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PSICOLOGIA JUDICIÁRIA

2015
Resumo elaborado conforme o edital do XVI Concurso Público para Provimento de Cargo de Juiz Federal
Substituto do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, tendo sido adaptado com informações do edital
adotado pelo Tribunal Regional da 3ª Região.

Colaboradora:
Adriana Nunes de Moraes
Sumário

1 Ponto 1 - Psicologia e Comunicação: relacionamento interpessoal, relacionamento do magistrado com


a sociedade e com a mídia ................................................................................................................................. 4
1.1 Relacionamento interpessoal .............................................................................................................. 4
1.2 O relacionamento do magistrado com a sociedade e com a mídia .................................................... 5
2 Ponto 2 - Problemas atuais da psicologia com reflexos no Direito: assédio moral e assédio sexual. ....... 6
3 Ponto 3 - Teoria do conflito e os mecanismos autocompositivos, técnicas de negociação e mediação.
Procedimentos, postura, condutas e mecanismos aptos a obter a solução conciliada dos conflitos ............... 7
3.1 Teoria do Conflito ................................................................................................................................ 7
3.2 Mecanismos autocompositivos: procedimentos, posturas, condutas e mecanismos aptos a obter
solução conciliada dos conflitos: ................................................................................................................... 7
3.3 Mediação ............................................................................................................................................. 8
3.3.1 Procedimentos e técnicas de mediação....................................................................................... 9
3.4 Conciliação ........................................................................................................................................ 10
3.4.1 Modalidades de conciliação ....................................................................................................... 10
3.4.2 Mediação x Conciliação.............................................................................................................. 10
3.5 Arbitragem......................................................................................................................................... 10
3.5.1 Características da Arbitragem: ................................................................................................... 11
3.5.2 Princípios da Arbitragem............................................................................................................ 11
3.5.3 Principais inovações da Lei de Arbitragem ................................................................................ 12
3.6 Negociação ........................................................................................................................................ 12
3.6.1 Formas de conduzir o processo de negociação ......................................................................... 12
4 Ponto 4 - O processo psicológico e a obtenção da verdade judicial. O comportamento de partes e
testemunhas..................................................................................................................................................... 13
4.1 Introdução ......................................................................................................................................... 13
4.2 Fatores Constitutivos do Testemunho ............................................................................................... 13
4.2.1 Fatores de Influência na Percepção de Acontecimentos ........................................................... 14
4.3 Fatores Capazes de Mudar a Evocação de Memórias ....................................................................... 14
4.4 A metodologia da busca da verdade judicial: os elementos fundamentais inseridos no contexto do
procedimento dos Interrogatórios. .............................................................................................................. 16
4.4.1 As Classes de Perguntas Mais Importantes Nos Interrogatórios Judiciais ................................. 16
4.4.2 Os Mecanismos Para se Atingir o Grau Máximo de Sinceridade nas Respostas em
Interrogatórios Judiciais. .......................................................................................................................... 17
4.4.3 Causas Mais Comuns da Inexatidão do Testemunho ................................................................. 18
4.4.4 Influência do Tipo de Personalidade na Classe do Testemunho................................................ 18
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1 Ponto 1 - Psicologia e Comunicação: relacionamento interpessoal, relacionamento do


magistrado com a sociedade e com a mídia

1.1 Relacionamento interpessoal


O relacionamento humano é conflituoso por natureza, tendo em vista que cada pessoa possui uma história
de vida diferente, com valores e objetivos diferentes. Se, sob o ângulo objetivo, todos os homens são iguais,
do ponto de vista subjetivo, sociológico e psicológico, os homens concretos são desiguais.
MUDANÇAS:
Perspectiva de Kurt Lewin – a mudança é considerada numa linha de continuidade, que tende
para uma progressão e para a busca de um estado caracterizado por tensões menos fortes. O
processo de mudança corresponde a uma aprendizagem, pois uma nova informação se integra à
percepção e se transforma em nova atitude.
Perspectiva psicanalítica – A mudança seria o resultado de uma luta permanente entre as
forças da pulsão de vida (Eros) e da pulsão de morte (Tanatos), que se organiza através da
compulsão à repetição e, ao mesmo tempo, na busca de um estado de equilíbrio ausente de
tensão. Nesse aspecto, mudar é não estar submetido ao princípio da compulsão à repetição, mas
aceder ao desconhecido e à transformação própria da vida.
Perspectiva sociológica – a evolução e a mudança seriam basicamente transformações
observáveis no tempo, que se relacionam com a estrutura da sociedade.
Todavia, a real problemática no âmbito inter-humano é a dualidade do ser e do parecer. Com
efeito, no campo do relacionamento interpessoal, nem sempre ser e parecer coincidem. Muitas
vezes, as pessoas parecem de uma maneira, com este ou aquele atributo ou sentimento, mas a
experiência vem demonstrar que, realmente, isso não passa de uma mera aparência. O mesmo
acontece no plano da comunicação interpessoal. As mensagens podem ser ambíguas, possuir
duplo sentido, sugerir uma coisa, quando, na verdade, pretendem comunicar outra. Entretanto,
para o magistrado, a orientação é socrática: seja o que deseja aparentar.
Em se tratando de qualidades específicas do magistrado, recomenda-se o exercício de algumas virtudes e
comportamentos fundamentais, dentre os quais destacam-se: 1) humildade; 2) controle emocional; 3)
controle da ansiedade; 4) empatia; 5) otimismo; 6) superação dos preconceitos; 7) competência
interpessoal.
Além desses atributos, devem ser acrescentados: crítica pessoal e social; serenidade; conhecimento jurídico
e metajurídico (filosofia, psicologia, sociologia, política, hermenêutica, etc.); elevado nível de tolerância à
frustração; clareza em suas manifestações; vocação moral voltada para a justiça, desprendimento material;
conduta pública e privada irrepreensível.
Por derradeiro, cabe salientar que os conflitos interpessoais podem favorecer os fatores de risco para o
estresse no ambiente de trabalho.
As pressões que afetam o magistrado podem ser organizadas em três vertentes:
* Externas Extraprofissionais (Exteriores) – são aquelas que se situam fora do campo estritamente
profissional (familiares, socioeconômicas, financeiras, etc.);
* Externas Profissionais (Exteriores) – são aquelas que decorrem diretamente da situação profissional
(excesso de trabalho; relações conflituosas com colegas de trabalho, advogados e funcionários; frustrações
decorrentes da precariedade de recursos do próprio sistema judicial; limitações concretas à atividade
jurisdicional, etc.);
* Internas (Interiores) – são aquelas decorrentes de conflitos intrapsíquicos, de origem inconsciente, tais
como sentimentos contraditórios ainda não devidamente resolvidos, ansiedades, angústias, impotência
para realizar ideais de justiça, assim como aquelas de ordem consciente, de natureza moral ou de
consciência ética, que se apresentam de maneira mais explícita do que propriamente implícita.
A Síndrome de Burnout é a mais característica das situações que pode acometer a pessoa que trabalha sob
intensa pressão, com elevadas cobranças internas e externas, e com expectativas altamente idealizadas. A
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Síndrome de Burnout refere-se ao desgaste profissional e consiste num grave estado de esgotamento
pessoal, físico e mental, decorrente de uma rotina de trabalho exigente e estressante.
As relações interpessoais respondem diretamente aos fatores de risco para estresse. Quanto mais
estressada estiver uma pessoa, maiores as chances de conflitos em suas relações. O desempenho
profissional fica prejudicado, a produtividade é menor e mais sujeita a erros e omissões. Podem surgir
comportamentos de procrastinação, dificuldade para se organizar, especialmente para aproveitar
corretamente o tempo, ou interrupções desnecessárias.
Conforme lição de José Renato Nalini, “a magistratura está reservada a quem possua condições de
enfrentar desafios, resistir a pressões, aptidão para produzir atos concretos de justiça e ânimo para ver sua
atitude confrontada em inúmeros cenários”.
1.2 O relacionamento do magistrado com a sociedade e com a mídia
O juiz deve cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as disposições legais e os
atos de ofício; tratar com urbanidade as partes, os Membros do Ministério Público, os advogados, as
testemunhas, os funcionários e auxiliares da Justiça, e atender aos que o procurarem, a qualquer
momento, quando se trate de providência que reclame e possibilite solução de urgência e, sobretudo, deve
manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.
Acrescente-se, ainda, que a qualidade - eficiência do trabalho produzido pelo juiz não depende apenas dos
seus conhecimentos jurídicos. Dependem, também, de seus conhecimentos metajurídicos, isto é, daqueles
conhecimentos que advêm de sua experiência pessoal e profissional e daquelas que compõem a sua
formação humanística, tais como filosóficos, psicológicos, políticos e sociais.
Ao se analisar, especificamente, o relacionamento do magistrado com a mídia, deve-se partir da premissa
de que os meios contemporâneos de comunicação de massa (rádio, televisão, jornais, internet, etc.)
produzem estímulos que não são puramente informativos ou racionais, mas portadores de elevada carga de
ressonância emocional, cujo conteúdo de manipulação nem sempre aqueles que compõem a plateia
conseguem distinguir, criando uma confusão no imaginário social. Processos de identificação e de
idealização agem inconscientemente sobre os destinatários desse tipo de mensagem manipulativa, gerando
crenças e comportamentos destituídos de crítica, com grande impacto numa sociedade líquida, carente de
valores e de modelos identificatórios estáveis.
Dessa forma, a opinião dos cidadãos está sujeita a uma complexa e sutil rede de múltiplas influências e
manipulações, na qual os meios de comunicação de massa desempenham um papel cada vez maior.
Há, basicamente, dois níveis de comunicação:
* Nível consciente – também chamado nível da comunicação expressa ou manifesta;
* Nível inconsciente – aquele latente, não manifesto ou interdito.
Se o magistrado deve ser prudente ao fazer uso da comunicação que estima consciente, porque mais
próxima aos fatos, maior cautela deverá ter com mensagens cifradas, aquelas que envolvem uma
metalinguagem, pois nela, não estando explícitos os conteúdos subjacentes, a possibilidade de conflitos é
redobrada.
Assim, sempre que possível, em manifestações públicas ou perante os meios de comunicação social, o
magistrado deverá optar pela clareza e pela objetividade, evitando pronunciamentos ambíguos ou
sujeitos a interpretações distorcidas.
O magistrado deve ter plena consciência das consequências de suas declarações e, como ensina Nalini, “o
juiz precisa ter consciência de que a sua decisão repercutirá no meio social e ele necessita ter noção precisa
dessas consequências”, pois se uma pessoa claudica, a falta é relevada, mas se o juiz claudica, o fato se
torna manchete.
Com efeito, a palavra do juiz, escrita na sentença ou pronunciada oralmente em qualquer situação em que
se revele sua autoridade, não pode servir à manipulação da consciência. Antes, deve ser um instrumento a
favor do esclarecimento da população e de sua conscientização, da tranquilização e da pacificação social,
mesmo quando para manter viva a luta pelo direito.
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REFERÊNCIA:
Psicologia Judiciária: para a carreira da magistratura / Jorge Trindade, Elise Karam Trindade, Fernanda
Molinari. 2.ed. rev., atual. e ampl. - Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012.
2 Ponto 2 - Problemas atuais da psicologia com reflexos no Direito: assédio moral e assédio
sexual.
A psicologia jurídica tem sido muito útil nos casos de assédio moral e de assédio sexual.
Apesar de ainda não haver nenhum dispositivo legal abordando a questão, a jurisprudência entende que a
caracterização de assédio moral no trabalho enseja indenização por danos morais. A decisão do TRT da 17ª
Região comprova o posicionamento:
A tortura psicológica, destinada a golpear a auto-estima do empregado, visando forçar sua
demissão ou apressar a sua dispensa através de métodos que resultem em sobrecarregar o
empregado de tarefas inúteis, sonegar-lhe informações e fingir que não o vê, resulta em
assédio moral, cujo efeito é o direito à indenização por dano moral, porque ultrapassa o
âmbito profissional, eis que minam a saúde física e mental da vítima e corroem a sua auto-
estima.
Assim, nos casos em que se discuta a presença, ou não de dano psicológico ocasionado por assédio moral
no trabalho, pode-se fazer uso da psicologia jurídica a fim de constatá-lo.
De acordo com Peli e Teixeira (2006, p. 27), “o assédio moral se caracteriza pela atitude insistente e pela
ação reiterada, por período prolongado, com ataques repetidos, que submetem a vítima a situações de
humilhações, discriminatórias e constrangedoras com o objetivo de desestabilizá-la emocional e
psiquicamente”.
Lis Andrea Soboll ilustra que o assédio moral no trabalho é um processo grave de violência psicológica, que
acontece de maneira repetitiva no contexto do trabalho e que produz humilhação, ofensa e
constrangimento (2011, p. 40).
Para Freitas (2001, p.10), dentro das organizações, o assédio moral pode surgir maneira insignificante e
acabar se alastrando pelo fato de a vítima, por medo, não formalizar denúncia, fazendo com que a situação
se torne corriqueira, provocando uma diminuição cada vez maior da sua autoestima, acarretando uma
fraqueza psíquica.
De acordo com Soboll (2011, p. 42), o assédio moral no trabalho pode ser de duas maneiras: assédio moral
organizacional e assédio moral interpessoal.
O assédio moral organizacional contempla interações entre o indivíduo e a organização que se utiliza da
hostilização como forma de gestão abusiva. Soboll (2011, p. 42) coloca como exemplo o uso de ranking de
comparação de resultados ou metas, acompanhado de exposições constrangedoras direcionadas aos
últimos colocados, com ameaça de demissão e de prejuízo na carreira, pelas empresas.
Franco, Druck e Silva (2010, p. 239), explicam que este tipo de violência psicológica tem por finalidade
obter a submissão às imposições de produtividade, provocar demissões de empregados menos qualificados
ou ambas.
O assédio moral interpessoal, por sua vez, contempla situações pessoalizadas de perseguição no ambiente
de trabalho, nas quais o alvo são sempre as mesmas ou a mesma pessoa (SOBOLL, 2011, p. 42).
O assédio ainda pode ser classificado em vertical ou horizontal (TARCITANO E GUIMARÃES, 2004). O assédio
vertical é o que ocorre do superior ou superiores para o subordinado(os) ou do subordinado(os) ao(s)
superior(es). Já o assédio horizontal ocorre entre indivíduos que estão num mesmo nível hierárquico dentro
da organização (HIRIGOYEN, 2002).
O assédio sexual, por sua vez, tem como premissa a invasão da liberdade sexual, consubstanciado por atos
que vão além da mera cortesia, causando constrangimento a outra pessoa, persuadindo a vítima para a
prática do ato sexual, utilizando como forma de coação o poder hierárquico (EUTÁLIO PORTO).
Ele reflete no campo penal e no campo indenizatório, já que atinge mecanismos subjetivos da vítima,
causando-lhe sofrimento, constrangimento, que, do ponto de vista psicológico, deixa marcas que exigem na
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maioria das vezes tratamento adequado.


Eutálio Porto explica que, se no campo civil é possível enquadrar o assédio sexual dentro da
responsabilidade civil, no campo penal, o assédio sexual tem sua definição atribuída pelo art. 216-A do CP.
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois)
anos. Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001) § 2o A pena é
aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.

3 Ponto 3 - Teoria do conflito e os mecanismos autocompositivos, técnicas de negociação e


mediação. Procedimentos, postura, condutas e mecanismos aptos a obter a solução
conciliada dos conflitos

3.1 Teoria do Conflito


O conflito é ínsito às relações humanas e representativo do sujeito. Por consequência, as relações humanas
são necessariamente constituídas de elementos conflitivos em toda a sua gama e amplitude, matriz e
emocionalidade.
As percepções de cada ser humanos são únicas e sempre agregam valores, de modo que as impressões
sensoriais adquirem o significado que o sujeito lhe atribui. Nos casos de conflitos interpessoais, em razão
da singularidade que cada ser humano tem de atribuir significado às suas vivências e levando-se em
consideração a sua estrutura psíquica, é oportuno conceber o humano como um sujeito instável, dinâmico
e contraditório por natureza.
Do ponto de vista psicológico, numa concepção psicanalítica, o conflito é proveniente de um processo
inconsciente, pelo qual energias psíquicas provenientes do id encontram obstáculos do ego e, em
decorrência, são reprimidas, pelo superego, retornando, dessa forma, ao inconsciente. Trata-se de um
conflito entre ego e id, estando o superego do lado de um ou de outro.1

3.2 Mecanismos autocompositivos: procedimentos, posturas, condutas e mecanismos aptos a


obter solução conciliada dos conflitos:
É inquestionável que o principal objetivo da jurisdição é seu caráter de pacificação. Nesse sentido, é salutar
que se encontrem fórmulas de consenso para que a pretensão resistida chegue a bom termo, atingindo-se
o ideal de justiça das partes.
A partir do momento em que os conflitos são jurisdicionalizados, ocorre um processo de transferência de
sentimento de frustração, raiva, ou descontentamento com um fato específico, para os atos processuais,
fazendo com que o processo seja uma forma de exteriorizar sentimentos contidos, alimentando condutas
cada vez mais litigiosas.
A jurisdição, enquanto atividade meramente substitutiva, irá dirimir o conflito sob o ponto de vista dos seus
efeitos jurídicos, mas, na imensa maioria das vezes, não resolve o conflito interno dos envolvidos.

1 O id é a instância pulsional do psiquismo, e seu conteúdo é totalmente inconsciente. É irracional, ilógico e amoral. Consiste
no conjunto de reações mais primitivas da personalidade humana. Tenta impor seus desejos de satisfação imediata e
irrestrita e, para conseguir o que deseja, precisa fazer uma negociação com o ego. O ego corresponde ao conjunto de reações
que tenta conciliar os esforços e as demandas do id com as exigências da realidade, interna ou externa. Nesse aspecto, faz a
mediação dos impulsos do id com o meio ambiente, permitindo ao sujeito olhar-se a si próprio. O ego apresenta uma função
adaptativa e está presidido pelo princípio da realidade. O superego é a expressão da interiorização das interdições e
exigências da cultura e da moralidade, representada pelos pais. É quase totalmente inconsciente, possuindo uma pequena
parte consciente. É nele que se inscreve a lei primária. A lei de todas as leis, que é interna e propícia a cada pessoa valorar o
que é bom ou mau, certo ou errado. O superego tem uma função essencial, que é a de cuidado e proteção, mostrando ao ego
o que é moralmente inaceitável ou perigoso à integridade física.
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Ademais, há que se considerar que, quando um processo encerra, a partir da sentença de mérito, uma das
partes é vencida. Não raras vezes, a parte que perde a sua pretensão deduzida em juízo transfere ao Poder
Judiciário a responsabilidade pela frustração de suas expectativas, criando obstáculos para evitar ou
dificultar a execução da sentença e fomentando novas lides.
Diante desse contexto, muito se tem falado sobre os métodos alternativos para solução de controvérsias.
Tais métodos mostram-se eficazes para finalizar demandas de complexidade variada, de forma mais célere
e necessariamente com a participação efetiva das partes, o que possibilita uma forma satisfatória de
autocomposição dos conflitos.
As formas autocompositivas fazem parte de um contínuo, que varia no que tange ao grau de autonomia das
decisões dos envolvidos, dentre as quais se destacam a: 1) mediação; 2) conciliação; 3) negociação; 4)
arbitragem.
3.3 Mediação
A mediação é uma forma de autocomposição assistida, isto é, são os próprios envolvidos que irão compor o
conflito, mas com a presença de um terceiro imparcial – o mediador – que não deve influenciar, emitir juízo
de valor ou persuadir as pessoas ao acordo.
A mediação possui alguns princípios norteadores, dentre os quais se destacam:
1) Princípio da autonomia da vontade:
É o poder das partes de estipular livremente, como melhor lhes convier, mediante acordo de vontades, a
disciplina de seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica.
Esse princípio confere às partes a faculdade de se socorrerem de meios alternativos para solução de
controvérsia, versando sobre direito patrimonial disponível.
2) Princípio da não adversariedade:
Quando se utiliza a mediação como forma de solucionar conflitos, não há espírito de litigância, no sentido
de que não existe ganhador e perdedor, uma vez que ambos se dispõem a conjuntamente encontrar
soluções para as questões envolvidas.
O resultado da cooperação mútua para solucionar o litígio é a probabilidade de ocorrer um acordo que vise
a garantir o interesse de ambas as partes.
3) Princípio da presença do terceiro interventor neutro e imparcial:
Na mediação, as partes são auxiliadas por um terceiro interventor imparcial, que não deve influenciar,
emitir juízo de valor ou persuadir as partes ao acordo, sendo a sua atuação desprovida de caráter
coercitivo.
A atuação do mediador não é outra, senão a de auxiliar os mediandos a identificar, discutir e resolver as
questões do conflito, buscando transformar o adversário em partícipe de um processo de solução
cooperativa, conduzindo a um termo de entendimento para a obtenção da satisfação mútua das partes
envolvidas no litígio.
A conduta do mediador deve observar os seguintes princípios:
* Imparcialidade – não pode existir qualquer conflito de interesses ou relacionamento capaz de afetar sua
imparcialidade; deve o mediador procurar compreender a realidade dos mediados, sem que nenhum
preconceito ou valores pessoais venham a interferir no seu trabalho.
* Credibilidade – o mediador deve construir e manter a credibilidade perante as partes, sendo
independente, franco e coerente.
* Competência – é a capacidade para efetivamente mediar a controvérsia existente. O mediador somente
deverá aceitar a tarefa quando tiver as qualificações necessárias para satisfazer as expectativas razoáveis
das partes.
* Confidencialidade – os fatos, situações e propostas ocorridos durante a mediação, são sigilosos e
privilegiados. Aqueles que participarem do processo devem, obrigatoriamente, manter o sigilo sobre todo o
conteúdo a ele referente, não podendo ser testemunhas do caso, respeitado o princípio da autonomia da
vontade das partes, nos termos por elas convencionados, desde que não contrarie a ordem pública.
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* Diligência – cuidado e prudência para a observância da regularidade, assegurando a qualidade do


processo e cuidando ativamente de todos os seus princípios fundamentais.
4) Princípio da autonomia das decisões e autocomposição:
O acordo firmado no processo de mediação não possui condão impositivo, nem possui o mediador poder
de decisão.
Serão as partes que decidirão todos os aspectos do problema, sem intervenção do mediador, no sentido de
induzir as respostas ou as decisões, mantendo autonomia e controle das decisões relacionadas ao conflito.
O mediador facilita a comunicação, estimula o diálogo, auxilia na resolução de conflitos, mas não os decide.
5) Princípio da não competitividade e consensualidade na resolução do conflito:
Durante a mediação, busca-se aproximar as partes. Não existe a triangulação autor-juiz-réu, nem sentença
impositiva resolvendo o mérito. Não se estabelece o estigma de perdedor e ganhador do conflito. O que se
busca é um acordo mútuo que acarretará concessões de ambas as partes, o que, automaticamente, afasta
o sentimento de competitividade, fazendo com que o resultado final seja aceito, uma vez que foram elas
próprias as responsáveis pelo seu desfecho.
6) Princípio da flexibilidade e informalidade do processo:
Ao contrário do processo judicial, que tem um procedimento específico e exige a observância de
formalidades legais, no procedimento de mediação a formalidade é quase inexistente, e não há normas de
direito processual que devam ser seguidas.
Nada obstante, ainda que se trate de um processo dinâmico e flexível, faz-se necessária a observância de
algumas etapas, que, em regra, são:
* Premediação – nesta etapa ocorre a apresentação do processo, onde serão obtidas informações,
avaliação da situação e eleição do mediador.
* Discurso de abertura – ocorrerá o estabelecimento de procedimentos e negociação, onde será feito o
Acordo de Participação e Termo de Independência.
* Relato das histórias – É nesse momento que as partes irão falar, apresentarão provas e o mediador irá
tendo compreensão dos problemas expostos. As perguntas formuladas pelo mediador precisam ser
objetivas. O foco precisa estar nas questões que levaram ao conflito, e não nos envolvidos e seus
comportamentos.
* Construção, ampliação e negociação das alternativas para solucionar o conflito – após ser exposto o
problema, o mediador deverá ter uma visão global do conflito, auxiliando as partes na negociação. Um
passo importante nessa fase é que o mediador tente colocar uma parte no local da outra. Esta reflexão de
como o outro enxerga o problema auxilia na elaboração do acordo. Ao perceber que se criou um impasse,
em algum determinado ponto, o mediador poderá sugerir alguma alternativa, lembrando sempre que a sua
postura deverá ser imparcial e neutra. As partes devem se sentir responsáveis na elaboração de cada parte
do acordo firmado.
* Fechamento do processo de mediação e construção do acordo final – havendo um consenso, o mediador
fará um resumo de todas as alternativas apresentadas para solucionar o conflito, estando atento se é viável
para ambas as partes cumprirem. Após a redação final e a assinatura do acordo, o mediador poderá deixar
claro que aquela solução é fruto de um entendimento entre as partes, ressaltando a responsabilidade e
coautoria sobre o que ficou decidido.
3.3.1 Procedimentos e técnicas de mediação
A maioria dos mediadores trabalha seguindo uma abordagem específica, que pode ocorrer de quatro
formas:
- Abordagem avaliadora – restrita: o mediador ajuda as partes a perceber os pontos fracos e fortes de suas
posições e quais os eventuais efeitos caso se submetam a procedimentos judiciais, ou extrajudiciais, caso a
resolução por mediação não seja alcançada.
- Abordagem facilitadora – restrita: educar as partes sobre os pontos fortes e fracos de suas pretensões e
suas prováveis consequências de uma mediação malsucedida.
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- Abordagem avaliadora – ampla: a principal estratégia do mediador avaliador-amplo é entender as


circunstâncias e interesses secundários das partes e outros indivíduos ou grupos envolvidos e, então, usar
seu conhecimento para buscar o resultado que atenda aos interesses delas.
- Abordagem facilitadora – ampla: a principal estratégia é ajudar as partes a definir a matéria sujeita à
mediação, nos termos dos seus interesses subjacentes e, baseado nisso, ajudá-las a desenvolver e escolher
suas próprias soluções.
3.4 Conciliação
Trata-se, na verdade, de uma forma de heterocomposição, dependente da intervenção de um terceiro
imparcial, junto aos litigantes, com o intuito de levá-los à autocomposição. Na conciliação, além da
administração do conflito por um terceiro neutro e imparcial, este mesmo conciliador tem a prerrogativa de
poder sugerir um possível acordo, trazendo alternativas de resoluções das questões controvertidas.
3.4.1 Modalidades de conciliação
Conciliação Extraprocessual – ocorre nas hipóteses de conflitos ainda não jurisdicionalizados.
Conforme o Conselho Nacional de Justiça, esse procedimento se constitui em um método de
prevenção de litígios e funciona como opção alternativa ao ingresso na via judicial, objetivando
evitar o alargamento do número de demandas nos foros e a abreviação de tempo na solução das
pendências. Obtido o acordo em sede de conciliação pré-processual, tem lugar a lavratura do
instrumento particular de composição do conflito, o qual pode se constituir, desde logo, quando for
o caso, em título executivo extrajudicial (art. 585, II, do CPC, com a assinatura de testemunhas),
nada obstando, onde admitido, haja encaminhamento à homologação judicial.
Conciliação Endoprocessual – ocorre quando já foi instaurada a lide, ou seja, é uma
modalidade de procedimento inerente à jurisdição. Nos termos do art. 448, do CPC, antes de
iniciar a instrução, o juiz tentará conciliar as partes. Chegando a acordo, o juiz mandará tomá-lo
por termo. Conciliando-se as partes, o juiz homologará o acordo, passando ele a ter a mesma
eficácia pacificadora de uma sentença que julgasse o mérito (art. 269, III, do CPC), que fará coisa
julgada material, constituindo-se em título executivo judicial (art. 475-N, III, do CPC).
3.4.2 Mediação x Conciliação
Na conciliação, o terceiro propõe alternativas de resoluções, o que denota a sua maior intervenção e
responsabilidade para solucionar o conflito. Embora o acordo jamais possa ser imposto, a participação do
conciliador na composição do litígio é mais efetiva, mostrando às partes envolvidas possibilidades de se
chegar a um consenso.
Na mediação, por sua vez, vislumbra-se um maior poder das partes, que atuam de uma forma efetiva para
solucionar o conflito, ficando a cargo do mediador o papel de facilitador da negociação. Existe uma maior
participação dos envolvidos na solução do conflito, transferindo a eles a confiança, autodeterminação e
responsabilidade para compor o litígio.
3.5 Arbitragem
É um processo alternativo, voluntário e extrajudicial, entre pessoas físicas e jurídicas capazes de contratar,
no âmbito dos direitos patrimoniais disponíveis, sem a necessidade de tutela do Poder Judiciário.
Os interessados elegem, em cláusula compromissória - assim entendida como a manifestação expressa de
vontade onde as partes comprometem-se a submeter à arbitragem litígios que possam, no futuro, advir
relativamente àquele contrato -, que a solução do conflito ocorra por árbitros, ou juízes arbitrais, em
caráter definitivo.
Em não havendo acordo prévio, a Lei de Arbitragem prevê o compromisso arbitral, que é a manifestação
posterior ao contrato firmado, de que a solução do litígio seja feita por árbitros. Às partes é facultado
escolher: a) se a arbitragem será de direito ou por equidade; b) as regras de direito que serão aplicadas,
desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.

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3.5.1 Características da Arbitragem:


Conciliação – as partes, ao escolherem a arbitragem, já estarão manifestando, implícita e explicitamente, a
vontade de encontrarem uma solução para o conflito. E é nesse sentido que o árbitro irá pautar sua
conduta, buscando o equilíbrio entre as duas posições antagônicas, deixando como última alternativa sua
prerrogativa de emanar o laudo arbitral, dirimindo, por vez, o conflito.
Informalidade – a informalidade é praticada em todo o andamento do procedimento arbitral, visando à
solução rápida e eficaz do conflito, sem que isso possa prejudicar o direito de cada um e a análise e
convencimento do árbitro.
Confidencialidade – na arbitragem, todos os procedimentos são revestidos pelo pressuposto da
confidencialidade, somente sendo permitida sua publicidade com expressa autorização, evitando, assim,
que casos que possam gerar repercussão pública sejam divulgados, contrariando os interesses das partes.
Celeridade – a Lei 9.307/96 determina que os procedimentos arbitrais deverão, salvo manifestação expressa
das partes estabelecendo o contrário, ser solucionados no prazo de 06 meses.
Sentença arbitral – outra característica da arbitragem é a impossibilidade de se ingressar com recurso
contra a sentença arbitral.
3.5.2 Princípios da Arbitragem
Autonomia da vontade – confere às partes a faculdade de elegerem a arbitragem como forme de dirimir
litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis;
Boa-fé – é o princípio pelo qual as partes, na relação obrigacional, devem agir com lealdade, correção e
confiança recíprocas, não podendo uma das partes, após ter firmado o contrato e eleito, de forma
espontânea, a instância arbitral, deixar de honrar o compromisso assumido. Visa impedir que a parte de
má-fé não honre com o pactuado e impeça a instauração do juízo arbitral;
Contraditório – a garantia do contraditório compreende, para o autor, a possibilidade de poder deduzir
ação em juízo, alegar e provar fatos constitutivos de seu direito e, quanto ao réu, ser informado sobre a
existência e conteúdo do processo e poder reagir, isto é, fazer-se ouvir. Se a sentença arbitral estrangeira
violar esse princípio, não será homologada na jurisdição brasileira, conforme art. 38, III, da Lei de
Arbitragem.
Ampla defesa – é a possibilidade, assegurada ao acusado, de que tenha à sua disposição todos os meios
legalmente previstos para provar o seu direito.
Igualdade das partes – as prerrogativas atribuídas a uma das partes, visando proporcionar a paridade das
armas, não podem superar o estritamente necessário para estabelecer o equilíbrio entre elas, sob pena de
ferirem o princípio da isonomia.
Imparcialidade – no desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade,
independência, competência, diligência e discrição, consoante determina a Lei de Arbitragem. Não sendo
observado este princípio, a sentença arbitral será nula.
Livre convencimento – significa que o árbitro vai embasar suas decisões com base nas provas existentes nos
autos, levando em conta sua livre convicção pessoal motivada.
Irrecorribilidade da sentença arbitral – visando a celeridade na solução do conflito, a Lei de Arbitragem (art.
18) estabelece que não é possível a interposição de recursos ao próprio árbitro, Tribunal Arbitral ou ao
Poder Judiciário, para reexame de mérito. Todavia, o art. 30 permite o questionamento da sentença arbitral
em dois casos: (a) se ocorrer erro material ou (b) se houver alguma obscuridade, dúvida, contradição ou
omissão na sentença arbitral. Somente é permitido o ingresso da ação no Poder Judiciário, nos casos de
nulidade da sentença arbitral, mas não para o reexame do mérito por insatisfação da parte vencida.
Autonomia da cláusula compromissória – a cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato
em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da
cláusula compromissória.

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3.5.3 Principais inovações da Lei de Arbitragem


Força obrigatória e vinculante para a cláusula arbitral – a convenção de arbitragem, seja ela expressa na
forma de cláusula compromissória ou compromisso arbitral, adquiriu força e, uma vez existente, obriga as
partes a instaurarem o juízo arbitral. Nos termos do art. 267, VII, do CPC, se houver cláusula de arbitragem
entre as partes, o juiz deverá extinguir o processo sem julgamento de mérito, devendo ser instaurado o
juízo arbitral para solucionar o litígio.
Equiparação da sentença arbitral à sentença judicial – a sentença arbitral produz, entre as partes e seus
sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo
condenatória, constitui título executivo, nos termos do art. 475-N, IV, do CPC.
Supressão da necessidade de dupla homologação e citação por carta rogatória da parte domiciliada no
Brasil – a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de
Justiça. No que se refere à citação por carta rogatória, estabelece a Lei de Arbitragem que não será
considerada ofensa à ordem pública nacional a efetivação da citação da parte residente ou domiciliada no
Brasil, nos moldes de convenção de arbitragem ou da lei processual do país onde se realizou a arbitragem,
admitindo-se, inclusive, a citação postal com prova inequívoca de recebimento, desde que assegure à parte
brasileira tempo hábil para o exercício do direito de defesa.
Garantia de jurisdição ao árbitro – o árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica
sujeita a recurso ou a homologação do Poder Judiciário. Visando a garantir a efetividade da decisão arbitral,
a Lei de Arbitragem delimitou a cognição da demanda anulatória da sentença em um rol de caráter
essencialmente processual.
3.6 Negociação
A negociação, enquanto autocomposição, é uma forma de interação verbal em que as partes propõem,
contrapropõem e argumentam para a obtenção de um acordo que recebe o assentimento dos envolvidos.
Durante o processo de negociação, não há um terceiro que auxilia ou ajuda na composição do conflito, mas
as próprias partes que chegam ao acordo final.
3.6.1 Formas de conduzir o processo de negociação
- Movimentos que levam a um acordo – caracterizam-se por uma atitude positiva, por propostas concretas
e por concessões. Assinalando o início da negociação, a própria iniciativa e a sua expressão na forma de
uma oferta constituem um movimento do tipo considerado.
- Movimentos que modificam o nível de aspiração – caracterizam-se por esforço de uma parte, no sentido
de fazer mover a outra, levando-a a mudar de expectativas, fazendo-a reconsiderar suas ideias a respeito
do que poderia obter ou do que deveria dispor. Todos os atos de persuasão ou de dissuasão compõem este
grupo de movimentos.
- Movimentos de esclarecimento – são aqueles que trazem dados, descrições e explicações, sem que o
objetivo seja, propriamente, de persuadir. Servem para clarificar situações e condições, esclarecer acerca
de propostas ou de procedimentos.
- Movimentos de aproximação ou afastamento – utiliza-se de concessões, recusas, argumentos,
esclarecimentos e ameaças. São movimentos que reforçam os elos de negociação entre as partes, ou
servem para enfraquecê-los ou mesmo parti-los.
- Movimentos de relaxamento ou de tensão – os movimentos de tensão na negociação ocorrem,
basicamente, quando a negociação ameaça romper-se ou quando tende a transformar-se em conflito. Os
movimentos de relaxamento servem para servem para afastar-se dos temas de conflito ou de ameaças de
rompimento.
- Movimentos protelatórios – buscam atender a duração da negociação, através da criação de novas
situações que devem ser examinadas, da apresentação de novas exigências, ou mesmo através da
suspensão justificada ou injustificada dos encontros.

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4 Ponto 4 - O processo psicológico e a obtenção da verdade judicial. O comportamento de


partes e testemunhas.

4.1 Introdução

Para a obtenção do que costumeiramente se denominou de “verdade judicial” é necessário que alguns
processos psicológicos sejam analisados de forma cautelosa. Apenas as normas positivadas nos códigos
jurídicos não são suficientes para abarcar todas as nuances dos testemunhos fornecidos pelos agentes
processuais. É necessário que o magistrado e demais auxiliares estejam suficientemente inteirados desses
processos de ordem psicológica para que possam compreender e melhor se portar diante de situações que
exijam a prática de narrativas e de exposição de testemunhos.
4.2 Fatores Constitutivos do Testemunho
O testemunho de alguém deve ser entendido como uma narrativa daquilo que o indivíduo conseguiu
perceber do que estava a se passar e transcorrer diante de si. Essa narrativa não pode ser tida como algo
que se coloca como fundamentalmente escorada em uma conclusão mental do indivíduo que recorra a
elementos extrínsecos desvinculados com a sua “realidade”. Pode-se asseverar que existem alguns fatores,
de naturezas diversas, que influenciam a percepção do indivíduo no que tange à retenção dos fatos que ele
próprio foi capaz de presenciar.
Mira y López coloca que existem cinco fatores determinantes no testemunho de qualquer pessoa acerca de
um acontecimento qualquer.
O primeiro deles é o modo como essa pessoa percebeu esse acontecimento.
Esse fator depende, por sua vez, de condições (ou elementos) externas e internas. Cita-se como principal
elemento externo da percepção o próprio ambiente em que se localiza o indivíduo. Exemplificativa, o
ambiente pode ser externo, uma rua ou uma praia, por exemplo, ou interno, um quarto ou uma sala. A
percepção do indivíduo também será definida em função de suas condições internas. Assim, a percepção
variará caso o observador tenha deficiências em sua acuidade visual ou auditiva, aliás, caso um dessas
acuidades seja comprometida, é possível que ele possua até mesmo outra acuidade com maior
sensibilidade.
O segundo fator diz respeito ao modo como a memória do indivíduo conserva o que ele observou,
memória no sentido de “faculdade de reproduzir conteúdos inconscientes”. A conservação e o
reconhecimento consciente de informações na memória através de um relato é algo puramente
neurofisiológico, o que não significa que a aquisição dessa informação dentro do aglomerado inconsciente
seja algo meramente biológico. Revolve-se elementos diversos do funcionamento biofísico do indivíduo,
relacionando-se, portanto, com elementos emocionais e psicológicos.
Essas últimas observações conduzem ao terceiro fator, que se relaciona com a capacidade do indivíduo de
evocar o fato observado. É usual que, na tentativa de evocar os fatos que devem ser narrados no
testemunho, haja a atuação de mecanismos psicológicos de repressão e censura do próprio agente-
narrador.
O quarto fator constitutivo do testemunho é o grau de sinceridade nas assertivas da testemunha.
O quinto e último fator diz respeito ao modo como se pode expressar o fato observado. Entra em pauta
aqui o “grau de precisão expressiva” da sua narrativa, a fidelidade e clareza com que o sujeito é capaz de
descrever suas impressões, fazendo-se compreender pelas pessoas.
A Psicologia tem por obrigação estudar cada um desses fatores, de forma isolada, para, posteriormente,
poder confrontá-los, em face do testemunho propriamente dito, com a realidade e a verdade dos fatos
testemunhados.
Existem dois métodos de estudo. O primeiro desses métodos é o quantitativo. Ele procura, essencialmente,
avaliar intensidade dos estímulos sofridos pela testemunha para avaliar a compatibilidade da sua narrativa
com o quadro da realidade que para ela se apresentou. O segundo método de estudo é baseado em
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análises de ordem qualitativa. Ele procura avaliar a influência de percepções anteriores e coexistentes às
observações (através do contraste e da adaptação de quadros testemunhais).
No que diz respeito às memórias, em suas duas fases, a de conservação e a de evocação, realizaram-se
estudos quantitativos e qualitativos. Os estudos de natureza quantitativa tiveram por escopo estabelecer as
“curvas do esquecimento” e o “esquecimento forçado” que se observam nas lembranças emocionais. Já os
estudos qualitativos, por seu turno, tenderam a estudar as deformações dessas duas classes de lembrança,
algo denominado pelos estudiosos de “pseudomemória”.
4.2.1 Fatores de Influência na Percepção de Acontecimentos
A experiência psíquica é algo complexo na qual não há uma simples mistura ou justaposição de elementos
realísticos, o que há, na verdade, é uma fundição de vários elementos afetivos, emocionais e intelectuais,
que concorrem, de maneira aritmeticamente indissociável para a formação de uma vivência, ou seja, essa
fusão elementar finda por constituir um ato psíquico, dinâmico, global, e em sua completude estrutural,
irredutível. Deste modo, ainda que seja possível, até experimentalmente, traçar um perfil básico e objetivo
das reações perceptivas a certa situação fática, o desenrolar dessa percepção sempre variará em função da
compreensão eminentemente subjetiva envolvida nesse contexto.
Um fator que deve ser observado no estudo da influência perceptiva de acontecimentos diz respeito o grau
de fadiga psíquica em que se encontra o indivíduo perceptor.
Outro fator que também deve ser levado em consideração diz respeito à questão do gênero. Isto é, a
generalização ou a especificidade de uma percepção varia em função do gênero do indivíduo que está a
narrar tal situação perceptiva. Os homens têm mais capacidade do que as mulheres para a percepção geral
de uma situação. As mulheres, porém, percebem com mais exatidão os detalhes.
Outra constatação concreta acerca da análise das capacidades perceptivas dos indivíduos em suas
narrativas é afeita à determinação que os momentos iniciais e finais de um acontecimento tendem a ser
percebidos com maior exatidão do que os intermediários.
Mais uma constatação concreta a ser elencada faz referência ao fato que em igualdade de condições, as
impressões visuais tendem a ser testemunhadas com mais facilidade do que as acústicas.
Ainda, os testemunhos referentes a dados quantitativos geralmente são mais imprecisos que os
qualitativos. É comum que as qualidades sejam mais presentes nas memórias dos indivíduos que a
marcação quantitativa, haja vista que o processo de armazenamento numérico, é, em geral, algo mais difícil
que a simples descrição qualitativa de um acontecimento (aspecto da subjetividade na descrição do relato).
Além disso, o hábito é o mais importante fator capaz de influenciar a percepção, isso porque ele talvez seja
o mais comum a exercer influência sobre os elementos que constituem a apreensão perceptiva. Por mais
que se queira, não há como se furtar à experiência de que os automatismos mentais são preponderantes
na percepção da realidade. Em virtude do hábito, é comum que os indivíduos sejam levados a completar de
tal modo as percepções da realidade exterior, que basta que se encontrem presentes alguns de seus
elementos para que o seu juízo de realidade se dê por satisfeito e aceite a presença do todo.
4.3 Fatores Capazes de Mudar a Evocação de Memórias
Até aqui foram abordados os principais fatores capazes de influenciar a percepção de um acontecimento,
ou seja, elementos que podem exercer influência sobre a sua gênese e estruturação. Agora deverão ser
perscrutados os fatores capazes de modificar sua evocação, isto é, aqueles fatores que podem influenciar
no modo em que as memórias armazenadas pelo sujeito podem ser resgatadas do inconsciente.
A evocação é simplesmente a reprodução voluntária interna de um fato.
Tanto quanto podem influenciar na conservação dos acontecimentos presenciados, os elementos afetivos
também são considerados um dos instrumentos mais eficazes e tendentes a perturbar a marcha do
processo evocador de memórias.
Este mecanismo é usualmente denominado de “amnésia emocional”, a partir do qual se observa, por
exemplo, haver uma consequência de um brusco abalo moral no encadeamento de resgate de memórias
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do sujeito. Nesse caso, o esquecimento de uma situação tem como finalidade uma defesa psíquica, já que
pressupõe o esquecimento de um sentimento doloroso vinculado a ela.
Outro ponto de atuação da repressão é que as memórias podem surgir deformadas e misturadas com falsas
lembranças. Quando seu processo de formação se dá dessa forma desestruturada elas recebem, então, o
nome de “pseudomemórias”. Quando o indivíduo se dá conta da pobreza de suas lembranças trata logo de
completá-las, utilizando-se de associações que em sua mente se dão de forma “logicamente” relacionadas
com elas. Ou seja, ele começa a “inventar” partes da estória narrada para que ela faça algum sentido e não
seja apenas uma narrativa cheia de lacunas. Mesmo com absoluta boa-fé, o resultado dessa evocação
“completada” pelo próprio sujeito é algo totalmente desvinculado não só da realidade, como algo
totalmente diverso daquilo que porventura possa ter sido por ele apreendido ou percebido.
Na seara da psicologia, há uma questão fundamentalmente envolvida na expressão, a qual diz respeito à
aptidão do sujeito descrever bem os fatos por ele presenciados; sem falar, exemplificativamente, da
possibilidade que um ouvinte tem de poder dar outros sentidos ao que ouve do narrador e, portanto,
podendo também distorcer os fatos.
Mesmo assim, é importante a regra de deixar ao indivíduo sua própria iniciativa de revelar os fatos e não de
induzi-lo sob o pretexto de ajudá-lo. Pois, se assim for feito, não será raro que o sujeito testemunhe,
cooperativamente, de modo a se “encaixar” ou se “enquadrar” naquilo que ele imagina ser o que o juiz
gostaria de saber, deixando de revelar os fatos e as situações como ele realmente as viveu.
Embora seja execrável que a testemunha deforme seu relato por ela mesma (seja por qual finalidade que
ela tenha), é muito pior e mais grave que ela faça isso motivada por perguntas sugestivas ou capciosas que
lhe sejam dirigidas por um interrogador demasiadamente cioso de sua obrigação, porém pouco técnico.
Partindo-se do pressuposto básico que o relato espontâneo seja algo feito de modo “sincero” e
“verdadeiro”, é evidente que ele se mostrará mais “vivo” e mais “puro” e, portanto, menos deformado do
que aquele obtido por meio de interrogatório. O problema com essa forma de testemunho (seu maior
defeito) é ser dualmente incompleto e irregular. Ele é irregular porque sempre apresenta informações
desnecessárias e não uniformes para que se elucide o caso ou evento que deva ser minimamente
esclarecido. Também é tido por incompleto porque geralmente apresenta uma miríade de informações que
em nada se relacionam com os principais pontos do acontecimento a ser explorado, apenas apresentando
elementos aleatórios e interpolados, totalmente inúteis, que não acrescentam nenhuma informação
profícua ao desenrolar do processo.
Já o testemunho obtido por interrogatório representa o resultado do conflito entre o indivíduo que sabe,
por um lado, e o que as perguntas dirigidas a ele tendem a fazê-lo saber. Toda resposta é, com efeito, uma
reação mista em que entram influências de ambas as partes, tanto do interrogado quanto do interrogador.
É bastante comum que essa mistura da vivência do interrogado com o direcionamento inquisitivo daquele
que pergunta pode gerar um quadro de testemunho não totalmente condizente com a verdade dos fatos
ocorridos. Mas existem três motivos principais para que se origine uma resposta falsa nesse tipo de
testemunho.
O primeiro desses motivos diz respeito a uma ideia implícita na pergunta que evoque, por associação, outra
ideia não vinculada à realidade a ser testemunhada.
O segundo motivo que pode conduzir a respostas falsas se refere ao surgimento de uma lacuna na
memória do inquirido, resultante da pergunta feita, vácuo esse que ele procura preencher de forma
aleatória ou ao acaso, de modo equivocado e inexato. Percebe-se a forte influência do elemento emocional
e afetivo na evocação de memórias. Pode ser que essa lacuna seja apenas o mecanismo de defesa do
indivíduo tentando preveni-lo de uma lembrança dolorosa ou estressante. Deste modo, apenas para se ver
livre da pergunta que lhe foi feita, é comum que ele mesmo “invente” alguma situação que complemente o
quadro mais amplo do evento que ele conseguiu se lembrar.
O último motivo é afeito à relação social assimétrica existente entre juiz e testemunha, colocando-a em
condição de inferioridade ou temor, algo que conduz a uma sugestão direta que a impeça de dar a resposta

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devida. Essa colocação de inferioridade da testemunha em face do juiz faz com que ela se acanhe e tenda a
responder do modo como seria “teoricamente mais adequado”, ou seja, o modo como o magistrado
gostaria de escutar a narração de um determinado fato ou evento.
4.4 A metodologia da busca da verdade judicial: os elementos fundamentais inseridos no
contexto do procedimento dos Interrogatórios.

4.4.1 As Classes de Perguntas Mais Importantes Nos Interrogatórios Judiciais


Do ponto de vista psicológico e gramatical, podem ser distintas sete diferentes classes de perguntas. Essas
perguntas formam a estrutura interrogativa que pode ser aplicada aos testemunhos judiciais. Ainda assim,
deve-se salientar que nem todas elas são recomendadas para tal uso, haja vista que algumas delas
apresentam um forte componente de sugestão, algo que pode induzir a emissão de respostas não
verdadeiras por parte dos agentes interrogados.
A primeira das classes a ser analisada é a das afirmativas por presunção, também chamadas de perguntas
complexas, feita através de dois conjuntos de hipóteses. No primeiro deles, há a declaração ínsita ao
questionamento. No outro conjunto, o interrogador se vale dos mecanismos questionadores para conjugar
a declaração contida no outro conjunto e assim configurar a sua indagação.Um exemplo prático dessa
classe de questionamento consiste em perguntar de que cor era a gravata de um assassino, sem antes
mesmo de se saber se o inquirido tinha conhecimento de que o indiciado estava com gravata no momento
do ocorrido. Contudo, ainda que essa classe de perguntas se proponha a dar um efetivo direcionamento do
interrogatório, tais questionamentos devem ser evitados com mais cuidado. Em virtude da sua grande
capacidade de sugestão e de indução ao erro, tais perguntas não devem ser feitas para que não se tenha
apenas um testemunho “viciado” às pressuposições do inquiridor, algo que dá total descrédito a esse
procedimento.
A segunda classe de perguntas a ser analisada é a das perguntas disjuntivas parciais. Esse tipo de indagação
se vale de uma dicotomização das respostas possíveis para excluir (ou ao menos reduzir) o universo lógico
de possibilidades de resposta do interrogado. Partindo do mesmo exemplo da gravata, o inquiridor
pergunta, por exemplo, se a gravata do acusado era amarela ou negra. Embora, na lembrança do inquirido
ela se parecesse mais com azul, ele responde, por proximidade das cores, que ela era negra. O problema é
que essa classe de perguntas reduz o universo de respostas e limita de sobremaneira a descrição factual.
Existe mais uma classe de perguntas que se divide em dois tipos. Trata-se do condicionamento
interrogativo, e os seus dois tipos são as perguntas condicionais negativas e afirmativas. Um bom exemplo
das questões negativas condicionais é a seguinte interrogação: “o acusado usou um pedaço de madeira
para atingir a vítima, não?”.
As questões afirmativas condicionais operam de modo bastante semelhante à classe de pergunta
anteriormente analisada. Deste modo, um exemplo desse tipo de interrogação é: “o acusado usou um
pedaço de metal para atingir a vítima, sim?”.
Essas classes de perguntas devem ser proscritas em um interrogatório imparcial, pois obrigam o inquirido a
decidir-se entre um sim e um não, condicionando previamente sua resposta. É comum se observar que o
interrogado menos seguro de si e de suas afirmações sempre optará por responder de acordo com o que o
interrogador o sugerir a partir das perguntas efetuadas. Ou seja, em ambos os casos, tanto nas condicionais
negativas quanto nas condicionais afirmativas, o interrogado assentirá com as assertivas feitas por quem o
indagar, afinal, este será o caminho mais simples para satisfazê-lo.
A quinta classe de perguntas mais usuais em interrogatórios judiciais é a das perguntas diferenciais. Esse
tipo de pergunta também é trivialmente conhecido como perguntas de sim ou não. Ainda que possua um
caráter menos parcial que as outras classes abordadas até agora (haja vista que a probabilidade de se obter
uma resposta positiva ou negativa parece ser, aparentemente, equitativa), a resposta a esse tipo de
pergunta tende a ser implicitamente ou afirmativa ou negativa, preferindo o interrogado responder de
acordo com aquilo que o interrogador parecer esperar dele.
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Outra classe de perguntas a ser trazida a baila na presente análise faz referência às perguntas disjuntivas
completas. Elas são, na verdade, o complemento evolutivo da classe anterior das perguntas disjuntivas
parciais. Destarte, o inquiridor não restringe o universo amostral do que pode ser perguntado a apenas
duas hipóteses que ele acha que sejam convenientes para a elucidação dos acontecimentos. No caso das
perguntas disjuntivas completas ele deve partir de algum fato previamente afirmado pelo interrogado, ou
ao menos entre um não esclarecimento (ou não-congruência) entre dois fatos distintos (sempre tendo
como pressuposto que o próprio interrogado os tenha afirmado) para perguntar se “era assim ou não era
assim?”.
A última classe é aquela que possui um maior caráter de indicação objetiva no discurso interrogativo. Ela é
denominada de classe de perguntas determinantes. A sua característica mais marcante mantém-se adstrita
ao fato de ela se valer, precipuamente, de perguntas com pronomes interrogativos para promover a
interpelação dos sujeitos-alvo do procedimento em comento. As perguntas determinantes são aquele tipo
de pergunta que realmente podem ser tidas e chamadas de imparciais pelos operadores jurídicos, ou seja,
são aquelas que realmente atendem ao comando constitucional da imparcialidade estatuído no “caput” do
artigo 37 da Constituição da República de 1988. Essas perguntas se valem, basicamente, dos pronomes
“como”, “quando”, “onde” e por quê” para efetuar a sua inserção interrogativa no universo de
possibilidades de resposta do interrogado. Como, por exemplo, “você viu como o acusado estava vestido
naquele dia?”; “quando você chegou ao local do crime?”, “por que o acusado estava segurando aquele
machado ensanguentado?” ou “onde você estava na hora do ocorrido?”. Ao se valer desses pronomes, o
interrogador não insere e nem incute de maneira prévia nenhuma informação nas possibilidades de
resposta do agente indagado.
4.4.2 Os Mecanismos Para se Atingir o Grau Máximo de Sinceridade nas Respostas em
Interrogatórios Judiciais.
Os meios e mecanismos psicológicos anteriormente abordados faziam referência à possibilidade de o
magistrado aferir ou comprovar o grau de sinceridade das respostas dadas em um interrogatório. O escopo
de tal tópico consiste não em simplesmente encontrar a sinceridade nas declarações dos interrogados, nem
definir a sua validade, o presente tópico dispõe acerca dos instrumentos psicológicos dos quais o
magistrado pode se valer para aumentar essa sinceridade nos testemunhos e interrogatórios judiciais.
É comum, dentre as reprimendas prometidas em caso de falsidade das declarações são variadas, vão desde
repressões e ameaças de base legal (como enquadrar a testemunha, os peritos e demais atores processuais
nos artigos 3425 e 3436 do Código Penal).
A atemorização psicológica prometida para aqueles que declararem algo falso perante o juízo, no momento
de seu testemunho, é a mola propulsora para que, segundo a sua própria consciência moral, os
interrogados que prezam por tal conduta ética, sequer cogitem não serem sinceros em suas declarações.
No entanto, há de se ponderar que, geralmente, os amorais ou imorais não se impressionam tanto com as
ameaças ou severidades tanto quanto os morais.
Existem duas possíveis saídas para esse impasse, uma eminentemente teórica e a outra com fundamentos
mais pragmáticos.
A primeira se baseia em destituir de todo caráter determinista a oficialidade dos testemunhos obtidos
pelos meios judiciais. Ou seja, essa saída parte do pressuposto que todas as afirmações feitas em juízo são,
em algum grau ou de algum modo, fadadas a serem sempre parciais.
Assim sendo, não há como tentar simplesmente conferir uma maior credibilidade ou aferir um maior grau
de sinceridade às respostas dadas nos interrogatórios judiciais. Deve-se, apenas, admitir que tais
inquirições são inúteis e conseguir outro meio de conseguir as informações sobre os fatos e os
acontecimentos concernentes aos processos judiciais.
Essa outra possibilidade de conseguir tais informações existe no modelo americano, o qual criou a figura
dos “trabalhadores sociais” (social workers). Esses trabalhadores fazem o serviço externo de coletar, reunir
e catalogar informações sobre eventos e acontecimentos que importam para os processos judiciais em
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curso
a aplicabilidade desse mecanismo no atual modelo judiciário brasileiro é bastante discutível. Um dos
grandes entraves para sua aplicação seria a necessidade de conferir a esses trabalhadores a mesma fé de
ofício atualmente concedida para os tabeliães e os oficiais de justiça. Outro grande problema que a adoção
desse sistema poderia acarretar diz respeito à possibilidade de se desprestigiar os princípios da celeridade
e da razoável duração do processo.
A outra solução que se apresenta possui um viés prático muito mais aguçado. Ela se baseia na aplicação de
conceitos e conhecimentos da psicologia individual ao problema particular de cada declarante. Assim, sua
realização exige a aplicação de uma técnica especial criada para cada situação peculiar. Nesse horizonte,
nas hipóteses em que se suspeita de parcialidade para fins altruístas, convém fazer chegar ao espírito da
testemunha a convicção de que uma atuação parcial poderá ser desfavorável ao acusado. É fácil fazê-lo
notar isso na medida em que duas ou mais declarações diferentes possam fazer o juiz optar por não dar
crédito a nenhuma delas.
4.4.3 Causas Mais Comuns da Inexatidão do Testemunho
Em primeiro lugar, o hábito influencia diretamente na percepção do indivíduo acerca da sua realidade.
Em segundo lugar, a sugestão inserida nos questionamentos dos interrogatórios judiciais. Esse
automatismo de viés determinista gerado pela presença de indicações diretivas de resposta finda por
condicionar as respostas dos inquiridos para algum contexto almejado pelo próprio magistrado inquiridor.
A terceira causa a ser apontada como responsável pela inexatidão dos testemunhos obtidos em juízo diz
respeito à confusão no tempo, instituto também usualmente denominado de transposição cronológica.
Essa causa está associada à crença que o indivíduo possui que se sucederam fatos que, na verdade,
ocorreram em momento temporal pretérito ao por ele imaginado (e vice-versa) da situação a ser por ele
testemunhada.
O quarto motivo (ou causa) de inexatidão de depoimentos e de testemunhas fornecidos em interrogatórios
judiciais é a tendência afetiva que, fatalmente, engendra-se no indivíduo diante de qualquer situação fática
que o faça sentir simpatia ou antipatia, não apenas com relação às pessoas envolvidas no caso, mas para
tudo que existe, como, por exemplo, outras situações ou, até mesmo, locais em que os acontecimentos
ocorrem. Apenas teoricamente, se pode falar em vivências neutras.
4.4.4 Influência do Tipo de Personalidade na Classe do Testemunho
Pode-se perceber a enorme influência que o tipo de personalidade exercerá na moralidade e na lisura de
um testemunho qualquer.
É correto afirmar que o grau de extroversão da personalidade do indivíduo é algo que contribui de maneira
significativa para a facilidade de obtenção do testemunho.
De outra banda, os indivíduos com características de personalidade mais introvertida costumam falar
pouco, algo que conduz à emissão de respostas mais escassas (em termos de conteúdo) e até mesmo mais
subjetivas. Contudo, deve-se destacar que os testemunhos das pessoas com esse tipo de personalidade é o
que tende a ser mais constante.

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Psicologia Judiciária | Sumário

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