Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
POR
GILMA GODINHO
NITERÓI
2019/1
Na Aula Inaugural do curso de Pós-Graduação em Psicanálise e Saúde Mental
realizada na Universidade Federal Fluminense, o professor e psicanalista Fernando
Tenório fala aos alunos e demais ouvintes presentes. Inicia sua aula comentando acerca
da resposta dada à sociedade sobre o tema da Loucura, quando comparada à resposta
excludente, segregadora e cínica que era oferecida antes da Reforma Psiquiátrica
Brasileira à sociedade.
Para ele, a resposta que temos hoje é pautada pela ética, orientada pela
dimensão da inclusão prática e social e orientada para a escuta do sujeito louco. No
entanto alguns problemas sociais e clínicos se levantam a partir dessa resposta. Tenório
fala sobre uma particularidade da saúde mental da cidade de Niterói no período da
Reforma. A cidade teve como fio organizador, o Hospital Psiquiátrico Público dirigido de
maneira ética, orientado por uma clínica de inclusão. O trabalho desenvolvido por ele
entre os anos de 2002 e 2006, como mesmo ressalta, foi um trabalho “junto” e não
“contra” a instituição hospitalar. Esse hospital, segundo Tenório, foi importante pois
contribuiu positivamente para que pudesse garantir condições para uma clínica que
pode ser estendida à Rede e, portanto, garantindo a implantação dos serviços
substitutivos na cidade de Niterói como os Centros de Atenção Psicossocial Casa do
Lago, Ambulatório de Pendotiba, Jurujuba e Sergio Arouca, Residências Terapêuticas e
outros.
Tenorio aponta ainda o texto Resposta à Crise (1988), escrito pelos psiquiatras
Giuseppe dell´Acqua e Roberto Mezzina, ambos de Trieste. Citando os autores:
Os centros para crise, tendem, geralmente, a propor
instrumentos de intervenção rápidos e precoces que
tenham como objetivo a solução imediata do problema
fora do circuito psiquiátrico e, em particular, destinam-se
a reduzir as internações no hospital psiquiátrico. Tais
intervenções terapêuticas são, todavia, de curta duração
e não dispõe de instrumentos para oferecer uma tutela
global ao paciente em crise; portanto, não podem
reelaborar os possíveis fracassos e, de fato, encaminham
os pacientes a outras instituições mais adequadas e,
finalmente, ao hospital psiquiátrico, confirmando o papel
central deste. (DELL´ACQUA, MEZZINA, 1988)
É isso que Fernando interroga em sua aula considerando duas vertentes a seguir:
Vertente política: o lugar do hospital psiquiátrico no contexto da Reforma e segundo,
se estamos tendo as condições mais favoráveis para o trabalho clínico efetivamente?
Em paralelamente à vertente política, o professor coloca a vertente clínica trazendo ao
grupo à memória do psicanalista e psiquiatra Jean Paul Oury que contrário à juízo
basagliana, defendia a ideia de que a loucura, ou o que a chama de psicose, é uma
condição mental, subjetiva, de existência particular para qual são necessários, para que
a interação seja produtiva e favorável com ela, mediações. São necessários instrumentos
de mediação práticos, conceituais e teóricos em que a clínica é essa mediação necessária
para que haja uma relação favorável, ética, inclusiva com a loucura.
Ele conclui então que esse é um ambiente cada vez menos clínico e que o
ostracismo do hospital psiquiátrico e dos ambulatórios de saúde mental contribuem
para essa situação começando pela lei 3088 (Raps) a qual não inclui o hospital
psiquiátrico e o ambulatório como dispositivos. Para tratamento continuada, a portaria
prevê dois dispositivos, segundo ele: O Programa de Saúde da Família (PSF) e a Atenção
Primária – responsáveis pelo 80% de resolutibilidade em saúde, e os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS). Porém Fernando destaca que a Clínica da Família não é o lugar onde
o sujeito terá um dispositivo onde ele possa se exercer na palavra, para falar, para tentar
alguma localização ao seu próprio sofrimento, a não ser excepcionalmente através de
um psicólogo de NASF.