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I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DO CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS

SOBRE A TEORIA DA JUSTIÇA DE AMARTYA SEM

PROPOSTA DE TRABALHO PARA O GT 3

É POSSÍVEL A RESPONSABILIDADE COM AS VÍTIMAS?


Uma reflexão ética e jurídico-política sobre direitos humanos no contexto atual

Paulo César Carbonari

Perguntar-se pela responsabilidade no contexto atual no qual sujeitos, processos e


instituições parecem diluídos em diagramas é uma questão fundamental para a possibilidade
dos direitos humanos. Agrava-se a questão quando se olha desde aqueles/as que estão na
condição de vítimas das violações dos direitos humanos. Em sentido ético, a
responsabilidade emergiria do tomar ao encargo aquele/a outro/a que sofre a violação ou
cuja situação o/a deixa vulnerável aos diversos riscos sistêmicos, requerendo, de alguma
forma, relações de reconhecimento, de proximidade e de presença. Mas, como viabilizar a
responsabilidade deste modo em contextos de dessubjetivação, de despersonalização e de
massificação? Em sentido polítíco/jurídico se poderia dizer que a responsabilidade emerge
da possibilidade de, por um lado, agir para que não venham a ocorrer vítimas de violação de
direitos, na perspectiva da promoção, e, por outro, no caso dos/as que estejam em risco ou
tenham sido vitimados/as, a ação de proteção e de reparação. Este é o conceito que forjou
todo o sistema protetivo de direitos humanos hoje existente. Todavia, sua base se centra nos
compromissos dos Estados nacionais e na frágil ação coercitiva da comunidade
internacional. Num contexto de transnacionalização como ficam estas possibilidades? A
questão de fundo exige reformular o sentido da responsabilidade, o que também requer
reconstruir a noção de sujeito ético, por um lado, e de sujeito político e jurídico, por outro.
Nos dois casos uma questão de fundo é: será possível responsabilidade por dentro da “jaula
de ferro” do sistema ou se terá que construir uma responsabilidade outra que lhe escape em
perspectiva extra-sitêmica. Ou, de outro modo, como compreender a responsabilidade diante
do que se poderia chamar de “efeitos indesejáveis” ou dos “efeitos indiretos da ação direta”.
O sistema diz que a vítimas são efeito indireto da ação direta. Admitir que são efeito direto
da ação direta significaria ter que aceitar que há agentes que produzem vítimas de forma
imediata, sem se entranhar em mediações quaisquer. Tomemos o exemplo clássico do agente
nazista que comandava e operava o campo de extermínio, é ele responsável (vide caso de
Eichmann estudado por Arendt)? Tomemos outro caso, no envenenamento resultante do
consumo de alimentos produzidos com alto volume de agrotóxicos, como fica a
responsabilidade: estaríamos diante de um efeito indireto, pois o envenenamento do
consumidor de alimentos não é uma ação direta das empresas produtoras do veneno, nem
mesmo do produtor dos alimentos, mas é um efeito que o consumidor assume ao adquirir o
alimento para seu próprio consumo [afinal, no mercado capitalista, lhe assiste a possibilidade
de escolha por não consumir produtos produzidos com alto volume de agrotóxicos, mesmo
que isso pareça não eximir a indústria de agrotóxico de ter participado do processo de
envenenamento sofrido pelo consumidor]? Enfim, da reflexão sobre estas questões haveria
de emergir uma nova possibilidade de responsabilidade, tanto ética quanto político-jurídica,
se não se pretender sucumbir ao cinismo de quem entende as vítimas como necessárias em
toda e qualquer situação, restando não mais do que mitigar o quanto possível, limitando a


Doutor em Filosofia (Unisinos), professor e diretor pedagógico no Instituto Superior de Filosofia Berthier
(IFIBE). Contato: carbonari@ifibe.edu.br
responsabilidade a processos que se ajustem funcionalmente ao sistema. Mas se se quiser
tomar a vítima ao encargo de outro modo, de um modo crítico, então teria que haver a
possibilidade de pensar e de realizar a responsabilidade de modo outro, de modo
transformador das realidades que geram as vítimas no sentido de que já não sejam
produzidas. As questões aqui expostas tomarão como subsídio as elaborações de Enrique
Dussel e pontualmente abrirão diálogo com Amartya Sen.
É POSSÍVEL A RESPONSABILIDADE COM AS VÍTIMAS?
Uma reflexão ética e jurídico-política sobre direitos humanos no contexto atual

Paulo César Carbonari


1) PROBLEMÁTICA

Como compreender e efetivar a responsabilidade se sujeitos, processos e


instituições parecem diluídos em diagramas que a desmontam pondo em
questão a possibilidade dos direitos humanos?
Agrava-se a questão quando se olha desde aqueles/as que estão na condição de
vítimas das violações dos direitos humanos – aqueles e aquelas cujos direitos
não são realizados, são violados, não são protegidos – segundo a ONU aqueles
na condição de pobreza (segundo o FMI e BM, no Global Monitoring Report
2015/2016, 9,6% da população do mundo em 2015 viviam na extrema pobreza,
ou seja, 702 milhões de pessoas viviam com menos de 1,9 dólares por dia,
sendo que a maioria delas estava na África subsaariana e na Ásia meridional –
segundo a Oxfam, 1 em cada 3 pessoas no mundo – mais de 2 bilhões – vivem
na pobreza) têm seus direitos humanos sistematicamente violados. La pobreza
es en sí misma un problema de derechos humanos urgente.
http://www.ihu.unisinos.br/550506-a-desigualdade-social-chega-a-niveis-
alarmantes Segundo os Princípios Diretivos sobre a Extrema Pobreza e os
Direitos Humanos (aprovados por consenso pelo Conselho de Direitos
Humanos em 27/09/ 2012, Resolução nº 21/11): “A pobreza é ao mesmo tempo
causa e consequência de violações dos direitos humanos, sendo uma condição
que conduz a outras violações” (2012, p. 2). O Comitê dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas, encarregado de monitorar
o cumprimento do PIDESC (1966), declarou em 2001 que: “[…] a pobreza
constitui uma negação dos direitos humanos” e a entende como “uma condição


Doutor em Filosofia (Unisinos), professor e diretor pedagógico no Instituto Superior de Filosofia Berthier
(IFIBE). Contato: carbonari@ifibe.edu.br
humana que se caracteriza pela privação contínua ou crônica dos recursos, das
capacidades,das opções, da segurança e do poder necessários para disfrutar de
um nível de vida adequado e de outros direitos civis, culturais, econômicos,
políticos e sociais” (E/C.12/2001/10, párr. 8).
Em sentido ético, a responsabilidade emergiria do tomar ao encargo
aquele/a outro/a que sofre a violação ou cuja situação o/a deixa vulnerável aos
diversos riscos sistêmicos, requerendo, de alguma forma, relações de
reconhecimento, de proximidade e de presença. Mas, como viabilizar a
responsabilidade deste modo em contextos de dessubjetivação, de
despersonalização e de massificação?
Em sentido polítíco/jurídico se poderia dizer que a responsabilidade
emerge da possibilidade de, por um lado, agir para que não venham a ocorrer
vítimas de violação de direitos, na perspectiva da promoção, e, por outro, no
caso dos/as que estejam em risco ou tenham sido vitimados/as, a ação de
proteção e de reparação. Este é o conceito que forjou todo o sistema protetivo
de direitos humanos hoje existente. Todavia, sua base se centra nos
compromissos dos Estados nacionais e na frágil ação coercitiva da comunidade
internacional. Num contexto de transnacionalização como ficam estas
possibilidades?

2) EXIGÊNCIAS

Reformular o sentido da responsabilidade, o que também requer


reconstruir a noção de sujeito ético, por um lado, e de sujeito político e jurídico,
por outro.
Nos dois casos uma questão de fundo é: será possível responsabilidade
por dentro da “jaula de ferro” do sistema ou se terá que construir uma
responsabilidade outra que lhe escape em perspectiva extra-sitêmica. Ou, de
outro modo, como compreender a responsabilidade diante do que se poderia
chamar de “efeitos indesejáveis” ou dos “efeitos indiretos da ação direta”.
3) COMENTÁRIO

O sistema diz que a vítimas são efeito indireto da ação direta. Admitir que
são efeito direto da ação direta significaria ter que aceitar que há agentes que
produzem vítimas de forma imediata, sem se entranhar em mediações
quaisquer.
Tomemos o exemplo clássico do agente nazista que comandava e operava
o campo de extermínio, é ele responsável (vide caso de Eichmann estudado por
Arendt)?
Tomemos outro caso, no envenenamento resultante do consumo de
alimentos produzidos com alto volume de agrotóxicos, como fica a
responsabilidade: estaríamos diante de um efeito indireto, pois o
envenenamento do consumidor de alimentos não é uma ação direta das
empresas produtoras do veneno, nem mesmo do produtor dos alimentos, mas é
um efeito que o consumidor assume ao adquirir o alimento para seu próprio
consumo [afinal, no mercado capitalista, lhe assiste a possibilidade de escolha
por não consumir produtos produzidos com alto volume de agrotóxicos, mesmo
que isso pareça não eximir a indústria de agrotóxico de ter participado do
processo de envenenamento sofrido pelo consumidor]?

3) POSSIBILIDADES

A reflexão sobre estas questões haveria de levar a emergir uma nova


possibilidade de responsabilidade, tanto ética quanto político-jurídica, se não
se pretender sucumbir ao cinismo de quem entende as vítimas como necessárias
em toda e qualquer situação, restando não mais do que mitigar o quanto
possível, limitando a responsabilidade a processos que se ajustem
funcionalmente ao sistema.
Mas se se quiser tomar a vítima ao encargo de outro modo, de um modo
crítico, então teria que haver a possibilidade de pensar e de realizar a
responsabilidade de modo outro, de modo transformador das realidades que
geram as vítimas no sentido de que já não sejam produzidas.

Este debate põe em relação a duas referências do pensamento ético e


econômico-político dos dias atuais: Enrique Dussel e Amartya Sen. O primeiro
oferece uma alternativa contrasistêmica e antisistêmica – revolucionária,
transformadora; o segundo oferece uma alternativa intrasistemica – reformista,
reformadora. Em comum, as duas posições discordam da irresponsabilidade
sistêmica. Afinal, para ambos é preciso criar condições para que a vida (em
geral e humana em particular) possa ter condições de ser produzida,
reproduzida e preservada com oportunidades de liberdade para todos/as e de
modo particular para aqueles/as que ficaram cerrados, excluídos, vitimizados –
ou seja, sem superar a excisão resultante da irresponsabilidade sistêmica não
haverá liberdade, nem vida qualificada e menos ainda desenvolvimento
humano.
Em termos específicos dos direitos humanos, somente a construção de
condições para o exercício da responsabilidade com aqueles e aquelas “sem
direitos”, de modo a promover os direitos e a promover dinâmicas que realizem
os direitos, não se terá saídas himanizadas e preservadoras dos direitos! E isso
demanda posição ética e decisão/ação política!

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