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Projeto de Doutorado

Área: Ética e Filosofia Política

MESMO QUE O CÉU NÃO EXISTA


Críticas à religião no materialismo filosófico das Luzes ao Marxismo

Goiânia, Maio de 2016


por Eduardo Carli de Moraes (professor de filosofia do I.F.G.)
I. TEMA

“Depois da morte de Deus e do desmoronamento das utopias, sobre qual base intelectual e
moral queremos construir nossa vida comum?” (TODOROV: 2006, p. 9) Com esta questão, que
inaugura sua obra O Espírito das Luzes, Tzvetan Todorov situa alguns dos dilemas e desafios que
enfrentamos diante do colapso da credibilidade da metafísica, com a consequência de que a ética e
a política vivenciam uma espécie de crise do sagrado e necessidade de reinvenção em outras bases
(imanentes e não mais transcendentes; profanas e não mais teológicas). Estes dilemas são alvo de
reflexão de muitos pensadores/cientistas de relevância: da “morte de Deus” diagnosticada por
Nietzsche ao “desencantamento do mundo” de que fala Max Weber, da noção de que “a religião é o
ópio do povo” de Karl Marx à polêmica que opõe o criacionismo à teoria da evolução de Charles
Darwin.
Na atualidade, uma caudalosa literatura, multidisciplinar e plurinacional, têm sido publicada
no âmbito das críticas materialistas à religião, com pelo menos duas vertentes importantes: a anglo-
saxã (Richard Dawkins, Daniel Dennett, Christopher Hitchens, Sam Harris etc.) e a francesa
(Michel Onfray, André Comte-Sponville, Marcel Conche etc.) 1. De modo sumário, podemos dizer
que estes autores formulam argumentos que buscam provar a inexistência de Deus 2; defendem a
laicidade do Estado e criticam todo tipo de fanatismo, obscurantismo e fundamentalismo; afirmam
a possibilidade de uma ética secular, a-religiosa, plenamente terrena, sem recompensas ou punições
do além-túmulo; desenvolvem argumentos sobre a sabedoria, as virtudes, o bem-comum,
considerados sempre na perspectiva desta vida e deste mundo etc.
No âmbito destas discussões, percebemos a recorrência de um problema filosófico muito
debatido e que parece ter o dom de jamais receber resposta definitiva: não só a questão da
existência de Deus, da alma imortal e do livre arbítrio, mas o debate sobre necessidade (ou não) da
fé como fundamento para a ética e a política. Um dos nossos focos principais de nosso trabalho será
a crítica empreendida pelas filosofias materialistas das conexões entre moral e religião, entre
teologia e política.
A primeira delimitação de nosso tema consiste na eleição, como objetos de estudo, apenas
dos filósofos da tradição materialista, que integram a “linha de Demócrito” de que fala Lenin
(1962), que a contrastava com a “linha de Platão”. Estão colocados no ringue de batalha, pois, os
1 Destacam-se as obras: “Deus: um delírio”, de Richard Dawkins (Cia das Letras, 2007); “Quebrando o encanto – a
religião como fenômeno natural”, de Daniel C. Dennett (Globo, 2006); “Deus não é grande”, de C. Hitchens (Ediouro,
2006); “A Morte da Fé”, de Sam Harris (Cia das Letras, 2009); “Tratado de Ateologia”, de M. Onfray (Martins Fontes,
2007); “O Espírito do Ateísmo”, de A. Comte-Sponville (Martins Fontes, 2009); “Orientação Filosófica”, de M.
Conche (Martins Fontes, 2000).
2 Um exemplo é o artigo “O Sofrimento Das Crianças Como Mal Absoluto”, publicado por Marcel Conche em 1968,

onde se argumenta que “o sofrimento das crianças deveria ser suficiente para confundir os advogados de Deus. É que o
sofrimento das crianças é um mal absoluto, mácula indelével na obra de Deus, e seria suficiente para tornar impossível
qualquer teodicéia. (…) O fato do sofrimento das crianças – como mal absoluto -, por eliminação da hipótese contrária,
funda o ateísmo axiológico.” (CONCHE: 2000, p. 60-77)
dois velhos adversários: o materialismo e o idealismo.
A segunda delimitação temática consiste na primazia que concederemos em nossos estudos
aos filósofos do materialismo de duas épocas:
I) na França do séc. XVIII, no período pré-Revolução Francesa, na obra dos radicais das
“Luzes” (o Iluminismo ou Esclarecimento), em especial o barão D'Holbach (cuja magnum opus é
O Sistema da Natureza), La Mettrie (autor de O Homem Máquina), Helvétius (cujos tratados Do
Espírito e Do Homem marcaram época) e Denis Diderot (que além de filósofo foi autor também de
obras literárias como A Religiosa, Jacques, o Fatalista e O Sobrinho de Rameau).Vale ressaltar que
estes materialistas do séc. XVIII tiveram precursores, no século anterior, em figuras como Pierre
Bayle, Jean Méslies e Pierre Gassendi (1592 – 1655), fontes em que também buscaremos pesquisar,
dada a relevância deles como prefiguradores tanto do materialismo iluminista quanto do marxisma.
Como escreve Onfray:
De fato, no verso do cartão-postal da historiografia dominante encontram-se felizmente
pensadores candidatos à forca que celebram a volúpia desculpabilizada, anunciam a morte
de Deus, professam a coletivização das terras, conclamam a estrangular os aristocratas com
as tripas dos padres, incitam a filosofar para os pobres e para o povo, creem na
possibilidade de mudar o mundo, ensinam uma moral eudemonista, se não hedonista,
contam com a justiça dos homens. Chamo-os de ultras das Luzes, pois eles encarnam um
pensamento radical. Ora, o que é um pensamento radical? Retomemos simplesmente a
definição dada por Marx na sua Crítica da filosofia do direito de Hegel: ser radical é tomar
as coisas pela raiz. (ONFRAY: 2012, p. 34)

II) No século XIX, com a emergência do materialismo marxista, doutrina com enraizamento
filosófico nas fontes atomistas gregas (Demócrito e Epicuro) e também nos materialistas franceses
como Holbach, Helvétius etc. (vide item I). Em sua relação crítica e construtiva com o
materialismo iluminista francês, pode-se dizer que Marx aumenta o ímpeto prático e transformador
que o anima e que ele ganha “carne” como movimento político, força coletiva organizada, ímpeto
revolucionário. Parece-nos que é bem conhecida e estudada a relação crítica que o marxismo
estabeleceu com o idealismo alemão, em especial sua empreitada crítica contra Hegel e os
hegelianos de esquerda como Bruno Bauer. Também é notória e bastante pesquisada a influência
determinante exercida pelo materialismo ateu de Feuerbach ou pela teoria econômica-política
anarquista de Proudhon sobre o pensamento do jovem Marx, que depois desenvolverá também uma
crítica destes seus antigos mestres. Porém, nosso trabalho pretende focar a atenção nas relações,
que parecem-nos menos pesquisadas e conhecidas, de Marx com a tradição materialista dos sécs.
XVII e XVII no Iluminismo francês (Helvétius, D'Holbach, La Mettrie etc.). Ou seja, desejamos
explorar sobretudo de que modo foi importante para a configuração da teoria e da práxis marxistas
o influxo do materialismo iluminista francês, dos “ultras das Luzes”, como os chama Michel
Onfray nos volumes da Contra-História da Filosofia a eles dedicados3.

3 São 9 volumes já publicados na França, pela Grasset, e os 5 primeiros no Brasil, pela Martins Fontes.
II. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
Desde a Antiguidade greco-romana, a crítica da religião estabelecida marcou a obra de
muitos filósofos, em especial aqueles que constituiriam a escola atomista-materialista: Demócrito e
Epicuro (na Grécia, nos sécs VI a IV a.C.) e Lucrécio (em Roma, no séc. I a.C.).
Desde os pré-socráticos os debates sobre a natureza da realidade (a Phýsis) não raro
propendiam a tornar-se querelas religiosas: um exemplo é o de Xenófanes (570 a.C. - 475 a.C.),
nascido em Colófon (atual Turquia), que confrontou as crenças de seus contemporâneos com estas
palavras célebres: “Se os bois, os cavalos, os leões tivessem mãos para desenhar e criar obras como
fazem os homens, os cavalos representariam os deuses à semelhança do cavalo, os bois à
semelhança do boi, e eles fabricariam os deuses com um corpo tal qual cada um possui ele
mesmo.” (XENÓFANES apud JAEGER: 2001, p. 213-214).
A crítica realizada por Xenófanes prenuncia em mais de 2 milênios a filosofia de Ludwig
Feuerbach e Nietzsche (alguns notáveis intérpretes-críticos do fenômeno religioso nos últimos
séculos): o pré-socrático já sugeria que os seres humanos fabricam deuses à sua imagem e
semelhança e que a proposição “somos todos filhos dos deuses” (ou seja, por eles fomos criados)
seria muito mais verdadeira se fosse invertida: “somos os pais de todos os deuses” (ou seja, nós é
que criamos os deuses).
Este é apenas um exemplo antiquíssimo da ação questionadora e cáustica de pensadores
que, sem temor de soarem ímpios, através de suas argumentações põem em maus lençóis os
dogmas consagrados e as autoridades religiosas teocráticas, colocando em questão, por exemplo, a
mitologia veiculada por Homero e Hesíodo que
atribuíram aos deuses todas as indignidades, roubos, adultérios e imposturas. [De acordo
com Xenófanes] é ilusão dos homens pensar que os deuses nascem e têm forma e roupagens
humanas. Os negros da Etiópia acreditavam em deuses negros e de nariz achatado, já os
trácios em deuses de olhos azuis e cabeleira ruiva. Na verdade provêm de causas naturais
todos os fenômenos do mundo exterior que os humanos atribuem à ação dos deuses que
temem. (JAEGER, p. 213)

No nascedouro da filosofia grega, essa aposta no “naturalismo”, na possibilidade de explicar


por causas naturais todos os fenômenos, também marca presença em muitos dos filósofos que hoje
reconhecemos como inovadores e revolucionários da aurora da ciência, de Tales de Mileto (623 –
546 a.C.) a Demócrito de Abdera (460 a.C. — 370 a.C.), que dedicaram-se a explicar a Phýsis sem
recorrer a causa sobrenatural ou explicação mítica. O materialismo moderno, que nos propomos a
estudar em suas mutações das “Luzes” (séc. XVIII) ao marxismo e suas vertentes (sécs. XIX e
XX), é uma continuação crítica e criativa de uma ancestral aventura filosófica daqueles amigos-da-
sabedoria que dedicaram-se à decifração da Phýsis e que não se deixaram calar por mordaças
impostas pelo clero ou pelo temor das fogueiras dos inquisidores.
Apesar de não ser classificado como materialista, mas sim como panteísta, Spinoza é um
caso emblemático, na história da filosofia, de uma crítica radical da religião instituída e inspirará
muitos materialistas, muitos deles fiéis à noção de “monismo da matéria”, ou seja, à ideia de que a
substância spinozista (Deus sive Natura) podia ser melhor descrita pelo conceito de matéria. No
Tratado Teológico-Político, Spinoza procura convencer o leitor de que qualquer explicação que
apele para a noção de “vontade de Deus” não passa de “asilo da ignorância” (para relembrar a
Ética, Livro I, apêndice), alertando para as ciladas da credulidade típicas daqueles que “interpretam
a natureza da maneira mais extravagante, como se toda ela delirasse ao mesmo tempo que eles.”
(SPINOZA: 2003, p. 6).4
O epicentro do problema que nos dedicaremos a pesquisar em nosso Doutorado está aí
exposto: a crítica à religião empreendida pelos filósofos materialistas das épocas que delimitamos.
Desejamos expor e debater os argumentos que sustentam serem as religiões como invenções
humanas (demasiado humanas), ficções supersticiosas, ideologias interesseiras urdidas por classes
sociais em antagonismo com outras etc.
No âmbito ético e político, buscaremos esclarecer o teor das críticas materialistas à
sistemas de moral baseados em sanções post mortem, que são prometidas ao pecador (como o
inferno ou o Hades) e ao santo (o Paraíso ou os Campos Elíseos). Revelaremos em détail as
argumentações que criticam as doutrinas éticas ou os sistemas políticos que, por preconceito
teológico, culpabilizam a sensualidade, reprimem o corpo e a expressão de suas energias,
rebaixando a um status secundário e subalterno tudo o que diz respeito ao organismo em sua
carnalidade e aos sentidos em sua organicidade.
O impacto da doutrina atomista de Demócrito na história da filosofia e das ciências não
deve ser subestimado, já que inaugura uma concepção de mundo anti-criacionista, onde não existe
um deus que age como criador ex nihilo do universo. O materialismo baseia-se na tese de que tudo
que existe é composto pelas interações dos átomos (incriados e indestrutíveis), em movimento
perpétuo, que estão em constante processo de combinação e re-combinação através da imensidão
incomensurável do espaço. Segundo Demócrito, átomos e vazio constituem a totalidade concreta, o
todo do Ser.
Como explica Friedrich Albert Lange em sua História do Materialismo, obra em dois
volumes que será uma das principais fontes de pesquisa para nosso trabalho, Demócrito afirmava:

4 Uma análise brilhante do contexto sócio-histórico em que nasce o “tratado escandaloso de Spinoza” (T.T.P),
considerado como uma magnum opus essencial para o “nascimento da era secular”, pode ser lida em Um Livro
Forjado No Inferno, de Steven Nadler. O livro contêm detalhes de todo o processo sofrido pelo filósofo ao ser
estigmatizado como pária pela sinagoga de Amsterdam quando tinha apenas 23 anos, já que foi considerada herética
e blasfema sua concepção do “Deus sive Natura” (Deus = Natureza). “ Deus de Spinoza não é um ser transcendente,
supranatural. Não é dotado dos aspectos psicológicos ou morais atribuídos a Deus por muitas religiões ocidentais. O
Deus de Espinosa não manda, não julga nem faz alianças. Deus não é a providencial e espantosa deidade de Abraão.
(…) Segue-se que a concepção antropomórfica de Deus que, como pensa Espinosa, caracteriza as religiões
sectárias, e todas as postulações sobre recompensa e castigo divinos que ela implica não passam de ficções
supersticiosas.” (NADLER: 2013, p. 32)
“Nada vem do nada; nada do que existe pode ser nadificado. Toda mudança não é senão agregação
ou desintegração de partes.” (LANGE: 1910, p. 12) Sabemos que a palavra átomo, em grego,
traduz-se por “indivisível”: os átomos são as partículas elementares, que não podem ser nem
aniquilados nem reduzidos a partes menores. São tidos, nestes seus primeiros estágios de
desenvolvimento, como indestrutíveis e infinitos em diversidade. Chocam-se, combinam-se,
produzem turbilhões, separam-se e desintegram conjunções, para na sequência formar novos
agrupamentos - e assim “mundos inumeráveis se formam para depois perecer.” (LANGE: op cit, p.
17)
A doutrina de Demócrito será depois adotada e aprimorada por Epicuro (341 a.C. - 270
a.C.), um dos mais importantes filósofos materialistas da História. Nascido na ilha de Samos, foi o
fundador da escola de filosofia em Atenas que foi batizada “O Jardim de Epicuro” e que atravessou
sete séculos, tendo sido muito difundidas suas noções éticas em que o caminho para a felicidade
estava na paz-de-espírito [ataraxia], que necessariamente demandava a cessação do temor aos
deuses e à morte.

Estima-se que Epicuro tenha escrito cerca de 300 obras e seu magnum opus, o tratado de
física A Natureza Das Coisas, era constituído por 37 livros. Da obra monumental de Epicuro, foram
preservadas apenas fragmentos, incluindo três cartas, salvas do naufrágio por Diógenes Laércio em
Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres. As razões da destruição da obra quase completa de
Demócrito e Epicuro explica-se, segundo alguns pesquisadores, pelo afã fanático dos detratores da
teoria materialista, aí incluído o próprio Platão e seus sequazes, que tudo fizeram para censurar e
destruir estas obras.5
Apesar de não afirmar explicitamente o ateísmo, já que continua leal ao politeísmo do
Olimpo, o epicurismo inova e revoluciona em teologia ao sustentar que, além de serem entes
totalmente materiais e corporais, os deuses não se importavam com preces, rogos, súplicas,
arrependimentos ou o que quer que seja realizado pelos humanos terranos. Os deuses corpóreos
existem, mas bem longe desta Terra, onde gozam da perfeita bem-aventurança, nem tomando
consciência das necessidades e preces dos humanos (como será depois o Deus-Natureza de
Spinoza, os deuses de Epicuro são concebidos como organismos indiferentes aos seres humanos e a
quem será sempre inútil rezar).
No caso da obra-prima de Lucrécio, De Rerum Natura, ela só chegou inteira a nossos
5 Na Idade Média, explica André Comte-Sponville, o trabalho de copiar as obras dos autores gregos e latinos da
Antiguidade era realizado principalmente por monges, encerrados em conventos, filiados a seitas religiosas, que
“preferiam copiar os filósofos e poetas que não estavam muito distantes das crenças deles, que não quebravam suas
ilusões ou esperanças, que não eram demasiado incompatíveis com a fé.” (in: ANDRÉ COMTE-SPONVILLE, O
Mel e O Absinto, Paris: Hermann, 2008, pg. 20) No que diz respeito às mais de 50 obras de Demócrito, comenta-se
que Platão e seus seguidores não pouparam esforços de destruição: “Em um movimento de ardor fanático, Platão
quis comprar e queimar todos os escritos de Demócrito.” (LANGE, F. Pg. 11) “Platão pretendeu queimar as obras
de Demócrito pela incompatibilidade entre as ideias nelas expendidas e as suas próprias.” (LINS, I. In: O
Epicurismo.)
tempos por tortuosos caminhos históricos que foram tema de um premiado livro da historiografia
contemporânea: A Virada – O Nascimento do Mundo Moderno (Cia das Letras), de Stephen
Greenblatt. Este livro é essencial aos propósitos de nossa pesquisa pois mostra o renascimento do
materialismo na aurora da Modernidade, algo que serve de base para a culminância dos radicais
materiais, os “ultras das Luzes” como La Mettrie, Diderot, D'Holbach e Helvétius, e que também
repercutirá na emergência do materialismo marxiano (Marx, afinal, torna-se doutor em filosofia
com uma análise comparativa entre as filosofias da Natureza de Demócrito e de Epicuro).
Greenblatt fornece uma boa síntese da “visão de mundo” materialista que pretendemos explorar em
nosso trabalho:
Quando você olha para o céu noturno e, sentindo-se inexplicavelmente comovido, fica
maravilhado com a quantidade de estrelas, não está vendo o trabalho dos deuses ou uma
esfera cristalina separada de nosso mundo passageiro. Está vendo o próprio mundo material
de que faz parte e de cujos elementos você é feito. Não há um plano superior, não há um
arquiteto divino, não há design inteligente. Todas as coisas, inclusive a espécie a que você
pertence, evoluíram durante grandes períodos de tempo. (…) Nada — de nossa própria
espécie ao planeta em que vivemos e ao Sol que ilumina nossos dias — se manterá para
sempre. Somente os átomos são imortais. Num universo constituído dessa maneira,
argumentava Lucrécio, não há motivo para pensar que a Terra ou seus habitantes ocupem
um lugar central, não há motivo para separar os humanos dos outros animais, não há
esperança de subornar ou aquietar os deuses, não há lugar para o fanatismo religioso, não
há vocação para uma negação ascética do eu, não há justificativa para sonhos de poder
ilimitado ou de segurança total, não há lógica para guerras de conquista ou de
engrandecimento, não há possibilidade de triunfar sobre a natureza, não há escapatória para
a criação e recriação constante das formas. (GREENBLATT: 2012, cap. 1) 6

Em nossa tese, portanto, pretendemos mapear esta influência, fecunda apesar de longínqua,
de Demócrito, Epicuro e Lucrécio sobre as vertentes do materialismo filosófico das Luzes francesas
e também no materialismo dialético de Marx e da chamada “filosofia da práxis”. Queremos
mostrar que algumas das ideias mais debatidas dos últimos séculos, como a célebre noção
propagada por Marx, na Crítica à Filosofia do Direito de Hegel, de que “a religião é o ópio do
povo”, não são anomalias isoladas na história do pensamento, mas integram-se em uma longa
tradição de materialismo, que procura abordar o fenômeno religioso com uma atitude crítica ou
mesmo revolucionária.
A crítica da concepção de mundo religiosa e a moral a ela conexa, empreendida pelos
materialistas, está conectada aos projetos e às utopias de construção de uma concepção de mundo,
de uma ética e de uma política alternativas, baseados na imanência radical. Um dos nossos
problema essenciais consistirá em expor como os filósofos materialistas abordam as questões da
possibilidade do “ateu virtuoso” e da “sociedade atéia” (uma doutrina de Pierre Bayle que
D'Holbach subscreve). O próprio Marx escreve, em A Sagrada Família, sobre a importância de
Bayle para o desenvolvimento ulterior do materialismo filosófico:
O homem que fez com que a metafísica do século XVII e toda a metafísica perdessem
teoricamente seu crédito foi Pierre Bayle. Com a desintegração cética da metafísica, Pierre
6 Saiba mais sobre a obra no site A Casa De Vidro: http://bit.ly/1qB8m2f.
Bayle não apenas preparou a acolhida do materialismo e da filosofia do juízo humano
saudável na França. Ele anunciou a sociedade ateia, que logo começaria a existir, mediante
a prova de que podia existir uma sociedade em que todos fossem ateus, de que um ateu
podia ser um homem honrado e de que o que desagrada ao homem não é o ateísmo, mas
sim a superstição e a idolatria. (MARX: 2003, p. 146)

Também nos interessa o problema da conexão que pode haver entre uma concepção de
mundo materialista e uma ética consequencialista de teor hedonista. Além disso, desejamos debater
a velha querela entre determinismo vs livre-arbítrio: será mesmo que o materialismo conduz a uma
visão-de-mundo onde impera o determinismo estreito, que abole toda liberdade humana, reduzindo
tudo a um fatalismo que exige do sujeito apenas resignação? Ou, pelo contrário, o materialismo
inclui a possibilidade concreta de emancipação coletiva e transformação concreta do mundo como
uma consequência necessária de seu abandono dos mundos imaginários, em prol da profana e
terrestre vida dos humanos de carne-e-osso?
Uma vez que o materialismo filosófico será definido por um de seus mais ilustres
pensadores contemporâneos, André Comte-Sponville, como “um monismo da matéria”, será
necessário também refletirmos sobre o significado filosófico do monismo, concepção que se opõe
ao dualismo que cinde o real entre Deus e Natureza, Espírito e Matéria, cindindo também o homem
entre um corpo, perecível e pecaminoso, e um espírito, imorredouro e passível de ser “salvo”:
Chama-se materialismo a doutrina que afirma que tudo é matéria ou produto da matéria
(salvo o vazio) e que, por conseguinte, os fenômenos intelectuais, morais ou espirituais (ou
assim supostos) têm realidade secundária e determinada. O materialismo se caracteriza
assim, negativamente, pela rejeição do dualismo e do espiritualismo (não existe nem
mundo inteligível nem alma imaterial), do ceticismo e do criticismo (a realidade em si não
é inconhecível), enfim e em geral do idealismo. É incompatível com toda crença num Deus
imaterial, criador ou legislador. O materialismoé antes de mais nada um pensamento de
recusa, de combate. Trata-se (Lucrécio, La Mettrie e Marx não cansaram de lembrar) de
vencer a religião, a superstição e, em geral, a ilusão. O materialismo é uma empresa de
desmistificação.
Explicar o superior pelo inferior (o espírito pelo corpo, a vida pela matéria inanimada, a
ordem pela desordem...) é, de Demócrito a Freud, a conduta constante do materialismo. Em
todo o caso o materialismo sempre tem, como teoria, essa tendência a descer, isto é, a
buscar a verdade, como dizia Demócrito, no fundo do abismo, quer esse abismo seja o da
matéria e do vazio (os atomistas), o do corpo (La Mettrie, Diderot...), o da infra-estrutura
econômica (Marx) ou o de nossos desejos inconscientes (Freud). Essa descida, na teoria,
tem por contraponto uma subida, no real ou na prática. O pensamento materialista,
percorrendo ao revés o aclive do real, tudo o que faz, ao longo da sua descida, é pensar a
ascensão que a torna possível. 'É da terra ao céu que se sobe aqui', escreviam Marx e
Engels em A Ideologia Alemã, e a imagem pode ser generalizada. A história se inventa de
baixo para cima. (COMTE-SPONVILLE, 2001, p. 119 a 121)
Dando continuidade ao trabalho realizado em minha dissertação de mestrado, Além da
Metafísica e do Niilismo, focada no trabalho de Nietzsche (1844-1900), desejo insistir num método
que consiste em somar as forças da crítica e da construção, da teoria e da práxis, da denúncia e do
anúncio. Percebo que, longe de terem permanecido presos ao trabalho negativo do aniquilamento e
da destruição (que a eles são atribuídos por seus detratores e adversários de modo vastamente
imerecido), os materialistas de que trataremos jamais foram niilistas; trabalharam em prol da
construção de alternativas, da sugestão de sabedorias e sistemas políticos que pretendiam instaurar
o reino da liberdade, da fraternidade e da igualdade sem recurso ao divino. Muitas vezes eram
movidos pela vontade de sepultar para sempre sistemas políticos obscurantistas, teocráticos,
batalhando contra superstições e sectarismo, ativamente engajados com a construção de um
convívio coletivo melhor, mais feliz, mais justo e mais sábio.
Assim, pretendemos delinear as múltiplas possibilidades que existem para a fundamentação
de uma ética e de uma política que não terá menos mérito pois aposta que nem Deus, nem a alma
imortal, nem o livre-arbítrio, existem de fato. Exporemos e discutiremos a obra dos autores
materialistas referidos, explorando seus diagnósticos de uma progressiva erosão da religião como
explicação de mundo, fundamentação da moral e força organizadora das sociedades. Desejamos
focar nossa atenção naqueles pensadores materialistas que, através da história, ousaram criticar a
religião como a conheciam, ao mesmo tempo que apontavam para um outro mundo possível, numa
atitude a um só tempo crítica e construtiva que também gostaríamos que animasse nosso trabalho.

III. JUSTIFICATIVA
Contribuir para uma reconsideração do materialismo tem relevância intra e extra-filosófica,
dada a carga negativa, o sentido pejorativo que o termo adquiriu no senso-comum:
É sabido que a palavra materialismo é empregada principalmente em dois sentidos, um
trivial, outro filosófico. No sentido trivial, designa certo tipo de comportamento ou de
estado de espírito, caracterizado por preocupações 'materiais', isto é, no caso, sensíveis ou
baixas. Querer ganhar muito dinheiro, gostar da boa mesa, preferir o conforto do corpo à
elevação do espírito, buscar os prazeres em vez do bem, o agradável em vez do
verdadeiro... tudo isso é materialismo, no sentido trivial, e vê-se que essa palavra é usada
sobretudo pejorativamente. O materialista é, então, o que não tem ideal, que não se
preocupa com a espiritualidade e que, buscando apenas a satisfação dos instintos, sempre
se inclina para seu corpo, poderíamos dizer, em vez de para sua alma. Na melhor das
hipóteses, um bon vivant; na pior: um aproveitador, egoísta e grosseiro. (COMTE-
SPONVILLE: op cit, p. 121)
Desejamos mostrar que o materialismo, para além de seu sentido pejorativo, é uma tradição
de pensamento que não é somente crítica das ilusões idealistas, espiritualistas ou religiosas, mas
também pode ser um guia ético e político para uma existência emancipada e solidária. A superação
do fanatismo e do sectarismo, e também dos fratricídios deles decorrentes, parece-me conectado à
nossa capacidade de refletir de modo lúcido e aprofundado sobre a condição humana. Em matéria
de ética, o materialista costuma dar a primazia ao corpo (mortal) e não a um espírito (supostamente
imortal). Para além de qualquer doutrina da redenção pela via do ascetismo e da auto-mortificação,
o materialismo defende a unidade psicossomática entre corpo e alma e reflete sobre as condições
para a saúde, a paz-de-espírito, a ataraxia, a beatitude, não em um mítico futuro distante, mas no
aqui-e-agora da vida terrestre.

Julgamos relevante confrontar o preconceito que afirma que o materialista seja um crasso
perseguidor de volúpias imediatas, um inconsequente libertino que não pensa no amanhã, e
reafirmar que a sophia e a philia, na tradição de Demócrito e Epicuro, são valores supremos, donde
ser inconcebível falar da utopia materialista sem a presença destas forças constitutivas da filosofia e
que marcam-na etimologia de sua própria palavra, onde somam-se amizade e sabedoria.

La Mettrie sugere: "Pensar no corpo antes de pensar na alma é imitar a natureza que fez um
antes do outro." (LA METTRIE: 1987, p. 271) Eis uma tese autenticamente materialista, já que
aquilo que chamamos de "alma" é tido pela tradição do materialismo como algo que surge
posteriormente, no tempo, à “base” material corporal. Para muitos materialistas, dá-se o nome de
"alma" a algo que está no corpo, que nunca existiu nem pode existir independente do corpo. Daí
decorre a revolução materialista empreendida contra o temor da morte que aflige os humanos: não
há nada a temer já que nenhuma alma imortal sobreviverá ao corpo abandonado pela vida.
Materialismo: doutrina da alma mortal, ou seja, da Psiquê encarnada, da vida individual fugaz,
vivida por um organismo que só pode ser compreendido como unidade psicofísica.

Além disso, filosofia do reconhecimento pleno de nossa mortalidade inelutável, o


materialismo também se caracteriza, escreve Comte-Sponville, "pela rejeição do espiritualismo, se
por esta última palavra entendermos a afirmação de que existe uma substância espiritual (a alma ou
o espírito), independente da matéria, que seria, no homem, princípio de vida ou de ação. [...] O
materialismo também é, contra todas as filosofias da alma, uma filosofia do corpo." (COMTE-
SPONVILLE, op cit, p. 124).

O materialismo pode ser descrito como um monismo físico e defende a tese de que a
Matéria, ou seja, os átomos em movimento no espaço, constituem a substância única. Tudo que
chamamos de espírito é derivado das "danças" imensas e múltiplas dos átomos. A consequência
incontornável, e que também esclareceremos em mais detalhes, é a de que todas as atividades
psíquicas ditas superiores (o pensamento, a vontade, o juízo, a criação artística, a pesquisa
científica etc.) não podem jamais ser compreendidas como imateriais.

Nenhum filósofo, é evidente, pode negar absolutamente a existência do pensamento: seria


negar a si mesmo e pensar que não pensa. O monismo dos materialistas", esclarece Comte-
Sponville, "não é portanto a negação da existência do pensamento, mas apenas a negação
da sua independência ou, se preferirem, da sua existência autônoma: não se trata de dizer
que o pensamento não existe, mas simplesmente (se é que isso pode ser simples!) que ele é
tão material quanto o resto. (COMTE-SPONVILLE: 2001, pgs 120-126)
A relevância do estudo histórico, crítico, construtivo, dialético, do materialismo filosófico,
está também em sua potência de “iluminar”, através da obras destes amigos da sabedoria, a força
prática e concreta da filosofia na História. Buscaremos amplificar as ideias e os exemplos daqueles
filósofos que prezavam mais o pensamento autônomo do que a cega obediência à tradição; que não
viam diante de si nenhum tabu que proibisse o escrutínio, a pesquisa, a reflexão, a expressão, a
discussão. Como escreveu Helvétius, citado por Marx, “as grandes reformas apenas podem ser
realizadas com o enfraquecimento da adoração estúpida que os povos sentem pelas velhas leis e
costumes.” (MARX: 2003, p. 152)

A tentativa de conexão entre o materialismo das “Luzes” e o Marxismo tem embasamento


na própria obra dos fundadores do materialismo histórico-dialético, Marx e Engels: basta
exemplificar com A Sagrada Família, obra na qual, no contexto da polêmica contra o hegeliano
Bruno Bauer, Marx realiza reflexões essenciais aos nossos propósitos:

O Iluminismo francês do século XVIII e, concretamente, o materialismo francês, não


foram apenas uma luta contra as instituições políticas existentes e contra a religião e a
teologia imperantes, mas também e na mesma medida uma luta aberta e marcada contra a
metafísica do século XVIII e contra toda a metafísica, especialmente contra a de Descartes,
Malebranche, Spinoza e Leibniz. (…) A rigor existem duas tendências no materialismo
francês, dos quais uma provém de Descartes, ao passo que a outra tem sua origem em
Locke. A segunda constitui, preferencialmente, um elemento da cultura francesa e
desemboca de forma direta no socialismo. (MARX; ENGELS: 2003, p. 144)

Nestas páginas d'A Sagrada Família, expõe-se a tese de que o materialismo filosófico
francês e inglês, nos séculos XVII e XVIII, permaneceu “unido por laços estreitos a Demócrito e
Epicuro”, o que não impediu a emergência de diferentes encarnações de um materialismo
multiforme, que teve como principais representantes, na Inglaterra, figuras como Bacon, Locke e
Hobbes; e na França os supracitados P. Bayle, J. Mèlies, Helvétius, La Méttrie, Condillac, Diderot,
D'Holbach.
Julgamos muito relevante, em nossa futura tese, realizar um estudo comparativo das duas
vertentes do materialismo francês das “Luzes” que Marx identifica: I) aquela que aderiu à física de
Descartes e é representada sobretudo por La Mettrie – que “explica a alma como uma modalidade
do corpo e as ideias como movimentos mecânicos; (…) seu L'Homme Machine é um
desenvolvimento que parte do protótipo cartesiano do animal-máquina” (MARX; op cit, p. 145); II)
aquela outra vertente do materialismo francês, muito inspirada pelo materialismo inglês e sobretudo
por Locke, e que representa a convicta antítese à metafísica do século XVII; segundo Marx, é esta
linha que “desemboca diretamente no socialismo e no comunismo” (MARX: op cit, p 149). Como
ilustração desta segunda vertente, citaremos um trecho d'O Sistema da Natureza, de Holbach, que
parece-nos essencial para os propósitos de nossa pesquisa:
O homem que não espera uma outra vida está mais interessado em prolongar a existência e
em se tornar querido pelos seus semelhantes na única vida que conhece. Ele deu um grande
passo para a felicidade ao se desvencilhar dos terrores que afligem os outros. Com efeito, a
superstição tem prazer em tornar o homem covarde, crédulo, pusilânime. Ela adotou o
princípio de afligi-los sem descanso; assumiu o dever de redobrar para ele os horrores da
morte. Seus ministros, para disporem dele mais seguramente neste mundo, inventaram as
regiões do porvir, reservando-se o direito de lá fazer recompensar os escravos que tiverem
sido submissos às suas leis arbitrárias e de fazer serem punidos pela divindade aqueles que
tiverem sido rebeldes às suas vontades. Longe de consolar os mortais, a religião em mil
regiões esforçou-se para tornar a sua morte mais amarga, para tornar mais pesado o seu
jugo, para tornar o seu cortejo acompanhado de uma multidão de fantasmas hediondos.
Ela chegou ao cúmulo de persuadi-los de que a sua vida atual não é mais do que uma
passagem para chegar a uma vida mais importante. O dogma insensato de uma vida futura
os impede de ocupar-se com a sua verdadeira felicidade, de pensar em aperfeiçoar as suas
instituições, suas leis, sua moral e suas ciências. Vãs quimeras absorveram toda a sua
atenção. Eles consentem em gemer sob a tirania religiosa e política, em atolar-se no erro,
em definhar no infortúnio, na esperança de serem algum dia mais felizes, na firme
confiança de que as suas calamidades e a sua estúpida paciência os conduzirão a uma
felicidade sem fim. Eles se acreditam submetidos a uma divindade cruel que gostaria de
fazer que eles comprassem o bem-estar futuro ao preço de tudo aquilo que eles têm de mais
caro aqui embaixo. É assim que o dogma da vida futura foi um dos erros mais fatais pelos
quais o gênero humano foi infectado. Esse dogma mergulha as nações no entorpecimento,
na apatia, na indiferença sobre o seu bem-estar, ou então as precipita em um entusiasmo
furioso, que as leva muitas vezes a dilacerarem a si próprias para merecer o céu.
(HOLBACH: 2010, p. 318-19)

De modo algum iniciamos este percurso de pesquisa já com todas as respostas, pelo
contrário, é por estarmos repletos perguntas que desejamos ir a fundo nas pesquisas sobre a
filosofia materialista. Um dos problemas, a um só tempo ético e político, que buscaremos aclarar
está este uma concepção de mundo materialista e dialética, que superou a transcendência em prol
do “imanentismo” (GRAMSCI: 1981, p. 57), de que modo fundará a valorização ético-política da
igualdade, da liberdade, da fraternidade, dentre outros valores e virtudes, caso se vede o caminho
da sacralização?
Há como formular de modo mundano, profano, a-teológico, imanentista, a “unidade do
gênero humano” pressuposta pelo materialismo francês das Luzes? A “filosofia da práxis” inclui a
possibilidade de uma ética laica, profana, sem sanção nem punição, sem vigilância transcendente?
Sem religião, é ainda possível formular uma ética universalista de molde kantiano que afirme a
igualdade de todos, que postule normas universalizáveis como o imperativo categórico, para todos
os humanos, mas desta vez em outras bases, plenamente enraizadas na “dialética do concreto”?
Com o aniquilamento do divino, cai-se necessariamente num pragmatismo ao gosto anglo-saxão
(W. James, S. Mill, J. Bentham), ou são pensáveis muitas outras potencialidades (socialistas,
comunistas, anarquistas, democráticas)?

IV. HIPÓTESES DE TRABALHO


• H1 - o materialismo é um monismo da matéria, que combate o idealismo e o
espiritualismo, afirmando que a “alma” ou o “espírito” também são materiais, estando
localizados no interior do corpo e sendo inseparáveis dele; em suma: o materialismo
compreende o organismo como unidade psico-somática.

• H2 - a ética materialista tende a ser muito mais hedonista do que ascética, muito mais
consequencialista do que deontológica, voltada para a felicidade terrestre e não para a
“redenção” ou salvação religiosa.

• H3 – a fé, em geral, é criticada como ficção, ilusão, superstição e/ou “ideologia” por
muitos destes filósofos materialistas; eles crêm que a política pode fundar-se em valores
como a justiça, a solidariedade, a fraternidade, sem necessidade de valores transcendentes
ou autoridades sagradas, como na “sociedade de ateus” de P. Bayle;

• H4 - nada condena uma filosofia materialista a um determinismo fatalista; pelo contrário,


é no âmbito do materialismo que nasce e se desenvolve uma filosofia da práxis em que os
conceitos de ação, transformação, emancipação e revolução ganham um peso, uma
centralidade e uma importância como nunca dantes na história da filosofia.

A estas hipóteses, expostas acima e desenvolvidas brevemente no decurso deste projeto,


gostaríamos de adicionar algumas outras, desta vez com um desenvolvimento breve das mesmas.

• H5 – O materialismo trabalha em prol da extinção concreta do “vale de lágrimas”


historicamente constituído.

Uma das lições do materialismo é que a religião pode ser julgada a partir de seus efeitos
psíquicos e sociais, numa lógica consequencialista, para além de seus princípios basilares e teorias
fundamentantes (privilegiadas pela deontologia). Dentre os filósofos materialistas do Iluminismo
francês que mais investiga o tema das relações entre religião e sociedade está Helvétius (1715-
1771), tanto que pode-se dizer que Helvétius é um dos inauguradores daquilo que virá a ser a
disciplina sociologia da religião. Escorraçado pela censura e pela violência repressiva ao publicar
seu tratado Do Espírito, Helvétius têm profunda influência sobre a posteridade por ser o criador do
imperativo utilitarista em que se formula que deve-se visar como meta [télos] da ética e da política
“a maior vantagem pública, ou seja, o maior prazer e a maior felicidade da maioria dos cidadãos”
(apud ONFRAY: 2012, p. 200).

Em D'Holbach e Helvétius, mas também em seus predecessores no século anterior (Méslier


e Pierre Bayle), exige-se a democratização do gozo, a ampliação concreta das possibilidades de
júbilo. Contra o império tenebroso do ideal ascético, que ordena a mortificação da carne, iguala
prazeres e deleites a gangrenas, os ultras das Luzes retomam o epicurismo para a formulação de
seus ideais políticos, em que a realidade terrestre importa muito mais do que uma suposta salvação
post mortem. Tendo a felicidade comum ou o bem público como paradigmas de excelência,
Helvétius julga o real com um ouvido especialmente atento ao “grito da miséria” (ONFRAY, op cit,
p. 205).
Uma de nossas hipóteses, portanto, é a de que o materialismo não se resigna nunca a somar
lágrimas impotentes aos que choram pelas injustiças, mas que põe-se no campo de jogo em prol da
transformação aprimoradora do que há. Ou seja, trata-se de afirmar uma filosofia que não apenas
descreva ou interprete o “vale de lágrimas”, mas sim que modifique o mundo, como diz uma
célebre tese marxista, para abolir o próprio vale de lágrimas e para instaurar na terra um convívio
mais sábio e jubiloso, mais omnilateral e criativo, do que a asfixiante atualidade nos permite.
A partir de suas bíblicas ancestralidades, a imagem da vida como “vale das lágrimas”
atravessou a história e está nos mitos fundadores judaico-cristãos, que explicam a infelicidade a
partir de um pecado original ocasionador de uma queda ontológica e de uma perda do paraíso. O
Paraíso Perdido – título aliás do poema de Milton onde tais mitos proliferam, assim como o fazem
na Divina Comédia de Dante - torna-se então o télos transcendente que o desejo busca re-encontrar.
A vontade humana, alucinada pela fé no paraíso perdido e pelo desejo impossível de fusão com um
deus que é suposto como alheio e transcendente, fica então siderada por “objetos transcendentais”
que, como Marx ironizará na Sagrada Família, não passam de fantasias geradas por cérebros
humanos situados em um contexto sócio-econômico, político-histórico:

A angústia religiosa é ao mesmo tempo a expressão de uma angústia real e o protesto contra
ela. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, tal
como é o espírito de uma situação não espiritual. É o ópio do povo. A abolição da religião
como a felicidade ilusória do povo é necessária para sua felicidade real. O apelo para que
abandonem as ilusões sobre sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que
necessita de ilusões. A crítica da religião é, portanto, em embrião, a crítica do vale das
dores, cuja auréola é a religião. A crítica arrancou as flores imaginárias que enfeitavam as
cadeias, não para que o homem use as cadeias sem qualquer fantasia ou consolação, mas
que se liberte das cadeias e apanhe a flor viva. A crítica da religião desaponta o homem com
o fito de fazê-lo pensar, agir, criar sua realidade como um homem desapontado que
recobrou a razão, a fim de girar em torno de si mesmo e, portanto, de seu verdadeiro sol.

A opressão deve ainda tornar-se mais opressiva pelo fato de se despertar a consciência da
opressão e a ignomínia tem ainda de tornar-se mais ignominiosa pelo fato de ser trazida à
luz pública. (...) É preciso fazer com que dancem as relações sociais petrificadas fazendo-as
ouvir sua própria melodia! O povo deve ter horror de si mesmo, a fim de que ganhe
coragem. (...) É certo que a arma da crítica não pode substituir a crítica das armas, que a
força material tem de ser derrubada pela força material, mas a teoria converte-se em força
material quando penetra nas massas. A prova evidente do radicalismo da teoria alemã, e
deste modo a sua energia prática, é o fato de começar pela decisiva superação positiva da
religião. A crítica da religião culmina na doutrina de que o homem é o ser supremo para o
homem. Culmina, por conseguinte, no imperativo categórico de derrubar todas as condições
em que o homem aparece como um ser degradado, escravizado, abandonado, desprezível.
(MARX: 2005. Crítica à Filosofia do Direito de Hegel – Introdução.)

Nossa hipótese é de que a abolição da religião não pode ser nunca algo meramente
intelectual, uma batalha exclusivamente “cerebral”, uma vitória em uma querela somente teológica,
mas que só se dará pela modificação prática e concreta de uma realidade que torna os sujeitos
alienados, despossuídos de autonomia, dependentes da fé. É preciso compreender os afetos que
estão envolvidos na fé religiosa, os desejos aos quais ela serve de satisfação, as perguntas
irrespondíveis que ela busca fornecer solução, e sobretudo o contexto social e intersubjetivo que
estabelece a estrutura concreta sobre a qual serão erguidos os degraus da superestrutura (aos quais
tanto a filosofia quanto a religião, segundo Marx, pertencem).
A hipótese que tentaremos provar está em sintonia com a afirmação de Marx de que “a
supressão [Aufhebung] da religião como felicidade ilusória do povo é a exigência da sua felicidade
real”, o que Daniel Bensäid ilustra no capítulo “De Que Deus Morreu” de seu livro Marx – Manual
de Instruções, em que parte da influência de Feuerbach sobre Marx e depois expõe a originalidade
do materialismo marxista em relação ao das Luzes:
Em A Essência do Cristianismo, Feuerbach não só mostrou que o homem não é a criatura
de Deus, e sim seu criador. Não só sustentou que 'o homem faz a religião, a religião não faz
o homem. Ao fazer da relação social do homem com o homem o princípio fundamental da
teoria, fundou o verdadeiro materialismo. Uma vez admitido que esse homem real não é a
criatura de um Deus todo-poderoso, resta saber de onde vem a necessidade de inventar uma
vida após a vida, de imaginar um Céu livre das misérias terretres. Marx escreveu que 'a
religião é o suspiro da criatura oprimida' e o 'ópio do povo'. Como o ópio, ela atordoa e ao
mesmo tempo acalma. Portanto, a crítica da religião não pode se contentar, como acontece
com o anticlericalismo maçonico e o racionalismo das Luzes, em ser hostil com o clero,
com o imame ou com o rabino. Engels critica aqueles que querem 'transformar as pessoas
em ateias por ordem do mufti' e diz que 'uma coisa é certa: o único serviço que se pode
prestar a Deus, hoje, é declarar que o ateísmo é um artigo de fé obrigatório e sobrevalorizar
as leis anticlericais, proibindo a religião em geral.' Já Marx combate as ilusões de um
ateísmo que é apenas uma crítica abstrata e ainda religiosa da religião, que permanece no
plano não prático das ideias. (…) A crítica do ateísmo contemplativo e abstrato leva Marx a
se distanciar de Feuerbach , que 'não vê que o próprio sentimento religioso é um produto
social' e que 'a família terrestre é o segredo da Sagrada Família.' Em suma, enquanto o
ateísmo é apenas a negação abstrata de Deus, o comunismo é sua negação concreta.
(BENSAÏD: 2013, p. 23-31)

Que esta última frase sirva de síntese, pois, para nossa hipótese de trabalho aqui exposta: o
comunismo como negação concreta de Deus e da explicação mítica e fatalista do “vale das
lágrimas”. Em conexão a esta hipósese, também avançaremos a hipótese suplementar (H6) de que
há, no Brasil, alguns pensadores conectados ao marxismo e de alta relevância na história intelectual
brasileira que deram muitas contribuições a este tema: Álvaro Vieira Pinto, Marilena Chauí e
Leandro Konder são três daqueles que mais dedicaram-se aos problemas que pretendemos também
abordar.
Como breve exemplo da fecundidade de conectar estes pensadores brasileiros à discussão,
citarei a contribuição de Vieira Pinto: fiel às suas raízes na filosofia marxista, ele pretende
denunciar um embuste e uma “mistificação”, uma alienação religiosa diretamente conexa a um
conformismo ou fatalismo sócio-político. rata-se de questionar o quanto a religião presta serviços à
conservação material e concreta da dominação opressora, da humilhaçãodesumanizante, dos
sistemas econômicos e políticos que são esmagadores da dignidade humana. Explica porquê as
“religiões milenares, orientais e ocidentais esforçam-se em retratar o mundo em que a humanidade
se tem desenvolvido utilizando a conhecida imagem do vale das lágrimas”:
Se não convencerem os homens de que, por uma tristíssima fatalidade, têm de passar a
existência no mais doloroso sofrimento, submetidos a toda espécie de privações, provações
e por fim à morte, deixa de ter sentido seu papel com que se justificam, o de ser o único
veículo da 'salvação' para nós, desgraçados viventes. (…) Daí a arraigada concepção,
convertida em imagem de mundo, de que os homens, como consequência de um castigo
original, habitam o mais tenebroso e inóspito lugar do universo, de onde lamentavelmente
não conseguirão jamais se evadir, um vale de lágrimas, expressão que os pontífices desta
mentirosa e infame simploriedade se empenham em deixar bem claro não se tratar de mero
traço de retórica evangélica, mas de uma autêntica, embora cruel e lamentabilíssima,
realidade. Esta mistificação (…), esta vulgar, interesseira e estúpida noção, é produto de
uma exigida falsificação perpetrada pelas potências dominantes sobre a grande multidão da
humanidade. “O 'vale' das lágrimas foi talhado por um rio formado pela torrente de
lágrimas que as massas trabalhadoras, durante incontáveis milênios de sujeição a senhores,
déspotas, sacerdotes, empresários e ricos proprietários, em todos os tempos, verteram dos
olhos (…) A ironia do conceito reside em não ter sido cunhado pelos sofredores, mas pelos
que habitam as alturas. (VIEIRA PINTO: 1975/2008, p. 21-23-24)

Como defenderemos em mais minúcia, a obra de Marilena Chauí7 e Leandro Konder8


também contêm reflexões de muito mérito no âmbito deste problema. Dito disto, finalizamos
afirmando nossa convicção de que, contra qualquer tipo de fatalismo, de conformismo, de
resignação, o materialismo filosófico possui compromisso prático e emancipatório, perseverança na
noção de que mudar o mundo não só é possível como é necessário, criticando a figura humana que
cruza os braços, recusa a práxis, limita-se à vida contemplativa, resigna-se ao instituído, limitando-
se à paciência absoluta de quem aguarda socorro divino sem nada fazer para melhorar sua situação
concreta no âmbito terrestre.
Justifica-se uma pesquisa aprofundada sobre o materialismo filosófico também pelo
interesse prático que há em confrontarmos as religiões instituídas e seu poder político, cultural,
social, midiático, ainda hoje muito forte. Como filósofos materialistas apontam (D'Holbach antes
de Marx, Gramsci e Onfray posteriormente), não existe nenhuma garantia de virtude ética ou
excelência política no mero conformismo a uma religião tradicional imposta pelas cúpulas da
sociedade. É preciso admitir a possibilidade do ateu virtuoso e do materialismo politicamente
libertário como valores que talvez seja recomendável afirmar diante do obscurantismo e do
fanatismo, das teocracias e das inquisições.

7 “Todos conhecem a famosa fórmula segundo a qual ‘a religião é o ópio do povo’, isto é, um mecanismo para fazer
com que o povo aceite a miséria e o sofrimento sem se revoltar porque acredita que será recompensado na vida
futura (cristianismo) ou porque acredita que tais dores são uma punição por erros cometidos numa vida anterior
(religiões baseadas na idéia de reencarnação). Aceitando a injustiça social com a esperança da recompensa ou com a
resignação do pecador, o homem religioso fica anestesiado como o fumador de ópio, alheio à realidade. No entanto,
costuma-se esquecer que, antes de fazer tal afirmação, Marx define a religião como ‘a criação de um espírito num
mundo sem espírito’ e ‘consolação num mundo sem consolo’. (…) A religião, como toda ideologia, é uma atividade
da consciência social. A religiosidade consiste em substituir o mundo real (o mundo sem espírito) por um mundo
imaginário (o mundo com espírito). Essa substituição do real pelo imaginário é a grande tarefa da ideologia e por
isso ela anestesia como o ópio”. — MARILENA CHAUÍ, “O Que é Ideologia”, pg. 108, ed Brasiliense.
8 Conferir, por exemplo, os artigos “É possível fazer o socialismo com fé em Deus” e “O Novo Conteúdo Político do
Direito ao Prazer.” In: O Marxismo na Batalha das Ideias. São Paulo: Expressão Popular, 2009.
Com este trabalho, planejamos contribuir com uma re-consideração da história da filosofia,
vista também sob uma perspectiva contra-hegemônica, que focará naqueles filósofos que foram
considerados dissidentes, heréticos, ímpios, ateus, céticos (ou que foram estigmatizados como tal).
Entre as mais importantes obras que estudaremos, destacam-se os 2 volumes de Friedrich Albert
Lange (1828-1875), A História do Materialismo e Crítica do seu Valor Para Nossa Época
(publicado em 1866 em alemão: Geschichte des Materialismus und Kritik seiner Bedeutung in der
Gegenwart); a Enciclopédia dos Iluministas, que teve em Diderot e D'Alembert seus principais
artífices (lançada no Brasil, em 5 volumes, pela Editora Unesp), além da obra em 9 volumes de
Michel Onfray, Contra-História Da Filosofia (5 deles publicados no Brasil pela Martins Fontes).
Durante os 36 meses do doutorado, nosso plano é publicar uma série de artigos (ao menos 2
por ano) que divulgarão os frutos de nossas pesquisas e de nossa interação com colegas, professores
e orientador(a). Além disso, desejamos participar da maior quantidade possível de eventos que
possam ter relação com nosso objeto de pesquisa (seminários, colóquios, fóruns, debates etc.), de
modo a colocar tais ideias em circulação para serem debatidas e dialogadas, dentro e fora da
academia, na perspectiva de que a filosofia pode sim ter função pública determinante para a nossa
ventura comum.
Julgamos que tal trabalho possa elucidar sobre outros modos de conceber um ideal ético e
político que supere as caducas concepções teológicas e obscurantistas que, ainda em nossos dias,
teimam em querer submeter a vida humana a autoridades transcendentes, punições e recompensas
post mortem, perpetuando as hegemonias das teocracias, do sectarismos, da fanaticidade violenta.
Será uma aventura em que não seremos filósofos que se contentam em interpretar o mundo – pois
como lembra Marx numa de suas mais célebres Teses Contra Feuerbach, o que importa agora é
transformá-lo. Ao sapere aude deve ser somada a ousadia do fazer: o atrever-se a conhecer é
imperfeito e limitado sem a coragem de agir em conjunto para mudar o mundo comum.
V. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BENSAÏD, Daniel. Marx – Manual de Instruções. São Paulo: Boitempo, 2013.


CHAUÍ, M. O Que É Ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980.
COMTE-SPONVILLE, André. “O Que É Materialismo?”. In: Uma Educação Filosófica. São Paulo: Ed. Martins Fontes,
2001.
CONCHE, Marcel. Orientação Filosófica. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
D'HOLBACH. O Sistema da Natureza – Das leis do mundo físico e do mundo moral. Trad. Regina Schöpke. São Paulo:
Martins Fontes, 2010.
DeWITT, Norman Wentworth. Epicurus and His Philosophy. Cleveland, Ohio: Meridian, 1967.
ENGELS, F. Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã. Paris, 1968.
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GREENBLATT, S. A Virada – O Nascimento do Mundo Moderno. SP: Cia Das Letras, 2012.
JAEGER, W. Paidéia – A Formação do Homem Grego. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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LAÉRCIO, Diógenes. Vidas de los filósofos ilustres. Madrid: Alianza, 2ª ed, 2011.
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Matérialisme et critique de son importance a notre époque). Paris: Schleicher Frères, 1910.
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-----------. A Sagrada Família. Trad. Marcelo Backes. São Paulo: Boitempo, 2003.
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SPINOZA, B. Tratado Teológico-Político. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
TODOROV, Tzvetan. O Espírito das Luzes (“L'Esprit des Lumières”). São Paulo: Ed. Barcarolla, 2006.
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D'HOLBACH. A moral universal, ou Os deveres do homem fundamentados em sua natureza; Exame dos princípios e dos
efeitos da religião cristã; Exame crítico da vida e dos escritos de São Paulo; O contágio sagrado, ou História natural da
superstição; O Sistema social; Política natural. Ebooks.
DIDEROT; D'ALAMBERT. Enciclopédia. 5 volumes. São Paulo: Unesp, 2015.
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