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AQUECIMENTO GLOBAL
Grosso modo, é Portugal, que se afunda a uma velocidade com que Tuvalu e
a Terra e a Time não sonham. E o melhor é que não precisamos de
aquecimento global. O descaramento local é su ciente.
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22/06/2019 O nosso país a afundar – Observador
tal anos sem temáticas caseiras e, enfim, subiu à capa da Time em 2003 um
assunto prometedor: a explosão (salvo seja) da prostituição em Bragança.
Infelizmente, o assunto não cumpriu. Afinal, tratava-se de incompetência da
jornalista – espanhola, se não me engano – que redigiu o artigo, e que
confundiu os queixumes de meia dúzia de meretrizes locais contra meia dúzia
de meretrizes importadas com um alegado “bairro europeu da luz vermelha”.
Até agora, pois, havia um tirano, um germanófilo sem grande tino, três
estarolas próximos do estalinismo ou da demência e hordas de rameiras
inventadas. Agora, junta-se-lhes Guterres.
É natural que uma pessoa comece logo a imaginar. Guterres, o líder. Guterres,
o visionário. Guterres, o inspirador. É também evidente que essa pessoa está
equivocada e deve ser esclarecida de que falamos mesmo do eng. Guterres, o
ex-futuro do socialismo moderno, o fugitivo do pântano, o emplastro dos
refugiados e o secretário-geral da extraordinária ONU. Fatal e adequadamente,
o fotógrafo da Time enfiou o eng. Guterres num charco por altura dos joelhos.
Não terá sido necessário o fotógrafo requisitar a expressão que a criatura
ostenta há décadas: uma coisa entre o desconsolado e o conformado, atitude
encontrada com assiduidade nos sujeitos que chegam ao restaurante cinco
minutos após o fecho deste. E que quando o apanham aberto demoram hora e
meia a escolher o prato. No caso da capa, o contexto é o “aquecimento global”.
Sob o título “O Nosso Planeta a Afundar-se”, pretende-se sugerir que o nível
das águas está a subir e, não tarda, levará tudo à frente. Pelo ar derrotado do
eng. Guterres, um degelo que o leve parece inevitável, e um favor pessoal que
lhe fazem.
Um favor que ele e a Time nos fariam era não alinhar em trapaças. A fotografia
do eng. Guterres em encharcados preparos foi tirada no arquipélago de Tuvalu,
dito “um dos países mais vulneráveis do mundo” por causa do “aumento dos
níveis do mar”. No Twitter, o ambientalista Bjørn Lomborg, que não sendo um
fanático das “mudanças climáticas” não é de certeza um descrente absoluto,
veio explicar que, logo por azar, e apesar do factual aumento dos níveis do mar,
o território total de Tuvalu aumentou quase 3% nos últimos 40 anos e é
garantidamente habitável ao longo do próximo século. Além de esteticamente
desagradável, a capa da Time é pelos vistos uma fraude.
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22/06/2019 O nosso país a afundar – Observador
E é grave não especialmente por causa do pobre eng. Guterres, no fundo (sem
trocadilhos) uma figura menor. É grave porque a reverência embasbacada a
sucessivas figuras menores, providas de petulância natural e impunidade
adquirida, não é só um elemento determinante da sociedade portuguesa:
grosso modo, é Portugal, que se afunda a uma velocidade com que Tuvalu e a
Terra e a Time não sonham. E o melhor é que não precisamos de aquecimento
global. O descaramento local é suficiente.
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