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Abordagem Centrada na Pessoa: Método, Influências, visão de Ciência e aplicações da teoria de Carl

Rogers
Emanuel Meireles[1]
emeireles@ufpa.br
Universidade Federal do Ceará

Índice

Introdução
1. A questão do Método em Rogers
1.1 O Método Clínico
1.2 O Modelo de Trabalho com Grupos
2. As principais influências da ACP
3. As visões que Rogers tinha de Ciência
4. Conclusão
Bibliografia

Introdução

Este trabalho tem como objetivo "fazer uma viagem" através de três aspectos fundamentais no
pensamento de qualquer grande cientista, a saber, o método, as influencias de outros pensadores no pensamento
deste cientista e o conceito de ciência.
O cientista a ser estudado aqui é Carl Rogers (1902-1987) psicólogo americano de intensa produção e de
grandes raízes deixadas no Brasil, fundador da Abordagem Centrada na Pessoa.
A parte do método foi divida em duas: o da clínica e do trabalho com grupos, áreas onde Rogers
desenvolveu vasta produção. Os estudos pedagógicos de Rogers foram deixados de lado, pelo fato de não haver
tempo para maiores estudos e estarmos em um curso de Psicologia.
Espero fazer com que se perceba a relevância desta abordagem psicológica, não só como técnica
Psicoterápica (apesar de, como veremos no decorrer do trabalho, haver este aspecto também), mas como uma
teoria psicológica.
Tenho, também, o intuito de, a partir das análises que aqui serão feitas, produzir questionamentos que me
levem a pensar cada vez mais, construtivamente, acerca da Abordagem Centrada na Pessoa e da Psicologia como
um todo.

A Questão do método em Rogers


1.1 O método Clínico

Rogers desenvolveu sua Terapia Centrada no Cliente a partir de observações tiradas diretamente da
clínica, não sendo uma mera especulação para ser aplicado na prática. Pelo contrário, a partir de fatos observados
na clínica Rogers desenvolveu suas teorias, tanto a de intervenção clínica, quanto a de personalidade (apesar de
esta última ter tido menos ênfase do que a primeira).

Segundo Rogers(1970a,p.221)

"a partir de um ponto de vista limitado largamente apoiado na prática, sem verificação empírica, chegou-se a uma
teoria da personalidade e das relações interpessoais bem como da terapia, que coordena à sua volta um notável
corpo de conhecimentos experimentalmente conhecidos".

Portanto, pode-se inferir que a Abordagem Centrada na Pessoa não é teorizante (no sentido de não
produzir teoria antes da prática), mas ela não prescinde de uma teoria, pois, afinal, a preocupação de Rogers era a
de fundar uma abordagem psicológica; para isso, logicamente, era necessário que se elaborassem teorias.
Rogers foi pioneiro na psicologia em coleta de dados através de sessões gravadas, tanto em vídeo quanto
em áudio. Em seu momento mais experimental (Rogers oscilava entre a objetividade e a subjetividade do cientista),
Rogers chegou a medir a precisão de determinadas palavras no decorrer de uma sessão terapêutica *.
Epistemologicamente, Rogers vivia o conflito da objetividade de uma ciência Psicológica-principalmente
em um meio eminentemente empirista como o americano (com uma predominância do comportamentismo e da
Psicanálise - daí o nome de terceira força dado às teorias "humanistas"), e a sua subjetividade colocada na relação
terapêutica. É visível, em seus textos, que se questionava, não raro, sobre a neutralidade científica, principalmente
na ciência Psicológica, que, diferente das ciências físicas, lidam com pessoas e estas respondem ao que é dito a
respeito delas (daí, por exemplo, tantas psicologias). Ou seja, este objeto da Psicologia não é algo estático, pois,
por se tratar de um ser humano, responde ao que é dito a seu respeito.
Rogers(1970a, p.177) diz a respeito do seu conflito objetividade versus subjetividade que trata-se de uma
"oposição entre o positivismo lógico em que eu fora educado e pelo qual tinha profundo respeito e um pensamento
existencial orientado subjetivamente que crescia em mim, porque me parecia adequar-se perfeitamente à minha
experiência terapêutica".
Sobre seu objeto de estudos, Rogers não o parece centrar no cliente nem no terapeuta, mas no entre. De
acordo com as leituras feitas para este trabalho, o objeto de estudos de uma Abordagem Centrada na Pessoa não é
exatamente o sujeito em terapia (ou os sujeitos), mas a relação terapêutica. Daí, porque, toda a querela a respeito
do termo técnica na abordagem. Rogers o contestava, dizendo tratarem-se de atitudes, e não técnicas. Contudo, a
confusão parece de ordem semântica.
Se entendermos técnica como um meio de que se utiliza para chegar a um determinado fim (no caso de
Rogers, a "pessoa em funcionamento pleno"), toda teoria que se produza a respeito de como se chegou a este fim
tem as suas técnicas, ou seja, o seu meio de como se chegou a este fim.
Contudo, se técnica for entendido como um apertar ininterrupto de botões como se o cliente fosse uma
máquina (por exemplo: se o cliente chorar, deve-se usar tal comportamento para fazer com que ele cesse seu mal-
estar), não podemos falar de técnicas em Abordagem Centrada na Pessoa e, muito provavelmente, em
pouquíssimas Psicologias.
Parece que, para Rogers, essa segunda definição de técnica era a que lhe convinha, por isso, talvez,
utilizava a palavra atitude para se referir ao comportamento humano, e não técnica. Segundo Kinget (1977b, p.9)

"A afirmação de que não existem técnicas rogerianas, por mais paradoxal que seja, não deixa de exprimir uma
característica primordial desta prática terapêutica tal como Rogers a concebe. Para ele, o terapeuta deve se
esforçar, tão plenamente quanto possível, em se conduzir como pessoa - não como especialista. Seu papel consiste
em pôr em prática atitudes e concepções fundamentais relativas ao ser humano".

Portanto, depois desta tentativa de elucidar esta confusão semântica, parece ser possível se falar em
técnica na terapia centrada no cliente, como um meio para se chegar a um fim, pois Rogers mostra de forma muito
clara os meios para se chegar a um sucesso em terapia, através do que ele chama de três atitudes facilitadoras.
Vale ressaltar o que já dissemos, de que estas três atitudes não se centram nem somente no terapeuta, nem
somente no cliente, mas, principalmente, na relação dos dois.
Explanemos de forma breve quais são e como são concebidas as três atitudes facilitadoras. Estas atitudes
são: a consideração positiva incondicional, a empatia e a autenticidade. Vejamos um pouco de cada uma delas:
Consideração positiva incondicional: Consiste em considerar o cliente como um todo, sem submetê-lo
a qualquer tipo de julgamento de valores sociais, para que este possa experimentar-se livremente, sem qualquer
empecilho ou bloqueio de sua consciência aos seus sentimentos ou atitudes. Segundo Rogers (1992, p.564) "[...] o
comportamento do orientador minimiza influências prejudiciais sobre as atitudes expressas. A pessoa, normalmente,
sente-se motivada a comunicar seu próprio mundo especial e os procedimentos utilizados encorajam-na a isso [...]".
Empatia: é a capacidade de colocar-se no lugar do outro como se fosse o outro, fazer este outro saiba
que está sendo compreendido e respeitado, mesmo que, na relação, haja uma gama de diferenças entre este o
terapeuta. Aliás, a diferença, para uma Abordagem Centrada na Pessoa, é algo de fundamental, pois implica em
saúde, em "ser você mesmo", num sentido de não se deixar guiar por um outro referencial, que não o da sua própria
avaliação enquanto sujeito livre.
Autenticidade: Trata-se da capacidade do terapeuta de ter abertura para a alteridade do cliente, sem
precisar se esconder por trás de uma máscara de profissionalismo, tendo acessível, à sua consciência, os dados do
momento em que se desenvolve a relação e expressar o que sente ou pensa a qualquer momento em que achar
conveniente.
Convém lembrar que Rogers utilizava o termo atitude para designar o fato de não era algo que poderia
ser praticado sem qualquer sinceridade e fora do contexto de uma relação terapêutica específica com cada
indivíduo. Portanto, não se trata ações pré-fabricadas para determinadas situações, mas de atitudes vividas e
experienciadas no momento de uma específica relação, tendo estas atitudes um total imbricamento entre si, sendo
uma totalmente dependente da outra.
Já que Rogers elaborou sua terapia, qual seria seu conceito de normalidade? Rogers não se ateve a uma
rotulação, uma psicopatologia, pois, para o mesmo (Evans, 1979, p.110), "o uso de testes diagnósticos é pior do
que perda de tempo[...] relega o indivíduo para a categoria de objeto, de modo que você possa pensar nele ,
confortavelmente, sem considera-lo como uma pessoa real com quem você se relaciona".
Apesar de sua resistência a conceitos como normalidade e patologia, Rogers (1992, p.577) consegue dar
a sua definição de neurose, pois, segundo o mesmo "na neurose típica, o organismo satisfaz uma necessidade
não reconhecida pela consciência através de meios comportamentais coerentes com o conceito de self e que,
portanto, podem ser conscientemente aceitos".
Para que se compreenda de forma mais clara o que foi explicitado acima, faz-se necessário que falemos
acerca da teoria de personalidade de Rogers, pois foi usado o termo self, o que exige uma explanação um pouco
mais detalhada.
Para Rogers, o indivíduo cria uma imagem de si, chamada de self , que pode ou não reagir a uma
experiência de maneira realista; ou seja, se o indivíduo se percebe como alguém "bonzinho" e que as exigências do
meio social onde convive definem que ter atitudes agressivas é algo ruim, quando uma reação de raiva for
desencadeada pelo organismo, esta poderá até nem ser experimentada, ou, na melhor das hipóteses, negada, pois,
segundo a imagem que o indivíduo tem de si mesmo, ele não é alguém que experimente este tipo de sentimento.
Para Rogers (1978b, p.197), as religiões e a família vêm a ser as grandes causadoras de distúrbios psicológicos,
com noções como pecado ou o filho ideal. Segundo Rogers (1992, p.566)

"como resultado da interação com o ambiente, e particularmente, como resultado da interação avaliatória como os
outros, é formada a estrutura do sel f- um padrão conceitual organizado, fluido e coerente de percepções de
características do eu e do mim, juntamente com valores ligados a este conceito".

Quando se tem uma situação como a citada acima (a do filho ideal), causa-se um desequilíbrio entre a
experiência vivida pelo cliente e a percebida pelo organismo. Esse desequilíbrio ocorre, para Rogers, a partir de
uma introjeção de valores que não são propriamente do indivíduo, mas de uma série de exigências feitas por sua
sociedade. O grande mérito da terapia, portanto, é o de deixar com que o indivíduo seja livre para experimentar todo
e qualquer sentimento sem qualquer medo de repressões sociais, uma vez que o terapeuta mantém uma atitude de
consideração positiva incondicional, empatia e autenticidade.
Uma vez em terapia, o sujeito pode ser quem ele é, sem medo de sofrer qualquer exigência de valores por
parte do terapeuta. Para Rogers (1974, p.47) o terapeuta "estimula a livre expressão de sentimentos em relação
com o problema. Em certa medida essa liberdade é provocada pela atitude amigável, interessada e receptiva do
conselheiro".
...
Por que se dar uma liberdade tão grande de expressão para o cliente? Será que esta pessoa não poderia,
por exemplo, ter reações agressivas, ou coisa parecida, para com o terapeuta? A resposta para esta pergunta
encontra-se no que Rogers (1978b, p.194) considerava o único postulado básico da ACP: a Tendência
Atualizante. Mas que tendência é essa?
Seria uma tendência para a manutenção, crescimento e reprodução do organismo. Além destas
características, a tendência atualizante é uma abertura para o novo, para a criatividade. Parte daí a crença de que é
o próprio cliente quem vai encontrar a a saída para os seus problemas, desde que lhe sejam dadas as condições
básicas para que estes problemas sejam superadas.
Esta tendência atualizante pode, eventualmente, segundo Rogers (1983, p.40) "ser frustrada ou
desvirtuada, mas não pode ser destruída sem que se destrua o organismo". O comportamento neurótico, segundo
Rogers (1978b, p.198) "é o produto dessa dissociação dessa tendência à realização".
...
Como desenvolver um self saudável? Isso se daria dentro de uma relação que não fosse ameaçadora
para a estrutura do self, onde a pessoa fosse considerada de forma integral e um ser múltiplo de possibilidades,
podendo apresentar comportamentos variados - socializados ou não. Rogers (1992, p.571) diz que:

"o pai ou a mãe capaz de aceitar sinceramente esses sentimentos de satisfação [em bater no irmãozinho]
experimentado pela criança, aceitar integralmente a criança que os experimenta, e aceitar, ao mesmo tempo, seus
próprios sentimentos de que tal comportamento é inadmissível na família, cria para a criança uma situação muito
diferente da habitual".

É notável, portanto, que a terapia centrada no cliente vem reproduzir este ambiente propício para a
experimentação, para a interpretação (num sentido de ação, como no teatro) de si mesmo, onde as possibilidades
de existência são respeitadas a partir das condições facilitadoras.
Como seria a "Pessoa em Funcionamento Pleno" descrita por Rogers? Esta pessoa teria algumas
características básicas, tais como: maior abertura para o novo, percepção de si, não como uma estrutura rígida e
imutável, mas como um ser humano pleno de possibilidades e que pode se reconhecer em sua experiência, porque
ele "é" a sua experiência. Para Rogers (1970b, p.263) o cliente

"descobre-se a experimentar [...] sentimentos de modo amplo, completo, no relacionamento, de modo que, em um
dado instante, ele "é" o seu medo, a sua ira, a sua ternura, a sua força. E quando vive estes sentimentos
amplamente diversos, em todos os graus de intensidade, descobre que teve uma experiência de si próprio, que ele
é tudo o que sente".

É preciso que se defina essa abertura para a experiência para que fique claro o que significa este termo
para esta Abordagem de Psicologia, pois segundo Rogers (1970, p.266), isso não quer "dizer que o indivíduo se
capacitaria, autoconscientemente, de tudo o que se passa no seu íntimo, como a centopéia se tornaria consciente
de todas as suas pernas". Uma avaliação organísmica da experiência não se daria em um patamar intelectual, não
seria exatamente fazer escolhas a partir de deliberações, mas ser este próprio processo de escolhas, de ser um
eterno devir.
A compreensão de si, como esse devir, essa multiplicidade de possibilidades não é, segundo Kinget
(1977a , p.70) "refletida ou articulada. É um tipo de conhecimento essencialmente implícito, existindo na
experiência[...] Este tipo de compreensão de si é menos um conhecimento do que um modo de funcionamento".
A Pessoa em Funcionamento Pleno seria, mais plenamente, ela mesma. Vale ressaltar, contudo, que este
ser ela mesma não é fundado em uma mesmidade. Pelo contrário; ser você mesmo significa não introjetar valores e
desejos que não são os experimentados na experiência pontual do momento. Portanto, é ser um fluido, um devir, e
não algo estático que consistiria na "essência" da pessoa. Para Rogers, a pessoa hipotética aqui descrita é um
processo. Ainda segundo Rogers (1970b, p.267) "o eu e a personalidade emergiriam da experiência, em vez de ser
esta traslada ou distorcida para adaptar-se a uma auto-estrutura pré-concebida".
É lógico que não podemos nos livrar de valores sociais e jogá-los na lata do lixo, "sendo nós mesmos" o
tempo todo; portanto, a pessoa plena de Rogers é hipotética. Esse ser você mesmo implica uma situação ética,
pois, a partir da aceitação de sentimentos de si mesmo, por parte do individuo, ele considera a diferença do outro,
porque ele quer ser o diferente.
Quais seriam as vantagens de uma Terapia Centrada no Cliente? Para Rogers (1992, p.564)

"a situação [de terapia] minimiza a necessidade de atitudes defensivas [...] a pessoa normalmente sente-se
motivada a comunicar seu próprio mundo especial, e os procedimentos utilizadas encorajam-na a isso. A
comunicação cada vez maior traz, gradualmente, mais experiências para o âmbito da consciência, e assim, obtém-
se um quadro cada vez mais completo e acurado do mundo de experiências do individuo. Dessa forma, emerge um
quadro de comportamento muito mais compreensível"

E quais seriam as limitações do que Rogers chamava de observação fenomenológica? Segundo Rogers (1992,
p.563)

"Em primeiro lugar, estamos limitados, em grande medida, a obter um contato com o campo fenomenológico da
forma como este é experimentado na consciência. [...] quanto mais tentamos inferir o que está presente no campo
fenomenológico não consciente [...] mais complexas ficam as inferências, até que a interpretação das projeções do
cliente pode tornar-se meramente uma ilustração dos projeções do clínico[...] Além disso, [...] a comunicação é
sempre falha e imperfeita. Assim, só de maneira vaga podemos ver o mundo da experiência da forma como ele
parece ser para o individuo".

Vale lembrar que, em se tratando de método, Rogers tinha plena convicção de que ciência é um sistema
aberto e, portanto, nunca responde de forma completa a pergunta alguma. É fato, por exemplo, que, em todo o
decorrer do desenvolvimento da ACP até a sua morte (em 1987), vários foram os métodos e as formas de se
abordar o sujeito em sua Psicologia. Portanto, provavelmente, se ainda estivesse vivo, sua abordagem poderia,
possivelmente, ter outro nome e, até, abordar o ser humano de forma diferente da que é praticada ainda hoje pelos
que clinicam na Abordagem Centrada na Pessoa.
...
As principais influências da ACP

Falar de influências para a Abordagem Centrada é percorrer um caminho tortuoso, pois Rogers não parece
ter deixado muitas pistas sobre os lugares teóricos por onde passou. Logicamente, que Rogers chega a comentar,
como será visto no decorrer deste tópico, algumas de suas influências; contudo, é a partir de estudos posteriores
(onde muitos brasileiros estão envolvidos) que o trabalho de Rogers vem ganhar uma nova cara, saindo do que se
poderia chamar de humanismo (possivelmente, no sentido mais ingênuo do termo) para o que os pesquisadores da
abordagem aqui estudada vão chamar de Psicologia fenomenológica-existencial, alegando que os pensadores da
fenomenologia e do existencialismo influenciaram o pensamento de Carl Rogers, além de uma teorização mais rica
do que a presente no trabalho original do fundador da ACP.
A influência a que por repetidas vezes Rogers se refere é a de Otto Rank, a partir de seu modelo de
relação terapêutica. Rogers chegou a ver seminários de dois dias com Otto Rank e contratou uma assistente social
de orientação "rankiana", com quem, segundo o mesmo (1978, p.202), aprendeu bastante. Rogers (1978, p.202)
enfatiza, contudo, que não foi a teoria, mas a terapia de Otto Rank que o atraiu. Rogers (1973, p.39) afirma que,
apesar da dificuldade de enumeração das influências recebidas por sua abordagem psicológica, ela tem como
"ponto de partida importante" (Rogers, 1973, p.39) a relação terapêutica de Otto Rank, além de críticas feitas por
dissidentes da Psicanálise. Pois Rogers (1973, p.40) afirma que "a actual* análise freudiana que ganhou suficiente
confiança para criticar os modos terapêuticos de Freud e aperfeiçoá-los é outra fonte".
A respeito da influencia de Otto Rank na prática da Abordagem Centrada na Pessoa, Fonseca (no prelo,
p.11) diz que

"[...] Otto Rank imigrou para os Estados Unidos e lá teve forte influência, a partir de suas perspectivas - que
valorizavam a relação espontânea entre o terapeuta e o cliente e a potencialização da criatividade - sobre o meio do
qual emergiria a Psicologia humanista norte-americana, em particular sobre Rogers[...]".

Esta "relação espontânea" a que se refere Fonseca pode ser bastante percebida no modo como o
psicoterapeuta "centrado na pessoa" lida com o seu cliente. A palavra espontânea nos remete ao conceito de
autenticidade usado por Rogers (uma de suas condições facilitadoras).
Uma outra influência que Rogers dizia ter recebido é a da Psicologia da Gestalt, a partir de noções do
tipo análise do todo, relação figura-fundo e trabalho com a percepção do cliente. Detenhamo-nos um pouco em
como podemos perceber estes conceitos no modo de aplicação da Abordagem centrada na pessoa.
A partir do momento em que a preocupação da Abordagem Centrada na Pessoa não é elementarista, uma
vez que se preocupa com o como e não com o porquê do desajuste psicológico, podemos ver a noção de todo
presente no modo de concepção teórico -prática da ACP, pois é o modo como o mundo fenomenal se apresenta
para o cliente que é enfatizado, e não os elementos que o levaram a percebem uma determinada situação de uma
maneira "distorcida" da "realidade".
A relação figura-fundo está presente nos destinos que Rogers dizia existirem para as experiências, pois,
segundo o mesmo (1992, p. 550) "[...]a maior parte das experiências do indivíduo constitui o plano de fundo do
campo de percepções, mas podem facilmente tornar-se figura, enquanto outras experiências retornam ao plano de
fundo".
Para Rogers, a realidade é aquilo que o indivíduo percebe como sendo real, é uma verdade fenomenal,
pois segundo o mesmo (1992, p.551) "[...] o campo perceptivo é, para o indivíduo, a realidade". Portanto, é de
acordo com a percepção do cliente que a ACP trabalha.
De acordo com algumas afirmações de Rogers (1992, p.559), quando diz que "[...] é fácil perceber como
essa necessidade [de afeto] e todas as outras, é elaborada e canalizada [...] em necessidades que se baseiam
remotamente na tensão fisiológica subjacente" questionamo-nos se haveria alguma influência da biologia no modo
com Rogers concebia o Homem.
Leitão (1986, p.77-8) afirma que "[...] Rogers tem raízes camponesas e seu interesse inicial foi para a
biologia e a agronomia, havendo na sua teoria uma forte tendência para explicar o processo da vida e seus
conceitos teóricos[...]". Rogers relatava ter vivido em uma fazenda boa parte de sua infância e juventude *, sendo
estas as raízes camponesas a que Leitão se refere.
Influência posterior, que algumas pessoas confundem com as anteriores, foi a dos pensamentos de Buber
e Kierkegaard, com suas noções de encontro e afirmação do valor da subjetividade, respectivamente.
Rogers afirma que estes pensadores não foram uma influência originária, e que só os leu porque alguns
alunos o alertaram a respeito da similaridade de concepção do humano destes pensadores e a sua. Sua sensação
foi a de que "[...] era muito agradável descobrir, aí, amigos que nunca pensei que tivesse [...]" (Evans, 1979, p.90).
Apesar de não ter uma leitura prévia de Kierkegaard e de Buber ao elaborar sua teoria, Rogers admitia uma
influencia posterior. Até porque leu o que estes pensadores produziram na década de 50 e produziu até a década de
sua morte (80). Rogers fala de uma "[...] influência posterior * de homens como Kierkegaard e Buber, que foi
realmente grande[...]"(Evans, 1979, p.118).
Mesmo sendo influências posteriores, Kierkegaard e, principalmente, Buber têm sido estudados por
psicólogos que trabalham dentro da Abordagem Centrada na Pessoa, como uma possibilidade de diálogo entre o
pensamento de Rogers e destes dois grandes pensadores. Rogers, inclusive, chegou a ter um encontro com Buber.
Mesmo tentando fazer da terapia um lugar para ocorrer o que Buber chamava de encontro, não o era possível
acontecer por completo, visto que, se pensarmos com Buber, veremos que o encontro não tem hora nem local para
acontecer (pode ser no âmbito da terapia, como também não) e, quando nos apercebemos desse encontro através
da relação Eu-Tu, ele já é passado. Além do que, é uma relação em que, por mais que o psicoterapeuta se esquive
do poder sobre ele colocado, existe uma relação de poder através dos papéis que são atribuídos a cada pessoa,
sendo impossível a ocorrência de uma mutualidade, um pré-requisito para a relação horizontal que caracteriza a
relação Eu-Tu.
Amatuzzi (1994, p.58) coloca que
"[...]Rogers gostaria de pensar que um dos exemplos mais eminentes da relação Eu-TU é o da relação terapêutica,
coisa que Buber nega, exatamente pela restrição da mutualidade que aí se verifica, pela própria definição da
natureza da relação, definição que não depende nem de Rogers nem de Buber, mas está assim socialmente
definida ou institucionalizada, faz parte da expectativa de papéis com as quais as pessoas chegam à situação. A
relação terapêutica é também uma relação específica e não uma relação totalmente aberta, como seria o contexto
para o melhor exemplo de concretização da relação Eu-Tu
Outras influências são relatadas por grandes estudiosos da Abordagem Centrada na Pessoa, mas não
citadas por Carl Rogers em sua obra. Na verdade, não podemos dizer que, mesmo não citando estas influências,
Rogers não tenha sido tocado por algumas idéias que fizeram parte do contexto cultural onde viveu.
Estas influências relatadas por outras pessoas que estudam Rogers tratam da Fenomenologia e do
Existencialismo. Como já dissemos, apesar da pouca leitura de Rogers tanto na Fenomenologia quanto no
Existencialismo (havendo, inclusive, má interpretação *, em alguns momentos), o contexto cultural pode ter trazido
estas influências para seu trabalho.
A partir da década de 80, quando os estudos fenomenológicos-existenciais se iniciaram em torno da ACP,
a abordagem saiu de uma matriz romântica e humanista (na concepção mais ingênua do termo) para um corpo
teórico mais sólido, recebendo então o rótulo de uma abordagem fenomenológica-existencial, juntamente com a
Gestalt-terapia, de Fritz Perls.
"[...] Falar da vertente européia de constituição da ACP e da psicologia humanista é remontar,
inevitavelmente, à contribuição de F. Nietzsche ao processo de constituição da cultura da civilização ocidental [...]"
(Fonseca no prelo, p.5). Nietzsche afirmava (diferentemente de Sócrates) o valor dos sentidos, do corpo, a
afirmação da vida e do vivido, indo contra o azedume da vida e o conceito de culpa pregados pela religião de sua
época.
Rogers vem exatamente trabalhar a questão dos valores como algo que impede o crescimento e o
desenvolvimento do organismo. Centra na confiança no indivíduo, no organismo, a base para o "sucesso" do
processo terapêutico, aproximando seu conceito de "tendência atualizante" do de "vontade de potência", de
Nietzsche.
Assim como para Nietzsche, para Rogers a existência também é inocente; não há uma procura no que está por trás
de um discurso ou uma descrença nos instintos desprovidos de razão, algo que se expressa no que Rogers
chamava de tendência atualizante. Se forem dadas as condições básicas para o organismo crescer, e lhe for
proporcionado um clima de liberdade, este vai saber se desenvolver rumo ao melhor caminho possível.
Além do que, Otto Rank, segundo Fonseca (no prelo, p.10), "[...] foi profundamente influenciado pelas
perspectivas de F. Nietzsche e buscou integrar estas perspectivas como fundamento de seu sistema de
psicoterapia[...]" e, como sabemos, Rogers teve, na relação terapêutica de Otto Rank uma grande influência no
inicio de seu trabalho. Portanto, mesmo que "por tabela", Rogers possivelmente recebeu a influência do
pensamento nietzscheano em seu trabalho, através de Otto Rank.
Dissidentes do movimento psicanalista também exerceram influência no pensamento rogeriano. Assim
como Rogers, Jung, por exemplo, se centra na saúde para o seu conceito de individuação, vendo benignidade na
existência humana, ao contrário de uma perspectiva psicanalítica.
Reich também teve uma contribuição, quando trouxe o corpo para psicologia e, segundo Fonseca (no
prelo, p.10), foi "[...] um dos primeiros a sustentar a perspectiva de uma auto-regulação organísmica [...]". Reich,
inclusive, segundo Fonseca (no prelo, p.9) influenciou Kurt Goldstein, que, por isso, "valorizou fundamentalmente
estas capacidades de auto-regulação e de auto-atualização do organismo humano como fundamentos [...] de sua
psicologia organísmica [...]".
Kurt Goldstein, médico que estudou psicologia, foi uma outra grande influência ao trabalho de Rogers.
Segundo Fonseca (no prelo, p.8) "[...] de um eminente neuropsiquiatra e pesquisador, Goldstein morreu estudando
fenomenologia e existencialismo [...]". Goldstein é um grande alicerce para a psicologia organísmica, e teve seu
trabalho baseado na Psicologia da Gestalt, pois segundo Fonseca (no prelo, p.9)

"[...] contrapôs os seus estudos a uma psicologia fundamentada na distinção corpo-mente e na


compartimentalização do corpo e do psiquismo humano em funções independentes, sem uma consideração
adequada para com os importantes aspectos de seu funcionamento sistêmico[...]".

A noção de organismo como um todo organizado é bastante visível em Rogers, quando este afirma que
"[...] o organismo reage ao seu campo fenomenológico como um todo organizado [...]" (Rogers, 1992, p.553).
Rogers (1992, p.554) complementa esta frase, afirmando que "[...] o organismo, em todos os momentos, é um
sistema organizado total, no qual a alteração de uma das partes pode produzir modificações em qualquer outra [...]".
Diante do exposto, podemos perceber que, tanto a visão de Kurt Goldstein quanto a de Rogers são holísticas.
James também influenciou o pensamento de Carl Rogers, principalmente em seus primórdios, quando a
coleta de dados estatísticos e a tentativa de tornar a Abordagem Centrada na Pessoa eram preocupações
constantes (preocupações estas que foram cada vez mais diminuindo na obra de Rogers). Segundo Leitão (1986,
p.80) "[...] um aspecto a ser salientado na história da vida de Rogers é sua formação experimentalista, que o levou a
pesquisar longamente seus pressupostos teóricos [...]". Talvez, isso responda um pouco acerca da questão sobre o
enquadramento da Tendência Atualizante em uma matriz Funcionalista e Organicista.
Segundo Fonseca (no prelo, p.15) o encontro
"[...] da vertente européia com a vertente norte-americana de psicologia e psicoterapia fenomenológico existencial
estas perspectivas da filosofia pragmática de W. James serviram como um poderoso gancho de integração entre a
mentalidade da psicologia pragmática norte-americana e as influências fenomenológico existenciais que lhe
chegavam, então, da Europa[...]".

Contudo, como já foi salientado, a influência do pragmatismo de James se deu para o nascimento da ACP,
pois, já no final de sua vida, Rogers não mais acreditava neste tipo de ciência empirista, propunha uma nova
filosofia da ciência para a Psicologia. Dizia Rogers:

"[...] O empirismo permanecerá como parte de nossa ciência, mas para vastas áreas do conhecimento psicológico,
precisamos de uma ciência muito mais humana. Não sei que forma poderá tomar, mas sei que não estará longe da
fenomenológica[...] Acho que a Psicologia se preocupou tanto em tornar-se ciência para se comparar com a física,
que, sob muitos aspectos, virou cientismo. Não creio que estejamos enfrentando os problemas mais fundamentais
da condição humana [...]" (Evans, 1979, p.79)

Há, ainda, a influência de dos psicólogos fenomenológico-existenciais europeus, como Ludwig


Binswanger, M. Boss e E. Minkovski, que foram impulsionados pela idéias de Heidegger * e romperam com a
Psicanálise.
Além destes psicólogos europeus, houve, evidentemente, a influência óbvia de psicólogos humanistas
americanos, como Maslow, Angyal e Rollo May, que, segundo Fonseca (no prelo, p.16) [...] foi um dos
organizadores do livro Existência, que pela primeira vez trazia aos Estados Unidos as concepções de
psicoterapeutas existenciais europeus,como Binswanger, Minkovski, Stauss e outros [...]". Aliás, segundo o próprio
Fonseca (idem) Rogers foi o revisor do livro organizado por May.
A influência de Kurt Lewin é visível no trabalho com grupos e já foi comentada anteriormente.
Vê-se, portanto, a partir do que foi dito neste tópico, que muitas são as influências recebidas pela
Abordagem Centrada na Pessoa, fato que abre espaço para bastantes pesquisas e uma verdadeira arqueologia
acerca da história desta abordagem Psicológica. Aliás, Rogers (1974, p.39) já apontava para este fato ao afirmar
que a Abordagem Centrada na Pessoa "[...] tem suas raízes em fontes muito diversas. Seria muito difícil indicá-las
todas [...]".

As visões que Rogers tinha de Ciência

Como Rogers via ciência? Será que ele a concebia como um sistema aberto, ou imaginava produzir uma
verdade e que todas as outras abordagens de Psicologia não tinham nada a contribuir? Tentemos responder estas
questões.
Em se tratando de Psicologia, Rogers via o grande número de Teorias como algo benéfico e rico para esta
ciência. Segundo ele (1992, p.14) "[...] a atitude um tanto crítica geralmente empregada com relação a tudo que
possa ser definido como uma ‘escola de pensamento’ origina-se de uma falta de apreciação do modo como a
ciência se desenvolve [...]". Rogers parecia saber, portanto, que cada método tinha os seus méritos e só vinham
enriquecer o desenvolvimento da ciência Psicológica.
Fica claro, então, que, para Rogers, a ciência nada mais é do que um grande número de hipóteses
testáveis, e não uma produção de dogmas, de verdades absolutas, onde um grande guru carrega consigo a
verdade. Aliás, Rogers se esquivava de uma posição de Guru. Em Evans (1979, p. 118) Rogers diz que "[...] quando
se encontra a pessoa que é a chave de tudo, a ‘resposta’, ‘esse é meu guru’, etc., essa é a hora de afastá-lo desta
posição [...]".
Trabalhos como os que são realizados no Brasil acerca de uma maior teorização para a Abordagem
Centrada na Pessoa e o percurso por caminhos por onde Rogers não passou, através da Filosofia (tentativa feita
principalmente por Fonseca) são vistas como benéficas pelo cientista americano. Rogers dizia sentir "[...] pena das
pessoas que trabalharam comigo e se sentiram inclinadas a me destacar como a principal influência em seu
trabalho [...]" (Evans, 1979, p.118). Continua, afirmando que "[...] os estudantes que mais me alegraria ter
influenciado são os que se dispuseram a ir além, que não hesitam em discordar de mim, que são pessoas
independentes [...]" (Evans, 1979, p.118).
Como exemplo vivo do tipo de influência que Rogers gostaria de ter exercido, temos o americano,
residente no Brasil, John Wood, que foi colaborador de Rogers no Centro de Estudos da Pessoa, em La Jolla,
Califórnia. Wood, segundo Gobbi e al (1998, p. 152) a maior personalidade da ACP, não chega a negar Rogers,
mas, assim com Fonseca, propõe uma revisão teórico-prática da abordagem criada por Carl Rogers.
A posição de ciência como um sistema aberto foi imutável no pensamento de Carl Rogers, mas o modo
como sua ciência devia ser organizada mudou muito durante a obra do criador da Abordagem Centrada na Pessoa.
Como já foi dito anteriormente, Rogers viveu de forma intensa o conflito entre objetividade e subjetividade.
No início de sua produção, Rogers via a psicoterapia como uma técnica, uma tecnologia a ser aplicada sobre o ser
humano. Dizia em seu livro (1992, p.23) "Terapia Centrada no Cliente", publicado em 1951, que "[...] no campo da
terapia, o primeiro requisito é uma técnica que produza um resultado efetivo [...]" .
Portanto, dependendo do período do pensamento rogeriano a ser estudado, há uma preocupação técnica.
"Terapia Centrada no Cliente", por exemplo, é, segundo Belém (no prelo, p.15) uma obra clássica do período da
"Psicoterapia Reflexiva", quando ainda tinha uma preocupação técnica, neste caso, a técnica da reflexão de
sentimentos. A função do terapeuta era comparável a um espelho.
Na última fase de sua carreira, Rogers parecia já ter se decidido a respeito do dilema entre a objetividade
e subjetividade, optando pela última. Sabia, inclusive, das críticas que lhe eram feitas pelas outras pessoas, como a
de ser um ingênuo. Sobre estas críticas, Rogers (1977c, p.32) dizia: "[...] Para a maioria dos autores, a melhor
maneira de lidar comigo é me considerar, em um parágrafo, como o autor de uma técnica - a ‘técnica não diretiva’.
Definitivamente, não pertenço ao grupo fechado da academia psicológica [...]".
Rogers passou a não crer mais numa ciência empírica e dentro de todo o padrão de ciência concebido em
nossa civilização. Na verdade, houve como que um desencantamento com as questões suscitadas pela Psicologia e
por todas as ciências em geral. Para Rogers, as ciências estavam longe de estudar algo que realmente interessasse
e contribuísse para um progresso humanitário.
O criador da ACP cria em uma ciência autêntica, mais criadora. A este respeito, Rogers dizia: "[...] Ver
cientistas autênticos, se me permite a expressão, cientistas imaginativos, curiosos e, prontos a sonhar, cheios de
convicção e prontos a testar suas hipóteses e constatar que se enganaram - e comparar com eles os cientistas do
comportamento, é muito deprimente [...]" (Evans, 1979, p.89).
Os cientistas do comportamento a que Rogers se refere acima são cientistas presos em um academicismo
e uma visão rígida do que é ciência, academicismo este que, segundo o mesmo Rogers "[...] é um dos motivos que
impedem a psicologia de ser socialmente importante [...]" (Evans, 1979, p.88).
Rogers achava que o saber psicológico poderia prestar grandes serviços a uma ditadura com planos para a
manipulação de indivíduos. Segundo ele, os psicólogos "[...] poderiam ensinar o ditador a manipular a opinião
pública e moldar o comportamento [...]" . Estas críticas de Rogers, evidentemente, dirigiam-se ao Behaviorismo
radical de Skinner, seu contemporâneo e compatriota e cuja perspectiva de Rogers a seu respeito será em breve
abordada neste trabalho.
Ainda a respeito da manipulação, podemos pensar: onde entra a ACP na questão relativa ao controle do
comportamento humano? Será que ela também não direciona, não controla? A resposta de Rogers a este respeito é
que a sua abordagem direciona, sim, mas no sentido de uma autonomia. Diz ele (1970a, p.319): "[...]
Estabelecemos, através de um controle exterior, condições que, segundo as nossas previsões, serão
acompanhadas por um controle interior do indivíduo sobre si próprio nos seus esforços para atingir os objetivos que
interiormente escolheu [...]". Rogers (1970a, p.319) continua, afirmando, mais adiante, que "[...] essas condições
estabelecidas por nós [psicólogos que trabalhamos com a ACP] prevêem um comportamento que é essencialmente
‘livre’ [...]".
Parece haver uma contradição no discurso de Rogers. Como pode ele criticar a manipulação do
comportamento, se, de acordo com o que se pode concluir de suas palavras, é "dada" ao indivíduo a sua liberdade?
Parece que há uma modelação do individuo para ser a "pessoa em pleno funcionamento" que Rogers nos descreve.
Seria o próprio Rogers esta "pessoa em funcionamento pleno"? Esta questão merece um maior aprofundamento e
este não é, neste trabalho, o nosso intuito.
Passemos, agora, para a visão de Rogers sobre outras abordagens de Psicologia . Qual era sua opinião
acerca do Behaviorismo? E da Psicanálise? São questões que tentaremos elucidar nos próximos parágrafos.
Comecemos com o Behaviorismo.
Rogers, como já foi dito aqui, foi contemporâneo e patrício de Skinner. Segundo o modelo de Psicologia
eminentemente empirista americano, Skinner tinha um maior respeito e foi, nos anos 70, considerado pela revista
Times como o maior psicólogo americano de todos os tempos. Era constante o debate de ambos.
A posição de Rogers era, claramente em oposição ao Behaviorismo. Que fique claro que se tratava de
uma questão científica, ou melhor, filosófica, segundo Rogers (1977c, p.36), que acabou "[...] percebendo que a
diferença básica entre as posições comportamental e humanística em relação aos seres humanos reside numa
opção filosófica* [...]".
A opção filosófica residiria na questão do livre arbítrio, negada pelos behavioristas. Rogers (1977c, p.36)
"[…] impossível negar a realidade e a significância do livre arbítrio humano [...]" . Quanto à questão de ser a
abordagem comportamental a preferida da "psicologia acadêmica" norte-americana, Rogers achava que isso se
devia ao seu contexto cultural eminentemente tecnologicamente orientada.
Além disso, a questão não parece ser apenas filosófica, mas de método. Acerca do condicionamento
operante, Rogers afirmava que foi "[...] uma verdadeira contribuição, mas acho que o tempo mostrará que foi uma
contribuição acanhada, no sentido de que precisamos de algo que inclua muito mais da totalidade da pessoa na
ciência da Psicologia [...]" (Evans, 1979, p.122).
Outra abordagem a quem Rogers se opunha era a Psicanálise *, o que é bastante óbvio pelo fato de que
ele próprio afirmara receber influências de dissidentes do movimento psicanalítico, como Otto Rank.
Sobre a Psicanálise, de onde, curiosamente, Rogers veio (mesmo que não fosse um psicanalista
ortodoxo), Rogers achava que se tratava de uma abordagem ortodoxa. Dizia ele que "[...] na prática o ponto de vista
freudiano o degenerou numa ortodoxia muito estreita que poderia realmente ser comparada ao fundamentalismo.
Os freudianos têm que aceitar esse credo, ou não são freudianos [...]" (Evans, 1979, p.103).
Rogers comparava, portanto, a psicanálise a uma religião. Ou melhor, os psicanalistas como religiosos,
pois acusar a psicanálise em se tratando de seu criador de ortodoxa pode ter, a meu ver (e não sou um grande
estudioso de psicanálise, admito), no mínimo, duas respostas.
Assim como Rogers, Freud tinha na sua teoria um organismo vivo e, de acordo com o que se verificava na
clínica, modificava-a sem o menor constrangimento por fazê-lo. Contudo, Freud rompia com aqueles que tivessem
um ponto de vista diferente do seu. Assim foi, por exemplo, com Carl Gustav Jung, que era considerado por Freud o
príncipe coroado, mas que, ao falar que nem toda pulsão é sexual, foi expurgado do círculo psicanalítico.
Rogers afirmava a respeito dos psicanalistas que eles "[...] se uniram mais firmemente entre si e se
organizaram em atitudes cada vez mais defensivas, o que, no final das contas, deixa-os frustrados [...]" (Evans,
1979, p.105). Ainda acerca da teoria psicanalítica Rogers afirmava que esta "[...] repousa, de fato, em dogmas
essencialmente não comprovados e acho que, depois de algum tempo, o mundo começa a ficar um pouco cansado
disso [...]" (Evans, 1979, p.104).
Outra divergência que podemos encontrar entre Freud e Rogers diz respeito à questão da natureza
humana. Enquanto Freud via-a de forma predominantemente pessimista, Rogers era otimista (e, às vezes, até
ingênuo demais). Segundo Gusmão (texto da internet, p.2)

"[...]Quando apreciamos a obra freudiana, observamos que toda ela é marcada por um certo ceticismo em relação
ao homem. Sendo a natureza humana, na sua visão, determinada, sobretudo, pelas pulsões e forças irracionais,
oriundas do inconsciente; pela busca de um equilíbrio homeostático; e pelas experiências vividas na primeira
infância [...]"

Para Rogers, a confiança no Homem era a base para o desenvolvimento de sua abordagem, uma vez que,
como já dissemos, é a tendência atualizante, que leva a uma crença na benignidade humana, pois se for
proporcionado um clima de liberdade, o ser humano saberá reagir de forma sábia, sem instintos destrutivos ou algo
do tipo (pelo menos, esta é a proposta da ACP).
Em se tratando de críticas à sua abordagem psicológica, Rogers se irritava muito com as pessoas que o
consideravam superficial. Afirmava ele que "[...] isso simplesmente não é verdade. Essa crítica, que me lembre, me
perturbou mais do que qualquer outra, porque não me considero superficial. Não se pode levar a sério muitas
críticas porque se baseiam na mais completa falta de compreensão do que eu e meus colegas temos feito [...]"
(Evans, 1979, p.121).
Como Rogers tinha conhecimento de que saber é poder, tinha muito medo de o que poderia ser feito de seu
trabalho com relação ao futuro. Portanto, quero encerrar este tópico, citando um longo trecho do prefácio de seu
terceiro livro: Terapia Centrada no Cliente, de 1951, onde já temia os rumos que sua abordagem poderia vir a seguir:

"[...] De boa vontade, eu eliminaria todas as palavras deste original, se pudesse, de alguma forma, apontar com
eficácia a experiência que é a terapia. A terapia é um processo, uma coisa em si, uma experiência, uma relação,
uma dinâmica. Não é o que este livro diz a seu respeito, não mais do que uma flor é a descrição de um botânico ou
o êxtase do poeta diante dela. Se este livro servir como um grande indicador apontando para uma experiência que
está aberta aos nossos sentidos da audição e da visão e a nossa capacidade de experiência emocional, e se
despertar o interesse de alguns e estimulá-los a explorar a coisa-em-si, ele terá cumprido seu propósito. Se, por
outro lado, este livro for se juntar à massa já avassaladora de palavras escritas sobre palavras, se incutir nos
leitores a idéia de que a pagina impressa é tudo, então terá fracassado lamentavelmente. E, se sofrer a degradação
definitiva de tornar-se conhecimento de sala de aula- no qual as palavras mortas de um autor são dissecadas e
despejadas na mente de estudantes passivos, de tal maneira que indivíduos vivos carreguem consigo as partes
mortas e dissecadas do que já foram pensamentos e experiências vivas, sem ao menos a consciência de que
algum dia já foram vivas- melhor seria que este livro jamais houvesse sido escrito [...]".

Que Fenômenos são Contemplados pelo Método da ACP?


Basicamente, onde houver relações humanas, podem ser aplicados os conceitos da Abordagem Centrada
na Pessoa. Portanto, não há uma restrição ao campo da Psicoterapia, até pelo trabalho de grupos desenvolvido por
Carl Rogers.
Não raro, podem ser encontrados chefes de recursos humanos de empresas com uma orientação
"rogeriana". Segundo Gobbi et al (1998, p.23) a aplicação da ACP em uma organização seria no sentido de "[...]
‘liderança e administração centradas no grupo’, seja no treinamento de pessoal, ou mesmo no acompanhamento de
atividades desenvolvidas em organizações [...]".
A pedagogia é uma outra área onde as teorias de Rogers podem ser aplicadas *, pois Rogers dedicou duas
obras suas à pedagogia, propondo o que chamou de "Ensino Centrado no Aluno", que, segundo Gobbi et al (1998,
p.23), "[...] consiste numa grande discussão de Rogers a respeito de educação e escolas, que se desenvolve em
uma nova perspectiva pedagógica, bem como numa formulação própria do sentido de aprendizagem [...]".
Os trabalhos da Psicologia Comunitária usam recursos desenvolvidos nos de Grupos de Encontro,
juntamente com os Círculos de Cultura de Paulo Freire, o que os profissionais de Psicologia comunitária chamam de
"Círculos de Encontro".
Rogers tentou explicar fenômenos sociais a partir de sua abordagem, mas pecou pela ingenuidade
presente em sua proposta, pois acreditava que, a partir de uma revolução pessoal, poderia haver uma revolução
social. Este tipo de visão por parte do citado psicólogo americano deu margem a uma série de produções na década
de 80 criticando sua visão não-dialética dos processos sociais *.
Mesmo assim, é possível uma aplicação da ACP para a Psicologia social a partir de "[...] especificações
para a psicoterapia de grupo, condução de grupos de trabalho, aplicações pedagógicas, aplicações à pesquisa não
social (prática da entrevista ‘não-diretiva’), aplicações ao aconselhamento e á intervenção psicossocial [...]".
Como se percebe, os fenômenos cujo método da Abordagem Centrada na Pessoa são eminentemente
práticos (daí, talvez, a razão de se dizer que a preocupação da abordagem é técnica), não possuindo explicação
para fenômenos sociais ou subjetivos, não se caracterizando, portanto, como uma super-teoria, diferente do que
acontece com a Psicanálise (que leva seu conceito de Inconsciente até às últimas conseqüências) e com o
Comportamentismo (que tudo explica a partir do conceito de Condicionamento Operante); com isso, conclui-se que
a Abordagem Centrada na Pessoa não é, ao contrário das outras duas abordagens citadas, um sistema,
configurando-se como uma teoria aplicável a relações humanas.

Conclusão

Espero com este trabalho ter conseguido mostrar um pouco do que pode ser estudado na obra de Carl
Rogers no que diz respeito ao método, influências, sua visão de ciência e aplicações de sua teoria.
Tenho a expectativa, também, de ter mostrado que, além das técnicas desenvolvidas por Rogers, há,
também, a sua teoria de personalidade e sua preocupação epistemológica, além de uma visão muito clara, por parte
deste cientista, de que ciência é um sistema aberto e composto hipóteses, jamais por certezas.
Sei que este tipo de estudo exige anos a fio de leitura (tenho paciência e posso esperar, lendo), mas
espero que tenha servido (pelo menos para mim) como o início de uma série de estudos a serem feitos acerca da
abordagem no que tange tanto às questões aqui abordadas quanto a outras que (espero) venham a surgir durante
todo o decorrer do curso de Psicologia.

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[1] Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (Brasil) e Professor da Faculdade de Psicologia da
Universidade Federal do Pará (Brasil)

[Obs.: texto editado para uso em sala de aula pelo professor]

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