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(DE) ASSIS

SINOPSE: Uma viagem pela história popular do nascimento das Festas da Cidade e
Gualterianas, e seus antecedentes/primórdios, a partir da chegada de São Gualter a
Guimarães, recorrendo a elementos identitários e a uma simbologia transversal aos folguedos
tradicionais da região Norte de Portugal.

PERSONAGENS E ELEMENTOS: São Gualter e Frei Zacarias, São Francisco, Romeiro,


Romeiras, grupo de romeiros (comendo cabrito assado), Beatas, Homem do gado (lavrador),
Mulher a estender a roupa, mulheres de “vida”, cauteleiro, mulher dos doces, fogueteiros,
Bombeiro, Martins Sarmento, Padre Gaspar Roriz e Aníbal Vasco Leão, Prof. José de Pina,
Emiliano Abreu, Abel Cardozo, João de Melo, João Xavier de Carvalho, Elemento da Banda
dos Guise; Santo António corado.

Coro; grupo de percussão; Conservatório de Guimarães.

PERCURSO CÉNICO: Adro da Igreja de Santo António dos Capuchos – Largo do Carmo
(sentido Rua Conde Dom Henrique – Lar de Santa Estefânia) – Rua de Santa Maria – Rua do
Condestável Nuno Álvares Pereira – Av. Alberto Sampaio (junto à muralha) – Senhora da Guia
– Alameda de São Dâmaso (percurso junto à antiga Muralha, pelo passeio público) – Jardim
público de São Dâmaso – Terreiro das Carvalhas (ou de São Francisco).

DRAMATURGIA

Adro da Igreja de Santo António dos Capuchos (Romeiro e Romeiras, Santo António corado,
São Francisco de Assis, Conservatório, Coro e percussão, São Gualter e Frei Zacarias).

A mole humana que se concentra no adro está dispersa, por entre personagens, membros do
coro comunitário, elementos da percussão e pessoas que se lhes junta.

À hora marcada, assinalada pelos sinos, a Romeira chega-se à frente e pede (alguma) ordem.

ROMEIRA

Por Santo Antoninho, orde’!


Orde’, já falei. (pausa)

Antes que vos enganeis, o caminho faz-se por ali (aponta na direcção do percurso). Não quero
ninguém a ir, trocado, para os lados de São Torcato.

Não tenho jeito para isto, porra! Mas lá terá de ser. E vós (apontando para a percussão), aqui à
frente, vá! Rápido.

Está tudo aqui? Sim?


(há lugar a improvisos, ao gosto da personagem, enquanto se aguarda).

Vamos começar.

(O grupo de percussão toca incessantemente, até ao ponto em que se chega ao início do Largo
do Carmo. Aí, a Romeira faz sinal com o braço para que se detenha o “barulho”.)

ROMEIRA, ENQUANTO CAMINHA EM SENTIDO DESCENDENTE (seguida pela


mole humana)
No longínquo ano de 1452, em meados de Agosto, foi criada, no velho burgo de Guimarães,
pelo Rei Dom Afonso V, uma feira em honra a São Gualter.

Pelo que se sabe, já existia, antes disso, uma festa que celebrava o Santo.

Depois, e não é certa a data, a feira passou a realizar-se tendo por referência o primeiro
Domingo de Agosto. É possível que tenha algo a ver com a trasladação das relíquias de São
Gualter, que ocorreu no primeiro Domingo de Agosto de 1577.

E assim se manteve, pelo menos, até ao Século XIX.

HOMEM DO GADO, vindo da zona do Chafariz do Carmo (com um ligeiro sotaque de


Fafe, mãos ora cabeça, ora ao alto)

Senhores! Senhores! Que grande tragédia! Fugiu-me a minha burrinha.

(abraça-se a alguém da mole humana)

Não viu a minha burrinha? A minha Alcina…disseram-me que tomou esta direcção.

(segue na direcção do Paço dos Duques, em desespero, chamando pela burrinha)

ROMEIRA, ENQUANTO CAMINHA EM SENTIDO DESCENDENTE, olhando para o


homem do gado (seguida pela mole humana), abanando a cabeça
Uma chatice…já me aconteceu o mesmo…(pausa) mas com um gato.

(respira fundo)

No século XIX, a Feira de S. Gualter era especializada em gado de vários géneros: o cavalar, o
muar e o asinino. Chamavam-lhe, meio a sério, meio a brincar, a Feira das Cavalgaduras.

(O coro comunitário irrompe num canto improvisado (escolhido pela encenadora), sem aviso,
diante da Igreja do Carmo.)

De entre aquela gente toda, vem para a frente um Romeiro. Dirige-se para junto da Romeira.

ROMEIRO, falando, enquanto caminha, seguido por todos


Havia barracas, vinho e copos de limonada. E vitela assada! Eram três dias de festa, com o
Domingo a servir para a venda ou troca dos animais. Mas a celebração foi perdendo
importância…

ROMEIRA, intrometendo-se

Como a importância que me estás a roubar! Isto é assim? Falas na minha vez, sem pedir.

ROMEIRO, ripostando

Estou a ajudar-te, caramba. Poupei-te texto.

ROMEIRA, respondendo

Roubaste-mo!

Estão os dois nesta troca de palavras (A discussão continua, acabando por resolver-se),
quando um grupo de romeiros, sentado numa toalha de linho, no Jardim do Carmo, acena:
Comem vitela assada.

PESSOA (DO GRUPO SENTADO)

Alguém é servido? É melhor comer do que andar para aí “azangado”.

(improviso da parte dos participantes, em resposta).

A Romeira junta-se à mole, ficando o Romeiro em seu lugar. Estamos quase no outro extremo
do Largo do Carmo.

ROMEIRO, apaziguador

A minha estimada companheira prestou um bom serviço, mas não é possível, como lhe
expliquei, e ela sabe-o, completar toda a tarefa, sozinha. E o que é válido para ela, é valido para
mim. Alguém sabe as horas?

(espera-se uma resposta)

Ele deve estar por aí a aparecer. (pausa)

Ah! Aí está.

Vindo do lado contrário, muito apressado, vem um figurão ofegante e engravatado: Martins
Sarmento!

MARTINS SARMENTO (saudando com um aceno de cabeça/tirando o chapéu o Romeiro


e todos os restantes, toma a palavra)

É a última quadra do século XIX, como lhe chamou o Coronel Flores: Depois da Exposição
Industrial de 1884, Guimarães, a nossa amada Cidade, caminha, solidamente, para uma meta de
afirmação, tendo por base a sua história, a sua singularidade e o conjunto do seu património. Se
isto já não é pouco, consideremos, ainda, como extra, a condição de terra-Mãe de Portugal.
No fim do século, ainda não existia, na cidade, uma grande celebração que dissesse respeito a
todos os Vimaranenses.

Havia as Nicolinas, que eram apenas dos Estudantes, e a Romaria Grande de São Torcato, que
não era exactamente na Cidade, assim como o S.Tiago da Costa.

Ainda não havia essa tal celebração, mas…

(Martins Sarmento retira-se, com uma vénia, deixando no ar, e por concluir, o que iniciara,
seguindo para os lados do Largo da Mumadona)

O Romeiro acena-lhe, em sinal de “até breve”. Alguns dos intervenientes fazem o mesmo.

ROMEIRO, CONVICTO

É a minha deixa:
No início do século XX, eram muitos os pedidos, expressos em jornais locais, sobretudo, para
que fossem tomadas medidas que colocassem a Feira de São Gualter num patamar consentâneo
à condição de Guimarães, que acreditava estar na senda do progresso.

Assim, em 1905, a Câmara faz anunciar que pretende levar a cabo essa empreitada. Mas, de
boas intenções está o mundo cheio. O mundo…e o inferno.

CORO, em uníssono

AMÉM (prolongado, no fim rematado por um rufar do grupo de percussão)!

Entra-se na Rua de Santa Maria, ao som do Coro (tema a escolher).

Rua de Santa Maria

ROMEIRO

Em 1906, por alturas de Maio, a Associação Comercial e Industrial de Guimarães assume a


tarefa de reinventar a Feira de São Gualter: nasceriam, assim, as Festas da Cidade e
Gualterianas.

João de Melo, que surge vindo da Travessa dos Laranjais/Senhora Aninhas, anuncia, a plenos
pulmões:

“Hoje, dia 4 de agosto do anno de 1906, as Festas a S. Gualter renascêram das cinzas.”
ROMEIRO, dirigindo-se a João de Melo

Mas hoje não é dia 4 de Agosto…

João de Melo retira-se, coçando a cabeça, incrédulo.

Aníbal Vasco Leão e o Padre Gaspar Roriz, vindos do mesmo local de onde surgira João de
Melo, dirigem-se à mole humana que compõe o improvisado cortejo, e entregam dois
documentos (desaparecendo ambos, em seguida): uma pauta musical e uma letra.

Imediatamente, o ensemble da Academia de Música vem para a frente do Cortejo e começa a


executar o Hino de Guimarães, composto por aquelas duas personalidades. Uma mulher que
está a estender a roupa leva as mãos ao peito. Algumas mulheres “de vida”, à soleira de uma
porta, lançam piscadelas à pequena multidão, e até mostram a pernoca.

Rua do Condestável Nuno Álvares Pereira

À entrada na Rua do Condestável, o ensemble detém-se e é a vez do Coro Comunitário, e de


todos aqueles que acompanham esta Marcha, entoarem a letra do Hino de Guimarães. Nesse
momento, surge, novamente, o Padre Gaspar Roriz, empurrando um carro alegórico,
simbolizando a Marcha Milaneza (ou 1ª Marcha Gualteriana) de 1907. O Padre seguirá o
cortejo até ao fim.

O Romeiro mantém-se em silêncio, maravilhado, até que todos se calam, a meio da indicada
rua, sem nunca pararem.

ROMEIRO

Aníbal Vasco Leão e o Padre Gaspar Roriz ofereceram à Associação Comercial e Industrial de
Guimarães o Hino da Cidade. O Padre Gaspar Roriz foi, ainda, o grande impulsionador da
Marcha Milaneza, ou Gualteriana.

PADRE GASPAR RORIZ, por ali perto, proferindo a sua habitual deixa

Por Guimarães!

Aparece um cauteleiro.

CAUTELEIRO, tentando vender cautelas aos presentes

Olhá cautela! São três prémios, três prémios…1º, três vitelas; 2º, duas vitelas, 3º, uma vitela!
Compre já! Compre já! A menina quer? É barato.

Às constantes negas, o cauteleiro segue a sua jornada, maldizendo tudo e todos.


Passam dois fogueteiros, em conversa acelerada, por causa das expectativas em torno do fogo-
de-artifício:

- Os fulanos de Viana estão mais experimentados que nós. Viste o que fizeram em São Torcato?
- E o que tem? Nós podemos fazer, também. Vais ver, vai correr bem.
- Com sorte, vão chamar-nos sempre!
- Com sorte…e com trabalho!

O grupo de percussão ensaia, de novo, o seu número, até ao fim da rua.

Av. Alberto Sampaio

A Romeira aproveita a oportunidade para recuperar o seu lugar. Limita-se a piscar o olho ao
Romeiro, que não riposta, voltando este para o lugar já ocupado anteriormente.

ROMEIRA, sorridente

Naquele Agosto de 1906, 4 de Agosto, curiosamente dia em que se assinala a fatídica Batalha de
Alcácer-Quibir, Guimarães acordou em festa.

Anunciava-se a actuação da Banda de Múrcia (o ensemble ensaia um vislumbre de toque


militar), cruzavam-se bandas filarmónicas (sons vários emergem da mole humana, inclusive
vocais). Eram distribuídos guias do viajante (surge um senhor distribuindo panfletos,
anunciando o facto).
Surge o Professor José de Pina, segurando um boneco articulado que concebera para o efeito.
Segue à frente.

JOSÉ DE PINA, questionando

Não estorvo, pois não?

(Passam, apressados, Bombeiros, que vão ensaiar uma demonstração, tagarelando entre si. Um
elemento da Banda dos Guise segue-os, também apressado.)

Uma senhora anuncia a venda de vários doces, enquanto o ensemble executa um número
musical (à escolha da encenadora). À chegada à Senhora da Guia, o coro comunitário entoa
um mantra. Todos param.

Senhora da Guia

Nas escadas da Capela da Senhora da Guia, um grupo de beatas recebe, com desconfiança,
aquela turba. Os impropérios são vários:

- Que é isto? Que raio de modernice!


- Ide rezar o terço!
- Gandulos!
- Esta juventude nova está perdida…
- À missa não apareceis vós.

Uma delas, abandonando as escadas, vem ter com a Romeira. Pergunta-lhe:

- Há quanto tempo é que não te confessas?


O grupo segue em direcção à Alameda de São Dâmaso, pelo passeio público, e é seguido pelas
beatas, de perto. Em direcção oposto segue Emiliano Abreu, cheio de fios e de lâmpadas,
pensando em voz alta:

- Isto é que vai ser! Isto é que vai ser. Hão-de arregalar a vista!

Alameda de São Dâmaso

A Romeira pede a palavra.

ROMEIRA, quase solene

Temos um convidado.

Chega, vindo do lado do Coreto, João Xavier de Carvalho, que toma a palavra:

Os empregados do comércio também se juntaram à festa, com o cortejo dos caixeiros. Quase
uma génese do que viria logo a seguir.

(João Xavier de Carvalho chama para junto de si o Padre Gaspar Roriz.)

Em 1907, tendo por orientador este Senhor, Vimaranense cimeiro, o Padre Gaspar Roriz, sairia
à Rua a Primeira Marcha Milaneza, chamada de Gualteriana.

Prossigamos, sim? Ah, e toca a banda!

(o ensemble executa, uma vez mais, o Hino de Guimarães, em andamento)

Terreiro das Carvalhas (ou de São Francisco)

Todos os presentes atravessam um arco árabe, concebido por Abel Cardozo, que se encontra,
no local, a finalizá-lo, ou a certificar-se de que não cai. O ensemble para de tocar.

Quando dá fé daquela gente toda, afasta-se um pouco, e faz sinal para que passem à vontade.
Depois de toda a gente o atravessar, volta ao trabalho.

A Romeira chama para junto de si o Romeiro, e ambos, à vez, completando-se, encerram a sua
participação:

ROMEIRA

Guimarães tinha, finalmente, as suas Festas de Cidade.

ROMEIRO

Nascidas a partir da antiga Feira de São Gualter. (apontando para Abel Cardozo) Para o efeito,
Abel Cardozo concebeu um magnífico arco árabe.
ABEL CARDOZO, acrescentando

E o José de Pina bonecos articulados.

(O professor José de Pina agita o boneco.)

Os romeiros despedem-se, afastando-se, sem falas, porque não gostam de despedidas.

Do meio da multidão, saem São Francisco de Assis, Santo António e São Gualter. Abel Cardozo
segura um pincel, com o qual pinta as faces de Santo António, de vermelho.

É este, António, o último narrador:

São Gualter chegou a Portugal em 1217, na companhia de Zacarias, a pedido de São Francisco
de Assis (aqui, coloca a mão pelas costas de São Francisco de Assis), instalando-se na zona de
Urgezes, Guimarães, num local agora conhecido por Fonte Santa.

As beatas ajoelham-se.

Gualter foi o fundador do primeiro convento de São Francisco, em Guimarães. Zacarias seguiu
para Sul (nesse momento, em silêncio, já Zacarias abandonara o grupo, sendo possível vê-lo,
dirigindo-se para os lados do Toural).

A sua acção e a sua bondade permitiram que a sua memória subsistisse. Ainda hoje é assim.

(Silêncio)

Encerramento com uma actuação do coro comunitário.

FIM

***

Paulo César Gonçalves; 2019;


Todos os direitos reservados.
NOTA: Tudo o que está a negrito, a itálico e entre parêntesis não são falas.

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