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1. Referência
JOHNSON, Richard. O Que é, Afinal, Estudos Culturais. In (Org.) Tomaz Tadeu da Silva. O Que
é, Afinal, Estudos Culturais. Autêntica: BeloHorizonte,1999.
2. Objetivos da obra
A obra tem como objetivo apresentar as abordagens dos estudos culturais a partir de diversas perspectivas
e teorias, debater as dificuldades de delimitação de objeto e conceitualização, perceber suas limitações e
como elas se relacionam entre si.
3. Argumentos principais
Circuitos Cultural: Para entender a fragmentação e situar as diferentes teorias e modos de pesquisa
dentro do campo dos Estudos Culturais, Johnson cria uma hipótese de circuito cultural que arrisca
descrever diferentes aspectos/momentos dos processos culturais. No esquema apresentado temos
representado a produção, circulação e consumo dos produtos culturais. Esses momentos estão conectados
e dependem um do outro, porém, em uma análise isolada deles não podemos aferir sobre o outro, uma vez
que esses processos envolvem mudanças em suas formas, assim, não se pode definir a produção apenas
considerando o texto, por exemplo. Para compreender essas mudanças ocorridas é preciso entender as
condições específicas do consumo e leitura, que envolvem “simetrias de recursos e poder – matérias e
culturais”, a junção dos elementos culturais ativos no interior do meio social particular e as relações
sociais (culturas vividas). Ainda, na busca de entender o processo apresentado no diagrama, é preciso
entender a lógica da forma pública e privada e as abstrações relacionadas a publicação.
Formas de cultura: A Forma Privada, que no texto tem como exemplos a fofoca e a cultura de chão de
fábrica, não apresenta divisões marcadas no processo de produção cultural, tão pouco usa de instrumentos
de grande complexidade para se desenvolver, uma vez que não há existência entre quem a produz e quem
a consome. Em relação a publicação, essa forma é mais concreta e mais particular. Já a Forma Pública se
constitui através de uma complexa divisão de trabalho na produção e distribuição dos produtos, é marcada
pela distância física e temporal entre produção e consumo (pensemos aqui em um programa de televisão)
e pela objetificação da linguagem no texto. Sua relação com a publicação é mais abstrata (em um
momento inicial?), porém de maior abrangência.
Formas de Estudo: Uma outra discussão que o autor apresenta é entre o Estudo da Cultura com uma
vertente sociológica/antropológica/sócio histórica e o estudo da cultura sob a ótica da crítica literária.
Essa última carrega uma independência relativa ou autonomia efetiva das formas e dos meios subjetivos
de significação, trazendo a construção discursiva de situações e sujeitos e formas abstratas para desvelar
os mecanismos pelos quais o significado é produzido na linguagem narrativa ou qualquer tipo de sistema
de significação. Já o estudo baseado nas culturas vertente sociológica/antropológica/sócio históricas
prezam pela descrição completa, complexas e concretas de fatos (ao exemplo de), capaz de englobar a
unidade das formas culturais e da vida material [não apenas o texto].
Publicação e Poder: Aqui o autor argumenta um pouco mais sobre a relação das duas formas. Segundo
ele, estas duas formas não se apresentam de formas isoladas. Por exemplo, uma forma privada ao ser
publicada através de um veículo passa a se tornar pública. No mesmo sentido, uma forma pública pode
ser consumida privadamente. Para exemplo disso ele traz as revistas femininas que usam de eventos
isolados e privados do feminino os generalizando e tornando públicos, as leitoras por sua vez consomem
de forma privatizada esse produto, o interpretam e o ressignificam. Nesse sentido se mostra a relação
entre as duas formas. Enquanto esfera pública o autor ressalta as diferenças em termos de acesso no que
diz respeito a algumas questões sociais, por exemplo, que não ganham repercussão na esfera pública e são
mantidas no nível privado. Se essas problemáticas privadas se tornam públicas seriam enquadradas e
noticiadas sob certo ângulo. Por vezes, esses elementos da cultura privada poderiam aparecem de forma
patológica e problemática criando a ideia que necessitam de punição e intervenção.
A terceira parte do texto traz argumentações sobre os três conjuntos de abordagens que o autor considera
nos Estudos Culturais.
Assim temos distinções entre certas metodologias etnográficas como a etnográfico cultural e a
etnometodologia. Para Johnson, é preciso que haja uma relação e intersecção no estudo entre as formas
públicas e privadas para atender às duas questões principais dos Estudos Culturais. A primeira delas é a
popularidade dada ao uso dessas formas culturais. A razão de certas formas serem tão apreciadas. Já a
segunda, diz respeito às implicações sociais dessas formas culturais, isto é, as formas culturais acabam
reforçando estruturas de dominação? Ou simplesmente atendem as ambições sociais? Ela proporciona
questionamento crítico sobre essas relações?
Para responder as principais questões as quais os estudos culturais continuamente retomam, Johnson
lembra que é preciso uma análise que vá além das condições de produção ou dos textos, é preciso analisar
e de descrever uma forma social diretamente através do circuito de suas transformações.
4. Citações destacadas
“os processos culturais estão intimamente vinculados com as relações e as formações de classe, com as
divisões sexuais, coma estruturação racial das relações sociais e com as opressões de idade.” p.13
“Precisamos de definições dos Estudos Culturais a fim de poder lutar de forma eficaz nesses contextos, de
argumentar em favor de recursos, clarificar nossas mentes na correria e na confusão do trabalho cotidiano
e de estabelecer prioridades para o ensino e para a pesquisa.” p.18
“os estudos culturais dizem respeito as formas históricas da consciência ou da subjetividade, ou a formas
subjetivas pelas quais nós vivemos ou, ainda, em uma síntese bastante perigosa, talvez uma redução, os
Estudos Culturais dizem respeito ao lado subjetivo das relações sócias.” p.25
“Dada nossa definição de cultura, não podemos limitar o campo a práticas especializadas, a gêneros
particulares ou a atividades populares de lazer. ‘todas as práticas’ sociais podem ser examinadas pelo
trabalho que elas fazem – subjetivamente.” p.30
“Formas privadas não são necessariamente privadas no sentido usual de individual ou pessoal, embora
elas possas ser ambas. Elas podem também ser partilhadas, comunais e sociais de um modo que as formas
públicas não o são. É sua particularidade e sua concretude que as assinalam como privadas.” p.43
“Existem naturalmente, profundas diferenças em termos de acesso à esfera pública. Muitas das
preocupações sociais não ganham absolutamente qualquer publicidade. Não se trata simplesmente do fato
de que elas continuem privadas, mas de que elas são privatizadas, mantidas no nível do privado” p.48-49
Fora isso, podemos, entretanto, insistir na importância do poder como um elemento da análise, ao sugerir
as principais formas pelas quais ele está ativo na relação entre o público e o privado. Pág. 48
Nessas formas, os elementos da cultura privada são vistos como pouco autênticos ou racionais e
construídos como perigosos, desviantes ou excêntricos. De forma similar, as experiências dos grupos
sociais subordinados são apresentadas como patológicas, como problemas que exigem uma intervenção
não na organização da sociedade como um todo, mas nas atitudes ou comportamentos do próprio grupo
que as sofre. Pág 50
O problema é que as definições dominantes do que é considerado importante são, em boa parte,
socialmente específicas e, em particular, tendem a corresponder às estruturas masculinas - e de classe
média - de “interesse” (em ambos os sentidos desse termo). Pág. 51
[...] os Estudos Culturais estão necessariamente e profundamente implicados em relações de poder. Eles
são parte dos próprios circuitos que buscam descrever. Eles podem, tal como os conhecimentos
acadêmicos e profissionais, policiar a relação entre público e privado ou eles podem criticá-las. Eles
podem estar envolvidos na vigilância da subjetividade dos grupos subordinados ou para nas lutas para
representá-los mais adequadamente do que antes. Eles podem se tornar parte do problema ou parte da
solução. Pág 51-52
Mas o objeto último dos estudos culturais não é, em minha opinião, o texto, mas a vida subjetiva das
formas sociais em cada momento de sua circulação, incluindo suas corporificações sociais Pág 75
De forma mais cotidiana, os textos são promiscuamente encontrados; eles caem sobre nós de todas as
direções através de meios diversificados e coexistentes e em fluxos que têm diferentes ritmos. Na vida
cotidiana, os materiais textuais são complexos, múltiplos, sobrepostos, em uma palavra, “intertextuais”.
Pág 88
Por se tratar de um ensaio que traz muitos conceitos vieses e teorias para tentar compreender o campo dos
estudos cultural, essa obra faz link com um número muito grande obras e autores. Destaca-se o uso dos
estudos feitos pela da CCCS, Richard Williams, Stuart Hall, grandes nomes dentro dos Estudos Culturais.
Johnson faz muitas críticas a respeito do marxismo e de teorias com vertentes marxistas, aqui destacamos
o autor Tony Bennett, com o livro Formalismo e Marxismo. Há a ligação também com a escola de
Frankfurt com o uso dos autores Adorno e Horkheimer.
6. Comentário
Enquanto ensaio Jonhson articula muito bem o debate crítico que traz ao pôr em questão todos os vieses
teóricos e abordagens que constituem, tanto positivamente, quanto negativamente, o campo dos estudos
culturais. É interessante como ele promove a reflexão do leitor ao compartilhar com ele suas dúvidas,
fazendo da leitura um processo de descoberta do conhecimento uma vez que o leitor partilha dos mesmos
anseios da pesquisa do autor, pelo menos na minha percepção e experiência.
O objetivo da obra diz muito a respeito da importância desse ensaio, tanto para compreender melhor
como se estruturam as abordagens dos Estudos culturais, quanto para tomar conhecimento de suas
limitações e dificuldades. Dentro de uma possível pesquisa o ensaio ajudaria na escolha de abordagem ou
abordagens e na justificação da mesma diante do objeto e recorte a ser analisado, além de auxiliar na
racionalização dos elementos que queremos ou precisaremos abordar em nossa observação.
O conceito de circuito que o autor constrói pode ser interessante para abordagem da análise que pretendo
fazer em meu TCC, de analisar o potencial pedagógico cultural de produções independentes no Youtube
que falam sobre HIV. Um olhar mais cuidadoso nos momentos desse circuito é importante.