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STJ-Petição Eletrônica (RE) 00326449/2017 recebida em 27/06/2017 15:18:11 (e-STJ Fl.

2804)

EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA PRESIDENTE


DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Edcl nos Embargos de Divergência nº 1.134.957/SP


Embargante: Itaú Unibanco S.A.
Embargado: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

ITAÚ UNIBANCO S.A. (atual denominação de Banco Itaú S.A.), já


qualificado nos autos do processo indicado à epígrafe, vem à presença de Vossa
Excelência, pelos procuradores que esta subscrevem (conforme instrumentos de
mandato e substabelecimento constantes das fls. 2694/2703 e anexo), com o
Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

devido acatamento, com fulcro no art. 102, inciso III, alínea ‘a’, da Constituição,
tempestivamente1, interpor

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

em face do acórdão majoritário de fls. 2.713/2.746, complementado pelo acordão


de fls. 2.788/2.798, proferidos pela Corte Especial.

1 Conforme certidão de fls. 2.799 do e-STJ, o acórdão embargado foi publicado no dia
6/6/2017. Em sendo assim, o prazo de quinze dias úteis (art. 219 do CPC de 2015) tem
termo final no dia 28/6/2017 (em vista do feriado de Corpus Christi, no dia 15/6/2017),
do que resulta ser tempestivo, portanto, o recurso protocolizado nesta data.

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Em vista de tanto, com o comprovante de recolhimento das custas, após a


intimação do recorrido para, querendo, apresentar contrarrazões, requer-se seja o
presente recurso admitido, com a devida remessa dos autos ao Supremo Tribunal
Federal, onde certamente será conhecido e provido.

Requer-se, também, respeitosamente, sejam as intimações do recorrente


referentes ao presente recurso feitas em nome dos advogados Luiz Carlos
Sturzenegger, inscrito na OAB/DF sob o nº 1942-A, e Gustavo César de Souza
Mourão, inscrito na OAB/DF sob o nº 21.649.

Termos em que,
pede deferimento.

Brasília, 26 de junho de 2017

Luiz Carlos Sturzenegger Gustavo César de Souza Mourão


OAB/DF nº 1942-A OAB/DF nº 21.649
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Fábio Lima Quintas


OAB/DF nº 17.721

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EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,

COLENDA TURMA,

EMINENTE MINISTRO RELATOR


Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

I. ALERTA INICIAL: O ACÓRDÃO RECORRIDO CONTRARIA


ENTENDIMENTO DO PLENÁRIO DO STF TOMADO NO
JULGAMENTO DO RE Nº 612.043, COM REPERCUSSÃO GERAL

1. Como será adiante melhor demonstrado, o acórdão recorrido, em


síntese, acabou por retirar toda a validade normativa do disposto no art. 16
da Lei de Ação Civil Pública por entender “ser indevido limitar, aprioristicamente, a
eficácia de decisões proferidas em ações civis públicas coletivas ao território da competência do
órgão judicante”.

2. Ao que tudo indica, esse entendimento contraria a tese


recentemente firmada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal, com
repercussão geral, no julgamento do RE nº 612.043 concluído no dia
10.5.2017 (acórdão pendente de publicação), assim consolidada:

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“A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva,


de rito ordinário, ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos
associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da
jurisdição do órgão julgador, que o fossem em momento anterior ou
até a data da propositura da demanda, constantes da relação jurídica
juntada à inicial do processo de conhecimento”. (grifou-se).

3. Como se vê, o acórdão recorrido admite a possibilidade de a


eficácia da sentença coletiva se estender para além da competência
territorial do juízo prolator enquanto essa Excelsa Corte reitera o seu
entendimento, agora em repercussão geral, de que “a eficácia subjetiva da coisa
julgada formada a partir de ação coletiva” está restrita aos beneficiários que são
“residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador”.

4. Em razão de tanto é que espera e requer o recorrente o devido


processamento do seu recurso extraordinário tendo em vista que o acórdão
recorrido está em dissonância com o entendimento do STF firmado em
sede de repercussão geral no julgamento do RE nº 612.043.

II. OBJETO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO: VIOLAÇÃO À REGRA


CONSTITUCIONAL DE RESERVA DE PLENÁRIO (ART. 97 DA
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CONSTITUIÇÃO), QUALIFICADA POR AFRONTA À ORIENTAÇÃO DO


PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, EXARADA EM SEDE
DE CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE EM
MANIFESTA VIOLAÇÃO À COMPETÊNCIA DO PODER LEGISLATIVO
PARA LEGISLAR SOBRE PROCESSO CIVIL

5. Corte Especial do E. Superior Tribunal de Justiça, ao julgar os


embargos de divergência que constituem os presentes autos, fixou
entendimento que esvaziou todo o conteúdo normativo do art. 16 da Lei nº
7.347, de 1985, inserido pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997, fruto da conversão
da Medida Provisória nº 1.570, de 1997, segundo o qual as sentenças
proferidas em ações civis públicas e ações coletivas têm seus efeitos
circunscritos à jurisdição do órgão prolator.

6. A ementa do julgado esclarece:

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“EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. PROCESSUAL CIVIL.


ART. 16 DA LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AÇÃO
COLETIVA. LIMITAÇÃO APRIORÍSTICA DA EFICÁCIA
DA DECISÃO À COMPETÊNCIA TERRITORIAL DO
ÓRGÃO JUDICANTE. DESCONFORMIDADE COM O
ENTENDIMENTO FIRMADO PELA CORTE ESPECIAL
DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM
JULGAMENTO DE RECURSO REPETITIVO
REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (RESP N.º
1.243.887/PR, REL. MIN. LUÍS FELIPE SALOMÃO).
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL DEMONSTRADO.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA ACOLHIDOS.
1. No julgamento do recurso especial repetitivo (representativo
de controvérsia) n.º 1.243.887/PR, Rel. Min. Luís Felipe
Salomão, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, ao
analisar a regra prevista no art. 16 da Lei n.º 7.347/85, primeira
parte, consignou ser indevido limitar, aprioristicamente, a
eficácia de decisões proferidas em ações civis públicas coletivas
ao território da competência do órgão judicante.
2. Embargos de divergência acolhidos para restabelecer o acórdão
de fls. 2.418-2.425 (volume 11), no ponto em que afastou a
limitação territorial prevista no art. 16 da Lei n.º 7.347/85.”
(EREsp 1.134.957/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, Corte Especial).

7. Ao assim decidir, o acórdão proferido pelo Superior Tribunal de


Justiça violou regra basilar de procedimento, insculpida no art. 97 da
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Constituição, segundo a qual (i) afastar a incidência de lei, no todo ou em


parte, equivale à declaração de sua inconstitucionalidade, e (ii) há
necessidade de procedimentos próprios para o processamento desse
delicado incidente, que não apenas passa pelo seu julgamento no âmbito do
Plenário ou do Órgão Especial do Tribunal, como também exige a
necessária afetação da questão constitucional para julgamento, de molde a
oportunizar o devido processo constitucional previsto para atuação da
jurisdição constitucional.

8. Nesse particular, observa-se que o acórdão impugnado afronta o


entendimento desse Supremo Tribunal Federal, consagrado na Súmula
Vinculante nº 10, verbis:

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“Súmula Vinculante 10 - Viola a cláusula de reserva de plenário


(CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que,
embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei
ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo
ou em parte.” (DOU de 27/6/2008).

9. Se não bastasse isso, é importante destacar que, também na matéria


de fundo, o acórdão recorrido desprestigia a orientação fixada pelo
Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI nº 1.576, no qual se
discutiu exatamente a constitucionalidade do art. 16 da Lei nº 7.347, de
1985.

10. Com efeito, no exame da Medida Cautelar requerida na


mencionada ação, o Plenário desse STF, ao não identificar fundamentos
aptos para suspender a eficácia do dispositivo questionado, acabou por
chancelar a sua constitucionalidade. O acórdão e o voto do relator são
claros nesse sentido:

“SENTENÇA – EFICÁCIA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Em


princípio, não se tem relevância jurídica suficiente à concessão de liminar no
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que, mediante o artigo 3º da Medida Provisória nº 1570/97, a eficácia erga


omnes da sentença na ação civil pública fica restrita aos limites da competência
territorial do órgão prolator.
(...)
A alteração do artigo 16 ocorreu à conta da necessidade de explicitar-se a
eficácia erga omnes da sentença proferida na ação civil pública. Entendo que o
artigo 16 da Lei n.º 7.347, de 25 de julho de 1985, harmônico com o
sistema Judiciário pátrio, jungia, mesmo na redação primitiva, a coisa
julgada erga omnes da sentença civil à área de atuação do órgão que viesse a
prolatá-la.
A alusão à eficácia erga omnes sempre esteve ligada à ultrapassagem dos
limites subjetivos da ação, tendo em conta até mesmo o interesse em jugo –
difuso ou coletivo – não alcançando, portanto, situações concretas, quer sob o
ângulo objetivo, quer subjetivo, notadas além das fronteiras fixadoras do juízo.
Por isso, tenho a mudança da redação como pedagógica, a
revelar o surgimento de efeitos erga omnes na área de atuação do Juízo e,
portanto, o respeito à competência geográfica delimitada pelas leis de regência.
Isso não implica esvaziamento da ação civil pública nem,

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tampouco, ingerência indevida do Poder Executivo no


Judiciário.” 2

11. Vale o destaque de que o Supremo Tribunal Federal reafirmou esse


entendimento recentemente, no julgamento do RE 612.043, no regime de
repercussão geral, quando considerou constitucional o disposto no art. 2º-A
da Lei nº 9.494, de 1997, a dispor que “a sentença civil prolatada em ação
de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos
interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos
que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da
competência territorial do órgão prolator”3.

12. Nesse particular, a Corte Especial do STJ, ao afastar a literalidade


do dispositivo contido na legislação processual violou também o comando
constitucional que outorga ao Poder Legislativo a competência exclusiva
para legislar sobre direito processual civil, ex vi do art. 22, inciso I, da
Constituição, e deu ultratividade à competência do Poder Judiciário,
ampliando indevidamente a sua esfera de atuação, em violação à garantia
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constitucional do juiz natural, insculpida no art. 5º, incisos XXXVII, LIII e


LIV, da CF.

13. Em função desses erros de procedimento e de julgamento, que


violam o rito constitucional previsto para a declaração de
inconstitucionalidade e têm a agravante de desconsiderar o entendimento
desse Supremo Tribunal Federal acerca da constitucionalidade do art. 16 da
Lei de Ação Civil Pública (no sentido de que “a eficácia erga omnes da sentença

2 ADI-MC 1.576/UF, Relator Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgamento


16/4/1997, DJ 6/6/2003.

3 Vide Informativo 864 do STF, disponível em:


http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo864.htm

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na ação civil pública fica restrita aos limites da competência territorial do órgão
prolator”), o presente recurso extraordinário haverá de ser provido para
cassar o acórdão recorrido, uma vez não observado o rito próprio para a
declaração de inconstitucionalidade, ou reformá-lo para reafirmar a validade
do dispositivo legal.

14. É o que se passa a desenvolver, após a apresentação dos fatos


relevantes do processo e da repercussão geral da questão constitucional aqui
suscitada.

III. FATOS
PROCESSUAIS RELEVANTES PARA A PERFEITA
COMPREENSÃO DA CONTROVÉRSIA CONSTITUCIONAL POSTA

15. Conforme bem descrito no acórdão recorrido, trata-se, na origem,


de ação coletiva ajuizada pelo IDEC com a finalidade de revisar contratos
firmados no âmbito do Sistema Financeiro Habitacional (SFH), na qual se
proferiu, em primeira instância, decisão liminar para impedir que as
instituições financeiras promovessem a execução extrajudicial prevista no
DL nº 70, de 1966. O Tribunal Regional Federal da 3ª Região reformou
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referida decisão, mas estabeleceu que a ação coletiva teria abrangência


nacional, não obstante o disposto no art. 16 da Lei nº 7.347, de 1985.
Segundo o TRF3, “não é possível admitir a limitação dos efeitos da decisão
proferida em sede de ação coletiva, para circunscrevê-los tão somente aos
limites territoriais que se compreendem na competência do juiz prolator,
pois, se assim fosse, estaríamos desvirtuando a natureza da ação e, o que é
mais grave, dividindo, cindindo o direito coletivo, difuso ou individual
homogêneo, criando assim, um direito regional” (fls. 2.424 e STJ).

16. Esse entendimento do TRF veio a ser modificado pela 3ª Turma


do STJ, ao decidir que “a sentença proferida em ação civil pública fará coisa
julgada erga omnes nos limites da competência do órgão prolator da decisão”,
nos termos do art. 16 da Lei nº 7.347, de 1985, para, em seguida, ser

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novamente restabelecido pela Corte Especial do STJ, por meio do acórdão


agora impugnado mediante o presente recurso extraordinário.

17. Destacam-se, para a adequada delimitação da controvérsia


constitucional, os seguintes fundamentos do acórdão, nas palavras de sua
eminente Relatora, Ministra Laurita Vaz:

“É certo que a decisão acima aplicou o estabelecido literalmente


no art. 16 da Lei da Ação Civil Pública, primeira parte. Por
pertinente, leia-se o inteiro teor do referido artigo, in verbis:

‘A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos


limites da competência territorial do órgão prolator,
exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova.’ (grifei)

Ocorre que, no julgamento do REsp representativo de


controvérsia n.º 1.243.887/PR, a Corte Especial referendou o
entendimento do Relator, Ministro Luís Felipe Salomão,
diametralmente oposto ao do que decidido pela Terceira Turma,
no sentido de que ‘se o dano é de escala local, regional ou
nacional, o juízo competente para proferir sentença,
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certamente, sob pena de ser inócuo o provimento, lançará


mão de comando capaz de recompor ou indenizar os danos
local, regional ou nacionalmente, levados em consideração,
para tanto, os beneficiários do comando, independentemente
de limitação territorial’ (grifei).”

“Dessa forma, o acórdão embargado, proferido pela Terceira


Turma, no ponto que limita territorialmente a eficácia do
provimento da Justiça Federal, de forma apriorística, diverge da
orientação fixada pela Corte Especial do Superior Tribunal de
Justiça, razão pela qual deve ser reformado. Mostra-se em
conformidade com o entendimento do alto colegiado do STJ o
ponto do acórdão do TRF/3 que consignou que ‘[n]ão é possível
admitir a limitação dos efeitos da decisão proferida em sede
de ação coletiva, para circunscrevê-los tão somente aos
limites territoriais que se compreendem na competência do
juiz prolator, pois, se assim fosse, estaríamos desvirtuando a
natureza da ação e, o que é mais grave, dividindo, cindindo o
direito coletivo, difuso ou individual homogêneo, criando,
assim, um direito regional’ (fl. 2.424, vol. 11, com grifos no
original).”

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18. Em sede de Embargos de Declaração, confrontada com as


violações constitucionais em que incorreu, a Corte Especial, mesmo
procurando se esquivar da discussão, trouxe fundamentos reveladores dos
seus erros de julgamento e de procedimento. A ementa do acórdão veio
assim posta:

“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


COLETIVA. IDEC. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
LIMITAÇÃO TERRITORIAL DOS EFEITOS DA DECISÃO.
RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. FUNDAMENTO
DO ACÓRDÃO NÃO IMPUGNADO. ENUNCIADO N. 283
DA SÚMULA DO STF. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
PROVIDOS.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ALEGAÇÕES DE
OMISSÃO, OBSCURIDADE E CONTRADIÇÃO.
INEXISTÊNCIA.
I - Não há se falar em declaração de inconstitucionalidade,
tampouco o afastamento do art. 16 da Lei n. 7.347/85, mas tão
somente a interpretação do direito infraconstitucional aplicável à
espécie
II - Não cabe ao Superior Tribunal de Justiça, ainda que para o fim
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de prequestionamento, examinar na via especial suposta violação


de dispositivo constitucional, sob pena de usurpação da
competência do Supremo Tribunal Federal.
III - A pretensão de modulação dos efeitos do acórdão
embargado ou a concessão de efeito suspensivo a recurso
extraordinário não configuram omissão e tampouco podem
render ensejo a embargos de declaração.
IV - É entendimento desta Primeira Seção que eventual ‘alteração
jurisprudencial, por si só, não ofende os princípios da segurança
jurídica, não sendo o caso de modulação de efeitos porquanto não
houve declaração de inconstitucionalidade de lei’. Precedentes:
EDcl nos EDcl no REsp 1.060.210/SC, Rel. Ministro Napoleão
Nunes Maia Filho, Primeira Seção, DJe 8/9/2014; (EDcl no REsp
1.201.635/MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Seção,
julgado em 26/11/2014, DJe 5/12/2014).
V - Embargos de declaração rejeitados.” (EDcl nos EREsp
1.134.957/SP, Rel. Ministro Francisco Falcão, Corte Especial).

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19. Do acórdão transcrito, extraem-se os seguintes fundamentos:

“Dos Embargos de Declaração Caixa Econômica Federal.


Alega a parte embargante que o acórdão foi omisso quanto à
declaração de inconstitucionalidade do artigo 16 da Lei de Ação
Civil Pública.
Essa alegação, entretanto, não procede, pois não se declarou a
inconstitucionalidade do dispositivo, nem se afastou a sua
aplicação.
Afastou-se sim o entendimento de que a limitação territorial aplica-
se a todas as ações civis públicas.
Sustenta, ainda, a parte embargante, violação do artigo 97 da
Constituição Federal, porque não se teria respeitado a cláusula de
reserva de Plenário. Todavia, não cabe ao Superior Tribunal de
Justiça, analisar a violação de dispositivos da Constituição Federal.
[…]
Quanto à alegação de obscuridade no acórdão, alega a parte
embargante que o Superior Tribunal de Justiça não poderia realizar
interpretação do dispositivo, porque o Supremo Tribunal Federal
já teria declarado a constitucionalidade da norma.
Essa alegação da parte embargante não procede, uma vez que cabe
ao Superior Tribunal de Justiça exercer a interpretação da
legislação federal independentemente da atribuição do Supremo
Tribunal Federal de julgar a constitucionalidade das leis.
[…]
Alega a parte embargante, também, que o acórdão foi omisso
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quanto à declaração de inconstitucionalidade do art. 16 da Lei n.


7.347/85.
Como já se afirmou na fundamentação da decisão sobre os
embargos da Caixa Econômica Federal, não procede a
alegação, porque não se declarou a inconstitucionalidade do
dispositivo, nem se afastou a sua aplicação. Afastou-se, sim,
a interpretação de que a limitação territorial aplica-se a todas
as ações civis públicas.
Quanto à alegação de violação dos arts. 22, I, e do art. 97 da
Constituição Federal, não cabe ao Superior Tribunal de Justiça
analisar alegações de violação de dispositivos constitucionais, sob
pena de usurpar a competência do Supremo Tribunal Federal.”
(destaques daqui).

20. Em síntese, o acórdão recorrido acabou por introduzir no sistema


jurídico uma desnecessária controvérsia judicial (embora com efeitos
relevantes) sobre a validade do art. 16 da Lei nº 7.347, de 1985, que apenas

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pode ser adequadamente descrita e minimamente compreendida como uma


controvérsia acerca da constitucionalidade do mencionado dispositivo.

21. Isso porque, a pretexto de “contornar a impropriedade técnico-processual


cometida pelo art. 16 da LACP”, o acórdão recorrido, na prática, retira todo o
conteúdo do texto legal, reduzindo a norma insculpida no art. 16 da Lei de
Ação Civil Pública a um conjunto vazio.

22. Ora, mesmo na perspectiva adotada no acórdão recorrido, não há


como negar que a completa desconsideração do conteúdo normativo
expresso no art. 16 da LACP, ainda que sob a justificativa de se contornar
suposta “impropriedade técnico-processual” para atender eventual anseio da
“sociedade e da comunidade jurídica”, representa inequívoca declaração de
nulidade do dispositivo, resultante de inaceitável intromissão judicial no
campo legislativo, só admissível por meio da jurisdição constitucional. Isso
porque:

a. a interpretação sistemática não permite que se reduza a um


conjunto vazio a norma posta no art. 16 da Lei nº 7.347, de
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1985;

b. o art. 16 da Lei nº 7.347, de 1985, com a redação que lhe foi


dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997, foi inserido na legislação
justamente para modificar o regime processual coletivo
estabelecido pelo Código de Defesa do Consumidor (arts. 93
e 103, referidos no acórdão) e pela Lei de Ação Civil Pública;

c. a falta de aplicação de uma norma por razões políticas


(supostamente para garantir amplo e célere acesso à
jurisdição) e conceituais (a referida impropriedade técnico-
processual) significa não apenas limitar a legítima liberdade
de conformação do ordenamento jurídico conferida ao

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legislador, como também representa uma censura à norma


que apenas encontra espaço de realização por meio do
controle de constitucionalidade.

23. Além disso, o acórdão recorrido violou os parâmetros


constitucionais que norteiam a definição do juiz natural e afrontou a
competência legislativa atribuída ao Poder Legislativo da União para dispor,
de forma privativa, sobre processo civil.

24. Por essas razões é que se revela inafastável a conclusão de que o


acórdão recorrido, ao ignorar completamente o quanto disposto na
literalidade do art. 16 da LACP para chegar a interpretação em sentido
totalmente contrário ao que preconiza o dispositivo (nulificando, na prática,
o seu conteúdo), acaba por violar frontalmente o art. 97 da Constituição e a
Súmula Vinculante nº 10 desse Excelso Supremo Tribunal Federal, bem
como por violar a competência legislativa do Congresso Nacional e afrontar
dimensões relevantes da garantia constitucional do juiz natural.
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IV. REPERCUSSÃO GERAL DAS QUESTÕES VERSADAS NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO

25. Por mais de uma razão, a repercussão geral da questão


constitucional versada no presente recurso extraordinário é absolutamente
evidente.

26. Inicialmente, cumpre presumir a repercussão geral porque o


presente recurso impugna acórdão que contraria súmula, de natureza
vinculante, desse Supremo Tribunal Federal (Súmula Vinculante nº 10).

27. Por outro lado, como decorre do inciso III do § 3º do art. 1.035 do
CPC de 2015, há repercussão geral de recurso extraordinário voltado à
impugnação de acórdão que “tenha reconhecido a inconstitucionalidade de
tratado ou de lei federal, nos termos do art. 97 da Constituição Federal”,

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hipótese que guarda pertinência com a situação dos autos, tendo em vista
que o acórdão recorrido, ao negar vigência ao art. 16 da Lei de Ação Civil
Pública, emitiu pronunciamento equivalente à declaração de sua
inconstitucionalidade.

28. Embora já demonstrada a relevância jurídica da causa (requisito por


si só bastante para o reconhecimento da sua repercussão geral), também
aqui se observa a sua evidente relevância social e política porque se discute
no presente recurso a validade e a eficácia de dispositivo de lei (art. 16 da
Lei nº 7.347, de 1985), objeto de regular deliberação pelo Poder Legislativo
Nacional (art. 22, inciso I, da CF), a partir de interpretação contrária à que a
ele foi conferida pelo Supremo Tribunal Federal.

29. A esse propósito, cabe destacar que, tendo sido o acórdão


recorrido proferido pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, a
repercussão geral da questão constitucional veiculada no recurso
extraordinário se observa em função dos efeitos transcendentes próprios de
pronunciamento emanado daquela Corte Especial, com o desiderato de
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unificar a interpretação da legislação infraconstitucional. É o que se tem


observado em inúmeras decisões das instâncias ordinárias em todo o País,
não obstante o entendimento do Superior Tribunal de Justiça não conviva
com o posicionamento desse Supremo Tribunal Federal.

30. Nesse particular, é correto afirmar que o acórdão recorrido


promove indesejável insegurança jurídica no funcionamento do sistema
processual coletivo e desprestígio ao entendimento desse C. Supremo
Tribunal (MC na ADI nº 1.576 e RE 612.043-RG), no sentido de que, “nos
termos do art. 16 da Lei n. 7.347/85, alterado pela Lei nº 9.494/97, a sentença civil
fará coisa julgada erga omnes nos limites da competência territorial do
órgão prolator”, dado que as instâncias ordinárias começaram a decidir em
sentido contrário ao que estabelece o dispositivo legal, de modo a conferir

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abrangência nacional a sentenças coletivas proferidas em ações civis


públicas4.

31. É indubitável, portanto, no caso em tela, não só a presença de


relevância política e social, como também jurídica e econômica, que
transcende o interesse subjetivo das partes, já que presente discussão

4 A esse respeito, merecem destaque, dentre dezenas de outros, os seguintes acórdãos


estaduais:
“O art. 103 do CDC abre possibilidade jurídica para, em conjugação com o art. 16 da LACP, formar-
se a coisa julgada coletiva erga omnes observada a regra de competência do art. 93 do CDC, que leva em
consideração a expressão do dano. Assim, respeitados os parâmetros do art. 93 do CDC, basta que a
ação que vise a reparar o dano nacional seja ajuizada no foro da Capital do Estado ou do Distrito
Federal para que, considerada a extensão desta competência - que é nacional -
produza-se a coisa julgada nos limites da competência territorial do Órgão
prolator (art. 16 da LACP), ou seja, no território nacional.”
(...)Vistos etc., acorda, em Turma, a 16ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em REJEITAR A PRELIMINAR DE
NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO, RECONHECER A SUBMISSÃO DO
FEITO AO REEXAME NECESSÁRIO E, NO MÉRITO, REFORMAR A
SENTENÇA PARA JULGAR PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO
FORMULADO NA INICIAL, COM EFICÁCIA NACIONAL”. (Apelação Cível nº
1.0024.09.669915-2/002, 16ª Câmara Cível do TJMG, Rel. Desembargador José Marcos
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Rodrigues Vieira, grifou-se).


“(...)
O Superior Tribunal de Justiça, no exercício da competência constitucional que lhe é assegurada de ditar a
derradeira palavra na exegese do direito federal infraconstitucional e velar pela uniformidade da sua
aplicação, firmara entendimento, sob a égide do procedimento do julgamento de recursos repetitivos (CPC,
art. 543-C), a partir do ponderado cotejo do estabelecido pelos artigos 93 e 103 do Código de Defesa do
Consumidor, no sentido de que os efeitos e a eficácia da sentença que resolve a ação coletiva, por não se
confundirem com as regras de competência, não estão circunscritos aos limites geográficos da competência do
órgão prolator do decisório, mas aos limites objetivos e subjetivos do que fora decidido coletivamente (REsp
nº 1.243.887/PR).
(...)
Aliado à regra inserta no artigo 93 do Código de Defesa do Consumidor, que disciplina a competência
das ações de conhecimento coletivas, facultando aos legitimados a propositura da demanda no foro da
capital do Estado ou no Distrito Federal – quando se tratar de danos de âmbito nacional ou regional –
deve ser aplicado o regramento inseto no art. 103 daquele estatuto legal de forma a se estender a eficácia
da decisão para além dos limites territoriais da competência do juiz prolator da sentença e a
decisão abranja todo o território nacional.” Apelação Cível nº 20080111239930, 1ª
Turma Cível do TJDFT, Rel. Desembargador Teófilo Caetano, grifou-se).

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voltada à extensão dos efeitos de sentença coletiva proferida em ação civil


pública, manejada no âmbito da tutela coletiva dos direitos individuais
homogêneos, para além do território da competência do órgão prolator, o
que atrai questões constitucionais relacionadas à regra da reserva de
plenário para declaração de inconstitucionalidade, à competência privativa
do Poder Legislativo Nacional para legislar sobre processo civil e à garantia
constitucional do juiz natural.

32. Compreendida a repercussão geral como a existência “de questões


relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que
ultrapassem os interesses subjetivos da causa” (§ 1º do art. 1.035 do CPC de
2015), preenchido se mostra o requisito de admissibilidade do presente
recurso.

V. A NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ART. 16 DA LEI Nº 7.347, DE 1985,


EQUIVALE AO RECONHECIMENTO DE SUA INCONSTITUCIONALIDADE
SEM OBSERVÂNCIA DO RITO PRÓPRIO. VIOLAÇÃO AO ART. 97 DA
CONSTITUIÇÃO (CONFORME ESTABELECIDO PELA SÚMULA
VINCULANTE Nº 10 DO STF)
Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

33. A atual redação do art. 16 da Lei nº 7.347, de 1985, foi inserida na


Lei de Ação Civil Pública pela Medida Provisória nº 1.570, de 26.3.1997. A
razão da inserção do referido dispositivo pode ser verificada a partir do que
consta da respectiva Exposição de Motivos, de que se extrai o seguinte
excerto, verbis:

“Assim, o art. 3º da proposta ao dar nova redação ao art. 16 da Lei nº


7.374, de 24 de julho de 1985, determina que a sentença civil fará coisa
julgada erga omnes nos limites da competência territorial do órgão
prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação
com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. Tal proposta resolve
uma conhecida deficiência do processo de ação civil pública que tem dado
ensejo a inúmeras distorções, permitindo que alguns juízes de primeiro
grau se invistam de uma pretensa “jurisdição nacional”. A despeito das
censuras já emitidas pelo Supremo Tribunal Federal sobre o mau uso da
ação civil pública, inclusive como instrumento de controle de

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constitucionalidade com eficácia contra todos, persistem algumas


tentativas de conferir eficácia universal às decisões liminares ou às
sentenças dos juízes de primeiro grau. Daí a necessidade que se explicite,
de certa forma, o óbvio, isto é, que toda decisão judicial proferida na ação
civil pública tem eficácia nos limites da competência territorial do órgão
julgador.”

34. O recorrente não desconhece o entendimento de parte da doutrina


no sentido de que a redação introduzida no art. 16 da Lei de Ação Civil
Pública contém erro técnico-jurídico, ao confundir eficácia subjetiva da
sentença, eficácia da coisa julgada material e competência jurisdicional5.

35. Não obstante essa deficiência técnico-jurídica apontada pela crítica,


verdade é que o referido dispositivo não foi afastado do mundo jurídico (a
partir de declaração da sua inconstitucionalidade, formal ou material), razão
pela qual é imperioso reconhecer a sua força normativa. É exatamente o
que assinala Humberto Theodoro Junior6 em artigo doutrinário a esse
respeito:
Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

5 Como exemplos dessas críticas é possível citar (i) Ada Pellegrini Grinover (A ação civil
pública e o autoritarismo. Revista de Processo, vol. 96, out/1999, DTR 1999/483, p. 28) para
quem “as investidas do Poder executivo – acompanhado por um legislativo complacente ou no mínimo
desatento – têm atacado a Ação Civil Pública, tentando diminuir sua eficácia por intermédio da
limitação do acesso à Justiça, da compreensão do momento associativo, da redução do papel do Poder
Judiciário”, (ii) Luciano Coelho Ávila (Da limitação territorial da eficácia da coisa julgada coletiva
em sede de ação civil pública. Uma abordagem crítica à luz do moderno direito processual coletivo e do
projeto de lei 5.100/2055. Revista dos Tribunais, vol. 861, jul/2007, DTR 2007/504, p. 53)
que classifica como “desastrosa a alteração legislativa promovida no art. 16 da LACP, motivada
por indevida ingerência governamental em seara nitidamente atribuída ao Poder Legislativo”, e (iii)
Humberto Theodoro Junior (“Algumas observações sobre a ação civil pública e outras ações
coletivas. Revista dos Tribunais, vol. 788. jun/2001, DTR 2001/236, p. 57) que entende ter
o legislador incorrido em “grave erro de técnica jurídico-processual porque, em princípio, a coisa
julgada se limita pelo pedido (demanda) e não pela competência.”

6 JUNIOR, Humberto Theodoro. Algumas observações sobre a ação civil pública e outras ações
coletivas. Revista dos Tribunais, vol. 788. jun/2001, DTR 2001/236, p. 57.

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“Por força dessa nova legislação, o art. 16 da Lei 7.347/1985


passou a dispor que a sentença da ação civil pública ‘fará coisa
julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão
prolator’.
Houve, sem dúvida, um grave erro de técnica jurídico-processual
porque, em princípio, a coisa julgada se limita pelo pedido
(demanda) e não pela competência. Assim, segundo a tradição de
nosso direito e pelas exigências do próprio bom senso, o réu
domiciliado em qualquer ponto do território nacional, desde que
regularmente inserido na relação processual, está sujeito a suportar
os efeitos da coisa julgada oriunda de sentença de Juiz de qualquer
parte do território brasileiro.
Mas isto não impede que haja litígios que somente devam ser
decididos pelo juízo do foro do réu ou da situação da coisa ou da
verificação do fato. A lei pode, dentro de sua soberania
normativa, regular das mais diferentes maneiras o problema
da competência. Se não o faz segundo a melhor técnica, pode
merecer a censura ou a crítica dos doutos. Nem por isso
deixará de ser eficaz enquanto não revogada ou alterada por
outra lei.
Apenas quando a regra legal ofender uma ordem superior de
legitimação ou eficácia é que o erro de técnica lhe
comprometerá a validade. Isto é: não é a ofensa à ciência
doutrinária, mas apenas a lesão à Constituição que
compromete a validade de uma lei.
Como não há regra alguma de nível constitucional que obrigue a
existir ações coletivas com força nacional, a Lei 9.494, art. 2.º,
Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

continuará a fazer com que cada Juiz apenas disponha de


autoridade para tutelar direitos difusos, coletivos ou individuais
homogêneos dentro do território de sua jurisdição.
Dir-se-á que o Código de Defesa do Consumidor continua, em seu
art. 93, a sustentar a viabilidade de ações coletivas para eficácia em
todo território nacional, desde que aforadas no foro do Distrito
Federal ou da Capital de cada Estado. O que, todavia, se acha
regulado no art. 93 é apenas a competência para certas ações
coletivas, em função do objeto da lide, não a extensão da
competência territorial. A base territorial da jurisdição de cada
órgão judicial é permanente e resulta da divisão do território
nacional em circunscrições judiciárias, sendo cada uma delas
atribuídas a foros de 1.º e 2.º graus. Essa organização judiciária não
sofre, jamais, qualquer tipo de alteração, seja qual for o conteúdo
do litígio a resolver.
Se contra a melhor técnica processual, o legislador entendeu
de confundir numa só regra a competência territorial com os
limites da força da sentença, o certo é que lei existe e, como
tal, deverá ser acatada pelo Poder Judiciário. À jurisdição, a
não ser como guardiã da supremacia constitucional, não é
dado rever a obra legislativa para modificá-la ou revogá-la,

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ainda que sustentada por critérios de conveniência ditados


pela melhor técnica jurídica” (grifos daqui).

36. É também importante relembrar, nesse aspecto, que o art. 16 da


Lei de Ação Civil Pública teve a sua constitucionalidade testada no bojo da
ADI nº 1.576, quando, no exame da Medida Cautelar ali requerida, o
Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao não identificar fundamentos
aptos para suspender a sua eficácia, formalmente chancelou a sua
constitucionalidade. O acórdão e o voto do relator são claros nesse sentido:

“SENTENÇA – EFICÁCIA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Em


princípio, não se tem relevância jurídica suficiente à concessão de
liminar no que, mediante o artigo 3º da Medida Provisória nº
1570/97, a eficácia erga omnes da sentença na ação civil pública fica
restrita aos limites da competência territorial do órgão prolator.
(...) A alteração do artigo 16 ocorreu à conta da necessidade de
explicitar-se a eficácia erga omnes da sentença proferida na ação civil
pública. Entendo que o artigo 16 da Lei n.º 7.347, de 25 de julho
de 1985, harmônico com o sistema Judiciário pátrio, jungia,
mesmo na redação primitiva, a coisa julgada erga omnes da sentença
civil à área de atuação do órgão que viesse a prolatá-la.
A alusão à eficácia erga omnes sempre esteve ligada à ultrapassagem
Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

dos limites subjetivos da ação, tendo em conta até mesmo o


interesse em jogo – difuso ou coletivo – não alcançando, portanto,
situações concretas, quer sob o ângulo objetivo, quer subjetivo,
notadas além das fronteiras fixadoras do juízo.
Por isso, tenho a mudança da redação como pedagógica, a
revelar o surgimento de efeitos erga omnes na área de atuação do
Juízo e, portanto, o respeito à competência geográfica delimitada
pelas leis de regência. Isso não implica esvaziamento da ação
civil pública nem, tampouco, ingerência indevida do Poder
Executivo no Judiciário.”7

7 ADI-MC 1.576/UF, Relator Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgamento


16/04/1997, DJ 06-06-2003, p. 29.

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37. Esse entendimento, aliás, no magistério do Ministro Teori Albino


Zavascki8, é o que agrega racionalidade jurídica (e força normativa) ao art.
16 da Lei da Ação Civil Pública, principalmente quando se trata de tutela
coletiva de direitos individuais homogêneos (como ocorre no caso
concreto). A propósito:

“No que se refere ao âmbito de eficácia, a imutabilidade da


sentença na ação civil pública, segundo o art. 16 da Lei 7.347/85, é
‘erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão
prolator’. A extensão subjetiva universal (erga omnes) é
conseqüência natural da transindividualidade e da indivisibilidade
do direito tutelado na demanda. Se o que se tutela são direitos
indivisíveis e pertencentes à coletividade, a sujeitos
indeterminados, não há como estabelecer limites subjetivos à
imutabilidade da sentença.
(...)
A interpretação literal do art. 16 leva, portanto, a um resultado
incompatível com o instituto da coisa julgada. Não há como cindir
territorialmente a qualidade da sentença ou da relação jurídica nela
certificada. Observe-se que, tratando-se de direitos
transindividuais, a relação jurídica litigiosa, embora com
pluralidade indeterminada de sujeitos no seu pólo ativo, é única e
incindível (indivisível). Como tal, a limitação territorial da coisa
julgada é, na prática, ineficaz em relação a ela. Não se pode
Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

circunscrever territorialmente (circunstância do mundo físico) o


juízo de certeza sobre a existência ou a inexistência ou o modo de
ser de relação jurídica (que é fenômeno do mundo dos
pensamentos).
O sentido da limitação territorial contida no art. 16, antes referido,
há de ser identificado por interpretação sistemática e histórica.
Ausente do texto original da Lei 7.347/85, sua gênese foi a nova
redação dada ao dispositivo pelo art. 2º da Lei 9.494, 10.9.1997.
Essa Lei, por sua vez, tratou de matéria análoga no seu art. 2ºA,
que assim dispôs: “a sentença civil prolatada em ação de caráter
coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses
e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos
que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito
da competência territorial do órgão prolator”. Aqui, o desiderato
normativo se expressa mais claramente. O que ele objetiva é
limitar a eficácia subjetiva da sentença (e não da coisa

8ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo. Tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos.
2ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 81/82.

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julgada), o que implica, necessariamente, limitação do rol


dos substituídos no processo (que se restringirá aos
domiciliados no território da competência do juiz). Ora,
entendida nesse ambiente, como se referindo à sentença (e
não à coisa julgada), em ação para a tutela coletiva de
direitos subjetivos individuais (e não em ação civil pública
para tutela de direitos transindividuais), a norma do art. 16
da Lei 7.347/85 produz algum sentido. É que, nesse caso, o
objeto do litígio são direitos individuais e divisíveis,
formados por uma pluralidade de relações jurídicas
autônomas, que comportam tratamento separado, sem
comprometimento da sua essência. Aqui sim é possível
cindir a tutela jurisdicional por critério territorial, já que as
relações jurídicas em causa admitem divisão segundo o
domicílio dos respectivos titulares, que são perfeitamente
individualizados.
Compreendida a limitação territorial da eficácia da sentença
nos termos expostos, é possível conceber idêntica limitação à
eficácia da respectiva coisa julgada. Nesse pressuposto, em
interpretação sistemática e construtiva, pode-se afirmar,
portanto, que a eficácia territorial da coisa julgada a que se
refere o art. 16 da Lei 7.347/85 diz respeito apenas às
sentenças proferidas em ações coletivas para tutela de
direitos individuais homogêneos, de que trata o art. 2ºA da
Lei 9.494, de 1997 e não, propriamente, às sentenças que
tratem de típicos direitos transindividuais.” (grifou-se).
Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

38. Como reconheceu o plenário do Supremo Tribunal Federal por


ocasião do julgamento da Medida Cautelar na ADI nº 1.576, a restrição
imposta pelo art. 16 da Lei da Ação Civil Pública não “implica
esvaziamento da ação civil pública nem, tampouco, ingerência indevida do
Poder Executivo no Judiciário”, mas, sim, exercício político pleno e válido
no âmbito da independência dos Poderes, que deve ser preservado.

39. De tudo isso resulta que, se não foi declarada, ao menos


formalmente, a inconstitucionalidade do art. 16 da LACP, não poderia o
acórdão recorrido afastar a sua incidência no caso dos autos, ainda que com
o desígnio de se “contornar a impropriedade técnico-processual cometida
pelo art. 16 da LACP”.

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40. Em suma, o acórdão recorrido acabou por atrair para o julgado os


mesmos efeitos da declaração incidental de inconstitucionalidade do
referido dispositivo, nos termos da Súmula Vinculante nº 10 do Supremo
Tribunal Federal.

41. Exatamente porque afastou a incidência “de lei ou ato normativo


do poder público (...) no todo ou em parte”, com o mesmo efeito prático de
declaração incidental de inconstitucionalidade, o acórdão recorrido acabou
por violar a cláusula da reserva de plenário, inscrita no art. 97 da
Constituição.

42. Não obstante tenha sido o acórdão recorrido julgado pela Corte
Especial do STJ, é preciso destacar que a inobservância do rito previsto
para a declaração de inconstitucionalidade trouxe prejuízos evidentes para a
segurança do ordenamento jurídico e o contraditório especial existente
nesse tipo de incidente.

43. Com efeito, se tivesse o Superior Tribunal de Justiça suscitado


incidente de inconstitucionalidade, é certo que “o Ministério Público e as
Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

pessoas jurídicas de direito público responsáveis pela edição do ato


questionado”, se assim tivesse requerido, poderiam “manifestar-se no
incidente de inconstitucionalidade” (§ 1º do art. 950 do CPC/2015), sendo
tal faculdade concedida também aos “titulares do direito de propositura
referidos no art. 103 da Constituição” (§ 2º do art. 950 do CPC/2015).

44. Pela gravidade de que se reveste a declaração de


inconstitucionalidade, é certo que a observância estrita da regra estabelecida
pelo preceito constitucional da reserva do plenário constitui uma
formalidade voltada à proteção da própria supremacia da Constituição.

45. Por essas razões, requer-se seja conhecido o recurso extraordinário


por violação ao art. 97 da Constituição, e também provido para cassar o

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acórdão recorrido ou para reformá-lo, a fim de que, reafirmando a


constitucionalidade do art. 16 da LACP, confira-se validade ao dispositivo,
no sentido de que a eficácia subjetiva da sentença coletiva é restrita aos
limites da “competência territorial do órgão prolator”.

VI. A VIOLAÇÃO À COMPETÊNCIA DO PODER LEGISLATIVO


NACIONAL
46. De outro lado, o acórdão recorrido afrontou a competência
privativa do Poder Legislativo Nacional para legislar sobre processo civil
(art. 22, inciso I, da Constituição) e violou os parâmetros constitucionais
que firmam a definição do juiz natural, desrespeitando aquilo que o
Ministro Marco Aurélio Mello, do STF, designou como “a competência
geográfica delimitada pelas leis de regência” [da jurisdição] (ADI-MC
1.576).

47. De um lado, é imperioso recordar que o “princípio do juiz natural


não apenas veda a instituição de tribunais e juízos de exceção, como
também impõe que as causas sejam processadas e julgadas pelo órgão
Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

jurisdicional previamente determinado a partir de critérios constitucionais


de repartição taxativa de competência, excluída qualquer alternativa à
discricionariedade” (HC 86.889, Rel. Ministro Menezes Direito, j. 20-11-
2007, 1ª T, DJE de 15-2-2008).

48. Ao conferir extensão nacional a decisões proferidas em ações


coletivas, estar-se-á, é fácil intuir, diante da esdrúxula situação de um juiz de
primeira instância do Acre exercer jurisdição para resolver litígios
envolvendo eventos que ocorrem no Rio Grande do Sul para os quais não
possui competência. E mais grave, habilita aos Autores da ação coletiva
escolherem, por sua conveniência, o juiz que terá competência nacional
para apreciar a lide em todo o território nacional.

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49. Tal compreensão viola o núcleo essencial da garantia do juiz


natural, de modo que o reconhecimento tácito de inconstitucionalidade
feito pelo Superior Tribunal de Justiça do art. 16 da Lei nº 7.347, de 1985,
viola o disposto no art. 5º, incisos XXXVII, LIII e LIV, da Constituição.

50. Mas não apenas isso.

51. Segundo entendimento desse Supremo Tribunal Federal, “a


definição de regras de competência, na medida em que estabelece limites e
organiza a prestação da atividade jurisdicional pelo Estado, é um dos
componentes básicos do ramo processual da ciência jurídica, cuja
competência legislativa foi atribuída, pela CF de 1988, privativamente à
União (Art. 22, I, CF/88)” (ADI 1.807, Rel. Ministro. Dias Toffoli, DJE de
9-2-2015).

52. Não por outro motivo, entende esse Supremo Tribunal Federal
que, “com o advento da CF de 1988, delimitou-se, de forma mais criteriosa,
o campo de regulamentação das leis e o dos regimentos internos dos
tribunais, cabendo a estes últimos o respeito à reserva de lei federal para a
Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

edição de regras de natureza processual (CF, art. 22, I), bem como às
garantias processuais das partes, ‘dispondo sobre a competência e o
funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos’ (CF,
art. 96, I, a). São normas de direito processual as relativas às garantias do
contraditório, do devido processo legal, dos poderes, direitos e ônus que
constituem a relação processual, como também as normas que regulem os
atos destinados a realizar a causa finalis da jurisdição” (ADI 2.970, Rel.
Ministra. Ellen Gracie, DJ de 12-05-2006).

53. Merece menção, por fim, que esse Supremo Tribunal Federal, no
recente julgamento do RE 612.043, no regime de repercussão geral,
reafirmou a leitura de que os efeitos das sentenças coletivas possuem sim

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limitações geográficas, como decorre das regras de competência esculpidas


na Constituição.

54. Confira-se, a propósito, o teor do Informativo nº 864 do STF9:

“DIREITO PROCESSUAL - REPRESENTAÇÃO


PROCESSUAL

Propositura da ação: associação e momento para a filiação –2

A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação


coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na defesa
de interesses dos associados, somente alcança os filiados,
residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o
fossem em momento anterior ou até a data da propositura da
demanda, constantes da relação jurídica juntada à inicial do
processo de conhecimento.
Com base nesse entendimento, o Plenário, apreciando o Tema 499
da repercussão geral, por maioria, negou provimento ao recurso
extraordinário e declarou a constitucionalidade do art. 2º-A da Lei
9.494/1997.” (RE 612.043/PR, Rel. Ministro Marco Aurélio,
julgamento em 10.5.2017).

55. Assim, diante da inequívoca regra prevista no art. 16 da LACP e da


Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, é imperativo o


reconhecimento de que o acórdão recorrido, ao deixar de simplesmente
aplicar esse dispositivo legal, foi além da interpretação própria da atividade
jurisdicional, tomando para si postura legiferante indevida, usurpando a
competência legislativa privativa da União para legislar a respeito de direito
processual, tal como definido no art. 22, inciso I, da Constituição.

56. O acórdão recorrido, por isso, invadiu a competência privativa da


União para legislar sobre direito processual e violou garantias
constitucionais da Jurisdição.

9 http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo864.htm

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57. Com esses fundamentos, requer o Itaú Unibanco seja conhecido o


recurso extraordinário, por violação aos arts. 5º, incisos XXXVII, LIII e
LIV, e 22, inciso I, da Constituição, e provido para, reformando o acórdão
recorrido, restabelecer o acórdão da 3ª Turma do Superior Tribunal de
Justiça, que corretamente limitara os efeitos subjetivos e territoriais da
sentença ao território do órgão prolator.

VII. PEDIDO
58. Por tudo quanto exposto, espera e requer o recorrente que, diante
do reconhecimento da violação ao art. 97 da Constituição, seja cassado o
acórdão recorrido, devolvendo-se o processo para nova apreciação do
Superior Tribunal de Justiça, ou seja reformado para que, em vista da
violação aos arts. 5º, incisos XXXVII, LIII e LIV, e 22, inciso I, da
Constituição, reafirmando-se a constitucionalidade plena do art. 16 da
LACP (STF, ADI nº 1.576), reconheça-se a validade do dispositivo legal, no
sentido de que a eficácia subjetiva da sentença coletiva é restrita aos limites
da “competência territorial do órgão prolator”.
Petição Eletrônica juntada ao processo em 28/06/2017 ?s 09:20:21 pelo usu?rio: BRUNO GONÇALVES KATO

Nestes termos,
pede e espera deferimento.
Brasília, 26 de junho de 2017

Luiz Carlos Sturzenegger Fábio Lima Quintas


OAB/DF 1.942-A OAB/DF 17.721

Gustavo César de Souza Mourão


OAB/DF nº 21.649

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