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[O QUEBRANTAMENTO do homem exterior e a

LIBERAÇÃO DO ESPÍRITO ]
[Watchman Nee]
© 2001 Editora Árvore da Vida

ISBN 978-85-7304-134-7

Título do Original em Inglês: The Breaking of the Outer Man and the Release of the
Spirit

2a Edição - julho/2002 - 5.000 exemplares Reimpressão da 2a Edição - Agosto/2007 -


10.000 exemplares

Traduzido e publicado com a devida


autorização do Living Stream Ministry
Todos os direitos reservados para a língua portuguesa
pela Editora Arvore da Vida

Av. Corifeu de Azevedo Marques, 137


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Impresso no Brasil

As citações bíblicas são da Versão Revista e Atualizada de ]oão Ferreira de Almeida, 2- Edição, e da
Versão Restauração (Evangelhos), salvo quando indicado pelas abreviações:
lit.- tradução literal do original grego ou hebraico IBB - Rev. - Imprensa Bíblica Brasileira,
versão Revisada VRC - Versão Revista e Corrigida de Almeida

SUMÁRIO

Prefácio.........................................................................7

1 A importância do quebrantamento................................9

2 Antes e depois do quebrantamento.............................21

3 Coisas nas mãos .........................................................39

4 Como conhecer as pessoas..........................................53

5 A igreja e a obra de Deus............................................71

6 O quebrantamento e a disciplina.................................85

7 Separação e revelação...............................................101

8 A impressão e a condição do Espírito.......................119

9 Depois do quebrantamento nos tornamos flexíveis. .131

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PREFACIO

Este livro discute a lição básica com que se depara alguém que serve a Cristo: o quebrantamento do
homem exterior realizado pelo Senhor com vistas à liberação do espírito. A única obra que Deus aprova é
a do espírito, e o quebrantamento do homem exterior é a única maneira de o espírito ter plena liberdade.
Todas as mensagens que compõem este livro foram dadas por Watchman Nee no treinamento que ele
realizou em Kuling, China, para seus cooperadores em 1948 e 1949. Que o Senhor abençoe os leitores por
meio destas páginas.

Capítulo Um

A IMPORTÂNCIA DO QUEBRANTAMENTO

Leitura Bíblica: Jo 12:24; Hb 4:12-13; 1 Co 2:11-14; 2 Co 3:6; Rm 1:9, 7:6; 8:4-8; Gl 5:16, 22:23, 25
Mais cedo ou mais tarde todo servo de Deus descobre que ele mesmo é o maior empecilho para a sua
obra. Mais cedo ou mais tarde ele descobrirá que seu homem exterior não combina com seu homem
interior. O homem interior caminha numa direção, enquanto o homem exterior caminha em outra. Ele
descobre que seu homem exterior não consegue submeter-se ao reger do espírito ou andar segundo as
mais altas exigências de Deus. Descobre ainda que o grande obstáculo para seu serviço é seu homem
exterior, que o impede de exercitar o espírito. Todo servo de Deus deve ser capaz de exercitar seu
espírito, para assegurar a presença de Deus em seu espírito, para conhecer a Palavra de Deus por meio do
seu espírito, para discernir a condição dos homens por meio de seu espírito, para transmitir a palavra de
Deus por meio de seu espírito e para perceber e receber revelação divina com o seu espírito. Todavia o
empecilho do homem exterior o impossibilita de usar o espírito. Muitos servos do Senhor são
basicamente inaptos para a obra do Senhor pois o Senhor nunca lidou com eles nas.coisas fundamentais.
Sem isso, eles estão basicamente desqualificados para qualquer obra. Todo entusiasmo, zelo e ardente
súplica são vãos. Esse tipo de tratamento básico é o único meio de nos tornar vasos úteis para o Senhor.

O HOMEM EXTERIOR E O HOMEM INTERIOR


Em Romanos 7:22 lemos: "Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus". Nosso
homem interior tem prazer na lei de Deus. Em Efésios 3:16 lemos também: "Sejais fortalecidos com
poder, mediante o seu Espírito no homem interior". Em 2 Coríntios 4:16 Paulo também diz: "Mesmo que
o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia". A Bíblia
divide nosso ser em homem interior e homem exterior. Deus mora no homem interior, e o que está por
fora desse "homem interior ocupado por Deus" é o homem exterior. Em outras palavras, o nosso espírito é
o homem interior, e o que os outros contatam é o homem exterior. O homem interior se veste do homem
exterior como se fosse uma roupa. Deus colocou a Si mesmo, o Seu Espírito, a Sua vida e o Seu poder em

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nós, isto é, no homem interior. Do lado de fora estão a mente, emoção e vontade. Por fora de tudo isso
está o corpo, a carne.
Para que alguém trabalhe para Deus é necessário que o seu homem interior seja liberado. O problema
básico de muitos servos de Deus é que o seu homem interior não consegue irromper do homem exterior.
Para que o homem interior possa ser liberado, é necessário que ele irrompa do homem exterior.
Precisamos ter a clareza de que o primeiro obstáculo para a nossa obra somos nós mesmos, e não outras
coisas. Se o nosso homem interior estiver aprisionado, confinado, então o nosso espírito estará encoberto
e não será fácil liberá-lo. Se nunca aprendemos a romper a barreira do homem exterior com o nosso
espírito, não podemos trabalhar para o Senhor. Nada nos atrapalha tanto quanto o homem exterior. Se a
nossa obra terá eficácia ou não, depende de o Senhor ter quebrado o nosso homem exterior e o homem
interior ser liberado através do homem exterior quebrado. Isso é fundamental. O Senhor tem de demolir o
nosso homem exterior a fim de abrir caminho para o homem interior. Tão logo o nosso homem interior é
liberado, muitos pecadores serão abençoados e muitos cristãos receberão graça.

MORRER E PRODUZIR FRUTOS


Em João 12:24 o Senhor Jesus disse: "Se o grão de trigo não cair na terra e morrer, fica ele só; mas se
morrer, produz muito fruto". A vida está no grão, mas há uma casca por fora do grão, uma casca muito
forte. Se essa casca não se romper, o grão não pode crescer. "Se o grão de trigo não cair na terra e
morrer". Que é essa morte? È a ação da temperatura e umidade da terra sobre o grão, que resulta no
rompimento da casca. Quando a casca se rompe, o grão cresce. Assim, a questão não é se o grão tem vida
ou não, e, sim, se a casca se rompeu. O versículo seguinte diz: "Quem ama a sua vida da alma, perde-a; e
quem odeia a sua vida da alma neste mundo, guardá-la-á para a vida eterna" (v. 25). De acordo com o
Senhor, a casca é a nossa própria vida e a vida interior é a vida eterna que Ele dispensa. Para que a vida
interior seja liberada é necessário que a vida exterior sofra perda. Se o que é exterior não for quebrado, o
que é interior não pode liberar-se. Entre todas as pessoas no mundo, algumas têm a vida do Senhor em
seu interior. Entre elas encontramos duas situações. Uma na qual a vida está presa, circundada e trancada.
Na outra o Senhor abriu um caminho e a vida pode ser liberada. O nosso problema hoje não é como
podemos ter vida, e, sim, como ela pode fluir de nós. Quando dizemos que o Senhor precisa quebrar-nos,
isso não é figura de linguagem nem doutrina. O nosso próprio ser precisa ser quebrado pelo Senhor. A
vida do Senhor é plenamente capaz de se espalhar por toda a terra, mas está trancada em nós! O Senhor
pode facilmente abençoar a igreja, no entanto a Sua vida está aprisionada, retida e bloqueada em nós! Se
o homem exterior não é quebrado, nunca podemos tornar-nos uma bênção para a igreja nem esperar que o
mundo receba a graça de Deus por nosso intermédio!

A NECESSIDADE DE QUEBRAR O VASO DE ALABASTRO


A Bíblia fala de ungüento de nardo puro (Jo 12:3). A Palavra de Deus propositadamente usa o adjetivo
puro: é ungüento de nardo puro, algo verdadeiramente espiritual. Mas, a menos que o vaso de alabastro
seja quebrado, o ungüento de nardo puro não pode ser liberado. É estranho que muitas pessoas gostem do
vaso de alabastro, achando que ele é mais precioso do que o ungüento. Muitos acham que o seu homem
exterior é mais precioso do que o seu homem interior. Esse é o problema com o qual a igreja se depara
hoje. Alguns talvez apreciem muito a própria sabedoria e se achem muito superiores. Outros podem dar
muito valor às suas emoções e também achar que se sobressaem muito. Muitas pessoas se valorizam
bastante, pensando que são muito melhores do que os demais. Consideram que a sua eloqüência,
habilidade, discernimento e julgamento são melhores. Mas não somos colecionadores de antigüidades,
não somos admiradores de vasos de alabastro. Somos os que buscam o aroma do ungüento. Se a parte
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externa não for quebrada, a parte interna não será liberada. Não teremos como prosseguir, e a igreja não
terá como prosseguir. Não devemos mais proteger-nos tanto assim.
O Espírito Santo nunca cessou de operar. Muitos podem testificar que neles essa obra nunca cessou.
Eles experimentam uma tribulação após outra, deparam-se com um incidente após outro. O Espírito Santo
tem um único objetivo em toda a sua obra disciplinadora: quebrar e demolir o homem exterior a fim de
que o homem interior possa irromper. Mas o nosso problema é que murmuramos ao sofrer a primeira
pequena dificuldade e reclamamos ao sofrer uma pequena derrota. O Senhor nos preparou um caminho, e
está pronto para nos usar. Mas, assim que a Sua mão está sobre nós, ficamos descontentes. Então, ou
discutimos com Ele, ou nos queixamos a Ele de tudo. Desde o dia em que fomos salvos, Ele tem
trabalhado sobre nós de várias formas com o objetivo de quebrar-nos o ego. Quer saibamos disso ou não,
o objetivo Dele é sempre quebrar o nosso homem exterior.
O tesouro está no vaso de barro. Quem precisa ver o vaso? A igreja carece do tesouro, e não dos vasos
de barro. O mundo carece do tesouro, e não dos vasos de barro. Se o vaso não for quebrado, quem irá
encontrar o tesouro lá dentro? O Senhor opera em nós de tantas maneiras com o objetivo de quebrar o
vaso de barro, o vaso de alabastro, a casca externa. Ele quer preparar um modo de levar a Sua bênção
para o mundo por meio dos que Lhe pertencem. Esse é o caminho da bênção, mas também é um caminho
manchado de sangue. O sangue precisa ser derramado e as feridas são inevitáveis. Quão crucial é que o
homem exterior seja quebrado! Se ele não for quebrado, não pode haver nenhuma obra espiritual. Se
formos consagrados ao Senhor para o Seu serviço, precisamos estar preparados para ser quebrados por
Ele. Não podemos desculpar-nos nem nos preservar. Precisamos permitir-Lhe quebrar completamente o
nosso homem exterior a fim de ter um caminho livre através de nós.
Todos precisamos descobrir a intenção de Deus para conosco. Ê lamentável que muitos não saibam o
que o Senhor está fazendo neles ou o que pretende para eles. Que cada um de nós conheça a intenção do
Senhor para conosco. Quando ele nos abrir os olhos, veremos que tudo o que nos aconteceu na vida é
significativo. Ele nunca faz nada em vão. Depois que percebemos que o objetivo do Senhor é quebrar o
nosso homem exterior, percebemos que tudo o que nos aconteceu é significativo. Ele está tentando atingir
um objetivo: quebrar e demolir o nosso homem exterior.
O problema de muitos é que antes que o Senhor seja capaz de mover um dedo, eles já mostram sinais
de descontentamento. Precisamos perceber que todas as experiências, dificuldades e tribulações da parte
do Senhor visam ao nosso maior benefício. Não conseguiríamos pedir nada melhor; elas já são o melhor.
Se alguém chegar diante do Senhor e disser: "Senhor, por favor, deixa-me escolher o melhor". Creio que o
Senhor lhe dirá: "Eu lhe dei o melhor. Aquilo com que você se depara todos os dias visa ao seu maior
benefício". O Senhor organizou tudo para nós com o objetivo de quebrar o nosso homem exterior. Só
conseguimos usar plenamente o nosso espírito quando o nosso homem exterior estiver quebrado e o
nosso espírito, liberado.

O QUEBRANTAMENTO E A CRONOLOGIA
O Senhor quebra o nosso homem exterior de duas maneiras. Primeiro, Ele o faz de forma cumulativa
e, segundo, de forma repentina. Para alguns o Senhor primeiro dá um quebrantamento repentino, seguido
de quebrantamentos mais graduais; a obra repentina vem primeiro e a obra cumulativa em seguida.
Outros enfrentam situações e problemas todos os dias, até que, um dia, repentinamente recebem um
grande golpe do Senhor; ou seja, a obra cumulativa vem primeiro e depois a obra repentina. Esses são
diferentes tipos de quebrantamento que geralmente experimentamos. Ou começa com o quebrantamento
repentino seguido do cumulativo; ou, então, a ordem é inversa. Genericamente falando, mesmo nos que
não se desviaram e não procuraram atalhos, o Senhor precisa gastar alguns anos antes de completar essa
obra de quebrantamento.
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Não podemos reduzir o tempo de quebrantamento, mas podemos aumentá-lo. Em alguns o Senhor
termina a obra em poucos anos. Em outros, entretanto, a obra só está terminada depois de dez ou vinte
anos. Isso é muito sério! Nada é mais lamentável do que desperdiçar o tempo de Deus. Muitas vezes I
igreja não recebe a bênção por nossa causa! Podemos pregar com a mente e comover as pessoas com as
emoções, mas não conseguimos exercitar o espírito. Deus não consegue usar o Seu Espírito para tocar
outros por meio de nós. Quando atrasamos a obra, incorremos em grande perda.
Portanto, se nunca nos consagramos ao Senhor de forma completa no passado, vamos fazê-lo agora,
dizendo: "Senhor, por causa da igreja, para o avanço do evangelho, para que tenhas Caminho, e para o
meu próprio avanço em vida, entrego-me sem reservas e incondicionalmente em Tuas mãos. Senhor, de
bom grado me coloco em Tuas mãos. Quero permitir que encontres caminho para liberar-Te através de
mim".

O SIGNIFICADO DA CRUZ
Há muito tempo temos ouvido a respeito da cruz. Talvez estejamos bem familiarizados com ela;
porém, que é a cruz? O significado dela é o quebrantamento do homem exterior. Ela o leva à morte e
rompe a casca. Ela destrói tudo o que é do homem exterior: opiniões, métodos, sabedoria, amor próprio e
tudo o mais. Uma vez que o homem exterior esteja quebrado, o homem interior é liberado e o espírito
pode funcionar. Realmente está bem claro que caminho devemos seguir.
Uma vez que o homem exterior esteja quebrantado, torna-se fácil liberar o espírito. Suponha que certo
irmão tenha uma mente privilegiada, e todos que o conhecem admitem isso. Além disso a sua vontade é
forte e as suas emoções são reservadas e profundas. Mas quando os outros o encontram percebem que
estão tocando o seu espírito, e não a sua vontade forte, mente privilegiada e emoções reservadas e
profundas. Sempre que têm comunhão com ele, tocam o seu espírito, um espírito puro, pois seu homem
exterior está quebrantado. Tomemos agora uma irmã que é rápida. Quem a conhece percebe que ela é
assim. Ela pensa rápido, fala rápido, confessa rápido, escreve rápido e rapidamente joga fora o que
escreveu. Mas, quando a contatamos, não tocamos a sua rapidez, e, sim, o seu espírito. A sua própria
pessoa foi quebrantada. Quebrar o homem exterior é fundamental. Não podemos sempre ficar agarrados
às nossas fraquezas. Não podemos continuar tendo o mesmo sabor depois de o Senhor ter lidado conosco
por cinco ou dez anos. Precisamos deixar que o Senhor tenha caminho através de nós. Essa é a exigência
básica que o Senhor tem para nós.

DUAS RAZÕES PARA NÁO SER QUEBRANTADO


Por que tantas pessoas permanecem as mesmas depois de 0 Senhor lidar com elas por anos? 1 Alguns
têm vontade forte, outros, emoções fortes e ainda outros mente privilegiada; entretanto, apesar disso, o
Senhor ainda consegue quebrá-los. Há duas razões principais pelas quais muitas pessoas não são
quebrantadas mesmo depois de passados muitos anos.
Primeiro, elas vivem nas trevas e não vêem a mão de Deus. O Senhor opera e quebranta, entretanto
elas não sabem que o Senhor está fazendo a obra. Falta-lhes luz e elas não vivem na luz. Só vêem os
homens, pensando que os homens se opõem a elas. Ou então, só vêem o ambiente, e reclamam que ele é
austero demais. Põem toda a culpa no ambiente. Que o Senhor nos dê revelação para que vejamos a mão
de Deus. Ajoelhemo-nos e oremos: "Isso que está acontecendo és Tu. Isso és Tu. Eu o aceito". Pelo
menos precisamos saber de quem é a mão que lida conosco. No mínimo precisamos conhecer aquela mão
e ver que não é o mundo, nem a família ou irmãos da igreja que lidam conosco. Precisamos ver a mão de
Deus. Ele é que lida conosco. Precisamos aprender com Madame Guyon, que beijava essa mão e lhe dava

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valor. Necessitamos dessa luz. Precisamos aceitar e crer em tudo o que o Senhor fez. Ele nunca erra no
que faz.
Segundo, a pessoa não é quebrantada porque ama demais a si mesma. O amor próprio é um grande
obstáculo ao quebrantamento. Precisamos pedir a Deus que remova todo o nosso amor próprio. Quando
Ele o tira de nós, precisamos adorá-Lo dizendo: "Senhor! Se essa é a Tua mão, eu a aceito de coração".
Precisamos lembrar que todos os desentendimentos, queixas e insatisfações provêm de uma única fonte:
amor próprio secreto. Visto que nos amamos secretamente, procuramos preservar-nos. Esse é um grande
problema. Muitas vezes os problemas surgem porque tentamos preservar-nos.
Os que conhecem o Senhor vão à cruz sem beber o vinagre misturado com fel! Muitos vão à cruz
relutando. Procuram beber o vinagre misturado com fel na tentativa de aliviar os sentidos. Os que dizem:
"Não beberia eu o cálice que meu Pai me deu?", não bebem o cálice de vinagre misturado com fel. Só
bebem de um dos cálices, e não dos dois. Eles não têm em si nenhum amor próprio. O amor próprio é a
raiz do nosso problema. Que o Senhor fale hoje em nós e oremos: "Deus meu! Vejo agora que tudo vem
de Ti. As experiências dos últimos cinco, dez ou vinte anos vieram todas de Ti. Tudo isso foi feito com
um único objetivo: que a Tua vida se expresse através de mim. Tenho sido tolo por não ver isso. Pelo
amor próprio fiz muitas coisas para me livrar e desperdicei muito do Teu tempo. Hoje vejo a Tua mão e
voluntariamente me consagro a Ti. Entrego-me às Tuas mãos uma vez mais".

FERIDAS VIRÃO
Não há pessoa mais bela do que a que passou por esse processo de quebrantamento. Alguém teimoso
e cheio de amor próprio torna-se belo depois de quebrado por Deus. Veja Jacó, no Antigo Testamento. Já
no ventre materno lutava com o irmão. Era alguém trapaceiro, sagaz e desonesto. Entretanto passou por
muitos sofrimentos na vida. Na juventude fugiu de casa e foi enganado por Labão por vinte anos. A sua
querida esposa morreu quando ele voltava para casa e o seu querido filho José foi vendido. Anos depois
Benjamim foi detido no Egito. Deus lidou com ele de muitas maneiras e ele passou por muitas
infelicidades. Foi golpeado por Deus de tempos em tempos. A história de Jacó é uma história do golpear
de Deus. Depois que Deus lidou bastante com ele, ele mudou. Em seus últimos anos ele tornou-se alguém
de fato transparente. Que pessoa digna ele foi no Egito diante de Faraó e ao falar com ele! Em seu leito de
morte adorou a Deus apoiado em seu bordão. Que quadro maravilhoso! Quão claras as suas bênçãos aos
filhos e netos! Ao ler o final da sua história só podemos curvar-nos e adorar a Deus. Aqui estava uma
pessoa amadurecida, alguém que conhecia a Deus. Depois de Deus lidar com ele por décadas, o seu
homem exterior foi quebrado. Em sua velhice vemos um quadro maravilhoso. Todos temos algo de Jacó
em nós. Talvez não seja só um pouco! Esperamos que o Senhor encontre caminho através de nós. Que o
nosso homem exterior seja quebrantado a ponto de o homem interior ser liberado e expresso. Isso é
precioso, e esse é o caminho dos que servem ao Senhor. Somente podemos servir depois de atingir esse
ponto, e só podemos conduzir outros ao Senhor e ao conhecimento de Deus quando atingimos esse ponto.
Nada mais funcionará: nem doutrinas nem teologia, mero conhecimento bíblico também não nos
aproveitará. A única coisa proveitosa é Deus fluir do nosso interior.
Quando nosso homem exterior é ferido, quebrado e humilhado por todos os tipos de infortúnios, as
cicatrizes feridas que permanecerem serão os lugares pelos quais o espírito fluirá de nós. Temo que
alguns estejam inteiros demais, nunca sofreram nenhuma disciplina nem tiveram nenhuma mudança. Que
o Senhor seja misericordioso conosco e coloque um caminho reto à nossa frente. Que vejamos que esse é
o único caminho. Que vejamos que todas as vezes que o Senhor lidou conosco nos últimos dez ou vinte
anos visam atingir esse único objetivo. Assim, não devemos desprezar o operar do Senhor em nós. Que o
Senhor nos mostre de fato o significado do quebrantamento do homem exterior. Se o homem exterior não
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for quebrantado, tudo o que temos está na mente e na esfera do conhecimento e é inútil. Que o Senhor
nos conceda um quebrantamento completo.

Capítulo Dois

ANTES E DEPOIS DO QUEBRANTAMENTO

O quebrantamento do homem exterior é uma experiência fundamental pela qual todo servo de Deus
tem de passar. Antes que possamos prestar um serviço eficaz a Deus, Ele tem de quebrar nosso homem
exterior.
Um servo de Deus enfrenta duas dificuldades no serviço ao Senhor. A primeira é que seu homem
exterior nunca seja quebrado e seu espírito nunca seja despertado. Ele não consegue liberar o espírito e do
seu espírito não flui nenhum poder. Só sua mente e emoções são ativas. Se for alguém inteligente, sua
mente será ativa. Se for sentimental, suas emoções serão ativas. Uma obra assim não traz ninguém a
Deus. A outra dificuldade é que não se distinga claramente seu homem exterior do homem interior. Nesse
caso, quando seu espírito é liberado, ele vem envolto por sua mente ou emoções. O resultado é mistura e
impureza. Esse tipo de obra produz, nos outros, experiências mistas e impuras. Essas duas condições
estorvam o homem de servir adequadamente o Senhor.

"O ESPÍRITO É O QUE DÁ VIDA"


Se quisermos realizar obras eficazes, precisamos reconhecer basicamente, pelo menos uma vez, que
"o Espírito é o que dá vida" (Jo 6:63). Se não resolvermos essa questão este ano, teremos que fazê-lo no
ano que vem. Se não estabelecermos um compromisso quanto a essa questão no primeiro dia da nossa
conversão, teremos de fazê-lo mais cedo ou mais tarde, mesmo que dez anos se passem. Muitos precisam
chegar a um ponto de extremo desgaste e perceber a inutilidade da sua obra antes de ver a futilidade de
seus muitos pensamentos e sentimentos. Ainda que muitos sejam ganhos pelos nossos pensamentos e
sentimentos, o resultado será vão. Mais cedo ou mais tarde teremos de confessar que "o Espírito é o que
dá vida". Somente o Espírito pode dar vida. Nem os nossos melhores pensamentos ou sentimentos podem
dar vida. Somente pelo Espírito é que o homem pode ter vida. A palavra do Senhor é sempre verdadeira.
O que dá vida é o Espírito. Muitos servos do Senhor precisam passar por muitas dores e falhas até que
vejam esse fato. Já que é somente o Espírito que dá vida, a regeneração dos pecadores e a edificação dos
crentes ocorrem apenas quando o espírito é liberado. A regeneração é questão de transmissão de vida e o
resultado é que os outros ganham vida, enquanto a edificação, que também é questão de transmissão de
vida, resulta na edificação dos crentes. Sem o Espírito não há regeneração, nem edificação.
O que é mais interessante é que Deus não tem nenhuma intenção de separar Seu Espírito do nosso. Há
muitos trechos bíblicos em que não se pode dizer se o "espírito" ali falado se refere ao espírito humano ou
ao Espírito de Deus. Inclusive muitos especialistas na língua grega não conseguem perceber a diferença.
Por séculos, os tradutores da Bíblia, desde Lutero na Alemanha aos tradutores da Versão "King James" 1 ,
não puderam saber ao certo quais das muitas passagens no Novo Testamento que se referem ao espírito
denotam o espírito humano e quais denotam o Espírito de Deus.
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Romanos 8 é, talvez, o capítulo em que a palavra espírito aparece mais vezes. Quem saberia dizer
quais delas referem-se ao espírito humano e quais se referem ao Espírito de Deus? Os tradutores da
Bíblia, quando chegam a Romanos 8, costumam deixar que o leitor decida se a palavra espírito se refere
ao espírito humano ou ao Espírito de Deus. Em várias versões da Bíblia, quando a palavra original é
pneuma, em alguns casos usa-se a inicial maiúscula, e em outros, a inicial minúscula. Nessa questão, cada
versão segue sua própria orientação, e não há nenhuma autoridade no assunto. Na verdade, é impossível
distinguir o Espírito Santo do espírito humano. Quando recebemos um espírito novo, recebemos, ao
mesmo tempo, o Espírito de Deus. No mesmo momento em que nosso espírito humano, saindo de seu
estado mórbido, reviveu, nós recebemos o Espírito Santo. O Espírito Santo habita no nosso espírito, mas
é difícil distinguir quando é um e quando é outro. Há diferença entre o Espírito Santo e o nosso espírito,
mas os dois não estão separados. Portanto, a liberação do espírito não é só liberar o espírito humano, mas
liberar o Espírito Santo através do espírito humano, porque os dois espíritos são um. Pode haver dois
termos distintos para distingui-los, mas na prática não há como diferenciá-los. A liberação do espírito é a
liberação do espírito" humano e também do Espírito Santo. Ao mesmo tempo que tocam o nosso espírito,
as pessoas também estão tocando o Espírito Santo. Se elas tiverem a oportunidade de tocar o nosso
espírito, devemos agradecer ao Senhor porque, simultaneamente, terão a oportunidade de tocar o Espírito
de Deus. Na verdade, o nosso espírito conduz o Espírito de Deus aos homens.
Quando o Espírito de Deus opera, Ele precisa fazê-lo por meio do espírito humano. Da mesma forma,
a eletricidade, que faz funcionar os aparelhos elétricos, não pode se propagar através do ar como o
relâmpago. Ela é conduzida através dos fios. Hoje não só temos a energia elétrica, mas também os
condutores. Os fios transportam a eletricidade. Em física existe algo que denominamos carga elétrica.
Receber uma carga equivale a carregar um peso. Para conduzir a eletricidade, temos que transportar a
carga por meio de fios elétricos. Esse mesmo princípio se aplica ao Espírito de Deus. Ele precisa do
espírito humano como meio para conduzir Seu Espírito. Por meio do espírito humano, o Espírito Santo é
transportado e conduzido aos homens.
Depois de uma pessoa ser salva, o Espírito Santo habita no seu espírito. A utilidade dela para o Senhor
depende mais do seu homem exterior do que do seu espírito. O que acontece com alguns é que seu
homem exterior nunca foi quebrado, e isso se torna o seu problema: carecem de um caminho manchado
de sangue, faltam-lhes ferimentos e cicatrizes. O resultado disso é que o Espírito de Deus está trancado
em seu espírito e não consegue ser liberado. Por vezes o homem exterior se move, mas o homem interior
não reage a esse mover. O homem exterior é liberado, mas o homem interior continua preso.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES DE ORDEM PRÁTICA


Consideremos algumas questões práticas, primeiramente quanto à pregação. Costumamos pregar com
seriedade, de forma persuasiva e baseados na lógica. Contudo, em nosso interior, somos frios como gelo.
Tentamos convencer os outros, mas nem conseguimos convencer a nós mesmos. O homem exterior
opera, mas o homem interior não consegue unir-se a essa obra. O homem exterior e o homem interior não
se harmonizam, não são unânimes. O homem exterior está cheio de energia, mas o homem interior
continua frio e indiferente. Falamos às pessoas do imenso amor de Deus, mas em nós não há o menor
sentimento. Falamos da dor da cruz, mas, ao voltar para casa, conseguimos rir sem nenhum problema. A
condição de uma pessoa se torna desanimadora quando não há unidade entre o homem exterior e o
homem interior. Quando o homem exterior trabalha, o homem interior não sai do lugar. Esta é a primeira
situação: a mente e a emoção trabalham, mas o espírito não. O homem exterior trabalha, mas o homem
interior não reage. É como se o homem interior fosse um espectador do desempenho do homem exterior.

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O homem exterior continua sendo o homem exterior e o homem interior continua sendo o homem
interior. Os dois não se harmonizam.
Outras vezes, o homem interior está desesperado, quer gritar, mas não consegue expressar nada. Fala
bastante mas não atinge o objetivo. Quanto mais desesperado o homem interior, mais frio o homem
exterior. A pessoa pode querer falar, mas não sai nada. Vê um pecador e quer chorar, mas as lágrimas não
saem. Tem vontade de gritar do púlpito mas o homem exterior sumiu. Esse é um grande sofrimento. Essa
frustração resulta de o homem exterior não ter sido quebrantado. Por conseguinte, o homem interior não é
liberado. Enquanto a casca exterior permanece, o homem exterior não aceita ordens do homem interior.
Quando o homem interior chora, o homem exterior não chora. Quando o homem interior está triste, o
homem exterior não está triste. O homem interior pode ter muito para dizer, mas o homem exterior não
dirige os seus pensamentos para transmitir as palavras. O homem interior pode ter muito sentimento, mas
não pode ser expresso. O espírito não consegue romper a casca exterior.
A descrição acima se encaixa na situação daqueles cujo homem exterior não foi quebrantado. Das
duas uma: ou o espírito deles não se move e o homem exterior tem de agir sozinho, ou o espírito se move
mas o homem exterior bloqueia a passagem. Assim, o quebrantamento do homem exterior é a primeira
lição pela qual todos os que desejam servir o Senhor devem passar. O treinamento básico para todo servo
de Deus é permitir que o seu homem interior saia do seu homem exterior. Todo verdadeiro servo de Deus
não deixa que seus pensamentos e emoções exteriores ajam independentemente. Quando o seu homem
interior precisa ser liberado, o homem exterior providencia um canal, para que o espírito consiga romper
o homem exterior e alcançar os outros. Se não aprendermos essa lição, a nossa eficácia na obra será muito
limitada. Que o Senhor nos leve ao ponto em que o nosso homem exterior seja quebrantado. Que Deus
nos mostre a maneira de ser quebrantados diante do Senhor.
Uma vez que tenhamos sido quebrantados, todo teatro, toda representação, cessará. Não mais ocorrerá
que estejamos entusiasmados por fora e indiferentes por dentro. Se temos o sentimento e a expressão
adequados interiormente, agiremos de acordo exteriormente. Também não passaremos pelo vexame de o
homem interior querer derramar lágrimas e o homem exterior ser incapaz de fazê-lo. Já não nos
queixaremos de ter o que dizer interiormente, mas andar em círculos sem conseguir dizê-lo
exteriormente. Não haverá pobreza de pensamentos nem precisaremos usar vinte palavras para expressar
o que pode ser dito em duas. A nossa mente irá auxiliar o espírito, em vez de impedi-lo. As nossas
emoções também podem ser uma casca muito forte. Muitos querem regozijar-se, mas não conseguem.
Querem chorar, mas não conseguem. O homem exterior não reage. Mas, se o Senhor lhes desferir um
forte golpe no homem exterior por meio da disciplina ou luz do Espírito Santo, eles então poderão
alegrar-se quando for necessário e chorar quando for necessário. O espírito deles estará plenamente
liberado.
O quebrantamento do homem exterior leva à plena liberação do espírito, que não só é necessária para
a nossa obra, como também proveitosa para a caminhada pessoal. Se o espírito é liberado, podemos
constantemente permanecer na presença de Deus e espontaneamente tocamos o espírito de inspiração que
está por trás da Bíblia. Espontaneamente recebemos revelação ao exercitar o nosso espírito. Se o espírito
está liberado, espontaneamente temos poder em nosso testemunho ao falar a palavra de Deus com nosso
espírito. Também teremos essa experiência ao pregar a palavra de Deus, isto é, ao ministrá-la aos outros
como ministros da palavra. Além disso, se o nosso espírito estiver liberado, com ele tocaremos o espírito
dos outros. Quando alguém vem falar conosco seremos capazes de "medi-lo" com nosso espírito.
Saberemos que tipo de pessoa ele é, que tipo de atitude ele tem, que tipo de vida cristã ele leva e que tipo
de necessidades ele tem. O nosso espírito será capaz de tocar o espírito dele. Se o nosso espírito estiver
livre e liberado, será fácil que os outros o toquem; ele se tornará muito fácil de ser tocado. No caso de
alguns, só podemos tocar os seus pensamentos, emoções ou vontades; e não o seu espírito. Eles são
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cristãos e nós também, mas mesmo depois de duas ou três horas de conversa, ainda não podemos tocá-los.
A casca exterior deles é muito dura e ninguém consegue tocar a sua condição interior. Quando o homem
exterior é quebrantado, o espírito estará aberto e livre para fluir para os outros, e quando isso ocorre, os
outros facilmente podem tocá-lo.

IR E VOLTAR
Se o homem exterior for quebrantado, o espírito espontaneamente permanecerá todo o tempo no
Senhor. Certa vez um irmão leu o livro A Prática da Presença de Deus, do irmão Lawrence. Já fazia dois
anos que ele havia sido salvo e estava aflito porque não conseguia desfrutar a presença de Deus
continuamente como o irmão Lawrence. Resolveu então fazer um trato com um irmão de orar uma vez a
cada hora, pois queria seguir a prática bíblica de orar sem cessar. Toda vez que o relógio batia as horas,
eles procuravam ajoelhar-se para orar. No entanto, parecia-lhes que não conseguiam permanecer na
presença de Deus e todo o tempo tinham de lutar para isso. Era como se saíssem da presença de Deus
toda vez que se envolviam com os negócios ou estudos, de modo que tinham de rapidamente voltar a
Deus. Se não o fizessem, a sensação era de que nunca mais voltariam à Sua presença. Assim, oravam o
tempo todo. Aos domingos oravam o dia inteiro e aos sábados, metade do dia. Fizeram isso por dois ou
três anos. Mas, embora sentissem a presença de Deus quando voltavam a Ele, assim que se voltavam para
outras coisas, eles a perdiam. Preservar a presença de Deus com a memória humana é uma grande
frustração para muitos cristãos, e não apenas para esses dois. Para eles, a "presença" de Deus só pode ser
preservada quando a memória está fresca; quando a memória falha, a "presença" se vai. Essas tentativas
de preservar a presença divina com a memória humana são tolas. A presença de Deus é no espírito, e não
na memória.
A fim de resolver essa questão da presença de Deus, primeiramente precisamos resolver a questão do
quebrantamento do homem exterior. A natureza da nossa emoção é diferente da natureza de Deus, as duas
nunca podem se unir como uma só. O mesmo pode ser dito da nossa mente. João 4 mostra-nos que a
natureza de Deus é Espírito. Somente o nosso espírito é da mesma natureza de Deus, e pode estar para
sempre em harmonia com Deus. Se tentarmos reter a presença de Deus na mente, ela será perdida tão
logo percamos o controle total da mente. Se tentarmos reter a presença de Deus na emoção, o mesmo
acontece: Sua presença se vai tão logo deixemos de ter o pleno controle da emoção. As vezes estamos
felizes e achamos que temos a presença de Deus. Mas essa felicidade não dura. Quando ela se vai, a nossa
sensação da Sua presença também se vai. Podemos achar que temos a presença de Deus quando
choramos, mas não podemos chorar o tempo todo. Logo as nossas lágrimas cessam e daí nos parece que a
presença de Deus também se foi. Tanto a função da mente como a da emoção são atividades, e nenhuma
atividade pode durar para sempre. Se quisermos manter a presença de Deus com atividades, ela irá
embora assim que a atividade parar. Duas substâncias só se mesclam quando têm a mesma natureza,
como água com água e ar com ar. Substâncias de mesma natureza podem desfrutar a presença uma da
outra. O homem interior é da mesma natureza de Deus, portanto, pode ter percepção da presença de Deus
por meio do Seu Espírito. O homem exterior constantemente está na esfera das atividades, assim é um
empecilho para o homem interior. Ele não é uma ajuda, e, sim, um empecilho. O homem interior estará
livre de distrações somente quando o homem exterior for quebrantado.
Deus colocou um espírito humano em nós para corresponder a Ele. O homem exterior, no entanto, só
reage a sinais exteriores. A pessoa perde a presença de Deus e o seu desfrute porque o homem exterior
constantemente reage à atividade exterior. Não conseguimos eliminar todos os estímulos exteriores, mas o
homem exterior pode ser quebrantado. Não podemos suspender toda a atividade exterior. Milhões e
bilhões de coisas neste mundo ocorrem fora de nós. Se o homem exterior não for quebrantado,
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reagiremos sempre que algo acontecer fora de nós. Não podemos desfrutar a presença de Deus calma e
continuamente porque o homem exterior constantemente reage. Permanecer na presença de Deus depende
do quebrantamento do homem exterior.
Se o Senhor for misericordioso conosco e quebrantar o nosso homem exterior, manifestaremos as
seguintes características: a velha curiosidade morrerá, não mais seremos curiosos. Antes éramos muito
fortes na emoção e qualquer coisa estimularia, dependendo do caso, o sentimento de ternura ou o rude
sentimento de ira. Reagíamos assim que algo ocorresse ao redor; éramos capturados por isso e como
resultado, perdíamos a presença de Deus. Mas se Deus for misericordioso conosco, Ele irá quebrantar
nosso homem exterior e então nosso homem interior não mais será tocado quando muitas coisas nos
acontecerem. Permaneceremos calmos e a presença de Deus permanecerá conosco.
Temos de ver que o desfrute da presença de Deus se baseia no quebrantamento do homem exterior. Só
podemos desfrutar a Sua presença ininterrupta quando o nosso homem exterior estiver quebrantado. O
irmão Lawrence trabalhava numa cozinha. Muitas pessoas vinham e lhe solicitavam serviços. Havia toda
sorte de barulho à sua volta, pratos sendo levados para cá e para lá. Entretanto ele não era afetado por
nada disso. Ele tinha a presença de Deus enquanto orava e também a tinha enquanto trabalhava
arduamente. Como é que conseguia manter a presença de Deus ao fazer um trabalho tão agitado? O
segredo é que nenhum ruído externo podia afetar o seu ser interior. Alguns perdem a presença de Deus
pois são internamente afetados ao ouvir qualquer barulho ao redor.
Alguns, que não conhecem a Deus, tentam manter a Sua presença procurando um ambiente onde não
haja "o barulho dos pratos". Acham que quanto mais longe estiverem de pessoas e atividades, mais perto
estarão da presença de Deus. Isso é um engano. Acham que o problema está nos "pratos", as distrações
humanas. Não, o problema está neles. Deus não nos está livrando dos "pratos", e, sim, de ser
influenciados por eles. Pode haver uma algazarra à volta, mas em nosso interior permanecemos intocados.
Tudo ao redor pode ser barulhento, mas interiormente estamos em perfeito silêncio. Uma vez que o
Senhor quebrante o nosso homem exterior, o nosso ser interior não reagirá a essas coisas, estaremos
surdos para esses barulhos. ( Graças a Deus, mesmo tendo ouvidos bem sensíveis, a ação da graça e a
operação do Seu trabalhar quebrarão o nosso homem exterior, para que nada que vier a ele nos afete mais.
Quando há o barulho dos "pratos", podemos esconder-nos na presença de Deus assim como quando
oramos num lugar isolado.
Uma vez que o nosso homem exterior foi quebrantado, não temos necessidade de voltar para Deus,
pois estaremos com Ele todo o tempo. Não há a necessidade de uma volta. Alguém que não foi
quebrantado precisa voltar a Deus sempre que se envolver com as suas coisas, pois saiu da presença de
Deus. E por isso que precisa voltar. Alguém quebrantado nunca sai da presença de Deus, por isso não
precisa voltar. Muitos saem da presença de Deus todo momento, mesmo quando estão servindo o Senhor.
Isso é porque o seu homem exterior nunca foi quebrantado. Melhor seria se não fizessem nada, pois assim
que fazem qualquer coisa, saem da presença de Deus. Mas os que conhecem a Deus de forma autêntica
nunca saem da Sua presença. Por isso, nunca precisam voltar. Se passarem o dia orando estarão
desfrutando a Sua presença. Se passarem o dia ocupados esfregando o chão, ainda desfrutarão a Sua
presença. Assim que o nosso homem exterior for quebrantado viveremos diante de Deus. Não haverá a
necessidade de voltar à Sua presença. Não haverá o sentimento nem a necessidade de voltar.
Geralmente sentimos a presença de Deus apenas quando vamos a Ele. Mas em qualquer coisa que
façamos, ainda que tenhamos o máximo cuidado, sentimos que saímos um pouco da presença de Deus.
Temo que essa seja a nossa experiência na maioria das vezes. Embora conscientemente tentemos manter-
nos na presença de Deus, saímos assim que nos envolvemos com alguma atividade. Muitos sentem que
precisam largar as coisas que estão em suas mãos para poder orar. Sentem que há uma diferença entre
estar na presença de Deus e fazer alguma obra. Por exemplo, podemos estar pregando o evangelho ou
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edificando alguém. De repente, no meio da nossa conversa Sentimos que precisamos orar para voltar à
presença de Deus. Sentimos que de alguma forma saímos da Sua presença ao falar com outros e que
orando poderemos voltar. Parece que saímos e agora estamos voltando a Deus. Perdemos a Sua presença
e agora a estamos recuperando. Podemos estar realizando tarefas diárias como esfregar o chão, ou
qualquer outra. Depois de terminada, temos a sensação de que precisamos voltar a Deus para poder orar.
Sentimos que há grande distância entre onde estamos e onde gostaríamos de estar. Qualquer sentimento
de que precisamos voltar indica que saímos da Sua presença. O quebrantamento do homem exterior nos
levará ao ponto de que não precisaremos mais estar voltando. Sentiremos a presença de Deus igualmente,
quer falando com as pessoas quer ajoelhados orando com elas. Sentiremos a presença do Senhor tanto ao
esfregar o chão ou fazer qualquer outra tarefa como quando a orar. Essas coisas não mais nos tirarão da
presença de Deus. Assim, não mais haverá a necessidade de voltar.
Vamos ver um caso extremo. O sentimento mais grosseiro que alguém pode ter é a ira. A Bíblia não diz
que não nos podemos irar. Algumas formas de ira não estão relacionadas a pecado. Em Efésios 4:26
lemos: "Irai-vos e não pequeis". Isso nos mostra que podemos irar-nos sem pecar. Contudo a ira é um
sentimento muito grosseiro. Na verdade, está próximo ao pecado. A Palavra de Deus nunca diz que
devemos amar e não pecar, porque o amor está longe do pecado. Tampouco diz que devemos ser
pacientes e não pecar, porque a paciência também está longe do pecado. Mas a Palavra de Deus diz: "Irai-
vos e não pequeis". Isso nos mostra que a ira está muito próxima do pecado. Às vezes um irmão faz algo
muito sério e precisamos repreendê-lo. Isso é difícil de fazer. É fácil ser bondoso, mas estão fazendo e
voltar todo o seu ser para Deus. Eles precisam colocar todo o seu ser no trabalho e também precisam
colocar todo o seu ser na oração. Eles se afastam todo momento e todo momento precisam voltar. O seu
homem exterior ainda não foi quebrantado. Os que foram quebrantados pelo Senhor descobrirão que o seu
homem exterior não mais influencia o seu homem interior. Conseguem cuidar de coisas exteriores com o
homem exterior e ao mesmo tempo continuam habitando em Deus e na Sua presença. Sempre que surgir a
necessidade de expressar seu homem interior aos homens, eles conseguirão fazê-lo com facilidade, pois
não estão afastados da presença de Deus. A questão, portanto, é se somos uma pessoa ou duas. Em outras
palavras, nosso homem exterior está separado do nosso homem interior? Isso faz muita diferença.
Se Deus for misericordioso conosco e tivermos tal experiência de separação, faremos as coisas e nos
conduziremos em nosso homem exterior, mas o nosso homem interior permanecerá na presença de Deus.
Uma pessoa se move, enquanto a outra permanece diante de Deus. O homem exterior só se preocupará
com as coisas exteriores e estas pararão aí, não atingirão o homem interior. Os que conhecem a Deus
aplicam o homem exterior às coisas externas enquanto o homem interior permanece em Deus. Os dois
homens não se misturam. Eles são como o irmão Lawrence, atarefado com coisas externas, mas com
outra pessoa em si que vivia diante de Deus. A presença de Deus nunca o deixava. Isso pode poupar-nos
muito tempo na obra. Muitos não têm a separação entre o homem exterior e o homem interior, o que faz
com que todo o seu ser se afaste da presença de Deus, e depois eles fazem todo o seu ser voltar. Muitos
encontram dificuldades na obra porque o homem interior vai atrás do homem exterior. Se o homem
interior estiver separado do homem exterior e permanecer intocado enquanto o homem exterior estiver
envolvido com negócios, muitas coisas exteriores serão feitas adequadamente. Esse exercício nos isolará
da influência da carne por meio de coisas exteriores; elas não mais tocarão o nosso ser interior.
Dizendo de forma simples, o espírito do homem só pode ser útil a Deus se o Senhor realizar duas
obras na pessoa. Uma é o quebrantamento do homem exterior e a outra é a separação entre o espírito e a
alma, ou entre o homem interior e o homem exterior. Deus tem de realizar essas duas obras em nós para
que possamos usar o nosso espírito. O quebrantamento do homem exterior é alcançado por meio da
disciplina do Espírito Santo, e a separação entre o homem exterior e o homem interior ocorre por meio da
revelação do Espírito Santo.
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Capítulo Três

COISAS NAS MÃOS

Primeiramente iremos explicar o título deste capítulo. Suponha que o pai queira que o filho lhe faça
algo. O pai dá a ordem, mas o filho diz: "Estou com as mãos ocupadas. Assim que terminar o que tenho
nas mãos farei o que o senhor quer". Esse é o significado de ter algo nas mãos. Antes que o pai peça ao
filho que faça algo, ele já tem algo nas mãos. Cada um de nós tem algo nas mãos. Em nossa caminhada
com o Senhor freqüentemente somos impedidos pelo que temos nas mãos. Precisamos primeiro cuidar do
que temos nas mãos. Como resultado atrasamos o encargo de Deus. E difícil achar alguém que não tenha
nada nas mãos. Sempre temos algo nas mãos antes de Deus nos falar e sempre temos muitas coisas nas
mãos antes de o homem exterior ser quebrantado. O homem exterior envolve-se em negócios, coisas,
labores e atividades. Quando o Espírito de Deus opera em nosso espírito, torna-se impossível o nosso
homem exterior atender às exigências. O que temos nas mãos nos desqualifica para qualquer real
utilidade espiritual.

O HOMEM EXTERIOR É LIMITADO EM FORÇA


A força do homem exterior é limitada. Suponha que certo irmão não seja muito forte e só consiga
levantar trinta quilos. Se ele já tem trinta quilos nos ombros, não pode acrescentar mais dez quilos. Ele é
limitado. Ele tem limites quanto ao que pode carregar. Só pode carregar trinta quilos e não pode
acrescentar mais dez. Esses trinta quilos são as coisas nas mãos. Isso é uma analogia. A força do homem
exterior é limitada, assim como a força do corpo é limitada. Muitos percebem que a força do corpo é
limitada, mas não percebem que a força do homem exterior também é limitada. Como resultado, gastam e
desperdiçam a força do homem exterior. Suponha que alguém gaste todo o seu amor com os pais. Ele não
terá mais forças para amar os irmãos, muito menos para amar todos os homens. Ele tem uma quantidade
limitada de força e quando a esgota, não tem mais forças para outras coisas.
A força mental de alguém também é limitada. Ninguém possui suprimento ilimitado de energia
mental. Se a pessoa gastar mais tempo numa coisa, isto é, se a sua mente está dedicada completamente a
determinada coisa, não terá forças para pensar em outras. Em Romanos 8 lemos que a lei do Espírito da
vida nos livrou da lei do pecado e da morte. Por que então a lei do Espírito da vida não funciona com
algumas pessoas? A Bíblia também nos mostra que a justiça da lei é cumprida nos que andam segundo o
espírito. Em outras palavras, ela só tem efeito nos que são espirituais, isto é, nos que põem a mente em
coisas espirituais. Os que a põem nas coisas espirituais não têm a mente posta na carne 1 . Somente os que
não inclinam a mente para a carne é que conseguem incliná-la para as coisas espirituais. A expressão pôr
a mente também pode ser traduzida como "prestar atenção a" ou "cuidar de". Suponha que a mãe saia de
casa e confie seu filhinho a uma amiga dizendo: "Por favor, cuide dele para mim". Que significa cuidar da
criança? Significa prestar atenção a ela todo o tempo. O homem só consegue prestar atenção a uma coisa,
e não a duas coisas ao mesmo tempo. Se alguém deixa uma criança aos nossos cuidados, não podemos
cuidar dela, e ao mesmo tempo, das ovelhas e vacas na montanha. Se cuidarmos da criança, não
poderemos cuidar de mais nada. Somente os que não cuidam das coisas da carne é que são capazes de
cuidar das coisas do espírito. E somente os que cuidam das coisas do espírito recebem o benefício da lei
do Espírito. A nossa força mental é limitada; se a gastarmos nas coisas da carne, não teremos energia
mental suficiente para cuidar das coisas do espírito. Se pusermos a mente nas coisas da carne, não
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teremos mais forças para pô-la nas coisas do espírito.
Precisamos ter muita clareza sobre esta questão: o homem exterior tem força limitada, assim como os
braços são limitados em força. Portanto, se já temos coisas nas mãos, não conseguimos pegar as coisas de
Deus. O quanto temos nas mãos é inversamente proporcional ao poder que temos no serviço a Deus. O
que temos nas mãos é um grande empecilho, um grande impedimento.
Suponha que alguém tenha "coisas nas mãos" com respeito à sua emoção, tendo toda sorte de desejos
e expectativas que o distraem. Ele quer e deseja muitas coisas. Tem muitas coisas nas mãos. Quando
Deus precisa dele, ele não tem emoções sobrando, porque gastou todas. Se gastou todas as emoções dos
últimos dois dias, será incapaz de sentir ou dizer algo pelos próximos dois dias. As emoções são
limitadas; não podemos dispor delas interminavelmente.

Alguns têm muita força de vontade, são muito determinados. Podemos pensar que eles têm força
ilimitada na vontade. Mas até mesmo a pessoa mais forte tem vontade hesitante quando a questão é tomar
uma decisão diante do Senhor. Ela irá perguntar-se se uma escolha é tão boa quanto outra. Pode parecer
uma pessoa forte, mas quando se trata do verdadeiro exercício de vontade no caminho de Deus, ele não
consegue decidir. Muitos gostam de expressar opiniões. Eles têm opinião a respeito de tudo. Agora têm
uma opinião, daqui a um minuto têm outra. Nunca lhes faltam opiniões. Mas quando se trata de fazer um
julgamento em relação à vontade de Deus , são muito hesitantes. Estão perdidos e não conseguem decidir,
porque o seu homem exterior está cheio de "coisas nas mãos". Há coisas demais diante dos olhos e nas
mãos. Toda a sua pessoa é absorvida por essas coisas e toda a força do seu homem exterior já foi usada e
se acabou.
Temos de ver que a força do homem exterior é limitada. Desde que tenhamos coisas nas mãos, nosso
homem exterior estará amarrado.

O ESPÍRITO USA O HOMEM EXTERIOR QUANDO ESTE ESTÁ QUEBRANTADO


Se o nosso homem exterior estiver amarrado, nosso espírito também estará amarrado. O espírito não
pode desconsiderar o homem exterior para operar nos outros. Deus nunca desconsidera o espírito do
homem quando o Seu Espírito opera nos outros. Esse é um princípio muito importante e precisamos ter
clareza a respeito dele. O Espírito Santo nunca opera no homem sem a cooperação do homem, e nosso
espírito nunca pode operar nos outros sem a cooperação do nosso homem exterior. Nosso espírito tem de
passar através do homem exterior antes de poder operar nos outros. Se o nosso homem exterior está
ocupado com "coisas nas mãos" e gastou as suas forças, não podemos tomar parte na obra de Deus. Se
nosso espírito não tiver como prosseguir, o Espírito Santo também não terá. O homem exterior pode
bloquear o caminho do homem interior. O homem exterior pode impedir que o homem interior saia. Por
isso, insistimos tanto no quebrantamento do homem exterior.
Uma vez que o homem exterior tenha coisas nas mãos, o homem interior não tem como sair e a obra
de Deus é impedida. Coisas nas mãos referem-se ao que está presente antes da obra de Deus entrar em
cena. Em outras palavras, coisas nas mãos são o que não se relaciona a Deus. Essas coisas se perpetuam
sem o comando, o poder e a ordenação de Deus. Não estão sob a mão de Deus; antes, são independentes.
Deus tem de quebrar o homem exterior antes que possa usar o homem interior. Ele precisa quebrar o
nosso amor antes que possa usá-lo para que amemos os irmãos. Se o homem exterior não for
quebrantado, ainda estaremos fazendo as nossas próprias coisas, tomando o nosso próprio caminho e
amando as nossas próprias preferências. Deus precisa primeiro quebrar nosso homem exterior para então
usar o nosso amor "quebrado" para amar os irmãos, para que o nosso amor se expanda. Uma vez
quebrantado o homem exterior, o homem interior é liberado. O homem interior deve amar, mas deve
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fazê-lo por meio do homem exterior. Se o homem exterior tiver coisas nas mãos, o homem interior não
terá como atravessar essa barreira.
A nossa vontade é forte; e não só forte, mas também teimosa. Quando nosso homem interior precisa
da vontade, não consegue achá-la, pois ela se tem movido totalmente por conta própria e tem muitas
coisas nas mãos. Deus precisa dar-nos um golpe forte, precisa esmagar a nossa vontade e humilhar-nos
tanto que sejamos forçados a dizer, com rosto em terra: "Senhor, não ouso pensar, não ouso pedir, não
ouso decidir. Preciso de Ti em tudo". Precisamos ser feridos ao ponto de a nossa vontade não conseguir
mais agir independentemente. Só então o homem interior pode apossar-se da vontade e usá-la.
Se o homem exterior não estiver disponível, o homem interior estará desempregado. Será que
poderíamos pregar o evangelho sem um corpo físico? Como podemos pregar sem a boca? E verdade que
precisamos do espírito para pregar, mas também precisamos da boca. Que a pessoa pode fazer se só tem o
espírito mas não tem a boca? Em Pentecostes houve a obra do Espírito Santo, mas também houve a
dispensação do dom de falar. Sem o falar não temos a palavra para liberar e explicar a Palavra de Deus.
Se o homem não fala, Deus não tem como falar. A palavra do homem certamente não é a palavra de
Deus, mas a palavra de Deus é transmitida por meio da palavra do homem. Se o homem não falar, não
haverá palavra de Deus; precisa haver a palavra do homem para que haja a palavra de Deus.
Suponha que um irmão esteja preparando-se para falar a palavra de Deus. Ele pode ter a palavra e
também um encargo no espírito, e o encargo pode ser muito forte. Mas se não tiver os pensamentos
adequados, o seu encargo nunca poderá ser liberado. Por fim, até o seu encargo desaparecerá. Não
desprezamos o encargo, mas mesmo que o nosso espírito esteja cheio de encargo, esse encargo será inútil
e estará trancado se a nossa mente não for frutuosa. Não conseguimos salvar os homens unicamente com
encargo. O encargo no espírito tem de ser liberado através da mente. Mesmo tendo encargo no interior,
ainda precisamos da boca. Ainda precisamos da voz e do auxílio do corpo. O problema que ocorre hoje é
que, enquanto o homem interior está disponível para receber o encargo de Deus, a mente no homem
exterior está muito ocupada e confusa. Da manhã até a noite ela está dando as próprias sugestões e
expressando as próprias opiniões. Sob tais circunstâncias o espírito não tem como sair.
Hoje, o Espírito de Deus precisa ser liberado por meio do homem. O amor do homem precisa estar
disponível para que os outros vejam o amor de Deus. Os pensamentos do homem precisam estar
disponíveis para que os outros vejam os pensamentos de Deus. Precisa haver a decisão do homem para
que os outros toquem na vontade de Deus. Mas o problema do homem é que o seu homem exterior está
ocupado demais com as próprias coisas. Ele tem os próprios pontos de vista, os próprios pensamentos.
Está ocupado demais consigo mesmo. O resultado é que o homem interior não tem como ser liberado.
Essa é a razão pela qual Deus precisa quebrantá-lo. Isso não quer dizer que a vontade precise ser
aniquilada, e, sim, que "as coisas nas mãos", isto é, na vontade, precisam ser removidas para que a
vontade não mais aja independentemente. Não quer dizer que os pensamentos precisem ser aniquilados, e,
sim, que não mais iremos pensar segundo nós mesmos nem aparecer com toda sorte de idéias ou ser
distraídos em nossa própria mente vagante. Não quer dizer que a emoção será aniquilada, e, sim, que
estará sob o controle e direção do homem interior. Dessa forma o homem interior encontrará uma mente,
emoção e vontade disponíveis para ser usadas.
O espírito necessita de uma mente, emoção e vontade para se expressar. Ele precisa de um homem
exterior vivo para se expressar, e não de um homem exterior morto. Precisa de um homem exterior
golpeado, ferido e quebrantado. Não de um homem exterior hermético e que não foi tocado. Hoje o maior
obstáculo está em nós. O Espírito de Deus não consegue passar através de nós. O Seu Espírito habita em
nosso espírito, entretanto, não consegue sair dali. Nosso homem exterior está cheio demais, cheio de
coisas nas mãos. Precisamos pedir a misericórdia para que o homem exterior seja quebrantado e o homem
interior tenha como sair.
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Deus não destrói o nosso homem exterior, mas também não irá deixá-lo intacto e não quebrantado.
Ele quer passar através dele. Quer que o nosso espírito ame, pense e tome decisões por meio do homem
exterior. A obra de Deus só pode ser realizada por meio de um homem exterior quebrantado. Se
quisermos servir a Deus, precisamos que Ele lide conosco de maneira fundamental. Se o nosso homem
exterior não for quebrantado, o Senhor não terá caminho por meio de nós. Ele precisa irromper do nosso
homem exterior para alcançar as pessoas.
Antes de o homem exterior ser quebrantado, o homem interior e o homem exterior são opostos entre
si. Cada um é uma pessoa completa. O homem exterior é completo e independente, é livre e cheio de
coisas nas mãos. Enquanto isso, o homem interior está aprisionado. Depois que o homem exterior for de
fato quebrantado, não mais agirá independentemente; não estará destruído, mas não mais se oporá ao
homem interior, antes, a ele se submeterá. Dessa forma só restará uma pessoa em nós. O homem exterior
estará quebrado em pedaços e pronto para o homem interior usá-lo.
Aqueles cujo homem exterior foi quebrantado são homens "unificados". O seu homem exterior está
sob controle do homem interior. Uma pessoa que não foi salva também é alguém "unificado", mas os
papéis dos dois homens estão invertidos: o seu homem interior é controlado por seu homem exterior.
Uma pessoa que não é salva tem um espírito, mas o seu homem exterior é tão forte que o seu homem
interior está completamente subjugado. No máximo o homem interior consegue emitir algum protesto na
consciência. O homem interior do incrédulo está completamente vencido e dominado pelo homem
exterior. Depois de salvo, ele deve inverter tudo. O homem exterior deve ser completamente esmagado e
estar plenamente sob o controle do homem interior. Assim como no incrédulo o homem exterior domina o
homem interior, nós, crentes, devemos inverter as coisas e permitir que o homem interior assuma o
controle do homem exterior. Ao andar de bicicleta podemos estar em duas situações: ou as rodas agem
sobre a estrada ou a estrada age sobre as rodas. No plano, as pernas pedalam e as rodas agem sobre a
estrada. Numa descida, as pernas não precisam trabalhar, as rodas andam por si, e nesse caso, a estrada,
isto é, a descida, age sobre as rodas. Quando nosso homem interior é forte e o homem exterior está
quebrantado, as "rodas agem sobre a estrada", isto é, nós decidimos quando e com que velocidade
queremos andar. Mas se o homem exterior é teimoso e não foi quebrantado, é como andar de bicicleta
numa descida: a descida age sobre as rodas. As rodas girarão por si, e não podemos fazer nada a respeito.
Isso é o que acontece quando o homem exterior controla o homem interior.
O que determina se alguém é útil diante do Senhor é se o seu espírito pode ser liberado através do seu
homem exterior. Quando o homem interior está amarrado, o homem exterior faz tudo por si mesmo, age
independentemente, isto é, as rodas giram por si só. Pela graça do Senhor, quando Ele nivela as descidas
e quebra o homem exterior, este não mais dá sugestões nem toma decisões. Quando isso acontece, o
homem interior é liberado, fica sem nenhum impedimento por parte do homem exterior. Se o Senhor nos
conceder a graça de quebrantar o nosso homem exterior, nós nos tornaremos peritos em exercitar o
espírito e seremos capazes de liberá-lo sempre que quisermos.

A PESSOA, ENÃO AS DOUTRINAS


Não nos qualificamos para a obra do Senhor simplesmente aprendendo algumas doutrinas. O
problema básico é a nossa própria pessoa. A nossa pessoa é o meio pelo qual levamos a cabo a obra. A
questão é se passamos pela disciplina de Deus ou não. Se as doutrinas certas são confiadas à pessoa
errada, que pode ser ministrado à igreja? A lição básica é fazer de nós vasos úteis. Para que isso aconteça
o nosso homem exterior precisa ser quebrantado.
Deus tem trabalhado em nós por todos esses anos. Embora nós mesmos não tenhamos muita clareza a
respeito dessa obra, Deus tem levado a cabo esse quebrantamento dia após dia. Temos passado por
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sofrimentos e dificuldades há anos. De tempos em tempos a mão de Deus tem nos barrado. Queremos ir
por um caminho, mas Deus não nos deixa ir por ali. Queremos ir por outro caminho, e Ele nos barra
novamente. Se não O virmos operando por meio da obra conjunta de todas essas circunstâncias,
precisamos orar: "Deus! Abre meus olhos para que eu veja a Tua mão". Os olhos da jumenta
freqüentemente são mais aguçados do que os olhos do que se diz profeta. A jumenta viu o anjo do Senhor,
mas o que se dizia profeta2 não. A jumenta percebe a mão de impedimento de Deus, mas o que se diz
profeta nada a ignora. Precisamos perceber que o quebrantamento é a maneira de Deus lidar conosco. Por
anos Deus tem tentado quebrantar o nosso homem exterior. Ele tem tentado esmagar-nos para que não
permaneçamos intactos. Infelizmente, muitos acham que o que lhes falta são doutrinas. Desejam poder
ouvir mais doutrinas, obter mais idéias para pregar e entender mais exposições da Bíblia. Mas esse
caminho é totalmente errado. A mão de Deus faz uma só coisa em nós — quebrantar-nos. Não podemos
ter a nossa maneira, devemos seguir a maneira de Deus. Não podemos ter os nossos pensamentos,
devemos tomar os pensamentos de Deus. Não podemos ter as nossas decisões, devemos tomar as decisões
de Deus. Ele tem de nos quebrar totalmente. O nosso problema é que, enquanto Ele nos pára de tempos
em tempos, nós culpamos isso ou aquilo pelo bloqueio. Somos como o profeta que não viu a mão de
Deus e culpa a "jumenta" por ter parado.
Tudo que surge no caminho é significativo e está sob o arranjo soberano de Deus. Para o cristão nada
acontece por acaso. Nada está fora da ordenação de Deus. Precisamos humilhar-nos sob os arranjos
soberanos de Deus. Que o Senhor nos abra os olhos para que vejamos que Deus está arranjando tudo à
nossa volta pois tem um objetivo para nós. Ele usa todas as coisas para nos quebrar. Um dia quando o
Senhor nos conceder a Sua graça, nós de bom grado aceitaremos todos os arranjos que Ele coloca em
nosso ambiente. O nosso espírito será liberado e seremos capazes de usá-lo.

UMA LEI, E NÃO UMA QUESTÃO DE ORAÇÃO


Ao lidar conosco e ao quebrar-nos para a liberação e exercício do espírito, Deus opera de acordo com
a Sua lei, e não de acordo com a nossa oração. Que queremos dizer com isso? Queremos dizer que a
liberação do homem interior através do homem exterior quebrantado é uma lei. Não é algo que obtemos
por meio de oração.
Uma lei não pode ser alterada por meio de oração. Se colocarmos a mão no fogo enquanto oramos, ela
sofrerá queimaduras. (Aqui não estamos falando de milagres, mas de uma lei da natureza.) A nossa
oração não muda a lei. Precisamos aprender a obedecer a lei de Deus. Não pense que só orar será
suficiente. Se não queremos que a nossa mão sofra queimaduras, não devemos colocá-la no fogo. Não
devemos orar e ao mesmo tempo colocá-la no fogo. Deus lida conosco de acordo com as leis. O homem
interior só pode ser liberado por meio do homem exterior. Isso é uma lei. Se o homem exterior não for
quebrado e reduzido a pó, o homem interior não será liberado. Essa é a maneira do Senhor. Ele precisa
quebrar-nos para ter saída através de nós. Jamais devemos desafiar essa lei ao orar por essa ou aquela
bênção. Esse tipo de oração não funciona. A nossa oração não consegue mudar a lei de Deus.
O caminho para uma obra espiritual verdadeira é Deus ser liberado através de nós. Esse é o único
caminho que Deus irá tomar. Se o homem não for quebrantado, o evangelho não passará através dele e
Deus não poderá usá-lo. Ele não terá como prosseguir. Precisamos de fato prostrar-nos. Submeter-se à lei
de Deus é melhor do que muitas orações. Um minuto de revelação a respeito da maneira de o Senhor agir
é melhor do que uma súplica incessante e ignorante pelas bênçãos de Deus e pela Sua ajuda em nossas
obras. É melhor parar com essas orações e dizer ao Senhor: "Eu me humilho diante de Ti". A nossa
oração pedindo bênçãos freqüentemente não passa de um empecilho para Deus. Sempre anelamos por
bênçãos, mas nem ao menos achamos misericórdia. Precisamos pedir luz. Precisamos aprender a nos
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humilhar sob a Sua mão e obedecer a essa lei. Quando há obediência também há bênção.

Capítulo Quatro

COMO CONHECER AS PESSOAS

É crucial para um obreiro do Senhor ser capaz de conhecer as pessoas. Quando alguém vem a nós,
precisamos discernir a sua condição espiritual. Precisamos saber que tipo de pessoa ele era e que tipo de
pessoa se tornou agora. Precisamos saber o que está dizendo com a boca e o que de fato está dizendo no
coração, e qual é a diferença entre os dois. Precisamos saber o que está tentando esconder de nós.
Precisamos saber também quais são as suas características marcantes, se é teimoso ou humilde, e se a sua
humildade é real ou artificial. A eficácia da nossa obra depende muito da nossa habilidade de discernir a
condição espiritual das pessoas. Se o Espírito de Deus mostrar ao nosso espírito a condição dos que vêm a
nós, poderemos falar-lhes algo adequado.
Nos evangelhos, sempre que as pessoas iam ao Senhor, Ele lhes falava algo adequado. Ê
impressionante! Para a mulher samaritana o Senhor não falou sobre a verdade da regeneração, nem sobre
a água viva para Nicodemos. A palavra sobre regeneração era para Nicodemos, e sobre a água viva era
para a mulher samaritana. Tudo adequado! Para os que nunca O haviam seguido Ele fez um chamamento.
Para os que queriam segui-Lo, falou de tomar a cruz. Para os que se ofereceram voluntariamente, falou
sobre considerar o preço a pagar. Para os que estavam hesitantes em segui-Lo, falou de deixar aos mortos

o enterrar os mortos. O Senhor tem uma palavra adequada para cada um, porque conhece cada um. Se
alguém vem a Ele com um coração de busca ou simplesmente por curiosidade, Ele o sabe. Por isso a Sua
palavra é eficaz e adequada para cada ocasião. O nosso Senhor está muito à nossa frente ao lidar com as
pessoas. Nós O seguimos de longe. Mas mesmo seguindo-O de longe, ainda precisamos segui-Lo; a
direção tem de ser a mesma. Que o Senhor tenha misericórdia de nós para que aprendamos a conhecer as
pessoas assim como Ele as conhece.
Se colocarmos uma alma nas mãos de um irmão que não tem nenhum discernimento das pessoas, ele
não saberá como ajudá-la, pois apenas falará segundo a sua subjetividade. Se em certo dia ele tiver um
sentimento, falará dele a todas as pessoas que encontrar. Se tem um assunto preferido, falará dele para
todas as pessoas. Como é que alguém assim pode realizar uma obra eficaz? Nenhum médico pode receitar
o mesmo remédio para todos os pacientes. Infelizmente, alguns servos de Deus só têm uma receita. Não
entendem as doenças dos outros, entretanto, tentam curá-los. Não conhecem o problema, não sabem da
complexidade do homem e nunca aprenderam a discernir a condição espiritual das pessoas. No entanto,
agem como se tivessem o tratamento certo para cada um. Isso realmente é tolice. Não podemos achar que
curaremos todas as doenças espirituais com apenas uma receita espiritual. Ê absolutamente impossível.
Não devemos pensar que os que são vagarosos para sentir terão dificuldades para discernir as pessoas,
e os que tem uma mente ágil terão facilidade. Nem uma coisa nem a outra tem a ver com discernir a
condição espiritual das pessoas. Não podemos discerni-las com a mente nem com os sentimentos. A
despeito de quão brilhante seja a mente, não conseguimos, por meio dela, trazer à luz as coisas ocultas
das pessoas nem podemos tocar as profundezas da sua condição.
Quando um obreiro contata alguém, a primeira coisa a fazer, e a mais básica, é descobrir a sua
verdadeira necessidade diante de Deus. Às vezes até mesmo a própria resposta da pessoa não é confiável.
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Quando ela diz que tem uma dor de cabeça, será que realmente quer dizer que apenas a sua cabeça dói?
Talvez a dor de cabeça seja um mero sintoma. A sua doença pode não ser na cabeça. Ou então ela pode
dizer que se sente febril, mas isso não necessariamente significa que esteja com febre. A pessoa pode
dizer muitas coisas, mas talvez o que ela diga não seja tão confiável. Pouquíssimos pacientes realmente
sabem o que está errado com eles. Não sabem que doença têm. Precisam de nós para diagnosticá-la e
dizer-lhes o que necessitam. Se quisermos que nos digam o que está errado com eles, creio que não
saberão fazê-lo corretamente. Somente os que estudaram medicina, isto é, os que estão treinados em
discernir problemas espirituais, é que podem dizer o que eles precisam.
Quando fazemos um diagnóstico, precisamos saber do que falamos. Não podemos impor um
diagnóstico aos outros. Alguém subjetivo insistirá em que tal pessoa tem tal doença que ele imagina. Ele
então irá impor a doença sobre a pessoa. Quando alguém está doente ou em dificuldades, não consegue
identificar o seu problema, por isso precisamos mostrar-lhe o problema. Entretanto, não devemos insistir
em nosso diagnóstico de maneira subjetiva.
Ajudar os irmãos depende de se conseguir identificar os seus problemas e dar-lhes a receita adequada.
Se o nosso diagnóstico estiver correto, poderemos ajudá-los. Às vezes descobrimos que o problema está
fora da nossa capacidade, mas pelo menos uma linha de ação básica está clara. Algumas condições
espirituais estão dentro da nossa capacidade de ajudar, enquanto outras estão fora. Não devemos ser tolos
ao ponto de achar que podemos fazer tudo e ajudar em qualquer caso. Alguns casos estão dentro da nossa
capacidade de ajudar e devemos dar todo o nosso ser para ajudá-los. Outros estão fora; nesse caso
devemos dizer ao Senhor: "Isso está fora do meu alcance. Não consigo tratar dessa doença. Nunca fui
treinado nessa questão e não consigo lidar com esse problema. Senhor sê misericordioso com essa
pessoa!" Talvez nos lembremos da função específica de alguns membros do Corpo e então percebamos
que isso é algo que aquele irmão ou irmã pode fazer. Podemos então levar a questão a ele ou a ela.
Conhecemos as nossas limitações e sabemos que isso é tudo que podemos fazer. Não devemos pensar que
podemos assumir toda obra espiritual; não podemos monopolizar tudo. Precisamos ver as nossas
limitações. Ao mesmo tempo, precisamos conhecer o suprimento que há nos outros membros. Devemos
ser capazes de dizer: "Isso está além das minhas possibilidades. É uma tarefa para você". Esse é o princípio
de cooperar juntos, o princípio do Corpo. Nunca devemos mover-nos independentemente.
Todo obreiro do Senhor e servo de Deus precisa aprender a conhecer as pessoas. Os que não
conhecem a condição espiritual dos outros não estão qualificados para a obra. É uma pena que o bem-
estar espiritual de muitos esteja arruinado nas mãos de irmãos inexperientes. Tais irmãos não prestam
nenhuma ajuda aos outros; apenas lhes impõem os seus pontos de vista subjetivos e assim não lhes
atendem as necessidades objetivas. Esse é o nosso problema mais sério. As pessoas não têm certa doença
espiritual simplesmente porque achamos que essa é a doença que têm. Independentemente da sua
condição espiritual, elas são o que são; a nossa responsabilidade é descobrir a condição espiritual delas.
Se não formos bem equilibrados, não seremos capazes de ajudar os outros filhos de Deus.

O INSTRUMENTO PARA CONHECER AS PESSOAS


Para fazer um diagnóstico, um médico necessita de muitos instrumentos. Nós, porém, não temos
nenhum instrumento. Não temos termômetros nem aparelhos de raios X. Não temos nenhum instrumento
físico para medir a condição espiritual dos outros. Como então podemos decidir se um irmão está doente
ou não? Como podemos diagnosticar isso? É aí que entra a obra de Deus. Ele precisa transformar todo o
nosso ser no padrão de medida. Ele precisa trabalhar em nós a ponto de que possamos avaliar os outros
para determinar se a pessoa está enferma e também qual é a natureza da sua enfermidade. É assim que o
Senhor nos usa. Esse trabalho é muito mais difícil do que o de um médico. Precisamos ter profunda
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percepção da nossa séria responsabilidade.
Suponha que o médico não tenha termômetro. Ele então teria de usar a mão para tocar o paciente e
assim determinar se ele está com febre ou não. A mão teria de funcionar como termômetro. Se fosse
assim, a mão teria de ser muito sensível. E não só isso, também teria de ser muito precisa. È exatamente
isso que acontece na questão espiritual. Nós somos os termômetros, nós somos os instrumentos médicos.
Por isso precisamos passar por treinamentos e tratamentos rígidos. Tudo o que permanece intocado em
nós permanecerá intocado nos outros também. Não podemos esperar ajudar os outros em áreas nas quais
nós mesmos não aprendemos lições. A primeira coisa que precisamos ver é se aprendemos a lição diante
do Senhor. Quanto mais completa for a nossa aprendizagem das lições diante do Senhor, mais úteis
seremos para a obra de Deus. Quanto menos aprendermos, isto é, quanto menos preço pagarmos e mais
nos agarrarmos a nós mesmos, ao nosso orgulho, à nossa estreiteza, às nossas opiniões e ao nosso prazer,
menos úteis seremos. Se preservarmos e salvarmos essas coisas em nós, seremos incapazes de lidar com
elas nos outros. Uma pessoa orgulhosa não consegue ajudar alguém orgulhoso. Uma pessoa mesquinha
não pode ajudar alguém mesquinho. Uma pessoa falsa não pode ajudar alguém falso. Uma pessoa
relaxada não pode lidar com alguém relaxado. Se somos determinado tipo de pessoa e temos medo de
condenar essa enfermidade nos outros, seremos incapazes de saber se os outros têm uma enfermidade
semelhante, muito menos de ajudá-los. Um médico pode curar os outros e não curar a si mesmo, mas nas
coisas espirituais isso não funciona. Primeiramente o obreiro é o paciente: ele precisa ser curado para
poder curar os outros que tenham a mesma enfermidade. Ele não pode levar os outros a ver o que ele
mesmo ainda não viu. Não pode fazer os outros experimentar o que ele mesmo não experimentou. Não
pode fazer os outros aprender lições que ele mesmo não aprendeu.
Precisamos ver, diante do Senhor, que somos os próprios instrumentos que Deus usa para discernir os
homens. Portanto a nossa própria pessoa tem de ser muito confiável. Os nossos sentimentos e juízos
precisam ser muito confiáveis. A fim de que os nossos sentimentos sejam confiáveis, precisamos orar:
"Senhor! Não desistas de mim". A fim de que os nossos sentimentos se tornem confiáveis, precisamos
permitir que Deus opere em nós coisas que nunca imaginávamos. Precisamos deixa-Lo trabalhar em nós
até que nos tornemos úteis para Ele. Se um termômetro não mede corretamente a temperatura, o médico
não poderá usá-lo. Ele precisa ser confiável e preciso. Ao identificar os problemas espirituais dos outros,
estamos enfrentando um problema mais sério do que identificar doenças físicas. No entanto, nós temos os
nossos próprios pensamentos, sentimentos, opiniões e maneiras. Num momento tentamos uma coisa, no
minuto seguinte tentamos outra. Por não sermos confiáveis e sermos inúteis, precisamos passar pelo lidar
de Deus para nos tornarmos úteis.
Será que percebemos o peso da nossa responsabilidade? O Espírito de Deus não opera diretamente
sobre as pessoas. Ele somente opera por meio de alguns homens. Embora a disciplina do Espírito
realmente dê à pessoa o que ela necessita, Deus opera por meio do falar dos ministros, isto é, do
ministério da palavra. Sem o ministério da palavra, os problemas espirituais dos irmãos permanecerão.
Essa responsabilidade está sobre nós. É uma questão muito séria. O fato de a nossa pessoa poder ser
usada diretamente por Deus, ou não, afeta o suprimento que chega à igreja.
Suponha que determinada enfermidade sempre resulte numa febre de 39,5 graus centígrados. Não
podemos colocar a mão sobre o paciente e dizer: "Grosso modo podemos dizer que está com 39,5 graus".
Precisamos ser bem precisos e estar certos de que realmente são 39,5 graus, antes de dizer que ele tem
uma doença associada a essa temperatura. Deus está usando-nos, usando a nossa pessoa, para
diagnosticar a enfermidade dos outros. É muito arriscado diagnosticar os problemas dos outros se os
nossos sentimentos, pensamentos, opiniões ou entendimentos espirituais estão errados ou se não
aprendemos o suficiente do Senhor. Mas se somos pessoas precisas e confiáveis, aqueles nos quais Deus

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pode confiar, o Seu Espírito fluirá de nós.
O início de toda obra espiritual está baseado na nossa contínua calibragem diante do Senhor. Um
termômetro deve ser fabricado segundo certas especificações. Ele precisa ser cuidadosamente aferido em
relação ao padrão, para então poder fornecer leituras confiáveis e precisas. Somos como esse termômetro.
Se não formos precisos, só traremos confusão. Para ser precisos, precisamos ser calibrados por meio de
tratamentos refinados. Somos os médicos e também os instrumentos. Assim sendo, precisamos aprender
as nossas lições adequadamente.

A MANEIRA DE CONHECER OS HOMENS — DO LADO DO PACIENTE


Para conhecer a condição do paciente, precisamos considerar essa questão de dois lados: do lado do
paciente e do nosso.
Do lado do paciente: como determinar a sua enfermidade? Se queremos saber a enfermidade de
alguém precisamos descobrir o ponto mais saliente e incomum dele. O ponto incomum é o ponto mais
óbvio. Por mais que tente escondê-lo, ele não consegue fazê-lo. Alguém orgulhoso é encontrado em seu
orgulho. Mesmo agindo humildemente, a sua humildade ainda expõe o seu orgulho. Ele não consegue
escondê-lo. Alguém triste transmite a sua tristeza até mesmo quando sorri. O tipo de pessoa que somos
dita o tipo de expressão que mostramos e o tipo de impressão que damos aos outros. Isso é um fato.
A Bíblia descreve a condição espiritual do homem de muitas formas. Alguns têm um espírito de ira,
outros, de teimosia ou um espírito contrito. Na verdade, podemos usar todos os tipos de palavras para
descrever a condição espiritual do homem. Podemos dizer que a pessoa tem um espírito fútil ou um
espírito oprimido etc. Qual é a fonte de todas essas condições espirituais? Por exemplo: quando dizemos
que o espírito é teimoso, donde vem essa teimosia? Quando dizemos que o espírito é orgulhoso, donde
vem esse orgulho? Quando dizemos que o espírito é selvagem, donde vem essa selvageria? Um espírito
normal não tem nenhuma característica própria. Não tem nenhuma característica, a não ser a de
manifestar o Espírito de Deus. Falamos de um espírito teimoso, orgulhoso, arrogante, que não perdoa, de
inveja etc, porque o homem exterior não foi separado do homem interior. A condição do homem exterior
é a condição do homem interior. Quando dizemos que um espírito é teimoso, queremos dizer que o
homem interior da pessoa assumiu as características do homem exterior teimoso. Quando dizemos que
um espírito é orgulhoso, queremos dizer que o homem interior da pessoa foi coberto pelo homem exterior
orgulhoso. Quando dizemos que um espírito é invejoso, queremos dizer que o homem interior da pessoa
foi escondido pela inveja do homem exterior. Isso ocorre quando o homem exterior e o homem interior
não estão separados. O espírito em si não tem característica própria, mas as características do homem
exterior se tornaram as do espírito. Quando o homem exterior não está quebrantado, o espírito assume as
características dele.
O espírito é de Deus e não tem característica própria. Mas quando o nosso homem exterior é de
natureza peculiar, o espírito é afetado. O espírito pode ser orgulhoso ou teimoso porque a condição do
homem exterior está misturada com o espírito quando o homem exterior não foi quebrantado. Quando o
espírito é liberado, a condição do homem exterior apega-se ao espírito e é liberada juntamente com ele. O
orgulho de alguém apega-se ao seu espírito e é liberado também. A teimosia de alguém apega-se ao seu
espírito e é liberada também. A inveja de alguém apega-se ao seu espírito e é liberada também. A
experiência nos mostra que é por isso que temos espíritos orgulhosos, teimosos e invejosos.
Rigorosamente falando, essas não são características do espírito em si, e, sim, do homem exterior. Assim,
para ter um espírito limpo, a pessoa não necessita lidar com ele; apenas precisa lidar com o seu homem
exterior. O problema não está no espírito, mas no homem exterior. As características que o homem
expressa quando o espírito é liberado nos mostram as áreas nas quais ele ainda não foi quebrado. O tipo
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de espírito que tocamos numa pessoa identifica as características do seu homem exterior. Também nos
diz as áreas nas quais ele permanece intocado. Ele passou essas coisas ao seu espírito, apegando-se a elas
e anexando-as a ele. O resultado é que ele está preso e escondido com as muitas características do homem
exterior.
Se soubermos como tocar o espírito dos outros, saberemos a necessidade deles, porque o segredo de
se conhecer o homem é tocar o seu espírito. Precisamos tocar exatamente aquilo que vem junto com o
espírito da pessoa. Não estou dizendo que o próprio espírito tenha algo que precisemos tocar. O que
quero dizer é que ele sempre carrega algo consigo. Conhecer a condição do espírito de alguém significa
conhecer a condição do seu homem exterior. Temos de repetir: esse é o princípio básico ao se conhecer
alguém. A condição do espírito da pessoa é a condição do seu homem exterior. O que quer que 0 espírito
manifeste é reflexo do estado do homem exterior. As características do espírito são as do homem exterior.
Determinado irmão talvez seja muito forte e notável em determinado ponto, o qual chama a nossa atenção
assim que entramos em contato com ele. É a primeira coisa que tocamos e sentimos, e imediatamente
sabemos que vem do seu homem exterior não quebrantado. Uma vez que tocarmos o seu espírito,
conheceremos a sua condição e saberemos o que ele está tentando mostrar, bem como o que ele está
tentando esconder. Conhecemos uma pessoa conhecendo o seu espírito.

A MANEIRA DE CONHECER OS HOMENS — DO NOSSO LADO


O que temos de fazer para conhecer a condição do espírito do homem? Precisamos dar atenção
especial a esse ponto. Toda disciplina que recebemos do Espírito Santo é uma lição da parte de Deus.
Sempre que o Espírito Santo nos disciplina, somos mais quebrantados. Ao receber mais disciplina,
experimentamos mais quebrantamento. Na questão em que recebemos a disciplina do Espírito Santo
somos quebrantados. Essa disciplina e quebrantamento não ocorrem de uma vez por todas. Muitas áreas
da nossa vida necessitam repetidamente de disciplina e quebrantamento antes de nos tornarmos úteis ao
Senhor. Quando descobrimos que podemos tocar certo irmão com nosso espírito, não devemos achar que
agora podemos tocar qualquer irmão, nem que podemos tocar todos os aspectos daquele irmão. Mas por
termos sido disciplinados pelo Espírito Santo e quebrantados em determinado aspecto, podemos tocar o
irmão nesse mesmo aspecto. Se não fomos quebrantados pelo Senhor em certa questão e o nosso espírito
é insensível ou improdutivo nela, não podemos ministrar visando à necessidade do irmão. Em outras
palavras, a sensibilidade espiritual que temos é proporcional à disciplina que recebemos do Espírito
Santo. Quanto mais quebrantamento recebermos, mais o nosso espírito estará liberado. Na questão em
que experimentarmos o quebrantamento é que o nosso espírito será liberado. Esse é um fato espiritual,
não se pode forjá-lo artificialmente. Se o temos, temos; se não o temos, não temos. Por isso é que
devemos aceitar a disciplina e o quebrantamento do Espírito Santo. Os que têm muita experiência
poderão servir muito. Somente os que passaram por muito quebrantamento é que ganharão muita
sensibilidade. Somente os que sofreram muitas perdas é que terão muito para dar aos outros. Se tentarmos
salvar-nos em determinada questão, perderemos a utilidade espiritual nela. Se tentarmos proteger-nos ou
justificar-nos em certa questão, perderemos a sensibilidade e o suprimento espiritual nela. Esse é um
princípio muito básico.
Somente os que aprenderam as suas lições é que podem tomar parte no serviço. Podemos aprender as
lições de dez anos em um ano, ou então podemos esticar as lições de um ano por vinte ou trinta anos. Se
atrasarmos o nosso aprendizado, atrasaremos o nosso serviço. Se Deus nos deu um coração para servi-Lo,
precisamos ter clareza a respeito do nosso caminho. O caminho do nosso serviço é o caminho do
quebrantamento. È um caminho ganho por meio da disciplina do Espírito Santo. É impossível que os que
nunca experimentaram tal disciplina e nunca foram quebrantados participem do serviço. O tanto de
23
disciplina do Espírito e o tanto que fomos quebrantados determinam o quanto podemos servir. Ninguém
pode mudar isso. Se alguém tem essa experiência, ele a tem. Se não a tem, não a tem. Afeição e sabedoria
humanas não têm lugar aqui. O grau da obra de Deus em nós determina a capacidade do nosso serviço.
Quanto mais Ele lidar conosco, mais conhecemos as pessoas. Quanto mais experimentamos a disciplina
do Espírito Santo, mais somos capazes de tocar os outros com o nosso espírito.
Fico muito triste ao ver muitos irmãos e irmãs com tanta falta de discernimento em vários itens
espirituais. Alguns itens são do Senhor, mas eles não o percebem. Outros itens são do homem natural,
mas eles também não se dão conta disso. Não percebem quando alguém está exercitando a força mental
ou trabalhando por meio da própria emoção. Não têm discernimento porque são muito pobres no
aprendizado. Deus nos deu o Seu Espírito de uma vez por todas, mas aprender lições em nosso espírito é
um esforço que dura toda a nossa vida. Quanto mais aprendemos, mais vemos. Assim que o Senhor nos
der um golpe forte em certa questão, imediatamente seremos alertados quando a mesma semente brotar
em outros irmãos. Ela não precisa desenvolver-se e se tornar uma grande planta, basta um pequeno broto
para que o detectemos. A extensão do trabalho de Deus em nós é a extensão pela qual ganhamos esse
discernimento. Sensibilidade espiritual é algo adquirido paulatinamente, aspecto por aspecto. Só podemos
ter a sensibilidade nos aspectos em que já fomos disciplinados. Suponha que alguém condene o orgulho
em sua mente. Ele pode até ser capaz de pregar sobre esse tema. Mas em seu espírito ele não sente quão
maligno é o orgulho. Quando alguém é orgulhoso, ele não se sente mal. Pelo contrário, ainda se sente
solidário com ele. Quando o Espírito de Deus trabalhar nele, então ele verá o que é o orgulho. Ele irá
experimentar o lidar de Deus e a própria questão de orgulho será queimada e eliminada dele. A próxima
vez que ele abrir a boca para condenar o orgulho, o ensinamento talvez seja o mesmo, mas uma diferença
básica será evidente. Assim que um espírito orgulhoso sair de algum irmão, ele irá sentir que algo está
errado. Na verdade, ele irá sentir-se muito mal, enfermo. O que ele aprendeu e viu com Deus lhe dará
uma sensação de enfermidade. Não há outra palavra que expresse melhor esse sentimento do que a
palavra enfermidade. Daí em diante, ele terá condições de servir esse irmão, porque conhece a sua
enfermidade. Ele mesmo já a teve e foi curado dela. Embora não possa dizer que foi totalmente curado,
pode dizer que foi um pouco curado. È assim que adquirimos o conhecimento espiritual.
Deus concede o Espírito Santo de uma vez por todas, mas adquirir sensibilidade espiritual é um
processo contínuo. Quanto mais aprendemos, mais sensibilidade espiritual adquirimos. Quanto menos
aprendemos, menos sensibilidade temos. Qual a vantagem que temos ao nos preservar? Os que procuram
salvar a própria vida a perderão. Se tentarmos safar-nos da dor em certa questão, perderemos a
oportunidade de ganhar o que o Senhor nos quer dar nessa mesma questão. Precisamos pedir ao Senhor
que não nos deixe sair da Sua mão. Que Ele trabalhe em nós vez pós outra. A coisa mais triste é ver o
Senhor trabalhar em nós uma, duas vezes, sem nenhum proveito. Muitas vezes somos ignorantes da obra
da mão do Senhor. Não prestamos atenção ao que Ele faz. Até mesmo nos opomos à Sua obra. Se a
pessoa tem pouco entendimento e discernimento espiritual é porque tem pouco aprendizado espiritual.
Que percebamos diante do Senhor que quanto mais Ele lidar conosco, mais conhecimento iremos adquirir
com respeito aos homens e com respeito a muitas coisas, e mais teremos para oferecer aos outros. Para
expandir a esfera de nosso serviço, precisamos expandir a esfera de nossas disciplinas. E impossível
expandir a esfera do serviço sem ter a esfera de disciplinas expandida.

ALGUNS ASPECTOS PRÁTICOS


Depois de o Senhor lidar conosco e de termos aprendido as lições básicas, o nosso espírito será
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liberado e seremos capazes de usá-lo para tocar outros, e também saberemos a condição deles. Aqui
devemos considerar alguns passos práticos do aprendizado de conhecer as pessoas.
A fim de tocar no espírito das pessoas, precisamos deixá-las falar. Naturalmente há alguns que
conseguem tocar o espírito das pessoas sem precisar esperar que elas abram a boca. Mas esses são raros.
Em geral precisamos esperar que as pessoas abram a boca. A Palavra de Deus diz que a boca fala a partir
da abundância do coração. Independentemente da intenção ou tática da pessoa, o que ela diz vem da
abundância do seu coração. Se é falsa, um espírito falso sairá dela. Se é invejoso, um espírito invejoso
sairá. Podemos tocar o espírito da pessoa ouvindo o que ela diz. Quando ela fala, não só devemos prestar
atenção ao que diz, mas à condição do seu espírito. Não conhecemos as pessoas apenas pelas suas
palavras, mas pelo seu espírito.
Quando o Senhor Jesus ia em direção a Jerusalém e dois discípulos viram os samaritanos rejeitando-
O, disseram: "Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu e consumi-los?" Uma vez que eles
abriram a boca, o espírito deles saiu. O Senhor disse: "Vós não sabeis de que espírito sois" (Lc 9:54-55).
Aqui Ele mostrou que o espírito da pessoa pode ser discernido ouvindo-se as suas palavras. Assim que as
palavras são proferidas, o espírito é exposto. A boca fala da abundância do coração. Qualquer que seja a
condição do coração, a boca a refletirá.
Ao ouvir os outros, não devemos prestar atenção apenas à sua história mas também ao seu espírito.
Suponha que dois irmãos estejam discutindo, e ambos dizem que o outro está errado. Como devemos
lidar com essa questão? Quando estourou a discussão, apenas os dois irmãos estavam ali. Nós não
sabemos o que aconteceu. Mas assim que abrem a boca, podemos descobrir algo, podemos conhecer o
espírito deles. Entre os cristãos, não se julga o erro segundo as falhas nos fatos, e, sim, pelos desvios do
espírito. Quando o irmão fala, podemos não saber se está errado segundo os fatos, mas podemos
imediatamente dizer se está errado no espírito. Talvez ele acuse os outros de difamação, mas o seu
próprio espírito está errado. Toda a questão depende do espírito. Uma pessoa errada no espírito está errada
não apenas nas coisas que faz, mas também em sua própria pessoa. Certo e errado diante de Deus são
determinados pelo espírito, e não meramente por fatos. Por isso, ao ouvir as pessoas precisamos tocar o
espírito delas. Na igreja muitos problemas estão relacionados ao espírito, e não aos fatos. Se julgarmos
todas as coisas de acordo com os fatos, levaremos a igreja para outra esfera. Estamos na esfera do
espírito, e não na dos fatos. Nunca devemos ser arrastados pelos fatos.
Se o nosso espírito está aberto, seremos sensíveis a todos os tipos de condições espirituais. As vezes
percebemos quando a pessoa tem o espírito fechado e amarrado. Nessas ocasiões precisamos discernir
com o nosso espírito e aprender a conhecê-la. Que façamos eco às palavras de Paulo: "Assim que, nós,
daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne" (2 Co 5:16). Não devemos conhecer as
pessoas segundo a carne; devemos conhecê-las pelo espírito. Uma vez que aprendamos essa lição básica,
temos como prosseguir na obra de Deus.

Capítulo Cinco
25
A IGREJA E A OBRA DE DEUS

Se verdadeiramente sabemos o significado da obra de Deus, então teremos de admitir que o homem
exterior realmente é um grande impedimento. Podemos dizer que Deus hoje é restringido pelo homem.
Os filhos de Deus precisam entender a função da igreja e o seu relacionamento com o poder de Deus e
Sua obra.

MANIFESTAÇÃO OU LIMITAÇÃO DE DEUS?


Houve um tempo em que Deus se confinou no corpo de um homem: Jesus de Nazaré. Essa carne
podia limitar Deus ou manifestar as Suas riquezas. Antes da encarnação as riquezas divinas não estavam
limitadas, mas, depois dela, a obra e o poder de Deus foram limitados a essa carne. Deus não quer fazer
nada sem essa carne. Ele quis ser limitado por ela. Naturalmente, a Bíblia nos mostra que Ele não era
limitado de nenhum modo por ela. Ela poderia tê-Lo limitado, mas não o fez. Antes, manifestou as Suas
riquezas de forma plena. As riquezas divinas se tornaram as riquezas dessa carne.
Deus Se colocou na carne quando da encarnação. Hoje Ele Se colocou na igreja. O Seu poder e obra
estão na igreja. No tempo dos quatro Evangelhos, Ele não fez nada sem a carne. Todas as Suas obras
foram confiadas ao Filho. Semelhantemente Ele confiou todas as Suas obras à igreja. Ele não faz nada
sem a igreja. Ele não opera independentemente; antes, trabalha exclusivamente por meio da igreja. Desde
o Pentecostes até hoje, a obra de Deus sempre foi levada a cabo por meio da igreja. Assim como Ele Se
confiou total, inequivocamente e sem reservas a uma pessoa: Cristo, Ele também Se deu total, inequívoca
e irrestritamente à igreja. Quão grande é a responsabilidade da igreja diante de Deus! Ela pode limitar a
obra divina, pode limitar a liberação de Deus.
Jesus de Nazaré era Deus. Deus foi manifestado Nele. Ele não limitou Deus, pois tudo, dentro e fora
Dele, fora tomado por Deus. As Suas emoções eram as de Deus. Os Seus pensamentos eram os de Deus.
Enquanto estava na terra, Ele não fez a Sua própria vontade, mas a Daquele que O enviou (Jo 6:38). O
Filho nada fez por Si próprio, Ele só fez o que viu o Pai fazer (5:19). Ele não dizia nada de Si próprio. O
que ouviu do Pai, isso Ele falou ao mundo (8:26). Nele vemos um homem ao qual Deus Se confiou. Deus
podia dizer que isso era o Verbo encarnado, Deus que se tornou homem de forma completa. Quando Deus
quis dispensar a Sua vida aos homens, esse homem podia reagir imediatamente: "Se o grão de trigo não
cair na terra e morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto" (Jo 12:24). Ele podia liberar a Sua
vida. Não se tornou um impedimento ou empecilho. Hoje Deus escolheu a igreja para ser o Seu vaso. Ele
colocou a Si mesmo, o Seu poder e a Sua obra na igreja. O Seu desejo é liberar-Se por meio dela. Ela é o
Seu oráculo, o vaso por meio do qual Ele manifesta o Seu poder e realiza a Sua obra. Se a igreja hoje
oferecer um caminho para Deus, o Seu poder e obra serão expressos. Senão, Deus será limitado.
O ensinamento fundamental dos Evangelhos é que Deus estava num homem, enquanto o ensinamento
fundamental das Epístolas é que Deus está na igreja. Os Evangelhos nos mostram que Deus estava apenas
num homem, somente em Jesus Cristo. As Epístolas nos mostram que Deus está apenas na igreja. Ele não
está em nenhuma organização ou congregação. Só podemos achá-Lo na igreja. Que os nossos olhos sejam
abertos para ver esse fato glorioso.
Uma vez que os nossos olhos tenham sido abertos a esse glorioso fato, espontaneamente os
levantaremos ao céu e diremos: "Deus meu, como Te tenho restringido!" Quando o Deus Todo-Poderoso
habitava em Cristo, Ele ainda era o Todo-Poderoso; Ele não estava limitado nem diminuído de nenhuma
forma. A esperança e o alvo de Deus hoje é de, na igreja, continuar sendo o Todo-Poderoso, o Infinito.
Ele deseja expressar-Se livremente na igreja assim como Se expressava em Cristo. Se a igreja é restrita,
26
Deus é restringido. Se ela não tem poder, Deus não tem poder. Isso é muito sério. Só podemos falar isso
de forma humilde e respeitosa. Resumindo, qualquer obstáculo em nós torna-se um obstáculo para Deus.
Qualquer limitação em nós torna-se uma limitação para Deus. Se Ele não é liberado por meio da igreja,
não tem como prosseguir. O caminho de Deus hoje é por meio da igreja.
Por que a disciplina do Espírito Santo é tão importante? for que dividir alma de espírito é tão
importante? Por que o homem exterior tem de ser quebrado pela obra disciplinadora Ti Espírito? É
porque Deus precisa ter um caminho por meio de nós. Não devemos pensar que se trata de mero
aperfeiçoamento espiritual pessoal. Não é mera questão de experiência espiritual pessoal, mas está muito
relacionado ao caminho e à obra de Deus. É uma questão grandiosa. Será que devemos limitar Deus?
Será que Ele tem liberdade em nós? Somente depois de disciplinados e quebrantados, Ele terá plena
liberdade em nós.
Se a igreja quer prover um caminho livre para Deus, precisamos passar pelo Seu despojar e deixar que
Ele nos quebre o homem exterior, que é o maior impedimento para isso. Se a questão do homem exterior
não for resolvida, a questão da igreja como canal de Deus também nunca poderá ser estabelecida. Se pela
graça de Deus o nosso homem exterior for quebrantado, não há limites no uso que Deus fará de nós como
canais para a Sua obra.

O QUEBRANTAMENTO A MANEIRA DA OBRA DE DEUS OPERAR


Depois que o homem exterior é quebrantado, como é que a pessoa se aproxima da Palavra de Deus,
como ela serve como ministro da Palavra, e como prega o evangelho? Vamos agora ocupar-nos dessas
questões.

Estudar a Palavra
Um fato inegável ao se estudar a Palavra de Deus é que o tipo de pessoa que somos determina o tipo
de Bíblia que temos nas mãos. Se alguém estuda a Bíblia com a mente rebelde, confusa e aparentemente
inteligente, o que obtém dela é produto da mente; não toca o espírito da Palavra. Se queremos encontrar o
Senhor por meio da Bíblia, a nossa mente rebelde e que não coopera tem de ser quebrantada. Se a mente
sempre é rebelde e não coopera, a inteligência não nos trará benefício algum. Podemos achar a nossa
inteligência notável, mas, na verdade, é um grande obstáculo para Deus. Não importa quão inteligentes
sejamos, nunca poderemos conhecer o pensamento de Deus por meio dela.
Há pelo menos duas coisas que precisamos fazer ao nos achegar à Bíblia. Primeiro, os nossos
pensamentos precisam estar identificados com os da Bíblia. Segundo, o nosso espírito precisa estar
identificado com o da Bíblia. Temos de pensar como os autores da Bíblia. Homens como Paulo e João
tinham alguns pensamentos ao escrever os diversos trechos da Palavra. Precisamos penetrar nesses
pensamentos. Precisamos começar de onde eles começaram e desenvolver o pensamento na mesma linha
em que o fizeram. Precisamos raciocinar da mesma forma que o fizeram e considerar os mesmos
ensinamentos que consideraram. Em outras palavras, os nossos pensamentos são como uma engrenagem,
e os deles também. As duas engrenagens devem encaixar-se. Os nossos pensamentos precisam penetrar
nos de Paulo e João. Quando os nossos pensamentos penetram nos da Bíblia e a nossa mente se torna uma
com a que está por trás da inspiração de Deus, então entendemos o que a Bíblia diz.
Alguns lêem a Bíblia usando a mente como principal órgão. Eles a lêem na esperança de obter
algumas idéias dos pensamentos dela. Eles já têm todo um conjunto de doutrinas na mente e só querem
coletar material bíblico para fortalecer as doutrinas. Quando levantamos para falar, uma pessoa
experiente, depois de cinco ou dez minutos, sabe se estamos citando versículos com a mente, ou se os
nossos pensamentos estão mesclados com os da Bíblia. Essas são duas coisas inteiramente diferentes.
27
Esses dois tipos de pregação pertencem a dois mundos inteiramente diferentes. Quando alguns se
levantam para pregar, talvez sejam bíblicos e os seus sermões bastante atraentes, mas os seus
pensamentos são contrários aos da Bíblia, os dois são incompatíveis um com o outro. Entretanto, outros
são diferentes. Quando falam sobre a Bíblia, os seus pensamentos são mesclados com os da Bíblia. Os
dois se tornam um e estão em harmonia um com o outro. Essa é a maneira correta. Mas não são todos que
conseguem fazer isso. Para que os nossos pensamentos se mesclem com os da Bíblia, o nosso homem
exterior precisa ser quebrantado. Senão, não conseguimos nem mesmo ler a Bíblia. Não devemos pensar
que o nosso estudo da Bíblia é pobre porque não temos quem nos ensine. Não; é pobre porque a nossa
própria pessoa está errada, os nossos pensamentos não se submeteram a Deus. Assim que formos
quebrantados, cessaremos a nossa própria atividade. Não teremos nenhuma concepção subjetiva. Gradual,
paulatina e suavemente, tocaremos o pensamento de Deus, os pensamentos que estão por trás dos autores
da Bíblia, e pensaremos como eles. O homem exterior precisa ser quebrantado para que entremos nos
pensamentos por trás da Palavra de Deus. Quando isso acontece, o homem exterior já não é um
impedimento.
É importante em nosso estudo da Palavra que os nossos pensamentos entrem nos dos escritores da
Bíblia e também nos do Espírito Santo. No entanto, esse é apenas o passo inicial. Sem esse passo, não
conseguimos estudar a Bíblia de maneira nenhuma. Mas mesmo tendo dado esse passo, podemos não
estar lendo a Bíblia corretamente. A Bíblia não é composta apenas de pensamentos. A coisa mais
importante nela é que o Espírito de Deus é liberado por meio desse livro. Pedro, João, Mateus, Marcos e
os demais escritores da Bíblia tiveram a mesma experiência: ao escrevê-la sob a inspiração do Espírito
Santo, eles o fizeram segundo uma linha de raciocínio, mas ao mesmo tempo, o espírito deles era liberado
juntamente com a liberação do Espírito Santo. O mundo nunca conseguirá entender que por trás das
palavras da Bíblia há o Espírito. Quando o Espírito é liberado, os profetas como que tornam a viver e nos
falam novamente. Hoje ao ouvir um profeta, temos de perceber que o seu falar não contém apenas
palavras e pensamentos, mas algo mais. Esse "algo" mais é misterioso, embora em nosso interior
tenhamos clareza que é o Espírito. A Bíblia não contém apenas pensamentos, mas a liberação do Espírito.
Assim, o requisito básico e crucial de todos em relação a ler a Bíblia é ser capazes de liberar o espírito
para tocar o espírito da Bíblia. Precisamos atingir o espírito da Bíblia com o nosso próprio espírito para
entendê-la.
Suponha que um menino levado quebre a janela da casa do vizinho, o qual corre para fora para ralhar
com ele. Quando a mãe descobre, ela também repreende o menino. Mas há um sentimento diferente entre
a repreensão do vizinho e a da mãe. Exteriormente as duas são repreensões. Mas os "espíritos" por trás
das repreensões são diferentes. O vizinho repreende por raiva, o seu espírito é de ira. A sua repreensão é
de amor, de esperança e com o intuito de educar. Os dois espíritos são totalmente diferentes.
Essa é uma ilustração simples. O Espírito que está por trás da Palavra é muito mais forte do que o do
exemplo mencionado acima. O Espírito por trás dos escritos da Bíblia é um Espírito eterno. Ele ainda está
conosco hoje, e satura a Bíblia para sempre. Se o nosso homem exterior for quebrantado e o nosso
espírito liberado, não apenas os nossos pensamentos se tornarão um com os da Bíblia, como também todo
o nosso ser tocará, o próprio Espírito que está por detrás da letra da Bíblia. Se o nosso espírito não for
liberado e não estivermos tocando o espírito dos autores da Bíblia, nunca a entenderemos; ela será um
livro morto para nós. Portanto, voltamos à mesma questão fundamental: o homem exterior precisa ser
quebrantado. Os nossos pensamentos serão frutíferos e o nosso espírito estará livre para fluir apenas
quando o homem exterior estiver quebrantado. Somente então Deus não será restringido por nós. O
problema que enfrentamos hoje é que constantemente O impedimos. Até mesmo ao estudar a Bíblia nós
O impedimos e limitamos a Sua liberdade.

28
Ministrar a Palavra
Por um lado, Deus quer que entendamos a Sua Palavra: esse é o início da Sua obra. Por outro, Ele
deseja colocar uma ou duas palavras em nosso espírito. Essas palavras tornam-se um encargo para nós, e
Ele deseja que as ministremos à igreja. Atos 6:4 diz: "E, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao
ministério da palavra". Ministério é serviço, e o ministério da Palavra é um serviço que serve aos homens
a Palavra de Deus.
Qual é o nosso problema? É que temos a Palavra em nós, mas não conseguimos liberá-la. Alguns têm
uma palavra e um encargo muito pesado em seu espírito, então querem transmiti-la aos irmãos. No
entanto, quando vão ministrá-la, o encargo permanece preso neles. Após falar uma ou duas frases, por um
minuto ou mesmo uma hora, o encargo ainda não foi liberado. A pessoa não consegue liberar a palavra, o
homem exterior não consegue transmitir o encargo interior. Eles querem descarregar o encargo e a
mensagem que está em seu interior, mas o seu homem exterior não lhes provê palavras. Não importa o
quanto falem, eles ainda têm a impressão de que o encargo não foi passado. Vêm com um encargo e
voltam sem liberá-lo. A única explicação para isso é que o homem exterior não foi quebrantado. O
homem exterior não provê nenhum auxílio ao homem interior; antes, se torna uma pedra de tropeço para
ele.
Uma vez quebrantado o nosso homem exterior, é fácil dizer o que queremos. Quando temos um
encargo ou palavra em nós, o nosso homem exterior descobrirá as palavras adequadas para expressar os
nossos pensamentos. Assim que essa palavra que está em nós é liberada, o encargo em nosso interior
também é liberado. Quanto mais falamos, mais leves nos sentimos. Perceberemos que a nossa obra é
servir a igreja com a Palavra de Deus. Assim, o encargo que está em nosso interior deve ter a
correspondência de palavras exteriores adequadas dos pensamentos. Se não for quebrantado, o homem
exterior não cederá ao desejo do homem interior, não obedecerá ao sentimento ou ao espírito interior.
Quando o homem exterior tenta examinar o sentimento do homem interior, ele não encontra nada. Não
encontra as palavras adequadas e necessárias, e Deus não é liberado. Deus é impedido e bloqueado e a
igreja não recebe ajuda.
Temos de nos lembrar que o homem exterior constitui-se no maior empecilho ao ministério da Palavra.
Muitos acham que ser inteligente tem alguma utilidade. Isso está errado. Por mais inteligente que a
pessoa seja, o homem exterior nunca poderá substituir o homem interior; este só obterá os pensamentos
corretos e as palavras adequadas para fluir quando o homem exterior estiver quebrantado e esmagado. A
casca exterior precisa ser quebrada por Deus. Quanto mais ela for quebrada, mais a vida no espírito será
liberada. Se a casca permanecer, o encargo permanecerá no espírito, e a vida e o poder de Deus não
fluirão para a igreja. Tal pessoa não será capaz de servir como ministro da Palavra. O poder e a vida de
Deus são liberados principalmente por meio do ministério da Palavra. Se o homem exterior não foi ferido
e não tem nenhuma ferida aberta, o homem interior não tem saída. Os que vierem para ouvir a mensagem
somente ouvirão um som; não tocarão vida. O orador pode estar ansioso para liberar algo, mas a platéia
não receberá nada. Ele tem a palavra em seu interior, mas não é capaz de colocá-la para fora, pois o seu
homem exterior está bloqueando o caminho.
Há uma história preciosa na vida do Senhor Jesus. Uma pessoa tocou apenas a orla da Sua veste e
recebeu a Sua força. A orla da Sua veste é a parte mais exterior do Seu ser. E essa pessoa pôde sentir o
Seu poder até mesmo na parte mais exterior. O nosso problema é que temos a vida de Deus, mas ela não
consegue fluir de nós. Temos a Palavra em nosso interior, mas não conseguimos liberá-la. Temos a
Palavra de Deus em nós, mas temos obstáculos à nossa volta. Como resultado, ela não pode ser liberada.
Quando Deus não tem liberdade em nós, Ele não consegue fluir livremente de nós.

Pregar o evangelho
29
Muitos têm o conceito errôneo de que a pessoa crê no evangelho porque ouviu os ensinamentos
corretos ou porque foi tocada nas emoções. Mas isso está longe de ser verdade. Os que baseiam a sua
aceitação do Senhor em impulsos emocionais não durarão. Os que são persuadidos na mente também não.
Não há nada de errado em se usar a mente e a emoção, mas isso não é suficiente. Uma pessoa não é salva
pela emoção nem pelo pensamento. O pecador cai aos pés do Senhor porque o espírito do que está
falando liberou luz ao falar. Assim que o nosso espírito flua de nós, as pessoas são impressionadas. Por
isso precisamos de um espírito liberado para pregar o evangelho.
Um minerador de carvão foi grandemente usado pelo Senhor na pregação do evangelho. Ele escreveu
um livro chamado Visto e Ouvido no qual descreveu a sua experiência com o evangelho. Fomos
profundamente tocados por esse livro. Esse irmão não era alguém com muita instrução nem com muitos
dons; era apenas um irmão comum. Mas a sua consagração absoluta ao Senhor tornou-se a base para o
Senhor usá-lo grandemente. Você sabe o que ele tinha de tão especial? Ele era um homem quebrantado.
Ele podia liberar o espírito facilmente. Começou a pregar aos vinte e três anos, quando foi salvo. Numa
reunião, a palavra do pregador acendeu nele um desejo ardente de salvar almas. Ele pediu a palavra.
Depois de levantar, não foi capaz de dizer coisa alguma, embora o seu coração queimasse pelas almas
perdidas. As suas lágrimas jorraram. Por fim ele só conseguiu dizer uma ou duas frases, então o Espírito
de Deus encheu a reunião e todos foram convencidos do seu próprio pecado e obstinação. Aí estava
alguém que, embora jovem, estava quebrantado em seu homem exterior. Ele não tinha muito para dizer,
no entanto o seu espírito estava liberado e os homens foram salvos. Ele levou muitos à salvação em toda a
sua vida. Ao ler a sua biografia, sentimos que era alguém com o espírito liberado.
A maneira de pregar o evangelho é esta: liberar o espírito. Quando a dureza do homem exterior é
removida e o homem exterior é quebrantado, o espírito é liberado. Se o simples fato de ver uma pessoa
que não foi salva ainda nos leva a fazer algo para salvá-la, isso quer dizer que o nosso espírito está
liberado. Esse é o ponto básico. A pregação do evangelho tem tudo à ver com o quebrantamento do
homem exterior. Quando o homem exterior for quebrantado, o nosso espírito será liberado e tocará os
outros. E o nosso espírito que alcança o espírito dos outros. É o espírito de Deus que toca o espírito em
trevas dos outros. Quando isso acontece, a pessoa é salva e nenhuma razão consegue explicar essa
mudança. Entretanto, quando o homem exterior abafa o espírito, Deus não tem caminho por meio de nós
e o evangelho não é liberado. Sempre precisamos prestar atenção ao quebrantamento do homem exterior
porque todos os nossos problemas estão no homem exterior. Se nós não formos disciplinados, é inútil
decorar mais ensinamentos. A única coisa que trará salvação aos homens é o nosso espírito tocar o
espírito deles. Se isso ocorrer, eles se prostrarão diante de Deus. Se o nosso espírito for descarregado com
energia, eles não terão outra escolha a não ser prostrar-se diante do Senhor. Nos últimos anos Deus tem
tomado o caminho da restauração. Ele não quer ver uma pessoa salva esperar por muitos anos para lidar
com os seus pecados. Também não quer que a pessoa fique muitos anos sem se consagrar ao Senhor ou
responder ao Seu chamamento para segui-Lo. O Senhor está tomando o caminho da restauração. O
evangelho precisa ser restaurado, e o fruto do evangelho também. Logo que a pessoa é salva, deve ser
libertada do pecado e consagrar-se absolutamente ao Senhor. Assim que é salva, ela deve quebrar o poder
de "Mamom" nela.(Mamom, palavra aramaica traduzida por riquezas em Mt 6:24, (N. T.))
Ela deve ser como os que foram salvos pelo Senhor nos Evangelhos e em Atos. Se vamos realmente
restaurar o evangelho, os que o pregam devem deixar que o Senhor tenha caminho livre através deles.
Cremos que enquanto o Senhor toma o caminho da restauração, o evangelho da graça se tornará um
com o evangelho do reino. Nos Evangelhos não vemos separação entre o evangelho do reino e o
evangelho da graça. Mais tarde, parece que os que ouviram o evangelho da graça não tiveram
oportunidade de ouvir o evangelho do reino. Os dois evangelhos parecem ter sido separados. Mas virá o
tempo em que os dois se tornarão um novamente. Os que receberem o Senhor também desistirão de tudo
30
por causa Dele. Os que O receberem também consagrarão tudo a Ele. Os homens não mais serão salvos
de maneira pobre, e, sim, de maneira forte e completa.
Precisamos humilhar-nos diante do Senhor e dizer: "O evangelho precisa ser restaurado e os que o
pregam precisam ser restaurados também". Para que o evangelho alcance os homens, precisamos deixar
Deus operar por meio de nós. Maior poder é necessário para a pregação do evangelho. Mesmo assim, um
preço maior precisa ser pago. Se esperamos que tanto o evangelho como os que o pregam sejam
restaurados, precisamos dar tudo ao Senhor e dizer: "Senhor, dou meu tudo a Ti. Oro para que encontres
caminho através de mim. Oro para que a igreja também encontre caminho através de mim. Não quero
impedir-Te, nem impedir a igreja".
O Senhor Jesus nunca limitou Deus, de maneira alguma. Nos últimos dois mil anos Deus tem operado
na igreja. O objetivo é que a igreja por fim também não seja uma limitação para Deus. Assim como
Cristo era a manifestação de Deus e não a Sua limitação, a igreja deve ser a Sua manifestação e não a Sua
limitação. Deus tem ensinado, batido, despojado e ferido os Seus filhos continuamente. É assim que Ele
lida com a igreja. Ele irá continuar essa obra nela até que ela não seja mais uma limitação para Ele, e,
sim, a Sua manifestação. Hoje, somente podemos inclinar a cabeça e dizer: "Senhor! Nós nos
envergonhamos de ter atrasado a Tua obra. Temos impedido a Tua vida, o Teu evangelho e o Teu poder".
Cada um de nós deve dizer ao Senhor: "Eu dou meu tudo a Ti. Oro para que tenhas caminho através de
mim". Se queremos ver uma restauração completa do evangelho, devemos ter uma consagração. É tolice
apenas lamentar o fato de que nosso evangelho não é tão poderoso como o da igreja primitiva.
Precisamos reconhecer que a nossa consagração não é tão absoluta como a da igreja primitiva. Para
restaurar o evangelho, precisamos restaurar a consagração; ambos precisam ser absolutos e completos.
Que o Senhor ache caminho através de nós.

Capítulo Seis

O QUEBRANTAMENTO E A DISCIPLINA

CONSAGRAÇÃO E DISCIPLINA
31
A fim de que o nosso homem exterior seja quebrantado precisamos consagrar-nos ao Senhor. A
consagração, no entanto, não resolve todos os problemas, sendo apenas uma expressão da nossa intenção
de voluntariamente nos dar incondicional, irrestrita e inequivocamente a Deus. Consagrar-se a Deus é
algo que leva apenas alguns minutos. Essa disposição de nos oferecer sem reservas a Deus é apenas o
passo inicial na jornada espiritual. Não quer dizer que toda a Sua obra termina com esse passo. Se alguém
pode ou não ser usado por Deus não depende apenas da consagração; ainda há a necessidade da disciplina
do Espírito Santo, que é algo muito importante. Isso define se seremos úteis a Deus ou não. A disciplina
do Espírito Santo deve ser adicionada à nossa consagração a fim de que nos tornemos um vaso útil ao
Senhor. Sem consagração, é sempre difícil prosseguir com a disciplina do Espírito Santo. Mas a
consagração por si só não a substituí. Portanto, precisamos dar atenção à disciplina do Espírito. Na
consagração nós nos oferecemos a Deus segundo a luz que já recebemos. Ao nos disciplinar, o Espírito
Santo lida conosco segundo a luz que nos dispensa. Só podemos consagrar-nos de acordo com o que
conhecemos. Só podemos consagrar-nos segundo o que vemos com os olhos espirituais. Na verdade, nem
mesmo nós sabemos o quanto está incluído na consagração. A quantidade de luz que recebemos não é
infinita; antes, é bastante limitada. Mesmo quando achamos que temos a maior luz, aos olhos de Deus
ainda podemos estar nas trevas. O que consagramos a Deus de acordo com a luz já recebida nunca irá
satisfazer a Sua exigência. Em outras palavras, a exigência de Deus sempre é mais alta do que o que
podemos oferecer. A nossa consagração não consegue satisfazer o coração de Deus porque o nosso
conhecimento e luz são limitados. Mas a disciplina do Espírito Santo é totalmente diferente, ela avalia a
nossa necessidade na própria luz de Deus. Não é o quanto nós vemos, mas o quanto Deus vê. Ele sabe que
temos certas necessidades e opera por meio do Seu Espírito no ambiente a fim de que experimentemos
essas coisas, cujo propósito é quebrar o nosso homem exterior. Assim sendo, a disciplina do Espírito
Santo vai muito além da nossa consagração, sendo muitas vezes maior do que ela. Há uma grande
diferença aqui.
A obra do Espírito Santo baseia-se na luz de Deus. O Espírito opera de acordo com o que Deus vê.
Portanto, somente a disciplina do Espírito Santo é total e completa. Nós muitas vezes somos ignorantes,
não sabendo pelo que necessitamos passar. Até mesmo as nossas escolhas mais sábias são cheias de erros.
O que achamos que necessitamos, na realidade, de acordo com Deus, não é o que necessitamos. O que
vemos do nosso lado pode ser apenas uma fração minúscula do quadro todo. O Espírito Santo, no entanto,
ordena as coisas para nós segundo a luz de Deus. A Sua disciplina excede em muito o que a nossa mente
consegue entender. Freqüentemente não estamos preparados para determinada disciplina e achamos que
não necessitamos dela. Então, quando a disciplina do Espírito vem sobre nós, somos pegos de surpresa. O
que o Espírito ordenou para nós no ambiente não é o que esperávamos. Muito da disciplina do Espírito
Santo vem sem nenhum aviso de Deus. De repente somos atingidos por um forte golpe. Podemos achar
que estamos vivendo sob a luz divina, mas para Deus essa luz pode ser um fraco lampejo. Talvez Ele nem
a considere como luz. Mas o Espírito Santo lida conosco segundo a luz divina. Nós achamos que
conhecemos a nossa condição, mas isso não é verdade. Somente Deus nos conhece. Desde o dia em que
O aceitamos, Ele tem preparado o nosso ambiente. Tudo o que Ele ordenou é para o nosso maior
benefício porque Ele nos conhece e conhece as nossas necessidades.
A obra do Espírito Santo em nós tem um aspecto positivo e um negativo. Há o aspecto da edificação e
o aspecto da demolição. Depois que somos regenerados, o Espírito Santo vive em nós, no entanto o nosso
homem exterior limita a Sua liberdade. Isso é semelhante a um homem usando sapatos novos: são muito
duros e apertados e o homem tem dificuldades para andar com eles. O homem exterior causa muitos
problemas ao homem interior: este não consegue controlar aquele. Por isso é que Deus tem lidado com o
nosso homem exterior e o tem quebrantado desde o dia em que fomos salvos. Deus não lida com ele
segundo a necessidade que nós percebemos, mas segundo a necessidade que Ele vê. Ele descobre o que é
32
obstinado em nós e o que está fora do controle do homem interior e então lida conosco segundo o que Ele
sabe.
O Espírito Santo não lida com o nosso homem exterior fortalecendo o nosso homem interior. Nem o
faz suprindo mais graça para o homem interior. Isso não quer dizer que o homem interior não precise ser
fortalecido, e, sim, que Deus tem uma maneira diferente de lidar com o homem exterior. O Espírito Santo
diminui o homem exterior por meio de coisas exteriores. Não é fácil derrubar o homem exterior com o
homem interior, pois eles são de naturezas diferentes. Ê difícil para o homem interior ferir ou esmagar o
homem exterior. A natureza do homem exterior corresponde à natureza das coisas exteriores. O homem
exterior é facilmente afetado pelas coisas exteriores, que podem esmagá-lo, infligir-lhe dor e feri-lo muito
mais do que o homem interior consegue. Assim, Deus lida com o homem exterior com coisas exteriores.
Mateus 10:29 diz: "Não se vendem dois pardais por um asse?" Em Lucas 12:6 lemos: "Não se vendem
cinco pardais por dois asses?" Um asse compra dois pardais e dois asses compram cinco. Isso é barato. O
quinto é um bônus, é grátis. Entretanto: "Nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai"
(Mt 10:29). A Bíblia também diz: "Até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados" (v. 30).
Isso nos leva a perceber que tudo o que acontece a um cristão está debaixo da ordenação de Deus.
Nenhuma circunstância vem a nós por acaso. Deus quer que vejamos que tudo está debaixo do Seu
arranjo soberano.
Deus arranja todas essas coisas segundo a nossa necessidade, conforme Ele a enxerga. Ele sabe o que é
melhor para o homem interior e qual é a melhor maneira de quebrar e demolir o homem exterior.
Sabendo que determinada coisa irá quebrar o homem exterior, Ele a ordena para nós uma, duas e
repetidas vezes. Precisamos ver que todas as coisas com as quais nos deparamos nos últimos cinco ou dez
anos estavam debaixo da ordenação de Deus e visam à nossa educação. Se murmuramos contra alguém,
realmente desconhecemos a mão de Deus. Se achamos que eram períodos de má sorte, é porque não
temos nem idéia do que seja a disciplina do Espírito Santo. Devemos lembrar-nos de que todas as coisas
que nos advêm são medidas pela mão do nosso Deus e visam ao nosso bem. Podemos não saber escolhê-
las, mas Deus sabe que são para o nosso bem. Nem consigo imaginar a miséria em que estaríamos se não
fosse a disciplina de Deus. Esses arranjos nos mantêm puros, preservam-nos no caminho de Deus. São o
melhor para nós. Deus não nos pode dar nada melhor. Mesmo assim, muitos não conseguem submeter-se.
Murmuram com a boca e se ressentem no coração. Isso é algo realmente tolo. Temos de nos lembrar que
tudo é medido para nós pelo Espírito Santo, e é o melhor que pode haver.
Assim que uma pessoa é salva, o Espírito Santo começa essa obra. Mas certo tempo tem de passar até
que Ele obtenha plena liberdade por meio dessa obra. Quando o Espírito Santo tem total liberdade? É
quando nos consagramos. O dia em que alguém é salvo é o dia em que o Espírito Santo inicia Sua obra
disciplinadora, e o dia em que ele se consagra é o dia em que o Espírito tem plena liberdade para realizar
tal obra. Após uma pessoa ser salva e antes de se consagrar, ela ainda ama muito a si mesma e tem pouco
amor pelo Senhor. Não podemos dizer que o Espírito Santo não a discipline; Ele realmente ordena coisas
para conduzi-la a Deus e quebrar-lhe o homem exterior. Mas com uma pessoa não consagrada, Ele não
tem plena liberdade de realizar essa obra. Depois que a pessoa foi iluminada por Deus e se consagrou a
Ele, o Espírito Santo tem a liberdade de fazer a Sua obra. Em dado momento, a pessoa sentirá que não
pode mais viver por si nem para si mesma. Debaixo dessa tênue luz que ganhou, ela irá a Deus e dirá: "Eu
me consagro a Ti. Qualquer que seja o resultado, morte ou vida, eu me consagro a Ti". Quando isso
acontecer, a obra do Espírito Santo nela será intensificada. A consagração é importante. Ê por meio dela
que permitimos ao Espírito Santo ter plena e incondicional liberdade de fazer a Sua obra. Depois de nos
consagrar, não devemos ficar surpresos quando muitas coisas inesperadas nos sobrevêm. A única razão
de essas coisas virem sobre nós é que nos demos ao Senhor incondicionalmente. Dissemos ao Senhor:
"Senhor, realiza em mim o que for mais proveitoso aos Teus olhos!" Por nos termos consagrado ao
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Senhor dessa forma, o Espírito Santo é livre para fazer a Sua obra em nós sem se preocupar com
resistência da nossa parte. Se queremos tomar o caminho do Senhor devemos dar a máxima atenção à
obra disciplinadora do Espírito Santo.

O MELHOR MEIO DE RECEBER GRAÇA


Desde o dia em que você foi salvo, Deus o tem aperfeiçoado por meio da transmissão de graça.
Podemos receber graça de Deus de muitas maneiras. Chamamos essas maneiras de os meios de receber
graça. Por exemplo, oração é um meio de receber graça, pois por meio dela podemos ir a Deus e receber
graça. Ouvir mensagens também pode ser um meio de receber graça porque podemos ir a Deus e receber
graça ouvindo. A expressão meios de receber graça, ou simplesmente meios de graça, é muito boa. A
igreja a tem usado por séculos. Recebemos graça por intermédio dos meios de graça. Desde o dia em que
nos tornamos cristãos, a nossa vida diária tem sido de receber um meio de graça após outro. As reuniões,
o ouvir mensagens, as orações e muitas outras coisas que fazemos são meios pelos quais obtemos graça.
Aqui gostaríamos de ressaltar uma coisa: o melhor e maior meio de receber graça, o qual nunca devemos
negligenciar, é a disciplina do Espírito Santo. O principal meio de receber graça na vida cristã é a
disciplina do Espírito Santo. Nenhum outro meio de graça, como oração, estudo da Bíblia, reuniões, ouvir
mensagens, servir, meditação ou louvor, pode comparar-se a este: a disciplina do Espírito Santo. De todos
os meios de graça que recebemos de Deus, nenhum é mais importante do que esse. A disciplina do
Espírito Santo é o maior meio de receber graça.
Quando olhamos para trás e examinamos a nossa experiência dos vários meios de receber graça,
temos uma idéia do quanto avançamos com Deus. Se o nosso progresso espiritual foi somente por meio
de oração, ouvir mensagens e ler a Bíblia, nós perdemos o principal meio de receber graça. Todas as
coisas que nos sobrevêm diariamente na família, na escola, no trabalho ou mesmo na rua são arranjados
pelo Espírito Santo para o nosso mais elevado bem e proveito. Se não recebemos proveito deles e
permanecemos ignorantes e fechados a esse maior meio de graça, teremos a maior perda. A disciplina do
Espírito Santo é crucial, é o principal meio de um cristão receber graça por toda a sua vida. A leitura da
Bíblia não pode substituir a disciplina do Espírito Santo. A oração não pode substituí-la; as reuniões não
podem substituí-la; nenhum outro meio de graça pode substituí-la. Precisamos orar, estudar a Bíblia, ouvir
mensagens e ter todos os meios de graça. Todos são preciosos, mas nenhum pode substituir a disciplina do
Espírito Santo. Se não aprendemos as lições adequadas na disciplina do Espírito Santo, não podemos ser
cristãos adequados e nunca podemos servir a Deus. Ouvir mensagens pode suprir-nos interiormente. A
oração pode nos reavivar interiormente. Ler a Palavra de Deus pode refrescar-nos interiormente. Ajudar
os outros pode liberar o nosso espírito. Mas, se o nosso homem exterior permanece forte, as pessoas
encontrarão mistura ao nos contatar. Elas perceberão que não somos tão puros. Por um lado perceberão o
nosso zelo, e por outro sentirão que temos mistura. Por um lado verão que realmente amamos ao Senhor,
por outro também saberão que amamos a nós mesmos. Por um lado podem dizer: "Aí está um irmão
precioso", por outro terão de dizer: "Aí está um irmão teimoso". O homem exterior ainda não foi
quebrantado. Não somos aperfeiçoados apenas quando oramos, ouvimos mensagens e estudamos a Bíblia.
O nosso maior aperfeiçoamento ocorre quando estamos sob a disciplina do Espírito Santo.
Do nosso lado, precisamos de uma consagração absoluta. Mas nunca devemos achar que a
consagração pode substituir a disciplina do Espírito Santo. A consagração prove ao Espírito a
oportunidade de trabalhar em nós livremente. Devemos dizer: "Senhor, eu me entrego nas Tuas mãos. Eu
Te deixo trabalhar livremente. Senhor, dá-me o que achas que eu preciso". Se nos submetermos ao
arranjo do Espírito Santo, colheremos os resultados. A própria questão de nos submeter nos trará
benefícios. Mas se não nos submetemos, antes ficamos discutindo com Deus e andando de acordo com a
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nossa própria vontade, acabaremos tomando o caminho mau, independentemente do lado para o qual
vamos. A questão básica é,se vamos entregar-nos a Deus incondicional, irrestrita e inequivocamente, a
fim de que Ele possa lidar conosco livremente. Se percebermos que todos os arranjos de Deus são para o
nosso maior benefício, incluindo o que nos traz constrangimentos, e se queremos dar-nos a Deus dessa
forma, veremos o Espírito Santo lidando conosco em muitas coisas.

TODOS OS MODOS DE DEUS LIDAR CONOSCO


Alguns são especialmente amarrados por certas coisas. O Senhor então vem lidar com eles nessas
coisas específicas. Ele lida com eles item por item, incluindo detalhes refinados como comida e roupa.
Deus não deixa escapar nada. Como o Espírito Santo é refinado! Ele não se esquece de nada. Podemos
amar alguma coisa sem mesmo dar-nos conta disso. No entanto, Deus sabe e irá lidar conosco de forma
bem detalhada. Quando todas essas coisas forem tiradas, seremos completamente livres. O Espírito Santo
lida com muitas pessoas tocando certas coisas. Ele vai em busca do que elas apreciam muito, sem
descanso. Quando Ele lida conosco desse modo, começamos a apreciar a maneira como Ele cuida de
todos os detalhes. Mesmo as coisas que esquecemos o Senhor não deixa passar. Ele nunca esquece nada.
A obra de Deus é perfeita. Ele não pára de trabalhar até que alcance a perfeição. Enquanto não atingir
esse ponto, Ele não estará satisfeito. As vezes Deus usa os homens para lidar conosco. Ele coloca a nossa
volta pessoas que odiamos, invejamos ou desprezamos. Daí Ele lida conosco por meio delas. Ele também
coloca pessoas amáveis à nossa volta para lidar conosco. Antes de passar por tal obra do Senhor, não
temos idéia de quão sujos e impuros somos. Depois de passar por ela vemos quão impuros somos.
Achamos que somos totalmente para o Senhor, mas depois de passar pela disciplina do Espírito Santo
percebemos o quanto as coisas exteriores nos afetam. Às vezes Deus toca os nossos pensamentos, que são
confusos, selvagens, egoístas e indisciplinados. Achamos que somos inteligentes, sabemos tudo e
conseguimos pensar sobre o que os outros não conseguem. Por isso Deus permite que cometamos erros e
tropecemos repetidas vezes para que tenhamos cautela com os pensamentos. Se ganharmos bastante graça
do Senhor, nós nos afastaremos dos nossos pensamentos assim como nos afastamos do fogo. Assim que a
nossa mão toca o fogo, ela se retrai. Da mesma forma, assim que tocamos os nossos pensamentos, nós nos
arrependemos e dizemos a nós mesmos: "Isso não é o que eu deveria pensar. Temo os meus próprios
pensamentos". Às vezes Deus lida com as nossas emoções ordenando-nos várias circunstâncias. Alguns
são muito fortes na emoção. Quando estão felizes, não conseguem parar de se alegrar. Quando estão
deprimidos, não conseguem ser confortados. Toda a vida deles está em volta das emoções. Se estão
tristes, ninguém consegue fazê-los cantar. Se estão felizes, ninguém consegue deixá-los sóbrios. A sua
felicidade manda a sobriedade embora. A sua tristeza os leva à passividade. São totalmente manipulados
pelas emoções. Por viver dessa forma nas emoções, eles até mesmo as justificam. Por isso Deus precisa
lidar com as suas emoções por meio de todos os tipos de circunstâncias. O Senhor precisa lidar com eles
ao ponto de que não ousem mais estar nem tristes nem alegres, podendo então viver apenas pela graça e
pela misericórdia de Deus, e não pelas emoções.
A fraqueza em alguns está relacionada aos pensamentos, enquanto em outros está relacionada às
emoções. Entretanto, pensamentos e emoções anormais não são comuns a todos, embora não sejam
poucos os que os tenham. A fraqueza maior e mais comum está relacionada à vontade. Como a vontade
não foi tocada, a emoção se torna um problema para nós. A raiz está na vontade. É-nos fácil dizer: "Não
seja de acordo com a minha vontade, mas de acordo com a Tua". Mas em nossas experiências, quantas
vezes realmente O temos como Senhor? Quanto menos a pessoa se conhece, mais fácil é falar assim.
Quanto menos tiver sido iluminada por Deus, mais achará que não terá dificuldades para obedecer a
Deus. Quanto mais rápido fizer ousadas asseverações, mais mostra que nunca pagou nenhum preço.
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Aqueles cujas palavras parecem ter intimidade com Deus provavelmente são os que estão mais distantes
Dele. Quando a pessoa não tem luz, é fácil asseverar que tem intimidade com Deus. Na verdade, esses
estão longe de Deus. O Senhor precisa lidar com o homem para que este descubra quão teimoso e
obstinado é. Ele sempre confia em si mesmo e considera certas as suas próprias opiniões, sentimentos,
métodos e pontos de vista. Paulo ganhou graça de Deus de muitas maneiras, mas creio que a mais
importante está nas palavras em Filipenses 3:3: "Não confiamos na carne". Isso quer dizer que ele não
mais confiava na sua carne. Nós também precisamos ser levados por Deus a perceber que não podemos
ter a ousadia de confiar em nosso próprio juízo. Deus permite que cometamos um erro após o outro até
que sejamos forçados a confessar que estivemos errados no passado e estaremos errados novamente no
futuro. Reconheceremos que precisamos da graça do Senhor. Ele sempre permite que as nossas decisões
nos tragam sérias conseqüências. Tiramos certas conclusões e elas se mostram erradas. Tiramos outras
conclusões e novamente se mostram erradas, tão erradas que não conseguimos nem recuperar a perda.
Repetidas vezes Ele nos fere, até o ponto em que, quando precisamos tomar uma decisão, dizemos: "Eu
temo meu próprio juízo assim como temo o fogo do inferno. Temo que meu juízo tenha falhas. Temo que
meu ponto de vista e métodos tenham falhas. Senhor, sou propenso a cometer erros. Sou simplesmente
um homem que erra! Senhor, a menos que me concedas misericórdia e me segures pela mão e me
protejas com a Tua mão, cometerei erros!" Quando oramos dessa forma, o nosso homem exterior começa
a se deteriorar. Não ousaremos mais confiar em nós mesmos. Sempre tiramos conclusões precipitadas, e
os nossos pontos de vista são simplistas demais. Mas depois de disciplinados e quebrantados por Deus
vez pós outra, e depois de passar por todos os tipos de insucessos, nós nos humilharemos e diremos:
"Deus, não ouso pensar e não ouso decidir". Ele lida conosco de muitas maneiras por intermédio de todos
os tipos de coisas e pessoas. Essa é a disciplina do Espírito Santo.
A disciplina do Espírito Santo é uma lição que nunca irá diminuir em nós. Às vezes não temos o
ministério da Palavra ou outros meios de graça. Mas esse meio de receber graça (a disciplina do Espírito
Santo) nunca falta. O suprimento da Palavra pode variar de acordo com as limitações das circunstâncias,
mas a disciplina do Espírito Santo não está limitada por nenhuma circunstância. Na verdade, ela se torna
ainda mais manifesta por meio das limitações das circunstâncias. Às vezes podemos dizer que não temos
oportunidade de ouvir uma mensagem, mas nunca podemos dizer que não temos a oportunidade de
obedecer à disciplina do Espírito Santo. Podemos dizer que não temos a oportunidade de receber o
ministério da Palavra, mas não podemos dizer que não temos a oportunidade de receber o ensinamento do
Espírito Santo. Ele arranja as coisas todos os dias e provê-nos muitas oportunidades para que aprendamos
as lições.
Se pudermos submeter-nos a Deus, a disciplina do Espírito Santo se revelará um meio bem adequado
para nós, mais ainda do que o ministério da Palavra. Precisamos ter clareza desse caminho. Nunca
deveríamos cometer o erro de pensar que o suprimento da Palavra é o único meio de receber graça. Não
esqueça que o maior meio de receber graça é a disciplina do Espírito Santo. Esse é o meio mais
importante. Não está disponível apenas aos que têm muita instrução, são inteligentes e dotados, mas
também aos de pouca instrução, não tão inteligentes e com poucos dons. A disciplina do Espírito Santo
não concede favores especiais a ninguém. Desde que alguém seja um filho de Deus, ele pode entregar-se
incondicionalmente a Deus, não importa quem seja, e poderá então ver a disciplina do Espírito Santo. Por
meio dessa disciplina aprende-se muitas lições práticas. Alguns podem pensar que lhes seja suficiente ter
o ministério da Palavra, a graça da oração, a comunhão com outros crentes e muitos outros meios de
graça. Mas precisam perceber que nenhum meio pode substituir a disciplina do Espírito Santo. A oração
não pode substituí-la, nem o ministério da Palavra, nem o estudo da Bíblia, nem a meditação. Isso é
porque não apenas necessitamos da edificação, mas também necessitamos da demolição. Há muitas coisas

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em nós que não podem entrar na eternidade e todas precisam ser demolidas.

A CRUZ NA PRÁTICA
A cruz não é meramente uma doutrina. Ela precisa ser levada a cabo na prática. Precisa tornar-se
realidade em nós. Todas as coisas que pertencem a nós têm de ser destruídas. Quando formos feridos
uma, duas, muitas vezes, chegará o tempo em que espontaneamente nos tornaremos sóbrios, e não mais
seremos arrogantes. A maneira não é negar a nossa arrogância quando a memória nos lembra que ela
existe. Esse tipo de negar irá desaparecer em cinco minutos. Somente depois que a pessoa passa pelo
castigo de Deus é que o seu orgulho é tirado para sempre. Inicialmente a pessoa pode ser orgulhosa, mas
depois de ferida por Deus uma vez, duas vezes, muitas vezes, ela começará a se humilhar, e a sua
arrogância começará a sumir. Ensinamento, doutrina e memorização não destroem o homem exterior.
Somente o castigo de Deus e a disciplina do Espírito Santo o destruirão. Quando Deus lida com uma
pessoa, espontaneamente ela não ousará mais ser orgulhosa. Não precisará esforçar-se para lembrar-se
dessa lição. Ela não age dessa forma porque ouviu uma mensagem a esse respeito dias antes. Ela não está
agindo segundo o ensinamento. O seu orgulho foi nocauteado e removido. Ela abomina os métodos
próprios, considerando-os como fogo e temendo queimar-se. Nós vivemos pela graça de Deus, e não pela
nossa memória. Deus precisa ferir-nos até o ponto em que, quer lembremos ou não que devemos agir
daquele modo, somos os mesmos. Essa obra é confiável e duradoura. Quando o Senhor terminar essa obra
em nós, não apenas receberemos graça e estaremos fortes no homem interior, mas o homem exterior que
antes era um impedimento e empecilho à Palavra, ao propósito e à presença do Senhor estará agora
quebrantado. Antes o homem exterior e o homem interior não podiam se juntar, agora o homem exterior
prostra-se em temor e tremor, submete-se a Deus e não está mais brigado com o homem interior.
Cada um de nós precisa passar pela disciplina do Senhor. Ao olhar para trás vemos que Ele lidou
conosco item por item. Ele está continuamente quebrando a nossa casca exterior e derrubando a nossa
independência, orgulho e egoísmo exteriores. Ao olhar para tudo o que aconteceu no passado, precisamos
reconhecer que tudo o que o Senhor fez foi significativo.
Espero que os filhos de Deus vejam o significado da disciplina do Espírito Santo. Deus quer que
vejamos que somos pobres, que temos ido contra Ele, temos falhado, temos vivido nas trevas, andado por
nós mesmos e sido orgulhosos e arrogantes por muito tempo. Agora sabemos que a mão divina está sobre
nós para nos quebrar. Vamos colocar-nos em Sua mão irrestrita e incondicionalmente, orando para que
essa obra de quebrantamento seja realizada em nós. Irmãos e irmãs, o homem exterior tem de ser
quebrantado! Não tente salvá-lo de ser esmagado enquanto espera aperfeiçoar o homem interior. Ao dar
atenção à obra de quebrantamento, espontaneamente veremos a obra de edificação.

Capítulo Sete

SEPARAÇÃO E REVELAÇÃO

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Deus não apenas quer quebrantar nosso homem exterior, mas também separá-lo do homem interior.
Ele quer demoli-lo para que não se torne um impedimento para o homem interior. Ele quer que o nosso
espírito e alma, isto é, o homem interior e o exterior, sejam separados um do outro.

UM ESPÍRITO MISTURADO
Um problema entre os filhos de Deus é a mistura da alma com o espírito. Sempre que o seu espírito é
liberado, a sua alma também o é. É difícil achar alguém cujo espírito seja puro. Em muitos falta essa
pureza. É essa mistura que os desqualifica de ser usados por Deus. A primeira qualificação na obra é a
pureza de espírito, e não a quantidade de poder. Muitos esperam ter muito poder, entretanto, não se
preocupam em ter um espírito puro. Embora tenham o poder para edificar, têm carência de pureza. O
resultado é que a sua obra está fadada à destruição. Por um lado eles edificam com poder, por outro a
destroem com a sua impureza. Demonstram o poder de Deus, entretanto, ao mesmo tempo, o seu espírito
tem mistura.
Alguns acham que desde que recebam poder de Deus, tudo o que eles têm será elevado e tomado por
Deus para o Seu serviço. Mas isso nunca irá acontecer. O que pertence ao homem exterior irá sempre
pertencer ao homem exterior. Quanto mais conhecermos a Deus, mais iremos valorizar a pureza em
detrimento do poder. Nós amamos essa pureza. Ela é diferente do poder espiritual e livre de qualquer
contaminação do homem exterior. Se a pessoa nunca experimentou nenhum tratamento em seu homem
exterior, é impossível esperar que o poder que dela emana seja puro. Ela não deve presumir que, como
tem poder espiritual e produziu alguns resultados em sua obra, está livre de misturar o ego com o espírito.
Se pensar assim, ela se tornará um problema. Isso, na verdade, é um pecado.
Muitos jovens sabem que o evangelho é o poder de Deus. Mas quando o pregam, acrescentam a sua
própria esperteza, frivolidade, piadas e sentimentos pessoais. As pessoas podem sentir neles o poder de
Deus, mas ao mesmo tempo também podem sentir o seu ego. Os pregadores podem não sentir nada, mas
os puros imediatamente sentirão a existência de mistura. Freqüentemente somos zelosos pelos aspectos
externos da obra de Deus, mas na realidade misturamos as nossas próprias preferências. Com freqüência
fazemos a vontade de Deus exteriormente mas, na verdade, é mera coincidência que a vontade de Deus
seja igual a nossa. Muitas das assim chamadas vontades de Deus estão misturadas com as preferências do
homem! Muito do zelo está misturado com os sentimentos do homem! Muitos dos testemunhos sólidos
para Deus estão misturados com a disposição teimosa do homem.
O nosso maior problema é a mistura. Assim, Deus precisa trabalhar em nós a fim de quebrantar o
nosso homem exterior, bem como remover a mistura que há em nós. Ele nos está quebrando passo a
passo a fim de que o nosso homem exterior não mais esteja inteiro. Depois que o nosso homem exterior
tiver sido golpeado uma, dez, vinte vezes estaremos quebrantados e a nossa dura casca exterior diante de
Deus terá sumido. Mas que fazer com a mistura do homem exterior em nosso espírito? Isso requer outra
obra: a obra de purgar. Essa obra não é levada a cabo apenas por intermédio da disciplina do Espírito,
mas também por meio da Sua revelação. A maneira de purificar a mistura é diferente da maneira de
quebrantar o homem exterior: freqüentemente é por meio de revelação. Dessa forma, vemos Deus lidando
conosco de duas maneiras. Uma é o quebrantamento do homem exterior e a outra é a separação entre o
homem exterior e o espírito. Um vem por meio da disciplina do Espírito Santo e o outro é resultado da
revelação do Espírito Santo.

A NECESSIDADE DO QUEBRANTAMENTO E DA SEPARAÇÃO


O quebrantamento e a separação são duas diferentes necessidades nossas. Entretanto, há uma forte
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relação entre elas, e é impossível dissociá-las totalmente. O homem exterior precisa ser quebrantado para
que o espírito seja liberado. Mas quando o espírito é liberado, ele não deve estar misturado com os
sentimentos e características do homem exterior. Não deve trazer consigo nenhum elemento que venha do
homem. Não se trata de mera liberação do espírito, mas da pureza e da qualidade do espírito. Muitas
vezes quando um irmão se levanta para falar, por um lado sentimos o espírito e a presença de Deus.
Entretanto, por outro, tocamos o ego em suas palavras. Tocamos o seu ponto saliente. O seu espírito não é
puro. Ele tanto nos dá motivo de louvor como também é fonte de dor. A questão não é se o espírito é
liberado, e, sim, se é puro.
Se a pessoa nunca foi iluminada por Deus nem julgada por Ele de forma profunda, obtendo assim
algum conhecimento a respeito do seu homem exterior, a liberação do seu espírito será naturalmente
acompanhada pelo seu homem exterior. Muitos, quando falam, liberam a sua própria pessoa. Liberam
Deus, mas a liberação do seu espírito é acompanhada pelo seu próprio ego, que ainda não foi condenado,
pois muitas coisas neles nunca passaram por julgamento. Quando contatamos as pessoas, elas são
primeiramente tocadas pelos nossos elementos mais salientes. Se o homem exterior ainda não foi
condenado, o seu elemento mais saliente é que será exposto quando contatarmos as pessoas. Ninguém
consegue esconder isso. Muitos que não são espirituais, nem mesmo em seu próprio quarto, esperam ser
espirituais no púlpito. Isso é impossível. Muitos perdem a espiritualidade assim que a memória falhe em
lembrá-los. A espiritualidade deles é sustentada pela memória. Mas essa é uma proposta impossível. Não
devemos pensar: "Lembrar-me-ei de me restringir hoje porque tenho de dar uma mensagem; tenho de
trabalhar". A memória não é a nossa salvação. Não podemos ser salvos por ela. O tipo de pessoa que
somos será exposto assim que abrirmos a boca. Não importa o quanto a pessoa tente fingir, representar ou
se esconder, o seu espírito irá sair assim que ela abrir a boca. O tipo de espírito que temos e a mistura que
houver nele se tornarão óbvios para todos, assim que abrirmos a boca. Em questões espirituais não há
como fingir.
Se quisermos experimentar livramento da parte de Deus, isso tem de ser fundamental, e não algo
fragmentado. Deus precisa operar em nós para lidar com o nosso ponto forte, e tem de quebrá-lo. Só
então o nosso espírito será liberado sem mistura, infundindo-se nas pessoas. Se nunca fomos tocados por
Deus de forma básica, podemos até agir de forma meio espiritual quando nos lembrarmos de fazê-lo, mas
manifestaremos o ego assim que a nossa memória falhar. Na verdade, em ambos os casos, quer nos
lembremos, quer não, o espírito que liberamos é o mesmo, e as coisas que saem junto com ele são as
mesmas.
O maior problema entre obreiros é o problema de mistura. Com freqüência tocamos a vida nos irmãos,
mas também a morte. Tocamos Deus nos irmãos, mas também o seu ego. Tocamos um espírito de
mansidão, mas também um ego teimoso. Encontramos o Espírito Santo neles, mas também a carne.
Quando se levantam para falar, as pessoas sentem um espírito misto, um espírito impuro. Se Deus deseja
que O sirvamos no ministério da palavra, e se temos de falar por Deus, precisamos pedir graça.
Precisamos dizer: "Deus, trabalha em mim. Quebra o meu homem exterior; vem demoli-lo e separá-lo do
homem interior". Se não tivermos experimentado essa libertação, expressaremos o homem exterior
inconscientemente sempre que abrirmos a boca. Não há como escondê-lo. Assim que a palavra sai, o
espírito também sai. Nós somos o que somos, e não conseguimos fingir. Se quisermos ser usados por
Deus, o nosso espírito precisa ser liberado e tem de ser puro. Para que sejamos puros, o nosso homem
exterior precisa ser destruído, caso contrário, carregaremos as nossas próprias coisas conosco quando
servirmos como ministros da palavra. O nome do Senhor sofrerá perda, não devido à nossa falta de vida,
mas à mistura. O nome do Senhor sofrerá, e a igreja também.
Já falamos sobre a disciplina do Espírito Santo, agora vamos falar sobre a Sua revelação. Pode

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acontecer de a Sua disciplina vir antes da Sua revelação, e também pode vir depois. Podemos fazer uma
distinção de seqüência, mas quando o Espírito Santo opera, Ele não necessariamente faz uma coisa
primeiro e depois a outra. Em nossa experiência não há ordem fixa de eventos. Alguns experimentam
primeiro disciplina, outros experimentam primeiro revelação. A experiência de cada um é diferente.
Alguns recebem a disciplina do Espírito primeiro, depois recebem a Sua revelação, e então mais
disciplina. Outros recebem revelação do Espírito primeiro, depois disciplina e então mais revelação.
Entretanto, entre os filhos de Deus sempre há mais disciplina do que revelação do Espírito Santo. Aqui
estamos falando de experiência, e não de doutrina. Para muitos a disciplina ocorre com mais freqüência
do que a revelação. Resumindo, a alma e o espírito têm de ser separados. O homem interior tem de ser
separado do exterior. O homem exterior precisa ser quebrantado, moído e completamente separado do
homem interior. Só então o nosso espírito estará livre e puro.

COMO CONSEGUIR ESSA SEPARAÇÃO


Hebreus 4:12-13 diz: "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer
espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para
discernir os pensamentos e propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta na sua
presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de
prestar contas". O vocábulo palavra no versículo 12 é lógos no grego. É o mesmo vocábulo para contas
no versículo 13. Isso tem a conotação de juízo. A última parte do versículo 13 pode ser traduzida também
por "todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos Daquele que nos julga" ou "todas as coisas
estão descobertas e patentes aos olhos do Senhor, que é nosso Juiz".
A primeira coisa que precisamos perceber é que a Bíblia nos diz que a palavra de Deus é viva. Se
realmente a tocarmos, ela será viva para nós. Se não sentirmos que ela é viva, isso significa que não a
tocamos. Algumas pessoas leram todas as palavras da Bíblia. Mas não tocaram a palavra de Deus.
Somente quando tocamos algo vivo é que podemos dizer que tocamos a palavra de Deus.
Em João 3:16 lemos: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para
que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". Uma pessoa ouve essa palavra e se ajoelha
orando: "Senhor, Te agradeço e Te louvo, porque me amaste e salvaste". Tal pessoa tocou a palavra de
Deus, porque a palavra tornou-se viva para ela. Outra pessoa que estava sentada ao lado da primeira pode
ter ouvido a mesma palavra. O som pode ser o mesmo, mas ela só ouviu o som, e não a palavra de Deus.
Não há uma reação viva nela ao ouvir a palavra. A palavra de Deus é viva; se a pessoa a ouvir e não for
vivificada, não ouviu a palavra. Deus usa a Sua própria palavra, e essa palavra é viva.
A palavra de Deus não só é viva, mas também eficaz, operante. Viva refere-se à sua natureza e eficaz
refere-se à obra que ela realiza no homem de acordo com a vontade de Deus. A palavra de Deus não
passa levemente; ela sempre resulta em algo. Ela produz resultados. A palavra de Deus não vem a nós à
toa; ela opera para produzir resultados no homem.
A palavra de Deus é viva e eficaz. Que essa palavra faz ao homem? Ela penetra e divide. È cortante,
até mesmo "mais cortante do que qualquer espada de dois gumes". E penetra "até ao ponto de dividir
alma e espírito, juntas e medulas". Aqui há um contraste. Por um lado temos uma espada de dois gumes
versus as juntas e medulas; por outro, temos a palavra de Deus versus a alma e o espírito. As juntas e
medulas são as partes mais profundas do homem. Dividir as juntas é dividir o osso exteriormente. Dividir
a medula é dividir o osso interiormente. Uma espada de dois gumes consegue dividir um osso externa e
internamente. Fisicamente uma espada de dois gumes pode fazer isso com o nosso corpo físico. Mas há
duas coisas que são mais difíceis de dividir do que juntas e medulas: a alma e o espírito. Uma afiada
espada de dois gumes pode dividir juntas e medulas, mas não a alma e o espírito. Ela não consegue dizer-
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nos o que é a alma e o que é o espírito, nem consegue mostrar-nos o que é do espírito e o que é da alma.
Mas a Bíblia nos diz que há algo, mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, que consegue
dividir alma de espírito: a palavra de Deus. A palavra de Deus é viva e eficaz. Ela penetra e divide. Não
penetra nas juntas nem divide a medula, mas penetra ao ponto de dividir a alma do espírito. Ela consegue
separar a alma do espírito.
Alguns podem dizer: "Não sinto que a palavra de Deus possa fazer algo. Eu a tenho ouvido há muito e
aceitei a Sua revelação. Mas não recebi nada de especial. Não sei o que significa penetrar e dividir. Sei
que a palavra de Deus penetra ao ponto de dividir alma e espírito. Mas na minha experiência eu não sei o
que significa isso".
A Bíblia responde a isso. Na primeira parte do versículo diz: "Penetra até ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas". Que significa isso? A resposta está na parte seguinte do versículo: "E é apta
para discernir os pensamentos e propósitos do coração". Pensamentos é o que pensamos no coração, e
propósitos são as idéias e intenções. A palavra de Deus consegue discernir o que pensamos no coração
bem como as nossas intenções.
É comum admitir que determinada coisa veio do nosso homem exterior, que é da alma, da carne e que
é carnal. Admitimos que é algo que se originou em nós mesmos. Entretanto, mesmo quando dizemos isso,
na realidade não vemos a questão. Quando Deus nos concede misericórdia e nos ilumina, Ele nos fala
séria e sobriamente, como se dissesse: "Ê isso. Isso é o ego sobre o qual você vem falando há muito
tempo. Isso é o seu ego! Você vem falando com tanta eloqüência e tão levemente sobre a carne. Ê isso! È
isso que Eu odeio. Isso é o que abomino". Quando não vemos a carne, falamos dela fazendo piadas.
Quando estamos sob a luz, caímos com o rosto em terra e confessamos: "Ê isso! A carne sobre a qual eu
falava é exatamente isso!" Dividir alma de espírito não ocorre no conhecimento, e, sim, quando a palavra
de Deus vem a nós e nos revela os pensamentos e propósitos do coração. Isso ocorre quando, sob o
iluminar de Deus, vemos que os nossos pensamentos, mente e ações são todos da carne e os propósitos
visam ao ego.
Suponha que dois pecadores estejam à nossa frente. Ambos são pecadores, mas não são iguais. Um é
um pecador com conhecimento. Ele vem à reunião e ouve muitos ensinamentos. Sabe que o homem é
pecador, e sabe que ele é um pecador em virtude desse e daquele fato. O pregador é lúcido na pregação e
o nosso amigo absorveu bastante conhecimento. Ele confessa que é pecador, mas ao dizê-lo ele é muito
jovial e despreocupado. O outro ouve a mesma coisa, mas a luz de Deus está sobre ele, e ele cai com o
rosto em terra e diz: "Oh! eu sou assim! Sou um pecador!" Ele ouve a palavra de Deus dizendo-lhe que
ele é um pecador e vê que é pecador. Ele se condena e cai com o rosto em terra. O que foi iluminado
prostra-se no chão e confessa os pecados; recebe a salvação de Deus. O que faz piada da questão de ser
pecador não vê nada e não é salvo.
Hoje ouvimos que o homem exterior é um problema sério e o homem carnal tem de ser quebrantado.
Se falarmos levemente sobre essa questão, como se fosse um assunto para bate-papo, isso não nos fará
bem algum. Se, porém, recebermos a misericórdia de Deus para ver a luz, diremos: "Senhor, hoje eu me
conheci. Agora sei o que é o meu homem exterior". Quando a luz de Deus brilha, vemos o que é o
homem exterior e caímos, e não nos podemos levantar mais. Imediatamente vemos que somos
exatamente assim. Dizemos que amamos o Senhor, mas quando a luz de Deus brilha sobre nós, vemos
que não O amávamos nem um pouco, mas apenas amávamos a nós mesmos. Quando a luz vem, ela dá
discernimento. A mente não nos dá discernimento, nem as doutrinas, mas a luz de Deus, sim. Nós nos
gabamos do nosso zelo, mas a luz de Deus revela que esse zelo não passa de atividades da carne.
Pregamos o evangelho e achamos que amamos os pecadores, mas quando a luz vem, vemos que a nossa
pregação é fruto de agitação e eloqüência; é apenas a inclinação natural. Quando a luz vem, os
pensamentos e propósitos do coração são expostos. Achamos que os nossos pensamentos e intenções vêm
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do Senhor, mas quando a luz vem, tudo é exposto, e descobrimos que tudo vinha de nós mesmos; nada
era do Senhor. Uma vez que a luz vem, nós vemos, e quando vemos caímos aos pés de Deus. Muitas
coisas que achávamos que vinham do Senhor descobrimos que vêm de nós mesmos. Proclamamos
tolamente que tal e tal coisa é para o Senhor, mas quando a luz vem, percebemos quão pouco do que
fizemos foi para o Senhor. A maioria das coisas foram feitas para nós mesmos. Pensávamos que muitas
obras foram feitas pelo Senhor. Na verdade, todas foram feitas por nós. Gabamo-nos que muitas
mensagens que pregamos são procedentes do Senhor, mas quando a luz de Deus brilha sobre nós,
descobrimos que muito pouco do que dissemos foram palavras dadas pelo Senhor; talvez nenhuma.
Pensávamos que muitas obras foram comissionadas pelo Senhor, mas quando a luz do céu vem, vemos
que todas as obras que fizemos foram meras atividades da carne. A revelação da nossa verdadeira
condição e o confronto com a realidade tornam-se luz para nós. Então percebemos quanto do que temos é
de nós mesmos, da alma, e quanto é do Senhor e do espírito. Assim que a luz brilha, a alma é dividida do
espírito e ocorre o discernimento dos pensamentos e propósitos do coração.
Não podemos esclarecer essa questão com doutrinas. Se tentarmos discernir doutrinariamente o que é
do ego, o que é do Senhor, o que é da carne, o que é do Espírito Santo, o que é da graça do Senhor, o que
é do homem exterior e o que é do homem interior, podemos redigir uma longa lista e até memorizá-la,
mas ainda estaremos nas trevas. Ainda faremos as mesmas coisas. Ainda seremos incapazes de nos livrar
do homem exterior. As coisas ainda estarão conosco e ainda seremos incapazes de nos livrar delas.
Podemos dizer que a carne é errada. Podemos jocosamente mostrar que isso é a carne e que aquilo é a
carne, mas nada disso irá salvar-nos. Livramento não vem dessa forma; vem da luz de Deus. Assim que a
luz de Deus brilha sobre nós, percebemos que até mesmo a nossa rejeição da carne é um ato da carne. Até
mesmo a nossa crítica da carne é uma palavra da carne. O Senhor irá discernir os pensamentos e
propósitos do nosso coração. Veremos a verdadeira condição dos pensamentos e propósitos do nosso
coração, e então nos curvaremos e diremos: "Senhor, agora sei que essas coisas pertencem ao homem
exterior". Irmãos e irmãs, somente essa luz consegue separar o homem exterior do homem interior. Tal
separação não advém do negar a si mesmo. Não podemos rilhar os dentes e dizer que o rejeitamos. A
nossa rejeição não é confiável e a nossa confissão é impura. Até mesmo as lágrimas da nossa confissão
têm de ser lavadas pelo sangue. Tolamente achamos que possuímos o que conhecemos na mente. Mas
Deus não vê as coisas desse modo.
Deus diz que a Sua palavra é viva e eficaz, é mais cortante do que qualquer outra coisa. Quando ela
vem a nós o espírito e a alma são divididos, assim como uma espada de dois gumes divide juntas e
medulas. Ela nos divide expondo os pensamentos e propósitos do coração. Poucos de nós conhecem o seu
coração! Irmãos, somente os que estão sob a luz conhecem o próprio coração. Os que não estão nunca o
conhecerão. Não há exceção nisso! Não conhecemos nada do nosso coração. Somente quando a palavra
de Deus vem a nós é que vemos que temos sido apenas para nós mesmos. Vivemos para a nossa própria
satisfação, glória, busca, posição e aperfeiçoamento. Irmãos e irmãs, quando o ego é desmascarado e
manifestado pela luz, caímos com o rosto em terra diante de Deus.
QUE É REVELAÇÃO?
Em Hebreus 4:13 temos a continuação: "E não há criatura que não seja manifesta na sua presença;
pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar
contas". Aqui o Senhor nos mostra o padrão pelo qual Ele nos ilumina e discerne os nossos pensamentos
e intenções. Que é uma revelação do Espírito Santo? Até que ponto os nossos olhos precisam ser abertos
para que digamos que temos revelação? É isso que o versículo 13 nos diz. Resumindo, o padrão de luz é o
padrão de Deus. Revelação significa que vemos as coisas de acordo com o padrão de Deus. Todas as
coisas estão descobertas e patentes diante Dele e nada está escondido Dele. Só se pode esconder alguma
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coisa dos nossos olhos; nada pode ser escondido dos olhos do Senhor. Revelação é Deus abrindo os
nossos olhos para que vejamos os pensamentos e propósitos mais profundos em nosso ser como Deus os
vê. Assim como estamos descobertos e patentes diante Dele, estaremos descobertos e patentes diante de
nós mesmos depois de recebida a revelação. Assim como somos manifestados diante de Deus, também
seremos manifestados diante de nós mesmos depois de receber revelação. Isso é revelação. Revelação é
ver o que o Senhor vê. Se Deus for misericordioso conosco e nos conceder um pouco de revelação, se
virmos um pouco de nós mesmos como Ele nos vê, e se Ele nos revelar um pouco de como somos,
imediatamente cairemos com o rosto em terra diante do Senhor. Não precisaremos esforçar-nos para ser
humildes; espontaneamente iremos nos prostrar. Os que estão na luz não conseguem ser orgulhosos
mesmo que o queiram. Somente os que estão nas trevas é que são orgulhosos. A pessoa é arrogante
porque não tem a luz de Deus. Todos os que estão na luz e na revelação certamente se prostram.
Como sabemos o que é espiritual e o que é anímico, o que é do homem interior e o que é do homem
exterior? É difícil esclarecer essa questão por meio de doutrina, mas se tivermos revelação vamos achá-la
fácil de responder. Assim que Deus nos expuser os pensamentos e nos mostrar os propósitos do coração,
a alma será separada do espírito. Sempre que pudermos discernir os pensamentos e propósitos do coração,
seremos capazes de dividir a alma do espírito.
Se queremos ser úteis, cedo ou tarde temos de deixar essa luz brilhar sobre nós. Somente quando ela
nos sobrevém é que estamos sob o juízo de Deus. Quando somos julgados podemos levantar a cabeça e
dizer: "Sou totalmente inconstante. Até mesmo quando me repreendo não sou confiável. Mesmo quando
confesso os meus pecados ainda sou ignorante do que confesso. Só posso saber por meio da luz". Antes
de recebê-la podemos dizer que somos pecadores, mas não temos o sentimento de que somos pecadores.
Dizemos que nos odiamos, mas não temos o sentimento de que realmente nos odiamos. Dizemos que nos
negamos, mas não temos o sentimento de que nos negamos. Isso só virá por meio do brilhar do Senhor.
Assim que a luz brilhar, o nosso verdadeiro ego será exposto. Descobriremos que por toda a vida
estivemos amando a nós mesmos e não ao Senhor. Estivemos enganando a nós mesmos e o Senhor. Nós
não O amamos nem um pouquinho. A luz nos mostrará o tipo de pessoas que, somos e o tipo de coisas
que fizemos antes. Daí em diante saberemos o que é do espírito e o que é da alma. Descobriremos que
muitas coisas eram de nós mesmos. A pessoa só pode dizer que se conhece depois de ter sido julgada pela
luz. Se não for julgada pela luz, não será o que afirma ser, mesmo que tente imitar. Somente quando Deus
faz brilhar uma grande luz sobre nós é que podemos dizer: "Isso é a minha alma". O juízo que vem com a
luz distinguira o homem interior do exterior. Quando o homem interior e o exterior forem distinguidos
um do outro, então o nosso espírito e alma estarão divididos. O Senhor realiza um iluminar único em nós
com a sua grande luz sem precedentes. Isso pode acontecer enquanto ouvimos uma mensagem, ou
enquanto oramos, temos comunhão com irmãos ou andamos na rua. A luz sem precedentes brilha e
descobrimos a nós mesmos. Uma vez sob essa grande luz, descobrimos quão pouco do que temos feito na
vida foi do Senhor. Sempre foi de nós mesmos. Nós é que agíamos, trabalhando atarefada e zelosamente,
falando, ajudando os irmãos e irmãs e pregando o evangelho. Quando a luz brilhar sobre nós
perceberemos o quanto a nossa presença é penetrante, como nos intrometemos em tudo e o que o nosso
ego inclui.
O ego antes escondido agora será exposto. O ego do qual não éramos conscientes agora será
claramente percebido. Teremos clareza de tudo e perceberemos que o ego na verdade envolve muitas
coisas, inclusive muitas atividades. Pensávamos que muitas coisas eram feitas no nome do Senhor. Agora
vemos que em essência são todas de nós mesmos. Uma vez que vejamos isso, espontaneamente
condenamos o homem exterior. As coisas que vemos na luz serão por nós condenadas assim que
aparecerem novamente. O que vimos sob a luz rejeitaremos novamente quando coisas, palavras ou
intenções de natureza semelhante aparecerem segunda vez. Veremos imediatamente que estamos diante
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da mesma coisa que já tentamos resolver da primeira vez. Tudo o que tenha passado pelo julgamento da
luz uma vez, será julgado novamente assim que uma pequena semente começar a germinar. Depois de
receber esse iluminar seremos capazes de dividir alma de espírito. Antes desse iluminar, tudo o que
tínhamos eram doutrinas e falávamos como um pecador fala loquazmente sobre o seu próprio pecado. Se
não temos luz, até mesmo o esforço para lidar com nós mesmos é inútil. O único lidar que é útil é o lidar
sob a luz. Quando vivemos diante do Senhor dessa forma, o nosso espírito é liberado, tornamo-nos puros
e o Senhor não tem problema algum em nos usar.
O dividir de alma e espírito vem do iluminar. Que é o iluminar? Que o Senhor tenha misericórdia de
nós e nos mostre o que é o iluminar. Iluminar é ver o que Deus vê. Que Deus vê? Ele vê o que nós não
vemos. Que é que nós não vemos? Não vemos as coisas que são de nós mesmos, as coisas que achamos
que são de Deus, mas na realidade não são. A luz nos mostra o quanto do que pensávamos que era de
Deus, na verdade, é de nós mesmos. Mostra-nos o quanto do que pensávamos fosse bom, na verdade, não
é bom. O quanto do que pensávamos estivesse correto, na verdade, está errado. O quanto do que
pensávamos fosse espiritual, na verdade, é anímico e o quanto do que pensávamos fosse de Deus, na
verdade, é de nós mesmos. Então diremos: "Senhor! Agora me conheço. Sou cego. Tenho sido cego por
vinte ou trinta anos, entretanto, não me dava conta disso. Não via o que Tu vias".
Esse ver irá tirar o que temos. O nosso ver é o lidar. Não pense que ver é uma coisa e lidar é outra. A
palavra de Deus é eficaz. Uma vez que ela brilhe sobre nós, o nosso homem exterior vai embora. Não é
que ouvimos a palavra e depois gradualmente experimentamos o lidar. Não é que vemos algo por meio da
luz de Deus e depois lidamos com o que foi visto. Não temos o ver como um passo e o lidar como outro.
O brilhar é o remover, ambos acontecem ao mesmo tempo. Assim que a luz brilha, a carne morre.
Nenhuma carne sobrevive quando é exposta à luz. Quando a pessoa vê a luz, não precisa humilhar-se; ela
cairá com o rosto em terra imediatamente. Sob a luz a sua carne irá extinguir-se. Irmãos e irmãs, isso é o
que significa ser eficaz. A palavra de Deus é viva e eficaz. Não significa que Deus fala e então nós a
tornamos eficaz, mas a própria palavra é eficaz em nós.
Que o Senhor nos abra os olhos para que vejamos essas duas coisas. Por um lado, temos a disciplina
do Espírito Santo. Por outro, temos a revelação. Essas duas coisas combinadas lidarão com o nosso
homem exterior. Que o Senhor seja gracioso conosco a fim de que nos coloquemos sob a Sua luz, e que
essa luz brilhe em nós para que venhamos a nos prostrar e dizer ao Senhor: "Eu realmente sou tolo e cego.
Tenho sido tão tolo e cego que por anos tenho tomado o que é de mim mesmo como sendo Teu. Senhor,
sê misericordioso comigo!"

Capítulo Oito

A IMPRESSÃO E A CONDIÇÃO DO ESPÍRITO

O QUEBRANTAMENTO E A IMPRESSÃO
Se podemos ou não ser um obreiro do Senhor não depende do que dizemos ou fazemos, e, sim, do que
procede de nós. Se dizemos e fazemos algo, mas o que procede de nós é outra coisa, as pessoas não
receberão ajuda. O que procede de nós é muito crucial.
Às vezes dizemos que temos boa impressão de determinada pessoa ou má impressão de outra. De onde
vem essa impressão? Não vem das palavras da pessoa. Se fosse assim, alguém seria bom se as suas
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palavras fossem boas, e mau se as suas palavras fossem más. Não haveria necessidade nenhuma de
falarmos de impressão. No entanto, há algo inexplicável que nos causa certas impressões. A impressão
que recebemos de alguém é algo à parte de suas palavras e obras. Enquanto ele fala ou age, algo mais
procede do seu ser que nos causa uma impressão.
O que impressiona os outros são os nossos pontos mais fortes. Se os nossos pensamentos nunca foram
quebrantados e são violentos e selvagens, quando contatamos os irmãos, eles espontaneamente tocarão os
nossos pensamentos. Isso será tudo o que os impressionará. Talvez tenhamos uma emoção anormal,
quente demais ou fria demais. Se nunca foi quebrantada pelo Senhor, ela espontaneamente procederá de
nós quando contatarmos as pessoas. A impressão que irão receber será da nossa emoção. O nosso ponto
forte é o que procede de nós, e é a impressão que as pessoas irão receber. Podemos controlar as palavras e
ações, mas não o que procede de nós. O que temos é o que espontaneamente fluirá de nós.
O Segundo Livro dos Reis registra a recepção da mulher sunamita a Eliseu. Em4:8-9 lemos: "Certo
dia, passou Eliseu por Suném, onde se achava uma mulher rica, a qual o constrangeu a comer pão. Daí,
todas as vezes que passava por lá, entrava para comer. Ela disse a seu marido: Vejo que este homem que
passa sempre por nós é santo homem de Deus". Eliseu apenas passou por Suném; não deu uma mensagem
nem realizou nenhum milagre. Daí, todas as vezes que passava por lá, entrava para comer. A mulher
identificou-o como um homem de Deus pela maneira como ele comia. Essa era a impressão que Eliseu
dava às pessoas.
Hoje precisamos perguntar-nos: "Qual é a impressão que damos às pessoas? Que é que procede de
nós?" Temos reiterado que o homem exterior precisa ser quebrantado. Se isso não acontecer, a impressão
que as pessoas terão de nós não será outra senão a impressão do nosso homem exterior. Todas as vezes
que contatamos as pessoas podemos dar-lhes a desagradável sensação de que somos os que amam a si
mesmos, são teimosos e orgulhosos. Ou então daremos a impressão de que somos espertos e
extremamente eloqüentes. Talvez daremos uma assim chamada boa impressão aos outros. Mas essa
impressão satisfaz a Deus? Será que satisfaz às necessidades da igreja? Deus não está satisfeito e a igreja
não tem nenhuma necessidade das nossas assim chamadas boas impressões. Irmãos, Deus exige que o
nosso espírito esteja liberado e a igreja também o requer. Temos uma grande e crucial necessidade: que o
nosso homem exterior seja quebrantado. Se isso não acontecer, o nosso espírito não será liberado e a
impressão que daremos às pessoas não será do espírito.
Certa vez um irmão falava a respeito do assunto: o Espírito Santo. Porém todas as suas palavras,
atitudes e histórias expunham-no como alguém cheio do ego. Enquanto o ouviam, as pessoas sentiam-se
desconfortáveis. O Espírito Santo estava na sua boca, mas o ego estava em seu ser. As suas palavras eram
a respeito do Espírito Santo, mas a impressão que ele dava era do seu ego. Para que serve isso? Não
devemos dar atenção apenas às doutrinas. O importante é o que procede de nós. Se o que procede de nós é
o ego, as pessoas só tocarão no ego. Embora o assunto possa ser maravilhoso e a mensagem excelente,
para que serve? Deus não deseja que tenhamos progresso apenas na doutrina, Ele tem de lidar com a
pessoa. Se a nossa pessoa não for disciplinada, seremos de pouca utilidade para a obra de Deus. Somente
seremos capazes de dar aos outros ensinamentos espirituais, e não impressões espirituais. E lamentável
que os nossos ensinamentos sejam espirituais e a impressão que damos aos outros seja do ego! É por isso
que temos repetido que Deus tem necessidade de quebrantar o nosso homem exterior.
Constantemente Deus arranja as nossas circunstâncias para quebrar o nosso ponto forte. Talvez ele
seja tão forte que um golpe só não é suficiente para tirá-lo. Por isso, vem 0 segundo golpe. Se o nosso
ponto forte ainda não cede, um terceiro golpe virá. Deus não irá desistir. Ele tem de quebrar o nosso
ponto forte. Ele nunca irá parar a Sua obra.
O que o Espírito Santo realiza em nós por meio da Sua obra disciplinadora é diferente do que

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recebemos por meio da pregação comum. Ao ouvir uma mensagem, geralmente entendemos a doutrina na
mente e esperamos por meses e até mesmo anos até que Deus nos conduza à verdade subjetivamente.
Primeiro ouvimos a mensagem e depois entramos na verdade. Mas a disciplina do Espírito Santo opera de
modo diferente. Ela se caracteriza pelo fato de que, no instante em que vemos a verdade, recebemos o seu
conteúdo. As duas coisas ocorrem ao mesmo tempo. Não é que primeiro vemos a doutrina e depois
recebemos o conteúdo. Somos tolos; rapidamente entendemos as doutrinas, mas aprendemos lentamente
com a disciplina. Podemos lembrar-nos de muitos ensinamentos depois de ouvi-los uma única vez.
Entretanto, a disciplina do Espírito Santo pode vir a nós dez vezes e ainda podemos estar confusos e
atônitos, não sabendo por que estamos sendo disciplinados. Se o Senhor não conseguir quebrar-nos com
um só golpe, Ele o repetirá. Quando experimentamos a disciplina do Espírito Santo uma, duas, dez vezes,
ou mesmo cem vezes, o Senhor produzirá algo em nós e no mesmo instante veremos a verdade. O
momento em que vemos a verdade é o momento em que adquirimos o próprio item a que ela se refere.
Assim, a disciplina do Espírito Santo equivale tanto ao Seu demolir como ao Seu edificar. Essa é a obra
do Espírito Santo. Depois que o homem passa pela disciplina do Espírito, ele não só é aperfeiçoado como
também vê a verdade. Ele tanto é edificado como demolido. Ao experimentar tanta disciplina do Espírito
Santo verá e tocará algo real diante do Senhor e dirá: "Graças ao Senhor. Agora sei que Ele usou os
últimos cinco ou dez anos para lidar comigo, simplesmente para se livrar dessa única coisa". Graças ao
Senhor que Ele remove os nossos obstáculos por meio de repetidas disciplinas.

O ILUMINAR E O MATAR
Iluminar é outra obra do Espírito Santo. O Espírito lida com o nosso homem exterior por intermédio
desses dois meios: disciplina e iluminar. As vezes Ele opera por meio dos dois simultaneamente e outras
vezes consecutivamente. Às vezes o Espírito Santo nos disciplina por intermédio do ambiente para
derrubar os nossos pontos fortes. Outras vezes, Ele nos concede graça especial iluminando-nos de uma
forma especial. Precisamos ter clareza de que a carne só consegue se refugiar nas trevas. Quando as
trevas somem, a carne não tem onde se esconder. Muitas obras da carne permanecem porque não as
conhecemos como obras da carne. Assim que a luz vem e nós as vemos como sendo da carne, ficamos
com temor de agir da forma como vínhamos agindo.
Quando a igreja é rica, quando a Palavra de Deus é liberada, quando o ministério da Palavra é forte e
quando é comum profetizar, a luz é freqüente e prevalecente. Uma vez que a luz brilha percebemos o que
é orgulho. Começamos a conhecer exatamente aquilo sobre o que falávamos no passado. Antes quando
falávamos sobre orgulho, era algo de que nos orgulhávamos. Mas quando vemos o orgulho sob a luz, só
podemos exclamar: "Oh! isso é orgulho. Agora sei que o orgulho é tão maligno e sujo!" O orgulho que
vemos na luz da revelação é completamente diferente daquele que falamos com a nossa boca. O orgulho
do qual falamos com muita eloqüência não nos parece detestável e imundo. Mesmo enquanto falávamos
sobre ele, tínhamos muito pouco sentimento.
Mas quando estamos na luz, tudo se torna diferente. A luz expõe a nossa verdadeira condição. O ego que
vemos hoje é milhares de vezes mais maligno e sujo do que o ego do qual falamos no passado. Nessas
circunstâncias o nosso orgulho, ego e carne irão desaparecer. Serão removidos e não sobreviverão.
Algo maravilhoso é que tudo que vemos na luz é morto por ela. O ver e o matar não acontecem
consecutivamente. Não é que vemos as nossas deficiências e então as removemos gradualmente anos
depois. Quando vemos as nossas deficiências debaixo do iluminar, elas são imediatamente terminadas,
são imediatamente mortas. A luz mata. Isso é a coisa mais maravilhosa no tocante à experiência cristã.
Quando o Espírito Santo nos ilumina, nós somos tratados. Portanto, revelação inclui não só ver como
também matar. Pelo ver, a carne é exterminada. A revelação é a maneira de Deus operar. Na verdade, a
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revelação é o próprio operar de Deus. Assim que a luz revela ela também mata. Quando a luz brilha nós
vemos, e o fato de vermos mata tudo. Uma vez que vemos quão suja e maligna determinada coisa é, e
vemos que o Senhor a condena, ela não consegue mais sobreviver.
O que há de mais grandioso na experiência cristã é o matar que advém da luz. Paulo não recebeu o
iluminar e então se apressou para se ajoelhar ao lado da estrada. No mesmo instante em que foi iluminado
ele caiu. Antes disso ele era capaz de planejar tudo e estava seguro de tudo. Entretanto, a sua primeira
reação quando a luz veio foi cair. Ele tornou-se tolo e ignorante. A luz o derrubou. Devemos perceber que
essas duas coisas acontecem em um passo só, não em dois. Não acontece da maneira que pensamos. Deus
não brilha sobre nós, nos faz entender e então levamos a cabo aquilo que Ele nos mostrou. Não é que
Deus nos ilumina a respeito das nossas deficiências e então começamos a mudar essas deficiências. Não,
Deus não age assim. Ele nos mostra quão sujos, malignos e insuficientes somos e assim que vemos isso,
exclamamos: "Oh! que pessoa suja e maligna eu sou!" Assim que Deus nos mostra a nossa verdadeira
condição nós caímos. Somos terminados e não somos mais capazes de nos levantar. Uma vez que uma
pessoa orgulhosa é iluminada, ela não consegue mais ser orgulhosa mesmo que tente. Uma vez que
tenhamos visto a nossa verdadeira condição na luz de Deus e uma vez que vimos o que é o nosso orgulho,
a impressão nunca nos deixará. Algo permanecerá em nós que nos causará dor, que nos dará o sentimento
de que somos inúteis, e assim não mais conseguiremos ser orgulhosos.
Quando Deus brilha sobre nós é hora de crer e de prostrar-nos, não é hora de petições. Muitos irmãos
e irmãs ocupam-se com orações quando Deus está lhes falando. O resultado é que eles não ganham luz
alguma. O princípio que nos trouxe a salvação inicial continua válido para toda obra subseqüente de
Deus. Quando fomos iluminados para nossa salvação, só fizemos uma coisa — ajoelhamo-nos e oramos:
"Senhor, eu Te aceito como meu Salvador". Depois disso, algo aconteceu. Se, depois de ouvir o
evangelho, a pessoa orar assim: "Senhor, eu Te peço que sejas o meu Salvador". Essa pessoa pode fazer a
mesma oração por alguns dias sem sentir que o Senhor a salvou. Assim que o Senhor brilhar em nós,
devemos cair sob a sua luz e dizer: "Senhor, eu aceito o Teu julgamento. Aceito a maneira como Tu vês".
Se agirmos assim, Deus nos dará mais luz e nos mostrará quão sujos somos.
No dia em que Deus fizer brilhar a Sua luz sobre nós, muitas coisas mudarão diante dos nossos olhos.
Nós pensávamos que tínhamos feito muitas coisas no nome do Senhor e por amor a Ele. Agora as coisas
mudam de figura. Descobrimos que por trás dos nossos objetivos mais nobres há intenções vis e
horríveis. Pensávamos que éramos absolutamente para Deus. Agora descobrimos que somos cheios de
planos para nós mesmos. Na verdade, somos tão cheios dessas coisas que só podemos nos prostrar. O ego
se esconde em qualquer canto, ele até mesmo tenta usurpar a glória de Deus. "Existe algo que o homem
não possa fazer?" Debaixo do iluminar de Deus descobrimos o tipo de pessoa que somos. Assim que vem
a revelação de Deus, a nossa condição é exposta. Ele nos expõe e então vemos a nós mesmos.
Anteriormente só Deus nos conhecia. Nós estávamos expostos diante Dele, mas não diante de nós
mesmos; ainda não nos conhecíamos. Mas quando Deus nos expõe todos os pensamentos e propósitos do
coração, não apenas estaremos expostos diante Dele, mas diante de nós mesmos também. Então não mais
ousaremos levantar a cabeça. Antes de sermos expostos nós não nos conhecemos e assim estamos
tranqüilos. Mas quando nos enxergamos diante da luz de Deus, ficamos tão envergonhados que nenhum
lugar é suficientemente adequado para nos esconder. Agora sabemos o tipo de pessoa que somos! Agora
sabemos o tipo de bravatas que fizemos! Achávamos que éramos melhores do que os outros. Agora
sabemos o tipo de pessoa que somos! Não conseguimos achar termos mais adequados diante do Senhor
para descrever a nós mesmos, só podemos dizer que somos sujos e malignos. Admitimos que os nossos
olhos estiveram cegos durante anos e que nada viram. Quanto mais vemos a nossa sujeira, mais
envergonhados ficamos. Parece até que toda a vergonha do mundo inteiro está sobre nós. Nos prostramos
diante do Senhor e nos arrependemos dizendo: "Eu me arrependo de ser quem tenho sido. Odeio a mim
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mesmo. Admito que sou alguém incurável".
Esse iluminar, o arrependimento, a vergonha, o ódio e a prostração irão lançar fora aquilo que fomos
incapazes de lançar fora todos esses anos. A salvação do homem vem da iluminação Instantânea. O ver e o
remover são uma só obra. Os dois estão ligados. Ao iluminar, o Senhor salva. Iluminar é a salvação e
enxergar é o livramento. Precisamos ver dessa forma diante do Senhor. Somente esse tipo de iluminar
removerá o nosso orgulho e apenas essa luz irá fazer cessar as nossas atividades carnais e quebrar a nossa
casca exterior.

UMA COMPARAÇÃO ENTRE A DISCIPLINA E A REVELAÇÃO


Temos estas duas coisas principais diante de nós — a disciplina do Espírito e o iluminar de Deus, ou
podemos dizer a revelação do Espírito. Vamos comparar as duas coisas. A disciplina do Espírito Santo
geralmente é um processo lento. Ela nos sobrevém lentamente, pouco a pouco. Às vezes leva alguns anos
para Ele lidar conosco a respeito de determinada questão. Ademais, essa disciplina não vem
necessariamente por meio do ministério da Palavra. Muitas vezes não há ministério da Palavra, entretanto,
o Espírito ainda exerce a Sua disciplina. Mas a revelação do Espírito Santo é diferente. Muitas vezes ela
vem rapidamente, talvez em dias ou mesmo em minutos. A luz de Deus pode brilhar sobre alguém por
alguns minutos ou por alguns dias. Debaixo dessa luz ele vê que está acabado, que é absolutamente inútil,
e que todo o seu gloriar-se anterior é agora a sua vergonha. Essa revelação do Espírito Santo
freqüentemente vem por meio do ministério da Palavra. É por isso que a revelação do Espírito Santo
ocorre mais freqüentemente quando a igreja é forte e o ministério da Palavra é abundante. Mas mesmo
quando não há ministério da Palavra, e conseqüentemente pouca revelação do Espírito, ninguém pode
permanecer na presença do Senhor e ainda preservar o seu homem exterior. Pode haver falta de Palavra e
de revelação, mas ainda há a disciplina do Espírito Santo. Mesmo que alguém não tenha tido contato com
outro crente por anos, o Espírito Santo ainda realiza a Sua obra de disciplina nele e ele ainda pode
aprender e tocar algo elevado diante do Senhor. Alguns não têm o ministério da Palavra porque a igreja é
fraca. Alguns até mesmo acham que perderam a disciplina do Espírito devido à sua própria tolice. Isso
não quer dizer que não há mais nenhuma disciplina do Espírito Santo; antes, quer dizer que o Espírito
Santo nos tem disciplinado durante anos sem produzir nada, ou resultando em nada. O Senhor pode bater
uma vez e nós talvez não percebamos o significado disso. Ele pode bater outra vez, e ainda podemos não
perceber o que significa isso. Ele pode bater por dez anos, enquanto nós agimos como uma mula sem
razão, sem saber das Suas intenções. Isso é lamentável. Nunca nos falta disciplina, o que nos falta é ter
uma visão mais clara da mão do Senhor.
O Senhor freqüentemente nos castiga, mas nós voltamos a nossa atenção aos homens e tomamos o
caminho errado. A nossa atitude diante do Senhor deve ser como disse o salmista: "Emudeço, não abro os
meus lábios porque tu fizeste isso" (SI 39:9). Precisamos lembrar que não é o nosso irmão, a nossa irmã,
os nossos amigos, os nossos parentes nem nenhuma outra pessoa que está lidando 'conosco. Ê Deus que
está lidando conosco. Precisamos ver isso. Temos de perceber que o Senhor nos tem nos disciplinado e
lidado conosco todos esses anos. Devido à nossa ignorância temos posto a culpa nos outros ou até mesmo
no destino. Isso é total ignorância a respeito da mão de Deus. Está errado. Temos de lembrar que tudo foi
medido para nós pelo nosso Deus. A quantidade, a extensão e I intensidade do que nos acontece são todas
medidas por Ele. Ele ordena tudo à nossa volta, cujo único propósito é quebrar os nossos pontos salientes,
rudes e difíceis. Que o Senhor seja misericordioso para conosco e mostre-nos o significado da Sua Dora
em nós. Que Ele nos conceda muita luz para nos expor e humilhar. Se o Senhor quebrar nosso homem
exterior, nós não mais apresentaremos aos outros o nosso ego forte quando os tocarmos; antes, o nosso
espírito fluirá de nós sempre que tocarmos os homens.
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Oramos para que a igreja venha a conhecer Deus como nunca O conheceu. Também oramos para que
os filhos de Deus recebam Dele bênçãos sem precedentes. O Senhor precisa ajustar o nosso ser até nos
tornarmos adequados. Não apenas o evangelho precisa ser adequado, mas aquele que prega o evangelho
também precisa ser adequado. Não apenas 0 ensinamento precisa ser correto, mas aquele que ensina
também precisa ser correto. A questão é: Deus será liberado pelo nosso espírito ou não? Quando o
espírito for liberado, ele tocará muitos nesse mundo que estão necessitando do espírito. Nenhuma obra é
mais importante nem mais fundamental do que essa, e nenhuma obra pode substituí-la. A atenção do
Senhor não está na nossa doutrina, no nosso ensinamento nem na nossa mensagem. Ele quer saber que
impressão estamos dando às pessoas. O que está procedendo de nós? Estamos trazendo as pessoas para
nós mesmos ou para o Senhor? Será que por meio de nós elas tocam em doutrinas ou no Senhor? Essa é
uma pergunta muito séria. Se essa questão não for resolvida, todo o nosso labor e toda a nossa obra não
terão muito valor.
Irmãos, o Senhor se importa mais com o que procede de nós do que com o que dizemos. Sempre que
contatamos alguém, invariavelmente algo procede de nós, seja o nosso ego ou seja Deus. Seja o homem
exterior ou o espírito. Irmãos, deixem-me repetir a pergunta: "Quando estamos diante dos homens, que é
que procede de nós?" Essa é uma questão fundamental que precisa ser resolvida. Que Deus nos abençoe e
assim ganhemos luz.

Capítulo Nove

DEPOIS DO QUEBRANTAMENTO NOS TORNAMOS FLEXÍVEIS

A FLEXIBILIDADE E O QUEBRANTAMENTO DA VONTADE


Deus usa muitas maneiras para quebrar o nosso homem exterior e essas maneiras variam de pessoa
para pessoa. Ê por isso que o Espírito Santo atribui disciplinas diferentes para pessoas diferentes. Em
alguns, Deus lida especificamente com o amor-próprio. Para isso Ele prepara certos ambientes repetidas
vezes. Em outros, Ele lida com o orgulho. Para tanto Ele prepara outros ambientes repetidas vezes.
Também há aqueles nos quais Ele lida com a sua sabedoria. Ele derruba a confiança que eles têm ao
andar com base na sua própria sabedoria. Deus permite que cometam erros tolos e errem em tudo que
fazem à volta. Ele permite que falhem e voltem a falhar várias vezes, I fim de que aprendam a não confiar
na própria sabedoria, até que venham a dizer: "Não vivo pela sabedoria do homem, mas pela misericórdia
de Deus". Para algumas pessoas o Espírito Santo pode preparar ainda um outro tipo de disciplina, Ele
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pode usar o ambiente para destruir a sua subjetividade. Muitas pessoas são obstinadas, cheias de idéias e
métodos. A Bíblia diz: "Eis que eu sou o Senhor (...) acaso há alguma coisa demasiado difícil para mim?"
(Jr 32:27 - IBB-Rev.). Para alguns irmãos, parece que hão há nada difícil demais para eles. Eles nunca
encontram nada que os leve a se curvar e confessar a sua ignorância e falta de habilidade. O Espírito do
Senhor tem de lidar com eles por intermédio de toda a sorte de ambientes. Ele tem de bater e bater. Eles
irão descobrir que a despeito da sua vanglória sobre todas as coisas, eles não conseguem realizar nada. As
coisas que consideram fáceis acabam tornando-se a causa de erros e constrangimento. O Espírito Santo
escolhe humilhá-los dessa forma. Em resumo, o Espírito atinge pessoas diferentes em pontos diferentes.
O ritmo com que o Espírito lida com cada pessoa também varia. Para alguns, a vara do Senhor visita
sem folga, numa rápida seqüência. Para outros, o Senhor lida com eles por certo tempo e depois lhes dá
um período de descanso. Mas há algo que nunca muda, Ele sempre disciplina ao que ama. Devemos achar
muitas feridas entre os filhos de Deus. Elas vêm da obra do Espírito Santo. Quando o castigo vem, ele pode
atingir aspectos diferentes, mas o objetivo é o mesmo. Independentemente do tipo de disciplina exterior,
interiormente ela sempre fere a própria pessoa. Talvez Deus escolha lidar com o nosso amor-próprio, ou
então com o nosso orgulho, sabedoria ou subjetividade. Qualquer ponto que Ele tocar, o resultado de cada
disciplina é deixar-nos mais fracos do que antes. Ele lida conosco repetidamente até que o nosso ego seja
ferido e nós sejamos enfraquecidos. Alguns são tocados de forma especial na emoção. Outros são tocados
de forma especial na mente. A despeito da área em que a pessoa é tocada, o resultado final é o
quebrantamento da vontade. A pessoa pode ser atingida em qualquer área, mas o quebrantamento sempre
é aplicado ao ego e à vontade. Todos somos teimosos. A nossa vontade 6 teimosa. A nossa vontade
teimosa é apoiada pela mente, propostas, amor-próprio, emoção e sabedoria. As coisas que a sustentam
podem ser diversas, mas em cada caso há a própria dureza dela. O ferir, o lidar e o quebrantar do Espírito
Santo podem ser diferentes, mas a obra de corte final e intrínseca é a mesma: ela lida com o ego e golpeia
a vontade.
Dessa forma, todo aquele que é subjugado, seja pela revelação, seja pela disciplina, mostra uma
característica: flexibilidade. Flexibilidade é a marca de alguém quebrantado. Os que são quebrantados por
Deus são flexíveis diante Dele. A nossa casca exterior é dura e fechada porque há muitas coisas que
sustentam essa dureza em nós. Somos como uma casa sustentada por muitas colunas que não a deixam
desabar. Quando Deus remove as colunas, uma por uma, a casa desaba. Uma vez que a estrutura externa
seja desmontada, o ego interior desaba. Não pense que os de fala suave estão livres da teimosia na
vontade. Não pensemos que alguém cuja voz foi subjugada é flexível em sua vontade. Muitos que são
meigos ao falar são muito duros interiormente. A dureza tem a ver com a nossa natureza e não com a voz.
Muitos parecem ser exteriormente mais gentis do que outros, parecem não ser tão rápidos nem falam tão
alto. Mas diante de Deus são igualmente teimosos, duros, egoístas e autoconfiantes. Os elementos que
sustentam a estrutura interior podem ser diferentes, mas a estrutura em si é a mesma. O ego, isto é, a
vontade, é igualmente forte. O Senhor precisa remover esses elementos de sustentação, um por um. Ele
tem de quebrá-los um a um. Por isso é que Ele lida conosco uma vez, duas vezes e repetidamente. Pela
graça de Deus, algo será tirado de nós por meio de seguidas disciplinas. Esse castigo severo produzirá
em nós um temor quando tentarmos fazer a mesma coisa de novo. Saberemos que, se o fizermos
novamente, o Senhor irá bater em nós novamente. Se dissermos a mesma coisa outra vez, Ele irá castigar-
nos outra vez. Não mais seremos tão livres para agir. Parece que Deus só atingiu algo exteriormente. Mas,
na verdade, o nosso próprio ser foi suavizado, não conseguimos mais permanecer na área em que fomos
tocados. Pelo menos nesse aspecto específico não ousaremos desobedecer o Senhor nem insistir mais nas
nossas idéias. Temendo o castigo do Senhor, não ousaremos mais mover-nos. Tememos a Deus e nos
tornamos maleáveis naquela área específica. Quanto mais experimentamos o lidar de Deus, mais flexíveis
e dóceis nos tornamos. Quanto mais Ele levar a cabo a obra de quebrantamento em nós e quanto mais
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amplo for o seu âmbito, mais rapidamente nos tornaremos maleáveis. Flexibilidade é o resultado do
quebrantamento.
Quando contatamos certos irmãos, podemos dizer que eles têm dons, mas temos o sentimento de que
ainda não foram quebrantados. E o caso de muitos: têm dons, mas não foram quebrantados. As pessoas
percebem isso. Assim que os contatam, elas percebem a sua dureza. Uma vez que tenham sido
quebrantados, eles se tornam macios. Se alguém nunca for quebrantado, certamente continuará duro. Em
qualquer área que a pessoa experimentar o castigo de Deus, ela será purificada da vanglória, do orgulho,
do desleixo e da iniqüidade. Nessa área ela irá temer a Deus e será flexível.
A Bíblia usa muitos símbolos para o Espírito Santo. Ele é simbolizado pelo fogo e também pela água.
O fogo mostra o Seu poder, e a água, a Sua pureza. Para simbolizar a natureza do Espírito Santo, é usada
a pomba. A natureza do Espírito é a natureza de uma pomba: meiga, pacífica e mansa. Não é dura.
Enquanto o Espírito de Deus infunde a Sua natureza em nós passo a passo, nós ganhamos a natureza de
pomba. A flexibilidade que resulta do temor a Deus é uma marca da obra de quebrantamento do Espírito.

DIFERENTES MANIFESTAÇÕES DE FLEXIBILIDADE


Uma vez que alguém é quebrantado pelo Espírito Santo, ele manifestará uma flexibilidade que vem do
temor a Deus. Quando outros o contatam, não mais o acharão duro, ferino e severo como antes. Tendo
sido disciplinado pelo Senhor, a sua voz torna-se subjugada e a sua atitude fica suavizada. Ele começa a
temer a Deus interiormente e esse temor espontaneamente flui por meio da sua atitude e palavras.
Espontaneamente, ele torna-se uma pessoa flexível.

É fácil lidar com ele


Que é alguém flexível? É alguém com quem é fácil lidar. É-lhe fácil falar aos outros e também pedir
coisas aos outros. Quando a pessoa é quebrantada diante de Deus, torna-se-lhe fácil até confessar e
chorar. Para alguns é muito difícil chorar. Isso não quer dizer que chorar tenha algum mérito em si. Mas
significa, sim, que quando alguém passou pelo lidar de Deus a sua disposição exterior, pensamentos,
emoção e vontade foram quebrados, torna-se-lhe fácil ver os seus erros e confessar. Não será difícil aos
outros falar com ele. A sua casca está quebrada e a sua emoção e vontade terão a capacidade de aceitar as
opiniões dos outros e de deixar que os outros lhe falem e ensinem. Ele será introduzido numa nova esfera
e será capaz de receber ajuda em qualquer hora e lugar, uma pessoa flexível é alguém que tem
sentimentos. Como o seu homem exterior foi quebrantado, é fácil o seu espírito ser liberado e é fácil para
ele tocar o espírito dos demais. Assim que o espírito deles se mover, ele o notará. Os seus sentimentos
tornam-se muito aguçados. Ele sabe imediatamente se algo está certo ou errado. Assim que o espírito dos
outros se move ele reage. Ele não fará nada tolo nem insensível, e não fará nada que ofenda os
sentimentos dos outros. Freqüentemente levamos adiante coisas que o espírito dos outros desaprova.
Procedemos assim porque o nosso homem exterior não foi quebrantado. O espírito dos outros está
sensível ao que estamos fazendo, mas nós não temos nenhum sentimento. Alguns sempre fazem orações
tão cansativas nas reuniões que os outros gostariam que eles parassem, mas eles continuam. O espírito
dos outros está clamando que parem, mas eles não têm nenhum sentimento. Os sentimentos dos outros
não produzem nenhuma reação neles. Isso acontece porque o homem exterior deles não foi quebrantado.
Se a pessoa foi quebrantada é fácil tocar o espírito dos outros e perceber o que sentem. Ele não age como
alguém insensível que ignora as coisas das quais os outros têm clareza.
Somente os que têm o homem exterior quebrantado saberão o significado do Corpo de Cristo.
Somente eles conseguem tocar o espírito do Corpo, o sentimento dos outros membros. Eles não mais
agirão ou sentirão independentemente. Se a pessoa não tem sentimentos, será como um membro artificial,
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talvez um braço mecânico. Um braço mecânico move-se juntamente com o corpo, mas falta-lhe algo:
sensibilidade. Algumas pessoas são membros sem sentimentos. Todo o Corpo sente algo, mas eles não
sentem nada. Uma vez que o homem exterior seja quebrantado, a pessoa tocará a consciência e os
sentimentos dl Igreja. O seu espírito estará aberto e a igreja facilmente o tocará e lhe comunicará seus
sentimentos. Isso é precioso. Sempre que estivermos errados, nós o saberemos. Contudo, o
quebrantamento do homem exterior não garante que não mais estaremos errados; ele meramente nos
provê uma faculdade que nos diz quando estamos errados. Os irmãos talvez percebam que estamos errados,
mas não dizem nada sobre isso. Porém assim que os contatamos percebemos que estamos errados. Assim
que locamos o espírito deles sabemos se eles são a favor ou contra a questão em pauta. Esse é um
requisito básico na vida corpo. Sem isso não há como ter a vida do Corpo. O Corpo de Cristo não chega a
um consenso por meio de discussões e debates, assim como não há necessidade de discussões em nosso
próprio corpo. Cada membro espontaneamente sente a mesma coisa. Esse sentimento comum é a vontade
do Corpo e também a vontade da Cabeça. A vontade da Cabeça é expressa por meio da vontade do
Corpo. Quando o nosso homem exterior for quebrantado seremos ajustados e teremos o sentimento do
corpo com facilidade.

É fácil de receber aperfeiçoamento


A maior ajuda que podemos receber não vem simplesmente da correção dos nossos erros, e, sim,
quando o nosso homem exterior é quebrantado e o nosso espírito fica aberto e livre. Quando isso
acontecer receberemos suprimento do espírito dos outros. Não apenas o nosso espírito estará liberado,
mas também receberá ajuda espiritual aonde quer que formos. Se o nosso homem exterior não for
quebrantado, dificilmente receberemos ajuda de alguém. Suponha que um irmão não esteja quebrantado
no homem exterior porque a sua mente é muito forte. Quando ele vem à reunião é-lhe difícil receber
aperfeiçoamento. Ele só receberá ajuda se for confrontado com outra pessoa de mente forte. Enquanto
outros falam, ele despreza vários pensamentos, considerando-os muito tolos e maçantes. As pessoas não
conseguem prestar-lhe nenhuma ajuda. Ele pode continuar assim por um mês, dois meses, um ano, ou
dois anos sem receber ajuda nenhuma. Ele tem uma casca no intelecto e só consegue receber ajuda na
esfera mental; não consegue receber nenhum aperfeiçoamento espiritual. Mas se o Senhor entrar na sua
situação e operar nele repetidamente por um, dois ou alguns anos, a casca do seu intelecto será quebrada.
Então ele perceberá a futilidade do seu intelecto. Ele será como criança e muito facilmente ouvirá os
outros. Ele não mais ousará desprezá-los. Ao ouvir outro irmão, ele não estará mais tentando achar falhas
em sua pronúncia ou ensinamento, nem ambigüidades. Antes, com o seu próprio espírito, ele irá tocar o
espírito de quem fala. Assim que o Senhor se mover um pouco no que fala e o seu espírito for ativado, o
espírito do irmão será reavivado e ele receberá aperfeiçoamento. Se o espírito da pessoa está quebrantado,
sempre que os outros liberarem o espírito ele receberá aperfeiçoamento. Ele não receberá
aperfeiçoamento somente em doutrina; é totalmente diferente. Quanto mais disciplina o espírito da pessoa
receber de Deus, mais completo será o quebrantamento do homem exterior, e mais ajuda ele receberá.
Sempre que o Espírito de Deus se mover em alguém, este receberá ajuda. Não mais irá criticar os outros
segundo as suas doutrinas nem medi-los segundo a letra. Não irá mais prestar atenção à beleza do sermão,
à eloqüência do discurso ou à solidez da interpretação. Toda a sua atitude irá mudar.
O quanto podemos ser ajudados pelos outros depende da condição do nosso espírito. Sempre temos
contato com muitos Irmãos, mas não conseguimos tocar o espírito deles ou receber aperfeiçoamento deles
porque a nossa casca é muito grossa.
Que é aperfeiçoamento? Não é o aumento de pensamentos, Idéias ou doutrinas. É quando o nosso
espírito toca o Espírito de Deus. O Espírito de Deus pode sair de qualquer irmão. Seja na reunião, seja

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numa comunhão pessoal, seremos alimentados e reavivados assim que o Espírito de Deus for ativado nos
outros. O nosso espírito é como um espelho. Toda vez que somos aperfeiçoados é como se alguém tivesse
polido um pouco o nosso espírito e o fizesse brilhar mais. O significado de aperfeiçoamento é nada menos
do que o nosso espírito sendo tocado pelo dos outros ou pelo Espírito Santo. Quando o Espírito Santo
toca o nosso espírito por meio do espírito dos outros, recebemos aperfeiçoamento. O que procede do
espírito nos incendeia assim que o tocamos. Somos como um abajur que brilha assim que a eletricidade
passa através dele, sem se importar se a cúpula é verde ou vermelha nem se os fios são brancos ou pretos.
Não nos importamos com a aparência da "cúpula" do abajur; a nossa atenção se concentra na liberação da
"eletricidade" e no fato de termos sido reavivados e alimentados diante de Deus. Graças a Deus! Se
pudermos fazer isso, iremos tornar-nos pessoas que podem receber ajuda facilmente. Para muitos é difícil
receber ajuda. Se quisermos ajudá-los precisamos gastar muita energia orando e trabalhar neles para que
nos deixem fazer algo. Uma pessoa dura não recebi ajuda facilmente. Somente os que são flexíveis é que
a recebem com facilidade, Existem dois enfoques totalmente diferentes para aperfeiçoamento.
Uma forma é exterior, envolvendo pensamentos, doutrinas e exposições da Bíblia. Alguns
asseveram que têm recebido ajuda dessa forma. A outra forma é totalmente diferente, envolvendo o
contato de espírito com espírito. Quando os espíritos se tocam, ocorre ajuda espiritual. Somente tocamos
o verdadeiro cristianismo da segunda forma. Isso é verdadeiro aperfeiçoamento. Se tudo o que sabemos
fazer é ouvir sermões, podemos ouvir uma boa mensagem hoje, mas se acontecer de o mesmo irmão
pregar a mesma mensagem no próximo domingo, ficaremos enjoados e desejaremos ir embora. Achamos
que devemos ouvir a mensagem apenas uma vez. Do nosso ponto de vista, o cristianismo trata de
doutrinas, assim as mantemos em nossa cabeça. No entanto precisamos ver que aperfeiçoamento não tem
nada a ver com doutrinas, e, sim, com o espírito. Se na primeira vez o irmão prega liberando o espírito,
irá tocar e mudar todo o nosso ser, seremos lavados e ganharemos vida. Se o ouvirmos segunda vez e ele
novamente liberar o espírito, novamente receberemos ajuda. O assunto pode ser conhecido e as doutrinas
podem ser as mesmas, mas nós receberemos uma limpeza e um lavar toda vez que o seu espírito for
liberado. Precisamos lembrar-nos que aperfeiçoamento é um contato de espírito com espírito, e não o
aumento de idéias. Aperfeiçoamento é uma troca entre espíritos. Nada tem a ver com receber algumas
doutrinas e ensinamentos do homem exterior. O melhor que podemos dizer a respeito das doutrinas e
ensinamentos é que se não estão ligados com o espírito de maneira viva, são mortos.
Depois que o nosso homem exterior é quebrantado, tornar-se-á fácil ser aperfeiçoados. Na verdade,
somos muito aperfeiçoados. Quando os outros nos fazem uma pergunta, somos aperfeiçoados com a
pergunta deles. Quando um pecador vem a nós buscando o Senhor, somos aperfeiçoados ao orar com ele.
Talvez haja um irmão que esteja em um erro grosseiro e o Senhor quer que falemos seriamente com ele.
Quando tocamos o seu espírito, seremos aperfeiçoados novamente. Podemos ser aperfeiçoados e supridos
de muitas formas. Sentiremos que todo o Corpo nos está suprindo. Qualquer membro, não importa quem
seja, pode suprir-nos. Sempre receberemos ajuda e nos tornaremos pessoas que são boas em receber.
Toda a igreja será o nosso suprimento. Quantas riquezas descobriremos! De fato poderemos dizer que as
riquezas de Deus agora tornaram-se as riquezas do Corpo, e as riquezas do Corpo agora tornaram-se
nossas. Que diferença em relação ao aumento de pensamentos e doutrinas! A diferença é imensa.
Quanto mais ajuda uma pessoa pode receber e quanto mais amplo o âmbito do suprimento que recebe,
mais podemos dizer que é uma pessoa quebrantada. Os que dificilmente recebem ajuda dos outros não
são mais sábios do que os outros. Isso só prova que a sua casca exterior é mais dura do que a dos outros e
que nada pode estimulá-los. Se o Senhor conceder-lhes misericórdia e lidar com eles fortemente e de
muitas maneiras, eles receberão suprimento de toda a igreja. Precisamos verificar: será que conseguimos
receber ajuda dos outros? Se temos uma casca dura, não sentiremos o espírito nem quando o Espírito
Santo é liberado por meio de outros irmãos. Se formos quebrantados por Deus, no entanto, receberemos
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ajuda sempre que o espírito dos outros se mover. Embora o movimento do espírito dos outros possa ser
bem pequeno, isso não importa, o que importa é se nós o tocamos ou não. Assim que o tocarmos,
ganharemos vida e seremos aperfeiçoados. Irmãos e irmãs, que todos percebamos que o quebrantamento
do homem exterior tem tudo a ver com receber ajuda e aperfeiçoamento de Deus. É a qualificação
fundamental para servi-Lo.

Comunhão no Espírito
Comunhão não é uma comunicação de mente com mente nem uma troca de opiniões, mas é o contato
de espírito com espírito. Quando o nosso espírito toca o espírito de outro irmão, esse contato é comunhão.
Somente quando ganhamos misericórdia do Senhor para quebrar a casca exterior e demolir o homem
exterior é que o nosso espírito é liberado. Só então tocaremos o espírito dos outros e entenderemos o
significado de comunhão com os santos. Daí em diante entenderemos o que a Bíblia quer dizer com
comunhão do espírito. Perceberemos que comunhão é conduzida no espírito; não é uma comunhão de
opiniões. Quando há comunhão no espírito, há oração em unanimidade. Muitos oram com a mente. Ê
difícil encontrar companheiros com a mesma mente, porque não encontrariam outra mente igual nem se
procurassem por toda a terra. Na verdade, comunhão é levada a cabo no espírito. Qualquer pessoa
regenerada e que tem o Espírito Santo em seu interior pode ter comunhão conosco. Se Deus remover as
nossas barreiras e o homem exterior for demolido, o nosso espírito estará aberto a todos os homens. O
nosso espírito estará aberto para receber o espírito de todos os irmãos, tocará e será tocado pelo espírito
de todos os irmãos. Tocaremos o Corpo de Cristo. Seremos o Corpo de Cristo, o nosso espírito será o
Corpo de Cristo. O Salmo 42:7 diz: "Um abismo chama outro abismo 1". As "profundezas" em nosso
interior chamam e anseiam tocar as "profundezas" no interior dos outros, bem como de toda a igreja. E a
comunhão de "profundezas" com "profundezas". E o chamamento e reação entre "profundezas" e
"profundezas".1Abismo, nesse versículo, denota profundezas. (N.T.)
Se o nosso homem exterior estiver quebrantado e o nosso homem interior liberado, tocaremos o espírito
da igreja e leremos mais úteis ao Senhor.

SEM IMITAÇÃO
O quebrantamento do homem exterior a que nos referimos só pode ser realizado pelo Espírito Santo.
O homem não Consegue imitá-lo. Nenhuma imitação irá funcionar. Quando dizemos que alguém precisa
ser manso, não estamos dizendo que todos devem tentar ser mansos no dia seguinte. Se tentar, irão
descobrir que até mesmo a sua mansidão natural precisa ser destruída. Essa mansidão natural não tem
valor. A única mansidão que funciona é a que vem da obra do Espírito Santo. A nossa experiência nos
mostra que nenhuma realização vem por meio de nós, e, sim, por meio do Espírito Santo. Somente o
Espírito Santo conhece a nossa necessidade. Ele prepara experiências para nós em nosso ambiente a fim
de realizar a obra de quebrantamento.
A nossa responsabilidade consiste em pedir a Deus um pouco de luz, para que conheçamos e
reconheçamos a Sua mão. Queremos ser humilhados sob a poderosa mão de Deus para confessar que tudo
o que Ele faz está correto. Não devemos ser uma "jumenta" insensível. Antes, devemos entregar-nos ao
seu quebrantar. Devemos aceitar essa obra. Quando nos entregarmos à Sua mão poderosa veremos que
essa obra deveria ter começado há cinco ou dez anos. Mas nada se conseguiu nos últimos cinco ou dez
anos. Hoje devemos entregar-nos à Sua mão e dizer: "Senhor, tenho sido cego. Eu não sabia de onde nem
para onde me estavas guiando. Mas agora sei que me queres quebrantar e assim entrego-me a Ti". Talvez
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a falta de frutos dos últimos cinco ou dez anos acabe hoje e possamos tornar-nos frutuosos. O Senhor irá
demolir muitas coisas em nós, que antes nem sabíamos que existiam. Uma vez que essas coisas sejam
demolidas, não mais seremos orgulhosos, não mais amaremos o ego nem exaltaremos a nós mesmos. Essa
demolição irá livrar e liberar o nosso espírito e torná-lo útil para o Senhor. Então seremos capazes de usá-
lo.
Aqui precisamos levantar duas questões. Primeiro, precisamos saber que o quebrantamento do homem
exterior é obra do Espírito Santo. Não há necessidade de imitação por parte do ego. Mas se sabemos que
uma atividade é da carne, será que devemos interrompê-la por nós mesmos ou devemos esperar que o
Espírito Santo a quebre? Será que devemos esperar que venha uma grande luz e não tentar colocar
nenhuma restrição a essa atividade?
A nossa resposta para essa pergunta é: devemos parar com todas as atividades da carne. Isso é
diferente de fingimento. Se tenho a tendência de me orgulhar, devo negar o meu orgulho. Entretanto, não
devo aparentar que sou humilde. Se estou a ponto de perder a calma com alguém, devo negar o meu
temperamento. Mas não devo fingir que sou manso. Cessar de fazer algo é uma prevenção negativa, e
fingir que estamos agindo de certa maneira é um movimento positivo. O orgulho é algo negativo e
devemos lidar com ele. A humildade é algo positivo e não podemos imitá-la. Suponha que sejamos muito
teimosos e tenhamos voz severa e atitude inflexível. Devemos negar essa severidade, mas não fingir que
somos humildes. Devemos parar com todas as atividades e obras da carne das quais estejamos
conscientes. Mas não devemos imitar nenhuma das virtudes positivas. Devemos oferecer-nos ao Senhor,
dizendo: "Senhor, não tentarei imitar nada. Quanto à Tua obra, irei buscar-Te". Se fizermos isso, veremos
Deus nos quebrantando e edificando.
Todas as imitações exteriores não são obra de Deus, e, sim, do homem. Assim, toda pessoa sequiosa
deve aprender as lições interiores e não as imitações exteriores. Ela deve deixar Deus realizar algo nela. E
por meio dessa obra que ela terá a expressão exterior. Tudo que ela fizer de forma exterior não é
autêntico. Todas as estruturas feitas pelo homem precisam ser demolidas. Quando a pessoa arma algo
falso, ela não apenas engana os outros, mas também a si mesma. Se nos entregarmos a imitações e à
artificialidade, gradativamente seremos levados a crer que somos o que fingimos ser. Mesmo que outros
denunciem que não temos nada de verdadeiro e precisamos livrar-nos disso, ainda iremos duvidar que as
palavras deles sejam verdadeiras. Nunca devemos imitar nada. Em vez disso, é melhor ser um pouco mais
natural na maneira com que nos conduzimos e deixar Deus edificar algo em nós. Devemos viver de
maneira simples e não fingida. Não devemos imitar nem copiar externamente. Antes, devemos depender
do Senhor a fim de que Ele acrescente diariamente as virtudes de que necessitamos.
A segunda questão é que algumas pessoas têm certas virtudes na esfera natural. Por exemplo, alguns
são muito mansos por natureza. Qual é a diferença entre a mansidão natural e a que vem como resultado
de disciplina?
Precisamos mostrar duas coisas com relação a essa pergunta. Primeiro: tudo o que é natural é
independente, não precisa unir-se ao espírito. Qualquer coisa que venha da disciplina do Espírito Santo é
controlada pelo espírito. Quando o espírito se move, ela se move. Quando o espírito não se move, ela não
se move. A mansidão natural às vezes é um empecilho ao espírito, e tudo que impede o espírito é
inflexível por natureza. Em outras palavras, até mesmo a mansidão natural pode se tornar um tipo de
inflexibilidade. Se alguém é naturalmente manso, a sua mansidão é independente; ele é manso em si
mesmo. Se o Senhor quiser que ele se levante para dizer algumas palavras severas, a sua mansidão natural
será um empecilho para ele. Ele dirá: "Ah! eu não consigo fazer isso. Nunca disse coisas assim em toda a
minha vida. Preciso deixar que outros digam tais palavras. Não consigo dizer isso". Nessa questão a sua
mansidão natural não está sujeita ao controle do espírito. Tudo da esfera natural é motivado pela sua
própria vontade. É inflexível e segue os seus próprios desejos. O espírito não pode usá-la de nenhuma
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forma. Entretanto, a mansidão que vem do quebrantamento é totalmente diferente; ela é útil ao espírito.
Não oferece nenhuma resistência, oposição ou opinião, mas está totalmente debaixo do controle do
espírito.
Segundo, uma pessoa que é naturalmente mansa é mansa quando a sua vontade está liderando. Mas
quando lhe é pedido que faça o que ela não quer, ou quando algo desafia a sua relutância, ela deixa de ser
mansa. Assim, as virtudes naturais não nos levam a negar a nós mesmos. Todas as virtudes humanas,
naturais, só podem ser utilizadas pelo homem para edificar a si mesmo. Não apenas a mansidão, mas todo
tipo de virtude natural é usado pelo homem para edificar a si mesmo. Por isso, quando o seu ego é
ameaçado, todas as suas virtudes desaparecem. Assim que tocarmos o ego mais íntimo de alguém
naturalmente manso, a sua mansidão desaparece. Assim que ele se depara com algo que está relutante em
fazer, a sua humildade desaparece e a sua mansidão também; tudo o que ele tem desaparece. As virtudes
resultantes de disciplina são diferentes. Só são produzidas à medida que o ego é quebrantado. Sempre que
Deus destrói o ego, essas virtudes se manifestam. Quanto mais o ego for ferido, mais o homem se torna
manso. Há uma diferença fundamental entre as virtudes naturais e o fruto do Espírito.

SEJA FORTE
O homem exterior precisa ser quebrantado. Não podemos fingir nem substituí-lo com nenhuma outra
coisa. Precisamos humilhar-nos sob a poderosa mão de Deus e aceitar as suas disciplinas. Assim que o
homem exterior for quebrantado, o homem interior fica forte. Entretanto, alguns não ficam fortes em seu
homem interior mesmo quando o seu homem exterior já foi quebrantado. Mas o homem interior deve ser
forte. Se o homem interior não está forte quando o homem exterior já foi quebrantado, não devemos orar
para obter força. Antes, devemos dizer: "Seja forte". A Bíblia nos ordena que sejamos fortes. O que é
maravilhoso é que quando o homem exterior é quebrantado podemos ser fortes quando queremos.
Podemos ser fortes quando temos de ser fortes e estamos determinados a sê-lo. Tente isso. Quando
dizemos que vamos fazê-lo, será feito. Assim que o problema do homem exterior for resolvido, a questão
de ser forte também estará resolvida. Podemos ser fortes, e o seremos sempre que quisermos. Desse dia
em diante ninguém nos poderá parar. Somente precisamos dizer que iremos fazer algo ou que estamos
determinados a fazer certa coisa. Um pouco de vontade e determinação farão acontecer coisas
maravilhosas. O Senhor diz: "Sê forte". Quando dizemos que seremos fortes no Senhor, tornamo-nos
fortes.
O homem exterior precisa ser quebrantado para que o homem interior ache liberdade. Esse é o
caminho fundamental que um servo do Senhor precisa aprender a tomar.

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