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FACULDADE DE MÚSICA SOUZA LIMA

RICARDO TROCCOLI DE NOGUEIRA SABOIA

PROCESSO DE COMPOSIÇÃO DE TRILHA SONORA


A PARTIR DA ANÁLISE DA MÚSICA DE HANS ZIMMER
NA CENA FINAL DO FILME A ORIGEM

São Paulo-SP
2018
2

FACULDADE DE MÚSICA SOUZA LIMA

RICARDO TROCCOLI DE NOGUEIRA SABOIA

PROCESSO DE COMPOSIÇÃO DE TRILHA SONORA


A PARTIR DA ANÁLISE DA MÚSICA DE HANS ZIMMER
NA CENA FINAL DO FILME A ORIGEM

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Música na Faculdade Souza
Lima como requisito parcial para a obtenção
do título de bacharel em Música pelo Curso
de Bacharelado em Música com
especialização em Arranjo e Composição.

Orientador: Professor Mestre Douglas Martins Costa Fonseca

São Paulo-SP
2018
3

RICARDO TROCCOLI DE NOGUEIRA SABOIA

PROCESSO DE COMPOSIÇÃO DE TRILHA SONORA


A PARTIR DA ANÁLISE DA MÚSICA DE HANS ZIMMER
NA CENA FINAL DO FILME A ORIGEM

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Música na Faculdade Souza
Lima como requisito parcial para a obtenção
do título de bacharel em Música pelo Curso
de Bacharelado em Música com
especialização em Arranjo e Composição.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________
Professor Mestre Douglas Martins Costa Fonseca
Orientador e Presidente da Banca

_________________________________________________
Professor Mestre Rodrigo Morte
Membro da Banca Examinadora

_________________________________________________
Professor Mestre Guilherme Ribeiro
Membro da Banca Examinadora
4

AGRADECIMENTOS

Ao meu afilhado Augusto, que trouxe muita alegria e felicidade a todos da família.
Aos meus pais, Assis e Alice, pelo incentivo e amor incondicionais.
À minha querida irmã, Carolina Saboia, que me ajudou tanto e deu muito apoio.
À Giulia Di Silvestro, pelo apoio e incentivo nos momentos de dificuldade.
Ao meu irmão, Thiago Saboia, pelo apoio e por ser um entusiasta da música.
À minha família, que acreditou em mim quando decidi assumir essa aventura.
À minha nova família, da banda Unidos do Swing, que acrescentou muito na minha
formação musical, acreditou em mim e compreendeu quando não podia estar presente.
À Jussara, por toda a ajuda que me deu estrutura para focar nos desafios a serem
superados.
À minha amiga Ana Clara, pelas conversas e pelo suporte emocional ao longo de
todos esses anos.
Ao meu caro Luiz de Vasconcelos Moreira, pela parceria e ajuda.
À minha amiga Luisa Caetano, pela amizade e parceria musical.
Aos meus colegas de curso, em especial aos amigos Kiko Andrioli e Allan Abbadia,
que me ajudaram a concluir as etapas ao longo desse processo.
Ao músico Lisandro Massa, que me ensinou coisas importantes da música.
Ao corpo docente e aos funcionários da Faculdade Souza Lima, pela força e suporte
ao longo desses anos.
Ao diretor da faculdade, Mario da Cunha, por todo suporte e disponibilidade para
resolver questões para o melhor aproveitamento do curso.
Aos professores Rodrigo Morte e Guilherme Ribeiro, por terem aceitado fazer parte
da minha banca examinadora.
Ao meu orientador, Douglas Fonseca, pelos grandes ensinamentos para a
concretização dessa pesquisa.
5

RESUMO

Com o intuito de compreender possíveis processos composicionais para trilha


sonora de cinema, foi escolhido como objeto empírico de estudo para o presente trabalho o
filme A Origem (2010), que tem trilha sonora original de Hans Zimmer e direção de Christopher
Nolan. O recorte principal do estudo é a cena final, na qual o motivo musical principal é
desenvolvido amplamente. Do ponto de vista metodológico, foram realizadas as seguintes
etapas: 1) buscar entender as principais características da estória do filme; 2) analisar o motivo
musical; 3) analisar a instrumentação que o contorna; 4) desenvolver um novo motivo musical;
5) criar um arranjo respeitando as técnicas da composição original. Por meio dessa análise, foi
possível compreender algumas técnicas de Zimmer e, a partir dessas, criar um novo motivo
musical e arranjo coerentes com o que foi proposto.

Palavras-Chave: A Origem. Hans Zimmer. Trilha Sonora. Composição. Música.


Arranjo. Orquestração.
6

ABSTRACT

With the intention of understanding possible compositional processes for film


soundtrack, it was chosen, as empirical study object for the present dissertation, the film
Inception (2010), which has original soundtrack by Hans Zimmer and was directed by
Christopher Nolan. The main cut of this study is the final scene, in which the main musical
motif is developed widely. Methodologically, the following steps were taken: 1) search to
understand the main characteristics of the story; 2) analysis of the musical motif; 3) analysis of
its instrumentation; 4) development of a new musical motif; 5) creation of an arrangement
respecting the techniques of the original composition. After this study, it was possible to
understand some of Zimmer’s techniques and, based on them, to create new musical motif and
arrangement coherent to what was first proposed.

Keywords: Inception. Hans Zimmer. Soundtrack. Composition. Music.


Arrangement. Orchestration.
7

SUMÁRIO

Introdução – Tema e problematização.................................................................................... 10


Objetivo geral e objetivos específicos .................................................................................. 122
1. O filme A Origem ............................................................................................................. 133
1.1 Sinopse ........................................................................................................................... 133
1.2 Trama do filme ............................................................................................................... 144
1.3 Caráter emocional e gêneros do filme .............................................................................. 16
1.4 Definições importantes ................................................................................................... 188
1.4.1 Motivo ......................................................................................................................... 188
1.4.2 Leitmotiv ...................................................................................................................... 188
1.4.3 Diferença entre Leitmotiv e Motivo ............................................................................. 199
1.4.4 Ostinato........................................................................................................................ 199
2. Análise musical .................................................................................................................. 20
2.1 Instrumentação e processos da composição original ........................................................ 20
2.2 Música "Time" e seu motivo............................................................................................. 21
2.3 O Motivo T ao longo do filme .......................................................................................... 22
2.4 O Totem e Motivo T ....................................................................................................... 224
2.5 “Waiting for the train” e Mal ......................................................................................... 255
2.6 Outros Leitmotive ........................................................................................................... 257
2.7 Pontuação da última cena ............................................................................................... 258
2.8 Visão geral da trilha sonora na última cena...................................................................... 31
3. Criação de um novo motivo ............................................................................................... 34
3.1 Processo de orquestração para última cena .................................................................... 274
4. Considerações finais ....................................................................................................... 4027
5. Referências ....................................................................................................................... 282
6. Anexos .............................................................................................................................. 284
6.1 Arranjo Motivo T2 ......................................................................................................... 294
6.2 Link vídeo com arranjo Motivo T2 MIDI .................................................................... 5029
6.3 Link vídeo cena final original....................................................................................... 5032
8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Motivo T ................................................................................................................. 21


Figura 2: Cobb e o Totem ..................................................................................................... 104
Figura 3: “Waiting for the train” e Mal ................................................................................ 125
Figura 4: Motivo da guitarra ................................................................................................. 136
Figura 5: Motivo das cordas ................................................................................................. 136
Figura 6: Cena final do filme................................................................................................ 148
Figura 7: Motivo T ................................................................................................................. 16
Figura 8: Motivo T2 ............................................................................................................. 184
Figura 9: Linha violoncelo compassos 1 a 4 ........................................................................ 185
Figura 10: Linha violinos II e viola compassos 1 a 4 ........................................................... 185
Figura 11: Linha violinos II e viola compassos 5 a 8 ........................................................... 196
Figura 12: Linha violoncelo 2 compassos 1 a 4 ................................................................... 196
Figura 13: Linha trompas compasso 32 em concert ............................................................... 37
Figura 14: Cordas compassos 36 a 40 .................................................................................. 218
Figura 15: Linha trompas compasso 36 em concert ............................................................. 228
Figura 16: Linha trombones compasso 40 ............................................................................ 229
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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: O Motivo T ao longo do filme .............................................................................. 122


Tabela 2: Leitmotive ............................................................................................................. 137
Tabela 3: Pontuação da última cena ................................................................................... 2813
10

INTRODUÇÃO – TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO

O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho.


(Orson Welles)

O cinema tem relevância para a sociedade desde sua primeira apresentação pública
experimental em Paris, em 1895 (USAI CHERCHI, 1999, p. 6) e, ao longo dos anos, essa arte
foi sendo aprimorada de acordo com as tecnologias disponíveis. Nesse contexto, a música foi
percebida como uma importante ferramenta para sustentar a trama do filme. Na época do
cinema mudo, um pianista, ou um quarteto de cordas, ou uma pequena orquestra, por exemplo,
costumava acompanhar as sessões. A música, além de ajudar na dramaticidade do filme,
ajudava a abafar o barulho do projetor.
Na década de 1930, o áudio passou a estar diretamente conectado aos rolos de filme
e a música entrou com mais força nas dramaturgias passadas nas telas de cinema, época em que
os musicais e as animações foram amplamente explorados.
Nessa linha de pensamento, a música é um meio de comunicação e, quando é
executada juntamente à imagem, ganha um novo sentido e ambas dialogam simultaneamente
com a audiência. É o que defendem Bordwell e Thompson: “a trilha sonora pode clarear eventos
da imagem, contradizê-los ou torná-los ambíguos” (BORDWELL; THOMPSON, 1985, p.
184).
Ao longo desse processo de evolução do cinema, a música se tornou parte relevante
para o sucesso de um filme e, com isso, muitos diretores decidiram contratar músicos
específicos para criar músicas totalmente originais para suas obras cinematográficas. Dentre
esses compositores que se tornaram referência, podemos citar como exemplo Bernard
Herrmann (Psicose, 1960), John Williams (Tubarão, 1975; Star Wars, 1977-2015; ET, 1982) e
Ennio Morricone (Era Uma Vez no Oeste, 1968), entre outros. Todos eles se tornaram
referência na área de trilha sonora e ganharam prêmios de relevância mundial, como o Oscar,
o Leão de Ouro, o BAFTA e Grammys.
Dentre esses grandes nomes da música para cinema, Hans Zimmer é considerado
um exemplo de sucesso da atualidade, por ter produzido a trilha sonora de grandes produções
como Rei Leão (1994), Gladiador (2000), Batman: O Cavaleiros das Trevas (2008), 12 Anos
de Escravidão (2013) e Piratas do Caribe (2003, 2006, 2007, 2011, 2017). Zimmer trabalhou
11

em mais de 132 filmes de gêneros variados (ação, comédia, ficção científica, animação,
suspense, romance policial), prova de que ele consegue se adaptar a diferentes narrativas.
A Origem (2010) (título original: Inception), objeto do presente trabalho, é um filme
que se destaca por carregar três estilos diferentes na mesma trama: a obra tem momentos de
ação, ficção científica e drama, e, mesmo assim, a trilha sonora consegue segurar uma unidade
de discurso entre esses diferentes momentos da dramaturgia. Na última cena, o motivo1 musical
que é apresentado ao longo do filme é finalmente desenvolvido por vários compassos. Por esse
motivo, e pelo fato de se tratar do clímax do enredo, escolhemos essa cena como foco central
dessa pesquisa; outras músicas importantes para a trama serão analisadas superficialmente.
Os problemas de pesquisa deste trabalho são: seria possível fazer uma análise para
compreender o processo composicional musical de Hans Zimmer para a cena final do filme? A
partir do conhecimento obtido com a análise, seria possível compor algo no mesmo estilo que
também sirva para a mesma cena?

1
Motivo musical é a menor unidade formal/construtiva que pode existir. Normalmente de curtíssima duração
motivos devem possuir uma “personalidade” bem marcante para que sejam facilmente reconhecidos e, portanto,
tornem-se úteis ao desenvolvimento das ideias melódicas (ALMADA, 2010, p. 251).
12

OBJETIVO GERAL E OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Este trabalho tem como objetivo geral fazer uma análise musical da cena final do
filme A Origem e como objetivos específicos compor um tema musical para essa mesma cena
final, usando a música original como referência, e compreender recursos musicais que
potencializam a dramaturgia.
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1 O FILME A ORIGEM

A função da trilha sonora no filme A Origem (2010) é sustentar os diferentes climas


mostrados em cena; assim, a trilha colabora para um envolvimento maior entre os espectadores
e o filme. É muito importante, portanto, compreender qual é a estória contada e quais são as
emoções que estão envolvidas na trama.
No primeiro tópico (1.1), apresentaremos a sinopse do filme, contextualizando o
enredo geral. Em seguida (1.2), discorreremos mais detalhadamente a respeito da trama do
filme. No terceiro (1.3), abordaremos as principais emoções passadas no enredo, a título de
contextualizar o leitor de como a trilha sonora deve estar de acordo com cada emoção. Por fim,
no último tópico (1.4), serão apresentadas definções importantes para a análise da trilha do
filme.

1.1 Sinopse

O filme A Origem conta a estória de Don Cobb (Leonardo DiCaprio), um espião


que rouba informações de suas vítimas dentro dos sonhos delas. Nessa ficção, as pessoas podem
compartilhar o mesmo sonho por meio de uma tecnologia criada por militares. O filme se passa
temporalmente no ano 2010, em diversas cidades da Europa, do Norte da África, do Japão e
dos Estados Unidos.
A maior parte do enredo se desenvolve na última missão de Cobb (Leonardo
DiCaprio), segundo a qual ele tem de implantar uma ideia na mente de Robert Fisher (Cillian
Murphy). Essa missão foi dada pelo empresário Saito (Ken Watanabe), que deseja que Robert
Fisher deixe seu monopólio milionário herdado pela família. É um momento estratégico para
tal, pois o pai de Robert, Maurice Fisher (Pete Postlethwaite), está prestes a morrer e, diante
disso, Robert deve se decidir entre tomar conta da empresa e vendê-la. Como recompensa, Saito
promete que livrará Cobb de seus problemas com o governo norte-americano, os quais se
explicam pelo fato de a personagem Mal (Marion Cotillard), ex-mulher de Cobb, ter cometido
suicídio e forjado provas alegando que teria sido assinada por Cobb. Como consequência, ele
teve de fugir do país e continuar trabalhando como espião de sonhos, sem poder voltar para
casa e sem poder ver os filhos.
14

1.2 Trama do filme

Nessa seção apresentaremos mais detalhadamente a complexa trama contada pelo


filme, com o intuito de ajudar a compreensão de pontos importantes vivenciados pelo
personagem principal Cobb (Leonardo DiCaprio).
Mal (Marion Cotillard) é a esposa de Cobb, e eles passaram muitos anos
compartilhando o mesmo sonho em uma camada muito profunda, o Limbo, por meio da
tecnologia citada no tópico anterior. Após terem vivido o que seria 50 anos na vida real (nos
sonhos o tempo que é sentido é muito mais longo do que o tempo que é passado na realidade),
Cobb quer acordar desse sonho, mas Mal se opõe, pois já não reconhecia outra realidade. Na
tentativa de fazê-la mudar de opinião, Cobb insemina uma ideia no subconsciente da esposa, a
ideia de que aquele mundo não é real.
Eles sabiam que a única forma de acordar daquele sonho seria cometendo suicídio
e assim o fazem; contudo, quando acordam do sonho, a ideia continua dentro da cabeça de Mal,
que questiona que ainda estava dormindo e que precisa retomar ao mundo real. Nesse estado de
confusão com o que estava ocorrendo, Mal decide cometer suicídio de novo para, assim,
“acordar para a realidade”.
Antes de cometer o suicídio, Mal marca um encontro com Cobb em um quarto de
hotel. Assim que Cobb chega ao quarto, ele avista a esposa sentada na janela do prédio em
frente. Ela anuncia que cometerá suicídio e o incentiva a fazer o mesmo, pois, caso não o fizesse,
ela tinha criado provas que o incriminariam do assassinato dela e o impediriam de estar junto
de seus dois filhos. Mal pula do prédio, mas Cobb se recusa a fazer o mesmo e, desesperado
com a situação, decide fugir dos Estados Unidos, abandonando seus filhos.
Depois desses acontecimentos, que são apresentados de forma não linear ao longo
do filme, Cobb conhece o empresário milionário Saito (Ken Watanabe), que pode apagar as
acusações de Cobb se ele conseguir cumprir uma missão para ele. A missão é implantar uma
ideia na mente de Robert Fisher (Cillian Murphy), concorrente de Saito, para que aquele venda
o monopólio milionário herdado pela família. É o momento ideal para executar a missão, tendo
em vista que Maurice Fisher (Pete Postlethwaite), pai de Robert, está em seu leito de morte e
logo Robert assumirá as decisões da empresa. Ao investigar a vida de Robert e Maurice, eles
descobrem que a relação entre pai e filho é complicada. Robert estava confuso, pois apesar de
não ter muito interesse em assumir a empresa, ele sentia que deveria honrar o império da
família.
15

Cobb aceita o trabalho e, junto ao seu sócio Artur (Joseph Gordon-Levitt), escala
outras três pessoas para a missão: a arquiteta Ariadne (Ellen Page), para arquitetar a estrutura
física do sonho; o “forjador” Eams (Tom Hardy), para forjar outras identidades – ele tem a
habilidade de se transformar em outras pessoas dentro dos sonhos e confundir as vítimas; e o
químico Yusuf (Dilepp Rao), para criar a substância necessária para que o sonho tenha três
níveis de profundidade (sonhos dentro do sonho).
Durante o processo de criação do plano da missão, Cobb e Arthur treinam Ariadne.
Eles explicam para ela os conceitos do sonho compartilhado e como dominá-los. Falam que o
sonho é habitado por “projeções”, as quais são pessoas que fazem parte do subconsciente do
indivíduo. Explicam também a importância do Totem. O Totem é um pequeno objeto que pode
ser facilmente carregado para qualquer lugar e que tem como função mostrar se o indivíduo
está no mundo real ou não. O Totem de Cobb, por exemplo, é um pequeno pião giratório.
Quando Cobb acorda de um sonho, ele precisa girar o seu Totem para checar se está no mundo
real: se o Totem girar e não parar, ele está sonhando; se ele girar e o pião perder o impulso, ele
está no mundo real. Em um determinado momento dessa fase, Ariadne descobre que Cobb é
perseguido pela “projeção” de Mal nos seus sonhos, por isso ele não pode ser o arquiteto do
sonho.
Eles passam dias planejando a execução da missão e, quando Maurice Fisher morre,
eles dão início ao trabalho. Robert Fisher pega um avião para ir ao enterro do pai e a quadrilha
de Cobb entra no avião junto a ele; eles têm 10 horas de voo para cumprir a inseminação da
ideia.
Na primeira oportunidade, Cobb põe um sonífero na bebida de Robert. Então,
começam a prática de compartilhamento de sonhos. Na primeira camada de sonho, eles entram
no sonho de Yusuf: é uma cidade chuvosa com muito trânsito. Eles são surpreendidos pelas
“projeções” de Robert. Essas estão armadas e, assim que percebem que a equipe de Cobb é
invasora, começam a atacá-los. Saito é gravemente ferido na perseguição e isso os obriga a
terem de cumprir a missão em um tempo mais curto do que o previsto. Em sequência, Cobb
revela à equipe que a química usada para atingir os três níveis do sonho é tão forte que, se
alguém morrer ali, não acordaria como de costume, mas viveria uma eternidade no Limbo.
Assim, quando essa pessoa acordasse, não se lembraria da própria identidade. Mais à frente,
Cobb conta a Ariadne que viveu 50 anos no Limbo com Mal. A quadrilha segue o plano inicial,
interroga Robert como se ele tivesse sido sequestrado e depois vão para o segundo nível do
sonho. Yusuf é o único que continua no primeiro nível.
16

Nessa segunda camada, eles se encontram em um luxuoso hotel e são perseguidos


novamente pelas projeções de Robert Fisher. Mais tarde entram na terceira camada, no sonho
de Eams, enquanto Artur é o único que continua na segunda camada. Agora eles estão em uma
montanha com muita neve e tentam invadir um forte onde seria feita a inseminação da ideia em
Robert Fisher. Antes de concluir o plano, a projeção de Mal aparece no sonho e dá um tiro em
Robert. Cobb pensa que a missão fracassou, mas Ariadne convence Cobb de que, se eles
entrassem numa quarta camada e acordassem Robert e Saito, eles iriam acordar do Limbo.
Assim, poderiam acordar na terceira camada.
Na quarta camada, Ariadne e Cobb entram no Limbo, no subconsciente de Cobb.
Eles estão em uma cidade abandonada e, seguindo as projeções das crianças de Cobb, vão até
Mal, junto à qual encontram Robert. Cobb admite que implantou a ideia na cabeça de Mal e ela
o ataca, pois ele se recusa a ficar no Limbo com ela. Ariadne, então, atira em Mal para proteger
Cobb e salta do prédio com Robert Fisher, retornando, assim, ao terceiro nível. Enquanto isso,
Cobb resolve ficar no quarto nível para procurar Saito.
No terceiro nível, Fisher encontra com a figura do pai no leito de morte, e este diz
que lamenta que Robert tenha tentado ser alguém que ele não era. A partir dessa fala, Maurice
deixa a entender que Robert deveria seguir a vida dele como quisesse; ou seja, que não
precisaria se importar com a empresa, e assim a ideia é inseminada. Dado que a missão foi
cumprida, o time faz o procedimento para acordar toda equipe de todos os níveis do sonho.
Os únicos que ficaram presos na quarta camada, contudo, foram Cobb e Saito. Cobb
finalmente encontra Saito, que está muito envelhecido, e o convence de que eles devem se matar
para acordar e retornar à realidade. Cobb acorda no avião e Saito pega um telefone e resolve a
questão do retorno de Cobb aos Estados Unidos. Cobb consegue entrar no país e vai ao encontro
de seus filhos, que o recebem calorosamente. O filme termina, entretanto, deixando a dúvida de
se, de fato, Cobb está sonhando ou está na realidade, pois ele gira o Totem quando chega em
casa, mas a estória termina sem mostrar se ele pára de girar ou não.

1.3 Caráter emocional e gêneros do filme

O principal gênero do filme é ação, mas trabalham-se também outros gêneros na


obra, os quais são ficção científica, assalto, film noir e drama: o fato de um grupo de pessoas
poder compartilhar sonhos remete aos filmes de ficção científica, pois essa tecnologia é
17

inexistente; pensar em um grupo de pessoas que se juntam para roubar informações remete ao
gênero de filme de assalto; no que se refere à figura de Mal, uma mulher atraente, em cenas
com pouca luz, que manipula e confunde o personagem principal, somos remetidos ao estilo
film noir; por fim, as tragédias vivenciadas por Cobb ao longo da narrativa trazem elementos
do estilo drama.
As emoções principais do filme são culpa e arrependimento. Podemos citar
exemplos que validam a afirmação:
Ao início do filme, em uma conversa entre Saito (Ken Watanabe) e Cobb (Leonardo
DiCaprio), Saito diz: “Você quer dar uma chance à esperança ou quer se tornar um homem
velho, cheio de arrependimentos, esperando a morte sozinho?” (tradução livre)2 aos 00:21:13.
Essa frase aparece outras vezes no filme, como em 01:13:38 e 02:16:05.
Outro exemplo é quando Cobb se mostra culpado por ter deixado seus filhos,
incriminado pelo suicídio de sua ex-mulher, Mal (Marion Cotillard). Ele admite para ela que
não importa o que ele faça, ele não consegue fugir da culpa de ter plantado uma ideia que, como
consequência, a levou a cometer suicídio (02:02:25). As ações de Cobb são, assim, motivadas
pela culpa e arrependimento. Por isso, ele decide assumir essa última missão, com o intuito de
se resolver com o passado, mesmo tendo consciência de todos os riscos envolvidos.
Por sua vez, Robert Fisher (Cillian Murphy) sente-se culpado por não ser um bom
sucessor da empresa do pai. Em uma conversa com Browning (01:14:53), ele mostra como se
sente magoado por seu pai ter dito que estava desapontado com o filho. No desenrolar da
narrativa, ele se mostra arrependido por não ter aceitado isso antes e por não ter conseguido se
aproximar do seu pai. Em um trecho, Maurice Fisher (pai de Robert Fisher) diz que estava
desapontado com o fato de seu filho ter tentado ser igual ao pai (02:09:41), o que pode ser
compreendido como arrependimento por ter forçado o filho a seguir um caminho que não era
para ele.
A única música diegética3 do filme é “Non, je ne regrette rien” (“Não, eu não me
arrependo de nada”, em tradução livre) composta por Charles Dumont (1929), letrada por
Michel Vaucaire (1904-1980) e popularmente conhecida na voz de Edith Piaf (1915-1963).
Podemos considerá-la uma música paradoxal dentro do contexto do filme, em que os

2
“Do you want to take a leap of faith or become an old man filled with regret waiting to die alone?”
3
BAPTISTA, A. (2007) “A música pode ser diegética/música da tela (executada dentro da ação) e não
diegética/música de fosso (produzida por uma fonte imaginária ausente da ação)”, ou seja, música diegética é
aquela que as personagens estão escutando e música não diegética é a música que o público escuta, mas não é
ouvida pelos personagens.
18

personagens principais tomam suas atitudes baseadas nos sentimentos de culpa e


arrependimento.

1.4 Definições Importantes

Esta seção tem a intenção de esclarecer previamente alguns conceitos musicais


importantes para o melhor entendimento do conteúdo abordado.

1.4.1 Motivo

Segundo Carlos Almada, em seu livro Arranjo (2010), o motivo é:

A menor unidade formal/construtiva que pode existir. Normalmente de curtíssima


duração, de duas a seis notas (embora existam motivos ainda maiores resultantes da
aglutinação e outros), motivos devem possuir uma personalidade bem marcante para
que sejam facilmente reconhecidos e, portanto, tornem-se úteis ao desenvolvimento
das ideias melódicas (isto é, sejam aproveitados em imitações e variações). Essa
personalidade, o sinal característico de um motivo, pode ser estabelecida tanto por seu
contorno melódico (ou seja, pelos intervalos que o compõem – de uma maneira geral,
intervalos grandes são mais “reconhecíveis” que os pequenos), quanto por seu ritmo
ou combinação de ambos. Embora uma grande parte dos exemplos se enquadre neste
último caso, como fator isolado é, sem nenhuma dúvida, o ritmo preponderante para
que possamos reconhecer, em um arranjo ou composição, um motivo extraído da
melodia original que, de alguma maneira modificado, reapareça num outro contexto.
(ALMADA, 2010, p. 251)

Portanto, entendemos o motivo como um fragmento de um trecho melódico e/ou


rítmico que pode ser desenvolvido ao longo da música com diferentes variações ou diferentes
formas de acompanhamento.

1.4.2 Leitmotiv

O termo alemão Leitmotiv, segundo o dicionário Cambridge Dictionary, significa


“uma frase ou outro recurso que é repetido frequentemente em um trabalho artístico, literário
19

ou musical e que diz algo importante a respeito dele”4 (em tradução livre). Há indícios de que
o compositor erudito Richard Wagner (1813-1883) foi quem introduziu a técnica quando
compunha suas óperas. A técnica se baseia no uso de ideias/motivos que se repetem
constantemente e estão ligadas a algum personagem específico. Sendo assim, há uma música
endereçada para cada personagem: quando o foco da cena é direcionado ao personagem X, será
tocada o Leitmotiv X. Essa técnica tem função de destacar quando é o momento de cada
personagem e qual possível emoção está relacionada a ele. Essa técnica é utilizada no filme A
Origem e será analisada ao longo do trabalho.

1.4.3 Diferença entre Leitmotiv e Motivo

Apesar da grande semelhança entre leitmotiv e motivo, é importante entender a


diferença entre esses dois conceitos. O motivo é um recurso composicional que não
necessariamente está ligado a uma obra cinematográfica ou teatral. Ademais, o motivo é uma
ideia musical que pode ser desenvolvida ao longo da música, havendo variações ou não dela.
Já o leitmotiv, no contexto musical, está necessariamente ligado a uma obra cinematográfica,
teatral ou operística, pois esse está ligado a algum personagem específico. Portanto, o leitmotiv
utiliza motivos musicais para dar a “personalidade” desejada ao personagem.

1.4.4 Ostinato

Ainda considerando os estudos do autor Carlos Almada (2010), o significado de


ostinato é:

Um recurso de acompanhamento rítmico, uma pequena frase (às vezes com fortes
acentuações e nem sempre melodicamente constante: ritmo e contorno são os fatores
que melhor o caracterizam), a qual, por causa de sua repetição contínua, obstinada
(tradução do termo italiano), é facilmente compreendida e decodificada pelo ouvido,
sendo assim posta por este em um plano inferior de percepção, de modo a dar lugar a
outros elementos musicais mais complexos. (ALMADA, 2010, p.100)

4
A phrase or other feature that is repeated often in a work of art, literature, or music and that tells you something
important about it. Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/leitmotiv>. Acesso em: 22 jan. 2019.
20

Ou seja, o ostinato consiste em uma repetição de um motivo melódico e rítmico que


se repete várias vezes em uma mesma região de altura ao longo da música. É importante lembrar
que o ostinato geralmente tem função de acompanhamento, não de melodia.
21

2. ANÁLISE MUSICAL

Agora que já apresentamos as questões do enredo do filme e suas características


emocionais, podemos partir para as análises musicais.

2.1 Instrumentação e processos da composição original

Hans Zimmer e o diretor Christopher Nolan têm uma parceria de vários anos. O
diretor afirma que Zimmer é um compositor minimalista com máximo senso de produtividade
e que deu toda a liberdade para ele compusesse como quisesse em A Origem. Note-se a
afirmação do compositor em entrevista: “Nosso trabalho não é fazer o que os diretores pedem
para nós; nosso trabalho é surpreendê-los”5 (tradução livre).
A instrumentação da trilha sonora do filme em questão mistura sons tradicionais de
orquestra com instrumentos elétricos como sintetizadores e guitarra. Em uma entrevista,
Zimmer explicou ter usado 6 trombones baixos, 6 trombones tenores, 4 tubas e 6 trompas para
um maior impacto sonoro. Nas palavras do próprio compositor: “Eu acredito que as pessoas
não percebem que provavelmente essa é a música mais estrondosa já mostrada no cinema”6
(tradução livre), e ainda: “O cavaleiro das trevas já estava muito pesado nos timbres
eletrônicos, mas este, de alguma forma, vai um pouco além”7 (tradução livre).
Nessa obra, Hans Zimmer quis inverter a relação entre orquestra e sintetizadores:
ele pediu à orquestra que imitasse o som dos sintetizadores. “Nós pegamos coisas que foram
criadas digitalmente, faixas com essa ambiência, essa atmosfera, e botamos em frente da
orquestra e eu disse: ‘Ok, agora eu quero que a orquestra imite isso, os sons eletrônicos dos
sintetizadores’”8 (tradução livre).

5
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=D1-eXPXQwzs>. Acesso em: 28 nov. 2018.
6
“I don't think people realize that this is probably the loudest music ever featured in a movie throughout.”
7
“Dark knight was already pretty heavy on the eletronics, but this one, somehow, pushed the whole thing a little
bit further”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=W1FIv7rFbv4&t=22s>. Acesso em: 28 nov.
2018.
8
“We took things that were created completely electronically, these ambiances, these atmosphere tracksm and put
them in front of the orchestra and said: ‘OK, now I want the orchestra to go and imitate synthesize electronic
sounds”. In: “Hans Zimmer – Making Of Inception Soundtrack”. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=W1FIv7rFbv4&feature=related>. Acesso em: 28 nov. 2018.
22

A presença da guitarra também se destaca, pois não se trata de uma trilha de rock:
o timbre da guitarra elétrica se sobressai por estar inserido em meio à orquestra e aos sons
eletrônicos. O uso de ferramentas eletrônicas também ajudaram na composição: o ataque dos
metais na música “Half Remembered Dreams” foi inspirado na introdução da música cantada
por Edith Piaf “Non, je ne regrette rien” 9. Zimmer utilizou a faixa de áudio da música e reduziu
digitalmente o andamento; com esse novo som, ele arranjou para o naipe de metais, criando
assim uma grande camada sonora de impacto. Nessa trilha, os instrumentos graves são muito
explorados.

2.2 Música “Time” e seu motivo

Ao analisarmos o filme e sua trilha sonora, percebemos que o motivo da música


“Time” pode ser considerado o motivo central de toda a obra. Essa música consiste em um
desenvolvimento de um pequeno motivo de 8 compassos. Variações deste aparecem em outras
músicas como “Half remembered dream”, “Paradox”, “Dream within a dream” e “Waiting for
the train”. O motivo está apresentado na figura abaixo:

Figura 1: Motivo T

Por questões práticas, chamaremos o motivo de “Time” de Motivo T. A voz da


melodia e da melodia do contraponto grave sempre estão em movimento contrário, criando,
assim, uma sonoridade de expansão e contração. A melodia dá saltos de 4ª aumentada, 5ª justa,
6ª menor, 7ª maior e até de 8ª justa. A cadência de acordes está no campo harmônico de
G maior, os acordes são Am, Em, G, D, Am, Cmaj7, G e D.
Apesar do Motivo T ser tonal e diatônico, os acordes se relacionam de forma que
não têm resolução, como se fossem um ciclo eterno, sem conclusão harmônica, em consonância
com o filme, que, de alguma forma, termina assim, sem uma conclusão definitiva. O clímax do

9
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=EA8z44Qqhc0>. Acesso em: 28 nov. 2018.
23

Motivo T está no sexto compasso, pois atinge a nota mais aguda da melodia e pode ser
considerado o momento de tensão, por ser a 7ªM do acorde de C. Em todo o resto do motivo, a
melodia está na 3ª maior ou menor dos outros acordes.
A música apresenta características que ressaltam emoções mais introspectivas e
reflexivas. Como as emoções principais do filme são culpa e arrependimento, não faria sentido
uma música que remetesse a sentimentos alegres. Provavelmente por isso, a música começa
com um acorde menor – os acordes menores foram usados amplamente na musica erudita e
popular para enfatizar contextos não tão felizes. As notas longas dão um sentimento de
estabilidade e pouco movimento, as quais podem estar relacionadas ao sentimento de
impotência de Cobb em relação a tudo que aconteceu com sua família, tendo em vista que ele
está preso nessas lembranças, sem conseguir seguir em frente. Na nota clímax do sexto
compasso, a melodia se destaca, mas em seguida cai drasticamente (salto de 8ª justa) e retorna
às mesmas alturas exploradas anteriormente. Em vários momentos da orquestração, essa mesma
nota é destacada também com uso de dinâmica e texturas. Essa passagem pode ser interpretada
como esperança e expectativa geradas e que, em seguida, são quebradas e retornam ao mesmo
ponto de partida. Os saltos da melodia podem ser ainda considerados uma analogia aos saltos
feitos entre as diferentes camadas dos sonhos.

2.3 O Motivo T ao longo do filme

A música “Time” é desenvolvida apenas na cena final (de 02:17:16 a 02:20:53),


porém o Motivo T aparece em diversas cenas que serão descritas na tabela a seguir:

Tempo de filme Personagens Contexto Local


00:00:03 a - Abertura do filme. -
00:00:22

00:33:56 a Cobb, Ariadne, Cobb acorda do workshop de sonho que Galpão onde
00:34:27 Artur. dá para Ariadne e vai em direção ao seu o time faz os
Totem. Em seguida, Artur explica a planos da
Ariadne a natureza do Totem. missão.
24

Tempo de filme Personagens Contexto Local


0:49:36 a Cobb e Ariadne Ariadne questiona Cobb sobre o fato de Galpão onde
00:49:49 ele não querer ver os planejamentos o time
arquitetônicos, pois, se ele souber, a planejou a
projeção de Mal pode persegui-lo durante missão.
a missão.

00:55:00 a Cobb, Mal e Ariadne entra no sonho de Cobb sem o Dentro do


00:55:28 Ariadne consentimento dele. Dentro do sonho, sonho de
Cobb está conversando com Mal na sala Cobb.
de jantar da antiga casa em que o casal
morava.

00:59:15 a Mal e Ariadne Mal questiona o porquê da presença de Dentro do


01:00:04 Ariadne no sonho de Cobb e ainda afirma sonho de
que Ariadne não entende a história do Cobb.
casal.

01:57:10 a Foco em Cobb e Ariadne e Cobb entram na quarta camada Limbo.


01:59:42 Ariadne; em do sonho, no Limbo, procurando Robert e
segundo plano Saito, enquanto Artur e Eams dão
Artur e Eams continuidade ao plano em camadas
diferentes do sonho.

02:04:49 a Foco em Mal e Retoma-se a situação em que Cobb e Mal Limbo.


02:05:15 Cobb; em acordam do Limbo pela primeira vez.
segundo plano, Cobb revela que tinha plantado a ideia de
Ariande que o mundo de Mal não era real, e isso a
fez questionar a realidade. Mesmo fora do
Limbo, esse questionamento a levou ao
suicídio.

02:12:58 a Cobb e Mal Mal havia sido baleada por Ariadne e Limbo.
02:13:50 morria nos braços de Cobb. Mal relembra
Cobb da promessa de que envelheceriam
juntos. Cobb responde que ele a havia
cumprido, pois haviam vivido 50 anos
juntos no Limbo e que agora seria o
momento de deixá-la para trás.
25

Tempo de filme Personagens Contexto Local


02:17:16 a Foco em Cobb; Cobb acorda no avião e vai ao encontro “Mundo real”.
02:20:53 em segundo dos filhos.
plano toda a
equipe, Robert e
a família de Cobb

Tabela 1: O Motivo T ao longo do filme

2.4 O Totem e Motivo T

Figura 2: Cobb e o Totem

O Motivo T e o Totem estão conectados, pois têm a mesma função de mostrar, de


forma auditiva e visual, respectivamente, a culpa que Cobb carrega e não consegue deixar para
trás. Além disso, toda vez que o Totem entra em cena, o Motivo T é tocado. É um objeto que
está presente em toda a estória, desde o princípio, podendo ser considerado um objeto de
catarse10, como destaca Flach (2012):

10
“A catarse nas artes corresponde à sensação de ‘limpeza, leveza, renovação e purificação’ que o ser humano
atinge quando entra em contato com alguma obra artística. Podemos citar a pintura, a música, o cinema, o teatro,
a dança, etc.
Em outras palavras, a catarse nas artes representa a liberação da tensão emocional e que proporciona fortes
emoções além do sentimento de alívio.” (Definição “Toda Matéria”. Disponível em:
<https://www.todamateria.com.br/o-que-e-catarse>.)
26

The Totem becomes connected to the characters of Cobb and his late wife Mal at an
early stage in the film and appears continuously throughout the film. The spinning top
was originally Mal's Totem and Cobb used it to perform his first inception on his wife,
which led to her suicide, his escape from the U.S. and the separation from his children,
his engagement into corporate espionage and so forth. The Totem can thus be
considered the symbol of Cobb's tragic dilemma, his emotional turmoil of guilt and
regret towards his wife and children, but also a symbol of his catharsis and a visual
constant lending a sense of causality and consistency to the complicated narrative of
the film. (FLACH, 2012, pp. 63-4)11

Esse caráter catártico também é explorado na orquestração da música “Time”. A


música começa com um pequeno motivo de 8 compassos (Motivo T) e, ao longo dela, várias
camadas sonoras são empilhadas em cima do motivo, criando uma catarse sonora.

2.5 “Waiting for the train” e Mal

Figura 3: “Waiting for the train”

Além de “Time”, outra música muito importante para o filme é “Waiting for the
train”, pois está ligada à personagem Mal. Como explicado anteriormente, Cobb e Mal viveram
no Limbo (uma camada profunda do mundo dos sonhos) durante muitos anos – a experiência

11
“O Totem se torna conectado ao personagem Cobb e sua ex-mulher Mal no primeiro estágio do filme e
constantemente aparece no decorrer dele. O pião era originalmente o Totem de Mal e Cobb usou-o para executar
sua primeira implantação de ideia em sua esposa, o que levou ao suicídio dela, à fuga de Cobb dos EUA e à
separação de seus filhos, ao seu envolvimento na espionagem corporativa e assim por diante. O Totem pode assim
ser considerado o símbolo do dilema trágico de Cobb, seu tumulto emocional de culpa e arrependimento em relação
à sua esposa e filhos, mas também um símbolo de sua catarse e um constante elemento visual que dá sentido de
causalidade e consistência na complicada narrativa da filme” (tradução livre).
27

vivenciada nesse sonho equivaleria a 50 anos na uma vida real. Em cenas em que Cobb e Mal
conversam ou o assunto de Mal vem a discussão, essa música aparece para enfatizar a presença
de Mal no ambiente.
A música tem uma duração maior, com variações de ritmo e de tonalidade. Contém
também citações e variações da música cantada por Edith Piaf. Os motivos principais estão
destacados a seguir:

Figura 4: Motivo da guitarra

Figura 5: Motivo das cordas

As notas desse tema são bem longas e espaçadas, criando assim um clima de
nostalgia e a sensação de que o tempo passa vagarosamente. O tema em certo momento cita
uma variação do Motivo T e trechos de “Non, je ne regrette rien”.
A música leva esse nome, “Waiting for the train”, pois está conectada à saída de
Cobb e Mal do Limbo. Quando decidem acordar daquele sonho, a única forma de sair de lá era
cometendo um suicídio. Sendo assim, eles optaram por esperar deitados na linha do trem e
serem atropelados. Eles acordam do sonho, mas Mal continua pensando que está sonhando, o
que a leva a cometer suicídio na vida real. Enquanto eles esperam o trem chegar, Cobb e Mal
falam juntos: “Você está esperando pelo trem. O trem vai te levar para muito longe. Você não
28

sabe onde o trem te levará. Mas não importa, pois estaremos juntos.”12 (tradução livre). Esse
diálogo é repetido ao longo do filme.
Essa música também tem a função de enfatizar a culpa que Cobb sente em relação
a Mal, pois, em todas cenas em que ele sente esse remorso, a música é tocada.

2.6 Outros Leitmotive

Os dois principais leitmotive do filme são “Time” e “Wating for the train”. Contudo,
há outros temas que estão conectados a determinados personagens ou a momentos específicos.
Aqui estão listados os principais e suas respectivas funções com a cenas:

Música Cena Clima Instrumentos em


destaque
“Dream is Sonhos estão Tensão Cordas e metais
Collapsing” desmoronando
“Mombasa” Perseguição Tensão Percussão
“528491” Relação entre Melancolia e tensão Cello solista
Robert e Maurice
Fisher
“One simple idea” Ariadne se Ficção científica Guitarra e cordas
introduzindo no
mundo do sonho
e planejamento da
missão
“Radical notion” Segundo Workshop Ficção científica Metais e
de Ariadne sintetizadores

“Old souls” Mal e Cobb Melancolia Ao início, guitarra e


conversam sobre a sintetizadores;
história deles depois, cordas

Tabela 2: Leitmotive

12
“You’re waiting for a train. A train that will take you far away. You don't know where this train will take you.
But it doesn't matter, because we'll be together.”
2.7 Pontuação da última cena

Figura 6: Cena final do filme

A última cena de A Origem é o clímax de todo o enredo; nesse caso, a trilha tem a
função de acompanhar cada nuance que a cena carrega. Para organizar os momentos e climas,
há a seguir uma tabela com o tempo do filme, o tempo da trilha (em parênteses), o que ocorre
na cena, o áudio e a instrumentação e dinâmica que são usadas conforme o clima:

Tempo Cena Áudio Música e Dinâmica Clima


instrumentação
2:17:16 Cobb abre os Som do avião Música “Time”. Mezzo piano Mudança de
(00:00:00) olhos no avião e e voz da Piano na melodia, no começo e plano,
desperta do aeromoça cordas fazem depois expectativa.
sonho. falando baixo harmonia, e crescendo e
com os violoncelos, resposta diminuendo
tripulantes. à melodia. Metais em nas cordas.
marcação percussiva
grave no início de
cada compasso.

2:17:47 Fischer recebe os Som ambiente, “Time” ganha Mezzo forte. Resolução e
(00:00:31) formulários de não há sons volume, cordas Cordas incerteza.
migração fortes. fazem harmonia de fazem
pensativo; Arthur forma mais cheia e crescendo e
olhando para contraponto. diminuendo.
Cobb, sorrindo;
Ariadne está
olhando para
Cobb.
30

Tempo Cena Áudio Música e Dinâmica Clima


instrumentação
02:18:09 Saito e Cobb se Som ambiente Cordas fazendo Mezzo forte. Resolução e
(00:00:53) olham e então e barulho do harmonia e Cordas incerteza.
Saito pega um telefone. contraponto, e fazem
telefone e faz sintetizador com crescendo e
uma chamada. delay sincronizado diminuendo.
com o tempo da
música.

2:18:27 Cobb está na sala Som ambiente. Música abaixa o Piano. Tensão.
(00:01:11) de migração e o volume e sustenta o
funcionário acena acorde com fermata
chamando-o. quando Cobb se
aproxima do policial
da migração; notas
longas das cordas;
crescendo trompas no
final.

2:18:36 Foco no policial Som ambiente. Só cordas do agudo; Piano. Tensão.


(00:01:20) da migração. nota pedal grave;
acentos de percussão
grave.
2:18:44 Cobb está tenso Som ambiente. Só cordas do agudo, Piano. Tensão.
(00:01:28) sem saber, se vai nota pedal grave a
entrar nos EUA. centos de percussão
grave.
02:18:47 Policial da Som ambiente. Continuam Piano. Tensão.
(00:01:31) migração olha instrumentos e
para Cobb. trompas fazem um
crescendo grave.
02:18:51 Policial dá um Som ambiente Entra ostinato de Piano. Tensão.
(00:01:35) carimbo no e timbre do guitarra.
passaporte. carimbo.
02:18:53 Policial e diz: Som ambiente. Ostinato guitarra. Piano. Alívio.
(00:01:37) “Bem-vindo, Sr.
Cobb”.
02:18:56 Cobb: “Obrigado, Som ambiente. Cordas fazem Mezzo forte. Alívio.
(00:01:40) senhor”. harmonia, guitarra
continua em ostinato
e percussão grave dá
entrada ao pulso
novamente.
31

Tempo Cena Áudio Música e Dinâmica Clima


instrumentação
02:18:59 Foco no policial Som ambiente. Cordas fazem Mezzo forte. Alívio.
(00:01:43) da migração e a harmonia, guitarra
câmera se move continua em ostinato
até Ariadne, que e percussão grave dá
está em outra entrada ao pulso
cabine de novamente.
migração.
02:19:01 Cobb está Corta som Entra time Mezzo forte Alívio.
(00:01:45) pegando sua mala ambiente. novamente, com com
na esteira do guitarra, trompas e crescendo e
aeroporto. cordas e pequenos diminuendo.
ataques percussivos.

02:19:12 Cobb está prestes Sem som Trompas fazem Forte, Missão
(00:01:56) a sair do ambiente. contraponto à com cumprida.
aeroporto, melodia, revelando crescendo e
passando por caráter heroico. Os diminuendo.
todos os outros instrumentos
integrantes da continuam em suas
missão. funções.

2:19:20 Cobb cruza Sem som Acentuação Forte forte. Missão


(00:02:04) olhares com ambiente. percussiva, guitarra, cumprida.
Robert Fisher. trompas, cordas e
pequenos ataques
percussivos.

2:19:28 Miles (pai de Sem som Destaque nas cordas Forte forte. Resolução.
(00:02:12) Cobb) do lado de ambiente. agudas, cordas
fora do portão da fazendo rítmico em
sala de colcheias. Os outros
desembarque. instrumentos
continuam.

02:19:42 Miles Escuta-se a Música continua com Forte forte. Resolução.


(00:02:56) cumprimenta voz de Miles e mais força e trompas
Cobb e diz: nada mais. fazem contraponto
“Bem-vindo”. mais forte.
02:19:49 Cena em que Sem som Instrumentos Forte forte. Resolução.
(00:03:03) Cobb e Miles ambiente. continuam.
entram na sala de
jantar da casa de
Cobb.
32

Tempo Cena Áudio Música e Dinâmica Clima


instrumentação
02:20:03 Cobb roda o pião Som ambiente Instrumentos Forte forte. Resolução.
(00:03:17) na mesa de jantar. retorna, Miles continuam.
chama as
crianças de
Cobb pelo
nome.

02:20:10 Foco nas crianças Som ambiente. Instrumentos Forte forte. Resolução.
(00:03:24) brincando no continuam.
jardim de costas.
02:20:12 Foco em Cobb, Miles diz: Melodia no piano, Piano Expectativa.
(00:03:26) que as observa. “Olha quem cordas na melodia, (mudança
está aqui”. pedal grave. drástica).
02:20:15 Foco nas Sem som Melodia no piano, Piano. Resolução.
(00:03:29) crianças, que ambiente. cordas na melodia,
viram o rosto. pedal grave.
02:20:20 Cobb corre para Som ambiente. Melodia no piano, Piano. Resolução.
(00:03:34) abraçar as cordas na melodia,
crianças e pedal grave.
conversa com
elas.
02:20:28 Câmera desliza Som ambiente Melodia no piano, Piano. Expectativa.
(00:03:42) para o pião. abaixa e cordas na melodia,
apenas som do pedal grave.
pião é
escutado.

02:20:36 Foco no pião Som do pião Violinos. Piano. Incerteza.


(00:03:50) rodando. rodando.
02:20:52 Pião continua Som do pião Crescendo de agudos Piano. Incerteza.
rodando, sem dar rodando. e silêncio.
pista se ele vai
parar ou não, e
acaba o filme.

Tabela 3: Pontuação da última cena

2.8 Visão geral da trilha sonora na última cena

A última cena de A Origem, em termos gerais, é um grande crescendo em dinâmicas


e texturas que aumentam conforme Cobb vai se aproximando da sua casa e de seus filhos. Os
33

únicos momentos em que esse crescendo é interrompido é quando Cobb encontra o policial da
migração e quando finalmente encontra seus filhos. Grande parte do filme contém uma
participação da trilha sonora de forma ativa e presente; são poucos os momentos em que a
música está menos intensa ou totalmente em silêncio e, nesses momentos, é possível ver a
intenção de Hans Zimmer de chamar o espectador para estar mais perto da imagem e se atentar
aos detalhes da imagem na tela.
Quando Cobb está perto do policial, a tensão é atenuada. A ausência da música
“Time” e do Motivo T cria ansiedade e incerteza, o que se encaixa com a intenção, pois não se
sabe o que acontecerá. Saito poderia ter cumprido sua promessa ou não. Quando o passaporte
de Cobb é carimbado e o policial deseja boas-vindas a ele, Cobb relaxa e segue seu caminho.
Assim que isso acontece, um ostinato na guitarra elétrica entra, marcando o sentimento de alívio
de Cobb.
No quadro seguinte, Cobb está no saguão, onde pega sua mala e passa por toda a
equipe que participou da missão. Nesse momento, os metais entram mais em evidência,
revelando um caráter heroico e de conquista do personagem. Assim que Cobb vê Miles, seu
pai, os violinos entram em uma tessitura aguda, o que pode ser entendido como a esperança se
aproximando. É interessante que o Motivo T repete os primeiros 4 compassos e só passa para a
segunda metade (do 5º ao 8º compasso do Motivo T) quando Cobb vê Miles. A segunda metade
do Motivo T contém o clímax e Zimmer o guarda para o momento apropriado.
Assim que Cobb cumprimenta Miles, as trompas entram em dinâmica fortissimo
para novamente ressaltar uma imagem de Cobb como um herói que conseguiu cumprir sua
missão. A música continua com o crescendo quando Cobb entra na sua casa, e a primeira coisa
que faz ali é girar seu Totem. Então, Miles chama as crianças pelos respectivos nomes. A
câmera enquadra as crianças brincando no jardim de costas, Cobb volta a ser enquadrado pela
câmera e nesse momento a dinâmica e instrumentação caem drasticamente. Somente piano e
violino fazem o Motivo T, enquanto um pedal grave de sintetizador soa no fundo. As crianças
giram os rostos para Cobb em câmera lenta, momento em que o som ambiente é cortado. Em
seguida, Cobb vai em direção a elas para abraçá-las, e o som ambiente retorna. O grande foco
nesse momento é no som de todos correndo para se encontrar e os gritos de alegria do
reencontro. A câmera enquadra os três de longe se abraçando, enquanto lentamente o som
ambiente é reduzido a zero e a câmera se move para enquadrar o Totem que gira. Escuta-se
apenas o Totem girando e o Motivo T. Cria-se nesse momento uma expectativa se Cobb está
sonhando ou não – novamente a música está em segundo plano para chamar a atenção do que
acontece na tela. O Totem continua a girar, o violino faz um movimento fora do Motivo T, entra
34

um crescendo agudo de violino ou sintetizador e a cena acaba sem mostrar se o Totem caiu ou
não, trazendo assim a dúvida se Cobb de fato teria realizado a missão com sucesso.
É uma grande união entre a música e a expectativa que cresce cada vez mais.
Quando Cobb está se aproximando de concluir a missão, a música cresce em intensidade e
densidade, o que colabora para o clímax final do filme.
35

3. CRIAÇÃO DE UM NOVO MOTIVO

Depois de feitas as análises anteriores, propusemo-nos a criar um novo motivo, com


base nas características principais do Motivo T. O resultado foi o seguinte Motivo T2:

Figura 7: Motivo T

Figura 8: Motivo T2

O novo motivo será chamado por questões práticas de Motivo T2. Esse respeita
algumas características do Motivo T e outras são alteradas. Como as características do Motivo
T são muito específicas, foi um desafio criar algo que não parecesse plágio. Assim como o
Motivo T, o Motivo T2 respeita o movimento de expansão e contração entre as vozes grave e
aguda e também utiliza a estrutura baixa dos acordes. O Motivo T está em G maior em um ciclo
eterno sem sensação de fechamento e não utiliza empréstimo moldal. Já o Motivo T2 está em
C maior e utiliza empréstimo moldal no 4º e no 6º compassos. Os saltos do Motivo T2 não são
tão grandes como no Motivo T. O Motivo T2 usa saltos de 2ª maior, 3ª maior e menor, 4ª justa
e 6ª maior e menor; enquanto o Motivo T chega a fazer um salto de 8ª justa. Outra diferença
entre os dois motivos é que o Motivo T2 usa inversões dos acordes, enquanto o Motivo T não.
36

3.1 Processo de orquestração para última cena

Após a criação do Motivo T2, foi feita uma instrumentação conforme a usada no
filme original. A seguir se encontram as anotações com detalhes de instrumentação mais
aprofundados:

Compassos 1 a 4
Cena: Cobb acorda no avião
 Andamento em 64 BPM;
 Piano faz melodia e violino dobra 8ª acima;
 Violoncelo toca a nota da melodia em mínima uma oitava abaixo da melodia do piano
e depois cai diatonicamente, passando por duas notas.

;
Figura 9: Linha violoncelo compassos 1 a 4

 Contrabaixos fazem notas graves da melodia em colcheias;


 Tímpano ataca as notas graves da melodia inferior;
 Violinos II e violas fazem harmonia com cluster, com as tensões disponíveis. Ex: Dm9
com as notas D, E, F e A empilhadas;

Figura 10: Linha violinos II e viola compassos 1 a 4

 Tuba faz notas graves do Motivo T2.

Compassos 5 a 8
37

Cena: Aeromoça oferece formulário de migração a Cobb e Robert; Robert está pensativo
 Todos os instrumentos citados anteriormente mantêm suas funções;
 A dinâmica desses violinos faz crescendo e diminuendo a cada dois compassos;

Figura 11: Linha violinos II e viola compassos 5 a 8

Compassos 9 a 16
Cena: Câmera mostra Artur e Ariadne, que olham para Cobb; Cobb olha para Saito
 Andamento cai para 63 BPM;
 Todos os instrumentos citados anteriormente mantêm suas funções;
 Violoncelo toca a nota de semínima da melodia uma oitava abaixo do piano e depois
cai diatonicamente, passando por duas notas por grau conjunto;

Figura 12: Linha violoncelo 2 compassos 1 a 4

 Entram trombones fazendo harmonia.



Compassos 17 a 20
Cena: Saito pega telefone e Cobb fica mais aliviado
 Trombones não tocam e os outros instrumentos mantêm mesma função.

Compassos 21 a 26
Cena: Cobb vai até o policial de migração
38

 Instrumentos mantêm uma nota longa e depois seca para apenas a tuba e o contrabaixo,
que fazem pedal grave com um ataque de tímpano quando o policial da migração é
focado;
 Violinos tocam D e A em região aguda para passar ideia de tensão, mas também de
esperança. (Caso fosse desejado não dar foco à esperança, duas notas com intervalos de
2ª menor resolveriam mais eficientemente o efeito);
 Trompas tocam as notas D e A em região mais grave em crescendo e diminuendo para
indicar possibilidade de perigo;
 Há um compasso em 2/4 em 55 BPM para que a música entre no momento justo da
próxima cena.

Compassos 27 a 31
Cena: Policial da migração deixa Cobb passar; na próxima cena Cobb está pegando sua
mala
 Andamento em 64 BPM;
 Guitarra entra sozinha em ostinato, seguindo movimento contrário ao da música original
e com dinâmica crescente do piano ao forte; no próximo compasso entram os outros
instrumentos;
 Piano faz Motivo T2;
 Tuba e tímpano fazem notas graves do Motivo T2;
 Violoncelo e viola fazem harmonia; violinos 1 e 2 e baixo não tocam;
 Tímpano toca notas graves do Motivo T2.

Compassos 32 ao 35
Cena: Cobb está saindo do aeroporto e passar por todos que participaram da missão
 Andamento em 64 BPM;
 Trompas e trombones fazem um contorno melódico nos compassos em semínimas e
atacam a nota da melodia em semibreve no compasso seguinte; repetem esse padrão;

Figura 13: Linha trompas compasso 32 em concert


39

 Tuba e contrabaixos tocam notas graves em colcheias;


 Guitarra continua o ostinato;
 Harmonia das cordas fica mais densa, como no início da música.

Compassos 36 a 39
Cena: Cobb vai ao encontro de seu pai, que o espera no aeroporto
 Andamento em 64 BPM.
 Contrabaixos, violoncelos e violas fazem harmonia em colcheia e pausa. Violinos 1 e 2
fazem harmonia em região mais aguda e com nota da melodia do Motivo T2 na ponta;

Figura 14: Cordas compassos 36 a 40

 Trompas fazem melodia descendente, caindo diatonicamente a partir de nota da melodia


do Motivo T2 a cada compasso;

Figura 15: Linha trompas compasso 36 em concert

 Guitarra, piano e tímpano seguem nas mesmas funções.

Compassos 40 a 47
Cena: Pai de Cobb o cumprimenta e em seguida estão na casa de Cobb
 Trompas, tubas, tímpano, piano e trompas continuam na mesma função;
40

 Trombones entram no 3º tempo do compasso e fazem saltos de 5ª justa;

Figura 16: Linha trombones compasso 40

Compassos 48 a 58
Cena: Cobb olha para seus filhos e depois vai abraçá-los; pião girando
 Motivo T2 é tocado no piano e é dobrado pelo violino uma 8ª acima em dinâmica piano;
 Há um pequeno movimento das cordas no final, terminado por um crescendo de notas
agudas.
41

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para compreender melhor os processos composicionais de Hans Zimmer, foi


fundamental a análise de todo o discurso do enredo do filme A Origem e entender a relação
entre os personagens, principalmente entre Cobb e Mal. Cobb é perseguido pela culpa de ter
inseminado a ideia que fez Mal questionar a realidade e, por consequência, levou-a ao suicídio.
Ele carrega o Totem de Mal após a morte dela, simbolizando a culpa que sentia. O Motivo T é
tocado para reforçar esse sentimento. Os sentimentos de culpa e arrependimento podem ser
considerados as emoções centrais do filme e a trilha sonora, nesse caso, tem a função de reforçá-
los, torná-los mais evidentes, para então criar mais empatia entre personagens e espectadores.
Isso está evidente, por exemplo, na Tabela 3, na qual são descriminadas as decisões musicais
que estão diretamente relacionadas aos acontecimentos do filme, fraseando e pontuando a cena
com o clima apropriado para cada momento.
O Motivo T é baseado em ferramentas simples de harmonia e uso de notas longas.
O motivo inicia com uma terça menor, que ressalta a angústia sentida por Cobb. Seu caminho
harmônico gera um ciclo eterno para o qual não há resolução, o que combina com a trama do
próprio filme, que termina sem resolução, pois não é claro se Cobb de fato terminou sua missão
ou se está sonhando. A criação do Motivo T2 foi um desafio, tendo em vista que as
características do Motivo T são tão simples que acabam por engessar o desenvolvimento de um
uma variação que não fosse plágio. Não há movimento rítmico e melódico entre os compassos,
e a melodia usa apenas 3ªs menores e maiores, com exceção do 6º compasso, que usa uma 7ª
maior. Sendo assim, não foi simples criar um motivo que respeitasse as principais
características e que soasse bem, considerando os sentimentos relacionados ao personagem
Cobb.
Ao longo do processo de pesquisa, descobrimos que o Motivo T tem variações
similares que foram usadas em filmes em que Zimmer trabalhou, como Além da Linha
Vermelha (1998), Pearl Harbor (2001) e 12 anos de Escravidão (2013) 13. As orquestrações
em alguns momentos são também muito próximas, o que sustenta a afirmação de que fazer uma
variação do Motivo T não é uma questão simples, pois sua estrutura é muito fechada.
Após desenvolver o Motivo T2, impusemo-nos a seguir instrumentação com base
nas técnicas usadas na composição original. Pude então aprender técnicas que enriquecem o

13
Youtube.com, “La Sorprendente Vida de Hans Zimmer (Entrevista a Hans Zimmer) | Jaime Altozano”,
entrevista e comentários sobre carreira de Hans Zimmer; (5:00) fonte:
https://www.youtube.com/watch?v=Z8K0fRhgrTo (Último acesso 30/11/2018)
42

desenvolvimento da melodia minimalista e, assim, criar um clímax à medida que aumenta a


instrumentação. Foi um quebra-cabeça muito interessante criar uma orquestração original para
uma melodia praticamente estática e aplicar diferentes formas de acompanhamento sobre o
motivo. Também foi muito válido ver como alguns instrumentos dialogam com a cena, como
quando o violino toca na região aguda no mesmo momento em que Cobb vê Miles no aeroporto
ou quando os metais entram com mais força no momento em que Cobb está se sentindo
vitorioso. São pequenos detalhes que fazem a trilha ganhar muita potência.
Algumas dificuldades foram encontradas ao longo do processo de gravação da trilha
do Motivo T2. A falta de equipamentos para recriar sons da orquestra e a falta de experiência
para controlar os equipamentos disponíveis foram obstáculos enfrentados no processo de
desenvolvimento da pesquisa. Contudo, não há dúvidas de que esses passos já contribuíram
com muitos ensinamentos e novas ferramentas que serão desenvolvidas em futuras produções.
Acredito que este trabalho acrescentou significativamente ao conhecimento deste
pesquisador como músico para criar trilhas sonoras originais. O processo de: 1) buscar entender
as principais características da estória; 2) analisar o motivo musical; 3) analisar a
instrumentação que o contorna; 4) desenvolver um novo motivo; e 5) criar o novo arranjo
respeitando as técnicas da composição original pode ser aproveitado para futuros estudos em
outros contextos. Por isso, deixamos aqui essa contribuição para um contínuo debate a respeito
das complexidades envolvidas na criação de uma trilha sonora para o cinema. Zimmer é um
entusiasta da trilha sonora e aconselha os músicos a produzirem conteúdo, incentivando cada
um a seguir seu próprio estilo. Como declara ao final de seu curso online Masterclass, não
devemos ficar restritos ao estilo dele; depois de assimilar um conteúdo, o mais importante é
continuar produzindo.
Por fim, revisito os problemas de pesquisa feitos ao início do presente trabalho:
“Seria possível fazer uma análise para compreender o processo composicional de Hans Zimmer
na cena final do filme?” e “A partir do conhecimento obtido com a análise, seria possível
compor algo no mesmo estilo que também sirva para a mesma cena?”. Após a finalização da
pesquisa, acredito que a resposta seja sim para ambas as perguntas. Foi possível identificar
algumas técnicas de Zimmer no seu processo composicional e orquestral, como foi apontado
ao longo do estudo, assim como foi também possível criar uma trilha nova que serviu à cena a
partir do conhecimento obtido, como apresenta a nova orquestração do Motivo T2 (partitura e
link de acesso no anexo, seção 6).
43

REFERÊNCIAS

ALMADA, Carlos. Arranjo. Campinas: Unicamp, 2000.


BAHIA, Sergio Gaia. Processos Composicionais de Moacir Santos: Subsídios Para Uma
Criação Autoral. Tese (Doutorado em Música), 2016.
BAPTISTA, André. Funções Da Música No Cinema: Contribuições Para A Elaboração De
Estratégias Composicionais. Dissertação (Mestrado em Música) – UFMG, 2007.
BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. “Fundamental aesthetics of sound in the cinema”.
In: BELTON, John; WEIS, Elisabeth (EE.). Film Sound: Theory and practice. New York:
Columbia University Press, 1985. pp. 181-99.
COHEN, Annabel. “Film Music – Perspectives from Cognitive Psychology”. In: BUHLER,
James; FLINN, Caryl; NEUMEYER, David. Music and Cinema. Hanover, NH:
Wesleyan University Press, 2000. pp. 360-77.
DAVIS, Richard. Complete Guide to Film Scoring: The art and business of writing music for
movies and TV (English Edition). Boston: Berklee Press, 1999.
FLACH, Paula. Film Scoring Today – Theory, practice and analysis. Dissertação (Mestrado) –
Department for Information Science and Media Studies, University of Bergen, Bergen,
Noruega, 2012.
KARLIN, Fred; WRIGHT, Rayburn. On The Track: Guide To Contemporary Film Scoring
Second Edition. Nova York: Routledge, 2004.
NOEL-SMITH, Geoffrey. The Oxford History of World Cinema. Oxford: Oxford University
Press, 1996.
YOUTUBE. “Hans Zimmer – Making of Inception Soundtrack”. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=W1FIv7rFbv4&feature=related>. Acesso em: 30
nov. 2018.
YOUTUBE. “Hans Zimmer on Scoring Gladiator, Inception, Interstellar & more”. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=D1-eXPXQwzs>. Acesso em: 30 nov. 2018.
YOUTUBE. “Hans Zimmer talks Inception score – Part 4 of 4”. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=t1bKiqxP6DI>. Acesso em: 30 nov. 2018.
YOUTUBE. “Hans Zimmer talks Inception score, Part 1 of 4”. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=V6pq7ODR6PY&feature=related>. Acesso em: 30
nov. 2018.
YOUTUBE. “Hans Zimmer talks Inception score, Part 2 of 4”. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=EA8z44Qqhc0>. Acesso em: 30 nov. 2018.
44

YOUTUBE. “Hans Zimmer talks Inception score, Part 3 of 4”. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=w12GxaA18ug>. Acesso em: 30 nov. 2018.
YOUTUBE.com, “La Sorprendente Vida de Hans Zimmer (Entrevista a Hans Zimmer) | Jaime
Altozano”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Z8K0fRhgrTo>.
Acesso em: 30 nov. 2018.
ZIMMER, Hans. “Hans Zimmer Teaches Music Scoring” (curso online). MasterClass, 2017.
Disponível em: <https://www.masterclass.com/classes/hans-zimmer-teaches-film-
scoring>. Acesso em: 30 nov. 18.

DISCOGRAFIA:
ZIMMER, Hans. Inception: Music from the motion picture. USA: Reprise Records, 2010.
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ANEXO

6.1 Arranjo Motivo T2


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49
50
51

6.2 Link de vídeo com arranjo Motivo T2 MIDI

Disponível em: <https://youtu.be/xk1mRCU7pL4>. Último acesso em: 23 jan. 2019.

6.3 Link de vídeo da cena final original

Disponível em: <https://youtu.be/1u8rbr95RjU>. Último acesso em: 18 dez. 2018.

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