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AGRADECIMENTOS
CAPÍTULO I .......................................................................................................................... 17
CAPÍTULO II ......................................................................................................................... 45
FONTES .................................................................................................................................. 62
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 64
CONSIDERAÇOES INICIAIS
Sendo assim, é possível perceber que apesar de toda uma estrutura montada pela classe
dominante, homens e mulheres, estruturam suas vidas de acordo com valores construídos ao
longo de suas trajetórias, avaliando e disputando espaços. É nessa dinâmica que percebemos
os trabalhadores envolvidos no processo de escolarização da EJA, pois o voltar para sala de
aula pode estar relacionado ao desejo de mudança nas “condições de vida e de trabalho, o que
9
desejam fazer e o que acreditam estar fazendo”.(IBIDEM, p. 7)
Ao analisar experiências vivenciadas por trabalhadores em Marechal Cândido Rondon
em relação à escolarização, minha pesquisa deu ênfase à educação de jovens e adultos (EJA) a
partir de pesquisas no Colégio Estadual Paulo Freire1. Com isso, focalizo expectativas,
pressões e dificuldades vivenciadas por estes sujeitos no século XXI e ao longo de sua
trajetória de trabalhadores, partindo das questões que nos remetem a avaliar quais são as
perspectivas desses sujeitos sobre o acesso, permanência ou abandono da escolarização
formal, percebendo que essa modalidade de ensino (EJA), conforme políticas públicas
educacionais. visam atender, prioritariamente, à classe trabalhadora e que, portanto, não deve
ser pensada desarticulada do mundo do trabalho e dos interesses que disputam a organização
das escolas públicas do país.
Ao pensar assim, acredito que importa observar como esse retorno pode dialogar com
o processo de exploração que se coloca para os trabalhadores com baixo nível de
escolaridade. Por isso, escolarizar-se, opondo-se a isto, traz uma noção carregada de
simbolismos, revelando que os sujeitos ora acreditam encontrar uma forma de ascensão
social, ora isso se mostra irrelevante para as urgências de classe.
Conforme o Projeto Político Pedagógico (PPP), do Colégio Paulo Freire, intuição de
ensino na cidade voltada para jovens e adultos, apresentam como objetivo, possibilitar o
processo de alfabetização e a conclusão do ensino básico para sujeitos, que até o momento do
primeiro contato com a instituição, permaneciam “alheios às oportunidades de educação”
(MARECHAL, 2010). Analisando mais a fundo esse documento, o artigo específico referente
à Educação de Jovens e Adultos (EJA) traz como meta proporcionar aos estudantes a
oportunidade de completar o ensino básico indicando que se pretende “Criar situações de
ensino aprendizagem adequadas às necessidades pertinentes aos alunos da EJA”. (IBIDEM, p.
126).
Compreendo assim que esta modalidade é adequada a sujeitos que, por várias razões,
não tiveram acesso ou não puderam dar continuidade a seus estudos. Sua proposta é de uma
educação de qualidade, que supra a necessidade de conhecimentos básicos desses sujeitos
perante uma sociedade em constantes modificações. Tudo isso, entendendo que a
oportunidade educacional deve ser apropriada às características do aluno, respondendo a seus
interesses e propostas de vida e trabalho, provocando nestes sujeitos uma reflexão sobre a
1
MARECHAL Cândido Rondon. Colégio Estadual Paulo Freire. Disponível em:
< http://www.mrhpaulofreire.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=16 > Acesso fevereiro
2016
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realidade e suas possibilidades e pressões de classe.
Para melhor compreender a definição de classe busquei embasamento nos
pressupostos teóricos de Thompson(1987), que norteiam a análise que realizou, da formação
da classe operária inglesa, examinando experiências de trabalhadores que se articulam em
favor de seus interesses e contra outros sujeitos, a partir destas análise destaco uma das
afirmações do autor, “Não vejo a classe como uma ‘estrutura’, nem mesmo como uma
‘categoria’ mas como algo que ocorre efetivamente (e cuja ocorrência pode ser demonstrada)
nas relações humanas” (IBIDEM, p. 9). Ou seja, acredito que as relações e ideias de sujeitos
que se reconhecem a partir das experiências e lutas ocorrem em uma constante busca por
mudanças e disputas por espaços, o que se torna a expressão da experiência de classe.
Diante disso, não temos objetivo de pesquisar a instituição de ensino voltada para
jovens e adultos, mas sim de problematizá-la a partir das relações sociais construídas por
diferentes sujeitos que se relacionaram com ela, reconhecendo a proximidade da EJA com
outras esferas da política educacional nacional, mas, ao mesmo tempo, destacando suas
particularidades. Pois, pretendo observar como se dá a relação entre aqueles que se colocam
como estudantes-trabalhadores (com diferentes perspectivas de vida e de relação com a
escolarização formal) e os que estão na EJA por outras motivações e em outro lugar social.
Não é possível dizer que esses sujeitos buscam a escolarização formal com o único
intuito de uma melhor formação para o trabalho ou para a transformação das relações, pois em
alguns sentidos a escolarização experimentada por esses sujeitos aponta para a busca de
satisfazer certas necessidades e expectativas construídas no seu modo de viver, procurando
ultrapassar limites impostos na sua condição de classe ou em determinados momentos de sua
trajetória.
Os embates cotidianos enfrentados apresentam sujeitos que reconhecem certos
processos de exclusão na formação educacional e em seu uso socialmente. Ao tratarmos a
escolarização pública e os valores vinculados a historicidade da escolarização formal no país
vemos que sua visibilidade foi constantemente associada a dominação de classe, inclusive
naturalizando que a formação escolar para determinados sujeitos se restringisse a formação
para o trabalho. Sabendo dessa disputa pelo papel da escolarização, percebemos que o não se
escolarizar com qualidade ou com interrupções traduz elementos do modo de vida distinto e
desigual presente no país. Tudo isso, faz com que certas decisões sejam tomadas e não sejam
fáceis e tranquilas para serem vividas.
Com base nesse suposto, proponho uma análise das significações que esses sujeitos
atribuem a essa escolarização formal, indicada pela instituição, assim como por alguns
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educadores e pelo empresariado, como educação formal que contribua para formação de
sujeitos disciplinados e produtivos para o mercado de trabalho. Considero essa expectativa
com a EJA uma disputa pelas relações que irão ocorrer nas salas de aula, uma vez que
compreendendo que essa perspectiva de retorno às salas de aula por trabalhadores pode ir
além de uma busca por emprego melhor remunerado, ou uma distinção social. Ela pode
expressar, também, a busca por confrontações de valores, limites e pressões que trazem em
sua trajetória.
Para desenvolver esta pesquisa analisei trabalhos relacionados ao tema, que
problematizam e levantam questões, assim como me propus a avaliar experiências desses
sujeitos a partir de entrevistas e produções desses estudantes-trabalhadores, tendo como
objetivo compreender o que os motivou a retornar para a sala de aula e como vêem a relação
escolarização formal e a noção de “melhorar de vida”. Desse modo, busquei compreender
como eles percebem possíveis mudanças, como elas acontecem e se acontecem.
As entrevistas foram realizadas com trabalhadores que estudam ou estudaram na EJA,
no Colégio Paulo Freire. Algumas foram realizadas na própria instituição, pela dificuldade
que tive em poder contatar esses trabalhadores em outros horários, pois muitos trabalham o
dia todo e não dispuseram de tempo para a entrevista. Assim, passamos então a trabalhar com
memórias de trabalhadores as quais são de grande importância para compreensão de como
estes sujeitos lidam com a narrativa e interpretação de suas relações e decisões. Para isso
dialogamos com Khoury (2009), que nos indica, ao analisarmos a classe trabalhadora por esse
viés, que é necessário perceber como estes apresentam a experiência social, como significam
suas trajetórias, seus pensamentos, ações:
Pensar o sujeito através de suas ações, dentro e fora do mundo do trabalho, favorece
ao historiador pensar em outras questões que ampliam a visão de classe. Incorporando estas
ações poderemos perceber como estes trabalhadores se relacionam e produzem suas lutas,
levando em conta que os motivos que os afastaram da escola podem ser comum a muitos
trabalhadores. Entretanto, o retorno à sala de aula e suas perspectivas sobre esta escolarização
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podem ser diferentes, pois, interesses e valores atribuídos a essas práticas podem ser
conflitantes até mesmo entre os trabalhadores.
Com a perspectiva de pensar a relação entre o presente e o passado, este trabalho se
apoiou no pressuposto teórico de Chesneaux (1995), o qual aponta a história como elemento
construído socialmente por sujeitos históricos, e que por momento algum está pronta ou
acabada, ou seja, o presente tem uma relação ativa com o passado, e devemos retomá-lo para
buscar evidências, fazendo-se necessário estudar o processo histórico em que os sujeitos
sociais se inserem para construir e avaliar a realidade no tempo presente. A problematização
histórica tem a finalidade da construção da ponte entre presente e passado, oferecendo a
possibilidade de compreender a relação do presente e seus embates. Segundo Chesneaux,
Este pressuposto defende que o caráter operacional da relação com o passado tem a
aptidão de responder exigências do presente, ou seja, é compreendendo os embates vividos
pelos sujeitos no passado que podemos entender o presente, tendo em vista que a História
pode ser colocada em defesa de interesses diversos e que existem diferentes interpretações,
cabendo a nós, sujeitos históricos, problematizar esses processos e construir o conhecimento
de forma que exista uma compreensão do presente ao relacioná-lo com o passado.
A partir das reflexões teóricas e metodológicas, que nos ajudam a problematizar a
nossa compreensão sobre o tema, é possível construir essa investigação, respeitando os
sujeitos e sua condição de classe assim como o contexto em que ele está inserido. Pensar
como os trabalhadores se constituem como sujeitos ativos na história exigem do pesquisador
uma reflexão profunda sobre as ações e sentidos que formulam a partir de sua condição de
classe, cabendo ao pesquisador refletir sobre as perspectivas buscadas por estes trabalhadores.
Ao lidar com a escolarização formal, busquei essa reflexão através da fala destes
sujeitos. Ao entrevistar os trabalhadores que se relacionaram com a instituição de ensino tive
contato com as experiências vividas por eles, que contribuíram para a reflexão a respeito de
suas motivações, procurando problematizar as interpretações dadas por eles às suas trajetórias
e à inserção/abandono da rotina escolar.
Ao procurar pelo acervo da escola para ter acesso às fichas dos alunos me deparei com
vários problemas, em uma das tentativas pude acessar alguns arquivos antigos, mas que pouco
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contribuíram para a pesquisa. Segundo as secretárias do colégio, até 2008 as fichas eram
feitas manualmente e a partir dessa data passaram a ser lançadas diretamente no sistema do
colégio, e não seria possível o meu acesso por uma questão de ética da instituição. Algo que
dificultou a pesquisa e obrigou a construir novas tentativas de levantamento documental.
Procurei então acesso pela Prefeitura através da secretaria de ensino, mas também não
tive sucesso, foram dias de espera por respostas que ainda não chegaram. Diante de tais
limitações continuei com a pesquisa procurando estabelecer contato com estudantes que
encontrei na instituição, onde passei por várias horas conversando com alguns alunos que se
dispuseram a contar suas histórias, alguns preferiram escrever textos onde trataram alguns
elementos de suas trajetórias. Também procurei por colegas de sala que conheci quando
estudei naquele colégio para concluir o ensino básico no período de 2008 a 2009.
No trabalho com fontes orais percebemos a necessidade em lidar com cautela com os
significados atribuídos aos fatos pelos narradores. Portelli (1996) fala de sujeitos que se veem
inseridos socialmente e de suas percepções particulares, “cada fragmento (cada pessoa) é
diferente dos outros, mesmo tendo muitas coisas em comum com eles, buscando sua própria
semelhança como a própria diferença.” (IBIDEM, p. 9). Nas narrativas percebo que cada
sujeito, em “um campo de possibilidades compartilhadas” busca diferentes “destinos
possíveis”, apresentando significados que os fatos narrados têm para ele, particularmente, ao
avaliar não só a si, mas o que avalia das relações sociais.
Nessa perspectiva, de valorizar a subjetividade do entrevistado, Portelli (2010) nos
alerta para a importância em se manter a “fidelidade” com a voz do narrador, ao mesmo
tempo em que é preciso compreender sua linguagem, sua paixão. É necessário apresentar a
sua versão de acordo com o que ele quer expressar. Segundo o autor, isso se deve: “Porque a
subjetividade, os ensinamentos, as paixões são coisas de história que talvez sejam mais
importantes do que as coisas das políticas; são uma política mais funda mais radical, que faz
parte do sangue e das veias das pessoas com quem falamos.” (IBIDEM, p. 4). Foi com essa
indicação que procurei tratar a experiência dos sujeitos analisados.
O entrevistador, portanto, não pode apenas extrair informações, e sim abrir espaço
para o diálogo, “onde nem todas as perguntas têm respostas, nem todas as respostas têm
perguntas” (IBIDEM). Então, essa fonte é um resultado de uma relação mútua entre o
historiador e o narrador, onde o conteúdo é delimitado pelo pesquisador, mas que este deve
analisar como o narrador apresenta sua narrativa e, através dessa comunicação, chegará ao
resultado do que propiciou esse encontro.
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Através das entrevistas com alunos da EJA, analisei as trajetórias de trabalhadores e
demais estudantes, envolvendo questões sobre trabalho, lazer, família e como se relacionam
dentro de seu contexto social, sendo possível perceber que não é apenas através dos estudos e
do trabalho que exercem que tomam suas decisões, mas, também, a partir das relações
ordinárias, de suas buscas constantes, as quais nos informam como estes sujeitos se inserem
no espaço social, quais são as relações de força enfrentadas no viver na cidade diante das
desigualdades sociais frente às relações familiares, custo de vida, mudanças de cidade etc.
Thompson (1981) afirma que o método lógico da investigação do processo histórico
consiste em um diálogo entre o historiador e suas fontes, cabendo ao historiador questionar as
evidências, construir as hipóteses possíveis e confrontá-las empiricamente. Para ele, investigar
processos históricos, de forma geral ou particular é sempre peculiar, é algo delimitado no
tempo e no espaço, mas dinâmico. O “discurso disciplinado da prova consiste num diálogo
entre conceito e evidência, um diálogo conduzido por hipóteses sucessivas, de um lado, e a
pesquisa empírica, de outro.” (IBIDEM, p. 49)
Acreditando nessa proposição, organizei minha análise mantendo um diálogo
constante entre a análise de hipóteses sucessivas e questões, envolvendo o sujeito e os fatos
que faziam parte da trajetória dos sujeitos da pesquisa. Pois, ao me aproximar dessa noção "a
lógica histórica", concordo que “o interrogador é a lógica histórica” que não se apresenta
espontaneamente, mas através de um trabalho árduo. (IBIDEM)
Além das fontes orais também fiz uso de fichas do Sistema Nacional de Emprego –
SINE, para melhor problematizar as ações dos trabalhadores frente às ofertas de vagas de
trabalho, assim como me utilizei de matérias do jornal O Presente, relacionando suas
formulações sobre as exigências do mercado de trabalho, a formação profissional e a
escolarização de trabalhadores, destacando anúncios de cursos de qualificação que atendem
aos objetivos da classe patronal, procurando determinar que escolarização trabalhadores
precisariam possuir para se inserirem em certas vagas.
Com o uso dessas fontes, assumi como problemática à maneira como os trabalhadores
organizam e decidem por suas relações de trabalho, avaliando possibilidades que atendam
suas perspectivas e lidando com sua condição de classe. Essas linguagens permitiram discutir
esse universo de relações, auxiliando na formulação e investigação da problemática de
pesquisa.
Este trabalho foi dividido em dois capítulos, no primeiro analiso as ações dos sujeitos
inseridos no programa da EJA, refletindo sobre suas justificativas quanto ao abandono das
salas de aula e como vêem a questão do retorno, analiso suas experiências refletindo limites e
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pressões em suas vidas para tais decisões sobre a escolarização formal.
No segundo capítulo analiso as perspectivas destes trabalhadores sobre a escolarização
dentro do contexto do viver a/na cidade e ocupar vagas de trabalho. Destaco a dinâmica
apresentada pelos trabalhadores à procura de emprego, as estratégias para ocuparem vagas de
trabalho que atendam suas perspectivas, lidando com sua condição de classe, o que a todo o
momento os obriga a reavaliar estas ações, seja no abandono da escolarização ou ao retorno às
salas de aula.
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Capítulo I
Trabalhadores e escolarização:
justificativas de abandono e retorno as salas de aula
Helena, 03/11/20142
Percebemos que Helena ressalta com grande ênfase a vontade de estudar assim como
apresenta os obstáculos que a impediram de continuar sua escolarização formal, porém, ao
analisarmos sua fala podemos avaliar que ela nos apresenta sua trajetória um tanto quanto
romantizada. Helena vivia com os pais e o fato de ter que ficar em casa, ajudar a mãe nos
afazeres domésticos, ou ir para lavoura trabalhar pode estar relacionado à obrigação que tinha
em ajudar a família, pois, de certa forma, seus pais exigiam que ela cumprisse alguns deveres
dentro do ambiente familiar.
No contexto de estudar, trabalhar e viver na roça pode-se levar em conta os custos para
manter um filho na escola, inclusive porque os pais necessitavam, em grande medida, do
trabalho dos filhos para a dinâmica de produção rural nas décadas de 1960, 1970 e até em
1980. Afinal, a valorização da permanência na escola não ganhava os mesmo sentidos que
2
Texto produzido por Helena, (pseudônimo) ex-aluna da EJA, do período noturno no Colégio Paulo Freire
(novembro 2014).
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hoje temos (inclusive, atualmente, temos órgãos para denúncias e fiscalização da manutenção
de crianças e adolescentes na escola, o que demonstra que ainda há certas recusas no
entendimento do quão faz parte o ensino regular da rotina de expectativas e possibilidades de
certos sujeitos). Essa questão era fundamentalmente problemática para trabalhadores, pois não
podiam abrir mão da ajuda do filho nas tarefas, muito menos arcar com materiais escolares ou
subsidiar a escola/professor, além da sazonalidade de muitos. Algo que na segunda metade do
século XX indicava elementos importantes sobre a descontinuidade na formação escolar
formal.
Além disso, na região, houve nesse período a dificuldade em se manter as escolas
rurais. Langer (2012) analisa essa questão em seu trabalho e contribui para essa pesquisa.A
autora enfatiza que os problemas enfrentados por pais de alunos em manter seus filhos na
escola transcorriam em função da necessidade da ajuda do filho em casa ou na roça e a
distância em que se localizava a escola. Havia os problemas com a instalação e manutenção
das mesmas e, ainda, a questão dos pais precisarem incentivar os professores a ficarem nas
localidades, pois entre os vários problemas enfrentados pelos professores estavam os baixos
salários e a dificuldade em se deslocar para a cidade em busca de materiais e melhor
qualificação de seu trabalho.
Denise entrevistou alguns professores deste período e destaco parte de uma entrevista
concedida à autora, onde ela questiona sobre os materiais disponibilizados para a atividade
docente, diante do que, o professor afirmou:
Não, não o único material que a prefeitura fornecia era o giz só, só, só, só.
Os professores, nós tínhamos que providenciar os nossos próprios cadernos,
os nossos próprios materiais, caneta, tudo, cada aluno tinha que providenciar
o material, todo o material né inclusive. Quando nós íamos limpar a escola,
nos tínhamos que levar panos de casa, os alunos traziam vassoura...3
Percebemos que para manter um filho na escola era necessário ter gastos, não só com
os materiais que ele necessitava para estudar, mas também com a manutenção da escola,
fatores que contribuíram, também, para a desistência da escolarização e se dedicar ao
trabalho, cuidado com a casa e construir novas expectativas e pressões, incluindo casamentos
e filhos.
Retomando o texto produzido por Helena, ela se casa bem jovem e o marido também
não permite que ela volte a estudar, o cuidado com filhos e os afazeres de casa ficam sob sua
3
DORVALINO (pseudônimo). Entrevista concedida a Denise Langer. Entre Rios do Oeste, 14 de abril de 2012
apud LANGER ( 2012.p. 52).
21
responsabilidade, um determinado controle que também terá limites para ser mantido, uma
vez que para ampliar a renda familiar, objetivando cobrir os gastos e expectativas mensais,
esse controle será reavaliado nas relações familiares. Helena precisa trabalhar fora, questão
esta negociada com o marido para complementar a renda da família.
Para tal, ela consegue trabalho como zeladora na escola e passa a ter um contato mais
direto com a instituição de ensino EJA e, por essa razão, dentre outras vinculadas às suas
possibilidades de cargos, ela passa a questionar o porquê não voltar e avalia os benefícios que
o estudo poderia trazer para sua vida, desde a avaliação que fez sobre trabalhar como
merendeira, vendo-a como uma atividade em que não exigia um nível alto de escolarização,
mas que ainda assim precisaria de um pouco mais de estudo. Ou seja, tinha no horizonte
trabalhos que exigissem um saber fazer que não viesse por uma formação a longo prazo, algo
frequente para trabalhadores que compartilharam as mesmas decisões que Helena sobre o
abandono escolar e o ingresso muito cedo nas obrigações com a renda familiar, cuidado com
filhos e ocupando postos de trabalho.
Importante aqui destacar a discussão de Alessandro Portelli (1996), segundo o autor,
“A história oral e as memórias, pois, não nos oferecem um esquema de experiências comuns,
mas um campo de possibilidades compartilhadas, reais ou imaginárias.” (IBIDEM, p. 8). As
trajetórias destes trabalhadores se identificam em alguns momentos pela condição de classe
que experimentam, onde muitos convivem com a falta de escolarização e compartilham
possibilidades e limites de como organizar a vida e se relacionar com a retomada dos estudos,
pois, muitas vezes, constroem seus embates de diferentes formas, como autor destaca
“Qualquer sujeito percebe estas possibilidades à sua maneira, e se orienta de modo diferente
em relação a elas.” (IBIDEM, p. 8).
Para Helena, voltar para a sala de aula envolveu muito sacrifício, a relutância do
marido, a pressão sobre os cuidados com a casa e com os filhos pequenos, as jornadas no
colégio para trabalho e estudo. Ainda assim, Helena conseguiu em dois anos concluir o ensino
básico, porém as oportunidades que surgiram foram fundamentais para isso, como o contato
que já possuía com a direção do Colégio, o que permitiu que levasse o filho para acompanhar
as aulas, um dos fatores que em outra circunstância de relações com a escola complicaria seu
retorno à sala de aula.
A conclusão do ensino básico é motivo de orgulho para Helena e a impulsiona a
continuar estudando, “no momento estou me preparando pro Enem e resta a faculdade.” Ao
conversar informalmente com Helena, ela demonstra a vontade de buscar outras
oportunidades de trabalho que lhe forneçam não apenas um salário melhor, mas alterar o
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modo como é vista por parte da sociedade por ter pouca escolarização. Porém, explica que no
momento seus objetivos vão ter que esperar, pois seu filho está estudando em outra cidade e
ela precisa ajudá-lo nas despesas. Como se pode perceber, a entrevistada procura através da
ênfase que dá à escolarização, construir uma imagem que, por vezes, esbarra nos limites de
sua condição, pois sua determinação é envolvida na complexidade das urgências que se
colocam em sua trajetória.
A preocupação em garantir para os filhos oportunidades que não tiveram na infância é
demonstrada pela grande maioria dos trabalhadores que tivemos contato, tanto quando
ressaltam as dificuldades que os afastaram da escola, como na preocupação que apresentam
em voltar agora. Helena fala com orgulho que o filho cursa Gestão Pública em tempo integral,
por isso não pode trabalhar, dependendo, portanto, da ajuda dela. Para o que justifica, “mas
isso não é problema,” e complementa, “o que importa é que ele tá estudando, eu me viro.”
Helena, que atualmente é divorciada, mora com a filha e além do trabalho no colégio é
vendedora autônoma de roupas, diz estar satisfeita por poder ajudá-lo, mas com essa decisão,
no momento, não pode retomar os estudos.
Os sentidos da escolarização na vida dos trabalhadores podem ser, segundo Langaro,
“uma forma de construir uma determinada imagem perante os filhos”.(2003, p. 70). O autor
ressalta no seu trabalho que uma de suas entrevistadas pretende se escolarizar para poder
melhor realizar suas atividades como dona de casa e ajudar o filho nas tarefas escolares, pois
se sente constrangida em não poder colaborar com seus estudos, sua fala é um tanto
emocionada;
E eu penso assim, eu (quero) estudar mais. Assim, para poder ajudar meu
filho nos estudos dele, ajudar ele um pouco, porque muitas vezes ele em
pedir:”Mãe, me ajuda aqui em tal coisa”, eu não sei ajudar ele, eu fico assim,
“meu , que eu não sei ajudar ele, que vergonha”, sabe, eu me sinto
envergonhada pelo meu filho. Eu erro até no falar meu, eu erro, eu não sei
falar direito. É, é ruim. (...) Que nem hoje meu filho veio pedir uma tarefa,
para mim fazer uma tarefa para ele e eu não conseguia fazer..eu me senti
mal, sabe, você, não saber ajudar teu filho fazer a tarefa dele..É ruim.”4.
4
JANETE, (pseudônimo), entrevista concedida Jiane Fernando Langaro em 29 de novembro de 2002, apud.
LANGARO, Jiani Fernando. Peregrinos e Calejados: experiências de escolarização entre classes
trabalhadoras em Marechal Cândido Rondon, (PR). 2003. 126. F. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
em História). Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras, Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
2003.p 26.
23
ter oportunidades que não lhes foram possíveis e aponta tentar “impedi-los de vivenciar as
dificuldades” por qual passou.
O retorno para a sala de aula, para muitos alunos da EJA, significa concluir o ensino
básico. Algo que passa pela conquista de um direito, que de certa forma, foi negado/limitado
no passado por vários fatores, estes trabalhadores buscam oportunidades para voltar para sala
de aula, por mais complicado que possa ser, para alguns o apoio é fundamental, outros
assumem o compromisso de alcançar esse objetivo ainda que sozinho o que torna a
caminhada mais difícil, mas não impossível.
Sueli, outra estudante que trabalha no Colégio Paulo Freire como cozinheira há quatro
anos, concluiu o ensino básico na EJA três anos depois de ter iniciado. Ela nos apresenta um
pouco da sua trajetória, também, através de um texto;
Minha infância foi muito boa, morei no interior do Rio Grande do Sul
em Bom Progresso, o sitio ficava mais ou menos 5 km da vila aonde a escola
que estudava, aos 11 anos nos mudamos para o Paraná, mais precisamente
em Itacorá município de São Miguel do Iguaçu, lá estudei até o 5º ano. Aos
17 anos nos mudamos para Marechal Cândido Rondon, mas minha mãe
nunca se preocupou para que eu e meus irmãos fossemos estudar, me casei
aos 18 anos e tive 3 filhos e não trabalhava fora na época, até que meu
marido adoeceu e não conseguiu mais trabalhar, então trabalhei de diarista
em varias casas, como bóia-fria, mas não deixei faltar nada para meus filhos.
Em 1990, teve um teste seletivo na prefeitura pra trabalhar em escolas
municipais ou estaduais, tinha passado no teste, mas com pouca esperança de
ser chamada, então fui passear e para meu azar me chamaram eu não estava,
voltei decepcionada pois havia perdido a chance de trabalhar em uma escola,
mas alguns meses depois fui chamada novamente pra assumir uma vaga no
Eron Domingues onde trabalhei por 20 anos, então pedi remoção pra vir
trabalhar no Colégio Paulo Freire no qual estou a mais de 3 anos.
Aos 30 anos fui estudar na EJA, fiz o ensino regular e o médio e isto
me trouxe o benefício de melhorar o salário e poder melhorar a qualidade de
vida minha e de meus familiares. Na época na parte da manhã cuidava da
minha casa e das 12 e 30 as 18 e 30 trabalhava saia correndo do trabalho pra
escola que na época funcionava na escola Criança Feliz e só voltava pra casa
as 11 hrs da noite, mas tudo valeu a pena.
SUELI, 13/11/20145
Sueli também é uma trabalhadora que passou a infância na roça e assim como Neidi,
seus pais não acreditam que os filhos necessitassem da continuidade da escolarização, pois
aprender “lidar na roça” era mais importante e, como destacou Langer em sua pesquisa sobre
o ensino nas escolas rurais, “Algo que era recorrente também para a maioria dos filhos de
proprietários rurais de pequenas propriedades, ou ainda de trabalhadores que vivem nas terras
5
Texto produzido por Sueli (pseudônimo), ex-aluna da EJA, período noturno no Colégio Paulo Freire
(novembro 2014).
24
de patrões e tem os filhos entre a escola e ser mais um no trabalho” (2012, p. 33). Para uma
família de trabalhadores rurais que dependia da roça para seu sustento era mais produtivo
estarem trabalhando e não “perdendo seu tempo indo à escola”(IBIDEM, p.32).
Sueli diz que não precisou trabalhar fora nos primeiros anos de casada, se dedicava
aos cuidados da casa e principalmente dos filhos, mas a doença do marido a exercer o papel
antes ocupado por ele, de prover o sustento da família, ela então procura por aquilo que sabe
fazer, vai trabalhar como diarista e boia-fria, ocupações que aprendeu em casa e na roça com
os pais, e ocupadas, em sua maioria, por pessoas de pouca escolaridade. Porém, o que era
mais importante ficou registrado, “mas não deixei faltar nada para meus filhos”.
Percebemos aqui que Sueli assim como Helena, também faz uma distinção entre as
oportunidades que teve na casa dos pais e as que pretende dar aos seus filhos, não quer de
forma alguma que eles passem por restrições como as suas, incluindo a possibilidade de
estudar e dar um rumo diferente para suas vidas.
Dentro das possibilidades avaliadas por Sueli, ela percebe que o teste seletivo da
prefeitura para trabalhar em escolas foi uma grande oportunidade de mudar de ocupação, um
trabalho menos desgastante e, talvez, melhor remunerado, mas a falta de escolarização não
permitiu ser classificada. Alguns meses depois, (Sueli diz não lembrar quanto tempo) sai um
novo edital e ela consegue ser chamada, mesmo sem alterar sua formação.
Assim que começa trabalhar, logo procura retomar os estudos para garantir esta vaga,
avaliando como um bom investimento que pode lhe abrir outros campos de trabalho e
melhorar o salário “e poder melhorar a qualidade de vida minha e de meus familiares”. Ou
seja, melhores condições não apenas de colocar comida na mesa ou adquirir bens materiais
para família, mas sim, garantir que seus filhos poderão se dedicar à escola sem precisar
trabalhar para ajudar no sustento da casa.
Apesar de enfatizar as longas jornadas para conciliar trabalho, família e estudo, ela diz
“mas tudo valeu a pena”, pretendendo construir uma imagem positiva da sua trajetória como
trabalhadora, mãe de família e estudante, mas que percebemos na sua escrita que além das
dificuldades ressaltadas inclui-se, o abrir mão de muitas outras coisas para conseguir conciliar
certas expectativas dentre suas jornadas de trabalho e afazeres domésticos, talvez o “valeu à
pena” resuma fatos que Sueli acredita não ser mais relevante tratar neste momento. Afinal, ela
quer apresentar aqui uma imagem de mulher forte que superou as dificuldades, enquanto
muitos desistem.
Conversando em outros momentos com Sueli ela diz que depois que seus filhos
casaram começou um curso superior de Gestão Pública, mas não conseguiu concluir, em
25
seguida prestou vestibular para Pedagogia, mas também abandonou, por dificuldade de
conciliar o curso com seus outros afazeres, pois além do trabalho no colégio, ela é vendedora
de cosméticos e faz pão para vender, “tenho compradores fixos aqui no colégio mesmo.”
Sueli diz que precisa se “virá” e por isso não sobra tempo para estudar. O tempo todo a
trabalhadora destaca que, quer e gosta de estudar, porém esta ênfase é pensada para falar com
educadores e pesquisadores, como eu, e que julga que é isso o que pretendemos ouvir, mas,
dentro da realidade em que está inserida, abrir mão de vender cosmético ou fazer pão integral
para os professores do colégio pode prejudicar seu orçamento. Voltar a se dedicar ao estudo
implica em ter que dividir o tempo que tem para o marido e a mãe que mora com ela e precisa
de cuidados e, ainda, se colocar diante das dificuldades de levar um curso superior ao final
sem saber muito bem o que ele poderá lhe garantir futuramente.
Muitos, ao duvidarem da materialidade que a escolarização pode trazer no imediato
abandonam as salas de aula, pois é o que vive no presente que leva, trabalhadores como Sueli,
a avaliar sua relação com a escolarização. No seu caso; precisa cuidar da mãe, responder às
questões familiares, contribuir com a formação dos filhos etc. Portanto, grande parte das
dificuldades em seguir na formação escolar está na dedicação e empenho que não trazem
garantias efetivas sobre o que alcançar, algo que muitos trabalhadores não têm muita
disposição em administrar em seu planejamento e produção de alternativas, a não ser que
vislumbrem uma relação direta entre a escolarização e mudanças na sua condição.
De outro modo, essa leitura sincera da relação estabelecida com a escolarização exige
que esse processo "formativo" ocorra em consonância com essas necessidades e dilemas de
estudantes trabalhadores. Contudo, ainda não conseguimos muito dessa aproximação, uma
vez que a política educacional se distancia muito da realidade em que será vivenciada,
dificultando a positivação de suas propostas e de resultados mais efetivos na vida daqueles
que ocupam as salas de aula, inclusive da EJA.
Os significados atribuídos nas trajetórias narradas se apresentam no diálogo que me
propus com esses sujeitos, mas não podemos perder de vista o que os levam a tomar decisões
contraditórias e conflitantes frente aos valores e expectativas de retomar os estudos. Do
mesmo modo, as relações de desigualdade impostas à sua condição de classe estão expressas
nas ações e decisões que tomam, ainda que possam sofrer alterações frente às urgências
enfrentadas no seu cotidiano, obrigando-os a reavaliar prioridades.
No caso dos estudantes analisados, a avaliação das prioridades ganha contornos
distintos e as pressões exigem tomar decisões contraditórias frente suas expectativas. Voltar a
estudar não pode ser visto como uma prioridade. Evidentemente, essa decisão é sempre
26
avaliada no convívio e na legitimidade que ganha frente ao modo como vive e espera viver.
Para Thompson (1987), as pressões geradas pela relação de poder é o que apregoa a
desigualdade e a exploração dos trabalhadores, levando os sujeitos a se reconhecerem como
pertencentes a uma classe em que “vivem experiências parecidas” (IBIDEM, p. 10). Segundo
o autor,
Segundo a perspectiva do autor, podemos entender que a classe não nasceu pronta, foi
se fazendo a partir das experiências e lutas dos sujeitos na constante busca por mudanças e
disputas por espaços. O autor reflete sobre o fazer-se, tratando da constituição dos sujeitos
históricos como classe em um processo contínuo, no compartilhar de experiências comuns.
Ao me basear nessa indicação, avalio que o recorrente abandono dos estudos nas
famílias de trabalhadores ganha justificativas e leituras do social conhecidas entre eles. Por
vezes, essas ações são aceitas e valorizadas, o que não quer dizer que desconheçam os limites
que se acumulam na sua trajetória ao tomar tais decisões. As motivações e os modos de lidar
com a ausência desse estudo formal se fizeram para muitos trabalhadores propondo um campo
de possibilidades perverso que permeia o universo da classe - com baixos salários; relações de
trabalho que consomem força, tempo e saúde etc. Algo que aparece também nas distinções de
escolas, formação e alternativas para lidar com essa escolarização como valor em disputa.
Essa é uma confrontação que ainda está em processo, pois não ganhou novos
contornos, ainda prevalece o abandono e a oscilação entre permanecer e um dia retornar
(PACIEVITCH, 201?; NASCIMENTO, 2011). Em determinados períodos na vida de muitos
sujeitos, há um distanciamento do ensino formal por conta da necessidade de se dedicarem a
outras ocupações mais urgentes no momento, muitos destes trabalhadores que viveram parte
da infância na roça trazem consigo esta experiência de ter que largar a escola para trabalhar, a
vinda para a cidade, muitas vezes, está relacionada ao agravamento das dificuldades de
permanência no campo, ou mesmo problemas de saúde, um dos fatores que leva muitos
trabalhadores para cidade em busca de melhores condições de vida.
Entretanto, no momento que se estabelecem na cidade percebem que precisam buscar
por alternativas não apenas para que os qualifique para o mercado de trabalho, como diria a
classe patronal, mas para que respondam ao aumento de gastos com aluguel, alimentação,
27
taxas públicas, escolarização e cuidado com filhos. Nesse contexto, o retorno à escola
aparece, muitas vezes, em diálogo com essas questões.
A escolarização está vinculada ao desejo de mudança, uma alternativa visualizada por
muitos trabalhadores de serem aceitos em um trabalho que também está dentro de suas
expectativas, ou seja, a escolaridade pode ampliar o campo de trabalho que não só melhore
seu orçamento, mas, também o insira em um espaço social onde não precise mais lidar com os
limites de sua escolarização, entendendo que estas oportunidades também estão ligadas à
disposição dos trabalhadores em decidir se relacionarem nesse universo educacional
novamente.
As dificuldades vivenciadas para conseguir emprego dentro da cidade obrigam a estes
trabalhadores a buscar por estratégias de sobrevivência, por vezes tentam burlar a falta ou
pouca escolarização frente a uma oportunidade de emprego como destaca Langaro (2003) em
seu trabalho, onde um dos seus entrevistados aponta que para garantir seu emprego procurava
esconder de seu patrão o fato de ser analfabeto, mas reconhecia que tinha grande dificuldade
em exercer sua função de entregador, pois, por não saber ler precisava de ajuda para encontrar
os endereços. O entrevistado destaca;
[...] que nem eu faço entrega com o tratorzinho, por perto, a gente, então
pega...entreguinha pequena ou de trator, leva uma lata de tinta, “você vai tal
rua assim”A maioria eu pensava assim’ eu vou achar como?”. Aí de vez em
quando perguntava para um colega meu assim, “onde fica essa rua?” ele
falou: ‘ não, você vai assim, assim” ele me ensinava mais ou menos. Aí eu já
não demonstrava para meu chefe que eu não sabia ler, que ele não sabe que
eu não sei ler assim bastante.6
Contar com a solidariedade dos companheiros de trabalho é uma estratégia usada entre
trabalhadores que buscam por um emprego formal na cidade, pois mesmo sendo a função de
entregador isso significa ter um trabalho estabilizado. Estes sujeitos reconhecem as
dificuldades vivenciadas por todos que não possuem estudo, e então, alguns recorrem à
escolarização como um mecanismo de melhor se relacionar na cidade. Para Langaro, eles
“Procuram, então incluir-se à sociedade local, modificando alguns aspectos de sua fala e
procurando evitar os processos de exclusão social que podem sofrer.” (2003, p. 44)·quando
identificados com dificuldades de leitura ou escrita. As estratégias usadas por estes
trabalhadores são formas de resistências ao processo de exclusão impostas a sujeitos
analfabetos ou com pouca escolarização.
6
João Pedro entrevista concedida a Jiani Fernando Langaro em 28 de novembro de 2002, apud LANGARO
(2003, p. 30)
28
Trabalhadores que deixam de estudar para ajudar no orçamento da família perdem
oportunidades de trabalho, estar empregado é importante para estes sujeitos, mas a partir do
momento em que pretendem disputar por outras vagas a escolarização é reavaliada. Sandra
estava com 32 anos no momento em que realizei a entrevista, ela é natural de Chopinzinho-
PR e se mudou com a família para Marechal Cândido Rondon em 1992, quando tinha dez
anos. Ela iniciou seus estudos na comunidade rural ainda em Chopinzinho- PR e quando veio
para a cidade continuou estudando, mas em razão da doença do pai teve que começar a
trabalhar para ajudar nas despesas da família. Sobre esse percurso Sandra destacou:
Para Sandra, assim como para a maioria dos trabalhadores que enfrentam os limites da
escolarização formal frente às pressões de classe, continuar estudando depois de começar a
trabalhar é uma tarefa ainda mais desgastante, Sandra não lembra o ano que ingressou na EJA,
nem quando concluiu o ensino médio, mas foi algo que ocorreu entre 2004 e 2005.
Percebemos que Sandra não confere muita importância para a data da conclusão do
ensino básico, porque para ela o que importa é que terminou. A trabalhadora apresenta em sua
narrativa as condições que antes a afastaram da escola, sugerindo que a princípio tentou
conciliar estudo e trabalho, mas ajudar na renda familiar para contribuir com os gastos
necessários autorizava desistir da escola e continuar apenas com o trabalho para ajudar a
família.
Talvez deixar a escola naquele momento não foi uma decisão apenas sua, mas
percebendo as dificuldades da mãe, que necessitava da sua ajuda para não deixar faltar o
sustento da família assim como os remédios do pai, essa decisão aparecia como necessária e
moralmente difícil de não realizar.
Sandra não foi obrigada a deixar a escola como Sueli e Helena, mas a condição
imposta aqui a fez reavaliar as necessidades mais urgentes que envolviam sua família no
momento, além do mais, não suportava a sobrecarga expressa entre trabalhar e estudar, fato
que a fez optar por largar a escola, “eu não aguentava mais trabalha e estuda né.”. Dito de
outro modo, a escolarização não é levada a qualquer custo por muitos trabalhadores, mesmo
que essa não tenha sido uma restrição imposta em casa, muitas vezes ela vem da sobrecarga
7
SANDRA (pseudônimo). Entrevista concedida em 01 de maio de 2014, em sua residência em Marechal
Cândido Rondon. Ex-aluna da EJA, ensino médio completo.
29
de afazeres e da avaliação de que descansar ou auxiliar em casa com mais calma era o melhor
a fazer naquele momento.
Sandra se afasta da escola por entender que já estava empregada e não necessitava de
escolarização para trabalhar, pelo menos de imediato, permanecendo em ocupações que
considerava possíveis de realizar. Porém, logo percebeu que as vagas de trabalho em
supermercados e indústrias (postos que foi ocupar), as quais estavam disponíveis naquele
momento, trouxeram por um bom tempo carga horária exaustiva e baixa remuneração, então
começou a avaliar que para melhorar esta condição precisava voltar para sala de aula. Mais do
que responderem às demandas das vagas do mercado de trabalho, os trabalhadores avaliam o
que nesse mercado dialoga com as suas expectativas em determinados momentos seja para
sair seja retornar às salas de aula.
Ao ser questionada sobre o porquê do seu retorno à escola, ela responde, “Na verdade
eu quis concluí, justamente pelo fato de preenchê currículo num emprego né? A maioria pede
o segundo grau completo, segundo grau”. Portanto, para ela o retorno à escolarização tem
como função imediata conseguir uma ocupação menos desgastante e melhor remunerada.
Porém, isso não define todas as questões as quais Sandra precisa avaliar para tomar
essa decisão pelo retorno. Atualmente ela é costureira em uma fábrica de lingerie na cidade,
mas está afastada do trabalho. O esforço repetitivo dentro da fábrica lhe causou uma lesão nos
pulsos (LER), em função disso está em tratamento. Portanto, queixa-se de muitas dores e,
provavelmente, terá que ir para Curitiba fazer cirurgia, mas por não ter ajuda de custos da
empresa em que trabalha depende do agendamento e dos serviços vinculados à saúde pública,
tornando seu tratamento mais demorado e complicado.
Para Sandra, voltar para a sala de aula não alterou sua condição. O fato de ter a sua
saúde prejudicada por causa do trabalho é agora mais um problema que Sandra precisa
enfrentar. Problemas de saúde são comuns entre trabalhadores que exercem funções que
exigem rapidez, sobrecarga de peso, excesso de horas de trabalho, posições prejudiciais à
saúde etc... Este é um fator que faz muitos trabalhadores avaliarem o retorno à escolarização
vendo-a como uma das formas de se desvincularem dessas atividades.
Sandra percebendo que o trabalho que exercia prejudicou sua saúde, acreditou que ao
“preencher currículo” com formação básica isso bastaria para essa mudança, porém, logo se
da conta que é preciso ir além, ”Eu tô fazendo curso, eu tô fazendo agora auxiliar de
veterinária né? Uma coisa diferente, eu pretendo uma hora engajar em outra área.”8. Sandra
8
SANDRA (pseudônimo). Entrevista concedida em 01 de maio de 2014, em sua residência em Marechal
Cândido Rondon. Ex-aluna da EJA, ensino médio completo.
30
almeja outras atividades, que possam ser melhor remuneradas e sem as marcas do excesso de
trabalho em sua saúde.
Como percebemos, muitos trabalhadores ao percorrer o caminho da escolarização
apostam em mudanças, então, a escolaridade básica não passa apenas por um salário melhor,
mas sim em redimir o sujeito de certas marcas de desigualdade seja por melhor saber se
expressar, compreender e, principalmente, por pertencer a uma classe cuja escolarização faz
parte das conquistas que almejam frente à visibilidade e o convívio classista que enfrentam
rotineiramente .
Ao analisarmos a trajetória de João, 52 anos no momento da entrevista, entendemos
que seu percurso até Marechal Cândido Rondon começou há muito tempo atrás e com
algumas peculiaridades, pois conseguiu materialmente alterar a condição de classe que
marcou sua infância e juventude. Ele veio de Minas Gerais aos dez anos de idade, com os pais
e irmãos. Chegou ao Paraná em 1975, a princípio, na cidade de Palotina por um curto período
e, em seguida, foram para uma comunidade rural pertencente à Marechal Cândido Rondon,
onde estudou por um período. Ao ser questionado sobre o motivo que o levou a abandonar a
escola ele diz:
9
JOÃO (pseudônimo). Entrevista concedida em 23 de abril de 2014, em Marechal Cândido Rondon. Ex-aluno
da EJA.
10
O Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) foi um projeto do governo brasileiro, criado pela Lei n°
5.379, de 15 de dezembro de 1967, e propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando, conforme
o documento "conduzir a pessoa humana a adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo como meio de integrá-la
a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida". Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Brasileiro_de_Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o>. Acesso: fevereiro
2016.
31
sobrevivência, pois havia três irmãos mais novos para ajudar a criar, essas pressões são
indicadas por ele como... "então tinha que lutar”. João dá ênfase ao termo “lutar,” indicando
ser este motivo pela sua decisão de abandonar os estudos, argumentando contra possíveis
julgamentos pejorativos diante desta decisão, pois, mesmo havendo elementos que podem
legitimar sua atitude, estudar era e é visto por muitos no convívio social como atividade
obrigatória.
Ao ser perguntado sobre como era sua jornada na segunda metade da década de 1970,
ele relata:
Eu começava sete horas até o meio dia, vinha em casa almoçava ligeiro,
começava as uma e meia e dai voltava e dai tipo começava no serviço seis e
meia sete horas e dai não dava tempo nem de toma um banho, nem de toma
um café. Ia pro colégio com a barriga roncando de fome. Aí eu falei não, vou
parar.11
Assim como Sandra, João avaliou que trabalhar e estudar não eram possíveis naquele
momento de suas vidas, pois o trabalho era o modo de levar o sustento para dentro de casa,
assim como a necessidade de procurar por um emprego e se empenhar o máximo para
continuar nele. Porém, ao voltar para sala de aula anos depois suas expectativas quanto à
escolarização se diferenciam em alguns pontos, pois a realidade de cada na atualidade se
coloca distintamente. Sandra continuou com suas possibilidades de trabalho limitadas, além
de estar doente, enquanto João, pelo fato de apresentar-se na última década como pequeno
empresário, acredita ter que demonstrar nas novas relações sociais a equivalência entre sua
condição financeira e escolarização e, para isso, a escolarização tardia na EJA funcionou.
Para ele, essa era uma tentativa de retirar uma marca da exploração de classe. A falta
de estudos, historicamente vem acompanhada de uma trajetória de trabalhador com
dificuldades de escolarizar-se. É isso que João sabe e tentou alterar quando durante a
entrevista avalia que hoje está em outro momento em sua vida e só lhe falta o estudo.
Na luta cotidiana destes sujeitos que estão sempre confrontando realidade e
expectativas, estão também procurando formas de enfrentar as suas condições de classe. Neste
caso, a escolarização básica não é vista como mecanismo propulsor de mudança, mas como
parte dessa mudança.
11
Ibidem.
32
Gabriel12, outro entrevistado para essa pesquisa, frisa que é preciso buscar por cursos
além do básico, alguns pelo fato de desejar um curso superior, outros por perceber que apenas
o saber desempenhar bem sua função não é suficiente para serem reconhecidos como
profissionais e remunerados como tal.
Gabriel tinha 34 anos no momento da entrevista, nascido em São Roque, distrito de
Marechal Cândido Rondon, estudou na escolinha da comunidade até a oitava série e se mudou
para a cidade para trabalhar como servente de pedreiro em 2003, quando estava com 21 anos.
Foi também motorista de caminhão por um período e, atualmente, trabalha como marceneiro.
Por duas vezes Gabriel ingressou na EJA, conforme sua avaliação, na tentativa de terminar o
ensino médio, mas não conseguiu concluir. Questionado sobre qual seria o caminho a seguir
quando concluísse o ensino médio, ele indicou o interesse por cursos técnicos na área de
designer, “A minha área ali é desenhá né?”.13
Gabriel avalia a escolarização como um caminho para melhorar sua condição como
trabalhador, pois ter em mãos um diploma de designer o diferenciaria de outros trabalhadores
e das relações que estabelece no seu trabalho, condição que não tem atualmente, ou seja, uma
formação superior na sua visão lhe conferiria um status mais elevado do que o saber fazer o
trabalho. Um entendimento advindo de conflitos e tensões, pois para ele um trabalhador pode
ser o melhor na sua profissão, mas se não possuir um diploma, às vezes, é apenas um
trabalhador com um cargo mal remunerado a serviço de seu superior.
Apesar de Gabriel observar a importância da escolarização, acredita que aquilo tudo é
muito pouco, talvez isso explique o motivo dele ter retornado e largado os estudos por várias
vezes, alegando não ter tempo para se dedicar ao estudo e reclamando do método usado pela
instituição na distribuição das aulas, assim como do conteúdo apresentado.
12
GABRIEL, (pseudônimo). Entrevista concedida em 21 de abril de 2014, em sua residência em Marechal
Cândido Rondon. Ex-aluno da EJA, ensino médio incompleto.
13
Ibidem.
14
Ibidem.
33
Gabriel demonstra que seu interesse é apenas a conclusão do ensino médio, mas tudo
aquilo demora muito, para ele o importante é ter logo o “diploma”, que atribui a ele um grau
de instrução. Destaca que não vê nesta modalidade de ensino um conteúdo correspondente às
suas necessidades de aprendizado, para ele a proposta de ensino na EJA não atende às suas
expectativas, pois o que ele quer mesmo é estudar sobre aquilo que lhe vai ser útil mais
adiante, ou ainda, o que alteraria sua condição de simples marceneiro.
O programa de ensino da EJA, conforme documentação escolar do Colégio Paulo
Freire, foi desenvolvido para “Preparar o aluno ao exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho”15, propõe estabelecer mediações entre seus alunos e o mercado de trabalho,
porém este mesmo programa não é visto como uma garantia de um emprego melhor ou uma
mudança significativa na vida dos sujeitos que dele participam, pois como percebemos com
Gabriel, para ele o estudo na EJA precisa de adequações, não atende às necessidades dos
estudantes, a não ser o “diploma”, “Só pelo tê... o como que fala? ah, diploma do estudo, você
vai tá... pra você preenchê o... vamo supor um currículo ali, mais se você não tivé um curso,
alguma coisa, você continua ainda o mesmo né?”16. Essa última frase em grande parte é o que
faz por muitas vezes retornar o desejo de alterar esse continuar "o mesmo".
Freitas e Santos (2010) ao discutirem sobre trabalhadores em sala de aula e o ensino
de história, contribuem para esta reflexão trazendo algumas expectativas e avaliações destes
sujeitos quanto à escolarização e as expectativas desses estudantes. Ao problematizarem o
texto de um aluno que buscou a escolarização pela EJA, o qual acreditava que este era o
caminho para recuperar o tempo perdido com o afastamento e, também, abrir possibilidades
para conquistar um trabalho melhor. Emerson apresentou suas frustrações com o que
vivenciou nas aulas da EJA, abaixo destaco uma passagem do texto produzido por ele e citado
pelos autores;
Está é uma História real que aconteceu, ou ainda acontece com várias
pessoas, que assim como eu acreditaram em um programa educacional
totalmente incapaz de capacitar uma pessoa para concorrência no mercado
de trabalho.17
Assim como os pesquisadores que dialogaram com Emerson, também percebemos que
grande número de estudantes, inclusive eu, se sentiram desapontados com a escolarização da
15
MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Projeto Político Pedagógico Colégio Paulo Freire. 2010. p. 35.
16
GABRIEL, (pseudônimo). Entrevista concedida em 21 de abril de 2014, em sua residência em Marechal
Cândido Rondon. Ex-aluno da EJA.
17
EMERSON. Produção de texto em oficina realizada pelos autores apud FREITAS; SANTOS (2010.p. 102).
34
EJA, pois para grande parte dos estudantes que retornam às salas de aula há uma crença na
mudança a partir da escolarização. Muitos, ao ingressarem no programa, percebem que nada
ou pouca coisa muda, apesar da política do programa da EJA anunciar um compromisso
importante com esse estudante, pouco dessa proposição é vista no dia a dia não só pelos
estudantes, mas pela comunidade escolar.
Em conversa com professores e funcionários da secretaria do Colégio Paulo Freire as
fragilidades do sistema EJA se associa aos demais níveis, com isso o seu objetivo não ganha
efetividade conforme quem foi vivenciá-lo. Portanto, quando dizem que “A Educação de
Jovens e Adultos, deve desempenhar ainda três funções básicas: reparadora, equalizadora e
qualificadora.” (MARECHAL CÂNDIDO RONDON, 2010, p. 36) é preciso questionar como
esses princípios podem se tornar reais, para além de um plano educacional e um PPP.
No documento, há uma repetição e associação de noções que vão do interesse em
reparar o processo de desigualdade na vida de sujeitos sem escolarização assim como criar
situações que possibilitem a “aprendizagem específica de alunos jovens e adultos” oferecer
“igualdade de oportunidades, possibilitando aos indivíduos novas inserções no mundo do
trabalho” e ainda construir um conhecimento qualificado onde sujeitos de todas as idades
possam construir “habilidades, competência e valores que transcendam os espaços formais da
escolaridade e conduzam a realização de si.” (IBIDEM).
Ao analisar as fichas dos estudantes na secretaria do Colégio Paulo Freire, a maioria
que tive contato continham apenas a inscrição do aluno e algumas informações sobre as
disciplinas que deveriam cumprir, poucas traziam informes sobre a continuidade e/ou
conclusão da EJA, seja fundamental ou médio. Não visualizei nenhuma preocupação em
atualizar aquelas fichas, uma vez que o sistema agora é informatizado e não pude ter acesso
para melhor cotejar tais registros e perceber como é o fluxo de estudantes e a trajetória escolar
apresentavam. No limite de meu acesso, pude apenas analisar um caderno em que alguns
poucos nomes manuscritos eram mencionados e o motivo do pedido de comprovante de
conclusão de curso.
Nesse momento, ao procurar por meu nome não encontrei. Uma das encarregadas da
secretaria me disse que por muitos se matricularem e não comparecerem às aulas, ou mesmo,
as muitas desistências e retornos, tornava difícil o acompanhamento de todos. Desse modo,
acabei desistindo desse material, por não reconhecer no caderno um registro plausível da
realidade vivenciada na EJA do Colégio Paulo Freire.
Pensando esse contexto de reflexão sobre a política educacional da EJA, Malacarne
(2002) em sua análise do PPP da EJA em Marechal Cândido Rondon, faz a seguinte
35
avaliação, “O P.P.P apresenta a escola como local que transmite conhecimento que
possibilitam a relação dos alunos com o mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, estabelece a
escola como o local de transformação da realidade social”.(IBIDEM, p. 21). De acordo com a
autora, os “princípios pedagógicos do P.P.P.” da EJA na cidade estão atribuídos à educação
EJA um papel nivelador do desequilíbrio do mercado e não das desigualdades sociais,
desequilíbrio este indicado como falta de qualificação para o mercado de trabalho.
Ainda assim, o uso que os trabalhadores fazem desse espaço é diverso e foge, muitas
vezes, dessa mecânica de escolarização para o trabalho, muitos veem ali um espaço de
sociabilidade e de alterar certas relações e modos de viver a cidade que tiveram até então,
configurando, inclusive, uma atuação confrontante ao processo de exclusão que
experimentaram.
Porém, assim como Emerson, Gabriel e tantos outros estudantes que passaram pelas
salas da EJA, não percebem uma mudança efetiva nas relações de desigualdade diante do
avanço na escolarização formal, não percebem um compromisso do programa em relação às
suas dificuldades, pelo contrário, sentem-se incluídos em um processo que os diferencia ainda
mais perante a sociedade, pois em um sistema capitalista como o nosso as oportunidades são
medidas pela condição de classe que cada um traz para disputar socialmente, sendo assim, a
educação da EJA, como outros níveis da educação básica pública não trazem o que forjou
enquanto política educacional para instrumentalizar os trabalhadores para a disputa social, se
isso ocorre é de forma residual e incipiente.
Além do mais os alunos da EJA precisam lidar com a visão pejorativa de parte da
sociedade sobre os sujeitos que buscam esse sistema para se escolarizar. Clara, que
atualmente é estudante da EJA, mencionou em nossa conversa que se orgulha de estudar
naquela instituição e atribui grande valor a isso, mas afirma que os alunos sofrem com a
desqualificação dessa modalidade de ensino.Ao ser questionada sobre como vê a instituição,
ela afirma, “Muito boa! A gente é bastante respeitada aqui, pelo contrário né... que muita
gente fala né, quando a gente fala “tô fazendo EJA” e as pessoa fala “meu Deus não vai
aprende nada” né “ai só vai pega o canudo”, não é verdade!”.18
Como ex-aluna daquela modalidade de ensino não posso deixar de destacar a minha
preocupação com a forma de ensino ali conferida, como de modo geral o distanciamento
existente entre o documento burocrática e a realidade da educação pública, que para mim
pouco contribui para um processo seletivo posterior. Na minha avaliação é apenas um espaço
18
CLARA ( pseudônimo ) Entrevista concedida em 24 de março de 2015, no Colégio Paulo Freire, em Marechal
Cândido Rondon, estudante da EJA.
36
de aprendizagem básica e troca de experiência, assim como avalia Sandra quando questionada
sobre a qualidade de ensino na EJA e sua preparação para o trabalho, ela ressalta, “Eu acho
que faltaria alguma coisa”.19
A proposta de ensino tem dificuldades de se efetivar, mesmo que alguns alunos
acreditem na proposta e atribua as falhas aos próprios alunos, como alerta João, “Tem gente
que vai lá e roda, os cara que se esforça chega lá e passa.”20, porém, lembramos que João não
buscou a EJA com o objetivo de se qualificar para o trabalho ou ingressar no ensino superior.
Portanto, entendemos que além das possibilidades limitadas da classe trabalhadora em ter
acesso à escolarização, muitas vezes, ao buscar pela escolarização, anos depois, sabem dessa
distinção que paira sobre a EJA e a reconhecem no dia a dia.
Ao pensar sobre isso me pergunto porque, ainda assim, muitos permanecem ou
procuram o programa acreditando ser este um caminho que os proporcione certa inclusão no
mundo educacional do qual, por várias circunstâncias se viram a parte, e como avaliam esse
retorno frente às suas alternativas de mudança.
Apesar de certa avaliação negativa, por vezes esta escolarização pode proporcionar o
alcance de objetivos, não só atendendo a currículos com a conclusão do ensino básico, sem
levar em conta as falhas desta formação, mas quando esses estudantes conferem importância a
tal programa, pois como destacam Freitas e Santos(2010), isso acontença
Boa parte da classe trabalhadora que busca o ensino da EJA continua lidando com a
exclusão, pois até mesmo a instituição que se diz voltada à classe trabalhadora atende,
sobremaneira, às exigências da classe dominante, que além de ser indiferente às pressões e
limites dos trabalhadores, atribui a estes as falhas do processo de ensino (por não se
comprometerem, faltarem, chegarem atrasados etc.).
Ao analisarmos a trajetória de Clara, 37 anos, dezoito anos trabalhando como diarista,
nascida e criada em uma fazenda próxima a Campo Mourão, veio para Marechal Cândido
Rondon com doze anos. Em nossa conversa, destacou que parou de estudar na oitava série,
casou aos dezessete e só conseguiu retomar os estudos depois do falecimento do marido, em
19
SANDRA, (pseudônimo ) Entrevista concedida em 01 de maio de 2014, em sua residência em Marechal
Cândido Rondon. Ex-aluna da EJA.
20
JOÃO, ( pseudônimo ). Entrevista concedida em 23 de abril de 2014, em Marechal Cândido Rondon. Ex-
aluno da EJA.
37
2013, quando ingressou na EJA. Ela afirma que não voltou a estudar para melhorar de vida,
mas voltou para a sala de aula para “ocupar a cabeça”;
Na sua narrativa, Clara apresenta que a escolarização não é uma necessidade cotidiana
para exercer seu trabalho, mas aponta o desejo de concluir a escolarização básica e fazer um
curso superior, pois apesar de dizer, “Eu nem preciso disso”, mais adiante percebemos a
contradição da sua fala quando ela enfatiza;
Você num pode tenta nada. Eu sempre quis faze um concurso público,
qualqué coisa né? Você num pode tenta nada. O máximo que você consegue,
que nem, eu sou diarista né? O máximo que você consegue é isso. Tipo
assim, numa lojinha, uma coisa assim, mas vai ganha muito pouco né? Por
não te estudo.22
Trabalhar como diarista é uma das poucas opções de trabalho para pessoas com pouca
escolaridade, para a entrevistada a falta de estudo limitava sua chance de conseguir outra
ocupação. “Nem tentei porque sabia que num ia consegui,”23, percebemos que a escolha da
entrevistada por essa atividade foi determinada pela pouca escolarização e facilidade de se
inserir nas relações de trabalho a partir dessa atividade. Ela avalia as exigências do mercado
de trabalho e seus próprios limites, destacando a leitura que se faz sobre esse trabalho, "eu sou
diarista né", pois ainda que o ganho seja satisfatório, a exposição dessa ocupação,
socialmente, é carregada de desvalorização e da indicação de um não saber fazer mais nada.
Para compreendermos um pouco mais essa avaliação, voltamos à discussão
desenvolvida por Alessandro Portelli (1996), acerca das possibilidades, a reformulação dos
significados subjetivos atribuídos aos fatos.
21
CLARA (pseudônimo). Entrevista concedida em 24 de março de 2015, em Marechal Cândido Rondon,
estudante da EJA no momento da entrevista
22
Ibidem.
23
Ibidem.
38
A palavra-chave aqui é possibilidade. No plano textual a representatividade
das fontes orais e das memórias se mede pela capacidade de abrir e delinear
o campo das possibilidades expressivas. No plano dos conteúdos, mede-se
não tanto pela reconstrução da experiência concreta, mas pelo delinear da
esfera subjetiva da experiência imaginável: não tanto o que acontece
materialmente com as pessoas, mas o que pessoas sabem ou imaginam que
possa suceder. E é o complexo horizonte das possibilidades o que constrói o
âmbito de uma subjetividade socialmente compartilhada. (IBIDEM, p. 70)
39
Sendo assim, ter um nível maior de escolarização não lhes proporciona, apenas,
chances de um emprego melhor, junto a isso podem aspirar por distinção de classe,
diferenciação em relação aos sujeitos que permanecem à margem da escolarização, assim
como uma segurança para estes indivíduos que com mais escolarização poderão se defender
melhor no dia a dia contra possíveis artifícios usados por aqueles que se aproveitam da falta
de estudo e de compreensão de contratos e burocracias, algo ainda comum para muitos
trabalhadores, mesmo aqueles que frequentaram ou possuem ensino básico.
Ana Paula, com 27 anos no momento da entrevista, diz que saiu da comunidade rural
que vivia com seus pais em São José das Palmeiras para trabalhar em Marechal Cândido
Rondon, como auxiliar de produção no frigorífico de frangos, onde já trabalha há oito anos.
Em nossa conversa destacou a grande dificuldade que teve em se adaptar na cidade;
Importante analisar que Ana Paula mesmo apontando suas dificuldades em adaptação
com o ritmo de vida na cidade evidencia que precisa continuar e lutar por uma condição de
vida diferente da que possuía na roça e condiciona essa possibilidade à escolarização para
manter essa nova aposta e viver na cidade:
Você qué um calçado bão, você qué te uma roupa boa, se um dia se quisé te
um carro, uma casa, uma moto, a gente tem que estuda pra isso, você vai te
que batalha pra isso. Se a gente num estuda a gente consegue um emprego
sim, com certeza, você pode te estudo e num tê, só que num é aquela coisa
que a gente sempre qué né?25
Ana Paula, então, aponta que seu objetivo é buscar outros caminhos que lhe
proporcionem uma renda melhor, assim como uma alteração nos limites de classe
experimentados em São José das Palmeiras, escassez de alimentação, vestuário, dinheiro. Para
tanto, a escolarização apareceu como um mecanismo de integração, de tentar alterar
caminhos, mas fazer algo que pudesse corresponder à sua trajetória e uma profissão.
Como eu sempre fui criada na roça né? Eu quis ser agrônoma né? Mas aqui
24
ANA PAULA. (pseudônimo). Entrevista concedida em 24 de março de 2015, em Marechal Cândido Rondon,
estudante da EJA no momento da entrevista.
25
Ibidem.
40
na nossa região é muito difícil né? Aí eu se tive aquela oportunidade sair do
Estado né? Procura outros emprego pra fora... mas acredito que
administração também seria bom pra mim. Tinha vontade de faze
administração também. Aí agora um curso, eu queria faze um curso técnico
de segurança, segurança de trabalho. Que nem lá na empresa precisa bastante
né? É bem cobrado. Gostaria muito de fazer também.26
A entrevistada traz um conjunto de curso, a ser ver do mais concorrido ao que poderia
estar mais próxima de alcançar, o curso técnico de segurança, uma vez que esse tem mercado,
é mais bem remunerado do que a ocupação que tem no momento e traria uma melhor
qualidade de vida, pela renda e pelas condições de trabalho que propicia. Com isso a
escolarização foi gradativamente sendo alterada nas expectativas de Ana Paula por avaliar a
dificuldade em competir com outros estudantes que queiram ser agrônomos, mas que partiram
de uma formação melhor que a sua. Desse modo, Ana Paula, não avalia apenas suas
expectativas, mas em que campo de possibilidades elas podem se realizar.
Sobre esta questão Langaro (2003) traz o apontamento de Enguita (1989), sobre o fato
de a escolarização ser “compreendida como uma forma de tornar aptos os trabalhadores para
assumirem cargos considerados superiores. É considerada, portanto, como meio para a
ascensão social.” (ENGUITA apud LANGARO, 2003, p. 64). Langaro prossegue,
A escola exerce aqui um duplo papel. Por um lado abre uma via, embora
para a maioria seja mais aparente que real, através da qual é possível
melhorar a posição de indivíduos e grupos dentro dos cursos de ação
estabelecidos e aceitos e sem riscos de desembocar em um conflito aberto.
Fundamentalmente, permite aos grupos ocupacionais reforçar sua posição
controlando a possibilidade de acessos aos mesmos, as quais são restringidas
através de elevação das exigências em termos educacionais; e, sobretudo,
permite aos indivíduos lutar pessoalmente para mudar de grupo, para
acender a outro situando em uma posição mais desejável. Na realidade, a
escola é hoje o principal mecanismo de legitimação meritocrática de nossa
sociedade, pois supõe-se que através dela tem lugar um seleção objetiva dos
mais capazes para o desempenho das funções mais relevante, às quais s
associam também recompensas mais elevadas. (IBIDEM)
Com isso, o autor afirma que grande parte dos sujeitos buscam melhorar
individualmente suas posições e a escolarização é uma das alternativas para isso. Deste modo,
a escolarização pode ser vista como um mecanismo de distinção, assumindo, como aponta
Langaro um caráter meritocrático, não levando em conta o contexto social vivido por muitos
trabalhadores que não possuem acesso a um ensino de qualidade, o que torna necessário
compreender a conjuntura na qual o sujeito está inserido, a trajetória de cada um e as relações
sociais que interferem a todo o momento nos caminhos escolhidos por eles.
26
Ibidem.
41
Willian, 34 anos natural de Margarida, interior de Marechal Cândido Rondon, ingressou
na instituição de ensino da EJA em 2015. Willian saiu de casa aos 15 anos para trabalhar e
estudar, mas evidencia na sua entrevista que seu objetivo mesmo era trabalhar e sair de casa.
Veja que em meados da década de 1990, Willian saiu da comunidade rural para se empregar
na cidade, diz que logo abandonou a escola porque esse não era o ponto principal para suas
expectativas de mudança naquele momento. Evidentemente, ao dialogar com a minha
pesquisa, aponta as dificuldades de continuar os estudos, sugerindo que não prosseguiu pela
impossibilidade de horários, “Porque como eu era operador de máquina lá... só que era de
empacotamento de farinha né? E daí eu tinha que trabalha às vezes até nove horas, nove e
meia e não tinha outro operador, daí eu tinha que fica né!” 27.
Para compreender as motivações contraditórias desses sujeitos é necessário analisar as
narrativas, para observar como eles conciliam (ou não) trabalho e estudo, pois passam o dia
trabalhando e a noite têm o compromisso de ir para a escola; outros saem da sala de aula para
o trabalho, assim como tem suas responsabilidades com a família, pois o trabalho é o que
possibilita o sustento destes sujeitos e em grande medida é colocado em primeiro lugar, como
destacou Willian:
Aí, tem que como se diz, faze uma observação ali assim porque é uma carga
muito pesado né? Trabalho, família, escola, então se torna meio
sobrecarregado daí então as vez pode ser então que eles vão opta numa carga
assim muito sobre, como é que se diz, que eles tão levando ali eles não vão
larga a família e continua os estudo, ou larga o trabalho né? Porque o
trabalho hoje em dia é em primeiro lugar. Você vai colocar a família em
primeiro lugar e depois o trabalho mas... se vai sustenta a família de que
jeito? O trabalho é o primeiro item, o trabalho daí a família e daí o restante.28
30
WILLIAN (pseudônimo). Entrevista concedida em 24 de março de 2015, em Marechal Cândido Rondon,
estudante da EJA no momento da entrevista.
31
Ibidem.
43
processo e como contribuir para alterá-lo nos dias atuais. De todo modo, podemos afirmar que
a escolarização é de fato mais um mecanismo importante para a classe trabalhadora intervir e
alterar sua inserção social.
44
Capítulo II
Viver na Cidade: escolarização e trabalho
34
CLAUDIA (pseudônimo) [FICHA CADASTRAL]. Marechal Cândido Rondon-PR, Inscrição em 19/08/2004,
último cadastro em 17/03/2010. Ficha Individual de Cadastro de Candidatos às vagas no SINE. p. 3.
47
parecia muito pouco para o sustento de sete pessoas, isso significa que ela deveria lidar com a
complexidade de sua situação e buscar por vagas de maior disponibilidade. Porém, isto não
significa que Cláudia aceitaria as condições de trabalho oferecidas sem avaliar outras
oportunidades.
A falta de estudo pode limitar as oportunidades, mas não a expectativa dos
trabalhadores frente ao mercado de trabalho, eles sabem que a proposta de formar os
trabalhadores para o trabalho é constante e intensificada nos últimos anos. Crianças e jovens
da classe trabalhadora são orientados a vincular escolarização e formação para o trabalho
desde cedo. Nesse intuito, as ações patronais insistem em explorar a relação entre o sucesso
profissional e pessoal, indicando-a a partir da noção de mérito, atribuindo conquistas pessoais
ao esforço e aproveitamento de oportunidades.
Diante disso, muitos trabalhadores que abandonaram as salas de aula procuram por
cursos profissionalizantes para ampliar suas oportunidades de um modo mais rápido do que a
sequência dos estudos. Isso foi o que Mariana procurou realizar. Na sua ficha indica a
realização de um treinamento na área de Eletricidade e Gás, indicando aí estratégias para
melhorar sua condição, com consciência da desigualdade vivida nas relações de poder, mas
procurando abrir campos de possibilidade enfrentando os limites de sua formação e alteração
dessa realidade.
Porém, aproveitar oportunidades ou poder investir em uma escolarização formal é uma
realidade não muito próxima para muitos sujeitos oriundos da classe trabalhadora, marcados
que são por relações que os apresentam em uma realidade intricada de decisões contraditórias
e desiguais. O sucesso ou insucesso está ligado ao campo de possibilidades no qual este
sujeito está inserido, onde relações de poder interferem em suas decisões, inclusive se vale
mais retomar as salas de aula ou realizar um curso de capacitação profissional. O universo de
convívio dos trabalhadores é repleto de tensões e essa decisão também não se faz fora dessa
confrontação.
De acordo com Thompson (1998) o capitalismo produziu transformações profundas
nas relações de trabalho a partir do século XVII, a sociedade industrial, particularmente a
inglesa, indicou a seus estudos novas mudanças no controle social, inclusive do tempo. A
inserção do relógio contribuiu para o controle da vida profissional e privada dos
trabalhadores, procurando transformar seus hábitos e valores, o que em grande medida
continua como questão na contemporaneidade assim como no enfrentamento dessas classes,
tanto pela intensificação da exploração como pelas ações de controle, procurando determinar
48
a vida desses sujeitos (em relação à organização do tempo, vagas a ocupar, ganho, lazer e
possibilidades de alterar relações de trabalho).
Ao pensar a escolarização como uma das frentes utilizadas na tentativa de adequação
dos sujeitos para o mercado de trabalho, através das instituições educacionais, é preciso
refletir sobre as constantes mudanças e cobranças por parte dos empregadores exigindo do
trabalhador uma adequação ao mercado e à formação almejada. Porém, nem sempre estes
trabalhadores têm em mente se capacitar para o trabalho, pois o que desejam é encontrar um
trabalho que esteja dentro de suas perspectivas e mesmo que realizem algum curso isso não
significa que permaneçam ou se insiram na função que se qualificaram, pois no universo do
trabalho, mesmo limitado, permite ao trabalhador manter-se em constante avaliação, buscando
por ocupações que atendem suas perspectivas, como nos aponta Santos (2015, p. 39), “seja
através da avaliação de elementos como remuneração e extensão da jornada de trabalho, seja
ponderando sobre a preferência e/ou maior indisposição com a realização de certas funções.”.
O autor problematiza os modos que os trabalhadores se utilizam para lidar com as
relações de trabalho na cidade, buscando entender a dinâmica desta vagas na cidade e o que
poderia atender às suas urgências, mas também às suas expectativas. Sendo que, o movimento
dos trabalhadores na cidade é marcado por posições que a todo o momento são reavaliadas,
logo entendemos que voltar a estudar não significa que estes sujeitos permaneçam nas funções
que se qualificaram, mas sim, que dentro de seus limites o que importa é abrir mais algumas
frentes de ação para que tenham margem para promover decisões mesmo em relações
desiguais.
Contudo, outros pesquisadores apontam que o trabalhador sente a obrigação de buscar
um aperfeiçoamento, uma vez que não vê possibilidades tranquilas de prosseguir outras
frentes de formação (curso universitário, por exemplo), por isso atende ao apelo empresarial,
“tornando-se polivalente e respondendo com rapidez as demandas impostas ou corre o risco
de ser substituído por outro profissional mais qualificado e eficiente” (PECEGUEIRO;
LOZANO, 2014, p.12). Para esses autores, a educação é vista como algo que não passa de um
instrumento usado para controlar e adequar os trabalhadores ao que a classe patronal indica
como necessário para as frentes de trabalho.
A preocupação com a empregabilidade faz a relação com a escolarização ir além do
aprender a ler e escrever, e sim faz com que esses sujeitos busquem na escolarização uma
forma que lhe garanta estar mais bem preparado para certas atividades, por isso, o ensino
técnico ganha maior promoção que o ensino regular. Tudo isso, estimula os trabalhadores a se
valerem deste mecanismo de "formação" para uma possível disputa no campo do trabalho no
49
interior da classe, pois alguns trabalhadores acabam sendo colocados em postos de trabalho
inferiores por causa de pouca ou falta de escolarização quando na disputa com outros vistos
como mais qualificados.
Alguns trabalhadores, como Mariana e Cláudia, não retomam os estudos e, por vezes,
acumulam outras atividades para conseguirem aumentar seus ganhos, como destacado no
trabalho de Lagos (2014), algo que intensifica a exploração que vivenciam socialmente,
afetando sua qualidade de vida e priorizando resolver urgências que analisam estar em
condição desigual de disputá-la socialmente. Por isso, acabam se colocando em uma rotina de
afazeres desgastante, com aumento no ritmo de trabalho, mesmo que com baixa rentabilidade.
Há trabalhadores queanunciam nos classificados sua disposição em multiplicar
ocupações como forma de resolver os limites de classe experimentados na cidade em
determinadas vagas de trabalho, ou ainda, indicam que não é só a escolarização formal que
expõe seu saber fazer e saber viver. Muitos trabalhadores optam em se disponibilizar ao
trabalho através desses anúncios em jornais ou redes sociais, alguns indicando disposição para
certos trabalhos para as horas vagas, outros para ampliar o orçamento da família, e há aqueles
que procuram administrar seus próprios horários e ocupações, sugerindo que desejam escolher
“o onde e como trabalhar”, como destacado na análise de Freitas (2012, p.1).
Esses sujeitos estão dispostos a confrontar o dirigismo da classe dominante, assim
como dialogar com os limites de serem atendidos por vagas oferecidas pelo SINE, pois a
exigência de escolaridade pode ser encontrada em vários anúncios como indispensável,
indicando que trabalhadores que não possuem no mínimo o ensino médio não estão aptos em
ocupar muitas das vagas, como vemos nas seguintes anúncios de emprego presentes no site do
órgão:
Vendedora (1)
* Vendedora (feminino; maior de idade; ensino médio completo; ter experiência em
vendas; noção de informática; CNH A/B; simpática; comunicativa; responsável;
vendas; entrega de condicionais; organização do ambiente de trabalho).
Indispensável: Ensino Médio.
Local:MARECHAL CANDIDO RONDON (PR)
Padeiro (1)
* Padeiro (ambos os sexos; maior de idade; ensino médio completo; com
experiência; responsável).
Indispensável: Ensino Médio.
50
Local: MARECHAL CANDIDO RONDON (PR)
35
SINE> Vagas de Emprego em Marechal Cândido Rondon /PR. Disponível em:
<http://www.sine.com.br/vagas-empregos-em-marechal-candido-rondon-pr> Acesso: janeiro de 2016
51
Percebemos que a intenção do programa é de oferecer aos estudantes-trabalhadores
uma transformação que reconheça sua realidade social, mas o integre a certas necessidades
empresariais através da escolarização, principalmente para aqueles trabalhadores vindos do
campo e que encontram na cidade mais limites de oportunidades. Porém, esta transformação
tem como objetivo mediar os sujeitos ao mercado de trabalho de acordo com as exigências da
classe patronal.
Entre trabalhadores vindos para Marechal Cândido Rondon em busca de chances que
lhes propiciem uma vida melhor, alguns já passaram por várias mudanças, alternando outras
cidades entre o campo e o urbano desses municípios e muitos entendem que precisam se fixar
na cidade, mas as dificuldades são inúmeras e na procura por vencer esses obstáculos estes
sujeitos buscam na escolarização uma alternativa, que antes viam apenas na mudança para
cidade, mas que agora percebem que mais do que o lugar as condições para enfrentá-lo são as
mesmas de antes. Assim buscam a escola para melhor acesso ao trabalho e como mecanismo
propulsor no meio social, como aponta Gabriel quando questionado sobre como vive aqui na
cidade desde que chegou em 2003;
Gabriel: Pra um.... vamo supor, não que é vamos por entra na área... questão
da política né? mais vamo supor... tirando a questão da saúde, aqui é bom de
vive.
Janete: Você não pretende ir embora daqui?
Gabriel: Não, aqui é um lugar bão, porque bão pra você, se a gente tivesse
como invisti numa empresa, ponhá uma empresa, tivé condição de pagá uma
faculdade, uns curso pra você si formá e você invisti aqui, abri um escritório
daquela profissão que você se formô.36
36
GABRIEL, (pseudônimo). Entrevista concedida em 21 de abril de 2014, em sua residência em Marechal
Cândido Rondon. Ex-aluno da EJA, ensino médio incompleto.
52
as condições que lhes são impostas, seja retomando estudos ou qualificando-se conforme o
mercado seja permanecendo em vagas que em algum momento tiveram que se vincular, ainda
que indesejadas.
Estes sujeitos estão construindo formas e oportunidades, seja de melhorar o salário, ou
mudar as condições de trabalho que se submetem. Entretanto, dizer abertamente que essa é a
motivação para fazê-lo pode ser uma afirmação difícil, pois identifica os limites e escassez
com a qual vivencia as relações de poder na cidade, por isso, trabalhadores como a Ana Paula
tentam recompor as motivações para a escolarização, deixando a sociabilidade e a tentativa
mudar a realidade como possível motivação “É, pelo salário também seria uma ótima ideia.
Mas, mais pra fazê coisa diferente sabe? Não tanto pelo salário, mas mais pra fazê algo
diferente, nunca ficá na mema rotina sabe?”37
Ana Paula, há oito anos trabalha como auxiliar de produção em um frigorífico de
frangos e diz ter dificuldades em se adaptar à vida na cidade por ser da roça, ela expõe não
apenas seus projetos e ações, mas apesar das dificuldades expostas quer demonstrar que suas
escolhas podem lhe garantir um futuro melhor. Importante aqui é nos atentarmos para o
significado atribuído pelo entrevistado à sua fala e como este quer se apresentar no momento
da entrevista.
Esta é a riqueza das fontes orais, por apresentarem os fatos por outro ângulo de
observação, a característica específica dessa fonte está ligada intimamente com seu caráter
subjetivo, e por isso o pesquisador deve estar atento em como o fato é narrado, a sua
historicidade, mas deve também concentrar sua atenção aos sentidos elaborados pelo narrador,
procurando entender como o entrevistado interpreta os acontecimentos vividos por ele, como
constrói diferentes formas de lidar com as relações ao seu redor, ou seja, como constroem sua
narrativa ao se relacionarem com pressões e limites. Como afirma Khoury (2001):
As fontes orais são únicas e significativas por causa de seu enredo, ou
seja, do caminho no qual os materiais da história são organizados
pelos narradores para conta-lá. Por meio dessa organização cada
narrador dá uma interpretação da realidade e situa nela a si mesmo e
aos outros e é nesse sentido que as fontes orais se tornam
significativas para nós. (IBIDEM, p. 84)
38
QUALIFICAÇÃO ao mercado de trabalho é tema de curso gratuito na Acimacar. O Presente. Marechal
Cândido Rondon. 03/11/2015. Disponível em:
<http://www.opresente.com.br/marechal/2015/11/qualificacao-ao-mercado-de-trabalho-e-tema-de-curso-
gratuito-na-acimacar/1490622/ > Acesso janeiro de 2016.
54
Como podemos perceber no anúncio, o objetivo é a preparação do trabalhador para
melhor desenvolver seu trabalho, tornando este sujeito parte do processo de desenvolvimento
da empresa, ou seja, mais bem preparado para cumpri com as expectativas da classe patronal,
em momento algum essa proposta é pensada para o trabalhador e seus anseios.
A quantidade de cursos oferecidos pelo empresariado é enorme, estes cursos são
oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC39, declara como
missão qualificar os trabalhadores para o mercado de trabalho. Em Marechal Cândido Rondon
o SENAC foi fundado em 201440, e conforme destacado na imprensa em um ano de
funcionamento 2,2 mil trabalhadores passaram por uma de suas atividades de qualificação.
Porém, isso não significa que ao qualificar-se para alguma vaga disponível este trabalhador
ira exercer esta função, ou mesmo continuar buscando por outras qualificações para ampliar
suas possibilidades de trabalho.
O editorial apresenta de forma positiva a qualificação para o trabalho, evidenciando
que esta é a obrigação de todo bom profissional, pois uma boa qualificação pode transformar
a vida do trabalhador, “que traz não somente a segurança financeira à família, mas carrega
junto a dignidade de qualquer cidadão”41 Sendo assim, para os incentivadores destes
programas assim como para muitos trabalhadores estes cursos profissionalizantes são mais
importantes do que a escolarização que abandonou por causa do trabalho.
Digo isso, observando, inclusive os índices de abandono do ensino médio destacados
em matéria do jornal O Presente, sugerindo que na grande maioria dos casos isso acontece no
período noturno e o motivo é comum, a combinação estudo e trabalho.42 Na EJA, como nos
demais níveis, porém com uma oscilação maior, o abandono também é frequente, porém, não
há um acompanhamento de saída e retorno dos alunos mais sistemático, que indique as razões
para tal, sendo que esses estudantes não têm uma regularidade na continuidade de seus
estudos e no planejamento destes, como observado no primeiro capítulo.
Durante o levantamento de documentação, tive dificuldade em ter acesso aos dados
sobre a escolarização de trabalhadores junto às empresas. A única que consegui foi por meio
39
O SENAC é uma instituição privada, sem fins lucrativos, que investe (e também recebe recursos - públicos e
privados) na qualificação e formação profissional nas áreas de comércio e serviços.
40
EM um ano SENAC qualifica 2,2 mil trabalhadores na região. O Presente, Marechal Cândido Rondon, 26
de maio 2015. Disponível em <http://www.opresente.com.br/marechal/2015/05/em-um-ano-senac-qualifica-22-
mil-trabalhadores-na-regiao/1406498/> Acesso em janeiro de 2016.
41
EDITORIAL. É preciso saber fazer. O Presente, Marechal Cândido Rondon, 30 de abril 2015. Disponível em:
<http://www.opresente.com.br/blogs/editorial/2015/04/e-preciso-saber-fazer/44284/> Acesso em janeiro de 2016
42
TRABALHO é o principal motivo para abandono do ensino médio na região. O Presente, Marechal Cândido
Rondon, 23 de janeiro 2016. Disponível em: <http://www.opresente.com.br/geral/2016/01/trabalho-e-o-
principal-motivo-para-abandono-do-ensino-medio-na-regiao/2070248/> Acesso janeiro de 2016
55
de um questionário realizado com a gerência. A empresa ligada a uma rede de supermercados
teve um dos gerentes que se prontificou a preencher o questionário, que abordava perguntas
sobre a escolaridade dos funcionários. Em uma das questões perguntei se a empresa exigia, no
momento de contratar, alguma escolarização, ele respondeu;
Pré definida não. Porque geralmente os cargos disponíveis para contratação
são: empacotador, caixa e repositor. Dos que se destacam, alguns vão para
outras funções, onde contamos mais com a aptidão do que com a
escolaridade como pré-requisito.43
Sendo assim, fica evidente que nem mesmo para as empresas a escolarização formal se
coloca como um entrave para a contratação. Do mesmo sua alteração de cargo se apresenta
vinculada ao seu desempenho, ou melhor, se "destacar" no cumprimento do esperado pela
contratante, ainda assim, a grande maioria não vai se destacar.
Quando menciona que contam mais com “aptidão do que escolaridade,” mais uma vez
fica claro que, para o empresariado o trabalhador apenas precisa saber exercer sua função
disciplinarmente, sem necessidade de buscar por outros caminhos, pois para estas vagas (de
baixa remuneração) não é necessário ter escolaridade. Ao desconsiderar a escolarização do
trabalhador esta é uma tentativa de manter o controle das relações de trabalho, deixando em
baixos salários e carga horária abusiva a dinâmica almejada para que o destaque o leve a
"subir de cargo".
A relação de poder estabelecida é pautada pela noção de favor, isto é, para o
empresariado, o trabalhador mesmo sem qualificação aceito, como se a empresa fizesse o
favor de contratar, assim como o favor de mudar de cargo, ainda que não tenha formação
específica. Tudo isso favorece uma visão de que o trabalhador, grato por essa relação, não
pudesse reivindicar melhorias ou mudanças nas relações de trabalho, uma vez que lhe foi
"dada" essa chance. Essa leitura pretende constranger a relação de trabalho e retirar de cena
tensões desse processo. Essa utopia capitalista não ganha esses contornos nas relações
práticas, por mais que se oprima e explore as limitações dos trabalhadores nessa disputa, a
confrontação está sempre latente.
Quando perguntamos se contratassem um funcionário com mais escolaridade teria
diferenciação salarial, ele respondeu que “não”. Com isso, entendo esta resposta como uma
demonstração de que o empregador não tem interesse que o trabalhador com um cargo
43
Resposta ao questionário sobre escolarização de trabalhadores em empresas da cidade, Quando a empresa
procura por "colaboradores" exige algum tipo de escolarização? Por quê? , produzido pela autora
(setembro 2015).
56
inferior tenha estudo, pois na visa patronal, quanto mais dependente daquele cargo o
trabalhador se demonstrar, melhor para o empregador regular as relações de trabalho.
Porém, quando perguntamos o que ele pensa sobre o abandono dos trabalhadores da
escola ele responde,
Um grande problema para o mercado de trabalho futuro. Teremos o tal do
"analfabeto funcional", que até funciona, mas jamais sairá do posto atual.
Estamos repletos de pessoas, boas, bacanas, bonitas mas que não conseguem
ter nenhum nível de tomada de decisão. Ou então, que não conseguem fazer
cálculos com facilidade.44
46
Dos sete alunos que produziram texto para este trabalho, dois possuíam 20 e 21 anos, os outros cinco possuíam
entre 44 e 52 anos. Entre os seis entrevistados, cinco possuíam entre 27 a 37 anos e 1 com 52 anos.
47
WILLIAN ( pseudônimo). Entrevista concedida em 24 de março de 2015, em Marechal Cândido Rondon,
estudante da EJA no momento da entrevista.
58
apesar de ser um lugar bom pra viver e tudo são 34 anos de Rondon, então isso enjoa.”48
Segundo ele, está estudando para concluir o ensino médio, conseguir o diploma e seguir uma
carreira militar fora da cidade, ou seja, Willian também não aceita tão tranquilamente as
condições de trabalho que conhece na cidade, avalia que em uma carreira militar será melhor
compensando financeira e socialmente, mas para isso é preciso estudar, passar em um
concurso e conseguir tal carreira.
Até lá o que vai encarar como trabalho foi pouco destacado, pois seu interesse na
entrevista era indicar que tinha planos e planos respeitáveis, que passavam pela valorização
do estudo e de conquistar um cargo público. Algo que possivelmente ao reconhecer com
quem conversava, considerou que comporia uma boa referência, ainda mais se avaliar que ela
foi apresentada quando a condição de trabalhador retomando os estudos era o principal
elemento para identificá-lo à sua permanência por 34 anos na cidade, com escolarização
incompleta, vivendo de ocupações nem tão valorizadas ou próximas da que anunciou.
A escolarização não coloca ponto final nos problemas enfrentados pela classe
trabalhadora, mas de certa forma, é um caminho para possíveis realizações, trabalhadores
buscam pela escolarização almejando produzir mudanças em suas vidas de acordo com suas
perspectivas. Essa escolarização é marcada por muita complexidade por ser experimentada
por sujeitos que atribuem a ela sentidos de acordo com questões vividas, na maior parte das
vezes, atrelada ao trabalho, mas também ligada a outros significados que envolvem questões
sociais, sendo assim, as salas de aula da EJA, significam um espaço ocupado pela classe
trabalhadora como um mecanismo de contestação do sistema dominante, mesmo a instituição
não tendo um compromisso legítimo com esses estudantes-trabalhadores.
48
Ibidem.
59
Considerações Finais
61
FONTES:
Entrevistas
ANA PAULA ( pseudônimo ). Entrevista concedida em 24 de março de 2015, em Marechal
Cândido Rondon, estudante da EJA no momento da entrevista.
Produções de Texto
Produção de textos realizada com os estudantes e ex-estudantes da EJA noturno no Colégio
Paulo Freire (novembro 2014).
Questionário
Questionário realizado com os estudantes e ex-estudantes da EJA noturno no Colégio Paulo
Freire (novembro 2014).
Fichas do SINE
CLAUDIA (pseudônimo) [FICHA CADASTRAL]. Marechal Cândido Rondon-PR, Inscrição
em 19/08/2004, último cadastro em 17/03/2010. Ficha Individual de Cadastro de Candidatos
às vagas no SINE. Acervo gentilmente cedido pela pesquisadora Saionara Lagos.
Imprensa
EDITORIAL. É preciso saber fazer. O Presente, Marechal Cândido Rondon, 30 de março de
2015.
Disponível em: <http://www.opresente.com.br/blogs/editorial/2015/04/e-preciso-saber-
fazer/44284/> Acesso em janeiro de 2016
EM um ano SENAC qualifica 2,2 mil trabalhadores na região. O Presente, Marechal Cândido
Rondon, 26 de maio de 2015.
Disponível em <http://www.opresente.com.br/marechal/2015/05/em-um-ano-senac-qualifica-
22-mil-trabalhadores-na-regiao/1406498/> Acesso em janeiro de 2016.
Índices Estatísticos
IBGE. Cidades. Paraná. Marechal Cândido Rondon. Disponível em:
<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=411460> Acesso em: Janeiro 2016.
Site de pesquisa
Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL)
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Brasileiro_de_Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o>
Acesso em: Fevereiro 2016.
63
Bibliografia:
65