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LIBERAÇÃO DO ESPÍRITO ]
[Watchman Nee]
© 2001 Editora Árvore da Vida
ISBN 978-85-7304-134-7
Título do Original em Inglês: The Breaking of the Outer Man and the Release of the
Spirit
Impresso no Brasil
As citações bíblicas são da Versão Revista e Atualizada de ]oão Ferreira de Almeida, 2- Edição, e da
Versão Restauração (Evangelhos), salvo quando indicado pelas abreviações:
lit.- tradução literal do original grego ou hebraico IBB - Rev. - Imprensa Bíblica Brasileira,
versão Revisada VRC - Versão Revista e Corrigida de Almeida
SUMÁRIO
Prefácio.........................................................................7
1 A importância do quebrantamento................................9
6 O quebrantamento e a disciplina.................................85
7 Separação e revelação...............................................101
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PREFACIO
Este livro discute a lição básica com que se depara alguém que serve a Cristo: o quebrantamento do
homem exterior realizado pelo Senhor com vistas à liberação do espírito. A única obra que Deus aprova é
a do espírito, e o quebrantamento do homem exterior é a única maneira de o espírito ter plena liberdade.
Todas as mensagens que compõem este livro foram dadas por Watchman Nee no treinamento que ele
realizou em Kuling, China, para seus cooperadores em 1948 e 1949. Que o Senhor abençoe os leitores por
meio destas páginas.
Capítulo Um
A IMPORTÂNCIA DO QUEBRANTAMENTO
Leitura Bíblica: Jo 12:24; Hb 4:12-13; 1 Co 2:11-14; 2 Co 3:6; Rm 1:9, 7:6; 8:4-8; Gl 5:16, 22:23, 25
Mais cedo ou mais tarde todo servo de Deus descobre que ele mesmo é o maior empecilho para a sua
obra. Mais cedo ou mais tarde ele descobrirá que seu homem exterior não combina com seu homem
interior. O homem interior caminha numa direção, enquanto o homem exterior caminha em outra. Ele
descobre que seu homem exterior não consegue submeter-se ao reger do espírito ou andar segundo as
mais altas exigências de Deus. Descobre ainda que o grande obstáculo para seu serviço é seu homem
exterior, que o impede de exercitar o espírito. Todo servo de Deus deve ser capaz de exercitar seu
espírito, para assegurar a presença de Deus em seu espírito, para conhecer a Palavra de Deus por meio do
seu espírito, para discernir a condição dos homens por meio de seu espírito, para transmitir a palavra de
Deus por meio de seu espírito e para perceber e receber revelação divina com o seu espírito. Todavia o
empecilho do homem exterior o impossibilita de usar o espírito. Muitos servos do Senhor são
basicamente inaptos para a obra do Senhor pois o Senhor nunca lidou com eles nas.coisas fundamentais.
Sem isso, eles estão basicamente desqualificados para qualquer obra. Todo entusiasmo, zelo e ardente
súplica são vãos. Esse tipo de tratamento básico é o único meio de nos tornar vasos úteis para o Senhor.
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nós, isto é, no homem interior. Do lado de fora estão a mente, emoção e vontade. Por fora de tudo isso
está o corpo, a carne.
Para que alguém trabalhe para Deus é necessário que o seu homem interior seja liberado. O problema
básico de muitos servos de Deus é que o seu homem interior não consegue irromper do homem exterior.
Para que o homem interior possa ser liberado, é necessário que ele irrompa do homem exterior.
Precisamos ter a clareza de que o primeiro obstáculo para a nossa obra somos nós mesmos, e não outras
coisas. Se o nosso homem interior estiver aprisionado, confinado, então o nosso espírito estará encoberto
e não será fácil liberá-lo. Se nunca aprendemos a romper a barreira do homem exterior com o nosso
espírito, não podemos trabalhar para o Senhor. Nada nos atrapalha tanto quanto o homem exterior. Se a
nossa obra terá eficácia ou não, depende de o Senhor ter quebrado o nosso homem exterior e o homem
interior ser liberado através do homem exterior quebrado. Isso é fundamental. O Senhor tem de demolir o
nosso homem exterior a fim de abrir caminho para o homem interior. Tão logo o nosso homem interior é
liberado, muitos pecadores serão abençoados e muitos cristãos receberão graça.
O QUEBRANTAMENTO E A CRONOLOGIA
O Senhor quebra o nosso homem exterior de duas maneiras. Primeiro, Ele o faz de forma cumulativa
e, segundo, de forma repentina. Para alguns o Senhor primeiro dá um quebrantamento repentino, seguido
de quebrantamentos mais graduais; a obra repentina vem primeiro e a obra cumulativa em seguida.
Outros enfrentam situações e problemas todos os dias, até que, um dia, repentinamente recebem um
grande golpe do Senhor; ou seja, a obra cumulativa vem primeiro e depois a obra repentina. Esses são
diferentes tipos de quebrantamento que geralmente experimentamos. Ou começa com o quebrantamento
repentino seguido do cumulativo; ou, então, a ordem é inversa. Genericamente falando, mesmo nos que
não se desviaram e não procuraram atalhos, o Senhor precisa gastar alguns anos antes de completar essa
obra de quebrantamento.
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Não podemos reduzir o tempo de quebrantamento, mas podemos aumentá-lo. Em alguns o Senhor
termina a obra em poucos anos. Em outros, entretanto, a obra só está terminada depois de dez ou vinte
anos. Isso é muito sério! Nada é mais lamentável do que desperdiçar o tempo de Deus. Muitas vezes I
igreja não recebe a bênção por nossa causa! Podemos pregar com a mente e comover as pessoas com as
emoções, mas não conseguimos exercitar o espírito. Deus não consegue usar o Seu Espírito para tocar
outros por meio de nós. Quando atrasamos a obra, incorremos em grande perda.
Portanto, se nunca nos consagramos ao Senhor de forma completa no passado, vamos fazê-lo agora,
dizendo: "Senhor, por causa da igreja, para o avanço do evangelho, para que tenhas Caminho, e para o
meu próprio avanço em vida, entrego-me sem reservas e incondicionalmente em Tuas mãos. Senhor, de
bom grado me coloco em Tuas mãos. Quero permitir que encontres caminho para liberar-Te através de
mim".
O SIGNIFICADO DA CRUZ
Há muito tempo temos ouvido a respeito da cruz. Talvez estejamos bem familiarizados com ela;
porém, que é a cruz? O significado dela é o quebrantamento do homem exterior. Ela o leva à morte e
rompe a casca. Ela destrói tudo o que é do homem exterior: opiniões, métodos, sabedoria, amor próprio e
tudo o mais. Uma vez que o homem exterior esteja quebrado, o homem interior é liberado e o espírito
pode funcionar. Realmente está bem claro que caminho devemos seguir.
Uma vez que o homem exterior esteja quebrantado, torna-se fácil liberar o espírito. Suponha que certo
irmão tenha uma mente privilegiada, e todos que o conhecem admitem isso. Além disso a sua vontade é
forte e as suas emoções são reservadas e profundas. Mas quando os outros o encontram percebem que
estão tocando o seu espírito, e não a sua vontade forte, mente privilegiada e emoções reservadas e
profundas. Sempre que têm comunhão com ele, tocam o seu espírito, um espírito puro, pois seu homem
exterior está quebrantado. Tomemos agora uma irmã que é rápida. Quem a conhece percebe que ela é
assim. Ela pensa rápido, fala rápido, confessa rápido, escreve rápido e rapidamente joga fora o que
escreveu. Mas, quando a contatamos, não tocamos a sua rapidez, e, sim, o seu espírito. A sua própria
pessoa foi quebrantada. Quebrar o homem exterior é fundamental. Não podemos sempre ficar agarrados
às nossas fraquezas. Não podemos continuar tendo o mesmo sabor depois de o Senhor ter lidado conosco
por cinco ou dez anos. Precisamos deixar que o Senhor tenha caminho através de nós. Essa é a exigência
básica que o Senhor tem para nós.
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valor. Necessitamos dessa luz. Precisamos aceitar e crer em tudo o que o Senhor fez. Ele nunca erra no
que faz.
Segundo, a pessoa não é quebrantada porque ama demais a si mesma. O amor próprio é um grande
obstáculo ao quebrantamento. Precisamos pedir a Deus que remova todo o nosso amor próprio. Quando
Ele o tira de nós, precisamos adorá-Lo dizendo: "Senhor! Se essa é a Tua mão, eu a aceito de coração".
Precisamos lembrar que todos os desentendimentos, queixas e insatisfações provêm de uma única fonte:
amor próprio secreto. Visto que nos amamos secretamente, procuramos preservar-nos. Esse é um grande
problema. Muitas vezes os problemas surgem porque tentamos preservar-nos.
Os que conhecem o Senhor vão à cruz sem beber o vinagre misturado com fel! Muitos vão à cruz
relutando. Procuram beber o vinagre misturado com fel na tentativa de aliviar os sentidos. Os que dizem:
"Não beberia eu o cálice que meu Pai me deu?", não bebem o cálice de vinagre misturado com fel. Só
bebem de um dos cálices, e não dos dois. Eles não têm em si nenhum amor próprio. O amor próprio é a
raiz do nosso problema. Que o Senhor fale hoje em nós e oremos: "Deus meu! Vejo agora que tudo vem
de Ti. As experiências dos últimos cinco, dez ou vinte anos vieram todas de Ti. Tudo isso foi feito com
um único objetivo: que a Tua vida se expresse através de mim. Tenho sido tolo por não ver isso. Pelo
amor próprio fiz muitas coisas para me livrar e desperdicei muito do Teu tempo. Hoje vejo a Tua mão e
voluntariamente me consagro a Ti. Entrego-me às Tuas mãos uma vez mais".
FERIDAS VIRÃO
Não há pessoa mais bela do que a que passou por esse processo de quebrantamento. Alguém teimoso
e cheio de amor próprio torna-se belo depois de quebrado por Deus. Veja Jacó, no Antigo Testamento. Já
no ventre materno lutava com o irmão. Era alguém trapaceiro, sagaz e desonesto. Entretanto passou por
muitos sofrimentos na vida. Na juventude fugiu de casa e foi enganado por Labão por vinte anos. A sua
querida esposa morreu quando ele voltava para casa e o seu querido filho José foi vendido. Anos depois
Benjamim foi detido no Egito. Deus lidou com ele de muitas maneiras e ele passou por muitas
infelicidades. Foi golpeado por Deus de tempos em tempos. A história de Jacó é uma história do golpear
de Deus. Depois que Deus lidou bastante com ele, ele mudou. Em seus últimos anos ele tornou-se alguém
de fato transparente. Que pessoa digna ele foi no Egito diante de Faraó e ao falar com ele! Em seu leito de
morte adorou a Deus apoiado em seu bordão. Que quadro maravilhoso! Quão claras as suas bênçãos aos
filhos e netos! Ao ler o final da sua história só podemos curvar-nos e adorar a Deus. Aqui estava uma
pessoa amadurecida, alguém que conhecia a Deus. Depois de Deus lidar com ele por décadas, o seu
homem exterior foi quebrado. Em sua velhice vemos um quadro maravilhoso. Todos temos algo de Jacó
em nós. Talvez não seja só um pouco! Esperamos que o Senhor encontre caminho através de nós. Que o
nosso homem exterior seja quebrantado a ponto de o homem interior ser liberado e expresso. Isso é
precioso, e esse é o caminho dos que servem ao Senhor. Somente podemos servir depois de atingir esse
ponto, e só podemos conduzir outros ao Senhor e ao conhecimento de Deus quando atingimos esse ponto.
Nada mais funcionará: nem doutrinas nem teologia, mero conhecimento bíblico também não nos
aproveitará. A única coisa proveitosa é Deus fluir do nosso interior.
Quando nosso homem exterior é ferido, quebrado e humilhado por todos os tipos de infortúnios, as
cicatrizes feridas que permanecerem serão os lugares pelos quais o espírito fluirá de nós. Temo que
alguns estejam inteiros demais, nunca sofreram nenhuma disciplina nem tiveram nenhuma mudança. Que
o Senhor seja misericordioso conosco e coloque um caminho reto à nossa frente. Que vejamos que esse é
o único caminho. Que vejamos que todas as vezes que o Senhor lidou conosco nos últimos dez ou vinte
anos visam atingir esse único objetivo. Assim, não devemos desprezar o operar do Senhor em nós. Que o
Senhor nos mostre de fato o significado do quebrantamento do homem exterior. Se o homem exterior não
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for quebrantado, tudo o que temos está na mente e na esfera do conhecimento e é inútil. Que o Senhor
nos conceda um quebrantamento completo.
Capítulo Dois
O quebrantamento do homem exterior é uma experiência fundamental pela qual todo servo de Deus
tem de passar. Antes que possamos prestar um serviço eficaz a Deus, Ele tem de quebrar nosso homem
exterior.
Um servo de Deus enfrenta duas dificuldades no serviço ao Senhor. A primeira é que seu homem
exterior nunca seja quebrado e seu espírito nunca seja despertado. Ele não consegue liberar o espírito e do
seu espírito não flui nenhum poder. Só sua mente e emoções são ativas. Se for alguém inteligente, sua
mente será ativa. Se for sentimental, suas emoções serão ativas. Uma obra assim não traz ninguém a
Deus. A outra dificuldade é que não se distinga claramente seu homem exterior do homem interior. Nesse
caso, quando seu espírito é liberado, ele vem envolto por sua mente ou emoções. O resultado é mistura e
impureza. Esse tipo de obra produz, nos outros, experiências mistas e impuras. Essas duas condições
estorvam o homem de servir adequadamente o Senhor.
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O homem exterior continua sendo o homem exterior e o homem interior continua sendo o homem
interior. Os dois não se harmonizam.
Outras vezes, o homem interior está desesperado, quer gritar, mas não consegue expressar nada. Fala
bastante mas não atinge o objetivo. Quanto mais desesperado o homem interior, mais frio o homem
exterior. A pessoa pode querer falar, mas não sai nada. Vê um pecador e quer chorar, mas as lágrimas não
saem. Tem vontade de gritar do púlpito mas o homem exterior sumiu. Esse é um grande sofrimento. Essa
frustração resulta de o homem exterior não ter sido quebrantado. Por conseguinte, o homem interior não é
liberado. Enquanto a casca exterior permanece, o homem exterior não aceita ordens do homem interior.
Quando o homem interior chora, o homem exterior não chora. Quando o homem interior está triste, o
homem exterior não está triste. O homem interior pode ter muito para dizer, mas o homem exterior não
dirige os seus pensamentos para transmitir as palavras. O homem interior pode ter muito sentimento, mas
não pode ser expresso. O espírito não consegue romper a casca exterior.
A descrição acima se encaixa na situação daqueles cujo homem exterior não foi quebrantado. Das
duas uma: ou o espírito deles não se move e o homem exterior tem de agir sozinho, ou o espírito se move
mas o homem exterior bloqueia a passagem. Assim, o quebrantamento do homem exterior é a primeira
lição pela qual todos os que desejam servir o Senhor devem passar. O treinamento básico para todo servo
de Deus é permitir que o seu homem interior saia do seu homem exterior. Todo verdadeiro servo de Deus
não deixa que seus pensamentos e emoções exteriores ajam independentemente. Quando o seu homem
interior precisa ser liberado, o homem exterior providencia um canal, para que o espírito consiga romper
o homem exterior e alcançar os outros. Se não aprendermos essa lição, a nossa eficácia na obra será muito
limitada. Que o Senhor nos leve ao ponto em que o nosso homem exterior seja quebrantado. Que Deus
nos mostre a maneira de ser quebrantados diante do Senhor.
Uma vez que tenhamos sido quebrantados, todo teatro, toda representação, cessará. Não mais ocorrerá
que estejamos entusiasmados por fora e indiferentes por dentro. Se temos o sentimento e a expressão
adequados interiormente, agiremos de acordo exteriormente. Também não passaremos pelo vexame de o
homem interior querer derramar lágrimas e o homem exterior ser incapaz de fazê-lo. Já não nos
queixaremos de ter o que dizer interiormente, mas andar em círculos sem conseguir dizê-lo
exteriormente. Não haverá pobreza de pensamentos nem precisaremos usar vinte palavras para expressar
o que pode ser dito em duas. A nossa mente irá auxiliar o espírito, em vez de impedi-lo. As nossas
emoções também podem ser uma casca muito forte. Muitos querem regozijar-se, mas não conseguem.
Querem chorar, mas não conseguem. O homem exterior não reage. Mas, se o Senhor lhes desferir um
forte golpe no homem exterior por meio da disciplina ou luz do Espírito Santo, eles então poderão
alegrar-se quando for necessário e chorar quando for necessário. O espírito deles estará plenamente
liberado.
O quebrantamento do homem exterior leva à plena liberação do espírito, que não só é necessária para
a nossa obra, como também proveitosa para a caminhada pessoal. Se o espírito é liberado, podemos
constantemente permanecer na presença de Deus e espontaneamente tocamos o espírito de inspiração que
está por trás da Bíblia. Espontaneamente recebemos revelação ao exercitar o nosso espírito. Se o espírito
está liberado, espontaneamente temos poder em nosso testemunho ao falar a palavra de Deus com nosso
espírito. Também teremos essa experiência ao pregar a palavra de Deus, isto é, ao ministrá-la aos outros
como ministros da palavra. Além disso, se o nosso espírito estiver liberado, com ele tocaremos o espírito
dos outros. Quando alguém vem falar conosco seremos capazes de "medi-lo" com nosso espírito.
Saberemos que tipo de pessoa ele é, que tipo de atitude ele tem, que tipo de vida cristã ele leva e que tipo
de necessidades ele tem. O nosso espírito será capaz de tocar o espírito dele. Se o nosso espírito estiver
livre e liberado, será fácil que os outros o toquem; ele se tornará muito fácil de ser tocado. No caso de
alguns, só podemos tocar os seus pensamentos, emoções ou vontades; e não o seu espírito. Eles são
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cristãos e nós também, mas mesmo depois de duas ou três horas de conversa, ainda não podemos tocá-los.
A casca exterior deles é muito dura e ninguém consegue tocar a sua condição interior. Quando o homem
exterior é quebrantado, o espírito estará aberto e livre para fluir para os outros, e quando isso ocorre, os
outros facilmente podem tocá-lo.
IR E VOLTAR
Se o homem exterior for quebrantado, o espírito espontaneamente permanecerá todo o tempo no
Senhor. Certa vez um irmão leu o livro A Prática da Presença de Deus, do irmão Lawrence. Já fazia dois
anos que ele havia sido salvo e estava aflito porque não conseguia desfrutar a presença de Deus
continuamente como o irmão Lawrence. Resolveu então fazer um trato com um irmão de orar uma vez a
cada hora, pois queria seguir a prática bíblica de orar sem cessar. Toda vez que o relógio batia as horas,
eles procuravam ajoelhar-se para orar. No entanto, parecia-lhes que não conseguiam permanecer na
presença de Deus e todo o tempo tinham de lutar para isso. Era como se saíssem da presença de Deus
toda vez que se envolviam com os negócios ou estudos, de modo que tinham de rapidamente voltar a
Deus. Se não o fizessem, a sensação era de que nunca mais voltariam à Sua presença. Assim, oravam o
tempo todo. Aos domingos oravam o dia inteiro e aos sábados, metade do dia. Fizeram isso por dois ou
três anos. Mas, embora sentissem a presença de Deus quando voltavam a Ele, assim que se voltavam para
outras coisas, eles a perdiam. Preservar a presença de Deus com a memória humana é uma grande
frustração para muitos cristãos, e não apenas para esses dois. Para eles, a "presença" de Deus só pode ser
preservada quando a memória está fresca; quando a memória falha, a "presença" se vai. Essas tentativas
de preservar a presença divina com a memória humana são tolas. A presença de Deus é no espírito, e não
na memória.
A fim de resolver essa questão da presença de Deus, primeiramente precisamos resolver a questão do
quebrantamento do homem exterior. A natureza da nossa emoção é diferente da natureza de Deus, as duas
nunca podem se unir como uma só. O mesmo pode ser dito da nossa mente. João 4 mostra-nos que a
natureza de Deus é Espírito. Somente o nosso espírito é da mesma natureza de Deus, e pode estar para
sempre em harmonia com Deus. Se tentarmos reter a presença de Deus na mente, ela será perdida tão
logo percamos o controle total da mente. Se tentarmos reter a presença de Deus na emoção, o mesmo
acontece: Sua presença se vai tão logo deixemos de ter o pleno controle da emoção. As vezes estamos
felizes e achamos que temos a presença de Deus. Mas essa felicidade não dura. Quando ela se vai, a nossa
sensação da Sua presença também se vai. Podemos achar que temos a presença de Deus quando
choramos, mas não podemos chorar o tempo todo. Logo as nossas lágrimas cessam e daí nos parece que a
presença de Deus também se foi. Tanto a função da mente como a da emoção são atividades, e nenhuma
atividade pode durar para sempre. Se quisermos manter a presença de Deus com atividades, ela irá
embora assim que a atividade parar. Duas substâncias só se mesclam quando têm a mesma natureza,
como água com água e ar com ar. Substâncias de mesma natureza podem desfrutar a presença uma da
outra. O homem interior é da mesma natureza de Deus, portanto, pode ter percepção da presença de Deus
por meio do Seu Espírito. O homem exterior constantemente está na esfera das atividades, assim é um
empecilho para o homem interior. Ele não é uma ajuda, e, sim, um empecilho. O homem interior estará
livre de distrações somente quando o homem exterior for quebrantado.
Deus colocou um espírito humano em nós para corresponder a Ele. O homem exterior, no entanto, só
reage a sinais exteriores. A pessoa perde a presença de Deus e o seu desfrute porque o homem exterior
constantemente reage à atividade exterior. Não conseguimos eliminar todos os estímulos exteriores, mas o
homem exterior pode ser quebrantado. Não podemos suspender toda a atividade exterior. Milhões e
bilhões de coisas neste mundo ocorrem fora de nós. Se o homem exterior não for quebrantado,
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reagiremos sempre que algo acontecer fora de nós. Não podemos desfrutar a presença de Deus calma e
continuamente porque o homem exterior constantemente reage. Permanecer na presença de Deus depende
do quebrantamento do homem exterior.
Se o Senhor for misericordioso conosco e quebrantar o nosso homem exterior, manifestaremos as
seguintes características: a velha curiosidade morrerá, não mais seremos curiosos. Antes éramos muito
fortes na emoção e qualquer coisa estimularia, dependendo do caso, o sentimento de ternura ou o rude
sentimento de ira. Reagíamos assim que algo ocorresse ao redor; éramos capturados por isso e como
resultado, perdíamos a presença de Deus. Mas se Deus for misericordioso conosco, Ele irá quebrantar
nosso homem exterior e então nosso homem interior não mais será tocado quando muitas coisas nos
acontecerem. Permaneceremos calmos e a presença de Deus permanecerá conosco.
Temos de ver que o desfrute da presença de Deus se baseia no quebrantamento do homem exterior. Só
podemos desfrutar a Sua presença ininterrupta quando o nosso homem exterior estiver quebrantado. O
irmão Lawrence trabalhava numa cozinha. Muitas pessoas vinham e lhe solicitavam serviços. Havia toda
sorte de barulho à sua volta, pratos sendo levados para cá e para lá. Entretanto ele não era afetado por
nada disso. Ele tinha a presença de Deus enquanto orava e também a tinha enquanto trabalhava
arduamente. Como é que conseguia manter a presença de Deus ao fazer um trabalho tão agitado? O
segredo é que nenhum ruído externo podia afetar o seu ser interior. Alguns perdem a presença de Deus
pois são internamente afetados ao ouvir qualquer barulho ao redor.
Alguns, que não conhecem a Deus, tentam manter a Sua presença procurando um ambiente onde não
haja "o barulho dos pratos". Acham que quanto mais longe estiverem de pessoas e atividades, mais perto
estarão da presença de Deus. Isso é um engano. Acham que o problema está nos "pratos", as distrações
humanas. Não, o problema está neles. Deus não nos está livrando dos "pratos", e, sim, de ser
influenciados por eles. Pode haver uma algazarra à volta, mas em nosso interior permanecemos intocados.
Tudo ao redor pode ser barulhento, mas interiormente estamos em perfeito silêncio. Uma vez que o
Senhor quebrante o nosso homem exterior, o nosso ser interior não reagirá a essas coisas, estaremos
surdos para esses barulhos. ( Graças a Deus, mesmo tendo ouvidos bem sensíveis, a ação da graça e a
operação do Seu trabalhar quebrarão o nosso homem exterior, para que nada que vier a ele nos afete mais.
Quando há o barulho dos "pratos", podemos esconder-nos na presença de Deus assim como quando
oramos num lugar isolado.
Uma vez que o nosso homem exterior foi quebrantado, não temos necessidade de voltar para Deus,
pois estaremos com Ele todo o tempo. Não há a necessidade de uma volta. Alguém que não foi
quebrantado precisa voltar a Deus sempre que se envolver com as suas coisas, pois saiu da presença de
Deus. E por isso que precisa voltar. Alguém quebrantado nunca sai da presença de Deus, por isso não
precisa voltar. Muitos saem da presença de Deus todo momento, mesmo quando estão servindo o Senhor.
Isso é porque o seu homem exterior nunca foi quebrantado. Melhor seria se não fizessem nada, pois assim
que fazem qualquer coisa, saem da presença de Deus. Mas os que conhecem a Deus de forma autêntica
nunca saem da Sua presença. Por isso, nunca precisam voltar. Se passarem o dia orando estarão
desfrutando a Sua presença. Se passarem o dia ocupados esfregando o chão, ainda desfrutarão a Sua
presença. Assim que o nosso homem exterior for quebrantado viveremos diante de Deus. Não haverá a
necessidade de voltar à Sua presença. Não haverá o sentimento nem a necessidade de voltar.
Geralmente sentimos a presença de Deus apenas quando vamos a Ele. Mas em qualquer coisa que
façamos, ainda que tenhamos o máximo cuidado, sentimos que saímos um pouco da presença de Deus.
Temo que essa seja a nossa experiência na maioria das vezes. Embora conscientemente tentemos manter-
nos na presença de Deus, saímos assim que nos envolvemos com alguma atividade. Muitos sentem que
precisam largar as coisas que estão em suas mãos para poder orar. Sentem que há uma diferença entre
estar na presença de Deus e fazer alguma obra. Por exemplo, podemos estar pregando o evangelho ou
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edificando alguém. De repente, no meio da nossa conversa Sentimos que precisamos orar para voltar à
presença de Deus. Sentimos que de alguma forma saímos da Sua presença ao falar com outros e que
orando poderemos voltar. Parece que saímos e agora estamos voltando a Deus. Perdemos a Sua presença
e agora a estamos recuperando. Podemos estar realizando tarefas diárias como esfregar o chão, ou
qualquer outra. Depois de terminada, temos a sensação de que precisamos voltar a Deus para poder orar.
Sentimos que há grande distância entre onde estamos e onde gostaríamos de estar. Qualquer sentimento
de que precisamos voltar indica que saímos da Sua presença. O quebrantamento do homem exterior nos
levará ao ponto de que não precisaremos mais estar voltando. Sentiremos a presença de Deus igualmente,
quer falando com as pessoas quer ajoelhados orando com elas. Sentiremos a presença do Senhor tanto ao
esfregar o chão ou fazer qualquer outra tarefa como quando a orar. Essas coisas não mais nos tirarão da
presença de Deus. Assim, não mais haverá a necessidade de voltar.
Vamos ver um caso extremo. O sentimento mais grosseiro que alguém pode ter é a ira. A Bíblia não diz
que não nos podemos irar. Algumas formas de ira não estão relacionadas a pecado. Em Efésios 4:26
lemos: "Irai-vos e não pequeis". Isso nos mostra que podemos irar-nos sem pecar. Contudo a ira é um
sentimento muito grosseiro. Na verdade, está próximo ao pecado. A Palavra de Deus nunca diz que
devemos amar e não pecar, porque o amor está longe do pecado. Tampouco diz que devemos ser
pacientes e não pecar, porque a paciência também está longe do pecado. Mas a Palavra de Deus diz: "Irai-
vos e não pequeis". Isso nos mostra que a ira está muito próxima do pecado. Às vezes um irmão faz algo
muito sério e precisamos repreendê-lo. Isso é difícil de fazer. É fácil ser bondoso, mas estão fazendo e
voltar todo o seu ser para Deus. Eles precisam colocar todo o seu ser no trabalho e também precisam
colocar todo o seu ser na oração. Eles se afastam todo momento e todo momento precisam voltar. O seu
homem exterior ainda não foi quebrantado. Os que foram quebrantados pelo Senhor descobrirão que o seu
homem exterior não mais influencia o seu homem interior. Conseguem cuidar de coisas exteriores com o
homem exterior e ao mesmo tempo continuam habitando em Deus e na Sua presença. Sempre que surgir a
necessidade de expressar seu homem interior aos homens, eles conseguirão fazê-lo com facilidade, pois
não estão afastados da presença de Deus. A questão, portanto, é se somos uma pessoa ou duas. Em outras
palavras, nosso homem exterior está separado do nosso homem interior? Isso faz muita diferença.
Se Deus for misericordioso conosco e tivermos tal experiência de separação, faremos as coisas e nos
conduziremos em nosso homem exterior, mas o nosso homem interior permanecerá na presença de Deus.
Uma pessoa se move, enquanto a outra permanece diante de Deus. O homem exterior só se preocupará
com as coisas exteriores e estas pararão aí, não atingirão o homem interior. Os que conhecem a Deus
aplicam o homem exterior às coisas externas enquanto o homem interior permanece em Deus. Os dois
homens não se misturam. Eles são como o irmão Lawrence, atarefado com coisas externas, mas com
outra pessoa em si que vivia diante de Deus. A presença de Deus nunca o deixava. Isso pode poupar-nos
muito tempo na obra. Muitos não têm a separação entre o homem exterior e o homem interior, o que faz
com que todo o seu ser se afaste da presença de Deus, e depois eles fazem todo o seu ser voltar. Muitos
encontram dificuldades na obra porque o homem interior vai atrás do homem exterior. Se o homem
interior estiver separado do homem exterior e permanecer intocado enquanto o homem exterior estiver
envolvido com negócios, muitas coisas exteriores serão feitas adequadamente. Esse exercício nos isolará
da influência da carne por meio de coisas exteriores; elas não mais tocarão o nosso ser interior.
Dizendo de forma simples, o espírito do homem só pode ser útil a Deus se o Senhor realizar duas
obras na pessoa. Uma é o quebrantamento do homem exterior e a outra é a separação entre o espírito e a
alma, ou entre o homem interior e o homem exterior. Deus tem de realizar essas duas obras em nós para
que possamos usar o nosso espírito. O quebrantamento do homem exterior é alcançado por meio da
disciplina do Espírito Santo, e a separação entre o homem exterior e o homem interior ocorre por meio da
revelação do Espírito Santo.
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Capítulo Três
Primeiramente iremos explicar o título deste capítulo. Suponha que o pai queira que o filho lhe faça
algo. O pai dá a ordem, mas o filho diz: "Estou com as mãos ocupadas. Assim que terminar o que tenho
nas mãos farei o que o senhor quer". Esse é o significado de ter algo nas mãos. Antes que o pai peça ao
filho que faça algo, ele já tem algo nas mãos. Cada um de nós tem algo nas mãos. Em nossa caminhada
com o Senhor freqüentemente somos impedidos pelo que temos nas mãos. Precisamos primeiro cuidar do
que temos nas mãos. Como resultado atrasamos o encargo de Deus. E difícil achar alguém que não tenha
nada nas mãos. Sempre temos algo nas mãos antes de Deus nos falar e sempre temos muitas coisas nas
mãos antes de o homem exterior ser quebrantado. O homem exterior envolve-se em negócios, coisas,
labores e atividades. Quando o Espírito de Deus opera em nosso espírito, torna-se impossível o nosso
homem exterior atender às exigências. O que temos nas mãos nos desqualifica para qualquer real
utilidade espiritual.
Alguns têm muita força de vontade, são muito determinados. Podemos pensar que eles têm força
ilimitada na vontade. Mas até mesmo a pessoa mais forte tem vontade hesitante quando a questão é tomar
uma decisão diante do Senhor. Ela irá perguntar-se se uma escolha é tão boa quanto outra. Pode parecer
uma pessoa forte, mas quando se trata do verdadeiro exercício de vontade no caminho de Deus, ele não
consegue decidir. Muitos gostam de expressar opiniões. Eles têm opinião a respeito de tudo. Agora têm
uma opinião, daqui a um minuto têm outra. Nunca lhes faltam opiniões. Mas quando se trata de fazer um
julgamento em relação à vontade de Deus , são muito hesitantes. Estão perdidos e não conseguem decidir,
porque o seu homem exterior está cheio de "coisas nas mãos". Há coisas demais diante dos olhos e nas
mãos. Toda a sua pessoa é absorvida por essas coisas e toda a força do seu homem exterior já foi usada e
se acabou.
Temos de ver que a força do homem exterior é limitada. Desde que tenhamos coisas nas mãos, nosso
homem exterior estará amarrado.
Capítulo Quatro
É crucial para um obreiro do Senhor ser capaz de conhecer as pessoas. Quando alguém vem a nós,
precisamos discernir a sua condição espiritual. Precisamos saber que tipo de pessoa ele era e que tipo de
pessoa se tornou agora. Precisamos saber o que está dizendo com a boca e o que de fato está dizendo no
coração, e qual é a diferença entre os dois. Precisamos saber o que está tentando esconder de nós.
Precisamos saber também quais são as suas características marcantes, se é teimoso ou humilde, e se a sua
humildade é real ou artificial. A eficácia da nossa obra depende muito da nossa habilidade de discernir a
condição espiritual das pessoas. Se o Espírito de Deus mostrar ao nosso espírito a condição dos que vêm a
nós, poderemos falar-lhes algo adequado.
Nos evangelhos, sempre que as pessoas iam ao Senhor, Ele lhes falava algo adequado. Ê
impressionante! Para a mulher samaritana o Senhor não falou sobre a verdade da regeneração, nem sobre
a água viva para Nicodemos. A palavra sobre regeneração era para Nicodemos, e sobre a água viva era
para a mulher samaritana. Tudo adequado! Para os que nunca O haviam seguido Ele fez um chamamento.
Para os que queriam segui-Lo, falou de tomar a cruz. Para os que se ofereceram voluntariamente, falou
sobre considerar o preço a pagar. Para os que estavam hesitantes em segui-Lo, falou de deixar aos mortos
o enterrar os mortos. O Senhor tem uma palavra adequada para cada um, porque conhece cada um. Se
alguém vem a Ele com um coração de busca ou simplesmente por curiosidade, Ele o sabe. Por isso a Sua
palavra é eficaz e adequada para cada ocasião. O nosso Senhor está muito à nossa frente ao lidar com as
pessoas. Nós O seguimos de longe. Mas mesmo seguindo-O de longe, ainda precisamos segui-Lo; a
direção tem de ser a mesma. Que o Senhor tenha misericórdia de nós para que aprendamos a conhecer as
pessoas assim como Ele as conhece.
Se colocarmos uma alma nas mãos de um irmão que não tem nenhum discernimento das pessoas, ele
não saberá como ajudá-la, pois apenas falará segundo a sua subjetividade. Se em certo dia ele tiver um
sentimento, falará dele a todas as pessoas que encontrar. Se tem um assunto preferido, falará dele para
todas as pessoas. Como é que alguém assim pode realizar uma obra eficaz? Nenhum médico pode receitar
o mesmo remédio para todos os pacientes. Infelizmente, alguns servos de Deus só têm uma receita. Não
entendem as doenças dos outros, entretanto, tentam curá-los. Não conhecem o problema, não sabem da
complexidade do homem e nunca aprenderam a discernir a condição espiritual das pessoas. No entanto,
agem como se tivessem o tratamento certo para cada um. Isso realmente é tolice. Não podemos achar que
curaremos todas as doenças espirituais com apenas uma receita espiritual. Ê absolutamente impossível.
Não devemos pensar que os que são vagarosos para sentir terão dificuldades para discernir as pessoas,
e os que tem uma mente ágil terão facilidade. Nem uma coisa nem a outra tem a ver com discernir a
condição espiritual das pessoas. Não podemos discerni-las com a mente nem com os sentimentos. A
despeito de quão brilhante seja a mente, não conseguimos, por meio dela, trazer à luz as coisas ocultas
das pessoas nem podemos tocar as profundezas da sua condição.
Quando um obreiro contata alguém, a primeira coisa a fazer, e a mais básica, é descobrir a sua
verdadeira necessidade diante de Deus. Às vezes até mesmo a própria resposta da pessoa não é confiável.
19
Quando ela diz que tem uma dor de cabeça, será que realmente quer dizer que apenas a sua cabeça dói?
Talvez a dor de cabeça seja um mero sintoma. A sua doença pode não ser na cabeça. Ou então ela pode
dizer que se sente febril, mas isso não necessariamente significa que esteja com febre. A pessoa pode
dizer muitas coisas, mas talvez o que ela diga não seja tão confiável. Pouquíssimos pacientes realmente
sabem o que está errado com eles. Não sabem que doença têm. Precisam de nós para diagnosticá-la e
dizer-lhes o que necessitam. Se quisermos que nos digam o que está errado com eles, creio que não
saberão fazê-lo corretamente. Somente os que estudaram medicina, isto é, os que estão treinados em
discernir problemas espirituais, é que podem dizer o que eles precisam.
Quando fazemos um diagnóstico, precisamos saber do que falamos. Não podemos impor um
diagnóstico aos outros. Alguém subjetivo insistirá em que tal pessoa tem tal doença que ele imagina. Ele
então irá impor a doença sobre a pessoa. Quando alguém está doente ou em dificuldades, não consegue
identificar o seu problema, por isso precisamos mostrar-lhe o problema. Entretanto, não devemos insistir
em nosso diagnóstico de maneira subjetiva.
Ajudar os irmãos depende de se conseguir identificar os seus problemas e dar-lhes a receita adequada.
Se o nosso diagnóstico estiver correto, poderemos ajudá-los. Às vezes descobrimos que o problema está
fora da nossa capacidade, mas pelo menos uma linha de ação básica está clara. Algumas condições
espirituais estão dentro da nossa capacidade de ajudar, enquanto outras estão fora. Não devemos ser tolos
ao ponto de achar que podemos fazer tudo e ajudar em qualquer caso. Alguns casos estão dentro da nossa
capacidade de ajudar e devemos dar todo o nosso ser para ajudá-los. Outros estão fora; nesse caso
devemos dizer ao Senhor: "Isso está fora do meu alcance. Não consigo tratar dessa doença. Nunca fui
treinado nessa questão e não consigo lidar com esse problema. Senhor sê misericordioso com essa
pessoa!" Talvez nos lembremos da função específica de alguns membros do Corpo e então percebamos
que isso é algo que aquele irmão ou irmã pode fazer. Podemos então levar a questão a ele ou a ela.
Conhecemos as nossas limitações e sabemos que isso é tudo que podemos fazer. Não devemos pensar que
podemos assumir toda obra espiritual; não podemos monopolizar tudo. Precisamos ver as nossas
limitações. Ao mesmo tempo, precisamos conhecer o suprimento que há nos outros membros. Devemos
ser capazes de dizer: "Isso está além das minhas possibilidades. É uma tarefa para você". Esse é o princípio
de cooperar juntos, o princípio do Corpo. Nunca devemos mover-nos independentemente.
Todo obreiro do Senhor e servo de Deus precisa aprender a conhecer as pessoas. Os que não
conhecem a condição espiritual dos outros não estão qualificados para a obra. É uma pena que o bem-
estar espiritual de muitos esteja arruinado nas mãos de irmãos inexperientes. Tais irmãos não prestam
nenhuma ajuda aos outros; apenas lhes impõem os seus pontos de vista subjetivos e assim não lhes
atendem as necessidades objetivas. Esse é o nosso problema mais sério. As pessoas não têm certa doença
espiritual simplesmente porque achamos que essa é a doença que têm. Independentemente da sua
condição espiritual, elas são o que são; a nossa responsabilidade é descobrir a condição espiritual delas.
Se não formos bem equilibrados, não seremos capazes de ajudar os outros filhos de Deus.
21
pode confiar, o Seu Espírito fluirá de nós.
O início de toda obra espiritual está baseado na nossa contínua calibragem diante do Senhor. Um
termômetro deve ser fabricado segundo certas especificações. Ele precisa ser cuidadosamente aferido em
relação ao padrão, para então poder fornecer leituras confiáveis e precisas. Somos como esse termômetro.
Se não formos precisos, só traremos confusão. Para ser precisos, precisamos ser calibrados por meio de
tratamentos refinados. Somos os médicos e também os instrumentos. Assim sendo, precisamos aprender
as nossas lições adequadamente.
Capítulo Cinco
25
A IGREJA E A OBRA DE DEUS
Se verdadeiramente sabemos o significado da obra de Deus, então teremos de admitir que o homem
exterior realmente é um grande impedimento. Podemos dizer que Deus hoje é restringido pelo homem.
Os filhos de Deus precisam entender a função da igreja e o seu relacionamento com o poder de Deus e
Sua obra.
Estudar a Palavra
Um fato inegável ao se estudar a Palavra de Deus é que o tipo de pessoa que somos determina o tipo
de Bíblia que temos nas mãos. Se alguém estuda a Bíblia com a mente rebelde, confusa e aparentemente
inteligente, o que obtém dela é produto da mente; não toca o espírito da Palavra. Se queremos encontrar o
Senhor por meio da Bíblia, a nossa mente rebelde e que não coopera tem de ser quebrantada. Se a mente
sempre é rebelde e não coopera, a inteligência não nos trará benefício algum. Podemos achar a nossa
inteligência notável, mas, na verdade, é um grande obstáculo para Deus. Não importa quão inteligentes
sejamos, nunca poderemos conhecer o pensamento de Deus por meio dela.
Há pelo menos duas coisas que precisamos fazer ao nos achegar à Bíblia. Primeiro, os nossos
pensamentos precisam estar identificados com os da Bíblia. Segundo, o nosso espírito precisa estar
identificado com o da Bíblia. Temos de pensar como os autores da Bíblia. Homens como Paulo e João
tinham alguns pensamentos ao escrever os diversos trechos da Palavra. Precisamos penetrar nesses
pensamentos. Precisamos começar de onde eles começaram e desenvolver o pensamento na mesma linha
em que o fizeram. Precisamos raciocinar da mesma forma que o fizeram e considerar os mesmos
ensinamentos que consideraram. Em outras palavras, os nossos pensamentos são como uma engrenagem,
e os deles também. As duas engrenagens devem encaixar-se. Os nossos pensamentos precisam penetrar
nos de Paulo e João. Quando os nossos pensamentos penetram nos da Bíblia e a nossa mente se torna uma
com a que está por trás da inspiração de Deus, então entendemos o que a Bíblia diz.
Alguns lêem a Bíblia usando a mente como principal órgão. Eles a lêem na esperança de obter
algumas idéias dos pensamentos dela. Eles já têm todo um conjunto de doutrinas na mente e só querem
coletar material bíblico para fortalecer as doutrinas. Quando levantamos para falar, uma pessoa
experiente, depois de cinco ou dez minutos, sabe se estamos citando versículos com a mente, ou se os
nossos pensamentos estão mesclados com os da Bíblia. Essas são duas coisas inteiramente diferentes.
27
Esses dois tipos de pregação pertencem a dois mundos inteiramente diferentes. Quando alguns se
levantam para pregar, talvez sejam bíblicos e os seus sermões bastante atraentes, mas os seus
pensamentos são contrários aos da Bíblia, os dois são incompatíveis um com o outro. Entretanto, outros
são diferentes. Quando falam sobre a Bíblia, os seus pensamentos são mesclados com os da Bíblia. Os
dois se tornam um e estão em harmonia um com o outro. Essa é a maneira correta. Mas não são todos que
conseguem fazer isso. Para que os nossos pensamentos se mesclem com os da Bíblia, o nosso homem
exterior precisa ser quebrantado. Senão, não conseguimos nem mesmo ler a Bíblia. Não devemos pensar
que o nosso estudo da Bíblia é pobre porque não temos quem nos ensine. Não; é pobre porque a nossa
própria pessoa está errada, os nossos pensamentos não se submeteram a Deus. Assim que formos
quebrantados, cessaremos a nossa própria atividade. Não teremos nenhuma concepção subjetiva. Gradual,
paulatina e suavemente, tocaremos o pensamento de Deus, os pensamentos que estão por trás dos autores
da Bíblia, e pensaremos como eles. O homem exterior precisa ser quebrantado para que entremos nos
pensamentos por trás da Palavra de Deus. Quando isso acontece, o homem exterior já não é um
impedimento.
É importante em nosso estudo da Palavra que os nossos pensamentos entrem nos dos escritores da
Bíblia e também nos do Espírito Santo. No entanto, esse é apenas o passo inicial. Sem esse passo, não
conseguimos estudar a Bíblia de maneira nenhuma. Mas mesmo tendo dado esse passo, podemos não
estar lendo a Bíblia corretamente. A Bíblia não é composta apenas de pensamentos. A coisa mais
importante nela é que o Espírito de Deus é liberado por meio desse livro. Pedro, João, Mateus, Marcos e
os demais escritores da Bíblia tiveram a mesma experiência: ao escrevê-la sob a inspiração do Espírito
Santo, eles o fizeram segundo uma linha de raciocínio, mas ao mesmo tempo, o espírito deles era liberado
juntamente com a liberação do Espírito Santo. O mundo nunca conseguirá entender que por trás das
palavras da Bíblia há o Espírito. Quando o Espírito é liberado, os profetas como que tornam a viver e nos
falam novamente. Hoje ao ouvir um profeta, temos de perceber que o seu falar não contém apenas
palavras e pensamentos, mas algo mais. Esse "algo" mais é misterioso, embora em nosso interior
tenhamos clareza que é o Espírito. A Bíblia não contém apenas pensamentos, mas a liberação do Espírito.
Assim, o requisito básico e crucial de todos em relação a ler a Bíblia é ser capazes de liberar o espírito
para tocar o espírito da Bíblia. Precisamos atingir o espírito da Bíblia com o nosso próprio espírito para
entendê-la.
Suponha que um menino levado quebre a janela da casa do vizinho, o qual corre para fora para ralhar
com ele. Quando a mãe descobre, ela também repreende o menino. Mas há um sentimento diferente entre
a repreensão do vizinho e a da mãe. Exteriormente as duas são repreensões. Mas os "espíritos" por trás
das repreensões são diferentes. O vizinho repreende por raiva, o seu espírito é de ira. A sua repreensão é
de amor, de esperança e com o intuito de educar. Os dois espíritos são totalmente diferentes.
Essa é uma ilustração simples. O Espírito que está por trás da Palavra é muito mais forte do que o do
exemplo mencionado acima. O Espírito por trás dos escritos da Bíblia é um Espírito eterno. Ele ainda está
conosco hoje, e satura a Bíblia para sempre. Se o nosso homem exterior for quebrantado e o nosso
espírito liberado, não apenas os nossos pensamentos se tornarão um com os da Bíblia, como também todo
o nosso ser tocará, o próprio Espírito que está por detrás da letra da Bíblia. Se o nosso espírito não for
liberado e não estivermos tocando o espírito dos autores da Bíblia, nunca a entenderemos; ela será um
livro morto para nós. Portanto, voltamos à mesma questão fundamental: o homem exterior precisa ser
quebrantado. Os nossos pensamentos serão frutíferos e o nosso espírito estará livre para fluir apenas
quando o homem exterior estiver quebrantado. Somente então Deus não será restringido por nós. O
problema que enfrentamos hoje é que constantemente O impedimos. Até mesmo ao estudar a Bíblia nós
O impedimos e limitamos a Sua liberdade.
28
Ministrar a Palavra
Por um lado, Deus quer que entendamos a Sua Palavra: esse é o início da Sua obra. Por outro, Ele
deseja colocar uma ou duas palavras em nosso espírito. Essas palavras tornam-se um encargo para nós, e
Ele deseja que as ministremos à igreja. Atos 6:4 diz: "E, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao
ministério da palavra". Ministério é serviço, e o ministério da Palavra é um serviço que serve aos homens
a Palavra de Deus.
Qual é o nosso problema? É que temos a Palavra em nós, mas não conseguimos liberá-la. Alguns têm
uma palavra e um encargo muito pesado em seu espírito, então querem transmiti-la aos irmãos. No
entanto, quando vão ministrá-la, o encargo permanece preso neles. Após falar uma ou duas frases, por um
minuto ou mesmo uma hora, o encargo ainda não foi liberado. A pessoa não consegue liberar a palavra, o
homem exterior não consegue transmitir o encargo interior. Eles querem descarregar o encargo e a
mensagem que está em seu interior, mas o seu homem exterior não lhes provê palavras. Não importa o
quanto falem, eles ainda têm a impressão de que o encargo não foi passado. Vêm com um encargo e
voltam sem liberá-lo. A única explicação para isso é que o homem exterior não foi quebrantado. O
homem exterior não provê nenhum auxílio ao homem interior; antes, se torna uma pedra de tropeço para
ele.
Uma vez quebrantado o nosso homem exterior, é fácil dizer o que queremos. Quando temos um
encargo ou palavra em nós, o nosso homem exterior descobrirá as palavras adequadas para expressar os
nossos pensamentos. Assim que essa palavra que está em nós é liberada, o encargo em nosso interior
também é liberado. Quanto mais falamos, mais leves nos sentimos. Perceberemos que a nossa obra é
servir a igreja com a Palavra de Deus. Assim, o encargo que está em nosso interior deve ter a
correspondência de palavras exteriores adequadas dos pensamentos. Se não for quebrantado, o homem
exterior não cederá ao desejo do homem interior, não obedecerá ao sentimento ou ao espírito interior.
Quando o homem exterior tenta examinar o sentimento do homem interior, ele não encontra nada. Não
encontra as palavras adequadas e necessárias, e Deus não é liberado. Deus é impedido e bloqueado e a
igreja não recebe ajuda.
Temos de nos lembrar que o homem exterior constitui-se no maior empecilho ao ministério da Palavra.
Muitos acham que ser inteligente tem alguma utilidade. Isso está errado. Por mais inteligente que a
pessoa seja, o homem exterior nunca poderá substituir o homem interior; este só obterá os pensamentos
corretos e as palavras adequadas para fluir quando o homem exterior estiver quebrantado e esmagado. A
casca exterior precisa ser quebrada por Deus. Quanto mais ela for quebrada, mais a vida no espírito será
liberada. Se a casca permanecer, o encargo permanecerá no espírito, e a vida e o poder de Deus não
fluirão para a igreja. Tal pessoa não será capaz de servir como ministro da Palavra. O poder e a vida de
Deus são liberados principalmente por meio do ministério da Palavra. Se o homem exterior não foi ferido
e não tem nenhuma ferida aberta, o homem interior não tem saída. Os que vierem para ouvir a mensagem
somente ouvirão um som; não tocarão vida. O orador pode estar ansioso para liberar algo, mas a platéia
não receberá nada. Ele tem a palavra em seu interior, mas não é capaz de colocá-la para fora, pois o seu
homem exterior está bloqueando o caminho.
Há uma história preciosa na vida do Senhor Jesus. Uma pessoa tocou apenas a orla da Sua veste e
recebeu a Sua força. A orla da Sua veste é a parte mais exterior do Seu ser. E essa pessoa pôde sentir o
Seu poder até mesmo na parte mais exterior. O nosso problema é que temos a vida de Deus, mas ela não
consegue fluir de nós. Temos a Palavra em nosso interior, mas não conseguimos liberá-la. Temos a
Palavra de Deus em nós, mas temos obstáculos à nossa volta. Como resultado, ela não pode ser liberada.
Quando Deus não tem liberdade em nós, Ele não consegue fluir livremente de nós.
Pregar o evangelho
29
Muitos têm o conceito errôneo de que a pessoa crê no evangelho porque ouviu os ensinamentos
corretos ou porque foi tocada nas emoções. Mas isso está longe de ser verdade. Os que baseiam a sua
aceitação do Senhor em impulsos emocionais não durarão. Os que são persuadidos na mente também não.
Não há nada de errado em se usar a mente e a emoção, mas isso não é suficiente. Uma pessoa não é salva
pela emoção nem pelo pensamento. O pecador cai aos pés do Senhor porque o espírito do que está
falando liberou luz ao falar. Assim que o nosso espírito flua de nós, as pessoas são impressionadas. Por
isso precisamos de um espírito liberado para pregar o evangelho.
Um minerador de carvão foi grandemente usado pelo Senhor na pregação do evangelho. Ele escreveu
um livro chamado Visto e Ouvido no qual descreveu a sua experiência com o evangelho. Fomos
profundamente tocados por esse livro. Esse irmão não era alguém com muita instrução nem com muitos
dons; era apenas um irmão comum. Mas a sua consagração absoluta ao Senhor tornou-se a base para o
Senhor usá-lo grandemente. Você sabe o que ele tinha de tão especial? Ele era um homem quebrantado.
Ele podia liberar o espírito facilmente. Começou a pregar aos vinte e três anos, quando foi salvo. Numa
reunião, a palavra do pregador acendeu nele um desejo ardente de salvar almas. Ele pediu a palavra.
Depois de levantar, não foi capaz de dizer coisa alguma, embora o seu coração queimasse pelas almas
perdidas. As suas lágrimas jorraram. Por fim ele só conseguiu dizer uma ou duas frases, então o Espírito
de Deus encheu a reunião e todos foram convencidos do seu próprio pecado e obstinação. Aí estava
alguém que, embora jovem, estava quebrantado em seu homem exterior. Ele não tinha muito para dizer,
no entanto o seu espírito estava liberado e os homens foram salvos. Ele levou muitos à salvação em toda a
sua vida. Ao ler a sua biografia, sentimos que era alguém com o espírito liberado.
A maneira de pregar o evangelho é esta: liberar o espírito. Quando a dureza do homem exterior é
removida e o homem exterior é quebrantado, o espírito é liberado. Se o simples fato de ver uma pessoa
que não foi salva ainda nos leva a fazer algo para salvá-la, isso quer dizer que o nosso espírito está
liberado. Esse é o ponto básico. A pregação do evangelho tem tudo à ver com o quebrantamento do
homem exterior. Quando o homem exterior for quebrantado, o nosso espírito será liberado e tocará os
outros. E o nosso espírito que alcança o espírito dos outros. É o espírito de Deus que toca o espírito em
trevas dos outros. Quando isso acontece, a pessoa é salva e nenhuma razão consegue explicar essa
mudança. Entretanto, quando o homem exterior abafa o espírito, Deus não tem caminho por meio de nós
e o evangelho não é liberado. Sempre precisamos prestar atenção ao quebrantamento do homem exterior
porque todos os nossos problemas estão no homem exterior. Se nós não formos disciplinados, é inútil
decorar mais ensinamentos. A única coisa que trará salvação aos homens é o nosso espírito tocar o
espírito deles. Se isso ocorrer, eles se prostrarão diante de Deus. Se o nosso espírito for descarregado com
energia, eles não terão outra escolha a não ser prostrar-se diante do Senhor. Nos últimos anos Deus tem
tomado o caminho da restauração. Ele não quer ver uma pessoa salva esperar por muitos anos para lidar
com os seus pecados. Também não quer que a pessoa fique muitos anos sem se consagrar ao Senhor ou
responder ao Seu chamamento para segui-Lo. O Senhor está tomando o caminho da restauração. O
evangelho precisa ser restaurado, e o fruto do evangelho também. Logo que a pessoa é salva, deve ser
libertada do pecado e consagrar-se absolutamente ao Senhor. Assim que é salva, ela deve quebrar o poder
de "Mamom" nela.(Mamom, palavra aramaica traduzida por riquezas em Mt 6:24, (N. T.))
Ela deve ser como os que foram salvos pelo Senhor nos Evangelhos e em Atos. Se vamos realmente
restaurar o evangelho, os que o pregam devem deixar que o Senhor tenha caminho livre através deles.
Cremos que enquanto o Senhor toma o caminho da restauração, o evangelho da graça se tornará um
com o evangelho do reino. Nos Evangelhos não vemos separação entre o evangelho do reino e o
evangelho da graça. Mais tarde, parece que os que ouviram o evangelho da graça não tiveram
oportunidade de ouvir o evangelho do reino. Os dois evangelhos parecem ter sido separados. Mas virá o
tempo em que os dois se tornarão um novamente. Os que receberem o Senhor também desistirão de tudo
30
por causa Dele. Os que O receberem também consagrarão tudo a Ele. Os homens não mais serão salvos
de maneira pobre, e, sim, de maneira forte e completa.
Precisamos humilhar-nos diante do Senhor e dizer: "O evangelho precisa ser restaurado e os que o
pregam precisam ser restaurados também". Para que o evangelho alcance os homens, precisamos deixar
Deus operar por meio de nós. Maior poder é necessário para a pregação do evangelho. Mesmo assim, um
preço maior precisa ser pago. Se esperamos que tanto o evangelho como os que o pregam sejam
restaurados, precisamos dar tudo ao Senhor e dizer: "Senhor, dou meu tudo a Ti. Oro para que encontres
caminho através de mim. Oro para que a igreja também encontre caminho através de mim. Não quero
impedir-Te, nem impedir a igreja".
O Senhor Jesus nunca limitou Deus, de maneira alguma. Nos últimos dois mil anos Deus tem operado
na igreja. O objetivo é que a igreja por fim também não seja uma limitação para Deus. Assim como
Cristo era a manifestação de Deus e não a Sua limitação, a igreja deve ser a Sua manifestação e não a Sua
limitação. Deus tem ensinado, batido, despojado e ferido os Seus filhos continuamente. É assim que Ele
lida com a igreja. Ele irá continuar essa obra nela até que ela não seja mais uma limitação para Ele, e,
sim, a Sua manifestação. Hoje, somente podemos inclinar a cabeça e dizer: "Senhor! Nós nos
envergonhamos de ter atrasado a Tua obra. Temos impedido a Tua vida, o Teu evangelho e o Teu poder".
Cada um de nós deve dizer ao Senhor: "Eu dou meu tudo a Ti. Oro para que tenhas caminho através de
mim". Se queremos ver uma restauração completa do evangelho, devemos ter uma consagração. É tolice
apenas lamentar o fato de que nosso evangelho não é tão poderoso como o da igreja primitiva.
Precisamos reconhecer que a nossa consagração não é tão absoluta como a da igreja primitiva. Para
restaurar o evangelho, precisamos restaurar a consagração; ambos precisam ser absolutos e completos.
Que o Senhor ache caminho através de nós.
Capítulo Seis
O QUEBRANTAMENTO E A DISCIPLINA
CONSAGRAÇÃO E DISCIPLINA
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A fim de que o nosso homem exterior seja quebrantado precisamos consagrar-nos ao Senhor. A
consagração, no entanto, não resolve todos os problemas, sendo apenas uma expressão da nossa intenção
de voluntariamente nos dar incondicional, irrestrita e inequivocamente a Deus. Consagrar-se a Deus é
algo que leva apenas alguns minutos. Essa disposição de nos oferecer sem reservas a Deus é apenas o
passo inicial na jornada espiritual. Não quer dizer que toda a Sua obra termina com esse passo. Se alguém
pode ou não ser usado por Deus não depende apenas da consagração; ainda há a necessidade da disciplina
do Espírito Santo, que é algo muito importante. Isso define se seremos úteis a Deus ou não. A disciplina
do Espírito Santo deve ser adicionada à nossa consagração a fim de que nos tornemos um vaso útil ao
Senhor. Sem consagração, é sempre difícil prosseguir com a disciplina do Espírito Santo. Mas a
consagração por si só não a substituí. Portanto, precisamos dar atenção à disciplina do Espírito. Na
consagração nós nos oferecemos a Deus segundo a luz que já recebemos. Ao nos disciplinar, o Espírito
Santo lida conosco segundo a luz que nos dispensa. Só podemos consagrar-nos de acordo com o que
conhecemos. Só podemos consagrar-nos segundo o que vemos com os olhos espirituais. Na verdade, nem
mesmo nós sabemos o quanto está incluído na consagração. A quantidade de luz que recebemos não é
infinita; antes, é bastante limitada. Mesmo quando achamos que temos a maior luz, aos olhos de Deus
ainda podemos estar nas trevas. O que consagramos a Deus de acordo com a luz já recebida nunca irá
satisfazer a Sua exigência. Em outras palavras, a exigência de Deus sempre é mais alta do que o que
podemos oferecer. A nossa consagração não consegue satisfazer o coração de Deus porque o nosso
conhecimento e luz são limitados. Mas a disciplina do Espírito Santo é totalmente diferente, ela avalia a
nossa necessidade na própria luz de Deus. Não é o quanto nós vemos, mas o quanto Deus vê. Ele sabe que
temos certas necessidades e opera por meio do Seu Espírito no ambiente a fim de que experimentemos
essas coisas, cujo propósito é quebrar o nosso homem exterior. Assim sendo, a disciplina do Espírito
Santo vai muito além da nossa consagração, sendo muitas vezes maior do que ela. Há uma grande
diferença aqui.
A obra do Espírito Santo baseia-se na luz de Deus. O Espírito opera de acordo com o que Deus vê.
Portanto, somente a disciplina do Espírito Santo é total e completa. Nós muitas vezes somos ignorantes,
não sabendo pelo que necessitamos passar. Até mesmo as nossas escolhas mais sábias são cheias de erros.
O que achamos que necessitamos, na realidade, de acordo com Deus, não é o que necessitamos. O que
vemos do nosso lado pode ser apenas uma fração minúscula do quadro todo. O Espírito Santo, no entanto,
ordena as coisas para nós segundo a luz de Deus. A Sua disciplina excede em muito o que a nossa mente
consegue entender. Freqüentemente não estamos preparados para determinada disciplina e achamos que
não necessitamos dela. Então, quando a disciplina do Espírito vem sobre nós, somos pegos de surpresa. O
que o Espírito ordenou para nós no ambiente não é o que esperávamos. Muito da disciplina do Espírito
Santo vem sem nenhum aviso de Deus. De repente somos atingidos por um forte golpe. Podemos achar
que estamos vivendo sob a luz divina, mas para Deus essa luz pode ser um fraco lampejo. Talvez Ele nem
a considere como luz. Mas o Espírito Santo lida conosco segundo a luz divina. Nós achamos que
conhecemos a nossa condição, mas isso não é verdade. Somente Deus nos conhece. Desde o dia em que
O aceitamos, Ele tem preparado o nosso ambiente. Tudo o que Ele ordenou é para o nosso maior
benefício porque Ele nos conhece e conhece as nossas necessidades.
A obra do Espírito Santo em nós tem um aspecto positivo e um negativo. Há o aspecto da edificação e
o aspecto da demolição. Depois que somos regenerados, o Espírito Santo vive em nós, no entanto o nosso
homem exterior limita a Sua liberdade. Isso é semelhante a um homem usando sapatos novos: são muito
duros e apertados e o homem tem dificuldades para andar com eles. O homem exterior causa muitos
problemas ao homem interior: este não consegue controlar aquele. Por isso é que Deus tem lidado com o
nosso homem exterior e o tem quebrantado desde o dia em que fomos salvos. Deus não lida com ele
segundo a necessidade que nós percebemos, mas segundo a necessidade que Ele vê. Ele descobre o que é
32
obstinado em nós e o que está fora do controle do homem interior e então lida conosco segundo o que Ele
sabe.
O Espírito Santo não lida com o nosso homem exterior fortalecendo o nosso homem interior. Nem o
faz suprindo mais graça para o homem interior. Isso não quer dizer que o homem interior não precise ser
fortalecido, e, sim, que Deus tem uma maneira diferente de lidar com o homem exterior. O Espírito Santo
diminui o homem exterior por meio de coisas exteriores. Não é fácil derrubar o homem exterior com o
homem interior, pois eles são de naturezas diferentes. Ê difícil para o homem interior ferir ou esmagar o
homem exterior. A natureza do homem exterior corresponde à natureza das coisas exteriores. O homem
exterior é facilmente afetado pelas coisas exteriores, que podem esmagá-lo, infligir-lhe dor e feri-lo muito
mais do que o homem interior consegue. Assim, Deus lida com o homem exterior com coisas exteriores.
Mateus 10:29 diz: "Não se vendem dois pardais por um asse?" Em Lucas 12:6 lemos: "Não se vendem
cinco pardais por dois asses?" Um asse compra dois pardais e dois asses compram cinco. Isso é barato. O
quinto é um bônus, é grátis. Entretanto: "Nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai"
(Mt 10:29). A Bíblia também diz: "Até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados" (v. 30).
Isso nos leva a perceber que tudo o que acontece a um cristão está debaixo da ordenação de Deus.
Nenhuma circunstância vem a nós por acaso. Deus quer que vejamos que tudo está debaixo do Seu
arranjo soberano.
Deus arranja todas essas coisas segundo a nossa necessidade, conforme Ele a enxerga. Ele sabe o que é
melhor para o homem interior e qual é a melhor maneira de quebrar e demolir o homem exterior.
Sabendo que determinada coisa irá quebrar o homem exterior, Ele a ordena para nós uma, duas e
repetidas vezes. Precisamos ver que todas as coisas com as quais nos deparamos nos últimos cinco ou dez
anos estavam debaixo da ordenação de Deus e visam à nossa educação. Se murmuramos contra alguém,
realmente desconhecemos a mão de Deus. Se achamos que eram períodos de má sorte, é porque não
temos nem idéia do que seja a disciplina do Espírito Santo. Devemos lembrar-nos de que todas as coisas
que nos advêm são medidas pela mão do nosso Deus e visam ao nosso bem. Podemos não saber escolhê-
las, mas Deus sabe que são para o nosso bem. Nem consigo imaginar a miséria em que estaríamos se não
fosse a disciplina de Deus. Esses arranjos nos mantêm puros, preservam-nos no caminho de Deus. São o
melhor para nós. Deus não nos pode dar nada melhor. Mesmo assim, muitos não conseguem submeter-se.
Murmuram com a boca e se ressentem no coração. Isso é algo realmente tolo. Temos de nos lembrar que
tudo é medido para nós pelo Espírito Santo, e é o melhor que pode haver.
Assim que uma pessoa é salva, o Espírito Santo começa essa obra. Mas certo tempo tem de passar até
que Ele obtenha plena liberdade por meio dessa obra. Quando o Espírito Santo tem total liberdade? É
quando nos consagramos. O dia em que alguém é salvo é o dia em que o Espírito Santo inicia Sua obra
disciplinadora, e o dia em que ele se consagra é o dia em que o Espírito tem plena liberdade para realizar
tal obra. Após uma pessoa ser salva e antes de se consagrar, ela ainda ama muito a si mesma e tem pouco
amor pelo Senhor. Não podemos dizer que o Espírito Santo não a discipline; Ele realmente ordena coisas
para conduzi-la a Deus e quebrar-lhe o homem exterior. Mas com uma pessoa não consagrada, Ele não
tem plena liberdade de realizar essa obra. Depois que a pessoa foi iluminada por Deus e se consagrou a
Ele, o Espírito Santo tem a liberdade de fazer a Sua obra. Em dado momento, a pessoa sentirá que não
pode mais viver por si nem para si mesma. Debaixo dessa tênue luz que ganhou, ela irá a Deus e dirá: "Eu
me consagro a Ti. Qualquer que seja o resultado, morte ou vida, eu me consagro a Ti". Quando isso
acontecer, a obra do Espírito Santo nela será intensificada. A consagração é importante. Ê por meio dela
que permitimos ao Espírito Santo ter plena e incondicional liberdade de fazer a Sua obra. Depois de nos
consagrar, não devemos ficar surpresos quando muitas coisas inesperadas nos sobrevêm. A única razão
de essas coisas virem sobre nós é que nos demos ao Senhor incondicionalmente. Dissemos ao Senhor:
"Senhor, realiza em mim o que for mais proveitoso aos Teus olhos!" Por nos termos consagrado ao
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Senhor dessa forma, o Espírito Santo é livre para fazer a Sua obra em nós sem se preocupar com
resistência da nossa parte. Se queremos tomar o caminho do Senhor devemos dar a máxima atenção à
obra disciplinadora do Espírito Santo.
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em nós que não podem entrar na eternidade e todas precisam ser demolidas.
A CRUZ NA PRÁTICA
A cruz não é meramente uma doutrina. Ela precisa ser levada a cabo na prática. Precisa tornar-se
realidade em nós. Todas as coisas que pertencem a nós têm de ser destruídas. Quando formos feridos
uma, duas, muitas vezes, chegará o tempo em que espontaneamente nos tornaremos sóbrios, e não mais
seremos arrogantes. A maneira não é negar a nossa arrogância quando a memória nos lembra que ela
existe. Esse tipo de negar irá desaparecer em cinco minutos. Somente depois que a pessoa passa pelo
castigo de Deus é que o seu orgulho é tirado para sempre. Inicialmente a pessoa pode ser orgulhosa, mas
depois de ferida por Deus uma vez, duas vezes, muitas vezes, ela começará a se humilhar, e a sua
arrogância começará a sumir. Ensinamento, doutrina e memorização não destroem o homem exterior.
Somente o castigo de Deus e a disciplina do Espírito Santo o destruirão. Quando Deus lida com uma
pessoa, espontaneamente ela não ousará mais ser orgulhosa. Não precisará esforçar-se para lembrar-se
dessa lição. Ela não age dessa forma porque ouviu uma mensagem a esse respeito dias antes. Ela não está
agindo segundo o ensinamento. O seu orgulho foi nocauteado e removido. Ela abomina os métodos
próprios, considerando-os como fogo e temendo queimar-se. Nós vivemos pela graça de Deus, e não pela
nossa memória. Deus precisa ferir-nos até o ponto em que, quer lembremos ou não que devemos agir
daquele modo, somos os mesmos. Essa obra é confiável e duradoura. Quando o Senhor terminar essa obra
em nós, não apenas receberemos graça e estaremos fortes no homem interior, mas o homem exterior que
antes era um impedimento e empecilho à Palavra, ao propósito e à presença do Senhor estará agora
quebrantado. Antes o homem exterior e o homem interior não podiam se juntar, agora o homem exterior
prostra-se em temor e tremor, submete-se a Deus e não está mais brigado com o homem interior.
Cada um de nós precisa passar pela disciplina do Senhor. Ao olhar para trás vemos que Ele lidou
conosco item por item. Ele está continuamente quebrando a nossa casca exterior e derrubando a nossa
independência, orgulho e egoísmo exteriores. Ao olhar para tudo o que aconteceu no passado, precisamos
reconhecer que tudo o que o Senhor fez foi significativo.
Espero que os filhos de Deus vejam o significado da disciplina do Espírito Santo. Deus quer que
vejamos que somos pobres, que temos ido contra Ele, temos falhado, temos vivido nas trevas, andado por
nós mesmos e sido orgulhosos e arrogantes por muito tempo. Agora sabemos que a mão divina está sobre
nós para nos quebrar. Vamos colocar-nos em Sua mão irrestrita e incondicionalmente, orando para que
essa obra de quebrantamento seja realizada em nós. Irmãos e irmãs, o homem exterior tem de ser
quebrantado! Não tente salvá-lo de ser esmagado enquanto espera aperfeiçoar o homem interior. Ao dar
atenção à obra de quebrantamento, espontaneamente veremos a obra de edificação.
Capítulo Sete
SEPARAÇÃO E REVELAÇÃO
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Deus não apenas quer quebrantar nosso homem exterior, mas também separá-lo do homem interior.
Ele quer demoli-lo para que não se torne um impedimento para o homem interior. Ele quer que o nosso
espírito e alma, isto é, o homem interior e o exterior, sejam separados um do outro.
UM ESPÍRITO MISTURADO
Um problema entre os filhos de Deus é a mistura da alma com o espírito. Sempre que o seu espírito é
liberado, a sua alma também o é. É difícil achar alguém cujo espírito seja puro. Em muitos falta essa
pureza. É essa mistura que os desqualifica de ser usados por Deus. A primeira qualificação na obra é a
pureza de espírito, e não a quantidade de poder. Muitos esperam ter muito poder, entretanto, não se
preocupam em ter um espírito puro. Embora tenham o poder para edificar, têm carência de pureza. O
resultado é que a sua obra está fadada à destruição. Por um lado eles edificam com poder, por outro a
destroem com a sua impureza. Demonstram o poder de Deus, entretanto, ao mesmo tempo, o seu espírito
tem mistura.
Alguns acham que desde que recebam poder de Deus, tudo o que eles têm será elevado e tomado por
Deus para o Seu serviço. Mas isso nunca irá acontecer. O que pertence ao homem exterior irá sempre
pertencer ao homem exterior. Quanto mais conhecermos a Deus, mais iremos valorizar a pureza em
detrimento do poder. Nós amamos essa pureza. Ela é diferente do poder espiritual e livre de qualquer
contaminação do homem exterior. Se a pessoa nunca experimentou nenhum tratamento em seu homem
exterior, é impossível esperar que o poder que dela emana seja puro. Ela não deve presumir que, como
tem poder espiritual e produziu alguns resultados em sua obra, está livre de misturar o ego com o espírito.
Se pensar assim, ela se tornará um problema. Isso, na verdade, é um pecado.
Muitos jovens sabem que o evangelho é o poder de Deus. Mas quando o pregam, acrescentam a sua
própria esperteza, frivolidade, piadas e sentimentos pessoais. As pessoas podem sentir neles o poder de
Deus, mas ao mesmo tempo também podem sentir o seu ego. Os pregadores podem não sentir nada, mas
os puros imediatamente sentirão a existência de mistura. Freqüentemente somos zelosos pelos aspectos
externos da obra de Deus, mas na realidade misturamos as nossas próprias preferências. Com freqüência
fazemos a vontade de Deus exteriormente mas, na verdade, é mera coincidência que a vontade de Deus
seja igual a nossa. Muitas das assim chamadas vontades de Deus estão misturadas com as preferências do
homem! Muito do zelo está misturado com os sentimentos do homem! Muitos dos testemunhos sólidos
para Deus estão misturados com a disposição teimosa do homem.
O nosso maior problema é a mistura. Assim, Deus precisa trabalhar em nós a fim de quebrantar o
nosso homem exterior, bem como remover a mistura que há em nós. Ele nos está quebrando passo a
passo a fim de que o nosso homem exterior não mais esteja inteiro. Depois que o nosso homem exterior
tiver sido golpeado uma, dez, vinte vezes estaremos quebrantados e a nossa dura casca exterior diante de
Deus terá sumido. Mas que fazer com a mistura do homem exterior em nosso espírito? Isso requer outra
obra: a obra de purgar. Essa obra não é levada a cabo apenas por intermédio da disciplina do Espírito,
mas também por meio da Sua revelação. A maneira de purificar a mistura é diferente da maneira de
quebrantar o homem exterior: freqüentemente é por meio de revelação. Dessa forma, vemos Deus lidando
conosco de duas maneiras. Uma é o quebrantamento do homem exterior e a outra é a separação entre o
homem exterior e o espírito. Um vem por meio da disciplina do Espírito Santo e o outro é resultado da
revelação do Espírito Santo.
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acontecer de a Sua disciplina vir antes da Sua revelação, e também pode vir depois. Podemos fazer uma
distinção de seqüência, mas quando o Espírito Santo opera, Ele não necessariamente faz uma coisa
primeiro e depois a outra. Em nossa experiência não há ordem fixa de eventos. Alguns experimentam
primeiro disciplina, outros experimentam primeiro revelação. A experiência de cada um é diferente.
Alguns recebem a disciplina do Espírito primeiro, depois recebem a Sua revelação, e então mais
disciplina. Outros recebem revelação do Espírito primeiro, depois disciplina e então mais revelação.
Entretanto, entre os filhos de Deus sempre há mais disciplina do que revelação do Espírito Santo. Aqui
estamos falando de experiência, e não de doutrina. Para muitos a disciplina ocorre com mais freqüência
do que a revelação. Resumindo, a alma e o espírito têm de ser separados. O homem interior tem de ser
separado do exterior. O homem exterior precisa ser quebrantado, moído e completamente separado do
homem interior. Só então o nosso espírito estará livre e puro.
Capítulo Oito
O QUEBRANTAMENTO E A IMPRESSÃO
Se podemos ou não ser um obreiro do Senhor não depende do que dizemos ou fazemos, e, sim, do que
procede de nós. Se dizemos e fazemos algo, mas o que procede de nós é outra coisa, as pessoas não
receberão ajuda. O que procede de nós é muito crucial.
Às vezes dizemos que temos boa impressão de determinada pessoa ou má impressão de outra. De onde
vem essa impressão? Não vem das palavras da pessoa. Se fosse assim, alguém seria bom se as suas
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palavras fossem boas, e mau se as suas palavras fossem más. Não haveria necessidade nenhuma de
falarmos de impressão. No entanto, há algo inexplicável que nos causa certas impressões. A impressão
que recebemos de alguém é algo à parte de suas palavras e obras. Enquanto ele fala ou age, algo mais
procede do seu ser que nos causa uma impressão.
O que impressiona os outros são os nossos pontos mais fortes. Se os nossos pensamentos nunca foram
quebrantados e são violentos e selvagens, quando contatamos os irmãos, eles espontaneamente tocarão os
nossos pensamentos. Isso será tudo o que os impressionará. Talvez tenhamos uma emoção anormal,
quente demais ou fria demais. Se nunca foi quebrantada pelo Senhor, ela espontaneamente procederá de
nós quando contatarmos as pessoas. A impressão que irão receber será da nossa emoção. O nosso ponto
forte é o que procede de nós, e é a impressão que as pessoas irão receber. Podemos controlar as palavras e
ações, mas não o que procede de nós. O que temos é o que espontaneamente fluirá de nós.
O Segundo Livro dos Reis registra a recepção da mulher sunamita a Eliseu. Em4:8-9 lemos: "Certo
dia, passou Eliseu por Suném, onde se achava uma mulher rica, a qual o constrangeu a comer pão. Daí,
todas as vezes que passava por lá, entrava para comer. Ela disse a seu marido: Vejo que este homem que
passa sempre por nós é santo homem de Deus". Eliseu apenas passou por Suném; não deu uma mensagem
nem realizou nenhum milagre. Daí, todas as vezes que passava por lá, entrava para comer. A mulher
identificou-o como um homem de Deus pela maneira como ele comia. Essa era a impressão que Eliseu
dava às pessoas.
Hoje precisamos perguntar-nos: "Qual é a impressão que damos às pessoas? Que é que procede de
nós?" Temos reiterado que o homem exterior precisa ser quebrantado. Se isso não acontecer, a impressão
que as pessoas terão de nós não será outra senão a impressão do nosso homem exterior. Todas as vezes
que contatamos as pessoas podemos dar-lhes a desagradável sensação de que somos os que amam a si
mesmos, são teimosos e orgulhosos. Ou então daremos a impressão de que somos espertos e
extremamente eloqüentes. Talvez daremos uma assim chamada boa impressão aos outros. Mas essa
impressão satisfaz a Deus? Será que satisfaz às necessidades da igreja? Deus não está satisfeito e a igreja
não tem nenhuma necessidade das nossas assim chamadas boas impressões. Irmãos, Deus exige que o
nosso espírito esteja liberado e a igreja também o requer. Temos uma grande e crucial necessidade: que o
nosso homem exterior seja quebrantado. Se isso não acontecer, o nosso espírito não será liberado e a
impressão que daremos às pessoas não será do espírito.
Certa vez um irmão falava a respeito do assunto: o Espírito Santo. Porém todas as suas palavras,
atitudes e histórias expunham-no como alguém cheio do ego. Enquanto o ouviam, as pessoas sentiam-se
desconfortáveis. O Espírito Santo estava na sua boca, mas o ego estava em seu ser. As suas palavras eram
a respeito do Espírito Santo, mas a impressão que ele dava era do seu ego. Para que serve isso? Não
devemos dar atenção apenas às doutrinas. O importante é o que procede de nós. Se o que procede de nós é
o ego, as pessoas só tocarão no ego. Embora o assunto possa ser maravilhoso e a mensagem excelente,
para que serve? Deus não deseja que tenhamos progresso apenas na doutrina, Ele tem de lidar com a
pessoa. Se a nossa pessoa não for disciplinada, seremos de pouca utilidade para a obra de Deus. Somente
seremos capazes de dar aos outros ensinamentos espirituais, e não impressões espirituais. E lamentável
que os nossos ensinamentos sejam espirituais e a impressão que damos aos outros seja do ego! É por isso
que temos repetido que Deus tem necessidade de quebrantar o nosso homem exterior.
Constantemente Deus arranja as nossas circunstâncias para quebrar o nosso ponto forte. Talvez ele
seja tão forte que um golpe só não é suficiente para tirá-lo. Por isso, vem 0 segundo golpe. Se o nosso
ponto forte ainda não cede, um terceiro golpe virá. Deus não irá desistir. Ele tem de quebrar o nosso
ponto forte. Ele nunca irá parar a Sua obra.
O que o Espírito Santo realiza em nós por meio da Sua obra disciplinadora é diferente do que
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recebemos por meio da pregação comum. Ao ouvir uma mensagem, geralmente entendemos a doutrina na
mente e esperamos por meses e até mesmo anos até que Deus nos conduza à verdade subjetivamente.
Primeiro ouvimos a mensagem e depois entramos na verdade. Mas a disciplina do Espírito Santo opera de
modo diferente. Ela se caracteriza pelo fato de que, no instante em que vemos a verdade, recebemos o seu
conteúdo. As duas coisas ocorrem ao mesmo tempo. Não é que primeiro vemos a doutrina e depois
recebemos o conteúdo. Somos tolos; rapidamente entendemos as doutrinas, mas aprendemos lentamente
com a disciplina. Podemos lembrar-nos de muitos ensinamentos depois de ouvi-los uma única vez.
Entretanto, a disciplina do Espírito Santo pode vir a nós dez vezes e ainda podemos estar confusos e
atônitos, não sabendo por que estamos sendo disciplinados. Se o Senhor não conseguir quebrar-nos com
um só golpe, Ele o repetirá. Quando experimentamos a disciplina do Espírito Santo uma, duas, dez vezes,
ou mesmo cem vezes, o Senhor produzirá algo em nós e no mesmo instante veremos a verdade. O
momento em que vemos a verdade é o momento em que adquirimos o próprio item a que ela se refere.
Assim, a disciplina do Espírito Santo equivale tanto ao Seu demolir como ao Seu edificar. Essa é a obra
do Espírito Santo. Depois que o homem passa pela disciplina do Espírito, ele não só é aperfeiçoado como
também vê a verdade. Ele tanto é edificado como demolido. Ao experimentar tanta disciplina do Espírito
Santo verá e tocará algo real diante do Senhor e dirá: "Graças ao Senhor. Agora sei que Ele usou os
últimos cinco ou dez anos para lidar comigo, simplesmente para se livrar dessa única coisa". Graças ao
Senhor que Ele remove os nossos obstáculos por meio de repetidas disciplinas.
O ILUMINAR E O MATAR
Iluminar é outra obra do Espírito Santo. O Espírito lida com o nosso homem exterior por intermédio
desses dois meios: disciplina e iluminar. As vezes Ele opera por meio dos dois simultaneamente e outras
vezes consecutivamente. Às vezes o Espírito Santo nos disciplina por intermédio do ambiente para
derrubar os nossos pontos fortes. Outras vezes, Ele nos concede graça especial iluminando-nos de uma
forma especial. Precisamos ter clareza de que a carne só consegue se refugiar nas trevas. Quando as
trevas somem, a carne não tem onde se esconder. Muitas obras da carne permanecem porque não as
conhecemos como obras da carne. Assim que a luz vem e nós as vemos como sendo da carne, ficamos
com temor de agir da forma como vínhamos agindo.
Quando a igreja é rica, quando a Palavra de Deus é liberada, quando o ministério da Palavra é forte e
quando é comum profetizar, a luz é freqüente e prevalecente. Uma vez que a luz brilha percebemos o que
é orgulho. Começamos a conhecer exatamente aquilo sobre o que falávamos no passado. Antes quando
falávamos sobre orgulho, era algo de que nos orgulhávamos. Mas quando vemos o orgulho sob a luz, só
podemos exclamar: "Oh! isso é orgulho. Agora sei que o orgulho é tão maligno e sujo!" O orgulho que
vemos na luz da revelação é completamente diferente daquele que falamos com a nossa boca. O orgulho
do qual falamos com muita eloqüência não nos parece detestável e imundo. Mesmo enquanto falávamos
sobre ele, tínhamos muito pouco sentimento.
Mas quando estamos na luz, tudo se torna diferente. A luz expõe a nossa verdadeira condição. O ego que
vemos hoje é milhares de vezes mais maligno e sujo do que o ego do qual falamos no passado. Nessas
circunstâncias o nosso orgulho, ego e carne irão desaparecer. Serão removidos e não sobreviverão.
Algo maravilhoso é que tudo que vemos na luz é morto por ela. O ver e o matar não acontecem
consecutivamente. Não é que vemos as nossas deficiências e então as removemos gradualmente anos
depois. Quando vemos as nossas deficiências debaixo do iluminar, elas são imediatamente terminadas,
são imediatamente mortas. A luz mata. Isso é a coisa mais maravilhosa no tocante à experiência cristã.
Quando o Espírito Santo nos ilumina, nós somos tratados. Portanto, revelação inclui não só ver como
também matar. Pelo ver, a carne é exterminada. A revelação é a maneira de Deus operar. Na verdade, a
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revelação é o próprio operar de Deus. Assim que a luz revela ela também mata. Quando a luz brilha nós
vemos, e o fato de vermos mata tudo. Uma vez que vemos quão suja e maligna determinada coisa é, e
vemos que o Senhor a condena, ela não consegue mais sobreviver.
O que há de mais grandioso na experiência cristã é o matar que advém da luz. Paulo não recebeu o
iluminar e então se apressou para se ajoelhar ao lado da estrada. No mesmo instante em que foi iluminado
ele caiu. Antes disso ele era capaz de planejar tudo e estava seguro de tudo. Entretanto, a sua primeira
reação quando a luz veio foi cair. Ele tornou-se tolo e ignorante. A luz o derrubou. Devemos perceber que
essas duas coisas acontecem em um passo só, não em dois. Não acontece da maneira que pensamos. Deus
não brilha sobre nós, nos faz entender e então levamos a cabo aquilo que Ele nos mostrou. Não é que
Deus nos ilumina a respeito das nossas deficiências e então começamos a mudar essas deficiências. Não,
Deus não age assim. Ele nos mostra quão sujos, malignos e insuficientes somos e assim que vemos isso,
exclamamos: "Oh! que pessoa suja e maligna eu sou!" Assim que Deus nos mostra a nossa verdadeira
condição nós caímos. Somos terminados e não somos mais capazes de nos levantar. Uma vez que uma
pessoa orgulhosa é iluminada, ela não consegue mais ser orgulhosa mesmo que tente. Uma vez que
tenhamos visto a nossa verdadeira condição na luz de Deus e uma vez que vimos o que é o nosso orgulho,
a impressão nunca nos deixará. Algo permanecerá em nós que nos causará dor, que nos dará o sentimento
de que somos inúteis, e assim não mais conseguiremos ser orgulhosos.
Quando Deus brilha sobre nós é hora de crer e de prostrar-nos, não é hora de petições. Muitos irmãos
e irmãs ocupam-se com orações quando Deus está lhes falando. O resultado é que eles não ganham luz
alguma. O princípio que nos trouxe a salvação inicial continua válido para toda obra subseqüente de
Deus. Quando fomos iluminados para nossa salvação, só fizemos uma coisa — ajoelhamo-nos e oramos:
"Senhor, eu Te aceito como meu Salvador". Depois disso, algo aconteceu. Se, depois de ouvir o
evangelho, a pessoa orar assim: "Senhor, eu Te peço que sejas o meu Salvador". Essa pessoa pode fazer a
mesma oração por alguns dias sem sentir que o Senhor a salvou. Assim que o Senhor brilhar em nós,
devemos cair sob a sua luz e dizer: "Senhor, eu aceito o Teu julgamento. Aceito a maneira como Tu vês".
Se agirmos assim, Deus nos dará mais luz e nos mostrará quão sujos somos.
No dia em que Deus fizer brilhar a Sua luz sobre nós, muitas coisas mudarão diante dos nossos olhos.
Nós pensávamos que tínhamos feito muitas coisas no nome do Senhor e por amor a Ele. Agora as coisas
mudam de figura. Descobrimos que por trás dos nossos objetivos mais nobres há intenções vis e
horríveis. Pensávamos que éramos absolutamente para Deus. Agora descobrimos que somos cheios de
planos para nós mesmos. Na verdade, somos tão cheios dessas coisas que só podemos nos prostrar. O ego
se esconde em qualquer canto, ele até mesmo tenta usurpar a glória de Deus. "Existe algo que o homem
não possa fazer?" Debaixo do iluminar de Deus descobrimos o tipo de pessoa que somos. Assim que vem
a revelação de Deus, a nossa condição é exposta. Ele nos expõe e então vemos a nós mesmos.
Anteriormente só Deus nos conhecia. Nós estávamos expostos diante Dele, mas não diante de nós
mesmos; ainda não nos conhecíamos. Mas quando Deus nos expõe todos os pensamentos e propósitos do
coração, não apenas estaremos expostos diante Dele, mas diante de nós mesmos também. Então não mais
ousaremos levantar a cabeça. Antes de sermos expostos nós não nos conhecemos e assim estamos
tranqüilos. Mas quando nos enxergamos diante da luz de Deus, ficamos tão envergonhados que nenhum
lugar é suficientemente adequado para nos esconder. Agora sabemos o tipo de pessoa que somos! Agora
sabemos o tipo de bravatas que fizemos! Achávamos que éramos melhores do que os outros. Agora
sabemos o tipo de pessoa que somos! Não conseguimos achar termos mais adequados diante do Senhor
para descrever a nós mesmos, só podemos dizer que somos sujos e malignos. Admitimos que os nossos
olhos estiveram cegos durante anos e que nada viram. Quanto mais vemos a nossa sujeira, mais
envergonhados ficamos. Parece até que toda a vergonha do mundo inteiro está sobre nós. Nos prostramos
diante do Senhor e nos arrependemos dizendo: "Eu me arrependo de ser quem tenho sido. Odeio a mim
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mesmo. Admito que sou alguém incurável".
Esse iluminar, o arrependimento, a vergonha, o ódio e a prostração irão lançar fora aquilo que fomos
incapazes de lançar fora todos esses anos. A salvação do homem vem da iluminação Instantânea. O ver e o
remover são uma só obra. Os dois estão ligados. Ao iluminar, o Senhor salva. Iluminar é a salvação e
enxergar é o livramento. Precisamos ver dessa forma diante do Senhor. Somente esse tipo de iluminar
removerá o nosso orgulho e apenas essa luz irá fazer cessar as nossas atividades carnais e quebrar a nossa
casca exterior.
Capítulo Nove
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numa comunhão pessoal, seremos alimentados e reavivados assim que o Espírito de Deus for ativado nos
outros. O nosso espírito é como um espelho. Toda vez que somos aperfeiçoados é como se alguém tivesse
polido um pouco o nosso espírito e o fizesse brilhar mais. O significado de aperfeiçoamento é nada menos
do que o nosso espírito sendo tocado pelo dos outros ou pelo Espírito Santo. Quando o Espírito Santo
toca o nosso espírito por meio do espírito dos outros, recebemos aperfeiçoamento. O que procede do
espírito nos incendeia assim que o tocamos. Somos como um abajur que brilha assim que a eletricidade
passa através dele, sem se importar se a cúpula é verde ou vermelha nem se os fios são brancos ou pretos.
Não nos importamos com a aparência da "cúpula" do abajur; a nossa atenção se concentra na liberação da
"eletricidade" e no fato de termos sido reavivados e alimentados diante de Deus. Graças a Deus! Se
pudermos fazer isso, iremos tornar-nos pessoas que podem receber ajuda facilmente. Para muitos é difícil
receber ajuda. Se quisermos ajudá-los precisamos gastar muita energia orando e trabalhar neles para que
nos deixem fazer algo. Uma pessoa dura não recebi ajuda facilmente. Somente os que são flexíveis é que
a recebem com facilidade, Existem dois enfoques totalmente diferentes para aperfeiçoamento.
Uma forma é exterior, envolvendo pensamentos, doutrinas e exposições da Bíblia. Alguns
asseveram que têm recebido ajuda dessa forma. A outra forma é totalmente diferente, envolvendo o
contato de espírito com espírito. Quando os espíritos se tocam, ocorre ajuda espiritual. Somente tocamos
o verdadeiro cristianismo da segunda forma. Isso é verdadeiro aperfeiçoamento. Se tudo o que sabemos
fazer é ouvir sermões, podemos ouvir uma boa mensagem hoje, mas se acontecer de o mesmo irmão
pregar a mesma mensagem no próximo domingo, ficaremos enjoados e desejaremos ir embora. Achamos
que devemos ouvir a mensagem apenas uma vez. Do nosso ponto de vista, o cristianismo trata de
doutrinas, assim as mantemos em nossa cabeça. No entanto precisamos ver que aperfeiçoamento não tem
nada a ver com doutrinas, e, sim, com o espírito. Se na primeira vez o irmão prega liberando o espírito,
irá tocar e mudar todo o nosso ser, seremos lavados e ganharemos vida. Se o ouvirmos segunda vez e ele
novamente liberar o espírito, novamente receberemos ajuda. O assunto pode ser conhecido e as doutrinas
podem ser as mesmas, mas nós receberemos uma limpeza e um lavar toda vez que o seu espírito for
liberado. Precisamos lembrar-nos que aperfeiçoamento é um contato de espírito com espírito, e não o
aumento de idéias. Aperfeiçoamento é uma troca entre espíritos. Nada tem a ver com receber algumas
doutrinas e ensinamentos do homem exterior. O melhor que podemos dizer a respeito das doutrinas e
ensinamentos é que se não estão ligados com o espírito de maneira viva, são mortos.
Depois que o nosso homem exterior é quebrantado, tornar-se-á fácil ser aperfeiçoados. Na verdade,
somos muito aperfeiçoados. Quando os outros nos fazem uma pergunta, somos aperfeiçoados com a
pergunta deles. Quando um pecador vem a nós buscando o Senhor, somos aperfeiçoados ao orar com ele.
Talvez haja um irmão que esteja em um erro grosseiro e o Senhor quer que falemos seriamente com ele.
Quando tocamos o seu espírito, seremos aperfeiçoados novamente. Podemos ser aperfeiçoados e supridos
de muitas formas. Sentiremos que todo o Corpo nos está suprindo. Qualquer membro, não importa quem
seja, pode suprir-nos. Sempre receberemos ajuda e nos tornaremos pessoas que são boas em receber.
Toda a igreja será o nosso suprimento. Quantas riquezas descobriremos! De fato poderemos dizer que as
riquezas de Deus agora tornaram-se as riquezas do Corpo, e as riquezas do Corpo agora tornaram-se
nossas. Que diferença em relação ao aumento de pensamentos e doutrinas! A diferença é imensa.
Quanto mais ajuda uma pessoa pode receber e quanto mais amplo o âmbito do suprimento que recebe,
mais podemos dizer que é uma pessoa quebrantada. Os que dificilmente recebem ajuda dos outros não
são mais sábios do que os outros. Isso só prova que a sua casca exterior é mais dura do que a dos outros e
que nada pode estimulá-los. Se o Senhor conceder-lhes misericórdia e lidar com eles fortemente e de
muitas maneiras, eles receberão suprimento de toda a igreja. Precisamos verificar: será que conseguimos
receber ajuda dos outros? Se temos uma casca dura, não sentiremos o espírito nem quando o Espírito
Santo é liberado por meio de outros irmãos. Se formos quebrantados por Deus, no entanto, receberemos
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ajuda sempre que o espírito dos outros se mover. Embora o movimento do espírito dos outros possa ser
bem pequeno, isso não importa, o que importa é se nós o tocamos ou não. Assim que o tocarmos,
ganharemos vida e seremos aperfeiçoados. Irmãos e irmãs, que todos percebamos que o quebrantamento
do homem exterior tem tudo a ver com receber ajuda e aperfeiçoamento de Deus. É a qualificação
fundamental para servi-Lo.
Comunhão no Espírito
Comunhão não é uma comunicação de mente com mente nem uma troca de opiniões, mas é o contato
de espírito com espírito. Quando o nosso espírito toca o espírito de outro irmão, esse contato é comunhão.
Somente quando ganhamos misericórdia do Senhor para quebrar a casca exterior e demolir o homem
exterior é que o nosso espírito é liberado. Só então tocaremos o espírito dos outros e entenderemos o
significado de comunhão com os santos. Daí em diante entenderemos o que a Bíblia quer dizer com
comunhão do espírito. Perceberemos que comunhão é conduzida no espírito; não é uma comunhão de
opiniões. Quando há comunhão no espírito, há oração em unanimidade. Muitos oram com a mente. Ê
difícil encontrar companheiros com a mesma mente, porque não encontrariam outra mente igual nem se
procurassem por toda a terra. Na verdade, comunhão é levada a cabo no espírito. Qualquer pessoa
regenerada e que tem o Espírito Santo em seu interior pode ter comunhão conosco. Se Deus remover as
nossas barreiras e o homem exterior for demolido, o nosso espírito estará aberto a todos os homens. O
nosso espírito estará aberto para receber o espírito de todos os irmãos, tocará e será tocado pelo espírito
de todos os irmãos. Tocaremos o Corpo de Cristo. Seremos o Corpo de Cristo, o nosso espírito será o
Corpo de Cristo. O Salmo 42:7 diz: "Um abismo chama outro abismo 1". As "profundezas" em nosso
interior chamam e anseiam tocar as "profundezas" no interior dos outros, bem como de toda a igreja. E a
comunhão de "profundezas" com "profundezas". E o chamamento e reação entre "profundezas" e
"profundezas".1Abismo, nesse versículo, denota profundezas. (N.T.)
Se o nosso homem exterior estiver quebrantado e o nosso homem interior liberado, tocaremos o espírito
da igreja e leremos mais úteis ao Senhor.
SEM IMITAÇÃO
O quebrantamento do homem exterior a que nos referimos só pode ser realizado pelo Espírito Santo.
O homem não Consegue imitá-lo. Nenhuma imitação irá funcionar. Quando dizemos que alguém precisa
ser manso, não estamos dizendo que todos devem tentar ser mansos no dia seguinte. Se tentar, irão
descobrir que até mesmo a sua mansidão natural precisa ser destruída. Essa mansidão natural não tem
valor. A única mansidão que funciona é a que vem da obra do Espírito Santo. A nossa experiência nos
mostra que nenhuma realização vem por meio de nós, e, sim, por meio do Espírito Santo. Somente o
Espírito Santo conhece a nossa necessidade. Ele prepara experiências para nós em nosso ambiente a fim
de realizar a obra de quebrantamento.
A nossa responsabilidade consiste em pedir a Deus um pouco de luz, para que conheçamos e
reconheçamos a Sua mão. Queremos ser humilhados sob a poderosa mão de Deus para confessar que tudo
o que Ele faz está correto. Não devemos ser uma "jumenta" insensível. Antes, devemos entregar-nos ao
seu quebrantar. Devemos aceitar essa obra. Quando nos entregarmos à Sua mão poderosa veremos que
essa obra deveria ter começado há cinco ou dez anos. Mas nada se conseguiu nos últimos cinco ou dez
anos. Hoje devemos entregar-nos à Sua mão e dizer: "Senhor, tenho sido cego. Eu não sabia de onde nem
para onde me estavas guiando. Mas agora sei que me queres quebrantar e assim entrego-me a Ti". Talvez
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a falta de frutos dos últimos cinco ou dez anos acabe hoje e possamos tornar-nos frutuosos. O Senhor irá
demolir muitas coisas em nós, que antes nem sabíamos que existiam. Uma vez que essas coisas sejam
demolidas, não mais seremos orgulhosos, não mais amaremos o ego nem exaltaremos a nós mesmos. Essa
demolição irá livrar e liberar o nosso espírito e torná-lo útil para o Senhor. Então seremos capazes de usá-
lo.
Aqui precisamos levantar duas questões. Primeiro, precisamos saber que o quebrantamento do homem
exterior é obra do Espírito Santo. Não há necessidade de imitação por parte do ego. Mas se sabemos que
uma atividade é da carne, será que devemos interrompê-la por nós mesmos ou devemos esperar que o
Espírito Santo a quebre? Será que devemos esperar que venha uma grande luz e não tentar colocar
nenhuma restrição a essa atividade?
A nossa resposta para essa pergunta é: devemos parar com todas as atividades da carne. Isso é
diferente de fingimento. Se tenho a tendência de me orgulhar, devo negar o meu orgulho. Entretanto, não
devo aparentar que sou humilde. Se estou a ponto de perder a calma com alguém, devo negar o meu
temperamento. Mas não devo fingir que sou manso. Cessar de fazer algo é uma prevenção negativa, e
fingir que estamos agindo de certa maneira é um movimento positivo. O orgulho é algo negativo e
devemos lidar com ele. A humildade é algo positivo e não podemos imitá-la. Suponha que sejamos muito
teimosos e tenhamos voz severa e atitude inflexível. Devemos negar essa severidade, mas não fingir que
somos humildes. Devemos parar com todas as atividades e obras da carne das quais estejamos
conscientes. Mas não devemos imitar nenhuma das virtudes positivas. Devemos oferecer-nos ao Senhor,
dizendo: "Senhor, não tentarei imitar nada. Quanto à Tua obra, irei buscar-Te". Se fizermos isso, veremos
Deus nos quebrantando e edificando.
Todas as imitações exteriores não são obra de Deus, e, sim, do homem. Assim, toda pessoa sequiosa
deve aprender as lições interiores e não as imitações exteriores. Ela deve deixar Deus realizar algo nela. E
por meio dessa obra que ela terá a expressão exterior. Tudo que ela fizer de forma exterior não é
autêntico. Todas as estruturas feitas pelo homem precisam ser demolidas. Quando a pessoa arma algo
falso, ela não apenas engana os outros, mas também a si mesma. Se nos entregarmos a imitações e à
artificialidade, gradativamente seremos levados a crer que somos o que fingimos ser. Mesmo que outros
denunciem que não temos nada de verdadeiro e precisamos livrar-nos disso, ainda iremos duvidar que as
palavras deles sejam verdadeiras. Nunca devemos imitar nada. Em vez disso, é melhor ser um pouco mais
natural na maneira com que nos conduzimos e deixar Deus edificar algo em nós. Devemos viver de
maneira simples e não fingida. Não devemos imitar nem copiar externamente. Antes, devemos depender
do Senhor a fim de que Ele acrescente diariamente as virtudes de que necessitamos.
A segunda questão é que algumas pessoas têm certas virtudes na esfera natural. Por exemplo, alguns
são muito mansos por natureza. Qual é a diferença entre a mansidão natural e a que vem como resultado
de disciplina?
Precisamos mostrar duas coisas com relação a essa pergunta. Primeiro: tudo o que é natural é
independente, não precisa unir-se ao espírito. Qualquer coisa que venha da disciplina do Espírito Santo é
controlada pelo espírito. Quando o espírito se move, ela se move. Quando o espírito não se move, ela não
se move. A mansidão natural às vezes é um empecilho ao espírito, e tudo que impede o espírito é
inflexível por natureza. Em outras palavras, até mesmo a mansidão natural pode se tornar um tipo de
inflexibilidade. Se alguém é naturalmente manso, a sua mansidão é independente; ele é manso em si
mesmo. Se o Senhor quiser que ele se levante para dizer algumas palavras severas, a sua mansidão natural
será um empecilho para ele. Ele dirá: "Ah! eu não consigo fazer isso. Nunca disse coisas assim em toda a
minha vida. Preciso deixar que outros digam tais palavras. Não consigo dizer isso". Nessa questão a sua
mansidão natural não está sujeita ao controle do espírito. Tudo da esfera natural é motivado pela sua
própria vontade. É inflexível e segue os seus próprios desejos. O espírito não pode usá-la de nenhuma
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forma. Entretanto, a mansidão que vem do quebrantamento é totalmente diferente; ela é útil ao espírito.
Não oferece nenhuma resistência, oposição ou opinião, mas está totalmente debaixo do controle do
espírito.
Segundo, uma pessoa que é naturalmente mansa é mansa quando a sua vontade está liderando. Mas
quando lhe é pedido que faça o que ela não quer, ou quando algo desafia a sua relutância, ela deixa de ser
mansa. Assim, as virtudes naturais não nos levam a negar a nós mesmos. Todas as virtudes humanas,
naturais, só podem ser utilizadas pelo homem para edificar a si mesmo. Não apenas a mansidão, mas todo
tipo de virtude natural é usado pelo homem para edificar a si mesmo. Por isso, quando o seu ego é
ameaçado, todas as suas virtudes desaparecem. Assim que tocarmos o ego mais íntimo de alguém
naturalmente manso, a sua mansidão desaparece. Assim que ele se depara com algo que está relutante em
fazer, a sua humildade desaparece e a sua mansidão também; tudo o que ele tem desaparece. As virtudes
resultantes de disciplina são diferentes. Só são produzidas à medida que o ego é quebrantado. Sempre que
Deus destrói o ego, essas virtudes se manifestam. Quanto mais o ego for ferido, mais o homem se torna
manso. Há uma diferença fundamental entre as virtudes naturais e o fruto do Espírito.
SEJA FORTE
O homem exterior precisa ser quebrantado. Não podemos fingir nem substituí-lo com nenhuma outra
coisa. Precisamos humilhar-nos sob a poderosa mão de Deus e aceitar as suas disciplinas. Assim que o
homem exterior for quebrantado, o homem interior fica forte. Entretanto, alguns não ficam fortes em seu
homem interior mesmo quando o seu homem exterior já foi quebrantado. Mas o homem interior deve ser
forte. Se o homem interior não está forte quando o homem exterior já foi quebrantado, não devemos orar
para obter força. Antes, devemos dizer: "Seja forte". A Bíblia nos ordena que sejamos fortes. O que é
maravilhoso é que quando o homem exterior é quebrantado podemos ser fortes quando queremos.
Podemos ser fortes quando temos de ser fortes e estamos determinados a sê-lo. Tente isso. Quando
dizemos que vamos fazê-lo, será feito. Assim que o problema do homem exterior for resolvido, a questão
de ser forte também estará resolvida. Podemos ser fortes, e o seremos sempre que quisermos. Desse dia
em diante ninguém nos poderá parar. Somente precisamos dizer que iremos fazer algo ou que estamos
determinados a fazer certa coisa. Um pouco de vontade e determinação farão acontecer coisas
maravilhosas. O Senhor diz: "Sê forte". Quando dizemos que seremos fortes no Senhor, tornamo-nos
fortes.
O homem exterior precisa ser quebrantado para que o homem interior ache liberdade. Esse é o
caminho fundamental que um servo do Senhor precisa aprender a tomar.
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