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LITERATURA - Profª.

ISABEL VEGA - AULA 18

3º Fase do Modernismo – Poesia – João Cabral de Melo Neto

Texto 1: A geração de 45 e João Cabral de Melo Neto

Na poesia, é o momento da chamada “geração de 45”, que exprimiu as suas posições em revistas como
Orfeu e Revista Brasileira de Poesia, ambas fundadas em 1947. Assumindo posição crítica em relação ao
Modernismo, esses poetas preconizaram a retomada do poema metrificado e a elevação dos temas, sem no
entanto deixar de lado o verso livre nem a conquista do quotidiano familiar como assunto válido. Os mais
característicos dentre eles praticaram o poema longo de metros largos, para exprimir uma atitude de meditação ou
traduzir as emoções com refinamento formal. Deixando de lado as influências da vanguarda europeia mais
agressiva que tinham agido sobre os modernistas, além de abandonarem o pitoresco e qualquer intenção
nacionalista, tomaram como pontos de referência poetas em cuja obra é forte a atmosfera de busca da
transcendência, como um certo Fernando Pessoa e o Rilke das “Elegias de Duino”.(...)
Geralmente incluído nesse conjunto, distingue-se dele todavia sob muitos aspectos João Cabral de Melo
Neto (1920-1999), um dos maiores poetas brasileiros, criador de linguagem original, capaz de seduzir pela pura
qualidade verbal e pela capacidade de exprimir de maneira poderosa uma realidade que parece todavia nascer da
experiência com a palavra.
O seu primeiro livro, Pedra de Sono (1942), tinha elementos surrealistas curiosamente associados a um
desígnio construtivista que se aproximaria mais do cubismo e seria a dominante na sua obra posterior. O título do
segundo livro, O engenheiro (1945), exprime essa disposição, graças à qual foi elaborando uma poesia seca,
restrita aos metros curtos, capaz de fazer do poema um objeto sólido que se apresenta ao leitor como se existisse
materialmente. Uma longa estadia na Espanha (como diplomata) familiarizou-o com os aspectos descarnados da
sua cultura: o ascetismo, a austeridade, a retidão, que dissolvem a sensualidade formal e parecem simbolizados
no título de um de seus livros, A educação pela pedra (1966). Da poesia espanhola tomou o gosto pela rima toante
e certa tonalidade de romancero, mais visíveis nas obras em que representa poeticamente a sua região, o
Nordeste, onde se alternam a paisagem árida do interior seco e a paisagem luxuriante da faixa litorânea, assim
como a opulência se alterna com a miséria. Neste rumo escreveu Morte e vida Severina (1955), onde o drama
social da sua região, a mais pobre do Brasil, encontrou uma expressão de rigorosa pungência. É visível nas suas
fases iniciais certa marca de Murilo Mendes e sobretudo Carlos Drummond de Andrade, sem prejuízo de uma forte
originalidade, que foi-se acentuando até fazer da sua poesia um inconfundível monumento de radicalidade poética,
onde a força da mensagem é função exata do rigor da construção, que experimenta com as sonoridades mais
secas da palavra, mediante um ânimo combinatório de que resultam figuras verbais com alto poder de sugestão.
(CANDIDO, Antonio. Iniciação à Literatura Brasileira.)

Texto 2: Características da obra de João Cabral

a) Ruptura com a poesia de inspiração: Seu trabalho poético rompe com esse mito, pois prega que a poesia não
está no sentimento do poeta ou mesmo na beleza dos fatos, mas na organização do texto, no rigor de sua
construção.
b) Busca de simetria: O ideal de simetria só pode ser atingido por meio de um trabalho rigoroso da linguagem
poética. Em O engenheiro, de 1945, o ideal de um projeto geométrico de construção emerge.
c) Objetividade da palavra escrita: Com Psicologia da composição, Fábula de Anfion e Antiode, trilogia de 1947,
rompe de vez com a fantasia e constrói poemas por meio da objetividade da palavra escrita e não pelos “estados
de alma” da tradição romântica.
d) Poesia de ênfase sociológica: A partir de 1950, com O cão sem plumas, inicia-se um ciclo de poemas de ênfase
sociológica. Prossegue com O rio e Morte e vida severina, em que a denúncia da miséria nordestina segue os dois
movimentos que aparecem no título: morte / vida.
(CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Literatura. v.3. São Paulo: Saraiva, 1999. p.227)
Texto 3: “Tecendo a manhã” Texto 4: “O engenheiro”

1 A luz, o sol, o ar livre


Um galo sozinho não tece uma manhã: envolvem o sonho do engenheiro.
ele precisará sempre de outros galos. O engenheiro sonha coisas claras:
De um que apanhe esse grito que ele Superfícies, tênis, um copo de água.
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes O lápis, o esquadro, o papel;
e o lance a outro; e de outros galos o desenho, o projeto, o número:
que com muitos outros galos se cruzem o engenheiro pensa o mundo justo,
os fios de sol de seus gritos de galo, mundo que nenhum véu encobre.
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos. (Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
2 como um jornal que todos liam,
E se encorpando em tela, entre todos, ganhava um pulmão de cimento e vidro).
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo A água, o vento, a claridade,
(a manhã) que plana livre de armação. de um lado o rio, no alto as nuvens,
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo situavam na natureza o edifício
que, tecido, se eleva por si: luz balão. crescendo de suas forças simples.

Texto 6: “Alguns toureiros”


Texto 5: “O Relógio”
Eu vi Manolo Gonzáles o que melhor calculava
Ao redor da vida do homem e Pepe Luís, de Sevilha: o fluido aceiro da vida,
há certas caixas de vidro, precisão doce de flor, o que com mais precisão
dentro das quais, como em jaula, graciosa, porém precisa. roçava a morte em sua fímbria,
se ouve palpitar um bicho.
Vi também Julio Aparício, o que à tragédia deu número,
Se são jaulas não é certo; de Madrid, como Parrita: à vertigem, geometria
mais perto estão das gaiolas ciência fácil de flor, decimais à emoção
ao menos, pelo tamanho espontânea, porém estrita. e ao susto, peso e medida,
e quadradiço de forma.
Vi Miguel Báez, Litri, sim, eu vi Manuel Rodríguez,
Umas vezes, tais gaiolas dos confins da Andaluzia, Manolete, o mais asceta,
vão penduradas nos muros; que cultiva uma outra flor: não só cultivar sua flor
outras vezes, mais privadas, angustiosa de explosiva. mas demonstrar aos poetas:
vão num bolso, num dos pulsos.
Mas onde esteja: a gaiola E também Antonio Ordóñez, como domar a explosão
será de pássaro ou pássara: que cultiva flor antiga: com mão serena e contida,
é alada a palpitação, perfume de renda velha, sem deixar que se derrame
a saltação que ela guarda; de flor em livro dormida. a flor que traz escondida,

e de pássaro cantor, Mas eu vi Manuel Rodríguez, e como, então, trabalhá-la


não pássaro de plumagem: Manolete, o mais deserto, com mão certa, pouca e extrema
pois delas se emite um canto o toureiro mais agudo, sem perfumar sua flor
de uma tal continuidade mais mineral e desperto, sem poetizar seu poema.
que continua cantando o de nervos de madeira,
se deixa de ouvi-lo a gente: de punhos secos de fibra
como a gente às vezes canta o da figura de lenha
para sentir-se existente. lenha seca de caatinga,
Texto 7: “Catar feijão” Texto 8: “Pernambucano em Málaga”

Catar feijão se limita com escrever: A cana doce de Málaga A cana doce de Málaga
jogam-se os grãos na água do alguidar dá domada, em cão ou gata: não é mar, embora em praias,
e as palavras na da folha de papel; deixam-na perto, sem medo, dá sempre em pequenas poças,
e depois, joga-se fora o que boiar. quase vai dentro das casas. restos de uma onda recuada.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo; É cana que nunca morde, Em poças, não tem do mar
pois para catar esse feijão, soprar nele, nem quando vê-se atacada: a pulsação dele, nata:
e jogar fora o leve e o oco; palha e eco. não leva pulgas no pelo sim, o torpor surdo e lasso
nem, entre folhas, navalha. que se vê na água estagnada.
2
Ora, nesse catar feijão entra um risco: A cana doce de Málaga A cana doce de Málaga
o de que entre os grãos pesados entre dá escorrida e cabisbaixa: dá dócil, disciplinada:
um grão qualquer, pedra ou indigesto, naquele porte enfezado dá em fundos de quintal
um grão imastigável, de quebrar dente. de crianças abandonadas. e podia dar em jarras.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase grão mais vivo As folhas dela já nascem Falta-lhe é a força da nossa,
obstrui a leitura fluviante, flutual, murchas de cor, como a palha: criada solta em ruas, praças:
açula a atenção, isca-a com o risco. ou a farda murcha dos órfãos, solta, à vontade do corpo,
desde novas, desbotadas. nas praças das grandes várzeas.

Texto 9: “Luto no sertão” Texto 10: “O urubu mobilizado”

Pelo sertão não se tem como Durante as secas do Sertão, o urubu,


não se viver sempre enlutado; de urubu livre, passa a funcionário.
lá o luto não é de vestir, O urubu não retira, pois prevendo cedo
é de nascer com, luto nato. que lhe mobilizarão a técnica e o tacto,
cala os serviços prestados e diplomas,
Sobe de dentro, tinge a pele que o enquadrariam num melhor salário,
de um fosco fulo: é quase raça; e vai acolitar os empreiteiros da seca,
luto levado toda a vida veterano, mas ainda com zelos de novato:
e que a vida empoeira e desgasta. aviando com eutanásia o morto incerto,
ele, que no civil quer o morto claro.
E mesmo o urubu que ali exerce, Embora mobilizado, nesse urubu em ação
negro tão puro noutras praças, reponta logo o perfeito profissional.
quando no sertão usa a batina No ar compenetrado, curvo e conselheiro,
negra-fouveiro, pardavasca. no todo de guarda-chuva, na unção clerical,
com que age, embora em posto subalterno:
ele, um convicto profissional liberal.

Texto 11: “Lendo provas de um poema”

Com Rubem Braga, certa vez,


lia em provas Dois Parlamentos. como se farejassem a morte
Na manhã ipanema e verão, no texto que estavámos lendo
em volta do alto apartamento, e se a inodora morte escrita
sem que carniça houvesse perto, não fosse esconjuro mas treno
sem explicação, todo um elenco
de urubus se pôs a rondar
a cobertura, em voos pensos:
CACD 2013: QUESTÃO 5: Com relação aos textos acima [textos 10 e 11] — poemas de João Cabral de Melo Neto—,
julgue (C ou E) os itens subsequentes.
I. Depreende-se do primeiro texto que o poeta João Cabral de Melo Neto e o cronista Rubem Braga liam juntos as
provas da obra Dois Parlamentos, porque ambos eram personagens desse poema.
II. No segundo texto, ao informar que o urubu é “funcionário” (v.2), “veterano” (v.8) e “convicto profissional liberal” (v.16),
o poeta quer assim transmitir a rotina, a experiência e a autonomia do urubu no período das secas do sertão, quando a
morte dos animais, por fome e sede, aumenta a oferta da carniça de que se alimenta.
III. No primeiro texto, o poeta demonstra apreensão ao perceber “um elenco de urubus” (v.6-7) a circular sobre a
cobertura de um prédio e receia que as aves estejam indicando a iminente morte de um dos escritores, como em um
presságio.
IV. Ao afirmar, no segundo texto, que o urubu “vai acolitar os empreiteiros da seca” (v.7), o poeta ironiza aqueles que
lucram com a longa estiagem sertaneja, comparando-os à ave que, no mesmo período, encontra farta comida.

Texto 12: “Morte e Vida Severina” (trecho inicial)


O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI
— O meu nome é Severino, Mas isso ainda diz pouco: de emboscada antes dos vinte,
não tenho outro de pia. se ao menos mais cinco havia de fome um pouco por dia
Como há muitos Severinos, com nome de Severino (de fraqueza e de doença
que é santo de romaria, filhos de tantas Marias é que a morte severina
deram então de me chamar mulheres de outros tantos, ataca em qualquer idade,
Severino de Maria; já finados, Zacarias, e até gente não nascida).
como há muitos Severinos vivendo na mesma serra Somos muitos Severinos
com mães chamadas Maria, magra e ossuda em que eu vivia. iguais em tudo e na sina:
fiquei sendo o da Maria Somos muitos Severinos a de abrandar estas pedras
do finado Zacarias. iguais em tudo na vida: suando-se muito em cima,
Mas isso ainda diz pouco: na mesma cabeça grande a de tentar despertar
há muitos na freguesia, que a custo é que se equilibra, terra sempre mais extinta,
por causa de um coronel no mesmo ventre crescido a de querer arrancar
que se chamou Zacarias sobre as mesmas pernas finas, algum roçado da cinza.
e que foi o mais antigo e iguais também porque o sangue Mas, para que me conheçam
senhor desta sesmaria. que usamos tem pouca tinta. melhor Vossas Senhorias
Como então dizer quem fala E se somos Severinos e melhor possam seguir
ora a Vossas Senhorias? iguais em tudo na vida, a história de minha vida,
Vejamos: é o Severino morremos de morte igual, passo a ser o Severino
da Maria do Zacarias, mesma morte severina: que em vossa presença emigra.
lá da serra da Costela, que é a morte de que se morre
limites da Paraíba. de velhice antes dos trinta,

Texto 13: “Morte e Vida Severina” (trecho final)


O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE DE FORA, SEM TOMAR PARTE EM NADA

— Severino retirante, ainda mais quando ela é ver a fábrica que ela mesma,
deixe agora que lhe diga: esta que vê, severina; teimosamente, se fabrica,
eu não sei bem a resposta mas se responder não pude vê-la brotar como há pouco
da pergunta que fazia, à pergunta que fazia, em nova vida explodida;
se não vale mais saltar ela, a vida, a respondeu mesmo quando é assim pequena
fora da ponte e da vida; com sua presença viva. a explosão, como a ocorrida;
nem conheço essa resposta, mesmo quando é uma explosão
E não há melhor resposta
se quer mesmo que lhe diga; como a de há pouco, franzina;
que o espetáculo da vida:
é difícil defender, mesmo quando é a explosão
vê-la desfiar seu fio, de uma vida severina.
só com palavras, a vida, que também se chama vida,

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