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A LINGUAGEM VERNACULAR NO
CINEMA NACIONAL DA RETOMADA:
ABERTURAS DE FILMES
REALIZADAS POR CARLA CAFFÉ
Feira de Santana / BA
15 de fevereiro de 2008
2
UEFS
Feira de Santana / BA, 2008
3
165f.
CDU: 791.43
4
Aprovação em ______/______/______/
____________________________________________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Cláudio Cledson Novaes
____________________________________________________________________________
Profa. Dra. Flávia Seligman
____________________________________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Antônio Zorzo
UEFS
Feira de Santana / BA, 2008
5
Autorizo a reprodução,
desde que citada a fonte.
6
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
“The vernacular language in the national Cinema Recovering: film openings done by
Carla Caffé” is a final dissertation for a Postgraduate Work Program in Design, Culture and
Interactivity, and it analyzes the use of vernacular language, signs representation and
symbolics or materials concepts, of a specific social and regional group, on a contemporary
artistic events and cultural context, discussing the visual composition of four filmic openings
or initial credits developed by the designer Carla Caffé on the national cinema Recovering, it
intends, also, to understand the responsibility on the use of this language for the results
concerning the visuals construction reception, presenting the visual construction techniques,
the functions and its work appearance context, demonstrating that, in addition to relate the
technical team, the openings are full of significant visual texts elements passible of reading,
contextualizing the movie and initiating us into cinemas complex seduction.
LISTAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................12
2 LINGUAGEM VERNACULAR ..........................................................................................18
2.1 No Cinema.......................................................................................................................18
2.1.1 Teorias que contribuíram para o estudo da linguagem vernacular no cinema..18
2.1.2 A discussão de identidades como fundamentação do discurso vernacular .......20
2.1.3 A linguagem vernacular nas escolas do cinema moderno..................................22
2.2 No Design ........................................................................................................................25
2.2.1 Explicando o designer...........................................................................................25
2.2.2 O vernacular dentro das escolas de design ..........................................................27
3 ABERTURAS OU CRÉDITOS INICIAIS..........................................................................30
3.1 O que são Aberturas ou Créditos Iniciais ......................................................................30
3.2 A História das Aberturas ou Créditos Iniciais de Filmes no Cinema Nacional ..........31
3.3 Produção de Aberturas ou Créditos Iniciais de Filmes Nacionais ...............................34
3.4 Fluxograma de Trabalho.................................................................................................35
3.4.1 Conversa com o diretor.......................................................................................37
3.4.2 Criação do briefing .............................................................................................37
3.4.3 Estudo da mensagem do filme ...........................................................................37
3.4.4 Pesquisa de referências .......................................................................................38
3.4.5 Reunião de criação ..............................................................................................38
3.4.6 Escolha de uma linha de trabalho ......................................................................38
3.4.7 Discussão e divisão do trabalho .........................................................................38
3.4.8 Estudos de fonte, cores e background ...............................................................39
3.4.9 Execução da primeira parte do projeto.............................................................39
3.4.10 Primeira apresentação .........................................................................................40
3.4.11 Estudo de efeitos, harmonia e som ....................................................................40
3.4.12 Execução da segunda parte do projeto ..............................................................40
3.4.13 Segunda apresentação.........................................................................................40
3.4.14 Arquivo levado para a finalizadora....................................................................41
12
4 CARLA CAFFÉ.....................................................................................................................42
4.1 Produções no teatro.........................................................................................................42
4.2 Produções na televisão....................................................................................................42
4.3 Suas publicações .............................................................................................................43
4.4 Algumas exposições .......................................................................................................43
4.5 Alguns eventos................................................................................................................43
4.6 Projetos em arquitetura...................................................................................................44
4.7 Produções em publicidade..............................................................................................44
4.8 Produções no cinema ......................................................................................................45
4.9 Produções em Design .....................................................................................................45
5 ANÁLISES DAS QUATRO ABERTURAS FÍLMICAS...................................................47
5.1 Análise dos Elementos Constitutivos das Aberturas Fílmicas .....................................49
5.1.1 Kenoma..................................................................................................................57
5.1.1.1 Análise quanto a percepções ...................................................................57
5.1.1.2 Análise dos elementos .............................................................................61
5.1.1.3 Análise da anatomia da mensagem visual ..............................................64
5.1.1.4 Análise quanto ao contraste ....................................................................66
5.1.1.5 Análise das técnicas de comunicação visual ..........................................67
5.1.1.6 Análise quanto ao estilo...........................................................................76
5.1.2 Latitude Zero .........................................................................................................78
5.1.2.1 Análise quanto a percepções ...................................................................79
5.1.2.2 Análise dos elementos .............................................................................83
5.1.2.3 Análise da anatomia da mensagem visual ..............................................87
5.1.2.4 Análise quanto ao contraste.....................................................................88
5.1.2.5 Análise das técnicas de comunicação visual .......................................... 90
5.1.2.6 Análise quanto ao estilo........................................................................ 103
5.1.3 Narradores de Javé ............................................................................................. 104
5.1.3.1 Análise quanto a percepções ................................................................ 105
5.1.3.2 Análise dos elementos ..........................................................................108
5.1.3.3 Análise da anatomia da mensagem visual ...........................................111
5.1.3.4 Análise quanto ao contraste..................................................................112
5.1.3.5 Análise das técnicas de comunicação visual .......................................114
5.1.3.6 Análise quanto ao estilo........................................................................123
5.1.4 O casamento de Romeu e Julieta ......................................................................124
13
1 INTRODUÇÃO
2
Debate feito no dia 26/10/2002, 18h, Fantástico. (www.psiu.com)
3
Tipografia [...] são símbolos visíveis relacionados aos caracteres ortográficos (tais como números e sinais de
pontuação) para fins de reprodução, independentemente do modo que foram criados (a mão livre, por meios
mecânicos) ou reproduzidos (impressos em papel, gravados em um documento digital).”(FARIAS, 2000, p.15)
4
Estética como “o perceber e as sensações diante dos fenômenos ligados à forma” (BAUNGARTEN apud
OLIVEIRA, 2005 p.30). “Experiência do prazer ou mesmo desprazer, das percepções dos sentidos, da
sensualidade e da sensibilidade” (GREIMAS apud OLIVEIRA, 2005 p.33).
16
5
Objeto, referindo-se ao filme, já que o mesmo caracteriza-se aqui como “objeto de estudo”.
6
Conforme debate proferido pela designer Carla Sarmento no Congresso oferecido pelo Encontro Nacional de
Designers, em 2001; debate proferido pelo atual presidente do CBC- Congresso Brasileiro de Cinema, Assunção
Hermandes, em 2003, no 3º Festival de Curtas Sergipano; e também debate proferido pela autora desta
dissertação no 2º Congresso Nacional de iniciação científica em design da informação – CONGIC, quando da
defesa de seu artigo intitulado: Processo criativo de aberturas no cinema nacional , em 2005.
18
em que o signo é usado e influencia fortemente o próprio sentido da mensagem, estudo este
também encontrado na Antropologia da Imagem.
A metodologia utilizada começa, seguindo Marconi e Lakatos (2000), com a
apresentação de conceitos e fundamentações teóricas, onde o método hipotético-dedutivo
aparece nas abordagens histórica, monográfico e funcionalista. Histórico porque conta com a
pesquisa das matrizes das aberturas filmicas nacionais, para melhor compreender sua natureza
e sua função; monográfico, pois apresenta o estudo da linguagem vernacular dentro do
universo de trabalho do designer na criação de aberturas; é funcionalista, pois há o
desmembramento e interpretação das funções que compõem os elementos das aberturas,
possuidores da linguagem em estudo.
Para a análise de significados, intenções e técnicas visuais, dos elementos
compositores das aberturas estudadas, foi utilizado, principalmente, o método abordado no
livro Sintaxe da linguagem visual de Dondis A. Dondis. Busca, ainda, referências de dois
outros métodos de análises e leituras de imagens e formas, das respectivas autoras: Martine
Joly e Sandra Ramalho de Oliveira.
A pesquisa foi desenvolvida em quatro fases, que podem ser descritas como:
a) Primeira fase: pesquisa bibliográfica para fundamentação teórica, através da
leitura e técnica de fichamento;
b) segunda fase: observação das aberturas criadas por Carla Café nos filmes da
Retomada que se utilizam da linguagem vernacular: Kenoma, Latitude Zero,
Narradores d’Javé e O casamento de Romeu e Julieta;
c) terceira fase: estudo de caso, analisando elementos constitutivos das aberturas, tais
como: forma, cor, tipografia, som e harmonia, catalogando os resultados obtidos;
d) quarta fase: documental com a elaboração da dissertação.
Para fins didáticos, esta dissertação é dividida em cinco capítulos. O primeiro
capítulo é a apresentação e detalhamento do estudo, com objetivos e justificativa que
introduzem o trabalho.
No segundo capítulo é apresentado o referencial teórico da linguagem vernacular,
suas definições e crescimento, dentro das escolas e estéticas existentes nos campos do cinema
e do design. A abordagem com o enfoque no cinema ficará a cargo do teórico Stam (2006),
tendo Vilas-Boas (1998) como principal autor no campo do design. Porém, este capítulo, por
se tratar da fundamentação conceitual da linguagem vernacular, ainda se apóia em teóricos da
comunicação como Pereira (2005), entre outros.
19
2 LINGUAGEM VERNACULAR
2.1 No Cinema
diversas formas por meio das quais o texto, o dispositivo de linguagem, a história e o discurso
constroem o espectador, e as formas, como também o espectador, como sujeito-interlocutor,
molda esse encontro” (STAM, 2006, p.257). Através dessa teoria, nos anos 1980 e 1990, os
analistas levantam a “bandeira” das socialmente diferenciadas espectatorialidades.
Segundo Christian Metz (1980), o grande complexo cinematográfico combina uma
grande percepção visual com pouca mobilidade física, “virtualmente exigindo um espectador
imóvel e secreto que a tudo absorve através dos olhos”. Metz (1972) também divide a
“matéria de expressão cinematográfica” em cinco pistas: imagem, diálogo, ruído, música e
materiais escritos. São elementos compositivos da obra, carregados de linguagens e
significados intencionais, que contextualizam tanto a história para o espectador, como
posicionam o espectador naquela história ou linguagem apresentada.
Os elementos apontados por Metz, conforme acima, possuem códigos que interagem
regulados por uma “dominante”, ou seja, os processos pelos quais um elemento ou uma
determinada linguagem - o ritmo, a trama, as personagens, uma linguagem poética ou
carnavalesca, por exemplo – terminam por regular o complexo sistema cinematográfico.
“Como ‘elemento focal de uma obra de arte’, a dominante tem a capacidade de coordenar,
determinar e transformar aos demais elementos” (STAM, 2006, p.70). Esta dominante é
percebida pelo espectador através de sentimentos como: identificação, repulsa, lembrança,
êxtase, surpresa, etc..
O cinema não é diferente dos demais “produtos” fabricados pelo homem. Não é
imutável. “Suas formas, seu significado social, seus meios e seus objetivos foram se
modificando à medida em que condicionavam as diversas fases do desenvolvimento da
sociedade” (IBIDEM apud VILLAS-BOAS, p.65). Porém, ele também é uma linguagem
autônoma, onde “cada gênero ou cada escola é uma língua e cada filme uma fala ou discurso
cinematográfico” (PEREIRA, 2005, p. 97). Uma mensagem ou discurso passa uma
determinada informação, através de um meio, a um receptor num certo contexto. Para
construção dessa mensagem faz-se necessário um referente que absorve as mudanças de suas
respectivas escolas.
Segundo Stam (2006), Baudry foi um dos primeiros teóricos que, através da teoria
psicanalítica, classificou o “dispositivo cinematográfico como uma máquina tecnológica,
institucional e ideológica com intensos ‘efeitos subjetivos’”. Ele também postulou a
existência de um “substrato inconsciente no processo de identificação, no sentido de que o
cinema, como dispositivo de simulação, não apenas representa o real, mas também estimula
22
fortes ‘efeitos subjetivos’” (BAUDRY apud STAM, p.185), como o efeito de pertencimento
ou identificação, segundo a teoria das significações psicanalíticas.
Stuart Hall (1996) continua sua teoria afirmando que a identidade é dependente de
um conjunto de relações de poder, e a diferença se estabelece por marcação simbólica. É
através dessa marcação simbólica que se atribuem sentidos às práticas e às relações sociais,
definindo os excluídos e os não excluídos, mostrando assim que a identidade está vinculada às
condições sociais e materiais. Com isso, percebe-se que sua conceitualização de cultura local
e cultura global depende da análise desses sistemas classificatórios que mostram como as
relações são organizadas e divididas, nos discursos contemporâneos sobre as identidades.
Por outro lado, André Villas-Boas (1998) defende que o melhor caminho para a
busca dessa identidade, pela via artística ou cinematográfica, seria procurá-la “naquelas
manifestações mais puras, conseqüentemente aquelas com menor contato com fontes externas
(ou seja, mais distantes de outras culturas, surgidas de outras coordenadas espaço-tempo)”
(VILLAS-BOAS, 1998, p.56). São as manifestações vernaculares pertencentes a uma cultura
local de um determinado grupo em uma linguagem pontual e simbólica.
23
A cultura, para Pereira (2005), é considerada o código maior pelo qual a sociedade
representa e interpreta a realidade. E a percepção da realidade é medida por signos ou códigos
com os quais a cultura a organiza, categorizando seus “elementos significantes em
paradigmas” e os relacionando “significativamente em sintagmas”, estes, facilmente
identificados entre seus membros participantes e estranhados aos demais.
Os membros participantes de uma cultura local ou pontual estão diretamente ligados
à “cultura de classes”, por construírem uma simbologia particular de rejeição às classes
dominantes. Para Villas Boas (1998), essas subculturas referem-se, “aos grupos urbanos
juvenis articulados em função de elementos socialmente identitários – tais como vestuário e
adereços, postura gestual e léxico próprio – e o estabelecimento de um sistema simbólico”
diferenciado dos valores da cultura dominante.
A globalização, de um modo especial, contribuiu para a resistência de um discurso
identitário nacionalista, gerando a busca da originalidade eminentemente autóctone. “Em vez
de é bom porque é universal, centramos que é ruim justamente por não ser local” (VILLAS-
BOAS, 1998, p.51). Existe um bloco internacional contemporâneo no qual movimentos
sociais se opõem à hegemonia globalizante utilizando justamente a afirmação da identidade –
não apenas nacional, mas também étnica e religiosa. Manuel Castells (1999) nomeia esse
movimento de identidades de resistência ao “surgimento de um mundo exclusivamente
constituído de mercados, redes, indivíduos e organizações estratégicas” (VILLAS-BOAS,
1998, p.48). Essas manifestações, além de resistirem, apresentam o diferencial necessário no
mercado global competitivo.
A maior relevância na ascensão dos discursos das minorias sociais, através do jogo
com identidades de cultura dominante, é o surgimento de políticas identitárias formuladas
pelos novos movimentos sociais surgidos nos anos 1960 nos países centrais e ao fim dos anos
1970 no Brasil. Sustentando todos esses movimentos está o discurso terceiro-mundista “seja
pelos sucessivos processos de descolonização, pela cada vez mais conflituosa relação dos
países periféricos na divisão internacional do trabalho ou pelo multiculturalismo advindo das
minorias étnicas e culturais na dinâmica das sociedades centrais” (JAMENSON apud
VILLAS-BOAS, 1998, p.98).
24
7
O Modernismo mencionado aqui faz referencia a época da Revolução Industrial, a modernidade trazida com a
indústria.
25
Os filmes não são homogêneos nem estáticos, variam de acordo com o local: o
vernacular. Essa estética ultrapassa as convenções formais do “realismo dramático em prol de
modos e estratégias como o carnavalesco 8, o antropofágico, o realista mágico, o modernista
reflexivo e o pós-modernista resistente” (SHOHAT; STAM, apud STAM, 2006, p.180).
Fundadas em tradições culturais não-realistas, não-ocidentais ou para-ocidentais,
demonstrando históricos diferenciados, as obras contemporâneas possuem outras estruturas
narrativas, outras visões do corpo social, da sexualidade, de espiritualidade e da vida coletiva.
Villas-Boas (2002) acrescenta que esta estética incorpora tradições “pós-modernas”, buscando
uma comunicação não imediata, mas mediada por linguagens vernaculares. Conforme Stam
(2006), Espinosa profetizou muitos anos antes “que uma arte popular genuína surgiria quando
as massas de fato a criassem” (ESPINOSA apud STAM, 2006, p.116). Esse termo “arte das
massas” utilizado aqui não se refere ao conceito homogeinizador da palavra “massa”, pelo
contrário, fala da “arte das massas” como expressões populares de resistência.
As teorias do cinema contemporâneo absorvem várias correntes e escolas que “se
fundem” para explicar a existência, a história, a significação e o impacto dos filmes sobre os
espectadores. A linguagem vernacular aparece na contemporaneidade destas teorias: do autor,
8
Bakhtin analisa o “carnavalesco” como uma tradição contra-hegemônica cuja história tem início nos festivais
dionisíacos gregos e nas saturnais romanas, adotando uma estética anticlássica que rejeita a harmonia e a unidade
formais em prol do assimétrico, do heterogêneo, do oximorônico, do miscigenado. O realismo grotesco do
carnaval inverte a estática convencional e elabora um novo tipo de beleza popular, rebelde e convulsivo, que
ousa revelar o grotesco dos poderosos e a beleza latente do “vulgar” (Bakhtin apud STAM, 2006, p.32).
27
Ainda é muito cedo para prever o total abandono do modelo internacional e das
propostas funcionalistas e racionalistas, pois “muitas se mesclaram às idéias pós-modernistas
e geram designers híbridos” (KOPP, 2004, p.82), porém a linguagem vernacular, resistente
das culturas pontuais, se sobressaem em diferença no meio da homogeneização estética.
2.2 No Design
9
Almir Labaki mostra que o cinema nacional é dividido historicamente em várias épocas, como: Belle Époque,
Cinema Novo, Pornô Chanchada, etc. A retomada é a época presente em que vive o cinema brasileiro, é o hoje e
por isso não possui uma data referente a seu fim. Seu início é datado pelo filme Carlota Joaquina, princesa do
Brasil de 1995.
28
não). Escolher esses elementos, sua forma de apresentação e sua ordenação, e buscar a
obtenção de máxima eficiência comunicacional, otimizando suas funções, adequando-os à
produção e às relações sociais.
Ao trabalhar com objetos comunicacionais que sintetizam as mensagens veiculadas,
utilizando-se de repetição dessa mensagem nos demais elementos gráficos compositores do
projeto, o resultante geralmente transmite uma mensagem objetiva muito mais pelas suas
características gráficas do que pelo texto ou definição. Enquanto objeto, porém, esses dois
últimos orientam a problematização e a concepção, desde o esboço, explica Villas-Boas
(2002).
vernacular. Esses cânones são aqueles princípios (modernos) de projeto que se tornam regras
para o exercício da disciplina.
Trabalhos ou projetos não canônicos surgem da necessidade de produção para
“públicos muito específicos ou que não têm como se adequar à espera produtiva, ficando
circunscritos ao universo da produção independente” (VILLAS-BOAS, 1998, p.120). Projetos
não-canônicos têm como origem os trabalhos de Sokolowski, Brody e Carson inscritos em um
nicho de encomendas de microempresas, ligadas a atividades artístico-culturais e/ou em
circuitos alternativos, gerando visibilidade pela autenticidade de seus trabalhos, é a linguagem
vernacular sendo utilizada como diferenciador no mercado homogêneo.
Atualmente, a utilização desses trabalhos não canônicos e vernaculares está ligada às
ideologias da pós-modernidade, ou seja, “condição histórico-cultural resultante da crise do
projeto moderno” (VILLAS-BOAS, 1998, p.23). O pós-modernismo vem a ser “uma
confluência de várias teorias e práticas de designers e escolas espalhadas pelo mundo”
(KOPP, 2004, p.72), em uma gradual busca de distinção ao Estilo Internacional. Aqui a
estética começa a optar por “colagens, paródias e citações históricas do design e da arte.
Inclusão do ruído como elemento visual” (KOPP, OP. CIT, p.73).
Edward Fella, em 1988, foi influenciado por teorias desconstrutivistas e imagens
vernaculares, desintegrando formas, aumentando intervalos irregulares e criando caracteres
excêntricos. Mas é através de David Carson que essas experiências chegam ao Brasil, nos fins
dos anos 1990: “o leitor não lê o design de David Carson (revistas no segmento de surf e rock
music), ele precisa traduzir e interpretar ou, simplesmente, olhar como “simples” trânsito de
signos a sua disposição” (KOPP, 2004, p.87).
O design, por também demonstrar manifestações de valores, conceitos e fantasias de
um tempo e lugar próprios, retoma Kopp (2004), utiliza essas mudanças de perspectiva para
transformar os valores e as estéticas que informam nossas vidas contemporâneas.
Hoje, com a utilização da linguagem vernacular, experimentam-se projetos de design
menos calculistas e mais instintivos, irônicos, provocantes e cada vez mais inesperados. Para
Kopp (2004), essa tendência foi se espalhando pelo mundo ocidental, “principalmente por
permitir uma maior flexibilidade de estilo”, “melhor aproveitamento da cultura visual local” e
“maior contribuição da improvisação do designer”, características antes reprimidas pelo estilo
modernista Fordista dominante.
O design brasileiro contemporâneo é eclético, como vernacular, e utiliza o ruído,
privilegiando a atitude em detrimento da informação, sendo mais caótico e menos ordenado, é
31
cambiante, ou seja, “mutante e flexível” (KOPP, 2004, p. 94), menos influenciado, e mais
dialogador com as produções internacionais.
32
10
São “os dez primeiros anos que se limitam, em geral, aos registros documentais.” (LABAKI, 1998, p.10)
11
Animação: “Técnica de animar..., figuras ou objetos que se movam como na ação ao vivo.” (GRAÇA, p. 44)
34
responsável por uma nova espécie de créditos de filmes na década de 1950 e 1960”
(BUCCINI, 2000, p.19).
Esse boom chega tímido ao Brasil. Com o lema de: “uma câmera na mão, uma idéia
na cabeça”, do Cinema Novo de Glauber Rocha, apareceram as primeiras animações
tipográficas, verdadeiros letreiros que subiam ininterruptos na tela. Considera-se que tais
animações são os ancestrais da atual estética do cinema nacional, mas ainda falta a
contextualização do enredo; e falta um profissional especializado para o desenvolvimento
dessas aberturas. Dessa forma, “a história do cinema no Brasil é marcada por ciclos de
explosão criativa, o ciclo mais marcante, definidor da imagem do cinema brasileiro no
exterior até hoje, é o Cinema Novo” (ALMEIDA, BUTCHER, 2003, p.103). Fruto da crise
política militar que anula o cinema neo-realista crítico, a época da Pornô-Chanchada apresenta
em sua primeira fase animações de créditos que servem de chamariz para o aspecto
“comédia” do ciclo.
Passa-se para a era Collor, que “varria toda a estrutura e legislação de suporte ao
cinema, em nome de uma política neoliberal que determinava o mercado como supremo
guardião da cultura” (LABAKI, 1998, p.17). Assim, a decadência da produção de cinema foi
quase absoluta. Em três anos os longas-metragens sumiram das telas e é justamente nesta
época que os curtas-metragem aparecem, com uma força que expressa a inquietude dos
diretores amordaçados pela crise. Nesta época, muitos dos profissionais de cinema foram
absorvidos pelo mercado publicitário, que, ao contrário do mercado cinematográfico, passava
por um grande crescimento devido à inauguração da Política Industrial do início dos anos
1990, segundo Suzana Back:
12
Segundo Labaki (1998), A Primavera dos Curtas é a época em que o cinema nacional sobrevive com a
produção de curtas metragens, e data de 1986 a 1994.
13
“Tipo atores, onde o papel da tipografia vai além de formar palavras e sua ‘atuação’ remete à idéia do filme.”
(BUCCINI, 2000, p.28)
36
Tudo isso não seria problemático se não se percebesse a transformação cultural que
aconteceu simultaneamente com esta revolução mercadológica. A nova produção e seus
mecanismos revelam novos talentos e dão fôlego a profissionais já conhecidos.
Principalmente, o que mudou, e mais ganhou, foi o perfil do produto final: o filme brasileiro
que ganhou novos roteiros, ou melhores formatações do projeto de cada filme; desse modo,
chegam os processos de finalização, e o cinema nacional aumenta seu padrão de qualidade
técnica, que nada deve a outras cinematografias fora ou dentro do eixo de Hollywood, como
afirmam Paulo S. Almeida e Pedro Butcher (2003).
Por fim, agregam-se profissionais especializados que tinham sido totalmente
absorvidos pela TV e pelo mercado publicitário; e, ao mesmo tempo, é criada uma nova
geração de profissionais. “Hoje, as estimativas são de que a indústria do cinema esteja
empregando cerca de um milhão de pessoas no Brasil” (ALMEIDA, BUTCHER, 2003, p.27).
O cinema da Retomada possui duas aberturas premiadas, dos filmes Kenoma e
Narradores de Javé, respectivamente, ambas criadas pela diretora de arte Carla Caffé,
mostrando ao mundo aberturas experimentais que se utilizam da linguagem vernacular como
diferencial. Isso se deve, além da ruptura com a concepção modernista Fordista na
contemporaneidade, aos baixos custos de produção que, em nenhuma época dessa oscilante
experiência do cinema nacional, foi suficiente para uma finalização com alto orçamento. Os
profissionais brasileiros são experimentais e artesanais, porém, atentos à qualidade.
Como na maioria dos trabalhos criados por designers, a produção das aberturas de
filmes possui uma estrutura lógica. Uma identificação evidente com etapas claras e bem
definidas: o desenvolvimento do briefing14 de criação, os rafs15; os esboços digitais; os
layouts16 e, para terminar, a finalização do projeto, segundo afirma João Vicente Cegato
Bertomeu. (2002).
14
Briefing de criação é um documento escrito que exerce o papel de reunir informações que procuram
direcionar, nortear e selecionar o caminho do conteúdo da mensagem do diretor para a criação. (BERTOMEU,
João Vincente Cegato, 2002, p. 39)
15
Rafs são desenhos ou rabiscos criados pelo profissional designer, como estudo de formas e ergonimia, que
antecedem o “produto” final que é entregue ao cliente.
16
Layouts são construções gráficas, com o resultante da intenção de comunicação do profissional designer, que
podem aparecer em várias mídias (papel, virtual, etc.)
37
17
Representando a Rex Design
18 20 22
Entrevista concedida à autora desta dissertação em 2004.
19
Representando a Tempo Design
21
Representando a Terpinsgreco Estudio
23
Pranchas estáticas, onde aparece, geralmente em forma de desenho, todo o planejamento do projeto a ser
executado.
38
Nessa etapa, o filme é assistido, a sinopse e/ou o roteiro são lidos, ou qualquer outro
documento que tenha conexão com o filme é analisado para ser debatido junto às colocações
do briefing.
40
Na reunião da criação o diretor de arte junta sua equipe (que geralmente é ele e seus
estagiários) e vão debater sobre o material catalogado que foi estudado, sobre o repertório
pessoal de cada um e sobre aqueles respectivos pontos chaves que o briefing apresenta.
Nessa etapa, discute-se o trabalho a ser desenvolvido para cada linha escolhida,
dividem-se os profissionais da equipe, cada um em sua especialização ou em sua afinidade.
Mesmo que cada membro da equipe concentre seus esforços no seu campo de atuação,
algumas vezes é necessária a interação com os demais, pois se trata de um único “objeto” e
essa ligação é necessária para manter a unidade do projeto final.
24
Referências são quaisquer elementos, documentos ou imagens que se refiram ao assunto ou abordagem
pretendida pelo designer.
41
Fontes
São catalogadas várias fontes e é escolhida ou criada uma ou duas (originais ou
sampleadas25) que tenham analogia às linhas de trabalho escolhidas.
Cromatismo
É escolhido um cromatismo dominante, para a abertura (tons pastéis, tons azulados,
tons vibrantes), e um específico de fontes para destacar as informações técnicas de produção
do filme, principal função de uma abertura.
Background
São escolhidas as figuras (se o estilo for ilustração), fotos ou takes (se houver fotos
ou takes na abertura do filme) para compor o background, observando princípios de
ergonomia, contraste e harmonia.
25
Sampleada é aquela fonte que já existe e é modificada para se tornar outra fonte. (FARIAS, Priscila L.; 2000,
p. 47).
42
É feito um estudo de efeitos a serem aplicados, sendo que o resultante não pode
interferir na arte final, poluindo ou confundindo os elementos presentes (background e
tipografia). Também é feito um estudo harmônico de tempo, através da catalogação de alguns
tipos de efeitos como: aceleração, câmera lenta, etc.. A partir do estudo desses efeitos é
escolhido um que se adéqüe ao contexto do filme e à arte da abertura até aqui produzida.
Nesta fase é também escolhida a música ou sons que teriam ligação com o contexto
do filme (caso o diretor não tenha uma música pré-estabelecida).
É feita a junção dos elementos estudados e escolhidos nas etapas anteriores com os já
feitos e aprovados na primeira parte do projeto, também com programas computacionais
específicos, que nesta fase é o After Effect ©. O som, tido como a quarta dimensão no cinema,
é minuciosamente acoplado às demais partes do projeto: os tipos e o background, todos
elementos que o compõem têm que obedecer ao seu tempo e à harmonia.
Aqui, os arquivos finais, também têm que obedecer às dimensões e formatos
específicos da área do cinema, já mencionados no subitem 3.4. 9. E o arquivo final é passado
do computador para a mídia DVD.
O arquivo final, em DVD, é apresentado ao diretor que irá aprovar, ou não. Às vezes
são feitas algumas modificações que são submetidas a uma nova aprovação.
43
4 CARLA CAFFÉ
2000 "São Paulo na Linha", seu primeiro livro de desenhos arquitetônicos, edição
bilíngüe editora DBA.
1991 - 1994 Criação da coluna de desenhos "Cidade Nua" veiculada na folha de
S.Paulo. Prêmio Folha de Jornalismo, categoria especial.
1997 Série de desenhos publicados na Revista de Domingo, Jornal do Brasil.
1998 "Habitare" ilustração sobre o Brasil.
2000 "A Imagem do Som de Chico Buarque" livro de Felipe Taborda.
2001 "A Imagem do Som de Gilberto Gil" livro de Felipe Taborda.
2001 - 2202 "Big Brasil".
2002 "ARC design".
Trabalha como autônoma nas produtoras Movie & Arte, Julio Xavier, O2 filmes,
Zohar e Academia de Filmes.
2002 Filmes publicitários para a América Latina e Central dos produtos Unilever,
direção Paula Trabulsi, produtora Julio Xavier.
2003 Filmes publicitários para a Telefônica direção João Jardim, produtora Movie &
Arte.
2003 Filme publicitário para a Europa Pampero, produtora Zohar.
2004 Filme publicitário para a Europa O2 , produtora Zohar.
2004 Fime publicitário para a TIM direção Hugo Prata, produtora Academia de
Filmes.
2004 Filmes publicitários para a C&A direção Fabrizia Pinto, produtora O2 Filmes.
2005 Filme publicitário para Propel Mexico direção Paula Trabulsi, produtora Julio
Xavier.
2005 Filmes publicitários para a América Latina e Central da pasta dental Colgate
direção Tonico, produtora O2 filmes.
através do estilo pessoal e cultural, sempre considerando o contexto, cujo caráter e cujas
limitações materiais irão moldar os efeitos e métodos do resultado.
A idéia do criador é primeiramente regida pelo processo de aprendizagem do ofício,
e, em segundo lugar, pelas exigências metodológicas de funcionalidade, em que qualquer
construção visual é uma forma com conteúdo, sendo o conteúdo influenciado pela
significância dos elementos constitutivos, como a cor, o tom, a textura, a dimensão, a
proporção e suas relações compositivas com o significado pretendido no total da obra criada.
“O efeito cumulativo da combinação desses elementos selecionados, a manipulação das
unidades básicas através de técnicas e sua relação formal e compositiva com o significado
pretendido” formam este inteiro: a obra, cheia de significados (DONDIZ, 2003, p.4).
A análise, interpretação, classificação e a variação desses elementos compositivos
podem ser de fato reveladoras do que sempre ali esteve, porém não deixam de distinguir o
produto, “em termos da expressão criadora, como representante de um tempo ou lugar
específico”, com uma linguagem própria de um grupo, regional ou pontual, ou seja,
vernacular (DONDIZ, 2003, p.8).
Para identificar uma linguagem específica, ou seja, uma linguagem vernacular,
dentro da “naturalidade26” aparente da mensagem visual construída, primeiramente tem-se
que buscar as bases estruturais, ou macro estrutural, também nomeada de linguagem ou
intenção básica da obra. Esta “estrutura básica da imagem vai dar sustentação à composição
visual total” (OLIVEIRA, 2005 p.49), e é um referencial que guiará a obra, sendo sua
identificação fundamental para a decodificação dos significados pretendidos pelo designer.
Depois desta primeira identificação buscam-se os demais elementos compositivos que, através
de suas relações e significações, irão transmitir a mensagem principal através de pequenas
outras mensagens isoladas.
Buscando o reconhecimento, entendimento e classificação da expressão criativa do
recorte deste estudo, discutindo a linguagem vernacular na abertura de filmes brasileiros da
Retomada, foi criado um modelo de análise baseado principalmente em Donis A. Dondis
(2003), com elementos predefinidos e suas respectivas denotações. Tendo ainda Martine Joly
(2005) e Sandra Ramalho e Oliveira (2005) para ratificarem algumas interpretações, partiu-se
da observação das quatro aberturas criadas pela designer Carla Caffé, diretora de arte atuante
nos filmes da Retomada, premiada pela concepção de suas aberturas. Nessa análise buscou-se,
26
A “naturalidade da imagem” ou impressão de leitura “natural” da imagem figurativa, segundo Joly (2005,
p.42), é explicada pela “rapidez da percepção visual, assim como a aparente simultaneidade do reconhecimento
do seu conteúdo e sua significação”. O homem acredita ser capaz de traduzir qualquer imagem, em qualquer
contexto, só pelo fato de ter produzido diversas imagens, por todo o mundo, desde a época das cavernas.
51
Quadro 02: Análise de elementos constitutivos das aberturas ou créditos iniciais dos filmes.
Fonte: DONIS A. DONDIS (2003).
59
5.1.1 Kenoma
Filme de 1998, da diretora Eliane Caffé, narra a chegada de Jonas, um viajante que,
atraído pela bela Tali, se instala em Kenoma, povoado com aspectos quase “primitivos”,
habitado por garimpeiros e pequenos comerciantes.
O viajante, em busca de sustento e de moradia, vai trabalhar com Lineu, morador e
artesão, que há vinte anos se dedica à construção de uma máquina destinada a trabalhar
constantemente moendo grãos, sem combustível ou energia alguma: o moto-perpétuo. Essa
máquina, que ainda não funciona, está instalada no moinho de Gerônimo.
Gerônimo, a maior autoridade de Kenoma e principal opositor às idéias e lutas
quixotescas de Lineu, é pragmático, e, desde que chegou da cidade grande, tem como
principal ideal levar a modernidade e prosperidade ao povoado.
Nesse jogo entre o divino e o terreno, Jonas escolhe Lineu, admirado pela sua
determinação e força de vontade. Só que, quanto mais ele se alia a Lineu, mais impossível se
torna a concretização do seu amor por Tali.
Paralelo à construção da máquina de movimento perpétuo, um dos sonhos mais
antigos da humanidade, está a construção das relações dos personagens: cheias de conflitos,
interesses, frustrações e desejos. Ambas as situações são representações de buscas constantes.
Equilíbrio
A totalidade da abertura do filme Kenoma pode ser dividida em duas partes. A
primeira parte é do tempo 00:00:06:88 ao 00:00:27:72, quando a logomarca do filme é
apresentada ao espectador. A segunda parte é do tempo 00:00:27:72 ao 00:01:53:04, quando a
história do filme é iniciada.
O equilíbrio aparece na primeira parte da abertura, quando as informações surgem
centralizadas em um eixo imaginário x e y. Entendendo-se que o lado direito do eixo "y" é o
rebatimento ou espelhamento do esquerdo, ou que a parte inferior do eixo "x" é o rebatimento
ou espelhamento da superior, consegue-se enxergar o equilíbrio.
Essa primeira parte da abertura é pragmática como o personagem Gerônimo, tende à
perfeição geométrica; não é inovadora, mostra algo já existente e consolidado em outras
aberturas.
60
Tensão
Na segunda parte da abertura, existe um desequilíbrio e uma constante busca da
regularidade. Na história, o artesão Lineu está procurando obsessivamente construir sua
máquina, assim como os demais personagens estão numa busca constante de desejos e
relações que não se concretizam.
Na abertura, as informações aparecem e buscam compor uma forma regular que
ainda está em construção, e, por isso, nunca está completa ou centralizada. A música
acompanha a animação, tendo sempre adições em tons e instrumentos.
Nivelamento
Durante a primeira parte da abertura, traçando-se uma linha vertical imaginária,
percebe-se um nivelamento entre o lado direito e esquerdo da tela. Esse nivelamento, assim
como o equilíbrio presente, remete ao personagem Gerônimo. Porém, também pode
61
representar o equilíbrio gerado pelo conflito narrado na história, ou seja, o sonho versus razão,
os quais, ao mesmo tempo em que se opõem, se completam.
Já a partir da segunda fase da abertura, existe uma constante busca do nivelamento, a
busca de uma forma esférica, que numa hora ou noutra é conseguida, para, em seguida, se
perder nas transformações constantes das informações, sugerindo a construção de uma
máquina e suas engrenagens.
Aguçamento
O ponto de aguçamento é formado pelas informações que surgem sempre em
destaque e isoladas dos demais elementos compositores da abertura. Depois de lidas e/ou
percebidas, se juntam à forma cilíndrica em movimento.
Nesta abertura, o aguçamento tem como principal função a informação da equipe
técnica, aparecendo isoladamente em relação aos demais elementos compositivos, podendo
representar a chegada de um elemento estrangeiro, sugerindo a chegada do personagem Jonas.
Atração
As informações são atraídas para a logomarca do filme e, junto a ele, irão compor a
forma cilíndrica. A forma cilíndrica remete à construção da máquina idealizada por Lineu na
história narrada. O movimento de atração dos créditos da abertura pode representar tanto a
teia de relações e sentimentos de atração ou repulsão dos personagens, como a relação deles
com a construção da máquina de movimento perpétuo.
Agrupamento
Todas as informações se agrupam ao círculo que está sendo construído. Durante essa
construção, na tela, podem-se identificar dois grupos distintos: o das informações dos créditos
e o do objeto “círculo” sendo formado.
Mais uma vez, é enfatizada a dualidade da idéia principal narrada na história. É o
pragmatismo de Gerônimo contra o sonho de Lineu; o equilíbrio, ou a busca constante dele,
advinda dessa dualidade que mantém a união dos moradores desse povoado, remetendo seu
cotidiano em volta da eterna discussão da construção dessa máquina.
Positivo
O positivo aparece nas informações, as quais devem ser percebidas e lidas pelo
espectador, na coloração branca.
63
Aqui a designer busca a redundância necessária para que a mensagem seja mais bem
percebida pelo espectador. O jogo do positivo versus negativo reforça a dualidade entre o
divino e o terreno representado na história.
Negativo
O negativo aparece no background que compõe a abertura, na cor preta. Além de
ajudar a legibilidade das informações técnicas do filme, que estão em branco, compõe a base
do negativo versus positivo, significando a dualidade comentada no item anterior.
Positivo
Negativo
Linha
A abertura é introduzida em duas linhas de informações, as quais logo se multiplicam
em várias outras. Na segunda parte da abertura, depois da apresentação do logotipo do filme,
diversas linhas de informações surgem dos quatro cantos da tela para compor um círculo que
se movimenta enquanto é construído.
Forma
Na abertura, as informações dos créditos representam fragmentos que constroem
semicírculos, até que se forme um círculo na tela. Esta animação acompanha o enredo do
filme, o qual narra a luta de um operário pela construção de uma máquina de movimento
perpétuo.
Direção
Todas as informações buscam alinhamento com o centro do círculo, saindo dos
quatro lados da tela em direção ao logotipo do filme: o eixo do círculo em movimento.
Cor
O branco aparece nas informações principais dos créditos que devem ser lidos pelo
espectador. Brincando com a técnica, positivo vs. negativo, o background aparece em preto.
Textura
A logomarca do filme e o “círculo” construído durante a animação da abertura
possuem a textura de xilogravuras, a qual consiste em uma técnica de impressão que tem
como base matricial a madeira, deixando seus veios impressos na superfície em que o gráfico
é composto.
Escala
Os elementos em aguçamento, juntamente com a logomarca, estão em maior
tamanho que os demais elementos, pois devem ser lidos e interpretados pelo espectador. Os
elementos em aguçamento, depois de apresentados, se transformam em peças de engrenagem
e compõem o círculo final. O círculo já formado passa por um efeito de aproximação, onde se
lê em destaque a palavra “Arte”, sugerindo o gênero do filme que os créditos iniciais
anunciam.
Dimensão
Só existe uma dimensão, já que não existe perspectiva nessa abertura.
Movimento
O movimento já aparece na primeira parte da abertura, com o surgimento das
informações em direção ao espectador. Na segunda parte da abertura, as informações surgem
dos quatro cantos da tela, em direção à logomarca do filme que se encontra ao centro.
Percebe-se, também, o movimento de rotação do círculo que se forma sobre seu eixo, que é a
logomarca do filme.
Representacional
As engrenagens e o círculo fazem referência à máquina a ser construída no filme.
A textura da logomarca e do círculo representa a técnica de xilogravura, indicativa
do primitivismo da própria cidade de Kenoma.
Abstrato
A música representa os sons produzidos em uma oficina ou um local em que se
constroem coisas, artesanalmente. Esses sons percebidos são de martelo, de motores, de
engrenagens, etc..
A tela do filme preenchida por caracteres e palavras mostra a palavra “ARTE” em
destaque, como em uma pintura, uma composição de bricolagem.
Simbólico
As marcas da A.F. Cinema e vídeo e a logomarca do filme Kenoma representam a
parte simbólica na construção gráfica. Elas possuem significados que vão além da história
narrada, representando a empresa produtora do filme e o produto “filme”, respectivamente.
Cor
O branco tem a função de ressaltar a leitura das informações nos créditos, e o preto
dá o contraste necessário para a legibilidade do espectador.
Forma
O contraste de forma ajuda o espectador a concentrar sua visão nos pontos de
aguçamento que estão em forma de linha, sendo constituídos pelas informações dos créditos.
Os outros elementos da abertura se transformam e se agrupam em uma forma circular.
Escala
A logomarca e os pontos de aguçamento são maiores que as demais informações que
se transformam nas peças do círculo em construção, pois estes devem ser percebidos e lidos
pelo espectador em primeira instância que as demais representações.
Equilíbrio
Na primeira parte da abertura todas as informações, até o aparecimento da
logomarca, estão em equilíbrio, pois, dividindo-se a tela com uma linha imaginária vertical, o
lado direito seria exatamente o espelhamento ou rebatimento do esquerdo, e vice-versa.
Instabilidade
Buscando sempre manter um ponto de aguçamento, a composição gráfica sofre uma
quebra de equilíbrio na segunda parte da abertura. O círculo está sendo construído por
pedaços e estes pedaços são formados por informações que surgem de todos os lados da tela.
Existe sempre a busca pelo equilíbrio, pelo completo, porém é apenas a “busca” que está
representada, ela não se efetiva.
Simetria
A primeira parte da abertura possui simetria. Seu lado direito é exatamente o
espelhamento do esquerdo, a parte inferior é, também, o espelhamento da superior, e vice-
versa.
Assimetria
Na segunda parte da abertura existe sempre a busca pela simetria, que não está
presente devido à existência do ponto de aguçamento e da animação na construção de um
círculo, que na maior parte do tempo está incompleto.
Regularidade
Existe regularidade na animação e disposição dos elementos na primeira parte da
abertura. Na segunda parte, também existe regularidade na animação do círculo que é
construído em uma seqüência lógica facilmente percebida pelo espectador.
71
Irregularidade
Na segunda parte da abertura, a irregularidade aparece tanto na maneira que os
créditos surgem: caoticamente, por todos os lados, quanto na movimentação espontânea do
círculo que está sendo construído (depois de construído ele se movimenta do centro para o
canto direito superior da tela).
Complexidade
A abertura possui um grande numero de elementos que interagem e se comunicam
entre si, tais como: movimentos que significam construção e agrupamento; caracteres que
significam palavras; palavras que representam textura; conjunto de palavras que representam
a imagem de um círculo. É um conjunto de significantes que retrata o sentido que o designer
buscou; a idéia que representa a narrativa do filme: a construção de um sonho.
Fragmentação
A abertura possui um conjunto de fragmentos ou elementos constitutivos que
mantêm seus sentidos isoladamente, porém juntos constroem um sentido maior, o sentido
buscado pela designer Carla Caffé.
Profusão
A abertura é constituída de inúmeros elementos que, no decorrer da animação, são
acrescidos de outros elementos, tanto graficamente quanto musicalmente.
Minimização
A abertura possui minimização quando trabalha apenas com caracteres e tipografia,
transformando-os em imagem, textura e vários outros sentidos, contextualizando-os, assim, ao
enredo da história narrada.
Espontaneidade
A espontaneidade está presente a partir da segunda parte da abertura, onde tudo é
inesperado e excitante. Existem movimentos espontâneos mudando imprevisivelmente. Há
palavras aguçadas significando mais do que a simples informação escrita; há formas
geométricas variadas transformando-se em formas circulares, e texturas que, quando
ampliadas, deixam transparecer mensagens que indicam o gênero do filme.
Atividade
Todos os elementos da abertura estão em movimento e transformação constante.
Ousadia
A abertura é ousada quando escolhe trabalhar apenas a tipografia como alicerce
formador de todos os elementos constitutivos.
Ênfase
A abertura dá ênfase aos pontos de aguçamento onde aparecem as informações dos
créditos que devem ser lidas pelo espectador. Ela também ressalta o movimento rotativo,
talvez representando o interesse dos moradores de Kenoma pela construção da máquina de
movimento perpétuo. A textura, também em destaque, chama a atenção para a rusticidade do
povoado e seus habitantes.
Transparência
No tempo 00:00:58:60 e do 00:01:25:16 ao 00:01:46:72, ao círculo formado
sobrepões-se a letra “K” da logomarca, deixando-a transparecer. A animação, com
transparência “da letra K,” representa o eixo da máquina em movimento e a cidade de
Kenoma, em torno da qual todos os dilemas e relações acontecem, tanto os dilemas referentes
à construção da máquina, como os dilemas amorosos e idealistas dos moradores.
Opacidade
A maior parte da abertura é opaca, em branco com fundo preto, sem deixar
transparecer quaisquer objetos ou letras por trás de seus elementos constitutivos, priorizando
assim a legibilidade das informações dos créditos.
75
Variação
Existe variação em toda a abertura, presente nos momentos abaixo enumerados:
no movimento que muda constantemente, desde a transição da primeira fase da
abertura para a segunda fase, até o término desta;
no sentido da informação que pode ser lida, e também serve de textura;
na disposição espacial dos elementos constitutivos da abertura que se
movimentam por toda a tela.
Distorção
A abertura faz releituras gráficas distorcendo caracteres ortográficos para que os
mesmos representem texturas e máquinas com seus movimentos e sons.
Planura
A abertura é trabalhada sem profundidade ou perspectiva, em um único plano.
Justaposição
Os elementos gráficos constitutivos da abertura interagem entre si, acionando os
vários significados e referentes, e ativando a comparação entre suas formas, cor e animações.
Acaso
Na segunda parte da abertura, a animação e a composição gráfica, a qual aparece no
tempo e no compasso da música, não seguem uma seqüência previsível, ao contrário,
surpreende a todo o momento.
Agudeza
As formas gráficas são bem definidas com contornos precisos. A fácil interpretação
de significados é reforçada com a repetição de movimentos e de sons, sugerindo acréscimo e
mecanicidade nos movimentos.
Repetição
A repetição aparece com a música, na qual o compasso é repetido e, vez ou outra, é
acrescido de outro tom, e assim sucessivamente. As formas gráficas, assim como a música,
são construídas na tela através de constantes acréscimos para formar um círculo, utilizando
uma animação de sucessivas repetições.
Fora as repetições gráficas, existem também as repetições de sentido, como a
representação de dois ideais divergentes que aparecem refletidas em vários aspectos da
abertura, tais como nas cores em preto e branco, e nos elementos constitutivos separados em
dois grupos de informação.
Episodicidade
Aparece episodicidade nos seguintes momentos:
Na transição da primeira para segunda fase da abertura, pois a primeira fase
possui uma previsibilidade quase enfadonha e, assim que passa para a segunda
fase, a logomarca do filme se transforma, e tudo é surpresa a partir desse
momento;
78
Ornamental
A abertura utiliza o estilo ornamental quando apresenta uma animação e composição
gráfica teatral e exagerada, com elementos gráficos rebuscados apoiando seus significados
em movimentos, texturas e musicalidades.
Funcionalidade
A abertura, por si só, é funcional, pois se faz necessária para divulgar a equipe
técnica participante do filme. Porém, além de informar a equipe técnica ao espectador, a
designer Carla Caffé insere significados em uma construção nitidamente planejada,
utilizando-se de elementos mínimos (tipografia, textura e cor), para contextualização da
narrativa do filme.
79
Vernacular
A logomarca imita a textura e a composição gráfica da xilogravura, facilmente
reconhecida dentro do contexto do artesanato deste tipo de impressão, por isso mesmo é uma
textura própria de um grupo restrito, que se apresenta através da forma e do símbolo que este
gênero de arte expressa.
A música reforça o sentido da animação de algo que está em construção, imitando o
compasso de marteladas constantes e maquinário trabalhando, por isso, é vernacular a
trabalhadores, inventores, engenheiros e artesãos.
Filme do ano 2000, do diretor Toni Venturi, Latitude Zero conta a história de Lena
(Débora Duboc) que, grávida de oito meses e abandonada pelo pai da criança, o Coronel
Mattos da Polícia Militar paulista, vai administrando sozinha um bar de beira da estrada,
chamado “Dama de ouro,” em Rondônia.
80
Equilíbrio
A abertura do filme Latitude Zero é dividida em duas partes por uma Cena Inicial27.
A primeira parte é do tempo 00:00:01:92 ao 00:01:07:64, quando os personagens principais
são apresentados ao espectador. A segunda parte é do tempo 00:12:59:96 ao 00:14:17:56,
quando a trama do filme é desenrolada.
O equilíbrio só aparece na segunda parte da abertura, mas, em contrapartida, dura
quase todo o tempo dela. Ele está presente, principalmente, na disposição espacial em que as
informações dos créditos aparecem. Quando uma informação aparece na parte superior
direita, da linha que divide a tela horizontalmente ao meio, ao mesmo tempo aparece uma
outra informação na parte inferior esquerda, ou o inverso, salvo alguns casos isolados que
serão analisado a seguir.
Esta sintaxe de percepção gráfica sugere que apesar das diferenças dos personagens
apresentados no filme eles irão se equilibrar justamente, e talvez por isso mesmo, naquele
lugar arredio: na latitude zero do Brasil, representada, neste momento, pela linha que divide a
tela em dois retângulos.
27
Ver item 3.1 do terceiro capítulo (p.30).
81
Tensão
Na primeira parte da abertura, a tensão aparece no referente horizontal, ou eixo “x”,
que é deslocado, representando a localização em que a trama ocorre: Rondônia; essa
significação é reforçada pela linha e pela palavra “latitude” na marca do filme.
Na segunda parte da abertura, a tensão aparece em seu background formado por
pilares em chamas oscilantes e variáveis. Essa imagem difusa sugere, não só o calor próprio
do ambiente onde ocorre a história, mas também os sentimentos de amor, ódio, atração e
repulsa que envolverão os personagens do enredo.
y
background
x
Nivelamento
Na primeira parte da abertura, o nivelamento pode ser percebido na diagramação das
informações que estão abaixo da linha horizontal. Esse nivelamento é destacado pela presença
marcante da linha “diferenciadora” de tópicos e seus respectivos assuntos, sugerindo que,
dentro do caos de sentimentos e ideais representado na narrativa do filme, existirão momentos
de equilíbrio e de constância para os personagens.
82
Aguçamento
Na primeira parte da abertura, o ponto de aguçamento aparece na parte superior da
linha presente sugerindo a estrada narrada no filme, da qual toda a trama depende. A falta de
início e fim da linha sugere passagens, situações momentâneas, mais uma vez
contextualizadas à trama do filme.
Na segunda parte da abertura, o aguçamento aparece nos nomes dos personagens,
também apoiado pela linha horizontal que, além de reforçar o significado da estrada narrada,
carrega outras representações da narrativa fílmica, tais como: localização, ausência de começo
e fim, diferença, estagnação, divisão, corte, morte, etc..
Atração
A atração é percebida na segunda parte da abertura quando os créditos aparecem e
desaparecem sendo repelidos e atraídos pela linha presente. A linha é percebida como
mediadora de todo o movimento presente na abertura.
83
Agrupamento
Na primeira parte da abertura, existem grupos organizados por setores. Ex: Setor de
apoio, setor de co-produtores, setor de produtores associados.
Na segunda parte da abertura, existem dois grupos, o das informações superiores à
linha horizontal, e o das informações inferiores à mesma linha, que, ao final da abertura são
unificados por um círculo. Esta animação sugere a união dos personagens divergentes na
narrativa fílmica.
Positivo
O positivo, na primeira parte da abertura, aparece nas informações, as quais devem
ser percebidas e lidas pelo espectador, e estão na coloração branca.
Na segunda parte da abertura, o positivo faz parte do primeiro plano, que também
possui as informações que devem ser lidas pelo espectador e estão na coloração branca.
84
Negativo
O negativo aparece no background que compõe a abertura.
Na primeira parte da abertura ele aparece na cor preta, e na segunda parte é formado
por um segundo plano que contém pilares em chamas.
Background
Linha
Na primeira parte da abertura, a linha horizontal que delimita o espaço divide as
informações em grupos, destacando e guiando as informações. A linha também sugere que a
narrativa fílmica conta uma história que já teve um começo, antes do que é mostrado ao
espectador, e tem uma contigüidade depois que o filme acaba, além de representar a estrada,
a divisão, estagnação, etc..
85
Na segunda parte da abertura, a linha também delimita o espaço, só que, desta vez,
equilibrando simetricamente as informações dos créditos, além de servir de condutor de toda a
animação apresentada.
Forma
Na abertura como um todo, a linha divide a tela em dois retângulos, sugerindo dois
mundos, duas personalidades diferentes, dois indivíduos que se encontram no filme.
Na segunda parte da abertura existem, além da divisão da linha horizontal, dois
planos. No primeiro plano aparece um círculo geométrico, que engloba as informações dos
créditos, sugerindo a união dos personagens apresentados na trama fílmica, o círculo também
sugere outra interpretação, como de um útero, já que ele contém e gera informações para o
espectador. No segundo plano aparecem formas orgânicas de chamas, sugerindo calor, paixão,
destruição, etc..
Direção
Na primeira parte da abertura, existem movimentos em direção ao espectador,
sugerindo o enfrentamento entre os personagens apresentados no filme. Existe também a
animação para as laterais enfatizando o sentido de fuga presente no enredo.
Na segunda parte da abertura, no plano dos créditos, ou primeiro plano, existem
movimentos em direção ao espectador, para as laterais e de subir e descer, construindo uma
relação de atração e repulsão à linha presente, sugerindo sentimento de dúvida.
86
Cor
Na primeira parte da abertura e no primeiro plano da segunda parte, o branco aparece
nas informações principais dos créditos que devem ser lidas pelo espectador, brincando com a
técnica positivo-negativo. A utilização desse jogo de cromia sugere a dualidade discutida no
filme.
Na segunda parte da abertura, em seu segundo plano, as cores amarelo e laranja,
presentes no fogo, sugerem paixão, fúria e desejo representados no filme.
O preto, em toda a abertura, aparece como base, ou background para legibilidade dos
demais elementos constitutivos.
Textura
A textura aparece no segundo plano da segunda parte da abertura: nas chamas que,
por não serem reais e sim representações, são apenas texturas de chama.
87
Escala
Na primeira parte da abertura, é percebida escala nas informações em aguçamento
que estão em maior tamanha do que as demais informações.
Na segunda parte da abertura, a escala aparece no tamanho do círculo finalizado,
maior que qualquer outro elemento da abertura, englobando as informações dos créditos.
A escala também está presente no tamanho da logomarca do filme, menor do que o
círculo, porém maior em relação aos outros elementos da abertura. Os nomes dos
personagens também são maiores do que os demais elementos, porém menores do que a
logomarca do filme.
A escala na segunda parte da abertura apresenta muito mais uma hierarquia de leitura
do que uma contextualização com o filme.
Dimensão
Na primeira parte da abertura só existe uma dimensão, não existindo perspectiva.
No segundo plano da segunda parte da abertura, existem perspectiva e profundidade
no ambiente em chamas.
88
Movimento
Na primeira parte da abertura, existem os movimentos: em direção ao espectador, e
de desaparecimento e surgimento das informações dos créditos, sugerindo idéias narradas no
filme, tais como enfrentamento, inconstância e transformação.
Na segunda parte da abertura, o primeiro plano possui um movimento de
apresentação das informações de créditos planejada e quase previsível, enquanto que, no
segundo plano, o movimento das chamas é imprevisível e espontâneo.
Representacional
Na primeira parte da abertura, a sonoplastia 28 que acompanha as animações
representa as seguintes ações: marteladas, o caminhar de alguém, carro passando, portas e
janelas sendo fechadas, coisas sendo arrastadas. Todos esses sons são representações da
28
Sonoplastia é a reconstituição artificial dos sons que acompanham ações, movimentos, ruídos da natureza, de
animais, objetos, etc..
89
“Cena Inicial” que aparecerá em seguida, e introduzem o espectador à realidade que está para
ser contada.
Na segunda parte da abertura, em seu segundo plano, existe uma representação visual
de pilares em chama.
Abstrato
Na primeira parte da abertura, a fonte é o que existe de mais abstrato. Não
delimitando significados diretos ou objetivos, ela é apenas geométrica, dura.
Na segunda parte da abertura, a música dramática apresenta a mensagem abstrata.
Simbólico
Na primeira parte da abertura, a mensagem simbólica aparece na linha que faz
referência, tanto à estrada, quanto ao enredo traçado pelos personagens (história de partidas e
chegadas, de dúvida e diferenças).
Na segunda parte da abertura, em seu primeiro plano, a linha também está presente e
junto a ela existem outros elementos como: o negrito em apenas uma das duas palavras que
90
compõem a logomarca, sugerindo a união de dois indivíduos diferentes narrada no filme, além
da forma circular que, ora é oscilante sugerindo dúvida, e ora é estática sugerindo união,
útero.
Tom
O contraste de tom só aparece no segundo plano da segunda arte da abertura, onde a
saturação das cores amarelo e laranja do fogo realçam o branco das informações e o preto do
background.
Cor
O branco em toda a abertura tem a função de melhorar a leitura das informações dos
créditos, e o preto dá o contraste necessário para a legibilidade do espectador. Existem
também as cores amarelo e laranja, do fogo, que sugerem os sentimentos de paixão, desejo e
fúria vividos pelos personagens do filme.
91
Forma
O contraste de forma só aparece na segunda parte da abertura. As formas
geométricas, que compõem o primeiro plano, contrastam com a forma orgânica e difusa das
chamas do segundo plano. Esse contraste sugere as diferenças e, ao mesmo tempo, o
equilíbrio, dos personagens da história narrada.
Escala
Na primeira parte da abertura, as informações em aguçamento estão em maior
tamanho que as demais informações.
Na segunda parte da abertura, em seu primeiro plano, o círculo final é o elemento
maior, seguido da logomarca e dos pontos de aguçamento, mostrando que o contraste de
forma tem a função de organização hierárquica das informações dos créditos.
Equilíbrio
Na primeira parte da abertura, o equilíbrio é constante, utilizando a linha divisória
para organizar e classificas as informações dos créditos em grupos.
Na segunda parte da abertura, o primeiro plano também está em equilíbrio,
utilizando, mais uma vez, a linha para organização dos créditos.
Instabilidade
A instabilidade só aparece no segundo plano da segunda parte da abertura, onde o
movimento das chamas é imprevisível e caótico.
Simetria
A simetria aparece em toda a primeira parte da abertura. Dividindo-se a tela do filme
com uma linha imaginaria vertical, o lado direito da tela é o espelhamento do esquerdo, e
vive-versa.
Na segunda parte da abertura, em seu primeiro plano, existe simetria na passagem
informativa que “o filme é baseado em uma peça teatral” e, também, quando a linha e o
círculo aparecem sozinhos, sem quaisquer informações.
93
Assimetria
A assimetria só aparece na segunda parte da abertura, onde os elementos do primeiro
plano estão em equilíbrio, mas não são simétricos, ou seja, seu espelhamento e rebatimento
não são perfeitos. No segundo plano, a assimetria existe no universo caótico das chamas.
Regularidade
A primeira parte da abertura é regular, seguindo um padrão de animação percebido já
nos primeiros segundos de exibição.
Na segunda parte da abertura, seu primeiro plano apresenta regularidade na
apresentação das informações dos créditos. No segundo plano, o das chamas, não existe
regularidade.
Irregularidade
Na primeira parte da abertura, existe irregularidade sutil nas apresentações das
marcas das leis de incentivo à cultura e do audiovisual, da PETROBRAS, da produtora, e do
diretor do filme, mostrando que essas informações têm maior importância que as demais
apresentadas.
No primeiro plano da segunda parte da abertura, existe irregularidade em pequenas
mudanças da animação. São elas: a mudança da animação da logomarca para o texto que
explica a adaptação do filme; a mudança da animação desse texto explicativo para os créditos
da equipe técnica participante da construção do filme; e, por último, quando o círculo surge
acomodando os elementos informativos dos créditos em um só grupo.
Simplicidade
Na primeira parte da abertura é percebida a simplicidade na previsibilidade de sua
animação.
Complexidade
A complexidade aparece na segunda parte da abertura, onde o conjunto de elementos
do primeiro plano, suas animações e cromia, juntamente com o segundo plano, de chamas
imprevisíveis e caóticas, formam uma complexa teia de significados.
95
Unidade
Na primeira parte da abertura aparece unidade no equilíbrio necessário para uma
animação previsível das informações dos créditos. É importante enfatizar que a disposição na
tela das marcas das Leis de Incentivo, seguem um padrão imposto.
Fragmentação
Na segunda parte da abertura os elementos constitutivos são fragmentados em três
grupos distintos. No primeiro plano existem dois grupos: o grupo das informações dos
créditos, junto ao grupo das formas geométricas. No segundo plano existe o grupo formado
pelas imagens das chamas oscilantes e difusas.
Economia
A economia aparece na primeira parte da abertura, onde são utilizados elementos e
animações mínimas necessárias para informar a ficha técnica dos participantes do filme.
Profusão
Na segunda parte da abertura existe um conjunto de elementos constitutivos, tais
como cores, formas e sons, que se relacionam gerando vários significados contextualizados à
história narrada.
Minimização
Na primeira parte da abertura, a designer utiliza elementos mínimos necessários para
satisfazer a funcionalidade da abertura, que é informar a equipe técnica participante do filme.
Previsibilidade
A primeira parte da abertura não ousa em momento algum, mostrando técnicas já
utilizadas em outras aberturas; não surpreende o espectador, que já espera a repetição
apresentada pela abertura nos primeiros quatro segundos iniciados.
Na segunda parte da abertura, existe previsibilidade no surgimento das informações
dos créditos que é quebrada esporadicamente.
Espontaneidade
Na segunda parte da abertura, além da espontaneidade do seu segundo plano, com o
fogo já comentado aqui, existem também três momentos que não são esperados pelo
espectador. São eles: a mudança da animação da logomarca para o texto explicativo da
adaptação do filme; a mudança da animação desse texto explicativo para os créditos que
informam a equipe técnica participante do filme e, por último, quando o círculo surge
acomodando os elementos informativos dos créditos em um só grupo.
Atividade
Toda a abertura está em movimento, ora sugerindo fuga e enfrentamento, ora união
e desejo.
98
Sutileza
Na primeira parte da abertura a sutileza é apresentada ao espectador através de uma
animação sem rebuscamentos ou espontaneidade, com uma organização já conhecida.
Ousadia
Na segunda parte da abertura, existe ousadia na utilização de formas geométricas
primárias, no primeiro plano, contrastando com a difusão e organicidade das chamas, no
segundo plano.
Neutralidade
A primeira parte da abertura é neutra repetindo continuamente seu formato e
movimento.
99
Ênfase
A ênfase aparece nos pontos de aguçamento de toda a abertura, assim como nas cores
quentes e caóticas, enfatizadas pela música dramática, no segundo plano da segunda parte da
abertura.
Opacidade
A opacidade aparece em toda a abertura, com a utilização de elementos que
bloqueiam a visibilidade do que está por trás deles.
Estabilidade
A estabilidade está presente na primeira parte da abertura, possuidora de uma
abordagem estética uniforme junto a uma animação repetitiva.
100
Variação
Na primeira parte da abertura, existe uma pequena variação de disposição espacial
nas apresentações das marcas: das leis de incentivo à cultura e do audiovisual, da
PETROBRAS, da produtora, e do diretor do filme, mostrando que essas informações têm
maior importância que as demais.
Na segunda parte da abertura, existem mais três variações: a mudança da animação
da logomarca para o texto explicativo da adaptação do filme; a mudança da animação desse
texto explicativo para os créditos da equipe técnica participante do filme e, por último,
quando o círculo aparece acomodando os elementos informativos em um só grupo.
Exatidão
A exatidão aparece na primeira parte da abertura, a qual utiliza elementos gráficos
geométricos acompanhados pela sonoplastia de ações facilmente percebidas.
Na segunda parte da abertura, a exatidão existe na geometria do primeiro plano, com
formas lineares e circulares.
101
Distorção
A distorção aparece no segundo plano da segunda parte da abertura, onde as
labaredas do fogo são oscilantes e difusas.
Planura
A primeira parte da abertura, junto ao primeiro plano da segunda parte, é trabalhada
sem profundidade ou perspectiva, em um único plano.
Profundidade
A profundidade aparece no segundo plano da segunda parte da abertura, onde é
utilizada a perspectiva que dá a impressão de profundidade.
102
Singularidade
A singularidade aparece na primeira parte da abertura, onde os elementos gráficos
apresentam uma composição uniforme.
Justaposição
A justaposição está presente na segunda parte da abertura, onde um conjunto de
elementos constitutivos, gráficos e sonoros significa e contextualiza o filme.
Seqüencialidade
Na primeira parte da abertura, a animação e a composição gráfica seguem uma
seqüência facilmente percebida pelo espectador, após os primeiros segundos de animação.
Na segunda parte da abertura, em seu primeiro plano, a seqüencialidade aparece na
forma com que as informações são apresentadas na tela: sempre do centro para as laterais.
103
Acaso
O acaso aparece no movimento aleatório das chamas, no segundo plano existente na
segunda parte da abertura.
Agudeza
Na primeira parte da abertura e no primeiro plano da segunda parte, a agudeza é
apresentada pelas formas gráficas de contornos bem definidos, tendo sua significação
reforçada com a repetição constante de movimentos.
Difusão
A difusão aparece no segundo plano da segunda parte da abertura, onde as chamas e
os pilares não são nítidos o suficiente para que se entenda onde começa um e termina o outro.
Perde-se, assim, a percepção de seus limites.
104
Repetição
A repetição é constante na primeira parte da abertura e no primeiro plano da segunda
parte, sugerindo a falta de perspectivas de um dos personagem que protagoniza a narrativa do
filme.
Episodicidade
A episodicidade é percebida na segunda parte da abertura, tanto nas pequenas
mudanças de animação das informações existentes no primeiro plano, quanto nas chamas do
segundo plano, ambas sugerindo a esperança de mudança que, como no filme, nasce e morre.
Primitivismo
O primitivismo aparece na abertura com a utilização de formas geométricas e
primárias, como círculos e linhas.
Expressionismo
O expressionismo aparece nas chamas e nas cores, do segundo plano da segunda
parte da abertura, onde a designer sugere uma relação passional, ao meso tempo quente, forte
e destruidora.
A música da segunda parte da abertura também representa o expressionismo, com
seu tom dramático que contextualiza o filme.
Vernacular
A abertura quase não se utiliza de linguagens específicas ou pontuais, ou seja,
vernaculares. A única representação vernacular percebida é o som de carros, em alta
velocidade, seguidas de um silêncio infinito, típicas de dependências de beira de estradas.
Porém, esta se mistura com tantos outros sons que não é facilmente percebida.
Filme datado de 2002, da diretora Eliane Caffé, conta a história dos moradores de
Javé, um povoado que está condenado a ser inundado devido à construção de uma represa
nas redondezas. Os moradores locais, na iminência de perder suas terras, resolvem fazer de
Javé um patrimônio histórico, e, para isso, buscam auxilio de um escrivão da região.
Biá (José Dumont), o escrivão, era um funcionário dos Correios que foi expulso pela
população, isto porque, certo dia, viu seu emprego ameaçado por falta de clientes e, em
busca de uma solução, começou a escrever cartas para vários locais difamando seus
conterrâneos.
Para evitar sua extinção do mapa, o povoado de Javé resolve dar mais uma chance ao
escrivão e, em troca, ele terá que escrever a história do surgimento de Javé. Para isso, Biá
terá que escutar a história antepassada de cada morador, e transcrevê-la no livro de Javé.
O filme mostra, além do confronto entre o progresso e as tradições de um povoado,
questões fundiárias do país, em que os primeiros habitantes demarcavam, sem qualquer
preocupação com os outros, a extensão de suas propriedades.
107
Equilíbrio
A abertura do filme Narradores de Javé é dividida em duas partes. A primeira parte
é do tempo 00:00:02:40 ao 00:01:25:44, quando as empresas financiadoras do filme são
apresentadas aos espectadores. A segunda parte é do tempo 00:01:25:44 ao 00:03:29:68.
O equilíbrio aparece na primeira parte da abertura, onde os órgãos e empresas
financiadoras do filme são apresentados ao espectador através de uma animação previsível e
repetitiva com uma formatação gráfica que segue um padrão imposto por essas empresas.
Tensão
A tensão é apresentada ao espectador desde o logotipo do filme, onde existem várias
fontes construindo um exagero visual planejado e bem resolvido, porém longe de um
equilíbrio.
Nivelamento
O nivelamento está presente na primeira parte da abertura, com a centralização de
todos seus elementos constitutivos. Na segunda parte da abertura, o nivelamento aparece
quando as informações dos créditos são apresentadas ao espectador, niveladas aos pontos de
aguçamento.
Aguçamento
Os pontos de aguçamento são apresentados na segunda parte da abertura, através de
símbolos de pontuação, tais como vírgula, dois pontos, asterisco, ideograma, ponto e
reticências.
Atração
A atração existe na segunda parte da abertura, quando as informações dos créditos
são atraídas e repelidas pelos pontos de aguçamento, sugerindo a expulsão e acolhimento de
um personagem da narrativa fílmica.
Agrupamento
Na primeira parte da abertura, o agrupamento é apresentado ao espectador através da
divisão da equipe técnica do filme. Ex: Grupo dos produtores, grupo dos co-produtores, etc..
O agrupamento, na segunda parte da abertura, pode ser percebido quando as
informações dos créditos, depois de serem apresentadas ao público, se agrupam no
background, mudando sua coloração para lilás. Esta animação sugere tanto o deslocamento do
povoado de Javé, como as diferentes versões das histórias narradas pelos moradores, na trama
do filme.
Positivo
O positivo está presente nas informações e imagens principais, as quais devem ser
percebidas e lidas pelo espectador, e são encontradas na coloração branca.
Negativo
O negativo aparece nas imagens de background que compõem a abertura, podendo
ser percebidas na coloração lilás e preta.
110
Negativo
Ponto
O ponto é representado pelos pontos de aguçamento, ou seja, símbolos de pontuação
que chamam a atenção do telespectador para as informações ao lado dele.
Linha
As informações dos créditos chegam na forma de linhas, sugerindo contigüidade.
Forma
As formas estão presentes nos elementos constitutivos da abertura, os quais, além de
representarem símbolos de pontuação gramatical, também conotam outros sentidos,
contextualizando o filme. O asterisco, por exemplo, lembra uma flor, ao mesmo tempo em
que remete ao “florear” (aumentar, inventar) existente na narrativa do filme.
Direção
Os elementos gráficos constitutivos da abertura se movimentam em todas as direções
sugerindo o caos e a falta de direcionamento representados na narrativa fílmica.
Cor
O branco aparece nas informações dos créditos e nos elementos principais que
devem ser lidos pelo espectador. Brincando com a técnica do positivo versus negativo, o
background aparece em preto e lilás, sendo que o lilás pode ser percebido, mas não lido;
assim, funde-se ao preto formando o suporte para as informações dos créditos. O vermelho
aparece brevemente no ideograma, sugerindo o estrangeirismo e o “progresso” narrados no
filme.
112
Escala
A escala está presente nos elementos em aguçamento, que são maiores que os demais
elementos constitutivos da abertura, sugerindo que seus significados comandam a narrativa
fílmica assim como comandam a animação dos créditos.
Dimensão
Só existe uma dimensão, não existindo perspectiva em toda a abertura.
Movimento
O movimento acompanha o ritmo da música, espontânea e imprevisível.
113
Representacional
Abstrato
A música sugerindo o sentimento de euforia presente na narrativa do filme.
As cores, retiradas da fotografia do filme.
Simbólico
A representação simbólica está presente nos símbolos gramaticais de pontuação, tais
como: vírgula, dois pontos, asterisco, ideograma, ponto e reticências, sugerindo significados
que vão além do que a gramática prevê.
Tom
Na segunda parte da abertura aparecem cores quentes, como o vermelho, ajudando
na legibilidade e na contextualização do Nordeste quente representado na narrativa fílmica, e
cores frias, como o lilás que se apresenta como textura para formação do background, sem
que existam interferências na mensagem principal que deve ser lida pelo espectador.
Existe também, em toda a abertura, o jogo do positivo versus negativo, com as cores
neutras (branco e preto) que ajudam a legibilidade das informações dos créditos.
Cor
O vermelho contrasta com o lilás, e o branco com o preto; ambos têm a função de
melhorar a leitura das informações dos créditos.
115
Forma
Existe o contraste de forma nos símbolos de pontuação os quais, ao mesmo tempo
em que aparecem como imagem possuidora de significados conotativos, também continuam
sendo símbolos de pontuação com suas devidas significações gramaticais. A flor, por
exemplo, conota a palavra florear utilizada no filme, porém continua sendo um asterisco, ou
seja, também significa um caractere ortográfico que chama a atenção para a mensagem a ser
lida.
Escala
O contraste de escala pode ser percebido nos pontos de aguçamento, constituídos por
símbolos de pontuação, apresentados ao espectador em tamanho maior que as demais
informações dos créditos.
Equilíbrio
O equilíbrio só aparece nos elementos centralizados da primeira parte da abertura.
Instabilidade
A instabilidade existe nas cores dos elementos constitutivos da segunda parte da
abertura, os quais mudam constantemente, assim como na organização espacial ou
diagramação desses elementos dispostos na tela sem uma maior preocupação com
centralizações ou simetria.
Assimetria
Na segunda parte da abertura, as informações dos créditos e imagens são
apresentadas ao espectador dispostas assimetricamente na tela, fato esse que chama a atenção
para os pontos de aguçamento. Os pontos de aguçamento, além de conduzirem a animação
117
Regularidade
Na primeira parte da abertura, a regularidade está presente tanto na diagramação ou
disposição espacial dos elementos constitutivos na tela, como na repetição da animação desses
elementos.
Irregularidade
Na segunda parte da abertura, a transformação dos símbolos gramaticais de
pontuação em imagens e a apresentação das informações dos créditos ao espectador são
irregulares e aleatórias.
Simplicidade
A primeira parte da abertura possui simplicidade quando não ousa em sua
diagramação, ou até mesmo sua animação, repetindo “uma receita” existente em outras
aberturas.
Na segunda parte da abertura, a simplicidade está presente na utilização de elementos
gráficos simples, tais como: caracteres ortográficos, tipografia e cores primárias, que
contextualizam a narrativa fílmica apresentando significações e plasticidade complexas.
Fragmentação
A fragmentação está presente na segunda parte da abertura, e é apresentada ao
espectador através dos elementos constitutivos da abertura fílmica, que tanto podem significar
juntos, como mantêm características e significados próprios, tais como: cor e forma.
Profusão
Na segunda parte da abertura, a profusão é apresentada ao espectador no vasto
conjunto de elementos constitutivos e seus significados transmitidos. São eles: movimentos,
transformação, agrupamentos de informações, modificadas de cores, entre outros.
119
Minimização
A minimização aparece na primeira parte da abertura, quando a designer utiliza o
mínimo de textos ou animações necessárias para apresentar os patrocinadores do filme.
Exagero
Na segunda parte da abertura, o exagero está presente tanto no conjunto das fontes
utilizadas para compor a logomarca do filme, como nas constantes movimentações e
transformações dos elementos constitutivos em aguçamento.
Previsibilidade
A previsibilidade está presente na primeira parte da abertura, onde a repetição dos
movimentos e a diagramação dos elementos constitutivos são percebidas pelo espectador
desde os primeiros segundos de exibição.
120
Espontaneidade
Na segunda parte da abertura, a constante transformação dos elementos constitutivos
junto ao movimento das informações dos créditos é sempre imprevisível.
Atividade
Todos os elementos constitutivos da abertura estão em movimento e transformação
constantes.
Ousadia
A ousadia está presente em vários aspectos da segunda parte da abertura, tais como:
no sangramento dos elementos gráficos do background, na espontaneidade das animações, na
falta de equilíbrio entre os elementos constitutivos, nas várias significações transmitidas e no
contraste entre a simplicidade dos elementos utilizados (caracteres ortográficos), com a
complexidade de seus significados.
121
Ênfase
A ênfase, que aparece na segunda parte da abertura, é demonstrada no aumento de
escala dos elementos que devem ficar em aguçamento: ponto de atenção para os espectadores.
Opacidade
Em toda a abertura, os elementos constitutivos são opacos, não deixando transparecer
nada através deles.
Estabilidade
A estabilidade está presente na previsibilidade da animação percebida na primeira
parte da abertura. É importante enfatizar que a disposição das marcas das Leis de Incentivo
seguem um padrão imposto.
Variação
Na segunda parte da abertura é percebida a variação nas formas dos elementos
constitutivos, no ritmo da animação e na transformação das cores.
Exatidão
A exatidão está presente em toda a abertura, representada por formas de contornos
nítidos, de fácil percepção.
Distorção
Na segunda parte da abertura, a distorção aparece na transformação dos símbolos de
pontuação em elementos visuais passíveis de outras leituras e significações diferentes daquela
que a gramática apresenta.
Planura
Toda a abertura é apresentada ao espectador, sem profundidade ou perspectiva.
Justaposição
Na segunda parte da abertura, todos os elementos constitutivos existentes (cor,
forma, movimento) interagem entre si, estimulando a interpretação de seus significados e sua
contextualização com a narrativa do filme.
Acaso
Na segunda parte da abertura, o movimento e surgimento dos elementos que
compõem a abertura não possuem uma seqüência lógica, mudando a todo momento,
inesperadamente.
Agudeza
A maior parte da abertura possui elementos constitutivos com contornos gráficos
nítidos, de fácil percepção.
Repetição
Na primeira parte da abertura, a repetição está presente na diagramação centralizada
dos elementos constitutivos, assim como na constância de sua animação.
Na segunda parte da abertura, existe repetição quando os elementos em aguçamento
sempre dirigem e manipulam as informações dos créditos.
Episodicidade
Existe episodicidade ou desconexão, na segunda parte da abertura, quando os
elementos constitutivos se movimentam e se transformam aleatoriamente, porém narrando
uma história perceptível.
Ornamental
Na segunda parte da abertura, o estilo ornamental aparece principalmente no exagero
do número de fontes utilizadas na logomarca do filme, como também nos intensos
movimentos de transformação dos elementos constitutivos.
Funcionalidade
A abertura, por si só, é funcional, pois se faz necessária para divulgar a equipe
técnica participante do filme. Mas, além disso, esta abertura possui um estilo estético
funcional, tendo como referência a Escola de Bauhaus; a designer utiliza a geometria, a
simplicidade, a falta de profundidade e a monocromia.
126
Vernacular
Na segunda parte da abertura, o estilo vernacular é percebido pelo espectador
através:
Da música alegórica, e seu ritmo que remete a sonoridades e representações
culturais nordestinas;
da cromia retirada da fotografia do filme;
das significações conotativas e contextualizadoras contidas nos símbolos de
pontuação como, por exemplo, o asterisco que, além de significar a palavra florear,
pontual ao Nordeste, chama a atenção do espectador para o texto que deve ser lido;
da logomarca criada para o filme, a partir da junção de várias fontes tipográficas,
criação essa que faz alusão à profusão de fontes também encontradas em botecos de
beira de estrada ou placas de pára-choques de caminhão.
vez, é um jovem oftalmologista que, junto com sua família, torce fervorosamente para o
Coríntias. Esse encontro casual marca o início de um conflito entre a paixão pelo futebol e o
amor do jovem casal.
O Casamento de Romeu e Julieta é uma comédia romântica que beira o “pastelão”.
Utilizando uma ótima trama, aproveita para satirizar os acirrados conflitos entre torcidas
organizadas de times de futebol rivais.
Equilíbrio
A abertura do filme O casamento de Romeu e Julieta é dividida em duas partes por
uma Cena Inicial29, que narra ao espectador a criação da menina Julieta em uma ambiente
futebolístico. A primeira parte da abertura do filme é do tempo 00:00:02:32 ao 00:01:26:72,
onde as empresas que apoiaram a realização do filme são apresentadas ao espectador. A
segunda parte da abertura é do tempo 00:02:54:20 ao 00:04:58:44.
O equilíbrio é percebido na centralização de todos os elementos constitutivos que
fazem parte da abertura. É importante reforçar que a disposição das marcas das Leis de
Incentivo seguem um padrão imposto.
Nivelamento
O nivelamento está presente em toda a abertura. Além da organização centralizada
dos elementos compositivos na tela, se for traçado um eixo imaginário vertical nessa mesma
tela, seu lado direito é exatamente o espelhamento do esquerdo e vice-versa.
Essa representação visual sugere que a narrativa do filme será tranqüila, sem muitas
surpresas.
29
Ver item 3.1 do terceiro capítulo (p. 30).
128
Aguçamento
O ponto de aguçamento aparece no segundo plano da segunda parte da abertura, nas
imagens em sépia que são percebidas pelo espectador no quadrado central da tela de cinema,
sugerindo, esteticamente, o formato de filme caseiro.
Esse aguçamento mostra a preocupação da designer junto ao diretor para que o
espectador perceba como nasce a paixão e rivalidade entre os torcedores de times de futebol
adversários, explicação esta necessária para o entendimento da trama do filme que se inicia.
Agrupamento
Na primeira parte da abertura, os grupos aparecem na divisão das informações dos
créditos em setores, tais como: produtora, patrocinadores, co-produtores, apresentadores, etc..
O agrupamento também está presente no início da segunda parte da abertura, na qual
é possível perceber dois grupos: o das informações e o do filme caseiro. Depois do tempo
00:03:15:96 estes dois grupos são envolvidos por uma moldura, passando a constituir um
único grupo, sugerindo com isso a união das duas família rivais através do amor, fato esse
narrado no filme.
129
Positivo
O positivo aparece nas informações dos créditos e nas imagens do filme caseiro, as
quais devem ser lidas e percebidas pelo espectador. O jogo do positivo versus negativo sugere
a divergência de opiniões narrada no filme.
Negativo
O negativo aparece na cor preta do background que compõe a abertura, utilizado
para melhorar a legibilidade dos elementos constitutivos da mesma.
Negativo
Linha
As informações dos créditos são apresentadas ao espectador no formato de linhas,
sugerindo a linearidade da história narrada.
Forma
Na segunda parte da abertura é apresentada ao espectador uma redundância na forma
dos elementos constitutivos, repetição esta que busca principalmente a ênfase no ponto de
aguçamento, pois a abertura repete três vezes a forma retangular em sua construção gráfica:
o retângulo da tela, o retângulo do filme caseiro e o retângulo da moldura.
Direção
As informações dos créditos, na segunda parte da abertura, surgem na tela saindo dos
lados direito e esquerdo em direção ao centro, onde está localizado o filme caseiro. Essa
animação sugere que a narrativa do filme depende do que está sendo exibido no filme caseiro.
Já o filme caseiro surge em direção ao espectador.
131
Cor
O branco aparece nas informações dos créditos, que devem ser lidas pelo espectador,
contrastando com o background preto necessário para melhor legibilidade. O sépia está
presente no “filme caseiro” sugerindo o tempo passado da história narrada neste ponto de
aguçamento. O vermelho, presente no “x” da logomarca do filme, contrasta com o seu
significado simbólico lingüístico de divergência (versus) sugerindo a representação do amor.
Textura
No segundo plano da segunda parte da abertura, o filme caseiro tem a textura
granulada, sugerindo a representação de tempo passado, antigo. ( Super8, 8mm, etc.)
Escala
A logomarca, juntamente com o filme caseiro, está em tamanho maior que os demais
elementos da abertura, com isso é percebida a ênfase nesses elementos em relação aos demais,
demonstrando tanto a organização hierárquica dos elementos constitutivos da abertura,
quanto os pontos de aguçamento para os quais a designer chama a atenção do espectador.
Dimensão
Na primeira parte da abertura existe apenas uma dimensão.
Na segunda parte da abertura existem duas dimensões. Na primeira são apresentadas
ao espectador as informações da equipe técnica responsável pela elaboração do filme; na
segunda, pode ser percebido um filme caseiro sobre a família e o crescimento de Julieta no
mundo futebolístico do seu pai.
Movimento
Na primeira parte da abertura as marcas das empresas que apoiaram a realização do
filme surgem na tela em direção ao espectador.
No primeiro plano da segunda parte da abertura, aparecem dois tipos de movimento:
o primeiro em direção ao espectador, sugerindo a apresentação de uma história, e o segundo,
das laterais em direção ao centro da tela, com animações constantes e simples.
133
Representacional
Na primeira parte da abertura, o som da narração de um jogo de futebol é
representacional e vernacular a qualquer torcedor.
Na segunda parte da abertura, aparecem elementos com mensagem representacional.
São eles: coroa de rainha, faixa de rainha e filme caseiro da infância de Julieta.
Abstrato
A mensagem abstrata aparece, na segunda parte da abertura, com a música que
sugere a ascendência italiana narrada no filme, além de fazer referência a uma história de
amor, com sua melodia compassada e romântica.
134
Simbólico
Na segunda parte da abertura, a mensagem simbólica está presente: em escudos e
quadros de times de futebol; na fonte cursiva e rebuscada, sugerindo romantismo; na moldura
com corações, fitas e bolas de futebol; e no “X” da logomarca, que tanto sugere divergência
como cruzamento ou relacionamento.
Tom
No segundo plano da segunda parte da abertura, ou seja, no filme caseiro, o tom de
sépia, que é uma saturação do colorido real, em contraste com as informações dos créditos
percebidas em branco, sugere tempo passado.
Cor
Em toda a abertura, o branco tem a função de melhorar a leitura das informações dos
créditos, e o preto dá o contraste necessário para a legibilidade do espectador.
O sépia, em contraste com as demais cores, sugere uma história do passado que
precisa ser explicada ao espectador antes do início do filme, para que a discussão da paixão
pelo futebol levada ao extremo, seja mais bem entendida.
135
Forma
O contraste de forma aparece na segunda parte da abertura, sendo percebido através
da comparação entre as formas geométricas que podem ser divisadas na mesma (delimitações
dos espaços através de formas retangulares), com a tipográfica cursiva trabalhada em estilo
romântico. Este contraste sugere o contraponto narrado no filme entre a briga futebolística
explosiva, versus o amor apresentado como puro e angelical.
Escala
O contraste de escala é percebido na segunda parte da abertura, onde a logomarca e o
ponto de aguçamento (filme caseiro) são maiores que as demais informações dos créditos.
Equilíbrio
O equilíbrio aparece em toda a abertura e pode ser observado principalmente pela
centralização dos elementos constitutivos desta, junto à simetria gráfica das telas e repetição
das animações existentes.
Simetria
A simetria aparece em toda a abertura. A diagramação de seus elementos
constitutivos é basicamente formada pelo rebatimento do seu lado esquerdo no lado direito, e
vice-versa.
Regularidade
Existe regularidade na animação e na disposição dos elementos informativos. É
percebido um padrão nos primeiros momentos de créditos, e este é repetido por toda a
abertura.
137
Simplicidade
A abertura é uniforme desde a organização de seus elementos gráficos até a
animação que possui pouquíssimas alterações. Além disso, seus efeitos e construção gráfica,
como um todo, podem ser encontrados em outras aberturas.
Fragmentação
Na segunda parte da abertura, a fragmentação se faz presente principalmente em sua
divisão em dois planos: filme do passado e créditos informativos do presente; além disso, ela
também é percebida na utilização de vários signos, tais como: símbolos, tipografias e
animações.
Economia
A economia aparece na primeira parte da abertura, onde a designer Carla Caffé
utiliza apenas os recursos de animação e elementos constitutivos necessários para informar as
empresas que auxiliaram na produção do filme.
Profusão
Analisando a segunda parte da abertura, além de informar a equipe técnica
participante da execução do filme, seu segundo plano conta a história do amor de um
torcedor de futebol que, a todo momento, é mesclado ao amor de pai, através de um conjunto
de animações, ações, situações, símbolos e significados tão complexos, e ao mesmo tempo
comuns, quanto a narrativa do filme.
Minimização
A minimização aparece na primeira parte da abertura, quando a designer utiliza
apenas os elementos constitutivos necessários para apresentar as empresas financiadoras do
filme. É importante reforçar que a disposição, na tela, das marcas das Leis de Incentivo
seguem um padrão que é imposto ao designer.
139
Previsibilidade
A previsibilidade aparece na repetição da animação das informações dos créditos
presentes na abertura.
Atividade
Todos os elementos da abertura estão em movimento constante.
Sutileza
A sutileza aparece com pequenas alterações gráficas acrescentadas ao compasso de
uma melodia constante, ao exemplo da moldura.
140
Neutralidade
A abertura é homogênea, em seu todo, sem grandes alterações ou pontos de
extravasamento.
Ênfase
A ênfase é percebida no “filme caseiro”, assim como na logomarca do filme, ambos
encontrados na segunda parte da abertura, e responsáveis por chamar atenção do espectador
através da textura, da coloração, do contraste de escala e da centralização.
A ênfase no filme caseiro faz referência à importância dessa narrativa para o
desenrolar da trama contada no filme, assim como a ênfase na logomarca enfatiza a união do
casal Romeu e Julieta, versus as brigas de suas famílias por causa da preferência por times de
futebol adversários.
Opacidade
Toda a abertura é possuidora de elementos opacos, ou seja, que não permitem a
visualização através deles.
Estabilidade
Na abertura como um todo não existe variação de movimento ou de disposição
espacial, existem apenas pequenos acréscimos de elementos constitutivos.
Exatidão
As delimitações de espaço e das formas dos elementos constitutivos da abertura são
retangulares e exatas.
Distorção
Na segunda parte da abertura, existe distorção na tipografia utilizada que é cursiva e
rebuscada em um estilo clássico (romântico). Além disso, o tom de sépia é também uma
distorção da cor real do filme caseiro.
Planura
A primeira parte da abertura e o primeiro plano da segunda parte são trabalhados sem
profundidade ou perspectiva, com informações em um único plano.
Profundidade
Existe reprodução da perspectiva no segundo plano da segunda parte da abertura.
Justaposição
A justaposição aparece na segunda parte da abertura, onde os elementos gráficos
compositores, juntamente com os dois planos expostos, interagem entre si, ativando a
comparação entre suas formas, animações e significações.
Seqüencialidade
A animação dos créditos, desde a primeira parte da abertura, possui uma seqüência
lógica que é facilmente percebida pelo espectador.
Agudeza
As formas gráficas são bem definidas, com delimitação espacial geométrica de fácil
percepção.
Repetição
A repetição aparece na música e na animação dos elementos informativos dos
créditos, obedecendo a uma animação percebida logo nos primeiros momentos de exibição.
Episodicidade
A episodicidade aparece no segundo plano da segunda parte da abertura, ou seja, no
filme caseiro, que narra o nascimento e crescimento de Julieta, na companhia de seu pai - um
fanático torcedor de futebol -, que mistura e confunde seu amor paterno com seu amor pelo
time.
Clássico
Na segunda parte da abertura, o estilo clássico está presente, tanto no romantismo da
tipografia cursiva, como na sua animação compassada pela melódica música italiana.
145
Funcionalidade
A abertura, por si só, é funcional, pois divulga a equipe técnica do filme, além de
iniciar e contextualizar sua história.
Vernacular
Na primeira parte da abertura, a narração do jogo de futebol é facilmente percebida
pela “tribo” apaixonada por futebol. Na segunda parte da abertura, símbolos, escudos, bolas e
uniformes, continuam fazendo referência a esse grupo.
30
Exposto no item 5.1 deste capítulo (p.49).
147
elementos compositivos em mídias impressas, fato esse fácil de entender, avaliando que a
profissão surgiu junto com a invenção da imprensa.
A forma e o movimento são inerentes à realização do cinema, pois, para existir
cinema deve-se, necessariamente, existir imagem em movimento. Toda imagem é possuidora
de forma, e esta, para fazer parte da Sétima Arte, não pode estar estática. A direção é uma
variante do movimento, já que todo ser ou objeto que se movimenta se desloca para outro
local e esse deslocamento possui uma direção (ao centro, à direita, à esquerda, para baixo,
para cima, etc.).
Por sua vez, a cor não é obrigatória para o cinema, porém, se tratando de uma
análise, a ausência de cor também é carregada de significados, por isso mesmo, com ou sem
ela presente na abertura, esse elemento compositivo sempre aparecerá no estudo.
A escala, ou a diferença dela, se faz importante, para que a característica de
“representação” do cinema fique mais sutil, ou seja, não seja tão facilmente perceptível. A
natureza possui variantes inumeráveis de escala, e falar de representações mais próximas
possíveis da realidade é principalmente conseguir simular sua assimetria e irregularidades.
A dimensão também faz parte das características fundamentais do cinema. Ela ajuda
a diferenciar a realidade, do espectador imóvel dentro de uma sala escura, da “representação
de realidade” que é oferecida no filme onde a história é contada.
As quatro aberturas utilizam todas as classificações da anatomia da mensagem
visual, inseridas na tríade Peirceana encontrada nos estudos de Martine Joly. Essas
classificações têm como base a relação entre os elementos compositivos da abertura e seu
referente de representação, e são elas:
As mensagens representacionais ou ícones, ou seja, elementos compositivos da
abertura que mantêm uma relação de analogia com o que representam, como, por exemplo,
uma fotografia.
As mensagens abstratas, ou índice, englobam os elementos compositivos da abertura
que mantêm uma relação causal ou sutil em relação ao que representam, como, por exemplo,
uma música melódica pode lembrar simplificadamente um romance.
As mensagens simbólicas, ou símbolos, que possuem uma relação de convenção
entre os elementos compositivos e seus referentes, por exemplo, escudos de times de futebol,
como aparecem na abertura do filme O casamento de Romeu e Julieta analisada aqui.
Isso acontece porque qualquer elemento compositivo da abertura, que é a parte
significante ou o representamen, significa algo enquanto signo que é, e esse significado, ou
interpretante, obrigatoriamente, possui um referente ou objeto, apesar deste objeto referente
148
não ser mais da natureza do realismo clássico que tem a presença empírica absoluta. É
importante lembrar que “não existe símbolo puro, mas apenas características dominantes”
(JOLY, 2005 p. 36).
Todas as aberturas possuem contraste de cor, forma e escala. O porquê da comum
utilização desses elementos já foi explicado neste capítulo, porém, a utilização comum de seus
contrastes é explicada pela importância que o contraste tem no controle da mensagem visual,
através da intensificação do significado buscado. O contraste entre elementos constitutivos,
em qualquer mensagem visual, e a receptividade dos sentidos desses contrastes dramatizam o
significado através de simulações opostas, ou seja, “todo e qualquer significado existe no
contexto de suas polaridades” (DONDIS, p.107).
As técnicas de comunicação visual, comuns a todas as aberturas, são aquelas que
fazem referência às percepções dos elementos constitutivos, às formas desses elementos e às
mensagens visuais comuns passadas por eles, já discutidas neste capítulo. São elas:
Técnicas de equilíbrio, regularidade e estabilidade que são responsáveis pelas
percepções de equilíbrio e nivelamento.
Técnica de repetição é responsável pela percepção de agrupamento.
Técnicas de simplicidade e minimização que são responsáveis pela percepção das
mensagens visuais e dos estilos das aberturas.
Técnicas de fragmentação e justaposição que são responsáveis pela distinção, dos
diversos elementos constitutivos, seus significados e relações existentes, na mensagem visual
passada ao espectador.
Técnicas de atividade e episodicidade que são responsáveis pelas percepções de
movimento e dimensão, próprias ao cinema.
Técnica de ênfase é responsável pela percepção de aguçamento.
Técnicas de opacidade e planura que são responsáveis pela percepção do positivo e
negativo.
Técnica de distorção é uma das técnicas responsável pela percepção das mensagens
visuais.
Técnica de agudeza é responsável pela percepção das formas.
Os dois estilos comuns a todas as aberturas é o funcional e o vernacular. O estilo
funcional aparece como objetivo principal de qualquer abertura: o de informar a equipe
técnica participante do filme. O estilo vernacular demonstra uma preocupação da designer, já
149
31
Ver segundo capítulo.
32
Ver quadro 02 neste capítulo (p.49).
150
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensando nas aberturas analisadas como algo além do simples enxergar e como algo
além da simples criação das mensagens visuais, compreenderam-se outros meios de “ver” e
compartilhar o significado do sentido vernacular acionado numa linguagem universal como o
cinema. A análise exige que se ultrapassem os mecanismos visuais inatos do organismo
humano, para além das capacidades intuitivas acionadas, para a tomada de decisões visuais
numa base mais ou menos comum, ressalvando as preferências pessoais e os gostos
individuais e coletivos. Por isso, interrogou-se acerca da natureza das aberturas de filmes; sua
função ou níveis de função; sua adequação à clientela a que se destina e, por último, orientou-
se a discussão para sua história e sua maneira de interagir com as necessidades sociais
contemporâneas.
Mas, em todas as formas de análise apresentadas aqui, a criação das imagens
compartilha outros atributos: a contemplação da natureza, uma forma de o homem enxergar e
compreender a si próprio; a identificação de grupos ou indivíduos; a expressão de sentimentos
religiosos e a decoração, todos estes elementos se constituem em linguagens definidas em
estilos próprios, que promovem a sensação de pertencimento ou repulsa aos objetos
representados.
Denominada linguagem vernacular, por alguns autores como André Villas Boas e
Rudinei Koop, a representação pontual de reconhecimento identitário demarca fronteiras de
estilo e está presente nas quatro aberturas fílmicas analisadas nesta dissertação, aparecendo
como um grande diferencial nas aberturas realizadas por Carla Caffé.
Tanto na história do cinema, como na história do design, essa linguagem surge no
revolucionário movimento Pós-Modernista, como alternativa ao modelo identitário nacional-
popular mobilizado do Romantismo ao Modernismo e contra os cânones da arte e a
homogeneização cultural.
Hoje existe uma tendência estética, em alguns setores, que vai além do cinema, para
assimilar ou dialogar com tudo o que é regional, artesanal ou próprio de um determinado
grupo, ou seja, o vernacular. É a valorização da exclusividade dentro da padronização global.
As análises nesta dissertação, porém, mostraram que só a existência da linguagem
vernacular não é responsável pelo bom resultado das aberturas premiadas. É sim, o conjunto
de técnicas das unidades individuais e dos estímulos visuais, interagindo e criando um
mosaico de forças saturadas de significados passíveis de serem rapidamente absorvidos com
pouco esforço, a partir do tipo de mensagem visual das aberturas dos filmes, que absorvem
manifestações culturais regionais, dialogando com a identidade do espectador no contexto
significante da mensagem veiculada.
152
aos mais fortes. É uma questão de moral que se refletirá nos filmes, no
tempo de filmar um homem ou uma casa, no detalhe que observar, na moral
que pregar: não é um filme mas um conjunto de filmes em evolução que
dará, por fim, ao público a consciência de sua própria miséria [...]”
(ROCHA, Glauber. Revista Civilização Brasileira no 3, julho de 1965).
REFERÊNCIAS
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Nova Fronteira, 1988. (p.143)
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Papirus, 1995.
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2002.
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Paulo: Paz e Terra, 1999.
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2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
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Paulo: Perspectiva, 1972.
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Perspectiva, 1980.
156
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ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. 5. ed. São Paulo: Brasiliense,
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PEREIRA, José Haroldo. Curso básico de teoria da comunicação. 3. ed. Rio de Janeiro:
Quartet/UniverCidade, 2005.
SALEM, Helena. O cinema novo e a retomada do cinema brasileiro. Cultura Vozes, Rio de
Janeiro/RJ, n. 2, março de 1999.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
APÊNDICE A
________________________________
Nome do filme
______________________, __________
Diretor Ano de estréia
Análise de elementos
Ponto possui ( )
Linha possui ( )
Forma possui ( )
Direção possui ( )
159
Cor possui ( )
Textura possui ( )
Escala possui ( )
Dimensão possui ( )
Movimento possui ( )
Representacional possui ( )
Abstrato possui ( )
Simbólico possui ( )
de Tom possui ( )
de Cor possui ( )
160
de Forma possui ( )
de Escala possui ( )
.
162
Análise do estilo
Primitivismo possui ( )
Expressionismo possui ( )
Classicismo possui ( )
Ornamental possui ( )
Funcionalidade possui ( )
Vernacular possui ( )
163
APÊNDICE B