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A Criança com TDAH e a Escola.

Publicado por ABDA | set 12, 2010 | Textos |

Notas baixas, problemas de comportamento e dificuldade de adaptação ao ambiente escolar são problemas
recorrentes das crianças portadoras do TDAH

Por Rafael Alves Pereira* – rafa_alves@hotmail.com

Dificuldade de prestar atenção na aula, distrair-se facilmente e ficar com a mente vagando pelo “mundo da lua”
quando o professor está falando. Pouca paciência para estudar e fazer os deveres, agitação, inquietude e uma
capacidade incrível de fazer milhões de coisas ao mesmo tempo. E quase nenhuma delas associada à aula. Estas
são algumas características de alunos que apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade,
conhecido como TDAH. O problema atinge um grande número de crianças e adolescentes, que vêem o seu
desempenho acadêmico prejudicado pela doença e muitas vezes sequer sabem que são portadores.

Professores das primeiras séries do ensino fundamental vez por outra estão às voltas com um ou outro aluno que
não pára quieto um instante, se movimenta o tempo todo, não dá a mínima para o que está sendo ensinado e ainda
fica incomodando os coleguinhas. O destino do bagunceiro é quase sempre a sala da diretoria, onde uma bela
bronca o espera. Esse é um comportamento típico dos meninos portadores do transtorno, que neles tem o
predomínio de sintomas de hiperatividade. Já entre as meninas, a situação mais comum é a daquela aluna
comportada, quieta, que não participa das aulas (mas também não incomoda) e que está sempre distraída.
Qualquer coisa é capaz de desviar sua atenção. A aula e o professor vão para o fim da lista de prioridades
enquanto a mocinha se atém a ficar folheando o seu caderno, rabiscando na carteira e criando joguinhos com o
estojo e as canetas. Tanto no caso das meninas distraídas quando no dos garotos bagunceiros, o resultado pode
ser um aproveitamento acadêmico nada satisfatório no final do semestre e a frustrante sensação de não conseguir
acompanhar os progressos do restante da turma.

Uma das principais dificuldades dos alunos portadores de TDAH são os problemas de comportamento no ambiente
escolar, que se manifestam pela dificuldade de obedecer a um código disciplinar rígido e pela agitação na sala de
aula.

Fui chamada para conversar com a diretora da escola do meu filho diversas vezes ao longo do ano. Os professores
se queixavam de que ele não parava quieto um minuto, tirava a tenção dos coleguinhas e que atrapalhava a aula –
conta a secretária Maria Helena Araújo, mãe de Lucas, de 8 anos. Certa vez uma pedagoga escolar chegou a
insinuar que um ambiente familiar desregrado poderia ser o problema do menino – Ela disse na minha cara que
atitudes assim são típicas de crianças que não recebem boa educação dos pais.

Professores despreparados

O episódio protagonizado por Maria Helena é bastante comum e se repete com freqüência em escolas de todo o
país. Raramente os profissionais encarregados da orientação escolar de uma escola estão preparados para lidar
com uma criança portadora do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade.

Os professores estão sobrecarregados e não conseguem lidar com o assunto. Eles lidam com uma série de alunos
com problemas e não podem se dedicar aos alunos com TDAH – destaca o psiquiatra Ênio Andrade, que coordena
o Ambulatório de TDAH infantil do Instituto de Psiquiatria que funciona no Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele
pondera que diante de uma turma que não raramente chega a 30 alunos, é difícil um professor conseguir dar
atenção individualizada e conseguir acompanhar de perto as suas dificuldades de cada um. No stress do dia-a-dia,
mandar o desordeiro para o corredor acaba sendo a maneira mais fácil de restabelecer a ordem na turma.

O aluno passa ser visto como desleixado, preguiçoso e indolente. Na verdade, estas são limitações impostas pela
doença, que se não for corretamente diagnosticada e tratada, atrapalha tanto a vida dos pais quando dos filhos.
Reuniões com a direção são freqüentes e, não raro, acompanhadas de um convite para trocar de instituição de
ensino.
As crianças portadoras de TDAH não se adaptam bem a instituições de ensino muito tradicionais e que tenham um
código disciplinar muito rígido. Nestas escolas, castigos e suspensões por problemas disciplinares são recorrentes –
explica a psiquiatra Vanessa Ayrão, pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, a Universidade Federal do
Rio de Janeiro.

Tolerância zero

Esse foi o drama vivido pela advogada Márcia Guimarães. Decidida a oferecer ao filho Gustavo, hoje com 10 anos,
uma educação de primeira linha, não hesitou em matriculá-lo em uma tradicional e cara escola do Rio de Janeiro.
Em pouco tempo os problemas começaram a aparecer. Primeiro foram as repreensões leves, depois alguns
castigos, seguidas reclamações dos professores e por fim uma reunião com o diretor.

Eles foram implacáveis. No meio do ano me chamaram na escola e disseram que o meu filho não tinha o perfil para
seguir seus estudos naquela instituição. Eu ponderei e pedi que o deixassem ao menos terminar o ano, mas não
consegui. O diretor afirmou que já havia dado diversas chances e que o comportamento do Gustavo estava
comprometendo o andamento de toda a turma. Não tive escolha.

Preocupada com a boa formação do filho, procurou uma instituição com o mesmo perfil da anterior. O resultado foi
igualmente ruim.

Os mesmos problemas se repetiram e no final do ano fui avisada de que a matrícula dele não poderia ser renovada.
Comecei a ficar desesperada e não sabia o que fazer. Aos 7 anos de idade o meu filho já tinha sido expulso de
duas escolas. Foi quando o meu marido leu uma reportagem sobre crianças hiperativas em um jornal e decidimos
levá-lo ao psiquiatra – lembra Márcia. Ela diz que, ao chegar ao consultório, o médico não demorou mais que
alguns segundos para dar o diagnóstico.

Na primeira consulta, o meu filho só faltou subir na estante do médico – brinca mãe, que depois escolheu para o
filho um colégio com uma política educacional mais flexível e, seguindo recomendação do psiquiatra, antes de a
escola mandar a primeira reclamação, ela mesma foi conversar com a orientadora educacional. Munida de
reportagens, livros, folhetos explicativos e muita paciência, contou toda a história e falou sobre a doença.

A escola foi super receptiva. Talvez pelo fato de eu tê-los procurado antes de qualquer reclamação, os professores
se mostraram mais tolerantes e atenciosos. Mas não pude deixar de me surpreender com o fato de eles não terem
a menor idéia sobre o que é o TDAH.

Escolas públicas: situação ainda mais grave

O médico Ênio Andrade faz coro e reforça o que a mãe de Gustavo descobriu na prática.

As escolas não estão preparadas e ainda tem muito o que aprender. E se em famílias com recursos e que podem
recorrer a escolas particulares os pais e as crianças encontram problemas, imagine nas escolas públicas. Com a
política da progressão continuada (em que o aluno passa de ano automaticamente, mesmo que o aprendizado não
tenha sido satisfatório), muitas crianças só descobrem que tem o problema quando chegam a quinta-série e sequer
sabem ler – explica o médico.

No núcleo de psiquiatria do Hospital da Clínicas recebo muitos pacientes de escolas públicas assim. As meninas
são muito prejudicadas. Elas são quietinhas, distraídas, e não incomodam como os garotos. Os pais, pouco
escolarizados e sem recursos, só desconfiam que há algo errado quando a filha vai fazer a prova para a quinta-
série e o resultado é desastroso – completa Ênio.

O diagnóstico do TDAH é menos comum nas meninas. O que normalmente faz a família procurar um médico são os
problemas com a agitação e a inquietação típica dos rapazes. Estima-se que dois terços dos pacientes diagnósticas
sejam homens e apenas um terço de mulheres. Mas se as meninas não tem a mesma capacidade de alvoroçar a
turma e tirar os professores do sério, as dificuldades de aprendizado são as mesmas.

Falta de atenção e impulsividade


Como o próprio nome já diz, uma das maiores queixas dos pacientes que sofrem de TDAH é a dificuldade de
prestar atenção, de se concentrar e conseguir direcionar o raciocínio. Para agravar o quadro, as crianças com
TDAH costumam ser muito criativas. Como resultado dessa combinação de fatores, os pacientes têm uma incrível
capacidade de pensar em várias coisas ao mesmo tempo e, conseqüentemente, de se distrair. Parecem estar
prestando atenção em outra coisa quando o professor fala com elas. Somada a isso está a dificuldade de
acompanhar atividades monótonas: prestar atenção do início ao fim a uma aula pouco empolgante é praticamente
impossível. O aluno fica inquieto e trata logo de procurar alguma atividade para se ocupar: conversar com o amigo
ao lado, mexer na mochila ou ficar passando as folhas do livro. Para o professor fica a impressão de que o aluno é
desinteressado e que não presta atenção na aula por pura falta de vontade.

Os médicos explicam que é importante diferenciar “dificuldades em se adaptar a um sistema educacional” de


“impossibilidade de aprendizagem”. As crianças com TDAH apresentam inteligência e capacidade de aprendizado
idênticas a de uma criança normal e são bastante criativas, mas é preciso lhes dar chance para se desenvolver e
observar as suas deficiências.

Por causa da desatenção, é comum a criança portadora não se concentrar na aula e não acompanhar a explicação
dos professores. Elas perdem a matéria e não aprendem tanto quanto poderiam. Na hora das provas a desatenção
é ainda mais cruel: o aluno comete erros tolos porque não leu corretamente o enunciado e não se preocupou muito
com a resposta. Vale lembrar que a impulsividade e a falta de paciência são outras características típicas de quem
tem TDAH. Nestes casos, nada mais natural que ler somente metade da pergunta e já responder. O aluno pode até
conhecer o assunto e saber a matéria, mas não consegue bom rendimento nas provas e exames.

O tratamento traz melhoras significativas

Eu não conseguia entender notas baixas da minha filha. Um dia antes do exame eu repassava a matéria toda com
ela e não havia um assunto que ela não soubesse. Quando ela chegava com a prova em casa, eu via que ela tinha
errado questões cuja resposta eu tinha certeza que ela sabia – relata o arquiteto Henrique Maciel. Coube à sua
própria filha fazer o seu autodiagnóstico.

Eu li numa dessas revistas semanais uma matéria sobre crianças e adolescentes com TDAH. Eu na época tinha 15
anos e, ao ler a história de alguns pacientes e os comentários dos médicos, me identifiquei totalmente – conta
Gabriela, que hoje está com 18 anos e já consegue lidar melhor com os problemas do TDAH – estou no segundo
período da faculdade e estou achando estudar agora muito mais fácil do que antes. A minha vida mudou nestes três
anos de tratamento.

Os médicos relatam que após iniciar o tratamento, maioria das crianças apresenta melhora significativa no
comportamento na capacidade de aprendizado. Em pouco tempo elas já prestam mais atenção à aula, conseguem
se concentrar melhor e já não relutam tanto em realizar tarefas monótonas e repetitivas. Com melhoria da atenção,
o rendimento escolar e as notas apresentam mudanças que podem ser surpreendentes. O aluno desleixado,
preguiçoso e pouco esforçado, de uma hora para outra, pode finalmente encontrar espaço para desenvolver seu
potencial e mostrar que, contornando as deficiências impostas pelo TDAH, tem um rendimento compatível ao de
qualquer um.

A auto-estima e gosto pelos estudos chegam a apresentar uma positiva reversão. Um aluno que não consegue
prestar atenção às aulas, é sempre repreendido pelo professor (seja por estar distraído , seja por ficar falando a
aula inteira) e por mas que estude não tira boas notas, dificilmente vai ter a escola ocupando posição de destaque
no seu ranking de favoritos. Os pais se queixam que os filhos não gostam de estudar, não dão valor à escola e que
são muito relapsos. Mas como gostar de uma coisa na qual, por mais que nos esforcemos, não conseguimos ser
bem sucedidos? Quando os primeiros resultados após o início do tratamento começam a aparecer, a criança passa
a se interessar mais pela escola e a relação com os amigos também muda. Afinal, aquele garoto agitado e pavio-
curto, que fala sem pensar e não se preocupa muito com o que vai dizer aos outros dá lugar a um outro mais
tolerante, atento e consciente de si mesmo. Os professores, os companheiros de sala e o histórico escolar
agradecem.

Rafael Alves Pereira é jornalista formado pela PUC-Rio e trabalha atualmente na Rádio CBN. Ele escreve para a ABDA reportagens quinzenais,
que trazem depoimentos de médicos e pacientes e têm o objetivo de oferecer mais informações sobre o TDAH para quem convive com o
problema e para o público em geral. São abordados assuntos como o cotidiano do portador de TDAH, avanços médicos na área e o tratamento
dos pacientes.

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