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Tirania da maioria
corpo, nem uma ciasse, nem uma associação livre que possa
representar e fazer agir essa opinião?
Quando cada cidadão, sendo igualmente impotente,
igualmente pobre, igualmente isolado, só pode opor sua fra
queza individual à força organizada do govemo?
Para conceber algo análogo ao que sucederia entâo en
tre nós, não é a nossos anais que conviria recorrer. Seria
necessário talvez interrogar os monumentos da antiguidade
e referir-se àqueles séculos terríveis da tirania romana, em
que, estando os costumes corrompidos, as lembranças apa
gadas, os hábitos destruídos, as opiniões vacilantes, a liber
dade escorraçada das leis não soube mais onde se refugiar
para encontrar asilo; em que, nada garantindo mais os cida
dãos, e os cidadãos não se garantindo mais eles mesmos,
viram-se homens zombar da natureza humana e príncipes
cansarem a clemência do céu mais que a paciência de seus
súditos.
Bem cegos parecem-me os que pensam reencontrar a
monarquia de Henrique IV ou de Luís XIV. Quanto a mim,
quando considero o estado a que já chegaram várias nações
européias e aquele a que todas as outras tendem, sinto-me
inclinado a crer que logo só haverá entre elas lugar para a
liberdade democrática ou para a tirania dos Césares.
Não é isso digno de reflexão? De fato, se os homens ti
vessem de chegar a tal ponto que fosse necessário tomar to
dos eles livres ou todos escravos, todos iguais em direitos ou
todos privados de direitos; se os que governam as socieda
des fossem reduzidos à alternativa de elevar gradualmente a
multidão até eles ou deixar todos os cidadãos caírem abaixo
do nível da humanidade, não bastaria isso para vencer mui
tas dúvidas, tranqüilizar muitas consciências e preparar cada
um a fazer facilmente grandes sacrifícios?
Não seria necessário então considerar o desenvolvimen
to gradual das instituições e dos costumes democráticos não
como o melhor, mas como o único meio que nos resta de
ser livres? E, sem amar o governo da democracia, não fica
riam as pessoas dispostas a adotá-lo como o remédio de
melhor aplicação e mais honesto que possam opor aos ma
les presentes da sociedade?
SEGUNDA PARTE 371