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das principais características das línguas é o fato de elas serem sociais, pertencendo assim a
um povo, que, no caso da Libras, é a comunidade surda. O homem não possui nenhum órgão especializado na produção de sons, mas com o
desenvolvimento da linguagem falada, alguns órgãos da respiração passaram a exercer a
2. As pesquisas sobre línguas de sinais função na emissão de sons. Sendo assim, o canal oral tornou-se o privilegiado na expressão
da linguagem. Como ouvintes, temos acesso às palavras e conceitos desde que nascemos,
As primeiras pesquisas científicas a respeito das línguas de sinais buscavam mostrar não sendo difícil para nós percebermos que, embora haja uma certa semelhança entre dois
como essas línguas são tão complexas em sua estrutura quanto qualquer língua oral. A termos como saudação e saudade, essas palavras não são correlatas. Para o surdo, porém,
principal motivação das pesquisas, nessa época, era “provar” que as línguas de sinais eram esse aprendizado não é natural, uma vez que ele não ouve. Além de ser preciso entender o
línguas de fato e não simplesmente mímica ou gestos. Com isso, todo esforço era voltado movimento dos lábios do falante, discriminando, por exemplo, consoantes vozeadas (como
para encontrar características semelhantes entre as duas modalidades. “b” ou “d”) daquelas que têm o mesmo movimento labial, porém sem a vibração das cordas
William Stokoe foi o primeiro linguista a pesquisar a organização fonológica, as vocais, as desvozeadas (no caso, “p” ou “t”), o leitor labial ainda tem de identificar a qual
partes constituintes dos sinais da Língua de Sinais Americana – ASL. Depois dele, vários conceito aquela palavra está associada. Todo o trabalho de aprendizagem da fala não é
outros linguistas se interessaram pelo assunto. Atualmente, a ASL é a língua de sinais mais realizado de forma “natural”, mas no tratamento fonoaudiológico.
estudada no mundo, embora vários linguistas estejam se voltando para o estudo de línguas O surdo não tem acesso a essa linguagem oral naturalmente através da
de sinais de outros países. discriminação de sons, assim utilizam um outro canal para desenvolver sua linguagem. De
No Brasil, as pesquisas em língua de sinais começaram a se expandir na década de acordo com Brito (1995), a língua de sinais revela de imediato a força e a importância da
80. Ferreira-Brito (1993) apresenta-nos um panorama dos estudos que se desenvolveram manifestação da faculdade de linguagem.
nessa década na área da Educação e da Linguística no Brasil. De acordo com a autora, no O canal visuo-espacial pode não ser o preferido pela maioria dos seres humanos
início da década de 80, não havia pesquisas suficientes para se afirmar que se falava uma para o desenvolvimento da linguagem, posto que a maioria das línguas naturais
são orais-auditivas, porém é uma alternativa que revela de imediato a força e a
mesma língua de sinais em todas as regiões brasileiras. Hoje, sabe-se que a Língua de importância da manifestação da faculdade de linguagem nas pessoas
Sinais Brasileira é uma língua única, com variações dialetais, ou “sotaques” distintos, tanto (FERREIRA-BRITO ,1995, p. 11).
em relação à região onde é “falada” (em diferentes estados e municípios) quanto em relação Assim, ao longo dos tempos, pelas necessidades comunicativas dos surdos, quando
às diferenças entre grupos menores (variações entre faixas etárias ou grupos específicos, era possível que eles se encontrassem e pudessem interagir entre si (como nas escolas de
como grupos religiosos, por exemplo), assim como acontece também com o Português ou surdos, associações ou, até mesmo, nas ruas), foram-se desenvolvendo diferentes línguas de
outras línguas orais faladas em países extensos como o Brasil. sinais. O uso da língua de sinais então, para as pessoas surdas, torna-se natural no sentido
Atualmente, com a oficialização da Língua de Sinais Basileira através da Lei de que é uma língua percebida pelos olhos e produzida pelas mãos e pelo corpo. Assim,
Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, a sigla Libras1 é utilizada e amplamente aceita como uma criança ouvinte adquire a língua oral desde criança no contato com falantes
pela comunidade surda, pelos profissionais da área educacional e pela mídia. dessa língua, a criança surda, tendo oportunidade de interagir com usuários da Libras,
Com o crescente interesse nas pesquisas em línguas de sinais no Brasil e em outros poderá adquirir essa língua na infância, sem necessidade de instrução formal. Isso acontece,
países, podemos contar atualmente com uma diversidade de pesquisas em áreas e linhas por exemplo, com crianças surdas filhas de pais surdos. Nessas famílias, a língua de sinais
teóricas distintas, apesar de ainda termos muito a descobrir a respeito da língua de sinais e passa de geração a geração, sendo usada nas interações cotidianas entre os familiares.
dos aspectos culturais e cognitivos relacionados à surdez. Analisar e entender uma língua Além de compreendermos a Libras como língua “natural” que se desenvolveu pelas
espaço-visual tem sido um desafio para pesquisadores, já que demanda um olhar diverso necessidades comunicativas dos surdos, podemos também pensar na função cognitiva que
que os leve a compreender o funcionamento dessas línguas. Contudo, essas pesquisas essa língua vai desempenhar para as pessoas surdas. As línguas humanas possibilitam o
também trouxeram novas reflexões para o estudo das línguas em geral, já que se impõe aos desenvolvimento de certos tipos de pensamento (abstração, generalização, etc.) que não
pesquisadores uma reflexão nova sobre conceitos talvez “cristalizados” nas pesquisas em seriam possíveis por meio de outras linguagens. Nesse sentido, a língua de sinais possibilita
línguas orais-auditivas. aos surdos o desenvolvimento de funções superiores do pensamento. Podemos então
compreender que, além das funções sociais e comunicativas, a língua de sinais também
3. Relação entre línguas de sinais e surdez possui a função cognitiva, proporcionando ao surdo o desenvolvimento de sua cognição na
infância (GOLDFELD, 2002).
A Libras é uma língua com características espaço-visuais, ou seja, utiliza-se do
espaço físico na construção de um “cenário” para a realização das relações referenciais,
além de possuir uma gramática própria, independente da gramática do Português. Por ter
1 Anteriormente escrita com maiúsculas – LIBRAS, a sigla passa a ser escrita apenas com a inicial uma produção manual e uma percepção visual, além do espaço físico, o próprio corpo do
maiúscula a partir do Decreto nº 5.626 de 22/12/05. Há uma discussão a respeito de qual sigla seria a mais
adequada para a língua de sinais brasileira, sendo que, em alguns meios, opta-se pela sigla LSB, conforme sinalizador é utilizado para a execução do conteúdo da mensagem visual. A exploração do
convenção internacional. Entretanto, a sigla Libras foi consagrada pelo uso no interior da comunidade espaço físico e o uso do próprio corpo são importantes elementos na interação.
surda.
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SACKS, Oliver. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia
das Letras, 1998.
Referências
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