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Contribuições para a

Metodologia de Apuração de
Fator X
2a Fase da AP no 040/2011
3o CRTP

Referência: Nota Técnica nº 093/2011 – SRE/ANEEL

Junho de 2011

1
Sumário
1 Contextualização ......................................................................................................................................... 3
2 Metodologia Proposta pela ANEEL na 2a Fase da AP nº 40/2010 ......................................... 3
3 Análise da Metodologia Proposta na 2ª Fase da AP nº 040/2010 ......................................... 4
3.1 Considerações sobre Fator X “ex-ante” ou “ex-post” ......................................................... 4
3.2 Componente Q .................................................................................................................................... 4
3.3 Componente T ..................................................................................................................................... 8
3.4 Déficit do Programa Luz para Todos ......................................................................................... 8
3.5 Componente PD ................................................................................................................................. 11
3.5.1 Abordagem do Equilíbrio Econômico-Financeiro no Brasil e no Reino Unido 14
3.5.2 Desconsideração da Heterogeneidade das Concessões ............................................. 17
3.5.3 Instabilidade entre as Propostas da ANEEL ................................................................... 19
3.5.4 Inclusão de Concessionárias que Pioraram a Qualidade no Cálculo da
Produtividade ............................................................................................................................................. 21
3.5.5 Base de Dados Virtual (Insumos Virtuais)....................................................................... 23
3.5.6 Erros na Base de Dados ........................................................................................................... 26
3.5.7 É Irrelevante a Necessidade Individual de Investimentos ?..................................... 44
3.5.8 Não Aborda o Equilibrio Econômico Financeiro da Concessão (TIR Regulatória
x WACC Regulatório) ............................................................................................................................... 46
4. Proposta da Concessionaria .................................................................................................. 50

2
1 Contextualização
Em 10/09/10, a ANEEL abriu a Audiência Pública nº 040/2010, relativa ao 3o Ciclo e
Revisões Tarifárias Periódicas das distribuidoras de energia elétrica (3º CRTP). Essa
audiência recebeu contribuições na 1a Fase no período de 10/09/10 a 10/01/2011. No dia
27/04/2011, a 2a Fase da mencionada AP foi aberta para receber novas contribuições no
período de 27/04/2011 a 27/05/2011, em forma de intercâmbio documental.

Na 1a Fase da AP no 040/2010, a Nota Técnica no 267/2010-SRE/ANEEL, de 25/08/2010,


estabeleceu a metodologia e parâmetros para a definição do Fator X a ser considerado no
3o Ciclo de Revisões. Após análise das contribuições da 1a Etapa, a ANEEL disponibilizou a
Nota Técnica nº 093/2011-SRE/ANEEL, de 26/04/2011, com intuito de colher novamente
subsídios para o aperfeiçoamento da metodologia.

Assim, o escopo deste relatório é contribuir para o aperfeiçoamento da metodologia de


apuração do Fator X, ora em discussão, cujos resultados serão aplicados no 3o CRTP.

2 Metodologia Proposta pela ANEEL na 2a Fase da AP nº


40/2010

Para a 2ª Fase da AP nº 40 a ANEEL continua propondo a extinção do Fluxo de Caixa


Descontado (FCD), metodologia adotada no 1º e 2º CRTP. Em substituição ao FCD propõe
uma abordagem baseada na medição da Produtividade Total dos Fatores (PTF),
acompanhada da medição de Qualidade e da medição de Eficiência, sendo PTF e Eficiência
definidas ex-ante e a Qualidade ex-post. Segundo a metodologia proposta, o Fator X é dado
por:

onde:

P: componente de produtividade da

Distribuição ( );
Ex-ante: definidos no reposicionamento
tarifário;
Q: componente de qualidade;
Ex-post: definidos a cada reajuste tarifário.
T: componente de trajetória.

3
3 Análise da Metodologia Proposta na 2ª Fase da AP nº
040/2010

3.1 Considerações sobre Fator X “ex-ante” ou “ex-post”

Na proposta da 2ª Fase o Regulador deixa em aberto a possibilidade do Fator X ser “ex-


ante” ou “ex-post”, apesar de indicar que o mais adequado seria “ex-ante”, conforme o
parágrafo 121 da NT Nº 93-SRE-ANEEL:

“121. Entende-se que, por não suscitar quaisquer questionamentos jurídicos, e sob a
premissa de que, no regime de regulação pelo preço, o risco de mercado deve ser
alocado integralmente à concessionária, seja mais apropriado neste momento a
adoção do componente Pd do Fator X ex-ante. Essa proposta tem maior alinhamento
com o tratamento adotado nos ciclos tarifários anteriores.” (grifo nosso).

Na 1ª Fase da AP nº 40 foram apresentados dois pareceres jurídicos atestando a


ilegalidade de uma aplicação do Fator X “ex-post”. É importante que esses pareceres
sejam analisados para que dúvidas quanto a ilegalidade apontada sejam dirimidas.

Portanto, pelos aspectos regulatórios que pautam o regime de tarifa pelo preço, pelo
cumprimento do contrato de concessão dos seus aspectos jurídicos intrínsecos, o grupo
Neoenergia reitera a importância da definição do Fator X de maneira “ex-ante” por razões
de ordem jurídica .

3.2 Componente Q

A sistemática de apuração do componente Q do Fator X na 2ª Fase da AP nº 40 passou por


uma série de modificações. Primeiramente, houve a exclusão do ranking que balisaria o
cálculo da componente Q. Na atual proposta o resultado do componente Q advém da
variação da média dos últimos índices anuais de DEC e FEC aplicado à uma equação. A
equação foi obtida por meio da regressão que utilizou como variável dependente os
ganhos de produtividades das empresas e como variáveis independentes mercado,
unidades consumidoras e variação média dos indicadores de DEC e FEC.

Segundo a ANEEL, a motivação para a criação do componente Q no Fator X é a necessidade


de incentivo à melhoria da qualidade do serviço de distribuição de energia. Não obstante, a
finalidade precípua do Fator X é permitir o compartilhamento de uma parcela dos ganhos
de produtividade futuros, relacionados a eficiência e escala, com os consumidores. Além
disso, destina-se a manter o equilíbrio econômico-financeiro da concessão ao longo do

4
ciclo tarifário. Dessa forma, a aplicação de uma componente Q no Fator X, relacionada à
qualidade do serviço, não seria compatível com esta finalidade.

Adicionalmente, entende-se que atingir as metas de qualidade estipuladas pela Agência já


consiste em um incentivo para melhoria da qualidade, tendo em vista as indenizações que
as concessionárias precisam pagar, no caso da infrigência desses indicadores.

Com relação a aplicabilidade do método proposto pela Agência, algumas ressalvas


precisam ser feitas. É importante destacar que os indicadores de DEC e FEC também são
influenciados por problemas advindos da rede básica e das DIT´s (Demais instalações de
Transmissão), mesmo a concessionária não possuindo qualquer gestão sobre essas
interrupções.

Sobre esta questão o módulo 8 do Prodist (Procedimentos de Distribuição) pontua os


casos em que as interrupções não serão consideradas na apuração dos índices de DEC e
FEC:

“5.6.2.1 Na apuração dos indicadores DEC e FEC deverão ser consideradas todas as
interrupções que atingirem as unidades consumidoras, admitidas apenas as seguintes
exceções:
I - falha nas instalações da unidade consumidora que não provoque interrupção em
instalações de terceiros;
II - interrupção decorrente de obras de interesse exclusivo do consumidor e que afete somente
a unidade consumidora do mesmo;
III - interrupção em situação de emergência;
IV - suspensão por inadimplemento do consumidor;
V - vinculadas a programas de racionamento instituídos pela União; e
VI - ocorridas em dia crítico.
(...)
5.6.2.5 Não serão consideradas as interrupções provenientes da transmissora como
interrupção em situação de emergência.” (grifo nosso)

Assim, verifica-se que as interrupções provenientes dos sistemas de transmissão são


consideradas na apuração dos índices de DEC e FEC. Dessa forma, toda a base de dados
utilizada pela ANEEL está influenciada por problemas na transmissão, algo que não faz
muito sentido, quando, como no caso do componente Q, procura-se avaliar a qualidade do
serviço de distribuição de energia elétrica.

Além disso, a metodologia não leva em consideração o efeito da saturação da melhoria da


qualidade e nem cria limites para empresas que já possuem indicadores de DEC e FEC em
patamares reduzidos. Com relação a estes aspectos a metodologia de tratamento das
Perdas Não Técnicas parece mais adequada, uma vez que estabelece um limite de Perdas

5
Não Técnicas de 5%, onde empresas com perdas inferiores a este limite não estariam
sujeitas a trajetórias.

Dessa forma, trilhando o mesmo caminho empregado para as Perdas não técnicas, deveria
ser definido um limite de DEC e de FEC onde empresas com índices inferiores aos
determinados não estariam sujeitas a penalização.

Para a estimação desse índice foi aplicado o seguinte procedimento:

1. Utilização de índices de DEC e FEC anuais das concessionárias com consumo


superior a 1TWh;
2. Cálculo do DEC médio a cada ano com base nos índices das 5 empresas melhor
ranqueadas (média geométrica);
3. Cálculo do FEC médio a cada ano com base nos índices das 5 empresas melhor
ranqueadas (média geométrica);
4. Cálculo da média geométrica dos DEC e FEC médios anuais.

De acordo com o método descrito o limite mínimo a ser definido para o índice de FEC seria
de 6,00 e de DEC seria de 8,00, conforme apresentado na tabela abaixo.

Média
Qualidade 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Proposta
Geométrica

FEC – 5 melhores
5,81 5,70 6,18 5,69 5,90 5,74 6,22 5,89 6,00
(número de interrupções/ano)

DEC – 5 melhores
7,28 7,07 8,16 7,47 8,17 7,79 9,60 7,90 8,00
(horas/ano)

Tendo em vista que o DEC e o FEC são indicadores de qualidade distintos, os limites
mínimos de aplicação devem ser tratados de forma separada. Desse modo, para fins de
apuração do componente Q, a variação relativa ao indicador de qualidace (DEC ou FEC) no
qual a concessionária está abaixo do limite regulatório será considerada nula.

Outro ponto que não é levado em consideração é a elevada volatilidade dos indicadores de
DEC e FEC de um ano para o outro. Essa volatilidade ocorre dada suceptibilidade desses
indicadores frente a fenômenos, na maioria das vezes climáticos, que ocorrem de maneira
alheia a gestão da concessionária.

Os efeitos de uma realidade que tanto varia são potencializados pelo fato de que a
proposta da ANEEL para o componente Q é assimétrica. Isso ocorre ao restringir a sua
aplicação à condição de que o valor alcançado seja inferior ao menor valor apurado nos

6
últimos quatro anos. O problema é que essa restrição se dará somente quando o
componente Q for negativo, o que resulta em algumas situações contraintuitivas como a
apresentada no exemplo abaixo.

Informação ano -3 ano -2 ano -1 Ano base ano 1 ano 2 ano 3 ano 4

DEC 10,0 9,5 9,0 9,3 10,0 9,0 9,5 9,0

FEC 10,0 9,5 9,0 9,3 10,0 9,0 9,5 9,0

MÉDIA DEC/FEC 10,0 9,5 9,0 9,3 10,0 9,0 9,5 9,0

Var med DEC/FEC 7,5% -10,0% 5,6% -5,3%

Fator Q 0,63% 0,00% 0,47% 0,00%

Na situação apresentada, a empresa seria punida nos anos em que houve uma elevação no
indicador de qualidade, mas não teria qualquer premiação nos movimentos de redução.
Para este exemplo a empresa seria punida duas vezes no ciclo tarifário, mesmo tendo
reduzido o indicador de DEC/FEC de 10,0 para 9,0.

Além dos pontos mencionados, convém destacar a cumulatividade da aplicação do


componente Q no Fator X. No exemplo exposto, verifica-se que a aplicação do componente
Q no ano1, de 0,63%, penalizará a empresa durante todo o ciclo tarifário, da mesma forma,
a aplicação do componente Q de 0,47% no ano3 penalizará a empresa por dois anos.
Assim, a concessionária entende que o componente Q só possa ser aplicado uma vez em
cada reajuste tarifário, devendo-se proceder o expurgo desse efeito de cumulatividade.

Obviamente, a forma que a concessão é gerida interfere de maneira relevante nos


indicadores de continuidade, o que não significa dizer que não haja uma parcela não
gerenciável que afeta estes índices. Desse modo, uma forma de amenizar o efeito dessas
elevadas variações é a utilização das médias móveis dos indicadores de DEC e FEC no
cálculo da regressão, o que conferiria uma tendência de mais longo prazo no processo de
melhoria da qualidade.

Portanto, entende-se que a proposta para o componente Q carece de alguns ajustes de


forma a melhor se adequar aos seus objetivos. Esses ajustes são: exclusão das
frequências e durações das interrupções no sistema de transmissão;
estabelecimento de um limite mínimo de DEC e FEC, sobre o qual o componente Q
não penalizaria a concessionária, utilização das médias móveis de DEC e FEC no
cálculo da regressão e exclusão dos efeitos de cumulatividade do componente Q.

7
3.3 Componente T

Segundo a ANEEL, o Componente T do Fator X tem por função implementar uma trajetória
de convergência para custos operacionais eficientes, sendo definida no momento da
revisão tarifária a necessidade de sua aplicação.

Com relação a este componente, algumas considerações devem ser feitas. Os Custos
Operacionais definidos no 2º CRTP foram os Custos Operacionais eficientes daquele ciclo
para cada concessionária. A definição destes custos foram baseadas em um modelo
“bottom-up” denominado Empresa de Referência, que foi construído com base nos
processos inerentes ao negócio de distribuição de energia elétrica, com tarefas, tempos e
frequencias típicas e eficientes. Sobre estes Custos Operacionais regulatórios, os principais
pontos de distinção entre as empresas eram seus ativos e seus clientes, que eram os inputs
para as tarefas do modelo, além da consideração de custos adicionais decorrentes das
particularidades da concessão.

Na metodologia para o 3º CRTP a ANEEL apurou os ganhos de produtividades médios do


setor para os Custos Operacionais de 2003 à 2009 e propõe que esses ganhos de
produtividade sejam aplicados anualmente aos Custos Operacionais Regulatórios
definidos no 2º CRTP.

Frente aos problemas de instabilidade, vulnerabilidade e riscos ao ambiente regulatório


evidenciados em nossa contribuição no tema de custos operacionais e a sugestão de no 3º
Ciclo se trabalhar nos métodos e procedimentos da Etapa 2 (etapa da eficiência relativa),
sendo assim o grupo Neoenergia entende que a aplicação deste componente T no
Fator X não é suficientemente madura tendo em vista limitações quanto a
uniforização do banco de dados das empresas e da propria metodologia ainda em
desenvovolvimento. Nesse sentido, entendemodo deve ser desconsiderada a Etapa 2
dos Custos Operacionais conforme detalhamento apresentado no corrospondente
capítulo, mantendo-se para todo o ciclo o resultado dos custos operacionais da
Etapa 1, não se aplicado pelo momento o componente T do Fator X.

3.4 Déficit do Programa Luz para Todos

Com relação ao Déficit do Programa Luz para Todos, a ANEEL expõe o entendimento de
que não seria mais necessário a sua apuração, na forma de adicional financeiro, nos
reajustes tarifários. A justificativa dada pela Agência é que o período de tempo analisado já

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incorpora os efeitos desse programa de Governo, consequentemente, os ganhos de
produtividades médios também já levariam em conta esses efeitos.

Esse entendimento foi extraído da Nota Técnica nº 93/2011, cujos parágrafos encontram-
se transcritos abaixo:

“122. Cabe ressaltar que o intervalo de tempo analisado, de 2003 a 2009, contempla
o período de implementação do Programa Luz Para Todos – PLPT e, portanto, a
produtividade média calculada incorpora os efeitos desse programa de
universalização. A característica de um programa de universalização no meio
rural é de baixa densidade de carga, ou seja, grandes extensões de redes e
incorporação de um reduzido mercado. Como elementos mitigadores do impacto
do PLPT, são empregados recursos a fundo perdido (CDE) e financiamentos de baixo
custo (RGR).
123. Os processos tarifários atualmente implementados pela ANEEL consideram um
componente financeiro que visa recompor o déficit de Parcela B decorrente da
implementação do PLPT. Ou seja, como a receita de Parcela B advinda das novas
unidades consumidoras atendidas pelo programa é, normalmente, insuficiente para
fazer frente aos custos operacionais e de capital relativos a esses atendimentos,
recompõe-se o equilíbrio via componente financeiro.
124. Uma vez que o ganho de produtividade calculado considera todo o
mercado atendido pelas distribuidoras e também todos seus custos
operacionais e de capital, a variação de produtividade advinda da
implementação do PLPT já está considerada nos índices calculados. Logo, não
faria mais sentido que após a revisão tarifária relativa ao 3CRTP persistisse o
cálculo do componente financeiro relativo ao déficit do PLPT. (Grifo nosso)”

Com relação ao entendimento apresentado pela Agência, algumas observações devem ser
feitas. Primeiramente, os efeitos desse programa são muito particulares nas concessões
brasileiras. Para algumas, o PLPT praticamente não alterou a dinâmica da empresa, no
entanto, para outras houve um forte impacto na implementação desse programa.

Quando a ANEEL apura o componente financeiro de cada concessão avalia-se, de forma


individual, o impacto do programa para aquela empresa, conferindo um caráter de
neutralidade, ou mesmo de isonomia entre as empresas, dado que a implementação do
programa de univesralização foi uma decisão de Governo e a sua antecipação pelo
Programa Luz para Todos dependeu de adesão das concessionárias que considerou um
conjunto de condições apresentadas, entre ela o direito a um comensação anual pelo
deficit tarifário (no calculo do Fator X da última revisão não foi considerado o programa).

Uma forma de mostrar como o impacto desse passivo é muito particular para cada
concessionária consiste em avaliar, para algumas empresas, o valor desse adicional
financeiro homologado no último reajuste tarifário.

9
Déficit
Déficit
Concessionária PLPT/RA1
PLPT (R$)
(%)
Light 0 0,00%
Eletropaulo 0 0,00%
Coelba 81.354.995 1,82%
Cemar 17.567.841 1,32%
Coelce 23.316.989 0,98%

Para as três concessionárias da região Nordeste há uma forte participação do déficit do


PLPT no RA1 do Reajuste Tarifário, no entanto, para as duas empresas da região Sudeste
não houve qualquer efeito da implantação do programa. Portanto, não pode ser excluido
tal mecanismo de compensação sob o argumento de que as produtividades média já
incorporam o programa.

De maneira sistematica, os efeitos do programa são particulares para cada concessão,


sobretudo as da região Nordeste. No exemplo citado, as três empresas da região Nordeste
estariam em franca desvantagem se não houvesse o mecanismo que apura o “Déficit do
PLPT”.

Outro ponto que convém destacar é que o Governo Federal acaba de anunciar uma nova
etapa do Programa Luz para Todos com o intuito de estender o acesso à energia elétrica a
mais 495 mil famílias, a grande maioria nas regiões Norte e Nordeste. A meta já está
prevista na segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2). Desse
modo, algumas empresas experimentarão déficits adicionais pela extensão desse
programa de Governo no período entre a 3º CRTP e a 4º CRTP.

Portanto, é crucial que a Agência reveja o entendimento de não considerar o adicional


financeiro relativo ao déficit do Programa Luz para Todos nos reajustes tarifários, sob
pena de inviabilizar esse programa que tem permitido acelerar a universalização. Os
impactos da implantação desse Programa de Governo são conhecidos, tem valores
representativos e específicos e individualizados, especialmente nas concessionárias do
norte e nordeste brasileiro.

Além do exposto, é importante mencionar que o PLPT foi criado resultando de Política
Governamental, conforme Decreto 4873/2003 e que a Portaria n° 297/2005-MME definiu
como diretrizes como: (i) limite de 10% do impacto relativo ao custo adicional da
implantação do programa, (ii) preservação do equilíbrio econômico-financeiro da
concessão, (iii) assegurar o cumprimento de metas e, ainda que, se for avaliada a

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impossibilidade de cumprimento das hipóteses (i) e (ii) sem revisão de metas, deveriam
ser propostas metodologias para sua alteração.

Assim, a proposta da ANEEL, na AP040 de eliminar o reconhecimento do déficit do PLPT,


inviabiliza a realização de metas e, portanto, do PLPT após a revisão tarifária do 3º ciclo.
Pois, da forma proposta, a concessionária somente teria reconhecimento dos
investimentos realizados no PLPT, já depreciados por 5 anos, na revisão tarifária do 4º
ciclo, quando os mesmos viessem a ser incorporados na BRR.

É preciso, além do reconhecimento na BRR da revisão seguinte, a recuperação do


desequilíbrio provocado pelo PLPT, anualmente , no período entre revisões, como vem
sendo efetuado pela ANEEL ao longo do 2º CRTP.

Vale ressaltar que, sendo o arcabouço regulatório da ANEEL considerado até o 2º CRTP
para o PLPT é de praticamente um custo do serviço, a discussão acerca desse programa
não se refere a uma retirada de algum incentivo regulatório mas tão somente a
recuperação dos custos incorridos relativos à parcela do programa implementada entre a
3º CRTP e 4º CRTP.

Dessa forma, solicitamos a manutenção do cálculo do Déficit tarifário do PLPT para as


empresas que vierem a ter metas estabelecidas para períodos após o 3º ciclo de revisão
tarifária.

3.5 Componente PD

O Componente PD mede os ganhos de produtividade potenciais associados à distribuição


de energia. O método proposto pela ANEEL para sua estimação é o da produtividade total
dos fatores (PTF). Nele são calculados ganhos de produtividade potenciais por meio das
variações nas relações insumo-produto. Foram utilizados como insumos os custos
operacionais e de capital, e como produtos o mercado de alta, média e baixa tensão. Os
ganhos de produtividade anuais são calculados com base na média geométrica dos índices
de Malmquist e Tornqvist para o período compreendido entre os anos de 2003 e 2009,
sendo o mesmo definido pela ANEEL como a produtividade setorial.

Na aplicação desse método, as firmas que ganham produtividade maximizam a relação


produto-insumo, ou seja, a taxa de crescimento dos insumos (custos) é menor do que a dos
produtos.

11
Em relação aos ganhos de produtividade, o OFGEM (Orgão Regulador do Reino Unido)
afirma que para a utilização adequada do PTF, uma série de condições precisam ser
satisfeitas e a mesma deve ser aplicada de uma determinada forma1, como transcrito
abaixo:

“Condições necessárias são:


• Dados consistentes e robustos;
• Índice de Produtividade preciso, robusto e capaz de refletir a produtividade da
indústria (“produtividade setorial”);
• Que o grupo de empresas do setor analisado tenha potencial comparável para
melhorias da produtividade;
• As condições futuras sejam similares às passadas.”2

A OFGEM3 também afirma que:

“O método de determinação do Fator X via PTF somente é realmente apropriado quando


os custos das empresas convergiram para a fronteira de eficiência, ou quando ao menos
as empresas tem a possibilidade de que seus custos convirjam para a fronteira.”4

Ou seja, além da necessidade de uma base de dados consistente e robusta, as empresas


analisadas precisam ter ao menos o mesmo potencial para melhoria de produtividade,
pois caso não tenham não podem ser comparadas.

Trazendo essas ponderações do Regulador do Reino Unido para o contexto do setor


distribuição brasileiro, tem-se que esses requisitos dificilmente se cumprem, dado a
heterogeneidade entre as concessões. No Brasil, as áreas de concessão são extremamente
heterogêneas não somente no que diz respeito a aspectos relacionados com a área de
concessão (como tamanho da área de concessão, rede, consumidores e mercado) mas
também com relação a diferenças quanto a tipologia das redes elétricas, ao perfil de
mercado a ser atendido e das condições climáticas de cada região.

1
Background to Work on Assessing Efficiency for the 2005 Distribution Price Control Review. Final Report submitted by Cambidge
Economic Policy Associates Ltd. September 2003.
2
Texto Original em inglês:
“Condition needed are:
• Consistent and robust data;
• TPF index is an accurate, robust and external measure of industry productivity;
• Service providers within the industry group have comparable potential for productivity improvements;
• Future potential conditions similar to past.”
3
Office of Gas and Electricity Markets Productivity Improvements in Distribution Network Operators. Final Report submitted by
Cambidge Economic Policy Associates Ltd. November 2003.
4
Texto Original em inglês: “A TFP approach to setting X factor is only really appropriate when company costs have converged on
an efficiency frontier, or have at least have been given an opportunity to do so.”

12
Além da forte heterogeneidade entre as concessões, conforme será apresentado de forma
mais detalhada adiante, os ganhos de produtividade PD verificados no período 2003-2009
mostram que as concessionárias apresentaram desempenhos bem distintos.

A figura abaixo apresenta o histograma que representa os ganhos médios de


produtividade verificados pelas distribuidoras entre 2003 e 2009. O eixo horizontal indica
os ganhos de produtividade enquanto que o vertical o número de empresas que obtiveram
esses ganhos.

10
Series: TORNQVIST
Sample 1 244
8 Observations 61

Mean 2.208689
6 Median 2.590000
Maximum 10.89000
Minimum -9.930000
4 Std. Dev. 4.367752
Skewness -0.367437
Kurtosis 3.359971
2
Jarque-Bera 1.701951
Probability 0.426998
0
-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10

Nota-se que os ganhos de produtividade médio (2003-2009) variam de -9,93% a 10,89%,


sendo a dispersão elevadíssima. O desvio padrão do índice de Tornqvist é de 4,37 vezes
maior que a média. O histograma apresentado mostra claramente a dispersão das
produvidades obtidas, e a heterogeneidade das distribuidoras no que diz respeito ao
potencial de melhoria da produtividade.

A ANEEL propôs como ganho de produtividade média do setor o valor 2,15%. Definindo
30% como intervalo de variação em torno do ganho de produtividade médio (entre 1,51%
e 2,80%) tem-se que somente 8 empresas possuem produtividade em torno dessa média.
Ou seja, das 61 empresas analisadas somente 13,11% delas possuem ganhos de
produtividade girando em torno do ganho de produtividade médio definido pelo
Regulador.

Com isso, por meio da análise de requisitos obvserva-se que 2 requistos necessários para
aplicação da PFT não foram atendidos: o requisito da homogeneidade e o da convergência
para a fronteira de eficiência. Tendo em vista o não cumpromento desses requisitos, os

13
resultados e conclusões decorrentes dos estudos de ganho de produtividade podem estar
comprometidos e levando a distorções em suas conclusões. Podem estar levando o
Regulador a cobrar produtividade demais de concessões que não permitem esse ganho
bem como menos de quem pode auferir maior produtividade.

3.5.1 Abordagem do Equilíbrio Econômico-Financeiro no Brasil e no Reino


Unido

A OFGEM, Orgão Regulador do Reino Unido, possui um rito de discussão metodológica


bastante extenso, iniciando o mesmo 24 meses antes da efetiva aplicação das
metodologias nas Revisões Tarifárias. Durante o 4º Ciclo (2005-2010) a OFGEM discutiu a
possibilidade de uso da Produtividade Total de Fatores - PTF para a determinação do
reposicionamento tarifário para o 4º Ciclo em detrimento do uso do Fluxo de Caixa
Descontado. A consultoria Cambridge Economic Policy Associates - CEPA foi contratada
pelo Regulador Inglês para a realização de uma série de estudos e análises da aplicação do
método do PTF no setor de distribuição de energia elétrica, além de analisar a metodologia
aplicada no ciclo anterior (3º Ciclo). Segundo a CEPA, o uso da PTF surge como uma
ferramenta alternativa a do fluxo de caixa descontado, no entanto, seu uso somente é
adequado para a definição do Fator X quando os custos das empresas envolvidas no
processo já tiverem convergido para a fronteira de eficiência. Caso contrário, não é
adequado seu uso5.

No caso das concessionárias de distribuição do Reino Unido, o Regulador concluiu que


como a eficiência das concessionárias não convergem para a eficiência da indústria não
seria considerado apropriado o uso de expectativas da PTF para determinar o controle de
preços de todas as distribuidoras. Com isso, a OFGEM permaneceu usando no 4ºciclo o
fluxo de caixa descontado.

Em um processo típico de determinação do Fator X, o Regulador analisa o plano de


negócios da empresa (concessionária), julga as necessidades de custo de capital e de
redução de custos operacionais e então define um Fator X que forneça a empresa uma
receita esperada capaz de cobrir os custos e fornecer um retorno do capital empregado
“razoável”. Além disso, o Fator X deve estar alinhado com a previsão do nível de serviço
requerido pelos consumidores e outros outputs chaves, como investimentos e qualidade
de serviço.

5
Office of Gas and Electricity Markets Productivity Improvements in Distribution Network Operators. Final Report submitted by
Cambidge Economic Policy Associates Ltd. November 2003.

14
Ainda segundo a CEPA, o ponto chave da regulação do RPI-X está em como o Fator X é
determinado6. No caso do Regulador Inglês o mesmo é definido com base no Equilíbrio
Econômico Financeiro (EEF) com Fluxo de Caixa de todo período tarifário. A adoção do
Fluxo de Caixa Descontado – FCD está em linha com o que a OFGEM define como temas
chave7::

“Temas-chave:

Incentivos para investimento e eficiência;

Qualidade de servico;

Responder ao desafio posto pelos objetivos do Governo para energias
renovaveis.
A modelagem financeira empregada pela OFGEM mostra que tais propostas são
consistentes com uma situação onde todas as companhias possam manter uma taxa
de crédito confortavel com relação ao investimento a ser realizado. Para melhorar a
posição financeira da EDF-SPN, as propostas incorporam duas mudanças específicas
com relação a empresa: o fornecimento de receitas adicionais e mudança do seu
fator X para a meta da receita nos anos em que for mais necessário.”8

Além disso, a revisão da metodologia empregada pelo Regulador no 4º Ciclo com


manutenção para o 5º Ciclo foi concebida objetivando assegurar o investimento e fornecer
melhor qualidade de serviço, como explicitado no trecho abaixo. 9

“Essa revisão foi concebida para assegurar e garantir investimento, fornecer


melhorias na qualidade de serviço e facilitar a conexão das redes de distribuição de
geração renovável, mantendo pressão nas empresas distribuidoreas para serem
eficientes e fornecer aos consumidores o valor pelo seu dinheiro.”10

Ou seja, o uso do Fluxo de Caixa Descontado atende o objetivo da OFGEM de incentivar o


investimento no setor e garantir o equilibrio econômico-financeiro da concessão, dado que
para a elaboração do mesmo, o Regulador analisa o plano de negócios da empresa
regulada.

Fazendo uma análise comparativa com a metodologia aplicada no 2º CRTP no Brasil, os


investimentos se configuraram efetivamente como um compromisso da distribuidora em

6
Office of Gas and Electricity Markets Productivity Improvements in Distribution Network Operators. Final Report submitted by
Cambidge Economic Policy Associates Ltd. November 2003. Page 4.
7
Electricity Distribution Price Control Review: Final Proposals - Office of Gas and Electricity Markets. OFGEM. November 2004.
8
Texto original em inglês: “Key Issues:
•incentives for investment and efficiency;
•quality of service;
•responding to the challenge raised by the Government’s objectives for renewable energy.
The financial modelling undertaken by Ofgem shows that these proposals are consistent with all companies maintaining a credit
rating comfortably within investment grade. To improve the financial position of EDF-SPN, these proposals incorporate two
specific changes in respect of that company only: the provision of additional revenue and a change to its X factor to target revenue
in the years in which it is most needed.”
9
Electricity Distribution Price Control Review: Final Proposals - Office of Gas and Electricity Markets. OFGEM. November 2004.
10
Texto original em inglês: “This review has sought to secure this investment, deliver a better quality of service and facilitate the
connection to distribution networks of renewable generation, whilst maintaining pressure on distribution companies to be efficient
and provide consumers with value for their money.”

15
realizá-los durante o ciclo tarifário. Com isso, no caso da não realização do mesmo há um
mecanismo da devolução da parcela não realizada no próximo ciclo, sendo ele
devidamente atualizado e remunerado pelo WACC.

Já para o 3º CRTP, a ANEEL propõe uma ruptura em relação ao conceito de EEF de todo o
ciclo. O procedimento de cálculo do reposicionamento tarifário que está sendo proposto
pela ANEEL tem a Receita Requerida do Ano 1 (primeiro ano do ciclo de revisão tarifária)
definido com base na aplicação de um Fator de Ajuste sob a Receita Requerida do ano
tarifário anterior ao início do ciclo. E para os 3 anos restantes do ciclo não se calcula mais
o Fluxo de Caixa Descontado. O Fator X proposto passou a ser definido com base na
produtividade histórica, deixando então o Regulador de observar questões relacionadas
com investimento futuro, além de outros custos futuros.

A Tabela a seguir apresenta um resumo comparativo das abordagens utilizadas pela


OFGEM (Reino Unido) e pela ANEEL (Brasil) no 2º e 3º Ciclo de Revisão Tarifária.

Reino Unido ANEEL 2CRTP ANEEL 3CRTP


Ano 1 – Receita
Requerida do
último ano do
Ano 1 – Receita
2CRTP com o
Requerida
Fator de Ajuste
(1-Pm)

Forma de Aplicação do Fluxo de Caixa Descontado de


Equilíbrio Econômico todo o período tarifário
Financeiro (EEF) (prospectivo)
Demais Anos do
Demais Anos do
Ciclo: Fluxo de
Ciclo: não será
Caixa Descontado
mais avaliado
(Fator X)

Uma das vantagens apontadas pelo Regulador para o uso da PTF está relacionada com a
“suposta” não necessidade de realização de projeção de mercado e investimento. No
entanto, na realidade a aplicação do PTF não exime o Regulador das incertezas inerentes a
definição de mercado e investimentos.

16
Na verdade para o investimento não existe incerteza, dado que o mesmo é um
compromisso assumido pela concessionária, e caso a mesma não o cumpra o devolve no
próximo ciclo.

E no que diz respeito a projeção de mercado, também no PTF ela segue sendo realizada,
pois assume que o comportamento futuro será semelhante ao histórico, o que também é
uma forma de projeção.

A discussão desenvolvida no presente tópico aponta que a mudança metodológica


proposta pela ANEEL deixa de lado a avaliação do equilíbrio econômico-financeiro do 3º
ciclo, pois não avalia a necessidade individual de investimento, bem como as
especificidades de cada concessão. O procedimento tarifário empregado durante o 2º Ciclo
estava em linha com a abordagem adotada pelo Regulador Inglês para a busca do EEF.

Já a proposta atual não avalia mais o equilíbrio econômico-financeiro regulatório de todo


ciclo tarifário de cada concessionária. Ao não utilizar mais o Fluxo de Caixa Descontado, o
Regulador deixa de analisar e incorporar especificidades e necessidades de cada
concessão de modo individual. Por exemplo, dentre as várias questões não analisadas
estão o volume de investimentos para expansão da rede e combate as perdas.

Por isso, com base no exposto, propõe-se que o Regulador continue utilizando para o 3º
CRTP a metodologia de fluxo de caixa descontado para o Fator X, incorporando todos os
aperfeiçoamentos que se julguem necessários.

3.5.2 Desconsideração da Heterogeneidade das Concessões

Um dos fatores não capturados adequadamente pela metodologia adotada pela ANEEL
para a apuração dos potenciais ganhos de produtividade é a heterogeneidade das
concessões.

O Brasil é um país com dimensões continentais e é atendido por 64 concessionárias de


distribuição de energia elétrica, sendo algumas estatais federais ou estaduais, outras
privadas, além das cooperativas enquadradas ou não como permissionárias.

A tabela a seguir apresenta as medidas de dispersão – média, desvio padrão, mínimo e


máximo – da área de concessão, quantidade de consumidores, do mercado de venda e da
extensão de rede.

17
Informação Área Unidades Consumidoras Mercado Rede

Desvio Padrão 234.173 1.499.847 9.250.099 77.500

Média 117.444 1.142.405 6.275.349 52.032

Máximo 1.247.703 6.690.019 39.965.878 455.440

Mínimo 49 2.299 10.511 47

Obs: Área em km2, Unidade de Consumidores em quantidade, Mercado em MWh e Rede em km

As especificidades brasileiras não se restringem apenas aos aspectos da área de concessão.


Há diferenças acentuadas também quanto à tipologia das redes elétricas, das quais
destacam-se:

• Distribuidoras conectadas ou não à rede básica;


• O número de conexões à rede básica é muito diferente entre as distribuidoras;
• Distribuidoras em Sistemas Isolados e que seu suprimento se dá por geração
hidráulica e por geração térmica conectadas diretamente à sua rede elétrica; e
• A participação relativa dos circuitos de alta-tensão, média-tensão e baixa-tensão se
diferencia consideravelmente entre as distribuidoras, assim como participação de
rede em área urbana e rural.

Além dos aspectos mostrados acima, há grande heterogeneidade também quanto às


características do mercado, tais como, concessão estritamente metropolitana, concessões
com altas taxas de expansão de investimentos, concessões mais maduras, concessões com
grandes problemas de perdas não técnicas, concessões que atendam grandes extensões
rurais, etc.

Adicionalmente, pela grande extensão do país, tem-se outros fatores que contribuem para
essa grande diferença entre as concessões, como as diversidades culturais e condições
climáticas. E todas essas especificidades afetam diretamente a gestão operacional da
concessionária e a necessidade de investimentos.

Entretanto, a proposta de componente PD é totalmente indiferente a qualquer uma das


especificidades mencionadas. Por exemplo, se em um determinado ano a CELPA –
concessão amazônica e com grande necessidade de expansão, a ELETROPAULO –
concessão metropolitana e mercado mais maduro, e a Light – concessão com grande

18
necessidade de combate as perdas não técnicas, tiverem o mesmo crescimento de mercado
e de consumidores o componente PD para elas será o mesmo.

A inclusão pela ANEEL da variável unidades consumidoras para essa segunda fase da AP
04 foi importante, mas ainda é insuficiente para o nível de heterogenidade do país.

Além dos pontos mencionados, os indicadores para melhoria da qualidade são totalmente
distintos entre as empresas, o que altera o volume de investimentos necessários. Outro
fator que altera sobremaneira os investimentos, especialmente com relação a renovação, é
a idade média dos ativos, que também é um parâmetro muito particular entre as
concessionárias.

É razoável supor que todas essas especificidades afetam diretamente a gestão operacional
da concessionária e a necessidade de investimentos, portanto as produtividades não
podem ser usadas de maneira indistinta para todas as empresas.

3.5.3 Instabilidade entre as Propostas da ANEEL

Conforme destacado anteriormente, uma base de dados robusta e consistente é um fator


crucial para que os modelos propostos pela ANEEL sejam aplicados para os fins
pretendidos, ou seja, para definição de tarifas.

Dessa forma, a consistência dos dados de insumos e produtos refletiria diretamente no


cálculo dos ganhos de produtividades potenciais. Os insumos utilizados para o cálculo dos
ganhos de produtividade foram Custo de Capital Virtual e Custo Operacional Real.

A metodologia de cálculo proposta para estimar o Custo de Capital virtual consiste de uma
simplificação de um processo de valoração dos ativos. Mesmo sendo uma simplificação,
esta não é uma tarefa trivial e erros na sua operacionalização podem distorcer os ganhos
de produtividade a serem estimados.

Em relação à apuração do Custo de Capital , a ANEEL adotou na 2ª Fase da AP nº 40 uma


metodologia totalmente distinta do que fez na 1ª Fase. Ou seja, em termos práticos, não se
trata de um aperfeiçoamento em relação à proposta anterior mas sim uma nova proposta.
A tabela abaixo dá exemplos fáticos da distinção entre as fases:

EMPRESA ANO CAPEX VIRTUAL 2 CAPEX VIRTUAL 1 Variação


AES SUL 2006 260.541.805,59 199.801.627,72 30,40%
AMPLA 2005 558.249.064,17 340.417.360,83 63,99%
BANDEIRANTE 2006 377.844.276,55 311.468.773,59 21,31%

19
CEB 2007 157.715.069,06 123.365.363,30 27,84%
CELESC 2003 598.000.533,84 398.342.018,23 50,12%
CELG 2004 287.554.051,92 232.267.653,06 23,80%
CELPE 2003 478.976.845,88 296.555.288,18 61,51%
CELTINS 2006 95.622.013,93 30.453.326,07 214,00%
CEMAR 2007 294.973.704,52 146.069.414,99 101,94%
CEMAT 2003 244.123.480,19 145.889.254,87 67,33%
CEMIG 2007 1.721.473.616,82 1.162.073.704,93 48,14%
COELBA 2007 831.698.772,99 637.153.127,23 30,53%
COELCE 2006 400.806.823,33 278.557.160,34 43,89%
COPEL 2008 828.372.426,52 613.672.859,05 34,99%
CPFL - Paulista 2007 784.667.599,56 660.338.185,57 18,83%
ELETROPAULO 2006 1.685.289.849,94 1.411.073.352,52 19,43%
ENERSUL 2003 273.805.902,35 165.747.318,36 65,19%
LIGHT 2003 1.536.089.769,02 1.025.060.361,91 49,85%

Observa-se que a tabela apresenta variações bastante relevantes em 18 empresas


distintas, o que já seria suficiente para caracterizar como uma questão generalizada. Mas,
de fato, tais variações ocorrem para a grande maioria das empresas, o que acentua ainda
mais a preocupação.

Em termos de diagnóstico global, a mesma comparação apresentada anteriormente pode


ser resumida conforme tabela abaixo:

Descrição (C.C. Fase 2)/(C.C Fase 1) – 1


(1) Maior Variação Negativa (Copel) -23,43%
(2) Variação Média 53,69%
(3) Maior Variação Positiva (Celtins) 214,00%
(4) Desvio Padrão das Variações 131,77%

C.C = Custo de Capital

Quando o Custo de Capital Virtual da 2ª Fase é comparado com o da 1ª Fase, tem-se que a
maior redução ocorreu com a Copel no ano de 2004, com uma redução de 23,43%. A
maior variação positiva, ou seja aumento de Custo de Capital Virtual entre as propostas,
ocorreu com a Celtins, um crescimento de 214%. A média das variações, somente pela

20
mudança de método, foi de 53,69%. O desvio padrão dessas variações foram de 131,77%,
o que confere uma elevada dispersão a estas variações.

Portanto, entende-se que, por prudência, uma metodologia utilizada com a finalidade de
definir tarifas deve ser aplicada com métodos e procedimentos consolidados. Assim,
reitera-se que não houve apenas um ajuste fino da proposta anterior, mas sim uma
completa reformulação da metodologia, que pôde ser verificada pela elevada instabilidade
nos resultados da 1ª e da 2ª Fase. Além disso, conforme será apresentado adiante, a
segunda proposta ainda apresenta inconsistências que comprometem sua aplicação.

3.5.4 Inclusão de Concessionárias que Pioraram a Qualidade no Cálculo da


Produtividade

A ANEEL definiu a Produtividade da Distribuição com base na média geométrica do índice


de Tornqvist e do índice de Malmquist. Os dois índices foram estimados com base nas
informações das 61 concessionárias de distribuição de energia elétrica.

O objetivo desse índice é refletir o ganho de produtividade médio do setor de distribuição.


No entanto, ao adotar esse critério de cálculo o Regulador está não somente penalizando
as concessionárias que investiram fortemente, mas também sinaliza em sentido contrário
dos preceitos do regime price cap.

A característica fundamental desse regime é o de possuir alto poder de incentivo,


estimulando e incentivando continuamente a busca por maior eficiência na gestão e
melhoria continua da produtividade. Ou seja, em linhas gerais objetiva que as
concessionárias busquem sempre operar da forma mais eficiente possível.

Cabe mencionar que somente o formalismo de realizar revisões tarifárias a cada 4 anos e
de o Regulador homologar as tarifas não caracteriza necessariamente um regime price
cap. Além dos aspectos formais, devem ser analisados também os pressupostos que estão
sendo atingidos. Por exemplo, pode-se citar o pressuposto do incentivo à operação
eficiente, que se dá por meio da definição de parâmetros de produtividade e eficiência
alinhavados com questões relacionadas à melhoria de qualidade do serviço prestado.

A incorporação de dados de concessionárias que pioraram níveis de qualidade é


incoerente com a regulação por incentivos, uma vez que o benchmarking a ser
estabelecido como referência para o setor de distribuição estaria sendo influenciado por
ganhos de produtividades fictícios, dado que esses resultaram da redução de
investimentos.

21
Além disso, esse procedimento não se encontra alinhado com propostas efetuadas pela
ANEEL para outros temas do 3º CRTP, como pode ser observado a seguir.

Na definição dos limites superior e inferior dos Custos Operacionais eficientes, como
transcrito na Fls. 34 da Nota Técnica nº 101/2011, o Regulador dá o seguinte tratamento:

“Como alternativa para tratar a reduzida eficiência média das concessionárias


de distribuição, a eficiência de cada concessionária, definida no Primeiro
Estágio, foi dividida pela eficiência média apenas das concessionárias que
obtiveram em 2009 eficiência superior à obtida de 2003-2008, ou seja, aquelas
que vem aprimorando sua gestão. A proposta busca evitar um prêmio exagerado
para empresas mais eficientes simplesmente porque algumas concessionárias não
estão acompanhando a evolução de eficiência do setor.” (grifo nosso)

Outro exemplo da busca pela eficiência e incentivo a melhoria da produtividade está


presente na definição da Estrutura Ótima de Capital constante na Fls. 19 da Nota Técnica
nº 95/2011-SRE/ANEEL, de 13/04/2011:

“... a metodologia proposta para o custo de capital regulatório não tem como objetivo
estabelecer parâmetros médios de eficiência. A estrutura ótima de capital
regulatória foi construída a partir da média das distribuidoras em razão de não
haver um método que demonstre qual distribuidora realiza uma estrutura de capital
ótima. Tem-se como pressuposto que as empresas buscam maximizar sua
eficiência (exceto as empresas retiradas da amostra) e a média seria uma boa
aproximação da estrutura de capital de eficiência máxima. Quanto aos
componentes de risco do custo de capital próprio, utilizar a média do histórico de
ativo livre de risco, betas, etc, não significa que se considera um parâmetro de
eficiência média.”(grffo nosso)

E também no tratamento das perdas não técnicas e definição do bechmarking a busca pelo
ôtimo e eficiente é levada em consideração. Transcrevendo a Fls. 24 da Nota Técnica nº
0031/2011-SRE/ANEEL, de 18 de fevereiro de 2011 temos que:

“87. Uma vez definidas as posições das concessionárias em cada ranking de


complexidade socioeconômico pode-se concluir que empresas com perdas não-
técnicas menores e em áreas de concessão identificadas como de maior ou
igual complexidade socioeconômica são mais eficientes e, portanto, referências
para as demais.” (grifo nosso)

No entanto, o mesmo tratamento não é dado para no caso do procedimento de cálculo da


componente de produtividade da distribuição PD. A produtividade média da distribuição
foi calculada com base na produtividade tanto de empresas que melhoraram quanto das
que pioraram a qualidade de serviço, procedimento desconectado com o que foi feito pela
ANEEL em outras metodologias que compõem o escopo do 3º CRTP e com o que
preconiza o price cap.

22
Na Fls. 28 da própria Nota Técnica nº. 093/2011-SRE/ANEEL, de 13/04/2011 o
Regulador em alguns trechos aponta a relação existente entre redução de
investimentos/despesas operacionais com a deterioração da qualidade de serviço.

“....o estudo apresentado na seção anterior demonstra a relação entre menores


investimentos e/ou redução de despesas operacionais e deterioração da qualidade do
serviço prestado. Em outras palavras, maiores ganhos de produtividade decorreram,
dentre outros fatores, em função da redução da qualidade do serviço.”

E enfatiza que:

“144. Nesse sentido, reforçamos nosso entendimento de que a metodologia de cálculo


do Fator X deveria incorporar mecanismos de incentivo à melhoria contínua da
qualidade do serviço prestado.”

No entanto, ao definir a produtividade média do setor com base também na produtividade


de concessionárias que tiveram deterioração dos níveis de qualidade o Regulador está
desestimulando aquelas que se dispuseram a investir fortemente e que, desse modo,
tiveram uma produtividade inferior.

Assim, do ponto de vista da regulação estabelecida em Lei para o setor de distribuição de


energia elétrica, o cálculo do Fator X como proposto pela ANEEL configura-se um conflito
porque eles não têm as características do price cap, especialmente em relação ao fraco
incentivo à eficiência operacional. O adequado é que a metodologia para cálculo do Fator X
incorpore questões associadas ao investimento e as especificidades da concessão.

3.5.5 Base de Dados Virtual (Insumos Virtuais)

Para o cálculo do Fator X a ANEEL definiu como insumo a Parcela B das distribuidoras e
como produto a energia faturada nos grupos de alta, média e baixa tensão.

Os valores da Quota de Reintegração e da Remuneração do Capital não podem ser


extraídos diretamente da contabilidade, dado que estão a valores históricos. Dessa
maneira, a solução adotada foi a de criar uma “Base de Remuneração Virtual”, a partir
dos valores da Base de Remuneração Regulatória definidos no 1º CRTP e 2º CRTP e dos
registros contábeis do Ativo Imobilizado em Serviço e das Obrigações Especiais.

De posse da Base de Remuneração Virtual, Bruta e Líquida, o Custo do Capital é calculado


da seguinte forma:

23
RLCVi : Remuneração Líquida Virtual no ano i;
BRRLVi-1 : Base de Remuneração Líquida Virtual no ano i-1;
DEPVi : Quota de Reintegração Virtual no ano i;
BRRBVi-1 : Base de Remuneração Bruta Virtual no ano i-1;
δ: Taxa Média de Depreciação das Instalações

A “Base de Remuneração Virtual” da ANEEL foi determinada conforme a figura abaixo:

Dados Disponíveis: Valores homologados para a Base de Remuneração Regulatória no 1º


CRTP e no 2º CRTP, saldos contábeis do AIS, saldo das obrigações especiais.

Período da Base de Remuneração Virtual: de 2003 a 2009.

Conforme apresentado na figura, a ANEEL partiu de quatro pontos para a determinação da


Base de Remuneração Virtual. Os pontos 2 e 3 referem-se a Base de Remuneração
homologada no 1º e 2º CRTP, respectivamete. Os pontos 1 e 4 referem-se a Base de
Remuneração Virtual em junho de 2003 e a Base de Remuneração Virtual em junho de
2009.

Base de Renuneração Virtual entre 1ª RTP (ponto 2) e 2ª RTP (ponto 3)

Uma vez que não existem bases homologadas entre revisões, a ANEEL estabeleceu bases
virtuais entre essas datas, mediante a interpolação dos valores homologados nos pontos 2
e 3, nos processos de revisão tarifária. Essa interpolação nada mais é do que aplicação de

24
um crescimento geométrico constante nos meses entre o 1º CRTP e o 2º CRTP, de forma
que o ponto de partida e o de chegada sejam preservados e que correspondam aos valores
homologados.

Com esse procedimento a ANEEL determinou a Base de Remuneração Virtual do período


entre revisões. Resta ainda, determinar a Base de Remuneração Virtual do período
compreendido entre 2003 e a 1ª RTP e entre 2009 e a 2ª RTP.

Base de Renuneração Virtual entre 1ª RTP (ponto 2) e 2003 (ponto 1) e entre 2ª RTP
(ponto 3) e 2009 (ponto 4)

Para se chegar no ponto (1) da figura, a ANEEL calculou a relação entre o Valor Novo de
Reposição (VNR), obtido no 1º CRTP, e o Valor Original Contábil (VOC) dos ativos na data
do 1º CRTP. Assim, o ponto (1) foi obtido pelo produto entre a relação mencionada e o
Valor Original Contábil dos Ativos em Junho de 2003.

De forma análoga, para calcular o ponto (4) a ANEEL calculou a Relação entre o Valor
Novo de Reposição, obtido no 2º CRTP, e o Valor Original Contábil dos ativos na data do 2º
CRTP. Assim, o ponto (4) foi obtido pelo produto entre a relação mencionada e o Valor
Original Contábil dos Ativos em Junho de 2009.

As equações abaixo demonstram como foram calculados os pontos (1) e (4):

Utilizando o mesmo processo mencionado anteriormente, a ANEEL interpola os pontos (1)


e (2) e os pontos (3) e (4). Dessa forma, obtém-se uma Base de Remuneração Bruta Virtual
para cada um dos meses dos anos desde Junho de 2003 até Junho de 2009.

O procedimento adotado é análogo para a determinação das Obrigações Especiais.


Basicamente, utiliza-se o Valor Novo de Reposição destas para a data da revisão tarifária
para os outros dois pontos aplica-se a relação VNR /VOC das Obrigações Especiais na data
da RTP aos saldos contábeis das obrigações especiais na data que se deseja encontrar o
Valor Novo de Reposição.

25
A Base de Remuneração Virtual líquida é obtida deduzindo-se a depreciação virtual da
Base de Remuneração Bruta Virtual. A Depreciação Virtual é a soma da depreciação do
VNR RTP mais a depreciação equivalente dos meses entre a RTP e o período que se deseja
encontrar a depreciação virtual. Aplicando-se este procedimento a ANEEL determina os
quatro pontos, que se referem à Base de Remuneração Virtual Líquida. De maneira
análoga, a ANEEL faz a interpolação desses quatro pontos, partindo-se de junho de 2003 e
chegando em junho de 2009, passando, na maioria dos casos, pelas datas da 1º CRTP e 2º
CRTP.

Uma vez obtidas as bases de remuneração bruta e líquida virtuais, se obtem, conforme
fórmula a seguir, a Remuneração do Capital e a Quota de Reintegração, que serão
utilizados como insumos integrantes da Parcela B. Essa parcela é utilizada na apuração dos
ganhos de produtividade do período 2003 a 2009, donde se determina o componente PD
proposto pela ANEEL na 2ª Fase da AP:

RLCVi : Remuneração Líquida Virtual no ano i;


BRRLVi-1 : Base de Remuneração Líquida Virtual no ano i-1;
DEPVi : Quota de Reintegração Virtual no ano i;
BRRBVi-1 : Base de Remuneração Bruta Virtual no ano i-1;
δ: Taxa Média de Depreciação das Instalações

Portanto, tanto a Remuneração do Capital quanto a Quota de Reintegração utilizados pela


ANEEL na apuração do componente PD advém da base de remuneração virtual. Ou seja,
aproximadamente 60% da Parcela B (remuneração + quota) não representam
necessariamente a realidade, pois foram obtidos com bases em hipóteses controversas
além de, conforme mostra-se adiante, terem sido cometidos erros que comprometem e
alteram substancialmente os resultados.

3.5.6 Erros na Base de Dados

O presente tópico tem por objetivo apresentar os erros identificados na base de dados
utilizada, bem como nos procedimentos adotados para apuração da base de dados virtuais.
Desse modo, os seguintes tópicos são abordados:

• Consistência da Base de Remuneração Virtual;

26
• 1ª RTP - BRR Homologada com Geração + Distribuição versus 2ª RTP - BRR
Homologada com Distribuição;
• Valores Equivocados de Bases de Remuneração Homologadas;
• A Relação VNR/VOC;
• Depreciação das Adições;
• Depreciação de Bens 100% Depreciados.

Consistência da Base de Remuneração Virtual

A apuração da Base de Remuneração Virtual a que se propõe a Agência não é trivial, tanto
que em cada ciclo tarifário uma empresa credenciada pela Agência deve avaliar os ativos
da concessionária. Essas avaliações não costumam ser simples, demandam muito esforço
operacional, possuem custos consideráveis, mas é a única forma de se apurar o Valor Novo
de Reposição dos Ativos de forma adequada (conforme metodologia definida para apurar
a Base de Remuneração Regulatória).

Assim, antes de se avaliar o método e as considerações utilizadas pela ANEEL para sua
apuração é conveniente que seja feita uma análise de consistência dessa base virtual.

Esta análise é importante pelo fato de que o método utilizado para apuração do Custo de
Capital consiste de uma simplificação de uma das etapas mais complexas de uma revisão
tarifária, a determinação do Valor Novo de Reposição e do Valor de Mercado em Uso dos
Ativos. Dessa forma, o somatório de considerações e simplificações podem tornar os
resultados obtidos incoerentes.

A tabela abaixo apresenta o Custo de Capital Virtual (Remueração do Capital + Quota de


Reintegração) apurado pela ANEEL para algumas concessionárias.

Ano n/Ano Custo de Capital Custo de Capital Variação de Custo de


Código
n-1 Ano n-1 Ano n Capital
ADESA 2005/2004 146.579.554,57 122.967.054,10 -16,11%
ELETROPAULO 2008/2007 1.657.318.872,55 1.343.548.852,83 -18,93%
ESCELSA 2004/2003 387.463.119,65 327.364.332,87 -15,51%
COPEL 2004/2003 675.561.988,41 571.753.597,34 -15,37%
CAIUÁ 2004/2003 32.234.459,48 26.431.663,30 -18,00%

De acordo com os exemplos apresentados, observa-se que a ANEEL calculou Custo de


Capital virtual com variações anuais superiores a 15%. Por exemplo, no caso da
Eletropaulo houve uma redução no Custo de Capital Virtual, entre 2008 e 2007, de
aproximadamente R$ 300 milhões, ou seja, uma redução significativa e incoerente.

27
Conforme será mostrado adiante, esses resultados incoerentes são causados por
equívocos na apuração da Base de Remuneração Virtual.

A tabela abaixo mostra como variou de um ano para o outro a Base de Remuneração
Líquida Virtual para algumas empresas:

Variação
Anos de Base
Código Empresa
Variação Liquida
(%)
D01 AES SUL 2009/2008 -20,96%
D02 AMAZONAS 2004/2003 -18,25%
D02 AMAZONAS 2005/2004 -18,25%
D04 BANDEIRANTE 2008/2007 -10,14%
D04 BANDEIRANTE 2009/2008 -14,92%
D05 BOA VISTA 2004/2003 -10,13%
D05 BOA VISTA 2005/2004 -10,13%
D06 CAIUA 2004/2003 -23,07%
D06 CAIUA 2009/2008 -20,21%
D08 CEAL 2004/2003 -13,25%
D08 CEAL 2005/2004 -13,25%
D09 CEB 2004/2003 -17,50%
D10 CEEE 2004/2003 -14,80%
D11 CELESC 2004/2003 -13,87%
D12 CELG 2004/2003 -11,17%
D12 CELG 2005/2004 -11,17%
D14 CELPE 2004/2003 -10,30%
D15 CELTINS 2004/2003 -17,48%
D16 CEMAR 2004/2003 -12,16%
D16 CEMAR 2005/2004 -12,16%
D18 CEMIG 2009/2008 -16,06%
D19 CEPISA 2004/2003 -14,12%
D19 CEPISA 2005/2004 -14,12%
D22 CFLO 2004/2003 -11,15%
D22 CFLO 2009/2008 -22,15%
D23 CHESP 2004/2003 -14,13%
D24 JAGUARI 2009/2008 -13,69%
D26 SANTACRUZ 2005/2004 -11,89%
D26 SANTACRUZ 2006/2005 -11,89%
D26 SANTACRUZ 2007/2006 -11,89%
D26 SANTACRUZ 2008/2007 -13,91%
D26 SANTACRUZ 2009/2008 -17,80%
D27 CNEE 2004/2003 -19,07%

28
D32 COPEL 2004/2003 -23,20%
D34 CPEE 2009/2008 -13,63%
D35 PIRATININGA 2008/2007 -10,54%
D35 PIRATININGA 2009/2008 -15,82%
D36 CPFL 2009/2008 -16,05%
D41 EEVP 2004/2003 -23,91%
D41 EEVP 2009/2008 -20,68%
D42 BRAGANTINA 2004/2003 -17,93%
D43 JOÃO CESA 2004/2003 -13,82%
D44 URUSSANGA 2004/2003 -25,06%
D45 ELEKTRO 2009/2008 -10,76%
D47 ELETROCAR 2004/2003 -13,73%
D47 ELETROCAR 2005/2004 -13,73%
D48 ELETROPAULO 2008/2007 -27,51%
D48 ELETROPAULO 2009/2008 -29,36%
D50 EMG 2004/2003 -12,13%
D54 ESCELSA 2004/2003 -19,45%
D58 IGUAÇU 2004/2003 -22,20%
D63 SULGIPE 2004/2003 -16,67%

É importante destacar que só existem duas possibilidades de redução de Base de


Remuneração Líquida. A primeira possibilidade, e a de maior impacto, consiste na
depreciação da Base de Remuneração Bruta. A outra hipótese, que pode ser
desconsiderada, dado seu baixo impacto, é a baixa de bens individuais que ainda possuem
vida útil.

Em termos práticos, considerando que em média a BRRL representa algo em torno de 50%
(0,5) da base bruta, a depreciação anual típica do setor de distribuição de 4,5% a.a. tende a
reduzir a BRRL em aproximadamente 9% (=4,5%/0,5).

Portanto, uma redução de 10% na base líquida significaria que a concessionária não
realizou praticamente nenhum investimento naquele ano. Não realizar qualquer
investimento é incoerente para a realidade das concessões de distribuição no Brasil, que
têm expansão do mercado e de clientes acima de 3%, sem contar por exemplo os
investimentos em melhoria da qualidade e de combate às perdas não técnicas.

O fato de empresas como Celtins e Cemar, que possuem uma forte expansão de ativos e
clientes, apresentarem reduções superiores a 10% de toda sua Base de Remuneração
Líquida, remete a sérias inconsistências nos dados utilizados para o cálculo dos potenciais
ganhos de produtividade das empresas, o que compromete qualquer resultado obtido.

29
De acordo com os dados apurados pela ANEEL, a Eletropaulo teve uma redução de
48,79% na sua Base de Remuneração Líquida Virtual de 2007 até 2009. Este resultado
não é consistente com a realidade e indica problemas na base de dados ou na metodologia
utilizada. A tabela abaixo ilustra a variação de Base Bruta entre dois anos para algumas
empresas:

Variação
Anos de
Código Empresa Base Bruta
Variação
(%)
D02 AMAZONAS 2004/2003 -8,47%
D02 AMAZONAS 2005/2004 -8,47%
D06 CAIUA 2004/2003 -6,55%
D15 CELTINS 2004/2003 -6,01%
D26 SANTACRUZ 2005/2004 -6,46%
D26 SANTACRUZ 2006/2005 -6,46%
D26 SANTACRUZ 2007/2006 -6,46%
D27 CNEE 2004/2003 -6,27%
D41 EEVP 2004/2003 -6,48%
D42 BRAGANTINA 2004/2003 -6,68%
D43 JOÃO CESA 2004/2003 -5,57%
D44 URUSSANGA 2004/2003 -13,61%
D54 ESCELSA 2004/2003 -6,37%
D58 IGUAÇU 2004/2003 -6,64%

Várias empresas tiveram redução na Base de Remuneração Bruta Virtual superior a 5% de


um ano para o outro. Contudo, esse resultado é incoerente quando se considera que a
realidade brasileira predominante é de expansão do atendimento dos serviços de
distribuição. Assim, os resultados encontrados não possuem relação com a realidade e,
novamente, remete a problemas.

Dessa forma, é importante destacar que para um trabalho dessa importância, que poderá
afetar o equilíbrio econômico financeiro das distribuidoras, faz-se necessário uma base de
dados confiável, estabilizada, extraída de uma contabilidade regulatória implantada e
consolidada.

Para boa parte das informações utilizadas não há uma garantia de confiabilidade suficiente
frente a relevância da sua utilização. Ainda que as informações fossem consistentes,
qualquer metodologia, que não seja avaliação dos ativos, adotará simplificações que
distorcem os resultados de maneira imprevisível. Uma prova disso foram as relevantes
incosistências apontadas nas análise apresentadas anteriormente.

30
1ª RTP - BRR Homologada com Geração + Distribuição versus 2ª RTP - BRR
Homologada com Distribuição

O componente PD do Fator X representa os potenciais ganhos de produtividade do setor de


distribuição de energia elétrica. Logo, os insumos e os produtos utilizados para estimação
destes ganhos devem ser associados somente ao negócio de distribuição de energia
elétrica.

Com relação à produtividade associada à distribuição de energia elétrica (PD) a Agência


pontua no parágrafo 46 da Nota Técnica nº 093/2011-SRE/ANEEL:

“Os custos possuem três componentes bem definidos: Custos Operacionais,


Depreciação e Remuneração. Os custos operacionais são extraídos
diretamente da contabilidade, levando-se em conta os custos que apresentam
natureza tarifária, ou seja, similaridade com os custos operacionais eficientes
a serem definidos nos processos de revisão tarifária”. (Grifo nosso)

No parágrafo 58 Nota Técnica n° 093/2011-SRE/ANEEL a agência ressalta novamente a


natureza dos custos que devem ser considerados para apuração da produtividade:

“Como o foco das simulações são somente os custos com distribuição de


energia elétrica, foram excluídos os custos com Geração (615.01.X.X.XX),
Transmissão (615.02.X.X.XX) e Atividades Não Vinculadas à Concessão
(615.06.X.X.XX)”. (Grifo Nosso)

Dessa forma, com base nos argumentos apresentados pela ANEEL verifica-se que a
produtividade procurada relaciona-se somente ao negócio de distribuição de energia
elétrica. Para tanto, os insumos que devem ser considerados devem estar associados à
distribuição de energia elétrica.

No insumo Custo Operacional a ANEEL utilizou somente as contas contábeis associadas ao


negócio de distribuição de energia elétrica, conforme já verificado no parágrafo 58 da Nota
Técnica n° 093/2011-SRE/ANEEL.

Entretanto, com relação ao Custo de Capital verifica-se um equívoco. Até 2004 os


segmentos de Geração, Transmissão e Distribuição poderiam estar numa mesma
concessionária, ou seja, poderiam atuar de forma verticalizada. A Lei nº 10.848/2004
impediu a atuação verticalizada, tendo as concessionárias a obrigtoriedade de segregar a
distribuição dos demais segmentos. Como várias revisões do 1º ciclo ocorreram antes da
concretização da desverticalização, várias empresas tiveram os ativos de todos os seus
segmentos avaliados (Geração, Transmissão e Distribuição).

31
Dado que o objeto do estudo é a apuração da produtividade do setor de distribuição de
energia elétrica, não faz sentido que dados de geração ou transmissão estejam agregados à
análise.

No entanto, ao utilizar os dados do 1º CRTP, para apurar o Custo de Capital Virtual dos
anos de 2003 até 2009, a ANEEL não retirou o correspondente valor dos ativos de geração
de várias empresas que atuavam de forma verticalizada à época.

A tabela abaixo mostra os valores homologados na 1º CRTP pela ANEEL, separados


conforme a sua finalidade, e também o que está sendo utilizado pela ANEEL para o seu
cálculo do componente PD.

32
Geração Considerada
BASE DE REMUNERAÇÃO REGULATÓRIA ANEEL AP 40
na Base de Dados da
BRUTA 1º CRTP - 2ª Fase
ANEEL
Empresa Base de
BRRB
BRRB BRRB Total Remuneração
Distribuição (E)=(D)-(A)
Geração (B) (C)=(A)+(B) Bruta ANEEL
(A)
(D)
AMPLA 2.596.282.181 119.031.005 2.715.313.186 2.715.313.186 119.031.005
CAIUÁ 186.149.482 9.477.362 195.626.844 195.626.844 9.477.362
CEB 1.256.844.378 55.117.671 1.311.962.050 1.311.962.050 55.117.671
CELESC 2.998.527.850 91.789.394 3.090.317.244 3.090.317.289 91.789.439
CELPA 1.310.307.779 220.414.164 1.530.721.944 1.530.721.944 220.414.164
CELPE 2.467.873.732 8.059.588 2.475.933.321 2.475.933.321 8.059.588
CELTINS 665.200.557 239.042.413 904.242.970 904.242.970 239.042.413
CEMAT 899.728.981 430.126.631 1.329.855.612 1.329.855.612 430.126.631
CENF 71.810.591 24.947.168 96.757.759 96.757.759 24.947.168
EMG 498.156.799 68.350.263 566.507.062 566.507.062 68.350.263
COELBA 4.516.979.243 115.950.494 4.632.929.736 4.632.929.736 115.950.494
ELEKTRO 3.260.376.500 9.051.821 3.269.428.320 3.269.428.320 9.051.821
ENERSUL 1.494.098.025 110.630.617 1.604.728.642 1.604.728.642 110.630.617
ESCELSA 1.719.787.700 374.256.372 2.094.044.072 2.094.044.072 374.256.372
FORCEL 6.684.788 2.971.994 9.656.782 9.656.782 2.971.994
LIGHT 6.511.377.026 1.537.219.934 8.048.596.961 8.048.596.961 1.537.219.934
RGE 1.595.540.655 5.477.648 1.601.018.303 1.601.018.303 5.477.648
SANTA CRUZ 193.924.494 99.889.310 293.813.804 293.813.804 99.889.310
SANTA MARIA 91.334.640 5.571.201 96.905.841 96.905.841 5.571.201

Analisando-se a tabela, depreende-se que a ANEEL utilizou, na apuração da Base de


Remuneração Bruta Virtual, o Valor Novo de Reposição dos ativos de geração, pois os
valores da variável (C), que corresponde a Base de Remuneração Bruta dos ativos de
Distribuição e Geração no 1º CRTP, são exatamente os mesmos da varíavel (D), que são os
valores utilizados pela ANEEL para o cálculo dos ganhos de produtividades.

A variável (E) da tabela representa a Base de Remuneração Bruta dos Ativos de Geração
do 1º CRTP, que a ANEEL utilizou, de forma adicional e equivocada, no cálculo dos ganhos
de produtividades do setor de distribuição de energia elétrica.

A tabela abaixo mostra que o mesmo equívoco foi cometido no tocante à Base de
Remuneração Líquida.

33
Geração
BASE DE REMUNERAÇÃO REGULATÓRIA ANEEL AP 40 Considerada na
LÍQUIDA 1º CRTP - 2ª Fase Base de Dados
da ANEEL
Empresa
Base de
BRRL BRRL
BRRL Total Remuneração
Distribuição Geração (E)=(D)-(A)
(C)=(A)+(B) Bruta ANEEL
(A) (B)
(D)
AMPLA 1.423.798.887 13.786.405 1.437.585.292 1.437.585.292 13.786.405
CAIUÁ 70.771.563 1.695.822 72.467.384 72.467.384 1.695.822
CEB 454.461.424 13.230.887 467.692.311 467.692.311 13.230.887
CELESC 1.585.137.143 20.985.930 1.606.123.073 1.606.123.073 20.985.930
CELPA 770.117.244 59.402.923 829.520.167 829.520.167 59.402.923
CELPE 1.297.201.950 2.983.463 1.300.185.413 1.300.185.413 2.983.463
CELTINS 178.960.770 146.851.042 325.811.812 325.811.812 146.851.042
CEMAT 490.765.543 199.825.311 690.590.855 690.590.854 199.825.311
CENF 42.408.600 16.268.492 58.677.092 58.677.092 16.268.492
EMG 148.618.603 46.123.421 194.742.025 194.742.025 46.123.421
COELBA 1.988.886.595 44.689.140 2.033.575.735 2.033.575.735 44.689.140
ELEKTRO 1.601.012.884 646.280 1.601.659.165 1.601.659.165 646.280
ENERSUL 726.239.228 55.295.203 781.534.431 781.534.431 55.295.203
ESCELSA 821.445.600 107.003.384 928.448.984 928.448.984 107.003.384
FORCEL 2.359.816 193.175 2.552.991 2.552.991 193.175
LIGHT 3.808.479.135 512.115.082 4.320.594.217 4.320.594.217 512.115.082
RGE 831.724.227 1.287.530 833.011.757 833.011.757 1.287.530
SANTA CRUZ 54.585.764 77.086.220 131.671.984 131.671.984 77.086.220
SANTA MARIA 32.207.336 714.242 32.921.578 32.921.578 714.242

É importante destacar ainda que a ANEEL utilizou um procedimento distinto do


mencionado anteriormente na utilização da Base de Remuneração Regulatória do 2º CRTP.

Ainda que tenha havido a desverticalização dos segmentos de Geração, Transmissão e


Distribuição após 2004, algumas empresas com mercado inferior a 500 GWh/ano ainda
tem a prerrogativa de possuírem geração própria. Para estes casos a ANEEL utilizou
somente os valores do segmento de distribuição para os dados de base de remuneração do
2º CRTP.

34
O critério de excluir os dados de geração do 2º CRTP é acertado, uma vez que se deseja
apurar os ganhos de produtividade da distribuição. Além disso, em concordância com esse
procedimento a ANEEL procedeu a retiradas dos Custos Operacionais relativos ao
segmento de geração.

Utilizar dados de Custo de Capital de uma empresa verticalizada em um ponto (1º CRTP) e
dados com a empresa já desverticalizada no outro ponto (2º CRTP) é um equívoco que
confere às empresas ganhos de produtividades irreais.

O exemplo a seguir demonstra o aumento irreal de produtividade devido ao procedimento


adotado pela ANEEL.

No exemplo acima, quando os Custos de Capital da geração são considerados no ponto 1, a


empresa utiliza 10 unidades de insumo para produzir 2 unidades de produto, ou seja tem-
se uma relação produto/insumo de 0,2. No ponto 2, quando os Custos de Capital com
geração não são mais considerados, a empresa utiliza 8 unidades de insumo para produzir
2 unidades de produto, ou seja tem-se uma relação produto/insumo de 0,25. Dessa forma,
teria-se um ganho de produtividade de 25%.

De fato, no exemplo acima, os Custos de Capital do segmento de distribuição do ponto 1


para o ponto 2 não variaram, continuaram em 8 unidades. Os produtos também não
variaram, mantiveram-se em 2 unidades. Dessa forma, o ganho de produtividade do setor
nesse exemplo foi de 0%.

Portanto, é inequívoco que, considerar Custos de Capital com geração não é consistente
com uma metodologia que pretende calcular os potenciais ganhos de produtividade da

35
distribuição de energia.. Portanto, os dados relativos à base de remuneração dos ativos de
geração, do 1º CRTP, devem ser retirados para a apuração correta da produtividade PD.

Assim, solicita-se que os dados de geração das seguintes empresas sejam expurgados, com
o intuito de corrigir a base de dados: AMPLA, CAIUÁ, CEB, CELESC, CELPA, CELPE,
CELTINS, CEMAT, CENF, EMG, COELBA, ELEKTRO, ENERSUL, ESCELSA, FORCEL, LIGHT,
RGE, SANTA CRUZ e SANTA MARIA.

Valores Equivocados de Bases de Remuneração Homologadas

Após a conclusão dos processos revisionais do 2º CRTP algumas empresas apresentaram


recursos administrativos questionando os valores estabelecidos pela ANEEL para a Base
de Remuneração Regulatória, esse foi o caso de AMPLA e CPFL. A análise desses recursos
resultou em alterações nos valores do Custo de Capital Regulatório para estas empresas.
Além das mudanças provenientes de recurso administrativo, houve alteração posterior
nos valores de Base de Remuneração da Enersul do 1ºCRTP, por motivos de erro material.

No entanto, de modo equivocado, a ANEEL utilizou os valores anteriores aos definitivos na


base de dados utilizada em sua proposta de ganhos de produtividaddes (PD), ou seja, não
considerou os valores redefinidos posteriormente.

Assim, os dados a serem corrigidos são os que se mostram na tabela abaixo.

Dados
Dados Utilizados pela ANEEL
Descrição Homologados
na AP Nº40
no 1º CRTP
BRRB da AMPLA (*) 2.715.313.186,01 2.341.470.607,74
BRRL da AMPLA (*) 1.437.585.291,73 1.517.882.680,04
BRRB da ENERSUL (**) 1.604.728.641,89 1.339.690.173,62
BRRL da ENERSUL (**) 781.534.431,17 655.604.504,68
QUOTA DE REINTEGRAÇÃO CPFL
229.833.540,88 240.235.489,93
(***)
(*) Memorando Nº 268/2008 SFF-ANEEL
(**) RESOLUÇÃO HOMOLOGATÓRIA Nº 571 de 04/12/2007
(***) RESOLUÇÃO HOMOLOGATÓRIA Nº 443 de 03/04/2007

Portanto, os ganhos de produtividades devam ser calculados utilizando-se os valores finais


dos Custos de Capital regulatórios homologados para as empresas mencionadas.

36
A Relação VNR/VOC

Conforme explicitado anteriormente na apuração o custo de capital virtual, a ANEEL


utiliza a relação VNR(1º CRTP) /VOC(1º CRTP) aplicada ao saldo contábil de junho de
2003 para encontrar a Base de Remuneração Virtual em junho de 2003 e utiliza a relação
VNR(2º CRTP) /VOC(2º CRTP) aplicada ao saldo contábil de junho de 2009 para encontrar
a Base de Remuneração Virtual em junho de 2009.

Essa sistemática pode ser compreendida mais facilmente pela figura e pelas equações
abaixo:

Com relação a este procedimento, algumas considerações devem ser feitas.


Primeiramente, a sistemática de utilizar a relação VNR(RTP)/VOC(RTP) sobre o saldo
contábil na data que se deseja obter o VNR advém do fato de a contabilidade utilizar
valores históricos. Isto é mencionado pela Agência no parágrafo 47 da Nota Técnica nº
93/2011:

“47. Os valores de depreciação e remuneração não podem ser extraídos


diretamente da contabilidade. A principal razão é que os custos contábeis
estão valorados a custos históricos. A solução adotada foi considerar os
valores da Base de Remuneração Regulatória definidos no 1CRTP e 2CRTP.
Alguns ajustes se fizeram necessários no sentido de uniformizar a metodologia a ser
utilizada para definição do custo de capital no 3CRTP. Os detalhes a respeito do
cálculo serão apresentados a seguir. ” (Grifo nosso)

Assim, no entendimento da Agência, dada a brevidade do período, essa relação poderia ser
mantida e aplicada ao saldo contábil na data que se deseja obter o outro VNR dos ativos,
no caso específico junho de 2003 ou junho de 2009.

37
Ocorre que a sistemática proposta apresenta uma inconsistência de ordem conceitual.
Para estimar o valor do VNR de junho de 2003 e de junho de 2009, a relação VNR/VOC da
data da RTP não pode ser aplicada diretemente no saldo contábil da data pretendida
(VOC2003 VOC2009), uma vez que na contabilidade os registros estão em valores
históricos.

Tendo em vista que as contas do sistema contábil de qualquer empresa é um somatório de


registros de valores históricos (Incluindo-se VOC 2003 e VOC 2009), a razão VNR/VOC só
poderá ser utilizada em estudos que contemplem dados e variáveis relativos à data em que
foi apurada essa relação. Portanto, VNR/VOC é uma relação estática, no sentido de que
não pode ser transportada para qualquer outra data diferente daquela em que foi obtida.

Consequentemente, é equivocado utilizar a relação VNR/VOCRTP para qualquer definição


em junho/2003 e junho/2009.

O exemplo abaixo ilustra o equívoco cometido pela ANEEL e que está refletindo
fortemente na proposta de PD da 2ª Fase da AP nº 40.

Suponha, uma empresa possui um VOC(RTP) na data da 2ª RTP de R$ 50, um VNR(RTP) na


data da 2ª RTP de R$ 100, dessa forma, a relação entre VNR e VOC na data da 2ª RTP é de
2. Suponha também que da data da RTP até junho de 2009 não foi feita nenhuma adição e
nenhuma baixa contábil. Dessa forma, o VOC(RTP) na data da 2ª RTP permaneceu em R$
50. Adicionalente, suponha que da data da 2ª RTP até junho de 2009 houve uma inflação
de 20%.

Dessa forma, somente por efeitos de inflação o VNR(jun/09) deve ser de pelo menos o
VNR(RTP) atualizado pela inflação, dado que não houve adições ou baixas. Ou seja, um
VNR(RTP) de R$ 120. No entanto, pela metodologia proposta pela ANEEL, o VNR(jun/09)
seria o produto da relação VNR(RTP)/VOC(RTP) ao VOC(jun/09). Assim, o VNR(jun/09)
permaneceria em R$ 100.

38
Diante da análise apresentada verifica-se que a relação utilizada pela ANEEL ao saldo
contábil em junho de 2009 não pode ser feita da maneira proposta. Essa distorção ocorre
pelo fato de o saldo contábil em junho de 2009 estar a preços históricos. Quando o VNR foi
calculado na data da revisão todos os preços estavam na data da RTP.

O equívoco também pode ser evidenciado realizando-se algumas simulações a partir da


planilha da ANEEL que disponbiliza os valores utilizados no cálculo de PD.

Suponha, de modo análogo, que as concessionárias que passaram pela 2ª RTP em 2007
não realizaram quaisquer adições ou baixas entre 2007 e 2009. Desse modo, espera-se que
o VNR de 2009 dos ativos fosse o mesmo de 2007, ressalvados apenas pela atualização
monetária relativa à inflação do período.

A tabela abaixo mostra os resultados da planilha da ANEEL com essa simulação de não
fazer qualquer movimentação nos ativos entre 2007 e 2009.

(1) VNR
(2) VNR Virtual em
Código Empresa Data da RTP HOMOLOGADO 2º (2) - (1)
junho de 2009 (*)
CRTP (*)
D04 BANDEIRANTE 23/10/2007 3.682.147.508,63 3.313.539.619,50 -368.607.889,13
D13 CELPA 07/08/2007 2.385.554.032,98 2.097.505.335,00 -288.048.697,98
D30 COELCE 22/04/2007 3.799.797.713,36 3.289.242.487,08 -510.555.226,28
D35 PIRATININGA 23/10/2007 2.974.742.563,39 2.676.950.697,52 -297.791.865,87
D45 ELEKTRO 27/08/2007 5.851.114.058,19 5.144.609.085,81 -706.504.972,38
D48 ELETROPAULO 04/07/2007 16.675.166.939,11 14.518.765.918,35 -2.156.401.020,75
D54 ESCELSA 07/08/2007 2.779.122.718,29 2.443.551.748,42 -335.570.969,87
*Conforme procedimento constante na planilha da ANEEL, os valores estão referenciados a dez/2010.

Contudo, em vez de se esperar por um VNR corrigido pela inflação entre 2007 e 2009, a
planilha da ANEEL conduz equivocadamente para um resultado oposto. Em todos os casos
(concessionárias com RTP em 2007), a planilha da ANEEL calculou que o VNR de 2009 é
inferior ao que foi homologado dois anos antes 2ª RTP. Ou seja, sem qualquer
movimentação física e com inflação superior a 10%, em vez do Valor Novo do conjunto de
ativos sofrer a correção da inflação do período, a planilha da ANEEL calcula uma redução
generalizada desses valores novos. Por exemplo, o valor de novo dos ativos da Eletropaulo

39
em 2009 reduziriam R$ 2.156.401.020,75, o que representa aproximadamente 15% do
valor de 2007. Fator este que não faz sentido e reforça a relevância do erro apontado.

Esse equívoco não se deu apenas em uma concessionária, mas para todas elas, o que
caracteriza como um erro de procedimento.

Como demonstração definitiva desse equívoco, apresetam-se adiante os gráficos para o


VNR agregado dos ativos em junho/2003, na 1ª RTP, na 2ª RTP e em junho de 2009 para
todas as 61 empresas analisadas.

O primeiro gráfico mostra o resultado esperado em uma situação na qual não há qualquer
movimentação de ativos (adição ou baixas) nos períodos que estão fora de do período
[1CRTP;2CRTP].

VNR X MERCADO TOTAL

*Conforme planilha da ANEEL, o VNR dos pontos (1), (2), (3) e (4) estão valorados com referência
de Dezembro/2010.

A variação entre os pontos (2) e (3) existe em função dos valores homologados pela
ANEEL nas respectivas revisões tarifárias. Quantos aos períodos de fora ([1,2] e [3,4]),
uma vez que não foi feita qualquer movimentação de ativos, o VNR se mantém alterado. Ou
seja, qualquer procedimento estará correto se e somente se, em caso de não haver
qualquer movimentação dos ativos, não ocorrer variação no VNR entre ([1,2] e [3,4]).

No entanto, a Planilha da ANEEL conduz a resultado diverso e equivocado. O gráfico


abaixo mostra os resultados dessa planilha, ainda que não se faça qualquer movimentação
em ativos..

40
VNR TOTAL ANEEL X MERCADO TOTAL

*Conforme planilha da ANEEL, o VNR dos pontos (1), (2), (3) e (4) estão valorados com referência
de Dezembro/2010.

O gráfico mostra que a Planilha da ANEEL “criou” uma variação de VNR nos períodos [1,2]
e [3,4]. Porém, foi forçado nessa Planilha que não houvesse movimentação de ativos
(AIS_Contábiljunho/2003 = AIS_Contábil1RTP e AIS_Contábiljunho/2009 = AIS_Contábil2RTP). Ou seja,
a Planilha está equivocada em seus procedimentos.

O efeito do equívoco da utilização da relação VNR/VOC aos saldos contábeis é de criar


produtividades artificiais entre os pontos (1) e (2) e entre os pontos (3) e (4),
comprometendo toda a metodologia do Fator X.

Procedimento para Apuração da Base Virtual Fora do Período entre a 1ª e 2ª


RTP

A despeito dos questionamentos quanto à inconsistência de se utilizar uma base de dados


virtuais para definir tarifas e considerando o contexto da proposta da ANEEL da 2ª Fase da
AP nº 40, a base de remuneração virtual dos períodos fora do ciclo tarifário 1º CRTP-2º
CRTP deve ser determinada segundo o tratamento de ativos incrementais, em um
procedimento análogo ao que o Regulador adota na BRR.

O método consiste na blindagem da Base de Remuneração Regulatória Homologada, no 1º


CRTP ou no 2º CRTP, onde esta base será atualizada por inflação da data da revisão
tarifária até a data início (jun/03) ou a data fim (jun/09).

41
O incremental corresponde ao valor das adições contábeis verificadas de junho/2003 a
1ª RTP e da 2ª RTP a junho/2009.

Notadamente, essas adições estão a preços históricos foram realizadas entre a RTP e as
datas do extremo. Com isso, essas adições contábeis são distribuídas uniformemente ao
longo do período.

Uma vez distribuídas uniformemente, as adições mensais são devidamente atualizadas


pela inflação.

Finalmente, a adição total a valor novo de reposição de cada período ([junho/2003,1ª


RTP] e [2ª RTP,junho/2009]) é dada pelo somatório das adições mensais atualizadas pela
inflação.

A metodologia proposta pode ser equacionada da seguinte forma:

(1) VNR Blindado = VNR(RTP) x IGPM(data base) / IGPM(RTP)


(2) Adic. Contab. = (VOC(junho/09) - VOC(RTP)) / meses (data base até RTP)
(3) Adic. Contab. Mês = Adic. Contab. / Meses (data base até a RTP)

(4) VNR Adições =


(5) VNR(junho/09)=VNR Blindado + VNR Adições

Dessa forma, o VNR total na data base será a soma do VNR(RTP) atualizado e do VNR das
adições.

O exemplo abaixo ilustra melhor a metodologia proposta:

42
Com base no exposto, entende-se que a aplicação da relação VNR/VOC da RTP ao saldo
contábil da data que se deseja valorar o AIS é equivocada, uma vez que essa relação não se
mantém ao longo do tempo e não pode ser trasladada da data da revisão para junho/2003
ou junho/2009. Em contrapartida, blindar o VNR da RTP, atualizando-o pela inflação, e
posteriormente agregando-se as adições do período é adequado porque não comete
equívocos intertemporais e tem exatamente o princípio da metodologia de apuração da
BRR da ANEEL (Base de Remuneração = Base Blindada Atualizada + Adições
Atualizadas).

Depreciação das Adições

Outro equívoco encontrado na metodologia de apuração da Base de Remuneração Virtual


foi a não depreciação das adições ocorridas entre a RTP e a data base. De acordo com a
metodologia proposta anteriormente (Base de Remuneração = Base Blindada + Adições), a
segregação apresentada permite que as adições entre a data da RTP e a data base sejam
facilmente depreciadas corrigindo este equívoco.

Depreciação dos Bens 100% Depreciados

A apuração da depreciação a ser utilizada nos períodos fora do 1º CRTP e 2º CRTP é feito
da seguinte forma:

Depreciação (Junho-2003 ou junho-2009) = Atualização da Depreciação da Base


Homologada no último RTP(1ºRTP ou 2º RTP) + Depreciação do VNR do AIS
Homologado no último RTP (1ºRTP ou 2º RTP) da data do RTP até junho de 2003 ou
junho de 2009.

Ocorre que os bens 100% depreciados constam no VNR do AIS Homologado na última
RTP, dessa forma a metodologia da ANEEL está depreciando bens que já estão 100%
depreciados, algo equivocado. Dessa forma, a parcela de depreciação reduz, erroneamente,
a Base de Remuneração Líquida Virtual.

Portanto, sugere-se que os bens 100% depreciados sejam expurgados do VNR do AIS, de
forma a corrigir este equívoco.

43
3.5.7 É Irrelevante a Necessidade Individual de Investimentos ?

O investimento é uma das variáveis mais importantes no negócio e servico de distribuição


de energia elétrica, tanto que as concessionárias dispendem enorme dedicação na sua
definição e na viabilização dos recursos financeiros e materiais para concretizá-los.

A definição dos investimentos passa pela análise de diversos fatores, dentre os quais pode-
se citar: alcançar os índices de qualidade exigidos pelo Regulador, atingir a trajetória
regulatória de Perdas Não Técnicas definida na revisão tarifária períodica, atender ao
crescimento da demanda da concessão, expandir o setor para que novos consumidores
sejam agregados ao sistema elétrico, realizar a renovação dos ativos que estejam chegando
ao final da vida útil econômica, entre outros.

Além dos aspectos mencionados, o volume destes investimentos é afetado pelo custo da
mão-de-obra, do componentes menores e dos custos adicionais, que são bastante
particulares entre as concessões.

Quando as produtividades são calculadas sem levar em consideração esses aspectos, em


cada concessão individualmente, pode estar havendo confusão entre especificidades,
eficiências e ineficiências. E de modo mais preocupante, os métodos propostos não
permitem diagnosticar e controlar adequadamente tais confusões.

Dessa forma, calcula-se uma produtividade fortemente viesada para empresas que não
necessitam investir fortemente frente a empresas que tem esta necessidade, ou seja, a
metodologia é totalmente indiferente às particularidades das concessões.

É importante destacar, que os próximos anos serão caracterizados pela necessidade da


realização de vultosos investimentos no setor de infraestrutura do Brasil. Além dos
eventos esportivos, realização da próxima Copa do Mundo, em 2014, dos jogos Olímpicos
de 2016, o Brasil dará início à exploração do Petróleo da camada pré-sal e a execução da
segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2). Esses eventos
ocorrerão de maneira concomitante e serão indutores do crescimento econômico e do
desenvolvimento social do país, com impactos bastante diferenciados para cada
concessão.

Nesse cenário, é de se esperar que haja uma elevação do consumo de energia elétrica, em
função do aumento na ocupação das cidades, do aumento do emprego e da renda da
população e dos serviços em geral oferecidos aos turistas, portanto, os investimentos no
sistema elétrico são fundamentais para o êxito desses eventos.

44
Contudo, a metodologia proposta desincentiva a realização de investimentos, uma vez que
não traz qualquer impacto no componente PD. A consequência desse sinal regulatório
poderá ser a postergação de investimentos. Esse não é um bom sinal, pois os efeitos do
subinvesimento não se refletem no curto prazo, mas sim a médio e longo prazo.

Quanto aos possíveis efeitos causados por sinalizações regulatórias inadequadas, o Reino
Unido vivenciou essa experiência de subinvestimentos, provocada pela decisão de
precificar o negócio abaixo de seus custos eficientes e adequados. Fato semelhante
também ocorreu na Argentina.

Com relação ao tratamento dos investimentos no Fator X, um dos pontos que a ANEEL
alega mitigar com a atual proposta é o fenômeno da assimetria da informação, pois,
segundo a agência, o FCD como o utilizado no 1º e 2º CRTP utiliza projeções de
investimentos que, por isso, provocam muitos questionamentos e as concessionárias
estariam em posição favorável durante a discussão sobre tais projeções. Para fugir dessa
situação, a Agência está propondo utilizar somente dados realizados e concentrar a
discussão apenas no método mais apropriado.

No entanto, no 2º ciclo, a Agência praticamente eliminou os efeitos danosos de possíveis


assimetrias de informação com relação à projeção de investimentos. Esse entendimento
pode ser verificado no voto do processo 48500.001208/2006-37:

“2. Mais adiante eu dizia: “Uma maneira de influenciar no valor do Xe consiste


em, por exemplo, projetar um valor de investimento maior do que aquele que
será efetivamente realizado. Nesse sentido, a alternativa mais efeiciente para
minimizar os efeitos (de um Xe indevidamente menor) para o consumidor
seria, a cada ano seguinte ou no próximo ciclo tarifário, atualizar o Xe
considerando o volume efetivo de investimentos”.
3. Dizia isso porque o próprio processo de audiência pública nos alertava
quanto às vulnerabilidades da sistemática até então adotada e apontava
caminhos de solução, sendo o controle do investimento um deles. A ANEEL, no
primeiro e no segundo ciclo, tentava, por intermédio da SRD, executar o
controle de forma ex-ante, mas em um processo de discussão quase que
interminável, com o regulador sempre com informações incompletas.
Observou-se, ao longo do processo, que, no primeiro ciclo, de uma amostra de
44 empresas, 75% das distribuidoras realizaram investimentos, em média,
36% menores do que o projetado e apenas 25% investiram o planejado ou
mais, conforme mostrado no gráfico a seguir. Assim, a saída era encontrar um
incentivo, para que as informações quanto aos investimentos fossem as mais
próximas possíveis da realidade, o que será praticado da maneira que resumo
abaixo, mas que se encontra em detalhe na Nota Técnica nº 340/2008-
SRE/SRD/ANEEL, de 12/11/2008, complementada pela Nota Técnica nº
352/2008-SRE/ANEEL, de 21/11/2008”. (Grifo nosso)

45
Nesse sentido, o mecanismo proposto no segundo ciclo teve como objetivo maior mitigar o
efeito do subinvestimento, quando os investimentos regulatórios eram comparados com
os investimentos realizados. Dessa forma, a empresa teria o incentivo de fazer a sua
melhor estimativa de investimentos sob pena de devolver a diferença entre o proposto e
realizado por meio de um redutor da Parcela B.

Portanto, entende-se que, ao não se considerar a projeção de investimentos necessários


para cada concessão, privilegia-se concessões mais maduras em detrimento daquelas que
estão em acentuada expansão . Dessa forma, os riscos envolvidos na aplicação de um sinal
regulatório que incentiva o subinvestimento é temerário para um setor que necessita de
investimentos e que funcionará como catalisador do crescimento do país. Com relação a
assimetria de informação alegada pela agência no que tange à projeção de investimentos,
entende-se que esta foi mitigada com a metodologia proposta no 2º CRTP, onde o plano de
investimentos é declarado pela própria concessionária, com devolução caso não seja
cumprido o compromisso assumido.

3.5.8 Não Aborda o Equilibrio Econômico Financeiro da Concessão (TIR


Regulatória x WACC Regulatório)

A metodologia do Fator X deve estar pautada em seus aspectos conceituais intrínsecos.


Com relação a estes aspectos, a manutenção do equilíbrio econômico financeiro da
concessão ao longo do ciclo tarifário é um dos seus objetivos precípuos. Esse objetivo, que
deve ser preconizado pelo regulador, é abordado de maneira exaustiva em documentos
emitidos pela agência e na própria Nota Técnica nº 93/2011.

Este item do documento tem por intuito analisar se este objetivo realmente está sendo
atendido na atual proposta.

Com relação aos aspectos conceituais do Fator X, o regulador pontua alguns deles no
terceiro slide da apresentação de proposta de aperfeiçoamento do Fator X da AP do 2º
CRTP:

• “No momento da RTP a ANEEL define: Custos de Capital e Custos Operacionais


necessários para prover um volume de energia aos clientes da área de concessão;
• A definição destes termos resulta no que chamamos equilíbrio econômico da
concessão;
• O objetivo do Fator X é corrigir de forma adequada a tarifa ao longo do ciclo
tarifário de modo a garantir que o equilíbrio econômico definido no momento
da revisão tarifária se mantenha; (grifo nosso”)

46
Na Nota Técnica nº 350/2007-SRE/ANEEL o Regulador pontua:

“6. Basicamente o Fator X tem por objetivo garantir que o equilíbrio estabelecido
no momento da revisão tarifária se mantenha ao longo do ciclo tarifário. Para isso
ele deve contemplar a evolução da Parcela B da concessionária nos anos seguintes ao da
revisão tarifária, envolvendo:
• Remuneração e depreciação da base de remuneração regulatória,
considerando-se os investimentos previstos; e (grifo nosso)
• Cobertura dos custos operacionais eficientes.”

Em vários outros pontos da Nota Técnica nº 93/2011 a Agência reitera que um dos
objetivos do Fator X é manter o equilíbrio regulatório entre receitas e despesas das
concessões:

“15. O Componente “P” estimaria os ganhos potenciais de produtividade da


Parcela B, de modo a garantir que o equilíbrio entre receitas e despesas
eficientes, estabelecido no momento da revisão tarifária se mantivesse ao
longo do ciclo tarifário.” (Grifo nosso)
“132. Conforme discussão em Anexo, o objetivo do Fator X é garantir que o
equilíbrio econômico e financeiro definido na RTP se mantenha nos reajustes
subsequentes do ciclo tarifário correspondente. O Fator X é utilizado como
redutor do IGP-M na atualização do valor da Parcela B nos reajustes tarifários
anuais. Nos reajustes, a Parcela B corresponde à parcela remanescente da receita
anual da concessionária, verificada nos últimos dozes meses, após dedução dos custos
com compra e transporte de energia, além dos encargos setoriais.” (Grifo nosso)
“171. Conforme discutido, o Fator X tem por objetivo principal garantir que o
equilíbrio entre receitas e despesas eficientes, estabelecido no momento da
revisão tarifária, se mantenha ao longo do ciclo tarifário. O Fator X é utilizado
nos reajustes tarifários para corrigir o valor da Parcela B. Assim, o objetivo
perseguido na definição do Fator X é de estimar os ganhos potenciais de
produtividade da Parcela B, que será definido pelo Componente Pd.” (Grifo nosso)
“195. Assim, na revisão tarifária há a redefinição do equilíbrio entre receitas e
despesas, considerando na formação das despesas os novos padrões de produtividade
exigidos pelo órgão regulador. O Fator X tem por objetivo principal garantir que
o equilíbrio estabelecido no momento da revisão tarifária se mantenha ao
longo do ciclo tarifário.” (Grifo nosso.)

Como pôde ser verificado, em vários trechos da Nota Técnica nº 93/2011 a Agência
ressalta a importância do Fator X no equilíbrio econômico financeiro das concessões, no
entanto, a aplicação do componente PD da forma proposta simplesmente ignora esse
equilíbrio preconizado, uma vez que desconsidera a necessidade de investimentos de cada
concessionária.

Dessa forma, a metodologia proposta para o 3º CRTP não pode se afastar de aspectos
conceituais imprescindíveis. Conforme mencionado pelo próprio regulador um dos

47
pressupostos da utilização do Fator X nos reajustes tarifários é a manutenção da
rentabilidade regulatória estabelecida para o ciclo tarifário. Assim, é natural que no
decorrer do ciclo haja um descolamento entre receitas e despesas, dado que há economias
de escala no negócio de distribuição de energia. Assim, com o FCD as receitas e despesas
regulatórias são projetadas e o Fator X é o índice que ajusta a receita e faz com que o VPL
das receitas seja igual ao VPL das despesas, garantindo a rentabilidade regulatória
constante e repassando ao consumidor os efeitos destas economias de escala.

Assim, é conveniente analisar se na metodologia proposta pela ANEEL a receita


regulatória é suficiente para cobrir todas despesas regulatórias (Custos Operacionais
Regulatórios, Custo com Capital, Receitas Irrecuperáveis ao longo do ciclo tarifário).

Para a realização desse exercício foram aplicadas todas as metodologias propostas pela
ANEEL para o 3º CRTP e foi feito um Fluxo de Caixa Descontado regulatório. Nesse fluxo
de caixa regulatório são utilizados os mesmos dados primários do FCD do 2º CRTP
(investimentos, mercado, base de remuneração e consumidores) e para cada ano foi
aplicada a metodologia proposta pela ANEEL.

Para os Custos Operacionais utilizou-se o valor resultante da Etapa 2 da metodologia


ANEEL.

Para o FCD mencionado foi calculado um Fator X, segundo metodologia proposta para o 3º
CRTP, e aplicado como um percentual redutor da receita para cada ano do ciclo tarifário.

Nessa situação, o Fator X, na sua componente PD para as concessionárias do Grupo


Neoenergia seria:

Empresa PD
Coelba 2,09%
Celpe 2,35%
Cosern 2,35%

Conforme apresentado na equação abaixo, a TIR regulatória deverá ser o valor que torna
esta expressão verdadeira.

BRL = Base de Remuneração Líquida.


Inv = Investimentos ao longo do ciclo tarifário.

48
EBITDA reg = Parcela B- Receitas Irrecuperáveis - Custos Operacionais - Anuidades.
n= Último ano do ciclo tarifário;
TIR reg = Taxa Interna de Retorno que iguala as duas parcelas da equação.

A seguir são detalhados os cálculos para cada uma das concessionárias:

Coelba:

Descrição Pré ano teste ano-teste a+1 a+2 a+3 a+4


EBITDA Regulatório (R$) 544.675.300 561.306.356 570.702.724 584.278.766 595.503.081
Investimentos (R$) -380.413.226 -380.413.226 -380.413.226 -380.413.226 -380.413.226
Base Líquida (R$) -2.701.955.529 3.256.707.283

Fluxo de Caixa (R$) -2.701.955.529 164.262.075 180.893.131 190.289.499 203.865.540 3.471.797.138

TIR Regulatória 10,32%


WACC Regulatório 11,47%
WACC - TIR Regulatória 1,15%

Celpe:

Descrição Pré ano teste ano-teste a+1 a+2 a+3


EBITDA Regulatório 333.293.311 338.995.896 345.768.580 352.243.394
Investimentos -217.555.000 -217.555.000 -217.555.000 -217.555.000
Base Líquida -1.662.587.569 1.898.970.312

Fluxo de Caixa (R$) -1.662.587.569 115.738.311 121.440.896 128.213.580 2.033.658.706

TIR Regulatória 10,51%


WACC Regulatório 11,47%
WACC - TIR Regulatória 0,96%

Cosern:

Descrição Pré ano teste ano-teste a+1 a+2 a+3 a+4


EBITDA Regulatório (R$) 118.050.704 120.153.155 123.668.273 127.295.840 130.894.562
Investimentos (R$) -78.815.707 -78.815.707 -78.815.707 -78.815.707 -78.815.707
Base Líquida (R$) -575.551.250 673.427.410

Fluxo de Caixa (R$) -575.551.250 39.234.997 41.337.448 44.852.566 48.480.133 725.506.265

49
TIR Regulatória 10,50%
WACC Regulatório 11,47%
WACC - TIR Regulatória 0,97%

Conforme apresentado na tabela a TIR regulatória calculada foi sistematicamente inferior


ao WACC regulatório, isto fere frontalmente o contrato de concessão, pois não é garantido
no ciclo tarifário o equilíbrio estabelecido no momento da revisão. A alternativa que a
empresa possui para igualar a TIR regulatória ao WACC regulatório é de reduzir seus
investimentos conforme apresentado na tabela abaixo:

Redução
Empresa
Investimentos (%)

Coelba 31%
Celpe 31%
Cosern 27%

Portanto, além de trazer um desequilíbrio econômico financeiro, ferindo o contrato de


concessão, a proposta da ANEEL não é isonômica, uma vez que trata empresas com
diferentes características da mesma maneira. Notadamente, as necessidades de
investimentos são muito diferentes entre empresas que apresentam o mesmo crescimento
de mercado e de consumidores. Quando a ANEEL propõe a extinção do Fluxo de Caixa
Descontado e desconsidera os investimentos necessários para cada concessão
individualmente, a rentabilidade regulatória não é atingida, gerando desequilíbrio
econômico financeiro. Dessa forma, o princípio basilar da relação contratual relativo ao
equilíbrio econômico financeiro é quebrado.

4. Proposta da Concessionaria

Independentemente da discussão acerca da alternativa metodológica, a proposta da


ANEEL apresenta erros de ordem material, que precisam ser corrigidos. Estes erros são
apresentados abaixo:

• Utilização dos ativos de geração para apuração do Custo de Capital Virtual;


• Aplicação da VNR/VOC da RTP ao invés de tratar separadamente base blindada e a
incremental;
• Não foi efetuada a depreciação das adições; e
• As Bases de Remuneração da CPFL, AMPLA e ENERSUL não correspondem às
homologadas;
• Depreciação de Bens 100% Depreciados.

50
Nesse sentido, a gravidade desses equívocos compromete a aplicação da metodologia,
fragilizando todo o processo de revisão tarifária. Manter uma base de dados com os
problemas citados podem trazer recursos administrativos e problemas judiciais.

Com relação aos aspectos conceituais e metodológicos, que devem pautar a regulação
econômica, a manutenção do equilíbrio econômico financeiro, além da sua previsibilidade
contratual, é um fator muito importante para o funcionamento, atratividade e
sustentabilidade do setor de distribuição de energia elétrica. O compromentimento desse
princípio, como está sendo proposto pela ANEEL, reduz a atratividade do negócio,
desconfigura o regime econômico de tarifa pelo preço, desinsentiva a eficiência e força as
empresas a redução no nível de investimentos, comprometendo a expansão do setor, a
manutenção ou melhoria da qualidade do produto e do serviço prestado e a diminuição
dos índices de perdas não técnicas.

Dada sua importância, a proposição de uma nova metodologia para o Fator X deve ser
definida com parcimônia e seguido de uma análise de consistência dos resultados e do seu
impacto regulatório. Os resultados obtidos por meio de modelos estatísticos e de
programação matemática não devem ser aplicados mecanicamente nas tarifas sem uma
análise de sua adequação à realidade ao país e fundamentalmente do setor em foco.

No que se refere à metodologia proposta pela ANEEL para o tratamento do Fator X para o
3º CRTP, foram encontrados diversos pontos equivocados e que trazem preocupação para
o setor de distribuição, entre os quais cabe destacar:

• Não considera a necessidade de investimentos e as especificidades da concessão;

• Não garante o príncipio basilar da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro


da concessão ao longo do ciclo, dado que a TIR regulatória e o WACC regulatório não são
equivalentes;

• A baixa confiabilidade dos dados utilizados comprometem os resultados da


regressão;

• Há problemas sistemáticos na metodologia de apuração dos insumos (sobretudo


do Custo de Capital Virtual);

• Houve mudanças relevantes na proposta da 2ª etapa quando comparada à 1ª e,


dada exiguidade do prazo, há pontos que podem não ter sido explorados, o que aumenta a
vulnerabilidade da metodologia;

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• Não foi feita uma validação dos resultados obtidos.

Esses problemas comprometem sobremaneira não somente o ambiente regulatório mas


também o negócio de distribuição de energia elétrica.

Desse modo, diante de tantos problemas e riscos envolvidos, inclusive quando se


considera uma visão de longo prazo, a possibilidade de êxito quanto aos aperfeiçoamentos
a partir do proposto é reduzida. A não consideração do nível de investimentos para cada
realidade da concessão compromete o equilíbrio econômico-financeiro durante o ciclo
tarifário. A elevada instabilidade dos resultados obtidos no cálculo das produtividades
inviabilizam a sua utilização para definição do Fator X.

Entende-se que, no momento atual, a opção metodológica adequada para o Fator X é a


manutenção do Fluxo de Caixa Descontado, onde é possível se discutir possíveis
aperfeiçoamentos que se façam necessários na metodologia aprovada no 2º CRTP.

Com relação aos investimentos, diante da proposta da ANEEL para o 3º CRTP, entende-se
que a melhor opção, no sentido de atender as especificidades das concessões, é manter a
sistemática do 2º CRTP, onde os investimentos são declarados pelas concessionárias e , ao
final do ciclo, os investimentos propostos são comparados com os investimentos
realizados e, caso a distribuidora não realize os investimentos propostos, estes são
devolvidos aos consumidores atualizados e remunerados pelo WACC.

Com relação ao mercado a ser considerado no fluxo de caixa, sugere-se a utilização da


proposta da ANEEL de considerar o crescimento de mercado ao longo do ciclo,
ressalvando-se apenas a possibilidade de serem consideradas ações específicas no
mercado que poderiam ser consideradas como atípicas (exemplo, a migração de
consumidores á rede básica).

Adicionalmente, a Agência deve considerar o expurgo de parcela de mercado de


consumidores que já tenham manifestado o interesse de se conectar diretamente à Rede
Básica, logicamente este tratamento estaria respaldado na documentação comprobatória
da saída desse cliente do sistema de distribuição. Com relação a este pleito não há que se
falar em risco de mercado, pois já há o conhecimento explícito de que o consumidor irá
sair para a rede básica. O mercado a ser estabelecido para o ciclo tarifário deve ser basear
nas melhores informações até o momento da revisão, desse modo incorporar este efeito
vai ao encontro desse objetivo. Além disso, tratamento similar ao proposto foi feito nos
outros dois ciclos de revisões tarifárias.

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