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A tradição viva - Amadou Hampaté Bâ

Bruno Oliveira Rodrigues

Primeiramente, em sua introdução, Amadou Hampaté Bâ, situa a


importância imprescindível da tradição oral para se compreender os aspectos de
qualquer parte da história africana, não tendo validade qualquer avanço sem
levar essa oralidade em conta. Chamando atenção para o fato de que essa
herança corre perigo, mas ainda não se perdeu, residindo na memória da última
geração de grandes depositários, a quem se refere como memória viva da África.

Logo em seguida, o autor apresenta a questão sobre a fidedignidade


concedida a escrita e que muitos recusam a oralidade no mesmo grau, sobre
este pondo Hampaté Bâ é claro em sua interpretação, para ele, não há diferença
entre testemunho escrito ou oral, pois no fim não é mais que testemunho
humano, e vale o que vale o homem. Entendendo que o que se encontra por traz
do testemunho é o valor do próprio homem em sua cadeia de transmissão, a
fidedignidade das memórias individuais e coletivas e o valor atribuído a verdade
em determinada sociedade.

Chamando atenção para o processo pelo qual a escrita se acontece,


mantendo um dialogo consigo mesmo e rememorando, bem como para as
falsificações de materiais escritos, solidificando assim seu ponto e demonstrando
o valor equilibrado que deveria existir entre as formas de narrar.

O autor, pontua que contrariamente ao pensamento de muitos, a tradição


oral africana não é apenas sobre história ou lendas, relatos mitológicos ou
históricos, sen.do os não sendo os griots os únicos habilitados a transmitir
saberes. Hampaté Bâ, classifica a tradição como ao mesmo tempo religião,
conhecimento, ciência natural, iniciação à arte, história, divertimento e
recreação, uma vez que todo pormenor sempre permite remontar à Unidade
primordial. (pág. 169).

Ainda sobre a oralidade, nos é apresentado o caráter divino que a


Palavra carrega intrinsecamente, Hampaté conta que em a tradição bambara do
Komo ensina que a palavram kuma, é uma força fundamento que emana do
próprio Ser Supremo, Maa Ngala, criador de todas as coisas. Maa Ngala
sentindo falta de um interlocutor, cria o Primeiro Homem: Maa.

Como provinham de Maa Ngala para o homem, as palavras eram divinas


pois ainda não conheciam a materialidade, após esse encontro, perderam um
pouco de sua divinidade, mas continuam carregadas de sacralidade. Desta
forma, a tradição africana concebe a fala como um dom de Deus, sendo ela
divina no sentido descendente e sagrada no sentido ascendente.

Sendo a fala também considerada como a exteriorização/materialização


das vibrações das forças. Desta forma, se a fala é força, é porque ela cria uma
ligação de vaivém que gera movimento e ritmo, e, consequentemente vida e
ação. Assim a fala pode criar a paz, ou mesmo destrui-la, tendo a palavra a dupla
função, de criar, mas também de destruir.

Segundo Hampaté Bâ, a África tradicional preza muito a herança


ancestral, o apego religioso a esse patrimônio imaterial se mostra em frases
como: “aprendi com meu Mestre”, “Aprendi com meu pai”, “Foi o que suguei do
seio da minha mãe”. Em seguida o autor, caracteriza os chamados
“tradicionalistas”, detentores de conhecimentos e saberes muito respeitados e
responsáveis por desempenharem o papel de guardar em suas memórias
grandes volumes de informações, podendo ser iniciado em algum conhecimento
especifico, mas não como nós concebemos na chave de especialização, mas
sim como um conhecedor.

A relação entre os tradicionalistas -doma, e a verdade é algo muito sério


e importante, para eles, a mentira não é apenas um defeito moral, mas uma
interdição ritual, sendo a sua violação impossibilitante no que diz respeito o
preenchimento da função.

Posteriormente, o autor caracteriza e classifica os animadores públicos


ou “griots”, estes seriam um tipo de trovadores ou menestréis que percorrem o
país ou estão ligados a uma família. Sendo classificados em três categorias: os
griots mísicos, que tocam qualquer instrumento, os griots “embaixadores” e
cortesãos, responsáveis pela mediação entre grandes famílias em caso de
desavenças, e os griots genealogistas, historiadores ou poetas que em geral são
contadores de histórias e grandes viajantes, não ligados a uma família
necessariamente. Sendo a eles conferido status social especial, tendo direito de
ser cínicos e gozam de grande liberdade para falar, podendo se manifestar
imprudentemente, não tendo compromisso de serem discretos ou guardar
respeito absoluto pela verdade.

Já sobre os meios de se tornar um tradicionalista, o autor diz que na


África do Bafur, qualquer um podia se tornar um tradicionalista -doma, isto é,
conhecedor, em um ou mais conhecimentos tracionais. Sendo pontuado no
texto, que a educação africana não fazia uso de sistemática do ensino europeu,
sendo dispensada durante toda a vida, pois a própria vida era educação. No
Bafur, até os 42 anos, os homens deveriam estar na escola da vida, não obtendo
direito a palavra em assembléias, salvo excepcionalidades, tendo como dever, o
ouvir e aprofundar o conhecimento que vem recebendo desde a sua iniciação,
aos 21. Mas a educação poderia durar uma vida inteira, com aprofundamentos
cada vez maiores.

Encaminhando-se para o final, Hampaté Bâ, conta que as peculiaridades


da memória africana, bem como a sua transmissão oral, não foram afetadas pela
islamização, que atingiu grande parte dos países do antigo Bafur, sendo em
todas as escolas de princípios básicos da tradição africana não eram repudiados,
mas, utilizados e explicados à luz da revelação corânica.

Sobre as características da memória africana, A. Hampaté Bâ, diz que


entre todos os povos do mundo, constatou-se que os que não escreviam
possuíam uma memória mais desenvolvida, assim, é realmente incrível a
quantidade absurda de informações que um genealogistas guardavam em suas
memórias, sendo uma habilidade excepcional dessas pessoas, que reconstituem
o acontecimento ou narrativa em sua totalidade, tal como um filme de se
desenrola. Não recortando, mas trazendo ao presente um evento do passado,
podendo assim, essa atividade ser facilmente entendida como arte.

Dessa maneira é difícil para um tradicionalista “resumir” com


naturalidade, pois para isso, seria necessário em sua visão escamotear a
memória em questão. Do mesmo modo que os mesmos, não receiam se repetir,
podendo ser ouvidos diversas vezes contando as mesmas histórias, com as
mesmas palavras sem que os ouvintes se cansem.
É nessa chave interpretativa que compreendo, a partir deste texto, o que quer
dizer Hampaté Bâ, quando este enuncia que “Na África, cada ancião que morre
é uma biblioteca que se queima.”

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