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P e t e r S il v e r w o o d C o p e
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O A utor p rin cip ia com u m a breve revisão h istó ric a d a fu n d a
ção do Serviço de P ro teção aos ín d io s que, conq u anto reconhecendo
as m otivações idealistas e a ltru ís ta s do R ondon em m uitos outros,
conclui:
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p rom etid a com a am p la p o lítica econôm ica e d esenvolvim sntista do
regim e m ilita r brasileiro. Neste contexto, declara:
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Em segundo lugar, o T ítulo IV Dos B ens e R enda do Patrim ônio
Indígen a provê a FUNAI do d ireito de a d m in istra r e lib era r os r e
cursos de te rra s indígenas, direitos de pasto, corte de m ad eira, a g ri
c u ltu ra e m in eração ; estes podem ser conseguidos por pagam ento
à FUNAI, que é um órgão tu te la r. A assim c h a m a d a R en d a In d í
gena é coletada, co n tro lad a, a d m in istra d a e re d istrib u íd a pela FUNAI
sem n e n h u m a p articip ação d as com unidades ind íg en as quando das
decisões relev an tes. O esquem a in te g ra l d a R en d a Indígena, co n ti
n u a, n a FUNAI, com os m esm os princípios da S PI — um esquem a
que foi subm etido a u m a p e n e tra n te an álise e crítica convincente
por R oberto Cardoso de O liveira em o “Indigenism o e Colonialism o”
(1968). Sob este aspecto, obviam ente fu n d a m e n ta l d a caracterização
da política do índio, D avis n ã o estabelece u m a explanação ad eq u a
da d a m an ip u lação da R en d a In d íg e n a e suas conseqüências p a ra
as com unidades indígenas. Como R oberto Cardoso de O liveira ex
plica (op. c it.):
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Neste p o n to recom endam os a g ran d e co ntribuição do a u to r à
docum entação e análise, considerável e crescente, d a situação do
índio brasileiro. M uito em bora vários observadores relate m com m i
núcias, m u ita s vezes chocantes, casos específicos de atrocidades co
m etid as c o n tra os índios, a ênfase do Dr. Davis é a d a co rrente
causal pela qual, d e n tro do contexto dos m ercados e planos in te r
nacionais, a p o lítica desenvolvim entista favoreceu o surgim ento das
corporações n acio n ais e m ultin acio n ais, e provocou u m a nova e x
p an são em direção às te rra s dos índios m ais m assiva e poderosa
do que ja m a is o fo ra an tes.
E n q u an to que a s p rim e ira s fre n te s ex p an sio n istas — como des
c rita s e exem plificadas p o r D arcy R ib e iro 3 — e ra m c a ra cteriz ad a s
por com erciantes, m issionários, serin g alistas, g arim peiros e fazen d ei
ros, agin d o como indivíduos ou, n o m áxim o, como com panhias de p e
queno porte, com m u ita com petição in te rn a e pouco c a p ita l ou te c
nologia, vemos ag o ra que as g ran d es corporações, e sta ta is ou m u lti
nacionais, ex p ro p riam sistem aticam en te as te rra s indígenas com m é
todos e x tre m a m e n te m odernos de tecnologia e de organização, inves
tim en to s m aciços de ca p ita l e, acim a de tu d o com sanção oficial
política e legislativa.
P o r conseguinte, a p a r te p rin cip al do livro do Dr. D avis é de
dicada ao estudo de como estas corporações o peram e de seus efei
to s sobre os índios, população ru ra l e m eio am biente am azônico.
E stas operações podem ser classificadas em trê s setores gerais:
pecuário, agrícola e de m ineração. N estes trê s setores, a operação-
-chave d as corporações se baseia n a aquisição de direitos do governo,
ignoran d o freq ü en tem en te ou expulsando os cam poneses e os índios
de enorm es extensões de te rra ; quando docum entos de propriedade
n ão podem ser a rra n ja d o s, direitos de u su fru to são arren d ad o s pela
FUNAI, no caso de te rra s ocupadas ou re g istra d a s pelos índios. O
a u to r ilu stra o livro com m apas, itin e rá rio s e tabelas, p a ra poder
d e m o n stra r que a expansão das corporações se faz em g ran d e es
cala e acelerad am en te.
O utro p onto im p o rta n te que o a u to r destaca, e que a m aioria
dos in d ig en istas reconhece, é que as v ítim as do m ilagre n ã o são so
m e n te os índios, m as em m aio r núm ero, os cam poneses pobres e
sem te rra s, em m u ito s casos m ig ra n te s do nordeste. Depois de rever
a h istó ria do p ro testo dos agricu lto res c o n tra a expropriação de te r
ra s e a violenta rep ressão aos cam poneses, n a ú ltim a década, p ela
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firm a C odeara em M ato Grosso, ele co n tin u a m o stran d o como a
orien tação do m ercado ex terio r d as g ran d es corporações de gado
agravou o problem a d a fome, doença e m iséria d a m aio r p a rte da
população brasileira. Em suas p ró p rias p alavras, a política nacio
n a l a g rá ria
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larg a escala, citando exem plos como as fra c a ssa d as plantações de
b o rrac h a d a F o rd lân d ia. C ontudo, n ão te n h o dúvida de que p a ra os
antropológos, etnólogos e in d ig en istas o quadro ap resen tad o , no glo
bal, será inform ativo, provocador e provavelm ente b a sta n te d e p ri
m ente.
Ao re ite ra r a m in h a observação de que o livro de Shelton Davis
é p rin cip alm en te sobre o com p o rtam en to ex p an sionista das co rp o ra
ções privadas, e sta ta is e m ultin acio n ais, devo esclarecer algum as de
m in h as críticas.
Em prim eiro lugar, o a u to r a p re se n ta os índios como incapazes
e m u itas vezes vítim as passivas, a cam in h o da extinção. E n q uanto
que n a m aio ria dos casos isto pode ser verdade, h á algum as exce
ções significativ as que devem ser d ad as ao conhecim ento de m a
n e ira a m ais am p la possível. O a u to r m enciona a resistência política
e m ilita r dos X av an tes e dos A troari-W aim iri, m as não fala da im
p o rtâ n c ia destes exem plos n a a tu a l em ergência d a conscientização
dos indígenas brasileiros e sua m ovim entação política. N estes ú lti
m os anos te m havido encontros de chefes e re p re se n ta n tes de tribos
e com unidades in d íg en as das m ais v a ria d a s e d iferen tes á re a s in d í
genas. O efeito m oral de ta is encontros e reuniões nos pequenos
grupos das cercanias, que a té aqui se consideravam como os últim os
dos índios — ou dos seres hum anos, como n o rm alm en te eles se
classificam — pede ser m u ita s vezes enorm e. A inda é cedo p a ra
p rever o seu fu tu ro , e h á ain d a as te n ta tiv a s capciosas dos m is
sionários e d a FUNAI in te rfe rin d o ou controlando estes encontros
e m ovim entos, seja p a ra canalizá-lo s p a ra ativ idades ou objetivos
difusos e im profícuos, ou p a ra jo g a r os índios c o n tra os assim
cham ados órgãos assistenciais. Assim, quando a s Missões Católicas
(CIMI) o rg a n iz a ram um enco n tro de chefes in d ígenas em R oraim a,
em 1976, a FUNAI o rep rim iu com in sinuações de que a CIMI es
ta v a alim e n ta n d o a subversão. Em o u tra s reuniões m ais co n c e n tra
das e espon tân eas, os m issionários católicos locais te n ta ra m obvia
m en te m a n ip u la r e d irig ir as decisões de acordo com os seus p rin
cípios e objetivos.
U m a reu n ião m ais recen te convocada pelos X a v a n te e que in
cluiu re p re se n ta n te s in dígenas de todo o B rasil pareceu m ais in d e
p en d en te do controle e m anip u lação ex tern a, e pode se en c a m in h a r
p a ra um avanço m uito im p o rta n te .
Segundo, S h elto n D avis n ão m enciona com p ropriedade o papel
histórico dos m issionários, ta n to os católicos como os p ro testan te s,
em desm obilizar e a c u ltu ra r a econom ia e sociedade indígenas. A
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Ig re ja C atólica é m en cio n ad a tão som ente em suas m ais recentes
posições p olíticas e ex pedientes como defensores dos índios e dos
cam poneses. V ários séculos de exterm ínio, dom inação política, ex
ploração econôm ica, co n cen tração e redução te rrito ria l e o im p eria
lism o cu ltu ra l e esp iritu al, lev ad a a efeito de m a n e ira sistem ática
e deliberada pelas m issões católicas c o n tra os povos indígenas a t r a
vés d a A m érica do Sul, são sim plesm ente ignoradas.
O a u to r m al m enciona as m issões p ro te sta n te s, m últip las e in
sidiosas, que im põem um sistem a m oral e social to ta lm e n te exógeno
a num ero sas com unidades in d íg en as dos pontos m ais recônditos do
Brasil.
Nem m esm o alude ao fa to de que a m aio ria desses m issionários,
ta n to os católicos como os p ro te sta n te s, é e stra n g e ira e não ra ra s
vezes ig n o ran te, ou m esm o sim plesm ente hostil, dos valores d a cul
tu r a n ac io n a l b rasileira m encionada. Mesmo q u ando os m issionários
d eclarav am objetivos altru ístico s e de n ã o -in te rferê n cia, su a m era
p resença co n stitu ía um a p o n ta -d e -la n ç a d a fu tu ra p e n etra ção e da
exploração econôm ica.
T erceiro ponto, em su a crítica à política oficial in clu íd a no a tu a l
E sta tu to do ín d io , o Dr. Davis poderia te r considerado tam b ém o
T ítulo VI, Capítulo II, a rt. 58:
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in v estig ar a observância d esta lei, ela te ria que recom endar a p u
nição de m uitos m issionários e ag en tes g overnam entais, especial
m en te no que se refere ao item I. Q ualquer antropólogo observaria
que o item I é quase im possível de ser obedecido: co n ta to e n tre
grupos com d iferen ças biológica, econôm icas e sociais inv ariav elm en
te envolvem in te ra ç ã o e onde h á ta n ta disp arid ad e tecnológica, d e
m ográfica e de im u n id ad es a doenças, é inevitável que o sistem a
m enor, m ais fraco e hem ostático, seja a lte ra d o pelo grupo m ais n u
meroso, expansivo e forte.
Q uarto, o a u to r n ão m enciona a cla ra in dicação d a recuperação
dem ográfica e biológica que a p a re n te m e n te te m havido em algum as
trib o s n a ú ltim a década. Os X av an te, os Y anom am õ, os Surui, os ín
dios do Alto Rio Negro e m u ito s outros grupos ind ígenas m o stra ra m
um a forte te n d ê n c ia de crescim ento populacional. C ontudo, n a m aio
ria dos casos este fa to agravou o problem a de te rra s, pois eles hoje
ocupam um a p equena fração de seus an tig o s te rritó rio s e estão cer
cados po r todos os lados de insaciáveis e sem pre crescente núm ero
de invasores brancos.
Um com entário fin al, e o m ais im p o rta n te , é que m esm o reco
nhecendo o m érito do estudo do crescente p ap el das corporações em
d e te rm in a r a situ ação dos índios am azônicos, h á a in d a a necessi
dade de u m a co nstrução de m odelos an alíticos, explicativos e p re
dicativos d a situ ação de contato , como foi elaborado por D arcy R i
beiro e R oberto Cardoso de Oliveira. O enfoque em pírico de S helton
Davis en fatizan d o o jogo estratég ico de interesses de grupos às ve
zes com petitivos, às vezes aliados, pode ser aplicado com proveito n a
análise de casos específicos, e lev ar à form ulação de modelos gene
ralizados. Pois é m u ito freq ü en te o serm os abastecidos tão som ente
com d eta lh a d a s descrições de acon tecim en to s locais, sem um a te n
ta tiv a explícita de rela c io n a r estes casos aos processos m ais am plos
no tem po e n o espaço.
P a ra e n c e rra r e sta resen h a, um cu rto relató rio técnico. Os casos
são resum idos m as adequados, e estes poucos, a té onde pude con
ferir, parecem ser satisfató rio s.
O livro é exposto com clareza e bem arg u m entado, a p en as um
pouco retórico. A pesar de repetitivo, reap arecen d o no texto, com
c e rta freqüência, frases e alguns p arág rafo s, os m apas, tab e las e
c a rta s são m uito bons. As fo n tes de in fo rm ação são c ita d a s ap ro
p riad am e n te n a s n o ta s de capítulo. O livro é bem elaborado e com
poucos erros.
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