneoplásicas 435
equilíbrio e marcha 308-310 tamponamento cardíaco 433
estado mental 300-303 sinais e sintomas 419-421
memória 302-303 alerta para câncer 419-420
vigília e atenção 300-301 alterações do estado mental 421
exame da motricidade 312-318 anorexia e perda de peso 420-421
força muscular 315-318 febre 420
movimentos involuntários 313-314 fraqueza e cansaço 420
tônus 314-315 Exame ortopédico 273-288
trofismo 312-313 avaliação clínica das diferentes
funções cognitivas 303-308 articulações corporais 274-286
linguagem 303-308 membros inferiores 279-286
quadros sindrômicos 353-356 membros superiores 274-279
acidente vascular cerebral 355-356 avaliação da forma muscular 274
rigidez descerebrada 355 dicas 287
síndrome de herniação através do exame físico 273-274
tentório 354-355 movimentos articulares, tipos
síndrome de neurônio motor principais 274
inferior 353-354 quadros sindrômicos 286-287
síndrome de neurônio motor artrite 286
superior 354 bursite 286
síndrome do encarceramento 355 cervicobraquilgia 286
síndrome hipotônico-hipercinética condromalácia 286
354 hiperlordose 286
síndrome meníngea aguda 355 lombalgia 287
síndrome parkinsoniana 354 osteoartrose 286
síndromes sensitivas 355 osteocondrite 286
reflexos 318-326 osteomielite 286
estiramento muscular 321-324 osteonecrose 287
507
osteoporose 287 Hoffman, reflexo de 321
pé cavo 286 Horner, síndrome de 157, 340
pé eqüino 286
pé plano 286 I
síndrome do túnel do carpo 287 Índice de massa corporal 74, 76, 407-408
sinovite 287 índice de Quetelet. Ver índice de massa
tenossinovite 287 corporal
sinais e sintomas 273 Isomorfismo 87
anquilose 273
atrofia 273
cifose 273 J
escoliose 273 Jaccoud, artropatia de 261
hemartrose 273
hidroartrose 273 K
lordose 273 Kaposi, sarcoma de 85, 91, 433
pioartrite 273 Klinefelter, síndrome de 76
Köbner, fenômeno de. Ver Isomorfismo
F Kussmaul, respiração de 65, 143, 371, 462
Fabere, manobra 257 Kussmaul, sinal de 168
Fanconi, síndrome de 231
Febre 62-64, 92, 260 L
Funções do ego 26 Lesões elementares de pele 80-83
Levine, sinal de 164
G Linha. Ver nomes específicos
Gilbert, síndrome de 189 Lista de problemas 464-467
Giordano, sinal de 229 categorias de problemas 466-467
Glasgow, escala de 361, 363-364, 445 formulação do problema 465-466
Gottron, pápulas de 84, 94 Lúpus eritematoso sistêmico 76, 84, 94,
Gottron, sinal de 262 230, 261, 424
Graham-Steel, sopro de 180
Graves, doença de 21, 76, 99, 410 413- M
414, 420 Mallory-Weiss, síndrome de 189, 193
Grey- Turner, sinal de 192, 195, 198 Mamas. Ver Exame das mamas e do
sistema genital feminino
H Manobra. Ver nomes específicos
Hanseníase 80-82, 84-86, 98-99, 103 Marfan, síndrome de 76, 165-166, 178, 295
Hashimoto, tireoidite de 415 McBurney, linha de 195
Heberden, nódulos de 84, 265 McBurney, ponto de 191, 224
Henoch-Schönlein, púrpura de 264 McMurray, teste de 258, 266
Hill, sinal de 178 Mee, unhas de 84
Hipertricose 85-86 Mixedema 25, 76, 82, 86, 99, 166, 269, 318
História da doença atual 460 Morte cerebral 360, 363, 367-369, 371
História médica pregressa 24 Murphy, sinal de 39, 192
História familiar 24-25, 44, 72, 107, 139, Musset, sinal de 166, 178
214, 231, 250, 265, 386, 397, 415-
416, 422, 429-430, 453, 460 N
Hodgkin, doença de 212 Neurologia. Ver Exame neurológico
Hodgkin, linfoma de 117, 420 Nikolsky, sinal 87, 101
Nutrição 24-25, 74, 76, 401
508
O erros cognitivos no processo
Obesidade 41, 74, 76, 169, 195, 385, diagnóstico 56-58
407-408, 413, 418, 435 na estimativa de probabilidade 57-58
Oddie, síndrome de 247 modelos 51-55
Olho vermelho 128-129, 134, 265 abordagem probabilística formal
Onicodistrofia 83 54-55
Onicofagia 83 hipótese de trabalho 55
Onicólise 83-84, 95, 97 raciocínio causal 53-54
Opistótono 75, 355 raciocínio hipotético-dedutivo 51-53
Ortner, síndrome de 178 reconhecimento de padrões 53
Ortótono 75 verificação diagnóstica 55-56
Osler, nódulos de 84 falsificação 56
probabilidade da hipótese
diagnóstica 56
P
prova da coerência 55
Paciente em coma. Ver Avaliação do
prova da parcimônia 56
paciente em coma
prova da suficiência 55
Paget, doença de 214
Raynaud, fenômeno de 84, 86, 254-255,
Pancoast, tumor de 157
262, 264
Parkinson, doença de 40, 185, 384
Reiter, doença de 183
Parkinsonianas, síndromes 72, 75, 310,
Reiter, síndrome de 265
313-315, 318, 324, 328, 354
Reto. Ver Exame do reto e canal anal
Perfil psicossocial 24
Revisão de sintomas 23, 25
Pescoço. Ver Exame da cabeça e do pescoço
Rinne, teste de 107, 347
Phalen, manobra de 269
Romberg, sinal de 309, 427
Pleurostótono 75
Roth, manchas de 124, 166
Plummer-Vinson, síndrome de 425
Ponto. Ver nomes específicos
Pressão arterial 21, 61, 66-69, 165, 169, 264, S
296, 359, 385, 394, 401, 414, 461, 474 Semiologia baseada em evidências
Princípios éticos 27, 55 avaliação crítica de artigos 31
Prontuários delineamento de pesquisa 30-31
como fonte de informações 469-470 desempenho diagnóstico de sinais e
conteúdo e organização 472-475 sintomas 35-42
dicas 486 angiologia/cirurgia vascular 38
história 470-472 cardiologia 36-38
preenchimento 475-480 endocrinologia 41
prontuário eletrônico 480-482 gastrenterologia 39
questões éticas e legais 482-486 ginecologia/obstetrícia 41
Psiquiatria. Ver Semiologia psiquiátrica hematologia 42
Psoríase 81, 83-88, 96, 240, 263, 265 nefrologia/urologia 40
Pupilas de. Ver nomes específicos neurologia 40
pneumologia 35-36
escores de predição clínica e exame
Q
clínico 42-48
Queixa principal 23-24
cardiologia 42-43
Quincke, sinal de 178
doença vascular periférica 45
endocrinologia 47
R gastrenterologia 44
Raciocínio clínico e diagnóstico infectologia 45-46
aprendizado do raciocínio clínico 58-59 neurologia 46
509
pneumologia 43 aumento do volume articular 254
probabilidade de hipotireoidismo 48 crepitação 254
interpretação dos resultados das dactilite ou “dedos em salsicha” 254
evidências 32-35 dor 254
desempenho diagnóstico individual entesite 254
32-33 fenômeno de Raynaud 254-255
escores de predição clínica 33-34 fraqueza 255
onde buscar evidências 29-30 instabilidade 255
livros 30 limitação do movimento 255
portais 30 rigidez articular 255
artigos na internet 30 sinal da flecha 255
recursos eletrônicos 30 sinal da gaveta 255
sites 30 sinal do impacto 255
Semiologia da cabeça e do pescoço 105-118 testes e manobras 257-258
cavidade bucal 108-110 compressão de Apley, teste de 258
dicas de semiotécnica 117 FABERE, manobra 257
faringe 108-110 Finkelstein, teste de 258
nariz e seios paranasais 110-117 Lachman, teste de 258
massas cervicais benignas 116 McMurray, teste de 258
massas cervicais malignas 116-117 Schöber, teste de 257
quadros sindrômicos verificação de sacroileíte 257
otorrinolaringológicos 111-116 Yergason, manobra de 257-258
orelha 105-108 Semiologia e síndromes endócrinas 407-418
corrimento; ver supuração exame físico 408-410
dor 105-106 tireóide 409-410
hipoacusia 107-108 quadros sindrômicos 411-418
otorragia 107 acromegalia e gigantismo 411
otorréia; ver supuração baixa estatura 411-412
prurido 106 bócio 412
supuração 106-107 diabete melito 412-413
supuração hemorrágica; ver diabete insípido 412
otorragia hiperprolactinemia 413
vertigem 108 hipertireoidismo 413-414
zumbidos 108 hipocalcemia 225-226
Semiologia do pescoço. Ver Semiologia da hipoglicemia 414
cabeça e do pescoço hipogonadismo 414-415
Semiologia do sistema locomotor 253-271 hipotireoidismo 415
dicas de semiotécnica 258-260 hirsutismo 415-416
expansibilidade torácica 260 insuficiência adrenal 416-417
métodos palpatórios de pan-hipopituitarismo 417
articulações individuais 258-259 síndrome de Cushing 417-418
movimento passivo versus ativo 260 sinais e sintomas 407-408
registro de exame articular 259 alopecia androgênica 408
quadros sindrômicos 260-271 amenorréia 408
articulares 260-267 diminuição de libido 408
monoartrites crônicas 267 emagrecimento 407
reumatismos de partes moles 267-271 estrias 407
roteiro do exame 255-257 galactorréia 407
sinais e sintomas 254-255 hiperpigmentação 408
artrite e sinovite 254 obesidade 407-408
510
polidipsia 408 Sistema vascular periférico. Ver Exame do
polifagia 408 sistema vascular periférico
poliúria 407 Sono. Ver Diagnóstico dos distúrbios do sono
Semiologia e síndromes hematológicas Sopro de. Ver nomes específicos
229-240 Stevens-Johnson, síndrome de 97
abordagem do paciente 229, 236-240 Sydenham, coréia de 260
anemia 236-238
leucocitose 238-239 T
neutropenia 239 Taquicardia 33, 41, 62, 77, 156, 159, 177,
policitemia 238 211, 260, 294, 296, 381, 401-404,
sangramentos 239-240 414, 417, 425-426, 466
anamnese 230-232 Taquipnéia 65-65, 73, 136, 142, 156,
exame físico 232-236 158, 211, 381, 404, 414
Semiologia psiquiátrica 439-449 Teste de. Ver nomes específicos
exame do estado mental 439-442 Tietze, síndrome de 164, 270
exame neuropsicológico do estado Tinel, sinal de 269
mental 445-447 Tinel, manobras de 269
exame psicanalítico, dinâmico ou Trendelenburg, sinal de 280
compreensivo 442-444 Trousseau, síndrome de 296
exame da vida emocional 442-445 Turner, síndrome de 76, 166, 412
orientações e dicas 446-447
síndromes psiquiátricas 447-448
Sheehan, síndrome de 248 U
Sinal. Ver nomes específicos Uso de drogas 393-405
Sinais vitais 61-69 síndromes de abstinência, sinais e
freqüência cardíaca 61-62 sintomas 403-404
freqüência respiratória 64-65 síndromes toxicológicas agudas 401-402
padrões respiratórios 65 suspeita de uso, sinais e sintomas 394-401
pressão arterial 66-69 em avaliações de rotina 395-401
classificação 68-69 em situações de intoxicação aguda
situações especiais 66-68 394-395
temperatura 62-64 uso prolongado, sinais e sintomas
febre e hipertermia 62-64 402-403
Síndrome de. Ver nomes específicos
Síndromes endocrinológicas. Ver Semiologia V
e síndromes endocrinológicas Valsalva, manobra de 106, 130, 174, 202,
Síndromes nefrológicas 228-231 212, 218, 227, 234, 245
Síndromes urológicas 231-234 Virchow, nódulo de 424
Sistema cardiovascular. Ver Exame do Vitopressão 86-87
sistema cardiovascular von Willebrand, doença de 428, 429
Sistema digestório. Ver Exame do sistema
digestório
W
Sistema genital feminino. Ver Exame das
Weber, teste de 107, 347
mamas e do sistema genital feminino
Wegener, granulomatose de 264
Sistema locomotor. Ver Semiologia do
Wernicke, 303, 305-307, 341, 353
sistema locomotor
Sistema respiratório. Ver Exame do
sistema respiratório Y
Sistema urinário. Ver Exame do sistema Yergason, manobra de 257-258, 268
urinário
511