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2015
Resumo elaborado conforme o edital do XVI Concurso Público para Provimento de Cargo de Juiz Federal
Substituto do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, tendo sido adaptado com informações do edital
adotado pelo Tribunal Regional da 3ª Região.
Colaboradora:
Adriana Nunes de Moraes
Sumário
Síndrome de Burnout refere-se ao desgaste profissional e consiste num grave estado de esgotamento
pessoal, físico e mental, decorrente de uma rotina de trabalho exigente e estressante.
As relações interpessoais respondem diretamente aos fatores de risco para estresse. Quanto mais
estressada estiver uma pessoa, maiores as chances de conflitos em suas relações. O desempenho
profissional fica prejudicado, a produtividade é menor e mais sujeita a erros e omissões. Podem surgir
comportamentos de procrastinação, dificuldade para se organizar, especialmente para aproveitar
corretamente o tempo, ou interrupções desnecessárias.
Conforme lição de José Renato Nalini, “a magistratura está reservada a quem possua condições de
enfrentar desafios, resistir a pressões, aptidão para produzir atos concretos de justiça e ânimo para ver sua
atitude confrontada em inúmeros cenários”.
1.2 O relacionamento do magistrado com a sociedade e com a mídia
O juiz deve cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as disposições legais e os
atos de ofício; tratar com urbanidade as partes, os Membros do Ministério Público, os advogados, as
testemunhas, os funcionários e auxiliares da Justiça, e atender aos que o procurarem, a qualquer
momento, quando se trate de providência que reclame e possibilite solução de urgência e, sobretudo, deve
manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.
Acrescente-se, ainda, que a qualidade - eficiência do trabalho produzido pelo juiz não depende apenas dos
seus conhecimentos jurídicos. Dependem, também, de seus conhecimentos metajurídicos, isto é, daqueles
conhecimentos que advêm de sua experiência pessoal e profissional e daquelas que compõem a sua
formação humanística, tais como filosóficos, psicológicos, políticos e sociais.
Ao se analisar, especificamente, o relacionamento do magistrado com a mídia, deve-se partir da premissa
de que os meios contemporâneos de comunicação de massa (rádio, televisão, jornais, internet, etc.)
produzem estímulos que não são puramente informativos ou racionais, mas portadores de elevada carga de
ressonância emocional, cujo conteúdo de manipulação nem sempre aqueles que compõem a plateia
conseguem distinguir, criando uma confusão no imaginário social. Processos de identificação e de
idealização agem inconscientemente sobre os destinatários desse tipo de mensagem manipulativa, gerando
crenças e comportamentos destituídos de crítica, com grande impacto numa sociedade líquida, carente de
valores e de modelos identificatórios estáveis.
Dessa forma, a opinião dos cidadãos está sujeita a uma complexa e sutil rede de múltiplas influências e
manipulações, na qual os meios de comunicação de massa desempenham um papel cada vez maior.
Há, basicamente, dois níveis de comunicação:
* Nível consciente – também chamado nível da comunicação expressa ou manifesta;
* Nível inconsciente – aquele latente, não manifesto ou interdito.
Se o magistrado deve ser prudente ao fazer uso da comunicação que estima consciente, porque mais
próxima aos fatos, maior cautela deverá ter com mensagens cifradas, aquelas que envolvem uma
metalinguagem, pois nela, não estando explícitos os conteúdos subjacentes, a possibilidade de conflitos é
redobrada.
Assim, sempre que possível, em manifestações públicas ou perante os meios de comunicação social, o
magistrado deverá optar pela clareza e pela objetividade, evitando pronunciamentos ambíguos ou
sujeitos a interpretações distorcidas.
O magistrado deve ter plena consciência das consequências de suas declarações e, como ensina Nalini, “o
juiz precisa ter consciência de que a sua decisão repercutirá no meio social e ele necessita ter noção precisa
dessas consequências”, pois se uma pessoa claudica, a falta é relevada, mas se o juiz claudica, o fato se
torna manchete.
Com efeito, a palavra do juiz, escrita na sentença ou pronunciada oralmente em qualquer situação em que
se revele sua autoridade, não pode servir à manipulação da consciência. Antes, deve ser um instrumento a
favor do esclarecimento da população e de sua conscientização, da tranquilização e da pacificação social,
mesmo quando para manter viva a luta pelo direito.
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REFERÊNCIA:
Psicologia Judiciária: para a carreira da magistratura / Jorge Trindade, Elise Karam Trindade, Fernanda
Molinari. 2.ed. rev., atual. e ampl. - Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012.
2 Ponto 2 - Problemas atuais da psicologia com reflexos no Direito: assédio moral e assédio
sexual.
A psicologia jurídica tem sido muito útil nos casos de assédio moral e de assédio sexual.
Apesar de ainda não haver nenhum dispositivo legal abordando a questão, a jurisprudência entende que a
caracterização de assédio moral no trabalho enseja indenização por danos morais. A decisão do TRT da 17ª
Região comprova o posicionamento:
A tortura psicológica, destinada a golpear a auto-estima do empregado, visando forçar sua
demissão ou apressar a sua dispensa através de métodos que resultem em sobrecarregar o
empregado de tarefas inúteis, sonegar-lhe informações e fingir que não o vê, resulta em
assédio moral, cujo efeito é o direito à indenização por dano moral, porque ultrapassa o
âmbito profissional, eis que minam a saúde física e mental da vítima e corroem a sua auto-
estima.
Assim, nos casos em que se discuta a presença, ou não de dano psicológico ocasionado por assédio moral
no trabalho, pode-se fazer uso da psicologia jurídica a fim de constatá-lo.
De acordo com Peli e Teixeira (2006, p. 27), “o assédio moral se caracteriza pela atitude insistente e pela
ação reiterada, por período prolongado, com ataques repetidos, que submetem a vítima a situações de
humilhações, discriminatórias e constrangedoras com o objetivo de desestabilizá-la emocional e
psiquicamente”.
Lis Andrea Soboll ilustra que o assédio moral no trabalho é um processo grave de violência psicológica, que
acontece de maneira repetitiva no contexto do trabalho e que produz humilhação, ofensa e
constrangimento (2011, p. 40).
Para Freitas (2001, p.10), dentro das organizações, o assédio moral pode surgir maneira insignificante e
acabar se alastrando pelo fato de a vítima, por medo, não formalizar denúncia, fazendo com que a situação
se torne corriqueira, provocando uma diminuição cada vez maior da sua autoestima, acarretando uma
fraqueza psíquica.
De acordo com Soboll (2011, p. 42), o assédio moral no trabalho pode ser de duas maneiras: assédio moral
organizacional e assédio moral interpessoal.
O assédio moral organizacional contempla interações entre o indivíduo e a organização que se utiliza da
hostilização como forma de gestão abusiva. Soboll (2011, p. 42) coloca como exemplo o uso de ranking de
comparação de resultados ou metas, acompanhado de exposições constrangedoras direcionadas aos
últimos colocados, com ameaça de demissão e de prejuízo na carreira, pelas empresas.
Franco, Druck e Silva (2010, p. 239), explicam que este tipo de violência psicológica tem por finalidade
obter a submissão às imposições de produtividade, provocar demissões de empregados menos qualificados
ou ambas.
O assédio moral interpessoal, por sua vez, contempla situações pessoalizadas de perseguição no ambiente
de trabalho, nas quais o alvo são sempre as mesmas ou a mesma pessoa (SOBOLL, 2011, p. 42).
O assédio ainda pode ser classificado em vertical ou horizontal (TARCITANO E GUIMARÃES, 2004). O assédio
vertical é o que ocorre do superior ou superiores para o subordinado(os) ou do subordinado(os) ao(s)
superior(es). Já o assédio horizontal ocorre entre indivíduos que estão num mesmo nível hierárquico dentro
da organização (HIRIGOYEN, 2002).
O assédio sexual, por sua vez, tem como premissa a invasão da liberdade sexual, consubstanciado por atos
que vão além da mera cortesia, causando constrangimento a outra pessoa, persuadindo a vítima para a
prática do ato sexual, utilizando como forma de coação o poder hierárquico (EUTÁLIO PORTO).
Ele reflete no campo penal e no campo indenizatório, já que atinge mecanismos subjetivos da vítima,
causando-lhe sofrimento, constrangimento, que, do ponto de vista psicológico, deixa marcas que exigem na
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1 O id é a instância pulsional do psiquismo, e seu conteúdo é totalmente inconsciente. É irracional, ilógico e amoral. Consiste
no conjunto de reações mais primitivas da personalidade humana. Tenta impor seus desejos de satisfação imediata e
irrestrita e, para conseguir o que deseja, precisa fazer uma negociação com o ego. O ego corresponde ao conjunto de reações
que tenta conciliar os esforços e as demandas do id com as exigências da realidade, interna ou externa. Nesse aspecto, faz a
mediação dos impulsos do id com o meio ambiente, permitindo ao sujeito olhar-se a si próprio. O ego apresenta uma função
adaptativa e está presidido pelo princípio da realidade. O superego é a expressão da interiorização das interdições e
exigências da cultura e da moralidade, representada pelos pais. É quase totalmente inconsciente, possuindo uma pequena
parte consciente. É nele que se inscreve a lei primária. A lei de todas as leis, que é interna e propícia a cada pessoa valorar o
que é bom ou mau, certo ou errado. O superego tem uma função essencial, que é a de cuidado e proteção, mostrando ao ego
o que é moralmente inaceitável ou perigoso à integridade física.
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Ademais, há que se considerar que, quando um processo encerra, a partir da sentença de mérito, uma das
partes é vencida. Não raras vezes, a parte que perde a sua pretensão deduzida em juízo transfere ao Poder
Judiciário a responsabilidade pela frustração de suas expectativas, criando obstáculos para evitar ou
dificultar a execução da sentença e fomentando novas lides.
Diante desse contexto, muito se tem falado sobre os métodos alternativos para solução de controvérsias.
Tais métodos mostram-se eficazes para finalizar demandas de complexidade variada, de forma mais célere
e necessariamente com a participação efetiva das partes, o que possibilita uma forma satisfatória de
autocomposição dos conflitos.
As formas autocompositivas fazem parte de um contínuo, que varia no que tange ao grau de autonomia das
decisões dos envolvidos, dentre as quais se destacam a: 1) mediação; 2) conciliação; 3) negociação; 4)
arbitragem.
3.3 Mediação
A mediação é uma forma de autocomposição assistida, isto é, são os próprios envolvidos que irão compor o
conflito, mas com a presença de um terceiro imparcial – o mediador – que não deve influenciar, emitir juízo
de valor ou persuadir as pessoas ao acordo.
A mediação possui alguns princípios norteadores, dentre os quais se destacam:
1) Princípio da autonomia da vontade:
É o poder das partes de estipular livremente, como melhor lhes convier, mediante acordo de vontades, a
disciplina de seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica.
Esse princípio confere às partes a faculdade de se socorrerem de meios alternativos para solução de
controvérsia, versando sobre direito patrimonial disponível.
2) Princípio da não adversariedade:
Quando se utiliza a mediação como forma de solucionar conflitos, não há espírito de litigância, no sentido
de que não existe ganhador e perdedor, uma vez que ambos se dispõem a conjuntamente encontrar
soluções para as questões envolvidas.
O resultado da cooperação mútua para solucionar o litígio é a probabilidade de ocorrer um acordo que vise
a garantir o interesse de ambas as partes.
3) Princípio da presença do terceiro interventor neutro e imparcial:
Na mediação, as partes são auxiliadas por um terceiro interventor imparcial, que não deve influenciar,
emitir juízo de valor ou persuadir as partes ao acordo, sendo a sua atuação desprovida de caráter
coercitivo.
A atuação do mediador não é outra, senão a de auxiliar os mediandos a identificar, discutir e resolver as
questões do conflito, buscando transformar o adversário em partícipe de um processo de solução
cooperativa, conduzindo a um termo de entendimento para a obtenção da satisfação mútua das partes
envolvidas no litígio.
A conduta do mediador deve observar os seguintes princípios:
* Imparcialidade – não pode existir qualquer conflito de interesses ou relacionamento capaz de afetar sua
imparcialidade; deve o mediador procurar compreender a realidade dos mediados, sem que nenhum
preconceito ou valores pessoais venham a interferir no seu trabalho.
* Credibilidade – o mediador deve construir e manter a credibilidade perante as partes, sendo
independente, franco e coerente.
* Competência – é a capacidade para efetivamente mediar a controvérsia existente. O mediador somente
deverá aceitar a tarefa quando tiver as qualificações necessárias para satisfazer as expectativas razoáveis
das partes.
* Confidencialidade – os fatos, situações e propostas ocorridos durante a mediação, são sigilosos e
privilegiados. Aqueles que participarem do processo devem, obrigatoriamente, manter o sigilo sobre todo o
conteúdo a ele referente, não podendo ser testemunhas do caso, respeitado o princípio da autonomia da
vontade das partes, nos termos por elas convencionados, desde que não contrarie a ordem pública.
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4.1 Introdução
Para a obtenção do que costumeiramente se denominou de “verdade judicial” é necessário que alguns
processos psicológicos sejam analisados de forma cautelosa. Apenas as normas positivadas nos códigos
jurídicos não são suficientes para abarcar todas as nuances dos testemunhos fornecidos pelos agentes
processuais. É necessário que o magistrado e demais auxiliares estejam suficientemente inteirados desses
processos de ordem psicológica para que possam compreender e melhor se portar diante de situações que
exijam a prática de narrativas e de exposição de testemunhos.
4.2 Fatores Constitutivos do Testemunho
O testemunho de alguém deve ser entendido como uma narrativa daquilo que o indivíduo conseguiu
perceber do que estava a se passar e transcorrer diante de si. Essa narrativa não pode ser tida como algo
que se coloca como fundamentalmente escorada em uma conclusão mental do indivíduo que recorra a
elementos extrínsecos desvinculados com a sua “realidade”. Pode-se asseverar que existem alguns fatores,
de naturezas diversas, que influenciam a percepção do indivíduo no que tange à retenção dos fatos que ele
próprio foi capaz de presenciar.
Mira y López coloca que existem cinco fatores determinantes no testemunho de qualquer pessoa acerca de
um acontecimento qualquer.
O primeiro deles é o modo como essa pessoa percebeu esse acontecimento.
Esse fator depende, por sua vez, de condições (ou elementos) externas e internas. Cita-se como principal
elemento externo da percepção o próprio ambiente em que se localiza o indivíduo. Exemplificativa, o
ambiente pode ser externo, uma rua ou uma praia, por exemplo, ou interno, um quarto ou uma sala. A
percepção do indivíduo também será definida em função de suas condições internas. Assim, a percepção
variará caso o observador tenha deficiências em sua acuidade visual ou auditiva, aliás, caso um dessas
acuidades seja comprometida, é possível que ele possua até mesmo outra acuidade com maior
sensibilidade.
O segundo fator diz respeito ao modo como a memória do indivíduo conserva o que ele observou,
memória no sentido de “faculdade de reproduzir conteúdos inconscientes”. A conservação e o
reconhecimento consciente de informações na memória através de um relato é algo puramente
neurofisiológico, o que não significa que a aquisição dessa informação dentro do aglomerado inconsciente
seja algo meramente biológico. Revolve-se elementos diversos do funcionamento biofísico do indivíduo,
relacionando-se, portanto, com elementos emocionais e psicológicos.
Essas últimas observações conduzem ao terceiro fator, que se relaciona com a capacidade do indivíduo de
evocar o fato observado. É usual que, na tentativa de evocar os fatos que devem ser narrados no
testemunho, haja a atuação de mecanismos psicológicos de repressão e censura do próprio agente-
narrador.
O quarto fator constitutivo do testemunho é o grau de sinceridade nas assertivas da testemunha.
O quinto e último fator diz respeito ao modo como se pode expressar o fato observado. Entra em pauta
aqui o “grau de precisão expressiva” da sua narrativa, a fidelidade e clareza com que o sujeito é capaz de
descrever suas impressões, fazendo-se compreender pelas pessoas.
A Psicologia tem por obrigação estudar cada um desses fatores, de forma isolada, para, posteriormente,
poder confrontá-los, em face do testemunho propriamente dito, com a realidade e a verdade dos fatos
testemunhados.
Existem dois métodos de estudo. O primeiro desses métodos é o quantitativo. Ele procura, essencialmente,
avaliar intensidade dos estímulos sofridos pela testemunha para avaliar a compatibilidade da sua narrativa
com o quadro da realidade que para ela se apresentou. O segundo método de estudo é baseado em
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análises de ordem qualitativa. Ele procura avaliar a influência de percepções anteriores e coexistentes às
observações (através do contraste e da adaptação de quadros testemunhais).
No que diz respeito às memórias, em suas duas fases, a de conservação e a de evocação, realizaram-se
estudos quantitativos e qualitativos. Os estudos de natureza quantitativa tiveram por escopo estabelecer as
“curvas do esquecimento” e o “esquecimento forçado” que se observam nas lembranças emocionais. Já os
estudos qualitativos, por seu turno, tenderam a estudar as deformações dessas duas classes de lembrança,
algo denominado pelos estudiosos de “pseudomemória”.
4.2.1 Fatores de Influência na Percepção de Acontecimentos
A experiência psíquica é algo complexo na qual não há uma simples mistura ou justaposição de elementos
realísticos, o que há, na verdade, é uma fundição de vários elementos afetivos, emocionais e intelectuais,
que concorrem, de maneira aritmeticamente indissociável para a formação de uma vivência, ou seja, essa
fusão elementar finda por constituir um ato psíquico, dinâmico, global, e em sua completude estrutural,
irredutível. Deste modo, ainda que seja possível, até experimentalmente, traçar um perfil básico e objetivo
das reações perceptivas a certa situação fática, o desenrolar dessa percepção sempre variará em função da
compreensão eminentemente subjetiva envolvida nesse contexto.
Um fator que deve ser observado no estudo da influência perceptiva de acontecimentos diz respeito o grau
de fadiga psíquica em que se encontra o indivíduo perceptor.
Outro fator que também deve ser levado em consideração diz respeito à questão do gênero. Isto é, a
generalização ou a especificidade de uma percepção varia em função do gênero do indivíduo que está a
narrar tal situação perceptiva. Os homens têm mais capacidade do que as mulheres para a percepção geral
de uma situação. As mulheres, porém, percebem com mais exatidão os detalhes.
Outra constatação concreta acerca da análise das capacidades perceptivas dos indivíduos em suas
narrativas é afeita à determinação que os momentos iniciais e finais de um acontecimento tendem a ser
percebidos com maior exatidão do que os intermediários.
Mais uma constatação concreta a ser elencada faz referência ao fato que em igualdade de condições, as
impressões visuais tendem a ser testemunhadas com mais facilidade do que as acústicas.
Ainda, os testemunhos referentes a dados quantitativos geralmente são mais imprecisos que os
qualitativos. É comum que as qualidades sejam mais presentes nas memórias dos indivíduos que a
marcação quantitativa, haja vista que o processo de armazenamento numérico, é, em geral, algo mais difícil
que a simples descrição qualitativa de um acontecimento (aspecto da subjetividade na descrição do relato).
Além disso, o hábito é o mais importante fator capaz de influenciar a percepção, isso porque ele talvez seja
o mais comum a exercer influência sobre os elementos que constituem a apreensão perceptiva. Por mais
que se queira, não há como se furtar à experiência de que os automatismos mentais são preponderantes
na percepção da realidade. Em virtude do hábito, é comum que os indivíduos sejam levados a completar de
tal modo as percepções da realidade exterior, que basta que se encontrem presentes alguns de seus
elementos para que o seu juízo de realidade se dê por satisfeito e aceite a presença do todo.
4.3 Fatores Capazes de Mudar a Evocação de Memórias
Até aqui foram abordados os principais fatores capazes de influenciar a percepção de um acontecimento,
ou seja, elementos que podem exercer influência sobre a sua gênese e estruturação. Agora deverão ser
perscrutados os fatores capazes de modificar sua evocação, isto é, aqueles fatores que podem influenciar
no modo em que as memórias armazenadas pelo sujeito podem ser resgatadas do inconsciente.
A evocação é simplesmente a reprodução voluntária interna de um fato.
Tanto quanto podem influenciar na conservação dos acontecimentos presenciados, os elementos afetivos
também são considerados um dos instrumentos mais eficazes e tendentes a perturbar a marcha do
processo evocador de memórias.
Este mecanismo é usualmente denominado de “amnésia emocional”, a partir do qual se observa, por
exemplo, haver uma consequência de um brusco abalo moral no encadeamento de resgate de memórias
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do sujeito. Nesse caso, o esquecimento de uma situação tem como finalidade uma defesa psíquica, já que
pressupõe o esquecimento de um sentimento doloroso vinculado a ela.
Outro ponto de atuação da repressão é que as memórias podem surgir deformadas e misturadas com falsas
lembranças. Quando seu processo de formação se dá dessa forma desestruturada elas recebem, então, o
nome de “pseudomemórias”. Quando o indivíduo se dá conta da pobreza de suas lembranças trata logo de
completá-las, utilizando-se de associações que em sua mente se dão de forma “logicamente” relacionadas
com elas. Ou seja, ele começa a “inventar” partes da estória narrada para que ela faça algum sentido e não
seja apenas uma narrativa cheia de lacunas. Mesmo com absoluta boa-fé, o resultado dessa evocação
“completada” pelo próprio sujeito é algo totalmente desvinculado não só da realidade, como algo
totalmente diverso daquilo que porventura possa ter sido por ele apreendido ou percebido.
Na seara da psicologia, há uma questão fundamentalmente envolvida na expressão, a qual diz respeito à
aptidão do sujeito descrever bem os fatos por ele presenciados; sem falar, exemplificativamente, da
possibilidade que um ouvinte tem de poder dar outros sentidos ao que ouve do narrador e, portanto,
podendo também distorcer os fatos.
Mesmo assim, é importante a regra de deixar ao indivíduo sua própria iniciativa de revelar os fatos e não de
induzi-lo sob o pretexto de ajudá-lo. Pois, se assim for feito, não será raro que o sujeito testemunhe,
cooperativamente, de modo a se “encaixar” ou se “enquadrar” naquilo que ele imagina ser o que o juiz
gostaria de saber, deixando de revelar os fatos e as situações como ele realmente as viveu.
Embora seja execrável que a testemunha deforme seu relato por ela mesma (seja por qual finalidade que
ela tenha), é muito pior e mais grave que ela faça isso motivada por perguntas sugestivas ou capciosas que
lhe sejam dirigidas por um interrogador demasiadamente cioso de sua obrigação, porém pouco técnico.
Partindo-se do pressuposto básico que o relato espontâneo seja algo feito de modo “sincero” e
“verdadeiro”, é evidente que ele se mostrará mais “vivo” e mais “puro” e, portanto, menos deformado do
que aquele obtido por meio de interrogatório. O problema com essa forma de testemunho (seu maior
defeito) é ser dualmente incompleto e irregular. Ele é irregular porque sempre apresenta informações
desnecessárias e não uniformes para que se elucide o caso ou evento que deva ser minimamente
esclarecido. Também é tido por incompleto porque geralmente apresenta uma miríade de informações que
em nada se relacionam com os principais pontos do acontecimento a ser explorado, apenas apresentando
elementos aleatórios e interpolados, totalmente inúteis, que não acrescentam nenhuma informação
profícua ao desenrolar do processo.
Já o testemunho obtido por interrogatório representa o resultado do conflito entre o indivíduo que sabe,
por um lado, e o que as perguntas dirigidas a ele tendem a fazê-lo saber. Toda resposta é, com efeito, uma
reação mista em que entram influências de ambas as partes, tanto do interrogado quanto do interrogador.
É bastante comum que essa mistura da vivência do interrogado com o direcionamento inquisitivo daquele
que pergunta pode gerar um quadro de testemunho não totalmente condizente com a verdade dos fatos
ocorridos. Mas existem três motivos principais para que se origine uma resposta falsa nesse tipo de
testemunho.
O primeiro desses motivos diz respeito a uma ideia implícita na pergunta que evoque, por associação, outra
ideia não vinculada à realidade a ser testemunhada.
O segundo motivo que pode conduzir a respostas falsas se refere ao surgimento de uma lacuna na
memória do inquirido, resultante da pergunta feita, vácuo esse que ele procura preencher de forma
aleatória ou ao acaso, de modo equivocado e inexato. Percebe-se a forte influência do elemento emocional
e afetivo na evocação de memórias. Pode ser que essa lacuna seja apenas o mecanismo de defesa do
indivíduo tentando preveni-lo de uma lembrança dolorosa ou estressante. Deste modo, apenas para se ver
livre da pergunta que lhe foi feita, é comum que ele mesmo “invente” alguma situação que complemente o
quadro mais amplo do evento que ele conseguiu se lembrar.
O último motivo é afeito à relação social assimétrica existente entre juiz e testemunha, colocando-a em
condição de inferioridade ou temor, algo que conduz a uma sugestão direta que a impeça de dar a resposta
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devida. Essa colocação de inferioridade da testemunha em face do juiz faz com que ela se acanhe e tenda a
responder do modo como seria “teoricamente mais adequado”, ou seja, o modo como o magistrado
gostaria de escutar a narração de um determinado fato ou evento.
4.4 A metodologia da busca da verdade judicial: os elementos fundamentais inseridos no
contexto do procedimento dos Interrogatórios.
Outra classe de perguntas a ser trazida a baila na presente análise faz referência às perguntas disjuntivas
completas. Elas são, na verdade, o complemento evolutivo da classe anterior das perguntas disjuntivas
parciais. Destarte, o inquiridor não restringe o universo amostral do que pode ser perguntado a apenas
duas hipóteses que ele acha que sejam convenientes para a elucidação dos acontecimentos. No caso das
perguntas disjuntivas completas ele deve partir de algum fato previamente afirmado pelo interrogado, ou
ao menos entre um não esclarecimento (ou não-congruência) entre dois fatos distintos (sempre tendo
como pressuposto que o próprio interrogado os tenha afirmado) para perguntar se “era assim ou não era
assim?”.
A última classe é aquela que possui um maior caráter de indicação objetiva no discurso interrogativo. Ela é
denominada de classe de perguntas determinantes. A sua característica mais marcante mantém-se adstrita
ao fato de ela se valer, precipuamente, de perguntas com pronomes interrogativos para promover a
interpelação dos sujeitos-alvo do procedimento em comento. As perguntas determinantes são aquele tipo
de pergunta que realmente podem ser tidas e chamadas de imparciais pelos operadores jurídicos, ou seja,
são aquelas que realmente atendem ao comando constitucional da imparcialidade estatuído no “caput” do
artigo 37 da Constituição da República de 1988. Essas perguntas se valem, basicamente, dos pronomes
“como”, “quando”, “onde” e por quê” para efetuar a sua inserção interrogativa no universo de
possibilidades de resposta do interrogado. Como, por exemplo, “você viu como o acusado estava vestido
naquele dia?”; “quando você chegou ao local do crime?”, “por que o acusado estava segurando aquele
machado ensanguentado?” ou “onde você estava na hora do ocorrido?”. Ao se valer desses pronomes, o
interrogador não insere e nem incute de maneira prévia nenhuma informação nas possibilidades de
resposta do agente indagado.
4.4.2 Os Mecanismos Para se Atingir o Grau Máximo de Sinceridade nas Respostas em
Interrogatórios Judiciais.
Os meios e mecanismos psicológicos anteriormente abordados faziam referência à possibilidade de o
magistrado aferir ou comprovar o grau de sinceridade das respostas dadas em um interrogatório. O escopo
de tal tópico consiste não em simplesmente encontrar a sinceridade nas declarações dos interrogados, nem
definir a sua validade, o presente tópico dispõe acerca dos instrumentos psicológicos dos quais o
magistrado pode se valer para aumentar essa sinceridade nos testemunhos e interrogatórios judiciais.
É comum, dentre as reprimendas prometidas em caso de falsidade das declarações são variadas, vão desde
repressões e ameaças de base legal (como enquadrar a testemunha, os peritos e demais atores processuais
nos artigos 3425 e 3436 do Código Penal).
A atemorização psicológica prometida para aqueles que declararem algo falso perante o juízo, no momento
de seu testemunho, é a mola propulsora para que, segundo a sua própria consciência moral, os
interrogados que prezam por tal conduta ética, sequer cogitem não serem sinceros em suas declarações.
No entanto, há de se ponderar que, geralmente, os amorais ou imorais não se impressionam tanto com as
ameaças ou severidades tanto quanto os morais.
Existem duas possíveis saídas para esse impasse, uma eminentemente teórica e a outra com fundamentos
mais pragmáticos.
A primeira se baseia em destituir de todo caráter determinista a oficialidade dos testemunhos obtidos
pelos meios judiciais. Ou seja, essa saída parte do pressuposto que todas as afirmações feitas em juízo são,
em algum grau ou de algum modo, fadadas a serem sempre parciais.
Assim sendo, não há como tentar simplesmente conferir uma maior credibilidade ou aferir um maior grau
de sinceridade às respostas dadas nos interrogatórios judiciais. Deve-se, apenas, admitir que tais
inquirições são inúteis e conseguir outro meio de conseguir as informações sobre os fatos e os
acontecimentos concernentes aos processos judiciais.
Essa outra possibilidade de conseguir tais informações existe no modelo americano, o qual criou a figura
dos “trabalhadores sociais” (social workers). Esses trabalhadores fazem o serviço externo de coletar, reunir
e catalogar informações sobre eventos e acontecimentos que importam para os processos judiciais em
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a aplicabilidade desse mecanismo no atual modelo judiciário brasileiro é bastante discutível. Um dos
grandes entraves para sua aplicação seria a necessidade de conferir a esses trabalhadores a mesma fé de
ofício atualmente concedida para os tabeliães e os oficiais de justiça. Outro grande problema que a adoção
desse sistema poderia acarretar diz respeito à possibilidade de se desprestigiar os princípios da celeridade
e da razoável duração do processo.
A outra solução que se apresenta possui um viés prático muito mais aguçado. Ela se baseia na aplicação de
conceitos e conhecimentos da psicologia individual ao problema particular de cada declarante. Assim, sua
realização exige a aplicação de uma técnica especial criada para cada situação peculiar. Nesse horizonte,
nas hipóteses em que se suspeita de parcialidade para fins altruístas, convém fazer chegar ao espírito da
testemunha a convicção de que uma atuação parcial poderá ser desfavorável ao acusado. É fácil fazê-lo
notar isso na medida em que duas ou mais declarações diferentes possam fazer o juiz optar por não dar
crédito a nenhuma delas.
4.4.3 Causas Mais Comuns da Inexatidão do Testemunho
Em primeiro lugar, o hábito influencia diretamente na percepção do indivíduo acerca da sua realidade.
Em segundo lugar, a sugestão inserida nos questionamentos dos interrogatórios judiciais. Esse
automatismo de viés determinista gerado pela presença de indicações diretivas de resposta finda por
condicionar as respostas dos inquiridos para algum contexto almejado pelo próprio magistrado inquiridor.
A terceira causa a ser apontada como responsável pela inexatidão dos testemunhos obtidos em juízo diz
respeito à confusão no tempo, instituto também usualmente denominado de transposição cronológica.
Essa causa está associada à crença que o indivíduo possui que se sucederam fatos que, na verdade,
ocorreram em momento temporal pretérito ao por ele imaginado (e vice-versa) da situação a ser por ele
testemunhada.
O quarto motivo (ou causa) de inexatidão de depoimentos e de testemunhas fornecidos em interrogatórios
judiciais é a tendência afetiva que, fatalmente, engendra-se no indivíduo diante de qualquer situação fática
que o faça sentir simpatia ou antipatia, não apenas com relação às pessoas envolvidas no caso, mas para
tudo que existe, como, por exemplo, outras situações ou, até mesmo, locais em que os acontecimentos
ocorrem. Apenas teoricamente, se pode falar em vivências neutras.
4.4.4 Influência do Tipo de Personalidade na Classe do Testemunho
Pode-se perceber a enorme influência que o tipo de personalidade exercerá na moralidade e na lisura de
um testemunho qualquer.
É correto afirmar que o grau de extroversão da personalidade do indivíduo é algo que contribui de maneira
significativa para a facilidade de obtenção do testemunho.
De outra banda, os indivíduos com características de personalidade mais introvertida costumam falar
pouco, algo que conduz à emissão de respostas mais escassas (em termos de conteúdo) e até mesmo mais
subjetivas. Contudo, deve-se destacar que os testemunhos das pessoas com esse tipo de personalidade é o
que tende a ser mais constante.
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Psicologia Judiciária | Sumário