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Café - com - Letras

Revista Literária da Academia


de Letras de Teófilo Otoni

Nº 16 – DEZEMBRO/2018
Publicação anual
ISSN 2317-7985
ACADEMIA DE LETRAS DE TEÓFILO OTONI

Fundada em 20 de dezembro de 2002


Rua Manoel Dantas, 230, Grão Pará
39800-175 Teófilo Otoni – Minas Gerais
www.letrasto.com – Telefone: 33 98401-2518
letrasto@hotmail.com - letrasto@yahoo.com.br

DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente: Elisa Augusta de Andrade Farina
Vice-Presidente: Antônio Jorge de Lima Gomes
Secretário-Geral: Wilson Colares da Costa
Tesoureiro-Geral: Leuson Francisco da Cruz
Presidente Emérita: Amenaide Bandeira Rodrigues

CAFÉ-COM-LETRAS: REVISTA LITERÁRIA DA ACADEMIA


DE LETRAS DE TEÓFILO OTONI
Publicação anual

Produção editorial: Prof. Wilson Colares da Costa


Digitação complementar: Jair Jr.
Revisão:Juan de Souza
Imagem da capa: Aquarela de autoria da acadêmica Hilda Ottoni Porto Ramos
(Dona Didinha).
Montagem e impressão: Gráfica Carvalho

Ficha Catalográfica
Revista Literária Café-com-Letras – Ano 16 n.16
Teófilo Otoni: Academia de Letras de Teófilo Otoni, 2018.
Fundada em 2002
1.Literatura – Periódico. 2. Obras Literárias 1. Academia de Letras de
Teófilo Otoni

Os conceitos emitidos nos textos desta edição são de inteira responsabilidade dos autores e não
representam, necessariamente, a opinião da Academia de Letras de Teófilo Otoni
Antônio Costa Galvão
O cooperativismo em destaque!
Natural de Teófilo Otoni nasceu na Fazenda Aguinha; passou sua infância no
distrito de Topázio; em 1948, foi estudar no Grupo Escolar Teófilo Otoni, atual Escola
Estadual Clotilde Onofri de Campos. Algum tempo depois iniciou sua carreira no
comércio em Topázio de 1960 a 1965 (a primeira experiência como administrador
no armazém de seu pai). Na vida pública, foi diretor-presidente da Cooperativa
de Laticínios de Teófilo Otoni, por seis anos. Fundou, em 1988, a Cooperativa de
Crédito Rural do Vale do Mucuri Ltda, o Sicoob-Credivale, que preside desde sua
fundação. Na condição de dirigente desta cooperativa de crédito, tem colaborado com
inúmeras instituições, na área social, cultural e educacional do município e região.
Já recebeu as seguintes honrarias, em reconhecimento ao seu trabalho, na área do
cooperativismo de crédito: Diploma de colaborador Emérito da Polícia Militar do
Estado de Minas Gerais; Medalha Comemorativa do Bicentenário de nascimento de
Theóphilo Benedicto Ottoni, outorgada pela Câmara Municipal de Teófilo Otoni,
em 2007; Medalha do Mérito Rural, pela Federação da Agricultura e Pecuária do
Estado de Minas Gerais, em 2007 e, Medalha Conselheiro João da Matta Machado,
concedida em 2016, pela Academia de Letras de Teófilo Otoni e Instituto Histórico
e Geográfico do Mucuri. E ainda, em sua homenagem, pela trajetória de vida e
empreendedorismo, foi organizado, em 2013, o livro: “Antônio Galvão, a história de
um vencedor”, de autoria da professora e escritora Dulcina Regina Ribeiro Molina. É
membro benemérito da Academia de Letras de Teófilo Otoni.
Sumário
Um amor sem igual - Elisa Augusta de Andrade Farina..................................................... 7
Um apelo em nome do amor - Humberto Luiz Salustiano Costa.................................... 8
As crônicas das rosas e dos lírios - Sandra Helena Barroso............................................. 10
Encanto do amor - Lizia Maria Porto Ramos................................................................... 11
Porque tentar explicar o amor? - Wallace Gomes Moraes............................................... 12
Flor que exala amor - Marcos Miguel da Silva................................................................... 13
Amor musicado - Jair Jr........................................................................................................... 15
Um mundo amoroso - Therezinha Mello Urbano de Carvalho...................................... 16
Desprezando... - Márcio Barbosa dos Reis........................................................................... 17
Dispensa professores - Arnaldo Gomes Pintor Jr............................................................... 18
Amor perfume que espalha - Teresa C.C.M.Azevedo........................................................ 19
Amor em alguns versos - Helenice Maria Reis Rocha....................................................... 20
O tempo urge, as modas se sucedem e os sentimentos,
modificam-se - Gecernir Colen............................................................................................. 21
Ágape - Egmon Schaper Filho................................................................................................ 24
Distância (do matuto) - José Anchieta Antunes de Souza............................................... 25
Jamais esquecerei - Maria Eugênia Porto Ribeiro da Silva............................................... 26
Perfume dos campos - Marlene Campos Vieira................................................................. 27
Plantar amor - Helena Selma Colen...................................................................................... 28
O amor e a razão - João Batista Vieira de Souza................................................................ 29
Ao anjo encantador - Magali Barroso.................................................................................. 30
Todos por um - Vânia Rodrigues Calmon.......................................................................... 31
Amor, doce perfume que se espalha, multiplica - Marcos Coelho.................................. 33
À toda prova - Ailton Ferraz................................................................................................... 34
Perfume de mulher - Isaias Lemos Alves............................................................................. 35
Razões de um viver - Vinícius Martins................................................................................. 36
Alguns feitos do amor - José Geraldo Silva.......................................................................... 37
Amor à primeira vista - Leuson Francisco da Cruz.......................................................... 38
A essência do amor - Lucivalter Almeida dos Santos........................................................ 39
Dopamina e o perfume do prazer que se espalha - Antônio Jorge de Lima Gomes... 40
Aspersão - Celso Henrique Fermino..................................................................................... 42
Poema poesia – Miguel José da Silva..................................................................................... 43
Onde está o amor? - Rosilene Alves Pereira Ferraz............................................................ 44
O amor: perfume que espalha - José Moutinho dos Santos............................................. 45
Dentro de mim - Sérgio Giorni.............................................................................................. 46
Recortes - Leandro Bertoldo Silva......................................................................................... 47
Sinos - Edelweiss Roede Galvão Dutra................................................................................. 48
A essência do Amor - Wilson Ribeiro................................................................................... 50
Amor... Perfume que embala. - Margareth das Dores Rafael Moreira Costa................ 51
Amor sem medida - Carmelita Ribeiro Cunha Dantas.................................................... 52
Um amor entre amigo - Maria Luciene................................................................................ 53
Amor incondicional - Walter Luiz Cid do Nascimento................................................... 54
Soneto decassílabo de bom caminho - Paulo Roberto de Oliveira Caruso.................. 55
Infinito - Nancy Zeitone.......................................................................................................... 56
A vivenda, de outros tempos - Neri França Fornari Bocchese......................................... 57
Vida realizada - Rosimeire Leal da Motta Piredda............................................................. 58
Quimera -Valéria Victorino Valle.......................................................................................... 59
Perfume de bem-querer - Maria Antonieta Gonzaga Teixeira....................................... 60
Conjugando o verbo amar - Amalri Nascimento.............................................................. 61
Solidariedade: sublime expressão do amor universal - Eloisa Antunes Maciel........... 63
Saudades do amigo - Cosme Custódio da Silva.................................................................. 64
Amor é a conjunção com o infinito e as estrelas - Odenir Ferro.................................... 65
Solidariedade - Maria de Lourdes Schenini Rossi Machado........................................... 67
Amor e saberes - Ilda Maria Costa Brasil............................................................................ 68
Alegria em tempos de amor - Lenival de Andrade........................................................... 69
O nosso amor é perfume que se espalha - Rogessi de Araújo Mendes......................... 70
Do amor ao próximo - Aristides Dornas Júnior................................................................ 71
Justiça Eterna - . Leandro Campos Alves............................................................................. 72
Amor: um sentimento que desconhece fronteiras - Silvio Parise................................... 73
Bandono - Coracy Teixeira Bessa.......................................................................................... 74
Sobre o amor - Isabel C S Vargas.......................................................................................... 75
O Supremo Bem - Mauricio Antonio Veloso Duarte....................................................... 76
Reles sonhador - Jorge Alberto Miranda Junior................................................................. 77
Sobre um poema de Drummond - Llewellyn Davies Antonio Medina...................... 78
Amor, perfume que se espalha! - Marcelo de Oliveira Souza.......................................... 79
A eterna mesmice do amor - Luciene Barros Lima........................................................... 80
Amor Vincit Omnia - Fernando Catelan............................................................................ 81
As manifestações do amor - Francisco Martins Silva....................................................... 83
A pedra “não” estava no caminho - Evandro Ferreira Rodrigues.................................. 84
Prêmio Literário Gonzaga de Carvalho – classificados: crônicas e poesias................. 85
Academia de Letras: história, patronos e quadro social.................................................... 94
Apresentação
”De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.”

Vinicius de Moraes. In: Soneto de fidelidade

“O amor vence tudo” – é a divisa desta Academia de Letras, evidentemente esta


expressão é tomada de empréstimo do poeta latino Virgílio (70-19 a.C) – que enfatiza o AMOR
como essência, quer vencendo barreiras, quer no relacionamento entre pessoas, como nos
desafios que são apresentados no dia a dia na busca incansável pela paz...
Para realçar a importância desse sentimento tão nobre, via de regra, declamado em
festas, sussurrados por enamorados, recitado em magníficos versos por boêmios ou mesmo
gritado como palavras de ordem é, que a Academia de Letras de Teófilo Otoni - por sugestão
da nossa presidente Elisa Augusta de Andrade Farina e, com a aquiescência do Conselho Geral,
edita esta 16ª edição da Revista Literária Café-com-Letras: uma preciosa coletânea em prosa
e verso, totalmente dedicada à temática do amor, como o mais puro e genuíno sentimento
humano.

Que todos tenham uma boa leitura!

Prof. Wilson Colares da Costa


Secretário-Geral
Academia de Letras de Teófilo Otoni
Um amor sem igual
Elisa Augusta de Andrade Farina *

Ah! O amor!... O amor é um dos grandes temas para filmes, novelas, teatros e
propagandas. Onde está o amor verdadeiro? Como definir o amor? Como saber amar?
Guimarães Rosa disse que “O amor é passo de contemplação”. Decidi embrenhar-
me no filosofar para conhecer a plenitude do viver e do amor. Busco dar sentido e ver sentido
nas coisas, nas palavras, nas pessoas, poetizar... Sou um ser despreparado com relação ao
amor, quando ele entrou em minha vida não fui avisada, não pediu-me licença, pegou-me
desprevenida. Fez questão de chegar de mansinho para não ser notado. Apaixonei-me pela vida,
pelas pessoas, pelas flores e os pássaros em seus voos livres e felizes. Sonhei... Fiz dos sonhos
poesia. O amor estava em toda parte, saciava minha fome. Estava em tudo e ao mesmo tempo
no nada, busquei as estrelas mais brilhantes para povoarem o meu céu de amor.
Das asas da liberdade fiz um trampolim para alcançar o inalcançável. Vi no amor a
possibilidade de me conservar viva e atuante. Quando observo as pessoas na sua lida diária,
pergunto-me se sabem o sentido do amor, do existir, da importância de amar e saber ser amado.
O amor que está estampado aos quatro ventos é um amor raso, imediatista, sem profundidade,
egoísta e impregnado de falsas ilusões. O verdadeiro amor reside no âmago da alma, no cerne
do ser, pronto para encontrar ressonância em outra alma. Não adianta ter o amor se não tiver
a quem amar. O amor é troca, é busca, é renúncia. Necessita-se do outro em todas as suas
especificidades e defeitos para que haja a comunhão. Não estou falando do amor carnal, este já
se banalizou, falo do amor ágape. O amor que sentimos pelo nosso próximo um amor generoso
sem limites, puro, livre de amarras. Para amar dessa maneira é necessário abandonar os adornos,
esquecer-se do seu.
Coisificamos o homem através do consumismo exacerbado. Para libertar-se dessa teia
avassaladora é necessário fazer o caminho inverso do que trilhamos. Precisamos ir além do
que nossos olhos veem, a capacidade de ver além do possamos captar através dos sentidos. É
preciso penetrar o recôndito do nosso coração e escutar a linguagem da alma dos sentimentos,
encontrar a simplicidade, amar como Deus nos ama e cuidar. O amor é ação. É movimento. É
(re)encontro. O amor dá significado às relações e nos torna mais dóceis, mais comprometidos
com o outro. Deixa-nos mais sensibilizados e preparados para enfrentar a dor e as mazelas que
surgem em nossa vida. Não temos tempo para o cultivo de uma vida interior. É mais fácil a
superficialidade. Não experienciamos as realidades que nos levam a uma transcendência para
poder acessar cada vez mais a nossa verdade pessoal, possibilitando a posse de nós mesmos,
favorecendo relacionamentos mais saudáveis.
Só quando conseguirmos enxergar o outro como possibilidade de complemento,
seremos capazes de amar. Aí sim, seremos como a fragrância de um perfume que exala e deixa
o seu odor modificando e sendo modificado nessa grande jornada chamada vida!

____________________________________________
*Professora, escritora, poetisa e presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

8
Um apelo em nome do amor
“É preferível viver no pecado do que mentir na oração”

Humberto Luiz Salustiano Costa*

Era um mês de dezembro, não me lembro bem de que ano. Um grande encontro em
nome da verdadeira solidariedade humana estava em curso, reunindo homens e mulheres de boa
vontade, todos movidos pelo sentimento próprio da época natalina.
O pátio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras estava literalmente tomado pelo
grande público, que se acotovelava, tamanha era a presença dos participantes do evento de
cunho religioso. Em nome do verdadeiro espírito natalino o ambiente lembrava uma celebração
da mais profunda fé cristã. O que se pretendia demonstrar estava evidenciado na contrição de
todos os circunstantes.
Depois de muitos cânticos e orações evocativos, elevando aos céus a mensagem de
louvor ao Menino Jesus, o clima de paz tomou conta de todos os corações numa esplendorosa
corrente, fazendo inundar de bênçãos a mais significativa concentração ecumênica.
Representantes de diferentes denominações religiosas se faziam presentes ao chamamento de
uma grande causa: render tributo ao Senhor de todos os mundos em tempo de Natal.
Chegado o momento do preletor do evento, se fez ouvir um religioso de palavra fácil e
convincente que a todos brindou com uma palestra das mais brilhantes e das mais comoventes.
Foi uma oportunidade ímpar para uma reflexão que a todos atingiu enquanto crentes no que de
mais sublime ensina a Sagrada Escritura.
O amor ao próximo pairava no ar com muita intensidade, fazendo pulsar os
corações. Nada conspirava contra os objetivos maiores propostos pelos promotores daquela
confraternização. O encontro desenvolvia-se do modo mais fraterno e amigo. Nada igual tinha
acontecido até então em nosso meio, deixando todos inebriados por tamanha manifestação de
louvar e bendizer pelo dom da vida.
O inusitado, no entanto, estava por acontecer sem que ninguém, em sã consciência,
pudesse imaginá-lo em toda a sua dimensão.
O preletor, de repente, foi interrompido por um mensageiro, que abruptamente chegou
até ele entregando-lhe algo do tipo bilhete, deixando-o, por instantes, pensativo, para logo
que se refez da apreensão inicial, comentar acerca do que tinha recebido em forma de apelo
à generosidade de quantos ali estavam desfrutando dos ensinamentos então ministrados em
forma de palestra.
Foi quando se arriscou a fazer o apelo que o bilhete recebido lhe sugerira. O pedido
era feito em nome de um casal de andarilhos que acabara de chegar à cidade, sem nenhum
recurso para custear as despesas com hotel e alimentação; além do mais a mulher estava em
estado bastante adiantado de gravidez, podendo dar à luz a qualquer momento.
Nesse sentido indagou se alguém ali presente se disporia a oferecer acomodação para
o casal de andarilhos vindo de muito longe e falando língua estranha. Quem se dispusesse a
tanto, que levantasse a mão.
Fez-se silêncio sepulcral, e não houve nenhum gesto de mão levantada, com todo
mundo se limitando a compadecer da pobre gente em verdadeira situação de penúria.
Diante do descaso manifestado em face ao humanitário apelo, veio o simbolismo
daquela situação, com o pregador revelando que o casal era simplesmente Maria e José, cuja

9
missão divina nos trouxe a salvação, ensinando-nos os nobilitantes princípios da solidariedade,
do amor, da justiça, do perdão, da compreensão, da caridade e de tantas outras virtudes para as
quais fomos criados à imagem e semelhança Daquele que veio ao mundo numa estrebaria por
lhe faltar quem lhe desse a guarida de que ainda hoje carecem muitos irmãos nossos.
Estava dada uma sábia lição, e ainda hoje me arrependo, amargamente, de não ter
sido, na multidão, a mão a se levantar a um apelo em nome do amor.

____________________________________________
*Jornalista, membro das Academias de Letras de Caratinga e de Teófilo Otoni, e membro do
Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri, cadeira 45

10
As crônicas das rosas e dos lírios
Sandra Helena Barroso*

O tempo... ah... O tempo! Como a rapidez dos dias se debruça rapidamente no colo do
anoitecer. Assim é a era... Já dizia minha querida mãe que a vida é tão rápida como o bater de
asas de um beija-flor. Também proferia que nossa existência não é efêmera, quando aquecemos
os nossos corações de benevolência. Nesta ocasião meus olhares humildemente se debruçam
sobre os vales adornados pelas montanhas de Minas.
Assisto a vida como um lindo jardim. Também observo pessoas que são verdadeiras
rosas e verdadeiros lírios. Esses seres humanos com certeza enfeitam o vergel de nossa
existência. Estão abrigados nos prados floridos das Minas Gerais, tanto no Vale do Mucuri
como em Macaúbas. Nisto penso nas pastoras e nos pastores que trabalham em prol da
humanidade. Pondero sobre as Pastoras e Pastores da Paz que grassam seu doce perfume por
onde passam. Onde nas noites de natal levam suaves momentos de paz aos lares. Ah! Pastoras
e pastores, como sabem espargir o mais doce perfume nos quintais da querida Teófilo Otoni.
Como conseguem transmitir o afeto pautado na fraternidade, caridade e fé.
Também discorro das Pastoras do Convento de Macaúbas e de um sábio pastor, o
Monsenhor da quietude, que aos domingos purifica o ar com a fragrância da beneficência e
bondade. A missão das rosas de Macaúbas e do lírio é fazer com que o aroma de Deus perpetue
por entre as centenárias árvores que se acercam do convento de Macaúbas e chegue suavemente
no coração de cada um. Parece que o céu sorrir jubiloso e que os velhos cedros embalados pelo
vento abraçam todos, como uma mãe que embala seu filho.
Ah! Essas preciosas flores adornam o imenso jardim terrestre. O bálsamo que as rosas
e os lírios de Macaúbas e Teófilo Otoni difundem, são adocicados com um mel a qual chamo de
Nossa Senhora da Conceição. Assim, o eterno pintor os presenteou com o dom da fé. Destarte
as rosas e os lírios sabem pintar a vida com amor, um perfume que espalha.

_______________________________
*Membro titular da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG. Sócia Efetiva do Instituto
Histórico e Geográfico do Mucuri. Mestra em Ciências da Religião/ PUC/MINAS. Bibliotecária
da UFMG
11
Encanto do amor
Lizia Maria Porto Ramos*

Ela estava sempre ali. Quem a visse imaginaria que havia se perdido no tempo. Seus
olhos distantes iam para bem além do horizonte. Não parecia triste nem desiludida. Seu olhar
parecia dizer que buscava algo, ou alguém. Sua postura me intrigava.
Num desses dias, resolvi abordá-la: — O que fazes aí? Pareces tão distante? Ela me
olhou com certo receio. Sentiu-se incomodada com a minha presença. Por um tempo, desviou
o seu olhar do horizonte e me fitou. — O que faço? Não vês? Está tão evidente! Veja lá... Ele
vem vindo e eu o espero. Não percebes que a sua presença o afasta?
Olhei para ela e não sabia o que lhe dizer. A quem estaria se referindo? Acompanhei
o seu olhar. Quem sabe haveria alguém a quem eu não teria visto, vindo em sua direção? Com
poucas palavras, apenas pediu-me que me afastasse. Em minha presença, ele certamente não se
aproximaria. Pedi-lhe desculpas e me afastei. Passei a observá-la mais de longe. Estava curiosa.
Num dado momento, um doce sorriso se estampou em seu rosto. O seu olhar, antes
perdido, parecia bem presente. Abriu os braços e depois os apertou contra o peito. Não tive
dúvidas! Ela trocava um longo abraço com alguém. Alguém? Como assim? Não havia ninguém
por perto! A não ser... Arrepiei-me ao pensar que ali poderia haver um fantasma. Mas aquela
mulher parecia tão feliz! Parecia mesmo em êxtase! Foram apenas alguns segundos. Ainda
sorrindo, pude perceber que havia algo em suas mãos. Mal pude crer no que vi! Junto ao peito,
suas mãos seguravam uma rosa vermelha. De longe senti o seu aroma!
Só então ela percebeu que a observava de longe. Mostrou-me a rosa e um largo sorriso.
Naquele instante percebi a plenitude do seu olhar, da sua alma. Senti mesmo o palpitar daquele
coração, que até então parecia tão frágil.
Silenciosamente, chegou até a mim. Trazia numa das mãos a rosa. Com a outra mão,
tocou-me o ombro. Olhando-me nos olhos, disse-me: - O dia que ele partiu, prometeu-me
visitar a cada poente. Tem sido assim desde então. A rosa e o abraço forte são a certeza que
guardo no peito de que o tempo e a ausência são incapazes de desfazer em mim a lembrança
de um sentimento vivido em plenitude. Fazer da ausência, presença e do tempo eternidade, são
segredos do encanto do amor.

________________________
*Aposentada pela UFMG, atualmente tem se dedicado a escrever tanto textos literários como
material didático dedicado ao público do primeiro seguimento do ensino fundamental nas áreas
de conhecimento das Ciências da Natureza e Matemática. É membro da Academia de Letras de
Teófilo Otoni, titular da cadeira 03.
12
Porque tentar explicar o amor?
Wallace Gomes Moraes*

A evolução da humanidade sempre nos trouxe surpresas. Algumas agradáveis outras


nem tanto. Embora esta constatação seja dúbia, a humanidade vai evoluindo, buscando novos
modos de viver e vivenciar as situações que são apresentadas. As contradições que a vida nos
impõe é um reflexo claro dessa ambiguidade. Sempre estamos no limiar entre o sim e o não,
entre a vida e a morte. Neste entremeio surge o amor, com sua dualidade, trazendo consigo as
armadilhas, que nos pega ao bel prazer e sem avisar. O amor cria situações inusitadas dentro
de sua dualidade. Por um lado, envolve-nos com uma áurea de bem-estar e prazer, fazendo-nos
ficar à mercê de suas imposições. Outras vezes, transforma-se no ponto de partida de um ódio
atroz, fazendo imergir as mais recônditas manifestações negativas. São as artimanhas do amor.
Ele se apresenta em todas os momentos de nossa vida e por mais que os homens tentem explicar
o sentido maior desta palavra, deste sentimento, mas subjetivo se torna o amor. Na verdade, o
amor se espalha no ar, entremeando as vidas das pessoas com suas diversas facetas. As vezes
sublime como o amor carnal, maternal, fraternal. Outras vezes na forma execrável do amor
venal, passional, mortal. É como um novelo de lã que após puxado o fio da meada, enrosca nas
pessoas e por mais que se busque desvencilhar, se embaraça mais. Ele não tem hora e lugar,
sendo, pois, atemporal. Quando menos se espera, lá está ele a fazer das suas. Passamos a amar,
a gostar, a venerar, a apaixonar. Temos sim, o dom e o destino de sempre ir ao encontro do amor.
Seja ele fiel, maduro, consistente ou apenas frugal. Temos a necessidade de amar. Ora, então
porque tentar explicar o amor se ele é a razão do viver no dia a dia e assim será, até que o juízo
final dê o ultimato, transformando-o em saudade. Vivamos então o cotidiano, amando as coisas,
as pessoas, os momentos e sejamos felizes, pois que, ele é muito maior que nossas virtudes,
vaidades, sucessos ou fracassos já que na sua intangibilidade é muito maior que nosso senso
de razão. Sejamos francos, por mais piegas que possa parecer, o amor move o mundo e suas
consequências extrapolam nossa capacidade de entende-lo. Pois mais que tentássemos explicá-
lo, ainda seria menor que a capacidade de senti-lo e desfrutar de suas esfuziantes sensações de
prazer. Assim, o que nos resta é amar, amar e amar!

_____________________________________
*Professor, escritor, historiador e administrador. Membro da Academia de Letras de Teófilo
Otoni, titular da cadeira 21 e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri,
cadeira 4.
13
Flor que exala amor
Marcos Miguel da Silva*

A sapiência divina cotidianamente eclode para permitir que o sol, com a fulgência de
seus raios, possa descortinar um novo dia.
E o astro-rei, com a inebriante reluzência de seus fachos de luz, sutilmente pede
licença ao que remanesce do orvalho da noite para possibilitar a resplandecência do amor de
Deus à humanidade, exalado através do perfume das flores.
É a materialização do ciclo da vida, cujos mistérios estão além das nossas limitações
e possibilidades de entendimento como humanos que somos, sem, contudo, desdenhar da nossa
pequenez.
Incontáveis são as fragrâncias incumbidas dessa sublime missão, e assim tomo a
liberdade de apontar aquela advinda do ápice da florada das laranjeiras, quando a fruteira mais
se assemelha a uma bela noiva coberta com seu branco véu, sacramentando o compromisso do
amor na plenitude da sua significância: amor à vida, aos semelhantes, à natureza, à justiça e a
todas as criações do universo.
Pena que a magnificência do processo que precede ao saboroso suco da laranja sempre
passa despercebida aos olhos de quem o consome. Lamentável...
E ainda assim, com todo esse descaso quanto à origem daquilo que proporciona prazer
e satisfação, o Criador jamais se descurou de anualmente permitir que a metamorfose do amor
ficasse exposta aos olhos e ao olfato da humanidade, quiçá que o propósito fosse despertá-
la para a necessidade de cultuar esse sentimento como cartilha para a construção da paz, da
solidariedade, do respeito mútuo, da prevalência do bem sobre o mal, da supremacia do espírito
sobre a matéria e, sobretudo da indistinta e incondicional igualdade entre os povos.
Poderia eu ter aludido às espécimes de flores de colorido e formato mais aviltantes,
capazes de exibir certa exuberância ou imponência; porém a pequena branca flor da laranjeira,
além desta peculiar brancura de suas pequenas pétalas, é capaz de sintetizar a pureza, a
simplicidade e a retidão tão necessárias a nós humanos, exalando uma fragrância inigualável,
como inigualável é o amor do Pai e Criador de todas as coisas.
Quão maravilhoso seria se nós, os humanos, espelhássemos em tantos e tantos
exemplos que flutuam graciosamente ante nossos olhos! Ver a humanidade se emaranhar nessa
turbulência globalizada como se navegasse na contramão da ordem natural das coisas, é algo no
mínimo doloroso aos corações de índole serena.
Imaginar que somos a única espécie capaz de se auto extinguir, mesmo sendo dotados
de sentimentos e do poder de pensar, invoca questionamentos: até que ponto somos humanos?
Ou ...
Está faltando amor? ... Está faltando humor? ... Está faltando ... Na verdade, nem
sempre está faltando alguma coisa; na maioria das vezes está sobrando: ganância, intolerância,
apego material, inversão de valores e outras desditas ultrajantes da humanidade.
Visualizar a imensurável força do Criador através de suas criações e exemplificações
dispostas via ciclo natural da vida tem se tornado cada vez mais difícil e, por isto, a florada da
laranjeira e tantas outras floradas na maioria das vezes não são notadas, mesmo exalando aroma
peculiar.
Aguçar os sentidos para perceber as nuances que o universo expõe a todos é, se não a
melhor, uma das maneiras mais viáveis para a percepção do amor na plenitude de sua essência.

14
Falar de amor às vezes chega a ser corriqueiro, contudo praticar esse sentimento é privilégio
de uma minoria.
Mesmo sendo um sentimento raro, assim como as minúsculas flores da laranjeira
exalam o seu aroma, o verdadeiro amor é um perfume que espalha.

_________________________________________
*Advogado, escritor, historiador e poeta; membro da Loja Maçônica Universitária Cristal dos
Três Vales (Teófilo Otoni); membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira
15, membro titular da Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas, titular da cadeira 13.

15
Amor musicado
Jair Jr*

Amor, meu grande amor...


finalmente chegastes
sem hora marcada;
definitivo, espaçoso...
fazendo morada.

Tal qual a gaúcha


faminta no prato:
um desejo profano,
macrófago, insano
comer, devorar... Caetano!”

Irmãos Tribalistas
filhos de Manitu
entoam um canto
de doce encanto
estranho sotaque
Maxakalimericano:
amor, I love you...
amor, I love you!

Meu corpo ardente


rubro em chamas
ao mundo proclama
a mais linda das damas!
Preciso... desejo...
tu és minha Dona!
Te amo, espanhola...
Te amo... Adriana!

_______________________
*Escritor, licenciado em Geografia e Educação Ambiental. É membro da Academia de Letras
de Teófilo Otoni, titular da cadeira 13 e, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do
Mucuri, cadeira 02.
16
Um mundo amoroso
Therezinha Mello Urbano de Carvalho*

A Academia de Letras de Teófilo Otoni (ALTO) escolheu como tema da revista


literária de 2018 “Amor, perfume que espalha”.
Fiquei sem rumo, o tema poeticamente lírico e fácil e absurdamente difícil dado as
características do mundo atual.
O materialismo é visível entre todos os povos.
O planeta ressente de mudanças na concórdia, no entendimento, no respeito
mútuo entre as nações. A humanidade esta consciente que só através de ações respeitando a
solidariedade universal será possível perfumar com amor o mundo.
A literatura, demais artes e outras ciências se juntam com simplicidade e sabedoria
e levam através de escritores, muitos jovens a caminhar nesta meta. Cito como exemplo o
poeta indiano Abhay K. que organizou no seu país em 28 línguas oficiais, poemas com textos
carregados de beleza transcendental que mudasse a vida das pessoas, levasse ao bem viver. O
mundo inteiro é uma família com interdependência mútua.
Para o poeta Mia Couto, de Moçambique, o escritor não faz livros faz pontes com
os outros. “Poetas moram dentro de seus poemas”, Pelas poesias e demais escritos o poeta
consegue conectar-se com o mundo. Não há ação humana sem emoção. Esta emoção é o amor
que leva as pessoas a uma convivência amorosa, gratificante.
Na poesia, encontramos a sensibilidade do amor, seja numa mensagem realista ou
naturalista ou cantando canções de amor em outros gêneros literários.
O amor é a maior potência.
É uma constante revolução para o bem e pela paz.
Ao escrever este texto sobre o amor às pessoas, meu objetivo foi e é estimular,
responsabilizar comunidades, governos, escolas e principalmente nas
áreas literárias, poetas, escritores, academias de letras e arte levantar a bandeira pelo
bem do mundo espalhando o perfume do amor.
A poesia ilumina uma visão de vida no sentido de viver em paz.
Frei Beto escreve “a poesia é a linguagem dos anjos, dos amantes, das crianças. É a
linguagem de Deus”.
Poesia nasce da palavra, do silêncio, do abismo do nosso nada e nos leva a sonhar...

______________________________
*Professora aposentada, graduada em Letras, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Teófilo Otoni, escritora e poetisa. É membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular
da cadeira 25.
17
Desprezado...
Márcio Barbosa dos Reis*

Fui o mais vil


Da minha mocidade,
Fui lançado num covil.

Tive medo e muitas dores,


Sofrimentos e horrores,
Fui pobre e humilhado.

Não tinha sonhos,


Porque os sonhos eram pesadelos.
Cheguei a mover-me de joelhos!

As drogas e outras porcarias


Eram meus alimentos de todos os dias.
O desprezo estava em minha moradia!

Não tem solução este desgraçado!


Este pensamento era corrente.
Fui por muitos desprezado.

Mas depois que senti amado,


Quando por Cristo fui tocado,
Vida nova, dentro de mim brotou.

Desde então, aquele que era desprezado,


Tornou-se um grande felizardo,
Obra do Amor, que remove, as mazelas do passado.

________________________________________
*Ex-Professor de Matemática, contabilista, teólogo, escritor, psicanalista, pós graduado em
direito tributário e em Matemática, acadêmico do curso de direito, atualmente auditor fiscal da
Receita Estadual de Minas Gerais e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni,, titular
da cadeira 19.
18
Dispensa professores
Arnaldo Gomes Pintor Jr.*

Queiram me permitir os amáveis leitores da nossa Café-com-Letras que, na aborda-


gem do tema pautado para a edição deste ano eu esteja preferindo recordar um fato acontecido
no final do ano de 1959, na flor da juventude daqueles e daquelas que serão lembrados ao longo
do texto.
O local era o saudoso Colégio São Francisco, à época administrado pelas irmãs fran-
ciscanas, com o comando maior da Irmã Maria Amália, uma rígida freira holandesa, de inte-
ligência rara, e que, por sinal, naquele ano, recebera da Câmara Municipal o título de cidadã
honorária teófilo-otonense. Entre suas auxiliares, a Irmã Aloísia - está certo, não era Irmã Luiza,
como a gente a chamava – bastante dócil, gentil e sempre muita atenciosa para com aquelas
que a procuravam.
As alunas do 3º ano normal, futuras professoras, preparavam as festas de formatura,
porém consideravam a oportunidade de que fosse encenada uma peça teatral, como forma de
angariar recursos que pudessem cobrir custos das colegas que tinham dificuldades financeiras
para poderem participar da solenidade de colação de grau. Lembro que o nome da peça esco-
lhida foi Angústia, cujo autor era natural de Araçuaí que, perdoe-me, não tenho lembrança do
nome. Era uma história em sete atos, com o foco em torno de um transtorno de memória do
protagonista, a conhecida amnésia.
Um detalhe que não pode ser esquecido. No Colégio São Francisco, até então, peças
teatrais eram encenadas com as próprias alunas fazendo papéis masculinos pois era vedada a
presença de rapazes junto às internas do educandário. Não sei precisar quem conseguiu con-
vencer a madre diretora, mas o certo é que, naquele final de 1959, quatro jovens do sexo mas-
culino tiveram acesso para um período longo de ensaios e, depois, a esperada apresentação de
Angústia.
Quais foram esses heróis? O Batista Júlio, o Júlio Spíndola, o protagonista Humberto
Luiz e eu, o Arnaldo, que, na peça, aparecia em todos os atos, fazia o papel de um médico, um
doutorzinho, como era chamado pelos companheiros e, principalmente, pelas companheiras de
palco. O elenco feminino era formado pela Ivete, a principal, e mais a Gilda Abreu, a Clélia
Eneada, a Ilma Botelho e a Maria Nunes.
Até onde consigo recordar, o doutorzinho não possuía clientes cadastrados e seu foco
era distribuir frases elogiosas às garotas com as quais contracenava. Mas ele ficou muito bem
na fita foi quando o texto lhe ofereceu a oportunidade de ser profundamente romântico: “O
amor é uma matéria que dispensa professores por que só tem um catedrático: a vida. Mais dia,
menos dia você acabará por compreendê-lo e, aí, sim, será totalmente feliz.”

____________________________
*Professor, jornalista e membro benemérito da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

19
Amor perfume que espalha
Teresa C.C.M.Azevedo*

Viver no mundo de hoje é uma tarefa nem sempre tão fácil. Um mundo onde crimes
de todo gênero são tão absurdamente frequentes, que quase se tornam normais. Por todo mundo
ouvimos notícias de políticos corruptos, em nosso país, então, nem se fale: cada dia uma
surpresa de modo tal que o povo fica descrente e desorientado. A solidariedade e compaixão
são artigos de luxo. Muitos daqueles que deveriam fazer justiça, salvo raras exceções, deixam-
se vender tantas vezes ou até fazem parte das falcatruas e roubalheiras que estão por toda parte.
A ganância é capaz transformar homens em monstros. Chefes de quadrilhas não são apenas
bandidos já reconhecidos como tal, mas engravatados, líderes políticos, empresários. O sangue
está por toda parte: são pais que matam ou ajudam amantes a matarem seus filhos, irmãos que se
matam impiedosamente, filhos que matam seus pais pelo simples fato de se sentirem revoltados,
são tantos crimes passionais, suicídios, sequestros. O uso de drogas cada vez mais fortes é cada
vez mais comum, drogas capazes de transformar uma pessoa íntegra e bem-sucedida em um
andarilho irreconhecível. A frieza nos lares é tremenda. As conversas e refeições em família
substituídas pelo tempo gasto em frente à televisão, ao celular. Tempos em que tudo é premente,
exceto os verdadeiros sentimentos, uma verdadeira escola de pessoas ansiosas e deprimidas,
atormentadas por seus medos, frustrações, pseudo-incapacidades. O culto à beleza unicamente
exterior que massacra e exclui.
Seja como for, não podemos perder a esperança de um mundo melhor, um mundo
onde amizade, fraternidade, caridade e bondade sejam cada vez mais presentes e fortes o
suficiente para quebrar grilhões.
Parece utopia ou pura demagogia, mas é uma realidade que precisamos abraçar
imediatamente, sem esperar que como em um passe de mágica tudo se transforme, porque não
é assim que funciona. Temos que agir e em prol de tais mudanças. Não importa quão pequenos
nos sintamos, precisamos fazer o que está a nosso alcance para que tudo seja transformado.
E então você deve estar se perguntando: Como fazer isto? É muito simples! Utilizando
o maior instrumento que existe: o amor. Na Bíblia, em 1 Coríntios, capítulo 13, versículo 4 está
escrito “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade,
não se ensoberbece”. Isto posto, aquele que ama ao próximo verdadeiramente espalha o mais
agradável perfume no mundo.
Notas:
¹ Homens como o Juiz Sérgio Moro – que procura fazer jus ao cargo que ocupa, a missão para a qual foi designado,
enfrentando poderosos até então inatingíveis. Infelizmente, a lisura contraria o interesse de tantos que fazem tudo para
revertê-la.
² O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão.

Referências:
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgio_Moro
http://www.estresse.com.br/pesquisa/stress-brasil/
https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-tem-maior-taxa-de-transtorno-de-ansiedade-do-mundo-diz-
oms,70001677247
https://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/13
____________________________
*Escritora e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em
Campinas/SP

20
Amor em alguns versos
Helenice Maria Reis Rocha*

Existe um amor que nem sempre afaga, acaricia ou beija


tão somente entrega a vida
mansamente, ou mesmo consciente da renúncia
um amor que nem sempre é orgástico
mas cede o lugar para outros amem
um amor paciência, silêncio e ponderado
que vem com calma, sem pretender arrebatamentos
um amor que salva do perigo
com risco da própria alma
e se coloca a cantar sorrindo
dentro do coração amado
um amor que brinca com as crianças
fingindo não ser amor
este amor vigia acordado
o sono do ente amado
conserta as cobertas
arfa e sorrio
discreto.

___________________________
*Professora e Mestre em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais e membro
correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em Belo Horizonte/MG.

21
O tempo urge, as modas se sucedem e os
sentimentos, modificam-se
Gecernir Colen*

A leitura da história do mundo se articula sobre uma vontade de transformá-lo assim


como o interesse no passado está em esclarecer o presente. Até o Renascimento as sociedades
ocidentais valorizavam o passado, o tempo das origens e dos ancestrais significando para elas
uma época de inocência e felicidade. Na primeira metade do século XVIII esse sentimento
mudou, com a polêmica surgida sobre a oposição antigo/moderno, surgida a propósito da
ciência, da literatura e da arte, tornando o antigo sinônimo de superado, e moderno sinônimo
de progressista. Essa situação triunfou com o Iluminismo, continuando a se desenvolver nos
séculos XIX e XX, acompanhando os progressos científico e tecnológico. Neste percurso
foi contraposto um esforço de reação durante a Revolução Francesa, sobretudo de natureza
política, numa leitura reacionária da história. No século XX os fracassos e horrores da política
tanto da esquerda quanto da direita e a descoberta de culturas diversas da cultura ocidental
conduziram a uma crítica à ideia de progresso. A crença num modelo de progresso linear,
contínuo e irreversível já quase não existe, exceto o que acontece com a ciência da natureza, e,
em particular com a biologia.
Sabemos que o passado depende parcialmente do presente. Sendo assim, toda história
é contemporânea, na medida em que o passado é aprendido no presente pois, sendo a história
duração, o passado torna-se ao mesmo tempo passado e presente.
Os “antigos” são os defensores das tradições enquanto os “modernos” se manifestam
pela “inovação”. Antigo pode ser substituído por tradicional e moderno por recente ou novo.
O critério econômico tornou-se primordial para a modernidade, fundamentada
na industrialização. Assim o “moderno” passou a relacionar-se com “desenvolvimento” ou
“crescimento”, opondo-se o moderno ao primitivo. Também as estruturas da vida moderna são,
diretamente, o produto de duas séries de revoluções do século XX: a que interveio na esfera da
produção (passagem do artesanato à indústria) e a que aconteceu na política (substituição da
monarquia pela democracia). Depois de Marx, o Estado moderno define-se pelo capitalismo e a
modernidade identifica-se como “cultura das massas”. As massas populares ascendem a novos
padrões de vida que até então eram exclusivos das classes burguesas: entram progressivamente
no universo do bem-estar, da distração e do consumo. Com isso também aumentam os
problemas da vida individual, privada. A cultura das massas torna-se “grande construtora de
mitos”: o amor, a felicidade, o bem-estar, o descanso etc.
A modernidade apresenta paradoxos. Se, por um lado, recusa o antigo, tende a
refugiar-se na história. O passado é considerado pelas sociedades como modelo do presente,
mas apresenta fendas através das quais se insinuam a inovação e a mudança. O século XX foi
marcado como obsessão pelo passado, história do presente e fascínio pelo futuro. O futuro tanto
quanto o passado atrai os homens.
A ideia de progresso tem significado duplo. Implica, por um lado, um objetivo ou
direção, e, por outro, implica um juízo de valor. Aplicando critérios e valores para assentar
a ideia de progresso percebe-se uma distinção entre progresso científico/técnico e progresso
moral. Como não há, de fato, progresso que também não seja moral, a principal tarefa dos
nossos dias é combater pelo progresso dos direitos humanos.

22
As idades míticas eram épocas excepcionalmente de felicidades para o homem, sem
trabalho, sem proibições e impedimentos de qualquer tipo, nas quais as sociedades humanas
imaginavam a existência no passado e no futuro. A descrição e a teoria destas idades míticas
encontram-se nos mitos e nos textos religiosos e filosóficos. Os índios guaranis acreditam na
existência de uma “Terra sem Mal”, a “terra da imortalidade e do repouso eterno”, situada “do
outro lado do oceano ou no centro da Terra, na ilha dos Bem-Aventurados”. Algo parecido é
verificado entre povos africanos e em algumas civilizações orientais. A tradição judaico-cristã
apresenta também características originais, como a existência do paraíso. A partir da revolução
científica do século XVII as idades míticas passaram a pertencer a termos literários. Entretanto
será que que estão mortas? Quando deparamos hoje com a Idade de Ouro das seitas, dos hippies
e dos ecologistas abnegados, dos economistas do crescimento zero permitimo-nos pensar que
não estão mortas (as idades míticas). (texto baseado em História &Memória. Jacques Le Goff,
tradução de Bernardo Leitão et al. 7ª ed, Campinas, SP. Editora da Unicamp, 2013).
A solidariedade explica a existência de uma vida em sociedade. Cada indivíduo
tem a sua consciência pessoal, fruto da personalidade de cada um. Há também a consciência
coletiva que é reflexo do conjunto/combinação das diversas consciências individuais de todas
as pessoas que fazem parte de uma sociedade/comunidade. Como consequência a consciência
coletiva tem grande influência sobre os atos de cada indivíduo, na definição do que é ser bom,
ser solidário, ser generoso, ser amável e tantas outras qualidades. Segundo o sociólogo
francês Émile Durkheim dessa consciência coletiva surge a solidariedade social, responsável
pelo agrupamento de indivíduos como uma entidade social. Entretanto, a força dessa coesão
depende de diversos fatores como, principalmente, do modelo de organização social seguido
por cada sociedade. Não é difícil concordar que o sentimento de união entre os membros de
uma tribo de índios é muito mais intenso do que em uma sociedade industrializada em que as
relações são muito mais frias, em que a solidariedade social não surge como algo natural, mas
como um gatilho que deve ser acionado por algum dispositivo. Segundo Durkheim são dois
os tipos de solidariedade social: mecânica e orgânica. No primeiro caso o indivíduo estaria
ligado diretamente à sociedade sendo seu comportamento ditado por aquilo mais considerável
à consciência coletiva, e não necessariamente ao seu desejo enquanto indivíduo. Isto estaria na
base do sentimento de pertencimento a uma nação, a uma religião, à tradição, à família, isto é,
um sentimento presente em todas as consciências das pessoas daquele grupo. Na solidariedade
do tipo orgânico, segundo o mesmo autor, ela se originou da divisão do trabalho social,
consequência do desenvolvimento capitalista. Assim ocorre um processo de individualização
dos membros dessa sociedade, os quais assumem funções específicas dentro dessa divisão de
trabalho social, o que marca o seu lugar na sociedade. A consciência coletiva tem seu poder de
influência reduzido, havendo espaço para o desenvolvimento de personalidades, valor essencial
para o desenvolvimento do capitalismo. Contudo, nesta situação, apesar do imperativo social
estar enfraquecido, ele se faz presente para garantir minimamente o vínculo entre as pessoas,
por mais individualistas que sejam. Se assim não fosse, teríamos o fim da sociedade, sem
quaisquer laços de solidariedade. A solidariedade social, tanto a mecânica quanto a orgânica,
tem em comum a função de proporcionar uma coesão social, na ligação entre os indivíduos.
A fraternidade, por outro lado, está expressa no primeiro artigo da Declaração
Universal dos Direitos Humanos como “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade
e direitos, são dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em
espírito de fraternidade”.
Diz o apóstolo São João que o Pai nos criou, entregando-nos a Jesus Cristo, para
sermos santos, para nos tornarmos Espíritos superiores, como cidadãos universais, dignificando

23
a própria vida pelo Amor e pela Graça. Eis que sem o combate a certos inimigos existentes
dentro de nós, torna-se impossível alcançarmos essa misericórdia, em felicidade. E tais
demônios se chamam ódio, vingança, inveja, ciúme, malquerença, estupidez, maledicência,
orgulho! O nosso esforço deve ser no sentido de não fazermos aos outros o que não aceitamos
para nós.
A presença de Cristo em nós é realmente motivo de glória, pois fora do amor não
haverá solução para o mundo, nem para a humanidade.
Os séculos XII e XIII foram um despertar para o mundo, um novo reflorescimento da
cultura e das artes criadoras após um longo período denominado Idade das Trevas. O século
XIII foi um período especial, progressivo para a história humana, de progresso ordenado e de
reformas sem revoluções. Foi a época de São Francisco de Assis. Antes de sair de casa disse o
Poverello à sua mãe: “De uns dias para cá, algo dentro de mim me impele para posicionamentos
contrários àqueles em que se situa a maioria dos homens. Que Deus me ajude, para que eu não
seja lapidado ou crucificado como o Cristo que tanto amamos. Não quero inovar o mundo,
nem os homens: ambiciono sim, difundir pela vida a alegria pura, a amizade sincera, a fé sem
covardia, a piedade sem hipocrisia, a caridade sem trocas e o amor sem barreiras...Esta é a
voz que canta dentro do meu coração...Não é somente a idade que faz o homem carregado de
valores, que perdoa os inimigos, que esquece o malfeitor, que ama o companheiro; é, acima de
tudo, o dedo de Deus que toca o coração e a inteligência, em prol da humanidade, sem medir
sacrifício...Mamãe, ontem à noite comecei a ter piedade profunda de todos os seres que sofrem,
do inseto ao homem...Mesmo que eu não quisesse sentir essa emoção, não conseguia...É como
se não fosse somente eu, mas algo que existe em mim que me leva a pensar e a sentir desta
maneira. O que fazer, senão seguir o que explode dentro do meu peito, como sendo o próprio
Deus querendo sair, e ajudar os outros, amando sem exigir e abençoando sem distinção? Devo
mostrar às criaturas que a fé é um patrimônio comum a todos, que Deus existe, que o céu é uma
realidade e que somos eternos na eternidade do Pai Celestial”.
Em outra ocasião, frente ao papa Inocêncio III disse: “Não queremos (ele e os
seguidores) que alguém se ofenda com a nossa fala, por serem as nossas regras de renúncia,
de obediência, de perdão, de amor, de trabalho, de desprendimento e de pureza. Achamos que
quem nada exige, não afronta, não impõe, não odeia, não discute, não quer ser o maior, e
não ofende, não poderá ser julgado perigoso, ladrão ou herege”... Ao encontrar um amigo que
não via há bastante tempo, com ele cantou e dançou. Para as pessoas que presenciaram disse:
“Filhos do meu coração! A vida é sobremaneira de alegria, e a alegria é coisa divina, que
nós amamos na profundidade que ela merece e do modo pelo qual o Senhor nos premiou.
Compete a nós outros dar vazão a essa alegria, na força d’Aquele que nos guia sempre - Nosso
Senhor Jesus Cristo”. Quem buscar a felicidade fora de si nunca a encontrará, pois ela mora
no coração. E todos que nos ouvem estão convidados, pela força deste mesmo Amor, a receber
a chave e com ela destrancar a porta secreta da consciência, recebendo através dela, Jesus
Cristo, pelas vias dos sentimentos”. E em outro momento, disse: “A caridade para com nós
mesmos é no sentido de prepararmos pensamentos, ideias e sentimentos para melhor fazer o
bem ao próximo. Estamos em regime de urgência, preparando-nos para falar com dignidade,
trabalhar com discernimento e ajudar por Amor!”

___________________________________
*Professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais. É membro da Academia de
Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 23 e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico
do Mucuri, cadeira 46.

24
Ágape
Egmon Schaper Filho*

“Se eu falar a língua dos homens e dos anjos e não tiver caridade, sou como o metal que soa
ou como o sino que tine” (Coríntios 13,1)

O discurso sobre o amor é amplo. Todos querem opinar ou mesmo entendê-lo. Muitos
são os estudos teológicos sobre o assunto.
Na literatura, na música, todos falam desse sentimento, mas qual seria a conclusão?
O que é o amor?
Esse amor, quando vivido pela Graça Divina, nos remete a um Deus na história que
caminha e cuida do seu povo, sendo “Ele” o próprio amor. O seu projeto transformador nos
deixa um legado de vida “plena e abundante”.
Naquele tempo que se chama Hoje, só o fato de pensar Nele, já se torna palpável,
reflexivo e dialético.
Acreditar nesse sonho, nos garante a possibilidade de alcançá-lo, almejando assim
compreendê-lo e respeitá-lo, nos tornando partícipes deste grande Projeto, o resultado dessa
práxis que nos liberta em comum união, nos cria uma consciência maior desse amor, ainda
tímida, mas presente no nosso dia a dia. Os sinais são claros e estão em toda parte. A sua
Criação reconhece-se Nele, às vezes inteligentemente ou não.
Quando amamos, enxergamos Sua maior prova de amor: doar a vida pela humanidade,
abrindo-nos possibilidades inimagináveis, nos proporcionando um universo seguro, onde as
nossas trevas são vencidas, impulsionando-nos para águas tranquilas... Por que não sorvê-las?
Desejo a todos que Deus de Jesus Cristo inunde os nossos corações com o seu mais
puro Amor. ÁGAPE a todos!

________________________
*Artista plástico e ativista político.

25
Distância (do matuto)
José Anchieta Antunes de Souza*

Quando estou com saudade dela subo na minha caleça e vou procurar por ela. Às vezes
ela está escondida bem longe, depois da penúltima curva do destino, conversando distraída com o
medidor de estradas. Não está nem aí pra “bem perto”. Dele só quer lonjura, porque “bem perto” é
muito conversador e toma todo o tempo que ela tem pra trabalhar, ou seja, para ir para bem distante
de tudo, de todos, até mesmo da saudade, de quem é muito amiga e até mesmo comadre. Algumas
vezes a saudade “arma pra ela” e a carrega pra perto do homem que está com saudade da distância;
Sabe! Aqueles homens que gostam de viajar, de conhecer outras ruas, praças e coretos, cidades e
concretos. Teve um vaqueiro com sangue nos olhos que ficou com raiva da distância, e sem nenhuma
cortesia, a levantou pelos cabelos colocou dentro do matulão, montou no seu cavalo e a levou para
um curral bem distante. Lá naquela lonjura, abriu o saco de couro, despejou seu desafeto na terra
quente e disse em desafio: – Agora quero ver você ir pra bem distante de mim. Você sabe que eu te
amo, mas sempre que me descuido, você escapole e vai pra bem longe! Ora! Por que não me leva,
você não sabe que adoro viajar, ir pra além de tudo? Ficar escondido no sovaco da madrugada,
conversando com as estrelas, perguntando onde fica escondido o esconderijo de Deus?
Com afeto ou desafeto, quando estou sozinho no mato, me deito na cama de gato, fico
olhando pra lua cheia, e quando ela pisca um olho pra mim, querendo me namorar, digo com um
gritinho pra ela escutar: – Meu amor, você está muito distante, venha mais pra perto e vou te mostrar
como se ama uma lua cheia, com quantos milhos se prepara um curau, e onde fica escondida a beira
do beijo roubado, aquele beijo que o vento safado, com raiva do meu amor por você, levou nas suas
asas pra bem longe de mim. Um dia eu pego ele e trago você de volta. Vem pra cá, vem!
Ouvi dizer que a distância não carrega mala, nem saco, nem pavio, porque não quer se
comprometer com ninguém, com nada, nem mesmo com datas. Eita ente de Deus arrenegado! Tudo
que ela vê pega e leva pra bem distante e deixa por lá vagante, e quem quiser que vá buscar, na casa
do bacurau, ou no tronco do pica-pau.
Também me disseram que a distância só tem compromisso com a solidão, e às vezes se
senta triste e sisuda em cima daquela pedra pra pensar na vida do viageiro que um dia ela levou,
e não lembra onde deixou, e fez ele abandonar mulher e filho na Lagoa do Mundaú, pescando
peixe com chuva, matando lebre com vara, cuspindo poeira e pancada, e levando pra mãe em casa,
apenas a calça rasgada. É num momento deste que tenho vontade de gritar: - Distância, deixa de
ser malvada, pega o homem pelo braço e leve ele pra casa, que Maria está morrendo de saudade, e
é só pele e osso, os olhos esbugalhados, e a barriga nas costelas. Ela só pensa nele e me disse que
quer morrer bem “pertinho” do cheiro do couro do seu vaqueiro, passar a mão nos seus rebeldes
cabelos, duros como espinho de “cardo santo” benzido pelo anjo da cura milagrosa. Ela grita no
meio da noite, no claro da lua cheia, com vontade e hombridade: – Vem homem de Deus, vem pra
pertinho de mim, me dá um cheiro e me deixa morrer feliz, pelo menos uma vez na vida, na hora da
despedida.
Maria ainda grita com toda a força amorfa de seus pulmões esburacados: DISTÂNCIA,
se transforme, pelo menos uma vez, em “BEM PERTINHO”, e traga ele pra junto de mim, pra
eu lhe dar um último beijinho. O beijo da despedida. A morte tá chegando devagarinho...

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*Escritor e poeta, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside
em Gravatá/PE
26
Jamais esquecerei
Maria Eugênia Porto Ribeiro da Silva*

Diga-lhe que jamais esquecerei o perfume deste amor


Que me recordo a cada manhã daquele sorriso encantador
Que tua partida deixou meu coração dilacerado
Desde então a lágrima é visita constante
A solidão habita meu coração
Foi só uma fantasia colorida:
ou uma quase projeto de vida?
Eu, incrédula, diante do vazio de sua ausência
Imóvel pela tristeza que me atormenta
Busco lembranças remotas de um momento de amor,
De um afago sem dor,
De um elogio que refresca a alma
Que conduz a calma,
... busco retomar a vida que levaste contigo
Meu lindo e doce “amigo”?

________________________
*Escritora e poetisa, é membro correspondente de Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside
em Belo Horizonte/MG.

27
Perfume dos campos
Marlene Campos Vieira*

Amanhece, lá se vai voando estrada afora, aquele valente cavalo.


Mais valente ainda é aquele que com nome de anjo, cavalga como se voasse.
Anjos existem e sabem voar, homens são anjos quando também voam em suas cavalgadas.
Respirar o horizonte, percorrer estradas sem fim, liberdade não tem preço. O som da
viola paira no ar.
São assim privilegiados aqueles que entendem a bela linguagem das cavalgadas.
Miguel como qualquer anjo só vê o lado positivo da vida. O seu anoitecer já antecipa o
amanhecer e ele com seu violão repete Renato Russo: “Mas é claro que o sol vai voltar amanhã,
mais uma vez, eu sei...”
Esse sol sem fronteiras, esse brilho que se estende céu afora, abre as portas para se
escrever nova história.
As cavalgadas são marcantes em nossa Minas Gerais, quantos preservam seus
costumes como uma grande relíquia. Crianças já nascem olhando os montes e montanhas
esperando que apareçam os homens voadores em suas montarias.
Até os sons noturnos são transformados em canções nas rotas das cavalgadas. O
violão parece o coração daquele que solta a voz. A vida é feita desses retalhos que juntos fazem
um belo tecido: a história de cada ser. Muitos receberam como Miguel um carimbo que para
sempre marcaram suas vidas. Emoções são tantas, que ao ritmo das patas dos cavalos, bate
fundo no coração.
Miguel e seu talento, tem muito chão pela frente, descobriu bem cedo o que almeja
da vida. Lá nos prados de Minas, onde passam fontes e riachos, bicas e cachoeiras, onde viver
e voar é também cavalgar.
Aí está o seu destino, a sua emoção que faz a beleza da vida. Ver o dia amanhecer, ver
o sol se por no entardecer, ver o céu se cobrir de estrelas e o som da viola no ar.
Isso é viver para muitos seres humanos que, receberam de presente o dom de abraçar
a liberdade e a grandeza da vida.
Quem toma posse da beleza que Deus nos deu, voará como pássaros nas campinas.

__________________________
*Escritora e educadora, é membro titular da Academia de Letras de Teófilo Otoni, cadeira 28.

28
Plantar amor
Helena Selma Colen*

“Mamãe: eu vou plantar esse dinheiro”


“Filho:” Ninguém planta dinheiro:” Mas a professora falou na sala de aula que tudo
que a gente planta, a gente colhe.
A mãe, tentando ser paciente, explica para o filho que nem tudo se planta, o menino
parece ter entendido mas, no dia seguinte ele volta a plantar e a mãe novamente pergunta: “O
que está a fazer?” E ele diz: “ A professora tornou a dizer que podemos plantar de tudo e como
ela sempre diz que no mundo está faltando amor eu resolvi plantá-lo pois quando ele crescer
vai espalhar por toda a terra e aí não mais vai haver crianças passando fome nem querendo
atravessar os mares e oceanos fugindo da guerra e da fome em seu país, também não haverá
tantos crimes como mostra a televisão. Mamãe, há muita dor no mundo”
A mãe silenciou, pensando na maturidade demonstrada pelo filho, uma criança com
apenas 12 anos e preocupada com o mundo. Mas, o que seria do mundo se no passado outras
pessoas não tivessem a preocupação de melhorá-lo? Se em época de guerras não tivesse havido
homens de pulso e de coragem para ajudar o povo em sofrimento?
O mundo se compõe de boas e de más pessoas. O maior exemplo de amor ao próximo
de que ela se lembrava naquele momento foi um documentário visto na televisão. “A lista de
Schindler” sobre um alemão (parece ironia que um alemão tenha se disposto a ajudar os judeus)
durante a grande Guerra.
Oscar Schindler nasceu em Svitavy em 1908, na antiga província Checa. Sensibilizado
pela dor dos Judeus e pelos horrores da grande guerra decide ajudá-los, arriscou sua vida e
seu patrimônio por eles. Recebeu em 1962 o Título de “Justo entre as Nações”. A lista dele
era composta 1200 nomes das pessoas que ele salvou e que não foram para o centro de
concentração Nazista.Faleceu em 1974 e seu túmulo em Roman Catholic Franciscan Cemitery
recebeu inúmeras visitas de Judeus que ali foram depositar suas orações e agradecimentos.
O filme merece ser divulgado, a obra ressalta que sempre podemos fazer alguma coisa
mesmo que tudo pareça estar perdido.
Mostrar amor, fazer amor, doar amor, espalhar o amor é tudo que todos nós e o mundo
necessitamos. Com amor tudo é possível.
“Amor Vincint Omnia”

________________________________
*Professora e escritora, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.
Reside em Ladainha/MG.

29
O amor e a razão
João Batista Vieira de Souza*

Dia desses alguém que encontrara na rua, indagou-me:


- Por que você só escolheu profissão que não dá dinheiro: Professor de língua portuguesa,
professor de música, escritor e chaveiro?...
Fui para casa, pensativo e fiquei alguns dias tentando entender o motivo pelo qual esse
cidadão havia me questionado aquilo. Cenas de possíveis formações saltavam da minha mente na
busca desenfreada no afã de ganhar muito dinheiro e o tempo que supostamente teria perdido por
fazer escolhas “pobres”.
Daí levantei de um salto: espera aí... Onde quero chegar com essa visão invertida da vida/!
O problema não está em profissão; está no indivíduo. Exercer quaisquer atividades
laborais precisa nos fazer seres humanos melhores e isso não tem nada a ver com o vil metal.
Se fosse para abastar-me, teria eu nascido com bolso. Aí sim, seria para endinheirar-me; e
ao partir para o outro plano, continuaria meus investimentos financeiros além terra, mar e galáxias.
Posso ir até com bolsos e alforjes, no entanto, as cinzas se encarregarão de desmentir a história.
O maior e melhor investimento que alguém pode fazer é em pessoas. Como professor de
língua Portuguesa, formei indivíduos, sobretudo no caráter, além é claro do conhecimento; como
professor de música, são mais de duas décadas formando músicos e homens; e como chaveiro,
proporcionei a muitos, bem-estar e comodidade, além de serviço de utilidade pública; como
escritor, denuncio mazelas, crio cenários e cidades, entendo a linguagem de animais e plantas,
proporciono crianças, jovens e idosos a curtirem viagens que transcendem o imaginário humano.
Sem contar nas incontáveis experiências divinas através das palavras.
Como se não bastasse, aquele inquisidor esquecera-se da vocação de Ministro do
evangelho (pastor). Talvez por entender que esta rende muitos bens ou ficou preocupado em
ofender-me devido a tantos escândalos envolvendo líderes religiosos que negociam a fé e usurpam
a fé de outrem. Homens jactanciosos, amantes de si mesmos que consomem a lã e a gordura das
ovelhas - não são pastores, são lobos vorazes... Assim como muitos de nós temos que declarar renda
e que o animal que caracteriza o imposto é um leão, aqueles, os quais buscarem enriquecimento
em decorrência da fé alheia, terão que prestar contas com o Leão da Tribo de Judá, nele não há
mudança nem sombra de variação. Aliás, todos passaremos por revista. Na hora em que os dados
se cruzarem, todas as nossas obras passarão pelo fogo - madeira, palha e feno não suportarão o seu
calor. O que vai fazer a diferença mesmo são os investimentos em pessoas. E isso não tem preço,
só valor.
Algumas profissões escolhi mesmo; outros ofícios, fui escolhido. Tenho tudo de que
preciso e posso fazer muito mais sem pressa e sem ganância. Quem ama dinheiro, perde pessoas
e se perde; quem ama pessoas, se acha, se encontra e é achado nele. Pessoas são mais importantes
do que coisas.
Espero ter respondido aquele rapaz e gerado nele o sentimento de que a mais rica
profissão está em investir no semelhante e não se esquecer que amar é o único bem que
Multiplica quando a gente reparte.
Pronto, falei!!

_________________________
Professor, músico, escritor e poeta. É membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular
da cadeira 10.
30
Ao anjo encantador
Magali Barroso*

Chego a pensar que nossos encontros não se limitam nesta vida. São tantas as
coincidências!
Foi você o cavalheiro, ainda muito jovem, que me levantou na passarela. O seu apoio
me encorajou a continuar o desfile.
Anos depois, atordoada pelo descarrilamento do trem, na cidade dos meus avós, voltei
à razão quando ouvi — Você está viva — e, na ambulância, segurou a minha mão até o hospital.
Desde uma viagem recente para aquela mesma cidade, quando participei de um curso,
a cena do acidente me veio à mente e o vejo em sonhos, mais apaixonado que protetor.
No início desta semana, quando fui atender a um atropelamento, me surpreendi com
o acidentado. Era o segurança do clube, onde eu desfilava na adolescência, o mesmo bombeiro
que me tirou do trem e aquele homem atraente que encontro nas noites em que o sonho me
acalenta.
Não sou mais a estudante que desejava ser modelo, nem a turista que recordava a
infância no interior. Sou do grupo de resgate, que conseguiu te ressuscitar. Desde então, sempre
que posso, te vejo do vidro da UTI e peço notícias. A cada dia, encontro nova esperança para
sua recuperação. Os sonhos estão mais frequentes, mas sempre nos vemos de longe e, quando
um toma a iniciativa de se aproximar, alguma coisa acontece e nada se concretiza. Hoje, depois
de cinco dias do acidente, fui perto de você e toquei sua mão. Falei baixinho, quase no ouvido,
que devia voltar, porque tem gente te esperando.
Resolvi te deixar este bilhete com os plantonistas. Quando o receber, quem sabe, terá
vontade de me chamar.

Com afeto,
Sofie

_________________________________________
*Professora, membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni e, sócia efetiva
do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri, cadeira 22. Reside em Belo Horizonte/MG.

31
Todos por um
Vânia Rodrigues Calmon*

Desceram. Um após outro: um estivador, um arrumador, um sindicalista para o porão


do navio ancorado no litoral médio da costa do País e se asfixiaram mortalmente, a exceção
do quarto, o segundo estivador. Um por um sorveram o fluido gasoso que se fora acumulando
e mantinha-se retido de tocaia, à espera de que um, pelo menos um, desconsiderasse as regras
básicas que aquele espaço confinado àquela espécie de carga requer. À espera de quem viesse e
aspirasse um único trago de veneno singular, conforme depois noticiaram os jornais: “trata-se
do H2S, também conhecido como gás sulfídrico que em muitos casos é resultante de processos
de biodegradação como a decomposição de matéria orgânica vegetal. O gás é considerado
extremamente tóxico e inflamável, etc. etc.”
No ar em que se inala suave e docemente a vida, pode se esconder a perfídia de
uma morte ignara. Aqueles homens estavam vivos até partir um primeiro que foi e ficou. Foi,
encheu os pulmões e antes de expulsar de volta o ar infecto já se estatelara no chão. E não
ficou só. Um mais que lhe sentiu a falta, sem referenciar-se à prudência devida ao caso que,
naquele instante, ganhava corpo, saíra desabalado para se ter com o companheiro. Precipitou-
se para o porão e engolfou o infecto gás, a mais não poder. Desmaiado ali se solidarizara com
o primeiro, ambos estirados sobre o piso do porão do navio que aguardava descarga ancorado
no maior porto de transporte de celulose do mundo. E não demora, quase imediatamente a
seguir, desce apressado um outro - o terceiro - quiçá motivado pelo desespero ou pela ânsia de
resolver aquela espera juntando-se aos dois companheiros que não respondiam e nem alçavam
à proa. Desce para acudir, para dar providência. Desce destemido. Desce porque outro não seria
seu procedimento na avalanche em que desenrolavam ou despencavam os acontecimentos. Era
de si que precisavam para resolver o que fosse e alcançarem então a três a popa aliviados.
Aliviados e possivelmente se rindo de terem se metido em um porão, àquelas horas, ao invés
de se postarem diante do sol que vinha vindo de dentro das águas tranquilas longe das beiras
ferruginosas, que adorna o mar das proximidades da praia de Barra do Riacho.
- Aliviados? Qual nada! Já um quarto sai apreensivo, já sem tempo algum para se
acautelar. Apenas grita por socorro e irrompe! Vai-se o idílio diante da grandeza de horizonte
aberto que abraça a região de aldeias dos Guaranis e Tupiniquins. Índios que conseguiram
arrecadar, em justo processo, mais de dez mil hectares das propriedades de eucalipeiras. Essas
megaempresas que se somam em grupos empresariais enterrando tecnologia em terras primitivas,
sem dó e sem piedade dos torrões que se ressecam da sede voraz dos espécimes longilíneos.
Esses que em três anos bebem mais água e atingem mais metros de altura que em quarenta uma
sucupira não vai beber e muito menos atingir. Aldeados estão os índios ponderando em decisões
colegiadas o passo a passo de seu dia a dia, sem o menor sinal de aflição, pressa ou que quer que
seja que lhes faça precipitar sem ouvir, calcular, esperar. Esses que não servem de exemplos ao
branco. Bem, a ninguém serve de exemplos um bando de selvagens.
O quarto homem saíra escabreado. Fosse o que fosse. Se não lhe vieram as reflexões,
também não lhe sobrara do gás tóxico, mais que o suficiente para um engasgo e uma fraqueza nas
pernas de ver os três amigos estirados no porão, inertes. Os quatro envolvidos pelo sentimento
do companheirismo, pelo elo do compromisso de ombro a ombro se defenderem, cada um em
sua especialidade, totalmente desprovidos de suspeita do que pudesse acontecer a um que não
afetasse ao outro. Somente ao último restou a insuficiência do estupor maligno para que em

32
quarteto se abraçassem naquele instante e pudesse um por todos sentir o perfume das flores
que encheram o navio e é o que representa o sentimento que a solidariedade humana encorpa,
também na adversidade, ainda mais quando se tem a certeza de que foi o que florescera ali.

_____________________
*Professora de música, advogada, palestrante, escritora e membro correspondente da Academia
de Letras de Teófilo Otoni.Reside em Vila Velha/ES.

33
Amor, doce perfume que se espalha,
multiplica
Marcos Coelho*

Entre lençóis de areia e pedra,


rodopiam sentimentos e lembranças...
Caracóis de alentos de crianças,
Que censuram acusações e execrâncias...
Saberia de tudo dizer,
da bonança de tudo saber,
porém, no amor que nos comove,
a essência do sentimento...
O prover de providências altruístas...
aos problemas de culminâncias perdidas,
de escaladas e aventuras esquecidas,
que impulsionam o ser a metamorfose plena.
O doce néctar, a polinização, a multiplicação...
a confusão de cores e de seres na profusão da vida,
vida como amor a espalhar-se na planície colorida,
flores, plantas, vida, passos, fios de seda...
Não lagarta, não casca, não ovo...
Casulo, sono, vida, tudo de novo, renovação.
Ciclo Ciclópico não retilíneo...
Abundância e exuberância alada em vida,
Resultado essencial em liberdade: VOAR.

_________________________________
*Educador ambiental, professor de língua portuguesa, membro da Academia Douradense de
Letras/MS. É membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

34
À toda prova
Ailton Ferraz*

Quero beber na taça mais cristalina


O néctar sabor da tua doçura
Quero uma vida sem agruras
E o encantamento de tua graça divina.

Quero ver e contemplar tuas pegadas


Na mais pura e fina areia
E na vida vê-la lembrada
Como num conto de uma sereia.

Quero ver a vermelhidão do sol poente


E o barco do pescador a navegar
Quero da amada um beijo ardente
E, extasiado ver a banda passar.

Não quero o pão tributado


Nem a corrupção suja e vil
Mas se estou aqui, sempre sentado
Omisso, não faço parte do covil?

Faço poemas sobre o mar e o firmamento


Mas preciso ir à feira comprar o feijão
“do leste vem a canção, e afaga-nos ao vento”
E o paradoxo da vida, destrói meu coração.

Quero, contudo, ver o irmão


Com o sorriso à toda prova
Quero do mundo a solução
Além, muito além de qualquer prova.

________________
*Escritor e poeta. Reside em Teófilo Otoni/MG.

35
Perfume de mulher
Isaias Lemos Alves*

Com o seu jeito de menina


E aquele charme de mulher
Vem Ela novamente, o meu caminho cruzar
Deixando um rastro de perfume
E uma sensação gostosa no ar.

II
Ninguém sabe de onde vem
Só sei que fico a delirar
Com seu perfume gostoso exalando pelo ar
Com seu jeito imponente
Deixando toda essa gente, com falta de ar.

III
Ela é muito bonita, requebrando ao passar
Ainda vou descobrir, onde fica o seu lar
Com seu perfume exalando, fazendo-o espalhar
Deixando muitos marmanjos, babando sem parar
Prometo que vou descobrir ainda esse lugar
Caminhando então com Ela, e seu perfume respirar.

__________________________
*Bacharel em direito e professor de educação física aposentado. Reside em Teófilo Otoni/MG

36
Razões de um viver
Vinícius Martins*

Eu vivo,
Porque a vida me inspira, e fascina.
Vivo, porque Deus existe,
E o amor insiste em ser minha sina.

Vivo feliz
Como o vento que vem e vai,
Pois sou filho do Pai.
Aquele que me instiga a viver,
Mais feliz a cada momento

Como se não bastasse tal alegria


Você chegou, para estar comigo.
Sou para ti, mais que amigo.
Sou aquele que te inspira a viver
Quero permanecer ao seu lado
Dividir minha vida com você.

Quero que a nossa história,


Permaneça na memória,
Por toda a eternidade
Assim, cumprirei minha missão,
Sabendo que não foi em vão,
A nossa felicidade.

____________________________________
Estudante de Arquitetura e Urbanismo: Faculdades Unificadas Doctum – Teófilo Otoni.

37
Alguns feitos do amor
José Geraldo Silva*

O amor não tem olhos, mas vê


O amor não tem voz, mas fala
O amor não tem braços, mas abraça
O amor não tem ouvidos, mas escuta.

O amor é redemoinho de sentimentos... intensos:


União, amizade, confiança, graça e paz!
É vento calmo... às vezes sopra como tempestade
Estímulo para a alma quando anunciam sua chegada
Com sua pureza e simplicidade é alimento para o corpo
É força, coragem e vida...esteio para quem souber apreciar.

O amor não machuca – cura... não confunde – decifra;


O amor não separa – constrói... e como o sol – ilumina;
À noite é lua – brilha... e como estrelas – cintila!
O amor é natureza...se refaz constantemente
Como fogo, queima a alma ardentemente;
E quanto mais quente seu ardor,
Melhor demarca o frágil coração.

Fere..., mas também cura - como remédio abate a solidão.


O amor não se mede em tamanho, pesoou limite;
É presente que se ganha, tem valor que não se compra.
Prazer saboroso, tão gostoso de sentir,
De seus feitos sagrados jamais desistir:
Na alegria ou tristeza; na dor ou lamento;
Acredite: ele chega sorrateiro... a qualquer momento!

________________________________
*Escritor e poeta. É membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 11.

38
Amor à primeira vista
Leuson Francisco da Cruz*

Que casal estranho aquele


Um capitão aproximou-se, desconfiado
Face a face encenaram o disfarce
De um beijo quase roubado.

Selava-se ali um longo romance


Entre uma judia e um exilado.
Um fato não experimentado antes
Por quem só beijava a mãe na face.
Forçado pelas circunstâncias
A agir como impávido, agarrado ao plano
Que jamais poderia dar errado.

O capitão questionou, alheio ao impasse


Não é sua mulher? Pode beijá-la à vontade!
Naquele primeiro ato os dois se entretecem
E o jovem frágil e sensível estremeceu-se
Pois nunca uma mulher na boca havia beijado.

Foi-lhe à cabeça, aquela militante comunista


Como uma mistura difusora, defensora e louca
Para um ex-militar de revoltas tenentistas.

O moço de ideia oposicionista, na União Soviética


Conheceu aquela que viria a desposar
O prestígio militar e político valeu-lhe confiança
E a alcunha vitoriosa de “Cavaleiro da Esperança”.

Em seu país organizou a Intentona Comunista


Foi preso e teve a mulher deportada e morta pelos nazistas

Enfrentou a ditadura, embora na clandestinidade


Nove anos depois anistiado, elegeu-se deputado
Entre idas e vindas do exílio, foi vasto o seu legado
Recuperou a legalidade, a honra e liberdade.

____________________
*Poeta e membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 12.

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A essência do amor
Lucivalter Almeida dos Santos*

Falar de AMOR,
É expressar o mais PODEROSO dos SENTIMENTOS;
Algo que dura pra vida toda;
Não é coisa de momento.
O AMOR,
É uma realidade que se vive,
E mexe com nosso interior;
Lá do âmago, exala um agradável perfume,
Cuja fragrância, se espalha no nosso exterior.
Só o AMOR, é capaz de perdoar,
Cicatrizes profundas que um dia alguém deixou;
O AMOR é capaz de ajuntar,
Aquilo que um dia alguém espalhou.
Só o AMOR é capaz, de desarmar de uma vez,
Um coração exaltado que um dia se descontrolou;
Mas agindo com sensatez, tudo volta ao normal:
Graças a Força do AMOR!
O AMOR causa efeito benéfico mesmo sendo odiado;
É altruísta; não busca interesse próprio;
E o bem do próximo é o seu maior legado!
Por isso que todos que mergulham nesse universo,
Trazem das profundezas da Criação,
A maior certeza, que a eternidade pra nós revelou:
INQUESTIONAVELMENTE,
DEUS É A ESSENCIA DO AMOR!
Portanto, cante o AMOR; Fale do AMOR!
Contagie com AMOR; Se doe por AMOR!
Faça tudo com AMOR; Viva o AMOR!
Por onde quer que vá, ESPALHE O AMOR!

_____________________
*Ministro evangélico, teólogo, professor; capelão evangélico, poeta, cronista. Graduado em
Serviço Social. Membro Correspondente da Academia Cachoeirense de Letras e da Academia
de Letras de Teófilo Otoni (MG). Emérito da Câmara Brasileira de Jovens Escritores (RJ).
Reside em Nazaré/BA.

40
Dopamina e o perfume do prazer
que se espalha
Antônio Jorge de Lima Gomes*

Perfume. Paixão. Odor. Amor. Uma explosão de sensações. Esses sentimentos


que transformam vida e vidas, que resultam em euforia, desejos, confiança, desconfiança,
contentamento, prazer, angústia, tristeza, ciúmes e muitas emoções.
No cérebro dos seres humanos ocorre diariamente uma explosão de reações causadas
por neurotransmissores. Um dos principais é a dopamina, o neurotransmissor do prazer. Essa
sensação prazerosa também está presente nos odores que sentimos.
Para Junqueira e Carneiro (2005) a Dopamina está relacionada com a capacidade de
motivação, futuras conquistas, combate à ansiedade, síndrome do pânico, depressão, sensações
de prazer e de bem-estar.
Ao sentirmos o odor agradável do perfume de uma pessoa, mesmo que seja
desconhecida, temos uma sensação aprazível, e seu cheiro se espalha no ambiente e muitas
vezes na nossa imaginação. Diferentes odores, resultam em diferentes gostos.
A paixão e o amor são resultantes de um complexo fenômeno neurobiológico,
produzido por hormônios que têm a função de levar mensagens químicas ao nosso cérebro,
coordenando as atividades de diferentes células em organismos multicelulares.
As moléculas do cheiro também revelam várias coisas a nosso respeito, como nossa
saúde, nossos hábitos e nossa origem. Independente da nacionalidade, do sexo, etnia ou cultura,
todos os povos utilizam perfumes que os identificam no seu cotidiano, uns diferentes dos outros.
O homem é um ser cultural e produto do meio, e nesse sentido, o artigo 1º da Declaração
Universal dos Direitos Humanos nos apresenta que “todos os seres humanos nascem livres e
iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com
os outros em espírito de fraternidade” (ONU, 1948).
Quando nos apaixonamos por uma pessoa, também nos tornamos dependentes de
seu cheiro. A serotonina é o hormônio responsável pela paixão e que nos torna obcecados pelo
cheiro e pela pessoa. Dependendo da pessoa e das nossas reações, poderá surgir uma paixão.
A química do amor proveniente do cheiro da pessoa amada é um bálsamo estimulante,
quase uma droga, que mexe com nosso cérebro e com o corpo. Isso ocorre porque as moléculas
do odor, emanam e entram em contato com os hormônios olfativos, que por sua vez transmitem
essas informações para o cérebro.
Reações e explosões químicas dentro de nosso corpo e nossa mente. O beijo, o cheiro,
o ciúme, o carinho, o sexo, o amor. Para todos estes momentos, a ciência tem uma explicação:
Fenômenos neurobiológicos. Na figura (1) a seguir, apresentam-se as fórmulas químicas da
Dopamina e Serotonina.

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Figura 1 – Fórmulas químicas da Dopamina (neurotransmissor do prazer) e Serotonina
(responsável pela paixão).
Além do prazer e bem-estar, a dopamina e a serotonina estão associadas ao estado de
sentimento do ser humano.
Quando amamos, o cheiro da pessoa nos dá prazer. Nesse momento, sensações e
memórias se fundem, o hipocampo registra a imagem da pessoa amada, e um determinado odor
passará a estar sempre associado à imagem daquela pessoa.
Ao vermos a pessoa amada aumentam os batimentos cardíacos, as pupilas dilatam e
o rosto fica vermelho. Isso ocorre porque a temperatura de nosso corpo aumenta e produz mais
noradrenalina que é o hormônio que acelera os batimentos do coração. Concomitantemente, a
endorfina atua no sistema límbico, uma área do cérebro, responsável pelo prazer.
Odores e amores. Um perfume que se espalha. Quando liberamos hormônios e
neurotransmissores, o nosso comportamento é rapidamente modificado. Deste modo, tem
perfumes que nós adoramos e outros que detestamos. Portanto, espalhe cheiro, amor e prazer.
Depois? Viva o que sua imaginação permitir.

Referências
JUNQUEIRA, C. Luiz e CARNEIRO, José. Biologia Celular e Molecular, Editora Guanabara/Koogan, 8ª
edição. 2005, 332 p.
ONU. Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948.

___________________________________
*Professor Adjunto da UFVJM, Coordenador do GEOVALES. Doutor em Geofísica no
Observatório Nacional. Mestre, Engenharia Civil pela Souza Marques, Especialização em
Docência Superior pela Faculdade Simonsen, Licenciatura Plena em Matemática no Centro
Universitário Augusto Motta, Licenciatura Plena em Física pela Fundação Técnico-Educacional
Souza Marques, Especialista em Gestão Ambiental pela UERJ (2001). Membro da SBGf desde
2001, ALTO (2013) e do IHGM do Mucuri desde 2014.
42
Aspersão
Celso Henrique Fermino*

Do rubro lábio e da rainha flor


Beber estrelas no fio da navalha
É inspiração aos versos do escritor
Que a seus olhos a beleza se entalha

Lança o Cupido sua seta de amor


E a olência que de você orvalha
Surpreendem o despido leitor
Amor, é um perfume que se espalha!

Espelho convexo do coração


A beleza nos olhos de quem vê
Paixão em flor que nesse peito aflora

Vivaz e desabrochado botão


Fragrância beija-flor de eu e você
Perfumando a solidão inodora

___________________________________
*Professor, escritor, poeta e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.
Reside em São José do Rio Preto/SP.

43
Poema poesia
Miguel José da Silva*

Poema é o lado material da poesia, como tal entendido, a expressão literária gráfica
da poesia.
Em sua beleza, seu encanto, poema conduz à poesia, como parte etérea da escrita.
O poeta, ao poema, nos enleva à poesia.
A poesia traduzida pelo poema, é a parte sensorial que, sublime, nos chega à alma;
unido à música, resulta em beleza infinda.
Tomemos por mostra, o belíssimo poema/poesia de Tom Jobim:

EU SEI QUE VOU TE AMAR

“EU SEI QUE VOU TE AMAR


POR TODA MINHA VIDA VOU TE AMAR
EM CADA DESPEDIDA VOU TE AMAR
DESESPERADAMENTE, EU SEI QUE VOU TE AMAR
E CADA VERSO MEU SERÁ
PRA TE DIZER QUE EU SEI QUE VOU TE AMAR
POR TODA MINHA VIDA

EU SEI QUE VOU CHORAR


A CADA AUSÊNCIA TUA VOU CHORAR
MAS CADA VOLTA TUA HÁ DE APAGAR
O QUE ESTA AUSÊNCIA TUA ME CAUSOU

EU SEI QUE VOU SOFRER A ETERNA DESVENTURA


DE VIVER
A ESPERA DE VIVER AO LADO TEU
POR TODA MINHA VIDA.”

Tem-se, então, um poema de certa forma com frases repetitivas, contudo expressas
com elegância e bem estruturadas.
A mim, tal poema chegava ao desconforto, como algo de cunho patológico, ao
masoquismo ou mesmo, sadomasoquismo; algo como o dito popular: “mulher de malandro
gosta de apanhar.”
Todavia, à inspiração, refletindo dentro da madrugada a horas escusas, deparei-
me com a sublimidade do concurso do poema com a belíssima melodia da música que, por
excelência de expressão, exige muito recheio de acordes diminutos.
De volta ao poema em si, pode-se conferir que seu final é blindado com chave de ouro
quando fala: “A ESPERA DE VIVER AO LADO TEU POR TODA MINHA VIDA”.
Assim, tem-se a concluir que toda arte harmoniza, mormente agregada a outra arte, a
sublimação da alma humana.

___________________________
*Advogado, escritor, poeta, membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni e
da Casa do Poeta de Santa Maria/RS, onde reside.

44
Onde está o amor?
Rosilene Alves Pereira Ferraz*

Já dizia a palavra do senhor


Nada tem sentido se não tiver amor
Onde está o amor?
Caridade é sinônimo de amor
Onde está caridade?
Escondida no coração da mãe que perdeu seu filho
para a droga, para o crime?
oculta no coração do Brasil a chorar por seus filhos
perdidos em meio a corrupção, desemprego, violência e ambição?
Não!!!
O amor jamais se esconde!
Apenas se encontra em frascos frágeis,
às vezes difíceis de abrir.
Está em nós,
No olhar, no sorriso, no abraço,
nas lágrimas, na alegria, no servir.
Estás esperando o quê?
Exale amor, espalhe amor
liberte o amor.

______________________
*Educadora e escritora, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.
Reside em Padre Paraíso/MG.

45
O amor: perfume que espalha
José Moutinho dos Santos*

O amor...
É o aroma, a fragrância da flor.
É o perfume envolvente,
Que se espalha pela imaginação
Em busca da felicidade.
-MOUTINHO-

O conjunto formado pela imaginação, o pensamento, o sentimento, a compaixão, a


sensibilidade, o coração e outras partes da anatomia de um organismo, que cumpram as funções
especiais, sob a égide do cérebro a comandar tudo isto, na criação dessa maravilhosa e sublime
FORÇA arrebatadora, que se chama AMOR... que contagia e propicia os encantos e as fantasias,
“tem o mel da granadilhaagreste, bebe os perfumes que a bonina deu” e “Vive doaroma - que
se diz amor”. E constitui a grandeza a conduzir as pessoas de forma harmoniosa ao amor,
entre os seres humanos, indo até as uniões duradouras, mediante a constituição de famílias.
O amor (penso), pode surgir de forma circunstancial ou ocasional, mas sempre mediante a
manifestações contagiantes do pensamento, envolvendo os seres em ocasiões afáveis, que a
“psique” os conduz, (Romeu e Julieta). O Amor é divino e misterioso. Dele nasce a vida, a
mais sublime dádiva de Deus. Daí tudo que se faz com amor, há de se prosperar, a começar na
formação de famílias, muito embora, nos últimos tempos, muito se têm visto contrariando todos
os princípios deste grande precursor da constituição de família.
Por outro lado, a Filosofia – estudo geral sobre a natureza de todas as coisas e suas
relações entre si, ensina que seus elementos: “FILO” - amigo, aquele que gosta e “SOFIA”
- saber, ciência. O filósofo é aquele que ama o saber, o pensar, “sabedoria, razão...” expõe o
pensamento do filósofo Aristóteles. Portanto, é de se imaginar que a Filosofia é parte importante
na história do pensamento humano, no contexto, da concepção e formação do AMOR entre
estas criaturas, e as coisas de estimação.
E o imaginário poético e filosófico que está na mente dos seres humanos, e na forma
de entendimentos de todas as outras raças que Deus criou e deu-lhes o dom especial de se unir,
procriar, progredir e viver em comunidades, é, sem dúvida, o iniciar do grande AMOR que Ele
ensinou, que deve perpetuar entre todos.

____________________
*Advogado, escritor e poeta. Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG.

46
Dentro de mim
Sérgio Giorni*

Mistério!?
Afirmam ter sido a última residência de Maria, mãe de Jesus. Éfeso, Turquia.
Inteiramente incrédulo visitei a minúscula capela de pedras construída sobre os
escombros da morada da Senhora.
Cristãos, num país de muçulmanos, que caminharam milhares de quilômetros para
se esconder?
De pé na soleira, eu era um ex-cristão e um ateu completamente cético, inclusive com
relação à história.
Pisei o chão singelo sobre a suposta casa e ouvi uma melodia que me sorveu.
Internamente, tudo era mínimo e impetuoso. Deparei--me logo com a imagem de
Maria no altar. Estava no fundo, mas a poucos passos da entrada. Parecia estar muito alta,
acima teto.
Ao ouvir o choro de Beatriz, já não me pertencia. Coloquei os óculos escuros para me
clarear, escondendo minha miséria. Desconhecia o que me invadiu - um outro sentido aguçado
pelo silêncio e descanso da paz.
E chorei!
Encantado, ouvi: no Brasil, opere o tumor.
Saí, escondendo-me detrás para não ser encontrado. Desejei permanecer desaparecido
para eternizar a magia.
Refeito atravessei a fonte das águas de milagres e o muro de amarrar pedidos. Alguém
me disse: “você não vai colocar o seu”? Claro que não, respondi.
Já estava dentro de mim!

______________________________
*Graduado em psicologia e computação; MBA em gerenciamento de projetos, aposentado. É
membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em Belo Horizonte/MG.

47
Recortes
Leandro Bertoldo Silva*

“Não podemos exigir o amor de ninguém.


Podemos apenas dar bons motivos para que
gostem de nós, e ter paciência... para que a vida
faça o resto”.
Clarice Lispector

Desiludido, escreveu num pedaço de papel: “Meu amor não tem rosto nem nome...”.
Aquilo o incomodou até que o tempo anestesiou sua dor. Por alguns anos, até que procurou
a dona daquelas palavras que saíram de si. Já tinha uma pequena caixa de recortes, na qual
moravam imagens de mulheres sem nudez ou sequer sensualidade. Vestidos em bustos, braços,
pernas, todas elas comuns e sem rosto, faziam-se companheiras dos papéis já amarelados e
esquecidos, quase que com suas letras desbotadas. A inércia daquele encontro e a insistência
da sua impossibilidade fizeram com que desistisse de vez e aposentasse suas imaginações por
anos, vivendo apenas em sua companhia. Já idoso, porém, ao limpar sua estante, deparou com
aquelas lembranças e quis jogá-las fora. À porta de sua casa, abriu a tampa do coletor e, no
derradeiro movimento, ouviu uma voz que lhe disse: “Meu nome é Judite. Preciso de uma
informação...”. Ao fitar a senhora que sorria, seu rosto se desenhou em cada pedacinho de papel
que segurava e, junto com o nome, preencheu o que faltava...

______________________________
Professor, escritor, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside
em Padre Paraíso/MG.

48
Sinos
Edelweiss Roede Galvão Dutra*

Depois de ouvir uma reportagem sobre sinos e seus maravilhosos sons, fui remetida a
uma experiência interessante que me ocorreu nos primeiros meses que cheguei a Belo Horizonte.
Tenho que fazer uma regressão para justificar a emoção ao ouvir o som que ficou na
minha memória auditiva por tantos anos ...
Desde menina, ouvia o som do sino da minha querida e pequena Igreja Luterana, que
ficava a pouco mais de um quarteirão da minha casa, na praça, hoje chamada Praça Germânica,
em Teófilo Otoni. Tocava para chamar os fiéis para começar o culto, anunciava comemorações
festivas como casamentos, batizados e festas e, mais ainda, quando falecia um dos membros da
Igreja. E as badaladas tinham um som diferente para cada ocasião. Sabíamos sempre se tratava
de festas ou de algum acontecimento triste. Difícil dizer agora como isto era possível, mas o
sabíamos.
Os anos foram passando até chegar à pré-adolescência, sempre parando para ouvir o
som que admirava tanto.
A segunda guerra mundial alcançou também de modo muito cruel minha pequena
cidade. De grande colonização alemã teve muitos de seus moradores perseguidos e maltratados,
muitas vezes sem nenhuma razão, somente pelo fato de serem descendentes de alemães.
Com a nossa Igreja não foi diferente. Quando o Brasil se aliou para combater a Alemanha,
apareceram logo os que achavam que deveriam destruir tudo que tivesse algum vínculo com
aquele país. Assim aconteceu de queimarem nossa Igreja, o Internato que abrigava menores
carentes que vinham das roças para estudarem na cidade, quando até os retiraram das camas
para queimarem seus colchões. Nossa Comunidade Luterana perdeu tudo o que tinha e quase
tudo foi confiscado. Essa é uma fase lesiva de nossa história, muito contada e preservada pelos
historiadores da minha cidade.
Bem, e o SINO, como foi? Pois é, aí é que entra minha história.
Aos dezenove anos fui transferida para trabalhar em Belo Horizonte. Tudo novo e eu,
ansiosa para conhecer e usufruir o que essa etapa da vida me oferecia. E não poderia deixar de
procurar um clube para praticar o que sempre foi minha paixão esportiva — o voleibol. Tive a
sorte de ir morar bem perto do Minas Tênis Clube, já na época, de grande tradição também no
voleibol feminino. Como gostava de frequentar todas as suas atividades sociais e esportivas!
Trabalhando até às 17 horas, costumava ir sempre ao Minas, depois do trabalho, para treinar
com minhas companheiras.
Era quando ouvia o repicar de um sino, sempre às seis da tarde, com um som que me
parecia familiar. Sempre aquele mesmo som... Comecei então a fazer uma investigação para
saber de onde ele vinha, pois sabia já o ter ouvido muitas outras vezes! E era na Igreja Santo
Antônio, que ficava a um quarteirão do Minas, na esquina de Contorno com Espírito Santo.
Fiquei então bastante intrigada, pois comecei a ter certeza de que o som daquele sino era o do
“meu sino”, lá da minha terra e da “minha” Igreja.
Indo passar férias em casa relatei o fato do sino a algumas pessoas e aí então o mistério
foi desfeito: contaram-me que o sino da Igreja Luterana de Teófilo Otoni havia sido remetido
para Belo Horizonte e que realmente estava na Igreja de Santo Antônio. Então o que ouvia era
mesmo o som peculiar daquele sino ...
Muitos anos se passaram. Depois de muitas lutas em tribunais para serem reconhecidos

49
os erros cometidos e os danos financeiros sofridos pela nossa comunidade, veio ressarcimento
de parte dos prejuízos. Parte sim, porque os danos morais e psicológicos que ficaram para trás,
estes jamais foram e serão ressarcidos.
E voltou também de Belo Horizonte o nosso SINO, para o lugar de onde nunca
deveria ter saído, e colocado na nova Igreja, construída anos depois em outro local, maior e
bem mais bonita.
Que ele continue a badalar anunciando sempre mais alegrias que tristezas...

______________________________
*Bacharel em Ciências Contábeis. Funcionária Aposentada do Ministério da Fazenda.

50
A essência do amor
Wilson Ribeiro*

O amor é um sentimento positivo do bem e da evolução universal.


Nada há mais misterioso do que o amor. É só pela evolução e o aperfeiçoamento mental que
podemos descobrir os segredos desta força designada sob o nome de ‘‘AMOR’’.
É do AMOR que nasce a vida e é pelo AMOR que tudo existe. O AMOR é o fundamento
do mundo e a fonte de todos os seres viventes.
O AMOR pode ser expressado por varias formas: com palavras, gestos, respeito e carinho.
A base do AMOR é o respeito. Ninguém ama sem respeito.
Amai-vos uns aos outros, e é a lei de Deus. Meditai-vos bem e compreendei esta palavra
misteriosa, que tem o nome de ‘’AMOR’’.
Devemos sempre ampliar e expandir ilimitadamente o sentimento do AMOR que reside em
nós, pois ele se torna o impulsionador do nosso universo progresso.
Só Deus é o amor integral que nos abençoa sempre
SÓ O AMOR VENCE TUDO.

_________________________
*Escritor, membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 30.

51
Amor... Perfume que embala
Margareth das Dores Rafael Moreira Costa*

Embora não entendamos como acontece, os sentimentos mais nobres que existem no âmago
do ser humano estão, a cada dia, se deteriorando mais em nossa sociedade. A busca rápida e
brusca da sobrevivência contribui grandemente para o ser humano, em geral, pensar apenas em
seus direitos de sobreviver com sua família.
E essa constante epidemia humana se alastra a cada instante, frente aos olhos. Ficamos
paralisados a ver os fatos acontecerem e não temos perspectivas de como colaborar para
extinguir essa enorme erosão em nossa vida e em nossa nação.
Falo do escopo amplo de sentimentos que nascem conosco quando chegamos ao mundo
e que, gradativamente, perdemos com o passar da vida. Entre eles, o amor! Este perfume que
embala. Essência inexistente no coração de muitos.
Em vez de amor, solidariedade, compaixão, justiça, generosidade, amizade, fraternidade,
caridade, bondade, esperança, bondade, fé... nos deparamos com total isenção desses
sentimentos em nossos corações. A luta pela sobrevivência, a desigualdade, a injustiça social, o
desespero, a ambição e disputa são lentamente incrustados na mente e nos corações humanos.
Os sentimentos que Deus nos deu a possuir, quando nos fez segundo Sua imagem e
semelhança, tem se esgotado em um grande número de pessoas na Terra. O que fazer para
colaborar com o retrocesso de tamanha destruição da raça humana? Penso ser uma tarefa árdua,
mas cabe-nos praticar o amor. Que tentemos! Vamos à luta pelo renascimento desses nobres
sentimentos e que Deus possa nos redimir em Seu lugar santificado.
Precisamos de um reconforto. Alma e espírito precisam ser lavados e purificados de tanta
amargura e incapacidade de compreender e amar o próximo. Vivamos o amor, portanto. É o que
Deus espera de nós.

____________________________
*Professora, poetisa e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside
em Itambacuri/MG

52
Amor sem medida
Carmelita Ribeiro Cunha Dantas*

De braços abertos acolhe,


Com sorriso no rosto abençoa.
O sussurro no seu ouvido, acalenta.
Um afago consola,
Tua voz conforta.
A presença no lar dá segurança,
Com carinho enche de confiança.
Momentos que ficam na lembrança,
De quando era criança.
Agradecendo a Deus todos dias,
Pelas Mães com amor do filho cuidar.
Pois sua cria vem em primeiro lugar.
O amor de mãe sem medida,
Para sua cria, não tem medo de sacrificar.
Teu cheiro é como café coado na hora.
Quando levanta todos os dias.
Com prazer um abraço de bom dia.
Mãe é sempre única.
Na lida do dia a dia.
Que compartilha esta alegria.
Como parte importante da vida familiar.
É uma atenção constante de mãe, ao filho cuidar.
Cumprindo sua missão de amor consolidar.

__________________________
*Escritora, e membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em
Aparecida de Goiás/GO

53
Um amor entre amigo
Maria Luciene*

Um amigo verdadeiro
Na tempestade é cobertor
Na tristeza traz Humor
com mansidão companheiro
Seu olhar hospitaleiro
Alerta se há perigo
Padrões sociais abrigo
Sempre juntos na batalha
O AMOR ENTRE AMIGO
É PERFUME QUE ESPALHA.

Dar auxílio se precisar


Porvir de esperança pleno
com simplicidade a meno
Uma mão outra apertar
Mero sorriso abraçar
Espelho do outro digo
Narrando um HINO sigo
Dois pensamentos que talha
O AMOR ENTRE AMIGO
É PERFUME QUE ESPALHA.

Quando estou pensativa


Com a relva me encanto
Da floresta vejo o manto
Data comemorativa
Encontro de amigo ativa
Se és sublime comigo
Pela jornada contigo
Eterno amanhã agasalha
O AMOR ENTRE AMIGO
É PERFUME QUE ESPALHA.

_______________________
*Atriz, cordelista, tem mais de cem títulos em literatura de cordel, participação em antologias
nacionais, menções honrosas por vários poemas, é membro correspondente da Academia de
Letras de Teófilo Otoni. Reside em Fortaleza/CE.

54
Amor incondicional
Filhos, netos e bisnetos
Walter Luiz Cid do Nascimento*

Amanheceu o dia iluminado e alegre,


E no meu pensamento, lembranças, muitas!
De muitos amores, sinceros, permanentes,
Contagiando, de amor, todo o meu coração.

É obra de DEUS, jamais poderia ser por outros meios,


A imensidão do amor é grande e tem para todos, igualmente!
Filhos queridos, encantadores, quatro flores de meu jardim,
Marília, Luiz, Mayra e Mônica, perfeitos e adoráveis.

Com sentimentos de amor tão grande, sinto-os,


Perto, mesmo a distância, não dá para lamentar!
Recordo de cada um, com muitas alegrias e juntos,
Completavam-se, dando o sabor de uma família feliz.

Adultos, tomaram seus rumos, apenas acompanhava,


Sem o que lamentar, num relacionamento respeitoso,
De um amor reciproco, assim foi por toda a vida.
Entre todos, amor, harmonia, irmandade completa!

Coroando, foram dadas mais flores, para nossa felicidade:


Os amados netos: Lucas, Diego, Mariana e Maria Clara,
Julia, João, Guilherme e Beatriz, e agora, os bisnetos:
Gabriela e Henrique, uma paixão de amor renovado.

Com tantos amores o que falta ao homem para ser feliz?


Somente agradecer a DEUS, por tamanha dádiva recebida.

___________________________________
*Escrito e poeta. Membro correspondente Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em
João Dourado/BA.

55
Soneto decassílabo de bom caminho
Paulo Roberto de Oliveira Caruso*

Um pedaço tu és de mau caminho


que encontrei e peguei só para mim;
não foste algum atalho ao qual carinho
eu dei por nada ter melhor enfim.

O amor nos chegou com fofo jeitinho


após nós acionarmos o estopim
de uma amizade que aprontou o ninho
da vida a dois em vermelho carmim!

Mudaste a minha vida inteiramente,


mas sempre com os toques do bom Deus,
mostrando-me vários dos rastros Seus.

Se somos um casal sempre contente,


a Deus eu devo tudo e bem o sei,
pois Ele é nosso Pai e o nosso Rei!

___________________________
*Escritor e poeta, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside
no Rio de Janeiro/RJ.

56
Infinito
Nancy Zeitone*

Sei que um dia já estive aqui,


e encontrei tudo diferente...
Eu te reencontrei.
E quando nossos olhares se cruzaram,
eu me apaixonei,
uma vez mais...
Sei que voltarei,
e ali, na volta do caminho,
estarás me esperando
para continuarmos nossa história -
que é infinita -
como infinito é o nosso amor.

____________________________
*Escritora, membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside no Rio de
Janeiro/RJ

57
A vivenda, de outros tempos
Neri França Fornari Bocchese*

Tenho saudade dos dias


Passados em família...
Adentrar na porteira,
Sentir a primavera,
Viver feliz, em férias.

Tempo de aconchego
Com um caminho florido.
O colorido caramanchão,
Com as cores das três-marias.
Bancos de madeira no varandão...
Nos cinamomos, pendurados os balanços,
A embalar, acalentar, contar histórias...
Havia tempo, distribuíam atenção.
Conversas, muita cantoria!

Nas casas, jardins floridos,


Ninhos de pássaros,
Borboletas a vida, colorindo.
Nessas lembranças,

Apenas a minha sacada,


Com um vaso florido, banquinho,
À sombra de uma palmeira,
Numa cadeira de palha,
Embalo, o meu filho.

Da vivenda, sinto o cheiro.


Desejo, outro jardim do Éden.
Muito verde, na paisagem
Com flores perfumadas.
A vida, segue em outros tempos
Com flores coloridas!
Beijos, de colibris!
O cheiro, das manhãs primaveris!

_______________________
*Escritora e poetisa, membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside
em Pato Branco/PR.

58
Vida realizada
Rosimeire Leal da Motta Piredda*

Jocarli, um profissional das Ciências Contábeis. Quantos conflitos interiores ao longo


da sua existência por seguir a carreira do seu pai, porém, dentro de si imaginava pilotando
um veleiro oceânico. Desmotivado, caminhava na trilha da desilusão. Somava, diminuía e
multiplicava e não descobria um resultado que o convencesse estar feliz. O futuro desenhava
um ponto de interrogação. Os números formavam incógnitas perguntando o porquê do vazio
no coração. Recinto sem sabor, faltando uma pitada de sal para dar um gosto especial no
autor realização. Sua alma é aventureira, estava preso, impedido de concretizar as aspirações
enraizadas desde a juventude: um rio desviado do seu curso. Duelava consigo mesmo.
Constantemente divagava, seus pensamentos o retratava com os cabelos ao vento, recordava
o cheiro da maresia, visualizava a areia e o sol. Martelava em sua mente a ideia de desistir do
seu emprego, experimentar novos desafios e abandonar o conformismo. Ouvia o eco do próprio
sentimento, um grito do seu Eu amarrado, obrigado a tornar seu dia a dia uma rotina insuportável:
um pássaro engaiolado! Além de conhecer as técnicas é imprescindível ter vocação. Observava
seus colegas de trabalho: para eles era prazeroso elaborar demonstrações financeiras e controlar
toda a movimentação (contas, empréstimos, investimentos), expressavam plena satisfação
através do olhar e trabalhavam até tarde.
Os anos foram passando, seus pais e sua esposa faleceram, filhos casados. Sentiu
que este era o momento de alterar o rumo da sua vida. Não receava recomeçar e reconstruir
do zero. Agiu de imediato antes que a velhice fechasse a porta do tempo. Pediu demissão e se
candidatou ao anúncio de ajudante numa empresa de turismo náutico (nos fins de semana fazia
aulas de navegação numa escola de velejador, praticando o que aprendeu num clube; sabia guiar
o barco e estava em boa forma física). Admitido, uma alegria imensa brilhou em seus olhos por
finalmente fazer o que sempre desejou. Esqueceu o passado atormentado. Certa vez, encontrou
uma tempestade em alto mar, mas seu sorriso se iluminou por vencer a intensidade das ondas,
marés e ventos se aperfeiçoando naquilo que muito namorava. Amor a profissão, perfume que
se espalhou dentro de si, impregnando seus pensamentos com o aroma da determinação. Ama
este ambiente e vive a bordo frequentemente. Seu espírito deixava claro o quanto este ofício é
importante para se reafirmar como pessoa e tudo mudou assim que começou a segurar a roda do
leme e conduzir a direção da embarcação. Alguns diziam: “Louco! Inesperadamente morrerá
no mar”! Sorrindo ele argumentava: “Pereceria contente por estar nos braços da minha querida
profissão”! Libertou os talentos sufocados e realizou seu sonho, tornando-se um ser completo.
Aprecia tanto o que está fazendo atualmente como se fosse o ar que respira. Aos aplausos do
recôndito do seu ser, casou-se com este estilo de viver e trabalhar.
Quando o pôr do sol se aproxima, a visão magnífica do entardecer a bordo de um
veleiro é mais uma razão para Jocarli persistir nesta decisão e agradecer a Deus o dom que Ele
lhe deu: é um prazer navegar!

_______________________________
*Professora, secretária aposentada, escritora e membro correspondente da Academia de Letras
de Teófilo Otoni. Reside em Vila Velha/ES.

59
Quimera
Valéria Victorino Valle*

Como não amar seus expressivos olhos?


Olhos que falam sem que ninguém perceba.
Como não desejar seus lábios de rubim?
Lábios que convidam para o beijo proibido.

Eu a quis e, muitas vezes, ela também me quis.

Como não ouvir sua voz rouca e doce?


Voz que me chama para a obediência.
Como não abraçar seu corpo quente?
Corpo que exala um perfume inconfundível.

Eu a quis e, muitas vezes, ela também me quis.

Como não dormir em seus braços macios?


Braços que acalentam minhas fantasias.
Como não ler seus poemas feitos para mim?
Poemas que escrevem seu sentir o mundo.

Eu a quis e, muitas vezes, ela também me quis.

Como não querer suas quimeras de amor?


Quimeras que você também quer...
Eu a quero e, muitas vezes, ela também me quer...

_____________________________
*Professora e escritora, Embaixadora da Paz - Comitê Internacional dos Boinas Azuis/ONU-
RJ, Senadora Cultural da Federação Brasileira dos Acadêmicos em Ciências, Letras e Artes-RJ,
Delegada da Academia de Letras e Artes de Valparaiso/Chile, Comendadora da Academia da
Universidade de Santiago no Chile e de Letras de Goiás/GO. É membro correspondente da
Academia de Letras de Teófilo Otoni.

60
Perfume de bem-querer
Maria Antonieta Gonzaga Teixeira*

Perfume que rega a semente da alegria,


Da solidariedade, do respeito e da gratidão.
Na lida diária, no trabalho duro e na galhardia
Florindo mentes de sonhos e ilusões.

Alegria é sentir o aroma que espalha


Nas encruzilhadas e nas rodovias.
No murmúrio das águas das cachoeiras
No embalado canto das cotovias.

Felicidade é andar pelo mundo


Com cheiro de alfazema florida,
Hortênsia, rosa e jasmim.
Na chegada e na despedida

Amor, perfume que espalha


Nas mãos solidárias, na oração,
No abraço de uma criança, na visita ao doente
No desalento e na aflição.

Encham gavetas com perfume de bem-querer


Espalhem esperanças aos grotões das lutas,
No imenso universo de céu azul e estrelas cadentes
De nuvens brancas em sol ardente.

____________________________
*Escritora, membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em Castro/
PR.

61
Conjugando o verbo amar
Amalri Nascimento*

12 de outubro de 2007. É bem verdade que o tempo passa e, quando nos damos por
conta, foi... Lembrando dos meus tempos de católico, com as bênçãos da padroeira, Nossa
Senhora da Imaculada Conceição Aparecida, e sob a égide da inocência infantil, posto que
nessa data também se comemore o dia das crianças, encetei um relacionamento que me resgatou
de um processo de hibernação amoroso. Levando em consideração às razões que me atiraram
nesse estado de apatia temporária, permiti-me alhear dos prazeres da vida sob uma espécie de
letargia. A mutualidade das entregas sentimentais não mais incutia a atenção deste que sempre
teve uma visão otimista e romanceada, claro que sem exageros quixotescos, acerca do verbo
amar.
A partir de então, uma amiga comum tornou-se lhana e prestimosa confidente. Acredito,
inclusive, atuando em ambos os lados; contudo, não elencava conceitos que demonstrassem
preferências por alguma das partes.
A Dani, a tal amiga, hoje um tanto afastada pelos segmentos da própria vida, apresenta
um jeito único no ser e na forma de agir, assim meio tresloucada(!), no melhor sentido da
palavra, é claro, principalmente quando faz uso de metáforas como “sinto uma inveja branca
disso ou daquilo” ou “Nossa! Dá pra comprar um fusca!”. Saudade da proximidade de nossa
amizade. Ela é uma dessas pessoas do bem, doce, alegre, inteligente, carismática e detentora
de um sorriso largo contagiante que encanta e cativa, sem azos mesquinhos, a todos os amigos.
(...)
A data exata nem me lembro, mas o semestre era o segundo de 2008. Lá se vão quase
dez anos! Ainda trago na memória o nosso diálogo. Travávamos contato informal através d’um
aplicativo de relacionamentos. Teclar já era modernidade e, hoje, uma mania, principalmente
entre a juventude. Sem tergiversações, fui defrontado com a pergunta: — Você acredita ser
possível uma pessoa amar mais de uma vez? Ao passo que minha resposta também foi ligeira,
porém, dissertativa: — Penso que, na vida, vivemos para amar... Não apenas uma vez ou em
dado momento, mas amar muitas vezes e por toda a vida. É fato que cada amor representa uma
história. Sempre diferentes entre si, tocam de maneira variada em nós. A verdade é que não dá
para sabermos em qual circunstância fomos mais felizes ou sofremos mais. A paixão, podendo
muito bem se transformar em amor, e a amizade, assim como os sonhos, representam molas
mestras que nos impelem e nos sustêm de pé. Alguns desses amores ou paixões, sentimentos
sempre almejados, depois de vividos, até esquecemos ou, involuntariamente, os guardamos
num canto secreto do nosso imo, onde nem sempre, nós mesmos, não sabemos como chegar.
Também é certo que em um instante da nossa existência, se ainda não o fomos, seremos tocados
tão fortes e tão profundamente que suas marcas ficarão para sempre sinalizando a referência
de que, pelo menos, uma vez, fomos completamente felizes. Sempre se pode superar, dar-se
uma nova chance e continuar vivendo bem, sendo e fazendo feliz quem conosco estiver, mas
o gosto daquele ditoso amor ficará como que entranhado no cerne e será sempre lembrado
com ternura... Se demos ou não o passo certo, se a ocasião era adequada ou não talvez nunca
saibamos. Por outro lado, isso é o que menos importa, o essencial é que vivamos de modo
a estarmos prontos para recomeçar. “...Viver, morrer, é tudo igual no fim / O que muda é a
história, que irão contar...”.

62
(...)
Não se faz necessário relatar que sinto saudade das nossas conversas, ocasiões em
que éramos tomados por calorosas discussões. Deleitosas conversas se prolongavam por horas
a fio, fossem pessoalmente, por telefone ou, comumente, usufruindo da modernidade digital,
“on-line”. Já o sentimento que alentava minh’alma, cumpriu o seu ciclo. Não posso dizer que
voltei à apatia pela vida outra vez, apenas vivencio o espaço de tempo que liga os estágios
existenciais. Resiliência é a palavra que está em voga e, seguindo esta máxima, por enquanto
exercito a habilidade de adaptação às intempéries e alterações do meu decurso.

____________________
*Suboficial da Marinha do Brasil, poeta, contista e artista plástico autodidata. Potiguar, de
Brejinho/RN, radicado no Rio de Janeiro. Membro Corresponde da Academia de Letras de
Teófilo Otoni e da Academia de Letras e Artes do Agreste Potiguar e da Associação Profissional
de Poetas no Estado do Rio de Janeiro.

63
Solidariedade: sublime expressão
do amor universal
Eloisa Antunes Maciel*

Essa dimensão do Amor Abrangente - e nada exigente - tende a expressar-se através de


manifestações de cooperação, apoio – material e moral - e de outras formas - estas geralmente
viabilizada pelas especificidades da situação a que são voltadas as ações não oficialmente
estabelecidas – como “salvamentos espontâneos” em situações de catástrofes - naturais
ou provocadas, embora deliberadas por iniciativas de grupos comunitários e/ou entidades
beneficentes “leigas” ou não governamentais.
Essa expressão de amor incondicional não visa o reconhecimento no sentido de
promoção- pessoal ou grupal – nem a coletar elogios que exaltem méritos no intento de prover
a “fama” e aumentar o cacife de entidades/pessoas que a pratiquem...
É expressão autêntica e genuína do verdadeiro amor universal a manifestar-se nas
dimensões coletivas ou restritas a situações inter individuais, assumindo formas como apoio
mútuo, cooperação destinada a solucionar uma situação de carência ou solução de problema
sócio comunitário de obscuras implicações... (Parece que se incluem nessa dimensão os
esclarecimentos e a cooperação comunitária que visem a elucidar ocorrência de estupros e/ou
de outras ocorrências de violações pessoais - sociais bastante frequentes no Brasil e no Mundo).
E essa forma de amor- a Solidariedade – não “escolhe” seus alvos preferenciais: é
uma manifestação de Supremo e sublime Amor Humano, e, por conseguinte, suas expressões
são voltadas ao ser humano, independente de sexo, raça, nacionalidade, ideologia ou outra
característica em sua condição pessoal-social...
É, talvez, a mais abrangente manifestação do Amor Universal – flor cujo perfume
tende a espalhar-se por todo o Universo – sem distinções ou “favorecimentos duvidosos” ...

_________________
* Professora aposentada da Universidade Federal de Santa Maria, escritora e poetisa. É membro
correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

64
Saudades do amigo
Cosme Custódio da Silva*

Do tupi Ubirá-iara é “senhor do tacape, da lança”. E se aproveitou José de Alencar para


nominar um seu livro e personagem, aonde abordou diversos aspectos de nossa realidade: norte
e sul, litoral e sertão, cidade e campo, branco e índio.
Outro Ubirajara se destacou na vida usando como arma a excelência e o mister, abordando
a fraternidade, a amizade, o amor, sem nunca se fazer indiferente ao mundo das condutas e das
decisões, dos critérios e dos julgamentos, nunca tendo o chão o ameaçado a ceder-lhe debaixo
dos pés. A ética, a justiça, a responsabilidade lhes eram primordiais.
Há sempre um descompasso entre aquilo que se vive e aquilo que se compreende,
submetido aos conflitos de forma direta e imediata. Mas sábio, sabia Bira que a lei determina
a semelhança dos sujeitos que estão a ela submetidos e a sua equivalência dos termos que ela
designa. Praticava-a, mas sem acatar a mordaça do dogmatismo sectarista e preconceituoso.
Bem conheceu todos os que o conheceram bem.
Afirmava o dramaturgo Nelson Rodrigues que “toda unanimidade é burra”. Decerto, se
tivesse o regozijo de a Bira ter conhecido, não faria tal assertiva. Não que Bira fosse perfeito,
é quase certo, mas, que para usar o mais mínimo da imperfeição, procurava buscar da Razão
como instrumento necessário, muito embora tal instrumento não o fosse suficiente para o
conhecimento da Verdade, sendo esta uma afirmação ou uma negação relativa a uma coisa e
que concorda com essa mesma coisa, sabia ele.
Dizia Mao-TséTung que “quem desperta em si as forças criadoras da vida, realiza a sua
vida”. E Bira, em tão pouco tempo realizou a sua e ajudou a muitos às suas realizarem.
Agora ele estava ali estendido no féretro, hirto, sério como nunca o vi, mas com as feições
de quem apenas dormia uma madorna. O padre fazendo a sua parte com palavras confortadoras.
O préstito fúnebre partiu com discorrer suave e ritmo calmo em meio a beleza das flores
e pipilar de trêfegos pássaros que desconhecem a tristeza dos que ali deixam os seus entes
queridos.
Sem rococós sentimentais, um homem perorou rapidamente ressaltando o caráter de Bira,
seu jeito amigo e sempre alegre.
Enquanto o féretro descia à sepultura, o corneteiro devidamente posicionado, com sua
corneta de aço reluzente, encheu os pulmões e com toda força e vontade tocou estridentemente
O Toque do Silêncio, batendo forte no âmago de cada um, retirando de todos, quaisquer cacos
de lágrimas que recusassem a se expor. Foi um momento triste, dilacerante até, porém mágico,
nobre e inesquecível.
Nobre como Bira sempre fora, inesquecível para todo o sempre.

_____________________
*Escritor e poeta, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside
em Salvador/BA

65
Amor é a conjunção com o infinito
e as estrelas
Odenir Ferro*

Por quantos bem-fadados encantados atinos? Atuados nas almas!? Protagonistas dos
mais sublimes sentimentos e que se intercalam, se relacionam dentro desta extensa rede tão
subjetiva e, que muito embora sendo real, não é totalmente tangível e saliente: e que se nos
desnuda! Por entre todos os poros do corpo! Fazendo latejar a alma, por emoções replenas:
de tão puros ou explosivos desejos, senão, que não seja este inusitado sentimento, que nós o
denominamos de amor!?
Através de quantos e quantos poemas líricos, os quais se entonam, com os melódicos
sons? Extraídos das musicalidades geradas pelas liras e as harpas celestiais, através das quais,
poderemos, talvez, nos desbravar? Por estes caminhos insólitos de tão inusitados que são,
dentro destas tão encantadoras magias que se nos fazem presentes: até, por palpitarmo-nos em
intensas vibrações?! Enquanto vamos nos deparando frente a frente com as abrasivas forças,
que nascem e se mantêm, dentro das vibrações esplendorosas: deste tão intenso, significativo
sentimento, que nós o denominamos de amor?!
O amor é a conjunção com o infinito e as estrelas: conquanto formos deleitando-
nos no éter, deste puro estado sublime, em sabor de graça. Aonde vamos conciliando-nos
através das nossas razões, desejosas de o conjugarem, talvez, em vão... atrevendo-se no querer
entendê-lo, através de todas as suas traquinagens! Impostas por ele, nos entrelaçamentos feitos
de diálogos extensos, ou de cenas mudas. Ao expô-lo por dentro e por fora de nós, através
das nossas convulsivas emoções. O amor não se compõe de trevas! O amor é a essência mais
divinal, que se irradia e se projeta através da Luz Eterna, que se emana e que se esparrama
através de todas as almas. O amor é este estado vibracional que vai incendiando-nos por
dentro e por fora. Percorrendo com elegância, todas as abrangências mais intensas da nossa
ânsia de querer demonstrarmo-nos, perante às alegorias que se desprendem das abstrativas
líricas essenciais, do seu perfumado éter que se esvai – constante e eternamente – através do
indecifrável olor ardoroso e poético que se derrama das mãos do deus Eros e da deusa Afrodite,
caindo dentro da nossa consciência: transformando-nos em sábios e fiéis seres humanos! De
tão encantados ficamos, com as transcendências transparentes das belezas – quase etéreas, –
muito embora possamos até tocá-las...! Compreendendo miraculosamente, a divinal essência da
pureza coerente, vinda das mãos invisíveis das nossas sensações. Ao tangenciarmos estas ricas
experiências que adquirimos e impregnamos no livro etéreo da nossa alma! Ao caminharmos
pela vida, dentro das vibrações misteriosas, que se chegam e aconchegam até nós. Através deste
eloquente, embora dinâmico, estado indefinível, indecifrável, que nós o denominamos de amor!
O amor vibra-se permanentemente – entre as mágicas constâncias e as inconstâncias
– entremeadas pelos fios invisíveis, que se entrelaçam entre os nossos corpos, adjuntos
agindo, em conjunto às nossas almas! Perfazendo-se assim, os dons milagrosos das nossas
existências: partindo deste grandioso mistério, que se faz com que vibremos na vida! Através
das ondas sonoras replenas de luzes: as quais nos deixam livres, para vivenciarmos todos os
teores mais saborosos, da nossa existência enquanto formos vivendo por estes caminhos tão
replenos de vida... reverenciando, crendo e sublimando, os poderes vindos e sobrevindos da
Luz! Depositando a nossa fé nas forças poéticas, extraídas dos contrastes exalados destas

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irradiâncias derramadas pelo misterioso continuum vitae na realidade constante nas páginas
escritas: pelo Poder da Eternidade!

__________________________
*Escritor e poeta, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside
em Rio Claro/SP.

67
Solidariedade
Maria de Lourdes Schenini Rossi Machado*

Gesto nobre e grandioso


que, na maioria das vezes,
vivenciamos da parte
de que tem o mesmo sangue
que o nosso, nossa Mãe.
Essa, mesmo que caíamos
ou estejamos
no fundo dum poço, estenderá
a mão para nos ajudar.
Nossa mãe, sempre escutará
as nossas confissões
e os nossos segredos,
sem deixar-nos na solidão.
Sabemos quem são os nossos amigos,
quando precisamos de um abraço
solidário e fraterno.
Os verdadeiros permanecem,
ao nosso lado, em qualquer ocasião.

_______________________________
*Escritora e poetisa, é membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside
em Porto Alegre/RS.

68
Amor e saberes
Ilda Maria Costa Brasil*

Mãos ágeis e ternas registram pensamentos


num momento singular emocionante.
Luz brilhante ameniza sorrisos cinzentos;
voz serena rouba cenário fascinante.

EUs, outrora contidos, rebelam-se atentos;


querem vencer entrave e fobia impactante.
Não se deixarão abater por desencantos,
perdas, tristezas e intensa dor aviltante.

Flor é colhida com ardor num fim de tarde,


em que céu alaranjado exibe muitas luzes.
Ao contemplar a paisagem, brio ganharam.

Amáveis vivências, espero que alguém guarde.


Na ocasião, com sapiência, os mais vivazes,
aos demais, amor e saberes transpassaram.

____________________________
*Escritora e poetisa, graduada em letras, é membro Correspondente da Academia de Letras de
Teófilo Otoni. Reside em Porto Alegre/RS.

69
Alegria em tempos de amor
Lenival de Andrade*

Meu amor
Você para mim chegou
Trazendo paz e alegria
A minha vida deu sentido e harmonia

Hoje sou outra pessoa


Realizando tudo com sucesso
Minha vida ficou emocionante e boa
Nesse maravilhoso processo

Me fez sentir um doutor


Na rua, em casa ou na praia Veio e trouxe
Alegria em tempos de amor

_______________________________
*Escritor, poeta, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em
Catolé do Rocha/PB.
70
O nosso amor é perfume que se espalha
Rogessi de Araújo Mendes*

Dentro da casa limpa e organizada, iluminada naturalmente, pela luz do sol que
adentrava pela janela, ele se detém. Percebo que observa lento e demoradamente cada canto,
cada objeto... Nem o teto pintado na técnica “Afresco,” lhe escapa da minuciosa análise.
Silêncio reinante... O único som naquele ambiente era o toc, toc, toc... dos passos do homem,
sobre o piso de madeira super encerado. Nas paredes quadros raros de pintores consagrados
emanavam as suas essências: Edouard Manet, Leonardo da Vinci, Rembrandt van Rijn, Dante
Gabriel Rossetti... Caravaggio e o seu talento expresso, na tela “Narciso...” Ali, encontrava-se
uma verdadeira fortuna!
Imóvel, igual a uma pedra eu estava... Porém, atenta; os meus olhos perscrutavam
cada gesto, daquele homem que parecia comer, beber o recinto, e eu com a pretensão de lhe
adentrar o cérebro. Pensei: – Não me vês? Não sou eu... mais importante que essas obras?
Arrisquei-me a rodeá-lo, roçar-lhe o corpo vestido por um terno de linho “risca de
giz”, azul marinho com branco.
As minhas saiastocaramas suas pernas... Ele continuou absorto em seus pensamentos.
Então... levantou a cabeça e fechou os olhos. Permaneceu assim, por instantes... Nariz erguido
como a aspirar o ar. Caminhou até à janela aberta, que parecia um enorme quadro emoldurado...
Falou para si, em alto e bom som: “Amor, parece loucura... senti o teu perfume, a tua presença!
A beleza desse lugar e toda a sua riqueza... não se comparam com a tua inebriante beleza. Foi
aqui, através dessa janela, que olhando para a rua... te vi e jamais te esqueci. Como estavas
linda! Adentraste nesse museu... então, contempleià obra de arte, mais perfeita... Pena que ‘o
autor, o pintor divino’te arrebatou de mim” ...
– Querido, estava a tua espera... O nosso amor é perfume que se espalha ... Jamais te
deixarei!

_______________________________
*Escritora, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em
Recife/PE.
71
Do amor ao próximo
Aristides Dornas Júnior*

É preciso saber viver. Esta frase todo mundo conhece. Mas há um segredo contido
nela, que vou tentar desvendar aqui. Quando se vive com o amor no coração procura-se
descobrir o impossível da existência. Espalhando-se somente o bem. Mas não se está nem por
isso se está livre de um julgamento oriundo de outrem cujos valores são diferentes dos que
os nós temos. No Brasil atual há amor em grupo de posição social desde que concebido pelo
espírito onde pelo menos há uma noção do que seja boa sociedade onde cujos valores os levam
a praticar sempre o bem. Mas não cabe aqui discutir isso. Nos meios religiosos onde eu andei
falava-se de amor aos pobres como eu, e isso é que me interessa. Também nos meios religiosos
se ouve falar muito na capacidade de perdoar. Nos meios religiosos ainda ao ouvir falar no
próximo sobrevivem leigos que têm fé e sacerdotes. Mas o que causa isso senão o amor ao
próximo? Os menos favorecidos que mereçam o auxilio de todos nós com uma pouco mais de
sorte na vida, devem receber a nossa ajuda, na medida de nossas possibilidades. Mas o amor ao
próximo de que quero falar tem a ver com tolerância, que é uma coisa pouca aceita por nossa
sociedade. O que só ajuda a aumentar as desigualdades sociais. Amar ao próximo é tolerá-lo até
os limites da paciência que as leis autorizam. Não desconfio de ninguém, até segunda ordem.
Tenho a custo vencido os rancores que guardam de mim, se é que guardam, os que ainda
não aprenderem nada sobre o amor ao próximo. Trabalhei numa empresa como datilógrafo e
digitador, e era respeitado pelos meus chefes, apesar de meus problemas pessoais. Procurava
me manter em silêncio e atento às ações dos meus empregadores e colegas. Pois nem todo
mundo é igual. Somos somente semelhantes. Mas a nossa formação vem de casa, no meu caso
tudo me foi ensinado por minha mãe. Tenho a opinião de que um espírito esclarecido estará
sempre disposto a fazer o bem, mesmo que erre uma vez. Não sei se a profissão de datilógrafo
e a de digitador ainda existem. Através delas cumpri as minhas obrigações sociais, é claro que
não pude satisfazer a todo mundo. Adquirimos com o trabalho honesto um pouquinho de saber
para separar as coisas, o bastante para sobreviver. Hoje que sou um homem de carta idade
o que posso fazer é rezar pelos menos favorecidos, principalmente neste momento de crise
que estamos vivendo. Viver em sociedade é um saber viver, uma palavra dita impensadamente
pode matar ou fazer viver. Por isso pense antes de falar, e se não tiver nada que dizer, cale-se.
No mais, faça as suas orações pelos que estão sofrendo, se você não puder auxiliá-los com
bens matérias. Saber viver é saber conciliar as divergências que por acaso surjam na nossa
existência, eis o segredo que eu queria desvendar.

___________________________
*Ensaísta, contista e poeta. Membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.
Reside em Moeda/MG.

72
Justiça Eterna
Leandro Campos Alves*

O túmulo que me acolhe,


não é diferente daquele do rico,
nem inoportuno ao meu destino.

Ele é terra, peso, escuridão.


O abraço de um guardião,
a saudade que poucos terão.

Representa a passagem,
a vida eternizada.
Uma pequena viagem,
a última a ser por nós realizada.

Deixaremos riquezas,
levaremos nossas proezas.
Deixaremos lembranças,
e levaremos a Deus nossa sentença.

____________________________
Escritor e poeta, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em
Caxambu/MG.

73
Amor: um sentimento que
desconhece fronteiras
Silvio Parise*

Tenho observado em minhas andanças


por esse mundo eclético
vasto, fértil e verdadeiramente belo
que o Amor é um sentimento
que desconhece fronteiras
pois, constantemente vejo
seres de países totalmente diferentes
apaixonarem-se e livremente se amarem,
apesar do idioma que sabem
ser completamente diferente
contanto, realmente distinto.
Portanto, está comprovado
que o Amor, de fato,
é um sentimento que desconhece fronteiras,
e quando, cautelosamente, analisado
então, chegamos à conclusão,
realmente é uma correta decisão.
Porque sabem que as fronteiras só dividem,
enquanto o Amor obviamente é livre,
além de trazer paz, felicidade e união.

__________________________
*Escritor e poeta, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside
nos Estados Unidos.

74
Bandono
Coracy Teixeira Bessa*

Chama. Longe, alguém responde. Não, quem esperava. Avança. O portão range. Ladra
o cão, bloqueando-lhe o acesso. Recua. Na rua nua, o asfalto escaldante esfumaça ao sol. Hesita.
Sussurra. O cão, em guarda. Surge uma mulher. Comanda: o cão foge. Alívio. Cumprimenta,
embaraçada. Ter-se-ia enganado de endereço? Não! É aqui. Sem escusas, arrisca:
Ricardo está?
Não mais...
Foge. “Não vou mais procurá-lo!”, decide. A mulher encolhe os ombros, fecha o
portão e adentra a casa. “É doida, coitada!”.
Ladeira íngreme, cansaço precoce. Suor, lágrimas, soluços. Tropeça. Banco de praça
vazio, sombra alvissareira de amendoeira. Relaxa. Recompõe-se. Suspira. Recorda.
Melhor que outros: terno, ouvinte, silente. Belo, talvez. Sincero, certamente —
olhos não mentem! Palavras, muitas vezes. Gestos, também. Encontros, toques, sorrisos,
encantamento. Logo a fez sentir-se mulher desejada, valorizada, afastando para as brumas do
esquecimento tormentos prévios. O mundo tornou-se azul. Os sentimentos, róseos. Desejos
encandeados de sol, com pinceladas rubras e alaranjadas. Ciúmes violáceos surgindo do
nada, em meio a tempestades bruscas. Mágoas esverdeadas maculando a alma. Cinzentos, os
ressentimentos tornaram-se angustiantes. Traição, súplicas, promessas. Perdão, enquanto não
percebera o desalento da repetição. Propósitos desfeitos, a mulher decidiu-se pelo abandono.
E o tormento recrudesceu: cobranças, ameaças, espionagem, a vida transformada em calvário.
Fuga, perseguição. Não encontrava pouso. Incerteza dos dias. Tensão, medo, paranoia.
Percorrera todos os caminhos e escalas do sofrer. Súbito, silêncio! Onde?! Com quem?!
Papéis invertidos, passou a buscá-lo. Em parte alguma, o encontro. Pistas vagas, desalento,
desencanto. Finalmente, um endereço. Falso. Melhor: fora verdadeiro, não o era mais. Onde
estaria? Angústia. Aflição...
Delírio? À sua frente, olhos incendiados de ódio, ricto amargo nos lábios, qual anjo
vingador o homem avança, evolve-lhe o pescoço com mãos febris e goza com o esgar e os
arquejos que abafam a voz, os gritos, o suspiro derradeiro de quem o amara tanto.
E o corpo flácido sobre o banco da praça é o ato final do abandono.

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*Médica, socióloga, escritora e poetisa, é membro correspondente da Academia de Letras de
Teófilo Otoni. Reside em Salvador/BA.
75
Sobre o amor
Isabel C S Vargas*

“Vivemos esperando o dia em que seremos melhores, melhores no amor, melhores


na dor, melhores em tudo”.
Jota Quest

Mesmo que estejamos vivendo no século XXI, que o avanço tecnológico seja uma
marca da época, o ser humano continua com muitos anseios tal qual o homem de século passado.
As angústias, as dores, dúvidas sobre si mesmo, sobre os relacionamentos ainda passam por
corações indecisos. Há uma busca por novos relacionamentos, numa tentativa de viver mais
feliz.
Segundo o psicanalista Flávio Gikovate o que muitos buscam hoje é um relacionamento
em moldes diferentes daqueles vividos no passado, no qual ocorria até um processo de
despersonalização, geralmente da mulher, onde um ser sente-se incompleto e vai em busca da
outra metade que o complete. Este ser não vive por si só. Precisa de outro que lhe dê sentido.
Ocorre um processo de enquadramento no projeto masculino, no qual a mulher, muitas vezes
perde sua identidade.
Não existe aquele desejo desenfreado de ter alguém para sentir-se alguém, pois as
pessoas aprenderam a viver mais consigo mesma, respeitando-se mais, por isto pensam em
dividir com o parceiro a sua vida. O fundamental nas relações atuais é a parceria.
O fundamento da relação é outro. Não é mais a dependência. Ambos são seres
completos, mas que buscam junto um enriquecimento maior, na troca de vivências, de
sentimentos. É uma troca prazerosa e geradora de crescimento e fortalecimento da cumplicidade.
São como companheiros de viagem, nesta trajetória imprevisível que é a vida.
Esta aproximação é possível entre duas pessoas inteiras, dois seres únicos, valorizados,
pessoas que tem forte individualidade, o que não se confunde com egoísmo.
Neste tipo de relacionamento não existe dominação, nem concessões exageradas.
Cada um é ímpar, no seu modo de pensar, de agir, que serve para si mesmo e não para julgar,
avaliar ou enquadrar ninguém. Nem existe a necessidade de “criar” alguém para se enquadrar
num esquema que se ajuste ao do outro.
Neste tipo de amor que Gikovate chama de mais amor, coexistem duas pessoas
inteiras, onde há prazer na companhia, aconchego, respeito.
O homem muda o mundo e depois sente necessidade de mudar a si mesmo, para se
adaptar ao novo mundo, daí as mudanças nas relações.
Na medida em que a sociedade hoje não está formada dentro dos parâmetros de
antigamente, que a mulher em grande percentual não depende mais do homem financeiramente,
tem profissão, reconhecimento, desaparece aquela relação de necessidade e surge outra mais
espontânea que se caracteriza pelo desejo de estar junto, desejo de companhia de partilha
entre duas pessoas plenas, mais seguras, mais predispostas a dividir o que pode ser um fator
importante para obtenção de sucesso na relação.

____________________
*Escritora, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em
Pelotas/RS.
76
O supremo bem
Mauricio Antonio Veloso Duarte*

“Nutri com isso os Brilhantes, e que os Brilhantes vos nutram; assim nutrindo-se
uns aos outros, colhereis o Supremo Bem.” “Pois, nutridos pelo sacrifício, os Brilhantes vos
concederão as dádivas que desejais.” “É verdadeiramente um ladrão aquele que desfruta das
dádivas concedidas por Eles sem qualquer retribuição.”
Assim resume o Bhagavad Gita (Canção do Senhor) sobre os sacrifícios e sobre o
Supremo Bem que se alcança quando nos conectamos com o divino. Render glórias ao Ser
Supremo não é, como podem pensar alguns, uma chantagem com Deus. Se recebermos,
rezaremos, se rezarmos, receberemos. Não, nada disso. Ou, ao menos, não deveria ser. Na
verdade, quando assim fazemos, estamos retribuindo ao Universo a atenção dispensada.
Estamos retornando a Deus o que é Dele de direito: a glória.
O mais espiritualizado de todos os anarquistas, um dos maiores escritores de todos os
tempos, Leon Tolstói, colocou desse modo um pensamento sobre o amor, em seu livro Guerra
e Paz: “Aproveite os momentos de felicidade, amar e de ser amado! Essa é a única realidade no
mundo, tudo mais é uma loucura. É a única coisa que nos interessa aqui.”
Se isso é verdade ao falarmos de nós, seres humanos, porque não seria quando
falamos do divino? Algumas religiões pregam que Deus é impessoal e sem forma, além de
incognoscível. Isso pode ser assim para muitos e eu mesmo já partilhei dessa concepção durante
certo tempo. Mas ser grato à natureza, ao Universo que nos circunda e nos sustenta todo dia –
ou você acha que o Estado não está regulando direitinho a sua quantidade de oxigênio diária?
Não, ainda não chegamos nesse nível de controle do status quo! Ainda! - é saudável tanto para
um cristão quanto para um budista ou qualquer outra pessoa de qualquer fé ou crença.
Afinal, transcender o eu pessoal – o ego, como se diz – e sintonizar-se com o Ser
Supremo é justamente estar vazio para que essa Força Misteriosa possa entrar em nossa casa,
nosso corpo, nosso Templo do Espírito Santo. A partir daí, o Supremo Bem se torna nosso norte
naturalmente, sem superficialidades, sem artificialidades e sem falsidades.
O Supremo Bem só ocorre quando nossa vontade é una com a vontade do Universo.
Sendo que uma e outra se coadunam e se interpenetram num mesmo feixe de energia vibratória.
Somos, desse modo, sensibilizados para ir ao encontro de realidades superiores ao entendimento
de nossa mente e cérebro, mas acessíveis ao compasso do bater de nossos corações, ao
experimentar das nossas almas e ao amor divino. Paz e luz.

Referências bibliográficas:
A Essência do Bhagavad Gita . Explicado por Paramhansa Yogananda . Evocado por seu discípulo Swami
Kriyananda . Tradução de Gilson César Cardoso de Sousa. Editora Pensamento. São Paulo. 2007
Três Portais para a Meditação. As práticas no Sufismo, no Budismo e no Judaísmo. David A. Cooper.
Tradução de Johann Heyss. Rio de Janeiro. 2006

________________________
*Artista visual, ilustrador, escritor e poeta, pós-graduado em docência do ensino superior, é
membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em São Gonçalo/RJ.

77
Reles sonhador
Jorge Alberto Miranda Junior*

Ah o Amor, esse perfume que se espalha


Que inebria todos os cantos da minha sala
Amor que abre as asas da imaginação
E enriquece o nosso terno coração

Amor é o que torna equilibrada a razão


Para alguns se torna maldição
Mais para um poeta e para um cantor
Poesia se torna mais uma forma de espalhar emoção

São cinco letras, que estão presentes no esplendor


Na explosão furiosa da paixão de um olhar enfeitiçador
O amor se espalha do meu coração
Para aplacar por alguns instantes a sua dor

Porque é dessa forma que suaviza a vida


Mexe com todo nosso corpo
Ah o Amor, um ponto de exclamação
Esperança, ou teimosia de um reles sonhador

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*Escritor e poeta, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside
em Salvador/BA.
78
Sobre um poema de Drummond
Llewellyn Davies Antonio Medina*

A mim também Ele me deu esse amor experimentado


áspero e rugoso couraça impenetrável de jabuti
suave e mágico roçar da brisa na relva matinal

esse amor me faz desejar o úbere da terra maternal


que minha última seja a lembrança dele
se de mim for levado esse anseio de amor perene
nada restará e tudo aquilo que sou nunca fui

esse amor no tempo de maduro desesperançado


cultivado com ardiloso engenho donaire sutil
olhar enfeitiçado sorriso alegrado
para que os dias frios e sombrios que se adivinham
avizinhem-se sem borrasca
pois são certos e hão de vir

parece contrariar a natureza das coisas


essa tepidez outonal que me enleva docemente
faz renascer sentidos que cria não mais sentidos
aquelas lendas que os antigos costumam guardar

esse amor de anos tardios Deus me deu


quando impôs Sua mão sobre mim
e tornou encantado o tempo
e agoniza meu respirar

esse amor sereno e constante


nesses meus dias de esquecimento
que esse amor de outono me aqueça
o inverno chega certo
e não é certo que amanheça.

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*Magistrado aposentado, escritor e poeta. É membro correspondente da Academia de Letras de
Teófilo Otoni, titular da cadeira 2.
79
Amor, perfume que se espalha!
Marcelo de Oliveira Souza*

Nos dias de hoje, a situação está difícil para todo mundo, cada um centrado em seus
problemas, onde esquece que a nossa sociedade é uma extensão de nós mesmos.
Como aqui na Terra ninguém é perfeito, estamos nos trabalhando para aprimorarmos a
nossa alma e nos desenvolvermos como pessoa, temos que estar atentos e responder com sobriedade
a todas as vicissitudes pela qual passamos, cada dia é uma lição de vida, um aprendizado, nessa
Escola temos que trabalhar muito a compreensão, a solidariedade, sabendo-se que não é fácil
desenvolver esses pensamentos diante de outras pessoas que tem mais problemas que você,
contudo, precisamos disseminar o amor, da melhor forma possível, a competição existe em cada
esquina da nossa sociedade, onde necessitamos competir pela nossa subsistência, aceitando o
outro, principalmente os que nos rodeia, com mais compreensão e carinho.
Muitas vezes vivemos num prédio ou numa rua onde nunca cumprimentamos o nosso
vizinho, são muitos anos, no entanto temos como nossos amigos virtuais os melhores, perdendo
a chance de conviver e interagir com pessoas no mundo real.
O medo do outro nos tornou assim, pois o virtual, parece que não existe e se aparecer
um problema é facilmente deletado da sua agenda, enquanto o nosso vizinho do mundo real
não pode ser apagado.
Assim estamos transformando a nossa conduta de egoísta, para introspectivos e
antissociais, esquecendo que a linguagem do amor é a única, vamos tentar aceitar os outros
como são, derramando amor e energia positiva, dando o primeiro passo, amar não custa caro,
amar é o maior presente que Deus nos deu, resta-nos agora multiplicar.

__________________________________
*Escritor, poeta, membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni e do IWA.
Reside em Salvador/BA.
80
A eterna mesmice do amor
Luciene Barros Lima*

O amor invadiu o templo sagrado,


onde gotas de orvalho caem na mais infinita pureza do ser.
Invadiu?
Invadiu...
Sem que pedisse
e devassou sentidos, rompeu com fibras,
mexeu com pele e coração, mente e corpo.
Estremeceu a alma e beijou com gosto de sangue na boca pálida,
ávida de comer.
Bebeu champanhe, comeu caviar,
fumou um cigarro e pediu a conta.
Se debruçou na janela do coração
e escancarou um breve adeus.
E, quando não havia mais nada a fazer,
esgotou a esperança.
E, no mais puro sorriso de criança,
me convidou a amar outra vez.

____________________________
*Arte educadora, artista plástica e poetisa. É membro correspondente da Academia de Letras de
Teófilo Otoni. Reside em Salvado/BA
81
Amor Vincit Omnia
Fernando Catelan*

Os judeus contemporâneos de Jesus, particularmente aqueles pertencentes à casta dos


fariseus e à casta dos saduceus, pregavam ferrenhamente nas sinagogas o judaísmo, importante
religião que até os dias de hoje defende como doutrina de fiel obediência o decálogo, também
conhecido como “os dez mandamentos”.
Reza a tradição do velho testamento que Moisés, profeta e legislador bíblico líder da
libertação do povo hebreu do jugo da escravidão no Egito, já em Canaã, desde muito antevista
como a terra prometida, teria recebido diretamente de Deus Suas leis por Ele grafadas em duas
pranchas de pedra, peças da “Arca da Aliança”.
Na ótica cristã, se disseminou, sobretudo entre os espiritualistas, gnósticos e
esotéricos, o conhecimento da máxima deixada por Cristo quando indagado quanto a ela por
aqueles à espreita de uma chance de exercer a condenação do Divino Mestre por violação
à rígida lei mosaica perante os doutores da lei, ou rabis, do sinédrio. Perguntado por seus
perseguidores qual seria, segundo aquele que viria a se tornar a expressão máxima do nascente
cristianismo, o mandamento maior, Jesus sintetizou no “amar a Deus sobre todas as coisas e ao
teu próximo como a ti mesmo” a síntese cristã, sustentáculo de toda a filosofia e norma de fé
que os evangelhos, ou “boas novas” viriam trazer como parte do tributo deixado à humanidade
por apóstolos do Homem de Nazaré.
Diante do “amar a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo”,
somos colocados frente a frente com a clara perspectiva da eternidade do espírito humano e
de tão árduo desafio implícito na lei maior, segundo Cristo, somos obrigados a nos curvar às
codificações rencarnacionistas apresentando à compreensão humana a verdade da dinâmica
de vida de nossas almas, seja enquanto sucessivamente encarnadas ou existindo ativamente,
mesmo que despojadas de um corpo físico, no mundo maior, também chamado de plano
espiritual.
Por quê nos amarmos e amarmos ao próximo como a nos mesmos é uma conquista à
qual ninguém em absoluto chegou ou jamais chegará? A resposta está na perene imperfeição
que nos distingue, e isto porque o único inimigo que efetivamente temos e com o qual nos
engalfinhamos incessantemente reside em nós mesmos e ao qual também podemos mais
acertadamente nos referir como nosso “lado sombra”. De fato, nós homens, encarnados ou não,
trazemos em nossa bagagem anímica uma constante luta contra nossos defeitos, o maior deles
o egocentrismo e o mais grave, raiz de todos os males, o orgulho. Assim, cultivar idolatrias
não nos convém, dado o fato de, humanamente se conceituando, jamais efetivamente alguém
atingiu ou atingirá a perfeição plena.
Curiosamente, a despeito das máculas que são próprias de todo e qualquer espírito,
temos o intelecto e a sensibilidade patentes e a nosso favor. Assim, ainda que incorramos
perpetuamente nos erros, não raro renitentes, materialmente falando somos capazes de
realizações ou obras perfeitas, assim até mesmo a criatura mais presentificada no mal
invariavelmente e inequivocamente sempre se verá, por força das circunstâncias, impelida a
contribuir com seu quinhão de esforço e sacrifício em prol da evolução do Universo.
Mister se faz dizer que tivemos e temos, como também nunca faltarão às gerações
vindouras, grandes ícones que se empenharam em trazer luz à escuridão, esta simbolizando a
ignorância que é nossa sina permanente. O príncipe hindu Sidarta, que passou à história com a

82
alcunha de Buda, revela em seus três postulados clássicos, fundamentos do budismo, que tudo é
dor, a dor nasce do desejo (de não sentirmos dor?) e a dor se extingue com a extinção do desejo.
Ora, quem não sofreu, sofre ou sofrerá pelo sempre, vivendo deste modo a contínua busca pelo
alento dentro do princípio da autodescoberta válida, porém, nunca completa? Platão, em seu
raciocínio comparado, equivale nossa essência à natureza, desnudando nossa origem animal
que nos trai e persegue já que reporta ao instinto de sobrevivência ou conservação sempre forte
no ser humano e que nos leva, em nome de nossos interesses, premências e conveniências, a nos
sobrepujarmos aos espaços conquistados pelo próximo.
Renato Russo, líder da banda Legião Urbana e precocemente falecido, traz na letra da
inspirada canção “Monte Castelo” um misto das definições de amor deixadas por São Paulo em
uma de suas epístolas aos coríntios reforçadas pela expressão lírica do sentimento objeto deste
despretensioso ensaio vinda à luz na “pérola do Lácio” em um dos mais belos e difundidos
poemas de toda a literatura da safra do bardo português Luís Vaz de Camões.
A obra musical à qual aludo nos situa como incessantes aprendizes do amar, mas o
poeta romano Virgílio, autor do célebre poema épico “Eneida” e que viveu no século I a.C não
nos desencoraja a perseguir tão nobre sentimento. O vate citado deixou à posteridade como seu
maior jargão o pensamento em latim “Amor Vincit Omnia” (em tradução livre, “O amor tudo
suporta”)
Felizes somos nós que integramos a Alto, já que em seu dístico se pode ler a sábia
expressão de Virgílio e a referida academia com efeito nos propõe incessantemente ensejos ao
exercício, ainda que esbarrando em nossas limitações, do amor, já que nós, membros, temos
em comum a obstinação desinteressada pela prática da caridade através da difusão altruísta da
palavra que apruma a moral e os costumes mais sobranceiros.

_________________
*Engenheiro mecânico, empresário, poeta e escritor, membro correspondente da Academia de
Letras de Teófilo Otoni e do IWA. Reside em Mogi das Cruzes/SP.

83
As manifestações do amor
Francisco Martins Silva*

Em cada sentimento que brota do coração


Cheiro de bondade e pureza irradiando emoção,
Ele surge manifesto no olhar de uma mãe;
No sorriso de um irmão;
No abraço fraterno entre amigos;
Na acolhida e nos gestos de inclusão;
Naquele ato de perdão tão significativo que destrói o ódio e o mal extinguindo-os
dos corações;
Nas orações elevadas por todos aqueles que desejam paz e união;
Nos ombros de quem os oferecem o consolo àqueles que sofrem por alguma
desilusão;
Por todas as formas, meios e situações que se manifestam bondades, é o amor a se
expressar fazendo da vida a maior das graças recebidas e nos ensinando a mais
sublime das lições.

______________________________
*Professor, escritor e poeta, reside em Uruçuí/PI, é membro correspondente da Academia de
Letras de Teófilo Otoni.
84
A pedra “não” estava no caminho
Evandro Ferreira Rodrigues*

Encontrei carinho num sorriso aberto


Parece longe, mas está por perto
Com olhos brilhantes e sorrisos impactantes
Como uma “brusca” queda d´água quem nasce no mais alto monte
Declina “violentamente” numa grande pedra
Amortece e forma uma piscina no mais lindo amanhecer nos ensina
Que podemos sentir a felicidade embaixo ou em cima
No remanso das águas que já tranquilizaram
Bastou “bater” e “encostar” nessa especial “pedra”
Que não estava no caminho e nem no caminho estava
Ela abriu passagem “sem” sair do lugar
“Tangenciamos” urdidamente seu lisos lodos
Onde peixinhos coloridos se alimentam e reproduzem
Contemplando nosso amor se espalhando nessas águas gélidas
Com gosto “doce” e “cor” incolor”
No meu abraço, sinto o perfume do seu pescoço
E me perco em seu olor. “Amor, perfume que espalha”
Formando um “embrasamento” debaixo dessas águas frias
Cachoeira que não dá trégua nem de noite e nem de dia
Não para de “cair”, nem de “escorrer” numa disciplinada “queda”
Para contemplar nossa alegria numa gostosa mordida
Que não se usa dente e nem causa ferida
Os peixes se espalham... se vão... e não nos atrapalham
Pois aquela pedra que abriu caminho
A fim de que nossos corpos se encaixassem nessa reentrância
Criada de forma natural, desenhada e bem encaixada
Para vivermos o amor de um “casal”
Um momento de “núpcias” ao ar livre e mais natural
Rodeado de serras, árvores, papagaios, águas e num clima angelical
Onde bocas se unem, lábios se mordem, mãos se tocam
Dedos que “dedilham” corpos como se fosse um “violão”
Dão as notas mais lindas nessa sinfonia “não” orquestrada
Diferentes de “dó” sem pena, “Ré” com fé, Mi que “mi” abraça
“Fa” ça como desejar amar, “Sol” entrando o mais lindo romance
“Lá” perto daquela pedra, “Si” querendo a cada instante
Com a melodia nunca cantada antes, mas orquestrada por dois “anjos alados”
Que pedem para não terminar jamais essa música
E assim vamos e voltamos em paz, sem ter passado para o segundo refrão
Mas com a gostosura da qualidade será bem cantada
Por dois seres de verdade e encantados... enamorados...
Na próxima primavera ao encontrarem na mesma pedra que não estava no caminho
E que jorra águas límpidas sobre nossos corpos esfumaçantes... ebulição...
percebemos que o “amor é perfume que espalha” aos corações...
______________________
*Professor, especialista em matemática financeira, estatística e gestão escolar. É membro
correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Reside em Crato/CE

85
Por que escrevo

Anomalias há em muitas vidas,


sem que, lhes vendo as formas doloridas,
possamos desvendar os seus segredos.

E como tantas que explicar não ouso,


vive em meu peito um monstro luminoso
que chora pelas pontas de meus dedos!

Classificação: crônicas e poesias

86
Eterno
Rossana Monteiro
Aracaju/SE
1º lugar

Olhar o mar é contemplar a eternidade


Sentir na alma a nossa efemeridade
Mergulho no seu mundo de silêncios
Aqui a luz tem sua escuridão própria
Solidão em liquidez...
Acalma a dor de não conseguir parir uma saudade
De uma ausência tão presente
Onde você está...
Quando pouso meus olhos na tua lembrança
É como se fosse uma imaginação
Então olho para a superfície
Preciso aprender a respirar em águas rasas
Seguir o fluxo da maré desse mundo tão avesso de sentido...
Onde você está...
Que o meu pensamento ancore no teu porto de paz
E nas ondas do universo um dia voltaremos a ser apenas...
Poesia!

87
Sou autora da minha felicidade
Rosimeire Leal da Motta Pireda
Vila Velha/ES
2º lugar

Meu quarto, é o aconchego da minha existência


Deitada, vejo as paredes: brancas, vazias.
Imaginava que havia um mundo além do meu dormitório!
Os ideais revelam os anseios interiores1
O ato de dormir é pacífico.
Mas, perder o sono e chorar é autodestruição!
Certa vez, acordei no meio da noite.
A artista da vida que há em mim,
Colocou ao meu reder latas de tintas coloridas
e um pincel em minhas mãos.
Subi em um banquinho:
decidida a alcançar toda a extensão.
Do cofre do meu coração saíram ideias:
Amordaçadas desde que nasci!
Como um maestro que rege uma sinfonia,
Conduzi as tintas harmoniosamente nas divisórias do meu eu.
Rapidamente, transformei meus projetos que eram abstratos,
em imagens concretas.
Descartei a insegurança e entrei na estrada que delineei.
Amanheceu.
Percebi que minha alma sorria;
Determinação brilhava em meus olhos!
Nos quadros do meu dia-a-dia,
passei a pintar meus sonhos.
E, de repente,
compreendi que sou autora da minha felicidade.

88
Ilusão
Celso Gonzaga Porto
Cachoeirinha/RS
3º lugar

Sou ébrio nas madrugadas


A descantar as mazelas
De mariposas nas calçadas
Morrendo de amor por elas.

Não quero crer na verdade


Que são teatinas sem dono
Que fantasiam a saudade
Depois de uma noite de sono.

Sou o bobo da noite aberta


Que sente na rua deserta
O lamento do que sobrou.

Depois de toda a lambança


Só restou a tênue herança
De uma noite que passou.

89
A festa do abecê
Sérgio Rodrigues Piranguense
Contagem/MG
1º lugar

Em 1º de janeiro de 2009 a ortografia organizou a festa da reforma, que marcou


a despedida do TREMA. Convites postados nas redes sociais cativaram as celebridades
estrangeiras CÁ, DÁBLIO e ÍPSILON vistas inclusas em meio à presença maciça de convidados
nacionais. O salão Nova Gramática estava cheinho. Maiúsculas, minúsculas, impressas,
manuscritas, cursivas. Eruditas e populares.
Seguranças alertados permaneceram de sobreaviso para evitar que a presença do
Hífen causasse quaisquer confusões. Intolerância ao erro foi o lema do planejamento.
Homenageado, o Trema arrancou aplausos efusivos ao entregar uma placa de platina
à Prosódia onde estava gravada “A Ortografia não tem rei, mas, douta, preza a Regência”.
A letra PÊ realizou um inesquecível show de abertura. Talentosa, imitou a letra bê, a
letra quê e a letra dê com acrobacias de tirar o fôlego. Em noite de autógrafos o trio sertanejo
Homônimo, Homógrafo e Homófono lançou seu novo CD “Dúvidas no ar”. O Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa procurou ser objetivo no discurso de orientação das Novas
Regras do Alfabeto.
O confortável ambiente foi equipado com sistema de refrigeração para evitar situações
constrangedoras quando as letras começassem a suar. No jogo da conjugação elas esbanjaram
criatividade para vencer sua aparente inércia natural – cantaram, dançaram, pularam, vibraram
numa alegria divina nas formas verbais infinitivas, particípias e gerundiais. Oxítonas,
Paroxítonas, Proparoxítonas, Ditongos Abertos, Hiatos com acento cativo, se entregaram de
corpo e alma ao balanço contagiante do folguedo de comemorações.
Evento jubiloso, rico em versatilidade, deixou Dígrafos mudos de satisfação.
Depois do terceiro ou quarto copo de água tônica nacional com água tónica portuguesa,
a letra AGÁ soluçava inconformada: Agá se grafa sem H, tem graça?
O Pai de Todos não conseguia disfarçar seu contentamento. A família do ABECEDÁRIO
era exemplo de fidelidade para muitos casais. Na verdade, esse casamento nunca correu risco de
divórcio, no máximo, separação em sílabas.

A. FA. MÍ. LI. A. DO. Á – BÊ – CÊ

90
Os quitutes de Iaiá
Vânia Rodrigues Calmon
Vila Velha/ES
2º lugar

Às vezes, pode nascer um conflito entre o bom senso e a consciência. Acontece quando
a prática mais indicada se expõe, na sua intercorrência, à gravidade de fatores incontroláveis,
apesar de quase sempre previsíveis. Aquela tarde foi o que vi. Vi Paulo Enzo aproximando-
se do leito de minha mãe e todos viram. Ela abriu os bracinhos carregando a fiação de soro,
sondas, cateteres, levantando ainda o tronco para abraçar o neto querido emocionada. Ele lhe
trouxera presentes, mas ia aguardar melhor momento. Aquele era solene, e ele orou. Instante de
silêncio. Só se ouvia a voz pausada e grave que agradecia mais aquele milagre.
A fila crescia na porta do 418. Um por um, netos, filhos, irmãos iam dando a mão a
Amely com aquele seu mais lindo sorriso de ressurreta, de consciência e lucidez de estar viva.
Já havia, pela manhã, se despedido não sem antes agradecer a cada um de seus filhos - deixados
recados para os ausentes, a cuidadores e enfermeiros; tamanha dor sentia e tamanha fraqueza.
“Agora é e é mesmo hora. Não vejo outro jeito...”
No entanto, a vida pinga e Amely sorve profundo. Ainda sob os efeitos da anestesia do
recente cateterismo, já se dava conta de que o mal de mais cedo havia se fragmentado tanto que
desintegrara... Ouvira de sua neta enfermeira, debruçada sobre a maca, desfiando o resultado
e arrematando simples que coração não era. Não se apurara a causa da dor nem cabia pesquisa
para o que então já não era. O certo é que iam tirar o cateter. E antes disso... bem antes disso, eu
havia chegado com minha família, estávamos todos na portaria do hospital proibidos de entrar.
Subira gente sem conta - lotes de filhos, irmãos, netos. Só a predileta estava com ela e passava
as notícias. Os outros todos se espalhavam em algazarra imprópria ao lugar - o corredor em
frente ao 418 lotado até o banheiro. Impróprio o falatório de menus que divulgavam para o
jantar de logo mais, o almoço e o jantar do dia seguinte e do domingo. Iam estar todos juntos
e as notícias demoravam a chegar. Quando assim houve... O que estava, estava. Estava já a
diligência de lista de feira, de supermercado, de mercado, de açougue e de bar encomendada
diligentemente.
Entrementes, a minha consciência acusava-me de ter passado, na véspera, na casa
do meu filho, a meio caminho de Teófilo Otoni e Vila Velha. Fora entregar o presente da nora,
beijar o neto, seguir viagem. Veio o choro do filho de pensei-que-ficaria-até-sábado, e o acerto
para somente até amanhã. Amanhã quaravam as notícias desde muito cedo. “Estava mal,
estava indo embora, chamava todos os filhos”. Aquele difícil e definitivo exame seria às quinze
horas. A estrada espichava curvas enfiadas umas nas outras. Vinha engolindo e regurgitando
a consciência de nunca chegar, até ver despontar, lá embaixo, o cenho de fugidia fortificação.
A linha curva de serras, umas enfiadas nas outras, camuflavam de novo a cidade. Já chegava.
Agora, aquela porta de hospital intransponível até a alternativa de seguir para a hemodinâmica.
Todos aguardando na antessala, até pouco antes. Agora, não havia ninguém ali. O exame fora
antecipado. Subiram para aguardar no 418 e imediações. Não dera tempo de vê-la antes. Do
conflito entre o bom senso e a consciência, o aperto no peito. Se não a visse mais... Abre-
se uma porta. Poderia vê-la? Não pode, pode, pode sim. Entrei. Meio acordada segurava a
mão da prediletíssima por honra, mérito, dedicação, carinho, amor da desmedida humana para
explicar. Só existe. Uma olhando para a outra, vi. Apanhei a mão de minha Amely. Ela virou

91
os olhinhos. Sorria suave. “– Te incomodando, não é filha?” “Não, querida. Vim pelo dia das
mães”. Acredita e fica aliviada. Maior carinho comigo.
- Tirar cateter, por favor!
Saímos dali para o 418 onde corria o alvoroço que transbordava para o corredor. Olhei
aturdida e aliviada. Vim e vi em tempo. Poucas horas e ela ia subir. Arrefeceram-se os arrulhos
ao anúncio de esvaziar o quarto e abrir passagem no corredor para a maca. Ia acontecer a entrada
de Amely que ainda grogue da anestesia vira a fila que se encaracolava no corredor. O primeiro,
Paulo Enzo e aqueles bracinhos abertos acolhendo o neto: a contrita oração. Desfilavam um por
um os outros, sem pressa. Amely agradecia e dizia mais alguma coisa para cada um. Não dava
para ouvir, então me aproximei pela lateral, desculpa de arranjar-lhe as cobertas. Pouco antes do
beijo e dos olhinhos brilhantes fecharem o sorriso, firmando seus olhos pequenos nos da visita
dizia, segurando-lhes as mãos: Iaiá está esperando todos vocês para o jantar em sua casa hoje,
sem falta! Ah! Então era isso.
Mais tarde dormia. Chegou tardiamente aquele neto com sua esposa. Conversa vai,
conversa vem e eles já se iam. Antes, apanha a mão da avó que abre os olhinhos. “Vó! Ei Vó!
Vó, a Bruninha veio te ver. É, tá mesmo grogue”. Apanha o celular e chega aos ouvidos da avó
“Violão”, de Nelson Gonçalves. Ela abre o sorriso e balbucia: “companheiro dileto...” Hora de
seresta. Canta junto, sorri, rege com as mãos os acordes.
- As fraldas!
“Vó vamos indo, viu? As fraldas, né?” O neto abaixa para o beijo. E Amely pergunta
se eles perderam. “O que, Vó?”. E ela, “os quitutes de Iaiá, meu filho”. “Estamos vindo de lá...
A senhora perdeu, vó...”
Amely sorri, daquele seu jeito peculiar de vitória: pelo canto da boca, cenho
levantado...

92
A vida passa por aqui
Amalri Nascimento
Rio de Janeiro/RJ
3º lugar

Sábado. Véspera das mães. O meio dia esgueirava-se pelas frestas. Não conseguia
encontrar motivos para arrancar os lençóis. Consciente, sabia ser preciso levantar antes que fosse
tomado pela culpa de um dia perdido, sensação que sempre me toma, quando saio da cama e o
dia já vai alto.
Ato contínuo, tateei o criado-mudo até encontrar o celular. Enquanto acessava as últimas
mensagens das redes sociais, bocejava resquícios de sono. Atualizei-me e apaguei as saudações
de bons dias dos grupos, compartilhados mecanicamente pela maioria das pessoas. Não é sempre
que sinto vontade ou vejo necessidade de respondê-las. Estiquei o corpo em espreguiçamentos
demorados e levantei pensando numa xícara de café com leite e canela. O café é hábito comum;
quem não gosta de um gole quente logo de manhã? Mas andei lendo, outro dia, sobre os benefícios
da canela em pó, desde então passei a fazer uso da mistura.
Desperto, ainda deitado, elevei as orações costumeiras. Levantei e, mesmo em aparente
apatia, passei a me concentrar nos afazeres cotidianos. Lembrei que combinara para, logo mais à
noite, ir ao teatro com alguns amigos. Sabia tratar-se de uma comédia dramática, só não esperava
que fosse tão tocante, a ponto de sentir emoções pretéritas revolvidas. Apenas dois atores em cena,
o que fazia meu senso crítico suscitar pouca fé na peça; sem que um servisse de esteio ao outro,
ambos teriam de dominar a arte de atuar se quisessem segurar o público.
(...)
No hall do teatro o clima era de reencontros. Farfalhavam cumprimentos carregados de
beijinhos, apertos de mãos e abraços acalorados. Os aromas da cafeteria instigavam bons papos
entre os grupos que se formavam, enquanto aguardavam o soar do primeiro sinal.
O alarme encheu o ambiente. A plateia tomou os seus lugares e cinco e dez minutos
depois soaram o segundo e o terceiro. A luz foi reduzida e apenas a sensação da presença de dezenas
de espectadores, como espectros a envolver-nos com suas auras em expansão de expectativas, nos
fazia sentir acompanhado. Estaríamos, todos, experimentando dos mesmos sentimentos?
Os segundos que se seguiram foram de uníssonos ruídos de encostos e assentos de
cadeiras, seguidos de murmúrios e alguns pigarros.
Aos poucos, canhões de luz iluminaram o palco. A visão do cenário nos remetia para
algum lugar do passado. Impressionam-me como uma direção e atuações bem equilibradas
podem discorrer toda uma vida em menos de duas horas, nas mais intricadas nuances, elos de
amizade, histórias de amor e traições, conquistas e decepções e, por fim, o apaziguamento com
a consciência intrínseca humana; concluindo que a moralidade é o que se leva quando se parte
desta vida.
Fui transportado, assim como, acredito que todos também o tenham, para vivências
de há muito, as quais se alternavam a outras experiências mais recentes. As gargalhadas frouxas
que algumas interpretações nos despertavam, entremeavam-se à lágrimas furtivas, como quem
desejasse disfarçar emoções contidas. Ao fechar das cortinas, a sensação era de que a vida passou
por aqui; todavia, enquanto expectador desperto, pelas ovações demoradas de aplausos, do
arrebatamento a que fui provocado pelas significações do palco, consciente dos experimentos
recentes, a vida continuava a passar numa sequência de cenas que se materializavam na ebulição
dos pensamentos que me assaltavam. De volta a casa, todo o trajeto foi de mesclas sentimentais.

93
(...)
Queria abraçar quem nunca me esquece. Quando a vida que já estava por um fio,
enfim se despediu, guardei a saudade na esperança de que o tempo faria a sua parte e, um dia,
doces lembranças ocupariam o seu lugar. Quando o amor que eu julgava ser meu foi embora, o
meu, tranquei dentro de mim, na certeza de que continuaria vivo para outras histórias. Algumas
despedidas que me foram impostas, num primeiro momento tentei segurar, impedir que não se
fosse; depois percebi que nada dura para sempre. Algumas despedidas que impus, foram-me
desgostosas, mas seguidas pela razão da minha consciência. Ainda ouço sons guturais querendo
pronunciar algo; ainda ouço palavras, minhas inclusive, que poderiam não ter sido pronunciadas;
ainda sinto olhares lânguidos à minha direção. Por vezes lamento, nalguns momentos choro,
noutros me fortaleço ao perceber que a vida passa por aqui e, um dia, tudo passará a outro
plano e restará a consciência que não muda. Talvez haja reencontros.

94
Academia de Letras de Teófilo Otoni:
Histórico, patronos e quadro social

95
Academia de Letras de Teófilo Otoni
Resgatando a arte literária na cidade

Fundada oficialmente em 20 de dezembro de 2002, a Academia de Letras de Teófilo


Otoni é composta por 30 membros titulares e efetivos, sendo que cada cadeira é desginada
numericamente e tem um patrono imutável em homenagem a personalidades que tenham se
notabilizado nas letras, nas ciências, nas artes, na política, na educação e/ou na imprensa.
Conta ainda com um quadro social de membros honorários, beneméritos, convidados de
honra e membros correspondentes. A entidade tem por objetivos: congregar pessoas que se
dediquem às atividades literárias e artísticas nas mais diversas formas de expressão, realizar
estudos e pesquisas na área da literatura local e regional, promover e incentivar a cultura
através da realização de conferências, exposições, concursos, cursos e outras atividades de
natureza cultural, propagar o culto, o estudo e a exaltação e a divulgação da vida e da obra de
personagens históricos e figuras literárias que ajudaram a construir a grandeza do município e
da região. Também objetiva coletar, pesquisar, elaborar e divulgar estudos e informações de
cunho cultural, relacionados aos interesses da entidade, e, por fim, promover o aprimoramento
da língua pátria nos seus aspectos científico, histórico e artístico.
A ALTO realiza em dezembro de cada ano a tradicional Noite do Café-com-Letras,
com recital, lançamentos literários e o lançamento da revista Café-com-Letras, com os trabalhos
dos acadêmicos e de convidados especiais, promovendo a entrega de premiações especiais.
Mantém a Biblioteca Dª Didinha, espaço para a difusão da cultura e incentivo ao hábito da
leitura junto à comunidade, e o Núcleo de Documentação de Literatura Isaura Caminhas
Fasciani – destinado ao resgate, à guarda e à conservação de livros, documentos (manuscritos
e iconográficos) e demais objetos de valor histórico-cultural com referência à literatura no
município de Teófilo Otoni e região do Vale do Mucuri.
Em parceria com a União Estudantil de Teófilo Otoni, realiza atividades de estímulo
à leitura e à escrita por meio da realização anual do Prêmio Literário Jovem Escritor: Troféu
Cultural Profº Fábio Pereira, que é destinado aos alunos na faixa etária dos 14 aos 29 anos –
matriculados na educação básica e superior.
Outorga em anos alternados o Prêmio Academia de Letras de Teófilo Otoni: Troféu
Isaura Caminhas Fasciani, com o objetivo de reconhecer iniciativas de pessoas físicas e
jurídicas na área literocultural, quer como promotores, incentivadores ou agentes de produção
do conhecimento.
Outrossim, concede a cada ano A Medalha de Mérito Cultural Dª Didinha, sendo
destinado a homenagear pessoas físicas e jurídicas que tenham se destacado na criação e na
promoção literocultural por meio de atividades literárias, culturais, artísticas, religiosas e de
pesquisas em favor do desenvolvimento da pessoa humana e da sociedade teófilo-otonense ou
pelo estabelecimento de políticas e projetos para o desenvolvimento da educação, do ensino e
do civismo nesse município e na região do Vale do Mucuri.
A Academia de Letras de Teófilo Otoni também realiza anualmente o Prêmio
Literário Gonzaga de Carvalho, o qual é realizado nas categorias poesia e crônica. De temática
livre, a premiação é especificamente destinada aos membros correspondentes. A cada dois
anos, distribui Cestas Literárias, que são um pequeno acervo bibliográfico para formação
inicial de espaços de leituras junto a entidades sociais, educacionais e culturais do município
e região. Promove, bimestralmente, o projeto Voar com as letras, utilizando-se do Espaço
Cultural Antonio Barbosa, na Praça Tiradentes, iniciativa que consiste em música, poesia e
arte; ocasião em que ocorrem lançamentos de livros, exposições de artes diversas, oficinas e

96
rodas de conversas sobre arte e cultura. Realiza, periodicamente, o projeto Sala de Leitura,
iniciativa em que um autor da cidade ou região, é apresentado ao público, com suas obras
e seu processo de criação literária. De mais a mais, outorga, em parceria com o Instituto
Histórico e Geográfico do Mucuri, a cada ano, a Medalha Conselheiro João da Matta Machado,
que tem como finalidade homenagear pessoas naturais com idade igual ou superior a 70 anos
que se tenham dedicado ao desenvolvimento cultural, econômico, social, desportivo, cívico,
educacional, científico e/ou religioso na cidade de Teófilo Otoni e região do Vale do Mucuri.
Reconhecida de utilidade pública municipal, por meio da Lei 5.188, de 02 de setembro de 2003,
e utilidade pública estadual, através da Lei 16.267, de 18 de julho de 2006.

97
Patronos
Cadeira: Patrono:
01 .................................................................... Pedro de Paula Ottoni
02 .................................................................... Ruy Homero de Oliveira Campos
03..................................................................... Lourenço Ottoni Porto
04 .................................................................... Olbiano Gomes de Mello
05 .................................................................... Paul Max Rothe
06 .................................................................... Pedro Antonio do Nascimento
07 .................................................................... Régulo da Cunha Peixoto
08 .................................................................... Reynaldo Ottoni Porto
09..................................................................... Augusto Pereira de Souza
10...................................................................... Adail Barbosa de Oliveira
11 .................................................................... Lourival Pechir
12..................................................................... Dom Quirino Adolfo Schmitz
13..................................................................... Joaquim Nunes
14..................................................................... Joaquim Alves Portugal
15..................................................................... Tristão Ferreira da Cunha
16..................................................................... José Alfredo de Oliveira Baracho
17 .................................................................... Nelson de Figueiredo
18..................................................................... Rubem Somerlate Tomich
19..................................................................... Dely Coelho Nogueira
20..................................................................... Darcy de Almeida
21..................................................................... Libório Zimmer
22..................................................................... Johann Leonard Hollerbach
23..................................................................... Petrônio Mendes de Souza
24..................................................................... Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto
25..................................................................... Ione Lewicki da Cunha Mello
26 .................................................................... Leônidas Alves Lorentz
27 .................................................................... Luiz Gonzaga de Carvalho
28..................................................................... Noé Rodrigues dos Santos
29..................................................................... João Salomé de Queiroga
30..................................................................... José Gonçalves Sollero

98
Patrono Oficial
Prof. Celso Ferreira da Cunha

Patronesse: Prêmio Academia de Letras


e do Núcleo de Documentação
Isaura Caminhas Fasciani

Patronesse: Biblioteca
e da Medalha de Mérito Cultural
Hilda Ottoni Porto Ramos – Dª Didinha

Patrono: Publicações Especiais


Albert Schirmer

Patrono: Convidados de Honra


Monsenhor Otaviano José de Magalhães

Patrono: Membros Correspondentes


Luiz de Almeida Cruz

Patrono: Membros Honorários


Serafim Ângelo da Silva Pereira

Patrono: Membros Beneméritos


Horácio Rodrigues Antunes

Patrono: Prêmio Jovem Escritor


Fábio Antonio da Silva Pereira

99
Quadro social
Membros Titulares
Amenaide Bandeira Rodrigues
Antonio Jorge de Lima Gomes
Elisa Augusta de Andrade Farina
Gecernir Colen
Hilda Ottoni Porto Ramos
Izabel Cristina Ribeiro de Carvalho
Jader Moreira Rafael
Jair Duarte Pêgo Junior
João Batista Vieira de Souza
José Carlos Pimenta
José Geraldo Silva
José Salvador Pereira Araújo
Leônidas Conceição Barroso
Leuson Francisco da Cruz
Lizia Maria Porto Ramos
Llewellyn Davies Antonio Medina
Márcio Barbosa dos Reis
Marcos Miguel da Silva
Maria Laura Pereira da Silva Couy
Marlene Campos Vieira
Neuza Ferreira Sena
Olegário Alfredo da Silva
Raquel Melo Urbano de Carvalho
Sandra Helena Barroso
Sérgio Abrahão Aspahan
Therezinha Melo Urbano de Carvalho
Wallace Gomes Moraes
Wilson Colares da Costa
Wilson Ribeiro

Convidados de Honra
Cilene da Cunha Pereira
Dom Aloísio Jorge Pena Vitral
Dulcina Regina Ribeiro Molina
Fany Moreira
Gelcyra Rodrigues dos Santos
Gilson de Castro Pires
Guiomar Sant’Anna Murta
Hilda Ottoni Porto Ramos
Iracema das Graças Ferreira
Íris Soriano Nunes Miglio
Isaura Caminhas Fasciani - In memoriam
Lais Ottoni Barbosa Ferreira - In memoriam

100
Luiz Gonzaga Soares Leal - In memoriam
Maria Eny Leal Fernandes da Silva
Maria Laura Pereira da Silva Couy
Neusa Guedes Carneiro
Nilmário Miranda
Suzana Maria Rêgo
Pedro Angelo Almeida Abreu

Membros Honorários
Cláudio Cezar Azevedo de Almeida Leitão
Gervásio Barbosa Horta
Humberto Luiz Salustiano Costa
Ivan Claret Marques Fonseca – In memoriam
Jeferson Botelho Pereira
Márcio Achtschin Santos
Marcos Cezar Magalhães Ganem
Nestor Coelho de Sant’Anna
Oldack de Miranda
Padre Lisa Geovanni Battista
Padre Piero Tibaldi
Sebastião José Lobo
Wilson Pires Neves

Membros Beneméritos
Antônio Costa Galvão
Arnaldo Gomes Pinto Júnior
Detsi Gazzinelli Jr.
Gilberto Ottoni Porto
João Carlos da Cunha Mello
Maria José Haueisen Freire - In memoriam
Theomar Sampaio Paraguassu

Membros Correspondentes
Adão Alves de Oliveira Filho – Uberlândia/MG
Adão Wons – Cotiporã/RS
Adevaldo Rodrigues de Souza – Belo Horizonte/MG
Adriano da Silva Ribeiro – Contagem/MG
Águida Pereira Martins Silva de Almeida – Caratinga/MG
Alberto Slomp – Araraquara/SP
Alcione Sortica – Porto Alegre/RS
Alda das Dores Alves Barbosa – Unaí/MG
Alexandra Vieira de Almeida – Rio de Janeiro/RJ
Alexandre Cezar da Silva – Ocara/CE
Alfredo Nogueira Ferreira – Florianópolis/SC
Almir Fernandes de Souza – Nanuque/MG
Altamir Freitas Braga – Rio de Janeiro/RJ
Ândrei Clauhs – Brasília/DF

101
Angélica Maria Villela Rebello Santos – Taubaté/SP
Angelo Pereira Campos – Belo Horizonte/MG
Antonia Aleixo Fernandes – São Paulo/SP
Antonio Dias Pereira Filho – Belo Horizonte/MG
Antônio Francisco Cândido – Congonhal/MG
Arahilda Gomes Alves – Uberaba/MG
Aristides Dornas Junior – Moeda/MG
Aristides Leo Pardo - União da Vitória/PR
Aurineide Alencar de Freitas de Oliveira – Dourados/MS
Benvinda da Conceição de Melo Lopo – Lisboa/Portugal
Bruno Resende Ramos – Teixeiras/MG
Camilo Antonio Lucas Silva – Caratinga/MG
Carlos Henrique Pereira Maia – Niterói/RJ
Carlos Lúcio Gontijo – Santo Antonio do Monte/MG
Carmelita Ribeiro Cunha Dantas - Aparecida de Goiás/GO
Carmem Lúcia Hussein – São Paulo/SP
Carmem Terezinha Rodrigues Moraes – Porto Alegre/RS
Cecília Maria Rodrigues de Souza – Manaus/AM
Celso Gonzaga Porto – Cachoeirinha/RS
Celso Henrique Fermino – São José do Rio Preto/SP
Charlene dos Santos França – Rio de Janeiro/RJ
Cícero Barbosa Teixeira – Inhapi/AL
Cláudio de Almeida – São Paulo/SP
Cláudio de Almeida Hermínio– Belo Horizonte/MG
Cláudio Rogério Trindade- Ijuí/RS
Clevane Pessoa de Araújo Lopes – Belo Horizonte/MG
Coracy Teixeira Bessa - Salvador/BA
Cosme Custódio da Silva – Salvador/BA
Daniel Antunes Júnior – Belo Horizonte/MG
Danielli Rodrigues – Paraná/PR
Darlan Alberto Tupinabá Araújo Padilha – São Paulo/SP
Débora Cristina Veneziano – São Paulo/SP
Décio de Moura Mallmith – Porto Alegre/RS
Dilercy Aragão Adler – São Luiz/MA
Edilson Nascimento Leão - Urandi/BA
Elba Gomes de Andrade – Paranaguá/PR
Eliane Silvestre da Costa – Brasília/DF
Elizabeth Abreu Caldeira Brito – Goiânia/GO
Elmo Notélio – Frei Inocêncio/MG
Eloisa Antunes Maciel – São Martinho da Serra/RS
Else Dorotéia Lopes – Nova Lima/MG
Emadilson de Jesus Santos – Itabuna/BA
Emanuela Rufino de Lima Melo – Recife/PE
Emerson Maciel Santos – Laranjeiras/SE
Erika Lourenço Jurandy – Rio de Janeiro/RJ
Eugênio Maria Gomes – Caratinga/MG
Evandro Ferreira Rodrigues – Caucaia/CE

102
Fábio Guilherme Vogel – Brasília/DF
Fátima Cristina Sampaio Luiz – Belo Horizonte/MG
Fernando Catelan – Mogi das Cruzes/SP
Fernando da Matta Machado – Rio de Janeiro/RJ
Flávia Assaife Campos Almeida – Rio de Janeiro/RJ
Flaviana Tavares Vieira – Diamantina/MG
Flávio Sátiro Fernandes – João Pessoa/PB
Francisco Alves Bezerra – São Bernardo do Campo/SP
Francisco de Assis Dantas – João Pessoa/PB
Francisco José da Silva – Bom Jesus do Galho/MG
Francisco Martins Silva – Uruçui/PI
Francisco Soriano de Souza Nunes – Rio de Janeiro/RJ
Geraldo de Castro Pereira – Vila Velha/MG
Geraldo José Sant’Anna – São José do Rio Preto/SP
Gessimar Gomes de Oliveira – Montes Claros/MG
Gilmar da Silva Cabral – Rio de Janeiro/RJ
Gilmar Ferraz da Silva – Teixeira de Freitas/BA
Gladston Passos Salles – Rio de Janeiro/RJ
Gleidston César Rodrigues Dias – Lagoa da Confusão/TO
Helena Selma Colen – Ladainha/MG
Helenice Maria Reis Rocha – Belo Horizonte/MG
Hélio Pedro Souza – Natal/RN
Hélio Pereira dos Santos – Pequi/MG
Iara de Oliveira Pereira – Passos/MG
Ieda Cunha Cavalheiro – Porto Alegre/RS
Igor Pereira Lopes - Rio de Janeiro/RSJ
Ilda Maria Costa Brasil – Porto Alegre/RS
Irineu Barone Costa – Belo Horizonte/MG
Isabel Cristina Silva Vargas – Pelotas/RS
Isadora Cristiana Alves da Silva – Capoeiras/PE
Ivete Flores Catta Preta Ramos – Belo Horizonte/MG
Ivonette Santiago de Almeida – Brasília/DF
Jacqueline Bulos Aisenman – Genebra/Suiça
Jane Guilherme da Silva Rossi – Guarulhos/SP
Janeuce Maciel Cordeiro – Turmalina/MG
Jean Albuquerque – Nova Viçosa/BA
Jelvisson dos Santos Nascimento – Salvador/BA
Jéssica Milato da Costa – Araras/SP
João Bosco de Castro - Bom Despacho/MG
João Carlos de Oliveira Tórtora – Petrópolis/RJ
João de Souza Neres – Mata Verde/MG
João Marques de Oliveira Neto – Osasco/SP
João Paulo Lopes de Meira Hergesel – Alumínio/SP
João Santos Gomes – Medeiros Neto/BA
Johnathan Felipe Bertsch – Jaguará/SC
Joilson Maia dos Santos – Una/BA
Jorge Alberto Silva Miranda Junior – Salvador/BA

103
Jorge Fregadolli – Maringá/PR
Jorge Henrique Vieira Santos – Nossa Senhora da Glória/SE
José Amalri do Nascimento – Rio de Janeiro/RJ
José Anchieta Antunes de Souza – Gravatá/PE
José Antônio de Ávila Sacramento- São João Del Rey/MG
José Aparecido Araújo – São Paulo/SP
José Celso da Cunha – Belo Horizonte/MG
José Feldaman – Maringá/PR
José Geraldo Batista – Caratinga/MG
José Geraldo Tavares – In memoriam
José Moutinho dos Santos – Belo Horizonte/MG
José Rodrigues Arruda – Serrinha/RM
José William Bezerra e Silva – Fortaleza/CE
Juarez Silva Dantas – Belo Horizonte/MG
Júlio César Bridon dos Santos – Gaspar/SC
Juracy Nonato Ferreira – Santa Helena de Minas/MG
Jussara Santos Pimenta – Porto Velho/RO
Kátia Storch Moutinho – Vitória/ES
Larissa Gabe – Ibirubá/RS
Leandro Bertoldo da Silva – Padre Paraíso/MG
Leandro Campos Alves – Caxambú/MG
Leandro Luiz Reis Vieira – Santa Margarida/MG
Leda Barboza Mendes de Oliveira – Pedra Azul/MG
Lenival Nunes de Andrade – Catolé do Rocha /PB
Lígia Maria dos Reis Matos – Caratinga/MG
Lilian de Sousa Farias – Aracaju/SE
Lina de Lima – Itanhaém/SP
Lindalva Silva Quintino dos Santos – Belo Horizonte/MG
Lucas Menck – In memoriam
Lúcia Helena Pereira – Natal/RN
Luciana Tannus de Andrade – Aracaju/SE
Luciano José Schirmer de Oliveira – Ladainha/MG
Luciene Barros Lima – Salvador/BA
Lucilene Ianino Lima Peçanha – Belo Horizonte/MG
Lucivalter Almeida dos Santos – Nazaré/BA
Luiz Gonzaga Marcelino – In memoriam
Luiz Paulo Lírio de Araújo – In memoriam
Magali Maria de Araújo Barroso – Belo Horizonte/MG
Mamede Gilford de Meneses – Itapipoca/CE
Marcelo Allgayer Canto – Cachoeirinha/RS
Marcelo de Oliveira Souza – Salvador/BA
Márcia de Jesus Souza – Ribeirão das Neves/MG
Márcia Devincenzi Reis Terra – Águas Claras/DF
Márcio Mór Giongo – Porto Alegre/RS
Marco Aurélio de Freitas Lisboa – Belo Horizonte/MG
Marcos Coelho Cardoso – Dourados/MS
Marcos Pereira dos Santos – Ponta Grossa/PR

104
Marcus Vinícius Bertolini Rios – Iúna/ES
Margareth das Dores Rafael Moreira Costa – Itambacuri/MG
Maria Antonieta Gonzaga Teixeira – Castro/PR
Maria Aparecida Araújo Moreira Alves – Guarulhos/SP
Maria Cristina Carone Murta – Belo Horizonte/MG
Maria da Conceição Rodrigues Moreira – Belo Horizonte/MG
Maria da Glória Oliveira Brandão Marques – Itabuna/BA
Maria de Lourdes Schenini Rossi Machado – Porto Alegre/RS
Maria Eugênia Porto Ribeiro da Silva – Belo Horizonte/MG
Maria Francisca dos Santos Lacerda – Vila Velha/ES
Maria Helena Sleutjes – Juiz de Fora/MG
Maria Iris Siqueira Mendes – Belo Horizonte/MG
Maria José Alves Coelho – In memoriam
Maria Luciene da Silva – Fortaleza/CE
Maria Norma Lopes de Macedo – Turmalina/MG
Maria Telma Barbosa de Lima – São Paulo/SP
Mariana da Silva Ferreira – Santa Luzia/MG
Marilene Pereira Godinho Soares – Caratinga/MG
Marilina Baccarat de Almeida Leão – Londrina/PR
Marina Barreiros Mota – Palmas/TO
Marise Fátima Andreatta – Dourados/MS
Marlene Bernardo Cerviglieri – Ribeirão Preto/SP
Marly Rondam Pinto – São Paulo/SP
Marrippe Faul Abeilice – Belo Horizonte/MG
Márson Alquati – Nova Roma do Sul/RS
Mauri Alves da Silva – Embú das Artes/SP
Maurício Antônio Veloso Duarte – São Gonçalo/RJ
Mauro Marques de Carvalho – In memoriam
Miguel José da Silva – Santa Maria/RS
Mônica Yvonne Rosemberg – São Paulo/SP
Monir Ali Saygli – Caratinga/MG
Nancy Zeitone – Rio de Janeiro/RJ
Nelci Veiga Mello – Campo Mourão/PR
Neri França Fornari Bocchese – Pato Branco/PR
Noé Comemorável de Oliveira Neto – Caratinga/MG
Norma Disney Soares de Freitas – Fortaleza/CE
Nylton Gomes Batista – Cachoeira do Campos/MG
Odair Leitão Alonso – Campinas/SP
Odenir Fallador – Ponta Grossa/PR
Odenir Ferro – Rio Claro/SP
Odyla Pinto de Paiva – Rio de Janeiro/RJ
Ormuz Barbalho Simonetti – Natal/RN
Patrícia Rodrigues Pereira – Sorocaba/SP
Paulo André Gazzinelli – Belo Horizonte/MG
Paulo Cesar de Almeida – Andrelândia/MG
Paulo Dias Neme – São Paulo/SP
Paulo Murilo Carneiro Valença – Recife/PE

105
Paulo Roberto de Oliveira Caruso – Rio de Janeiro/RJ
Priscilla dos Santos Gomes - Massy/França
Regina Batista Magalhães Silva – Bebedouro/SP
Renata Rimet Ramos Silva – Salvador/BA
Roberto de Piratininga Ferrari – Carapicuiba/SP
Roberto Franclin Falcão da Costa - São Luis/MA
Roberto Gonçalves Enedino – Nanuque/MG
Roberto Prado Barbosa Junior – São Vicente/SP
Rodrigo Marinho Starling – Belo Horizonte/MG
Rogério Ferreira de Araújo – São Gonçalo/RJ
Rogessi de Araújo Mendes – Recife/PE
Rosilene Alves Pereira Ferraz – Padre Paraíso/MG
Rosimeire Leal da Motta Piredda - Vila Velha/ES
Rossana Monteiro Cruz – Aracajú/SE
Rossidê Rodrigues Machado – São Vicente/SP
Rozelene Furtado de Lima – Teresópolis/RJ
Sandra Avelino da Silva – São Paulo/SP
Sandra Ramalho de Oliveira – Caratinga/MG
Sérgio Giorni – Belo Horizonte/MG
Sérgio Rodrigues Piranguense – Belo Horizonte/MG
Silvio Biagio Parise – Eust Providence – EUA
Stefany Nayara Santanna Alves – Guarulhos/SP
Tais Martins – Curitiba/PR
Teresa Cristina Carvalho Mércuri Azevedo – Campinas/SP
Terezinha Teixeira Santos – Guanambi-BA
Umbelina Linhares Pimenta Frota Bastos – Inhumas/GO
Valdeck Almeida de Jesus – Salvador/BA
Valdivino Pereira Ferreira – Turmalina/MG
Valéria Victorino Valle – Anápolis/GO
Valilya Mannathal Hamza – Rio de Janeiro/RJ
Valter Bitencourt Júnior – Salvador/BA
Vanda América de Sousa Crus – Tomóteo/MG
Vânia Rodrigues Calmon – Vila Velha/ES
Vanina Miranda da Cruz – Salvador/BA
Varenka de Fátima Araújo Garrido – Salvado/BA
Vilson Barbosa Costa – Belo Horizonte/MG
Walber Gonçalves de Souza – Caratinga/MG
Walter Luiz Cid do Nascimento - João Dourado/BA
Walter Teófilo Rocha Garrocho – In memoriam
Weder Ferreira da Silva – Rio de Janeiro/RJ
Wenderson Cardoso – Contagem/MG
Wilfrida Apolônia Mollendorff – Brasília/DF
Wilson de Oliveira Jasa – São Paulo/SP
Yara Regina Franco – Araraquara/SP
Zenir Izaguirre Carvalho – São Jerônimo/RS

106
Membros voluntários
Eduardo Amorim Silva
Egmon Schaper Filho

Última atualização do quadro social: 14/11/2018

107
Datas comemorativas do livro e da literatura
cultura, ciência, língua, livro, literatura, história, escritor e poesia

“Oh! Bendito o que semeia


Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n’alma
É germe - que faz a palma,
É chuva - que faz o mar!”
Castro Alves: Espumas Flutuantes, 1870

• 21 de março: Dia Mundial da Poesia - Instituído em 16 de novembro de 1999, em Paris,


durante a XXX Conferência Geral da UNESCO.

• 18 de abril: Dia Nacional do Livro Infantil - Lei nº 10.402, de 08 de janeiro de 2002.

• 23 de abril: Dia Mundial do Livro: Instituído em 1995, em Paris, durante a XXVIII


Conferência Geral da UNESCO.

• 23 de maio: Dia Estadual do livro Infantil - Lei nº4.767, de 16 de maio de 1968 (MG).

• Primeiro sábado de junho: Dia do escritor teófilo-otonense - Lei 6.788, de 28 de


outubro de 2006.

• 18 de julho: Dia Estadual do Trovador - Lei nº9.553, de 15 de abril de 1988 (MG).

• 25 de julho - Dia Nacional do Escritor - Instituído em 1960, pela União Brasileira de


Escritores.

• 19 de agosto - Dia Nacional do Historiador - Lei nº12.130, de 17 de dezembro de 2009.

• 12 de outubro: Dia Nacional da Leitura – Lei nº11.899, de 08 de janeiro de 2009.

• 29 de outubro: Dia Nacional do Livro - Lei nº 5.191, de 13 de dezembro de 1966.

• 31 de outubro: Dia Nacional da Poesia - Lei 13.131, de 03 de junho de 2015.

• 05 de novembro: Dia Nacional da Cultura e da Ciência - Lei nº 5.579, de 15 de maio


de 1970.

• 05 de novembro: Dia Nacional da Língua Portuguesa - Lei nº 11.310, de 12 de junho


de 2006.

• 2o de dezembro: Fundação da Academia de Letras de Teófilo Otoni - Reunião realizada


na sede do Automóvel Clube de Teófilo Otoni (MG).

108
Casa do Estudante Professor Libório Zimmer

Inaugurada em 29 de abril de 2016, a nova sede da União Estudantil de Teófilo Otoni


(UETO), localizada no bairro Grão Pará, recebeu o nome de Casa do Estudante Prof.
Libório Zimmer: 1911-1994 (educador, pastor luterano e agente político). Trata-se de
espaço amplo e moderno, composto por biblioteca, auditório para pequenos eventos, Centro
de Processamento de Dados e do Memorial Chamel Lauar que, por meio de imagens e
documentos registra um pouco da rica história política, social e cultural da juventude
estudantil teófilo-otonense.
É neste espaço que, no momento, encontram-se abrigadas a Academia de Letras de
Teófilo Otoni, o Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri e a Associação Cultural da
Descendência Alemã, que usufruem de toda esta estrutura com salas específicas para cada
uma destas entidades.

Visite-nos!

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