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3. O ÊXODO DA
MULHER CANANEIA
l
Minha filha está horrivelmente
ia
endemoninhada.
(Mateus 15.22)
Tr
A fama de Jesus em Tiro e Sidom
O Reino de Deus havia chegado e avançava rapidamen-
te através do ministério de Jesus. Era como um fermento que
rapidamente se espalha por toda a massa. Esse Reino iniciava
o
humildemente através de um simples jovem galileu da cidade
de Nazaré. E também crescia rapidamente tal como um pe-
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desfrutaria das bênçãos do Reino de Deus. Então, depois do conflito
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com os líderes de Jerusalém, Jesus foi para as regiões de Tiro e Sidom,
de alguma forma antecipando a proposta universal do Evangelho.
Jesus entrou numa casa e, segundo o evangelista Marcos, não
Tr
queria que ninguém o soubesse. Talvez estivesse procurando um
pouco de descanso ou ter uma ocasião a sós com seus discípulos,
pois, desde a morte de João Batista e o conflito que tivera com os
líderes de Jerusalém, ele não havia descansado. Por isso, provavel-
mente, fez o seu retiro para um lugar bem distante.
o
Porém, a sua fama já havia também chegado às aldeias que
ficavam na região de Tiro e Sidom, de sorte que seu intento de ficar
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ele não foi pego de surpresa. Ele mesmo, por causa do seu amor
pelos pecadores, permitiu-se ser descoberto58, assim como aconte-
cera anteriormente59.
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ao diferente. Nesse êxodo, a mulher cananeia teve, em primei-
ia
ro lugar, de romper com a fronteira da discriminação de gêne-
ro, ou seja, a discriminação que sofria pelo simples fato de ser
mulher.
Tr
A situação social da mulher na época de Jesus
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anonimato e usar o véu para não ser reconhecida. O véu era com-
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posto de duas partes: uma parte sobre cabeça, cobrindo o cabelo,
e a outra em sua fronte, cobrindo a face. O véu era para ela não ser
reconhecida; isso mostrava que, em público, ela não tinha identi-
Tr
dade ou ao menos não devia mostrá-la. Para a mulher, sair sem o
véu era uma ofensa aos costumes antigos e podia dar ocasião para
que o marido pedisse o divórcio, sem que ele estivesse obrigado a
dar para ela a soma estipulada em contrato matrimonial65. Por
isso, a mulher solteira quase nunca saía de casa, e a mulher casa-
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da, quando saía, sempre estava com o rosto coberto para que pas-
sasse despercebida.
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cogitado isso conforme revela o evangelista João.
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Para Keneth Bailey, esse que queres saber? ou que
desejas? era um modo típico de falar que nos ouvidos de um
oriental soaria como Existe alguma coisa que posso fazer por
Tr
você?, isto é, você gostaria que nos livrássemos dela? Das
duas perguntas que os discípulos desejaram fazer em João 4,
mas não fizeram, a primeira (Que desejas?) expressa que
eles se dispuseram a auxiliar Jesus. Mas a segunda pergunta
(Por que estás conversando com ela?) deixa claro que os
o
discípulos acharam extremamente estranho ver o mestre deles
conversando sozinho com uma mulher em um local deserto.
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apoio legal para contestar. A mulher estava obrigada a obedecer
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a seu marido como seu dono chamando-lhe de rabi ou baal
como uma espécie de dever religioso. Até mesmo na condição
de mãe seus direitos eram inferiores aos dos seus maridos en-
Tr
quanto pais. Os filhos, por exemplo, estavam obrigados a colo-
car o respeito ao pai acima do respeito à mãe70.
As mulheres não comiam com os homens, mas deveriam
ficar em pé, servindo-os à mesa enquanto eles comiam. Nas ruas
e nos átrios do Templo, elas ficavam a certa distância dos ho-
o
mens. Sua vida, tanto no judaísmo como no mundo greco-ro-
mano, passava-se em casa; reclusa ao lar, evitava ser vista até
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tecer. Não havia uma lei explícita que proibia aos pais ensina-
ia
rem a lei para suas filhas, no entanto havia um consenso de
que nenhum pai deveria ensinar a lei para suas filhas, pois
havia um ditado o qual dizia: aquele que ensina a Torá à sua
Tr
filha ensina-lhe a prostituição [ela fará mau uso do que apren-
deu]. A escola era disponibilizada para os meninos e vedada
às meninas. Por esse motivo, a mulher não podia acessar a
parte destinada a educação na sinagoga. A sinagoga tinha dois
espaços: um destinado para cerimônias públicas, a única parte
o
que a mulher podia acessar, e outro destinado para a educação
e ensino da lei, que só era acessado pelos homens (pais e fi-
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Tudo isso pode ter sido endossado a partir de uma inter-
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pretação errônea do relato da criação e da queda da humanida-
de. Ou seja, a interpretação de que a mulher tinha sido culpada
pela queda e pelo pecado desenvolveu no povo judeu uma vi-
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são negativa em relação à mulher. Ela era vista como perigosa
e sempre uma fonte de tentação. Por causa disso, a relação
com a mulher era preconceituosa. Em suma, ela era proprieda-
de do varão e sua única função estava associada a ter filhos e
servir ao homem. Além disso, a mulher não era considerada
o
apenas fonte de tentação, mas também frívola, sensual, pre-
guiçosa, fofoqueira e desordenada73 . Em todo caso, a mulher
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do seu esposo, tanto na ação como no relato, tem levado al-
ia
guns estudiosos a supor que ela fosse viúva. De qualquer for-
ma, o fato de ser mulher e de estar clamando atrás de um ho-
mem mostra que ela se porta de forma reprovável para os pa-
ral existente. Tr
drões culturais de sua época, em virtude do preconceito cultu-
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