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NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O Diabo no imaginário cristão.

Editora Edusc – 2°
edição. Bauru, São Paulo; 2002.

Gabrielle Abreu dos Santos.

“Resultado de uma tradição de séculos, elaborada a partir do substrato


herdado do mundo judaico, por sua vez influenciado por outras culturas, a representação
europeia do demônio não é, finalmente, alheia à transformação operada com o advento
da cristandade medieval, que o coloca em um lugar central da reflexão teológica sobre a
existência do mal e sobre o problema central da reflexão.” P. 7

“[...] a demonologia cristã acaba por ver no diabo o protagonista de uma luta
cósmica que remonta a um tempo anterior à criação, e cuja continuação se projeta ao
longo de toda a História...” P. 7

“Este, de acordo com a tradição cristã plasmada na Idade Média, é espírito


insinuador, de mil modos mascarado; ruidoso ou silencioso, está sempre atuante, nunca
descansa; o orgulho e o ódio dominam a sua incansável atividade. É, de fato, o nome e o
rosto da revolta contra Deus – loucura extrema e suprema iniquidade –, cuja frieza nunca
deixa de desconcertar.” P. 8

“[...] os efeitos diabólicos são sobretudo de ordem moral, e que, portanto, a


desgraça, o sofrimento e a morte não serão forçosamente agradáveis ao demônio. Em
cada circunstância, tudo depende da opção escolhida por cada um.” P. 10

“Príncipe deste mundo – assim é referido em múltiplas fontes –, simboliza,


na realidade, a opção pelo pecado.” P. 10

“A cristianização europeia traz consigo uma viragem decisiva para a história


do imaginário.” P. 11

“[...] a mudança nos sistemas de representações mentais é evidente seja na


natureza do mundo sobrenatural, seja nas relações do homem com o corpo. Assistimos à
construção de um sistema de conteúdos simbólicos onde se articulam de maneira eficaz
a realidade e o imaginado, o mundo dos vivos e o além-tumba, intermediados por um
universo invisível de eres sobrenaturais, que de uma maneira ferozmente maniqueísta,
empenham-se num combate sem tréguas que só terminará com o Armaggedon: a lita
datada da própria criação, entre o Bem e o Mal.” P. 11
“Pairando sobre a coletividade dos laicos, os “guardiães do sagrado”,
devotam-se à pia tarefa de manipular e traduzir este imaginário extremamente rico, na
tentativa de uniformizar e quietar as consciências, mediadores que são entre a realidade e
o sobrenatural.” P. 11

“Portanto, no afã de garantir a hegemonia das crenças, a Igreja necessita


detectar, divulgar e exorcizar o mal, garantindo assim, o domínio da consciência
coletiva.” P. 12

“Foi a religiosidade hebraica que imprimiu nas consciências posteriores o


arquétipo do Grande Inimigo, constituído através de sua evolução histórica.” P. 12

“A princípio, os primitivos hebreus não tinham necessidade de corporificar


uma entidade maligna. Para eles, jahveh era um deus tribal e, como tal, superior aos
deuses das populações vizinhas, que se colocavam, assim como seus adversários e como
expressões naturais de maldade, tornando supérflua qualquer encarnação suplementar do
Mal.” P. 12

“[...] essa religião tribal evoluirá em direção a um monoteísmo de caráter


absoluto, que sublinhará a onipotência e a onipresença de Deus, como o supremo poder
do Universo e criador de todas as coisas, situação que conferirá às forças do Mal um poder
insignificante.” P. 13

“[...] a literatura do Antigo Testamento pouca referência faz a espíritos do


Mal, resultado intenso do judaísmo para manter o seu monoteísmo em meio a um
politeísmo envolvente.” P. 14

“Outros, ainda presos a uma ideia tribal, assimilavam esses deuses aos
espíritos das trevas. [...] todos os deuses potencialmente adversários, passaram a fazer
parte integrante da corte demoníaca; “pois todos os deuses das nações são demônios, mas
o Senhor é o criador dos céus” (Salmos 95:5).” P. 14

“Apesar de não terem uma demonologia constituída, os hebreus possuíam os


seus rouach raha – espíritos malignos, enviados por Deus como punição.” P. 16

“Os “demônios” existentes eram seres incorpóreos, destinados à execução da


vontade de Deus, anjos – aggelos, como foram traduzidos em grego, isto é,
“anunciadores”.” P. 16
“A contribuição mais importante que o Antigo Testamento trouxe para a
história do Demônio encontra-se no Livro de Jó.” P. 16

“O Satan é, por conseguinte, a causa de todos os tormentos que são enviados


aos servos de Deus, mas não tem ainda personalidade definida, como o demonstra junto
ao seu nome a presença o artigo “o” – o Satan.” P. 16

“Gradualmente, Satã passa de acusador a tentador, tornando-se o Diabo por


excelência, em sua tradução grega Diábolos – isto é, aquele que leva a juízo – que
rapidamente se transformará na entidade do Mal, no adversário de Deus. Assim como no
Satanás da literatura pós-bíblica hebraica se representará todo o mal, todas as tentações
(a serpente do Éden, o condutor dos judeus à adoração do bezerro de ouro), no Novo
Testamento o Diabo se tornará o símbolo de todo o Mal.” P. 16/17

“O momento decisivo para a formação de uma hierarquia demoníaca foi no


Cativeiro de Babilônia, no século VI a.C.” P. 17

“Os caldeus desenvolveram uma riquíssima demonologia – legiões de


entidades semidivinas divididas em cinco classes, casa uma com sete “demônios” e cada
classe com seus atributos distintos, apesar de não consistirem necessariamente em
espíritos malignos.” P. 17

“Oriundas desse fundo comum mesopotâmico são as lendas do demônio do


deserto – Azazel (aziz= “força” e El= “deus”), ao qual se ofereciam sacrifícios ao mesmo
tempo que a Deus (Levítico 16, 8-10) – e as de Lilith – a primeira e insubmissa mulher
de Adão e, posteriormente, demônio da luxúria – bem como as lendas que povoam de
espíritos os espaços em torno do rei Salomão, nas quais o grande rei aparece como seu
dominador, mantendo-os sob seu poder graças a um anel e uma corrente em que estava
escrito o nome secreto de Deus.” P. 17

“[...] a figura do Dragão, presente no Antigo Testamento sob os diferentes


nomes de Rahab, Leviathan e Tehom Rabbah, é proveniente do mito babilônico da
criação, simbolizando o caos primordial, e não a ação do Mal no mundo após a criação,
com a qual será assimilado na literatura hebraica pós-testamentária.” P. 18

“O contato com os caldeus e as suas divindades fornecerá a uma tradição


preexistente e arcaica as personalidades destinadas a chefiar o cortejo demoníaco. Entre
estas, Lúcifer – o astro da manhã, filho da aurora, a estrela de Vênus –, associado ao rei
da Caldéia.” P. 18

“Outros contatos com os povos inimigos agregarão novos integrantes a uma


“aristocracia demoníaca”: Belzebu (Beelzebub), o deus filisteu de Ekron Baal-Ze-boub,
que será assimilado pelos judeus da era cristã ao príncipe dos demônios [...]; Astaroth
(Ashtoreth), a deusa lunar cultuada na Mesopotâmia com o nome de Ishtar; e Asmodeu
(aeshma deva), divindade persa da tempestade que representa, na lenda de Salomão, o
papel de rei dos demônios e, sem apresentar um caráter maligno, converte-se no demônio
da lascívia.” P. 18

“Durante e após o Cativeiro de Babilônia, os judeus entraram em contato com


o masdeísmo persa, influencia determinante para a corporificação de uma demonologia
futura.” P. 18

“O masdeísmo fornecerá o pano de fundo dualista que libertará do Demônio


no pensamento judaico e possibilitará, através da assimilação da crença em espíritos
benéficos e maléficos, composição de uma hierarquia angélica, transformando os anjos,
anteriormente símbolos de manifestação divina, em entidades autônomas.” P. 19

“Os repetidos contatos da comunidade judaica produzirão uma nova


demonologia vasta e complexa, que constituirá a prova indubitável de uma mudança de
perspectiva teológica.” P. 20

“Do século II a.C. ao I d.C. desenvolve-se-á uma rica literatura sobre o


demoníaco, à margem da tradição erudita: uma literatura apocalíptica, baseada em
revelações sobrenaturais sobre o futuro.” P. 20

“O fenômeno é mais acentuado no Testamento dos doze patriarcas (109-106


a.C.) onde aparece pela primeira vez a menção clara à personalização da figura do
Demônio: Belial, chefe dos anjos caídos, coloca-se como adversário e rival de Deus e
disputa a soberania sobre os humanos, seus subordinados, incitando os homens à
fornicação, à inveja, ao ciúme, à cólera, ao assassinato e, principalmente, à idolatria, ou
seja, à adoração dos deuses estrangeiros [...]” P. 21

“Para evitar a confusão entre Deus e essas divindades inferiores, Platão e sua
escola lhes reversaram o nome de Demônio (daimôn), palavra usada anteriormente para
exprimir a ação divina em geral, distribuidora tanto dos bens quanto dos males.” P. 21
“A nova escola, num esforço de reconstruir a ordem moral do Universo,
estabelece uma hierarquia desses demônios, distinguindo-os em bons e maus demônios,
segundo os atributos anteriores das divindades agora rebaixadas à condição de gênios
secundários, e adapta a essa teologia a liturgia helênica, misturada com ritos mágicos e
orientais.” P. 22

“É o primeiro momento de glória de Satã: a sua grandiosidade, negada pelo


Antigo Testamento, será devidamente estabelecida pela literatura apócrifa e
posteriormente reconhecida pelos Evangelhos e pelo Apocalipse de São João, onde
Satanás assume o lugar de príncipe das trevas, responsável pela perdição do gênero
humano.” P. 22

“Presente nos sistemas religiosos vizinhos, notadamente o caldeu e o persa


(onde a doutrina dualista acentua o prestígio do Além), que preveem destinos diferentes
para os pecadores e os puros, a noção de Inferno assume um alto grau de elaboração na
literatura apócrifa.” P. 23

“O nascimento do Cristianismo inicia um longo processo onde as tradições


chocam-se, interpenetram-se, amoldam-se, para repeli-lo ou recebe-lo e revesti-lo de toda
uma bagagem mística que convive paralelamente ao corpo doutrinário.” P. 25

“Ao contrário de Yahvé no Antigo Testamento, Deus agora possui


formidáveis adversários na pessoa de Satã e sua corte de demônios. Os Evangelhos, os
Atos dos Apóstolos, as Epístolas de Paulo e o livro do Apocalipse trazem abundantes
alusões a essa luta formidável. Daqui por diante, Satã é o grande adversário, tendo por
missão combater a religião que acaba de nascer e que será no futuro o Cristianismo; Satã
é o inimigo implacável de Jesus e seus discípulos, tramando incessamente a ruptura da
fidelidade ao Senhor e pondo a perder os seus corpos e almas.” P. 25/26

“Desta polarização resulta que tudo o que afasta os homens de Deus é uma
manifestação do Diabo. É o caso, principalmente, de todas as formas de resistência à
palavra de Cristo, e, por conseguinte, também da religião judaica. De outro modo, a
religião cristã, assumida como a verdadeira, exclui e assimila ao Demônio todos os outros
credos, processo em cuja elaboração Satanás desempenha um papel tão importante quanto
o Messias.” P. 26
“O Diabo no Novo Testamento, como nas crenças judaicas tardias, é assistido
por uma multidão de demônios inferiores que tentam os homens, impelindo-os a rejeitar
Jesus, ao mesmo tempo que não param de os afligir com sofrimentos físicos.” P. 27

“Sob a ordem de seu mestre, os demônios se “apossavam” igualmente dos


indivíduos, provocando problemas como a epilepsia, a paralisia histérica, ou, ainda, o
entorpecimento dos corpos.” P. 27

“Ao longo dos primeiros séculos de sua existência, a ideia de Satã e das hostes
demoníacas, apear de ainda muito semelhante à desenvolvida no Novo Testamento,
acompanha o processo de elaboração progressiva da doutrina cristã, onde sua importância
no plano teológico se delineia mais claramente.” P. 28

“[...] na medida em que os anjos habitavam o mais alto dos céus, ao lado do
trono de Deus, o Diabo e seus sequazes, por oposição, eram confinados às trevas,
precisamente acima da terra. Todos igualmente concordam com o fato de que, uma vez
que os anjos possuem corpo etéreo, composto de ar e luz, os anjos caídos possuem a
mesma substância.” P. 29

“Pois os diabos, que jamais conhecem o repouso, são incapazes de deixar os


homens em paz, infligindo doenças e provocando calamidades coletivas (secas, más
colheitas e epidemias) em que padecem homens e animais.” P. 30

“O advento do cristianismo, acima de tudo, impusera aos demônios a


invenção de novos tormentos para abater a Igreja: de um lado, incitavam os funcionários
romanos a perseguir cristãos; de outro, desviavam da verdadeira fé a cristandade,
levando-os a cisma e às heresias.” P. 31

“Assim, o maior crime de Satã reside na persistência da religião pagã, pois,


segundo Tertuliano (Apologeticum, XXII), a prova mais segura da verdade da fé cristã
encontra-se no poder concedido aos seus fiéis de exorcizar outros seres humanos
possuídos pelos demônios, cada exorcismo representando uma nova vitória de Cristo
sobre uma divindade pagã. Portanto, todos aqueles que continuavam a praticas os cultos
pagãos (e, em especial, os cultos que possuíam um caráter lunar, como o de Hécate),
desconhecendo a verdadeira fé, prestavam, na realidade, um culto a Satã.” P. 32

“A igreja primitiva ainda é uma Igreja já transbordante de otimismo,


plenamente confiante em sua fé e no triunfo da mesma. Qualquer que fosse o poder de
Satã, era privilégio de cada cistão a capacidade de lhe opor resistência. A permissão
concedida por Deus aos demônios de colocar os cristãos à prova era simplesmente para
que estes pudessem cobrir os espíritos malignos de vergonha e, ao mesmo tempo, reforçar
a sua própria fé.” P. 32

“Enquanto a espera do triunfo final se prolongava indefinidamente, tornava-


se cada vez mais patente para a religião institucionalizada que as continuas proibições e
outra medidas que procuravam eliminar o paganismo em pouco resultavam.” P. 33

“Semelhantes conversões não podiam ter longa duração, sendo frequente as


apostasias. Uma vez terminado os perigos, o pretenso converso retornava às crenças
antigas.” P. 34

“Perseguido e proscrito nas cidades, o paganismo refugia-se no campo, onde


mantinham-se vivas as antigas superstições. Dessa situação resulta o termo a partir daí
utilizado para designar adoradores dos deuses: pagani, derivado de sua localização rural.”
P. 34

“O politeísmo oficial estava destruído, mas a fé nos deuses – reduzidos à


condição de demônios – na eficácia dos ritos que tinham outrora constituído seu culto não
estava, na realidade, extirpada. No território do antigo Império Romano persistia uma
multidão de crenças populares e costumes revestidos de uma aparência cristã. As festas
que anteriormente celebravam as antigas divindades eram transferidas para o culto dos
santos.” P. 34

“Possuídos de um fervor combativo, os cristãos não hesitam em lançar mão


de práticas por eles condenadas para justificar a supremacia de sua fé.” P. 35

“Essa apropriação por parte do cristianismo de ideias e cerimonias


emprestadas às religiões politeístas tem sua contrapartida no delineamento mais límpido
de sua teoria demonológica. Tudo o que ele repeliu energicamente como demasiadamente
pagão, como contrário a seus dogmas, como impuro e ímpio, refugiou-se no reino do
Mal.” P. 36

“Assim, em seus primórdios, o Cristianismo assumiria duas tendências, que


coexistiram por longo tempo, em oposição: uma concilidadora, outra intransigente.” P.
37
“A primeira tendia a aceitar os elementos das crenças já incorporadas à
cultura clássica que impregnavam a mentalidade popular, buscando redimensiona-la
numa hagiografia cristã [...] De modo consciente ou não, incorpora divindades, ritos e
festas religiosas já institucionalizadas pela tradição, dotando-os de um outro discurso, de
uma nova roupagem, que, a princípio, mal conseguem ocultar a sua origem pagã.” P. 37

“No extremo oposto, como vimos anteriormente, encontramos a outra


tendência, de intransigência absoluta, motivada pela propagação das heresias; estas,
intimamente ligadas à sobrevivência dos antigos cultos ao lado da nova religião [...]” P.
37

“Impossibilitado de anular o poder das divindades pagãs, o Cristianismo pôde


apenas reduzi-las à condição de crenças deformadas, considerando que mesmo aqueles
que cultuavam de boa-fé estavam cultuando o Demônio.” P. 38

“A conversão da Europa estava muito longe de ser completada. A presença


material de uma Igreja, que, aliada ao poder, dominava o território da Europa ocidental,
não se impõe do mesmo modo às consciências individuais, deixando à margem campos e
montanhas onde persististe crenças ou fragmentos de crenças envolvidos por um
simbolismo cristão.” P. 38

“Novas e terrificantes angustias começarão a assaltar os espíritos cristãos, que


se perguntarão se o mundo, em verdade, não está sob a presidência dos demônios e se
estes não tem aliados por toda parte, inclusive no seio da comunidade cristã.” P. 38

“O mundo passou a se dividir em duas partes claramente definidas e


antagônicas: a parte constituída pelos que cultivavam o Bem e as virtudes e aquela
formada pelos que cultivavam o Mal e seus vícios. Ou seja, servidores de Deus e os servos
do Demônio. A antiga divisão moral entre crenças certas e erradas, nascida da
necessidade de catequizar, de retirar a força do Paganismo, dá lugar a uma divisão de
legitimidade, uma divisão hierárquica entre crenças superiores e inferiores, mudança que
foi de consequências incalculáveis.” P. 38/39

“[...] a Idade Média encarregou-se de promover a redução completa das


divindades pagãs à condição demoníaca.” P. 40
“Aos olhos dos cristãos, surgia a aterrorizante certeza da existência de uma
conspiração sobrenatural contra o trunfo do Salvador. O poder absoluto de Satã sobre a
humanidade havia sido quebrado, mas ele permanecia um formidável oponente.” P.41

“Todos os acontecimentos para os quais não havia explicação eram


preferencialmente atribuídos a eles. Não causa surpresa que esta coletividade cristã vá se
tornar, poucos séculos mais tarde, terrível e furiosa. Indignada por se sentir tão fraca em
face do poder dos demônios, ela vai persegui-los de todas as maneiras em todos os
lugares.” P. 42

“Em toda parte se vê o diabólico, o mundo inteiro é por ele invadido. E sua
vítima é, por excelência, a mulher. Por que a mulher está mais predestinada ao Mal que o
homem, segundo os textos bíblicos. – “Toda malícia é leve, comparada a malícia e uma
mulher; que a sorte dos pecadores caia sobre ela!” (Eclesiástico 25:26) [...]” P. 42

“O homem é personagem de um drama que tem sua origem na trágica


dicotomia entre o representado e o vivido, não podendo pensar no Bem sem antes pensar
no Mal.” P. 43

“[...] um homem pode conter uma legião de demônios, então estes devem ser
criaturas incorpóreas, pois cada legião compreende 6.666 indivíduos. E a discussão
prossegue ao longo dos séculos, a especulação se intensifica, não causando estranheza
que o Diabo esteja cada vez mais em toda parte.” P. 44

“[...] os primeiros séculos do Feudalismo estão longe de apresentar imagens


de um pânico absoluto e esmagador, pois Satã ainda permanece uma figura limitada pela
autoridade divina, e não faltam recursos aos fiéis para escaparem de suas garras.” P. 46

“O medo do Maligno aparece no uso constante de água benta e do sinal-da-


cruz para repelir os agentes do Mal, bem como na ansiedade provocada pela ideia de
morrer sem antes receber a extrema-unção. Através de imagens e ritos, a Igreja mantinha
vívida a ameaça do Inferno ante os olhos da população.” P. 46

“Na medida em que são criaturas espirituais, capazes, todavia, de se


manifestar de maneira corpórea sobre a Terra e, como inimigos de Cristo, apostam na
debilidade moral dos cristãos [...]” p. 47

“As pregações eclesiásticas tendem a destacar cada vez mais o Mal e as suas
consequências, a bem-aventurança cedendo lugar progressivamente à danação, sendo o
Bom cada vez mais intuído, implícito na dissipação dos terrores do Mal e do Castigo
Eterno.” P. 49

“Daqui para diante, os demônios não são mais simples inimigos externos [...]
Não são mais imaginados como criaturas maléficas provocadoras de calamidades e
epidemias; eles são chamados a representar os desejos que cada cristão alimenta o fundo
de seu coração mas sem se atrever a reconhece-lo como seus.” P. 49

“Essas forças assumem a aparência de criaturas bem reais, de demônios que


se apossam de qualquer coisa que pareça um corpo, tanto humano quanto animal.” P. 49

“Nessa atmosfera de terror progressivo começa a ser elaborada nas


consciências cristãs a ideia de sociedades secretas de adoradores do Diabo.” P. 50

“As fantasias sobre o poder do Tentador, de tanto serem repetidas, acabam


finalmente por ser aceitas como fatos, ao mesmo tempo em que a irrupção constante das
heresias confirma no espírito dos cristãos a realidade das especulações teológicas, e as
multidões, com o apoio das autoridades seculares, massacram os heréticos, os inimigos
de Deus, os agentes de Satã.” P. 50

“Da leitura das Sagradas Escrituras e da literatura apócrifa, os teólogos


concluem que a Terra estava infestada por inumeráveis legiões de demônios e que estes
podiam manter relações sexuais com seres humanos.” P. 51

“O século XIII é uma época de excepcional importância para a história do


Diabo [...] O Diabo torna-se mais respeitado e poderoso que nunca. Fazem-se pactos com
ele, nos quais os homens entregam suas almas em troca da satisfação de qualquer tipo de
desejo.” P. 52

“Satã preside o mundo em toda a sua pompa e majestade. Pierre de Lancre


resumiria, quase três séculos mais tarde, essa situação: “O mundo é um teatro, no qual o
Diabo sustenta a parte de muitas e diferentes personagens”.” P. 54

“Com Aquino e seus contemporâneos, o folclore anterior torna-se rigorosa e


complexa doutrina da Igreja. Os demônios são anjos malignos que tinham a capacidade
de animar corpos e comunicar seus conhecimentos e mandamentos aos homens.
Compunham um exército hierarquicamente organizado sob o comando de Satã,
trabalhando para a perdição da humanidade.” P. 56
“Satã torna-se o Grande Destruidor, o arqui-inimigo, dotado de numerosos e
apavorantes poderes frente aos quais o homem está totalmente indefeso, a não ser elos
avisos de Deus e a constante ajuda dos ministros da Igreja.” P. 56

“As pregações e os sermões litúrgicos baseavam-se na doutrina do poder e


onipresença de um Diabo absolutamente astucioso, hostil e impiedoso, cuja capacidade
de maleficio contra a humanidade havia crescido enormemente. Ademais, todas as
autoridades doutrinárias concordavam em que, de um modo misterioso, isso acontecia
com a permissão de Deus.” P. 60

“A partir do século XIII, o medo do Diabo aumenta sem cessar, e essa


reviravolta na percepção da cristandade dos poderes e continuas vitórias de Satã
encaminhou a Europa ocidental para uma onda de pânico generalizado, na qual a crise do
século XIV – a grande crise do feudalismo –, com a intensificação das catástrofes e o
aumento da miséria, provocou o delírio das consciências aterrorizadas, que buscavam no
Demônio e seus sequazes os responsáveis pelos sofrimentos da coletividade. Os homens
sentem-se abandonados por Deus, submersos em um mundo de terror. O Reino do diabo,
em ascensão, lentamente encobre a imagem da Cidade de Deus.” P. 60/61

“A presença constante do Diabo faz surgir uma nova linha de especulação,


com a autoridade de ciência – a demonologia –, e os teólogos passam a se preocupar em
estabelecer com a máxima clareza, o seu perfil e caráter, num esforço piedoso para
auxiliar a Cristandade a reconhecer o Inimigo e se precaver contra ele.” P. 61

“O Diabo podia estar em qualquer coisa ou em qualquer pessoa. Portanto,


tudo é suspeitoso e perigoso, uma vez que Satã e os seus demônios são os mestres do
disfarce.” P. 61

“O Demônio podia aparece como um homem galante, ou como uma bela


mulher, incitando os mortais à luxúria; ou tentava agarrar o imprudente sob a forma de
um padre, um mercador, ou um de seus vizinhos.” P. 62

“Satã era um ator tão brilhante que [...] Frente a essa ilimitada capacidade de
manifestação do demoníaco, a comunidade cristã se via submergida em um delírio
persecutório, presa a um estado mental no qual surgia constantemente a dúvida de
identidade dos próprios amigos.” P. 62
“Inicialmente, ele era representado como uma figura com certa dignidade,
como cabia à sua condição de anjo caído. Mas, logo após, devido aos esforços
pedagógicos dos representantes da fé, passa a aparecer com muita frequência, cuja
deformidade evidencia a sua corrupção espiritual.” P. 63

“As representações dos inimigos desenvolvem-se numa quase ilimitada


variedade de formas grotescas e fantasmagóricas, uma vez que esses seres de pesadelo
simbolizam um crime contra o Criador e, portanto, contra a Sua Criação: a Natureza.” P.
63

“A apresentação do elemento demoníaco sob uma forma animal ou


mesclando formas humanas e animais contribuía para salientar a sua natureza bestial, de
acordo com a orientação canônica, mas também constituía um costume tradicional: o de
representar seres sobrenaturais de modo monstruoso, por meio da combinação de
elementos diversos da natureza.” P. 66

“O grande modelo que influenciou toda uma iconografia diabólica foram as


clássicas imagens de Pã e dos sátiros: criatura meio homem, meio bode, com chifres,
cascos partidos, olhos oblíquos e orelhas pontiagudas.” P. 67

“Entre as características emprestadas à Antiguidade, que tornaram a figura de


Pã extremamente conveniente para a sua incorporação a uma demonologia cristã, estavam
o seu apetite sexual desenfreado e a sua selvageria – sua hostilidade a qualquer ordem
instituída.” P. 67

“Outra característica desenvolvida na tradição popular é que o Diabo é coxo,


como resultado de um ferimento recebido quando foi precipitado dos céus.” P. 68

“Seja na forma humana ou na forma animal, Satã é frequentemente negro ou


escuro, como convinha ao Príncipe das Trevas, podendo adotar qualquer disfarce, por
mais excêntrico que fosse – como um caranguejo, ou manifestar-se como água negra.” P.
69

“O Maligno confunde-se em formas humanas e animais por que é um ser


sobrenatural, um anjo bestial, apelando para os instintos animais do homem; e suas
mutações consistem um reflexo do Mal que permanentemente embosca a humanidade,
atrás das mais inocentes aparências.” P. 69
“Segundo os doutores da Igreja, havia originalmente nove ordens de anjos,
cada ordem comporta de 6 666 legiões, e cada legiões integrada por 6 666 indivíduos,
num total de 399 920 004 anjos. Ora, se um terço deles havia seguido Lúcifer, o número
de demônios existentes era de 133 306 668.” P. 71

“[...] outros demonólogos, como Alphonsus de Spina, no século XV, dizia


que todos esses nomes sob os quais eram caracterizados os príncipes infernais pertenciam
ao próprio Diabo em seus diferentes aspectos. Ele era chamado de Lúcifer, com o chefe
dos anos caídos e o tentador de Adão e Eva, Diabolus por orgulho, Satã como Inimigo,
Demonium pela iniquidade, Leviathan pela avareza, Asmodeus pela luxúria, Behemoth
pela glutoneria, Belial pela licenciosidade e Beelzebub como o senhor das moscas.” P. 75

“A questão de uma classificação funcional dos espíritos do Mal representava


a tentativa de emprestar ordem e coerência a demonologia. Algumas vezes eram
classificados em analogia aos Sete Pecados Capitais, como no Tractatus (1589) de Peter
Binsfiel: Lúcifer com o demônio do orgulho, Mammon da avareza, Asmodeus da luxúria,
Satã da ira, Beelzebub da gula, Leviathan da inveja e Belphegor da preguiça, cada um
desses príncipes do pecado tendo uma hoste de espíritos subordinados ao seu comando.”
P. 75

“[...] o Reino do Diabo aparecia para os homens, no final da Idade Média,


como uma vasta e organizada monarquia presidida por Satã e secundada por príncipes,
duques, marqueses, condes e prelados. Na mansão infernal existia, num arremedo dos
Estado nacionais em formação na Europa, uma vasta rede de funcionários [...] toda essa
organização existindo em função do eterno conflito entre o Bem e o Mal e do seu
funcionamento eficiente dependendo a perdição dos homens.” P. 77

“O “horror diabólico” domina as consciências cristãs. Nas igrejas, pregam-se


as penas infernais. A fantasia dos eclesiásticos deve chocar, provocar terror: lagos de
enxofre, diabos armados de chicote, dragões, águia e piche fervente, fogo e gelo, infinitas
torturas.” P. 77

“O grande dragão da tradição cristã, a suprema força da anarquia, destruição


e morte é o Diabo. Mas a ameaça cotidiana do Maligno, trazia consigo um outro terror, o
da aparição de um outro monstro o Mal: o Anticristo. A ameaça de sua vinda e os horrores
da guerra, pragas, fome e destruição que traria consigo acrescentava novos tormentos às
consciências já extremamente angustiadas.” P. 77
“O Anticristo era a contrapartida maligna do Cristo. Este era todo bondade e
luz – o Salvador; o outro. Todo maldade e escuridão – o Destruidor. Um nascia de uma
virgem; o outro de uma prostituta. Os autores cristãos não tinham uma visão coerente da
relação entre o Anticristo e o Demônio. Algumas vezes ele era o próprio Demônio ou um
aspecto dele; em outros textos, um ser humano possuído pelo Diabo; ou ainda poderia ser
filho de Satã.” P. 78

“Sua origem remonta à tradição hebraica, onde o Anticristo estava


relacionado a agressores humanos que, por sua ferocidade, eram ligados a uma esfera
sobrenatural maligna.” P. 78

“A crença incorpora-se ao Cristianismo, e seus adeptos passam a afirmar que


o retorno de Jesus em toda a sua glória e majestade seria precedido pelo homem do
pecado, o filho da perdição.” P. 79

“Como os judeus, obstinadamente, continuassem a esperar o Messias, os


cristãos se convencem, sem grandes dificuldades, de que Salvador esperado pelos
“assassinos de Cristo” era o Anticristo. Em auxilio dessa identificação, acrescentava-se o
fato de, na mentalidade popular medieval, os judeus se ligarem claramente à ação
demoníaca.” P. 80

“Quando a palavra Anticristo apareceu no Novo Testamento, nas epístolas de


João, era usada para atacar desvios doutrinários dentro do rebanho cristão: anticristo era
o mentiroso, o impostor, que não reconhecia a encarnação de Jesus (II João 2:18; 4:2-3).”
P. 80

“Embora estabelecido que o Anticristo seria um judeu, a prática cristã iniciada


em João, de atribuir-se mutuamente o papel de adversário de Cristo, floresceu
grandiosamente.” P. 81

“O medo do Anticristo permaneceu vivo na cristandade por toda a Idade


Média e Modernidade. Invasões sucessivas de bárbaros – godos, hunos, mongóis e turcos
– povos que eram identificados como exércitos do Grande Dragão.” P. 81

“O filho da perdição, o perverso e detestável Dragão, nasceria na Babilônia,


filho de uma prostituta, e traria desordem e destruição no seu despertar. Estabelecendo-
se em Jerusalém, reuniria de novo os judeus dispersos e reconstruiria o Templo,
realizando milagres simulados, numa paródia de Cristo que iludiria a muitos, que o
tomaria pelo verdadeiro Messias.” P. 81/83

“É necessário esclarecer que, no interior dessa explosão de terror dos agentes


do Mal e da danação eterna, existe uma série de fatos, ocorridos a partir do século XIV,
que provocam um aumento monumental do pânico nas consciências cristãs. A crise geral
do Feudalismo e o seus desdobramento: a peste negra, que atinge em 1348 atinge a Europa
de modo devastador, as revoltas urbanas e camponesas que explodem de país em país, a
interminável Guerra dos Cem Anos, o ameaçador avanço turco após as derrotas de
Kossovo (1389) e Nicópolis (1396), o Grande Cisma – o escândalo dos escândalos – as
cruzadas contra os hussitas, a decadência moral do Papado e a Reforma Protestante, com
todas as suas consequências, levam os homens atingidos por essa série interminável de
tragédias e calamidades a buscar os porquês desse sofrimento monstruoso.” P. 83

“A criação das ordens mendicantes representam uma resposta às necessidades


da situação social da Europa ocidental a partir do século XIII. Os frades significavam alo
de novo na vida religiosa da Europa, vivendo em um ambiente que mal existia um século
antes: as cidades e as universidades.” P. 84

“É neste contexto que surgem as ordens mendicantes, colocando a pregação


como tarefa central de seus frades. Para educar as massas, as ordens mendicantes
utilizaram abundantemente os meios de edificação coletivos, o sermão e o teatro,
associando-os estreitamente um ao outro.” P. 85

“O sermão, vai abandonar os claustros e os espaços clericais para se tornar


espetáculo e ensinamento para as populações medievais, a partir do século XIV.” P. 85

“Através de sua ação, a religião deixa de ser uma questão de ritos e um


assunto de clérigos para tornar-se a partir do século XIV, uma religião das massas.” P. 85

“Ao logo do período de crescimento medieval, os teólogos haviam


domesticado a Morte. No século XIV, o medo volta a se instaurar. A Morte é o abismo
negro, e quase certeza da danação eterna. [...] O leito de morte é o palco de uma ancestral
disputa: de um lado o anjo da guarda, o defensor da alma inevitavelmente pecadora, resiste
ao assalto de legiões de demônios, que ameaçam com suas garras a alma do moribundo.”
P. 88
“Para o pregador, não existia qualquer esperança de melhoria da humanidade;
o fim do mundo corrompido constituía, ali por diante, uma perspectiva cada vez mais
próxima. As pessoas esperavam a todo instante ouvir as trombetas da aniquilação final.”
P. 91

“A tentativa de extirpar o Mal da cristandade resultou em consequência, na


amplificação contínua deste mesmo mal. O horror diabolicus implicava uma metodologia
rigorosa e inspirava uma investigação sintomatológica, que pretendia estabelecer as
fronteiras de atuação, as motivações e os agentes humanos portadores da vontade e da
mensagem do Mal.” P. 91

“A terra está invadida por anjos e demônios em uma luta encarniçada pela
posse do rebanho cristão.” P. 91

“O delírio demonolátrico que se segue, cria as alucinações e confirma as suas


doutrinas. A afirmação de boa religiosidade, através de uma Pedagogia do Medo,
consolidou no discurso teológico uma demonologia sistemática, levando os homens a
uma trágica dicotomia ao nível mental, a um drama dualista, do qual não se podiam
libertar, não podendo pensar no Bem sem pensar no Mal.” P. 92

“[...] os sermões, difundidos a partir do século XIII, além de implantar um


pânico em relação ao Diabo, causavam tanto impacto na sensibilidade e imaginação
coletivas que a Igreja, alarmada pelo pânico que causavam, os proibiu em um concílio em
1516.” P. 92

“As imagens do inferno tornam-se riquíssimas e esclarecedoras: a carne


abandonada à ferocidade de monstros, o corpo devorado, queimado, em uma tortura sem
fim.” P. 92

“Medo de Satã, estreitamente associado no senso comum, à espera do Fim


dos Tempos. O "Malleus Maleficarum" assim o enuncia: "em meio às calamidades de um
século que se desmorona, o mundo em seu acaso desce para seu declínio e a malícia dos
homens aumenta" e Satã "sabe em sua raiva que tem pouco tempo.” P. 95

"O antigo otimismo cristão cedeu lugar à angústia generalizada. O julgamento


final colocaria os eleitos no Paraíso, mas quem poderia afirmar com segurança que estaria
entre os bem-aventurados à direita do Grande Juiz?” P. 95
“O mundo declina e a maldade dos homens aumenta. As obras
demonológicas difundem o pânico coletivo. Entre 1486 e 1669, o célebre manual da caça
às bruxas, o Malleus Maleficarum, é reeditado 34 vezes, o Teatro dos Diabos, uma
coleção alemã, é sensivelmente aumentada em suas três edições: de seus 20 volumes, em
1569, passa a 24 em 1575 e, finalmente, 33 em 1587! A história de Fausto terá 24 edições
nos últimos 12 anos do século XVI.” P. 98

“Contudo, duas imagens de Satã coexistem: uma popular e outra erudita, esta,
de longe, a representação mais trágica pois o Demônio, nas consciências populares, é uma
entre outras tantas sobrevivências míticas que uma conversão imposta não conseguiu
exterminar. O Diabo popular é uma personagem familiar, às vezes benfazeja, muito
menos terrível do que o afirma a Igreja, e pode ser, inclusive, facilmente enganado. A
mentalidade popular defendia-se, desse modo, da teologia aterrorizante – e muitas vezes
incompreensível – da cultura erudita.” P. 98/99

“Essa doutrina levou ao extremo a denominação do Diabo como “Príncipe do


mundo” na mente dos religiosos, católicos e protestantes.” P. 99

“Entre homem e Satã existe uma guerra perpetua desde a Criação, e os


doutores da religião concordam em que o Inimigo se assanhava, sem descanso em
atormentar e prejudicar a sua infeliz vítima: o homem. Nessa linha de raciocínio, a lista
dos poderes demoníacos não pode deixar de ser cada vez maior e inquietante.” P. 99

“A era das Reformas é o momento em que é maior o medo de Satã, a quem é


atribuída a difusão em proporções alarmantes da mentira e da heresia. Produto do fervor
missionários de ambas as Reformas, que precisam da presença do Diabo para justificar o
árduo e ininterrupto esforço da salvação, o Demônio não é apenas a simbolização do Mal,
mas uma presença e evidencia em todos os momentos.” P. 101

“Crença que seve de suporte a toda uma longa série de violências que
ensanguentam a Europa moderna, transformadas em lutas contra o Diabo, seus agentes e
seus estratagemas.” P. 101

“A história do Diabo confunde-se com a história do próprio Cristianismo.” P.


103
“Era necessária para a coletividade cristã a existência e a encarnação do Mal.
Era preciso que fosse visto, tateado, tocado, para que o Bem surgisse como a graça
suprema – o Belo e o Divino, em oposição ao Horrível e Demoníaco.” P. 103

“Contudo, os esforços didáticos da Igreja, ao invés de solucionarem o


problema, tranquilizando e uniformizando as consciências, contribuíram para dinamiza-
lo, uma vez que, para a crença popular, o problema não se resolvia por um simples
antagonismo entre o Bem e o Mal.” P. 103

“O Romantismo transformará Satã no símbolo do espirito livre, da vida


alegre, não contra uma lei moral, mas segundo uma lei natural, contraria à aversão por
este mundo pregada pela Igreja. Satanás significa liberdade, progresso, ciência e vida.”
P. 104

“O Diabo passa a representar a rebelião contra a fé e a moral tradicional,


representando a revolta do homem, mas com a aceitação do sofrimento porque este é uma
fonte purificadora do espirito, uma nobreza moral, da qual só pode surgir a bem
humanidade.” P. 105

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