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J.W.

Goethe
1818

Tradução
Vitor Pordeus
2018

#primeirosaudemental
LILA
Uma peça com canção e poesia em quatro atos
1818

de
Johann Wolfgang von Goethe
(1749 - 1832)

Traduzido do alemão para o inglês por


Ottilie Danielsson (1977, Nova York) e do inglês
para o português brasileiro por Vitor Pordeus
(Abril de 2018, Rio de Janeiro e Montreal)
PERSONAGENS:

. Lila Sternthal, Dona Lila, a louca

. Barão Sternthal, marido de Lila

. Sophie e
. Lucie, irmãs de Lila

. Marianne, irmã do Barão


ATO 1
. Conde Altenstein, tio do Barão
No Salão
. Conde Frederico, filho do Conde Altenstein (Um grupo de jovens homens e mulheres em atitude cotidiana estão
. Doutor Verazzio, o médico se divertindo dançando e cantando)

Frederico: Parem esta farra! Irresponsáveis! Silêncio! Este é o mo-


COROS: mento para vocês fazerem arruaça? Toda a nossa comunidade
atacada pela tragédia e tristeza e vocês frivolamente dançando e
. O Ogro cantando como se nada estivesse acontecendo?
. O Demônio
Lucie: Como se isso fosse pecado... A desgraça de nossa irmã nos
. Os Espíritos atinge em cheio no coração. Mas não devia a velha alegria voltar
para os nossos pés? Nós amamos dançar. Sempre há algum can-
. Os Prisioneiros
to, alguma dança, música, celebrações e outras ocasiões felizes se
passando em nossa comunidade, e quando se é jovem…
A ação se passa na casa de campo do Barão Sternthal.
Sofie: Sim, nós também estamos sofrendo, só que não deixamos isso
dominar as nossas mentes. E, mesmo que nossos corações este-
jam tristes, nós devemos dançar, e cantar e brincar de qualquer
modo para fazer os outros um pouco felizes.

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Frederico: Há quanto tempo vocês não vêem a vossa irmã? Não a Frederico: Você gostou dele? Mesmo você sendo tão desligada e sem
vêem há muito tempo, não é? atenção com o mundo, você achou que esse é de estirpe diferente
dos outros charlatões?
Lucie: Há muito tempo, não nos permitem. Somos proibidas de en-
trar naquela parte do parque onde ela está sendo mantida. Lucie: Ele é um médico. Só isso já me dá aversão. Ele é basicamente
bom e habilidoso também. Quando incomodamos ele pedindo
Sofie: Eu a encontrei apenas uma vez e não consegui segurar as lágri- remédio, ele nos deu a cada uma uma dose de algo muito sabo-
mas. Ela não me reconheceu. Depois de me olhar por um longo roso e com fragrância, mesmo que ele soubesse que nada estava
tempo, com expressões mudando de grave e séria a amigável e errado com nós duas.
bem disposta, e de repente, ela saiu correndo com uma expressão Sofie: E além de um bom conselho, ele me deu atenção especial.
de horror no rosto que me deixou chocada.
Frederico: Que conselho ele te deu?
Frederico: Esta é, exatamente, a parte mais perigosa da doença dela.
Tive a mesma experiência quando a encontrei. Fantasias gover- Sofie: e bom votos também.
nam sua mente. Ela não confia em ninguém. Todos os seus ami-
gos e pessoas amadas - mesmo o marido - são sombras; imagens Lucie: que eram…
distorcidas por espíritos imaginários. Como podemos convencê-
-la da realidade, se ela acha que a própria realidade é um sonho? Sofie: Eu guardarei segredo
(ela se junta ao resto da festa que estava ao fundo da ação, aos poucos
Sofie: Todos os tratamentos foram sem resultado. todos desaparecem)

Lucie: A cada dois dias vem um charlatão tentar tirar vantagem de Lucie:(a segue) Me conta!
nossa desgraça.
(Aparece Marianne)
Frederico: Não se preocupe com isso, não vamos ouvir nenhum deles
mais. Frederico: Minha mais querida Marianne, você não participa na fri-
volidade destas criaturas alienadas
Sofie: Tudo bem. Hoje chegou mais um. Mesmo que você tenha
mandado embora todos os curandeiros com seus milagres de úl- Marianne: Você acredita, Conde Frederico, que minha mente não
tima hora, esse novo pode te influenciar com sutilezas. A velha conseguiu ficar feliz nem livre de tristeza um só instante? Não to-
raposa tem um olhar de águia. quei em meu piano por todo este tempo, nem cantei uma canção.

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É tão difícil para mim acalmar o estado nervoso de meu irmão. (Barão Sternthal aparece)
Ele não consegue suportar a aflição da esposa.
Dr. Verazzio: Você detesta minha presença tanto quanto meu co-
Frederico: Oh! Que o destino de tantas outras pessoas não se amarre nhecimento, por favor me desculpe por ainda estar aqui. Conde
a esta pessoa amada. Mesmo os nossos destinos, minha bela Ma- Altenstein deverá chegar logo. Ele me levará de volta assim que
rianne, depende do dela. Você não quer deixar seu irmão, e seu perceber, para sua tristeza, que sua recomendação não foi bem
irmão depende e precisa de você enquanto a esposa permanecer aceita.
neste estado. Enquanto isso eu tenho que fechar minha paixão
dentro de mim mesmo. Estou miserável. Barão: Me perdoe, e eu imploro ao Conde que me perdoe também.
Eu não desaprovo o interesse dele. Eu não desconfio de você.
Marianne: O novo médico nos dá a sua melhor esperança. Se ele Eu desconfio de meu destino. Depois de tantas tentativas frus-
puder curar nossa aflição também, que maravilha seria. tradas de restaurar a sanidade dela, eu cheguei à conclusão que
a fé está me testando para ver o quanto eu sou capaz de amá-la.
Frederico: Certeza? Conseguirei suportar tanta desgraça porque esperei tanta felici-
dade com ela? Não quero ir contra. Eu pacientemente espero
Marianne: Certamente. Certamente.
ajuda dos céus. Seres humanos não parece ter autorização para
(Aparece o Dr. Verazzio)
me ajudar.
Frederico: querido doutor, que esperança, que expectativa você nos
Dr. Verazzio: Eu honro os seus sentimentos, meu querido Barão. Só
traz?
acho incompreensível que você esconda de mim os eventos parti-
Dr. Verazzio: Não parece bem. O Barão não quer escutar nenhuma culares que causaram a doença dela. Você não me permite vê-la,
proposta de cura. me impedindo de usar minha experiência para formar uma con-
clusão de como ajudá-la.
Frederico: Não aceite a rejeição dele.
Sofie:(para os outros) ele quer ampliar as experiências deles usando
Dr. Verazzio: Tentarei de tudo. nossa irmã como cobaia! São todos iguais.

Frederico: Você curará muita tristeza ao mesmo tempo. Lucie: Isso mesmo. Se os médicos têm a chance de dissecar, purgar,
ou aplicar suas curas elétricas, eles estão sempre prontos - só para
Dr. Verazzio: Eu senti algo assim. De qualquer modo, veremos. Lá ver que cara o paciente faz. Eles sempre nos garantem que sabem
vem o Barão. tudo de antemão, como se eles tivessem visto num espelho.

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Barão (que estava conversando com Frederico e Dr. Verazzio) vocês Dr. Verazio: Em que mãos vocês devem ter caído! Que experiências
estão insistindo demais! vocês devem ter tido!

Dr. Verazzio: Qualquer pessoa, sentindo que ela é capaz de fazer algo Barão: É exatamente o que o próximo diz sobre o que o precedeu. É
bom e útil, deve insistir demais. Ela não deve esperar até ser cha- surpreendente o que são capazes de fazer aos poucos, depois que
mada. Ela não deve obedecer quando mandada ir embora. Ela nossa imaginação está fortemente ativada por algo. Fico aterro-
precisa ser - o que Homero gostava em um herói - ela precisa ser rizado de pensar em todas as “curas” que eles a submeteram. Eu
como a mosca varejeira, que afastada por um lado, ataca a forma tremo quando penso nas crueldades adicionais que eles querem
humana pelo outro lado. que eu a condene. Não, o amor dela por mim roubou os sentidos
dela; meu amor por ela deve ao menos dar a ela uma vida tole-
Sofie: (fala baixo) Pelo menos ele é honesto; ele descreve os charlatões rável.
com clareza.
Dr. Verazio: Eu compartilho de todo o coração seus sentimentos. Pos-
Dr. Verazzio: Não se preocupe, minha dama, você verá meu ponto so imaginar quão horrível foi tudo isso para você - recentemente
de vista também. saído do perigo de morte - encontrar sua esposa em uma condi-
ção tão deplorável.
Sofie: Ele ouve como um mágico
Frederico: Aí vem meu pai.
Dr. Verazzio: O que vejo em seus olhos…
(Conde Altenstein, feito por atores que estavam em cena)
Sofie: Uh, preciso ir, não tenho mais nada que fazer aqui, até logo!
Conde Antenstein: Bom dia sobrinho! Bom dia Doutor! O que o se-
Todos: Até logo! Até logo! nhor conseguiu? Não te enviei um homem competente meu so-
brinho?
Sofie: Vai ver ele é um FISIONOMISTA e pode ler o seu caráter na
sua cara (sai de cena) Barão: Que bom que o senhor chegou, agradeço pela recomendação
que você fez. Ficamos amigos neste curto intervalo, mas ainda
Frederico: (para o Barão) Pelo menos escute: não concordamos um com o outro.

Barão: Sim, já aconteceu comigo antes. Vão nos informando aos Conde Altenstein: Por quê? Você não confia no meu médico?
poucos. Nossas esperanças e desejos são de tamanha natureza
infantil, que achamos que o possível e o impossível são o mesmo. Barão: Eu aprecio ele assim como sua boa vontade, mas…

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Conde Altenstein: Se você só tivesse ouvido ele anteontem à noite, carta maldita trazendo as notícias da sua morte, querido sobri-
quando ele contou e explicou tudo. Tudo ficou tão compreensível nho, havia acabado de chegar. Ela desmaiou e toda a casa entrou
e claro que eu quase achei que eu próprio podia curar pessoas. em pânico… mas, escutem, tenho que ir ao estábulo por um mo-
Foi como tudo se encaixou. Se eu pudesse lembrar de tudo. mento. Inclusive, como está indo seu cavalo branco, sobrinho?

Frederico: Aconteceu o mesmo com você papai que aconteceu comi- Barão: Temo que terei que doá-lo, querido tio.
go, e para outros como quando escutamos um bom sermão na
igreja. Conde Altenstein: Que pena para o cavalo, realmente uma pena!
(sai)
Conde Altenstein: (Ao Barão) Onde está sua esposa?
Dr. Verazzio: De onde vieram tais rumores falsos? Quem foi irrespon-
Barão: Ela sempre se mantém no lado afastado do parque. Durante o sável o suficiente para escrever uma carta dessas?
dia ela dorme na cabana que fizemos para ela e evita a todos. À
noite, ela caminha nas suas fantasias. Às vezes me escondo e es- Barão: Há homens fofoqueiros que poderíamos chamar de raposas
piono ela. Você pode acreditar, consome toda a minha força não políticas. Eles têm uma grande correspondência e sempre preci-
perder a cabeça junto. Com o cabelo dela todo solto caindo sobre sam de novidades, não importa de onde venham, assim o correio
o rosto, com passos vacilantes, ela desliza suavemente em círculos tem mais utilidade. Enquanto este nosso mundo tem tanto bem
com a luz da lua; ela reverencia as estrelas, ajoelha na grama ou
nele, quanto tem mal, ninguém se dispõe a descobrir algo bom,
abraça uma árvore, e finalmente se perde na mata como um fan-
enquanto é grande a diversão para todos que descobrem algo
tasma. Oh desgraça!
maligno para acreditar. Por causa disso temos tantas notícias…
uma pior que a outra.
Conde Antenstein: Se acalme, sobrino! Se controle! Ao invés de per-
der a razão aqui, escute a proposta do doutor Verazzio.
Frederico: Não fique tão nervoso, ele era um bom amigo…
Dr. Verazzio: Deixe estar, querido Conde. Desde que cheguei, eu qua-
Barão: ao inferno com ele! O que ele tinha interesse se eu estava vivo
se cheguei à opinião do Barão de evitar todas as famosas “curas”,
ou ao menos ser muito cuidadoso com elas. Há quanto tempo a ou morto? Eu estava ferido. Todos, minha mulher e todos vocês
esposa do Barão tem estado nesta condição? sabiam disso. Se ele era bom amigo por que foi o primeiro a acre-
ditar que minhas feridas eram fatais?
Conde Altenstein: Deixe ver... Esta terça serão 10 semanas. Eu estive
no mercado de cavalos. Na cavalgada para casa eu parei aqui. A Frederico: Na distância…

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Dr. Verazzio (a Frederico): Você por acaso estava lá? Frederico: Se me permitir uma opinião, me parece que a loucura
dela começou nesse período. Mas, quem pode distinguir loucura
Frederico: Eu fiz companhia a ela por muitos meses. Desde o início da melancolia profunda que a acometeu? Depois do choque cau-
ela estava triste e deprimida com a guerra que lhe roubara o ma- sado pela infeliz carta, ela teve febre por vários dias. Logo após,
rido. A sua natureza sensível amplificou os perigos envolvidos. Fi- não parecia que ela havia mudado muito. Não falava. Seus olhos,
zemos o que pudemos para tentar distraí-la. As garotas das casas seus olhares, tornaram-se amedrontados e inseguros. Ela, ou ti-
dos amigos, e os vizinhos estavam sempre com ela. Raramente a nha medo de todos, ou não percebia as pessoas. Ela pediu roupa
deixávamos sozinha, e mesmo assim não conseguimos banir sua de luto e, quando tentávamos consolar dizendo que era ainda in-
melancolia. certa a morte do Barão, ela rejeitava nossa explicação. Ela pegou
todo o material preto e os trapos que podia e vestiu-se com eles.
Barão: Nunca gostei deste hábito dela. Em seus pensamentos ela era
pequena demais nesta terra e vivia fora da realidade. Barão: Não me aborreça com suas histórias. Basta. Sim, foi assim,
doutor, que ela não mais quis me reconhecer. Ela correu de mim
Frederico: Nós dançávamos em torno dela, cantávamos…
como se eu fosse um fantasma. Todos os tratamentos foram ine-
ficazes. E eu vou me condenar se permitir que ela seja tratada de
Barão: E ainda namoravam, segundo eu soube
forma desumana novamente. Os charlatões trabalharam duro e
finalmente me convenceram.
Verazzio: Não se importe, faz parte.
(sai)
Frederico: Nós admitimos. Mas tudo que fizemos só parecia aumen-
Frederico: É verdade. Isso criou um ódio louco nela. Ela fugiu para
tar a tristeza dela. Depois vieram as notícias que você havia sido
a floresta e se escondeu lá. Muitos esforços gentis foram feitos de
ferido. Daí em diante ficou muito difícil ficar perto dela. Durante
o dia ela mudava de humor constantemente. Ela estava pronta tentar tirá-la da floresta, mas falharam. O Barão insiste que não
para ir, e aí decidia ficar. Todos os carteiros levavam cartas dela, irá permitir nenhum tratamento forçado. Secretamente, uma ca-
todos os carteiros que chegavam ela esperava ansiosamente uma bana foi construída para ela, onde ela fica durante o dia. Uma
carta para ela. Quando tentamos convencê-la que era um pouco de suas empregadas, a única que ela ainda confia, discretamente
demais, ela desconfiou de todos nós. Ela tinha certeza que estáva- leva comidas leves para ela. Assim, dia após dia, todos nós vive-
mos escondendo más notícias dela. Foi assim todo o tempo. mos nesta esperança dolorida. Nossos parentes, acostumados a
uma vida com música, dança e alegria, agora assombram uns
Dr. Verazzio: Você observou mais alguma coisa estranha com ela nes- aos outros como fantasmas. Enlouquecer num clima desses não
te período? é difícil.

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Dr. Verazzio: De tudo que escuto, sinto que ainda há esperança. Dr. Verazzio: Até agora, a música, a dança, e as festas desempenha-
(Entram o Barão e Conde Altenstein) ram papel limitado na sua vida familiar. Você acha que o silêncio
mortífero que você mantém é de alguma ajuda para você ou para
Conde: Escute doutor! Eles me contam boas novas. O que me diz? a doente? A alegria é a nuvem dourada que ajuda a humanidade
Lila disse a sua empregada - aquela em quem ainda confia mes- - mesmo que por pouco tempo - a esquecer sua miséria. Todos
mo delirando - que ela sabe muito bem como tudo é. Ela teve vocês, se retornarem para suas vidas familiares regulares e felizes,
uma revelação que seu marido ainda está vivo. Que ele é um pri- serão como pessoas que, ao retornarem para sua terra natal, se
sioneiro, preso por espíritos que também estão tentando roubar recuperam de uma vez por todas das doenças e tristezas.
sua própria liberdade. Por isso ela precisa vagar no desconhecido
até encontrar a oportunidade de libertá-lo. Barão: Nós agiríamos como tolos por um tempo, enquanto aquela
para qual estamos apresentando nosso entretenimento está mi-
Barão: Pior ainda, ela falou para Aninha uma história imensa sobre serável?
demônios, bruxas, fadas, vampiros, e toda sorte de seres, que ela
precisa enfrentar para me conseguir de volta. Dr. Verazzio: Desta auto acusação quero liberar você. Deixe-nos ence-
nar as histórias das fantasias de sua esposa. Iremos representar fa-
Dr. Verazzio: Onde está Aninha? das, ogros e demônios. Tentarei fazer contato com ela disfarçado
de homem sábio, para compreender melhor sua condição. Pelo
Conde: Ela está aqui na casa. que vocês me contam, me parece que a condição dela melhorou
espontaneamente. Ela não acredita mais que você está morto.
Dr. Verazzio: Isto confirma a minha hipótese terapêutica. Quer escu- Ela espera vê-lo de novo. Ela própria já é da opinião que pode re-
tar uma proposta? conquistar o amor perdido através de paciência e perseverança.
Mesmo que a música e a dança ao redor dela sejam para tirá-la
Barão: Escutar, sim. da tristeza, e a inesperada aparição de seres encantados só dê
apoio às suas fantasias e esperanças, como certamente o farão,
Dr. Verazzio: Não é papo de curas nem de charlatanices. Se puder- ainda assim, ganhamos algo. Eu, entretanto, tenho um objetivo
mos curar a fantasia através da fantasia, e encenar o delírio de maior. Não posso prometer nada. Não devo criar expectativas.
Lila, será uma obra prima.
Conde Altenstein: A ideia é excelente e tão natural que não com-
Barão: E jogá-la da loucura para a histeria? preendo porque não pensamos nisso antes. O senhor acredita,
doutor, que poderemos ganhar alguma influência sobre ela se en-
Conde: Ao menos deixe-o terminar o que quer dizer. cenarmos as fantasias de minha sobrinha?

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Dr. Verazzio: No final, fantasia e realidade irão se encontrar quando
ela tiver o amor perdido nos braços, que ela própria reconquis-
tou. Ela vai ter que acreditar que ele voltou.

Conde Altenstein: Ela fala sobre ogros que querem roubar a liber-
dade dela. Eu quero fazer o Ogro. Algo selvagem sempre me
cai bem. Fadas, lindas fadas, temos o suficiente em casa. Vamos
todos, temos que começar com fineza.
Ato 2
Dr. Verazzio: Se vocês trouxerem as fantasias necessárias e outros
adereços -- eu cuidarei do resto.
Lila: Doce morte! Doce morte! Venha deitar-me no leito frio.
Esta melodia, esta melodia da morte nunca me abando-
Barão: Eu não sei… vamos pensar sobre isso?
na, nem mesmo nos momentos fugidios em que estou cheia
de esperança e me sinto em paz. O que é isto, fundo em mi-
Conde Altenstein: Você pensa enquanto nós começamos com os pre-
nha alma? Mais que nunca eu sinto como se eu não existis-
parativos do espetáculo. Venha doutor, vamos falar com Aninha.
se mais. Instável, me movo na sombra. Eu não tenho papel
Frederico, corra em casa e traga todas as máscaras! Em nossas
no mundo dos vivos! (aponta para sua cabeça e seu coração)
casas encontraremos figurinos novos e velhos o suficiente para
Está aqui! E aqui! Eu me impeço de fazer o que eu tenho vontade
vestir uma trupe inteira de fadas. Chamem tudo e todos que te-
e posso fazer. A voz em meu coração diz “Ele não está rasgado
nham mãos, pés e garganta. Escolham a música e vamos ensaiar
de você para sempre. Resista: ele será seu de novo.” Então eu
o máximo que pudermos rapidamente.
desmaio ou caio no sono.

Frederico: Vamos reunir belas improvisações


Eu sumo e desapareço
Mal sinto e me encontro
Conde Altenstein: De qualquer modo, vamos começar!
É isto a vida?
É isto um sonho?
Dr. Verazzio: Venha, vamos refletir mais sobre o assunto, você não
O que o destino me deu.
deve ser apressado.
Estou num lusco-fusco, Eu sumo devagar
Venha doce pensamento,
Frederico: E não haverá falta de vontade, pés e vozes.
Morte, prepare meu túmulo.

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(Ela vai em direção ao campo, enquanto o ANIMUS, um mago, o viam mentir e os poderosos não deviam fingir. Mas, mesmo Deus,
homem sábio, que esteve observando ela enquanto finge estar dá poder aos injustos e boa sorte aos vis.
colhendo ervas, aparentemente.)
ANIMUS: Sempre confiar é um equívoco tanto quanto sempre des-
ANIMUS: Agradeço aos espíritos amigáveis viajando pelas estrelas, confiar.
pairando sobre nós, nos enviando suas boas influências - agra-
deço a vocês por me permitirem, nesta boa hora, colher estas LILA: Sua voz e suas palavras me emocionam.
pequenas crianças da terra. Elas deixarão minha casa de novo
depois de serem preparadas para objetivos benéficos como cura ANIMUS: Se você confiar em alguém que quer bem, diga-me: como
e purgativo, graças ao dom de seu conhecimento e inteligência. você está?

LILA: (se aproxima) Como este senhor chegou aqui? Que tipo de LILA: Bem, mas triste. Temo o pensamento de que eu poderia estar
ervas ele procura? Será ele inofensivo? Ou mais um espião me feliz como eu temo um grande monstro.
perseguindo para descobrir como causar o mal a mim da manei-
ra mais fácil? Por que temos que ser tão desconfiados disso neste ANIMUS: Você não deve ter o objetivo de ser feliz; apenas fazer os
mundo? Devo fugir? outros felizes.

ANIMUS: (aparte) Mesmo ela, que vaga sozinha nestes campos va- LILA: Pode uma desgraçada fazer isso?
zios, é inspirada por sua presença amorosa. Eleve o coração dela
de modo que seu espírito possa se levantar da escuridão, de modo ANIMUS: É a consolação mais recompensadora para o desgraçado.
que ela não se perca em desencorajamento de seu grande objeti- Não evite ninguém. Logo você descobrirá alguém que você po-
vo que ela secretamente deseja alcançar. derá ajudar e quem poderá ajudar você.

LILA: A maldição está sob mim! Ele me conhece! Ele me conhece! LILA: Meus sentimentos pendem para silêncio e solidão.

ANIMUS: Não se assuste triste mortal! Há muita felicidade na terra. ANIMUS: É sábio seguir todos os impulsos de seus sentimentos?
O infeliz desconfiará, deixando de conhecer tanto o lado bom da
humanidade quanto as piscadelas vantajosas do destino. LILA: O que vou fazer?

LILA: Quem quer que você seja, não esconde um traidor sob sua ANIMUS: Espíritos bons te cercam e querem te ajudar. Eles virão de
aparência amigável e pensamentos nobres. Os grandes não de- uma vez se seu coração os chamar.

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LILA: Eles estão perto? ajudando nestas ocasiões onde alguém está fraco mas precisa agir
e tomar decisões.
ANIMUS: Tão perto para dizer, tão junto para ajudar. Eles sabem
tanto porque não estão engajados em nenhuma ocupação. Eles LILA: Eu te agradeço e confio em você.
ensinam bem porque estão livres de paixão.
ANIMUS: Não despreze nenhum alimento tão necessário para os
LILA: Leve-me a eles. mortais. Fadas gentis governam os mais deliciosos alimentos que
os humanos podem escolher para sua satisfação. Elas te oferece-
ANIMUS: Eles virão. Você poderá reconhecer formas familiares e rão comida, não as rejeite.
não estará equivocada.
LILA: Detesto todas as comidas
LILA: Eu conheço estes truques perigosos, quando espíritos falsos
ANIMUS: Esta comida vai te nutrir e te estimular. Ela é delicada e
atentam você com a forma do amor.
saborosa, e tão saborosa quanto nutritiva.
ANIMUS: Liberte-se para sempre desta desconfiança e ansiedade.
LILA: Não me parece próprio para uma penitente se libar em um
Não, minha amiga! Os espíritos não tem forma. Todos os vêem
banquete.
com os olhos da alma, vestidos em formas familiares.
ANIMUS: Você realmente acredita que é de seu benefício e de agra-
LILA: Maravilhoso! do aos Deuses se você se abstém do que a natureza precisa? Ami-
ga! A experiência te ensinou que você não pode salvar a si pró-
ANIMUS: Tome cuidado, não os toque. Eles evaporarão como ar. pria sozinha. Qualquer pessoa que precisa de ajuda, não pode
Os olhos enganam. Mas siga seu conselho. O que você vai com- ser teimosa.
preender, o que você vai abraçar é real, é de verdade. Siga seu
caminho. Você encontrará pessoas amadas e retornará para elas. LILA: Sua voz me dá coragem. Mas se olho em meu coração, fico
assustada em ouvir o som assustado de seu eco.
LILA: Oh, imagino! E se eu tiver que encontrar o fluxo calmo da
morte, silenciosamente entrarei neste barco… ANIMUS: Anime-se! Você encontrará sucesso em tudo.

ANIMUS: Pegue esta pequena garrafa e, se você precisar reavivar LILA: O que sou capaz de fazer?
seu espírito, passe um pouco nas têmporas. Há uma alma conti-
da nestas gotas muito conectada conosco. É amigável e fraterna, ANIMUS: Pouco. Mas não se coloque abaixo de suas capacidades.

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Pensamentos covardes (cantando esta canção, uma parte do coro começa uma dança. Lila
Pretensões assustadas entra no meio deles e fala com a ANIMA)
Hesitação torturada
Lamentos medrosos LILA: Perdoe uma intrusa andarilha se ela atrapalha sua dança sa-
Não mudam a miséria grada. Me disseram que eu encontraria vocês. Agora vocês me
Não te libertam aparecem e eu acredito que vocês irão me aceitar. Eu me sub-
meto a seu conselho e liderança. Se vocês fossem mortais, eu os
Toda opressão pode te encontrar chamaria de amigos, eu os amo e recebo amor de vocês. Não
Com coragem e ousadia. desaponte meu coração que espera ajuda de você.
Nunca abaixe a cabeça
Para sustentar a sua própria. ANIMA: Seja bem vinda a nós
Mostre sua força. Não tenha medo
Já piedosos Triste mortal
pedem aos deuses. Descanse e se recupere aqui
(sai de cena) Com a quietude da escuridão
Circulando ao nosso redor
LILA: (sozinha) Lá vai ele! Eu não gosto que ele me deixe sozinha, Nós cantamos e fazemos uma dança circular
só a presença dele já me dava coragem e esperança. Por que ele Amando os mortais
some? Por que ele não fica e me conduz com sua mão para os Não somos espíritos maus.
meus próprios desejos -- Não, não vou ficar sozinha me sentindo
desgraçada. Eu vou aproveitar das companhias que me rodeiam. (nota-se uma clareira com comida em uma mesa e duas cadeiras.)
Queridos Espíritos! Não demorem mais. Mostrem-se para mim.
Apareçam, espíritos de luz! Seja bem vinda triste mortal,
Não tenha medo
CORO: Com suave pipilar Descanse e recupere-se aqui!
As irmãs de ar
Chegam ao salão verde (As fadas conduzem liga à clareira. Ela se senta na mesa no lado opos-
Cumpram seus deveres to a ANIMA. As fadas dançantes servem as duas.)
A lua ilumina a floresta
Para as nossas visões CORO: Com o silêncio da escuridão
Aparecem as brilhantes estrelas no vale. Cercando nosso entorno

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Nós cantamos e dançamos o círculo ANIMA: Ele não se libertará se você não o acordar.
Amando os mortais
Não somos espíritos do mal. LILA: Ele não está morto? Com certeza ele não está morto? Ele des-
cansa em um leito macio – não está num cofre – em um trono
(Lila se levanta e aparece com ANIMA) com uma coroa de flores sobre ele? Silenciosamente eu me apro-
ximarei do sofá e o verei dormir, admirando sua presença. Então
ANIMA: Você não come muito minha amiga. Você poderia quase eu cantarei suavemente, meu amado, acorde! Acorde meu ado-
andar conosco que estamos acostumadas a nos nutrir com o or- rado, levante-se! Escute minha voz, a voz da sua amada. Ele será
valho leve dos lábios refrescantes da flores. capaz de escutar quando eu chamar?

LILA: Não é a liberdade de uma vida fácil que me nutre, mas a an- ANIMA: Ele vai.
gústia e o medo que roubam todo meu desejo pela comida.
LILA: Leve me ao lugar onde ele descansa seu espírito. Se ele não
ANIMA: Depois que você nos viu, você não pode mais permanecer acordar de uma vez, eu o agarrarei e o sacudirei levemente. Pri-
infeliz; a visão da felicidade real cria felicidade. meiro com paciência, depois eu o sacudirei mais forte e gritarei
mais alto. Acorde! De verdade, não é mesmo? Ele está enterrado
LILA: Meu espírito se levanta e cai de novo. num sono profundo.

ANIMA: Se anime, seu espírito se levantará passo a passo, mal des- ANIMA: Um sono profundo encantado, que sua presença pode fa-
cansando mas nunca desistindo. Se anime minha amiga. cilmente quebrar.

LILA: O que você aconselha?


LILA: Não percamos mais tempo!

ANIMA: Escute. Seu marido está vivo.


ANIMA: Não podemos chegar no lugar onde ele descansa de uma
vez. Muitos obstáculos e perigos se escondem neste caminho.
LILA: Deus do céu! Minhas suspeitas estavam certas?

ANIMA: Mas ele está sob o poder de um demônio invejoso que o LILA: Santo Deus!
mantém preso e fascinado por sonhos agradáveis.
ANIMA: Sua própria hesitação foi a causa que aumentou todos os
LILA: Foi o que eu pensei! obstáculo. Gradualmente o demônio iludiu com o poder dele to-

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dos os seus parentes, todos os seus amigos. Se você esperar e hesi- cular. Queremos te proteger do frio da noite e do orvalho da ma-
tar, ele vai te enganar, pois ele também quer te dominar. nhã. Queremos cuidar de você irmã, e abençoar o seu caminho.

LILA: Como eu posso escapar dele? Como posso ajudar os outros? LILA: É tudo inútil! Não posso aceitar esta oferta! Seu amor, sua
Me ajude por favor. bondade, me escapam como água em minhas mãos.

ANIMA: Agora eu não posso mais te acompanhar, não posso te aju- ANIMA: Criatura infeliz! Que esperança há para você? (grita) Você
dar. Apenas você pode se ajudar. Cada um deve buscar e cami- precisa ficar conosco!
nhar por sua própria sorte. Cada um deve se segurar e se agarrar
à sua sorte. Deuses amigos podem apenas guiar e abençoar. É LILA: Sinto vossa bondade
inútil para os preguiçosos e desanimados pedir por boa sorte in- Mas não posso agradecer
condicional! Se a boa sorte estiver garantida, acaba virando uma Perdoe por favor a mente
punição. Perturbada e doente.
Meus sentimos são tristes,
LILA: Então me despeço, no caminho escuro, eu irei sozinha. as vezes felizes
Quero ir mais longe
ANIMA: Fique esta noite! Com a manhã feliz você começara em um Mas não sei para onde.
caminho de sorte.
ANIMA: Ela desaparece na floresta. Ela não irá longe. Rápido irmãs,
LILA: Não, me vou agora! Meus pés me chamam para o caminho cantem para ela, de modo que a melodia de consolo a envolva e
da morte. proteja.

ANIMA: Me escute! ANIMA e CORO:


Ajudamos com alegria
LILA: A voz do vento vinda do túmulo soa mais doce que as palavras Nunca estamos longe
de seus doces lábios. Se um infeliz chama
Por nossa ajuda
ANIMA: (para si mesma) Ela está tendo uma recaída. Eu falei de- Chegamos rápido.
mais.
(para Lila) Aqui na clareira há uma cama para você. Deite-se um
pouco enquanto continuamos silenciosamente nossa dança cir-

28 29
embora. A noite me prende no seu fundo. As estrelas sumiram.
Um vento gelado penetra em meu corpo.

CORO DOS PRISIONEIROS: (de fora da cena) Quem vai nos li-
bertar?

Ato 3 LILA: De dentro das cavernas vem um choro de dor e lamento!

CORO: Desgraça! Ocaso!

(uma caverna em um vale da floresta) LILA: Encare mais esta meu coração fraco. Você se sente tão miserá-
vel e ainda assim fraco?
ANIMUS e ANIMA conversando
CORO: Piedade! De que adianta o dia mais lindo da vida para nós
ANIMUS: Fada divina! Não me surpreendo com o que você me fala. criaturas prisioneiras e miseráveis?
Tenha certeza. Estes retrocessos não devem nos assustar. Todo
ser que quer se libertar de uma condição afundada precisa des- LILA: Eles estão me chamando! Justo a mim! Eles clamam por ajuda!
cansar para se recuperar dos esforços extenuantes da cura. Não Os pobres esquecidos. Deus! Eles estão prisioneiros! Trancados
há nada mais que eu tema que um louco com pressa de se tornar numa prisão! Não posso me conter mais, não importa o que me
sábio. Não devemos nos desesperar. Estas cenas se repetirão. Já é custe. Preciso vê-los, tentar alguma forma de consolo e se possí-
suficiente que ela tenha se alimentado. Ela entendeu que depen- vel, salvá-lo.
de dela salvar sua gente amada. Nós devemos ter máximo cui-
dado em não considerá-la curada antes da hora. Não podemos (Os prisioneiros aparecem em correntes e lamentam seu destino em
deixar ela rever o marido a menos que ela seja capaz de suportar uma dança triste e pesada. Eles finalmente vêem Lila com grande
a presença dele. Vamos nos apressar e preparar o lugar para ela. assombro e dizem a ela através de pantomimas para que ela vá
Ela já está vindo e terão outros encontros esperando por ela. embora)
(Ambos saem de cena)
LILA: Vocês não vão conseguir me mandar embora. Talvez eu esteja
LILA: (com uma pequena garrafa nas mãos) Eu agi errado com você, destinada a libertar e alegrar vocês. A espiritualidade providencia
querido velho. Sem este bálsamo eu teria achado muito mais di- para que os infelizes se encontrem para que a miséria de ambos
fícil trilhar este caminho escuro e duro. Os deuses amigos foram seja extinta.

30 31
(Aparece Frederico) Frederico: Você vê estas pessoas da comunidade? Você os conhece
a todos. O bem humorado Carlos, o implicante Henrique, os
Frederico: Quem tem a coragem e a ousadia de chegar perto da casa verdadeiro Francisco, o Luís, sempre prontos a fazer algo para
do medo e da tristeza? Deuses! Prima! Lila, é você? alguém. Você veja nossos queridos vizinhos.(para os prisioneiros)
Beijem a mão dela! Se alegrem nossa Baronesa está aqui.
LILA: Frederico! Será verdade? (alguns dos prisioneiros se dirigem a Lila e em pantomima ex-
pressam a alegria deles e beijam a mão dela.)
Frederico: Sim, sou eu.
LILA: Você? É você mesmo? Eu os abençoo! Eu os encontro aprisio-
LILA: Oh é você! (Toca ele, se abraçam) Minha mão e meu toque nados um vez mais. Mas estamos juntos novamente meus ami-
são minhas testemunhas, novamente nos encontramos, e nessa gos. Pelo menos estamos juntos. Quando foi a última vez que nos
situação! vimos? Como posso salvá-los? (ela vai observando cada membro
de sua comunidade, olha para cada um profundamente, e foge
Frederico: Devo te contar? Devo aumentar a sua tristeza? Eu e toda com medo)
nossa comunidade estamos nesta condição por sua causa. Desgraçada de mim: não posso ficar, preciso fugir.

LILA: Por minha causa? Frederico: Por quê? O que foi? Ao invés de conversar conosco sobre
como poderíamos lutar esta calamidade juntos, você quer fugir?
Frederico: Você se lembra? Pouco tempo atrás, nós nos encontramos
perto daqui. LILA: Não é covardia, mas um sentimento insuportável dentro de
mim. Vossa presença e amor me assustam, não o medo do De-
LILA: Me lembro de ter visto sua sombra, não você. mônio. Se o diabo estivesse aqui ele veria que não estaria tre-
mendo em sua presença. Seu amor – que eu não posso aceitar
Frederico: Era apenas meu azar, eu ofereci a você minha mão, inutil- – me repele; sua voz, sua compaixão, mais que sua miséria… que
mente. Você simplesmente correu rápido de mim. Neste momen- posso dizer? Deixem me em paz!
to o Demônio ordenou o seu Monstruoso Ogro a me seguir. Se
você tivesse respondido, ele não teria nenhum poder sobre mim. Frederico: Fique e lute pela paz
Nós estaríamos livres e poderíamos trabalhar pela libertação de Fique e você nos libertará
seu marido. Os deuses amigos
Nos darão o momento de redenção
LILA: Que tristeza horrível!

32 33
LILA: Não é meu destino mam uma dança em seu redor. O Ogro se retira para dentro de
Ser feliz na terra sua caverna.)
Deuses malignos espalham
Miséria sobre meu destino LILA: (que esteve observando o Ogro retorna para a cena e fala)
Só agora eu reconheço a mim mesma. Meu coração finalmente
Frederico: Deixe o amor te me leva a enfrentar esta situação horrível. Sim, eu enfrentarei, eu
refrescar e te confortar. posso, eu devo isto a minha comunidade. Meus amigos!

Frederico: Lila! Que bom você voltou, o que nos traz?


LILA: O amor
fugiu de mim! LILA: Trago a mim mesma. Só há uma maneira de libertar a todos
vocês – compartilhando seu destino.
Frederico: Com todos os presentes do paraíso
Você o terá de novo Frederico: Como?
Já está tão próximo.
LILA: Foi revelado para mim que eu devo enganar o Ogro, desafi-
LILA: Oh, desgraça! á-lo, provocá-lo. E como eu não tenho armas para lutar contra
Tantos presentes dos céus ele, eu receberei as correntes para me unir a minha comunidade
E somente em sonho eu os terei. nesta condição de escravidão.
E eu vou agora para o túmulo!
Frederico: Você está arriscando tudo!
(Ela vai embora. Frederico e a comunidade aprisionada ficam deses-
perados com essa atitude) LILA: Se acalme, porque eu sou o balde que o destino lança no poço
para tirar vocês daí.
ANIMUS: Não a sigam. Não a parem. Eu observei todos vocês. Não (O Ogro reaparece e vê LILA)
tenho mais dúvidas que a história vai se resolver para o melhor.
Eu vou seguí-la, encorajá-la e trazê-la de volta. Será o momento LILA: Monstro, chegue mais perto! Minha voz é a voz dos deuses.
em que o Ogro volta da sua caçada. Já que ela não se convenceu Liberte todas essas pessoas ou espere pela punição do todo pode-
muito pelas falas, vamos ver se a força da injustiça vai acordá-la roso Deus da bondade.
de seus sonhos. (Sai de cena)
(Enquanto LILA canta, o Ogro demonstra desprezo pela fraqueza
(O Ogro retorna da caçada e parece satisfeito com o animal que dela. Ele dá ordens para que ela seja presa e acorrentada junto
capturou. Os prisioneiro servem a ele de todas as maneiras e for- com os outros.)

34 35
LILA (cantando): LILA: Mal posso esperar…
Eu te desafio
Com as mãos nessa correntes Frederico: Não devemos avançar sem a orientação dos deuses ami-
Os deuses me resgatam gos! Eles vêm quando precisamos de ajuda.
E me cobrem com sua proteção
(ANIMA e o coro de fadas aparece)
Devia eu temer você monstro?
Meu sangue ferve dentro de mim ANIMA: Querida irmã, nos encontramos novamente.
Como uma tempestade violenta
Para demonstrar a você minha coragem LILA: Na tristeza e na felicidade, prisioneira com minha amada co-
munidade. A presença deles me fortalece em tudo e energiza mi-
(sai o Ogro) nha esperança.

Frederico: Porque você demonstrou sua coragem tão bravamente, ANIMA: Não permita que o pessimismo, o medo e a tristeza causem
agora posso te contar um segredo que meus lábios não pronun- que você se retraia de novo. Vá adiante! Você atingirá os seus
ciariam antes. Sim, através dessa ação sozinha você pode nos res- desejos!
gatar a todos. Fique com a gente, vamos juntos até o final.
LILA: Sim, alcançar meus sonhos.
LILA: Tem certeza?
ANIMA. Vai em frente LILA! Ninguém pode tirar de você este po-
Frederico: Absoluta. O próprio demônio fez seus inimigos ficarem der. Mas escute nosso conselho.
mais fortes. Ao te prender nas correntes, ele trouxe uma tocha
para iluminar a casa dele, destruindo todo o esquema. LILA: Escuto com alegria, e com alegria eu realizarei o vosso conselho.

LILA: Diga me mais. Eu vejo somente os homens aqui. Onde estão ANIMA: Assim que você entrar no jardim da casa, vá para o poço
minhas irmãs? Minhas primas e amigos? próximo a casa. Lave suas mãos e face. Com isso as correntes
cairão de seus braços. Depois vá à clareira coberta pelo roseiral.
Frederico: Eles estão presos de um modo muito peculiar. Eles estão Você encontrará um novo vestido lá. Coloque-o e jogue fora estes
sendo forçados a terminar seus dias de trabalho na Roda da For- trapos de luto. Vista-se como uma rainha. Coloque o véu borda-
tuna, assim como nós fomos obrigados a cuidar do jardim e servir do sobre sua cabeça. Ele irá te proteger do poder do demônio.
no palácio. Você os verá. Este é o máximo que podemos fazer. O resto é com você. Seu es-

36 37
pírito te guiará para a coisa certa a cada momento. Nós dizemos
que seu amor, seu marido, está perto.

LILA: Estrela! Estrela!


Ele está presente.
Queridos espíritos, se puder ser feito
Me permitam ver a casa do meu amor.
Deuses, vocês que não enganam, escutem:
Aqui na floresta
Ato 4
Logo, logo
Libertem meu amor
Sim, sinto a felicidade gritar CENA 1
O amor dissolve a feitiçaria má

Frederico e ANIMA (junto com os coros de prisioneiros e fadas): Frederico (dentro da floresta) – interlúdio romântico: Só um momen-
Com prazer! Com prazer! to minha querida. Que tortura imensa estar perto de você e não
Ele está perto poder te dizer nenhuma palavra, não poder te dizer o quanto
Paciência, vai acontecer eu te amo, não tenho outra fonte de ânimo, será que também
Você verá a casa do seu amor perderei?
Nós que conhecemos o destino, juramos
ANIMA (Marianne disfarçada) – Agora não meu amigo, Há muitos
Aqui na floresta observadores por todos os lados.
Logo
Você vai libertar o seu amor Frederico: O que podem eles verem de novo? Que nossas almas estão
Sem temer unidas para sempre?
Sem duvidar
O amor ANIMA: Vamos evitar qualquer fofoca a nosso respeito.
Dissolve toda
A feitiçaria má Frederico: Tudo bem, eu saio, deixe-me beijar sua mão minha ado-
rada.

38 39
(Entra em cena ANIMUS) CENA 2

ANIMUS: Então é assim que vos encontro meus amigos? Você não
havia prometido por sua própria alma que você iria cumprir nos- (Estamos em um lindo jardim. Vemos uma casa ao fundo com 7
so combinado? Você sabe do frágil humor do Barão e o quanto portas. Cada porta está ligada por um fio a RODA DA FORTUNA,
ele tem ciúmes de sua irmã. “Fortuna Imperatrix Mundi”, no Centro do Jardim. O coro dos
prisioneiros está trabalhando no jardim. O coro das fadas dança
Frederico: Por favor, não me reprove, você não sabe o quanto meu um ballet circular. Frederico e ANIMUs aparecem. Os coros se
coração sofre. posicionam um de cada lado da cena.)
Todas essas horas
Não pude dizer palavra Frederico: Levantem-se! Agitem-se!
Agora que a encontrei Escutem seus amigos chamando
Não falarei mais em sofrimento Escutem a canção
Nem em esperas sem recompensa Não durmam tanto!
(vira-se para o ANIMUS)
Sim querido Mestre CORO: Levante-se! Levante-se! Escutem seus amigos chamando!
Me vou agora
Você guia nossas almas CORO DAS MULHERES:
(vira-se para ANIMA) Deixem-nos descansar! Deixem-nos descansar!
Sim, vamos concluir o combinado da encenação Sim amigos queridos, mas cantem para melhorar
(para ANIMUS) Seus tons profundos
Fale me as palavras da alegria Movem-nos o mundo
Para sempre te honrarei Deixem nos descansar
Mas sem palestras ou aulas Mas cantem para melhorar
Que aulas não valem nada para mim.
CORO DOS HOMENS
Espertamente ele compreendeu Levantem-se do torpor!
Que para Lila reconquistar sua razão Escutem os amigos!
Eu acabo perdendo a minha Ouçam a canção
Não percam tempo
(Frederico sai por um lado e ANIMUS e ANIMA saem por outro) (bis)

40 41
(Ligam se os fios das 7 portas com a roda da fortuna e começam a Dancem, dancem, dancem,
girar a roda.) Vocês que podem dançar
Somos um círculo dentro de um círculo sem início e
CORO DOS HOMENS: sem fim.
Gira, gira, gira, agora
Mais rápido e mais rápido (Há uma pausa entre os diferentes movimentos da dança circular - e
Para acabar o dia de labuta o corifeu na forma do demônio - dança um solo; dança primeiro
Crianças do amor com uma mulher depois com duas mulheres. Todo o improviso
do quarto ato depende do demônio, do seu gosto com a dança e
CORO DAS MULHERES o improviso dos atores)
Girando felizes
Rapido desaparecem LILA: (Aparece progressivamente com a última dança, entra em cena
As horas entre os dançarinos no último movimento. Ela veste um vestido
Enfeitiçadas branco decorado com flores e cores brilhantes.)
Estas felicidades
LILA: Então aqui eu encontro todos vocês juntos? QUanto tempo
Não se encontram duas vezes
eu tive que viver sem vocês! Devo ter esperançås que o poder do
demônio em breve será vencido?
CORO DOS HOMENS
Gira, gira, gira, agora
SOFIE: Ele foi vencido por causa da sua presença. Seja bem vinda
Mais rápido e mais rápido
minha irmã!
Para acabar o dia de labuta
Crianças do amor. LILA: Minha Sofie, minha irmã Lucie, Mariane, é mesmo você?

(As sete portas abrem. Marianne, sem máscara de ANIMA, sai da MARIANE: Me abrace minha amiga
porta do meio. Sofie e Lucie saem das portas ao lado. Gradual- (todos abraçam e beijam Lila, beijam suas mãos)
mente os coros entram em cena e dançam juntos. Marianne se
junta a Frederico. Todos dançam em coros) LILA: Por que estão com essas roupas?

CORO DOS HOMENS E DAS MULHERES LUCIE: Nós vamos nos libertar em breve destas roupas e disfarces.
Mexe! Mexe! Mexe!
Vocês que podem mexer LILA: Que aparição estranha vem agora?

42 43
ANIMUS: Não me reconhece minha amiga? LILA: Oh Deus! Meu homem! De onde você vem? Tão esperado e
inesperado…
LILA: Diga-me, o que está acontecendo? Tudo parece tão estranho
para mim, eu própria incluído. Este não é o nosso jardim? Esta (Alegria e regozijo e canto do coro)
não é nossa casa de campo? E se não estou enganada, você apa-
renta ter mais idade que tem. Sua barba está se soltando do CORO: Os deuses retornam
queixo. Suas vidas a vocês
Felicidade e benção também
ANIMUS: Você vai me ver de novo em poucos momentos. Você al- Nova vida nos é dada
cançou os seu objetivo. Aproveite a sua família. Logo seu último Bem vinda de volta a sua vida
desejo será realizado. Você será reunida ao seu marido.
FREDERICO:
LILA: Estou aqui. De volta no carinho
Sinto a proximidade Acredito no amor
De meu amo O que o amor e fantasia tiraram
Eu pedi O amor e a fantasia devolvem
Fui guiada
Pela esperança e pela tristeza CORO: Os deuses retornam
Os gentis espíritos Suas vidas a vocês
Não me deixem Felicidade e benção também
Deixem-me segurá-lo Nova vida nos é dada
Deêm paz abençoada Bem vinda de volta a sua vida
Ao meu coração ansioso
MARIANE: Ele sobreviveu ao perigoso caminho
(Aparecem em roupas ordinárias Verazzio, o Conde Antelstein e o Você exagerou ao se torturar
Barão) Para nossa felicidade, nossa vida
Só você faltava
BARÃO: Não demorem mais. Se seus métodos foram bem sucedi-
dos, honorável doutor, é o momento de termos certeza. CORO: Nova vida nos é dada
Lila, meu amor, minha mulher! Volte e seja uma de nós

44 45
LILA: Te tenho de novo meu amor
Te abraço
Tremo
Com uma felicidade que não tem palavra

CORO: Que a alegria caia com a chuva sobre a terra


Levando esperança aqueles que não querem mais sofrer
Alegria e o prazer, são a vocação do viver
Que a alegria caia com a chuva sobre a terra
Levando esperança aqueles que não querem mais sofrer Este livro foi impresso pela Trio Studio, na Primavera de 2018, e lan-
Amor çado durante a estréia de LILA, inédita no Brasil, no Teatro Clínica
Therezinha Moraes, no Méier, Rio de Janeiro.
Nesta ocasião, a ficha técnica da montagem foi:
No papel de Lila, Zezé Moraes, Atriz do Teatro de DyoNises há 4

Fim
anos e Presidenta da Teatro Clínica Therezinha Moraes.
Encenação, treinamento dos atores, na narração e no papel de Dr.
Verazio/ Animus: Vitor Pordeus.
No papel do Barão Sternthal, o glorioso Ator do Teatro de DyoNises
há 8 anos, Reginaldo Terra.
Participação especial da Atriz Narradora Cecilia Göpfert.
Grande Elenco: Thiago Beck, Erik Rodrigues, Nathali Cristino e co-
laboradores convidados.
Direção Musical: Maestro Alexandre Schubert
Iluminação: Diego Amorim
Direção e produção executiva: Regina Porto – Instituto Rio de His-
tórias
Arte visual: Pablo Meijueiro

UNIVERSIDADE POPULAR DE ARTE E CIÊNCIA


contato@upac.com.br tel:21-981360135
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Isabel Valle

TRADUÇÃO
Vitor Pordeus

ARTE VISUAL DA CAPA


Pablo Meijueiro

G599l

Goethe, Johann Wolfgang von, 1749-1832


Lila / Johann Wolfgang von Goethe, tradução Vitor Pordeus –
Rio de Janeiro: Bambual Editora, 2018.
48 p.

ISBN 978-85-94461-03-2

1. Literatura alemã. 2. Teatro. 3. Saúde mental. I. Pordeus,


Vitor. II. Título.
CDD 832
353.6

www.bambualeditora.com
contato@bambualeditora.com #primeirosaudemental

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