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Universidade do Vale do Paraíba

UNIVAP

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO


Brinquinho e Brioso e a música caipira em São José dos Campos
(1930-1950)

Alunos: Gerson Ribeiro


Luis Wagner Garcia
Thiago Rodolfo Ribeiro

Orientadora: Profª Drª Valéria Zanetti

Curso: História / 2009

São José dos Campos, SP


2009
BRINQUINHO E BRIOSO E A MÚSICA CAIPIRA
EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (1930-1950)

GERSON RIBEIRO
LUIS WAGNER GARCIA
THIAGO RODOLFO RIBEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como parte das exigências do
curso de História da Faculdade de Educação
e Artes da Universidade do Vale do Paraíba.

Universidade do Vale do Paraíba


2009

2
FOLHA DE APROVAÇÃO

GERSON RIBEIRO
LUIS WAGNER GARCIA
THIAGO RODOLFO RIBEIRO

BRINQUINHO E BRIOSO E A MÚSICA CAIPIRA


EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (1930-1950)

3
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela presença durante esses três anos nos quais percorri o caminho da
reflexão da História, na academia e no chão da história do cotidiano da minha vida.
À minha querida mãe, ao meu pai (in memorian), minha tia Rosa e meu irmão Pedro, pelas
orações, torcidas e palavras de incentivos, mormente nos momentos difíceis.
Aos meus amigos Pe. Alexsandro, Pe. Edi Carlos, Pe. Ronildo, Luis Wagner e Thiago, bem
como os colegas do 6º Período do Curso de História, que se tornaram parte de minha vida e que
sempre ocuparão um lugar especial no meu coração.
Em especial aos colegas Pe. Edinei e Pe. Rinaldo aos quais tenho profundo carinho e gratidão,
pois como pessoa e padre me ensinaram que a nossa existência não é fechada em si mesma, mas
se desenrola na ajuda mútua e nos profundos relacionamentos do dia a dia.
A todas as professoras, especialmente à Profª Valéria, que se empenhou em transmitir seus
conhecimentos e por meio deles e da amizade despertar o mestre escondido dentro de nós.
À amiga Tita Selicani e ao Luis Paulo Costa, sobrinho do Brioso, pela acolhida, incentivos e
ajuda necessária para a elaboração desse trabalho.

Gerson

4
Dedicatória

Dedico este trabalho aos apaixonados pela cultura caipira, fé, vida e libertação.

Gerson

5
AGRADECIMENTOS

Agradeço à Santíssima Trindade por me conceder força, inteligência e sabedoria para conciliar
todas as atividades do estado de vida, por me impulsionar sempre a vencer os obstáculos do
cotidiano. À minha amada mãe, Ana A. Pereira pela sua constante intercessão, por cuidar das
tarefas do lar, tarefas que eu não poderia fazer, por ser uma mulher de palavras simples, mas forte
em suas ações. Ao meu falecido Pai, João B. Garcia que um dia me direcionou uma frase que
ecoará nos meus ouvidos, pelo resto da vida: “Filho nunca se entregue!”.
Aos meus amigos de TCC, Gerson Ribeiro e Thiago Rodolfo Ribeiro que nos momentos de
dificuldade tiveram grande paciência comigo e hoje são parte da minha história.
Aos meus Irmãos e Irmãs de caminhada, por entender a minha ausência, nos momentos de
mais dificuldade.
Às queridas e brilhantes professoras do curso de História, Valéria Zanetti, Maria Papali e
Maria José, por todo conhecimento transmitido, mas principalmente por toda compreensão nos
momentos que nossas limitações ficavam evidentes.

Luis Wagner Garcia

6
Dedicatória

Aos amantes da música caipira.

Luis Wagner Garcia

7
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me dar forças em toda minha caminhada, abençoando os
meus dias, me iluminando em todo este processo de elaboração do trabalho.
À minha família por todo apoio e carinho, por dividirem comigo todas as conquistas, e
estarem a todo o momento ao meu lado me incentivando e não me deixando desistir.
À minha amada namorada Suellen, por todo amor, compreensão, carinho e paciência, não me
deixando desistir, e sempre me incentivando nos momentos difíceis.
Aos meus queridos amigos, Gerson e Wagner que dividiram comigo a elaboração deste
trabalho, por toda paciência e carinho que tiveram, por toda dedicação. Aos meus colegas de
classe que nesses três anos de curso me ajudaram, proporcionando momentos felizes, os quais
guardarei na lembrança.
Aos os meus queridos amigos e companheiros da música, por todo apoio e carinho, e por
compreenderem minhas ausências para a boa elaboração deste trabalho.
Aos meus queridos professores, especialmente nossa querida orientadora Profª Drª Valéria
Zanetti, por toda paciência que teve conosco, por toda orientação e carinho com que teve.
À minha querida amiga Tita Selicani, que nos ajudou muito em nossas pesquisas, por todo
carinho e atenção.
Ao querido Luis Paulo Costa por toda atenção e ajuda que nos deu em nossas pesquisas,
sempre simpático em nos atender e sempre disposto a nos ajudar.

Thiago Rodolfo Ribeiro

8
Dedicatória

Dedico este trabalho, ao meu querido e finado pai, João Batista Ribeiro, que um dia deixou a
vida simples na roça para tentar a vida na cidade, para que um dia os filhos tivessem as
oportunidades das quais não teve.
A minha querida mãe, Izabel Costa Ribeiro, que nos momentos mais difíceis da minha vida
não me deixou desistir.

Thiago Rodolfo Ribeiro

9
Resumo

O presente trabalho é um estudo sobre a dupla caipira, Brinquinho e Brioso, natural da cidade
de São José dos Campos e uma das mais famosas não só no Vale do Paraíba, como de todo o
Brasil. Procura-se, por meio da história da dupla e análise de algumas de suas canções,
compreender a relação da produção cultural entendida como produto do meio, particularmente,
resultado do contexto de urbanização de São José dos Campos entre o período de 1930 a 1950. O
brilho da dupla caipira se irrompia numa cidade sofrendo um forte processo de transformação
política, econômica e social, reflexos da política modernizadora iniciada no Estado Novo, a partir
de 1937. Analisando algumas músicas de Brinquinho e Brioso, buscaremos olhar para o contexto
histórico de São José dos Campos, a fim de identificar reflexos das transformações ocorridas no
período, em âmbito nacional, estadual e municipal.
.

10
“Lá na estação ai tem um pé de coquerá, que só da côco na hora do trem chegar.”
(Brinquinho e Brioso)

11
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................................p.15

CAPÍTULO I
Da trilha e do carro de boi à rua asfaltada e ao
veículo motorizado: São José dos Campos (1930 a 1950)..........................................................p.17

CAPÍTULO II
A música caipira e seus caminhos...............................................................................................p.33

CAPÍTULO III
Nas entrelinhas da música...........................................................................................................p.55

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................p.72

REFERÊNCIAS....................................................................................................................p.73

ANEXOS:
Depoimentos de Luis Paulo Costa...............................................................................................p.78
Relato: História da minha vida artística – Euclides H. Costa (Brioso).......................................p.84
Moda dos Inventores...................................................................................................................p.88
Salada Política.............................................................................................................................p.89
Tempo do onça............................................................................................................................p.90

12
LISTA DE FIGURAS

Fig. 01: Igreja Matriz, 1930.........................................................................................................p.18

Fig. 02: Getúlio em Itararé, após a Revolução............................................................................p.19

Fig. 03: Canhão Krupp 75 mm, semelhante aos canhões utilizados pelas forças paulistas........p.20

Fig. 04: Vista aérea da geometrização do espaço que reuniu doentes e sãos
em São José dos Campos, no ano de 1939..................................................................................p.24

Fig. 05: Mercado Municipal, 1930..............................................................................................p.27

Fig. 06: Rua 15 de Novembro asfaltada, 1940............................................................................p.28

Fig. 07: Praça Afonso Pena, 1940, onde se montavam circos.....................................................p.29

Fig. 08: Bar Quinze, na Rua 15 de Novembro, 1950..................................................................p.31

Fig. 09: Viola Caipira..................................................................................................................p.33

Fig. 10: Cornélio Pires.................................................................................................................p.35

Fig. 11: Raul Torres...........................................................................................................................p.37

Fig. 12: Leandro e Leonardo..............................................................................................p.39

Fig. 13: Alvarenga e Ranchinho..................................................................................................p.39

Fig. 14: Thesis.............................................................................................................................p.42

Fig. 15: Euclides..........................................................................................................................p.43

Fig. 16: Rua XV de novembro (rua Direita)................................................................................p.43

Fig. 17: Francisco José Longo e Adhemar de Barros..................................................................p.44

Fig. 18: Brinquinho e Brioso.......................................................................................................p.45

Fig. 19: Brioso, Dr. Sabino e Brinquinho....................................................................................p.46

Fig. 20: F A PL-1 localizada na rua XV de novembro. No prédio ao centro pode se ver
os auto-falantes instalados..........................................................................................................p.47

13
Fig. 21: Brinquinho e Brioso.......................................................................................................p.48

Fig. 22: Brinquinho e Brioso no corredor do cine theatro...........................................................p.49

Fig. 23: Brinquinho e Brioso pelas ruas de São José dos Campos..............................................p.51

Fig. 24: Brinquinho e Brioso “Os dinamitadores do mau humor”..............................................p.52

Fig. 25: Brinquinho e Brioso em uma das cenas de um típico baile sertanejo junto
com Mazzaropi e Geni do prado..................................................................................................p.53

Fig. 26: Eurico Gaspar Dutra.......................................................................................................p.59

Fig. 27: Brigadeiro Eduardo Gomes............................................................................................p.59


.
Fig. 28: Cristiano Machado (a esquerda)................................................................................... p.61

Fig. 29: João Mangabeira............................................................................................................p.61

Fig. 30: Brinquinho e Brioso num comício na cidade de Paraibuna-SP.....................................p.63

Fig. 31: Adhemar de Barros, 1960..............................................................................................p.64

Fig. 32: Jânio da Silva Quadros...................................................................................................p.68

Fig. 33: Cédula de 1 Cruzeiro (Tamandaré), 1944......................................................................p.69

Fig.34: Cédula de 2 Cruzeiros (Duque de Caxias), 1944............................................................p.69

Fig.35: Tabela de aposta do Jogo do Bicho.................................................................................p.71

14
INTRODUÇÃO

Fomos inspirados pelas nossas próprias raízes rurais, tradição que nos acompanha desde o
início de nossa formação social. Essa herança cultural nos instigou a refletir sobre o atual
contexto de industrialização e o desenvolvimento tecnológico na Cidade de São José dos
Campos. Percebemos que a identidade rural, apesar das pressões dos estilos de música como o
Rap, o Funk, o Country ou mesmo o Rock, típicos do espaço urbano, ainda permanece viva.
Busca-se evidenciar esse lado da cultura rural na sociedade joseense.

O estudo insere-se no campo da História Social cuja dimensão enquadra-se na história cultural
tendo como abordagem um determinado estilo musical: a música caipira.

Para uma melhor compreensão do período, utilizaremos além das músicas, jornais, revistas,
fotografias e entrevista com Luis Paulo Costa, sobrinho do Brioso.

No primeiro capítulo procuramos contextualizar a cidade de São José dos Campos percebendo
as influências políticas econômicas e sociais que direcionaram os novos rumos que se buscava
para o município. Procuramos evidenciar as mudanças ocorridas nos espaços da cidade sabendo
que estava vivenciando sua fase como estância climática, pois se propagavam modelos de cidade
salubre, higienizada, enquadrada nas determinações do sanitarismo. Esta fase, que compreende o
período de 1935 a 19541, concentra-se na região central da cidade um grande contingente de
doentes, ao mesmo tempo em que a cidade se prepara para o seu momento industrial, fase
posterior a sua condição de estância. Esse contexto social da cidade vai influenciar as
composições, bem como a carreira da dupla.

No segundo capítulo descrevemos um pouco sobre a música caipira e sua história. Na década
de 1930, a carreira da dupla, que coicide com o momento em que a música caipira começou a se
popularizar através das primeiras gravações de discos de música caipira feitas pelo folclorista
Cornélio Pires. Esse momento também evidencia o forte desenvolvimento da radiofonia no país.
Limitaremos nossas pesquisas até 1950, período de grande sucesso da dupla pelo país, momento

1
Esta fase compreende o período em que a cidade de São José dos campos foi considerada estância hidroclimática,
com um clima favorável para o tratamento da tuberculose.

15
também em que a música caipira começou a ser influenciada por outros estilos musicais como a
guarania paraguaia. Essas mudanças na música caipira criaram uma nova denominação: música
sertaneja, fruto do processo de transformação sofrido pela música caipira. Discorremos sobre a
história da dupla Brinquinho e Brioso e seu grande período de sucesso, de 1930 a 1950. Focamos
nosso estudo na dupla devido à visibilidade alcançada na região do Vale do Paraíba e nas grandes
capitais como Rio de Janeiro e São Paulo.

No terceiro capítulo buscou-se analisar algumas canções da dupla Brinquinho e Brioso. As


músicas analisadas foram “Moda dos inventores”, “Salada política” e “Tempo do onça”. As
canções nos permitem perceber os reflexos dos processos de industrialização e o contexto da
dupla, que vivenciava a fase sanatorial na cidade de São José dos Campos. Pelas canções e pela
trajetória da carreira da dupla, também em âmbito nacional. Essas músicas foram analisadas por
conta do seu grande conteúdo político e social. Exemplo disso foi a característica apresentada no
governo de Adhemar de Barros na canção “Tempo do onça”, bem como a visão bem humorada
das eleições de 1950 que marcou a volta de Getúlio ao poder, retratada na canção “Salada
política”.

Durante a produção deste trabalho encontramos dificuldades na obtenção das fontes primárias,
em parte solucionado pelo contato com a autora do livro Brinquinho e Brioso – Os embaixadores
da alegria de Tita Selicani, que nos forneceu fundamental material que enriqueceu o presente
trabalho. As fontes que ela nos forneceu como fotos, o relato de vida escrito pelo próprio
Euclides (Brioso), as letras das canções, principalmente as duas canções analisadas que não
foram gravadas (Salada política e Tempo do onça). Tita colheu essas fontes dos familiares da
dupla durante a elaboração do livro. O interesse da Tita Selicani em fazer uma biografia da dupla
Brinquinho e Brioso, surgiu da vontade de prestar uma homenagem a seu pai que era fã da dupla.

16
CAPÍTULO I

Da trilha e do carro de boi à rua asfaltada e ao veículo motorizado: São José


dos Campos (1930 a 1950)

Em 1850 teve início a crise da produção de café no Alto Vale do Paraíba. Nas décadas de
1930 a 1950, no Vale do Paraíba, começou o processo de industrialização. Nesse momento, a
região foi favorecida devido à inauguração da Estrada Rio de Janeiro – São Paulo, em 1927, à
Usina de Energia, em Redenção da Serra.

São José dos Campos, a cidade da doença, dos “ares generosos”, da chaminé industrial, era
dividida no cenário espacial entre 1900 a 1940. A torre da Igreja, majestosamente representava
não só o símbolo da religiosidade como o da ordem política e estrutural da cidade num tempo de
profundas, intensas e “tensas” mudanças. José Rogério Lopes afirmou, em relação ao
desenvolvimento regional e à religiosidade popular ou se preferir, “catolicismo popular”, nos
primeiros passos da industrialização, que,

enquanto a modernidade atinge alguns, a região mantém-se estruturalmente


vinculada aos valores da sociedade rural e sob a égide de oligarquias
estabelecidas territorialmente. Nesse contexto, predominam a pobreza e as
manifestações culturais populares, de cunho religioso-rural, que geralmente
constituem dicotomias na experiência social, delimitando campos sagrados e
profanos bem definidos para a ação dos indivíduos e explicados em valores,
condutas, manifestações coletivas, simbologias e expressões populares que
colocam o antagonismo entre o certo e o errado, o bem e o mal, o justo e o
injusto, entre outros2.

2
LOPES, José Rogério. Industrialização e mudanças culturais no Vale do Paraíba, São Paulo. In: Edna M. Q. O.
CHAMOM; Cidoval M. SOUZA (Orgs.). Estudos Interdisciplinares em Ciências Sociais, Taubaté-SP, 2005, p. 201.

17
Fig. 1: Igreja Matriz, 1930.
Fonte: Arquivo Público do Município de São José dos Campos.

Atualmente, São José dos Campos ocupa um lugar de destaque no conjunto dos municípios do
Vale do Paraíba, e contribui significativamente para o fortalecimento econômico do Estado de
São Paulo e do Brasil, conforme estudo de Simone Narciso Lessa3. Nesse sentido, nossa intenção,
nesse capítulo, será delimitar entre, 1930 a 1950, alguns acontecimentos nacionais e estaduais e
as suas influências no município de São José dos Campos, e consequentemente, nas suas
dimensões social, econômica e política, a fim de contextualizar o tempo em que emergiu a dupla
caipira mais famosa do Vale do Paraíba, Brinquinho e Brioso (1938 a 1950). Não pretendemos
nos aprofundar nos fatos que marcaram o período em foco, mas trazê-los à luz de um contexto
histórico, a fim de olharmos um pouco o cenário nacional, estadual e municipal em que os
“Embaixadores da Alegria” tiveram forte atuação na vida social e cultural da cidade de São José
dos Campos.

3
LESSA, Simone Narciso. São José dos Campos: o planejamento e a construção do pólo regional do Vale do
Paraíba, Campinas-SP, 2001, p. 27. Extrato da Tese de Doutorado em História – Universidade Estadual de
Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.

18
O nosso objeto de estudo insere-se num contexto de importante acontecimento que abriu as
portas a um novo cenário para o Brasil, a chamada “Revolução” de 1930, liderada pelo gaúcho
Getúlio Dornelles Vargas. O movimento levou Vargas ao poder, no mesmo ano, por meio de um
golpe militar, apoiado por vários setores das elites oligárquicas, que já não mais concordavam
com a supremacia de São Paulo e Minas Gerais sobre o regime republicano4.

Fig. 2: Getúlio em Itararé, após a Revolução


(em muitas cidades aconteceram adesões a Getúlio Vargas).
Fonte: www.sampa.art.br/historia/revolução32.

Vargas desencadeou uma ação centralizadora ao assumir o poder do Estado, indicando


interventores aos Estados e, praticamente, acabando com a autonomia que existia na República
Velha, fazendo surgir “a decepção da oposição paulista para com o movimento de 1930”5.

A elite paulista, bem como as de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, estava insatisfeita com a
forma de governo de Getúlio Vargas e a forma pela qual obteve o poder supremo, e o que tirou a
autonomia que os Estados gozavam desde a vigência da Constituição de 1891. Para fazer frente à
política centralizadora de Getúlio Vargas foram criadas nessas regiões as chamadas “Frente
Única”6.

4
CAPELATO, Maria Helena, O Movimento de 1932: a causa paulista, São Paulo, 1982, p. 12.
5
Idem, p. 14.
6
CAPELATO Op. Cit. p.17.

19
A elite paulista, descontente, passou a patrocinar uma campanha para a convocação de
eleições para a constituinte, a fim de impor limites, embasados por leis, às ações do governo de
Getúlio. Tal campanha mobilizou o Estado Paulista e atingiu muitos setores populares, mas as
suas reivindicações não foram acolhidas por Getúlio Vargas, e isso desencadeou um movimento
armado em 1932 entre as forças getulistas e as paulistas, resultando na “Revolução”
Constitucionalista, que ocorreu entre os meses de julho e outubro. O Estado Paulistano procurou
derrubar o Governo Provisório de Getúlio e promulgar uma nova constituição brasileira, mas, o
movimento paulista, fiel somente ao Estado do Mato Grosso, não resistiu às forças do governo e
foi derrotado três meses depois7.

Fig. 3: Canhão Krupp 75 mm, semelhante aos canhões utilizados pelas forças paulistas.
Fonte: www.geocities.com/Athens/Troy/9288/index.html.

Mesmo com os recuos e contradições permitidos pelo movimento de 1930, percebe-se o início
de uma nova fase no Brasil contrapondo-se à ordem tradicional existente até então. Diz Argemiro
Jacob Brum, um importante estudioso do processo de desenvolvimento da economia do Brasil
que,

as novas forças que assumem o poder e os novos interesses que representam,


sem suficiente sustentação própria, têm necessidades de barganhar. Essa relativa
conciliação se dá tanto com os interesses do latifúndio agrário quanto com o
capital estrangeiro, este, agora, sob a influência dos Estados Unidos da América,

7
GALDINO, Luiz, 1932: A guerra dos paulistas, São Paulo, 1996, p. 32 – 35.

20
apesar da postura urbano-industrial e nacionalista que o governo Vargas procura
assumir e se esforça para manter8.

O que se percebe nas intenções e ações da elite republicana positivista era a meta do
“progresso” industrial para o Brasil. Para tanto, o Estado deveria intervir de forma “paternalista”
e direta nos setores político, econômico, social, urbano, exigindo dos Estados a adequação dos
seus municípios ao modelo novo que se estava almejando com a Nova República. Tal sonho e
ideal começaram a se concretizar e a ocupar os territórios e as mentes das elites brasileiras, a
começar pelas grandes capitais, São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.

Com o movimento de 1930, a maior mudança no âmbito político em São José dos Campos foi
o fechamento da Câmara Municipal. A partir de então os interventores federais passaram a
nomear pessoas simpatizantes ao movimento para os cargos políticos no município, e, num
intervalo de três anos – 1930 a 1933 – a cidade teve dois prefeitos médicos, o Dr. Rui Rodrigues
Dória e o Dr. Rodolpho dos Santos Mascarenhas. Segundo Antônio Carlos de Oliveira da Silva,

após 1935, os médicos e engenheiros sanitários ampliaram seu poder de


influência no comando da cidade, passando a definir os rumos da cidade,
juntamente com os membros indicados pelo interventor federal do Estado para
serem prefeitos sanitários. Os prefeitos eram profissionais da área sanitária,
especialmente engenheiros sanitários, médicos ou, em alguns casos advogados,
profissionais que, traziam propostas de cidades calcadas em diferentes modelos
de modernidade e no sanitarismo que permeavam as metrópoles urbanas do
Brasil9.

O objetivo desta forma de governo era fortalecer as idéias e as ações para que o município de
São José dos Campos passasse a ser uma estância de cura, e tivesse uma prefeitura sanitária. Esta
esperança administrativa aos poucos foi sendo concretizada, conforme visão de A Folha
Esportiva de novembro de 1938. Particularmente, na gestão do então prefeito sanitário de São

8
BRUM, Argemiro Jacob, Desenvolvimento Econômico Brasileiro, Petrópolis-RJ, 1990, p. 82.
9
SILVA, Antônio Carlos Oliveira da. Diversão e Sobrevivência: Sociabilidade em São José dos Campos (1930-
1940), São Paulo, 2009, p. 29-30. Extrato da Tese de Mestrado em História Social – Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo-PUC.

21
José dos Campos, Engenheiro Francisco José Longo10, nomeado no mesmo ano pelo então
interventor federal de São Paulo, Adhemar Pereira de Barros11.

O município de São José dos Campos, neste momento de profundas mudanças nacional e
estadual, viu emergir um novo paradigma. A importância deste município dentro do complexo
valeparaibano se deu a partir da sua transformação em pólo regional, advindo das intervenções
dos ideais urbanos das elites e de Projetos do Estado para essa região, que incluíam as terras
joseenses já no período sanatorial (1935 à 1954)12. Neste momento, a tuberculose atingiu maior
número de pessoas e, consequentemente, provocou inúmeras mortes. A partir daí, São José dos
Campos começou a se destacar, como nos apresenta Ademir Pereira dos Santos:

(...), São José dos Campos sempre foi uma cidade laboratório feita a partir de
estímulos externos. Foi assim na primeira metade do século XX com a fase
sanatorial. A cidade era um depósito dos balões de ensaio de instituições
paulistanas como a Santa Casa de Misericórdia. Depois da implantação do CTA
[Centro Tecnológico Aeroespacial], da Dutra, dos investimentos multinacionais
e militares, São José dos Campos descaracteriza-se totalmente. É quando se
processa a transformação da cidade-sanatório para a cidade indústria bélica e
multinacional, (...)13.

Mais tarde iriam surgir outros dois projetos, também frutos dos esforços do Estado que
marcariam a história de São José dos Campos; o projeto industrial, caracterizado pela indústria
bélica com a atuação das transnacionais, e o projeto militar, com a construção do C.T.A. (Centro
Técnico Aeronáutico, posteriormente Centro Tecnológico Aeroespacial).

O crescente desenvolvimento na região, agravou os problemas urbanos e sociais. Simone


Lessa ressaltou que “(...) a delinquência e a violência, assim como a segregação, persistiram,

10
No decorrer deste trabalho veremos que foi este “homem de fibra e de ação” quem criou o apelido da dupla
caipira, Brinquinho e Brioso.
11
A Folha Esportiva, 10/11/1938, p. 3.
12
Reservamos uma reflexão particular sobre a fase sanatorial, em São José dos Campos, ao final dessa parte do
Primeiro Capítulo.
13
SANTOS, Ademir Pereira dos. “De Cobaia a Feiticeiro (ou para se ler paisagens urbanas recentes em São José dos
Campos) in: CADERNOS DO CIRC – CENTRO DE INFORMAÇÕES E REFERENCIAS CULTURAIS. SÃO JOSÉ:
A CIDADE, A CULTURA EM SEU TEMPO. Ano I – nº 1, São José dos Campos: Fundação Cassiano Ricardo,
dezembro, 1996, p. 25.

22
mesmo em face da crescente ação do Estado na cidade e região”14. O ritmo acelerado do
crescimento econômico com todo o seu arsenal de novos projetos e uma nova ideologia
encontrou uma cidade despreparada inicialmente para conter de imediato o novo rosto
proveniente da elite brasileira.

A ideologia do “progresso”, estava diluída na sociedade brasileira e influenciou os grupos


hegemônicos no Brasil, como nos mostra Fábio Zanutto Candioto:

(...) a cidade estava tomada pela ideologia do progresso, associada a vários


planos de obras públicas para reformular visualmente a cidade. Esse pensamento
começou a seduzir a sociedade brasileira, principalmente os segmentos
hegemônicos, a partir do início do século XX, influenciada também pelas idéias
e ações do Barão Georges Eugène Haussman, o prefeito de Paris que havia
reformulado totalmente o centro da cidade entre 1853 e 1869, derrubando
construções antigas e insalubres para dar lugar às imensas avenidas e novos
prédios suntuosos15.

Estava surgindo, portanto, uma nova era com um novo aparato político. A sociedade e a
economia das cidades, graças às fortes perspectivas do desenvolvimento tecnológico desejado
pela burguesia ascendente, passava ser o ideal de civilização16.

A partir de então começam os arranjos de enquadramentos e/ou adaptações das cidades


brasileiras. Primeiramente Rio de Janeiro, e depois São Paulo aderiram às novidades provenientes
do exterior, como constata Fábio Zanutto Candioto:

como os segmentos hegemônicos da sociedade brasileira eram os responsáveis


por trazer as novidades do exterior para o Brasil e eram eles que dominavam as
estruturas do poder, sua preocupação residia em adaptar a sociedade às
novidades intimamente ligadas à modernidade material17.

14
Idem, p. 19.
15
CANDIOTO, Fábio Zanutto, À Luz da Modernidade Joseense: A Light em São José dos Campos (1935 – 1945),
Valéria ZANETTI (org.), Os Campos da Cidade: São José Revisitada, Univap, 2008. p.55
16
Idem, Ibidem
17
Idem, ibidem .

23
O novo cenário urbano moderno, patrocinado pelas influências do pensamento europeu,
proveniente do processo de urbanização, entremostrava o grupo de pessoas excluídas, fruto da
“nova condição de sociabilidade que se espalhava agora pelas novas, avenidas, praças, palácios e
jardins”18.

Percebe-se que na cidade de São José dos Campos existiu um grande contingente de pessoas
excluídas das políticas públicas quando na fase sanatorial deste município, entendida como o
período que abrange os anos de 1935 a 1954, recebeu muitos doentes tísicos, infectados pelo
bacilo Koch.

Fig. 4: Vista aérea da geometrização do espaço que reuniu doentes e sãos em São José dos Campos, no ano de 1939.
Fonte: João Ferraz do Amaral, 1930 in Zanetti, 2008).

A cidade de São José dos Campos até as décadas de 1930 e 1940 não era de grande
expressividade dentro do Vale do Paraíba e do Brasil, tinha “na horda de doentes, em sua maior
parte também pobres em busca da cura da tísica, a solução e, ao mesmo tempo, o agravamento de
seus problemas”19. Propagandas veiculavam São José dos Campos como a cidade ideal para o

18
ORTIZ, Renato, A moderna tradição brasileira: cultura brasileira e indústria cultural. São Paulo, 1988, p. 31 –
32.
19
LESSA, Op. Cit. p. 80.

24
tratamento da tuberculose pulmonar, fator que culminou na sua transformação em Estância
Hidromineral e Climatérica, em 1935:

(...) por meio do Decreto nº 7007, assinado em 1935, a cidade de São José dos
Campos foi transformada em Estância Hidromineral e Climática. Esta
transformação objetivou ao atendimento da grande demanda de doentes
portadores da tuberculose pulmonar que vinham em busca de tratamento e cura,
em virtude do clima prodigioso. Diante disso, a cidade deixou de ter uma
economia exclusivamente agrícola e passou a ter o compromisso de implantar
um aparato sanatorial. A condição de estância favoreceu muito a cidade, graças
ao recebimento de uma verba estadual anual para o município, objetivando a
criação de uma infra-estrutura adequada aos objetivos propostos. Além de todo
um aparato sanatorial, muitas melhorias urbanísticas foram realizadas na cidade,
tornando-a o maior centro tisiológico do país e da América Latina. Graças aos
recursos do Governo do Estado, carreados para São José dos Campos devido sua
condição de estância, a cidade ficou em condições de sediar o CTA – Centro
Técnico Aeroespacial e o ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, bem
como favorecer a vinda de indústrias, que fizeram da cidade um dos mais
importantes pólos industriais do país, especialmente ao que diz respeito ao
aspecto científico-tecnológico20.

A importância regional de São José dos Campos deveu-se também a estratégica localização
geográfica, que pôde ser usada para um conjunto de ações com objetivos militar. No que diz
respeito à dimensão climática da cidade, no período em foco, foi uma terapia baseada na ação dos
agentes climáticos, como o ar, a luz e o sol, para a recuperação da saúde. Cláudio Bertolli, a
respeito da climatoterapia diz que:

(...) a impotência medicamentosa no tratamento dos consuntivos impôs, como


solução paliativa, o dimensionamento clínico do regime dietético, do descanso e
da climatoterapia. Fórmulas antigas, registradas desde a aurora das civilizações
ganharam redobrado foro de socorro ideal aos enfraquecidos do peito. Se no
início do século 19 ainda prevalecia a orientação segundo a qual os ambientes
praiano e campestre, ou mesmo a reclusão em quartos fechados, constituíam-se
nos espaços apropriados para o tratamentos dos tributários da Peste Branca, a
partir de meados daquele centúria a medica germânica tornou-se propulsora do
movimento que atestava ser as regiões montanhas e de clima frio o contexto
ideal para o tratamento dos infectados e dos fracos do peito, inaugurando a era
sanatorial de isolamento dos pectários21.

20
www.fflch.usp.br/dh/posgraduacao/economica/spghe/pafs/silva_ana_enedi_prince.
21
BERTOLLI, Op. Cit. p. 89.

25
Convém ressaltar que a cidade que tem como lema “aura terraque generosa” (Generosos são
Meus Ares e Minha Terra), máxima encontrada no Brasão da cidade criado em 1926, além de
acenar para a idéia de “guia ou de motivação para a cidade”22, também nos leva a pensar no
crescimento do capitalismo, bem como a intenção de grupos econômicos estruturado e
vivenciador a partir da doença. Segundo Bondesan,

(...) em determinado momento, os doentes passaram a dar a tônica na vida de


São José dos Campos. De sua debilidade vinha a potência financeira da cidade.
De sua presença se beneficiava a prefeitura, com um orçamento duplo – o que
arrecadava normalmente e o que vinha do Estado, em valor igual ao da receita
tributária23.

A doença, portanto, passou a ser o principal atrativo financeiro, fonte de obtenção e geração
de capital, além de ser o motivo para o empuxo por parte da prefeitura em relação ao Estado, para
investimentos na infra-estrutura da cidade. Passou-se a buscar um novo cenário urbano e
industrial, mas que carregava os traços marcantes da doença. A doença, que ao mesmo tempo
modernizava o espaço da cidade, o marcava com a marginalização, tanto por parte da família dos
doentes, como por parte da sociedade. Denominava assim o mal da civilização, por causa do seu
processo de crescimento desordenado e de forma discriminatória24.

Na cidade, a este tempo, faltavam políticas sanitárias adequadas e acessíveis à maioria da


população, mormente aos pobres, que acorriam em grande massa aos “ares generosos”, que a
cidade oferecia como sendo a única resposta para a cura das suas enfermidades. Essa grande
massa de pessoas desprovidas buscava uma nova expectativa de aceitação e socialização, e como
era grande a demanda de doentes do peito, os mesmos se acotovelavam nos locais de tratamento
(sanatórios, pensões, etc.) ou simplesmente perambulavam pelas ruas da cidade25. Marginalizados
e ignorados, chegavam aos bandos na cidade em busca de tratamento adequado, sendo que muitas
vezes vinham a óbito sem identidade e sem direito à presença familiar.

22
ZANETTI, Valéria, 2008, Op. Cit. p. 83.
23
BONDESAN, Altino, Op. Cit. p. 39.
24
ZANETTI, Op. Cit. p. 85.
25
Idem, p. 35-36.

26
Diante desse quadro exasperante, proveniente do crescente e acelerado número de doentes e
por causa da ineficiência da fiscalização sanitária, a situação da saúde da população em São José
dos Campos tornou-se desesperadora e crítica. Muitas pessoas que recorriam ao “clima generoso”
se deparavam com um local repleto de pessoas doentes que se agonizavam pelas ruas em busca
de vagas nos hospitais ou de ajuda da filantropia, dentre elas destacamos a chamada Liga de
Assistência Social e Combate à Tuberculose, que tinha à frente do grupo assistencialista, o
médico Ivan de Souza Lopes. Basicamente a ação e a existência da Liga se fundamentavam no
objetivo de acolher e cuidar dos doentes indigentes, mesmo no final de suas vidas,
proporcionando-lhes uma morte um pouco mais digna e menos agonizante26.

São José dos Campos, passava a se popularizar como o lugar de tratamento de muitos doentes,
pobres e ricos, vindos de várias regiões do Brasil. A grande população de pessoas, doentes ou
sãos, migrantes ou não, tornaram-se responsáveis, direta ou indiretamente, pelas mudanças na
cidade. A forma peculiar de viverem, os trabalhos que exerciam, as religiões que professavam, a
nova cultura que geravam, os locais de lazer que freqüentavam faziam delas partícipes
importantes das transformações nos espaços e nos relacionamentos da cidade.

Os diversos espaços sociais, como a Igreja Matriz de São José, o Mercado Municipal, a Rua
Sete de Setembro, a Rua Quinze de novembro, a Praça Afonso Pena, eram alguns dos pontos de
encontro dos joseenses,

Fig. 5: Mercado Municipal, 1930.


Fonte: Amaral, 1930.

26
CESCO, Nelly de Toledo, São José dos Campos: uma visão da fase sanatorial, 1992, p. 85.

27
Fig. 6: Rua 15 de Novembro asfaltada, 1940.
Fonte: Arquivo Público do Município de São José dos Campos.

A população se concentrava em vários lugares da cidade, como por exemplo, no Mercado


Municipal, local onde se vendia e se compravam vários produtos. Muitas pessoas da zona rural
para lá se dirigiam, nos domingos e feriados, com seus carros de bois, charretes, burros de carga
carregados de mercadorias. Depois de frequentarem à missa na Igreja Matriz São José, essas
pessoas vendiam os seus produtos no Mercado, como arroz, café, cereais em geral, talhadas,
legumes, rapaduras, frutas, aves, verduras e lenha. Ao mesmo tempo abasteciam-se de pomadas,
sabonetes, querosene para suas lamparinas, tecidos e outros produtos27.

27
Informação coletada do CD musical “Mestre Calangueiro” – Ernesto Villela – produzido no período de julho a
dezembro de 1999 no Estúdio Midi Maxi de São José dos Campos-SP. Ernesto Villela nasceu em São José dos
Campos, no dia 24 de agosto de 1916. PALMA, Alcemir, Mestre Calangueiro – Ernesto Villela – 2000, p. 34.

28
Havia também muitas apresentações culturais em circos, montados na Praça Afonso Pena28,
como pequenas peças teatrais, ventriloquia, palhaçada, apresentação musical de duplas caipiras29
da cidade e da região valeparaibana e até mesmo de outros Estados, entre outras atividades.

Fig. 7: (Praça Afonso Pena, 1940, onde se montavam circos).


Fonte: Arquivo Público do Município de São José dos Campos.

As atividades, os espaços de diversão e o tempo livre das pessoas, doentes ou não, na cidade,
incluíram os jogos de azar, bares, botequins, confeitarias, entre outros, mencionados pelos
periódicos e portarias municipais30. Os jogos de azar foi um dos temas que mais se destacou nos
periódicos da cidade, desde 1930, como por exemplo a presença do jogo do bicho, a víspora,
roletas, baralhos, rifas, entre outros. Mesmo proibidos por lei, os jogos de azar, enriqueceram
muitos donos de chalets e banqueiros em são José dos Campos, que faziam vítimas todo tipo de
pessoas, até mesmo doentes do peito, como escreveu Bondesan, nos relatos da sua memória, a
respeito de um jovem de nome Jofre, que

acabou doente, e passou a colecionar adjutórios. Recebia da Liga das Senhoras


Católicas, da Federação de Voluntários, dos antigos patrões, dos pais. E botava
tudo no jogo e na Floriza, que tinha casa na rua Paraibuna31.

28
CD musical “Mestre Calangueiro” – Ernesto Villela, 1999.
29
No decorrer deste trabalho, notaremos que a dupla caipira, Brinquinho e Brioso, se apresentava com freqüência em
circos.
30
SILVA, Op. Cit. p. 105.
31
BONDESAN, Op. Cit. p. 20.

29
O Correio Joseense mostrou vários grupos de vítimas da ação dos banqueiros na cidade de São
José dos Campos:

Por todos os recantos da cidade estão installadas as agências dos gananciosos e


inescrupulosos banqueiros que vão sugando o dinheiro das suas vítimas que são,
na sua maioria, operários, empregados domésticos, jornaleiros, empregados do
commércio e creanças inconscientes32.

Esses grupos, em sua maioria eram compostos de pessoas simples e pobres que almejavam
riqueza fácil, num período em que imperava a idéia, que somente pelo trabalho se conquistava
riqueza e poder, bem como somente o trabalho propiciava riqueza à nação33.

Os botequins, vendas, bares, restaurantes, casas de bilhar, bem como outros espaços de
descanso e diversão das pessoas, também foram alvo das atenções dos periódicos da época que,
não à toa, relacionou o consumo de álcool com a desordem, a violência social, os conflitos e os
crimes, numa cidade que buscava o desenvolvimento no trabalho, a manutenção na família, o
desenvolvimento econômico e social, propostos pelos governantes federais e municipais34.
Freqüentados na sua maioria por pobres e gente da zona rural, os bares e botequins, eram os
lugares onde se “afogavam as mágoas” (dito popular), onde muitos se relaxavam diante das
dificuldades da vida35. Era comum e freqüente, entre as pessoas simples e pobres, o consumo de
álcool, até mesmo de forma exagerada, antes de se dirigirem às suas casas,

Então quando eu bebia, nos tempo que eu bebia, tinha o nait clube ali atrais da
igreja, eu bebia umas pingaiada depois descia a Rui Barbosa, era estreitinha.
Punha a mão num lado punha a mão no outro ia descendo, segurando pra lá e pra
cá, a rua ficava deste tamainho. Ô beleza! Minha mão pra lá pra cá. Agora
ninguém sabia quantas vorta eu dava pra por a mão de um lado pro outro.
Chegava lá a ponte do Paraíba era uma só, oiava tinha duas ponte. Eu digo puxa
vida e agora? qualé que eu vô, vortava em Santana bebia mai um gole oiava
tinha treis ponte, eu digo é agora, é a do meio, aí ia embora, passava e ia
mesmo36.

32
Correio Joseense, 21/06/1936: capa.
33
GOMES, Op. Cit. p. 152.
34
SILVA, Op. Cit. p. 93.
35
SIQUEIRA, Op. Cit. p. 28.
36
CD musical “Mestre Calangueiro” – Ernesto Villela, 1999.

30
Os bares e botequins, como já foi dito, eram diversificados e ofereciam variedades de
produtos, além de serem locais freqüentados por ricos ou pobres, “pessoas sãs e pelos atacados de
tuberculose pulmonar e contagiantes”37. Encontramos muitas propagandas de bares e botequins
no periódico A Folha Esportiva38 de dez de novembro de 1938; dentre elas destacamos a
propaganda do Bar Quinze, que funcionava à Rua Quinze de Novembro, e era, até aquele
momento, o único a funcionar também como restaurante,

Bar Quinze
Rua quinze de Novembro, 6 – telephone, 103
Jacob Diamante & Cia.
Somente artigos finos nacionais e extrangeiros – O melhor sortimento da cidade.
Serviço pronto de entregas a domicílio, a qualquer hora e com qualquer tempo.
Restaurante Refeição Comercial 5$000 – Serviço a la carte até 24 horas – Vinhos
de mesa Portuguezes: A maior variedade da zona Norte39.

O Bar Quinze, como vimos, também dispunha de famosa confeitaria e restaurante, recebendo
distintos grupos sociais, em dias e horários variados.

Fig. 8: Bar Quinze, na Rua 15 de Novembro, 1950.


Fonte: Arquivo Público do Município de São José dos Campos.

37
FLÓRIO, Op. Cit. p. 39.
38
A Folha Esportiva era um órgão esportivo, literário e noticioso de São José dos Campos.
39
A Folha Esportiva, 10/11/1938, p. 120.

31
As grandes e intensas movimentações e funcionamento dos bares, botequins, confeitarias e os
jogos de azar, ao que nos parece, não foram afetadas e, tampouco, deixaram de funcionar, diante
das portarias. Em parte isso se deu por causa da deficiência administrativa e financeira da
vigilância fiscal, policial e jurídica de São José dos Campos, além do mais, porque esses espaços
se organizavam ao redor das demandas, dos desejos e dos costumes tradicionais dos moradores
que possibilitavam as variadas formas de sociabilidade40.

40
SILVA, Op. Cit. p. 106.

32
CAPÍTULO II

Música caipira e seus caminhos

A música caipira na década de 1920, como expressão do povo rural, ganhou os espaços
urbanos e se desenvolveu ao longo dos tempos, recebendo influências de outros estilos musicais
que marcaram profundamente as letras e a parte estrutural de seus arranjos. Em suas origens, a
música caipira expressava o cotidiano, religiosidade e as relações sociais do homem do campo.
Segundo Maria Regina Carvalho,

a música sertaneja de raiz é composta por modas, toadas, cateretês, chulas


emboladas e batuques, com o uso de violas caipiras e acordeons para evocar a
paisagem bucólica do campo, da vida e da gente simples do interior,
particularmente na região centro e sudeste 41.

Dentro dessa expressão cultural se faz presente a viola, elemento indissociável á música
caipira. A viola é um instrumento de origem portuguesa, que se tornou símbolo da música
caipira. Usada pelos padres jesuítas para catequização no período colonial, acabou se tornando
instrumento da expressão do homem do campo, que adaptou esse instrumento a sua realidade.

Fig 9: Viola Caipira

Fonte: www.casamusical.com.br/foto_/23072008115400.JPG

41
SILVA, Márcia R. Carvalho. Coisas da Roça: A Música Sertaneja no Cinema Brasileiro, 2007. p. 2.

33
Segundo Ivan Vilela,
o fato de o caipira ter a mão endurecida pelo trato na enxada e a lida no campo
possibilita que ele vá buscar outros recursos que dificilmente uma mão hábil em
dedilhar se preocupasse em descobrir. Falo de ritmos, de rítmica, de divisão. A
maneira como o catireiro ou um pagodeiro conduz ritmicamente o
acompanhamento de uma música é profundamente sofisticada, sendo assim
muito difícil para uma autoridade no instrumento, porém não iniciada nos meios
caipiras, conseguir executar com o balanço e sotaque esperado42.

A ausência de uma metodologia sistematizada para o ensino da viola fez com que cada
violeiro tivesse sua forma singular de tocar, criando assim uma diversidade nos estilos43. Segundo
José Rogério Lopes e André Luiz da Silva, no artigo “Os Lugares da Viola no Vale do Paraíba
(SP)” a aprendizagem do violeiro acontece também de forma visual. Os festivais são os locais
onde esses violeiros se encontram para trocar experiências, e é nesse momento que os violeiros
tomam contato com o toque do outro e se apropriam para uso posterior44.

E também essa ausência de uma metodologia sistematizada abre espaço para as explicações
sobrenaturais de como se tornar um violeiro. Existem várias lendas de violeiros que fazem pacto
com o diabo para se tornarem bons. Em outros casos alguns rituais como passar uma cobra entre
os vãos dos dedos fazem, do tocador, um grande violeiro. Muitas são as lendas que tornam a
viola caipira um instrumento tão rico e com forte sonoridade, defendidas no âmbito místico.
Segundo Ivan Vilela,

curiosamente, o violeiro atrai para si uma aura de diferenciação, de misticismo,


pois tocar viola com destreza é sempre visto como algo que salta aos olhos das
pessoas e suscita curiosidade. E a habilidade no tocar é muitas vezes associada
ao resultado de algum pacto. Assim, este violeiro mantém um trânsito do
profano para o sagrado, e vice-versa, como nenhuma outra pessoa da
comunidade consegue. Ele toca nas festas da igreja e faz pacto com o tinhoso
para tocar melhor e nem por isso é rechaçado do meio onde vive45.

De acordo com Rosa Nepomuceno, os gêneros que compõem a música caipira são o Cururu, o
Cateretê ou Catira, a Folia de Reis, as Danças de São Gonçalo, as Congadas, os Calangos, a

42
VILELA, Ivan. O caipira e a viola brasileira. In Sonoridades Luso-Afro-Brasileiras, 2004. p. 185.
43
VILELA, Ivan. A Viola, Ensaio elaborado especialmente para o projeto Músicos do Brasil: Uma Enciclopédia,
2008. p. 16.
44
LOPES, José Rogério e SILVA, André L. Os Lugares da Viola no Vale do Paraíba (SP), 2008. p. 187.
45
VILELA, Ivan. Op. Cit. 2004 p. 181.

34
Declamação e por último o mais conhecido dentre eles a Moda de Viola46. Todos esses gêneros
são classificados como música caipira. Segundo Roberto Corrêa,

o termo “música caipira”, freqüentemente, remete-nos aos diferentes estilos e


gêneros de música produzidos pelas duplas caipiras, abrange outros fazeres
musicais: das músicas de autoria produzidos no contexto das manifestações
tradicionais as composições modernas e desvinculadas de regras e de estilos
definidos47.

Toda essa riqueza cultural e musical começou a chamar a atenção de um estudioso da vida
rural, Cornélio Pires, considerado o maior divulgador da cultura caipira nas primeiras décadas do
século48. Em 1910, Cornélio Pires começou encenando na Universidade Mackenzie um velório
típico do interior paulista, contando com a participação de autênticos intérpretes de cururu e
cateretê49. O sucesso foi tão grande que continuou seu trabalho percorrendo vários cantos do país
se apresentando, dando palestras e divulgando a cultura caipira. Em 1929, teve a idéia de gravar a
música caipira, cantada por interpretes do interior e por ele próprio.

Fig 10: Cornélio Pires

Fonte: http://www.widesoft.com.br/users/pcastro5/fotostt/fftt37.jpg

Cornélio Pires encontrou barreiras na sua primeira tentativa de gravar discos de música
caipira. Seu projeto de gravação radiofônico de discos caipiras foi apresentado à gravadora
Columbia que, de início, não aceitou a proposta prevendo um possível fracasso de vendas.
Cornélio insistiu no projeto, queria ele mesmo gravar por conta própria. O projeto só seria viável
para a gravadora se conseguisse atingir no mínimo, a venda de mil discos. Cornélio assumiu o

46
NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira: da Roça ao Rodeio. São Paulo, 1999.
47
CORRÊA, Roberto. A Arte de Pontear Viola. Brasília: Editora Viola Correa, 2002. p. 63
48
NEPOMUCENO, Rosa. Op. Cit. p. 101
49
FERRETE, J,L, Capitão Furtado: Viola Caipira ou Sertaneja?. Rio de Janeiro: Funart, 1985. p.30

35
risco e deixou uma garantia em dinheiro, não apenas para os mil discos, mas para vinte e cinco
mil discos.

Após ás gravações dos discos, Cornélio Pires saiu vendendo-os pessoalmente pelo interior. O
sucesso de suas vendas foi tamanho que, em pouco tempo, foi solicitada uma nova prensagem de
disco. Segundo Tinhorão,

essas gravações pioneiras de modas caipiras da área de São Paulo conservavam


muito fielmente o espírito da região de onde provinham as duplas de
instrumentistas e cantores, e, como Cornélio Pires viajava pelo interior para
colocar os discos na sua própria área de origem (segundo seu sobrinho, Capitão
Furtado, a tiragem de alguns alcançou vinte e mil exemplares), pode-se dizer
que, apesar de apresentar-se sob a forma de produto industrial seriam
folclóricas50.

Essas primeiras gravações sob direção de Cornélio Pires reuniu Zico Dias e Ferrinho, os
irmãos Caçula e Mariano (tio e pai de Caçulinha que trabalhou muitos anos no programa do
Faustão), Arlindo Santana e Sebastiãozinho, Lourenço e Olegário, entre outros51. Esses discos
traziam anedotas, desafios, declamações, cateretês e também a primeira gravação de moda de
viola “Jorginho do Sertão”, interpretada por Caçula e Mariano.

Cornélio Pires montava caravanas de violeiros, cantadores e humoristas percorrendo muitos


cantos do país, especialmente o interior paulista, apresentando-se em palcos nobres ou nos pobres
picadeiros e circos52. Na década de 1940, a caravana montada por Cornélio Pires contou com a
participação de Brinquinho e Brioso53.

No decorrer dos anos 30, a música caipira começou e se popularizar ainda mais com o
surgimento das rádios. A radiofonia, que até então acontecia de forma tímida, começou a ter sua
grande difusão. Segundo J.G. Vinci,

a tecnologia radiofônica no Brasil acompanhava com certo descompasso o


desenvolvimento técnico internacional dos estúdios e aparelhos(...).Nos anos 30,
seu aprimoramento técnico foi estupendo, e o aspecto mais significativo são os

50
TINHORÃO, José Ramos. Pequena História da Música Popular. São Paulo: Editora Vozes, sd. p. 200.
51
NEPOMUCENO, Rosa. Op. Cit. p. 110.
52
Idem, p. 101.
53
Idem, p 129.

36
mais de trezentos tipos de válvulas que existiam em 1932. Na realidade foram
elas que permitiram a diminuição do tamanho dos aparelhos, deram qualidades a
captação e, principalmente, reprodução do som, tornando-os mais eficientes e
resistentes54.

A rádio se tornou um dos principais veículos de divulgação da música caipira, incentivando o


surgimento de novas duplas, tornando-se o local onde que todas as duplas caipiras almejavam se
apresentar. Algumas rádios tinham programas sertanejos com a apresentação de várias duplas
contando causos regados a muita música.

Raul Torres foi o responsável por profundas modificações na música caipira, particularmente
quando começou a introduzir na música caipira influências de outros estilos. Segundo Tinhorão,

(...) o compositor paulista acabaria introduzindo uma novidade destinada a


revelar-se de uma influência altamente negativa no campo das modas de viola da
região centro-sul: a moda guarania, ás vezes denominada por ele de rasqueado
estilo paraguaio. A introdução de guaranias, a partir da década de 50,
responsáveis pela deturpação e empobrecimento musical das modas de viola
produzidas por compositores profissionais, verificou-se após a segunda viagem
realizada por Raul Torres ao Paraguai em 1944 (as duas outras foram em 1935 e
em 1950)55.

Fig 11: Raul Torres

Fonte: http://www.brasilraiz.com.br/Raul-Torres.jpg

O grande momento da música caipira ocorreu entre 1930 até a década de 1950, quando
começou a perder espaço na rádio e no gosto popular para a Bossa Nova e para a música

54
MORAES, J.G.V. Metrópole em Sinfonia. História, Cultura e Música Popular na São Paulo dos anos.
30. São Paulo, Estação Liberdade/FAPESP, 2000. p. 53.
55
TINHORÃO, José Ramos. Op. Cit. p. 204.

37
estrangeira56, mudando suas características com a introdução das guaranias. Segundo Maria
Amélia Garcia,

o fim dos anos 60 marcou uma ruptura na música caipira quando a dupla Leo
Canhoto e Robertinho introduziu a guitarra elétrica, baixo e bateria –
instrumentação básica do rock-associando a imagem do cowboy norte-
americano e incluindo o “ritmo jovem” nas suas composições. (...) A temática
cantada, nessa fase de transição, é essencialmente urbana, individualista,
predominando narrativas sobre o cotidiano de migrantes nas grandes cidades. A
partir dos anos 80, os temas românticos predominaram57.

A música caipira, para alguns, se tornou a música sertaneja, tal qual a conhecemos hoje. Mas
então, qual diferença entre música caipira e música sertaneja? Segundo Márcia Regina
Carvalho, a música caipira também é definida como música sertaneja de raiz58.

Segundo Ivan Vilela, quando a música caipira começou a ser gravada, virou mercadoria,
perdendo assim sua função de manifestação cultural das pequenas comunidades59. Esse
redimensionamento da música acabou sofrendo modificações. Segundo Ivan Vilela,

para poderem ser gravadas, estas músicas foram também redimensionadas e ao


serem redimensionadas muito se perdeu em tempo de conteúdo e também na
forma. Isto interfere em uma categoria fundamental da vida social: a relação
com o tempo: e o tempo de ouvir ocupa espaço importante em meios não
letrados60.

A grande diferença da música caipira para a sertaneja diz respeito ao seu aspecto comercial,
quando foi adaptada para se tornar música de consumo. Segundo Jeder Janotti Junior, a
performance da música caipira para a sertaneja se difere muito em seu ato de cantar e interpretar:

muitas vezes as próprias denominações, por exemplo, música caipira de raiz ou


música sertaneja, carregam traços que envolvem imaginários espaciais presentes
nas performance das canções. No caso da música caipira, há uma valorização de
certa quietude, de um mundo desarticulado das novas tecnologias e das
“modernidades”; já a nomenclatura música sertaneja remete, hoje, ao
agrobusiness, aos rodeios, ao “mundo pop” dos grandes produtores de grãos 61.

56
Idem, Ibidem.
57
ALENCAR, Maria A. G. Cultura e identidade nos sertões do Brasil: representações na música popular. p. 8.
58
SILVA, Márcia R. Carvalho. Op. Cit. p. 2.
59
VILELA, Ivan. Op. Cit. 2004 p. 178.
60
Idem, p. 179.
61
JUNIOR, Jader Janotti. Mídia, Música Popular Massiva e Gêneros Musicais. Trabalho apresentado ao grupo de
trabalhos “insira aqui seu GT”, do XV Encontro da Compôs, na Unesp, Bauru, SP, em junho de 2006. p. 45.

38
O estilo rural das duplas caipiras não é mais evidente nas duplas sertanejas, pois as
temáticas de suas letras mudaram, bem como seus arranjos, suas vestimentas e também sua
postura nas apresentações. Uma outra profunda mudança ocorreu no nome das duplas. Agora
evitam-se apelidos ou nomes no diminutivo. As duplas atuais adotam nomes bem diferentes
dos originais, como no caso da dupla Leandro e Leonardo, cujos nomes verdadeiros são
Luís José e Emival Eterno.

Fig 12: Leandro e Leonardo

Fonte:http://1.bp.blogspot.com/_eEnfqSdT01I/SmtNNv1xsfI/AAAAAAAACas/AJUeZ46e3xk/s200/Leandro+&+Le
onardo-volume+4.jpg

Fig 13: Alvarenga e Ranchinho

Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_U5Y-iVV_kVI/SiQg--
MAhHI/AAAAAAAAAA8/AwEHN_RlnzU/S269/alvarengaranchinhovo1.jpg

A música sertaneja também é confundida atualmente com o pop romântico. O Cantor Zezé
di Camargo, em entrevista concedida à Folha de São Paulo, no dia 28/08/98, ao ser

39
questionado como cantor de música sertaneja responde: “Eu diria que seria pop romântico”.
Ivan Vilela explica sobre os elementos estruturais que mudaram na atual música sertaneja:

na realidade esta música se aproxima mais da música romântica, pois não guarda
nenhum dos elementos da música que a precedeu, quais sejam, a tipicidade dos
instrumentos, a utilização do romance como base poemática, o uso constante das
duas vozes em intervalos de terças ou sextas. Hoje, com o uso excessivo de um
vibrato quase caprino que veio da transformação de um cantar típico do México
ingresso no Brasil nos anos de 1950 a partir das rancheiras e corridos na voz
principal de Miguel Aceves Mejia62.

Já Tinhorão não faz essa distinção, considera a semelhança dos dois estilos, apenas distingue o
caráter de produto industrial e comercial. Na concepção de Tinhorão “a música caipira é a
manteiga, e a sertaneja margarina” 63. Para Tinhorão, a música sertaneja é a versão industrializada
da música caipira. De acordo com Nepomuceno o termo música sertaneja surge com o advento
das novas duplas já influenciadas por outros estilos musicais. Segundo Nepomuceno,

as baladas e rancheiras com roupagem pop cantadas em terças por Chitãozinho e


Xororó criaram um abismo intransponível entre dois mundos o da musica
tradicional e o da sertaneja moderna, que agora ganhava sua forma mais
acabada. Foi nessa época que os puristas inventaram adjetivos pouco amigáveis
para defini-los, como sertanejos64.

Para a socióloga Elizete Santos, as mudanças estruturais na música caipira não são apenas
resultado de uma adaptação para um formato de música de consumo, ou uma perda das raízes
rurais, mas sim o resultado de um desenvolvimento histórico. A autora discorda da visão de
Nepomuceno. Segundo Elizete Santos,

as transformações ocorridas na música caipira não são tomadas como dados


históricos, mas como narrativas construídas pelos autores para dar conta dos
fenômenos observados, cujas conseqüências últimas teriam sido a bipartição do
gênero entre o sertanejo moderno e a geração dos novos caipiras65.

Para Elizete Santos, Nepomuceno acaba atribuindo uma atemporalidade à música caipira,
como se fosse imutável. Segundo Elizete,

62
VILELA, Ivan. Op. Cit. 2008. p. 19.
63
Cf. Marcondes, Marcos. Enciclopédia da Música Brasileira: Sertanejo. São Paulo: Art, 2000. p. 100
64
NEPOMUCENO, Rosa. Op. Cit. p. 198.
65
SANTOS, Elizete I. tese de mestrado. Música caipira e música sertaneja. URFJ, 2005. p. 23.

40
o passado histórico reconstruído tem um caráter totalizante, em oposição ao
caráter fragmentável do presente. Por isso a atemporalidade e imutabilidade
enquanto permanências não implicam um simples ideal de congelamento: não é
como se simplesmente nada houvesse mudado. Em última análise, ocorre que na
música caipira as mudanças não devem refletir o modo de vida do presente
moderno e fragmentado, mas sim este tempo idealizado66.

Para melhor entendimento do que é música caipira, Roberto Corrêa, em seu livro didático “A
Arte de Pontear Viola” explica a técnica do formato da música caipira;

trazendo elementos das manifestações populares – como folias e Catiras – as


duplas representavam muito bem o gosto popular do meio rural e acabaram
criando um estilo, que eu denomino “estilo das duplas”. Este “estilo”
caracteriza-se, principalmente, pela utilização de ritmos típicos do meio rural;
pelo canto, entoado em dueto; e pela instrumentação, geralmente composta por
viola e violão, conhecidos como “casal”67.

Os duetos de vozes são sempre freqüentes, cantados em intervalos de sextas e terças, é a


chamada segunda voz, uma voz em um intervalo abaixo da principal. Segundo Roberto Corrêa, a
estrutura das canções das duplas é basicamente a mesma, divididas em Introdução e parte A, que
se repetem de acordo com o tamanho da poesia que privilegia as quadras métricas de sete
sílabas68.

Na parte estrutural dos arranjos e harmonia, quase sempre as canções são em tons maiores,
marcados sempre pelos acordes de Tônica, Sétima da Dominante, e Subdominante, seguindo
sempre essa progressão69. As modas de viola se diferem um pouco. A linha melódica
desempenhada pela voz é acompanhada pela viola, repetindo exatamente o papel desempenhado
pela voz. As modas de violas trazem sempre narrativas extensas, contando sagas, amores, causos,
acontecimentos e tragédias70.

A dupla de música que fez muito sucesso no Brasil entre as décadas de 1930 e 1950, eram
chamados de Brinquinho e Brioso, Thesis dos Anjos Gaia e Euclides Honorato Costa. Os dois se

66
Idem, p. 30.
67
CORRÊA, Roberto. Op. Cit. p. 69.
68
Idem, p. 70.
69
Idem, Ibidem.
70
Idem, p. 71.

41
tornaram amigos no ano de 1938, momento em que trabalharam juntos na prefeitura de São José
dos Campos, e se aproximaram por terem algo em comum: o gosto pela música.

Thesis Anjos Gaia (Brinquinho), nasceu em São Paulo no ano de 1915 e era Irmão de Diesis
(Ranchinho), que fazia parte da famosa dupla, Alvarenga e Ranchinho71.

Fig 14: Thesis

Fonte: SELICANI, 2004. p.112

Euclides Honorato costa (Brioso), nascido em São José dos Campos em 1913, tinha um
conjunto musical que se apresentava no Carnaval Joseense, na rua XV de novembro e suas
apresentações eram muito aplaudidas pelo povo72.

71
SELICANI, Tita. SELICANI, Tita. Brinquinho e Brioso – Os Embaixadores da Alegria. São José dos Campos,
2004. p. 19.
72
Idem,Ibidem.

42
Fig. 15: Euclides

Fonte: SELICANI, 2004. p.106

Fig 16: Rua XV de novembro (rua Direita)

Fonte: Arquivo pessoal da família colhida por Tita Selicani.

43
A dupla se formou no ambiente de trabalho o assunto era sempre o mesmo: a música. De
acordo com Selicani,

o fato de estarem sempre juntos chamava a atenção dos colegas e certo dia, o
prefeito engenheiro Francisco José Longo comparou-os com uma junta de bois
da prefeitura, chamada de Brinquinho e Brioso pelo tocador. Contava o prefeito
que na hora de puxar o carro, um animal se encostava no outro e o carro não
andava73.

O comentário do prefeito caiu como uma luva, foi o impulso que os dois precisavam para
inciar o trabalho musical, Thesis, mostrando estar atento, sugeriu a Euclides a formação da dupla,
com o mesmo nome dos bois e a partir daí os dois iniciaram carreira e se apresentavam como
Brinquinho e Brioso.

Fig 17: Francisco José Longo e Adhemar de Barros

Fonte: SELICANI, 2004. p.24

73
Idem, p. 26.

44
Fig 18: Brinquinho e Brioso

Fonte: SELICANI, 2004. p.76

A Dupla no início de carreira se apresentava em festas, circos, praças, pensões e sanatórios de


São José dos Campos, com estilo extrovertido e alegre, inspiração da dupla Alvarenga e
74
Ranchinho, da qual eram admiradores . Brinquinho e Brioso levavam bom ânimo aos doentes
do pulmão e por onde passavam deixavam suas marcas, por esse motivo, posteriormente ficaram
conhecidos como “Os Embaixadores da Alegria”. Em pouco tempo tornaram-se conhecidos em
todo o Vale do Paraíba e eram constantemente apresentados como principal atração nas festas da
região. Segundo estudiosos, “eram muito aplaudidos e aos poucos foram conquistando espaço na
cidade, não faltando convites para se apresentarem em festas, comícios e nos Sanatórios
Vicentina Aranha e Rui Dória, para entreter os doentes”75.

74
Idem, p. 19-20.
75
Idem, p. 25.

45
Fig 19: Brioso, Dr. Sabino e Brinquinho

Fonte: Arquivo pessoal da família colhida por Tita Selicani.

Nesse período as rádios eram o grande veículo de comunicação, local onde se apresentavam
os grandes nomes da música brasileira. Em 1938 foi inaugurada a PL-1, primeira rádio Joseense,
porém não era uma rádio difusora, mas sim um sistema de auto-falantes instalados na rua quinze,
fundada por Paulo Lebrão, por isso intitulado PL-1 na intenção de dar seguimento criando
filiais76. Local onde Brinquinho e Brioso se apresentavam com freqüência, e muitas vezes se
apresentavam separadamente, Brioso também era o diretor artístico da Rádio e ensaiava os
calouros da época.

76
entrevista com Luis Paulo Costa Sobrinho do Brioso.

46
Fig 20: A PL-1 localizada na rua XV de novembro. No prédio ao centro pode se ver os auto-falantes instalados

Fonte: SELICANI, 2004. p. 33

A dupla se projetava com sucesso, interpretando as músicas de Alvarenga e Ranchinho,


grandes referências da dupla. Após uma breve temporada de oito dias em Jacareí e um mês na
rádio Transmissora de Niterói em 1938, Brinquinho e Brioso voltaram para São José dos Campos
e retomaram as atividades na rádio e nos eventos locais. Nesse momento Brinquinho e Brioso
dedicaram-se aos trabalhos artísticos e também a outras atividades. Brioso trabalhou por um curto
período na extinta empresa de energia elétrica Ligth, enquanto Brinquinho buscava seu sustento
como jogador de futebol no Esporte Clube São José. No ano de 1940 a dupla partiu para Santos
buscando expandir seus horizontes. Brinquinho conhecia o diretor da Rádio Atlântica, momento
relatado pelo próprio Brioso:

47
com a cara e a coragem, chegamos em Santos trazendo a violinha, nossa roupa
de caipira e a passagem de volta no bolso.O auditório da radio estava lotado,
pois era a estréia do famoso conjunto “Anjos do Inferno”. O diretor nos
perguntou se éramos capazes de nos apresentar para um publico que não
conhecia nosso trabalho. Respondemos que sim, porque nosso estilo era o
mesmo de Alvarenga e Ranchinho, dupla de muito cartaz em Santos77.

Fig 21: Brinquinho e Brioso

Fonte: SELICANI, 2004. p. 35

A dupla foi apresentada pelo locutor como a mais famosa do Vale do Paraíba que, ao entrar no
palco, encontrou um público desconfiado. Mostrando personalidade, contaram uma anedota logo
de início, que mexeu com a platéia e depois cantaram um desafio, levando o público ao delírio,
deixando o palco aclamados pelos ouvintes: “meio abobados, (comentou Brioso), começamos a
trocar de roupa para ir embora quando o Senhor Bacará nos disse: Voltem para o palco, o povo
está chamando”78!

77
História da minha vida artística – Euclides H. Costa.
78
Idem.

48
Fig 22: Brinquinho e Brioso no corredor do cine theatro

Fonte: Arquivo pessoal da família colhida por Tita Selicani.

A dupla acabou assinando um ótimo contrato com a rádio e se despediu de São José dos
Campos.Durante aquele ano na Rádio Atlântica, Brinquinho e Brioso buscaram o
aperfeiçoamento de suas técnicas musicais e adotaram um novo repertório com suas próprias
composições.Brioso recordou esse momento:

ficamos tão conhecidos em Santos que a cidade se tornou pequena para nós.
Como havia acabado o contrato com a Rádio Atlântica, resolvemos não renová-
lo, mesmo contra a vontade do diretor. Fomos para São Paulo, mas como o
senhor Bacará era muito amigo dos diretores das rádios, falou com eles por
79
telefone e não arrumamos trabalho em nenhuma emissora de São Paulo .

Como as portas das rádios paulistas foram fechadas para a dupla, Brinquinho e Brioso com
intuito de se manterem na vida artística e se sustentar, formaram um conjunto musical que se
apresentava em diversos clubes e cine teatros de São Paulo. Entretanto, logo abandonaram o
projeto, pois o retorno financeiro não dava para sustentar o grande número de músicos do
conjunto. Então a dupla decidiu partir para o Rio de Janeiro, mas estava sem recursos financeiros

79
Idem.

49
para esta nova empreitada. Foi então que Lauredano Prandine um grande amigo e parceiro de
apresentações musicais, vendeu seu smoking e financiou a viagem da dupla para a cidade
maravilhosa80.

No final do ano de 1941, Brinquinho e Brioso desembarcaram no Rio de Janeiro e foram ao


encontro de Ranchinho que morava na Urca. Naquele mesmo dia estiveram na Radio Tupi em
busca de trabalho. Lá encontraram Silvino Neto, artista famoso e conhecido de Brinquinho, que
os apresentou ao exigente diretor da rádio, Demerval Costa e Lima, que lhes deu somente uma
única chance, já que a principal atração da rádio, Alvarenga e Ranchinho, tinham rescindido
contrato81:

com fome e sem dinheiro, aceitaram o desafio. O auditório estava


completamente lotado e o programa já ia começar. No mesmo instante foram
para o camarim, colocaram a roupa de caipira e ficaram aguardando o locutor
apresentá-los82.

A história parecia se repetir, Brinquinho e Brioso já estavam habituados ao público e não


tiveram nenhuma dificuldade para arrancar da platéia gritos e aplausos com suas anedotas bem
contextualizadas e o melhor do seu repertório e terminaram a apresentação contratados pela
Rádio Tupi do Rio de Janeiro. De acordo com Selicani,

além do contrato firmado com a Rádio Tupi, a dupla se apresentava em teatros e


cassinos cariocas. Vestiam a roupa de caipira às quatorze horas, pata a matine no
teatro da Lapa, e só a tiravam as duas da madrugada, após o show no Cassino
Atlântico do posto 6, em Copacabana. Mas a rotina que os obrigava a almoçar e
jantar caracterizados de caipira83.

80
SELICANI. Op. Cit. p. 38.
81
Idem, Ibidem.
82
Idem, Ibidem.
83
Idem, p. 39.

50
Fig 23: Brinquinho e Brioso pela ruas de São José dos Campos

Fonte: SELICANI, 2004. p. 23

Ainda em 1942, aconteceu que Costa Lima, o diretor da Rádio Tupi do Rio de Janeiro foi
transferido para a Rádio Tupi de São Paulo e atrás dele foram Brinquinho e Brioso para uma nova
e brilhante etapa da carreira.

Em 1943 a dupla conquistou destaque no cenário nacional. Passaram a se apresentar nos


lugares considerados vitrine da época, ao lado de grandes nomes da música brasileira. Nesse
mesmo ano a Rádio Tupi de São Paulo fechou contrato com a Empresa Sidney Ross Co. ,
fabricante do remédio Melhoral, esse projeto incluía a dupla que apresentava um show aos
domingos e, por conta desses shows, ficaram conhecidos como dupla Melhoral84. Brinquinho e
Brioso colecionavam apelidos, durante a II Guerra mundial foram chamados de “Os
dinamitadores do mau humor”85. Nesse momento delicado da história onde muitos brasileiros
perderam seus parentes na guerra e o clima de tristeza estava presente, Brinquinho e Brioso
explodiam o mau dos ouvintes com “dinamites” de alegria.
84
Idem, p. 43.
85
Idem, p. 13.

51
em 1943, a Rádio Tupi organizou o “Show da Vitória”, em homenagem aos
pracinhas alistados para a Segunda Guerra Mundial, na Base Militar de
Fernando de Noronha. Brinquinho e Brioso foram os primeiros a serem
convidados por Costa Lima. Em poucos dias, viajaram e, ao lado de grandes
nomes da música brasileira, como Túlio de Lemos, Bob Nelson, Dorival Cayme,
Sílvio Mazzuca, Zilah Fonseca, Íris Garcia e Rosa Maria, entre outros, foram
recebidos com entusiasmo pelos soldados brasileiros86.

Fig 24: Brinquinho e Brioso “Os dinamitadores do mau humor”

Fonte: SELICANI, 2004. p. 54

Brinquinho e Brioso também participavam ativamente da “Brigada da Alegria”, projeto da


Rádio Tupi em parceria com a Rádio Difusora e outras empresas. O projeto consistia em
percorrer todo interior paulista com um grupo seleto de artistas. Neste mesmo período a dupla se
apresentou em Salvador na “V Festa da Mocidade”, festa que era organizada por estudantes da
Bahia. Após esse momento de grande sucesso a dupla foi desfeita, conforme relatou Selicani,

86
Idem, p. 43

52
em maio de 1945, a dupla é desfeita pela primeira vez e Brinquinho passa
a cantar com Barreto, se apresentando na Rádio América. Mas, um ano
depois, os dois retomam a cantoria, voltando para a Radio Tupi e para as
“Brigadas da Alegria”87.

Quando Brinquinho e Brioso retomam juntos o trabalho, o sucesso parecia estar esperando por
eles, continuaram sua empreitada passando pelos melhores lugares do Brasil, com shows pelo
interior paulista, São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, nos principais eventos da época e
sempre acompanhados dos mais aclamados artistas, Mazzaropi, Hebe Camargo, Manoel da
Nóbrega, Tonico e Tinoco, Irmãs Galvão, entre outros. Selicani relata que,

no início de 1950, Brinquinho e Brioso voltam para a Radio Tupi de São


Paulo e dão continuidade à maratona de shows, destacando-se também como
apresentadores do programa “Horas Sertanejas”, transmitido pela Radio
Tamoio do Rio de Janeiro.(...)Brinquinho e Brioso desfrutavam de grande
cobertura dos jornais da época. Isso se devia a popularidade da dupla, aliada
ao poder da então Rádio Tupi, que poderia ser equiparada, nos dias de hoje, a
rede Globo88.

Fig 25: Brinquinho e Brioso em uma das cenas de um típico baile sertanejo junto com Mazzaropi e Geni do prado.

Fonte: SELICANI, 2004. p.64-65

87
Idem, p. 44.
88
Idem, p. 45.

53
Para uma melhor compreensão da dupla Brinquinho e Brioso e da grande contribuição cultural
e histórica da sua música, destacamos alguns depoimentos de amigos de estrada, irmãos da
música que dividiram com Brinquinho e Brioso muitos palcos, vagões de trem, caminhos e
corações. Lima Duarte, ator fala assim sobre a dupla:

São José dos Campos deve se orgulhar do seu passado, pois esse foi musicado
por uma dupla maravilhosa, que falou da nossa raiz, do que somos e do que
sentimos, amamos e choramos. Brinquinho e Brioso foram grandes talentos e
falar deles é falar da São José dos Campos.”

As Irmãs Galvão também deram seu depoimento sobre a dupla:

Brinquinho e Brioso fazem parte de um time pioneiro, que abriu picadas e


estradas para a música raiz.Quando chegamos já tinham feito trabalho. É
verdade que, junto com eles, também comemos poeira para que a música
sertaneja fosse cada vez mais longe. Gênero que sobrevive exatamente porque
teve uma raiz maravilhosa, gente que lutou pra isso, e hoje cabe a nós dar
continuidade a essa luta.”

Pena Branca grande defensor música de raiz teceu comentários sobre a


dupla:

A dupla Brinquinho e Brioso merece ter seu trabalho registrado, pois fizeram
muito pela musica raiz, mostrando sua arte, seu humor e fazendo o povo rir.
Foram pioneiros, abrindo caminho para os artistas que vieram depois.

54
CAPÍTULO III

Nas entrelinhas da música

No presente capítulo analisaremos as canções da dupla Brinquinho e Brioso. Separamos três


canções, “Tempo do onça”, “Moda dos inventores” e “Salada política”. As duas primeiras
canções não foram gravadas, porém a dupla utilizava nas suas apresentações. Observaremos que
apesar da dupla trabalhar com assuntos mais voltados ao cotidiano como na música “Moda dos
inventores”, observaremos tamanha criatividade em retratar a política da época de uma forma
bem humorada nas canções, “Tempo do onça” e “Salada política”. Em entrevista com Luis Paulo
Costa, sobrinho do Brioso (Euclides Honorato Costa), nos confirmou que a dupla trabalhava com
assuntos mais voltados para amores, história engraçadas, causos tristes entre outra. As músicas
que abordam assuntos políticos são poucas, mas sempre retratadas com muito bom humor,
característica da dupla.

É interessante observar que apesar da dupla trabalhar pouco com assuntos políticos, mesmo
assim tiveram que se explicarem algumas vezes pelo conteúdo de suas letras. Segundo Tita
Selicani,

Embora nunca tivessem sido presos, muitas vezes Brinquinho e Brioso foram
obrigados a explicar as letras de suas músicas, por causa das críticas que faziam
ao momento político(...) a dupla conta, ainda na entrevista a Plínio Marcos, que
certa vez foi detida por doze horas “só para levar um aperto”. Mais tarde, se
engajaram na campanha de Adhemar de Barros, na disputa pelo governo do
Estado contra o estreante Carvalho Pinto89.

Buscamos analisar as músicas de acordo com o contexto histórico da época que a canção foi
composta, analisando algumas músicas de Brinquinho e Brioso, buscaremos olhar para esse
contexto, a fim de identificar reflexos das transformações ocorridas no período, em âmbito
nacional, estadual e municipal.

89
SELICANI. Op. Cit. p. 46.

55
A letra da música “Moda dos inventores” foi transcrita a partir da gravação original,
respeitando-se a pronúncia coloquial, típico das duplas caipira, no sentido de apresentar com bom
humor a canção.

Na primeira estrofe a letra apresenta a expressão Ovo de Colombo: “Colombo inventou o


ovo, que pare em pé numa mesa”. Segundo a tradição, Cristóvão Colombo em um banquete em
sua homenagem, foi indagado se outro navegador seria capaz de descobrir a América, Colombo
responde propondo um desafio se alguém dos que ali estavam seriam capazes de colocar um ovo
em pé na mesa sem a ajuda de algum suporte. Nenhum dos que ali estavam conseguiram, a
solução para o desafio era simples, Colombo ele bateu uma das pontas do ovo levemente contra a
superfície da mesa, o que resultou num pequeno achatamento que manteve o ovo perfeitamente
na posição vertical. Esse feito significou referir-se a soluções simples, mas das quais ninguém
pensou90. É interessante observar que a música começa com essa expressão, ovo de Colombo isto
é, pequenas idéias que fazem grande diferença é o que observaremos na referencias a invenções
feitas na canção.

Na terceira estrofe eles fazem uma referência ao cinema: “A maior das invenção que eu já vi
na minha vida, é a fita de cinembra quando é de sessão corrida. No começo a luz apaga, e
começa a cinemera é beijo pra todo lado na tela e nas cadeiras.” . O primeiro cinema
moderno em São José dos Campos foi inaugurado no dia 1º de julho de 1941, chamado Cine
ParaTodos, construído na rua Cel. Monteiro, próximo à praça Cônego Lima. O prédio foi
construído atendendo todos os requisitos higiênicos91, uma preocupação da época em ter espaços
bem planejados e arejados para evitar a proliferação e o contagio da tuberculose. Foi instalada
aparelhagem de ar renovado, permitindo que a atmosfera fosse mudada a cada dois minutos, sem
inconvenientes do ar condicionado92. O cinema tinha 1830 poltronas, tendo cada, uma pequena
lâmpada vermelha que assinalava as que se achavam desocupadas. Segundo Augusto Dias,

o Cine Paratodos seria a grande diversão da sociedade joseense nos anos 40, 50
e metade dos 60. as filas viravam o quarteirão nas sessões dos sábados e
domingos ás noite, com ali Babá e os 40 ladrões, Sanção e Dalila, Quo Vadis, O

90
http://www.gentequeinova.com.br/colunas/coluna.php?cln=NDY%3D.
91
DIAS, Augusto. Um tempo na vida em São José dos Campos. São José dos Campos. 2000. p. 108.
92
Idem, Ibidem.

56
Manto Sagrado, Marcelino Pão e Vinho, os dramas com Sarita Montiel e as
“chanchadas” da Atlântica.(...) o cinema americano mandou para as telas do
Cine Paratodos seus seriados com personagens que acabaram se tornando seu
herói: Roy Rogers, Durango Kid, o Zorro de capa e espada espanhol, o Zorro
americano com seu cavalo Silver e o Índio Tonto, Os Perigos de Nioka, Flash
Gordon, Comando Cody – O Momem que Voava, e Tarza93.

Essa nova atividade de entretenimento já influenciava o comportamento dos joseenses,


incentivados pelos novos comportamentos dos filmes americanos. Antes do Cine Paratodos os
filmes eram exibidos no Cine Theatro. Segundo Antônio Silva e Estefânia Fraga,

o cinema se fortaleceu como atividade de entretenimento popular tornando-se


parte da rotina da cidade. As matinês e as sessões noturnas de domingo
passavam filmes da Paramount, Universal, Columbia Pictures RKO Rádio
Pictures, que se firmavam como grandes produtoras de filme (Correio Joseense
1935-1940) Mitos construídos pela indústria cinematográfica exportavam novos
comportamentos sociais, maneiras de vive e desejos de consumo94.

O reflexo dessa mudança de comportamento fica evidenciado na atitude de namorar dentro do


cinema. Porém alguns desses comportamentos seriam condenados pela sociedade joseense, pelos
exageros em certas atitudes cometidas pelos jovens. Segundo Antonio Silva e Estefânia Fraga,

essas atividades do theatro e do cinema ocorriam, porém, em meio á vigilância


dos meios de comunicação e do poder público. No jornal O Correio Joseense
foram encontradas críticas, repreensões e cobranças para que as autoridades
coibissem supostos abusos de rapazes que assobiavam no Cinema (Correio
Joseense, 3/3/1935). Foram publicadas no dia dezesseis de junho de 1935,
reclamações de moradores das ruas Sete de Setembro e Cel. José Monteiro que,
nos festejos de São João, Santo Antônio e São Pedro estouravam rojões nas
paredes95.

No final da década de 1930, o Cine Theatro se tornou um estorvo sanitário. O prédio não
atendia ás exigências sanitárias destacadas pelo Correio Joseense de 22/6/1939. Representantes
do Centro de Saúde Local mandaram fechar o Cine Theatro e, em abril de 1940, foi fechado

93
Idem, p. 110.
94
SILVA, Antonio. FRAGA, Estefânia. Em cena: Teatro São José, um Patrimônio, Múltiplos Significados (1905-
1940). São José dos Campos. In: ZANETTI, Valéria. (orgs.). Os campos da cidade: são José revisitada. 2008. p.111.
95
Idem, Ibidem.

57
definitivamente. O espaço foi reformado dentro das rígidas exigências higiênicas para acomodar
o Paço Municipal96.

O cinema é um espaço próprio de centros urbanos. Na letra da música “Moda dos inventores”,
podemos perceber o registro desse espaço típico de centros urbanos e comportamentos
influenciados pelo mesmo.

Na quarta estrofe a dupla faz uma referência a valorização do caipira: “O caboclo também é
um inventor de aclamar, inventou alguma coisa que carece ser lembrado; a casa de pau
apique, um teado de sapé, uma enxada encabada pra trabalhar quem quiser”. A valorização
do caipira, ao caboclo que tem seu valor ressaltado ao ambiente que também transformou, por
meio do trabalho. A enxada, as rudes construções são símbolos do viver rural, da lida com a terra,
do jeito simples de habitar caipira. No sentido de valorização, apesar da estrofe anterior ressaltar
a modernidade, denominando um caráter urbano com o cinema, faz uma ressalva ao caipira,
reflexo de São José dos campos, da modernidade convivendo junto com o rural.

A segunda música da dupla a ser analisada chama-se “Salada política”. Nesta canção a dupla
narra as eleições de 1950, que marcaram a volta de Getúlio Vargas ao poder após a queda do
Estado Novo. Com muito bom humor a dupla vai contextualizando os candidatos, sem se
preocuparem em ser neutros. A canção mostra o apoio da dupla a Adhemar de Barros. Após a
queda do Estado Novo em 1945, começaram a surgir os primeiros partidos de âmbito nacional,
sob o signo da redemocratização97. Surgiram o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido
Social Democrata (PSD) fundado por Ademar de Barros e a União Nacional Democrata (UDN).
Segundo Ângela Gomes,

o PTB é criado para se constituir em mais um ponto de apoio para o candidato


oficial do regime estado-novista, o general Eurico Gaspar Dutra, cujo nome fora
lançado para enfrentar o também militar Eduardo Gomes Machado, candidato
das oposições liberais á ditadura de Vargas .98

96
Idem, p. 113.
97
LOPEZ, Luiz Roberto. Uma história do Brasil república. São Paulo. 2002. p. 69.
98
GOMES, Ângela de Castro. Uma breve história do PTB. Rio de janeiro: CPDOC, 2002. Trabalho apresentado na
palestra no I curso de formação Política, realizado na sede do PTB. São Paulo, 13. Jul.2002. p. 2.

58
Fig 26: Eurico Gaspar Dutra

Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/ditadura-militar/redemocratizacao-de-1945.php

O general Eurico Gaspar Dutra (PTB/PSD) saiu vitorioso nas eleições de 1946, desbancando
seu concorrente, o General Eduardo Gomes (UDN). E 1946 foi promulgada uma nova
constituição, restabelecendo a democracia liberal representativa.99 Segundo Maria Helena
Capelato,

o regime caiu sem resistência. Mas a história mostraria que o derrotado foi o
Estado Novo, e não seu presidente, que voltaria ao poder em 1951, escolhido
pelo voto e com preferência de amplos setores sociais, populares principalmente.
Antes disso, Vargas mostrava força política nas eleições de 1946, quando elegeu
para a Presidência da República o seu candidato Eurico Gaspar Dutra, vencendo
o candidato da oposição udenista Eduardo Gomes100.

Fig 27: Brigadeiro Eduardo Gomes

Fonte: http://www.politicaparapoliticos.com.br/interna.php?t=757322

99
LOPEZ, Op. Cit. p. 71.
100
CAPELATO, Maria Helena. “O Estado Novo: O que trouxe de novo?” In: FERREIRA, Jorge e DELGADO,
Lucília de Almeida Neves. O BRASIL REPUBLICANO. Rio de Janeiro, 2003. p.139.

59
Após o governo de Dutra Vargas tentou sua volta ao poder, agora pelo regime democrático.
Nessas eleições, segundo a canção de Brinquinho e Brioso, as coisas vão esquentar. A letra narra
os três principais candidatos à presidência, Getúlio Vargas, João Mangabeira e Cristiano
Machado.

A canção satiriza todos os candidatos, exceto Adhemar de Barros do qual a dupla tem uma
certa simpatia: “Não importa que a mula manque, nóis semo é do Ademar.” Na terceira
estrofe o candidato Cristiano Machado foi o primeiro a ser satirizado pela dupla: “Candidato a
prisidente minha gente, que canta uma canção assim... Eu vou te deixar Minas Gerais ó
Minas Gerais Outra mamata melhor vou tentar”. Cristiano Machado era um candidato de
pouca expressão. Segundo Lucia Hippolito,

a reunião dos dirigentes dos pessedistas, ocorrida em 15 de maio de 1950,


resultou na indicação do mineiro Cristiano Machado. Ficou também decidido
que, após lançado oficialmente, este deveria entender-se pessoalmente com
Vargas e oferecer a vice-presidência ao PTB (...) Cristiano Machado decidiu não
procurar o ex-ditador, para não colocar em risco as possibilidades de obter o
apoio do presidente Dutra. Sendo assim, Getúlio recusou-se a tomara iniciativa
de apoiar o nome de Cristiano. (...) Cristiano Machado, nome sem expressão
nacional, não conseguiu unir o partido em torno de sua candidatura101.

O PSD abandonou Cristiano a sua própria sorte. Sua candidatura foi praticamente esvaziada,
uma vez que os mais expressivos líderes pessedistas aderiram a Getúlio Vargas102. Dessa atitude
do PSD, surgiu a expressão utilizada na época, Cristianização, termo utilizado para designar
quando o partido acaba traindo seu candidato eletivo103. Mesmo sem o apoio do partido Cristiano
Machado obteve 1.697.193 votos (21,50%)104.

101
HIPPOLITO, Lucia. Vargas e a gênese do sistema partidário brasileiro. Porto alegre. 2004. p. 27.
102
Idem, p. 28.
103
http://www.revistabrasileiros.com.br/secoes/o-lado-b-da-noticia/noticias/135/.
104
http://www.pitoresco.com.br/historia/republ303x.htm.

60
Fig 28: Cristiano Machado (a esquerda)

Fonte: http://www.revistabrasileiros.com.br/secoes/o-lado-b-da-noticia/noticias/135/

Na quarta estrofe o candidato a ser satirizado é o Baiano João Mangabeira, pertencente ao


Partido Socialista Brasileiro (PSB) também de pouca expressão política, mesmo assim resolveu
lançar sua candidatura: “Mangabeira vae entrar na brincadeira, no ano de cincoenta e um si
ele entrar o zé povinho fica bem, só por saber o que é que o baiano tem...”. Nas eleições de
1950 obteve apenas 9.466 votos (0,02%)105. A quarta estrofe se encerra com uma pequena alusão
a marchinha de carnaval O que é que a baiana tem.

Fig 29: João Mangabeira

Fonte: http://www.psbbuzios.com/historico_arquivos/ft_mangabeira.jpg

Na quinta estrofe a sátira ao candidato João Mangabeira continua, porém nesta mesma estrofe
fazem reverência à Getúlio Vargas chamado de baixinho e gordinho: “Ele disse que tem, diz
que tem, diz que tem. Diz que tem diz que te diz que tem. Tem um concorrente baixinho e

105
Idem.

61
gordinho, que canta sem fim, uma canção assim... (Brasileiros)”. A referência a Getúlio
continua também na sexta estrofe: “Eu também quero, eu também quero. Eu também quero
ganhar. Da o catete da o catete. Da o catete pro G.G. não chorar...”. A dupla se utiliza de um
trecho da marchinha de carnaval Mamãe eu quero de Jararaca e Vicente Paiva de 1936, o trecho
original é “Dá a chupeta, dá a chupeta Dá a chupeta pro bebe não chorar”106. Brinquinho e
Brioso adaptam essa marchinha para se referirem a Getúlio Vargas. A expressão G.G encontrada
no final da estrofe era um apelido usado pelos partidários de Getúlio, essa expressão ficou
registrada na canção de Lamartine Babo Seu Getúlio ou Ge-Gê107.

É interessante observar que a dupla utiliza em várias partes na canção, trechos de marchinhas
adaptadas ao contexto da canção, no caso específico do trecho que eles utilizam a expressão Ge-
Gê. Essa canção Seu Getúlio ou Ge-Gê, faz uma homenagem a Getúlio Vargas. E durante o
Estado Novo várias canções exaltavam tanto o Estado quanto à figura de Getúlio Vargas.
Segundo Eduardo Vicente,

a música popular terá importância destacada nesse processo de fortalecimento da


imagem do governo e de seu líder máximo junto às camadas populares, sendo
significativa a quantidade de músicas compostas no período exaltando aquele
que era o "Pai dos Pobres", o "Homem do Sorriso", o "Amigo das Crianças", etc
108
.

No final da canção a dupla manifestou seu apoio a Ademar de Barros. Apesar das eleições de
1950, Ademar de Barros desistiu de sua candidatura para apoiar Getúlio Vargas. Segundo Lucia
Hippolito,

nesse reino de incertezas, crescia a candidatura de Vargas, fortalecida por uma


aliança firmada entre ele e o governador paulista Ademar de Barros, fundador e
maior cacique do PSP, partido que fornecia o candidato a vice na chapa de
Getúlio: o deputado Café Filho (PSP-RN). Uma visita de Ademar a Getúlio em
sua estância gaúcha em 12 de dezembro de 1949 resultara em nota conjunta em
que os líderes afirmaram estar tratando de problemas referentes á sucessão. Em
28 de janeiro, Ademar anunciou oficialmente a retirada de sua candidatura á
109
presidência da república .

106
http://www.suapesquisa.com/carnaval/marchinhas_carnaval.htm.
107
http://www.franklinmartins.com.br/som_na_caixa_gravacao.php?titulo=seu-getulio-ou-ge-ge.
108
VICENTE, Eduardo. Relatório Final da Pesquisa de Iniciação Científica PIBIC/CNPq realizado na Universidade
de Campinas em Janeiro de 1994. p. 6-7.
109
HIPPOLITO, Lucia. OP. Cit. p. 27.

62
O importante candidato a presidência o brigadeiro Eduardo Gomes (UDN) não foi
mencionado na canção. Eduardo Gomes foi o grande concorrente de Getúlio tendo 2.342.384
votos (29,70%)110. A canção satiriza todos os candidatos deixando apenas Eduardo Gomes que
não foi mencionado na canção, e Adhemar de Barros que neste caso não foi candidato.

A dupla Brinquinho e Brioso era conhecida pelas belas canções que traziam histórias
românticas, trágicas, engraçadas e principalmente as de cunho crítico. Trata-se de uma verdadeira
arte de satirizar o momento político. A música Tempo do Onça é um exemplo disso. Embora não
tenha sido gravada pela dupla, tiveram que dar explicações de seu conteúdo para as autoridades.
A dupla cantava essa música principalmente nos comícios fora e na região do Vale do Paraíba.
Embora nunca tivessem sido presos pelo teor de suas canções, ao menos um suave “pito” elas já
lhe renderam111.

Fig. 30: Brinquinho e Brioso num comício na cidade de Paraibuna-SP.


Fonte: Arquivo de Família.

Esta paródia política que não chegou a ser gravada, remonta o primeiro e o segundo governo
de Adhemar Pereira de Barros no Estado de São Paulo. Adhemar de Barros nasceu em
Piracicaba, em 22 de abril de 1901 e faleceu em Paris (França), no dia 12 de março de 1969; foi

110
http://www.pitoresco.com.br/historia/republ303x.htm.
111
SELICANI, 2004, p. 46.

63
aviador, médico, empresário e influente político nas décadas de 1930 e 1960. Na sua biografia
sumária percebe-se que foi deputado estadual em São Paulo (1935 – 1937), interventor estadual
em São Paulo (1938 – 1941), governador de São Paulo (1947 – 1951 e 1963 – 1966) e prefeito de
São Paulo (1957 – 1961)112.

Fig. 31: Adhemar de Barros, 1960.


Fonte: http://www.memoriaviva.com.br/cruzeiro/24091960/2409601c.htm.

A letra da música, Tempo do Onça, consiste numa sátira que a dupla faz, ao governo de
Adhemar de Barros, no qual o jogo do bicho113, embora proibido por lei pelo presidente Eurico
Gaspar Dutra, em 30 de abril de 1946, pelo decreto-lei 9215, que fechou os cassinos de todo o
Brasil114, esteve muito ligado ao governo de Adhemar através dos banqueiros115, com os quais, na
visão de alguns políticos, Adhemar tinha vínculos nebulosos.

112
Retirado do site http://www.guaru.com.br/secxx/detalhe.asp?codigo=95, em 15/11/2009, às 16h15.
113
O jogo do bicho é uma espécie de bolsa de apostas ilegal em animais e foi inventado em 1892 pelo barão João
Batista Viana Drummond, fundador e proprietário do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, em Vila Isabel.
MAGALHÃES, Felipe. A Fuga dos bichos ou A origem da loteria mais popular do Brasil. Cidade Nova Revista,
Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2007, nº 1, p. 53-67.
114
Retirado do site: http://historia.abril.com.br/fatos/jogos-azar-foram-proibidos-brasil-pedido-primeira-dama-
433634.shtml, em 16/11/2009, às 1h30.
115
O "banqueiro" é quem banca a totalidade do jogo e quem paga a banca. O "gerente de banca" ou do ponto, é quem
repassa as apostas ao banqueiro e o prêmio ao vendedor. O vendedor é agregado ao gerente de banca e é quem
escreve e quem intermedia pagamento entre o apostador e o gerente. A banca e o ponto não necessitam de um lugar
fixo para operar e seus funcionários são freqüentemente encontrados nas ruas sentados em cadeiras ou caixas de
frutas. Em outras regiões do Brasil, pode-se entrar em contato por telefone, e um motoboy vêm buscar o jogo em sua
casa ou trabalho. MAGALHÃES, Felipe. A Fuga dos bichos ou A origem da loteria mais popular do Brasil. Cidade
Nova Revista, Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2007, nº 1, p. 53-67.

64
Adhemar de Barros ficou muito conhecido nas suas campanhas eleitorais pelo seu slogan
“Adhemar rouba, mas faz”, que não foi assumido abertamente, mas que embora tenha sido uma
frase criada por seu adversário político Paulo Duarte, tornou-se o lema da sua campanha que, na
época, se deu por causa das inúmeras acusações de corrupção, chamadas de negociatas116.

Na primeira parte da primeira estrofe da música percebemos que a dupla satiriza a dificuldade
de se jogar no bicho no momento em que a música estava sendo composta, depois que a jogatina
foi proibida pelo presidente Dutra, na década de 1940:

Ai que saudades que tenho


daquelles tempo que o Ademar mandava
a gente jogava no bicho
namorava no escuro
e ninguém se importava

Parece-nos que a ligação feita entre saudades do “jogo do bicho” e “namorar no escuro” no
tempo em que Adhemar de Barros era governador de São Paulo, também tem a ver com a questão
do policiamento.

A palavra policiamento poder-se-ia ser traduzida pela palavra vigilância, que por sua vez quer
dizer observação, atenção, precaução, diligência sobre o comportamento dos vários setores
sociais na idéia de Michel Foucault,

(...) uma criminalidade de fraude faz parte de todo um mecanismo complexo,


onde figuram o desenvolvimento da produção, o aumento das riquezas, uma
valorização jurídica e moral maior das relações de propriedade, métodos de
vigilância mais rigorosos, um policiamento mais estreito da população, técnicas
mais bem ajustadas de descoberta, de captura, de informação: o deslocamento
das práticas ilegais é correlato de uma extensão e de um afinamento das práticas
punitivas.
(...) Com maior certeza e mais imediatamente, porém, significa um esforço para
ajustar os mecanismos de poder que enquadram a existência dos indivíduos:
significa uma adaptação e harmonia dos instrumentos que se encarregam de
vigiar o comportamento cotidiano das pessoas, sua identidade, atividade, gestos
aparentemente sem importância117.

116
Retirado do site http://historia.abril.com.br/fatos/jogos-azar em 16/11/2009, às 1h30.
117
FOUCAULT, 1987, p. 72 e 73.

65
No sentido da música entendemos que não se tinha mais liberdade para se jogar no bicho e
namorar escondido no escuro, uma vez que as autoridades policiais, municipais e alguns Jornais
impressos, como O Correio Joseense e A Folha Esportiva da cidade de São José dos Campos,
nas décadas de 1930 até o final da década 1950, passaram a associar o jogo do bicho e outras
atividades que não fossem o trabalho legal e honesto, como sendo vadiagem.

No caso particular da cidade de São José dos Campos, a dupla convivia com a atuação da
vigilância sanitária em plena fase sanatorial. A intenção era suprimir toda e qualquer atividade
que desorganizasse a cidade. Os moldes higienistas e sanitaristas do governo, era o que estava
sendo projetado para a cidade no momento. Diz Antônio Carlos de Oliveira da Silva sobre o jogo
do bicho como sendo obstáculo para o avanço higienista e sanitarista da cidade: “o jogo, por seu
turno, foi considerado obstáculo, o que se relacionava ao vício, à vadiagem e ao alcoolismo,
sendo julgado como responsável pelo atraso da cidade e por afrontar a moral”118. Por isso mesmo
sofreu resistência e perseguição das autoridades policiais e municipais.

A respeito das autoridades policiais observou Antônio Carlos de Oliveira da Silva que, tanto o
Jornal O Correio Joseense como A Folha Esportiva criticavam a falta de um efetivo de
fiscalização quanto aos jogos de azar,

assim, tanto os jornais O Correio Joseense quanto A Folha Esportiva criticavam


a parca organização policial da cidade, dificultando a fiscalização e o controle
dos moradores. O Correio Joseense, nos artigos relativos ao jogo do bicho nas
ruas, cobrou das autoridades públicas uma atuação efetiva, uma vez que, embora
os jogos de azar fossem proibidos à época, e já haviam sido fechadas duas casas
de víspora na cidade, os chalets de jogo do bicho continuavam atuando 119.

O trecho da primeira estrofe da música, portanto, traz a facilidade com que se podia jogar no
bicho em São José dos Campos, bem como em quase todo o país, além de associar a jogatina ao
interventor e governador de São Paulo, Adhemar de Barros que, como já foi dito, era visto pelas
autoridades como um patrocinador do jogo do bicho. Foi exonerado por Getúlio Vargas, em
1941, do cargo de interventor em São Paulo, acusado de conspirar contra o ditador e de

118
Antônio Carlos de Oliveira da Silva, 2009, p. 83.
119
Idem, p. 67 e 68.

66
malversação de recursos públicos120. Mais tarde foi acusado de desvio de verbas públicas nos
períodos em que era chefe do executivo paulista, a ponto dos seus adversários políticos dizerem
que existia a “Caixinha do Ademar” que financiava suas campanhas eleitorais. Mas, o mais grave
e comentado processo contra Adhemar foi o “Caso dos Chevrolets”, em 1956, que lhe rendou
uma fuga à Bolívia, segundo Paulo Cannabrava Filho121.

Na segunda parte da primeira estrofe da mesma música a dupla caipira Brinquinho e Brioso,
em estilo satírico, continuou a manifestar a nostalgia e a dificuldade de se jogar no bicho depois
que foram fechadas as casas de jogos e de namorar no escuro, mas que ainda existia a esperança,
representada pela “cachopa”, que quer dizer “moça, rapariga”122 do regresso de tudo isso, pois a
esperança que é sempre jovem e que nunca se deve acabar, coloca uma “fezinha” na
possibilidade de o Adhemar de Barros ser eleito novamente ao governo de São Paulo em 1954:

hoje o bicho fechou


o namoro no escuro, tanbém se acabou
mais me falou a cachopa
si o Ademar voltar
nóis rasgamo a roupa.

Mas, sabemos o que aconteceu, Barros perdeu as eleições para o seu maior inimigo político,
Jânio da Silva Quadros, que ganhou por uma pequena diferença de votos. Jânio Quadros exerceu
mandado de 1955 à 1959 e buscou “executar ações que passassem uma imagem de moralização
da administração pública e de combate à corrupção”, não a toa seu apelido era “vassourinha”, por
causa do seu mote de campanha que diz, “varre, varre vassourinha, varre a corrupção”. Jânio foi
considerado o linha dura que vasculhou a corrupção do jogo do bicho, liderada por Adhemar de
Barros123.

120
Retirado do site http://educacao.uol.com.br/biografias/adhemar-de-barros.jhtm, em 18/11/2009, às 18h30.
121
Idem.
122
Dicionário Larousse Cultural, 1992, p. 163.
123
PEREIRA, 1959, p. 26.

67
Fig. 32: Jânio da Silva Quadros
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Janio.

No refrão da música, “É namoro no escuro, é namoro agarrado, um cruzeiro no leão, dois


cruzeiro no viado”, a dupla faz menção ao valor do jogo do bicho da época, apresentando uma
das que foram as moedas brasileiras, o cruzeiro (Cr$) que circulou no país entre 1942 à 1967,

O Decreto de Lei Nº 4.791 de 05/10/1942 institui, provisoriamente, o Cruzeiro


(Cr$) como moeda oficial. Mas, foi com a Lei Nº 4.511 de 01/12/1964 que foi
oficializada a mudança, evidenciando os profundos traços da nova era que se
disseminava no Brasil. O Cruzeiro iniciou-se como moeda em uma época
bastante agitada, quando o Mundo estava no meio da II Guerra Mundial e o
Brasil acabara de declarar guerra aos países do Eixo124.

A dupla, no refrão da música, fala o valor e os bichos em que depositaram a “fezinha” para ao
final do dia esperar os organizadores do jogo revelarem o nome do bicho ganhador, afixando o
resultado num poste, na parede dos bares, botequins, etc., como acontece até nos dias de hoje:

É namoro no escuro
é namoro agarrado
um cruzeiro no leão
dois cruzeiro no viado.

124
Retirado do site http://www.meuartigo.brasilescola.com/historia-do-brasil/moedas-no-brasil.htm, em 18/11/2009,
às 20h20.

68
Fig. 33: Cédula de 1 Cruzeiro (Tamandaré), 1944
Fonte: http://www.portaldascolecoes.com.br/product_info.php?products_id=3578

Fig. 34: Cédula de 2 Cruzeiros (Duque de Caxias), 1944


Fonte: http://www.portaldascolecoes.com.br/product_info.php?products_id=3578

69
Por fim, na última estrofe, encontramos quase que uma repetição da primeira, que age de
forma a frisar satiricamente a “saudade do tempo do Ademar”, pois ninguém conseguiu extinguir
a jogatina, nem com a Lei de Eurico Gaspar Dutra, em 1946, nem com as repreensões no governo
de Jânio Quadros, e, tampouco com as terríveis ameaças de cadeia aos bicheiros com a
criminalização do jogo:

Ai que saudades que tenho


daquelle tempo que ao Ademar mandava
a gente jogava no bicho, perdia, ganhava
e ninguém se importava
hoje tá tudo mudado
inté o numero dos bicho mudou de uma veiz
o viado era o vinte quatro
agora o viado ta sendo oçeis.

Este final da música da dupla caipira, Brinquinho e Brioso, que faz uma menção à primeira
estrofe, sempre de modo engraçado, é uma inteligente chacota, “inté o número dos bicho mudou
de uma veiz, o viado era o vinte quatro, agora o viado ta sendo oçeis”, além de nos fazerem
pensar que “àquela altura, o jogo do bicho já era uma mania instalada no imaginário popular,
apoiado em uma rede de relações pessoais e no infalível “jeitinho brasileiro” para driblar a
repressão”125.

125
Retirado do site http://mundoestrenho.abril.com.br/cotidiano/pergunta286880.shtml, em 18/11/2009, às 21h40.

70
Fig. 35: Tabela de aposta do Jogo do Bicho
Fonte: www.riototal.com.br/riolindo/tur051.htm

71
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pretendemos, com esse trabalho, ter contribuído para a compreensão dos reflexos das
transformações sociais entre os períodos de 1930 a 1950 ocorridos na cidade de São José dos
Campos, por meio da música caipira, como produto e produção cultural da sociedade. Pretendeu-
se entender a história de São José dos Campos através da dupla de música caipira Brinquinho e
Brioso, que foram os grandes expoentes da música caipira em São José dos Campos.

Podemos observar através da dupla Brinquinho e Brioso e de suas composições, as mudanças


sociais, econômicas e políticas ocorridas dentro do período de 1930 a 1950, tanto no âmbito local
quanto nacional.

Apesar de todas as músicas gravadas não trabalharem diretamente com assuntos relacionados
a política, isso não quer dizer que a dupla estava indiferente a sua realidade, o que comprova nas
composições das músicas “Salada política” e “Tempo do onça” onde a dupla soube de uma forma
bem humorada traduzir os acontecimentos políticos de sua época.

Na música “moda dos inventores” podemos observar as mudanças de comportamento trazidos


pela modernidade. A dupla trata da modernidade como algo natural de sua realidade.

A dupla Brinquinho e Brioso teve grande sucesso tanto no Vale do Paraíba quanto no Brasil.
Segundo Luis Paulo Costa e Tita Selicani a dupla se equiparava hoje a chitãozinho e Xororó.
Porém existem outros ícones da música caipira em São José dos Campos que não chegaram a ter
a grande projeção de Brinquinho e Brioso, como o grande Mestre Calangueiro Ernesto Villela, Zé
Mira entre outros, mas deixaremos essa prosa pruma otra hora.

72
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76
ANEXOS

77
Entrevista com Luis Paulo Costa

Seu nome?
É Luis Paulo costa

Natural de qual cidade?


De são José dos campos

Sua idade?
É meia, meia sessenta e seis anos.

Fala um pouquinho pra gente sobre a dupla Brinquinho e Brioso?

É uma dupla que nasceu em São José dos campos, na década de quarenta e cinqüenta né, no
final da década de quarenta, é os dois eram servidores municipais, eles trabalhavam num
recenseamento do município, e em 1946 foi criado em São José dos campos, era um serviço de
alto-falante que fazia ás vezes de emissora de rádio, que era o PL-1, foi fundado pelo Paulo
Lebrom, ele colocou PL-1 porque ele esperava colocar PL-2, Pl-3 e tomar conta de toda a cidade,
porque não era rádio de difusão, era na rua XV de novembro, era chamada de rua direita, então
tinha lá a PL-1 e eles fizeram uma espécie de estúdio que as pessoas pudiam assistiam as
apresentações através de um aquário né, mas tinha também alto-falantes voltados para a rua XV
de novembro. É e eles né, já brincavam de duplas e tal né, e ali eles também se apresentavam né,
e eles faziam não só música vamos dizer assim caipira, música rural, mas também faziam música
urbana, mas eles foram se especializando realmente em música caipira, e eles como trabalhavam
na prefeitura e geralmente durante os intervalos lá eles ensaiavam né e cantavam e tal, e uma vez
inclusive o prefeito da cidade na época o engenheiro Francisco José Longo, viu eles lá cantando e
disse “ei puxa vida esses dois ai parece um dupla de boi que eu tenho lá na fazenda(risos)
chamado Brinquinho e Brioso (risos) e daí ficou né Brinquinho e Brioso o nome, eles adotaram o
nome da dupla lá dos bois da fazenda do engenheiro Francisco José Longo que era o prefeito da

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cidade que brincara com eles, então acabou com isso ai, que dizer e eles evidente quer dizer
foram, foram....tentaram a vida né, e o lugar para tentar a vida era São Paulo né, eles foram para
São Paulo se apresentaram numa emissora,, certo, tinha na época a rádio cruzeiro do sul que hoje
é a Piratininga de São Paulo né, eles tiveram uma temporada boa né lá na cruzeiro do sul, que era
muito importante na época, que recebia grande cantores e cantoras né, e eles se apresentavam lá e
a qualidade da emissora, claro que também em outras cidades como santos, na rádio atlântica de
santos, campinas na rádio educadora de campinas, quer dizer e começaram a fazer a vida até que
ele encontraram um lugar né, de maior permanência que foi na rádio tupi, tanto que começaram a
fazer programas na rádio tupi, e o meu tio que é o Brioso ficou até o final da carreira dele, ele
teve programa na rádio tupi em São Paulo, mas eles também tinha incursões no Rio de Janeiro,
enfim no Brasil todo, eles tiveram um auge assim nos idos de 1944, 45 e 46 certo?!
Principalmente com as caravanas de artistas que se formou, pra ir animar os pracinhas brasileiros
que iam para a Itália, e eles então cantavam nos, lá nos locais de treinamento dos pracinhas, então
fizeram algumas viagens com essa caravana da vitória, assim que eles chamavam caravana da
vitória, agente mais ou menos puxando para a nossa época, na época deles eles eram como essas
duplas famosas de hoje, Milionário e José rico, Chitãozinho e Xororó né, Zezé di Camargo e
Luciano essas duplas né, onde eles iam tinha uma multidão, muita gente cercando eles e tudo
mais, então realmente eles começaram aqui, mas eles continuaram ligados praticamente a cidade,
onde eles, pelo menos, porque o Brioso tinha seus irmão e irmãs morando e, São José dos
campos, e tinha uma irmã morando em São Paulo, mas eles moravam, porque o Brioso passou a
morar em são Paulo o Thesis também, porque o Brioso era o Euclides da Costa.

De onde veio o interesse da dupla pela música caipira?

Eles tinham também uma produção de música urbana, mas isso quer dizer não fez par, num
rolou certo!? Evidente, tem umas musicas deles que foram cantadas por outros artistas, por outros
cantores, mas eles se especializaram em produzir música caipira. Meu tio por exemplo nasceu no
alto da ponte, uma região rural, São José dos campos na época tinha os piraquara, os pescadores,
fazenda, o meu avô tinha fazenda ali no Jaguari, mas o negócio de fazenda não dava muito certo,
ai eles iam vendendo, vendendo e acabavam todos na cidade, são José dos campos já tinha esse
processo da estabelecido. Então já na década de 50 todos estavam aqui já na cidade, deixaram a
roça.
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Como foi o começo da carreira da dupla?

O começo foi lá na PL-1 né, no serviço de auto-falantes né, foi o começo da dupla e depois
eles embarcaram para São Paulo e daí voltaram aqui apenas para algumas apresentações, mas
não... a carreira deles já estavam em nível já estadual e até nacional.

Quem apoiou a dupla tornando-a popular?

Na tupi eles fizeram muito coisa na tupi, tanto que eles fizeram programas exclusivos,
exclusivos deles, eu acho que a projeção maior deles era através das apresentações na rádio tupi,
na tupi de São Paulo.

Além da dupla Brinquinho e Brioso, alguém mais dividia o cenário musical caipira com eles
em São José dos Campos?

Eles têm muito, muito....Na rádio tupi realmente era um celeiro de duplas, e também de... na
época tinha aqueles que se apresentavam individualmente, então eles tem..Eles se relacionavam
muito bem com as duplas todas. Então de São José para a radiofonia nacional e até para a
televisão foram muitas pessoas, o próprio Paulo Lebrom, ele fundou a PL-1 em 46 mas já em 48
e 49, ele foi, ele foi embora, ele foi inclusive para emissora de televisão pra própria radio tupi, tv
tupi na época. Outros também, tinha alguns cantores daqui que foram para São Paulo, se
aventurarem em São Paulo, mas não conseguiram manter de maneira maior, a dupla Brinquinho e
Brioso realmente foi aquela que conseguiu essa permanência, e só se separaram porque o destino
do dois derrepente se desencontraram porque o Thesis parece que queria fazer um, ia até para o
esterior e tudo mais, e meu tio, depois ele acabou fazendo concurso público e foi ser oficial de
justiça. A música não dava muita coisa, a música você tinha que...era uma época muito difícil,
música era um negócio assim que não se vivia exclusivamente da música, então o Thesis queria
viver só da música e tal, então tinha que sair até para o exterior, o Thesis inclusive foi, trabalhou
em televisão não como cantor e interprete mas chegou a trabalhar como técnico no bastidores da

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televisão mais para poder até mais sobreviver. E meu tio fez o concurso para ser oficial de justiça
e daí é que casou né, e já um casamento tardio, casou parece com bastante idade, pro normal da
época que ás pessoas casavam-se muito cedo, ele casou bem mais tarde, mas ai casou e constituiu
família e tudo mais, então ele queria realmente se fixar mais tanto que o Thesis saiu e ele acabou
inclusive dando continuidade ao programa da rádio tupi até sozinho, ele também cantava e levava
também outras duplas, outros cantores para se apresentarem no programa dele mais o programa
ainda continua nas mãos deles durante até eles praticamente se aposentarem na rádio tupi, ele se
aposentou também na rádio tupi e depois continuou como oficial de justiça e também se
aposentou como oficial de justiça daí parou também, quando ele saiu da rádio tupi ele parou com
a carreira e ficou só nas apresentações sem cunho comercial.

Quem influenciou musicalmente a dupla?

Todas ás duplas da época, eu acredito que eles ouviam bastante rádio né, na época era rádio
né, a própria rádio tupi, a rádio Record em São Paulo, eles ouviam muito rádio, então eles ouviam
todas aquelas duplas da época, certo! Então Tonico e Tinoco, Alvarenga e Ranchinho, e o
Alvarenga e Ranchinho inclusive se rivalizava com eles, pois eram mais ou menos estilos
parecidos de dupla caipira, e o Ranchinho era irmão do Brinquinho, então era o Alvarenga e
ranchinho que rivalizava com eles em termo de estilos de duplas caipiras. A dupla caipira no
estilo deles era o Alvarenga e Ranchinho, Jararaca e Ratinho eram duplas mais ou menos do
mesmo estilo em que eles se apresentavam, porque era não só cantava música caipira, tinha
algumas músicas eram sátiras né, assim brincadeiras e tudo mais, e também contavam piada,
faziam aquele desafios chamado desafio de dupla caipira, então era um estilo mais ou menos
semelhante a Brinquinho e Brioso, Alvarenga e Ranchinho, Jararaca e Ratinho.

Havia algum lugar específico em que a dupla se apresentava publicamente na cidade?

A PL-1 ficava na rua quinze de novembro, como eu disse certo, a cidade tinha um teatro mas
eles não chegaram a se apresentar,porque quando eles começaram surgir já o teatro municipal que
é a atual biblioteca pública Cassiano Ricardo, já era ocupado pela prefeitura municipal certo.
Passou a ser ocupada pela prefeitura e depois inclusive pela câmara, então era prefeitura e câmara

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naquele prédio ali da rua quinze. E teatro mesmo você tinha o que, você tinha o Cine teatro,
depois o cine teatro Benedito Alves da Silva que era no cine real, era mais cinema certo, esse cine
real antes era na rua quinze também na coronel monteiro, tinha depois, posteriormente o cine
“osanan” da paróquia de São José. Meu tio se apresentou lá algumas vezes como filantropia
certo, no teatro “osanan” lá no da paróquia São José mas só para arrecadar fundos para obras
sociais do padre João e tal bem mais recente, já não era mais, já não se apresentava mais como,
porque quando o Thesis saiu da dupla meu tio remontou a dupla, acho que umas duas vezes, uma
delas foi ele mudou Branquinho e Brioso, era Brinquinho e Brioso quando o Thesis saiu e
colocou um outro cantor que fazia dupla com ele e a dupla passou a ser Branquinho e Brioso pra
lembrar o nome Brinquinho, era Branquinho e Brioso que era um cantor certo de Guaxupé, não
lembro o nome dele porque só chamava de Branquinho. Branquinho, não lembro nem do nome
dele (risos). Mas talvez no livro da Tita tenha o nome dele.

Quais eram os temas mais freqüentes nas canções da dupla?

Eles cantavam muita é xote, é toada, moda de viola. A moda de viola é uma história né, então
eles tinham assim algumas poesias mais ligado assim aquela história com principio meio e fim
certo, tinha algumas modas de viola falando de animais, cachorro por exemplo de caçada que
acabou ferindo o outro, tinha uma moda de viola, e um dos parceiros deles de moda era o Altino
Bondesan, ou seja fez algumas letras de músicas deles. Quando era assim modas e toadas era
mais coisa assim mais é dramáticas, canções até meio assim de tragédias. Agora tinha a parte
alegre que eram os xotes, e eles ai era uma brincadeira né, geralmente era uma coisa assim bem
alegre certo, bem participativo, eles chamavam muito a participação do público, para o refrão e
tal.

Ficamos sabendo que, no período sanatorial, a dupla brincava com a situação da


tuberculose e da cidade como pólo de tratamento da doença. Isso é verdade?

Também né, na época São José era uma estância hidroclimática e eles chegavam a se
apresentar realmente em pensões, em sanatórios, em São José dos campos tinha alguns sanatórios
várias pensões e chegaram realmente a se apresentarem nestes sanatórios para alegrarem os

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doentes, os que vinham para cá para tratar do pulmão, não tenha dúvida que eles brincavam com
todo mundo (risos) eles eram danados.

A dupla Alvarenga e Ranchinho faziam paródias e sátiras políticas, e por isso tiveram
problemas com o Estado Novo. Brinquinho e Brioso faziam este tipo de sátiras? Eles
também tiveram problemas com o Estado Novo?
Olha talvez de passagem, mas eles não tinham muito assim, eles não tratavam assim de
questões políticas, eles tratavam mais de questões sociais, questões mais....realmente as vezes
eles também brincavam com questão de política, mas não era uma constante da apresentação
deles, as músicas de xote, musicas mais alegres assim, geralmente eram atacar problemas sociais
das pessoas, tinha uma das músicas por exemplo falava da mulher magra, da mulher feia, da
mulher não sei o que e tal (risos) esse tipo assim de música que mexia com as pessoas mais assim
pelo lado social de não político, eles não eram muito ligados assim em política, não tinham uma
militância política. Eu não me lembro que eles tivessem tido problemas com censura, eu não sei
de nenhum caso, agora no tempo do Estado Novo né, agora eles tiveram o auge deles depois do
Brasil assim já democratizado, com o fim da guerra, no fim da guerra houve um esforço nacional
todo mundo tava junto né, para participar da guerra iai eles tiveram presentes para impulsionar ai
os pracinhas tudo né, porque o Brasil relutou em entrar na guerra, praticamente o Brasil foi
levado a participar da guerra porque o Getúlio não queria entrar na guerra contra o eixo Alemão,
Japão e Itália porque a concepção de Getúlio era meio fascista também era mais ou menos de
acordo com aqueles regimes que imperavam na Alemanha, Itália, principalmente na Itália e ele
tinha alguma identidade com, Getúlio ele de começo não quis participar, a Argentina não só não
quis como não participou (risos) que era o Perón, e aqui o Getúlio também na queria, que ele foi
levado a ter que participar principalmente com a sociedade Brasileira que também exigiu que o
Brasil participasse para vencer o nazi-fascismo, então Getúlio...e nessa ai eles embarcaram e
realmente participaram dessas caravanas, que era orientado principalmente pelo Túlio de Lemos
que era um produtor da rádio depois da tv tupi de São Paulo era o principal organizador dessas
caravanas da vitória que levava, então ele levava todos os artistas a participar e o Brinquinho
Brioso a dupla participou realmente de todos esses eventos né, em favor do pracinhas Brasileiros

Entrevista realizada 12-8-2009 14:40hs

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História da minha vida artística – Euclides H. Costa (Brioso)
Em 1 936, na cidade de São José dos Campos, formei um grupo composto por cinco pessoas:
meu irmão Bem, tocando violão, Nagibe Simão, tocando o segundo violão, Ceci, Vulgo Bico
doce, tocando cavaquinho, minha irmã Maria Costa como cantora tocando pandeiro.
Ensaiávamos praticamente todas as noites durante o ano inteiro em minha casa. No carnaval
fazíamos uniforme e nos apresentávamos na rua Quinze, recebíamos muitos aplausos. Nos
apresentávamos também nos sanatórios de doente do pulmão, Vicentino Aranha e Rui Dória.
Quando começamos a nos apresentar em festas como estas, minha irmã Maria já havia
deixado o grupo e então coloquei um rapaz chamado Santinho que cantava muito bem. Com o
conjunto composto apenas por rapazes, ficou melhor fazermos nossas tocatas até altas horas da
madrugada em festinhas.
Um dia resolvi trazer o conjunto para tocar na rádio Bandeirantes em São Paulo que se
localizava na rua Líbero Badaró. Para não fazermos feio, já que executávamos apenas músicas de
grupos famosos da época como, Anjos do Inferno e Quatro Azes e um Coringa, resolvi tentar
compor uma marchinha e um samba para o meu conjunto.
Viemos e nos apresentamos na rádio. Trouxemos o Valter Ovale, que fazia dupla de
cavaquinho e violão com o Bem, os dois solavam uns arranjos clássicos que era uma maravilha.
Na hora de nos apresentarmos ao diretor artístico da rádio, que na época era o grande compositor
Silvan, pedi ao Valter e ao Bem que tocassem. O diretor ficou deslumbrado, permitindo logo em
seguida nossa apresentação com dois números de minha autoria, pois o tempo era escasso.
Voltamos para São José e continuamos nossa vidinha musical, sempre ensaiando e eu
compondo em grande escala.
Em 1 938, fui trabalhar na Prefeitura Municipal de São José dos Campos, com o Sr. Odilon
Lemos, no serviço de recenseamento da cidade. Também foi trabalhar junto comigo, Thesis Gaia,
um rapaz que morava ao lado da minha casa e era irmão do famoso Ranchinho da dupla
Alvarenga e Ranchinho.
Nesse meio tempo, nosso amigo Paulo Lebrão, que também gostava de música, fundou uma
estação de propaganda com dois auto-falantes na rua Quinze de Novembro, rua principal da
cidade na época, e nos convidou para imitarmos uma estação de rádio.

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Fizemos um estúdio que era separado do auditório por um vidro, no prédio do Esporte Clube
São José. Eu fiquei como diretor artístico, continuando a trabalhar na prefeitura durante o dia e á
noite comparecendo ao estúdio para ensaiar os cantores que apareciam. Criamos até a Hora de
Calouros.
Quando o Sr. Odilon não estava por perto, eu e o Thesis trocávamos idéias sobre música. Um
dia, uma pessoa nos viu “a encostas o serviço” e falou que parecíamos com uma junta de bois
havia na prefeitura de nome Brinquinho e Brioso. Na hora de puxar o carro um encostava no
outro e o carro não andava.
Nesse momento percebemos. Bom nome para uma dupla caipira!
O Thesis me perguntou:
- Quer tentar Euclides?
Eu respondi:
- Claro, mas como sou o mais calado, serei o Brioso e você o Ranchinho.
Ele aceitou e começamos a ensaiar o repertório do Alvarenga e Ranchinho. Como Thesis era
irmão de Ranchinho e conhecia bem o repertório da dupla, ficou fácil imita-los.
Então demos início às apresentações na estação do Paulo Lebrão, que se chamava PL 1 e em
festinhas nos sanatórios, lugares em que éramos um verdadeiro sucesso, pois imitávamos bem o
Alvarenga e Ranchinho, com desafios, paródias e outros.
Logo a dupla foi ficando mais famosa e em todas as festas lá estávamos em primeiro lugar. A
partir daí, deixei o conjunto vocal para meu irmão Bem e assim fomos até 1939.
Resolvemos tentar a vida artística profissionalmente. A primeira vez que saímos de São José,
foi para fazer uma temporada de oito dias na cidade de Jacareí. Nos apresentamos em um circo de
anões que havia estado em São José; na ocasião assistiram nossa apresentação, gostaram e nos
contrataram.
Depois disso, fomos tentar o Rio de Janeiro. Cantamos na rádio de Niterói e na rádio
Transmissora em um programa do jornalista Graveto, no qual ganhamos mil réis por programa.
Após um mês, voltamos para São José. Não dava para ficar no Rio.
Para “ganhar alguns”, comecei a trabalhar na companhia de Luz Light, como entregador de
contas de luz e leituras de relógios da cidade. O Brinquinho se virava no Esporte Club São José,
já que jogava um pouco de bola, para defender “alguns tutus”.

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Na verdade, não éramos muito amigos do batente, tanto que como o serviço da Light era
muito puxado, pois tinha que andar a cidade toda durante todo m~es, só trabalhei meses e me
demiti.
Disse ao Brinquinho para tentarmos a vida artística em Santos, ele veio de lá e conhecia o
dono da rádio Atlântica, o Sr. Carlos Bacará, tinha um primo que morava no bairro do macuco,
onde poderíamos ficar hospedados. Assim fomos para Santos e 1 940.
O Brinquinho tocava chocalho e eu muito mal uma violinha, mas como nosso forte era
humorismo, igual a dupla Alvarenga e Ranchinho, precisávamos de um acompanhamento.
Chegamos em Santos com nossa violinha, nossa roupa de caipira, com a cara e a coragem e
com a passagem de volta no bolso.
Nesse dia era a estréia do famoso conjunto Anjos do Inferno. Como a rádio atlântica tinha um
grande auditório que estava lotado, pedimos ao Sr. Carlos Bacará para nos deixar apresentar um
número no programa e dissemos que nosso estilo, era o mesmo de Alvarenga e Ranchinho. Dupla
de muito cartaz em Santos.
O Bacará nos perguntou se éramos capazes de apresentar um número naquele auditório,
dissemos que sim, pois sabíamos que iríamos agradar.
À noite vestimos nossa roupinha de caipira e ficamos esperando o locutor nos anunciar. Logo
ele nos apresentou assim:
- Antes do Anjos do Inferno, que já se encontram na rádio, vamos apresentar para vocês um
número diferente. Com vocês a dupla mais famosa do Vale do Paraíba, Brinquinho e
Brioso! (Esse era o nosso slogan)
Como éramos desconhecidos, o público nos aplaudiu pouco e começamos a trabalhar.
Contamos uma anedota que foi um estouro na platéia e em seguida cantamos um desafio, aí então
a platéia delirou! Saímos do palco e o público ficou gritando pelo nosso nome, tal foi o sucesso
que fizemos. Meio abobados, começamos a tirar nossa roupa para irmos embora, quando o Sr.
Bacará chegou e nos disse:
- Voltem para o palco, o povo ta delirando!
Voltamos e contamos mais uma anedota e saíamos de baixo de aplausos. Avião com passagem de
ida e volta e com uma verba maior. Como o empresário não concordou, não fomos e ele começou
a faltar nos programas e discordar de tudo que fazia.

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Um dia ele pediu demissão da rádio. Como nossa dupla já estava sem programação devido às
suas irresponsabilidades, a emissora rescindiu seu contrato, para minha sorte, nosso contrato era
separado. Nessa época eu já tinha me virado e arrumado um emprega público no qual estou até
hoje. Emprego que garante meu sustento graças a Deus.
Na mesma ocasião a rádio me chamou e pediu que eu arrumasse um parceiro para ficar no
lugar do Brinquinho. Eu então consegui um rapaz chamado Orlando Lindones, que tocava bem
violão e fazia a primeira voz bem afanada. Ensaiei bem ele e nos apresentávamos para o diretor
artístico da época, o Dr. Teófilo de Barros, que gostou muito da dupla e nos contratou. Dei a ele o
nome de Branquinho para ficar parecido com o do meu antigo parceiro.
Começamos a trabalhar na rádio e na tv, além de humor, cantávamos números sentimentais e
logo fomos contratados pelas melhores gravadoras de São Paulo. A primeira foi a Odeon, depois
a RCA Victor e logo em seguida a Continental. Nessa última fizemos várias gravações de valsas,
toadas, baião, arrasta pé e todas as músicas de gênero sertanejo.
Trabalhamos durante 7 anos fazendo muito sucesso e viajando pelo interior com shows. Para
melhorar nossa dupla, contratamos uma sanfoneira chamada Jussara, que ficou por pouco tempo,
em seguida, para substituí-la, colocamos a Neuzinha, que também saiu logo, pois viajávamos
muito pelo interior e para nos acompanhar, ela teria que levar um acompanhante e as despesas
aumentavam muito.
Resolvemos contratar um sanfoneiro chamado, nome que eu arrumei. Trabalhamos com ele
algum tempo, quando então resolvi colocar minha filha Eliete. Ela tinha 13 ou 14 anos e contra
sua vontade, pois não queria aprender a tocar sanfona, insisti e assim ele aprendeu. Tocamos mais
uns anos e resolvi me desligar da rádio. Vocês não podem imaginar o contentamento da Eliete,
porque ele deixou de tocar sanfona, instrumento que ela detestava. Isso aconteceu em 1965.
Desde então estou parado. Desfiz amigavelmente a dupla com meu parceiro, que era uma
ótima pessoa. Ele queria viajar e como tenho um emprego funcionalismo estadual, não podia me
ausentar de São Paulo. Fiquei trabalhando apenas como funcionário público. Deixei a arte e para
matar saudades, fico compondo minhas músicas e tocando de vez em quando para desenferrujar
os dedos.
Vivo com minha família, tenho duas filhas muito bem casadas graças a Deus, um filho solteiro
e minhas netinhas que são uns amores para mim.

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Hoje com meus sessenta e seis anos, já que irei completá-los no próximo dia 16, fico curtindo
minhas saudades dos bons tempos de artista e em reuniões nas casas de parentes e conhecidos,
canto o meu velho repertório, sozinho mesmo, que ainda agrada.
Assim vou vivendo até quando Deus quiser.

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Moda dos Inventores
(Brinquinho e Brioso) – Gravadora Columbia jul/42 lado A
Gênero: moda de viola

Colombo inventou o ovo, que pare em pé numa mesa,


Edison inventou a luz, embaixo da dagua ta açessa.
Eu conheci um enventão que era santo dos bão,
inventou um voadero que arveis nois chamar de avião.

O juda inventou o beijo, o pecado foi adão,


o turco inventou a falência, o judeu a prestação.
E no chineis inventou uma coisa muito rara,
E ele puseram o nome eu te arrebento com a cara!

(falado) vai ele em cumpade!

A maior das invenção que eu já vi na minha vida,


é a fita de cinembra quando é de sessão corrida126.
No começo a luz apaga, e começa a cinemera
é beijo pra todo lado na tela e nas cadeiras.

O caboclo também é um inventor de aclamar,


inventou alguma coisa que carece ser lembrado;
a casa de pau apique, um teado de sapé,
uma enxada encabada pra trabalhar quem quiser.

(falado) vai ele!

Agora pra confirmar tudo que nois já falemo,


carece só nois falar o que nois dois inventemos
e como messeis já sabe que nois temo de nomeata,
pra cantar pra misseis tudo nois inventemo essa toada.

126
Nos cinemas antigos tinha o hábito de fazer intervalos nos filmes muito longos, quando a sessão era corrida não
tinha intervalos.

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Salada Política (Brinquinho e Brioso)

Nas eleições do catete


A coisa vae esquentá
É candidato pra cá
É candidato pra lá...

A veçe sabe qual é o candidato meu senhor


Ai oçe sabe então diga pra mim
Candidato a prisidente minha gente
Que canta uma canção assim...

Eu vou te deixar Minas Gerais


Ó Minas Gerais
Outra mamata melhor vou tentar
Ó Minas Gerais...

Mangabeira vae entrar na brincadeira


No ano de cincoenta e um
Si ele entrar o zé povinho fica bem
Só por saber o que é que o baiano tem...

Ele disse que tem, diz que tem, diz que tem
Diz que tem diz que te diz que tem
Tem um concorrente baixinho e gordinho
Que canta sem fim, uma canção assim...

(BRASILEIROS)

Eu também quero, eu também quero


Eu também quero ganhar
Da o catete da o catete
Da o catete pro G.G. não chorar...

O zé povinho todo está cantando


E não se cancã de cantar
Não importa que a mula manque
Nóis semo é do Ademar...

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Tempo do Onça
(Brinquinho e Brioso) – Paródia Política

Ai que saudades que tenho


daquelles tempo que o Ademar mandava
a gente jogava no bicho
namorava no escuro
e ninguém se importava
hoje o bicho fechou
o namoro no escuro, tanbém se acabou
mais me falou a cachopa
si o Ademar voltar
nóis rasgamo a roupa.

É namoro no escuro
é namoro agarrado
um cruzeiro no leão
dois cruzeiro no viado.

Ai que saudades que tenho


daquelle tempo que ao Ademar mandava
a gente jogava no bicho, perdia, ganhava
e ninguém se importava
hoje tá tudo mudado
inté o numero dos bicho mudou de uma veiz
o viado era o vinte quatro
agora o viado ta sendo oçeis.

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