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Vítimas do milagre — vilões do milagre

P e t e r S il v e r w o o d C o p e

V ítim as do M ilagre é u m a im p o rta n te contribuição p a ra todos


os etnólogos e in d ig en istas que este ja m in teressad os n a situação dos
índios su l-am ericanos.
P reten d o m o s tra r n e sta resen h a, e como o títu lo o sugere, que
as im plicações do tra b a lh o do Dr. S h elto n Davis vão além das fro n ­
te ira s políticas do B rasil e d a categ o ria dos povos indígenas. O li­
vro do Dr. D avis é m enos sobre os índios que são as vítim as do
“m ilagre b rasileiro ” e m ais sobre as g ran d es corporações — p riv a ­
das, e sta ta is e in te rn a c io n a is — am bas p e rp e tra d o ras e b eneficiárias
do assim cham ad o m ilagre, e sobre o contexto histórico, n acional e
in tern acio n al, n a s quais e sta s corporações su b iram ao poder. A ê n fa ­
se do tra b a lh o de Davis n ão é o índio, v ítim a do m ilagre, m a s essas
corporações, os vilões do m ilagre, e o desenvolvim ento d a política
que os protegeu.
Não h á d úvida que ta n to os etnólogos q u anto os in d ig en istas
estão a p a r do crescente p apel dos planos de desenvolvim ento em
larg a escala que favorecem as p rin cip ais corporações em sua pe­
n etra çã o ju n to aos índios e n a s com unidades ru ra is; m as aqui, p a ra
v ariar, isso nos é ap re se n ta d o com u m extenso, m as coerente t r a t a ­
m ento que pode explicar sim u ltan eam en te, p o r exemplo, a situação
dos Y anom am õ em R oraim a, invadidos pelos garim peiros, e nos m es­
mos term o s a situ ação dos N am bikw ara, privados de sua te rra s p e­
los fazendeiros em M ato Grosso. Ambos os casos estão colocados d en ­
tro de um contexto histórico específico de p o lítica desenvolviirien-
tis ta que pode se r com preendida em term o s de m ercados é ‘políticas
nacionais e in tern acio n ais.

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O A utor p rin cip ia com u m a breve revisão h istó ric a d a fu n d a ­
ção do Serviço de P ro teção aos ín d io s que, conq u anto reconhecendo
as m otivações idealistas e a ltru ís ta s do R ondon em m uitos outros,
conclui:

que na maior parte das áreas do Brasil onde a SPI funcionava


os índios eram destruídos pela doença ou se tornaram popu­
lações étnicas marginalizadas em minúsculas parcelas de terra,
(p. 5).

Este processo é am p lam en te ilu strad o com referên cia e citação


do estudo diacrônico de D arcy R ibeiro de e sta tístic a s de população
indígena, p u blicada o rig in alm en te em 1957.
O R elatório F ig u eired o1 levou à dissolução do S P I e sua su b s­
titu ição p ela FUNAI, e estes acontecim entos estão relacionados com
os planos govern am en tais de desenvolvim ento econômico:

Os programas introduzidos pelo governo brasileiro após 1970


começaram a transformar todo a estrutura econômica da re­
gião amazônica. Para que se possa entender a natureza destas
mudanças é importante notar dois pontos. Primeiro, para fi­
nanciar os programas de desenvolvimento econômico, o governo
foi forçado a emprestar grandes somas de dinheiro de insti­
tuições de crédito internacionais e bancos estrangeiros ( . . . )
Em 1972 o Brasil suplantou o Japão como o maior devedor do
Banco de Importação e Exportação dos EE.UU. e a nação
com a maior dívida para com o Banco Mundial.
( . . . ) Segundo, quando foi anunciado o Plano de Inte­
gração Nacional (PIN) corporações estrangeiras e multinacio­
nais controlavam os postos de comando da economia brasileira.
Significativamente os níveis mais altos da economia brasilsira
sob controle estrangeiro foram nos anos 60 ( . . . )
Um estudo baseado em informações de 1970 descobriu que
158 das 500 maiores empresas não financiadas do Brasil são
americanas e de outras nocionalidades ( . . . )
Na última década, surgiu uma nova sociedade entre ins­
tituições de crédito internacional, corporações multinacionais
e o regime militar brasileiro. A força desta associação foi o
fator principal para a rápida abertura da Amazônia brasi­
le ira ... (p. 41, 42).

O a u to r com eça por d e m o n stra r os vários cam inhos atrav é s dos


quais a política co n tem p o rân ea p a ra com os índios se to rn o u com-

1 Em 1967, o então Ministro do Interior, Gen. Albuquerque Lima, delegou o


Promotor Sales Figueiredo para a investigação de denúncias contra fun­
cionários do S .P .I .

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p rom etid a com a am p la p o lítica econôm ica e d esenvolvim sntista do
regim e m ilita r brasileiro. Neste contexto, declara:

O regime de Bandeira de Melo durou de junho de 1970


até março de 1974. Durante este período, um novo modelo de
política indigenista foi institucionalizado no Brasil. Os pro­
pósitos deste modelo eram: 1) integrar os índios tão rápido
quanto possível no mercado econômico em expansão e na es­
trutura de classes do Brasil; e 2) assegurar-se de que os índios
não fossem um obstáculo para a ocupação e colonização do
Amazonas, (p. 60).

Ao desenvolver a sua an álise da nova in stitu cionalização da p o ­


lítica indígena, Dr. D avis to ca em dois problem as que considero de
fu n d a m e n ta l im p o rtân cia, e dos quais fa la re i com m aiores detalhes.
Prim eiro, o a tu a l E sta tu to do ín d io contém cláusulas que d efen ­
dem os direitos do índio, e especialm en te as su as te rra s, em term os
os m ais am plos e vagos, como no T ítulo III, C apítulo I, arts. 17,
18 e 19.
V ejam os o a rt. 18:

Art. 18 — As terras indígenas não poderão ser objeto de


arrendamento ou de qualquer ato ou negócio jurídico que res­
trinja o pleno exercício da posse direta pela comunidade in ­
dígena ou pelos silvícolas.
§ 1.° — Nessas áreas é vedada a qualquer pessoa estranha
aos grupos tribais ou comunidades indígenas a prática de caça,
pesca ou coleta de frutos, assim como de atividades agrope­
cuárias ou extrativa.

Contudo, em seguida, n o a rt. 20, p erm ite brechas enorm es e


específicas, que p ra tic a m e n te in v alid am os artig o s an teriores. O art.
20 d ete rm in a que os índios podem ser rem ovidos de suas te rra s en tre
o u tro s m otivos:

c) por imposição da segurança nacional;


d) para realização de obras públicas que interessem ao
desenvolvimento nacional;
f) para a exploração de riquezas do subsolo de relevants
interesse para a segurança e o desenvolvimento nacional.

Assim, ju stificad o por estes conceitos tão am plos e inespecíficos


como seg u ran ça n acio n al e desenvolvim ento n acional, que podem
in clu ir e stra d a s e b arrag en s, exploração de m inérios e petróleo, e
m esm o m ad eira e p astagem , os índios podem ser expulsos de sua
te rra .

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Em segundo lugar, o T ítulo IV Dos B ens e R enda do Patrim ônio
Indígen a provê a FUNAI do d ireito de a d m in istra r e lib era r os r e ­
cursos de te rra s indígenas, direitos de pasto, corte de m ad eira, a g ri­
c u ltu ra e m in eração ; estes podem ser conseguidos por pagam ento
à FUNAI, que é um órgão tu te la r. A assim c h a m a d a R en d a In d í­
gena é coletada, co n tro lad a, a d m in istra d a e re d istrib u íd a pela FUNAI
sem n e n h u m a p articip ação d as com unidades ind íg en as quando das
decisões relev an tes. O esquem a in te g ra l d a R en d a Indígena, co n ti­
n u a, n a FUNAI, com os m esm os princípios da S PI — um esquem a
que foi subm etido a u m a p e n e tra n te an álise e crítica convincente
por R oberto Cardoso de O liveira em o “Indigenism o e Colonialism o”
(1968). Sob este aspecto, obviam ente fu n d a m e n ta l d a caracterização
da política do índio, D avis n ã o estabelece u m a explanação ad eq u a­
da d a m an ip u lação da R en d a In d íg e n a e suas conseqüências p a ra
as com unidades indígenas. Como R oberto Cardoso de O liveira ex­
plica (op. c it.):

Resulta em que grupos que nada produziram para o mer­


cado poderão participar desta renda, ao mesmo tempo que gru­
pos que se constituíram nos principais produtores de bens co­
merciáveis podem ou nada receber, ou apenas receber uma
pequena parte do que efetivamente produziram. As conseqüên­
cias disso em termos de incentivo de produção são — como
seria de esperar — as mais negativas possíveis.
Por outro lado — e como resultado da instituição da
Renda Indígena — esses Postos, e os demais do território bra­
sileiro, estão organizados ou tendem a se organizar em forma
de empresa.
. . . Essa “empresa” tem um caráter sui generis, uma vez
que a racionalização inerente à organização empresarial não é
levada às últimas conseqüências: os índios não tem status nem
de pequenos acionistas da empresa, (considarando-se que deles
são a terra e os recursos naturais), nem de assalariados. ..
. . . eles não participam em nenhum grau das esferas de
decisão relativas a organização de sua economia e na promoção
de seu desenvolvimento 2 .

“E stas m edidas do E sta tu to do ín d io ”, observa 0 Dr. Davis, “são


talvez 0 reflexo m ais claro de como a política em relação aos índios
brasileiros se to rn o u com prom etida com os m ais am plos interesses
de desenvolvim ento do regim e m ilita r b rasileiro”, (p. 107). O p a ra ­
lelo com os m étodos históricos do D ep artam en to dos Negócios I n ­
dígenas dos EE.U U . é m encionado.

2 CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Indigenismo e colonialismo. In: A


sociologia do Brasil indígena. Rio le Janeiro, Tempo Brasileiro, 1972.
p. 136-7.

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Neste p o n to recom endam os a g ran d e co ntribuição do a u to r à
docum entação e análise, considerável e crescente, d a situação do
índio brasileiro. M uito em bora vários observadores relate m com m i­
núcias, m u ita s vezes chocantes, casos específicos de atrocidades co­
m etid as c o n tra os índios, a ênfase do Dr. Davis é a d a co rrente
causal pela qual, d e n tro do contexto dos m ercados e planos in te r ­
nacionais, a p o lítica desenvolvim entista favoreceu o surgim ento das
corporações n acio n ais e m ultin acio n ais, e provocou u m a nova e x ­
p an são em direção às te rra s dos índios m ais m assiva e poderosa
do que ja m a is o fo ra an tes.
E n q u an to que a s p rim e ira s fre n te s ex p an sio n istas — como des­
c rita s e exem plificadas p o r D arcy R ib e iro 3 — e ra m c a ra cteriz ad a s
por com erciantes, m issionários, serin g alistas, g arim peiros e fazen d ei­
ros, agin d o como indivíduos ou, n o m áxim o, como com panhias de p e ­
queno porte, com m u ita com petição in te rn a e pouco c a p ita l ou te c ­
nologia, vemos ag o ra que as g ran d es corporações, e sta ta is ou m u lti­
nacionais, ex p ro p riam sistem aticam en te as te rra s indígenas com m é­
todos e x tre m a m e n te m odernos de tecnologia e de organização, inves­
tim en to s m aciços de ca p ita l e, acim a de tu d o com sanção oficial
política e legislativa.
P o r conseguinte, a p a r te p rin cip al do livro do Dr. D avis é de­
dicada ao estudo de como estas corporações o peram e de seus efei­
to s sobre os índios, população ru ra l e m eio am biente am azônico.
E stas operações podem ser classificadas em trê s setores gerais:
pecuário, agrícola e de m ineração. N estes trê s setores, a operação-
-chave d as corporações se baseia n a aquisição de direitos do governo,
ignoran d o freq ü en tem en te ou expulsando os cam poneses e os índios
de enorm es extensões de te rra ; quando docum entos de propriedade
n ão podem ser a rra n ja d o s, direitos de u su fru to são arren d ad o s pela
FUNAI, no caso de te rra s ocupadas ou re g istra d a s pelos índios. O
a u to r ilu stra o livro com m apas, itin e rá rio s e tabelas, p a ra poder
d e m o n stra r que a expansão das corporações se faz em g ran d e es­
cala e acelerad am en te.
O utro p onto im p o rta n te que o a u to r destaca, e que a m aioria
dos in d ig en istas reconhece, é que as v ítim as do m ilagre n ã o são so­
m e n te os índios, m as em m aio r núm ero, os cam poneses pobres e
sem te rra s, em m u ito s casos m ig ra n te s do nordeste. Depois de rever
a h istó ria do p ro testo dos agricu lto res c o n tra a expropriação de te r ­
ra s e a violenta rep ressão aos cam poneses, n a ú ltim a década, p ela

» RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração ãas populações


indígenas no Brasil moderno. (1970).

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firm a C odeara em M ato Grosso, ele co n tin u a m o stran d o como a
orien tação do m ercado ex terio r d as g ran d es corporações de gado
agravou o problem a d a fome, doença e m iséria d a m aio r p a rte da
população brasileira. Em suas p ró p rias p alavras, a política nacio ­
n a l a g rá ria

aumentou a disparidade entre os agricultores ricos e pobres no


Brasil, desenraizando os camponeses, pequenos proprietários e
criando uma classe de trabalhadores agrícolas explorados. F i­
nalmente, e talvez a parte mais importante de todas, por ser
esta política orientada para a exportação, desviou os alimentos
do mercado doméstico e agravou o já severo padrão de íome
e desnutrição que caracteriza a maioria da população do Brasil,
(p. 132).

Em suas conclusões, Davis escreve:

S preciso que se afirme categoricamente que a situação


dos pequenos-proprietários de terra não é menos precária do
que a dos grupos indígenas da bacia amazônica. Além disso,
todas as tentativas de buscar proteção legal para os anseios
destas populações por parte das instituições tais como a Igreja
Católica no Brasil, tem encontrado uma repressão violenta por
parte dos órgãos oficiais locais, estaduais e nacionais do governo
brasileiro, (p. 161).

Em su a descrição do m odus o-perandi das g ran d es corporações,


o aspecto m ais significativo, além da já m en cio nada facilid ad e de
arre n d am en to s e concessões de te rra s pelo G overno, é o p ronto em ­
préstim o de bancos e sta ta is e estrangeiros, incentivos fiscais n a fo r­
m a de im postos que podem re to rn a r como investim ento de capital,
a disponibilidade m aciça de tra b a lh o b a ra to de m ig ran tes, o uso d a
m ais m o d ern a tecnologia com m a q u in a ria pesad a de desm ataihento
e desfolhadores e fe rtiliz a n te s químicos, le v a n ta m e n to aéreo, tr a n s ­
po rtes e com unicações m odernos e, n a tu ra lm e n te , m étodos atu ais
de ad m in istração de negócios.
Este crítico, prim eiro etnólogo e depois antropólogo, confessa
que sen te algum as lim itações p a ra fazer u m a avaliação adequada
do re tra to que o Dr. S h elto n Davis d á d a expansão destas corpo­
rações. Como já acentuei, seu livro n ão é ta n to sobre os índios do
A m azonas como sobre as corporações. A credito que um sociólogo ou
um econom ista especializados em expansão do c a p ita l n o B rasil a c h a ­
ria sim p lista ou m esm o superficial o seu tra ta m e n to sobre as cor­
porações e o contexto político e histórico nos quais se desenvolve­
ram . Eles a ch am difícil a ren tab ilid ad e dos planos agropecuários em

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larg a escala, citando exem plos como as fra c a ssa d as plantações de
b o rrac h a d a F o rd lân d ia. C ontudo, n ão te n h o dúvida de que p a ra os
antropológos, etnólogos e in d ig en istas o quadro ap resen tad o , no glo­
bal, será inform ativo, provocador e provavelm ente b a sta n te d e p ri­
m ente.
Ao re ite ra r a m in h a observação de que o livro de Shelton Davis
é p rin cip alm en te sobre o com p o rtam en to ex p an sionista das co rp o ra­
ções privadas, e sta ta is e m ultin acio n ais, devo esclarecer algum as de
m in h as críticas.
Em prim eiro lugar, o a u to r a p re se n ta os índios como incapazes
e m u itas vezes vítim as passivas, a cam in h o da extinção. E n q uanto
que n a m aio ria dos casos isto pode ser verdade, h á algum as exce­
ções significativ as que devem ser d ad as ao conhecim ento de m a ­
n e ira a m ais am p la possível. O a u to r m enciona a resistência política
e m ilita r dos X av an tes e dos A troari-W aim iri, m as não fala da im ­
p o rtâ n c ia destes exem plos n a a tu a l em ergência d a conscientização
dos indígenas brasileiros e sua m ovim entação política. N estes ú lti­
m os anos te m havido encontros de chefes e re p re se n ta n tes de tribos
e com unidades in d íg en as das m ais v a ria d a s e d iferen tes á re a s in d í­
genas. O efeito m oral de ta is encontros e reuniões nos pequenos
grupos das cercanias, que a té aqui se consideravam como os últim os
dos índios — ou dos seres hum anos, como n o rm alm en te eles se
classificam — pede ser m u ita s vezes enorm e. A inda é cedo p a ra
p rever o seu fu tu ro , e h á ain d a as te n ta tiv a s capciosas dos m is­
sionários e d a FUNAI in te rfe rin d o ou controlando estes encontros
e m ovim entos, seja p a ra canalizá-lo s p a ra ativ idades ou objetivos
difusos e im profícuos, ou p a ra jo g a r os índios c o n tra os assim
cham ados órgãos assistenciais. Assim, quando a s Missões Católicas
(CIMI) o rg a n iz a ram um enco n tro de chefes in d ígenas em R oraim a,
em 1976, a FUNAI o rep rim iu com in sinuações de que a CIMI es­
ta v a alim e n ta n d o a subversão. Em o u tra s reuniões m ais co n c e n tra ­
das e espon tân eas, os m issionários católicos locais te n ta ra m obvia­
m en te m a n ip u la r e d irig ir as decisões de acordo com os seus p rin ­
cípios e objetivos.
U m a reu n ião m ais recen te convocada pelos X a v a n te e que in ­
cluiu re p re se n ta n te s in dígenas de todo o B rasil pareceu m ais in d e ­
p en d en te do controle e m anip u lação ex tern a, e pode se en c a m in h a r
p a ra um avanço m uito im p o rta n te .
Segundo, S h elto n D avis n ão m enciona com p ropriedade o papel
histórico dos m issionários, ta n to os católicos como os p ro testan te s,
em desm obilizar e a c u ltu ra r a econom ia e sociedade indígenas. A

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Ig re ja C atólica é m en cio n ad a tão som ente em suas m ais recentes
posições p olíticas e ex pedientes como defensores dos índios e dos
cam poneses. V ários séculos de exterm ínio, dom inação política, ex­
ploração econôm ica, co n cen tração e redução te rrito ria l e o im p eria­
lism o cu ltu ra l e esp iritu al, lev ad a a efeito de m a n e ira sistem ática
e deliberada pelas m issões católicas c o n tra os povos indígenas a t r a ­
vés d a A m érica do Sul, são sim plesm ente ignoradas.
O a u to r m al m enciona as m issões p ro te sta n te s, m últip las e in ­
sidiosas, que im põem um sistem a m oral e social to ta lm e n te exógeno
a num ero sas com unidades in d íg en as dos pontos m ais recônditos do
Brasil.
Nem m esm o alude ao fa to de que a m aio ria desses m issionários,
ta n to os católicos como os p ro te sta n te s, é e stra n g e ira e não ra ra s
vezes ig n o ran te, ou m esm o sim plesm ente hostil, dos valores d a cul­
tu r a n ac io n a l b rasileira m encionada. Mesmo q u ando os m issionários
d eclarav am objetivos altru ístico s e de n ã o -in te rferê n cia, su a m era
p resença co n stitu ía um a p o n ta -d e -la n ç a d a fu tu ra p e n etra ção e da
exploração econôm ica.
T erceiro ponto, em su a crítica à política oficial in clu íd a no a tu a l
E sta tu to do ín d io , o Dr. Davis poderia te r considerado tam b ém o
T ítulo VI, Capítulo II, a rt. 58:

Dos C rim es C ontra os ín d io s

Art. 58 — Constituem crimes contra os índios e a cultura


indígena:
I — escarnecer de cerimônia, rito, uso, costume ou tra­
dição culturais indígenas, vilipendiá-los ou perturbar, de qual­
quer modo, a sua prática.
Pena — detenção de um a três meses:
II — utilizar o índio ou comunidade indígena como objeto
de propaganda turística ou de exibição para fins lucrativos.
Pena — detenção de dois a seis meses;
I I I — propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e
a disseminação de bebidas alcoólicas, nos grupos tribais ou
entre índios não integrados.
Pena — detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único — As penas estatuídas neste artigo são
agravadas de um terço, quando o crime for praticado por
funcionário ou empregado de órgão de assistência ao índio.

Em n e n h u m a o u tra in s tâ n c ia a d isp arid ad e e n tre a lei no papel


e o que realm en te ocorre é m ais notável. Se existisse algo como
u m a Comissão das Nações U nidas fo rm a d a de antropólogos p a ra

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in v estig ar a observância d esta lei, ela te ria que recom endar a p u ­
nição de m uitos m issionários e ag en tes g overnam entais, especial­
m en te no que se refere ao item I. Q ualquer antropólogo observaria
que o item I é quase im possível de ser obedecido: co n ta to e n tre
grupos com d iferen ças biológica, econôm icas e sociais inv ariav elm en ­
te envolvem in te ra ç ã o e onde h á ta n ta disp arid ad e tecnológica, d e­
m ográfica e de im u n id ad es a doenças, é inevitável que o sistem a
m enor, m ais fraco e hem ostático, seja a lte ra d o pelo grupo m ais n u ­
meroso, expansivo e forte.
Q uarto, o a u to r n ão m enciona a cla ra in dicação d a recuperação
dem ográfica e biológica que a p a re n te m e n te te m havido em algum as
trib o s n a ú ltim a década. Os X av an te, os Y anom am õ, os Surui, os ín ­
dios do Alto Rio Negro e m u ito s outros grupos ind ígenas m o stra ra m
um a forte te n d ê n c ia de crescim ento populacional. C ontudo, n a m aio­
ria dos casos este fa to agravou o problem a de te rra s, pois eles hoje
ocupam um a p equena fração de seus an tig o s te rritó rio s e estão cer­
cados po r todos os lados de insaciáveis e sem pre crescente núm ero
de invasores brancos.
Um com entário fin al, e o m ais im p o rta n te , é que m esm o reco­
nhecendo o m érito do estudo do crescente p ap el das corporações em
d e te rm in a r a situ ação dos índios am azônicos, h á a in d a a necessi­
dade de u m a co nstrução de m odelos an alíticos, explicativos e p re ­
dicativos d a situ ação de contato , como foi elaborado por D arcy R i­
beiro e R oberto Cardoso de Oliveira. O enfoque em pírico de S helton
Davis en fatizan d o o jogo estratég ico de interesses de grupos às ve­
zes com petitivos, às vezes aliados, pode ser aplicado com proveito n a
análise de casos específicos, e lev ar à form ulação de modelos gene­
ralizados. Pois é m u ito freq ü en te o serm os abastecidos tão som ente
com d eta lh a d a s descrições de acon tecim en to s locais, sem um a te n ­
ta tiv a explícita de rela c io n a r estes casos aos processos m ais am plos
no tem po e n o espaço.
P a ra e n c e rra r e sta resen h a, um cu rto relató rio técnico. Os casos
são resum idos m as adequados, e estes poucos, a té onde pude con­
ferir, parecem ser satisfató rio s.
O livro é exposto com clareza e bem arg u m entado, a p en as um
pouco retórico. A pesar de repetitivo, reap arecen d o no texto, com
c e rta freqüência, frases e alguns p arág rafo s, os m apas, tab e las e
c a rta s são m uito bons. As fo n tes de in fo rm ação são c ita d a s ap ro ­
p riad am e n te n a s n o ta s de capítulo. O livro é bem elaborado e com
poucos erros.

T radução de G olda P ie t r ic o u s k y de O liveira

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