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O termo “interacionismo simbólico” é de certo modo um barbarismo que cunhei com caráter informal
em um artigo publicado em “HOMEM E SOCIEDADE” (Emerson P. Schmidt, editor, New York:
Prentice Hall, 1937). O vocábulo acabou sendo aceito e hoje é de uso geral. Tradução do espanhol com
fins didáticos de Henrique Jeske. Disciplina Sociologia III, Curso de Ciências Sociais da Universidade
Federal de Pelotas. Revisão: Prof. Pedro Robertt. Versão em espanhol: Blumer, Herbert. El
interaccionismo simbólico. Capítulo 1. La posición metodológica del interaccionismo simbólico.
Naturaleza del interaccionismo simbólico. Barcelona: Hora S. A. 1982.
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função do que estas significam para ele. Ao dizer coisas nos referimos a tudo
àquilo que uma pessoa pode perceber em seu mundo: objetos físicos, como
árvores ou cadeiras; outras pessoas, como uma mãe ou um vendedor do
comércio; categorias de seres humanos, como amigos ou inimigos; instituições,
como uma escola ou um governo; ideais importantes, como a independência
individual ou a honradez; atividades alheias, como as ordens ou pedidos dos
demais; e as situações de todo tipo que um indivíduo enfrenta em sua vida
cotidiana. A segunda premissa é que o significado destas coisas se deriva de, ou
surge como conseqüência da interação social que cada qual mantém com o
próximo. A terceira é que os significados se manipulam e modificam mediante
um processo interpretativo desenvolvido pela pessoa ao confrontar-se com as
coisas que vai encontrando em seu caminho. Gostaria de falar brevemente de
cada uma destas três premissas fundamentais.
Parece que poucos especialistas consideram errônea a primeira premissa:
que os seres humanos orientam suas ações para as coisas em função do que estas
significam para eles. Porém, por estranho que pareça, praticamente em todo o
trabalho e pensamento da ciência psicológica e social contemporânea se tem
ignorado ou descartado esta elementar afirmação, ou se da por compreendido o
“significado” e, em conseqüência, deixado de lado como pouco importante, ou
se considera como um mero vinculo neutro entre os fatores responsáveis pelo
comportamento humano e este mesmo comportamento considerado como
produto destes fatores. Podemos apreciar este fato claramente na atitude das
ciências psicológicas e sociais na atualidade. É tendência comum em ambos os
ramos científicos estimar que o comportamento humano é o produto dos
diversos fatores que influenciam nas pessoas; o interesse se concentra na
conduta e nos fatores que se considera a causa. Assim, os psicólogos atribuem
determinadas formas ou exemplos de comportamento humano a fatores tais
como estimulo, atitudes, motivações conscientes ou inconscientes, diversos tipos
de input psicológico, percepção e conhecimento, e distintos aspectos da
organização pessoal. De modo parecido, os sociólogos embasam suas
explicações em outros fatores, como a posição social, exigências do status,
papéis sociais, percepções culturais, normas e valores, pressões do meio e
afiliação a grupos. Em ambos os esquemas psicológicos e sociológicos típicos,
os significados das coisas para os seres humanos agentes, são já evitados, já
englobados nos fatores aos que se recorre para explicar seu comportamento. Se
se admite que os tipos de comportamento dados são o resultado daqueles fatores
concretos que se considera que os motiva, não há necessidade de preocupação
com o significado das coisas para as quais se encaminha a atuação humana: é o
suficiente para determinar os fatores desencadeantes e o comportamento
conseguinte ou, se for preciso, com a tentativa de integrar no conjunto o
elemento “significado”, bem considerando-o como um vínculo neutro entre estes
e a conduta a que supostamente dão lugar. No primeiro dos casos o significado
desaparece ao ser absorvido pelos fatores desencadeantes ou causais, no segundo
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próprio comportamento; ante as ações alheias uma pessoa pode abandonar uma
intenção ou propósito, reconsiderá-la, verificá-la ou cancelá-la, intensificá-la ou
substitui-la. As ações dos demais se incluem na decisão de uma pessoa a respeito
do que planeja fazer, podem oporem-se ou impedir tal projeto, exigir uma
revisão ou motivar um planejamento muito distinto do mesmo. Todo indivíduo
há de conseguir que sua linha de ação encaixe de alguma maneira nas atividades
dos demais. Estas hão de ser levadas em conta, sem considerar-las simplesmente
como um âmbito para a expressão do que um está disposto a fazer ou planeja
realizar.
Estamos em dívida com George Herbert Mead como autor da mais
profunda análise da interação social até agora realizada; análise que por outro
lado, se ajustam aos dados mais realistas de que se dispõe. Mead assiná-la duas
formas ou níveis de interação social na sociedade humana, denominando-os,
respectivamente, “conversação de gestos” e “emprego de símbolos
significativos”. Eu os chamarei “interação não simbólica” e “interação
simbólica”. A primeira tem lugar quando uma pessoa responde diretamente ao
ato de outra pessoa sem interpretá-lo. A segunda implica a interpretação do ato.
A interação não simbólica que manifesta claramente nas respostas refletidas,
como no caso do um boxeador que automaticamente levanta o braço para parar
um golpe. No entanto, se o boxeador de detivesse a refletir que este golpe de seu
adversário que parece avizinhar-se é somente uma finta para pegá-lo, tal atitude
formaria parte de uma interação simbólica. Em tal caso, teria que procurar
descobrir a finalidade do golpe, ou seja, seu significado como parte do plano de
seu oponente. Em sua associação, os seres humanos envolvem-se em uma clara
interação simbólica ao responder de forma imediata e irreflexiva aos
movimentos corporais, expressões e tons de voz de seus semelhantes, mas sua
forma característica de interação se exerce a um nível simbólico, uma vez que
tratam de compreender o significado das ações dos outros.
A análise de Mead sobre a interação simbólica é de suma importância.
Considera que tal interação consiste em um exposição de gestos e a uma resposta
ao significado dos mesmos. Um gesto é aquela parte ou aspecto de um ato em
curso que encerra o significado da ação, mais amplo, do qual faz parte: por
exemplo, a ameaça de um punho como indicação de um possível ataque, ou uma
declaração de guerra por parte de um país que manifesta assim sua postura e sua
linha de ação. As orações, ordens, mandatos, sugestões e declarações são gestos
que dão à pessoa que os recebe uma idéia da intenção e propósito do futuro ato
do indivíduo que os formula. A pessoa que responde organiza sua resposta
baseando-se no significado que os gestos têm para ela. A pessoa que realiza tais
gestos se serve deles como sinais ou indicações do que planeja fazer, assim
como do que deseja que o outro faça ou compreenda. Portanto os gestos têm
significado, não só para a pessoa que os faz, mas também para aquela a que se
dirigem. Quando o significado é o mesmo para ambas as pessoas, estas se
compreendem mutuamente. Este breve exame mostra que os significados dos
gestos aflora ao longo de três linhas (a tripla natureza do significado segundo
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Mead): estes gestos indicam o que há de fazer a pessoa a quem se dirigem, o que
as pessoas que os faz planeja realizar e, finalmente, a ação conjunta que deve
surgir da coordenação dos atos de ambas. Assim, por exemplo, a ordem de
levantar as mãos que um ladrão dá a sua vítima é (A) uma indicação do que esta
deve fazer; (B) uma indicação do que o ladrão se propõe fazer, ou seja, despojar
sua vitima; e (C) uma indicação da ação conjunta que esta se formando: neste
caso um assalto. Se existir confusão ou mal entendido em qualquer destas três
linhas de significado, a comunicação não se produz, a interação se dificulta e a
formação da ação conjunta acaba bloqueada.
Para completar a análise do interacionismo simbólico realizada por Mead
é preciso citar mais um aspecto: que as partes implicadas na interação têm de
assumir necessariamente o papel de cada um dos indivíduos envolvidos. Para
indicar a uma pessoa o que tem que fazer, o indivíduo que faz a indicação deve
formulá-la, colocando-se no lugar de quem a recebe. Para ordenar à sua vítima
que levante as mãos, o ladrão tem que conceber a resposta da vítima colocando-
se em seu lugar. Por sua vez, a vítima deve captar a ordem contando com o
ponto de vista do ladrão que a formula; deve advertir a intenção e a ação
subseqüente do oponente. O mútuo assumir de papéis é condição sine qua non
para que uma comunicação e uma interação sejam eficazes.
É evidente a importância e o lugar preferencial que a interação simbólica
ocupa na vida e no comportamento de um grupo humano. Todo grupo ou
sociedade humana se compõe de pessoas em associação. Esta adota
necessariamente a forma de indivíduos que atuam reciprocamente formando,
portanto, uma interação social que, por sua vez, se exerce característica e
principalmente a um nível simbólico na sociedade humana. Como indivíduos
que agem individual ou coletivamente, ou como agentes de uma organização
determinada que entra em contato com outra, as pessoas se vêem
necessariamente obrigadas a levar em conta os atos alheios no momento de
realizar seus próprios. A execução destes atos implica um processo duplo: de
indicar aos demais o modo como devem atuar e o de interpretar as indicações
alheias. A vida de um grupo humano constitui um vasto processo consistente em
definir o próximo ato que deve fazer e, ao mesmo tempo em interpretar as
definições formuladas pelos demais. Através deste processo as pessoas fazem
com que suas atividades se encaixam com as alheias, uma vez que forma sua
própria conduta individual. A atividade conjunta e o comportamento individual
se formam dentro e através deste processo contínuo. Não são meras expressões
ou produtos da contribuição das pessoas à sua interação, nem das condições que
precedem a mesma. A incapacidade de adaptar-se a este processo vital constitui
na principal deficiência dos esquemas que tratam de descrever a sociedade
humana baseando-se na organização social, em fatores psicológicos ou em
qualquer combinação de ambas as coisas. Em virtude da interação simbólica, a
vida de todo o grupo humano constitui necessariamente um processo de
formação e não um simples âmbito de expressão de fatores pré-existentes.
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necessário conhecer os objetos que compõe seu mundo; uma questão importante
que analisaremos mais adiante.
Em segundo lugar, outra das conseqüências é que os objetos (no que
concerne ao seu significado) devem ser considerados como criações sociais
enquanto se formam e surgem como resultado do processo de definição e
interpretação, já que este tem lugar por sua vez na interação das pessoas. O
significado de todas e cada uma das coisas deve formar-se, aprender-se e
transmitir-se através de um processo de indicação que constitui,
necessariamente, um processo social. Á nível da interação simbólica, a vida de
um grupo humano é um vasto processo em que as pessoas vão formando,
sustentando e transformando os objetos de seu mundo a medida que lhes vão
conferindo um significado. Os objetos carecem de status fixo, a menos que seu
significado vá se configurando mediante as indicações e definições das pessoas
que fazem deles. Nada é tão evidente como o fato de os objetos pertencentes as
três categorias antes abordadas podem experimentar uma mudança em seu
significado. Para um astrofísico moderno uma estrela no céu é um objeto muito
distinto do que era para um pastor dos tempos bíblicos. O matrimonio era um
objeto muito distinto para os romanos primitivos que para as épocas posteriores.
O presidente de uma nação que não consegue atuar com êxito em momentos
cruciais, pode converter-se em um objeto muito distinto para os cidadãos de seu
país. Em resumo, desde o ponto de vista do interacionismo simbólico, a vida de
um grupo humano é um processo através do qual os objetos vão criando-se,
afirmando-se, transformando-se e descartando-se. A vida e os atos dos
indivíduos vão modificando-se forçosamente de acordo com as mudanças que
ocorrem em seu mundo de objetos.
em sua vida ou operam através de sua pessoa. Talvez não o faça com muito
sucesso, mas tem de fazê-lo.
Este conceito do ser humano que orienta sua ação autoformulando-se
indicações, contrasta radicalmente com o ponto de vista sobre a ação humana
que atualmente prevalece nas ciências psicológicas e sociais. Este enfoque
dominante, como já se pode compreender atribui a ação das pessoas a um fator
desencadeante, ou a uma combinação de vários fatores deste tipo. A origem da
ação se remete a questões tais como motivos, atitudes, necessidade-disposição,
complexos inconscientes, diversos tipos de estímulo, demandas do status,
exigências do papel social e conjunturais. Considera-se que relacionar a ação
com um ou mais destes agentes desencadeantes é uma tarefa plenamente
científica. Este tipo de enfoque, no entanto, ignora e suprime o processo de
autointeração por meio do qual um indivíduo maneja seu mundo e constitui sua
ação. Assim se fecha o acesso ao importantíssimo processo de interpretação por
meio do qual o indivíduo percebe e julga o que se apresenta diante dele, e
planeja as diretrizes de seu comportamento público antes de pô-las em prática.
Fundamentalmente, a ação por parte do ser humano consiste em uma
consideração geral das diversas coisas que percebe e na elaboração de uma linha
de conduta baseada no modo de interpretar os dados recebidos. Entre as coisas
que se são levadas em conta na hora de agir cabe mencionar os desejos e
necessidades, os objetivos, os meio disponíveis para sua obtenção, os atos
alheios, tanto realizados como previstos, a própria imagem e o resultado
provável de uma determinada linha de ação. O comportamento se orienta e se
forma através de um processo de indicação e interpretação, no decurso do qual
determinadas linhas de ação podem iniciar ou se concluírem, abandonar-se ou
posterga-se, limitar-se a um mero projeto ou a uma vida interior de sonhos ou
também modificarem-se depois de iniciadas. Não me proponho analisar este
processo, mas insistir em sua presença e operabilidade quanto a formação da
ação humana. Devemos admitir que a atividade do ser humano consiste em
afrontar um caudal de situações ante as que se vê obrigado a agir, e que sua ação
se forja em função daquilo que percebe, de modo em que o julga e interpreta, e
do tipo de linhas de ação planejadas que se propõe realizar. Este processo não se
explica atribuindo a ação a um determinado tipo de fator (por exemplo motivos,
necessidade-disposição, exigências da função desempenhada, expectativas ou
normas sociais) que supõe-se que á desencadeia e conduz a seu desfecho; esta
classe de fatores, ou uma expressão concreta dos mesmos, é algo que o agente
humano tem em conta no momento de planejar sua linha de ação. O fator
desencadeante não abarca nem explica de que forma é considerado o próprio
fator nem outras questões na situação que reivindica a ação. É preciso
aprofundar-se no processo de definição do agente para compreender seus atos.
Esta perspectiva da ação humana é igualmente válida para aquelas
atividades conjuntas ou coletivas nas que intervêm uma série de indivíduos. A
ação coletiva ou conjunta constitui um domínio de interesse sociológico, como
se demonstra no comportamento de grupos, instituições, organizações e classes
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que participam na ação seguem tendo que orientar seus atos respectivos
mediante a formação e utilização de significados.
Feitas estas observações de maneira preliminar, gostaria de destacar três
pontos referentes às implicações da concatenação que representa a ação
conjunta. Primeiro gostaria de analisar elementos estáveis e reiterativos da
mesma. A parte preponderante da ação social em uma sociedade humana, e
especialmente em uma já consolidada, adota a forma de modelos recorrentes de
ação conjunta. Na maioria das situações em que as pessoas atuam com respeito
as outras, os indivíduos contam de antemão com um profundo conhecimento do
modo com que devem se comportar e de como se comportam os demais.
Compartilham os significados comuns e preestabelecidos do que se espera de
cada participante em uma ação determinada e, conseqüentemente, cada um deles
é capaz de orientar sua conduta de acordo com tais significados. Os exemplos de
formas reiterativas e preestabelecidas de ação conjunta são tão freqüentes e
comuns que é fácil entender por que os eruditos o consideraram a essência ou a
forma natural de vida dos grupos humanos. Este ponto de vista se coloca
especialmente manifesto nos conceitos de “cultura” e “ordem social”, que tanto
predominam na literatura sociológica. A maioria dos esquemas sociológicos se
apóia na crença de que toda sociedade humana adota a forma de uma ordem de
vida estabelecida, que se resume em uma adesão geral às regras, normas, valores
e sanções que indicam às pessoas o modo que devem agir diante das distintas
situações.
Este claro esquema é propício a vários comentários. Em primeiro lugar,
não é rigorosamente certo que a vida de qualquer sociedade humana, em todos
seus aspectos, não tenha sido outra coisa que uma mera expressão de formas
preestabelecidas de ação conjunta. No âmbito da vida de grupo surgem
constantemente novas situações problemáticas ante as quais as normas existentes
resultam inadequadas. Nunca ouvi falar de nenhuma sociedade isenta de
problemas, ou cujos membros não tenham que debater para projetar um sistema
de ação. As áreas de conduta não prescrita são tão naturais, genuínas e
recorrentes na vida dos grupos humanos como as integradas nos preceitos já
estabelecidos e fielmente observados da ação conjunta. Em segundo lugar
devemos admitir que incluso no caso do que se refere a ação conjunta reiterativa
e preestabelecida, cada um dos casos que o integram devem formarem-se de
novo. Os indivíduos participantes na mesma seguem tendo que elaborar suas
linhas de ação e adaptá-las as dos demais mediante um duplo processo de
designação e interpretação. Quando se trata de uma ação conjunta reiterativa o
fazem, evidentemente, empregando os mesmo significados periódicos e
constantes. Se admitirmos isto, temos que advertir forçosamente que o
importante é o papel e o destino dos significados e não a ação conjunta em sua
forma estabelecida. A ação conjunta reiterativa e estável é o resultado de um
processo interpretativo em igual medida que qualquer nova forma de ação
conjunta que se desenvolva pela primeira vez. Não é uma afirmação ociosa nem
petulante: os significados subjacentes em toda ação conjunta consolidada e
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