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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 17.524 - BA (2003/0218891-4)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


RECORRENTE : CIDADE COMPANHIA DE INCORPORAÇÕES E
DESENVOLVIMENTO
ADVOGADO : JOSÉ LEITE SARAIVA FILHO E OUTRO
T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
IMPETRADO : PRESIDENTE DA 4A TURMA RECURSAL CÍVEL DE
DEFESA DO CONSUMIDOR E CAUSAS COMUNS
RECORRIDO : ANDRÉ JOSÉ DOS SANTOS FILHO
ADVOGADO : GIL RUY LEMOS COUTO
EMENTA

Processo civil. Recurso em Mandado de Segurança. Mandamus impetrado,


perante Tribunal de Justiça, visando promover controle de competência de
decisão proferida por Juizado Especial Cível. Possibilidade. Ausência de
confronto com a jurisprudência consolidada do STJ, que veda apenas a
impetração de mandado de segurança para o controle do mérito das decisões
proferidas pelos Juizados Especiais.
- Não se admite, consoante remansosa jurisprudência do STJ, o controle, pela
justiça comum, sobre o mérito das decisões proferidas pelos juizados especiais.
Exceção é feita apenas em relação ao controle de constitucionalidade dessas
decisões, passível de ser promovido mediante a interposição de recurso
extraordinário.
- A autonomia dos juizados especiais, todavia, não pode prevalecer para a
decisão acerca de sua própria competência para conhecer das causas que lhe são
submetidas. É necessário estabelecer um mecanismo de controle da competência
dos Juizados, sob pena de lhes conferir um poder desproporcional: o de decidir,
em caráter definitivo, inclusive as causas para as quais são absolutamente
incompetentes, nos termos da lei civil.
- Não está previsto, de maneira expressa, na Lei nº 9.099/95, um mecanismo de
controle da competência das decisões proferidas pelos Juizados Especiais. É,
portanto, necessário estabelecer esse mecanismo por construção jurisprudencial.
- Embora haja outras formas de promover referido controle, a forma mais
adequada é a do mandado de segurança, por dois motivos: em primeiro lugar,
porque haveria dificuldade de utilização, em alguns casos, da Reclamação ou da
Querela Nullitatis; em segundo lugar, porque o mandado de segurança tem
historicamente sido utilizado nas hipóteses em que não existe, no ordenamento
jurídico, outra forma de reparar lesão ou prevenir ameaça de lesão a direito.
- O entendimento de que é cabível a impetração de mandado de segurança nas
hipóteses de controle sobre a competência dos juizados especiais não altera o
entendimento anterior deste Tribunal, que veda a utilização do writ para o
controle do mérito das decisões desses juizados.
Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

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Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da CORTE
ESPECIAL do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas
constantes dos autos, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista da Sra. Ministra Eliana
Calmon, acompanhando o voto da Sra. Ministra Relatora, e os votos dos Srs. Ministros Paulo
Gallotti, Francisco Falcão e Antônio de Pádua Ribeiro no mesmo sentido, por maioria, conhecer
do recurso ordinário em mandado de segurança e dar-lhe provimento, nos termos do voto da Sra.
Ministra Relatora. Vencidos os Srs. Ministros Barros Monteiro, Ari Pargendler, Fernando
Gonçalves, Felix Fischer, Gilson Dipp e Hamilton Carvalhido. Os Srs. Ministros Luiz Fux,
Antônio de Pádua Ribeiro, Cesar Asfor Rocha, José Delgado, Eliana Calmon, Paulo Gallotti e
Francisco Falcão votaram com a Sra. Ministra Relatora. Não participaram do julgamento os Srs.
Ministros Nilson Naves, Humberto Gomes de Barros, Carlos Alberto Menezes Direito, Aldir
Passarinho Junior, Jorge Scartezzini, Laurita Vaz, João Otávio de Noronha e Teori Albino
Zavascki. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp.
Brasília (DF), 2 de agosto de 2006(data do julgamento).

MINISTRA NANCY ANDRIGHI


Relatora

RAPHAEL DE BARROS MONTEIRO FILHO


Presidente

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 17.524 - BA (2003/0218891-4)

RECORRENTE : CIDADE COMPANHIA DE INCORPORAÇÕES E


DESENVOLVIMENTO
ADVOGADOS : JOSÉ LEITE SARAIVA FILHO
PEDRO BORGES DA SILVA TELES
T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
IMPETRADO : PRESIDENTE DA 4A TURMA RECURSAL CÍVEL DE DEFESA
DO CONSUMIDOR E CAUSAS COMUNS
RECORRIDO : ANDRÉ JOSÉ DOS SANTOS FILHO
ADVOGADO : GIL RUY LEMOS COUTO

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

Cuida-se do recurso ordinário em mandado de segurança interposto por


Cidade Companhia de Incorporações e Desenvolvimento contra acórdão exarado pelo
Tribunal de Justiça da Bahia.
Ações: André José dos Santos Filho, ora recorrido, propôs ação de
conhecimento sob o rito ordinário em face de Completa Construção e Planejamento
LTDA, objetivando a rescisão contratual de compromisso de compra e venda de bens
imóveis e a devolução dos valores pagos a esse título.
A ação foi proposta perante o 2.º Juizado de Defesa do Consumidor da
Comarca de Salvador em 11.05.1994. À época, vigia a Lei Estadual 4.630/85, que
instituiu os chamados "Juizados Especiais de Pequenas Causas" na Bahia. O pedido
nela formulado foi julgado procedente e a sentença transitou em julgado. Em sede de
execução do título executivo judicial exarado, restaram penhorados dois imóveis de
propriedade da recorrente, estranha à lide.
Dessa forma, a recorrente opôs embargos de terceiro perante o Juizado
Especial onde tramitara a ação principal, com fulcro no art. 1.046 do CPC, sob a
alegação de que os imóveis penhorados haviam sido objeto de contrato de compra e
venda celebrado entre Completa Construção e Planejamento LTDA e a recorrente, que
deles passou a ser proprietária. Todavia, o Juízo monocrático rejeitou os embargos de
terceiro opostos.

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Inconformada, interpôs recurso de apelação. Formulou preliminar de
incompetência absoluta do 2.º Juizado Especial de Defesa do Consumidor para
apreciar a lide, posto que o valor em execução é de R$ 176.994,97, cerca de vinte
vezes o teto estabelecido pelo art. 3.º, I, da Lei 9.099/95. Requereu que o seu recurso
fosse apreciado por uma das Turmas do TJBA.
A 4.ª Turma Recursal Cível de Defesa do Consumidor e Causas Comuns
negou provimento ao recurso interposto pela recorrente. Determinou o
desapensamento dos autos e o prosseguimento da ação de execução.
A recorrente então impetrou mandado de segurança, com pedido liminar,
perante o TJBA.
Em síntese, sustentou que (i) o julgamento da apelação interposta contra
a sentença de rejeição dos embargos de terceiro que opusera compete ao TJBA; (ii) a
ação de execução excedeu os limites impostos pelo art. 3.º, I, da Lei 9.099/95, motivo
pelo qual há de ser remetida a uma das Varas Cíveis; (iii) que a sentença proferida
pelo 2.º Juizado Especial de Defesa do Consumidor é ineficaz, nos termos do art. 39
da referida Lei.
Acórdão: inicialmente, o TJBA deferiu o pedido liminar para suspender
o curso da ação de execução até o julgamento do mandado de segurança. Contudo,
denegou a ordem por acórdão assim ementado:
"Mandado de segurança. Decisão prolatada por Presidente de
Turma Recursal. Incompetência dos Tribunais de Justiça. Precedentes.
Na esteira do entendimento do Tribunal de Justiça da Bahia, em sua
composição plena, e de julgados emanados do Superior Tribunal de
Justiça, falece competência aos Tribunais de Justiça para rever decisões
prolatadas pelos Juizados Especiais, ainda que em sede de mandado de
segurança."

Interpostos embargos de declaração, restaram rejeitados.


Recurso ordinário: a recorrente interpôs o presente recurso com fulcro
no art. 105, inc. II, alínea "b", da Constituição Federal. Reprisou os argumentos
expendidos quando da impetração do mandamus .
Concomitantemente, também propôs medida cautelar, com pedido
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liminar, com o objetivo de imprimir efeito suspensivo ao recurso ordinário interposto
(MC 7.429). A petição inicial foi indeferida liminarmente e extinto o processo sem
julgamento do mérito. A decisão unipessoal proferida transitou em julgado.
É o relatório.

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RECORRENTE : CIDADE COMPANHIA DE INCORPORAÇÕES E
DESENVOLVIMENTO
ADVOGADOS : JOSÉ LEITE SARAIVA FILHO
PEDRO BORGES DA SILVA TELES
T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
IMPETRADO : PRESIDENTE DA 4A TURMA RECURSAL CÍVEL DE DEFESA
DO CONSUMIDOR E CAUSAS COMUNS
RECORRIDO : ANDRÉ JOSÉ DOS SANTOS FILHO
ADVOGADO : GIL RUY LEMOS COUTO

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

A questão posta a desate diz respeito ao cabimento de mandado de


segurança para os Tribunais de Justiça controlarem atos praticados pelos membros ou
Presidente das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. A
hipótese dos autos, todavia, traz uma peculiaridade muito importante: o mandado de
segurança sub judice não visa propriamente à revisão do mérito de uma decisão
proferida pela justiça especializada, mas meramente questiona a competência dos
Juizados Especiais para conhecer de determinada causa. Ou seja, o controle que se
procura fazer não é da decisão, propriamente, mas da possibilidade de ela ser proferida
por um membro dos Juizados Especiais.
Além disso, é fundamental também ter em vista que o acórdão recorrido
limitou-se a não conhecer do 'writ'. Não se está a discutir aqui, portanto, qualquer
alegação que se prenda ao mérito da impetração. Assim, por exemplo, não é objeto
deste recurso definir qual a influência do trânsito em julgado da decisão anterior,
proferida na ação que deu origem aos embargos de terceiro, no julgamento destes. Da
mesma forma, qualquer circunstância que se prenda ao mérito, ou mesmo a
preliminares relacionadas com os embargos de terceiro , não está sob julgamento.
Todas essas questões vêm após o conhecimento do mandado de segurança sub judice .
Disso decorre que o objeto deste recurso limita-se a definir se poderia, o
Tribunal a quo, não conhecer da impetração meramente porquanto se tratava da

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impugnação de uma decisão proferida pelos juizados especiais. Nada mais que isso.
Definido, de maneira precisa, o objeto do recurso, passa a ser possível
apreciá-lo, dirimindo as questões importantíssimas que a matéria suscita. É o que se
passa a fazer.

I – A Jurisprudência da Corte a Respeito da Impossibilidade de Controle do


Mérito das Decisões dos Juizados Especiais: Inatacabilidade.

Há, nesta Corte, jurisprudência firmada no sentido de que os Tribunais


de Justiça não têm jurisdição para rever as decisões proferidas pelos órgãos dos
Juizados Especiais, ainda que pela via do mandado de segurança. Neste sentido são
inúmeros os precedentes, dos quais pinço o ROMS 15.910, Rel. Min. Menezes Direito,
DJ de 20.10.2003, assim ementado na parte que interessa:
Recurso ordinário. Mandado de segurança contra ato
jurisdicional. Súmula no. 267/STF. Precedente da Corte.
1. ......................
2. O mandado de segurança não é sucedâneo do recurso
processual adequado, nem têm os tribunais estaduais competência para
julgá-los contra decisão proferida nos Juizados Especiais.
3. Recurso ordinário conhecido e desprovido.

Os motivos pelo qual esta Corte pacificou seu entendimento nesse


sentido são irretocáveis. O modelo peculiar dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais
foi adotado por se tratar de uma Justiça Especial, estruturada em um micro sistema
próprio que garanta o cumprimento dos princípios que a norteiam, todos previstos no
art. 2°. da Lei 9.099/95 (oralidade, simplicidade, informalidade, economia e
celeridade).
Por esse motivo, o órgão revisor das decisões proferidas pelos juízes no
âmbito dos Juizados Especiais é, exclusivamente, a Turma Recursal, composta por
juízes de primeiro grau. Para garantia da agilidade na realização do direito da parte, os
membros das Turmas Recursais, no âmbito da sua competência, proferem decisões
soberanas, sendo vedado ao Tribunal de Justiça o respectivo controle. Da mesma
forma, não sendo provenientes de tribunais, as decisões proferidas no âmbito dos
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Juizados Especiais também não estão sujeitas ao controle do Superior Tribunal de
Justiça, por força de obstáculo constitucional. O último órgão de controle é o Supremo
Tribunal Federal, o qual tem admitido acesso apenas quando na decisão se verificar
possível violação à Constituição.
Para evidenciar o espírito inovador desta nova Justiça, observe-se que
não há, na Lei 9.099/95, referência à aplicação subsidiária do Código de Processo
Civil, donde se infere que a intenção é, regra geral, manter afastada a sua incidência.
Com efeito, quando o legislador pretendeu que o CPC fosse aplicado, determinou-o de
maneira explícita, como, por exemplo, nos arts. 30, 52 e 53. Quanto aos demais, a
condução procedimental deverá nortear-se pelo sistema especial. Note-se o trato
legislativo diverso dado pela mesma lei quando disciplina o Juizado Especial
Criminal, prevendo, no art. 92, expressamente, a aplicação subsidiária do Código de
Processo Penal.
O reconhecimento, portanto, da impossibilidade de controle sobre o
mérito das decisões proferidas no âmbito dos Juizados Especiais, mesmo pela via do
mandado de segurança, coaduna-se perfeitamente com o sistema peculiar dos Juizados
Especiais, e deve ser mantido por esta Corte. Trata-se de uma conquista definitiva da
sociedade.

II – A Peculiaridade do Caso Sub Judice : O Controle da Competência dos


Juizados Especiais
No caso sub judice, porém, o pedido no mandado de segurança é para
ver reconhecida a incompetência absoluta dos Juizados Especiais Cíveis para julgar a
causa. Ou seja: a parte não pretende, no mandamus , promover um controle quanto ao
mérito da decisão proferida pela Turma Recursal. Meramente busca uma forma de
promover o controle sobre a fixação da competência desses juizados. Não há, na Lei nº
9.099/96, qualquer menção quanto à forma de se promover tal controle, o que torna a
questão assaz relevante.
A lacuna legislativa deve, necessariamente, ser preenchida. As decisões
que fixam a competência dos Juizados Especiais não podem restar absolutamente
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desprovidas de controle, seja pelos Tribunais dos Estados (ou Federais, conforme o
caso), seja por parte desta Corte. Estender o entendimento de que não é possível o
controle das decisões proferidas pelos Juízes e Turmas Recursais dos Juizados
Especiais às hipóteses de fixação de sua competência conduziria a uma situação
teratológica e extremamente perigosa.
Com efeito, um Juiz, atuando no âmbito do Juizado Especial, poderia,
equivocadamente, considerar-se competente para julgar uma causa que escapa de sua
alçada e, caso tal decisão fosse confirmada pela Turma Recursal, à parte prejudicada
restaria apenas a opção de discutir a questão no Supremo Tribunal Federal, por meio
de Recurso Extraordinário. Dadas as severas restrições constitucionais e regimentais
ao cabimento desse recurso, em muitos casos a distorção não seria passível de
correção, em prejuízo de todo o sistema jurídico-processual.
Tudo isso conduziria a uma grande contradição: o Juizado Especial, a
quem é atribuído o poder jurisdicional de decidir causas de menor complexidade ,
mediante a observância de um procedimento simplificado , ficaria dotado de um poder
descomunal, podendo fazer prevalecer suas decisões mesmo quando proferidas por
Juiz absolutamente incompetente. A manutenção de tal discrepância não pode, de
forma alguma, ser admitida, sob pena de implicar desprestígio de todo o sistema
processual: dos juizados especiais, porquanto poderiam vir a ser palco de abusos, e do
juízo comum, porquanto teria ilegitimamente usurpada parte de sua competência.
Note-se – porquanto isso é muito importante frisar – que a linha de
raciocínio que ora se expõe não entra em confronto com jurisprudência já pacificada
desta Corte. Mantém-se a impossibilidade de revisão de mérito das decisões proferidas
no âmbito do Juizado Especial. Apenas a fixação da competência estaria sujeita a
controle. Na verdade o controle do cumprimento da estrita obediência ao limite da
competência dos Juizados Especiais Cíveis não trisca em momento algum no mérito de
nenhuma decisão proferida no curso do processo, portanto, eventual análise pelos
Tribunais de Justiça não adentraria no âmago das decisões proferidas por aquela
Justiça Especial. É, na verdade, um controle jurisdicional que fica fora do âmbito
interno dos processos propriamente ditos e tem a função precípua de equacionar e
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fazer cumprir corretamente a regra de competência ditada pela Constituição e
detalhada na Lei no. 9.099/95.
Também não há, no caso sub judice , ofensa ao comando contido na
Súmula 203, desta Corte. Com efeito, não se está, neste julgamento, apreciando
Recurso Especial interposto contra decisão proferida por Turma Recursal dos Juizados
Especiais. Trata-se, meramente, de mandado de segurança decidido pelo Tribunal de
Justiça da Bahia, cujo objeto, como já frisado, não é o de promover qualquer revisão
de mérito sobre a decisão da Justiça Especializada.

III – O Meio Processual Adequado para se Promover o Controle da Competência


dos Juizados Especiais.

Fixada a necessidade – ou, mais que isso, a imprescindibilidade – de se


encontrar um meio, na legislação processual vigente, de promover o controle sobre a
fixação da competência dos Juizados Especiais, levanta-se a questão de qual seria esse
meio.
No caso concreto, o Recorrente valeu-se da via do Mandado de
Segurança, interposto diretamente perante o Tribunal de Justiça. Outras formas de
controles de que se poderia cogitar seriam a Reclamação para Preservação de
Competência, ou mesmo, em última análise, a querela nulitatis (a Ação Rescisória
deve ser, de plano, descartada, porquanto ela é expressamente vedada pelo artigo 59,
da Lei nº 9.099/95).

III.a) A querela nullitatis

A querela nullitatis , que tem sua origem no direito comum, não se


encontra mais disciplinada no direito brasileiro contemporâneo. O sistema processual
vigente aderiu ao princípio segundo o qual todos os motivos de nulidade da sentença

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se convertem em motivos de impugnação. Não obstante, a doutrina, de maneira geral,
defende a permanência desse instituto na atualidade, com base no artigo 741, inciso I,
do Código de Processo Civil. Assim, a querela nullitatis , estaria embutida na ação de
Embargos à Execução Judicial, sendo passível de utilização nas hipóteses de
inexistência da sentença decorrente de nulidade na citação do Réu revel. Como a
disposição do artigo 741, inciso I, todavia, somente se reporta a sentenças de natureza
condenatória , parte da doutrina também defende que, para as demais modalidades de
sentença (constitutiva, declaratória), a querela nullitatis poderia ser veiculada sob o
manto da ação declaratória de nulidade.
Todavia, ainda que admitida a sobrevivência desse instituto no direito
brasileiro moderno nesses casos específicos, não se pode deixar de lado o fato de que a
querela nullitatis somente seria passível de ser utilizada nas hipóteses de sentença
inexistente . A sentença proferida por juízo incompetente – ainda que se esteja falando
de incompetência absoluta – configura-se sentença nula, e não inexistente –, de forma
que a querela nullitatis , mesmo em tese, não seria cabível para impugná-la. Disso
decorre que não me parece adequada a adoção dessa solução para o caso concreto.
Além disso, é importante relembrar que admitir o controle de competência dos
Juizados Especiais unicamente mediante a propositura de uma nova ação, perante o
juízo comum, representaria uma postura diametralmente contrária aos princípios de
celeridade e simplicidade que informa essa justiça especializada. Assim, por todos
esses motivos, a querela nullitatis não consubstancia um meio adequado de dar
solução ao caso de que se ocupa este julgado.

II.b) A Reclamação

A Reclamação, por sua vez, é instituto expressamente previsto, tanto


pela Constituição Federal (arts. 103, inciso I, alínea l e 105, inciso I, alínea f), como
pela Lei nº 8.038/90 (arts. 13 a 18), como modalidade de preservar a competência do
Tribunal ou a autoridade de suas decisões , sempre no âmbito do Supremo Tribunal
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Federal ou do Superior Tribunal de Justiça.
A primeira pergunta que se impõe, portanto, para verificar se essa
medida seria cabível no caso concreto, diz respeito à possibilidade de a parte propor
uma Reclamação para preservar a competência de um Tribunal Estadual. Não há
previsão a respeito do assunto na legislação processual federal, e a matéria assume
relevo sobretudo tendo em vista o disposto no artigo 22, inciso I, da Constituição
Federal.
Essa questão já foi enfrentada e decidida pelo Supremo Tribunal Federal,
por ocasião do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.212-1/CE (DJ
de 14/11/2003), na qual se discutia a constitucionalidade de dispositivo, inserido na
Constituição do Estado do Ceará e no Regimento Interno do Tribunal de Justiça
daquele Estado, prevendo a Reclamação no âmbito estadual. Ao decidir essa ação, o
Pretório Excelso, por maioria de votos, considerou constitucional o dispositivo, pondo
um ponto final na discussão, sob a égide da Constituição de 1998. Ao proceder dessa
forma, o STF modificou seu entendimento anterior, manifestado no julgamento dos
Embargos Infringentes em Representação nº 1.092 (DJ de 23/05/1986), pelo qual
havia considerado inconstitucional, sob a égide da Constituição de 1946, a previsão de
tal dispositivo no Regimento Interno do extinto Tribunal Federal de Recursos.
O julgamento da referida Ação Direta de Constitucionalidade nº
2.212-1/CE foi relatado pela Min. Ellen Gracie e teve a seguinte ementa, transcrita na
parte que interessa:

AÇÃO DIRETA DE INSCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO


108, INCISO VII, ALÍNEA I, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ
E ARTIGO 21, INCISO VI, LETRA J, DO REGIMENTO DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA LOCAL. PREVISÃO, NO ÂMBITO ESTADUAL, DO INSTITUTO
DA RECLAMAÇÃO. INSTITUTO DE NATUREZA PROCESSUAL
CONSTITUCIONAL, SITUADO NO ÂMBITO DO DIREITO DE PETIÇÃO
PREVISTO NO ARTIGO 5º, INCISO XXXIV, ALÍNEA A, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 22, INCISO I, DA CARTA.

1. A natureza jurídica da reclamação não é a de um recurso, de


uma ação e nem de um incidente processual. Situa-se ela no âmbito do direito
constitucional de petição previsto no artigo 5º, inciso XXXIV da Constituição
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Federal. Em conseqüência, a sua adoção pelo Estado-membro, pela via
legislativa local, não implica em invasão da competência privativa da União
para legislar sobre direito processual (art. 22, I da CF).
2. A reclamação constitui instrumento que, aplicado no âmbito
dos Estados-membros, tem como objetivo evitar, no caso de ofensa à
autoridade de um julgado, o caminho tortuoso e demorado dos recursos
previstos na legislação processual, inegavelmente inconvenientes quando já
tem a parte uma decisão definitiva.Visa, também, à preservação da
competência dos Tribunais de Justiça estaduais, diante de eventual usurpação
por parte de Juízo ou outro Tribunal local.”

Com o julgamento dessa ação, fica superada qualquer discussão a


respeito do assunto, a Reclamação pode ser manejada a um Tribunal Estadual, desde
que prevista na Constituição do Estado e no Regimento Interno desse Tribunal.
É aqui, porém, que está o maior óbice à aceitação dessa medida para o
controle de competência dos Juizados Especiais. Conquanto esteja prevista, de
maneira expressa e clara, nos Regimentos Internos do Tribunal de Justiça de São Paulo
e de Minas Gerais, por exemplo, a Reclamação está prevista de maneira truncada no
Regimento Interno do Tribunal de Justiça da Bahia, que é, exatamente, o Tribunal do
qual provém o recurso ora em julgamento. Com efeito, nesse regimento está disposto
que “Na falta de recurso previsto em lei, ainda que com efeito só devolutivo, caberá
reclamação visando à correição de atos judiciais que importem na subversão ou
tumulto da ordem processual ou embaracem o andamento dos feitos .” (art. 170).
Vê-se que, no caso do tribunal baiano, a reclamação é assimilada a um recurso,
estando prevista para a hipótese de tumulto processual. Não há a definição clara de seu
cabimento para os casos de preservação de competência ou da autoridade de decisões.
Em outros Estados, por outro lado, sequer há a previsão desse medida
processual nos Regimentos Internos dos respectivos Tribunais de Justiça, do que é
exemplo o Rio Grande do Sul.
Disso decorre que não é possível se estabelecer, de maneira uniforme e
definitiva para toda a federação, a Reclamação como meio adequado de controle dos
limites da competência dos juizados especiais. É necessário encontrar uma outra forma
de fazê-lo, de maneira eficiente e célere.

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II.c) O Mandado de Segurança

A hipótese mais adequada para o caso concreto, de fato, é a do Mandado


de Segurança. A evolução das hipóteses de cabimento dessa ação se deu de forma que
esse instituto se amoldasse às múltiplas necessidades surgidas nos reclamos da vida
real. De início, entendia-se que o remédio heróico somente alcançaria os atos do
executivo, ficando ao alvedrio os atos judiciais e legislativos. A inadmissibilidade do
mandado de segurança contra ato judicial era a regra e a admissibilidade, a exceção.
Na esteira da evolução apresentada, ganhou corpo a súmula 267, alvo de inúmeras
críticas e assim especificada: “não cabe mandado de segurança contra ato judicial
passível de recurso ou correição”.
Por outro lado, jurisprudência e doutrina respaldaram função
complementar conferida ao mandamus , qual seja, cobrir as falhas existentes no
sistema criado pelo legislador ordinário. Daí, o inteiro acerto de uma das conclusões
assentadas por J.J. Calmon de Passos: “O mandado de segurança cabe, justamente,
onde o comum, o ordinário se mostra incapaz de impedir a ameaça ou reparar, de
pronto, a violação a direito líquido e certo por ato ilegal ou abusivo de autoridade
pública” .
Não há, portanto, qualquer óbice à utilização do Mandado de Segurança
no caso concreto. Há, inclusive, um recente precedente deste C. Superior Tribunal de
Justiça admitindo-o em uma hipótese bastante semelhante. Trata-se do ROMS nº
17.113/MG, julgado em 24/8/23004 (DJ de 13/9/2004) pela Quinta Turma desta Corte,
com relatório da Min. Laurita Vaz. Esse julgado teve a seguinte ementa:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO


ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. IMPETRAÇÃO DO
MANDAMUS CONTRA ATO DE JUIZ SINGULAR DO JUIZADO ESPECIAL.
CABIMENTO. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO
MÉRITO. REFORMA DO JULGADO. POSSIBILIDADE DE
CONHECIMENTO DA MATÉRIA MERITÓRIA POR ESTA CORTE.
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 515, §3º, DO CPC. (...)
1. Cabível a impetração do mandado de segurança contra
decisão irrecorrível de Juiz singular do Juizado Especial.
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(...)”

O precedente supra transcrito versava sobre a competência do Juizado


Especial Cível para conhecer de causa Previdenciária, diante da vedação contida no
artigo 20, da Lei nº 10.259/2001. O Juizado Especial Cível da Comarca de
Januária/MG havia se considerado competente para julgar a causa com fundamento no
disposto no artigo 109, §3º, da Constituição Federal, e a parte prejudicada impugnou
essa decisão por Mandado de Segurança impetrado diretamente para o Tribunal
Regional Federal da 1ª Região. Inicialmente, a ação fora liminarmente indeferida pelo
Desembargador Relator, que considerou o Tribunal absolutamente incompetente para
conhecer da matéria. Todavia, em sede de Agravo Regimental, a preliminar de
incompetência absoluta restou superada, e o Tribunal Regional Federal julgou o mérito
da questão, em decisão confirmada por esta Corte.
Em que pese tratar de hipótese distinta – interpretação da Lei nº
10.259/2001 – esse precedente pode perfeitamente ser invocado no caso sub judice. A
preliminar relativa ao cabimento do Mandado de Segurança para a impugnação de
decisões a respeito da competência dos juizados especiais é comum a ambas as
hipóteses.
Em que pese o tema do controle da competência dos Juizados Especiais
não ter sido o principal foco do julgamento supra transcrito, a solução adotada pela 5ª
Turma desta Corte é a mais adequada para promovê-lo, nos termos expostos acima. O
mandado de segurança, portanto, deve ser admitido quando impetrado diretamente
perante o Tribunal Estadual, exclusivamente nas hipóteses em que se visar ao controle
de competência dos juizados especiais. Com isso, ao mesmo tempo, esta Corte logrará:
(a) manter incólume o comando da Súmula 203, do STJ; (b) preservar os precedentes
que indicam não ser cabível a impetração de mandado de segurança para o controle de
mérito das decisões proferidas por esses juizados; e, finalmente, (c) encontrar uma
solução adequada para o preenchimento da lacuna legislativa consubstanciada da na
falta de estipulação de mecanismos de controle do cumprimento da regra contida no
artigo 3º, da Lei nº 9.099/95.
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III. Conclusão

Forte em tais razões CONHEÇO e dou PROVIMENTO ao presente


recurso ordinário em mandado de segurança, para o fim de anular o acórdão recorrido,
devolvendo-se os autos ao Tribunal de Justiça da Bahia para que este prossiga na
esteira do devido processo legal.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2003/0218891-4 RMS 17524 / BA

Número Origem: 6633602


PAUTA: 04/05/2005 JULGADO: 04/05/2005

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro EDSON VIDIGAL
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FLAVIO GIRON
Secretária
Bela. VANIA MARIA SOARES ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CIDADE COMPANHIA DE INCORPORAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
ADVOGADOS : JOSÉ LEITE SARAIVA FILHO
PEDRO BORGES DA SILVA TELES
T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
IMPETRADO : PRESIDENTE DA 4A TURMA RECURSAL CÍVEL DE DEFESA DO
CONSUMIDOR E CAUSAS COMUNS
RECORRIDO : ANDRÉ JOSÉ DOS SANTOS FILHO
ADVOGADO : GIL RUY LEMOS COUTO
ASSUNTO: Execução - Embargos - Terceiro

SUSTENTAÇÃO ORAL
Sustentou oralmente, pela recorrente, o Dr. José Leite Saraiva Filho.

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto da Sra. Ministra Relatora, conhecendo do recurso ordinário e dando-lhe
provimento, pediu vista o Sr. Ministro Luiz Fux.
Aguardam os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Barros Monteiro, Francisco
Peçanha Martins, Cesar Asfor Rocha, Ari Pargendler, José Delgado, José Arnaldo da Fonseca,
Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Gilson Dipp, Hamilton Carvalhido, Eliana Calmon, Paulo
Gallotti e Francisco Falcão.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Humberto
Gomes de Barros e Carlos Alberto Menezes Direito, substituído pela Sra. Ministra Nancy Andrighi
e, ocasionalmente, o Sr. Ministro Nilson Naves.
Licenciado o Sr. Ministro Franciulli Netto.

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Brasília, 04 de maio de 2005

VANIA MARIA SOARES ROCHA


Secretária

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 17.524 - BA (2003/0218891-4)

VOTO-VISTA

O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX: PROCESSUAL CIVIL.


CABIMENTO DE MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO DE
TURMA RECURSAL DE JUIZADO ESPECIAL CIVIL.
EMBARGOS. POSSIBILIDADE. EXECUÇÃO DE VALOR ACIMA
DO TETO. ARTIGO 3º, § 1º, INCISO I DA LEI 9.0099/95.
1. É cabível embargos de terceiro na execução judicial dos juizados, assim
como admissíveis embargos à execução, posto processos acessórios que se
subsumem ao juízo principal na forma do artigo 108 do CPC, aplicável
subsidiariamente por força do artigo 53, caput , da Lei 9.099/95, que mercê
de impor a aplicação subsidiária daquele diploma legal, é textual em fixar a
competência funcional dos juizados para a execução de suas sentenças.
2. Deveras, tratando-se de execução de sentença dos julgados, não influi o
valor da condenação que se vai acrescendo, porquanto a ele o legislador
somente se refere quando versa a execução de título extrajudicial. É que
para a sujeição da causa aos juizados especiais o que importa é o valor da
ação ab origine.
3. In casu, por entender incompetente ratione valoris os juizados especiais
para o julgamento de embargos de terceiros de valor tão sobejamente
superior ao previsto para esse segmento de justiça (R$ 150.000,00)
entendeu a parte de insistir na tese que restou rejeitada pela turma recursal.
4. Consoante é possível entrever-se, essa questão escapa ao controle difuso
de constitucionalidade através do Recurso Extraordinário, porquanto
matéria estritamente infraconstitucional.
5. Destarte inadmissível o Recurso especial haja vista que as turmas
recursais não representam tribunais de única ou última instância.
6. Nada obstante, dessa decisão alegando exercício abusivo de poder
jurisdicional, a parte impetrou Mandado de Segurança, inadmitido sob a
alegação de que as causas dos juizados começam e terminam no âmago
desse microssistema.
7. A assertiva é de relevo e de procedência quando se pretende, através do
writ, utilizar a garantia fundamental como simulacro de recurso.
8. Entretanto, é mister, ao menos em tese, o mandamus, porquanto dirigido
contra ato judicial impassível de recurso. É que a lei mandamental nº
1.533/51 dispõe que "não se dará mandado de segurança quando se tratar: II
- de despacho ou decisão judicial, quando haja recurso previsto nas leis
processuais ou possa ser modificado por via de correição; A contrario
senso , inexistindo recurso, não há uso promíscuo do mandado de segurança
para veicular abuso do exercício jurisdicional, que efetivamente soi ocorrer,
quando os juizados absorvem competência que não lhes foi concedida pela
lei.

9. Aliás, nesse caso, insistindo a turma no desvio competencial, somente um


órgão de superposição local poderá corrigir a infração à regra de
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Superior Tribunal de Justiça
competência.
10. Raciocínio inverso interdita a parte a utilização de um meio de
impugnação, com gravíssima violação da cláusula pétrea do Due Process of
Law, que pressupõe, dentre outros postulados, o julgamento por um tribunal
competente.
11. Desta sorte, outra não é a razão pela qual os fóruns nacionais de
juizados especiais, à míngua da previsão de recursos na lei, permitem a
utilização de mandado de segurança contra decisões interlocutórias
proferidas nesse seguimento de justiça.
12. A jurisprudência, por seu turno, na sua função criadora, instituiu a figura
do mandado de segurança contra atos judiciais para essas hipóteses, hoje de
utilização mitigada, pela possibilidade de efeito suspensivo ou ativo ao
agravo, recurso, repita-se, não previsto na lei dos juizados especiais, mas
ainda de utilidade reconhecida na Súmula 202 do STJ.
13. Admitido o writ , em tese, para discutir a competência dos juizados, o
writ assume a feição de ação de impugnação de ato jurisdicional e pour
cause , fixa a competência do tribunal para conhecer o recurso do ato do
mesmo juízo.
14. É cediço que dos atos do juiz, quando cabível o mandado de segurança,
deve o mesmo ser endereçado ao Tribunal de Justiça.
15. Outrossim, exsurgindo, dessa decisão, eventual violação à Constituição
Federal ou à legislação infraconstitucional, desafia-se, in itinere, recurso
para os tribunais superiores.
16. Interpretação sistemática que se impõe, não obstante a limitação recursal
inerente aos juizados especiais, que pressupõe, para a restrição recursal, que
a causa seja efetivamente da competência dos juizados especiais.
17. Consectariamente, o que se inadmite é que a parte utilize recurso
extra-muros para impugnar decisões eclipsadas na competência dos
juizados
18. Recurso Ordinário em mandado de segurança provido.

O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX: Cuida-se de recurso ordinário em


mandado de segurança interposto por CIDADE - COMPANHIA DE INCORPORAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO, (fls. 278/291) contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do
estado da Bahia, assim ementado:

"MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO


PROLATADA POR PRESIDENTE DE TURMA RECURSAL.
INCOMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA.
PRECEDENTES.
Na esteira do entendimento do Tribunal de Justiça da
Bahia, em sua composição plena, e de julgados emanados do
Superior Tribunal de Justiça, falece competência aos Tribunais de
Justiça para rever decisões prolatadas pelos Juizados Especiais,

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Superior Tribunal de Justiça
ainda que em sede de mandado de segurança." (fls. 260)

A eminente Relatora Ministra Nancy Andrighi, propôs o provimento do


recurso, nos seguintes termos:
"Não há, portanto, qualquer óbice à utilização do
Mandado de Segurança no caso concreto. Há, inclusive, um
recente precedente deste C. Superior Tribunal de Justiça,
admitindo-o em uma hipótese bastante semelhante. Trata-se do
ROMS n° 17.113/MG, julgado em 24.08.2004 (DJ de 13/09/2004)
pela Quinta Turma desta Corte, com relatório da Min. Laurita
Vaz. Esse julgado teve a seguinte ementa:

"PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO


ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
IMPETRAÇÃO DO MANDAMUS CONTRA ATO DE JUIZ
SINGULAR DO JUIZADO ESPECIAL. CABIMENTO.
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO
MÉRITO. REFORMA DO JULGADO. POSSIBILIDADE DE
CONHECIMENTO DA MATÉRIA MERITÓRIA POR ESTA
CORTE. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DO ART.
515, § 3º, DO CPC. AÇÃO PREVIDENCIÁRIA AJUIZADA
NO JUIZADO ESPECIAL ESTADUAL. UTILIZAÇÃO DO
RITO DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL.
POSSIBILIDADE. VEDAÇÃO DO ART. 20 DA LEI N.º
10.259/2001. NÃO-APLICAÇÃO ÀS CAUSAS
PREVIDENCIÁRIAS. ART. 109, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL.
1. Cabível a impetração do mandado de segurança contra
decisão irrecorrível de Juiz singular do Juizado Especial."

O precedente supra transcrito versava sobre a


competência do Juizado Especial Cível para conhecer de causa
Previdenciária, diante da vedação contida no artigo 20, da Lei n°
10.259/2001. O Juizado Especial Cível da Comarca de
Januária/MG havia se considerado competente para julgar a
causa com fundamento no disposto no artigo 109, §3°, da
Constituição Federal, e a parte prejudicada impugnou essa
decisão por Mandado de Segurança impetrado diretamente para o
Tribunal Regional Federal da Iª Região. Inicialmente, a ação fora
liminarmente indeferida pelo Desembargador Relator, que
considerou o Tribunal absolutamente incompetente para conhecer
da matéria. Todavia, em sede de Agravo Regimental, a preliminar
de incompetência absoluta restou superada, e o Tribunal Regional
Federal julgou o mérito da questão, em decisão confirmada por
esta Corte.
Em que pese tratar de hipótese distinta -
interpretação da Lei n° 10.259/2001 - esse precedente pode
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Superior Tribunal de Justiça
perfeitamente ser invocado no caso sub judice. A preliminar
relativa ao cabimento_o Mandado de Segurança para a
impugnação de decisões a respeito da competência dos juizados
especiais é comum a ambas as hipóteses.
Em que pese o tema do controle da competência
dos Juizados Especiais não ter sido o principal foco do
julgamento supra transcrito, a solução adotada pela 5ª Turma
desta Corte é a mais adequada para promovê-lo, nos termos
expostos acima. O mandado de segurança, portanto, deve ser
admitido quando impetrado diretamente perante o Tribunal
Estadual, exclusivamente nas hipóteses em que se visar ao
controle de competência dos juizados especiais. Com isso, ao
mesmo tempo, esta Corte logrará: (a) manter incólume o
comando da Súmula 203, do STJ; (b) preservar os precedentes
que indicam não ser cabível a impetração de mandado de
segurança para o controle de mérito das decisões proferidas por
esses juizados; e, finalmente, (c) encontrar uma solução
adequada para o preenchimento da lacuna legislativa
consubstanciada da na falta de estipulação de mecanismos de
controle do cumprimento da regra contida no artigo 3°, da Lei n°
9.099/95."

Pedi vista dos autos para melhor exame da questão.

Trata-se de mandado de segurança interposto contra decisão de Turma


Recursal de Juizado Especial Cível que julgou recurso em embargos de terceiro opostos pela
ora Recorrente, cujo fundamento, entre outros, consistia na incompetência daquele d. órgão
jurisdicional especial para apreciar a causa executiva, inclusive os embargos de terceiro,
porquanto à execução foi conferido valor inicial superior a R$ 175.000,00 (cento e setenta e
cinco mil reais).
Com efeito, na execução de julgado perante Juizados Especiais Cíveis,
proferido sob a égide dos antigos Juizados de Pequenas Causas, foram penhorados imóveis da
ora Recorrente, ainda em nome do devedor, porque a aquisição dos bens não teve lavrada e
registrada a respectiva escritura pública, embora tivessem adquirido mais de dois anos antes
da propositura da ação principal, mediante compromisso de compra e venda, inclusive, com a
incontroversa imissão na posse à época da aquisição, conforme consta nas razões recursais.
Os embargos de terceiro invocaram, além da incompetência do Órgão Jurisdicional Especial a
Súmula nº 84 do STJ, bem como outros fundamentos, tais como a necessidade de renúncia
aos valores excedentes ao quantum limite para o processamento da ação nos Juizados
Especiais.
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Rejeitados os embargos no primeiro grau, tal decisão foi mantida por singelo
decisum da Turma Recursal respectiva, que sequer apreciou os temas postos na irresignação,
limitando-se a manter a decisão de primeiro grau por seus próprios fundamentos, de acordo
com o aduzido nas razões de recurso ordinário. Opostos declaratórios, rejeitados.
Ante essa realidade foi impetrado o presente writ e interposto recurso
extraordinário, este inadmitido.
O Tribunal a quo extinguiu sem mérito esta ação por se considerar
incompetente para apreciar o mandamus . Opostos declaratórios para que indicasse o Órgão
apto a julgar a ação, como corolário lógico e legal do entendimento esposado, asseverou a
Corte estadual que tal Órgão inexiste porque também não seria a própria Turma Recursal.
O cerne da presente controvérsia, gravita em torno da existência da jurisdição -
pressuposto de validade do próprio processo; ou seja, a questão fulcral do writ não consiste
no controle da legalidade do decidido quanto ao mérito dos embargos de terceiro, mas versa a
respeito da legalidade da sujeição das controvérsias aos Juizados Especiais fora da
competência fixadas na lei de regência.
Destarte, a Constituição Federal (art. 5º, LXX) não estabelece restrição ao
controle do ato ilegal pelo mandamus , inclusive, de natureza jurisdicional, caso haja
teratologia ou ausência de meio impugnatório próprio. A teratologia na espécie se evidencia
diante do desenvolvimento de processo executivo visando receber importância atualmente
superior a R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) em Órgão e em procedimento concebidos para
processar e julgar litígios até R$ 12.000,00 (doze mil reais), aproximadamente (art. 3º, I, 3º da
Lei nº 9.099/95). A falta de meio impugnatório decorre da via estreita do recurso
extraordinário, na qual encontra-se grande dificuldade de rever tema afeto à competência dos
Juizados Especiais, nos termos da Lei Federal de regência. Tanto é assim que, em casos
excepcionais, como este, a jurisprudência aceita o mandado de segurança até para
desconstituir a coisa julgada, embora exista a ação rescisória, também de via estreita.
Como bem ressaltado no AgRg no RMS 12.218/DF, pelo ilustre Ministro
Pádua Ribeiro:
"Contudo, quando a discussão versar sobre o problema de
competência do Juizado Especial, entendo que deve haver um meio
pelo qual possa ser atacada a decisão que extrapole os limites de sua
competência, que poderia ser a reclamação, talvez o próprio
mandado de segurança. Constitui essa questão tema sobre o qual
devemos continuar a meditar, (grifou-se)

Por sua vez, no mesmo julgado, o respeitado Ministro Menezes Direito exarou

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Superior Tribunal de Justiça
o seguinte posicionamento:

"Senhor Presidente, estou de acordo com o voto do eminente Ministro


Antônio de Pádua Ribeiro. É preciso encontrar alternativa para
evitar decisões, no âmbito dos Juizados Especiais, que extrapolem a
competência. Esta corte já teve a cautela de marcar a sua posição no
sentido do não cabimento do recurso especial, para tanto, até mesmo
alterando a redação da súmula respectiva.
Como problema tem uma dimensão realmente importante, ao meu
sentir , parece sempre necessário fixar que os Juizados Especiais não
podem, sob nenhum ângulo, decidir matéria que não foi posta pelo
legislador na sua alçada." (grifou-se)

Assim, conclusivamente, engendrando interpretação teleológico-sistêmica à lei


dos Juizados Especiais, é possível assentar que cabem embargos de terceiro na execução
judicial dos juizados, assim como admissíveis embargos à execução, posto processos
acessórios que se subsumem ao juízo principal na forma do artigo 108 do CPC, aplicável
subsidiariamente por força do artigo 53, caput , da Lei 9.099/95, que mercê de impor a
aplicação subsidiária daquele diploma legal, é textual em fixar a competência funcional dos
juizados para a execução de suas sentenças (art. 3º, § 1º, inciso I da Lei 9.099/95).
Deveras, tratando-se de execução de sentença dos julgados não influi o valor
da condenação que se vai acrescendo, porquanto a ele o legislador somente se refere quando
versa a execução de título extrajudicial. É dizer que a competência dos Juizados Especiais
quanto às execuções de títulos extrajudiciais é fixada ratione valoris , diversamente daquelas
fundadas em títulos judiciais, cuja tramitação será sempre uma continuação do mesmo
processo em que se produziu a sentença condenatória, perfazendo mera fase de execução de
sentença.
Portanto, segundo a lição de Alexandre Freitas Câmara, em sua obra Juizados
Especiais Cíveis Estaduais e Federais - uma abordagem crítica, "sendo a execução da
sentença um prolongamento do mesmo processo em que se proferiu a condenação, não há que
se pensar em fixação de competência para tal execução, pois evidentemente o processo
continuará a se desenvolver perante o mesmo juízo em que se desenvolvia desde sua origem"
É que para a sujeição da causa aos Juizados Especiais o que importa é o valor
da ação ab origine. Assim, a competência do Juizado Especial Cível firma-se pelo valor que
os autores atribuem inicialmente à causa, que em regra corresponde à pretensão econômica
objeto do pedido (art. 2º, da Lei 9.099/95).
In casu, por entender incompetente ratione valoris os juizados especiais para o

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julgamento de embargos de terceiros de valor tão sobejamente superior ao previsto para esse
segmento de justiça (R$ 150.000,00) entendeu a parte de insistir na tese que restou rejeitada
pela Turma Recursal.
Consoante é possível entrever-se, essa questão escapa ao controle difuso da
constitucionalidade através do Recurso Extraordinário, porquanto matéria estritamente
infraconstitucional.
Destarte inadmissível o Recurso Especial haja vista que as turmas recursais
não representam tribunais de única ou última instância.
Nada obstante, dessa decisão alegando exercício abusivo de poder jurisdicional
a parte impetrou Mandado de Segurança, inadmitido sob a alegação de que as causas dos
juizados começam e terminam no âmago desse microssistema.
A assertiva é de relevo e de procedência quando se pretende através do writ
utilizar a garantia fundamental como simulacro de recurso.
Entretanto, é mister, ao menos em tese, o mandamus , porque dirigido contra
ato judicial impassível de recurso.
É que a lei mandamental nº 1.533/51 dispõe, em seu artigo 5º, inciso II, que:

Art. 5º - Não se dará mandado de segurança quando se tratar:


(...)
II - de despacho ou decisão judicial, quando haja recurso previsto
nas leis processuais ou possa ser modificado por via de correção.

A contrario senso, inexistindo recurso, não há uso promíscuo do mandado de


segurança para veicular abuso do exercício jurisdicional, que efetivamente pode ocorrer
quando os juizados absorvem a competência que não lhes foi concedida pela lei.
Aliás, nesse caso, insistindo a turma no desvio competencial, somente um
órgão de superposição local, poderá corrigir o mesmo.
Raciocínio inverso interdita à parte a utilização de meio de impugnação, com
gravíssima violação da cláusula pétrea do Due Process of Law que pressupõe, dentre outros
postulados, o julgamento por um tribunal competente.
Assim, não é por outra razão, que os fóruns nacionais de Juizados Especiais, à
míngua da previsão de recursos na lei permitem a utilização de mandado de segurança contra
decisões interlocutórias proferidas nesse segmento de justiça.
A jurisprudência, por seu turno, na sua função criadora, instituiu a figura do
mandado de segurança contra atos judiciais para essas hipóteses, hoje de utilização mitigada
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Superior Tribunal de Justiça
pela possibilidade de efeito suspensivo ou ativo ao agravo, recurso, repita-se não previsto na
lei dos Juizados Especiais.
Admitido, em tese para discutir a competência dos juizados, o writ assume a
feição de ação de impugnação de ato jurisdicional e pour cause , fixa a competência do
tribunal para conhecer o recurso do ato do mesmo juízo.
Neste sentido, ressalte-se o teor do artigo do professor J.S. Fagundes Cunha,
intitulado Recursos e os Juizados Especiais Cíveis - Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995,
publicado na Revista Jurídica, ano XLIV, nº 220, fevereiro de 1996, páginas 129/149:

"O STJ em RO Constitucional em MS decidiu que homologação de


laudo arbitral, nos termos do artigo 27 da Lei 7.244/84, em matéria
idêntica à dos Juizados Especiais, que trouxe ao universo jurídico
brasileiro a magnífica instituição do Juizado de Pequenas Causas, é
irrecorrível e que somente em casos excepcionais, admitidos por
construção doutrinário-jurisprudencial, se admite MS contra atos
judiciais. Embora o texto legal afirme que da sentença homologatória
de conciliação ou laudo arbitral não há recurso, o entendimento do
TJPR é no sentido da possibilidade de ser impetrado MS para
declarar nulidade decorrente de violação de direito líquido e certo.
O provimento 511/94, em seu artigo 21, estabelece que incumbe ao
presidente do Colégio Recursal despachar, até a distribuição,
mandado de segurança impetrado contra ato do Colégio, de juiz do
Colégio ou de juiz do JIC ou JPC, assim admitindo a possibilidade de
mandado de segurança.
O STJ entende que possível impetrar MS contra as decisões
proferidas no Juizado Especial (pelo Juiz monocrático ou Turma
Recursal).
A primeira questão relevante é que o TJ conheceu do MS, havendo
divergência quanto à competência para conhecer do mandado de
segurança, se possível este.
O Juiz Francisco Rabelo, da Turma Recursal da Comarca de
Maringá, em decisão monocrática, entendeu impossível (sic possível)
impetrar MS contra sentença que homologou laudo arbitral.
Fundamenta que, no caso, o MS estaria a substituir recurso
inexistente.
Parece-nos que o Juízo natural para conhecer do MS é o da turma
recursal do próprio Juizado e não o Tribunal de Justiça.
O STJ já decidiu que o tribunal estadual não tem competência
originária, em recursal, para rever as decisões do Colégio Recursal
dos Juizados Especiais.
Por entender que a Constituição do Estado do Paraná não elencou as
causas referentes aos Juizados Especiais de Pequenas Causas em
competência do Tribunal de Alçada, o Egrégio Tribunal de Justiça já
entendeu como sua a competência (vide a citação do parágrafo

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Superior Tribunal de Justiça
anterior). Contudo, entendendo competente o Tribunal de Alçada,
quer em razão do valor da causa, quer em razão da matéria posta em
discussão, já, também, assim decidiu o TJPR." (grifou-se)

Convém elencar ementas que embasam o posicionamento supramencionado, in


verbis :
"1.Juizado de Pequenas Causas. Ação de rescisão de laudo arbitral.
Competência., Em primeiro grau de jurisdição, cabe ao Juízo que
conheceria do litígio submetido a arbitramento, se as pares tivesse
optado pela Justiça comum; em segundo, ao tribunal que conheceria,
então do recurso. 2. Ação de ressarcimento por danos em prédio
rústico, Queimada. Procedimento sumaríssimo. Competência
recursal do Tribunal de Alçada. " (TJPR, AC 9719000, por maioria,
julgado em 02.05.90, DJ 28.06.90, ES 22408000, relator Oto
Sponholz) (grifou-se)

"Mandado de Segurança. Juizado Especial de Pequenas Causas.


Impetração contra ato do Juiz Supervisor. Sentença homologatória de
laudo arbitral. Inexistência de recurso. Cabimento do MS. Concessão
da ordem., a fim de declarar a nulidade da sentença lavrada sem
qualquer fundamentação, a despeito de reportar-se a laudo arbitral
eivado de irregularidades, violação de direito líquido e certo dos
impetrantes. Concessão da ordem. " (TJPR MS nº 23763, rel. Des,
Sydney Zappa, julgado em 26.08.93) (grifou-se)

É cediço que dos atos do juiz, quando cabível, o mandado de segurança deve
ser endereçado ao Tribunal de Justiça, por isso que, exsurgindo dessa decisão, eventual
violação à constituição federal ou à legislação infraconstitucional, desafia-se, in itinere,
recurso para os tribunais superiores.
Essa interpretação sistemática se impõe, não obstante a limitação recursal
inerente aos juizados especiais, que pressupõe, para a restrição impugnativa, que a causa seja
efetivamente da competência desse seguimento de jurisdição.
Deveras, a quaestio juris, quanto ao cabimento do writ perante os Juizados
Especiais, segundo Luiz Carlos Cercato Padilha, em artigo publicado na Revista da
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, nº 70, ano XXIV - julho - 1997, merece ser
enfrentada sob o seguinte enfoque:
"O cruzamento do writ com o ato judicial produziu, tanto na doutrina
como na jurisprudência, as mais variadas contradições, ou seja,
desde a negativa absoluta até a admissão contra coisa julgada. (...)
Em resumo, a autoridade fere o direito líquido e certo do impetrante
quando pratica um ato ilegal, isto é, quando se desvincula da lei, ou
quando comete um ato abusivo, ou seja, no momento em que não

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aplica o esquema subsuntivo de velar pela segurança de forma
acertada, ou, melhor, no instante em que preenche o conceito vago
erradamente (lembrando, sempre, que não ocorre discricionariedade
na juris dictio).
Como já se frisou, não só a doutrina, como a jurisprudência produziu
neste campo, as mais diferentes teses e pronunciamentos (na maioria
em relação às decisões interlocutórias): a) para dar efeito
suspensivo; b)contra a própria decisão; c) com a necessidade da
interposição do recurso; d) independentemente do recurso; e) com
pedido alternativo: ou vulnerar a decisão ou a concessão do efeito
suspensivo, por fim, a mais completa liberalidade: f) contra a coisa
julgada.
O que o particular busca, na realidade, por intermédio do juicio de
amparo, não é o efeito suspensivo ao recurso, mas sim, initio litis,
através da liminar, a suspensão da eficácia do ato apontado como
ilegal ou abusivo que, concedida, indiretamente, dará suspensividade
à insurgência recursal.
Convenhamos que, para tanto, o mesmo necessitará ter muito mais
que fumus boni iuris, ou seja, deverá provar, de plano, o fato certo e
o direito certo. Por outro lado, é possível atacar o ato ilegal ou
abusivo pela via do mandamus, ao invés do recurso ou ao lado dele.
Todavia, para tal desiderato, a situação fática deve revestir-se da
excepcionalidade de que o ato guerreado, permanecendo eficaz,
produzirá um danno irreparabile.
Busca, diante disso, o impetrante, ou suspender a eficácia da
sentença enquanto tramita o recurso, ou , definitivamente, por lhe
gerar um dano de impossível reparabilidade ,Diante da Lei n°
9.099/95, afora outros atos que possam ser praticados, parece
perfeitamente admissível a utilização do mandado de segurança, em
substituição ao recurso vedado de agravo, quando, por exemplo, o
Juiz deixa de admitir o recurso, por incabível ou intempestivo,
declara-o deserto sem ser o caso, ou ainda, se não concede o efeito
suspensivo, porque aí terá praticado um ato ilegal e, permanecendo
eficaz a sentença, como antes realçado, pode gerar ao impetrante um
danno irreparabile, " (In, "Recurso Perante os Juizados Especiais
Cíveis e Turmas de Jujízes - Lei 9.099/95") (grifou-se)

Neste diapasão, consoante esclarecido pela i. Relatora Nancy Andrighi:

"No caso sub judice, porém, o pedido no mandado de segurança é


para ver reconhecida a incompetência absoluta dos Juizados
Especiais Cíveis para julgar a causa. Ou seja: a parte não pretende,
no mandamus, promover um controle quanto ao mérito da decisão
proferida pela Turma Recursal. Meramente busca uma forma de
promover o controle sobre a fixação da competência desses juizados.
Não há, na Lei n° 9.099/96, qualquer menção quanto à forma de se
promover tal controle, o que toma a questão assaz relevante."
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Superior Tribunal de Justiça
Não há que se falar em revisão de mérito da decisão proferida pelo Juizado
Especial, mas sim acerca da fixação da competência dos Juizados Especiais Cíveis. Tal
posicionamento corrobora-se à posição por mim já adotada, em artigo publicado no Boletim
Legislativo Adcoas, volume 31, nº 11, página 337 a 338, abril de 1997:

"Não obstante a Constituição Federal e a lei tenham


estipulado textualmente essa competência, pairam dúvidas sobre
poderem as turmas recursais conhecer e julgar as ações de
impugnação não vedadas pela lei, como o habeas corpus e o
mandado de segurança.
(...) Desta sorte, parece-nos inegável que às turmas
recursais compete o julgamento dos meios de impugnação de todas
as decisões judiciais que sejam recorríveis mediante os recursos
tradicionais que sejam impugnáveis mediante as ações autônomas
de impugnação.
Raciocínio diverso conduziria à conclusão de que
'quem pode o mais não pode o menos'. Isto porque o recurso
investe as turmas recursais no poder de ampla revisão da decisão
recorrida, devolvendo às mesmas todo o material cognitivo, todas
as decisões lavradas, habilitando o órgão julgador a anular ou
substituir a decisão recorrida. Ora, se as turmas têm esse poder
tão extenso e profundo em relação a todas as questões suscitadas e
discutidas na causa, com muito mais razão detêm aptidão para
conhecer 'incidentes da causa' questões isoladas extraídas do
thema iudicandum.
Desta sorte, se uma decisão fere direito líquido e certo
da parte que litiga no Juizado, conforme a natureza da faculdade
jurídica violada, é lícito combater a violação, no âmbito desse
juízo, através desses meios especiais de impugnação, os quais,
coincidentemente, aproveitam-se da desformalização para
torná-los mais acessíveis e efetivos.
Destarte, cumpre observar, também que a
não-concessão de competência aos Juizados para o julgamento
desses meios de impugnação implica uma cisão funcional de
competência que depende de lei expressa, posto que, nessas
hipóteses, dois órgãos são convocados a prover sobre a mesma
relação processual, como vg. ocorre com a Uniformização de
Jurisprudência e a declaração de inconstitucionalidade em que
órgãos diversos são provocados a se manifestar sobre parcela da
causa e a deliberação dos mesmos passa a integrar o julgado do
órgão provocador.
Entretanto, essa forma inusual de repartição de
jurisdição parece-nos inaplicável ao caso vertente, principalmente
porque as turmas recursais julgam a questão maior que é a
plenitude do thema iudicandum. Não teria sentido, assim, afirmar
princípio segundo o qual o tribunal competente para o todo não o
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é para parte do litígio.
Essa nos parece a sistemática a seguir, enquanto não
lavrada lei estadual acerca do tema sub censura." (grifou-se - In
"Juizados Especiais. Turmas Recursais. Competência para
Julgamento das Ações de Impugnação das Decisões proferidas
pelos Juízos Singulares. Mandado de Segurança e Habeas
Corpus." ) (grifou-se)

Esta Corte já se manifestou acerca do tema, no RMS 18477/DF, relatado pelo


e. Ministro Jorge Scartezzini, assim ementado:

"PROCESSO CIVIL - RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA - IMPETRAÇÃO CONTRA ATO DE JUIZADO
ESPECIAL CÍVEL - INCOMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA PARA APRECIAÇÃO DO PEDIDO - EXTINÇÃO
PRELIMINAR DO WRIT - REMESSA AO ÓRGÃO JULGADOR
COMPETENTE - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1 - O Conselho Recursal dos Juizados Especiais Cíveis, assim como
todas as Turmas Recursais dos Juizados Especiais, constitui, para
efeitos de competência final, a última instância ordinária desta
espécie de juízo. Logo, não há como conferir competência aos
Tribunais de Justiça, quer originária, quer recursal, para rever as
decisões prolatadas pelos Juizados Especiais, sem afetar seu objetivo
maior e originário que a celeridade das decisões judiciais.
2 - Todavia, reconhecida a incompetência absoluta, cabia ao
Tribunal de origem o envio do mandamus ao órgão jugador
competente, porquanto o jurisdicionado não pode arcar com o ônus
da morosidade da máquina estatal, sujeitando-se à decadência da
impetração (art. 18, da Lei nº 1.533/51).
3 - Precedentes (RMS nºs 12.634/MG, 12.392/MG, 10.334/RJ,
10.110/RS, 9.500/RO e 10.164/DF).
4 - Recurso parcialmente provido para, afastando a decadência,
determinar o envio dos autos à Turma Recursal competente.
(RECURSO ORDINARIO EM MANDADO DE SEGURANÇA RMS
18477/DF - Relator Ministro JORGE SCARTEZZINI - QUARTA
TURMA Data do Julgamento 16/11/2004 Data da Publicação/Fonte
DJ 06.12.2004 p. 313)." (grifou-se)

Consectariamente o que se inadmite é que a parte utilize o recurso extra-muros


para impugnar decisões eclipsadas na competência dos juizados.
Com essas considerações, acompanho a i. Relatora para DAR
PROVIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 17.524 - BA (2003/0218891-4)

VOTO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO:

Sr. Presidente, tem-se decidido no âmbito da Segunda Seção – e hoje é

matéria pacífica na Corte em face do enunciado da Súmula 203 – que não cabe aos

Tribunais estaduais julgar recursos ou apreciar mandados de segurança impetrados

contra atos emanados dos juizados especiais.

Verificando o sistema introduzido pelo legislador, penso que descabe

também a impetração de mandado de segurança contra ato praticado pelo Colégio

Recursal dos Juizados Especiais.

No enunciado da Súmula 203, tem-se que houve uma alteração em que

se excluiu a cláusula "nos limites da sua competência". A redação atual é:

"Não cabe recurso especial contra decisão proferida por


órgão de Segundo Grau dos juizados especiais."

A redação anterior dizia:

"Não cabe recurso especial contra decisão proferida por


órgão de Segundo Grau dos juizados especiais nos limites da sua
competência."

É, pois, da essência do sistema que as decisões proferidas pelos Juizados

Especiais são definitivas, nos limites de sua estrutura.

Poder-se-ia aventar, a título de exemplificação, o uso do mandado de

segurança junto ao próprio Colégio Recursal com recurso daí, em sendo o caso, para o

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Supremo Tribunal Federal; ou, ainda, a hipótese de reclamação perante o órgão

próprio, cuja competência fosse subtraída. Estou convencido de que não se pode

distorcer, subverter, o microssistema criado pelo legislador.

Ante o exposto, rogando vênia à Sra. Ministra relatora e ao Sr. Ministro

Luiz Fux, por considerar descabido o mandado de segurança no caso, nego provimento

ao recurso.

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 17.524 - BA (2003/0218891-4)

VOTO

O SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: Sr. Presidente, peço vênia


à dissidência para acompanhar os votos da eminente Ministra-Relatora e do
eminente Ministro Luiz Fux. Já me deparei, na Turma, com algumas situações,
como, por exemplo, a de um advogado, promover, perante o Juizado Especial, uma
ação de cobrança de honorários no valor de quase dois milhões de reais. O réu
perdeu no primeiro grau e na Turma Recursal, tendo impetrado mandado de
segurança no Tribunal de Justiça, que se deu por incompetente, ficando a parte,
assim, sem alternativa de defesa.
O Sr. Ministro Barros Monteiro diz, agora, com a sua costumeira
sabedoria, que caberia reclamação, porque estaria sendo usurpada a competência
de algum órgão da justiça tradicional. Ora, como reclamação não é recurso,
evidentemente que cabível também seria o mandado de segurança, desde que
teratológica a decisão por ele atacada. Na hipótese, ao extrapolar de sua
competência, atuando fora do micro sistema que foi delineado para atuação do
Juizado Especial, é aberto ensejo para a impetração do writ.
De seu julgamento pelo Tribunal de Justiça é aberto ensejo
Para que o Superior Tribunal de Justiça possa exercer o controle da
legalidade via recurso ordinário, ou recurso especial, conforme a segurança seja
concedida ou denegada.
Com essas explicações, e para que não fiquem sem controle as
decisões do Juizado Especial, com a devida vênia do eminente Ministro Barros
Monteiro, acompanho os votos da douta Ministra-Relatora e o do eminente Ministro
Luiz Fux, conhecendo do recurso ordinário e dando-lhe provimento.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2003/0218891-4 RMS 17524 / BA

Número Origem: 6633602


PAUTA: 04/05/2005 JULGADO: 15/06/2005

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro EDSON VIDIGAL
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ÁUREA MARIA ETELVINA N. LUSTOSA PIERRE
Secretária
Bela. VANIA MARIA SOARES ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CIDADE COMPANHIA DE INCORPORAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
ADVOGADOS : JOSÉ LEITE SARAIVA FILHO
PEDRO BORGES DA SILVA TELES
T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
IMPETRADO : PRESIDENTE DA 4A TURMA RECURSAL CÍVEL DE DEFESA DO
CONSUMIDOR E CAUSAS COMUNS
RECORRIDO : ANDRÉ JOSÉ DOS SANTOS FILHO
ADVOGADO : GIL RUY LEMOS COUTO
ASSUNTO: Execução - Embargos - Terceiro

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Luiz Fux, acompanhando o
voto da Sra. Ministra Relatora, o voto do Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha, no mesmo sentido, e o
voto do Sr. Ministro Barros Monteiro, entendendo descabido o mandado de segurança, pediu vista o
Sr. Ministro Ari Pargendler.
Aguardam os Srs. Ministros José Delgado, José Arnaldo da Fonseca, Fernando
Gonçalves, Felix Fischer, Gilson Dipp, Hamilton Carvalhido, Eliana Calmon, Paulo Gallotti e
Francisco Falcão.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Gilson Dipp
e, ocasionalmente, os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro e Francisco Peçanha Martins.
Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Nilson Naves, Humberto Gomes de
Barros, Carlos Alberto Menezes Direito e Franciulli Netto.
Licenciado o Sr. Ministro Fernando Gonçalves.
O Sr. Ministro Gilson Dipp foi substituído pelo Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima.

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Brasília, 15 de junho de 2005

VANIA MARIA SOARES ROCHA


Secretária

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 17.524 - BA (2003/0218891-4)

Corte Especial - 15.02.2006

VOTO-VISTA

EXMO. SR. MINISTRO ARI PARGENDLER:

1. Os autos dão conta de que André José dos Santos Filho


propôs, perante o 2º Juizado de Defesa do Consumidor da cidade
de Salvador, uma ação de repetição da quantia paga por conta do
preço de imóveis cuja promessa de compra e venda fora desfeita
– tendo a MM. Juíza de Direito Dra. Márcia Borges Faria julgado
procedente, em parte, o pedido, para condenar Completa
Construção e Planejamento Ltda. ao pagamento de Cr$ 327.337,79
(trezentos e vinte e sete mil, trezentos e trinta e sete
cruzeiros e setenta e nove centavos) – fls. 220/225, 2º vol. e
fl. 125, 1º vol.

Na fase de execução, a penhora recaiu sobre imóveis


alegadamente pertencentes a Cidade – Companhia de Incorporações
e Desenvolvimento, que, por isso, ajuizou embargos de terceiro,
atribuindo à causa o valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) –
sem objetar à competência daquele 2º Juizado de Defesa do
Consumidor (fls. 17/24, 1º vol.).

A MM. Juíza de Direito Dra. Pilar Célia Tobio de Claro


julgou improcedentes os embargos de terceiro (fls. 113/119 e
125, 1º vol.), seguindo-se recurso interposto por Cidade –
Companhia de Incorporações e Desenvolvimento (fls. 126/138, 1º
vol.).

Só a 25 de fevereiro de 2002 (fls. 148/150, 1º vol.),


faltando três dias para a sessão de julgamento realizada em 28
de fevereiro de 2002 – sessão em que a sentença foi mantida
pela Quarta Turma Recursal (fl. 152, 1º vol.) –, Cidade –
Companhia de Incorporações e Desenvolvimento atravessou
petição nos autos para suscitar preliminar de “incompetência
absoluta” (fls. 148/150).

Inconformada com o desate que o Juizado Especial deu à


lide, Cidade-Companhia de Incorporações e Desenvolvimento
impetrou mandado de segurança perante o egrégio Tribunal de
Justiça do Estado da Bahia, cujo processo foi extinto sem
julgamento de mérito, nos termos do acórdão assim ementado,
Relator o Desembargador Paulo Furtado:

“MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO PROLATADA POR PRESIDENTE DE


TURMA RECURSAL. INCOMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA.
PRECEDENTES. Na esteira do entendimento do Tribunal de Justiça
da Bahia, em sua composição plena, e de julgados emanados do
Superior Tribunal de Justiça, falece competência aos Tribunais
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Superior Tribunal de Justiça
de Justiça para rever decisões prolatadas pelos Juizados
Especiais, ainda que em sede de mandado de segurança” (fl. 260,
2º vol.).

Daí o presente recurso ordinário (fls. 278/291, 2º vol.).

2. A natureza humana e o poder não tem uma convivência


harmoniosa. “O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe
absolutamente” , disse Lord Acton. Pela mesma tendência, o poder
limitado tende a se exceder. Esse truísmo, todavia, teima em
ser esquecido. Todo dia se tem notícia de que os Juizados
Especiais, tanto estaduais quanto federais, estão decidindo
além de sua alçada. Fenômeno igual se deu por ocasião da
aplicação da Lei nº 6.825, de 1980, que criou as causas de
alçada na Justiça Federal. Logo, o Tribunal Federal de Recursos
excepcionou da alçada (a) as causas em que se discutia matéria
constitucional (“A causa em que se discute matéria
constitucional não está sujeita a alçada de que trata a Lei nº
6.825, de 1980” – Súmula nº 246); (b) o agravo de instrumento
que tinha como objeto o valor da causa ou a admissibilidade do
recurso (“Não cabe agravo de instrumento em causa sujeita a
alçada de que trata a Lei nº 6.825, de 1980, salvo se versar
sobre valor da causa ou admissibilidade de recurso” – Súmula nº
259). Essa experiência não foi aproveitada por ocasião da
criação dos Juizados Especiais, e a omissão legislativa tem
trazido prejuízos irremediáveis, principalmente quando se trata
de Juizados Especiais Estaduais (nos Juizados Especiais
Federais, há recurso inominado para o Superior Tribunal de
Justiça, que assim pode corrigir as decisões quanto ao
respectivo mérito, Lei nº 10.259, art. 4º, § 4º).

Quid ?

Fora de toda dúvida, o juiz deve suprir o vazio


legislativo para impedir que os Juizados Especiais, usurpando
competência da Justiça comum, comprometam o nome do Poder
Judiciário.

Uma guinada na atual jurisprudência do Superior Tribunal


de Justiça, que consagra a plena separação da Justiça comum e
dos Juizados Especiais, para adotar outra orientação que
autorize uma a controlar a competência da outra, exige,
todavia, uma situação esdrúxula, absurda, teratológica, fora
dos parâmetros do bom senso – e, na espécie, não se trata
disso, embora pudesse ter sido.

O princípio de que os incidentes da execução da sentença


são resolvidos pelo juiz da causa deve sofrer um temperamento,
nas causas de alçada, quando o terceiro é, ou se diz, atingido
por ato judicial.

A alçada diz respeito às partes da causa principal; os

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embargos de terceiro são ajuizados por parte diferente e
instalam outra ação, cujo valor pode não coincidir com o da
causa principal, embora incidental àquela.

Onde essa moldura e o suporte fáctico não se encaixam, se


alegadamente o valor da execução “beira R$ 200.000,00 (duzentos
mil reais, fl. 287)” ?

Explica-se: nada importa qual seja o valor da execução,


porque as respectivas partes continuam a ser as da demanda
originária.

Nos embargos de terceiro, dos quais efetivamente se trata


neste mandado de segurança, o autor – estranho à ação principal
– atribuiu à causa o valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais,
fls. 17/24, 1º vol.), inferior ao da alçada dos Juizados
Especiais na época do ajuizamento, 17 de outubro de 2000 (Lei
nº 9.971, de 18 de maio de 2000, cujo art. 5º fixou o salário
mínimo em R$ 151,00 (cento e cinqüenta e um reais) – valor que
não sofreu impugnação.

A incompetência dos Juizados Especiais só foi suscitada às


vésperas do julgamento do recurso interposto em face da
sentença de primeiro grau (fls. 148/150, 1º vol.), quando o
valor da causa nos embargos de terceiro já não podia ser
modificado.

O valor da causa é um instituto jurídico, tanto quanto


possível conformado ao respectivo conteúdo econômico. Mas, não
havendo impugnação ao valor indicado na petição inicial, ele
prevalece sobre o valor econômico em disputa, não sendo
razoável que, em nome deste e secundum eventum litis , se
procure outra jurisdição.

Nessa linha decidiu o Tribunal Federal de Recursos no AG


56.990, GO, Rel. Ministro William Patterson, nos termos do
acórdão assim ementado:

“PROCESSUAL CIVIL. VALOR DA CAUSA. AÇÃO DECLARATÓRIA.


IMPUGNAÇÃO. AUSÊNCIA. Mesmo que se cuide de ação declaratória,
sem conteúdo econômico, o alcance da alçada recursal (Lei nº
6.825, de 1980, art. 4º) não pode ser afastado quando ausente a
oportuna impugnação. Agravo desprovido” (DJ, 03.10.88).

Voto, por isso, no sentido de negar provimento ao recurso


ordinário em mandado de segurança.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2003/0218891-4 RMS 17524 / BA

Número Origem: 6633602


PAUTA: 04/05/2005 JULGADO: 15/02/2006

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOSÉ DELGADO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FLAVIO GIRON
Secretária
Bela. VANIA MARIA SOARES ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CIDADE COMPANHIA DE INCORPORAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
ADVOGADOS : JOSÉ LEITE SARAIVA FILHO
PEDRO BORGES DA SILVA TELES
T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
IMPETRADO : PRESIDENTE DA 4A TURMA RECURSAL CÍVEL DE DEFESA DO
CONSUMIDOR E CAUSAS COMUNS
RECORRIDO : ANDRÉ JOSÉ DOS SANTOS FILHO
ADVOGADO : GIL RUY LEMOS COUTO
ASSUNTO: Execução - Embargos - Terceiro

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ari Pargendler, negando
provimento ao recurso em mandado de segurança, pediu vista o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha.
Aguardam os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Francisco Peçanha Martins,
Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Gilson Dipp, Hamilton Carvalhido, Eliana Calmon, Paulo
Gallotti e Francisco Falcão.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Nilson Naves e Hamilton Carvalhido e,
ocasionalmente, os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro e Edson Vidigal.
Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros e Carlos
Alberto Menezes Direito.

Brasília, 15 de fevereiro de 2006

VANIA MARIA SOARES ROCHA


Secretária

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 17.524 - BA (2003/0218891-4)

VOTO-VISTA

O EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: Sr. Presidente,


cuida-se de recurso ordinário em mandado de segurança interposto contra acórdão
do eg. Tribunal de Justiça da Bahia que se deu por incompetente para examinar o
presente mandamus porque dirigido contra acórdão oriundo de turma recursal de
juizado especial cível.
Um dos objetos da impetração era o reconhecimento da incompetência
absoluta do 2º Juizado Especial de Defesa do Consumidor para a execução de R$
176.994,97, contra a qual se insurgira o impetrante por meio de embargos de
terceiro, em virtude da penhora de bem de sua propriedade. Ditos embargos foram
julgados improcedentes pelo MM. Juízo monocrático e a r. sentença foi confirmada
pela Turma Recursal. Daí o mandado de segurança.
A eminente relatora, Ministra Nancy Andrighi, votou pelo
conhecimento e provimento do presente recurso ordinário, para que o eg. Tribunal
de origem prosseguisse no exame do mandado de segurança, afastando, assim, a
incompetência daquele órgão.
O eminente Ministro Luiz Fux acompanhou tal orientação, que
também referendei. O eminente Ministro Barros Monteiro votou em sentido
contrário, por entender, em síntese, que não pode ser distorcido o sistema dos
juizados especiais.
O eminente Ministro Ari Pargendler acompanhou a divergência, com
fundamentos próprios, entendendo que este caso é inadequado ao debate da
questão porque não houve impugnação ao valor da causa, nem na ação que
resultou no título executivo, nem nos embargos de terceiro opostos à execução de
tal título.
Inobstante já houvesse proferido voto, pedi vista dos autos.
Ao votar anteriormente, entendi que a intangibilidade do microssistema
dos juizados especiais não poderia gerar permissivo à extrapolação desse próprio
sistema. Em outros termos, poderia o Tribunal de Justiça acolher mandado de

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segurança para afastar tal excesso, sob pena de os juizados especiais terem a
última palavra sobre a própria competência.
Como já dito, o eminente Ministro Ari Pargendler, atento às
peculiaridades do caso concreto, houve por bem negar provimento ao presente
recurso. Ponderou Sua Excelência que, na fase de execução, foi penhorado bem da
ora recorrente e aos seus embargos de terceiro foi atribuído o valor de R$ 4.000,00,
dentro da competência dos juizados especiais. Salientou, ainda, que não houve
impugnação ao valor da execução, questão surgida somente quando do julgamento
desses embargos pela turma recursal.
Todavia, com a mais respeitosa vênia, não creio, por isso, possa ser
obstaculizado o curso da demanda por esses fundamentos.
Com efeito, uma coisa é a competência para o exame do mandamus
e outra, bem distinta, é a competência nele versada como matéria de fundo da
impetração.
O que está em discussão, no momento, é tão-somente a primeira
questão, ou seja, decidir se incumbe ou não ao Tribunal de Justiça julgar o
mandado de segurança de que ora se cuida. Não cabe agora decidir se houve ou
não impugnação ao valor da causa no juizado especial, ou se tal matéria foi
aventada ou não em momento oportuno. Essas questões são atinentes ao mérito e,
como tais, devem ser decididas pelo Tribunal a quo, pressupondo, portanto, o
acolhimento do presente recurso. O exame do mérito, dessarte, não pode ser aqui
antecipado.
A única indagação que estaríamos autorizados a fazer, nessa linha de
raciocínio, é se há ou não, no bojo do mandado de segurança, discussão referente
à exacerbação da competência do juizado especial.
Por esse motivo, Sr. Presidente, reitero minha orientação no sentido
do acolhimento do presente recurso ordinário, acompanhando a eminente Ministra
Relatora.

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 17.524 - BA (2003/0218891-4)

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO: Sr. Presidente, recordo-me de toda a discussão


que se instalou a respeito, e filio-me à corrente defendida pela eminente Relatora, com os
acréscimos relembrados pelo Sr. Ministro César Asfor Rocha.

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VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Sr. Presidente, peço

vênia a Sra. Ministra-Relatora, para acompanhar a divergência do Sr. Ministro


Barros Monteiro.

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RETIFICAÇÃO DE VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Sr. Presidente, em

função dos esclarecimentos, retifico meu voto.


Acompanho o voto do Sr. Ministro Barros Monteiro na
conclusão, mas, na fundamentação, o do Sr. Ministro Ari Pargendler.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2003/0218891-4 RMS 17524 / BA

Número Origem: 6633602


PAUTA: 04/05/2005 JULGADO: 19/06/2006

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. HAROLDO FERRAZ DA NOBREGA
Secretária
Bela. VANIA MARIA SOARES ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CIDADE COMPANHIA DE INCORPORAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
ADVOGADO : JOSÉ LEITE SARAIVA FILHO E OUTRO
T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
IMPETRADO : PRESIDENTE DA 4A TURMA RECURSAL CÍVEL DE DEFESA DO
CONSUMIDOR E CAUSAS COMUNS
RECORRIDO : ANDRÉ JOSÉ DOS SANTOS FILHO
ADVOGADO : GIL RUY LEMOS COUTO
ASSUNTO: Execução - Embargos - Terceiro

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha,
acompanhando o voto da Sra. Ministra Relatora, e o voto do Sr. Ministro José Delgado, no mesmo
sentido, e os votos dos Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Felix Fischer, Gilson Dipp e Hamilton
Carvalhido, acompanhando a divergência, tendo o Sr. Ministro Fernando Gonçalves retificado voto
para aclarar que acompanhava a divergência pela conclusão do voto do Sr. Ministro Barros
Monteiro e pela fundamentação do voto do Sr. Ministro Ari Pargendler, pediu vista a Sra. Ministra
Eliana Calmon.
Aguardam os Srs. Ministros Paulo Gallotti, Francisco Falcão e Antônio de Pádua Ribeiro.
Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Nilson Naves, Carlos Alberto Menezes
Direito, Aldir Passarinho Junior, Jorge Scartezzini, Castro Filho, Laurita Vaz e Teori Albino
Zavascki.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Barros Monteiro,
Humberto Gomes de Barros, Francisco Falcão e João Otávio de Noronha.

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Brasília, 19 de junho de 2006

VANIA MARIA SOARES ROCHA


Secretária

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VOTO-VISTA

A EXMA. SRA. MINISTRA ELIANA CALMON: A Relatora do presente


feito é a Ministra Nancy Andrighi, que submeteu o julgamento, pela importância da tese, ao
exame da Corte Especial.
Após o voto da Relatora, conhecendo e dando provimento ao recurso ordinário
para anular o acórdão recorrido e ordenar a devolução dos autos ao Tribunal de Justiça da
Bahia, para o prosseguimento do processo, pediu vista o Ministro Luiz Fux, na sessão do dia
24 de maio de 2005, seguindo-se os pedidos de vista do Ministro Ari Pargendler, na sessão de
15 de junho de 2005, do Ministro César Rocha, em 20 de fevereiro de 2006, e, finalmente, o
meu pedido de vista, em 21 de junho de 2006.
Para melhor entendimento do que se passou nos autos, faço uma retrospectiva:
1) perante o 2º Juizado de Defesa do Consumidor, em maio de 1994, foi
proposta uma ação de rescisão contratual por ANDRÉ JOSÉ DOS SANTOS FILHO em face
da empresa COMPLETA CONSTRUÇÃO E PLANEJAMENTO LTDA.;
2) a ação foi julgada procedente e a sentença transitou em julgado, iniciando-se
a execução do título sentencial, quando ocorreu a penhora de dois imóveis de propriedade da
recorrente CIDADE COMPANHIA DE INCORPORAÇÕES E DESENVOLVIMENTO,
estranha à lide;
3) foram opostos embargos de terceiro, porque os imóveis não mais eram da
empresa ré e sim da embargante, ora recorrente, que os adquiriu mediante título oneroso;
4) os embargos foram julgados improcedentes perante o Juizado Especial, o
que ensejou a interposição de recurso de apelação pelo terceiro vencido, que iniciou o seu
apelo argüindo, em preliminar, a incompetência absoluta do Juizado Especial, porque a
execução era de valor incompatível com a alçada do Juizado Especial. Pediu que o seu pleito
fosse apreciado pelo Tribunal de Justiça;
5) a Turma Recursal, órgão de 2º grau do Juizado Especial, negou provimento
ao recurso e determinou o prosseguimento da execução;
6) impetrou o terceiro, vendo-se perdido quanto à sua pretensão, mandado de
segurança perante o Tribunal de Justiça, alegando:
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a) nulidade do julgamento da apelação pela Turma Recursal, na medida em que
tornou-se incompetente o Juizado Especial, seja em primeiro como em segundo graus, pois a
execução era de valor incompatível com o limite determinado no art. 3º, I, da Lei 9.099/95;
b) necessidade de envio dos autos da execução a uma das varas cíveis para que
ali tivesse prosseguimento a execução e o seu incidente, representado pelos embargos de
terceiro;
7) o Tribunal, a princípio, concedeu a liminar para suspender o curso da
execução até o julgamento do mandamus , mas a segurança foi denegada, entendendo a Corte
que não poderia o Tribunal de Justiça examinar decisão da Turma Recursal. E isto porque, na
esteira dos precedentes do STJ, não podem os Tribunais de Justiça rever decisão proferida
pelos Juizados Especiais, ainda que em sede de mandado de segurança. Daí a interposição do
presente recurso ordinário.
Não mais se tem dúvida quanto à necessidade de aceitar a impetração de
mandado de segurança contra decisão do Juizado Especial ou da Turma Recursal, quando
houver usurpação de competência, pois somente através do writ é que se faz possível o
exercício do controle quanto à competência da Justiça estruturada para os feitos menores.
Parece que essa tese é a que vem prevalecendo no julgamento desse feito e que já conta com
diversos votos-vista. Aliás, deixou assim consignado o Ministro Ari Pargendler, no último
voto proferido.
Entretanto, surge o questionamento levantado pelo próprio Ministro Ari
Pargendler, em relação à coisa julgada, o que me levou a pedir vista.
Verifico que a coisa julgada não existe para o terceiro, ora recorrente, o qual
não foi parte no feito principal e, como tal, não poderia ser atingido em seu patrimônio.
Como terceiro, assim entendida a figura daquele que veio a perder dois imóveis penhorados
para atender às obrigações do antigo proprietário, de quem adquiriu os bens, o meio hábil de
sua defesa patrimonial foram os embargos de terceiro, ação na qual passou a argüir a
incompetência do Juizado Especial, diante do valor da execução, como também o valor da
penhora.
Não foi ouvido nos embargos, que foram julgados improcedentes nas duas
instâncias do Juizado, só lhe restou a utilização do remédio heróico, constitucionalmente
garantido para ver proclamada a alegada nulidade do julgamento. E não se diga que o
mandado de segurança encontra óbice à sua apreciação, na medida em que não transita em
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julgado a sentença proferida por juiz absolutamente incompetente, capaz de ensejar ação
rescisória.
Com efeito, o Juizado Especial, ao verificar o valor da execução, não poderia
prosseguir no julgamento. Ao fazê-lo, acabou por atingir direito de terceiro, terceiro este que
nada mais poderia fazer senão apelar para o mandado de segurança. Afinal, não poderia
interpor recurso especial, não poderia interpor recurso extraordinário. O que fazer? Esperar
por uma duvidosa ação rescisória.
O Tribunal de Justiça, por seu turno, escudando-se na competência do Juizado
Especial, em rígida interpretação, afirma a sua incompetência.
O meu entendimento, inclusive com o aval dos julgadores que me
antecederam, é no sentido de derrubar o entendimento do Tribunal de Justiça e permitir que
haja o controle competencial dos Juizados ou das turmas recursais por parte da Corte de
Apelação, mediante a utilização do mandado de segurança, único meio capaz de fazer chegar
ao STJ a questão.
Dentro desse raciocínio, só me resta votar acompanhando a Relatora que, em
judicioso voto, determinou, após anular a decisão terminativa do mandado de segurança, que
fosse feito o exame da impetração, com a remoção do óbice procedimental.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL

Número Registro: 2003/0218891-4 RMS 17524 / BA

Número Origem: 6633602


PAUTA: 04/05/2005 JULGADO: 02/08/2006

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. DELZA CURVELLO ROCHA
Secretária
Bela. VANIA MARIA SOARES ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CIDADE COMPANHIA DE INCORPORAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
ADVOGADO : JOSÉ LEITE SARAIVA FILHO E OUTRO
T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
IMPETRADO : PRESIDENTE DA 4A TURMA RECURSAL CÍVEL DE DEFESA DO
CONSUMIDOR E CAUSAS COMUNS
RECORRIDO : ANDRÉ JOSÉ DOS SANTOS FILHO
ADVOGADO : GIL RUY LEMOS COUTO
ASSUNTO: Execução - Embargos - Terceiro

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista da Sra. Ministra Eliana Calmon,
acompanhando o voto da Sra. Ministra Relatora, e os votos dos Srs. Ministros Paulo Gallotti,
Francisco Falcão e Antônio de Pádua Ribeiro no mesmo sentido, a Corte Especial, por maioria,
conheceu do recurso ordinário em mandado de segurança e deu-lhe provimento, nos termos do voto
da Sra. Ministra Relatora. Vencidos os Srs. Ministros Barros Monteiro, Ari Pargendler, Fernando
Gonçalves, Felix Fischer, Gilson Dipp e Hamilton Carvalhido.
Os Srs. Ministros Luiz Fux, Antônio de Pádua Ribeiro, Cesar Asfor Rocha, José Delgado,
Eliana Calmon, Paulo Gallotti e Francisco Falcão votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Nilson Naves, Humberto Gomes de
Barros, Carlos Alberto Menezes Direito, Aldir Passarinho Junior, Jorge Scartezzini, Laurita Vaz,
João Otávio de Noronha e Teori Albino Zavascki.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp.

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Superior Tribunal de Justiça

Brasília, 02 de agosto de 2006

VANIA MARIA SOARES ROCHA


Secretária

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