Вы находитесь на странице: 1из 9

Tania Regina de Luca. Editoras e publicações periódicas: o caso do Boletim de Ariel.

Docente, Departamento de História UNESP/Assis; Pesquisadora do CNPq.

O primeiro número do Boletim de Ariel, mensário crítico-bibliográfico Letras,


Artes, Ciências, veio a público em outubro de 1931. Tratava-se de um empreendimento da
Ariel Editora Ltda, fundada pouco antes por Agripino Grieco, o sócio principal, e Gastão
Cruls que ocupavam, respectivamente, os cargos de diretor e redator-chefe no Boletim. A
Ariel não possuía livraria e, de acordo com Hallewell, tinha na publicação uma fonte de
renda – vendiam-se três mil exemplares – e de divulgação de seus autores e livros. 1
Os escritores responsáveis, ambos nascidos no Estado do Rio de Janeiro no ano de
1888, desfrutavam de prestígio no mundo letrado. Gastão Cruls, médico de formação,
estreou com livros de contos, mas alcançou sucesso com um romance sobre a Amazônia.
Incluído no movimento regionalista dos anos 1920 e considerado um descobridor da
realidade brasileira, Cruls não se vinculou ao modernismo. 2 Agripino Grieco, por sua vez,
estreou como poeta e contista, mas abandonou a ficção para dedicar-se à crítica, que
exerceu por décadas em vários órgãos da imprensa. Na avaliação de Alfredo Bosi, Grieco,
temido pelo estilo sarcástico, “foi um dos mais atentos e vivos leitores críticos da nova
literatura: (...) seus numerosos ensaios (...) renovam o estilo da crítica aliando o velho
impressionismo a um juízo estético em geral seguro”, enquanto Lafetá atribuiu sua
importância ao fato de estar “sempre presente nas colunas de jornal e, dotado da agilidade
mental e da versatilidade que caracterizam bem certo estilo de colunismo literário (...),
influi de maneira ponderável no quadro geral das atividades de uma época”. 3
A Ariel tornou-se uma empresa importante e, ainda que tivesse um catálogo
variado, que incluía traduções, obras jurídicas e assuntos não literários, dedicou
considerável atenção a escritores brasileiros. Com o correr do tempo, atraiu nomes

1
Aa informações sobre a editora e seu Boletim, nesse parágrafo e nos subseqüentes, foram retiradas de
HALLEWELL, Laurence. Op. cit., 429-432. No que tange à tiragem, também fornecida por esse autor, vale
destacar que não se especifica a fonte e tampouco se precisa quando foi registrada a cifra, modesta se
comparada aos dez mil alcançados, nos anos 1920, pela revista O Mundo Literário, da Livraria e Editora Leite
Ribeiro, depois Freitas Bastos.
2
A respeito da vida e obra de Cruls (1888-1959) consultar: MENEZES, Raimundo de. Dicionário...e
RIBEIRO FILHO, João de Souza Dicionário biobibliográfrico de escritores cariocas (1656-1965). Rio de
Janeiro: Livraria Brasiliana, 1965, p. 87-88. (checar a página).
3
BOSI, Alfredo. Op. cit, p. 492-493; LAFETÁ, João Luiz. 1930: a crítica e o modernismo. 2a ed. São Paulo:
Duas Cidades: Editora 34, 2000, p. 41.

Texto integrante dos Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu tempo. ANPUH/SP
– UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006. Cd-rom.
importantes que haviam sido lançados pela Livraria Schmidt Editora, fundada por Augusto
Frederico Schmidt praticamente no mesmo momento que Cruls e Grieco iniciavam suas
atividades e devotava exclusivamente à edição de autores brasileiros. Entre os nomes
publicados pela Ariel estavam Jorge Amado, Gilberto Amado, José Maria Belo, Raul Bopp,
Otávio de Faria, Murilo Mendes, Odilon Nestor, Lúcia Miguel Pereira, Cornélio Pena,
Graciliano Ramos, Marques Rebelo e José Lins do Rego, que também compareciam nas
páginas do Boletim. As belas capas, com desenhos atraentes e cores fortes, muitas de
autoria do artista paraibano Tomás Santa Rosa Júnior, que também trabalhava para a
Schmidt e pouco depois seria o principal ilustrador da José Olympio, tornaram-se marca da
Ariel. 4
É possível que a idéia do Boletim tivesse ocorrido a Grieco em função de sua
experiência anterior na revista O Mundo Literário, concebida como veículo de propaganda
da Leite Ribeiro/Freitas Bastos e na qual Gastão Cruls colaborou uma única vez. No
depoimento de José Geraldo Vieira, sobressai a atuação de Grieco que, por certo tempo (n.
6 a 23) exerceu o cargo de secretário da publicação. 5
O Mundo Literário e o Boletim de Ariel podem ser inseridos na linhagem de
publicações patrocinadas por editoras e cujo antecedente mais representativo foi a Revista
do Brasil (1a fase). Muito provavelmente, a forma de utilização deste mensário por Lobato
serviu de exemplo aos proprietários da Leite Ribeiro/Freitas Bastos, “que naturalmente
queriam o domínio editorial no Rio de Janeiro. Porque a Garnier e a Alves não publicavam
mais livros de autores brasileiros há muitos anos”. 6 Para Grieco e Cruls, editores sem
livraria, portanto, sem acesso direto ao varejo e que se lançaram ao mercado na década de
1930, quando o setor começava a se expandir e a competição tornava-se mais acirrada, a
edição de um Boletim afigurava-se bastante conveniente. Há que se considerar, ainda, que
eles não se constituíam em exceção, valendo destacar o caso da Livraria e Editora do
Globo, de Porto Alegre que, em janeiro de 1929, lançou a sua Revista do Globo,
4
Tomás Santa Rosa Júnior (1909-1956), chegou ao Rio de Janeiro em 1932 e trabalhou com Portinari na
confecção de murais. Autodidata e extremamente versátil – pintor, ilustrador, artista gráfico, decorador,
figurinista, coreógrafo, gravador, professor e crítico –, foi figura chave para a renovação do campo das artes
gráficas entre 1930 e 1950. Tornou-se um dos ilustradores mais requisitados e por anos a fio trabalhou na José
Olympio.
5
Entrevista a CHAVES, Maria Eneida. Op. cit., v. 2, 336-337. A partir do índice organizado por Maria
Eneida, sabe-se que Cruls colaborou num único número, enquanto Grieco o fez em nove, v. 2, p. 305 e 308,
respectivamente.
6
Consultar entrevista de José Geraldo Vieira a CHAVES, Maria Eneida. Op. cit., v.2, p. 339.

Texto integrante dos Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu tempo. ANPUH/SP
– UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006. Cd-rom.
“claramente um instrumento de marketing editorial” e que desfrutaria de prestígio nacional
nas décadas subseqüentes. 7
O fato de surgir como porta voz de uma empresa por si só não determina
necessariamente as características da publicação. Porém, pode-se argumentar que o fato de
ser um impresso periódico que deveria ser adquirido pelo público potencialmente
interessado nos produtos e ações de uma editora e seus responsáveis, tendia a contribuir
para o esmaecer do tom polêmico e da capacidade de agregar indivíduos em função do
compartilhar de posições estéticas e políticas, ainda mais porque quanto maior a força
econômica e/ou simbólica do empreendimento-mecenas, maior a preocupação de preservar
a imagem da marca frente ao público, o que contribui para a predominância de um
ecletismo bem comportado, que não ferisse suscetibilidades do gosto médio. De toda
forma, importa marcar a distância entre esse tipo de revista e as de vanguarda, como
Klaxon e a Revista de Antropofagia, por exemplo, assim como em relação àquelas fundadas
por grupos ideológicos bem definidos como, por exemplo, a católica A Ordem, as
integralistas Anauê! (1935-1937) e Panorama (1936-1937), ou, ainda, as patrocinadas pelo
regime, caso de Cultura Política (1941-1945).
O Boletim de Ariel trouxe no número inaugural apresentação de Gastão Cruls sob o
título Conversa Fiada... Nela o autor rememorou os tempos de mocidade, quando
trabalhava na Assistência Municipal e integrava o pequeno grupo dos médicos atentos às
novidades literária, conhecedores de autores, obras e que “não só deleitavam os
companheiros, como até lhes ministravam ensinamentos e informações que sem a conversa
fiada dessas reuniões, eles só alcançariam à custa de muitos sacrifícios, com a aquisição
dos aludidos livros, o tempo dedicado à sua leitura, etc, etc.” Os mais informados, sentindo-
se explorados passaram, em tom de pilhéria, a exigir contribuições dos colegas para
compartilhar seus conhecimentos. O longo intróito pretendia resumir o espírito que orientou
a fundação do mensário, revelado no parágrafo final e que se distinguia pelo caráter amplo:
O Boletim de Ariel, embora com aspirações mais altas, pede muito menos a seus
leitores. Na Assistência, contavam histórias e resumiam novelas alguns médicos de
7
Sobre as origens da Livraria do Globo (1883), do setor de edições e de sua revista consultar: AMORIM,
Sonia Maria de. Em busca de um tempo perdido. Edição de literatura traduzida pela Editora Globo (1930-
1950). São Paulo: EDUSP: Com-Arte; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999, obra da qual foi tirada a frase
citada, p. 34-35; HALLEWELL, Laurence. Op. cit, p. 389414; TORRESINI, Elisabeth W. Rochadel. Editora
Globo. Uma aventura editorial nos anos 30 e 40. São Paulo: EDUSP: Com-Arte; Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 1999.

Texto integrante dos Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu tempo. ANPUH/SP
– UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006. Cd-rom.
boa vontade, mas, pelo menos até aquela data, sem nenhuma projeção além do
círculo de amigos. Aqui, se também prepondera o mesmo espírito do escorço rápido
e da nota despretensiosa acerca do que mais interessante e significativo ocorrer no
mundo das letras, das ciências e das artes, tanto no Brasil como no estrangeiro, tudo
se valorizará pelo nome dos seus signatários, sempre colaboradores de realce,
escolhidos entre o que de melhor houver nas nossas elites intelectuais.8

A publicação, com dimensões fixas (21,5 por 27,5 cm), média de 20 a 30 páginas,
não apresentou variações significativas nas capas, que estamparam as mesmas informações,
ainda que nem sempre distribuídas da mesma forma e com padrão idêntico: 9 dados
essenciais acerca da publicação – nome, ano, número, mês, cidade, responsáveis, preço –, o
símbolo da Ariel Editora (um ser alado, clara alusão ao personagem de Shakespeare), cuja
localização e tamanho conheceu variações, e a relação dos colaboradores do número. A
partir do terceiro ano de existência (outubro de 1933), o Boletim passou a contar com um
conselho consultivo, que se manteve até o encerramento da publicação, composto por
Gilberto Amado, Lúcia Miguel Pereira, Miguel Ozório de Almeida, Otávio de Faria e V. de
Miranda Reis, que já eram colaboradores freqüentes. 10
Na página inicial, o cabeçalho repetia os dados gerais já citados sendo todo o
restante ocupado por um texto de abertura, assinado por diferentes escritores (as) a cada
número e que fazia às vezes de editorial. Abordavam-se assuntos relativos ao mundo das
letras: autores e livros clássicos; prêmios; lançamentos importantes; produção literária;
questão ortográfica, tema então candente; condição do intelectual e, mais raramente,
considerações mais explicitamente vinculadas ao contexto sócio-político, como foi o caso,
por exemplo, do número de agosto de 1935, que abordou a questão da esquerda e direita
literárias. 11
Seguiam-se ensaios, notas críticas e resenhas alentadas sobre autores, obras e/ou
lançamentos nacionais e internacionais, às quais se mesclavam notícias mais ligeiras, com
clara predominância para a produção de cunho literário, ainda que não fossem raras as
menções a obras de caráter didático, sociológico, político e religioso, o que denota o intento

8
CRULS, Gastão. Conversa Fiada... Boletim de Ariel, n.1, out. 1931, p. 1. É curioso que no seu depoimento a
SENNA, Homero. Op. cit., p. 233-248, Cruls mencione o Boletim de Ariel apenas de passagem e, em nenhum
momento, referira-se a sua experiência como diretor da publicação.
9
A mudança no padrão foi anunciada no Boletim de Ariel, ano III, n. 12, set. 1934, p. 319.
10
Boletim de Ariel, ano II, n. 12, set. 1932, p. 318.
11
Boletim de Ariel, ano IV, n. 11, ago. 1935, p. 289-290.

Texto integrante dos Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu tempo. ANPUH/SP
– UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006. Cd-rom.
de fornecer um quadro o mais amplo possível do mundo do livro. A julgar pela
correspondência de Graciliano Ramos, os escritores não só assinavam o Boletim como
acompanhavam com interesse notícias e resenhas veiculadas sobre sua produção. Ao
comentar com a esposa Heloisa a recepção de São Bernardo, o romancista afirmou:
“Nenhum artigo novo no Sul, nem no Boletim de Ariel, que recebi ontem. Apenas os quatro
ou cinco de que lhe falei”. 12
Novas iniciativas encontravam acolhida nas páginas do Boletim, patente nas
referências às coleções, que então começavam a ganhar fôlego – caso, por exemplo, da
Terramarear (Nacional), dedicada a jovens e adolescentes –, e nas constantes menções às
atividades editoriais – “Chegaram-nos três volumes magníficos da Livraria do Globo, de
Porto Alegre...”; “A grande casa editora da Paulicéia [Cia Editora Nacional] continua a
espalhar belos livros pelo país. Agora é...”, e ainda, “Excelentes as últimas edições lançadas
pelo brilhante e infatigável José Olympio...” 13
Fiel ao tom de inventário, havia preocupação de registrar o aparecimento de novas
revistas e de números recém lançados, seja no Brasil ou no exterior, ainda que não se fosse
muito além do comentário breve. Em âmbito nacional, foram saudados periódicos tão
diversos como A Ordem, Hierarquia, 14 Literatura, Rumo, Rio-Magazine, 15 Revista
Acadêmica, Revista da Escola Militar, Boletim Bibliográfico Brasileiro, 16 Revista do
Globo, Vanitas, Idea; Festa; Revista Brasileira, 17 Panorama, 18 entre várias outras.
Textos de caráter mais geral sobre pintura, cinema, literatura, curiosidades
biográficas, além de excertos de capítulos, também compareciam com certa freqüência.
Notas sobre premiações – como o prêmio anual de literatura ofertado pela Sociedade Felipe
d’ Oliveira para o melhor livro publicado ou a um (a) escritor (a) pelo conjunto da sua obra,
e o Humberto de Campos, instituído em 1936 pela Editora José Olympio, que selecionava
um livro inédito de contos por ano, eram comentados nas suas páginas. 19 Entretanto, a
produção literária propriamente dita foi incorporada ao Boletim tardiamente, a partir do
12
RAMOS, Graciliano. Cartas. Rio de Janeiro: Record, 1981, p. 145.
13
Notícia sobre a coleção em Boletim de Ariel, ano II, n. 9, jun. 1933, p. 245. Para as editoras consultar:
Boletim de Ariel, ano VII, n. 12, set. 1938, p. 345 (Livraria do Globo) e 354 (Nacional e José Olympio).
14
Grieco Agripino. Revistas. Boletim de Ariel, ano I, n. 1, out. 1931, p. 15.
15
Boletim de Ariel, ano II, n. 11, ago. 1933, p. 300, sem assinatura.
16
Boletim de Ariel, ano III, n. 2, nov. 1933, p. 36, sem assinatura.
17
Boletim de Ariel, Ano IV, n. 5, fev. 1935, p. 148, sem assinatura.
18
Boletim de Ariel, Ano V, n. 7, abr. 1936, p. 187, sem assinatura.
19
Ver, por exemplo, Boletim de Ariel, ano V, n. 6, mar. 1936, p. 141-142 e 159, respectivamente.

Texto integrante dos Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu tempo. ANPUH/SP
– UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006. Cd-rom.
sexto ano (outubro/1934 a setembro/1935), quando quatro páginas foram reservadas a
trabalhos de ficção. Por vezes, parte do número era dedicada a figuras específicas em
função do falecimento de escritores importantes ou comemoração de centenários, como
ocorreu, por exemplo, em relação a Goethe e João Ribeiro.
O material publicado no Boletim não era estruturado em seções fixas, devendo-se
registrar que foi ao longo do quinto ano (outubro/1935 a setembro/1936) que surgiram
espaços específicos destinados à música, artes plásticas, rádio, teatro, cinema e discos. Até
então, apenas Memento Bibliográfico, presente em todos os números, configurava-se
efetivamente como seção. Alocada na página final, sempre trazia o seguinte apelo: “O
Boletim de Ariel pede aos Senhores editores ou autores que lhe remetam, senão um
exemplar, ao menos a indicação das obras pelos mesmos publicadas, afim de que esta seção
seja a mais informativa possível”.
No que tange à diagramação, observa-se a intenção de preencher completamente as
páginas. Os eventuais espaços livres eram completados com pequenos poemas, frases de
grandes pensadores e escritores, anúncio de colaborações futuras e, pelo menos nos anos
iniciais, algumas poucas propagandas. Estas, pequenas e discretas, avolumaram-se e
diversificaram-se com o decorrer do tempo: hotéis, lojas de roupas e acessórios, rádios e
toca-discos, administradoras, seguradoras, cigarros e, sobretudo, livros das mais variadas
editoras. Em várias oportunidades, convidou-se editores e autores a fazer uso das páginas
da revista para a divulgação das novidades. 20
De fato, é claramente perceptível o aumento do espaço destinado a noticiar autores,
novos livros, próximas edições e coleções – como a Biblioteca Brasileira de Cultura,
dirigida por Tristão de Ataíde, a Brasiliana, da Nacional ou a Detetive, da José Olympio. 21
Transitou-se da pequena nota (Leiam: Gilberto Amado Dias e horas de vibração Preço
5$000) 22 para páginas inteiras, com reprodução de capas, e listagens de dezenas de
lançamentos, encimados pelo título “As novidades do mês”. Pela quantidade e volume
destacavam-se a Companhia Editora Nacional e a Editora José Olympio. Indícios claros de
que o negócio do livro se sofisticava e absorvia capital crescente provêm da comparação

20
Ver: Boletim de Ariel, Ano II, n. 6, mar. 1933, p. 161, por exemplo.
21
Ver Boletim de Ariel, ano IV, n. 7, abr. 1935, p. 183; ano VI, n. 6, fev. 1937, p. 137 e ano V, n. 5, fev. 1936,
p. 129, respectivamente.
22
Este é um exemplo em dezenas particularmente presentes nos primeiros anos da publicação. Boletim de
Ariel, ano II, n. 12, set. 1933, p. 323.

Texto integrante dos Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu tempo. ANPUH/SP
– UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006. Cd-rom.
entre as modestas ofertas de trabalho individual (Ilustrações, capas de livros: Paulo
Werneck - Tel...) 23 ou de negócios de menor porte, como a Oficina Gráfica Renato
Americano, com os reclames das paulistas Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais e
Artes Gráficas em Geral que, páginas do Boletim, alardeavam o fato de serem responsáveis
pela impressão dos livros da Nacional, informação que pretendia legitimar, aos olhos de
possíveis novos clientes, a excelência e profissionalismo dos serviços ofertados.
O Boletim de Ariel fornece, portanto, elementos para a reconstrução do movimento
editorial assim como das características da produção intelectual e dos debates que dividiam
o mundo letrado, num período particularmente agitado do ponto de vista político-
institucional. Tais problemáticas não podem ser adequadamente contempladas nos limites
desse trabalho e, apenas a título de exemplo, destaque-se a questão do romance proletário,
debatida em torno de Parque Industrial de Patrícia Galvão, publicado sob o pseudônimo de
Mara Lobo, e Cacau, de Jorge Amado, 24 a função social da literatura, o papel do escritor,
as relações entre literatura e política, além de referências mais ou menos veladas à
censura. 25
O Boletim constituía-se no principal veículo para a divulgação dos produtos da
Editora Ariel e se é inegável que havia por parte dos redatores o propósito de fornecer um
instantâneo o mais completo possível do cenário intelectual por intermédio da produção
editorial, isso não impedia que a revista reproduzisse as críticas favoráveis aos seus livros,
autores e editores; 26 noticiasse projetos e iniciativas, a exemplo da venda de suas edições na
Argentina e em Portugal por meio de acordo com livrarias daqueles países, ou o direito de
distribuir com exclusividade as obras da editora e sociedade literária francesa Sequana, 27 o
acordo com a Editora Civilização Brasileira, para que esta se tornasse distribuidora
exclusiva da Ariel, 28 e reservasse considerável espaço para o próprio catálogo, em parte

23
Boletim de Ariel, Ano 1, n. 9, jun. 1932, p. 13.
24
Ver: MENDES, Murilo. Notas sobre Cacau. Boletim de Ariel, ano II, n. 12, set. 1933, p. 317, que também
se refere a Parque Industrial, e COSTA, Dias da. Cacau. Boletim de Ariel, ano 3, n. 2, nov. 1933, p. 36.
25
Ver Boletim de Ariel, ano III, n. 4, jan. 1934, p. 92, nota em negrito intitulada Censura Estrábica, contra a
ação da polícia paulista em relação ao Teatro de Experiência.
26
A título de exemplo sobre Gastão Cruls consultar: Boletim de Ariel, ano VII, n. 7. abr. 1938, p. 216; para
Agripino Grieco: Boletim de Ariel, ano II, n. 9, jun. 1933, 245; para Lúcia Miguel Pereira: Boletim de Ariel,
ano VI, n. 5, fev. 1937, p. 137.
27
Ver, respectivamente, Boletim de Ariel, ano IV, n. 7, abr. 1925, p. 183 e ano VI, n. 1, out. 1936, s/n, página
de propaganda localizada no final da revista.
28
Boletim de Ariel, ano 6. n. 2, nov. 1936, p. 45.

Texto integrante dos Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu tempo. ANPUH/SP
– UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006. Cd-rom.
reproduzido nas páginas finais do periódico e organizado por temas, sob a denominação
“Edições de Ariel”. 29
Os leitores eram incentivados a colecionar o Boletim e, cada vez que a publicação
completava mais um ano, anexavam-se os índices de autores e títulos e de assuntos e
principais alusões, o que, de acordo com os editores, “muito facilitará a consulta, no caso
em que alguém pense em conservá-la (a coleção) ou mesmo transformá-la em volume”,
idéia que eles próprios logo trataram de colocar em prática. Assim, em abril de 1933,
anunciava-se: “Aos nossos leitores e assinantes: Temos o prazer de comunicar que tanto na
nossa redação como nas principais livrarias desta cidade, se encontram volumes belamente
encadernados, reunindo os doze números do primeiro ano do Boletim de Ariel, e que podem
ser adquiridos ao preço de R$ 30$000”, nota que reapareceria no início de cada novo ano. 30
Constantemente, os assinantes eram lembrados de que dispunham de serviço de reembolso
postal para adquirir as obras sem custo adicional; 31 que desfrutavam de 20% de desconto
sobre as edições da Editora Ariel adquiridas nos seus escritórios e 10% para as
encomendadas do interior, correndo as das despesas de correio por conta da casa; além de
contarem com serviço de consultas sobre disponibilidade e preço de obras nacionais e
estrangeiras vendidas no Rio de Janeiro. 32
Sem um estudo sistemático do Boletim, que circulou pelo menos até fevereiro de
1939, o que perfaz um total de 89 números, 33 e que contou com a participação de um rol
muito variado de colaboradores, não é possível avaliar com segurança se a presença do
conselho editorial (terceiro ano em diante), implicou em mudanças efetivas na publicação e
tampouco precisar até que ponto o tom de notícia rápida e leve, proposto na abertura do
número inaugural, foi sempre e efetivamente seguido por todos os colaboradores.
É certo que tais características se fizeram presentes nos textos de Grieco, cujo perfil,
como ensina Lafetá, seguia uma espécie de padrão fixo, ou seja, “informação biográfica,
situando em poucas linhas o autor – com seu caráter, hábitos peculiares – e mais algumas
29
Consultamos os exemplares do IEB/USP e do acervo da Profa. Dra. Ana Maria de Almeida Camargo.
Registre-se a ausência das folhas finais, sem numeração e integralmente reservadas às propagandas. A
exceção fica por conta do ano 6, n. 1, out. 1936, do IEB, do qual as informações foram retiradas.
30
Boletim de Ariel, Ano I, n. 12, set. 1932, p. 8; Ano II, n. 1, out. 1932, p. 22-23; Ano II, n. 7, abr. 1933, p.
172, respectivamente.
31
Serviço de Reembolso. Boletim de Ariel, ano VI, n. 1, out. 1936, s/n.
32
Idem, Ano II, n. 2, nov. 1932, p. 35 e Ano VI, n. 1, out. 1936, s/n..
33
Data do último exemplar da Fundação Casa de Rui Barbosa, não sendo possível estabelecer se foi o último
publicado.

Texto integrante dos Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu tempo. ANPUH/SP
– UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006. Cd-rom.
linhas buscando encontrar analogias entre traços da obra e da personalidade”. E prossegue:
“trata-se simplesmente de apresentar alguém, de tal maneira que interesse ao eventual leitor
e o necessário é arranjar as informações numa forma amena, anedótica; e, portanto, é
preciso não aprofundar, nada explicar, de preferência partir de uma informação
conhecida...”, o que parece guardar grande sintonia com a declaração a abertura do Boletim
de Ariel.
Porém o mesmo Lafetá, ao analisar a produção crítica de Otávio de Faria no Boletim
de Ariel fornece quadro diverso ao discutir o tom das colaborações que, apesar de pautadas
por padrões antimodernos, ultrapassava o apego às analogias e ao circunstancial, tão caros a
34
Grieco. Não é diversa a situação quando se trata das contribuições de Lúcia Miguel
Pereira, que foram recolhidas em livro.35 Tais exemplos constituem-se em importante alerta
contra generalizações apressadas a respeito do perfil do material presente no mensário que,
por sua própria natureza, tendia a incorporar visões variadas e fornecer um quadro geral do
mundo intelectual e editorial do seu tempo.
O desaparecimento do Boletim de Ariel ocorreu como encerramento dos negócios
editoriais de Grieco e Cruls. De acordo com Hallewell, a Ariel e a editora de Schmidt
fecharam as portas em 1939, por não conseguirem competir com José Olympio que, desde
1934, transferira suas atividades de São Paulo para o Rio de Janeiro. 36 Em poucos anos, o
novo editor angariou inigualável prestígio e trouxe para o seu catálogo os principais
romancistas brasileiros, como bem testemunham as próprias páginas do Boletim de Ariel.

34
LAFETÁ, João Luiz. Op. cit., p. 52. Para análise da produção de Otávio de Faria consultar p. 227-250.
35
PEREIRA, Lúcia Miguel. A leitora e seus personagens. Seleta de textos publicados em periódicos (1921-
1943). Rio de Janeiro: Graphia Editorial, 1992.
36
HALLEWELL, Laurence. Op. cit., p. 426-432. O autor informa que a Editora Schmidt foi absorvida pela
Zélio Valverde, da qual o poeta tornou-se sócio. O mencionado acordo com a Civilização Brasileira talvez
fosse uma tentativa de enfrentar a concorrência da José Olympio.

Texto integrante dos Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu tempo. ANPUH/SP
– UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006. Cd-rom.

Вам также может понравиться