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DIREITO PENAL 
 

CRIMINOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

SUMÁRIO  

1. ​Conceito 3 
1.1 Decomposição analítica: 4 

2. Objetos da Criminologia 5 
2.2 A Vítima 8 
2.3 O controle social 9 

3. Funções da Criminologia 9 
3.1 Relação entre Criminologia, Direito Penal e Política Criminal 10 

4. Escolas da Criminologia 11 


4.1 Escola Clássica 11 
4.2 Escola Positiva 12 
4.3 Escola Sociológica 14 

5. Teorias sociológicas do crime 15 

6. Criminologia Crítica 16 


6.1 Labelling Approach (Teoria do Etiquetamento) 17 
6.2 Criminologia Radical 19 

7. Prevenção da infração penal 20 


7.1 Programas de prevenção ao delito: 21 

8. Reação ao crime 22 


8.1 Modelos de reação ao crime 22 

9. Criminologia ambiental 23 


9.1 Teorias relacionadas à Criminologia Ambiental: 24 

10. Questões comentadas 24 


 
 
 
 
 
 

CRIMINOLOGIA 

1. Conceito 

Ciência  baseada  no  uso  dos  métodos  empírico  e  interdisciplinar, 


que  tem  por  objeto  o  estudo  do  delito,  do  delinquente,  da  vítima  e  do 
controle  social,  com  a  finalidade  de  explicar  e  prevenir  o  crime, intervir 
na  pessoa  do  infrator  e  avaliar  os  diferentes  modelos  de  resposta  ao 
crime.  
 

 
1.1 Decomposição analítica: 

Ciência  autônoma​:  a criminologia não se trata de mera disciplina, 


mas  ciência  autônoma,  com  objeto  de  conhecimento  e  métodos 
próprios.  O  termo  ​ciência  é  compreendido  aqui  como  conjunto 
de  conhecimentos  sobre  determinado  objeto,  fundado  em 
determinados princípios. 
 
Empírica:  ​baseia-se  na  análise  e  observação  ​para  reunir 
informações  sobre  o  fenômeno  criminal  em  todas  as  suas 
dimensões.  Ao  contrário  do  Direito  Penal,  que se vale do método 
dedutivo  (parte-se  da  regra  geral  para  o  caso  específico),  a 
Criminologia  emprega  o  método  ​indutivo  ​(observa-se  o  caso 
particular  para  compreender  suas  consequências).  O  método 
empírico se generalizou com a Escola Positiva da Criminologia. 
 
 
Não  confundir  método  ​empírico  com  método  ​experimental​.  O 
método  experimental  é  empírico,  mas  nem  todo  método 
empírico  é  experimental  (reproduzível  em  ambiente  artificial; 
uso de simulações) 
 
Interdisciplinar:  ​a  Criminologia  é  entendida  como  uma  ​instância 
superior  às  outras  ciências  e  disciplinas  que  se  ocupam do crime 
como  fenômeno  individual  e  coletivo  (biologia,  psicologia, 
sociologia,  etc.),  pois  integra  e  coordena  os  conhecimentos 
setoriais  obtidos  por  elas,  com  a  finalidade  de  alcançar  um 
diagnóstico totalizador. 

2. Objetos da Criminologia 

● O  objeto  de  estudo  da  Criminologia  se  transformou  bastante  ao 


longo  de  sua  evolução,  pois  inicialmente  se  centrava 
exclusivamente  no  crime  (Escola  Clássica)  e  depois  no 
delinquente  (Escola  Positiva).  Da  metade  do  século XX em diante 
houve  uma  ​ampliação  do  objeto​,  com  o  acréscimo  da  ​vítima  e 
do ​controle social​. 
 
● A  problematização  do  objeto  da  criminologia  representou  uma 
mudança  de  paradigma​,  uma  verdadeira  ​crise  no  modelo  de 
ciência  ​vigente  até então. Enquanto estudava apenas o delito e o 
delinquente,  a  Criminologia  tradicional  não  questionava  o 
processo  de  produção  normativa  ou  os  instrumentos  de  controle 
social (função legitimadora). 

 
 

 
DELITO​:  é  visto  em  uma  concepção  mais  ampla  que  a  do  Direito 
Penal,  não  se  limitando  à  conduta  prevista  em  lei  como  crime 
(fato  típico,  ilícito  e  culpável),  mas  sim  ao  descumprimento  das 
regras  de  convívio  social  em  todos  os  seus  âmbitos.  A  moderna 
Criminologia,  notadamente  nas  vertentes  de  cunho  sociológico, 
​ u ​desvio​, que é a 
trabalha  com  o  conceito  de  ​conduta  desviada  o
conduta  que  infringe  o  padrão  de  comportamento  esperado  da 
sociedade. A infração é tratada como um problema social. 
 
DELINQUENTE​:  foi  o  objeto  principal  de  estudo  da  Escola 
Positiva,  mas  passou  a  um  segundo  plano  na  Criminologia 
moderna, embora não abandonado. A ​psicologia criminal​, por ex., 
ainda  fornece  importantes  informações  acerca  da  ​personalidade 
do  delinquente  e  sua  influência  para  a  ocorrência  do  desvio.  O 
delinquente  ou  infrator  é  visto  hoje  como  unidade 
biopsicossocial,  alguém  inserido  em  um  contexto  social,  e  não 
sob o aspecto puramente patológico.  
 
VÍTIMA:  a  vítima  teve  papel  de  destaque  durante  a  época  da 
justiça  privada,  mas  perdeu  protagonismo  quando  o  Estado 
assumiu  a  responsabilidade  pela  resolução  dos  conflitos.  A 
Criminologia  moderna  volta  a  colocá-la  em  posição  de  destaque, 
principalmente  a  partir  da  segunda  metade  do  século  XX, 
gerando  o  surgimento  de  uma  nova  disciplina,  a  ​Vitimologia​.  O 
resgate  do  papel  da  vítima  no  Direito  Penal  Brasileiro  é 
evidenciado  em  diplomas  normativo  como  a  Lei  nº  9.099/95  e  a 
Lei Maria da Penha. 

2.2 A Vítima 

Fases que refletem o ​status​ da vítima do delito ao longo da história 


(Luiz Flávio Gomes e Pablos de Molina)​:

 
 
Modalidades de vitimização (“processo que leva uma pessoa a se 
vitimar ou a se tornar vítima”) 

Vitimização  primária:  ​prejuízo  causado  em  decorrência  direta  da 


prática  da  infração.  Ex:  o  dano  físico,  no  crime  de  lesões  corporais;  a 
perda  patrimonial,  no crime de furto; os danos físicos e psicológicos, no 
crime de estupro. 

Vitimização  secundária:  ​também  conhecida  como  ​sobrevitimização,​  


consiste  no  sofrimento  ocasionado  pela  atuação  dos  órgãos  que 
compõe  o  Sistema  de  Justiça  Criminal,  em decorrência do processo de 
apuração  e  punição  da  infração  (Polícia,  Ministério  Público,  Judiciário  e 
Administração Penitenciária). 

Vitimização  terciária:  ​ocasionado  pelo  meio  social,  normalmente  em 


decorrência  da  estigmatização  trazida  pelo  tipo  de  crime.  Ex:  crimes 
contra  a  dignidade  sexual,  nos  quais  é  normal  que  a  vítima,  além  do 
sofrimento  direto  causado pelo crime, sofra preconceito no meio social, 
muitas  vezes  com  atribuição  de  responsabilidade  pela  ocorrência  do 
fato. 

Cifras  negras​:  termo  muito  empregado  nos  estudos  de  Criminologia, 


refere-se  ao  quantitativo  de  crime  que  deixa  de  chegar  ao 
conhecimento  do  Sistema  de  Justiça  Criminal,  pelos  mais  variados 
motivos.  São  mais  elevadas  nas  infrações  menores  e  diminuem  à 
medida que aumenta a gravidade do crime. 

 
2.3 O controle social 

 
CONTROLE  SOCIAL​:  é  exercido  por  diversas  instâncias,  formais  e 
informais,  e  age  no  indivíduo  desde  a  infância  (família,  escola,  igreja, 
Sistema  de  Justiça  Criminal,  etc.).  Tem  por  objetivo  transformar  o 
padrão  de  comportamento  do  indivíduo,  adequando-o  ao 
comportamento  social  dominante.  O  controle  social  ​formal  é  exercido 
pelo  Sistema  de  Justiça  Criminal,  composto  por  Polícia,  Ministério 
Público,  Judiciário  e  Sistema  Penitenciário.  O controle social ​informal ​é 
exercido pela família, igreja, amigos, etc. 
 

3. Funções da Criminologia 
A  criminologia  tem  por  função  primordial  reunir  informações  válidas  e 
confiáveis  sobre  o  crime,  o  delinquente,  a  vítima  e  o  controle  social,  a 
fim  de  explicar  e  prevenir  o  crime,  intervir  na  pessoa  do  infrator  e 
avaliar os diferentes modelos de resposta ao crime. 

 
3.1 ​RELAÇÃO ENTRE CRIMINOLOGIA, DIREITO PENAL E POLÍTICA CRIMINAL 

 
A  Criminologia​,  o  Direito  Penal  ​e  a  Política  Criminal  ocupam-se 
do  estudo  do  delito,  mas  com  enfoques,  métodos  e  objetivos diversos. 
São considerados os três pilares do sistema das ciências criminais. 
 
A  Criminologia  ​é  ciência  empírica  (​ser),​   que  se  vale  do  método 
indutivo  para  a  percepção  do  fenômeno  delitivo  em  todas  as  suas 
nuances. 
 
O  Direito  Penal  ​é  ciência  normativa  (​dever-ser),  ​que  se  vale  do 
método lógico, abstrato e dedutivo. 
 
A  Política  Criminal  é  a  disciplina  que  oferece  aos  Poderes 
Públicos  as  opções  concretas  e  mais  adequadas  para  o eficaz controle 
do crime – serve de “ponte” entre o Direito Penal e a Criminologia. 
 
 
A  criminologia,  a  Política  Criminal  e  o  Direito  Penal  representam 
três momentos inseparáveis da resposta social ao problema do crime: o 
momento  explicativo-empírico  (Criminologia),  o  decisório  (Política 
Criminal) e o instrumental (Direito Penal).  
 
 

4. ​ESCOLAS DA CRIMINOLOGIA 

4.1 ESCOLA CLÁSSICA  

Situa-se  na  chamada  fase  ​pré-científica  da  Criminologia,  pois 


vale-se do método abstrato, dedutivo e formal. 
 
É  fruto  dos  ideais  do  Iluminismo  (liberalismo,  racionalismo, 
humanismo). 

Tem  por  objeto  de  estudo  o  ​delito​,  visto  como  fato  individual, 
isolado,  mera  infração  à  lei.  A  aplicação  da  pena  surge  como 
consequência  lógica  do  descumprimento  ao  ordenamento 
jurídico. 
 
Tem  como  traço  marcante  a  ideia  de  ​livre  arbítrio.  O  homem  é 
visto como um ser racional e livre, e a teoria do pacto social é tida 
como fundamento da sociedade e do poder. 
 
Não  pesquisa  os  motivos  que  levam  à  criminalidade,  não  se 
preocupando com a etiologia do fenômeno criminoso. 
 
Incapaz  de  fornecer  aos  poderes  públicos  as  informações 
necessárias  para  um  programa  político-criminal  de  prevenção  e 
luta contra o crime. 
 
Tem  por  expoentes  nomes  como  Cesare Beccaria (“Dos delitos e 
das penas”), Carrara, Romagnosci, etc.  

4.2 ​ESCOLA POSITIVA 

Surgida  por volta da década de setenta do século XIX, traz para o 
estudo  da  criminologia  a  metodologia  de  trabalho  das  ciências 
naturais,  baseado  no  saber  empírico-indutivo,  fundado  na 
observação  e  análise  dos  fenômenos  naturais.  Por  esta  razão, 
afirma-se que ela inaugura a fase ​científica​ da criminologia 
 
A  criminologia  é  vista  como  ciência  causal-explicativa  da 
criminalidade (paradigma etiológico). 
 
Tem  por  objeto  principal  de  estudo  o  ​delinquente​,  que  age  em 
função das regras do determinismo biológico. Nega-se o conceito 
de  livre  arbítrio.  O  criminoso é considerado diferente dos demais, 
um  anormal,  dotado  de  caraterísticas  que  o  predispõe  à  prática 
do crime e que o tornam insusceptível de adaptação à vida social. 
 
A  criminalidade  é  vista  como  realidade natural, pré-constituída ao 
Direito Penal, que se restringiria a reconhecê-la e positivá-la. 
 
A  função  do  Direito  Penal  seria  intervir  sobre  o  delinquente,  de 
forma a recuperá-lo e possibilitar o seu retorno à sociedade. 
 
Seus  principais  expoentes  foram  ​Cesare  Lombroso  (fatores 
antropológicos),  ​Raffaele  Garófalo  ​(fatores  psicológicos)  e 
Enrique Ferri​ (fatores sociológicos). 
 
Parte do pressuposto que as normas de criminalização são fruto 
de  consenso  social  e  refletem  o  interesse  geral. Não se discute 
as  definições  legais  e  identifica  o  modelo  de  criminoso  com 
aquele  recolhido  no  sistema  prisional.  Por  tais  razões,  exerce 
função legitimadora​ do Sistema Penal vigente. 

4.3 ​ESCOLA SOCIOLÓGICA 

As  teorias  sociológicas  da  criminalidade  não  buscam  identificar  as 


causas  do  crime  no  próprio  homem  delinquente,  mas  sim  no  meio 
social no qual ele se insere. 
Veem  o  delito  como  um  ​fato  social  (nem  individual  nem 
patológico).  O  objeto  de  estudo  é  deslocado  para  as  instâncias 
de controle social. 
O  crime  é  abordado  como  fenômeno  social,  coletivo,  cujas 
causas  residem  em  fatores  diversos  (fatores  econômicos, 
mecanismos  de  aprendizagem,  desigualdade  de  oportunidades, 
etc.). 
 
A  sociologia  criminal  ganhou  bastante  impulso a partir da década 
de  vinte  do  século  XX,  nos  Estados  Unidos,  com  os  estudos  da 
chamada Escola de Chicago. 
 
Manutenção do enfoque etiológico (estudo das causas). 
 
Escola  de  Chicago​:  conjunto  de  estudos  elaborados  no  âmbito 
do  Departamento  de  Sociologia  da  Universidade  de  Chicago,  a 
partir  do  final  do  século  XIX,  que  tiveram  participação  marcante 
no  desenvolvimento  da  criminologia  sociológica.  Estes  estudos 
destacaram-se  pela  promoção  do  método  científico  (ênfase  na 
teoria,  na  observação  e  na  objetividade)  no  estudo  do 
comportamento  humano  e  social,  que  antes  tinha  enfoque 
especulativo.  Se  ocupou  de  vários  assuntos  de  relevância 
sociológica,  mas  destacou-se  pelos  estudos  de  ​ecologia 
criminologia ​(ou​ criminologia ambiental​). 
 
5. ​TEORIAS SOCIOLÓGICAS DO CRIME 

Teorias  ecológicas  ou  ambientalistas:​   ​têm  por  objeto  a  análise 


da  criminalidade  urbana  e  sua  distribuição  espacial.  Analisa  as 
condições  de  vida dos habitantes dos centros urbanos e como as 
condições  locais  favoreciam  fenômenos  de  desvio  e 
desorganização social. 
 
Teoria  da  anomia​:  desenvolvida  por  ​Robert  Merton​, influenciado 
por  Durkeim,  as  causas  das  condutas  desviadas  estão 
relacionadas  ao  estado  de  ​anomia​,  fruto  de  um  processo  de 
desintegração  social  derivado  do  abandono  das  regras,  em geral 
ocasionado  pela  falta  de  valores  e  princípios.  Em  essência, 
pretende  descobrir  as  razões  pelas  quais,  em  alguns  casos,  nas 
normas  não  são  eficazes  para  orientar  o  comportamento  das 
pessoas. 
 
Teoria  da  associação  diferencial:​   criada  por  ​Sutherland,  ​parte 
da  premissa  de  que  o  delito  é  uma  conduta  que,  como  qualquer 
outra,  se  aprende,  e  esse  aprendizado  ocorre  mediante 
processos  de  interação  social  e  comunicação  entre  as  pessoas, 
em  especial  dentro  dos  grupos  a  que  ela  pertence.  A  teoria 
buscava  explicar  não  apenas  os  delitos  “comuns”,  mas  também 
os chamados “crimes de colarinho branco”.  
 
Teorias  das  subculturas  criminais:​   trata-se  de  um  conjunto  de 
teorias,  que  afirmam  não  ser  possível  se  falar  em  um  sistema 
único  de  valores,  pois  existem  grupos  de  pessoas  com  valores 
próprios,  não  compartilhados  pelo  restante  da  sociedade.  Ou 
seja,  as  condutas  ​desviantes  não  representam,  necessariamente, 
uma  contrariedade  a  valores  e  interesses  gerais.  A  teoria  foi 
consagrada na literatura criminológica pela obra de ​Albert Cohen​, 
denominada ​Delinquent Boys. 
 

6. ​CRIMINOLOGIA CRÍTICA/RADICAL/NOVA CRIMINOLOGIA 

 
Não  se  trata  de  uma  escola  própria,  mas  uma  vertente  da  criminologia 
sociológica,  com enfoque nas instâncias de controle social, que surge a 
partir dos anos setenta, nos EUA. 
 
Partem  dos  seguintes  pressupostos:  a)  crítica  à  criminologia 
tradicional,  considerada  conservadora  e  legitimadora  de  um 
sistema  punitivo  muitas  vezes  injusto;  b)  os  delinquentes não são 
pessoas  que  diferem,  na  essência, das pessoas que respeitam as 
leis;  c)  a  essência  do  delito  está  nos  conflitos  sociais,  políticos  e 
econômicos  e  nas  normas  legais  que  definem  a  delinquência;  d) 
chamam  a  atenção  para  as  distorções  no  processo  de  tipificação 
das leis penais e na persecução criminal (seletividade). 
 
 
 

6.1 ​LABELLING APPROACH (TEORIA DO ETIQUETAMENTO)  

Representa  um  giro  metodológico  radical,  pois  rompe  com  o 


paradigma  etiológico  ​(estudo  das  causas  do  comportamento 
desviante), prevalente no estudo da criminologia desde então. 
 
Desloca  o  objeto  de  investigação  para  as  agências  e  instâncias 
de  controle  social  e  as  consequentes reações a comportamentos 
em desconformidade com as regras impostas por elas. 
 
Tese  central​:  o  desvio  não  é  uma  qualidade  própria  da  conduta 
em  desconformidade  com  as  normas,  mas  sim  uma  “etiqueta” 
(rótulo)  atribuída  a  tais  comportamentos  pelas  agências  e 
instâncias  de  controle  social,  cujas  reações  apresentam,  assim, 
um caráter “constitutivo” do delito. 
 
O  ​labelling  approach  ​expande  o  campo  de  estudo  da 
criminologia  tradicional,  ao  destacar  a  importância  dos  seguintes 
aspectos:  a)  a  atividade  de  produção  das  normas  sociais,  vista 
como  problemática;  b)  os  mecanismos  de  aplicação  de  tais 
normas  a  determinadas  pessoas,  muitas  vezes  de  natureza 
seletiva;  c)  o  impacto  provocado  pela  atribuição  do  ​status  de 
desviante (criminoso) na identidade do “escolhido”. 
 
Apesar  do  nome  usualmente  empregado,  não  pretende  ser  uma 
nova  teoria,  mas  apenas  trazer  para  o  estudo  da  criminologia 
novas  variáveis.  Tem  como  alguns  de  seus  expoentes  ​Howard 
Becker ​e ​Edwin Lemert​. 

Desvio  secundário  e  carreira  criminal​:  apontado  em  estudos 


criminológicos com enfoque no ​labelling approach como possível 
consequência  da  atribuição  do  “rótulo”  de  desviante  a  alguém, 
que  passa  a  se  comportar  conforme  essa  nova  identidade 
(“profecia  que  se  cumpre  por  si  mesma”).  Guarda  relação  com  o 
conceito de ​estigmatização criminal.  

6.2 ​CRIMINOLOGIA RADICAL 

Influenciada  pelos  estudos  de  Marx  e  Engels,  abrange  um 


conjunto  de  enfoques  que  têm  as  seguintes  características 
comuns: 
 
a) visão  conflitual  da  sociedade  e  do  Direito,  que  vêm  sendo 
marcados  pela  prevalência  dos  interesses  e  valores  de 
determinados  grupos  (classes  sociais  mais  altas,  por ex., cujos 
crimes  costumam  ficar  impunes).  O  delinquente  é  visto  muitas 
vezes  como  alguém  que  busca  o  caminho  do  delito  em  razão 
da opressão e limitação de oportunidades. 
 
b) Atitude  crítica  diante  da  criminologia  tradicional,  a  quem  se 
imputa  a  ocultação  de  graves  desigualdades  sociais  mediante 
o  estudo  meramente  etiológico  do  delito  (estudo  das  causas), 
desviando a atenção dos problemas mais relevantes. 
 
c) Visão do ​capitalismo como base do problema da delinquência, 
pois  tolera  desigualdades  e  promove  o  delito  pela  exploração 
das classes menos favorecidas. 
 
d) Proposta  de  reformas  profundas  nas  estruturas  da  sociedade, 
pois  a  redução  das  desigualdades  levará  a  diminuição  dos 
delitos. 
 
 
Entre  os  diversos  enfoques  da  criminologia  radical,  o  chamado 
realismo  de  esquerda  t​ entam  conciliar  a  análise  crítica  com  a 
pesquisa  etiológica  da  infração,  pois  reconhece  o  delito  um 
problema  real,  causador  de  dano  e  dor  às  vítimas,  e  que  atinge 
principalmente as classes trabalhadoras. 
 

7. ​PREVENÇÃO DA INFRAÇÃO PENAL  

A  prevenção  do  delito  é  uma  das  funções  primordiais  da  Criminologia 


moderna,  pois  para  a  satisfação  das  exigências  de  um  Estado 
Democrático  de  Direito  é  necessária  uma  resposta  estatal  mais  ampla, 
que não se resuma a punir o infrator. 

 
 

 
7.1 Programas de prevenção ao delito: 

 
Prevenção  primária:  ​ações  ​dirigidas  a  toda  a  população,  de 
modo  generalizado,  e destinam-se a neutralizar o problema antes 
que  ele  se  manifeste,  através  de  programas  na  área  de 
educação,  moradia,  trabalho,  socialização,  bem-estar  social,  etc. 
Opera a média e longo prazos. 
 
Prevenção  secundária:  ​atua  em  áreas  pré-estabelecidas,  onde 
os  índices  de  criminalidade  são  maiores,  se  orientado  de  forma 
seletiva  a  particulares  setores  da  sociedade.  Opera  a  curto  e 
médio prazos. 
 
Prevenção  terciária:  ​os  programas  de  prevenção  terciária  têm 
por  destinatária  a  população  carcerária  e  buscam  evitar  a 
reincidência  criminal,  agindo  diretamente  sobre  a  figura  do 
condenado. 
 

8. ​REAÇÃO AO CRIME 

É  tarefa  da  criminologia  avaliar  a  ​resposta  social  e  legal  ao  delito, 

ponderando  a  qualidade  da  intervenção  que  os  diversos  sistemas  de 

controle social exercem. Para tanto, parte de dois postulados: 

a) concepção do crime como ​problema social e comunitário;​  


b)  a  infração  é  um  conflito  que  envolve  diferentes  protagonistas  (o 
Estado,  o  delinquente, a vítima, a comunidade), de modo que a 
resposta deve buscar atender às expectativas de todos eles. 
 

8.1 ​MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME  

 
Modelo  Clássico  ou  dissuasório:  ​confere  destaque  à  pretensão 
punitiva  do  Estado  por  meio  de  uma  reação  implacável  ao  delito, 
através  de  pena  rápida  e  rigorosa,  demonstrando  a  seriedade  do 
sistema  penal.  Busca  um  efeito  dissuasório  e  preventivo  na 
comunidade.  Clara  tendência  intimidatória.  A  reparação  da  vítima  e  a 
ressocialização do infrator ficam em um segundo plano. 

 
Modelo  ressocializador​:  de  orientação  humanista,  tem  por 
objetivo  principal  do sistema penal a reintegração social do infrator, por 
meio  de  uma  intervenção  positiva  sobre  ele.  Assume  a  natureza  social 
do  problema  criminal.  O  castigo  deve  ser  útil  também  para  o  próprio 
infrator. 
 
Modelo  integrador:  conciliação  –  reparação:  ​busca  contemplar 
os  interesses,  expectativas  e  exigências  de  todas  as  partes  envolvidas 
no  problema  criminal.  Busca  uma  solução  conciliadora  que  atenda  aos 
anseios  de  reparação  à  vítima  e  pacificação  das  relações  sociais, 
preferencialmente  por  meio  do  uso  de  mecanismos  informais  e 
comunitários.  A  chamada  “Justiça  Restaurativa”  insere-se  neste 
contexto. 
 
Justiça  Restaurativa:  processo  colaborativo  voltado  para  a  resolução 
de  um  conflito  caracterizado  como  crime,  que envolve a participação 
maior  do  infrator e da vítima (CNJ). Como exemplo de metodologia, a 
mediação  vítima-ofensor  consiste  em  colocá-los  em  um  mesmo 
ambiente  com  o  objetivo  de  buscar  um  acordo  que  implique  a 
resolução  de  outras  dimensões  do  problema  que  não  apenas  a 
punição, como a reparação dos danos emocionais 
 

9. ​CRIMINOLOGIA AMBIENTAL 

Vertente  da  criminologia  que  estuda  o  crime,  a 


criminalidade  e  a  vitimização  na  forma  como  estes  elementos  se 
relacionam com os espaços físicos. 
 
Tem  raízes  nas  escolas  sociológicas  ecológicas  da 
criminalidade. 
 
Analisa  os  modos  como  o  ambiente  gera  oportunidades 
para  a  prática  criminosa,  permitindo  a  definição  de  medidas  de 
prevenção  que  interfiram  nos  espaços  físicos  a  fim  de  reduzir  as 
oportunidades para a ocorrência dos delitos. 
 
9.1 Teorias relacionadas à Criminologia Ambiental: 

 
-  ​Teoria  das  atividades  rotineiras​:  o  crime  só  ocorre  mediante  a 
convergência  no  espaço  e  no  tempo  de:  vítima,  agressor  em 
potencial e ausência de segurança. 
 
-  Teoria  da  desorganização  social: ​elaborada na Escola de Chicago, 
parte  constatação  de  que  os  delinquentes  não  estão 
distribuídos  de  maneira  uniforme  pelas  cidades,  mas  se 
concentram  em  determinadas  zonas,  estudando-se  então  as 
razões  pelas  quais  estas  regiões  criavam  as  condições 
necessárias para os comportamentos desviantes.  
 
-  ​Teoria  da  escolha racional​: busca explicar os delitos em termos de 
custo-recompensa. 

10. Questões comentadas 

Prova: ​2019 - DPE-MG - Defensor Público 


 
Analise o trecho a seguir. 

“De  acordo  com  o  Infopen,  um  sistema  de  informações  estatísticas  do  sistema 
penitenciário  brasileiro  desenvolvido  pelo  Ministério  da  Justiça,  o  Brasil  tem  a 
quarta  maior  população  carcerária  do  mundo.  São  aproximadamente  700  mil 
presos  sem  a  infraestrutura  para  comportar  este  número.  A  realidade  é  de  celas 
superlotadas,  alimentação  precária  e  violência.  Situação  que  faz  do  sistema 
carcerário  um  grave  problema  social  e  de  segurança  pública.  Além  da 
precariedade  do  sistema  carcerário,  as  políticas  de  encarceramento  e  aumento de 
pena  se  voltam,  via  de  regra,  contra  a  população  negra  e  pobre.  Entre  os  presos, 
61,7%  são  pretos  ou  pardos.  Vale  lembrar  que  53,63%  da  população  brasileira têm 
essa  característica.  Os  brancos,  inversamente,  são  37,22%  dos  presos,  enquanto 
são  45,48%  na  população  em  geral.  E,  ainda,  de  acordo  com  o  Departamento 
Penitenciário  Nacional  (Depen),  em  2014,  75%  dos  encarcerados  têm  até  o  ensino 
fundamental completo, um indicador de baixa renda.” 
Disponível  em: 
http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-perman​entes
/cdhm/noticias/>. Acesso em: 17 jan. 2019. 
 
Entre  as  Teorias  Macrossociológicas  da  Criminalidade,  qual  alternativa  a  seguir 
melhor  identifica  a  realidade  do  sistema  penal  e  carcerário  brasileiro,  de acordo 
com o trecho citado? 

A. Teoria  da  Lei  e  Ordem,  classificada  como  uma  teoria  de  consenso.  Essa 
teoria  parte  da  premissa  de  que  os  pequenos  delitos  devem  ser  rejeitados 
de  plano,  fazendo  com  que  os  delitos  mais  graves  sejam  inibidos,  atuando 
como prevenção geral. 

B. Teoria  do  Labelling  Approach,  classificada  como  uma  teoria de consenso. A 


teoria  afirma  que  o  comportamento  criminoso  é  apreendido,  mas  nunca 
herdado, criado ou desenvolvido pelo sujeito ativo. 

C. Teoria  da  Associação  Diferencial,  classificada  como  uma  teoria  de  conflito. 
Referida  teoria  afirma  ser  o  capitalismo  a  base  da  criminalidade,  na  medida 
em que promove o egoísmo, o qual, por sua vez, leva os homens a delinquir. 

D. Teoria  do  Etiquetamento,  classificada  como  uma  teoria  de  conflito.  Afirma 
que  a  criminalidade  não  é  uma  qualidade  da  conduta  humana,  mas  a 
consequência  de  um  processo  em  que  se  atribui  ao  indivíduo  tal  “adjetivo”, 
principalmente pelas instâncias formais de controle social. 

Gabarito D 

Comentário: 

A. ​ERRADA: ​Esta alternativa conceitua de forma correta a Teoria da Lei e da ordem, 
contudo  o  comando  da  questão  solicita  a  teoria  que  melhor  se  identifica  com  a 
realidade do sistema penal e carcerário brasileiro, o que não é caso. 

A  Teoria  da  Tolerância  Zero​,  é  uma  ​teoria  do  consenso​,  delineada  por  Willian 
Bratton,  decorrente  da  Escola  de  Chicago  e  da  Teoria  Ecológica,  que  se enquadra 
no  ​“Movimento  de  Lei  e  Ordem”​.  Tal  movimento  se  caracteriza  por  uma  maior 
atuação  policial  visando  à  diminuição  da  criminalidade,  seja  de  crimes  de 
repercussão,  ou  de  pequenas  infrações,  todas  combatidas  com  o  mesmo  rigor. 
Essa  teoria  tem  por  modo  de  atuação  uma  resposta  mais  agressiva  por  parte  do 
poder policial ante os delitos menores. 

B.  ​ERRADA:  ​A  afirmativa  traz,  na  verdade,  a  teoria  da  ​Associação  Diferencial 
(teoria  do  consenso)​,  delineada  por  Edwin  Sutherland,  ​a  qual  assevera  que  o 
comportamento  desviante  era  aprendido  por  associação, combatendo a ideia de 
que  se  tratasse  de  algo  hereditário.  O  crime  não  pode  ser  definido  apenas  como 
disfunção  ou  inadaptação  das  pessoas  de  classe  menos  favorecidas,  pois,  alguns 
comportamentos  desviantes  requerem  conhecimento  especializado,  ou  ainda 
habilidade de seu agente, o qual aprende tal conduta desviada 

C.  ​ERRADA:  ​Trata-se,  na  verdade,  da  ​Teoria  da  Criminologia  Crítica  (teoria  do 
conflito),  ​a  qual  critica  as  posturas  tradicionais  da  teoria  do  consenso,  eis  que, 
ancorada  no  pensamento  marxista,  acredita  ser  o  modelo  econômico  adotado 
em determinado local o principal fator gerador da criminalidade. 

D.  ​CERTA:  ​Teoria  da  Labelling  Approach,  Reação  Social,  Interacionismo 


Simbólico  ou  Etiquetamento(teoria  do  conflito).  ​Para  essa  teoria,  o  ponto  central 
da  criminalidade  não  é  uma  característica  do  comportamento  humano,  mas  sim  a 
consequência  de  um  processo  de  estigmatização  do  indivíduo  como  criminoso. 
Logo,  o  delinquente  só  se  diferencia  do  homem  comum  pela  “etiqueta”  que  lhe  é 
atribuída.  ​A  teoria  da  rotulação  de  criminosos  cria  um  processo  de  estigma  para 
os  condenados,  funcionando  a  pena  como  geradora de desigualdades. O sujeito 
acaba  sofrendo  reação  da  família, amigos, conhecidos, colegas, o que acarreta a 
marginalização  no  trabalho,  na  escola.  ​A  teoria  entende  que  a  criminalização 
primária  (primeira  ação  delitiva)  produz  uma  etiqueta  (rótulo)  de  criminoso,  o  que 
acaba  influenciando  para  a  criminalização  secundária  (repetição  de  atos  delitivos). 
Assim,  verifica-se  que  essa  teoria  melhor  identifica  a  realidade do sistema penal 
e carcerário brasileiro. 

Prova: ​2019 - TJ-DFT - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Provimento 


 
Acerca  dos  pensamentos  criminológicos  e  das  bases  históricas,  filosóficas  e 
teóricas do direito penal, assinale a opção correta. 

A. O  direito  penal  do  inimigo,  de  Gunther  Jakobs,  estabelece  a  proteção  da 
norma  jurídica  como  fator  de  proteção  social,  com  recrudescimento  das 
medidas  penais  com  vistas  à  contenção  da  violência,  mas  garantindo  ao 
inimigo  a  postura  de  sujeito  de  direito,  por  meio  da  observância  das 
garantias constitucionais. 
B. O  neopunitivismo,  como  movimento  panpenalismo,  estabelece  baixo  nível 
de  seletividade  dos  fatos  criminosos  e  de  seus  autores  pelas  leis  penais  e 
máxima  garantia  ao  cidadão  contra  a  intervenção  excessiva  do  Estado 
punitivista. 

C. O  direito  intervencionista  oferece  soluções  satisfatórias  para  o 


enfrentamento  da  criminalidade,  com  ampliação  do  Estado  punitivista  e 
imposição  de  penas  mais  drásticas  na  contenção  de  crimes  de  perigo 
abstrato ou contra bens coletivos ou difusos. 

D. O  Código  Criminal  do  Império  foi  criado,  em  1830,  com  vistas  ao 
estabelecimento  de  um  ordenamento  jurídico  penal  brasileiro  próprio, 
embora  não  tenha  conseguido  seu  intento  liberal,  diante  de  obstáculos 
socioeconômicos  enraizados  na  sociedade  agrária,  escravista  e  patriarcal 
existente à época. 

E. A  criminalização  primária,  consistente  no  poder  punitivo  subjetivo  exercido 


pelo  Estado  contra pessoas determinadas, caracteriza-se pela seletividade e 
vulnerabilidade, com fundamento na teoria do etiquetamento. 

Gabarito D 
 
Comentário: 
 
A.  ​ERRADA​:  O  inimigo  não  era  sujeito  de  direitos,  não  necessita  observar  as 
garantias constitucionais. 
 
B.  ERRADA​:  O  neopunitivismo,  relaciona-se  ao  Direito  Penal  Internacional, 
caracterizado  pelo  alto  nível  de  incidência  política  e  pela seletividade (escolha dos 
criminosos  e  do  tratamento  dispensado).  Nessa  linha  de  raciocínio,  o 
neopunitivismo  se  destaca  como  um  movimento  do  panpenalismo,  que  busca  a 
todo  custo  o  aumento  do  arsenal  punitivo  do  Estado,  inclusive  de  forma  mais 
arbitrária  e  abusiva  do  que  o  Direito  Penal  do  Inimigo.  Cria-se,  em  outras palavras, 
um direito penal absoluto. 

C.  ​ERRADA​:  O  direito  intervencionista  respeita  o  princípio  da  intervenção  mínima 


mais,  inclusive,  do  que  o  Direito  Penal  clássico.  Nem  poderia  ser  diferente,  por 
força  da  finalidade  a  que  se  propõe.  Seu  criador  e  principal  defensor  é  o  alemão 
Winfried  Hassemer.  Para  ele,  o  Direito  Penal  não  oferece resposta satisfatória para 
a  criminalidade  oriunda  das  sociedades  modernas.  Além  disso,  o  poder  punitivo 
estatal  deveria  limitar-se  ao  núcleo  do  Direito  Penal,  isto  é,  à  estrutura  clássica 
dessa  disciplina,  sendo  os  problemas  resultantes  dos  riscos  da  modernidade 
resolvidos  pelo  direito  de  intervenção,  única  solução  apta  a  enfrentar  a  atual 
criminalidade. 

D. ​CERTA​. 

E.  ​ERRADA​:  ​A  criminalização  primária  diz  respeito  ao  poder  de  criar  a  lei  penal  e 
introduzir no ordenamento jurídico a tipificação criminal de determinada conduta. 

A  criminalização  secundária,  por  sua  vez,  atrela-se  ao  poder  estatal  para  aplicar  a 
lei  penal  introduzida  no  ordenamento  com  a  finalidade  de  coibir  determinados 
comportamentos antissociais. 

Prova: ​CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto 


 
O  estudo  das  teorias  relaciona-se  intimamente  com  as  finalidades  da  pena.  Nesse 
sentido,  a  teoria  que  sustenta  que  a  única  função  efetivamente  desempenhada 
pela  pena  seria  a  neutralização  do  condenado,  especialmente  quando  a  prisão 
acarreta seu afastamento da sociedade, é a teoria 
 

A. das janelas quebradas. 

B. relativa. 

C. unificadora. 

D. absoluta. 

E. agnóstica. 

Gabarito A 
 
Comentário: 
 
A.  ​ERRADA​:  Desenvolvida  por  Wilson  e  Kelling  com  base  nos  estudos  de  Philip 
Zimbardo,  a  teoria  das  janelas  quebradas  está  centrada  na  ideia  de  que,  “​quando 
se  quebra  a  janela  de  uma  casa  e  nada  se  faz,  implicitamente  a  autoridades 
pública  estimulam  a  destruição  do  imóvel  como  um  todo​”.  Por  isso,  a  teoria 
pregava  que  ​“as  pequenas  desordens  às  quais  não  se  presta  atenção  seriam  o 
começo  de  problemas  muito  mais  sérios  de  convivência”​ .  Por  conseguinte,  o 
controle  social  sobre  esses  pequenos  delitos  –  que  foram  por  Wilson  e  Kelling 
intitulados  de  “incivilidades”  –  seria a melhor forma de inibir e prevenir delitos mais 
grave.  A  sua  essência  era  de  uma  política  criminal  preventiva,  que  provocaria  um 
intenso  controle  das atividades que favorecessem a delinquência, propiciando uma 
política  de  “tolerância  zero”  com  a  criminalidade,  de  sorte  que  até  mesmo  os 
pequenos  delitos  deveriam  ser  punidos  de  forma  exemplar,  de  modo  a 
desestimular o cometimento de ilícitos mais graves. 

B.  ​ERRADA​:  A  vertente  relativa  é  centrada  na  ideia  preventiva  da  pena,  podendo 
se  manifestar  de  forma  geral  (positiva  ou  negativa)  ou  especial  (positiva  ou 
negativa). 

C.​ERRADA​:  também  chamada  de  teoria  da  união  eclética,  intermediária, 


conciliatória,  mista  ou  unitária,  na teoria unificadora a pena deve, simultaneamente, 
castigar  o  condenado  pelo  mal  praticado  e  evitar  a  prática  de  novos  crimes,  tanto 
em  relação  ao  criminoso  como  no  tocante  à  sociedade.  A pena assume um tríplice 
aspecto:  retribuição,  prevenção  geral  e  prevenção  especial.  Foi  a  teoria  acolhida 
pelo  art.  59,  ​caput​,  do  Código  Penal,  quando  dispõe  que a pena será estabelecida 
pelo  juiz  “​conforme  seja  necessário  e  suficiente  para  reprovação  e  prevenção  do 
crime​”. 

D.  ​ERRADA​:  Para  a  vertente  absoluta,  a  pena  desponta  como  a  retribuição  estatal 
justa  ao  mal  injusto  provocado  pelo  condenado,  sendo  ela  um  instrumento  de 
vingança do Estado em face do criminoso. 

E.  ​CERTA​:  Para  Zaffaroni,  a  concepção  de  que  a  pena  teria  funções  de  (i) 
retribuição  e  (ii)  prevenção  –  geral  e  especial  –  seria  uma  falácia,  servindo  em 
verdade  para  objetivos  ocultos.  Para  ele,  a  única  função  da  pena  seria  a 
neutralização do condenado, sendo ela um ato político do Estado.  

Prova: ​2018 - DPE-MA - Defensor Público 


 
O realismo criminológico de esquerda 

A. propõe  a  ideia  da  “janela  quebrada”,  segundo  a  qual  a  luta  contra  os 
pequenos distúrbios cotidianos faz recuar os grandes problemas criminais. 

B. é  uma  vertente  do  abolicionismo  penal  que  defende  a  superação  do direito 


penal na sociedade atual por meio de uma política criminal pacifista. 
C. entende  que  não  só  a  reação  ao  delito,  mas  o  delito  em  si  é  um  problema 
verdadeiro que afeta a classe trabalhadora. 

D. é  um  campo  de  pensamento  conhecido  no  Brasil  como  “esquerda punitiva” 


e  que  deslegitima  criminalizações,  ainda  que  os  pobres  sejam  os  mais 
atingidos. 

E. surgiu  na  América  Latina  como  forma  de  contrapor  o  pensamento 


criminológico eurocêntrico e destacar os problemas da realidade local. 

Gabarito C 

Comentário: 
O  Realismo  criminológico  de  esquerda  prioriza  políticas  criminais  preventivas. 
Movimento  teórico  que  se  opõe  a  políticas  repressivas  imediatas.  É  realista  ao 
compreender  a  complexidade  do  delito,  não  o  considerando  como  uma  unidade, 
mas  como  resultado  da  interação  de  vários  segmentos  e  fatores. É o delito em si a 
verdadeira situação que afeta a sociedade e a classe trabalhadora. 
 
 
 
 
Prova: ​2018 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil 
 
A respeito dos objetos da Criminologia, analise as assertivas abaixo: 
 
I.  O  conceito  de  delito  para  a  Criminologia  é  o  mesmo  para  o  Direito  Penal,  razão 
pela qual tais disciplinas se mostram complementares e interdependentes.  
II.  Desde  os  teóricos  do  pensamento  clássico,  o  centro  dos  interesses 
investigativos  da  primitiva  Criminologia  sempre  esteve  no  estudo  do  criminoso, 
prisioneiro  de  sua  própria  patologia  (determinismo  biológico),  ou  de  processos 
causais alheios (determinismo social).  
III.  O  controle  social  consiste  em  um  conjunto  de  mecanismos  e  sanções  sociais 
que  pretendem  submeter  o  indivíduo  aos  modelos  e  às  normas comunitários. Para 
alcançar  tais  metas,  as  organizações  sociais  lançam  mão  de  dois  sistemas 
articulados entre si: o controle social informal e o controle social formal.  
IV.  A  particularidade  essencial  da  vitimologia  reside  em  questionar  a  aparente 
simplicidade  em  relação  à  vítima  e  mostrar,  ao  mesmo  tempo,  que  o  estudo  da 
vítima  é  complexo,  seja  na esfera do indivíduo, seja na inter relação existente entre 
autor e vítima.  
 
São ​CORRETAS​ apenas as assertivas: 
A. I, II e III. 

B. II e IV. 

C. II, III e IV. 

D. III e IV. 

Gabarito D 

Comentário: 

I  -  ​ERRADO​!  Não,  não  tem  a  mesma  significação  o  conceito  de  delito  para  a 
criminologia  e  para  o  direito  penal,  porquanto,  para  o  direito  penal,  o  conceito  de 
delito  se  identifica  com  a  previsão  legal,  tendo  em  vista  os  princípios  norteadores 
do balizamento delitivo( taxatividade, anterioridade, legalidade). 

Já  para  a  Criminologia,  o  conceito  de  delito  possui  uma  série  de  requisitos  para 
serem adimplidos:  

a)  Reiteração  do  fato  criminoso  junto  à  sociedade.  OBS: Fato isolado não se atribui 


a condição de crime, apenas a reiteração; 

b)  Produção  de  sofrimento  à  vítima  e  ao  corpo  social.  Ou  seja,  a  relevância  social 
do fato; 

c)  Persistência  espaço-temporal  do  fato  criminoso.  Ou  seja,  distribuição  pelo 
território durante um tempo juridicamente relevante; 

d)  Deve  existir  um  consenso  acerca  de  sua  etiologia  (  causa)  e  das  técnicas  de 
intervenção para seu enfrentamento eficaz. 

II  -  ​ERRADA​.  No  pensamento  Clássico,  a  criminologia  não  avaliava  de  forma 
nevrálgica o " CRIMINOSO" ​este era apenas uma aspecto tangencial a ser balizado 
pelos  clássico  sob  o  viés  retributivo,  panorama  que  se  alterou  com  a  ascendência 
da escola positiva que centralizou a análise criminológica sobre o CRIMINOSO. 

III  -  ​CORRETA​!  Os  controles  sociais  se  dividem  em  FORMAIS  e  INFORMAIS.  Estes: 
Igreja, escola, família, etc; Aqueles: Polícia, órgãos judiciários, etc.  

​ ORRETA​! Questão perfeita! A vitimologia, contemporaneamente tratada como 
IV  - C
uma  ciência  apartada  da  criminologia,  portanto,  não  se  cinge  a  apenas  um 
segmento  dessa,  busca  desvelar  a  simplicidade  da  vítima  no  fato  criminoso, 
conjuga  investigações  anímicas,  estruturais  e  sociais  visando  a  prospectar  um 
protagonismo  moderado  da  vítima  (  diferente  das  épocas  áureas  da  vítima  - 
vingança  privada),  a  qual,  por  tanto  tempo,  foi  mensurada  como  apenas  um objeto 
no  fato  criminoso,  tendo  agora  destaque  quanto  à  análise  da  perspectiva  delitiva, 
bem como a adoção de medidas de profiláticas quanto ao delito.  

Prova: ​CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia 

Em  seu  início,  a  sociologia  criminal  buscava  associar  a  gênese  delituosa  a 


fatores  biológicos.  Posteriormente,  ela  passou  a  englobar  as  chamadas  teorias 
macrossociológicas,  que não se limitavam à análise do delito segundo uma visão 
do  indivíduo  ou  de  pequenos  grupos,  mas  consideravam  a  sociedade  como  um 
todo.  

Tendo  esse  fragmento  de  texto  como  referência  inicial,  julgue  o  item  a  seguir, 
relativo a teorias sociológicas em criminologia. 

Relacionada  a  movimentos  conservadores  e  a  orientações  políticas  também 


conservadoras,  a  teoria  sociológica  do  conflito  considera  que  a  harmonia  social 
advém  da  coerção  e  do  uso  da  força,  pois  as  sociedades  estão  sujeitas  a 
mudanças contínuas e são predispostas à dissolução. 

● Certo 

● Errado 

Gabarito ​ERRADO 

Comentário: 

As  teorias  do  consenso  partem  do  pressuposto  em  que  existe  um  consenso  com 
relação  as  regras  sociais  a  serem  seguidas,  o  questionamento  ou resistência a tais 
regras  não  são  considerados  como  a  causa  ou  concausa  da  criminalidade.  Tais 
teorias  consideram  que  os  objetivos  da  sociedade  são  atingidos  quando  as 
instituições  funcionam,  não  há necessidade de transformação da sociedade. Nesse 
sentido,  existe  uma  perspectiva  conservadora  nas  teorias  do  consenso, 
diferentemente  do  ideal  progressista  que  está  ligada  à  visão  de  progresso  infinito 
das  sociedade  mediante  transformação  econômica,  política  e  social.  Atualmente, a 
visão progressista está voltada para a luta por direitos civis e individuais, bem como 
a  movimentos  sociais,  como  o  feminismo,  o  ambientalismo,  o  secularismo,  o 
movimento  LGBT  e  o  movimento  negro,  entre  outros.  Portanto,  as  visões 
progressistas identificam-se com as teorias do conflito. 

As  teorias  do  conflito  partem  do  pressuposto  em  que  as  regras  dentro  da 
sociedade  são  impostas  por  uma  classe  dominante  contra  uma  classe  dominada 
(formada  pelas  minorias  que,  em  conjunto,  reflete  a  maioria  dentro  da  sociedade), 
sendo  que  tais  regras  são  culturalmente  (mídia)  e  institucionalmente (Direito Penal) 
difundidas  e  induzidas  dentro  da  sociedade  como  o  que  seria  moral  e 
normativamente  correto,  fazendo  com  que  todas  as  condutas  contrárias  a  tais 
regras  façam  parte  daquilo  que  é  desviante,  ocasionando  o direcionamento para a 
identificação  dos  criminosos  (rotulação)  para  as  minorias  que  possuem  estilos 
diferentes.  A  intenção  subliminar  e  manter  a  realidade  social  como  se  encontra. 
São consideradas teorias do conflito: a Criminologia Crítica, Radical, Nova e a teoria 
do labeling approach. 

Prova: ​CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia 

Acerca do conceito e das funções da criminologia, julgue o item seguinte. 

A  pesquisa  criminológica  científica  visa  evitar  o  emprego  da  intuição  ou  de 
subjetivismos  no  que  se  refere  ao  ilícito  criminal,  haja  vista  sua  função  de 
apresentar um diagnóstico qualificado e conjuntural sobre o delito.  

● Certo 

● Errado 

Gabarito ​CERTO 

Comentário 

A  criminologia  é  uma  ciência  empírica  e  interdisciplinar,  ou  seja,  seu  método  é  o 


empírico,  indutivo,  experimental.  Nesse  sentido, o método principal da criminologia 
é  o  empírico,  mas  não  é  o  único,  pois  diante  da  ampliação  de  seu  objeto,  em 
criminologia  moderna,  incluindo  o  controle  social  e  a  vítima,  a  criminologia  não 
pode prescindir da intuição e subjetivismos em suas conclusões. 

Doutrina: 
"Pode-se  dizer  com  acerto  que  é  função  da  criminologia  desenhar  um  diagnóstico 
qualificado  e  conjuntural  sobre  o  delito,  entretanto  convém  esclarecer  que ela não 
é uma ciência exata, capaz de traçar regras precisas e indiscutíveis sobre as causas 
e efeitos do ilícito criminal. Assim, a pesquisa criminológica científica, ao usar dados 
empíricos  de  maneira  criteriosa,  afasta  a  possibilidade  de  emprego  da  intuição  ou 
de subjetivismos." 

Manual Esquemático de Criminologia - Nestor Sampaio Penteado Filho (2018) 

Prova: ​CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia 

Acerca do conceito e das funções da criminologia, julgue o item seguinte. 

Na  inter-relação entre o direito penal, a política criminal e a criminologia, compete a 
esta  facilitar  a  recepção  das  investigações  empíricas  e  a  sua  transformação  em 
preceitos  normativos,  incumbindo-se  de  converter  a  experiência  criminológica  em 
proposições jurídicas, gerais e obrigatórias.  

● Certo 

● Errado 

Gabarito ​ERRADO 

Comentário  

A  questão  aborda  a  relação  entre  a  Criminologia,  o  Direito  Penal  e  a  Política 


Criminal. 

Nesse  sentido,  a  Criminologia  sempre  tem  um  cunho  opinativo,  ou  seja,  ela 
subministra  informações  à  Política  Criminal, a qual tem um cunho decisivo, que, por 
sua  vez,  decide  as políticas criminais a serem seguidas, as quais são transformadas 
em leis e executadas pelo Direito Penal, que teria um cunho operativo. 

Nesse  sentido,  é  importante  consignar  que  a  relação  é  sempre  dessa  forma,  ou 
seja,  o  Direito  Penal  não  alimenta  a  Política  Criminal  ou  a  Criminologia;  assim 
também,  a  Política  Criminal  não  alimenta  a  Criminologia;  ou  não  há  relação  direta 
entre o Direito Penal e a Criminologia. 

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