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Editorial
A República
Nós,doRN...
Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte Ano I - Nº 04 - Março de 2005
Apresentação
Em defesa da Cultura Estado do Rio Grande do Norte
Assessoria de Comunicação Social
Rubens Lemos Filho Wilma Maria de Faria
A
proveitando esta edição de "nós, do Os poetas norte-rio-grandenses passaram Governadora do Estado:
RN" em homenagem ao Dia da também a contar com as Casas de Cultura, que já Carlos Alberto de Faria
Poesia, cumpre-nos divulgar que o são 11 distribuídos pelos quadrantes do Estado, e Gabinete Civil do Governo do Estado
Governo Wilma Maria de Faria se distingue na com o Cine Teatro de Cultura Popular e o palco
Rubens Manoel Lemos Filho
história política do Rio Grande do Norte pelos aberto a todos no auditório da própria FJA. Assessoria de Comunicação Social
investimentos feitos no campo da Cultura. Ampliando para as artes e a cultura em
O Prêmio Luis Carlos Guimarães de geral, além da Galeria de Arte Newton
Poesia, promovido pela Fundação José Navarro, com exposições permanentes à dis-
Augusto, é um exemplo concreto. Além de posição do público, a governadora Wilma
ofertar valores de 10, sete e cinco salários-mí- Maria de Faria acaba de anunciar a transfor- D.E. I.
nimos, respectivamente, aos três primeiros mação da antiga Penitenciária João Chaves Rubens Manoel Lemos Filho
colocados, além de editar seus livros reservan- num espaço cultural - o primeiro na Zona Diretor Geral em exercício
do-lhes uma cota de 50 exemplares. Em Norte da capital norte-rio-grandense. Henrique Miranda Sá Neto
número de doze, os ganhadores de "Menção Diante disso, o Dia da Poesia de 2005 é Coordenador de Administração
Honrosa" terão a publicação dos seus livros, um dia de vitórias da cultura e, portanto, de e Editoração
com direito a 20 cada um. alegria para os poetas e o povo em geral. Juracir Batista de Oliveira
Subcoordenador de Finanças
Q uando decidimos tirar Alguns vêm faltando nos últi- mas apimentados de Celso, chefe de redação
o "nós, do RN" no mos anos; mas Celso da nivelavam-se a ele na aceitação Moura Neto
Dia da Poesia, num Silveira - o ausente mais pró- da nação potiguar, porque os equipe redacional
esforço concentrado para enal- ximo, comparecerá pelas pági- seus poemas, embora "bran- Paulo Dumaresq - reportagem
tecer os bem-aventurados nas de "nós, do RN", e com João Ricardo Correia - reportagem
amantes das musas, senti-me ele a lembrança de muitos fal- cos" na classificação pedagógi- João Maria Alves - fotografia
arrastado para a lembrança dos tosos. ca, eram coloridos na unidade
Sem qualquer espécie de dis- rítmica do inusitado, cujo sub- diagramação e arte final
primeiros arrastões que fize- Edenildo Simões
mos, liderados por Eduardo criminação aos outros poetas jetivismo era acessível a todos. Alexandro Tavares de Melo
Alexandre e Plínio Sanderson, que foram ao encontro das Euterpe (deusa da poesia) deve
indo da Catedral ao Bar divindades inspiradoras da poe- pesquisa
tê-los em seu regaço, justificando Anchieta Fernandes
Mintchura (ou seria o inver- sia, gostaria de lamentar a falta que não compareçam materializa-
so?). de dois queridos amigos, Bosco colaboradores
Memorizo permanente- Lopes e Luiz Carlos Guimarães. dos ao desfile dos cancioneiros
Carlos Morais
mente a passagem solene de Arquitetos da palavra, potiguares que expressam nas Emanoel Amaral
cada um dos nossos poetas Bosco e Luiz Carlos con- ruas de Natal a lírica do nosso Rubens Lemos Filho
J.Charlier Fernandes
sob a curiosidade popular. quanto fugissem dos epigra- povo todo dia 14 de março. Carlos de Souza
apoio gráfico
Correspondências Willams Laurentino
Valmir Araújo
Senhor Diretor panheiro Juracir Batista de Oliveira, iniciativa pelo feito, por entender a
Como leitor assíduo, e admirador dos recebi os exemplares do Suplemento importância que este suplemento represen-
seus artigos pela forma de como escreve “Nós do RN”, e lendo, no segundo, do ta para o nosso Estado, daí porque interes-
abordando com seriedade os mais varia- mês de dezembro no seu editorial, você sa-nos receber também a partir de agora os
dos assuntos, somente hoje tive a satis- registra o resultado da consulta realizada. números seguintes.
fação de conversarmos, na audiência que Na qualidade de assinante que somos Agradeço pela atenção, aproveitando
nos concedeu. devo-lhe dizer que a Confederação para externar protesto de consideração e DEPARTAMENTO ESTADUAL DE IMPRENSA
Na ocasião após tratarmos de Nacional dos Trabalhadores na apreço. Av. Câmara Cascudo, 355 - Ribeira - Natal/RN
assunto em pauta que me levou a sua Indústria (CNTI) por nosso intermédio Pedro Ricardo Filho Cep.: 59025-280 - Tel.: (084) 232-6793
presença, presente também o com- também se solidariza e lhe parabeniza pela Secretário Regional Site: www.dei.rn.gov.br - e-mail: dei@rn.gov.br
Natal - Março de 2005 Suplemento nós, do RN 3
D
esde os tempos mais remotos da civiliza- dicionário Aurélio ensina que poesia é “o que
ção até os dias de hoje, o gênero humano há de mais elevado ou comovente nas pessoas
sempre sentiu a necessidade de expressar ou nas coisas” ou “aquilo que desperta o senti-
sentimentos e impressões traduzidos da obser- mento do belo”. Mas será que a poesia só des-
vação de imagens internas e externas. Seja no perta o sentimento do belo? E o feio que se
exame atento do cotidiano ou mesmo da alma, o nos apresenta a todo instante? Onde fica nessa
homem e a mulher procuraram, ao longo da questão? No ar, na natureza, na mulher, no
história, exteriorizar suas emoções em versos. homem, na rosa, no espinho, no incesto, no
No Brasil, o fazer poético é celebrado em 14 amor pela miséria, na violência urbana, na
de março. O Dia Nacional da Poesia, não por tragédia das guerras, na vida, enfim, na morte,
acaso, coincide com a comemoração do nasci- a poesia está presente, até mesmo na “réstia de
mento do poeta baiano Castro Alves. Ícone do cebola”.
Romantismo, o “Poeta dos Escravos” foi autor de “Que é a poesia? Uma ilha cercada de
obras da magnitude de O Navio Negreiro e de palavras por todos os lados”, afirmou Cassiano
Espumas Flutuantes. Ricardo, em Poética. Pesquisamos e as
Provavelmente a mais antiga das formas definições se sucedem como o fluxo e refluxo
literárias, a poesia é contemporânea da dança, da das águas do mar. “A poesia é a arte de comu-
música e da pintura rupestre. Como asseverou nicar a emoção humana pelo verbo musical”,
externou o escritor francês René Waltz. Outro
acertadamente o poeta e compositor Arnaldo
conceito, este do crítico e editor inglês, John
Antunes, “a origem da poesia se confunde com a Middleton Murry, esclareceu que é “a expressão
origem da própria linguagem”. Do grego poíesis, natural dos mais violentos modos de emoção
‘ação de fazer algo’, pelo latim poese, a poesia con- pessoal”. Uma terceira complementa as ante-
siste no arranjo harmônico das palavras. riores. No entender do poeta inglês William
Um poema organiza-se, geralmente, em ver- Wordsworth, a poesia é “o extravasar espontâ-
sos caracterizados pela escolha precisa das neo de poderosos sentimentos”.
palavras em função de seus valores semânticos Para o mexicano Octavio Paz, Nobel de
(denotativos e, especialmente, conotativos) e Literatura, poesia é “a linguagem em estado
fonéticos. É possível a ocorrência da rima, bem de pureza selvagem”. Mais profundo, o filó-
como a construção em formas determinadas sofo alemão Martin Heidegger qualificou-a
como o soneto e o haicai. Segundo características de “fundação do ser mediante a palavra”. Já
formais e temáticas, classificam-se diversos o lingüista russo Roman Jákobson também
gêneros poéticos. mergulhou fundo na questão, afiançando
que a poesia é “a linguagem voltada para a
A definição de poesia não é algo simples, não
sua própria materialidade”.
obstante, no universo literário, poetas maiores e Enigmático, o poeta e dramaturgo espanhol
menores, professores de literatura, leitores e sim- Federico García Lorca declarou que “todas as
patizantes em geral terem a sua própria. Aliás, o coisas têm seu mistério, e a poesia é o mistério
conceito está sempre em transformação, se reno- que todas as coisas têm”. O poeta francês
vando ou mesmo em processo, visto que a poesia Mallarmé, defendendo uma outra concepção,
é sempre contemporânea de si mesma. Qualquer sustentou que “a poesia se faz com palavras, e
definição é insuficiente. não com idéias”. E, segundo T. S. Eliot, “apren-
Na concepção de Teixeira de Pascoais, demos o que é poesia lendo poesia”.
“poeta quer dizer profeta”. Seguindo essa Dir-se-ia ainda que a poesia não sobrevive
linha de raciocínio e tomando a frase como sem o significante e o significado. É este con-
exemplo, podemos inferir que poesia afirma sórcio, e não apenas o significado, que provoca
sentimentos, impressões, emoções ou
profecia. Profecia no sentido lato, dilatado, em
reflexões. Na poesia cada palavra tem seu
que as idéias anunciam o “sentimento do papel, não apenas por seu significado, mas por
mundo”. Mas a poesia pode ser mais do que seu ritmo, pela sua sonoridade, pela forma
profética. Composta de signos, ela ainda pode como se relaciona com as outras palavras, e,
ser religiosa, mítica, onírica, política ou român- modernamente, até mesmo pelo seu aspecto
tica, dependendo do modo como as imagens são processadas e trabalhadas. E como bem visual. A lógica da poesia vai além da estrutura sintática e do seu significado.
anotou a professora doutora em Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo e da Declamando ou escrevendo, fazer poesia é expressar-se de forma a combinar palavras,
Universidade Mackenzie, Marlise Vaz Bridi: “Imagem puxa palavra”. Que a ratifique o mexer com o seu significado, utilizar a estrutura da mensagem. Isto é a função poética. A
nosso subconsciente. poesia sempre se encontra dentro de um contexto cultural e histórico. Os vários estilos poéti-
Vaz Bridi ilustrou que “o olhar para dentro de si ainda produz a leitura de tudo isso, cos, as fases de cada autor, os acontecimentos da época e tantas outras interferências muitas
mas em clave interna, onde sensações, sentimentos, intuições, aspectos subjetivos, psi- vezes se misturam à obra e lhe dão novos significados.
cológicos, afetivos, emocionais, eclodem em imagens, em palavras”. Monumento vivo da literatura brasileira, a poetisa mineira Adélia Prado descreveu a poe-
Há quem reconheça ser a poesia maior do que o poeta e o bardo um mero instrumento sia como sendo “a revelação do real”. Prosseguindo comentou: “Ela é uma abertura do real.
da literatura em versos. Por isso mesmo, ela transcende os tais versos, ultrapassa o poeta. Ela revela aquilo que a gente não sabe. Isso é que é poesia para mim.” E concluiu: “Ela me
Um ou outro alega que a inspiração é freqüentemente mais um ato de ser inspirado pela tira da cegueira. Eu acho que a poesia é um fenômeno da natureza, igual à tempestade, rio,
própria poesia, latente ou manifesta. montanha”. Diante dessa definição-poema, o silêncio torna-se obrigatório.
4 nós, do RN Suplemento Natal - Março de 2005
POETAS
Academia foi fundada já sob o signo da poesia, a partir de
Câmara Cascudo. Isso sem falar que Cascudo deixou uma
das melhores traduções para alguns versos de Walt
Whitman. "E logo em seguida, o primeiro presidente foi
N
o salão vazio da Academia Norte-Rio- tos deste gênero literário. Como Natal ganhou a fama de
Grandense de Letras ecoa a voz dos poetas que ter um poeta em cada esquina, a ANL não poderia deixar
nos observam silenciosos dos seus retratos na de ter mais poetas que prosistas em suas cadeiras. "A
parede. É neste ambiente que o presidente da instituição, primeira já é uma poetisa, Nísia Floresta Brasileira
o poeta Diógenes da Cunha Lima, nos recebe para falar Augusta. Depois, Lourival Açucena, poeta dos melhores
dos poetas que habitaram e habitam os cômodos da ilus- que o Rio Grande do Norte produziu; Isabel Gondim,
tre casa criada por Câmara Cascudo. A ANL é uma paixão professora; Segundo Wanderley, bom poeta; Ferreira
para Diógenes, que já está em seu décimo primeiro Itajubá, um dos maiores poetas do século 19, um dos pre-
mandato na presidência. Sua outra paixão é o patrono cursores da poesia moderna no Brasil, o mais fantástico
Câmara Cascudo, de quem é biógrafo. dos poetas, porque não era só um escritor, mas que fez da
O próprio Diógenes, autor de vários livros de poesia, vida um poema".
com destaque para o Livro das Respostas, em que dialoga A vida de Ferreira Itajubá, acentua Diógenes, é ri-
com o poeta chileno Pablo Neruda, nos explica a origem gorosamente um poema. Ele foi mestre-escola, redator de
da Academia: "De fato, o Brasil copiou o modelo da revistas e jornais. Depois resolveu entrar num circo.
Academia Francesa, criando a Academia Brasileira de Seguiu para o interior, onde aprendeu todos os truques de Jorge Fernandes: o grande modernista
Letras sob a liderança de Machado de Assis. Assim, sob os mágica, malabarismo, equilibrismo, trapezismo, e fazia
mesmos moldes, foram criadas em cada estado brasileiro". também o trabalho de ator. "Em seguida resolveu fazer apresentaram e lançaram Auta para o Brasil, até hoje lida
No Rio Grande do Norte, aconteceu na casa de em sua casa, na Rua Chile, o seu circo em que ele era o e musicada muitas vezes".
Câmara Cascudo. "O poeta Câmara Cascudo, que era um protagonista e único de todos os fazeres. Além disso, era O outro grande nome é Nísia Floresta. "Nísia, por
bom poeta. Eu publiquei quatro de seus versos que são um homem extraordinário, resolveu criar o primeiro outro lado, a primeira de nossas patronas, foi uma escrito-
fantásticos, no Brasileiro Feliz, mas ele teve muito mais.
bloco de Natal que saía às ruas em carro. E trouxe para as ra extraordinária na pré-história do feminismo mundial.
Ele fazia poesia em prosa. Na maioria de seus textos você
ruas a Mitologia Grega, colocou Cascudo, que era meni- Seus livros são encantadores, são pura emoção. A Lágrima
encontra períodos inteiros com ritmo poético que ele
no, para ser Apolo (naturalmente Cascudo no tempo da do Caeté é poesia interessante, não vou dizer que ela era
infância devia ser bonito para ser o Apolo, além de ser a grande poetisa, ela era senhora da prosa, mas também
figura)". fazia poesia e de modo interessante, ágil". Mesmo assim,
Segundo Diógenes, "o poeta Ferreira Itajubá era um Nísia não era unanimidade na Academia. Havia uma voz
homem mulherengo, apaixonado, as mulheres todas, as discordante.
damas da sociedade, as meninas do baixíssimo clero, ti- A rival de Nísia Floresta na Academia era a professo-
nham por ele uma emoção grande. Este era um poeta ra Isabel Gondim. "Era uma espécie de opositora de
maior que derramava poesia sobre a Cidade do Natal". Nísia, até porque não aceitava os costumes de Nísia, que
Outro grande poeta da Academia foi Jorge Fernandes, foi casada, depois teve amantes, queria formar uma esco-
um homem que marcou sua época com sua poesia forte,
la de administração para moças, no modelo europeu, que
bela, inovadora. "O grande modernista, o poeta excelente,
era considerado na época muito além de nossa província,
extraordinário que fez de sua vida também um poema".
e do Brasil mesmo. Mas ela fez o Colégio Augusto no Rio
Outra presença marcante da ANL é a poetisa Auta de
de Janeiro e deu a semente, o sonho que veio a ser trans-
Sousa. "Ela teve uma presença marcante e ainda hoje con-
formado na Escola Doméstica pelo seu ocupante da
tinua a fazer poesia nas sessões espíritas. Um detalhe: Tive
a curiosidade de ver livros psicografados sobre ela. Há um primeira cadeira, Henrique Castriciano, que era apaixona-
de Minas Gerais, do famoso Chico Xavier, que é da do por ela".
mesma qualidade artística. Outro produzido em Santos, As horas vão se escoando no salão quase vazio agora.
que eu recebi e achei também de excelente categoria". A tarde quente de Natal lá fora não vê o esforço do poeta
Auta, que teve amores e que Cascudo demonstrou em ao tentar desfiar a memória. Está quente lá dentro, apesar
Vida Breve de Auta de Sousa, foi uma pessoa extra- do ar-condicionado. Diógenes busca na lista de patronos
ordinária que viveu para a poesia, diz Diógenes. um nome que lhe inspire, enquanto se ouve o clicar da
"Auta, que veio de Macaíba e faleceu aqui em Natal, máquina do fotógrafo João Maria Alves acordando os
deixou seu livro Horto, apresentado por Olavo Bilac, foi fantasmas nas paredes da Academia. Diógenes então
seguramente a primeira poetisa potiguar a ter uma apre- lembra de Gothardo Neto, "um poeta esmerado, bom
sentação nacional. Porque Olavo Bilac era amigo de sonetista, interessante. E de uma família de talentos extra-
Diógenes: falando de poetas Henrique Castriciano e Eloy de Sousa (irmãos de Auta) e ordinários. Tem muita gente talentosa".
Natal - Março de 2005 Suplemento nós, do RN 5
Silêncio no salão, Diógenes busca novas a poesia”.
palavras e retoma: “De maneira que na Academia, Diógenes faz as contas, sopesa, calcula a
Ezequiel Wanderley
Crio
o verso
No mundo adverso
E anverso.
O mundo é sempre assim – a desgraça e a ventura,
O esplendor da grandeza e a miséria sem nome; Entre susto e átomo
Uns, cativos da sorte, a parecer de fome; Surge o étimo
Outros, da sorte a rir, na pompa e na fartura. E o átimo.
Programação diversificada
A programação do Dia da Poesia foi se diversifican-
do, mas mantendo a mesma natureza. Os atos públi-
cos, com participação de poetas performáticos e músi-
cos, também foram realizados em locais como o Beco
da Lama, no centro da cidade, na rua Chile, Ribeira,
Passeata dos poetas além da Praia dos Artistas, estendendo-se à Ponta do
Morcego, onde em certa ocasião os poetas fizeram
Moura Neto uma intervenção pintando as pedras dos arrecifes com
O
tinta lavável (claro!) e jogando "poemas ao mar".
s antigos eram mais comedidos. Costumavam sensibiliza é notar que hoje toda a sociedade se envolve O poeta e professor Plínio Sanderson, que certa vez se
promover saraus em suas próprias residências na comemoração desta data", afirma o escritor e artista acorrentou numa árvore da Praça Metropolitana,
ou nos botecos tradicionais para recitarem plástico Eduardo Alexandre, o Dunga. atraindo a curiosidade dos transeuntes para o Dia da
conhecimentos sobre literatura. Os modernos foram Ele tem razão. O Dia da Poesia, em Natal, recebe Poesia com sua eloquência poética, depois passou a
além disso. Levaram a manifestação artístico/poética atenção dos agentes públicos, da imprensa e das insti- levar seus alunos à Ponta do Morcego para jogarem
para os palcos ao ar livre, interagindo com a comu- tuições de ensino. Mais do que isso, atrai a simpatia do "poemas ao mar" nas comerações de 14 de março.
nidade. O Dia Nacional da Poesia, comemorado em 14 povo em geral. A partir do segundo ano de Mais recentemente, no final dos anos 90, foi
de março, é uma data que mobiliza a classe artística comemoração, a programação festiva inclui introduzido nas comemorações o Trem da
natalense, notadamente os arautos de versos e prosas, o passeio poético pelas ruas da cidade. Os Poesia - uma viagem de locolotiva até
manifestantes cami - Ceará-Mirim, com intervenções poéticas
nham portando faixas de todas as ordens durante o trajeto.
hoje È o Dia
e cartazes com frases
criativas e até sui "Nada disso acontecia num contexto
generes, verbalizan- isolado do resto", afirma o poeta
do palavras de Venâncio Pinheiro, lembrando que a
ordem, do tipo década de 80, auge do movimento da
"Viva, cante e ria, arte e da poesia alternativa, foi marcada
hoje é o dia da poe- pelo fim da ditadura militar. "Tudo
sia" - inspiração do ainda era muito fechado, não havia muito
desde 1978. poeta João Gualberto. espaço para fazermos as coisas aconte-
A inspiração para comemorar festivamente a data O primeiro passeio poético, em 1979, Plínio Sanderson cerem; o Dia da Poesia acabou, portanto,
veio de Recife, onde poetas como Paulo Brusky segundo recorda Eduardo Alexandre, teve sendo a explosão de tudo isso".
realizaram, em 1977, uma manifestação intitulada como ponto de partida a Catedral Nova. A para- Detalhe, bem lembrado por ele: não havia (como
Poesia Viva. O artista multimidia Jota Medeiros, do da final foi a Praia dos Artistas, onde funcionava, há não há) preocupação com qualidade. Para participar
Núcleo de Artes da Universidade Federal do Rio dois anos, a Galeria do Povo, criação do próprio
Grande do Norte e parceiro de Brusky, não teve difi- Eduardo Alexandre, que se "apropriou", com a devida dessas manifestações e se pronunciar por meio do
culdades para convencer a tribo local de promover bur- permissão do proprietário, de um muro privado para verbo oral ou da poesia escrita, ninguém assinava ficha
burinho semelhante. A primeira edição do Dia expor publicamente os trabalhos de poetas e de inscrição, como é ainda hoje. "Mas só se estabele-
Nacional da Poesia em Natal constou basica- artistas pláticos. Durante muitos anos, a ceu como poeta quem era bom", acrescenta Venâncio.
mente de uma exposição de textos poéticos Galeria do Povo foi uma referência para o Mesmo depois que as instituições oficiais de cultura
no muro lateral da Catedral Nova, no cen- movimento cultural da cidade dos anos passaram a contribuir com a realização das comemo-
tro da cidade. 80. Juntamente com o Festival de Artes rações do Dia da Poesia, os poetas continuam com
Já se foram 27 anos, desde então. do Forte, também desta época. liberdade de expressão para fazer as coisas aconte-
Um longo percurso foi traçado neste Os que estavam lá, naquela cerem, neste dia, do jeito deles. Além de muitos versos,
período, a maior parte sem qualquer primeira hora, são os mesmos que rimados ou não, a irreverência, a contestação e a ale-
apoio ou incentivo de entidades gover- ainda hoje levantam a gria predominam.
namentais e privadas. A cada ano a bandeira da poesia
movimentação em torno da data passou alternativa ou margi-
a contar com mais adesão dos poetas e
artistas, até se tornar uma manifestação
cultural encampada também por órgãos
nal, termo utilizado
para exprimir a total
liberdade do fazer poéti-
públicos e particulares. "O que mais nos Eduardo Alexandre co, sem vínculos com
da Poesia
Natal - Março de 2005 Suplemento nós, do RN 9
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a linguagem do século
O
movimento do protesto pela política de privilegiar os medalhões nas
poema/processo editoras e suplementos, boicotando na época os poe-
nasceu simul- tas novos).
taneamente no Rio de Janeiro e no Rio Toda uma nova mentalidade e uma nova práti-
Grande do Norte, com uma exposição realizada no ca cultural nasceram daquele momento/explosão
dia 11 de dezembro de 1967. Há cerca de 38 anos, que o movimento poema/processo significava.
portanto. Foi num fim de noite, no Museu do Em artigo para o jornal “O Galo”, Álvaro de Sá
Sobradinho (hoje Museu Café Filho), que um grupo escreveu certa vez que “o aporte prático e teórico
de artistas lançou essa nova tendência vanguardista produzido por poetas e críticos do movimento
que iria suceder a poesia concreta. Esse grupo, inti- irradiou-se para redirecionar o curso das atividades prática de vanguarda, com suporte implicitamente marxista (o
tulado “Dés”, tinha como maiores expoentes Falves semióticas brasileiras e, no que se refere ao poema, poema/processo surgiu em plena época da ditadura militar
Silva, Dailor Varela, Marcos Silva, Anchieta também internacionais.” brasileira), chocou não somente os intelectuais tradicionais, mas
Fernandes e Moacir Cirne, que fazia a ponte entre o Ocorre também que, por ser uma teoria e uma também os usurpadores do sistema. “Fecharam exposições,
movimento potiguar e o carioca. No perseguiram poetas, adentraram casas, submeteram a interro-
cenário nacional, destacava-se como gatórios, violaram correspondências e ameaçaram com prisões e
mentor o poeta Vlademir Dias Pino. com desemprego. Agiram forte contra o perigo do novo”, escreveu
O poema/processo contempla Álvaro de Sá.
uma diversificação de técnicas.
Re c o d i f i c a ç õ e s / e s t i l i z a ç õ e s
geométricas das próprias letras do Movimento continua
alfabeto. Poemas codificados exercendo influências
visualmente em estágio didático. O poema/processo não tinha, em si, o objetivo de lutar contra
Estruturas de poemas movimenta- um governo totalitário, mas o de inaugurar novas linguagens. E daí
dos, tendo como resultado novas
a sua importância, porque, a partir dele, muita coisa foi mudando na
versões dos referidos poemas.
Poemas matrizes gráficas jogando cultura brasileira. Na década de 70, surge a poesia alternativa, tendo
com o claro/escuro. Poemas seri- como veículos jornaizinhos em mimeógrafo e depois a xerox. Os
ados como nas estórias em quadri- poetas desse movimento deixaram de ficar apenas na linha da poe-
nhos. Poemas animados em seu sia literária para incluir desenhos interpretados como poemas
percurso gráfico de páginas. visuais. Ou seja: influência do poema/processo.
Poemas que, através do espaço em Nos anos 80, surge a “arte correio”, que vinha na cola das revis-
branco do papel, fazendo-o entrar tas/envelopes criadas pelo movimento do poema/processo, possi-
nas palavras e frases, fragmentan- bilitando o efervescente intercâmbio com a poesia semiótica inter-
do-as, explode-as graficamente. nacional (hoje, supercomunicada via Internet).
Muitas outras coisas cabem no Muita coisa do poema/processo frutificou, influenciando às
poema/processo: por exemplo, sinais
vezes até para fora da área estritamente poética. Muita coisa vista
matemáticos, traçados geométricos,
ornamentos gráficos. Novas grafias. hoje como original estava lá, nas propostas criativas do
Montagens (fotos com palavras, poema/processo. Como esquecer os objetos-livros de Wlademir,
desenhos com resultados/cores de Neide, Falves e José Cláudio? E os trabalhos gráficos de tipologia
arte plástica). Objetos/poemas. heterogênea de Falves e Joaquim Branco ?
Poemas comestíveis (como o enorme Muita gente não sabe, mas grande parte do que se faz hoje como
pão/poema/processo que foi comido inovação da ação criativa (poética ou não) vem do poema/processo.
aos pedaços pelo público de uma
exposição em Recife, em 1968). O poema/processo é a linguagem para o século 21, dos códigos
Projetos prévios que traçam o progra- ponto com, da fotografia digital e da comunicação fônica celular.
ma de operação de poemas. Uma vanguarda não se eterniza como vanguarda. O poema novo
Atos/poemas (como o rasga-rasga de para uma época pode ser velho para outra, seguinte. Contudo, a
livros de poetas tradicionais nas questão do poema/processo é que seu repertório informacional foi
escadarias do Teatro Municipal, do tão novo, trouxe tal rompimento com o passado literário e avanço
Rio de Janeiro, em 1968, como Poema/Processo de Falves Silva & Alfredo Gama nas linguagens do futuro que seu instante ainda não passou.
10 nós, do RN Suplemento Natal - Março de 2005
MIGUEL
reições – todo esse cortejo que empreen-
deu para fazer de sua obra um momento
de eternidade, en-cetando na poesia
norte-riograndense um vôo alegórico de
“Anjo Gabriel consciente transcendente”,
expressão empregada pelo crítico
CIRILO,
Anchieta Fernandes para intitular o breve
e belíssimo ensaio que escreveu como
prefácio para a mais recente edição de Os
Elementos do Caos (Editora Sebo
Vermelho –2001).
Num dos nossos últimos encontros,
Miguel (com quem eu pouco conversava;
limitava-me a ouvir as suas preleções
O DOMADOR
repletas de sabedoria verdadeiramente
socrática) revelou-me que, em sua pro-
DO CAOS
dução, gostava especialmente do vocábulo
refletiu “nuvemsemelhança”, com que procurou
sobre a aproximar-se “... muro silencioso e frágil
tragédia existencial da solidão”, assim como, com o poema
que se completa com a inevitabilidade da morte. “Tentativa de captação do ser em não-
Essa consciência do ser transitório percorre as espaço”, percebera, ou julgara perceber, o
páginas do seu único livro – Os Elementos do que há de mistério e símbolo na fenome-
Caos -, e nos versos a seguir transcritos atinge nologia da criação.
É oportuno transcrever o poema – um
J. Charlier Fernandes aquele estágio de meditação pura que se pode
encontrar ao longo de sua dolorosa dos mais belos que Miguel escreveu – em
N
este primeiro trimestre do ano, a busca de sentido para o duelo entre o que a palavra “nuvemsemelhança”, tão
“Indesejada das gentes” viver e o morrer: “vou porque tenho cara ao seu criador/inventor, encheu de
resolveu invadir de ir./não levo pena de nada./meu luz o contexto por ele trabalhado naque-
com toda crueldade sonho foi existir,/meu amor – a le instante mágico e de tão profunda
os nobres minha estrada.” solidão:
espaços da Ler e reler Os Elementos do
p o e s i a Caos significa explorar os ter- quando vier o esquecimento
potiguar. ritórios onde a poesia ilumina (demolição do momento),
Empregando com seus archotes os mais
a sua foice diversos espaços circulares,
a quem doar a canção?
fatídica, abateu p o l i m o r f o s, t r a n s f i g u -
primeiramente a radores, revolucionários. quando a Imagem
gorda figura de Espaços da invenção (nuvemsemelhança)
Celso da Silveira, poética, mas também do
autor de uma obra enternecimento, das acampar seu rebanho na lhanura da tarde
profícua e prolífera, digressões sobre a
bem representativa do alma, o ser e o e o Espaço ágil
mundo. Miguel,
que ele mesmo afirmara
em sua faina cri-
seqüestrado
em seu poema Epitáfio:
“Aqui jaz o poeta/e não o adora, esteve bem for menos que lembrança
canto/que dele foi defla- perto de desvendar os segre- (sem mais o engano poderoso da Forma)
grado/como a flecha de um dos de todas as percepções.
E seguiu o seu caminho de domador de
arco.”
assomos e sombras, ritmos e rictus, abandonos quem sustentará
Mas a ceifeira, em sua
emboscada sanguinária, também alcançou o e enlevos, acasos, lembranças, mitos, paraísos, o muro silencioso e frágil
poeta Miguel Cirilo, um criador que sempre sofreguidões, harmonias, remições, ressur- solidão?
Natal - Março de 2005 Suplemento nós, do RN 11
A insustentável leveza
do gordo do riso
Dickens, de Jorge Amado ou de Garcia Marquez) e Em certa ocasião, depois de comprar dez tostões
também um figurante das comédias fellinianas. Ou, de confeitos, pagou apenas um tostão e mandou ano-
ainda, pela seu apetite desmedido (a primeira farra tar, na caderneta, novecentos réis na conta de pai.
que fiz com Celso, testemunhei, assustado, esse Quando chegou com o embrulho enorme, o pai
apetite), um rival de Pantagruel, com aquele risada estranhou o volume e quis saber. Na bucha, Celso
rabelaisiana, vinda do genial criador de Pantagruel. E respostou: "Um tostão de confeito em Antônio
suas tiradas de humor, com cenografia silveiriana, Ferreira, agora, é assim".
também são, sem dúvida, rabelaisiana. O jornalista Miranda Sá caminha pela avenida Rio
Celso desdenhava para aqueles cobiçosos pela Branco e depara-se com Celso e aproveita para con-
glória, pela pompa, pela ostentação. Consciente, com vidá-lo: malandro, vamos comer uma mão-de-vaca em
toda certeza, de que, no fundo, aquela glória de muita Ponta Negra?
gente bajula, não passa de um cemitério. Imenso. A Celso, surpreso, continua andando e pondera:
perder de vista. Nesse campo-santo, de que o Tempo "marque o dia que eu quero levar também uma mão-
é o coveiro, todos os mausoléus são provisórios. Mais de-vaca para fazer duas. Afinal, você bem sabe como
Carlos Morais dia, menos dia, implacavelmente, as ossadas são trans-
feridas para a vala comum. Por isso, vivia soltamente,
é, uma mão lava a outra!"
Num lançamento, em Clima Artes Gráficas, CS
como um simplório. encontra Navarro, com o inseparável copo na mão,
Os ar esãos de Cristo
Anchieta Fernandes
O
ritual que relembra o martírio e a martírio de Cristo. Quatro anos
crucificação de Jesus Cristo se depois, em abril de 1984, a Fundação
manifesta por um sentimento Jo s é Au g u s t o p a t r o c i n ava o
religioso que a memória popular lançamento de um interessante álbum
guarda nos baús mágicos de sua cultura. A
sobre a “Via Sacra Nordestina”,
imagem dos últimos momentos do Cristo na
Terra tem sido retratada ininterruptamente trabalho produzido pela Oficina de
p o r a r t i s t a s r e n o m a d o s o u n ã o, Gravuras Rossini Perez, da própria
contribuindo para o enriquecimento FJA, com desenhos de Márcio Coelho
estético da cultura humana. e xilogravuras de Aucides Sales,
A autoria de muitas dessas obras tem acompanhados de versos do poeta
se perdido no anonimato e na simplicidade popular Chico Traíra narrando a
despretensiosa de artistas do povo. O livro dolorosa caminhada de Jesus ao
“Acervo do Patrimônio Histórico e Artístico Monte Calvário.
do Estado do Rio Grande do Norte” Entre os ar-
(Edição Fundação José tesãos que se
Augusto, 1981), do destacaram pro-
escritor Oswaldo Câ- duzindo peças
mara de Souza, é com motivos
ilustrado por imagens religiosos, lembramos de No gênero pintura, alguns artistas
que retratam o épico de Chico Santeiro, cujo também se inspiraram na cena do Cristo
Cristo, mas sem identi- nome verdadeiro era morto na cruz. Newton Navarro, por
ficar-lhes a autoria. Joaquim Antônio de e xe m p l o, ch e g o u a c r i a r C r i s t o s
“Não sabemos a Oliveira. Natural de demasiadamente trágicos, como escreveu
cujo cinzel devemos as Santo Antônio do Salto
obras de arte, aqui Iaperi Araújo: “São famosos os seus Cristos,
da Onça, Chico esculpiu sofridos, crucificados entre pedaços de
documentadas. Cristos, muitas peças ligadas aos
madonas, e toda uma animais esquartejados num açougue.” Já os
motivos nordestinos – Cristos de Erasmo Andrade se situam no
legião de Santos glori- cangaceiros, carros de
ficados pela devoção contexto do seu particular estilo pictórico,
boi, mulheres rendeiras. misto de surrealismo, humor e contestação
popular, mas, eviden- Sua produção maior, no
temente, copiados da social. Suas metáforas “lembram Chagal”,
entanto, foi de crucifixos.
estatuária clássica, disse Dorian Gray Caldas, em seu livro
O Cristo nu (a
peças tradicionais e “Artes Plásticas do Rio Grande do Norte”
nudez aí sem nenhum
evocativas do passado, sentido erótico), pregado (1989). Um dos Cristos de Erasmo tem o
expressando a ex- à cruz, entalhado com título “Jesus da Aldeia dos Humilhados”;
celente qualidade do acervo da estatuária canivete (às vezes o artista usava uma serrinha outro, “Cristo e Pavões.”
sacra, no Rio Grande do Norte dos séculos para modelar cabelo, barba e bigode) em Como se vê, o Rio Grande teve e tem
XVII e XVIII”, explicou Souza. madeiras como imburana, cedro e imbuia. bons artistas no desenho, na pintura e na
O jornal “O Poti” dedicou, na década Um estilo identificável, o de Santeiro, “tanto escultura crística. Famosos, sim, pois um
de 80, uma página inteira ao trabalho pela fisionomia quanto pela posição e crucifixo de Chico Santeiro foi levado para o
artístico de Iaperi Araújo, intitulado “A Via minúcias de traços”, na visão de Veríssimo de papa Pio XII; outro, para o presidente
Sacra”, uma bonita visualização sobre Melo. Kennedy.