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Texto 01

Será que o movimento Escola Sem Partido, de viés direitista, percebeu que os esquerdistas da
Procuradoria-Geral da República tentaram emplacar, também pela via judicial, a Escola Sem
Religião? Será que os dois grupos se reconhecem como iguais, como animais políticos da mesma
espécie, com ideais de pureza e verdade opostos, mas combinados? Duvido. A ideologia costuma
ser mais reativa do que ativa; mais do que formular conteúdos, ela repele os do adversário, sem
enxergá-lo.
Por um voto de desempate apenas, o Brasil não saltou, nas escolas, da condição de Estado laico para
a de Estado ateu, sob o pretexto de garantir a pluralidade. O STF concluiu, na quarta, a votação de
uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), movida pela PGR, que, na prática, proibia o
ensino religioso nas instituições públicas. Atenção! Onde ele existe, é facultativo.
Barroso, o relator, votou pela proibição. Ensinou: "O Estado laico não incentiva o ceticismo,
tampouco o aniquilamento da religião, limitando-se a viabilizar a convivência pacífica entre as
diversas cosmovisões, inclusive aquelas que pressupõem a inexistência de algo além do plano
físico".
A religião, nessa perspectiva, ficaria reduzida à sua dimensão histórica, sociológica, antropológica,
psicológica... E o professor, por óbvio, teria de expor os prós e os contras de cada crença. Sem
paixões. Os estudantes, assim, aprenderiam as virtudes e vícios presentes no teto da Capela Sistina e
na imagem ausente do Profeta, que não pode ser desenhado. É o que o Escola Sem Partido quer que
se faça com a Revolução Francesa, com a Revolução Russa ou com o golpe militar de 1964. Prós e
contras.
Seguiram Barroso os ministros Rosa Weber, Luiz Fux, Marco Aurélio e Celso de Mello. Felizmente,
a maioria se opôs à ADI, cabendo o voto de desempate a Cármen Lúcia. Os outros cinco foram
Alexandre de Moraes, que abriu a divergência, Edson Fachin, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e
Gilmar Mendes.
Esse mesmo Barroso é aquele que concedeu uma liminar, em março, suspendendo, em Alagoas, o
"Escola Livre", projeto aprovado na Assembleia, assentado justamente nas teses do Escola Sem
Partido. O doutor acha que um professor expressar uma crença religiosa constitui uma agressão à
laicidade do Estado. Se tal exigência, no entanto, se estende para o terreno das convicções não
religiosas, cobrando-se a laicidade ideológica, aí o nosso esquerdista de toga reage e vê uma
agressão à liberdade de pensamento e à pluralidade.
Ó Grande Estado! Ó Grande Irmão! Direitistas e esquerdistas se rendem a seus desígnios e o
saúdam como o Grande Interventor!
Fui um dos primeiros, se não fui o primeiro, na grande imprensa, a divulgar o Escola Sem Partido.
Tratava-se, então, de um movimento da sociedade contra a propaganda e a patrulha esquerdistas nas
escolas. Quando ele passa a reivindicar, por meio de projetos de lei, a intervenção do Estado para
assegurar a "laicidade ideológica", a repressão estatal toma o lugar da liberdade. A mesma repressão
que Barroso queria aplicar ao ensino religioso. Fui professor. Escola é lugar de debate e de
confronto de ideias, não de repressão do Estado ou de milicianos. É preciso vencer esse debate com
a política, não com a polícia. Mas alguns dos que, entre nós, se dizem liberais adoram um porrete.
Uma nota para o STF. Barroso, sempre ele, com o auxílio nada luxuoso de Rosa Weber e Luiz Fux,
tentaram rasgar a Constituição e o Código de Processo Penal ao afastar o senador Aécio Neves
(PSDB-MG) de seu mandato, impondo-lhe medidas cautelares adicionais. Mais um sintoma da
desordem institucional, a mesma que, no tribunal, por 10 a 1, houve por bem dar sequência a uma
denúncia contra o presidente da República que traz, "ab ovo", o vício da inconstitucionalidade.
É o Movimento País sem Lei.
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Texto 2

Visitei nesta semana a Colômbia e impressionaram-me os persistentes desafios do processo de paz


em curso. A desativação da mais antiga guerrilha do continente, as Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia), não é um processo simples, carregado que é de sentimentos
contraditórios, já que o conflito, iniciado em 1964, causou 220 mil mortes e seis milhões de
deslocados, que clamam não só por paz, mas por justiça.
O problema das vítimas como mobilizador da continuidade dos conflitos, magistralmente retratado
por Antonio Callado em "Bar Don Juan", envolve uma percepção de que abandonar a luta
significaria uma traição aos que caíram. Assim, em nome dos mortos passados, novas matanças se
iniciam, num processo que se perpetua.
Foi contra essa dinâmica que o papa Francisco se colocou em visita recente ao país, enfrentando
oposição dentro da própria igreja. O papa pediu aos colombianos que renunciassem à vingança para
conseguir uma paz duradoura, apoiando assim a proposta do presidente Santos e chamando os
bispos a se engajarem no processo.
O caminho para a paz incluiu a entrega das armas pelas Farc e de lista de seus ativos para a ONU,
para que sejam usados tanto para reparação das vítimas do grupo quanto para programas de
reintegração de ex-combatentes. E, para ser completo, precisa avançar com as negociações com o
ELN (Exército de Liberação Nacional), em sequência ao recente anúncio do cessar-fogo bilateral.
Nos muros de várias escolas em Bogotá, vi a menção à importância da paz e pude, nesta que foi a
Semana do Estudante, ver em seu desfile na praça de Bolívar bandeiras e cantigas com referências
ao processo. No rosto das crianças tudo parecia fácil, mas não será —que o digam países como
Ruanda, em que, apesar da paz e da reconciliação, a sensação de justiça demorou a se fazer sentir, o
que também levou o papa a, em 2017, 23 anos depois do genocídio dos tutsis, pedir perdão pelo fato
de a igreja católica, como instituição (e não apenas com a participação eventual de alguns padres e
freiras, como se afirmava anteriormente) ter contribuído para o massacre.
A educação sofre muito com a falta de paz, que o digam os alunos de áreas conflagradas do Rio de
Janeiro ou as crianças sírias privadas de acesso a escolas, mas pode também ser um caminho para
construí-la. Se, em vez de invocarmos nacionalismos estreitos e entoarmos chamamentos para uma
ação tão viril quanto destrutiva, educarmos para a cidadania global e para a solução pacífica de
conflitos, muito sangue deixará de correr em guerras que tendem a se eternizar, em homenagem aos
mortos dos dois lados que precisam ser vingados.

Entenda o significado de jihad


por Hamdullah Ozturk — publicado 03/10/2017 01h00, última modificação 02/10/2017 12h47
O termo não pode ser confundido com as ações de grupos terroristas. Ao contrário. Bem
compreendido, é um poderoso instrumento de paz
Entre alguns jovens muçulmanos, o conceito religioso mais prezado é o da jihad. Apesar disso,
muitos não percebem que o termo é usado fora do seu significado principal, pois a atração existente
é suficiente para fasciná-las.
Os não muçulmanos geralmente conhecem o termo por meio dos grupos armados, como o Estado
Islâmico e al-Qaeda. Por isso, jihad acabou confundida com o significado de terrorismo. Quando se
fala dos grupos jihadistas, imediatamente vêm à mente agremiações como o EI. E estes cometem
atos bárbaros, como decapitar prisioneiros e exibir ao mundo por meio de vídeos e imagens.
Perpetram ataques terroristas e causam a morte de inocentes que nada tem a ver com suas
justificativas absurdas.
Na realidade, a jihad é um conceito positivo em todos os sentidos. O termo que deve ser usado para
os conflitos armados e guerras é qital (disputa). Este significa combate e guerra.
O melhor exemplo para compreender a diferença entre jihad e qital é um caso que aconteceu com
Ali, genro do profeta Muhammad e o quarto califa, que estava em uma batalha contra um
adversário. Durante o combate, Ali conseguiu derrotar o inimigo e levantou sua espada para matá-
lo. No momento em que enfiava a espada no peito do inimigo, este cuspiu na face de Ali, que ficou
muito bravo, mas desistiu de matá-lo. O homem ficou surpreso e perguntou: “Eu cuspi na sua face
para irritar você e estimulá-lo a me matar mais rapidamente, assim eu sofreria menos dor. Mas você
fez o contrário e deixou de me matar. Por quê?”.

Ali respondeu: “Eu iria matá-lo pois tive de participar desta batalha. Eu fiquei muito bravo quando
você cuspiu no meu rosto. Se eu te matasse depois de você cuspir, então eu teria matado você por
minha própria vontade e não por estar na batalha. Isso seria algo muito ruim, então desisti”.
O combate entre Ali e seu inimigo é qital. O autocontrole para não matar quando seu inimigo cuspiu
nele é jihad. Pois existem dois aspectos da jihad: a maior e a menor. A jihad maior é o combate com
o nosso ego destrutivo e com os desejos e pensamentos imorais, portanto é um combate interno. A
jihad menor é qualquer tipo de combate com qualquer coisa externa, inclusive a guerra.
O conceito de jihad foi inserido no currículo escolar no ensino religioso na Turquia. Faz sentido que
seja inserido por ser uma questão religiosa. Se for compreendido e ensinado de maneira correta, o
mau uso do conceito pelos grupos terroristas e a tendência dos jovens ao terrorismo serão
impedidos.
A situação é, no entanto, totalmente diferente. A maneira como o termo jihad é tratado nessas aulas
não atua para impedir o terrorismo. Ao contrário. A força de motivação deste conceito é usada a
serviço das políticas de Estado.
Entretanto, jihad significa “o maior esforço possível pela causa de Deus”. Subordinar a jihad às
políticas de Estado muitas vezes pode ser um caso desagradável aos olhos de Deus. Seria o mesmo
que matar ou morrer em uma guerra injusta.
A abordagem do conceito de ensino de jihad nos livros didáticos na Turquia é assim. É possível que
o governo turco preveja grandes confusões e até possíveis guerras na região. Para evitar críticas às
suas políticas e obter o apoio do povo, o governo trabalha o conceito de jihad. Assim, caso o
governo tome uma decisão de guerra, tal guerra poderá ser considerada “santa”.
Este é o momento de orar pelo Oriente Médio. Pois uma possível guerra terá o potencial de afetar
diversas partes do mundo.
Tradução: Atilla Kus. Revisão: Mustafa Goktepe

O fim do Estado laico


por Pai Rodney — publicado 29/09/2017 07h49, última modificação 29/09/2017 10h41
Foram seis votos a cinco e o STF considerou constitucional o ensino religioso confessional. Mas o
que essa decisão sinaliza?
Carlos Moura/SCO/STF

A quem interessa o ensino religioso confessional, ou seja, aquele ligado especificamente a uma
crença? Ora, num Estado laico, pareceria mais coerente que a educação pública seguisse um padrão
mais isento, sem influência de religiões ou doutrinas e, principalmente, sem o controle de uma
crença majoritária, que quer impor seus dogmas, valores e moral em detrimento, sobretudo, do
aprendizado de disciplinas fundamentais para que qualquer pessoa possa desenvolver um mínimo
de senso crítico diante dos problemas do homem e da sociedade.
Quem ganha e quem perde com essa decisão? No longo prazo, todos perdem: perdem o país e seus
cidadãos; perdem as religiões cristãs e todas as outras; perdem as escolas, as empresas e todos os
segmentos sociais. Trata-se de um posicionamento que compromete definitivamente o futuro, a
possibilidade de construir uma nação mais justa e mais plural, cuja diversidade, seja étnica, política
ou religiosa, seja de orientações, gêneros ou culturas, ensine princípios básicos de respeito e
tolerância. É um risco, uma ameaça aos que destoam das maiorias ou divergem daqueles que detêm
o poder econômico.

De imediato há vencedores, e não é a maioria cristã. Venceu o retrocesso representado pelos


mesmos fundamentalistas que fazem avançar pautas como a “cura gay”, a redução da maioridade
penal, a “escola sem partido” ou a proibição de sacrifícios de animais nos rituais das religiões de
matriz africana. Esse retrocesso que contesta as cotas raciais, a criminalização da homofobia, os
direitos das empregadas domésticas, das mulheres, dos negros, dos índios, dos homossexuais.
Venceu o cabresto, o coronelismo, a elite. Esses que vendem riqueza e prosperidade como mérito e
esperam que pobres e desvalidos se conformem com o triste destino que Deus lhes deu.
Sim, venceu a velha aliança. De quem será o reino dos céus? Como bem mostra a História, quando
a religião domina o Estado, as consequências são desastrosas – para dizer o mínimo. Sabemos bem
aqueles que desde já estão condenados, os que perderam com a decisão do STF. Afro-religiosos?
Sem dúvida! Mas não somente. Não-cristãos foram derrotados e com eles todos os LGBT. Índios e
quilombolas, que há muito vêm sofrendo com a catequese de evangélicos, podem dar seus últimos
suspiros. Quem resistirá?
Belchior diria: “eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens”. Sinal fechado para
o futuro, já que o “novo ensino médio” retira da grade ou diminui significativamente a carga horária
de matérias como História, Geografia, Sociologia e Filosofia. Sinal que nunca se abriu para a Lei
10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes
públicas e particulares da educação. Essa lei que nunca “pegou”. E sabem por quê? Porque sempre
esbarrou na resistência das escolas, de seus diretores e docentes que, muitas vezes por questões
religiosas, simplesmente se recusavam a participar de cursos de qualificação e transmitir aos alunos
esse conhecimento. Mesmo com denúncias ao Ministério Público, aos órgãos e autoridades
competentes, nunca houve esforço para que a lei fosse cumprida.
Conhecer a história e cultura afro-brasileira e africana, o que inclui sua religiosidade, ajudaria
decisivamente no combate ao racismo e à intolerância religiosa. Em vez de fazer valer a Lei
10.639/2003, que teria um impacto incontestável na desconstrução de uma série de preconceitos e
contribuiria para outro entendimento do papel do negro em nossa sociedade, o Supremo aprova o
ensino religioso confessional e nos lança novamente à Idade das Trevas.
Um Estado laico não deixa de reconhecer que seu povo tem religião, mas reconhece acima de tudo
o pluralismo, a diversidade. Não se pode negar a nenhuma religião o ensino de sua doutrina, desde
que seja oferecido nos templos ou em escolas por eles mantidas. Catecismo e escolas dominicais
sempre cumpriram a função confessional de suas respectivas igrejas, e é melhor que seja assim.
Por mais que a participação nas aulas seja facultativa, nenhum aluno adepto do Candomblé estará
livre do constrangimento. Diante de crenças que demonizam os povos de matriz africana, muitas
vezes professadas por profissionais da educação, que ávidos aguardavam essa brecha para impor
seus valores, não resta outra alternativa a não ser estar “atento e forte”.
Uma luta desigual vem sendo travada. A cada ato do Legislativo e do Executivo, com base no
projeto de poder que está em curso, rasga-se mais uma página da Constituição. Mas quando o
Judiciário, que tem por premissa garantir direitos individuais, coletivos e sociais e resolver conflitos
entre cidadãos, entidades e Estado, se submete a uma agenda reacionária, abre-se um precedente
perigoso. Uma vez que a democracia evoca a igualdade como princípio básico, permitir que uma
maioria subjugue uma minoria, impondo suas crenças, por exemplo, é deixar de salvaguardar a
Carta Magna naquilo que ela tem de mais precioso: as liberdades fundamentais.
A verdade é uma só: ou se serve ao povo, ou se serve à elite. Que ressoe a música de Edson Gomes,
para a gente do Candomblé e para todos os brasileiros que se sentiram derrotados com a triste
decisão do STF: “Vamos, levante e lute! Vamos, levante e ajude! Vamos, levante e grite! Vamos,
levante agora! Senão a gente acaba perdendo o que já conquistou...”

Referendo na Catalunha

Entre Espanha e Catalunha, séculos de embate


por AFP — publicado 29/09/2017 00h30, última modificação 27/09/2017 15h31
Em manifestações recentes na Catalunha ouviu-se o grito "Não passarão!", famoso slogan
antifascista da Guerra Civil espanhola
Por Adrien Vicente
A crise aberta entre as autoridades da Catalunha e da Espanha em torno do referendo de
autodeterminação de domingo 1, proibido por Madri, é o último episódio de uma história
complicada entre essa região e o poder central.
Os separatistas, no poder nesta região do nordeste da Espanha, têm se comparado ultimamente com
a II República espanhola (1931-1936) sufocada pelo general Francisco Franco e suas tropas depois
de três anos de guerra civil.
Leia mais
Catalunha: Adeus, Espanha?
O sonho catalão: arrecadar impostos e geri-los, como os bascos
Em manifestações recentes na Catalunha ouviu-se o grito "Não passarão!", famoso slogan
antifascista da Guerra Civil espanhola, após a detenção de 14 altos funcionários catalães
relacionados com a organização da consulta.
As tropas de Franco tomaram a Catalunha nos últimos meses da Guerra Civil, no começo de 1939,
provocando um êxodo maciço para a vizinha França. "A primeira coisa que Franco faz é suprimir a
Generalitat da Catalunha", o governo regional autônomo, além de reprimir o uso da língua catalã,
lembra Jordi Canal, historiador na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS) de Paris.
Também em tempos de república, e para opor-se à direita que, nesse momento, governava a
Espanha, o presidente da Generalitat Lluís Companys proclamou em 1934 um efêmero "Estado
catalão da República Federal espanhola".
Na falta de apoio, a Companys "dura 6 ou 7 horas (...), e sai com as mãos ao alto, detido", conta
Jordi Canal. A imagem do dirigente em sua cela causou furor entre os catalães."Exatamente o que o
governo espanhol tenta evitar nesses dias", acrescentou Jordi Canal.
Companys se exilou depois na França, mas foi denunciado pelos nazistas em 1940, entregue à
Espanha e fuzilado. "É a imagem fundamental do presidente mártir", afirma o historiador catalão
Joan Baptista Culla.
Símbolos antigos
A história catalã, no entanto, é marcada por símbolos que se remontam a tempos mais longínquos,
como é o caso da Diada, a festa da Catalunha, dominada desde 2012 por grandes manifestações
separatistas. Recorda a queda de Barcelona em 1714 nas mãos das tropas do rei da Espanha Felipe
V de Bourbon, neto do monarca francês Luis XIV.
Após a batalha, a Catalunha, que até então tinha instituições e leis próprias dentro do reino, ficou
sujeita às "leis de Castilha", conta Joan Baptista Culla. "Pode-se dizer que os catalães perderam seus
direitos privilégios, mas não foi uma guerra nacionalista", como afirmam alguns catalães, afirma
Andrew Dowling, especialista da Catalunha na universidade britânica de Cardiff.
"Os catalães foram castigados porque apoiaram o lado equivocado na guerra", o dos Habsburgos,
originários da Áustria, resume Dowling, lembrando que o primeiro partido nacionalista catalão não
apareceu até 1901. "Os catalães se viam como pessoas avançadas cultural e economicamente, e
consideravam a Espanha como uma sociedade atrasada e inculta" em uma época traumática para o
país, que acabava de perder as colônias de Cuba, Porto Rico e Filipinas, com o consequente dano
econômico para os empresários catalães.
Este despertar nacionalista, aponta Jordi Canal, "não nasce do nada. Havia uma língua própria, uma
velha literatura, um velho direito civil", e "um passado e presente industrial muito mais forte que
em outros territórios espanhóis".
O papel da escola
Além do peso de todos esses símbolos, Joan Baptista Culla destaca que "o separatismo atual se
alimenta de coisas que aconteceram nos últimos sete ou anos anos". Muitos catalães viram como
um insulto que, em 2010, o Tribunal Constitucional tenha anulado uma parte-chave do novo
Estatuto de autonomia da Catalunha, que dava à região a categoria de "nação".
Jordi Canal argumenta que as escolas e os meios de comunicação catalães desempenharam um
importante papel, pois "convenceram os catalães, sobretudo os mais jovens, de que são membros de
uma nação e que merecem um Estado".
Joan Baptista Culla nega que tenha havido uma promoção sistemática do nacionalismo nos
colégios. "Na Catalunha há dezenas de milhares de professores e professoras. Pensar que todos eles
são robôs e que todos eles são separatistas radicais é grotesco".

Nacionalismo e patriotada
por Mino Carta — publicado 11/09/2017 00h15, última modificação 06/09/2017 19h58
Vêm à tona as diferenças entre um e outra, na qual o Brasil é recordista mundial. Vale lembrar três
décadas esperançosas e Getúlio Vargas
Meu pai, Giannino, detestava o futebol e quando a seleção italiana ganhou seu segundo Mundial,
em 1938 na França, ficou de péssimo humor dias a fio. “Essas vitórias só aproveitam ao fascismo,
ainda bem que os franceses vaiaram a Azzurra”, tal seu estribilho. Ele era antifascista e os camisas
negras acabariam por prendê-lo em 1944.

A família Carta chegou a São Paulo em agosto de 1946, meu irmão e eu fomos estudar no Colégio
Dante Alighieri, que recuperara seu nome depois de ter sido chamado Visconde de São Leopoldo
durante a Segunda Guerra Mundial, por ser a Itália inimiga do Brasil.
Aconselhou meu pai: “Tenha o cuidado de não se apresentar como nascido na terra de Dante,
Michelangelo e Galileu, gigantes do pensamento humano, não estão à sombra de bandeira alguma,
são vanguardeiros do mundo”.

Giannino era liberal à moda antiga, e isto bastava e sobrava para que o fascismo o considerasse
subversivo. Excelente jornalista, levado à profissão, depois de se formar em Direito, pelo meu avô
materno, Luigi Becherucci, ferozmente perseguido pelo fascismo.
Aprendi muito com meu pai e não somente em jornalismo. Ele era também professor de História da
Arte e chegou a dar um curso na USP no final dos anos 40. Cortês, afável, cordial, discordávamos
em política, mas o entendimento era perfeito em matéria de ética e estética, que, de resto, são a
mesma coisa, segundo os gregos.
Leia mais:
Reformas dos direitos sociais e Estado de exceção
Gilmar Mendes, de apoiador a vítima do Estado de Exceção
Cadê o povão?

Meu pai tratou de me explicar a diferença entre nacionalismo e patriotada, e que aquele, praticado
até as últimas consequências, recomenda condenar em perdão as pretensões nacionalistas da reação.
Mussolini amparava seu nacional-socialismo na patriotada e de socialista nada tinha. Não excluo
que o nosso Bolsonaro seja dessa estirpe.

O Brasil é campeão mundial da patriotada. O espetáculo que os estádios do mundo proporcionam é


em geral patético, mas as arenas do futebol jamais se ornam com tantas bandeiras verde-amarelas
como nos dias em que a Seleção adentra os gramados, e isso vale também para as praças de outros
esportes.
Em lugar algum como no Brasil, o cidadão veste a camiseta dos times nacionais em quaisquer
ocasiões, inclusive passeatas de propósitos políticos, enquanto não há oportunidades perdidas para
cantar o hino de Duque Estrada e Francisco Manuel da Silva.

Pergunto aos meus desencantados botões até que ponto esse pessoal de canarinho sabe dos
interesses do País. Poucos, muito poucos, respondem, e acrescentam, álgidos: em compensação, a
larga maioria está sempre preparada para a patriotada.
Não cabe referência às quadrilhas no poder, atuam em seu exclusivo proveito, e o Brasil que se
moa. Não deixarão, os golpistas, de se dizer patriotas, como convém aos canalhas, e haverá quem
acredite.

O Brasil já pôs em prática políticas nacionalistas a partir de Getúlio Vargas na sua primeira versão,
quando criou Volta Redonda, deu origem à CLT e criou o salário mínimo. Eu teria preferido que não
privasse tão intimamente com Filinto Müller e o general Góes Monteiro, mas ele encaminhava um
projeto digno de um país industrializado.
Eleito democraticamente, prosseguiu pelo mesmo rumo e seu suicídio é uma confissão de
impotência diante da implacável prepotência da casa-grande. Incapaz, entretanto, de impedir a
eleição de JK.

Juscelino cometeu erros e acertos, de todo modo não traiu o País. Nacionalistas denodados houve
no governo de João Goulart, que por sua ousadia pagou caro. E veio o golpe de 1964. De todo
modo, por três décadas o Brasil viveu um momento amiúde difícil, porém esperançoso, à altura da
contemporaneidade do mundo.
Tudo o mais nos conduz ao desastre dos dias de hoje. Ditadura por 21 anos, redemocratização de
fancaria para se concretizar no entreguismo tucano, o parêntese alvissareiro do governo Lula, logo
frustrado, enfim o impeachment de Dilma Rousseff e o Estado de Exceção de pura marca mafiosa.
O nacionalismo de um tempo tornou-se cada vez mais uma quimera.

Cresci sabendo que eu viveria o fim do mundo.


O nível do mar que não para de subir, a contaminação dos lençóis freáticos, as máscaras
hospitalares cobrindo a boca dos passageiros nos aviões. Tudo indicava o apocalipse iminente.
Recentemente, o apocalipse chegou. A última sucessão de furacões no Caribe e na América do
Norte dizimou cidades inteiras. A pequena ilha de Barbuda teve que ser completamente evacuada, e
ainda não se sabe se ela poderá ser povoada novamente. Porto Rico, que é oficialmente um território
dos Estados Unidos, enfrenta uma crise humanitária de proporções gigantescas. Neste sábado (30),
a prefeita de San Juan implorou por ajuda e acusou Donald Trump de ineficiência na resposta ao
desastre: "Estou implorando para qualquer um que possa nos ouvir, para que nos salvem da morte".
Apesar de sentir esse fim do mundo tão próximo, sempre achei que, se havia algum lugar que
sobreviveria ao desastre, esse lugar seria o Brasil. Afinal, somos uma potência de recursos naturais
–temos a maior floresta do planeta e quase 15% das reservas de água doce do mundo. Se alguma
epidemia terrível se abatesse sobre a humanidade, sua cura certamente seria encontrada entre as
muitas espécies ainda não estudadas da Amazônia.
Se a agricultura fosse ameaçada por uma praga, seria o nosso celeiro vivo que alimentaria o mundo.
Em nosso país continental, livre de terremotos, furacões e vulcões, haveria espaço para acolher
todos os refugiados do apocalipse. O Brasil, país do futuro, era o país do pós-fim-do-mundo, a arca
de Noé, a esperança dos homens.
E mais. Para além de todos os nossos tesouros naturais, tínhamos outra grande vantagem, nesses
tempos marcados por ódios, guerras civis e povos que se dilaceram mutuamente em territórios
minúsculos: tínhamos o povo brasileiro. Um povo criativo, que certamente encontraria as saídas
mais inusitadas –e festivas– para o apocalipse.
Um povo marcado por uma história de escravidão e de exclusão, sim, mas também um povo que
soube transformar em trunfo suas diferenças religiosas, que preservou tanto a novena de Dona Canô
quanto o Olodum balançando o Pelô, e que fez do Carnaval a maior festa da Terra, e de um ritmo
nascido nas favelas do Rio o seu verdadeiro hino nacional. Um povo dançante, com ginga eterna e
um jeitinho que daria voltas até no mais aguerrido dos fins-de-mundo. Um povo-arte.
E agora, agora que o apocalipse chegou e era a hora de mostrarmos para toda a humanidade que o
século 21 será brasileiro ou não será, agora o país do futuro resolveu ficar obcecado com o passado.
Nosso orçamento para a ciência foi dilacerado, cortado em mais de 40%, com a forte chance de
novos cortes no ano que vem. A cura das epidemias permanecerá enterrada nas florestas brasileiras,
sem cientistas que possam encontrá-la. A capacidade de criação, de irreverência e de
questionamento está sendo dilapidada por uma onda de conservadorismo oportunista cujos porta-
vozes midiáticos são, estranhamente, um ex-ator pornô, um ex-vocalista de uma banda obcecada
por objetos fálicos e um prefeito de reality show.
E o sincretismo religioso que permitiria que enfrentássemos os problemas reais sem criar problemas
transcendentais vai encontrar um fim amargo no ensino confessional nas escolas públicas, agora
devidamente avalizado pelo STF.O apocalipse chegou e, para a minha geração, o Brasil não será
mais a arca de Noé.

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