Вы находитесь на странице: 1из 22

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 10ª REGIÃO
11ª Vara do Trabalho de Brasília - DF
ACP 0000247-02.2018.5.10.0016
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
RÉU: INSTITUTO HOSPITAL DE BASE DO DISTRITO FEDERAL -IHBDF

Processo : 0000247-02.2018.5.10.0016

Autor : Ministério Público do Trabalho

Réu : Instituto Hospital de Base do Distrito Federal - IHBDF

SENTENÇA

I. RELATÓRIO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO ajuizou ação com pedido de tutela cautelar


preparatória em face de INSTITUTO HOSPITAL DE BASE DO DISTRITO FEDERAL - IHBDF no id.
6b11d30. Atribuiu à causa o valor de R$ 50.000,00.

Deferida a tutela em caráter liminar por meio da decisão de id. 20f617f.

O réu utilizou-se do mandado de segurança como sucedâneo recursal (processo autuado sob o
nº 0000163-49.2018.5.10.0000), no qual o Desembargador Relator Dorival Borges de Souza Neto concedeu
parcialmente a liminar por meio da decisão acostada no id. d7036bf.

Regularmente citado, o réu apresentou contestação de id. 74cdc79.

As partes juntaram documentos.

A decisão liminar deste órgão jurisdicional foi mantida, com ressalva à parcela destacada por
ordem do eminente Relator naquele processo acessório (0000163-49.2018.5.10.0000), nos moldes do id.
e9aa1b3.

O réu utilizou-se também de suspensão de segurança (processo autuado sob o nº


1000186-54.2018.5.00.0000) como sucedâneo recursal contra o ato do egrégio Tribunal Regional, tendo o
Presidente do col. TST, Ministro João Batista Brito Pereira, deferido o pedido a suspensão da execução das
decisões cautelares.

Sem outras provas foi encerrada a instrução processual no tocante à tutela de urgência
antecedente e proferida a decisão de id. 6c333b7, por meio da qual foi acolhida a pretensão cautelar.

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 1
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
O réu peticionou nos autos do processo nº 1000186-54.2018.5.00.0000 contra a decisão deste
órgão jurisdicional, e obteve manifestação do Presidente do col. TST constante do id. c06fa6b, em que
reiterou a suspensão da execução das decisões cautelares.

Após o julgamento da tutela cautelar antecedente, a classe processual foi alterada para Ação
Civil Pública (id. 98eb717).

O autor formulou o pedido principal nestes mesmos autos, id. c155e52. Atribuiu à causa o
valor de R$ 500.000,00.

Regularmente notificado, o réu compareceu à audiência inaugural, e após a primeira proposta


conciliatória ser rejeitada, apresentou contestação conforme id. dc1dae7.

O autor apresentou réplica (id. 0f99e75).

As partes juntaram outros documentos.

Sem outras provas foi encerrada a instrução processual.

Razões finais orais pelo autor.

Prejudicadas as razões finais do réu e a última tentativa de conciliação.

É o relatório.

II. FUNDAMENTOS

BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA AO RÉU

A jurisprudência dos tribunais superiores é pacífica no sentido de que a concessão dos


benefícios da justiça gratuita a pessoas jurídicas, mesmo as entidades sem fins lucrativos, não depende apenas
declaração de hipossuficiência, mas também da comprovação da insuficiência de recursos para suportar as
despesas processuais.

Nesse sentido, os seguintes precedentes:

"Assistência Judiciária Gratuita - Pessoa Jurídica. Ao contrário do que ocorrer relativamente


às pessoas naturais, não basta a pessoa jurídica asseverar a insuficiência de recursos,
devendo comprovar, isto sim, o fato de se encontrar em situação inviabilizadora da assunção
dos ônus decorrentes do ingresso em juízo." (STF, Tribunal Pleno, Rcl nº 1.905-AgR/ED,
Relator Ministro Marco Aurélio, DJ 20.09.2002)
Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA
http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 2
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
"EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. SINDICATO. PESSOA JURÍDICA SEM FINS
LUCRATIVOS. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. NECESSIDADE DE PROVA DA
MISERABILIDADE. INSUFICIÊNCIA DE DECLARAÇÃO DE POBREZA.

Na linha da jurisprudência da Corte Especial, as pessoas jurídicas de direito privado, com ou


sem fins lucrativos, para obter os benefícios da justiça gratuita, devem comprovar o estado de
miserabilidade, não bastando simples declaração de pobreza. Embargos de divergência
providos" (STJ, Corte Especial, EREsp 1185828/RS, Relator Cesar Asfor Rocha, DJe
01.07.2011)

No mesmo diapasão, o artigo 99, § 3º, do CPC dispõe sobre a presunção exclusivamente em
favor da pessoa natural na alegação de insuficiência econômica em requerimento de gratuidade de justiça, de
acordo com o artigo 5º, LXXIV, da CRFB.

Assim, mesmo após o advento do CPC introduzido pela Lei nº 13.105/2015 manteve-se
inalterada essa compreensão do ordenamento jurídico, consoante enunciado do item II da Súmula nº
463/TST.

No caso concreto, contudo, o réu afirmou, mas não demonstrou a ausência de condições
financeiras de suportar os custos da ação judicial. Totalmente inadequada a afirmação de notoriedade de
insuficiência de recursos por parte do instituto.

Rejeito.

IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA

Conquanto tenha alegado genericamente em contestação, a parte ré não reiterou a impugnação


ao valor da causa em razões finais, como determina o artigo 2º, § 1º, da Lei nº 5.584/1970.

Assim, diante do silêncio no momento oportuno, operou-se a preclusão.

De todo modo, o valor atribuído à causa na petição da ação principal encontra-se compatível
com os pedidos formulados, notadamente se considerado o pleito de indenização por dano moral coletivo.

Rejeito.

SAÚDE. CONTRATO DE GESTÃO. INSTITUTO HOSPITAL DE BASE DO


DISTRITO FEDERAL. PROCESSO SELETIVO.
Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA
http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 3
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
O Ministério Público do Trabalho pleiteia a declaração de nulidade do segundo processo
seletivo público realizado pelo Instituto Hospital de Base do Distrito Federal, bem como das contratações de
empregados dele decorrentes. Postula também a condenação do réu nas obrigações de fazer e não fazer:
desligamento imediato dos empregados admitidos com base na referida seleção; abstenção de contratação de
empregados a partir desse mesmo processo seletivo; abstenção de processos seletivos com análises
curriculares, entrevistas, dinâmicas de grupo, testes psicológicos, pareceres de gestores e outros métodos de
caráter subjetivo; abstenção de realização de processos seletivos sem a publicação de edital público, com as
diversas etapas da seleção, banca examinadora, prazos, critérios objetivos e recursos cabíveis, com
publicação mínima no Diário Oficial do DF e no seu sítio eletrônico; previsão nos futuros editais de reserva
de vagas para candidatos portadores de deficiência; abstenção de discriminação de ex-empregados nas
seleções públicas e futuras contratações; abstenção de realização de provas pela internet, adotando exames
presenciais; abstenção de seleções internas ou mistas; divulgação da presente sentença no sítio eletrônico do
IHBDF. Argumenta, em síntese, ofensa aos preceitos constitucionais que norteiam toda a Administração
Pública, estendendo-se aos serviços sociais autônomos, e às normas próprias que regem a atuação do réu,
sobretudo artigo 2º da Lei Distrital nº 5.899/2017; artigos 3º, 6º e 9º do Regulamento Próprio do Processo de
Seleção para Admissão de Pessoal, instituído pela Resolução CA/IHBDF nº 3/2017; artigo 45 do Estatuto
Social do réu.

Em contestação, o réu asseverou ser pessoa jurídica de direito privado, regularmente instituído
pelo Decreto nº 38.332/2017, após autorização da Lei Distrital nº 5.899/2017, e em consonância com a Lei nº
9.637/1998, estando, em suma, desobrigado da realização de concurso público para a contratação de pessoal.
Sustenta que a seleção realizada obedeceu seu regulamento. Alega a disponibilização de vagas para pessoas
com deficiência, tanto que 93 candidatos nessas condições inscreveram-se na seleção. Afirma que a
procedência do pedido inicial acarretará prejuízos aos serviços de saúde e aos profissionais admitidos, assim
como supõe que a contratação como ocorreu foi causa de resultados positivos.

À análise.

Conforme relatado, este processo teve início com pedido de tutela cautelar antecedentes, no
qual, desde o momento liminar, assim, a partir de cognição apenas sumária, tomou-se decisão destinada à
vigência provisória, pois, após o aprofundamento das discussões jurídicas e maior dilação probatória, o
processo terá, naturalmente, sentença vocacionada ao caráter definitivo. Naquela ocasião - sobretudo por
ausência de divulgação de edital, de inexistência de publicidade efetiva, de falta de disponibilização de vagas,
bem como por conta da previsão de contratação poucos dias depois do exíguo prazo para a inscrição -
prejudicou a ampla concorrência e a validade do processo seletivo controvertido em virtude de ofensa aos
princípios que orientam a Administração Pública desde o artigo 37, caput, da CRFB e aos valores erigidos
como fundamentais nas normas especificamente aplicáveis ao requerido (artigos 2º, III e IX, da Lei Distrital
nº 5.899/2017 e 3º da Resolução CA/IHBDF nº 3/2017). Eis o teor daquele primeiro ato judicial:

"Hoje em dia, tornou-se notória a corrupção sistêmica e endêmica que infestou as instituições
do nosso país, colocando-as em risco de ruína.

A intenção exclusivamente predatória na condução dos órgãos públicos e privados integrantes


e parceiros do Estado produziu cenário de perpetuação dos esquemas de corruptos e
corruptores, que auferem incontáveis fortunas ilícitas seja para o enriquecimento dos

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 4
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
envolvidos, seja para a ampliação do raio de atuação e de suas defesas, seja para o
financiamento de candidaturas em eleições inflacionadas e desiguais em favor dos partícipes
políticos.

Em outra frente, a ganância desmedida desses criminosos acarreta também o descolamento


do interesse público, tendo em vista que as pessoas jurídicas que deveriam promovê-lo
perdem os melhores quadros técnicos, honestos e preparados, preteridos pelo aparelhamento
com a nomeação de dirigentes e subalternos apadrinhados, inabilitados e comprometidos
somente com os planos de enriquecimento indevido próprio e de seus protetores e comparsas.

Então, do ponto de vista da Administração Pública, o mecanismo da corrupção, atualmente


revelado e repudiado pela sociedade brasileira, tem como consequência a desestruturação, o
desperdício de recursos, a ineficiência.

Nesse cenário, estamos diante de grave deterioração das entidades - o que não é
exclusividade de um Poder do Estado ou de um Ente da Federação, da Administração Pública
Centralizada ou Descentralizada - advinda de gestões incompatíveis com os compromissos
assumidos com a Constituição da República de 1988.

Por evidente, não se discute neste processo a precariedade específica e notória da saúde
pública no âmbito do Distrito Federal, tampouco as causas desse triste quadro, mas a
contextualização inicial demonstra a importância cada vez maior da defesa dos valores
essenciais à ordem constitucional, definidores do nosso Estado Democrático de Direito.

No caso concreto, o Ministério Público do Trabalho ajuizou a presente ação cujo objeto é a
tutela cautelar antecedente, a fim de suspender o segundo processo seletivo promovido pelo
requerido, para a contratação de 66 (sessenta e seis) empregados com formações diversas (id.
97f9e9e).

A propósito, o requerido sofreu a impugnação do primeiro concurso público do ano, cuja


validade é discutida nos processos autuados sob os nºs 0000045-25.2018.5.10.0016 e
0000105-46.2018.5.10.0000, este último no qual decisão monocrática do eminente Relator,
Desembargador Mário Macedo Fernandes Caron, determinou a suspensão do Edital nº 1-
IHB/DF/2018, que prevê a contratação de empregados celetistas para exercerem as funções
de enfermeiro, médico e técnico de enfermagem.

A análise da prova documental sumariamente produzida revelou situação ainda mais drástica
nesta relação processual, pois, no segundo processo seletivo, sequer foi localizado um edital,
nem notícia da contratação de organizadora do certame, mas apenas a disponibilização de 66
vagas para diversas funções, igualmente sem reserva de postos para portadores de
deficiência, com divulgação da informação apenas nos sites e do período de inscrição de 08 a
www.diariooficialdf.com.br www.saude.df.gov.br 23.03.2018, com previsão de admissão
imediata, em 26.03.2018.

Com efeito, a prática do requerido não se coaduna com os Princípios da Legalidade, da


Impessoalidade, da Moralidade, da Publicidade e, por conseguinte, da Eficiência insculpidos
no caput do artigo 37 da CRFB.

Cumpre ressaltar que esses mesmos valores são básicos à formação do requerido e às regras
para seleção de seus empregados, por força dos artigos 2º, III e IX, da Lei Distrital nº
5.899/2017 e 3º da Resolução CA/IHBDF nº 3/2017.

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 5
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
Isso porque a divulgação mínima não atende a diretriz da publicidade, e favorece quem detém
a informação por sorte, melhores contatos ou acesso privilegiado em prejuízo dos valores da
impessoalidade e da moralidade.

Outrossim, não disponibilizar vagas para portadores de deficiência contraria completamente


a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência instituída pela Lei
nº 7.853/1989, regulamentada pelo Decreto nº 3.298/1999.

Ademais, a informação restrita prejudica o acesso aos empregos da entidade à ampla


concorrência, razão pela qual não serão selecionados os candidatos mais bem preparados, o
que, em última análise, ofende a pretendida eficiência administrativa.

Assim, os elementos de prova apresentados com a petição inicial permitem a formação de um


juízo de probabilidade da necessidade de tutela destinada a impedir a conduta ilícita.

Do mesmo modo, presente o receio de ineficácia do provimento final caso se permita o


prosseguimento do ilícito com a seleção e a contratação de trabalhadores sem a observância
das correspondentes normas do ordenamento jurídico durante o tempo necessário à cognição
exauriente.

Nesse diapasão, em juízo provisório formado a partir de argumentos e provas sumariamente


produzidos, restaram evidenciados os requisitos autorizadores da concessão da tutela de
urgência pretendida pelo requerente." (id. 20f617f)

Então, com base nos documentos trazidos com a petição inicial da tutela de urgência, foi
possível verificar a ausência de divulgação mínima exigida para a publicidade do processo seletivo, conforme
imposto pelo caput do artigo 37 da CRFB e até mesmo pelas normas específicas aplicáveis ao réu: artigos 2º,
III e IX, da Lei Distrital nº 5.899/2017 e 3º da Resolução CA/IHBDF nº 3/2017; bem como a ausência de
disponibilização de vagas para pessoas com deficiência, contrariando a Política Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência instituída pela Lei nº 7.853/1989, regulamentada pelo Decreto nº
3.298/1999.

Após ser instado novamente, este Juízo manteve a decisão liminar, senão com relação à
parcela excluída por força da decisão do Exmo. Desembargador Relator Dorival Borges de Souza Neto em
mandado de segurança (processo autuado sob o nº 0000163-49.2018.5.10.0000). Neste segundo momento, a
par da convicção de que o processo seletivo inobservou as necessárias impessoalidade e objetividade, foram
enfrentadas as alegações do réu de risco aos serviços de saúde supostamente por causa da correção do
procedimento irregular verificado, nestes termos:

"O Instituto Hospital de Base apresentou contestação no id. 74cdc79 acompanhada de farta
documentação.

Os argumentos da defesa em torno da natureza jurídica privada daquela instituição e, por


conseguinte, dos vínculos com seus empregados; da observância da Lei nº 9.637/1998 são
todos conhecidos, mas, ainda assim, não se mostraram convincentes a respeito nem mesmo da
impessoalidade e da objetividade exigíveis de acordo com os precedentes trazidos na própria

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 6
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
contestação - no segundo processo seletivo em exame nesta relação jurídico-processual, muito
menos quanto às demais normas (princípios, artigos e lei e de resolução) sobre as quais se
edificou a decisão liminar.

Cumpre ressaltar que a sociedade brasiliense como um todo lamenta a deficiência dos
serviços públicos prestados direta ou indiretamente pelo Distrito Federal, assim também em
relação ao Hospital de Base com o risco de colapso descrito por seu Diretor de Atenção à
Saúde conforme id. c93677a.

Entretanto, não é transferível a responsabilidade dos gestores pelo atual quadro de


sobrecarga de trabalho dos profissionais já lotados na unidade, acarretando o excesso de
jornada e o dispêndio de recursos financeiros para o pagamento das correspondentes horas
extras, e da falta de atendimento hospitalar digno à população.

É notório o histórico das organizações sociais e seus contratos de gestão na área de saúde
pública do Distrito Federal, com os problemas enfrentados sendo amplamente divulgados
(artigo 374, I, do CPC), do que a questão trabalhista é apenas um dos reflexos.

Nesse contexto, embora seja louvável a intenção de correção do sistema e saúde pelos atuais
administradores públicos ou não, os órgãos de fiscalização não podem transigir com os
primados da ordem jurídica por conta de urgência provocada por incompetência ou desvio
daquelas autoridades e dirigentes.

No mesmo diapasão, este órgão do Poder Judiciário, quando regularmente provocado,


continuará atuando de forma independente, sem fazer concessão com as leis da República e à
Constituição em virtude de qualquer tentativa de pressão manifestada neste processo ou por
qualquer outro meio antigo ou pós-moderno.

Assim, mantém-se a decisão de id. 20f617f pelos seus próprios fundamentos.

Aliás, não se ignora a liminar deferida no mandado de segurança, cujo processo está autuado
sob o nº 0000163-49.2018.5.10.0000, nos seguintes termos:

'Por todo exposto, concedo parcialmente a liminar postulada para cassar a tutela
apenas em relação à suspensão ou à dispensa dos empregados contratados
anteriormente à data da concessão da tutela de urgência, mantidas as demais
determinações do Juízo de primeiro grau.' (destaques originais)

Então, logicamente, a ordem do eminente Relator deverá ser cumprida, assim como serão, por
hierarquia, as ulteriores advindas das instâncias superiores.

A propósito, ainda não foi recebida comunicação oficial de nenhum outro ato judicial em
ação diversa utilizada como sucedâneo recursal. De todo modo, eventual ordem dos tribunais
poderá, no máximo, sustar os efeitos do comando decisório proferido em caráter precário,
mas não impedirá a regular tramitação processual até a cognição exauriente e a natural
decisão definitiva do mérito." (destaques originais) (id. e9aa1b3)

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 7
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
No mesmo diapasão da decisão em tutela cautelar antecedente de id. 6c333b7, impõe-se a
referência ao discurso de modernização da gestão pública, que ganhou força na conjuntura política nacional
no ano de 1995, época do Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado, apresentado pelo então
Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. À época, fez-se o diagnóstico de que, por ocasião da
transição democrática de 1985, o populismo acarretou o loteamento dos cargos públicos e, por conseguinte, o
encarecimento significativo do custeio da máquina administrativa, em evidente retrocesso burocrático com a
Constituição da República de 1988. Motivou-se também nas premissas de falhas de gestão, mau uso de
recursos públicos, enfim, na ineficiência administrativa. Em suma, propalou-se a "Reforma Administrativa
Gerencial", mais eficiente para a prestação de serviços públicos com qualidade e produtividade, anunciando a
atuação cooperada entre o Estado e a sociedade, com o rompimento da dicotomia entre o público e o privado;
idealizando a figura do Estado gerencial, marcado pela simplificação de procedimentos e a transferência de
atividades de relevância social para os particulares, sendo reservado ao ente público o papel de interventor
indireto ao invés de executor direto. Assim, a Administração Pública deixaria de impor sua autoridade para
firmar contratos administrativos, exaltando-se o consenso na celebração e os resultados na avaliação da
eficiência pretendida.

Nessa quadra histórica, a Emenda Constitucional nº 19/1998 introduziu o § 8º no artigo 37 da


CRFB, com o seguinte teor:

"§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da


administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre
seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de
desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:

I - o prazo de duração do contrato;

II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e


responsabilidade dos dirigentes;

III - a remuneração do pessoal."

Essa nova disposição constitucional, somada ao primado da livre iniciativa, erigido a


fundamento da República Federativa do Brasil (artigo 1º, IV, da CRFB) e da ordem econômica brasileira
(artigo 170, caput, da CRFB), e à autorização conferida ao Poder Público para a prestação de serviços
públicos direta ou indiretamente (artigo 175 da CRFB), propiciou a edição da Lei nº 9.637/1998.

A Lei das Organizações Sociais inovou o ordenamento jurídico para conferir a pessoas
jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, a possibilidade de qualificação pelo Poder Executivo para
celebração de contrato de gestão com objeto voltado a ensino, pesquisa científica, desenvolvimento
tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente, cultura e saúde. O diploma normativo,
exemplificativamente, também prevê a possibilidade de destinação de recursos orçamentários e bens público,
dispensada a licitação, em permissão de uso (artigo 12, caput e § 3º, da Lei nº 9.637/1998), de cessão de
servidores com ônus para a origem (artigo 14 da Lei nº 9.637/1998) e a dispensa de licitação para as
atividades contempladas no contrato de gestão (artigo 24, XXIV, da Lei nº 8.666/1993).

Com efeito, o direito social fundamental à saúde está previsto no artigo 6º da CRFB e, para sua
concretização, impôs-se ao Estado o dever de promovê-lo mediante políticas sociais e econômicas,
Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA
http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 8
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
facultando a execução direta ou indireta, inclusive por terceiros da iniciativa privada, sem prejuízo da livre
iniciativa das instituições privadas, consoante inteligência dos artigos 196, 197 e 199 da CRFB. Nesta frente
de atuação, o artigo 14 da Lei nº 9.637/1998 dispõe:

" A organização social que absorver atividades de entidade federal extinta no âmbito da área
de saúde deverá considerar no contrato de gestão, quanto ao atendimento da comunidade, os
princípios do Sistema Único de Saúde, expressos no art. 198 da Constituição Federal e no art.
7o da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990."

Dessarte, reafirmaram-se as diretrizes das ações de saúde, sobretudo universalidade de acesso


aos serviços de saúde; integralidade de assistência, enquanto conjunto articulado e contínuo das ações e
serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos; gratuidade de assistência, vedada a cobrança em
face de pacientes ou seus representantes; fomento dos meios de participação da comunidade.

Diante do dever do Estado de adotar políticas públicas para promoção, proteção e recuperação
da saúde de todos (artigo 196 da CRFB) e do seu evidente descumprimento com a ineficiência do sistema
único próprio, com desolador cenário de sucateamento dos hospitais, filas para atendimento acarretando até
mesmo o não atendimento, quadro deficitário de servidores ainda assim sujeito a despreparo decorrente do
aparelhamento e desestímulo dos técnicos habilitados, tudo a prejudicar a qualidade e a promessa de
universalidade nessa delicada área de atuação estatal, com resultados fatais dessa exclusão social - o discurso
de modernização da gestão dos serviços hospitalares, com qualificação profissional, práticas
empreendedoras, progresso tecnológico, por meio da parceria com a iniciativa privada, organização social
com quem se pretende contrato de gestão, encontrou terreno fértil.

Ou seja, o legítimo anseio da sociedade serviu para justificar a atuação do terceiro setor para a
atender esse interesse público, sob a tese de que o particular é dotado de maior liberdade na aplicação dos
recursos se comparado à burocracia do setor público, favorecendo o alcance das metas estipuladas no
contrato de gestão, pois sujeito ao controle de resultados.

Todavia, não se olvida que as organizações sociais recebem recursos públicos, bens públicos e
servidores públicos, razão pela qual devem observar o núcleo essencial dos princípios da Administração
Pública, notadamente aqueles previstos no artigo 37, caput, da CRFB. No mesmo diapasão, embora o critério
formal determine que seus contratos trabalhistas sejam regidos pelo direito privado, essa realidade
compensada pela incidência de princípios do direito público, resulta no que a doutrina denomina de regime
jurídico híbrido. Por conseguinte, não se sujeitam à obrigatoriedade do concurso público, mas devem realizar
seleção pública através de procedimento objetivo e impessoal. Nesse sentido, pacificou-se o entendimento
jurisprudencial após o julgamento da ADI 1.923/DF pelo excelso Supremo Tribunal Federal, assim
ementado:

"EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUCIONAL.


ADMINISTRATIVO. TERCEIRO SETOR. MARCO LEGAL DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS.
LEI Nº 9.637/98 E NOVA REDAÇÃO, CONFERIDA PELA LEI Nº 9.648/98, AO ART. 24,
XXIV, DA LEI Nº 8.666/93. MOLDURA CONSTITUCIONAL DA INTERVENÇÃO DO
ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO E SOCIAL. SERVIÇOS PÚBLICOS SOCIAIS.
SAÚDE (ART. 199, CAPUT), EDUCAÇÃO (ART. 209, CAPUT), CULTURA (ART. 215),
DESPORTO E LAZER (ART. 217), CIÊNCIA E TECNOLOGIA (ART. 218) E MEIO
Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA
http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 9
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
AMBIENTE (ART. 225). ATIVIDADES CUJA TITULARIDADE É COMPARTILHADA
ENTRE O PODER PÚBLICO E A SOCIEDADE. DISCIPLINA DE INSTRUMENTO DE
COLABORAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA. INTERVENÇÃO INDIRETA. ATIVIDADE DE
FOMENTO PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE RENÚNCIA AOS DEVERES ESTATAIS DE
AGIR. MARGEM DE CONFORMAÇÃO CONSTITUCIONALMENTE ATRIBUÍDA AOS
AGENTES POLÍTICOS DEMOCRATICAMENTE ELEITOS. PRINCÍPIOS DA
CONSENSUALIDADE E DA PARTICIPAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART.
175, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO. EXTINÇÃO PONTUAL DE ENTIDADES PÚBLICAS
QUE APENAS CONCRETIZA O NOVO MODELO. INDIFERENÇA DO FATOR
TEMPORAL. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO DEVER CONSTITUCIONAL DE
LICITAÇÃO (CF, ART. 37, XXI). PROCEDIMENTO DE QUALIFICAÇÃO QUE
CONFIGURA HIPÓTESE DE CREDENCIAMENTO. COMPETÊNCIA DISCRICIONÁRIA
QUE DEVE SER SUBMETIDA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA PUBLICIDADE,
MORALIDADE, EFICIÊNCIA E IMPESSOALIDADE, À LUZ DE CRITÉRIOS OBJETIVOS
(CF, ART. 37, CAPUT). INEXISTÊNCIA DE PERMISSIVO À ARBITRARIEDADE.
CONTRATO DE GESTÃO. NATUREZA DE CONVÊNIO. CELEBRAÇÃO
NECESSARIAMENTE SUBMETIDA A PROCEDIMENTO OBJETIVO E IMPESSOAL.
CONSTITUCIONALIDADE DA DISPENSA DE LICITAÇÃO INSTITUÍDA PELA NOVA
REDAÇÃO DO ART. 24, XXIV, DA LEI DE LICITAÇÕES E PELO ART. 12, §3º, DA LEI Nº
9.637/98. FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO. OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS
DA IMPESSOALIDADE, DA PUBLICIDADE, DA EFICIÊNCIA E DA MOTIVAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE DE EXIGÊNCIA DE LICITAÇÃO PARA OS CONTRATOS
CELEBRADOS PELAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS COM TERCEIROS. OBSERVÂNCIA DO
NÚCLEO ESSENCIAL DOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (CF, ART. 37,
CAPUT). REGULAMENTO PRÓPRIO PARA CONTRATAÇÕES. INEXISTÊNCIA DE
DEVER DE REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO PARA CONTRATAÇÃO DE
EMPREGADOS. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA
IMPESSOALIDADE, ATRAVÉS DE PROCEDIMENTO OBJETIVO. AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO AOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS DOS SERVIDORES PÚBLICOS
CEDIDOS. PRESERVAÇÃO DO REGIME REMUNERATÓRIO DA ORIGEM. AUSÊNCIA
DE SUBMISSÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PARA O PAGAMENTO DE VERBAS,
POR ENTIDADE PRIVADA, A SERVIDORES. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 37, X, E 169,
§1º, DA CONSTITUIÇÃO. CONTROLES PELO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO E
PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. PRESERVAÇÃO DO ÂMBITO CONSTITUCIONALMENTE
DEFINIDO PARA O EXERCÍCIO DO CONTROLE EXTERNO (CF, ARTS. 70, 71, 74 E 127
E SEGUINTES). INTERFERÊNCIA ESTATAL EM ASSOCIAÇÕES E FUNDAÇÕES
PRIVADAS (CF, ART. 5º, XVII E XVIII). CONDICIONAMENTO À ADESÃO VOLUNTÁRIA
DA ENTIDADE PRIVADA. INEXISTÊNCIA DE OFENSA À CONSTITUIÇÃO. AÇÃO
DIRETA JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE PARA CONFERIR INTERPRETAÇÃO
CONFORME AOS DIPLOMAS IMPUGNADOS.

1. A atuação da Corte Constitucional não pode traduzir forma de engessamento e de


cristalização de um determinado modelo préconcebido de Estado, impedindo que, nos limites
constitucionalmente assegurados, as maiorias políticas prevalecentes no jogo democrático
pluralista possam pôr em prática seus projetos de governo, moldando o perfil e o instrumental
do poder público conforme a vontade coletiva.

2. Os setores de saúde (CF, art. 199, caput), educação (CF, art. 209, caput), cultura (CF, art.
215), desporto e lazer (CF, art. 217), ciência e tecnologia (CF, art. 218) e meio ambiente (CF,
art. 225) configuram serviços públicos sociais, em relação aos quais a Constituição, ao
mencionar que "são deveres do Estado e da Sociedade" e que são "livres à iniciativa privada",
permite a atuação, por direito próprio, dos particulares, sem que para tanto seja necessária a
Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA
http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 10
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
delegação pelo poder público, de forma que não incide, in casu, o art. 175, caput, da
Constituição.

3. A atuação do poder público no domínio econômico e social pode ser viabilizada por
intervenção direta ou indireta, disponibilizando utilidades materiais aos beneficiários, no
primeiro caso, ou fazendo uso, no segundo caso, de seu instrumental jurídico para induzir que
os particulares executem atividades de interesses públicos através da regulação, com
coercitividade, ou através do fomento, pelo uso de incentivos e estímulos a comportamentos
voluntários.

4. Em qualquer caso, o cumprimento efetivo dos deveres constitucionais de atuação estará,


invariavelmente, submetido ao que a doutrina contemporânea denomina de controle da
Administração Pública sob o ângulo do resultado (Diogo de Figueiredo Moreira Neto).

5. O marco legal das Organizações Sociais inclina-se para a atividade de fomento público no
domínio dos serviços sociais, entendida tal atividade como a disciplina não coercitiva da
conduta dos particulares, cujo desempenho em atividades de interesse público é estimulado
por sanções premiais, em observância aos princípios da consensualidade e da participação na
Administração Pública.

6. A finalidade de fomento, in casu, é posta em prática pela cessão de recursos, bens e pessoal
da Administração Pública para as entidades privadas, após a celebração de contrato de
gestão, o que viabilizará o direcionamento, pelo Poder Público, da atuação do particular em
consonância com o interesse público, através da inserção de metas e de resultados a serem
alcançados, sem que isso configure qualquer forma de renúncia aos deveres constitucionais
de atuação.

7. Na essência, preside a execução deste programa de ação institucional a lógica que


prevaleceu no jogo democrático, de que a atuação privada pode ser mais eficiente do que a
pública em determinados domínios, dada a agilidade e a flexibilidade que marcam o regime
de direito privado.

8. Os arts. 18 a 22 da Lei nº 9.637/98 apenas concentram a decisão política, que poderia ser
validamente feita no futuro, de afastar a atuação de entidades públicas através da intervenção
direta para privilegiar a escolha pela busca dos mesmos fins através da indução e do fomento
de atores privados, razão pela qual a extinção das entidades mencionadas nos dispositivos
não afronta a Constituição, dada a irrelevância do fator tempo na opção pelo modelo de
fomento - se simultaneamente ou após a edição da Lei.

9. O procedimento de qualificação de entidades, na sistemática da Lei, consiste em etapa


inicial e embrionária, pelo deferimento do título jurídico de "organização social", para que
Poder Público e particular colaborem na realização de um interesse comum, não se fazendo
presente a contraposição de interesses, com feição comutativa e com intuito lucrativo, que
consiste no núcleo conceitual da figura do contrato administrativo, o que torna inaplicável o
dever constitucional de licitar (CF, art. 37, XXI).

10. A atribuição de título jurídico de legitimação da entidade através da qualificação


configura hipótese de credenciamento, no qual não incide a licitação pela própria natureza
jurídica do ato, que não é contrato, e pela inexistência de qualquer competição, já que todos
os interessados podem alcançar o mesmo objetivo, de modo includente, e não excludente.

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 11
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
11. A previsão de competência discricionária no art. 2º, II, da Lei nº 9.637/98 no que pertine à
qualificação tem de ser interpretada sob o influxo da principiologia constitucional, em
especial dos princípios da impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (CF, art. 37,
caput). É de se ter por vedada, assim, qualquer forma de arbitrariedade, de modo que o
indeferimento do requerimento de qualificação, além de pautado pela publicidade,
transparência e motivação, deve observar critérios objetivos fixados em ato regulamentar
expedido em obediência ao art. 20 da Lei nº 9.637/98, concretizando de forma homogênea as
diretrizes contidas nos inc. I a III do dispositivo.

12. A figura do contrato de gestão configura hipótese de convênio, por consubstanciar a


conjugação de esforços com plena harmonia entre as posições subjetivas, que buscam um
negócio verdadeiramente associativo, e não comutativo, para o atingimento de um objetivo
comum aos interessados: a realização de serviços de saúde, educação, cultura, desporto e
lazer, meio ambiente e ciência e tecnologia, razão pela qual se encontram fora do âmbito de
incidência do art. 37, XXI, da CF.

13. Diante, porém, de um cenário de escassez de bens, recursos e servidores públicos, no qual
o contrato de gestão firmado com uma entidade privada termina por excluir, por
consequência, a mesma pretensão veiculada pelos demais particulares em idêntica situação,
todos almejando a posição subjetiva de parceiro privado, impõe-se que o Poder Público
conduza a celebração do contrato de gestão por um procedimento público impessoal e
pautado por critérios objetivos, por força da incidência direta dos princípios constitucionais
da impessoalidade, da publicidade e da eficiência na Administração Pública (CF, art. 37,
caput).

14. As dispensas de licitação instituídas no art. 24, XXIV, da Lei nº 8.666/93 e no art. 12, §3º,
da Lei nº 9.637/98 têm a finalidade que a doutrina contemporânea denomina de função
regulatória da licitação, através da qual a licitação passa a ser também vista como
mecanismo de indução de determinadas práticas sociais benéficas, fomentando a atuação de
organizações sociais que já ostentem, à época da contratação, o título de qualificação, e que
por isso sejam reconhecidamente colaboradoras do Poder Público no desempenho dos
deveres constitucionais no campo dos serviços sociais. O afastamento do certame licitatório
não exime, porém, o administrador público da observância dos princípios constitucionais, de
modo que a contratação direta deve observar critérios objetivos e impessoais, com
publicidade de forma a permitir o acesso a todos os interessados.

15. As organizações sociais, por integrarem o Terceiro Setor, não fazem parte do conceito
constitucional de Administração Pública, razão pela qual não se submetem, em suas
contratações com terceiros, ao dever de licitar, o que consistiria em quebra da lógica de
flexibilidade do setor privado, finalidade por detrás de todo o marco regulatório instituído
pela Lei. Por receberem recursos públicos, bens públicos e servidores públicos, porém, seu
regime jurídico tem de ser minimamente informado pela incidência do núcleo essencial dos
princípios da Administração Pública (CF, art. 37, caput), dentre os quais se destaca o
princípio da impessoalidade, de modo que suas contratações devem observar o disposto em
regulamento próprio (Lei nº 9.637/98, art. 4º, VIII), fixando regras objetivas e impessoais
para o dispêndio de recursos públicos.

16. Os empregados das Organizações Sociais não são servidores públicos, mas sim
empregados privados, por isso que sua remuneração não deve ter base em lei (CF, art. 37,
X), mas nos contratos de trabalho firmados consensualmente. Por identidade de razões,
também não se aplica às Organizações Sociais a exigência de concurso público (CF, art. 37,
Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA
http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 12
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
II), mas a seleção de pessoal, da mesma forma como a contratação de obras e serviços, deve
ser posta em prática através de um procedimento objetivo e impessoal.

17. Inexiste violação aos direitos dos servidores públicos cedidos às organizações sociais, na
medida em que preservado o paradigma com o cargo de origem, sendo desnecessária a
previsão em lei para que verbas de natureza privada sejam pagas pelas organizações sociais,
sob pena de afronta à própria lógica de eficiência e de flexibilidade que inspiraram a criação
do novo modelo.

18. O âmbito constitucionalmente definido para o controle a ser exercido pelo Tribunal de
Contas da União (CF, arts. 70, 71 e 74) e pelo Ministério Público (CF, arts. 127 e seguintes)
não é de qualquer forma restringido pelo art. 4º, caput, da Lei nº 9.637/98, porquanto dirigido
à estruturação interna da organização social, e pelo art. 10 do mesmo diploma, na medida em
que trata apenas do dever de representação dos responsáveis pela fiscalização, sem mitigar a
atuação de ofício dos órgãos constitucionais.

19. A previsão de percentual de representantes do poder público no Conselho de


Administração das organizações sociais não encerra violação ao art. 5º, XVII e XVIII, da
Constituição Federal, uma vez que dependente, para concretizar-se, de adesão voluntária das
entidades privadas às regras do marco legal do Terceiro Setor.

20. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido é julgado parcialmente procedente, para
conferir interpretação conforme à Constituição à Lei nº 9.637/98 e ao art. 24, XXIV, da Lei nº
8666/93, incluído pela Lei nº 9.648/98, para que: (i) o procedimento de qualificação seja
conduzido de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput
do art. 37 da CF, e de acordo com parâmetros fixados em abstrato segundo o que prega o art.
20 da Lei nº 9.637/98; (ii) a celebração do contrato de gestão seja conduzida de forma
pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da CF; (iii)
as hipóteses de dispensa de licitação para contratações (Lei nº 8.666/93, art. 24, XXIV) e
outorga de permissão de uso de bem público (Lei nº 9.637/98, art. 12, §3º) sejam conduzidas
de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da
CF; (iv) os contratos a serem celebrados pela Organização Social com terceiros, com
recursos públicos, sejam conduzidos de forma pública, objetiva e impessoal, com observância
dos princípios do caput do art. 37 da CF, e nos termos do regulamento próprio a ser editado
por cada entidade; (v) a seleção de pessoal pelas Organizações Sociais seja conduzida de
forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da
CF, e nos termos do regulamento próprio a ser editado por cada entidade; e (vi) para afastar
qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério Público e pelo TCU, da
aplicação de verbas públicas." (sem destaque no original) (STF, Pleno, ADI 1.923/DF,
Relator Ministro Luiz Fux, Publicação 17.12.2015)

Nessa conjuntura, a Lei Distrital nº 5.889/2017 autorizou ao Poder Executivo a criação do


Instituto Hospital de Base do Distrito Federal, pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos, com o
objetivo de prestar assistência médica qualificada e gratuita à população e de desenvolver atividades de
ensino, pesquisa e gestão no campo da saúde, em cooperação com o Poder Público, para a celebração de
contrato de gestão com o Distrito Federal, por meio da Secretaria de Estado de Saúde.

Em seguida, o Governador do Distrito Federal editou o Decreto nº 38.332/2017, para a criação


do Instituto Hospital de Base do Distrito Federal, cuja existência e a validade do requerido não integram os
estritos limites objetivos desta relação jurídico-processual e, ainda mais, foi resolvida pelo órgão competente
Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA
http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 13
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
do Poder Judiciário, o Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios no
julgamento das ADIs 20170020137585 e 2017.00.2.013822-5.

Além disso, constam dos autos o contrato de gestão celebrado pelo Ente Público com o
requerido (id. b0f8bff), o Estatuto do Instituto Hospital de Base do Distrito Federal (id. 3c7e962) e a
Resolução CA/IHBDF Nº 3/2017 (id. 637b910), com o regulamento próprio do processo de seleção para
admissão de pessoal, enquanto documentos úteis à solução do presente litígio.

Então, firmes as premissas de que a presença do Poder Público na administração, a cessão de


servidores, a permissão de uso de bens públicos e a destinação de substancial parcela do orçamento do Ente
da Federação em favor do requerido, atrai a incidência do núcleo essencial dos princípios da Administração
Pública, notadamente os consagrados no artigo 37, caput, da CRFB, e lhe confere o regime híbrido para a
regência dos contratos trabalhistas, de modo que, embora não haja a obrigatoriedade de concurso público
(artigo 37, II, da CRFB), a admissão de seus empregados sob o regime celetista deve ser antecedida de
seleção pública, objetiva e impessoal.

Aliás, esses valores também estão consagrados no artigo 2º, IX, da Lei Distrital nº 5.889/2017,
in verbis:

"Art.2º. Compete à Secretaria de Estado de Saúde supervisionar a gestão do IHBDF,


observadas as seguintes normas e disposições:

(...)

VIII - o contrato de gestão assegura ao IHBDF autonomia para contratação e administração


de pessoal sob regime da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, de forma a assegurar a
preservação dos mais elevados e rigorosos padrões de atendimento à população;

IX -o processo de seleção para admissão de pessoal do IHBDF deve ser conduzido de forma
pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios da publicidade, da
impessoalidade, da moralidade, da economicidade e da eficiência, nos termos do regulamento
próprio a ser editado pelo Conselho de Administração". (sem grifo no original)

No mesmo sentido, por evidente, a disposição do artigo 45 do Estatuto Social do requerido:

"Art. 45. O processo de seleção para o pessoal efetivo do IHBDF será precedido de edital,
observadas as peculiaridades de cada categoria profissional.

(...)

§ 2º. O regulamento próprio do processo de seleção para admissão de pessoal efetivo do


IHBDF deverá ser conduzido de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos
princípios da publicidade, impessoalidade, moralidade, economicidade e eficiência, nos
termos do regulamento próprio a ser editado pelo Conselho de Administração." (sem destaque
no original)

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 14
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
Outrossim, até mesmo a Resolução CA/IHBDF nº 3/017, que instituiu regulamento próprio do
processo de seleção para admissão de pessoal, repete, no artigo 3º, os valores da publicidade, da igualdade,
da impessoalidade, da moralidade, da economicidade e da eficiência, para compatibilizá-los com sua natureza
privada.

Contudo, esse mesmo regulamento distancia-se dos primados, ao menos, da igualdade, da


impessoalidade, da moralidade exemplificativamente nos artigos 6º, § 2º, quando autoriza o recrutamento
interno; 9º, em que prevê etapas dotadas de alta carga de subjetividade na seleção, todas com caráter
eliminatório ou classificatória; e 22, com carga discriminatória quanto aos empregados demitidos por justa
causa.

Ademais, o processo seletivo controvertido nesta ação conseguiu ofender esses e outros
valores ainda mais evidentemente, para preencher as 66 vagas de Técnico de Manutenção em Equipamentos
Hospitalares; Engenheiro Clínico; Médico Regulador; Analista de Processos Operacionais; Assistente de
Faturamento; Enfermeiro Auditor; Médico Auditor; Analista de Gestão de Pessoas; Analista Administrativo;
Farmacêutico; Engenheiro Ambiental; Comprador Especializado; Analista de Contratos; Analista de
Compras; Administrador; a começar pela ausência da publicação de edital, contrariando o artigo 45 do
próprio Estatuto do IHBDF.

Do mesmo modo, a falta de edital ou de qualquer outro documento para balizar o processo
seletivo, a par de desrespeitar os postulados de publicidade, impessoalidade, moralidade e, em última análise,
eficiência, e afrontar diretamente o estatuto social do réu, também prejudicou a disponibilização de vagas
para portadores de deficiência, contrariando, assim, a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora
de Deficiência instituída pela Lei nº 7.853/1989, regulamentada pelo Decreto nº 3.298/1999.

No mesmo diapasão, a informação restrita - obviamente contrária à publicidade,


impessoalidade e moralidade na medida em que favorece quem detém a informação por sorte, melhores
contatos ou acesso privilegiado - nos sites do período de inscrição de 08 a 23.03.2018, com previsão de
admissão dos candidatos aprovados e recomendados (este último ponto a ser analisado especificamente
adiante) já em 26.03.2018, dificultou a ampla participação dos interessados, afinal, o acesso aos empregos da
entidade, assim como desfavoreceu a seleção dos candidatos mais bem preparados, em coerência com a
pretendida eficiência administrativa.

A propósito, as informações extraídas do sítio eletrônico "vagas.com", no mínimo, não se


mostraram confiáveis ante a discrepância entre os impressos apresentados pelo autor e pelo réu com seus
respectivos atos postulatórios, sendo, ao contrário do afirmado em contestação, de responsabilidade do réu e
inescusáveis os defeitos do processamento eletrônico da seleção pública.

Ficaram ainda mais evidentes as ofensas aos princípios da impessoalidade e da moralidade


quando verificada a possibilidade de realização das etapas de conhecimento em língua portuguesa,
conhecimentos gerais e lógica pela internet, o que, obviamente, destituiu a segurança de que o próprio
candidato respondeu as questões, sem, ao menos, o auxílio de terceiros e a consulta a materiais, a impedir a
confirmação da identidade e a avaliação dos concorrentes. Importante pontuar que a verdade dessa
circunstância fática decorre especialmente da ausência de controvérsia.

No curso do processo seletivo, principalmente a 5ª etapa definida como entrevista e análise


pelo gestor da área é dotada de alta carga de subjetividade , a permitir que esse examinador escolha o
candidato a partir de suas preferências pessoais, em detrimento dos postulados da impessoalidade e da
moralidade, retrocedendo na escalada evolutiva em nosso ordenamento jurídico para exterminar a cultura de
apadrinhamentos, nepotismos, discriminações odiosas entre outras.
Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA
http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 15
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
Nesse contexto, o conjunto probatório até então produzido foi convincente acerca da
invalidade do segundo processo seletivo realizado pelo requerido para preenchimento de 66 vagas de
emprego de Técnico de Manutenção em Equipamentos Hospitalares; Engenheiro Clínico; Médico Regulador;
Analista de Processos Operacionais; Assistente de Faturamento; Enfermeiro Auditor; Médico Auditor;
Analista de Gestão de Pessoas; Analista Administrativo; Farmacêutico; Engenheiro Ambiental; Comprador
Especializado; Analista de Contratos; Analista de Compras; Administrador.

O desvio de poder verificado corresponde ao manejo da competência em descompasso com a


competência, segundo os ensinamentos do professor Celso Antônio Bandeira de Mello (MELLO, Celso
Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros Editores, 22ª Edição, 2010, p.
981).

É importante registrar que, depois da formulação do pedido principal pelo autor, o réu não
apresentou outros documentos com a contestação de id. dc1dae7, mantendo-se o conjunto probatório
insuficiente em favor das teses defensivas já repelidas, inclusive conforme certificado em decisão judicial
anterior.

Pelo exposto, declaro a nulidade absoluta do segundo processo seletivo realizado pelo réu e,
por consequência lógica, de todas as contratações de empregados decorrentes dessa seleção.

Cumpre ressaltar que, na contestação de id. dc1dae7, o réu não impugnou especificamente os
pedidos de obrigações de fazer e não fazer.

De todo modo, uma vez evidenciado o ilícito, é inadmissível sua perpetuação, bem como a
produção de efeitos pelo ato nulo.

Portanto, no caso concreto, com fundamento nos artigos 3º e 11 da Lei nº 7.347/1985 e 84 da


Lei nº 8.078/1990, forçoso o acolhimento do pedido inicial também para a imposição das seguintes
obrigações de fazer e não fazer pleiteadas, a fim de evitar repetição do atos contrários ao direito no futuro,
razão pela qual condeno o réu, sob pena de multa de R$ 50.000,00 por cada descumprimento, a:

a) promover o imediato desligamento de todos os empregados já contratados com base no


segundo processo seletivo;

b) abster-se de continuar contratando empregados com base no segundo processo seletivo;

c) abster-se de realizar processos seletivos futuros com base em metodologias de seleção que
tenham caráter subjetivo;

d) abster-se de realizar processos seletivos sem a publicação de edital público, com as diversas
etapas da seleção, banca examinadora, prazos, critérios objetivos e recursos cabíveis, com
publicação mínima no Diário Oficial do DF e no seu sítio eletrônico;

e) estabelecer, nos futuros editais públicos de seleção, a reserva de vagas para candidatos
portadores de deficiência, na forma da lei;

f) abster-se de discriminar ex-empregados nas seleções públicas e futuras contratações;

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 16
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
g) abster-se de realizar provas pela internet em suas seleções públicas, adotando exames
presenciais e com a presença de fiscais nos locais dos exames;

h) abster-se de realizar seleções internas ou mistas;

i) publicar esta sentença, na íntegra, em seu sítio eletrônico, para conhecimento de todos os
interessados.

Os valores das astreintes acima indicados deverão ser devidamente corrigidos e revertidos ao
Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), previsto na Lei nº 9.008/1995, nos termos do art. 5º, §6º e da
Lei nº 7.347/1985, ou a instituição sem fins lucrativos a ser indicada pelo órgão ministerial para homologação
judicial.

Em outra frente, a fim de responder às questões suscitadas pelo requerido quando da


impetração do mandado de segurança (processo autuado sob o nº 0000163-49.2018.5.10.0000): "A quem
caberá indenizar os atuais empregados que sequer fizeram parte dos atacados processos seletivos? E as
pessoas que pediram demissão de seus empregos anteriores para serem admitidos no IHB? Como fica essa
situação? Quem assumirá esses danos e arcará com as indenizações que certamente serão pleiteadas?", bem
como para aferir a responsabilidade pelos demais prejuízos à sociedade, continua forçoso levar ao
conhecimento, das autoridades competentes pela correspondente investigação, o teor das principais peças
processuais e desta decisão.

DANO MORAL COLETIVO

A proteção contra o dano extrapatrimonial foi alçada à condição de direito fundamental nos
incisos V e X do artigo 5º da Constituição da República, in verbis:

"Art. 5º (...)

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano


material, moral ou à imagem;

(...)

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;"

Com efeito, os valores jurídicos protegidos não são restritos à esfera individual, pois o
ordenamento jurídico estabeleceu novo paradigma com a dimensão social e coletiva de direitos e suas

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 17
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
respectivas tutelas. Não nos referimos à mera reunião dos interesses individuais, mas de valores que não se
restringem às pessoas diretamente atingidas e as ultrapassam para assumirem dimensão social, pois são
identificadores de determinados grupos, classes e comunidades.

Consta expressamente das disposições dos artigos 6º, VI e VII, da Lei nº 8.078/1990 e 1º da
Lei nº 7.347/1985 o reconhecimento ao direito coletivo e difuso de caráter extrapatrimonial, cujas ameaças de
lesão e lesões são, respectivamente, prevenidas e reparadas pelo sistema processual previsto nesses diplomas
normativos.

Nesse sentido, importante a definição de dano moral coletivo apresentada por Xisto Tiago de
Medeiros Neto: "lesão injusta e intolerável a interesses ou direitos titularizados pela coletividade (...) os quais
se distinguem pela natureza extrapatrimonial e por refletir valores e bens fundamentais tutelados pelo sistema
jurídico" (MEDEIROS NETO, Xisto Tiago de. Dano Moral Coletivo. 3 ed. São Paulo: Ltr, 2012, p. 170).

Assim, o dano moral coletivo, por definição, pressupõe a existência de conduta antijurídica
com gravidade suficiente para a repercussão social nociva a valores fundamentais do sistema jurídico, a
configurar ofensa a interesses extrapatrimoniais de toda a coletividade ou mesmo de toda sociedade. Por
conseguinte, estamos diante da invocação de interesses transindividuais, indivisíveis e titularizados em
comunhão pelo grupo social, sejam coletivos em sentido estrito ou difusos, nos moldes do artigo 81,
parágrafo único, I e II, do CDC:

"Art. 81. (...)

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;"

Então, está consagrada a existência de interesses e direitos de natureza extrapatrimonial


titularizados pela coletividade em suas variadas expressões. A propósito dessa mudança de paradigma de
proteção de dano moral, há destacado precedente no colendo Tribunal Superior do Trabalho, com a seguinte
ementa:

"RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA - CONSTRUTORA RV LTDA. - AÇÃO CIVIL


PÚBLICA - CONSTRUÇÃO CIVIL - REPARAÇÃO DE LESÃO OFENSIVA AOS VALORES
FUNDANTES DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 - NÃO PREENCHIMENTO DAS
VAGAS RESERVADAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA - ART. 93 DA LEI Nº 8.213/91
- OFENSA A DIREITO DIFUSO - DIREITO FUNDAMENTAL À IGUALDADE MATERIAL -
EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. A evolução das concepções
jurídicas acerca da responsabilidade civil, que caminha desde o reconhecimento restrito do
dano material, passando pela admissibilidade do dano moral individual, até o
Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA
http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 18
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
reconhecimento, à luz dos marcos da Constituição Federal de 1988, da necessidade de
reparação da coletividade, quando atingidos, por meio de conduta ilícita, valores assentados
na Carta de 1988 e que detém titularidade transindividual, torna imperativa a afirmação do
direito à reparação por dano imaterial coletivo, que, de forma tecnicamente inadequada, vem
sendo denominado dano moral coletivo. É importante ressalta-se que, assim como a
denominação, que se refere aos direitos de natureza individual, os pressupostos para o
reconhecimento da responsabilidade em razão dessa espécie de dano são diversos, revelando
a insuficiência dos paradigmas do direito liberal clássico para lidar com as novas categorias
jurídicas transindividuais. Nesse contexto, resulta incabível perquirir, na conduta da ré no
caso concreto, a existência de incômodo moral com gravidade suficiente a atingir não apenas
o patrimônio jurídico dos trabalhadores envolvidos, mas o patrimônio de toda a coletividade.
O que releva investigar, no caso em tela, é a gravidade da violação infligida pela ré à ordem
jurídica. A coletividade é tida por ofendida, imaterialmente, a partir do fato objetivo da
violação da ordem jurídica. Assim, verificado nos autos que a ré resistiu em cumprir a cota de
portadores de deficiência prevista no art. 93 da Lei nº 8.213/91, descumprindo,
injustificadamente, norma garantidora do princípio da igualdade material e da não
discriminação das pessoas portadoras de necessidades especiais e, por conseguinte,
furtando-se à concretização de sua função social, é devida a reparação da coletividade pela
ofensa aos valores constitucionais fundamentais. Recurso de revista não conhecido." (sem
grifo no original) (TST, 7ª Turma, Processo RR 1991-15.2011.5.10.0004, Relator Ministro
Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, DEJT 31/03/2015)

Nesse particular, então, são pressupostos da responsabilidade civil: a) a conduta comissiva ou


omissiva contrária ao direito; b) a ofensa a interesse ou direito titularizado por uma coletividade; c) o nexo de
causalidade, a relação de causa e efeito entre a ação ou omissão e a ofensa.

No caso concreto, restou evidenciada a prática ilícita de ofensa a princípios constitucionais


aplicáveis à espécie e de descumprimento das obrigações instituídas nos normativos próprios do réu
referentes à seleção de seus empregados.

Foram atingidos pela conduta não apenas aqueles que efetivamente participaram do segundo
processo seletivo do IHBDF, mas também quem não conseguiu participar da seleção por conta do ilícito
patronal e, afinal, toda a sociedade, interessada no respeito aos pertinentes valores basilares estabelecidos na
Constituição da República e na correta aplicação dos recursos públicos repassados ao réu por meio de
contrato de gestão.

Dessarte, a prática do réu revelou padrão de conduta lesivo aos interesses e direitos
extrapatrimoniais da coletividade e, diante do ilícito, não há necessidade de prova do dano, pois é presumido
a partir do ato ofensivo de que decorre inexoravelmente a violação dos valores da humanidade, razão pela
qual se afirma que o dano moral existe in re ipsa.

Noutras palavras, quando provado o fato, que atinge de forma intolerável e significativa
direitos coletivos (lato sensu), a exigir a responsabilização exemplar do ofensor, restará evidenciado, em
consequência, o dano moral coletivo.

Tratando-se de bens destituídos de conteúdo econômico, a indenização em dinheiro tem a


finalidade de compensar a lesão sofrida e de sanção pedagógica e inibitória, logo sua imposição servirá para
desestimular condutas igualmente ofensivas aos direitos morais por parte da ré e de toda a sociedade.

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 19
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
Contudo, o ordenamento jurídico pátrio não estabelece parâmetros objetivos para a fixação
dessa indenização por danos morais e, em virtude da omissão legislativa, a fixação da indenização está
inserida no poder discricionário do Juiz diante das nuances do caso concreto.

No entanto, embora seja a solução casuística, o arbitramento deverá respeitar a diretriz


fornecida pelo princípio da proporcionalidade, que pode ser extraído tanto do artigo 5º, V, da Constituição da
República como do artigo 944 do Código Civil.

Ademais, o arbitramento judicial deve ser prudente e considerar alguns parâmetros sugeridos
por doutrina e jurisprudência: a) o ambiente cultural dos envolvidos; b) a situação econômica das partes; c) o
grau de culpa do ofensor; d) a gravidade e a extensão do dano.

Nesse contexto, a indenização por dano moral coletivo deverá considerar o porte econômico
da parte ré para funcionar como medida pedagógica e punitiva e desestimular a repetição do ilícito, sendo que
a única informação a respeito foi trazida pelo autor, no sentido de que o Governo do Distrito Federal
repassará ao IHBDF seiscentos milhões de reais por ano.

Portanto, no exercício discricionário da conjugação desses parâmetros, a fim de respeitar o


princípio da proporcionalidade neste caso concreto, condeno o réu ao pagamento de compensação financeira
no importe de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), equivalente a menos de 0,1% do contrato de gestão
original, desconsiderados eventuais aditamentos, com valores reversíveis ao Fundo de Defesa dos Direitos
Difusos (FDD), previsto na Lei nº 9.008/1995, nos termos do art. 5º, §6º e da Lei nº 7.347/1985 ou a
instituição sem fins lucrativos a ser indicada pelo órgão ministerial para homologação judicial.

III. Dispositivo
Diante do exposto, e considerando o que mais consta dos autos, decido julgar parcialmente
procedente o pedido da ação principal formulada por MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO em face
de INSTITUTO HOSPITAL DE BASE DO DISTRITO FEDERAL - IHBDF, para, nos termos da
fundamentação:

1) Declarar a nulidade absoluta do segundo processo seletivo realizado pelo réu e de todas as
contratações de empregados decorrentes dessa seleção;

2) Condenar o réu ao cumprimento das seguintes obrigações de fazer e não fazer pleiteadas,
sob pena de multa de R$ 50.000,00 por cada descumprimento:

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 20
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
a) promover o imediato desligamento de todos os empregados já contratados com base no
segundo processo seletivo;

b) abster-se de continuar contratando empregados com base no segundo processo seletivo;

c) abster-se de realizar processos seletivos futuros com base em metodologias de seleção que
tenham caráter subjetivo;

d) abster-se de realizar processos seletivos sem a publicação de edital público, com as diversas
etapas da seleção, banca examinadora, prazos, critérios objetivos e recursos cabíveis, com
publicação mínima no Diário Oficial do DF e no seu sítio eletrônico;

e) estabelecer, nos futuros editais públicos de seleção, a reserva de vagas para candidatos
portadores de deficiência, na forma da lei;

f) abster-se de discriminar ex-empregados nas seleções públicas e futuras contratações;

g) abster-se de realizar provas pela internet em suas seleções públicas, adotando exames
presenciais e com a presença de fiscais nos locais dos exames;

h) abster-se de realizar seleções internas ou mistas;

i) publicar esta sentença, na íntegra, em seu sítio eletrônico, para conhecimento de todos os
interessados.

3. Condenar o réu ao pagamento, no prazo de 48 horas, de indenização por dano moral


coletivo no importe de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)

Custas pelo réu no importe de R$ 10.000,00, calculadas sobre o valor arbitrado à condenação
(R$ 500.000,00).

Incidência de correção monetária, na forma da Súmula nº 381/TST, sendo a partir da data de


publicação da sentença para a indenização por dano moral (Súmula nº 439/TST).

Juros de mora, nos termos do artigo 39, § 1º, da Lei nº 8.177/1991, a contar do ajuizamento da
ação (artigo 883 da CLT).

Intimem-se as partes, sendo o autor por sistema próprio.

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 21
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45
BRASILIA, 30 de Maio de 2019

RENATO VIEIRA DE FARIA


Juiz do Trabalho Substituto

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: RENATO VIEIRA DE FARIA


http://pje.trt10.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=19031517373503100000016985844
Número do processo: ACP-0000247-02.2018.5.10.0016
Número do documento: 19031517373503100000016985844 ID. 86577f8 - Pág. 22
Data de Juntada: 30/05/2019 18:45

Вам также может понравиться