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Direito Civil
Cristiano Sobral
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OAB 1ª FASE XIX EXAME
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espécie, como quando uma pessoa vende o diferença: ele poderá optar entre a solução da
cavalo campeão de sua fazenda. Na verdade, perda supramencionada ou receber o bem
há dois tipos de obrigação de dar coisa certa: deteriorado, abatendo-se o valor da
dar e restituir. A razão é que quando tenho a deterioração.
obrigação de devolver um bem que recebi,
não posso impor a entrega de outro de REGRA ACESSÓRIA 2: Se a coisa
mesma espécie. Portanto, tenho obrigação de perece para o dono, a coisa também melhora
dar coisa certa tanto quando tenho que para o dono, ou seja, se, ao invés da perda
entregar um cavalo que vendi quanto quando ou deterioração, houver uma melhora no bem
tenho que devolver um cavalo que me foi antes da entrega, quem dela se beneficiará
emprestado. será o dono.
O tema vem previsto entre os arts. 233 Vamos analisar, com base no macete
e 242 do CC, onde um único tema é tratado: apresentado, as regras dos arts. 234 a 242
perda ou deterioração do bem depois que do CC. Qual a consequência da perda,
assumo a obrigação de dar, mas antes da deterioração ou melhora do bem antes da
efetiva entrega. Como é obrigação de dar tradição, no caso da prestação de dar e no
coisa certa, não sendo possível a entrega de caso da prestação de restituir?
outro bem equivalente, qual é a
consequência? Quem suporta o prejuízo? É a) Prestação de dar, perda do bem, com
isso que a prova da OAB vai exigir de você culpa do devedor (art. 234): Devedor de um
saber e as possibilidades são muitas, pois carro por tê-lo vendido ao credor, mas antes
pode ser com culpa ou sem culpa do devedor, da entrega o destrói porque provoca um
pode ser um dar ou um restituir, pode ser acidente com perda total do carro por dirigir
perda ou deterioração ou até mesmo uma embriagado. Será devedor no equivalente
melhora no bem. (devolve o valor recebido ou não o recebe)
acrescido de perdas e danos.
Como é questão constantemente
cobrada na prova da OAB, apresento um b) Prestação de dar, perda do bem, sem
macete para que você, caro leitor, conheça culpa do devedor (art. 234): Devedor de um
todos os casos previstos nos citados artigos. carro por tê-lo vendido ao credor, mas antes
Basta conhecer uma regra básica, à qual da entrega o carro cai em uma ribanceira por
somamos duas regras acessórias lógicas: ser levado pela correnteza da inundação
provocada por violenta tempestade.
REGRA BÁSICA: Se o devedor teve Consequência: resolve-se a obrigação, o que
culpa na perda do bem, a regra sempre será significa desfazer o negócio. Veja que o dono
a mesma: deverá pagar ao credor o (devedor do carro) sofreu a perda, pois ficou
equivalente acrescido de perdas e danos. Se sem o carro e sem o dinheiro.
o devedor não teve culpa na perda do bem, a
regra será sempre a mesma: res perit domino c) Prestação de dar, deterioração do bem,
(a coisa perece para o dono), será dele o com culpa do devedor (art. 236): Devedor
prejuízo. E quem é o dono? Depende se a de um carro por tê-lo vendido ao credor, mas
obrigação é de dar ou de restituir. Na antes da entrega o amassa ao bater por dirigir
obrigação de dar, antes da entrega o dono é o embriagado. O credor poderá escolher entre
devedor, pois a aquisição da propriedade só receber o equivalente mais perdas e danos ou
se dá com a entrega do bem. Na obrigação aceitar o bem no estado em que se acha
de restituir, o dono é o credor, pois ele acrescido de perdas e danos, incluindo o
sempre foi o dono, uma vez só ter abatimento do valor em razão da
emprestado para o devedor. deterioração.
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antes da entrega o carro é amassado por devedor não terá que indenizá-lo da perda do
bater em um poste ao ser levado pela carro.
correnteza da inundação provocada por
violenta tempestade. Consequência: credor h) Prestação de restituir, deterioração do
poderá optar em resolver a obrigação bem, com culpa do devedor (art. 240):
(desfazer o negócio) ou aceitar o carro Devedor de um carro por tê-lo recebido
amassado, abatendo do seu preço o valor emprestado do credor, mas antes da entrega
perdido pela deterioração. Note que é o dono o amassa ao bater por dirigir embriagado. O
(devedor do carro) que sofre a perda, pois credor poderá escolher entre receber o
ficou sem dinheiro e com o carro amassado equivalente mais perdas e danos ou aceitar o
ou sem o carro pagando pela deterioração. bem no estado em que se acha acrescido de
perdas e danos, incluindo o abatimento do
e) Prestação de dar, melhora do bem (art. valor em razão da deterioração.
237): Devedor de uma fazenda por tê-la
vendido ao credor, mas antes da entrega o i) Prestação de restituir, deterioração do
bem se valoriza em razão do acréscimo de bem, sem culpa do devedor (art. 240):
terra trazido pela correnteza das águas Devedor de um carro por tê-lo recebido
(fenômeno chamado de avulsão). O vendedor emprestado do credor, mas antes da entrega
poderá pedir aumento de preço, pois é o dono o carro é amassado por bater em um poste ao
e ele se beneficia com a vantagem. Se o ser levado pela correnteza da inundação
comprador não aceitar pagar o acréscimo, provocada por violenta tempestade. O dono é
poderá o vendedor resolver a obrigação, ou o credor, que sofrerá a perda, pois a lei diz
seja, desfazer a venda. E se, ao invés de que ele receberá o bem deteriorado sem
melhoramento ou acrescido, o bem deu direito de indenização.
frutos? Os frutos percebidos ou colhidos
antes da tradição são do devedor, pois ele j) Prestação de restituir, melhora do bem
ainda é dono do bem, mas se pendente (art. 241 e 242): Devedor de uma fazenda por
quando da tradição, será do credor, pois o tê-la recebida emprestada do credor, mas
bem acessório segue a sorte do bem antes da entrega o bem se valoriza em razão
principal. Assim, se o devedor vende uma do acréscimo de terra trazido pela correnteza
cadela para entregar tempo depois e antes da das águas (fenômeno chamado de avulsão).
entrega fica prenha, se na época da entrega o Por evidente, será do credor o ganho, pois ele
filhote já nasceu será do vendedor, mas se é o dono do bem, recebendo-o de volta
estiver na barriga da cadela na época da valorizado, desobrigado de indenizar. Se para
entrega, será do comprador. o melhoramento ou acréscimo houve trabalho
do devedor, é benfeitoria, razão pela qual o
f) Prestação de restituir, perda do bem, art. 242 do CC determina aplicar as regras do
com culpa do devedor (art. 239): Devedor direito de indenização que o possuidor de
de um carro por tê-lo recebido emprestado do boa-fé e de má-fé tem em razão das
credor, mas antes da entrega o destrói porque benfeitorias que faz no bem (sobre isso, ver o
provoca um acidente de perda total do carro capítulo próprio na parte de direitos reais
por dirigir embriagado. Será devedor no neste livro, quando da abordagem dos efeitos
equivalente (indeniza o valor do carro) da posse).
acrescido de perdas e danos.
2.1.2. Obrigação de dar coisa incerta
g) Prestação de restituir, perda do bem,
sem culpa do devedor (art. 238): Devedor É a obrigação de dar um gênero em
de um carro por tê-lo em empréstimo do certa quantidade, como na venda de três
credor, mas antes da entrega o carro cai em cavalos de uma fazenda. Em dado momento,
ribanceira levado pela correnteza da os bens a serem entregues deverão ser
inundação provocada por tempestade. O escolhidos, o que chamamos de
dono é o credor e ele sofre a perda, ou seja, o concentração da prestação. A quem cabe a
escolha? A quem definido no contrato. Se
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nada for dito, a escolha caberá ao devedor, determinado resultado, sob pena de
que não poderá escolher o pior nem ser inadimplemento e, consequentemente, dever
obrigado a escolher o melhor. de indenizar perdas e danos. Já na obrigação
de meio, o devedor não se vincula a atingir
Feita a escolha, a obrigação de dar determinado resultado, mas sim a
coisa incerta se transforma em obrigação de corresponder no meio para atingi-lo, ou seja,
dar coisa certa, aplicando-se as regras que a empregar a diligência na busca do
lhe são próprias. No entanto, se antes da resultado. Não responde se o resultado não
escolha o bem se perder ou se deteriorar, for atingido, apenas se não empregou a
mesmo que por caso fortuito ou motivo de diligência necessária. Um advogado ou um
força maior, o devedor não se exime de médico tem obrigação de meio, enquanto
cumprir a prestação, pois o gênero não que, segundo a jurisprudência do STJ, o
perece, podendo o bem ser substituído por cirurgião plástico, embora seja um médico,
outro da mesma espécie para ser entregue ao tem obrigação de resultado, quando se tratar
credor. de intervenção meramente estética ou
embelezadora.
2.2. Obrigação de fazer
2.3. Obrigação de não fazer
A obrigação de fazer é aquela em que
a prestação do devedor consiste na A obrigação de não fazer é uma
realização de uma atividade, como na obrigação a uma abstenção, por exemplo,
contratação da prestação de um serviço. A não levantar um muro divisório. Se o devedor
obrigação de fazer pode ser de dois tipos: descumprir a obrigação, fazendo o que se
personalíssima (infungível) ou não obrigou a não fazer, deverá indenizar o credor
personalíssima (fungível). Será em perdas e danos? Nem sempre, pois às
personalíssima quando só o devedor puder vezes se tornou impossível, sem culpa do
cumprir a prestação, como na contratação de devedor, abster-se do ato. Nesse caso,
um pintor famoso para pintura do retrato do apenas se resolve a obrigação (volta ao
credor em um quadro. Será não estado anterior do negócio), não tendo que
personalíssima quando não só o devedor, indenizar perdas e danos. Exemplo: a pessoa
mas outra pessoa também puder cumprir a se viu obrigada a levantar o muro para
prestação, como a contratação de um pintor impedir que a água invadisse sua casa. Se,
para pintura das paredes de uma casa. porém, simplesmente decidiu fazer o que se
obrigara a não fazer, será condenado a
Por que diferenciar? Se for obrigação indenizar perdas e danos e, se o fizer,
personalíssima e o devedor se recusa a consistir em uma obra, poderá o credor pedir
cumpri-la ou por sua culpa se tornou judicialmente para desfazê-la. Se for urgente,
impossível, responde por perdas e danos. Se poderá mandar desfazer independente de
for obrigação não personalíssima, poderá o autorização judicial, buscando em juízo o
credor optar em reclamar indenização por ressarcimento.
perdas e danos ou mandar executar às custas
do devedor. Como isso é feito? Ajuizamento 2.4. Obrigações alternativas
de ação com orçamento do serviço, pedindo
condenação do devedor do fazer a pagar. A obrigação alternativa é aquela que
Todavia, se for urgente, poderá o credor compreende duas ou mais prestações, mas
mandar executar o fato independente de se extingue com a realização de apenas uma
prévia autorização judicial, buscando em juízo delas. Exemplo: obrigação de dar um carro ou
depois o ressarcimento do que foi gasto. uma moto. A quem cabe a escolha de que
prestação cumprir? Em regra ao devedor,
As obrigações de fazer podem ser pois a obrigação se extingue com ele
classificadas em obrigação de meio e de cumprindo uma ou outra prestação. Todavia,
resultado ou de fim. Nas obrigações de o contrato pode prever que a escolha cabe ao
resultado, o devedor se vincula a atingir credor. É o que diz o art. 252 do CC, que
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obrigação, pois nas perdas e danos não uma troca de devedores, pois um terceiro
subsiste a solidariedade. Mas nos juros, sim. assume a obrigação do devedor.
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algum tipo de interesse, ou seja, pelo devedor putativo. Putativo vem de putare, que significa
ou por um terceiro. A lei, no entanto, crer, acreditar. Haverá credor putativo quando
estabelece consequências diferentes para o se paga de boa-fé a quem não é o credor, ou
pagamento sendo feito pelo devedor, por seja, se pagou à pessoa errada, mas havia
terceiro interessado ou por terceiro não motivos para acreditar ser ele o credor. Um
interessado. Quando se fala em terceiro exemplo já foi visto quando da abordagem do
interessado ou não interessado, fala-se em tema cessão de crédito. Vimos que o devedor
interesse jurídico, pois, se o terceiro paga, não precisa concordar, mas deve ser
algum tipo de interesse ele tem. O terceiro notificado da cessão de crédito para saber
será interessado quando puder ser cobrado que o credor mudou. Vimos que se não for
pela dívida. Assim, um fiador que paga a notificado e de boa-fé pagar ao cedente, ele
dívida do afiançado é um terceiro interessado, está exonerado e a razão é simples: pagou a
mas o pai que paga a dívida de um filho maior credor putativo.
de idade, embora tenha um interesse
sentimental, é considerado um terceiro não No que se refere ao objeto do
interessado. pagamento, este será o cumprimento da
prestação. O credor não é obrigado a aceitar
Se o devedor efetuar o pagamento, prestação diversa da que lhe é devida, ainda
extinta estará a obrigação e ele estará que mais valiosa, afirma o art. 313 do CC.
exonerado. Se um terceiro pagar, também Ainda que a obrigação seja divisível, como
estará extinta, mas ele poderá reaver o valor dever dinheiro, não pode o credor ser
pago, embora de forma diferente a depender obrigado a receber nem o devedor ser
de quem pagou: se terceiro interessado, sub- obrigado a pagar por partes, se assim não se
roga-se nos direitos do credor; se terceiro não ajustou.
interessado, apenas tem direito de reembolso,
não se sub-rogando nos direitos do credor. Quem paga tem direito de receber
Em ambos os casos, o terceiro cobra do uma prova de que pagou. É o que chamamos
devedor o que pagou por ele, mas diferem de quitação. O instrumento da quitação é o
porque, ao se sub-rogar nos direitos do recibo, que sempre pode ser por instrumento
credor, terá as garantias especiais dadas a particular. Se o credor se recusar a dar
ele, o que não ocorre no mero direito de quitação, o devedor pode legitimamente reter
reembolso. Detalhe: isso ocorrerá se o o pagamento enquanto não lhe for dada.
terceiro pagar em seu nome, pois se pagar
em nome do devedor, é considerado uma Assim sendo, em regra, quem prova o
mera ajuda, não tendo direito de reaver o que pagamento é o devedor, apresentando o
pagou. recibo recebido como instrumento da
quitação. No entanto, em três casos haverá
A quem se deve pagar? O pagamento presunção de pagamento, dispensando o
deve ser feito ao credor ou a quem de direito devedor de provar que pagou. Ocorre que é
o represente. Se o pagamento foi feito à uma presunção relativa, ou seja, aquela que
pessoa errada, pagou-se mal e quem paga admite prova em contrário. Desta forma,
mal, paga duas vezes, pois o verdadeiro sendo um dos casos de presunção de
credor poderá cobrá-lo. No entanto, em dois pagamento, não se fixa uma verdade absoluta
casos, o pagamento feito a um terceiro libera de que existiu pagamento, mas sim uma
o devedor: se o credor confirmar o pagamento inversão do ônus da prova, pois o devedor
ou tanto quanto provar ter se revertido ao não precisa provar que pagou, mas o credor
credor. pode provar que o devedor não pagou.
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credor. Cuidado: não confunda remissão com Note que a diferença entre
remição. A causa de extinção da obrigação é inadimplemento e mora reside no critério de
a remissão, é o ato de remitir, que significa utilidade para o credor. Em ambos os casos,
perdão, perdoar. Remição ou ato de remir não a prestação não é cumprida, sendo
é causa de extinção da obrigação, pois inadimplemento se a prestação não é mais
significa resgate, resgatar. útil ao credor e mora se a prestação ainda é
útil ao credor.
Tanto na confusão quanto na remissão
há um aspecto importante para você saber Por que diferenciar mora e
sobre obrigações solidárias. Confusão ou inadimplemento? Se o caso é de
remissão entre credor e um dos devedores inadimplemento, como a prestação não é
solidários ou entre o devedor e um dos mais útil ao credor, a única solução é o
credores solidários: mantém-se a pagamento de indenização por perdas e
solidariedade entre os demais, descontada a danos (ar. 389 do CC). Por outro lado, se o
parte remitida ou da confusão parcial. caso é de mora, cabe o que chamamos de
purgação ou emenda da mora. O que é isso?
Exemplo: Imagine três devedores É cumprir a obrigação, porque ainda útil para
solidários em trinta mil reais ao pai de um o credor, acrescido dos encargos moratórios.
deles (solidariedade passiva). Com a morte Purga-se a mora pagando-se com retardo,
do pai ou do filho ou se o pai perdoar só a acrescido de: correção monetária, juros de
dívida do filho, os outros dois devedores mora, perdas e danos decorrentes da mora e
serão solidários em vinte mil reais. Da mesma eventual honorários de advogado (art. 395 do
forma, imagine que um devedor deve trinta CC).
mil reais a três credores solidários, sendo um
deles o pai do devedor (solidariedade ativa). 5.2. Mora
Com a morte do pai ou do filho ou se o pai
perdoar só a dívida do filho, os outros dois O art. 394 do CC diz que se considera
credores serão solidários em vinte mil reais. em mora o devedor que não efetuar o
pagamento e o credor que não quiser recebê-
5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a
convenção estabelecer. Note haver mora não
5.1. Diferença entre inadimplemento e apenas quando não se paga no tempo
mora devido, mas também se não se paga no lugar
e na forma devida. Note ainda não haver
Quando o devedor não cumpre a mora só do devedor, mas também do credor,
prestação, estamos diante do que ocorre quando este não quiser
inadimplemento, que pode ser de dois os injustificadamente receber o pagamento,
tipos: absoluto ou relativo. O inadimplemento sendo o pagamento em consignação a
é absoluto quando a prestação não é solução para o devedor se livrar dos encargos
cumprida e não é mais útil ao credor que o da mora.
devedor a cumpra - por exemplo, contratação
de cantor para cantar em um casamento que Segundo art. 395 do CC, configurada
não comparece à cerimônia. O a mora, o devedor pode purgá-la, cumprindo
inadimplemento é relativo quando a prestação a prestação acrescida dos encargos
não é cumprida, mas ainda é útil ao credor moratórios. Todavia, se a prestação tornar-se
que o devedor a cumpra, por exemplo, não inútil ao credor, este poderá enjeitá-la e pedir
pagamento de uma dívida em dinheiro no dia perdas e danos. A razão é simples: se inútil
do vencimento. O inadimplemento absoluto é ao credor, deixou de ser mora e se
chamado simplesmente de inadimplemento e transformou em inadimplemento absoluto.
o inadimplemento relativo é chamado de
mora. Como exemplo, imagine uma
costureira que deixa de entregar o vestido de
noiva no prazo estipulado. É caso de mora
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ou inadimplemento? Depende. Se ainda não ato ilícito civil é causar dano a alguém,
houve a cerimônia, em razão de a data gerando ao causador o dever de indenizá-lo.
marcada lhe ser bastante anterior, o caso é Poderíamos pensar ser caso de mora ex
de mora; se já houve a cerimônia, em razão persona, pois o devedor deve ser constituído
da data marcada ter sido na véspera do em mora por um ato do credor, propondo
casamento, o caso é de inadimplemento, ação judicial (citação válida constitui o
caso em que o credor poderá rejeitar a coisa devedor em mora). No entanto, tal
e pedir perdas e danos, pois ao se tornar inútil entendimento é equivocado, pois a lei diz que
a ela, a mora se transformou em essa mora é automática, independendo de
inadimplemento absoluto. qualquer ato do credor. O art. neste momento
em análise diz que nas obrigações
Completa a ideia de mora o art. 396 do provenientes de ato ilícito, considera-se o
CC, que preceitua não incorrer em mora o devedor em mora desde que o praticou (a
devedor quando não haja fato ou omissão responsabilidade de reparar o dano fixada na
imposta a ele. Significa que a mora é o não sentença judicial retroage à data do ato para
cumprimento culposo da obrigação. Se não aplicar os efeitos da mora).
há culpa, não há mora. Se uma conta do
devedor só pode ser paga no banco e o Os arts. 399 e 400 do CC trazem dois
vencimento cai em um domingo, ao se pagar efeitos da mora, um para mora do devedor e
no dia seguinte, não há de se falar em mora, outro para a mora do credor:
tanto que se paga sem encargos moratórios.
a) Efeito da mora do devedor (art. 399 do
O art. 397 do CC nos faz perceber CC): O devedor em mora responde pela
haver dois tipos de mora: ex re e ex persona. impossibilidade da prestação, ainda que esta
A mora ex re é automática, ou seja, é aquela se dê por caso fortuito ou força maior. Se a
que independe de ato do credor para o prestação do devedor se torna impossível
devedor ser constituído em mora sem culpa do devedor, simplesmente se
(interpelação judicial ou extrajudicial, resolve a obrigação sem qualquer ônus a lhe
notificação, protesto ou citação do devedor). ser imposto. Todavia, se a impossibilidade
Por sua vez, a mora ex persona é aquela que ocorrer durante seu atraso, o devedor ficará
precisa de um dos citados atos do credor para obrigado a indenizar o credor pela
o devedor ser constituído em mora. Quando a impossibilidade da prestação, mesmo que
mora é ex re e quando é ex persona? esta tenha se dado por caso fortuito ou por
força maior. Apenas em dois casos, estará
Há dois tipos de obrigações: com dia desobrigado de indenização: quando provar
certo de vencimento e sem dia certo de isenção de culpa no seu atraso (evidente,
vencimento. Quando a obrigação tem um dia pois nesse caso não há mora, pois a mora é o
certo de vencimento, o devedor não precisa não cumprimento culposo da obrigação) e se
ser constituído em mora por ato do credor, provar que o dano ocorreria mesmo se a
pois o simples não pagamento no vencimento prestação tivesse sido cumprida no tempo,
o constitui em mora (dies interpellat pro lugar ou forma devida, ou seja, mesmo se não
homine, ou seja, o próprio dia interpela o houvesse mora.
devedor). Por outro lado, quando a obrigação
não tem dia certo de vencimento, o devedor b) Efeito da mora do credor (art. 400 do
só estará em mora se for constituído por ato CC): A mora do credor, ou seja, se o credor
do credor. Assim, quando a obrigação é com se recusar injustificadamente a receber o
dia certo de vencimento, a mora é ex re e pagamento, gera três efeitos: (i) retira do
quando a obrigação é sem dia certo de devedor isento de dolo a responsabilidade
vencimento, a mora é ex persona. pela conservação da coisa (só indeniza perda
ou deterioração do bem se teve dolo, não
O art. 398 do CC demonstra que a respondendo se teve culpa stricto sensu, ou
mora é ex re quando a obrigação não seja, imprudência, negligência ou imperícia);
cumprida decorre de ato ilícito. Com efeito, (ii) obriga o credor a ressarcir o devedor das
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despesas que teve para conservar o bem; e responsabilidade civil contratual, se não
(iii) sujeita o credor a receber o bem pela houver culpa do contratante em não cumprir a
estimação mais favorável ao devedor se o prestação. O mesmo ocorre com o
seu valor oscilar entre o dia estabelecido para inadimplemento absoluto, que pode ser
o pagamento e o da sua efetivação. culposo (com culpa do devedor) ou fortuito
(sem culpa do devedor), mas, em regra, só
5.3. Responsabilidade Civil Contratual haverá obrigação de indenizar se o devedor
teve culpa no inadimplemento. Se um cantor
Responsabilidade civil é o dever de é contratado para cantar no casamento e
indenizar um prejuízo causado. Há dois tipos propositalmente não aparece na cerimônia,
de responsabilidade civil: contratual e será responsabilizado em perdas e danos,
extracontratual. A responsabilidade civil mas se não cumpriu o contrato porque foi
contratual é aquela em que há um contrato sequestrado na véspera, não há de se falar
entre as partes, ou seja, um contratante não em dever indenizatório.
cumpre o contrato, causando prejuízo ao
outro contratante, gerando dever de Importante: O art. 393 do CC dispõe
indenização. A responsabilidade civil que “o devedor não responde pelos prejuízos
extracontratual, também chamada de resultantes do caso fortuito ou de força maior,
aquiliana, é aquela em que não existe um se expressamente não se houver por eles
contrato entre quem causa e quem sofre o responsabilizado” Note que, conforme visto, a
dano, como no caso de alguém bater no carro responsabilidade civil contratual é subjetiva,
de outrem, tendo que indenizá-lo. mas as partes podem expressamente prever
Responsabilidade civil extracontratual é tema no contrato que o inadimplente responderá
do capítulo responsabilidade civil. mesmo que não tenha cumprido o contrato
Responsabilidade civil contratual é estudada por caso fortuito ou motivo de força maior, ou
aqui em obrigações, pois ocorre diante de seja, sem ter tido culpa, pois caso fortuito ou
mora e inadimplemento. motivo de força maior são situações
inevitáveis, que o inadimplente não podia
O contratante que não cumpre o impedir, como no caso do cantor contratado
contrato será civilmente responsabilizado, para cantar em um casamento que não
mas apenas se isso gerar um dano ao outro cumpre a obrigação por ter sido sequestrado
contratante, pois responsabilidade civil é o na véspera.
dever de indenizar um dano causado.
Conforme o art. 402 do CC, o inadimplente Qual a diferença, então, entre
deverá indenizar não só o dano emergente, responsabilidade civil contratual e
mas também os lucros cessantes, que são os responsabilidade civil extracontratual
dois tipos de dano material. Dano emergente: subjetiva? Em ambos os casos só há
prejuízo efetivamente experimentado; lucro responsabilidade civil diante da existência de
cessante: o que se legitimamente se deixou culpa do devedor, mas na responsabilidade
de ganhar. A eles se acrescenta dano moral. civil contratual, a culpa é presumida. Todavia,
é uma presunção relativa, ou seja, aquela que
Diante de inadimplemento, seja admite prova em contrário, representando,
absoluto ou relativo, quem não cumpre o assim, a inversão do ônus da prova. Na
contrato causando dano ao outro contratante responsabilidade civil contratual, basta ao
deverá indenizá-lo. A questão é: a contratante provar que o outro não cumpriu o
responsabilidade civil contratual é subjetiva contrato. Se este não teve culpa no
(depende de culpa) ou objetiva (independe de inadimplemento, ele que prove. Por outro
culpa)? lado, se é responsabilidade civil
extracontratual subjetiva, a vítima do dano, ao
A responsabilidade civil contratual é cobrar perdas e danos, deverá provar que o
subjetiva, pois só há mora se o não agressor teve culpa ao causar o dano, pois
cumprimento da prestação for culposo. esta não é presumida.
Significa que não há mora e, portanto, não há
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não ter o outro contratante cumprido sua para cantar depois, por exemplo, no
prestação. Já a cláusula penal moratória tem aniversário dele que será na semana
a função de intimidar, pois o contratante seguinte. Sendo cláusula penal moratória,
pagará uma multa se retardar o cumprimento sobrevindo mora, o credor pode exigir o
da prestação. cumprimento da prestação acrescido da
multa, pois, se não pagou a dívida no dia, o
O art. 408 do CC demonstra que a credor a cobrará acrescido da multa com os
cláusula penal é uma prefixação de perdas e demais encargos moratórios.
danos e que a responsabilidade civil
contratual é subjetiva, pois diz que incorre de Para fechar o tema, é preciso saber
pleno direito na cláusula penal o devedor que que o juiz pode reduzir o valor da cláusula
culposamente deixe de cumprir a obrigação penal compensatória em dois casos previsto
ou que se constitua em mora. Significa que, no art. 413 do CC:
em caso de inadimplemento, o outro
contratante pode executar a multa, a) Se o valor é manifestamente excessivo:
independente de provar a extensão do dano O art. 412 do CC estipula um valor máximo da
em ação de conhecimento. E a lei vai mais cláusula penal compensatória ao afirmar que
longe ainda com o art. 416 do CC, prevendo ela não pode exceder o valor da obrigação
que sequer é necessário provar que houve principal. No entanto, mesmo dentro desse
dano, se este foi prefixado no contrato. limite, o juiz poderá reduzi-la a pedido da
parte se manifestamente excessivo segundo
Uma questão pode ser levantada: se o as circunstâncias do caso.
prejuízo do contratante for maior do que o
valor da multa, poderá ele cobrar a diferença? b) Se a prestação tiver sido cumprida em
A princípio não, pois o parágrafo único do art. parte: a função da cláusula penal
416 do CC diz que só poderá cobrar eventual compensatória é compensar o contratante
valor a mais, se esta possibilidade estiver pelo fato do outro não ter cumprido a
expressa no contrato. Se assim for, o valor da prestação. Assim, se este cumpre parte da
multa já é objeto de execução e o valor a prestação, a compensação deve ser apenas
mais deverá ser provado em ação de da parte não cumprida. Exemplo: se o
conhecimento para seguir a execução por contrato de locação diz que o locatário deve
título executivo judicial. Se não houver pagar multa de três meses de aluguel se
permissivo contratual, limita-se a executar a devolver as chaves antes do fim do contrato,
multa. caso ele devolva tendo cumprido metade do
contrato, não deverá arcar com toda a multa,
Há importante diferença na cobrança mas apenas metade dela.
da cláusula penal a depender se
compensatória ou se moratória (arts. 410 e 5.5. Arras
411 do CC): no inadimplemento o credor
cobra cláusula penal compensatória ou o Arras significam sinal, ou seja, é aquilo
cumprimento da prestação enquanto que na que é entregue por um dos contratantes ao
mora o credor cobra cumprimento da outro como princípio de pagamento quando
prestação e cláusula penal moratória. da celebração do contrato para confirmação
do acordo. A vantagem do adiantamento de
No caso da cláusula penal um sinal é confirmar o negócio, pois se
compensatória, havendo inadimplemento, houver desistência, aquele que desistiu
esta se converterá em alternativa a benefício perderá o valor das arras para compensar os
do credor, ou seja, este poderá escolher entre prejuízos. Se quem deu o sinal desistir, não
cobrar do contratante inadimplente a multa ou poderá cobrá-lo de volta; se quem o recebeu
o cumprimento da prestação. No exemplo do desistir, devolverá o valor em dobro (como
cantor contratado para cantar no casamento, recebeu arras, a perda efetiva será no valor
diante do não comparecimento à cerimônia, o das arras)
contratante poderá cobrar a multa ou pedir
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do contrato. Rebus sic stantibus significa poderá pedir a resolução pela onerosidade
“coisa assim ficar”, ou seja, o contratante é excessiva porque não houve extrema
obrigado a cumprir o contrato, mas apenas se vantagem para a outra parte.
a coisa assim ficar.
c) Fato superveniente e imprevisível: A
A inovação do atual CC foi tornar a resolução do contrato só terá lugar se o
cláusula rebus sic stantibus implícita aos desequilíbrio das prestações decorrerem de
contratos, quando passou a prever a teoria da um fato superveniente que as partes não
imprevisão ou da onerosidade excessiva. Se podiam prever quando da celebração do
um contrato for assinado e sobrevier fato contrato.
imprevisível que o desequilibre, tornando-o
excessivamente oneroso para uma das partes Atenção: não confunda teoria da
e com extrema vantagem para a outra, onerosidade excessiva com lesão e estado de
poderá aquela pedir a resolução do contrato perigo. Nesses defeitos do negócio jurídico, o
(art. 478 do CC). O exemplo típico é o ato já nasce viciado, enquanto que na
contrato de leasing de um carro, com valor aplicação da teoria ora em estudo, o contrato
atrelado ao dólar (locação com opção de nasce conforme a lei, mas se vicia por fato
compra ao fim do contrato mediante superveniente. A consequência disso é que
pagamento de valor residual). O dólar vale um na lesão e no estado de perigo o contrato é
real e passa do dia para noite para dois reais, anulado, enquanto que na teoria da
dobrando o valor a ser pago. Poderá ser imprevisão ele é objeto de resolução. Nos
pedida a resolução do contrato com base na citados vícios da vontade, como o ato é
teoria da imprevisão ou da onerosidade invalidado, a sentença anulatória retroage à
excessiva. data da prática do ato, desfazendo todos os
efeitos produzidos, inclusive os anteriores à
São os elementos necessários para anulação. Na resolução do contrato pela
incidência da teoria da imprevisão ou da onerosidade excessiva, a sentença não
onerosidade excessiva: deveria retroagir, só aniquilando os efeitos a
partir da resolução. Todavia, por expressa
a) Contrato de execução continuada ou previsão legal, efeitos anteriores à resolução
diferida: A teoria da imprevisão se aplica a serão desfeitos, pois a lei determina que a
contratos cuja execução se prolongue no sentença retroaja à data da citação, ou seja,
tempo, ou seja, quando a execução é só são preservados os efeitos anteriores à
continuada ou diferida no tempo. Como o citação.
contrato de execução instantânea tem
prestações cumpridas quando da celebração Importante lembrar que o contrato
do contrato, estas não serão atingidas pelo atingido pela teoria da imprevisão ou
fato imprevisível superveniente. onerosidade excessiva pode se manter, sem
ser objeto de resolução, o que ocorrerá se o
b) Prestação excessivamente onerosa para contratante beneficiado concordar com a
uma das partes: É a ideia da teoria, a redução do seu ganho, reequilibrando as
excessiva onerosidade para uma das partes, prestações.
desequilibrando o contrato.
3.3. Princípio da relatividade dos efeitos
c) Extrema vantagem para a outra parte: dos contratos
Para a resolução dos contratos, não basta
este ter ficado muito oneroso para uma das O contrato só produz efeitos em
partes. É preciso que, concomitantemente, relação às partes. É por isso que dizemos que
tenha havido extrema vantagem para a outra o direito contratual é inter parte (entre as
parte. Assim sendo, se o contratante perde partes), diferente dos direitos reais, que são
seu emprego e consegue outro recebendo direitos oponíveis erga omnes (contra todos).
metade do salário anterior, o contrato fica Significa que o contratante só pode opor seu
excessivamente oneroso para ele, mas não direito contratual ao outro contratante e não a
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pessoas estranhas à relação contratual, pois respeitem não só regras formais de validade
só as partes podem ter direitos e deveres jurídica, mas, sobretudo, normas superiores
frutos do contrato que celebraram. de cunho moral e social.
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dano, seja sua própria existência, seja a sua contrato em vigor, o atleta quebre a confiança
extensão. Você lembra o que vimos a respeito e resolva permanecer no clube que está ou
do tema? contratar com outro. Para responsabilizá-lo
civilmente, deverá provar que o atleta não
Lembrando: tanto a responsabilidade contratou culposamente, mas, se assinar um
civil extracontratual (em regra) como a pré-contrato, bastará comprovar o
contratual são subjetivas, mas esta tem culpa inadimplemento, sem sequer precisar provar
presumida. Assim, se o caso é de o dano e a sua extensão.
responsabilidade contratual, basta ao
contratante prejudicado provar o 5.3. A proposta
inadimplemento, sem precisar provar que o
outro teve culpa no descumprimento do O contrato se forma quando a uma
contrato (este poderá elidir sua proposta se seguir uma aceitação. É raro uma
responsabilidade provando não ter tido culpa, pessoa fazer uma proposta e a outra
pois a presunção de culpa é relativa, simplesmente a aceitar, pois é normal se
admitindo prova em contrário, o que sucederem sucessivas contrapropostas até
representa inversão do ônus da prova). Por culminar em uma aceitação final. Essa fase
outro lado, se é caso de responsabilidade civil de sucessivas contrapropostas a partir de
extracontratual subjetiva, a vítima do dano, ao uma proposta é chamada de fase de
cobrar perdas e danos, deverá provar que o policitação ou fase de oblação. Isso dá nome
agressor teve culpa em causá-lo. Assim aos atores envolvidos: quem faz a proposta é
sendo, a responsabilidade civil contratual é chamado de proponente ou de policitante e
mais vantajosa para quem sofre o dano, pois quem a aceita é chamado de aceitante ou de
não precisará provar o difícil elemento oblato.
subjetivo da culpa. Além disso, como há um
contrato, podemos pré-fixar as perdas e Na fase de policitação, não deixa de
danos em uma cláusula penal, dispensando a haver uma negociação entre as partes, o que
parte prejudicada de provar não só o dano, já acontece na fase de puntuação. Ora, qual a
mas, sobretudo, a sua extensão. diferença entre a fase de puntuação e a fase
de policitação na formação dos contratos? É a
No supramencionado exemplo da existência de uma proposta. A fase de
compra dos tomates, o fabricante, por ser puntuação é a fase de negociações
fase anterior à proposta, tem preliminares, ou seja, anterior à proposta. Já
responsabilidade civil extracontratual, a fase de policitação se dá após a proposta,
somente sendo responsabilizado civilmente sucedendo-se sucessivas contrapropostas. A
se os agricultores provarem a justa pergunta se mantém: como saber se uma
expectativa de contratação e a recusa sem conversa entre as partes já configura uma
qualquer justificativa, mas também a sua proposta ou apenas negociações
culpa na não celebração do contrato. No preliminares, que até pode resultar em uma
entanto, se na fase de negociações minuta, se reduzido a termo? É a seriedade
preliminares, as partes reduzirem as bases do da proposta. Significa que a proposta é pronta
contrato a escrito em um pré-contrato, e acabada, abordando todos os elementos do
bastarão provar que o fabricante assinou um contrato, pois basta um sim para a formação
pré-contrato e que houve inadimplemento, do contrato. Se isso já existe, é fase de
além de sequer precisar provar o dano e a policitação; se ainda não existe, sendo
sua extensão, pois poderão executar direto a conversados apenas alguns pontos do
cláusula penal. contrato, a fase é de puntuação.
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a contrair gastos e até a recusar outras (iv) se feita uma proposta entre ausentes e
propostas. Feita a proposta, o proponente a antes dela ou simultaneamente chegar ao
ela se obriga, ou seja, se houver aceitação, conhecimento da outra parte a sua retratação.
não poderá alegar desistência ou
arrependimento, podendo o aceitante pedir A proposta fixa o local de formação do
em juízo a execução forçada do contrato ou contrato (art. 435 do CC). A importância em
indenização por perdas e danos. Já é saber o local de sua formação é determinar
responsabilidade civil contratual, pois com a qual lei será aplicada ao contrato.
aceitação o contrato se formou, passando a
existir no mundo jurídico. A proposta só 5.4. A aceitação
obriga o proponente e a aceitação passa a
obrigar ambas as partes. Se a proposta obriga apenas o
proponente, a aceitação vincula também o
A questão é: a proposta sempre obriga aceitante, pois ela faz o contrato se formar,
o proponente? Não, pois nos termos do art. passando a existir no mundo jurídico, estando
427 do CC a proposta não obriga o ambas as partes obrigadas ao seu
proponente em três casos: cumprimento nos termos da responsabilidade
civil contratual.
a) Se isso resultar dos termos da
proposta: se no próprio corpo da proposta A aceitação pode ser expressa ou
vier expressa a não obrigatoriedade, não cria tácita. Expressa é a aceitação inequívoca,
justa expectativa de contratação na outra podendo ser escrita, verbal ou até gestual (ex.
parte. leilão). Tácita é a aceitação presumida pela
prática de um ato incompatível com a não
b) A depender da natureza do negócio: há aceitação. Exemplo: doação de vaso não
certos negócios jurídicos que, por sua aceita de forma expressa, mas o donatário
natureza, não obrigam o proponente, como manda buscá-lo na casa do doador e o coloca
proposta de venda de produto com exposto em sua sala. É por isso que o art.
quantidade limitada em estoque, a partir do 111 do CC prevê que o silêncio, embora não
fim do estoque. seja a regra, até pode valer como aceitação,
mas apenas quando as circunstâncias
c) A depender de determinadas indicarem que a pessoa aceitou tacitamente
circunstâncias: existem certas e, evidente, a lei não exija aceitação
circunstâncias que fazem com que a proposta expressa.
deixe de ser obrigatória, estando elas
elencadas no art. 428 do CC - a primeira Conforme visto, a proposta obriga o
delas para contrato entre presentes e as três proponente. No entanto, essa
restantes para contrato entre ausentes, a obrigatoriedade não é eterna, mas sim pelo
saber: prazo dado. Se houver aceitação fora do
prazo ou até mesmo com modificações, o
(i) se feita proposta sem prazo à pessoa proponente não é obrigado a concordar, mas
presente e esta não foi imediatamente aceita; se quiser poderá aceitá-la. Por isso, dizemos
que a aceitação fora do prazo ou com
(ii) se feita proposta sem prazo a pessoa modificações tem natureza de nova proposta.
ausente e tiver decorrido tempo suficiente
para chegar a resposta ao conhecimento do O contrato se forma quando a uma
proponente; proposta se seguir uma aceitação. Se o
contrato é entre presentes, fácil será
(iii) se feita proposta com prazo à pessoa determinar o momento, pois proposta e
ausente e esta não expedir a resposta no aceitação se dão em tempo real. E se o
prazo; contrato for entre ausentes, quando se dá sua
formação? Em regra, quando a aceitação é
expedida, pois é quando o aceitante perde o
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observações comuns a ambos os institutos, não poderia ter sido facilmente detectado
pois são questões muito recorrentes em prova pelos órgãos dos sentidos, pois se o vício era
e que merecem sua especial atenção: aparente, presume-se que o adquirente o
admitiu, pois dele ciente.
a) O alienante responde por eles mesmo que
não haja previsão expressa em contrato, pois Note que o vício redibitório é um
são garantias implícitas, que decorrem de lei defeito material que pode tornar o bem
e não da vontade das partes. impróprio para o seu uso ou que pode apenas
lhe diminuir o valor. Portanto, haverá vício
b) O alienante responde por eles apenas redibitório tanto no defeito oculto em um
diante de alienações onerosas. Atenção: a motor de um carro que o faz não mais
doação é uma alienação gratuita, mas o funcionar, como também no defeito oculto de
alienante responderá por eles quando a uma máquina que produz determinado
doação for com encargo, o que a lei chama produto, diminuindo a sua produção, embora
de doação onerosa. ela ainda funcione. Assim sendo, o adquirente
pode reclamar do vício redibitório em juízo
c) O alienante responde por eles mesmo que optando por uma de duas ações judiciais:
a aquisição do bem tenha se dado em hasta
pública, ou seja, através da venda pública de a) Ação Redibitória: ação judicial em que se
bem penhorado em processo de execução. pede para redibir o contrato, ou seja, desfazer
o negócio jurídico. Trata-se de anulação e
7.1. Vícios Redibitórios não de declaração de nulidade, pois a lei
impõe prazo para reclamá-lo, sob pena de
Aqui a responsabilidade é diante da convalescimento.
existência de defeitos materiais, ou seja, o
bem está quebrado. Importante você não b) Ação Quanti Minoris ou Ação
confundir a disciplina civil dos vícios Estimatória: ação judicial em que se pede
redibitórios com a disciplina consumerista. abatimento do preço, ou seja, o adquirente
Sendo o CDC uma lei especial em relação ao quer permanecer com o bem, mas quer
CC, só aplicamos suas regras quando devolução do valor da desvalorização em
inaplicáveis as regras do CDC. Quando, razão do defeito oculto ou, se ainda não
então, aplicamos as regras dos vícios pagou, descontá-lo quando do pagamento.
redibitórios previstas no CC? Quando não Nessa ação se apura o valor a ser abatido do
houver relação de consumo, o que ocorre em preço, o que justifica o seu nomem iuris:
dois casos: (i) quando o alienante não é “estimar” “quanto menos” vale o bem.
fornecedor, como ocorre na venda ocasional
de um bem usado, pois ser fornecedor exige Detalhe importante para a prova da
habitualidade da negociação; e (ii) quando o OAB: o alienante responde por vícios
adquirente não for consumidor, como ocorre redibitórios estando ele de má-fé ou até
no caso de alguém adquirir um bem para mesmo de boa-fé, ou seja, sabendo ou não
renegociação, pois o CDC afirma que só é do defeito oculto. A diferença é que apenas
consumidor quem adquire um bem como diante da má-fé será obrigado a indenizar
destinatário final. Aqui nos concentraremos na perdas e danos. Nos termos do art. 443 do
disciplina civil do tema, deixando as regras da CC, se o alienante agiu de boa-fé, apenas
relação de consumo para um estudo ressarcirá o adquirente dos gastos que teve
específico do tema. com o negócio em si, ou seja, devolução do
valor recebido e ressarcimento das despesas
Por definição, vícios redibitórios são do contrato. Se o alienante procedeu de má-
defeitos ocultos que tornam o bem impróprio fé, não só devolverá o valor recebido, mas
para o uso a que se destina ou que lhe também indenizará o adquirente de todas as
diminuem o valor. Note que na disciplina civil, perdas e danos decorrentes do vício
diferente da relação de consumo, o alienante redibitório.
só responde por defeitos ocultos, ou seja, que
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Qual o prazo que tem o adquirente policial da coisa em razão de furto ou roubo
para reclamar vício redibitório em juízo? anterior à alienação, podendo o caso ser
Depende do bem adquirido: trinta dias para resolvido no próprio âmbito da delegacia.
bem móvel e um ano para bem imóvel. A Exemplo: ladrão que vende carro roubado,
princípio, o prazo se inicia quando da entrega sendo o evicto parado em uma blitz e o carro
efetiva do bem e não quando da alienação, levado à delegacia e devolvido ao seu real
pois só com o seu uso é que ele consegue dono.
perceber o defeito oculto. No entanto, se o
adquirente já tinha a posse do bem, o prazo Informação importante para a sua
se iniciará quando da prática do ato, pois é prova da OAB: Nos termos do art. 448 do
quando adquire legitimidade para reclamação CC, as partes podem por cláusula expressa
em juízo, mas os prazos serão reduzidos à reforçar, diminuir ou até excluir a
metade, por já ter tido contato com o bem. responsabilidade do alienante pela evicção.
Além disso, se for um defeito oculto que por Cuidado, pois a exclusão só valerá se o evicto
sua natureza seja de difícil percepção, o foi informado do risco da evicção e o tenha
prazo só se inicia quando o adquirente dele assumido (art. 449 do CC).
tiver ciência. Todavia, a lei confere um prazo
máximo para ciência do defeito a se somar ao Ao perder o bem, o evicto poderá
prazo de reclamação: cento e oitenta dias cobrar indenização do alienante. A regra é o
para bem móvel e um ano para bem imóvel. ressarcimento da integralidade do dano do
Por fim, não se esqueça que eventual prazo evicto, o que lhe permite cobrar do alienante
de garantia convencional oferecida pelo não só a devolução do que pagou pelo bem,
alienante não substitui o prazo de garantia como também as perdas e danos em razão
legal, mas sim a ele se soma, pois, se houver da evicção, os frutos que eventualmente
garantia convencional, o prazo de garantia tenha sido obrigado a restituir ao evictor e o
legal só se inicia quando este for encerrado. que gastou com custas judiciais e honorários
advocatícios (art. 450 do CC).
7.2. Evicção
Ainda dentro da regra da indenização
Evicção é a perda ou desapossamento da integralidade do dano, o alienante
judicial, ou excepcionalmente administrativo, responderá perante o evicto por eventual
de um bem, em razão de um defeito jurídico valorização do bem entre a época da
anterior à alienação. Quem alienou o bem não alienação e da evicção. Se o bem se
poderia tê-lo feito, e o adquirente o perdeu, desvalorizou, o evicto cobrará do alienante o
tendo ação de indenização contra o alienante. preço que lhe pagou, mas se houver
O adquirente que perde o bem é o evicto, e o valorização, cobrará o valor do bem da época
terceiro que dele o toma é o evictor. em que se evenceu, ou seja, da época em
que perdeu o bem pela evicção.
Exemplo: estelionatário invade terreno
e, falsificando a escritura pública, vende-o. O Mais uma vez, ainda dentro da regra
verdadeiro dono ajuíza ação reivindicatória da indenização da integralidade do dano,
reclamando seu terreno. Ao se constatar a ainda que o bem esteja deteriorado, o evicto
falsidade da escritura pública, o comprador poderá cobrar do alienante o valor total do
perderá judicialmente o imóvel, o que bem, a menos que tenha sido causado
chamamos de evicção, tendo apenas direito dolosamente por ele, quando só poderá
indenizatório contra o alienante. cobrar do alienante o valor que passou a valer
o bem. Note que, se a título de culpa em
Note que a evicção pode se dar sentido estrito a deterioração, ainda assim o
excepcionalmente através de uma perda evicto cobrará do alienante o valor integral do
administrativa do bem, pois, em alguns casos, bem.
a jurisprudência do STJ tem admitido a
evicção independente de decisão judicial. Conforme será visto no estudo da
Destaque para o caso em que há apreensão posse no capítulo de direitos reais deste livro,
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superior a trinta salários mínimos deve ser por Há vantagem da cláusula resolutória
escritura pública, o distrato assim também expressa em relação à implícita, o que
deve ser. justifica sua inserção inclusive no contrato
bilateral. Vindo expressa no contrato, haverá
8.2. Resolução do contrato extinção automática do contrato em caso de
inadimplemento, enquanto que, se implícita,
Resolução do contrato é a sua depende de interpelação judicial (art. 474 do
extinção em razão do inadimplemento ou da CC). Além disso, vindo expressa no contrato,
mora da outra parte. Aqui o contrato não já se insere cláusula penal prefixando o valor
termina apenas em razão da vontade das da indenização por perdas e danos.
partes, pois há uma causa que autoriza uma
delas a pedir sua extinção: o não 8.2.1. Exceção de contrato não cumprido
cumprimento do contrato. (exceptio non adimplenti contractus)
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ao estado em que se encontravam antes de A resolução com culpa não pode ser
sua celebração, sem direito de indenização bilateral, apenas podendo ser unilateral. Se
da parte prejudicada. ambas as partes tiverem culpa no
inadimplemento, a culpa será daquele que
Cuidado: há dois casos em que primeiro tinha a obrigação de cumprir sua
haverá resolução sem culpa do contratante prestação. A razão disso é o princípio da
inadimplente, por decorrer de caso fortuito ou exceção de contrato não cumprido, pois, se
motivo de força maior, mas que haverá dever houver prestações simultâneas e um dos
indenizar o outro contratante em perdas e contratantes não cumpre sua prestação, o
danos, o que já foi visto neste livro, em outro está legitimado a não cumprir a sua
obrigações, para onde remetemos sua leitura: prestação.
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