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ELLEN VISITÁRIO
JACKSON VASCONCELOS
MAURO BALHESSA
REFÚGIO
Histórias de refugiados colombianos que
escolheram São Paulo como nova casa
F
Editora Casa Flutuante
L i v r o - r e p o r t ag e m & a c a d ê m i c o s
Orientadora
Profª Ms. Carla de Oliveira Tôzo
ISBN 978-85-5869-041-6
CDD 325.21
Editor
Editora Casa Flutuante
Rua Manuel Ramos Paiva, 429 - São Paulo - SP
Fone: (11) 2567-6904 / 95497-4044
www.editoraflutuante.com.br / www.livro-reportagem.com.br
Capa e Diagramação
Israel Dias de Oliveira
Dedicamos a todos os refugiados que encontraram na
cidade de São Paulo a nova forma de viver.
Um agradecimento especial aos nossos familiares, amigos e a
quem sempre torceu por nós, para que este livro-reportagem
se tornasse realidade.
SUMÁRIO
Apresentação...........................................................................11
Sobre os autores......................................................................97
APRESENTAÇÃO
A
construção deste livro-reportagem se originou do
primeiro contato com a América Latina em um pro-
jeto de revista acadêmica, desenvolvida no 6º perío-
do de jornalismo no Centro Universitário FIAM FAAM, em
São Paulo, realizada no segundo semestre de 2016.
Neste contato, vimos a necessidade de falarmos sobre os nos-
sos vizinhos latino-americanos de uma forma que a mídia tra-
dicional já não tenha dito ou esclarecido, tampouco observado
com atenção o que os países da América do Sul teriam a dizer.
A ideia de olharmos com outros olhos àqueles que preci-
savam aparecer, ter voz, reforçou para que o nosso pré proje-
to de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), desenvolvido
em fevereiro de 2017, contasse histórias de refugiados colom-
bianos que escolheram o Brasil, especificadamente a cidade
de São Paulo como nova moradia.
Nestas páginas estão personagens que sofreram a repres-
são e as torturas de guerrilheiros das FARC (Forças Armadas
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Revolucionárias da Colômbia), considerada pelo governo da
Colômbia, dos Estados Unidos e do Canadá como uma orga-
nização terrorista.
Em contrapartida, há defensores deste grupo que levan-
tam a bandeira de que o movimento, que existe desde 1964,
foi criado para lutar pela implantação do socialismo no país
colombiano. Assim como fez em 2008 o presidente da Vene-
zuela, Hugo Chavez, que rejeitou este título, publicamente, e
apelou ao país e a outros governantes estrangeiros o reconhe-
cimento diplomático das guerrilhas.
Além das FARC, existem os paramilitares, que contro-
lam a grande maioria do narcotráfico de cocaína e de outras
substâncias em conjunto com os principais cartéis de drogas
colombianos.
Em “Refúgio – Histórias de refugiados colombianos que
escolheram São Paulo como nova casa” o leitor encontrará
relatos de pessoas simples, que lutaram – e lutam – para ain-
da conquistar um espaço próprio, além das experiências de
conviver com brasileiros e seus costumes, como conta a per-
sonagem Liliana, que saiu da Colômbia para encontrar no
Brasil uma paz que não existia em sua cidade natal, e como
alternativa para sustentar os filhos, encontrou na Vila Mada-
lena um espaço para vender suas comidas típicas, como are-
pas. Quem também detalha sua história é o professor Héctor
ao retratar o que passou nas mãos de militares à época que
sofreu um sequestro; como também o Cristiano, um pai co-
lombiano de duas meninas que ainda não sabem falar a lín-
gua portuguesa muito bem, que vê no país tropical a chance
da sua família crescer e viver bem.
Existem também os relatos de Daniela, de Victória e de
Aleksey, que enfrentam o preconceito, as dificuldades e as
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descobertas do dia a dia, de viver longe da sua pátria moran-
do em São Paulo, a famosa locomotiva do país.
A divertida experiência dos três amigos colombianos Mi-
guel, Luis e Juan que nos contaram, sentados em um banco
de igreja, como é viver na capital paulista e tentar aprender
com suas estratégias o português, também contempla essa
pequena obra, assim como o Jair e o padre Ajeandro, per-
sonagens que nos deram a chance de ouvir suas respectivas
percepções sobre o tratamento do Brasil com refugiados.
As trajetórias e os distintos motivos que levaram essas
pessoas a morar em São Paulo, o entendimento do que pen-
sam do Brasil como refúgio e os novos lares estão nesse livro
criado por nós para dar voz a eles.
Contudo, as emoções escritas nestas páginas merecem
ser lidas por você também, caro leitor.
Boa leitura!
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DE REFUGIADO A EMPREENDEDOR
NA RUA AUGUSTA
N
o dia dois o termômetro marcava a temperatura de
vinte três graus de um fim de tarde ensolarado. A
hora? Quatro e quinze da tarde do primeiro sába-
do do mês de setembro de 2017. O entrevistado marcou o
bate papo às 17h30 no endereço mais cosmopolita da capital
paulista. O local escolhido foi o Calçadão Urbanoide, locali-
zado no número 1.291, da rua Augusta, situado entre o Espa-
ço Fábrica Augusta e um Burguer King. O ambiente é muito
aconchegante e frequentado por apreciadores da culinária de
nacionalidades como: Venezuela, Peru, México e Colômbia.
Dentro do Calçadão Urbanoide encontra-se o foodtruck Ma-
condo – Raízes Colombianas. O nome do restaurante é uma re-
ferência à cidade fictícia do romance 100 Anos de Solidão, de Ga-
briel García Márquez, e possui como decoração as cores vivas e
fortes da bandeira da Colômbia: amarelo, azul e vermelho. Dois
chapéus típicos do país e alguns cartazes anunciando: patacon,
arepas e patacones complementam a decoração do foodtruck.
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E para finalizar…
Nesse momento sentimos que precisamos nos apressar,
afinal, a noite está só começando para os funcionários do
Macondo – Raízes Colombianas. Fizemos a pergunta final
que pode parecer muito ampla, mas a intenção é que ela seja
para não limitar a resposta.
O que é a vida para você?
— Eu acho que é procurar a felicidade. O eu que mais
procuro é ser feliz. Minha cozinha me faz feliz, minha espo-
sa, o grupo que eu trabalho que está comigo, então se não
mudar é isso. A vida tem altos e baixos. Tem dias que a gente
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fica irritado, acha que não vai dar certo com o negócio, mas
sempre vamos em frente. No projeto Raízes da Cozinha tem
congoleses, haitianos e sírios que estão começando, então, eu
falo para eles: “Eu comecei com um investimento de R$ 6.000
e agora eu não vendo por menos de R$ 90.000, isso em três
anos, então tem como dar certo se você fizer as coisas com
paixão”. Muita gente fala que é sorte, mas sorte é você acordar
às seis horas da manhã. O filho da Liliana Patricia trabalhou
comigo e ela está no projeto também. Daniel Sebastián foi
meu primeiro funcionário. Ficou comigo por oito meses. Eles
começaram aqui embaixo [próximo a rua Augusta] em uma
bike, aí deu certo e procuraram por mais eventos.
A entrevista chega ao fim. Cumprimentamo-nos e agra-
decemos. Jair Abril Rojas se levantou em um solavanco e per-
guntou se não queríamos experimentar nada de seu foodtruck,
agradecemos mais uma vez e nos despedimos. O relógio mar-
cava 19h15. O aplicativo de temperatura do celular indicava
16º graus de uma São Paulo predominantemente nublada. O
Calçadão Urbanoide começava a encher ainda mais de gente.
As lâmpadas, que vistas de longe se assemelham às grandes va-
galumes, foram acesas para iluminar a noite que estava só co-
meçando em uma das ruas mais badaladas da capital paulista.
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O BRILHO NO OLHAR E O
SABOR DOS QUITUTES DE UMA
COLOMBIANA PAULISTANA
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A
mbiente alegre: dança, música ao vivo, tendas com pe-
ças artesanais e comidas para todos os gostos. O horário:
16h. O espaço: Armazém da Cidade - Vila Madalena,
bairro da Zona Oeste de São Paulo. Lá estava ela, trabalhando,
na correria. E uma fila imensa, só para degustar das suas arepas
- comida típica colombiana feita de milho moído. Seu nome,
Liliana Patricia Pataquiva Barriga, trinta e oito anos, cozinheira
e colombiana de Bogotá. Uma baixinha, parruda, com a cara de
esforço (ao produzir seus quitutes) e com um sorriso nos olhos.
Sem tempo para dar atenção, quem recebia os clientes era
seu marido, Cesar Giovanny, de trinta e seis anos, também
colombiano. O trabalho era ininterrupto e provavelmente a
nossa conversa com eles seria tarde da noite. Mas o acaso aju-
dou: acabou a energia elétrica. E assim se deu a entrevista, à
luz do celular. O paradoxal das luzes e escuridão, então, pas-
sou a dimensionar outra realidade, a de Bogotá, da incandes-
cente infância de Liliana e do apagão que a fez vir ao Brasil.
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A terra natal
Liliana morava com os seus pais, no bairro tranquilo de Tu-
nál, na capital colombiana. Sempre brincava pela rua, de amare-
linha e esconde-esconde. Na escola, lembra como era feliz com
suas amigas, em tempos em que não havia smartphones.
— Minha infância foi muito boa. Eu morava com o meu
pai e com minha mãe e irmão. A gente tinha comodidade,
não era muito luxuosa, mas era muito boa. Tinha meu quar-
to, minha televisão. Estudei na escola do governo. Ainda era
inocente e não tinha o que tem agora, com a internet. Eu era
muito feliz com as minhas amigas, brincando, conversando.
Muito mais tranquilo que os jovens de agora.
A época encantada foi embora bem cedo para ela. Aos 15
anos engravidou de Daniel Sebastián. Logo teve que traba-
lhar. Começou fazendo faxina em apartamentos e as pessoas
até a deixavam levar o filho para o local de trabalho. Depois
foi para o shopping em uma loja de roupas. Chegou a traba-
lhar por dez anos no mesmo lugar.
Durante esse período começou a juntar dinheiro para o
próprio negócio e conheceu seu marido Cesar. Logo decidiram
montar um pequeno restaurante de arepas em Bogotá. De olho
na concorrência, Liliana inovava no seu cardápio com cachor-
ro-quente, frango assado e até uma máquina de vídeo game
que alugavam por hora. Em anos de trabalho, a família con-
quistou certas regalias. Tinham até um carro Corsa compacto.
Os negócios iam muito bem, porém por um alto custo.
Mesmo sem revelar nomes, Liliana se lembra do “problema”.
Grupos armados começaram a pedir uma “multa” mensal-
mente para o casal trabalhar no local. Não sabiam que o ter-
ritório era dominado pelo grupo. Depois de anos ali, amea-
çaram sua família. Isso era o ano de 2013.
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A igreja anfitriã
Ela foi recebida por um projeto da Igreja Nossa Senhora da
Paz chamado Missão de Paz, que fica na rua Glicério, Liberdade.
1 Livro que uma pessoa recebe anonimamente como uma ameaça de morte
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UM SOPRO DE ACALANTO, UMA
MISSÃO DE PAZ
—
Nós acreditamos, falando religiosamente, que é o
rosto de cristo que nos visita. Na tradição bíblica di-
zia-se que os mais vulneráveis eram: os estrangeiros,
as viúvas e os órfãos. O grupo dos três mais fracos que existem
na sociedade. Nosso trabalho aqui é que possam se integrar na
nova terra, conservando um pouco a identidade, mas também
entrando em diálogo com o novo lugar. Aqui em São Paulo exis-
tem mais de trinta igrejas católicas com línguas diferentes.
Na época foi o Padre Luiz que ajudou Liliana Patricia Pata-
quiva Barriga, atualmente quem está à frente do trabalho com
os imigrantes é o mexicano Alejandro Cifuentes. Oriundo de
Guadalajara, a figura atenciosa e paciente explica o trabalho
exercido na igreja Nossa Senhora da Paz — situada na Rua
Glicério, 225, bairro da Liberdade, em São Paulo. A missão da
igreja é oferecer apoio aos imigrantes com diferentes serviços.
Primeiro há um atendimento especial para as pessoas
que chegam à chamada Casa do Imigrante — são 110 vagas
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Rede Internacional
O Padre Alejandro explica que a congregação em que a
igreja atua funciona como uma rede internacional. Ela está
integrada com mais de trinta e cinco países e outras regiões
do Brasil que fazem o mesmo serviço. Muitos escolhem a ci-
dade de São Paulo porque é um lugar grande e com oportu-
nidades de trabalho e estudos.
— Com as outras igrejas existe a comunicação que facilita
muito o nosso trabalho, por exemplo, muitos colombianos
vêm por Manaus e descem para São Paulo, por isso temos
uma casa em Cuiabá, mas geralmente eles vêm com o destino
direto para São Paulo, Porto Alegre e Curitiba que tem outros
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Doações
A igreja é ajudada apenas pela sociedade civil e por fiéis.
Não há nenhuma entidade que auxilia os trabalhos. O padre
afirma que dez anos atrás tinham uma parceria com a Pre-
feitura de São Paulo, entretanto o debate sobre migração era
diferente. Recebia-se o imigrante como se fosse um morador
de rua, que precisava de um lugar para ficar.
— Tivemos mais de duas mil contratações de emprego.
Apesar da crise neste ano, nós temos tido alguns encaminha-
mentos, em média setenta por mês, uma luz para nós. O pes-
soal confia, são os mesmos empresários. Existe a confiança
daqueles que vêm aqui para que sejamos os mediadores nesse
processo. É um trabalho muito sério para não expor ninguém.
União da Comunidade
A comunidade colombiana realiza anualmente duas festas
na igreja: uma é da independência, em 20 de julho, e outra
em 07 de dezembro, quando é feita uma celebração única no
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mundo que é a “Noite das Velitas”, uma vigília. Com cada país
são realizadas diferentes festas e momentos. Como são muitas
nacionalidades que aparecem, aqui é um lugar de festa.
De acordo com Alejandro, essa é uma forma de conservar
a identidade.
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OS TRÊS AMIGOS COLOMBIANOS
NO PAÍS DO CARNAVAL
—
É aqui na igreja do Glicério que encontro minhas
raízes. Estou ao lado de gente que fala o meu idio-
ma e isso me dá a chance de matar a saudade do
meu país!
No auge dos vinte e seis anos, o jovem Miguel Angel Me-
nezes, sentado entre dois amigos em um banco de madeira de
igreja que fica ao fundo de becos e vielas do bairro Liberda-
de, conta que são nas festividades da Paróquia Nossa Senhora
da Paz que ele tem a oportunidade de voltar a falar a língua
espanhola para se sentir mais próximo de onde nasceu.
Criado pelos pais e na companhia de cinco irmãos na cida-
de mais popular do Norte de Santander, na Colômbia, Miguel
guardou para si a vontade de morar no Brasil ainda na infância.
— Desde criança via aqui a chance de crescer e sonhava
com o dia que conheceria a capital paulista. Mas meus pais
eram contra a essa minha decisão. Achavam o Brasil um lu-
gar perigoso. Acreditavam somente naquilo que viam na TV!
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MINHA CASA É ONDE OS MEUS
AMIGOS ESTÃO
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oi através do vídeo: “Daniela, a colombiana que fugiu
dos paramilitares”, postado no canal CartaPlay, no
Youtube, que tivemos conhecimento de uma mulher
refugiada no Brasil há quinze anos. O contato com Daniela
Hernandez Solano, 28 anos, foi realizado inicialmente atra-
vés de WhatsApp. Após explicarmos sobre que o livro-re-
portagem trataria, ela disse que nos ajudaria e marcou um
encontro às 18h00 do dia 24 de agosto de 2017. Para nossa
surpresa, ela passou o endereço de sua residência que fica a
dois quarteirões do Metrô Vila Mariana.
Chegando ao apartamento de Daniela sentimos que ela é
uma pessoa muito receptiva. Muitos dizem que existe certa
“irmandade” entre os países da América Latina e que isso não
se aplica muito ao Brasil, e por alguns momentos tivemos a
chance de sentir um pouco desse sentimento.
A atriz e professora de espanhol usava um visual que com-
binava com sua personalidade descolada: calça moletom preta,
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Infância na Colômbia
— Nasci em Ibagué, região que fica a quatro horas de Bo-
gotá. A minha infância e pré-adolescência, que é o período
mais marcante que lembro na minha memória, é onde mo-
rei, um povoado que se chama Silvia, no departamento de
Cauca, perto de Cali. Minha infância foi muito gostosa, mas
as coisas que nós fizemos geraram um amadurecimento fora
da idade, e que hoje tem suas consequências. Tive que ser
uma adulta, [mesmo sendo] totalmente criança. Meus pais
tinham uma questão espiritual porque eles trabalhavam com
indígenas, por isso, a ligação com a natureza era muito forte.
Por parte da minha família, a gente é protestante. Eu não me
considero, mas crescemos num meio Protestante Anabatista
— que rejeita o batismo nas crianças —, mas meus pais ape-
sar de viverem disso, seguiam muito a teologia da libertação,
uma coisa mais à esquerda. Tem, hoje em dia, muito a ver
com o pensamento do Paulo Freire. Eles sempre foram muito
abertos para a questão energética e da natureza. Não cresce-
mos numa família “quadradinha”.
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Ameaça à vida
Daniela diz que sua história é baseada no que ela criou
com o decorrer dos anos e as informações que adquiriu du-
rante a sua infância, por isso sua versão pode não ser total-
mente fiel aos fatos. Ela deixa claro, rindo, que é a interpre-
tação do que viveu.
— Pelo que eu sei meus pais sofreram ameaça das FARC,
pois a região que a gente morava era uma “zona vermelha” de
conflito armado normalmente dominada pela guerrilha, na
Cordilheira Ocidental, mas tinha conflito com os paramilita-
res AUC [Autodefensas Unidas da Colômbia] que são os la-
tifundiários. Eu vou bipolarizar. A guerrilha nasceu nos anos
de 1950 como movimento de camponeses exigindo reforma
agrária e representação política que não deu certo, então se
levantaram em armas. Ela vem de um cunho mais socialista,
de esquerda, mais dos oprimidos. Surge também, não estou
defendendo, as AUC que são, ao meu modo de ver, grandes
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Fugindo da Colômbia
A situação começou a complicar para a família Solano
e o medo consumia cada vez mais os pais da colombiana.
Daniela tem uma tia casada com um brasileiro e que mora
em Alphaville — região nobre pertencente ao município de
Barueri situado no Estado de São Paulo — que aproveitou o
aniversário da irmã e a convidou para passar férias por quin-
ze dias no Brasil. Elas não se viam há algum tempo e sua mãe
— exausta — veio, enquanto eles continuaram na Colômbia.
— Nesse meio tempo meu pai sofreu ameaça de novo e a
gente teve que ficar viajando. Ele falou: “A gente vai visitar a
tia”. Ele adorava viajar de madrugada, e era mais seguro. Eu
sabia que tinha gente que estava de olho no meu pai por causa
da candidatura dele, muita gente não tinha gostado, muitos
indígenas apoiavam. Mandaram uma pessoa dos paramilitares
vigiar. O cara sempre ia em casa e era muito gente fina, se cha-
mava Davi, ele tinha um irmão da guerrilha. Esse cara passava
em casa e ficava conversando com a gente, até que falaram para
o meu pai tomar cuidado: “Esse fulano está proibido, vocês
não abrem a porta quando ele vier”. Davi chegava e dizia: “Oi,
narizinho! Como você está?”, e em seguida a gente falava: “Mi-
nha mãe não tá, meu pai não tá”, fechando a porta. Um tempo
depois esse cara foi morto, balearam ele e o irmão. Ele era teo-
ricamente um informante. Na data da minha mãe chegar fize-
mos um cartaz de boas vindas e ela não veio. No dia seguinte
minha tia falou: “Seu pai vai falar com vocês”, e meu pai disse:
“Sua mãe está atrasada! Eu vou chegar com ela aí em dois dias”,
ele chegou, e minha mãe não: “Se fosse para vocês morarem
fora, vocês morariam no Equador ou no Brasil?‘, aí a gente fa-
lou: “Na Colômbia!”. Ele disse que as coisas não estavam muito
legais e que no Brasil tinha a minha tia, então falamos que se é
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para escolher era melhor o Brasil, ele falou: “A tua mãe não vai
voltar, vocês vão pra lá, não falem para os seus amigos, vamos
voltar para pegar as malas, mas vocês não podem falar nada
por questão de segurança”.
Nossa interlocutora diz que vai decorar sua própria his-
tória, afinal ela já havia discorrido sobre ela com o pessoal da
Carta Capital e para uma estudante de outra faculdade. Danie-
la fala de modo agitado: se expressa movimentando muito seus
braços e destacando algumas palavras ao mudar o tom de sua
voz. Seria essa uma influência de sua formação como atriz? Ela
diz que as coisas aconteceram muito rápido. A primeira quem
veio para o Brasil foi Ruanita Hernández, sua irmã do meio,
enquanto ela e sua irmã mais nova voltaram para o povoado.
— Foi horrível, pois sabíamos que não íamos voltar e
não conseguimos falar nada para os nossos amigos. Foi uma
época muito ruim. Muito chato esse silêncio, esse adeus na
garganta. Lembro que meu pai me deixou trazer alguns brin-
quedos simbólicos, roupas e só. A gente fez com meus amigos
uma cápsula do tempo onde cada um escreveu como se veria
em dez anos e enfiou algum pertence nosso, enterramos e sa-
bíamos que era a despedida. Meu pai levou meus amigos para
dar uma volta com ele sabendo que a gente ia deixar de se ver
por um tempo e não falou que seria definitivamente. Foi bem
ruim, muito chato e aí fomos para Bogotá e nos despedimos
da família, mas ninguém sabia muito detalhe. Eu viajei com
minha irmã mais nova.
Chegada ao Brasil
Ao chegar ao Brasil, Daniela sentiu um choque de reali-
dade, pois achou tudo muito cinza. Como os tios moram em
Alphaville, ela logo percebeu os grandes outdoors e achou a
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O recomeço
Por intermédio do Cáritas Brasileira (Entidade de atua-
ção social que trabalha na defesa de direitos humanos), Da-
niela e suas irmãs conseguiram bolsas de estudo nas escolas
Pueri Domus e São Pio X, ambas padrão classe média alta.
Ela disse que ela e sua irmã mais velha se sentiram como um
peixinho fora d’água, mas para Juanita, a caçula da família, a
adaptação foi mais fácil.
— A chegada foi legal, uma descoberta e um reencontro,
mas também um pouco chato por causa do bullying. Hoje
eu consigo falar disso. Dar risada é um jeito de proteção que
se cria psicologicamente. Entrei na escola na sexta série não
sabendo português. Tinha uma menina, filha de uruguaios,
que se tornou minha amiga e me ensinava algumas coisas.
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O projeto Visto Permanente e a
chance de morar na terra da garoa
O Visto Permanente é um website destinado a reivindi-
car a presença do imigrante e do refugiado em São Paulo e
defender que quem vive e trabalha na cidade, tem direito a
trafegar por ela. Como a Daniela Hernandez fez teatro, ela
sempre acreditou que a arte é uma forma de se expressar e
sensibilizar. Ao conhecer um português e uma Luso-Brasi-
leira, que também queriam trabalhar em algo para descarac-
terizar o discurso de que os estrangeiros vêm para roubar o
trabalho dos nativos, traficar e tantos outros estereótipos que
fazem parte da vida dos brasileiros, surgiu ali o embrião do
que seria o Visto Permanente.
O site surgiu no início de 2015 e, desde então, vem fazen-
do o trabalho de propagação da cultura de artistas de diver-
sas nacionalidades. Foi através desse projeto que conhecemos
dois colombianos que vivem em São Paulo e têm como pai-
xão um interesse em comum: a música.
Victoria Saavedra é uma cantora de trinta anos de ida-
de, conhecida nos circuitos relacionados à música latina. Ela
é baixinha, de leve sotaque hispânico, pele morena clara e
cabelos cacheados um pouco acima do pescoço. A colom-
biana veio morar no Brasil em 20 de julho de 2010, a fim de
aprender o português e conhecer mais da cultura e música
brasileira. Ela diz que demorou por volta de três anos para
se adaptar no país e como veio intitulada estudante, ela não
encontrou grandes problemas relacionados a preconceito.
Seu maior entrave foi relacionado à burocracia brasileira em
relação a documentos.
A primeira banda que ela teve em São Paulo se chama Can-
dombá — que faz releituras de várias músicas da América La-
tina e mistura com ritmos brasileiros. Ela também faz parte
da Orkestra K, tocando músicas autorais e fazendo releituras.
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A LUTA E O SORRISO COLOMBIANO
QUE VIERAM AO BRASIL
—
A fé é o que mais me encanta no povo colombiano.
A fé no futuro. Quando mataram todos, mataram
todos os líderes sociais. E você continua lutando...
Eu chamo isso de fé. É acreditar no que você não vê. É não
desistir. Chamaria esperança se você esperasse ver. Mas com
todos esses anos de violência, acho que os colombianos não
esperavam ver mais nada. Agora, uma das coisas da paz é que
não se recupera a tranquilidade, mas se recupera a esperança.
Tantos acordos de paz e não tínhamos esperança. Outra coisa
é a alegria. A fé produz alegria. Nunca perdemos a alegria.
Sempre quando perguntam: “Como você consegue sorrir?”
Respondo que consigo porque sou colombiano.
Às dez e três da manhã em 14 de setembro de 2017 não
marcava apenas a “aula” com Héctor Baez Mondragón, um
senhor de sessenta e três anos, pesquisador, ativista dos direi-
tos humanos, escritor e professor da COGEAE (Coordena-
doria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão)
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As lutas
Nascido na capital colombiana, residente da cidade grande,
sua luta, seu amor pela luta para o povo, começa cedo, aos doze
anos. A empatia com os movimentos sociais partiu de uma
ação que fazia com um grupo católico da sua escola, em Bogo-
tá — lecionavam para uma população carente local. Quando
esses cidadãos começaram a enfrentar algumas reintegrações
de posse, o grupo também virou partidário às suas causas.
— Íamos para favelas e dávamos aulas aos sábados por-
que todas as crianças perdiam o ano escolar, pois não faziam
as lições de casa. Não tinham onde fazer. Porque em um
quarto morava toda a família. Aos sábados organizávamos
e fazíamos todas as lições de casa da semana com eles. Co-
meçamos como professores e terminamos como militantes.
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bairro e fui eleito para o Comitê. Tinha vinte e três anos. Todo
policial e todo delegado tinha as diretivas do sindicato petrolei-
ro e as diretivas do comitê. Então começaram a procurar os líde-
res nas casas. Para não ser mortos aprendemos a morar sempre
em casas diferentes. Cada noite, nós dormíamos em uma casa.
Depois eles começaram a cercar uma quadra inteira. Chegáva-
mos a uma casa e depois fugimos a casa detrás. E íamos para as
casas que tinham saídas para os esgotos. Nunca aprendi tanto na
vida como aprendi na cidade de Barrancabermeja.
Héctor relata a cômica história do pós-greve. Mandaram
todo o exército para Barrancabermeja. Fizeram um desfile na
avenida principal. Então, as crianças pegaram estilingues e co-
meçaram a atirar. E o desfile terminou. No dia seguinte voltaram
a desfilar, mas com capacetes. As crianças, então, apareceram
com apitos. Estupefato, o prefeito militar fez um decreto no mí-
nimo hilariante: se proíbe o artigo denominado apito. Proibiram
os apitos. Todos deram risada. As pessoas liam o decreto e gar-
galhavam. O pior é que o apito na Colômbia tem também um
duplo sentido. A risada cessou e Héctor se lembrou do dia 14 de
setembro de 1977. O dia em que foi pego pela polícia.
— No dia em que terminou a greve eu fui à aula na univer-
sidade, e me pegaram. Fui levado para um lugar desconhecido
e torturado por nove dias. Quando cheguei à prisão, fiquei até
feliz, porque não me torturavam mais e tinha mais de 400 pre-
sos políticos. A gente estava dormindo no pátio, não cabíamos
nos quartos. Ajudaram-me muito. Eu não conseguia fazer nada.
Deram-me comida, liam poemas para mim, colocavam música
para tocar, liam livros. Depois meus pais foram me buscar.
Após o fato, Mondragón passou, como ele próprio se
refere, “doente por um tempo” porque estava com diversos
problemas de saúde. Ao falar sobre a tortura, diz que não
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A Chegada
— Quando eu cheguei a São Paulo eu tinha um ramal,
e não atendia. Na minha consciência já tinha isso de não
atender. Meus amigos ficavam loucos: “Como você não
atende?”. Quando eu cheguei, eu não perdi coisas que eu de-
senvolvi por anos (não atender telefonemas). Mas realmen-
te aqui não tive ameaças. Cheguei aqui no dia 5 de setembro
de 2008. Faz nove anos. Vim como refugiado. Conhecia um
pessoal aqui do Brasil quando participei da avaliação de um
programa do Banco Mundial sobre Reforma Agrária Assis-
tida pelo Mercado — algo como tentando substituir a re-
forma agrária para àqueles que compravam terras. Mas isso
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Então me falaram: “Há uns caras nessa mesa, não olhe ago-
ra, eles estão te observando!”. Meus amigos questionaram
por que eles estavam no evento. Depois, simplesmente fu-
giram. Todos meus amigos falaram que eles iam me pegar:
“Você tem que ir embora, você está louco, vão te matar!”
Quando chegou de viagem foram os colegas da pesqui-
sa do Banco Mundial que o receberam. Tinha um contrato
com a ASC (Aliança Social Continental), criada para lutar
contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e de-
pois contra os tratados de livre comércio, além de defender
também os camponeses.
Héctor pôde desenvolver seu trabalho em São Paulo.
Então chegou já com um emprego garantido. Ficava na
Confederação Nacional das Américas, no Anhagabaú, Cen-
tro da cidade. Era simplesmente um consultor da Aliança
Social. Chegou a fazer viagens ao Uruguai, Argentina, Peru
e Paraguai. Para viajar, bastava notificar ao Conare (Comitê
Nacional para os Refugiados)3 e pedir uma autorização.
Seu filho conseguiu rapidamente uma escola. No país
existem normas para que as escolas recebam crianças refu-
giadas, incluindo outros imigrantes. Não é obrigatório que
estejam legalizadas. Sua esposa, bioquímica formada, con-
seguiu o primeiro emprego no Brasil como caixa de um res-
taurante e depois numa fábrica química. Mas como o diplo-
ma dela não tem validação no país, ela ainda recebe menos.
No entanto, ela pretende utilizar um programa que se
chama Compassiva. A associação é uma organização social
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6 Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, que tem como mis-
são dar apoio e proteção para refugiados no mundo.
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Acordo de Paz
Para o professor, o acordo de paz para o movimento po-
pular, dos trabalhadores, camponeses e indígenas, foi indis-
pensável e necessário.
— Somente esse ano assassinaram 101 líderes sociais de
janeiro até agosto. Então não há paz. O pior é quando uma
guerrilha acha que faz uma guerra, mas o que está fazen-
do é facilitar a violência contra o povo. Especialmente no
século XX, a guerrilha cometeu um erro, no meu ponto de
vista. E pior, no ponto de vista popular, em não negociar a
paz em quinze ou dezessete anos. Teve certa oportunidade
de negociar a paz em 1998 até 2002. Neste período era o
melhor para uma negociação que agora. Mas agora é im-
prescindível. A guerra vira um lastro para o movimento so-
cial. Vira pretexto para justificar a morte de líderes sociais,
os massacres, as chacinas. Um conflito armado. A grande
maioria não morreu na guerra, nem pela guerra. Morreram
aproveitando para matar os líderes sociais. Então o Acordo
de Paz com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia) que visavam, serve para que os movimentos so-
ciais se organizem mais e se expressem. A paz é uma forma
de construir formas de uma nova mobilização popular. Para
que comece a diminuir a violência que continua na Colôm-
bia. Para amolar a legislação regressiva que existe no país.
Por fim, Héctor lembra ainda de que há um acordo em
processo com o ELN (Exército de Libertação Nacional) 7.
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O RECOMEÇO PARA CRISTIANO E
SUA FAMÍLIA
O
fim da tarde anunciava que iria chover quando
Cristiano, um jovem senhor de quarenta e um anos,
abriu o portão para nos receber em sua casa de ape-
nas um cômodo.
Passos curtos no corredor estreito e quase escuro. Caris-
mático, mal dava para notar que o dono daqueles trajes sim-
ples passara quase trinta dias sequestrado por guerrilheiros
das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)
em um matagal desconhecido na Colômbia.
Ele abriu a porta de sua casa e ali estavam suas duas filhas
pequenas, que se distraíam assistindo televisão, mas ouviam,
atentamente, o que o pai dizia.
— Essas são minhas riquezas: Valentina, de seis anos; e
Rafaela, de quatro.
As meninas, que nos acenaram sorrindo timidamente ti-
nham traços feitos de rosto de boneca de porcelana. A filha
mais nova, Rafaela, puxava conversa misturando os idiomas
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O Brasil era além de refúgio para ele. Era uma nova chan-
ce de recomeçar do zero ao ser capturado por policiais co-
lombianos em um restaurante. A troca de tiros entre o grupo
guerrilheiro e a polícia colombiana era interminável. O plano
subjetivo deu certo e um aviso a ele foi dado por um policial:
“Vá embora do país! Você precisa sair daqui com a sua famí-
lia! Vá embora!”
Assustado, Cristiano retrucava que não sabia como iria
fazer isso, pois o que ele tinha de dinheiro guardado em casa,
durante o sequestro, os guerrilheiros tomaram. “O governo te
entregará um documento que diz que você é vítima de confli-
to armado! Vá embora!”
As palavras daquele homem ecoavam na mente de Cris-
tiano. Quando retornou à Bogotá, conseguiu pegar empres-
tada uma quantia de cinco mil dólares para sair do país. Em
primeiro plano e com a ajuda da ONU (Organização das Na-
ções Unidas), ele e a família partiram para Caracas, na Vene-
zuela, por que estimaram que fosse mais fácil a convivência
e lá ficaram durante onze meses. Mas perceberam que o país
passava por uma crise e que o governo os fazia retroceder.
— Reparei que nós não éramos bem-vindos na Venezuela.
A desconfiança que eles tinham conosco, por sermos refugia-
dos, faziam com que nós nos sentíssemos excluídos. — con-
ta Cristiano, ao perceber com um olhar atento em direção à
porta do único cômodo, que se abria para Maria Clara entrar.
— Mas com o Brasil foi diferente! — exclama.
Com a ajuda de dois padres jesuítas, a família cruzou a
fronteira até chegar a Manaus.
— Ficamos em Manaus durante trinta dias à espera dos
nossos documentos ficarem prontos pela Defensoria da
União. Sofríamos com o calor intenso do lugar, as crianças,
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SOBRE OS AUTORES
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Ellen Visitário
Formato 14x21cm
Tipografia textos Minion Pro
Tipografia títulos Oswald Medium
F
Editora Casa Flutuante
Rua Manuel Ramos Paiva, 429 - Apt. 14 - São Paulo - SP
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