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São Paulo-SP
2018
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São Paulo-SP
2018
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BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Professor Mestre Douglas Martins Costa Fonseca
Orientador e Presidente da Banca
_________________________________________________
Professor Mestre Rodrigo Morte
Membro da Banca Examinadora
_________________________________________________
Professor Mestre Guilherme Ribeiro
Membro da Banca Examinadora
4
AGRADECIMENTOS
Ao meu afilhado Augusto, que trouxe muita alegria e felicidade a todos da família.
Aos meus pais, Assis e Alice, pelo incentivo e amor incondicionais.
À minha querida irmã, Carolina Saboia, que me ajudou tanto e deu muito apoio.
À Giulia Di Silvestro, pelo apoio e incentivo nos momentos de dificuldade.
Ao meu irmão, Thiago Saboia, pelo apoio e por ser um entusiasta da música.
À minha família, que acreditou em mim quando decidi assumir essa aventura.
À minha nova família, da banda Unidos do Swing, que acrescentou muito na minha
formação musical, acreditou em mim e compreendeu quando não podia estar presente.
À Jussara, por toda a ajuda que me deu estrutura para focar nos desafios a serem
superados.
À minha amiga Ana Clara, pelas conversas e pelo suporte emocional ao longo de
todos esses anos.
Ao meu caro Luiz de Vasconcelos Moreira, pela parceria e ajuda.
À minha amiga Luisa Caetano, pela amizade e parceria musical.
Aos meus colegas de curso, em especial aos amigos Kiko Andrioli e Allan Abbadia,
que me ajudaram a concluir as etapas ao longo desse processo.
Ao músico Lisandro Massa, que me ensinou coisas importantes da música.
Ao corpo docente e aos funcionários da Faculdade Souza Lima, pela força e suporte
ao longo desses anos.
Ao diretor da faculdade, Mario da Cunha, por todo suporte e disponibilidade para
resolver questões para o melhor aproveitamento do curso.
Aos professores Rodrigo Morte e Guilherme Ribeiro, por terem aceitado fazer parte
da minha banca examinadora.
Ao meu orientador, Douglas Fonseca, pelos grandes ensinamentos para a
concretização dessa pesquisa.
5
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
O cinema tem relevância para a sociedade desde sua primeira apresentação pública
experimental em Paris, em 1895 (USAI CHERCHI, 1999, p. 6) e, ao longo dos anos, essa arte
foi sendo aprimorada de acordo com as tecnologias disponíveis. Nesse contexto, a música foi
percebida como uma importante ferramenta para sustentar a trama do filme. Na época do
cinema mudo, um pianista, ou um quarteto de cordas, ou uma pequena orquestra, por exemplo,
costumava acompanhar as sessões. A música, além de ajudar na dramaticidade do filme,
ajudava a abafar o barulho do projetor.
Na década de 1930, o áudio passou a estar diretamente conectado aos rolos de filme
e a música entrou com mais força nas dramaturgias passadas nas telas de cinema, época em que
os musicais e as animações foram amplamente explorados.
Nessa linha de pensamento, a música é um meio de comunicação e, quando é
executada juntamente à imagem, ganha um novo sentido e ambas dialogam simultaneamente
com a audiência. É o que defendem Bordwell e Thompson: “a trilha sonora pode clarear eventos
da imagem, contradizê-los ou torná-los ambíguos” (BORDWELL; THOMPSON, 1985, p.
184).
Ao longo desse processo de evolução do cinema, a música se tornou parte relevante
para o sucesso de um filme e, com isso, muitos diretores decidiram contratar músicos
específicos para criar músicas totalmente originais para suas obras cinematográficas. Dentre
esses compositores que se tornaram referência, podemos citar como exemplo Bernard
Herrmann (Psicose, 1960), John Williams (Tubarão, 1975; Star Wars, 1977-2015; ET, 1982) e
Ennio Morricone (Era Uma Vez no Oeste, 1968), entre outros. Todos eles se tornaram
referência na área de trilha sonora e ganharam prêmios de relevância mundial, como o Oscar,
o Leão de Ouro, o BAFTA e Grammys.
Dentre esses grandes nomes da música para cinema, Hans Zimmer é considerado
um exemplo de sucesso da atualidade, por ter produzido a trilha sonora de grandes produções
como Rei Leão (1994), Gladiador (2000), Batman: O Cavaleiros das Trevas (2008), 12 Anos
de Escravidão (2013) e Piratas do Caribe (2003, 2006, 2007, 2011, 2017). Zimmer trabalhou
11
em mais de 132 filmes de gêneros variados (ação, comédia, ficção científica, animação,
suspense, romance policial), prova de que ele consegue se adaptar a diferentes narrativas.
A Origem (2010) (título original: Inception), objeto do presente trabalho, é um filme
que se destaca por carregar três estilos diferentes na mesma trama: a obra tem momentos de
ação, ficção científica e drama, e, mesmo assim, a trilha sonora consegue segurar uma unidade
de discurso entre esses diferentes momentos da dramaturgia. Na última cena, o motivo1 musical
que é apresentado ao longo do filme é finalmente desenvolvido por vários compassos. Por esse
motivo, e pelo fato de se tratar do clímax do enredo, escolhemos essa cena como foco central
dessa pesquisa; outras músicas importantes para a trama serão analisadas superficialmente.
Os problemas de pesquisa deste trabalho são: seria possível fazer uma análise para
compreender o processo composicional musical de Hans Zimmer para a cena final do filme? A
partir do conhecimento obtido com a análise, seria possível compor algo no mesmo estilo que
também sirva para a mesma cena?
1
Motivo musical é a menor unidade formal/construtiva que pode existir. Normalmente de curtíssima duração
motivos devem possuir uma “personalidade” bem marcante para que sejam facilmente reconhecidos e, portanto,
tornem-se úteis ao desenvolvimento das ideias melódicas (ALMADA, 2010, p. 251).
12
Este trabalho tem como objetivo geral fazer uma análise musical da cena final do
filme A Origem e como objetivos específicos compor um tema musical para essa mesma cena
final, usando a música original como referência, e compreender recursos musicais que
potencializam a dramaturgia.
13
1 O FILME A ORIGEM
1.1 Sinopse
Cobb aceita o trabalho e, junto ao seu sócio Artur (Joseph Gordon-Levitt), escala
outras três pessoas para a missão: a arquiteta Ariadne (Ellen Page), para arquitetar a estrutura
física do sonho; o “forjador” Eams (Tom Hardy), para forjar outras identidades – ele tem a
habilidade de se transformar em outras pessoas dentro dos sonhos e confundir as vítimas; e o
químico Yusuf (Dilepp Rao), para criar a substância necessária para que o sonho tenha três
níveis de profundidade (sonhos dentro do sonho).
Durante o processo de criação do plano da missão, Cobb e Arthur treinam Ariadne.
Eles explicam para ela os conceitos do sonho compartilhado e como dominá-los. Falam que o
sonho é habitado por “projeções”, as quais são pessoas que fazem parte do subconsciente do
indivíduo. Explicam também a importância do Totem. O Totem é um pequeno objeto que pode
ser facilmente carregado para qualquer lugar e que tem como função mostrar se o indivíduo
está no mundo real ou não. O Totem de Cobb, por exemplo, é um pequeno pião giratório.
Quando Cobb acorda de um sonho, ele precisa girar o seu Totem para checar se está no mundo
real: se o Totem girar e não parar, ele está sonhando; se ele girar e o pião perder o impulso, ele
está no mundo real. Em um determinado momento dessa fase, Ariadne descobre que Cobb é
perseguido pela “projeção” de Mal nos seus sonhos, por isso ele não pode ser o arquiteto do
sonho.
Eles passam dias planejando a execução da missão e, quando Maurice Fisher morre,
eles dão início ao trabalho. Robert Fisher pega um avião para ir ao enterro do pai e a quadrilha
de Cobb entra no avião junto a ele; eles têm 10 horas de voo para cumprir a inseminação da
ideia.
Na primeira oportunidade, Cobb põe um sonífero na bebida de Robert. Então,
começam a prática de compartilhamento de sonhos. Na primeira camada de sonho, eles entram
no sonho de Yusuf: é uma cidade chuvosa com muito trânsito. Eles são surpreendidos pelas
“projeções” de Robert. Essas estão armadas e, assim que percebem que a equipe de Cobb é
invasora, começam a atacá-los. Saito é gravemente ferido na perseguição e isso os obriga a
terem de cumprir a missão em um tempo mais curto do que o previsto. Em sequência, Cobb
revela à equipe que a química usada para atingir os três níveis do sonho é tão forte que, se
alguém morrer ali, não acordaria como de costume, mas viveria uma eternidade no Limbo.
Assim, quando essa pessoa acordasse, não se lembraria da própria identidade. Mais à frente,
Cobb conta a Ariadne que viveu 50 anos no Limbo com Mal. A quadrilha segue o plano inicial,
interroga Robert como se ele tivesse sido sequestrado e depois vão para o segundo nível do
sonho. Yusuf é o único que continua no primeiro nível.
16
inexistente; pensar em um grupo de pessoas que se juntam para roubar informações remete ao
gênero de filme de assalto; no que se refere à figura de Mal, uma mulher atraente, em cenas
com pouca luz, que manipula e confunde o personagem principal, somos remetidos ao estilo
film noir; por fim, as tragédias vivenciadas por Cobb ao longo da narrativa trazem elementos
do estilo drama.
As emoções principais do filme são culpa e arrependimento. Podemos citar
exemplos que validam a afirmação:
Ao início do filme, em uma conversa entre Saito (Ken Watanabe) e Cobb (Leonardo
DiCaprio), Saito diz: “Você quer dar uma chance à esperança ou quer se tornar um homem
velho, cheio de arrependimentos, esperando a morte sozinho?” (tradução livre)2 aos 00:21:13.
Essa frase aparece outras vezes no filme, como em 01:13:38 e 02:16:05.
Outro exemplo é quando Cobb se mostra culpado por ter deixado seus filhos,
incriminado pelo suicídio de sua ex-mulher, Mal (Marion Cotillard). Ele admite para ela que
não importa o que ele faça, ele não consegue fugir da culpa de ter plantado uma ideia que, como
consequência, a levou a cometer suicídio (02:02:25). As ações de Cobb são, assim, motivadas
pela culpa e arrependimento. Por isso, ele decide assumir essa última missão, com o intuito de
se resolver com o passado, mesmo tendo consciência de todos os riscos envolvidos.
Por sua vez, Robert Fisher (Cillian Murphy) sente-se culpado por não ser um bom
sucessor da empresa do pai. Em uma conversa com Browning (01:14:53), ele mostra como se
sente magoado por seu pai ter dito que estava desapontado com o filho. No desenrolar da
narrativa, ele se mostra arrependido por não ter aceitado isso antes e por não ter conseguido se
aproximar do seu pai. Em um trecho, Maurice Fisher (pai de Robert Fisher) diz que estava
desapontado com o fato de seu filho ter tentado ser igual ao pai (02:09:41), o que pode ser
compreendido como arrependimento por ter forçado o filho a seguir um caminho que não era
para ele.
A única música diegética3 do filme é “Non, je ne regrette rien” (“Não, eu não me
arrependo de nada”, em tradução livre) composta por Charles Dumont (1929), letrada por
Michel Vaucaire (1904-1980) e popularmente conhecida na voz de Edith Piaf (1915-1963).
Podemos considerá-la uma música paradoxal dentro do contexto do filme, em que os
2
“Do you want to take a leap of faith or become an old man filled with regret waiting to die alone?”
3
BAPTISTA, A. (2007) “A música pode ser diegética/música da tela (executada dentro da ação) e não
diegética/música de fosso (produzida por uma fonte imaginária ausente da ação)”, ou seja, música diegética é
aquela que as personagens estão escutando e música não diegética é a música que o público escuta, mas não é
ouvida pelos personagens.
18
1.4.1 Motivo
1.4.2 Leitmotiv
ou musical e que diz algo importante a respeito dele”4 (em tradução livre). Há indícios de que
o compositor erudito Richard Wagner (1813-1883) foi quem introduziu a técnica quando
compunha suas óperas. A técnica se baseia no uso de ideias/motivos que se repetem
constantemente e estão ligadas a algum personagem específico. Sendo assim, há uma música
endereçada para cada personagem: quando o foco da cena é direcionado ao personagem X, será
tocada o Leitmotiv X. Essa técnica tem função de destacar quando é o momento de cada
personagem e qual possível emoção está relacionada a ele. Essa técnica é utilizada no filme A
Origem e será analisada ao longo do trabalho.
1.4.4 Ostinato
Um recurso de acompanhamento rítmico, uma pequena frase (às vezes com fortes
acentuações e nem sempre melodicamente constante: ritmo e contorno são os fatores
que melhor o caracterizam), a qual, por causa de sua repetição contínua, obstinada
(tradução do termo italiano), é facilmente compreendida e decodificada pelo ouvido,
sendo assim posta por este em um plano inferior de percepção, de modo a dar lugar a
outros elementos musicais mais complexos. (ALMADA, 2010, p.100)
4
A phrase or other feature that is repeated often in a work of art, literature, or music and that tells you something
important about it. Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/leitmotiv>. Acesso em: 22 jan. 2019.
20
2. ANÁLISE MUSICAL
Hans Zimmer e o diretor Christopher Nolan têm uma parceria de vários anos. O
diretor afirma que Zimmer é um compositor minimalista com máximo senso de produtividade
e que deu toda a liberdade para ele compusesse como quisesse em A Origem. Note-se a
afirmação do compositor em entrevista: “Nosso trabalho não é fazer o que os diretores pedem
para nós; nosso trabalho é surpreendê-los”5 (tradução livre).
A instrumentação da trilha sonora do filme em questão mistura sons tradicionais de
orquestra com instrumentos elétricos como sintetizadores e guitarra. Em uma entrevista,
Zimmer explicou ter usado 6 trombones baixos, 6 trombones tenores, 4 tubas e 6 trompas para
um maior impacto sonoro. Nas palavras do próprio compositor: “Eu acredito que as pessoas
não percebem que provavelmente essa é a música mais estrondosa já mostrada no cinema”6
(tradução livre), e ainda: “O cavaleiro das trevas já estava muito pesado nos timbres
eletrônicos, mas este, de alguma forma, vai um pouco além”7 (tradução livre).
Nessa obra, Hans Zimmer quis inverter a relação entre orquestra e sintetizadores:
ele pediu à orquestra que imitasse o som dos sintetizadores. “Nós pegamos coisas que foram
criadas digitalmente, faixas com essa ambiência, essa atmosfera, e botamos em frente da
orquestra e eu disse: ‘Ok, agora eu quero que a orquestra imite isso, os sons eletrônicos dos
sintetizadores’”8 (tradução livre).
5
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=D1-eXPXQwzs>. Acesso em: 28 nov. 2018.
6
“I don't think people realize that this is probably the loudest music ever featured in a movie throughout.”
7
“Dark knight was already pretty heavy on the eletronics, but this one, somehow, pushed the whole thing a little
bit further”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=W1FIv7rFbv4&t=22s>. Acesso em: 28 nov.
2018.
8
“We took things that were created completely electronically, these ambiances, these atmosphere tracksm and put
them in front of the orchestra and said: ‘OK, now I want the orchestra to go and imitate synthesize electronic
sounds”. In: “Hans Zimmer – Making Of Inception Soundtrack”. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=W1FIv7rFbv4&feature=related>. Acesso em: 28 nov. 2018.
22
A presença da guitarra também se destaca, pois não se trata de uma trilha de rock:
o timbre da guitarra elétrica se sobressai por estar inserido em meio à orquestra e aos sons
eletrônicos. O uso de ferramentas eletrônicas também ajudaram na composição: o ataque dos
metais na música “Half Remembered Dreams” foi inspirado na introdução da música cantada
por Edith Piaf “Non, je ne regrette rien” 9. Zimmer utilizou a faixa de áudio da música e reduziu
digitalmente o andamento; com esse novo som, ele arranjou para o naipe de metais, criando
assim uma grande camada sonora de impacto. Nessa trilha, os instrumentos graves são muito
explorados.
Figura 1: Motivo T
9
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=EA8z44Qqhc0>. Acesso em: 28 nov. 2018.
23
Motivo T está no sexto compasso, pois atinge a nota mais aguda da melodia e pode ser
considerado o momento de tensão, por ser a 7ªM do acorde de C. Em todo o resto do motivo, a
melodia está na 3ª maior ou menor dos outros acordes.
A música apresenta características que ressaltam emoções mais introspectivas e
reflexivas. Como as emoções principais do filme são culpa e arrependimento, não faria sentido
uma música que remetesse a sentimentos alegres. Provavelmente por isso, a música começa
com um acorde menor – os acordes menores foram usados amplamente na musica erudita e
popular para enfatizar contextos não tão felizes. As notas longas dão um sentimento de
estabilidade e pouco movimento, as quais podem estar relacionadas ao sentimento de
impotência de Cobb em relação a tudo que aconteceu com sua família, tendo em vista que ele
está preso nessas lembranças, sem conseguir seguir em frente. Na nota clímax do sexto
compasso, a melodia se destaca, mas em seguida cai drasticamente (salto de 8ª justa) e retorna
às mesmas alturas exploradas anteriormente. Em vários momentos da orquestração, essa mesma
nota é destacada também com uso de dinâmica e texturas. Essa passagem pode ser interpretada
como esperança e expectativa geradas e que, em seguida, são quebradas e retornam ao mesmo
ponto de partida. Os saltos da melodia podem ser ainda considerados uma analogia aos saltos
feitos entre as diferentes camadas dos sonhos.
00:33:56 a Cobb, Ariadne, Cobb acorda do workshop de sonho que Galpão onde
00:34:27 Artur. dá para Ariadne e vai em direção ao seu o time faz os
Totem. Em seguida, Artur explica a planos da
Ariadne a natureza do Totem. missão.
24
02:12:58 a Cobb e Mal Mal havia sido baleada por Ariadne e Limbo.
02:13:50 morria nos braços de Cobb. Mal relembra
Cobb da promessa de que envelheceriam
juntos. Cobb responde que ele a havia
cumprido, pois haviam vivido 50 anos
juntos no Limbo e que agora seria o
momento de deixá-la para trás.
25
10
“A catarse nas artes corresponde à sensação de ‘limpeza, leveza, renovação e purificação’ que o ser humano
atinge quando entra em contato com alguma obra artística. Podemos citar a pintura, a música, o cinema, o teatro,
a dança, etc.
Em outras palavras, a catarse nas artes representa a liberação da tensão emocional e que proporciona fortes
emoções além do sentimento de alívio.” (Definição “Toda Matéria”. Disponível em:
<https://www.todamateria.com.br/o-que-e-catarse>.)
26
The Totem becomes connected to the characters of Cobb and his late wife Mal at an
early stage in the film and appears continuously throughout the film. The spinning top
was originally Mal's Totem and Cobb used it to perform his first inception on his wife,
which led to her suicide, his escape from the U.S. and the separation from his children,
his engagement into corporate espionage and so forth. The Totem can thus be
considered the symbol of Cobb's tragic dilemma, his emotional turmoil of guilt and
regret towards his wife and children, but also a symbol of his catharsis and a visual
constant lending a sense of causality and consistency to the complicated narrative of
the film. (FLACH, 2012, pp. 63-4)11
Além de “Time”, outra música muito importante para o filme é “Waiting for the
train”, pois está ligada à personagem Mal. Como explicado anteriormente, Cobb e Mal viveram
no Limbo (uma camada profunda do mundo dos sonhos) durante muitos anos – a experiência
11
“O Totem se torna conectado ao personagem Cobb e sua ex-mulher Mal no primeiro estágio do filme e
constantemente aparece no decorrer dele. O pião era originalmente o Totem de Mal e Cobb usou-o para executar
sua primeira implantação de ideia em sua esposa, o que levou ao suicídio dela, à fuga de Cobb dos EUA e à
separação de seus filhos, ao seu envolvimento na espionagem corporativa e assim por diante. O Totem pode assim
ser considerado o símbolo do dilema trágico de Cobb, seu tumulto emocional de culpa e arrependimento em relação
à sua esposa e filhos, mas também um símbolo de sua catarse e um constante elemento visual que dá sentido de
causalidade e consistência na complicada narrativa da filme” (tradução livre).
27
vivenciada nesse sonho equivaleria a 50 anos na uma vida real. Em cenas em que Cobb e Mal
conversam ou o assunto de Mal vem a discussão, essa música aparece para enfatizar a presença
de Mal no ambiente.
A música tem uma duração maior, com variações de ritmo e de tonalidade. Contém
também citações e variações da música cantada por Edith Piaf. Os motivos principais estão
destacados a seguir:
As notas desse tema são bem longas e espaçadas, criando assim um clima de
nostalgia e a sensação de que o tempo passa vagarosamente. O tema em certo momento cita
uma variação do Motivo T e trechos de “Non, je ne regrette rien”.
A música leva esse nome, “Waiting for the train”, pois está conectada à saída de
Cobb e Mal do Limbo. Quando decidem acordar daquele sonho, a única forma de sair de lá era
cometendo um suicídio. Sendo assim, eles optaram por esperar deitados na linha do trem e
serem atropelados. Eles acordam do sonho, mas Mal continua pensando que está sonhando, o
que a leva a cometer suicídio na vida real. Enquanto eles esperam o trem chegar, Cobb e Mal
falam juntos: “Você está esperando pelo trem. O trem vai te levar para muito longe. Você não
28
sabe onde o trem te levará. Mas não importa, pois estaremos juntos.”12 (tradução livre). Esse
diálogo é repetido ao longo do filme.
Essa música também tem a função de enfatizar a culpa que Cobb sente em relação
a Mal, pois, em todas cenas em que ele sente esse remorso, a música é tocada.
Os dois principais leitmotive do filme são “Time” e “Wating for the train”. Contudo,
há outros temas que estão conectados a determinados personagens ou a momentos específicos.
Aqui estão listados os principais e suas respectivas funções com a cenas:
Tabela 2: Leitmotive
12
“You’re waiting for a train. A train that will take you far away. You don't know where this train will take you.
But it doesn't matter, because we'll be together.”
2.7 Pontuação da última cena
A última cena de A Origem é o clímax de todo o enredo; nesse caso, a trilha tem a
função de acompanhar cada nuance que a cena carrega. Para organizar os momentos e climas,
há a seguir uma tabela com o tempo do filme, o tempo da trilha (em parênteses), o que ocorre
na cena, o áudio e a instrumentação e dinâmica que são usadas conforme o clima:
2:17:47 Fischer recebe os Som ambiente, “Time” ganha Mezzo forte. Resolução e
(00:00:31) formulários de não há sons volume, cordas Cordas incerteza.
migração fortes. fazem harmonia de fazem
pensativo; Arthur forma mais cheia e crescendo e
olhando para contraponto. diminuendo.
Cobb, sorrindo;
Ariadne está
olhando para
Cobb.
30
2:18:27 Cobb está na sala Som ambiente. Música abaixa o Piano. Tensão.
(00:01:11) de migração e o volume e sustenta o
funcionário acena acorde com fermata
chamando-o. quando Cobb se
aproxima do policial
da migração; notas
longas das cordas;
crescendo trompas no
final.
02:19:12 Cobb está prestes Sem som Trompas fazem Forte, Missão
(00:01:56) a sair do ambiente. contraponto à com cumprida.
aeroporto, melodia, revelando crescendo e
passando por caráter heroico. Os diminuendo.
todos os outros instrumentos
integrantes da continuam em suas
missão. funções.
2:19:28 Miles (pai de Sem som Destaque nas cordas Forte forte. Resolução.
(00:02:12) Cobb) do lado de ambiente. agudas, cordas
fora do portão da fazendo rítmico em
sala de colcheias. Os outros
desembarque. instrumentos
continuam.
02:20:10 Foco nas crianças Som ambiente. Instrumentos Forte forte. Resolução.
(00:03:24) brincando no continuam.
jardim de costas.
02:20:12 Foco em Cobb, Miles diz: Melodia no piano, Piano Expectativa.
(00:03:26) que as observa. “Olha quem cordas na melodia, (mudança
está aqui”. pedal grave. drástica).
02:20:15 Foco nas Sem som Melodia no piano, Piano. Resolução.
(00:03:29) crianças, que ambiente. cordas na melodia,
viram o rosto. pedal grave.
02:20:20 Cobb corre para Som ambiente. Melodia no piano, Piano. Resolução.
(00:03:34) abraçar as cordas na melodia,
crianças e pedal grave.
conversa com
elas.
02:20:28 Câmera desliza Som ambiente Melodia no piano, Piano. Expectativa.
(00:03:42) para o pião. abaixa e cordas na melodia,
apenas som do pedal grave.
pião é
escutado.
únicos momentos em que esse crescendo é interrompido é quando Cobb encontra o policial da
migração e quando finalmente encontra seus filhos. Grande parte do filme contém uma
participação da trilha sonora de forma ativa e presente; são poucos os momentos em que a
música está menos intensa ou totalmente em silêncio e, nesses momentos, é possível ver a
intenção de Hans Zimmer de chamar o espectador para estar mais perto da imagem e se atentar
aos detalhes da imagem na tela.
Quando Cobb está perto do policial, a tensão é atenuada. A ausência da música
“Time” e do Motivo T cria ansiedade e incerteza, o que se encaixa com a intenção, pois não se
sabe o que acontecerá. Saito poderia ter cumprido sua promessa ou não. Quando o passaporte
de Cobb é carimbado e o policial deseja boas-vindas a ele, Cobb relaxa e segue seu caminho.
Assim que isso acontece, um ostinato na guitarra elétrica entra, marcando o sentimento de alívio
de Cobb.
No quadro seguinte, Cobb está no saguão, onde pega sua mala e passa por toda a
equipe que participou da missão. Nesse momento, os metais entram mais em evidência,
revelando um caráter heroico e de conquista do personagem. Assim que Cobb vê Miles, seu
pai, os violinos entram em uma tessitura aguda, o que pode ser entendido como a esperança se
aproximando. É interessante que o Motivo T repete os primeiros 4 compassos e só passa para a
segunda metade (do 5º ao 8º compasso do Motivo T) quando Cobb vê Miles. A segunda metade
do Motivo T contém o clímax e Zimmer o guarda para o momento apropriado.
Assim que Cobb cumprimenta Miles, as trompas entram em dinâmica fortissimo
para novamente ressaltar uma imagem de Cobb como um herói que conseguiu cumprir sua
missão. A música continua com o crescendo quando Cobb entra na sua casa, e a primeira coisa
que faz ali é girar seu Totem. Então, Miles chama as crianças pelos respectivos nomes. A
câmera enquadra as crianças brincando no jardim de costas, Cobb volta a ser enquadrado pela
câmera e nesse momento a dinâmica e instrumentação caem drasticamente. Somente piano e
violino fazem o Motivo T, enquanto um pedal grave de sintetizador soa no fundo. As crianças
giram os rostos para Cobb em câmera lenta, momento em que o som ambiente é cortado. Em
seguida, Cobb vai em direção a elas para abraçá-las, e o som ambiente retorna. O grande foco
nesse momento é no som de todos correndo para se encontrar e os gritos de alegria do
reencontro. A câmera enquadra os três de longe se abraçando, enquanto lentamente o som
ambiente é reduzido a zero e a câmera se move para enquadrar o Totem que gira. Escuta-se
apenas o Totem girando e o Motivo T. Cria-se nesse momento uma expectativa se Cobb está
sonhando ou não – novamente a música está em segundo plano para chamar a atenção do que
acontece na tela. O Totem continua a girar, o violino faz um movimento fora do Motivo T, entra
34
um crescendo agudo de violino ou sintetizador e a cena acaba sem mostrar se o Totem caiu ou
não, trazendo assim a dúvida se Cobb de fato teria realizado a missão com sucesso.
É uma grande união entre a música e a expectativa que cresce cada vez mais.
Quando Cobb está se aproximando de concluir a missão, a música cresce em intensidade e
densidade, o que colabora para o clímax final do filme.
35
Figura 7: Motivo T
Figura 8: Motivo T2
O novo motivo será chamado por questões práticas de Motivo T2. Esse respeita
algumas características do Motivo T e outras são alteradas. Como as características do Motivo
T são muito específicas, foi um desafio criar algo que não parecesse plágio. Assim como o
Motivo T, o Motivo T2 respeita o movimento de expansão e contração entre as vozes grave e
aguda e também utiliza a estrutura baixa dos acordes. O Motivo T está em G maior em um ciclo
eterno sem sensação de fechamento e não utiliza empréstimo moldal. Já o Motivo T2 está em
C maior e utiliza empréstimo moldal no 4º e no 6º compassos. Os saltos do Motivo T2 não são
tão grandes como no Motivo T. O Motivo T2 usa saltos de 2ª maior, 3ª maior e menor, 4ª justa
e 6ª maior e menor; enquanto o Motivo T chega a fazer um salto de 8ª justa. Outra diferença
entre os dois motivos é que o Motivo T2 usa inversões dos acordes, enquanto o Motivo T não.
36
Após a criação do Motivo T2, foi feita uma instrumentação conforme a usada no
filme original. A seguir se encontram as anotações com detalhes de instrumentação mais
aprofundados:
Compassos 1 a 4
Cena: Cobb acorda no avião
Andamento em 64 BPM;
Piano faz melodia e violino dobra 8ª acima;
Violoncelo toca a nota da melodia em mínima uma oitava abaixo da melodia do piano
e depois cai diatonicamente, passando por duas notas.
;
Figura 9: Linha violoncelo compassos 1 a 4
Compassos 5 a 8
37
Cena: Aeromoça oferece formulário de migração a Cobb e Robert; Robert está pensativo
Todos os instrumentos citados anteriormente mantêm suas funções;
A dinâmica desses violinos faz crescendo e diminuendo a cada dois compassos;
Compassos 9 a 16
Cena: Câmera mostra Artur e Ariadne, que olham para Cobb; Cobb olha para Saito
Andamento cai para 63 BPM;
Todos os instrumentos citados anteriormente mantêm suas funções;
Violoncelo toca a nota de semínima da melodia uma oitava abaixo do piano e depois
cai diatonicamente, passando por duas notas por grau conjunto;
Compassos 21 a 26
Cena: Cobb vai até o policial de migração
38
Instrumentos mantêm uma nota longa e depois seca para apenas a tuba e o contrabaixo,
que fazem pedal grave com um ataque de tímpano quando o policial da migração é
focado;
Violinos tocam D e A em região aguda para passar ideia de tensão, mas também de
esperança. (Caso fosse desejado não dar foco à esperança, duas notas com intervalos de
2ª menor resolveriam mais eficientemente o efeito);
Trompas tocam as notas D e A em região mais grave em crescendo e diminuendo para
indicar possibilidade de perigo;
Há um compasso em 2/4 em 55 BPM para que a música entre no momento justo da
próxima cena.
Compassos 27 a 31
Cena: Policial da migração deixa Cobb passar; na próxima cena Cobb está pegando sua
mala
Andamento em 64 BPM;
Guitarra entra sozinha em ostinato, seguindo movimento contrário ao da música original
e com dinâmica crescente do piano ao forte; no próximo compasso entram os outros
instrumentos;
Piano faz Motivo T2;
Tuba e tímpano fazem notas graves do Motivo T2;
Violoncelo e viola fazem harmonia; violinos 1 e 2 e baixo não tocam;
Tímpano toca notas graves do Motivo T2.
Compassos 32 ao 35
Cena: Cobb está saindo do aeroporto e passar por todos que participaram da missão
Andamento em 64 BPM;
Trompas e trombones fazem um contorno melódico nos compassos em semínimas e
atacam a nota da melodia em semibreve no compasso seguinte; repetem esse padrão;
Compassos 36 a 39
Cena: Cobb vai ao encontro de seu pai, que o espera no aeroporto
Andamento em 64 BPM.
Contrabaixos, violoncelos e violas fazem harmonia em colcheia e pausa. Violinos 1 e 2
fazem harmonia em região mais aguda e com nota da melodia do Motivo T2 na ponta;
Compassos 40 a 47
Cena: Pai de Cobb o cumprimenta e em seguida estão na casa de Cobb
Trompas, tubas, tímpano, piano e trompas continuam na mesma função;
40
Compassos 48 a 58
Cena: Cobb olha para seus filhos e depois vai abraçá-los; pião girando
Motivo T2 é tocado no piano e é dobrado pelo violino uma 8ª acima em dinâmica piano;
Há um pequeno movimento das cordas no final, terminado por um crescendo de notas
agudas.
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
13
Youtube.com, “La Sorprendente Vida de Hans Zimmer (Entrevista a Hans Zimmer) | Jaime Altozano”,
entrevista e comentários sobre carreira de Hans Zimmer; (5:00) fonte:
https://www.youtube.com/watch?v=Z8K0fRhgrTo (Último acesso 30/11/2018)
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REFERÊNCIAS
YOUTUBE. “Hans Zimmer talks Inception score, Part 3 of 4”. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=w12GxaA18ug>. Acesso em: 30 nov. 2018.
YOUTUBE.com, “La Sorprendente Vida de Hans Zimmer (Entrevista a Hans Zimmer) | Jaime
Altozano”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Z8K0fRhgrTo>.
Acesso em: 30 nov. 2018.
ZIMMER, Hans. “Hans Zimmer Teaches Music Scoring” (curso online). MasterClass, 2017.
Disponível em: <https://www.masterclass.com/classes/hans-zimmer-teaches-film-
scoring>. Acesso em: 30 nov. 18.
DISCOGRAFIA:
ZIMMER, Hans. Inception: Music from the motion picture. USA: Reprise Records, 2010.
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ANEXO