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Disforia
de Gênero
O pediatra poderá ser o primeiro profissio- As crianças entre 6 e 9 meses são capazes de
nal a ser procurado para conversar sobre a se- diferenciar, quanto ao gênero, vozes e faces.1 Aos
xualidade e eventualmente sobre as variações 12 meses, associam vozes masculinas e femini-
de gênero das crianças e adolescentes, e deve nas a determinados objetos tidos como típicos
estar capacitado para tal. Este documento cien- de cada gênero. Embora mais nítido aos 2 anos,
tífico foi elaborado com o objetivo de atualizar o crianças de 17 a 21 meses de vida têm habili-
pediatra sobre questões relacionadas a gênero, dade de se identificar como meninos ou meni-
abordando o que hoje é designado como disforia nas e apresentam brincadeiras relacionadas ao
de gênero, no intuito de informar e assegurar o gênero.1 A identidade de gênero tem início en-
seguimento adequado desses indivíduos e suas tre 2-3 anos de idade. Entre 6-7 anos, a criança
famílias, sobretudo enfatizando a necessidade tem consciência de que seu gênero permanecerá
de ouvi-los de modo individualizado e encami- o mesmo.2 Na maioria das pessoas, existe uma
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Disforia de Gênero
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to ou sofrimento causados pela incongruência enzima aromatase, além de questões ligadas aos
entre o gênero atribuído ao nascimento e o gê- receptores para andrógenos e estrogênios.13-16
nero experimentado pelo indivíduo.8 No DSM-5, Também parece existir certa correlação entre in-
a identidade de gênero é reconhecida como um fluência hormonal pré-natal e o neuro-desenvol-
conceito fluido, que engloba sentimentos sobre vimento cortical.17,18
o corpo, sobre os papéis sociais relacionados,
John Money, pioneiro no estudo da identida-
identificação de gênero e sexualidade, abrindo
de de gênero, valorizava fortemente a maneira
espaço para identidades alternativas que não
como a criança era educada pelos pais, porém
se restringem ao estereótipo binário homem-
observou que há outros fatores envolvidos
-mulher.8
como no caso que acompanhou de um menino
que teve seu pênis acidentalmente mutilado.
Embora tenha sido criado como menina, na ado-
Qual é a prevalência da lescência, revelou que nunca havia se identifica-
disforia de gênero em do como tal.19
crianças e adolescentes?
Judith Butler, filósofa contemporânea, res-
salta que a sexualidade é definida por uma or-
A prevalência de disforia de gênero não é
dem discursiva que não é dada naturalmente,
bem conhecida devido a fatores culturais, meto-
mas por dispositivos políticos e sociais que
dológicos e, a partir de 2013, pela mudança do
regulam o comportamento de modo heteronor-
termo “transtorno de identidade de gênero”, do
mativo e têm como base a coerência entre sexo
DSM-4 para “disforia de gênero”, no DSM-5.
biológico, gênero e desejo/prática sexual.20 Nes-
Para indivíduos masculinos que se identifi- sa dinâmica, o ato de repetir ou subverter nor-
cam femininos, a prevalência varia de 1:11.900 mas pré-definidas abre espaço para que o su-
a 1:45.000 e para femininos que se identificam jeito construa novas formas de estar no mundo,
masculinos de 1:30.400 a 1:200.000.8-10 Segun- podendo provocar efeitos políticos no contexto
do o DMS-5, a proporção entre meninos e me- social.20
ninas é 2:1 a 4,5:1 na infância e 1:1 a 6,1:1 na
adolescência.
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Disforia de Gênero
de gênero tenha uma relação direta com a orien- pressão, tentativa de suicídio, automutilação e
tação sexual do indivíduo. Por outro lado, quan- isolamento social.11,13,21-26 Estudos têm mostra-
do a disforia de gênero se inicia na adolescência, do que tais sintomas podem se constituir como
existe uma grande probabilidade dela se manter transtornos psiquiátricos maiores, que influen-
na vida adulta.11 ciam negativamente o prognóstico. Daí a impor-
tância de identificar o início destas alterações
Quando a disforia de gênero é suspeitada na
e solicitar o acompanhamento pisicológico/psi-
idade pré-escolar, estudos longitudinais mos-
quiátrico conjunto.
tram que 85% dessas crianças voltarão a ficar
satisfeitas com seu sexo biológico, embora em Sabe-se que os transtornos de humor, trans-
algumas existisse uma tendência à orientação tornos de personalidade, uso e abuso de dro-
homossexual.13 Quando a disforia de gênero sur- gas e ansiedade são mais frequentes entre su-
ge na adolescência, existe uma grande probabi- jeitos com o diagnóstico de disforia de gênero,
lidade dela se manter na vida adulta.13 quando comparados com a população geral. O
comportamento suicida também é maior, in-
É importante destacar que os estudos ofere-
dependentemente da presença de qualquer
cem certa orientação, mas cada caso se apresen-
comorbidade psiquiátrica. O risco, no entanto,
ta como único. O pediatra deve participar junto
aumenta ainda mais quando há associação com
à equipe multidisciplinar do seguimento destas
depressão, ansiedade, uso indevido de subs-
crianças e adolescentes com postura atenta e
tâncias e fatores sociais como rejeição e discri-
cuidadosa, visando minimizar os riscos para cada
minação dos pais.
sujeito, mas não fazer indicações de condutas
sozinho. Nesse sentido, deve-se sempre ter em mente
que o estigma social associado, nomeado como
“estresse das minorias”, repercute negativamen-
Como se manifesta te na qualidade de vida e saúde mental dos su-
a disforia de gênero? jeitos.20-28
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Tabela 1 - Critérios diagnósticos para disforia de Tabela 2 - Critérios diagnósticos para disforia de
gênero em crianças (DSM-5)8 gênero em adolescentes e adultos8
2. Em meninos (gênero designado), uma 2. Forte desejo de livrar-se das próprias ca-
forte preferência por cross-dressing (tra- racterísticas sexuais primárias e/ou secun-
vestismo) ou simulação de trajes femi- dárias em razão de incongruência acentua-
ninos; em meninas (gênero designado), da com o gênero experimentado/expresso
uma forte preferência por vestir somen- (ou, em adolescentes jovens, desejo de
te roupas masculinas típicas e uma for- impedir o desenvolvimento das caracte-
te resistência a vestir roupas femininas rísticas sexuais secundárias previstas)
típicas
3. Forte desejo pelas características sexuais
3. Forte preferência por papéis transgêne- primárias e/ou secundárias do outro gêne-
ros em brincadeiras de faz de conta ou ro
de fantasias
4. Forte desejo de pertencer ao outro gênero
4. Forte preferência por brinquedos, jogos (ou a um gênero alternativo diferente do
ou atividades tipicamente usados ou designado).
preferidos por outro gênero
5. Forte desejo de ser tratado como o outro
5. Forte preferência por brincar com pares gênero (ou como algum gênero alternati-
do outro gênero vo diferente do designado)
5
Disforia de Gênero
As questões aqui levantadas apontam para a ria de papel social, após tratamento hormonal
vastidão e complexidade da problemática da in- e liberação pela equipe de saúde mental após
tersexualidade, estimulando reflexões éticas e a acompanhamento prolongado.30,33
necessidade sempre do acompanhamento a lon-
O protocolo da World Professional Association
go prazo, enfatizando que o pediatra não deve
for Transgender Health (WPATH) prioriza a aceita-
orientar sozinho nenhuma das condutas e sem-
ção de gêneros variantes e a construção de um
pre recorrer à equipe multidisciplinar.
suporte social para saúde e bem-estar para redu-
Até um passado recente, a abordagem mé- zir o estresse desses pacientes e suas famílias.36
dica para mudar as características referentes ao
sexo atribuído ao nascimento não teve sucesso, As várias opções de tratamento da disforia de
sendo considerada antiética.28,30 A avaliação clí- gênero são discutidas a seguir, enfatizando-se
nica inicial deve privilegiar o sujeito, acolhen- que sempre o tratamento psicológico/psiquiátri-
do-o de forma empática e integralizada. Um co precisa ser realizado de modo prolongado. A
acompanhamento individualizado e contínuo é equipe multidisciplinar em centros de referência
indispensável nestes casos e o pediatra tem um é indispensável para abordar a complexidade da
papel fundamental de aconselhamento e enca- situação:
minhamento para o acompanhamento psicoló-
gico do adolescente e seus familiares. Deve-se – Tratamento psicoterápico
identificar se o indivíduo preenche os critérios A psicoterapia está indicada para que a crian-
diagnósticos, se apresenta interesse em realizar ça e o(a) adolescente estejam confortáveis com
intervenções clínicas ou cirúrgicas para mudança a evolução da sua sexualidade com melhora da
de gênero no futuro, avaliar o suporte social (so- ansiedade e para que se desenvolva um auto-
bretudo para o paciente e a família), assim como conceito positivo.37
os aspectos relacionados à saúde mental.31,32
A psicoterapia (individual, casal, família ou
A terapia hormonal e a cirurgia, que podem
grupo) deve ter o foco na identidade de gênero,
vir a ser necessárias em alguns casos, só devem
preconceito, apoio social, imagem corporal, pro-
ser orientadas em centros de referência após um
moção da resiliência e suporte para lidar com os
período prolongado de acompanhamento psi-
sintomas psíquicos associados ao quadro. Suge-
cológico/psiquiátrico e têm indicações precisas
re-se que ela seja realizada antes e após a cirur-
devido aos vários problemas sociais e de com-
gia, mantendo o seguimento até a vida adulta.38
portamento enfrentados por estes pacientes. Há
alguns relatos de taxas de satisfação de 87% Um tratamento com orientação psicanalítica
dos pacientes MtF (indivíduos com sexo biológi- tem seu lugar, considerando que se trata de uma
co masculino e identidade de gênero feminina) questão sobre a existência e o lugar que cada um
e 97% os pacientes FtM (indivíduos com sexo ocupa ou não um desejo, que vai muito além de
biológico feminino e identidade de gênero mas- promover uma adaptação. Um pediatra que tem
culina).33,34 A insatisfação pode acontecer, sendo essa orientação ética, pautada na singularidade
de 1 a 1,5% dos pacientes MtF e menor de1% do caso, na construção da relação médico/pa-
dos FtM.35 ciente, pode ser de grande valor para esses pa-
cientes, indicando a atenção psicológica manti-
Frente a casos de desconforto com o sexo
da durante a adolescência.13
biológico, os profissionais de saúde têm a res-
ponsabilidade de ouvir, orientar e auxiliar na to- Os adolescentes e suas famílias devem rece-
mada de decisões.19 Alguns pacientes procuram ber suporte na expressão da sua identidade se-
apenas a terapia hormonal. Por isso, a cirurgia xual, sequência de mudanças no papel de gênero
de redesignação sexual é geralmente adiada até e transição social. Por exemplo, o indivíduo pode
o paciente ter atingido uma transição satisfató- frequentar a escola com transição social parcial
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(usar roupas e um penteado que reflete a iden- • Recursos de apoio para as famílias e amigos/as,
tidade de gênero) ou completa (utilizar também pessoal ou online2,41,42
um nome e pronomes congruentes com a iden-
tidade de gênero). Outras questões incluem: o – Tratamento hormonal
momento para informar aos outros a identidade
Este tratamento só pode ser realizado por
real e a postura perante à reação alheia, modi-
endocrinologista com experiência na área, em
ficações do corpo, pois, para alguns, a cirurgia
conjunto com a equipe multidisciplinar, pois
pode ser essencial.42,43 39,40
são muitos os efeitos colaterais significativos e
devem ser explicitados claramente aos pacien-
– Orientações sobre alterações na expressão de tes e familiares. Idealmente estas intervenções
gênero e assistência social41,42 devem ser adiadas até que de fato haja uma
• Terapia da voz e de comunicação para desen- opinião consistente da equipe de um centro de
volver habilidade de comunicação verbal e referência para que sejam iniciadas. Não cabe
não-verbal; ao pediatra orientar este tratamento hormonal.
Os critérios para intervenção hormonal com-
• Depilação por eletrólise, a laser ou com cera;
preendem: (1) O(A) adolescente demonstra um
• Utilização de faixas peitorais/coletes ou enchi-
padrão duradouro e intenso de não conformida-
mentos de mamas, ocultação genital ou próte-
de de gênero ou disforia de gênero (seja velada
ses peniana ou de mama, enchimento dos qua-
ou expressa); (2) A disforia de gênero surgiu ou
dris e glúteos;
piorou com o início da puberdade; (3) O(A) ado-
• Mudanças de nome e sexo nos documentos de lescente tem condições biopsicossociais para
identidade; manter o tratamento (avaliar riscos associados,
• Recursos, grupos ou organizações comunitárias apresentados na Tabela 3); (4) O(A) adolescente/
de apoio entre pares, pessoal ou online que pais ou responsáveis assinaram o consentimento
forneçam vias de apoio social e promoção de médico informado do tratamento. O pediatra não
direitos; deve prescrever tais medicamentos.41
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do sexo masculino que deseja se afirmar como Tabela 4: Efeitos e tempo esperado de ação dos
do sexo feminino.39,41 hormônios masculinizantes37,41
Início do Efeito máximo
Efeito*
efeito esperado
Hormonioterapia para reafirmação do gênero
Pele oleosa/
(intervenções parcialmente reversíveis) 1-6 meses 1-2 anos
acne
Pilificação
Essas intervenções incluem a terapia hor- 3-6 meses 3-5 anos
facial/corporal
monal para masculinizar ou feminilizar o corpo
Perda dos
(cross-sex hormonal therapy) de acordo com a >12 meses Variável
cabelos
identidade de gênero escolhida pelo individuo. Aumento da
6-12 meses 2-5 anos
Adolescentes elegíveis para iniciar a terapia musculatura
hormonal devem ter o consentimento dos pais, Redistribuição
3-6 meses 2-5 anos
sincronizada com a equipe.22 Algumas mudanças adiposa
induzidas por hormônios necessitam de cirurgia Cessação da
2-6 meses Variável
menstruação
reconstrutiva para reverter o efeito (ginecomas-
Aumento do
tia causada por estrógenos), enquanto outras são 3-6 meses 1-2 anos
clitóris
irreversíveis (voz grave causada pela testostero- Atrofia vaginal 3-6 meses 1-2 anos
na).39,42,43 Voz grave 3-12 meses 1-2 anos
Antes de prescrever esses hormônios é fun-
damental avaliar os riscos e complicações a Tabela 5: Efeitos e tempo esperado de ação dos
eles associados.39,42,43 Para o adolescente geno- hormônios feminilizantes37,41
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INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS
MtF FtM
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Entre 2008 e 2016, ao todo, foram realizados 3. Centro de Referência e Treinamento (CRT)
349 procedimentos hospitalares e 13.863 pro- DST/AIDS – São Paulo/SP;
cedimentos ambulatoriais relacionados ao pro- 4. Centro de Pesquisa e Atendimento para Tra-
cesso transexualizador.45 vestis e Transexuais (CPATT) do Centro Regio-
Em 2009, o Ministério da Saúde garantiu que nal de Especialidades (CRE) Metropolitano –
o nome social de travestis e transexuais fosse ga- Curitiba/PR.
rantido na Carta de Usuários do SUS, reconhecen- Existem na rede de saúde pública serviços
do a legitimidade da identidade desses grupos e ambulatoriais, criados por iniciativa estadual,
promovendo maior acesso à rede pública. Desde destinados ao atendimento de travestis e tran-
2015, a ficha de notificação de casos de violên- sexuais no Processo Transexualizador:
cia, preenchidas em unidades de saúde, consta a
1. Ambulatório AMTIGOS do Instituto de Psi-
orientação sexual e a identidade de gênero.45
quiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo
Para ambos os gêneros, a idade mínima para – São Paulo (SP);
procedimentos ambulatoriais é de 18 anos. Es- 2. Ambulatório para travestis e transexuais do
ses procedimentos incluem acompanhamento Hospital Clementino Fraga – João Pessoa (PB);
multiprofissional e hormonioterapia. Para pro-
3. Ambulatório Transexualizador da Unidade de
cedimentos cirúrgicos, a idade mínima é de 21
Referência Especializada em Doenças Infec-
anos. Após a cirurgia, deve ser realizado um ano
to-Parasitárias e Especiais (UREDIPE) – Belém
de acompanhamento pós-cirúrgico.39,40,44,45
(PA);
O SUS conta com cinco serviços habilitados 4. Ambulatório de Saúde Integral Trans do Hos-
pelo Ministério da Saúde no processo transexu- pital Universitário da Federal de Sergipe Cam-
alizador que realizam atendimento ambulatorial pus Lagarto – Lagarto (SE)
e hospitalar:
Ainda não há posicionamento específico e
1. Hospital das Clínicas da Universidade Federal
objetivo do Conselho Federal de Medicina em
de Goiás/ Goiânia (GO);
relação ao acompanhamento de crianças e ado-
2. Universidade Estadual do Rio de Janeiro - lescentes com incongruência de gênero, além do
Hospital Universitário Pedro Ernesto/ Rio de Parecer nº 8/2013.42
Janeiro (RJ);
No Brasil, não existe uma legislação que re-
3. Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Univer-
gulamenta a retificação do prenome, sexo e ima-
sidade Federal do Rio Grande do Sul/ Porto
gem nos documentos pessoais. Dessa forma, os
Alegre (RS);
indivíduos precisam recorrer à justiça, ficando à
4. Hospital de Clínicas da Faculdade de Medici- mercê da burocracia, interpretações e exigências
na FMUSP/Fundação Faculdade de Medicina de cada juiz. A solicitação de laudos psiquiátri-
MECMPAS – São Paulo (SP); cos e psicológicos é frequente. Algumas vezes, é
5. Hospital das Clínicas/Universidade Federal exigido um novo laudo produzido por perito de-
de Pernambuco – Recife (PE). signado pela Justiça com objetivo de confirmar
o diagnóstico. Embora não haja qualquer deter-
O SUS também conta com quatro serviços ha-
minação de que o sujeito deva estar engajado no
bilitados pelo Ministério da Saúde no processo
processo transexualizador, existe certa tradição
transexualizador que realizam atendimento am-
no judiciário de conceder parecer favorável es-
bulatorial:
pecialmente para aqueles que passaram pelo
1. Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinolo- processo cirúrgico. Esse fato desconsidera certa
gia (IEDE) – Rio de Janeiro/RJ; parcela dos sujeitos com disforia de gênero que
2. Ambulatório do Hospital das Clínicas de Uber- opta por não se submeter às intervenções mé-
lândia – Uberlândia/MG; dicas.
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contrário à rigidez dos protocolos que são elabo- reitos garantidos, tais como os demais cidadãos
rados para todos. brasileiros.46-56
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– Identidade de gênero: É a experiência emocio- – Homem Trans: Nasceu em um corpo dito fe-
nal, psíquica e social de uma pessoa em rela- minino, mas se identifica com o gênero mas-
ção ao gênero e que pode não corresponder ao culino.
sexo atribuído ao nascimento.
– Pansexual: Indivíduo que tem atração sexual
– Expressão ou papel de gênero: Diz respeito à por pessoas de todos os sexos e de todos os
forma como o sujeito exterioriza seu gênero. gêneros.
Inclui maneirismos, forma de vestir, forma de
apresentação, aspecto físico, gostos e atitudes – Travesti: É uma expressão de gênero que difere
de uma pessoa e não necessariamentese cor- daquela que foi designada à pessoa no nasci-
relaciona com o sexo ou identidade de gênero. mento. O indivíduo assume, portanto, um pa-
pel de gênero diferente daquele imposto pela
– Não conformidade de gênero: Variação da nor-
sociedade. Na maioria de suas expressões,
ma cultural na expressão de gênero (ex: esco-
manifesta-se em pessoas designadas do sexo
lha de brinquedos ou brincadeiras).
masculino no nascimento, mas que objetivam
– Binarismo de gênero: Postula que as pessoas a construção do feminino, podendo incluir ou
são exclusivamente homens ou exclusivamen- não procedimentos estéticos e cirúrgicos. A ca-
te mulheres (ou somente masculino e ou so- tegoria travesti é mais antiga que a categoria
mente feminino), consequentemente nega e transexual, por isso é mais utilizada, no entan-
oprime toda a multidiversidade de gênero que to, é marcada pelo preconceito, já que o senti-
existe no mundo. do empregado é, em grande parte das vezes,
pejorativo.
– Gênero fluido: Não tem uma identidade de gê-
nero fixa, transitando entre os gêneros. – Transnão-binário: Ou gêneros não-binários.
– Cisgênero: Pessoa cuja identidade de gênero São as identidades de gênero de pessoas trans
se identifica com o sexo biológico, aquele atri- que não são uma simples mulher OU um ho-
buído no nascimento baseado na genitália ex- mem, ou seja: são gêneros que não são exclu-
terna: pênis (homem), vagina (mulher). sivamente, totalmente e sempre femininos e
também não são exclusivamente, totalmente e
– Transgênero: Assim como transexual, o termo
sempre masculinos.
se refere às pessoas que não se identificam
com o gênero atribuído a elas no nascimento. – Transfobia: Palavra criada para representar a
De acordo com os especialistas, é a palavra rejeição e/ou aversão aindivíduos não confor-
universal de identificação para pessoas “trans” mes em sua apresentação ou identidade às con-
e também não está necessariamente ligada à cepções convencionais de gênero. A expressão
cirurgia de redesignaçãosexual. está mais relacionada às ações políticas dife-
renciadas do movimento Lésbicas, Gays, Bisse-
– Sexo biológico: Conjunto de informações cro-
xuais, Travestis e Transexuais (LGBT).
mossômicas, órgãos genitais, capacidades re-
produtivas e características fisiológicas secun- – Andrógino: Refere-se à expressão simultânea
dárias que diferenciam machos e fêmeas. de gêneros. É comum que a pessoa andrógina
– Orientação sexual: É a capacidade de cada pes- se vista com roupas consideradas unissex e use
soa de ter uma profunda atração emocional, cortes de cabelo e acessórios que dificultem a
afetiva e/ou sexual por indivíduos de gênero identificação de um gênero específico. Essa ca-
diferente, do mesmo gênero ou de mais de um tegoria não está associada à orientação sexual.
gênero, incluindo, portanto, a homossexualida- – Nome social: É o nome pelo qual pessoas pre-
de, heterossexualidade, bissexualidade. ferem ser chamadas cotidianamente, em con-
– Mulher Trans: Nasceu em um corpo dito mascu- traste com o nome oficialmente registrado que
lino, mas se identifica com o gênero feminino. não reflete sua identidade de gênero.
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