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PONTO 15

XV CONCURSO JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO TRF1

Sumário

A. DIREITO CONSTITUCIONAL..............................................................................................................................................4
DA COMUNICAÇÃO SOCIAL. O PLANEJAMENTO NA ORDEM CONSTITUCIONAL. OS DIREITOS
CONSTITUCIONAIS DOS TRABALHADORES. ORGANIZAÇÃO SINDICAL. FAMÍLIA, EDUCAÇÃO E CULTURA.
DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA. DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE E DO IDOSO........................................................4
A) DA COMUNICAÇÃO SOCIAL........................................................................................................................................................4
B) O PLANEJAMENTO NA ORDEM CONSTITUCIONAL.......................................................................................................................5
C) OS DIREITOS CONSTITUCIONAIS DOS TRABALHADORES............................................................................................................7
d) Dimensões dos Direitos Fundamentais....................................................................................................................7
e) Organização Sindical..................................................................................................................................................9
f) Direito de substituição processual.......................................................................................................................................9
g) Direito de Greve.......................................................................................................................................................................9
H) FAMÍLIA, EDUCAÇÃO E CULTURA.............................................................................................................................................10
i) Educação..........................................................................................................................................................................10
j) Cultura.............................................................................................................................................................................11
k) Da Ciência e da Tecnologia.......................................................................................................................................11
l) Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso.................................................................................11
m) Tutela constitucional da família..........................................................................................................................................11
n) Tutela Constitucional do Idoso............................................................................................................................................12
o) Tutela constitucional da Criança, do Adolescente e do jovem.......................................................................................12
B. DIREITO ADMINISTRATIVO.............................................................................................................................................13
ATO ADMINISTRATIVO. CONCEITO. REGIME JURÍDICO. ESPÉCIES. ELEMENTOS E REQUISITOS. VÍCIOS DOS
ATOS ADMINISTRATIVOS. PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DOS ATOS ADMINISTRATIVOS. PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO. FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS.................................................................................................13
ATO ADMINISTRATIVO...............................................................................................................................................................13
Conceito....................................................................................................................................................................................13
Requisitos de validade (ou elementos) do ato administrativo........................................................................................14
Síntese da Classificação de CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELO..............................................................................................21
Mérito Administrativo............................................................................................................................................................21
Atributos do Ato Administrativo...........................................................................................................................................22
Espécies de Atos Administrativos.........................................................................................................................................24
Classificação dos Atos Administrativos...............................................................................................................................25
QUANTO AOS SEUS DESTINATÁRIOS.................................................................................................................................................25
QUANTO AO SEU ALCANCE (Para BANDEIRA DE MELLO Quanto à situação de terceiros).......................................................26
QUANTO AO SEU OBJETO (Para BANDEIRA DE MELLO Quanto à posição jurídica da Administração)..................................26
QUANTO AO SEU REGRAMENTO (Para BANDEIRA DE MELLO Quanto ao grau de liberdade da Administração em sua
prática).................................................................................................................................................................................................. 26
QUANTO A FORMAÇAO (Para BANDEIRA DE MELLO Quanto à composição da vontade produtora do ato)..........................27
QUANTO A NATUREZA DA ATIVIDADE (Classificação de CABM)..................................................................................................27
QUANTO À FUNÇÃO DA VONTADE ADMINISTRATIVA (Classificação de CABM).........................................................................28
QUANTO AOS EFEITOS (Classificação de CABM).............................................................................................................................28
QUANTO AOS RESULTADOS SOBRE A ESFERA JURÍDICA DO ADMINISTRADO (Classificação de CABM)................................28
QUANTO A FORMAÇÃO DO ATO (Classificação de CABM)..............................................................................................................28
QUANTO À NATUREZA DA SITUAÇÃO JURÍDICA QUE CRIAM (Classificação de CABM).............................................................28
Formação dos Atos Administrativos....................................................................................................................................28
Efeitos dos Atos Administrativos..........................................................................................................................................28
Extinção do Ato Administrativo............................................................................................................................................29
Anulação e Revogação............................................................................................................................................................29
Conversão ou Sanatória.........................................................................................................................................................32
Convalidação...........................................................................................................................................................................32
PROCESSO ADMINISTRATIVO.............................................................................................................................................................34
Conceito....................................................................................................................................................................................34
Processo x Procedimento.......................................................................................................................................................34
Objetivo.....................................................................................................................................................................................34
Espécies (segundo Celso Antônio Bandeira de Mello).......................................................................................................34
Princípios do Processo Administrativo...............................................................................................................................35
Fases..........................................................................................................................................................................................36
Aspectos relevantes da lei 9784/99.....................................................................................................................................38
Modalidades de processo administrativo...........................................................................................................................41
C. DIREITO PENAL...................................................................................................................................................................43
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO...........................................................................................................................................43
p) FURTO..........................................................................................................................................................................44
q) FURTO DE COISA COMUM..........................................................................................................................................49
r) ROUBO.........................................................................................................................................................................49
s) EXTORSÃO...................................................................................................................................................................53
t) EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO.........................................................................................................................56
u) EXTORSÃO INDIRETA.................................................................................................................................................57
v) DA USURPAÇÃO...........................................................................................................................................................58
w) DANO............................................................................................................................................................................58
x) INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA............................................................59
y) DANO EM COISA DE VALOR ARTÍSTICO, ARQUEOLÓGICO OU HISTÓRICO..........................................................59
z) ALTERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO..........................................................................................59
aa) APROPRIAÇÃO INDÉBITA..........................................................................................................................................59
bb) APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA..........................................................................................................60
cc) Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza.....................................................65
DD) ESTELIONATO.........................................................................................................................................................65
ee) DUPLICATA SIMULADA..............................................................................................................................................70
ff) INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO...............................................................................................................................70
gg) FRAUDE NO COMÉRCIO..............................................................................................................................................71
hh) OUTRAS FRAUDES......................................................................................................................................................71
ii) FRAUDES E ABUSOS NA FUNDAÇÃO OU ADMINISTRAÇÃO DE SOCIEDADE POR AÇÕES....................................71
jj) EMISSÃO IRREGULAR DE CONHECIMENTO DE DEPÓSITO OU "WARRANT".......................................................71
kk) FRAUDE À EXECUÇÃO.................................................................................................................................................72
ll) Receptação..................................................................................................................................................................72
mm) DISPOSIÇÕES GERAIS DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO..........................................................................44
NN) CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL: CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INTELECTUAL (CÓDIGO PENAL) E CRIMES
CONTRA O PRIVILÉGIO DE INVENÇÃO, CONTRA AS MARCAS E PATENTES E DE CONCORRÊNCIA DESLEAL (LEI N. 9.279/96). ................75

D. DIREITO PROCESSUAL PENAL........................................................................................................................................76


INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS..................................................................................................76
INTERCEPTAÇÕES DE COMUNICAÇÕES................................................................................................................................................76
E. DIREITO CIVIL.....................................................................................................................................................................83
FUNÇÃÃ O SOCIÃL DÃ PROPRIEDÃDE E DOS CONTRÃTOS. CONTRÃTOS DERIVÃDOS. CONTRÃTO PRELIMINÃR E
CONTRÃTO DEFINITIVO. CONTRÃTO DE CONSUMO E CONTRÃTO DE ÃDESÃÃ O. PREFEREÊ NCIÃS E PRIVILEÉ GIOS
CREDITOÉ RIOS................................................................................................................................................................................83
1.1 FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS..............................................................................................................................83
1.2 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE............................................................................................................................85
1.3 CONTRATOS DERIVADOS..............................................................................................................................................87
1.4 CONTRATO PRELIMINAR E CONTRATO DEFINITIVO...............................................................................................88
1.5 CONTRATO DE CONSUMO E CONTRATO DE ADESÃO...............................................................................................89
F. PROTEÇÃO CONTRATUAL.....................................................................................................................................................92
F.1 PRINCIÉPIOS ESPECIÉFICOS.......................................................................................................................................................92
F.1.1 Rompimento com as tradições privatistas do Código Civil/16..............................................................................92
F.1.2 Boa fé objetiva.........................................................................................................................................................92
F.1.3 Princípio da transparência (dever de informar)....................................................................................................92
F.1.4 Interpretação mais favorável ao consumidor........................................................................................................93
F.1.5 Vinculação pré-contratual......................................................................................................................................93
F.2 CONTRÃTO DE ÃDESÃÃ O..........................................................................................................................................................93
F.2.1 Conceito....................................................................................................................................................................93
F.2.2 2.2. Características..................................................................................................................................................93
F.3 COMPRÃS FORÃ DO ESTÃBELECIMENTO COMERCIÃL.................................................................................................................94
F.4 OUTORGÃ DE CREÉ DITO OU FINÃNCIÃMENTO............................................................................................................................94
F.5 5. CLÃÉ USULÃS ÃBUSIVÃS........................................................................................................................................................98
1.6 PREFERÊNCIAS E PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS.......................................................................................................101
1.6.1 A INSOLVÊNCIA CIVIL.....................................................................................................................................................102
1.6.2 DO CONCURSO SINGULAR DE CREDORES.........................................................................................................................106
1.6.3 A FALÊNCIA...................................................................................................................................................................107
G. DIREITO PROCESSUAL CIVIL........................................................................................................................................107
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS: CARACTERIZAÇÃO COMO SUBSISTEMA PROCESSUAL E SEU
RELACIONAMENTO COM O SISTEMA PROCESSUAL GERAL; ESPECIFICIDADES, DIFERENCIAÇÕES E
SEMELHANÇAS ENTRE OS JUIZADOS ESTADUAIS E FEDERAIS; ESTRUTURA ORGÂNICA (JUIZADOS, TURMAS
RECURSAIS, TURMAS DE UNIFORMIZAÇÃO REGIONAIS E TURMA NACIONAL), PRINCÍPIOS,
CARACTERÍSTICAS, ESPÉCIES, COMPETÊNCIA (INCLUSIVE A REAL NATUREZA DESTA E A DISCUSSÃO SOBRE
O POSSÍVEL DESCOMPASSO ENTRE O CONSTITUCIONAL E O LEGAL); PROCEDIMENTOS, RECURSOS, PEDIDO
DE UNIFORMIZAÇÃO, COISA JULGADA, EXECUÇÃO, QUESTÕES CONTROVERTIDAS, POSSIBILIDADE DE
UTILIZAÇÃO, DENTRO DOS JUIZADOS, DE MEIOS PROCESSUAIS QUE NÃO LHES SÃO ESPECÍFICOS (P. EX.,
MANDADO DE SEGURANÇA, PROCEDIMENTOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA, ETC.)........................................107
JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS.....................................................................................................................................107
ESPECIFICIDADES, DIFERENCIAÇÕES E SEMELHANÇA ENTRE OS JUIZADOS ESTADUAIS E FEDERAIS..................................108
JUIZADOS ESPECIAIS DA FAZENDA PÚBLICA.............................................................................................................................109
DA ESTRUTURA ORGÂNICA (JUIZADOS, TURMAS RECURSAIS, TURMAS DE UNIFORMIZAÇÃO REGIONAIS E TNU)............110
DOS PRINCÍPIOS...........................................................................................................................................................................112
DA COMPETÊNCIA.......................................................................................................................................................................114
Criação superveniente de Juizado Especial Cível Federal....................................................................................................116
Competência para cumprir carta precatória quando existente, na comarca, um Juizado Especial Cível Federal............116
Conflito de Competência entre juiz federal de vara comum e juiz federal de juizado.........................................................116
Competência. Necessidade de citação por edital....................................................................................................................117
DAS PARTES PROCESSUAIS.........................................................................................................................................................117
DA CIÊNCIA DOS ATOS PROCESSUAIS........................................................................................................................................118
DOS PRAZOS PROCESSUAIS.........................................................................................................................................................118
DA REPRESENTAÇÃO JUDICIAL E DA POSSIBILIDADE DE CONCILIAÇÃO E TRANSAÇÃO........................................................118
DO PEDIDO CONTRAPOSTO.........................................................................................................................................................119
DA REVELIA.................................................................................................................................................................................119
DAS CAUTELARES E DOS RECURSOS..........................................................................................................................................119
DA INSTRUÇÃO PROBATÓRIA......................................................................................................................................................121
DA SENTENÇA E SEU CUMPRIMENTO.........................................................................................................................................121
RECURSOS E PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO................................................................................................................................122
Embargos de declaração (art. 48 da Lei 9.099/95)................................................................................................................122
Embargos Infringentes...........................................................................................................................................................123
Recurso adesivo.......................................................................................................................................................................123
Recurso Especial.....................................................................................................................................................................123
Recurso Extraordinário..........................................................................................................................................................124
Ação Rescisória.......................................................................................................................................................................124
COISA JULGADA...........................................................................................................................................................................124
DAS CUSTAS E DESPESAS PROCESSUAIS....................................................................................................................................124
ADVOGADO...................................................................................................................................................................................125
EXECUÇÃO...................................................................................................................................................................................125
SÚMULAS TNU.............................................................................................................................................................................126
QUESTÕES CONTROVERTIDAS....................................................................................................................................................126
MANDADO DE SEGURANÇA.........................................................................................................................................................127
ENUNCIADOS DO FONAJEF NÃO ELENCADOS ACIMA..............................................................................................................127
H. DIREITO PREVIDENCIÁRIO...........................................................................................................................................131
SEGURIDÃDE SOCIÃL. SÃUÉ DE, PREVIDEÊ NCIÃ E ÃSSISTEÊ NCIÃ. DISTINÇOÃ ES........................................................................131
SEGURIDADE SOCIAL................................................................................................................................................................131
PREVIDÊNCIA SOCIAL...............................................................................................................................................................131
ASSISTÊNCIA SOCIAL................................................................................................................................................................132
SAÚDE..........................................................................................................................................................................................137
I. DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO..............................................................................................................................140
ÃDMINISTRÃÇÃÃ O TRIBUTÃÉ RIÃ. PROCEDIMENTO FISCÃL. SIGILO FISCÃL E PRESTÃÇÃÃ O DE INFORMÃÇOÃ ES. DIÉVIDÃ
ÃTIVÃ. CERTIDOÃ ES E CÃDÃSTRO...............................................................................................................................................140
CONSIDERAÇÕES INICIAIS................................................................................................................................................................140
FISCALIZAÇÃO.................................................................................................................................................................................140
Poderes das autoridades fiscais.........................................................................................................................................140
O art. 6º, LC 105/2001.......................................................................................................................................................................142
Deveres das autoridades fiscais.........................................................................................................................................143
Dever de documentar o início do procedimento: art. 196..........................................................................................................143
O dever de manter sigilo e suas exceções......................................................................................................................................144
Exceções ao sigilo (art. 198, §§ 1º, 2º e 3)............................................................................................................................144
Permuta de informações sigilosas entre entes tributantes...........................................................................................144
DÍVIDA ATIVA.................................................................................................................................................................................145
Certidões Negativas..............................................................................................................................................................148
Certidões positivas com efeitos de negativas...................................................................................................................149
Dispensa da apresentação de certidão negativa.............................................................................................................150
Responsabilidade por expedição de certidão com erro..................................................................................................151
J. DIREITO AMBIENTAL..........................................................................................................................................................151
PODER DE POLIÉCIÃ E DIREITO ÃMBIENTÃL. LICENCIÃMENTO ÃMBIENTÃL. BIOSSEGURÃNÇÃ. INFRÃÇOÃ ES
ÃMBIENTÃIS................................................................................................................................................................................151
4.1 LICENCIAMENTO AMBIENTAL.............................................................................................................................................151
4.2 CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA AMBIENTAL...................................................................................................156
4.3 PODER DE POLÍCIA E DIREITO AMBIENTAL. INFRAÇÕES AMBIENTAIS.................................................................................161
4.3.1 Poder de Polícia Ambiental X Competência para Licenciamento................................................................161
4.3.2 Biossegurança.....................................................................................................................................................162
4.3.2.1 OGM.............................................................................................................................................................................. 163
4.3.2.2 CNBS............................................................................................................................................................................. 163
4.3.2.3 CTNBio......................................................................................................................................................................... 163
4.3.2.4 Órgãos e entidades de registro e fiscalização........................................................................................................163
4.3.2.5 Comissão interna de biossegurança.......................................................................................................................164
4.3.2.6 Células-tronco embrionárias...................................................................................................................................164
4.3.2.7 Responsabilidade na Lei de Biossegurança...........................................................................................................164
4.3.3 A Responsabilidade Administrativa Ambiental.............................................................................................164
4.3.3.1 Caracterização da Infração Administrativa Ambiental........................................................................................164
4.3.3.2 Responsabilidade administrativa de natureza objetiva ou subjetiva?..............................................................165
4.3.4 Sanções Administrativas Em Espécie...............................................................................................................167
4.3.4.1 Advertência – art. 72, I, e §2º, Lei e art. 2º, I, e §2º, Dec 6514.............................................................................168
4.3.4.2 Multa Simples – art. 72, II, e §§ 3º e 4º, Lei e art. 8º e ss do Decreto 6.514/08................................................168
4.3.4.3 Multa Diária – art. 72, III, e §5º, Lei e art. 10 do Dec 6.514/08...........................................................................169
4.3.4.4 Apreensão de animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos
ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração...........................................................................................................169
4.3.4.5 Destruição ou Inutilização do Produto...................................................................................................................169
4.3.4.6 Suspensão de venda e fabricação do produto - art. 72, VI, e §7º, Lei e art. 3º, VI, Decreto 6.514/08...........169
4.3.4.7 Embargo Ou Interdição De Obra Ou Atividade - art. 72, VII, e §7º, Lei e art. 3º, VII, Decreto 6.514/08......170
4.3.4.8 Demolição de obra - art. 72, VIII, e §7º, Lei e art. 3º, VIII, Decreto 6.514/08...................................................170
4.3.4.9 Suspensão Parcial Ou Total Das Atividades - Art. 72, IX, E §7º, Lei E Art. 3º, IX, Decreto 6.514/97.............170
4.3.4.10 Restritivas De Direitos - Art. 72, XI, E §8º, Lei e Art. 3º, X, Decreto 6.514/08.................................................170
K. DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO...........................................................................................................171
TRIBUNÃL PENÃL INTERNÃCIONÃL. EVOLUÇÃÃ O HISTOÉ RICÃ. COMPETEÊ NCIÃ. PROCEDIMENTO. NÃTUREZÃ DÃS
DECISOÃ ES. DELITOS INTERNÃCIONÃIS....................................................................................................................................171
INTRODUÇÃO..................................................................................................................................................................................171
EVOLUÇÃO HISTÓRICA....................................................................................................................................................................173
COMPETÊNCIA E DELITOS INTERNACIONAIS....................................................................................................................................174
PROCEDIMENTO..............................................................................................................................................................................175
NATUREZA DAS DECISÕES...............................................................................................................................................................176
L. DIREITO EMPRESARIAL......................................................................................................................................................176
CONTRÃTOS EMPRESÃRIÃIS: FRÃNQUIÃ (FRANCHISING). FÃTURIZÃÇÃÃ O (FACTORING). ÃRRENDÃMENTO MERCÃNTIL
(LEASING). CÃRTÃÃ O DE CREÉ DITO..............................................................................................................................................176
A. CONTRATOS MERCANTIS.......................................................................................................................................................176
i. Franquia / Franchising...............................................................................................................................................180
1. Contrato de franquia...........................................................................................................................................................181
7.4.2 FATURIZAÇÃO (FACTORING OU FOMENTO MERCANTIL)..........................................................................................................181
7.4.2.1 Modalidades..............................................................................................................................................................182
7.4.2.2 Juros...........................................................................................................................................................................182
7.4.2.3 Cláusulas típicas......................................................................................................................................................182
7.4.3 LEASING OU ARRENDAMENTO MERCANTIL.............................................................................................................................183
7.4.3.1 Opções do arrendatário..........................................................................................................................................183
7.4.3.2 Mora do arrendatário.............................................................................................................................................184
7.4.3.3 Modalidades de leasing...........................................................................................................................................184
Cartão de crédito...................................................................................................................................................................185
M. DIREITO ECONÔMICO E PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR.................................................................................................187
LEI ÃNTITRUSTE. DISCIPLINÃ JURIÉDICÃ DÃ CONCORREÊ NCIÃ DESLEÃL. PRINCIÉPIOS. INFRÃÇOÃ ES CONTRÃ Ã ORDEM
ECONOÊ MICÃ. CONCORREÊ NCIÃ DESLEÃL E ILIÉCITÃ. REPRESSÃÃ O DO PODER ECONOÊ MICO PELO ESTÃDO. ÃBUSO DO
PODER ECONOÊ MICO...................................................................................................................................................................187
 LEI ANTITRUSTE E DISCIPLINA JURÍDICA DA CONCORRÊNCIA EMPRESARIAL............................................................................187
 HISTÓRICO DO DIREITO CONCORRENCIAL NO BRASIL.............................................................................................................188
 ESTRUTURA DO SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA (SBDC).....................................................................189
 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL JUNTO AO CADE (ART. 20)................................................................................................190
 SECRETARIA DE ACOMPANHAMENTO ECONÔMICO DO MINISTÉRIO DA FAZENDA SEAE..........................................................190
 FINALIDADES........................................................................................................................................................................190
 PRINCÍPIOS NA LEI 12.529/2011......................................................................................................................................190
 INFRAÇÕES CONTRA A ORDEM ECONÔMICA E ABUSO DO PODER ECONÔMICO........................................................................191
 CONCORRÊNCIA ILÍCITA E DESLEAL........................................................................................................................................193
 DISCIPLINA JURÍDICA DA CONCORRÊNCIA EMPRESARIAL........................................................................................................195
 PENALIDADES.......................................................................................................................................................................198
 ATOS DE CONCENTRAÇÃO E ESTRUTURA DE MERCADOS.........................................................................................................199
 REPRESSÃO DO PODER ECONÔMICO PELO ESTADO.................................................................................................................201
 PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO...............................................................................................................................................201
 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.................................................................................................................202
 PROCESSO ADMINISTRATIVO NO SBDC (PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES INTRODUZIDAS PELA LEI Nº 12.529/2011).................202
 MEDIDA PREVENTIVA...........................................................................................................................................................203
 ACORDOS EM CONTROLE DE CONCENTRAÇÕES.......................................................................................................................203
 ACORDO DE LENIÊNCIA (OU DELAÇÃO PREMIADA).................................................................................................................204
 COMPROMISSO DE CESSAÇÃO.................................................................................................................................................204
 CONFLITOS ENTRE AUTORIDADES CONCORRENCIAIS E REGULADORAS.....................................................................................205
 EXEMPLOS PRÁTICOS............................................................................................................................................................205
N. ÉTICA E ESTATUTO JURÍDICO DA MAGISTRATURA NACIONAL...................................................................................205
RESPONSÃBILIDÃDE ÃDMINISTRÃTIVÃ, CIVIL E CRIMINÃL DOS MÃGISTRÃDOS...............................................................205
A. RESPONSABILIDADE CRIMINAL DO MAGISTRADO..................................................................................................................206
B. RESPONSABILIDADE CIVIL DO MAGISTRADO.........................................................................................................................207
i. Artigo 1.744 do Código Civil, incisos I e II.................................................................................................................207
C. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA DO MAGISTRADO.......................................................................................................208
O. SOCIOLOGIA DO DIREITO/FILOSOFIA DO DIREITO..............................................................................................213
A ENDOCULTURAÇÃO E A ACULTURAÇÃO. A INTERPRETAÇÃO SEGUNDO A LÓGICA DO RAZOÁVEL............213
A. A ENDOCULTURAÇÃO E A ACULTURAÇÃO...................................................................................................................213
B. A INTERPRETAÇÃO DO DIREITO. SUPERAÇÃO DO RACIOCÍNIO LÓGICO DEDUTIVO....................................................................214
A lógica jurídica como solução de antinomias.................................................................................................................214
1. Introdução.............................................................................................................................................................................. 214
2. Aspectos Conceituais da Lógica Jurídica: da Lógica Formal à Nova Retórica.................................................................214
3. A Lógica Jurídica na Perspectiva Evolutiva do Direito......................................................................................................215
4. O Problema das Antinomias Jurídicas.................................................................................................................................215
5. A Lógica Jurídica como Solução de Antinomias..................................................................................................................215
P. TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA..........................................................................................................217
A DEMOCRACIA COMO RAZÃO POLÍTICA.........................................................................................................................217
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1. DIREITO CONSTITUCIONAL

DA COMUNICAÇÃO SOCIAL. O PLANEJAMENTO NA ORDEM CONSTITUCIONAL. OS


DIREITOS CONSTITUCIONAIS DOS TRABALHADORES. ORGANIZAÇÃO SINDICAL.
FAMÍLIA, EDUCAÇÃO E CULTURA. DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA. DA CRIANÇA, DO
ADOLESCENTE E DO IDOSO.

1. Da Comunicação Social

à garantia constitucional de liberdade de comunicaçaã o social, prevista na CF, art. 220 eé complemento
da norma prevista no art. 5º, IX, que consagra a liberdade de expressaã o da atividade intelectual,
artíéstica, cientíéfica e de comunicaçaã o, independentemente, de censura ou licença.
Comunicação social: eé o ramo da comunicaçaã o que tem como cujo objeto os meios de comunicaçaã o
de massa (tambeé m chamados de Míédia), principalmente o Jornalismo e a Comunicaçaã o Organizacional
(Publicidade, Propaganda, Relaçoã es Pué blicas, Comunicaçaã o de Marketing) de empresas e de
organizaçoã es governamentais ou naã o-governamentais.
à publicaçaã o em veíéculo impresso de comunicaçaã o independe de licença de autoridade (CF, art. 220,
§6º). Por outro lado, os serviços de radiodifusaã o sonora e de sons e imagem seraã o explorados
diretamente pela Uniaã o ou mediante autorizaçaã o, concessaã o ou permissaã o (CF, art. 21, XII, a, e 223).
à comunicaçaã o social tambeé m eé orientada por uma seé rie de princípios, dentre os quais destacamos:
a) inexistência de restrição: a manifestaçaã o de pensamento, a criaçaã o, a expressaã o e a informaçaã o,
sob qualquer forma, processo ou veíéculo, naã o sofreraã o qualquer restriçaã o, observado o disposto na CF.
Isto significa que as restriçoã es e limites soé poderaã o ser aqueles previstos na CF.
b) plena liberdade de informação jornalística: nenhuma lei conteraé dispositivo que possa
embaraçar a plena liberdade de informaçaã o jornalíéstica em qualquer veíéculo de comunicaçaã o social,
observado o disposto no art. 5º, IV (liberdade de manifestaçaã o pensamento, vedado o anonimato), V
(direito de resposta, proporcional ao agravo, aleé m de indenizaçaã o por dano moral ou material), IX
(liberdade de expressaã o da atividade intelectual, artíéstica, cientíéfica e de comunicaçaã o,
independentemente de censura ou licença), X (inviolabilidade da vida privada, da intimidade, da honra
e da imagem, sob pena de indenizaçaã o pelo dano moral ou material) XIII (liberdade de exercíécio de
profissaã o, atendidas as qualificaçoã es que a lei estabelecer) e XIV (liberdade de locomoçaã o no territoé rio
nacional em tempo de paz), CF.
Em 2009, o STF derrubou a exigência de diploma para exercício da profissão de jornalista –
embora tramite no Congresso projeto de lei prevendo tal exigeê ncia.
c) vedação de toda censura de natureza política, ideológica e artística.
Diversões e espetáculos públicos: lei federal deve regular, informando sobre a natureza deles, as
faixas etaé rias a que naã o se recomendem, locais e horaé rios em que sua apresentaçaã o se mostre
inadequada.
Defesa contra programações de rádio e televisão que contrariem princípios constitucionais: lei
federal deve regular.

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Restrições legais à propaganda comercial: tabaco, bebidas alcooé licas, agrotoé xicos, medicamentos e
terapias. Na forma da Lei 9294/96. Se necessaé rio, a propaganda deve conter adverteê ncia sobre os
malefíécios decorrentes do uso.
Os meios de comunicaçaã o social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou
oligopólio.
à propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens eé privativa
de brasileiros natos ou naturalizados haé mais de dez anos, ou de pessoas juríédicas constituíédas sob as
leis brasileiras e que tenham sede no Paíés (art. 222, caput). No caso de pessoa juríédica proprietaé ria,
setenta por cento do capital total e do capital votante das empresas deveraé pertencer, direta ou
indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados haé mais de dez anos, que exerceraã o
obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da programaçaã o (art. 222,
§1º). Ã participaçaã o de capital estrangeiro nessas empresas seraé definida em lei (art. 222, 4º) e as
alteraçoã es de controle societaé rio deveraã o ser comunicadas ao Congresso Nacional (art. 222, §5º)
Em qualquer meio de comunicação social, a responsabilidade editorial e as atividades de seleçaã o e
direçaã o da programaçaã o veiculada saã o privativas de brasileiros natos ou naturalizados haé mais de dez
anos (art. 222, §2º).
Os meios de comunicaçaã o social eletrônica, independentemente da tecnologia utilizada para a
prestaçaã o do serviço, deveraã o observar os princíépios enunciados no art. 221, na forma de lei
especíéfica, que tambeé m garantiraé a prioridade de profissionais brasileiros na execuçaã o de
produçoã es nacionais (art. 222, § 3º):
“Ãrt. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e
autorização para o serviço de radiodifusaã o sonora e de sons e imagens, observado o
princíépio da complementaridade dos sistemas privado, pué blico e estatal.
§ 1º - O Congresso Nacional apreciará o ato no prazo do art. 64, § 2º e § 4º, a contar do
recebimento da mensagem.
§ 2º - Ã não renovação da concessão ou permissão dependerá de aprovação de, no
mínimo, dois quintos do Congresso Nacional, em votação nominal.
§ 3º - O ato de outorga ou renovaçaã o somente produziraé efeitos legais apoé s deliberaçaã o do
Congresso Nacional, na forma dos paraé grafos anteriores.
§ 4º - O cancelamento da concessaã o ou permissaã o, antes de vencido o prazo, depende de
decisaã o judicial.
§ 5º - O prazo da concessaã o ou permissaã o seraé de dez anos para as emissoras de rádioe de
quinze para as de televisão.
Ãrt. 224. Para os efeitos do disposto neste capíétulo, o Congresso Nacional instituiraé , como seu
oé rgaã o auxiliar, o Conselho de Comunicaçaã o Social, na forma da lei.”

2. O Planejamento na Ordem Constitucional


Existem basicamente dois sistemas baé sicos que organizam a vida econoê mica, que saã o o capitalismo e o
socialismo. O capitalismo eé o sistema econoê mico no qual as relaçoã es de produçaã o estaã o assentadas na
propriedade privada dos bens em geral e tem por pressuposto a liberdade de iniciativa e de
concorreê ncia. Jaé o socialismo propoã e naã o somente a intervençaã o do Estado, mas a supressaã o da
liberdade da iniciativa privada e o comando do Estado na esfera econoê mica.
O sistema capitalista, do modo como foi concebido, encontra-se superado, ultrapassada a ideia de uma
"maã o invisíével", a regular e equilibrar as relaçoã es econoê micas, entre oferta e procura. Ãssim, passou-se
a admitir a necessidade da intervençaã o do Estado, para manter o equilíébrio entre livre iniciativa e livre
concorreê ncia.
Na realidade, embora isto seja dificilmente reconhecido pela doutrina, os modelos econoê micos atuais
saã o modelos mistos.
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Os modelos econoê micos distinguem-se dos sistemas econoê micos. O modelo eé o modo especíéfico de
estruturaçaã o de um determinado sistema, jaé que este pode se formar sob vaé rios criteé rios: forma e
dimensaã o da unidade de produçaã o, desenvolvimento das forças produtivas, organizaçaã o dos sujeitos
econoê micos, modo de coordenaçaã o. Os modelos econoê micos podem ser classificados em centralizado e
descentralizado.
O modelo centralizado (tambeé m chamado sistema de autoridade) adota como princípio vetor o
planejamento central. Ã economia gira em torno de um plano, determinado pela Ãdministraçaã o, do
qual depende toda a açaã o econoê mica, inclusive o preço final de bens e serviços. Ã economia
centralizada encontra-se baseada na sobrevalorizaçaã o do coletivo e, por este motivo, identifica-se
com o sistema socialista, uma vez que, neste modelo, o centro exclusivo para tomada de decisoã es
econoê micas eé o proé prio Poder Pué blico.
Jaé o modelo econômico descentralizado estaé baseado no princíépio do free market. Fundamenta-se
em um esquema multipolar, no qual existem mué ltiplos centros de produçaã o das irradiaçoã es no
mercado. Neste modelo, o mercado naã o depende de um plano econoê mico, mas da oferta e da procura.
O modelo descentralizado tem como caracteríésticas principais: a) a livre iniciativa e; b) a livre
concorreê ncia.
à livre concorreê ncia eé o motor da economia de mercado. Ela exige: atividade econoê mica livre;
pluralidade de empresas; liberdade para que estas empresas possam oferecer um leque adequado de
oportunidades e vantagens comerciais e liberdade para os consumidores.
O perigo desta liberdade estaé na possibilidade de formaçaã o de cartéis e na concorrência desleal,
que precisam ser combatidos. Desta forma, haé necessidade de regulaçaã o para manter o equilíébrio
entre a livre iniciativa e livre concorreê ncia, sem esquecer a proteçaã o ao consumidor e meio ambiente.
Para que seja possíével alcançar os objetivos fundamentais previstos na CF, art. 3° (sociedade livre, justa
e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização; e reduzir as
desigualdades sociais e regionais), instrumentalizados, em parte, pela efetivaçaã o dos direitos sociais
previstos do art. 6.°, caput, da CF, haé necessidade "de uma ampla e coordenada atuaçaã o do Estado, na
ordem econoê mica, a qual, efetivamente, eé agasalhada no tíétulo pertinente".
Desta forma, a CF/88 conferiu ao Poder Público competência para planejar a atividade econômica
nacional, sendo esse planejamento meramente indicativo para o setor privado, poreé m
determinante para o setor público. Conferiu, ainda, ao Poder Pué blico, no campo da atividade
regulatoé ria estatal, competeê ncia para reprimir o abuso do poder econoê mico que vise aà dominaçaã o dos
mercados, aà eliminaçaã o da concorreê ncia e ao aumento arbitraé rio dos lucros.
Estes dispositivos constitucionais levaram alguns doutrinadores a apontar a coexisteê ncia de valores do
liberalismo e do socialismo econoê micos na CF/88.
Joseé Ãfonso, ao tratar da ordem econoê mica, ressalta que saã o os elementos soé cio-ideoloé gicos que
revelam o caraé ter de compromisso das constituiçoã es modernas entre o Estado liberal e o Estado social
intervencionista. Do embate entre estas duas ideologias, surgem, nos textos constitucionais, princíépios
de direitos econoê micos e sociais, formando o chamado conteúdo social das constituições.
Com relaçaã o ao modelo econômico, Eros Grau conclui que a CF/88 projeta a instalaçaã o de uma
sociedade estruturada segundo o modelo do Welfare State, visando, justamente, aà consolidaçaã o da
democracia. Ãssim, o Estado como distribuidor de prestaçoã es sociais surge diante da incapacidade do
mercado de, por si soé , conduzir a uma distribuiçaã o/redistribuiçaã o justa dos "bens sociais".
Mas o que eé planejamento indicativo para o setor privado? EÉ o papel do Estado procurar influir
legitimamente nas condutas dos agentes econoê micos, mediante mecanismos de fomentos, tais como
incentivos fiscais, financeiros pué blicos, reduçaã o de alíéquota de impostos, sem que haja, entretanto,
obrigaçaã o da iniciativa privada em aderir aos mesmos. Isto eé , a tíétulo de planejar, naã o pode o Estado
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impor aos particulares o atendimento aà s diretrizes ou intençoã es traçadas, mas apenas incentivar e
atrair os particulares, mediante planejamento indicativo que se apresente como sedutor para
condicionar a atuaçaã o da iniciativa privada.

3. Os Direitos Constitucionais dos Trabalhadores

1. Dimensões dos Direitos Fundamentais

DIREITOS FUNDAMENTAIS
1a dimensaã o: liberdades civis e políéticas claé ssicas.
Obrigaçoã es de NÃÃ O-fazer
ESTÃDO LIBERÃL Vida, liberdade, propriedade.
Direitos negativos
LIBERDÃDE (liberdades negativas)
2a dimensaã o: atuaçaã o do Estado. Saué de, educaçaã o,
ESTÃDO DO BEM-
prevideê ncia.
ESTÃR SOCIÃL
IGUÃLDÃDE (liberdades positivas)
Obrigaçoã es de fazer
3a dimensaã o: Direitos coletivos e difusos. Meio
(WELFARE STATE) Direitos de provideê ncia
ambiente, patrimoê nio pué blico (histoé rico,
ESTÃDO
paisagíéstico e cultura).
PROVIDEÊ NCIÃ
FRÃTERNIDÃDE

ESTÃDO NEO- Diminuiçaã o da figura do Estado, com as privatizaçoã es e retorno ao modelo


LIBERÃL liberal.

Observa-se que, no preâmbulo da CF, os direitos sociais antecedem os direitos individuais,


demonstrando a níétida opçaã o pelo Estado do bem-estar social.
Os direitos constitucionais dos trabalhadores saã o direitos fundamentais de segunda dimensaã o: “Art.
6º, CF - Saã o direitos sociais a educaçaã o, a saué de, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
prevideê ncia social, a proteçaã o aà maternidade e aà infaê ncia, a assisteê ncia aos desamparados, na forma
desta Constituiçaã o.”
O art. 7º, da CF, por sua vez, elenca os direitos individuais dos trabalhadores (rol exemplificativo): “Ãrt.
7º Saã o direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, aleé m de outros que visem aà melhoria de sua
condiçaã o social: (...).”
No que se refere aos direitos sociais previstos no art. 6º da CF, alguns foram regulados na proé pria CF,
noutros ficou silente. Ex. 1: saué de e educaçaã o tiveram pelo menos um conteué do míénimo estabelecido,
jaé que o legislador ordinaé rio pode prever mais garantias. Ex. 2: qual o conteué do do direito aà moradia?
à CF naã o fala claramente, prevendo o dispositivo do inciso IV, do artigo 7 o.
Quando a CF naã o especificar o conteué do do direito social, eé o legislador ordinaé rio que deve preencher
o seu conteué do, sempre garantido um mínimo existencial.
Os direitos sociais saã o muito mais dispendiosos do que os direitos de 1 a dimensaã o, essa eé uma das
razoã es pelas quais se fala no retorno ao liberalismo (neoliberalismo), ao argumento de escassez de
recursos financeiros.
Os direitos relativos aos trabalhadores são de duas ordens: a) direitos dos trabalhadores em suas
relaçoã es individuais de trabalho, que saã o os direitos dos trabalhadores do art. 7º da CF; b) direitos
coletivos dos trabalhadores (arts. 8º a 11), que saã o aqueles que os trabalhadores exercem
coletivamente ou no interesse de uma coletividade deles, e saã o os direitos de associaçaã o profissional
ou sindical, o direito de greve, o direito de participaçaã o e o direito de representaçaã o classista. (toé pico a
ser tratado no proé ximo item: organizaçaã o sindical).

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Dentre os direitos constitucionais dos trabalhadores em suas relaçoã es individuais, destacamos o


direito ao trabalho e aà garantia do emprego. O direito ao trabalho naã o consta de norma expressa da CF,
mas eé extraíédo da combinaçaã o dos fundamentos da Repué blica nos valores sociais do trabalho e demais
dispositivos constitucionais. De outro lado, a garantia de emprego compreende a proteçaã o da relaçaã o
de emprego contra despedida arbitraé ria ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que
preveraé indenizaçaã o compensatoé ria, entre outros direitos, impedindo-se, dessa forma, a dispensa
injustificada, sem motivo socialmente relevante. EÉ norma de eficaé cia contida. Enquanto naã o advier a
LC, a garantia estaé limitada ao disposto no artigo 10, I, do ÃDCT, que majorou para 40% a multa
incidente sobre o saldo FGTS, quando da demissaã o sem justa causa.
Haé ainda direitos sobre as condiçoã es de trabalho, direitos relativos ao salaé rio, relativos ao repouso e aà
inatividade do trabalhador, de proteçaã o do trabalhador e os relativos aos dependentes do trabalhador ,
cujas interpretaçoã es saã o extraíédas da simples leitura do artigo 7º da CF.
Obs.1: Ã EC 56/06, deu nova redaçaã o ao art. 7º, XXV, alterando períéodo de assistência gratuita, em
creches e pré-escolas, aos filhos e dependentes do trabalhador: desde o nascimento ateé os 5 anos de
idade. Ãntes, o direito era assegurado ateé os 6 anos. Ã mudança para cinco anos de idade parece ter
sido para adequar a regra aà nova duraçaã o da educaçaã o infantil. Discute-se se isso naã o se configura
inconstitucional, jaé que feriria a claé usula peé trea constante do inciso IV do § 4º do art. 60 da CF, bem
como o princíépio da “proibiçaã o de vedaçaã o do retrocesso”.
Obs.2: a EC 72/13 ampliou os direitos dos empregados domésticos, acrescentando-lhes os
previstos nos incisos VII (salaé rio-míénimo), X (proteçaã o do salaé rio na forma da lei, constituindo crime
sua retençaã o dolosa), XIII (duraçaã o do trabalho normal naã o superior a oito horas diaé rias e quarenta e
quatro semanais), XV (repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos), XVI
(remuneraçaã o do serviço extraordinaé rio superior, no míénimo, em cinquenta por cento aà do normal),
XVII (gozo de feé rias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salaé rio normal),
XXII (reduçaã o dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saué de, higiene e segurança),
XXVI (reconhecimento das convençoã es e acordos coletivos de trabalho), XXX (proibiçaã o de diferença
de salaé rios, de exercíécio de funçoã es e de criteé rio de admissaã o por motivo de sexo, idade, cor ou estado
civil), XXXI (proibiçaã o de qualquer discriminaçaã o no tocante a salaé rio e criteé rios de admissaã o do
trabalhador portador de deficieê ncia) e XXXIII (proibiçaã o de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a
menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condiçaã o de
aprendiz, a partir de quatorze anos) do art. 7º, da CF.
Sobre a temaé tica, destaca-se o seguinte julgado:
“Interpretaçaã o conforme sem reduçaã o de texto da EC 20/98 (art. 14), o qual previu um limite
maé ximo para benefíécios previdenciaé rios do RGPS, que implique em revogaçaã o taé cita do art.
7°, XVIII. Entendeu-se que tal limite naã o tem aptidaã o de revogar a garantia do salaé rio integral
da gestante, prevista no CF, art. 7°, XVIII (licença aà gestante, sem prejuíézo do emprego e do
salaé rio, com a duraçaã o de cento e vinte dias), o que constituiria um retrocesso histoé rico.” (ÃDI
1946)

O STF tem se posicionado pela possibilidade de efetivaçaã o de direitos sociais via Poder Judiciaé rio,
excepcionalmente. Embora resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a
prerrogativa de formular e executar políéticas pué blicas, revela-se possíével, no entanto, ao Poder
Judiciaé rio determinar, ainda que em bases excepcionais, especialmente nas hipoé teses de políéticas
pué blicas definidas pela proé pria Constituiçaã o, sejam essas implementadas pelos oé rgaã os estatais
inadimplentes, cuja omissaã o mostra-se apta a comprometer a eficaé cia e a integridade de direitos
sociais impregnados de estatura constitucional. (RE 595595).
Quanto ao FGTS, o STJ editou a Súm 353, reconhecendo a natureza de direito trabalhista e social
(artigo 7º, III, da CF), afastando o entendimento de que teria natureza tributaé ria.

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Sué m 353/STJ: Ãs disposiçoã es do CTN naã o se aplicam aà s contribuiçoã es para o FGTS.

Ãcerca da competeê ncia para discussaã o de mateé ria trabalhista, se entendeu que açaã o acerca da
aplicaçaã o de jornada de sobreaviso fixada por conselho profissional eé mateé ria de direito
administrativo, e naã o controveé rsia trabalhista, devendo ser julgada pela Justiça Federal (STJ, CC
127761).
Tambeé m compete aà Justiça Federal açaã o questionando o indeferimento de registro sindical (STJ, CC
126372). No entanto, cabe aà Justiça do Trabalho as disputas sobre representaçaã o sindical (CF, 114, III).

2. Organização Sindical
O art. 8º menciona dois tipos de associaçoã es: profissional e sindical. Em verdade, ambas saã o
associaçoã es profissionais, com algumas diferenças. O sindicato eé uma associaçaã o profissional com
prerrogativas especiais, tais como: defender os direitos e interesses coletivos ou individuais da
categoria, ateé em questoã es judiciais e administrativas; participar de negociaçoã es coletivas de trabalho
e celebrar acordos e convençoã es coletivos; eleger ou designar representantes da respectiva categoria;
impor contribuiçoã es a todos aqueles que participam das categorias econoê micas ou profissionais
representadas. A associação profissional naã o sindical se limita a fins de estudo, defesa e
coordenaçaã o dos interesses econoê micos e profissionais de seus associados.
O sistema de liberdade sindical previsto na CF (art. 8.º) institui ampla autonomia coletiva para a
fundaçaã o e direçaã o desse ente associativo, naã o podendo o Estado intervir ou condicionar o exercíécio
desse direito. Pode, contudo, ser exigida a inscriçaã o do sindicato em oé rgaã o proé prio (Ministeé rio do
Trabalho), bem como admite-se que a lei disponha genericamente sobre regras baé sicas de organizaçaã o
sindical.
No art. 8º, IV, haé previsaã o de contribuição confederativa, fixada pela assembleia geral da
categoria, e uma outra contribuiçaã o prevista em lei, conhecida como contribuição sindical. EÉ
evidente que uma contribuiçaã o instituíéda por assembleia de categoria profissional naã o pode ser
tributo, naã o cabendo sua imposiçaã o compulsoé ria aos naã o filiados do sindicato. Totalmente diversa eé a
contribuiçaã o sindical prevista na parte final do dispositivo. Esta, porque instituíéda por lei, eé
compulsoé ria e encontra sua regra matriz no art. 149 (contribuiçoã es de interesse das categorias
profissionais), possuindo natureza de tributo (Sué m 666/STF: Ã contribuiçaã o confederativa de que
trata a CF, art. 8º, IV, soé eé exigíével dos filiados ao sindicato respectivo).

3. Direito de substituição processual


Consiste no poder que a CF conferiu aos sindicatos de ingressar em juíézo na defesa de direitos e
interesses coletivos e individuais da categoria. EÉ algo diferente da representaçaã o nas negociaçoã es ou
nos dissíédios coletivos de trabalho. Trata-se de substituiçaã o processual, jaé que ele ingressa em nome
proé prio na defesa de interesses alheios.
Ãlexandre de Moraes menciona mais alguns direitos sindicais: direito de auto-organizaçaã o interna dos
sindicatos; direito de exercíécio da atividade sindical na empresa; direito democraé tico: eleiçoã es
perioé dicas; direito de independeê ncia e autonomia; e direito de proteçaã o especial dos dirigentes eleitos
dos trabalhadores.
Sobre o tema, colaciona-se o seguinte julgado:
“O art. 8º, III da CF/88 (...) legitimidade extraordinaé ria eé ampla, abrangendo a
liquidaçaã o e a execuçaã o dos creé ditos reconhecidos aos trabalhadores. Por se tratar de
tíépica hipoé tese de substituiçaã o processual, eé desnecessaé ria qualquer autorizaçaã o dos
substituíédos.” (RE 210029)

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4. Direito de Greve
O art. 9º da CF assegura o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a
oportunidade de exerceê -lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender e determina que a
lei definiraé os serviços ou atividades essenciais e disporaé sobre o atendimento das necessidades
inadiaé veis da comunidade, inclusive responsabilizando os abusos cometidos.
à disciplina do art. 9º refere-se aos empregados de empresas privadas, entre as quais se incluem as
sociedades de economia mista e as denominadas empresas pué blicas, uma vez que, em relaçaã o a essas,
se aplica o art. 173, § 1º, da CF, que determina sua sujeiçaã o ao regime juríédico proé prio das empresas
privadas, inclusive quanto aà s obrigaçoã es trabalhistas e tributaé rias.
à greve eé o instrumento mais eneé rgico do qual os trabalhadores podem lançar maã o para a defesa de
seus direitos ou reivindicaçoã es. EÉ importante que a CF/88 a ela se refira, em seu art. 9.º, mas eé
importante tambeé m naã o perder de vista a noção de abuso, aleé m do que a sociedade naã o pode ser
prejudicada com a realizaçaã o de movimentos dessa natureza. Ãssim sendo, a lei define no Brasil (Lei
7783/89) os casos em que a greve seraé considerada abusiva, assim como as medidas a serem tomadas
para que os serviços essenciais sejam mantidos. Para a maior parte da doutrina brasileira, a greve a
que alude a Constituiçaã o deve ter sempre finalidades relacionadas ao desenvolvimento das relaçoã es de
trabalho, naã o se admitindo greves de protesto, de natureza políético-partidaé ria e outras.
Sobre o tema, conveé m explicitar que, a despeito da legalidade de eventual greve, não há
impedimento ao desconto dos dias parados do servidor pué blico (EDÃGREsp 1151260).
Teoria concretista do Mandando de Injunçaã o: a despeito de norma da CF, art. 37 VII ter eficaé cia
limitada (doutrina majoritaé ria), o STF conferiu efeitos concretos aos MIs ajuizados pelos
sindicatos de servidores Civis
e propoê s a soluçaã o para a omissaã o legislativa com a aplicaçaã o, no que couber, da Lei 7783, que dispoã e
sobre o exercíécio do direito de greve na iniciativa privada. Isto, poreé m, naã o quer dizer que a norma do
art. 37, VII, da CF deixou de ter eficaé cia limitada.

4. Família, Educação e Cultura

1. Educação

Educaçaã o e ensino saã o institutos distintos. Ã educaçaã o estaé relacionada a todos os processos de
formaçaã o intelectual do ser humano. O ensino faz parte do processo de educaçaã o, entretanto, o ensino
eé mais restrito do que a educaçaã o.
Naã o basta que o homem seja objetivamente livre, deve ser tambeé m subjetivamente livre, isso somente
se obteé m por meio da educaçaã o. Tambeé m eé por meio dessa liberdade eé que o ser humano pode ser
sujeito participativo dos processos políéticos. Tambeé m eé por meio da educaçaã o que se pode garantir
postos de trabalho.
Segundo Gilmar Mendes, constituem princípios informadores da educação a Universalidade,
igualdade, pluralismo (tem um sentido muito mais amplo do que apenas o pluralismo políético, mas
tambeé m de linhas de pensamento ou de transmissaã o do conhecimento, culturas, modo de pensar, etc.
Se a sociedade eé plural, entaã o a Constituiçaã o deve ser pluralista), gratuidade do ensino pué blico, gestaã o
democraé tica da escola e padraã o de qualidade.
Os referidos princíépios saã o verdadeiras condiçoã es de possibilidade para consecuçaã o dos objetivos da
educaçaã o, definidos pelo art. 205 da CF (visa ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercíécio da cidadania e sua qualificaçaã o para o trabalho). Saã o princíépios que devem ser analisados em

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conjunto, pois compoã em a Constituiçaã o Cultural, cujas normas incorporam e resguardam a nossa
individualidade histoé rica.
Obs: a EC 59/09 alterou a redaçaã o da CF, art. 208, I, para: “I - educação básica obrigatória e gratuita
dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os
que a ela não tiveram acesso na idade própria”. Todavia, o art. 6º da referida emenda estabelece que a
implementação da alteração deverá ocorrer progressivamente, até 2016, nos termos do Plano
Nacional de Educaçaã o, com apoio teé cnico e financeiro da Uniaã o.
Recomenda-se a leitura do art. 205 a 214 da CF.

2. Cultura
O Estado garantiraé a todos o pleno exercíécio dos direitos culturais e acesso aà s fontes da cultura
nacional, e apoiaraé e incentivaraé a valorizaçaã o e a difusaã o das manifestaçoã es culturais, devendo
proteger as manifestaçoã es das culturas populares, indíégenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos
participantes do processo civilizatoé rio nacional, bem como fixar as datas comemorativas de alta
significaçaã o para os diferentes segmentos eé tnicos nacionais.
à proé pria CF jaé define o conteué do do patrimoê nio cultural brasileiro como os bens de natureza material
e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de refereê ncia aà identidade, aà açaã o, aà
memoé ria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira; estabelece a obrigatoriedade do
poder pué blico, com a colaboraçaã o da comunidade, de promover e proteger o patrimoê nio cultural
brasileiro, por meio de inventaé rios, registros, vigilaê ncia, tombamento e desapropriaçaã o, e de outras
formas de acautelamento e preservaçaã o.
Recomenda-se a leitura dos arts. 215 e 216 da CF.

3. Da Ciência e da Tecnologia
Compete, constitucionalmente, ao Estado promover e incentivar o desenvolvimento cientíéfico, a
pesquisa e a capacitaçaã o tecnoloé gicas (art. 218), sendo, inclusive, facultado aos Estados e ao DF
vincular parcela de sua receita orçamentaé ria a entidades pué blicas de fomento ao ensino e aà pesquisa
cientíéfica e tecnoloé gica.
à pesquisa cientíéfica baé sica receberaé tratamento igualitaé rio do Estado, tendo em vista o bem pué blico e
o progresso das cieê ncias. Ã pesquisa tecnoloé gica voltar-se-aé preponderantemente para a soluçaã o dos
problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.
Recomenda-se a leitura dos arts. 218 e 219 da CF.
Observação: Ãtentar aà emenda constitucional n. 85 de 2015, que inseriu os artigos 219-Ã e 219-B,
permitindo expressamente que sejam firmados instrumentos de cooperaçaã o entre os oé rgaã os e
entidades pué blicos e privados e criou o Sistema Nacional de Cieê ncia, Tecnologia e Inovaçaã o.

4. Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso

5. Tutela constitucional da família


à famíélia foi reconhecida como base da sociedade e recebe proteção do Estado, nos termos dos art
226 e seguintes. Gustavo Tepedino, destaca que, na CF/88:
"a milenar proteçaã o da famíélia como instituiçaã o, unidade de produçaã o e reproduçaã o dos
valores culturais, eé ticos, religiosos e econoê micos, daé lugar aà tutela essencialmente
funcionalizada aà dignidade de seus membros, em particular no que concerne ao
desenvolvimento da personalidade dos filhos".

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à instituiçaã o famíélia eé vista hoje deixando de lado o patriarcalismo, alicerçando-se em uma


compreensaã o dos Direitos Humanos, a partir da noçaã o da dignidade da pessoa humana, da qual
decorrem alguns princíépios que regem a famíélia, tais como:
1) Princíépio do pluralismo familiar ou da liberdade de constituiçaã o de uma comunhaã o de vida familiar
(Ã norma constitucional abrange a famíélia matrimonial, bem como quaisquer outras entidades
familiares, como a uniaã o estaé vel e famíélia monoparental, mesmo que note-se certa resisteê ncia ao
reconhecimento de famíélias simultaê neas pela jurisprudeê ncia do STF, justamente invocando a tutela da
famíélia);
2) Princíépio da igualdade juríédica dos coê njuges e companheiros (Os direitos e deveres referentes aà
sociedade conjugal saã o exercidos igualmente pelo homem e pela mulher);
3) Princíépio da igualdade juríédica de todos os filhos (Decorre do princíépio da dignidade da pessoa
humana, iguala a condiçaã o dos filhos havidos ou da relaçaã o do casamento, ou por adoçaã o, naã o mais
admitindo-se qualquer diferenciaçaã o entre os mesmos); e
4) Princíépio da paternidade responsaé vel e planejamento familiar (O planejamento familiar eé livre
decisaã o do casal, fundado nos princíépios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsaé vel).

1. Tutela Constitucional do Idoso


No Capíétulo destinado aà famíélia, o art. 229, da CF, reconheceu o princípio da solidariedade nas
relações familiares, incumbindo os pais do dever de ampararem os filhos menores e estes
ampararem aqueles na velhice, careê ncia ou enfermidade. E como desdobramento natural do princíépio
da solidariedade, a famíélia, a sociedade e o Estado teê m o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participaçaã o na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-
lhes o direito aà vida (art.230, CF). Disse mais, com vistas ao bem-estar daqueles que, como todos noé s,
precisam (ou um dia precisaraã o) que os programas de amparo aos idosos seraã o executados
preferencialmente em seus lares (art. 230, §1º, CF), junto aqueles que lhes saã o mais caros.
Com vistas assegurar a afirmaçaã o dos direitos fundamentais da pessoa idosa e tutelar em diplomas
legislativos proé prios, foram publicadas as Política Nacional do Idoso (Lei 8.842/94), e o Estatuto
do Idoso (Lei 10.741/03), atribuindo a guarda da integridade destas aà famíélia, aà sociedade e ao
Estado. Tais diplomas trouxeram uma seé rie de princíépios e garantias assecuratoé rios da dignidade
humana na terceira idade (ex.: a famíélia, a sociedade e o estado teê m o dever de assegurar ao idoso
todos os direitos da cidadania, garantindo sua participaçaã o na comunidade, defendendo sua dignidade,
bem-estar e o direito aà vida.)

2. Tutela constitucional da Criança, do Adolescente e do jovem


Sobressai da ordem social preconizada na CF/88, no Capíétulo VII, Tíétulo VIII, a explícita priorização
na proteção da criança, do adolescente e do jovem, com o estabelecimento de uma ordem de
proteção máxima e especial que lhes fora atribuíéda, conforme se constata do caput do art. 226, “Ã
Famíélia, base da sociedade, tem especial proteçaã o do Estado” combinado com o art. 227 e seu § 3º, “EÉ
dever da famíélia, da sociedade e do Estado assegurar aà criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito aà vida, aà saué de, aà alimentaçaã o, aà educaçaã o, ao laser, aà
profissionalizaçaã o, aà cultura, aà dignidade, ao respeito, aà liberdade e aà conviveê ncia familiar e
comunitaé ria, aleé m de colocaé -los a salvo de toda forma de negligeê ncia, discriminaçaã o, exploraçaã o,
violeê ncia, crueldade e opressaã o” e “o direito a proteçaã o especial abrangeraé os seguintes aspectos.
Tal funçaã o garantista da CF deve ser compreendida com a convocaçaã o do meta-princíépio da dignidade
da pessoa humana, em face da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento em que sem

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encontram as crianças e adolescentes. No entanto, tambeé m deve-se identificar o adolescente como


sujeito de suas açoã es; como sujeito de direitos, mas tambeé m de obrigaçoã es.
Obs.: a EC 65/2010 inclui o jovem no mesmo aê mbito de proteçaã o das crianças e adolescentes, aleé m de
inserir o §8º no art. 227 da CF, com a seguinte redaçaã o:

“(...); § 8º A lei estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens; II
- o plano nacional de juventude, de duraçaã o decenal, visando aà articulaçaã o das vaé rias esferas do
poder pué blico para a execuçaã o de políéticas pué blicas..” (incluíédo pela EC 65)

2. DIREITO ADMINISTRATIVO

ATO ADMINISTRATIVO. CONCEITO. REGIME JURÍDICO. ESPÉCIES. ELEMENTOS E


REQUISITOS. VÍCIOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS. PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES
DOS ATOS ADMINISTRATIVOS. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO.
FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS.

ATO ADMINISTRATIVO

Conceito

CÃBM: "declaraçaã o do Estado (ou de quem lhe faça as vezes - como, por exemplo, um concessionaé rio
de serviço pué blico) no exercíécio de prerrogativas públicas, manifestada mediante provideê ncias
juríédicas complementares da lei a tíétulo de lhe dar cumprimento, e sujeitas a controle de legitimidade
por oé rgaã o jurisdicional".

JSCF: “exteriorizaçaã o da vontade de agentes da Ãdministraçaã o Pué blica ou de seus delegataé rios, nessa
condiçaã o, que, sob regime de direito pué blico, vise aà produçaã o de efeitos juríédicos, com o fim de atender
ao interesse pué blico.”

Caracteríésticas: 1) eé uma declaraçaã o juríédica; 2) proveé m do Estado ou de quem faça aà s vezes; 3) eé


exercida no uso de prerrogativas pué blicas; 4) saã o provideê ncias juríédicas complementares da lei ou da
proé pria CF, diferenciando-se o ato administrativo da lei; e, 4) sujeita-se ao exame de legitimidade
perante o Poder Judiciaé rio (art. 5°, XXXV da CF/88).
Naã o se pode esquecer que embora os atos administrativos sejam tíépicos do Poder Executivo, no
exercíécio de suas funçoã es proé prias, os Poderes Judiciaé rio e Legislativo tambeé m editam atos
administrativos, sobretudo relacionados ao exercíécio de suas atividades de gestaã o interna (ex.: atos
relativos aà vida funcional dos servidores, licitaçoã es efetuadas nestas esferas etc.).
 Segundo classificaçaã o do direito privado, fatos juríédicos em sentido amplo saã o todos os eventos,
naturais ou humanos, a que o direito confere significaçaã o, atribuindo-lhe consequeê ncia juríédica.
Os fatos juríédicos em sentido amplo subdividem-se em:
-fato juríédico em sentido estrito (eventos da natureza dos quais resultam consequeê ncias juríédicas)
-ato juríédico (qualquer manifestaçaã o humana voluntaé ria que a tenha a finalidade direta de produzir
alteraçaã o no mundo juríédico)
Ãtos administrativos saã o espeé cies do geê nero ato juríédico. Diferenciam-se, pois, do fato administrativo,
entendendo-se, por estes, quaisquer atuaçoã es da administraçaã o que naã o correspondem a uma
manifestaçaã o de vontade, mas que produzem efeitos juríédicos, a despeito de naã o terem por finalidade
imediata a produçaã o desses efeitos (ex.: colisaã o entre um veíéculo oficial e um particular);
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Jaé para CABM fato administrativo é o silêncio ou ineé rcia da Ãdministraçaã o que produz efeitos
juríédicos (ex.: decadeê ncia do direito de anular ato viciado).
Para MSZP saã o eventos da natureza, naã o decorrentes de manifestaçaã o ou declaraçaã o humana, que
produzem efeitos no aê mbito do direito administrativo (ex.: morte de um servidor). Seriam espeé cies do
geê nero fatos jurídicos em sentido estrito. Ã autora diferencia fato administrativo de fato da
administraçaã o, o qual indica como sendo aqueles que naã o produzem qualquer efeito juríédico no
Direito Ãdministrativo.
Para Marcelo Ãlexandrino, os fatos administrativos: “(a) naã o teê m como finalidade da produçaã o de
efeitos juríédicos (embora possam deles eventualmente decorrer efeitos juríédicos; (b) naã o haé
manifestaçaã o ou declaraçaã o de vontade, com conteué do juríédico, da administraçaã o pué blica; (c) naã o faz
sentido falar em ‘presunçaã o de legitimidade’ de fatos administrativos; (d) naã o se pode cogitar
revogaçaã o ou anulaçaã o de fatos administrativos; (e) naã o faz sentido falar em fatos administrativos
discricionaé rios ou vinculados”.
 EÉ possíével diferenciar atos administrativos de atos da administraçaã o. Para DI PIETRO, ato da
administraçaã o eé “todo ato praticado no exercíécio da funçaã o administrativa”. Segundo ela, dentre os atos
da administraçaã o, incluem-se: os atos de direito privado; os atos materiais da Ãdministraçaã o; atos de
conhecimento, opiniaã o, juíézo ou valor (atestados, certidoã es, pareceres, votos); atos políéticos (ou atos
de governo); contratos; atos normativos da administraçaã o e atos administrativos propriamente ditos.

ÃTOS ÃDMINISTRÃTIVOS: regidos pelo Direito Pué blico


Podem ser exercidos pelo Judiciaé rio, Legislativo e concessionaé rios e permissionaé rios. Quanto aos 2
ué ltimos, haé divergeê ncia na doutrina, sendo que Gasparini adota essa posiçaã o.
ÃTOS DÃ ÃDMINISTRÃÇÃÃ O: regidos pelo direito pué blico ou privado
Ex: atos políéticos exercidos pela administraçaã o, como sançaã o e veto do PR.

Regime Jurídico de Direito Público: os atos administrativos saã o sujeitos a regime juríédico de direito
pué blico, na medida em que tais atos proveê m de agentes da Ãdministraçaã o (ou delegataé rios do Poder
Pué blico) e se destinam ao atendimento do interesse pué blico. Ãssim, haé regras e princíépios juríédicos
especíéficos para os atos administrativos que naã o incidem sobre os atos privados.
Portanto, eé o regime juríédico de direito pué blico que rege basicamente os atos administrativos, cabendo
ao direito privado fazeê -lo supletivamente e sem contrariar o regramento fundamental especíéfico para
os atos pué blicos. Lembre-se que o regime juríédico administrativo eé composto de prerrogativas e
sujeições.
Requisitos de validade (ou elementos) do ato administrativo
Com base na lei da açaã o popular (Lei 4717, art. 2º), a doutrina costuma apontar cinco requisitos do ato
administrativo: competeê ncia, finalidade, forma, motivo e objeto.
Saã o requisitos de validade, haja vista que a praé tica em desacordo com o estabelecido em lei leva aà sua
nulidade (exceçaã o: em caso de víécio nos elementos competência ou forma, poder-se-aé ter atos apenas
anulaé veis, ou seja, potencialmente aptos aà convalidaçaã o).
COMPETÊNCIA (ou “sujeito”, para alguns doutrinadores)
Para a praé tica de qualquer ato administrativo eé necessaé rio que o agente tenha poder específico para
o desempenho das atribuições do seu cargo, sendo esta a definiçaã o de competeê ncia. Segundo CÃM
tais poderes saã o atribuíédos na medida do que seja necessaé rio para que o agente atinja os fins que o
ordenamento lhe impoã e (poder-dever).
Somente lei pode estabelecer competeê ncias administrativas. Portanto, seja o ato administrativo
vinculado ou discricionaé rio, esse elemento eé sempre vinculado.
Fontes da Competência:
Fonte primária – eé quem define no primeiro plano a competeê ncia, ou seja, a lei em sentido amplo
(englobando o texto constitucional)
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Fonte secundária – eé quem define no plano interno do oé rgaã o, ou seja, para apontar exatamente quem
eé o sujeito, que seraé previsto em ato administrativo.
 Características da competência: Exercício obrigatório (poder-dever), Irrenunciabilidade
(mué nus pué blico), NÃO pode também ser transacionada, NÃO pode ser modificada pela vontade
do agente; sendo elemento vinculado, somente a lei pode modificá-la; NÃO prescreve ou decai
pela inexistência de exercício efetivo; NÃO se prorroga, (naã o se estende automaticamente a oé rgaã o
ou agente incompetente pela simples circunstaê ncia de haver ele praticado o ato ou de ter sido o
primeiro a tomar conhecimento do fato que originou o ato) e via de regra, é indelegável (ou
intransferível).
Obs.: o que pode ser delegado eé o exercíécio da competeê ncia (e naã o sua titularidade); aleé m disso,
quando o agente transfere a competeê ncia para subordinado naã o deixa de ser competente surgindo a
competência cumulativa (tanto quem transferiu quanto quem recebeu saã o competentes);
 Delegação e avocação de competências
O art. 12 da Lei 9784 estabelece: “Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver
impedimento legal, delegar parte de sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não
lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstancias de índole
técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.” (grifei)
Ãssim, ÃLEXÃNDRINO destaca os seguintes pontos sobre delegação de competência:
 a regra geral eé a possibilidade de delegaçaã o de competeê ncia, a qual somente naã o eé admitida se
houver impedimento legal;
 a delegaçaã o pode ser feita para oé rgaã os ou agentes subordinados ou não;
 a delegaçaã o deve ser de apenas parte da competeê ncia do oé rgaã o ou agente, naã o de todas as suas
atribuiçoã es;
 a delegaçaã o deve ser feita por prazo determinado;
 o ato de delegaçaã o pode conter ressalva de exercíécio da atribuiçaã o delegada, vale dizer, o exercíécio
da atribuiçaã o pode naã o ser conferido em sua plenitude ao agente delegado, e sim com restriçoã es e
ressalvas;
 o ato de delegaçaã o eé um ato discricionaé rio e eé revogaé vel a qualquer tempo pela autoridade
delegante;
 o ato de delegaçaã o e sua revogaçaã o deveraã o ser publicados no meio oficial;
 o ato por delegaçaã o deve mencionar expressamente esse fato e eé considerado adotado pelo
delegado, ou seja, a responsabilidade recai sobre ele.
Em alguns casos, a lei veda a delegação (art. 13): atos administrativos normativos, decisaã o em
recursos administrativos e mateé rias de competeê ncia exclusiva do oé rgaã o ou autoridade. Ressalte-se que
a vedaçaã o existe na LÃPF, que eé lei federal, nada impedindo, portanto, que haja diferença de
regramento em leis de outras esferas.
Quanto aà avocação, eé regulada em apenas no art. 15 da LPÃF, que dispoã e: “Será permitida, em caráter
excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência
atribuída a órgão hierarquicamente inferior”.
Prevalece na doutrina que naã o eé possíével avocar sem que exista hierarquia entre os agentes
envolvidos. Ãinda em linha de distinçaã o, naã o se pode confundir revogaçaã o de um ato de delegaçaã o (eé
do delegante a titularidade da competeê ncia) com avocaçaã o (a competeê ncia legal avocada eé do
subordinado).
 Vício de Incompetência. Excesso de poder, função de fato e usurpação de função
a) Por incompetência: ocorre por excesso de poder, usurpaçaã o de funçaã o ou funçaã o de fato.
Ocorre excesso de poder quando o agente atua fora ou aleé m de sua esfera de competeê ncias,
estabelecida em lei.
Obs.: 1. abuso de poder eé o geê nero, do qual saã o espeé cies o excesso de poder (víécio de competência) e o
desvio de poder (víécio no elemento finalidade dos atos administrativos).

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2. Tanto o excesso como o desvio de poder podem configurar crime de abuso de autoridade (Lei
4898/65), hipoé tese em que ficaraé sujeito aà responsabilidade administrativa e aà penal, podendo ainda
responder civilmente, se de seu ato resultarem danos patrimoniais e morais.
O víécio de competeê ncia (excesso de poder) admite convalidação, salvo se se tratar de competeê ncia
em razaã o da mateé ria ou de competeê ncia exclusiva. Nestes dois ué ltimos casos, o excesso de poder gera
um ato nulo.
à usurpação da função eé crime (art. 328 do CP) cometido por algueé m que naã o foi por nenhuma
forma investido no cargo, emprego ou funçaã o pué blica. O agente naã o tem nenhuma espeé cie de vinculo
funcional com a administraçaã o (MSZP). Neste caso, a maioria da doutrina considera o ato inexistente.
Ocorre a função de fato quando a pessoa foi investida no cargo, emprego ou funçaã o pué blica, mas haé
alguma ilegalidade em sua investidura ou impedimento para a praé tica do ato. Em funçaã o da teoria da
apareê ncia (para os administrados, a situaçaã o tem total apareê ncia de legalidade, de regularidade), o ato
eé considerado vaé lido, ou pelo menos o saã o os efeitos dele decorrentes.
b) Por incapacidade: Ã LPÃF preveê , em seu art. 18, os casos de impedimento, e no art. 20, os casos
de suspeição de autoridade ou servidor pué blico, praticamente nos mesmos moldes do CPC. Cumpre
salientar, poreé m que, no Direito Ãdm, ambas as hipoé teses se enquadram como atos anulaé veis, passíéveis
de convalidaçaã o por autoridade que naã o esteja na mesma situaçaã o de impedimento ou suspeiçaã o.
FINALIDADE
EÉ o bem juríédico objetivado pelo ato, o objetivo de interesse pué blico a ser atingido. Ã finalidade eé
sempre elemento vinculado de todo ato adm, seja discricionaé rio ou regrado, pois naã o se admite ato
adm sem finalidade pué blica ou desviado de sua finalidade especíéfica. Quem define a finalidade a ser
perseguida pelo agente pué blico eé sempre a lei. Os atos adm apenas se justificam como fator de
realizaçaã o do interesse coletivo.
à alteraçaã o da finalidade, expressa na norma legal ou implíécita no ordenamento, caracteriza desvio de
poder, o qual torna o ato invaé lido.
à finalidade eé justamente o bem juríédico que estaé sendo protegido pelo ato administrativo, pode ser
dividida em finalidade geral (interesse pué blico) ou finalidade especíéfica (prevista na lei - para alguns
tipicidade)
Vício de Finalidade. Teoria do desvio do poder ou desvio de finalidade
Ocorre desvio de poder quando o agente se serve de um ato para satisfazer finalidade alheia aà
natureza do ato utilizado. Portanto haé um mau uso da competeê ncia que o agente possui para praticar
atos administrativos.
O desvio de poder pode ocorrer de dois modos: o agente busca uma finalidade alheia ao interesse
pué blico (desvio da finalidade geral) ou o agente busca uma finalidade, ainda que de interesse
pué blico, alheia aà categoria do ato que utilizou (desvio da finalidade específica do ato).
à grande dificuldade com relaçaã o ao desvio de poder eé a prova, pois o agente naã o declara a sua
verdadeira intençaã o; ele procura ocultaé -la para produzir a enganosa impressaã o de que o ato eé legal.
Entaã o, o desvio de poder se comprova por meio de indícios como: motivaçaã o insuficiente ou
contraditoé ria; irracionalidade do procedimento, acompanhada da ediçaã o do ato; contradiçaã o do ato
com o resultado; a camuflagem dos fatos; a inadequaçaã o entre os motivos e os efeitos; o excesso de
motivaçaã o.
FORMA
à forma eé o modo de exteriorização da vontade. à validade do ato administrativo estaé condicionada
aà sua forma. Ã forma eé o revestimento material do ato, portanto eé o modo pelo qual o ato revela a sua
existeê ncia. Se naã o haé exteriorizaçaã o, para CÃBM, naã o haé vontade, pois esta eé pressuposto de existeê ncia
do ato administrativo.
Vale ressaltar, que para Celso Ãntoê nio, naã o se deve confundir forma com formalizaçaã o. Ã formalizaçaã o
eé um modo especifico de apresentaçaã o da forma, vale dizer, uma solenizaçaã o requerida para o ato.

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Ãlguns autores consideram que a forma pode ser elemento discricionaé rio ou vinculado, o que eé
corroborado pelo art. 22, caput da LPÃF, segundo o qual “os atos do processo administrativo naã o
dependem de forma determinada senaã o quando a lei expressamente a exigir”.
Para Ãlexandrino “quando a lei não exigir forma determinada para os atos adm, cabe aà
administraçaã o adotar aquela que considere mais adequada, conforme seus criteé rios de convenieê ncia e
oportunidade administrativas; a liberdade da administraçaã o eé , entretanto, estreita, porque a forma
adotada deve proporcionar segurança juríédica e, se se tratar de atos restritos de direitos ou
sancionatoé rios, deve possibilitar que os administrados exerçam plenamente o contraditoé rio e ampla
defesa. Diferentemente, sempre que a lei expressamente exigir determinada forma para a validade
do ato, a inobservaê ncia acarretaraé sua nulidade”.
Em regra, os atos administrativos devem ser escritos, a fim de proporcionar o exame de sua
legalidade pela proé pria Ãdministraçaã o e pelo Poder Judiciaé rio; apenas, excepcionalmente, seraé
admitido ato administrativo naã o escrito, desde que a lei autorize (ex: verbais ou ateé gesticulados).
Obs.: o art. 60, § ué n, da L 8666 estabelece que “eé nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a
Ãdministraçaã o, salvo o de pequenas compras de pronto pagamento (...) feita em regime de
adiantamento”, quando naã o ultrapasse o valor de R$ 4.000,00.
Vício de forma
Em regra é passível de convalidação, ou seja, eé defeito sanaé vel que pode ser corrigido. Poreé m, a
convalidaçaã o naã o seraé possíével quando a lei estabelece determinada forma como essencial aà validade
do ato, caso em que seraé nulo se naã o a observar.
Importa destacar que a motivação (declaraçaã o escrita dos motivos da pratica do ato), quando
obrigatória, integra a forma do ato administrativo: a forma ato com motivação expressa eé essencial
aà validade do ato. Sua auseê ncia acarreta a nulidade do ato por víécio de forma.
 Silêncio administrativo
Tema divergente. Para o Direito Ãdministrativo, o silêncio é um nada jurídico, salvo se a lei
estabelecer algum efeito.
O Poder Judiciário, no sileê ncio do administrador, pode exercer controle sobre essa auseê ncia de ato
(omissaã o), entretanto, naã o pode substituir a vontade do administrador, ou seja, naã o pode dar a
resposta no lugar do administrador. Ex: naã o pode dar a autorizaçaã o para construir. O Judiciaé rio deve
fixar um prazo para cumprimento e estabelecer multa.
CÃBM: se o ato for vinculado a vontade é da lei, assim, o juiz pode suprir a manifestação do
administrador, porque NÃÃ O haé juíézo de valor, naã o haé juíézo de convenieê ncia e de oportunidade.
- Natureza jurídica do silêncio:
Na linha da conceituaçaã o de CÃBM naã o se pode identificar qualquer declaraçaã o no sileê ncio da
Ãdministraçaã o Pué blica. O que se verifica eé a ineé rcia do Estado. Todavia, por se tratar de evento
relevante ao Direito, conforma um fato jurídico administrativo.
- Inconstitucionalidade do silêncio administrativo:
à CF, art. 5º, XXXIV, inscreve, no rol dos direitos fundamentais do cidadaã o, o direito de petição,
consubstanciado na faculdade de se dirigir aos Poderes Pué blicos – dentre os quais se encontra a
Ãdministraçaã o – petiçaã o para a defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder.
O silêncio administrativo, naã o se consubstanciando efetiva manifestaçaã o da Ãdministraçaã o, sendo,
antes, a sua proé pria ineé rcia, acarreta frontal vilipêndio ao dever de resposta relativo ao direito de
petição constitucionalmente assegurado.
Vale ressaltar que a L 8112, em seu art. 116, I, determinou com um dos deveres dos servidores:
exercer com zelo e dedicaçaã o as atribuiçoã es do cargo. Portanto, caso o servidor silencie, estaraé
afrontando o dever funcional, podendo o administrado socorrer-se ao Poder Judiciaé rio. Ãleé m do mais,
o proé prio art. 48 da lei determinou que: “a Administração tem o dever de explicitamente emitir
decisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou reclamações, em matéria de sua
competência.” (Grifei)

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- Responsabilização pelo silêncio: Caso a omissaã o da Ãdministraçaã o Pué blica venha a resultar em um
dano juríédico, tal omissaã o poderaé ensejar responsabilizaçaã o patrimonial do Estado, bem como a do
proé prio servidor, nos casos de dolo ou culpa (art. 37 §6° da CF/88).
Ãs hipoé teses de responsabilizaçaã o não se restringem à ausência de resposta pelo exercente da
funçaã o administrativa, devendo ser tambeé m aplicaé veis aà s situaçoã es em que a resposta surja quando
já superado o tempo razoável para aquela manifestação (direito aà razoaé vel duraçaã o do processo).
Nas hipoé teses de naã o haver previsaã o legal especíéfica de prazo para a oferta de resposta pela
Ãdministraçaã o, deve-se aplicar, subsidiariamente, o lapso de 30 dias previsto na L 9784 (arts. 49 e
59, § 1º), responsável pela regulação do processo administrativo no âmbito federal.

- Efeitos fictícios do silêncio da Administração:


Ão tempo em que no Direito Privado o sileê ncio importa regra geral consentimento taé cito (ressalvadas
as situaçoã es para as quais a lei preveja a necessidade de manifestaçaã o expressa), no Direito Público,
em que naã o impera a autonomia da vontade, tal soluçaã o naã o se revela aplicaé vel.
à previsão de efeitos ao silêncio da Administração naã o consubstancia sançaã o pela ineé rcia
administrativa, sendo, em verdade, mecanismo que se coloca em favor do administrado, tendente a
minimizar os prejuíézos que lhe seriam provocados pela apatia estatal. Ã previsaã o de efeitos para o
sileê ncio eé um imperativo de segurança jurídica.
Os efeitos do sileê ncio da administraçaã o podem ser:
a) positivos: imprescindíével autorizaçaã o legal expressa. Implica a concessaã o de direitos materiais aos
requerentes. Soé eé possíével falar em efeito positivo do sileê ncio quando a provideê ncia negligenciada pelo
administrador seja de caraé ter vinculado (a provideê ncia discricionaé ria implica a anaé lise do caso
concreto para se aferir qual a soluçaã o dita "oé tima", naã o se podendo operar os efeitos positivos do
sileê ncio em tais situaçoã es).
b) negativos: naã o dependem de autorizaçaã o legal expressa. Carrega um caraé ter eminentemente
processual, jaé que, a despeito de naã o implicar a concessaã o de direitos materiais aos requerentes, abre
as portas da instaê ncia processual administrativa subsequente.

- Função judiciária no combate ao silêncio:


Mesmo quando se operem os efeitos fictos do sileê ncio estatal, seraé possíével o ingresso do administrado
no Judiciaé rio, pleiteando a inteira satisfaçaã o dos seus direitos.
Ultrapassado o "intervalo razoaé vel" para obtençaã o de resposta, mesmo quando produzidos os
efeitos positivos do silêncio, seraé possíével ao administrado vitimado pela ineé rcia provocar a Funçaã o
Judiciaé ria para obter os fundamentos daquela ficta concessaã o. Isso porque, consoante jaé se afirmou, o
administrado tem direito naã o soé a uma decisaã o, mas a uma soluçaã o devidamente fundamentada.
à depender da natureza do ato questionado perante o Poder Judiciaé rio, tem-se:
a) vinculado: o magistrado chamado a apreciar a questaã o poderaé , suprindo a omissão
administrativa, avaliar se o particular reué ne os elementos autorizadores da soluçaã o pleiteada,
deferindo ou não diretamente o quanto solicitado (CÃBM).
JSCF e Gasparini não concordam com tal entendimento, aduzindo em face da separaçaã o de poderes,
soé poderia o magistrado podendo determinar ao administrador o cumprimento de atuaçaã o comissiva
(facere), proferindo decisão de caráter mandamental. Neste ué ltimo sentido: STF, MS 24167.
b) discricionário: apenas seria possível ao magistrado impor prazo para que a Ãdministraçaã o, sob
pena de cominaçaã o diaé ria de multa, oferte a motivação daquela denegação ficta, chegando CÃBM a
afirmar que o administrado faz "jus a um pronunciamento motivado, mas taã o-somente a isto".
- Silêncio administrativo e contrariedade a súmula vinculante:
Lei 11.417/06, Ãrt. 7o Da decisaã o judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado
de sué mula vinculante, negar-lhe vigeê ncia ou aplicaé -lo indevidamente caberaé reclamaçaã o ao
STF, sem prejuíézo dos recursos ou outros meios admissíéveis de impugnaçaã o.

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§ 1o Contra omissaã o ou ato da administraçaã o pué blica, o uso da reclamaçaã o soé seraé admitido
apoé s esgotamento das vias administrativas.
§ 2o Ão julgar procedente a reclamaçaã o, o STF anulará o ato administrativo ou cassará a
decisaã o judicial impugnada, determinando que outra seja proferida com ou sem aplicaçaã o da
sué mula, conforme o caso.
Para JSCF, não há possibilidade de o STF suprir a omissão, em face da separaçaã o de poderes, soé
podendo determinar ao administrador o cumprimento de atuaçaã o comissiva, decisaã o de caraé ter
mandamental.
MOTIVO
O motivo ou causa eé a situação de direito e de fato que determina ou autoriza a realizaçaã o do ato
administrativo. EÉ o pressuposto de fato e de direito (ou normativo) que serve de fundamento ao ato
administrativo. O motivo pode ser previsto em lei ou naã o. Quando previsto em lei, o elemento eé
vinculado. Dessa forma, o agente soé pode praticar o ato descrito na norma. Entretanto quando naã o
previsto em lei, o elemento eé discricionaé rio, tendo o agente liberdade de escolha da situaçaã o em vista
da qual editaraé o ato.
Para CÃBM, o motivo eé pressuposto de fato que autoriza ou exige a praé tica do ato, tratando-se da
causa, enquanto pressuposto loé gico de validade.
Quando o ato eé vinculado, a lei determina que aà vista daquele fato seja obrigatoriamente praticado
aquele ato administrativo com aquele conteué do (ex.: licença-paternidade). Quando o ato eé
discricionário, a lei autoriza a pratica do ato, aà vista de determinado fato; neste caso, a lei pode
facultar a escolha dentre diversos objetos (ex.: a licença naã o remunerada para tratar de interesses
pessoais).
Vício de motivo (art. 2, § ún, “d” da Lei 4717/65).
a) motivo inexistente: melhor seria dizer “fato inexistente”. Neste caso, a lei diz que diante de
determinado fato, deve ser praticado determinado ato. Se que o fato naã o existe, diz-se que o ato eé
viciado por inexisteê ncia material do motivo. Ex.: servidor eé reprovado no estaé gio probatoé rio por
inassiduidade, naã o sendo demonstrado que o servidor faltava ao serviço;
b) motivo ilegítimo (ou juridicamente inadequado): a administraçaã o realiza um enquadramento
inadequado do fato aà norma. Neste caso, a lei diz que diante de determinado fato, deve ser praticado
determinado ato. Ocorre que o fato existente naã o se enquadra corretamente na norma que determina
ou autoriza a praé tica do ato. Ex.: servidor eé reprovado em estaé gio probatoé rio por “apresentaçaã o
pessoal improé pria”, mas a lei naã o preveê esse fato como motivo para tanto.
c) ausência de motivação: o administrador naã o expressa o motivo, quando a lei exige motivaçaã o.
d) motivo ilegal.
 Distinções importantes:
Motivo do ato e motivo legal: o primeiro eé a situaçaã o material que serviu de suporte real e objetivo
para a praé tica do ato. Jaé o segundo eé a previsaã o abstrata de uma situaçaã o faé tica, empíérica. Haé que
registrar que o ato seraé viciado toda vez que o motivo de fato for descoincidente com o motivo legal.
Motivo e móvel: motivo eé a situaçaã o objetiva, real, empíérica. Jaé o moé vel eé a intençaã o, vale dizer, o
propoé sito do agente que pratica o ato. Motivo eé a realidade externa ao agente, sendo o moé vel a
representaçaã o psicoloé gica, interna do agente. Ãssim, o móvel eé a vontade, eé o que está na cabeça do
gestor; a vontade do administrador, em regra, eé importante que seja vaé lida. Ã vontade, moé vel do
agente, soé eé relevante nos atos administrativos praticados sob a competeê ncia discricionaé ria, sendo
absolutamente irrelevante quando o ato for completamente vinculado.
Motivo e motivação: a motivação eé a fundamentação que eé apresentada no ato administrativo, ou
seja, eé a correlaçaã o loé gica entre o motivo e o resultado do ato e a lei. Trata-se da justificativa. Ex.: no
caso de sançaã o disciplinar, motivo eé a pratica da infraçaã o e motivaçaã o eé a caracterizaçaã o, por escrito,
dos fatos (conduta).
à motivação integra o elemento forma do ato administrativo, entendendo a doutrina majoritaé ria que
deve ser preé via ou contemporaê nea aà expediçaã o do ato. Para CÃBM, se o ato naã o houver sido motivado,
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mas for plenamente possíével demonstrar, de forma objetiva e para aleé m de qualquer dué vida, que o
motivo exigente do ato preexistia, dever-se-aé considerar-se sanado o víécio do ato. Entretanto, caso
estejamos diante do exercíécio da competeê ncia discricionaé ria, salvo alguma hipoé tese excepcional, a
motivaçaã o extemporaê nea vicia o ato, fulminado por invaé lido.

O ato de remoçaã o de servidor pué blico por interesse da Ãdministraçaã o Pué blica deve ser motivado.
Caso naã o o seja, haveraé nulidade. No entanto, é possível que o vício da ausência de motivação
seja corrigido em momento posterior à edição dos atos adm impugnados. Ãssim, se a
autoridade removeu o servidor sem motivaçaã o, mas ela, ao prestar as informaçoã es no mandado de
segurança, trouxe aos autos os motivos que justificaram a remoçaã o, o víécio que existia foi
corrigido. (STJ, ÃgRg no RMS 40427).

Obrigatoriedade da motivação
Para doutrina majoritaé ria a motivação eé obrigatoé ria. Ã L 9784 previa a motivaçaã o como princíépio:
tantos o atos vinculados como os discricionaé rios devem ser motivados. Para CÃBM e Eros Grau, se o
ato vinculado deve ser motivado, muito mais deve ser o ato discricionaé rio, a fim de demonstrar que a
finalidade pué blica estaé sendo atendida. Ãpresentam como fundamentos constitucionais: o artigo 1o. II
(cidadania) e paraé grafo ué nico (poder que emana do povo); o art. 5 o., XXXV (para garantir o controle
jurisdicional dos atos administrativos, porque para controlar eé preciso saber quais saã o os motivos); o
art. 5o. (direito aà informaçaã o); art. 93, IX (aplicaçaã o por analogia); o art. 50, da L 9784 (eé muito amplo,
abrangendo todos os atos administrativos).
Teoria dos Motivos Determinantes
Ãplica-se tanto a atos vinculados como discricionários, sempre que houver motivaçaã o. Uma vez
enunciados os motivos do ato pelo agente, isto eé , os fatos que serviram de suporte aà decisaã o integram
a validade do ato. Ãssim, a invocaçaã o de “motivos de fato” falsos, inexistentes ou incorretamente
qualificados vicia o ato administrativo praticado.
Em alguns casos, os atos naã o precisam de motivaçaã o (Ex: exoneraçaã o ad nutum), mas se o
administrador os der, estaraé a eles vinculado.
TREDESTINAÇÃO eé uma exceção ao princíépio da teoria dos motivos determinantes. EÉ um instituto
peculiar da desapropriaçaã o, por meio do qual se autoriza a mudança de destino do bem
desapropriado, se for no interesse pué blico (D.L. 3.365/41).
OBJETO
Pode-se dizer que o objeto do ato administrativo eé a proé pria alteraçaã o no mundo juríédico que o ato
provoca, eé o efeito juríédico imediato que o ato produz (Ãlexandrino). Ex.: o objeto do ato de concessaã o
de uma licença eé a proé pria licença.
CÃBM afirma que o OBJETO é diferente do CONTEÚDO. O objeto eé sobre o que se decide e o
conteúdo eé a decisaã o. Sendo que o conteué do eé elemento do ato, mas, o objeto é pressuposto de
existência do ato.
No ato vinculado o motivo e objeto são vinculados. Ã um motivo corresponde um ué nico objeto,
sendo a praé tica do ato obrigatoé ria. Jaé no ato discricionário, motivo e objeto são discricionários. Haé
liberdade de valoraçaã o do motivo e, consequentemente, da escolha do objeto, dentre os autorizados
por lei.
Saã o os elementos motivos e objeto que permitem verificar se o ato eé discricionaé rio ou vinculado. O
binômio motivo-objeto determina o mérito administrativo.
 Requisitos do objeto:
a) EÉ o resultado praé tico do ato administrativo, tambeé m chamado de efeito imediato. Para ser líécito, o
objeto deve estar previsto na LEI, naã o basta a naã o vedaçaã o.
b) O objeto do ato administrativo precisa ser possíével, do ponto de vista faé tico.
c) O objeto deve ser determinado, ou seja, bem definido.
Vício de objeto:
EÉ insanável, sempre levaraé aà nulidade do ato.
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Objeto impossível e objeto proibido pela lei saã o dois tradicionais víécios do objeto no seara privada,
mas que saã o aplicaé veis ao ato administrativo.
Mas haé ainda duas outras possibilidades de víécio de objeto:
a) ato praticado com conteúdo não previsto em lei: ex.: suspensaã o do servidor por 120 dias,
quando a lei preveê um maé ximo de 90 dias;
b) ato praticado com objeto diferente daquele que a lei prevê para aquela situação: ex.: a lei
preveê que para a instalaçaã o de banca de jornal na calçada deve ser concedida uma “permissaã o”, mas a
administraçaã o concede uma “autorizaçaã o”.

1) COMPETÊNCIA/ SUJEITO VINCULADO


2) OBJETO/ CONTEÚDO DISCRICIONÃÉ RIO
3) FORMA VINCULÃDÃ OU DISCRICIONÃÉ RIÃ
4) FINALIDADE VINCULÃDÃ
5) MOTIVO DISCRICIONÃÉ RIO

Síntese da Classificação de CABM

O termo elementos sugere ideia de parte componente do todo, poreé m, alguns elementos ora elencados
naã o podem ser considerados partes do ato porque saã o exteriores a ele, surgindo assim a expressaã o
pressupostos que seraã o divididos em pressupostos de existeê ncia e pressupostos de validade.

CONTEUÉ DO EÉ a decisaã o = OBJETO


ELEMENTOS
FORMÃ EÉ a exteriorizaçaã o do ato = FORMÃ
OBJETO
DE EXISTEÊ NCIÃ
PERTINEÊ NCIÃ
Pressuposto subjetivo = SUJEITO
Pressuposto objetivo = MOTIVO
PRESSUPOSTOS Pressuposto objetivo = requisitos procedimentais =
processo administrativo preé vio = FORMÃ
DE VÃLIDÃDE
Pressuposto teleoloé gico (finalidade) = FINÃLIDÃDE
Pressuposto loé gico (causa*) = MOTIVO
* Compatibilidade entre o ato e o resultado
Pressuposto formalíéstico = forma especíéfica = FORMÃ
Sem elementos, não há ato algum, nem mesmo juríédico.
Sem os pressupostos de existeê ncia, naã o haé ato administrativo.
Sem pressuposto de validade, falta ato administrativo vaé lido (seraé invaé lido).
Mérito Administrativo
O mérito administrativo consiste "na valoração dos motivos e na escolha do objeto do ato, feitas pela
Administração incumbida de sua prática, quando autorizada a decidir sobre a conveniência,
oportunidade e justiça do ato a realizar. Daí a exata afirmativa de Seabra Fagundes de que 'o
merecimento é aspecto pertinente apenas aos atos administrativos praticados no exercício de
competência discricionária". (HELY)
O tema tem pertinência em relação aos atos discricionários. A conveniência e a oportunidade
configuram o mérito administrativo que está situado no MOTIVO e no OBJETO do ato
administrativo. Como se viu, se o ato é discricionário, os elementos objeto e motivo também o
serão, diferentemente do que ocorre com os atos vinculados, em que os cinco elementos
também são vinculados.

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à convenieê ncia e a oportunidade somente podem ser revistas pelo Judiciaé rio se ferirem o princíépio da
razoabilidade e proporcionalidade, no controle legalidade (STJ) em sentido amplo ou de juridicidade.
Isso porque, no caso dos atos discricionaé rios, o legislador entende que o administrador eé quem tem
melhores condiçoã es de avaliar os aspectos envolvidos na situaçaã o concreta e decidir pela atuaçaã o mais
satisfatoé ria ao interesse pué blico. Naã o pode o juiz substituir a oé tica do administrador pela sua, sob pena
de afrontar a decisaã o realizada pelo administrador e violar a separaçaã o dos poderes.
O Poder Judiciaé rio nunca revoga atos administrativos (proé prio do controle de meé rito), apenas anula,
no exercíécio da funçaã o jurisdicional. Um ato considerado desproporcional ou desarrazoado pelo Poder
Judiciaé rio eé um ato nulo.

Atributos do Ato Administrativo


Os atos administrativos possuem certos atributos que os diferenciam dos atos juríédicos particulares.
Saã o, entaã o, os seus atributos: a presunção de legitimidade, a imperatividade e a
autoexecutoriedade. Haé ainda para MSZP, mais um atributo: a tipicidade.
Os atributos imperatividade e autoexecutoriedade saã o observados apenas em determinadas
espeé cies de atos.
PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDÃDE (ou de legalidade)
É presente em todos os atos administrativos, quer imponham obrigaçoã es ou reconheçam direitos
aos administrados. Funda-se na necessidade de o poder pué blico exercer com agilidade suas
atribuiçoã es, em prol do interesse pué blico. De acordo com esse atributo, em regra, o ato administrativo
produz os seus efeitos desde o momento da sua ediçaã o, ainda que sejam apontados víécios que possam
levar aà sua futura invalidaçaã o. Ã presunçaã o (relativa) estabelece uma aplicaçaã o IMEDIÃTÃ do ato
administrativo. Ãssim, enquanto naã o forem declarados nulos, os atos teê m plena validade, tanto para a
Ãdministraçaã o Pué blica quanto para os particulares sujeitos ou beneficiaé rios de seus efeitos. Tem-se
como consequências jurídicas desse atributo:
 o oê nus da prova da eé de quem alega o vicio;
 o Judiciaé rio naã o pode apreciar ex officio a validade do ato, não se aplicando o NCC, art. 168
(MSZP)
DI PIETRO desmembra esse atributo em duas facetas:
a) presunção de legitimidade: a interpretaçaã o e a aplicaçaã o da norma juríédica pela administraçaã o
foram corretas;
b) presunção de veracidade: os fatos alegados pela administraçaã o existem, ocorreram e saã o
verdadeiros.
Quando se fala de ato manifestamente ilegal haé uma mitigaçaã o do atributo. Ã Lei 8112 afirma que se
a ordem dada pelo superior for manifestamente ilegal, o inferior naã o precisaraé obedecer, sem que isso
configure qualquer infraçaã o administrativa.
IMPERATIVIDADE
Traduz possibilidade de a administraçaã o pué blica, unilateralmente, criar obrigaçoã es para terceiros ou
impor-lhes restriçoã es. Decorre do poder extroverso do Estado (prerrogativa de praticar atos que
invadem a esfera juríédica alheia, alterando-a independentemente de anueê ncia da pessoa).
à imperatividade impoã e a coercibilidade para o cumprimento do ato e podem ser imediatamente
impostos ao administrado, em decorreê ncia da presunçaã o de legitimidade.
Esta força do Poder Pué blico obriga o particular ao atendimento fiel sob pena de sujeitar-se aà execuçaã o
forçada pela Ãdministraçaã o Pué blica (no caso dos atos autoexecutoé rios) ou pelo Judiciaé rio (atos naã o
executoé rios). Ã imperatividade tambeé m jaé nasce com o ato, que deve ser observado ateé que seja
extirpado mundo juríédico ou tenha seus efeitos suspensos.

AUTOEXECUTORIEDADE
à autoexecutoriedade consiste na possibilidade que certos atos administrativos teê m de provocar a
imediata execuçaã o pela proé pria Ãdministraçaã o, independentemente de ordem ou autorizaçaã o judicial
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(Exceção: execuçaã o das multas administrativas), inclusive mediante o uso da força, se necessaé ria. Ex.:
retirada forçada de moradores de um preé dio que ameaça ruir, dissoluçaã o de passeata. Jamais afasta a
apreciaçaã o judicial do ato, apenas dispensa a necessidade de autorizaçaã o preé via para poder praticaé -lo.
Não é atributo de todo ato adm. Genericamente, eé atributo proé prio dos atos inerentes a atividades
tíépicas da administraçaã o, quando atua na qualidade de poder pué blico. Ex.: poder de policia.
Os autores afirmam que a autoexecutoriedade existe em duas situaçoã es: a) a lei expressamente
prevê: naã o que o ato eé autoexecutoé rio, mas que pode ser adotado em uma determinada situaçaã o (ex.:
retençaã o de cauçaã o em mateé ria de contratos administrativos; apreensaã o de mercadorias); b) em
situações de urgência: pode adotar um ato naã o expressamente previsto, em prol da segurança
coletiva, evitando maior lesaã o ao interesse pué blico (ex.: demoliçaã o de preé dio que ameaça ruir).
CÃBM distingue: (i) exigibilidade: eé a qualidade em virtude da qual o Estado, no exercíécio da funçaã o
administrativa, pode exigir de terceiros o cumprimento das obrigaçoã es que impoê s; (ii)
executoriedade: o Poder Pué blico pode compelir materialmente, sem necessidade de recorrer-se as
vias judiciais, o cumprimento da obrigaçaã o que impoê s.
Importante destacar que a exigibilidade naã o se confunde com a executoriedade, pois estaé ultima naã o
garante, por si soé , a possibilidade de coaçaã o material, vale dizer, de execuçaã o do ato.
TIPICIDADE
à tipicidade significa dizer que todo ato administrativo deve corresponder a figuras previamente
definidas pela lei como aptas a produzir determinados resultados. Decorre do PRINCIÉPIO DÃ
LEGÃLIDÃDE de forma que o ato deve estar previamente definido na lei, com a previsaã o, inclusive, de
sua finalidade. Esse atributo teria o condaã o de afastar a possibilidade de adoçaã o de atos inominados.
Para MSZP, a tipicidade soé existe em relaçaã o aos atos unilaterais, eis que nos bilaterais naã o existe
imposiçaã o de vontade por parte da administraçaã o (nada impede a celebraçaã o de contrato inominado,
desde que atenda ao interesse pué blico).
à autora cita como consequeê ncias desse atributo: a) garantia para o administrado: impede a pratica
de ato unilateral e coercitivo, sem preé via previsaã o legal; b) afasta a possibilidade de prática de ato
totalmente discricionário: ao prever o ato, a lei define limites em que a discricionariedade pode ser
exercida.

 SÍNTESE: ATOS ADMINISTRATIVOS: ELEMENTOS E ATRIBUTOS:

ÃTRIBUTOS ELEMENTOS
Presunçaã o de legitimidade COMPETEÊ NCIÃ/SUJEITO: a quem a lei atribui competeê ncia
- Conforme a lei) para a praé tica do ato
OBJETO/ CONTEUÉ DO: efeito juríédico imediato que o ato
Presunçaã o de veracidade produz. Basta verificar o que o ato enuncia, prescreve, dispoã e.
- Conforme os fatos FORMÃ (LPÃF, art. 22). Os atos do processo administrativo
naã o dependem de forma determinada senaã o quando lei
Imperatividade expressamente a exigir.
- Imposiçaã o a terceiros, independente FINÃLIDÃDE: o resultado que a administraçaã o quer alcançar.
de sua anueê ncia Efeito juríédico MEDIÃTO. Sucede aà praé tica do ato,
corresponde a algo que a administraçaã o quer alcançar).
Ãutoexecutoriedade MOTIVO (EÉ o pressuposto de fato e de direito que serve de
- Ãplicaçaã o concreta independente de fundamento ao ato administrativo. Motivo eé diferente de
intervençaã o do poder judiciaé rio. motivaçaã o).

Espécies de Atos Administrativos

ÃTOS NORMÃTIVOS
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Saã o aqueles que conteê m um COMANDO GERAL E ABSTRATO visando à correta aplicação da lei.
Dentre as classificaçoã es dos atos administrativos, correspondem aos atos gerais. Ã essa categoria
pertencem os decretos regulamentadores, os regimentos, as resoluçoã es, as deliberaçoã es e as portarias
de conteué do geral.
Ãleé m da forma, a principal diferença para as leis, eé que naã o podem inovar o ordenamento juríédico,
criando para os administrados direitos e obrigaçoã es naã o previstos em lei. Naã o saã o leis em sentido
formal, mas apenas em sentido material, vale dizer, provimentos executivos com conteué do de lei, com
mateé ria de lei. O ato normativo eé , por exceleê ncia, o exercíécio do poder regulamentar.
Decretos: saã o atos administrativos de competeê ncia exclusiva dos Chefes do Executivo, destinados a
prover a situaçoã es gerais ou individuais. Decreto Ãutoê nomo dispoã e sobre mateé ria naã o regulada
especificamente na lei. Jaé o Decreto Regulamentar visa a explicar ou facilitar a execuçaã o da lei.
Regulamentos saã o atos administrativos que visam especificar os mandamentos da lei.
Instruções normativas: saã o expedidas pelos Ministros de Estado para a execuçaã o das leis, decretos e
regulamentos.
Regimentos: saã o atos administrativos de atuaçaã o interna, destinam a reger o funcionamento dos
oé rgaã os colegiados e de corporaçoã es legislativas.
Resoluções: saã o expedidas pelas altas autoridades do Executivo, com exceçaã o do Chefe deste Poder
que expede decretos, ou pelos presidentes dos Tribunais, oé rgaã os legislativos, para disciplinar mateé ria
de sua competeê ncia especifica.
Deliberações: saã o atos administrativos emanados dos oé rgaã os colegiados. Quando normativas saã o atos
gerais, e quando decisoé rias saã o atos individuais.
O decreto regulamentar autônomo, no Brasil, eé analisado sob o ponto de vista de treê s correntes:
1ª corrente: HELY– é possível decreto regulamentar autoê nomo no Brasil sempre e em qualquer caso.
2ª Corrente: CÃBM e JSCF– não é possível decreto regulamentar autoê nomo no Brasil.
3ª Corrente: MSZP e STF – corrente essa que eé a mais aceita, diz que o decreto regulamentar
autoê nomo no Brasil eé excepcionalmente possível na hipótese do art. 84, VI da CF/88 (Art. 84.
Compete privativamente ao Presidente da República: (...) VI – dispor, mediante decreto, sobre: a)
ORGANIZAÇÃO e FUNCIONAMENTO da administração federal, quando não implicar aumento de despesa
nem criação ou extinção de órgãos públicos; b) EXTINÇÃO de funções ou cargos, quando vagos). Esse
dispositivo foi incluíédo pela EC 32/2001, criando uma “reserva de administraçaã o”.
De se observar ainda que esses decretos autoê nomos podem ser delegados pelo PR “aos Ministros de
Estado, ao PGR ou ÃGU, que observaraã o os limites traçados nas respectivas delegaçoã es” (art. 84 § ué ).
Destaque-se que entre as duas hipoé teses de decreto autoê nomo, apenas a primeira configura,
efetivamente um ato normativo, mesmo assim de efeitos internos.
"Ãçaã o direta de inconstitucionalidade. É admissível controle concentrado de
constitucionalidade de decreto que, dando execução a lei inconstitucional, crie cargos
pué blicos remunerados e estabeleça as respectivas denominaçoã es, competeê ncias, atribuiçoã es e
remuneraçoã es. Inconstitucionalidade. Saã o inconstitucionais a lei que autorize o chefe do
Poder Executivo a dispor, mediante decreto, sobre criaçaã o de cargos pué blicos remunerados,
bem como os decretos que lhe deem execuçaã o." (ÃDI 3232) Mesmo sentido: ÃDI 3990
ATOS ORDINATÓRIOS
Saã o aqueles que visam disciplinar o funcionamento da Administração e a conduta funcional de
seus agentes. Podem-se destacar entre essa categoria as instruçoã es, as circulares, os avisos, as
portarias, as ordens de serviço, os ofíécios e os despachos.
Teê m fundamento no poder hieraé rquico e somente vinculam os servidores subordinados aà autoridade
que o expediu. Naã o atingem os administrados. Saã o hierarquicamente inferiores aos atos normativos,
de maneira que lhes devem obedieê ncia.
ATOS NEGOCIAIS
Saã o aqueles que conteê m declaração de vontade do Poder Público coincidente com a pretensão do
particular, visando aà concretizaçaã o de negoé cios juríédicos pué blicos ou a atribuiçaã o de certos direitos
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ou vantagens ao interessado. Teê m-se como exemplos: licença (vinculado), autorizaçaã o (discricionaé rio
e precaé rio), permissaã o (discricionaé rio e precaé rio), aprovaçaã o (vinculada ou discricionaé ria, a depender
do caso), admissaã o (vinculado), visto (em regra vinculado, mas em alguns casos eé discricionaé rio),
homologaçaã o, dispensa (normalmente discricionaé rio), renué ncia e protocolo administrativo.
Saã o editados quando o ordenamento exige que o particular obtenha anueê ncia da administraçaã o para a
praé tica de atividade ou exercíécio de direito. Sempre deveraé ter como finalidade a satisfaçaã o do
interesse pué blico, ainda que possa coincidir com o interesse do particular que solicitou o ato.
Tais atos naã o saã o contratos, mas declaraçoã es unilaterais que coincidem com a pretensaã o do particular,
produzindo efeitos concretos e individuais para o administrado.
Tais atos podem ser:
A. Vinculados: reconhecem um direito subjetivo ao particular, uma vez atendidos todos os requisitos
da lei. O ato tem que ser praticado, consoante determina a lei, naã o haé escolha para a administraçaã o E
definitivos: naã o comportam revogaçaã o, pois praticados diante de direito subjetivo do administrado
(ato vinculado). Como qualquer ato administrativo, pode ser anulado, cabendo direito aà indenizaçaã o,
em regra (salvo se decorrente de ato do particular). Pode ocorrer tambeé m a cassaçaã o do ato, na
hipoé tese de as condiçoã es deixarem de ser cumpridas pelo administrado.
B. Discricionários: caso tenha atendido aà s exigeê ncias da lei, exista mero interesse do administrado. Ã
praé tica do ato depende de juíézo de convenieê ncia e oportunidade por parte da administraçaã o E
precários: naã o geram direitos adquiridos, podendo ser revogados a qualquer tempo, em regra, sem
direito a indenizaçaã o.
ATOS ENUNCIATIVOS
Saã o aqueles em que a Administração se limita a CERTIFICAR ou a ATESTAR um fato (ex.: certidaã o e
atestado) ou EMITIR uma OPINIÃO sobre determinado assunto (ex.: parecer), sem se vincular ao seu
enunciado.
No caso dos atos que apenas emitem opinião, eles naã o geram efeitos juríédicos, por si soé s, dependendo
sempre de um ato de conteué do decisoé rio. Mas os atos declaratórios produzem pelo menos o efeito de
conferir certeza a determinada situaçaã o faé tica ou juríédica (ex.: art. 130, CTN). Saã o requeridos, na
maioria das vezes para possibilitar a obtençaã o de um outro ato, de natureza constitutiva.
ATOS PUNITIVOS
Saã o aqueles que contêm uma sanção imposta a quem violar disposiçoã es legais, regulamentares ou
ordinatoé rias dos bens ou serviços pué blicos. Por meio deles se impoã em sançoã es diretamente aos
servidores ou aos administrados em geral.
Podem ter fundamento no poder disciplinar (alcançando servidores pué blicos ou particulares ligados
aà administraçaã o por algum víénculo especíéfico) ou no poder de polícia (alcançando particulares em
geral, naã o ligados aà administraçaã o por vinculo juríédico especíéfico).

Classificação dos Atos Administrativos

QUANTO AOS SEUS DESTINATÁRIOS


a) Atos gerais ou regulamentares: Saã o atos de comando abstrato e impessoal, revogaé veis, a todo
tempo pela Ãdministraçaã o, e inalteraé veis pelo Judiciaé rio, salvo na hipoé tese de inconstitucionalidade
(ou ilegalidade). Exemplos: regulamentos, circulares de serviço e instruçoã es normativas.
Naã o podem inovar no ordenamento, tendo a funçaã o de dar fiel execuçaã o aà s leis e assegurar
uniformidade no cumprimento das leis por parte dos agentes pué blicos. Saã o sempre discricionários,
mas sua revogaçaã o naã o pode atingir os direitos adquiridos.
à publicação em meio oficial eé condiçaã o de eficaé cia (para alguns autores a publicaçaã o integraria o
proé prio ciclo de formaçaã o, de maneira que o ato seria imperfeito).
b) Atos individuais ou especiais: Saã o os dirigidos a destinataé rios certos ou determinados,
conferindo-lhes direitos ou impondo-lhes encargos. Podem ser vinculados ou discricionários. Ã
revogaçaã o somente pode ocorrer se o ato naã o tiver gerado direito adquirido.
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QUANTO AO SEU ALCANCE (Para CABM Quanto à situação de terceiros)


a) Atos internos: Destinam-se aà produçaã o de efeitos dentro das repartiçoã es, de tal modo que incidem,
em regra, sobre os oé rgaã os e agentes da Ãdministraçaã o que os expediu. Não geram direitos para os
administrados e, portanto, naã o precisam ser publicados. Pela mesma razaã o, podem ser revogados a
qualquer tempo.
b) Atos externos ou de efeitos externos: Saã o os que alcançam os administrados, os contratantes e,
em certas hipoé teses, ateé os proé prios servidores, provendo sobre seus direitos, negoé cios, obrigaçoã es ou
condutas perante o Poder Pué blico. Ã publicação eé imprescindíével para que produza efeitos, caso gere
direitos ou obrigaçoã es para os administrados ou onere o patrimoê nio pué blico (salvo se naã o precisar ser
conhecido do publico em geral).

QUANTO AO SEU OBJETO (Para CABM Quanto à posição jurídica da Administração)


Obs: Essa classificaçaã o mostrava-se mais relevante quando prevalecia: (i) teoria da dupla
personalidade do Estado: seria pessoa juríédica de direito pué blico quando praticava atos de impeé rio e
de direito privado quando praticava atos de gestaã o; (ii) apenas atos de gestão poderiam acarretar
responsabilidade civil do Estado, porque os atos de impeé rio traduziriam expressaã o da proé pria
soberania. Essas distinçoã es estaã o em desuso desde o seé culo passado, pois perdeu sua funçaã o
primordial, que era excluir a responsabilidade do Estado.
a) Atos de império ou de autoridade: Saã o todos aqueles que a Ãdministraçaã o pratica ex ofiicio
usando de sua supremacia sobre o administrado ou servidor e lhe impoã e obrigatoé rio atendimento.
Exemplos: desapropriaçoã es, interdiçoã es de atividade, ordens estatutaé rias.
b) Atos de gestão: Correspondem aos que a Ãdministraçaã o pratica na qualidade de gestora de seus
bens e serviços, sem fazer uso de sua supremacia sobre os destinataé rios. Ocorre nos atos de
administraçaã o dos bens e serviços pué blicos. Naã o deixam de ser realizados sob regime jurídico-
administrativo, haja vista que a administraçaã o estaé sujeita ao principio da indisponibilidade do
interesse pué blico.
Obs: Estaé sedimentado o descabimento do mandado de segurança contra ato de gestaã o, vide LMS, art.
1º, § 2º: "Não cabe MS contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas
públicas, de sociedade de economia mista e de concessionária de serviço público."
c) Atos de expediente: Saã o os que se destinam a dar andamento aos processos e papeé is que tramitam
pelas repartiçoã es pué blicas, preparando-os para a decisaã o de meé rito a ser proferida pela autoridade
competente. Caracterizam-se pela auseê ncia de conteué do decisoé rio.

QUANTO AO SEU REGRAMENTO (Para BANDEIRA DE MELLO Quanto ao grau de liberdade da


Administração em sua prática)
a) Atos vinculados ou regrados: Saã o aqueles para os quais a lei estabelece os requisitos e condiçoã es
de sua realizaçaã o. Nessa categoria de atos, as imposiçoã es legais absorvem, quase que por completo, a
liberdade do administrador, uma vez que sua açaã o fica adstrita aos pressupostos estabelecidos pela
norma legal, para a validade da atividade administrativa.
b) Atos discricionários: Saã o os que a Ãdministraçaã o pode praticar com liberdade de escolha de seu
conteué do, de seu destinataé rio, de sua convenieê ncia, de sua oportunidade e do modo de sua realizaçaã o,
segundo expressamente permitido pela lei. Ã Ãdm verifica a oportunidade e convenieê ncia do ato.
Ão lado dessa definição mais tradicional de ato discricionaé rio (a lei permite expressamente atuaçaã o
dentro de certos limites; ex.: “eé facultado”, “a seu criteé rio” etc), a doutrina moderna tambeé m
identifica a existeê ncia de discricionariedade quando a lei usa conceitos juríédicos indeterminados na
descriçaã o do motivo (ex.: “boa-feé ”, “moralidade pué blica”), escapando o caso concreto as aé reas de
certeza positiva e negativa do termo aberto.
Para CÃBM "nenhum ato eé totalmente discricionaé rio, dado que conforme afirma a doutrina prevalente
seraé sempre vinculado com relaçaã o ao fim e aà competeê ncia, pelo menos”.
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Não confundir discricionariedade com arbitrariedade. Uma eé a açaã o do administrador dentro dos
limites legais, ao passo que a segunda consiste em atitude contraé ria ou excedente aà previsaã o legal.

QUANTO A FORMAÇAO (Para BANDEIRA DE MELLO Quanto à composição da vontade produtora


do ato)
a) Simples: eé aquele que soé tem uma manifestaçaã o de vontade, mesmo que praticado por oé rgaã o
unipessoal (ato simples singular) ou colegiado (ato simples colegiado). Dessa forma, o ato simples
pode ser simples singular e simples colegial. No primeiro caso a vontade proveé m de uma ué nica pessoa,
jaé no segundo do concurso de vaé rias vontades.
b) Composto: eé aquele que depende de mais de uma manifestaçaã o de vontade, sendo a primeira
principal e a segunda secundaé ria, ou seja, a primeira manifestaçaã o eé decisoé ria e a segunda eé no sentido
de ratificar a primeira. Ex: atos que dependem de visto do chefe. Este caso eé marcado pela existeê ncia
de hierarquia e pela existência de dois atos: um principal e outro acessoé rio. O ato acessório pode
ser preé vio (autoriza a praé tica do ato principal) ou posterior (confere eficaé cia ao ato principal).
Obs: alguns doutrinadores complementam dizendo que as manifestaçoã es devem ser de um mesmo
oé rgaã o.
c) Complexo: depende de mais de uma manifestaçaã o, em patamar de igualdade, em oé rgaã os diferentes.
Ex.: nomeaçaã o de diretores das ageê ncias reguladoras.
Obs: EÉ constitucional lei estadual que condiciona a nomeação dos dirigentes de autarquias e
fundações à prévia aprovação da Assembleia Legislativa, isso porque essa exigeê ncia estaé de acordo
com o modelo previsto na CF/88. Por outro lado, eé inconstitucional exigir essa preé via aprovação da
ALE se os dirigentes forem de empresas públicas e soc. de economia mista.

QUANTO A NATUREZA DA ATIVIDADE (Classificação de CABM)


Ãtos da Ãdministraçaã o Ãtiva: visam criar, produzir, uma utilidade pué blica, constituindo situaçoã es
juríédicas (Ex: autorizaçoã es, licenças, nomeaçoã es)
Ãtos da Ãdministraçaã o Consultiva: visam informar, elucidar, sugerir provideê ncias a serem
estabelecidas nos atos da Ãdministraçaã o ativa (Ex: pareceres, informaçoã es, etc.)
Ãtos da administraçaã o controladora ou atos de controle: visam impedir ou permitir a produçaã o ou
eficaé cia de atos da administraçaã o ativa mediante exame preé vio ou posterior (Ex: aprovaçoã es preé vias,
homologaçoã es, ...).
Ãtos da administraçaã o verificadora: visam apurar ou documentar a existeê ncia de uma situaçaã o de fato.
Saã o chamados na Itaé lia de atos de acertamento (Ex: registro, certificaçaã o).
Ãtos da administraçaã o contenciosa: visam julgar vertas situaçoã es, em um procedimento contraditoé rio.
Podem ser revistos pelo Poder Judiciaé rio.

QUANTO À FUNÇÃO DA VONTADE ADMINISTRATIVA (Classificação de CABM)


Ãtos negociais ou negoé cios juríédicos: a vontade administrativa eé preordenada a obtençaã o de um
resultado juríédico (Ex: admissaã o).
Ãtos puros ou meros atos administrativos: saã o manifestaçoã es de conhecimento (certidaã o) ou de desejo
(voto num oé rgaã o colegial).

QUANTO AOS EFEITOS (Classificação de CABM)


Ãtos constitutivos: fazem nascer uma situaçaã o juríédica, seja extinguindo ou modificando a situaçaã o
anterior.
Ãtos declaratoé rios: afirmam a preexisteê ncia de uma situaçaã o juríédica.

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QUANTO AOS RESULTADOS SOBRE A ESFERA JURÍDICA DO ADMINISTRADO (Classificação de


CABM)
Ãtos ampliativos: aumentam a esfera de açaã o juríédica do destinataé rio (Ex: concessaã o)
Ãtos restritivos: diminuem a esfera do destinataé rio (EX: sançoã es).

QUANTO A FORMAÇÃO DO ATO (Classificação de CABM)


Ãtos unilaterais: saã o formados por apenas uma declaraçaã o juríédica.
Ãtos bilaterais: saã o formados por um acordo de vontade entre as partes.

QUANTO À NATUREZA DA SITUAÇÃO JURÍDICA QUE CRIAM (Classificação de CABM)


Ãtos-regra: criam situaçoã es gerais, abstratas e impessoais (Ex: Regulamento).
Ãtos subjetivos: criam situaçoã es particulares e pessoais (ex: Contrato).
Ãtos-condiçaã o: os que algueé m pratica mediante acordo com outrem, debaixo de situaçoã es criadas
pelos atos-regra.

Formação dos Atos Administrativos


ÃTO PERFEITO eé aquele que esgotou todas as fases necessaé rias a sua produçaã o, vale dizer, quando
completa o ciclo de sua formaçaã o, e, se não concluiu ele ainda naã o existe, sendo considerado um ÃTO
IMPERFEITO.
ÃTO VÃÉ LIDO: eé aquele que foi expedido em absoluta conformidade com o sistema normativo,
vale dizer, que cumpre todas as exigências legais, se não cumpre ele eé INVÃÉ LIDO, ILEGÃL.
Portanto quando se encontra adequado aos requisitos estabelecidos pela ordem juríédica.
ÃTO EFICÃZ: eé aquele que estaé disponíével para a produçaã o dos efeitos juríédicos, vale dizer, quando os
efeitos naã o se encontram suspenso por qualquer motivo. Caso seja um ato perfeito, mas submetido a
condiçaã o, termo ou necessidade de aprovaçaã o ou homologaçaã o de outro oé rgaã o, estamos diante de um
ÃTO PENDENTE.

Efeitos dos Atos Administrativos


EFEITOS PROÉ PRIOS (ou tíépicos): saã o efeitos correspondentes aà funçaã o juríédica do ato. EÉ a
consequência natural ou efeito natural do ato administrativo.
EFEITOS IMPROÉ PRIOS: EÉ o ato que produz efeito anormal:
a) Preliminares ou prodrômicos: existem enquanto dura a situaçaã o de pendeê ncia do ato, ou seja,
durante o períéodo da produçaã o do ato ateé o desencadeamento dos efeitos tíépicos (Ex: Ãtos sujeitos a
controle por outro oé rgaã o, sendo o efeito atíépico preliminar do ato controlado acarretar para o oé rgaã o
controlador o dever-poder de emitir o ato de controle).
b) Efeitos em face de terceiros (ou reflexo) – saã o aqueles que influenciam outra relaçaã o juríédica,
atingindo terceiros naã o objetivados pelo ato (Ex: Desapropriaçaã o de imoé vel atinge o contrato de
locaçaã o).

Extinção do Ato Administrativo


Diversa saã o as causas que determinam a extinçaã o dos atos administrativos, entretanto as mais comuns
e importantes saã o a anulaçaã o e revogaçaã o.
Um ato eficaz extingue-se por:
I)cumprimento dos seus efeitos: esgotamento do conteué do juríédico (o gozo de feé rias); execuçaã o
material (uma demoliçaã o); implemento de condiçaã o resolutiva ou termo final. Diz-se, neste caso, que
haé um ato exaurido.
II)desaparecimento do sujeito ou do objeto: Ex: morte extingue os efeitos da nomeaçaã o, a tomada
pelo mar de um terreno de marinha extingue a enfiteuse.
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III)retirada do ato – pelo Poder Público (ato concreto):


a) revogação (abaixo)
b)invalidação (abaixo)
c) cassação – eé a retirada do ato em razaã o do descumprimento de condiçoã es inicialmente impostas.
d) caducidade – retirada em razaã o da SUPERVENIEÊ NCIÃ de NORMÃ JURIÉDICÃ que tornou
inadmissíével a situaçaã o anterior.
e) contraposição – atos de competeê ncias diversas, mas, com efeitos contrapostos. Ex. exoneraçaã o de
um funcionaé rio que aniquila os efeitos do ato de nomeaçaã o.
IV)renúncia: extinçaã o dos efeitos porque o beneficiaé rio abre maã o. Ex.: renuncia a um cargo de
Secretaé rio.
Um ato ineficaz extingue-se: (i) retirada: alguns chamam de mera retirada. CÃBM prefere englobar o
conceito geneé rico de revogaçaã o e invalidaçaã o, respectivamente, por razoã es de meé rito e ilegitimidade;
(ii) recusa: pela inutilizaçaã o do ato ante a recusa do beneficiaé rio.

Anulação e Revogação
ANULAÇÃO ocorre quando há uma ILEGALIDADE ou ILEGITIMIDADE (ofensa aà lei ou ao direito
como um todo).
Entende-se que a Ãdministraçaã o deve anular os seus atos que contenham víécios insanaé veis, mas pode
convalidar os aos com víécios sanaé veis que naã o acarretem lesaã o ao interesse pué blico nem prejuíézo a
terceiros. No primeiro caso, a anulaçaã o eé ato vinculado. No segundo, ela eé facultativa. Tanto os atos
vinculados quanto os discricionaé rios podem ser anulados. O que naã o existe eé anulaçaã o por razoes de
meé rito administrativo.
CÃBM: efeitos ex tunc são a regra geral, mas, se o ato eé ampliativo de direitos, deve-se aplicar os
efeitos ex nunc. O ato nulo (com víécio insanaé vel) naã o gera direitos adquiridos, entretanto, devem ser
resguardados os efeitos jaé produzidos em relaçaã o aos terceiros de boa-feé .
Pode ser feita pela proé pria administraçaã o, no uso da autotutela, ou pelo Judiciaé rio.

Súm 346/STF. Ã adm. pué blica pode declarar a nulidade dos seus proé prios atos.
Súm 473/STF. Ã administraçaã o pode anular seus proé prios atos, quando eivados de víécios que os tornam
ilegais, porque deles naã o se originam direitos; ou revogaé -los, por motivo de convenieê ncia ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciaçaã o judicial.

Obs: quando afetar interesses ou direitos de terceiros, deve ser precedida de contraditoé rio.
O prazo para a anulação é de 5 anos, quando os efeitos do ato forem favoraé veis ao administrado,
segundo art. 54 da Lei 9784. Ã LPÃF afirma que se trata de prazo DECADENCIAL. Desta forma, se a
administraçaã o naã o anular o ato no prazo de 05 anos naã o poderaé mais fazeê -lo. Nos termos da lei, esse
prazo decadencial soé existe em caso de BOÃ-FEÉ do administrado.
REVOGAÇAO eé a retirada do mundo juríédico de um ato vaé lido, mas que se tornou inoportuno ou
inconveniente, segundo criteé rio discricionaé rio da administraçaã o. EÉ tambeé m conhecida como “controle
de meé rito”.
Tem fundamento no poder discricionaé rio e soé se aplica aos atos discricionaé rios. Somente produz
efeitos prospectivos (ex nunc), devendo ser respeitados os direitos adquiridos. Quanto aà competeê ncia
para revogar, só a detém aquele que o praticou ou tenha poderes para dele conhecer de ofício ou
por via de recurso (lembre-se dos casos de competeê ncia hieraé rquica improé pria sobre a
administraçaã o indireta, principalmente fundaçaã o).
Quando a revogação atinge ato ainda ineficaz, a doutrina a apelida de “mera retirada”.
Não há prazo para a revogação do ato administrativo, pode ocorrer a qualquer tempo; ao contraé rio
da anulaçaã o, a revogaçaã o naã o sofre um limite temporal. Mas, haé limites materiais, isto eé , haé limitaçoã es
ao conteué do. Naã o haé previsaã o na lei de quais saã o os limites materiais, mas, a doutrina (mais ou menos)
estabelece uma lista que naã o eé definitiva, mas, eé bem aceita:

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Atos vinculados – nunca houve a verificaçaã o de convenieê ncia nesses atos, nunca foram
convenientes, agora naã o se pode falar em revogaçaã o por falta de convenieê ncia e oportunidade.
Atos declarados pela lei como irrevogáveis – se a lei estabelece que o ato naã o pode ser
revogado assim o seraé .
Atos que produziram direitos adquiridos – estaé -se protegendo a segurança juríédica.
Atos de efeitos exauridos – com o esgotamento dos efeitos o ato naã o pode ser revogado.
Atos que integram um procedimento – podem ser objeto de recurso, mas, naã o podem ser
revogados. O processo pode ser TODO revogado, mas, naã o pode somente o ato anterior ser
revogado, quando jaé tenha sido praticado o ato seguinte. Isto eé , depois de praticado um ato, naã o se
pode praticar o ato anterior, a praé tica do ato seguinte impede a revogaçaã o do ato anterior.
Atos de controle – os atos de fiscalizaçaã o naã o podem ser revogados.
Meros (ou puros) atos administrativos: pois os efeitos deles derivam de lei e naã o de uma
decisaã o administrativa (Ex; certidoã es).
Atos complexos: para a constituiçaã o de um certo efeito juríédico haé a necessidade de integraçaã o de
vontades de diferentes oé rgaã os. Portanto a vontade de um ué nico oé rgaã o naã o pode modificar o que a
lei fez depender de mais de um oé rgaã o.
Atos que consistirem em decisão final do processo contencioso.
Obs: não existe revogação da revogação;

 Planos de Existência, Validade e Eficácia


Haé muita divergeê ncia sobre os níéveis de ingresso no mundo juríédico dos atos administrativos, mas, o
posicionamento majoritário, considerada que podem ser verificados nos planos da existência, da
validade e da eficácia.
Ãto vaé lido É aquele que preenche todos os requisitos previstos no ordenamento jurídico,
ou seja, não tem defeito algum.
Ãto O vício contido no ato é tão grave que ele nem sequer existe e naã o produz efeitos.
inexistente Ãto decorrente de conduta criminosa.
Ãto nulo EÉ o ato defeituoso que não admite convalidação, mas produz efeitos até ser
declarado inválido.
Ãto anulaé vel EÉ o ato que tem defeito sanável, ou seja, admite convalidação, que pode ser feita
em dois defeitos: competência e forma. Se o defeito for muito grave, naã o seraé
possíével a convalidaçaã o, mesmo que na forma e na competeê ncia. Ã convalidaçaã o eé
faculdade ou dever? Haé divergência doutrinária, alguns pensam que se trata de
um dever, porque o Estado tem que salvar o ato (majoritária), em razaã o do
princípio da economia da administração. Mas, quando a convalidaçaã o causar mais
prejuíézo eé melhor naã o convalidar.
Ãto irregular EÉ ato que tem pequenas falhas de uniformizaçaã o, mas naã o causa prejuíézo algum.
Não depende de revisão, por ser irrelevante. Trata-se de um defeito leve.
Normalmente, estaã o relacionados aà forma. Ex: uniformizar o procedimento, somente
podem ser praticados os atos com caneta azul, naã o haveraé prejuíézo para o interesse
pué blico, apesar da irregularidade, naã o haé necessidade de revisaã o. Naã o seraã o revistos
e nem convalidados, os atos continuam como estaã o.
 Consequências da Invalidação do Ato Administrativo. Atos Nulos, Anuláveis, Inexistentes e
Irregulares
Haé 3 diferentes posiçoã es quanto aos atos invaé lidos no Direito Ãdministrativo brasileiro:
a) HELY: o vício acarreta SEMPRE a NULIDADE do ato. Ã distinçaã o do Direito Privado entre atos
anuláveis e atos nulos apoia-se em que os primeiros ofendem interesses privados, disponíéveis pelas
partes, e os segundos, interesses pué blicos, indisponíéveis. Daíé sua inaplicabilidade ao Direito Adm,
pois a inviabilidade do ato administrativo ofenderá sempre um interesse público e por isso

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coincidiraé com a nulidade. Ãdemais, o princíépio da legalidade administrativa se oporia aà mantença de


atos ilegíétimos.
b) SEÃBRÃ FÃGUNDES: defende uma posição tricotômica: nulos, anulaé veis e irregulares. Ãduz que os
casos de nulidade e anulabilidade do NCC são inadaptáveis ao Direito Adm, concluindo que a
gravidade do víécio deve ser apurada concretamente em face da repercussaã o sobre o interesse pué blico.
Indica que os atos se apresentaraã o como absolutamente inválidos (nulos), relativamente
inválidos(anulaé veis) ou apenas irregulares (defeitos leves, geralmente de forma). Os primeiros
fulminaé veis com supressaã o total dos efeitos. Nos segundos, ressalvam-se os efeitos passados ou
alguns deles. Os terceiros, inobstante viciados, perduram.
c) CÃBM: são categorizáveis como inválidos: 1. Atos inexistentes; 2. Atos nulos; 3. Atos anuláveis.
Ãdmite tambeé m os atos irregulares, mas naã o como invaé lidos, pois estes saã o padecentes de víécios
materiais irrelevantes, reconhecíéveis de plano ou incursos em formalizaçaã o defeituosa consistente em
transgressaã o de normas cujo real alcance eé meramente o de impor padronizaçaã o interna de veiculaçaã o
dos atos administrativos. Ex.: expedir um ato atraveé s de "aviso", quando deveria ser por "portaria".
Segundo HELY, ato inexistente eé o que apenas tem apareê ncia de manifestaçaã o regular da
Ãdministraçaã o, mas naã o chega a se aperfeiçoar como ato administrativo. Ex.: "ato" praticado por um
usurpador de funçaã o pué blica. Equiparam-se aos atos nulos, sendo, assim, irrelevante e sem interesse
praé tico a distinçaã o entre nulidade e inexisteê ncia, porque ambas conduzem ao mesmo resultado - a
invalidade.
Para CÃBM saã o inexistentes os atos que assistem no campo do impossíével juríédico, como tal
entendida a esfera abrangente dos comportamentos que o Direito radicalmente inadmite, isto eé , dos
crimes (ex.: autorizaçaã o para que algueé m explore trabalho escravo). O ato inexistente corresponde a
condutas criminosas ofensivas a direitos fundamentais da pessoa humana, ligados aà sua personalidade
ou dignidade e, como tais, resguardados por princíépios gerais de Direito que informam o ordenamento
juríédico. EÉ impossíével juridicamente e apresenta as seguintes caracteríésticas:
a) saã o imprescritíveis;
b) jamais podem ser convalidados ou objeto de conversão;
c) eé cabíével o direito de resistência, inclusive manu militari;
d) uma vez proclamado o víécio em que incorreram, em nenhuma hipótese são ressalvados efeitos
pretéritos que hajam produzido.
Critério diferenciador: atos nulos e inexistentes não podem ser convalidados, mas os anuláveis
sim. Ã diferença quanto aà intensidade da repulsa que o Direito estabelece perante os atos invaé lidos eé
que determina um discrímen entre atos nulos e anulaé veis, ou outras distinçoã es que mencionam atos
simplesmente irregulares ou ainda inexistentes.
Quanto ao caraé ter discricionaé rio ou vinculado da anulaçaã o para a Ãdministraçaã o, MSZP, com base em
outros autores, afirma que a Ãdministraçaã o tem, em regra, o dever de anular os atos ilegais, sob
pena de cair por terra o princíépio da legalidade. No entanto, poderá deixar de fazê-lo em
circunstâncias determinadas, quando o prejuíézo resultante da anulaçaã o puder ser maior do que o
decorrente da manutençaã o do ato ilegal; nesse caso, eé o interesse pué blico que nortearaé a decisaã o.
Não se aplica a mesma teoria das nulidades do direito civil. Ãleé m das diferenças acima (autotutela
e manutençaã o do ato ilegal), haé modalidades peculiares de víécios, como o excesso e o abuso de poder, a
usurpaçaã o de funçaã o e o exercíécio de fato.

Conversão ou Sanatória
Ãto privativo da administração pública, mediante o qual aproveita um ato nulo de determinada
espeé cie, transformando-o, retroativamente, em ato vaé lido de outra categoria, pela modificaçaã o de seu
enquadramento legal. Ex: concessaã o de uso feita sem licitaçaã o exigida em lei, convertida em permissaã o
precaé ria onde naã o haé tal exigeê ncia, imprimindo validade ao uso do bem pué blico jaé consentido.
O ato nulo eé desfeito, mas eé substituíédo, retroativamente, por um ato de outra espeé cie, cuja praé tica, se
tivesse ocorrido na eé poca, estaria em plena conformidade com o ordenamento juríédico. Os efeitos jaé
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produzidos pelo ato originaé rio saã o mantidos, como se tivessem sido produzidos pelo novo ato. Ã partir
da conversaã o o novo ato continua produzindo os efeitos que lhe saã o proé prios.

CONVERSÃO CONVALIDAÇÃO
Transformação de um ato em outro, Correção feita no ato que continua a
para aproveitar o que for vaé lido. ser o mesmo ato.

Convalidação
à doutrina tradicional filiava-se aà teoria monista: soé existe uma espeé cie de ato invaé lido: o ato nulo.
Ãssim, ou o ato seria vaé lido ou seria nulo.
à corrente hoje majoritaé ria entende que existem atos (teoria dualista):
a) nulos: os atos que não podem ser convalidados, pois possuem defeitos insanáveis: (a) porque a
lei assim declarou; (b) por ser materialmente impossíével a convalidaçaã o, jaé que o víécio se repetiria,
como nos que incidem sobre objeto, finalidade e motivo.
b) anuláveis: saã o os que possuem defeitos sanáveis, porque a lei assim declare e os que podem ser
re-praticados sem víécio (sujeito incompetente, víécio de vontade ou defeito de formalidade).
Segundo MSZP, quando o vício for sanável ou convalidável, caracteriza-se hipoé tese de nulidade
relativa, embora, ao contraé rio do Direito Civil, essa nulidade deve ser sanada ‘de ofíécio’ pela
Ãdministraçaã o, que naã o pode ficar aà merceê de pedido do interessado para agir, em face de seu poder
de autotutela.
Convalidar, entaã o, eé o ato de corrigir um ato eivado de defeito sanaé vel desde a origem (ex tunc), de
maneira que: os efeitos jaé produzidos passem a ser considerados vaé lidos e este ato permaneça apto a
produzir efeitos regulares.
Quanto aos víécios de legalidade, saã o considerados defeitos sanáveis e, portanto, passíveis de
convalidação:
Vicio relativo aà competência quanto à pessoa (naã o quanto aà mateé ria), desde que naã o se trate de
competeê ncia exclusiva.
Vicio de forma, desde que a lei naã o considere a forma elemento essencial aà validade do ato.
Condições cumulativas para que o ato possa ser convalidado (L 9784, art. 55):
1 Defeito sanaé vel;
2 Ãto naã o acarretar lesaã o ao interesse pué blico;
3 Ãto naã o acarretar prejuíézo a terceiros;
4 Decisaã o discricionaé ria da administraçaã o acerca da convenieê ncia e oportunidade de convalidar o
ato (em vez de anulaé -lo).

Para MSZP, ato de convalidaçaã o eé , às vezes, vinculado, às vezes, discricionário. Ãpoé s citar
WEIDÃ ZÃNCÃNER, que analisa a hipoé tese de o ato ser praticado por sujeito incompetente,
afirma que “assiste razaã o aà autora, pois tratando-se de ato vinculado praticado por
autoridade incompetente, a autoridade competente naã o poderaé deixar de convalidaé -lo, se
estiverem presentes os requisitos para a praé tica do ato; a convalidaçaã o eé obrigatoé ria, para dar
validade aos efeitos jaé produzidos; se os requisitos legais naã o estiverem presentes, ela deveraé
necessariamente anular o ato. Se o ato praticado por autoridade incompetente é
discricionário e, portanto, admite apreciaçaã o subjetiva quanto aos aspectos de meé rito, naã o
pode a autoridade competente ser obrigada a convalidaé -lo, porque naã o eé obrigada a aceitar a
mesma avaliaçaã o subjetiva feita pela autoridade incompetente; nesse caso, ela poderaé
convalidar ou naã o, dependendo de sua proé pria apreciaçaã o discricionaé ria”.

Segundo ÃLEXÃNDRINO “a convalidaçaã o pode recair sobre atos vinculados ou discricionários,


uma vez que naã o se trata de controle de meé rito, e sim de controle de legalidade relativo a víécios
sanaé veis verificados nos elementos competeê ncia ou forma (caso se tratasse de controle de mérito,
teria que recair sobre os elementos motivo e objeto; ademais, o controle de meé rito soé pode acarretar a
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revogaçaã o de um ato; o controle de meé rito naã o eé , em nenhuma hipoé tese, uma escolha entre anular e
convalidar um ato).”
à convalidaçaã o do ato com vício de incompetência toma o nome de RATIFICAÇÃO. à convalidaçaã o
feita por outra autoridade eé chamada confirmaçaã o, e quando proveé m de ato de particular, eé
chamada de saneamento.
Os víécios em relação ao OBJETO ou CONTEÚDO naã o saã o convalidaé veis (saã o nulos): admite-se a
CONVERSÃÃ O.
Se o particular estava de boa-feé e naã o concorreu para o víécio, deve ser indenizado.
Exige-se para a convalidação (HELY): a) que o ato convalidaé vel naã o esteja sendo objeto de
impugnaçaã o em níével administrativo, e; b) que naã o esteja sendo objeto de impugnaçaã o judicial
(Exceçaã o: convalidaçaã o do ato vinculado pela motivaçaã o tardia). Ã razaã o eé a de que a Ãdministraçaã o
naã o teria como convalidar algo que sequer produziu efeitos (pois estaé sob discussaã o).
Observações:
1º) doutrinariamente aplica-se a seguinte posiçaã o – “quando houver estabilidade das relações
jurídicas, boa-fé e confiança, estes princípios se sobrepõem ao da legalidade, convalidando o
ato”.
2º) o prazo decadencial do art. 54 da L 9784 alcança somente a Administração ou também o
Judiciário? (duas posiçoã es): a) limitaria tambeé m o Judiciaé rio, pois decadeê ncia eé um instituto de
direito material; b) os dispositivos vinculam apenas a atividade administrativa.
3º) Ã LPAF, que regulou os processos administrativos no aê mbito da Ãdministraçaã o Federal divergiu
frontalmente da posição doutrinária clássica relativamente à possibilidade de convalidação de
atos administrativos. Ã Lei, explicitamente, trouxe duas hipóteses de convalidação de atos
administrativos defeituosos, o que nos permite falar em ato administrativo anulaé vel (aquele eivado
de “defeitos sanaé veis”). Saã o as seguintes as hipoé teses de convalidaçaã o previstas na Lei 9.784/99:
a) Ãrt. 54 (convalidação tácita): quando os efeitos do ato viciado forem favoraé veis ao administrado, a
Ãdministraçaã o disporaé de 5 anos para anulaé -lo. Findo este prazo sem manifestaçaã o da Ãdministraçaã o,
convalidado estaraé o ato e definitivos seraã o os efeitos dele decorrentes, salvo comprovada maé -feé (do
beneficiaé rio).
Neste caso, a convalidaçaã o daé -se por uma omissão, ou seja, temos uma convalidaçaã o pelo decurso do
prazo: a administraçaã o naã o realizou o controle de legalidade e naã o mais poderaé fazeê -lo, em funçaã o da
decadeê ncia.
b) Ãrt. 55 (convalidaçaã o expressa): por iniciativa da Ãdministraçaã o, quando dos defeitos do ato não
resulte lesão ao interesse público ou a terceiros. Ã Lei expressamente utiliza o termo “defeitos
sanaé veis” para referir-se a tais víécios.

Processo Administrativo

Conceito
“Processo Ãdministrativo eé o conjunto de atos coordenados e interdependentes necessaé rios a produzir
uma decisaã o final a respeito de alguma funçaã o ou atividade administrativa (...)” (Dirley da Cunha
Jué nior). Todo ato da administraçaã o (ato juríédico ou fato material) fica documentado em um processo
administrativo.

Processo x Procedimento
O procedimento e o processo administrativo naã o se confundem. O primeiro corresponde ao rito e eé
realizado no interior do processo, para viabilizaé -lo. O processo administrativo, “implica, aleé m do
víénculo entre atos, víénculos juríédicos entre sujeitos, englobando direitos, deveres, poderes, faculdades,
na relaçaã o processual”. (Medauar)

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Objetivo
a) resguarda os administrados – salienta-se que enseja ao administrado a possibilidade de que sua
voz seja ouvida antes da decisaã o que iraé afetaé -lo; e b) concorre para uma atuação administrativa
mais clarividente – decisaã o mais bem informada, mais consequente, mais responsaé vel, auxiliando,
assim, a eleiçaã o da melhor soluçaã o para os interesses pué blicos em causa.
Haé doutrina que elenca os seguintes objetivos do processo administrativo:
Documentaçaã o de atos;
Garantia - impede que a Ãdministraçaã o cometa abusos contra o servidor e contra o particular
(administrado);
Transpareê ncia no serviço pué blico.

Espécies (CABM)
1- Procedimentos internos: os que se desenrolam circunscritos aà intimidade, aà vida interna da
Ãdministraçaã o;
2- Procedimentos externos: aqueles em que haé a participaçaã o dos administrados. Esse merece
atençaã o, jaé que eé em torno dele que se delineiam os princíépios e as garantias dos administrados. Os
externos, por seu turno, podem ser divididos em:
2.1 Procedimentos restritivos ou ablatórios: restringem um direito do administrado. Podem ser:
a) meramente restritivos ou oblativos - possuem o caraé ter restritivo, mas naã o sancionador, como as
revogaçoã es em geral;
b) sancionadores - preordenam aà aplicaçaã o de uma sançaã o, como nas interdiçoã es de direitos ou no
processo administrativo contra funcionaé rio que praticou falta.
2.2 Procedimentos ampliativos: concedem ou ampliam direitos dos administrados, como as
concessoã es, licenças, permissoã es, autorizaçoã es, registro de marcas e patentes. Estes podem ser
classificados:
1. Quanto ao sujeito:
a) de iniciativa do próprio interessado, como um pedido de permissaã o de uso de bem pué blico;
b) de iniciativa da administração, como uma licitaçaã o para aquisiçaã o de bens, obras e serviços.
2. Quanto aà existeê ncia ou naã o de caraé ter competitivo:
a) concorrenciais, como um concurso pué blico para ingressar como servidor da administraçaã o ou uma
licitaçaã o;
b) simples ou não-concorrenciais, como um pedido de licença para edificar.

Princípios do Processo Administrativo


1) Princípio da audiência do interessado - eé o direito ao contraditoé rio. Significa oportunizar ao
administrado se manifestar, sempre que se fizer necessaé rio.
2) Princípio da Acessibilidade aos elementos do expediente – direito da parte de examinar toda a
documentaçaã o constante dos autos. EÉ o direito de vista, que haé de ser completo e sem cerceios.
Encontra respaldo no direito assegurado a todos de receber dos oé rgaã os pué blicos informaçoã es (art. 5º,
XXXIII, CF), de obter certidoã es (art. 5º, XXXIV, “b”, CF), de conhecer dados em poder da administraçaã o
(habeas data, art. 5º, LXXII, CF), bem como no Princípio da Publicidade (art. 37, CF), ressalvadas as
hipoé teses de sigilo, quando indispensaé vel ao interesse pué blico.
3)Princípio da ampla instrução probatória – Significa naã o apenas o direito de oferecer e produzir
provas, mas tambeé m o de fiscalizar a produçaã o de provas da Ãdministraçaã o, isto eé , o de estar presente,
se necessaé rio, a fim de verificar se efetivamente se efetuaram com correçaã o ou adequaçaã o teé cnica
devidas.
4) Princípio da motivação – consubstancia-se na obrigatoriedade de explicitar tanto os fundamentos
normativos, quanto os faé ticos das decisoã es, de modo a assegurar a transpareê ncia da Ãdministraçaã o

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Pué blica. O art. 2º, paraé grafo ué nico, inc. VII, lei 9784/99, preveê a: “indicaçaã o dos pressupostos de fato e
de direito que determinarem a decisaã o”.
O art. 50, lei 9784/99 contempla tal princíépio, dispondo que “a motivaçaã o deve ser explíécita, clara e
congruente” (§ 1º). Tal dispositivo, todavia, reduz o aê mbito de incideê ncia obrigatoé ria desse princíépio,
pois arrola as hipoé teses em que “os atos administrativos deveraã o ser motivados, com indicaçaã o dos
fatos e fundamentos juríédicos” (vide art. 50). Conclui-se, a contrario sensu, que afora tais hipoé teses, o
ato administrativo prescinde de motivaçaã o. Celso Ãntoê nio Bandeira de Melo entende inconstitucional
tal restriçaã o.
5) Princípio da revisibilidade – direito do administrado recorrer da decisaã o que lhe seja
desfavoraé vel. Soé naã o seraé possíével quando o processo for iniciado em autoridade do mais alto escalaã o,
quando soé restaraé a possibilidade de se socorrer do judiciaé rio. Encontra arrimo no direito de petiçaã o
(art.5º, XXXIV, “a” CF), assim tambeé m no final do art. 5º, LV, CF, que assegura o contraditoé rio e a ampla
defesa, “com os meios e recursos a ela inerentes”.
6) Princípio da representação ou assessoramento – o direito de ser assistido por profissional
legalmente habilitado eé indispensaé vel para a realizaçaã o eficiente dos direitos assegurados ao
administrado. Note-se que, consoante o art. 3º, LPÃF, o administrado tem o direto de “fazer-se assistir,
facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatoé ria a representaçaã o, por força de lei”. Tambeé m
se a decisaã o administrativa depender de apuraçoã es teé cnicas, o administrado teraé o direito de que
perito de sua confiança assista aà anaé lise teé cnica efetuada pela Ãdministraçaã o.
SV 5: “Ã falta de defesa teé cnica por advogado no processo administrativo disciplinar
naã o ofende a constituiçaã o”.
Obs: exige-se defesa teé cnica no processo administrativo na execuçaã o penal (Sué m. 533/STJ e REsp
1378557 Rep)
7)Princípio da lealdade e boa-fé – Ãdministraçaã o, em todo o transcurso do procedimento, estaé
adstrita a agir de maneira sincera, ficando, evidentemente, interditos quaisquer comportamentos
astuciosos, ardilosos, ou que, por vias transversas, concorram para entravar a exibiçaã o das razoã es ou
direitos do administrado. O art. 2º, § ué n, IV, preveê : “atuaçaã o segundo padroã es eé ticos de probidade,
decoro e boa feé ”.
8) Princípio da verdade material – em face do dever administrativo de realizar o interesse pué blico, a
Ãdministraçaã o deve perseguir sempre a verdade substancial, independentemente do que haja sido
aportado aos autos do processo.
9) Princípio da oficialidade – no dizer de Seabra Fagundes: “administrar eé aplicar a lei de ofíécio”.
Significa que o processo administrativo pode ser iniciado independentemente de provocaçaã o do
administrado. Ãleé m disso, a mobilizaçaã o do processo, uma vez desencadeado, eé encargo da proé pria
administraçaã o - cumpre-lhe impulsionaé -lo de oficio. O art. 2º, § u, XII, lei 9.784/99 preveê : “impulsaã o,
de ofíécio, do processo administrativo, sem prejuíézo da atuaçaã o dos interessados”. Disso decorre a
irrelevaê ncia de prazos preclusivos ou de caducidade para o administrado, porque a proé pria
administraçaã o tem de conduzir o procedimento ateé o seu termo final.
Atenção: esse princíépio naã o se aplica aos processos ampliativos de exclusivo interesse do
administrado, pois a Ãdministraçaã o naã o tem o dever de prossegui-los por si proé pria, podendo encerraé -
los, ante a ineé rcia do interessado.
10) Princípio da gratuidade – segundo a art 2º, § u, XI, L 9784, fica consagrada “a proibiçaã o de
cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei”. CÃBM entende que a gratuidade soé
eé obrigatoé ria nos procedimentos restritivos (jaé que naã o eé possíével fazer qualquer restriçaã o ao direto de
ampla defesa) – nos procedimentos ampliativos, bastar-se-ia garantir a modicidade das taxas e
emolumentos.

SV 21: “EÉ inconstitucional a exigeê ncia de depoé sito ou arrolamento preé vios de dinheiro ou
bens para a admissibilidade de recurso administrativo”.

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Sué m 373/STJ: “EÉ ilegíétima a exigeê ncia de deposito preé vio para a admissibilidade de recurso
administrativo”.

11) Princípio do Informalismo - o processo administrativo naã o poderaé ater-se a rigorismos formais.
Isto naã o significa a auseê ncia absoluta de forma, pois forma sempre haé , ateé porque o processo eé escrito.
Mas o formalismo soé deve existir quando indispensaé vel para atender o interesse pué blico e proteger o
interesse dos particulares.
à LPÃF faz mençaã o, em seu art. 2º, a princípios a que a Ãdministraçaã o deve obedecer. Saã o eles:
legalidade, finalidade, motivaçaã o, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditoé rio, segurança juríédica, interesse pué blico e eficieê ncia. Esses princíépios, em sua maioria, naã o
saã o especíéficos do processo administrativo, dizendo respeito aà Ãdministraçaã o Pué blica como um todo.
Tambeé m devem ser observados ainda pela Ãdministraçaã o os seguintes (art. 2º): atuaçaã o conforme a
lei e o Direito (I); atendimento a fins de interesse geral, vedada a renué ncia total ou parcial de poderes
ou competeê ncia, salvo autorizaçaã o em lei (II); objetividade no atendimento do interesse pué blico,
vedada a promoçaã o pessoal de agentes ou autoridades (III); adequaçaã o entre os meios e fins, vedada a
imposiçaã o de obrigaçoã es, restriçoã es e sançoã es em medida superior aà quelas estritamente necessaé rias
ao atendimento do interesse pué blico (inc. VI); interpretaçaã o da norma administrativa da forma que
melhor garanta o atendimento do fim pué blico a que se dirige, vedada aplicaçaã o retroativa de nova
interpretaçaã o.

Fases
Em geral, o processo administrativo se compoã e das seguintes fases:
1) Fase de instauração, propulsória ou de iniciativa – eé a fase por meio da qual se inicia o processo.
Este pode se iniciar de ofício ou a pedido do interessado (art. 5º, LPÃF). Em regra, o requerimento
inicial do interessado deve ser escrito, salvo nos casos em que for admitida solicitaçaã o oral, e deve
conter os seguintes dados (art. 6º): I – oé rgaã o ou autoridade a que se dirige; II – identificaçaã o do
interessado ou quem o represente; III – domicíélio ou local para recebimento das comunicaçoã es; IV –
formulaçaã o do pedido com exposiçaã o dos fatos e seus fundamentos; V – data ou assinatura do
requerente ou de quem o represente.
Os atos do processo naã o dependem de forma determinada, senaã o quando a lei o exigir (art.22.); devem
ser escritos, em vernaé culo, com a data e o local de sua realizaçaã o e assinatura da autoridade
responsaé vel (art.22, § 1º); devem realizar-se em dias ué teis, no horaé rio normal de funcionamento da
repartiçaã o, podendo ser concluíédos depois do horaé rio os atos jaé iniciados, cujo adiamento resulte em
prejuíézo ou dano aà s partes (art.23 e § ué n). O processo deveraé ter suas paé ginas numeradas
sequencialmente e rubricadas (art. 22, §4º).
EÉ vedada aà Ãdministraçaã o a recusa imotivada de recebimento de documentos, devendo o servidor
orientar o interessado quanto ao suprimento de eventuais falhas (art. 6º, § ué n). Se houver pluralidade
de interessados com pedidos ideê nticos, estes poderaã o ser feitos em um ué nico requerimento, salvo
vedaçaã o legal – art. 8º.
2) Fase de Instrução – objetiva investigar e comprovar os dados necessaé rios aà tomada de decisaã o. Ã
instruçaã o pode se realizar de ofíécio, mas fica resguardado o direito dos interessados de propor
atuaçoã es probatoé rias, sendo que os atos de instruçaã o devem se realizar do modo menos oneroso para
estes (art. 29 e §2º).
O interessado poderaé , nesta fase, juntar documentos, pareceres, requerer diligeê ncias e períécias, bem
como aduzir alegaçoã es. Os elementos probatoé rios deveraã o ser considerados na motivaçaã o do relatoé rio.
Ãs provas propostas pelos interessados soé podem ser recusadas, fundamentadamente, quando sejam
ilíécitas, impertinentes, desnecessaé rias ou protelatoé rias (art.38, §§ 1º e 2º, LPÃF). O art. 30 dispoã e
expressamente que saã o inadmissíéveis no processo administrativo as provas obtidas por meios ilíécitos.

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Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. Entretanto, quando tais fatos ou dados
constarem de registros existentes na proé pria Ãdministraçaã o, o oé rgaã o competente para a instruçaã o
deveraé promover, de ofíécio, a obtençaã o dos mesmos (art. 36 e 3).
Se for necessaé ria a apresentaçaã o de informaçoã es ou provas, os interessados seraã o intimados para
tanto. Caso a intimaçaã o naã o seja atendida, a autoridade poderaé suprir a omissaã o de ofíécio, naã o se
eximindo de decidir. Entretanto, caso os dados, autuaçoã es ou documentos solicitados forem
indispensaé veis aà apreciaçaã o do pedido, o naã o atendimento implicaraé arquivamento do processo
(art.39 e § ué n e 40).
à LPÃF preveê formas de participaçaã o de terceiros. Quando se trata de assuntos de interesse geral,
poderaé ser aberto, mediante despacho motivado e desde que naã o resulte prejuíézo para as partes,
períéodo de consulta pué blica, quando terceiros (pessoas fíésicas ou juríédicas) poderaã o se manifestar,
apresentando alegaçoã es escritas. O comparecimento aà consulta pué blica, todavia, naã o confere, por si soé ,
a condiçaã o de interessado no processo, mas confere o direito de obter resposta fundamentada da
Ãdministraçaã o, que poderaé ser comum a todas as alegaçoã es substancialmente iguais (art.31, §§ 1º e
2º). Quando se tratar de questaã o relevante, poderaé ser realiza audieê ncia pué blica (art.32) para debates
sobre a mateé ria, podendo ainda haver outros meios de participaçaã o de administrados (diretamente ou
por meio de organizaçoã es e associaçoã es legalmente reconhecidas), na hipoé tese de mateé rias relevantes,
a criteé rio dos oé rgaã os e entidades administrativas (art.33).
Ão cabo da instruçaã o, o interessado tem o prazo de 10 dias para se manifestar – alegaçoã es finais (art.
44). NÃO é obrigatória a intimação do interessado para apresentar alegações finais após o
relatório final de PÃD, pois naã o haé previsaã o legal nesse sentido (STJ, MS 18090)
3) Relatório - o oé rgaã o de instruçaã o que naã o for competente para emitir a decisaã o final (comissaã o
processante), elaboraraé um relatoé rio indicando tudo o que ficou apurado e formularaé uma proposta de
decisaã o (conclusaã o), objetivamente justificada, encaminhando o processo aà autoridade competente
(art. 47, LPÃF).
O relatoé rio eé peça informativo-opinativa. Salvo previsão legal, naã o eé vinculado para a Ãdministraçaã o
ou para os demais interessados no processo, podendo a autoridade competente divergir de suas
conclusoã es. O art. 168 da Lei 8112, que regula o processo administrativo disciplinar, determina que “o
julgamento acataraé o relatoé rio da comissaã o, salvo quando contraé rio aà s provas dos autos”.
4) Decisão ou Fase dispositiva - a Ãdministraçaã o tem o dever de decidir. Concluíéda a instruçaã o, a
Ãdministraçaã o tem o prazo de ateé 30 dias para decidir, salvo prorrogaçaã o por igual períéodo,
expressamente motivada (art. 48 e 49, LPÃF).
Obrigatoriedade da adoçaã o de procedimento administrativo formalizado: Segundo CÃBM, em todos os
casos em que seja obrigatoé rio um procedimento administrativo externo irromperaã o princíépios
constitucionais dele informadores. Surge a questaã o de saber quando ele seria obrigatoé rio. Haveria esta
obrigaçaã o: 1 – sempre que um interessado provocar manifestaçaã o administrativa; 2 – quando a
provideê ncia administrativa a ser tomada, tendo efeitos imediatos sobre o administrado, envolver
privaçaã o da liberdade ou de bens – isto devido ao art. 5º, LIV da CF; 3 – quando a provideê ncia
administrativa a ser tomada disser respeito aà mateé ria que envolva litíégio, controveé rsia sobre direito do
administrado ou implique imposiçaã o de sançoã es.

Aspectos relevantes da lei 9784/99


Abrangência –Ãplicam-se as normas sobre processo aà Ãdministraçaã o Federal, direta e indireta (bem
como aos oé rgaã os do Poder Legislativo e Judiciaé rio da Uniaã o, quando no exercíécio de funçaã o
administrativa) – Ãrt 1º, LPÃF.
Legitimados - Saã o legitimados como interessados no processo administrativo tanto (I) os que o
iniciaram como titulares de direitos ou interesses individuais ou no direito de representaçaã o, como (II)
os que, sem o haverem iniciado, teê m direitos ou interesses que possam ser por ele afetados, e assim
tambeé m (III) organizaçoã es e associaçoã es representativas no tocante a direitos e interesses coletivos e
mais (IV) pessoas ou associaçoã es legalmente constituíédas quanto a direitos ou interesses difusos
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(art.9º). Salvo disposiçaã o especial em ato normativo proé prio, para fins do processo administrativo saã o
capazes os maiores de 18 anos (art.10).
Competência - Ã competeê ncia se exerce pelos oé rgaã os a que foi atribuíéda como proé pria, sendo
irrenunciaé vel, salvo os casos de delegaçaã o e avocaçaã o legalmente admitidos (art.11).
O ato de delegaçaã o de competeê ncia seraé parcial (podendo ser feita a oé rgaã os ou titulares ainda que naã o
haja relaçaã o de subordinaçaã o entre eles) – art.12; seraé revogável a qualquer tempo (art.14, §2º); e
deveraé ser publicado no meio oficial, assim tambeé m ocorrendo com a revogaçaã o da delegaçaã o (art.14).
Impedimentos e suspeição – os casos de impedimentos estaã o elencados no art. 18 (quem tenha
interesse direto ou indireto na mateé ria; quem tenha participado como perito, testemunha ou
representante ou se tais situaçoã es ocorrerem quanto ao coê njuge, companheiro ou parente e afins ateé o
terceiro grau; quem estiver litigando judicial ou administrativamente com o interessado ou respectivo
coê njuge), ao passo que os de suspeiçaã o constam do art. 20 (quem tenha amizade íéntima ou inimizade
notoé ria com o interessado ou com seu coê njuge, companheiro, parente e afins, ateé o terceiro grau). Ã
omissaã o do dever de comunicar o impedimento constitui falta grave (art. 19, § ué n). O indeferimento de
alegaçaã o de suspeiçaã o poderaé ser objeto de recurso, sem efeito suspensivo (art.21). Ã alegaçaã o de
suspeiçaã o eé tratada pela lei como faculdade do interessado e se naã o for alegada tempestivamente,
ocorre a preclusaã o. Ão contraé rio do que ocorre com o impedimento, naã o haé obrigaçaã o imposta pela lei
para que o servidor declare-se suspeito.
Comunicação dos atos – Ã intimaçaã o do interessado para a cieê ncia de decisaã o ou a efetivaçaã o de
diligeê ncias deveraé conter as exigeê ncias do §1º do art. 26 e poderaé ser efetuada por cieê ncia no processo,
por via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio que assegure a certeza da
cieê ncia do interessado (art. 26, §3º). No caso de interessados indeterminados, desconhecidos ou com
domicíélio indefinido, a intimaçaã o deve ser efetuada por publicaçaã o oficial (§4º). Seraã o nulas as
intimaçoã es desconformes com as prescriçoã es legais, mas o comparecimento do administrado supre a
falta ou irregularidade (§5º).
Devem ser objeto de intimaçaã o os atos do processo que resultem para o interessado em imposiçaã o de
deveres, oê nus, sançoã es ou restriçaã o ao exercíécio de direitos e atividades e os atos de outra natureza, de
seu interesse (art.28). O desatendimento da intimaçaã o naã o importa em reconhecimento da verdade
dos fatos, nem a renué ncia a direito pelo administrado (art.27).
Em PAD não é válida a remessa de telegrama para o servidor público recebido por terceiro. (STJ,
MS 14016).
Desistência – o interessado pode desistir, total ou parcialmente, do pedido formulado, atraveé s de
manifestaçaã o escrita e pode renunciar a direitos disponíveis. No caso de vaé rios interessados, a
desisteê ncia ou renué ncia alcança somente quem as formulou. Entretanto, elas naã o prejudicam o
prosseguimento do processo se a Ãdministraçaã o considerar que o interesse pué blico assim o exige
(art.51 e §§ 1º e 2º).
Recursos – das decisoã es administrativas podem ser interpostos recursos, independentemente de
cauçaã o, por razoã es de legalidade e de meé rito. O recurso seraé interposto perante a autoridade prolatora
da decisaã o, no prazo de 10 dias, contados da cieê ncia ou divulgaçaã o oficial da decisaã o recorrida. Cabe a
esta, se naã o reconsideraé -la em 5 dias, encaminhar o processo aà autoridade superior, que disporaé de 30
dias (prorrogaé vel por igual períéodo), contados do recebimento dos autos, para decidir (art. 59 e §§s e
56 e §§s). O recurso tramitaraé por, no maé ximo, treê s instaê ncias administrativas, salvo disposiçaã o legal
em contraé rio (art. 57).
Servidor que participou das investigações na sindicância e determinou a instauração do PAD,
não pode ser a autoridade designada para aprovar o relatório final produzido pela comissão no
processo administrativo. (STJ, MS 15107).
O recurso naã o tem efeito suspensivo, a menos que a lei o preveja. Todavia, havendo receio de prejuíézo
de difíécil ou incerta reparaçaã o, a autoridade recorrida ou a imediatamente superior poderaé , de ofíécio
ou a pedido, dar- lhe tal efeito (art. 61).

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O recurso naã o seraé conhecido quando interposto: 1) fora do prazo; 2) perante oé rgaã o incompetente
(hipoé tese em que seraé indicada ao recorrente a autoridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo
para recurso); 3) por quem naã o seja legitimado (segundo a art. 58, teê m legitimidade: os titulares de
direitos e interesses que forem parte no processo; aqueles cujos direitos e interesses forem
indiretamente afetados pela decisaã o recorrida; as organizaçoã es e associaçoã es representativas, no
tocante a direitos e interesses coletivos; os cidadaã os ou associaçoã es, quanto a direitos difusos); 4) ou
apoé s exaurida a esfera administrativa. Importante ressaltar que o naã o conhecimento do recurso naã o
impede a Ãdministraçaã o de rever de ofíécio o ato ilegal, desde que naã o ocorrida a preclusaã o
administrativa (art. 63 e §§).
à autoridade competente para decidir poderaé confirmar, modificar, anular ou revogar, total ou
parcialmente, a decisaã o recorrida. Se de qualquer desses atos puder resultar gravame aà situaçaã o do
recorrente, este deveraé ser cientificado para que formule suas alegaçoã es antes da decisaã o (art. 64 e
paraé grafo ué nico). Neste aspecto, Celso Ãntoê nio entende que haé uma incongrueê ncia recursal. EÉ que,
com a apresentaçaã o do recurso o recorrente jaé teraé feito suas alegaçoã es recursais. “Deste paraé grafo
ué nico resulta, de um lado, que haveraé , em tal caso, uma duplicidade de alegaçoã es e, de outro, que a
autoridade teraé de antecipar um juíézo gravoso para o recorrente”.
O art. 65 preveê o instituto da revisão. Os processos administrativos de que resultem sançoã es poderaã o
ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofíécio, diante de fatos novos ou circunstaê ncias
relevantes que justifiquem a inadequaçaã o da sançaã o aplicada. Nesse caso, da revisaã o do processo naã o
poderaé resultar agravamento da sançaã o (art. 65 e § ué n).
Ãs sançoã es teraã o natureza pecuniaé ria ou consistiraã o em obrigaçaã o de fazer ou de naã o fazer, assegurado
sempre o direito de defesa (art.68).
Caráter Subsidiário da LPAF – esse diploma legal se aplica taã o somente subsidiariamente aos
processos administrativos específicos, regidos por leis proé prias, como, por exemplo, o processo de
licitaçaã o e o disciplinar (art.69). Ã quaisquer outros processos administrativos, aplica-se
integralmente.
Prazos - Os prazos correm a partir da cientificaçaã o oficial, excluindo-se o dia do começo e incluindo-se
o do vencimento (art.66 e §1º). Contam-se em dias corridos, de modo contíénuo, se expressos em dia;
se expressos em meses ou anos, contar-se-aã o de data a data, e se no meê s do vencimento naã o houver o
dia equivalente ao do iníécio do prazo tem-se como termo o ué ltimo dia do meê s (diferente do direito
civil, quando se tem como termo o dia seguinte imediato) – art.66, §§ 2º e 3º. Salvo motivo de força
maior devidamente comprovado, os prazos naã o se suspendem (art. 67). Saã o eles:
a) Prazo para emissaã o de parecer: quando um oé rgaã o consultivo deva ser obrigatoriamente ouvido, o
parecer deve ser emitido no prazo máximo de 15 dias, salvo norma especial ou comprovada
necessidade de maior prazo. Se o parecer eé obrigatoé rio e vinculante, o processo naã o teraé seguimento
enquanto naã o emitido, responsabilizando-se quem deu causa ao atraso. Se o parecer eé obrigatoé rio e
naã o vinculante, poderaé ser dispensado, sem prejuíézo da responsabilidade de quem deu causa ao atraso
(art.42 e §§ 1º e 2º, lei 9784/99).
Ãtente-se sobre a decisaã o do STF, acerca da responsabilidade do procurador pela emissaã o de parecer:

Responsabilidade de procurador de autarquia por emissaã o de parecer teé cnico-juríédico de


natureza opinativa. Salvo demonstraçaã o de culpa ou erro grosseiro, submetida aà s instaê ncias
administrativo-disciplinares ou jurisdicionais proé prias, naã o cabe a responsabilizaçaã o do advogado
pué blico pelo conteué do de seu parecer de natureza meramente opinativa." (STF, MS 24631)

b)Prazo de intimaçaã o em geral: os interessados seraã o intimados com 3 dias úteis de antecedência
quanto aà data de comparecimento (art.26, §2°, e 41).
c)Prazo para alegaçoã es finais: encerrada a instruçaã o, o interessado tem o direito de se manifestar em
10 dias, salvo se outro prazo for legalmente fixado (art. 44).

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d) Prazo geneé rico: Inexistindo disposiçaã o especíéfica, os atos dos oé rgaã os ou autoridades e dos
administrados devem ser praticados em 5 dias, salvo motivo de força maior. Tal prazo pode ser
dilatado ateé o dobro, mediante comprovada justificaçaã o (art. 24 e § ué n).
e) Prazo para a Ãdministraçaã o decidir: concluíéda a instruçaã o, a Ãdministraçaã o tem o prazo de até 30
dias para decidir, salvo prorrogação por igual período, expressamente motivada (art. 49).
f) Prazo para recurso: eé de 10 dias, salvo disposiçaã o legal especíéfica (art.59).
g) Prazo para reconsideraçaã o: 5 dias, findo os quais, naã o reconsiderando, elevaraé o processo aà
autoridade superior(art.56, §1º).
h) Prazo para alegaçoã es no recurso: os demais interessados teê m o prazo de 5 dias úteis para
apresentarem alegaçoã es no recurso (art.62).
i) Prazo para decisaã o no recurso: prazo máximo de 30 dias, quando a lei naã o fixar prazo diferente,
podendo ser prorrogado por igual período ante justificativa explíécita (art. 59, §§ 1º e 2º).
j) Prazo para a Ãdministraçaã o anular ato: o direito da Ãdministraçaã o de anular ato de que decorram
efeitos favoraé veis para os destinataé rios decai em 5 anos, contados da data em que foram praticados,
salvo comprovada maé feé . No caso de efeitos patrimoniais contíénuos, o prazo conta-se da percepçaã o do
primeiro pagamento (art.54 e §1º).
Regime de Tramitação Prioritária – Ã LPÃF foi alterada pela L 12008/09, conferindo tratamento
diferenciado a determinados administrados que se encontrem em situaçoã es especiais:

Ãrt. 69-Ã. Teraã o prioridade na tramitaçaã o, em qualquer oé rgaã o ou instaê ncia, os procedimentos
administrativos em que figure como parte ou interessado:
I - pessoa com idade igual ou superior a 60 anos;
II - pessoa portadora de deficiência, fíésica ou mental;
III – (VETÃDO) .
IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose mué ltipla, neoplasia maligna,
hanseníéase, paralisia irreversíével e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson,
espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da
doença de Paget (osteíéte deformante), contaminaçaã o por radiaçaã o, síéndrome de
imunodeficieê ncia adquirida, ou outra doença grave, com base em conclusaã o da medicina
especializada, mesmo que a doença tenha sido contraíéda apoé s o iníécio do processo.

Violação à Súmula Vinculante – Em 2006, a LPÃFfoi alterada, para incluir disposiçoã es acerca da
violaçaã o de SV por parte da decisaã o administrativa. Os dispositivos previstos no art. 56, §3 e 64-Ã e B
determinam que se o recorrente alega que a decisaã o afronta SV, a autoridade que proferiu a decisaã o
deveraé explicitar as razoã es pelas quais entende que a SV naã o eé aplicaé vel ou naã o foi violada, antes de
encaminhar o recurso para a autoridade superior, caso naã o reconsidere a sua decisaã o. Da mesma
forma, diante da alegaçaã o do recorrente, a autoridade com competeê ncia para julgar o recurso deveraé
justificar porque entende ser a SV inaplicaé vel.
Naã o se afasta a possibilidade de propositura de Reclamaçaã o por parte do recorrente, hipoé tese em que
seraé de se aplicar o disposto no art. 64-B, segundo o qual: “Acolhida pelo STF a reclamação fundada em
violação de enunciado da súmula vinculante, dar-se-á ciência à autoridade prolatora e ao órgão
competente para o julgamento do recurso, que deverão adequar as futuras decisões administrativas em
casos semelhantes, sob pena de responsabilização pessoal nas esferas cível, administrativa e penal”.

Modalidades de processo administrativo


Segundo Hely, haé 4 modalidades de processo administrativo: processo de expediente, processo de
outorga, processo de controle e processo punitivo.
1 - Processo de expediente: denominaçaã o improé pria que se daé a toda autuaçaã o que tramita pelas
repartiçoã es pué blicas por provocaçaã o do interessado ou por determinaçaã o interna da Ãdministraçaã o,
para receber a soluçaã o conveniente. Naã o tem procedimento proé prio nem rito sacramental. Ãs decisoã es
neles proferidas naã o teê m efeito vinculante para o interessado ou para a Ãdministraçaã o, e, por isso, em
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geral, saã o irrecorríéveis e naã o geram preclusaã o, pelo que admitem sempre a renovaçaã o do pedido e a
modificaçaã o do despacho.
2- Processo de outorga: eé todo aquele em que se pleiteia algum direito ou situaçaã o individual perante
a Ãdministraçaã o. Normalmente tem rito especial, mas naã o contraditoé rio, salvo quando haé oposiçaã o de
terceiros ou impugnaçaã o da proé pria Ãdministraçaã o. Saã o exemplos desse tipo, os processos de
licenciamento de edificaçaã o, de registro de marcas e patentes, de pesquisa e lavra de jazida, de
concessaã o e permissaã o, de isençaã o condicionada de tributo e outros que consubstanciam pretensoã es
de natureza negocial entre o particular e a administraçaã o, ou abranjam atividades sujeitas aà
fiscalizaçaã o do Poder Pué blico. Ãs decisoã es finais proferidas nesses processos tornam-se vinculantes e
irretrataé veis pela Ãdministraçaã o, porque, normalmente geram direito subjetivo para o beneficiaé rio,
salvo quanto aos atos precaé rios que por natureza admitam modificaçaã o ou supressaã o sumaé ria a
qualquer tempo.
3 – Processo de controle: eé todo aquele em que a Ãdministraçaã o realiza verificaçoã es e declara
situaçaã o, direito ou conduta do administrado ou de servidor, com caraé ter vinculante para as partes.
Tais processos, normalmente teê m rito proé prio. Naã o se confunde com o processo punitivo, porque
enquanto neste se apura a falta e se aplica a penalidade cabíével, naquele apenas se verifica a situaçaã o
ou a conduta do agente e se proclama o resultado para efeitos futuros (tem o caraé ter declaratoé rio). Saã o
exemplos de processos administrativos de controle, os de prestaçaã o de contas perante oé rgaã os
pué blicos; os de verificaçaã o de atividades sujeitas aà fiscalizaçaã o; o de lançamento tributaé rio e de
consulta fiscal.
4 - Processo punitivo: eé todo aquele promovido pela administraçaã o para a imposiçaã o de penalidade
por infraçaã o de lei, regulamento ou contrato. Esses processos devem ser necessariamente
contraditoé rios, com oportunidade de defesa e estrita observaê ncia do devido processo legal, sob pena
de nulidade da sançaã o imposta. Ã sua instauraçaã o haé que se basear em auto de infração, representação
ou peça equivalente, iniciando-se com a exposiçaã o minuciosa dos atos ou fatos ilegais ou
administrativamente ilíécitos atribuíédos ao indiciado, e indicaçaã o da norma ou convençaã o infringida.
Nesta modalidade se incluem todos os procedimentos que visem aà imposiçaã o de alguma sançaã o ao
administrado, ao servidor ou a quem eventualmente esteja vinculado aà Ãdministraçaã o por uma
relaçaã o especial de hierarquia, como saã o os militares, os estudantes e os demais frequentadores de
estabelecimentos pué blicos sujeitos circunstancialmente aà sua disciplina.
5 - Processo disciplinar: eé o meio de apuraçaã o e puniçaã o de faltas graves dos servidores pué blicos e
demais pessoas sujeitas ao regime funcional de determinados estabelecimentos da Ãdministraçaã o. O
processo disciplinar eé sempre necessaé rio para a imposiçaã o de pena de demissão ao funcionaé rio estável
(art.41, §1 da CF), tendo a jurisprudeê ncia entendido que tambeé m o eé para o efetivo, ainda em estaé gio
probatoé rio.
O processo disciplinar deve ser instaurado por portaria da autoridade competente, na qual se
descrevam os atos ou fatos a apurar e se indiquem as infraçoã es a serem punidas, designando-se desde
logo a comissaã o processante, a ser presidida pelo integrante mais categorizado. Na instruçaã o do
processo, a comissaã o processante tem plena liberdade na colheita de provas, podendo socorrer-se de
assessores teé cnicos e peritos especializados, bem assim examinar quaisquer documentos relacionados
com o objeto da investigaçaã o, ouvir testemunhas e fazer inspeçoã es in loco. No julgamento, a autoridade
competente deveraé sempre fundamentar a sua decisaã o.
Permitido eé ao Poder Judiciaé rio examinar o processo administrativo disciplinar para verificar se a
sançaã o imposta eé legíétima e se a apuraçaã o da infraçaã o atendeu ao devido procedimento legal. Essa
verificaçaã o importa em conhecer os motivos da puniçaã o e em saber se foram atendidas as
formalidades procedimentais essenciais. O que se nega ao Judiciaé rio eé o poder de substituir ou
modificar penalidade disciplinar a pretexto de fazer justiça, pois, ou a puniçaã o eé legal e deve ser
confirmada, ou eé ilegal e haé que ser anulada; inadmissíével eé a substituiçaã o da discricionariedade
legíétima do administrador, por arbíétrio ilegíétimo do juiz.

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Ãleé m do processo administrativo pode a Ãdministraçaã o utilizar-se de meios sumários para a


elucidaçaã o preliminar de determinados fatos ou aplicaçaã o de penalidades disciplinares menores ou
comprovadas na sua flagraê ncia Saã o eles: sindicância, verdade sabida e termo de declarações do infrator.
Faz-se necessaé rio trazer algumas decisoã es recentes acerca do processo administrativo disciplinar:
à jurisprudeê ncia do STJ e do STF saã o firmes no sentido de que é admitida a utilização no processo
administrativo de “prova emprestada” do inquérito policial ou do processo penal, desde que
autorizada pelo juízo criminal e respeitados o contraditório e a ampla defesa. (STJ, MS 17472).
Isso porque, em regra, o resultado da sentença proferida no processo criminal naã o repercute na
instaê ncia administrativa, tendo em vista a independeê ncia existente entre as instaê ncias. (STJ, RMS
33628).

STJ: O excesso de prazo para a conclusaã o do PÃD naã o gera, por si soé , qualquer nulidade no feito, desde
que naã o haja prejuíézo para o acusado. Isso porque naã o se configura nulidade sem prejuíézo.
Precedentes: MS 16815, MS 15810 e RMS 33.628”

Naã o deve ser paralisado o curso de processo administrativo disciplinar apenas em funçaã o de
ajuizamento de açaã o penal destinada a apurar criminalmente os mesmos fatos investigados
administrativamente. Ãs esferas administrativa e penal saã o independentes, naã o havendo falar em
suspensaã o do processo administrativo durante o traê mite do processo penal. (STJ, MS 18090).

Segundo o STJ, não há ilegalidade na instauração de processo administrativo com fundamento


em denúncia anônima, por conta do poder-dever de autotutela imposto aà Ãdministraçaã o e, por via de
consequeê ncia, ao administrador pué blico. (ÃgRg no REsp 1307503)

A prorrogação motivada do prazo para a conclusão dos trabalhos da comissão em processo


administrativo disciplinar não acarreta, por si só, a nulidade do procedimento. (MS 16031).

1 - Sindicância administrativa: eé o meio sumaé rio de elucidaçaã o de irregularidades no serviço para


subsequente instauraçaã o de processo de puniçaã o do infrator. Pode ser iniciada com ou sem sindicado,
bastando que haja indicaçaã o da falta a apurar. Dispensa defesa do sindicado e publicidade no seu
procedimento por se tratar de simples expediente de verificaçaã o de irregularidade e naã o de base para
puniçaã o, equiparaé vel ao inqueé rito policial em relaçaã o aà açaã o penal.

à SV 14 não pode ser aplicada para os casos de sindicância, que objetiva elucidar o
cometimento de infraçoã es administrativas. Pela simples leitura da sué mula percebe-se que a
sindicaê ncia naã o estaé incluíéda em seu texto jaé que naã o se trata de procedimento investigatoé rio
realizado por oé rgaã o com competeê ncia de políécia judiciaé ria. (STF, Rcl 10771 ÃgR).

à sindicaê ncia eé meio mais ceé lere para apurar irregularidades praticadas pelos servidores. Da sua
conclusaã o pode resultar uma das seguintes hipoé teses (149):
a) arquivamento do processo;
b) aplicaçaã o das penalidades de adverteê ncia ou de suspensaã o por ateé 30 dias;
c) instauraçaã o de PÃD, se o caso ensejar penalidade mais grave. Neste caso, os autos da sindicaê ncia
integraraã o o processo disciplinar, como peça informaé tica da instruçaã o (154).
Enquanto a sindicaê ncia tiver caraé ter meramente investigativo (inquisitoé rio), sem que exista acusaçaã o
formal a um servidor, ou alguma imputaçaã o que possa ser contraditada, naã o se exige o respeito ao
contraditoé rio e aà ampla defesa. Sempre que a administraçaã o pretender aplicar uma penalidade,
mediante procedimento de sindicaê ncia, deveraé assegurar, obrigatoriamente, contraditoé rio e ampla
defesa.

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Ressalta-se que a sindicaê ncia naã o eé uma etapa do PÃD, nem eé obrigatoé rio que o preceda. Mas se os
fatos apurados na sindicaê ncia ensejarem puniçaã o mais grave que a possíével em sua seara, os autos da
sindicaê ncia os autos da sindicaê ncia integraraã o o PÃD como peca informativa da instruçaã o.
2 - Verdade sabida: eé o conhecimento pessoal da infraçaã o pela proé pria autoridade competente para
punir o infrator. Em tais casos a autoridade competente, que presenciou a infraçaã o, aplica a pena pela
verdade sabida, consignando no ato punitivo as circunstaê ncias em que foi cometida e presenciada a
falta. Tem-se considerado tambeé m, como verdade sabida, a infraçaã o pué blica e notoé ria, estampada na
imprensa ou divulgada por outros meios de comunicaçaã o de massa. Para CÃBM a verdade sabida eé
totalmente incompatíével com o devido processo legal.
3 - Termo de declarações: eé forma sumaé ria de comprovaçaã o de faltas menores de servidores, atraveé s
da tomada de seu depoimento sobre irregularidade que lhe eé atribuíéda, e, se confessada, serviraé de
base para a puniçaã o cabíével. Para plena validade das declaraçoã es eé de toda convenieê ncia que sejam
tomadas em presença de, pelo menos, duas testemunhas, que tambeé m subscreveraã o o termo. Naã o
recepcionada pela CR/88 (JSCF).
Atenção: De acordo com o STF, a sindicância prescinde de contraditório e ampla defesa quando é
mero subsídio do processo administrativo, possuindo natureza inquisitiva, tal como o inqueé rito
policial. Todavia, tais princíépios devem ser imperativamente observados, na hipoé tese da sindicaê ncia
prescrever penalidade ao sindicado, nos termos do art. 145, da Lei 8112.

3. DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Cometimento reiterado de crimes contra o patrimoê nio pode afastar a bagatela, ainda que o valor
isolado dos bens seja reduzido (STF, HC 117083)

6. DISPOSIÇÕES GERAIS DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, (Crimes contra o
Patrimônio), em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
Ãbrange o convivente em união estável, pois naã o se veda analogia in bonam parten
II - De ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. (irmãos
poderão processar mas é AP condicionada)
Naã o estaã o abrangidos nas imunidades, furto entre irmaã os, furto entre colaterais e furto entre afins.
Somente ascendente e descendente.

ESCUSA ABSOLUTÓRIA (IMUNIDADE PATRIMONIAL ABSOLUTA): eé causa de extinçaã o da


punibilidade: o crime era puníével, mas o Estado abre maã o apoé s o cometimento (doutrina moderna)
Ãlguns autores diferencial escusa e imunidade, considerando que esta ué ltima eé causa de exclusaã o da
punibilidade – que nunca existiu em concreto (doutrina claé ssica).

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Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em
prejuízo:
ESCUSÃ RELÃTIVÃ: Soé altera a espeé cie de açaã o penal.
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
ESCUSÃ RELÃTIVÃ
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores (haverá incidência da pena e a ação será
incondicionada):
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência
à pessoa;
(roubo ou extorsaã o naã o exclui a pena, tambeé m no caso da grave ameaça contra a pessoa)
II - ao estranho que participa do crime. (COMPARSA)
Escusa eé personalíéssima
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. (Estatuto do Idoso)

TIPOS : furto, roubo, usurpaçaã o, dano, apropriaçaã o indeé bita, estelionato e receptaçaã o

7. FURTO

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, de UM a QUATRO ANOS, e multa.

BEM JURIÉDICO TUTELÃDO: propriedade, posse e detençaã o legíétimas (majoritaé ria)


Doutrina minoritaé ria: apenas propriedade (Hungria) ou apenas propriedade e posse (Noronha)

SUJEITO ÃTIVO: qualquer pessoa (crime comum), salvo o proé prio dono da coisa.
Proprietaé rio que subtrai coisa proé pria em poder de terceiro comete exercíécio arbitraé rio das proé prias
razoã es (CP, art. 345/346).
Funcionaé rio pué blico: responde por peculato-furto (art. 312 §1º) se a subtraçaã o foi facilitada em razaã o
do cargo; do contraé rio, comete furto

ELEMENTOS DO TIPO
SUBTRAIR: apoderamento direto ou indireto (ex: por animais ou instrumentos).
COISA: objeto economicamente apreciaé vel.
à doutrina moderna admite furto de coisas de relevante valor moral ou sentimental
ALHEIA: o agente deve saber que a coisa eé de terceiro, ainda que naã o saiba quem eé o dono

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: aplica-se ao crime de furto, poreé m, deve-se distinguir valor


insignificante e pequeno valor.
Furto de bicicleta de pessoa pobre eé de pequeno valor, mas naã o eé bagatelar (STF, HC 105963 e STJ, HC
217666). Neste caso, se aplica o furto privilegiado (CP, 155 § 2º).
à jurisprudeê ncia recomenda uma anaé lise ampla das circunstancias e resultados do delito.
Requisitos:
a) míénima ofensividade da conduta do agente.
b) nenhuma periculosidade social da açaã o.
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c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.


d) inexpressividade da lesaã o juríédica provocada.

OBJETO MÃTERIÃL
Cadáver soé pode ser objeto de furto se utilizado (licitamente) como bem de valor econoê mico (ex:
objeto de estudo, peça arqueoloé gica)
Furto de cadaé ver, em regra, incide no tipo do CP, 221 (destruir, subtrair ou ocultar cadaé ver)
Coisa pública de uso comum, em regra, naã o eé objeto material de furto, pois a todos pertence (naã o eé
coisa alheia). Excepcionalmente, se destacada para atender atividade econoê mica de algueé m, passa a
ser considerada coisa alheia, podendo, neste caso, ser objeto material de furto.

ELEMENTO SUBJETIVO: dolo geneé rico com a finalidade especial de apoderamento definitivo.

FURTO DE USO EÉ ÃTIÉPICO.


Ãuseê ncia do elemento subjetivo.
O nome correto segundo Rogeé rio Greco deveria ser SUBTRAÇÃO DE USO e naã o furto de uso. ELE É
INCRIMINADO NO CP MILITAR.

Furto famélico naã o eé antijuríédico em razaã o do estado de necessidade


REQUISITOS:
a) Fato seja praticado para mitigar a fome;
b) Que seja o único e derradeiro recurso do agente; (inevitabilidade do comportamento lesivo)
c) Que haja subtraçaã o de coisa capaz de diretamente contornar a emergência.
d) Insuficiência dos recursos adquiridos pelo agente, ou impossibilidade de trabalho.

CONSUMÃÇÃÃ O (teorias)
1) CONCRECTÃCIO: consumaçaã o se daé pelo simples contato entre o agente e a coisa alheia,
dispensando o seu deslocamento.
2) AMOTIO/APREHENSIO: Ocorre a consumação quando a coisa subtraída passa para o poder
do agente, mesmo que num curto espaço de tempo, independentemente de deslocamento e
posse ou mansa e pacífica; STF/ STJ
3) ABLATIO: Ã consumaçaã o ocorre quando o agente depois de apoderar-se da coisa consegue deslocaé -
la de um lugar para o outro.
4) ILATIO: Ã coisa deve ser transportada pelo agente, mantendo-se posse mansa e pacíéfica (TJ/SP)

TENTATIVA: Crime plurisubsistente; admite TENTÃTIVÃ.


Batedor de carteira que naã o encontra nada no bolso da víétima: a) crime impossíével (se naã o havia nada)
e b) tentativa (se tinha dinheiro no outro bolso).

Vigilaê ncia eletroê nica e supermercados não torna, por si soé , o crime impossível, devendo ser
analisado o caso concreto.

TROMBÃDÃ: Se houve violeê ncia contra a pessoa, eé ROUBO

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SUBTRÃÇÃÃ O POR ÃRREBÃTÃMENTO: seraé furto, porque a violeê ncia eé dirigida contra a coisa e naã o
contra a pessoa (trombadinha puxa o reloé gio). Haé posiçaã o no sentido contraé rio.

DISTINÇÃÃ O
Furto (155) Receptação (180) Favorecimento Real (349)
Se o auxíélio ocorrer antes da Na receptaçaã o o agente visa proveito Naã o pode ser receptador
praé tica do delito, o agente proé prio ou alheio, enquanto no e nem ter participado do
deveraé responder por furto, favorecimento real a intençaã o eé prestar delito. Ocorre depois
em concurso de pessoas. auxilio ao criminoso. Favorece o
Receptador.

CÃUSÃ DE ÃUMENTO DE PENÃ: majorante aplicaé vel se somente para o furto simples
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
Independe de a casa estar habitada no momento (STJ/STF, vide exposiçaã o de motivos).

FURTO PRIVILEGIADO / FURTO MÍNIMO: causa especial de diminuiçaã o de pena.


Art. 155 § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor (até 1 salário mínimo) a coisa furtada, o
juiz pode (deve) substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar
somente a pena de multa.

REQUISITOS:
Ã) SUBJETIVO: primariedade teé cnica
B) OBJETIVO: qualquer coisa de valor inferior a 1 SM (criteé rio matemaé tico)
Naã o se confunde com valor íénfimo para fins de aplicaçaã o do princíépio da insignificaê ncia.

FURTO HIÉBRIDO: STJ e STF admitem o privilégio mesmo quando o furto é qualificado, desde que
as qualificadoras sejam de ordem objetiva e que o fato delituoso enquadre-se na previsaã o do art.
155, §2º, do CP (Sué mula nº 511/STJ).
à jurisprudeê ncia concilia homicídio objetivamente qualificado e subjetivamente privilegiado.
Dessa forma, tratando-se de circunstância qualificadora de caráter objetivo (meios e modos de
execução do crime), seria possível o reconhecimento do privilégio, que eé sempre de natureza
subjetiva.
Por outro lado, os tribunais naã o admitem princíépio da insignificaê ncia a qualquer furto qualificado, pois
o comportamento tem grau razoaé vel de reprovabilidade.

ENERGIÃ ELEÉ TRICÃ


§ 3º - equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
(genética, mecânica, térmica, radioatividade)

infraçaã o permanente: admite prisaã o em flagrante.


CLÃÉ USULÃ DE EQUIPÃRÃÇÃÃ O: subtraçaã o de sinal de tv a cabo ou telefone eé fato atíépico, pois, diferente
da energia, o sinal de TV aà cabo naã o se esgota ou se consome. (Bitencourt e STF)
Nucci entende naã o haver analogia in malan partem (minoritaé rio)

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DISTINÇÃÃ O: furto de energia eleé trica E estelionato para ocultar consumo.


Furto de energia eleé trica (GÃTO) Estelionato para consumo (FRÃUDE NO MEDIDOR)
Ãgente naã o tem autorizaçaã o para O agente estaé autorizado a consumir a coisa, mas se vale
consumir a coisa. Ligaçaã o clandestina de artifíécio para provocar consumo fictíécio. Ã ligaçaã o eé
legíétima mas haé adulteraçaã o do medidor

FURTO QUALIFICADO
§ 4º A PENA É DE RECLUSÃO DE DOIS A OITO ANOS, E MULTA, SE O CRIME É COMETIDO:

OBS: naã o pode aplicar a causa de aumento de pena do roubo sob pena de usurpaçaã o dos poderes do
legislativo.
Súmula 442, STJ - É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do
roubo.

I - COM DESTRUIÇÃO OU ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO À SUBTRAÇÃO DA COISA;

Somente existe a qualificadora, se a violência é contra a coisa que está entre o agente e a coisa
visada. Se a violência incide sobre a própria coisa visada não há qualificadora. Ãssim, caso se
quebre vidro de um veíéculo para subtrair o veíéculo naã o incide a qualificadora. Poreé m, caso se quebre
um vidro de um veíéculo para subtrair o raé dio incide a qualificadora.

QUEBRA DO VIDRO DO CARRO PARA FURTO DO APARELHO DE SOM:


STJ pacificou que a subtração de objetos situados no interior do veículo, mediante a destruição
do vidro, qualifica o delito (EDREsp 1079847)

“configura o furto qualificado a violeê ncia contra coisa, considerado veíéculo, visando adentrar
no recinto para retirada de bens que nele se encontravam” (STF, HC 98606).

II - COM ABUSO DE CONFIANÇA, OU MEDIANTE FRAUDE, ESCALADA OU DESTREZA;

ÃBUSO DE CONFIÃNÇÃ:
Pode o criminoso:
a) Captar PROPOSITADAMENTE A CONFIANÇA DA VÍTIMA como;
b) VALER-SE DA CONFIANÇA JÁ EXISTENTE.
Naã o precisa o agente propositadamente conquistar a confiança, pode ele apropriar-se de uma
confiança que ele jaé tem. Confiança (relaçaã o de trabalho, familiar, amizade)
ATENÇÃO: A mera relação de emprego não induz a qualificadora abuso de confiança, sendo
imprescindíével o especial víénculo de lealdada ou fidelidade entre a víétima e o agente. Furto Famulato
= furto em uma relaçaã o de emprego.
DISTINÇÃÃ O
FURTO COM ABUSO DE CONFIANÇA APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Ãgente naã o tem a posse, mas simples contato com a coisa. Ãgente exerce posse em nome de
outrem.
Dolo eé antecedente a posse. Dolo eé superveniente

MEDIÃNTE FRÃUDE

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à fraude eé utilizada pelo agente a fim de facilitar a subtraçaã o por ele levada a efeito
DISTINÇÃÃ O DE CRIMES
FURTO MEDIANTE FRAUDE ESTELIONATO
Fraude para facilitar a subtração da coisa. Fraude para fazer com que a vítima
entregue a coisa espontaneamente.
FINÃLIDÃDE: Retirar ou diminuir a vigilaê ncia da à víétima enganada entrega uma posse
víétima sobre a coisa. DESVIGIÃDÃ.
à fraude visa burlar a vigilaê ncia da víétima que em à fraude eé usada para induzimento da
razaã o disso naã o percebe que a coisa estaé sendo víétima ao erro. De modo que ela proé pria
subtraíéda. entrega seu patrimoê nio ao agente.
à coisa sai da víétima e vai para o agente à coisa sai da víétima e vai para o agente de
unilateralmente, soé agente quer que a coisa vaé para forma BILÃTERÃL, ambos querem alterar a
a sua posse. posse.
FÃLSO TEST-DRIVE: furto mediante fraude.
OBS: TJ/SP já considerou estelionato.
Ãuxiliar víétima em caixa eletroê nico e trocar o cartaã o.
Furto mediante fraude.

ESCÃLÃDÃ: uso de via anormal para ingressar no local em que se encontra a coisa visada. Qualquer
via anormal gera a escalada, naã o importa se eé subindo ou cavando tué neis.

DESTREZÃ: peculiar habilidade fíésica ou manual, permitindo ao agente praticar o crime, sem que a
víétima perceba que estaé sendo despojada de seus bens. (Batedores de carteira / Punguistas)

CHÃVE FÃLSÃ: todo instrumento com ou sem forma de chave destinado a abrir fechaduras. Ex. Chave
mixa, arame.
à chave falsa serve para dar acesso ao bem, logo, naã o se aplica se a chave eé utilizada apenas para ligar
o carro (STJ)
Chave verdadeira obtida mediante fraude naã o qualifica o delito (STJ). Noronha discorda.

CONCURSO DE PESSOÃS
Computam-se os partíécipes (teoria monista). Hungria discorda.

Associação criminosa e furto em concurso de agentes: não há bis in idem (STJ, HC 123932), pois
os bens juríédicos tutelados saã o diversos.
Para Rogeé rio Greco, haveria concurso entre associaçaã o criminosa e furto simples.

§ 5º - A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro estado ou para o exterior.

EÉ indispensaé vel que o veíéculo ultrapasse os limites de um estado ou do paíés.

8. FURTO DE COISA COMUM

Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a
detém, a coisa comum:

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Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.


§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito
o agente.

9. ROUBO

ÃRT. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa (violência própria) emprego de força fíésica sobre a víétima, bastando para
caracterizaé -la a lesaã o leve ou a vias de fato), ou depois de haveê -la, por qualquer meio (violência
imprópria), reduzido aà impossibilidade de resisteê ncia:

ROUBO SIMPLES PRÓPRIO


Pode ser dividido em dois momentos: um antecedente e outro subsequente. O momento antecedente
é a violência física, grave ameaça ou qualquer outro meio capaz de reduzir a vítima à
impossibilidade de resistência. O momento subsequente, por sua vez, é a subtração.
PENA - Reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si
ou para terceiro.
ROUBO SIMPLES IMPRÓPRIO
NÃO ADMITE A TENTATIVA – Somente exercida através da violência própria e da ameaça.
O roubo improé prio tambeé m eé chamado de roubo por aproximaçaã o. Tambeé m tem dois momentos,
poreé m diametralmente opostos aos do roubo proé prio. O momento antecedente é a subtração; o
momento subsequente, por sua vez, é a violência física ou grave ameaça, com o fim de
assegurar a impunidade ou a detenção da coisa.

COISÃ MOÉ VEL ÃLHEIÃ: mesmo conceito do furto


BEM JURIÉDICO TUTELÃDO
Trata-se de crime complexo (fusaã o de duas ou mais figuras tíépicas): furto + constrangimento ilegal.
SUJEITO ÃTIVO: qualquer pessoa, salvo o proprietaé rio
O proprietaé rio naã o pratica roubo, o que poderia em tese configurar roubo de coisa proé pria configura
exercíécio arbitraé rio das proé prias razoã es.
SUJEITO PÃSSIVO: proprietaé rio, possuidor ou detentor da coisa, bem como a pessoa contra quem se
dirige a violeê ncia ou a grave ameaça, ainda que desligada da lesão patrimonial.
EÉ irrelevante a coisa ser comum, pois naã o haé semelhante para o furto de coisa comum (CP, 156).
Noronha explica que o CP pune a violeê ncia humana na lesaã o patrimonial, e naã o apenas a subtraçaã o

CONDUTA:
ROUBO SIMPLES PRÓPRIO ROUBO SIMPLES IMPRÓPRIO
à diferença estaé no momento do emprego da violeê ncia ou da grave ameaça
ANTECEDENTE SUBSEQÜENTE ANTECEDENTE SUBSEQÜENTE
- Violeê ncia proé pria Subtrair Subtraçaã o (apoderamento Grave violeê ncia
- Grave ameaça preé vio da coisa)
- Qualquer outro meio. Indispensaé vel Grave ameaça
(violeê ncia improé pria - boa
noite cinderela)
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Arrependimento Posterior
Possíével somente no roubo com violeê ncia
improé pria.

ÃGENTE ESTÃÉ NÃ CÃSÃ, ELE IÃ SE ÃPODERÃR DÃ TV, ÃGRIDE-SE O DONO E FOGE, QUÃL O CRIME
QUE PRÃTICÃ?
Naã o preenche o requisito do roubo improé prio. Furto tentado + lesão corporal ou homicídio (Crime
contra a pessoa) em concurso material.
Naã o haé violeê ncia improé pria no roubo improé prio (!)
VIOLÊNCIA IMPRÓPRIA: Ãgente faz que a pessoa impossibilite uma resisteê ncia. (boa noite cinderela)
ROUBO IMPRÓPRIO: Ãgente apoé s subtrair a coisa (pois seria um furto a princíépio) age com violeê ncia
contra a víétima para assegurar a consumaçaã o.
ATENÇÃO: A jurisprudência não admite “empréstimo” do privilégio do furto.
ROUBO DE USO eé fato atíépico porque naã o haé a intençaã o de ter a coisa para si (STF/STJ)
Para Greco, a figura do furto de uso seria uma mescla de constrangimento ilegal e furto, poreé m, por ser
o furto impuníével, resta o constrangimento ilegal

CONSUMÃÇÃÃ O
No roubo proé prio, aplica-se a mesma loé gica do furto (aprehensio)
No roubo improé prio, a consumaçaã o ocorre com a violeê ncia, pois se presume que a coisa jaé estaé na
posse do agente (STJ, HC 92221)
Ãs duas teses foram consolidadas em recurso repetitivo, destacando ser irrelevante que a posse seja
mansa, pacíéfica e desvigiada, podendo ter havido perseguiçaã o imediata e recuperaçaã o da coisa (Resp
1499050 Rep)
Corrente minoritaé ria admite tentativa no roubo improé prio (Nucci, Mirabete), poreé m, prevalece que a
ameaça eé ato unissubsistente e instantaê neo.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA


NÃO É QUALIFICADORA § 2º - Ã PENÃ ÃUMENTÃ-SE DE (1/3) UM TERÇO ÃTEÉ METÃDE(1/2):
Sué m 443/STJ: O aumento na terceira fase de aplicaçaã o da pena no crime de roubo circunstanciado
exige fundamentaçaã o concreta, naã o sendo suficiente para a sua exasperaçaã o a mera indicaçaã o do
nué mero de majorantes.

I - SE A VIOLÊNCIA OU AMEAÇA É EXERCIDA COM EMPREGO DE ARMA.

Haé poleê mica quanto a necessidade de emprego da arma na violeê ncia (Bittencourt) ou o simples porte
ostensivo (Regis Prado). Haé uma tendeê ncia jurisprudencial pela segunda corrente.

Não se aplica a majorante quando o porte da arma é simulado.

CONCEITO DE ARMA: arma de fogo, arma branca (considerada arma improé pria), como faca, facaã o,
canivete e quaisquer outros "artefatos" capazes de causar dano aà integridade fíésica do ser humano ou
de coisas, como por exemplo uma garrafa de vidro quebrada, um garfo, um espeto de churrasco, uma
chave de fenda etc.

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Arma de brinquedo não qualifica o crime (revogaçaã o da Sué m. 174/STJ)


Perícia obrigatória se houve apreensaã o da arma; se naã o houve, seu emprego pode ser provada por
qualquer meio.
Arma com defeito: se torna o instrumento absolutamente ineficaz, afasta a majorante; se o defeito for
relativo (ex: dispara e trava), manteé m a majorante.
Fato impeditivo: eé oê nus do reé u provar a auseê ncia de potencial lesivo da arma (EREsp 961863).
Arma desmuniciada: tambeé m naã o incide a majorante (STJ, HC 190067).
Se, após o roubo, foi constatado que a arma estava desmuniciada no momento do crime, incide
mesmo assim a majorante?
Concurso com porte ilegal de arma de fogo: apenas se arma foi usada fora do contexto do roubo, pois
haé consunçaã o entre o crime-meio (porte) e o crime-fim (roubo majorado). (STJ HC 178561)
Concurso com associação criminosa armada: eé possíével, pois os bens tutelados saã o diversos e os
crimes saã o autoê nomos

CONCURSO DE CRIMES
Haé um crime para cada víétima, independente da quantidade de bens subtraíéda de cada um – o que seraé
considerado na dosimetria.
Caso do assalto a oê nibus: haé concurso formal (STF, RHC 112871).
Considera-se uma ué nica víétima se o patrimoê nio eé comum (ex: casal, empresa etc.)

II - SE HÁ O CONCURSO DE DUAS OU MAIS PESSOAS; (mesmo raciocínio do crime de furto)

III - SE A VÍTIMA ESTÁ EM SERVIÇO DE TRANSPORTE DE VALORES E O AGENTE CONHECE TAL


CIRCUNSTÂNCIA.

à expressaã o “valores”, vale dizer, deve ser entendida em sentido amplo. Ex.: roubo de carga nas
rodovias. Naã o se refere, apenas, ao carro-forte.

IV - SE A SUBTRAÇÃO FOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR QUE VENHA A SER TRANSPORTADO PARA OUTRO
ESTADO OU PARA O EXTERIOR;

V - SE O AGENTE MANTÉM A VÍTIMA EM SEU PODER,RESTRINGINDO SUA LIBERDADE.

ROUBO: Ãrt. 157 §2º V ROUBO C/C SEQUESTRO: Ãrt. 157 c/c Ãrt. 148
No roubo a privaçaã o ocorre por tempo à privaçaã o ocorre por tempo desnecessário
suficiente para garantir a ação do agente. para a ação do agente na subtração.
EÉ uma privaçaã o necessaé ria.
Ex. Coloca uma arma na cabeça, rouba o carro Ex. Rouba a víétima coloca uma pessoa no porta
coloca a pessoa no porta malas, chega numa malas e pratica-se inué meros roubos.
rodovia larga a pessoa em uma estrada e foge
com o carro.
Bitencourt: Quando o “sequü estro” for praticado Bitencourt: Quando o “sequü estro” for praticado
concomitantemente com o roubo de veíéculo depois da consumaçaã o do roubo de veiculo
automotor, ou pelo menos como meio de automotor, sem nenhuma conexaã o com sua
execuçaã o do roubo ou como garantia contra a execuçaã o ou garantia da fuga, naã o se estaraé

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açaã o policial, estaraé configurada a majorante. diante da majorante especial, mas se tratara de
concurso de dois crimes.

VARIAÇÃO DA PENA DE 1/3 ATÉ A METADE?


Sué mula 443/STJ: a quantidade de majorantes naã o pode ser criteé rio ué nico para exasperaçaã o da pena
definitiva. Ãssim, o juiz deve fundamentar o aumento da pena (STF e STJ)

ROUBO QUALIFICADO

§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da
multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa**(** hediondo).
(Redação da Lei nº 9.426/96) Vide Lei nº 8.072/90

PENA: 7 A 15 ANOS. CRIME QUALIFICADO. NÃO É HEDIONDO

PENA: 20 A 30 ANOS. LATROCÍNIO. SOMENTE ESTE É HEDIONDO

Ficar atento para as causas de aumento de pena.

O FIM DO LATROCÍNIO É O PATRIMÔNIO. MEIO É RETIRAR A VIDA


LÃTROCIÉNIO NÃO É CRIME CONTRA A VIDA E, PORTANTO, NÃO É JULGADO PELO TRIBUNAL DO
JÚRI.
CUIDADO: Se a morte for decorrente naã o da violeê ncia, mas sim da grave ameaça, não teremos o
crime de latrocínio. Neste caso, morte ser em decorreê ncia da grave ameaça, seraé o agente
responsabilizado pelo crime de roubo c/c com homicíédio culposo ou doloso (dependendo se o agente
sabia da situaçaã o da víétima).

PLURÃLIDÃDE DE VIÉTIMÃS NO LÃTROCIÉNIO COM SUBTRÃÇÃÃ O UÉ NICÃ.


à pluralidade de mortes quando a vontade era de subtrair patrimoê nio ué nico naã o gera concurso de
crimes, devendo esta circunstaê ncia ser considerada na fixaçaã o da pena-base (STJ, HC 86005; STF HC
71267).
Contudo, haé quem defenda que a pluralidade de mortes, ainda que numa soé subtraçaã o, gera
pluralidade de latrocínios, em concurso formal impróprio (tese do MP/SP e REsp 1164953).
EÉ irrelevante que a pessoa morta naã o seja a mesma que detenha a propriedade da coisa.

ATENÇÃO: naã o haé latrocíénio se a morte eé causada na tentativa de defesa da víétima ou se um dos
assaltantes eé morto. No entanto se quem dispara eé o agente e acaba matando um dos seus
companheiros na praé tica do roubo, responderaé por latrocíénio (aberratio ictus).
CONSUMÃÇÃÃ O E TENTÃTIVÃ
SUBTRÃÇÃÃ O MORTE RESULTÃDO
SUBTRÃÇÃÃ O CONSUMÃDÃ MORTE CONSUMÃDÃ CONSUMÃDO
SUBTRÃÇÃÃ O CONSUMÃDÃ MORTE TENTÃDÃ TENTÃDO
SUBTRÃÇÃÃ O TENTÃDÃ MORTE TENTÃDÃ TENTÃDO
SUBTRÃÇÃÃ O TENTÃDÃ MORTE CONSUMÃDÃ CONSUMÃDO
Sué m 610/STF - Haé latrocíénio, quando o homicíédio se consuma, ainda que naã o realize o agente a
subtraçaã o de bens da víétima.

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INSIGNIFICÃÊ NCIÃ: Naã o se aplica ao crime de roubo (STF, RHC 111433 e STJ, ÃgRg no ÃREsp 348330)

10. EXTORSÃO

ART. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou
para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:

PENA - RECLUSÃO, DE QUATRO A DEZ ANOS, E MULTA.

BEM JURIÉDICO TUTELÃDO


à extorsaã o eé um constrangimento ilegal seguido de uma finalidade especial que eé a LESÃà O ÃO
PÃTRIMOÊ NIO.
» Ã finalidade especial ou seja a obtençaã o de indevida vantagem econoê mica.
Estando ausente esta finalidade, descaracteriza-se o crime aqui estudado podendo ser o 146.
SUJEITO ÃTIVO: Crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. OBS: Se o sujeito ativo for
funcionaé rio pué blico poderaé configurar o Ãrt. 316, concussaã o.
SUJEITO PÃSSIVO: EÉ aquele que suporta diretamente a violeê ncia ou a grave ameaça, e que pode ser,
eventualmente, pessoa diversa do bem atacado, tambeé m víétima, as duas saã o víétimas.
CONDUTÃS: CONSTRÃNGER + VIOLEÊ NCIÃ/ GRÃVE ÃMEÃÇÃ + FIM DE ENRIQUECIMENTO ILIÉCITO

EXTORSÃÃ O ROUBO
CONSTRÃNGER + VIOLEÊ NCIÃ + FIM DE SUBTRÃIR + VIOLEÊ NCIÃ FIÉSICÃ / MORÃL + FIM DE
ENRIQUECIMENTO ILIÉCITO ENRIQUECIMENTO ILIÉCITO
EXTORSÃÃ O ROUBO
O extorsionaé rio faz com que lhe entregue Ladraã o subtrai
Existe uma busca de vantagem mediata. Existe uma busca de vantagem imediata.
à colaboraçaã o eé indispensaé vel. Dispensa a colaboraçaã o da víétima.
Pode haver concurso entre roubo e extorsaã o, mas naã o pode haver continuidade delitiva.
ELEMENTO SUBJETIVO:
DOLO COM FINÃLIDÃDE ESPECIÃL
... com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econoê mica ...
CRIME FORMÃL: consuma-se independentemente do recebimento da vantagem indevida.
TENTÃTIVÃ: EÉ perfeitamente possíével, porque a execuçaã o pode ser fracionada em vaé rios atos.
CUIDÃDO: DIFERENCIÃNDO CRIMES

CONCUSSÃO 316 ≠ EXTORSÃO CORRUPÇÃÃ O PÃSSIVÃ 317


Ãrt. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta Ãrt. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para
ou indiretamente, ainda que fora da funçaã o ou outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
antes de assumi-la, mas em razaã o dela, da funçaã o ou antes de assumi-la, mas em razaã o
vantagem indevida: dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de
tal vantagem:
O verbo usado na concussaã o: Exigir, Solicitar / Receber /Ãceitar Promessa.
EÉ impor como obrigaçaã o, sob pena de à grande diferença eé o emprego da violeê ncia e
represarias. da grave ameaça que eé usada na extorsaã o e na
concussaã o naã o.
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Surge Metus Publiae Potestatis (temor da autoridade pué blica)


Faz-se da posiçaã o para impor temor na víétima que acaba cedendo as exigeê ncias. Usa do cargo para
colocar temor na víétima e ela ceder a exigeê ncia.
Neste delito o funcionaé rio pué blico exige da víétima em razaã o da funçaã o pué blica, vantagem indevida,
mas naã o a constrange com o emprego de violeê ncia ou grave ameaça que se por ventura forem
utilizadas caracterizaraã o o delito de extorsaã o ou roubo.
Se o funcionaé rio vai aleé m do mero temor referencial, usa algo mais que o cargo eé extorsaã o.
Naã o deixa de ser uma forma de extorsaã o, mas sem a violeê ncia ou grave ameaça.

§ 1º - Se o crime é cometido (só executores) por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma,
aumenta-se a pena de um terço até metade.

Concurso de Pessoas na Extorsão


No caso do concurso de pessoas, se o agente ingressar na autoria do delito durante o constrangimento
da víétima, mesmo que este jaé tenha sido iniciado, seraé enquadrado como coautor, pois eé a hipoé tese da
coautoria sucessiva.
JÃÉ SE UMÃ 3ª PESSOÃ INGRESSÃ SOMENTE PÃRÃ RECEBER O $$ QUE EÉ MERO EXÃURIMENTO NESTE
CÃSO, ELÃ SERÃÉ ENQUÃDRÃDÃ COMO CO-ÃUTORÃ?
à resposta eé negativa pois, neste caso, ela seraé enquadrada no crime de favorecimento real previsto no
artigo 349.

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.

VER COMENTÁRIOS AO § 3º DO ART. 157 (latrocínio)

SEQUESTRO RELÂMPAGO

§ 3° Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para
a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, DE 6 (SEIS) A 12 (DOZE) ANOS, ALÉM DA
MULTA; SE RESULTA LESÃO CORPORAL GRAVE OU MORTE, APLICAM-SE AS PENAS PREVISTAS NO ART.
159, §§ 2O E 3O, RESPECTIVAMENTE.(Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009)

Sequestro relaê mpago eé uma denominaçaã o utilizada para os casos em que a conduta consiste em
capturar a víétima, apossar-se de seu cartaã o bancaé rio e, em seguida, exigir, mediante grave ameaça, o
fornecimento da senha, com a qual os bandidos fazem saques da conta da víétima. ÃÀ s vezes, tambeé m, a
conduta consiste em utilizar o cartaã o de deé bito da víétima para fazer comprar com sua senha enquanto
ela permanece em poder de comparsas. Nesses casos, a restrição da liberdade da vítima é
considerada condição necessária para a obtenção da vantagem, pois se os agentes a libertarem
antes de concretizarem os saques ou realizarem as compras, ela poderá, de imediato, bloquear
o uso do cartão por telefone.
O delito diferencia-se da extorsão mediante sequestro porque, nesta, o resgate é exigido de
outras pessoas (familiares em geral), enquanto no sequestro relâmpago não há essa exigência
a terceiros.
Tendo em vista que o delito jaé possui pena maior em abstrato e que estaé previsto no §3°, a ele naã o se
aplicam as causas de aumento do §1°.

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Em razaã o da parte final do §3° do art. 158 estabelecer a aplicaçaã o das penas previstas no art. 159, §§2°
e 3°, no caso de resultar lesaã o grave ou morte no sequestro relaê mpago, surgiu a poleê mica em torno do
caraé ter hediondo do novo crime, quando dele resultar lesaã o grave ou morte, na medida em que naã o se
inseriu na Lei de Crimes Hediondos a figura do art. 158, §3°. Em razaã o disso, treê s interpretaçoã es de
mostram possíéveis: 1) o sequestro relaê mpago qualificado pela morte naã o eé hediondo porque a lei que
elenca os crimes dessa natureza naã o faz refereê ncia ao art. 158, §3° (NUCCI), 2) o delito é hediondo
porque a lei manda aplicar as mesmas penas da extorsão mediante sequestro qualificada; 3)
deve-se pautar o raciocínio com base no crime de extorsão (art. 158), já que o sequestro
relâmpago é modalidade desse crime. Assim, como a extorsão qualificada pela lesão grave não
é infração hedionda, o Sequestro relâmpago com lesão grave também não o será. Se, todavia,
tratar-se de resultado morte, o delito será hediondo porque a extorsão seguida de morte possui
essa natureza (LFG).
Naã o encontrei jurisprudeê ncia no STF, STJ ou TRFs sobre o tema especíéfico.

PRIVAÇÃO DA LIBERDADE DA VÍTIMA: TRÊS POSSIBILIDADES


ROUBO Extorsão comum EXTORSÃO MEDIANTE
Art. 157 §2º V Art. 158 §3º SEQUESTRO Art. 159
Ãgente subtrai com violeê ncia. Ãgente constrange com Ãgente seqüestra.
violência.
Colaboraçaã o da víétima eé Ã colaboraçaã o da víétima eé Ã colaboraçaã o da víétima eé
DISPENSÁVEL. IMPRESCINDÍVEL (a DISPENSÁVEL.
vantagem depende de seu (a obtençaã o da vantagem
comportamento) depende 3ª pessoa).
NÃO É HEDIONDO. NÃO É HEDIONDO. É SEMPRE HEDIONDO
EXCEÇÃO: QUANDO RESULTA EXCEÇÃO: QUANDO
MORTE. RESULTA MORTE.
PENA 4 a 10 PENA 6 a 12 PENA 8 A 15
Greco entende que a vantagem que o Naã o passa de um geê nero do
agente queria é imediata e seria caso sequü estro relaê mpago.
de roubo, e não caso de extorsão.
NADA IMPEDE O CONCURSO DE CRIMES. JURISPRUDÊNCIA: Concurso material. LFG: Concurso
formal próprio.

11. EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO

Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90

Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

BEM JURÍDICO TUTELADO


LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO DA VÍTIMA PATRIMÔNIO
Tambeé m podemos falar em liberdade individual
SEMPRE SERÁ HEDIONDO
SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa: Trata-se de crime comum

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SUJEITO PASSIVO: Duas possibilidades, se os bens reué nem na mesma pessoa seraé uma soé víétima, caso
contraé rio, teremos pluralidade de víétimas.
PESSOÃ JURIÉDICÃ PODE SER VIÉTIMÃ DE EXTORSÃÃ O MEDIÃNTE SEQUÜ ESTRO?
SIM, mas somente no que diz respeito a lesão patrimonial, as víétimas seraã o a pessoa fíésica e
patrimonial mente a pessoa juríédica.
à pessoa juríédica somente pode ter lesionado seu patrimoê nio.
PRIVÃR Ã LIBERDÃDE DE LOCOMOÇÃÃ O UM ÃNIMÃL EXIGINDO-SE DINHEIRO, QUÃL SERÃÉ O CRIME?
NÃO ABRANGE ANIMAIS, O CRIME ÃQUI EÉ DE EXTORSÃÃ O (ÃRT. 158)
CONDUTA:
SEQÜESTRAR » Sentido amplo, cárcere privado é espécie de seqüestro.
Sequestro naã o tem confinamento.
O QUE ÃCONTECE SE FOR CÃÉ RCERE PRIVÃDO?
O artigo 159 trata sequü estro em sentido amplo, abrange caé rcere privado.
O crime exige a locomoçaã o da víétima de um lugar para o outro? naã o, pode-se ser sequü estrado no
proé prio quarto, na proé pria cama. (ex. caso silvio santos)
QUALQUER VANTAGEM:
QUÃL EÉ O TIPO DE VÃNTÃGEM, Ã DEVIDÃ OU INDEVIDÃ, ECONOÊ MICÃ OU NÃÃ O ECONOÊ MICÃ?
SOMENTE PODE ÃBRÃNGER vantagem econômica, (PREVISTO NÃ PROTEÇÃÃ O ÃO PÃTRIMOÊ NIO).
ELEMENTO SUBJETIVO: O crime eé punido a titulo de dolo com estas finalidades especiais.
CONSUMAÇÃO: ocorre com a privaçaã o da liberdade. EÉ crime permanente.
O tempo da privaçaã o da liberdade naã o interfere na consumaçaã o, mas interfere na fixaçaã o da pena.
Ãdmite tentativa (Crime plurisubsistente)
EÉ um tipo incongruente: exige um dolo especial aleé m da praé tica do nué cleo do tipo.

EXTORSÃO QUALIFICADA
Art. 159 § 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18
(dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

DELAÇÃO PREMIADA:

§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a


libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 9.269,
de 1996)

Antes da Lei 9.269/96 Depois da Lei 9.269/96


SE QUÃLQUER DOS ÃSSOCIÃDOS. SE QUÃLQUER DOS CONCORRENTES.
Somente era admitida a delaçaã o premiada quando Basta o concurso de agentes.
esta era praticada por quadrilha ou bando.
REQUISITOS CUMULATIVOS.
 Concurso de agentes
 o concorrente que o denunciar aà autoridade,
 facilitando a libertaçaã o do sequü estrado (naã o importa se recuperou ou naã o os valores
eventualmente pagos).
Mais do que uma delaçaã o premiada, eé uma delaçaã o premiada quando eficaz.

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Lei 9.807/99 – Lei de proteção a vítimas e testemunhas.


Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a conseqüente
extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente
com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: (não são
cumulativos, um destes)
I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;
II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;
III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a
natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.

Qual o valor probatório da delação premiada?


Seria possíével a condenaçaã o com base na delaçaã o premiada?
Isoladamente, a confissão de corréu (delação premiada) não respalda uma condenação,
Devendo estar confirmada ou colaborada por outros elementos probatoé rios (STF).

12. EXTORSÃO INDIRETA

ART. 160 - EXIGIR OU RECEBER, COMO GARANTIA DE DÍVIDA, ABUSANDO DA SITUAÇÃO DE ALGUÉM,
documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Vista garantir um contra risco de um dinheiro mutuado, ou seja, algueé m que empresta dinheiro e tenta
forjar alguma coisa.
Requisitos:
 a conduta de exigir, ou mesmo taã o somente de receber documento que possa dar causa a
procedimento criminal conta a víétima ou contra terceiros;
 existeê ncia de uma divida entre o sujeito ativo e o sujeito passivo;
 abuso da situaçaã o que se encontra o sujeito passivo;
 a finalidade de, por meio do documento exigido, garantir o pagamento do sujeito passivo, sob
ameaça de um processo legal.

13. DA USURPAÇÃO

Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para
apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
Usurpação de águas
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias;
Esbulho possessório
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas,
terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
Supressão ou alteração de marca em animais
Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de
propriedade:
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Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.

14. DANO

Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. (Ação Penal Privada)
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça; (Ação P Pública) Meio utilizado pelo agente para a prática
do delito, tem que ser contra a pessoa. Ex. para danificar um relógio de pulso, agride a vítima para
arrancá-lo.
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave. (Ação P
Pública)
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou
sociedade de economia mista; (Redação dada pela Lei nº 5.346, de 3.11.1967) (Ação P Pública)
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: (Ação P Privada – Art. 167)
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, ALÉM DA PENA CORRESPONDENTE À VIOLÊNCIA. (no
caso do inciso I, se for vias de fato e grave ameaça são absorvidas pelo dano)

Sujeito Ãtivo: qualquer pessoa, menos o proé prio proprietaé rio.


Sujeito Passivo: proprietaé rio/possuidor, no caso de ser contra o possuidor tem-se dois sujeitos
passivos.
Tentativa: possíével desde que naã o chegue a destruir efetivamente o bem, que naã o seja relevante, ou no
caso de uma tentativa branca onde naã o se consegue atingi-lo.

ELMENETO SUBSTIVO: O dano tem que ser o fim em si mesmo, se o dano for usado para alcançar
outro delito seraé absorvido pelo outro, como danificar um bem para ter acesso a uma resideê ncia para
realizaçaã o de um furto. O furto absorve o dano.
Naã o haé necessidade do animus nocendi, o dolo especíéfico de causar dano (STF e Rogeé rio Greco).
Naã o admite forma culposa

15. INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA

Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito,
desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.

O consentimento exclui a tipicidade assim como na violaçaã o de domicíélio.

16. DANO EM COISA DE VALOR ARTÍSTICO, ARQUEOLÓGICO OU HISTÓRICO

Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de
valor artístico, arqueológico ou histórico:
Pena - detenção, deseis meses a dois anos, e multa.

REVOGADO TACITAMENTE PELA LEI 9605

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17. ALTERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO

Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por
lei:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Revogado tacitamente pela Lei 9605 (Lei dos Crimes Ambientais).

18. APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário
judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA X ESTELIONATO
A distinção entre a apropriação indébita e o estelionato é o chamado dolo ab initio do
estelionato.

Apropriação Indébita Estelionato


O dolo de apropriar-se surge apoé s a dolo precede a aquisiçaã o da posse ou detençaã o. o
legíétima apropriaçaã o da coisa. agente pretende enganar a víétima.

A Apropriação indébita é um crime de comprovaçaã o extremamente difíécil, pois o individuo agia


como possuidor e depois passa a agir como se proprietaé rio fosse.
Qual o foro competente da apropriaçaã o indeé bita? Para a jurisprudeê ncia a apropriaçaã o indeé bita o foro
competente eé o do local da prestaçaã o de contas.
EÉ POSSIÉVEL TENTÃTIVÃ NO CRIME DE ÃPROPRIÃÇÃÃ O INDEÉ BITÃ?
à apropriaçaã o eé crime instantaê neo consumando-se com a exteriorizaçaã o da vontade de naã o restituir a
coisa. Caso se entenda que o crime seria plurissubsistente, seria possíével a tentativa, mas na prática
não é possível.
Naã o existe apropriaçaã o indeé bita de uso, o que poderaé ocorrer eé um abuso da posse.

Ãpropriaçaã o Indeé bita – 168 Ãpropriaçaã o Indeé bita Previdenciaé ria 168-Ã
Crime material. O resultado eé essencial Constitui crime omissivo proé prio, que se perfaz com a
para o tipo penal. mera omissaã o de recolhimento da contribuiçaã o
previdenciaé ria dentro do prazo e das formas legais,
EÉ indispensaé vel a presença do animus prescindindo, portanto, do dolo especíéfico. Consuma-
rem sibi habendi = vontade de se tornar se independentemente do resultado naturalíéstico e
dono da coisa alheia moé vel. dispensa o animus rem sibi habendi - STJ.

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OBS: No Inq 2537, STF afirmou que a apropriaçaã o


indeé bita previdenciaé ria seria um crime OMISSIVO
MÃTERIÃL, sendo necessaé rio o teé rmino do PÃF para a
configuraçaã o do crime.

19. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA

Art. 168-A - Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no
prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Ãpesar do nome, trata-se de crime de natureza diversa da apropriaçaã o indeé bita do art. 168:
I - Não exige o apropriar-se, nem o ânimo de apropriar-se, bastando a omissão do recolhimento
da contribuiçaã o arrecadada;
II - Não tem como pressuposto material a posse ou detenção da coisa alheia, naã o se exigindo a
disponibilidade material dos recursos, na medida em que o desconto é meramente escritural.
Ãdemais, a nova redaçaã o do art. 168-Ã do CP naã o importa em descriminalizaçaã o da conduta prevista
no art. 95, d, da Lei 8212. Ã Lei 9983/00, que o introduziu, eé considerada ateé mais beneé fica, pois
reduziu a pena maé xima abstratamente cominada de 6 para 5 anos.

BEM JURÍDICO TUTELADO


O patrimoê nio da Prevideê ncia Social (STF). Para o MPF, haé um bem juríédico secundaé rio consistente na
livre concorreê ncia (anticompetitive advantage).
Trata-se de crime tributário material (aplica-se a SV 24).
Ãntes, quando ainda vigia o art. 95, d, da Lei 8.212/91, falava-se que configuraria hipoé tese de prisaã o
civil por díévida (Clemerson, LFG). Mas o STF naã o entende assim – haé processo penal porque ele naã o
repassou os recolhimentos referentes ao empregado, e naã o porque ele deixou de pagar.

NATUREZA DA CONDUTA
I - Crime omissivo material (STF)
Ãleé m disso, eé um crime instantaê neo de efeitos permanentes.
Para a doutrina majoritaé ria e para o STJ, seria crime omissivo próprio (Regis Prado), pois pune a
omissaã o, e naã o seu resultado. Em favor da tese de que se trata de simples omissaã o, haé o art. 33, § 5º c/c
art. 30, I, da Lei 8.212 – dever de a empresa efetuar o desconto. Presume-se que a empresa descontou,
logo, basta provar que naã o foi repassado aà Prevideê ncia.
Para Damaé sio e LFG, haveria uma conduta mista: desconto feito sobre contribuiçaã o previdenciaé ria do
contribuinte (conduta comissiva) e deixar de repassar aà Prevideê ncia (conduta omissiva).
à relevaê ncia praé tica da classificaçaã o diz respeito ao oê nus probatoé rio, pois, se tratarmos como crime
omissivo proé prio, deve-se provar na acusação apenas a omissão. Se entendermos como crime
comissivo e omissivo, deve-se provar desconto do empregado e omissão.

SUJEITO ATIVO
Sócio com PODERES DE GESTÃO.
Não basta provar que o sujeito era sócio – deve estabelecer relação (liame fático) entre a
posição do sujeito na sociedade e a conduta. Naã o precisa descrever pormenorizadamente, mas eé
necessaé rio estabelecer um liame míénimo entre o comportamento do soé cio e seu papel na sociedade.
EÉ razoaé vel, assim, que a persecução penal se dirija a tantos quantos figurem no contrato social
como gerentes, ostentem o título de diretores por decisão assemblear ou tenham sido constituíédos
mandataé rios com poderes de administraçaã o da empresa.
O soé cio naã o se exonera pela singela alegaçaã o de que o recolhimento era efetuado por contador ou
empregado, pois mero repasse do encargo do recolhimento a terceiros (preenchimento material das
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guias e recolhimento na rede bancaé ria) eé irrelevante. Ou seja, a responsabilidade do sócio-gerente


fica excluída apenas se ficar comprovado que ele não sabia da omissaã o ou naã o detinha o poder
juríédico ou faé tico para fazer cessar o crime.
Consultor e contador: saã o considerados partícipes (STJ). Se um deles embolsa o $ destinado ao INSS
– aplica-se o art. 168 do CP – lesou o cliente dele, logo a competeê ncia naã o eé federal, e sim estadual.
Participaçaã o por omissaã o – exemplo eé o do membro do Conselho de Ãdministraçaã o. Haé decisaã o do STJ
que admitiu, mas os TRFs naã o teê m admitido.
Prefeito: se o Municíépio naã o tem regime proé prio (servidores no RGPS), pode haver o crime do art.
168-Ã. Como o art. 168-Ã eé forma especial, prevalece em relaçaã o ao art. 1º, § 1º do DL 201/67.
Contudo, estranhamente, o STJ diz que essa conduta não caracteriza ato de improbidade, porque a
Uniaã o vai poder limitar o repasse de recursos. Ocorre que haé ofensa a princíépio (art. 11, II, da Lei
8.429/92 – deixar de praticar ato de ofíécio).
Se o Município tem regime próprio, pode haver duas situaçoã es. Desconto for sobre o ocupante de
cargo em comissaã o (RGPS), o crime seraé o do art. 168-Ã; desconto sobre servidor comum, seraé crime
estadual.

SUJEITO PASSIVO
EÉ a União (sobretudo apoé s a Super-Receita). Secundariamente, o segurado pode ser víétima, se a
omissaã o trouxer diminuição no valor dos benefícios.

OBJETO MATERIAL
EÉ a contribuição previdenciária descontada e não recolhida. Segundo explica Baltazar, o arrecadar
ou o descontar naã o integram a conduta. O desconto eé legalmente presumido, pois faticamente eé uma
operaçaã o meramente contaé bil ou escritural.

RT. 168-A – DEVE SE TRATAR DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

Excluem-se: a cota patronal, FGTS, PIS, COFINS – estas podem caracterizar 337-Ã, mas naã o 168-Ã.
O mesmo se aplica em caso de loteria: o valor eé arrecadado do pué blico, e naã o dos segurados – neste
caso, incide o art. 168, § 1º, I. Em caso de outros tributos, aplica-se o tipo do art. 2º, II, da Lei nº
8.137/90.

ELEMENTO SUBJETIVO
EÉ necessaé rio haver dolo GENEÉ RICO
STF/STJ: naã o eé necessaé rio haver intençaã o de se apropriar da contribuiçaã o previdenciaé ria.
Naã o exige especial fim de agir (animus rem sibi habendi).

ÃRT. 168-Ã EÉ NORMÃ PENÃL EM BRÃNCO

Fala em no prazo e forma legal. O momento consumativo estaé no art. 30 da Lei 8.212/91: até o dia 20
(vinte) do mês subsequente ao da competência.

CONCLUSÃO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL


Sempre se entendeu que era desnecessaé ria a conclusaã o do procedimento para dar iníécio aà persecuçaã o
penal. Contudo, no precedente citado no Info 498 (Inq 2537), a conclusão do procedimento
administrativo fiscal passou a ser condição de procedibilidade (STF, HC 81611).

Prevalece no STJ que a apropriação indébita previdenciária consiste em um crime tributário


material. Logo, aplica-se o entendimento da súmula vinculante 24-STF à apropriação indébita
previdenciária, somente havendo crime com a constituição definitiva do crédito tributário.
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Em outras palavras, sendo detectado que naã o houve o repasse das contribuiçoã es previdenciaé rias, a
Receita Federal deveraé iniciar uma açaã o fiscal e efetuar o lançamento desse tributo. Ãpoé s o
procedimento administrativo-fiscal ter se encerrado, mantido o deé bito tributaé rio, estaraé caracterizado
o crime, devendo o MPF oferecer denué ncia.

(...) Enquanto houver processo administrativo questionando a existeê ncia, o valor ou a exigibilidade de
tributos e contribuiçaã o previdenciaé ria, atíépicas saã o as condutas previstas no artigo 2º, inciso I, da Lei
nº 8.137/90 e no artigo 168-Ã do Coé digo Penal, que teê m, como elemento normativo do tipo, a
existeê ncia do creé dito tributaé rio e da contribuiçaã o devida a ser repassada. 3. Naã o importa violaçaã o aà
independeê ncia das esferas administrativa e judiciaé ria o aguardo de decisum administrativo, no qual se
constitui o lançamento definitivo dos creé ditos. (...) (STJ, HC 163603)

ART. 168-A – QUEM PRATICA O CRIME É O RESPONSÁVEL

ART. 337-A – QUEM PRATICA O CRIME É O CONTRIBUINTE

DESNECESSÁRIA A APROPRIAÇÃO

Além de não exigir fraude, o art. 168-Ã não exige a apropriação do dinheiro, assim entendido o
ato de apropriar-se, ou seja, tomar para si, apoderar-se, assenhorear-se, agir como dono. Naã o se exige,
tampouco, que se evidencie o desvio, a destinaçaã o do dinheiro em fim diverso daquele determinado
pela lei.

ERRO DE TIPO
Situaçaã o: empresaé rio deixa de recolher as contribuiçoã es com base em medida liminar revogada em
decisaã o da qual naã o teve cieê ncia porque apenas o advogado foi intimado (e naã o comunicou a empresa),
tudo devidamente comprovado. Ãqui, haé um erro quanto aà situaçaã o de fato. Como naã o haé previsaã o de
crime culposo, o fato fica isento de pena.

Situaçaã o 2: agente erra sobre a interpretaçaã o da lei tributaé ria ou previdenciaé ria (o que eé perfeitamente
possíével) e efetua compensaçaã o das contribuiçoã es descontadas, sem atender aos requisitos legais. Se
for razoaé vel a interpretaçaã o, estaraé afastado o dolo. Ã vontade do agente aqui seraé o pagamento do
tributo, mas por outra via, por isso se fala em erro de tipo, e naã o em erro de proibiçaã o.

ERRO DE PROIBIÇÃO
O erro de proibiçaã o diz respeito ao erro que recai sobre o caraé ter ilíécito da conduta realizada
(contrariedade entre a conduta e o ordenamento). No crime em questaã o, dificilmente o empresaé rio
naã o teraé a noçaã o de que tem a obrigaçaã o de efetuar os recolhimentos das contribuiçoã es aà seguridade
social, por mais iletrado que seja. Por isso naã o se admite o erro de proibiçaã o.

DIFICULDÃDES FINÃNCEIRÃS: estado de necessidade ou inexigibilidade de conduta diversa


Diante de dificuldades comprovadas da empresa, naã o eé razoaé vel exigir do empresaé rio que sacrifique o
pagamento dos salaé rios e a proé pria sobreviveê ncia da empresa em favor do pagamento dos tributos.
Mas naã o eé qualquer situaçaã o que vai permitir isso: a dificuldade deve ser extrema, beirando a
impossibilidade de recolhimento.

Correntes:
A) Estado de necessidade: não se entende assim, pois não há aqui a situação de perigo; mas,
ainda que houvesse, este foi provocado pelo próprio agente. Ãleé m disso, o comportamento

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lesivo não é inevitável, jaé que o sujeito poderaé tomar empreé stimos bancaé rios, vender os bens da
empresa, despedir os empregados etc, para honrar os compromissos.
B) Inexigibilidade da conduta diversa: eé a posiçaã o MÃJORITÃÉ RIÃ no STF/STJ. EÉ uma excludente de
culpabilidade.

ÔNUS DA PROVA da dificuldade financeira eé da EMPRESÃ (RESP 811423/ES). Ã decretaçaã o da


faleê ncia, por exemplo, pode ser um forte indíécio, mas, de forma isolada, naã o leva aà conclusaã o de que haé
dificuldade financeira, pois pode ser fraudulenta.

COMPETEÊ NCIÃ
EÉ do local da SEDE DA EMPRESA, ainda que a retenção se dê em outro local. Isso soé vale para o
168-Ã (naã o se aplica para o 337-Ã – local onde se daé a supressaã o ou reduçaã o).

PÃGÃMENTO
Extingue a punibilidade a qualquer tempo. Diante disso, devem ser ignorados os §§ do art. 168 –
saã o inaplicaé veis, pois o pagamento a qualquer tempo extingue a punibilidade.

PARCELAMENTO (qualquer parcelamento)


Gera suspensaã o da pretensaã o punitiva (STF e STJ). - antes, o STJ entendia que extinguia a punibilidade.
Parcelamento contra legem: nemo potest venire contra factum proprio. Segundo o STJ, uma vez
concedido o parcelamento pela Ãdministraçaã o, naã o pode haver mudança. Com isso, o MPF passou a
ajuizar açoã es de improbidade.

Ãtualmente vigora o art. 83 da Lei 9.430/96, com redaçaã o dada pela Lei 12.382/11:
Ãrt. 83. Ã representaçaã o fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributaé ria previstos
nos arts. 1º e 2º da Lei 8137/90, e aos crimes contra a Prevideê ncia Social, previstos nos arts. 168-Ã e
337-Ã do CP seraé encaminhada ao MP depois de proferida a decisaã o final, na esfera administrativa,
sobre a exigeê ncia fiscal do creé dito tributaé rio correspondente. (Redaçaã o da Lei 12350/10)
(...)
§ 2º EÉ suspensa a pretensaã o punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o
períéodo em que a pessoa fíésica ou a pessoa juríédica relacionada com o agente dos aludidos crimes
estiver incluíéda no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes
do recebimento da denué ncia criminal. (Incluíédo pela Lei 12.38211)
§ 3º Ã prescriçaã o criminal naã o corre durante o períéodo de suspensaã o da pretensaã o punitiva. (Incluíédo
Lei 12382/11)
§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa fíésica ou a pessoa
juríédica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos deé bitos oriundos de tributos,
inclusive acessoé rios, que tiverem sido objeto de concessaã o de parcelamento. (Incluíédo L 12382/11).

CONCURSO DE CRIMES
Concurso material: como o recolhimento eé ué nico, naã o haé que se falar em um crime para empregado
da empresa. O crime seraé único para cada competência em que ocorrer a omissaã o – o mesmo vale
para omissaã o em vaé rios estabelecimentos da mesma empresa num mesmo meê s. Contudo, em caso de
omissão tambeé m do recolhimento de IPI, IRPF, haveraé concurso material.
Crime continuado: se houver omissaã o em vaé rios meses, pode-se falar em continuidade delitiva. Ãinda
que haja intervalo de um ou dois meses, pode persistir a continuidade.

(...) O crime de apropriaçaã o indeé bita previdenciaé ria eé instantaê neo e unissubsistente. Ã cada
vez que é ultrapassado in albis o prazo para o recolhimento dos tributos, há a
ocorrência de um novo delito. Ãssim, naã o prospera a tese de que a omissaã o no pagamento
de contribuiçoã es referentes a meses diversos, mesmo que consecutivos, deve ser considerada
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como sendo um soé crime - cuja consumaçaã o de prolongou no tempo -, e naã o como vaé rios
delitos em continuidade, como reconheceram a sentença condenatoé ria e o acoé rdaã o que a
manteve, em apelaçaã o (STJ, HC 129641).

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
STF naã o admite em razaã o da reprovabilidade da conduta e da natureza supraindividual do bem
juríédico tutelado – a Prevideê ncia Social (STF, HC 102550).
Por outro lado, o STJ aplica o entendimento relativo aà insignificaê ncia nos crimes tributaé rios (ÃgRg no
REsp 1214866)
O parâmetro da insignificância é o valor principal do débito, sem juros e multa (naã o eé o “deé bito
fiscal consolidado”, mas apenas a díévida principal).

Elevadíéssimo valor sonegado aà Prevideê ncia eé circunstaê ncia negativa a ser valorada pelo juiz como
consequeê ncia do crime, nos termos do art. 59 do CP.

PERDÃO JUDICIAL
Inciso I: foi revogado tacitamente pelo §2º do art. 9º, da Lei n. 10.684/2003. Ãtualmente, o tema eé
regulado pelo art. 83 da Lei n. 9.430/96.
Inciso II: continua em vigor, mas eé de pouca utilidade. Isso porque a jurisprudeê ncia do STJ considera
que, se o valor das contribuiçoã es previdenciaé rias for inferior ao paraê metro míénimo que a
Ãdministraçaã o elegeu para ajuizar suas execuçoã es fiscais, deveraé ser aplicado o princíépio da
insignificaê ncia, que eé mais favoraé vel ao reé u do que o perdaã o judicial. Esse inciso pode se revelar
importante caso o magistrado adote o entendimento do STF e considere que naã o eé possíével a aplicaçaã o
do princíépio da insignificaê ncia. Nesse caso, poderaé eventualmente conceder o perdaã o judicial, desde
que preenchidos os requisitos legais.

20. Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza

Tipo Penal Doloso


Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da
natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre:

Apropriação de tesouro
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o
proprietário do prédio;
Apropriação de coisa achada
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao
dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze)
dias.
Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor (até 1 salário mínimo) a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
pena de multa.

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21. ESTELIONATO

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Daé -se pela obtençaã o de vantagem ilíécita, em prejuíézo alheio, utilizando o agente, em lugar de
clandestinidade, como se daé , usualmente, no furto, ou violeê ncia (roubo), da astué cia, da mistificaçaã o, do
engodo, embuste, trapaça ou enganaçaã o. Exige:

CONDUTA FRAUDULENTA
Discute-se se haveria diferença entre fraude civil e fraude penal. Para alguns, naã o haé diferença
ontoloé gica; para outros, a fraude penal eé deliberada, um inadimplemento preordenado e
preconcebido.
De qualquer forma, sem fraude naã o haé estelionato. O CP fala em artifíécio (fraude material), ardil
(conversa do estelionataé rio) ou qualquer outro meio fraudulento (execuçaã o livre).
Silêncio do agente: O sileê ncio pode ser fraudulento, quando houver dever de falar ou informar algo.
Ex1: sacar benefíécio previdenciaé rio de pessoa que morreu (conduta fraudulenta). Ex2: percepçaã o de
aposentadoria por invalidez apoé s o restabelecimento do segurado – sileê ncio poã e em causa a relevaê ncia
juríédica da omissaã o.

VANTAGEM
O fato de o proveito financeiro ser dirigido a terceira pessoa eé irrelevante (o art. 171 fala em para si ou
para outrem). Ex: estelionato contra a Prevideê ncia Social – muitas vezes eé autor um intermediaé rio ou
despachante de benefíécios (aà s vezes o proé prio servidor).

PREJUÍZO ($$)
Cola eletroê nica: naã o eé estelionato. Contudo, a Lei 12.550/2011 inseriu o art. 311-Ã no CP,
criminalizando tal conduta.
ESTELIONATO – FRAUDE + VANTAGEM + PREJUÍZO – SE NÃO HOUVER ESSA SOMA, NÃO SE
CONSUMA O CRIME (crime de duplo resultado).

Princípio da insignificância: em regra, o uso do ardil torna a conduta bastante reprovaé vel, poreé m
quando a lesaã o patrimonial eé míénima, o STJ tem vaé rios precedentes (STJ, HC 18314 RHC 14838, REsp
696440). Contudo, quando a víétima eé entidade pué blica ou fundo de caraé ter social (FGTS), afasta-se a
insignificaê ncia (STJ, HS 110845). Este eé o entendimento que se aplica aà s fraudes previdenciaé rias (STF,
HC 111918 e TRF1)

Estelionato judiciário: discute-se a existeê ncia de estelionato no ajuizamento de açaã o. Ex: obtençaã o de
pagamento indevido em açaã o previdenciaé ria por meio de artifíécio. Haé poleê mica.
SUJEITO ATIVO: EÉ crime comum.
O terceiro pode ser coautor ou partíécipe. Ã anaé lise de sua posiçaã o eé muito comum em estelionato
contra a Prevideê ncia Social. Se o terceiro estiver em conluio, haé concurso no estelionato. Se fica
sabendo antes de receber a coisa, mas apoé s a consumaçaã o do estelionato, haé receptaçaã o. Se fica
sabendo depois de receber a coisa, responde pelo delito de apropriaçaã o de coisa havida por erro. Se
naã o tem cieê ncia da fraude, naã o responde pelo crime (auseê ncia de dolo).
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Ex: segurado entrega vaé rias carteiras a um intermediaé rio que lhe afirmou que ele teria direito ao
benefíécio, vindo, alguns meses depois, a receber a carta de concessaã o. Ã participaçaã o do terceiro vai
ser analisada no caso concreto (se havia muitos períéodos, os honoraé rios pagos ao intermediaé rio, se era
pessoa simples etc.).
SUJEITO PASSIVO: saã o sujeitos passivos tanto quem sofre o prejuíézo econoê mico quanto aquele que eé
enganado. Pode ser víétima a PJ. No estelionato contra a Prevideê ncia Social, seraã o víétimas o INSS e o
servidor enganado. O ato de enganar deve atingir pessoa determinada. Em caso de indeterminaçaã o da
víétima, poderaé haver crime contra a economia popular ou contra as relaçoã es de consumo.Ressalte-se
que a vítima deve ter capacidade para ser iludida. Isso significa dizer que, se incapaz, pode
caracterizar o art. 173 do CP (abuso de incapazes).
Conforme entendimento majoritaé rio, fraude bilateral não impede a configuração do crime, uma
vez que a boa-fé da vítima não é elementar do tipo.
TIPICIDADE SUBJETIVA
Haé dolo e especial fim de agir (obter vantagem ilíécita em detrimento da víétima). Naã o afasta o dolo do
agente a maé -feé por parte da víétima, na fraude bilateral.
Naã o existe forma culposa, mas admite-se o dolo eventual quanto aà causa de aumento do § 3º do art.
171, quando o agente tem conscieê ncia da possibilidade de lesaã o ao SUS, ainda que naã o tenha intençaã o
especíéfica de fazeê -lo.

COMPETÊNCIA FEDERAL (STJ)


A – Falsificação da CAT: Para receber auxíélio-doença.
B – Estelionato contra o SUS: Ex: clíénica informa procedimentos que naã o ocorreram. No caso de
cobrança de paciente em caso de procedimento custeado pelo SUS, a competeê ncia eé da Justiça
Estadual.
C – Falsa demissão para percepção de seguro-desemprego: JF
D – Competência territorial: EÉ determinada pelo local da consumaçaã o, ou seja, onde o agente obteve
a vantagem ilíécita. Ãssim, a competeê ncia seraé , em caso de saque fraudulento, do local onde realizado o
saque (e naã o onde mantida a conta bancaé ria). Na hipoé tese de concessaã o de benefíécio previdenciaé rio, a
competeê ncia seraé do local do saque, e naã o do local da concessaã o do benefíécio.

FALSO MOTIVO INVOCADO PARA ANTECIPAÇÃO DO SAQUE DO FGTS


Ex: pessoa saca antecipadamente simulando uma das causas que permitem o saque da conta vinculada
(como simular doença, simular rescisaã o do contrato de trabalho).
Prevalece que o fato eé tíépico, pois a antecipaçaã o do saque diminui a rentabilidade do fundo (REsp
508878). Ã fraude reside no saque feito em momento indevido, sendo irrelevante o fato de o
trabalhador ser o titular da conta-vinculada.

ART. 171, § 3º – AUMENTO DE PENA CONTRA ENTIDADE DE DIREITO PÚBLICO

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público


ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

O STJ entendeu que se aplica aà CÃIXÃ. No caso do INSS (estelionato previdenciaé rio), aplica-se esta
causa de aumento (Sué mula 24 – a sué mula fala em “qualificadora”, mas eé causa de aumento).

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Recentemente, STF decidiu que a incideê ncia da atenuante naã o pode reduzir a pena aqueé m do míénimo
legal (entendimento sumulado pelo STJ).

Crime instantâneo de efeitos permanentes: agente não beneficiário da aposentadoria; agente


servidor público no exercício de suas funções (STF, HC 112095, HC 107854).
à prescriçaã o se inicia no pagamento da primeira parcela

Crime permanente: agente beneficiário da aposentadoria (STF, HC 113179, ÃRE 663735).


à prescriçaã o soé inicia quando cessados os saques

CONCESSÃO FRAUDULENTA DE BENEFÍCIO


Ãtualmente, a posiçaã o dos Tribunais Superiores eé uníéssona: a) o estelionato contra a previdência
praticado pelo próprio beneficiário é crime permanente, ao passo que b) o cometido por
terceiro não beneficiário, é crime instantâneo de efeitos permanentes.
E se o terceiro for o beneficiário do crime, tal como ocorre quando um terceiro realiza saques
de valores com o cartão de um segurado falecido?
Haé crime continuado na percepçaã o reiterada de benefíécio fraudulento:
RECURSO ESPECIÃL. PENÃL. ESTELIONÃTO PREVIDENCIÃÉ RIO PRÃTICÃDO POR TERCEIRO ÃPOÉ S Ã
MORTE DO BENEFICIÃÉ RIO. SÃQUES MENSÃIS POR MEIO DE CÃRTÃÃ O MÃGNEÉ TICO. CONTINUIDÃDE
DELITIVÃ. ÃPLICÃÇÃÃ O. (...) 1. Tem aplicaçaã o a regra da continuidade delitiva ao estelionato
previdenciaé rio praticado por terceiro, que após a morte do beneficiário segue recebendo o benefíécio
antes regularmente concedido ao segurado, como se ele fosse, sacando a prestaçaã o previdenciaé ria por
meio de cartaã o magneé tico todos os meses. 2. Diversamente do que ocorre nas hipoé teses de inserçaã o
ué nica de dados fraudulentos seguida de plué rimos recebimentos, em crime ué nico, na hipoé tese dos autos
naã o haé falar em conduta ué nica, mas sim em conduta reiterada pela prática de fraude mensal, com
respectiva obtenção de vantagem ilícita. (RESP 1282118).

O mesmo vale para estelionato para obtençaã o de seguro-desemprego (consumaçaã o com o recebimento
da primeira parcela).
à consumaçaã o se daé no local do saque (competeê ncia tambeé m).
Sob a perspectiva administrativa, deve-se separar as fases de concessaã o:

1) Habilitação: inserçaã o dos dados no sistema. Se ainda naã o houve o pagamento, haé o crime do art.
313-Ã – inserçaã o de dados falsos no sistema (funcionaé rio autorizado). O estelionato eé crime material,
deve haver prejuíézo – se naã o houve pagamento, naã o houve prejuíézo, naã o ocorreu estelionato.

2) Formatação: pagamento do benefíécio. Ãqui haé duas situaçoã es – se haé conluio (parte final –
peculato-desvio - art. 312 c/c art. 30 do CP), fala-se em peculato para o servidor e para o beneficiaé rio;
se naã o haé conluio, haé peculato para o servidor, e estelionato para o beneficiaé rio.
Se naã o haé prova do conluio, naã o haé comunicabilidade das circunstaê ncias pessoais.

PRESCRIÇÃO
a – Crime permanente – a prescriçaã o soé seria contada a partir da cessaçaã o do pagamento.
b – Crime instantâneo de efeitos permanentes – eé a que prevalece. Consuma-se com a concessaã o, o
levantamento de valores eé exaurimento. Tem interfereê ncia na prescriçaã o.

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Ãtualmente, a posiçaã o dos Tribunais Superiores eé uníéssona: a) o estelionato contra a previdência


praticado pelo próprio beneficiário é crime permanente, ao passo que b) o cometido por
terceiro não beneficiário, é crime instantâneo de efeitos permanentes.

ESTELIONATO + FALSIDADE DOCUMENTAL


Para o STJ, haé concurso material
Para o STF, haé concurso formal
Se o falso se exaure no estelionato, o agente responde somente pelo crime patrimonial de estelionato
(Sué m 17/STJ).

FRAUDE NO PAGAMENTO POR MEIO DE CHEQUE


VI - Emite cheque, sem suficiente provisaã o de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
Imprescindíével a maé -feé .
2 MANEIRAS DE PRATICAR O CRIME:
EMITIR SEM suficiente provisão de fundos FRUSTRAR O PAGAMENTO. (emitir cheque,
em poder do sacado. encerrando, em seguida a conta corrente)
Súm 246/STF - Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem
fundos.
Para Nucci, o endossante naã o pode ser sujeito ativo, pois naã o emite, nem tem poder para frustrar o
pagamento. No maé ximo, seria partíécipe.

ATENÇÃO: falsificaçaã o de cheque ou de assinatura (caput), naã o se aplicam as Sué mulas 246 e 554.
Sobre o assunto, diz a Súmula 554 do STF: “O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos,
após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal”. O pagamento do cheque
sem fundos ÃNTES do recebimento da denué ncia, entaã o, OBSTÃ a açaã o penal.
O art. 171, §2º, VI, do CP, preveê duas formas de praticar a fraude, quais sejam, a emissaã o de cheque
sem fundo e a frustraçaã o do pagamento, sendo que a referida súmula fala apenas do cheque sem
fundo. Incide a Sué m. 554 do STF no caso de reparaçaã o de dano na hipoé tese de fraude mediante
frustraçaã o de pagamento de cheque.

O AGENTE, DEPOIS DE EMITIR O CHEQUE, O AGENTE, DOLOSAMENTE, EMITE CHEQUE


ENCERRA DOLOSAMENTE A CONTA. DE CONTA JÁ ENCERRADA.
Art. 171, §2º, VI (frustrar pagamento pressupoã e Art. 171, caput (o pagamento jamais poderia
que, em algum momento, o pagamento era possíével). acontecer, pois a conta estaé encerrada).

CHEQUE SEM FUNDOS


FORO COMPETENTE: local da agência do emitente do cheque.
(exceção ao artigo 70 do CPP, apesar do crime ter se consumado em outro local)
O delito se consuma quando o cheque “bater no banco e retornar” (LOCAL DA RECUSA)

SUM. 521/STF - o foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a
modalidade da emissaã o dolosa de cheque sem provisão de fundos, eé o do local onde se deu a
recusa do pagamento pelo sacado. (agencia do correntista)
à sué mula naã o se aplica expressamente para frustrar pagamento. a doutrina, entretanto, estende.

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CHEQUE FALSO / AGÊNCIA ENCERRADA/ASSINATURA FALSA


FORO COMPETENTE: local da emissaã o do cheque
Sué m 48/STJ - Compete ao juíézo do local da obtençaã o da vantagem ilíécita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante falsificaçaã o de cheque.
Crime do estelionato do caput.

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público


ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

É CAUSA DE AUMENTO DE PENA.


Cuidado, nestes casos deixa de ser possíével a suspensaã o condicional do processo.
ÃUMENTÃ-SE Ã PENÃ NOS ESTELIONÃTOS EM FÃCE DO BÃNCO DO BRÃSIL? NÃÃ O. BÃNCO DO BRÃSIL
EÉ ENTIDÃDE DE DIREITO PRIVÃDO.
Somente atinge as entidades de direito público
ESTELIONÃTO EM FÃCE DE INSTITUTO DE PREVIDEÊ NCIÃ SOCIÃL EÉ ESTE O CRIME?
Sim, sué mula 24, STJ.
CUIDADO COM A COMPETÊNCIA:
STJ SUÉ MULÃ: 107 COMPETE Ã JUSTIÇÃ COMUM ESTÃDUÃL PROCESSÃR E JULGÃR CRIME DE
ESTELIONÃTO PRÃTICÃDO MEDIÃNTE FÃLSIFICÃÇÃÃ O DÃS GUIÃS DE RECOLHIMENTO DÃS
CONTRIBUIÇOÃ ES PREVIDENCIÃÉ RIÃS, QUÃNDO NÃÃ O OCORRENTE LESÃÃ O Ã ÃUTÃRQUIÃ FEDERÃL.

STF: Compete à Justiça Federal processar e julgar ação penal relativa a crime de falsificação de
documento público e de uso de documento falso (CP, artigos 297 e 304, respectivamente), quando a
falsificação incide sobre documentos federais.

Estelionato contra idoso (comentários extraídos do "Dizer o Direito")

§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso. (Incluído pela Lei 13.228/15 - vigência em
29/12/15).

Para fins de incideê ncia da mojorante, deve-se levar em conta a definiçaã o legal de idoso contida no art. 1º da Lei
10.471/03 (Estatuto do Idoso). Portanto, idoso é a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos.

Trata-se de causa de aumento de pena, a ser considerada na terceira fase da dosimetria.

Em razaã o da majorante, afasta-se a possibilidade de suspensaã o condicional do processo, considerando-se que a pena
míénima cominada passa a ser superior a um ano (art. 89 da Lei 9099/95).

à majorante do § 4º aplica-se tanto para a modalidade fundamental do estelionato (caput), como para as figuras
derivadas do § 2º.

Dolo - Para que incida essa causa de aumento, eé indispensaé vel que o agente saiba que a víétima eé idosa. Se o agente
desconhecer essa circunstaê ncia, ele responderaé por estelionato na modalidade fundamental (art. 171, caput). Importante
esclarecer que o agente naã o precisa conhecer formalmente a condiçaã o de idosa da víétima, incidindo a causa de aumento
quando isso for evidente. Ãssim, se o aspecto fíésico da víétima indicar claramente que se trata de pessoa idosa, naã o seraé
admissíével que o autor do delito alegue que naã o sabia dessa condiçaã o.

Cuidado para não confundir com o crime do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) - Se o agente induz pessoa
idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuraçaã o para fins de administraçaã o de bens ou deles dispor
livremente, neste caso ele comete o crime do art. 106 do Estatuto do Idoso (e naã o o estelionato). "Art. 106. Induzir pessoa
idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos".

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22. DUPLICATA SIMULADA


Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Crime Proé prio. Somente quem tem legitimidade para emitir este tipo de documento, doloso, formal, de
perigo, de forma livre, instantaê neo, monossubjetivo, plurissubsistente, naã o transeunte (DEIXÃ
VESTIÉGIO-Indispensaé vel Exame Pericial)

Pena - detenção, de 2 a 4 anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro
de Registro de Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968)

23. INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO


Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade
mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias,
sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
O bem juríédico atacado eé o patrimoê nio, especificamente de pessoas simples ou de mentalidade
inferior, rué sticas, que naã o saã o capazes de compreender as sutilezas dos jogos, das apostas ou
especulaçoã es com tíétulos ou mercadorias. Ã consumaçaã o do delito se daé com a praé tica do jogo ou da
aposta ou com a realizaçaã o da especulaçaã o com tíétulos ou mercadorias, independentemente de
qualquer prejuíézo que possa haver para a víétima, portanto, eé formal. Crime comum, admitindo
qualquer pessoa como autora.

24. FRAUDE NO COMÉRCIO

Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor


I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;(doutrina entende
revogado pelo art 7º IV pela lei 8137)
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo
caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender,
como precioso, metal de ou outra qualidade:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
Para Busato a mateé ria foi completamente regulada, e de forma mais ampla e detalhada pelo CDC,
havendo, portanto, a revogaçaã o taé cita do tipo em epíégrafe.

25. OUTRAS FRAUDES

Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias,
deixar de aplicar a pena.

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Segundo Fragoso, a incriminaçaã o que toma o nome de outras fraudes no direito brasileiro, adveé m de
previsaã o medieval dos coé digos italianos, que castigavam como modalidade de estelionato o ato de
tomar refeiçaã o sem possuir os recursos suficientes para pagaé -la. Ã doutrina qualifica o crime do art.
176 como uma espeé cie de estelionato privilegiado, em funçaã o das caracteríésticas especiais do seu
autor, que eé pessoa que naã o dispoã e de recursos para pagar aquilo que utiliza. Diz-se que eé um evento
de escassa lesividade, um mero calote (Hungria denominava de estelionato fameé lico).

26. FRAUDES E ABUSOS NA FUNDAÇÃO OU ADMINISTRAÇÃO DE SOCIEDADE POR AÇÕES

Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao
público ou à assembléia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia popular.

27. EMISSÃO IRREGULAR DE CONHECIMENTO DE DEPÓSITO OU "WARRANT"

Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Conhecimento de Deposito. EÉ um tíétulo de creé dito correspondente as mercadorias depositadas no
armazeé m geral. Warrant eé o instrumento de penhor sobre a mesma mercadoria. Os dois documentos
nascem juntos, mas podem ser separados, quem faz a solicitaçaã o eé o depositante. O tipo traduz uma
norma penal em branco pois a refereê ncia eé aà emissaã o do tíétulo em descordo com disposiçaã o legal. Ã lei
que regula a emissaã o de conhecimento de depoé sito ou warrant eé o decreto 1102/1903, que estabelece
entre as hipoé teses de emissaã o irregular, a empresa que naã o estaé legalmente constituíéda. Portanto,
trata-se efetivamente de uma empresa, cujo funcionamento naã o eé regular. Caso a empresa sequer
exista, a hipoé tese seraé de estelionato na modalidade fundamental (BUSÃTO). Crime Proé prio (Busato e
Bitencourt entendem comum). Sujeito Ãtivo e Passivo.

28. FRAUDE À EXECUÇÃO

Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa.
Bitencourt refere que os antecedentes mais remotos desta infraçaã o penal podem ser encontrados
antes da era Cristiana, desde a lei das XII taé buas, que permitia ao credor insatisfeito postular a
insolveê ncia do devedor. Por meio desse ato, se concedia ao credor o direito de custoé dia, períéodo
durante o qual o poderia levar o devedor ao mercado; naã o surgindo pretendentes, poderia mataé -lo ou
vendeê -lo como escravo.Desse modo, como eé oé bvio, desde o alvorecer do Direito Penal brasileiro,
representado pelas ordenaçoã es filipinas, o tema jaé era tratado no Livro V, titulo 46, onde era apenado
com a morte. O bem juríédico afligido eé o patrimoê nio dos credores expresso em tíétulos executivos
judiciais e extrajudiciais. Bitencourt sustenta que a administraçaã o da justiça tambeé m eé bem juríédico
violado no tipo em questaã o. Ã defender essa tese, deveria haver pronunciamento judicial para que a
configuraçaã o do tipo ( Busato discorda no que tange aos tíétulos extrajudiciais, pois a cieê ncia naã o se daé
com a citaçaã o, mas, sim, com a emissaã o). Ã imensa maioria da doutrina afirma que o crime eé proé prio e
exige a condiçaã o de devedor. Parte exige que o devedor naã o seja comerciante, pois nesse caso tratar-
se-ia de crime falimentar. No entanto, o crime falimentar exige como condiçaã o objetiva de punibilidade
a decretaçaã o de faleê ncia, o que o tipo em questaã o naã o exige, de modo que Busato e Bitencourt

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rechaçam essa hipoé tese afirmando que se naã o houver decretaçaã o de faleê ncia, o crime aplicaé vel ao
comerciante eé o do CP.

29. Receptação

ART. 180 - ADQUIRIR, RECEBER, TRANSPORTAR, CONDUZIR OU ocultar, em proveito próprio ou alheio,
coisa que sabe ser produto de crime (receptação própria), ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte (receptação Imprópria):
PENA - RECLUSÃO, de um a quatro anos, e multa.

Crime de receptação é crime acessório


Receptaçaã o abrange a coisa produto de contravençaã o penal, pois haveria analogia in malan parten.
Mas admite que o crime seja ato infracional – “fato descrito como crime” (Fragoso). Hungria discorda.
O crime pressuposto eé necessariamente contra o patrimoê nio?
Naã o, pois o crime pressuposto pode ser contra a administraçaã o pué blica. (Ãdquirir coisa produto de
peculato)
Especialidade: receptaçaã o de coisa produto de contrabando ou descaminho incide no CP, art. 334
Naã o eé possíével receptaçaã o de coisa imoé vel (STF), embora haja quem admita imoé vel adquirido mediante
o cometimento de crime.
EÉ irrelevante que a coisa objeto de crime tenha sido alterada ou transformada em coisa diversa (Jules
Rimet), desde que o agente tenha cieê ncia de sua origem.
BEM JURIÉDICO TUTELÃDO: patrimoê nio
Noronha entende estar secundariamente protegido o bem administraçaã o da justiça, porque ela tem a
sua atuaçaã o embaraçada pela açaã o do receptador.
SUJEITO PÃSSIVO: o mesmo do crime antecedente
Receptaçaã o de coisa proé pria soé eé possíével se ela estiver na posse legíétima de terceiro. Do contraé rio,
haveraé exercíécio arbitraé rio das proé prias razoã es.

RECEPTAÇÃO PRÓPRIA: quem adquire, oculta, conduz, recebe ou transporta


à pessoa que entrega pratica post factum impuníével do crime antecedente
Dispensaé vel o ajuste preé vio com o autor do crime antecedente
Ex. Pessoa furta algo, eé perseguida, e durante a perseguiçaã o se desfaz da coisa. Terceiro, sabendo ser o
objeto furtado, pega a coisa e a esconde. Crime de receptaçaã o consumado (Noronha).

RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA (180, caput, fine): influir para que terceiro de boa feé adquira
Tipo que pune o intermediaé rio.
Trata-se de tipo misto cumulativo: quem transporta e, ao mesmo tempo, influencia outro a adquirir
Terceiro pratica receptaçaã o proé pria, e o intermediaé rio seraé participe da receptaçaã o proé pria.
EÉ possíével a receptaçaã o de receptaçaã o, desde que mantido o caraé ter delituoso – conservaçaã o da maé -feé .
Ou seja, “furta”, “B” pratica receptaçaã o com maé -feé e “C”, nova receptaçaã o, tambeé m com maé -feé .

ELEMENTO SUBJETIVO: dolo, inclusive dolo eventual (“coisa que deve saber”)

ATENÇÃO:
RECEPTAÇÃO ≠ FAVORECIMENTO REAL.
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Art. 180. Art. 349


em proveito próprio ou alheio Ãrt. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de
Ãdquirem em proveito proé prio ou alheio. (3ª co-autoria ou de receptaçaã o, auxíélio destinado a
pessoa ≠ do autor do crime antecedente) tornar seguro o proveito do crime:
Ãdquire-se e proveito proé prio do proé prio autor do
crime antecedente.

à descoberta posterior da origem criminosa do delito naã o torna o fato tíépico, pois o dolo deve ser
concomitante. Hungria admitia o dolo superveniente.

CONSUMÃÇÃÃ O
RECEPTAÇÃO PRÓPRIA RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA
Ãdquirir, receber, transportar, conduzir ou Influir para que terceiro, de boa-feé , a adquira,
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa receba ou oculte
que sabe ser produto de crime
Crime material Crime formal, bastando influir para que terceiro
Com a praé tica de qualquer um dos nué cleos, de boa feé adquira, receba ou oculte.
incluindo-se a coisa na esfera de disponibilidade Pouco importa se o 3º adquiriu, recebeu ou
do agente. ocultou.
CUIDÃDO: Transportar / Conduzir / Ocultar. TENTÃTIVÃ: doutrina naã o aceita (majoritária)
Crime permanente.
Perfeitamente possíével tentativa, no tentar Ãpesar da maioria naã o admitir, seria possíével
adquirir. (plurisubsistente) quando praticada por escrito. (minoritária)

RECEPTAÇÃO QUALIFICADA
Art. 180. § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
CRIME PRÓPRIO: soé pratica quem estaé no exercíécio de atividade comercial ou industrial.
Razão da qualificadora: EÉ o que justifica a qualificadora: mais facilidade de passar a coisa para
terceiros de boa fé.
Claé usula de equiparaçaã o (§ 2º): inclui os comerciantes informais

§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.

O crime tem que ser praticado no exercício da atividade comercial e industrial.

Art. 180 caput Art. 180 § 1º


Coisa que sabe ser produto de crime Coisa que deve saber
1 a 4 anos 3 a 8 anos
Dolo direto Dolo direto / Dolo eventual

Art. 180 - §1º

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Ãpesar da poleê mica acerca da desproporçaã o das penas na receptaçaã o culposa (STF, HC 92525, Celso de
Mello), prevalece que o tipo eé constitucional porque pune mais severamente o profissional que comete
o delito (STF, HC 97344, RE 443388 e RHC 117143)
CONSUMAÇÃO: Com a praé tica de qualquer um dos nué cleos, sendo que alguns verbos saã o
permanentes.
TENTATIVA: EÉ possíével, estamos diante de um crime plurissubsistente, admitindo-se assim a tentativa.
RECEPTAÇÃO CULPOSA
§ 3º - ADQUIRIR OU RECEBER COISA QUE, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço,
ou pela condição de quem a oferece, DEVE PRESUMIR-SE OBTIDA POR MEIO CRIMINOSO:
São causas alternativas, não precisam estar as 3 presentes para existência.
§ 4º - A RECEPTAÇÃO é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que
proveio a coisa.
O crime é acessório QUANTO À EXISTÊNCIA. Mas é independente e principal quanto a sua
punibilidade.
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias,
deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. (Incluído pela Lei
nº 9.426, de 1996)
1ª PARTE: PERDÃO JUDICIAL 2ª PARTE: PRIVILÉGIO
Cabíével somente na receptaçaã o culposa. Receptaçaã o dolosa.
Ãbrange a forma qualificada (majoritaé ria).
Pressupostos: Pressupostos:
- Primariedade - Primariedade
- Culpa levíéssima. - Pequeno valor da coisa.
- Pouco importando o valor da coisa.

§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa


concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste
artigo aplica-se em dobro.

ATENÇÃO: O § 6º somente aplica em dobro a pena do dolo simples, naã o se aplica em dobro a pena do
delito qualificado. Se o legislador deixou de lado o §1º naã o cabe ao interprete incluíé-lo.

5. Crimes contra a propriedade imaterial: crimes contra a propriedade intelectual (CÓDIGO


PENAL) e crimes contra o privilégio de invenção, contra as marcas e patentes e de
concorrência desleal (Lei n. 9.279/96).

CÓDIGO PENAL
Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:
Norma penal em branco – deve-se recorrer aà Lei 9.610/98 para buscar o sentido de direitos de autor
(art. 3º)
Sujeito ativo – crime comum
Sujeito passivo – crime proé prio, somente o autor de obra literaé ria, artíéstica ou cientíéfica, seus
herdeiros e sucessores ou o titular do direito sobre a produçaã o de outrem podem figurar nessa
condiçaã o.
Crime doloso, comissivo (pode ser praticado via omissaã o improé pria), material, instantâneo ou
permanente, de forma livre, monossubjetivo, plurissubsistente.
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Bem juríédico tutelado: a propriedade intelectual


Objeto material: obra literaé ria, artíéstica ou cientíéfica
Ãdmite tentativa

MODÃLIDÃDES QUÃLIFICÃDÃS (§§1º, 2º e 3º)


§ 1º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por
qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização
expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os
represente:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
§ 2° Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende,
expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra
intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou
executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual
ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente. (Redação
dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)

SÚMULA 502 DO STJ: Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime
previsto no art. 184, § 2º, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas.

§ 3° Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou
qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em
um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto
ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do
produtor de fonograma, ou de quem os represente: (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)
CD PIRÃTÃ
- Naã o haé adequaçaã o social, pois os consumidores tem cieê ncia da ilicitude da conduta
- Exige-se períécia, mas esta pode ser feita por amostragem (REsp 1485832)
- Competeê ncia Justiça Federal: importaçaã o de CD pirata implica transnacionalidade pois o Brasil eé
signataé rio de tratados de proteçaã o do direito autoral (STJ, CC 144072)

EXCLUSÃO DA TIPICIDADE
§ 4°O disposto nos §§ 1°, 2° e 3° não se aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de
autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de
1998, nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista,
sem intuito de lucro direto ou indireto.
Art. 186. Procede-se mediante:
I – queixa, nos crimes previstos no caput do art. 184; - Ação Penal Privada
II – ação penal pública incondicionada, nos crimes previstos nos §§ 1° e 2° do art. 184;
III – ação penal pública incondicionada, nos crimes cometidos em desfavor de entidades de direito
público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder
Público;
IV – ação penal pública condicionada à representação, nos crimes previstos no § 3º do art. 184.

EFEITOS DA SENTENÇA CONDENATÓRIA

Art. 530-G, CPP – Destruição dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos e o perdimento dos
equipamentos apreendidos.

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4. DIREITO PROCESSUAL PENAL

INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS.

Interceptações de Comunicações.
à Interceptaçaã o de Comunicaçoã es Telefoê nicas, assim como a busca e apreensaã o, naã o eé propriamente
um meio de prova, mas sim um meio de consecuçaã o da prova. Fala-se em Meio Eletroê nico de Obtençaã o
de Provas.
à prova eé o resultado da Interceptaçaã o, portanto feita a Interceptaçaã o, ou seja, gravadas as respectivas
conversas, seraé elaborado um Laudo de Degravaçaã o, isto eé , as gravaçoã es seraã o transcritas, gerando a
elaboraçaã o de um Laudo. Este Laudo eé o produto final da Interceptaçaã o, ou seja, eé a prova resultante
da Interceptaçaã o.

Interceptaçaã o telefoê nica e transcriçaã o integral. Naã o eé necessaé ria a transcriçaã o integral
das conversas interceptadas, desde que possibilitado ao investigado o pleno acesso a
todas as conversas captadas, assim como disponibilizada a totalidade do material que,
direta e indiretamente, aà quele se refira, sem prejuíézo do poder do magistrado em
determinar a transcriçaã o da integralidade ou de partes do aé udio. Inq 3693/PÃ, rel. Min.
Caé rmen Lué cia, 10.4.2014 (Informativo 742, Plenaé rio) EÉ o que prevalece. Cf. HC 118371,
2ª Turma, Min. Gilmar Mendes, de 19/08/14.
Interceptaçaã o telefoê nica: degravaçaã o total ou parcial - O Plenaé rio, por maioria, negou
provimento a agravo regimental interposto de decisaã o do Min. Marco Ãureé lio, proferida
em açaã o penal, da qual relator, em que determinara a degravaçaã o de míédia eletroê nica
referente a diaé logos telefoê nicos interceptados durante investigaçaã o policial (Lei
9.296/96: “Ãrt. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduziraé os procedimentos
de interceptaçaã o, dando cieê ncia ao Ministeé rio Pué blico, que poderaé acompanhar a sua
realizaçaã o. § 1° No caso de a diligeê ncia possibilitar a gravaçaã o da comunicaçaã o
interceptada, seraé determinada a sua transcriçaã o”). No caso, a defesa requerera, na fase
do art. 499 do CPP, degravaçaã o integral de todos os dados colhidos durante a
interceptaçaã o. Ã acusaçaã o, tendo em vista o deferimento do pedido, agravara, sob o
fundamento de que apenas alguns trechos do que interceptado seriam relevantes aà
causa. Por isso, a degravaçaã o integral seria supostamente prescindíével e o pedido teria
fins meramente protelatoé rios. Prevaleceu o voto do Relator. Ãfirmou que a existeê ncia de
processo eletroê nico naã o implicaria o afastamento do citado diploma. O conteúdo da
interceptação, registrado em mídia, deveria ser degravado. Ã formalidade seria
essencial aà valia, como prova, do que contido na interceptaçaã o. Frisou que o acusado
alegara que o trecho degravado inviabilizaria o direito de defesa. Ãdemais, descaberia
falar em preclusaã o, jaé que se cuidaria de nulidade absoluta. O Min. Dias Toffoli acresceu
que o juíézo acerca da necessidade de degravaçaã o total ou parcial caberia ao relator. Ã
Min. Caé rmen Lué cia salientou naã o haver nulidade no caso de degravaçaã o parcial, e que
competiria ao oé rgaã o julgador ponderar o que seria necessaé rio para fins de prova. Na
espeé ice, entretanto, verificou que o Relator entendera que a medida naã o seria
protelatoé ria. Ã corroborar essa assertiva, analisou que o deferimento do pleito naã o
implicara reabertura de prazo para alegaçoã es das partes. Vencidos os Ministros Teori
Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux e Gilmar Mendes, que davam provimento ao agravo.
Consideravam legíétima a degravaçaã o parcial, desde que dado amplo acesso aos
interessados da totalidade da míédia eletroê nica. Ã Min. Rosa Weber sublinhava a

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preclusaã o da mateé ria, pois a denué nica jaé teria sido recebida. (STF, ÃP 508 ÃgR/ÃP, rel.
Min. Marco Ãureé lio, 7.2.2013, Info. 694, Plenaé rio)

 CR/88, Ãrt. 5º (omissis), XII - eé inviolaé vel o sigilo da correspondeê ncia e das comunicaçoã es
telegraé ficas, de dados e das comunicaçoã es telefoê nicas, salvo, no ué ltimo caso, por ordem judicial, nas
hipoé teses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaçaã o criminal ou instruçaã o
processual penal;
Ãntes da ediçaã o da lei prevista no Ãrt. 5º, XII da CF/88, os Juíézes deferiam interceptaçaã o telefoê nica,
com fulcro no antigo Coé digo Brasileiro de Telecomunicaçoã es 1, contudo o STF, no julgamento do HC
69.912-0/RS, declarou a ilicitude deste meio de prova, considerando que o inciso XII do Ãrt. 5º da
CF/88 naã o eé auto-aplicaé vel, o que ensejou a ediçaã o da Lei 9.296/96.
Uma primeira leitura pode transmitir a impressaã o de que o texto constitucional apenas preveê ,
expressamente, a flexibilizaçaã o da inviolabilidade aà hipoé tese das comunicaçoã es telefoê nicas, naã o
contemplando o sigilo da correspondeê ncia, das comunicaçoã es telegraé ficas e de dados.
O STF, em diversos precedentes, vem entendendo naã o haver garantia constitucional absoluta. Nesse
sentido, lavrou que a “inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de salvaguarda
de práticas ilícitas”(HC 70.814-5/SP).
O conceito de correspondeê ncia e de dados deve ser o mais amplo possíével, inclusive, utilizando-se a
interpretaçaã o progressiva, para alcançar questoã es naã o previstas ao tempo da elaboraçaã o da norma. O
sigilo das correspondências por meio eletrônico não apenas está protegido pela inviolabilidade
do sigilo das correspondências, propriamente ditos, como também pelo sigilo de dados.
Em razaã o do uso da expressaã o “inviolabilidade”, este inciso eé objeto de bastante celeuma na
jurisprudeê ncia e na doutrina, mormente no alcance de sua proteçaã o. Segundo o STF, em razaã o de
inexistir direito absoluto, este inciso protege, em verdade, a açaã o comunicativa e naã o os dados em si .
Confira o seguinte excerto:

“Passa-se, aqui, que o inciso XII naã o estaé tornando inviolaé vel o dado da correspondeê ncia, da
comunicaçaã o, do telegrama. Ele estaé proibindo a interceptaçaã o da comunicaçaã o dos dados,
naã o dos resultados. Essa eé a razaã o pela qual a única interceptação que se permite é a
telefônica, pois eé a ué nica a naã o deixar vestíégios, ao passo que nas comunicaçoã es por
correspondeê ncia, telegraé fica e de dados eé proibida a interceptaçaã o porque os dados
remanescem; eles naã o saã o rigorosamente sigilosos, dependem da interpretaçaã o
infraconstitucional para poderem ser abertos. O que é vedado de forma absoluta é a
interceptação da comunicação da correspondência, do telegrama. Por que a
Constituição permitiu a interceptação da comunicação telefônica? Para manter os
dados, já que é a única em que, esgotando-se a comunicação, desaparecem os dados .
Nas demais, naã o se permite porque os dados remanescem, ficam no computador, nas
correspondeê ncias etc.” (Voto-vista do Ministro Nelson Jobim, RE 219780)
STF- Inviolabilidade de Dados e Ãlcance (RE 418.416). “(...) Tratava-se, na espeé cie, de
impugnaçaã o aà decisaã o de juiz federal que deferira pedido de busca e apreensaã o na sede de
empresas das quais era soé cio-gerente o recorrente, com o objetivo de investigar eventuais
crimes tributaé rios. Cumprida a referida medida, foram apreendidos documentos e
equipamentos de informaé tica, que serviram de base para a extensaã o dos efeitos daquele
decreto aà Receita Federal e aà fiscalizaçaã o do INSS para que tivessem acesso ao material
recolhido, visando aà apuraçaã o e aà cooperaçaã o na persecuçaã o criminal.”
“(...) Ãfastou-se, tambeé m, a alegada violaçaã o ao art. 5º, XII, da CF, afirmando-se que a garantia
nele contida refere-se aà comunicaçaã o de dados e naã o aos dados em si mesmos. Ãsseverou-se

1
Lei 4.112/62, Art 57. Não constitui violação de telecomunicação: (…) II - O conhecimento dado: (…) e) ao juiz competente, mediante requisição ou intimação
deste.

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que, no caso, naã o houvera quebra do sigilo das comunicaçoã es de dados, mas sim apreensaã o de
equipamentos que continham os dados, mediante preé via e fundamentada decisaã o judicial, a
qual teria sido especíéfica, porquanto apenas permitira fossem selecionados objetos que
tivessem pertineê ncia com a praé tica do crime pelo qual o recorrente fora efetivamente
condenado.(...)”

Com a ediçaã o da Lei n° 9.296/96, todo o panorama foi alterado, e, a partir de entaã o, passou a ser
aceitaé vel o provimento judicial no sentido de determinar as interceptaçoã es telefoê nicas.
Naã o confundir interceptaçaã o telefoê nica com quebra do sigilo telefoê nico. Isto porque, a rigor, naã o se
trata de interceptaçaã o telefoê nica, regulada na Lei n.º 9.296/96, cujos requisitos saã o extraíédos a
contrario sensu do art. 2º, mas taã o-somente do acesso a dados constantes nas operadoras telefoê nicas
(registro das ligaçoã es). Neste diapasaã o, eé a distinçaã o realizada pelo Ministro Celso de Mello por ocasiaã o
do julgamento do MS 23.452/RJ:

“EÉ certo que a garantia constitucional instituíéda no art. 5.º, XII, da Carta Políética objetiva
preservar a inviolabilidade do sigilo ‘das comunicaçoã es telefoê nicas’, naã o havendo, no preceito
normativo em questaã o (inciso XII), qualquer refereê ncia ao tema da “disclousure” dos registros
telefoê nicos.
Cabe traçar, aqui, por necessaé rio uma distinçaã o entre interceptaçaã o (“escuta”) das
comunicaçoã es telefoê nicas, inteiramente submetida ao princíépio constitucional da reserva de
jurisdiçaã o (CF, art. 5º, XII), de um lado, e a quebra do sigilo dos dados (registros) telefoê nicos,
de outro, cuja tutela deriva da claé usula de proteçaã o aà intimidade inscrita no artigo 5º, X, da
Carta Políética.
A interceptação das comunicações telefônicas, além de submetida ao postulado da
reserva constitucional de jurisdição – que somente deixa de incidir nas hipoé teses do
estado de defesa (CF, art. 136, § 1º, c) e de estado de síétio (CF, art. 139, III) -, p ossui
finalidade específica, pois a utilização desse meio probatório, apenas se justifica,
havendo ordem judicial, “para fins de investigação criminal ou de instrução processual
penal” (CF, art. 5º, XII, in fine), circunstância esta que exclui, por completo, a
possibilidade constitucional de uma CPI determinar, por autoridade própria, a escuta
de conversações telefônicas.
Diversa eé , poreé m, a situaçaã o concernente ao acesso da CPI aos registros telefoê nicos, pois,
consoante enfatiza o magisteé rio da doutrina (Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, “Direito Civil
Constitucional – Caderno I”, p. 249, 1999, Max Limonad; Teé rcio Sampaio Ferraz Jué nior,
“Cadernos de Direito Constitucional e Cieê ncia Políética”, vol. 1/85), o inciso XII do art. 5º da
Carta Políética “impede o acesso aà proé pria açaã o comunicativa, mas naã o aos dados
comunicados”, mesmo porque estes – os dados comunicados – protegidos pela claé usula
tutelar da intimidade, inscrita no inciso X do art. 5º da Constituiçaã o “naã o constituem um
limite absoluto” aà açaã o do Poder Pué blico.”(STF, MS 23452)

EÉ importante, ainda, fazer uma distinçaã o entre gravação clandestina e interceptação telefônica
conforme quadro abaixo:
Gravação Clandestina Interceptação
Registro feito por um dos interlocutores, com o Consiste na interfereê ncia de um terceiro,
desconhecimento do outro, da conversa telefoê nica estranho aà conversa, que dela toma
(gravaçaã o clandestina propriamente dita) ou da conhecimento ou a registra aà revelia dos seus
conversa entre os presentes (gravaçaã o ambiental) participantes. Pode ser ambiental (entre
presentes) e telefoê nica
Naã o estaé abrangida no art. 5º, XII, mas no art. 5º, Estaé albergada no Ãrt. 5º, XII da CF/88.
X.
Toda pessoa pode gravar as suas proé prias Necessita de autorizaçaã o judicial
conversas com terceiro, dependendo de sua
revelaçaã o da existeê ncia de justa causa
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Naã o eé líécita a gravaçaã o clandestina por autoridade


investigadora sem avisar do investigado do seu
direito em permanecer em sileê ncio sob pena de
caracterizar interrogatoé rio sub-reptíécio. (Vide HC
80949)

OBS: Haé uma divergência se gravação pode ser feita por um terceiro com autorização dos
interlocutores. Alguns defendem que seria interceptação e outros dizem que seria gravação
clandestina, inclusive haé julgados do STF nos dois sentidos (HC 74678/SP e HC 80949/RJ – saã o 2
julgados antigos). Ã seguir, um mais recente:

(...) ÃLEGÃÇÃÃ O DE OFENSÃ ÃO ÃRTIGO 5°, XII, LIV e LVI, DÃ CONSTITUIÇÃÃ O FEDERÃL.
RECURSO EXTRÃORDINÃÉ RIO QUE ÃFIRMÃ Ã EXISTEÊ NCIÃ DE INTERCEPTÃÇÃÃ O
TELEFOÊ NICÃ ILIÉCITÃ PORQUE EFETIVÃDÃ POR TERCEIROS. CONVERSÃ GRÃVÃDÃ POR
UM DOS INTERLOCUTORES. PRECEDENTES DO STF. (...). 1. Ãlegaçaã o de existeê ncia de
prova ilíécita, porquanto a interceptaçaã o telefoê nica teria sido realizada sem autorizaçaã o
judicial. Naã o haé interceptaçaã o telefoê nica quando a conversa eé gravada por um dos
interlocutores, ainda que com a ajuda de um repoé rter. Precedentes do STF. (RE 453562
ÃgR)

 Quadro extraíédo do site “dizerodireito”:


INTERCEPTAÇÃO
ESCUTA telefônica GRAVAÇÃO telefônica
telefônica
Ocorre quando um terceiroOcorre quando um terceiroOcorre quando o diaé logo telefoê nico travado
capta o diaé logo telefoê nicocapta o diaé logo telefoê nicoentre duas pessoas eé gravado por um dos
travado entre duas pessoas,travado entre duas pessoas,proé prios interlocutores, sem o consentimento
sem que nenhum dossendo que um dosou a cieê ncia do outro.
interlocutores saiba. interlocutores sabe que estaé Tambeé m eé chamada de gravaçaã o clandestina
sendo realizada a escuta. (obs: a palavra “clandestina” estaé empregada
naã o na acepçaã o de “ilíécito”, mas sim no sentido
de “feito aà s ocultas”).
Ex: políécia, com autorizaçaã oEx: políécia grava a conversaEx: mulher grava a conversa telefoê nica no
judicial, grampeia ostelefoê nica que o pai manteé mqual o ex-marido ameaça mataé -la.
telefones dos membros decom o sequestrador de seu
uma quadrilha e grava osfilho.
diaé logos mantidos entre
eles.
Para que a interceptaçaã oPara que seja realizada eé Ã gravaçaã o telefoê nica eé vaé lida mesmo que
seja vaé lida eé indispensável aindispensável a autorizaçaã otenha sido realizada SEM autorizaçaã o judicial.
autorizaçaã o judicialjudicial (posiçaã oA única exceção em que haveria ilicitude se
(entendimento pacíéfico). majoritaé ria). dá no caso em que a conversa era amparada
por sigilo (ex: advogados e clientes, padres e
fieé is).

RECURSO ESPECIÃL. ÃRT 214 C/C O ÃRT. 224, "Ã", DO CP (ÃNTIGÃ REDÃÇÃÃ O). ÃRT. 619 DO
CPP. VIOLÃÇÃÃ O NÃÃ O CÃRÃCTERIZÃDÃ. GRÃVÃÇÃÃ O DE CONVERSÃ EM TERMINÃL
TELEFOÊ NICO PROÉ PRIO, COM ÃUXIÉLIO DE TERCEIRO. PODER-DEVER DE PROTEÇÃÃ O DO
FILHO MENOR. PROVÃ LIÉCITÃ. ÃDMISSIBILIDÃDE. PÃLÃVRÃ DÃ VIÉTIMÃ. (...)
RECONHECIMENTO DE FLÃGRÃNTE ILEGÃLIDÃDE. CONCESSÃÃ O DE HC OFIÉCIO. (...) No caso,
a genitora da víétima solicitou auxílio técnico a terceiro para a gravação de conversas
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realizadas através de terminal telefônico de sua residência, na qualidade de


representante civil do menor impúbere e investida no poder-dever de proteção e
vigilância do filho, naã o havendo ilicitude na gravaçaã o. Dada a absoluta incapacidade da
víétima para os atos da vida civil - e ante a notíécia de que estava sendo víétima de crime de
natureza hedionda - a iniciativa da genitora de registrar conversa feita pelo filho com o autor
da conjecturada praé tica criminosa se assemelha aà gravaçaã o de conversa telefoê nica feita com a
autorizaçaã o de um dos interlocutores, sem cieê ncia do outro, quando haé cometimento de delito
por este ué ltimo, hipoé tese jaé reconhecida como vaé lida pelo STF (REsp 1026605)

OBS: A hipótese mais comum de justa causa é a legítima defesa contra investida criminosa de
terceiro, contudo não se restringe a esta hipótese.
Segundo Luiz Francisco Torquato Ãvolio, “Como exemplos de justa causa, apresenta Hungria (...) os
seguintes:
b) Consentimento do interessado;
c) faculdade de comunicaçaã o de crime de açaã o pué blica;
d) comprovaçaã o de crime ou de sua autoria”
Sobre a violaçaã o das comunicaçoã es telefoê nicas cabe observar-se que o texto constitucional apenas a
autoriza nas seguintes hipoé teses:
Por decisaã o judicial;
Na forma da lei;
Para fins de investigaçaã o criminal ou instruçaã o processual penal.
O STF tem alguns julgados afirmando que a prova colhida por interceptaçaã o telefoê nica pode ser
utilizada para a instruçaã o de processo administrativo disciplinar de servidor pué blico:

“(...) Na linha de precedentes da Corte, entendeu-se que os elementos informativos de uma


investigaçaã o criminal, ou as provas colhidas no bojo de instruçaã o processual penal, desde que
obtidos mediante interceptaçaã o telefoê nica devidamente autorizada por juiz competente,
como no caso, podem ser compartilhados para fins de instruir PÃD.(...)” (Inq 2725 QO)

à Lei n° 9.296/96, por sua vez, dispoê s que a interceptaçaã o telefoê nica alcança o fluxo de comunicaçoã es
em sistemas de informaé tica e telemaé tica (O STF indeferiu liminar na ÃDIn 1488 e ateé 2014 ainda naã o
teve o seu meé rito apreciado). Preveê que a interceptaçaã o de comunicaçoã es telefoê nicas, depende, aleé m
dos requisitos constitucionais, dos seguintes:
a) haver indícios razoáveis da autoria;
b) deve realizar-se sob segredo de justiça;
c) o fato investigado constituir infração penal punida com pena de reclusão;
d) a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis;
Deve-se atender aos requisitos do periculum in mora (inexisteê ncia de outros meios de prova
disponíéveis para a obtençaã o das informaçoã es necessaé rias) e do fumus boni iuris (exigeê ncia de indíécios
razoaé veis de autoria ou participaçaã o em infraçaã o penal (cf. art. 2º, I da lei 9296/96), como qualquer
medida cautelar.
Aspectos relevantes:
e) O art. 5° preveê que a interceptação poderá realizar-se no prazo de até 15 dias, renovável.
Para o STF (HC 83.515 – Vide ementa abaixo), a norma não veda renovações sucessivas
de 15 dias. (Vide Resoluçaã o 59/2008 do CNJ).

INTERCEPTÃÇÃÃ O TELEFOÊ NICÃ E PRORROGÃÇOÃ ES. Naã o se revestem de ilicitude as escutas


telefoê nicas autorizadas judicialmente, bem como suas prorrogaçoã es, ante a necessidade de

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investigaçaã o diferenciada e contíénua, demonstradas a complexidade e a gravidade dos fatos.


(...) Diante do envolvimento de autoridades com prerrogativa de foro, determinara-se o
deslocamento do feito para o STJ, cuja relatora autorizara a interceptaçaã o telefoê nica e sua
prorrogaçaã o, o que culminara na indicaçaã o do paciente como envolvido em grupo criminoso.
(STF, HC 119770)

f) Ã interceptaçaã o poderaé ser concedida a requerimento da autoridade policial (na


investigação criminal), do Ministério Público e de ofício pelo Magistrado.
O artigo 3º da lei 9.296/96 reza:

“Ã interceptaçaã o das comunicaçoã es telefoê nicas poderaé ser determinada pelo juiz de ofíécio ou a
requerimento:
I – da autoridade policial, na investigaçaã o criminal;
II- do representante do MP, na investigaçaã o criminal e na instruçaã o processual penal.”

Quanto aà possibilidade de decretaçaã o da medida de ofíécio pelo juiz, foi ajuizada a ÃDI 3450 pelo PGR
em face deste dispositivo, mas ainda naã o houve julgamento. O procurador-geral da Repué blica, Roberto
Gurgel, enviou ao STF parecer pela procedeê ncia parcial da Ãçaã o Direta de Inconstitucionalidade (ÃDI)
4112, dirigida contra dispositivos da Lei 9.296/96, que regulamentou os procedimentos de
interceptaçoã es telefoê nicas, telemaé ticas e de dados. Segundo o parecer, a ação deve ser acolhida
somente para dar interpretação conforme a Constituição, de modo que a possibilidade de o juiz
decretar de ofício da interceptação telefônica fique limitada à fase processual. O parecer reitera
as razoã es levantadas na ÃDI 3450, que contestou referido artigo por dar ensejo aà interpretaçaã o
segundo a qual o magistrado estaé autorizado a determinar a interceptaçaã o de ofíécio tanto na fase de
investigaçaã o criminal quanto na de instruçaã o processual penal. Para ele, na fase preé -processual, essa
modalidade de interceptaçaã o telefoê nica naã o encontra respaldo na Constituiçaã o.
g) Ã interceptaçaã o telefoê nica naã o dispensa, em qualquer hipoé tese, a ordem judicial.
h) A diligência deve ser realizada mediante prévia ciência do Ministério Público.
i) A interceptação telefônica entre o advogado e cliente é vedada, em face do sigilo
profissional, excepcionando-se o caso em que o defensor não atua propriamente como
advogado, mas como participante de infração penal.(Moraes).

DPP - UTILIZÃÇÃÃ O DÃ INTERCEPTÃÇÃÃ O DE COMUNICÃÇÃÃ O TELEFOÊ NICÃ EM DESFÃVOR DE


INTERLOCUTOR NÃÃ O INVESTIGÃDO. Ãs comunicaçoã es telefoê nicas do investigado legalmente
interceptadas podem ser utilizadas para formaçaã o de prova em desfavor do outro
interlocutor, ainda que este seja advogado do investigado. Ã interceptaçaã o telefoê nica, por
oé bvio, abrange a participaçaã o de quaisquer dos interlocutores. (...) naã o eé porque o advogado
defendia o investigado que sua comunicaçaã o com ele foi interceptada, mas taã o somente
porque era um dos interlocutores. (STJ, RMS 33677).

STF - Uma vez realizada regularmente a interceptação telefônica, ela pode ser utilizada como
prova em processo de crimes puníveis com detenção:

“(...) Uma vez realizada a interceptaçaã o telefoê nica de forma fundamentada, legal e legíétima, as
informaçoã es e provas coletadas dessa diligeê ncia podem subsidiar denué ncia com base em
crimes puníéveis com pena de detençaã o, desde que CONEXOS aos primeiros tipos penais que
justificaram a interceptaçaã o. Do contraé rio, a interpretaçaã o do art. 2º, III, da L. 9.296/96
levaria ao absurdo de concluir pela impossibilidade de interceptaçaã o para investigar crimes
apenados com reclusaã o quando forem estes conexos com crimes punidos com detençaã o.
Habeas corpus indeferido". (STF, HC 83515).

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Verifica-se que o propoé sito do legislador constituinte foi de restringir aà esfera criminal os casos de
interceptaçaã o telefoê nica, mesmo assim, quando o crime investigado eé mais grave, punido com
reclusaã o. Ãssim, naã o haé que se falar no cíével de interceptaçaã o telefoê nica.
Entretanto, em relação à possibilidade de uso da prova emprestada, divergem as opiniões. O STF
já pacificou o entendimento de que é viável, uma vez quebrado o sigilo, é possível utilizar os
dados colhidos para instruir outros processos, inclusive o PAD (processo administrativo
disciplinar), obviamente deve haver parcimônia e somente diante de fundadas razões será
possível a utilização. (STF, Inq-QO 2424)

HC. INTERCEPTÃÇÃÃ O TELEFOÊ NICÃ. COMPETEÊ NCIÃ DO JUIÉZO. DESDOBRÃMENTO DÃS


INVESTIGÃÇOÃ ES. IDENTIFICÃÇÃÃ O, NO CURSO DÃS DILIGEÊ NCIÃS, DE POLICIÃL MILITÃR
COMO SUPOSTO ÃUTOR DO DELITO ÃPURÃDO. DESLOCÃMENTO DÃ PERSECUÇÃÃ O PÃRÃ Ã
JUSTIÇÃ MILITÃR. VÃLIDÃDE DÃ INTERCEPTÃÇÃÃ O DEFERIDÃ PELO JUIÉZO ESTÃDUÃL
COMUM. ORDEM DENEGÃDÃ. 1. Naã o eé ilíécita a prova obtida mediante interceptaçaã o telefoê nica
autorizada por Juíézo competente. O posterior reconhecimento da incompeteê ncia do Juíézo que
deferiu a diligeê ncia naã o implica, necessariamente, a invalidaçaã o da prova legalmente
produzida. Ã naã o ser que “o motivo da incompeteê ncia declarada [fosse] contemporaê neo da
decisaã o judicial de que se cuida” (HC 81.260, da relatoria do ministro Sepué lveda Pertence). 2.
Naã o haé por que impedir que o resultado das diligeê ncias encetadas por autoridade judiciaé ria
ateé entaã o competente seja utilizado para auxiliar nas apuraçoã es que se destinam a cumprir
um poder-dever que decola diretamente da Constituiçaã o Federal (incisos XXXIX, LIII e LIV do
art. 5º, inciso I do art. 129 e art. 144 da CF). Isso, eé claro, com as ressalvas da jurisprudeê ncia
do STF quanto aos limites da chamada prova emprestada 3. Os elementos informativos de
uma investigação criminal, ou as provas colhidas no bojo de instrução processual
penal, desde que obtidos mediante interceptação telefônica devidamente autorizada
por Juízo competente, admitem compartilhamento para fins de instruir procedimento
criminal ou mesmo procedimento administrativo disciplinar contra os investigados.
Possibilidade jurisprudencial que foi ampliada, na Segunda Questão de Ordem no
Inquérito 2.424 (da relatoria do ministro Cezar Peluso), para também autorizar o uso
dessas mesmas informações contra outros agentes. 4. Habeas corpus denegado. (STF, HC
102293)

LEGÃLIDÃDE DE INTERCEPTÃÇÃÃ O TELEFOÊ NICÃ DEFERIDÃ POR JUIÉZO DIVERSO DÃQUELE


COMPETENTE PÃRÃ JULGÃR Ã ÃÇÃÃ O PRINCIPÃL. Ã sentença de pronué ncia pode ser
fundamentada em indíécios de autoria surgidos, de forma fortuita, durante a investigaçaã o de
outros crimes no decorrer de interceptaçaã o telefoê nica determinada por juiz diverso daquele
competente para o julgamento da açaã o principal. Nessa situaçaã o, naã o haé que se falar em
incompeteê ncia do Juíézo que autorizou a interceptaçaã o telefoê nica, tendo em vista que se trata
de hipoé tese de encontro fortuito de provas. Ãleé m disso, a regra prevista no art. 1º da Lei
9.296/96, de acordo com a qual a interceptaçaã o telefoê nica dependeraé de ordem do juiz
competente da açaã o principal, deve ser interpretada com ponderaçaã o, naã o havendo
ilegalidade no deferimento da medida por Juíézo diverso daquele que vier a julgar a açaã o
principal, sobretudo quando autorizada ainda no curso da investigaçaã o criminal. (REsp
1355432)

Extradição - Interceptação telefônica - Limitação constitucional


à natureza do processo extradicional naã o comporta a diligeê ncia de interceptaçaã o telefoê nica. EÉ que a
provideê ncia por ela pretendida em sede de extradiçaã o (interceptaçaã o telefoê nica, que constitui fonte de
prova penal) naã o se destina a viabilizar investigaçaã o criminal nem a instruir processo penal de
condenaçaã o instaurados no Brasil (Ext 1021).

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Para Teé rcio Sampaio Ferraz Jr., o que a CF protege o sigilo das comunicaçoã es, e naã o dos dados em si.
Portanto, cartas abertas ou e-mails expostos naã o gozam de proteçaã o. Ãrtigo de TSFJ tem sido
utilizados TCU para fundamentar decisoã es que autorizam o uso de dados encontrados em
computadores apreendidos (STF), carta aberta (STJ) e dados cadastrais de instituiçoã es financeiras
(TCU e Receita Federal)

5. DIREITO CIVIL

FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E DOS CONTRATOS. CONTRATOS DERIVADOS.


CONTRATO PRELIMINAR E CONTRATO DEFINITIVO. CONTRATO DE CONSUMO E
CONTRATO DE ADESÃO. PREFERÊNCIAS E PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS.
1.1 FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS

Princípio da função social do contrato : impoã e aà s partes o dever de perseguir, ao lado dos seus
interesses econoê micos individuais, a observaê ncia e respeito a interesses extracontratuais socialmente
relevantes que se relacionam com o contrato e saã o por ele atingidos. Pelo princíépio da funçaã o social,
portanto, contrato (assim como a propriedade) passam a uma modificaçaã o qualitativa, sendo
instrumento de realizaçaã o de valores constitucionais, como a dignidade da pessoa humana, a
valorizaçaã o do trabalho e da livre iniciativa, e os demais direitos fundamentais, como o meio ambiente.
Este princíépio, consagrado em claé usula geral no art. 421, traduz um forte elemento de contençaã o da
autonomia privada, de acordo com valores como defesa ambiental, do consumidor, da eé tica. Ã
liberdade de contratar seraé exercida em razaã o e nos limites da funçaã o social do contrato. Projeta-se no
aê mbito interno da relaçaã o (as partes devem guardar respeito e lealdade entre si) e no aê mbito externo
(o impacto na coletividade).
Com base no princíépio da funçaã o social do contrato, o juiz pode intervir na relaçaã o contratual para a
proteçaã o da parte vulneraé vel: claé usulas abusivas, publicidade enganosa, onerosidade excessiva, etc.
Funçaã o social traduz uma claé usula geral de conteué do de natureza principioloé gica, limitativa da
liberdade de contratar. EÉ ao mesmo tempo claé usula geral e princíépio.

En. 21/CJF: “A função social do contrato, prevista no art. 421 do NCC, constitui cláusula geral, a impor a
revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela
externa do crédito”.

En. 22/CJF: "Art. 421 : a função social do contrato, prevista no art. 421 do NCC, constitui cláusula geral
que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas".

En. 23/CJF: "Art. 421 : a função social do contrato, prevista no art. 421 do NCC, não elimina o princípio
da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses
metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana".

En. 361/CJF: "Art. 421: O princípio da função social dos contratos também pode ter eficácia interna
entre as partes contratantes".

A FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO E A ATIVIDADE DO JUIZ:


"Dentro do aê ngulo da funçaã o social, a tarefa do juiz naã o eé criativa, e sim repressiva e sancionatoé ria"
(Humberto Theodoro Jr.).
Nesse caminho, se houver violaçaã o da funçaã o social do contrato, a consequeê ncia seraé a nulidade, ou a
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ineficaé cia do negoé cio juríédico. En. 431/CJF: "A violação do art. 421 conduz à invalidade ou à ineficácia
do contrato ou de suas cláusulas contratuais".
O princíépio da funçaã o social do contrato, como claé usula geral, eé norma de ordem pué blica, portanto,
pode e deve o juiz agir ex officio, independente de pedido das partes. Em cada caso concreto eé que se
determinaraé se houve violaçaã o ao princíépio, e se restar caracterizado, poderaé o juiz declarar nula
claé usula contratual, ou ateé mesmo nulo o proé prio contrato, bem como condenar aà indenizaçaã o a parte
que o violou.
Nesse caminho, eé de se reconhecer a legitimidade do MP para promover açoã es judiciais com o intuito
de atacar contratos que violem o princíépio da funçaã o social do contrato, na medida em que lhe cabe,
nos termos do art. 127 da CF, "a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais
e individuais indisponíveis.”
Legitimidade do MP para ajuizar açoã es anulatoé rias de claé usulas de contratos: caso dos contratos da
falida Encol S/Ã com o Banco do Estado de Minas Gerais S/Ã (REsp 334829). Este caso ensejou a
ediçaã o da Sué m. 308/STJ (“A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou
posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do
imóvel.”)
Note-se que, enquanto a violaçaã o aà funçaã o social do contrato impede a atividade criativa do juiz, uma
vez que conduz aà invalidade ou ineficaé cia do negoé cio juríédico, na violaçaã o aà boa-feé objetiva,
diversamente, eé cabíével tal atividade criativa. Nesse sentido: En 26/CJF: "Art. 422: a cláusula geral
contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir
o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos
contratantes".

Cláusula geral: trata-se de teé cnica legislativa que se pauta na utilizaçaã o de expressoã es com ampla
abertura semaê ntica, vagas, cabendo ao juiz, no caso concreto, defina o conteué do da norma e suas
consequeê ncias, a fim de se concretizar a justiça social, impondo-lhe, portanto, uma atividade criativa.
Note-se que claé usula geral eé diferente de conceito juríédico indeterminado. Ãmbas saã o teé cnicas
legislativas. Poreé m, na claé usula geral, como a boa-feé e a funçaã o social, a vagueza das expressoã es se
encontra tanto no preceito primaé rio (conduta exigida), como no preceito secundaé rio (consequeê ncia
juríédica). Ãssim, na claé usula geral, cabe ao juiz definir, no caso concreto, a conduta devida, bem como a
consequeê ncia de sua naã o observaê ncia.
à sua vez, nos conceitos juríédicos indeterminados, a vagueza se encontra apenas no preceito primaé rio,
sendo que o preceito secundaé rio jaé se encontra completo pelo legislador. Ex: justo tíétulo e boa feé na
posse ad usucapionem (conceitos vagos) -> consequeê ncia: usucapiaã o ordinaé ria.

"Ã atuaçaã o do Estado sobre o domíénio econoê mico impacta de modo extremamente sensíével sobre o regime
juríédico dos contratos, pois eles se convertem em instrumentos dinaê micos voltados ao alcance naã o apenas
dos fins almejados pelas partes, mas tambeé m, na medida em que conformados pelo Estado, dos fins
ué ltimos da ordem econoê mica, na busca de soluçoã es de desenvolvimento e justiça social" (Rosenvald).

Obs: princíépio naã o foi retratado pelo CC/16.

1.2 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE


- Evolução social do direito de propriedade: função social da propriedade
- direito romano: caraé ter individualista
- idade meé dia: dualidade de sujeitos: o dono e o que explora economicamente
- apoé s Revoluçaã o Francesa: individualista
- seé culo XX: caraé ter social

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- seé culo XXI: funçaã o social.


No CC/16 naã o continha previsaã o sobre funçaã o social da propriedade, pois o diploma legal teve por
base o Coé digo de Napoleaã o.
Desde a CF/46, fala-se na funçaã o social da propriedade (ordem econoê mica), mas, somente na CF/88 o
direito de propriedade foi tratado no artigo 5o, inc. XXII e XXIII: “eé garantido o direito de propriedade”
e “a propriedade atenderaé a sua funçaã o social”.
Fundamentos:
- Norberto Bobbio (Da estrutura aà funçaã o): o estudo do direito esteve preso aà sua estrutura, ou seja, o
que eé o direito. Poreé m, eé necessaé rio estudar para que serve o direito, a sua funçaã o, o seu papel
promocional.
- Miguel Reale (exposiçaã o de motivos do NCC): todo instituto do CC precisa cumprir treê s diretrizes –
eticidade, operabilidade e SOCIÃLIDÃDE. Ãssim, percebe-se a importaê ncia do papel promocional dos
institutos juríédicos.
No que tange especificamente aà funçaã o social da propriedade, a propriedade deve promover valores
existenciais e sociais (REsp 27039). Ã funçaã o social da propriedade naã o estaé hospedada na estrutura
externa do direito de propriedade, residindo na estrutura interna. Ã funçaã o social eé o conteué do que
modela o exercíécio do direito de propriedade. Ãdemais, a funçaã o social da propriedade eé atribuir ao
proprietaé rio o cumprimento de deveres sociais e existenciais ao exercíécio do seu direito de
propriedade.
O exercíécio do direito de propriedade se tornou complexo, uma vez que o proprietaé rio possui, aleé m de
direitos, deveres. Ãdemias, houve uma obrigacionalização do direito de propriedade, jaé que o
proprietaé rio deve garantir a sua propriedade valores existenciais e sociais.
ÃTENÇÃÃ O: a função social da propriedade não pretende corrigir posições de hipossuficiência e
nem distribuir riquezas. Ã funçaã o social eé apenas a preocupaçaã o com o exercíécio de direitos mais
humanista, mais social. Ela naã o pretende retirar a lucratividade ou efeitos econoê micos da propriedade.
Dentro da FSP hospedam-se diferentes funçoã es:
 Ãmbiental (ex: reserva legal ambiental): art. 1228, §1º, do CC - “o direito de propriedade deve
ser exercido em consonaê ncia com as suas finalidades econoê micas e sociais e de modo que
sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as
belezas naturais, o equilíébrio ecoloé gico e o patrimoê nio histoé rico e artíéstico, bem como evitada a
poluiçaã o do ar e das aé guas”

 Humana (direito de moradia) – Sué m 364/STJ: O conceito de impenhorabilidade de bem de


família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.

 Econoê mica.

 Etc...

Funçaã o social naã o eé socializaçaã o da propriedade, mas sim socialidade, ou seja, naã o quer a FSP
distribuir renda, mas sim, preocupar com os impactos sociais e existenciais do exercíécio do direito de
propriedade.
STF: a FSP afirmada constitucionalmente (art.5º, XXII e XXIII) e civilmente (art.1228, §1º)e possui
aplicaçaã o imediata, independentemente de qualquer regulamentaçaã o - Sué m 668/STF: É
inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da EC 29/2000, alíquotas progressivas
para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade
urbana.
Tanto a doutrina quanto a jurisprudeê ncia reconhecem a existeê ncia da funçaã o social das propriedades e
naã o de uma propriedade apenas, uma vez que, toda e qualquer propriedade tem que cumprir a funçaã o
social, seja a propriedade imoé vel (EX: desapropriaçaã o para fins de reforma agraé ria), moé vel (IPTU

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progressivo; edificaçaã o compulsoé ria), intelectual (direito autoral), empresarial – Enunciado 53, JDC:
Art. 966: Deve-se levar em consideração o princípio da função social na interpretação das normas
relativas à empresa, a despeito da falta de referência expressa.
à funçaã o social da propriedade faz com que a propriedade envolva a situaçaã o juríédica de maã o dupla, ou
seja, o proprietaé rio tem direitos e deveres em relaçaã o ao naã o proprietaé rio.
Funçaã o social da propriedade relativiza o caraé ter autoê nomo, ilimitado e absoluto do direito de
propriedade. Ã funçaã o social eé um conceito indeterminado. Ã CF/88 sinalizou o que eé a funçaã o social
nos artigos 182 e 186:
 aproveitamento racional e adequado da propriedade;

 utilizaçaã o adequada dos recursos naturais disponíéveis e preservaçaã o do meio ambiente.

 observaê ncia das disposiçoã es que regulam as relaçoã es de trabalho

 exploraçaã o que favoreça o bem-estar dos proprietaé rios e dos trabalhadores.

Caso Favela Pullman/SP: Ã favela Pullman localiza-se em SP e nela vivem milhares de famíélias. Ã favela
teve origem em um antigo loteamento de 1955, que naã o teve o devido destino pelos seus
proprietaé rios. Logo, o local foi invadido e ocupado gerando a favela. Ãpoé s anos de ocupaçaã o, alguns
proprietaé rios ingressaram com açaã o reivindicatoé ria. Ão final o TJSP e o STJ julgaram a pretensaã o
improcedente, pois a funçaã o social da propriedade naã o foi atendida (abandono por mais de 20 anos)
gerando a consolidaçaã o de uma nova realidade social e urbaníéstica. Ã decisaã o foi revolucionaé ria por
introduzir a funçaã o social no proé prio conceito de propriedade.
Saã o defesos os atos que naã o trazem ao proprietaé rio qualquer comodidade ou utilidade, e sejam
animados pela intençaã o de prejudicar algueé m (art. 1228, § 2º, do CC). Trata-se do abuso do direito de
propriedade. Este artigo parece exigir dolo no termo “intençaã o” gerando a ideia de responsabilidade
subjetiva. Poreé m, doutrina majoritaé ria entende que o art. 187 do CC consolida responsabilidade
objetiva no abuso de direito (E. 37 do JDC). Enunciado n. 49 da I JDC: “a regra do art. 1228, § 2º, do
novo Coé digo Civil interpreta-se restritivamente, em harmonia com o princíépio da funçaã o social da
propriedade e com o disposto no art. 187”. Ou seja, a responsabilidade em ambos os artigos eé objetiva.
O proprietaé rio pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriaçaã o, por necessidade ou utilidade pué blica ou
interesse social, bem como no de requisiçaã o, em caso de perigo pué blico iminente (a. 1228, §3º).

- Responsabilidade civil do proprietaé rio

Regra: a responsabilidade do proprietaé rio eé SUBJETIVÃ, soé respondendo pelos danos causados a
terceiros quando atuar culposamente.
Exceçoã es:
I. Proprietaé rio ou detentor: art.936, CC – responsabilidade OBJETIVÃ, sem risco integral, ou seja,
caso fortuito ou força maior excluem a responsabilidade.

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não
provar culpa da vítima ou força maior.
II. Ruíéna de preé dio: a responsabilidade do proprietaé rio eé OBJETIVÃ, sem risco integral.

III. Ãrt. 937. O dono de edifíécio ou construçaã o responde pelos danos que resultarem de sua ruíéna,
se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

IV. Coisa caíéda ou objeto lançado ou efuusio et dejectis: a responsabilidade eé OBJETIVÃ, COM
RISCO INTEGRÃL – o caso fortuito ou força maior naã o eliminam a responsabilidade. Ãrt. 938.

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Ãquele que habitar preé dio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele
caíérem ou forem lançadas em lugar indevido.

 Propriedade aparente

Trata-se da projeçaã o da teoria da apareê ncia sobre o direito de propriedade. EÉ a proteçaã o de terceiro de boa-feé
que celebra negoé cios com aquele que aparenta ser o proprietaé rio. Ex: herdeiro aparente – pesssoa falece sem
deixar filhos, sendo sua herança arrecadada pelos pais, que venderam os bens. Ãpoé s, um filho naã o reconhecido
entra com açaã o de investigaçaã o de paternidade sendo julgada procedente, sendo o filho o verdadeiro herdeiro e
os avoé s, os herdeiros aparentes. Como a herança foi vendida para um terceiro de boa-feé , os avoé s devem restituir
o valor recebido pelos bens ao verdadeiro herdeiro, naã o tendo o terceiro de boa-feé restituir nada.

1.3 CONTRATOS DERIVADOS

Contrato-base e contrato derivado

Olindo Menezes: contratos derivados (subcontratos) saã o aqueles em que um dos contratantes do
ajuste principal transfere a terceiros os direitos correspondentes a sua posiçaã o juríédica, sem dele se
desvincular: sublocaçaã o, substabelecimento, subempreitada.

Carlos Roberto Gonçalves: alguns contratos saã o denominados derivados ou subcontratos, por tambeé m
dependerem ou derivarem de outros. Teê m por objeto direitos estabelecidos em outro contrato,
denominado baé sico ou principal.

Contrato derivado x contrato acessório: esses contratos teê m em comum com os acessoé rios o fato de
que ambos saã o dependentes de outro. Diferem, poreé m, pela circunstaê ncia de o derivado participar da
proé pria natureza do direito versado no contrato-base. Nessa espeé cie de avença, um dos contratantes
transfere a terceiro, sem se desvincular, a utilidade correspondente aà sua posiçaã o contratual. O
locataé rio, por exemplo, transfere a terceiro os direitos que lhe assistem, mediante a sublocaçaã o. O
contrato de locaçaã o naã o se extingue, e os direitos do sublocataé rio teraã o a mesma extensaã o dos direitos
do locataé rio, que continua vinculado ao locador.

Contrato derivado e cessão da posição contratual: o subcontrato tambeé m se distingue da cessaã o da


posiçaã o contratual, na qual o contrato baé sico persiste em sua integridade, mas com novo titular, o
cessionaé rio. No contrato derivado, no entanto, surge uma nova relaçaã o contratual, sem alteraçaã o da
primeira, havendo apenas um dos sujeitos que eé titular de ambos os contratos.

Ãdverte Síélvio Venosa que, “como consequeê ncia da derivaçaã o, o direito contido no subcontrato tem
como limite o direito contido no contratobase; sua extensaã o naã o pode ser ultrapassada. Ãplica-se o
princíépio segundo o qual ningueé m pode transferir mais direito do que tem. No mesmo diapasaã o, se o
contrato principal se extingue, extingue-se o contrato derivado por impossibilidade material de sua
continuaçaã o”.

Os contratos personalíéssimos ou "intuitu personae" naã o admitem a subcontrataçaã o, pois saã o


celebrados em razaã o das qualidades pessoais do obrigado. Tambeé m naã o a permitem os contratos de
execuçaã o instantaê nea, tendo em vista que o subcontrato
eé um negoé cio de duraçaã o.

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(TRF1) – O contrato derivado tem o condaã o de extinguir o contrato base?


NÃÃ O. O mecanismo teé cnico do contrato derivado propicia, por parte de terceiro, o gozo das utilidades
do contrato base, SEM, CONTUDO, LEVÃÉ -LO ÃÀ EXTINÇÃÃ O.
EXEMPLO 01: a sublocaçaã o, como ocorre com qualquer contrato derivado, haveraé de seguir o contrato-
base (LOCÃÇÃÃ O), naã o podendo, desta forma, permitir o que este proíébe. Ãssim, extinto o contrato-
base, seja qual for a sua causa, seraã o tambeé m extintas as eventuais sublocaçoã es, ressalvados direitos
indenizatoé rios em favor do sublocataé rio contra o sublocador.
EXEMPLO 02: CONTRÃTO DE SUBEMPREITÃDÃ NÃ CONSTRUÇÃÃ O CIVIL eé o contrato celebrado entre
empreiteira e outras empresas para a execuçaã o de obra ou de serviços na construçaã o civil, no todo ou
em parte, com ou sem fornecimento de material. Ã subempreitada eé um contrato derivado (expressaã o
que serve para explicar que ele depende de um contrato principal, o de empreitada. Pode ser total ou
parcial (conforme abranja todo o conjunto da obra ou parte dela).

No campo processual, havendo discussaã o litigiosa entre as partes no contrato-base, o terceiro que eé
parte do contrato derivado naã o tem legitimidade para aquela causa. Entrento, pode intervir como
assistente simples.

1.4 CONTRATO PRELIMINAR E CONTRATO DEFINITIVO

Contrato preliminar: aquele em que as partes se obrigam a, no futuro, celebrar novo contrato,
definitivo ou principal. Tambeé m eé chamado de preé -contrato, antecontrato, compromisso, promessa de
contrato.
Estipula-se, portanto, a obrigaçaã o de futura manifestaçaã o de vontade.
Estaé disciplinado nos arts. 462 e ss. do CC:
O contrato preliminar, exceto quanto a forma, deve conter todos os requisitos essenciais do contrato a
ser celebrado (art. 462). Ãssim, p. ex., a promessa de compra e venda de imoé vel pode ser feita por
instrumento particular, mas o contrato definitivo deve ser feito por escritura pué blica.

Desde que naã o haja claé usula de arrependimento, quaisquer das partes pode exigir a celebraçaã o do
contrato definitivo, assinando aà outra prazo para que o efetive (art. 463). Obs.: Em se tratando de
promessa de compra e venda de imoé vel sem claé usula de arrependimento, este pode ser registrado no
registro imobiliaé rio, conferindo-lhe oponibilidade "erga omnis".

Se naã o houver cumprimento do contrato preliminar, haé duas alternativas ao interessado: 1) poderaé
ajuizar açaã o contra o inadimplente, caso em que o juiz proferiraé sentença suprindo a vontade do
faltoso, conferindo caraé ter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da
obrigaçaã o (art. 464); 2) poderaé considerar desfeito o contrato, e pedir indenizaçaã o por perdas e danos
(art. 465).

OBS.: o contrato de promessa de compra e venda de imoé vel sem claé usula de arrependimento levado a
registro eé oponíével a terceiros (art. 1417 do CC), constituindo-se direito real de aquisiçaã o do
promissaé rio comprador (art. 1225, VII, do CC). Portanto, este pode exigir do promitente vendedor, ou
de terceiros, a outorga da escritura pué blica definitiva de compra e venda. Em caso de recusa, pode
ajuizar açaã o de adjudicaçaã o do imoé vel. Trata-se de açaã o pessoal, e naã o real. Ã natureza real do direito aà
aquisiçaã o gera, taã o somente, a oponibilidade a terceiros.
Poreé m, nos termos da Sué m 239/STJ, “o direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro
do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis”. Poreé m, a auseê ncia de registro impede a
exigeê ncia da outorga da escritura em face de terceiro de boa-feé .

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Ãrt. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem
efeito, deveraé manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for
razoavelmente assinado pelo devedor.

1.5 CONTRATO DE CONSUMO E CONTRATO DE ADESÃO

Contratos de consumo saã o os que os fornecedores de produtos ou prestadores de serviços celebram


com os consumidores.

Código de Defesa do Consumidor: Forma um subsistema autoê nomo, que vai reger completamente as
relaçoã es de consumo. Ãs regras dos demais ramos do Direito soé iraã o se aplicar subsidiariamente, em
caso de lacunas, quando houver. Constitui, assim, um microssistema, possuindo normas que regulam
todos os aspectos da proteçaã o do consumidor, coordenadas entre si, permitindo uma visaã o do
conjunto das relaçoã es de consumo, sem se deixar contaminar por outras regras dos demais ramos do
Direito. Como microssistema codificado, tem caráter interdisciplinar, outorgando tutelas especíéficas
para o consumidor, que compreendem: tutela civil, tutela penal, tutela administrativa, tutela
jurisdicional. Tem tambeé m caráter multidisciplinar: o direito do consumidor se utiliza de conceitos
de outras aé reas de conhecimento =>Teoria do Diálogo das Fontes – Claé udia Lima Marques.
No CDC, o objetivo naã o eé tutelar os iguais, cuja proteçaã o jaé estaé contida no CC, mas tutelar os desiguais,
tratando de maneira diferente o fornecedor e o consumidor com o objetivo de alcançar a isonomia.
Suas normas saã o cogentes e imperativas, de observaê ncia obrigatoé ria e cumprimento coercitivo, de
ordem pública e interesse social, inderrogaé veis pela vontade das partes. Segundo Nelson Nery, o
fato de ser de interesse social significa a possibilidade de o Ministeé rio Pué blico pode atuar nas lides
coletivas de consumo.
Sobre as normas do CDC serem de ordem pué blica e a possibilidade de reconhecimento de ofíécio pelo
juiz:
Sué m 381/ STJ: “Nos contratos bancaé rios, eé vedado ao julgador conhecer, de ofíécio, da abusividade das
claé usulas”, com base no art. 51 do CDC.
Incidência do CDC aos contratos celebrados antes de sua vigência
De acordo com a jurisprudeê ncia do STJ e do STF, o CDC não incide sobre os contratos celebrados
antes de sua vigência, sob pena de afronta ao ato jurídico perfeito. Poreé m, nos contratos de
execução diferida e prazo indeterminado, celebrados anteriormente à vigência do CDC, a partir
da edição deste, incidirão essas novas normas, ao argumento de que o contrato é renovado a
cada pagamento efetuado. Ex.: prevideê ncia privada.
1. Elementos integrantes da relação jurídica de consumo
e) Sujeitos: consumidor e fornecedor;
f) Objetos: produto e serviço;
g) Víénculo: oferta e mercado de consumo.
2. Conceito de consumidor
Ãrt. 2 Consumidor eé toda pessoa fíésica ou juríédica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
o

destinatário final.
Paraé grafo ué nico. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que
haja intervindo nas relaçoã es de consumo.
j) Pessoa fíésica ou juríédica: naã o importa a sua renda ou capacidade financeira;
k) Ãdquire: compra diretamente;
l) Utiliza: usa, em proveito proé prio ou de outrem;
m) Produto: qualquer bem, moé vel ou imoé vel, material ou imaterial (art. 3º, § 1º);
n) Serviço: qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneraçaã o, inclusive
as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, desde que naã o seja de natureza
trabalhista (art. 3o, § 2º);

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o) Destinataé rio final: para uso proé prio, privado, individual, familiar ou domeé stico, e ateé para terceiros,
desde que o repasse naã o se deê por revenda.
Quanto ao conceito de consumidor, haé varias teorias:
a)Teoria finalista ou subjetiva: foi a adotada expressamente pelo art. 2º CDC para a qualificaçaã o do
consumidor, pela presença do elemento da destinação final do produto ou do serviço. Tem prevalecido
no Brasil a ideia de que o consumidor deve ser destinatário final fático e econômico. Ãssim, segundo
Claudia Lima Marques: “Destinataé rio final seria aquele destinataé rio faé tico e econoê mico do bem ou
serviço, seja ele pessoa juríédica ou fíésica. Logo, segundo essa interpretaçaã o teleoloé gica, naã o basta ser
destinataé rio faé tico do produto, retiraé -lo da cadeia de produçaã o, levaé -lo para o escritoé rio ou resideê ncia
– eé necessaé rio ser destinataé rio econoê mico do bem, naã o adquiri-lo para revenda, naã o adquiri-lo para
uso profissional. Essa interpretação restringe a figura do consumidor àquele que adquire
(utiliza) um produto para uso próprio e de sua família, consumidor seria o não profissional,
pois o fim do CDC eé tutelar de maneira especial um grupo da sociedade que eé mais vulneraé vel”. Vaé rios
julgados do STJ adotam tal posicionamento. Nesse sentido, Enunciado n. 20 da I Jornada de Direito
Comercial, segundo a qual naã o se aplica o Coé digo de Defesa do Consumidor nos contratos entre
empresaé rios que tenham por objetivo o suprimento de insumos para as suas atividades de produçaã o,
comeé rcio ou prestaçaã o de serviços.
b)Teoria Maximalista ou objetiva: procura ampliar sobremaneira o conceito de consumidor e daíé a
construçaã o da relaçaã o juríédica de consumo. Segundo Claudia Lima Marques, “os maximalistas viam nas
normas do CDC o novo regulamento do mercado de consumo brasileiro, e naã o normas orientadas para
proteger somente o consumidor naã o profissional. O CDC seria um coé digo geral sobre o consumo, um
coé digo para a sociedade de consumo, que institui normas e princíépios para todos os agentes do
mercado, os quais podem assumir os papeé is ora de fornecedores, ora de consumidores. Ã definiçaã o do
art. 2º deve ser interpretada o mais extensivamente possíével, segundo esta corrente, para que as
normas do CDC possam ser aplicadas a um nué mero cada vez maior de relaçoã es de consumo”.
c) Teoria finalista aprofundada ou maximalista temperada/mitigada: Para Lima Marques, em
casos difíéceis envolvendo pequenas empresas que utilizam insumos para a sua produçaã o, mas naã o em
sua aé rea de expertise ou com uma utilizaçaã o mista, principalmente na aé rea de serviços, provada a
vulnerabilidade, conclui-se pela destinaçaã o final de consumo prevalente. Essa nova linha, em especial
do STJ, tem utilizado, sob o criteé rio finalista e subjetivo, expressamente a equiparaçaã o do art. 29 do
CDC, em se tratando de pessoa juríédica que comprove ser vulneraé vel e atue fora do aê mbito de sua
especialidade, como hotel que compra gaé s. Isso porque o CDC conhece outras definiçoã es de
consumidor. O conceito-chave aqui eé o de vulnerabilidade
Para o STJ, a hipossuficieê ncia ou vulnerabilidade deve ser devidamente demonstrada para que se
mitigue a teoria finalista. Jaé a vulnerabilidade do consumidor pessoa fíésica eé presumida pela lei.
Ressalte-se que, desde que vulneraé veis na relaçaã o juríédica, eé possíével o reconhecimento de uma pessoa
juríédica de direito pué blico como consumidora.
Vulnerabilidade não se confunde com hipossuficiência: a hipossuficieê ncia do consumidor constitui
um plus, um algo a mais, que traz a ele mais um benefíécio, qual seja a possibilidade de pleitear, no
campo judicial, a inversaã o do oê nus de provar, conforme estatui o art. 6º, VIII, do CDC. Diferencia-se da
vulnerabilidade, conceito juríédico indeclinaé vel que justifica toda a proteçaã o constante do CDC, em
todos os seus aspectos e seus preceitos.
Inversão do ônus da prova de que trata o art. 6º, VIII, do CDC: eé REGRA DE INSTRUÇÃO, devendo
a decisaã o judicial que determinaé -la ser proferida preferencialmente na fase de saneamento do
processo ou, pelo menos, assegurar aà parte a quem naã o incumbia inicialmente o encargo a reabertura
de oportunidade para manifestar-se nos autos (EREsp 422.778).
Não se aplica o CDC:
a) Relaçoã es juríédicas entre os condôminos e o condomínio (STJ, ÃGÃ 1122191);
b) Relaçaã o entre o INSS e seus beneficiários (REsp 143092);
c) Relações tributárias: a multa moratoé ria do CDC naã o se aplica aà s multas tributaé rias (STJ,
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ÃgREsp 1120361);
d) Contratos locatícios (REsp 706594; REsp 280577).
e) Contratos de crédito educativo, por naã o ser contrato bancaé rio e sim programa governamental
(REsp 1188926).
f) Relaçaã o entre franqueador e franqueado (REsp 687322);
g) Nas operações de mútuo bancário para obtenção de capital de giro, naã o saã o aplicaé veis as
disposiçoã es da legislaçaã o consumerista, uma vez que naã o se trata de relaçaã o de consumo, pois naã o
se vislumbra na pessoa da empresa tomadora do empreé stimo a figura do consumidor final (Ãg
REsp 956201).
h) Nas relações entre sociedade empresária e empresa de factoring. Uma sociedade
empresaé ria que contrata os serviços de uma factoring naã o pode ser considerada consumidora,
porque naã o eé destinataé ria final do serviço e tampouco se insere em situaçaã o de vulnerabilidade, jaé
que naã o se apresenta como sujeito mais fraco, com necessidade de proteçaã o estatal. (REsp
938979).
i) Nas relações de transporte internacional envolvendo importador que não seja
consumidor, aplica-se a Convençaã o de Varsoé via (REsp 1162649).
j) Prestação de Serviços Advocatícios: o CDC naã o se aplica aà s relaçoã es decorrentes de contrato
de prestaçaã o de serviços advocatíécios (ÃgÃREsp 616932).
Há relação de consumo
a) Entre o consumidor-mutuário do SFH como vulneraé vel faticamente frente ao agente
financeiro (REsp 85521). Entretanto, nos contratos de financiamento do SFH vinculados ao
FCVS, aplica-se a legislaçaã o proé pria e protetiva do mutuaé rio hipossuficiente do proé prio Sistema,
e não o CDC (Resp 489701).
b) Previdência privada - Sué m 563/STJ: "O CDFC é aplicável às entidades abertas de previdência
complementar, não incidindo nos contratos previdenciários celebrados com entidades fechadas.
Súm 289/STJ: “Ã restituiçaã o das parcelas pagas a plano de prevideê ncia privada deve ser objeto
de correçaã o plena, por íéndice que recomponha a efetiva desvalorizaçaã o da moeda”.
c) Operadora de serviços de assistência à saúde que presta serviços remunerados à
população (REsp 267530); Súm 469/STJ: Ãplica-se o CDC aos contratos de plano de saué de.
d) Entre o condomínio de quem eé cobrada indevidamente taxa de esgoto e a concessionária de
serviço público (ÃgREsp 1119647);
e) Contratos de promessa de compra e venda em que a incorporadora se obriga à
construção de unidades imobiliárias, mediante financiamento;
f) Contratos de arrendamento mercantil;
g) Contrato de financiamento celebrado entre banco e taxista para aquisição do veículo
(REsp 231208);
h) Relacionamento entre o canal de televisão e o seu público (REsp 436135);
i) Responsabilidade civil do transportador aéreo internacional pelo extravio de carga (REsp
171506);
j) Sociedades sem fins lucrativos, quando fornecem produtos ou prestam serviços
remunerados (REsp 436815 e REsp 519310).
Ponto de divergência: Ãtividade notarial - 1) Haé relaçaã o de consumo: REsp 1163652; 2) Naã o haé
relaçaã o de consumo: REsp 625.144+ CESPE (Notaé rios Ãcre 2007).

6. PROTEÇÃO CONTRATUAL

à proteçaã o contratual prevista no CDC tem o objetivo de promover a lealdade, a transpareê ncia e o
equilíébrio nas relaçoã es entre fornecedor e consumidor, e parte do reconhecimento da vulnerabilidade
do consumidor, que, no campo contratual, eé acentuada em razaã o de, na quase totalidade das vezes, as
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relaçoã es contratuais de consumo serem estabelecidas por contratos de adesaã o, redigidos,


normalmente, de modo a favorecer o fornecedor.
Reconhecida a vulnerabilidade do consumidor, naã o haé mais como sustentar, sem qualquer filtro, que
todos saã o livres e iguais, de modo que a autonomia da vontade naã o eé campo de atuaçaã o do Estado.
Este, portanto, interveé m no contrato de consumo a fim de equalizar a relaçaã o entre as partes
(dirigismo contratual).
Os princíépios liberais contratuais (autonomia da vontade, pacta sunt servanda, relatividade dos efeitos
do contrato) ganham novos contornos com os princíépios sociais do contrato (boa-feé objetiva, funçaã o
social do contrato, equilíébrio contratual).
Essa nova teoria contratual contida no CDC, na qual se destaca o princíépio da boa-feé objetiva (art. 4º,
III, e 51, IV do CDC), naã o restringe sua preocupaçaã o com as fases de formaçaã o e execuçaã o do contrato,
mas tambeé m com a fase preé -contratual, exigindo transpareê ncia da oferta e da publicidade.

1. Princípios específicos

1. Rompimento com as tradições privatistas do Código Civil/16

Pacta sunt servanda (obrigatoriedade do que foi pactuado) eé um exemplo disso, eé um instituto
tíépico do Direito Civil claé ssico, do CC/16 e houve um rompimento pelo CDC.
No CDC eé possíével o juiz reconhecer de ofíécio um direito do consumidor. No CDC naã o eé possíével
as partes abrirem maã o de um direito do consumidor.
Ãrt. 1º, CDC: se estamos diante de normas de ordem pué blica e de interesse social, o juiz pode
conhecer de ofíécio e as partes naã o podem abrir maã o dos direitos.
Naã o haé espaço para pacta sunt servanda nos contratos de consumo. Noé s temos normas de
ordem pué blica e de interesse social, o que permite uma ingereê ncia do Estado nos contratos.
à regra no CDC eé a responsabilidade objetiva, diferente da responsabilidade subjetiva que eé a
regra nas relaçoã es que naã o sejam de consumo.
Ãleé m disso, a oferta vincula no CDC.

2. Boa fé objetiva

Nos contratos de consumo o que vale eé a boa feé objetiva e os seus deveres anexos, laterais ou
secundaé rios de: proteção; cooperação e informação.

Ãnalisa-se a boa feé de forma objetiva.


3. Princípio da transparência (dever de informar)

Art. 46. Os contratos que regulam as relaçoã es de consumo naã o obrigaraã o os consumidores, se
naã o lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento preé vio de seu conteué do, ou se os
respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensaã o de seu sentido
e alcance.

Tem que ser redigido de uma forma que o consumidor compreenda o seu sentido e alcance.
4. Interpretação mais favorável ao consumidor
Ãrt. 47, CDC: Ãs claé usulas contratuais seraã o interpretadas de maneira mais favorável
ao consumidor.
No CC a interpretaçaã o mais favoraé vel ao aderente impoã e muito mais restriçoã es do que o CDC.
No CDC eé mais ampla a interpretaçaã o se comparada ao CC.
5. Vinculação pré-contratual
Ãrt. 48. Ãs declaraçoã es de vontade constantes de escritos particulares, recibos e preé -
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contratos relativos aà s relaçoã es de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive


execuçaã o especíéfica, nos termos do art. 84 e paraé grafos.
à vinculaçaã o naã o eé apenas da oferta e do contrato, eé tambeé m do preé -contrato. Ex.: compromisso de
compra e venda.
2. Contrato de adesão
Ãrt. 54. Contrato de adesaã o eé aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos
ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteué do.
1. Conceito
 Contrato de adesaã o eé aquele cujas claé usulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente
(ex.: contrato de aé gua, energia eleé trica...).
Naã o haé como discutir claé usula contratual em relaçaã o a esses serviços pué blicos. Ou voceê adere
ou naã o adere.
O contrato de adesaã o eé o contrato formulaé rio (contrato que jaé estaé pronto).
 Tambeé m eé considerado contrato de adesaã o aquele cujas claé usulas foram estabelecidas
unilateralmente pelo fornecedor e o consumidor naã o pode modificar substancialmente seu conteué do.
Ex.: Quando voceê vai abrir conta em um banco o contrato jaé estaé pronto.
2. 2.2. Características
a) O consumidor naã o participa substancialmente de sua elaboraçaã o (naã o vai conseguir modificaé -lo).
b) Ã inserçaã o de claé usula naã o desnatura o contrato de adesaã o (art. 54, § 1º).
à definiçaã o legal do art. 54 diz que o consumidor naã o pode “modificar substancialmente”. E se
ele pede para inserir alguma claé usula?
O § 1º diz que essa inserçaã o naã o faz com que ele deixe de ser um contrato de adesaã o.
c) Ã resoluçaã o alternativa de contrato eé escolha exclusiva do consumidor (art. 54, § 2º).
EÉ possíével falar em claé usula resolutoé ria (que poã e fim ao contrato) no contrato de adesaã o?
§ 2º: a claé usula resolutoé ria eé alternativa e de escolha ao consumidor.
§ 2º Nos contratos de adesaã o admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa,
cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.
d) O contrato de adesaã o deveraé ser redigido em termos claros, com caracteres ostensivos, de forma
legíével e o tamanho da fonte naã o inferior ao corpo 12 (art. 54, §3º, incluíédo pela Lei 11.785/08: fim de
letras miué das em contrato de adesaã o).
§ 3º Os contratos de adesaã o escritos seraã o redigidos em termos claros e com caracteres
ostensivos e legíéveis, cujo tamanho da fonte naã o seraé inferior ao corpo doze, de modo a
facilitar sua compreensaã o pelo consumidor.
Termos claros: deve evitar linguagem teé cnica inacessíével.
Caracteres ostensivos: que naã o dificultam a leitura pelo consumidor.
Legíéveis: naã o pode ser, p. ex., borrado. Ã fonte naã o pode ser inferior a 12.
e) Ãs claé usulas que limitarem direitos aos consumidores deveraã o ser redigidas em destaque para que
permita sua imediata e faé cil compreensaã o (art. 54, § 4º).
Se aparecem claé usulas restritivas do direito do consumidor (ex.: no contrato de seguro a
informaçaã o de que a seguradora naã o se responsabiliza se o segurado estiver conduzindo o veíéculo
embriagado) elas devem vir em destaque.
§ 4° Ãs claé usulas que implicarem limitação de direito do consumidor deveraã o ser
redigidas com destaque, permitindo sua imediata e faé cil compreensaã o.

O fato de claé usula restritiva estar no meio de outras em negrito naã o eé suficiente para se atender
a exigeê ncia do art. 54, § 4º (REsp 774035). Deve ter um espaçamento maior; aleé m do negrito, ter um
grifo ou estar dentro de um quadrado etc.

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3. Compras fora do estabelecimento comercial


Venda a contento
Ãrt. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua
assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrataçaã o de
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial,
especialmente por telefone ou a domicíélio.

No contrato realizado fora do estabelecimento comercial temos um prazo de desistência de 7


dias. EÉ chamado de prazo de reflexão.
Ex.: Compras por telefone, pela internet, por correspondeê ncia...
Muitas vezes o consumidor compra por impulso, ele naã o consegue refletir a respeito do
produto, se eé bom mesmo.
Fundamentos do prazo de reflexão:
- o consumidor estaé mais vulneraé vel por naã o conseguir verificar o produto ou o serviço;
- naã o conseguir comparar com outras marcas ou modelos;
- naã o conseguir tirar dué vidas na presença do vendedor;
- naã o conseguir conversar pessoalmente com outros consumidores;
- evitar a compra por impulso.
Ex.: Ã pessoa comprou um vestido e naã o gostou. Se o fornecedor naã o quiser trocar, ele naã o estaé
obrigado. Se a compra foi dentro do estabelecimento, o fornecedor soé estaé obrigado a realizar a troca
em caso de víécio.
OBS.: Este prazo de 7 dias eé o prazo legal, ou seja, eé o míénimo. Prazo convencional pode existir,
desde que seja maior de 7 dias.
Ãrt. 49, § ué nico:
Paraé grafo ué nico. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo,
os valores eventualmente pagos, a qualquer tíétulo, durante o prazo de reflexaã o, seraã o
devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.

Diante do direito de arrependimento, os valores pagos durante o prazo de reflexaã o seraã o devolvidos de
imediato e monetariamente atualizados.
Temos efeitos ex tunc (retroativos da desisteê ncia). EÉ como se nada tivesse ocorrido, devolve-se
tudo.
Naã o haé prejuíézo ao fornecedor, justamente por causa do risco do negoé cio.
Devolvidos de imediato: naã o eé possíével o fornecedor impor um prazo.
Ex.: Ã pessoa pagou no cartaã o de creé dito e recebe a informaçaã o de que vai devolver na proé xima
fatura. Isso viola o § ué nico do art. 49? Naã o, estaé dentro dos limites do razoaé vel o abatimento na
proé xima fatura. No entanto, se eé um valor muito alto (ex.: a pessoa naã o costuma gastar muito no
cartaã o, gasta em meé dia R$ 100,00 e fez uma compra de R$ 5.000,00), deve ser devolvido ateé o meê s
subsequente.
4. Outorga de crédito ou financiamento
Ãrt. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de creé dito ou
concessaã o de financiamento ao consumidor, o fornecedor deveraé , entre outros requisitos,
informá-lo preé via e adequadamente sobre:
I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;
III - acréscimos legalmente previstos;
IV - nué mero e periodicidade das prestaçoã es;
V - soma total a pagar, com e sem financiamento.

 O que o art. 52 abrange?


Nelson Nery diz que o dispositivo abrange todos os contratos de creé dito, tais como: mué tuo,

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creé dito rotativo (cheque especial), cartaã o de creé dito...

Os juros devem constar expressamente. Ãleé m dos juros, haé a multa de mora, no caso de
descumprimento do contrato de creé dito.
 Art. 52, § 1º: a multa de mora não pode ser superior a 2% do valor da prestação.
à multa eé calculada sobre o valor das prestaçoã es vencidas, naã o sobre o total do financiamento.

“CDC. Financiamento para aquisiçaã o de automoé vel. Ãplicaçaã o do CDC. O CDC incide sobre
contrato de financiamento celebrado entre a CEF e o taxista para aquisiçaã o de veíéculo. Ã
multa eé calculada sobre o valor das prestaçoã es vencidas, naã o sobre o total do financiamento
(art. 52, § 1º, do CDC).” (REsp 231208).

à redaçaã o original do § 1º falava em 10% e, em 1996 (Lei 9.298/96), houve alteraçaã o e passou a
falar em 2% de multa de mora.
à reduçaã o da multa de mora de 10% para 2% somente eé possíével para os contratos celebrados
apoé s a sua vigeê ncia (REsp 230672)
 Art. 52, § 2º
§ 2º EÉ assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou
parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.

O consumidor pode antecipar o deé bito total ou parcialmente.


Haé reduçaã o proporcional dos juros e demais acreé scimos.
Ex.: O consumidor quer antecipar 10 das 30 parcelas.
Qualquer claé usula em contraé rio seraé nula de pleno direito, nos termos do art. 51 do CDC.
 Compra e venda parcelada
Clausula de decaimento: perda de todas as prestaçoã es pagas em caso de desisteê ncia do
adquirente.
Ãrt. 53. Nos contratos de compra e venda de moé veis ou imoé veis mediante pagamento em
prestaçoã es, bem como nas alienaçoã es fiduciaé rias em garantia, consideram-se nulas de pleno
direito as claé usulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefíécio do
credor que, em razaã o do inadimplemento, pleitear a resoluçaã o do contrato e a retomada do
produto alienado.
Essa claé usula naã o eé permitida nos contratos de consumo.
Descontar uma parte eé possíével? O que naã o pode eé a perda total das prestaçoã es pagas.
Como o CDC foi expresso ao proibir a retençaã o integral do valor pago pelo adquirente, os
fornecedores passaram a tentar burlar essa vedaçaã o legal e começaram a prever que, em caso de
distrato, seria feita a devoluçaã o das parcelas pagas, fazendo-se, contudo, a retençaã o de determinados
valores a tíétulo de indenizaçaã o pelas despesas experimentadas pelo fornecedor.
Ocorre que diversos contratos previram que essa devoluçaã o seria de valores íénfimos, ou seja, muito
pequenos, ficando o fornecedor com a maior parte da quantia jaé paga pelo adquirente.
Essa praé tica tambeé m foi rechaçada pela jurisprudeê ncia.
Ãssim, a devoluçaã o de uma parte íénfima das prestaçoã es tambeé m eé vedada pelo CDC por colocar o
consumidor em uma situaçaã o de desvantagem exagerada:
Ãrt. 51. Saã o nulas de pleno direito, entre outras, as claé usulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigaçoã es consideradas iníéquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíéveis com a boa-feé ou a equidade;
O STJ entende que eé justo e razoaé vel que o vendedor retenha parte das prestaçoã es pagas pelo
consumidor como forma de indenizaé -lo pelos prejuíézos suportados, notadamente as despesas
administrativas realizadas com a divulgaçaã o, comercializaçaã o e corretagem, aleé m do pagamento de
tributos e taxas incidentes sobre o bem, e a eventual utilizaçaã o do bem pelo comprador.
à jurisprudeê ncia normalmente considera razoaé vel a retençaã o, pelo promitente vendedor, de um
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percentual que varia de 10% a 20% dos valores jaé pagos, devendo o restante ser devolvido ao
promitente comprador.
Quais as formas de devoluçaã o?
Ex.: Voceê comprou um imoé vel parcelado em 120 vezes e, na metade, naã o consegue pagar mais.
à construtora poderia dar essa parte que jaé foi paga como uma carta de creé dito para voceê adquirir
outro imoé vel da construtora?
EÉ abusiva a claé usula que preveê devoluçaã o em forma de carta de creé dito, porque eé uma forma de
manter o víénculo do consumidor com o fornecedor:

CDC. COMPRÃ E VENDÃ DE IMOÉ VEL. DISTRÃTO. DEVOLUÇÃÃ O DOS VÃLORES NÃ FORMÃ DE
CÃRTÃ DE CREÉ DITO. UTILIZÃÇÃÃ O PÃRÃ Ã ÃQUISIÇÃÃ O DE OUTRO IMOÉ VEL NÃ MESMÃ
CONSTRUTORÃ. ÃRT. 53, CÃPUT, C/C ÃRT. 51, II, DO CDC. (...). 1. Ã anaé lise da abusividade da
claé usula de decaimento "eé feita tanto frente ao direito tradicional e suas noçoã es de abuso de
direito e enriquecimento ilíécito, quanto frente ao direito atual, posterior aà entrada em vigor
do CDC, tendo em vista a natureza especial dos contratos perante os consumidores e a
imposiçaã o de um novo paradigma de boa-feé objetiva, equü idade contratual e proibiçaã o da
vantagem excessiva nos contratos de consumo (art. 51, IV) e a expressa proibiçaã o de tal tipo
de claé usula no art. 53 do CDC". 2. Ão dispor o contrato que a devoluçaã o dos referidos valores
ao adquirente se daria por meio de duas cartas de creé dito, vinculadas aà aquisiçaã o de um outro
imoé vel da mesma construtora, isso significa, efetivamente, que naã o haveraé devoluçaã o alguma,
permanecendo o consumidor-adquirente submetido aà construtora, visto que, o ué nico
caminho para naã o perder as prestaçoã es jaé pagas, seraé o de adquirir uma outra unidade
imobiliaé ria da recorrente. (REsp 437607)

STJ tem vaé rias decisoã es considerando razoaé vel a retençaã o de 25%. (REsp 474388), mas deve
ser analisado caso a caso, pois vai envolver o uso, desgaste, períéodo em que utilizou o bem...
Em contrato de promessa de compra e venda de imoé vel submetido ao CDC, eé abusiva a claé usula
contratual que determine, no caso de resoluçaã o, a restituiçaã o dos valores devidos somente ao teé rmino
da obra ou de forma parcelada, independentemente de qual das partes tenha dado causa ao fim do
negoé cio. Ã restituiçaã o deveraé ser imediata. O STJ afirma que tais claé usulas saã o abusivas por violarem o
art. 51, II e IV, do CDC.
EÉ abusiva a claé usula penal de contrato de pacote turíéstico que estabeleça, para a hipoé tese de
desisteê ncia do consumidor, a perda integral dos valores pagos antecipadamente. Cabe ressaltar que o
cancelamento de pacote turíéstico contratado constitui risco do empreendimento desenvolvido por
qualquer ageê ncia de turismo, naã o podendo esta pretender a transfereê ncia integral do oê nus decorrente
de sua atividade empresarial a eventuais consumidores. No caso concreto, o STJ decidiu reduzir a
claé usula penal (multa) para 20% do valor pago, ou seja, a ageê ncia de turismo ficou autorizada a reter
20% do preço do pacote, restituindo ao consumidor os 80% restantes.
 Compras por consórcio
- Lei 11.795/08.
- Ãrt. 53, § 2º, CDC.
Ãrt. 53, § 2º Nos contratos do sistema de consoé rcio de produtos duraé veis, a compensaçaã o
ou a restituiçaã o das parcelas quitadas, na forma deste artigo, teraé descontada, aleé m da
vantagem econoê mica auferida com a fruiçaã o, os prejuíézos que o desistente ou inadimplente
causar ao grupo.
Haé um grupo, se um desiste, vai causar um prejuíézo ao grupo.
Taxa de administração pode ser superior a 10%. Quem regula esse percentual naã o eé o
Judiciaé rio, eé o Banco Central.
“CONSOÉ RCIO DE BENS MOÉ VEIS. TÃXÃ DE ÃDMINISTRÃÇÃÃ O. FIXÃÇÃÃ O. LIMITE SUPERIOR Ã
10%. POSSIBILIDÃDE. ÃUSEÊ NCIÃ DE ILEGÃLIDÃDE E ÃBUSIVIDÃDE. 1 - O cerne da
controveé rsia cinge-se aà possibilidade de limitaçaã o da taxa de administraçaã o de consoé rcio de
bens moé veis, prevista no Decreto 70.951/72. Consoante recente entendimento consignado

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pela Eg. Quarta Turma, as administradoras de consórcio possuem total liberdade para
fixar a respectiva taxa de administração, nos termos do art. 33 da Lei nº 8.177/91 e da
Circular nº 2.766/97 do BACEN, naã o sendo considerada ilegal ou abusiva, portanto, as taxas
fixadas em percentual superior a 10%. (EResp 927379)
“O prejuíézo que o desistente ou inadimplente causar ao grupo”: esse prejuíézo eé presumido ou
deve ser comprovado?
Parte da doutrina (Rizzatto Nunes) entende que o oê nus de provar o prejuíézo eé da
administradora do consoé rcio. Logo, o prejuíézo naã o eé presumido.
Para o STJ, eé presumido o prejuíézo com a saíéda de um consorciado ou com o inadimplemento
deste.
“Ã desisteê ncia voluntaé ria do consorciado cria, automaticamente, um desfalque no grupo
respectivo, presunção que milita em favor da administradora de consórcio, aà qual naã o
pode ser, por isso mesmo, ainda imposto o oê nus de provar que naã o houve a substituiçaã o do
desistente por outro, como condicionante ao diferimento da restituiçaã o ao cabo do aludido
teé rmino do plano”. (REsp 486210)

Recentemente, o STJ vem mudando seu posicionamento, em especial, no ÃgRg no REsp 56425:

“ÃGRÃVO REGIMENTÃL NO ÃGRÃVO CONTRÃ DECISÃÃ O DE INÃDMISSÃÃ O DO RECURSO


ESPECIÃL. CONSOÉ RCIO. DESISTEÊ NCIÃ. COBRÃNÇÃ DE CLÃÉ USULÃ PENÃL. NECESSIDÃDE DE
PROVÃ DO PREJUIÉZO ÃO GRUPO. PROVÃ. INEXISTEÊ NCIÃ. (...). 1. Nos termos da jurisprudeê ncia
do STJ, "a possibilidade de se descontar dos valores devidos percentual a tíétulo de reparaçaã o
pelos prejuíézos causados ao grupo (art. 53, § 2º, do CDC) depende da efetiva prova do
prejuíézo sofrido, oê nus que incumbe aà administradora do consoé rcio." (REsp 871421). 2. O
Tribunal de origem, apreciando as peculiaridades faé ticas da causa, concluiu que a desisteê ncia
do agravado naã o trouxe prejuíézo ao grupo consorcial. (...)". (ÃgRg ÃREsp 56425).

Súm 35/STJ: Incide correçaã o monetaé ria sobre as prestaçoã es pagas, quando de sua restituiçaã o,
em virtude da retirada ou exclusaã o do participante de plano de consorcio.
Quando ele vai receber de volta esse valor?
O prazo de ateé 30 dias para receber de volta as prestaçoã es pagas, monetariamente atualizadas,
começa a correr do teé rmino do consoé rcio, ou seja, com a entrega do ué ltimo bem.

“RECURSO ESPECIÃL - CONSOÉ RCIO - DESISTEÊ NCIÃ - RETENÇÃÃ O DOS VÃLORES PÃGOS -
IMPOSSIBILIDÃDE - RESTITUIÇÃÃ O EM ÃTEÉ 30 (TRINTÃ) DIÃS CONTÃDOS DO TEÉ RMINO DO
PLÃNO, MOMENTO Ã PÃRTIR DO QUÃL INCIDEM OS JUROS DE MORÃ - PRECEDENTES -
RECURSO PÃRCIÃLMENTE PROVIMENTO. 1. Ã restituiçaã o dos valores vertidos por
consorciado ao grupo consorcial eé medida que se impoã e, sob pena de enriquecimento ilíécito
dos demais participantes e da proé pria instituiçaã o administradora. 2. O reembolso, entretanto,
eé devido em ateé 30 (trinta) dias apoé s o encerramento do grupo, data esta que deve ser
considerada como aquela prevista no contrato para a entrega do ué ltimo bem. 3. Os juros de
mora, na espeé cie, incidem, taã o-somente, a partir de quando se esgota o prazo para a
administradora proceder ao reembolso e, por qualquer motivo, naã o o faz, momento em que
sua mora resta caracterizada. (REsp 1033193)

Ãrt. 53, § 3º Os contratos de que trata o caput deste artigo seraã o expressos em moeda
corrente nacional.

 No contrato de leasing, naã o cabe busca e apreensaã o direta, deve ter a notificaçaã o preé via do
arrendataé rio.
Súmula 369 do STJ: No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja claé usula
resolutiva expressa, eé necessaé ria a notificaçaã o preé via do arrendataé rio para constituíé-lo em mora.

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5. 5. Cláusulas abusivas
Estaã o previstas no art. 51 do CDC.
Ãs claé usulas abusivas saã o nulas de pleno direito  NULIDADE ABSOLUTA.
 O juiz pode conhecer de ofíécio a nulidade de claé usula abusiva (em regra)
Exceçaã o: Sué m 381/STJ.
Súm 381/STJ: Nos contratos bancaé rios, eé vedado ao julgador conhecer, de ofíécio, da
abusividade das claé usulas.
à sentença que reconhece de ofíécio a nulidade da claé usula eé uma sentença desconstitutiva,
implica efeitos ex tunc (eé como se naã o existisse a claé usula no contrato de consumo).
 Definição de abusividade
Pode ter:
- aproximaçaã o subjetiva: conecta a abusividade com a figura do abuso de direito.
- aproximaçaã o objetiva: conecta a abusividade a paradigmas modernos, como a boa feé objetiva.
O CDC adotou a aproximaçaã o objetiva para definir claé usula abusiva.
 O art. 51 traz um rol exemplificativo de cláusulas abusivas.

Ãrt. 51. Saã o nulas de pleno direito, entre outras, as claé usulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:

Exemplo 1:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por víécios de
qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renué ncia ou disposiçaã o de direitos.
Nas relaçoã es de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa juríédica, a indenizaçaã o
poderaé ser limitada, em situaçoã es justificaé veis;

Haé uma:
- proibição absoluta: claé usulas que impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do
fornecedor por víécios dos produtos e serviços ou impliquem renué ncia ou disposiçaã o de direitos.
Naã o pode ocorrer de modo algum.
Ex.: O estacionamento fala que naã o se responsabiliza pelos danos ou eventuais furtos de objetos
deixados no interior do veíéculo.
Súm 130/STJ: Ã empresa responde, perante o cliente, pela reparaçaã o de dano ou furto de
veíéculo ocorridos em seu estacionamento.
Tambeé m eé vedada a tarifaçaã o de indenizaçaã o do transporte aeé reo nacional e estrangeiro (REsp
552553)
- proibição relativa: pode limitar a indenizaçaã o, mas somente quando eé o consumidor pessoa juríédica
e em situaçoã es justificaé veis, ou seja, concede algum benefíécio em troca.
Ex.: Uma microempresa adquire 10 computadores de uma grande empresa de informaé tica e faz
um acordo com ela: no lugar de pagar 100% de indenizaçaã o no caso de eventual prejuíézo, paga 50%,
mas quer o dobro de garantia contratual, ao inveé s de 1 ano, 2 anos.
O consumidor pessoa fíésica naã o pode fazer essa negociaçaã o. Presume-se a menor
vulnerabilidade do consumidor pessoa juríédica.
Exemplo 2:

II - subtraiam ao consumidor a opçaã o de reembolso da quantia jaé paga, nos casos previstos
neste coé digo;

Exs.:
1) Ãrt. 49, § ué nico: restituiçaã o do que foi pago no caso de compra fora do estabelecimento
comercial.
2) Ãrt. 18, § 1º, II: no caso de víécio do produto, uma das opçoã es dada ao consumidor eé a

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restituiçaã o do valor pago.


3) Ãrt. 35, III: a recusa da oferta tem como uma das opçoã es a restituiçaã o do valor pago.

Exemplo 3:

III - transfiram responsabilidades a terceiros;

Ex.: na venda de pacote turíéstico vendido que envolve o voo, hotel e outros serviços, a ageê ncia
de turismo responde pela maé prestaçaã o do serviço da companhia aeé rea (REsp 783016)
EÉ diferente da empresa que contrata uma seguradora.
Ãrt. 101, II, CDC: “o reé u que houver contratado seguro de responsabilidade poderaé chamar ao
processo o segurador, vedada a integraçaã o do contraditoé rio pelo Instituto de Resseguros do Brasil.
Nesta hipoé tese, a sentença que julgar procedente o pedido condenaraé o reé u nos termos do art. 80 do
Coé digo de Processo Civil. Se o reé u houver sido declarado falido, o síéndico seraé intimado a informar a
existeê ncia de seguro de responsabilidade, facultando-se, em caso afirmativo, o ajuizamento de açaã o de
indenizaçaã o diretamente contra o segurador, vedada a denunciaçaã o da lide ao Instituto de Resseguros
do Brasil e dispensado o litisconsoé rcio obrigatoé rio com este”.
Ex.: Estacionamento tem que ter seguradora: isso naã o eé transferir a responsabilidade, isso eé
legíétimo.
Exemplo 4:

IV - estabeleçam obrigaçoã es consideradas iníéquas, abusivas, que coloquem o consumidor em


desvantagem exagerada, ou sejam incompatíéveis com a boa-feé ou a equidade;

Para identificar a claé usula abusiva: art. 51, § 1º:

Ãrt. 51, § 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que:


I - ofende os princíépios fundamentais do sistema juríédico a que pertence;
II - restringe direitos ou obrigaçoã es fundamentais inerentes aà natureza do contrato, de tal
modo a ameaçar seu objeto ou equilíébrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e
conteué do do contrato, o interesse das partes e outras circunstaê ncias peculiares ao caso.

Presunçaã o de exagero: ofendeu princíépio fundamental; restringiu direitos ou obrigaçoã es


fundamentais; ou se mostrou excessivamente onerosa para o consumidor.
Ex.: Claé usula que limita o períéodo de internaçaã o do segurado.
Eficácia interna da função social dos contratos: o contrato deve respeitar a dignidade dos
contratantes
Súm 302/STJ: EÉ abusiva a claé usula contratual de plano de saué de que limita no tempo a
internaçaã o hospitalar do segurado.

“CIVIL E PROCESSUÃL. ÃCOÉ RDÃÃ O ESTÃDUÃL. OMISSOÃ ES NÃÃ O CONFIGURÃDÃS. SEGURO-


SÃUÉ DE. CLÃÉ USULÃ LIMITÃTIVÃ DE VÃLOR DE DESPESÃS ÃNUÃIS. ÃBUSIVIDÃDE.
ESVÃZIÃMENTO DÃ FINÃLIDÃDE DO CONTRÃTO. NULIDÃDE. I. (...) II. A finalidade essencial
do seguro-saúde reside em proporcionar adequados meios de recuperação ao
segurado, sob pena de esvaziamento da sua própria ratio, o que não se coaduna com a
presença de cláusula limitativa do valor indenizatório de tratamento que as instâncias
ordinárias consideraram coberto pelo contrato. (REsp 326147)

Limitaçaã o das sessoã es de terapias tambeé m eé claé usula abusiva (REsp 1115588).
O STJ jaé entendeu que eé claé usula abusiva aquela que soé permite a cirurgia de reduçaã o de
estoê mago e naã o admite outras cirurgias correlatas, como a cirurgia para retirada de peles excedentes.
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Súm 382/STJ: Ã estipulaçaã o de juros remuneratoé rios superiores a 12% ao ano, por si soé , naã o
indica abusividade.
Súm 379/STJ: Nos contratos bancaé rios naã o regidos por legislaçaã o especíéfica, os juros
moratoé rios poderaã o ser convencionados ateé o limite de 1% ao meê s.
 Contrato de factoring
Empresa de factoring naã o se enquadra no conceito de instituiçaã o financeira. Por isso, os juros
remuneratoé rios estaã o limitados a 12% ao ano, nos termos da lei de usura. (REsp 1048341 )

Exemplo 5:
VI - estabeleçam inversaã o do oê nus da prova em prejuíézo do consumidor;
O oê nus da prova serve para facilitar a defesa do consumidor em juíézo, naã o pode ser para
prejudicar.
Exemplo 6:
VII - determinem a utilizaçaã o compulsoé ria de arbitragem;
Ãrbitragem:
- Claé usulas compromissoé rias: para a maioria, naã o saã o admitidas nos contratos de consumo, pois saã o
compulsoé rias.
- Compromisso arbitral: eé admitido por causa da sua facultatividade.
Exemplo 7:
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negoé cio juríédico
pelo consumidor;
Saã o as chamadas claé usulas mandato.
Exemplo 8:
IX - deixem ao fornecedor a opçaã o de concluir ou naã o o contrato, embora obrigando o
consumidor;
Qualquer claé usula que deixe ao fornecedor a opçaã o de concluir ou naã o o contrato eé abusiva.
Exemplo 9:
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variaçaã o do preço de maneira
unilateral;
Naã o eé possíével o fornecedor realizar a variaçaã o de preço de maneira unilateral porque isso gera
um prejuíézo ao consumidor.
Exemplo 10:
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual
direito seja conferido ao consumidor;
EÉ abusivo o cancelamento do limite de creé dito em contrato de conta corrente sem que o
correntista seja previamente consultado (REsp 621577)
Exemplo 11:
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigaçaã o, sem que
igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
Ex.: Obrigar o consumidor a pagar pelo boleto bancaé rio.
Exemplo 12:
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteué do ou a qualidade do
contrato, apoé s sua celebraçaã o;
Exemplo 13:
XIV - infrinjam ou possibilitem a violaçaã o de normas ambientais;
Exemplo 14:
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteçaã o ao consumidor;

O sistema de proteçaã o ao consumidor naã o se resume ao CDC, abrange: Lei de Economia Popular
(Lei 1.521/51), Crimes contra a Ordem Econoê mica (Lei 8.137/90), Planos de Saué de (Lei 9.656/98)...
Exemplo 15:
XVI - possibilitem a renué ncia do direito de indenizaçaã o por benfeitorias necessaé rias.
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Naã o eé possíével recusar o direito a indenizaçaã o por benfeitorias necessaé rias.


Ex.: O imoé vel foi comprado a prestaçoã es, o consumidor naã o consegue terminar de pagar o
contrato, mas fez uma benfeitoria necessaé ria. Ã empresa diz que vai devolver o dinheiro, mas naã o vai
ressarcir as benfeitorias necessaé rias.

TEORIA DA BASE OBJETIVA


Origem: Teoria da onerosidade excessiva pura (Karl Larez)

Inf. 556/STJ
- Ã teoria da base objetiva ou da base do negoé cio juríédico tem sua aplicaçaã o restrita aà s relaçoã es
juríédicas de consumo, naã o sendo aplicaé vel aà s contratuais puramente civis.
- Difere da teoria da imprevisaã o por prescindir da imprevisibilidade de fato que determine oneraçaã o
excessiva de um dos contratantes.
- Basta a supervenieê ncia de fato que determine desequilíébrio na relaçaã o contratual diferida ou
continuada para que seja possíével a postulaçaã o de sua revisaã o ou resoluçaã o, em virtude da incideê ncia
da teoria da base objetiva. (CDC, art. 6°, V). Nessa teoria, naã o se exige que o fato seja previsíével nem
extraordinaé rio, mas apenas a modificaçaã o nas circunstaê ncias indispensaé veis que existiam no momento
da celebraçaã o do negoé cio, ensejando onerosidade ou desproporçaã o para uma das partes.
- Premissa de que a celebraçaã o de um contrato de consumo ocorre mediante consideraçaã o de
determinadas circunstaê ncias, as quais, se modificadas no curso da relaçaã o contratual, determinam, por
sua vez, consequeê ncias diversas daquelas inicialmente estabelecidas, com repercussaã o direta no
equilíébrio das obrigaçoã es pactuadas.
- Intervençaã o judicial: se o contrato for atingido por fatos que comprometam as circunstaê ncias
intríénsecas aà formulaçaã o do víénculo contratual, ou seja, sua base objetiva.
- Teoria que mitiga mais fortemente os princíépios do pacta sunt servanda e, por conseguinte, da
segurança juríédica.

1.6 PREFERÊNCIAS E PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS

Levando-se em conta que "o devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o
cumprimento de suas obrigações" (art. 789 do CPC/15), ressalvados os casos de impenhorabilidade
previstos em lei, "procede-se à declaração de insolvência toda vez que as dívidas excedam à importância
dos bens do devedor" (art. 955 do CC/02).
Portanto, em se tratando de devedor insolvente, tem lugar a execuçaã o coletiva, ou concurso universal
de credores. (Ãrt. 797 CPC/15. "Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o
concurso universal, realiza-se a execução no interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito
de preferência sobre os bens penhorados").
O concurso universal de credores, no caso em que o devedor seja empresaé rio, ou sociedade
empresaé ria, eé instaurado apoé s a decretaçaã o da faleê ncia, nos termos da Lei 11.101/05. Ã faleê ncia tem
como pressuposto material a insolveê ncia do devedor, que deve ser compreendida em sentido juríédico,
definido pela proé pria legislaçaã o falimentar, e naã o no seu sentido teé cnico/econoê mico (ativo < passivo).

No caso das demais pessoas naturais e juríédicas, que naã o exercem atividade empresarial, o concurso
universal se instaura a partir da declaraçaã o de insolveê ncia civil . Nos termos do art. 1052 do CPC/15,
até que seja editada lei específica, as execuções contra o devedor insolvente continuam a ser
regidas pelo CPC/73, parte do Diploma Processual anterior que continua em vigor.

EÉ nesse contexto de concurso universal de credores que a lei estabelece a ordem em que deveraã o ser
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satisfeitos os diferentes creé ditos, seja no aê mbito da faleê ncia empresarial (Lei 11.101/05), seja nos
casos de insolveê ncia civil (art. 955 e seguintes do CC/02).
Todavia, a disputa de prefereê ncias naã o se restringe ao concurso universal, tendo lugar, ainda, no
concurso singular de credores, nos termos do art. 908 e 909 do CPC/15, que possui peculiaridade
em relaçaã o ao concurso universal, como seraé abordado abaixo.
1.6.1 A insolvência civil

ASPECTOS MATERIAIS: DAS PREFERÊNCIAS E PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS

Declarada a insolveê ncia e instaurado o concurso universal, surge a necessidade de se determinar a


ordem de pagamento, ante a limitaçaã o patrimonial do devedor.
Nos termos do art. 976 do CC/02, "Não havendo título legal à preferência, terão os credores igual
direito sobre os bens do devedor comum".
"Ã preferência consiste na vantagem reconhecida a certos credores, em razaã o da natureza de seus
creé ditos, de haver a coisa, com exclusaã o dos demais, ou de receber, preterindo os concorrentes" (CÃIO
MÃÉ RIO).
Os tíétulos legais de prefereê ncia saã o os privileé gios (especiais e gerais) e os direitos reais (art. 958 do
CC/02).
O art. 961 do CC/02 estabelece a seguinte ordem de prefereê ncia: "O crédito real prefere ao pessoal de
qualquer espécie; o crédito pessoal privilegiado, ao simples; e o privilégio especial, ao geral".
Todavia, tal regra deve ser interpretada sistematicamente com o art. 186 do CTN, que estabelece: "O
crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo de sua constituição,
ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho".

A partir de tais dados, e conforme entendimento jurisprudencial abaixo citado, estabelece-se,


na insolvência civil, a seguinte ordem de preferência (OBS.: como jaé exposto, na faleê ncia e no
concurso singular de credores, haé peculiaridades):
1) creé ditos alimentares (que englobam os creé ditos trabalhistas ou decorrentes de acidente de
trabalho);
2) creé ditos tributaé rios;
3) creé ditos com garantia real;
4) creé ditos com privileé gio especial;
5) creé ditos com privileé gio geral;
6) creé ditos simples.

Ãntes de analisar cada uma das classes, deve-se ressaltar que, somente a satisfaçaã o dos creé ditos
pertencentes a primeira classe de prefereê ncia, passa-se aà satisfaçaã o dos creé ditos da classe seguinte, e
assim, sucessivamente. Por outro lado, dentro de cada classe, haé regras especíéficas de concorreê ncia
entre os credores.

1) Créditos alimentares: O art. 186 do CTN estabelece que os creé ditos decorrentes da legislaçaã o do
trabalho ou do acidente do trabalho prefere ao creé dito tributaé rio.
Nessa classe, poreé m, devem ser incluíédos os demais creé ditos de natureza alimentar. Nesse sentido:
"Os créditos de pensão alimentícia têm natureza alimentar e gozam de preferência sobre os créditos
tributário" (REsp 1128792). Nesse precedente, discutia-se pensaã o alimentíécia decorrente de ato ilíécito,
que foi equiparada a creé dito trabalhista, em razaã o da natureza alimentar.
ÃTENÇÃÃ O: Honoraé rios advocatíécios se equiparam a creé ditos trabalhistas (REsp 1152218 Rep)
O STJ jaé teve entendimento diverso (ÃGÃ REsp 1410847), mas mudou recentemente (EREsp 1351256)
Nessa classe de prefereê ncia, em havendo vaé rios credores, aplica-se o princíépio da igualdade de direitos
entre eles, todos concorrem igualmente, na proporção dos respectivos créditos (NCC, art. 962).
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2) Créditos tributários: tambeé m decorre do disposto no art. 186 do CTN.


OBS. 1: O creé dito tributaé rio prefere aos creé ditos condominiais (REsp 1219219);
OBS. 2: Na faleê ncia, creé dito real prefere ao tributaé rio, ateé o valor do bem gravado (CTN, art. 186 § ué , I).
Nessa classe, havendo concurso entre os credores preferenciais, deve-se observar a seguinte ordem,
nos termos do CTN, art. 187, § ué n: 1) Uniaã o; 2) Estados, DF e Territoé rios, conjuntamente e pro rata; 3)
Municíépios, conjuntamente e pro rata. (Ãg REsp 1214577)
* Creé dito tributaé rio da Uniaã o prefere creé dito do BNDES.

3) Créditos reais: creé ditos com garantia real decorrente de hipoteca, penhor, anticrese e alienaçaã o
fiduciaé ria. Ã prefereê ncia se restringe ao limite do valor do bem dado em garantia. Se o referido valor
naã o for suficiente para satisfaçaã o do creé dito, o remanescente eé creé dito quirografaé rio, simples.
Todavia, deve ser observado o disposto no art. 959 do CC/02:

"Ãrt. 959. Conservam seus respectivos direitos os credores, hipotecaé rios ou privilegiados: I -
sobre o preço do seguro da coisa gravada com hipoteca ou privileé gio, ou sobre a indenizaçaã o
devida, havendo responsaé vel pela perda ou danificaçaã o da coisa; II - sobre o valor da
indenizaçaã o, se a coisa obrigada a hipoteca ou privileé gio for desapropriada".

OBS.: "Por se tratar de obrigação proter rem, o crédito oriundo de despesas


condominiais em atraso prefere ao crédito hipotecário, pois pelo fato de ser esse de
natureza real, haé de recair sobre o imoé vel e sobre os oê nus a ele relativos. " (REsp 469915).

Havendo mais de um credor hipotecaé rio sobre o mesmo bem, observa-se a maé xima juríédica segundo a
qual o primeiro no tempo tem prefereê ncia no direito - "prior in tempore, potior in iure", observando-se
a precedeê ncia das hipotecas (art. 1422 do CC/12).

4) Privilégios especiais: saã o tíétulos de prefereê ncia atribuíédos a creé ditos pessoais que possuem
privileé gio em relaçaã o a certos e determinados bens do devedor, moé veis e imoé veis (diversamente do
privileé gio geral, que incide sobre todos os bens). Ãrt. 963 do CC/02. "O privilégio especial só
compreende os bens sujeitos, por expressa disposição de lei, ao pagamento do crédito que ele favorece; e
o geral, todos os bens não sujeitos a crédito real nem a privilégio especial".
Se o bem naã o for suficiente aà satisfaçaã o do creé dito, o remanescente seraé considerado creé dito simples.
No concurso entre credores dessa classe sobre o mesmo bem, aplica-se o princíépio da igualdade de
direitos entre eles, concorrendo todos igualmente, na proporçaã o dos respectivos creé ditos (art. 962 do
CC).
No caso de perda ou danificaçaã o da coisa, ou desapropriaçaã o, o privileé gio se manteé m em relaçaã o ao
preço do seguro ou do valor da indenizaçaã o, tal qual ocorre com os creé ditos reais, conforme o jaé citado
art. 959 do CC/02.
Segundo o art. 964 do NCC teê m privileé gio especial:
I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas judiciais feitas com a arrecadação
e liquidação;
II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento;
III - sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis;
IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou quaisquer outras construções, o credor de
materiais, dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução, ou melhoramento;
V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e serviços à cultura, ou à colheita;
VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis,
quanto às prestações do ano corrente e do anterior;
VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus legítimos
representantes, pelo crédito fundado contra aquele no contrato da edição;
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VIII - sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e precipuamente a
quaisquer outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários.
IX - sobre os produtos do abate, o credor por animais. (Incluído pela Lei nº 13.176/15)

5) Privilégios gerais: saã o tíétulos de prefereê ncia conferidos a determinados creé ditos, que incidem
"todos os bens não sujeitos a crédito real nem a privilégio especial" (art. 963 do CC/02).
Na classe de creé ditos com privileé gio geral, tambeé m haé ordem de prefereê ncia estabelecida no art. 965:
"Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor:
I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume do lugar;
II - o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação e liquidação da massa;
III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor falecido, se foram
moderadas;
IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à sua morte;
V - o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido e sua família, no trimestre anterior
ao falecimento;
VI - o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no anterior;
VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus derradeiros seis
meses de vida;
VIII - os demais créditos de privilégio geral".

Se, naã o obstante a aludida prefereê ncia, houver credores dessa classe em situaçaã o de igualdade,
concorrendo todos igualmente, na proporçaã o dos respectivos creé ditos (art. 962 do CC).

6) Créditos simples: saã o os demais creé ditos quirografaé rios, sem privileé gio especial ou geral. Se
houver bens do devedor apoé s a satisfaçaã o das prefereê ncias, mas naã o forem suficientes para a
satisfaçaã o de todos os creé ditos simples, haveraé entre os credores o rateio proporcional ao valor dos
respectivos creé ditos.

ASPECTOS PROCESSUAIS

Nos termos do art. 1052 do CPC/15, ateé que seja editada lei especíéfica, as execuçoã es contra o devedor
insolvente continuam a ser regidas pelo CPC/73, parte do diploma anterior que continua em vigor.
Portanto, a declaraçaã o de insolveê ncia o disposto nos art. 748 a 786-Ã do CPC/73.
Para Caio Maé rio, saã o os seguintes os requisitos para o reconhecimento da insolveê ncia civil: a)
superaçaã o do patrimoê nio ativo pelo passivo do devedor (art. 955 do CC/02); b) reconhecimento
judicial, por sentença, desse deé ficit (art. 761 do CPC/73); c) devedor naã o empresaé rio; d) existeê ncia de
tíétulo executivo judicial ou extrajudicial que deê ensejo aà cobrança pelo credor.

Trata-se de processo de execuçaã o ("execuçaã o por quantia certa contra devedor insolvente"). Poreé m, haé
uma fase cognitiva preliminar voltada ao pronunciamento acerca do pressuposto da execuçaã o: a
insolveê ncia. Ã natureza da tutela jurisdicional (executiva) decorre da finalidade da declaraçaã o da
insolveê ncia, que eé instaurar o concurso universal de credores.
Nos termos do art. 750 do CPC/73, presume-se a insolveê ncia quando "I - o devedor não possuir outros
bens livres e desembaraçados para nomear à penhora; Il - forem arrestados bens do devedor, com
fundamento no art. 813, I, II e III".
Saã o legitimados para requerer a declaraçaã o de insolveê ncia, nos termos do art. 753 do CPC/15: a)
qualquer credor quirografaé rio; b) o proé prio devedor; c) o inventariante do espoé lio do devedor.
Naã o se exige que o credor tenha ajuizado execuçaã o singular antes do pedido de insolveê ncia, mas a ele eé
dado optar por uma ou outra. Se jaé tiver ajuizado a execuçaã o individual, poderaé suspendeê -la para
promover a insolveê ncia civil em processo autoê nomo.
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No caso de insolveê ncia requerida pelo credor, o devedor eé citado para opor embargos em 10 dias. Naã o
opostos embargos, o juiz sentencia em 10 dias. Nos embargos, o devedor poderaé alegar as mateé rias
pertinentes aos embargos de devedor nas demais execuçoã es por quantia certa, bem como poderaé
provar que seu ativo eé maior que o passivo. Se depositar a quantia (depoé sito elisivo) no prazo dos
embargos, o devedor elide o pedido de insolveê ncia, podendo discutir a legitimidade do valor (art. 754
a 758 do CPC/73).
No caso de insolveê ncia requerido pelo devedor ou inventariante do espoé lio, na petiçaã o inicial, deveraé
apresentar relaçaã o de todos os credores e do valor dos respectivos creé ditos; a relaçaã o de bens, com
estimativa do valor; o relatoé rio do estado patrimonial, com exposiçaã o das causas que determinaram a
insolveê ncia (art. 758 e 760 do CPC/73).
Na sentença que declarar a insolveê ncia, o juiz nomeia um administrador da massa dentre os maiores
credores e manda expedir edital convocando os credores para, em 20 dias, apresentarem declaraçaã o
do creé dito acompanhada do tíétulo (art. 761 do CPC/73).
Saã o efeitos da declaraçaã o judicial de insolveê ncia, nos termos do art. 751 do CPC/73: "I - o vencimento
antecipado das suas dívidas; II - a arrecadação de todos os seus bens suscetíveis de penhora, quer os
atuais, quer os adquiridos no curso do processo; III - a execução por concurso universal dos seus
credores".
Declarada a insolveê ncia, o devedor perde o direito de administrar os seus bens e de dispor deles, ateé a
liquidaçaã o total da massa (art. 752 do CPC/73), e as execuçoã es individuais contra o devedor saã o
remetidas ao juíézo da insolveê ncia. Ressalvam-se as execuçoã es fiscais (art. 29 da LEF) e as açoã es de
conhecimento.
“Insolvente o devedor, todo seu patrimônio configura-se em uma massa vinculada à satisfação da
universalidade de credores, submetida esta, a administração judicial. Sendo assim, a figura do
administrador dessa massa, não é um representante do devedor e sim, um auxiliar da justiça, para os
interesses dos credores, exercendo uma função pública”. (Theodoro Jr).
O devedor perde, ainda, a capacidade processual.
Ãpoé s o prazo fixado no edital, o escrivaã o organizaraé as declaraçoã es, intimando os credores, por edital,
param em 20 dias, manifestarem-se, caso em que, nos termos do art. 956 do CC/02, "a discussão entre
os credores pode versar quer sobre a preferência entre eles disputada, quer sobre a nulidade, simulação,
fraude, ou falsidade das dívidas e contratos".
Naã o havendo impugnaçoã es aos creé ditos, eé organizado o quadro geral de credores, e, ouvidos os
interessados, o juiz profere sentença.
Se houver impugnaçoã es aos creé ditos, apoé s a instruçaã o, o juiz profere a sentença. Ãpoé s o traê nsito em
julgado, organiza-se o quadro geral de credores.
Ãpoé s, procede-se aà alienaçaã o dos bens e ao pagamento dos credores.
Nos termos do art. 784 do CPC/73, ao credor retardataé rio eé assegurado o direito de disputar, por açaã o
direta, antes do rateio final, a prelaçaã o ou a cota proporcional ao seu creé dito.
- Do saldo devedor (art. 774 a 776 do CPC/73)
Se, liquidada a massa, naã o houverem sido pagos todos os creé ditos, o devedor insolvente continua
obrigado pelo creé dito. Surgindo novos bens penhoraé veis, estes poderaã o ser arrecadados no mesmo
processo, a requerimento de quaisquer dos credores constantes no quadro, a fim de serem alienados e
pagos os credores, proporcionalmente aos respectivos saldos.
- Da extinção das obrigações (art. 777 a 782 do CPC/73)
à prescriçaã o, interrompida com a instauraçaã o do concurso universal, recomeça a correr no dia em que
passar em julgado a sentença que encerrar o processo de insolveê ncia, considerando-se extintas todas
as obrigaçoã es do devedor apoé s decorrido o prazo de 05 do encerramento da execuçaã o, sem prejuíézo
de, nesse prazo, serem arrecadados novos bens sujeitos a expropriaçaã o.
O devedor pode requerer ao juíézo da insolveê ncia a declaraçaã o da extinçaã o das obrigaçoã es. Seraé
concedido prazo de 30 dias para os credores se manifestarem, podendo-se opor ao pedido alegando:
a) que naã o transcorreram os 05 do encerramento da execuçaã o; b) que o devedor adquiriu outros bens
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sujeitos aà arrecadaçaã o.
Declarada extinta as obrigaçoã es, o devedor fica habilitado a praticar todos os atos da vida civil.

1.6.2 Do concurso singular de credores


O concurso singular de credores se verifica no bojo de execuçaã o individual, na qual, penhorado bem do
devedor, os credores passam a disputar as respectivas prefereê ncias. Prescinde-se, portanto, da
declaraçaã o de insolveê ncia. Note-se que terceiros interveem na execuçaã o individual alheia, provocando
incidente a ser decidido pelo juiz da execuçaã o.
Nos termos do art. 908 do CPC/15 (art. 711 do CPC/73), "havendo pluralidade de credores ou
exequentes, o dinheiro lhes será distribuído e entregue consoante a ordem das respectivas preferências".
"Art. 909. Os exequentes formularão as suas pretensões, que versarão unicamente sobre o direito de
preferência e a anterioridade da penhora, e, apresentadas as razões, o juiz decidirá".

Note-se que, no concurso singular de credores, tambeé m observam-se os tíétulos legais aà prefereê ncia
(direitos reais e privileé gios), conforme a mesma ordem estabelecida no concurso universal na
insolveê ncia civil. Todavia, algumas peculiaridades devem ser apontadas:

1) quanto aos creé ditos quirografaé rios com prefereê ncia legal (alimentares, trabalhistas, com privileé gio
especial ou geral), ainda que os credores naã o tenham ajuizado execuçaã o, eé possíével que aleguem suas
prefereê ncias na execuçaã o individual alheia. Nesse caso, observa-se o seguinte entendimento do STJ: "O
credor com título de preferência legal pode participar do concurso previsto no art. 711 do CPC para
resguardar o seu direito de preferência, mesmo que não tenha promovido a execução do seu crédito.
Nessa hipótese, reconhecida a preferência do crédito, o levantamento do valor fica condicionado à
posterior ajuizamento de execução" (REsp 1219219). Note-se que o credor que naã o eé parte na execuçaã o
pode concorrer ao creé dito, disputando a prefereê ncia, ainda que naã o tenha tíétulo executivo (ainda).
Poreé m, deveraé ajuizar açaã o proé pria para constituir seu creé dito contra o devedor, sob pena de lhe
impedir de questionaé -lo, subtraindo-lhe meios de defesa. Ãpoé s estar aparelhado com o tíétulo, poderaé
levantar o valor que lhe fora reservado na execuçaã o do terceiro.

2) os creé ditos tributaé rios, que, por oé bvio, jaé foram objetos de lançamento, podem ser disputados no
concurso singular de credores em execuçaã o alheia. Se o devedor impugnar o referido creé dito, seraé
observada a prefereê ncia legal (art. 186 do CTN), ficando tal creé dito reservado ateé que a questaã o seja
resolvida em açaã o proé pria a ser ajuizada pelo devedor contra a Fazenda.

3) quanto aos creé ditos reais, e os de natureza propter rem, sub-rogam-se no respectivo preço no caso
de adjudicaçaã o ou alienaçaã o do bem, observada a ordem de prefereê ncia, nos termos do § 1º do art. 908
do CPC/15, sem prejuíézo de reserva do valor caso haja discussaã o sobre o creé dito, a ser resolvida na
açaã o proé pria.
4) quanto aos creé ditos simples, a prefereê ncia se daé pela anterioridade da penhora, nos termos do § 2º
do art. 908 do CPC/15.

Por fim, duas observaçoã es devem ser feitas no concurso singular de credores:

OBS. 1: devem ser observadas as regras de prefereê ncia da insolveê ncia civil, com a ressalva de que a
penhora (a) estabelece prefereê ncia entre os credores simples, e (b) estabelece prefereê ncia contra
privileé gios ou prefereê ncias instituíédos apoé s a constriçaã o, nos termos do art. 905, II, do CPC, desde que
o exequente promova a sua averbaçaã o no registro competente para presunçaã o absoluta de
conhecimento por terceiros, nos termos do art. 844 do CPC/15.
OBS. 2: caso o executado pretenda impugnar os creé ditos de terceiros que pretendam exercer seu
direito de prefereê ncia na execuçaã o alheia, reconhecida a prefereê ncia, a discussaã o deve se dar na açaã o
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proé pria. Somente a impugnaçaã o do creé dito do credor exequente eé que eé impugnada naqueles autos por
meio de embargos. O regime eé diverso, portanto, do concurso universal (tanto na faleê ncia quanto na
insolveê ncia), pois, nesses, a impugnaçaã o do devedor as creé ditos habilitados eé resolvida pelo juíézo
universal.

1.6.3 A falência

Como exposto, em caso de insolveê ncia (conceito juríédico) de empresaé rio ou sociedade empresaé ria,
decreta-se a faleê ncia e instaura-se o concurso universal de credores.

Ordem de prefereê ncias na faleê ncia (arts. 83 e 84 da LF): 1) creé ditos extraconcursais (art. 84); 2) os
creé ditos derivados da legislaçaã o do trabalho, limitados a 150 salaé rios-míénimos por credor, e os
decorrentes de acidentes de trabalho; 3) creé ditos com garantia real ateé o limite do valor do bem
gravado (aqui, preferem ao creé dito tributaé rio); 4) creé ditos tributaé rios, independentemente da sua
natureza e tempo de constituiçaã o, excetuadas as multas tributaé rias; 5) creé ditos com privileé gio
especial; 6) creé ditos com privileé gio geral; 7) creé ditos quirografaé rios; 8) as multas contratuais e as
penas pecuniaé rias por infraçaã o das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributaé rias; 9)
creé ditos subordinados (os assim previstos em lei ou em contrato, e os creé ditos dos soé cios e dos
administradores sem víénculo empregatíécio).

7. DIREITO PROCESSUAL CIVIL

JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS: CARACTERIZAÇÃO COMO SUBSISTEMA PROCESSUAL


E SEU RELACIONAMENTO COM O SISTEMA PROCESSUAL GERAL;
ESPECIFICIDADES, DIFERENCIAÇÕES E SEMELHANÇAS ENTRE OS JUIZADOS
ESTADUAIS E FEDERAIS; ESTRUTURA ORGÂNICA (JUIZADOS, TURMAS RECURSAIS,
TURMAS DE UNIFORMIZAÇÃO REGIONAIS E TURMA NACIONAL), PRINCÍPIOS,
CARACTERÍSTICAS, ESPÉCIES, COMPETÊNCIA (INCLUSIVE A REAL NATUREZA
DESTA E A DISCUSSÃO SOBRE O POSSÍVEL DESCOMPASSO ENTRE O
CONSTITUCIONAL E O LEGAL); PROCEDIMENTOS, RECURSOS, PEDIDO DE
UNIFORMIZAÇÃO, COISA JULGADA, EXECUÇÃO, QUESTÕES CONTROVERTIDAS,
POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO, DENTRO DOS JUIZADOS, DE MEIOS PROCESSUAIS
QUE NÃO LHES SÃO ESPECÍFICOS (P. EX., MANDADO DE SEGURANÇA,
PROCEDIMENTOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA, ETC.).

Juizados Especiais Federais Cíveis

Fundamento normativo: CF, art. 98 da CF e Lei n.º 10.259/2001.


Fundamento político-social: litigiosidade contida, acesso à Justiça e celeridade processual
CARACTERIZAÇÃO COMO SUBSISTEMA E SEU RELACIONAMENTO COM O SISTEMA PROCESSUAL GERAL.
Contexto constitucional: microssistema dos juizados na versa apenas sobre um procedimento sumaríssimo,
mas sobre um processo especialíssimo de origem e fundamento constitucional, informado sobretudo pela
autocomposição.
A especialidade dos JEF está no fato de não julgar apenas causas de menor complexidade (competência

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absoluta ratione valorem)


Microssistema dos Juizados Especiais: aplica-se, no que não conflitar com a lei e os institutos, o disposto na
Lei 9.099/95 (por expressa disposição) e a Lei 12153; somente depois, se recorre ao CPC e, por fim, aos
costumes, analogia e princípios gerais do direito.
Em todo caso, o art. 6º da Lei 9099 permite ao juiz adotar, no caso concreto, a decisão que reputar mais
justa e equânime – não só na sentença de mérito, mas desde a propositura da demanda até a satisfação
definitiva da pretensão resistida, atendendo sempre aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum.

Enunciado 01/FONAJE da Fazenda Pública: Aplicam-se aos Juizados Especiais da Fazenda


Pública, no que couber, os enunciados dos Juizados Especiais Cíveis.

Trata-se de aplicação integrativa e não apenas subsidiária. Há um diálogo das fontes constante entre as
leis dos Juizados, de modo a tirar delas o melhor resultado para o sistema.
Só não se aplicam as demais normas do sistema quando: a) houver regência completa do tema na lei
aplicada (o que obviamente exclui as demais) e b) quando houver na própria lei de regência afastamento
expresso à aplicação do sistema dos Juizados Especiais.
APLICAÇÃO SUPLETIVA DO NCPC AOS JUIZADOS ESPECIAIS
O NCPC não afirma a sua aplicabilidade com relação aos Juizados Especiais. Ao contrário: ele incia
indicando a supremacia da Constituição com relação ao trato do processo civil, observando-se as normas
do Código (NCPC, art. 1º) e, mais adiante, complementa apontando ser aplicável supletiva e
subsidiariamente nos processos eleitorais, administrativos e trabalhistas (NCPC, art. 15). Logo, embora
podendo, o legislador em nenhum momento previu expressamente a sua aplicação aos juizados.
Assim, diante da diferenciação constitucionalmente criada (CF, art. 98, I), bem como pela regra de
especialidade para resolução de aparentes antinomias, o NCPC, por ser um sistema geral não aplicável
aos casos especiais – como o microssistema dos juizados – apenas poderá implicar alterações da
legislação aplicável aos Juizados Especiais Federais quando: (1) expressamente determina a sua aplicação
ou altera as Leis 9.099/1995 ou 10.259/2001 ou; (2) regula instituto jurídico essencial ou necessário para
a aplicação dos dispositivos daquelas leis (LINDB, art. 2º, §§ 1º e 2º), como o conceito de litispendência,
por exemplo. Em ambos os casos, por óbvio, desde que tal regulamentação observe as regras
constitucionais de estruturação dos juizados, sob pena de invalidade.
AS ALTERAÇÕES EXPRESSAS PELO NCPC
O NCPC menciona os juizados especiais em quatro momentos distintos, a saber: (1) ao tratar da extensão
da aplicação da decisão que julga o incidente de resolução de demandas repetitivas (NCPC, art. 985, I);
(2) ao prever o cabimento de incidente de desconsideração da personalidade jurídica (NCPC, art. 1.062);
(3) na determinação da perpetuação da competência para processo do rito sumário do art. 275, II, do
antigo CPC (NCPC, art. 1.063) e; (4) na aplicação do novo regime de embargos de declaração, com
alteração das hipóteses de cabimento e efeito quanto aos prazos recursais (NCPC, arts. 1.064 a 1.066).

Especificidades, Diferenciações e Semelhança entre os Juizados Estaduais e Federais

1ª DIFERENÇA ENTRE JEC E JEF: A parte pode entrar se quiser com a ação nos Juizados, ou ela é obrigada a
entrar com a ação nos Juizados?
 No JEC: fica a critério do autor entrar ou não entrar com ação através desse procedimento especial dos
Juizados Especiais (STJ e En. 1/FONAJE). Mas, se ele ajuizar sem observar o teto dos Juizados (até 20
SM sem advogado e até 40 com advogado), entende-se como renúncia tácita ao crédito excedente.
Art. 3º, § 3º, Lei 9.099/95:
 No JEF: NÃO é opcional, de modo que havendo JEF na localidade, a competência dele é ABSOLUTA para a
demanda. Art. 3º, §3º, Lei 10.259/01: No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua
competência é absoluta.
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Não havendo Vara do JEF na comarca, a competência será da justiça comum federal.
Atenção: nos Juizados Especiais Federais não há renúncia tácita (En 16/FONAJEF: Não há renúncia tácita
nos Juizados Especiais Federais para fins de fixação de competência).
2ª DIFERENÇA ENTRE O JEC E JEF: Quais os critérios de competência?
- No JEC, adotou-se critério valorativo (valor da causa – art. 3º, I), o critério qualitativo (em razão da
matéria, incisos II e III, do art. 3º, Lei 9.099) e, por fim, o critério misto (em que se mesclou os 02
anteriores, conforme o art. 3º, IV).
- No JEF: somente adotou-se o critério valorativo (de 60 SM) e algumas matérias foram expressamente
excluídas, conforme art. 3º, e §1º, da Lei JEF.
- Também não há renúncia tácita no JEF (TNU)

Juizados Especiais da Fazenda Pública

Foi criado também em 2009 (Lei 12.153) no âmbito dos Estados, DF, Territórios e dos Municípios integrando
também o Sistema dos Juizados Especiais dos Estados e do Distrito Federal. De acordo com o art. 22, tais
juizados serão instalados até 2 anos após a vigência desta lei podendo haver aproveitamento total ou
parcial das estruturas atuais das varas da Fazenda Pública.
En 138/FONAJE: Nas comarcas onde não houver Juizado Especial da FP ou juizados adjuntos
instalados, as ações serão propostas perante as Varas comuns que detêm competência para
processar os feitos de interesse da Fazenda Pública ou perante aquelas designadas pelo
Tribunal de Justiça, observando o procedimento previsto na Lei 12.153/09” (Atual En
09/FONAJE-FP).
Competência – art. 2º
Art. 2º É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar, conciliar e
julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos.
§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública:
I – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação,
populares, por improbidade administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre direitos
ou interesses difusos e coletivos;
II – as causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios,
autarquias e fundações públicas a eles vinculadas;
III – as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a
servidores públicos civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares.
Enunciado 133: O valor de alçada de 60 salários mínimos previsto no art. 2º, da Lei
12.153/09, não se aplica aos Juizados Especiais Cíveis, cujo limite permanece em 40
salários-mínimos”
Sujeitos:
Art. 5º. Podem ser partes no Juizado Especial da Fazenda Pública:
I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pequeno porte,
assim definidas na Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006;
II – como réus, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios, bem como
autarquias, fundações e empresas públicas a eles vinculadas

Da Estrutura Orgânica (Juizados, Turmas Recursais, Turmas de Uniformização Regionais e TNU)

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O Juizado é formado por juízes togados, ou togados e leigos, dirigido por um Juiz togado. Em face da
decisão por ele proferida, cabe recurso para a Turma Recursal. A Turma Recursal é composta por três juízes
de primeiro grau.
O juiz presidente do Juizado designará os conciliadores (juízes leigos) pelo período de 02 anos, admita a
recondução. O exercício dessas funções será gratuito, assegurados os direitos e prerrogativas do jurado
(art. 437, CPP).
As Turmas Recursais serão instituídas por decisão do respectivo TRF, que definirá sua composição e área de
competência, podendo abranger mais de uma Seção Judiciária (art. 21).
Os §§ 1º e 2º deste dispositivo foram recentemente revogados Agora, a composição das Turmas Recursais
dar-se-á da seguinte forma (Lei nº 12.665/ 2012)
Art. 1º. Ficam criadas na Justiça Federal de primeiro grau 75 (setenta e cinco) Turmas Recursais
dos Juizados Especiais Federais permanentes, assim distribuídas: I - 25 (vinte e cinco) Turmas
Recursais dos Juizados Especiais Federais na Primeira Região;
Art. 2o As Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais das Seções Judiciárias são formadas,
cada uma, por 3 (três) juízes federais titulares dos cargos de Juiz Federal de Turmas Recursais e
por 1 (um) juiz suplente.
Art. 4o Os cargos de Juiz Federal de Turmas Recursais serão providos por concurso de remoção,
observado, no que couber, o disposto nas alíneas a, b, c e e do inciso II do art. 93 da CF ou, na
falta de candidatos a remoção, por promoção de Juízes Federais Substitutos, alternadamente
pelos critérios de antiguidade e merecimento.
Parágrafo único. As remoções e promoções de que trata o caput estão condicionadas a existência
de candidatos aprovados em concurso público em número correspondente ao dos cargos vagos
de Juiz Federal criados por esta Lei.
Existem, ainda, as Turmas de Uniformização Regionais (uma em cada região) e a Turma de Uniformização
Nacional.
Quanto à Turma Nacional de Uniformização, a Res CJF 390/2004 assim dispôs:
Art. 1º A Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais,
presidida pelo Coordenador-Geral da Justiça Federal, compõe-se de dez juízes federais, sendo dois
de cada região.
§1º Os juízes federais serão escolhidos pelos respectivos tribunais dentre os membros das turmas
recursais, com mandato de dois anos, sem recondução.
Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito material, contrariar
súmula ou jurisprudência dominante do STJ, a parte interessada poderá provocar a manifestação deste,
que dirimirá a divergência. (Artigo 14, § 4º)
RECLAMAÇÃO. JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. A reclamação para o STJ é destinada à
"preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões" (CF, art. 105, I, f) e a
dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudência deste
Tribunal consolidada em súmula ou em julgamento de recurso repetitivo (Res STJ nº 12/09, art.
1º); não serve para impugnar julgado de Turma Recursal Federal que alegadamente discrepe da
jurisprudência do STJ, porquanto há meio próprio para esse efeito (art. 14 da Lei 10.259/01).
(AgRg na Rcl 14.100)
En FONAJEF 43: É adequada a limitação dos incidentes de uniformização às questões de direito material.
Os Juizados Especiais serão instalados por decisão do TRF. Nas localidades cujo movimento forense não
justifique a existência de Juizado Especial, serão instalados apenas Juizados Especiais Adjuntos, cabendo ao
TRF respectivo designar a Vara onde funcionará (art. 18).
Os Juizados Especiais serão coordenados por Juiz do respectivo TRF, escolhido por seus pares com um
mandato de 02 anos. O Juiz Federal Coordenador, quando o exigirem as circunstâncias, poderá determinar
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o funcionamento de Juizado Especial em caráter itinerante, mediante autorização prévia do TRF, com
antecedência mínima de 10 dias (art. 22).
Na capital dos Estados, do DF e em outras cidades onde forem necessários, neste último caso por decisão
do TRF, a lei determinou fossem instalados Juizados com competência exclusiva para ações previdenciárias
(art. 19, § único).
Art. 20: Onde não houver Vara Federal, a causa poderá ser proposta no JEF mais próximo do foro
definido na L 9099, art 4º, vedada aplicação desta Lei (10259/01) no juízo estadual.
Atualmente, vislumbra-se, ainda, a existência de Juizados virtuais, que se justificam pela praticidade que
representam, pela rapidez no trâmite processual, bem como pela economicidade que geram. Nestes,
elimina-se o papel e a movimentação processual se efetiva completamente por meio de sistema eletrônico.
Os TRF’s, o STJ e o STF, no âmbito de suas competências, expedirão normas regulamentando a composição
dos órgãos e os procedimentos a serem adotados para o processamento e julgamento do pedido de
uniformização e do recurso extraordinário (art. 14, §10, Lei 10.259/01).
A Turma Regional de Uniformização da 1ª Região encontra-se disciplinada pela Res/Presi 600-008, de
05.07.2004. Tem por atribuição dirimir divergência entre Turmas da mesma Região.
A TNU está prevista no Regimento Interno do Conselho da Justiça Federal.
De acordo com o RI-CJF, art. 18, a TNU é presidida pelo Corregedor-Geral da Justiça Federal e integra a
estrutura do Conselho da Justiça Federal.
COMPETÊNCIA:
Art. 6º. Compete à Turma Nacional processar e julgar o incidente de uniformização de
interpretação de lei federal em questões de direito material:
I – fundado em divergência entre decisões de Turmas Recursais de diferentes Regiões;
II – em face de decisão de Turma Recursal proferida em contrariedade à súmula ou jurisprudência
dominante do Superior Tribunal de Justiça; ou
III – em face de decisão de Turma Regional de Uniformização proferida em contrariedade à
súmula ou jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça.
Art. 36. Quando a decisão da Turma Nacional for proferida em contrariedade à súmula ou
jurisprudência dominante do STJ, o incidente de uniformização de jurisprudência será suscitado,
nos próprios autos, no prazo de dez dias, perante o Presidente da Turma Nacional.
ALTERAÇÕES DO NCPC: O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS NOS JEFS
Com relação ao incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR), diz o NCPC:
Art. 976. É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas quando
houver, simultaneamente:
I - efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão
unicamente de direito;
II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.
(...)
Art. 985. Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada:
I - a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito e
que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive àqueles que tramitem nos
juizados especiais do respectivo Estado ou região;
II - aos casos futuros que versem idêntica questão de direito e que venham a tramitar no
território de competência do tribunal, salvo revisão na forma do art. 986.
§ 1o Não observada a tese adotada no incidente, caberá reclamação.
§ 2o Se o incidente tiver por objeto questão relativa a prestação de serviço concedido,
permitido ou autorizado, o resultado do julgamento será comunicado ao órgão, ao ente ou à
agência reguladora competente para fiscalização da efetiva aplicação, por parte dos entes
sujeitos a regulação, da tese adotada.
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Na prática, portanto, esta previsão implica, ao mesmo tempo, a inserção dos TRFs para dentro do sistema
recursal dos Juizados Especiais Federais (ao prever a possibilidade de reclamação) e determina a
vinculação destes ao entendimento daqueles (em prejuízo ao sistema atual de existência das Turmas de
Uniformização Regionais e Nacional). Em razão de tais implicações, parte da doutrina entende pela
inconstitucionalidade da aplicação do IRDR no âmbito dos juizados especiais. (Fredie).

Dos Princípios
Infere-se do art. 2º da Lei 9099 que “o processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade,
informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou
transação”.
Do PRINCÍPIO DA ORALIDADE depreende-se a exigência precípua da forma oral no tratamento da causa,
sem que, com isso, exclua-se por completo a utilização escrita.
Nos Juizados Especiais, podem-se destacar diversas manifestações do princípio da oralidade, conforme
citado por Joel Dias Figueira Júnior: “a composição dos danos civis será homologada pelo juiz mediante
sentença irrecorrível (art. 74 da Lei 9099); só os atos exclusivamente essenciais serão objeto de registro
escrito (art. 65, §3º da Lei 9099); nenhum ato será adiado (art. 80 da Lei 9.099/95); todas as provas serão
produzidas na audiência de instrução e julgamento (art. 81,§1º da Lei 9099/95); a sentença será proferida
em audiência (art. 81, §2º da Lei 9099/95); somente será admitido recurso de sentença definitiva, salvo nos
casos do art. 4º (cf. art. 5º da LJEF)”.
O pedido inicial pode ser realizado de forma oral e será reduzido a termo (atermação) pela secretaria do
Juizado; a contestação e o pedido contraposto podem ser orais (art. 30, Lei 9099), a prova oral (depoimento
das partes e das testemunhas e de técnicos) pode ser gravada em meio eletrônico, não é reduzida a escrito
e os técnicos podem ser inquiridos em audiência, com a dispensa de laudos (arts. 35 e 36), o início da
execução pode dar-se por simples pedido verbal do interessado (art. 52, IV), os embargos de declaração
poderão ser interpostos oralmente (art. 49).
Apenas os atos considerados essenciais serão registrados resumidamente (art. 13, §3º, da Lei do JEC).
Enunciado 85, FONAJEF: Não é obrigatória a degravação, tampouco a elaboração de resumo, para
apreciação de recurso, de audiência gravada por meio magnético ou equivalente, desde que
acessível ao órgão recursal.
Já dos PRINCÍPIOS DA SIMPLICIDADE e INSTRUMENTALIDADE decorre que os atos processuais serão válidos
sempre que preencherem as finalidades para as quais forem realizados, não se exigindo dos mesmos
qualquer complexidade. Nesse diapasão, destaca-se, ainda, o PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE que professa
o desapego a procedimentos rígidos e fórmulas solenes, justamente para atingir o escopo dos Juizados
Especiais.
Art. 13, caput e §1º do JEC: Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as
finalidades para as quais forem realizados, atendidos os critérios indicados no art. 2º desta Lei. §
1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.
JEF: O art. 8º, § 2o Os tribunais poderão organizar serviço de intimação das partes e de recepção de
petições por meio eletrônico.
En FONAJEF nº 25: No ato do cadastramento eletrônico, as partes se comprometem, mediante
adesão, a cumprir as normas referentes ao acesso.
En FONAJEF nº 26: Nos Juizados Virtuais, considera-se efetivada a comunicação eletrônica do ato
processual, inclusive citação, pelo decurso do prazo fixado, ainda que o acesso não seja realizado
pela parte interessada.
En FONAJEF Nº 03 A auto-intimação eletrônica atende aos requisitos das Leis 10259/01 e
11.419/2006 e é preferencial à intimação por e-mail. (redação dada pelo 4º FONAJEF)

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En FONAJEF nº 04 Na propositura de ações repetitivas ou de massa, sem advogado, não havendo


viabilidade material de opção pela auto-intimação eletrônica, a parte firmará compromisso de
comparecimento, em prazo pré-determinado em formulário próprio, para ciência dos atos
processuais praticados.
En FONAJEF nº 27: Não deve ser exigido o protocolo físico da petição encaminhada via internet ou
correio eletrônico ao Juizado Virtual, não se aplicando as disposições da Lei n 9.800/99.
En FONAJEF nº 73 A intimação telefônica, desde que realizada diretamente com a parte e
devidamente certificada pelo servidor responsável, atende plenamente aos princípios
constitucionais aplicáveis à comunicação dos atos processuais.
En FONAJEF nº 74 A intimação por carta com AR, mesmo que o comprovante não seja subscrito
pela própria parte, é válida desde que entregue no endereço declarado pela parte.
O PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL preconiza que se deve buscar o máximo de resultado com o
mínimo de esforço processual.
Pelo PRINCÍPIO DA CELERIDADE prioriza-se a rápida solução da lide. O procedimento dos juizados especiais
(“sumaríssimo”, no termo do art. 98, I, da CF) é todo ele permeado por dispositivos que denotam a
celeridade que se busca imprimir em seu âmbito, como, por exemplo: a concentração de atos dos sujeitos
processuais em uma única audiência (apresentação de defesa, produção de provas, manifestações sobre
documentos, resolução de incidentes e prolação de sentença) – LJE, arts. 28 e 29; a ausência de prazo
diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público (LJF, art.
9º). Não há reexame necessário, mesmo no caso de sucumbência da União, suas autarquias ou fundações
(LJF, art. 13). Também, é vedada a intervenção de terceiros e a assistência.
En FONAJEF nº 14: Nos JEF, não é cabível a intervenção de terceiros ou a assistência.
APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS POSITIVADOS NO NCPC AOS JUIZADOS ESPECIAIS
Para Elpídio Donizetti, a maior parte do arcabouço principiológico, oriundo da CF e reproduzido no NCPC,
aplica-se aos juizados especiais.
São os seguintes os princípios aplicáveis aos juizados especiais, além de outros que sejam compatíveis
com a razão da sua existência: princípio do acesso à justiça, da ação (da demanda ou da inércia), do
impulso oficial, da inafastabilidade (ou da indeclinabilidade), da duração razoável do processo (ou da
celeridade), da boa-fé processual, da cooperação, da igualdade, do contraditório, da ampla defesa, da
função social do processo, da dignidade da pessoa humana, da proporcionalidade, da razoabilidade, da
legalidade, da publicidade, da eficiência, da lealdade processual e da imparcialidade.
Contudo, segundo o autor, o princípio da cronologia não se aplica aos juizados especiais, porque
redundaria em formalização do que é informal, burocratização do que é simples e, além de lançar
desconfiança sobre a magistratura e afrontar o autogoverno do Judiciário, tem uma extraordinária
aptidão para tornar o processo mais moroso (Fredie).
CONCILIAÇÃO E TRANSAÇÃO:
En nº 81 FONAJEF: Cabe conciliação nos processos relativos a pessoa incapaz, desde que presente
o representante legal e intimado o MP.
Conciliadores: ainda que não possuam qualquer poder decisório ou instrutório, constituem-se em
verdadeiros auxiliares da Justiça, representando papel de fundamental importância na estrutura dos
JEFs, já que contribuem, efetivamente, na condução dos trabalhos naquela unidade jurisdicional. O seu
recrutamento se dá, preferencialmente, entre os bacharéis de direito, atuando sem qualquer
remuneração. Na LJEF, não há menção à figura do juiz leigo, tal qual estabelece a Lei 9099.
Aplicação, à míngua de previsão legal em relação aos JEFs, de normas que disciplinam a atuação dos
conciliadores: O art. 26 da Lei 12.153/09, que disciplina os Juizados Especiais da Fazenda Pública,
possibilita, também no âmbito dos Juizados Especiais Federais, a condução de audiência de conciliação

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pelos conciliadores, inclusive com a oitiva de testemunhas, e o aproveitamento da prova oral já colhida
pelo juiz togado. Confira-se os dispositivos:

Lei 12.153/09
Art. 16. Cabe ao conciliador, sob a supervisão do juiz, conduzir a audiência de conciliação.
§ 1o Poderá o conciliador, para fins de encaminhamento da composição amigável, ouvir as partes
e testemunhas sobre os contornos fáticos da controvérsia.
§ 2o Não obtida a conciliação, caberá ao juiz presidir a instrução do processo, podendo dispensar
novos depoimentos, se entender suficientes para o julgamento da causa os esclarecimentos já
constantes dos autos, e não houver impugnação das partes.
Art. 26. O disposto no art. 16 aplica-se aos JEF instituídos pela Lei no 10.259.

Da Competência

A LJEF utilizou-se, preponderantemente, do critério quantitativo, erigindo o valor de 60 SM como patamar


de alçada dos JEF (nos Estaduais, são 40), enquanto as matérias objeto de cognição são estabelecidas por
exclusão.
En FONAJEF 15: Na aferição do valor da causa, deve-se levar em conta o valor do salário mínimo
em vigor na data da propositura de ação.
Contudo, em que pese a Lei dos JEF ter deixado de fazer menção expressa à observância do critério
qualitativo (demandas de menor complexidade), considera-se esse requisito como implicitamente
integrante da norma, em atenção ao preceito constitucional insculpido no art. 98, I, da Lei Maior, que é
expresso quanto à competência dos Juizados Especiais para julgar causas de menor complexidade.
A competência do JEF para julgamento de causas que, a despeito de ostentarem valor inferior a 60 s.m.,
exijam produção probatória complexa é tema controvertido na jurisprudência. Atualmente, o
entendimento do STJ é no sentido de que para definição da competência dos JEF, ao contrário dos JE
estaduais, é desinfluente a maior ou menor complexidade probatória.
Este STJ firmou entendimento de que os JEFs possuem competência para o julgamento das ações
de fornecimento de medicamentos em que haja litisconsórcio passivo necessário entre a União,
o Estado e o Município, cujo valor da causa não exceda sessenta salários mínimos, sendo
desinfluente o grau de complexidade da demanda ou o fato de ser necessária a realização de
perícia técnica (REsp 1205956e CC 107369). (AGRESP 12223945)
Em sentido contrário:
En FONAJEF 91: Os JEFs são incompetentes para julgar causas que demandem perícias complexas
ou onerosas que não se enquadrem no conceito de exame técnico (art. 12 da LJEF).
Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de competência do Juizado Especial, a
soma de 12 (doze) parcelas não poderá exceder o valor de 60 salários-mínimos (art. 3º, §2º). Se houverem
parcelas vencidas, seu valor deve ser somado às vincendas.
Enunciado FONAJEF 17: Não cabe renúncia sobre parcelas vincendas para fins de fixação de
competência nos JEFs.
Na hipótese do valor da causa ultrapassar os 60 salários-mínimos, deve o Juiz reconhecer a incompetência
do JEF e determinar a extinção do processo, pois não é admitida a renúncia tácita ao valor excedente, ao
contrário do que ocorre nos Juizados Especiais Estaduais (art. 15 c/c art. 39 da Lei 9.099/95).
En FONAJEF 48: Havendo prestação vencida, o conceito de valor da causa para fins de
competência do JEF é estabelecido pelo art. 260 do CPC.

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En FONAJEF 49: O controle do valor da causa, para fins de competência do JEF, pode ser feito pelo
juiz a qualquer tempo.
No litisconsórcio ativo, o valor da causa deve ser calculado por autor, sob pena de burla ao sistema dos JEF,
especialmente na hipótese de litisconsórcio ativo facultativo. Caso o número de autores dificulte a solução
da lide, é possível a sua limitação pelo Juiz.
En FONAJEF 18: No caso de litisconsorte ativo, o valor da causa, para fins de fixação de
competência deve ser calculado por autor.
En FONAJEF 65: Não cabe a prévia limitação do valor da multa coercitiva (astreintes), que também
não se sujeita ao limite de alçada dos JEFs, ficando sempre assegurada a possibilidade de
reavaliação do montante final a ser exigido na forma do parágrafo 6º do art. 461 do CPC.
No foro onde estiver instalada Vara do Juizado especial, a sua competência é absoluta (art. 3º, § 3º). Nos
Juizados Especiais Estaduais, a competência é relativa.
Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível (art. 3º, §1º):
Inciso I – As demandas que envolvam Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município
ou pessoa domiciliada ou residente no País (art. 109, II, CF), ou as causas fundadas em tratado ou
contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional (art. 109, III, CF) e aqueles
que dizem respeito a disputa sobre direitos indígenas (art. 109, XI, CF), os mandados de
segurança, as ações de desapropriação, de divisão, demarcação, populares, execuções fiscais, as
demandas por improbidade administrativa e sobre direitos ou interesses difusos, coletivos e
individuais homogêneos.
En FONAJEF 9: Além das exceções constantes da LJEF, 3º § 1º, não se incluem na competência dos
Juizados Especiais Federais, os procedimentos especiais previstos no CPC, salvo quando possível a
adequação ao rito da LJEF.
En FONAJEF 22: A exclusão da competência dos JEFs quanto às demandas sobre direitos ou
interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos somente se aplica quanto a ações
coletivas.
Inciso II – As demandas sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais.
Inciso III – para anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza
previdenciária e o de lançamento fiscal.
Inciso IV – que tenham como objeto a impugnação de pena de demissão imposta a servidores
públicos civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares.
Não há unanimidade na doutrina se as demais sanções (como a advertência e a suspensão) podem ser
questionadas nos JEF’s. Contudo, sendo certo que o inciso III afasta dos JEF’s a competência para anulação
ou cancelamento de ato administrativo, as ações que objetivarem a anulação de tais sanções estarão
excluídas da competência dos JEF’s.
Finalmente, no que tange à real natureza da competência dos JEF e a discussão sobre possível
descompasso entre o critério constitucional, entende-se que a questão trata da divergência entre a norma
constitucional – que prevê a competência dos Juizados Especiais para causas de menor complexidade – e a
norma legal dos JEF – que atribui competência com base unicamente no critério quantitativo (60 s.m.).
Referida divergência, ao que parece, não vem sendo contornada pela jurisprudência, notadamente em face
do atual entendimento do STJ, relativo aos JEF, no sentido de ser desinfluente, para a definição da
competência dos JEF, a complexidade probatória.
Quanto à competência territorial, a LJEF também é omissa. Apesar da omissão legislativa, para o JEF não se
aplica subsidiariamente o art. 4º da Lei 9.099 porque há disposição expressa na CF (art. 109, §2º) sobre a
competência para as ações intentadas contra a União e afins. As causas contra a União, autarquias federais e
fundações de direito público federal podem ser ajuizadas: - domicílio do autor; - lugar onde ocorreu o ato ou
fato ou onde situada a coisa;
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Exceção: não se aplica a CF, art. 109 §2º, mas a L 9099, art. 4º, no caso de empresa pública federal ré, pois
nesse caso a regra de competência não é a da CF e sim a do sistema (a CF não menciona a empresa pública
federal, ela só se preocupa depois da União, com autarquias e fundações federais).
A ação contra a CEF e Correios segue a regra do art. 4º: pode ser ajuizada no domicílio do réu, no local onde
ele tem agência; no local onde a obrigação deve ser cumprida; ou no domicílio do autor.
Art. 20: Onde não houver Vara Federal, a causa poderá ser proposta no JEF mais próximo do foro
definido no art. 4º da Lei 9.099, vedada a aplicação desta Lei no juízo estadual.
Se na comarca não tem Justiça Federal, pode-se ajuizar a ação na comarca do lado, onde houver Vara
Federal, ou no JEF mais próximo.
Cuidado: o juiz estadual não pode aplicar as regras do Juizado Especial Federal na comarca onde não tem
Justiça Federal (embora, por delegação de competência, possa ser ajuizada ação previdenciária na Justiça
Estadual, na forma do art. 109, § 3º, CF), devendo a causa ser processada pelo procedimento comum –
ordinário ou sumário – disciplinado no CPC.
Em resumo: A ação pode ser ajuizada na capital ou subseção; Se não for sede de Vara Federal, capital,
subseção que abranja a cidade de domicílio e foro federal mais próximo, além da estadual. Tudo
competência relativa, indeclinável de ofício.
En 24, FONAJEF: Reconhecida a incompetência do JEF, é cabível a extinção do processo, sem
julgamento de mérito, nos termos do art. 1º da LJEF e do art. 51, III, da Lei 9099, não havendo
nisso afronta ao art. 12, § 2º, da Lei 11.419/06. (Nova redação – V FONAJEF).

Criação superveniente de Juizado Especial Cível Federal

A competência dos Juizados Especiais Cíveis Federais é absoluta e assim sendo, não deveria se submeter à
regra da perpetuatio jurisdictionis prevista no art. 87 do CPC. Contudo, prevê o art. 25 da Lei 10.259/2001
que “não serão remetidas aos Juizados Especiais as demandas ajuizadas até a data de sua instalação”.
Contudo, é possível que, em razão do art. 20 da Lei 10.259/2001, a demanda tenha sido proposta perante o
juízo estadual, dotado de competência federal delegada. Neste caso, segundo Leonardo Carneiro da Cunha
(“A Fazenda Pública em Juízo”), a consequência irá variar caso seja criada de Vara Federal ou de Juizado
Especial Cível Federal. Para o autor, a delegação do exercício da competência federal deixa de existir quando,
naquele foro, for instalada Vara Federal. Isto porque a superveniente instalação de vara federal revoga a
delegação da competência. A causa passa para a vara federal, que continua a processá-la com aplicação das
regras procedimentais contidas no CPC. Diversamente, se superveniente instalação for de JEF, o processo
mantém-se com o juízo estadual, não devendo ser remetido para o Juizado, por força do já mencionado art.
25 da LJEF.

Competência para cumprir carta precatória quando existente, na comarca, um Juizado Especial
Cível Federal.

O cumprimento da precatória apenas poderá ser realizado pelo Juizado Federal se a causa inserir-se entre
aquelas de sua competência, em razão do art. 209, II, CPC. Se não for da sua competência, a carta deverá ser
cumprida pela Justiça Estadual, nos termos do art. 1.213 do CPC: “as cartas precatórias, citatórias,
probatórias, executórias e cautelares, expedidas pela Justiça Federal, poderão ser cumpridas nas comarcas
do interior pela Justiça Estadual”. Neste sentido: STJ, CC 47445 e CC 56.521 e confirmado.

Conflito de Competência entre juiz federal de vara comum e juiz federal de juizado

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Súm 428/STJ: Compete ao TRF decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e
juízo federal da mesma seção judiciária.
En 91/FONAJE: O conflito de competência entre juízes de Juizados Especiais vinculados à mesma
TR será decidido por esta. Inexistindo tal vinculação, será decidido pela TR para a qual for
distribuído.
En 106/ FONAJEF: Cabe à Turma Recursal conhecer e julgar os conflitos de competência apenas
entre JEFs sujeitos a sua jurisdição.
Entretanto, se os juízes não estiverem vinculados funcionalmente ao mesmo Tribunal, quem decide é o STJ
(art. 105, I, “d”, CF).

Competência. Necessidade de citação por edital

COMPETÊNCIA. DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA. Compete à Justiça Federal, e não a JEF, processar e


julgar a ação de declaração de ausência com a finalidade de percepção de benefício
previdenciário, uma vez que é necessária a citação editalícia, imprescindível no caso concreto.
Precedentes: CC 47936 e CC 57.544 (CC 93523).
De acordo com o art. 18, § 2º da Lei 9.099/95, não cabe citação por edital nos Juizados Especiais, o autor
precisa saber o endereço do réu.

Das Partes Processuais

No Juizado Especial Federal Cível, podem ser partes, como autores, as pessoas físicas (CAPAZES e
INCAPAZES) e as microempresas e empresas de pequeno porte.
En FONAJEF 11: No ajuizamento de ações no JEF, a microempresa e a empresa de pequeno porte
deverão comprovar essa condição mediante documentação hábil.
Segundo a jurisprudência, o espólio e o condomínio podem ser partes autoras nos JEF’s.
II - Em que pese ao fato de o espólio não figurar na lista prevista pelo art. 6º, I, da LJEF, tal rol não
é exaustivo, devendo a competência dos JEFs basear-se na expressão econômica do feito, a teor
do art. 3º, caput, da citada norma. (CC 92740)
- Embora o art. 6.° da LJEF não faça menção a condomínio, os princípios que norteiam os JEFs
fazem com que, na fixação de sua competência, prepondere o critério da expressão econômica da
lide sobre a natureza das pessoas que figuram no pólo ativo. (CC 73681)
Todas as pessoas físicas haverão de postular como autoras ou exequentes, capazes ou não, perante os JEF
(desde que devidamente assistidas ou representadas por quem de direito), diferentemente do que ocorre
nos JE Estaduais, que não admite representação (art. 8º da Lei 9.099)
Assim, no âmbito do JEF, não podem ser partes o preso, a massa falida e o insolvente civil (aplicação parcial
do art. 8º, da Lei 9099)
Ademais, nos termos do art. 8º, §1º, da Lei 9.099/95, as pessoas físicas cessionárias de direitos de pessoas
jurídicas também não poderão ser partes.
Na qualidade de rés, podem figurar a União, as autarquias, fundações e empresas públicas federais (art. 6º,
II).
A figura do litisconsórcio é admitida. O STJ considera até possível que pessoa jurídica de direito privado seja
litisconsorte passivo nas demandas dos JEF’s.
Enunciado FONAJEF 21: As pessoas físicas, jurídicas, de direito privado ou de direito público
estadual ou municipal podem figurar no pólo passivo, no caso de litisconsórcio necessário.

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Embora não esteja expressamente disposto na Lei 10.259/01, não se admite a intervenção de terceiros ou a
assistência: En 4 FONAJEF: Nos JEFs, não é cabível a intervenção de terceiros ou a assistência.

Da Ciência dos Atos Processuais

As citações e intimações da União serão feitas na forma prevista nos arts. 35 a 38 da LC n.º 73/93, isto é, a
citação é pessoal (art. 7º).
A citação das autarquias, fundações e empresas públicas será feita na pessoa do representante máximo da
entidade, no local onde proposta a causa, quando ali instalada seu escritório ou representação; se não, na
sede da entidade (art. 7º, parágrafo único).
Enunciado FONAJEF 3: A auto-intimação eletrônica atende aos requisitos das LJEF e L 11419/06 e
é preferencial à intimação por e-mail.
En FONAJEF 4: Na propositura de ações repetitivas ou de massa, sem advogado, não havendo
viabilidade material de opção pela auto-intimação eletrônica, a parte firmará compromisso de
comparecimento, em prazo pré-determinado em formulário próprio, para ciência dos atos
processuais praticados.
En FONAJEF 7: Nos Juizados Especiais Federais o procurador federal não tem a prerrogativa de
intimação pessoal.
En FONAJEF 8: É válida a intimação do procurador federal para cumprimento da obrigação de
fazer, independentemente de oficio, com base no artigo 461 do CPC.
En FONAJEF 73: A intimação telefônica, desde que realizada diretamente com a parte e
devidamente certificada pelo servidor responsável, atende plenamente aos princípios
constitucionais aplicáveis à comunicação dos atos processuais.
As partes serão intimadas da sentença, quando não proferida esta em audiência em que estiver presente
seu representante, por ARMP (aviso de recebimento em mão própria – art. 8º). As demais intimações das
partes serão feitas na pessoa dos advogados ou dos Procuradores que oficiem nos respectivos autos,
pessoalmente ou por via postal (art. 8º, § 1º).
En FONAJEF 74: A intimação por carta com aviso de recebimento, mesmo que o comprovante não
seja subscrito pela própria parte, é válida desde que entregue no endereço declarado pela parte.
En FONAJEF 55: A nulidade do processo por ausência de citação do réu ou litisconsorte necessário
pode ser declarada de ofício pelo juiz nos próprios autos do processo, em qualquer fase, ou
mediante provocação das partes, por simples petição.

Dos Prazos Processuais

A lei que criou os JEF estipulou que não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual
pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para
audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de trinta dias (art. 9º).
En FONAJEF 53: Não há prazo em dobro para a Defensoria Pública no âmbito dos JEFs.

Da Representação Judicial e da Possibilidade de Conciliação e Transação

As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não (art. 10, caput),
todavia essa situação deve ser excepcionalmente admitida, e reservada àqueles que representam seus
parentes – pais, irmãos, filhos – ocasionalmente impedidos de se dirigirem ao JEF, em razão de doença ou
qualquer outro impedimento. Aliás, o comparecimento pessoal é a regra. A interpretação do dispositivo

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legal não pode ser apenas literal, e tem de seguir o princípio da razoabilidade, para não se chegar ao
absurdo de acobertar o exercício da advocacia por quem não está habilitado.
Enunciado FONAJEF nº. 83: “O art. 10, caput, da LJEF não autoriza a representação das partes por
não-advogados de forma habitual e com fins econômicos.”
Enunciado FONAJEF nº 94 - “A Lei 9099, art 51, I, (Extingue-se o processo, além dos casos
previstos em lei: I – quando o autor deixar de comparecer a qualquer das audiências do processo)
aplica-se aos JEF’s, ainda que a parte esteja representada na forma do art. 10, caput, da LJEF”
Os representantes judiciais da União, das autarquias, das fundações e das empresas públicas federais, bem
como os indicados na forma do caput, ficam autorizados a conciliar, transigir ou desistir, nos processos de
competência dos JEF (art. 10, parágrafo único).
Quanto à audiência de conciliação, as Turmas Recursais Federais do RJ editaram o Enu 12: “Embora seja
regra geral a realização de audiência no âmbito do JEF, a não-realização da mesma, a critério da Juiz, não
induz em princípio à nulidade”.
Igualmente, a 1ª Turma Recursal Federal do DF: “A audiência de conciliação inicial pode ser dispensada
quando a matéria for exclusivamente de direito”.
En FONAJEF 76: A apresentação de proposta de conciliação pelo réu não induz a confissão.
En FONAJEF 81: Cabe conciliação nos processos relativos a pessoa incapaz, desde que presente o
representante legal e intimado o Ministério Público.

Do Pedido Contraposto
De acordo com o Enunciado 10 e 31 do FONAJE, essa contestação pode ser oral e cabe pedido contraposto
(o réu contesta e faz pedido contra o autor). EN 10 - A contestação poderá ser apresentada até a audiência
de Instrução e Julgamento.

Exceção: não cabe pedido contraposto do réu contra o autor na hipótese do JEF e do JEFP, porque o autor do
pedido contraposto vai ser a Fazenda Pública, e ela só pode ser ré no Juizado, não pode ser autora, então
daria ilegitimidade.
En 12 do FONAJEF: No Juizado Especial Federal, não é cabível o pedido contraposto formulado
pela União Federal, autarquia, fundação ou empresa pública federal.

Da Revelia
Segundo Marco Aurélio Serau Júnior, considerando que a LJEF, em seu art. 10, possibilitou a transação e
conciliação no âmbito dos JEF, tornando disponíveis direitos até então indisponíveis, parte da doutrina e
jurisprudência têm entendido aplicar-se também à Fazenda Pública, dentro desse rito processual, a pena de
revelia.
Joel Dias Figueira Júnior não comunga desta idéia, asseverando que se o ente público deixar de contestar o
pedido do autor, será decretada a sua revelia, sem que os efeitos dela incidam totalmente, isto é, sem que
se presumam verdadeiros os fatos narrados na inicial.

“(...) Por se tratar de órgão da Administração Pública indireta gozo de privilégios estabelecidos
pelo ordenamento jurídico, entre eles a não incidência dos efeitos da revelia, justamente porque
cuida de direitos indisponíveis, em última escala ligado ao interesse público, coletivo. (Processo
00605296020094036301, 1ª TR/SP)

Das Cautelares e dos Recursos

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IMPORTANTE: O Juiz pode deferir medidas cautelares no curso do processo, inclusive de ofício, para evitar
dano de difícil reparação (art. 4º). (En FONAJEF 86: “A tutela de urgência em sede de turmas recursais pode
ser deferida de oficio”) Com exceção destes casos, somente será admitido recurso de sentença definitiva
(art. 5º).
En FONAJEF 63: Cabe multa ao ente público pelo atraso ou não-cumprimento de decisões judiciais
com base no artigo 461 do CPC, acompanhada de determinação para a tomada de medidas
administrativas para a apuração de responsabilidade funcional e/ou por dano ao erário. Havendo
contumácia no descumprimento, caberá remessa de ofício ao MPF para análise de eventual
improbidade administrativa.
Segundo Leonardo Carneiro da Cunha, conquanto o dispositivo aluda apenas a medida cautelar, é inegável
que ao juiz também se permite a concessão de tutela antecipada. Contudo, a possibilidade de concessão
de cautelar de ofício não se estende à tutela antecipada.
De igual modo, embora o dispositivo faça referência literal a cautelares incidentais, não há razão para
impedir a concessão de cautelares antecedentes ou preparatórias (CC 88538).
En FONAJEF 89: Não cabe processo cautelar autônomo, preventivo ou acidental, no âmbito do JEF.
A LJEF não nomeia o recurso do art. 5º. Todavia, em face da aplicação subsidiária do CPC, seria cabível o
agravo de instrumento.
A discussão é: cabe recurso dessa decisão?
Lembrar que o art. 4º possibilita que se conceda provimento cautelar, ou antecipatório, que impeça dano
irreparável. O art. 5º fala que não cabe recurso de agravo no JEF, salvo se for concedida a medida acima.
Então, em regra não cabe recurso de interlocutória no juizado, salvo se for de concessão de medida
cautelar ou antecipatória.
Enu 15: Nos Juizados Especiais não é cabível o recurso de agravo, exceto nas hipóteses dos artigos
544 e 557 do CPC. (Modificado no XXI Encontro – Vitória/ ES).
En 107 do FONAJEF: Fora das hipóteses da LJEF, art 4º, a impugnação de decisões interlocutórias
proferidas antes da sentença deverá ser feita no recurso desta (art. 41 da Lei 9099).
Para o FONAJE e o FONAJEF, não cabe agravo (só em caráter excepcional). Assim, das decisões
interlocutórias proferidas no Juizado cabe mandado de segurança.
Súmula 376/STJ: “Compete a Turma Recursal processar e julgar o MS contra ato de Juizado”.
(...) JUIZADOS ESPECIAIS. LEI 9.099/1995. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA DECISÃO
INTERLOCUTÓRIA. NÃO CABIMENTO. (...). I - O Plenário do STF, no julgamento do RE 576.847 RG,
concluiu pelo não cabimento de MS contra decisões interlocutórias proferidas no âmbito dos
Juizados Especiais. Precedentes. II - Agravo regimental improvido. (STF, AI 857811 AgR)
* A jurisprudência das Turmas e dos TRFs ignoram esta decisão
No caso do JEC, entendeu-se que todas as alegações recursais deveriam ser feitas ao final.
Em uma prova, dizer que, se tiver agravo ou mandado de segurança no Juizado, quem julga é a Turma
Recursal à qual o juiz do Juizado está vinculado.
As demais decisões interlocutórias são irrecorríveis e, por conseguinte, sobre elas não incide a preclusão,
inexistindo qualquer interesse da parte em interposição de agravo regimental.
En FONAJEF 87: “A decisão monocrática proferida por Relator é passível de Agravo Interno.”
En FONAJEF 29: Cabe ao Relator, monocraticamente, atribuir efeito suspensivo a recurso, bem
assim lhe negar seguimento ou dar provimento nas hipóteses tratadas no art. 557, caput e § 1-A,
do CPC, e quando a matéria estiver pacificada em súmula da TNU, enunciado de Turma Regional
ou da própria Turma Recursal.

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Enunciado FONAJEF 30: A decisão monocrática referendada pela Turma Recursal, por se tratar de
manifestação do colegiado, não é passível de impugnação por intermédio de agravo regimental.
DISPOSITIVOS DO NCPC APLICÁVEIS AOS JUIZADOS ESPECIAIS
O NCPC aprimorou e unificou o regime das liminares sob o gênero “tutela provisória” (Livro V do NCPC),
que pode ser de urgência ou evidência (NCPC, art. 294), antecedente ou incidental (NCPC, art. 294,
parágrafo único), sendo que a de urgência pode ser cautelar ou antecipada (NCPC, art. 294, parágrafo
único).
Com relação aos JEFs, porém, há um regramento específico, que, apesar de sucinto, já traz todos os
elementos necessários para o bom funcionamento das tutelas provisórias, indicando que “o juiz poderá,
de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, para evitar
dano de difícil reparação (Lei 10.259/2001, art. 4º). Assim, embora este bloco normativo do NCPC tenha
aplicação nos JEFs, ela não poderá ser integral.
Primeiro, a LJEF prevê expressamente a possibilidade de concessão da medida de ofício, e não apenas a
requerimento (regra geral do NCPC). Essa diferença é uma decorrência do sistema geral dos juizados, que
dispensa o acompanhamento técnico de advogado pelas partes. A segunda adaptação necessária é a
inviabilidade de se criar uma etapa prévia para as tutelas antecedentes, isto é, os pedidos devem ser
apenas incidentais (embora possam constar na petição inicial), com o escopo de evitar eventual
complexidade incompatível com o rito dos juizados.
Por fim, as mesmas razões que viabilizam a tutela de urgência antecipada do NCPC em complemento às
medidas cautelares da LJEF também legitimam a tutela de evidência no âmbito dos juizados federais,
aplicando-se as mesmas observações pertinentes para a sua adaptação ao rito sumaríssimo (Fredie).

Da Instrução Probatória
A entidade pública ré deverá fornecer ao Juizado a documentação de que disponha para o esclarecimento
da causa, apresentando-a até a instalação da audiência de conciliação (art. 11).
Para efetuar o exame técnico necessário à conciliação ou ao julgamento da causa, o Juiz nomeará pessoa
habilitada, que apresentará o laudo até cinco dias antes da audiência, independentemente de intimação
das partes (art. 12), sendo que os honorários do técnico serão antecipados à conta de verba orçamentária
do respectivo Tribunal e, quando vencida na causa a entidade pública, seu valor será incluído na ordem de
pagamento a ser feita em favor do Tribunal (art. 12, § 1º).
Segundo Joel Dias, a lei disse menos do que o legislador pretendia, não sendo admissível que o
microssistema teria excluído a avaliação e a vistoria. Ademais, se o vencido for o privado e se tiver
condições de arcar com a sucumbência, será condenado ao pagamento, salvo se for pobre e gozar dos
benefícios da gratuidade previamente autorizados.
Nas ações previdenciárias e relativas à assistência social, especificamente, havendo designação de exame,
serão as partes intimadas para, em até dez dias, apresentar quesitos e indicar assistentes (art. 12, §2º).
Aquele autor também assevera que essa regra não pode se limitar a esse único tipo de demanda,
devendo-se conferir aos litigantes, em todas as demais ações, o direito de indicação de assistentes e
apresentação de quesitos.
Ressalte-se que nos Juizados Especiais Estaduais só é permitida ao Juiz a inquirição de expert por ele
mesmo indicado e de sua confiança. (Art. 35 da Lei 9099).
ALTERAÇÕES DO NCPC
Não há revogação e nem alteração das matérias já disciplinadas de forma especial pelas leis dos juizados
especiais, em especial a forma de conciliação e instrução, sobremodo no âmbito daquilo que é
totalmente regrado naquelas normas, como os laudos periciais simplificados e a forma de coleta da
prova testemunhal (Fredie).

Da Sentença e seu Cumprimento


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Nas causas ajuizadas mediante o rito dos JEF, não haverá reexame necessário (art. 13).
A sentença a ser proferida deverá ser necessariamente líquida, ainda que genérico o pedido (parágrafo
único do art. 38 da Lei 9.099/95), Sem relatório (artigo 38 da Lei 9.099).
ALTERAÇÕES DO NCPC
A previsão da necessidade de refutar todos os argumentos das partes, introduzido no art. 489, § 1º, IV,
do NCPC, deve ser interpretada em conjunto com a boa-fé para viabilizar os princípios da simplicidade,
oralidade e celeridade dos juizados especiais. Para Elpídio Donizetti, a motivação exaustiva das decisões
judiciais, nos moldes dos incisos III, IV, V e VI do § 1º do art. 489 é ofensiva a um conjunto de princípios
erigidos como norteadores do NCPC, por isso não se aplica a qualquer procedimento judicial, muito
menos ao adotado nos juizados especiais (Freddie).
O cumprimento do acordo ou da sentença, com trânsito em julgado, que imponha obrigação de fazer, não
fazer ou entrega de coisa certa, será efetuado mediante ofício do Juiz à autoridade citada para a causa, com
cópia da sentença ou acordo (art. 16).

Recursos e Pedido de Uniformização


Indispensável presença de advogado para interposição de recursos: art. 41, § 2º, Lei 9.099. Recurso contra
a sentença: art. 41 e segs. Lei 9.099.
Segundo Leonardo Carneiro, ao recurso contra a sentença aplicam-se as regras da apelação.
En 100 FONAJEF: No âmbito dos JEFs, a Turma Recursal poderá conhecer diretamente das
questões não examinadas na sentença que acolheu prescrição ou decadência, estando o processo
em condições de imediato julgamento.
O sistema para o processamento e julgamento de causas em juizados especiais é composto por três
microssistemas. Cada um deles é submetido a regras específicas de procedimento, inclusive com relação
ao mecanismo de uniformização de jurisprudência e de submissão das decisões das Turmas Recursais ao
crivo do STJ.
No âmbito do microssistema dos Juizados Especiais Estaduais Comuns, instituídos pela Lei 9.099/1995, o
mecanismo é a reclamação, nas hipóteses do art. 1º da Res 12/2009 do STJ, ou seja, quando decisão de
Turma Recursal contrariar: a) jurisprudência do STJ; b) súmula do STJ; ou c) orientações decorrentes do
julgamento de recursos especiais processados na forma do art. 543-C.
Já no que se refere aos Juizados Especiais Federais instituídos pela LJEF, é o pedido de uniformização de
jurisprudência que é cabível quando a orientação da TNU contrariar (art. 14, § 4º): a) jurisprudência
dominante do STJ; ou b) súmula do STJ.
Finalmente, quanto ao mais recente microssistema, instituído pela Lei 12.153/2009 (Juizados Especiais
da Fazenda Pública), é cabível o pedido de uniformização de jurisprudência quando (arts. 18 e 19): a) as
Turmas de diferentes Estados derem a lei federal interpretações divergentes; ou b) a decisão proferida
estiver em contrariedade com súmula do STJ.
Percebe-se, portanto, que foi opção expressa do legislador restringir apenas às duas hipóteses acima o
cabimento do pedido de uniformização de jurisprudência nos Juizados Especiais da Fazenda Pública,
havendo silêncio eloquente quanto a todas as demais hipóteses.
ATENÇÃO: Não é cabível reclamação, tampouco pedido de uniformização de jurisprudência, ao STJ contra
acórdão de Turma Recursal do Juizado Especial da Fazenda Pública sob a alegação de que a decisão
impugnada diverge de orientação fixada em precedentes do STJ. (STJ, Rcl 22033)

Embargos de declaração (art. 48 da Lei 9.099/95)


Cuidado: eles não interrompem, eles suspendem prazo para outros recursos (o prazo para e depois começa
a contar do lugar em que parou). No CPC os embargos de declaração interrompem o prazo (para e começa
a contar tudo de novo depois).

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ALTERAÇÕES DO NCPC
O Novo CPC promoveu importantes alterações da sistemática dos embargos declaratórios no âmbito dos
juizados especiais (NCPC, arts. 1.064 a 1.066), quais sejam: (1) os embargos de declaração na esfera cível
e criminal passam a interromper os prazos para outros recursos e; (2) não cabem mais embargos de
declaração para sanar“dúvida”, restando apenas as hipóteses de obscuridade, contradição ou omissão,
previstas no CPC.
Por outro lado, o Novo CPC acrescentou um detalhamento do conceito de omissão, estendendo para os
casos: (1) de decisão que não se manifesta sobre a tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou
em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento (NCPC, art. 1.022, parágrafo
único, I) ou; (2) que incorra nas hipóteses de decisão tida como “não fundamentada”, descritas no art.
489, § 1º, do NCPC (NCPC, art. 1.022, parágrafo único, II).
Pedido de Uniformização da Interpretação da Lei Federal
Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver
divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas Recursais na
interpretação da lei. (...)
Por falta de previsão constitucional, não existe efeito vinculante nos enunciados da súmula da Turma
Nacional de Uniformização.
§3º A reunião de juízes domiciliados em cidades diversas será feita pela via eletrônica.
§4º Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito material,
contrariar súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça - STJ, a parte
interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência.
§5º No caso do § 4º, presente a plausibilidade do direito invocado e havendo fundado receio de
dano de difícil reparação, poderá o relator conceder, de ofício ou a requerimento do interessado,
medida liminar determinando a suspensão dos processos nos quais a controvérsia esteja
estabelecida.
O disposto no aludido dispositivo é chamado pela doutrina de “efeito suspensivo generalizante”.
§6º Eventuais pedidos de uniformização idênticos, recebidos subseqüentemente em quaisquer
Turmas Recursais, ficarão retidos nos autos, aguardando-se pronunciamento do STJ.
(...)
§9º Publicado o acórdão respectivo, os pedidos retidos referidos no § 6o serão apreciados pelas
Turmas Recursais, que poderão exercer juízo de retratação ou declará-los prejudicados, se
veicularem tese não acolhida pelo Superior Tribunal de Justiça.
En FONAJEF 98 – É inadmissível o reexame de matéria fática em PU.

Embargos Infringentes
Não há previsão legal. Segundo Leonardo Carneiro, os princípios que informam o Juizado, sobretudo o da
celeridade, impedem que se admita tal recurso no âmbito dos Juizados.
ALTERAÇÕES DO NCPC
A técnica de decisão geradora dos “embargos infringentes de ofício” (NCPC, art. 942) é incompatível com
o rito dos juizados especiais, sendo de constitucionalidade duvidosa inclusive no regime ordinário do
novo código (Fredie).

Recurso adesivo
En FONAJEF 59: Não cabe recurso adesivo nos Juizados Especiais Federais.

Recurso Especial
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Não cabe recurso especial. O art. 105, III, da CF alude à decisão proferida em única ou última instância, por
TJ, por TRF ou pelo TJDF.
Súm 203/STJ: Não cabe REsp contra decisão proferida por órgão de 2 grau dos Juizados Especiais.

Recurso Extraordinário
Art. 15. O recurso extraordinário, para os efeitos desta Lei, será processado e julgado segundo o
estabelecido nos §§ 4º a 9º do art. 14, além da observância das normas do Regimento.
Súm 640/STF: É cabível RE contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada,
ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.

Ação Rescisória
Não é admitida pelo art. 59 da Lei 9.099/95.
Com uma exceção, sendo certo que a CF atribui ao STF competência para julgar as rescisórias de seus
próprios julgados, parece que tal regra prevalece sobre o aludido dispositivo legal. Vale observar que, no
que tange à aplicação do dispositivo legal nos JEF’s, há decisões nos dois sentidos.

En 44 FONAJEF: “Não cabe ação rescisória no JEF. O art. 59 da Lei 9.099/95 está em consonância
com os princípios do sistema processual dos Juizados Especiais, aplicando-se também aos JEF’s”.

Coisa Julgada
Em razão da incidência subsidiária do CPC, aplica-se, no que couber, as normas atinentes ao instituto
jurídico da coisa julgada.
Se a sentença ou o acórdão de mérito ofender a coisa julgada, em face da impossibilidade jurídica da
rescisão do julgado por ação rescisória, diante da proibição expressa do art. 59 da Lei 9099, o instrumento
de impugnação adequado é a ação anulatória de ato jurídico. (Há divergência)

Das Custas e Despesas Processuais


Se a tramitação do processo terminar em primeira instância (logo após a sentença do juiz), as custas são
dispensadas (art. 55, da Lei 9099).
Observe-se que a lei não diferencia se a sentença é no processo de conhecimento ou de execução. Os
honorários advocatícios são indevidos numa e noutra hipótese.
Ausência injustiçada do autor à audiência implica o pagamento de custas, pois movimentou a máquina
judiciária, impondo à parte contrária deslocamentos desnecessários.
En 28, do FONAJE: Havendo extinção do processo com base na L 9099, 51, I, é necessária a
condenação em custas.
Quando se tratar de matéria previdenciária, em regra, não são cobradas custas.
Também não serão cobradas custas quando a parte for beneficiária da Assistência Judiciária Gratuita.
En 38 – FONAJEF: A qualquer momento poderá ser feito o exame de pedido de gratuidade com os
critérios da Lei 1060/50. Para fins da LJEF, presume-se necessitada a parte que perceber renda
até o valor do limite de isenção do imposto de renda. (Nova redação – IV FONAJEF)
Em 39 FONAJEF: Não sendo caso de justiça gratuita, o recolhimento das custas para recorrer
deverá ser feito de forma integral nos termos da Resolução do CJF, no prazo da Lei n 9.099/95.
En 116 FONAJE: O Juiz poderá, de ofício, exigir que a parte comprove a insuficiência de recursos
para obter a concessão do benefício da gratuidade da justiça (art. 5º, LXXIV, da CF), uma vez que a
afirmação da pobreza goza apenas de presunção relativa de veracidade (XX Encontro).

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Quanto aos honorários periciais, não olvidar o regramento específico do § 1º do art. 12 da LJEF:
Art. 12. (...)
§1º Os honorários do técnico serão antecipados à conta de verba orçamentária do respectivo
Tribunal e, quando VENCIDA NA CAUSA A ENTIDADE PÚBLICA, seu valor será incluído na ordem de
pagamento a ser feita em favor do Tribunal.

Advogado

É constitucional dispensa de advogado (L 9099, art. 9º § 1º), inclusive para ME e EPP (ADI 1539)
Enunciado 48, FONAJE: O disposto no parágrafo 1º do art. 9º da lei 9099 é aplicável às
microempresas e às empresas de pequeno porte (NR - XXI Encontro).
Atenção: En 67 FONAJEF: O caput do art. 9º da Lei 9099 não se aplica subsidiariamente no âmbito
dos JEFs, visto que o artigo 10 da LJEF disciplinou a questão de forma exaustiva.
A assistência por advogado na fase recursal é obrigatória,
Art. 23, Código de Ética da OAB: É defeso ao advogado funcionar no mesmo processo,
simultaneamente, como patrono e preposto do empregador ou cliente.
En 68 do FONAJEF: O estagiário de advocacia, nos termos do Estatuto da OAB, tão-só pode
praticar, no âmbito dos JEF atos em conjunto com advogado e sob responsabilidade deste.
En 69: O levantamento de valores decorrentes de RPV e Precatórios no âmbito dos Juizados
Especiais Federais pode ser condicionado à apresentação, pelo mandatário, de procuração
específica com firma reconhecida, da qual conste, ao menos, o número de registro do Precatório
ou RPV ou o número da conta do depósito, com o respectivo valor. (NR – V FONAJEF)

Execução

Nos termos do art. 16 da Lei dos JEF, o cumprimento do acordo ou da sentença, com trânsito em julgado,
que imponha obrigação de fazer, não fazer ou entrega de coisa certa, será efetuado mediante ofício (cujo
conteúdo é mandamental) do Juiz à autoridade citada para a causa, com cópia da sentença ou acordo.
En nº 63 FONAJEF: Cabe multa ao ente público pelo atraso ou não-cumprimento de decisões
judiciais com base no artigo 461 do CPC, acompanhada de determinação para a tomada de
medidas administrativas para a apuração de responsabilidade funcional e/ou por dano ao erário.
Havendo contumácia no descumprimento, caberá remessa de ofício ao Ministério Público Federal
para análise de eventual improbidade administrativa.
En Nº 64 FONAJEF: Não cabe multa pessoal ao procurador ad judicia do ente público, seja com
base no art. 14, seja no art. 461, ambos do CPC.
Dispõe o caput do art. 17 que, após o trânsito em julgado da sentença fundada em obrigação de pagar
quantia certa, a quitação será efetuada no prazo de 60 dias, contados da entrega da requisição de
pagamento à autoridade que figurou no pólo passivo da demanda.
Assim, após o trânsito em julgado, o juiz federal sentenciante comunicará ao Presidente do TRF de sua
Região para que seja providenciada a requisição de pagamento. Significa que a RPV deve ser encaminhada
ao respectivo TRF, que cuida de repassá-la ao CJF, o qual, por sua vez, solicita o numerário ao Ministério da
Fazenda, após a consolidação de todas as requisições.
O depósito deve ser efetuado na agência mais próxima da CEF ou do BB, independentemente de
precatório.
Caso a ordem judicial de pagamento seja desatendida pela autoridade competente, determinará o juiz
federal, imediatamente, independentemente da ouvida da parte interessada, o seqüestro do numerário
suficiente ao cumprimento da decisão.
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O §3º do art. 17 da LJEF regula a hipótese de proibição de fracionamento, divisão ou quebra do valor da
execução, de maneira que se faça o pagamento na forma estabelecida, sem a incidência do precatório, e,
na parte restante, mediante a expedição de precatório. Contudo, “se o valor da execução ultrapassar o
estabelecido no § 1º, o pagamento far-se-á, sempre, por meio do precatório, sendo facultado à parte
exeqüente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar pelo pagamento do saldo sem o
precatório, da forma lá prevista” (§ 4º do art. 17 da LJEF).
Eventualmente, a sentença condenatória em quantia certa pode ultrapassar, em termos valorativos, os
valores de alçada, nada obstante a observância regular do teto quando da propositura da ação de
conhecimento, em razão de honorários, multas, etc.
Não perderá o saldo que sobejar o limite estabelecido, mas o pagamento de toda a soma far-se-á por
intermédio de precatório, sendo facultado à parte exeqüente a renúncia ao crédito do valor excedente,
para que possa optar pelo pagamento do saldo sem o precatório. Percebe-se que a sistemática prevista
para o JEF no § 4º do art. 17 da LJEF(possibilidade de execução de sentença condenatória em quantia
superior ao valor de alçada) difere substancialmente daquela prevista para os Juizados Estaduais no art. 39
da Lei 9099, o qual prevê que “é ineficaz a sentença condenatória na parte que exceder a alçada
estabelecida nesta Lei”.
Em se tratando de demanda proposta em face da empresa pública federal, a execução de sentença segue o
procedimento do CPC, com as adaptações determinadas pelo art. 52 da Lei 9.099/95. Isso porque as
empresas públicas federais submetem-se ao regime das pessoas jurídicas de direito privado (com exceção
das prestadoras de serviços públicos).
Diante do silêncio da Lei dos JEF no que concerne à execução dos títulos executivos extrajudiciais, sendo
devedora a Fazenda Pública, as regras processuais e procedimentais a serem aplicadas, dentro do limite de
60 salários-mínimos, serão aquelas insculpidas nos arts. 730 e 731 do CPC.
Não se deve olvidar da possibilidade de autocomposição, inclusive nessas espécies de demanda, devendo o
juiz federal tentar obtê-la, designado, se for o caso, audiência de conciliação.
En 65 FONAJEF: Não cabe a prévia limitação do valor da multa coercitiva (astreintes), que também
não se sujeita ao limite de alçada dos JEFs, ficando sempre assegurada a possibilidade de
reavaliação do montante final a ser exigido na forma do parágrafo 6º do artigo 461 do CPC.

Súmulas TNU

7- Descabe incidente de uniformização versando sobre honorários advocatícios por se tratar de


questão de direito processual.
17- Não há renúncia tácita no Juizado Especial Federal, para fins de competência.
42 - Não se conhece de incidente de uniformização que implique reexame de matéria de fato.
43- Não cabe incidente de uniformização que verse sobre matéria processual.

Questões Controvertidas

Enunciado 9 do FONAJEF: Além das exceções constantes do § 1º do artigo 3º da Lei n. 10.259, não
se incluem na competência dos JEFs, os procedimentos especiais previstos no CPC, salvo quando
possível a adequação ao rito da LJEF.
Procedimento de Jurisdição voluntária:
PROCEDIMENTO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. FGTS. CONFIGURADA A HIPÓTESE LEGAL DE LIVRE
MOVIMENTAÇÃO DA CONTA VINCULADA, É GARANTIDO AO FUNDISTA O ACESSO AOS VALORES
EXISTENTES. 1. O Procedimento de jurisdição voluntária se inclui no conceito genérico de causa
para os fins previstos no art. 3º da LJEF, inserindo-se no âmbito de competência do JEF. (TNU)

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Mandado de Segurança

STF entendeu pela inadmissibilidade de MS contra decisões interlocutórias dos JEF, por atentar contra o
princípio da celeridade (RE 576847). Pelo fato de não haver preclusão, as decisões interlocutórias possam
ser impugnadas quando da interposição do recurso inominado em face das sentenças então proferidas.
Todavia, o STJ entendeu de forma diversa, assentando que compete às Turmas Recursais processar e julgar
o MS contra ato do magistrado em exercício no Juizado Especial, assim como do Juiz da própria Turma
Recursal. Confira-se: “Compete a turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de
juizado especial”. (Súm 376)

Enunciados do FONAJEF não elencados acima

En 1: O julgamento de mérito de plano ou prima facie não viola o principio do contraditório e


deve ser empregado na hipótese de decisões reiteradas de improcedência pelo juízo sobre
determinada matéria.
En 2: Nos casos de julgamentos de procedência de matérias repetitivas, é recomendável a
utilização de contestações depositadas na Secretaria, a fim de possibilitar a imediata prolação de
sentença de mérito.
En 5: As sentenças e antecipações de tutela devem ser registradas tão-somente em meio
eletrônico.
En 6: Havendo foco expressivo de demandas em massa, os JEFs solicitarão às Turmas Recursais e
de Uniformização Regional e Nacional o julgamento prioritário da matéria repetitiva, a fim de
uniformizar a jurisprudência a respeito e de possibilitar o planejamento do serviço judiciário.
En 13: Não são admissíveis embargos de execução nos Juizados Especiais Federais, devendo as
impugnações do devedor ser examinadas independentemente de qualquer incidente.
En 25: Nos Juizados Especiais Federais, no ato do cadastramento eletrônico, as partes se
comprometem, mediante adesão, a cumprir as normas referentes ao acesso.
En 27: Não deve ser exigido o protocolo físico da petição encaminhada via Internet ou correio
eletrônico ao Juizado Virtual, não se aplicando as disposições da Lei n 9.800/99.
En 28: É inadmissível a avocação, por TRF, de processos ou matéria de competência de Turma
Recursal, por flagrante violação ao art. 98 da Constituição Federal.
En 34: O exame de admissibilidade do recurso poderá ser feito apenas pelo Relator, dispensado o
prévio exame no primeiro grau.
En 36: O momento para oferecimento de contra-razões de recurso é anterior ao seu exame de
admissibilidade
En 42: Em caso de embargos de declaração protelatórios, cabe a condenação em litigância de má-
fé (princípio da lealdade processual).
En 45: Havendo contínua e permanente fiscalização do juiz togado, conciliadores criteriosamente
escolhidos pelo Juiz, poderão, para certas matérias, realizar atos instrutórios previamente
determinados, como redução a termo de depoimentos, não se admitindo, contudo, prolação de
sentença a ser homologada.
En 46: A litispendência deverá ser alegada e provada, nos termos do CPC (art.301), pelo réu, sem
prejuízo dos mecanismos de controle desenvolvidos pela Justiça Federal.
En 50: “Sem prejuízo de outros meios, a comprovação da condição sócio-econômica do autor
pode ser feita por laudo técnico confeccionado por assistente social, por auto de constatação
lavrado por oficial de justiça ou através de oitiva de testemunha”
En 51: O art. 20, § 1º, da LOAS não é exauriente para delimitar o conceito de unidade familiar.
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En 52: É obrigatória a expedição de RPV em desfavor do ente público para ressarcimento de


despesas periciais quando este for vencido.
En 54: O artigo 515 e parágrafos do CPC interpretam-se ampliativamente no âmbito das Turmas
Recursais, em face dos princípios que orientam o microssistema dos JEFs.
En 56: Aplica-se analogicamente nos JEFs a inexigibilidade do título executivo judicial, nos termos
do disposto nos arts. 475-L, par. 1º e 741, par. único, ambos do CPC.
En 57: Nos JEFs, somente o recorrente vencido arcará com honorários advocatícios.
En 58: Excetuando-se os embargos de declaração, cujo prazo de oposição é de cinco dias, os
prazos recursais contra decisões de primeiro grau no âmbito dos JEFs são sempre de dez dias,
independentemente da natureza da decisão recorrida.
En 60: A matéria não apreciada na sentença, mas veiculada na inicial, pode ser conhecida no
recurso inominado, mesmo não havendo a oposição de embargos de declaração.
En 61: O recurso será recebido no duplo efeito, salvo em caso de antecipação de tutela ou medida
cautelar de urgência.
En 62: “A aplicação de penalidade por litigância de má-fé, na forma do art. 55 da Lei nº 9.099/95,
não importa na revogação automática da gratuidade judiciária” (redação alterada)
En 64: Não cabe multa pessoal ao procurador “ad juditia” do ente público, seja com base no art.
14, seja no art. 461, ambos do CPC.
En 65: Não cabe a prévia limitação do valor da multa coercitiva (astreintes), que também não se
sujeita ao limite de alçada dos JEFs, ficando sempre assegurada a possibilidade de reavaliação do
montante final a ser exigido na forma do parágrafo 6º. do artigo 461 do CPC.
En 66: Os JEFs somente processarão as cartas precatórias oriundas de outros JEFs de igual
competência.
En 67: O caput do artigo 9º da Lei n. 9.099/1995 não se aplica subsidiariamente no âmbito dos
JEF`s, visto que o artigo 10 da Lei n. 10.259/2001 disciplinou a questão de forma exaustiva.
En 69: O levantamento de valores decorrentes de RPV’s e Precatórios no âmbito dos JEF’s, é
condicionado à apresentação pelo mandatário de procuração específica com firma reconhecida,
da qual conste, ao menos, o número de registro do Precatório ou RPV ou o número da conta do
depósito, com o respectivo valor.
En 70: É compatível com o rito dos JEFs a aplicação do art. 112 da Lei n. 8.213-91, para fins de
habilitação processual e pagamento. (Precedente STJ, ERESP 498864).
En 72: As parcelas vencidas após a data do cálculo judicial podem ser pagas administrativamente,
por meio de complemento positivo.
En 75: É lícita a exigência de apresentação de CPF para o ajuizamento de ação no Juizado Especial
Federal.
En 77: O ajuizamento da ação de concessão de benefício da seguridade social reclama prévio
requerimento administrativo.
En 78: O ajuizamento da ação revisional de benefício da seguridade social que não envolva
matéria de fato dispensa o prévio requerimento administrativo.
En 79: A comprovação de denúncia da negativa de protocolo de pedido de concessão de
benefício, feita perante a ouvidoria da Previdência Social, supre a exigência de comprovação de
prévio requerimento administrativo nas ações de benefícios da seguridade social.
En 80: Em juizados itinerantes, pode ser flexibilizada a exigência de prévio requerimento
administrativo, consideradas as peculiaridades da região atendida.
Enunciados do 4º FONAJEF ainda não mencionados no texto:

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En 84: “Não é causa de nulidade nos juizados especiais federais a mera falta de intimação das
partes da entrega do laudo pericial”.
En 85: “Não é obrigatória a degravação, tampouco a elaboração de resumo, para apreciação de
recurso, de audiência gravada por meio magnético ou equivalente, desde que acessível ao órgão
recursal.”
En 90: “Os honorários advocatícios impostos pelas decisões do JEF, serão executados nos próprios
JEF, por quaisquer das partes.”
Enunciados do 5º FONAJEF
En 91: Os JEFs são incompetentes para julgar causas que demandem perícias complexas ou
onerosas que não se enquadrem no conceito de exame técnico (art. 12 da lei n. 10.259/2001).
Em 92: O art 51, I, da Lei 9099/95 é aplicável aos JEFs, ainda que a parte esteja representada na
forma do artigo 10, caput, da LJEF.
En 93: A concessão administrativa do benefício no curso do processo acarreta a extinção do feito
sem resolução de mérito por perda do objeto, desde que corresponda ao pedido formulado na
inicial.
En 94: Para a propositura de demandas referentes a contas de FGTS anteriores à centralização
deverá a parte comprovar que diligenciou ou solicitou os extratos junto à Caixa Econômica Federal
ou à instituição mantenedora das contas vinculadas anteriormente ao período de migração.
En 95: Para a propositura de ação relativa a expurgos inflacionários sobre saldos de poupança
deverá a parte autora providenciar documento que mencione o número da conta bancária ou
prova de relação contratual com a instituição financeira.
Em 96: Nas ações visando à correção do saldo das cadernetas de poupança, pode o juiz, havendo
prova inequívoca de titularidade da conta à época, suprir a inexistência de extratos por meio de
arbitramento.
En 97: O provimento, ainda que parcial, de recurso inominado afasta a possibilidade de
condenação do recorrente ao pagamento de honorários de sucumbência.
En 98: Cabe incidente de uniformização de jurisprudência quando a questão deduzida nos autos
tiver reflexo sobre a competência do juizado especial federal.
En 99: É inadmissível o reexame de matéria fática em pedido de uniformização de jurisprudência.

Últimos Enunciados do FONAJEF

En 100: No âmbito dos JEFs, a Turma Recursal poderá conhecer diretamente das questões não
examinadas na sentença que acolheu prescrição ou decadência, estando o processo em condições
de imediato julgamento. (CAUSA MADURA)
En101: A Turma Recursal tem poder para complementar os atos de instrução já realizados pelo
juiz do Juizado Especial Federal, de forma a evitar a anulação da sentença.
En 102: Convencendo-se da necessidade de produção de prova documental complementar, a
Turma produzirá ou determinará que seja produzida, sem retorno do processo para o juiz do JEF.
En 103: Sempre que julgar indispensável, a Turma, sem anular a sentença, baixará o processo em
diligências para fins de produção de prova testemunhal, pericial ou elaboração de cálculos.
Enunciado nº. 104: Cabe à Turma de Uniformização reformar os acórdãos que forem contrários à
sua jurisprudência pacífica, ressalvada a hipótese de supressão de instância, em que será cabível a
remessa dos autos à Turma de origem para fim de adequação do julgado.

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EM 105: A Turma de Uniformização, ao externar juízo acerca da admissibilidade do pedido de


uniformização, deve considerar a presença de similitude de questões de fato e de direito nos
acórdãos confrontados.
Enunciado nº. 106: Cabe à Turma Recursal conhecer e julgar os conflitos de competência apenas
entre Juizados Especiais Federais sujeitos a sua jurisdição.
Em 107: Fora das hipóteses do art 4º da LJEF, a impugnação de decisões interlocutórias proferidas
antes da sentença deverá ser feita no recurso desta (art. 41 da Lei nº 9.099).
En 108: Não cabe recurso para impugnar decisões que apreciem questões ocorridas após o
trânsito em julgado.
En 109: A tempestividade do recurso pode ser comprovada por qualquer meio idôneo, inclusive
eletrônico.
En 110: A competência das turmas recursais reunidas, onde houver, deve ser limitada à
deliberação acerca de enunciados das turmas recursais das respectivas seções.
En 113: O disposto no art. 11 da LJEF não desobriga a parte autora de instruir seu pedido com a
documentação que lhe seja acessível junto às entidades públicas rés.
En 115: Para a reunião de processos, a competência funcional dentro dos Juizados Especiais
Federais se define em virtude da natureza do pedido do qual decorra a pretensão de indenização
por danos morais.
En 121: Enquanto não criados os cargos de Juiz Federal de Turma Recursal, o exercício de mandato
deverá ser com prejuízo de jurisdição.
En 122: O juiz suplente, quando em substituição do titular de Turma Recursal, deverá atuar com
prejuízo de suas atribuições normais.
En 123: Priorizar a instalação de novas turmas recursais ao invés da adoção de regime de mutirão
continuado.
En 124: Enquanto não criados os cargos de Juiz Federal de Turma Recursal, a designação dos juízes
deverá ser precedida de edital.
En 127: O dever processual, previsto no art. 11 da LJEF, não implica automaticamente a inversão
do ônus da prova.
En 128 O condomínio edilício, por interpretação extensiva da LJEF, art 6º, I, pode ser autor no JEF.
En 129: Nos JEFs, é possível que o juiz determine que o executado apresente os cálculos de
liquidação.
En 130 O estabelecimento pelo Juízo de critérios e exigências para análise da petição inicial,
visando a evitar o trâmite de ações temerárias, não constitui restrição do acesso aos JEFs.
En131 A Turma Recursal, analisadas as peculiaridades do caso concreto, pode conhecer
documentos juntados na fase recursal.
En 132 Em conformidade com o art. 14, § 9º, da Lei n. 10.259/2001, cabe ao colegiado da Turma
Recursal rejulgar o feito após a decisão de adequação de Tribunal Superior ou da TNU.
En 133 Quando o perito médico judicial não conseguir fixar a data de início da incapacidade, de
forma fundamentada, deve-se considerar para tanto a data de realização da perícia, salvo a
existência de outros elementos de convicção.
En 134 O cumprimento das ordens judiciais que determinam concessão de medicamentos deve
ser feito prioritariamente pela parte ré, evitando-se o depósito de valores para aquisição direta
pela parte.

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En 135 A despeito da solidariedade dos entes da federação no âmbito do direito à saúde, a


decisão judicial que conceder medicamentos deve indicar, preferencialmente, aquele responsável
pelo atendimento imediato da ordem.
En 136 O cumprimento da decisão judicial que conceder medicamentos deve ser feito
prioritariamente pelo Estado ou Município (aquele que detenha a maior capacidade operacional)
ainda que o ônus de financiamento caiba à União.
En 137 Nas ações de saúde, a apresentação pelas partes de formulário padronizado de resposta a
quesitos mínimos previamente aprovados por acordo entre o judiciário e entidades afetadas pode
dispensar a realização de perícia.
Eno 138: A despeito da solidariedade, as decisões judiciais podem indicar a qual da federação
incumbe o dispêndio financeiro para atendimento do direito reconhecido, nos termos da Portaria
1554/2013 do Ministério da Saúde ou outro ato que vier a substituí-la.

8. DIREITO PREVIDENCIÁRIO

SEGURIDADE SOCIAL. SAÚDE, PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA. DISTINÇÕES.

SEGURIDADE SOCIAL.
Seguridade: conjunto de medidas, provideê ncias, normas e leis que visam a proporcionar ao corpo
social e a cada indivíéduo o maior grau possíével de garantia, sob os aspectos econoê mico, social, cultural,
moral e recreativo. Tem como fundamento a solidariedade social. EÉ direito de Segunda Dimensaã o.

Ãrt. 194. Ã SEGURIDÃDE SOCIÃL compreende um conjunto integrado de açoã es de iniciativa dos Poderes
Pué blicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos aà SÃUÉ DE, aà PREVIDEÊ NCIÃ e aà ÃSSISTEÊ NCIÃ
SOCIÃL.

SEGURIDÃDE SOCIÃL
SÃUÉ DE PREVIDEÊ NCIÃ SOCIÃL ÃSSISTEÊ NCIÃ SOCIÃL
arts. 196 a 200, CF arts. 201 e 202, CF arts. 203 a 204, CF
direito de todos e dever do Estado direito de quem contribui prestada a quem dela necessite
-sistema naã o contributivo sistema contributivo sistema naã o contributivo.

No Brasil, somente a saué de eé um sistema universal [direito de todos]. No caso da prevideê ncia somente
os contribuintes teraã o direito, no caso da assisteê ncia, somente os que dela necessitarem.
PREVIDÊNCIA SOCIAL.
Regimes previdenciaé rios previstos na CF:
1) REGIMES PRINCIPAIS: a) Regime do setor pué blico [art. 40, CF] Regime proé prio de prevideê ncia i)
CIVIL; ii) MILITÃR; b) Regime do setor privado [art.201, CF] Regime Geral De Prevideê ncia Social
Regimes principais: - filiaçaã o obrigatoé ria. a) Regime Do Setor Pué blico [art. 40, CF] - denominado de
Regime Proé prio de Prevideê ncia - sistema de repartiçaã o simples. i) CIVIL; ii) MILITÃR. b) Regime do
setor privado [art.201, CF] - denominado de Regime Geral de Prevideê ncia Social – RGPS - sistema de
repartiçaã o simples.
2) REGIMES COMPLEMENTARES: a) Regime Complementar Oficial; b) Regime Complementar
Privado, i) Fechado; ii) Ãberto.

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Regimes Complementares: - participaçaã o facultativa. a) Regime Complementar Oficial - sistema de


capitalizaçaã o. b) Regime Complementar Privado - sistema de capitalizaçaã o. i) Fechado; [soé pode
participar determinado grupo de pessoas]. ii) Ãberto. [qualquer um pode participar].
Sistemas de financiamento/custeio - o financiamento, ou custeio, da seguridade social eé teé cnica
financeira adotada para sustentar o sistema, permitindo o cumprimento de suas açoã es. Pode se dar
atraveé s de: 1) sistema contributivo: i) sistemas contributivos puro: a) Sistema de repartiçaã o simples;
b) Sistema de capitalizaçaã o: - capitalizaçaã o individual; - capitalizaçaã o coletiva; - capitalizaçaã o
escritural; i) sistema contributivo combinado: (envolve caracteríésticas dos dois sistemas puros); 2)
sistema naã o-contributivo: - sistema de capitalizaçaã o virtual
Sistema contributivo: decorre de tributos que se destinam exclusivamente a manter a seguridade
social, sendo, portanto, vinculados.
i) sistemas contributivos puro:
a) Sistema de repartiçaã o simples (pay as you go) - as contribuiçoã es dos atuais segurados serviraã o para
financiar os benefíécios dos inativos, o que acaba por caracterizar um pacto intergeracional. Todas as
contribuiçoã es vaã o para um ué nico fundo responsaé vel pelo pagamento dos benefíécios. Todos contribuem
em favor de todos. [Princíépio da Solidariedade]
- Contribuiçaã o de repartiçaã o; [caraé ter solidaé rio] - eé o que mais se coaduna com o princíépio da
solidariedade, objetivo fundamental da Republica Federativa do Brasil (art. 3, da CF).
b) Sistema de capitalizaçaã o (funding) - as contribuiçoã es dos segurados financiam seus proé prios
benefíécios. O valor arrecadado por cada segurado naã o se comunica com os demais. Estabelece-se a
equaçaã o entre o esforço contributivo e o beneficio assegurado. Note-se que, aqui, naã o haé a
solidariedade proé pria do outro regime, afinal cada indivíéduo contribui somente para si mesmo, e naã o
para toda a coletividade.

ASSISTÊNCIA SOCIAL.
Caracteríésticas:
a) assisteê ncia social eé prestada a quem dela necessite [economicamente hipossuficientes];
b) SISTEMÃ NÃÃ O-CONTRIBUTIVO [“independentemente de contribuição à seguridade social].
Princíépios informativos: a gratuidade da prestaçaã o e basicamente a proteçaã o aà famíélia, aà maternidade,
aà infaê ncia, aà adolesceê ncia e aà velhice; crianças e adolescentes carentes; promoçaã o da integraçaã o no
mercado de trabalho; habilitaçaã o/reabilitaçaã o dos deficientes e integraçaã o na comunidade; amparo
social (art. 203 da CF); Trata-se de direito fundamental – da espeé cie direito social – consagrado no art.
6o da Carta Políética.
De acordo com art. 1o da Lei 8742/95:
“Ãrt. 1º Ã assisteê ncia social, direito do cidadaã o e dever do Estado, eé Políética de Seguridade
Social naã o contributiva, que proveê os míénimos sociais, realizada atraveé s de um conjunto
integrado de açoã es de iniciativa pué blica e da sociedade, para garantir o atendimento aà s
necessidades baé sicas.”
Caracteriza-se como dever social do Estado no sentido da prestaçaã o de ajuda aos necessitados que naã o
tenham condiçoã es proé prias de subsisteê ncia.
Entretanto, outras açoã es assistenciais, naã o-pecuniaé rias, direcionadas a providenciar um melhor
convíévio do beneficiaé rio em sociedade, podem ser extensíéveis a pessoas dotadas de recursos, pois
neste ponto o conceito de pessoa necessitada eé mais elaé stico.
à ÃS eé instrumento de transformaçaã o social, atendendo da melhor forma os preceitos da igualdade, da
reduçaã o das desigualdades sociais e da solidariedade, porquanto se destina a combater a pobreza, a
criar melhores condiçoã es para atender as contingeê ncias sociais e aà universalizaçaã o dos direitos sociais.

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à diretriz constitucional da assisteê ncia social eé a descentralização político-administrativa, com a


participação da população. ÃÀ União (por meio do INSS) ficou a responsabilidade da concessaã o e
manutençaã o dos benefíécios de prestaçaã o continuada, i.e, o amparo ao idoso e ao deficiente.
à EC n° 42/2003 trouxe a faculdade aos Estados e ao Distrito Federal de vincular a programa de
apoio aà inclusaã o e promoçaã o social ateé cinco deé cimos por cento 0,5% de sua receita tributaé ria líéquida
(proibida a aplicaçaã o destes com despesas com pessoal e encargos sociais, serviço da díévida ou
qualquer outra despesa corrente naã o-vinculada diretamente aos investimentos ou açoã es sociais
apoiadas).
Princípios básicos da AS.
Ãrt. 4º Ã assisteê ncia social rege-se pelos seguintes princíépios:
I - supremacia do atendimento aà s necessidades sociais sobre as exigeê ncias de rentabilidade
econoê mica;
II - universalizaçaã o dos direitos sociais, a fim de tornar o destinataé rio da açaã o assistencial
alcançaé vel pelas demais políéticas pué blicas;
III - respeito aà dignidade do cidadaã o, aà sua autonomia e ao seu direito a benefíécios e serviços
de qualidade, bem como aà conviveê ncia familiar e comunitaé ria, vedando-se qualquer
comprovaçaã o vexatoé ria de necessidade;
IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminaçaã o de qualquer natureza,
garantindo-se equivaleê ncia aà s populaçoã es urbanas e rurais;
V - divulgaçaã o ampla dos benefíécios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como
dos recursos oferecidos pelo Poder Pué blico e dos criteé rios para sua concessaã o.
Prestações. Ãs prestaçoã es da Ãssisteê ncia podem ser pecuniaé rias ou de serviços. O art. 22 da Lei
8.742/93, modificado em 2011, passou a prever que se entendem por benefíécios eventuais “as
provisoã es suplementares e provisoé rias que integram organicamente as garantias do SUÃS e saã o
prestadas aos cidadaã os e aà s famíélias em virtude de nascimento, morte, situaçoã es de vulnerabilidade
temporaé ria e de calamidade pué blica”. Quando ainda integravam o sistema previdenciaé rio, eram
conhecidos pelos nomes de auxíélio-natalidade e auxíélio-funeral. Ã concessaã o e o valor dos benefíécios
de que trata o art. 22 da LOÃS seraã o definidos pelos Estados, Distrito Federal e Municípios e
previstos nas respectivas leis orçamentaé rias anuais, com base em criteé rios e prazos definidos pelos
respectivos Conselhos de Assistência Social.
Jaé o art. 23 da LOÃS, tambeé m alterado em 2011, dispoã e que se entendem por serviços
socioassistenciais “as atividades continuadas que visem aà melhoria de vida da populaçaã o e cujas açoã es,
voltadas para as necessidades baé sicas”. Haé ainda os programas de Ãssisteê ncia Social, destinados a
complementar os benefíécios e serviços assistenciais (art. 24).
Outros benefíécios da assisteê ncia social saã o os previstos na Lei 10.836/04. Essa Lei unificou a “gestaã o e
execuçaã o das açoã es de transfereê ncia de renda do Governo Federal, especialmente as do Programa
Nacional de Renda Míénima vinculado aà Educaçaã o – Bolsa Escola, do Programa Nacional de Ãcesso aà
Ãlimentaçaã o, do Programa Nacional de Renda Míénima vinculada aà Saué de - Bolsa Ãlimentaçaã o, do
Programa Ãuxíélio-Gaé s e do Cadastramento UÉ nico do Governo Federal.
à Lei nº 10.836/2004 preveê treê s benefíécios financeiros (art. 2º):
I - o benefício básico, destinado a unidades familiares que se encontrem em situaçaã o de
extrema pobreza;
II - o benefício variável, destinado a unidades familiares que se encontrem em situaçaã o de
pobreza e extrema pobreza e que tenham em sua composiçaã o gestantes, nutrizes, crianças
entre 0 (zero) e 12 (doze) anos ou adolescentes ateé 15 (quinze) anos, sendo pago ateé o limite
de 5 (cinco) benefíécios por famíélia;
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III - o benefício variável, vinculado ao adolescente, destinado a unidades familiares que se


encontrem em situaçaã o de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composiçaã o
adolescentes com idade entre 16 (dezesseis) e 17 (dezessete) anos, sendo pago ateé o limite
de 2 (dois) benefíécios por famíélia.
IV - o benefíécio para superação da extrema pobreza, no limite de um por famíélia, destinado
aà s unidades familiares beneficiaé rias do Programa Bolsa Famíélia e que, cumulativamente:
a) tenham em sua composiçaã o crianças e adolescentes de 0 (zero) a 15 (quinze) anos de
idade; e
b) apresentem soma da renda familiar mensal e dos benefíécios financeiros previstos nos
incisos I a III igual ou inferior a R$ 70,00 (setenta reais) per capita.
à mesma Lei estabelece que saã o consideradas famíélias em situaçaã o de extrema pobreza aquelas cuja
renda mensal per capita eé de ateé R$ 60,00. Ã situaçaã o de pobreza caracteriza-se quando a renda per
capita familiar eé superior a R$ 50,00, mas naã o excede R$ 120,00.
Ãleé m disso, nada impede que estes benefíécios sejam recebidos cumulativamente com o benefíécio de
prestaçaã o continuada, pois naã o haé vedaçaã o legal expressa neste sentido. Ão contraé rio, o diploma legal
acima aludido exclui da renda familiar mensal, para efeito de obtençaã o da renda per capita, os
rendimentos concedidos por programas oficiais de transfereê ncia de renda.
Outro programa de interesse social foi criado pela Lei 10.835/04, que institui a renda baé sica da
cidadania a partir de 2005. Tal lei preveê uma prestaçaã o a ser paga a todos os brasileiros residentes no
Paíés e estrangeiros residentes haé pelo menos 5 anos no Brasil, naã o importando sua condiçaã o
socioeconoê mica.
Ãinda, com a Lei nº 11.258/05, o art. 23 da LOÃS foi alterado para prever a criaçaã o, nos serviços da
Ãssisteê ncia Social, de programas de amparo aà s crianças e adolescentes em situaçaã o de risco pessoal e
social, e aà s pessoas que vivem em situaçaã o de rua.
Por fim, merece mençaã o o programa “Farmácia Popular do Brasil’, que visa aà disponibilizaçaã o de
medicamentos em farmaé cias populares, por intermeé dio de conveê nios firmados com Estados, Distrito
Federal, Municíépios e hospitais filantroé picos, bem como em rede privada de farmaé cias e drogarias. O
programa consta da Lei nº 10.858/2004, que autoriza a Fundaçaã o Oswaldo Cruz – Fiocruz a
disponibilizar medicamentos, mediante ressarcimento. Ã Fundaçaã o Oswaldo Cruz – FIOCRUZ – eé a
executora das açoã es inerentes aà aquisiçaã o, estocagem e comercializaçaã o dos medicamentos, podendo
tambeé m firmar conveê nios com a Uniaã o, Estados, DF e Municíépios, sob a supervisaã o direta e imediata
do Ministeé rio da Saué de.

Benefício de amparo assistencial. Ã mais auteê ntica forma de assisteê ncia social eé a prevista no art.
203, V, da Constituiçaã o Federal, em que se garante o valor de um salaé rio míénimo mensal aà pessoa
portadora de deficieê ncia e ao idoso (65 anos ou mais) que comprovem naã o possuir meios de prover aà
proé pria manutençaã o ou de teê -la provida por sua famíélia, conforme dispuser a lei.
Em 2011, a Lei do LOÃS (Lei n. 8.742/93) sofreu diversas modificaçoã es pela Lei n. 12.435/11. Nesse
sentido, o conceito de família, que era o conjunto de dependentes que vivessem no mesmo teto,
passou entendido como a unidade ser composta pelo requerente, o coê njuge ou companheiro, os pais e,
na auseê ncia de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmaã os solteiros, os filhos e enteados solteiros e
os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto.

Renda per capta do grupo familiar. De acordo com a Lei do LOÃS, “considera-se incapaz de prover a
manutençaã o da pessoa com deficieê ncia ou idosa a famíélia cuja renda mensal per capita seja inferior
a 1/4 . do salário-mínimo”.
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Inicialmente, tal criteé rio foi considerado constitucional pelo STF (ÃDI 120). Entretanto, em 2013 (RE
580963), o STF pronunciou a inconstitucionalidade material incidental do criteé rio do art. 20, § 3º, da
LOÃS, sob o fundamento de que este estava defasado para caracterizar a situaçaã o de miserabilidade,
em face dos outros benefíécios assistenciais que previam como criteé rios mais beneé ficos para aferir a
miserabilidade (a exemplo do Bolsa Famíélia) (inconstitucionalidade sem nulidade).
Observaçaã o: decisaã o proferida em controle incidental, portanto, naã o vinculante. O INSS continua a
adotar o criteé rio legal e objetivo para aferir a miserabilidade.
Nesse sentido, cabe destacar o precedente do STJ, julgado em sede de recurso repetitivo:
“4. Entretanto, diante do compromisso constitucional com a dignidade da pessoa humana, especialmente
no que se refere aà garantia das condiçoã es baé sicas de subsisteê ncia fíésica, esse dispositivo deve ser
interpretado de modo a amparar irrestritamente a o cidadaã o social e economicamente vulneraé vel.
5. A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se
comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja,
presume-se absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4
do salário mínimo.
6. Ãleé m disso, em aê mbito judicial vige o princíépio do livre convencimento motivado do Juiz (art. 131 do
CPC) e naã o o sistema de tarifaçaã o legal de provas, motivo pelo qual essa delimitaçaã o do valor da renda
familiar per capita naã o deve ser tida como ué nico meio de prova da condiçaã o de miserabilidade do
beneficiado. De fato, naã o se pode admitir a vinculaçaã o do Magistrado a determinado elemento probatoé rio,
sob pena de cercear o seu direito de julgar. (REsp 1112557 Rep)”
Tambeé m no julgamento do RE 567985 e RE 580963, o Plenaé rio STF declarou a inconstitucionalidade
por omissaã o parcial do art. 34, § u, da Lei 10.471 (Estatuto do Idoso). Referido dispositivo estabelece
que o BPC/LOÃS jaé concedido a qualquer membro da famíélia naã o seraé computado para os fins do
caé lculo da renda familiar per capita.
Com base na isonomia, o STF afirmou que naã o existe justificativa plausíével para discriminaçaã o dos
portadores de deficieê ncia em relaçaã o aos idosos, bem como dos idosos beneficiaé rios da assisteê ncia
social em relaçaã o aos idosos titulares de benefíécios previdenciaé rios no valor de ateé um salaé rio míénimo.
Esse benefíécio naã o pode ser acumulado com qualquer outro no aê mbito da seguridade social ou de
outro regime, SALVO os da assisteê ncia meé dica e da pensaã o especial de natureza indenizatoé ria, (inclusa
a pensaã o especial devida aos dependentes das víétimas da hemodiaé lise de Caruaru/PE, prevista na Lei
nº 9.442/96) - art. 20, § 4o, da LOÃS.
Podem ser beneficiaé rios o brasileiro, inclusive indíégena ou ao estrangeiro naturalizado e domiciliado
no Brasil, naã o coberto por sistema de prevideê ncia do paíés de origem.
- Percepçaã o do benefíécio por estrangeiros residentes: tema objeto de repercussaã o geral no STF

Na anaé lise do direito ao benefíécio, considera-se:


II - pessoa com deficiência:
Conceito da Lei do LOÃS foi alterado pela Estatuto da Pessoa com Deficieê ncia, estando em consonaê ncia
com a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo (Decreto 6.949/09):
Para efeito de concessaã o do benefíécio de prestaçaã o continuada, considera-se pessoa com deficieê ncia
aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza fíésica, mental, intelectual ou sensorial, o qual,
em interaçaã o com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participaçaã o plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condiçoã es com as demais pessoas.
IMPORTANTE: ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA – Lei 13.146/15
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Ãinda a respeito do criteé rio de miserabilidade, com a entrada em vigor do Estatuto da pessoa com
deficieê ncia, a Lei do LOÃS passaraé a prever que “Para concessaã o do benefíécio poderaã o ser utilizados
outros elementos probatoé rios da condiçaã o de miserabilidade do grupo familiar e da situaçaã o de
vulnerabilidade”, em flexibilizaçaã o feita pelo proé prio legislador do criteé rio da renda mensal familiar
inferior a ¼ do salaé rio míénimo”. EÉ o § 11 acrescentado ao art. 20 da lei.
III - impedimento de longo prazo: aquele que produza efeitos pelo prazo míénimo de 2 anos;
IV - famíélia incapacitada de prover a manutençaã o da pessoa portadora de deficieê ncia ou idosa: aquela
cujo caé lculo da renda mensal per capita, que corresponde aà soma da renda mensal bruta de todos os
seus integrantes, dividida pelo nué mero total de membros que compoã em o grupo familiar, seja inferior
a ¼ do salaé rio míénimo (Lei nº 8.742/93, art. 20, § 3º).
Naã o seraé considerado para a renda familiar:
 Os rendimentos decorrente de estaé gio supervisionado e de aprendizagem, limitando a concomitaê ncia
entre o benefíécio e a remuneraçaã o a 2 anos (art. 20, § 9º - redaçaã o da Lei 13.146/15, e art. 21-Ã, § 2º,
com redaçaã o da Lei 12.470/11).
 Os rendimentos do estaé gio supervisionado (a partir da vigeê ncia do Estatuto da pessoa com deficieê ncia).
O benefíécio de prestaçaã o continuada seraé suspenso pelo oé rgaã o concedente quando a pessoa com
deficieê ncia exercer atividade remunerada, inclusive na condiçaã o de microempreendedor individual
(LOÃS, art. 21-Ã).
Portadores de HIV. O simples fato de o interessado ser portador do víérus, sem manifestaçaã o da
doença, naã o eé suficiente para a obtençaã o do amparo. Mas se as doenças oportunistas jaé se
manifestaram, estando ele incapacitado para prover a proé pria subsisteê ncia, deve o benefíécio ser
deferido, desde que atendidos os demais requisitos, independentemente da previsaã o especíéfica no
regulamento (que naã o eé taxativo) - TRF1.
Súm 78/TNU: Comprovado que o requerente de benefíécio eé portador do víérus HIV, cabe ao
julgador verificar as condiçoã es pessoais, sociais, econoê micas e culturais, de forma a analisar a
incapacidade em sentido amplo, em face da elevada estigmatizaçaã o social da doença.
Menores. De acordo com o Decreto 7.617/2011, as crianças e adolescentes menores de 16 anos
devem ser avaliadas sobre a existeê ncia da deficieê ncia e o seu impacto na limitaçaã o do desempenho de
atividade e restriçaã o da participaçaã o social, compatíével com a idade. Ou seja, essa alteraçaã o visa a
superaçaã o da discussaã o na jurisprudeê ncia acerca da necessidade de que a incapacidade seja para atos
da vida civil E para o trabalho, que constava da redaçaã o original do art. 20, § 2º, da LOÃS.
Ão contraé rio do alegado pelo INSS, o fato de o menor naã o trabalhar naã o eé oé bice ao recebimento do
benefíécio. Ã TNU, os TRF’s especialmente o TRF1 (ÃC 2009.01.99.004683-0) jaé vinham entendendo
que cabia a concessaã o aos menores com deficieê ncia de longo prazo.
Súm 29/TNU: Para os efeitos do art. 20, § 2º, da Lei n. 8.742/93, incapacidade para a vida
independente naã o eé soé aquela que impede as atividades mais elementares da pessoa, mas
tambeé m a impossibilita de prover ao proé prio sustento.
TNU firmou a tese de que, em se tratando de LOÃS, a incapacitaçaã o, para efeito de concessaã o
do benefíécio a menor de 16 (dezesseis) anos, deve observar, aleé m da deficieê ncia, que
implique limitaçaã o ao desempenho de atividades ou restriçaã o na participaçaã o social,
compatíéveis com a idade do menor, bem como o impacto na economia do grupo familiar do
menor, seja por exigir a dedicaçaã o de um dos membros do grupo para seus cuidados,
prejudicando a capacidade daquele grupo familiar de gerar renda. (…) (PEDILEF
200580135061286
Observaçoã es importantes: o beneficiaé rio do amparo assistencial naã o recebe 13º, nem deixa o benefíécio
em forma de pensaã o, quando de sua morte.
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Competência para as açoã es em que se discute benefíécio assistencial (LOÃS): discute-se se poderiam
ser julgadas pela Justiça Estadual no exercíécio da competeê ncia delegada. O entendimento do TRF1 eé no
sentido da possibilidade de ajuizamento dessas açoã es perante a Justiça Estadual (CC
2009.01.00.022909). O STJ tambeé m entende que a prorrogaçaã o da competeê ncia eé vaé lida para
benefíécios assistenciais, “atribuindo força extensiva ao termo ‘beneficiaé rio’, de modo a abranger naã o soé
segurados, mas aqueles beneficiaé rios da assisteê ncia social” (STJ, CC 37233).
Com relaçaã o aà incapacidade TEMPORÁRIA, destaca-se o teor da Sué mula 48 da TNU: Ã incapacidade
naã o precisa ser permanente para fins de concessaã o do benefíécio assistencial de prestaçaã o continuada.
Havia celeuma quanto aà concessaã o do benefíécio por incapacidade PARCIAL no TRF-1 (ex: ÃC
00973498620004019199 e ÃC 00295122320144019199) , poreé m, o novo conceito de deficieê ncia constante
da LOÃS superou a controveé rsia, pois impedimento de longo prazo eé mais abrangente que
incapacidade para o trabalho e para a vida independente.

SAÚDE.
Caracteríésticas:
a) DIREITO UNIVERSÃL [“(...) direito de todos e dever do Estado (...)”] - sistema universal.
- SÃUÉ DE COMO DIREITO PUÉ BLICO SUBJETIVO UNIVERSÃL – direito da pessoa exigir do Estado
prevençaã o e cura. - sistema antigo: necessidade de demonstrar documento (nem todos tinham
direito). - sistema atual: todos teê m direito. (Sistema ué nico de Saué de – SUS);
b) SISTEMÃ NÃÃ O CONTRIBUTIVO;
c) POSSIBILIDÃDE DÃ PÃRTICIPÃÇÃÃ O DO SETOR PRIVÃDO. - Tal participaçaã o se daé de forma
complementar, tendo prefereê ncia as entidades filantroé picas e as sem fins lucrativos.
à CF naã o veda a criaçaã o de empreendimentos voltados ao lucro na saué de, mas apenas o aporte de
recursos pué blicos para auxíélios ou subvençoã es aà s instituiçoã es privadas com fins lucrativos, salvo a
quitaçaã o de serviços prestados ao SUS. Com relaçaã o aà participaçaã o direta ou indireta de empresas ou
capitais estrangeiras, somente eé permitida nos casos autorizados por lei. - participaçaã o de todos os
entes federados. [art. 23, II, CF] Ã EC 29/2000 determinou que Uniaã o, Estados/DF e Municíépios
aplicassem em açoã es e serviços de saué de percentuais míénimos que seraã o definidos em LC.
Sistema UÉ nico de Saué de. - sistema descentralizado; - hierarquizado; - principal foco eé a prevençaã o.
Fornecimento de medicamentos.
Argumentos favoráveis:
 Universalidade objetiva e subjetiva. [art. 196, cf/88];
 Saué de eé um direito de todos e dever do estado;
 Princíépio da dignidade da pessoa humana;
 Direito aà vida - 2 acepçoã es:
o direito de continuar vivo;
o direito de ter uma vida digna.
Argumentos contrário:
 Ã concretizaçaã o das políéticas pué blicas naã o eé papel do judiciaé rio. [violaçaã o da divisaã o dos poderes]
 Ãplicaçaã o da reserva do possíével.
 Naã o existe disponibilidade financeira para o atendimento de todos os direitos em sua plenitude.
 Deve ser verificada a condiçaã o econoê mica do beneficiaé rio. [princíépio da eventualidade do processo civil]

Jurisprudeê ncia: STF e STJ – teê m concedido o fornecimento.


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Via de regra, o fornecimento pelo Judiciaé rio eé garantido os medicamentos indispensaé veis ao
restabelecimento da saué de aos necessitados (ÃgRg no ÃRE 744170). Ãleé m disso, o STF jaé entendeu
legíétima a decisaã o judicial que determina a manutençaã o de medicamento em estoque (RE 429903).
Competência. Questoã es relacionadas aà saué de envolvem União, Estado e Municípios, dependendo da
situaçaã o concreta poderaé ser competeê ncia da justiça federal ou competeê ncia da justiça estadual.
(RESPONSÃBILIDÃDE SOLIDÃÉ RIÃ DOS ENTES - ÃgR RE N. 756149).
Por fim, a diferença primordial entre as atividades da Saué de e da Ãssisteê ncia Social, eé que esta tem um
espectro menor, ou seja, a Saué de tem o caraé ter de universalidade mais amplo do que o previsto para a
Ãssisteê ncia.
CRITÉRIOS PARA A ADJUDICAÇÃO DE MEDICAMENTOS (Novelino)
Com a finalidade de conferir maior legitimidade democraé tica ao processo decisoé rio, o STF realizou
audiência pública com o objetivo de coletar subsídios e informações de diversos setores da
sociedade a serem utilizados na definição de critérios a serem observados judicialmente nos
casos de prestações relacionadas a políticas públicas na área da saúde.
Os dados foram utilizados na anaé lise de duas Suspensões de Tutela Antecipada, das quais podem ser
destacados os seguintes paraê metros fundamentais.
Inicialmente, deve ser considerada a existeê ncia, ou naã o, de políética estatal que abranja a prestaçaã o de
saué de pleiteada pela parte.
Caso esta prestaçaã o esteja incluíéda entre as políéticas sociais e econoê micas formuladas pelo SUS, haé
direito subjetivo pué blico aà quela políética de saué de. Neste caso, o Poder Judiciaé rio naã o estaé criando
políética pué blica, mas apenas determinando o seu cumprimento.
Hipoé tese diversa ocorreraé quando for pleiteada uma prestaçaã o de saué de naã o incluíéda entre as políéticas
sociais e econoê micas formuladas pelo SUS, sendo necessaé rio fazer uma distinçaã o entre treê s hipoé teses:
a) omissão legislativa ou administrativa: nesta hipoé tese, o naã o fornecimento injustificado de uma
prestaçaã o de saué de, o seu cumprimento poderia ser determinado pelo Judiciaé rio, sendo que “o alto
custo do medicamento naã o eé , por si soé , motivo para o seu naã o fornecimento, visto que a Políética de
Dispensaçaã o de Medicamentos excepcionais visa a contemplar justamente o acesso da populaçaã o
acometida por enfermidades raras aos tratamentos disponíéveis”.
b) decisão administrativa de não fornecê-la: hipóteses:
O SUS (b.1) fornece um tratamento alternativo ao pretendido pelo autor. Em regra, deve ser
privilegiado o tratamento oferecido em detrimento de opçaã o diversa escolhida pelo paciente, sempre
que naã o for comprovada a ineficaé cia daquele. Obrigar a rede pué blica a financiar toda e qualquer açaã o e
prestaçaã o de saué de geraria grave lesaã o aà ordem administrativa e levaria ao comprometimento do SUS,
“de modo a prejudicar ainda mais o atendimento meé dico da parcela da populaçaã o mais necessitada”.
Todavia, os Protocolos Clíénicos e as Diretrizes Terapeê uticas adotados pelo SUS naã o saã o
inquestionaé veis, subsistindo a possibilidade de o Poder Judiciaé rio, ou a proé pria Ãdministraçaã o, impor
o fornecimento de medida diferente da custeada pelo SUS a determinada pessoa que, por razoã es
especíéficas do seu organismo, comprove a ineficaé cia do tratamento fornecido ou a impropriedade da
políética de saué de existente para o seu caso. Nesta hipoé tese, o oê nus da prova caberaé ao autor.
O SUS (b.2) não tem nenhum tratamento específico para determinada patologia. Neste caso, eé
necessaé rio verificar se o tratamento eé puramente experimental ou se ainda naã o foi testado pelo SUS.
Na hipoé tese de (b.2.1) tratamento puramente experimental, sem comprovaçaã o cientíéfica de sua
eficaé cia, o Estado naã o poderaé ser condenado a forneceê -lo.

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No caso de um (b.2.2) novo tratamento ainda naã o testado pelo SUS, a inexisteê ncia de Protocolo Clíénico
naã o pode significar violaçaã o ao princíépio da integralidade do sistema, nem justificar a diferença entre
as opçoã es acessíéveis aos usuaé rios da rede pué blica e as disponíéveis aos usuaé rios da rede privada.
Neste caso, a omissaã o administrativa no tratamento de determinada patologia poderaé ser objeto de
impugnaçaã o judicial, tanto por açoã es individuais como coletivas, sendo imprescindíével uma instruçaã o
processual com ampla produçaã o de provas, sob pena de se configurar um obstaé culo aà concessaã o de
medida cautelar.
c) vedação legal à sua dispensação:
O registro mostra-se como condiçaã o necessaé ria para atestar a segurança e o benefíécio do produto,
sendo a primeira condiçaã o para que o SUS possa considerar sua incorporaçaã o. No entanto, esta naã o eé
uma regra absoluta, sendo que, em casos excepcionais, a importaçaã o de medicamento naã o registrado
poderaé ser autorizada.
Em todos os casos eé indispensaé vel a instruçaã o adequada das demandas contemplando devidamente as
especificidades do caso concreto examinado, a fim de permitir ao julgador conciliar a dimensaã o
subjetiva (individual e coletiva) com a dimensaã o objetiva do direito aà saué de.
“O fato de determinada medicação não possuir registro na ANVISA, por si só, não afasta o
direito do portador de doença grave ao recebimento do remédio. Ãssim, conforme
reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal na STÃ 175 ÃgR/CE, em casos excepcionais, a
importaçaã o de medicamento naã o registrado poderaé ser autorizada pela ANVISA, quando
"adquiridos por intermeé dio de organismos multilaterais internacionais, para uso de programas
em saué de pué blica pelo Ministeé rio da Saué de", nos termos da Lei 9.782/99.
Encontra-se presente, no caso, a excepcionalidade apta a justificar a atuação do Judiciário
pelos seguintes motivos: a) a parte autora demonstrou que naã o tem condiçoã es financeiras de
arcar com o custo do tratamento pleiteado; b) naã o existe outro tratamento fornecido pelo SUS
para a doença que a acomete; c) o tratamento naã o eé de cunho experimental, como disposto na
decisaã o proferida na STÃ 244/STF e d) o Poder Pué blico naã o demonstrou a impossibilidade de
arcar com os custos do tratamento, aíé incluíéda prova do direcionamento dos meios disponíéveis
para a satisfaçaã o de outras necessidades essenciais. (TRF1, ÃC 0001027-46.2012.4.01.3811,
NEÉ VITON)
TRATAMENTO MÉDICO NO EXTERIOR
STJ referendou o ato regulamentar que veda o financiamento de tratamento meé dico no exterior. No
mesmo sentido, segue entendimento do TRF1:
(...). DIREITO ÃÀ SÃUÉ DE. CUSTEIO DE TRÃTÃMENTO MEÉ DICO NO EXTERIOR, COM CEÉ LULÃS
TRONCO. LEGÃLIDÃDE DÃ PORTÃRIÃ 763/94, DO MINISTEÉ RIO DÃ SÃUDE. NEGÃTIVÃ. 1.
Pretende-se custeio de tratamento médico, com células tronco, fora do domicílio (TFD),
na cidade de Düsseldorf, na Alemanha, tendo constado como fundamento da sentença "a
existência de Portaria do Min. da Saúde que veda, expressamente, o financiamento, pelo
governo brasileiro, de tratamento médio no exterior (Portaria n. 763/94), cuja
legitimidade fora reconhecida pelo Superior Tribunal de Justiça". 2. Ã jurisprudeê ncia do STJ
eé no seguinte sentido: "1. O financiamento de tratamento meé dico no exterior pelo Sistema UÉ nico
de Saué de eé vedado nos termos da Portaria n. 763/1994, do Min.o da Saué de, considerada legíétima,
no julgamento do MS 8895 pela 1ª Seçaã o deste TRF1 (...) 2. Declarada pelo STJ a legalidade da
Portaria 763/1994, que proíébe o financiamento pelo SUS de tal tratamento no exterior" (ÃC
200634000097240). 4. Tambeé m julgou esta Corte: "Correto o voto vencedor ao prestigiar a
Portaria nº 763/94 do Ministeé rio da Saué de que proíébe o custeio, pelo Estado, de tratamento
meé dico no exterior. 'A medicina social não pode desperdiçar recursos com tratamentos
alternativos, sem constatação quanto ao sucesso nos resultados' (STJ, MS 8895).
Precedentes" (EIÃC 200234000273807 (...). 5. Ãpelaçaã o a que se nega provimento. (TRF1. ÃC
00111106420114014100).
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Diferença de classes no SUS é inconstitucional


Existe uma portaria do Ministeé rio da Saué de (Portaria 113/1997) que proíébe a diferença de classe. Este
ato estava sendo questionado e o STF, em recurso extraordinaé rio, submetido aà repercussaã o geral,
declarou que ele eé constitucional, firmando a seguinte tese que vale de forma ampla para todos os
casos envolvendo diferença de classe:
"EÉ constitucional a regra que veda, no aê mbito do Sistema UÉ nico de Saué de - SUS, a
internaçaã o em acomodaçoã es superiores, bem como o atendimento diferenciado por
meé dico do proé prio SUS, ou por meé dico conveniado, mediante o pagamento da diferença
dos valores correspondentes." (RE 581488)
Para o STF, admitir que um paciente internado pelo SUS tenha acesso a melhores condiçoã es de
internaçaã o ou a meé dico de sua confiança mediante pagamento subverte totalmente a loé gica do
sistema, em especial a equidade. Naã o se pode conceber que um atendimento pué blico de saué de que se
pretenda igualitaé rio compreenda, dentro de si, diversas possibilidades de atendimento de acordo com
a capacidade econoê mico-financeira do paciente, sobretudo quando esse atendimento se encontra a
cargo do Estado.

9. DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO

ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA. PROCEDIMENTO FISCAL. SIGILO FISCAL E


PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES. DÍVIDA ATIVA. CERTIDÕES E CADASTRO.

Considerações iniciais
à fiscalizaçaã o eé um poder-dever orientado pela isonomia, que, em mateé ria tributaé ria, se prende aà ideia
de tributar cada pessoa na medida de sua capacidade contributiva.

Fiscalização

Poderes das autoridades fiscais

Como naã o poderia deixar de ser, a legislaçaã o relativa aà fiscalizaçaã o aplica-se aà s pessoas naturais ou
juríédicas, contribuintes ou naã o, inclusive aà s que gozem de imunidade tributaé ria ou de isençaã o de
caraé ter pessoal (CTN, art. 194, § ué nico).

Para os efeitos da legislaçaã o tributaé ria, naã o teê m aplicaçaã o quaisquer disposiçoã es legais excludentes ou
limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papeé is e efeitos
comerciais ou fiscais, dos comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigaçaã o destes de exibi-los
(art. 195 CTN). Nesse sentido eé o teor da Súm 439/STF: “Estão sujeitos à fiscalização tributária ou
previdenciária quaisquer livros comerciais, limitando o exame aos pontos objetos da investigação”.

Como esclarece Brito Machado o direito de examinar abrange todos os livros, ainda que naã o
obrigatoé rio. Ãssim, por exemplo, se um agente fiscal encontra um livro caixa no escritoé rio da empresa
tem o direito de examina-lo, mesmo em se tratando de livro naã o obrigatoé rio. Para Sabbag, havendo
recusa por parte do contribuinte aà exibiçaã o de seus livros e papeé is aà autoridade fiscal, seraé possíével
ensejar o lançamento por arbitramento (art. 148 do CTN). Ã titulo de ilustraçaã o, a Lei 8.981/95
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estabelece que a base de caé lculo do IRPJ seraé o lucro arbitrado quando “o contribuinte, obrigado à
tributação com base no lucro real ou submetido ao regime de tributação de que trata o DL 2.397/87,
não mantiver escrituração na forma das leis comerciais e fiscais, ou deixar de elaborar as demonstrações
financeiras exigidas pela legislação fiscal”. Esta eé a linha do TRF1: É devida a modificação do regime de
tributação de "lucro presumido" para o "lucro arbitrado" em virtude da ausência de apresentação
dos livros fiscais e contábeis e/ou Livro Caixa pela contribuinte, nos termos do art. 530/III do Decreto
3.000/1999. Omissão sanada (EDÃC 00238871320124013400)

Haé antigo entendimento do STJ (REsp 63585 e Resp 926368) segundo o qual mesmo apoé s a
microfilmagem o documento deve ser guardado ateé que se ultime o prazo prescricional. Sobre esta
temaé tica, contudo, colaciona-se o seguinte precedente do TRF1:

O disposto no art. 73 do Dec 3.000/99, que regulamenta a tributaçaã o, fiscalizaçaã o,


arrecadaçaã o e administraçaã o do Imposto sobre a Renda, no qual se leê que "todas as deduçoã es
estaã o sujeitas a comprovaçaã o ou justificaçaã o, a juíézo da autoridade lançadora" significa que a
autoridade fiscal pode exigir a apresentaçaã o do recibo e, caso o contribuinte naã o o possua ou
na hipoé tese de o recibo oferecido naã o estar conforme o determinado na Lei 9250/95, que se
lhe permite exigir a microfilmagem do cheque ou os extratos bancaé rios para devida validaçaã o
do documento. Vale dizer: não é permitido ao Fisco exigir o recibo e, estando este
conforme disposto na Lei 9250, ainda exigir a microfilmagem e os extratos bancários,
pois tal conduta extrapola o que norma autoriza. (ÃC 2008.38.00.031033-6)

Segundo o CTN a escrituraçaã o fiscal seraé conservada ateé que ocorra a prescriçaã o dos creé ditos
tributaé rios decorrentes das operaçoã es a que se refiram (art. 195, P. ué nico).

O CTN tambeé m atribui aà s autoridades fiscais o poder de requisitar de determinadas pessoas todas as
informaçoã es de que disponham com relaçaã o aos bens, negoé cios ou atividades de terceiros (CTN, art.
197).
Registre-se, contudo, que a escolha da pessoa sobre a qual pode recair a requisiçaã o de informaçoã es
naã o eé fruto da discricionariedade administrativa, pois somente havendo lei estipulando a
obrigatoriedade de prestar informaçaã o, poderaé ser formulada a intimaçaã o.

O iníécio de qualquer fiscalizaçaã o seraé anotado no livro fiscalizado, ou, quando naã o, entregue coé pia dos
termos necessaé rios para o iníécio da fiscalizaçaã o aà pessoa sujeita aà fiscalizaçaã o. Ã instauraçaã o do
procedimento fiscal daé -se com o Mandado de Procedimento Fiscal, que estabelece a delimitaçaã o do
trabalho a ser desempenhado pelo fiscal. 120 dias eé prazo maé ximo para conclusaã o do MPF,
prorrogaé veis (Portaria RFB 11.371/07). Existe divergeê ncia em saber se o lançamento efetuado apoé s o
prazo do MPF seria vaé lido. Haé entendimentos oriundos do CÃRF pela validade. Contudo, TRF1 tem o
seguinte precedente:

MÃNDÃDO DE PROCEDIMENTO FISCÃL. PRORROGÃÇÃÃ O IRREGULÃR. MÃNUTENÇÃÃ O


DO ÃUDITOR FISCÃL ORIGINÃÉ RIO. ÃRT. 16, § UÉ N, DÃ PORTÃRIÃ SRF Nº 3.007/01. Na
hipoé tese vertente, o Mandado de Procedimento Fiscal - MPF tem por data inicial o dia
26/02/2009 e deveria ter sido concluíédo no prazo de sessenta dias, conforme
determinava a Portaria SRF nº 3.007/2001 (art. 12) e determina atualmente a Portaria
RFB nº 1.687/2014 (art. 11), pois se cuida de Procedimento Fiscal de Diligeê ncia (coleta
de informaçoã es). Ãssim, o prazo de validade do MPF se encerrou no dia 27/04/09. Ã
Fazenda Nacional alega que "tanto houve a prorrogaçaã o regular do MPF que em
30/06/2009 a DRF expediu o Termo de Intimaçaã o nº 02 (recebido pelo contribuinte
em 06/07/2009) solicitando novos documentos do contribuinte". Ora, em 30/06/09 o
prazo de validade do MPF jaé estava extinto, como visto acima, e a Fazenda Nacional, por
sua vez, nem sequer informa o dia em que houve a efetiva prorrogaçaã o do ato

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fiscalizatoé rio. Na verdade, cabia aà Fazenda demonstrar a data em que houve


a prorrogaçaã o do MPF (art. 333, II, do CPC). (ÃC 00033084820114013507)

Por fim, quanto aà prorrogaçaã o do MPF a jurisprudeê ncia do TRF1 coaduna-se com os termos explíécitos
da legislaçaã o. Vejamos:

Registre-se ainda que "havendo necessidade de prorrogaçaã o do prazo de validade do


procedimento fiscal, o art. 13, §1°, da Portaria SRF n° 3.007/01, eé claro ao afirmar que
esta se daraé por meio de simples registro eletroê nico efetuado pela respectiva
autoridade outorgante, cuja informaçaã o estaraé disponíével na internet" (AC
2004.38.00.027800-3/MG, rel. Juiz Federal Wilson Alves de Souza, 16/10/2013 e-
DJF1 P. 359)

Pergunta: O regramento da açaã o fiscal por ato infralegal viola o princíépio da legalidade
tributaé ria?
à Portaria SRF 1265/99, ao instituir normas procedimentais para o exercíécio da açaã o
fiscal e instituir o Mandado de Procedimento Fiscal, naã o ofende qualquer dispositivo
legal. Conquanto naã o inove instituindo obrigaçoã es naã o previstas em lei, trata-se de
norma secundaé ria, integrante do conceito de legislaçaã o tributaé ria, previsto no art. 96,
do CTN e teve a finalidade de atribuir maior acompanhamento, funcionalidade e
eficieê ncia para exercíécio da atividade de fiscalizaçaã o tributaé ria. (TRF1, ÃMS
200034000077865)

O art. 6º, LC 105/2001

Ãrt. 6º: Ãs autoridades e os agentes fiscais tributaé rios da Uniaã o, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municíépios somente poderaã o examinar documentos, livros e registros de
instituiçoã es financeiras, inclusive os referentes a contas de depoé sitos e aplicaçoã es
financeiras, quando houver processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal
em curso e tais exames sejam considerados indispensaé veis pela autoridade
administrativa competente.

Paraé grafo ué nico. O resultado dos exames, as informaçoã es e os documentos a que se


refere este artigo seraã o conservados em sigilo, observada a legislaçaã o tributaé ria.

à discussaã o doutrinaé ria eé ferrenha 2. à problemaé tica foi submetida ao STF, por meio de cinco açoã es
diretas de inconstitucionalidade, quais sejam: ÃDI n. 2.386 e n. 2.397 (apensadas aà ÃDI n. 2.390) e ÃDI
n. 2.406 (apensada aà ÃDI 2.389), que ainda naã o tiveram o julgamento concluíédo. No RE 601314 foi
reconhecida a repercussaã o geral da mateé ria (ainda naã o julgado).

O STJ, todavia, pontuou em sede de recurso repetitivo: “A quebra do sigilo bancário sem prévia
autorização judicial, para fins de constituição de crédito tributário não extinto, é autorizada pela Lei
8.021/90 e pela Lei Complementar 105/2001, normas procedimentais, cuja aplicação é imediata, à luz
do disposto no artigo 144, § 1º, do CTN.” (REsp 1134665). Diante da importaê ncia do tema, o estudo do
voto-vencedor (Min. Luiz Fux) revela a seguinte evoluçaã o:

2 A titulo de informação, nos EUA (US x Miller – 1976), a Corte Suprema definiu que tendo em vista que o próprio indivíduo,
voluntariamente, entregara sua documentação ao estabelecimento bancário, onde viria ser manuseado por número indefinido de pessoas
não haveria que contestar o acesso de autoridades administrativas, com justa causa, a estes dados. Não existe ali, portanto, uma
“expectativa de privacidade” (Fonte: Garantismo Penal Integral – Editora Juspodivm - Jose Robalinho Cavalcante pg. 30 6). José Adércio
Leite Sampaio esclarece que no mundo inteiro nota-se uma firme tendência no sentido de ser deferido a órgãos administrativos o poder de
quebra do sigilo bancário sempre que necessário às investigações criminais, financeiras ou fiscais e inexistirem outros meios menos
gravosos.
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a) Lei 4.595/64 (Dispoã e sobre as instituiçoã es financeiras, bancaé rias e creditíécias): Foi o primeiro
diploma a delinear o sigilo bancaé rio. Exige autorizaçaã o judicial, consoante dispoã e o art. 38;
b) Lei 8.021/90: Na situaçaã o em que se busca identificar o contribuinte para fins da constituiçaã o
do creé dito tributaé rio naã o incide a exigeê ncia do aval judicial, ateé entaã o exigida pela Lei 4.595/64;
c) LC 105/01: Revogou expressamente a parte da Lei 4.595/64 que exigia autorizaçaã o judicial
(art. 38) e ainda permitiu o acesso pela autoridade fiscal aos registros bancaé rios (art. 6).
Curiosamente, em recentes informativos o STJ aduziu: “Os dados obtidos pela Receita Federal com
fundamento no art. 6º da LC 105/2001, mediante requisição direta às instituições bancárias no âmbito
de processo administrativo fiscal sem prévia autorização judicial, não podem ser utilizados para
sustentar condenação em processo penal” (REsp 1361174).

O fundamento utilizado pelo aresto foi a ilicitude da quebra do sigilo bancaé rio pelas autoridades
fazendaé rias porquanto “Apenas o Judiciário, desinteressado que é na solução material da causa e, por
assim dizer, órgão imparcial, está apto a efetuar a ponderação imprescindível entre o dever de sigilo -
decorrente da privacidade e da intimidade asseguradas aos indivíduos em geral e aos contribuintes, em
especial - e o também dever de preservação da ordem jurídica mediante a investigação de condutas a ela
atentatória”. Vale atentar que este julgado foi prolatado pela 5º Turma, que julga mateé ria penal.

De seu lado, o STF em julgado posterior ao REsp 1134665 entendeu por, apertada maioria que
conflita com a CF/88 norma legal atribuindo aà Receita Federal – parte na relaçaã o juríédico-tributaé ria –
o afastamento do sigilo de dados relativos ao contribuinte (RE 389808, 2010). Diante da pertineê ncia
com a temaé tica ora desenvolvida, eé importante lembrar que o STF inadmitiu a quebra do sigilo
bancaé rio pelo TCU (STF, MS 22934)

TRF1:
PENÃL. PROCESSO PENÃL. CRIME CONTRÃ Ã ORDEM TRIBUTÃÉ RIÃ. OMISSÃÃ O DE
INFORMÃÇÃÃ O ÃÀ ÃUTORIDÃDE FÃZENDÃÉ RIÃ. SUPRESSÃÃ O DE TRIBUTO FEDERÃL.
QUEBRÃ DE SIGILO BÃNCÃÉ RIO DIRETÃMENTE PELÃRECEITÃ FEDERÃL. ÃUSEÊ NCIÃ DE
ÃUTORIZÃÇÃÃ O JUDICIÃL. IMPOSSIBILIDÃDE Ã previsaã o de quebra do sigilo
bancaé rio sem preé via autorizaçaã o (art. 6º da LC 105/01) refere-se a procedimento fiscal
de constituiçaã o de creé dito tributaé rio. No processo penal, contudo, tal ato deve ser
precedido de autorizaçaã o judicial, sob pena de ilicitude da prova dessa forma colhida.
(Precedente da Turma). (ÃCR 0002653-40.2011.4.01.3810)

à documentaçaã o que acompanha as informaçoã es comprova que a requisiçaã o de


informaçoã es sobre movimentaçaã o financeira do paciente (e da empresa), enviada pelo
Delegado da Receita Federal para o Banco do Estado de SC, objeto da presente
impetraçaã o, decorreu de decisaã o judicial, o que afasta a alegada ilegalidade da quebra
de sigilo bancaé rio do ora paciente. HC 00499262820134010000 FEDERÃL OLINDO
MENEZES

Deveres das autoridades fiscais

Dever de documentar o início do procedimento: art. 196.

Treê s efeitos tem esse dever: 1) precisar o termo inicial do prazo para conclusaã o; 2) antecipar a
contagem do prazo decadencial (173, p.u.); 3) afastar a espontaneidade do sujeito passivo, para efeitos
da denué ncia espontaê nea.
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O dever de manter sigilo e suas exceções

Previsto no caput do art. 198: Sem prejuíézo do disposto na legislaçaã o criminal, eé vedada a divulgaçaã o,
por parte da Fazenda Pué blica ou de seus servidores, de informaçaã o obtida em razaã o do ofíécio sobre a
situaçaã o econoê mica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de
seus negoé cios ou atividades.

Exceções ao sigilo (art. 198, §§ 1º, 2º e 3)

Situações previstas no CTN: I – requisiçaã o de autoridade judiciaé ria no interesse da justiça; II –


solicitaçoã es de autoridade administrativa no interesse da Ãdministraçaã o Pué blica, desde que seja
comprovada a instauração regular de processo administrativo, no oé rgaã o ou na entidade respectiva, com
o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a informaçaã o, por praé tica de infraçaã o
administrativa; (neste inciso foi afastada a possibilidade do MP requisitar, sem autorização judiciária,
informações; salvo no caso de crime contra a ADM pública); III – representaçoã es fiscais para fins penais;
IV – inscriçoã es na Díévida Ãtiva da Fazenda Pué blica; V – parcelamento ou moratoé ria

1. O intercaê mbio de informaçaã o sigilosa, no aê mbito da Ãdministraçaã o Pué blica, seraé


realizado mediante processo regularmente instaurado, e a entrega será feita pessoalmente à autoridade
solicitante, mediante recibo, que formalize a transfereê ncia e assegure a preservaçaã o do sigilo.
2. Para fins penais, a representaçaã o fiscal somente seraé encaminhada apoé s
proferida decisaã o final na esfera administrativa, a teor do art. 83 da Lei 9.430 (antes da constituiçaã o
definitiva incide o oé bice da SV 24. Ãproveitando o ensejo cuida recordar que para o STF a aplicaçaã o da
indigitada SV 24 aos fatos ocorridos anteriormente aà sua ediçaã o naã o se constitui analogia in “malam
partem” porquanto o verbete apenas consolidou a interpretaçaã o reiterada da Corte (Info 786)

Obs. 2: CÃDIN: a inscriçaã o e a obstaculizaçaã o do exercíécio de direitos (p. ex., contrataçaã o de creé dito
pué blico) constitui sançaã o políética

“O poder pué blico naã o estaé impedido de manter um cadastro de devedores. Todavia, o
que naã o se permite eé que as empresas inscritas possam ser privadas das operaçoã es
declinadas no art. 6º da MP 1490/12 (ÃDIN 1178). II – Em face da decisaã o do STF,
devem as empresas, quando da realizaçaã o de qualquer das operaçoã es enumeradas
naquele art., postular naã o a exclusaã o do CÃDIN, mas sim o direito a tal operaçaã o,
demonstrando o dano que sofreraã o caso naã o possam efetuaé -las (TRF1, ÃMS
1997.01.00.051678-9).

Tal entendimento, poreé m, naã o se aplica a deé bitos previdenciaé rios, por aplicaçaã o do disposto no art.
195, §3º da CF – deé bitos com a seguridade, impedem certas contrataçoã es com o Poder Pué blico.

Permuta de informações sigilosas entre entes tributantes

Ãrt. 199. Ã Fazenda Pué blica da Uniaã o e as dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municíépios prestar-se-aã o mutuamente assisteê ncia para a fiscalizaçaã o dos tributos
respectivos e permuta de informaçoã es, na forma estabelecida, em caraé ter geral ou
especíéfico, por lei ou conveê nio
Paraé grafo ué nico. Ã Fazenda Pué blica da Uniaã o, na forma estabelecida em tratados,
acordos ou conveê nios, poderaé permutar informaçoã es com Estados estrangeiros no
interesse da arrecadaçaã o e da fiscalizaçaã o de tributos.

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Segundo a jurisprudeê ncia, para que tal possibilidade exista eé fundamental o respeito ao contraditoé rio,
tendo sido a prova emprestada produzida em processo em que se tenha assegurada tal garantia ao
mesmo sujeito contra quem a prova seraé novamente utilizada (STF, ÃI 741193; STJ, REsp 81094).
“Ãs informaçoã es referentes ao contribuinte foram compartilhadas entre as Fazendas Federal e
Estadual, e no interesse da fiscalizaçaã o tributaé ria, nos termos do art. 199 do CTN, que
pressupoã e a existeê ncia de lei ou conveê nio para a utilizaçaã o de prova emprestada por parte da
Receita Federal. Naã o ocorreu, portanto, conforme alega o Ãpelante, o fornecimento de dados a
pessoas estranhas aà relaçaã o tributaé ria, razaã o pela qual naã o haé que se falar em quebra do
sigilo fiscal.” (TRF1 ÃCR 00106607820114013500)
“Ementa: .... II. Naã o haé qualquer oé bice aà utilizaçaã o pelo Fisco Federal de autos de infraçaã o
lavrados pelo Fisco Estadual. Ão contraé rio, tal procedimento eé expressamente previsto no art.
199, do CTN e eé de extrema utilidade para a apuraçaã o de ilíécito fiscal cometido pelo
contribuinte, jaé que, comprovada a insuficieê ncia do recolhimento do ICMS, presume-se a
omissaã o do imposto de renda (IRPJ). ....” (TRF-1ª Regiaã o. ÃC 199801000262645)
Para Ricardo Ãlexandre a admissaã o da prova emprestada naã o significa a possibilidade de utilizaçaã o da
conclusaã o emprestada, como ocasionalmente querem proceder algumas autoridades fiscais. Para o
autor, o que pode ser emprestado eé o conjunto probatoé rio.

O art. 200 do CTN:


Ãrt. 200. Ãs autoridades administrativas federais poderaã o requisitar o auxíélio da força pué blica
federal, estadual ou municipal, e reciprocamente, quando víétimas de embaraço ou desacato
no exercíécio de suas funçoã es, ou quando necessaé rio aà efetivaçaã o deê medida prevista na
legislaçaã o tributaé ria, ainda que naã o se configure fato definido em lei como crime ou
contravençaã o.
STF: “Sem que ocorra qualquer das situações excepcionais taxativamente previstas no
testo constitucional (art. 5º, XI), nenhum agente público, ainda que vinculado aà
administraçaã o tributaé ria do Estado, poderá, contra a vontade de quem de direito, ingressar,
durante o dia, sem mandado judicial, em espaço privado naã o aberto ao pué blico, onde
algueé m exerce sua atividade profissional. (…)”
No plano doutrinaé rio, Hugo de Brito Machado esclarece que quando o uso da força pué blica estiver em
conflito com as garantias constitucionais do contribuinte a ponderaçaã o judicial seraé indispensaé vel,
sem o queê as provas colhidas pela Fazenda Pué blica naã o poderaã o ser utilizadas.

Dívida ativa

Conceito
“Ãrt. 201. Constitui díévida ativa tributaé ria a proveniente de creé dito dessa natureza,
regularmente inscrita na repartiçaã o administrativa competente, depois de esgotado o prazo
fixado, para pagamento, pela lei ou por decisaã o final proferida em processo regular”.
O ué nico objeto da inscriçaã o do creé dito tributaé rio como díévida ativa eé possibilitar futura execuçaã o fiscal.
Tambeé m a declaraçaã o de compensaçaã o constitui confissaã o de díévida que, quando naã o homologada ou
providos recursos do contribuinte, enseja a inscriçaã o do deé bito em díévida ativa 3.
Ãrt. 2º, § 2º, LEF: a díévida ativa abrange atualizaçaã o, juros, multas e demais encargos
Encargo de 20% do DL 1025/69: quando a díévida ativa da Uniaã o, suas autarquias e fundaçoã es, eé
inscrita, passa a ser devido o encargo legal de que trata o DL 1025, de 10% antes de ajuizada a
execuçaã o fiscal e de 20% apoé s o ajuizamento.

3 Nesse sentido, oportuno lembrar a Súm 436/STJ: “A entrega da declaração pelo contribuinte reconhecendo o débito fiscal
constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco”
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STJ: “Ã Segunda Turma, ao julgar o REsp 1234893, sob a relatoria do Ministro Herman
Benjamin, DJe de 8.9.2011, enfrentou questaã o semelhante aà dos presentes autos, em que o
Tribunal de origem, em interessante anaé lise do encargo de que trata o art. 1º do Decreto-Lei
n. 1.025/69, consignou que se trata de quantia que serve a dois propoé sitos distintos: a)
honoraé rios advocatíécios; e b) custeio de despesas associadas aà arrecadaçaã o da díévida ativa
federal. Consoante anotado (...), a natureza do encargo legal previsto no DL 1025/69 foi
amplamente debatida no julgamento do REsp 1.110924 (art. 543-C do CPC). Ratificou-se
naquela oportunidade a orientaçaã o de que, após a modificação introduzida pela Lei
7.711/88, tal verba não se confunde com honorários advocatícios, pois constitui
receita do FUNDAF, instituíédo pelo DL 1437/75. Embora a mateé ria entaã o analisada tivesse
por objeto a definiçaã o quanto aà possibilidade de cobrança - nos autos da execuçaã o fiscal - do
encargo previsto no DL 1.025/69, eé evidente que os seus fundamentos se aplicam ao caso dos
autos. Ã natureza legal do encargo previsto no art. 1º do DL 1025 eé de receita que compoã e
Fundo de natureza contaé bil. O aludido encargo naã o constitui despesa suportada pela Uniaã o
"para fazer parte na faleê ncia".
Extrai-se do art. 203 do CTN que a omissaã o de quaisquer dos requisitos previstos no termo de
inscriçaã o ou o erro a eles relativo eé causa de nulidade da inscriçaã o. O STJ, contudo, pondera esta
rigidez legal:

(...) EXECUÇÃÃ O FISCÃL. CERTIDÃÃ O DE DIÉVIDÃ ÃTIVÃ. REQUISITOS PÃRÃ


CONSTITUIÇÃÃ O VÃÉ LIDÃ. NULIDÃDE NÃÃ O CONFIGURÃDÃ. (...) 3. Ã pena de nulidade da
inscriçaã o e da respectiva CDÃ, prevista no art. 203 do CTN, deve ser interpretada cum
granu salis. Isto porque o insignificante defeito formal que naã o compromete a esseê ncia
do tíétulo executivo naã o deve reclamar por parte do exequente um novo processo com
base em um novo lançamento tributaé rio para apuraçaã o do tributo devido, posto
conspirar contra o princíépio da efetividade aplicaé vel ao processo executivo
extrajudicial. 4. Destarte, a nulidade da CDA não deve ser declarada por eventuais
falhas que não geram prejuízos para o executado promover a sua defesa. 5.
Estando o tíétulo formalmente perfeito, com a discriminaçaã o precisa do fundamento
legal sobre que repousam a obrigaçaã o tributaé ria, os juros de mora, a multa e a correçaã o
monetaé ria, revela-se descabida a sua invalidaçaã o, naã o se configurando qualquer oé bice
ao prosseguimento da execuçaã o. (...). (ÃgRg no Ãg 485.548)

Nome do responsaé vel: a inscriçaã o do nome de um responsaé vel tributaé rio depende da preé via apuraçaã o
administrativa de tal pressuposto de fato especíéfico da responsabilidade, com resguardo do direito de
defesa do apontado responsaé vel. Ressalva-se a hipoé tese de sucessaã o, em que ocorre a simples sub-
rogaçaã o. Curiosamente, o STJ – em sede de recurso repetitivo – decidiu que “a constatação posterior ao
ajuizamento da execução fiscal de que a pessoa jurídica executada tivera sua falência decretada antes da
propositura da ação executiva não implica a extinção do processo sem resolução de mérito”
(Informativo 538). Isto porque a massa falida ostenta a apenas a qualificaçaã o de personalidade
judiciaé ria naã o implicando, pois, mutaçaã o subjetiva passiva. Constando o nome do responsaé vel do tíétulo,
a execuçaã o poderaé ser redirecionada a ele; naã o constando, possíével o redirecionamento, contanto que
o exequente prove a responsabilidade daquele que deseja ver incluíédo no polo passivo da açaã o. Jamais
poderaé constar o nome do responsaé vel da CDÃ quando fundada em declaraçaã o do contribuinte. Ex: no
caso de creé dito tributaé rio executado com base em declaraçaã o de deé bitos tributaé rios feitos em nome da
sociedade, seraé sempre invaé lida a inclusaã o do nome dos soé cios na CDÃ, dada a auseê ncia de lançamento
tributaé rio comprobatoé rio da responsabilidade do soé cio-gerente nos termos do 135 do CTN.
Com efeito, o STJ tem entendido que “para admitir que a execuçaã o fiscal atinja terceiros, naã o referidos
na CDÃ, eé líécito ao juiz exigir a demonstraçaã o de que estes saã o responsaé veis tributaé rios, nos termos do
CTN (art. 135)”. (REsp 272236)
Ãtençaã o: caso o nome do soé cio conste da CDÃ, em execuçaã o ajuizada apenas contra a Pessoa Juríédica, o
oê nus da prova compete ao soé cio, porque aquela goza de presunçaã o de liquidez e certeza.
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ÃTENÇÃÃ O: Por falar em redirecionamento, eé fundamental recordar o importante precedente firmado


pelo STJ tambeé m em sede de recurso repetitivo (Info 547): “É possível o redirecionamento de execução
fiscal de dívida ativa não-tributária contra o sócio-gerente da pessoa jurídica executada,
independentemente da existência de dolo”
Origem e natureza do creé dito, mencionada especificamente a disposiçaã o da lei em que seja fundado.
Origem: tipo de lançamento, declaraçaã o de contribuinte, confissaã o. Natureza: tributaé rio ou naã o, multa,
modalidades de obrigaçaã o principal (art. 113, §1º CTN).
Nué mero do processo administrativo de que se originar o creé dito: se extraviou o processo, eé nula a CDÃ,
porque retira do contribuinte a amplitude de defesa (STJ, RESP 686777, 2005).
EÉ necessaé rio protesto da CDÃ para execuçaã o fiscal? Se a CDÃ goza de presunçaã o de certeza e liquidez, o
inadimplemento eé caracterizado como elemento probante, sendo um fato extintivo do direito da autor
(STJ). Contudo, a Lei 12.767/12 permite o protesto da CDÃ. Ãlguns doutrinadores (Mauro Luis
Rocha Lopes) entendem que esta previsaã o eé inconstitucional por configurar sançaã o políética. O STJ
aplica a citada Lei (Informativo 533).
Ãrt. 203. Ã omissaã o de quaisquer dos requisitos previstos no artigo anterior, ou o erro a eles
relativo, saã o causas de nulidade da inscriçaã o e do processo de cobrança dela decorrente, mas
a nulidade poderaé ser sanada ateé a decisaã o de primeira instaê ncia, mediante substituiçaã o da
certidaã o nula, devolvido ao sujeito passivo, acusado ou interessado o prazo para defesa, que
somente poderá versar sobre a parte modificada.
Sué m 392/STJ “Ã Fazenda pode substituir CDÃ ateé a prolaçaã o da sentença de embargos,
quando se tratar de correçaã o de erro material/formal, vedada modificaçaã o do sujeito passivo
da execuçaã o.
Ãpoé s o reconhecimento da deficieê ncia do tíétulo, o Exequente pode, atraveé s do oé rgaã o apropriado,
promover o cancelamento da certidaã o nula e a lavratura de nova certidaã o, sem os víécios formais da
anterior, solicitando, nos autos da execuçaã o, a substituiçaã o da primeira pela segunda. Desse modo, a
execuçaã o prosseguiraé com suporte na CDÃ substituta, adequando-se ao que nela contido.
STJ decidiu ser “inadmissíével a substituiçaã o de CDÃ referente aà cobrança de IPTU a taxas
lançados sobre aé rea a maior, por isso que naã o se trata de simples correçaã o de erro material ou
formal do tíétulo executivo, mas de modificaçaã o do proé prio lançamento, com alteraçaã o do valor
do deé bito, o que naã o guarda apoio no art. 2.°, § 8.°, da LEF” (REsp 87768).

Ãtençaã o! Ã substituiçaã o da CDÃ eé uma faculdade do credor. Ã pena para a ineé rcia da exequente eé a
declaraçaã o de nulidade do tíétulo, com a consequente extinçaã o da execuçaã o.
Ãrt. 204. Ã díévida regularmente inscrita goza da presunçaã o de certeza e liquidez e tem o
efeito de prova preé -constituíéda.
Paraé grafo ué nico. Ã presunçaã o a que se refere este artigo eé relativa e pode ser ilidida por prova
inequíévoca, a cargo do sujeito passivo ou do terceiro a que aproveite.
à qualidade de prova preé -constituíéda da CDà inverte o oê nus de prova no tocante aà qualidade dos
soé cios-gerentes indicados pelo tíétulo. Ãssim, se o INSS, p. ex., com base no ato constitutivo da empresa,
arrola na CDÃ pessoas que naã o exercem, efetivamente, funçaã o de administrador, diretor, etc, caberaé a
eles a demonstraçaã o de dirimentes ou excludentes da hipoé tese previstas para responsabilidade de
terceiros.

Jurisprudência do STJ e do TRF1


- Deve ser extinta a execuçaã o fiscal que, por erro na CDA quanto aà indicaçaã o do CPF do
executado, tenha sido promovida em face de pessoa homônima (REsp 1279899).
- Ã auseê ncia de preé vio processo administrativo naã o enseja a nulidade da CDÃ nos casos de
tributos sujeitos a lançamento de ofíécio. (ÃgRg no ÃREsp 370295).

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- Naã o eé possíével a inscriçaã o em díévida ativa de valor correspondente a benefíécio


previdenciaé rio indevidamente recebido e naã o devolvido ao INSS. (REsp 1350804 Rep).
Nas hipoé teses de tributos sujeitos a lançamento por homologação, desnecessária a
instauração de procedimento administrativo fiscal e notificação do contribuinte acerca
da inscrição do crédito tributário em dívida ativa, uma vez que a ele incumbe toda a
atividade de apurar o tributo devido e pagar antecipadamente o respectivo valor. Cabe aà
Fazenda Pué blica apenas homologar tal atividade (art. 150 do CTN). ( ÃG 0006146-
43.2010.4.01).
à jurisprudeê ncia paé tria eé uníéssona ao afirmar que eé possível o reconhecimento de ofício
da nulidade da CDA ante a inobservaê ncia dos pressupostos de validade do tíétulo (CTN, art.
202 e LEF, art. 2º § 5º), haja vista tratar-se de mateé ria de ordem pué blica. (ÃC
00219071520144013900)
(...) art. 3º da LEF, "a Díévida Ãtiva regularmente inscrita goza da presunçaã o de certeza e
liquidez". Ã presunção eé relativa e pode ser ilidida por prova inequívoca, a cargo do
executado ou de terceiro, a quem aproveite. Portanto, cabe aà executada comprovar fatos que
de alguma forma afetem a higidez da díévida, o que naã o ocorreu no presente caso. (AC
200738120000157, Néviton)
De acordo com o CTN, art. 185 (redaçaã o da LC 118/2005), eé de se presumir fraudulenta a
alienação de bem por sujeito passivo em débito com a Fazenda Pública realizada em
data posterior à inscrição do débito como dívida ativa, naã o devendo subsistir, destarte, o
negoé cio juríédico realizado entre o embargado e o executado. ÃC 0019133-15.2010.4.01.4300

Certidões Negativas

Soé por lei eé que a pratica de atos pode ser condicionada aà apresentaçaã o de certidoã es negativas de
deé bitos, o que se pode extrair diretamente dos art. 5º, II e XIII da CF, e resta expresso no art. 205 do
CTN. Mas nem mesmo a lei poderaé exigir a apresentaçaã o de CERTIDÃÃ O NEGÃTIVÃ DE DEÉ BITOS
incorrendo em irrazoabilidade ou compromentendo desproporcionalmente direito do contribuinte, o
que configuraria o que haé muito se designa como sançaã o políética. Ãtos normativos infralegais naã o
podem restringir direitos.
STJ, Info 413: Naã o eé líécito exigir uma nova certidaã o negativa de deé bitos (CND) para o
desembaraço aduaneiro da importaçaã o, se a comprovaçaã o da quitaçaã o dos tributos jaé foi
apresentada quando da concessaã o do benefíécio fiscal de drawback.
Sué m 446/STJ: Declarado e não pago o débito tributário pelo contribuinte, é legitima a
recusa de expedição de certidão negativa ou positiva com efeito de negativa

Inconstitucionalidade do condicionamento do levantamento de precatoé rio aà apresentaçaã o de CND. Lei


11033, art. 19 (ÃDI 3453).
Ãrt. 205. Ã lei poderaé exigir que a prova da quitaçaã o de determinado tributo, quando exigíével,
seja feita por certidaã o negativa, expedida aà vista de requerimento do interessado, que
contenha todas as informaçoã es necessaé rias aà identificaçaã o de sua pessoa, domicíélio fiscal e
ramo de negoé cio ou atividade e indique o períéodo a que se refere o pedido.
Paraé grafo ué nico. Ã certidaã o negativa seraé sempre expedida nos termos em que tenha sido
requerida e seraé fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da entrada do requerimento na
repartiçaã o.
Registre-se, por oportuno, que, apesar da denominaçaã o “Certidaã o Negativa de Deé bito”, STJ considera
válida a recusa de emissão quando o contribuinte descumpre obrigação acessória, desde que tal
consequeê ncia esteja prevista em lei, como eé o caso da GFIP, nos termos previstos pelo art. 32, IV e § 10,
da Lei 8.212 (REsp 1042585). De igual modo, reiterou que é legítima a recusa do Fisco de fornecer

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certidão de regularidade fiscal (CND), em virtude da existeê ncia, por si soé , de irregularidade em
GFIPs, a despeito da ausência de lançamento de ofício da suposta diferença constatada (REsp
1143094)

Jurisprudência do STJ e do TRF1


à municipalidade eé responsaé vel pelo pagamento dos deé bitos tributaé rios contraíédos pela
Caê mara de Vereadores, e, existindo díévida tributaé ria, naã o se revela possíével a expediçaã o de
CND ou CPD-EN - em favor do ente pué blico. (ÃgRg no REsp 1550941)
"EÉ possível a concessão de CND às empresas filiais, ainda que conste débito em nome
da matriz e vice-versa, em razaã o de cada empresa possuir CNPJ proé prio, a denotar sua
autonomia juríédico-administrativa" (ÃgRg no REsp 1114696). (ÃgRg no ÃREsp 657920,
2015)
à penhora de bem de valor inferior ao débito não autoriza a expedição de CPD-EN (REsp
1479276)
à exigeê ncia de a apresentaçaã o de CND para renovaçaã o de autorizaçaã o de funcionamento das
empresa de vigilaê ncia foi estabelecida por meio do Dec 89058/83, que regulamenta a Lei
7102/83, a qual estabelece normas para a constituiçaã o e funcionamento de empresas
particulares que exploram serviços de vigilaê ncia. Simples decreto não pode exigir certidão
de regularidade fiscal para o exercício de atividade econômica, uma vez que compete aà
lei em sentido estrito a criaçaã o de direitos e obrigaçoã es, sob pena de ofensa ao princíépio da
reserva legal e, no caso, a Lei 7102, naã o preveê tal exigeê ncia. Somente se mostra razoável a
exigeê ncia de regularidade fiscal por ocasião da autorização para o início de
funcionamento da empresa, mas naã o quando entendimento em sentido diverso implicaria
em reconhecimento de meio indireto de cobrança de tributos, o que poderia vir a
comprometer o proé prio funcionamento da empresa, acabando, assim, por negar aplicaçaã o aà
Sué m 70/STF ("eé inadmissíével a interdiçaã o de estabelecimento como meio coercitivo para
cobrança de tributo"). (ÃMS 200834000200276, Neé viton )
(...). DEMÃNDÃ ÃJUIZÃDÃ POR FILIÃL. PESSOÃ JURIÉDICÃ DISTINTÃ DÃ MÃTRIZ PÃRÃ
EFEITOS TRIBUTÃÉ RIOS. ÃUTONOMIÃ. CONTRIUINTE ISOLÃDO. EXPEDIÇÃÃ O DE CERTIDÃÃ O
NEGÃTIVÃ DE DEÉ BITOS. POSSIBILIDÃDE. Na mesma linha: "Ãs filiais teê m registros proé prios
no Cadastro Nacional de Pessoa Juríédica - CNPJ. Teê m a empresa matriz e as filiais
personalidades juríédicas distintas. Logo, naã o se pode negar aà s filiais CND ou CPD-EN se quem
estaé em deé bito eé a empresa matriz. Como decidiu a antiga 4ª Turma deste Tribunal, ao julgar
o ÃMS 96.01.10970-6: 'O registro e inscriçaã o de estabelecimento filial eé como se fosse o
surgimento de uma nova empresa'." (ÃG Nº 2004.01.00.003230-7/ÃM, Rel. Des. Federal
Tourinho Neto). (ÃC 0024083-03.2014.4.01.3500)

Certidões positivas com efeitos de negativas

Ãrt. 206. Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidaã o de que conste a
existeê ncia de creé ditos naã o vencidos, em curso de cobrança executiva em que tenha sido
efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa.
Por sua vez, se jaé foi proposta a execuçaã o fiscal e realizada a apreensaã o judicial de bens suficientes aà
total extinçaã o do creé dito (penhora), o direito do Fisco estaé garantido, dependendo sua satisfaçaã o taã o
somente do natural andar do procedimento judicial, naã o podendo o particular ser punido pela
lentidaã o do aparelho judicial (STJ – REsp 328.045/SC).
Por fim, se o Fisco naã o pode promover atos de cobrança, naã o estando o particular obrigado a fazer
qualquer recolhimento naquele momento, o mesmo estaé em situaçaã o regular, tendo o direito aà
certidaã o. Ã regra vale para todas as hipoé teses suspensivas previstas no art. 151 do CTN, naã o sendo
líécito ao ente tributante condicionar a expediçaã o de certidaã o aà apresentaçaã o de qualquer garantia.
Nessa linha, segundo a jurisprudeê ncia do STJ, a lei de determinado ente pode exigir apresentaçaã o de
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garantia para a obtençaã o do parcelamento. Se naã o o faz, os particulares que legalmente parcelam seus
deé bitos teê m direito aà certidaã o positiva com efeito de negativa (ÃgRg no Ãg 442.292).

Jurisprudência do STJ e do TRF1

à alegação de compensação eé verdadeira causa extintiva do direito do Fisco. Ela pode


ser alegada pelo contribuinte na esfera judicial ou na administrativa. Na ué ltima, tem o
efeito de suspender a exigibilidade do tributo (art. 151, III, do CTN). Ãssim, enquanto
pendente a análise daquele pedido administrativo, suspende-se a exigibilidade
do tributo, hipoé tese em que naã o haé como negar a expediçaã o de CPD-EN (art. 206 do
CTN). (REsp 980017).

Não é possível a expedição de CPD-EN em favor de sócio que tenha figurado como
fiador em Termo de Confissão de Dívida Tributaé ria na hipoé tese em que o
parcelamento dele decorrente não tenha sido adimplido (REsp 1444692)

à penhora sobre faturamento, naã o sendo integral, naã o garante suficientemente a


execuçaã o. Naã o haé falar, no caso, em expediçaã o de certidaã o positiva com efeitos de
negativa nem em suspensaã o da exigibilidade do creé dito. (ÃgRg no REsp 1468687)
STJ firmou-se no sentido de ser possíével a expediçaã o de CPD-EN para devedor, pessoa
juríédica de Direito Pué blico, independentemente da suspensaã o da exigibilidade do
creé dito ou de sua garantia. (...) Cogitando-se de ente pué blico (com bens impenhoraé veis),
ainda que o soé ajuizamento da açaã o naã o seja causa insculpida no art. 151 do CTN, a
CPD-EN e a retirada das restriçoã es dos cadastros federais (CÃUC/CÃDIN) naã o lhe
podem ser negadas porque o requerente naã o pode ser compelido a oferecer bens em
garantia (nem poderia, querendo, fazeê -lo), peculiaridade essa que exige interpretaçaã o e
aplicaçaã o, com razoabilidade e simetria, do art. 206 do CTN (que assegura CPD-EN se,
havendo creé ditos em cobrança, formalizar-se penhora) e, na mesma toada, do art. 7º da
Lei 10522/02 (suspensaã o do CÃDIN em prol de quem ofereça garantia idoê nea), sob
pena de dispensar-lhe tratamento diferente e a menor em face daquele a quem a lei
dispensa prerrogativas melhores, decorrentes do primado da supremacia do interesse
pué blico. (AGA 0064241-32.2011.4.01.0000)

Dispensa da apresentação de certidão negativa

Dispoã e o art. 207 do CTN:

“Ãrt. 207. Independentemente de disposiçaã o legal permissiva, seraé dispensada a prova


de quitaçaã o de tributos, ou o seu suprimento, quando se tratar de praé tica de ato
indispensaé vel para evitar a caducidade de direito, respondendo, poreé m, todos os
participantes no ato pelo tributo porventura devido, juros de mora e penalidades
cabíéveis, exceto as relativas a infraçoã es cuja responsabilidade seja pessoal ao infrator”.

Para a doutrina, a norma eé expressamente definida como autoaplicaé vel (pois independe de disposiçaã o
legal permissiva) e tem por objetivo evitar que a exigeê ncia de apresentaçaã o da prova de quitaçaã o de
tributo impeça a praé tica de um ato que se afigura urgente e acabe por gerar caducidade (perda) de
direito.

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Responsabilidade por expedição de certidão com erro

Segundo o art. 208 do CTN, a certidaã o negativa expedida com dolo ou fraude, que contenha erro contra
a Fazenda Pué blica, responsabiliza pessoalmente o funcionaé rio que a expedir, pelo creé dito tributaé rio e
juros de mora acrescido.
Para Ricardo Ãlexandre, o CTN foi extremamente infeliz ao classificar tal situaçaã o como geradora de
responsabilidade pessoal. Ãfinal, a responsabilidade pessoal eé exclusiva, naã o aparecendo qualquer
outra pessoa que responda subsidiariamente ou solidariamente com o devedor. O problema na regra
prevista no artigo 208 do CTN eé que, se a responsabilidade for considerada pessoal, o sujeito passivo
do tributo estaria livre do dever de pagaé -lo. Ãleé m disso, a responsabilizaçaã o pessoal do servidor
praticamente transformaria o pagamento do tributo em sançaã o por ato ilíécito, o que contraria a
definiçaã o constante do art. 3.º do CTN. Ãssim, na visaã o do autor, pode-se afirmar que a
responsabilidade deve ser solidaé ria entre o beneficiaé rio da emissaã o de certidaã o e o servidor que a
expediu.

10. DIREITO AMBIENTAL

PODER DE POLÍCIA E DIREITO AMBIENTAL. LICENCIAMENTO AMBIENTAL.


BIOSSEGURANÇA. INFRAÇÕES AMBIENTAIS.

4.1Licenciamento Ambiental

Definição e Natureza Jurídica do licenciamento: eé “o procedimento administrativo pelo qual o


oé rgaã o ambiental licencia a localizaçaã o, instalaçaã o, ampliaçaã o e a operaçaã o de empreendimentos e
atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou
daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradaçaã o ambiental” (Res CONÃMÃ 237/97, art.
1º, §1º). De acordo com art. 9º, IV, da Lei da PNMÃ (Lei 6.938/81), o licenciamento ambiental é um
instrumento de caráter preventivo de tutela do meio ambiente. (Fiorillo)

Todo o procedimento de licenciamento ambiental deveraé ser elaborado de acordo com os princíépios
do devido processo legal, devendo-se garantir: a) um oé rgaã o neutro; b) notificaçaã o adequada da açaã o
proposta e de sua classe; c) oportunidade para a apresentaçaã o de objeçoã es ao licenciamento; d) o
direito de produzir e apresentar provas; e) o direito de conhecer a prova contraé ria; f) o direito de
contraditar testemunhas; g) uma decisaã o baseada somente nos elementos constantes da prova
produzida; h) o direito de se fazer representar; i) o direito aà elaboraçaã o de autos escritos para o
procedimento; j) o direito de receber do Estado auxíélio teé cnico e financeiro; l) o direito a uma decisaã o
escrita motivada

O licenciamento ambiental eé plurifuncional, pois se presta a diversas funçoã es: a) objetiva o controle
de atividades potencialmente poluentes; b) operacionaliza os princípios da precaução,
prevenção e poluidor-pagador; c) impõe medidas mitigadoras e compensatórias para a
degradação ambiental; d) possibilita inserir determinada atividade na programação e
planificação do desenvolvimento econômico nacional, regional ou local; e e) instrumento de

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direito econômico, pois importa no planejamento e na tomada de decisões sobre o que


preservar e o que degradar.

Natureza da licença ambiental: Discute-se a natureza juríédica da licença ambiental, tendo em vista a
claé ssica diferenciaçaã o entre licença (ato vinculado e definitivo) e autorizaçaã o (ato discricionaé rio e
precaé rio).

Parte da doutrina entende que o termo licença estaria sendo empregado sem o rigor teé cnico-juríédico,
devendo, no caso, ser entendido como autorizaçaã o (posiçaã o de Leme Machado, Toshio Mukai e de
Vladimir Passos de Freitas). Arrolam-se os seguintes argumentos:

(i) O emprego na legislação e na doutrina do termo “licenciamento” ambiental


não traduz necessariamente a utilização da expressão jurídica “licença”, em seu
rigor técnico;

(ii) o escopo de prevenção sempre foi entendido como típico da categoria da


autorização;

(iii) A Constituição utilizou o termo “autorização” em seu, dizendo no art. 170,


parágrafo único: “E assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos
casos previstos em lei”;

iv) A possibilidade de “renovação” como de “revisão” indicam que a


Administração Publica pode intervir periodicamente para controlar a
qualidade ambiental da atividade licenciada, não havendo na “licença
ambiental” o caráter definitivo; afastando-a do conceito de “licença”, tal como
conhecemos no Direito Administrativo; e

v) O conceito de “licenciamento ambiental” tem vida própria, independente do


conceito de “licença”, expressão utilizada no Direito Administrativo.

Por sua vez, Milaré entende que se trata de licença, uma vez que a capacidade decisoé ria da
Ãdministraçaã o se resume ao reconhecimento formal de que os requisitos ambientais para o exercíécio
do direito de propriedade (empreendimento ou atividade) estaã o preenchidos. Entretanto, traça 3
diferenças entre a licença ambiental e a administrativa, a saber:

(i) desdobramento da licença ambiental em licença prévia, de instalação e de operação;

(ii) necessidade de avaliação prévia de impactos, podendo-se exigir a formalização de EIA-


RIMA para atividades significativamente degradadoras do meio ambiente; e

(iii) a licença ambiental não assegura ao seu titular a manutenção do status quo vigorante ao
tempo de sua expedição, sujeita que se encontra a prazos de validade, obrigando à renovação
com exigências supervenientes à vista do estado da técnica e da própria alteração das
características ambientais de determinada época e de determinado local

Haé quem sustente, por outro lado, que “a licença ambiental não é vinculada ou discricionária por
sua natureza, pois sua caracterização depende da vontade do próprio legislador em cada nível
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federativo, a quem cabe a escolha entre a concessão de maiores ou menores espaços para os
órgãos administrativos na tomada de decisão sobre a concessão ou negação da licença”
(ÃNDREÃS J. KRELL).

Para Fiorillo, trata-se de um ato com discricionariedade sui generis, havendo vinculação, ou seja,
direito subjetivo do empreendedor nos casos de EIÃ-RIMÃ favoraé vel, senaã o vejamos

Deve-se observar que a existência de um EIA/RIMA favorável condiciona a autoridade à


outorga da licença ambiental, existindo, dessa feita, o direito de o empreendedor
desenvolver sua atividade econoê mica. Temos nessa hipoé tese o ué nico caso de uma licença
ambiental vinculada. De fato, se a defesa do meio ambiente eé limitadora da livre iniciativa
(art. 170, VI), e inexistem danos aà quele, naã o haveraé razaã o para que o empreendimento naã o
seja desenvolvido. Por outro lado, se o EIÃ/RIMÃ mostra-se desfavoraé vel, totalmente ou em
parte, caberaé aà Ãdministraçaã o, segundo criteé rios de convenieê ncia e oportunidade, avaliar a
concessaã o ou naã o da licença ambiental, porquanto, como jaé foi realçado, o desenvolvimento
sustentaé vel eé princíépio norteador da preservaçaã o do meio ambiente e do desenvolvimento da
ordem econoê mica. Essa possibilidade retrata uma discricionariedade sui generis.
Evidentemente, a concessaã o da licença deveraé ser fundamentada, atacando cada um dos
pontos que se mostraram impactantes ao meio ambiente, sob pena de ferir o preceito contido
no art. 37 da CF. Interessante verificar que o EIÃ/RIMÃ atua como elemento de restriçaã o da
discricionariedade que ele mesmo criou, porquanto permite aà Ãdministraçaã o, com base nos
elementos do estudo, a concessaã o ou naã o da licença

Destarte, em síéntese, vislumbramos quatro posicionamentos: i) natureza de autorização, cujo


principal argumento eé auseê ncia de definitividade da licença ambiental, sujeita revalidaçaã o e
revisaã o; ii) natureza de licença, uma vez que, atendidos os requisitos legais, eé direito subjetivo (ato
vinculado) do empreendedor obter a licença ambiental, ainda que sua continuidade fique sujeita a
revisaã o ou reavaliaçaã o pelo oé rgaã o ambiental; iii) natureza de licença sui generis, uma vez que seria
ato vinculado, caso restem atendidos os requisitos legais, entretanto, naã o-definitivo ficando
condicionada ao estado da técnica e a superveniência das condições ambientais ou legais; e iv)
natureza indefinida, dependendo dos contornos dados pela legislaçaã o correlata (Nota do
Resumidor).

Modificações na Licença Ambiental (natureza de autorização). Importante caracteríéstica da


licença ambiental verifica-se na possibilidade de sua modificaçaã o ante a supervenieê ncia de riscos
ambientais graves, nos termos do artigo 19 da Res 237/97:

Ãrt. 19 – O oé rgaã o ambiental competente, mediante decisaã o motivada, poderaé modificar


os condicionantes e as medidas de controle e adequaçaã o, suspender ou cancelar uma
licença expedida, quando ocorrer: I - Violaçaã o ou inadequaçaã o de quaisquer
condicionantes ou normas legais. II - Omissaã o ou falsa descriçaã o de informaçoã es
relevantes que subsidiaram a expediçaã o da licença. III - supervenieê ncia de graves riscos
ambientais e de saué de.

Dessa forma, verifica-se que a licença ambiental, diferentemente do que ocorre com a licença
modalidade de ato administrativo estudada no direito administrativo, pode sofrer modificaçaã o
posterior.

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Revogação ou Anulação da Licença Ambiental: Com relaçaã o a revogação da licença ambiental, tem
prevalecido, especialmente na jurisprudeê ncia do TRF1 pela sua possibilidade com base no princípio
da precaução, sustentando que o vocaé bulo “cancelar” (art. 19 da Res. 237/97) engloba tanto a
anulação quanto a revogação, senaã o vejamos:

Se haé previsaã o de criaçaã o de unidade de conservaçaã o ambiental em aé rea onde


anteriormente havia sido deferida licença de pesquisa para exploraçaã o de calcaé rio
biogeê nico, é possível a revogação da licença concedida, pois o princípio da
precaução recomenda que em defesa do meio ambiente não seja admitida a
exploração da área em questão. (ÃC 00282713420034013400/TRF1)

à revogação dar-se-aé quando sobrevier motivo de interesse pué blico que desaconselhe a realizaçaã o da
obra licenciada, tal como: a) mudança das circunstâncias, seja por haver desaparecido as que
motivaram sua outorga ou sobrevirem outras que, se existissem antes teriam justificado sua
denegação; b) adoção de novos critérios de apreciação, em que a incompatibilidade da
atividade licenciada deriva de uma modificação posterior que a Administração introduziu no
ordenamento jurídico urbanístico, quer aprovando novo plano diretor, quer modificando o
existente, quer aprovando nova lei de zoneamento ou modificando a existente, com efeitos
negativos para a manutenção da licença e do direito reconhecido ao particular com sua
outorga. (Joseé Ãfonso)

O erro na sua outorga: o erro que supoã e a equivocada apreciaçaã o de circunstaê ncias reais naã o eé um erro
de fato – que em todo momento poderia ser sanado pela Ãdministraçaã o – mas um erro de
classificação, de valoração, de interpretação, quer dizer, um erro de direito. O erro, no entanto,
pode gerar uma ilegalidade na outorga da licença, caso em que seu desfazimento deveraé ser feito
por anulaçaã o e naã o por revogaçaã o. E a cassação vincula-se ao problema da legalidade, mas não da
legalidade da licença em si, mas de posterior descumprimento das exigências dela. (Joseé Ãfonso
da Silva)

Ressaltamos que, no que tange aà anulaçaã o da licença ambiental, inexiste prazo para a sua
fulminação, quer administrativa, quer judicial, tendo em conta que naã o se sujeita aà preclusaã o
administrativa (Frederico Ãmado).

Direito à Indenização no Caso de Cancelamento: Haé a discussaã o sobre se haveria direito aà


indenizaçaã o no caso de revogaçaã o/anulaçaã o da autorizaçaã o/licença no prazo de sua validade. Há três
posicionamentos doutrinários:

(i) inexiste direito a indenização, uma vez que ao “empreendedor saã o imputados todos os riscos de
sua atividade, o que se coaduna com os princíépios do Poluidor-pagador e da Precauçaã o. Portanto,
constatada a impertineê ncia de determinada atividade econoê mica regularmente licenciada, impoã e-se
ao Poder Pué bico a anaé lise da convenieê ncia e oportunidade da revogaçaã o, naã o se vislumbrando a
possibilidade de indenizaçaã o por perdas e danos decorrente exclusivamente da revogaçaã o realizada
pela Ãdministraçaã o, pois o dever de proteçaã o naã o eé soé do Poder Pué blico, mas tambeé m de toda a
coletividade incluindo o proé prio empreendedor” (Mauríécio de Jesus Nunes da Silva)

(ii) há direito a indenização, haja vista que mesmo suspensa ou cassada a licença, eé importante
assinalar, remanesce o direito do administrado de algum modo vinculado ao empreendimento: se naã o
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sob a forma de atividade efetiva, ao menos sob a forma de ressarcimento dos danos (materiais e
morais) que vier a sofrer pela perda dos investimentos que antes foram legítima e legalmente
autorizados (Milareé )

(iii) em regra, naã o haé direito a indenizaçaã o, “salvo quando a sua causa determinante do
cancelamento puder ser imputada diretamente à Administração Pública ambiental, quando,
por exemplo, equivocar-se ao licenciar uma atividade que sabidamente, naquele momento, não
deveria sê-lo, pois incompatível com o interesse público” (Frederico Ãmado).

De qualquer forma, aqueles que defendem a possibilidade de indenizaçaã o ao empreendedor,


entendem ser cabível a reparação dos danos emergentes, apenas os diretos e imediatos , mas
naã o dos lucros cessantes, haja vista o caraé ter temporaé rio da licença ambiental (Frederico Ãmado).

Sobre o tema, interessante decisaã o do STJ, aduzindo que:

Não gera dano moral a conduta do Ibama de, após alguns anos concedendo
autorizações para desmatamento e queimada em determinado terreno com a
finalidade de preparar o solo para atividade agrícola, deixar de fazê-lo ao constatar
que o referido terreno integra área de preservação ambiental (...) Como se pode
depreender, o agricultor eé simultaneamente agente agressor do meio ambiente e titular do
direito difuso aà preservaçaã o ambiental contra suas proé prias teé cnicas agropastoris. Ãssim, naã o
se legitima a pretensaã o indenizatoé ria que busca responsabilizar o Poder Pué blico por proteger
o proé prio agricultor – na qualidade de titular coletivo do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado – contra os danos provocados pelas suas proé prias teé cnicas de
plantio. Ãleé m disso, a simples vedaçaã o da utilizaçaã o de teé cnica degradadora no preparo do
solo naã o impede que se deê continuidade aà atividade agríécola com o uso sustentaé vel de
teé cnicas alternativas aà queima e ao desmatamento. Ademais, a concessão de autorização
para queimada e desmatamento nos anos anteriores não gera um direito para o
agricultor, pois a negativa configura nítido exercício do poder de autotutela (Súmula
473 do STF), por meio do qual a Administração Pública busca justamente recompor a
legalidade do ato administrativo. Por fim, ganha substancial relevo o princíépio da
supremacia do interesse pué blico sobre o privado, porque a limitaçaã o imposta pelo Poder
Pué blico quanto aà forma de exploraçaã o da propriedade constitui medida restritiva a um direito
individual que, todavia, reverte positivamente em favor de um direito de titularidade difusa –
o meio ambiente. (REsp 1287068)

Na versaã o anterior deste item constava que “O STJ e o STF têm sido casuísticos, observando,
principalmente, o estado das obras”, sem qualquer refereê ncia de onde o resumidor retirou essa
informaçaã o.

Ão meu sentir, a posiçaã o mais segura eé a intermediária, sustentada por Frederico Ãmado. Caso
perguntado, o candidato deve delinear os posicionamentos acima e o citado julgado do STJ,
posicionando-se no sentido de que, em regra, é incabível a indenização pelo cancelamento
(revogação ou anulação) da licença ambiental, salvo nos casos onde o Poder Pué blico naã o seja o
responsaé vel diretamente pela concessaã o indevida da licença (Nota do Resumidor).

DISPENSA DE LICENCIAMENTO: (i) execuçaã o, em caraé ter de urgeê ncia, de atividades de segurança
nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas aà prevençaã o e mitigaçaã o de acidentes em
áreas urbanas; (ii) manejo sustentaé vel para exploraçaã o florestal eventual sem propoé sito comercial,
para consumo no próprio imóvel, devendo apenas ser informado previamente ao órgão
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ambiental a motivação da exploração e o volume explorado, limitada a exploraçaã o anual a 20


metros cué bicos; (iii) plantio ou reflorestamento com espeé cies florestais nativas ou exoé ticas; e (iv) eé a
permissaã o de livre extração de lenha e demais produtos de florestas PLANTADAS nas aé reas não
consideradas APP e Reserva Legal, certamente em razaã o de se tratar de aé rea de uso alternativo do
solo, cuja vegetação foi plantada pelo proprietário ou possuidor.

Atividade não Potencialmente Causadora de Significativo Impacto Ambiental: O oé rgaã o ambiental


competente, verificando que a atividade ou empreendimento naã o eé potencialmente causador de
significativa degradaçaã o do meio ambiente, definiraé os estudos ambientais pertinentes ao
respectivo processo de licenciamento. (Res do 237/97, art. 3º, § ué n).

Espécies de Licença Ambiental: Saã o treê s as espeé cies de licenças ambientais estabelecidas pela Res
237/97. Ressalte-se que boa parte da aplicaçaã o dessa resoluçaã o foi afastada pela LC 140. Entretanto,
parte dela continua em vigor. Os tipos de licença saã o:

(i) Licença prévia (LP): concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou


atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e
estabelecendo os requisitos baé sicos e condicionantes a serem atendidos nas proé ximas fases de sua
implementaçaã o;

(ii) Licença de Instalação (LI): autoriza a instalaçaã o do empreendimento ou atividade de acordo com
as especificaçoã es constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas
de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;

(iii) Licença de Operação (LO): autoriza a operação da atividade ou empreendimento, apoé s a


verificaçaã o do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de
controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.

Ãs licenças ambientais poderaã o ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza,
caracteríésticas e fase do empreendimento ou atividade.

Procedimento para Obtenção das Licenças. Iter procedimental das licenças: 1 - definiçaã o pelo oé rgaã o
ambiental, junto com o empreendedor, do que eé necessaé rio para o iníécio do procedimento; 2 –
requerimento da LP; 3 – anaé lise pelo oé rgaã o; 4 – possibilidade de pedir esclarecimentos, inclusive com
renovaçaã o desse pedido; 5 – audieê ncia pué blica, se for o caso; 6 – novos esclarecimentos, se necessaé rios
apoé s a audieê ncia; 7 – emissaã o de parecer teé cnico conclusivo e, se preciso, parecer juríédico; 8 –
deferimento, ou naã o, da LP, tambeé m com publicidade; 9 – o procedimento deve ser concluíédo em 6
meses, sem EIÃ/RIMÃ, ou ateé 12 meses, com EIÃ/RIMÃ (Res 237, art. 14); 10 – deferimento, ou naã o,
da LI; 11 – concluíédas e aprovadas as obras, deferimento da LO.

4.2Critérios para fixação da Competência Ambiental

Histórico da Legislação Anterior: a Resoluçaã o 237 do CONÃMÃ estabelecia um sistema racional de


divisaã o das atribuiçoã es entre as diversas esferas federativas, buscando evitar a duplicidade de
procedimentos. Ã referida resoluçaã o tinha como intuito suprir a lacuna legal, pois a lei complementar
mencionada paraé grafo ué nico do art. 23 da CF soé veio a ser aprovada em 2011 (LC 140). Parte da
doutrina entendia inconstitucional a Res 237 na parte em que procedia aà divisaã o da competeê ncia
licenciatoé ria entre os entes da federaçaã o. Segundo essa corrente, tratando-se de mateé ria prevista como
competeê ncia comum (art. 23 da CF), caberia a lei complementar fixar as normas de cooperaçaã o entre

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os entes federativos. Ãleé m disso, criou o licenciamento municipal, extrapolando o poder regulamentar
concedido pelo art. 10 da Lei 6.938.

LC 140/11 (legislação atual): estabeleceu que o licenciamento seraé feito por um único ente e
estabeleceu taxativamente as competeê ncias de cada ente da federaçaã o, tendo referido diploma sido
objeto da ÃDI 4757 (ainda pendente em 11/2015). Note que a LC 140 naã o se aplica ao procedimento.

EÉ bom frisar que mesmo que se conclua pela competeê ncia de um oé rgaã o ambiental o licenciamento
ambiental, naã o resta excluíédo o poder de fiscalizaçaã o dos demais de outras esferas, observado o
disposto no jaé analisado artigo 17, da LC 140/2011.

Critérios de definição de competência ambiental:

(i) dimensão do impacto ou dano ambiental (ou predominaê ncia do interesse): definiçaã o do oé rgaã o
ambiental licenciador decorreraé da dimensaã o territorial dos danos ambientais a serem causados. O
interesse local/competeê ncia municipal eé aquele que naã o ultrapassa as fronteiras do territoé rio de um
Municíépio. Impacto estadual/competeê ncia do Estado eé aquele que ultrapassa o territoé rio de um
Municíépio, mas fica adstrito aà s fronteiras de um Estado da federaçaã o. Impacto regional ou
nacional/competeê ncia federal eé aquele que ultrapassa o territoé rio de um Estado, abarcando uma
regiaã o ou mesmo todo o territoé rio brasileiro.

(ii) localização geográfica do empreendimento ou atividade: parte da doutrina sustenta que a LC


140/2011 naã o acolheu o criteé rio da dimensão do impacto ou dano ambiental, mas sim da
localização geográfica do empreendimento como regra geral para fixaçaã o da competeê ncia federal
para licenciamento ambiental.

(iii) dominialidade do bem público afetável: a competeê ncia para a promoçaã o do licenciamento
ambiental seraé definida de acordo com a titularidade do bem a ser afetado pelo empreendimento
licenciando.

Haé julgados do STJ e alguns TRFs no sentido de que a dominialidade (titularidade do bem) não é
critério definidor da competeê ncia para o licenciamento ambiental, contudo, a dominialidade acaba
sendo adotada para definiçaã o da legitimidade ativa da Uniaã o e do IBÃMÃ em açoã es fundamentadas em
possíéveis ilegalidades no licenciamento ambiental, insuficieê ncia da atuaçaã o do oé rgaã o estadual de meio
ambiente ou dano a bem de domíénio da Uniaã o (REsp 769753).

(iv) atuação supletiva: quando o oé rgaã o ambiental do ente federado de menor extensaã o territorial naã o
puder licenciar, o de maior abrangeê ncia territorial o faraé , de acordo com os criteé rios da LC 140, art 14.

(v) ente instituidor da unidade de conservação: o oé rgaã o competente para licenciar eé o mesmo que
instituiu a UC, exceto em se tratando de ÃPÃ.

COMPETÊNCIAS PARA LICENCIAMENTO. De acordo com os arts. 7°, 8º e 9º da LC 140, ficou assim
definida a competeê ncia para o licenciamento ambiental:

LICENCIÃMENTO FEDERÃL

Atividades ou empreendimentos:
a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;
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b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona econômica


exclusiva;
c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;
d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela União, exceto em Áreas de
Proteção Ambiental (APAs);
e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;
f) de caráter militar, salvo os previstos no preparo e emprego das Forças Armadas
g) os relativos à material radioativo ou energia nuclear; ou
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão
Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou
empreendimento (ou seja, licenciar o que for determinado por ato do Poder Executivo, por proposição
da Comissão Tripartite Nacional).
Obs.: Há um critério geral, que é o da localização geográfica do empreendimento ou atividade (e não
mais do impacto ambiental), e dois critérios suplementares: o da atividade (militar ou
nuclear/radioativa) e o do ente instituidor da unidade de conservação – instituída pela União, é
competência desse ente (salvo APAs). Entretanto, há doutrinador que afirma que o critério da atividade
é, na verdade, ditado pela predominância do interesse (pois é, o tema é muito polêmico!).

Frederico Ãmado defende que, nos itens “a”, “e” e “g”, o legislador adotou o criteé rio da extensaã o do impacto,
enquanto, nos itens ”b” e “c”, teria acolhido o criteé rio da dominialidade. O item “d” teria escolhido o criteé rio do
ente instituidor. Saliento que o Des. Joaã o Batista Moreira possui artigo a respeito da competeê ncia para
licenciamento, onde parece defender a utilizaçaã o do criteé rio da extensaã o do impacto para fins de fixaçaã o da
competeê ncia ambiental, quando houver conflito entre os oé rgaã os ambientais.

LICENCIAMENTO ESTADUAL

A competência para licenciamento pelo Estado é residual, cabendo-lhe aquilo que não for conferido à
União ou ao Município (art. 8º, XIV), in verbis:
a) (é ação administrativa do Estado) promover o licenciamento ambiental de atividades ou
empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou
capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7 o e 9o;
Cabe, ainda, ao Estado:
b) promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos localizados ou
desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pelo Estado, exceto em Áreas de Proteção
Ambiental (APAs)
Obs.: Há dois critérios, o residual, e o do ente instituidor da unidade de conservação – se instituída pelo
Estado, é desse ente a competência (salvo APAs).

LICENCIAMENTO MUNICIPAL

Atividades ou empreendimentos:

a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia definida pelos
respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial
poluidor e natureza da atividade;
b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção
Ambiental (APAs)

Obs.: Há dois critérios, permanece o do impacto ambiental local e o do ente instituidor das unidades de
conservação (salvo APAs).

O licenciamento que compreenda, concomitantemente, aé rea terrestre e maríétima da zona costeira soé
seraé atribuiçaã o da Uniaã o se ato do Poder Executivo o definir, a partir de proposiçaã o da Comissaã o
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Tripartite (Uniaã o naã o quer se ocupar com pequenos empreendimentos, a exemplo de pequenas
barracas e alugueé is de bananas boat, mas se alega haver interesse dos Estados em licenciar portos).

Em unidades de conservação (exceto APA): Ã LC 140 diz que quem institui a unidade de
conservaçaã o deve licenciar os empreendimentos na aé rea, excetuando-se as ÃPÃs.

No caso das ÃPÃs, o criteé rio eé a regra geral da LC: o da localizaçaã o geograé fica do empreendimento ou
atividade. Entretanto, isso naã o exclui a competeê ncia da Uniaã o nos casos de sua exclusividade (ÃPÃ em
fronteira com paíés limíétrofe, ÃPÃ em terra indíégena, mar territorial, zona econoê mica exclusiva,
atividades nucleares em ÃPÃ...).

Delegação do licenciamento: LC 140 preveê a possibilidade de delegaçaã o do licenciamento, mediante


convênio, desde que o ente destinataé rio da delegaçaã o disponha de oé rgaã o ambiental capacitado a
executar as açoã es administrativas a serem delegadas e de conselho de meio ambiente (art. 4°, V e VI
e art. 5°). Considera-se capacitado o ente que possui técnicos próprios ou em consórcio,
devidamente habilitados e em número compatível com a demanda das açoã es administrativas a
serem delegadas (paraé grafo ué nico do art. 5°).

Atuação subsidiária: Ã açaã o subsidiaé ria dos entes federativos dar-se-aé por meio de apoio teé cnico,
cientíéfico, administrativo ou financeiro, sem prejuíézo de outras formas de cooperaçaã o (art. 16), e um
exemplo eé a delegaçaã o do licenciamento. Acrescente-se que a ação subsidiária deve ser solicitada
pelo ente originariamente detentor da atribuição.

Contrariando a doutrina e a jurisprudeê ncia, a nova Lei estabelece que os empreendimentos devem ser
licenciados ou autorizados por um único ente federativo. Os demais entes podem manifestar-se ao
oé rgaã o responsaé vel pela licença ou autorizaçaã o, de maneira não vinculante, respeitados os prazos e
procedimentos do licenciamento (a licença ambiental envolve estudo, avaliaçaã o, enquanto a
autorizaçaã o os dispensa, por ser a atividade considerada simples e de reduzido impacto).

O ente competente para licenciar eé quem deve autorizar a supressaã o de vegetaçaã o decorrente dos seus
licenciamentos ambientais.

Preveê , ainda, o art. 13, § 3° da LC 140 que os valores alusivos aà s taxas de licenciamento ambiental e
outros serviços afins devem guardar relaçaã o de proporcionalidade com o custo e a complexidade do
serviço prestado.

Licenciar e Fiscalizar: a competência para licenciamento ou autorizaçaã o não impede o exercíécio


pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos
e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a
legislaçaã o ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que
detenha a atribuição de licenciamento ou autorizaçaã o. (ÃgRg REsp 1373302)

Prazo para Análise do Pedido de Licença: Ã Res 237 preveê o prazo maé ximo de 6 meses para anaé lise
dos pedidos de licença, a contar do ato de protocolo do requerimento, ressalvados os casos em que
houver EIÃ/RIMÃ e/ou audieê ncia pué blica, quando o prazo seraé de ateé 12 meses. Essa parte da
Resoluçaã o continua aplicaé vel.

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Ãs exigeê ncias de complementaçaã o de informaçoã es, documentos ou estudos feitas pela autoridade
licenciadora suspendem o prazo de aprovaçaã o, que continua a fluir apoé s o seu atendimento integral
pelo empreendedor (art. 14, § 2°).

O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissaã o da licença ambiental, não implica emissão
tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a competeê ncia
supletiva,

à renovaçaã o de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de 120 dias da
expiração, ficando seu prazo automaticamente prorrogado ateé a manifestaçaã o definitiva do oé rgaã o
ambiental competente (art. 14, § 4°).

Atuação Supletiva. Pode ocorrer, ainda, a atuação supletiva em funçaã o da deficiência na ação do
órgão ambiental estadual ou municipal, nas seguintes hipoé teses (art. 15):

I - inexistindo oé rgaã o ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no Distrito


Federal, a Uniaã o deve desempenhar as açoã es administrativas estaduais ou distritais ateé a sua criaçaã o;

II - inexistindo oé rgaã o ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Municíépio, o Estado deve
desempenhar as açoã es administrativas municipais ateé a sua criaçaã o; e

III - inexistindo oé rgaã o ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no Municíépio, a
Uniaã o deve desempenhar as açoã es administrativas ateé a sua criaçaã o em um daqueles entes federativos.

Prazo de validade das licenças. Ãs licenças teê m prazo de validade diferenciado de acordo com a sua
espeé cie. Ão fim do prazo, deve ocorrer a revisaã o do licenciamento, para evitar a perenizaçaã o de
padroã es ultrapassados tecnologicamente (os prazos saã o fixados pela Res. 237/97).

Licença Prazo mínimo Prazo Prorrogabilidade


máx.

Estabelecido pelo cronograma de


LP 5 anos Sim, desde que observado o limite máx.
elaboração dos planos/programas/projetos

LI Estabelecido pelo cronograma de instalação 6 anos Sim, desde que observado o limite máx.

Não é prorrogada, mas renovada, por prazo


que independe do prazo inicial.

Ocorre prorrogação, contudo, a partir do


10 requerimento de renovação até a
4 anos
anos manifestação definitiva do órgão
LO ambiental.

Pedido de renovação deve ser apresentado


até 120 dias antes do fim do prazo.

O órgão ambiental poderá estabelecer prazos específicos para empreendimentos ou atividades


que por sua natureza e peculiaridade estejam sujeitos a encerramento ou modificações em prazos
inferiores

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Publicação da licença: De modo a viabilizar o controle popular, haé previsaã o para publicação
resumida dos pedidos de licenciamento, em qualquer de suas modalidades, sua renovaçaã o e a
concessaã o da licença. Tal publicaçaã o deve ser paga pelo interessado, no jornal oficial do Estado e em
perioé dico de grande circulaçaã o, regional ou local (art. 4° do Dec 99.274/90 e art. 4° da Lei 10650/03).

Regras específicas de licença: Ãleé m dessas regras referentes ao licenciamento ambiental,


classificadas como gerais, podem ser definidas regras especíéficas, pelo oé rgaã o ambiental competente,
para o licenciamento de atividades dotadas de caracteríésticas peculiares em razaã o do porte, da
natureza, da localizaçaã o, da dinaê mica de exploraçaã o e assim por diante (Res 237, art. 12).

Saã o exemplos de atividades que teê m disciplina especíéfica para o licenciamento ambiental: obras de
grande porte (Res 006/87), obras de saneamento (Res 005/88), atividades mineraé rias (Res 9/90 e
10/90), atividades de exploraçaã o e produçaã o de petroé leo (Res 023/94), empreendimentos em praias
de tartarugas marinhas (Res 010/96), assentamentos de reforma agraé ria (Res 289/2001).

Ãs decisoã es do oé rgaã o ambiental acerca do licenciamento saã o passíéveis de recurso, conforme previsaã o
no art. 20 do Decreto 99.274/90.

4.3Poder de Polícia e Direito Ambiental. Infrações Ambientais.

O poder de políécia tem previsaã o no CF, art. 225 §3º, seno que a omissaã o do Poder Pué blico no seu
exercíécio pode constituir infraçaã o administrativa (Lei 9.605, art. 70, § 3º), ou ato de improbidade (art.
11, II, Lei 8429/92).

Considera-se infraçaã o administrativa ambiental toda açaã o ou omissaã o que viole as regras juríédicas de
uso, gozo, promoçaã o, proteçaã o e recuperaçaã o do meio ambiente, sendo que qualquer pessoa,
constatando infraçaã o ambiental, poderaé dirigir representaçaã o aà s autoridades ambientais, para efeito
do exercíécio do seu poder de políécia.

à autoridade ambiental que tiver conhecimento de infraçaã o ambiental eé obrigada a promover a sua
apuraçaã o imediata, mediante processo administrativo proé prio, sob pena de corresponsabilidade.

Poder de Polícia Ambiental é Comum: Recorde-se que a competeê ncia para a proteçaã o ao meio
ambiente eé comum entre a Uniaã o, Estados, DF e Municíépios (art. 23, III, CF/88) e que eé competeê ncia
concorrente dos entes federados legislar sobre direito ambiental (art. 24, VI, VII e VIII, c/c art. 30, I, II,
VI e IX). Ãssim, cabe a cada ente federado exercer o seu poder de políécia no aê mbito de suas atribuiçoã es,
bem como estabelecer regras proé prias para esse exercíécio.

Autoridades Competentes para imposição de nulta: Saã o autoridades competentes para lavrar auto
de infraçaã o ambiental e instaurar processo administrativo os funcionaé rios de oé rgaã os ambientais
integrantes do SISNÃMÃ, designados para as atividades de fiscalizaçaã o, bem como os agentes das
Capitanias dos Portos (Marinha) (LCÃ, 72, § 1º)

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4.3.1 Poder de Polícia Ambiental X Competência para Licenciamento

Como jaé mencionado, a competeê ncia atribuíéda a certo ente federado para a concessaã o da licença
ambiental naã o retira dos demais as prerrogativas atinentes ao poder de políécia, pois a preservaçaã o
ambiental eé de competeê ncia comum.

Pelo art. 70, §§ 1º e 3º, da Lei 9.605, todos os entes federados seriam competentes para lavrar autos de
infraçaã o em mateé ria ambiental. Ã LC 140 estabelece que em caso de dupla lavratura prevalece a multa
do oé rgaã o ambiental competente para licenciar (art. 17, §3°).

Em realidade, em regra, a competeê ncia para lavrar o auto e apurar a infraçaã o eé do oé rgaã o competente
para licenciar (art. 17, caput). Contudo, o § 3° do mesmo artigo afirma que isso naã o impede o exercíécio
da atribuiçaã o comum de fiscalizaçaã o dos demais entes federados, prevalecendo o auto de infraçaã o
lavrado pelo oé rgaã o que detenha a atribuiçaã o de licenciar.

Sanções: Com a LC 140/11, ampliou-se a interpretaçaã o do art. 76 da Lei 9.605/98, prevalecendo para
a mesma infraçaã o ambiental todo o auto de infraçaã o do ente competente para licenciar, abarcando
quaisquer sançoã es previstas no art. 72 e naã o apenas a sançaã o de multa (o art. 76 soé diz que o
pagamento de multa imposta pelos Estados, Municíépios, DF ou Territoé rios substitui a multa federal na
mesma hipoé tese de incideê ncia). Eis as demais infraçoã es:

Ãrt. 72. Ãs infraçoã es administrativas saã o punidas com as seguintes sançoã es, observado
o disposto no art. 6º: I - adverteê ncia; II - multa simples; III - multa diaé ria; IV - apreensaã o
dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos,
equipamentos ou veíéculos de qualquer natureza utilizados na infraçaã o; V - destruiçaã o
ou inutilizaçaã o do produto; VI - suspensaã o de venda e fabricaçaã o do produto; VII -
embargo de obra ou atividade; VIII - demoliçaã o de obra; IX - suspensaã o parcial ou total
de atividades; X – (VETÃDO) XI - restritiva de direitos.

Havia tambeé m entendimentos de que o pagamento da multa municipal ou estadual, sendo menor que
a federal, naã o impedia a cobrança da diferença. Hoje, com a LC 140, mesmo que a multa federal seja
maior, a multa do ente competente prevaleceraé mesmo que menor, naã o cabendo a cobrança de
quaisquer diferenças em relaçaã o aà multa federal.

4.3.2 Biossegurança

à preocupaçaã o do legislador com a biossegurança decorre sobretudo do Princíépio da Precauçaã o e tem


seu fundamento no art. 225, II, IV e V da CRFB:

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimoê nio geneé tico do Paíés e fiscalizar


as entidades dedicadas aà pesquisa e manipulaçaã o de material geneé tico;
IV - exigir, na forma da lei, para instalaçaã o de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradaçaã o do meio ambiente, estudo preé vio de impacto
ambiental, a que se daraé publicidade;
V - controlar a produçaã o, a comercializaçaã o e o emprego de teé cnicas, meé todos e
substaê ncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.

Especificamente em relaçaã o ao impacto da manipulaçaã o de material geneé tico no meio ambiente e na


preservaçaã o da biodiversidade e integridade do patrimoê nio geneé tico nacional, a Lei 11105/2005
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instituiu o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) e disciplinou a Comissaã o Teé cnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio), visando regular e controlar as atividades que envolvam organismos
geneticamente modificados (OGM) e seus derivados.

Competeê ncia concorrente para legislar sobre proteçaã o do meio ambiente, produçaã o e consumo (CF, 22,
V, VI e VIII). Considerando que o conceito de OGM consta de lei federal e que cabe privativamente aà
Uniaã o legislar sobre comeé rcio exterior e interestadual, ficou vedado aos Estados disporem acerca do
cultivo, comercializaçaã o e utilizaçaã o do uso de OGMs (ÃDI 3035 e ÃDI-MC 2303).

4.3.2.1 OGM

Organismo geneticamente modificado por meio de engenharia geneé tica. Derivado eé o produto obtido a
partir do OGM que naã o tem capacidade de autoreplicaçaã o ou forma autoê noma de OGM (art. 3º, V e VI)

Engenharia geneé tica compreende teé cnicas para aprimorar ou alterar espeé cies animais ou vegetais por
meios artificiais. Para a Lei, eé a produçaã o e manipulaçaã o de DNÃ/RNÃ recombinante. Jaé a biotecnologia
eé conceito mais amplo, que envolve a aplicaçaã o tecnologia que utiliza organismos vivos ou seus
derivados para fabricar ou modificar produtos ou processos especíéficos de aplicaçaã o.

Toda e qualquer pesquisa sobre OGM deve estar vinculada a uma instituiçaã o autorizada e cadastrada
pelo CTNBio.

à Lei do SNCU veda o uso de OGM em terras indíégenas e unidades de conservaçaã o, salvo na zona de
amortecimento, nos termos definidos pelo Poder Executivo e conforme Plano de Manejo.

4.3.2.2 CNBS

OÉ rgaã o de assessoramento do Presidente da Repué blica, vinculado ao MinCT, composto apenas por
ministros (art. 8º e 9º), pois o legislador entendeu que a decisaã o final acerca dos OGMs envolve
decisaã o políética (convenieê ncia e oportunidade), dado seu impacto social, econoê mico e moral, sem
prejuíézo da necessaé ria anaé lise teé cnica e democraé tica por parte do CTNBio.

Competeê ncias mais relevantes: a) fixar diretrizes na políética de biossegurança, b) analisar pedidos do
CTNBio de liberaçaã o do uso comercial de OGM, c) avocar e decidir em ué ltima instaê ncia acerca dos
pedidos de liberaçaã o do uso comercial de OGM

4.3.2.3 CTNBio

OÉ rgaã o vinculado ao MCT, de competeê ncia teé cnica e composiçaã o mista: representantes dos ministeé rios,
especialistas de notoé rio saber cientíéfico/teé cnico e especialistas em aé reas correlatas (agricultura, saué de
do trabalhador etc.). Parte dos especialistas seraé escolhido em lista tríéplice indicada por entidades da
sociedade civil (caraé ter democraé tico).

Competeê ncias mais relevantes: decidir sobre a necessidade de licenciamento ambiental, emitir decisaã o
teé cnica sobre o uso de OGM, estabelecer normas teé cnicas para atividades e projetos relacionados a
OGMs, autorizar importaçaã o de OGM para pesquisa etc.

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4.3.2.4 Órgãos e entidades de registro e fiscalização

OÉ rgaã os e entidades dos Ministeé rios da Saué de, Ãgricultura, Pesca e Meio Ãmbiente realizam atividades
de fiscalizaçaã o e registro, nos termos das normas teé cnicas e decisoã es do CTNBio.

Diferente das infraçoã es ambientais (destinadas o Fundo Nacional do Meio Ãmbiente), as multas
aplicadas na fiscalizaçaã o dos OGMs se destinam aos oé rgaã os de fiscalizaçaã o.

4.3.2.5 Comissão interna de biossegurança

Criada no aê mbito de cada instituiçaã o que utiliza teé cnicas de engenharia geneé tica ou pesquisa com
OGM. Tem funçoã es internas (segurança, monitoramento, informaçaã o etc.) e externas (notificar a
CTNBio e os oé rgaã os de fiscalizaçaã o quanto a riscos e acidentes).

4.3.2.6 Células-tronco embrionárias

Uso exclusivo em pesquisas e terapias de ceé lulas de embrioã es obtidas em processo de fertilizaçaã o in
vitro e naã o utilizadas desde que sejam: (i) embriões inviáveis, (ii) congelados haé ao menos 3 anos,
sendo sempre exigido consentimento dos genitores (art. 5º)

O STF considerou a norma constitucional (ÃDI 3510), levando em conta, dentre outros fundamentos:

- Ponderaçaã o de valores entre a dignidade do embriaã o e a fraternidade consagrada na pesquisa


cientíéfica (preservaçaã o da dignidade da populaçaã o eventualmente beneficiada)

- Teoria natalista da personalidade: embriaã o excedentaé rio naã o tem vida viaé vel (naã o haé aborto)

- Desvinculaçaã o com qualquer ideia de aborto, pois o embriaã o excedentaé rio naã o foi implantado no
ué tero (nascituro)

- Razoabilidade das restriçoã es impostas pela Lei de Biossegurança, tanto em relaçaã o aà bioeé tica, quanto
em relaçaã o aà preservaçaã o do meio ambiente.

EÉ absolutamente vedada a clonagem humana (6º).

4.3.2.7 Responsabilidade na Lei de Biossegurança

Apenas instituições públicas e privadas podem realizar atividades relacionadas com OGMs e
derivados, relacionadas com ensino com manipulaçaã o de organismos vivos ou pesquisas tecnoloé gicas
ou industriais. Ã entidade eé responsaé vel pela obedieê ncia aà legislaçaã o e consequeê ncias de seu
descumprimento (art. 2º). Pessoas físicas não podem realizar pesquisas independentes, ainda
que mantenham víénculos com pessoas juríédicas.

Responsabilidade civil solidaé ria por danos ao meio ambiente e a terceiros, sem prejuíézo das sançoã es
penais e administrativas (art. 20). Responsabilidade de natureza objetiva que abrange a indenizaçaã o e
a reparaçaã o integral dos danos.

Haé responsabilidade do poluidor indireto para os financiadores de pesquisas com OGMs, caso deixem
de exigir Certificado de Qualidade de Biossegurança emitido pelo CTNBio.

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Infraçaã o administrativa: toda açaã o que viole as normas da Lei de Biossegurança e demais disposiçoã es
pertinentes

Responsabilidade penal: tipos abertos e relacionados aà auseê ncia ou desacordo com a legislaçaã o e
regulamentaçaã o de biossegurança.

Penas que vaã o de 1 a 5 anos, agravadas em caso de dano ao meio ambiente, lesaã o corporal ou morte de
terceiros.

4.3.2.8 Protocolo de Cartagena

Protocolo aà Convençaã o de Biossegurança, celebrado em Montreal (!) em 2000 e internalizado pelo


Brasil em 2003 (Dec. 5705) que versa sobre o movimento transfronteiriço de OGMs.

O movimento transfronteiriço consiste no desenvolvimento, a manipulaçaã o, o transporte, a utilizaçaã o,


a transfereê ncia e a liberaçaã o de todos os organismos vivos modificados se realizem de maneira a evitar
ou a reduzir os riscos para a diversidade bioloé gica, devendo-se levar tambeé m em consideraçaã o os
riscos para a saué de humana.

Naã o se aplica ao movimento de OGMs que sejam faé rmacos para seres humanos.

Preveê regras míénimas que naã o impedem os Estados signataé rios de adotarem medidas mais rigorosas.

4.3.3 A Responsabilidade Administrativa Ambiental

4.3.3.1 Caracterização da Infração Administrativa Ambiental

Lei 9605, art. 70: “considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que
viole regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente”.

EÉ importante notar que a ocorreê ncia de dano ambiental não é requisito para cometimento da
infração administrativa, em consonaê ncia com o princíépio da prevençaã o, sendo bastante que o
agente, por ação ou omissão, infrinja a legislação administrativa ambiental, existindo infraçoã es
de dano e de perigo.

Entende-se que a esseê ncia da infraçaã o eé o comportamento em desobedieê ncia a uma norma juríédica de
tutela do ambiente. O dano, isoladamente, naã o eé gerador da responsabilidade administrativa, mas
apenas se for resultado descrito em tipo infracional ou o provocado por uma conduta omissiva
ou comissiva violadora de regra jurídica.

Poderaé ser autor dessa infraçaã o tanto as pessoas fíésicas ou juríédicas, mas neste último caso exige-se
que o ato tenha sido praticado por seu representante legal ou contratual, no interesse ou
benefício da entidade moral.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: Ã aplicaçaã o de sançoã es pelos entes federativos se pauta pelo princíépio
da legalidade. Nesse sentido: “EÉ vedado ao IBAMA instituir sanções sem expressa previsão legal.
Questaã o jaé enfrentada pelo STF, no julgamento da ÃDI-MC 1823, ocasiaã o em que restou determinada a
impossibilidade de aplicação pelo IBAMA de sanção prevista unicamente em portarias, por
violaçaã o do Princíépio da Legalidade”. (ÃgRg no REsp 1164140)
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Outrossim, exige-se lei em sentido formal para a tipificação de infrações administrativas.


Destarte, “a aplicaçaã o de sançoã es administrativas, decorrente do exercíécio do poder de políécia,
somente se torna legítima quando o ato praticado pelo administrado estiver previamente
definido por lei como infração administrativa” (ÃgRg no REsp 1284558).

Contudo, não viola o princípio da estrita legalidade a instituição de um tipo genérico por lei, a
ser regulamentado via decreto, uma vez que ateé em Direito Penal Ãmbiental jaé se admite a criaçaã o
de normas penais em branco heterogeê neas, ante o caraé ter concretista e interdisciplinar do meio
ambiente (Frederico Ãmado). Nesse sentido: “Não há atipicidade na conduta do agente, porquanto
ela se inclui na previsão estabelecida no artigo 25, §1º do Dec nº 6.514/08. A descrição de
conduta típica, para fins de infração administrativa, pode vir regulamentada por meio de
Decreto, desde que a norma se encontre dentro dos contornos previstos na Lei n. 9.605/98, não
inovando na ordem jurídica” (REsp 1441774)

Para o STJ, a previsaã o de infraçaã o penal na LCÃ eé suficiente para tipificar tambeé m o ilíécito
administrativo (REsp 1075017). Por outro lado, as contravençoã es penais previstas no “antigo” CFlo
naã o podem ser invocadas para fundamentar infraçoã es administrativas (ÃGREsp 1218859).

4.3.3.2 Responsabilidade administrativa de natureza objetiva ou subjetiva?

Basicamente, apontam-se treê s correntes:

(i) responsabilidade objetiva: a responsabilidade eé objetiva e o dever de recuperar o meio ambiente


decorre de simples prova do prejuíézo, pois a LCÃ em momento algum faz a distinçaã o excluindo a
responsabilidade de quem naã o se houve com culpa, sendo, ainda, que haé casos em que a mera omissaã o
jaé eé suficiente para configurar infraçaã o (Vladimir Passos de Freitas). Esse eé o entendimento tambeé m
defendido pelo IBÃMÃ.

(ii) somente a multa simples exige responsabilidade subjetiva, conforme LCÃ, art. 72. Nas demais
penalidades, inclusive multa diaé ria, incidiraé a responsabilizaçaã o objetiva (Leme Machado)

(iii) responsabilidade subjetiva, em razaã o: a) da teoria da culpabilidade afeta ao direito


sancionador; b) do princíépio da intranscendência das penas; e iii) da utilização do termo
“transgressores” no art. 14, caput, da Lei 6.938 (refereê ncia a responsabilidade administrativa), e
não tão somente “poluidor”, referida no art. 14 § 1º relativa a responsabilidade civil.

STJ repelido a tese da adoção da responsabilidade objetiva na imposição de responsabilização


administrativa ambiental (decisoã es nas duas turmas):

“Isto porque aplicaçaã o de penalidades administrativas naã o obedece aà loé gica da


responsabilidade objetiva da esfera cíével (para reparaçaã o dos danos causados), mas deve
obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida
pelo alegado transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, E com
demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano” (REsp 1251697)

à questaã o, portanto, não se cinge ao plano da responsabilidade civil, mas da


responsabilidade administrativa por dano ambiental. Pelo princípio da intranscendência
das penas (art. 5º, inc. XLV, CF), aplicável não só ao âmbito penal, mas também a todo o
Direito Sancionador, não é possível ajuizar execução fiscal em face do recorrente para
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cobrar multa aplicada em face de condutas imputáveis a seu pai. Isso porque a aplicaçaã o
de penalidades administrativas não obedece à lógica da responsabilidade objetiva da
esfera cível (para reparação dos danos causados), mas deve obedecer à sistemática da
teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado
transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do
nexo causal entre a conduta e o dano. (...) Em resumo: a aplicaçaã o e a execuçaã o das penas
limitam-se aos transgressores; a reparaçaã o ambiental, de cunho civil, a seu turno, pode
abranger todos os poluidores, a quem a proé pria legislaçaã o define como "a pessoa fíésica ou
juríédica, de direito pué blico ou privado, responsaé vel, direta ou indiretamente, por atividade
causadora de degradaçaã o ambiental" (art. 3º, inc. V, do mesmo diploma normativo). Note-se
que nem seria necessaé ria toda a construçaã o doutrinaé ria e jurisprudencial no sentido de que a
obrigaçaã o civil de reparar o dano ambiental eé do tipo propter rem, porque, na verdade, a
proé pria lei jaé define como poluidor todo aquele que seja responsaé vel pela degradaçaã o
ambiental - e aquele que, adquirindo a propriedade, naã o reverte o dano ambiental, ainda que
naã o causado por ele, jaé seria um responsaé vel indireto por degradaçaã o ambiental (poluidor,
pois). Mas fato eé que o uso do vocaé bulo "transgressores" no caput do art. 14, comparado aà
utilizaçaã o da palavra "poluidor" no § 1º do mesmo dispositivo, deixa a entender aquilo que jaé
se podia inferir da vigeê ncia do princíépio da intranscendeê ncia das penas: a responsabilidade
civil por dano ambiental eé subjetivamente mais abrangente do que as responsabilidades
administrativa e penal, naã o admitindo estas ué ltimas que terceiros respondam a tíétulo objetivo
por ofensa ambientais praticadas por outrem. (REsp 1251697)

Essa orientaçaã o foi reafirmada recentemente pelo STJ em julgado com participaçaã o do Des Olindo:

à responsabilidade civil ambiental eé objetiva; poreé m, tratando-se de responsabilidade


administrativa ambiental, o terceiro, proprietaé rio da carga, por naã o ser o efetivo causador do
dano ambiental, responde subjetivamente pela degradaçaã o ambiental causada pelo
transportador (ÃgRg no ÃREsp 62584)

Discorreu o Desembargador Olindo Menezes que:

EÉ de se destacar que a hipoé tese em julgamento, no que diz respeito aà empresa recorrente, naã o
eé propriamente de responsabilidade objetiva por danos causados ao meio ambiente, que eé
efetivamente objetiva, quer nos termos do § 1º do art. 14 da Lei 6938, quer nos termos do
paraé grafo ué nico do art. 927 do NCC (“Haveraé obrigaçaã o de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, pela sua proé pria natureza, riscos
para os direitos de outrem.”), senaã o pela multa de R$ 5.000.000,00 por infraçaã o
administrativa ambiental, que lhe aplicou o Municíépio, que constitui o objeto da execuçaã o. (...)
Entendeu-se que a questaã o naã o se cingia ao plano da responsabilidade civil, senaã o da
responsabilidade administrativa por dano ambiental, que “naã o obedece aà loé gica da
responsabilidade objetiva da esfera civil (para reparaçaã o dos danos causados), mas deve
obedecer aà sistemaé tica da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo
alegado transgressor, com demonstraçaã o de seu elemento subjetivo, e com demonstraçaã o do
nexo causal entre a conduta e o dano.” Por ué ltimo, acentuou o acoé rdaã o que “o uso do vocaé bulo
“transgressores” no caput do art. 14, comparado aà utilizaçaã o da palavra “poluidor” no § 1º do
mesmo dispositivo, deixa a entender aquilo que jaé se podia inferir do princíépio da
intranscendeê ncia das penas: a responsabilidade civil por dano ambiental eé subjetivamente
mais abrangente do que a responsabilidade administrativa e penal, naã o admitindo estas
ué ltimas que terceiros respondam a tíétulo objetivo por ofensas ambientais praticadas por
outrem.”
Essa leitura, em face da compreensaã o dos julgadores que compoã em a 1ª Seçaã o, afigura-se
majoritaé ria, com a observaçaã o, assaz relevante, de que as afirmaçoã es que daã o pela
responsabilidade ambiental objetiva tratam de danos causados ao meio ambiente, e naã o em

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razaã o da responsabilidade por multas por infraçoã es administrativas ambientais, que eé de


ordem subjetiva e, como tal, restrita aos seus autores. Fora dos danos oriundos da atividade
normalmente desenvolvida que implique, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem,
hipoé tese que naã o eé a dos autos, que trata de multa por infraçaã o administrativa, naã o se pode
afirmar um caso de responsabilidade civil objetiva sem previsaã o legal especíéfica, como estatui
o referido paraé grafo ué nico do art. 927 do Coé digo Civil.

Entretanto, nesse mesmo ano (treê s meses antes da decisaã o citada acima), a proé pria 1ª Turma, sem o
Desembargador Olindo, decidiu pela responsabilidade objetiva para aplicaçaã o de multa:

à responsabilidade administrativa ambiental eé objetiva. Deveras, esse preceito foi


expressamente inserido no nosso ordenamento com a ediçaã o da Lei 6.938. Tanto eé assim, que
o § 1º do art. 14 do diploma em foco define que o poluidor eé obrigado, sem que haja a
exclusaã o das penalidades, a indenizar ou reparar os danos, independentemente da existeê ncia
de culpa. (REsp 1318051)

Diante disso, acredito que a posição mais segura é pela responsabilidade administrativa
subjetiva, devendo se mencionar a posiçaã o do examinador Olindo e os precedentes do proé prio STJ,
bem como a existeê ncia de julgados do proé pria 1ª Turma em sentido contraé rio.

4.3.4 Sanções Administrativas Em Espécie

Ãs infraçoã es e sançoã es administrativas em mateé ria ambiental saã o tratadas no Decreto 6.514/08, que
regulamentou a LCÃ.

O Ãuto de infraçaã o eé a forma de aplicaçaã o da sançaã o administrativa e daé iníécio ao processo


administrativo

Prescrição da Pretensão Punitiva: o prazo para deflagrar o processo administrativo ambiental eé de 5


anos, a contar do fato, naã o eé do seu conhecimento. O prazo prescricional é interrompido com a
lavratura do auto de infração (art. 21 do Dec. 6514/08 e Lei 9873/99);

Prescrição intercorrente: ocorre se o processo ficar parado por mais de 3 anos, sem impulso por
parte da Ãdministraçaã o Pué blica (art. 21, § 2º);

Dosimetria: Ã dosimetria das sançoã es seraé norteada pelos criteé rios do artigo 6.º, da LCÃ, consoante a
gravidade do fato, os antecedentes do infrator e a sua situação econômica.

O cometimento de mais de uma infraçaã o administrativa pelo infrator o sujeita à aplicação


cumulativa de sanções, conforme texto expresso do § 1.º, do artigo 72 da Lei.

Reincidência: O cometimento de nova infraçaã o ambiental pelo mesmo infrator, no períéodo de cinco
anos, contados da lavratura de auto de infraçaã o anterior devidamente confirmado no julgamento de
que trata o art. 124, implica: (a) aplicação da multa em triplo, no caso de cometimento da mesma
infração; ou (b) aplicação da multa em dobro, no caso de cometimento de infração distinta.

4.3.4.1 Advertência – art. 72, I, e §2º, Lei e art. 2º, I, e §2º, Dec 6514

Caberaé a adverteê ncia pelo cometimento de qualquer infraçaã o administrativa, sem prejuíézo das demais
sançoã es cominadas. O artigo 5.º, do Decreto 6.514/2008, preveê a possibilidade de aplicaçaã o dessa

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penalidade para as infrações de menor lesividade ambiental , quando a multa maé xima cominada
naã o ultrapassa R$ 1.000,00.

Seraé aplicada, nos termos do art. 72, §2º, Lei n.º 9.605/98, “pela inobservância das disposições desta Lei
e da legislação em vigor, ou de preceitos regulamentares, sem prejuízo das demais sanções previstas
neste artigo”.

Configurada infração ambiental grave, é possível a aplicação da pena de multa sem a


necessidade de prévia imposição da pena de advertência (art. 72 da LCÃ). (Info 581/STJ)

4.3.4.2 Multa Simples – art. 72, II, e §§ 3º e 4º, Lei e art. 8º e ss do Decreto
6.514/08

Ãplicada sempre que o agente, por negligeê ncia ou dolo, deixar de sanar as irregularidades no prazo
consignado pela autoridade administrativa, ou opuser embaraço aà fiscalizaçaã o (LCÃ, art 72 § 3º).

O §4º permite a conversaã o da multa simples em serviços de preservaçaã o, melhoria e recuperaçaã o da


qualidade ambiental. EÉ faculdade da Ãdministraçaã o Pué blica e pode ser requerida pelo infrator.
Quando concedida, suspende a exigibilidade da multa enquanto perdurar a obrigação de fazer.

à prestaçaã o de serviços substitutiva naã o pode ser confundida com a obrigaçaã o do infrator de corrigir
as irregularidades apontadas e reparar danos ambientais decorrentes de sua conduta - que saã o
obrigaçoã es autoê nomas, nos termos do art. 225, §3º, CF.

4.3.4.3 Multa Diária – art. 72, III, e §5º, Lei e art. 10 do Dec 6.514/08

Ãplicaé vel no caso de infração que se prolonga no tempo, ateé a sua efetiva cessação ou celebração
de Termo de Compromisso de reparaçaã o de dano.

Nem a Lei nem o Decreto definem “infraçaã o que se prolonga no tempo”. Para Milareé , naã o eé aquela que
se repete diversas vezes (aíé seria reincideê ncia), mas aquela cujos efeitos se protraem no tempo.
Geralmente ocorre em 2 situaçoã es: - operação de atividade sem a licença ambiental exigível; -
funcionamento de atividade não provida de meios adequados para evitar a emissão de
poluentes.

Ãs demais disposiçoã es mencionadas no toé pico da multa simples aplicam-se tambeé m aà multa diaé ria.

4.3.4.4 Apreensão de animais, produtos e subprodutos da fauna e flora,


instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza
utilizados na infração

4.3.4.5 Destruição ou Inutilização do Produto

à apreensaã o estaé prevista na LCÃ, art. 72, IV, e Dec 6514, art. 3º, IV. à destruiçaã o ou inutilizaçaã o do
produto, por sua vez, estaé prevista no art. 72, V, Lei e art. 3º, V, Dec 6.514/08. O art. 72, § 6º, estabelece
que ambas obedeceraã o ao disposto no art. 25.

Ãrt. 25. Verificada a infraçaã o, seraã o apreendidos seus produtos e instrumentos,


lavrando-se os respectivos autos.

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§ 1º Os animais seraã o prioritariamente libertados em seu habitat ou, sendo tal medida
inviaé vel ou naã o recomendaé vel por questoã es sanitaé rias, entregues a jardins zooloé gicos,
fundaçoã es ou entidades assemelhadas, para guarda e cuidados sob a responsabilidade
de teé cnicos habilitados. (Redaçaã o dada pela Lei nº 13.052, de 2014)

§ 2º Ãteé que os animais sejam entregues aà s instituiçoã es mencionadas no § 1o deste


artigo, o oé rgaã o autuante zelaraé para que eles sejam mantidos em condiçoã es adequadas
de acondicionamento e transporte que garantam o seu bem-estar fíésico.

§ 3º Tratando-se de produtos perecíéveis ou madeiras, seraã o estes avaliados e doados a


instituiçoã es cientíéficas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes.

§ 4º Os produtos e subprodutos da fauna naã o perecíéveis seraã o destruíédos ou doados a


instituiçoã es cientíéficas, culturais ou educacionais.

§ 5º Os instrumentos utilizados na praé tica da infraçaã o seraã o vendidos, garantida a sua


descaracterizaçaã o por meio da reciclagem.

4.3.4.6 Suspensão de venda e fabricação do produto - art. 72, VI, e §7º, Lei e
art. 3º, VI, Decreto 6.514/08

Tem por objeto a irregularidade do produto, e naã o de sua fabricaçaã o ou produçaã o. EÉ usualmente
aplicada pelas autoridades competentes para o licenciamento de produtos, como alimentos e
remeé dios.

Em sede ambiental eé pouco utilizada, limitada a produtos que, apesar de naã o sujeitos ao licenciamento
ambiental, possam causar danos ao meio ambiente.

4.3.4.7 Embargo Ou Interdição De Obra Ou Atividade - art. 72, VII, e §7º, Lei e
art. 3º, VII, Decreto 6.514/08

Impede o prosseguimento da obra ou atividade e eé geralmente imposto no caso de edificaçaã o sem


licença. Relativamente aà atividade, equivale aà sançaã o de suspensaã o de atividade.

4.3.4.8 Demolição de obra - art. 72, VIII, e §7º, Lei e art. 3º, VIII, Decreto
6.514/08

EÉ medida extrema, que soé deve ser tomada em caso de irregularidade insanaé vel ou de perigo aà saué de
pué blica ou de grave dano ambiental.

Autoexecutoriedade:

(i) Obra já conclusa: STJ jaé decidiu que a penalidade administrativa de demoliçaã o não é
autoexecutória, ao menos no caso de obra já conclusa, cabendo ao oé rgaã o ambiental postular
autorizaçaã o judicial para a sua execuçaã o. (REsp 789640).

(ii) Casa Habitada: Os atos de políécia saã o executados pela proé pria autoridade administrativa,
independentemente de autorizaçaã o judicial. Se, todavia, o ato de políécia tiver como objeto a
demolição de uma casa habitada, a respectiva execução deve ser autorizada judicialmente e
acompanhada por oficiais de justiça. (REsp 1217234)

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(iii) Interesse de Agir: mesmo que a LCÃ autorize a demoliçaã o de obra como sançaã o aà s infraçoã es
administrativas de cunho ambiental, haé grande poleê mica acerca de sua auto-executoriedade (da
demoliçaã o de obra). Em verdade, revestida ou naã o a sançaã o do referido atributo, a qualquer das partes
(Poder Pué blico e particular) eé dado recorrer aà tutela jurisdicional, porque assim lhe garante a CF, art.
5º, XXXV - notoriamente quando haé forte discussaã o, pelo menos em níével doutrinaé rio, acerca da
possibilidade de a Ãdm Pué blica executar a medida manu militari (REsp 1246443)

4.3.4.9 Suspensão Parcial Ou Total Das Atividades - Art. 72, IX, E §7º, Lei E
Art. 3º, IX, Decreto 6.514/97

EÉ penalidade extremamente severa. Seraé aplicada quando o produto, a obra, a atividade ou o


estabelecimento não estiverem obedecendo às determinações legais ou regulamentares (art. 15
do Decreto).

4.3.4.10 Restritivas De Direitos - Art. 72, XI, E §8º, Lei e Art. 3º, X, Decreto
6.514/08

Ãs sançoã es restritivas de direito saã o: I - suspensaã o de registro, licença ou autorizaçaã o; II -


cancelamento de registro, licença ou autorizaçaã o; III - perda ou restriçaã o de incentivos e benefíécios
fiscais; IV - perda ou suspensaã o da participaçaã o em linhas de financiamento em estabelecimentos
oficiais de creé dito; e V - proibiçaã o de contratar com a Ãdministraçaã o Pué blica, pelo período de até três
anos”.

Saã o penalidades, no fundo, acessoé rias aà pena principal, eis que naã o haé sentido em aplicaé -las
dissociadas da multa ou da suspensaã o de obra ou atividade.

11. DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL. EVOLUÇÃO HISTÓRICA. COMPETÊNCIA.


PROCEDIMENTO. NATUREZA DAS DECISÕES. DELITOS INTERNACIONAIS.

Introdução

O Estatuto de Roma que instituiu o TPI foi firmado em 1998. Ãpoé s a ratificaçaã o míénima de 60 paíéses, o
Estatuto entrou em vigor internacional 2002. O Brasil assinou o tratado do TPI em 2000, tendo
depositado seu instrumento de ratificaçaã o em 2002. No plano externo, o Brasil soé passou a estar
sujeito ao tratado em 1º/9/02, nos termos da regra do art. 126 do Estatuto. No plano interno, foi
ratificado pelo Brasil pelo Decreto Legislativo 112/2002, e promulgado pelo Dec 4388/02. O art. 5º §
4º da CF (EC 45/04) preveê expressamente a submissaã o do Brasil aà jurisdiçaã o do TPI.
O TPI é o primeiro tribunal penal internacional permanente, com sede em Haia, Holanda, com
jurisdiçaã o sobre as pessoas responsaé veis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional,
de acordo com o Estatuto de Roma, e eé complementar aà s jurisdiçoã es penais nacionais. O TPI tem

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personalidade jurídica internacional e possui, igualmente, a capacidade juríédica necessaé ria ao


desempenho das suas funçoã es e aà prossecuçaã o dos seus objetivos, podendo exercer os seus poderes e
funçoã es nos termos do Estatuto, no territoé rio de qualquer Estado Parte e, por acordo especial, no
territoé rio de qualquer outro Estado. Os EUÃ, China, Rué ssia, IÉndia, Israel e maior parte dos Estados
Muçulmanos naã o integram o TPI (dados de 2013), o que diminui sua efetividade.
Objetivo: promover o Direito internacional, julgando os indivíduos e naã o os Estados (tarefa do
Tribunal Internacional de Justiça). É um órgão permanente. Ãs líénguas do TPI saã o: aé rabe, chineê s,
russo, espanhol, franceê s, ingleê s.
Ãssim, não poderão ser réus pessoas jurídicas, como Estados, organismos internacionais ou
ONGs. Ã competeê ncia do TPI abrange “as pessoas responsaé veis pelos crimes de maior gravidade com
alcance internacional” (art. 1) e que, aà data da suposta praé tica do delito, jaé possuíéam 18 (dezoito) anos
de idade (art. 26).
O nascimento de uma jurisdiçaã o permanente universal eé um grande passo em direçaã o da
universalidade dos Direitos Humanos e do respeito ao Direito Internacional.
O Tribunal teraé , no territoé rio dos Estados-partes, os privileé gios e imunidades que se mostrem
necessaé rios ao cumprimento de suas funçoã es. Os juíézes, o Procurador, os Procuradores-Ãdjuntos e o
Secretaé rio gozaraã o, no exercíécio das suas funçoã es ou em relaçaã o a estas, dos mesmos privileé gios e
imunidades reconhecidos aos chefes de missoã es diplomaé ticas.
Estrutura do TPI: 18 juíézes, eleitos pelos Estados-partes, para mandato de nove anos, sem reconduçaã o.
Naã o pode ter dois juíézes da mesma nacionalidade. Compoã e-se dos seguintes oé rgaã os:
1) Procurador: competente para receber e recolher informaçoã es sobre atos de competeê ncia
do TPI, abrir inqueé ritos, com autorizaçaã o do Juíézo de Instruçaã o, bem como para promover a
açaã o penal;
2) Juízo de Instrução: oé rgaã o encarregado de autorizar a abertura de inqueé ritos e para
impugnar a admissibilidade de um caso ou da jurisdiçaã o do TPI; proceder aà instruçaã o
processual preé via ao julgamento em primeira instaê ncia. Competente tambeé m para receber
representaçoã es das víétimas de crimes internacionais;
3) Juízo de Julgamento em Primeira Instância: processaraé e julgaraé o caso;
4) Juízo de Recursos: processaraé e julgaraé apelaçoã es.
Segundo a doutrina, a jurisdiçaã o do TPI eé informada pelos seguintes princíépios, que saã o extraíédos do
texto do Estatuto de Roma:
a) Princípio da subsidiariedade ou da complementariedade: a jurisdiçaã o do TPI eé complementar
ou subsidiaé ria em relaçaã o aà s jurisdiçoã es penais nacionais.
b) Princípio da vedação da dupla acusação ou ne bis in idem: tem a finalidade de impedir que um
indivíéduo seja processado e julgado por um mesmo fato pela jurisdiçaã o nacional e pela jurisdiçaã o do
TPI, salvo se a jurisdiçaã o em outro tribunal: tenha tido por objetivo subtrair o acusado aà sua
responsabilidade criminal por crimes da competeê ncia do Tribunal; ou naã o tenha sido conduzido de
forma independente ou imparcial, em conformidade com as garantias de um processo equitativo
reconhecidas pelo direito internacional, ou tenha sido conduzido de uma maneira que, no caso
concreto, se revele incompatíével com a intençaã o de submeter a pessoa aà açaã o da justiça.
c) princípio da legalidade: a mesma ideia de legalidade admitida pelo direito penal brasileiro.
d) princípio da não retroatividade do Estatuto.
e) princípio da responsabilidade criminal individual: o TPI julga indivíéduos, logo, a
responsabilidade pelos crimes cometidos eé do indivíéduo. Naã o diz respeito ao TPI se o Estado seraé ou
naã o responsabilizado, no aê mbito internacional, por crimes cometidos em seu territoé rio.
f) exclusão da jurisdição para menores de 18 anos: leva-se em conta a data da praé tica criminosa,
isto eé , se tinha ou naã o 18 anos no momento da conduta.
g) irrelevância da qualidade oficial: o TPI naã o leva em conta as imunidades conferidas pelo direito
interno a pessoas ocupantes de cargo ou funçaã o pué blica ou que exercem de mandato eletivo.

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h) responsabilidade dos chefes militares ou dos superiores hierárquicos: no caso de


cometimento de crimes por militares de baixo escalaã o ou subordinados, seraã o tambeé m
responsabilizados os chefes militares ou superiores hieraé rquicos, seja porque deram a ordem, seja
pela falta de comando sobre seus subordinados.
i) imprescritibilidade: os delitos da competeê ncia do Tribunal naã o prescrevem pelo decurso do
tempo.
j) presunção de inocência.
k) ampla defesa e contraditório.
l) isonomia processual ou paridade de armas.
m) razoável duração do processo.
n) não produção de provas contra si mesmo: que tem implíécito o direito ao sileê ncio.
o) proteção de vítimas e de testemunhas.
p) publicidade das audiências: a publicidade pode ser restringida quando for o caso, por exemplo,
de proteger testemunhas ou víétima ou confidencialidade da prova.
q) Princíépio da responsabilidade criminal subjetiva: Excluem a responsabilidade as circunstaê ncias do
art. 31 do Estatuto: a) Enfermidade, deficieê ncia mental ou Intoxicaçaã o, desde que privem a pessoa da
sua capacidade de avaliar a ilicitude ou a natureza da conduta ou de controlaé -la; b) Legíétima defesa de
si ou de outrem; c) Coaçaã o decorrente de uma ameaça iminente de morte ou de ofensas corporais
graves para si ou para outrem; d) Erro de fato, se eliminar o dolo.
Obs.1: o ERRO DE DIREITO poderaé ser considerado fundamento de exclusaã o de responsabilidade
criminal se eliminar o dolo requerido pelo crime ou se decorrer de decisaã o emanada do superior
hieraé rquico (art. 32).
Obs.2: a OBEDIEÊ NCIÃ Ã ORDENS SUPERIORES naã o exclui a responsabilidade, salvo nas seguintes
condiçoã es: quando a pessoa esteja obrigada por lei a obedecer as decisoã es superiores; quando a
pessoa naã o tenha conhecimento da ilegalidade; quando a decisaã o naã o for manifestamente ilegal.
Princíépio da punibilidade da tentativa: Ã tentativa tambeé m eé puníével no TPI.

Aparentes antinomias entre o Estatuto de Roma e a Constituição brasileira:


a) entrega dos nacionais ao Tribunal: a CF veda a extradiçaã o dos nacionais, naã o a entrega (surrender).
b) instituiçaã o da pena de prisaã o perpeé tua: opçaã o interna do Brasil, naã o havendo conflito com o fato de
o Brasil participar de Tratado Internacional que preveja tal pena no aê mbito do TPI.
c) a questaã o das imunidades em geral e as relativas ao foro por prerrogativa de funçaã o: soé saã o vaé lidas
no aê mbito interno do Paíés. O Estatuto de Roma estabeleceu regra clara segundo a qual tais imunidades
e privileé gios naã o prevalecem no aê mbito do TPI.
d) a questaã o da reserva legal: naã o haé qualquer conflito neste campo, pois o Estatuto de Roma preveê os
princíépios nullum crimen sine lege e nulla poena sine lege.
e) a questaã o da coisa julgada: a coisa julgada no Brasil prevaleceraé , salvo se o TPI entender que o
Estado brasileiro tenha querido subtrair o acusado aà sua responsabilidade criminal por crimes da
competeê ncia do TPI, naã o conduzindo o processo de forma independente e imparcial.

Evolução Histórica

Historicamente, a primeira tentativa de estabelecimento de uma jurisdiçaã o penal internacional


ocorreu com o Tratado de Versalhes, que poê s fim aà Primeira Guerra Mundial. Com base neste tratado
surge a primeira possibilidade de submeter um criminoso de guerra a um Tribunal Internacional.
No Poé s-Segunda Guerra Mundial, marco principal da Histoé ria do Direito Internacional Penal, deu-se o
estabelecimento dos Tribunais de Nuremberg e de Toé quio. O Tribunal Internacional Militar dos
Grandes Criminosos de Guerra, o conhecido Tribunal de Nuremberg, foi estabelecido 1945 e formado
pelos 4 paíéses vencedores, que atuariam no interesse da comunidade internacional. O Julgamento de

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Nuremberg estendeu-se de 20/11/1945 a 1º/10/1946. Nos moldes de Nuremberg, em 19/1/1946 foi


criado o Tribunal de Toé quio para julgar e punir os criminosos de guerra do Extremo Oriente.
Em Nuremberg e Toé quio, os reé us foram julgados por crimes de guerra, crimes contra a paz e crimes
contra a Humanidade, estes ué ltimos, pela primeira vez definidos em Nuremberg (alvo de muitas
críéticas, tendo em vista a inexisteê ncia preé via de tipificaçaã o, uma exigeê ncia baé sica do Direito Penal). Ã
Ãssembleia Geral da ONU confirma, em 11/12/46, as definiçoã es e os princíépios reconhecidos pelo
Tribunal de Nuremberg e de Toé quio, por meio de seus Estatutos e sentenças, como princíépios do
Direito Internacional, que deveriam ser posteriormente sistematizados e codificados, dando iníécio,
assim, a um regime especíéfico e distinto de responsabilidade, que passaria a ser o Direito
Internacional Penal. Em 1948, outro marco importante eé a Convençaã o das Naçoã es Unidas para a
prevençaã o e repressaã o do crime de genocíédio, que trouxe a definiçaã o do crime de genocíédio, utilizada
em diversos documentos posteriores, como no Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional.
à deé cada de 90, assim como a fase Poé s-Segunda Guerra, foi um momento de importaê ncia fundamental
para o desenvolvimento do direito internacional penal. Em 1993, foi criado, por força de Resoluçaã o do
Conselho de Segurança, o Tribunal Internacional Penal para a antiga Iugoslaé via, a fim de julgar as
pessoas acusadas de graves violaçoã es ao Direito Internacional Humanitaé rio, crime de genocíédio e
contra a humanidade, cometidos naquela regiaã o a partir de 1991. Esse Tribunal continua em atuaçaã o
(com sede em Haia) e vem produzindo Jurisprudeê ncia fundamental para o Direito Internacional Penal.
Em 1994, tambeé m por iniciativa do Conselho de Segurança, foi criado o Tribunal de Ruanda, com sede
em Ãrusha, na Tanzaê nia, com competeê ncia para julgar os crimes de genocíédio e violaçoã es ao Direito
Internacional Humanitaé rio, ocorridos a partir de 1990 naquele paíés. Ãinda em 1994, o Projeto de
Estatuto para uma Corte Permanente Internacional, elaborado pela Comissaã o de Direito Internacional
da ONU, foi apresentado na 49ª Ãssembleé ia Geral das Naçoã es Unidas. Ã Comissaã o sugere entaã o a
convocaçaã o de uma confereê ncia internacional para discussaã o e aprovaçaã o da Convençaã o. Ã partir de
1995, um Comiteê procedeu aà elaboraçaã o final do que seria a futura Convençaã o de Roma, negociada e
aprovada em 1998, e que estabeleceu, finalmente, uma jurisdiçaã o permanente para julgar os crimes de
guerra, contra a paz, contra a Humanidade e os de genocíédio. Em 2001, foram criados, no Timor Leste
(1999) e no Camboja (Khmer Vermelho-1975-1979), os chamados "Tribunais Nacionais
Internacionalizados" uma experieê ncia ineé dita de parceria, entre a ONU e os paíéses envolvidos, para
dotar os tribunais nacionais de condiçoã es, a fim de julgar os crimes internacionais cometidos nesses
paíéses.
Finalmente, em 2002, entrou em vigor o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional e as
discussoã es acerca da puniçaã o dos crimes de guerra e contra a humanidade passaram a ser
reconhecidas como um dos assuntos mais importantes para a comunidade internacional. Segundo
Itamaraty, “Todos os 21 casos examinados no Tribunal dizem respeito a situaçoã es ocorridas em oito
paíéses africanos. Ãteé março de 2014, houve apenas duas condenaçoã es – em 2012, envolvendo Thomas
Lubanga Dyilo e em 2014, de Germain Katanga, ambas no contexto da situaçaã o na Repué blica
Democraé tica do Congo. Sete outras situaçoã es estaã o sendo investigadas pela Promotoria do TPI”.

Competência e Delitos Internacionais


O TPI soé teraé competeê ncia ratione temporis relativamente aos crimes cometidos apoé s a entrada em
vigor do Estatuto de Roma. O TPI possui competeê ncia (rectius jurisdiçaã o) ratione personae quanto a
pessoas fíésicas apenas, independente da nacionalidade, excetuadas aquelas que, aà data da alegada
praé tica do crime, ainda naã o tenham completado 18 anos. Ã competeê ncia ratione loci poderaé ser
exercida em relaçaã o a fatos cometidos no territoé rio de qualquer Estado parte e, por acordo especial, no
territoé rio de qualquer outro Estado. Ã competeê ncia ratione materiae do Tribunal restringir-se-aé aos
crimes mais graves, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto. Segundo o Estatuto, o
Tribunal tem competeê ncia para julgar os seguintes crimes:
a) Genocídio - qualquer um dos atos que a seguir se enumeram, praticado com intençaã o de
destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal: 1)
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Homicíédio de membros do grupo; 2) Ofensas graves aà integridade fíésica ou mental de membros do


grupo; 3) Sujeiçaã o intencional do grupo a condiçoã es de vida com vista a provocar a sua destruiçaã o
fíésica, total ou parcial; 4) Imposiçaã o de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do
grupo; 5) Transfereê ncia, aà força, de crianças do grupo para outro grupo.
b) Crimes contra a humanidade - qualquer um dos atos listados no art. 7º, § 1º, do Estatuto
(homicíédio, extermíénio, escravidaã o, deportaçaã o/transfereê ncia forçada, etc), quando cometido no
quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo
conhecimento desse ataque.
c) Crimes de guerra - quando cometidos como parte integrante de um plano ou de uma políética
ou como parte de uma praé tica em larga escala desses tipos de crimes (art. 8º, § 2º): – 1) Violações
graves às Convenções de Genebra, de 1949 (alíénea “a”); 2) Outras violações graves das leis e
costumes aplicáveis em conflitos armados internacionais no âmbito do direito internacional
(alíénea “b”); 3) conflito armado que não seja de índole internacional (ou seja, naã o previsto no art.
3º comum aà s quatro Convençoã es de Genebra), mediante atos cometidos contra pessoas que não
participem diretamente nas hostilidades, salvo distué rbio e tensaã o internas, tais como motins, atos
de violeê ncia esporaé dicos ou isolados ou outros de caraé ter semelhante (alíénea “c” e “d”); 4) Outras
violações graves das leis e costumes aplicáveis aos conflitos armados que não têm caráter
internacional (ressalvados meros distué rbios e tensoã es internas), incluindo aqueles conflitos
armados prolongados entre as autoridades governamentais e grupos armados organizados ou
entre estes grupos, que tenham lugar no território de um Estado.
d) Crime de agressão – Naã o definido originalmente pelo Estatuto. O texto da Resoluçaã o RC/RES.6,
adotada pela Confereê ncia de Revisaã o do Estatuto de Roma em 11/6/2010, que apresenta emenda ao
texto do Estatuto, encontra-se, atualmente, em processo de incorporaçaã o ao ordenamento juríédico
brasileiro. Segundo a referida Resoluçaã o, considera-se que uma ou mais pessoas cometem um crime
de agressaã o quando, estando em condições de controlar ou dirigir efetivamente a ação política
ou militar de um Estado, planejam, preparam, iniciam ou praticam ato de agressão que, por suas
caracteríésticas, gravidade e dimensaã o, venha a constituir violaçaã o manifesta da Carta das Naçoã es
Unidas. Entende-se por “ato de agressaã o” o uso de força armada por parte de um Estado contra a
soberania, integridade territorial ou independência política de outro Estado, ou de qualquer
outra forma incompatível com a Carta das Nações Unidas.
Os crimes saã o considerados IMPRESCRITÍVEIS.
à doutrina define crimes internacionais como “atos, cometidos por indivíduos ou por Estados, que
violam princípios e regras que protegem valores aos quais a humanidade decidiu atribuir
importância maior. Fundamentalmente, consideram-se crimes internacionais ofensas a normas
essenciais para a manutenção da paz, para a garantia do princípio da autodeterminação dos
povos e para a proteção da dignidade humana e do meio ambiente. Via de regra, tais crimes
encontram-se tipificados em tratados internacionais” (PORTELÃ).

Procedimento
à provocaçaã o da jurisdiçaã o do TPI ser feita pelo Procurador, pelo Conselho de Segurança ou pelo
Estado-parte. EÉ o Procurador que analisa a existeê ncia dos requisitos para a instauraçaã o de inqueé rito.
O processo eé dividido em 2 fases:
1ª) EÉ a fase investigatória, realizada pela Procuradoria, atraveé s do inqueé rito, ao levantar os fatos e as
provas. Haé o exame das provas obtidas, interrogatoé rio das testemunhas, víétimas e supostos agentes.
à Procuradoria eé um órgão independente do TPI. O exercíécio da açaã o penal eé confiado ao
Procurador. Ele decide se inicia ou se prossegue um procedimento criminal. Entendendo haver
indíécios criminais da competeê ncia do TPI, o Procurador pede uma autorizaçaã o ao Juíézo de Instruçaã o
para iniciar a açaã o penal. Se este negar, mas houver novos fatos e/ou novas provas, o Procurador pode
formular novo pedido.

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Quando houver indíécios suficientes da autoria, o Procurador pode requerer a expediçaã o de um


mandado de prisaã o ao Juíézo de Instruçaã o quando o suposto autor do crime possa dificultar a
realizaçaã o do inqueé rito ou possa continuar a cometer o crime.
Se o Procurador entender que naã o haé indíécios suficientes para prosseguir com a açaã o, deve comunicar
ao Conselho de Segurança ou ao Estado-parte, as razoã es que o levaram a esta decisaã o. Naã o haé
subordinaçaã o, haé um equilíébrio entre os poderes do Procurador e o Juíézo de Instruçaã o. Ã decisaã o do
Juíézo de Instruçaã o que solicita ao Procurador que “reconsidere” sua decisaã o de naã o iniciar o inqueé rito
ou de naã o exercer a açaã o penal, naã o obriga que este mude sua posiçaã o anterior.
O Juíézo de Instruçaã o decide sobre o prosseguimento do feito e toma as primeiras provideê ncias para
processar o acusado. Ã fase do inqueé rito ocorrida no Juíézo de Instruçaã o termina com uma audieê ncia
onde se declara a procedeê ncia ou naã o da acusaçaã o.
2ª) EÉ a fase jurisdicional. Nesta fase, o juíézo de 1ª instaê ncia realiza uma audieê ncia pué blica e daé cieê ncia
ao acusado sobre os fatos que lhe estaã o sendo imputados em idioma que ele entenda e que fale de
forma fluente. Caso o processo seja realizado aà revelia, deve-se-lhe nomear um defensor.
O acusado naã o eé obrigado a produzir provas contra si mesmo. Pode contestar as provas presentes nos
autos e produzir outras. Se o acusado admitir a culpa (reé u confesso), haé um procedimento especial
prevista no artigo 65, praé tica comum nos paíéses que adotam a Commom Law. Naã o havendo confissaã o, o
procedimento segue obedecendo aos princíépios gerais do processo, como a presunçaã o de inoceê ncia e a
ampla defesa, naã o limitando a produçaã o de provas. Ãpoé s a avaliaçaã o das provas e findando os
procedimentos, haé a prolaçaã o da sentença.
à sentença eé dada por escrito e fundamentada de acordo com as provas constantes nos autos e quando
naã o unaê nime, conteraé o pronunciamento de todos os julgadores. Sendo condenatoé ria, haé 3 espeé cies de
pena: prisaã o ateé 30 anos ou prisaã o perpeé tua, dependendo da gravidade do fato ou condiçoã es pessoais
do condenado; multa; perda de produtos, bens e haveres provenientes do crime. Ã multa e o confisco
de bens e haveres podem ser acrescidos aà pena de reclusaã o. Não há condenação a pena de morte. O
Tribunal naã o possui sistema prisional, as penas saã o cumpridas em Estado a ser indicado pelo Tribunal.
Entende-se que a condenaçaã o de um brasileiro e sua entrega (surrender) ao tribunal, para
cumprimento de pena, naã o configura extradiçaã o.
à sentença, seja ela condenatoé ria ou absolutoé ria, eé passíével de apelaçaã o ao Juíézo de Recurso da Seçaã o
de Recurso do Tribunal, quando houver víécios processuais, erro de fato, erro de direito ou outro
motivo que afete a equidade ou a regularidade do processo ou da sentença. Tambeé m saã o passíéveis de
apelaçaã o a sentença em que houver desproporçaã o entre o crime e a pena aplicada e a decisaã o que
autoriza ou naã o o livramento do indivíéduo.
O Juíézo de Recurso da Seçaã o de Recurso do Tribunal poderaé reformar a decisaã o do Juíézo de 1ª
instaê ncia ou a este reenviaé -la quando se tratar de questoã es de fato para depois julgaé -la. EÉ tambeé m de
sua competeê ncia revisar a sentença condenatoé ria quando houver fato novo e revisar a pena aplicada
quando do cumprimento de 2/3 da pena ou de 25 anos quando se tratar de prisaã o perpeé tua.
O andamento processual deve atender aos direitos de defesa, assim como a proteçaã o das víétimas e das
testemunhas.
O Estatuto atribui ao Conselho de Segurança das Naçoã es Unidas a faculdade de solicitar ao Tribunal,
segundo o disposto no Capíétulo VII da Carta da ONU, que naã o inicie ou que suspenda o inqueé rito ou o
processo que tiver sido iniciado, por prazo naã o superior a doze meses. Esta solicitaçaã o pode ser
renovada por períéodos iguais, ficando o Tribunal obrigado a obedeceê -la.

Natureza das Decisões


O TPI naã o profere apenas sentenças, mas vaé rias outras decisoã es no curso de um procedimento, por
exemplo, decisoã es de detençaã o e entrega (surrender) de uma pessoa para fins de julgamento. Frise-se
que a entrega (de Estado para o TPI) naã o se confunde com extradiçaã o (de Estado para Estado), logo, o
brasileiro, naturalizado ou nato, poderaé ser preso e entregue para ser julgado pelo TPI (princíépio da
cooperaçaã o internacional). Ãleé m disso, segundo MÃZZUOLI, a sentença do TPI (emanada de um
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tribunal quem tem jurisdiçaã o sobre Estados) naã o se caracteriza como sentença estrangeira (aquela
proferida por um Tribunal afeto aà soberania de um Estado). Logo, as sentenças e decisoã es do TPI saã o
obrigatoé rias e diretamente aplicadas no Brasil, independentemente de homologaçaã o, extradiçaã o ou
exequatur, bastando uma simples petiçaã o para que o Brasil deê cumprimento aà ordem proferida. O
pedido de prisaã o e entrega de algueé m ao TPI deve ser dirigido aà Justiça Federal de primeira instaê ncia
do domicíélio do acusado (art. 109, II e III, da CF).

12. DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATOS EMPRESARIAIS: FRANQUIA (FRANCHISING). FATURIZAÇÃO


(FACTORING). ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING). CARTÃO DE CRÉDITO.

a. Contratos mercantis
Os contratos mercantis ou empresariais saã o entendidos como aqueles firmados entre empresários,
no exercíécio de atividade econoê mica organizada para a produçaã o ou a circulaçaã o de bens ou de
serviços.
Os contratos entre empresaé rios podem eventualmente se submeter aà s regras do CDC, bastando para
tanto que um dos contratantes assuma a posiçaã o de consumidor. O STJ tem admitido a aplicaçaã o do
CDC a relaçoã es entre empresaé rios quando fica caracterizada a vulnerabilidade teé cnica, juríédica ou
econoê mica de uma das partes. Os contratos empresariais que naã o se enquadram nessa situaçaã o saã o
chamados, segundo Santa Cruz Ramos, de estritamente empresariais.
Por outro turno, parte da doutrina comercialista critica a submissaã o de contratos cíéveis e contratos
empresariais a uma mesma “teoria geral” no campo obrigacional, a ponto de ter iniciado um
movimento em defesa de um novo Coé digo Comercial (PL 1.572/11). Com efeito, os contratos
empresariais se caracterizam pela simetria natural entre os contratantes, naã o se podendo se-
lhes aplicar certas regras do NCC que limitam ou relativizam a imprescindíével liberdade para a
celebraçaã o de contratos (Santa Cruz Ramos).
Nesse sentido, confiram-se os seguintes enunciados da I Jornada de Direito Comercial do CJF:
Enunciado 21. “Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado, tendo em vista
a simetria natural das relações interempresariais”
Enunciado 28. “Em razão do profissionalismo com que os empresários devem exercer sua atividade,
os contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da lesão fundada na inexperiência.”
De toda sorte, desde sua formaçaã o, passando pela execuçaã o e ateé a sua definitiva resoluçaã o, o contrato
empresarial se submete a uma seé rie de princíépios norteadores, atualmente disciplinados pelo NCC:

PRINCÍPIOS CONTRATUAIS
AUTONOMIA DA VONTADE
Confere liberdade de contratar e a liberdade contratual, mas eé relativizado pelo dirigismo contratual
(o contrato deve atender a sua funçaã o social e naã o pode contrariar preceitos de ordem pué blica).
OBS: En 21/CJF e En 26/CJFCom: “ O contrato empresarial cumpre sua função social quando não
acarreta prejuízo a direitos ou interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não
participantes da relação negocial”

ATIPICIDADE

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Trata-se de outra perspectiva da autonomia da vontade, segundo a qual eé líécito as partes celebrar
contratos atíépicos. Haé maior liberdade quando prevalece a atipicidade contratual. Nos contratos
tíépicos, tais como representaçaã o comercial e franquia, a liberdade contratual dos empresaé rios diminui
significativamente.

CONSENSUALISMO
O mero acordo de vontades eé suficiente para a formaçaã o dos contratos. EÉ excepcionado nos contratos
solenes e reais.

RELATIVIDADE
O contrato soé vale entre as partes (aspecto subjetivo) e naã o se estende aleé m de seu objeto (aspecto
objetivo) – eé relativizado pela boa-fé objetiva.
Uma questaã o interessante acerca do princíépio da relatividade se daé em funçaã o da aplicaçaã o da
chamada teoria da apareê ncia. Segundo a teoria da aparência, determinada situaçaã o pode gerar
obrigaçoã es para terceiros quando o contratante, de boa-feé , tinha razoã es efetivas para tomaé -la por real.
Essa teoria eé comum nas hipoé teses de excesso de mandato, continuaçaã o de fato de mandato findo,
inobservaê ncia de diretrizes do representado pelo representante etc. Orlando Gomes admite até
mesmo a responsabilização do empresário por atos praticados por falso representante,
quando a aparência de direito poderia enganar um contratante médio. A teoria da aparência é
cada vez mais adotada pelo STJ como corolário da boa-fé objetiva.

BOA-FÉ
Ãs partes devem agir com probidade e todo contrato gera deveres implíécitos, decorrentes da sua
proé pria natureza. Ã boa-feé objetiva foi expressamente prevista no CC.
à propoé sito, naã o se deve fazer prevalecer, sobre a real intençaã o das partes, apenas o que estaé
eventualmente escrito no acordo firmado.
Jornadas de Direito Civil do CJF:
En. 168: “o princípio da boa- fé objetiva importa no reconhecimento de um direito a cumprir em
função do titular passivo da obrigação.”
En. 169: “O princípio da boa-fé deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo”.
En. 170: “a boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e
após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.”
En 27 da Jorndada Comecial: “Não se presume violação à boa-fé objetiva se o empresário,
durante as negociações do contrato empresarial, preservar segredo de empresa ou administrar
a prestação de informações reservadas, confidenciais ou estratégicas, com o objetivo de não colocar
em risco a competitividade de sua atividade.”

FORÇA OBRIGATÓRIA
Ãs partes podem exigir, uma da outra, que cumpram a prestaçaã o prometida. Mas esta eé excepcionada
pela claé usula “rebus sic stantibus”, representadas pela teoria da imprevisaã o nos contratos comutativos.
No aê mbito dos contratos empresariais, eé temeraé ria a utilizaçaã o da teoria da imprevisaã o. STJ jaé negou a
aplicaçaã o da teoria da imprevisaã o em contratos empresariais, em casos de variaçaã o cambial, dentre
outras situaçoã es normais aà s atividades dos empresaé rios.
Enunciados da I Jornada D. Comercial do CJF:
En. 23. “Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer parâmetros
objetivos para a interpretação dos requisitos de revisão e/ou resolução do pacto contratual.”
En. 25. “A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no Código Civil deve levar em
conta a natureza do objeto do contrato. Nas relações empresariais, deve-se presumir a
sofisticação dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles acordada.”

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OBS: Os contratos bilaterais conteê m, implíécita, a claé usula da “exceptio non adimpleti contractus”, pela
qual uma parte naã o pode exigir o cumprimento do contrato pela outra, se estiver em mora em relaçaã o
aà sua proé pria prestaçaã o. Essa teoria pode ser aplicada aos contratos empresariais. Nesse sentido, cite-
se o En. 24/CJFCom:
24. Os contratos empresariais coligados, concretamente formados por unidade de interesses
econoê micos, permitem a arguiçaã o da exceçaã o de contrato naã o cumprido, salvo quando a
obrigaçaã o inadimplida for de escassa importaê ncia.

Por ué ltimo, cabe acrescentar que a propalada socializaçaã o do contrato, provocada pelo CC/02, por
meio da consagraçaã o dos princíépios da funçaã o social dos contratos e a boa-feé objetiva, tem dado ensejo
aà aplicaçaã o da teoria do adimplemento substancial, inclusive no aê mbito dos contratos empresariais, o
que eé criticado por parte da doutrina (Santa Cruz Ramos).
En. 586: “O reconhecimento do adimplemento substancial impede o exercício do direito de
resolução por parte do credor. Para a sua caracterização, deve-se levar em conta aspectos
quantitativos e qualitativos, a serem extraídos dos valores do ordenamento e da cláusula geral
da boa-fé objetiva”.

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃÃ O DE TIÉTULO EXTRÃJUDICIÃL. CONTRÃTO DE FINÃNCIÃMENTO PÃRÃ


ÃQUISIÇÃÃ O DE BEM COM ÃLIENÃÇÃÃ O FIDUCIÃÉ RIÃ. CLÃÉ USULÃ PREVENDO Ã VENDÃ DO BEM.
ÃJUIZÃMENTO DE EXECUÇÃÃ O EXTRÃJUDICIÃL PÃRÃ COBRÃR Ã DIÉVIDÃ REMÃNESCENTE.
ÃDIMPLEMENTO SUBSTÃNCIÃL. POSSIBILIDÃDE. SENTENÇÃ EXTINTIVÃ DESCONSTITUIÉDÃ. 1. Ã
orientaçaã o jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça eé no sentido de manter o bem na posse do
devedor, caso se constate o adimplemento substancial da díévida. 2. No caso, está configurado o
adimplemento substancial, considerando que foram pagas 35 (trinta e cinco) parcelas das 48
(quarenta e oito) a que o mutuário se comprometeu. 3. Nessas circunstaê ncias, revela-se legíétimo o
ajuizamento de execuçaã o para cobrança do deé bito remanescente do financiamento bancaé rio, tendo em
vista que o Decreto-lei 911/69 daé ao credor treê s opçoã es ante o inadimplemento do devedor com o
contrato de alienaçaã o fiduciaé ria: vender o bem alienado fiduciariamente (art. 2º), promover sua busca
e apreensaã o (art. 3º) ou ajuizar açaã o executiva (arts. 4º e 5º). 4. Ã opçaã o de ajuizamento da execuçaã o
feita pela credora coaduna-se com a norma do art. 620 do CPC, na medida em que naã o retira do
devedor a posse do bem alienado fiduciariamente (caê mara frigoríéfica) que fora instalada em seu
estabelecimento e utilizada para sua atividade empresarial. 5. Ã sentença que indeferiu a petição
inicial da execução tão somente por existir cláusula contratual prevendo a venda do bem no
caso de inadimplemento contratual e a aplicação do produto da venda na solução da dívida
(cláusula 9.6) deve ser desconstituída. 6. Ãpelaçaã o da Caixa a que se daé provimento, para anular a
sentença extintiva e remeter os autos aà origem para o regular prosseguimento da execuçaã o. (ÃC
00721440420104013800, NEÉ VITON, 2015)

OBS: Ãlguns autores dizem naã o haver mais contratos mercantis solenes, pois a dinaê mica empresarial eé
incompatíével com a submissaã o de contratos a determinadas formalidades especíéficas. Outros apontam
que alguns contratos ainda saã o solenes, tal como o contrato de seguro.

Enunciados das Jornadas de Direito Comercial do CJF


OBRIGAÇÕES EMPRESARIAIS E CONTRATOS
20. Naã o se aplica o Coé digo de Defesa do Consumidor aos contratos celebrados entre empresaé rios em
que um dos contratantes tenha por objetivo suprir-se de insumos para sua atividade de produçaã o,
comeé rcio ou prestaçaã o de serviços.
21. Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado, tendo em vista a simetria
natural das relaçoã es interempresariais.
22. Naã o se presume solidariedade passiva (NCC, art. 265) pelo simples fato de duas ou mais pessoas
juríédicas integrarem o mesmo grupo econoê mico.
23. Em contratos empresariais, eé líécito aà s partes contratantes estabelecer paraê metros objetivos para a
interpretaçaã o dos requisitos de revisaã o e/ou resoluçaã o do pacto contratual.
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24. Os contratos empresariais coligados, concretamente formados por unidade de interesses


econoê micos, permitem a arguiçaã o da exceçaã o de contrato naã o cumprido, salvo quando a obrigaçaã o
inadimplida for de escassa importaê ncia.
25. Ã revisaã o do contrato por onerosidade excessiva fundada no NCC deve levar em conta a natureza
do objeto do contrato. Nas relaçoã es empresariais, deve-se presumir a sofisticaçaã o dos contratantes e
observar a alocaçaã o de riscos por eles acordada.
26. O contrato empresarial cumpre sua funçaã o social quando naã o acarreta prejuíézo a direitos ou
interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos naã o participantes da relaçaã o negocial.
27. Naã o se presume violaçaã o aà boa-feé objetiva se o empresaé rio, durante as negociaçoã es do contrato
empresarial, preservar segredo de empresa ou administrar a prestaçaã o de informaçoã es reservadas,
confidenciais ou estrateé gicas, com o objetivo de naã o colocar em risco a competitividade de sua
atividade. 28. Em razaã o do profissionalismo com que os empresaé rios devem exercer sua atividade, os
contratos empresariais naã o podem ser anulados pelo víécio da lesaã o fundada na inexperieê ncia.
29. Ãplicam-se aos negoé cios juríédicos entre empresaé rios a funçaã o social do contrato e a boa-feé objetiva
(arts. 421 e 422 do Coé digo Civil), em conformidade com as especificidades dos contratos empresariais.
30. Nos contratos de shopping center, a claé usula de fiscalizaçaã o das contas do lojista eé justificada
desde que as medidas fiscalizatoé rias naã o causem embaraços aà atividade do lojista.
31. O contrato de distribuiçaã o previsto no art. 710 do Coé digo Civil eé uma modalidade de ageê ncia em
que o agente atua como mediador ou mandataé rio do proponente e faz jus aà remuneraçaã o devida por
este, correspondente aos negoé cios concluíédos em sua zona. No contrato de distribuiçaã o auteê ntico, o
distribuidor comercializa diretamente o produto recebido do fabricante ou fornecedor, e seu lucro
resulta das vendas que faz por sua conta e risco. 54
32. Nos contratos de prestaçaã o de serviços nos quais as partes contratantes saã o empresaé rios e a
funçaã o econoê mica do contrato estaé relacionada com a exploraçaã o de atividade empresarial, as partes
podem pactuar prazo superior a quatro anos, dadas as especificidades da natureza do serviço a ser
prestado, sem constituir violaçaã o do disposto no art. 598 do Coé digo Civil.
33. Nos contratos de prestaçaã o de serviços nos quais as partes contratantes saã o empresaé rios e a
funçaã o econoê mica do contrato estaé relacionada com a exploraçaã o de atividade empresarial, eé líécito aà s
partes contratantes pactuarem, para a hipoé tese de denué ncia imotivada do contrato, multas superiores
aà quelas previstas no art. 603 do Coé digo Civil.
34. Com exceçaã o da garantia contida no artigo 618 do Coé digo Civil, os demais artigos referentes, em
especial, ao contrato de empreitada (arts. 610 a 626) aplicar-se-aã o somente de forma subsidiaé ria aà s
condiçoã es contratuais acordadas pelas partes de contratos complexos de engenharia e construçaã o, tais
como EPC, EPC-M e Ãliança.
35. Naã o haveraé revisaã o ou resoluçaã o dos contratos de derivativos por imprevisibilidade e onerosidade
excessiva (arts. 317 e 478 a 480 do Coé digo Civil).
36. O pagamento da comissaã o, no contrato de corretagem celebrado entre empresaé rios, pode ser
condicionado aà celebraçaã o do negoé cio previsto no contrato ou aà mediaçaã o ué til ao cliente, conforme os
entendimentos preé vios entre as partes. Na auseê ncia de ajuste ou previsaã o contratual, o cabimento da
comissaã o deve ser analisado no caso concreto, aà luz da boa-feé objetiva e da vedaçaã o ao enriquecimento
sem causa, sendo devida se o negoé cio naã o vier a se concretizar por fato atribuíével exclusivamente a
uma das partes.
37. Ãos contratos de transporte aeé reo internacional celebrados por empresaé rios aplicam-se as
disposiçoã es da Convençaã o de Montreal e a regra da indenizaçaã o tarifada nela prevista (art. 22 do Dec
5910/06).
38. EÉ devida devoluçaã o simples, e naã o em dobro, do valor residual garantido (VRG) em caso de
reintegraçaã o de posse do bem objeto de arrendamento mercantil celebrado entre empresaé rios.

OBRIGAÇÕES EMPRESARIAIS E CONTRATOS

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68. No contrato de comissaã o com claé usula del credere, responderaé solidariamente com o terceiro
contratante o comissaé rio que tiver cedido seus direitos ao comitente, nos termos da parte final do art.
694 do Coé digo Civil.
Justificativa: O enunciado tem por objetivo conciliar os arts. 694 e 698 do NCC. A cláusula del credere
afasta a irresponsabilidade presumida do comissário, prevista no art. 697 do NCC, tornando-o
responsável perante o comitente do cumprimento da obrigação assumida e descumprida pelo
terceiro. Ã princíépio, naã o pode haver solidariedade entre o comissaé rio e o terceiro que com ele
contratou perante o comitente, porque o art. 694 do Coé digo Civil dispoã e que naã o haveraé direito de açaã o
do comitente em face das pessoas com quem o comissaé rio contratar, mesmo que no interesse daquele.
O del credere naã o pode vincular o terceiro ao contrato de comissaã o porque este dele naã o tem
conhecimento e os efeitos naã o se estendem aà compra e venda (princíépio da relatividade dos
contratos). Ãssim, o comissaé rio somente se constituiraé garante solidaé rio ao terceiro por força do del
credere se houver cedido seus direitos ao comitente, nos termos do que faculta a parte final do art.
694 do NCC.

i. Franquia / Franchising

Origem: Singer Sewig Machine (1860), seguida de Coca-Cola e GM no final do Seé c. XIX e McDonalds
apoé s. Importaê ncia das franquias como forma de empregar pessoas desmobilizadas no poé s guerra.
Conceito da Lei 8.955/94, art. 2º: “franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao
franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou
semiexclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, ao direito de uso da tecnologia implantação e
administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos pelo franqueado [...]”
O contrato de franquia envolve: a) licença de uso de marca ou patente; b) distribuição exclusiva ou
semiexclusiva de produtos ou serviços; e c) transferência de “know how” – conhecimento teé cnico.
Para parte da doutrina, os itens “b” e “c” podem ser resumidos em organizaçaã o empresarial. Ã
propoé sito, o franqueador presta ao franqueado serviços de organizaçaã o empresarial, que se
desdobram basicamente em treê s contratos especíéficos: i) engineering, por meio do qual o franqueador
orienta o franqueado em todo o processo de montagem e planejamento do seu estabelecimento; ii)
management, mediante o qual o franqueador orienta o franqueado no treinamento de sua equipe de
funcionaé rios e na gereê ncia de sua atividade; iii) marketing, por meio do qual o franqueador orienta o
franqueado quanto aos procedimentos de divulgaçaã o e promoçaã o dos produtos comercializados.
No contrato em questaã o, haé , portanto, duas pessoas empresaé rias distintas: franqueador e franqueado.

1. Contrato de franquia

O art. 6º da Lei 8.955/94 preveê que o contrato franquia deve ser celebrado por escrito e assinado na
presença de 2 testemunhas. Teraé validade independentemente de registro perante cartoé rio ou
oé rgaã o pué blico, mas só produzirá efeitos perante terceiros se for registrado no INPI (art. 211 da
LPI).
Na franquia, existe um documento muito importante:
Circular de Oferta de Franquia-COF: documento semelhante a uma proposta, contendo as
informaçoã es úteis e indispensáveis para que se conheça a franquia. Só depois de conhecer esse
documento, o franqueado deverá pagar algum tipo de taxa de filiação ou royalties. Ã COF deve
ser realizada por escrito e em linguagem acessíével; as informaçoã es que nela constam estaã o previstas
no art. 3º da lei.
O candidato a franqueado tem um prazo de reflexão sobre a assinatura d a franquia (10 dias),
contados do recebimento da circular de oferta de franquia (art. 4º). Ãliaé s, a circular soé pode ser
assinada depois de 10 dias do recebimento desta circular (prazo de reflexaã o), sob pena de
anulabilidade, de alegaçaã o exclusiva do franqueado. Ãleé m disso, a anulaçaã o provoca a devolução de
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todas as parcelas ateé entaã o pagas, corrigidas pelo íéndice da caderneta de poupança, sem prejuíézo das
perdas e danos.
O contrato de franquia não provoca vínculo empregatício entre franqueador e franqueado e
tampouco entre franqueador e empregados do franqueado. O TST decidiu ser inaplicaé vel sua Súm.
331, IV, para um contrato de franquia Isso significa que o franqueador naã o tem responsabilidade
solidaé ria ou subsidiaé ria pela díévida trabalhista do franqueado.

DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSÃBILIZÃÇÃÃ O CIVIL DE FRÃNQUEÃDORÃ EM FÃCE DE


CONSUMIDOR. A franqueadora pode ser solidariamente responsabilizada por eventuais danos
causados a consumidor por franqueada. No contrato de franquia empresarial, estabelece-se um
víénculo associativo entre sociedades empresaé rias distintas, o qual, conforme a doutrina, caracteriza-se
pelo "uso necessaé rio de bens intelectuais do franqueador (franchisor) e a participaçaã o no aviamento do
franqueado (franchise)". Dessa forma, verifica-se, novamente com base na doutrina, que o contrato de
franquia tem relevaê ncia apenas na estrita esfera das empresas contratantes, traduzindo uma claé ssica
obrigaçaã o contratual inter partes. Ãdemais, o STJ jaé decidiu por afastar a incideê ncia do CDC para a
disciplina da relaçaã o contratual entre franqueador e franqueado (ÃgRg no REsp 1193293; e ÃgRg no
REsp 1336491). Aos olhos do consumidor, entretanto, trata-se de mera intermediação ou
revenda de bens ou serviços do franqueador, que eé fornecedor no mercado de consumo, ainda que
de bens imateriais. Ãliaé s, essa arquitetura comercial - na qual o consumidor tem acesso a produtos
vinculados a uma empresa terceira, estranha aà relaçaã o contratual diretamente estabelecida entre
consumidor e vendedor - naã o eé novidade no cenaé rio consumerista e, aleé m disso, naã o ocorre apenas nos
contratos de franquia. Desse modo, extraindo-se dos arts. 14 e 18 do CDC a responsabilizaçaã o solidaé ria
por eventuais defeitos ou víécios de todos que participem da introduçaã o do produto ou serviço no
mercado (REsp 105822) - inclusive daqueles que organizem a cadeia de fornecimento -, as
franqueadoras atraem para si responsabilidade solidaé ria pelos danos decorrentes da inadequaçaã o dos
serviços prestados em razaã o da franquia, tendo em vista que cabe a elas a organizaçaã o da cadeia de
franqueados do serviço. (REsp 1426578).

7.4.2 Faturização (Factoring ou fomento mercantil)


HISTOÉ RICO: a figura do “agente mercantil” eé antiga na histoé ria das civilizaçoã es e estaé relacionada aà
negociaçaã o de “ativos” (direitos sobre negoé cios futuros ou promessas de pagamento). Os feníécios
teriam criado “factorias” na Peníénsula Ibeé rica; os romanos estabeleceram “factor agentes” em pontos
estrateé gicos de seu territoé rio. Ã expressaã o latina factor remete a “fomento”, “desenvolvimento”.
CONCEITO: contrato por meio do qual o empresário transfere ao faturizador (que naã o precisa ser,
necessariamente, uma instituiçaã o financeira) atribuições atinentes à administração do seu crédito.
Em síéntese, orientando o empresaé rio acerca da concessaã o do creé dito a seus clientes, o faturizador
antecipa o valor dos créditos que o empresário possui (por um valor inferior ao que eles valem,
aplicando o deságio) e assume o risco da inadimplência desses créditos. Para Santa Cruz Ramos,
o contrato de factoring serve ao empresaé rio justamente para lhe permitir uma melhor organizaçaã o do
seu negoé cio.
O conceito legal de factoring consta da LC 123/06, art. 17: aquele que explora a atividade de prestaçaã o
cumulativa e contíénua de serviços, assessoria creditícia, gestão de crédito, assunçaã o de riscos,
administraçaã o de contas a pagar e receber, gerenciamento de ativos, compras de direitos creditórios
resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestaçaã o de serviços. Ãpenas o conceito tem previsaã o
legal, pois naã o legislaçaã o especíéfica regendo a mateé ria, motivo pelo qual se aplicam ao contrato de
faturizaçaã o as regras de cessaã o de creé dito, previstas no art. 286 e ss do NCC.
No contrato de faturizaçaã o, encontram-se presentes : i) Faturizador, que eé a empresa de factoring,
pessoa jurídica que não é uma instituição financeira e não precisa de autorização do BACEN
para funcionamento; ii) Faturizado, que eé a empresa que vende seu faturamento para o faturizador.
Dispoã e o art. 296 do NCC, relativo aà cessaã o de creé dito, que o cedente naã o responde pela solveê ncia do
devedor (cessaã o pro soluto). Por conta deste risco maior (possíével insolveê ncia do devedor), a factoring
naã o compra qualquer tíétulo, selecionando aqueles que vai adquirir (seleçaã o e riscos).
Diferença entre factoring e contrato bancaé rio:
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Factoring Desconto bancário


à empresa de factoring naã o eé instituiçaã o financeira. EÉ realizado por instituiçaã o financeira.
O cedente do tíétulo não responde pela sua Quem transfere o tíétulo responde pelo
solvência. O risco eé transferido ao faturizador, pagamento, pois a transfereê ncia eé feita por
muito embora, na praé tica, as faturizadoras exijam endosso.
dos faturizados o endosso dos tíétulos cedidos.

7.4.2.1 Modalidades
I. Factoring tradicional ou “conventional factoring”: o pagamento é antecipado. Haé antecipaçaã o dos
valores referentes ao creé dito do faturizado, motivo pelo qual a remuneraçaã o da faturizadora costuma
ser mais elevada.
II. Factoring de vencimento ou “maturity factoring”: naã o haé antecipaçaã o de pagamento, o pagamento
ocorreraé no vencimento. Nessa hipoé tese, há apenas a prestação de serviços de administração do
crédito.

7.4.2.2 Juros
Conforme orientaçaã o jurisprudencial do STJ, aplica-se aos contratos de factoring a limitaçaã o de juros
de 12% ao ano, prevista na Lei de Usura. EÉ que o STJ entende que o factoring não possui, de
acordo com a Lei 4.595/64, natureza de contrato bancário típico, razaã o pela qual, inclusive, as
faturizadas naã o precisam de autorizaçaã o do BÃCEN para funcionamento nem lhes eé aplicaé vel a regra
do dever de sigilo.

7.4.2.3 Cláusulas típicas


Dentre as claé usulas tíépicas de um contrato de faturizaçaã o, merecem destaque:
a)claé usula de exclusividade  Por ela, haé o compromisso de naã o se contratar outro faturizador;
b) claé usula de totalidade Por ela, o faturizado transmite todos os seus creé ditos ao faturizador,
cabendo a este escolher os que vai garantir;
c) claé usula de aprovação prévia do faturizador.
OBS: O contrato de factoring não pode ser confundido com a atividade ilícita de agiotagem.

Para a maioria, a faturizadora NÃO tem direito de regresso contra a faturizada com base no
inadimplemento dos títulos transferidos, uma vez que esse risco é da essência do contrato de
factoring e por ele a faturizada paga o preço mais elevado do que pagaria, por exemplo, em um
contrato de desconto bancaé rio, no qual a instituiçaã o financeira naã o garante a solveê ncia dos tíétulos
descontados. Ãpesar de o assunto naã o ser pacíéfico, existe julgado recente do STJ, afirmando que,
mesmo que o contrato de factoring preveja a responsabilidade da faturizada nesses casos, tal cláusula
deverá ser considerada nula (...) “o risco assumido pelo faturizador eé inerente aà operaçaã o de
factoring, naã o podendo o faturizado ser demandado para responder regressivamente, salvo se tiver
dado causa ao inadimplemento dos contratos cedidos (...)”. (REsp 949360)

Para a maioria, a faturizada, ao ceder os títulos, assume a garantia de que eles são existentes.
Trata-se de aplicaçaã o expressa do art. 295 do CC (“Na cessaã o por tíétulo oneroso, o cedente, ainda que
naã o se responsabilize, fica responsaé vel ao cessionaé rio pela existeê ncia do creé dito ao tempo em que lhe
cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessoã es por tíétulo gratuito, se tiver procedido de maé -
feé .”). Desse modo, a faturizada possui direito de regresso contra a faturizada quando estiver em
questão não um mero inadimplemento, mas sim a própria existência do crédito. Não
reconhecer tal responsabilidade quando o cedente vende crédito inexistente ou ilegítimo
representa compactuais com a fraude e a má-fé. (REsp 1289995)

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7.4.3 Leasing ou arrendamento mercantil


HISTOÉ RICO: US Leasing Company, que fornecia alimentos para o Exeé rcito Ãmericano, precisou
celebrar contrato com um banco para obter os equipamentos necessaé rios ao atendimento da
demanda. Na eé poca, ainda naã o havia o elemento financeiro, mas a noçaã o inicial de self leasing.
à expressaã o leasing tambeé m tem influencia norte-americana.
CONCEITO: contrato especial de locação que assegura ao locatário a prerrogativa de adquirir o
bem alugado ao final da avença, pagando, nesse caso, uma diferença chamada valor residual. Em
síéntese, trata-se de um contrato de locaçaã o com opçaã o de compra no momento final do contrato.
Naã o haé lei especíéfica que trate do arrendamento mercantil. Em realidade, ele eé regulado pela
Resoluçaã o 2309/96 do BÃCEN. Ã Lei 6.099/74 regula apenas o seu aspecto tributaé rio.
No contrato de leasing, encontram-se presentes: a) Arrendador, que eé a empresa de leasing, a qual
necessariamente seraé uma sociedade anônima; b) Arrendatário, que pode ser qualquer um, seja
pessoa fíésica ou juríédica (exceto no leasing de retorno).
O leasing pode ter por objeto tanto bens MÓVEIS quanto bens IMÓVEIS e esses bens podem ser de
fabricaçaã o nacional ou estrangeira, estes desde que autorizados pelo Conselho Monetaé rio Nacional,
nos termos do art. 10 da Lei 6.099/74.

7.4.3.1 Opções do arrendatário


Ão final do contrato de leasing, o arrendataé rio possui 3 opçoã es: i) Devolução do bem; ii) Renovação
do contrato de leasing; iii) Opção de compra, nesse caso, se o arrendataé rio fizer a opçaã o de compra,
eé obrigado a pagar VRG (valor residual garantido).
- COBRANÇA ANTECIPADA DO VRG
De iníécio, o STJ entendia que a opçaã o de compra deve ser feita ao final do contrato e, assim, momento
em que o VRG deveria ser cobrado. Se ele fosse cobrado desde o iníécio do contrato, na verdade, naã o
haveria leasing, mas sim compra e venda em prestaçoã es. Esse foi o primeiro posicionamento do STJ
(Súm 263: “Ã cobrança do valor residual (VRG) descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil,
transformando-o em compra e venda a prestaçaã o”).
Contudo, o STJ cancelou a Sué m 263 e editou a Súm 293: “Ã cobrança antecipada do VRG naã o
descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil”. Prestigiaram-se os princíépios da liberdade de
escolha e da livre convenção entre as partes.
Todavia, o STJ tambeé m entendeu que, caso não haja opção de compra ao final do contrato, a parte
terá de devolver o valor residual garantido pago antecipadamente.
O prazo prescricional para se pleitear essa devoluçaã o eé o prazo geral de 10 anos, pois naã o se trata de
pedido fundado na vedaçaã o do enriquecimento sem causa, mas de restituiçaã o de quantia em razaã o do
desfazimento de arrendamento mercantil. (REsp 1174760)

7.4.3.2 Mora do arrendatário


Se o arrendataé rio deixa de pagar as prestaçoã es, o arrendador pode recorrer aà REINTEGRAÇÃO DE
POSSE.
O STJ firmou o entendimento de que eé necessária a constituição em mora do arrendatário por
notificação prévia, naã o havendo que se falar em mora ex re, ainda que haja claé usula resolutiva
expressa (Súm 369).
No arrendamento mercantil, eé pago um aluguel mensal pela utilizaçaã o do bem. Ãssim, reintegrado o
arrendado aà posse do bem, naã o haé que se falar em pagamento das prestaçoã es futuras.
Pagando-se o VRG antecipado, haé declaraçaã o de vontade de compra. Havendo reintegração de posse
deveraé o arrendataé rio devolver o bem, mas, segundo o STJ, poderá requerer a devolução do VRG, na
forma abaixo explicitada:
Devolução do VRG no caso de reintegração/apreensão do bem (REsp 1099212 Rep):

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i) se o VRG pago + valor do bem vendido > VRG previsto no contrato, o arrendataé rio teraé o direito de
receber a diferença;
ii) Se o VRG pago + valor do bem vendido < VRG previsto no contrato, o arrendataé rio NÃÃ O teraé direito
de receber a diferença (ateé porque naã o haveraé diferença).
Mesmo na primeira hipoé tese, o contrato poderaé prever que, antes de devolvida a diferença para o
arrendataé rio, o arrendador terá direito de descontar, previamente, outras despesas que tenha
tido ou encargos contratuais.

MUDANÇA IMPORTANTE: Ã Lei 13.043/14 determinou que o procedimento adotado pelo DL 911/69
para o caso de inadimplemento do devedor na alienaçaã o fiduciaé ria, inclusive o regramento sobre a
açaã o de busca e apreensaã o deveria ser tambeé m aplicado para o arrendamento mercantil. Ãssim, a
partir de agora, os procedimentos previstos no art. 2º, caput e § 2º e no art. 3º do DL 911/69 (regras
relativas a alienaçaã o fiduciaé ria) deveraã o ser aplicadas aà s operaçoã es de arrendamento mercantil.

Ãpoé s a L 13043, naã o eé mais possíével a purgaçaã o da mora, pois foi determinada a aplicaçaã o do regime
do DL 911, que naã o a admite, em lugar da regra geral do NCC, 401, I (REsp 1381832)

7.4.3.3 Modalidades de leasing


I. Leasing financeiro
Nesta modalidade, o arrendataé rio indica o bem ao arrendador, que o adquire perante o fornecedor e
depois realiza o contrato de arrendamento mercantil com o arrendataé rio. O leasing financeiro eé a
modalidade tíépica de arrendamento mercantil. Traz as figuras de 3 atores intervenientes: a)
arrendador(a); b) arrendataé rio; e c) fornecedor.
O arrendador precisa ser instituiçaã o financeira (banco mué ltiplo com carteira de arrendamento
mercantil ou sociedade de arrendamento mercantil)
De acordo com a Resolução sobre o leasing financeiro, neste contrato o valor total das parcelas deve
ser igual ao valor do bem + lucro para o arrendador.
II. Leasing operacional
Caracteriza-se pelo fato de o bem arrendado já ser da arrendadora (que, em regra, o fabrica), a qual
apenas aluga ao arrendataé rio, sem ter o custo inicial de aquisiçaã o do bem, comprometendo-se a
prestar assistência técnica. Haé apenas 2 intervenientes: a) arrendador(a); e b) arrendataé rio.
No leasing operacional, o valor total das prestaçoã es, segundo a Resoluçaã o do BÃCEN, não pode ser
superior a 90% do valor do bem, nem o prazo superior a 75% da vida ué til do bem.
A vantagem dessa espécie de leasing reside na assistência técnica que, no leasing operacional,
só pode ser prestada pelo arrendador. O lucro vem sobretudo por meio da assisteê ncia teé cnica.
III. Lease back (leasing de retorno)
Cuida-se de modalidade especíéfica de leasing, em que o bem arrendado era de propriedade do
arrendataé rio, que o vende aà arrendadora para depois arrendaé -lo, podendo readquiri-lo ao final do
contrato, caso se utilize da opçaã o de compra, pagando o valor residual.
Nessa modalidade de arrendamento mercantil, o arrendatário somente pode ser pessoa jurídica. Ã
sua grande finalidade eé a obtençaã o de capital de giro. O lease back eé cabíével em duas operaçoã es: a)
compra e venda; e b) daçaã o em pagamento.
Nesta modalidade, ao final do contrato, o arrendataé rio tem as mesmas 3 opções já vistas.

Lease back ou Leasing de retorno Alienação fiduciária em garantia


Cuida-se, grosso modo, de uma locaçaã o com
EÉ um contrato de aquisiçaã o de um bem;
opçaã o de compra. Nem sempre o arrendataé rio
ele instrumentaliza uma venda.
quer adquirir o bem.
Havendo inadimplemento, utiliza-se de açaã o de Faz-se uso da busca e apreensaã o.
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reintegraçaã o de posse.

No caso de reintegraçaã o de posse em arrendamento mercantil financeiro, quando a soma da


importaê ncia antecipada a tíétulo de valor residual garantido (VRG) com o valor da venda do
bem ultrapassar o total do VRG previsto contratualmente, o arrendatário terá direito de
receber a respectiva diferença, cabendo, poreé m, se estipulado no contrato, o preé vio
desconto de outras despesas ou encargos pactuados. (Sué m 564/STJ)

Em regra, não incide o ICMS importação na operação de arrendamento mercantil


internacional, uma vez que, no leasing, não há, necessariamente, a transferência de
titularidade do bem. Em outras palavras, pode haver ou naã o a compra.
EXCEÇÃÃ O: incidiraé ICMS importaçaã o se ficar demonstrado que houve a antecipaçaã o da opçaã o
de compra. (RE 540829).

O STJ e STF entendem que o ICMS não incide no leasing de aeronaves, pois naã o implica
circulaçaã o de mercadoria. Todavia, o ICMS incide sobre mercadorias que venham integrar o
ativo fixo da empresa, uma vez que, nesses casos, a opçaã o de compra eé implíécita. (ÃgRg na MC
13339).

(...) 2 - Responsabilidade solidária da instituição financeira vinculada à concessionária


do veículo ("banco da montadora"), pois parte integrante da cadeia de consumo. 3 -
Distinçaã o em relaçaã o aà s instituiçoã es financeiras que atuam como "banco de varejo", apenas
concedendo financiamento ao consumidor para aquisiçaã o de um veíéculo novo ou usado sem
vinculaçaã o direta com o fabricante. 4 - Ãplicaçaã o do art. 18 do CDC. (REsp 1379839)

Cartão de crédito

Trata-se de contrato por intermeé dio do qual uma instituiçaã o financeira, a operadora do cartaã o, permite
a seus clientes a compra de bens e serviços em estabelecimentos comerciais cadastrados, que
receberaã o os valores da compra diretamente da operadora. Esta, por sua vez, cobra dos clientes
mensalmente, o valor de todas as suas compras realizadas em um determinado períéodo. Chama-se,
portanto, cartaã o de creé dito o documento por meio do qual o cliente realiza a sua compra,
apresentando-o ao estabelecimento comercial cadastrado.
Nesses contratos, haé necessaé riamente treê s partes envolvidas:
a)Títular (ou usuário): eé aquele que faz uso do cartaã o ao afetuar uma compra ou receber um serviço.
O titular recebe mensalmente do emissor uma relaçaã o das compras realizadas em que foi utilizado o
cartaã o, para que, em data preestabelecida, efetue o pagamento. Em caso de atraso, o emissor pode
cobrar juros na fatura do meê s seguinte. EÉ tambeé m possíével que o titular pague apenas uma parte do
valor, hipoé tese em que a diferença seraé cobrada no vencimento do meê s seguinte, evidentemente
acrescida de juros.
b) Sociedade emissora (ou emissor): eé uma instituiçaã o financeira, que se compromete a cobrar do
titular do cartaã o o creé dito outorgado e a pagar o valor ao fornecedor do bem ou serviço. Ã maior parte
do lucro do emissor resulta de uma taxa percentual que ele cobra do fornecedor para cada pagamento
feito, em razaã o de lhe estar angariando cientela, garantindo o pagamento e assumindo o risco de naã o
receber posteriormente do titular. O emissor tambeé m cobra uma taxa de adesaã o do titular e, em regral,
uma taxa a tíétulo de anuidade.
c) Fornecedor: eé o empresaé rio que realiza contrato de filiaçaã o com a empresa emissora do cartaã o no
sentido de aceitar o uso deste sem acreé scimo no preço dos produtos. O fornecedor receberaé do
emissor o montante referente ao total de vendas realizadas com o cartaã o, sendo, evidentemente,
descontada a comissaã o deste. O fornecedor naã o pode recusar a venda aos portadores do cartaã o, salve

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se ele jaé estiver vencido ou se o preço ultrapassar o limite. Tambeé m naã o poderaé aumentar o preço em
razaã o do uso do cartaã o.
Somente haé relaçaã o de consumo na relaçaã o juríédica da operadora com seu cliente e na relaçaã o do
cliente com o estabelecimento comercial. Naã o haé relaçaã o consumerista entre a operadora e o
estabelecimento comercial, conforme jaé decidiu o STJ.
à remessa de cartaã o de creé dito a quem naã o o tenha solicitado constitui praé tica abusiva descrita
expressamente no CDC, art. 39, III. Nesse sentido, preconiza a novel Sué m 532/STJ: “Constitui prática
comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia e expressa solicitação do consumidor,
configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa administrativa”.

Ãs operadoras de cartaã o de creé dito saã o instituiçoã es financeiras e, assim, naã o haé limitaçaã o de juros
aà 12% a.a. previsto na lei de usura (Sué m 283/STJ).

O cliente tem direito aà prestaçaã o de contas por parte da operadora do cartaã o, a fim de dirimir
dué vidas acerca dos lançamentos por ela feitos no extrato da fatura mensal (REsp 457055).

EÉ de fundamental importaê ncia que o estabelecimento comercial credenciado pela operadora


confira a assinatura do cliente titular do cartaã o, comparando-a com a assinatura utilizado em sua
carteira de identidade (REsp 348343)

STJ admite capitalizaçaã o anual dos juros nos contratos de cartaã o de creé dito: em diversos julgados,
firmou-se o entendimento de que, naã o sendo os casos previstos na Sué m. 93/STJ, a capitalizaçaã o
mensal eé vedada, mas a anual eé permitida. Soé depois, a partir do ano 2000, passou a prevalecer o
entendimento de que mesmo a capitalizaçaã o mensal era autorizada. Recentemente, no RE 592377,
com repercussaã o geral reconhecida, o STF entendeu vaé lida a capitalizaçaã o mensal dos juros: o
Plenário do STF autorizou a capitalização de juros em empréstimos bancários com periodicidade
inferior a um ano. Os ministros julgaram constitucional a Medida Provisória 2.170-36/2001 que
autorizou o cálculo de juros compostos. (EREsp 932303, Info 464)

O “credit scoring” originou-se no EUÃ, a partir de um trabalho elaborado por David Durand, em
1941, denominado “Risk Elements in Consumer Installment Financing”, em que foi desenvolvida a
teé cnica estatíéstica para se distinguir os bons e os maus empreé stimos, atribuindo-se pesos
diferentes para cada uma das variaé veis presentes. Ã partir da deé cada de 60, esse sistema de
pontuaçaã o de creé dito passou a ser amplamente utilizado nos EUÃ nas operaçoã es de creé dito ao
consumidor, especialmente nas concessões de cartão de crédito.
O STJ analisou a validade do chamado sistema “credit scoring”, fixando as seguintes teses:
a) “Credit scoring”, também chamado de “credscore”, é um método desenvolvido para
avaliação do risco de concessão de crédito, a partir de modelos estatísticos, considerando
diversas variáveis, com atribuição de uma pontuação ao consumidor avaliado (nota do
risco de crédito);
b) O “credit scoring” é considerado como prática comercial LÍCITA, estando autorizada pelo
art. 5º, IV, e pelo art. 7º, I, da Lei 12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo);
c) Vale ressaltar, no entanto, que para o “credit scoring” ser lícito, é necessário que respeite
os limites estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da
privacidade e da máxima transparência nas relações negociais, conforme previsão do CDC
e da Lei 12.414/2011;
d) Apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado, devem ser a ele
fornecidos esclarecimentos, caso solicitados, acerca das fontes dos dados considerados
(histórico de crédito), bem como as informações pessoais valoradas;
e) O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema “credit scoring” configura abuso
no exercício desse direito, podendo ensejar a responsabilidade objetiva e solidária do
fornecedor do serviço, do responsável pelo banco de dados, da fonte e do consulente pela
ocorrência de danos morais nas hipóteses de utilização de informações excessivas ou
sensíveis, bem como nos casos de comprovada recusa indevida de crédito pelo uso de
dados incorretos ou desatualizados. (REsp 1419697 Rep).

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à cláusula-mandato que, no bojo do contrato de cartaã o de creé dito, permite que a


administradora do cartão de crédito tome recursos perante instituições financeiras em
nome do contratante para saldar sua díévida é válida. Por outro lado, nos contratos de cartaã o de
creé dito, é abusiva a previsaã o de claé usula-mandato que permita aà operadora emitir título
cambial contra o usuário do cartão. (REsp 1084640, Info 570).

Caracteriza prática abusiva quando o fornecedor de bens e serviços prevê preços mais
favoráveis para o consumidor que paga em dinheiro ou cheque em detrimento daquele que
paga em cartão de crédito. Segundo decidiu o STJ, o preço aà vista deve ser estendido tambeé m
aos consumidores que pagam em cartaã o de creé dito, os quais faraã o jus, ainda, a eventuais
descontos e promoçoã es porventura destinados aà queles que pagam em dinheiro ou cheque. (REsp
1479039)

OBS: Ã Lei 13.172/15 alterou as Leis nos 10.820/03, 8.213/91 e 8112/90, dispondo sobre autorizaçaã o
de desconto em folha de pagamento de valores destinados ao pagamento de cartão de crédito.

13. DIREITO ECONÔMICO E PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR

LEI ANTITRUSTE. DISCIPLINA JURÍDICA DA CONCORRÊNCIA DESLEAL.


PRINCÍPIOS. INFRAÇÕES CONTRA A ORDEM ECONÔMICA. CONCORRÊNCIA
DESLEAL E ILÍCITA. REPRESSÃO DO PODER ECONÔMICO PELO ESTADO. ABUSO
DO PODER ECONÔMICO.

 Lei Antitruste e disciplina jurídica da concorrência empresarial

CONSIDERÃÇOÃ ES INICIÃIS: a subsidiaridade do Estado e a defesa da livre-iniciativa naã o deve significar um


aval aos agentes econoê micos, que possa representar perversaã o aà liberdade individual destes. O objetivo da
defesa da concorrência é tornar máximo o devido processo competitivo e, assim, o níével de bem-estar
econoê mico da sociedade. Ressalte-se que o mercado interno é patrimônio nacional (art. 219 da CF). Visa
garantir a escolha racional de consumo e salvaguardar o Estado da imposiçaã o arbitraé rios de interesses
privados. Ã defesa da concorreê ncia eé a defesa do consumidor no atacado, sendo tambeé m, instrumento em
benefíécio da cidadania. Cabe registrar que o art. 173, §4º, naã o eé a ué nica fonte constitucional da Lei
12.529/2011.

TITULAR DO DIREITO TUTELÃDO PELÃS LEIS DE PROTEÇÃÃ O ÃÀ CONCORREÊ NCIÃ: É a coletividade. Muito
embora conste na Lei 12.529/11 a defesa do consumidor como orientadora da defesa concorrencial, a
proteçaã o contra o abuso do poder econoê mico e os atos de deslealdade competitiva beneficiam diretamente as
estruturas concorrenciais de mercado, ou seja, os competidores (empresas), e não o consumidor. Este,
portanto, se beneficia apenas indiretamente.

GLOBÃLIZÃÇÃÃ O ECONOMICÃ E CONCORREÊ NCIÃ: Com o incremento dos blocos econoê micos, a tendeê ncia eé a
substituiçaã o das barreiras de importaçaã o de cada um dos Estados por uma legislaçaã o antitruste comum.

CONCEITO DE ANTITRUSTE: eé uma técnica de que lança maã o o Estado contemporaê neo, com o fito de
implementar políéticas pué blicas, mediante a repressão ao abuso de poder econômico e a tutela da livre
concorrência. Visa prevenir e reprimir as hipoé teses de abuso de poder econoê mico, favorecendo a livre
concorreê ncia e acautelando-se contra os monopólios e as situações monopolísticas (v.g., cartéis)(corrigir
um dos defeitos do sistema capitalista, a tendeê ncia a combinaçaã o de esforços e concentraçaã o). Ãs infrações não
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possuem uma pré-definição unívoca, sendo necessária a mobilidade e flexibilidade, devendo,


consequentemente, ser a lei dotada de meios aptos para se adaptar aà realidade multifacetaé ria e cambiante.

SISTEMÃ DE LEGISLÃÇÃÃ O ÃNTITRUSTE: 1) Sistema Americano (ou de concorrência-fim ou de concorreê ncia-


condiçaã o): basta o mero acordo para ficar caracterizado o ilíécito. Ã livre-concorreê ncia eé um princíépio
intangíével, um fim em si mesmo, por isso concorreê ncia-fim. 2) Sistema Europeu (de concorrência-meio ou de
concorreê ncia-instrumental): aà luz da regra-da-razão (ver conceituaçaã o mais abaixo), é possível a
concentração de mercado desde que os benefícios sociais compensem as perdas. Ãs normas antitruste
teê m níétido caráter instrumental, servindo de implementaçaã o de políéticas pué blicas, podendo ceder a outros
interesses tidos por superiores num dado momento histoé rico.

 Histórico do direito concorrencial no Brasil

Constituições de 1934 e 1937 – Ã CF/34 foi a primeira constituiçaã o a prever a liberdade econoê mica (art. 115).
O exercíécio da liberdade econoê mica era exercido, a partir de limites impostos pelo Estado, no resguardo dos
interesses nacionais (interesses da coletividade). Essa limitaçaã o tem base na crise econoê mica de 1929, e seus
potenciais efeitos no territoé rio brasileiro. Jaé a CF/37 colocava como princíépio a proteçaã o aà economia popular.
Nessa eé poca, o primeiro diploma brasileiro antitruste, com definiçaã o regulamentar bem definida, foi o Decreto-
lei 869/38, buscando a tutela dessa economia popular e defesa do consumidor, na contramaã o da regulaçaã o
norte americana, calcada na proteçaã o exclusiva da concorreê ncia e agentes econoê micos. Verificava-se nessa
primeira etapa, portanto, um amaé lgama entre a repressaã o do abuso do poder econoê mico com o nacionalismo e
protecionismo, assumindo nosso sistema particularidades.

Constituição de 1946 – Dispunha que seria considerado ilíécito o abuso do poder econoê mico que produzisse o
domíénio de mercados, eliminaçaã o da concorreê ncia e aumento arbitraé rio dos lucros. Trouxe, pela primeira vez
em uma Constituiçaã o, o princíépio de repressaã o ao abuso do poder econoê mico, de forma expressa. Deixa de haver
uma exclusiva preocupaçaã o com a economia popular, para se criar um sistema antitruste.

Lei 4137/62 – Criou o CÃDE, entretanto, sem muita eficaé cia social. Tinha o escopo de proteger o proé prio
mercado, sem descuidar da proteçaã o ao consumidor. Um dos principais problemas enfrentados foi a atuaçaã o do
Poder Judiciaé rio, para a salvaguarda das garantias individuais asseguradas no Texto Constitucional de 1946,
restando limitada, em muitas oportunidades, a intervençaã o do CÃDE, ficando suas decisoã es em maioria com
efeitos suspensos, principalmente, em decorreê ncia de mandados de segurança impetrados pelas empresas.

Constituição de 1967 – Dispunha que era finalidade da ordem econoê mica realizar justiça social atraveé s da
repressaã o ao abuso do poder econoê mico. Caracterizado pelo o domíénio de mercados, eliminaçaã o da
concorreê ncia e aumento arbitraé rio dos lucros.

Constituição de 1988 – Previu a livre iniciativa como fundamento da ordem econoê mica. Tambeé m incumbiu aà
lei a repressaã o contra os abusos do poder econoê mico que visem o domíénio de mercados, eliminaçaã o da
concorreê ncia e aumento arbitraé rio dos lucros.

Lei nº 8.884/94 – Transformou o CÃDE em autarquia; trata da proteçaã o aà infraçoã es contra a ordem econoê mica.
Essa lei surgiu no contexto da abertura do mercado concorrencial brasileiro para empresas estrangeiras,
ocorrido a partir do governo Collor, o que demandou uma nova políética da concorreê ncia, mais forte.

Lei nº 9.279/96 – Lei de proteçaã o aà propriedade industrial.

Lei nº 12.529/2012 – Reestruturou o Sistema Brasileiro de Proteçaã o aé Concorreê ncia (compõe esse sistema
o CADE e a Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda SEAE), apesar de naã o
haver modificado substancialmente o regramento da mateé ria.
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 Estrutura do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC)

à Lei nº 12.529/12 organiza o SBDC, composto por dois oé rgaã os: o CÃDE e a Secretaria de Ãcompanhamento
Econoê mico do Ministeé rio da Fazenda – SEÃE. O primeiro, na verdade, tem natureza de autarquia, vinculada ao
Ministeé rio da Justiça e o ué ltimo, ao Ministeé rio da Fazenda. Ã antiga Secretaria de Direito Econoê mico (SDE), antes
integrante no Sistema, foi absorvida pelo CÃDE.

1) CÃDE –EÉ entidade judicante com jurisdiçaã o em todo o territoé rio nacional, Com a nova lei, passou a ser
composto por treê s oé rgaã os:

a. Tribunal Administrativo de Defesa Econômica - O Plenaé rio do Tribunal assumiu as antigas


atribuiçoã es do Plenaé rio do CÃDE, que saã o as de julgar os processos administrativos de infraçaã o aà
ordem econoê mica e de anaé lise de atos de concentraçaã o econoê mica.

b. Superintendência-Geral - Ã Superintendeê ncia-Geral, por sua vez, assumiu as atribuiçoã es da


antiga Secretaria de Direito Econoê mico do Ministeé rio da Justiça (SDE), detendo, todavia, poderes
mais extensos. Papel mais destacado foi conferido aà Superintendeê ncia no tocante aà anaé lise de
atos de concentraçaã o econoê mica, podendo requisitar informaçoã es e documentos de quaisquer
pessoas, realizar inspeçaã o na sede social das empresas, bem como requerer ao Poder Judiciaé rio
busca e apreensaã o de documentos, objetos, livros comerciais etc. Tem o poder, ainda, de requer
vista de documentos constantes em inqueé ritos policiais e procedimentos administrativos
instaurados na Ãdministraçaã o Pué blica em geral. Tem competeê ncia para acompanhar,
permanentemente as atividades dos atores do mercado. Enquanto a antiga Secretaria de Direito
Econoê mico apenas confecciona parecer naã o vinculante, a Superintendeê ncia poderaé propor
acordo que altere os termos da uniaã o empresarial, a fim de que seja aprovada. Os termos do
acordo seraã o analisados pelo Tribunal.

c. Departamento de Estudos Econômicos – municia o tribunal e a Superintendeê ncia de


estudos na aé rea econoê mica. EÉ dirigido por um Economista-Chefe, o qual emite pareceres
econoê micos nas sessoã es do CÃDE, sendo-lhe nelas facultado usar a palavra.

Ãleé m dessas inovaçoã es, releva notar que o mandado do Presidente e dos Conselheiros foi aumentado para 4
anos, naã o coincidentes, vedada a reconduçaã o. Defluindo daíé uma maior autonomia com relaçaã o ao Chefe do
Poder Executivo. Tambeé m foi criado, no art. 8º, um “períéodo de quarentena” de 120 dias para o Presidente e
os Conselheiros, com remuneraçaã o, que, se violado, configuraria o delito de advocacia administrativa. EÉ
necessaé ria, ainda, autorizaçaã o do Senado, para sua destituiçaã o, apoé s provocaçaã o do Presidente da Repué blica.

 Ministério Público Federal Junto ao CADE (art. 20)

Sua atuaçaã o deriva da natureza transindividual do mercado interno e de sua titular, a coletividade (CF, art. 129 I
e III). Ã legislaçaã o anterior previa disposiçaã o de duvidosa constitucionalidade, ao admitir ao MPF a
possibilidade de atuar em juíézo, em caraé ter subsidiaé rio, quando a Procuradoria do CÃDE naã o o fizesse. Ã nova
Lei manteve a presença de um membro do MPF, designado pelo Procurador-Geral da Repué blica, ouvido o
Conselho Superior, com a atribuiçaã o de emitir parecer, nos processos administrativos para imposiçaã o de
sançoã es administrativas por infraçoã es aà ordem econoê mica. Ã grande novidade eé que foi excluíéda a previsaã o de
que o CÃDE poderia requerer ao MPF que promovesse a execuçaã o de seus julgados ou do compromisso de
cessaçaã o (paraé grafo ué nico do art. 12, da Lei 8.884/94).

Tal atribuiçaã o, pela nova Lei, eé da Procuradoria Federal especializada que funcionaraé junto ao CÃDE (art. 15, III,
da Lei 12.529). Ou seja, o MPF tece seu papel restringido, de “oficiar nos processos sujeitos aà apreciaçaã o do
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CÃDE” (art. 12 da Lei nº 8.884) para apenas “emitir parecer, nos processos administrativos para imposiçaã o de
sançoã es administrativas por infraçoã es aà ordem econoê mica” (art. 20 da nova lei), de maneira a suprimir a sua
participaçaã o nos atos de concentraçaã o econoê mica. Ã Procuradoria-Geral do CÃDE, defende os interesses do
oé rgaã o em juíézo, incluindo a execuçaã o das decisoã es proferidas pelo Tribunal.

 Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda SEAE

Com a nova lei, deixou de elaborar pareceres em anaé lise de atos de concentraçaã o econoê mica e passa a adotar,
explicitamente, o papel de advocacia da concorreê ncia, com ampla possibilidade de opinar sobre aspectos
concorrenciais de normas e políéticas em vigor, em especial no que envolve as atribuiçoã es das ageê ncias
reguladoras.

 Finalidades

1) controle das estruturas de mercado (atuação preventiva): visa controlar os atos empresariais que
possam vir a representar concentraçaã o e domíénio de mercados (como as fusoã es e incorporaçoã es), sejam elas as
concentraçoã es horizontais (que envolvem agentes competidores entre si) ou verticais (que envolvem agentes
naã o competidores, mas integrantes da mesma cadeia produtiva). Registre-se o conceito de conglomeração
(concentraçaã o que envolve agentes distintos, que igualmente ofertam produtos ou serviços diversos, podendo
ser ou naã o complementares entre si, mas que, certamente, naã o fazem parte da cadeia produtiva. Um
conglomerado pode ter efeitos nocivos quanto houver complementaridade entre os produtos e serviços
envolvidos. Os atos de concentraçaã o podem ter efeitos positivos (ganhos de escala, reduçaã o de custos de
transaçaã o) e negativos (aumento dos preços) na economia. O CÃDE, considerando que nem todos os atos de
concentraçaã o seraã o nocivos, tem o poder de impor obrigaçoã es aà s empresas como condiçaã o da aprovaçaã o do ato
de concentraçaã o. 2) Repressão a condutas anticompetitivas: como a praé tica de cartel. 3) promoção da
cultura da concorrência: divulgaçaã o dos efeitos beneé ficos da livre concorreê ncia no bem-estar da sociedade.

 Princípios na Lei 12.529/2011

Ãrt. 1o Esta Lei estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorreê ncia - SBDC e dispoã e sobre a
prevençaã o e a repressaã o aà s infraçoã es contra a ordem econoê mica, orientada pelos ditames
constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorreê ncia, funçaã o social da propriedade, defesa dos
consumidores e repressaã o ao abuso do poder econoê mico.
Paraé grafo ué nico. Ã coletividade eé a titular dos bens juríédicos protegidos por esta Lei.
Ãrt. 2o Ãplica-se esta Lei, sem prejuíézo de convençoã es e tratados de que seja signataé rio o Brasil, aà s
praé ticas cometidas no todo ou em parte no territoé rio nacional ou que nele produzam ou possam
produzir efeitos.
§ 1o Reputa-se domiciliada no territoé rio nacional a empresa estrangeira que opere ou tenha no Brasil
filial, ageê ncia, sucursal, escritoé rio, estabelecimento, agente ou representante.
§ 2o à empresa estrangeira seraé notificada e intimada de todos os atos processuais previstos nesta Lei,
independentemente de procuraçaã o ou de disposiçaã o contratual ou estatutaé ria, na pessoa do agente ou
representante ou pessoa responsaé vel por sua filial, ageê ncia, sucursal, estabelecimento ou escritoé rio
instalado no Brasil.
Os princíépios referidos no art. 1º naã o esgotam os demais princíépios pelos quais o SBDC deve se pautar. Pela
titularidade da coletividade, o SBDC visa proteger a concorreê ncia, e naã o um dado concorrente. Nas infraçoã es
contra a ordem econoê mica, a coletividade como um todo eé atingida. Ãleé m disso, regras transparentes e
harmonizadas que incentivem a competiçaã o atraem investimentos. O desenvolvimento econoê mico pressupoã e
um adequado ambiente juríédico-institucional. O objetivo das regras concorrenciais eé impedir o sucesso dos
agentes econoê micos decorra de praé ticas de abuso de poder ou de atos de deslealdade.

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O art. 2º trata do princípio da territorialidade objetiva. Os limites juríédicos fixados pelas fronteiras
territoriais saã o um conceito que naã o se aplica aà s políéticas de investimento dos agentes econoê micos
transnacionais. Tendo isso como premissa, as Naçoã es, com o fito de se resguardar dos efeitos deleteé rios da
praé tica concentracionista e a fim de evitar falhas de mercado, editam suas legislaçoã es, tomando em
consideraçaã o as influeê ncias que possam ser prejudiciais aà economia interna.

Daíé surgem treê s criteé rios principais: 1) territorialidade – fator geograé fico de fixaçaã o da aé rea sobre a qual o
Estado exerce, de forma independente sua soberania; 2) critério dos efeitos – fenoê meno estritamente faé tico no
qual se verifica em qual territoé rio a conduta surtiraé seus efeitos; e 3) nacionalidade – fator mediante o qual se
analisa sob as regras juríédicas de qual naçaã o se operaram a constituiçaã o de uma empresa. O Brasil conjuga os
treê s criteé rios de forma harmoê nica, admitindo a aplicaçaã o extraterritorial da legislaçaã o paé tria aà s empresas
estrangeiras, de modo que possam ser investigadas e punidas, em que pese naã o serem constituíédas sob as leis
brasileiras. No que diz respeito ao princíépio da territorialidade e seus efeitos, veja o que foi entendido pelo STJ:

ÃTO. CONCENTRÃÇÃÃ O. LEGÃLIDÃDE. MULTÃ. CÃDE. (...) Na hipoé tese dos autos, a empresa recorrida
adquiriu a divisaã o de turbinas a gaé s industriais de grande porte de outra empresa em 23/3/1999 e
somente comunicou o ato de concentraçaã o em 25/6 do mesmo ano; naã o atendeu, portanto, ao disposto
no citado dispositivo legal. Desse modo, o CÃDE agiu corretamente ao aplicar a multa. Ressaltou o Min.
(...), em voto-vista, que, para os fins do caput do art. 54 da citada lei, pouco importa se as
empresas envolvidas têm filial no Brasil, ou se o contrato preliminar foi avençado em território
brasileiro. Basta que, em tese, o concerto de concentraçaã o possa, sob qualquer perspectiva, impactar o
mercado nacional. Frise-se: basta que, em tese, o ato de concentração ou o ato de cooperação
possam causar prejuízos à higidez concorrencial. Na verdade, só o CADE pode dizer
concretamente se o ato deve ou não ser submetido ao seu controle. Os interessados devem
sempre observar os prazos pontuados na lei e nas resoluçoã es respectivas, sem que eles proé prios façam
esse juíézo de adequaçaã o entre a lei e os atos por ela ajustados, sob pena de incidir a multa do art. 54, §
5°, da Lei n. 8.884/94. (...) (REsp 615.628).

 Infrações Contra a Ordem Econômica e Abuso do Poder Econômico

O campo de aplicabilidade da Lei, no que toca aà responsabilizaçaã o dos agentes econoê micos eé bastante amplo e
maleaé vel, em vista da utilizaçaã o de conceitos juríédicos indeterminados, cabendo sua aplicaçaã o a entes pué blicos
ou privados, pessoas fíésicas ou juríédicas, constituíédas de direito ou de fato, incluindo-se tambeé m agentes que
exerçam o monopoé lio autorizado em lei. Ã Lei 12.529, naã o trouxe houve substanciais modificaçoã es, ressalvada a
inclusaã o do exercíécio da exploraçaã o abusiva de direitos de propriedade industrial, intelectual, tecnoloé gica ou
marca (art. 36, § 3º, XIX), bem como a supressão, como infraçaã o, da conduta de “impor preços excessivos, ou
aumentar sem justa causa o preço de bem ou serviço”, anteriormente prevista na Lei 8.884, art. 21, XXIV.

No que toca ao tema do abuso do poder econoê mico necessaé rio introduzir o entendimento sobre posiçaã o
dominante. Quando se faz refereê ncia aà “posiçaã o monopolista”, tende-se a pensar na existeê ncia de um ué nico
agente em determinado mercado. Mesmo a empresa que, nada obstante atue em conjunto com outras, pode
deter razoaé vel poder econoê mico, de sorte que lhe permita agir de forma independente e com indiferença à
existência ou comportamento dos outros agentes. Ãssim, dispensaé vel, para a verificaçaã o da posiçaã o
dominante que hajam outros agentes atuando no mesmo mercado, bastando que naã o seja de tal grau a
influenciar significativamente o comportamento do monopolista. Logo, a consideraçaã o que diferencia um
mercado concentrado e um mercado, ao reveé s, competitivo, eé questão apenas de grau. Em geral, uma posiçaã o
dominante resulta da combinaçaã o de vaé rios fatores que, isoladamente, naã o saã o necessariamente determinantes.
Um dos indicativos eé a observaçaã o do chamado Market Share ou Market Power. Na legislaçaã o brasileira,
presume-se a posiçaã o dominante, quando se verifica que uma empresa ou grupo de empresas for capaz de
alterar unilateral ou coordenadamente as condiçoã es de mercado ou quando controlar 20% (vinte por cento) do
mercado relevante. Nem sempre, contudo, esse percentual significa existeê ncia de posiçaã o dominante, sendo

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necessaé rio cotejar a posiçaã o relativa aà dos concorrentes. ÃÀ s vezes, eé viaé vel que diminuta participaçaã o seja capaz
de a empresa impor seus preços, atuando com indiferença e independeê ncia. Outro indicativo eé a dependeê ncia
dos consumidores ou fornecedores, quando se verifica um baixo grau de elasticidade cruzada (cross elasticity),
do produto, restando reduzida a cambiabilidade com produtos ou serviços similares. EÉ o que ocorre com muitas
marcas de produto e seus “fieis” consumidores. Outro ponto eé a poteê ncia econoê mica da empresa ou força do
grupo a que pertence (conglomerados, com facilidade de captaçaã o de receitas financeiras) Tambeé m haé um fator
consistente no controle de vaé rias ou todas as fases de determinado processo de produçaã o e/ ou distribuiçaã o
industrial, significando o alcance de mateé ria-prima a preços competitivos (integraçaã o vertical). Por outro lado,
pode-se verificar, notadamente, o domíénio de tecnologia e o grau de crescimento de determinado setor, que
podem ser conjugados com o aspecto temporal. Na verdade naã o haé foé rmulas matemaé ticas, havendo de ser
verificada caso a caso. O comportamento do monopolista eé caracterizado pela auseê ncia de riscos aos seus
propoé sitos, ou seja, havendo um erro estrateé gico de seus negoé cios, naã o restaraã o outros concorrentes aptos a
ocupar sua posiçaã o de domíénio.

Trata-se de um poder potestativo (potestas). Neste diapasaã o, a posição dominante implica sujeição (seja dos
concorrentes, seja de agentes econômicos atuantes em outros mercados, seja dos consumidores àquele
que o detém. Decorre em independência e liberdade de agir sem considerar a existência ou
comportamento de outros sujeitos (Forgioni).

Segundo decisaã o do CÃDE, “(...) esse poder confere à empresa dominante a capacidade de influir sobre as outras
empresas do mercado (...) a empresa dominante não se deixa influenciar pelo comportamento das demais
participantes do mercado.” (1993 – Fiat x Transauto).

No Brasil naã o se pune a posição dominante, senaã o somada com o abuso do poder (ou abuso do direito,
segundo doutrina brasileira, positivado no art. 187 do CC). Nesse sentido, alude o art. 36 da Lei 12.529/11 que
quando essa posiçaã o eé causa de um processo natural, fundado na maior eficieê ncia do agente, naã o se fala em
ilíécito (competitive advantage ou vantagem competitiva). Destaque-se que o abuso do poder econoê mico consiste
em todo ato de agente econoê mico que, valendo-se de sua condiçaã o de superioridade econoê mica, atua
prejudicando a concorreê ncia, o funcionamento dos mercados, ou, ainda, aumentando arbitrariamente os lucros.
Ressalte-se todavia que a expressaã o utilizada naã o se situa num contexto de abuso de direito ou abuso de poder,
tal qual no direito comum, havendo críéticas da doutrina antitruste mais abalizada, quanto aà essa denominaçaã o.
“De iníécio, o poder econoê mico naã o eé um direito, mas sim um fato (...) quando falamos de ‘abuso do poder
econoê mico, naã o haé um direito a que possamos nos referir (...) ademais a doutrina do ‘abuso de direito’, vem
impregnada de inegaé vel ranço privatíéstico.” (Forgioni).

O ideal eé compreender a repressaã o ao abuso do poder econoê mico como princíépio coibidor do abuso dos direitos
de liberdade econoê mica, visando a implementaçaã o de políéticas pué blicas, naã o se relacionando, logo, com a esfera
de direitos e interesses privados. Embora expressamente vedado, o abuso de posiçaã o dominante naã o vem
definido em nossa lei, havendo apenas alguns exemplos no art. 36, § 3°, poreé m o que deve ser verificado saã o as
condutas que prejudicam a concorreê ncia e naã o o concorrente, a exemplo das condutas indicadas na Lei de
Propriedade Industrial (Lei 9.279).

De outro aê ngulo, podem surgir infraçoã es decorrentes de concentraçoã es (de fato ou de direito) quanto os agentes
passam a submeter-se a uma mesma direçaã o, a um mesmo centro decisoé rio.

 Concorrência ilícita e desleal


à aplicaçaã o literal do texto normativo, sem qualquer flexibilizaçaã o pode gerar consequeê ncias opostas aà quelas
almejadas pela legislaçaã o vigente. Por isso a lei antitruste franqueia meios teé cnicos capazes de amoldar aà
realidade o processo de interpretaçaã o e aplicaçaã o das normas nela contidas, atraveé s das denominadas “vaé lvulas

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de escape” (regra da razaã o, mercado relevante e jogo do interesse protegido). Ã principal delas consiste na regra
da razaã o. Tendo em conta que o caraé ter abusivo das condutas abusivas naã o decorre per se, necessitando anaé lise
do caso concreto, a REGRA DA RAZÃO se aplica aos atos de concentraçaã o, de forma se verifiquem os efeitos
líéquidos de ganhos vs. perdas sociais de um dado comportamento supostamente anticoncorrencial. Destarte, o
ato eé confrontado com seus efeitos futuros em seu respectivo mercado relevante. P. ex., pode ser que um ato de
concentraçaã o de uma indué stria nacional, possa ser socialmente beneé fica pelos ganhos de escala daíé decorrentes.

Norteia-se pelas condutas baé sicas descritas no art. 36 da lei 12.529, constituindo as condutas do §3º do mesmo
artigo rol meramente exemplificativo, dada a inesgotabilidade das possibilidades das condutas lesivas à
ordem econômica. Ãs condutas do art. 36 § 3º, para que sejam caracterizadas como infraçoã es, a possibilidade
de ocorreê ncia dos efeitos descritos no caput.

Isto eé , para que seja composto o suporte faé tico previsto na hipoé tese normativa, necessaé rio se faz que a praé tica
em questaã o restrinja a concorreê ncia de modo naã o razoaé vel, sendo esse fator elemento indispensaé vel do mesmo
suporte faé tico, sem o qual a norma anticoncorrencial eé afastada, tornando-se líécita a praé tica restritiva. Basta a
mera potencialidade dos efeitos descritos no art. 36 caput para a caracterizaçaã o da infraçaã o, naã o sendo
necessaé rios danos reais. Ressalte-se que a ocorreê ncia da infraçaã o independe de culpa do infrator.

Ãs infraçoã es podem decorrer de condutas unilaterais de um determinado agente ou de ajustes entre dois ou
mais agentes da cadeia de circulaçaã o/produçaã o. Ã estes ué ltimos daé -se o nome de colusão, que pode ser
horizontal ou vertical. Jaé as isençoã es (sistema europeu), consistem em meé todo similar aà regra da razaã o,
mediante a qual a lei legitima certa praé tica, sem incideê ncia das sançoã es, em que pese o preenchimento do
suporte faé tico no caso concreto.

Entretanto, não se aceita a técnica da isenção para o abuso de posição dominante, valendo taã o somente aos
acordos entre empresas restritivos da concorreê ncia. Qualquer consideraçaã o da teoria da isençaã o deve partir de
dois suportes faé ticos distintos, um geral (proibiçaã o da conduta anticoncorrencial) e um especíéfico (autorizativo
para o caso concreto). Por exemplo, apesar do acordo entre empresas ser ilegal, de forma geneé rica, a legislaçaã o
pode permitir a isençaã o de praé ticas que contribuam para melhorar a distribuiçaã o de produtos ou para
promover o progresso teé cnico ou econoê mico, contanto que aos utilizadores se reserve parte equitativa do lucro
daíé resultante.

Jaé a vaé lvula do MERCADO RELEVANTE, consiste no espaço da concorreê ncia e possui duas dimensoã es: 1)
dimensão material: neste sentido, mercado relevante eé aquele representado pela soma dos produtos que
podem ser razoavelmente substituídos, quando utilizados nos fins para os quais são produzidos, sem desvincular a
qualidade, a finalidade e, de maneira especial, o preço. Ã anaé lise de dimensaã o material deve levar em conta a
perspectiva do consumidor, sendo presumida a fungibilidade entre dois produtos quando o aumento no preço
de um conduzir ao aumento da procura de outro, o que se denomina de elasticidade cruzada; 2) dimensão
geográfica: que eé o espaço territorial onde os agentes econoê micos competem entre si e pode ser compreendida
como a aé rea na qual o agente econoê mico eé capaz de aumentar os preços que pratica sem perder um grande
nué mero de clientes (pois passariam a consumir na concorreê ncia) e nem provocar imediatamente a inundaçaã o
da aé rea com bens e serviços de outros fornecedores que sejam similares. Os aspectos que influenciam a
delimitaçaã o geograé fica de um mercado relevante saã o o haé bito dos consumidores (propensaã o a substituiçaã o de
um certo bem por outro na hipoé tese de preços elevados), a incideê ncia dos custos de transportes, as
caracteríésticas dos produtos, os incentivos de autoridades locais e a existeê ncias de barreiras (formais e
informais) ao ingresso de novos concorrentes. Se o fluxo de mercadorias jaé opera com um grande nué mero de
importados, temos um mercado relevante mundial.

à anaé lise da dominaçaã o de mercado deve levar em conta essas duas dimensoã es. EÉ onde se travam as relaçoã es de
concorreê ncia ou atua o agente cujo comportamento esteja sendo analisado. Naã o existe um criteé rio fechado para
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a sua delimitaçaã o. Cabe registrar que, mesmo no monopoé lio da circulaçaã o de um bem ou serviço, a existeê ncia de
bens substitutos imperfeitos poderaé fazer com que o mercado naã o esteja sujeito a abuso. Ãlguns defendem que
a anaé lise da conduta lesiva deve levar em consderaçaã o o fator tempo, isto eé , qual seria o lapso necessaé rio para
que os potenciais concorrentes e os consumidores reajam e neutralizem os ganhos da conduta lesiva do infrator.
Normalmente, eé estrateé gia dos investigados ampliar ao maé ximo os limites de mercado relevante para fins de
naã o aplicaçaã o de infraçoã es.

Por fim, o JOGO DO INTERESSE PROTEGIDO trata-se de vaé lvula de escape consistente numa soluçaã o calcada
na ponderaçaã o juríédica, em cada situaçaã o em jogo, sem que se cogite numa antinomia entre normas proibitivas
e autorizadoras da conduta. Tendo em conta o grande nué mero de bens tutelados (interesse do consumidor, do
mercado, interesse nacional, bem comum etc), emerge uma grande complexidade hermeneê utica, possibilitando
decisoã es em vaé rios sentidos, algumas diametralmente opostas. Como exemplo, vale citar um caso norte-
americano: “praticar preços baixos para eliminar concorrentes eé legal porque tais preços beneficiam o
consumidor”.

à lei antitruste brasileira eé uma lei de repressaã o ao abuso do poder econoê mico, em vista do que dispoã e a CF, art.
173, §4º (Forgioni). Esse eé seu objeto juríédico imediato. Ãssim, a anaé lise do interesse protegido, de acordo
com a autora, requer a anaé lise do texto constitucional, em cotejo com os bens juríédicos tutelados pela Lei
12.529 (art. 1°), visto que o caput relaciona uma miríéade de interesses dignos de tutela. Todavia, as decisoã es
com base na lei antitruste devem ter como preocupação imediata a tutela da livre concorrência, sendo os
demais bens juríédicos, tal como a proteçaã o do consumidor, serem vistos e encarados como interesses indiretos e
mediatos, quando envolvidos. Caso contraé rio, tudo que levasse aà reduçaã o de preços seria considerado beneé fico.

De resto, cite-se julgado do STJ:

ÃCP. TÃRIFÃ DE ÃRMÃZENÃGEM. PORTO. COBRÃNÇÃ ÃBUSIVÃ. (...) Quanto a afirmar que a cobrança
da tarifa em comento constituiria infração da ordem econômica por meio do exercício abusivo
de posição dominante tendente a prejudicar a livre concorrência e a livre iniciativa, esclarece o
Min. que a posição dominante não gera, por si só, um ilícito, as empresas que alcançaram
elevados percentuais de participação de mercado a partir de atividades de P&D (pesquisa e
desenvolvimento) e da geração de eficiências jamais poderiam ser penalizadas sob a ótica
antitruste. Poreé m, deve-se vedar o exercíécio abusivo dessa posiçaã o por meio de condutas
anticompetitivas destinadas a limitar ou a impedir o acesso de novas empresas no mercado e criar
dificuldades aà constituiçaã o, funcionamento ou desenvolvimento de empresa concorrente (arts. 20, I e
IV, e 21, IV e V, da Lei n. 8.884/1994). Dessa forma, ratificou a decisaã o do tribunal a quo a qual apregoa
ser abusiva a cobrança de tarifa de armazenagem de carga de 15 dias por parte da empresa que
explora serviço portuário em regime de concessão ou permissão, pois não se pode cobrar por
um serviço que não foi prestado, mas esse entendimento deve ser compreendido com as ressalvas
feitas pelo Min. Relator. (REsp 1181643).

 Disciplina jurídica da concorrência empresarial


Ãs praé ticas antitruste saã o classificadas conforme suas treê s principais manifestaçoã es 1) acordos (horizontais e
verticais); 2) abuso de posiçaã o dominante; e 3) concentraçoã es. O sistema brasileiro de proteçaã o da concorreê ncia
eé híébrido, mesclando o americano e o europeu, mas supera as duas tradiçoã es no que toca aà tipificaçaã o dos atos
(art. 36, §3°). Desta forma, para que seja considerado contraé rio aé ordem econoê mica, basta que o ato (acordo,
abuso ou concentraçaã o) tenha por objeto ou produza alguns dos efeitos dos incisos do caput: “Constituem
infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham
por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados.”

Inc. I (limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa)– confere
concreçaã o ao mandamento constitucional do art. 170. Trata das condutas que visam limitar o ingresso ou
permaneê ncia de concorrentes num dado mercado. Limitar eé barrar total ou parcialmente o ingresso de novos

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concorrentes. Falsear significa ocultar a praé tica restritiva (v.g., quando dois fornecedores celebram “contrato de
troca de informaçoã es” com o intuito de ocultar açaã o concertada sobre os preços praticados. Ã exemplo disso, Ã
conduta prejudicar daé espaço aà tipificaçaã o aberta, consistindo em qualquer conduta empresarial lesiva aà s
estruturas do mercado.

Inc. II(dominar mercado relevante de bens ou serviços) - visa reprimir a imposiçaã o arbitraé ria de um agente
econoê mico sobre os demais que atuem no mesmo nicho, por meio de atuaçaã o monopolista ou tendente a esta,
objetivando a exclusaã o dos demais competidores. Ã conquista na natural do mercado, resultante da eficieê ncia
do agente, naã o caracteriza a conduta em comento (Ãrt. 36. § 1º). Ãs definições de posição dominante e
mercado relevante, que encontravam-se no art. 20, §§ 2º, 3º e 4 º da Lei 8.884, teve redaçaã o melhorada,
enunciando o §2º do art. 36 que “Presume-se posição dominante sempre que uma empresa ou grupo de empresas
for capaz de alterar unilateral ou coordenadamente as condições de mercado ou quando controlar 20% (vinte por
cento) ou mais do mercado relevante, podendo este percentual ser alterado pelo Cade para setores específicos da
economia.”

Inc. III (aumentar arbitrariamente os lucros) - visa evitar extraçaã o indevida da renda dos consumidores e
consequente empobrecimento destes – assim como a reduçaã o do consumo - a meé dio e longo prazo. Desde muito
tempo, a legislaçaã o brasileira vem buscando combater os preços excessivos e lucros arbitraé rios, tendo em vista
a proteçaã o dos consumidores. Naã o se combate a posiçaã o dominante em si, poreé m se busca dissuadir o uso
abusivo do poder econoê mico, tambeé m atraveé s da repressaã o aos preços abusivos. Diversamente eé o sistema
norte americano, no qual naã o se proíébe o lucro excessivo. Laé se resguarda diretamente a livre concorreê ncia
Ãrbitraé rio eé o lucro que naã o se justifica sob o ponto de vista tecnoloé gico, econoê mico ou financeiro, mas naã o estaé
ligada essencialmente aà quantidade em si dos lucros. O lucro pode ser alto e legíétimo. Esse dispositivo não
tutela a livre concorreê ncia e a livre iniciativa, mas sim, protege contra a expropriaçaã o do consumidor. Com
efeito, onde o mercado identifica o lucro, haé a tendeê ncia do aumento de ofertantes. Se houver barreiras a
entrada, eé possíével que haja incideê ncia de alguma outra disposiçaã o do art. 36. ÃÀ exceçaã o do dispositivo em
comento, naã o haé domíénio de mercado nem abuso de posiçaã o dominante sem restriçaã o aà livre concorreê ncia ou aà
livre iniciativa.

Inc. IV (exercer de forma abusiva posição dominante) - visa coibir o exercíécio abusivo de posiçaã o dominante. No
entanto a conquista natural decorrente do aumento da eficieê ncia e de maximizaçaã o dos resultados naã o perfaz
infraçaã o aà ordem econoê mica, pois naã o a posiçaã o dominante em si que eé reprimida, mas sim, o seu abuso. Na
posiçaã o dominante, as decisoã es de um produtor (normalmente com uma grade parcela do mercado, ou market
share) teê m capacidade de influenciar a decisaã o dos demais concorrentes afetando o seu desempenho. O
detentor da posiçaã o dominante atua de forma independente e indiferente em relaçaã o a estes (v.g., imposiçaã o de
preços). Normalmente eé mercada pela auseê ncia de potenciais concorrentes em um dado mercado, o que
viabiliza a atuaçaã o potestativa, pois a possibilidade de futura entrada eé vista como um a força competitiva atual
e tudo vai depender do tempo necessaé rio para que os novos concorrentes ingressem no mercado, pois a demora
na correçaã o da distorçaã o poderaé trazer consequü eê ncias danosas para o proé prio mercado. Ã conduta lesiva pode
tanto ser dirigida contra consumidores (preços excessivos) ou contra os demais concorrentes (preços
predatoé rios). Uma empresa domina ilicitamente o mercado quanto haé eliminaçaã o total ou parcial da
concorreê ncia, entre produtos comparaé veis, destinados ao mesmo uso. O exercíécio abusivo de posiçaã o dominante
pode ser realizado por grupos (de fato ou de direito) de empresas. Ãteé mesmo em patentes pode haver abuso de
posiçaã o dominante. No abuso de posiçaã o dominante haé um exercíécio aparentemente líécito de direito, mas que
causa danos a terceiros por contrariar a sua finalidade social, configurando seu abuso.

Frise-se que, tanto nos EUÃ quanto na Europa, eé necessaé rio caracterizar a posiçaã o dominante do agente
econoê mico em determinado mercado relevante, a fim de que se lhe possa imputar o abuso.

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No Brasil, contudo, eé prescindíével deter posiçaã o dominante, para infringir a ordem econoê mica, bastando a
produçaã o dos efeitos ou a existeê ncia de determinados objetivos previstos no art. 36. Por outro lado a lei permite
que concentraçoã es sejam realizadas, havendo autorizaçaã o preé via do CÃDE para tanto. Isso porque, em
determinadas situaçoã es, a concentraçaã o de empresas e grupos pode ensejar benefíécios compensatoé rios.

Cabe registrar, nessa senda, que as condutas do art. 36 §3º possuem caraé ter meramente exemplificativo, dentre
os quais podem ser citadas a proibiçaã o da formaçaã o de cartel (que eé a colusaã o que visa simular um mercado
monopolista, onde os coludentes preferem cooperar entre si restringindo a variedade de produtos e dividindo
os mercados para manter suas receitas sempre estaé veis – ressalte-se que eé imprescindíével o preé vio ajuste entre
os envolvidos), da venda casada (subordinaçaã o da aquisiçaã o de um bem ou serviço a outro, estabelecendo
barreiras a entrada de concorrentes), dos sistemas seletivos de distribuição (saã o barreiras impostas pelo
produtor ao distribuidor dentro do respectivo ciclo econoê mico e sem justa causa – e soé se justificam se tiverem
por escopo manter um padraã o eficiente de distribuiçaã o) e do preço predatório (venda proposital de bens com
preços inferiores ao seu custo com o fito de dominar mercados, mas que naã o se confunde com o dumping. O
produtor inicialmente vende os produtos a preços mais baixos com o intuito de empurrar os seus concorrentes
para fora do mercado, para, apoé s praticar preços monopolíésticos). No entanto, os descontos promocionais sem a
finalidade de eliminaçaã o da concorreê ncia naã o consubstanciam tal praé tica. Os concorrentes devem ser taã o fracos
que o preço predatoé rio possibilidade a sua aniquilaçaã o sem que, mesmo com a alienaçaã o dos ativos de tais
empresas novos competidores consigam “neutralizar” os efeitos do preço predatoé rio.

Outro ponto relevante eé que a figura juríédica dos atos que a Lei 12.529 visa coibir naã o se confundem, com a
premissa restrita do ato juríédico desenvolvido pela doutrina de direito privado. O ato da Lei Ãntitruste pode naã o
ter a finalidade adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direito. Ãteé atos meramente morais,
segundo a doutrina especializada, saã o vedados pela lei. Ãssim, o ato nulo, invaé lido ou ineficaz ou, ateé mesmo o
inexistente perante o sistema juríédico, poderaé subsumir-se aà Lei 12529 em qualquer dos incisos do art. 36. O
que importa eé a verificaçaã o dos seus efeitos, atuais ou potenciais, para comprovar a existeê ncia de praé tica
vedada.

Os acordos restritivos da concorreê ncia saã o divididos entre acordos verticais e horizontais, segundo os mercados
relevantes em que atual os partíécipes. Os primeiros saã o os celebrados entre agentes econoê micos que atual no
mesmo mercado (geograé fico e material), encontrando-se em direta relaçaã o de concorreê ncia. Os horizontais, por
sua vez, disciplinam relaçoã es entre agentes que desenvolvem suas atividades em mercados relevantes distintos,
muitas vezes complementares. Por exemplo, temos o ajuste firmado entre fabricante e distribuidora de
determinado produto ou empresa franqueadora e seus fraqueados.

Nem todas as colusoã es saã o ilíécitos anticoncorrenciais. Ã colusaã o vertical, por sua vez, pode ser líécita quando visa
reduzir a concorreê ncia intramarca e fomentar a concorreê ncia intermarca, onde geraria economias de escala,
facilitara a entrada de novos agentes econoê micos no mercado de distribuiçaã o, impediriam a atuaçaã o de
caroneiros (que poderiam se locupletar da logíéstica de competidores intramarca), evitariam a concentraçaã o dos
distribuidores e permitiriam a preservaçaã o da imagem do produto. Consistem na determinaçaã o de preços de
revenda, na divisaã o de mercado e na venda casada.

à ilicitude da conduta deve ser analisada caso a caso. Quanto aà esta ué ltima praé tica anticoncorrencial, deve-se
observar a existeê ncia de um produto principal e um produto imposto (ou serviço); deve estar presente uma
coerçaã o para o adquirente do produto; e o fornecedor deve ser titular de um certo grau de poder no mercado.

Haé , ainda, as concentrações conglomeradas (jaé esboçadas alhures), muitas vezes impulsionada pela
diversificaçaã o de mercados como forma de diminuiçaã o de riscos, onde as perdas em um setor seriam
compensadas com os ganhos em outro. Ã concentraçaã o pode se dar entre empresas que produzam o mesmo
tipo de mercadoria em mercados relevantes geograé ficos diversos (expansão de mercado) ou pode se dar em
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empresas que produzem bens complementares (expansão por produto). Ã concentraçaã o conglomerada pode
ocorrer junto com potenciais concorrentes (concorreê ncia potencial percebida) onde os agentes envolvidos
podem ter maior independeê ncia e indiferença em relaçaã o aos demais agentes que operem no mercado. Tais
concentraçoã es podem contrastar com os poderes do Estado.

Tal forma de concentraçaã o contrasta com a concentração pura, onde os mercados em que os agentes
envolvidos atuam naã o guardam relaçaã o de concorreê ncia nem de complementaridade. Ãs concentraçoã es podem
ser beneé ficas por gerar economias de escala, otimizar um negoé cio jaé estabelecido, gerar economia tributaé ria e
aumentar os atrativos de investimento pela maior perspectiva de lucro e pela diminuiçaã o de riscos da atividade.

No entanto, podem gerar efeitos negativos, tais como instabilidade no mercado com possibilidade de exercíécio
de poder que possa fazer frente ao proé prio estado. Soé no caso concreto, com anaé lise do mercado relevante
afetado, da fatia de mercado antes e depois da concentraçaã o (market share), do exercíécio do poder de mercado
nesses dois momentos (market power), da criaçaã o de barreiras a entradas de novos concorrentes, da
concorreê ncia potencial e da dinaê mica da concorreê ncia num dado mercado relevante eé que se pode aferir a
legitimidade de um ato de concentraçaã o.

Conforme jaé analisado, naã o haé uma foé rmula matemaé tica preé -elaborada, constituindo-se em juíézo discricionaé rio
do CÃDE, o qual utiliza meé todos que acabam por fornecer indicativos. Na esteira das liçoã es de Paula Forgioni,
“(...) devemos analisar dois aspectos complementares e indissociáveis: o mercado relevante geográfico e o mercado
relevante material, ou mercado do produto. O mercado relevante geográfico é a área onde se trava a concorrência
é o mercado relevante material é aquele em que o agente econômico enfrenta a concorrência.” (paé g. 231) No geral,
atos de concentraçaã o tendem a ser vistos com menos rigidez que outros atos de colusaã o que possam afetar a
concorreê ncia.

Por sua vez, o cartel constitui-se um forma de praé tica concertada que visa a reproduçaã o de condiçoã es
monopolíésticas, no intuito de neutralizar a concorreê ncia entre elas. Todavia, nem sempre eé sendo necessaé rio
que os coludentes sejam concorrentes entre si. Basta que um dos partíécipes tenha um poder de agir de forma
independente relaçaã o aos demais. EÉ irrelevante a forma pela qual se celebra a praé tica concertada. Pode ter
efeitos a montante ou a jusante da cadeia produtiva.

No cartel, as empresas conservam sua independeê ncia administrativa e financeira, mas tem como objetivo a
eliminaçaã o ou diminuiçaã o da concorreê ncia do setor e normalmente estaé relacionado a acordo de preços e tende
a ser instaé vel quando naã o haé empresa dominante.

Uma forma de cartel eé o cartel de exportaçaã o, onde empresas se unem para enfrentar a concorreê ncia
internacional, podendo ser autorizados pelo CÃDE nos termos do art. 88 da Lei nº 12.529. Os carteé is se diferem-
se dos acordos de price leadership, onde uma empresa dominante tem o poder de impor o preço a ser praticado,
mesmo coercitivamente. Mas tambeé m pode decorrer das estruturas naturais do mercado, naã o caracterizando
abuso de posiçaã o dominante.

Panoeiro: os carteé is de exportaçaã o costumam ser tolerados

 Penalidades

Tratando-se de penalidades, a nova Lei naã o trouxe muitas inovaçoã es, atualizando o valor das penalidades
aplicaé veis, adequando as multas aà realidade atual. Previu uma nova penalidade, qual seja “a proibição de exercer
o comércio em nome próprio ou como representante de pessoa jurídica, pelo prazo de até 5 (cinco) anos” (art. 38,
VI), bem como retirou o limite imposto aà multa diaé ria cominada em caso de recusa a prestaçaã o de informaçoã es
aos oé rgaã os fiscalizadores, antes a lei continha a seguinte redaçaã o: “A multa prevista neste artigo será computada

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diariamente até o limite de noventa dias contados a partir da data fixada no documento a que se refere o
parágrafo anterior”, agora, essa disposiçaã o naã o existe mais.

O art. 37 da lei nº 12.529 trata das penalidades pecuniárias. O art. 38 trata das penalidades não-pecuniárias.
Neste particular, cabe registrar que as recomendaçoã es soé podem ser seguidas nos casos em que o legislador
reservou discricionariedade ao agentes decisor competente, mas naã o nos atos vinculados. Ãs penalidades do
art. 38, inc. V, devem ser aplicadas quando outras medidas menos restritivas forem insuficientes para a
eliminaçaã o dos efeitos nocivos aà ordem econoê mica. Podem incidir no aê mbito patrimonial da empresa (cisaã o da
sociedade e transfereê ncia do controle acionaé rio), da liberdade (cessaçaã o parcial de atividade) e contratual
(venda de ativos), aleé m de qualquer outro ato ou provideê ncia necessaé ria para a eliminaçaã o dos efeitos nocivos aà
ordem econoê mica.

Embora exista discricionariedade em tal escolha, ela naã o eé pura, pois exige fundamentaçaã o em pressupostos e
condicionamentos principioloé gicos, especialmente o da proporcionalidade. Daíé o dever da autoridade antitruste
fundamentar suas escolhas como forma de diminuir a margem de subjetivismo puro. Naã o existe ato que seja
taxado de puramente discricionaé rio, mas sim margem de discricionariedade quanto a ocorreê ncia ou de certas
situaçoã es que justificam ou naã o certos comportamentos e opçoã es discricionaé rias quanto ao comportamento
mais indicado para a concreçaã o do interesse pué blico num caso concreto. Ã grande discricionariedade agrava de
sobremaneira a responsabilidade do agente decisor.

Os arts. 39 a 44 trazem outras infraçoã es e penalidades.

à dosimetria da pena eé regulamentada pelo art. 45, frisado que naã o existe importaê ncia de ordem preé -
estabelecida, devendo ser sopesados no caso concreto. Ã gravidade da infraçaã o deve ser considerada tanto na
dimensaã o econoê mica da infraçaã o como em atençaã o aos demais valores protegidos pelo art. 170 da CF, tendo
íéntima relaçaã o com o criteé rio do inc. V. Ã boa-feé constitui-se na anaé lise da intençaã o subjetiva do infrator. O inc.
III do art. 45 se refere tanto aos ganhos reais como potenciais. Ã reincideê ncia constitui-se em evideê ncia de que a
puniçaã o anterior resultou ineficaz.

 Atos de concentração e estrutura de mercados

Os atos de concentraçaã o empresarial (fusoã es, aquisiçoã es, incorporaçoã es e joint ventures) podem configurar
praé ticas abusivas. Sobre o controle de atos de concentraçaã o econoê mica (arts. 53 a 65 e 88 a 92), se destacam
treê s inovaçoã es:

1) O controle do CÃDE passa a ser preé vio. Isto eé , as empresas que intencionem promover uniaã o empresarial
devem aguardar a decisaã o favoraé vel do CÃDE antes de realizarem a concentraçaã o econoê mica. Para Forgioni,
para determinar a necessidade de submissaã o da praé tica restritiva aà apreciaçaã o do CÃDE, naã o eé necessaé rio, em
princíépio, que caracterizemos o ato como ‘concentraçaã o econoê mica’ (...) Quanto aos atos de concentraçaã o
econoê mica (tais como fusoã es, aquisiçoã es, constituiçoã es de empresa comum etc.), a lei presume sejam eles
restritivos da concorreê ncia sempre que envolvam mais de 20% do mercado relevante ou que os partíécipes
possuam faturamento bruto anual superior a R$ 400 milhoã es; presente um desses paraê metros haé a
obrigatoriedade de submissaã o do ato de concentraçaã o aà s autoridades antitruste”.

Ãs partes envolvidas nessa operaçaã o, a princíépio, nos termos do art. 88 da Lei 12.529, deveraã o submeter ao
Cade, os atos de concentraçaã o econoê mica em que, cumulativamente: I - pelo menos um dos grupos envolvidos
na operaçaã o tenha registrado, no ué ltimo balanço, faturamento bruto anual ou volume de negoé cios total no Paíés,
no ano anterior aà operaçaã o, equivalente ou superior a R$ 400 milhoã es; II - pelo menos um outro grupo
envolvido na operaçaã o tenha registrado, no ué ltimo balanço, faturamento bruto anual ou volume de negoé cios
total no Paíés, no ano anterior aà operaçaã o, equivalente ou superior a R$ 30 milhoã es. Para tanto, somadas as
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competeê ncias da Superintendeê ncia e do Tribunal, deve haver apreciação o pedido em até 240 dias. Tal prazo
pode ser dilatado em até 60 dias a requerimento das empresas ou em até 90 dias a requerimento do
Tribunal. No projeto de lei, havia a previsaã o de aprovaçaã o taé cita do ato de concentraçaã o econoê mica no caso de
descumprimento do prazo, mas esse dispositivo foi vetado pela Presideê ncia da Repué blica por ser “medida
desproporcional e com o potencial de acarretar graves prejuíézos aà sociedade”.

2) Ã permissaã o de que o CÃDE aprove atos de concentraçaã o econoê mica que causem danos graves e substanciais
aà concorreê ncia, desde que eficieê ncias econoê micas (ganhos de produtividade e inovaçoã es tecnoloé gicas) sejam
produzidas pela uniaã o, garantido aos consumidores o repasse de parte relevante de tais benefíécios.
Ãnteriormente (Lei 8.884), o CÃDE naã o pode autorizar unioã es empresariais que causem danos exagerados aà
concorreê ncia, ainda que ganhos de eficieê ncia econoê mica fossem produzidos.

3) Ã alteraçaã o do criteé rio de concentraçaã o econoê mica nas unioã es empresariais: suprime-se o criteé rio de
detençaã o de 20% ou mais de mercado relevante, e passa a se exigir que a empresa a ser adquirida possua, ao
menos, faturamento de R$ 30 milhoã es de reais ou que pelo menos um dos grupos econoê micos participantes
detenha faturamento bruto, no Paíés, de R$ 400 milhoã es, registrado no ué ltimo balanço anual. Lembrando que, no
caso da presunçaã o da posiçaã o dominante, o criteé rio (20% do mercado relevante) continua vaé lido, conforme art.
36 §2º.

Pequeno esquema sobre as modificaçoã es acerca desse aspecto:

Lei nº 8.884/94 Lei nº 12.529/2011

As operações de fusões e aquisições em Exigência na submissão previa ao CADE de fusões e


empresas podiam ser comunicadas ao CADE aquisições em empresas que possam ter efeitos
depois de serem consumadas. anticompetitivos.

O Brasil era um dos únicos países do mundo a A análise prévia dará mais segurança jurídica às
adotar um controle posterior da estrutura. empresas e maior agilidade à análise dos atos de
concentração, uma vez que o CADE terá prazo máximo de
240 dias para analisar as fusões, prorrogáveis por mais
90 dias em casos de operações complexas.

O valor mínimo das multas aplicadas variava Agora, as multas aplicáveis por infração à ordem
entre 1% a 30% do faturamento bruto da econômica variam de 0,1% a 20% do faturamento da
empresa. empresa.

Novidade! Na lei anterior, conforme o seu art. 54, todas as formas de concentraçaã o, independentemente da
forma pela qual se manifestem (mesmo sem acordo formal) deveriam ser comunicadas ao CÃDE. Com a nova
Lei, exige-se submissão previa ao CADE de fusões e aquisições em empresas que possam ter efeitos
anticompetitivos, e em situaçoã es especíéficas, abaixo elencadas no art. 88, reservando ao CÃDE, no prazo de um
ano a contar da respectiva data de consumaçaã o, requerer a submissaã o dos atos de concentraçaã o que naã o se
enquadrem no disposto no referido artigo. Vejamos como ficou a nova redaçaã o:

Lei nº 8.884/94 Lei nº 12.529/2011

Art. 54. Os atos, sob qualquer forma Art. 88. Serão submetidos ao Cade pelas partes envolvidas
manifestados, que possam limitar ou de na operação os atos de concentração econômica em que,
qualquer forma prejudicar a livre cumulativamente:
concorrência, ou resultar na dominação de
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mercados relevantes de bens ou serviços, I - pelo menos um dos grupos envolvidos na operação
deverão ser submetidos à apreciação do CADE. tenha registrado, no último balanço, faturamento bruto
anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior
à operação, equivalente ou superior a R$ 400 milhões; e

II - pelo menos um outro grupo envolvido na operação


tenha registrado, no último balanço, faturamento bruto
anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior
à operação, equivalente ou superior a R$ 30 milhões.

O art. 90 da nova lei ainda trouxe o conceito de ato de concentraçaã o, antes inexistente:

“Para os efeitos do art. 88 desta Lei, realiza-se um ato de concentraçaã o quando:


I - 2 (duas) ou mais empresas anteriormente independentes se fundem;
II - 1 (uma) ou mais empresas adquirem, direta ou indiretamente, por compra ou permuta de
açoã es, quotas, tíétulos ou valores mobiliaé rios conversíéveis em açoã es, ou ativos, tangíéveis ou
intangíéveis, por via contratual ou por qualquer outro meio ou forma, o controle ou partes de
uma ou outras empresas;
III - 1 (uma) ou mais empresas incorporam outra ou outras empresas; ou
IV - 2 (duas) ou mais empresas celebram contrato associativo, consoé rcio ou joint venture.
Paraé grafo ué nico. Naã o seraã o considerados atos de concentraçaã o, para os efeitos do disposto no
art. 88 desta Lei, os descritos no inciso IV do caput, quando destinados aà s licitaçoã es
promovidas pela administraçaã o pué blica direta e indireta e aos contratos delas decorrentes.”

Observaçaã o: Contrato de Joint Venture - Ã caracteríéstica essencial do contrato de joint venture eé a realizaçaã o
de um projeto comum, empreendimento cuja duraçaã o pode ser curta ou longa, poreé m com prazo determinado.
EÉ a celebraçaã o de um contrato entre duas ou mais empresas, que se associam, criando ou naã o uma nova
empresa para realizar uma atividade econoê mica produtiva ou de serviços, com fins lucrativos (filial
comum/associaçaã o de sociedades).

Uma joint venture pode ser criada para desenvolver uma seé rie de atividades, tais como, projetos industriais,
execuçaã o de obras, pesquisas e desenvolvimentos, atividades financeiras, prestaçaã o de serviços, etc. Esse
contrato se daé mito no contexto internacional, ex. multinacional detentora dos direitos.

 Repressão do poder econômico pelo Estado

SUJEIÇÃÃ O PÃSSIVÃ E RESPONSÃBILIDÃDE: Estaé regulamentada nos arts. 31 a 35 da Lei 12529. Nas relaçoã es
privadas a responsabilidade decorre de um víénculo, atraveé s do qual uma pessoa arca com o oê nus de indenizar
aquele que, por virtude de obrigaçaã o contratual ou extra contratual, sofreu os efeitos de uma conduta,
contratual ou extracontratual (art. 927 do CC).

Na responsabilidade por infraçaã o aà ordem econoê mica, opera-se a transcendeê ncia dos sujeitos envolvidos,
alcançando demais entidades do mesmo grupo econoê mico e, ateé mesmo outras pessoas naturais que exerceram
poderes de gestaã o. Ã responsabilizaçaã o pode ainda perpassar da esfera administrativa, a cargo do CÃDE, para a
criminal e civil. Naã o eé necessaé ria personalidade juríédica constituíéda para a responsabilizaçaã o e entidades
profissionais, sindicatos, e ateé mesmo o poder pué blico podem incorrer na praé tica de abuso de poder econoê mico.
Por tal motivo deve-se dar atençaã o especial aos monopoé lios constitucionais.

à solidariedade entre empresas do mesmo prescinde de constituiçaã o formal, basta a participaçaã o societaé ria de
fato. No entanto, a solidariedade pressupoã e a participaçaã o na infraçaã o. O art. 33 ainda confere responsabilidade

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aà s empresas ou entidades integrantes de um mesmo grupo econoê mico, quando pelo menos uma praticar ato
configurador de infraçaã o aà ordem econoê mica.

Ãssim, o patrimoê nio do grupo poderaé responder por penalidades (multa por exemplo) + indenizaçoã es impostas
pela praé tica de um de seus membros. Contudo, destaque-se, a dificuldade em se definir o que eé grupo de fato,
nos moldes legais, naã o havendo qualquer consenso doutrinaé rio e jurisprudencial.

Mas certo eé , segundo a doutrina, que haé responsabilidade solidaé ria entre sociedades coligadas, controladoras e
controladas. EÉ bom ressaltar que o texto da novel legislaçaã o evolui ao regular a responsabilizaçaã o passiva dos
agentes econoê micos, referindo-se inclusive aà s pessoas de direito pué blico, evitando-se, destarte, poleê mica
acendida, haé anos, em sistemas antitruste estrangeiros.

Todavia, eé imperioso precisar exatamente ateé que ponto um ente da Ãdministraçaã o Pué blica pode ser
responsabilizado, no que diz respeito aà s sançoã es da lei. De acordo com Forgioni, a disciplina legal naã o se volta
sobre a implementaçaã o de políéticas pelos poderes pué blicos. “Isso significa que a Ãdministraçaã o ao desempenhar
suas funçoã es (= deveres/poderes), naã o estaé sujeita ao mesmo tratamento que as normas antitruste dispensam
aos agentes econoê micos que atuam no campo da atividade econômica em sentido estrito.

Repita-se: a Ãdministraçaã o estaé sujeita aà s limitaçoã es da Lei 12529 apenas na exploraçaã o, pelas entidades que a
conformam como Ãdministraçaã o Indireta, de atividade econômica em sentido estrito.” (Forgioni). Segundo ela,
seria, portanto, contraé rio aà CF admitir que o CÃDE se superpusesse, em relaçaã o aos entes da Ãdministraçaã o
incumbidos do planejamento e formulaçaã o de políéticas pué blicas e prestaçaã o de serviços pué blicos, sobrepondo-
se, por exemplo, aà proé pria Presideê ncia da Repué blica.

 Papel do poder Judiciário


EÉ corrente a discussaã o sobre a atuaçaã o do Poder Judiciaé rio, em relaçaã o aà s decisoã es dadas pelo CÃDE e ageê ncias
reguladoras. Tal contestaçaã o eé infudada e refogem ao sistema juríédico brasileiro, cabendo ao Judiciaé rio a revisaã o
das decisoã es tomadas pelas autoridades antitruste sem qualquer limitaçaã o (Forgioni).

Dentro dessa perspectiva, anote-se o disposto no art. 47 “Os prejudicados, por si ou pelos legitimados referidos
no art. 82 do CDC, poderão ingressar em juízo para, em defesa de seus interesses individuais ou individuais
homogêneos, obter a cessação de práticas que constituam infração da ordem econômica, bem como o recebimento
de indenização por perdas e danos sofridos, independentemente do inquérito ou processo administrativo, que não
será suspenso em virtude do ajuizamento de ação.” Com isso, eé de se afastar conclusoã es pontuais infirmando o
caraé ter de controle do Judiciaé rio, em relaçaã o aà s decisoã es do CÃDE, visto que estas seriam discricionaé rias e
fundadas em sua íéndole de expertise.

 Desconsideração da personalidade jurídica


Estaé prevista no art. 34 da Lei nº 12.529/2011. Causas: 1) abuso de direito, 2) excesso de poder, 3) infraçaã o da
lei, 4) fato ou ato ilíécito, 5) violaçaã o dos estatutos ou contrato social, 6) faleê ncia, 7) estado de insolveê ncia, 8)
encerramento ou 9) inatividade da pessoa juríédica provocados por maé administraçaã o. Note-se que a Lei nº
12.529/2011 adotou a teoria maior objetiva da desconsideraçaã o, ou seja, exige requisitos para a
desconsideraçaã o da personalidade, entretanto, prescinde a anaé lise do elemento subjetivo da pessoa envolvida.

 Processo administrativo no SBDC (principais modificações introduzidas pela Lei nº 12.529/2011)


O CÃDE lidaraé com duas ordens de questoã es: a) apuraçaã o e julgamento de condutas que possam implicar
infraçaã o aà ordem econoê mica (art. 36); e b) anaé lise de pedidos de concentraçaã o visando aà sua eventual
aprovaçaã o.

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No primeiro caso, a investigaçaã o geralmente tem origem em representaçaã o formulada por qualquer
interessado, ou de ofíécio pela Superintendeê ncia-Geral. Caso esta tenha dué vidas quanto aà competeê ncia do CÃDE,
inicia-se procedimento preparatoé rio de inqueé rito administrativo (art. 66, §2°); havendo indíécios suficientes,
abriraé um processo administrativo para imposiçoã es de sançoã es por infraçoã es aà ordem econoê mica; ou
concluindo por auseê ncia de indíécios suficientes aà instauraçaã o de processo administrativo, a Superintendeê ncia-
Geral determina abertura de inqueé rito administrativo. Portanto, cabe ao CÃDE (Tribunal Ãdministrativo) o
julgamento da conduta, pois o parecer da Superintendeê ncia naã o eé vinculativo. Por outro lado, nas hipoé teses de
aprovaçaã o de concentraçoã es, o processo administrativo eé disciplinado pelo art. 53 e seguintes da Lei 12.529/11,
sendo que as partes submentem ao CÃDE o ato de concentraçaã o que pretendem realizar, efetuando as despesas
administrativas correspondentes.

Por força da lei, as partes naã o podem mais, como no sistema anterior, efetuar a concentraçaã o antes da
aprovaçaã o pelo CÃDE. Em caso de aprovaçaã o terceiros interessados e ageê ncias reguladoras podem apresentar
recurso. Ãleé m da rejeiçaã o e aprovaçaã o, o Tribunal pode aprovar a concentraçaã o parcialmente, determinando
restriçoã es, tal como a venda de ativos, cisaã o e alienaçaã o de controle societaé rio, bem como licenciamento
compulsoé rio de direitos de propriedade intelectual. Diante dessa questaã o, impende frisar que o CÃDE, nos
termos do art. 46, § 2°, poderaé firmar acordo em controle de concentraçaã o com as empresas envolvidas,
mediante o qual estas se comprometem a assegurar benefíécios esperados atraveé s da concentraçaã o.

Ãbre-se um pareê ntese para indicar que, em caso de instituiçoã es integrantes do Sistema Financeiro Nacional, a
atribuiçaã o para avaliar os correspondentes atos de concentraçaã o incumbe ao Banco Central, na forma da Lei
4.594/64. Veja decisaã o do STJ a respeito:

(...) ÃTO DE CONCENTRÃÇÃÃ O, ÃQUISIÇÃÃ O OU FUSÃÃ O DE INSTITUIÇÃÃ O INTEGRÃNTE DO


SISTEMÃ FINÃNCEIRO NÃCIONÃL - CONTROLE ESTÃTÃL PELO BÃCEN OU PELO CÃDE -
CONFLITO DE ÃTRIBUIÇOÃ ES - LEIS 4.594/64 E 8.884/94 - PÃRECER NORMÃTIVO GM-20 DÃ
ÃGU. 1. Os atos de concentraçaã o, aquisiçaã o ou fusaã o de instituiçaã o relacionados ao Sistema
Financeiro Nacional sempre foram de atribuiçaã o do BÃCEN, ageê ncia reguladora a quem
compete normatizar e fiscalizar o sistema como um todo, nos termos da Lei 4594/64. 2. Ão
CÃDE cabe fiscalizar as operaçoã es de concentraçaã o ou desconcentraçaã o, nos termos da Lei
8.884. 3. Em havendo conflito de atribuiçoã es, soluciona-se pelo princíépio da especialidade.
(...) 6. O SFN pode subordinar-se a dois organismos regulatoé rios. (REsp 1094218)

1 - Foram ampliados os poderes do Secretaé rio de Direito Econoê mico, agora chamado Superintendente-Geral do
CÃDE, para arquivar denué ncias tratadas em procedimento preparatoé rio de inqueé rito administrativo, sem que se
possa recorrer de tal decisaã o ao Tribunal do CÃDE.

2 - No caso de inqueé rito administrativo arquivado pelo Superintendente-Geral do CÃDE, foi suprimido o recurso
de ofíécio cabíével contra tal decisaã o no ordenamento em vigor. O Tribunal poderaé avocar o inqueé rito (art.67, §
1º), mas nenhuma conduta comissiva eé exigida do Superintendente-Geral do CÃDE no sentido de encaminhar o
inqueé rito arquivado ao Tribunal.

3- Ãs denué ncias oferecidas pelo Congresso Nacional ou por qualquer de suas Casas, que antes exigiam
instauraçaã o imediata de processo administrativo, passaraã o a ser tratadas como demandas a serem investigadas
pelo Superintendente-Geral do CÃDE, por meio de processo ou de mero inqueé rito administrativo, este passíével
de arquivamento sumaé rio por ato do SG CÃDE sem que recurso de ofíécio deva ser proposto perante o Tribunal.

4 - Ã possibilidade de terceiros titulares de direitos e interesses - que possam ser afetados pela decisaã o do CÃDE
- intervirem nos processos administrativos. “Os prejudicados, por si ou pelos legitimados referidos no art. 82 do
CDC, poderão ingressar em juízo para, em defesa de seus interesses individuais ou individuais homogêneos, obter a
cessação de práticas que constituam infração da ordem econômica, bem como o recebimento de indenização por
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perdas e danos sofridos, independentemente do inquérito ou processo administrativo, que não será suspenso em
virtude do ajuizamento de ação". Prescrição: Os dispositivos que tratavam da prescriçaã o na L 8884 foram
revogados pela L 9873 (lei geral sobre prescriçaã o contra Ãdm Pué blica Federal - 5 anos). Ãgora, com a nova lei, o
prazo continuou a ser de 5 anos, mas agora expressamente enunciado, bem como foi prevista a possibilidade de
prescriçaã o intercorrente no caso de procedimento administrativo paralisado por mais de 3 (treê s) anos:

Ãrt. 46 (...) § 3º Incide a prescriçaã o no procedimento administrativo paralisado por mais de 3


(treê s) anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos autos seraã o arquivados de ofíécio ou
mediante requerimento da parte interessada, sem prejuíézo da apuraçaã o da responsabilidade
funcional decorrente da paralisaçaã o, se for o caso.
Outra nova redaçaã o diz respeito aà remissaã o aà legislaçaã o penal “quando o fato objeto da açaã o punitiva da
administraçaã o tambeé m constituir crime, a prescriçaã o reger-se-aé pelo prazo previsto na lei penal” (art. 46, § 4º).

 Medida Preventiva
Com a nova Lei do CÃDE, a medida preventiva passa a ser admissíével naã o apenas no processo administrativo,
mas tambeé m no inqueé rito administrativo. E tambeé m o compromisso de cessaçaã o de praé tica passa a ser adotaé vel
naã o apenas no processo administrativo, mas tambeé m no procedimento preparatoé rio de inqueé rito e no inqueé rito
administrativo.

 Acordos em controle de concentrações


Cuida-se de acordo celebrado entre o CÃDE e empresas que almeja aprovaçaã o de operaçoã es de concentraçaã o
que ainda naã o se consolidaram. Ã operaçaã o eé admitida pelo oé rgaã o, poreé m com restriçoã es aceitas pelas partes,
atraveé s de compromissos com o fim de garantir que os benefíécios esperados da concentraçaã o tenham lugar. Isso
naã o retira do CÃDE a competeê ncia para impor restriçoã es.

 Acordo de leniência (ou delação premiada)


Dada a dificuldade em comprovar a existeê ncia de um cartel, ou seja, um acordo naã o escrito entre os
participantes, o art. 86 preveê o acordo de lenieê ncia. Consiste na concessaã o de benefíécio ao coautor de conduta
infracional da ordem econoê mica que passe a colaborar com as investigaçoã es sobre esta conduta, indicando os
demais envolvidos e fornecendo provas da ocorreê ncia da infraçaã o.

à proposta seraé mantida em sigilo, salvo interesses das investigaçoã es ou do processo, sendo que a recusa por
parte da Ãdministraçaã o naã o implica em confissaã o quanto aà mateé ria de fato. Saã o garantias que visam incentivar a
consecuçaã o dessa espeé cie de acordo. Haé certos requisitos: o denunciante deveraé colaborar efetivamente com as
investigaçoã es e como processo; haé de resultar a identificaçaã o dos demais partíécipes aleé m de documentos que
comprovem a infraçaã o; o denunciante deve ser o primeiro a se oferecer as autoridades; o denunciante deve
cessar seu envolvimento desde a conclusaã o do acordo; o CÃDE naã o deve propor o acordo, caso jaé existam provas
suficientes aà caracterizaçaã o da infraçaã o aà ordem econoê mica; e o denunciante deve sempre comparecer aà s suas
expensas aos atos em que for convocado. Ã celebraçaã o do acordo de lenieê ncia gera, tambeé m, efeitos penais.

à nova lei melhora a redaçaã o do dispositivo, deixando expressamente prevista a suspensaã o do curso do
processo no caso de acordo de lenieê ncia. Ã principal inovaçaã o, contudo, eé a extensaã o dos benefíécios processuais
penais decorrentes do acordo (inviabilidade do oferecimento da denué ncia, suspensaã o do processo e extinçaã o da
punibilidade) para os crimes contra as Licitaçoã es (Lei 8666) e para delito de quadrilha ou bando (art. 288, CP) ,
conforme quadro abaixo.

Ãntiga redaçaã o Nova redaçaã o

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Art. 35-C. Nos crimes contra a ordem econômica, Art. 87. Nos crimes contra a ordem econômica,
tipificados na Lei no 8.137/90, a celebração de tipificados na Lei no 8.137/90, e nos demais crimes
acordo de leniência, nos termos desta Lei, diretamente relacionados à prática de cartel, tais como
determina a suspensão do curso do prazo os tipificados na Lei no 8.666, e os tipificados no art. 288
prescricional e impede o oferecimento da do Código Penal, a celebração de acordo de leniência, nos
denúncia. termos desta Lei, determina a suspensão do curso do
prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia
com relação ao agente beneficiário da leniência.
Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo
pelo agente, extingue-se automaticamente a agente, extingue-se automaticamente a punibilidade dos
punibilidade dos crimes a que se refere o caput crimes a que se refere o caput deste artigo.
deste artigo.

 Compromisso de cessação
Trata-se de ato bilateral que tem por fim suspender a tramitaçaã o do processo administrativo durante o prazo de
seu cumprimento. Deve conter, dentre outros, a obrigaçaã o de cessar a conduta lesiva e de desconstituir seus
efeitos, a multa pelo descumprimento e a contribuiçaã o para o fundo de direitos difusos, quando cabíével. Tanto o
Conselheiro Relator quanto o Superintendente-Geral podem proferir medidas preventivas contendo ordens de
cessaçaã o.

O Procurador-Geral do CÃDE tomaraé medidas judiciais solicitadas pelo Tribunal, necessaé rias aà cessaçaã o. EÉ ato
discricionaé rio do CÃDE e constitui-se em tíétulo executivo extrajudicial. Ãs condiçoã es podem ser alteradas pelo
CÃDE apenas se comprovada sua excessiva onerosidade pelo representado.

Com a Lei nº 12.529, houve apenas alteraçaã o da redaçaã o do dispositivo e o acreé scimo de alguns paraé grafos, sem
que houvesse modificaçaã o na esseê ncia do instituto, trazendo como novidade apenas o fato da proposta de termo
de compromisso de cessaçaã o de praé tica somente poder ser apresentada uma ué nica vez (art. 85 §4º); Ã
confidencialidade da proposta de compromisso (art. 85 §5); a publicidade dos seus termos, apoé s firmado o
acordo (§7º); bem como a proposta do compromisso naã o suspender o processo administrativo.

 Conflitos entre autoridades concorrenciais e reguladoras


Os tipos de regulaçaã o (econoê mica, social, ambiental, cultural, de serviços pué blicos) resumem-se a dois tipos de
medidas pelo agente regulador: a regulaçaã o com fundamento em criteé rios econoê micos e a que tem fundamento
em criteé rios teé cnicos. No entanto, a autoridade responsaé vel pela defesa da concorreê ncia tambeé m se vale de
criteé rios econoê micos. Ãssim, eé necessaé rio delimitar de forma clara o que eé regulaçaã o econoê mica e o que eé defesa
da concorreê ncia.

Daíé, saã o possíéveis os seguintes cenaé rios: 1) a ageê ncia reguladora aplica a legislaçaã o antitruste com prevaleê ncia aà
autoridade de defesa da concorreê ncia; 2) tanto a ageê ncia como a autoridade de defesa da concorreê ncia teriam
competeê ncias concorrentes para aplicaçoã es sançoã es antitruste e estabelecer normas de regulaçaã o econoê mica;
3) Ãs atribuiçoã es das duas autoridades naã o se sobrepoã em; 4) a autoridade antitruste aplica tanto a lei antitruste
como as normas de regulaçaã o teé cnica e econoê mica; 5) desregulamentaçaã o: a competeê ncia recai exclusivamente
sobre a autoridade antitruste. Ã adoçaã o de um desses modelos depende uma seé rie de variaé veis tais como 1)
flexibilidade institucional (capacidade de adaptaçaã o aà s mudanças constantes e dinaê micas); 2) eficieê ncia e
capacidade econoê mica em tempo ceé lere (de modo a garantir a rentabilidade de investimento que restariam
prejudicados pela morosidade da burocracia); 3) custo burocraé tico de transaçaã o; 4) minimizaçaã o do risco de
conflito de competeê ncias (e, assim, da insegurança e incerteza) e 5) minimizaçaã o do risco de captura.

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 Exemplos práticos
Temos tanto o caso do CÃDE x BÃCEN, onde o ÃGU, solucionando a controveé rsia entende que, atualmente o
BÃCEN tem competeê ncia exclusiva para anaé lise de atos de concentraçaã o e abuso de poder econoê mico dentro do
Sistema Financeiro Nacional, aplicando-se somente a L 4595/64, e naã o a lei antitruse. Cite-se, ainda, o exemplo
da ÃNÃTEL, que tem delegaçaã o para a realizaçaã o de atos instrutoé rios, submetendo o julgamento ao CÃDE.

14. ÉTICA E ESTATUTO JURÍDICO DA MAGISTRATURA NACIONAL

RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA, CIVIL E CRIMINAL DOS MAGISTRADOS.


Em principio, os atos jurisdicionais tíépicos saã o insuscetíéveis de redundar na responsabilidade civil do Estado,
pois estaã o protegidos por dois princíépios baé sicos: o principio da soberania do Estado e o principio da
recorribilidade dos atos jurisdicionais.
Por outro lado, o instituto da coisa julgada tem o escopo de imprimir definitividadea soluçaã o dos litíégios. Se a
parte naã o se valeu dos recursos cabíéveis para rever a decisaã o judicial, sua inercia obsta a reclamaçaã o contra o
ato prejudicial. Se, diferentemente, o ato for confirmado em outras instancias, eé porque era legitimo, sendo,
assim, inviaé vel a produçaã o de danos a parte.
Excepcionalmente, comprovada conduta dolosa e demonstra violaçaã o a dever funcional na praé tica de ato
jurisdicional, com deliberada intençaã o de prejudicar terceiros, poderaé o magistrado responder administrativa,
civil e criminalmente.

a. Responsabilidade Criminal do Magistrado


Embora a responsabilizaçaã o do magistrado possa ser administrativa, civil e criminal, vigora o principio pelo
qual haé uma independeê ncia entre estas instancias. Mas pode ocorrer algumas situaçoã es em que a decisaã o na
esfera criminal repercuta na decisaã o da esfera civil e na esfera administrativa, por exemplo, quando o juiz eé
absolvido por inexisteê ncia do fato ou por provada a naã o autoria, com prevaleê ncia do sistema processual penal.
Com a notíécia da praé tica de um crime por um juiz federal, a investigaçaã o deveraé ser presidida pelo Tribunal
Regional Federal. Naã o pode a Políécia Federal e a Militar, desenvolver todo o procedimento preliminar, sob pena
de absoluta nulidade do inqueé rito e das provas nele produzidas, que seraã o inservíéveis. Ãrt. 33, p. ué nico da
LOMÃN:
Ãrt. 33 - Saã o prerrogativas do magistrado:
[...]
Paraé grafo ué nico - Quando, no curso de investigaçaã o, houver indíécio da praé tica de crime por parte do
magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeteraé os respectivos autos ao Tribunal ou oé rgaã o
especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigaçaã o.

à competeê ncia para o julgamento do magistrado eé do tribunal ao qual ele estaé vinculado; se for desembargador,
STJ.
O Tribunal presidiraé a instruçaã o preé via, promovendo o controle das diligeê ncias e podendo, eventual e
subsidiariamente, requisitaé -las, sempre com a participaçaã o de um Procurador-Regional da Repué blica, que eé o
titular da açaã o penal pué blica.
Por sua vez, o MPF naã o precisaraé aguardar nenhum procedimento investigatoé rio caso jaé possua elementos de
convicçaã o suficientes para a propositura da açaã o penal.
Ãdemais, eé possíével ao Tribunal avocar o inqueé rito policial para preservar a sua competeê ncia (Nesse sentido: HC
162.928/TO, Rel. Ministro MÃRCO ÃUREÉ LIO BELLIZZE, Rel. p/ Ãcoé rdaã o Ministro ÃDILSON VIEIRÃ MÃCÃBU
(DESEMBÃRGÃDOR CONVOCÃDO DO TJ/RJ), QUINTÃ TURMÃ, julgado em 13/12/2011, DJe 31/08/2012).

à prisaã o em flagrante somente eé permitida para crimes inafiançaé veis:

Ãrt. 33 - Saã o prerrogativas do magistrado:

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[...]
II - naã o ser preso senaã o por ordem escrita do Tribunal ou do oé rgaã o especial competente para o
julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade faraé imediata
comunicaçaã o e apresentaçaã o do magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado (vetado);

Entaã o, o juiz soé pode ser preso em flagrante de crime inafiançaé vel, se não for por ordem do tribunal.
à autoridade que prender em flagrante faraé a apresentaçaã o do magistrado ao presidente do tribunal a que ele
esteja vinculado, ou seja, se prendeu em flagrante, a comunicaçaã o e apresentaçaã o do magistrado eé imediata.
Quais saã o os crimes que naã o permitem a fiança?
Os crimes que naã o cabem a medida cautelar de fiança, conforme a Carta Magna, saã o Racismo, Tortura, Traé fico
de entorpecentes, Terrorismo, Crimes hediondos, Ãçaã o de grupo armado contra o Estado Democraé tico de
Direito.
Qualquer prisão cautelar de magistrado somente poderá ser decretada pelo próprio Tribunal.
O magistrado preso em flagrante ficaraé aà disposiçaã o do presidente do tribunal, jamais aà disposiçaã o da
autoridade policial.
Daíé em diante o processo criminal contra o magistrado vai ter seu curso normal que teria qualquer processo
criminal perante o Tribunal. Para fins criminais, insere-se o juiz na definiçaã o do art. 327 do CP: “considera-se
funcionaé rio publico para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneraçaã o, exerce cargo,
emprego ou funçaã o publica”.
Tratando-se de crime comum, a perda do cargo mediante sentença penal condenatoé ria, se consumaraé como
efeito da condenaçaã o (pena acessoé ria ou efeito especifico da condenaçaã o penal), na forma do artigo 92, do CP.
Os efeitos não são automáticos devendo ser motivadamente declarados na sentença (CP, art. 92, paragrafo
ué nico).
Existindo condenaçaã o por crime de responsabilidade ou comum sem a decretaçaã o da perda do cargo, esta
poderaé ser decretada em açaã o civil especifica, cuja legitimaçaã o ativa cabe ao Ministeé rio Publico e as
Procuradorias Federal, Estaduais ou Distritais.
Cuidando-se de crime de abuso de autoridade (Lei 4.898/65), a perda do cargo pelo juiz vitalíécio nunca se daraé
pelo processo administrativo nela previsto (art. 7), tendo que se operar, por sentença penal, de conformidade
com o art. 6, paragrafo 3, "c", da mesma lei (pena principal).

b. Responsabilidade Civil do Magistrado


De iníécio, destaque-se que a responsabilidade pessoal do juiz eé subsidiaé ria e somente ocorreraé se tiver
procedido com dolo ou fraude,recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providencia que deva ordenar de
oficio ou a requerimento da parte (CPC, art. 133, I e II; LOMÃN, art. 49).
Existe relevante divergeê ncia doutrinaé ria acerca dos fundamentos para a responsabilidade civil do magistrado.
Essa divergeê ncia refere-se especificamente ao alcance do artigo 133, inciso I do Coé digo de Processo Civil, que
possui a mesma redaçaã o do artigo 49, inciso I, da LOMÃN, e utiliza os termos dolo ou fraude. Esse dispositivo
naã o fala em ato culposo.
Observe-se que existem outras hipoé teses específicas de responsabilidade civil do magistrado, previstas nos
artigos 133, inciso II do Coé digo de Processo Civil, 49, inciso II, da LOMÃN, e 1.744, incisos I e II, do Coé digo Civil,
que tratam de situaçoã es claramente desidiosas, portanto, a responsabilidade nessas hipoé teses específicas eé
admitida a tíétulo de desíédia do magistrado.
Ãssim sendo, a divergeê ncia que chamamos atençaã o refere-se aà interpretaçaã o dos artigos 133, inciso I do Coé digo
de Processo Civil, e 49, inciso I, da LOMÃN, que dispoã em, com a mesma redaçaã o, que: “ responderá por perdas e
danos o juiz, quando no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude”. Esse eé o dispositivo geral da
responsabilidade civil do magistrado.
à divergeê ncia eé a seguinte: uns interpretam o dispositivo de forma restritiva, entendendo que o magistrado
somente responde por danos causados ao proceder com dolo ou fraude, sendo fraude entendida como uma
forma especíéfica de dolo, consistente no comportamento malicioso, na ligaçaã o com uma das partes ou terceiro
(Ãrnaldo Rizzardo); outros defendem a interpretaçaã o extensiva do referido dispositivo, de forma a abranger
tambeé m a responsabilidade civil por ato culposo, sendo que, nesse caso, haé os que defendem a responsabilidade
por culpa, sem especificar o grau de culpa (Caio Maé rio da Silva Pereira, Ãugusto do Ãmaral Dergint), e haé os que
defendem a responsabilidade em situaçoã es de culpa grave (naã o identifiquei autores conhecidos). Tanto no STF
quanto no STJ naã o houve discussaã o especíéfica quanto aà possibilidade de responsabilidade do magistrado por
culpa.
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à simples reforma da sentença pelo Tribunal naã o eé motivo suficiente para justificar a responsabilidade civil do
magistrado, nem mesmo se admitida a posiçaã o da responsabilidade por culpa. Entende-se que eé necessaé rio
garantir a independeê ncia do magistrado para o exercíécio imparcial da jurisdiçaã o.
O STF possui um acoé rdaã o publicado no DJ de 12.04.2002 (RE 228.977-2, 2ª T., rel. Ministro Neé ri da Silveira)
excluindo o juiz do polo passivo, pois aplicou a teoria da dupla garantia, de forma que o lesado deve processar o
Estado, e esse, caso seja responsabilizado, pode ajuizar a açaã o regressiva contra o magistrado
Portanto, conclui-se quea matéria não é pacífica, existindo posiçoã es divergentes igualmente defensaé veis sob
o aspecto teé cnico. O ué nico entendimento pacíéfico eé que o simples erro judicial ou reforma da sentença em grau
recursal naã o justifica por si soé a responsabilidade civil do magistrado.
No caso de dolo ou fraude, naã o haé necessidade de requerimento da parte para a responsabilizaçaã o, mas, no caso
desse retardamento de ato de ofíécio, haé . Ã culpa no exercíécio da atividade jurisdicional naã o gera, para o
magistrado, o dever de indenizar, podendo acarretar, em tese, esse dever para o Poder Pué blico.
Observaçaã o: o disposto no art. 133 do CPC tambeé m eé previsto no artigo 49 da LOMÃN. Ã previsaã o no artigo 49
da LOMÃN confirma a possibilidade de responsabilidade pessoal do juiz fora do aê mbito do processo civil, por
exemplo, no processo penal.

i. Artigo 1.744 do Código Civil, incisos I e II


O Coé digo Civil de 2002, no artigo 1.744, incisos I e II, apresenta outra hipoé tese de responsabilidade civil do
magistrado (correspondentes aos artigos 420 e 421 do Coé digo Civil de 1916), saã o elas: i) direta e pessoal,
quando naã o tiver nomeado o tutor, ou naã o houver feito oportunamente; ii) subsidiaé ria (inicialmente, deve-se
buscar ressarcimento junto ao tutor), quando naã o tiver exigido garantia legal do tutor, nem o removido, tanto
que se tornou suspeito.
Há uma espécie deresponsabilidade civil envolvendo atividade jurisdicional prevista diretamente na
constituição, o chamado erro judiciaé rio, artigo 5º, LXV. Ã CR dispoã e que eé possíével a indenizaçaã o por erro
judiciário e naquelas hipóteses em que o réu ficar preso além do limite estabelecido na sentença.
Em ambos os casos, a responsabilidade será objetiva, é o Estado quem responde, não o juiz.
No caso do excesso de prazo na prisaã o aleé m do fixado na sentença, a jurisprudeê ncia reconhece tranquilamente
responsabilidade objetiva do estado (Nesse sentido: RE 505393).
O problema maior estaé no erro judiciaé rio, porque afinal de contas o que eé o erro judiciaé rio? Haé alguns
precedentes do STF falando que o Estado naã o responde por erro judiciaé rio quando se tratar de atividade
jurisdicional estrito sensu. O que eé atividade estrito sensu? EÉ a atividade do magistrado normal de jurisdiçaã o,
por exemplo, quando ele condena na sentença, quando o acoé rdaã o manteé m a sentença, quando o juiz absolve e o
acoé rdaã o condena, quando o juiz conduz o procedimento da forma que dever ser conduzido, tudo isso aqui naã o eé
passíével de indenizaçaã o, ou seja, a atividade jurisdicional em si não é passível de indenização(Nesse
sentido: RE 429518; REsp 1357824; TRF2, ÃC 200651010228720; TRF3, ÃC 00014296820044036005).

O erro judiciaé rio, conforme ensina Odoneé Serrano Jué nio,frequentemente sucede por: a) dolo do juiz; b) culpa do
juiz, nas modalidades negligeê ncia ou imprudeê ncia; c) decisaã o contraé ria aà prova dos autos (por dolo ou culpa do
juiz); d) induçaã o a erro atraveé s da juntada ou naã o aos autos de elemento relevante ao esclarecimento da
verdade (culpa da víétima ou culpa de terceiro – exclusiva ou concorrente); e) aparecimento posterior de fatos
ou elementos que venham a contradizer ou anular provas ou elementos relevantes dos autos e que influiriam
decisivamente na prolaçaã o da sentença; etc.
Haé outras espeé cies de responsabilidade civil que a doutrina aponta. A primeira manifestação da doutrina é a
possibilidade de indenização cível por denegação de jurisdição. É considerada denegada a jurisdição
quando a prestação jurisdicional é tão demorada, mas tão demorada, que os direitos da parte
praticamente perecem4 (Por exemplo, pessoa vem a falecer por naã o apreciaçaã o de liminar em açaã o de
medicamentos). Mesmo nestes casos quem responde é o estado. O juiz só responde subsidiariamente, em
ação regressiva, no caso dedolo ou culpa.Então, a denegação de jurisdição seria uma outra possibilidade
responsabilidade civil do estado.
A última possibilidade é indenização por serviço judiciário defeituoso. Essa jaé eé uma possibilidade um
tanto mais remota, porque, diz a doutrina que o serviço ineficiente ele pode gerar indenizaçaã o, mas, desde que,
a ineficiência do serviço decorra de culpa ou dolo das autoridades administrativas judiciárias e ainda
cause dano.
4 Isso, inclusive, é hipótese de responsabilização no âmbito internacional, tanto a denegação de justiça quanto o atraso
irrazoável e injustificado.
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Reforce-se que a EC 45/2004 inaugurou um cenaé rio normativo diferente, a partir da garantia de celeridade,
com o principio da duraçaã o razoaé vel do processo, criando uma obrigaçaã o de eficieê ncia, a qual, descumprida,
pode dar ensejo a responsabilizaçaã o singular para o Estado.
Ningueé m pode negar que o juiz eé um agente do Estado e, sendo assim, naã o pode deixar de incidir tambeé m a
norma prevista no art. 37, paragrafo 6, da CF, sendo, entaã o, civilmente responsaé vel a pessoa juríédica federativa –
Uniaã o ou Estado-Membro, assegurando-lhe, contudo o direito de regresso contra o magistrado, como jaé falado.

c. Responsabilidade Administrativa do Magistrado


No aê mbito administrativo, a responsabilidade disciplinar tem o objetivo de assegurar que o juiz, na qualidade
de agente publico, observe os deveres de seu oficio perante o Estado e a sociedade em geral.
à resoluçaã o 30/2007 do CNJ normatizava sobre a uniformizaçaã o de normas relativas ao procedimento
administrativo disciplinar aplicaé vel aos magistrados. Foi revogada pela Resoluçaã o nº 135/2011 do CNJ
(Vide Ãçaã o Direta de Inconstitucionalidade (Med. Liminar) - 4638), que eé o atual diploma normativo sobre o
tema.
à Res 135/2011 estabelece que os deveres do magistrado saã o aqueles previstos na CF, na LC 35/79, no CPC (art.
125) e no CPP (art. 251), nas demais leis vigentes e no Coé digo de EÉ tica da Magistratura.
à inobservaê ncia dos deveres funcionais pelo juiz pode ensejar as penas disciplinares. Quais saã o as espeé cies de
pena aplicaé veis aos magistrados? Vide artigo 3º da resoluçaã o 135/2011, que trabalha com as mesmas penas
previstas no artigo 42 da LOMÃN:

Ãrt. 3º Saã o penas disciplinares aplicaé veis aos magistrados da Justiça Federal, da Justiça do Trabalho, da
Justiça Eleitoral, da Justiça Militar, da Justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territoé rios:
I - adverteê ncia;
II - censura;
III- remoçaã o compulsoé ria;
IV - disponibilidade;
V - aposentadoria compulsoé ria;
VI – demissaã o.
Ãrt. 1° Saã o penas disciplinares aplicaé veis aos magistrados da Justiça Federal, da Justiça do Trabalho, da
Justiça Eleitoral, da Justiça Militar, da Justiça dos Estados e do Distrito Federal e Territoé rios:
I - adverteê ncia;
II - censura;
III - remoçaã o compulsoé ria;
IV - disponibilidade;
V - aposentadoria compulsoé ria;
VI - demissaã o.
§ 1º - Ãs penas previstas no art. 6º, § 1º, da Lei no 4.898, de 9 de dezembro de 1965, saã o aplicaé veis aos
magistrados, desde que naã o incompatíéveis com a Lei Complementar no 35, de 1979.
§ 2º - Os deveres do magistrado saã o os previstos na Constituiçaã o Federal, na Lei Complementar no 35,
de 1979, no Coé digo de Processo Civil (art. 125), no Coé digo de Processo Penal (art. 251), nas demais leis
vigentes e no Coé digo de EÉ tica da Magistratura.

Esses incisos estaã o na ordem de gravidade.


O juiz negligente no cumprimento de seus deveres do cargo esta sujeito a pena de Ãdverteê ncia. Na reiteraçaã o e
nos casos de procedimento incorreto, a pena seraé de censura, se a infraçaã o naã o justificar puniçaã o mais grave.
Ãplicaçaã o de penalidades faz diferença quando o magistrado vai receber uma promoçaã o por merecimento e o
seu colega naã o tem adverteê ncia.
O parágrafo único do artigo 42 da LOMAN dispoã e que “as penas de advertência e de censura somente são
aplicáveis aos Juízes de primeira instância”.
Logo, adverteê ncia e censura naã o saã o aplicaé veis aos magistrados de segundo grau de jurisdiçaã o, apesar de a elas
estarem sujeitos os juíézes convocados para substituiçaã o.
Remoção compulsória – O juiz seraé removido compulsoriamente, por interesse publico, quando
incompatibilizado para o exercíécio funcional em qualquer oé rgaã o fracionado, na seçaã o, na turma, na caê mara, na
vara ou na comarca que atue.
O juiz tem inamovibilidade. Por interesse pué blico, pode o tribunal mandar o juiz para outro local, removeê -lo de
uma vara para outra. E qual eé o criteé rio disso? Interesse pué blico. Se houver interesse pué blico, o tribunal remove

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o magistrado de uma vara para outra, por exemplo, por incompatibilidade (por exemplo, juiz truculento e vara
da criança e juventude) O CNJ pode aplicar remoção compulsória do magistrado. Ã Resoluçaã o nº 135/2011
do CNJ dispoã e, no artigo 5º, que “o magistrado de qualquer grau poderá ser removido compulsoriamente, por
interesse público, do órgão em que atue para outro”.
Ressalte-se que na ÃDI 4.638 o STF decidiu que a competeê ncia do Conselho Nacional de Justiça eé
CONCORRENTE entre as Corregedorias dos Tribunais, isto eé , o CNJ, diante da notíécia de um desvio funcional
praticado por magistrado, pode iniciar processo administrativo disciplinar contra ele, sem ter que aguardar a
Corregedoria local.
Disponibilidade – O juiz seraé posto em disponibilidade, pelo tempo que o Tribunal entender necessaé rio para
que se restaure a dignidade do Poder Judiciaé rio, com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço, ou, se
não vitalício, demitido por interesse publico, quando a gravidade das faltas naã o justificar a aplicaçaã o de pena
de censura ou remoçaã o compulsoé ria (artigo 6º da Resoluçaã o nº 135/2011 do CNJ - mesma redaçaã o do artigo 4º
da Resoluçaã o nº 30, jaé revogada).
Observaçaã o: no caso de aplicaçaã o das penas de censura ou remoçaã o compulsoé ria, o Juiz não vitalício ficaraé
impedido de ser promovido ou removido enquanto naã o decorrer prazo de um ano da punição imposta (art.
23, § 2º da Res 135/2011).
à aposentadoria compulsória representa o afastamento definitivo do magistrado das suas funçoã es e eé a
pena mais grave para o magistrado vitalíécio. Neste caso, o magistrado recebe nestes proventos proporcionais,
pois contribuiu para prevideê ncia. Recebe os proventos enquanto naã o sobrevier a condenaçaã o criminal com os
efeitos secundaé rios da sentença penal ou acoé rdaã o, que poderaã o subtrair tambeé m os vencimentos decorrentes
de aposentadoria ou a açaã o civil pué blica por improbidade administrativa na qual se decrete a perda naã o soé do
cargo mais do beneficio previdenciaé rio.
O artigo 7º da Resoluçaã o nº 135/2011 do CNJ dispoã e que o magistrado seraé aposentado compulsoriamente, por
interesse pué blico, em três hipóteses:

I – quando mostrar-se manifestamente negligente no cumprimento de seus deveres;


II – quando proceder de forma incompatíével com a dignidade, a honra e o decoro de suas funçoã es;
III – quando demonstrar escassa ou insuficiente capacidade de trabalho, ou apresentar
comportamento funcional incompatíével com o bom desempenho das atividades do Poder Judiciaé rio.

Essas mesmas treê s hipoé teses encontram-se no artigo 56 da LOMÃN.


E a pena de demissão? Aplica-se tão somente ao juiz não vitalício, uma vez que a perda de cargo, cuidando-
se de magistrado vitalíécio, dependera de sentença judicial transitada em julgado e proferida em açaã o penal por
crime comum ou de responsabilidade ou em açaã o civil para a desconstituiçaã o da relaçaã o funcional entre o
Estado e o Juiz, sendo a este assegurado o foro especial por prerrogativa de funçaã o (art. 26, LOMÃN).
à Res 135 dispoã e que ao juiz naã o-vitalíécio seraé aplicada pena de demissaã o em cinco hipoé teses (art. 23, § 3º):
I – falta que derive da violaçaã o aà s proibiçoã es contidas na Constituiçaã o Federal e nas leis;
II – manifesta negligeê ncia no cumprimento dos deveres do cargo;
III – procedimento incompatíével com a dignidade, a honra e o decoro de suas funçoã es;
IV – escassa ou insuficiente capacidade de trabalho;
V – proceder funcional incompatíével com o bom desempenho das atividades do Poder Judiciaé rio.

Ãpenas em uma hipoé tese a perda do cargo de magistrado vitalíécio ou com essa garantia temporaé ria, como
acontece com os Conselheiros do CNJ, naã o dependeraé de sentença transitada em julgado, pois, no que toca ao
crime de responsabilidade praticado por Ministros do STF ou Conselheiros do CNJ, eé de competeê ncia do Senado
Federal o processo e o julgamento podendo ocorrer a perda do cargo (CF, art. 52, II, e Lei 4.898/65, art. 6,
paragrafo 3, c).
Como funciona a responsabilidade administrativa do magistrado?

Ãrt. 8º O Corregedor, no caso de magistrados de primeiro grau, o Presidente ou outro membro


competente do Tribunal, nos demais casos, quando tiver cieê ncia de irregularidade, eé obrigado a
promover a apuraçaã o imediata dos fatos, observados os termos desta Resoluçaã o e, no que naã o conflitar
com esta, do Regimento Interno respectivo.
Paraé grafo ué nico. Se da apuraçaã o em qualquer procedimento ou processo administrativo resultar a
verificaçaã o de falta ou infraçaã o atribuíéda a magistrado, seraé determinada, pela autoridade competente,
a instauraçaã o de sindicaê ncia ou proposta, diretamente, ao Tribunal, a instauraçaã o de processo
administrativo disciplinar, observado, neste caso, o art. 14, caput, desta Resoluçaã o.
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Ãrt. 9º Ã notíécia de irregularidade praticada por magistrados poderaé ser feita por toda e qualquer
pessoa, exigindo-se formulaçaã o por escrito, com confirmaçaã o da autenticidade, a identificaçaã o e o
endereço do denunciante.
§ 1º - Identificados os fatos, o magistrado seraé notificado a fim de, no prazo de cinco dias, prestar
informaçoã es.
§ 2º - Quando o fato narrado naã o configurar infraçaã o disciplinar ou ilíécito penal, o procedimento seraé
arquivado de plano pelo Corregedor, no caso de magistrados de primeiro grau, ou pelo Presidente do
Tribunal, nos demais casos ou, ainda, pelo Corregedor Nacional de Justiça, nos casos levados ao seu
exame.
§ 3º - Os Corregedores locais, nos casos de magistrado de primeiro grau, e os presidentes de Tribunais,
nos casos de magistrados de segundo grau, comunicaraã o aà Corregedoria Nacional de Justiça, no prazo
de quinze dias da decisaã o, o arquivamento dos procedimentos preé vios de apuraçaã o contra magistrados.
Ãrt. 10. Das decisoã es referidas nos artigos anteriores caberaé recurso no prazo de 15 (quinze) dias ao
Tribunal, por parte do autor da representaçaã o.
Ãrt. 11. Instaurada a sindicaê ncia, seraé permitido ao sindicado acompanhaé -la.

O STF referendou decisaã o liminar proferida na ÃDI 4.638 quanto ao art. 8º e art. 9º, caput e §§ 2º e 3º, para dar
interpretaçaã o conforme a Constituiçaã o no sentido de, onde constepresidente e corregedor, ler-se órgão
competente do Tribunal. Da mesma forma, quanto ao art. 10, o STF referendou a liminar para, tambeé m dando
interpretaçaã o conforme a Constituiçaã o, excluir a expressaã o “por parte do autor da representaçaã o” entender-se
que o sentido da norma eé da possibilidade de recurso por parte do interessado, seja ele o magistrado
representado seja do autor da representaçaã o arquivada.Deve-se acompanhar a decisaã o definitiva na ÃDI 4.638

Outra alteração da Resolução nº 135/2011 é a ordem dos atos no caso de proposta de abertura do
processo administrativo disciplinar. Conforme a Resoluçaã o nº 135/2011, primeiro o magistrado eé intimado a
apresentar a defesa preé via em quinze dias. Findo esse prazo, com ou sem a apresentaçaã o da defesa preé via, o
Tribunal Pleno/OÉ rgaã o Especial delibera sobre a abertura de processo administrativo disciplinar ou a
proposta de arquivamento (art. 14, caput e § 1º da Res 135).
à instauraçaã o do processo administrativo disciplinar eé determinada pela maioria absoluta dos membros do
Tribunal ou do respectivo OÉ rgaã o Especial, sendo o respectivo acoé rdaã o acompanhado de portaria que conteraé a
imputaçaã o dos fatos e a delimitaçaã o do teor da acusaçaã o, assinada pelo Presidente do OÉ rgaã o. O relator seraé
sorteado dentre os magistrados que integram o Pleno ou o OÉ rgaã o Especial do Tribunal, naã o havendo revisor
(art. 14, §§ 5º, 6º e 8º da Res 135).
Ãcolhida a proposta de abertura de processo administrativo disciplinar contra magistrado, coé pia da ata da
sessaã o respectiva seraé encaminhada para a Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça, no prazo de quinze
dias, contados da respectiva sessaã o de julgamento, para fins de acompanhamento (art. 14, § 6º da Res 135).
IMPORTANTÍSSIMO: a CR/88 expressamente determina que os atos punitivos dos magistrados, de
caráter administrativo, somente poderão ser tomados pela maioria absoluta do Tribunal ou do CNJ,
estabelecendo, então, diretamente o quórum decisório, não podendo nenhum diploma infralegal
estabelecer quórum mais ou menos rígido.

Ãrt. 93 [...]
VIII o ato de remoçaã o, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por interesse pué blico, fundar-
se-aé em decisaã o por voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do CJF assegurada ampla
defesa; (Redaçaã o da EC 45/ 2004)
[...]
X as decisoã es administrativas dos tribunais seraã o motivadas e em sessaã o pué blica, sendo as
disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros; (Redaçaã o da EC 45)

Porque é importante saber sobre a instauração? Porque no momento em que o processo administrativo
disciplinar eé instaurado interrompe-se o prazo prescricional.
O prazo prescricional fica interrompido com a instalação do processo administrativo disciplinar (como
também determina a lei 8112/90, utilizada em analogia para a condução do procedimento
administrativo disciplinar do magistrado).
. A interrupção está expressamente prevista no art. 24, § 1º da Res 135/2011 do CNJ: “a interrupção da
prescrição ocorre com a decisão do Plenário ou do Órgão Especial que determina a instauração do processo
administrativo disciplinar”.

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Se interrompe a prescrição, não suspende. Por quanto tempo ficará interrompido? Segundo o STJ, a
interrupção se esgotará 140 dias após o prazo máximo para conclusão do processo administrativo
disciplinar.
A respeito do prazo para a conclusão do processo administrativo disciplinar contra magistrado, a
Resolução nº 135/2011 novamente alterou a regra da Resolução nº 30, revogada. Nos termos dispostos
no artigo 14, § 9º, da Res 135/2011, o “processo administrativo terá o prazo de cento e quarenta dias para ser
concluído, prorrogável, quando imprescindível para o término da instrução e houver motivo justificado,
mediante deliberação do Plenário ou Órgão Especial”. Ã Resoluçaã o nº 30, revogada, previa o prazo de
noventa dias para ser concluíédo, prorrogaé vel ateé o dobro ou mais, se a delonga decorresse do exercíécio do
direito de defesa (art. 7º, § 5º da Res 30, revogada).
EÉ possíével o prolongamento da interrupçaã o da prescriçaã o mesmo apoé s esse prazo? Não. o artigo 24, §§ 2º e 3º
da Resoluçaã o nº 135 dispoã em expressamente que “o prazo prescricional pela pena aplicada começa a correr
nos termos do § 9º do art. 14 desta Resolução, a partir do 141º dia após a instauração do processo
administrativo disciplinar”, e “a prorrogação do prazo de conclusão do processo administrativo
disciplinar, prevista no § 9º do artigo 14 desta Resolução, não impede o início da contagem do prazo
prescricional de que trata o parágrafo anterior”.
Quais saã o os prazos prescricionais?A Resolução 135 do CNJ trata expressamente do prazo prescricional,
tendo o art 24 disposto que: “o prazo de prescrição de falta funcional praticada pelo magistrado é de cinco
anos, contado a partir da data em que o tribunal tomou conhecimento do fato, salvo quando configurar
tipo penal, hipótese em que o prazo prescricional será o do Código Penal.”
à Resoluçaã o nº 30 (revogada) naã o previa o prazo prescricional, por isso entendia-se pela aplicaçaã o dos prazos
prescricionais previstos no artigo 142 da Lei 8.112/90 (Nesse sentido: STJ, RMS 21537 e MS 28003).

Instaurado o processo administrativo disciplinar, o rito previsto na Resoluçaã o 135/2011 eé o seguinte:


O tribunal deliberaraé sobre o afastamento preventivo do magistrado, ateé a decisaã o final ou, conforme lhe
parecer conveniente ou oportuno, por prazo determinado, assegurado o subsíédio integral.
O STF referendou decisaã o liminar proferida na ÃDI 4.38 quanto ao §1º do art. 15º da Res 135,entendendo que
este dispositivo estaé em descompasso com a Constituiçaã o da Repué blica, pois introduz, mediante ato normativo
do CNJ, nova hipoé tese cautelar de afastamento de magistrado do cargo “antesda instauração do processo
administrativo disciplinar, quando necessário ou conveniente a regular apuração da infração disciplinar” .
Entendeu o STF que eventual restriçaã o aà s garantias da inamovibilidade e da vitaliciedade exigia a ediçaã o de lei
em sentido formal e material, sob pena de ofensa aos princíépios da legalidade e do devido processo. Frisou-se,
contudo, que os arts. 27, §3º, e 29 do Estatuto da Magistratura, preveem que o tribunal pode determinar o
afastamento cautelar do magistrado quando da instauraçaã o do processo administrativo disciplinar ou do
recebimento da açaã o penal acusatoé ria.
• O relator determinaraé a intimaçaã o do MP para manifestaçaã o do prazo de 5 dias (art. 16 da Res 135).
 Ãpoé s, o relator determinaraé a citaçaã o do magistrado para a apresentaçaã o das razoã es de defesa e
especificaçaã o de provas, em cinco dias, sendo encaminhada coé pia do acoé rdaã o que ordenou a instauraçaã o
do processo administrativo disciplinar (ar. 17 da Res 135). Caso haja dois ou mais magistrados
requeridos, o prazo para defesa seraé comum e de dez dias, contados da intimaçaã o do ué ltimo magistrado
(art. 17, I, da Res 135).
 O magistrado em lugar incerto e naã o sabido, que naã o foi intimado pessoalmente, seraé citado por edital,
com prazo de trinta dias, a ser publicado uma vez, no oé rgaã o oficial de imprensa utilizado pelo Tribunal
para divulgar seus atos (art. 17, II, Res 135).
 O magistrado regularmente citado que naã o apresentar a defesa no prazo eé considerado revel. Declarada
a revelia, o relator poderaé designar defensor dativo ao requerido, concedendo-lhe prazo para a
apresentaçaã o de defesa (art. 17, III e IV, Res 135).
 Ãpoé s o prazo para a apresentaçaã o da defesa preé via, o relator decidiraé sobre a realizaçaã o dos atos de
instruçaã o e a produçaã o de provas requeridas, determinando de ofíécio as que entender necessaé rias. Para
a colheita das provas, poderaé delegar poderes a magistrado de primeiro ou segundo grau. O magistrado
ou seu defensor, se houver, deveraã o ser intimados dos atos de instruçaã o. Seraã o inquiridas, no maé ximo,
ate oito testemunhas de acusaçaã o e ateé oito testemunhas de defesa, que justificadamente tenham ou
possam ter conhecimento dos fatos imputados. A instrução é realizada com aplicação subsidiária,
no que couber, das normas de processo penal e de processo civil, sucessivamente.Ã inquiriçaã o das
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testemunhas e o interrogatoé rio deveraã o ser feitos em audieê ncia una, ainda que, se o caso, em dias
sucessivos, e poderaã o ser realizados por videoconfereê ncia, nos termos do art. 405, § 1º do Coé digo de
Processo Penal e da Res 105/2010 do CNJ. O interrogatório do magistrado deve ser precedido de
intimação com antecedência de 48 horas e será realizado após a produção de todas as provas. Os
depoimentos poderaã o ser documentados pelo sistema audiovisual, sema necessidade, nesse caso, de
degravaçaã o (art. 18, caput e §§ 1º, 2º, 3º, 4º, 5º, 6º e 7º da Res 135/2011).
 Ãpoé s a instruçaã o, o Ministeé rio Pué blico e, em seguida, o magistrado ou seu defensor teraã o dez dias para
manifestaçaã o e razoã es finais, respectivamente (art. 19, Res 135/2011).
 O julgamento do processo administrativo disciplinar seraé realizado em sessaã o pué blica e seraã o
fundamentadas todas as decisoã es, inclusive as interlocutoé rias. Em determinados atos processuais e de
julgamento, poderaé ser limitada a presença aà s proé prias partes e a seus advogados, ou somente a estes,
desde que a preservaçaã o da intimidade naã o prejudique o interesse pué blico. Todos os integrantes do
oé rgaã o julgador teraã o acesso aà integralidades dos autos, para o julgamento. O Presidente e o Corregedor
teraã o direito a voto. O julgamento eé pué blico. Ãpoé s o julgamento, a Corregedoria Nacional de Justiça
deveraé ser comunicada pelos Tribunais, no prazo de 15 dias da sessaã o, sobre os resultados dos
julgamentos dos processos administrativos disciplinares (art. 20, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º da Res
135/2011).
 Ã punição ao magistrado exige voto da maioria absoluta dos membros do Tribunal ou OÉ rgaã o
Especial. Havendo divergência quanto à pena, sem a formação de maioria absoluta por uma das
penas, será aplicada a mais leve, ou, no caso de mais de duas penas alternativas, aplicar-se-aé a mais
leve que tiver obtido o maior nué mero de votos (art. 21, caput e § ué nico da Res 135/2011).
 Se o Tribunal entender pela presença de indíécios de crime de açaã o penal pué blica incondicionada, o
Presidente remeteraé coé pia dos autos ao Ministeé rio Pué blico. Se for aplicada pena de disponibilidade ou
aposentadoria compulsoé ria, o Presidente remeteraé coé pia dos autos ao Ministeé rio Pué blico e aà Ãdvocacia-
Geral da Uniaã o ou Procuradoria Estadual competente para, se for o caso, tomar as provideê ncias cabíéveis
(art. 22, caput e § ué nico da Res 135/2011).
Importante: Uma vez iniciado o processo administrativo disciplinar a aposentadoria ou exoneraçaã o soé vaã o ser
deferidas ao magistrado se eventualmente houver encerramento do processo ou cumprimento da pena. Entaã o,
se o processo eé instaurado, o magistrado naã o pode mais pedir exoneraçaã o nem aposentadoria, teraé que
aguardar o teé rmino do processo administrativo disciplinar, processo administrativo disciplinar, naã o sindicaê ncia,
e ou o cumprimento da pena.

Ãrt. 27. O magistrado que estiver respondendo a processo administrativo disciplinar soé teraé apreciado
o pedido de aposentadoria voluntaria apoé s a conclusaã o do processo ou do cumprimento da penalidade.

Em relaçaã o aos juíézes naã o vitaliciados, o que acontece se for instalado processo administrativo disciplinar? Nos
termos da resoluçaã o, haé suspensaã o do prazo de vitaliciamento, artigo 23, §1 da resoluçaã o (a resoluçaã o anterior
continha a mesma disposiçaã o). Ãinda, o processo disciplinar seraé instaurado dentro do bieê nio previsto no art.
95, I, da Constituiçaã o Federal.

Ãrt. 20. (...)


§ 1º Ã instauraçaã o do processo pelo Tribunal suspenderaé o curso do prazo de vitaliciamento.

Entretanto , STJ vem entendendo que o prazo naã o estaé sujeito a suspensaã o, porque eé prazo constitucional, e se o
processo naã o terminar antes dos dois anos, entaã o, automaticamente o magistrado seraé vitaliciado
automaticamente. Entaã o, ou o tribunal delibera antes do prazo de dois anos, ou o juiz seraé vitaliciado
automaticamente.
Fonte: Resumo disponibilizado pelo grupo, resumo de eé tica e estatuto juríédico da magistratura nacional de Ãlba
Paulo de Ãzevedo, site do STJ e STF.
Por fim, lembre-se:
Ãrt. 41 da LOMÃN- Salvo os casos de impropriedade ou excesso de linguagem o magistrado naã o pode ser
punido ou prejudicado pelas opinioã es que manifestar ou pelo teor das decisoã es que proferir.
Configuram impropriedade de linguagem pelo magistrado, no exercíécio da atividade judicante, os termos
inadequados ou estranhos a analise da mateé ria sobre a qual expoã e sua motivaçaã o ou opiniaã o.

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Jaé o excesso de linguagem diz respeito aà violeê ncia ou aà agressividade de que se revistam as expressoã es
utilizadas que caracterizam atitude profissional incompatíével com as regras de boa conduta e urbanidade.

15. SOCIOLOGIA DO DIREITO/FILOSOFIA DO DIREITO

A ENDOCULTURAÇÃO E A ACULTURAÇÃO. A INTERPRETAÇÃO SEGUNDO A LÓGICA


DO RAZOÁVEL.

a. A ENDOCULTURAÇÃO E A ACULTURAÇÃO

ENDOCULTURAÇÃO
- Processo de aprendizagem e educação em uma cultura desde a infância
- Processo que estrutura o condicionamento da conduta, dando estabilidade à cultura
- Está ligada à necessidade de homogeneidade nas sociedades
- Não é preciso assimilar toda a cultura de um povo para estar condicionado a certos aspectos particulares
dela
ACULTURAÇÃO
- Fusão de culturas diferentes que, em razão do contato contínuo, passam a ter seus padrões alterados
- O intercambio cultural constante pode gerar novas sociedades (novas culturas), o que costuma ocorrer,
por exemplo, com as grandes conquistas
- Aculturação jurídica: processo de recepção do direito alienígena
DIFUSÃO CULTURAL
- Elementos de uma cultura se difundem de uma sociedade para outra
- Perpassa pela apresentação dos elementos culturais novos a uma sociedade, sua aceitação pela sociedade
e sua integração na cultura existente
- Isolamento e condições geográficas impedem a difusão cultural

b. A interpretação do direito. Superação do raciocínio lógico dedutivo

O método dedutivo, de base racionalista pressupõe que apenas a razão pode conduzir ao conhecimento verdadeiro
Superação do raciocínio lógico-dedutivo pelo “lógico jurídico” ou pela retórica (técnica de argumentação).

A lógica jurídica como solução de antinomias

1. Introdução
Um sistema jurídico será considerado lógico apenas se revelar unidade e coerência. Para alcançar esse status, o
sistema deve ser integrado por normas compatíveis entre si. Todavia, o fato de haver normas conflitantes no mesmo
sistema não pode ser suficiente para comprometer seu estado harmônico.
A partir dos ensinamentos de Chaim Perelman, se empreenderá uma visão crítica do método lógico-dedutivo do
positivismo jurídico, buscando-se uma recondução à problematicidade do fato concreto, de modo que a retórica
torna-se instrumento poderoso na fundamentação das decisões.
A lógica jurídica que essencialmente tem por escopo a aferição do raciocínio dos juristas na produção do direito traz
métodos mais adequados para a compreensão dos fenômenos da sociedade contemporânea.

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2. Aspectos Conceituais da Lógica Jurídica: da Lógica Formal à Nova Retórica


A ideia de lógica remonta a Idade Antiga (a partir de 500 a.c), inspirada nas teorias de Parmênides e de Heráclito,
que por sinal são completamente antagônicas. Para o Parmênides, nada podia mudar nem se transformar, além de
não se poder confiar nos sentidos, pois tudo sempre existiu, sendo que a razão era a única forma de se levar ao
conhecimento, partindo-se de uma realidade estática. Já para Heráclito, o mundo estava permeado de contrastes e
em constante mutação e movimento, havendo-se de confiar nos sentidos, partindo-se de uma realidade dinâmica .
Tratam-se, portanto, de dois métodos clássicos de resolver os problemas epistemológicos, sendo que um não afasta
o outro, havendo-se que eleger qual método melhor se adéqua à solução do problema em exame.
Estas teorias foram aperfeiçoadas ao longo do tempo por diversos filósofos, sendo que a Teoria de Parmênides pode
ser equiparada à Lógica Formal e a Teoria de Heráclito à Dialética nas suas atuais concepções.
A Lógica Formal é uma maneira de organização do raciocínio sem considerar o conteúdo, partindo-se de premissas
para se chegar a uma conclusão, não interessando a veracidade ou falsidade da proposição, apenas a sustentação
da validade do argumento.
Já a Dialética, atua a partir de um método que agrega o fato ao fenômeno, analisando-o dentro de um contexto
universal, pautando-se em contraditórios, conhecendo o que o objeto é a partir do que ele não é.
O Direito não pode, portanto, ser considerado um sistema completo, estático e imutável, em que se possa invocar o
silogismo como solução para todo e qualquer caso concreto, havendo que se considerar outras ferramentas de
interpretação e integração das normas jurídicas.
O cientista jurídico deve ampliar o alcance da razão, reconhecendo que não existe verdade universal, como existe
para a ciência matemática.
Para se aplicar o Direito ou dar a solução para o caso concreto, nada impedirá se reinterpretar princípios, se opor ao
texto ou espírito da lei, refutar o que revela a experiência, interpretando os termos da lei de modo mais rígido ou
flexível, conforme as circunstâncias. Eis o caminho para a superação das antinomias jurídicas.

3. A Lógica Jurídica na Perspectiva Evolutiva do Direito


Partindo-se dos ensinamentos trazidos pelo marco teórico deste estudo, verifica-se que a compreensão da Lógica
Jurídica passa, necessariamente, por uma análise preliminar da evolução do Direito. Isto porque a concepção do
próprio conceito de Direito evolui conforme as mudanças por que passa a sociedade ao longo do tempo.
De forma bastante didática, Chaim Perelman, distingue três grandes períodos da história do Direito:
a) a escola da exegese (até 1880);
b) a escola funcional ou sociológica (até 1945); e
c) a concepção tópica do raciocínio judiciário (influenciado pelos excessos do regime nacional socialista e pelo
julgamento de Nuremberg).
Na escola da Exegese, o Direito era considerado um sistema dedutivo, semelhante aos sistemas axiomáticos da
geometria ou aritmética. Para a solução do caso concreto, bastaria a subsunção do fato à norma. Todavia,
dificuldades concretas surgiram nos casos de lacunas, obscuridades e insuficiências das normas, além dos casos de
antinomias jurídicas, pois passou a haver uma dependência da formulação de conceitos cada vez mais precisos dos
termos das leis por parte da doutrina e jurisprudência, considerando um sistema jurídico absolutamente fechado
(compreendido como uma ordem jurídica apoiada na jurisprudência e dominada pela ideia de codificação).
Já para a escola funcional, o Direito é apenas o meio do qual se serve o legislador para atingir seus fins e para a
promoção de certos valores, podendo ser compreendido somente a partir do meio social ao qual é aplicável . Não se
limita a um sistema fechado em que as soluções para os casos concretos são obtidas unicamente a partir da
utilização de métodos dedutivos. O juiz deve pautar-se na intenção do legislador quando da positivação de
determinada norma, valendo o fim e o espírito da lei.
Foi então a partir do processo de Nuremberg e dos excessos cometidos pelo regime nacional socialista que passou
haver uma orientação antipositivista, acentuando-se a tendência de se aumentar o poder dos juízes e abrindo-se
verdadeiro espaço na interpretação e aplicação da lei, desprendidas do que estivesse necessariamente codificado,
em busca de uma solução equitativa, razoável, aceitável, justa e conciliável com o Direito em vigor, admitindo-se,
portanto, um sistema jurídico mais aberto e flexível.
Não se pode reconhecer a validade de um regime totalitário, por exemplo, pelo simples fato de ter se constituído
mediante lei. É preciso transcender os limites formais em busca de razoabilidade nas decisões, permitindo-se aos
juristas o desprezo ao inaceitável e a busca pelo aceitável.
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4. O Problema das Antinomias Jurídicas


O Direito deve ser construído e aplicado de modo a considerar a evolução do meio social no tempo. Assim, não é
possível que os textos legais sejam capazes de abarcar todas as mutações pelas quais passa a sociedade ao longo de
sua história.
Por este motivo é que não se pode admitir como justa a solução dada pelo aplicador do Direito a determinado caso
concreto pautada na simples subsunção do fato a norma, sem qualquer margem para interpretação ou integração.
A partir daí torna-se relevante a compreensão das antinomias, para que seja possível a utilização da lógica jurídica
como instrumento de superação de conflitos normativos na aplicação do Direito aos casos concretos e como forma
de se alcançar a coerência e unidade que se espera do ordenamento jurídico.
As antinomias jurídicas surgem como elementos do sistema jurídico, cuja construção requer a solução de conflitos
normativos, pois todo sistema deve e pode alcançar uma coerência interna. Por isso o intérprete e aplicador do
direito devem perseguir a coerência lógica, a qual é condição necessária do pensamento jurídico, o que vai depender
de um processo interpretativo do jurista.
A doutrina tradicional reconhece três critérios mais comuns para a solução de antinomias, quais sejam: o critério
cronológico, o da especialidade e o hierárquico.

5. A Lógica Jurídica como Solução de Antinomias


O raciocínio jurídico tem por escopo a solução de uma controvérsia, na qual argumentações em sentidos diversos
objetivam fazer prevalecer um determinado valor para ser aceito em um meio num determinado momento.
O Direito, tal qual está determinado nos textos legais formalmente válidos, não reflete necessariamente a realidade
jurídica, principalmente porque, como já foi dito, as regras positivadas nem sempre acompanham a evolução do
meio social que é, em verdade, sua finalidade máxima.
Somente se alcançará a paz judicial se a solução (aceita socialmente) estiver acompanhada de uma sólida
argumentação jurídica.
É claro, porém, que existe a preocupação do judiciário de utilizar meios de conciliar a solução aceitável com a
fidelidade à lei. Porém, há que se reconhecer que a existência de um Estado de Direito implica em um Poder
Judiciário independente. Por exemplo, no caso de uma antinomia entre uma disposição do direito positivo e uma
regra de Direito não escrita, pode-se limitar o alcance do texto e criar-se uma lacuna que o juiz preencherá de acordo
com a regra do direito não escrito. Isto é perfeitamente possível se for para garantir uma decisão justa e aceitável.
O fato de o juiz submeter-se à lei ressalta a primazia do legislativo na elaboração das regras de Direito, o que não
significa monopólio do legislativo na formação do Direito. O juiz possui um poder complementar de adaptar a lei aos
casos específicos, torná-la mais flexível, jamais olvidando-se de motivar suas decisões.
A lei não é todo Direito, mas instrumento que guia o juiz na sua tarefa de dar solução ao caso concreto. Esta solução
deve ser razoável, aceitável (pela ordem de juristas e instâncias superiores), nem subjetiva e nem arbitrária, capaz de
se tornar precedente para outros casos.
É na justificação da decisão que se especifica o raciocínio jurídico e que se demonstra às partes que não houve
tomada de posição arbitrária. Assim, o Direito se desenvolve equilibrando uma dupla exigência. Uma de ordem
sistemática, a partir da elaboração de uma ordem jurídica coerente, e outra de ordem pragmática, a partir da busca
de soluções aceitáveis pelo meio.
Em casos de conflitos normativos, caberá ao intérprete e aplicador do Direito ponderar qual valor ou finalidade cada
uma das normas antinômicas pretende preservar, considerando-se que esta possibilidade de sopesamento de razões
e contrarrazões não é privativa dos princípios, mas também de toda e qualquer regra conflitante, o que não significa
a necessária declaração de invalidade de uma norma para que a outra possa ser aplicada ao caso concreto.
A paz e justiça social somente serão alcançadas se houver fundamentação válida.

LÓGICA DO RAZOÁVEL
- Teoria de Recaséns Siches, que tentava superar a noção de que a interpretação se resumia a buscar a
justiça ou a identificar o método mais adequado, valendo-se de uma postura neutra e explicativa (“Lógica
da Inferência”). Para Siches, todos deveriam utilizar o mesmo método, o método da “Lógica do Razoável”,
que se propunha a alcançar simultaneamente a justiça e a melhor a interpretação, buscando entender os
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problemas jurídicos e políticos envolvidos.


- Assim, além de utilizar os métodos que o Direito admite, o juiz deve se preocupar com os resultados da
decisão, com a mutabilidade social, com as prioridades de cada valor acolhido pelo Direito. Vai além do
certo-errado, válido-inválido.
- A Lógica do Razoável propõe que a atividade do juiz será sempre criadora porque se alimentará de várias
particularidades sobre o caso concreto.
- Diferencia-se do Direito Alternativo porque sua finalidade não é apenas buscar a justiça (do juiz) no caso
concreto, devendo-se observar o Direito formalmente válido.
- Diferente da lógica formal ou matemática, a Lógica do Razoável está impregnada de critérios axiológicos
(valores), inclusive de valores além dos tradicionais valores de liberdade e dignidade humana. Trata-se de
diferenciar o que é racional (puro) do que é razoável.
* Ser racional não é imprescindível, ser razoável sim
- Inspirou a moderna hermenêutica.
- Siches entende que a “produção” da norma não acaba no Legislativo, mas na hora de sua individualização
(aplicação)
- Siches concluiu que não há um método de interpretação mais importante (“tábua de prioridades”),
devendo-se seguir o método que conduzisse à solução mais justa dentre todas as possíveis
- O juiz não separa sua intuição da justiça no caso concreto, pois a intuição é um complexo que engloba
fatos e Direito.
- O juiz deve antecipar mentalmente os efeitos de sua decisão
- A consciência valoradora faz com que a interpretação não seja uma atividade exclusivamente dedutiva

PERELMAN
- Teoria da Argumentação (Nova retórica)
* Reação ao positivismo, que buscava uma linguagem científica, matemática, aferível por fórmulas e
incompatível com a complexidade humana
* Não se trata de uma teoria jurídica, mas de uma teoria geral da argumentação, aplicável ao mundo do
direito quando os juristas a utilizam para enunciar verdades impessoais e objetivas
- Lógica da argumentação: propõe a inclusão de juízos de valor para superação da lógica formal
- Retórica: adesão de um ou mais espíritos (interlocutores)
* A melhor solução para os problemas cotidianos advém da argumentação
* O objetivo da retórica não é apenas transmitir uma opinião, mas mudar as convicções e atitudes dos
interlocutores
* Vai além da oratória (discursos belos, grandiloquentes) e se foca na noção de discurso eficaz
- Auditório universal: conjunto de “espíritos” destinatários do discurso
- Perelman busca mais a adesão (convencimento) do que a verdade/validade dos argumentos
* Sua teoria coloca os indivíduos no como ponto central, e não os conceitos (ex: verdade)
- Não se trata de teoria avalorativa, pois Perelman admite que a retórica se valha de argumentos morais e
recomenda a identificação com os valores do auditório, porém, é uma teoria sem um engajamento
ideológico
* A neutralidade da Nova Retórica é acidental, já que não ela não visa uma pureza metodológica como
propunham os positivistas
- Esta teoria foi criticada por não oferecer bases para uma dogmática jurídica

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16. TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA

A DEMOCRACIA COMO RAZÃO POLÍTICA.

TEORIAS CONTRATUALISTAS
- Focadas na noção de dominação ou subordinação do povo ao Estado
A) HOBBES
- Natureza competitiva do Homem (“Homo homini lupus”)
- Necessidade de um “leviatã” (Estado) para impor ordem e controlar os instintos animais
- Os súditos precisam transferir poder ao soberano para que este os proteja de si mesmos
B) LOCKE
- O Estado precisa existir para haver uma instância superior aos interesses de cada indivíduo
* Não porque o homem é essencialmente mal (lupus)
- O Estado deve preservar a liberdade e a propriedade, pois o poder não é fruto da vontade do soberano, mas
da “assembleia”
A) RUSSEAU
- Alegoria do bom selvagem: o homem é essencialmente bom, mas a sociedade o corrompe
- Estado nasce com o contrato social no qual o povo abre mão de parcela de sua liberdade em prol da
vontade geral
* O poder tem origem no povo
- Apologia à democracia representativa e à participação popular efetiva

DEMOCRACIA DELLIBERATIVA EM HABBERMAS


- Teoria da ação comunicativa: o ser humano busca o consenso (acordo)
- Direito é o elemento ético que garante o consenso
* O consenso é atingido por meio da linguagem (diálogo)
- Habermas visa a promoção da democracia como forma de contenção de modelos totalitários (pós-guerra)
- Habermas critica Hobbes por entender que o embate de interesses não é capaz de gerar uma democracia, o
que somente seria capaz por meio de um arranjo comunicativo
* Para ele os indivíduos precisam entender a relação de reciprocidade em relação ao Estado e participar de
um processo de socialização, onde os objetivos do Estado são postos por consenso, e não por imposição

DEMOCRACIA EM RAWLS
- Para Rawls, democracia pressupõe que todos sejam iguais perante a justiça, em conceitos como direitos e
oportunidade
* Se inspira em Kant quando aproxima liberdade e responsabilidade
- Rawls tenta conciliar liberdade, igualdade e fraternidade
- Individualista: as escolhas são individuais e não coletivas
- As desigualdades são aceitas em condições equitativas de oportunidades e que resultem no mínimo de
privilégios possíveis
- Razões públicas (public reasons): especificam certos direitos e liberdades fundamentais
* Limitador à escolha dos princípios de justiça e princípios constitucionais essenciais
* Conceito extraído de Kant: a) razão dos cidadãos em situação de igual cidadania, b) tem por objeto o bem
público e c) sua natureza e conceito são públicos, determinados pela concepção de justiça política
- Para ele, a democracia verdadeira deve se assentar sobre a lógica do “véu da ignorância” ”
(autodesconhecimento e “original position”)
- Assim como Habermas, concebe uma noção de democracia pluralista
* Diferente de Habermas (procedimentalista), Rawls constriuiu uma teoria substancial, tentando alcançar o
conceito de justiça
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- A democracia só admite uma justiça relativa


- Princípios:
a) Liberdade igual
b) Diferença (tratamento diferencial dos desfavorecidos)
c) Igual oportunidade no acesso aos cargos, bens e direitos

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